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Cisne Negro

"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.

A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):

"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.

A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.

É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem. 

Vale muito a pena! 

Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!

Assista Agora

"Cisne Negro" é um verdadeiro espetáculo visual - daqueles inesquecíveis que merecem um play quantas vezes forem necessários para podermos absorver a potência de uma narrativa extremamente marcante! Sem dúvida, um thriller psicológico dos mais intensos e emocionantes, dirigido pelo talentoso Darren Aronofsky (de "Mãe!") e estrelado por uma Natalie Portman no melhor de sua forma - tanto que sua performance lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz em 2011.

A história é até que simples, deixando sua complexidade para as diversas camadas emocionais da protagonista Nina (Portman), uma bailarina ambiciosa que é escolhida para o desafio de interpretar um papel duplo de cisne branco e negro em uma produção do tradicional "O Lago dos Cisnes". Confira o trailer (em inglês):

"Black Swan" (no original) chama atenção por suas imagens deslumbrantes, mérito do diretor de fotografia Matthew Libatique (de "Nasce uma Estrela") e por sua coreografia impecável que transporta a audiência para o universo da dança de uma forma impressionante - eu diria que é como se fosse uma versão de "Any Given Sunday" só que em cima do palco! A atuação de Portman também merece todos os elogios - ela é, de fato, excepcional. Ela mergulha profundamente nas nuances mais sensíveis da personagem, mostrando uma personalidade carregada de dramaticidade que transita entre a fragilidade e a obsessão em um suspiro, um olhar.

A direção de Aronofsky é fantástica - ele usa o simbolismo do cisne branco e negro para explorar temas espinhosos como a dualidade, a perfeição e a obstinação. Tudo misturado, com tons tão desconexos que o incômodo narrativo acaba fazendo parte da experiência. A trilha sonora, que incorpora elementos da música clássica de Tchaikovsky, potencializa esse conceito - ela é tão arrepiante quanto emocionante, adicionando ainda mais tensão para a trama.

É inegável que o filme tem uma atmosfera sombria e claustrofóbica, o que nos causa a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer em todo momento. Essa tensão é construída gradualmente até o clímax final, mas muito antes, "Cisne Negro" já poderia ser considerado uma obra-prima do cinema moderno. Olha, essa é uma mistura perfeita de drama, suspense e arte, fazendo com que o filme fique na nossa mente por muito tempo depois que os créditos subirem. 

Vale muito a pena! 

Up-date: "Cisne Negro" foi indicado em 5 categorias no Oscar 2011, inclusive de Melhor Filme do Ano!

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Coerência

Embora "Coerência" tenha fortes elementos de ficção científica, é impossível deixar de dizer que seu suspense repleto de muito mistério e drama, é o que nos mantém "literalmente" grudados na tela durante os 90 minutos de narrativa. Dirigido por James Ward Byrkit,  o filme se destaca não apenas pela intrigante jornada que o roteiro propõe, mas também pela maneira criativa com que foi concebido e executado. Lançado em 2013, "Coherence" (no original) foi aclamado em diversos festivais de cinema independente, incluindo o Austin Fantastic Fest, onde recebeu elogios pela sua originalidade e pela forma como desafiou as convenções narrativas mais tradicionais. Em uma era onde efeitos especiais dominam o gênero, Byrkit opta por uma abordagem minimalista, lembrando clássicos como "Donnie Darko", onde é a atmosfera inquietante do desconhecido que nos tira o equilíbrio (e o conforto)!

Basicamente, a trama gira em torno de um grupo de amigos que se reúne para um jantar na noite em que um cometa passa pela Terra. À medida que a noite avança, eventos estranhos e perturbadores começam a acontecer, desafiando a sanidade dos presentes. Condira o trailer:

Um dos maiores triunfos de "Coerência", sem dúvida alguma, é sua capacidade de construir (e manter) a tensão e o mistério, mesmo com seus perceptíveis recursos limitados. Filmado em apenas cinco dias, o projeto não possui um roteiro convencional, evitando assim as respostas fáceis, permitindo que apoie na exploração e no impacto psicológico dos fenômenos inexplicáveis que os personagens precisam enfrentar. Byrkit fez escolhas conceituais arriscadas, eu diria até experimentais, optando por fornecer aos atores apenas esboços de suas cenas, fazendo com que a maior parte dos diálogos fosse improvisada. Esse método, que poderia facilmente resultar em um caos narrativo, nos confere uma autenticidade crua às interações, intensificando a sensação de desconforto e de imprevisibilidade - é como se estivéssemos ali, naquela situação, tentando entender tudo que está acontecendo sem ao menos ter onde se apegar. É impressionante como a narrativa mexe com a nossa percepção de mundo e praticamente brinca com a nossa compreensão de espaço!

Outro aspecto crucial para o sucesso de "Coerência" é sua abordagem até então inovadora sobre a teoria dos multiversos - isso aqui não é spoiler e você vai entender quando der o play. O filme sabe brincar com a ideia de realidades paralelas e suas consequências a partir de escolhas aparentemente triviais - esse é um conceito inteligentemente incorporado na narrativa sem recorrer a super exposições ou aquela forçada de barra natural nesse tipo de proposta. Repare como a fotografia de Arlene Muller e Nic Sadler, com o uso inteligente de iluminação natural e enquadramentos claustrofóbicos, de uma câmera bastante nervosa, aumenta ainda mais a sensação de paranoia e incerteza com tanta propriedade. A montagem ágil de Lance Pereira (de "A Cura") contribui demais para essa dinâmica onde o deslocamento e a dúvida pautam as performances dos atores - aliás, que elenco, que trabalho de direção de atores! Destaco o trabalho de Emily Baldoni e sua Em - a jornada emocional da personagem serve como espinha dorsal da narrativa e sua habilidade em transmitir uma gama complexa de emoções, desde a confusão até o desespero, é fundamental para o impacto do filme.

Grande parte do suspense de "Coerência" deriva das dinâmicas interpessoais de seu elenco - isso é um fato. No entanto cada elemento técnico do filme é meticulosamente trabalhado para servir à história com muita inteligência. Criando uma experiência imersiva e perturbadora, Byrkit realmente surpreende pela competência e coragem, entregando um filme que não só entretém, mas que também incita reflexão e discussão, exigindo atenção total, já que cada detalhe pode ser uma peça crucial em um quebra-cabeça muito maior. Para aqueles que apreciam um bom mistério e não têm medo de questionar a realidade imersos em uma atmosfera tensa e inquietante, "Coherence" é sim uma experiência cinematográfica obrigatória!

Vale muito o seu play!

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Embora "Coerência" tenha fortes elementos de ficção científica, é impossível deixar de dizer que seu suspense repleto de muito mistério e drama, é o que nos mantém "literalmente" grudados na tela durante os 90 minutos de narrativa. Dirigido por James Ward Byrkit,  o filme se destaca não apenas pela intrigante jornada que o roteiro propõe, mas também pela maneira criativa com que foi concebido e executado. Lançado em 2013, "Coherence" (no original) foi aclamado em diversos festivais de cinema independente, incluindo o Austin Fantastic Fest, onde recebeu elogios pela sua originalidade e pela forma como desafiou as convenções narrativas mais tradicionais. Em uma era onde efeitos especiais dominam o gênero, Byrkit opta por uma abordagem minimalista, lembrando clássicos como "Donnie Darko", onde é a atmosfera inquietante do desconhecido que nos tira o equilíbrio (e o conforto)!

Basicamente, a trama gira em torno de um grupo de amigos que se reúne para um jantar na noite em que um cometa passa pela Terra. À medida que a noite avança, eventos estranhos e perturbadores começam a acontecer, desafiando a sanidade dos presentes. Condira o trailer:

Um dos maiores triunfos de "Coerência", sem dúvida alguma, é sua capacidade de construir (e manter) a tensão e o mistério, mesmo com seus perceptíveis recursos limitados. Filmado em apenas cinco dias, o projeto não possui um roteiro convencional, evitando assim as respostas fáceis, permitindo que apoie na exploração e no impacto psicológico dos fenômenos inexplicáveis que os personagens precisam enfrentar. Byrkit fez escolhas conceituais arriscadas, eu diria até experimentais, optando por fornecer aos atores apenas esboços de suas cenas, fazendo com que a maior parte dos diálogos fosse improvisada. Esse método, que poderia facilmente resultar em um caos narrativo, nos confere uma autenticidade crua às interações, intensificando a sensação de desconforto e de imprevisibilidade - é como se estivéssemos ali, naquela situação, tentando entender tudo que está acontecendo sem ao menos ter onde se apegar. É impressionante como a narrativa mexe com a nossa percepção de mundo e praticamente brinca com a nossa compreensão de espaço!

Outro aspecto crucial para o sucesso de "Coerência" é sua abordagem até então inovadora sobre a teoria dos multiversos - isso aqui não é spoiler e você vai entender quando der o play. O filme sabe brincar com a ideia de realidades paralelas e suas consequências a partir de escolhas aparentemente triviais - esse é um conceito inteligentemente incorporado na narrativa sem recorrer a super exposições ou aquela forçada de barra natural nesse tipo de proposta. Repare como a fotografia de Arlene Muller e Nic Sadler, com o uso inteligente de iluminação natural e enquadramentos claustrofóbicos, de uma câmera bastante nervosa, aumenta ainda mais a sensação de paranoia e incerteza com tanta propriedade. A montagem ágil de Lance Pereira (de "A Cura") contribui demais para essa dinâmica onde o deslocamento e a dúvida pautam as performances dos atores - aliás, que elenco, que trabalho de direção de atores! Destaco o trabalho de Emily Baldoni e sua Em - a jornada emocional da personagem serve como espinha dorsal da narrativa e sua habilidade em transmitir uma gama complexa de emoções, desde a confusão até o desespero, é fundamental para o impacto do filme.

Grande parte do suspense de "Coerência" deriva das dinâmicas interpessoais de seu elenco - isso é um fato. No entanto cada elemento técnico do filme é meticulosamente trabalhado para servir à história com muita inteligência. Criando uma experiência imersiva e perturbadora, Byrkit realmente surpreende pela competência e coragem, entregando um filme que não só entretém, mas que também incita reflexão e discussão, exigindo atenção total, já que cada detalhe pode ser uma peça crucial em um quebra-cabeça muito maior. Para aqueles que apreciam um bom mistério e não têm medo de questionar a realidade imersos em uma atmosfera tensa e inquietante, "Coherence" é sim uma experiência cinematográfica obrigatória!

Vale muito o seu play!

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Corra

"Get Out" (título original) talvez seja o maior exemplo de um marketing mal feito: o cartaz e o nome em português, "Corra", devem ter afastado muita gente (inclusive eu), o que é uma pena porque o filme é muito mais do que aquela estrutura superficial de humor negro que foi apresentada.

Chris (Daniel Kaluuya) e Rose (Allison Williams) são namorados há já algum tempo. Com o evoluir da relação, ela acha que chegou o momento de apresentar o namorado para os pais, Missy (Catherine Keener) e Dean (Bradley Whitford). Ela, então, resolve convidá-lo para uma reunião familiar que todos os anos os pais organizam em sua casa, numa zona rural dos EUA. Apesar de alguma relutância por parte de Chris, Rose acha que não há a menor necessidade de avisar seus pais, que ela considera cultos e esclarecidos, o fato de que ele é negro. Quando chegam ao evento, apesar de toda a simpatia com que é tratado, Chris percebe que algo de muito estranho se passa naquela casa e com aqueles convidados. Quando ele resolve fugir daquele ambiente bizarro e um pouco claustrofóbico, percebe que ninguém está interessado em deixá-lo partir e isso é só o começo de uma longa jornada. Confira o trailer:

"Corra" é muito bem dirigido pelo excelente Jordan Peele que estreia na função - ele foi capaz que trazer muito de um conceito que estava em alta na época: um suspense independente com um roteiro bem inteligente, cheio de críticas sociais e ideológicas e com momentos completamente non-sense. De fato, Jordan Peele representou muito bem uma nova geração de diretores e roteiristas de gênero que estão bombando atualmente!

O filme foi muito bem de publico, não nos patamares de "Bruxa de Blair" como muita gente falou, mas teve um lucro de respeito: custou 5 milhões de dólares e já faturou quase 250 milhões - foi um bom investimento ou não? O filme tem um roteiro muito bem estruturado, com bons plots e muito, mas muito, criativo - o que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018.

"Corra" é um suspense muito bem realizado, sai do lugar comum, passa sua mensagem sem parecer enfadonho e para quem gosta do gênero, é uma ótima pedida! Vale seu play tranquilamente!

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"Get Out" (título original) talvez seja o maior exemplo de um marketing mal feito: o cartaz e o nome em português, "Corra", devem ter afastado muita gente (inclusive eu), o que é uma pena porque o filme é muito mais do que aquela estrutura superficial de humor negro que foi apresentada.

Chris (Daniel Kaluuya) e Rose (Allison Williams) são namorados há já algum tempo. Com o evoluir da relação, ela acha que chegou o momento de apresentar o namorado para os pais, Missy (Catherine Keener) e Dean (Bradley Whitford). Ela, então, resolve convidá-lo para uma reunião familiar que todos os anos os pais organizam em sua casa, numa zona rural dos EUA. Apesar de alguma relutância por parte de Chris, Rose acha que não há a menor necessidade de avisar seus pais, que ela considera cultos e esclarecidos, o fato de que ele é negro. Quando chegam ao evento, apesar de toda a simpatia com que é tratado, Chris percebe que algo de muito estranho se passa naquela casa e com aqueles convidados. Quando ele resolve fugir daquele ambiente bizarro e um pouco claustrofóbico, percebe que ninguém está interessado em deixá-lo partir e isso é só o começo de uma longa jornada. Confira o trailer:

"Corra" é muito bem dirigido pelo excelente Jordan Peele que estreia na função - ele foi capaz que trazer muito de um conceito que estava em alta na época: um suspense independente com um roteiro bem inteligente, cheio de críticas sociais e ideológicas e com momentos completamente non-sense. De fato, Jordan Peele representou muito bem uma nova geração de diretores e roteiristas de gênero que estão bombando atualmente!

O filme foi muito bem de publico, não nos patamares de "Bruxa de Blair" como muita gente falou, mas teve um lucro de respeito: custou 5 milhões de dólares e já faturou quase 250 milhões - foi um bom investimento ou não? O filme tem um roteiro muito bem estruturado, com bons plots e muito, mas muito, criativo - o que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018.

"Corra" é um suspense muito bem realizado, sai do lugar comum, passa sua mensagem sem parecer enfadonho e para quem gosta do gênero, é uma ótima pedida! Vale seu play tranquilamente!

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Elle

Extremamente premiado na temporada 2016/2017, "Elle" ficou marcado por ter colocado a excelente atriz Isabelle Huppert na disputa do Oscar depois de uma performance, de fato, surpreendente. Dirigido pelo experiente diretor holandês Paul Verhoeven (de "Instinto Selvagem"), essa produção francesa é, no mínimo, intrigante - eu diria até que é um filme que desafia as nossas expectativas ao nos convidar para uma jornada profunda pelas entranhas da psique humana como poucos. Considerado por muitos uma obra de arte que merecia uma indicação de "Melhor Filme" em 2017, "Elle" se apropria de um tema denso e uma narrativa complexa para nos provocar inúmeras reflexões e, claro, fortes emoções. 

Baseado no romance "Oh...", dePhilippe Djian, conhecemos Michèle (Isabelle Huppert), uma executiva-chefe de uma empresa de videogames que administra sua vida profissional do mesmo jeito que sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, organizando de maneira precisa e ordenada para que tudo funcione - mas sabemos que a realidade não é bem assim. Sua rotina quase patológica é quebrada quando ela é atacada por um desconhecido, dentro de sua própria casa e ela decide não deixar que essa experiência traumática a abale. É aí que Michèle passa a observar e investigar quem poderia ser seu agressor - o problema é que o próprio agressor misterioso também não desistiu dela. Confira o trailer:

Sem dúvida alguma que "Elle" é o filme da vida de Verhoeven e mereceu todo o sucesso que teve nos festivais - para você ter uma ideia, foram mais de 65 prêmios em quase 100 indicações, incluindo vitórias no Globo de Ouro, no BAFTA e no Goya. Com uma narrativa que desafia convenções ao explorar a natureza dicotômica do trauma e do desejo, o filme nos mantém em estado de tensão e angustia enquanto tentamos decifrar os enigmas que permeiam a história de Michèle. O desempenho de Huppert é simplesmente fenomenal - reparem a maneira como ela dá vida a Michèle, retratando sua força e vulnerabilidade de forma tão convincente e visceral. E aqui cabe um rápido comentário: o elenco de apoio, incluindo nomes como Laurent Lafitte e Anne Consigny, também merece elogios - eles são o gatilho perfeito para Huppert brilhar ao mesmo tempo em que enriquecem a trama.

A direção de Paul Verhoeven é magistral! Ele é capaz de criar essa atmosfera de tensão extremamente provocante, se apoiando em um texto afiado, cheio de camadas, de dois roteiristas sem muita expressão: Philippe Djian (de "Betty Blue") e David Birke (de "Os 13 Pecados"). Equilibrando com maestria o suspense e o viés psicológico da trama, Verhoeven conduz a narrativa sempre no tom exato, sem escorregar como já havia feito antes. Outro mérito do diretor e é preciso admitir, é o fato dele ter trazido para o projeto o fotógrafo Stéphane Fontaine (de "Capitão Fantástico") e a compositora de Anne Dudley (de "Tudo ou Nada") - dois profissionais de primeira linha que foram essenciais para intensificar as nossas emoções exatamente como ele queria.

Veja, embora a recepção de "Elle" tenha dividido opiniões, provocando debates acalorados entre críticos e público, é preciso reconhecer e elogiar a coragem do filme em abordar temas tão delicados sem esquecer do seu valor como entretenimento - mais ou menos como o alemão, "Está tudo certo". É inegável que a obra provoca reações emocionais intensas, e isso deve ser considerado até como um testemunho de seu impacto, no entanto o filme tem uma precisão, um cuidado, um equilíbrio tão cirúrgico entre o humor negro e o sarcasmo inteligente que, olha, merece muito o seu play e voando!

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Extremamente premiado na temporada 2016/2017, "Elle" ficou marcado por ter colocado a excelente atriz Isabelle Huppert na disputa do Oscar depois de uma performance, de fato, surpreendente. Dirigido pelo experiente diretor holandês Paul Verhoeven (de "Instinto Selvagem"), essa produção francesa é, no mínimo, intrigante - eu diria até que é um filme que desafia as nossas expectativas ao nos convidar para uma jornada profunda pelas entranhas da psique humana como poucos. Considerado por muitos uma obra de arte que merecia uma indicação de "Melhor Filme" em 2017, "Elle" se apropria de um tema denso e uma narrativa complexa para nos provocar inúmeras reflexões e, claro, fortes emoções. 

Baseado no romance "Oh...", dePhilippe Djian, conhecemos Michèle (Isabelle Huppert), uma executiva-chefe de uma empresa de videogames que administra sua vida profissional do mesmo jeito que sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, organizando de maneira precisa e ordenada para que tudo funcione - mas sabemos que a realidade não é bem assim. Sua rotina quase patológica é quebrada quando ela é atacada por um desconhecido, dentro de sua própria casa e ela decide não deixar que essa experiência traumática a abale. É aí que Michèle passa a observar e investigar quem poderia ser seu agressor - o problema é que o próprio agressor misterioso também não desistiu dela. Confira o trailer:

Sem dúvida alguma que "Elle" é o filme da vida de Verhoeven e mereceu todo o sucesso que teve nos festivais - para você ter uma ideia, foram mais de 65 prêmios em quase 100 indicações, incluindo vitórias no Globo de Ouro, no BAFTA e no Goya. Com uma narrativa que desafia convenções ao explorar a natureza dicotômica do trauma e do desejo, o filme nos mantém em estado de tensão e angustia enquanto tentamos decifrar os enigmas que permeiam a história de Michèle. O desempenho de Huppert é simplesmente fenomenal - reparem a maneira como ela dá vida a Michèle, retratando sua força e vulnerabilidade de forma tão convincente e visceral. E aqui cabe um rápido comentário: o elenco de apoio, incluindo nomes como Laurent Lafitte e Anne Consigny, também merece elogios - eles são o gatilho perfeito para Huppert brilhar ao mesmo tempo em que enriquecem a trama.

A direção de Paul Verhoeven é magistral! Ele é capaz de criar essa atmosfera de tensão extremamente provocante, se apoiando em um texto afiado, cheio de camadas, de dois roteiristas sem muita expressão: Philippe Djian (de "Betty Blue") e David Birke (de "Os 13 Pecados"). Equilibrando com maestria o suspense e o viés psicológico da trama, Verhoeven conduz a narrativa sempre no tom exato, sem escorregar como já havia feito antes. Outro mérito do diretor e é preciso admitir, é o fato dele ter trazido para o projeto o fotógrafo Stéphane Fontaine (de "Capitão Fantástico") e a compositora de Anne Dudley (de "Tudo ou Nada") - dois profissionais de primeira linha que foram essenciais para intensificar as nossas emoções exatamente como ele queria.

Veja, embora a recepção de "Elle" tenha dividido opiniões, provocando debates acalorados entre críticos e público, é preciso reconhecer e elogiar a coragem do filme em abordar temas tão delicados sem esquecer do seu valor como entretenimento - mais ou menos como o alemão, "Está tudo certo". É inegável que a obra provoca reações emocionais intensas, e isso deve ser considerado até como um testemunho de seu impacto, no entanto o filme tem uma precisão, um cuidado, um equilíbrio tão cirúrgico entre o humor negro e o sarcasmo inteligente que, olha, merece muito o seu play e voando!

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Emergência

Emergência

O racismo estrutural existe - isso é um fato! Infelizmente esse mal está incutido em toda a sociedade, e é algo que todos nós cometemos, em maior ou menor grau, quer a gente aceite ou não. São tantos episódios que basta parar e observar, para entender prontamente que o racismo precisa ser combatido, sempre! O filme “Emergência”, disponível no catálogo da Prime Vídeo, trata exatamente disso - apresentando o racismo estrutural de forma visceral e, ao mesmo tempo, didática. O interessante é que o enredo não dá brecha para questionamentos, ele mostra exatamente como o problema continua enraizado e como é difícil ser extirpado para sempre da nossa realidade.

A trama mostra três estudantes universitários, Kunle (Donald Elise Watkins), Sean (RJ Cyler) e Carlos (Sebastian Chacon), dois negros e um latino, que antes de sair para uma balada, encontram uma garota desconhecida desacordada no chão da casa onde residem. A partir daí, eles vivem um impasse: chamar a emergência e correr o risco de serem acusados de algum crime, ou abandonar a menina, sem sofrer maiores consequências. Confira o trailer:

A premissa é muito inteligente em levantar questões bastante delicadas, mas pelos olhos de quem realmente sofre preconceito - e o roteiro da K.D. Dávila foi muito feliz em desenvolver um plot que explora a dificuldade de tomar uma decisão mais coerente pelos protagonistas, já que a garota desmaiada é branca, loira e menor de idade. Se chamarem a polícia ou a ambulância, será que vão acreditar na história deles? O receio e o medo que eles sentem é legítimo e verdadeiro, mas ao mesmo tempo escancara como o racismo estrutural pode moldar as atitudes das pessoas. Essa dualidade, ou desconforto, de comportamento exige uma sensibilidade enorme de condução para que as muitas camadas dos personagens possam ser aproveitadas, e o diretor Carey Williams (nomeado um dos novos diretores mais promissores de 2018 pela Filmmaker Magazine) foi muito seguro nesse desenvolvimento. 

“Emergência” é baseado em um curta-metragem e Williams, premiadíssimo em 2018 (vencedor do SXSW  e de Sundance no mesmo ano), que transita magistralmente por diversos gêneros: como a comédia, o drama e o suspense. Obviamente que esse é um daqueles filmes necessários, que todo mundo deveria ver e rever! É também provocativo, reflexivo e extremamente desconfortável! E é, antes de tudo, um aviso para que pessoas brancas como eu e você. tenham consciência que ainda precisamos evoluir muito, para um dia, finalmente, dizermos que vivemos em mundo mais justo e sem preconceitos.

Vale muito seu play, Vale muito sua reflexão!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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O racismo estrutural existe - isso é um fato! Infelizmente esse mal está incutido em toda a sociedade, e é algo que todos nós cometemos, em maior ou menor grau, quer a gente aceite ou não. São tantos episódios que basta parar e observar, para entender prontamente que o racismo precisa ser combatido, sempre! O filme “Emergência”, disponível no catálogo da Prime Vídeo, trata exatamente disso - apresentando o racismo estrutural de forma visceral e, ao mesmo tempo, didática. O interessante é que o enredo não dá brecha para questionamentos, ele mostra exatamente como o problema continua enraizado e como é difícil ser extirpado para sempre da nossa realidade.

A trama mostra três estudantes universitários, Kunle (Donald Elise Watkins), Sean (RJ Cyler) e Carlos (Sebastian Chacon), dois negros e um latino, que antes de sair para uma balada, encontram uma garota desconhecida desacordada no chão da casa onde residem. A partir daí, eles vivem um impasse: chamar a emergência e correr o risco de serem acusados de algum crime, ou abandonar a menina, sem sofrer maiores consequências. Confira o trailer:

A premissa é muito inteligente em levantar questões bastante delicadas, mas pelos olhos de quem realmente sofre preconceito - e o roteiro da K.D. Dávila foi muito feliz em desenvolver um plot que explora a dificuldade de tomar uma decisão mais coerente pelos protagonistas, já que a garota desmaiada é branca, loira e menor de idade. Se chamarem a polícia ou a ambulância, será que vão acreditar na história deles? O receio e o medo que eles sentem é legítimo e verdadeiro, mas ao mesmo tempo escancara como o racismo estrutural pode moldar as atitudes das pessoas. Essa dualidade, ou desconforto, de comportamento exige uma sensibilidade enorme de condução para que as muitas camadas dos personagens possam ser aproveitadas, e o diretor Carey Williams (nomeado um dos novos diretores mais promissores de 2018 pela Filmmaker Magazine) foi muito seguro nesse desenvolvimento. 

“Emergência” é baseado em um curta-metragem e Williams, premiadíssimo em 2018 (vencedor do SXSW  e de Sundance no mesmo ano), que transita magistralmente por diversos gêneros: como a comédia, o drama e o suspense. Obviamente que esse é um daqueles filmes necessários, que todo mundo deveria ver e rever! É também provocativo, reflexivo e extremamente desconfortável! E é, antes de tudo, um aviso para que pessoas brancas como eu e você. tenham consciência que ainda precisamos evoluir muito, para um dia, finalmente, dizermos que vivemos em mundo mais justo e sem preconceitos.

Vale muito seu play, Vale muito sua reflexão!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Encounter

"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).

Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:

Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.

A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion"  e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.

Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.

O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter"  uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.

Assista Agora

"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).

Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:

Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.

A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion"  e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.

Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.

O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter"  uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.

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Equinox

"Equinox" é um ótima série, mesmo se apoiando em alguns esteriótipos para se estabelecer no gênero, eu diria que já é possível defini-la como a primeira grande surpresa do ano de 2021 no catálogo da Netflix (mesmo tendo chegado no finalzinho de 2020). Agora não espere uma jornada fácil, essa série dinamarquesa é cheia de simbolismos e informações que não necessariamente se encontram nos seis primeiros episódios - mais ou menos como "Hereditário"ou "Midsommar".

A série acompanha a jornada de Astrid (Danica Curcic), uma jovem que, em 1999, viu sua irmã mais velha e quase todos os colegas de classe desaparecerem de uma forma completamente misteriosa e sem deixar qualquer vestígio, na noite de formatura. Desde então ela ficou traumatizada, crescendo cercada por visões terríveis e pesadelos envolvendo sua irmã e os outros desaparecidos. 21 anos depois, Astrid volta a ser assombrada e depois de receber uma ligação de um dos sobreviventes, ela se propõe a investigar o que realmente aconteceu na época e buscar a verdade sobre o paradeiro de sua irmã Ida (Karoline Hamm). Confira o trailer:

Se você é daqueles que precisam de todas as respostas para chancelar a qualidade de uma série ou de um filme, "Equinox" não é para você - pelo menos não por enquanto. A primeira temporada tem um história bastante consistente, envolvente e bem desenvolvida, mas difícil. As peças vão se encaixando com a mesma velocidade que outras pontas vão se abrindo, porém a sensação que nos dá é que tudo parece fazer parte de um planejamento (o que é um alívio). Mesmo que algumas soluções, ainda assim, possam incomodar pela superficialidade, existe um contraste narrativo muito interessante entre o palpável e o interpretativo, que é capaz de sustentar o mistério até o final. O próprio produtor da série, Piv Bernth (de "The Killing"- o original) definiu: “Equinox é uma história muito única sobre a diferença entre realidade e imaginação, e a relação entre livre arbítrio e destino – tudo isso em uma família dinamarquesa normal”.

"Equinox" foi competente ao misturar (possíveis) elementos sobrenaturais com problemas reais, típicos da adolescência, sem ser piegas, com isso o roteiro estabeleceu um drama sólido de como as pessoas vulneráveis podem ser levadas a acreditar em crenças surreais, seja por fragilidade ou até por distúrbios psicológicos - e aqui vale ressaltar que a primeira temporada foi baseada em um podcast de muito sucesso na Dinamarca chamado "Equinox 1985", mas não se sabe ao certo como seria uma segunda temporada, embora o gancho do final (que ainda pode dividir opiniões) nos provoque a torcer para que ela aconteça. 

Tendo em vista todas as observações que pontuamos acima, recomendamos "Equinox" com tranquilidade e mesmo se tratando de lendas e folclores locais, fica a dica: tudo tem uma explicação, mesmo que, nesse caso, ela não venha como estamos acostumados!

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"Equinox" é um ótima série, mesmo se apoiando em alguns esteriótipos para se estabelecer no gênero, eu diria que já é possível defini-la como a primeira grande surpresa do ano de 2021 no catálogo da Netflix (mesmo tendo chegado no finalzinho de 2020). Agora não espere uma jornada fácil, essa série dinamarquesa é cheia de simbolismos e informações que não necessariamente se encontram nos seis primeiros episódios - mais ou menos como "Hereditário"ou "Midsommar".

A série acompanha a jornada de Astrid (Danica Curcic), uma jovem que, em 1999, viu sua irmã mais velha e quase todos os colegas de classe desaparecerem de uma forma completamente misteriosa e sem deixar qualquer vestígio, na noite de formatura. Desde então ela ficou traumatizada, crescendo cercada por visões terríveis e pesadelos envolvendo sua irmã e os outros desaparecidos. 21 anos depois, Astrid volta a ser assombrada e depois de receber uma ligação de um dos sobreviventes, ela se propõe a investigar o que realmente aconteceu na época e buscar a verdade sobre o paradeiro de sua irmã Ida (Karoline Hamm). Confira o trailer:

Se você é daqueles que precisam de todas as respostas para chancelar a qualidade de uma série ou de um filme, "Equinox" não é para você - pelo menos não por enquanto. A primeira temporada tem um história bastante consistente, envolvente e bem desenvolvida, mas difícil. As peças vão se encaixando com a mesma velocidade que outras pontas vão se abrindo, porém a sensação que nos dá é que tudo parece fazer parte de um planejamento (o que é um alívio). Mesmo que algumas soluções, ainda assim, possam incomodar pela superficialidade, existe um contraste narrativo muito interessante entre o palpável e o interpretativo, que é capaz de sustentar o mistério até o final. O próprio produtor da série, Piv Bernth (de "The Killing"- o original) definiu: “Equinox é uma história muito única sobre a diferença entre realidade e imaginação, e a relação entre livre arbítrio e destino – tudo isso em uma família dinamarquesa normal”.

"Equinox" foi competente ao misturar (possíveis) elementos sobrenaturais com problemas reais, típicos da adolescência, sem ser piegas, com isso o roteiro estabeleceu um drama sólido de como as pessoas vulneráveis podem ser levadas a acreditar em crenças surreais, seja por fragilidade ou até por distúrbios psicológicos - e aqui vale ressaltar que a primeira temporada foi baseada em um podcast de muito sucesso na Dinamarca chamado "Equinox 1985", mas não se sabe ao certo como seria uma segunda temporada, embora o gancho do final (que ainda pode dividir opiniões) nos provoque a torcer para que ela aconteça. 

Tendo em vista todas as observações que pontuamos acima, recomendamos "Equinox" com tranquilidade e mesmo se tratando de lendas e folclores locais, fica a dica: tudo tem uma explicação, mesmo que, nesse caso, ela não venha como estamos acostumados!

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Fale Comigo

Uma pancada! E você não vai precisar mais do que o prólogo para entender onde está se enfiando. Impactante e muito bem desenvolvido como obra cinematográfica, "Fale Comigo" é uma verdadeira viagem pelo gênero do suspense que sabe brincar com imaginário coletivo e provocar aquela sensação de "o que eu faria numa situação dessas (com 16 anos de idade, claro)". Essa produção australiana dirigida pela jovem e talentosa dupla Danny e Michael Philippou, não apenas desafia as fronteiras do convencional, como também mergulha, cheia de simbolismos, em um mundo onde a adrenalina se mistura com o sobrenatural da maneira mais inesperada e criativa possível. A narrativa simples, intriga, e a execução magistral fazem desse filme uma das surpresas de 2023 e que não deve ser ignorada se você gosta de uns sustos. Com uma abordagem sem rodeios, mas cheia de referências que vão de Jordan Peele a  M. Night Shyamalan, passando por William Friedkin e James Wan, "Fale Comigo" conquistou o destaque merecido em Festivais de Cinema pelo mundo não apenas por sua trama envolvente, mas também por sua originalidade dentro do gênero. Em um cenário saturado de clichês eu diria que aqui temos  a essência mainstream de "Invocação do Mal" e o tom mais autoral de "Hereditário" ou de "Verônica", equilibrando suas potencialidades, mas trilhando seu próprio caminho.

Mia (Sophie Wilde) e seus amigos embarcam em uma jornada sobrenatural ao descobrir um ritual único de se conectar com os mortos: basta dizer "fale comigo" segurando uma espécie de mão embalsamada que dizem ser de uma médium. Essas experiências, além de curiosas, acabam viciando o grupo pela adrenalina e a sensação de desafiar os limites do perigo, no entanto, um deles acaba indo longe demais, liberando forças espirituais aterrorizantes e que acabam marcando suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):

Com uma trama repleta de momentos de impacto visual e uma atmosfera permanente de suspense que deixa claro que tanto roteiro quanto direção sabem respeitar a gramática cinematográfica do gênero com muita habilidade, "Fale Comigo" marca um golaço ao representar os jovens personagens de maneira autêntica e com a sensibilidade de quem sabe o que está falando - da brincadeira, quase bullying, entre dois grandes amigos ao relacionamento entre pais e filhos que prezam pela confiança, mas vacilam ao não levar em conta o ambiente em que estão inseridos. Veja, embora não seja essa a proposta essencial do roteiro, o filme sabe muito bem onde tocar nas feridas de uma geração pautada pelo espetáculo e aceitação social.

Os Philippou sabem como criar uma atmosfera densa e envolvente. A fotografia do Aaron McLisky (de "Jogo Perfeito") nos conduz por um universo de tons sombrios e contrastes bem calibrados, que contribuem para uma ambientação, de fato, marcante. A direção sabe da importância dessa personalidade visual, de como a expectativa do susto pode nos angustiar, de como o drama pessoal é importante para acreditarmos nos personagens e de como tudo isso precisa estar alinhado para que o uso inteligente do suspense intensifique a nossa experiência. A montagem habilidosa do Geoff Lamb e a trilha sonora do Cornel Wilczek, claro, mantém o clima pesado e o ritmo eletrizante, mas eu diria que é a maquiagem bem executada que contribui para a autenticidade sobrenatural, sem cair em exageros.

A dualidade entre o vício na adrenalina e as forças aterrorizantes desencadeadas por uma "brincadeira inocente" fornece, de fato, uma camada palpável e até intrigante para a trama, e talvez seja isso que faz com que "Fale Comigo" supere as expectativas. Cada detalhe, desde a atuação de um elenco afinado até o ótimo desenho de som, enfim, tudo contribui para criar um filme que deixa uma marca interessante para quem gosta desse tipo de suspense. Então, se você procura por uma jornada que desafie convenções do gênero, esse filme é mais do que imperdível e vai valer muito o seu play!

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Uma pancada! E você não vai precisar mais do que o prólogo para entender onde está se enfiando. Impactante e muito bem desenvolvido como obra cinematográfica, "Fale Comigo" é uma verdadeira viagem pelo gênero do suspense que sabe brincar com imaginário coletivo e provocar aquela sensação de "o que eu faria numa situação dessas (com 16 anos de idade, claro)". Essa produção australiana dirigida pela jovem e talentosa dupla Danny e Michael Philippou, não apenas desafia as fronteiras do convencional, como também mergulha, cheia de simbolismos, em um mundo onde a adrenalina se mistura com o sobrenatural da maneira mais inesperada e criativa possível. A narrativa simples, intriga, e a execução magistral fazem desse filme uma das surpresas de 2023 e que não deve ser ignorada se você gosta de uns sustos. Com uma abordagem sem rodeios, mas cheia de referências que vão de Jordan Peele a  M. Night Shyamalan, passando por William Friedkin e James Wan, "Fale Comigo" conquistou o destaque merecido em Festivais de Cinema pelo mundo não apenas por sua trama envolvente, mas também por sua originalidade dentro do gênero. Em um cenário saturado de clichês eu diria que aqui temos  a essência mainstream de "Invocação do Mal" e o tom mais autoral de "Hereditário" ou de "Verônica", equilibrando suas potencialidades, mas trilhando seu próprio caminho.

Mia (Sophie Wilde) e seus amigos embarcam em uma jornada sobrenatural ao descobrir um ritual único de se conectar com os mortos: basta dizer "fale comigo" segurando uma espécie de mão embalsamada que dizem ser de uma médium. Essas experiências, além de curiosas, acabam viciando o grupo pela adrenalina e a sensação de desafiar os limites do perigo, no entanto, um deles acaba indo longe demais, liberando forças espirituais aterrorizantes e que acabam marcando suas vidas para sempre. Confira o trailer (em inglês):

Com uma trama repleta de momentos de impacto visual e uma atmosfera permanente de suspense que deixa claro que tanto roteiro quanto direção sabem respeitar a gramática cinematográfica do gênero com muita habilidade, "Fale Comigo" marca um golaço ao representar os jovens personagens de maneira autêntica e com a sensibilidade de quem sabe o que está falando - da brincadeira, quase bullying, entre dois grandes amigos ao relacionamento entre pais e filhos que prezam pela confiança, mas vacilam ao não levar em conta o ambiente em que estão inseridos. Veja, embora não seja essa a proposta essencial do roteiro, o filme sabe muito bem onde tocar nas feridas de uma geração pautada pelo espetáculo e aceitação social.

Os Philippou sabem como criar uma atmosfera densa e envolvente. A fotografia do Aaron McLisky (de "Jogo Perfeito") nos conduz por um universo de tons sombrios e contrastes bem calibrados, que contribuem para uma ambientação, de fato, marcante. A direção sabe da importância dessa personalidade visual, de como a expectativa do susto pode nos angustiar, de como o drama pessoal é importante para acreditarmos nos personagens e de como tudo isso precisa estar alinhado para que o uso inteligente do suspense intensifique a nossa experiência. A montagem habilidosa do Geoff Lamb e a trilha sonora do Cornel Wilczek, claro, mantém o clima pesado e o ritmo eletrizante, mas eu diria que é a maquiagem bem executada que contribui para a autenticidade sobrenatural, sem cair em exageros.

A dualidade entre o vício na adrenalina e as forças aterrorizantes desencadeadas por uma "brincadeira inocente" fornece, de fato, uma camada palpável e até intrigante para a trama, e talvez seja isso que faz com que "Fale Comigo" supere as expectativas. Cada detalhe, desde a atuação de um elenco afinado até o ótimo desenho de som, enfim, tudo contribui para criar um filme que deixa uma marca interessante para quem gosta desse tipo de suspense. Então, se você procura por uma jornada que desafie convenções do gênero, esse filme é mais do que imperdível e vai valer muito o seu play!

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Fresh

"Fresh" é para você que gosta dos filmes do Jordan Peele, como "Corra!" e "Nós" - e olha, a similaridade não está no conteúdo e sim na forma quase non-sense de contar uma história de suspense com muitos elementos de terror e sangue, muito sangue. Então esteja preparado para uma experiência sensorial que vai do nojo ao humor indelicado, surpreendente, contagiante, mas com um gosto muito particular de gênero.

Em "Fresh" conhecemos a  jovem e solteira Noa (Daisy Edgar-Jones), que inesperadamente encontra o sedutor Steve (Sebastian Stan) em um supermercado e, devido à frustração das recentes experiências com aplicativos de namoro, resolve arriscar e dar o seu número para o rapaz. Após um primeiro encontro romântico e envolvente, Noa aceita o convite de Steve para passar um final de semana juntos, porém o que parecia a chance de um grande amor acaba se tornando um pesadelo cheio de gostos e sabores. Confira o trailer:

Embora seja o primeiro trabalho da diretora Mimi Cave é notável seu domínio narrativo de uma gramática cinematográfica que nem sempre se encaixa com a proposta conceitual de um roteiro como esse - aliás, essa poderia ser uma história aterrorizante se fosse levada a sério, mas Cave parece ser uma diretora que não teme correr riscos e referenciada por nomes como o já citado Jordan Peele, Quentin Tarantino e até Bong Joon-Ho, entrega um filme que abusa do over-acting e se aproxima do kitsch para criar uma dinâmica tão absurda quanto divertida.

Unir todos esses pontos me pareceu ser o maior mérito de "Fresh" - é um fato que estamos sempre com os nervos a flor da pele esperando uma catástrofe que está anunciada desde o final de um bem desenvolvido primeiro ato. A montagem do Martin Pensa (de "Clube de Compras Dallas") brinca com nossa percepção ao traçar paralelos entre o arco principal e as subtramas - a verdade é que nunca sabemos o que vamos encontrar já que os cortes secos e dinâmicos criam uma atmosfera de insegurança absurda: seja na hora em que Steve está cozinhando, seja no sincronismo das ações em ambientes distintos.

É claro que "Fresh" não tem a profundidade e muito mesmo a força crítica de "Parasita" (embora tente), mas também é inegável a intenção da diretora, e da roteirista Lauryn Kahn, em dar voz ao feminismo, empoderando as protagonistas e ridicularizando qualquer figura masculina do filme. A própria importância do cenário (e de todo desenho de produção) nesse contexto, ajuda na construção de um clima claustrofóbico, ao mesmo tempo requintado, onde Steve reina e que, mais uma vez, nos remete ao filme de Bong Joon-Ho. Talvez até o final siga o mesmo caminho, mas aí já com um toque de "Silêncio dos Inocentes", mas o fato é que o nível de catarse é incrível e a sensação de originalidade soa maior ainda e, mesmo que essa não a realidade, toda essa mistura funciona muito bem.

Vale o play!

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"Fresh" é para você que gosta dos filmes do Jordan Peele, como "Corra!" e "Nós" - e olha, a similaridade não está no conteúdo e sim na forma quase non-sense de contar uma história de suspense com muitos elementos de terror e sangue, muito sangue. Então esteja preparado para uma experiência sensorial que vai do nojo ao humor indelicado, surpreendente, contagiante, mas com um gosto muito particular de gênero.

Em "Fresh" conhecemos a  jovem e solteira Noa (Daisy Edgar-Jones), que inesperadamente encontra o sedutor Steve (Sebastian Stan) em um supermercado e, devido à frustração das recentes experiências com aplicativos de namoro, resolve arriscar e dar o seu número para o rapaz. Após um primeiro encontro romântico e envolvente, Noa aceita o convite de Steve para passar um final de semana juntos, porém o que parecia a chance de um grande amor acaba se tornando um pesadelo cheio de gostos e sabores. Confira o trailer:

Embora seja o primeiro trabalho da diretora Mimi Cave é notável seu domínio narrativo de uma gramática cinematográfica que nem sempre se encaixa com a proposta conceitual de um roteiro como esse - aliás, essa poderia ser uma história aterrorizante se fosse levada a sério, mas Cave parece ser uma diretora que não teme correr riscos e referenciada por nomes como o já citado Jordan Peele, Quentin Tarantino e até Bong Joon-Ho, entrega um filme que abusa do over-acting e se aproxima do kitsch para criar uma dinâmica tão absurda quanto divertida.

Unir todos esses pontos me pareceu ser o maior mérito de "Fresh" - é um fato que estamos sempre com os nervos a flor da pele esperando uma catástrofe que está anunciada desde o final de um bem desenvolvido primeiro ato. A montagem do Martin Pensa (de "Clube de Compras Dallas") brinca com nossa percepção ao traçar paralelos entre o arco principal e as subtramas - a verdade é que nunca sabemos o que vamos encontrar já que os cortes secos e dinâmicos criam uma atmosfera de insegurança absurda: seja na hora em que Steve está cozinhando, seja no sincronismo das ações em ambientes distintos.

É claro que "Fresh" não tem a profundidade e muito mesmo a força crítica de "Parasita" (embora tente), mas também é inegável a intenção da diretora, e da roteirista Lauryn Kahn, em dar voz ao feminismo, empoderando as protagonistas e ridicularizando qualquer figura masculina do filme. A própria importância do cenário (e de todo desenho de produção) nesse contexto, ajuda na construção de um clima claustrofóbico, ao mesmo tempo requintado, onde Steve reina e que, mais uma vez, nos remete ao filme de Bong Joon-Ho. Talvez até o final siga o mesmo caminho, mas aí já com um toque de "Silêncio dos Inocentes", mas o fato é que o nível de catarse é incrível e a sensação de originalidade soa maior ainda e, mesmo que essa não a realidade, toda essa mistura funciona muito bem.

Vale o play!

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Fuja

"Fuja" é a boa opção de entretenimento da Netflix. Um drama familiar recheado de momentos de tensão e ótimas atuações. O diretor Aneesh Chaganty já deu mostras da sua criatividade e objetividade no disruptivo "Buscando..." (2018). Aqui, ele traz mais uma história urgente e ágil; porém, adota uma estética tradicional para compor sua narrativa.

Na trama, temos uma adolescente, Chloe (Kiera Allen), que nasceu com várias doenças físicas, exigindo adaptações na sua casa e na sua alimentação. Apesar disso, logo percebemos que a rotina dela é excessivamente controlada pela mãe (Sarah Paulson): de homeschooling (substituição da escola por estudos em casa) à restrição total de celular. Após presenciar alguns acontecimentos estranhos, desconfiada, Chloe inicia uma espécie de investigação que a leva a descobertas surpreendentes. Confira o trailer:

A superação física e a inteligência de Chloe faz com que tenhamos empatia imediata por ela. Isso é fundamental para que a narrativa funcione, pois é através do ponto de vista dela que enxergamos a história. Ponto para a atriz Kiera Allen, que ainda possui poucos trabalhos no currículo. E o que falar de Sarah Paulson? A queridinha do universo das séries honra sua fama de "força da natureza", dando vida (e morbidade) a uma mãe dúbia, controladora e misteriosa. É interessante notar que, apesar de não ser a protagonista, ela é vendida como tal na divulgação do filme, tamanho o prestígio que sua imagem tem.

O roteiro acha soluções criativas para os obstáculos enfrentados pela jovem. Além disso, é competente em criar tensão e preciso na duração das cenas. Entretanto, sofre com a estrutura convencional e relativamente previsível, perdendo forças no ato final – principalmente se você conhece histórias recentes como "Objetos Cortantes" e "The Act". Com um desfecho controverso (ou seria apenas subversivo?), "Run" (título original) é um thriller competente e bem executado. Para além do entretenimento, a reflexão causada não é das mais profundas. E menos ainda otimistas!

Vale seu play desde que acompanhado com muita pipoca!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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"Fuja" é a boa opção de entretenimento da Netflix. Um drama familiar recheado de momentos de tensão e ótimas atuações. O diretor Aneesh Chaganty já deu mostras da sua criatividade e objetividade no disruptivo "Buscando..." (2018). Aqui, ele traz mais uma história urgente e ágil; porém, adota uma estética tradicional para compor sua narrativa.

Na trama, temos uma adolescente, Chloe (Kiera Allen), que nasceu com várias doenças físicas, exigindo adaptações na sua casa e na sua alimentação. Apesar disso, logo percebemos que a rotina dela é excessivamente controlada pela mãe (Sarah Paulson): de homeschooling (substituição da escola por estudos em casa) à restrição total de celular. Após presenciar alguns acontecimentos estranhos, desconfiada, Chloe inicia uma espécie de investigação que a leva a descobertas surpreendentes. Confira o trailer:

A superação física e a inteligência de Chloe faz com que tenhamos empatia imediata por ela. Isso é fundamental para que a narrativa funcione, pois é através do ponto de vista dela que enxergamos a história. Ponto para a atriz Kiera Allen, que ainda possui poucos trabalhos no currículo. E o que falar de Sarah Paulson? A queridinha do universo das séries honra sua fama de "força da natureza", dando vida (e morbidade) a uma mãe dúbia, controladora e misteriosa. É interessante notar que, apesar de não ser a protagonista, ela é vendida como tal na divulgação do filme, tamanho o prestígio que sua imagem tem.

O roteiro acha soluções criativas para os obstáculos enfrentados pela jovem. Além disso, é competente em criar tensão e preciso na duração das cenas. Entretanto, sofre com a estrutura convencional e relativamente previsível, perdendo forças no ato final – principalmente se você conhece histórias recentes como "Objetos Cortantes" e "The Act". Com um desfecho controverso (ou seria apenas subversivo?), "Run" (título original) é um thriller competente e bem executado. Para além do entretenimento, a reflexão causada não é das mais profundas. E menos ainda otimistas!

Vale seu play desde que acompanhado com muita pipoca!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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Gêmeas: Mórbida Semelhança

Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

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Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

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Hereditário

"Hereditário" é um suspense sobrenatural clássico na sua narrativa, mas inovador na forma como ela é articulada pelo roteirista e diretor Ari Aster - e justamente por isso vai causar o efeito: ame ou odeie! Se você gostou de "Midsommar", outro filme do mesmo diretor, é bem provável que "Hereditário" te conquiste ainda mais, porém se você achou "Midsommar" sem pé nem cabeça, pare de ler esse review agora e parta para a próxima recomendação - sem ressentimentos! É isso, praticamente impossível existir um "meio-termo" para definir a qualidade desse filme, como explicarei no texto abaixo.

"Hereditário" conta, de forma perturbadora, a história de uma família classe média americana que está em luto pela perda de sua matriarca Ellen (Kathleen Chalfant), mãe de Annie (Toni Collette) e avó de Peter (Alex Wolff) e Charlie (Milly Shapiro). Após o funeral, fenômenos estranhos começam a acontecer na casa onde a família reside, o que acaba culminando em novas desgraças e trazendo à tona um incrível mistério sobre as circunstâncias que envolveram a morte de Ellen e seu passado. Confira o trailer:

Pois bem, "Hereditário" é considerado por muitos o melhor filme de suspense de 2018, o que para mim soa como um certo exagero, mas é compreensível essa adoração que o filme do então novato, Ari Aster, gerou na audiência. Foram mais de 100 indicações em festivais do mundo inteiro e 45 prêmios, inclusive foi finalista no "Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films"em 2019, um dos prêmios mais respeitados do gênero - Aster acabou ganhando o Saturn Awards nesse mesmo ano! Mesmo com todo esse cartão de visitas, nem todos vão gostar, pois o filme, de fato, não segue um contexto tão convencional, onde tudo é explicado e o maior mérito fica para a quantidade de sustos que o filme provoca! "Hereditário" definitivamente não é isso; ele é um suspense sobrenatural sim, mas com elementos de drama psicológico que enriquecem o roteiro, mesmo com alguns esteriótipos de gênero. É o típico filme que você assiste, se envolve e assim que termina corre para a internet em busca de explicações que estão escondidas em pequenos detalhes ou em diálogos que podem parecer despretensiosos, mas que funcionam como estrutura vital para que a história faça algum sentido. É por isso que gostei mais do roteiro do que do filme - comparando com "Midsommar", por exemplo, achei que faltou algo que me causasse uma certa angústia; em todo caso, acho que vale muito a pena o play! 

Ari Aster é um diretor extremamente criativo e seu trabalho merece muitos elogios: já na primeira sequência do filme entendemos que se trata de um diretor diferenciado, elegante na sua maneira de enquadrar e de dar dinâmica para a história. O fato dele ter escrito o filme ajuda nesse alinhamento conceitual entre o que está no roteiro e o que vai para a tela e é aqui que temos o ponto alto do filme: cheio de surpresas, "Hereditário" é um filme para ser interpretado, ele tem várias camadas e muitos (muitos) detalhes que impactam diretamente em como nos relacionamos com ele - um ótimo exemplo é o fato de que tudo leva a crer que a filha mais nova, Charlie, será a protagonista, porém já no final do primeiro ato o diretor nos mostra que nem tudo "é", aquilo que "parece"! Reparem também que o simbolismo está em todos os lugares e será ele o guia dessa jornada - mas, aviso: será preciso ficar muito atento, pois Aster alterna o "explícito" e o "sugestionável" com a mesma eficiência - reparem (sem spoiler) no colar que Ellen está usando no seu velório e onde mais aquele mesmo símbolo vai aparecer, e muita coisa fará sentido!

Outro elemento do roteiro que me chamou atenção é a mitologia que Aster usa para invocar o sobrenatural: ele escolhe "Paimon" em vez do "Demônio" e com isso amplia a curiosidade sobre a história, já que nos provoca a pesquisar as razões que levaram os personagens a agir de determinadas formas - eu acho isso genial, uma pequena troca e tudo ganha um sentido muito mais amplo! Dica: se após o filme você quiser ir mais profundamente na história por trás das decisões criativas do diretor, eu sugiro esse ótimo texto escrito pela Boo Mesquita para o site "Farofa Geek".

A produtora americana "A24", responsável por "Hereditário", já possui inúmeros sucessos que surpreenderam por agradar tanto a crítica como o público: é o caso de “A Bruxa” (2016) e “Ex Machina" (2015), além de todos os prêmios que conquistou com “Moonlight” (2017) e “O Quarto de Jack” (2016), e ainda inúmeras indicações com “Lady Bird" (2018) e “Projeto Flórida” (2018), com isso é de se esperar que a qualidade técnica esteja a altura da artística e é o que acontece. A produção, mesmo com um baixo orçamento - apenas 10 milhões de dólares - é um primor de detalhes! Basicamente faz uma releitura da "Casa mal-assombrada", ao melhor estilo "O Exorcista", que funciona de gatilho para gerar uma tensão permanente durante as duas horas de filme. A fotografia do Pawel Pogorzelski lembra muito o trabalho que vemos, alguns anos depois, em "Servant" da AppleTv+. O elenco é excelente também - Toni Collette (Sexto Sentido) merecia ter sido lembrada nas premiações por esse trabalho, ela está incrível como uma mãe completamente perturbada que transita com muita sensibilidade entre o "real" e o "paranóico". Mesmo muito contido, Gabriel Byrne também merece elogios e, claro, Alex Wolff é o grande destaque do filme. Apenas a jovem Milly Shapiro não me agradou - muito caricata para o meu gosto.

É bem possível que "Hereditário" vá te assustar, mas é o aspecto oculto que vai mexer com você. A riqueza da história está em uma camada mais profunda e se você não estiver disposto a acessá-la, provavelmente, você vai se decepcionar. Agora, se você quiser ir além do que a tela está sugerindo, certamente você vai encontrar um material vasto que serve como ferramenta na construção de um quebra-cabeça muito bem pensado. Visto o lucro nas bilheterias, mais de 80 milhões de dólares, "Hereditário" conseguiu alcançar o seu público e ainda fortalecer essa nova geração de diretores que estão transformando as histórias de suspense/terror no cinema!

Indico! 

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"Hereditário" é um suspense sobrenatural clássico na sua narrativa, mas inovador na forma como ela é articulada pelo roteirista e diretor Ari Aster - e justamente por isso vai causar o efeito: ame ou odeie! Se você gostou de "Midsommar", outro filme do mesmo diretor, é bem provável que "Hereditário" te conquiste ainda mais, porém se você achou "Midsommar" sem pé nem cabeça, pare de ler esse review agora e parta para a próxima recomendação - sem ressentimentos! É isso, praticamente impossível existir um "meio-termo" para definir a qualidade desse filme, como explicarei no texto abaixo.

"Hereditário" conta, de forma perturbadora, a história de uma família classe média americana que está em luto pela perda de sua matriarca Ellen (Kathleen Chalfant), mãe de Annie (Toni Collette) e avó de Peter (Alex Wolff) e Charlie (Milly Shapiro). Após o funeral, fenômenos estranhos começam a acontecer na casa onde a família reside, o que acaba culminando em novas desgraças e trazendo à tona um incrível mistério sobre as circunstâncias que envolveram a morte de Ellen e seu passado. Confira o trailer:

Pois bem, "Hereditário" é considerado por muitos o melhor filme de suspense de 2018, o que para mim soa como um certo exagero, mas é compreensível essa adoração que o filme do então novato, Ari Aster, gerou na audiência. Foram mais de 100 indicações em festivais do mundo inteiro e 45 prêmios, inclusive foi finalista no "Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films"em 2019, um dos prêmios mais respeitados do gênero - Aster acabou ganhando o Saturn Awards nesse mesmo ano! Mesmo com todo esse cartão de visitas, nem todos vão gostar, pois o filme, de fato, não segue um contexto tão convencional, onde tudo é explicado e o maior mérito fica para a quantidade de sustos que o filme provoca! "Hereditário" definitivamente não é isso; ele é um suspense sobrenatural sim, mas com elementos de drama psicológico que enriquecem o roteiro, mesmo com alguns esteriótipos de gênero. É o típico filme que você assiste, se envolve e assim que termina corre para a internet em busca de explicações que estão escondidas em pequenos detalhes ou em diálogos que podem parecer despretensiosos, mas que funcionam como estrutura vital para que a história faça algum sentido. É por isso que gostei mais do roteiro do que do filme - comparando com "Midsommar", por exemplo, achei que faltou algo que me causasse uma certa angústia; em todo caso, acho que vale muito a pena o play! 

Ari Aster é um diretor extremamente criativo e seu trabalho merece muitos elogios: já na primeira sequência do filme entendemos que se trata de um diretor diferenciado, elegante na sua maneira de enquadrar e de dar dinâmica para a história. O fato dele ter escrito o filme ajuda nesse alinhamento conceitual entre o que está no roteiro e o que vai para a tela e é aqui que temos o ponto alto do filme: cheio de surpresas, "Hereditário" é um filme para ser interpretado, ele tem várias camadas e muitos (muitos) detalhes que impactam diretamente em como nos relacionamos com ele - um ótimo exemplo é o fato de que tudo leva a crer que a filha mais nova, Charlie, será a protagonista, porém já no final do primeiro ato o diretor nos mostra que nem tudo "é", aquilo que "parece"! Reparem também que o simbolismo está em todos os lugares e será ele o guia dessa jornada - mas, aviso: será preciso ficar muito atento, pois Aster alterna o "explícito" e o "sugestionável" com a mesma eficiência - reparem (sem spoiler) no colar que Ellen está usando no seu velório e onde mais aquele mesmo símbolo vai aparecer, e muita coisa fará sentido!

Outro elemento do roteiro que me chamou atenção é a mitologia que Aster usa para invocar o sobrenatural: ele escolhe "Paimon" em vez do "Demônio" e com isso amplia a curiosidade sobre a história, já que nos provoca a pesquisar as razões que levaram os personagens a agir de determinadas formas - eu acho isso genial, uma pequena troca e tudo ganha um sentido muito mais amplo! Dica: se após o filme você quiser ir mais profundamente na história por trás das decisões criativas do diretor, eu sugiro esse ótimo texto escrito pela Boo Mesquita para o site "Farofa Geek".

A produtora americana "A24", responsável por "Hereditário", já possui inúmeros sucessos que surpreenderam por agradar tanto a crítica como o público: é o caso de “A Bruxa” (2016) e “Ex Machina" (2015), além de todos os prêmios que conquistou com “Moonlight” (2017) e “O Quarto de Jack” (2016), e ainda inúmeras indicações com “Lady Bird" (2018) e “Projeto Flórida” (2018), com isso é de se esperar que a qualidade técnica esteja a altura da artística e é o que acontece. A produção, mesmo com um baixo orçamento - apenas 10 milhões de dólares - é um primor de detalhes! Basicamente faz uma releitura da "Casa mal-assombrada", ao melhor estilo "O Exorcista", que funciona de gatilho para gerar uma tensão permanente durante as duas horas de filme. A fotografia do Pawel Pogorzelski lembra muito o trabalho que vemos, alguns anos depois, em "Servant" da AppleTv+. O elenco é excelente também - Toni Collette (Sexto Sentido) merecia ter sido lembrada nas premiações por esse trabalho, ela está incrível como uma mãe completamente perturbada que transita com muita sensibilidade entre o "real" e o "paranóico". Mesmo muito contido, Gabriel Byrne também merece elogios e, claro, Alex Wolff é o grande destaque do filme. Apenas a jovem Milly Shapiro não me agradou - muito caricata para o meu gosto.

É bem possível que "Hereditário" vá te assustar, mas é o aspecto oculto que vai mexer com você. A riqueza da história está em uma camada mais profunda e se você não estiver disposto a acessá-la, provavelmente, você vai se decepcionar. Agora, se você quiser ir além do que a tela está sugerindo, certamente você vai encontrar um material vasto que serve como ferramenta na construção de um quebra-cabeça muito bem pensado. Visto o lucro nas bilheterias, mais de 80 milhões de dólares, "Hereditário" conseguiu alcançar o seu público e ainda fortalecer essa nova geração de diretores que estão transformando as histórias de suspense/terror no cinema!

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IT - Capítulo II

Antes de mais nada eu preciso dizer que não sou um leitor, nem um fã incondicional das obras do Stephen King, mas reconheço a complexidade da sua escrita e sua habilidade para criar universos e histórias que brincam com nossa imaginação como ninguém. Não tenho a menor dúvida da qualidade dos seus livros, mas sei também da enorme dificuldade que é adaptar para o cinema, então sempre relativizo o resultado de alguns desses filmes. O fato é que gostei de pouca coisa que já foi para tela - "Um Sonho de Liberdade", "Carrie – A Estranha" (de 76), "O Iluminado" e "À espera de um Milagre" (tirando os 10 minutos finais) talvez sejam os meus preferidos. Existem outros honestos, mas também já saiu muita porcaria.

Dito isso e antes de comentar sobre o segundo capítulo de "IT", quero fazer algumas colocações sobre o primeiro. Para quem não sabe, "IT" parte da história de uma série de desaparecimentos que acontecem na pequena cidade de Derry no final dos anos 80 - sim, ao assistir a versão cinematográfica de 2017, fica impossível não se lembrar de "Stranger Things", principalmente quando a trama começa acompanhar o drama de Bill, irmão mais velho de um garoto de 8 anos chamado George, um dos desaparecidos. Inconformado, Bill passa a investigar esses desaparecimentos com a ajuda de seus melhores amigos, o conhecido “Clube dos Perdedores”. Quando o grupo passa ser assombrado pro visões dos seus medos mais profundos, o tom sobrenatural toma conta da história e o ameaçador Palhaço Pennywise ganha status de entidade maléfica. Veja o trailer do primeiro filme:

Sou capaz de imaginar como o livro pode ser assustador, mas no filme, o tom "anos 80" da narrativa, transforma a trama em um apanhado de clichês, se afastando da proposta mais séria que o diretor tenta imprimir no primeiro ato do filme. Conforme a trama vai se desenrolando, acaba ficando claro que não dá para levar aquela história tão a sério. Admito que o filme me prendeu, mas nem de longe me conquistou - talvez porque eu não seja o publico alvo. É inegável que o filme tem seu valor e isso se refletiu nas bilheterias do mundo inteiro, mas é preciso estar disposto a embarcar naquele tipo de história! Embora se apresente (e tenha sido vendido) como um terror clássico, para mim, "IT" é mais uma aventura adolescente com pitadas de suspense - uma espécie de "Stranger Things" versão Stephen King! Se você acha que pode gostar da mistura, assista o Capítulo I antes de seguir adiante pois alguns comentários a seguir podem conter spoilers.

A 2ª parte (ou capítulo II, como preferir) retoma a história vinte e sete anos depois que o "Clube dos Perdedores", supostamente, derrotaram Pennywise. Quando algumas crianças começam a desaparecer novamente, Mike, o único do grupo que permaneceu na cidade, convoca um a um do grupo de volta para Derry para cumprirem o pacto de sangue que fizeram quando ainda eram adolescentes. Traumatizados pelas experiências desse passado, eles precisam dominar seus medos mais uma vez, pois só assim terão alguma chance de eliminar Pennywise de uma vez por todas. Acontece que o filme, agora com o dobro do orçamento do primeiro, acaba se perdendo no que o anterior tinha de melhor - a ingenuidade! Os protagonistas cresceram, são adultos, não cabe mais aquele tom de aventura ao estilo "Goonies" e aquela suspensão da realidade precisa, mais uma vez, ser levada em conta - só que agora em níveis muito mais elevados. Além disso o roteiro rouba no jogo, pois ele trás para narrativa fashbacks de momentos-chave para a história que simplesmente não existiram na primeira parte. A jornada não se completa, as peças ficam perdidas e aí é preciso inventar soluções para que tudo se encaixe de alguma forma - e isso pode incomodar!

A direção do mesmo Andy Muschietti continua muito competente, mesmo com a mania de querer sempre fazer transições entre passado e presente a cada retrospectiva de personagem. A fotografia e o look do filme continuam belíssimos - a sequência inicial é tão boa quanto do primeiro filme, talvez até mais impactante pela violência. Os efeitos especiais ganharam um up grade com o orçamento maior, mas, em alguns momentos, continuam over (propositalmente). Agora, o que me incomodou mesmo foi o ritmo do filme! São quase 3 horas contando a história de cada um dos protagonistas isoladamente - fica tão arrastado que quando chega o momento deles enfrentarem Pennywise, você já está torcendo para acabar logo, porque ninguém aguenta mais. Digamos que não é um filme tão bom assim para nos prender durante tanto tempo!

 "IT 2" tem coisas boas, mas tem muita coisa questionável. Eu não comprei essa continuação. Talvez o fã ou leitor de Stephen King se identifique mais com o filme do que eu e por isso sigo com a indicação. O primeiro não tinha me conquistado, mas como eu disse: me prendeu. O segundo me cansou e continuou não me conquistando. Achei mais fraco, uma repetição de situações, só que com protagonistas mais velhos e ainda sem unidade narrativa nenhuma. Acredito pode até ter seu valor como filme de gênero, mas como a expectativa estava muito alta, sou capaz de afirmar que essa segunda parte pode decepcionar muita gente! 

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Antes de mais nada eu preciso dizer que não sou um leitor, nem um fã incondicional das obras do Stephen King, mas reconheço a complexidade da sua escrita e sua habilidade para criar universos e histórias que brincam com nossa imaginação como ninguém. Não tenho a menor dúvida da qualidade dos seus livros, mas sei também da enorme dificuldade que é adaptar para o cinema, então sempre relativizo o resultado de alguns desses filmes. O fato é que gostei de pouca coisa que já foi para tela - "Um Sonho de Liberdade", "Carrie – A Estranha" (de 76), "O Iluminado" e "À espera de um Milagre" (tirando os 10 minutos finais) talvez sejam os meus preferidos. Existem outros honestos, mas também já saiu muita porcaria.

Dito isso e antes de comentar sobre o segundo capítulo de "IT", quero fazer algumas colocações sobre o primeiro. Para quem não sabe, "IT" parte da história de uma série de desaparecimentos que acontecem na pequena cidade de Derry no final dos anos 80 - sim, ao assistir a versão cinematográfica de 2017, fica impossível não se lembrar de "Stranger Things", principalmente quando a trama começa acompanhar o drama de Bill, irmão mais velho de um garoto de 8 anos chamado George, um dos desaparecidos. Inconformado, Bill passa a investigar esses desaparecimentos com a ajuda de seus melhores amigos, o conhecido “Clube dos Perdedores”. Quando o grupo passa ser assombrado pro visões dos seus medos mais profundos, o tom sobrenatural toma conta da história e o ameaçador Palhaço Pennywise ganha status de entidade maléfica. Veja o trailer do primeiro filme:

Sou capaz de imaginar como o livro pode ser assustador, mas no filme, o tom "anos 80" da narrativa, transforma a trama em um apanhado de clichês, se afastando da proposta mais séria que o diretor tenta imprimir no primeiro ato do filme. Conforme a trama vai se desenrolando, acaba ficando claro que não dá para levar aquela história tão a sério. Admito que o filme me prendeu, mas nem de longe me conquistou - talvez porque eu não seja o publico alvo. É inegável que o filme tem seu valor e isso se refletiu nas bilheterias do mundo inteiro, mas é preciso estar disposto a embarcar naquele tipo de história! Embora se apresente (e tenha sido vendido) como um terror clássico, para mim, "IT" é mais uma aventura adolescente com pitadas de suspense - uma espécie de "Stranger Things" versão Stephen King! Se você acha que pode gostar da mistura, assista o Capítulo I antes de seguir adiante pois alguns comentários a seguir podem conter spoilers.

A 2ª parte (ou capítulo II, como preferir) retoma a história vinte e sete anos depois que o "Clube dos Perdedores", supostamente, derrotaram Pennywise. Quando algumas crianças começam a desaparecer novamente, Mike, o único do grupo que permaneceu na cidade, convoca um a um do grupo de volta para Derry para cumprirem o pacto de sangue que fizeram quando ainda eram adolescentes. Traumatizados pelas experiências desse passado, eles precisam dominar seus medos mais uma vez, pois só assim terão alguma chance de eliminar Pennywise de uma vez por todas. Acontece que o filme, agora com o dobro do orçamento do primeiro, acaba se perdendo no que o anterior tinha de melhor - a ingenuidade! Os protagonistas cresceram, são adultos, não cabe mais aquele tom de aventura ao estilo "Goonies" e aquela suspensão da realidade precisa, mais uma vez, ser levada em conta - só que agora em níveis muito mais elevados. Além disso o roteiro rouba no jogo, pois ele trás para narrativa fashbacks de momentos-chave para a história que simplesmente não existiram na primeira parte. A jornada não se completa, as peças ficam perdidas e aí é preciso inventar soluções para que tudo se encaixe de alguma forma - e isso pode incomodar!

A direção do mesmo Andy Muschietti continua muito competente, mesmo com a mania de querer sempre fazer transições entre passado e presente a cada retrospectiva de personagem. A fotografia e o look do filme continuam belíssimos - a sequência inicial é tão boa quanto do primeiro filme, talvez até mais impactante pela violência. Os efeitos especiais ganharam um up grade com o orçamento maior, mas, em alguns momentos, continuam over (propositalmente). Agora, o que me incomodou mesmo foi o ritmo do filme! São quase 3 horas contando a história de cada um dos protagonistas isoladamente - fica tão arrastado que quando chega o momento deles enfrentarem Pennywise, você já está torcendo para acabar logo, porque ninguém aguenta mais. Digamos que não é um filme tão bom assim para nos prender durante tanto tempo!

 "IT 2" tem coisas boas, mas tem muita coisa questionável. Eu não comprei essa continuação. Talvez o fã ou leitor de Stephen King se identifique mais com o filme do que eu e por isso sigo com a indicação. O primeiro não tinha me conquistado, mas como eu disse: me prendeu. O segundo me cansou e continuou não me conquistando. Achei mais fraco, uma repetição de situações, só que com protagonistas mais velhos e ainda sem unidade narrativa nenhuma. Acredito pode até ter seu valor como filme de gênero, mas como a expectativa estava muito alta, sou capaz de afirmar que essa segunda parte pode decepcionar muita gente! 

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Jaula

Para quem estava com saudades daquele filme de suspense espanhol com fortes elementos dramáticos que colocaram o país entre os queridinhos dos assinantes de streaming, eu adianto: "Jaula" é imperdível! Produzido pelo talentoso Álex de La Iglesia (de "O Bar"), o filme resgata uma história real absurda para servir de base (apenas de base) para um roteiro muito bem amarrado e que entrega uma trama que transita perfeitamente entre a "tensão" e a "dúvida" a cada cena - sim, a trama é mesmo consistente o suficiente para que você não tire os olhos da tela até o seu final!

Paula (Elena Anaya) e seu marido Simón (Pablo Molinero) estão voltando para casa quando, de repente, encontram uma criança de seis anos vagando sozinha pela estrada. Ao se certificar que ninguém foi atrás dela, o casal decide leva-la para casa temporariamente. O que poderia ser uma alegria para eles, logo se transforma em caos, já que menina é incapaz de sair de um quadrado de giz pintado no chão e misteriosas situações passam acontecer com todos a sua volta. Dado o forte vínculo criado entre a Paula e ela, Paula decide investigar o passado enigmático da garota e sua descoberta acaba colocando ambas em muito perigo. Confira o trailer (em espanhol):

Dirigido pelo Ignacio Tatay (em seu primeiro longa-metragem), "Jaula", de fato, entrega um mistério dos mais intrigantes - é muito interessante como o roteiro do próprio Tatay ao lado da premiada escritora Isabel Peña (do ótimo "Stockholm") brinca com vários gatilhos narrativos que vão do sobrenatural ao psicológico em apenas uma linha de diálogo ou uma troca de enquadramento. Essa dinâmica, aliás, em nada facilita para audiência na resolução do mistério e mesmo que esse mistério não se sustente até o final, ele nos surpreende e acaba nos movendo para uma visão completa de tudo que foi se construindo até ali, sem roubar no jogo - existe um uma troca de perspectiva no terceiro ato que é muito bem encaixada e criativa, e que funciona lindamente no filme. 

Na busca por um equilíbrio cirúrgico entre o fantasioso de "O Telefone Preto"e o realismo brutal de  "3096 Dias", o filme mais acerta do que erra, mesmo que em alguns momentos os diálogos e os dramas paralelos pereçam não te levar para lugar algum. É verdade que a construção de camadas que supostamente dariam uma profundidade maior para Paula e Simón é pouco aproveitada, por outro lado essa "deficiência" acaba favorecendo o entretenimento, deixando a trama menos "cabeça". Mas não se engane, a história tem uma série de detalhes, principalmente na investigação de Paula, que merecem e precisam muito da sua atenção! 

"Jaula" vem na linha de "A Casa" ou "Quem com ferro fere", que chega no streaming sem muito barulho, mas que acaba conquistando uma audiência relevante e fiel às novas propostas do cinema espanhol. A experiência de assistir o filme é ótima, a história é inteligente e envolvente, o mistério é bem arquitetado e a resolução bem satisfatória, mas saiba que muito será apenas sugerido, então não espere tantas explicações - juntar as peças para uma conclusão mais, digamos, completa, será sua função e isso, na minha opinião, é o mais divertido quando nos deparamos com um bom filme do gênero como esse.

Vale muito seu play!

Assista Agora

Para quem estava com saudades daquele filme de suspense espanhol com fortes elementos dramáticos que colocaram o país entre os queridinhos dos assinantes de streaming, eu adianto: "Jaula" é imperdível! Produzido pelo talentoso Álex de La Iglesia (de "O Bar"), o filme resgata uma história real absurda para servir de base (apenas de base) para um roteiro muito bem amarrado e que entrega uma trama que transita perfeitamente entre a "tensão" e a "dúvida" a cada cena - sim, a trama é mesmo consistente o suficiente para que você não tire os olhos da tela até o seu final!

Paula (Elena Anaya) e seu marido Simón (Pablo Molinero) estão voltando para casa quando, de repente, encontram uma criança de seis anos vagando sozinha pela estrada. Ao se certificar que ninguém foi atrás dela, o casal decide leva-la para casa temporariamente. O que poderia ser uma alegria para eles, logo se transforma em caos, já que menina é incapaz de sair de um quadrado de giz pintado no chão e misteriosas situações passam acontecer com todos a sua volta. Dado o forte vínculo criado entre a Paula e ela, Paula decide investigar o passado enigmático da garota e sua descoberta acaba colocando ambas em muito perigo. Confira o trailer (em espanhol):

Dirigido pelo Ignacio Tatay (em seu primeiro longa-metragem), "Jaula", de fato, entrega um mistério dos mais intrigantes - é muito interessante como o roteiro do próprio Tatay ao lado da premiada escritora Isabel Peña (do ótimo "Stockholm") brinca com vários gatilhos narrativos que vão do sobrenatural ao psicológico em apenas uma linha de diálogo ou uma troca de enquadramento. Essa dinâmica, aliás, em nada facilita para audiência na resolução do mistério e mesmo que esse mistério não se sustente até o final, ele nos surpreende e acaba nos movendo para uma visão completa de tudo que foi se construindo até ali, sem roubar no jogo - existe um uma troca de perspectiva no terceiro ato que é muito bem encaixada e criativa, e que funciona lindamente no filme. 

Na busca por um equilíbrio cirúrgico entre o fantasioso de "O Telefone Preto"e o realismo brutal de  "3096 Dias", o filme mais acerta do que erra, mesmo que em alguns momentos os diálogos e os dramas paralelos pereçam não te levar para lugar algum. É verdade que a construção de camadas que supostamente dariam uma profundidade maior para Paula e Simón é pouco aproveitada, por outro lado essa "deficiência" acaba favorecendo o entretenimento, deixando a trama menos "cabeça". Mas não se engane, a história tem uma série de detalhes, principalmente na investigação de Paula, que merecem e precisam muito da sua atenção! 

"Jaula" vem na linha de "A Casa" ou "Quem com ferro fere", que chega no streaming sem muito barulho, mas que acaba conquistando uma audiência relevante e fiel às novas propostas do cinema espanhol. A experiência de assistir o filme é ótima, a história é inteligente e envolvente, o mistério é bem arquitetado e a resolução bem satisfatória, mas saiba que muito será apenas sugerido, então não espere tantas explicações - juntar as peças para uma conclusão mais, digamos, completa, será sua função e isso, na minha opinião, é o mais divertido quando nos deparamos com um bom filme do gênero como esse.

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Maligno

Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.

No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:

Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.

Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.

Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.

Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".

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Vou procurar ser o mais honesto e direto possível ao analisar "Maligno": só assista se você gostar do estilo de narrativa do Stephen King (embora essa não seja uma obra do autor) e se você não se incomodar com a linha extremamente tênue entre o trash e o suspense sobrenatural com toques de terror "anos 80". Veja, nenhuma dessas características que citei devem ser interpretadas como depreciativas, muito pelo contrário, pois esse filme dirigido pelo James Wan (de "Invocação do Mal") além de ter a sua já conhecida identidade, é um mergulho no terror clássico como obra cinematográfica de extrema qualidade.

No filme, acompanhamos Madison Mitchell (Annabelle Wallis) tendo dificuldades de relacionamento com o marido, deixando claro se tratar de um casamento repleto de violência doméstica. Até que um vulto cresce das sombras, como uma espécie de assombração, para por fim nessa questão. Recém viúva, Madison passa a ter assustadoras visões de pessoas sendo assassinadas seguindo o mesmo padrão da forma como seu marido foi morto, transformando sua posição de vítima em uma potencial suspeita de todos esses crimes. Confira o trailer:

Talvez o que mais chama a atenção em "Maligno" seja a forma como o roteiro (da romena Ingrid Bisu e da já parceira de Wam, Akela Cooper) transita entre os vários subgêneros do terror e do suspense, usando de inúmeras referências narrativas e visuais para contar sua história - eu diria que é quase uma homenagem velada. Essa escolha conceitual se mostra muito acertada, já que Wan, além de dominar a gramática do terror, se apropria de elementos narrativos tão vastos que criam uma total imprevisibilidade para a trama. Se inicialmente temos a impressão de que o filme vai beber da fonte de um clássico horror japonês, rapidamente somos arremessados pelo suspense sobrenatural (em uma clara citação a “Poltergeist") até chegarmos em um thriller de investigação como em "Outsider", por exemplo. A questão é que essa dinâmica muda tão rapidamente que pode incomodar quem assiste pela quebra de expectativa ou até pela decepção pelos caminhos escolhidos.

Embora o roteiro seja bastante competente (e aqui eu destaco os ótimos e pontuais alívios cômicos), todos os personagens se apoiam no estereótipo para compor as cenas e criar o clima que Wan quer "homenagear". A transformação da trama e o impacto nos personagens vão se transformando do realismo cotidiano brutal das relações tóxicas até chegar no anti-naturalismo digno de Quentin Tarantino. Tudo é muito bem orquestrado artisticamente e tecnicamente, com um desenho de produção belíssimo da Desma Murphy, uma fotografia ajustada ao conceito de Wan do seu sempre parceiro Michael Burgess, um trilha sonora de personalidade do Joseph Bishara até chegar na bem executada cenas de CG com efeitos visuais excelentes.

Resumindo, ao sintetizar e nos mostrar tudo do que o gênero pode entregar, "Maligno" transporta para as telas muito dos medos e dos receios que permeiam o imaginário coletivo, com gatinhos emocionais que nos puxam da memória aquilo que mais nos marcou quando nem ao menos sabíamos diferenciar o que era ficção de realidade. O filme é sim uma declaração de amor aos fãs do terror, mas sem esquecer do prazer que é assistir um entretenimento de ótima qualidade que não tem a menor obrigação de se levar a sério sempre.

Vale a pena, mas só para aqueles que estiverem dispostos a embarcar na proposta original de um filme que não tem nada de "original".

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Midsommar

"Midsommar" é uma experiência interessante, principalmente se você entender a proposta, se permitir mergulhar na dinâmica narrativa e na psique dos personagens. Veja, a história acompanha Dani (Florence Pugh) que após um terrível incidente que tirou a vida de toda sua família, se vê sozinha. Ao buscar o apoio em seu namorado Christian (Jack Reynor), ela percebe que os dois passam por um momento delicado do relacionamento - o que só aumenta sua insegurança. Quando Pelle (Vilhelm Blomgren), amigo sueco de Christian, convida ele e mais dois amigos para uma tradicional celebração de verão na aldeia onde cresceu, Dani não lida muito bem com a situação e praticamente obriga o namorado a convidá-la. O fato é que ela vê nessa viagem a chance de processar seu luto, porém o que ela encontra é algo completamente fora do esperado, do seu entendimento, o que transforma essa experiência em algo extremamente macabro. Confira o trailer:

"Midsommar" é o segundo trabalho do diretor Ari Aster, do excelente e premiadíssimo "Hereditário" - talvez por essa razão, o filme chegou cheio de expectativas entre os amantes de suspense com uma levada mais "Boa Noite, Mamãe" de 2014. Embora completamente distintos, existe um ponto de convergência entre esses filmes que nos ajuda a entender o fascínio pela forma como Ari Aster constrói a história: o desenvolvimento na relação dos personagens com o ambiente que eles estão inseridos é delicadamente formatado por camadas que, juntas, intensificam a sensação de angústia e que separadas focam em elementos essências para um bom suspense: umas são mais delicadas, outras mais brutas, mas quando tudo nos leva a crer que o problema é externo - visualmente representada por cenas bem impactantes; entendemos que é o íntimo que transforma a situação em algo quase insuportável. Isso tudo para dizer que "Midsommar" é um filme que vai além do que vemos na tela e isso não deve agradar a todos, porém é preciso elogiar o trabalho conceitual que o diretor nos entrega.Vale muito a pena se você gostar do gênero e da forma como ele é representado!

É característica desse diretor/roteirista trabalhar muita coisa ao mesmo tempo, e nem sempre isso é visto com bons olhos - até porque o filme acaba ficando longo e, para alguns, cansativo. O relacionamento dos protagonistas trazem a sutileza do desconforto mútuo entre pessoas que já não se gostam mais como antes, mas também o medo de perder aquilo que já faz parte da sua vida. Mesmo inconstante psicologicamente, Christian não quer deixar Dani, mas ela já entendeu que tudo que viveu com ele talvez já não faça mais sentido - só que ele não sabe ainda. Essa relação de insegurança perante a vida do ser humano é extremamente difícil de se retratar sem estereotipar uma ou outra situação e é aí que Ari Aster brilha: ele deixa para estereotipar o "em torno" e nunca o sentimento dos personagens, então quando misturamos tudo isso, parece loucura, algo sem noção, mas na verdade é só a forma natural como ele provoca os personagens a lidarem com suas dores mais profundas em um universo tão distante da realidade deles! Quando Aster se dedica na construção de uma atmosfera misteriosa, com um toque de terror pastoral - bem mais intenso que Shayamalan imprimiu em "A Vila", entendemos porque o comportamento daquelas pessoas que vivem na Aldeia nos causam tanto desconforto. O trabalho sutil do medo é validado por atitudes extremas, esse é o conceito!

Se em alguns momentos tudo aquilo parece um pouco ensaiado demais, logo lembramos que se trata de um culto e a repetição trás essa característica. É tão interessante o impacto que isso causa nos outros personagens, mesmo que superficialmente, que eu diria que se "Midsommar" fosse uma série, estaríamos tão intrigados como nos tempos de "Lost". O fato é que o filme trabalha muito bem o que pode ser mostrado e o que deve ser sugerido e isso pode causar um certo distanciamento do público que quer "tomar sustos" - não estamos falando desse tipo de filme, que fique claro, porém o que vemos no primeiro ato, para mim, já foi mais que o suficiente e me deixou ansioso e receoso pelo o que eu poderia encontrar no restante da história. Para alguns isso pode parecer inconstância, para mim foi estratégico e no final do filme, a sensação de alivio foi tão intensa que as próprias escolhas duvidosas do roteiro foram esquecidas.

Reparem como "Midsommar" tem cara de suspense psicológico independente, mas está fantasiado de filme comercial! No final das contas eu gostei e indico para o assinante mais disposto a refletir sobre o que vai ver na tela e sobre o que poderia ter visto, mas o diretor preferiu não entregar!

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"Midsommar" é uma experiência interessante, principalmente se você entender a proposta, se permitir mergulhar na dinâmica narrativa e na psique dos personagens. Veja, a história acompanha Dani (Florence Pugh) que após um terrível incidente que tirou a vida de toda sua família, se vê sozinha. Ao buscar o apoio em seu namorado Christian (Jack Reynor), ela percebe que os dois passam por um momento delicado do relacionamento - o que só aumenta sua insegurança. Quando Pelle (Vilhelm Blomgren), amigo sueco de Christian, convida ele e mais dois amigos para uma tradicional celebração de verão na aldeia onde cresceu, Dani não lida muito bem com a situação e praticamente obriga o namorado a convidá-la. O fato é que ela vê nessa viagem a chance de processar seu luto, porém o que ela encontra é algo completamente fora do esperado, do seu entendimento, o que transforma essa experiência em algo extremamente macabro. Confira o trailer:

"Midsommar" é o segundo trabalho do diretor Ari Aster, do excelente e premiadíssimo "Hereditário" - talvez por essa razão, o filme chegou cheio de expectativas entre os amantes de suspense com uma levada mais "Boa Noite, Mamãe" de 2014. Embora completamente distintos, existe um ponto de convergência entre esses filmes que nos ajuda a entender o fascínio pela forma como Ari Aster constrói a história: o desenvolvimento na relação dos personagens com o ambiente que eles estão inseridos é delicadamente formatado por camadas que, juntas, intensificam a sensação de angústia e que separadas focam em elementos essências para um bom suspense: umas são mais delicadas, outras mais brutas, mas quando tudo nos leva a crer que o problema é externo - visualmente representada por cenas bem impactantes; entendemos que é o íntimo que transforma a situação em algo quase insuportável. Isso tudo para dizer que "Midsommar" é um filme que vai além do que vemos na tela e isso não deve agradar a todos, porém é preciso elogiar o trabalho conceitual que o diretor nos entrega.Vale muito a pena se você gostar do gênero e da forma como ele é representado!

É característica desse diretor/roteirista trabalhar muita coisa ao mesmo tempo, e nem sempre isso é visto com bons olhos - até porque o filme acaba ficando longo e, para alguns, cansativo. O relacionamento dos protagonistas trazem a sutileza do desconforto mútuo entre pessoas que já não se gostam mais como antes, mas também o medo de perder aquilo que já faz parte da sua vida. Mesmo inconstante psicologicamente, Christian não quer deixar Dani, mas ela já entendeu que tudo que viveu com ele talvez já não faça mais sentido - só que ele não sabe ainda. Essa relação de insegurança perante a vida do ser humano é extremamente difícil de se retratar sem estereotipar uma ou outra situação e é aí que Ari Aster brilha: ele deixa para estereotipar o "em torno" e nunca o sentimento dos personagens, então quando misturamos tudo isso, parece loucura, algo sem noção, mas na verdade é só a forma natural como ele provoca os personagens a lidarem com suas dores mais profundas em um universo tão distante da realidade deles! Quando Aster se dedica na construção de uma atmosfera misteriosa, com um toque de terror pastoral - bem mais intenso que Shayamalan imprimiu em "A Vila", entendemos porque o comportamento daquelas pessoas que vivem na Aldeia nos causam tanto desconforto. O trabalho sutil do medo é validado por atitudes extremas, esse é o conceito!

Se em alguns momentos tudo aquilo parece um pouco ensaiado demais, logo lembramos que se trata de um culto e a repetição trás essa característica. É tão interessante o impacto que isso causa nos outros personagens, mesmo que superficialmente, que eu diria que se "Midsommar" fosse uma série, estaríamos tão intrigados como nos tempos de "Lost". O fato é que o filme trabalha muito bem o que pode ser mostrado e o que deve ser sugerido e isso pode causar um certo distanciamento do público que quer "tomar sustos" - não estamos falando desse tipo de filme, que fique claro, porém o que vemos no primeiro ato, para mim, já foi mais que o suficiente e me deixou ansioso e receoso pelo o que eu poderia encontrar no restante da história. Para alguns isso pode parecer inconstância, para mim foi estratégico e no final do filme, a sensação de alivio foi tão intensa que as próprias escolhas duvidosas do roteiro foram esquecidas.

Reparem como "Midsommar" tem cara de suspense psicológico independente, mas está fantasiado de filme comercial! No final das contas eu gostei e indico para o assinante mais disposto a refletir sobre o que vai ver na tela e sobre o que poderia ter visto, mas o diretor preferiu não entregar!

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Não Fale com Estranhos

"Não Fale com Estranhos", é uma minissérie da Netflix que chamou a atenção de muitos assinantes e que, surpreendentemente, recebeu muitos elogios da crítica especializada. Mas, antes de mais nada, em respeito aos nossos usuários, eu preciso ser muito sincero: achei a história um pouco previsível e a minissérie muito mal dirigida (e explicarei melhor meu ponto de vista logo abaixo), mas admito que o projeto tem alguns bons elementos: os ganchos entre os episódios são excelentes (razão que me fez continuar assistindo, inclusive) e um final bastante corajoso e que, além de me agradar, me surpreendeu!

Dito isso, "Não Fale com Estranhos" é baseada no best-seller ("Stranger") de Harlan Coben (o mesmo de "Safe") e conta a história de Adam Price (Richard Armitage) um pai de uma família da classe média/alta britânica que, aparentemente, tem uma vida perfeita: é casado com uma linda e talentosa esposa que o ama, é bem-sucedido como advogado em seu escritório e tem um excelente relacionamento com os filhos; até que uma jovem desconhecida (Hannah John-Kamen) se aproxima de Price e revela que sua mulher mentiu sobre uma recente gravidez e sugere que ele pode não ser o pai biológico dos seus dois filhos. Confrontada, Corrine Price (Dervla Kirwan) nega tais acusações, mas promete se explicar assim que se sentir confortável, porém, no dia seguinte, ela simplesmente desaparece deixando apenas um recado no celular para o marido!

Aparentemente "Não Fale com Estranhos" tem muitos elementos que me chamaram atenção em "The Undoing", só que bastou eu assistir alguns episódios da minissérie da Netflix para perceber que se tratava de um novelão, tamanho era a quantidade de subtramas que, mesmo tendo alguma relação com o arco principal, serviram muito mais de "distração" do que como elementos dramáticos essenciais para o desenvolvimento da história que realmente interessava - isso sem falar na sensível diferença de qualidade estética entre os dois projetos! Mesmo assim, é bem provável que "Não Fale com Estranhos" agrade ao assinante da Netflix que seguiu todas as temporadas de "Revenge" ou "Orphan Black" e que se divertiu com "Safe". Para os mais exigentes, sugiro outras opções!

É claro que o livro de Coben deve ter uma história mais fluída que sua adaptação para Netflix, pois o roteiro (mesmo com a supervisão do próprio autor) ficou cheio de furos, com uma narrativa, ao meu ver, preguiçosa e muito mais preocupada em distrair quem assistia a minissérie do que nos convidando a montar um enorme e intrigante quebra-cabeça (como "The Sinner" fez tão bem) - pelo simples fato de que muitas daquelas peças não serviram para nada! É claro que não sabemos disso logo de cara - a minissérie começa muito bem por sinal e vai nos enchendo de perguntas com o roteiro lançando diversos núcleos (assim como uma novela, por isso a comparação), cada qual com um drama bem particular, nos prendendo em um emaranhado de situações misteriosas. Imagine: a mulher que desaparece após um confronto com o marido que pode acabar com uma história de "contos de fadas", um estudante é encontrado nu após uma festa escolar que mais parece um ritual, um alpaca decapitada no meio de Manchester, um empreiteiro querendo destruir um bairro tradicional enquanto um dos moradores procura resistir à desapropriação e o assassinato da melhor amiga da detetive que investiga tudo isso - sem falar, claro, na jovem desconhecida e misteriosa que costura várias dessas situações! Aliás, as situações são tão distantes uma das outras que se unidas com um propósito narrativo mais inteligente, poderiam transformar a história em algo incrível! Esquece! Existem conexões sim, mas a grande maioria delas são mais superficiais, eu diria mal desenvolvidas, e ainda extremamente forçadas ao melhor estilo novelão - e, mais uma vez, se você gosta da dinâmica de novela, você provavelmente vai gostar de "Não Fale com Estranhos", mas é um outro produto audiovisual com suas forças, mas também com suas fraquezas.

"Não Fale com Estranhos" vai agradar mais uns do que outros - esses 8 episódios podem ser um bom entretenimento, sim, se você estiver buscando algo menos profundo e menos elaborado, mas mesmo assim com algum mistério - só não espere algo como "Big Little Lies" ou "Sharp Objects" por exemplo!

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"Não Fale com Estranhos", é uma minissérie da Netflix que chamou a atenção de muitos assinantes e que, surpreendentemente, recebeu muitos elogios da crítica especializada. Mas, antes de mais nada, em respeito aos nossos usuários, eu preciso ser muito sincero: achei a história um pouco previsível e a minissérie muito mal dirigida (e explicarei melhor meu ponto de vista logo abaixo), mas admito que o projeto tem alguns bons elementos: os ganchos entre os episódios são excelentes (razão que me fez continuar assistindo, inclusive) e um final bastante corajoso e que, além de me agradar, me surpreendeu!

Dito isso, "Não Fale com Estranhos" é baseada no best-seller ("Stranger") de Harlan Coben (o mesmo de "Safe") e conta a história de Adam Price (Richard Armitage) um pai de uma família da classe média/alta britânica que, aparentemente, tem uma vida perfeita: é casado com uma linda e talentosa esposa que o ama, é bem-sucedido como advogado em seu escritório e tem um excelente relacionamento com os filhos; até que uma jovem desconhecida (Hannah John-Kamen) se aproxima de Price e revela que sua mulher mentiu sobre uma recente gravidez e sugere que ele pode não ser o pai biológico dos seus dois filhos. Confrontada, Corrine Price (Dervla Kirwan) nega tais acusações, mas promete se explicar assim que se sentir confortável, porém, no dia seguinte, ela simplesmente desaparece deixando apenas um recado no celular para o marido!

Aparentemente "Não Fale com Estranhos" tem muitos elementos que me chamaram atenção em "The Undoing", só que bastou eu assistir alguns episódios da minissérie da Netflix para perceber que se tratava de um novelão, tamanho era a quantidade de subtramas que, mesmo tendo alguma relação com o arco principal, serviram muito mais de "distração" do que como elementos dramáticos essenciais para o desenvolvimento da história que realmente interessava - isso sem falar na sensível diferença de qualidade estética entre os dois projetos! Mesmo assim, é bem provável que "Não Fale com Estranhos" agrade ao assinante da Netflix que seguiu todas as temporadas de "Revenge" ou "Orphan Black" e que se divertiu com "Safe". Para os mais exigentes, sugiro outras opções!

É claro que o livro de Coben deve ter uma história mais fluída que sua adaptação para Netflix, pois o roteiro (mesmo com a supervisão do próprio autor) ficou cheio de furos, com uma narrativa, ao meu ver, preguiçosa e muito mais preocupada em distrair quem assistia a minissérie do que nos convidando a montar um enorme e intrigante quebra-cabeça (como "The Sinner" fez tão bem) - pelo simples fato de que muitas daquelas peças não serviram para nada! É claro que não sabemos disso logo de cara - a minissérie começa muito bem por sinal e vai nos enchendo de perguntas com o roteiro lançando diversos núcleos (assim como uma novela, por isso a comparação), cada qual com um drama bem particular, nos prendendo em um emaranhado de situações misteriosas. Imagine: a mulher que desaparece após um confronto com o marido que pode acabar com uma história de "contos de fadas", um estudante é encontrado nu após uma festa escolar que mais parece um ritual, um alpaca decapitada no meio de Manchester, um empreiteiro querendo destruir um bairro tradicional enquanto um dos moradores procura resistir à desapropriação e o assassinato da melhor amiga da detetive que investiga tudo isso - sem falar, claro, na jovem desconhecida e misteriosa que costura várias dessas situações! Aliás, as situações são tão distantes uma das outras que se unidas com um propósito narrativo mais inteligente, poderiam transformar a história em algo incrível! Esquece! Existem conexões sim, mas a grande maioria delas são mais superficiais, eu diria mal desenvolvidas, e ainda extremamente forçadas ao melhor estilo novelão - e, mais uma vez, se você gosta da dinâmica de novela, você provavelmente vai gostar de "Não Fale com Estranhos", mas é um outro produto audiovisual com suas forças, mas também com suas fraquezas.

"Não Fale com Estranhos" vai agradar mais uns do que outros - esses 8 episódios podem ser um bom entretenimento, sim, se você estiver buscando algo menos profundo e menos elaborado, mas mesmo assim com algum mistério - só não espere algo como "Big Little Lies" ou "Sharp Objects" por exemplo!

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Não Fale o Mal

Esse filme é simplesmente genial! Bem na linha do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", "Não Fale o Mal" é o que existe de melhor na cinematografia de M. Night Shyamalan (de "A Visita"), Ari Aster (de "Hereditário") e da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé")! Angustiante, corajoso e impactante! Lançado em 2022 e dirigido pelo dinamarquês Christian Tafdrup (olho nesse diretor), essa é a versão original do remake hollywoodiano que tem James McAvoy como protagonista. "Speak No Evil" (no original) é um suspense psicológico perturbador que explora os limites do desconforto em uma relação social e as consequências sombrias por ignorar todos os sinais de perigo - chega a ser impressionante como o filme utiliza a tensão psicológica e a dissonância cultural para criar um horror realmente inquietante que, olha, permanece com a audiência muito tempo depois dos créditos subirem!

A trama segue Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que, durante férias na Itália, conhece Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês aparentemente acolhedor e simpático. Após a viagem, Bjørn e Louise recebem um convite para visitar esse casal em sua casa no interior remoto da Holanda, e, apesar de hesitantes, decidem aceitar. À medida que a estadia avança, no entanto, comportamentos cada vez mais bizarros começam a surgir, gerando tensão entre os anfitriões e os visitantes, que se veem presos em uma situação bastante ameaçadora. Confira o trailer (em inglês):

O roteiro co-escrito pelo diretor Christian Tafdrup e pelo seu irmão Mads, é uma crítica assustadora aos códigos de cortesia social que muitas vezes nos levam a ignorar comportamentos alarmantes pelo simples intuito de evitar conflitos. Obviamente que em "Não Fale o Mal" essa premissa é elevada até níveis extsratostfericos, mas chega a ser impressionante como a história revela o medo de parecer rude ou ofensivo e como isso pode se tornar um instrumento de manipulação e violência, ultrapassando os limites entre confiança e submissão que podem ser explorados de uma maneira muito cruel - para não dizer doentia. A narrativa dos Tafdrup não se preocupa em explicar as motivações dos antagonistas de forma óbvia, isso nem importa na verdade, mas sim em manter um nível de ambiguidade que só aumenta a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer a todo momento.

A direção de Christian é eficaz em criar essa atmosfera angustiante de desconforto crescente. Desde o início, o diretor constrói uma tensão sutil, utilizando diálogos aparentemente inofensivos e interações que soam inocentes para gerar uma sensação de mal-estar suportável. Ao explorar algumas dinâmicas de poder e certas pressões sociais que levam os personagens a ignorar sinais de alerta, questionando até que ponto somos levados a priorizar a polidez e a acomodação em situações desconfortáveis, o diretor manipula nossas sensações e nos entrega uma experiência rara - pela força e pela originalidade. Repare como a escolha de uma abordagem mais minimalista e focada na psicologia dos personagens só intensifica a sensação de impotência que vemos na tela. O trabalho de Morten Burian e Sidsel Siem Koch transmitem esse desconforto gradual de uma forma muito realista. Fedja van Huêt e Karina Smulders, por sua vez, entregam performances mais intensas, alternando entre a simpatia desconcertante e hostilidade velada, contribuindo para uma relação verdadeiramente sinistra. 

A fotografia aqui, é quase um personagem: o uso de espaços mais apertados e planos mais fechados reforça o caráter opressor do filme, enquanto as paisagens isoladas da Holanda contribuem para o sentimento de vulnerabilidade dos personagens. A paleta de cores fria e os enquadramentos cuidadosamente compostos intensificam a sensação de angústia, transformando cenas simples em momentos de grande tensão - mérito de Erik Molberg Hansen (de "Industry"). Tecnicamente perfeito e artisticamente irretocável, "Não Fale o Mal" entrou para o ranking dos melhores filmes que já recomendei - por ser eficiente em seu propósito de gerar constrangimento e tensão, pela intensidade de sua trama e por transitar no limite do doentio e do perturbador com tanta sabedoria. Antes do play saiba que o filme não recorre aos sustos tradicionais do suspense, mas se apropria de uma abordagem psicológica profunda que culmina em um desfecho brutal e inquietante. 

Não espere respostas, mergulhe na experiência. Vale demais o seu play!

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Esse filme é simplesmente genial! Bem na linha do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", "Não Fale o Mal" é o que existe de melhor na cinematografia de M. Night Shyamalan (de "A Visita"), Ari Aster (de "Hereditário") e da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé")! Angustiante, corajoso e impactante! Lançado em 2022 e dirigido pelo dinamarquês Christian Tafdrup (olho nesse diretor), essa é a versão original do remake hollywoodiano que tem James McAvoy como protagonista. "Speak No Evil" (no original) é um suspense psicológico perturbador que explora os limites do desconforto em uma relação social e as consequências sombrias por ignorar todos os sinais de perigo - chega a ser impressionante como o filme utiliza a tensão psicológica e a dissonância cultural para criar um horror realmente inquietante que, olha, permanece com a audiência muito tempo depois dos créditos subirem!

A trama segue Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que, durante férias na Itália, conhece Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês aparentemente acolhedor e simpático. Após a viagem, Bjørn e Louise recebem um convite para visitar esse casal em sua casa no interior remoto da Holanda, e, apesar de hesitantes, decidem aceitar. À medida que a estadia avança, no entanto, comportamentos cada vez mais bizarros começam a surgir, gerando tensão entre os anfitriões e os visitantes, que se veem presos em uma situação bastante ameaçadora. Confira o trailer (em inglês):

O roteiro co-escrito pelo diretor Christian Tafdrup e pelo seu irmão Mads, é uma crítica assustadora aos códigos de cortesia social que muitas vezes nos levam a ignorar comportamentos alarmantes pelo simples intuito de evitar conflitos. Obviamente que em "Não Fale o Mal" essa premissa é elevada até níveis extsratostfericos, mas chega a ser impressionante como a história revela o medo de parecer rude ou ofensivo e como isso pode se tornar um instrumento de manipulação e violência, ultrapassando os limites entre confiança e submissão que podem ser explorados de uma maneira muito cruel - para não dizer doentia. A narrativa dos Tafdrup não se preocupa em explicar as motivações dos antagonistas de forma óbvia, isso nem importa na verdade, mas sim em manter um nível de ambiguidade que só aumenta a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer a todo momento.

A direção de Christian é eficaz em criar essa atmosfera angustiante de desconforto crescente. Desde o início, o diretor constrói uma tensão sutil, utilizando diálogos aparentemente inofensivos e interações que soam inocentes para gerar uma sensação de mal-estar suportável. Ao explorar algumas dinâmicas de poder e certas pressões sociais que levam os personagens a ignorar sinais de alerta, questionando até que ponto somos levados a priorizar a polidez e a acomodação em situações desconfortáveis, o diretor manipula nossas sensações e nos entrega uma experiência rara - pela força e pela originalidade. Repare como a escolha de uma abordagem mais minimalista e focada na psicologia dos personagens só intensifica a sensação de impotência que vemos na tela. O trabalho de Morten Burian e Sidsel Siem Koch transmitem esse desconforto gradual de uma forma muito realista. Fedja van Huêt e Karina Smulders, por sua vez, entregam performances mais intensas, alternando entre a simpatia desconcertante e hostilidade velada, contribuindo para uma relação verdadeiramente sinistra. 

A fotografia aqui, é quase um personagem: o uso de espaços mais apertados e planos mais fechados reforça o caráter opressor do filme, enquanto as paisagens isoladas da Holanda contribuem para o sentimento de vulnerabilidade dos personagens. A paleta de cores fria e os enquadramentos cuidadosamente compostos intensificam a sensação de angústia, transformando cenas simples em momentos de grande tensão - mérito de Erik Molberg Hansen (de "Industry"). Tecnicamente perfeito e artisticamente irretocável, "Não Fale o Mal" entrou para o ranking dos melhores filmes que já recomendei - por ser eficiente em seu propósito de gerar constrangimento e tensão, pela intensidade de sua trama e por transitar no limite do doentio e do perturbador com tanta sabedoria. Antes do play saiba que o filme não recorre aos sustos tradicionais do suspense, mas se apropria de uma abordagem psicológica profunda que culmina em um desfecho brutal e inquietante. 

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No Matarás

“No Matarás” é mais um suspense psicológico espanhol (e isso já diz muito dado o sucesso das recentes produções do país como "Remédio Amargo""Quem com ferro fere" e "A Casa") que vai te deixar preso do início ao fim. Isso porque logo após um evento traumático envolvendo o protagonista, as coisas começam ir de mal a pior.

Na trama, Dani (Mario Casas) é um bom rapaz que durante os últimos anos se dedicou exclusivamente a cuidar do seu pai doente até a sua morte. Justamente quando ele decide retomar a sua vida e fazer uma longa viagem, Dani conhece Mila (Milena Smit), uma mulher tão perturbadora e sensual como instável, quei transforma sua noite em um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (em espanhol):

Embora a história se mantenha eletrizante por mais de uma hora, na sequência final algumas revelações e acontecimentos beiram o exagero, mais ou menos como o que já vimos em outros filmes espanhóis, mas nada que comprometa o bom entretenimento que essa noite alucinante proporciona. A direção de David Victori (de "Sky Rojo") contribui para criação dessa atmosfera: ela é energética, seja pelos cortes frequentes, pela trilha sonora ou pelo fato do tempo inteiro acompanharmos uma movimentação de câmera que caminha junto com os personagens - uma técnica que funciona muito bem nessa narrativa que explora a sensação de urgência e todos os anseios e desespero do protagonista.

A direção de fotografia de Elías M. Félix ("O Pacto ") também é eficiente e faz um bom uso da iluminação, do brilho do neon e das cores vibrantes da noite agitada, caótica e trágica. No elenco, Mario Casas (“Um Contratempo” e "Remédio Amargo") tem se mostrado o ator perfeito para viver esses papeis que o colocam em situações desesperadoras, já que o ator transita muito bem suas emoções. A atriz Milena Smit (“Mães Paralelas”) também entrega um trabalho sensacional - é impossível você não sentir raiva da personagem que o tempo todo testará sua paciência.

“No Matarás” é envolvente e consegue prender sua atenção o tempo inteiro, além das surpresas que os desdobramentos da história proporciona, ainda que dê uma derrapada na reta final, tenho certeza que sua experiência durante uma hora e meia será no mínimo proveitosa. 

Se você procura um bom entretenimento, só dar o play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“No Matarás” é mais um suspense psicológico espanhol (e isso já diz muito dado o sucesso das recentes produções do país como "Remédio Amargo""Quem com ferro fere" e "A Casa") que vai te deixar preso do início ao fim. Isso porque logo após um evento traumático envolvendo o protagonista, as coisas começam ir de mal a pior.

Na trama, Dani (Mario Casas) é um bom rapaz que durante os últimos anos se dedicou exclusivamente a cuidar do seu pai doente até a sua morte. Justamente quando ele decide retomar a sua vida e fazer uma longa viagem, Dani conhece Mila (Milena Smit), uma mulher tão perturbadora e sensual como instável, quei transforma sua noite em um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (em espanhol):

Embora a história se mantenha eletrizante por mais de uma hora, na sequência final algumas revelações e acontecimentos beiram o exagero, mais ou menos como o que já vimos em outros filmes espanhóis, mas nada que comprometa o bom entretenimento que essa noite alucinante proporciona. A direção de David Victori (de "Sky Rojo") contribui para criação dessa atmosfera: ela é energética, seja pelos cortes frequentes, pela trilha sonora ou pelo fato do tempo inteiro acompanharmos uma movimentação de câmera que caminha junto com os personagens - uma técnica que funciona muito bem nessa narrativa que explora a sensação de urgência e todos os anseios e desespero do protagonista.

A direção de fotografia de Elías M. Félix ("O Pacto ") também é eficiente e faz um bom uso da iluminação, do brilho do neon e das cores vibrantes da noite agitada, caótica e trágica. No elenco, Mario Casas (“Um Contratempo” e "Remédio Amargo") tem se mostrado o ator perfeito para viver esses papeis que o colocam em situações desesperadoras, já que o ator transita muito bem suas emoções. A atriz Milena Smit (“Mães Paralelas”) também entrega um trabalho sensacional - é impossível você não sentir raiva da personagem que o tempo todo testará sua paciência.

“No Matarás” é envolvente e consegue prender sua atenção o tempo inteiro, além das surpresas que os desdobramentos da história proporciona, ainda que dê uma derrapada na reta final, tenho certeza que sua experiência durante uma hora e meia será no mínimo proveitosa. 

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Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Noite Passada em Soho

"Noite Passada em Soho" é um filme extremamente envolvente - pela história e pelo visual! Esse suspense que transita entre o psicológico e o sobrenatural é quase uma mistura do coreano "A Ligação" com o clássico de Darren Aronofsky, "Cisne Negro".

No filme acompanhamos Eloise (Thomasin Mckenzie) quando ela decide deixar a sua pequena cidade natal para estudar moda em Londres. Obcecada pelos anos 60, ela se depara com uma vida dinâmica e moderna onde nem tudo parece corresponder às suas românticas expectativas. O impacto dessa mudança tão radical gera uma série de frustrações para Eloise - que leva ela se mudar para um antigo apartamento no centro do Soho, administrado pela curiosa Ms. Collins (Diana Rigg). A situação se complica ainda mais quando a protagonista passa a ter sonhos extremamente realistas com a misteriosa Sandie (Anya Taylor-Joy), uma aspirante a cantora cujas atitudes e escolhas passam a interferir fortemente na vida da própria Eloise. Confira o trailer:

A primeira vista, "Noite Passada em Soho" impacta pela perfeita combinação entre um filme esteticamente impecável, muito mérito do diretor Edgar Wright, com uma trilha sonora fantástica, assinada por Steven Price (vencedor do Oscar por "Gravidade"). Mas também temos um outro lado, e é quando entra em cena o roteiro da Krysty Wilson-Cairns (indicada ao Oscar por "1917") baseado em uma história que o próprio Wright trouxe para o desenvolvimento ao se propor resgatar suas fantasias de adolescente e sua relação mais íntima com o Soho londrino. Veja, o filme não tem a menor pretensão de transformar sua narrativa em uma experiência empírica comprovada por qualquer que seja a linha cientifica ou espiritual de sua interpretação - as coisas simplesmente acontecem, dentro de uma dinâmica particular do diretor e suficiente para nos fazer ficar de olhos grudados na tela por quase duas horas.

Cheio de referências conceituais, as escolhas de Wright direcionam a audiência para uma jornada única, uma linha tênue entre o surreal e o patológico, entre o sonho e a experiência mediúnica - tudo isso sendo construído por duas protagonistas cheias de camadas, brilhantemente conduzidas por uma trama que traz muitos signos, como se o filme fosse um "Alice no País das Maravilhas" de Eloise. Reparem como o uso dos espelhos, por exemplo, cria uma sensação de incerteza e mistério impressionantes. É, de fato, um trabalho fenomenal de direção, fotografia e montagem - além de ter um suporte de efeitos especiais bastante competente e nada invasivo.

Obviamente que ter Anya Taylor-Joy, Thomasin Mckenzie, Diana Rigg e Matt Smith só ajuda, mas é preciso dizer que "Noite Passada em Soho" é o resultado do seu diretor como maestro - um filme maduro, divertido, inteligente, bonito e ainda dinâmico. Se não tem a profundidade de "Cisne Negro", posso garantir que é um entretenimento de primeira; que, mesmo com algumas soluções até que previsíveis, muito desse quebra-cabeça vai se resolvendo sem roubar no jogo e acaba entregando um final bastante correto.

Vale a pena! 

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"Noite Passada em Soho" é um filme extremamente envolvente - pela história e pelo visual! Esse suspense que transita entre o psicológico e o sobrenatural é quase uma mistura do coreano "A Ligação" com o clássico de Darren Aronofsky, "Cisne Negro".

No filme acompanhamos Eloise (Thomasin Mckenzie) quando ela decide deixar a sua pequena cidade natal para estudar moda em Londres. Obcecada pelos anos 60, ela se depara com uma vida dinâmica e moderna onde nem tudo parece corresponder às suas românticas expectativas. O impacto dessa mudança tão radical gera uma série de frustrações para Eloise - que leva ela se mudar para um antigo apartamento no centro do Soho, administrado pela curiosa Ms. Collins (Diana Rigg). A situação se complica ainda mais quando a protagonista passa a ter sonhos extremamente realistas com a misteriosa Sandie (Anya Taylor-Joy), uma aspirante a cantora cujas atitudes e escolhas passam a interferir fortemente na vida da própria Eloise. Confira o trailer:

A primeira vista, "Noite Passada em Soho" impacta pela perfeita combinação entre um filme esteticamente impecável, muito mérito do diretor Edgar Wright, com uma trilha sonora fantástica, assinada por Steven Price (vencedor do Oscar por "Gravidade"). Mas também temos um outro lado, e é quando entra em cena o roteiro da Krysty Wilson-Cairns (indicada ao Oscar por "1917") baseado em uma história que o próprio Wright trouxe para o desenvolvimento ao se propor resgatar suas fantasias de adolescente e sua relação mais íntima com o Soho londrino. Veja, o filme não tem a menor pretensão de transformar sua narrativa em uma experiência empírica comprovada por qualquer que seja a linha cientifica ou espiritual de sua interpretação - as coisas simplesmente acontecem, dentro de uma dinâmica particular do diretor e suficiente para nos fazer ficar de olhos grudados na tela por quase duas horas.

Cheio de referências conceituais, as escolhas de Wright direcionam a audiência para uma jornada única, uma linha tênue entre o surreal e o patológico, entre o sonho e a experiência mediúnica - tudo isso sendo construído por duas protagonistas cheias de camadas, brilhantemente conduzidas por uma trama que traz muitos signos, como se o filme fosse um "Alice no País das Maravilhas" de Eloise. Reparem como o uso dos espelhos, por exemplo, cria uma sensação de incerteza e mistério impressionantes. É, de fato, um trabalho fenomenal de direção, fotografia e montagem - além de ter um suporte de efeitos especiais bastante competente e nada invasivo.

Obviamente que ter Anya Taylor-Joy, Thomasin Mckenzie, Diana Rigg e Matt Smith só ajuda, mas é preciso dizer que "Noite Passada em Soho" é o resultado do seu diretor como maestro - um filme maduro, divertido, inteligente, bonito e ainda dinâmico. Se não tem a profundidade de "Cisne Negro", posso garantir que é um entretenimento de primeira; que, mesmo com algumas soluções até que previsíveis, muito desse quebra-cabeça vai se resolvendo sem roubar no jogo e acaba entregando um final bastante correto.

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