Esse filme é excelente! Com um recorte preciso e angustiante, "A Garota da Vez" transforma uma história absurda em um estudo provocativo sobre o descaso, a manipulação e o perigo inerente de ser mulher em uma sociedade estruturalmente machista. Anna Kendrick, que faz sua estreia na direção, entrega um thriller psicológico que combina habilmente o suspense com uma crítica afiada, utilizando um estilo narrativo que remete a um cinema mais independente, ela explora o sombrio encontro entre o entretenimento e a tragédia anunciada. Inspirado em fatos reais, o filme joga luz sobre os bastidores de um famoso programa de TV dos anos 70 e expõe a responsabilidade moral negligenciada em um contexto que beira o surreal. As legendas finais, inclusive, deixam claro o quão sério e alarmante foi esse caso - eu diria até que muito mais grave do que muitos poderiam imaginar.
"Woman of the Hour", no original, segue Cheryl Bradshaw (Anna Kendrick), uma aspirante a atriz que aceita participar de um popular programa de namoro na TV. Lá, ela interage com Rodney Alcala (Daniel Zovatto), um homem charmoso e enigmático que concorre para ganhar um encontro com ela. O que Cheryl desconhece, no entanto, é que Rodney é um assassino em série. A tensão do filme nasce dessa premissa perturbadora e é amplificada pela alternância entre o palco do programa, com seu verniz de entretenimento inocente, e os momentos de horror silencioso que muitas mulheres enfrentaram fora dele. Confira o trailer:
Assim como em "A Assistente", o filme recusa entregar para audiência os momentos mais explícitos de violência - uma decisão conceitual que torna "A Garota da Vez" ainda mais potente. Anna Kendrick demonstra grande maturidade em sua estreia como diretora, equilibrando diferentes tons para construir uma atmosfera de desconforto constante. O pavor e a opressão estão refletidos nos detalhes - repare nos planos fechados com os olhares tensos das mulheres e nos cortes rápidos e precisos que aumentam a sensação de "perigo" - seja em um humilhante teste de elenco, na investida desconfortável em um bar ou no isolamento de um estacionamento vazio. Veja, Kendrick compreende a força do não-dito, capturando assim o horror cotidiano sem precisar recorrer ao sensacionalismo ou a repostas fáceis.
O roteiro de Ian McDonald (do premiado *Some Freaks*) é outro ponto a ser elogiado. Ágil e afiado, ele critica a superficialidade do entretenimento da época com a mesma força com que revela, de forma gradual, as camadas de um perigo muito mais profundo: o machismo estrutural e institucionalizado. O diálogo, mesmo nos momentos mais banais, carrega subtextos potentes que expõem como a cultura dos anos 70, com suas dinâmicas de poder disfarçadas de normalidade, criava um ambiente perfeito para predadores como Alcala. A não-linearidade da narrativa, aliás, funciona como um trunfo aqui, conectando momentos dispersos que, juntos, revelam com uma clareza inquietante como Cheryl e outras mulheres foram vítimas de um sistema falho e complacente. Anna Kendrick, como protagonista, traz o carisma e a vulnerabilidade para Cheryl. Ela equilibra o papel social de sua personagem, uma mulher forçada a sorrir e parecer acessível; com o terror crescente assim que percebe que existe um perigo real ao seu redor. Já Daniel Zovatto entrega uma performance assustadora, oscilando entre o charme sedutor e o olhar frio e vazio, que denuncia a verdadeira natureza de seu personagem. Sua interpretação transmite os segredos da manipulação de uma forma tão ameaçadora que chega a incomodar.
Tecnicamente, "A Garota da Vez" é impecável. A direção de fotografia do Zach Kuperstein (de "Não se Mexa") utiliza tons saturados e o brilho artificial da televisão dos anos 70, criando um contraste marcante com as cenas externas, mais sombrias e totalmente naturalista. Esse conceito visual reforça a dualidade entre o entretenimento ingênuo e a realidade brutal que se escondia por trás das câmeras - essa dinâmica intensifica o suspense e o desconforto, pontuando os momentos de maior tensão sem jamais sobrecarregar a narrativa. Agora um ponto é preciso ser destacado: é realmente impossível não pensar nessa história como uma potencial temporada da série *Monstros*, de Ryan Murphy. O aprofundamento na psicologia de Alcala, por exemplo, é apenas sugerido, deixando a audiência com uma curiosidade que Kendrick escolhe deliberadamente não saciar. Funciona, mas também admito que, nos tempos de true crime fazendo tanto sucesso nos streamings, dava para ir um pouquinho mais fundo!
Embarque na proposta do filme que vai valer muito o seu play!
Esse filme é excelente! Com um recorte preciso e angustiante, "A Garota da Vez" transforma uma história absurda em um estudo provocativo sobre o descaso, a manipulação e o perigo inerente de ser mulher em uma sociedade estruturalmente machista. Anna Kendrick, que faz sua estreia na direção, entrega um thriller psicológico que combina habilmente o suspense com uma crítica afiada, utilizando um estilo narrativo que remete a um cinema mais independente, ela explora o sombrio encontro entre o entretenimento e a tragédia anunciada. Inspirado em fatos reais, o filme joga luz sobre os bastidores de um famoso programa de TV dos anos 70 e expõe a responsabilidade moral negligenciada em um contexto que beira o surreal. As legendas finais, inclusive, deixam claro o quão sério e alarmante foi esse caso - eu diria até que muito mais grave do que muitos poderiam imaginar.
"Woman of the Hour", no original, segue Cheryl Bradshaw (Anna Kendrick), uma aspirante a atriz que aceita participar de um popular programa de namoro na TV. Lá, ela interage com Rodney Alcala (Daniel Zovatto), um homem charmoso e enigmático que concorre para ganhar um encontro com ela. O que Cheryl desconhece, no entanto, é que Rodney é um assassino em série. A tensão do filme nasce dessa premissa perturbadora e é amplificada pela alternância entre o palco do programa, com seu verniz de entretenimento inocente, e os momentos de horror silencioso que muitas mulheres enfrentaram fora dele. Confira o trailer:
Assim como em "A Assistente", o filme recusa entregar para audiência os momentos mais explícitos de violência - uma decisão conceitual que torna "A Garota da Vez" ainda mais potente. Anna Kendrick demonstra grande maturidade em sua estreia como diretora, equilibrando diferentes tons para construir uma atmosfera de desconforto constante. O pavor e a opressão estão refletidos nos detalhes - repare nos planos fechados com os olhares tensos das mulheres e nos cortes rápidos e precisos que aumentam a sensação de "perigo" - seja em um humilhante teste de elenco, na investida desconfortável em um bar ou no isolamento de um estacionamento vazio. Veja, Kendrick compreende a força do não-dito, capturando assim o horror cotidiano sem precisar recorrer ao sensacionalismo ou a repostas fáceis.
O roteiro de Ian McDonald (do premiado *Some Freaks*) é outro ponto a ser elogiado. Ágil e afiado, ele critica a superficialidade do entretenimento da época com a mesma força com que revela, de forma gradual, as camadas de um perigo muito mais profundo: o machismo estrutural e institucionalizado. O diálogo, mesmo nos momentos mais banais, carrega subtextos potentes que expõem como a cultura dos anos 70, com suas dinâmicas de poder disfarçadas de normalidade, criava um ambiente perfeito para predadores como Alcala. A não-linearidade da narrativa, aliás, funciona como um trunfo aqui, conectando momentos dispersos que, juntos, revelam com uma clareza inquietante como Cheryl e outras mulheres foram vítimas de um sistema falho e complacente. Anna Kendrick, como protagonista, traz o carisma e a vulnerabilidade para Cheryl. Ela equilibra o papel social de sua personagem, uma mulher forçada a sorrir e parecer acessível; com o terror crescente assim que percebe que existe um perigo real ao seu redor. Já Daniel Zovatto entrega uma performance assustadora, oscilando entre o charme sedutor e o olhar frio e vazio, que denuncia a verdadeira natureza de seu personagem. Sua interpretação transmite os segredos da manipulação de uma forma tão ameaçadora que chega a incomodar.
Tecnicamente, "A Garota da Vez" é impecável. A direção de fotografia do Zach Kuperstein (de "Não se Mexa") utiliza tons saturados e o brilho artificial da televisão dos anos 70, criando um contraste marcante com as cenas externas, mais sombrias e totalmente naturalista. Esse conceito visual reforça a dualidade entre o entretenimento ingênuo e a realidade brutal que se escondia por trás das câmeras - essa dinâmica intensifica o suspense e o desconforto, pontuando os momentos de maior tensão sem jamais sobrecarregar a narrativa. Agora um ponto é preciso ser destacado: é realmente impossível não pensar nessa história como uma potencial temporada da série *Monstros*, de Ryan Murphy. O aprofundamento na psicologia de Alcala, por exemplo, é apenas sugerido, deixando a audiência com uma curiosidade que Kendrick escolhe deliberadamente não saciar. Funciona, mas também admito que, nos tempos de true crime fazendo tanto sucesso nos streamings, dava para ir um pouquinho mais fundo!
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