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Dirty John – O Golpe do Amor

"Dirty John – O Golpe do Amor" é uma série interessante pela sua premissa, mas mediana na sua execução. É claro que fato de ser baseado em uma história real e trazer um personagem forte como protagonista chama atenção de cara! Inicialmente, me fez lembrar "American Crime Story", porém, na prática, "Dirty John" acaba se enrolando em todo seu potencial com um roteiro menos empolgante e uma estrutura narrativa um pouco confusa, se afastando de qualquer tipo de comparação com as duas temporadas de "American Crime" - até podemos considerar uma similaridade com "Versace" nos primeiros episódios, mas depois não se sustenta.

"Dirty John – O Golpe do Amor" é a versão para TV de um podcast do jornal Los Angeles Times que fez muito sucesso nos EUA. A série mostra a relação do golpista "profissional" John Meehan, com a empresária Debra Newell. Debra é uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas com uma vida amorosa completamente fracassada. Carente e insegura, ela se torna uma presa fácil para John depois de um encontro marcado, veja só, pela internet! Com seu charme e sedução, John vai tomando conta da vida de Debra e é, justamente, esse o elemento que mais atrapalha e transforma a série em apenas um bom entretenimento. Confira o trailer:

As consequências do relacionamento abusivo e conturbado dos personagens são apresentados muito rapidamente, ou seja, nem bem nos envolvemos com o personagem do John e já definimos que ele é um canalha. O roteiro não nos coloca no papel da ótima Connie Britton, pois em nenhum momento temos a impressão que ele pode ser apenas um cara mal interpretado. O grande mérito de "American Crime Story", por exemplo, é sempre mostrar os dois lados e isso nos gera dúvidas ou até incredulidade em alguns momentos: O. J. Simpson era um monstro assassino ou um bode expiatório resultado de um ambiente conturbado pelas disputas raciais que os EUA vivia na época? John, nunca é tratado como um inocente pelo roteiro e isso é rotular demais o personagem. O próprio Eric Bana também não ajuda muito nesse processo - ele é muito canastrão, sem carisma e limitado demais para construir um personagem tão sedutor e cheio de camadas como o John deveria ser pra ter enganado tanta mulher inteligente e bem sucedida. A própria estrutura narrativa também começa a derrapar depois do 4º ou 5º episódio: ela se torna confusa demais com a construção do passado do John que simplesmente "cai de paraquedas" no episódio. Quando terminei série, tive a percepção que não existe uma linha narrativa convincente que justifique os 8 episódios - talvez por ser uma adaptação de um podcast, isso tenha se tornado um complicador. Não sei, em muitos momentos me pareceu arrastado demais!

O fato é que Dirty John nasceu para ser uma minissérie, mas se fez dela uma série que poderia ser muito melhor do que é! Não é ruim, de verdade... mas poderia ser melhor! Se você gostou de "American Crime Story" e até de "Você", é possível que se divirta com a série, mesmo com todas essas limitações criativas. É um entretenimento razoável de um gênero que está em alta na Netflix e que faz muito sucesso com a audiência!

Ah, uma segunda temporada já está confirmada e pelo que apurei deve mostrar um outro caso do próprio John que não, necessariamente, tenha a ver com a primeira temporada, criando assim uma contextualização mais antológica para o projeto. Vamos esperar!!!

Assista Agora

"Dirty John – O Golpe do Amor" é uma série interessante pela sua premissa, mas mediana na sua execução. É claro que fato de ser baseado em uma história real e trazer um personagem forte como protagonista chama atenção de cara! Inicialmente, me fez lembrar "American Crime Story", porém, na prática, "Dirty John" acaba se enrolando em todo seu potencial com um roteiro menos empolgante e uma estrutura narrativa um pouco confusa, se afastando de qualquer tipo de comparação com as duas temporadas de "American Crime" - até podemos considerar uma similaridade com "Versace" nos primeiros episódios, mas depois não se sustenta.

"Dirty John – O Golpe do Amor" é a versão para TV de um podcast do jornal Los Angeles Times que fez muito sucesso nos EUA. A série mostra a relação do golpista "profissional" John Meehan, com a empresária Debra Newell. Debra é uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas com uma vida amorosa completamente fracassada. Carente e insegura, ela se torna uma presa fácil para John depois de um encontro marcado, veja só, pela internet! Com seu charme e sedução, John vai tomando conta da vida de Debra e é, justamente, esse o elemento que mais atrapalha e transforma a série em apenas um bom entretenimento. Confira o trailer:

As consequências do relacionamento abusivo e conturbado dos personagens são apresentados muito rapidamente, ou seja, nem bem nos envolvemos com o personagem do John e já definimos que ele é um canalha. O roteiro não nos coloca no papel da ótima Connie Britton, pois em nenhum momento temos a impressão que ele pode ser apenas um cara mal interpretado. O grande mérito de "American Crime Story", por exemplo, é sempre mostrar os dois lados e isso nos gera dúvidas ou até incredulidade em alguns momentos: O. J. Simpson era um monstro assassino ou um bode expiatório resultado de um ambiente conturbado pelas disputas raciais que os EUA vivia na época? John, nunca é tratado como um inocente pelo roteiro e isso é rotular demais o personagem. O próprio Eric Bana também não ajuda muito nesse processo - ele é muito canastrão, sem carisma e limitado demais para construir um personagem tão sedutor e cheio de camadas como o John deveria ser pra ter enganado tanta mulher inteligente e bem sucedida. A própria estrutura narrativa também começa a derrapar depois do 4º ou 5º episódio: ela se torna confusa demais com a construção do passado do John que simplesmente "cai de paraquedas" no episódio. Quando terminei série, tive a percepção que não existe uma linha narrativa convincente que justifique os 8 episódios - talvez por ser uma adaptação de um podcast, isso tenha se tornado um complicador. Não sei, em muitos momentos me pareceu arrastado demais!

O fato é que Dirty John nasceu para ser uma minissérie, mas se fez dela uma série que poderia ser muito melhor do que é! Não é ruim, de verdade... mas poderia ser melhor! Se você gostou de "American Crime Story" e até de "Você", é possível que se divirta com a série, mesmo com todas essas limitações criativas. É um entretenimento razoável de um gênero que está em alta na Netflix e que faz muito sucesso com a audiência!

Ah, uma segunda temporada já está confirmada e pelo que apurei deve mostrar um outro caso do próprio John que não, necessariamente, tenha a ver com a primeira temporada, criando assim uma contextualização mais antológica para o projeto. Vamos esperar!!!

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Invocação do Mal 3

"Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" é um ótimo exemplo de filme que vai do céu ao inferno de acordo com a expectativa de quem assiste. Para nós, que trouxemos a informação sobre as estratégias de criação desse capítulo da franquia, que passou a utilizar elementos de "true crime" na história com o intuito de trazer para realidade situações que soam fantasiosas para os descrentes (mesmo com o aviso de "baseado em fatos reais"), a experiência foi das melhores! Um perfeito equilíbrio entre o suspense sobrenatural e o drama investigativo, bem ao estilo do recente "Outsider" da mesma HBO (e que inexplicavelmente não está disponível na nova plataforma HBO Max).

O filme segue contando a história dos investigadores de atividades paranormais Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga). Desta vez, o casal precisa investigar o caso de Arne Johnson (Ruairi O’Conner), que alega ter tido uma possessão demoníaca no momento em que assassinava um colega. Embora soe como uma desculpa das mais esfarrapadas, o contexto em que Arne estava envolvido colaborava para a tese de que ele não estava mentindo, afinal ele havia participado de um ritual de exorcismo de David Glatzel, irmão mais novo de sua namorada, pouco tempo antes de cometer o crime. Confira o trailer:

Michael Chaves foi o responsável "Invocação do Mal 3" seguindo a estratégia de James Wan de ampliar suas franquias e criar universos que possam caminhar sozinhos, independente da sua participação no projeto - nesse caso, para Chaves, é o segundo filme após uma estreia um tanto quanto morna em “A Maldição da Chorona”. Pois bem, embora não prejudique a experiência de quem assiste (e de quem conhece a franquia), o diretor não inova na narrativa e muito menos no conceito visual - é como se ele seguisse a cartilha de Wan, mas sem aquele enorme talento e capacidade técnica. Ao apresentar o exorcismo de David Glatzel (Julian Hilliard), Chaves entrega uma bom prólogo, que conta com uma ambientação bem trabalhada, com objetos voando, ventania dentro de casa, uma verdadeira imersão que coloca quem assiste no ponto certo para o que vem a seguir, porém o ritmo muda daí para frente - e é quando as pessoas com a alta expectativa criada, se decepcionam.

Veja, "Invocação do Mal 3" não é um filme de exorcismo ou com um monstro ou entidade sobrenatural como vilão (igual a Freira ou o Homem-Torto, para seguir no mesmo universo). Nesse caso estamos falando de um filme de investigação onde o principal objetivo é provar que houve, de fato, possessão demoníaca durante um real crime de assassinato! É claro que os elementos de suspense e ocultismo estão presentes no roteiro de David Leslie Johnson (de "A Órfã"), que existem conexões interessantes com bruxaria e rituais (tão bem aceitos pelo público em projetos documentais como "Os Filhos de Sam"), mas o conflito aqui é muito mais dramático do que de ação - naturalmente o ritmo é um pouco mais cadenciado em relação aos filmes anteriores da franquia, mas isso não o torna ruim! O filme é muito bom!

"Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" deve ser considerado o filme menos assustador da franquia, mas continua sendo muito bom tecnicamente e ainda acima das demais produções de terror e suspense recentes. Patrick Wilson e Vera Farmiga são a grande sustentação dessa estratégia mais "true crime" da história e mesmo soando um pouco desgastados com seus personagens (e a cena final do filme comprova essa tese, colocando quase tudo a perder), ambos funcionam muito bem juntos. Eu diria que esse filme é o mais equilibrado da franquia, com uma gramática cinematográfica mais madura no sentido mais técnico da construção da história - e isso vai decepcionar alguns, mas definitivamente não foi nosso caso. Indico!

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"Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" é um ótimo exemplo de filme que vai do céu ao inferno de acordo com a expectativa de quem assiste. Para nós, que trouxemos a informação sobre as estratégias de criação desse capítulo da franquia, que passou a utilizar elementos de "true crime" na história com o intuito de trazer para realidade situações que soam fantasiosas para os descrentes (mesmo com o aviso de "baseado em fatos reais"), a experiência foi das melhores! Um perfeito equilíbrio entre o suspense sobrenatural e o drama investigativo, bem ao estilo do recente "Outsider" da mesma HBO (e que inexplicavelmente não está disponível na nova plataforma HBO Max).

O filme segue contando a história dos investigadores de atividades paranormais Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga). Desta vez, o casal precisa investigar o caso de Arne Johnson (Ruairi O’Conner), que alega ter tido uma possessão demoníaca no momento em que assassinava um colega. Embora soe como uma desculpa das mais esfarrapadas, o contexto em que Arne estava envolvido colaborava para a tese de que ele não estava mentindo, afinal ele havia participado de um ritual de exorcismo de David Glatzel, irmão mais novo de sua namorada, pouco tempo antes de cometer o crime. Confira o trailer:

Michael Chaves foi o responsável "Invocação do Mal 3" seguindo a estratégia de James Wan de ampliar suas franquias e criar universos que possam caminhar sozinhos, independente da sua participação no projeto - nesse caso, para Chaves, é o segundo filme após uma estreia um tanto quanto morna em “A Maldição da Chorona”. Pois bem, embora não prejudique a experiência de quem assiste (e de quem conhece a franquia), o diretor não inova na narrativa e muito menos no conceito visual - é como se ele seguisse a cartilha de Wan, mas sem aquele enorme talento e capacidade técnica. Ao apresentar o exorcismo de David Glatzel (Julian Hilliard), Chaves entrega uma bom prólogo, que conta com uma ambientação bem trabalhada, com objetos voando, ventania dentro de casa, uma verdadeira imersão que coloca quem assiste no ponto certo para o que vem a seguir, porém o ritmo muda daí para frente - e é quando as pessoas com a alta expectativa criada, se decepcionam.

Veja, "Invocação do Mal 3" não é um filme de exorcismo ou com um monstro ou entidade sobrenatural como vilão (igual a Freira ou o Homem-Torto, para seguir no mesmo universo). Nesse caso estamos falando de um filme de investigação onde o principal objetivo é provar que houve, de fato, possessão demoníaca durante um real crime de assassinato! É claro que os elementos de suspense e ocultismo estão presentes no roteiro de David Leslie Johnson (de "A Órfã"), que existem conexões interessantes com bruxaria e rituais (tão bem aceitos pelo público em projetos documentais como "Os Filhos de Sam"), mas o conflito aqui é muito mais dramático do que de ação - naturalmente o ritmo é um pouco mais cadenciado em relação aos filmes anteriores da franquia, mas isso não o torna ruim! O filme é muito bom!

"Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" deve ser considerado o filme menos assustador da franquia, mas continua sendo muito bom tecnicamente e ainda acima das demais produções de terror e suspense recentes. Patrick Wilson e Vera Farmiga são a grande sustentação dessa estratégia mais "true crime" da história e mesmo soando um pouco desgastados com seus personagens (e a cena final do filme comprova essa tese, colocando quase tudo a perder), ambos funcionam muito bem juntos. Eu diria que esse filme é o mais equilibrado da franquia, com uma gramática cinematográfica mais madura no sentido mais técnico da construção da história - e isso vai decepcionar alguns, mas definitivamente não foi nosso caso. Indico!

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O Desaparecimento de Madeleine McCann

De cara eu já te digo:  "O Desaparecimento de Madeleine McCann" é viciante!!! A série de 8 episódios, com 50 minutos em média, conta, em detalhes, tudo o que envolveu a investigação sobre o sumiço da garotinha inglesa Madeleine em Portugal.

Mas antes das minhas impressões, vamos entender o que aconteceu: um casal de médicos ingleses viaja para um Resort, em uma linda praia de Portugal, com um grupo de amigos e seus respectivos filhos pequenos. Todos se divertem muito no verão europeu até que um dia resolvem sair para jantar e deixam as crianças no quarto dormindo. Como o restaurante ficava no mesmo complexo e era bem próximo aos quartos, tudo parecia normal, tranquilo, seguro - além do que, a cada 30 minutos ia alguém dar aquela espiada para ver se estava tudo certo com as crianças. Bom, por volta das 22:00, a mãe de Madeleine vai até o quarto e percebe que sua filha não está mais lá, seus outros filhos (um casal de gêmeos) continuavam dormindo no mesmo quarto, mas Madeleine havia desaparecido do nada!  Começava ai um mobilização no hotel e seus hospedes em busca da menina desaparecida!!! Só por esse prólogo já dá para começar os julgamentos...rs, ou melhor, as perguntas: "Por que catso os pais deixaram as crianças sozinhas dormindo no quarto se o hotel disponibilizava um serviço de babá??? E é a partir dessa simples pergunta que começa a se desenrolar uma série de teorias (e conspirações) que fazem com que você não queira parar de assistir a série!!!

O diretor Chris Smith (o mesmo de Fyre) conduz os episódios incitando questionamentos a todo momento. As teorias que criamos vão variando de acordo com os fatos que vão sendo apresentados pouco a pouco e isso é sensacional! A estrutra narrativa que ele constrói é quase que uma provocação com quem assiste - ele mistura depoimentos, com imagens de arquivo, com encenações, de maneira muito equilibrada e inteligente: a sensação é como se ele nos perguntasse a toda hora: O que você acha que aconteceu? Quem é o culpado? E, meu amigo, posso te garantir, a cada episódio você vai mudando de idéia!!!

O Desaparecimento de Madeleine McCann" é uma experiência muito interessante, já que a série tem o mérito de te colocar dentro da investigação, com uma certa dramaticidade (claro), mas sem aquela tendência de te influenciar logo de cara como fez ""Making a Murderer", por exemplo. A "dúvida" é, de fato, a protagonista da série. Agora, um fator precisa ser levado em consideração: diferente de "The Jinx", "Starcase" ou o do próprio "Making a Murderer", nessa série, a vítima tem a nossa empatia e isso muda tudo!!!! Outro elemento muito bem explorado, e que também apareceu no documentário da Amanda Knox, é o fato das diferenças culturais e sociais entre portugueses e ingleses interferirem ativamente na investigação e, importante, na cobertura do caso pela imprensa!!! É impressionante como a atmosfera criada ficou hostil!!! Como as particularidades de cada cultura transformou o caso em um grande circo - por isso minha brincadeira sobre os "julgamentos" no inicio do texto!!!

"O Desaparecimento de Madeleine McCann" é um ótimo entretenimento, que vai te fazer refletir, que vai te tocar emocionalmente em vários momentos (principalmente se você tiver filhos) e que vai te provocar em cada episódio!!! Se você gosta de séries investigativas de ficção, é certo que essa série documental vai te conquistar. Para mim, tão boa quanto "O.J. Made in America" que ganhou o Oscar há dois anos atrás!!!

Vale muito o play!!!!

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De cara eu já te digo:  "O Desaparecimento de Madeleine McCann" é viciante!!! A série de 8 episódios, com 50 minutos em média, conta, em detalhes, tudo o que envolveu a investigação sobre o sumiço da garotinha inglesa Madeleine em Portugal.

Mas antes das minhas impressões, vamos entender o que aconteceu: um casal de médicos ingleses viaja para um Resort, em uma linda praia de Portugal, com um grupo de amigos e seus respectivos filhos pequenos. Todos se divertem muito no verão europeu até que um dia resolvem sair para jantar e deixam as crianças no quarto dormindo. Como o restaurante ficava no mesmo complexo e era bem próximo aos quartos, tudo parecia normal, tranquilo, seguro - além do que, a cada 30 minutos ia alguém dar aquela espiada para ver se estava tudo certo com as crianças. Bom, por volta das 22:00, a mãe de Madeleine vai até o quarto e percebe que sua filha não está mais lá, seus outros filhos (um casal de gêmeos) continuavam dormindo no mesmo quarto, mas Madeleine havia desaparecido do nada!  Começava ai um mobilização no hotel e seus hospedes em busca da menina desaparecida!!! Só por esse prólogo já dá para começar os julgamentos...rs, ou melhor, as perguntas: "Por que catso os pais deixaram as crianças sozinhas dormindo no quarto se o hotel disponibilizava um serviço de babá??? E é a partir dessa simples pergunta que começa a se desenrolar uma série de teorias (e conspirações) que fazem com que você não queira parar de assistir a série!!!

O diretor Chris Smith (o mesmo de Fyre) conduz os episódios incitando questionamentos a todo momento. As teorias que criamos vão variando de acordo com os fatos que vão sendo apresentados pouco a pouco e isso é sensacional! A estrutra narrativa que ele constrói é quase que uma provocação com quem assiste - ele mistura depoimentos, com imagens de arquivo, com encenações, de maneira muito equilibrada e inteligente: a sensação é como se ele nos perguntasse a toda hora: O que você acha que aconteceu? Quem é o culpado? E, meu amigo, posso te garantir, a cada episódio você vai mudando de idéia!!!

O Desaparecimento de Madeleine McCann" é uma experiência muito interessante, já que a série tem o mérito de te colocar dentro da investigação, com uma certa dramaticidade (claro), mas sem aquela tendência de te influenciar logo de cara como fez ""Making a Murderer", por exemplo. A "dúvida" é, de fato, a protagonista da série. Agora, um fator precisa ser levado em consideração: diferente de "The Jinx", "Starcase" ou o do próprio "Making a Murderer", nessa série, a vítima tem a nossa empatia e isso muda tudo!!!! Outro elemento muito bem explorado, e que também apareceu no documentário da Amanda Knox, é o fato das diferenças culturais e sociais entre portugueses e ingleses interferirem ativamente na investigação e, importante, na cobertura do caso pela imprensa!!! É impressionante como a atmosfera criada ficou hostil!!! Como as particularidades de cada cultura transformou o caso em um grande circo - por isso minha brincadeira sobre os "julgamentos" no inicio do texto!!!

"O Desaparecimento de Madeleine McCann" é um ótimo entretenimento, que vai te fazer refletir, que vai te tocar emocionalmente em vários momentos (principalmente se você tiver filhos) e que vai te provocar em cada episódio!!! Se você gosta de séries investigativas de ficção, é certo que essa série documental vai te conquistar. Para mim, tão boa quanto "O.J. Made in America" que ganhou o Oscar há dois anos atrás!!!

Vale muito o play!!!!

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3096 Dias

Esse filme é perturbador! "3096 Dias" (que depois ganhou um complemento no título, ficando "3096 Dias de Cativeiro") não alivia na sua narrativa - uma característica muito marcante do cinema alemão inclusive, mesmo tendo uma diretora americana no comando - Sherry Hormann. Se você assistiu a excelente série documental "O Desaparecimento de Madeleine McCann", fica impossível não conectar as histórias, porém, dessa vez, sob o ponto de vista da vítima - o que traz sentimentos e sensações nada agradáveis, transformando essa experiência em uma jornada bem indigesta.

"3096 Dias" é uma adaptação do livro autobiográfico da austríaca Natascha Kampusch e conta a história de um dos mais brutais casos de sequestro já reportados pela mídia: em 2 de março de 1998, aos 10 anos de idade, Natascha (Amelia Pidgeon e depois Antonia Campbell-Hughes) foi capturada por um homem, Wolfgang Priklopil (Thure Lindhardt), que a manteve em cativeiro por mais de oito anos – ou 3096 dias, precisamente. Confira o trailer:

Outra referência que logo vem a cabeça é o ótimo "O Quarto de Jack", filme de 2015 com Brie Larson e Jacob Tremblay. Acontece que nessa produção alemã, a história não "romantiza" a situação, ela simplesmente expõe os horrores do cativeiro e de ter que se relacionar tanto tempo com um psicopata. Um dos méritos de Ruth Toma, roteirista do filme, foi capturar os momentos mais críticos dessa experiência e transformar em uma narrativa que usa e abusa da expectativa para nos manter grudados na tela. A diretora Sherry Hormann impõe um conceito muito autoral ao filme, trabalhando a narrativa sem se preocupar em dar todas as respostas ou motivações para cada ação - o que traz um caráter independente muito interessante para o filme. A ideia, aliás, é justamente criar uma espécie de confusão com o passar do tempo - algo muito claro e palpável por se tratar de uma história real que foi pautada em anos de abuso psicológico e sexual.

A criação da ambientação é sensacional. O cenário que reconstrói o porão (ou melhor, o cubículo) em que Natascha ficou presa por tanto tempo já ajuda a entender a mente doentia de Wolfgang - saber que ele construiu o local com as próprias mãos, pensando no difícil acesso, em ser um lugar sem janelas, sem cama e sem acesso as condições básicas de higiene, incomoda demais. O desenho de som também merece ser mencionado: reparem que em determinado momento do filme, só de escutar a porta que dá acesso ao porão sendo aberta, já nos causa uma péssima sensação. Outro detalhe: em muitos momentos o silêncio estará tão presente que chegamos a escutar o coração de Natascha batendo, bem ao fundo, quase imperceptível - é um grande trabalho de sonorização.

O elenco também está incrível, mas a última cena da Amelia Pidgeon (a Natascha criança) é de cortar o coração - um monólogo digno de aplausos. O trabalho corporal de Antonia Campbell-Hughes, transformando sua personagem em uma adolescente esquálida e sem vida é impressionante - prestem atenção no olhar e em como ela também se relaciona com todas as oportunidades de sair daquela situação: seja fugindo, se matando, esfaqueando o Wolfgang, etc. O trabalho de Campbell-Hughes me lembrou muito a performance premiada de Shira Haas em "Nada Ortodoxa". Obviamente que Thure Lindhardt está sensacional como Wolfgang Priklopil, principalmente quando passa a expor os problemas de sexualidade do personagem: seja em um ataque de pânico silencioso em uma boate ou até quando obriga Natascha usar cuecas e andar sem camisa em casa, como se fosse um garoto.

"3096 Dias", deixando um pouco de lado sua relação e fidelidade com um livro rico em detalhes, é possível afirmar que o filme entrega o que promete e com louvor: não é fácil adaptar uma obra como essa, com uma uma linha cronológica tão extensa e importante, ainda retratar uma história real tão marcante e complexa, repleta de frieza e crueldade. Olha, é um recorte do que existe de pior no ser humano doente e covarde!

Vale muito o seu play!

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Esse filme é perturbador! "3096 Dias" (que depois ganhou um complemento no título, ficando "3096 Dias de Cativeiro") não alivia na sua narrativa - uma característica muito marcante do cinema alemão inclusive, mesmo tendo uma diretora americana no comando - Sherry Hormann. Se você assistiu a excelente série documental "O Desaparecimento de Madeleine McCann", fica impossível não conectar as histórias, porém, dessa vez, sob o ponto de vista da vítima - o que traz sentimentos e sensações nada agradáveis, transformando essa experiência em uma jornada bem indigesta.

"3096 Dias" é uma adaptação do livro autobiográfico da austríaca Natascha Kampusch e conta a história de um dos mais brutais casos de sequestro já reportados pela mídia: em 2 de março de 1998, aos 10 anos de idade, Natascha (Amelia Pidgeon e depois Antonia Campbell-Hughes) foi capturada por um homem, Wolfgang Priklopil (Thure Lindhardt), que a manteve em cativeiro por mais de oito anos – ou 3096 dias, precisamente. Confira o trailer:

Outra referência que logo vem a cabeça é o ótimo "O Quarto de Jack", filme de 2015 com Brie Larson e Jacob Tremblay. Acontece que nessa produção alemã, a história não "romantiza" a situação, ela simplesmente expõe os horrores do cativeiro e de ter que se relacionar tanto tempo com um psicopata. Um dos méritos de Ruth Toma, roteirista do filme, foi capturar os momentos mais críticos dessa experiência e transformar em uma narrativa que usa e abusa da expectativa para nos manter grudados na tela. A diretora Sherry Hormann impõe um conceito muito autoral ao filme, trabalhando a narrativa sem se preocupar em dar todas as respostas ou motivações para cada ação - o que traz um caráter independente muito interessante para o filme. A ideia, aliás, é justamente criar uma espécie de confusão com o passar do tempo - algo muito claro e palpável por se tratar de uma história real que foi pautada em anos de abuso psicológico e sexual.

A criação da ambientação é sensacional. O cenário que reconstrói o porão (ou melhor, o cubículo) em que Natascha ficou presa por tanto tempo já ajuda a entender a mente doentia de Wolfgang - saber que ele construiu o local com as próprias mãos, pensando no difícil acesso, em ser um lugar sem janelas, sem cama e sem acesso as condições básicas de higiene, incomoda demais. O desenho de som também merece ser mencionado: reparem que em determinado momento do filme, só de escutar a porta que dá acesso ao porão sendo aberta, já nos causa uma péssima sensação. Outro detalhe: em muitos momentos o silêncio estará tão presente que chegamos a escutar o coração de Natascha batendo, bem ao fundo, quase imperceptível - é um grande trabalho de sonorização.

O elenco também está incrível, mas a última cena da Amelia Pidgeon (a Natascha criança) é de cortar o coração - um monólogo digno de aplausos. O trabalho corporal de Antonia Campbell-Hughes, transformando sua personagem em uma adolescente esquálida e sem vida é impressionante - prestem atenção no olhar e em como ela também se relaciona com todas as oportunidades de sair daquela situação: seja fugindo, se matando, esfaqueando o Wolfgang, etc. O trabalho de Campbell-Hughes me lembrou muito a performance premiada de Shira Haas em "Nada Ortodoxa". Obviamente que Thure Lindhardt está sensacional como Wolfgang Priklopil, principalmente quando passa a expor os problemas de sexualidade do personagem: seja em um ataque de pânico silencioso em uma boate ou até quando obriga Natascha usar cuecas e andar sem camisa em casa, como se fosse um garoto.

"3096 Dias", deixando um pouco de lado sua relação e fidelidade com um livro rico em detalhes, é possível afirmar que o filme entrega o que promete e com louvor: não é fácil adaptar uma obra como essa, com uma uma linha cronológica tão extensa e importante, ainda retratar uma história real tão marcante e complexa, repleta de frieza e crueldade. Olha, é um recorte do que existe de pior no ser humano doente e covarde!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

A Acusação

A Acusação

"A Acusação" (ou "Le Mensonge" no original) é uma minissérie de 4 episódios que se apoia em um drama denso para discutir assuntos delicados como a pedofilia, as relações entre pais e filhos e, principalmente, o princípio da presunção de inocência.

Na trama, Claude Arbone (Daniel Auteuil) é um homem bem-sucedido com uma carreira política impecável e uma família aparentemente feliz. Ele tem sua vida virada de cabeça para baixo quando seu neto de nove anos, Lucas (Alex Terrier-Thiebaux), o acusa de estupro. Diante do escândalo e de uma longa jornada para provar sua inocência, durante 15 anos, Claude passa a ver sua família completamente dividida até que algumas verdades começam a surgir. Confira o trailer (em francês):

Comandada pelo Vincent Garenq, diretor que construiu sua carreira em documentários, a minissérie muitas vezes se apropria da ficção para elevar o tom dramático dando a exata noção da seriedade de uma acusação como essa e também como toda sociedade (e todo o sistema) lida com ela - algo como vimos no excelente "A Caça"de Thomas Vinterberg.

Talvez sem tanta profundidade e esmero cinematográfico como na produção dinamarquesa que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" em 2014, "Le Mensonge" sofre com o próprio conceito narrativo que se propõe a usar - o recorte temporal é tão extenso que mesmo com uma edição competente, alguns momentos da história se tornam repetitivos, enquanto outros parecem servir apenas como trampolim para um final que soa previsível. O interessante porém, é que Garenq a todo momento fomenta a dúvida, mesmo que os fatos indiquem um caminho mais plausível perante a situação. Na verdade aqui não existe a intenção de surpreender a audiência com uma revelação bombástica, mas sim de colocar as peças na mesa e nos provocar o julgamento enquanto supomos o que, de fato, aconteceu.

Como na inglesa "Em Prantos", "A Acusação" parece uma versão roteirizada de algo que aconteceu na vida real - não é o caso, mas poderia ter sido. Essa sensação nos acompanha nos quatro episódios e nos mantém presos em uma trama bastante envolvente e atual. Mesmo que você perceba um ou outro vacilo narrativo (e estético), como nas passagens em que Claude está no tribunal onde a história poderia ter sido melhor desenvolvida ou no romance de Lucas (Victor Meutelet), quando adulto, que é totalmente dispensável, te garanto que em nada prejudicará sua experiência e no final tudo se encaixará perfeitamente como um bom entretenimento, bem realizado e com temas tão pertinentes para ótimas discussões. 

Vale seu play! 

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"A Acusação" (ou "Le Mensonge" no original) é uma minissérie de 4 episódios que se apoia em um drama denso para discutir assuntos delicados como a pedofilia, as relações entre pais e filhos e, principalmente, o princípio da presunção de inocência.

Na trama, Claude Arbone (Daniel Auteuil) é um homem bem-sucedido com uma carreira política impecável e uma família aparentemente feliz. Ele tem sua vida virada de cabeça para baixo quando seu neto de nove anos, Lucas (Alex Terrier-Thiebaux), o acusa de estupro. Diante do escândalo e de uma longa jornada para provar sua inocência, durante 15 anos, Claude passa a ver sua família completamente dividida até que algumas verdades começam a surgir. Confira o trailer (em francês):

Comandada pelo Vincent Garenq, diretor que construiu sua carreira em documentários, a minissérie muitas vezes se apropria da ficção para elevar o tom dramático dando a exata noção da seriedade de uma acusação como essa e também como toda sociedade (e todo o sistema) lida com ela - algo como vimos no excelente "A Caça"de Thomas Vinterberg.

Talvez sem tanta profundidade e esmero cinematográfico como na produção dinamarquesa que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" em 2014, "Le Mensonge" sofre com o próprio conceito narrativo que se propõe a usar - o recorte temporal é tão extenso que mesmo com uma edição competente, alguns momentos da história se tornam repetitivos, enquanto outros parecem servir apenas como trampolim para um final que soa previsível. O interessante porém, é que Garenq a todo momento fomenta a dúvida, mesmo que os fatos indiquem um caminho mais plausível perante a situação. Na verdade aqui não existe a intenção de surpreender a audiência com uma revelação bombástica, mas sim de colocar as peças na mesa e nos provocar o julgamento enquanto supomos o que, de fato, aconteceu.

Como na inglesa "Em Prantos", "A Acusação" parece uma versão roteirizada de algo que aconteceu na vida real - não é o caso, mas poderia ter sido. Essa sensação nos acompanha nos quatro episódios e nos mantém presos em uma trama bastante envolvente e atual. Mesmo que você perceba um ou outro vacilo narrativo (e estético), como nas passagens em que Claude está no tribunal onde a história poderia ter sido melhor desenvolvida ou no romance de Lucas (Victor Meutelet), quando adulto, que é totalmente dispensável, te garanto que em nada prejudicará sua experiência e no final tudo se encaixará perfeitamente como um bom entretenimento, bem realizado e com temas tão pertinentes para ótimas discussões. 

Vale seu play! 

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A Casa que Jack Construiu

Lars Von Trier (de "Melancolia") nos presenteia com algo insano e incandescente. Uma aula de como desenvolver personagens complexos, metáforas imponentes e um roteiro genial!

Um dia, durante um encontro fortuito na estrada, o arquiteto Jack (Matt Dillon) mata uma mulher. Este evento provoca um prazer inesperado no personagem, que passa a assassinar dezenas de pessoas ao longo de doze anos. Devido ao descaso das autoridades e a indiferença dos habitantes locais, o criminoso não encontra dificuldade em planejar seus crimes, executa-los ao olhar de todos e guardar os cadáveres num grande frigorífico. Tempos mais tarde, ele compartilha os seus casos mais marcantes com o sábio Virgílio (Bruno Ganz) em uma jornada rumo ao inferno. Confira o trailer:

Indubitavelmente Lars Von Trier nos choca! Uma mente doentia? Um gênio incompreendido? Talvez seja a mistura dos dois, porém, não podemos ter a audácia de mencionar que ele não engrandece o cinema em geral - esqueça seus escândalos pessoais, estou focando no artista, e com esse foco, ele figura na prateleira de cima dos diretores deste século. Sempre será um desperdício encararmos qualquer filme de Von Trier com uma mente fechada, objetiva e crua. O alcance mensurado por suas hipérboles sistemáticas conceituais sobre religião, credo e cor nos inflamam e nos causam estranheza e repúdio, no entanto, se olharmos com olhos de libertação ou até, uma libertinagem utópica, talvez a compreensão de seus filmes passam a ser mais “mastigáveis” para o grande público.

O modo com que Lars molda essa narrativa é grosseiramente genial. O clímax imposto em cada passagem de incidentes, é fluida e intrigante. A maneira como é diluída o tesão no âmago do protagonista psicopata que usa e abusa de diálogos efervescentes e metáforas distópicas, com o único e belo intuito de colecionar corpos, é instigante e soberbo. A violência gráfica é essencial, observamos que o diretor não quer nos chocar, e sim passar a mensagem de que o mundo caminha para o limbo social - o nocivo está presente em cada canto, no entanto, sua perceptividade em demonstrar as fraquezas do protagonista, aproximando ele da audiência, nos causa medo, e esse receio não é deferido pelas atrocidades mostradas, e sim por não sabermos quem é quem no mundo de hoje, não há nada mais aterrorizante do que não saber em quem confiar, a maldade pode estar ao seu lado.

Mas o mal tem cura? O desejo de esfolar, decapitar, estrangular é subversivo? Nascemos com isso ou vamos lapidando esse ódio continuo sobre o próximo com o passar do tempo? Lars Von Trier usa a arte como ponto de ebulição. O mal é derivado desse ostracismo artístico. O diretor nos presenteia com um filme asqueroso, impactante, lindo e reflexivo. Afinal, o inferno é alcançado após a morte ou já estamos nele? Assistam, é uma viagem existencial, quase espectral, até a podridão humana!

Um serial Killer com traços normais. Você conseguiria reconhecer um assassino em série? Eu aposto que não! "A Casa que Jack Construiu" é uma obra-prima!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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Lars Von Trier (de "Melancolia") nos presenteia com algo insano e incandescente. Uma aula de como desenvolver personagens complexos, metáforas imponentes e um roteiro genial!

Um dia, durante um encontro fortuito na estrada, o arquiteto Jack (Matt Dillon) mata uma mulher. Este evento provoca um prazer inesperado no personagem, que passa a assassinar dezenas de pessoas ao longo de doze anos. Devido ao descaso das autoridades e a indiferença dos habitantes locais, o criminoso não encontra dificuldade em planejar seus crimes, executa-los ao olhar de todos e guardar os cadáveres num grande frigorífico. Tempos mais tarde, ele compartilha os seus casos mais marcantes com o sábio Virgílio (Bruno Ganz) em uma jornada rumo ao inferno. Confira o trailer:

Indubitavelmente Lars Von Trier nos choca! Uma mente doentia? Um gênio incompreendido? Talvez seja a mistura dos dois, porém, não podemos ter a audácia de mencionar que ele não engrandece o cinema em geral - esqueça seus escândalos pessoais, estou focando no artista, e com esse foco, ele figura na prateleira de cima dos diretores deste século. Sempre será um desperdício encararmos qualquer filme de Von Trier com uma mente fechada, objetiva e crua. O alcance mensurado por suas hipérboles sistemáticas conceituais sobre religião, credo e cor nos inflamam e nos causam estranheza e repúdio, no entanto, se olharmos com olhos de libertação ou até, uma libertinagem utópica, talvez a compreensão de seus filmes passam a ser mais “mastigáveis” para o grande público.

O modo com que Lars molda essa narrativa é grosseiramente genial. O clímax imposto em cada passagem de incidentes, é fluida e intrigante. A maneira como é diluída o tesão no âmago do protagonista psicopata que usa e abusa de diálogos efervescentes e metáforas distópicas, com o único e belo intuito de colecionar corpos, é instigante e soberbo. A violência gráfica é essencial, observamos que o diretor não quer nos chocar, e sim passar a mensagem de que o mundo caminha para o limbo social - o nocivo está presente em cada canto, no entanto, sua perceptividade em demonstrar as fraquezas do protagonista, aproximando ele da audiência, nos causa medo, e esse receio não é deferido pelas atrocidades mostradas, e sim por não sabermos quem é quem no mundo de hoje, não há nada mais aterrorizante do que não saber em quem confiar, a maldade pode estar ao seu lado.

Mas o mal tem cura? O desejo de esfolar, decapitar, estrangular é subversivo? Nascemos com isso ou vamos lapidando esse ódio continuo sobre o próximo com o passar do tempo? Lars Von Trier usa a arte como ponto de ebulição. O mal é derivado desse ostracismo artístico. O diretor nos presenteia com um filme asqueroso, impactante, lindo e reflexivo. Afinal, o inferno é alcançado após a morte ou já estamos nele? Assistam, é uma viagem existencial, quase espectral, até a podridão humana!

Um serial Killer com traços normais. Você conseguiria reconhecer um assassino em série? Eu aposto que não! "A Casa que Jack Construiu" é uma obra-prima!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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A Escada

Quando assisti a minissérie documental da Netflix "The Staircase" em 2018 o subgênero de "true crime" ainda estava se estabelecendo em um mercado de streaming que ainda engatinhava. A Netflix surfava no grande sucesso de "Making a Murderer" e a HBO no surpreendente final de "The Jinx", porém existia um grande diferencial nessa nova narrativa: 80% dos episódios focavam no julgamento e nas estratégias de defesa de Michael Peterson, escritor americano suspeito de assassinar sua mulher Kathleen. A história, naquele momento já era incrível, porém quatro anos depois a HBO lança uma visão, em formato de ficção, um pouco mais intima sobre o caso, ampliando nossa percepção sobre os personagens envolvidos e nos trazendo informações que o documentário não teve como explorar - e te garanto: funciona demais!

"A Escada" acompanha Michael Peterson (Colin Firth), um famoso escritor de suspense criminal acusado de assassinar brutalmente a própria esposa, Kathleen Peterson (Toni Collette). No ano de 2001, Peterson ligou para a polícia avisando que sua mulher havia sofrido um acidente, caindo da escada enquanto estava bêbada. Mas as investigações constataram que ela foi espancada até a morte e que ele mudou a cena do crime para criar a imagem de um acidente doméstico. Com a exposição na mídia, vários segredos de família foram desenterrados, incluindo a possibilidade de infidelidade, e a cada nova informação o público foi descobrindo que o casamento de Michael e Kathleen estava longe de ser perfeito. Rapidamente, Michael se tornou o único suspeito do crime e acabou sentenciado a vários anos de prisão. Ele lutou na justiça ferozmente por anos para provar sua inocência, mas todas as peças do crime apontava para sua culpa. Confira o trailer:

Criada e dirigida pelo americano Antonio Campos (de "The Sinner" e "O diabo de cada dia") a minissérie da HBO acerta ao contar essa história pela perspectiva de quem a tornou um sucesso - o diretor do documentário da Netflix, Jean-Xavier de Lestrade. Lançado originalmente em 2004 e ganhando novas imagens entre 2013 e 2018 quando o documentário saiu de 8 horas de material para mais de 13 horas, o registro feito por Lestrade foi além de um fator de admiração para Campos, como virou parte da história de Michael Peterson. O fascínio do diretor pelo caso fez com que ele usasse dessa fonte riquíssima para dramatizar toda a história, com uma abordagem mais imparcial e oferecendo um olhar inédito para a todas as dúvidas que o documentário não conseguiu responder.

A imparcialidade, aliás, é um dos trunfos de "A Escada", pois a cada dois episódios, sempre no seu final, assistimos o que aconteceu na noite do crime sob a perspectiva de uma versão específica. São basicamente 4 versões que ilustram todas as dúvidas e certezas dos envolvidos nos bastidores do julgamento de Michael Peterson. Essa dinâmica narrativa imposta por Campos é tão fascinante quanto viciante - nossa ânsia por respostas refletem exatamente a atmosfera de tensão e angústia de toda sociedade de Durham, na Carolina do Norte (onde o suposto crime aconteceu).

O elenco é primoroso: Colin Firth e Toni Collette, indicados ao Emmy de 2022 pelas performances, estão exemplares. Mas também não poderia deixar de destacar o trabalho de Vincent Vermignon (como o diretor Jean-Xavier), Juliette Binoche (como a montadora do documentário, Sophie Broussard) e Michael Stuhlbarg (como o advogado David Rudolf). Outro destaque, sem dúvida, diz respeito a reconstrução daqueles cenários - mérito de Michael Shaw (de "Billions"). A montagem e a trilha sonora também são primorosas. Graças a qualidade de todos esses elementos, em muitos momentos temos a exata impressão que as imagens saíram do documentário de Jean-Xavier com uma veracidade que a ficção seria incapaz de reproduzir!

Dito isso, fica fácil afirmar: essa é uma das melhores minisséries de 2022 e se você gosta de "American Crime Story", certamente vai se apaixonar por "A Escada", pois o conceito narrativo é basicamente o mesmo, porém com o selo adicional de qualidade HBO! Vale muito o seu play!

PS: a título de recomendação, assista a minissérie documental "The Staircase" da Neflix antes do play em "A Escada"!

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Quando assisti a minissérie documental da Netflix "The Staircase" em 2018 o subgênero de "true crime" ainda estava se estabelecendo em um mercado de streaming que ainda engatinhava. A Netflix surfava no grande sucesso de "Making a Murderer" e a HBO no surpreendente final de "The Jinx", porém existia um grande diferencial nessa nova narrativa: 80% dos episódios focavam no julgamento e nas estratégias de defesa de Michael Peterson, escritor americano suspeito de assassinar sua mulher Kathleen. A história, naquele momento já era incrível, porém quatro anos depois a HBO lança uma visão, em formato de ficção, um pouco mais intima sobre o caso, ampliando nossa percepção sobre os personagens envolvidos e nos trazendo informações que o documentário não teve como explorar - e te garanto: funciona demais!

"A Escada" acompanha Michael Peterson (Colin Firth), um famoso escritor de suspense criminal acusado de assassinar brutalmente a própria esposa, Kathleen Peterson (Toni Collette). No ano de 2001, Peterson ligou para a polícia avisando que sua mulher havia sofrido um acidente, caindo da escada enquanto estava bêbada. Mas as investigações constataram que ela foi espancada até a morte e que ele mudou a cena do crime para criar a imagem de um acidente doméstico. Com a exposição na mídia, vários segredos de família foram desenterrados, incluindo a possibilidade de infidelidade, e a cada nova informação o público foi descobrindo que o casamento de Michael e Kathleen estava longe de ser perfeito. Rapidamente, Michael se tornou o único suspeito do crime e acabou sentenciado a vários anos de prisão. Ele lutou na justiça ferozmente por anos para provar sua inocência, mas todas as peças do crime apontava para sua culpa. Confira o trailer:

Criada e dirigida pelo americano Antonio Campos (de "The Sinner" e "O diabo de cada dia") a minissérie da HBO acerta ao contar essa história pela perspectiva de quem a tornou um sucesso - o diretor do documentário da Netflix, Jean-Xavier de Lestrade. Lançado originalmente em 2004 e ganhando novas imagens entre 2013 e 2018 quando o documentário saiu de 8 horas de material para mais de 13 horas, o registro feito por Lestrade foi além de um fator de admiração para Campos, como virou parte da história de Michael Peterson. O fascínio do diretor pelo caso fez com que ele usasse dessa fonte riquíssima para dramatizar toda a história, com uma abordagem mais imparcial e oferecendo um olhar inédito para a todas as dúvidas que o documentário não conseguiu responder.

A imparcialidade, aliás, é um dos trunfos de "A Escada", pois a cada dois episódios, sempre no seu final, assistimos o que aconteceu na noite do crime sob a perspectiva de uma versão específica. São basicamente 4 versões que ilustram todas as dúvidas e certezas dos envolvidos nos bastidores do julgamento de Michael Peterson. Essa dinâmica narrativa imposta por Campos é tão fascinante quanto viciante - nossa ânsia por respostas refletem exatamente a atmosfera de tensão e angústia de toda sociedade de Durham, na Carolina do Norte (onde o suposto crime aconteceu).

O elenco é primoroso: Colin Firth e Toni Collette, indicados ao Emmy de 2022 pelas performances, estão exemplares. Mas também não poderia deixar de destacar o trabalho de Vincent Vermignon (como o diretor Jean-Xavier), Juliette Binoche (como a montadora do documentário, Sophie Broussard) e Michael Stuhlbarg (como o advogado David Rudolf). Outro destaque, sem dúvida, diz respeito a reconstrução daqueles cenários - mérito de Michael Shaw (de "Billions"). A montagem e a trilha sonora também são primorosas. Graças a qualidade de todos esses elementos, em muitos momentos temos a exata impressão que as imagens saíram do documentário de Jean-Xavier com uma veracidade que a ficção seria incapaz de reproduzir!

Dito isso, fica fácil afirmar: essa é uma das melhores minisséries de 2022 e se você gosta de "American Crime Story", certamente vai se apaixonar por "A Escada", pois o conceito narrativo é basicamente o mesmo, porém com o selo adicional de qualidade HBO! Vale muito o seu play!

PS: a título de recomendação, assista a minissérie documental "The Staircase" da Neflix antes do play em "A Escada"!

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A Extorsão

Se você gosta do estilo argentino de construir uma trama razoavelmente complexa, cheia de mistérios e com um drama consistente bem na linha de "O Segredo dos seus Olhos", pode abrir um sorriso, pois é exatamente isso que você vai encontrar em "A Extorsão"- aliás, o premiado diretor de "O Segredo dos seus Olhos", Juan José Campanella é um dos produtores executivos aqui. Com uma trama muito bem costurada, esse filme dirigido pelo talentoso Martino Zaidelis (vencedor do Festival de Nova York em 2022 com "Los Enviados") é um verdadeiro e fascinante mergulho nos obscuros e perigosos subterrâneos da corrupção e da extorsão política pelos olhos de quem é chantageado - e diga-se de passagem: o "chantageado" Guillermo Francella dá uma verdadeira aula como Alejandro Petrossián.

Na trama, Alejandro, um experiente piloto de avião à beira da sua aposentadoria, é obrigado a colaborar com os serviços de inteligência de seu país para evitar ser punido por um erro grave que cometeu no trabalho e que impactaria diretamente na sua vida pessoal. Sua missão: transportar misteriosas malas na rota Buenos Aires / Madrid, sem saber o que está levando. Confira o trailer:

O roteiro, sem a menor dúvida, é um dos pontos altos de "A Extorsão"- embora em alguns momentos ele caia na tentação de querer explicar demais para mostrar que tudo foi muito bem pensado para fazer todo sentido. Escrito com maestria pelo jovem Emanuel Diez (também de "Los Enviados"), o texto mantém uma mistura muito equilibrada de mistério, ação e drama, criando uma atmosfera de tensão e intriga que nos envolve de uma maneira muito particular - a sensação de não saber "o que está por vir", típico de filmes argentinos e espanhóis de uma nova geração de diretores, nos companha durante os 120 minutos sem pausa para nos deixar respirar e isso é muito bacana. Os diálogos são dinâmicos e muito bem elaborados, no entanto é no subtexto que o filme ganha camadas mais profundas e que impactam diretamente nos personagens - e é aí que eles começam a brilhar.

Francella (do impagável "Minha Obra-Prima") é indiscutível. No entanto, o filme ainda traz ótimas surpresas como o Pablo Rago (o corrupto Saavedra) e o Guillermo Arengo (o simpático, mas pouco confiável, Fernando Marconi). Veja, todo elenco entrega performances muito interessantes, dando vida aos personagens pelo viés da imperfeição, porém com muita humanidade - se Alejandro defende suas motivações genuínas para aceitar a missão imposta por Saavedra, ele só está nessa situação porque em algum momento ele também cometeu erros que colocam em dúvida seu caráter. "A Extorsão" provoca justamente essa reflexão: o que faríamos se tivéssemos que aceitar esse tipo de missão? 

Em conclusão, "La Extorsión" (no original) é uma agradável surpresa - uma experiência cinematográfica empolgante e provocativa bem no estilo Campanella. Com uma narrativa bem escrita, performances notáveis e uma direção impecável, o filme destaca-se como uma das melhores produções argentinas desses tempos mais recentes. Então, se você é fã desse tipo de filme, não deixe de assistir, pois seu entretenimento está mais que garantido.

Vale seu play!

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Se você gosta do estilo argentino de construir uma trama razoavelmente complexa, cheia de mistérios e com um drama consistente bem na linha de "O Segredo dos seus Olhos", pode abrir um sorriso, pois é exatamente isso que você vai encontrar em "A Extorsão"- aliás, o premiado diretor de "O Segredo dos seus Olhos", Juan José Campanella é um dos produtores executivos aqui. Com uma trama muito bem costurada, esse filme dirigido pelo talentoso Martino Zaidelis (vencedor do Festival de Nova York em 2022 com "Los Enviados") é um verdadeiro e fascinante mergulho nos obscuros e perigosos subterrâneos da corrupção e da extorsão política pelos olhos de quem é chantageado - e diga-se de passagem: o "chantageado" Guillermo Francella dá uma verdadeira aula como Alejandro Petrossián.

Na trama, Alejandro, um experiente piloto de avião à beira da sua aposentadoria, é obrigado a colaborar com os serviços de inteligência de seu país para evitar ser punido por um erro grave que cometeu no trabalho e que impactaria diretamente na sua vida pessoal. Sua missão: transportar misteriosas malas na rota Buenos Aires / Madrid, sem saber o que está levando. Confira o trailer:

O roteiro, sem a menor dúvida, é um dos pontos altos de "A Extorsão"- embora em alguns momentos ele caia na tentação de querer explicar demais para mostrar que tudo foi muito bem pensado para fazer todo sentido. Escrito com maestria pelo jovem Emanuel Diez (também de "Los Enviados"), o texto mantém uma mistura muito equilibrada de mistério, ação e drama, criando uma atmosfera de tensão e intriga que nos envolve de uma maneira muito particular - a sensação de não saber "o que está por vir", típico de filmes argentinos e espanhóis de uma nova geração de diretores, nos companha durante os 120 minutos sem pausa para nos deixar respirar e isso é muito bacana. Os diálogos são dinâmicos e muito bem elaborados, no entanto é no subtexto que o filme ganha camadas mais profundas e que impactam diretamente nos personagens - e é aí que eles começam a brilhar.

Francella (do impagável "Minha Obra-Prima") é indiscutível. No entanto, o filme ainda traz ótimas surpresas como o Pablo Rago (o corrupto Saavedra) e o Guillermo Arengo (o simpático, mas pouco confiável, Fernando Marconi). Veja, todo elenco entrega performances muito interessantes, dando vida aos personagens pelo viés da imperfeição, porém com muita humanidade - se Alejandro defende suas motivações genuínas para aceitar a missão imposta por Saavedra, ele só está nessa situação porque em algum momento ele também cometeu erros que colocam em dúvida seu caráter. "A Extorsão" provoca justamente essa reflexão: o que faríamos se tivéssemos que aceitar esse tipo de missão? 

Em conclusão, "La Extorsión" (no original) é uma agradável surpresa - uma experiência cinematográfica empolgante e provocativa bem no estilo Campanella. Com uma narrativa bem escrita, performances notáveis e uma direção impecável, o filme destaca-se como uma das melhores produções argentinas desses tempos mais recentes. Então, se você é fã desse tipo de filme, não deixe de assistir, pois seu entretenimento está mais que garantido.

Vale seu play!

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A Garota Desconhecida

Uma co-produção entre Bélgica e França, "La fille inconnue" (título original) foi indicado para a Palme d'Or em 2016 e conta a história de uma jovem médica chamada Jenny (Adèle Haenel), que certa noite resolve não atender ao interfone do consultório pois o horário de expediente já havia terminado. Acontece que na manhã seguinte, ela é informada pela polícia que uma garota não identificada foi encontrada morta próximo ao seu local de trabalho. Sentindo-se culpada, Jenny passa a acreditar que poderia ter salvado a vítima se tivesse atendido sua chamada e como uma forma de redenção (ou perdão), ela inicia sua busca incessante pela verdade sobre o ocorrido. Confira o trailer:

O roteiro é inteligente em discutir algumas questões morais baseado na necessidade da protagonista em diminuir o peso de uma responsabilidade que ela acredita ser sua, o fato de que a garota não teria morrido se ela tive agido diferente só fortalece dois elementos que regem suas ações em todo o filme e que nos convidam à reflexão: o poder da culpa e as escolhas que fazemos sem nem ao menos pensar nas consequências. O problema é que o mesmo roteiro que entrega um subtexto interessante, falha ao querer dar a mesma importância aos dramas paralelos, deixando com que um conceito narrativo bem elaborado se esvazie na superficialidade com que os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, diretores e roteiristas, tratam seus personagens: os pais do estagiário de Jenny, Bryan (Louka Minnella), que tentam reatar o casamento e o trauma de Julien (Olivier Bonnaud) com o pai abusivo, são ótimos exemplos de tramas que não levam a lugar algum!

Embora simples, o filme é muito bem realizado, bem dirigido e tem uma fotografia bem peculiar (mérito de Alain Marcoen) e alinhada com o conceito estético marcante dos irmãos Dardenne, porém essa falta de foco, quase um emaranhado de sub-tramas sem muita conexão com o que realmente importa, prejudicam um pouco nossa percepção sobre o filme. Não que seja ruim, ele não é, mas ao assumir seu caráter independente, transformando algo que poderia ter a força de um thriller investigativo ao melhor estilo "Garota Exemplar" em algo muito mais conceitual, "A Garota Desconhecida" se torna interessante para um publico bastante nichado.

O assinante que se apegar a grife dos irmãos Dardenne: Jean-Pierre, de 65 anos, e Luc, de 62, ambos com duas Palmas de Ouro por "Rosetta" em 1999 e por "A Criança" em 2005 - além de mais de 50 prêmios nos maiores festivais de cinema do mundo e cujo maior sucesso recente foi "Dois Dias, uma Noite" com Marion Cotillard indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2015 por sua personagem no filme, certamente vai relevar muito do que comentei nesse review, mas para você que busca um filme de investigação ou até um drama melhor estruturado, mesmo que comercial, pode ter certeza que existem melhores opções no seu serviço de streaming!

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Uma co-produção entre Bélgica e França, "La fille inconnue" (título original) foi indicado para a Palme d'Or em 2016 e conta a história de uma jovem médica chamada Jenny (Adèle Haenel), que certa noite resolve não atender ao interfone do consultório pois o horário de expediente já havia terminado. Acontece que na manhã seguinte, ela é informada pela polícia que uma garota não identificada foi encontrada morta próximo ao seu local de trabalho. Sentindo-se culpada, Jenny passa a acreditar que poderia ter salvado a vítima se tivesse atendido sua chamada e como uma forma de redenção (ou perdão), ela inicia sua busca incessante pela verdade sobre o ocorrido. Confira o trailer:

O roteiro é inteligente em discutir algumas questões morais baseado na necessidade da protagonista em diminuir o peso de uma responsabilidade que ela acredita ser sua, o fato de que a garota não teria morrido se ela tive agido diferente só fortalece dois elementos que regem suas ações em todo o filme e que nos convidam à reflexão: o poder da culpa e as escolhas que fazemos sem nem ao menos pensar nas consequências. O problema é que o mesmo roteiro que entrega um subtexto interessante, falha ao querer dar a mesma importância aos dramas paralelos, deixando com que um conceito narrativo bem elaborado se esvazie na superficialidade com que os irmãos Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, diretores e roteiristas, tratam seus personagens: os pais do estagiário de Jenny, Bryan (Louka Minnella), que tentam reatar o casamento e o trauma de Julien (Olivier Bonnaud) com o pai abusivo, são ótimos exemplos de tramas que não levam a lugar algum!

Embora simples, o filme é muito bem realizado, bem dirigido e tem uma fotografia bem peculiar (mérito de Alain Marcoen) e alinhada com o conceito estético marcante dos irmãos Dardenne, porém essa falta de foco, quase um emaranhado de sub-tramas sem muita conexão com o que realmente importa, prejudicam um pouco nossa percepção sobre o filme. Não que seja ruim, ele não é, mas ao assumir seu caráter independente, transformando algo que poderia ter a força de um thriller investigativo ao melhor estilo "Garota Exemplar" em algo muito mais conceitual, "A Garota Desconhecida" se torna interessante para um publico bastante nichado.

O assinante que se apegar a grife dos irmãos Dardenne: Jean-Pierre, de 65 anos, e Luc, de 62, ambos com duas Palmas de Ouro por "Rosetta" em 1999 e por "A Criança" em 2005 - além de mais de 50 prêmios nos maiores festivais de cinema do mundo e cujo maior sucesso recente foi "Dois Dias, uma Noite" com Marion Cotillard indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 2015 por sua personagem no filme, certamente vai relevar muito do que comentei nesse review, mas para você que busca um filme de investigação ou até um drama melhor estruturado, mesmo que comercial, pode ter certeza que existem melhores opções no seu serviço de streaming!

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Abutres

É até natural imaginar que todo drama mais, digamos, denso e obscuro com o ator argentino Ricardo Darín nos remeta ao imperdível "O Segredo dos Seus Olhos" ou até ao menos inspirado (mas muito bom) "Tese Sobre um Homicídio". No entanto em "Abutres" a linha narrativa é um pouco diferente, embora em um primeiro olhar possa até nos causar certa identificação com um mistério policial, mas o fato é que o filme do diretor Pablo Trapero (de "Elefante Branco") é muito mais uma jornada íntima de um personagem que vive no caos, mas que busca encontrar um caminho para ser feliz a qualquer preço - algo como vimos em "Jóias Brutas" (aqui um pouco mais cadenciado, sem aquela adrenalina alucinante). Com um olhar crítico e provocador sobre a natureza humana, esse thriller mergulha nas profundezas da moralidade, nos deixando tão intrigado quanto perturbado, com aquela sensação de que "se está ruim, a tendência é piorar ainda mais"!

Sosa (Ricardo Darin) é um advogado que perdeu sua licença, mas que está envolvido em um esquema bastante sombrio e muito lucrativo - ele literalmente caça vítimas de acidentes de trânsito para obter uma parte do seguro, mesmo que para isso seja preciso fraudar todo o processo. Cheio de dividas, as coisas se complicam ainda mais quando ele se depara com a bela Luján (Martina Gusman), uma paramédica que está disposta a transforma-lo em um homem melhor. Confira o trailer:

Talvez o que torna "Abutres" verdadeiramente interessante é a forma como Trapero cria uma atmosfera que equilibra a tensão e o suspense, ao mesmo tempo em que mergulha nas complexidades morais de personagens realmente profundos - mesmo que inicialmente eles soem até estereotipados. Existe um tom de controversa muito bem desenvolvido no roteiro escrito pelo Alejandro Fadel, pelo Martín Mauregui e pelo Santiago Mitre (todos de "Leonera" e o último de "Argentina, 1985"), que aproxima, mas também repele, Sosa e Luján, já que seus trabalhos são completamente opostos: enquanto ela tenta a todo custo salvar a vida de seus pacientes, ele tenta lucrar com a possível morte deles. 

É aí que, mais uma vez, Ricardo Darín brilha. O ator nos oferece uma performance memorável, transmitindo com maestria a dualidade moral de seu personagem - que mais uma vez vai te conectar com o trabalho magnifico de Adam Sandler em "Jóias Brutas". Uma camada que fortalece a trama, sem dúvida, reside na tensão palpável entre os personagens de Darín e de Martina Gusmán - cada cena é um duelo construído na base da desconfiança, mas essencialmente suportado pelo afeto imediato entre eles. Outro ponto que nos marca é atmosfera urbana criada pelo diretor e ratificada com uma fotografia gélida assinada pelo Julián Apezteguia (de "O Anjo") - repare como ele captura a decadência e o desespero de uma Buenos Aires pouco acolhedora, refletindo exatamente a batalha íntima e moral do protagonista,

"Abutres" pode ter um começo mais cadenciado, um segundo ato com um desenvolvimento mais emaranhado, mas é no terceiro ato que a história vira de uma forma muito envolvente. O filme usa dos gatilhos que ele prepara durante uma hora e meia, para realmente desafiar as convenções nos minutos finais. Se você está em busca de um filme que o mantenha preso às expectativas que os personagens vão criando em cima de suas próprias falhas morais até que o perigo iminente se concretize, não perca tempo e dê o play - tenho certeza que será uma experiência que vai além do entretenimento superficial com um toque independente de qualidade e bastante autoral.

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É até natural imaginar que todo drama mais, digamos, denso e obscuro com o ator argentino Ricardo Darín nos remeta ao imperdível "O Segredo dos Seus Olhos" ou até ao menos inspirado (mas muito bom) "Tese Sobre um Homicídio". No entanto em "Abutres" a linha narrativa é um pouco diferente, embora em um primeiro olhar possa até nos causar certa identificação com um mistério policial, mas o fato é que o filme do diretor Pablo Trapero (de "Elefante Branco") é muito mais uma jornada íntima de um personagem que vive no caos, mas que busca encontrar um caminho para ser feliz a qualquer preço - algo como vimos em "Jóias Brutas" (aqui um pouco mais cadenciado, sem aquela adrenalina alucinante). Com um olhar crítico e provocador sobre a natureza humana, esse thriller mergulha nas profundezas da moralidade, nos deixando tão intrigado quanto perturbado, com aquela sensação de que "se está ruim, a tendência é piorar ainda mais"!

Sosa (Ricardo Darin) é um advogado que perdeu sua licença, mas que está envolvido em um esquema bastante sombrio e muito lucrativo - ele literalmente caça vítimas de acidentes de trânsito para obter uma parte do seguro, mesmo que para isso seja preciso fraudar todo o processo. Cheio de dividas, as coisas se complicam ainda mais quando ele se depara com a bela Luján (Martina Gusman), uma paramédica que está disposta a transforma-lo em um homem melhor. Confira o trailer:

Talvez o que torna "Abutres" verdadeiramente interessante é a forma como Trapero cria uma atmosfera que equilibra a tensão e o suspense, ao mesmo tempo em que mergulha nas complexidades morais de personagens realmente profundos - mesmo que inicialmente eles soem até estereotipados. Existe um tom de controversa muito bem desenvolvido no roteiro escrito pelo Alejandro Fadel, pelo Martín Mauregui e pelo Santiago Mitre (todos de "Leonera" e o último de "Argentina, 1985"), que aproxima, mas também repele, Sosa e Luján, já que seus trabalhos são completamente opostos: enquanto ela tenta a todo custo salvar a vida de seus pacientes, ele tenta lucrar com a possível morte deles. 

É aí que, mais uma vez, Ricardo Darín brilha. O ator nos oferece uma performance memorável, transmitindo com maestria a dualidade moral de seu personagem - que mais uma vez vai te conectar com o trabalho magnifico de Adam Sandler em "Jóias Brutas". Uma camada que fortalece a trama, sem dúvida, reside na tensão palpável entre os personagens de Darín e de Martina Gusmán - cada cena é um duelo construído na base da desconfiança, mas essencialmente suportado pelo afeto imediato entre eles. Outro ponto que nos marca é atmosfera urbana criada pelo diretor e ratificada com uma fotografia gélida assinada pelo Julián Apezteguia (de "O Anjo") - repare como ele captura a decadência e o desespero de uma Buenos Aires pouco acolhedora, refletindo exatamente a batalha íntima e moral do protagonista,

"Abutres" pode ter um começo mais cadenciado, um segundo ato com um desenvolvimento mais emaranhado, mas é no terceiro ato que a história vira de uma forma muito envolvente. O filme usa dos gatilhos que ele prepara durante uma hora e meia, para realmente desafiar as convenções nos minutos finais. Se você está em busca de um filme que o mantenha preso às expectativas que os personagens vão criando em cima de suas próprias falhas morais até que o perigo iminente se concretize, não perca tempo e dê o play - tenho certeza que será uma experiência que vai além do entretenimento superficial com um toque independente de qualidade e bastante autoral.

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Acredite em Mim: A História de Lisa McVey

Mulheres vítimas de estupro são violentadas duas vezes: uma pelo agressor, e a outra quando precisam provar que foram realmente estupradas. Isso, quando denunciam, pois na maioria dos casos elas não se sentem encorajadas para expor a violência. A ficção, seja no formato de filmes, séries ou minisséries, possui um papel social muito importante, pois denuncia o problema, dando voz a essas mulheres, promovendo o debate público e revelando como a questão é muito sensível e traumática para as vítimas.

O tema pode ser visto na excelente minissérie “Inacreditável”e agora nesse filme do Star+, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey”. As duas produções são certeiras ao provocar um sentimento de impotência e desconforto em quem assiste, pois escancara o despreparo da polícia em lidar com crimes de estupro e como isso afeta o psicológico da mulher para o resto da sua vida.

O filme apresenta um aterrorizante caso real de sequestro seguido de estupro ocorrido nos Estados Unidos, em 1984. A trama é dividida em duas partes: na primeira, mostra o rapto da adolescente Lisa McVey (Katie Douglas), e todo o tempo que ela ficou no cativeiro sendo ameaçada e violentada pelo serial killer Bobby Joe Long (Rossif Sutherland). Já na segunda parte, a história foca nos interrogatórios policiais e como a garota foi desacreditada por todos, inclusive pela própria avó (Kim Horsman). A única exceção é o detetive Larry Pinkerton (David James Elliott), que acredita no seu depoimento e decide seguir as pistas que ela deu para capturar o assassino. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Jim Donovan, profissional que construiu sua carreira na TV, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey” possui certas limitações, tanto orçamentárias, quanto artísticas, já que foi produzido a toque de caixa e sem o mesmo esmero de uma atração feita para o cinema. No entanto, a produção não decepciona e transmite a sua mensagem de maneira satisfatória - atenção para o trabalho de Katie Douglas.

Por apresentar um caso verídico com o máximo de detalhes e realismo, o roteiro de Christina Welsh provoca nosso envolvimento com a obra de uma maneira bastante intensa. Afinal, tudo que presenciamos, infelizmente, aconteceu… A experiência é de fato impactante e a conclusão que se chega é que a realidade é muito mais chocante que a ficção!

Vale a pena!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Mulheres vítimas de estupro são violentadas duas vezes: uma pelo agressor, e a outra quando precisam provar que foram realmente estupradas. Isso, quando denunciam, pois na maioria dos casos elas não se sentem encorajadas para expor a violência. A ficção, seja no formato de filmes, séries ou minisséries, possui um papel social muito importante, pois denuncia o problema, dando voz a essas mulheres, promovendo o debate público e revelando como a questão é muito sensível e traumática para as vítimas.

O tema pode ser visto na excelente minissérie “Inacreditável”e agora nesse filme do Star+, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey”. As duas produções são certeiras ao provocar um sentimento de impotência e desconforto em quem assiste, pois escancara o despreparo da polícia em lidar com crimes de estupro e como isso afeta o psicológico da mulher para o resto da sua vida.

O filme apresenta um aterrorizante caso real de sequestro seguido de estupro ocorrido nos Estados Unidos, em 1984. A trama é dividida em duas partes: na primeira, mostra o rapto da adolescente Lisa McVey (Katie Douglas), e todo o tempo que ela ficou no cativeiro sendo ameaçada e violentada pelo serial killer Bobby Joe Long (Rossif Sutherland). Já na segunda parte, a história foca nos interrogatórios policiais e como a garota foi desacreditada por todos, inclusive pela própria avó (Kim Horsman). A única exceção é o detetive Larry Pinkerton (David James Elliott), que acredita no seu depoimento e decide seguir as pistas que ela deu para capturar o assassino. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Jim Donovan, profissional que construiu sua carreira na TV, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey” possui certas limitações, tanto orçamentárias, quanto artísticas, já que foi produzido a toque de caixa e sem o mesmo esmero de uma atração feita para o cinema. No entanto, a produção não decepciona e transmite a sua mensagem de maneira satisfatória - atenção para o trabalho de Katie Douglas.

Por apresentar um caso verídico com o máximo de detalhes e realismo, o roteiro de Christina Welsh provoca nosso envolvimento com a obra de uma maneira bastante intensa. Afinal, tudo que presenciamos, infelizmente, aconteceu… A experiência é de fato impactante e a conclusão que se chega é que a realidade é muito mais chocante que a ficção!

Vale a pena!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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American Crime Story - 1ª Temporada

“American Crime Story” é uma série antológica, onde a cada temporada uma história é contada (com começo, meio e fim como uma minissérie), que derivou do grande sucesso que foi “American Horror Story”, criada pelo badalado Ryan Murphy (de “Halston”)  A diferença entre as duas, é que em "Crime Story”, como o próprio nome diz, cada temporada se baseia em um caso real, seja de assassinato ou não (tanto que o terceiro ano da série focou no escândalo envolvendo o ex presidente Bill Clinton e Mônica Lewinsky).

Nessa primeira temporada, acompanhamos o advogado Robert Shapiro (John Travolta) reunindo um time de estrelas para defender o ex-astro da NFL, OJ Simpson (Cuba Gooding Jr.). Os advogados foram chamados 13 dias depois dos assassinatos de Nicole Brown Simpson, ex-esposa de OJ e Ronald Lyle Goldman, um amigo que foi até a casa de Nicole para, supostamente, devolver um pertence da mãe dela. O interessante porém, é que depois do crime, todas as provas recolhidas pela policia não diziam outra coisa: OJ era culpado. Confira o trailer:

Embora fosse tão nítido a culpa do ex jogador de futebol americano, esse não era um caso comum - o envolvido era famoso, amado por todos e ainda era negro. A complexidade está em uma trama que conta uma história de maneira muito clara, não deixando dúvidas sobre quem foi o verdadeiro culpado, mas é na atuação de Cuba Gooding Jr., tão convincente, que por vezes você também pode ficar em dúvida se ele era realmente o assassino.

A trama frenética sempre está em movimento, afinal em um caso como esse não existiria tempo para respirar, tudo acontece muito rápido e toma proporções inimagináveis. É um turbilhão de emoções (e de discussões culturais) para todos os personagens envolvidos, e principalmente para nós como audiência. Para se ter uma ideia, uma revista foi capaz de  "embranquecer" a figura de O.J. Simpson em uma capa de revista como se isso radicasse sua inocência - é quase surreal, mas acreditem, tudo isso realmente aconteceu.

A atriz Sarah Paulson, também foi uma escolha mais que certa para interpretar a promotora de justiça Marcia Clark - ela sempre foi muito assediada pela mídia, pelos seus companheiros de trabalho, especialmente porque nunca se preocupava com a aparência como outras mulheres, e para esses homens isso era quase de outro mundo. Ao dar vida para uma mulher que não tinha uma vida fácil, nem profissional e muito menos pessoal, Paulson brilhou, carregando nuances necessárias para transmitir todas as inseguranças da personagem com muita sensibilidade - esse performance, inclusive, lhe rendeu o Emmy de Melhor Atriz em 2016.

“American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson” é exemplar! Essa primeira temporada, responsabilidade de Scott Alexander e Larry Karaszewski, acerta em todos os quesitos possíveis: seja na adaptação do livro em que se baseou, "The Run of His Life: The People v. O.J. Simpson" de Jeffrey Toobin; na direção do próprio Ryan Murphy; no casting maravilhoso que proporcionou atuações seguras e competentes e até mesmo no ritmo que proporciona uma maratona mais que bem vinda, afinal essa história vai te prender do inicio ao fim.

PS: O documentário "O.J. Simpson Made in America", grande vencedor do Oscar de 2017, faz com que tenhamos uma percepção da série um pouco diferente, mas não por isso menos interessante. A sensação de torcer para que tudo fosse mentira quando se assiste ao documentário, dado o carisma (e a história de superação) do O.J., praticamente some na ficção, já que fica impossível não torcer para os promotores - talvez por uma visão mais romântica dos fatos e por acabar se envolvendo mais com a narrativa proposta pelo roteiro, onde o backstage do processo está mais presente, a vida dos promotores mais exposta, etc. São experiências diferentes, mas complementares. Sugiro conhecer a história pelo documentário (que também está disponível no Star+) e depois partir para o entretenimento dessa série.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“American Crime Story” é uma série antológica, onde a cada temporada uma história é contada (com começo, meio e fim como uma minissérie), que derivou do grande sucesso que foi “American Horror Story”, criada pelo badalado Ryan Murphy (de “Halston”)  A diferença entre as duas, é que em "Crime Story”, como o próprio nome diz, cada temporada se baseia em um caso real, seja de assassinato ou não (tanto que o terceiro ano da série focou no escândalo envolvendo o ex presidente Bill Clinton e Mônica Lewinsky).

Nessa primeira temporada, acompanhamos o advogado Robert Shapiro (John Travolta) reunindo um time de estrelas para defender o ex-astro da NFL, OJ Simpson (Cuba Gooding Jr.). Os advogados foram chamados 13 dias depois dos assassinatos de Nicole Brown Simpson, ex-esposa de OJ e Ronald Lyle Goldman, um amigo que foi até a casa de Nicole para, supostamente, devolver um pertence da mãe dela. O interessante porém, é que depois do crime, todas as provas recolhidas pela policia não diziam outra coisa: OJ era culpado. Confira o trailer:

Embora fosse tão nítido a culpa do ex jogador de futebol americano, esse não era um caso comum - o envolvido era famoso, amado por todos e ainda era negro. A complexidade está em uma trama que conta uma história de maneira muito clara, não deixando dúvidas sobre quem foi o verdadeiro culpado, mas é na atuação de Cuba Gooding Jr., tão convincente, que por vezes você também pode ficar em dúvida se ele era realmente o assassino.

A trama frenética sempre está em movimento, afinal em um caso como esse não existiria tempo para respirar, tudo acontece muito rápido e toma proporções inimagináveis. É um turbilhão de emoções (e de discussões culturais) para todos os personagens envolvidos, e principalmente para nós como audiência. Para se ter uma ideia, uma revista foi capaz de  "embranquecer" a figura de O.J. Simpson em uma capa de revista como se isso radicasse sua inocência - é quase surreal, mas acreditem, tudo isso realmente aconteceu.

A atriz Sarah Paulson, também foi uma escolha mais que certa para interpretar a promotora de justiça Marcia Clark - ela sempre foi muito assediada pela mídia, pelos seus companheiros de trabalho, especialmente porque nunca se preocupava com a aparência como outras mulheres, e para esses homens isso era quase de outro mundo. Ao dar vida para uma mulher que não tinha uma vida fácil, nem profissional e muito menos pessoal, Paulson brilhou, carregando nuances necessárias para transmitir todas as inseguranças da personagem com muita sensibilidade - esse performance, inclusive, lhe rendeu o Emmy de Melhor Atriz em 2016.

“American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson” é exemplar! Essa primeira temporada, responsabilidade de Scott Alexander e Larry Karaszewski, acerta em todos os quesitos possíveis: seja na adaptação do livro em que se baseou, "The Run of His Life: The People v. O.J. Simpson" de Jeffrey Toobin; na direção do próprio Ryan Murphy; no casting maravilhoso que proporcionou atuações seguras e competentes e até mesmo no ritmo que proporciona uma maratona mais que bem vinda, afinal essa história vai te prender do inicio ao fim.

PS: O documentário "O.J. Simpson Made in America", grande vencedor do Oscar de 2017, faz com que tenhamos uma percepção da série um pouco diferente, mas não por isso menos interessante. A sensação de torcer para que tudo fosse mentira quando se assiste ao documentário, dado o carisma (e a história de superação) do O.J., praticamente some na ficção, já que fica impossível não torcer para os promotores - talvez por uma visão mais romântica dos fatos e por acabar se envolvendo mais com a narrativa proposta pelo roteiro, onde o backstage do processo está mais presente, a vida dos promotores mais exposta, etc. São experiências diferentes, mas complementares. Sugiro conhecer a história pelo documentário (que também está disponível no Star+) e depois partir para o entretenimento dessa série.

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Anatomia de uma Queda

Envolvente desde a primeira cena, "Anatomia de uma Queda" levanta os mesmos dilemas que encontramos na série "A Escada" da HBO, porém com o requinte narrativo e estético do melhor do cinema independente francês - não por acaso que o filme chegou no Oscar 2024 como um dos grandes favoritos, levando para casa o prêmio de "Melhor Roteiro Original", além de mais quatro indicações, inclusive a de "Melhor Filme do Ano". E aqui cabe um importante disclaimer: muito provavelmente, "Anatomia de uma Queda" seria o vencedor na categoria "Melhor Filme Internacional" fosse ele o representante da França na disputa, no entanto, por razões puramente politicas isso não aconteceu (a diretora Justine Triet criticou o programa de fomento do governo Macron publicamente, entendeu?). Para quem não sabe, o filme é uma espécie de drama de relações com fortes (e presentes) elementos de thriller psicológico que nos convida a desvendar os segredos de um casal em meio a um crime brutal. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, do César Awards, do Globo de Ouro e do Prêmio Goya, certamente você está diante de um dos melhores filmes de 2023!

O filme, basicamente, mostra os detalhes de uma investigação depois que um homem é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho de 11 anos com deficiência visual. Ao se tratar de uma "morte suspeita", é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se existiam motivos para falarmos de assassinato. O fato é que a viúva é indiciada, o que coloca seu próprio filho no meio do conflito. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam na relação mãe-filho, já que o jovem é a única testemunha do acontecido. Confira o trailer:

É impressionante como Triet é capaz de tecer uma narrativa tão intrigante e multifacetada, onde nada é o que parece. É sério, a diretora domina sua narrativa de uma forma onde, a cada cena, novas pistas e revelações vão surgindo, desafiando nossas percepções e nos levando a questionar se a culpa é realmente de Sandra. Sabiamente, ela utiliza, com maestria, elementos como flashbacks e muito simbolismo para construir um suspense psicológico envolvente e perturbador que se apoia em inúmeros gatilhos que costumamos a encontrar nos tão falados "true crimes".

A fotografia assinada pelo Simon Beaufils (de "À discrétion"), contribui demais na construção de uma atmosfera sombria e misteriosa - muito referenciado pelo cinema nórdico. Os cenários nevados e a casa isolada nos Alpes criam um clima de isolamento e claustrofobia angustiantes , ao mesmo tempo que os planos mais fechados dão a exata sensação do caos interno que aqueles personagens estão enfrentando. Reparem como a luz natural é utilizada de forma estratégica para destacar os momentos de tensão e de suspense dos flashbacks. As atuações de todo elenco são impecáveis, mas não tem como não destacar o trabalho de Sandra Hüller. Sandra é cirúrgica ao transmitir a ambiguidade dos sentimentos de sua personagem com a mesma capacidade com que explora a fragilidade de sua psique - digno de Oscar!

O fato é que "Anatomia de uma Queda" brinca de forma muito satisfatória com uma morbidez da situação que o próprio roteiro exalta. Se a investigação nos traz uma variedade de registros, sejam os áudios do casal brigando ou o vídeo da polícia reencenando os momentos antes e depois da queda, é possível perceber como a diretora sempre pontua as mais variadas percepções com o intuito de quebrar nossa expectativa e assim nos colocar na posição de julgamento. Veja, Triet sabe mudar de uma perspectiva para a outra com precisão e disposição, mas nunca com a intenção de entregar respostas e sim com o objetivo de nos fazer refletir sobre a natureza humana, sobre a culpa e sobre as fragilidades de uma relação destruída. Dito isso, se você procura um filme que te faça pensar (e muito), além de te deixar intrigado até o final, "Anatomia de uma Queda" é a escolha certa para hoje!

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Envolvente desde a primeira cena, "Anatomia de uma Queda" levanta os mesmos dilemas que encontramos na série "A Escada" da HBO, porém com o requinte narrativo e estético do melhor do cinema independente francês - não por acaso que o filme chegou no Oscar 2024 como um dos grandes favoritos, levando para casa o prêmio de "Melhor Roteiro Original", além de mais quatro indicações, inclusive a de "Melhor Filme do Ano". E aqui cabe um importante disclaimer: muito provavelmente, "Anatomia de uma Queda" seria o vencedor na categoria "Melhor Filme Internacional" fosse ele o representante da França na disputa, no entanto, por razões puramente politicas isso não aconteceu (a diretora Justine Triet criticou o programa de fomento do governo Macron publicamente, entendeu?). Para quem não sabe, o filme é uma espécie de drama de relações com fortes (e presentes) elementos de thriller psicológico que nos convida a desvendar os segredos de um casal em meio a um crime brutal. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, do César Awards, do Globo de Ouro e do Prêmio Goya, certamente você está diante de um dos melhores filmes de 2023!

O filme, basicamente, mostra os detalhes de uma investigação depois que um homem é encontrado morto na neve do lado de fora do chalé isolado onde morava com sua esposa Sandra (Sandra Hüller), uma escritora alemã, e seu filho de 11 anos com deficiência visual. Ao se tratar de uma "morte suspeita", é impossível saber ao certo se ele tirou a própria vida ou se existiam motivos para falarmos de assassinato. O fato é que a viúva é indiciada, o que coloca seu próprio filho no meio do conflito. Entre o julgamento e a vida familiar, as dúvidas pesam na relação mãe-filho, já que o jovem é a única testemunha do acontecido. Confira o trailer:

É impressionante como Triet é capaz de tecer uma narrativa tão intrigante e multifacetada, onde nada é o que parece. É sério, a diretora domina sua narrativa de uma forma onde, a cada cena, novas pistas e revelações vão surgindo, desafiando nossas percepções e nos levando a questionar se a culpa é realmente de Sandra. Sabiamente, ela utiliza, com maestria, elementos como flashbacks e muito simbolismo para construir um suspense psicológico envolvente e perturbador que se apoia em inúmeros gatilhos que costumamos a encontrar nos tão falados "true crimes".

A fotografia assinada pelo Simon Beaufils (de "À discrétion"), contribui demais na construção de uma atmosfera sombria e misteriosa - muito referenciado pelo cinema nórdico. Os cenários nevados e a casa isolada nos Alpes criam um clima de isolamento e claustrofobia angustiantes , ao mesmo tempo que os planos mais fechados dão a exata sensação do caos interno que aqueles personagens estão enfrentando. Reparem como a luz natural é utilizada de forma estratégica para destacar os momentos de tensão e de suspense dos flashbacks. As atuações de todo elenco são impecáveis, mas não tem como não destacar o trabalho de Sandra Hüller. Sandra é cirúrgica ao transmitir a ambiguidade dos sentimentos de sua personagem com a mesma capacidade com que explora a fragilidade de sua psique - digno de Oscar!

O fato é que "Anatomia de uma Queda" brinca de forma muito satisfatória com uma morbidez da situação que o próprio roteiro exalta. Se a investigação nos traz uma variedade de registros, sejam os áudios do casal brigando ou o vídeo da polícia reencenando os momentos antes e depois da queda, é possível perceber como a diretora sempre pontua as mais variadas percepções com o intuito de quebrar nossa expectativa e assim nos colocar na posição de julgamento. Veja, Triet sabe mudar de uma perspectiva para a outra com precisão e disposição, mas nunca com a intenção de entregar respostas e sim com o objetivo de nos fazer refletir sobre a natureza humana, sobre a culpa e sobre as fragilidades de uma relação destruída. Dito isso, se você procura um filme que te faça pensar (e muito), além de te deixar intrigado até o final, "Anatomia de uma Queda" é a escolha certa para hoje!

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Areia Movediça

Desde o primeiro trailer de "Areia Movediça" algo me chamou muito a atenção, embora o "mistério" desse o tom daquela narrativa. Uma minissérie original sueca, produzida pela Netflix, com 6 episódios de 40 minutos cada, baseada em um best-seller, certamente viria com muito potencial!!! O livro de autor Malin Persson Giolito foi publicado em mais de 20 países e foi eleito o melhor romance nórdico de crimes de 2016. Depois de tudo que eu vi e li sobre a minissérie, eu só precisava confirmar se minhas expectativas iriam se comprovar e, posso te garantir: de fato, a história é muito interessante, envolvente e misteriosa! Típico projeto que tem tudo para agradar, mas as pessoas ainda precisam descobrir a enorme qualidade da produção sueca e tudo que envolve essa história.

Então vamos lá: a história é contada em duas linhas temporais diferentes. No presente Maja Norberg, uma jovem e linda estudante pré-vestibular, é acusada de matar seus colegas de escola à tiros, em plena sala de aula. No passado recente, vemos a mesma personagem envolvida com os estudos, se relacionando com a família e com os amigos da melhor forma possível, até que conhece o jovem Sebastian Fagerman - um garoto educado, bem nascido e apaixonado por ela. A primeira dúvida que surge é: como uma jovem tão educada e amorosa foi capaz de matar seus colegas de classe com tanto sangue frio?

Olha, é impossível não se envolver com a história logo de cara, pois "Areia Movediça" trás elementos de dois outros grandes sucessos da Netflix "The Sinner" e "13 Reasons Why"!!! A minissérie transita muito bem no universo dos jovens ao mesmo tempo que trás o mistério da transformação humana e as razões que nos fariam cometer loucuras. Me lembrou quando assisti "Breaking Bad" pela primeira vez - não entendia como um cara como Walter White poderia se transformar em um assassino (ou um traficante) como Heisenberg. Se "Areia Movediça" não tem a genialidade (e profundidade) de "Breaking Bad", merece elogios pela coragem de tocar em assuntos delicados como tiroteio nas escolas, estupro, relacionamento abusivo em vários níveis e o uso de drogas. Tenha em mente que, como o bom cinema sueco exige, é preciso ter estômago!

A Produção é excelente. As locações na Suécia e na França são incríveis. A minissérie é muito bem fotografada, muito bem dirigida e os atores que interpretam a Maja Norberg e o Sebastian Fagerman, respectivamente Hanna Ardéhn e Felix Sandman, dão um verdadeiro show: a maneira como eles vão se desconstruindo durante os episódios vale o "ingresso"! Em muitos momentos o diretor Per-Olav Sørensen usa de técnicas documentais para humanizar ainda mais as situações. Com as câmeras mais soltas e um trabalho genial com o zoom, o diretor trás uma realidade muito interessante para essa ficção que nos faz refletir se aquilo tudo não foi baseado em fatos reais... Poderia!!! 

"Areia Movediça" é um ótima surpresa que ainda não caiu nas graças da audiência por puro desconhecimento, pois é impossível não se relacionar com todas as situações que o roteiro propõe!!! Vale muito o play!!!!

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Desde o primeiro trailer de "Areia Movediça" algo me chamou muito a atenção, embora o "mistério" desse o tom daquela narrativa. Uma minissérie original sueca, produzida pela Netflix, com 6 episódios de 40 minutos cada, baseada em um best-seller, certamente viria com muito potencial!!! O livro de autor Malin Persson Giolito foi publicado em mais de 20 países e foi eleito o melhor romance nórdico de crimes de 2016. Depois de tudo que eu vi e li sobre a minissérie, eu só precisava confirmar se minhas expectativas iriam se comprovar e, posso te garantir: de fato, a história é muito interessante, envolvente e misteriosa! Típico projeto que tem tudo para agradar, mas as pessoas ainda precisam descobrir a enorme qualidade da produção sueca e tudo que envolve essa história.

Então vamos lá: a história é contada em duas linhas temporais diferentes. No presente Maja Norberg, uma jovem e linda estudante pré-vestibular, é acusada de matar seus colegas de escola à tiros, em plena sala de aula. No passado recente, vemos a mesma personagem envolvida com os estudos, se relacionando com a família e com os amigos da melhor forma possível, até que conhece o jovem Sebastian Fagerman - um garoto educado, bem nascido e apaixonado por ela. A primeira dúvida que surge é: como uma jovem tão educada e amorosa foi capaz de matar seus colegas de classe com tanto sangue frio?

Olha, é impossível não se envolver com a história logo de cara, pois "Areia Movediça" trás elementos de dois outros grandes sucessos da Netflix "The Sinner" e "13 Reasons Why"!!! A minissérie transita muito bem no universo dos jovens ao mesmo tempo que trás o mistério da transformação humana e as razões que nos fariam cometer loucuras. Me lembrou quando assisti "Breaking Bad" pela primeira vez - não entendia como um cara como Walter White poderia se transformar em um assassino (ou um traficante) como Heisenberg. Se "Areia Movediça" não tem a genialidade (e profundidade) de "Breaking Bad", merece elogios pela coragem de tocar em assuntos delicados como tiroteio nas escolas, estupro, relacionamento abusivo em vários níveis e o uso de drogas. Tenha em mente que, como o bom cinema sueco exige, é preciso ter estômago!

A Produção é excelente. As locações na Suécia e na França são incríveis. A minissérie é muito bem fotografada, muito bem dirigida e os atores que interpretam a Maja Norberg e o Sebastian Fagerman, respectivamente Hanna Ardéhn e Felix Sandman, dão um verdadeiro show: a maneira como eles vão se desconstruindo durante os episódios vale o "ingresso"! Em muitos momentos o diretor Per-Olav Sørensen usa de técnicas documentais para humanizar ainda mais as situações. Com as câmeras mais soltas e um trabalho genial com o zoom, o diretor trás uma realidade muito interessante para essa ficção que nos faz refletir se aquilo tudo não foi baseado em fatos reais... Poderia!!! 

"Areia Movediça" é um ótima surpresa que ainda não caiu nas graças da audiência por puro desconhecimento, pois é impossível não se relacionar com todas as situações que o roteiro propõe!!! Vale muito o play!!!!

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Big Little Lies

Não por acaso esperei terminar as duas temporadas de "Big Little Lies" para fazer esse review. A série (que nasceu como minissérie em 2017 na HBO) é daquelas imperdíveis, pois equilibra muito bem uma ótima produção, uma excelente direção e uma trama inteligente - principalmente na temporada 1. Vale dizer, inclusive, que se você já assistiu a primeira temporada, fizemos um "primeiras impressões" sobre essa última e você pode ler aqui. Pois bem, para quem ainda não teve o prazer de assistir os 14 episódios disponíveis, vai uma rápida sinopse que vou me aprofundar um pouco mais abaixo: A série tem como ponto de partida um possível assassinado que ocorreu na pequena cidade de Monterrey, na Califórnia. Como toda cidade pequena, fofocas e comentários tomam conta do dia a dia da comunidade que é mostrado em retrospectiva (com um show de edição) pelo ponto de vista de quatro mulheres: Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman), Renata (Laura Dern) e Jane (Shailene Woodley). Tendo esse mistério como pano de fundo, "Big Little Lies" fala sobre conflitos de relacionamentos entre amigos, pares e filhos de uma forma muito direta. Ao mesmo tempo que expõe a fragilidade do ser humano com temas complexos como o de uma relação violenta e abusiva, também trata de casualidades como um desentendimento entre crianças na sala de aula.  O fato é que Big Little Lies trás o que tem de melhor em entretenimento disponível e vale muito (mas muito) à pena! Confira o trailer:

O ritmo fragmentado, completamente não linear, cheio de cortes bruscos e flashes aparentemente sem sentido pode assustar num primeiro momento. É compreensível, pois o diretor Jean-Marc Vallée usa de uma técnica extremamente clipada para criar uma série de sensações e expectativas - o fato é que, de repente, já estamos vidrados e imersos naquela trama cheia de mistérios. Embora "Big Little Lies" tenha uma divisão narrativa bastante clara ente uma e outra temporada, o conceito estético se mantém como um dos maiores acertos da produção - é realmente lindo o trabalho de concepção de Vallée que a diretora Andrea Arnold mantém na segunda temporada. Se engana quem acredita que a série tem como objetivo falar apenas sobre um possível crime onde não sabemos nada sobre a vítima e sobre o assassino, isso é só o gatilho para focar em temas espinhosos e cotidianos. Sim, no final da primeira temporada descobrimos quem matou e quem é a vítima e isso seria suficiente para finalizar a obra, mas com tanto sucesso a HBO resolveu arriscar uma continuação e, digamos, se deu bem, mas com um "porém". A segunda temporada continua tratando dos mesmos temas espinhosos, mas com uma pequena (mas importante) falha na identidade narrativa - ela muda de sub-gênero sem mais nem menos. No inicio tudo leva a crer que o pano de fundo será a consequência do crime e sua investigação, mas lentamente vai se perdendo ao dar mais valor à uma disputa familiar do tribunal. São 4 ou 5 episódios alinhados àquela trama consistente da primeira temporada e outros 2 episódios perdidos pelo caminho. Que fique claro que isso não torna a série ruim, menos intrigante ou dispensável, muito pelo contrario, assistir Meryl Streep como Mary Louise Wright é um enorme prazer, mas não se pode negar que a série se mostrou de uma forma e a entrega não acompanhou a expectativa inicial. Digamos que fugiu do tema!

É óbvio que a primeira temporada de "Big Little Lies" é melhor, mas não achei ruim a segunda não. Começa muito bem, dá a impressão que vai decolar, mas aí caí no comum, no caricato do sonho americano e não surpreende, mas diverte! Já a relação entre as personagens e seus problemas íntimos e sociais continuam bem consistentes como na temporada anterior - eu diria que é isso que segura a série, embora as soluções sejam incrivelmente mais rápidas que o seu desenvolvimento. O destaque positivo, para mim, foi o enorme crescimento da personagem Renata (Laura Dern) e o negativo foi a falta de protagonismo da personagem Jane (Shailene Woodley). Madeline (Reese Witherspoon) e Celeste (Nicole Kidman) continuam interessantes. A quinta do grupo e que, naturalmente, ganhou um pouco mais de destaque nessa temporada, Bonnie (Zoë Kravitz) não se encaixou - é possível entender seu arco, tem um final interessante, mas não tem o menor carisma e o plot sobrenatural da relação com sua mãe é completamente dispensável!

Como disse acima, "Big Little Lies" é imperdível. Tem uma primeira temporada digna das dezenas de prêmios que ganhou, com uma trama muito bem amarrada e um final interessante. Já aquele famoso receio de transformar uma minissérie em série se confirma, faz com que BLL perca força e tenha que se apoiar exclusivamente no talento das protagonistas. Fica ruim? Não, mas se perde dentro dos seus próprios méritos - me trouxe um pouco da ressaca de "Bloodline". Vale a pena? Muito! 

Assista Agora

Não por acaso esperei terminar as duas temporadas de "Big Little Lies" para fazer esse review. A série (que nasceu como minissérie em 2017 na HBO) é daquelas imperdíveis, pois equilibra muito bem uma ótima produção, uma excelente direção e uma trama inteligente - principalmente na temporada 1. Vale dizer, inclusive, que se você já assistiu a primeira temporada, fizemos um "primeiras impressões" sobre essa última e você pode ler aqui. Pois bem, para quem ainda não teve o prazer de assistir os 14 episódios disponíveis, vai uma rápida sinopse que vou me aprofundar um pouco mais abaixo: A série tem como ponto de partida um possível assassinado que ocorreu na pequena cidade de Monterrey, na Califórnia. Como toda cidade pequena, fofocas e comentários tomam conta do dia a dia da comunidade que é mostrado em retrospectiva (com um show de edição) pelo ponto de vista de quatro mulheres: Madeline (Reese Witherspoon), Celeste (Nicole Kidman), Renata (Laura Dern) e Jane (Shailene Woodley). Tendo esse mistério como pano de fundo, "Big Little Lies" fala sobre conflitos de relacionamentos entre amigos, pares e filhos de uma forma muito direta. Ao mesmo tempo que expõe a fragilidade do ser humano com temas complexos como o de uma relação violenta e abusiva, também trata de casualidades como um desentendimento entre crianças na sala de aula.  O fato é que Big Little Lies trás o que tem de melhor em entretenimento disponível e vale muito (mas muito) à pena! Confira o trailer:

O ritmo fragmentado, completamente não linear, cheio de cortes bruscos e flashes aparentemente sem sentido pode assustar num primeiro momento. É compreensível, pois o diretor Jean-Marc Vallée usa de uma técnica extremamente clipada para criar uma série de sensações e expectativas - o fato é que, de repente, já estamos vidrados e imersos naquela trama cheia de mistérios. Embora "Big Little Lies" tenha uma divisão narrativa bastante clara ente uma e outra temporada, o conceito estético se mantém como um dos maiores acertos da produção - é realmente lindo o trabalho de concepção de Vallée que a diretora Andrea Arnold mantém na segunda temporada. Se engana quem acredita que a série tem como objetivo falar apenas sobre um possível crime onde não sabemos nada sobre a vítima e sobre o assassino, isso é só o gatilho para focar em temas espinhosos e cotidianos. Sim, no final da primeira temporada descobrimos quem matou e quem é a vítima e isso seria suficiente para finalizar a obra, mas com tanto sucesso a HBO resolveu arriscar uma continuação e, digamos, se deu bem, mas com um "porém". A segunda temporada continua tratando dos mesmos temas espinhosos, mas com uma pequena (mas importante) falha na identidade narrativa - ela muda de sub-gênero sem mais nem menos. No inicio tudo leva a crer que o pano de fundo será a consequência do crime e sua investigação, mas lentamente vai se perdendo ao dar mais valor à uma disputa familiar do tribunal. São 4 ou 5 episódios alinhados àquela trama consistente da primeira temporada e outros 2 episódios perdidos pelo caminho. Que fique claro que isso não torna a série ruim, menos intrigante ou dispensável, muito pelo contrario, assistir Meryl Streep como Mary Louise Wright é um enorme prazer, mas não se pode negar que a série se mostrou de uma forma e a entrega não acompanhou a expectativa inicial. Digamos que fugiu do tema!

É óbvio que a primeira temporada de "Big Little Lies" é melhor, mas não achei ruim a segunda não. Começa muito bem, dá a impressão que vai decolar, mas aí caí no comum, no caricato do sonho americano e não surpreende, mas diverte! Já a relação entre as personagens e seus problemas íntimos e sociais continuam bem consistentes como na temporada anterior - eu diria que é isso que segura a série, embora as soluções sejam incrivelmente mais rápidas que o seu desenvolvimento. O destaque positivo, para mim, foi o enorme crescimento da personagem Renata (Laura Dern) e o negativo foi a falta de protagonismo da personagem Jane (Shailene Woodley). Madeline (Reese Witherspoon) e Celeste (Nicole Kidman) continuam interessantes. A quinta do grupo e que, naturalmente, ganhou um pouco mais de destaque nessa temporada, Bonnie (Zoë Kravitz) não se encaixou - é possível entender seu arco, tem um final interessante, mas não tem o menor carisma e o plot sobrenatural da relação com sua mãe é completamente dispensável!

Como disse acima, "Big Little Lies" é imperdível. Tem uma primeira temporada digna das dezenas de prêmios que ganhou, com uma trama muito bem amarrada e um final interessante. Já aquele famoso receio de transformar uma minissérie em série se confirma, faz com que BLL perca força e tenha que se apoiar exclusivamente no talento das protagonistas. Fica ruim? Não, mas se perde dentro dos seus próprios méritos - me trouxe um pouco da ressaca de "Bloodline". Vale a pena? Muito! 

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Black Bird

"Black Bird" é mais uma excelente minissérie de "true crime" que encontramos no streaming da Apple. Eu diria que ela não é excepcional como os títulos que estamos acostumados a encontrar na HBO, mas já é possível afirmar que a plataforma, essa sim, começa a despontar, ao lado do Star+, como uma ótima opção para quem gosta do gênero. Com seis episódios de uma hora e criação de Dennis Lehane, roteirista e romancista americano, autor de sucessos como "Sobre Meninos e Lobos" e "Ilha do Medo", além de produtor de "Outsider" (adaptação de  Stephen King para HBO), "Black Bird" entrega o que promete ao mostrar a jornada real de transformação de James "Jimmy" Keene enquanto ajudava o FBI a evitar a soltura de Larry Hall, um forte suspeito de ser um serial killer.

O ano é 1996, quando o charmoso traficante e ex-astro de futebol do colegial Jimmy Keene (Taron Egerton) é sentenciado a 10 anos de prisão após uma operação do FBI, que além das drogas descobriu uma quantidade considerável de armas ilegais. Para se livrar da pena, Keene recebe uma proposta arriscada das autoridades: ele precisa ser transferido para uma prisão de segurança máxima, se aproximar de Larry Hall (Paul Walter Hauser), e assim conseguir uma confissão a fim de que o maníaco ligado ao desaparecimento de várias garotas, seja mantido preso, e os corpos das vítimas, encontrados. Confira o trailer:

A história sobre essa medida drástica do FBI para tentar anular um recurso de defesa de Hall que estava prestes a conseguir uma liberdade condicional por falta de provas que realmente ligasse o seu nome aos crimes, foi contada no livro "In with the Devil: A Fallen Hero, a Serial Killer, and a Dangerous Bargain for Redemption" em que o verdadeiro Keene escreveu ao lado de Hillel Levin, porém é na adaptação de Lehane que a trama ganha ares de mistério e tensão ao estabelecer elementos investigativos fora da prisão, por parte da dupla Brian Miller (Greg Kinnear) e Lauren McCauley (Sepideh Moafi), e um forte drama psicológico de dentro da prisão, graças aos embates bem estruturados entre Keene e Hall.

O problema, no entanto, é que Lehane escorrega ao colocar mais sub-tramas, ao melhor estilo "Oz", que não se sustentam - ou melhor, que não são tão bem exploradas quanto a linha narrativa principal. Os plots do protagonista com o policial corrupto e com o mafioso "dono do pedaço", são tão frágeis quanto as cenas que exploram a  relação com seu pai Jim Keene (o saudoso e quase irreconhecível Ray Liotta). Veja, não que essas sub-tramas sejam ruins, elas só não são exploradas como deveriam (ou poderiam) se a minissérie tivesse mais dois episódios, por exemplo - existe uma simplicidade na construção do roteiro, que se permite um ou outro retrocesso temporal (alguns até poéticos como o visto no episódio 5) para desenvolver ou explicar algumas camadas dos personagens, mas que nunca se aprofundam.

A direção de Michäel R. Roskam, Jim McKay e Joe Chappelle também escorrega, mas não compromete (a cena da rebelião é ruim, o resto fica bem na média). Já as performances de Taron Egerton e principalmente de Paul Walter Hauser merecem elogios - Hauser, aliás, merece ser lembrado em premiações. Seu personagem fala manso, é cheio de tiques, aproveita bem o silêncio, mas ao mesmo tempo é macabro, violento no olhar, sádico no leve sorriso. Com isso, é muito fácil concluir que "Black Bird" é uma obra de dois excelentes atores disputando um jogo de persuasão e ironia, onde o texto e a direção encontram o seu ápice na simplicidade e na dinâmica dos episódios que parecem voar.

Vale seu play!

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"Black Bird" é mais uma excelente minissérie de "true crime" que encontramos no streaming da Apple. Eu diria que ela não é excepcional como os títulos que estamos acostumados a encontrar na HBO, mas já é possível afirmar que a plataforma, essa sim, começa a despontar, ao lado do Star+, como uma ótima opção para quem gosta do gênero. Com seis episódios de uma hora e criação de Dennis Lehane, roteirista e romancista americano, autor de sucessos como "Sobre Meninos e Lobos" e "Ilha do Medo", além de produtor de "Outsider" (adaptação de  Stephen King para HBO), "Black Bird" entrega o que promete ao mostrar a jornada real de transformação de James "Jimmy" Keene enquanto ajudava o FBI a evitar a soltura de Larry Hall, um forte suspeito de ser um serial killer.

O ano é 1996, quando o charmoso traficante e ex-astro de futebol do colegial Jimmy Keene (Taron Egerton) é sentenciado a 10 anos de prisão após uma operação do FBI, que além das drogas descobriu uma quantidade considerável de armas ilegais. Para se livrar da pena, Keene recebe uma proposta arriscada das autoridades: ele precisa ser transferido para uma prisão de segurança máxima, se aproximar de Larry Hall (Paul Walter Hauser), e assim conseguir uma confissão a fim de que o maníaco ligado ao desaparecimento de várias garotas, seja mantido preso, e os corpos das vítimas, encontrados. Confira o trailer:

A história sobre essa medida drástica do FBI para tentar anular um recurso de defesa de Hall que estava prestes a conseguir uma liberdade condicional por falta de provas que realmente ligasse o seu nome aos crimes, foi contada no livro "In with the Devil: A Fallen Hero, a Serial Killer, and a Dangerous Bargain for Redemption" em que o verdadeiro Keene escreveu ao lado de Hillel Levin, porém é na adaptação de Lehane que a trama ganha ares de mistério e tensão ao estabelecer elementos investigativos fora da prisão, por parte da dupla Brian Miller (Greg Kinnear) e Lauren McCauley (Sepideh Moafi), e um forte drama psicológico de dentro da prisão, graças aos embates bem estruturados entre Keene e Hall.

O problema, no entanto, é que Lehane escorrega ao colocar mais sub-tramas, ao melhor estilo "Oz", que não se sustentam - ou melhor, que não são tão bem exploradas quanto a linha narrativa principal. Os plots do protagonista com o policial corrupto e com o mafioso "dono do pedaço", são tão frágeis quanto as cenas que exploram a  relação com seu pai Jim Keene (o saudoso e quase irreconhecível Ray Liotta). Veja, não que essas sub-tramas sejam ruins, elas só não são exploradas como deveriam (ou poderiam) se a minissérie tivesse mais dois episódios, por exemplo - existe uma simplicidade na construção do roteiro, que se permite um ou outro retrocesso temporal (alguns até poéticos como o visto no episódio 5) para desenvolver ou explicar algumas camadas dos personagens, mas que nunca se aprofundam.

A direção de Michäel R. Roskam, Jim McKay e Joe Chappelle também escorrega, mas não compromete (a cena da rebelião é ruim, o resto fica bem na média). Já as performances de Taron Egerton e principalmente de Paul Walter Hauser merecem elogios - Hauser, aliás, merece ser lembrado em premiações. Seu personagem fala manso, é cheio de tiques, aproveita bem o silêncio, mas ao mesmo tempo é macabro, violento no olhar, sádico no leve sorriso. Com isso, é muito fácil concluir que "Black Bird" é uma obra de dois excelentes atores disputando um jogo de persuasão e ironia, onde o texto e a direção encontram o seu ápice na simplicidade e na dinâmica dos episódios que parecem voar.

Vale seu play!

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Bom Dia, Verônica

"Bom Dia, Verônica" é uma produção nacional que merece elogios - mesmo exigindo uma enorme abstração da realidade para que a experiência seja de fato imersiva e empolgante. É inegável que o acesso à referências que vão do clássico "Silêncio dos Inocentes" ao sucesso da inglesa "Marcella", dão o tom da narrativa dirigida pelo sempre muito competente José Henrique Fonseca (o mesmo de "Mandrake"), mas calma: ainda existe um longo caminho até soltarmos um "agora sim, isso é bom demais!".

Baseado no romance homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes (que na época de seu lançamento assinavam sob o pseudônimo Andrea Killmore), o que vemos na tela dos oitos episódios da primeira temporada, é certamente muito mais impactante do que o que ouvimos nos diálogos entre os personagens (na minha opinião o ponto fraco da série), mas por outro lado, existe um ritmo que nos envolve de uma maneira muito particular e praticamente nos impede de esquecer de jornada de Verônica até quando nos deparamos com momentos, digamos, menos inspirados. O que eu quero dizer é que a "Bom Dia, Verônica" tem seus problemas, mas não deixa de ser uma excelente pedida para se "maratonar" em um domingo chuvoso.

Verônica Torres (Tainá Müller) trabalha como escrivã na Delegacia de Homicídios de São Paulo e tem uma rotina bastante entediante. Após presenciar um suicídio, ela precisa lutar contra os traumas de seu passado e acaba tomando uma arriscada decisão: usar toda a sua habilidade investigativa para ajudar duas mulheres desconhecidas. A primeira é uma jovem que se vê enganada por um golpista na internet. Já a segunda, Janete (Camila Morgado), é a esposa submissa de Brandão (Eduardo Moscovis), um policial de alta patente que a maltrata e leva uma vida dupla. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que eu vou me basear para essa análise apenas na série da Netflix, pois pelo que pesquisei, o livro é muito mais corajoso que sua adaptação. Talvez, inclusive, seja nessa troca de linguagem que algo importante tenha se perdido: uma unidade narrativa onde cada peça do quebra-cabeça, em algum momento, mostrasse seu valor. Para aqueles acostumados com dramas policiais (especialmente os nórdicos) ou séries de "true crime", alguns plots de "Bom Dia, Verônica" vão parecer frágeis demais, como se servissem apenas de gatilho para algo que facilmente poderia ser resolvido em uma ou outra cena - é o caso da trama inicial, que no primeiro momento soa forte e eficiente, colocando a protagonista em evidência, mas que no fim não passa de uma investigação muito mais preocupada em expor um problema real de violência contra a mulher do que criar camadas que poderiam influenciar no arco maior - tanto que esse plot acaba sendo deixado de lado antes mesmo da metade da temporada.

Quando as atenções parecem se voltar para o casal formado por Janete e Brandão, a série ganha muito no drama e na ação - mérito do elenco, com uma Camila Morgado entregando uma personagem cheia de profundidade, que se aproveita da sua dor mais íntima para questionar sua relação e, principalmente, sua postura perante a vida. Já Moscovis (talvez em seu melhor trabalho na TV) cria um contraponto à dedicação de sua parceira, construindo um personagem tão desprezível quanto amedrontador. Para dar liga, ainda temos Tainá Müller que vai se transformando durante a temporada e ganhando estrutura e consistência para se manter nos holofotes até quando o roteiro insiste em derruba-la: seu drama familiar é muito frágil, por exemplo.

"Bom Dia, Verônica" é uma ótima série e vai te entreter com a mais absoluta certeza. Seus problemas de roteiro pouco impactam em sua proposta de ser um seriado policial sólido. A qualidade técnica e artística é perceptível - o nível da produção é altíssimo. A direção geral de Fonseca dá força aos momentos mais impactantes com uma excelência poucas vezes vista e a fotografia do Flávio Zangrandi (de "Pico da Neblina") acerta na mosca ao conduzir todo suspense com aquela atmosfera meio macabra dos filmes neo noirque nos acostumamos a assistir. Dito isso, fica fácil afirmar que essa produção nacional da Netflix, ainda que não seja perfeita, se arrisca e faz toda a jornada valer muito a pena!

PS: A série terá três temporadas. 

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"Bom Dia, Verônica" é uma produção nacional que merece elogios - mesmo exigindo uma enorme abstração da realidade para que a experiência seja de fato imersiva e empolgante. É inegável que o acesso à referências que vão do clássico "Silêncio dos Inocentes" ao sucesso da inglesa "Marcella", dão o tom da narrativa dirigida pelo sempre muito competente José Henrique Fonseca (o mesmo de "Mandrake"), mas calma: ainda existe um longo caminho até soltarmos um "agora sim, isso é bom demais!".

Baseado no romance homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes (que na época de seu lançamento assinavam sob o pseudônimo Andrea Killmore), o que vemos na tela dos oitos episódios da primeira temporada, é certamente muito mais impactante do que o que ouvimos nos diálogos entre os personagens (na minha opinião o ponto fraco da série), mas por outro lado, existe um ritmo que nos envolve de uma maneira muito particular e praticamente nos impede de esquecer de jornada de Verônica até quando nos deparamos com momentos, digamos, menos inspirados. O que eu quero dizer é que a "Bom Dia, Verônica" tem seus problemas, mas não deixa de ser uma excelente pedida para se "maratonar" em um domingo chuvoso.

Verônica Torres (Tainá Müller) trabalha como escrivã na Delegacia de Homicídios de São Paulo e tem uma rotina bastante entediante. Após presenciar um suicídio, ela precisa lutar contra os traumas de seu passado e acaba tomando uma arriscada decisão: usar toda a sua habilidade investigativa para ajudar duas mulheres desconhecidas. A primeira é uma jovem que se vê enganada por um golpista na internet. Já a segunda, Janete (Camila Morgado), é a esposa submissa de Brandão (Eduardo Moscovis), um policial de alta patente que a maltrata e leva uma vida dupla. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que eu vou me basear para essa análise apenas na série da Netflix, pois pelo que pesquisei, o livro é muito mais corajoso que sua adaptação. Talvez, inclusive, seja nessa troca de linguagem que algo importante tenha se perdido: uma unidade narrativa onde cada peça do quebra-cabeça, em algum momento, mostrasse seu valor. Para aqueles acostumados com dramas policiais (especialmente os nórdicos) ou séries de "true crime", alguns plots de "Bom Dia, Verônica" vão parecer frágeis demais, como se servissem apenas de gatilho para algo que facilmente poderia ser resolvido em uma ou outra cena - é o caso da trama inicial, que no primeiro momento soa forte e eficiente, colocando a protagonista em evidência, mas que no fim não passa de uma investigação muito mais preocupada em expor um problema real de violência contra a mulher do que criar camadas que poderiam influenciar no arco maior - tanto que esse plot acaba sendo deixado de lado antes mesmo da metade da temporada.

Quando as atenções parecem se voltar para o casal formado por Janete e Brandão, a série ganha muito no drama e na ação - mérito do elenco, com uma Camila Morgado entregando uma personagem cheia de profundidade, que se aproveita da sua dor mais íntima para questionar sua relação e, principalmente, sua postura perante a vida. Já Moscovis (talvez em seu melhor trabalho na TV) cria um contraponto à dedicação de sua parceira, construindo um personagem tão desprezível quanto amedrontador. Para dar liga, ainda temos Tainá Müller que vai se transformando durante a temporada e ganhando estrutura e consistência para se manter nos holofotes até quando o roteiro insiste em derruba-la: seu drama familiar é muito frágil, por exemplo.

"Bom Dia, Verônica" é uma ótima série e vai te entreter com a mais absoluta certeza. Seus problemas de roteiro pouco impactam em sua proposta de ser um seriado policial sólido. A qualidade técnica e artística é perceptível - o nível da produção é altíssimo. A direção geral de Fonseca dá força aos momentos mais impactantes com uma excelência poucas vezes vista e a fotografia do Flávio Zangrandi (de "Pico da Neblina") acerta na mosca ao conduzir todo suspense com aquela atmosfera meio macabra dos filmes neo noirque nos acostumamos a assistir. Dito isso, fica fácil afirmar que essa produção nacional da Netflix, ainda que não seja perfeita, se arrisca e faz toda a jornada valer muito a pena!

PS: A série terá três temporadas. 

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Borderliner

"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".

Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção  entre o certo e o errado.

"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!

Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!

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"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".

Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção  entre o certo e o errado.

"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!

Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!

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Bordertown

"Bordertown" é uma série finlandesa da Netflix muito inteligente e com um formato excelente para assistir em um final de semana. "Sorjonen" (título original) é uma co-produção da Finlândia com a França e foi apresentada para o Mercado Internacional na MIPTV de 2017. Validada pelo sucesso de audiência e alguns prêmios internacionais, a Netflix garantiu o direito de distribuição. Basicamente um detetive muda da capital para uma cidade pequena (divisa com a Russia) para se dedicar mais a família e cuidar da mulher que se recupera de um tumor no cérebro. Acontece que a cidade não é tão pacata quanto parece e alguns assassinatos começam acontecer. Kari Sorjonen então é chamado para ajudar a solucionar esses casos, porém seus métodos (completamente sensoriais) causam, naturalmente, certa estranheza na nova equipe.

Até aí nada de muito original, mas existem dois pontos muito interessantes. O primeiro é o clima da série, quase um "noir". Muito bem produzida pela Fisher King, a série tem uma direção muito interessante, pois usa exclusivamente da qualidade do roteiro para instigar nossa imaginação - ou seja, ela não mostra tudo; ela sugere - principalmente nas soluções dos casos. Não existe um grande final ou uma cena grandiosa para fechar o episódio; o processo em si, a investigação é muito mais importante que a identidade do assassino e isso é feito com muita elegância estética. A série tem uma certa granulação (mesmo produzida em digital) que fortalece o clima, trazendo a força da saudosa película para narrativa. As locações também merecem a destaque: são maravilhosas, uma melhor que a outra. Não é uma superprodução, mas parece - graças a uma direção muito inteligente! O outro ponto bem legal é que na 1ª Temporada (11 episódios de 55 minutos) é dividida em 5 casos - o primeiro leva três episódios e os demais dois, porém um arco maior existe e está tão bem inserido que você nem nota que é uma espécie de procedural (ou pelo menos uma nova leitura do formato de um caso por semana). Aquela ansiedade de terminar a temporada é diluída a cada 2, 3 horas e mesmo assim você não tem vontade de parar de assistir...rs.

"Bodertown" é daquelas preciosidades escondidas no catálogo da Netflix (como "La Casa de Papel" era antes de virar hype). Ótimo entretenimento, com qualidade, inteligente e uma grande atuação do Ville Virtanen (de "Sauna").

Uma última observação: é uma série que tem o seu tempo de adaptação, a língua causa estranheza e a narrativa começa um pouco devagar; depois que entendemos o ritmo, ela flui muito bem! Vale o play com certeza!!!!

PS: segunda temporada foi lançada em 2018 e a terceira em 2019. 

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"Bordertown" é uma série finlandesa da Netflix muito inteligente e com um formato excelente para assistir em um final de semana. "Sorjonen" (título original) é uma co-produção da Finlândia com a França e foi apresentada para o Mercado Internacional na MIPTV de 2017. Validada pelo sucesso de audiência e alguns prêmios internacionais, a Netflix garantiu o direito de distribuição. Basicamente um detetive muda da capital para uma cidade pequena (divisa com a Russia) para se dedicar mais a família e cuidar da mulher que se recupera de um tumor no cérebro. Acontece que a cidade não é tão pacata quanto parece e alguns assassinatos começam acontecer. Kari Sorjonen então é chamado para ajudar a solucionar esses casos, porém seus métodos (completamente sensoriais) causam, naturalmente, certa estranheza na nova equipe.

Até aí nada de muito original, mas existem dois pontos muito interessantes. O primeiro é o clima da série, quase um "noir". Muito bem produzida pela Fisher King, a série tem uma direção muito interessante, pois usa exclusivamente da qualidade do roteiro para instigar nossa imaginação - ou seja, ela não mostra tudo; ela sugere - principalmente nas soluções dos casos. Não existe um grande final ou uma cena grandiosa para fechar o episódio; o processo em si, a investigação é muito mais importante que a identidade do assassino e isso é feito com muita elegância estética. A série tem uma certa granulação (mesmo produzida em digital) que fortalece o clima, trazendo a força da saudosa película para narrativa. As locações também merecem a destaque: são maravilhosas, uma melhor que a outra. Não é uma superprodução, mas parece - graças a uma direção muito inteligente! O outro ponto bem legal é que na 1ª Temporada (11 episódios de 55 minutos) é dividida em 5 casos - o primeiro leva três episódios e os demais dois, porém um arco maior existe e está tão bem inserido que você nem nota que é uma espécie de procedural (ou pelo menos uma nova leitura do formato de um caso por semana). Aquela ansiedade de terminar a temporada é diluída a cada 2, 3 horas e mesmo assim você não tem vontade de parar de assistir...rs.

"Bodertown" é daquelas preciosidades escondidas no catálogo da Netflix (como "La Casa de Papel" era antes de virar hype). Ótimo entretenimento, com qualidade, inteligente e uma grande atuação do Ville Virtanen (de "Sauna").

Uma última observação: é uma série que tem o seu tempo de adaptação, a língua causa estranheza e a narrativa começa um pouco devagar; depois que entendemos o ritmo, ela flui muito bem! Vale o play com certeza!!!!

PS: segunda temporada foi lançada em 2018 e a terceira em 2019. 

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Buscando...

"Buscando..." é, por si só, um filme criativo - e é partindo desse princípio que o diretor russo Timur Bekmambetov nos provoca uma experiência angustiante, transformando a tela do computador em uma espécie de prisão, que trabalha tão perfeitamente a dicotomia entre a "esperança" e o "desespero" que não serão poucas as vezes que você vai se perguntar "o que eu faria em uma situação como essa e com acesso apenas a um laptop".

O filme acompanha a saga de David Kim (John Cho), um pai que se encontra numa redoma de mistérios depois que sua filha Margot (Michelle La) desaparece deixando apenas alguns poucos vestígios por meio dos rastros virtuais relacionados aos seus acessos nas redes sociais e caixa de mensagens. Ajudando nessa busca, Kim conta com o apoio do irmão Peter (Joseph Lee) e com o atendimento profissional de Vick (Debra Messing), uma detetive dedicada e responsável pelo caso, para juntos tentar encaixar as dezenas de peças e finalmente encontrar o paradeiro de Margot. Confira o trailer:

Há algum tempo histórias contadas sob o ponto de vista de computadores e smartphones, usando de interfaces de webcam, redes sociais e apps de troca de mensagem instantânea, já não são uma grande novidade - o próprio "Amizade Desfeita" (de 2014) usou muito bem algumas dessas ferramentas virtuais para contar uma história de terror bem construída e original (eu diria, inclusive, partindo da mesma essência criativa de "A Bruxa de Blair" de 1999 - mas com um certo "upgrade" tecnológico).

Ao se propor elaborar um conceito narrativo dinâmico, mas ao mesmo tempo não convencional, esse estilo conhecido como "screenlife" de "Buscando..." aproxima o hábito moderno de registrar nossa história virtualmente (ou o que queremos mostrar dela) de uma trama recheada de mistério policial com ótimos plots twists -característica tradicional do gênero. Quando já no prólogo somos apresentados a família Kin por meio de um "passo-a-passo" de instalação de algumas ferramentas do Windows, temos a exata ideia do potencial criativo que esse estilo pode entregar.

Além do drama investigativo (dos bons), o roteiro ainda discute temas muito pertinentes como a falta de privacidade, os impactos da tecnologia nos relacionamentos dos jovens e outras especificidades dessa cultura superficial da sociedade. John Cho mostra todo seu potencial como ator praticamente se apoiando em monólogos estruturados ou em ligações telefônicas bem orquestradas no estilo de "Calls".

Veja, são esses elementos narrativos que parecem simples, mas que na verdade são até mais complexos como processo cinematográfico - Bekmambetov, por exemplo, precisou de três diretores de fotografia para contar a história: Juan Sebastian Baron ficou responsável pelas cenas externas enquanto Will Merrick e Nicholas D. Johnson cuidaram das cenas virtuais. O desenho de produção de Angel Herrera é o que une tudo: são os ambientes íntimos dos personagens que trazem veracidade para uma jornada que soa irreal.

"Buscando..." é um drama com elementos policiais que usa do que o online tem de melhor (e de pior) para criar uma verdadeira e dinâmica imersão visual e narrativa.

Vale muito a pena!

Up Date: O filme foi duplamente premiado no Festival de Sundance em 2018 - inclusive como "Melhor Filme" escolhido pelo público.

Assista Agora

"Buscando..." é, por si só, um filme criativo - e é partindo desse princípio que o diretor russo Timur Bekmambetov nos provoca uma experiência angustiante, transformando a tela do computador em uma espécie de prisão, que trabalha tão perfeitamente a dicotomia entre a "esperança" e o "desespero" que não serão poucas as vezes que você vai se perguntar "o que eu faria em uma situação como essa e com acesso apenas a um laptop".

O filme acompanha a saga de David Kim (John Cho), um pai que se encontra numa redoma de mistérios depois que sua filha Margot (Michelle La) desaparece deixando apenas alguns poucos vestígios por meio dos rastros virtuais relacionados aos seus acessos nas redes sociais e caixa de mensagens. Ajudando nessa busca, Kim conta com o apoio do irmão Peter (Joseph Lee) e com o atendimento profissional de Vick (Debra Messing), uma detetive dedicada e responsável pelo caso, para juntos tentar encaixar as dezenas de peças e finalmente encontrar o paradeiro de Margot. Confira o trailer:

Há algum tempo histórias contadas sob o ponto de vista de computadores e smartphones, usando de interfaces de webcam, redes sociais e apps de troca de mensagem instantânea, já não são uma grande novidade - o próprio "Amizade Desfeita" (de 2014) usou muito bem algumas dessas ferramentas virtuais para contar uma história de terror bem construída e original (eu diria, inclusive, partindo da mesma essência criativa de "A Bruxa de Blair" de 1999 - mas com um certo "upgrade" tecnológico).

Ao se propor elaborar um conceito narrativo dinâmico, mas ao mesmo tempo não convencional, esse estilo conhecido como "screenlife" de "Buscando..." aproxima o hábito moderno de registrar nossa história virtualmente (ou o que queremos mostrar dela) de uma trama recheada de mistério policial com ótimos plots twists -característica tradicional do gênero. Quando já no prólogo somos apresentados a família Kin por meio de um "passo-a-passo" de instalação de algumas ferramentas do Windows, temos a exata ideia do potencial criativo que esse estilo pode entregar.

Além do drama investigativo (dos bons), o roteiro ainda discute temas muito pertinentes como a falta de privacidade, os impactos da tecnologia nos relacionamentos dos jovens e outras especificidades dessa cultura superficial da sociedade. John Cho mostra todo seu potencial como ator praticamente se apoiando em monólogos estruturados ou em ligações telefônicas bem orquestradas no estilo de "Calls".

Veja, são esses elementos narrativos que parecem simples, mas que na verdade são até mais complexos como processo cinematográfico - Bekmambetov, por exemplo, precisou de três diretores de fotografia para contar a história: Juan Sebastian Baron ficou responsável pelas cenas externas enquanto Will Merrick e Nicholas D. Johnson cuidaram das cenas virtuais. O desenho de produção de Angel Herrera é o que une tudo: são os ambientes íntimos dos personagens que trazem veracidade para uma jornada que soa irreal.

"Buscando..." é um drama com elementos policiais que usa do que o online tem de melhor (e de pior) para criar uma verdadeira e dinâmica imersão visual e narrativa.

Vale muito a pena!

Up Date: O filme foi duplamente premiado no Festival de Sundance em 2018 - inclusive como "Melhor Filme" escolhido pelo público.

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