Os bastidores do futebol já provou ser capaz de nos entregar histórias (recheadas de curiosidades) incríveis. Embora reproduzir momentos marcantes do esporte seja uma das missões mais complicadas no audiovisual, é de se considerar que tudo que envolve paixão, superação e relevância histórica acaba se tornando um prato cheio para os roteiristas adaptarem na ficção. A nova temporada de "El presidente" é mais um ótimo exemplo disso e mesmo escolhendo um conceito narrativo (na minha opinião) duvidoso, ainda assim é muito eficaz em contar de uma forma leve e divertida, como o futebol se transformou em um negócio multimilionário que vai muito além das quatro linhas.
A partir de um olhar satírico sobre os bastidores da corrupção no futebol, a série narra a história de origem da FIFA. De uma simples organização esportiva que acabou se transformando em uma potência comercial e política, acompanhamos o ex-presidente da FIFA, João Havelange (Albano Jerónimo), o líder brasileiro que de maneira improvável manteve o controle da organização por quase trinta anos, usurpando o poder dos europeus. O "Jogo da Corrupção" explora as histórias de Havelange fazendo grandes apostas mas, principalmente, de como ele transformou o esporte mais popular do mundo em uma máquina de fazer dinheiro. Confira o trailer:
Se você gostou de "El Presidente" você vai gostar de "Jogo da Corrupção", afinal essa "segunda temporada" repete os mesmos erros e acertos dos episódios que abordaram as inúmeras facetas do FIFAGate. Pois bem, talvez o primeiro equivoco conceitual da série seja justamente considerar "El Presidente" uma série - na verdade (e por isso esse review independente) estamos falando de uma antologia, dentro de um mesmo universo, claro, mas que não exigiria a menor necessidade de conexão entre elas. Assumir que elas são uma "antologia" ajudaria muito na percepção de valor de suas histórias, porém ao trazer o protagonista da "primeira temporada" para ser o narrador da "segunda" cria esse elo dramático que, sinceramente, não leva a lugar algum - a não o de dar um conceito "pastelão" para algo que poderia ter sido melhor desenvolvido como drama.
Aqui, Andrés Parra como Sergio Jadue (presidente da federação chilena de futebol) substitui Julio Grondona (da federação argentina) na função de narrador. Muito talentoso e extremamente carismático, Jadue tem a função onipresente de ser o alívio cômico da série - funciona, mas o roteiro se apoia tanto na sua presença que ela perde sua razão de existir já no terceiro episódio (é tão maçante que se não fosse o valor histórico da trama, muito da audiência certamente desistiria da jornada). Ok, eu entendo as escolhas conceituais da direção, mas como em "El Presidente" quem assiste "Jogo da Corrupção" quer saber sobre os bastidores do futebol (como a indecente decisão de Havelange de dar a Copa de 1978 para a Argentina com medo da ditadura do país) e não das histórias de amor entre Castor de Andrade (Eduardo Moscovis) e a fictícia Isabel (Maria Fernanda Cândido).
Mesmo que o trabalho do departamento de maquiagem cause bastante estranhamento, Albano Jerónimo (isso mesmo, um ator português interpretando um brasileiro) traz toda aquela imponência tão característica do "mal-humorado" João Havelange - seu trabalho corporal merece elogios e seu sotaque (que traz uma particularidade européia ancestral do protagonista) funcionam perfeitamente. No final das contas, "Jogo da Corrupção" se não tem um compromisso histórico com 100% da verdade (ainda que que fale muitas e absurdas), é um entretenimento de primeira qualidade para quem gosta de futebol e vive uma vida, como dizia o próprio Havelange, entre duas Copas do Mundo.
Vale seu play!
Os bastidores do futebol já provou ser capaz de nos entregar histórias (recheadas de curiosidades) incríveis. Embora reproduzir momentos marcantes do esporte seja uma das missões mais complicadas no audiovisual, é de se considerar que tudo que envolve paixão, superação e relevância histórica acaba se tornando um prato cheio para os roteiristas adaptarem na ficção. A nova temporada de "El presidente" é mais um ótimo exemplo disso e mesmo escolhendo um conceito narrativo (na minha opinião) duvidoso, ainda assim é muito eficaz em contar de uma forma leve e divertida, como o futebol se transformou em um negócio multimilionário que vai muito além das quatro linhas.
A partir de um olhar satírico sobre os bastidores da corrupção no futebol, a série narra a história de origem da FIFA. De uma simples organização esportiva que acabou se transformando em uma potência comercial e política, acompanhamos o ex-presidente da FIFA, João Havelange (Albano Jerónimo), o líder brasileiro que de maneira improvável manteve o controle da organização por quase trinta anos, usurpando o poder dos europeus. O "Jogo da Corrupção" explora as histórias de Havelange fazendo grandes apostas mas, principalmente, de como ele transformou o esporte mais popular do mundo em uma máquina de fazer dinheiro. Confira o trailer:
Se você gostou de "El Presidente" você vai gostar de "Jogo da Corrupção", afinal essa "segunda temporada" repete os mesmos erros e acertos dos episódios que abordaram as inúmeras facetas do FIFAGate. Pois bem, talvez o primeiro equivoco conceitual da série seja justamente considerar "El Presidente" uma série - na verdade (e por isso esse review independente) estamos falando de uma antologia, dentro de um mesmo universo, claro, mas que não exigiria a menor necessidade de conexão entre elas. Assumir que elas são uma "antologia" ajudaria muito na percepção de valor de suas histórias, porém ao trazer o protagonista da "primeira temporada" para ser o narrador da "segunda" cria esse elo dramático que, sinceramente, não leva a lugar algum - a não o de dar um conceito "pastelão" para algo que poderia ter sido melhor desenvolvido como drama.
Aqui, Andrés Parra como Sergio Jadue (presidente da federação chilena de futebol) substitui Julio Grondona (da federação argentina) na função de narrador. Muito talentoso e extremamente carismático, Jadue tem a função onipresente de ser o alívio cômico da série - funciona, mas o roteiro se apoia tanto na sua presença que ela perde sua razão de existir já no terceiro episódio (é tão maçante que se não fosse o valor histórico da trama, muito da audiência certamente desistiria da jornada). Ok, eu entendo as escolhas conceituais da direção, mas como em "El Presidente" quem assiste "Jogo da Corrupção" quer saber sobre os bastidores do futebol (como a indecente decisão de Havelange de dar a Copa de 1978 para a Argentina com medo da ditadura do país) e não das histórias de amor entre Castor de Andrade (Eduardo Moscovis) e a fictícia Isabel (Maria Fernanda Cândido).
Mesmo que o trabalho do departamento de maquiagem cause bastante estranhamento, Albano Jerónimo (isso mesmo, um ator português interpretando um brasileiro) traz toda aquela imponência tão característica do "mal-humorado" João Havelange - seu trabalho corporal merece elogios e seu sotaque (que traz uma particularidade européia ancestral do protagonista) funcionam perfeitamente. No final das contas, "Jogo da Corrupção" se não tem um compromisso histórico com 100% da verdade (ainda que que fale muitas e absurdas), é um entretenimento de primeira qualidade para quem gosta de futebol e vive uma vida, como dizia o próprio Havelange, entre duas Copas do Mundo.
Vale seu play!
"Judy" é uma adaptação da peça teatral “End of the Rainbow” de Peter Quilte e mostra o último ano de vida de Judy Garland durante uma turnê de shows em Londres, no inverno de 1968. Com sérios problemas financeiros e sofrendo com os recentes divórcios, Judy se apoiava em remédios e álcool para lidar com a depressão e, principalmente, com a ausência dos filhos.
O filme é muito feliz ao buscar as razões e mostrar os reflexos que uma vida sem amor, sem infância e sob muita pressão pode causar em um ser humano - chega a ser cruel! De fato "Judy" não é uma novidade e muitas outras cinebiografias (como "Elis") e documentários (como "Amy") se apoiam no mesmo tema e entregam o mesmo final, mas é impossível não se emocionar com o excelente trabalho que Renée Zellweger faz no filme - visceral eu diria! Ela está irreconhecível no papel da protagonista, o que resultou nas duas indicações que o filme teve ao Oscar 2020: Melhor Atriz e Melhor Maquiagem e Penteado!
Já na primeira cena do filme temos a real noção da grandiosidade que foi a carreira Judy Garland. O diretor Rupert Goold, de "A História Verdadeira" de 2015, usa de um movimento de câmera bastante inventivo para nos mostrar o contraponto entre a maneira como Judy via sua vida e o que realmente representava sua carreira logo após ganhar o papel de Dorothy em "‘O Mágico de Oz" de 1939. O salto temporal para mais de 30 anos depois mostra o resultado dessa magnitude e é aí que Renée Zellweger chama o filme para ela - esse é o tipo do papel que todo atriz sonha em fazer, pois se trata de uma personagem complexa, afogada pelos fantasmas do passado e sem nenhuma noção da realidade. É um turbilhão de emoções, de fraquezas e de sentimentos que se dissolvem em um único momento: no prazer de ser quem é e de fazer o que quer, aproveitando de um talento muito (mas muito) acima da média - aliás, o roteiro constrói muito bem essa realidade quando o executivo da MGM diz que existiam meninas tão lindas quanto Judy em qualquer lugar dos Estados Unidos, mas com uma voz igual...
A fotografia de Ole Bratt Birkeland (The Crown) é belíssima e aproveita muito bem o trabalho do departamento de arte com cenários luxuosos e um figurino cheio de extravagâncias - mas, detalhe: sem nunca sair fora do tom! O filme trabalha muito bem o colorido do showbiz com a monocromática tristeza de Judy e isso gera uma angústia enorme em quem assiste, pois nunca sabemos quando uma vai se sobrepor a outra - é como se estivéssemos sempre tensos observando uma bomba prestes à explodir. Judy Garland era uma bomba relógio, para o bem e para o mal! É possível observar no roteiro de Tom Edge (também de "The Crown") elementos extremamente teatrais como quando os fãs de Judy ajudam ela a cantar em um dos shows, mas isso não estraga a experiência de quem assiste, pois a Renée Zellweger nos convida a mergulhar naquela história que nem nos incomodamos com a forma, apenas nos emocionamos com o conteúdo!
"Judy" é um filme que já vimos, mas que servirá para sacramentar o renascimento de Zellweger - uma atriz que teve grandes momentos com o "Diário de Bridget Jones", com "Chicago" e o seu ápice com "Cold Mountain" (que, inclusive, lhe rendeu o Oscar de atriz coadjuvante em 2004). Mesmo exagerada e muitas vezes caricata, sua expressão corporal é impressionante - ela se contorce em sua dor íntima ao mesmo tempo em que se impõe na força de quem ainda tem um talento absurdo, mesmo insegura, mesmo infeliz! Renée Zellweger é tão favorita quanto Joaquin Phoenix com "Coringa" e é a principal razão para assistir "Judy"!
Up-date: "Judy" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!
"Judy" é uma adaptação da peça teatral “End of the Rainbow” de Peter Quilte e mostra o último ano de vida de Judy Garland durante uma turnê de shows em Londres, no inverno de 1968. Com sérios problemas financeiros e sofrendo com os recentes divórcios, Judy se apoiava em remédios e álcool para lidar com a depressão e, principalmente, com a ausência dos filhos.
O filme é muito feliz ao buscar as razões e mostrar os reflexos que uma vida sem amor, sem infância e sob muita pressão pode causar em um ser humano - chega a ser cruel! De fato "Judy" não é uma novidade e muitas outras cinebiografias (como "Elis") e documentários (como "Amy") se apoiam no mesmo tema e entregam o mesmo final, mas é impossível não se emocionar com o excelente trabalho que Renée Zellweger faz no filme - visceral eu diria! Ela está irreconhecível no papel da protagonista, o que resultou nas duas indicações que o filme teve ao Oscar 2020: Melhor Atriz e Melhor Maquiagem e Penteado!
Já na primeira cena do filme temos a real noção da grandiosidade que foi a carreira Judy Garland. O diretor Rupert Goold, de "A História Verdadeira" de 2015, usa de um movimento de câmera bastante inventivo para nos mostrar o contraponto entre a maneira como Judy via sua vida e o que realmente representava sua carreira logo após ganhar o papel de Dorothy em "‘O Mágico de Oz" de 1939. O salto temporal para mais de 30 anos depois mostra o resultado dessa magnitude e é aí que Renée Zellweger chama o filme para ela - esse é o tipo do papel que todo atriz sonha em fazer, pois se trata de uma personagem complexa, afogada pelos fantasmas do passado e sem nenhuma noção da realidade. É um turbilhão de emoções, de fraquezas e de sentimentos que se dissolvem em um único momento: no prazer de ser quem é e de fazer o que quer, aproveitando de um talento muito (mas muito) acima da média - aliás, o roteiro constrói muito bem essa realidade quando o executivo da MGM diz que existiam meninas tão lindas quanto Judy em qualquer lugar dos Estados Unidos, mas com uma voz igual...
A fotografia de Ole Bratt Birkeland (The Crown) é belíssima e aproveita muito bem o trabalho do departamento de arte com cenários luxuosos e um figurino cheio de extravagâncias - mas, detalhe: sem nunca sair fora do tom! O filme trabalha muito bem o colorido do showbiz com a monocromática tristeza de Judy e isso gera uma angústia enorme em quem assiste, pois nunca sabemos quando uma vai se sobrepor a outra - é como se estivéssemos sempre tensos observando uma bomba prestes à explodir. Judy Garland era uma bomba relógio, para o bem e para o mal! É possível observar no roteiro de Tom Edge (também de "The Crown") elementos extremamente teatrais como quando os fãs de Judy ajudam ela a cantar em um dos shows, mas isso não estraga a experiência de quem assiste, pois a Renée Zellweger nos convida a mergulhar naquela história que nem nos incomodamos com a forma, apenas nos emocionamos com o conteúdo!
"Judy" é um filme que já vimos, mas que servirá para sacramentar o renascimento de Zellweger - uma atriz que teve grandes momentos com o "Diário de Bridget Jones", com "Chicago" e o seu ápice com "Cold Mountain" (que, inclusive, lhe rendeu o Oscar de atriz coadjuvante em 2004). Mesmo exagerada e muitas vezes caricata, sua expressão corporal é impressionante - ela se contorce em sua dor íntima ao mesmo tempo em que se impõe na força de quem ainda tem um talento absurdo, mesmo insegura, mesmo infeliz! Renée Zellweger é tão favorita quanto Joaquin Phoenix com "Coringa" e é a principal razão para assistir "Judy"!
Up-date: "Judy" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!
"Juno" levou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2008, teve uma carreira premiadíssima nos Festivais pelo mundo e de fato merece ser assistido! Se você só passou por ele, volte e dê uma chance: ele é uma graça, leve, sensível, muito bem dirigido pelo Jason Reitman (Amor sem Escalas) e com uma interpretação maravilhosa da Ellen Page (também indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme).
Juno (Page) é uma estudante de 16 anos que descobre estar grávida do amigo Bleek (Michael Cera). Ao contrário do que sua personalidade parece mostrar, Juno sabe que não possui responsabilidade suficiente para cuidar de uma criança, e opta pelo aborto. Mas logo muda de ideia, e resolve dar o bebê para a adoção, a fim de que a criança possa ter uma família que a cuide e crie com carinho. Com a ajuda de sua amiga Leah (Olivia Thirlby), Juno conta a novidade para o pai (J.K. Simmons) e sua madrasta (Allison Janey), e após um tempo, se depara com o casal Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), que desejam adotar um bebê devido a impossibilidade de Vanessa em engravidar. Querendo apenas fugir da real importância de sua situação, Juno decide doar seu bebê para o casal, mas a realidade ainda em formação de Juno se choca com a convivência conflituosa do casamento entre Mark e Vanessa, o que acarreta algumas situações e aproximações improváveis. Confira o trailer:
Obviamente que o roteiro é o ponto alto do filme e aí é preciso que se diga que "Juno" é, essencialmente, um filme de personagens. A história pode até não ter grandes oscilações dramáticas tão comuns em produções onde os elementos "adolescente" e "gravidez" caminham juntos, mas é de se elogiar os diálogos construídos pela roteirista americana Diablo Cody (Paraíso: Em Busca da Felicidade) para a protagonista: são inteligentes, ácidos, irônicos e ao mesmo tempo inocentes - tudo no tom exato para fazer Page brilhar. Aliás, todo o elenco é para se aplaudir de pé: J.K. Simmons, Allison Janney, Michael Cera, Jennifer Garner e Jason Bateman; todos estão afinadíssimos com o texto de Cody. Reparem na Olivia Thirlby, que interpreta Leah, a melhor amiga de Juno - as melhores sacadas do filme são dela!
A trilha sonora é outro show: "All I Want Is You", "A Well Respected Man", "So Nice So Smart", "Sea of Love" e a emocionante "Anyone Else But You" que ganha uma sequência maravilhosa no final do filme com Page e Cera, são as cerejas do bolo. "Juno" é daqueles raros filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto e com o coração cheio de amor - se não é um filme inesquecível, embora tenha elementos para isso, certamente é um entretenimento que vai fazer seu dia melhor!
Vale muito a pena!
Up-date: "Juno" disputou na categoria "Melhor Filme" a ainda recebeu mais três indicações no Oscar 2020: além da vitória em "Roteiro Adaptado", Page disputou como "Melhor Atriz" e Jason Reitman como "Melhor Diretor".
"Juno" levou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2008, teve uma carreira premiadíssima nos Festivais pelo mundo e de fato merece ser assistido! Se você só passou por ele, volte e dê uma chance: ele é uma graça, leve, sensível, muito bem dirigido pelo Jason Reitman (Amor sem Escalas) e com uma interpretação maravilhosa da Ellen Page (também indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme).
Juno (Page) é uma estudante de 16 anos que descobre estar grávida do amigo Bleek (Michael Cera). Ao contrário do que sua personalidade parece mostrar, Juno sabe que não possui responsabilidade suficiente para cuidar de uma criança, e opta pelo aborto. Mas logo muda de ideia, e resolve dar o bebê para a adoção, a fim de que a criança possa ter uma família que a cuide e crie com carinho. Com a ajuda de sua amiga Leah (Olivia Thirlby), Juno conta a novidade para o pai (J.K. Simmons) e sua madrasta (Allison Janey), e após um tempo, se depara com o casal Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), que desejam adotar um bebê devido a impossibilidade de Vanessa em engravidar. Querendo apenas fugir da real importância de sua situação, Juno decide doar seu bebê para o casal, mas a realidade ainda em formação de Juno se choca com a convivência conflituosa do casamento entre Mark e Vanessa, o que acarreta algumas situações e aproximações improváveis. Confira o trailer:
Obviamente que o roteiro é o ponto alto do filme e aí é preciso que se diga que "Juno" é, essencialmente, um filme de personagens. A história pode até não ter grandes oscilações dramáticas tão comuns em produções onde os elementos "adolescente" e "gravidez" caminham juntos, mas é de se elogiar os diálogos construídos pela roteirista americana Diablo Cody (Paraíso: Em Busca da Felicidade) para a protagonista: são inteligentes, ácidos, irônicos e ao mesmo tempo inocentes - tudo no tom exato para fazer Page brilhar. Aliás, todo o elenco é para se aplaudir de pé: J.K. Simmons, Allison Janney, Michael Cera, Jennifer Garner e Jason Bateman; todos estão afinadíssimos com o texto de Cody. Reparem na Olivia Thirlby, que interpreta Leah, a melhor amiga de Juno - as melhores sacadas do filme são dela!
A trilha sonora é outro show: "All I Want Is You", "A Well Respected Man", "So Nice So Smart", "Sea of Love" e a emocionante "Anyone Else But You" que ganha uma sequência maravilhosa no final do filme com Page e Cera, são as cerejas do bolo. "Juno" é daqueles raros filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto e com o coração cheio de amor - se não é um filme inesquecível, embora tenha elementos para isso, certamente é um entretenimento que vai fazer seu dia melhor!
Vale muito a pena!
Up-date: "Juno" disputou na categoria "Melhor Filme" a ainda recebeu mais três indicações no Oscar 2020: além da vitória em "Roteiro Adaptado", Page disputou como "Melhor Atriz" e Jason Reitman como "Melhor Diretor".
"Jury Duty" é uma daquelas séries que se destaca muito mais pela sua originalidade do que propriamente pelo seu roteiro bem amarradinho, no entanto, posso te garantir que se você gosta do estilo "The Office" de narrativa, certamente você vai se apaixonar por esse projeto experimental criado pelo Lee Eisenberg (de "WeCrashed") e pelo Gene Stupnitsky (de "Hello Ladies"), ambos de "The Office", que surpreendeu os críticos (e o público) ao receber 4 indicações no Emmy de 2023, inclusive o de "Melhor Série de Comédia". Após 6 episódios de cerca de 30 minutos cada, o que eu posso adiantar sem prejudicar sua experiência, é que aqui temos um olhar divertido que vai muito além das curiosidades do sistema judicial americano durante um julgamento - na verdade encontramos mesmo é um ótimo recorte do comportamento humano sob a perspectiva de quem acredita que pode fazer a diferença para a sociedade e, principalmente, para o seu semelhante.
"Na Mira do Júri" (título que recebeu por aqui) acompanha o desenrolar de um julgamento nos Estados Unidos pela perspectiva de Ronald Gladden, um jovem que acredita estar participando de um documentário sobre os bastidores do caso enquanto atua como júri. No entanto, o que ele realmente não sabe é que todo esse julgamento é, na verdade, falso e encenado só por atores. Confira o teaser e sinta o clima:
A grande verdade é que "Jury Duty" não passa de uma grande e hilária pegadinha com o "coitado" do Ronald, no entanto o seu diferencial está na forma como a montagem contextualiza e conta essa história - e é aí que entra o estilo "The Office" que comentei acima. Extremamente fragmentada, toda essa complexa dinâmica narrativa é mostrada seguindo uma estrutura ficcional de tal maneira a nos prender tanto pela trama quanto pelo experimento que o próprio roteiro deixa claro existir a cada inicio de episódio. Se o julgamento soa propositalmente surreal demais, é de se elogiar como o diretor Jake Szymanski (de "Brooklyn Nine-Nine") conduz a série para normalizar isso - reparem como ele usa e abusa dos close-ups das reações de Ronald a cada absurdo que acontece no tribunal ou nas situações envolvendo seus companheiros de júri.
Outro ponto que nos ajuda a acreditar que de fato Ronald não percebe que tudo é falso é a forma inteligente com que Szymanski insere o fator documental na série - ter uma equipe de filmagem próxima aos atores, colhendo os depoimentos dos personagens como se fosse reais, se alinha perfeitamente com a proposta de criar uma sensação de intimidade e veracidade que justifica tantos microfones e câmeras pelo ambiente. Agora, o fator essencial, e que realmente merece o Emmy, sem qualquer receio de cravar a vitória, diz respeito ao trabalho da produtora de elenco Susie Farris (de "Mr. Robot"). O sucesso de "Jury Duty" está na capacidade do elenco em acreditar que mesmo dentro daquela atmosfera surreal, tudo não passa de uma extensão estereotipada do jeito com que cada um se relaciona com aquela história e isso é muito difícil de conseguir - então, palmas para Farris! Como diz a própria atriz Cassandra Blair que interpreta a desconfiada e sem paciência Vanessa Jenkins: "90% somos nós, 10% nossos personagens".
Com inúmeras câmeras escondidas, habilmente reveladas pela produção no último episódio (um gran finale belíssimo) que serve para atestar que o planejamento realmente se sobrepôs às possíveis dúvidas sobre a veracidade do resultado da experiência, eu diria que "Jury Duty", definitivamente, não é sobre o fato de Ronald estar sendo enganado ou eventualmente parecer fazer papel de bobo, é sim sobre a absurdidade dos eventos e como, presenciando tudo aquilo, uma pessoa comum reagiria a eles - e aqui cabe um comentário: a presença do ator James Marsden (de "X-Men"), como ele mesmo, e a relação dele com Ronald são as cerejas do bolo dessa maluquice toda. Olha, um golaço da Amazon!
Vale muito o seu play!
"Jury Duty" é uma daquelas séries que se destaca muito mais pela sua originalidade do que propriamente pelo seu roteiro bem amarradinho, no entanto, posso te garantir que se você gosta do estilo "The Office" de narrativa, certamente você vai se apaixonar por esse projeto experimental criado pelo Lee Eisenberg (de "WeCrashed") e pelo Gene Stupnitsky (de "Hello Ladies"), ambos de "The Office", que surpreendeu os críticos (e o público) ao receber 4 indicações no Emmy de 2023, inclusive o de "Melhor Série de Comédia". Após 6 episódios de cerca de 30 minutos cada, o que eu posso adiantar sem prejudicar sua experiência, é que aqui temos um olhar divertido que vai muito além das curiosidades do sistema judicial americano durante um julgamento - na verdade encontramos mesmo é um ótimo recorte do comportamento humano sob a perspectiva de quem acredita que pode fazer a diferença para a sociedade e, principalmente, para o seu semelhante.
"Na Mira do Júri" (título que recebeu por aqui) acompanha o desenrolar de um julgamento nos Estados Unidos pela perspectiva de Ronald Gladden, um jovem que acredita estar participando de um documentário sobre os bastidores do caso enquanto atua como júri. No entanto, o que ele realmente não sabe é que todo esse julgamento é, na verdade, falso e encenado só por atores. Confira o teaser e sinta o clima:
A grande verdade é que "Jury Duty" não passa de uma grande e hilária pegadinha com o "coitado" do Ronald, no entanto o seu diferencial está na forma como a montagem contextualiza e conta essa história - e é aí que entra o estilo "The Office" que comentei acima. Extremamente fragmentada, toda essa complexa dinâmica narrativa é mostrada seguindo uma estrutura ficcional de tal maneira a nos prender tanto pela trama quanto pelo experimento que o próprio roteiro deixa claro existir a cada inicio de episódio. Se o julgamento soa propositalmente surreal demais, é de se elogiar como o diretor Jake Szymanski (de "Brooklyn Nine-Nine") conduz a série para normalizar isso - reparem como ele usa e abusa dos close-ups das reações de Ronald a cada absurdo que acontece no tribunal ou nas situações envolvendo seus companheiros de júri.
Outro ponto que nos ajuda a acreditar que de fato Ronald não percebe que tudo é falso é a forma inteligente com que Szymanski insere o fator documental na série - ter uma equipe de filmagem próxima aos atores, colhendo os depoimentos dos personagens como se fosse reais, se alinha perfeitamente com a proposta de criar uma sensação de intimidade e veracidade que justifica tantos microfones e câmeras pelo ambiente. Agora, o fator essencial, e que realmente merece o Emmy, sem qualquer receio de cravar a vitória, diz respeito ao trabalho da produtora de elenco Susie Farris (de "Mr. Robot"). O sucesso de "Jury Duty" está na capacidade do elenco em acreditar que mesmo dentro daquela atmosfera surreal, tudo não passa de uma extensão estereotipada do jeito com que cada um se relaciona com aquela história e isso é muito difícil de conseguir - então, palmas para Farris! Como diz a própria atriz Cassandra Blair que interpreta a desconfiada e sem paciência Vanessa Jenkins: "90% somos nós, 10% nossos personagens".
Com inúmeras câmeras escondidas, habilmente reveladas pela produção no último episódio (um gran finale belíssimo) que serve para atestar que o planejamento realmente se sobrepôs às possíveis dúvidas sobre a veracidade do resultado da experiência, eu diria que "Jury Duty", definitivamente, não é sobre o fato de Ronald estar sendo enganado ou eventualmente parecer fazer papel de bobo, é sim sobre a absurdidade dos eventos e como, presenciando tudo aquilo, uma pessoa comum reagiria a eles - e aqui cabe um comentário: a presença do ator James Marsden (de "X-Men"), como ele mesmo, e a relação dele com Ronald são as cerejas do bolo dessa maluquice toda. Olha, um golaço da Amazon!
Vale muito o seu play!
Filmes de ação raramente entregam histórias que nos fazem refletir sobre o sistema e a corrupção como deveriam. Na maioria das vezes as cenas frenéticas tomam conta da tela e engolem qualquer história diante de tantas coreografias de lutas, tiros e perseguições. Mas “Justiça Brutal” entrega tudo o que gênero pede e muito mais - você só deve ter em mente que o desenvolvimento da narrativa é um pouco mais lenta que o usual. O filme ainda explora o contexto social e aborda temas relevantes como o racismo, sem deixar sequências espetaculares de perseguição e tiroteio de lado.
Na trama, o veterano policial Brett Ridgeman (Mel Gibson) e seu parceiro mais jovem e volátil, Anthony Lurasetti (Vince Vaughn), são suspensos quando um vídeo de suas táticas de trabalho brutais vira notícia. Sem dinheiro e sem opções, eles decidem entrar para o mundo do crime. Porém, o que eles encontram na criminalidade é algo muito mais obscuro do que esperavam. Confira o trailer (em inglês):
Com uma premissa interessante, a primeira hora pode decepcionar aquelas pessoas que esperam muito mais por explosões, lutas e tiroteios, mas “Dragged Across Concrete” (no original) se preocupa muito mais em apresentar seus personagens e todo o contexto social antes de chegar no ápice da ação. Ainda assim, devo ressaltar que a ação é contida, existe muito mais uma tensão crescente nos momentos de perseguições do que outros artifícios usados para gerar o êxtase visual - você ficará apreensivo com o decorrer da história, definitivamente. Eu diria que é uma experiência diferente de filmes de ação de atores como Liam Neeson ou Jason Statham.
A direção traz alguns elementos interessantes de séries como ”Breaking Bad”, por exemplo - que praticamente acompanham o dia a dia de seus personagens como se a câmera estivesse escondida, mostrando cada passo, cada detalhe! Ao mesmo tempo, se você gosta de um estilo mais clássico como ”Fogo Contra Fogo”, provavelmente a sua experiência com esse thriller de ação escrito e dirigido por S. Craig Zahler (dos aclamados ”Rastros de Maldade” e ”Confusão no Pavilhão 99”), será completa e te garanto: esse é mais um daqueles achados que só nos resta agradecer ao serviço de streaming.
No elenco todos entregam perfomances marcantes, especialmente os protagonistas Mel Gibson e Vince Vaughn, que poderiam facilmente estrelar uma temporada de ”True Detective”! Que química incrível esses dois tem em cena. Assim como Matthew McConaughey e Woody Harrelson haviam trabalhado juntos anteriormente e anos depois estrelaram a série antológica da HBO.
“Justiça Brutal” se diferencia dos demais filmes de ação por ser bem construído, realista e, de fato, brutal. O filme pode ser facilmente comparado aos clássicos de ação e suspense criminal, e não aos recentes filmes esquecíveis que o gênero vem produzindo.
PS: o que impede o filme ser uma obra-prima "nível Michael Mann", talvez seja o excesso e até mesmo um pouco de pieguice no seu desfecho. Imagino que um certo polimento teria feito muito bem a narrativa, especialmente porque todos os inúmeros acertos da direção e do roteiro são notáveis.
Vale o seu play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Filmes de ação raramente entregam histórias que nos fazem refletir sobre o sistema e a corrupção como deveriam. Na maioria das vezes as cenas frenéticas tomam conta da tela e engolem qualquer história diante de tantas coreografias de lutas, tiros e perseguições. Mas “Justiça Brutal” entrega tudo o que gênero pede e muito mais - você só deve ter em mente que o desenvolvimento da narrativa é um pouco mais lenta que o usual. O filme ainda explora o contexto social e aborda temas relevantes como o racismo, sem deixar sequências espetaculares de perseguição e tiroteio de lado.
Na trama, o veterano policial Brett Ridgeman (Mel Gibson) e seu parceiro mais jovem e volátil, Anthony Lurasetti (Vince Vaughn), são suspensos quando um vídeo de suas táticas de trabalho brutais vira notícia. Sem dinheiro e sem opções, eles decidem entrar para o mundo do crime. Porém, o que eles encontram na criminalidade é algo muito mais obscuro do que esperavam. Confira o trailer (em inglês):
Com uma premissa interessante, a primeira hora pode decepcionar aquelas pessoas que esperam muito mais por explosões, lutas e tiroteios, mas “Dragged Across Concrete” (no original) se preocupa muito mais em apresentar seus personagens e todo o contexto social antes de chegar no ápice da ação. Ainda assim, devo ressaltar que a ação é contida, existe muito mais uma tensão crescente nos momentos de perseguições do que outros artifícios usados para gerar o êxtase visual - você ficará apreensivo com o decorrer da história, definitivamente. Eu diria que é uma experiência diferente de filmes de ação de atores como Liam Neeson ou Jason Statham.
A direção traz alguns elementos interessantes de séries como ”Breaking Bad”, por exemplo - que praticamente acompanham o dia a dia de seus personagens como se a câmera estivesse escondida, mostrando cada passo, cada detalhe! Ao mesmo tempo, se você gosta de um estilo mais clássico como ”Fogo Contra Fogo”, provavelmente a sua experiência com esse thriller de ação escrito e dirigido por S. Craig Zahler (dos aclamados ”Rastros de Maldade” e ”Confusão no Pavilhão 99”), será completa e te garanto: esse é mais um daqueles achados que só nos resta agradecer ao serviço de streaming.
No elenco todos entregam perfomances marcantes, especialmente os protagonistas Mel Gibson e Vince Vaughn, que poderiam facilmente estrelar uma temporada de ”True Detective”! Que química incrível esses dois tem em cena. Assim como Matthew McConaughey e Woody Harrelson haviam trabalhado juntos anteriormente e anos depois estrelaram a série antológica da HBO.
“Justiça Brutal” se diferencia dos demais filmes de ação por ser bem construído, realista e, de fato, brutal. O filme pode ser facilmente comparado aos clássicos de ação e suspense criminal, e não aos recentes filmes esquecíveis que o gênero vem produzindo.
PS: o que impede o filme ser uma obra-prima "nível Michael Mann", talvez seja o excesso e até mesmo um pouco de pieguice no seu desfecho. Imagino que um certo polimento teria feito muito bem a narrativa, especialmente porque todos os inúmeros acertos da direção e do roteiro são notáveis.
Vale o seu play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Talvez, dos concorrentes ao Oscar 2017, "Lion" seja o filme mais humano e profundo do ano. É, de fato, uma história muito bonita e a maneira como é retratada te deixa com um nó na garganta o tempo todo.
Baseado em uma história real e adaptado do livro "A Long Way Home" de Saroo Brierley, o filme mostra a jornada de um menino indiano de cinco anos que se perde nas ruas de Calcutá, a milhares de quilómetros de sua casa. Sobrevivendo a muitos desafios, ele acaba adotado por uma família australiana até que, 25 anos depois, decide encontrar a sua família biológica e voltar a sua aldeia na Índia, a partir das poucas lembranças que tem e de inúmeras pesquisas e buscas através do Google Earth. Confira o trailer:
"Lion" provoca uma mistura de sensações tão particulares e poucos filmes são capazes de causar isso! Dos produtores de "O Discurso do Rei" e com o excelente diretor australiano Garth Davis (de Maria Madalena) no comando, eu sou capaz de fizer que "Lion" é o tipo de filme que agrada à todos pela força da sua história e pela delicadeza com que se relaciona com os sentimentos mais íntimos do protagonista - e aqui cabe duas observações: O ator mirim Sunny Pawar é encantador como Saroo ainda criança, e nos conquista no olhar, na dor, na solidão e no amor da lembrança que tem da sua família. Já Dev Patel que vive o mesmo personagem, mas adulto, tem uma das melhores performances da sua carreira. Seu trabalho é quase um convite aos sentimentos mais íntimos de um ser humano sem a menor necessidade de usar as palavras para poder expressá-los - é emocionante e a forma como ele se relaciona com todos a sua volta é digna de muitos prêmios!
Outro detalhe que merece sua atenção diz respeito ao excelente trabalho do diretor de fotografia Greig Fraser (de "Vice", "Duna" e do novo "Batman"). Ele enquadra com maestria desde as favelas indianas até a linda costa australiana - esses dois mundos que fizeram parte da vida de Saroo em diferentes momentos, transformam a conexão emocional do personagem através de uma estética visual extremamente alinhada (e necessária) à história, para que possamos entender o que representava o caos e o que é o aconchego e a tranqüilidade que povoaram a mente ingênua de um garoto até o desconforto de sua maturidade nos dias de hoje!
O filme foi indicado em seis categorias ao Oscar, inclusive de "Melhor Filme", mas deve se contentar com os prêmios de "Melhor Roteiro Adaptado" e, por favor, "Melhor Ator Coadjuvante". Já Nicole Kidman correndo por fora - acho que não leva, mas é preciso dizer que ela foi protagonista de uma das cenas mais lindas que eu vi nos últimos tempos quando ela conversa com o filho adotivo e explica o "por quê" das suas decisões - olha, é uma grande cena, para um grande filme!!!!
Vale muito o seu play!
Up-date: Injustamente "Lion" não ganhou em nenhuma das categorias pelas quais foi indicado no Oscar 2017.
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
"Lorena" é uma minissérie documental da Prime Vídeo das mais curiosas - primeiro por se tratar de uma história incomum e segundo por ser um recorte infeliz de parte de uma sociedade americana que merece (ou não) ser estudada. Desde o inicio do documentário já nos deparamos com o circo que foi criado em cima de um fato muito sério, que teve como causa episódios de violência doméstica e como resultado uma lesão corporal das mais graves. O grande problema, no entanto, foi a espetacularização do caso e graças a isso, as consequências foram as mais cruéis para todos os envolvidos.
Em 1993, as manchetes de todo mundo divulgavam, vorazmente, a história da jovem imigrante Lorena Bobbitt que cortou o órgão genital de seu marido, John Wayne Bobbitt, um ex-fuzileiro da marinha americana. O assunto, que dominou a imprensa ao longo de todo o ano, e que virou motivo piada por muito tempo, trazia o "bizarro" como seu fator mais instigante, mas escondia uma dolorosa experiência de sofrimento fisico e psicológico contínuo ao longo de quatro anos de uma relação completamente abusiva. Confira o trailer (em inglês):
Dividida em quatro episódios de uma hora, a minissérie produzida por Jordan Peele (vencedor do Oscar por "Corra!") tenta corrigir os erros cometidos pela mídia nos anos 90, entender as motivações de Lorena para atacar John Wayne e ainda posicionar os dois lados da história de uma forma que a própria audiência tire suas conclusões - e te garanto: é impossível não julgar as atitudes dos dois personagens a cada nova informação! Obviamente, o documentário traça uma linha do tempo baseada não apenas em como o crime se tornou alvo de tabloides mundiais (com um significado cultural bem mais forte nos Estados Unidos), mas de como essa narrativa foi contada de uma forma completamente unilateral. Mesmo respeitando as limitações da época do crime, "Lorena" busca outros olhares, interpretações e acaba pontuando, da sua forma, como a sociedade lidou com tudo isso da pior maneira possível. Vale lembrar que quando o caso veio à tona, todos lembravam do membro decepado do rapaz, mas poucos comentavam sobre a moça que foi agredida e estuprada.
A minissérie é muito competente em montar um denso e complexo mapa de conexões onde nomes, locais, circunstâncias e contextos são interligados de maneira muito simples e inteligente, nos dando uma percepção bastante clara e completa sobre o caso. São depoimentos de médicos, cirurgiões, enfermeiros, socorristas, advogados, familiares, amigos e até de membros do júri, que se conectam com uma quantidade enorme (e relevante) de imagens de arquivo - aliás, em um dos episódios temos acesso aos trechos mais importantes do testemunho da própria Lorena em seu julgamento, que na época foi transmitido ao vivo pela "Court TV", e olha, são impressionantes! Sem cortes, sem trilha, apenas as palavras de uma mulher que mal consegue se comunicar, relatando como foi violentada e estuprada pelo marido - é de embrulhar o estômago e muito difícil de assistir.
Dirigida pelo talentoso Joshua Rofé, a minissérie acerta em cheio ao mostrar diversos olhares de uma mesma história sem ter a pretensão (pelo menos descaradamente) de nomear um vilão ou um mocinho. O fato é que "Lorena" explica como o senso comum preferiu se apegar ao que existe de mais superficial sobre o assunto, buscando um debate ignorante sobre violência em troca de uma audiência alta, enquanto as consequências desse silêncio serviram apenas para dar continuidade a um problema que está longe de ser extinto!
Vale muito o seu play!
"Lorena" é uma minissérie documental da Prime Vídeo das mais curiosas - primeiro por se tratar de uma história incomum e segundo por ser um recorte infeliz de parte de uma sociedade americana que merece (ou não) ser estudada. Desde o inicio do documentário já nos deparamos com o circo que foi criado em cima de um fato muito sério, que teve como causa episódios de violência doméstica e como resultado uma lesão corporal das mais graves. O grande problema, no entanto, foi a espetacularização do caso e graças a isso, as consequências foram as mais cruéis para todos os envolvidos.
Em 1993, as manchetes de todo mundo divulgavam, vorazmente, a história da jovem imigrante Lorena Bobbitt que cortou o órgão genital de seu marido, John Wayne Bobbitt, um ex-fuzileiro da marinha americana. O assunto, que dominou a imprensa ao longo de todo o ano, e que virou motivo piada por muito tempo, trazia o "bizarro" como seu fator mais instigante, mas escondia uma dolorosa experiência de sofrimento fisico e psicológico contínuo ao longo de quatro anos de uma relação completamente abusiva. Confira o trailer (em inglês):
Dividida em quatro episódios de uma hora, a minissérie produzida por Jordan Peele (vencedor do Oscar por "Corra!") tenta corrigir os erros cometidos pela mídia nos anos 90, entender as motivações de Lorena para atacar John Wayne e ainda posicionar os dois lados da história de uma forma que a própria audiência tire suas conclusões - e te garanto: é impossível não julgar as atitudes dos dois personagens a cada nova informação! Obviamente, o documentário traça uma linha do tempo baseada não apenas em como o crime se tornou alvo de tabloides mundiais (com um significado cultural bem mais forte nos Estados Unidos), mas de como essa narrativa foi contada de uma forma completamente unilateral. Mesmo respeitando as limitações da época do crime, "Lorena" busca outros olhares, interpretações e acaba pontuando, da sua forma, como a sociedade lidou com tudo isso da pior maneira possível. Vale lembrar que quando o caso veio à tona, todos lembravam do membro decepado do rapaz, mas poucos comentavam sobre a moça que foi agredida e estuprada.
A minissérie é muito competente em montar um denso e complexo mapa de conexões onde nomes, locais, circunstâncias e contextos são interligados de maneira muito simples e inteligente, nos dando uma percepção bastante clara e completa sobre o caso. São depoimentos de médicos, cirurgiões, enfermeiros, socorristas, advogados, familiares, amigos e até de membros do júri, que se conectam com uma quantidade enorme (e relevante) de imagens de arquivo - aliás, em um dos episódios temos acesso aos trechos mais importantes do testemunho da própria Lorena em seu julgamento, que na época foi transmitido ao vivo pela "Court TV", e olha, são impressionantes! Sem cortes, sem trilha, apenas as palavras de uma mulher que mal consegue se comunicar, relatando como foi violentada e estuprada pelo marido - é de embrulhar o estômago e muito difícil de assistir.
Dirigida pelo talentoso Joshua Rofé, a minissérie acerta em cheio ao mostrar diversos olhares de uma mesma história sem ter a pretensão (pelo menos descaradamente) de nomear um vilão ou um mocinho. O fato é que "Lorena" explica como o senso comum preferiu se apegar ao que existe de mais superficial sobre o assunto, buscando um debate ignorante sobre violência em troca de uma audiência alta, enquanto as consequências desse silêncio serviram apenas para dar continuidade a um problema que está longe de ser extinto!
Vale muito o seu play!
"Somos todos iguais aos olhos da lei", mas como bem completou o personagem Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) em "Tempo de Matar": "o problema é que os olhos da lei são humanos!" - partindo dessa premissa, "Luta por Justiça" trás para os dias de hoje muito do que vimos na obra de John Grisham e dirigida por Joel Schumacher em 1996.
Baseada em fatos reais, o filme acompanha o jovem advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) que, após se formar em Harvard, vai para o Alabama com o propósito de defender pessoas que não contaram com uma representação adequada e foram condenadas, na sua grande maioria injustamente, pelo simples fato de serem negros. Com o apoio da advogada local Eva Ansley (Brie Larson), Stevenson assume o caso de Walter McMillian (Jammie Foxx) que, em 1987, foi condenado à morte pelo assassinato brutal de uma jovem de 18 anos. Apesar de inúmeras evidências que apontavam sua inocência (e o fato de que o único depoimento contra ele ser de um criminoso com muitos motivos para mentir), Bryan Stevenson precisa se envolver em um enorme emaranhado de manobras legais e políticas, além de enfrentar uma comunidade extremamente racista, para tentar reverter a pena de McMillian e tirá-lo definitivamente do corredor da morte!
Olha, é um grande filme, tão difícil de digerir quanto "Olhos que Condenam"(Netflix), mas vale muito a pena - agora, é preciso assistir preparado, pois o que vemos é um recorte do que existe de mais repugnante dentro de uma sociedade que se diz desenvolvida e inclusiva!
Monroeville é a cidade onde foi escrito um dos maiores clássicos da literatura americana: "O Sol é para todos"! O livro, que virou museu por lá, discute dois elementos muito bem aproveitados pelo diretor Destin Daniel Cretton (do premiadíssimo "Temporário 12"): racismo e injustiça! Por mais paradoxal que possa parecer, o maior orgulho da cidade está enraizado na história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 30 e que enfrenta enormes represálias da comunidade racista. Pois bem, a citações de "O Sol é para todos" vão além da coincidência geográfica com o caso de Walter McMillian, pois o roteiro aproveita de pequenas passagens para escancarar a hiprocrisia local - reparem na cena em que o advogado Bryan Stevenson vai visitar o promotor Tommy Chapman (Rafe Spall ) em seu gabinete. É de embrulhar o estômago!
O filme é tecnicamente muito bem realizado, tem uma dinâmica narrativa interessante - embora muitas vezes professoral demais, mas completamente justificável graças a necessidade de estabelecer os pontos jurídicos mais delicados do caso McMillian. É fato que a escolha pelo filme vai depender da sua identificação com o tema, ou seja, você só vai reclamar dessa característica mais didática, se não gostar do assunto! Fora isso, o diretor Destin Daniel Cretton foi muito inteligente em nos colocar dentro da trama ao nos apresentar um personagem simples mas carismático, brilhantemente interpretado pelo Jammie Foxx - e aqui cabe uma observação: não fosse uma das categorias mais disputadas do Oscar 2020, fatalmente Foxx seria indicado como ator coadjuvante (tanto que esteve entre os melhores no "Screen Actors Guild Awards"). Ele está impecável! Michael B. Jordan também entrega um personagem interessante e um respeitável trabalho - eu diria que é uma versão mais introspectiva de Jake Tyler Brigance, mas sem uma cena forte e impactante como nas considerações finais em "Tempo de Matar" onde Matthew McConaughey se consagrou - isso fez muita falta para Jordan brilhar como deveria! Já a presença de Brie Larson é muito mais em decorrência do seu ativismo pela causa do que por sua importância na trama - aqui Sandra Bullock deixa Brie no chinelo com sua personagem no mesmo "Tempo de Matar".
"Luta por Justiça" é o tipo do filme que, mesmo não sendo grandioso, nos faz refletir por algumas horas após sua exibição! Não é um filme inesquecível, nem original, mas extremamente importante e relevante como causa e entretenimento. É uma história que precisava ser contada e que pega carona nas séries documentais de investigação e tribunal que ganharam muitos fãs depois de "Making a Murderer", "The Jinx" e "The Staircase" - apenas para citar alguns dos recentes sucessos do streaming!
Indico de olhos fechados!
"Somos todos iguais aos olhos da lei", mas como bem completou o personagem Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) em "Tempo de Matar": "o problema é que os olhos da lei são humanos!" - partindo dessa premissa, "Luta por Justiça" trás para os dias de hoje muito do que vimos na obra de John Grisham e dirigida por Joel Schumacher em 1996.
Baseada em fatos reais, o filme acompanha o jovem advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) que, após se formar em Harvard, vai para o Alabama com o propósito de defender pessoas que não contaram com uma representação adequada e foram condenadas, na sua grande maioria injustamente, pelo simples fato de serem negros. Com o apoio da advogada local Eva Ansley (Brie Larson), Stevenson assume o caso de Walter McMillian (Jammie Foxx) que, em 1987, foi condenado à morte pelo assassinato brutal de uma jovem de 18 anos. Apesar de inúmeras evidências que apontavam sua inocência (e o fato de que o único depoimento contra ele ser de um criminoso com muitos motivos para mentir), Bryan Stevenson precisa se envolver em um enorme emaranhado de manobras legais e políticas, além de enfrentar uma comunidade extremamente racista, para tentar reverter a pena de McMillian e tirá-lo definitivamente do corredor da morte!
Olha, é um grande filme, tão difícil de digerir quanto "Olhos que Condenam"(Netflix), mas vale muito a pena - agora, é preciso assistir preparado, pois o que vemos é um recorte do que existe de mais repugnante dentro de uma sociedade que se diz desenvolvida e inclusiva!
Monroeville é a cidade onde foi escrito um dos maiores clássicos da literatura americana: "O Sol é para todos"! O livro, que virou museu por lá, discute dois elementos muito bem aproveitados pelo diretor Destin Daniel Cretton (do premiadíssimo "Temporário 12"): racismo e injustiça! Por mais paradoxal que possa parecer, o maior orgulho da cidade está enraizado na história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 30 e que enfrenta enormes represálias da comunidade racista. Pois bem, a citações de "O Sol é para todos" vão além da coincidência geográfica com o caso de Walter McMillian, pois o roteiro aproveita de pequenas passagens para escancarar a hiprocrisia local - reparem na cena em que o advogado Bryan Stevenson vai visitar o promotor Tommy Chapman (Rafe Spall ) em seu gabinete. É de embrulhar o estômago!
O filme é tecnicamente muito bem realizado, tem uma dinâmica narrativa interessante - embora muitas vezes professoral demais, mas completamente justificável graças a necessidade de estabelecer os pontos jurídicos mais delicados do caso McMillian. É fato que a escolha pelo filme vai depender da sua identificação com o tema, ou seja, você só vai reclamar dessa característica mais didática, se não gostar do assunto! Fora isso, o diretor Destin Daniel Cretton foi muito inteligente em nos colocar dentro da trama ao nos apresentar um personagem simples mas carismático, brilhantemente interpretado pelo Jammie Foxx - e aqui cabe uma observação: não fosse uma das categorias mais disputadas do Oscar 2020, fatalmente Foxx seria indicado como ator coadjuvante (tanto que esteve entre os melhores no "Screen Actors Guild Awards"). Ele está impecável! Michael B. Jordan também entrega um personagem interessante e um respeitável trabalho - eu diria que é uma versão mais introspectiva de Jake Tyler Brigance, mas sem uma cena forte e impactante como nas considerações finais em "Tempo de Matar" onde Matthew McConaughey se consagrou - isso fez muita falta para Jordan brilhar como deveria! Já a presença de Brie Larson é muito mais em decorrência do seu ativismo pela causa do que por sua importância na trama - aqui Sandra Bullock deixa Brie no chinelo com sua personagem no mesmo "Tempo de Matar".
"Luta por Justiça" é o tipo do filme que, mesmo não sendo grandioso, nos faz refletir por algumas horas após sua exibição! Não é um filme inesquecível, nem original, mas extremamente importante e relevante como causa e entretenimento. É uma história que precisava ser contada e que pega carona nas séries documentais de investigação e tribunal que ganharam muitos fãs depois de "Making a Murderer", "The Jinx" e "The Staircase" - apenas para citar alguns dos recentes sucessos do streaming!
Indico de olhos fechados!
Antes de falar de "Magnatas do Crime" gostaria de contextualizar o que representará assistir esse filme do diretor Guy Ritchie. Em 2000, quando assisti "Snatch: Porcos e Diamantes" nos cinemas, foi como se minha cabeça explodisse! Era um conceito visual tão diferente e tão alinhado àquela narrativa dinâmica e envolvente, que logo trouxe Ritchie para a minha lista de diretores favoritos. Sinceramente não sei explicar o que acabou me afastando de seus filmes, mas nada que veio depois me impactou, até assistir "Magnatas do Crime"! De fato não existe nada de novo, mas por outro lado fica muito claro, logo nos primeiros minutos, que aquela identidade de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" e de "Snatch" está de volta e eu diria: no melhor da sua forma!
Na história acompanhamos Michael Pearson (Matthew McConaughey). Elegante como sempre, Pearson está tentando vender o seu império de produção de maconha no Reino Unido, mas percebe que se aposentar em um mercado como esse não é (e nem será) tarefa das mais fáceis. O preço que ele está pedindo soa alto para os potenciais compradores e claro, os interessados no negócio são candidatos a se tornar verdadeiros chefões das drogas, com isso criasse uma espécie de caos, onde quem quer comprar faz de tudo para o preço baixar e quem quer vender não abre mão do valor e do potencial do negócio, mesmo que para isso, seja preciso, digamos, fazer um trabalho sujo! Confira o trailer (em inglês):
O mais bacana do filme, para mim, foi encontrar um Guy Ritchie no que ele sabe fazer de melhor: usar o plot central de um roteiro (que ele mesmo escreveu), para explorar todas as suas possibilidades em diversas ramificações. Isso não é apresentado de maneira simples, é preciso dizer, e muito menos de forma linear, porém tudo funciona tão orgânico que a cada movimento somos surpreendidos pelas reviravoltas da história e quando as peças resolvem se encaixar, tudo faz sentido! Como em "Snatch", por exemplo, não é o "fim" seu maior mérito, mas a "jornada"!
Entretenimento de ótima qualidade com a assinatura de um diretor (e roteirista) talentoso que pode ter se perdido no meio de suas próprias ambições, mas que se reencontrou e foi capaz de nos entregar diversão do começo ao fim!
Quando Fletcher (Hugh Grant) surge inesperadamente e praticamente força Ray (Charlie Hunnam) a escutar sua história, não sabemos exatamente se estamos escutando o que realmente aconteceu, se é um roteiro de cinema ou as duas coisas se confundindo de acordo com a vontade do seu autor. Essa confusão em um primeiro momento pode parecer enfadonha, mas acredite: não é! Fletcher é o fio condutor de uma trama caótica, porém muito bem organizada por uma montagem digna de prêmios. Tanto os flashbacks, quanto as repetições de cenas por um ponto de vista diferente, funcionam perfeitamente em pró da narrativa - não são muletas, são artifícios bem desenvolvidos pelo diretor e que transformam nossa experiência! Reparem!
O elenco dá um verdadeiro show com atuações no tom exato para o gênero - o que vai te roubar ótimas risadas, inclusive. Matthew McConaughey, Hugh Grant, Charlie Hunnam e Colin Farrell (Coach) estão impagáveis! A própria Michelle Dockery e o sempre competente Jeremy Strong funcionam perfeitamente para a narrativa, mesmo com pouco tempo de tela. O figurino é outro elemento que merece atenção: ele trás um tom farsesco para o filme, transformando a caracterização exagerada em atitude do personagem - como se as tribos fossem separadas pelo que vestem, não pelo que são ou pelo que falam!
"The Gentlemen" (título original) é inteligente, irônico e até um pouco audacioso se levarmos em conta que a narrativa é totalmente desconstruída até voltar a fazer sentido no terceiro ato. Mesmo navegando em aguas que lhe trazem segurança, Guy Ritchie prova sua importância para o roteiro dos novatos na função, Ivan Atkinson e Marn Davies, da mesma forma que interfere no trabalho dos seus montadores: o parceiro de longa data, James Herbert, e o seu novo respiro conceitual, Paul Machliss.
Resumindo: "Magnatas do Crime" é um filme de Guy Ritchie da mesma forma que "Era uma vez em Hollywood" é do Tarantino!
Antes de falar de "Magnatas do Crime" gostaria de contextualizar o que representará assistir esse filme do diretor Guy Ritchie. Em 2000, quando assisti "Snatch: Porcos e Diamantes" nos cinemas, foi como se minha cabeça explodisse! Era um conceito visual tão diferente e tão alinhado àquela narrativa dinâmica e envolvente, que logo trouxe Ritchie para a minha lista de diretores favoritos. Sinceramente não sei explicar o que acabou me afastando de seus filmes, mas nada que veio depois me impactou, até assistir "Magnatas do Crime"! De fato não existe nada de novo, mas por outro lado fica muito claro, logo nos primeiros minutos, que aquela identidade de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" e de "Snatch" está de volta e eu diria: no melhor da sua forma!
Na história acompanhamos Michael Pearson (Matthew McConaughey). Elegante como sempre, Pearson está tentando vender o seu império de produção de maconha no Reino Unido, mas percebe que se aposentar em um mercado como esse não é (e nem será) tarefa das mais fáceis. O preço que ele está pedindo soa alto para os potenciais compradores e claro, os interessados no negócio são candidatos a se tornar verdadeiros chefões das drogas, com isso criasse uma espécie de caos, onde quem quer comprar faz de tudo para o preço baixar e quem quer vender não abre mão do valor e do potencial do negócio, mesmo que para isso, seja preciso, digamos, fazer um trabalho sujo! Confira o trailer (em inglês):
O mais bacana do filme, para mim, foi encontrar um Guy Ritchie no que ele sabe fazer de melhor: usar o plot central de um roteiro (que ele mesmo escreveu), para explorar todas as suas possibilidades em diversas ramificações. Isso não é apresentado de maneira simples, é preciso dizer, e muito menos de forma linear, porém tudo funciona tão orgânico que a cada movimento somos surpreendidos pelas reviravoltas da história e quando as peças resolvem se encaixar, tudo faz sentido! Como em "Snatch", por exemplo, não é o "fim" seu maior mérito, mas a "jornada"!
Entretenimento de ótima qualidade com a assinatura de um diretor (e roteirista) talentoso que pode ter se perdido no meio de suas próprias ambições, mas que se reencontrou e foi capaz de nos entregar diversão do começo ao fim!
Quando Fletcher (Hugh Grant) surge inesperadamente e praticamente força Ray (Charlie Hunnam) a escutar sua história, não sabemos exatamente se estamos escutando o que realmente aconteceu, se é um roteiro de cinema ou as duas coisas se confundindo de acordo com a vontade do seu autor. Essa confusão em um primeiro momento pode parecer enfadonha, mas acredite: não é! Fletcher é o fio condutor de uma trama caótica, porém muito bem organizada por uma montagem digna de prêmios. Tanto os flashbacks, quanto as repetições de cenas por um ponto de vista diferente, funcionam perfeitamente em pró da narrativa - não são muletas, são artifícios bem desenvolvidos pelo diretor e que transformam nossa experiência! Reparem!
O elenco dá um verdadeiro show com atuações no tom exato para o gênero - o que vai te roubar ótimas risadas, inclusive. Matthew McConaughey, Hugh Grant, Charlie Hunnam e Colin Farrell (Coach) estão impagáveis! A própria Michelle Dockery e o sempre competente Jeremy Strong funcionam perfeitamente para a narrativa, mesmo com pouco tempo de tela. O figurino é outro elemento que merece atenção: ele trás um tom farsesco para o filme, transformando a caracterização exagerada em atitude do personagem - como se as tribos fossem separadas pelo que vestem, não pelo que são ou pelo que falam!
"The Gentlemen" (título original) é inteligente, irônico e até um pouco audacioso se levarmos em conta que a narrativa é totalmente desconstruída até voltar a fazer sentido no terceiro ato. Mesmo navegando em aguas que lhe trazem segurança, Guy Ritchie prova sua importância para o roteiro dos novatos na função, Ivan Atkinson e Marn Davies, da mesma forma que interfere no trabalho dos seus montadores: o parceiro de longa data, James Herbert, e o seu novo respiro conceitual, Paul Machliss.
Resumindo: "Magnatas do Crime" é um filme de Guy Ritchie da mesma forma que "Era uma vez em Hollywood" é do Tarantino!
"Mar Aberto" dividiu opiniões no ano de seu lançamento (2003), porém, e é preciso que se diga, olhando em retrospectiva, grandes sucessos como "127"(2010) ou até, mais recentemente, "Vidas à Deriva"(2018) ou "A Queda"(2022), vieram a beber da mesma fonte e basicamente replicaram sua gramática narrativa em outros contextos, claro, mas com a mesma competência de Chris Kentis em uma época onde o cinema digital ainda engatinhava. Custando certa de 500.000 dólares e usando de uma estética quase amadora (não sei se propositalmente ou para se adequar ao orçamento), o filme rendeu cerca de 55 milhões de dólares em todo mundo, provocando sensações como poucos filmes conseguiam, usando, inclusive, um gatilho simples, mas muito potente: o medo (de viver algo como aquilo)!
O filme, baseado em fatos reais, segue a história de um casal em férias, Daniel (Daniel Travis) e Susan (Blanchard Ryan), que decide fazer mergulho em alto mar. No entanto, eles acabam ficando para trás por engano e se encontram à deriva, enfrentando diversos desafios para sobreviver em um ambiente repleto de tubarões. Confira o trailer (em inglês):
Uma das principais características de "Mar Aberto" é o seu conceito narrativo simples, porém absurdamente eficaz. O filme se concentra na experiência aterrorizante (mas aterrorizante mesmo) com apenas dois personagens e em um único cenário - a tensão é construída através da solidão, do silêncio, do desconhecido e, claro, da luta pela sobrevivência em um ambiente extremamente hostil. Obviamente que esse conceito só funcionou graças as performances irretocáveis de Travis e, especialmente, de Ryan - chega a ser impressionante a forma como eles se relacionam no meio do caos de maneira tão convincente. Eles conseguem transmitir a sensação de desespero e desamparo à medida que se veem presos em uma situação cada vez mais perigosa. Devido a essa abordagem extremamente realista, é impossível a audiência não se conectar emocionalmente com os personagens - impressionante!
A direção de Chris Kentis é muito criativa - ele utiliza muito da técnica do "found footage" (onde as imagens são supostamente captadas pelos próprios personagens em um tom documental). Embora seja uma adaptação da técnica para criar uma sensação de imersão, o resultado faz toda a diferença na nossa experiência - é como se estivéssemos lá, ao lado dos personagens. Uma câmera subaquática brinca com desnível do mar, com a perda de noção do espaço e até do tempo - ao acompanhar os protagonistas em seus momentos de maior tensão, a cinematografia do próprio diretor transmite uma terrível sensação tanto de claustrofobia quanto de vulnerabilidade.
A trilha sonora minimalista de Graeme Revell também desempenha um papel crucial na construção dessa atmosfera. Ela reforça os momentos de suspense e aumenta a angustia em momentos-chave do filme, sem nunca se tornar dominante demais. A simplicidade da trilha sonora equilibrando o silêncio com um exemplar desenho de som, ajuda (e muito) a destacar a solidão e a sensação de isolamento dos personagens - é assustador! Agora veja, apesar de suas qualidades, "Open Water" (no original) pode não agradar a todos - alguns podem considerar o filme lento, já que grande parte da narrativa se concentra nos momentos de espera dos personagens. Para nós, o filme além de surpreendente, merece demais sua redenção!
Vale seu play!
"Mar Aberto" dividiu opiniões no ano de seu lançamento (2003), porém, e é preciso que se diga, olhando em retrospectiva, grandes sucessos como "127"(2010) ou até, mais recentemente, "Vidas à Deriva"(2018) ou "A Queda"(2022), vieram a beber da mesma fonte e basicamente replicaram sua gramática narrativa em outros contextos, claro, mas com a mesma competência de Chris Kentis em uma época onde o cinema digital ainda engatinhava. Custando certa de 500.000 dólares e usando de uma estética quase amadora (não sei se propositalmente ou para se adequar ao orçamento), o filme rendeu cerca de 55 milhões de dólares em todo mundo, provocando sensações como poucos filmes conseguiam, usando, inclusive, um gatilho simples, mas muito potente: o medo (de viver algo como aquilo)!
O filme, baseado em fatos reais, segue a história de um casal em férias, Daniel (Daniel Travis) e Susan (Blanchard Ryan), que decide fazer mergulho em alto mar. No entanto, eles acabam ficando para trás por engano e se encontram à deriva, enfrentando diversos desafios para sobreviver em um ambiente repleto de tubarões. Confira o trailer (em inglês):
Uma das principais características de "Mar Aberto" é o seu conceito narrativo simples, porém absurdamente eficaz. O filme se concentra na experiência aterrorizante (mas aterrorizante mesmo) com apenas dois personagens e em um único cenário - a tensão é construída através da solidão, do silêncio, do desconhecido e, claro, da luta pela sobrevivência em um ambiente extremamente hostil. Obviamente que esse conceito só funcionou graças as performances irretocáveis de Travis e, especialmente, de Ryan - chega a ser impressionante a forma como eles se relacionam no meio do caos de maneira tão convincente. Eles conseguem transmitir a sensação de desespero e desamparo à medida que se veem presos em uma situação cada vez mais perigosa. Devido a essa abordagem extremamente realista, é impossível a audiência não se conectar emocionalmente com os personagens - impressionante!
A direção de Chris Kentis é muito criativa - ele utiliza muito da técnica do "found footage" (onde as imagens são supostamente captadas pelos próprios personagens em um tom documental). Embora seja uma adaptação da técnica para criar uma sensação de imersão, o resultado faz toda a diferença na nossa experiência - é como se estivéssemos lá, ao lado dos personagens. Uma câmera subaquática brinca com desnível do mar, com a perda de noção do espaço e até do tempo - ao acompanhar os protagonistas em seus momentos de maior tensão, a cinematografia do próprio diretor transmite uma terrível sensação tanto de claustrofobia quanto de vulnerabilidade.
A trilha sonora minimalista de Graeme Revell também desempenha um papel crucial na construção dessa atmosfera. Ela reforça os momentos de suspense e aumenta a angustia em momentos-chave do filme, sem nunca se tornar dominante demais. A simplicidade da trilha sonora equilibrando o silêncio com um exemplar desenho de som, ajuda (e muito) a destacar a solidão e a sensação de isolamento dos personagens - é assustador! Agora veja, apesar de suas qualidades, "Open Water" (no original) pode não agradar a todos - alguns podem considerar o filme lento, já que grande parte da narrativa se concentra nos momentos de espera dos personagens. Para nós, o filme além de surpreendente, merece demais sua redenção!
Vale seu play!
Produção da Amazon Studio com a BTF Media, "Maradona: Conquista de um Sonho" é um novelão como "El Presidente" (também da Prime Vídeo), mas igualmente divertida - principalmente para aqueles que gostam de futebol e acompanharam a dinastia de um dos maiores jogadores de toda a história. O interessante, porém, é que "Maradona" dramatiza a vida do protagonista, dentro e fora dos campos, dando uma idéia de como era o Diego além do esportista: das suas relações quase patológicas com mulheres ao excesso de drogas e bebida nas inúmeras noitadas em Barcelona e em Nápoles, mas também a forte ligação com suas raízes (especialmente com sua família, leia-se sua mãe) e o quanto seu temperamento o prejudicou durante toda sua vida (e claro, com reflexos na sua carreira).
A série tenta desvendar a história por trás da lenda. Com 10 episódios de 1 hora em média, acompanhamos Diego desde criança até sua vida adulta, retratando a ascensão de Maradona como um dos maiores fenômenos do futebol mundial e protagonista da Copa do Mundo do México em 1986, mas também revelando as fraquezas de um ser humano sem a menor capacidade intelectual para lidar com o sucesso. Confira o trailer:
Um dos pontos altos da série, sem dúvida, é a forma como a narrativa foi construída ao dividir em linhas temporais diferentes, mostrando a infância pobre na Vila Fiorito na Argentina, depois a ascensão de Maradona no futebol argentino e mundial, e, claro, todos os problemas pós-futebol, colhendo os frutos de uma vida de vícios e excessos. A produção não é um primor - ela oscila muito nesse quesito, principalmente na falta de criatividade dos diretores para reconstruir cenas dos jogos de futebol ou até de integrar imagens de arquivo com a dramatização. E aqui a comparação com "Divino Baggio" é até desleal.
Já o roteiro, mesmo cobrindo 2/3 da vida do atleta, é bastante consistente e mostra uma certa profundidade sobre inúmeras passagens de uma história que daria para fazer pelo menos 3 temporadas. Sem dúvida que o fato da BTF Media também ter sido a produtora responsável pela série documental "Más allá de Diego", ajudou muito e é fácil perceber o cuidado como, em cada episódio, momentos-chaves da vida de Maradona vão se encaixando naturalmente e criando um contexto interessante na formação do seu caráter e na dinâmica de suas atitudes.
Juan Cruz Romero faz o Diego ainda criança; Nicolas Goldsmith já aparece como Maradona, mas ainda um jogador dando seus primeiros passos no profissionalismo; Nazareno Casero é o retrato do Maradona mais complexo, em um momento como atleta que estava no ápice, enquanto fora dos gramados, mergulhava na farra; e para finalizar, Juan Palomino encarnando o jogado já aposentado. Embora a construção do personagem traga um realidade impressionante, Nazareno Casero é o que mais foge do tom - está sempre estereotipando o atleta, embora Maradona fosse, de fato, um retrato caricato do "baixinho folgado". Goldsmith e Palomino, na minha opinião, são mais contidos e consequentemente, humanizam melhor o personagem. Dois outros atores merecem um destaque: Julieta Cardinali (como Claudia, mulher de Diego, já adulta) e o excelente Leonardo Sbaraglia (como o empresário de Diego, Guillermo Coppola) - curioso que ambos estiveram na versão argentina de "Sessão de Terapia" e já naquela época (2012) mostravam grande potencial como atores.
"Maradona: Conquista de um Sonho" tem status de super-produção, mas não é! Sua estética funciona durante o cotidiano do personagem, mas está longe de chamar atenção no âmbito esportivo - algumas composições com CG são toscas demais. Por outro lado, a série foi muito feliz em usar como apoio as cenas reais (algumas raras) de Diego para conectar a audiência com a história - dando um suporte quase documental para o dramalhão - funciona! Tirando os aspectos técnicos e se acostumando com o conceito narrativo mais novelesco, a série da Amazon é um entretenimento de primeira para quem gosta de futebol e é curioso para conhecer os bastidores tanto do esporte quanto da vida privada de um atleta tão relevante quanto Diego Maradona.
Vale a pena!
Produção da Amazon Studio com a BTF Media, "Maradona: Conquista de um Sonho" é um novelão como "El Presidente" (também da Prime Vídeo), mas igualmente divertida - principalmente para aqueles que gostam de futebol e acompanharam a dinastia de um dos maiores jogadores de toda a história. O interessante, porém, é que "Maradona" dramatiza a vida do protagonista, dentro e fora dos campos, dando uma idéia de como era o Diego além do esportista: das suas relações quase patológicas com mulheres ao excesso de drogas e bebida nas inúmeras noitadas em Barcelona e em Nápoles, mas também a forte ligação com suas raízes (especialmente com sua família, leia-se sua mãe) e o quanto seu temperamento o prejudicou durante toda sua vida (e claro, com reflexos na sua carreira).
A série tenta desvendar a história por trás da lenda. Com 10 episódios de 1 hora em média, acompanhamos Diego desde criança até sua vida adulta, retratando a ascensão de Maradona como um dos maiores fenômenos do futebol mundial e protagonista da Copa do Mundo do México em 1986, mas também revelando as fraquezas de um ser humano sem a menor capacidade intelectual para lidar com o sucesso. Confira o trailer:
Um dos pontos altos da série, sem dúvida, é a forma como a narrativa foi construída ao dividir em linhas temporais diferentes, mostrando a infância pobre na Vila Fiorito na Argentina, depois a ascensão de Maradona no futebol argentino e mundial, e, claro, todos os problemas pós-futebol, colhendo os frutos de uma vida de vícios e excessos. A produção não é um primor - ela oscila muito nesse quesito, principalmente na falta de criatividade dos diretores para reconstruir cenas dos jogos de futebol ou até de integrar imagens de arquivo com a dramatização. E aqui a comparação com "Divino Baggio" é até desleal.
Já o roteiro, mesmo cobrindo 2/3 da vida do atleta, é bastante consistente e mostra uma certa profundidade sobre inúmeras passagens de uma história que daria para fazer pelo menos 3 temporadas. Sem dúvida que o fato da BTF Media também ter sido a produtora responsável pela série documental "Más allá de Diego", ajudou muito e é fácil perceber o cuidado como, em cada episódio, momentos-chaves da vida de Maradona vão se encaixando naturalmente e criando um contexto interessante na formação do seu caráter e na dinâmica de suas atitudes.
Juan Cruz Romero faz o Diego ainda criança; Nicolas Goldsmith já aparece como Maradona, mas ainda um jogador dando seus primeiros passos no profissionalismo; Nazareno Casero é o retrato do Maradona mais complexo, em um momento como atleta que estava no ápice, enquanto fora dos gramados, mergulhava na farra; e para finalizar, Juan Palomino encarnando o jogado já aposentado. Embora a construção do personagem traga um realidade impressionante, Nazareno Casero é o que mais foge do tom - está sempre estereotipando o atleta, embora Maradona fosse, de fato, um retrato caricato do "baixinho folgado". Goldsmith e Palomino, na minha opinião, são mais contidos e consequentemente, humanizam melhor o personagem. Dois outros atores merecem um destaque: Julieta Cardinali (como Claudia, mulher de Diego, já adulta) e o excelente Leonardo Sbaraglia (como o empresário de Diego, Guillermo Coppola) - curioso que ambos estiveram na versão argentina de "Sessão de Terapia" e já naquela época (2012) mostravam grande potencial como atores.
"Maradona: Conquista de um Sonho" tem status de super-produção, mas não é! Sua estética funciona durante o cotidiano do personagem, mas está longe de chamar atenção no âmbito esportivo - algumas composições com CG são toscas demais. Por outro lado, a série foi muito feliz em usar como apoio as cenas reais (algumas raras) de Diego para conectar a audiência com a história - dando um suporte quase documental para o dramalhão - funciona! Tirando os aspectos técnicos e se acostumando com o conceito narrativo mais novelesco, a série da Amazon é um entretenimento de primeira para quem gosta de futebol e é curioso para conhecer os bastidores tanto do esporte quanto da vida privada de um atleta tão relevante quanto Diego Maradona.
Vale a pena!
"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.
Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer:
A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.
Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!
"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.
Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer:
A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.
Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!
Foi no verão de 1983, quando Oliver (Armie Hammer), um americano de 24 anos, foi passar o verão na Lombardia, Itália, com a família de Elio (Timothée Chalamet). Interpretado porMichael Stuhlbarg, o pai de Elio é professor e todo ano recebe um aluno para trabalhar como seu assistente de pesquisa. Elio com 17 anos, é imediatamente fisgado pela postura confiante, quase arrogante, de Oliver. Ao se sentir atraído fisicamente, Elio passa por um processo extremamente confuso de descobertas, medos e sentimentos que pareciam completamente distante da sua realidade.
"Call me by your name" (título original), para mim, vale muito pelo final do terceiro ato onde vemos uma cena linda entre um pai e um filho conversando com a mais pura sinceridade e afeto - no tom certo e com um trabalho sensacional do veterano Stuhlbarg com o jovem Chalamet. Penso que a indicação para o Oscar de 2018 como melhor ator é muito reflexo dessa cena! Fora isso, o filme é muito bem realizado, bem dirigido pelo Luca Guadagnino, mas não passa disso! A indicação como Melhor Filme, sem dúvida, já foi seu maior prêmio e talvez, sua maior chance esteja na categoria "Roteiro Adaptado" - seria a minha maior aposta!
Na verdade, acho até que esperava mais, mas entendo que para algumas pessoas o filme deve ter uma conexão mais forte, com isso a recomendação precisa ser relativizada, pois vai ficar claro, nos primeiros minutos, se esse filme é ou não para você!
Up-date: "Me chame pelo seu nome" ganhou em uma categoria no Oscar 2018: Melhor Roteiro Adaptado!
Foi no verão de 1983, quando Oliver (Armie Hammer), um americano de 24 anos, foi passar o verão na Lombardia, Itália, com a família de Elio (Timothée Chalamet). Interpretado porMichael Stuhlbarg, o pai de Elio é professor e todo ano recebe um aluno para trabalhar como seu assistente de pesquisa. Elio com 17 anos, é imediatamente fisgado pela postura confiante, quase arrogante, de Oliver. Ao se sentir atraído fisicamente, Elio passa por um processo extremamente confuso de descobertas, medos e sentimentos que pareciam completamente distante da sua realidade.
"Call me by your name" (título original), para mim, vale muito pelo final do terceiro ato onde vemos uma cena linda entre um pai e um filho conversando com a mais pura sinceridade e afeto - no tom certo e com um trabalho sensacional do veterano Stuhlbarg com o jovem Chalamet. Penso que a indicação para o Oscar de 2018 como melhor ator é muito reflexo dessa cena! Fora isso, o filme é muito bem realizado, bem dirigido pelo Luca Guadagnino, mas não passa disso! A indicação como Melhor Filme, sem dúvida, já foi seu maior prêmio e talvez, sua maior chance esteja na categoria "Roteiro Adaptado" - seria a minha maior aposta!
Na verdade, acho até que esperava mais, mas entendo que para algumas pessoas o filme deve ter uma conexão mais forte, com isso a recomendação precisa ser relativizada, pois vai ficar claro, nos primeiros minutos, se esse filme é ou não para você!
Up-date: "Me chame pelo seu nome" ganhou em uma categoria no Oscar 2018: Melhor Roteiro Adaptado!
Se "Em Defesa de Jacob" o promotor Andy Barber (Chris Evans) e sua esposa Laurie (Michelle Dockery) estão cheio de dúvidas e questionamentos sobre a participação do filho, Jacob (Jaeden Martell), no assassinato do seu amigo de 14 anos; em "Mentira Incondicional" só existe uma certeza para os pais, Jay (Peter Saarsgad) e Rebecca (Mireille Enos): sua filha adolescente, Kayla (Joey King), matou sua melhor amiga!
Como na série da AppleTV+, a produção da Blumhouse para a Prime Vídeo, discute as imperfeições dos relacionamentos familiares e expõe as situações limite que alguns pais estariam dispostos a passar para proteger seus filhos, mesmo que isso possa deixar marcas para sempre e impactar no caráter de todos os envolvidos! Porém, é preciso dizer que "Mentira Incondicional" não tem um roteiro tão redondo quanto "Em Defesa de Jacob" - longe disso! Seu plot twist é bastante previsível e a justificativa extremamente superficial - quase infantil!
Então estamos falando de um filme ruim? Não acho, mas vai entrar naquela prateleira de bom entretenimento, sem grandes expectativas ou pretenções de se tornar inesquecível!
"The Lie" (título original) acompanha o drama de uma garota adolescente que confessa ter matado impulsivamente sua melhor amiga e de seus pais que, desesperados, tentam encobrir o crime, levando-os a uma complicada teia de mentiras e enganos. Confira o trailer:
Dirigido e roteirizado por Veena Sud, o filme é uma refilmagem da produção alemã "Wir Monster" (de 2015) do diretor Sebatian Ko. Se "Mentira Incondicional" tem uma interessante premissa, e isso é um fato; sua execução é rodeada de estereótipos e superficialidade para aqueles adeptos ao gênero de suspense policial. Justamente por isso, essa recomendação precisa ser relativizada de acordo com sua disposição de se abster de um desenvolvimento de personagens mais profundo e de uma história que possa surpreender ou, pelo menos, nos provocar alguma dúvida! Eu diria que o filme pode agradar, mas não será uma unanimidade!
"Mentira Incondicional" é muito bem realizado, isso é inegável, principalmente por ter um primeiro ato muito bom, com uma proposta documental (e emocional) na apresentação dos personagens que te prende logo de cara! Com o elo emocional estabelecido, a construção do drama nos dá a impressão que não vamos conseguir escapar da tensão e angústia do "quanto mais eu faço, mais eu me complico" - tão comum nesse tipo de narrativa. Acontece que o segundo ato cria uma "barriga" muito grande, não nos levando a lugar algum e, pior, nos afasta do sentimento de desconfiança, pelo simples fato dos diálogos parecerem um conjunto de desculpas superficiais que não engana ninguém. A falta de uma investigação de verdade, e aqui a escolha do elenco prejudicou muito o filme, nos tira o beneficio da dúvida, do julgamento ou da identificação com a situação e com os personagens - em nenhum momento deixamos de saber para quem devemos torce ou nos perguntamos quem é o verdadeiro bandidor!
Agora, alguns pontos merecem destaque: gosto muito do trabalho da Mireille Enos - ela consegue passar o desespero que aquela família está vivendo. Se Peter Saarsgad não tem o mesmo talento, pelo menos não compromete. A fotografia do canadense, Peter Wunstorf, que inclusive esteve no sensacional "The Killing"; é muito interessante - principalmente por estar completamente alinhada ao conceito narrativo que Veena Sud imprime na história. A forma como ela enquadra os personagens, com planos extremamente fechados, justificam os objetivos da cena, criando lampejos de emoção.
A verdade é que não dá para comparar "Mentira Incondicional" com "Em Defesa de Jacob", mas também seria injusto colocá-los em lados tão opostos de qualidade. A produção da Blumhouse talvez tenha se limitado ao potencial da história e seu resultado tenha ficado apenas no mediano diante da expectativa, mas reafirmo: como "sessão da tarde" vai cumprir sua função e se dormir, dormiu!
Se "Em Defesa de Jacob" o promotor Andy Barber (Chris Evans) e sua esposa Laurie (Michelle Dockery) estão cheio de dúvidas e questionamentos sobre a participação do filho, Jacob (Jaeden Martell), no assassinato do seu amigo de 14 anos; em "Mentira Incondicional" só existe uma certeza para os pais, Jay (Peter Saarsgad) e Rebecca (Mireille Enos): sua filha adolescente, Kayla (Joey King), matou sua melhor amiga!
Como na série da AppleTV+, a produção da Blumhouse para a Prime Vídeo, discute as imperfeições dos relacionamentos familiares e expõe as situações limite que alguns pais estariam dispostos a passar para proteger seus filhos, mesmo que isso possa deixar marcas para sempre e impactar no caráter de todos os envolvidos! Porém, é preciso dizer que "Mentira Incondicional" não tem um roteiro tão redondo quanto "Em Defesa de Jacob" - longe disso! Seu plot twist é bastante previsível e a justificativa extremamente superficial - quase infantil!
Então estamos falando de um filme ruim? Não acho, mas vai entrar naquela prateleira de bom entretenimento, sem grandes expectativas ou pretenções de se tornar inesquecível!
"The Lie" (título original) acompanha o drama de uma garota adolescente que confessa ter matado impulsivamente sua melhor amiga e de seus pais que, desesperados, tentam encobrir o crime, levando-os a uma complicada teia de mentiras e enganos. Confira o trailer:
Dirigido e roteirizado por Veena Sud, o filme é uma refilmagem da produção alemã "Wir Monster" (de 2015) do diretor Sebatian Ko. Se "Mentira Incondicional" tem uma interessante premissa, e isso é um fato; sua execução é rodeada de estereótipos e superficialidade para aqueles adeptos ao gênero de suspense policial. Justamente por isso, essa recomendação precisa ser relativizada de acordo com sua disposição de se abster de um desenvolvimento de personagens mais profundo e de uma história que possa surpreender ou, pelo menos, nos provocar alguma dúvida! Eu diria que o filme pode agradar, mas não será uma unanimidade!
"Mentira Incondicional" é muito bem realizado, isso é inegável, principalmente por ter um primeiro ato muito bom, com uma proposta documental (e emocional) na apresentação dos personagens que te prende logo de cara! Com o elo emocional estabelecido, a construção do drama nos dá a impressão que não vamos conseguir escapar da tensão e angústia do "quanto mais eu faço, mais eu me complico" - tão comum nesse tipo de narrativa. Acontece que o segundo ato cria uma "barriga" muito grande, não nos levando a lugar algum e, pior, nos afasta do sentimento de desconfiança, pelo simples fato dos diálogos parecerem um conjunto de desculpas superficiais que não engana ninguém. A falta de uma investigação de verdade, e aqui a escolha do elenco prejudicou muito o filme, nos tira o beneficio da dúvida, do julgamento ou da identificação com a situação e com os personagens - em nenhum momento deixamos de saber para quem devemos torce ou nos perguntamos quem é o verdadeiro bandidor!
Agora, alguns pontos merecem destaque: gosto muito do trabalho da Mireille Enos - ela consegue passar o desespero que aquela família está vivendo. Se Peter Saarsgad não tem o mesmo talento, pelo menos não compromete. A fotografia do canadense, Peter Wunstorf, que inclusive esteve no sensacional "The Killing"; é muito interessante - principalmente por estar completamente alinhada ao conceito narrativo que Veena Sud imprime na história. A forma como ela enquadra os personagens, com planos extremamente fechados, justificam os objetivos da cena, criando lampejos de emoção.
A verdade é que não dá para comparar "Mentira Incondicional" com "Em Defesa de Jacob", mas também seria injusto colocá-los em lados tão opostos de qualidade. A produção da Blumhouse talvez tenha se limitado ao potencial da história e seu resultado tenha ficado apenas no mediano diante da expectativa, mas reafirmo: como "sessão da tarde" vai cumprir sua função e se dormir, dormiu!
Olha, assistir "Mergulho" não será uma jornada das mais tranquilas - e se você conhece o documentário da Netflix, "Atleta A", você vai entender exatamente onde quero chegar. Embora essa co-produção Argentina/México, dirigida pela premiada Lucía Puenzo (de "XXY" e "Wakolda"), seja apenas um recorte de uma história real de abuso entre um treinador e suas atletas olímpicas, é impressionante como ela vai além do óbvio para pontuar, com muita sensibilidade, todas as marcas deixadas na protagonista - e, claro, como essa mesma protagonista revisita suas angustias do passado para tentar lidar com as dores do presente.
Na trama conhecemos Mariel (Karla Souza), uma atleta mexicana dos saltos ornamentais que tem sua última chance de conquistar uma medalha olímpica, dessa vez em Athenas, na Grécia. Só que às vésperas da competição, um escândalo envolvendo seu treinador (que comanda a vitoriosa equipe há mais de duas décadas) e uma jovem revelação da modalidade, acaba gerando lembranças terríveis do seu passado. Confira o trailer (em espanhol):
"La Caída" (no original) traz para discussão o caso verídico de um famoso escândalo na Federação Mexicana de Natação, quando os pais da atleta Luara Sánchez, então com 15 anos, denunciaram que o técnico Francisco Rueda estava abusando de sua filha. O interessante porém, é que no filme o foco não está em Luara (que recebeu o nome de Nadia e foi interpretada pela Dèja Ebergenyi), mas sim em uma personagem fictícia que engloba uma série de atletas reais que, infelizmente, também sofreram abusos durante as respectivas carreiras.
O roteiro foi muito inteligente ao equilibrar os fatos relacionados à Nadia com os fantasmas mais profundos e mais íntimos de inúmeras atletas personificadas em Mariel. Isso trouxe certa liberdade narrativa, já que fica claro que existe o trauma da protagonista, mas que na história priorizar o conflito constante com a verdade parece ser o melhor caminho: seja expondo as preocupações de uma mãe de uma adolescente, seja na luta de uma mulher para lidar com seu passado, mesmo que se sabotando e fazendo inúmeras besteiras no presente. Ao adicionarmos na trama a pressão de uma grande competição que se aproxima, ainda entra em cena um período de "medo" potencializado pelas lembranças escondidas, pelo descontrole emocional e pelo abuso psicológico de quem quer controlar a narrativa sempre, ou seja, a sensação é de que acionamos uma bomba relógio e estamos esperando ela explodir - "quando" é o que nos faz não tirar os olhos da tela.
Como na história de Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação Americana hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas ginastas, de 13 anos, que foram abusadas sistematicamente por Larry Nassar; "Mergulho" investiga, explora e expõe os fatos sem julgar a vitima - pelo olhar de quem se reconhece na dor e não necessariamente de quem está vivendo e acredita que aquilo tudo faz parte do seu amadurecimento como mulher. Aliás, a linha tênue entre duas percepções diferentes ganha ainda mais força quando descobrimos que, na vida real, Franciso Rueda foi mesmo banido do esporte, mas mesmo assim ainda se casou com Luara Sánchez anos depois do escândalo.
Vale muito o seu play!
Olha, assistir "Mergulho" não será uma jornada das mais tranquilas - e se você conhece o documentário da Netflix, "Atleta A", você vai entender exatamente onde quero chegar. Embora essa co-produção Argentina/México, dirigida pela premiada Lucía Puenzo (de "XXY" e "Wakolda"), seja apenas um recorte de uma história real de abuso entre um treinador e suas atletas olímpicas, é impressionante como ela vai além do óbvio para pontuar, com muita sensibilidade, todas as marcas deixadas na protagonista - e, claro, como essa mesma protagonista revisita suas angustias do passado para tentar lidar com as dores do presente.
Na trama conhecemos Mariel (Karla Souza), uma atleta mexicana dos saltos ornamentais que tem sua última chance de conquistar uma medalha olímpica, dessa vez em Athenas, na Grécia. Só que às vésperas da competição, um escândalo envolvendo seu treinador (que comanda a vitoriosa equipe há mais de duas décadas) e uma jovem revelação da modalidade, acaba gerando lembranças terríveis do seu passado. Confira o trailer (em espanhol):
"La Caída" (no original) traz para discussão o caso verídico de um famoso escândalo na Federação Mexicana de Natação, quando os pais da atleta Luara Sánchez, então com 15 anos, denunciaram que o técnico Francisco Rueda estava abusando de sua filha. O interessante porém, é que no filme o foco não está em Luara (que recebeu o nome de Nadia e foi interpretada pela Dèja Ebergenyi), mas sim em uma personagem fictícia que engloba uma série de atletas reais que, infelizmente, também sofreram abusos durante as respectivas carreiras.
O roteiro foi muito inteligente ao equilibrar os fatos relacionados à Nadia com os fantasmas mais profundos e mais íntimos de inúmeras atletas personificadas em Mariel. Isso trouxe certa liberdade narrativa, já que fica claro que existe o trauma da protagonista, mas que na história priorizar o conflito constante com a verdade parece ser o melhor caminho: seja expondo as preocupações de uma mãe de uma adolescente, seja na luta de uma mulher para lidar com seu passado, mesmo que se sabotando e fazendo inúmeras besteiras no presente. Ao adicionarmos na trama a pressão de uma grande competição que se aproxima, ainda entra em cena um período de "medo" potencializado pelas lembranças escondidas, pelo descontrole emocional e pelo abuso psicológico de quem quer controlar a narrativa sempre, ou seja, a sensação é de que acionamos uma bomba relógio e estamos esperando ela explodir - "quando" é o que nos faz não tirar os olhos da tela.
Como na história de Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação Americana hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas ginastas, de 13 anos, que foram abusadas sistematicamente por Larry Nassar; "Mergulho" investiga, explora e expõe os fatos sem julgar a vitima - pelo olhar de quem se reconhece na dor e não necessariamente de quem está vivendo e acredita que aquilo tudo faz parte do seu amadurecimento como mulher. Aliás, a linha tênue entre duas percepções diferentes ganha ainda mais força quando descobrimos que, na vida real, Franciso Rueda foi mesmo banido do esporte, mas mesmo assim ainda se casou com Luara Sánchez anos depois do escândalo.
Vale muito o seu play!
Na linha de "Nothing Hill" com leves toques de "Nasce uma Estrela", "Mesmo se nada der certo" é daqueles filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto mesmo quando as coisas não caminham, digamos, tão bem para os protagonistas. Sua narrativa transporta para a ficção inúmeras historias de resiliência e dedicação que cansamos de ouvir em depoimentos de famosos em premiações de destaque no cenário musical - o interessante, porém, é que a magia do cinema despretensioso do diretor irlandês John Carney (o mesmo do também incrível "Apenas Uma Vez") traz uma certa leveza, um ar quase romântico para uma jornada que vai além da musicalidade, que discute as relações humanas (sejam elas entre casais ou familiares) com muita sensibilidade e honestidade.
Em "Begin Again" (no original), uma talentosa compositora inglesa, Gretta (Keira Knightley), se muda para Nova York com seu namorado, um músico americano em ascensão. Acontece que ele decide terminar o relacionamento logo depois. Sozinha, ela é convidada por um amigo para cantar em um bar onde é descoberta por um famoso, porém decadente, produtor musical, Dan (Mark Ruffalo). A partir daí ele tenta convencê-la de que, com sua ajuda, ela pode se tornar uma grande estrela. Confira o trailer:
Ex-baixista do The Frames, um influente grupo da cena irlandesa, John Carney trocou a música pelo cinema. Porém não é necessário assistir muito tempo dos seus filmes para perceber o quanto a música ainda é importante para ele, como ela serve de fio condutor para suas histórias, e, principalmente, como, através dela, ele consegue provocar na audiências as mais diferentes emoções. Em "Mesmo se nada der certo", por exemplo, ele é capaz de mexer com nossa percepção ao contar uma mesma cena (musical) de três maneiras diferentes: a primeira vez, pelos olhos do público, ainda sem muito contexto; depois, pelo ponto de vista de Dan; e por fim, pelos olhos da própria Gretta - além de sensível, essa dinâmica narrativa diz muito sobre os personagens, suas motivações e sobre seus fantasmas!
Embora a estrutura proposta pelo roteiro nos leve a pensar que o filme se trata de uma comédia romântica bem "água com açúcar", o que encontramos é, de fato, um certo drama de relações. Existe, claro, uma marca na direção de Carney que, bem equilibrada, coloca a trama em um outro patamar - ele não dá mais valor ao pessimismo do que a história precisa, ou seja, em nenhum momento sofremos com algo que pode dar errado, mas somos "sim" surpreendidos quando vemos que nem tudo sai como estávamos, de fato, imaginando - não se surpreenda se você externar um pedido para que a protagonista aja de uma determinada maneira que, na tela, ela está prestes a fazer. Essa sensação de que com um "empurrãozinho" tudo vai se resolver, vai te acompanhar por quase duas horas.
"Mesmo se nada der certo" é um filme adorável onde as relações são tão plausíveis quanto complexas, fazendo com que até mesmo o cenário (uma linda, mas caótica Nova York) se torne elemento essencial para que os personagens possam se transformar - aliás, eu diria que o filme talvez nem seja essencialmente sobre transformação, mas sim sobre aceitação, adaptabilidade; afinal é a partir da música que eles passam a compreender a própria história.
Vale muito a pena!
Up-date: "Mesmo se nada der certo" foi indicado ao Oscar 2015 com a canção "Lost Stars".
Na linha de "Nothing Hill" com leves toques de "Nasce uma Estrela", "Mesmo se nada der certo" é daqueles filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto mesmo quando as coisas não caminham, digamos, tão bem para os protagonistas. Sua narrativa transporta para a ficção inúmeras historias de resiliência e dedicação que cansamos de ouvir em depoimentos de famosos em premiações de destaque no cenário musical - o interessante, porém, é que a magia do cinema despretensioso do diretor irlandês John Carney (o mesmo do também incrível "Apenas Uma Vez") traz uma certa leveza, um ar quase romântico para uma jornada que vai além da musicalidade, que discute as relações humanas (sejam elas entre casais ou familiares) com muita sensibilidade e honestidade.
Em "Begin Again" (no original), uma talentosa compositora inglesa, Gretta (Keira Knightley), se muda para Nova York com seu namorado, um músico americano em ascensão. Acontece que ele decide terminar o relacionamento logo depois. Sozinha, ela é convidada por um amigo para cantar em um bar onde é descoberta por um famoso, porém decadente, produtor musical, Dan (Mark Ruffalo). A partir daí ele tenta convencê-la de que, com sua ajuda, ela pode se tornar uma grande estrela. Confira o trailer:
Ex-baixista do The Frames, um influente grupo da cena irlandesa, John Carney trocou a música pelo cinema. Porém não é necessário assistir muito tempo dos seus filmes para perceber o quanto a música ainda é importante para ele, como ela serve de fio condutor para suas histórias, e, principalmente, como, através dela, ele consegue provocar na audiências as mais diferentes emoções. Em "Mesmo se nada der certo", por exemplo, ele é capaz de mexer com nossa percepção ao contar uma mesma cena (musical) de três maneiras diferentes: a primeira vez, pelos olhos do público, ainda sem muito contexto; depois, pelo ponto de vista de Dan; e por fim, pelos olhos da própria Gretta - além de sensível, essa dinâmica narrativa diz muito sobre os personagens, suas motivações e sobre seus fantasmas!
Embora a estrutura proposta pelo roteiro nos leve a pensar que o filme se trata de uma comédia romântica bem "água com açúcar", o que encontramos é, de fato, um certo drama de relações. Existe, claro, uma marca na direção de Carney que, bem equilibrada, coloca a trama em um outro patamar - ele não dá mais valor ao pessimismo do que a história precisa, ou seja, em nenhum momento sofremos com algo que pode dar errado, mas somos "sim" surpreendidos quando vemos que nem tudo sai como estávamos, de fato, imaginando - não se surpreenda se você externar um pedido para que a protagonista aja de uma determinada maneira que, na tela, ela está prestes a fazer. Essa sensação de que com um "empurrãozinho" tudo vai se resolver, vai te acompanhar por quase duas horas.
"Mesmo se nada der certo" é um filme adorável onde as relações são tão plausíveis quanto complexas, fazendo com que até mesmo o cenário (uma linda, mas caótica Nova York) se torne elemento essencial para que os personagens possam se transformar - aliás, eu diria que o filme talvez nem seja essencialmente sobre transformação, mas sim sobre aceitação, adaptabilidade; afinal é a partir da música que eles passam a compreender a própria história.
Vale muito a pena!
Up-date: "Mesmo se nada der certo" foi indicado ao Oscar 2015 com a canção "Lost Stars".
"Minha Mãe" (ou "Mia Madre" no original) é um belíssimo e sensível filme italiano sobre aceitação! Se inicialmente temos a impressão que a trama vai girar em torno das inseguranças de uma diretora de cinema durante um set de filmagem enquanto sua mãe está no hospital, muito doente; basta chegarmos no segundo ato para entender que o filme vai muito além - a experiência de ter que lidar com a morte que se aproxima ao mesmo tempo em que é preciso entender que a vida continua e que tudo aquilo faz parte de um ciclo que está se acabando, é simplesmente sensacional!
Margherita (Margherita Buy) é uma diretora de cinema que está no meio das filmagens do seu mais novo trabalho e que, ao mesmo tempo, testemunha o estado de saúde em declínio da sua mãe, que está internada no hospital. Para complicar ainda mais a sua situação, a chegada do ator americano Barry Huggins (John Turturro), que mal sabe falar italiano e parece ter uma séria dificuldade em decorar suas falas, coloca ainda mais pressão sobre a diretora que já está atrasada em seu cronograma. Enérgica quando algo não sai conforme sua vontade, ela precisa encarar as próprias impotências, que ganham força quando sua mãe adoece e fica internada no hospital. Diante da morte que se aproxima, Margherita vê desafiada sua (falsa) noção de que pode controlar tudo, de que as decisões estão estritamente em suas mãos. Ela vive se defendendo desses demônios particulares, da incapacidade de manter relações baseadas na troca, sendo racional e intransigente. Os boletins médicos desfavoráveis minam sua autoconfiança pouco a pouco, expondo uma vulnerabilidade até então escondida. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso dizer que Margherita Buy está simplesmente sensacional como protagonista! Ela fala com os olhos - suas cenas tem um dinâmica muito interessantes: ela sempre está procurando o silêncio no meio do caos que é seu dia a dia. Para quem não sabe o que significa estar em um set de filmagem, assistir "Mia Madre" é um retrato baste realista do "caos" que é ser um diretor - que ao mesmo tempo que está rodeado de profissionais, está sozinho nas decisões pela cena perfeita. O bacana é que o diretor Nanni Moretti, que também faz o personagem Giovanni, irmão de Margherita, traduz com muita sensibilidade o drama e a pressão que é dirigir um filme ao contrastar, justamente, com o drama pessoal da personagem. Entender que a jornada de Margherita é muito mais pessoal do que profissional, transforma a maneira como entendemos o filme - e aqui cabe um questionamento: até que ponto vale abrir mão da vida pessoal em detrimento da profissional? Ou vale a pena trazer para "casa" os problemas que temos no "escritório"? Qual o preço disso tudo? A cena em que Margherita "estaciona" o carro de sua mãe é genial, pois diz muito sobre esses questionamentos - reparem!
O roteiro do próprio Moretti ao lado de Valia Santella, Gaia Manzini e Chiara Valerio foi muito feliz em criar a sensação de desconforto e de urgência entre a linha narrativa que expõe o trabalho de Margherita como cineasta e sua constante preocupação como filha. A quebra de linearidade temporal é constante e muito bem pontuada na história, mas é tratada de uma forma muito orgânica no filme - como se mantivesse o fluxo, servindo apenas para juntar as peças e para entender o que aquela difícil situação representa para a protagonista. Outro mérito do roteiro diz respeito ao perfeito equilíbrio entre os momentos cômicos, muitos deles graças ao talento de John Turturro, com aqueles mais dramáticos - mas sempre com muita sensibilidade e sem pesar na mão (talvez a trilha exagere um pouco, mas nada além do que estamos acostumados).
"Minha Mãe" ganhou o "Prize of the Ecumenical Jury" em Cannes 2015 pela forma elegante com que explora a jornada humana através da perda para entender o valor de um novo começo. A verdade é que se trata de um filme completamente autoral, com um dinâmica narrativa bastante pessoal, independente e criativa; tão bem conduzido que mexe com tantas emoções e sentimentos que chega a nos marcar a alma.
Vale a pena para quem gosta de um filme menos convencional e mais introspectivo, mesmo que fantasiado com a leveza do tom.
"Minha Mãe" (ou "Mia Madre" no original) é um belíssimo e sensível filme italiano sobre aceitação! Se inicialmente temos a impressão que a trama vai girar em torno das inseguranças de uma diretora de cinema durante um set de filmagem enquanto sua mãe está no hospital, muito doente; basta chegarmos no segundo ato para entender que o filme vai muito além - a experiência de ter que lidar com a morte que se aproxima ao mesmo tempo em que é preciso entender que a vida continua e que tudo aquilo faz parte de um ciclo que está se acabando, é simplesmente sensacional!
Margherita (Margherita Buy) é uma diretora de cinema que está no meio das filmagens do seu mais novo trabalho e que, ao mesmo tempo, testemunha o estado de saúde em declínio da sua mãe, que está internada no hospital. Para complicar ainda mais a sua situação, a chegada do ator americano Barry Huggins (John Turturro), que mal sabe falar italiano e parece ter uma séria dificuldade em decorar suas falas, coloca ainda mais pressão sobre a diretora que já está atrasada em seu cronograma. Enérgica quando algo não sai conforme sua vontade, ela precisa encarar as próprias impotências, que ganham força quando sua mãe adoece e fica internada no hospital. Diante da morte que se aproxima, Margherita vê desafiada sua (falsa) noção de que pode controlar tudo, de que as decisões estão estritamente em suas mãos. Ela vive se defendendo desses demônios particulares, da incapacidade de manter relações baseadas na troca, sendo racional e intransigente. Os boletins médicos desfavoráveis minam sua autoconfiança pouco a pouco, expondo uma vulnerabilidade até então escondida. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso dizer que Margherita Buy está simplesmente sensacional como protagonista! Ela fala com os olhos - suas cenas tem um dinâmica muito interessantes: ela sempre está procurando o silêncio no meio do caos que é seu dia a dia. Para quem não sabe o que significa estar em um set de filmagem, assistir "Mia Madre" é um retrato baste realista do "caos" que é ser um diretor - que ao mesmo tempo que está rodeado de profissionais, está sozinho nas decisões pela cena perfeita. O bacana é que o diretor Nanni Moretti, que também faz o personagem Giovanni, irmão de Margherita, traduz com muita sensibilidade o drama e a pressão que é dirigir um filme ao contrastar, justamente, com o drama pessoal da personagem. Entender que a jornada de Margherita é muito mais pessoal do que profissional, transforma a maneira como entendemos o filme - e aqui cabe um questionamento: até que ponto vale abrir mão da vida pessoal em detrimento da profissional? Ou vale a pena trazer para "casa" os problemas que temos no "escritório"? Qual o preço disso tudo? A cena em que Margherita "estaciona" o carro de sua mãe é genial, pois diz muito sobre esses questionamentos - reparem!
O roteiro do próprio Moretti ao lado de Valia Santella, Gaia Manzini e Chiara Valerio foi muito feliz em criar a sensação de desconforto e de urgência entre a linha narrativa que expõe o trabalho de Margherita como cineasta e sua constante preocupação como filha. A quebra de linearidade temporal é constante e muito bem pontuada na história, mas é tratada de uma forma muito orgânica no filme - como se mantivesse o fluxo, servindo apenas para juntar as peças e para entender o que aquela difícil situação representa para a protagonista. Outro mérito do roteiro diz respeito ao perfeito equilíbrio entre os momentos cômicos, muitos deles graças ao talento de John Turturro, com aqueles mais dramáticos - mas sempre com muita sensibilidade e sem pesar na mão (talvez a trilha exagere um pouco, mas nada além do que estamos acostumados).
"Minha Mãe" ganhou o "Prize of the Ecumenical Jury" em Cannes 2015 pela forma elegante com que explora a jornada humana através da perda para entender o valor de um novo começo. A verdade é que se trata de um filme completamente autoral, com um dinâmica narrativa bastante pessoal, independente e criativa; tão bem conduzido que mexe com tantas emoções e sentimentos que chega a nos marcar a alma.
Vale a pena para quem gosta de um filme menos convencional e mais introspectivo, mesmo que fantasiado com a leveza do tom.
"Minari - Em Busca da Felicidade" é sobre a luta de todo dia, do imigrante coreano em terras americanas - e como é de se prever, não é uma luta das mais fáceis. O filme não se propõe a criar um conflito marcante ou, muito menos, mostrar o processo de transformação de um personagem - simplesmente porque a vida não é assim, digamos, roteirizada. Talvez por isso, tudo pareça meio morno por muito tempo e essa dinâmica completamente cadenciada vai te provocar sensações bem particulares, ou seja, ou você vai amar "Minari" ou vai simplesmente odiar.
O filme acompanha uma família coreana que se muda da Califórnia para uma área rural do Arkansas a fim de recomeçar sua vida e conquistar o sonho americano. O pai, Jacob (Steven Yeun), arrumou uma terra isolada onde deseja cultivar vegetais coreanos e criar sua própria fazenda - um plano que não agrada sua esposa, Monica (Han Ye-Ri), e que é motivo de intermináveis discussões entre o casal. Ao mesmo tempo, conhecemos o pequeno David (Alan Kim), que convive com uma doença séria no coração e que, com a chegada de sua simpática avó, Soonja (Youn Yuh-Jung), precisa se adaptar a uma realidade de novas descobertas e choques culturais. Confira o trailer:
Saiba que o filme é inspirado nas memórias da infância do diretor Lee Isaac Chung - que também assina o roteiro. É claro como ele tem total familiaridade com aquele universo - são passagens do cotidiano que vão dialogar com quem se permitir "sentir" aquela jornada e, quem sabe, projetar na sua própria história. É muito interessante, porém, como Chung se esforça para não criar nenhum tipo de julgamento perante as decisões de seus personagens - a ideia de que cada um tem os seus motivos, dores e expectativas, acompanha o arco narrativo do começo ao fim. Ao mostrar que, muitas vezes, pessoas que se amam podem não se entender e até não aceitar uma determinada situação, dói - só que faz parte da vida e o filme joga isso na nossa cara em todo momento porque respeita o limite de cada um. inclusive das crianças.
Mais uma vez: não estamos falando de um filme onde um personagem sai do ponto A e chega no ponto B depois de superar todas as dificuldades. Em "Minari" tanto o ponto "A" quanto o "B" já são difíceis, criando uma sensação angustiante em quem assiste. A forma como todos os elementos narrativos se conectam com a história chega a impressionar: elenco, fotografia, trilha sonora e direção de arte conversam entre si de uma maneira tão orgânica que se fosse um documentário a experiência seria exatamente a mesma.
A proposta de apresentar as dores de uma família na busca pelo sonho americano, certamente vai te remeter a tês filmes diferentes entre si, mas similares em sua mensagem: "A Despedida", "O Castelo de Vidro"e "Era uma vez um sonho". Se você já assistiu e gostou dessas referências, Minari é para você; caso contrário vá por sua conta e risco, mas tenha em mente que estamos falando de um filme que dialoga com a inocência e a doçura das crianças, a sabedoria dos mais velhos e a luta diária de um casal que acreditava que poderia (e mereceria) uma vida melhor!
Vale a pena!
Obs: "Minari" ganhou mais de 100 (eu disse "100") prêmios internacionais, além de estar presente em mais de 210 festivais de cinema. O filme foi indicado em 6 categorias no Oscar 2021, inclusive de "Melhor Filme", e ganhou em "Melhor Atriz Coadjuvante" com Youn Yuh-Jung.
"Minari - Em Busca da Felicidade" é sobre a luta de todo dia, do imigrante coreano em terras americanas - e como é de se prever, não é uma luta das mais fáceis. O filme não se propõe a criar um conflito marcante ou, muito menos, mostrar o processo de transformação de um personagem - simplesmente porque a vida não é assim, digamos, roteirizada. Talvez por isso, tudo pareça meio morno por muito tempo e essa dinâmica completamente cadenciada vai te provocar sensações bem particulares, ou seja, ou você vai amar "Minari" ou vai simplesmente odiar.
O filme acompanha uma família coreana que se muda da Califórnia para uma área rural do Arkansas a fim de recomeçar sua vida e conquistar o sonho americano. O pai, Jacob (Steven Yeun), arrumou uma terra isolada onde deseja cultivar vegetais coreanos e criar sua própria fazenda - um plano que não agrada sua esposa, Monica (Han Ye-Ri), e que é motivo de intermináveis discussões entre o casal. Ao mesmo tempo, conhecemos o pequeno David (Alan Kim), que convive com uma doença séria no coração e que, com a chegada de sua simpática avó, Soonja (Youn Yuh-Jung), precisa se adaptar a uma realidade de novas descobertas e choques culturais. Confira o trailer:
Saiba que o filme é inspirado nas memórias da infância do diretor Lee Isaac Chung - que também assina o roteiro. É claro como ele tem total familiaridade com aquele universo - são passagens do cotidiano que vão dialogar com quem se permitir "sentir" aquela jornada e, quem sabe, projetar na sua própria história. É muito interessante, porém, como Chung se esforça para não criar nenhum tipo de julgamento perante as decisões de seus personagens - a ideia de que cada um tem os seus motivos, dores e expectativas, acompanha o arco narrativo do começo ao fim. Ao mostrar que, muitas vezes, pessoas que se amam podem não se entender e até não aceitar uma determinada situação, dói - só que faz parte da vida e o filme joga isso na nossa cara em todo momento porque respeita o limite de cada um. inclusive das crianças.
Mais uma vez: não estamos falando de um filme onde um personagem sai do ponto A e chega no ponto B depois de superar todas as dificuldades. Em "Minari" tanto o ponto "A" quanto o "B" já são difíceis, criando uma sensação angustiante em quem assiste. A forma como todos os elementos narrativos se conectam com a história chega a impressionar: elenco, fotografia, trilha sonora e direção de arte conversam entre si de uma maneira tão orgânica que se fosse um documentário a experiência seria exatamente a mesma.
A proposta de apresentar as dores de uma família na busca pelo sonho americano, certamente vai te remeter a tês filmes diferentes entre si, mas similares em sua mensagem: "A Despedida", "O Castelo de Vidro"e "Era uma vez um sonho". Se você já assistiu e gostou dessas referências, Minari é para você; caso contrário vá por sua conta e risco, mas tenha em mente que estamos falando de um filme que dialoga com a inocência e a doçura das crianças, a sabedoria dos mais velhos e a luta diária de um casal que acreditava que poderia (e mereceria) uma vida melhor!
Vale a pena!
Obs: "Minari" ganhou mais de 100 (eu disse "100") prêmios internacionais, além de estar presente em mais de 210 festivais de cinema. O filme foi indicado em 6 categorias no Oscar 2021, inclusive de "Melhor Filme", e ganhou em "Melhor Atriz Coadjuvante" com Youn Yuh-Jung.
"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.
Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida.
Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.
Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).
O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.
O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.
Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!
No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!
O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.
O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.
"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!
"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.
Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida.
Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.
Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).
O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.
O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.
Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!
No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!
O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.
O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.
"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!