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O Menino que Descobriu o Vento

"O Menino que Descobriu o Vento", produção da BBC e distribuição da Netflix, é um filme que realmente mexe com a gente... Fato! É uma história incrível, com um protagonista muito carismático que abraça sua jornada até seu êxito com muita resiliência, força de vontade e foco - e por ser uma história real, isso ainda ganha o peso da veracidade e nos provoca a experienciar aquele universo como se estivéssemos lá! Sem falar que nos faz enxergar nossa realidade com outros olhos - talvez seja esse o grande mérito do filme! Ele cumpre esse papel muito bem!!! Ponto!

Imagine que um garoto da República do Malawi, cercado de miséria, sem poder frequentar a escola por falta de dinheiro, sem o conhecimento científico e técnico, foi capaz de encontrar uma solução que mudaria a expectativa de vida da sua família e de toda uma comunidade, apoiado "apenas" na sua própria capacidade e na vontade de aprender por conta própria aquilo que se recusavam a ensinar! Sem falar na pressão, no medo de falhar e na responsabilidade de assumir, tão jovem, que essa derradeira tentativa de sobreviver poderia dar errado! É de levantar e aplaudir, pois, por todos os lados, ele só se encontrava dificuldade e isso nunca o abalava!

"O Menino que Descobriu o Vento" é um ótimo filme, com uma fotografia linda do experiente Dick Pope (duas vezes indicado ao Oscar) e o mérito de nos envolver com aquela jornada rapidamente! Chiwetel Ejiofor e Aïssa Maïga (pais do garoto) dão um show! Aïssa Maïga, guardem esse nome, merece um caminhão de prêmios por essa atuação - ela está impecável! É possível sentir sua dor só com seu olhar, com seu silêncio! Um show! O garoto, Maxwell Simba, também merece destaque. É seu primeiro filme e não me surpreenderia se ganhasse alguma indicação importante na próxima temporada de premiações.

Minha única critica é com a direção do, debutante na função, Chiwetel Ejiofor - não prejudica, não compromete, mas é impossível não pensar nessa história sendo contada por um grande diretor e, por incrível que pareça, me vinham dois nomes na cabeça: Steven Spielberg e Steve McQueen - certamente esse filme iria para outro patamar, patamar de Oscar, porque a história é sensacional! O roteiro, adaptado pelo Ejiofor, também não é ruim, mas poderia ser melhor - tem um 3º ato muito curto, ou seja, por mais que a jornada tenha sido longa, parece que a resolução é muito simples e rápida. Mais uma vez: nem a direção, nem o roteiro, prejudicam a experiência, mas a sensação que o filme poderia estar em outro nível, isso não dá para esconder!

Vale o play? Com a mais absoluta certeza! Filme feito para emocionar e para aquela reflexão "pós crédito"!

Assista Agora

"O Menino que Descobriu o Vento", produção da BBC e distribuição da Netflix, é um filme que realmente mexe com a gente... Fato! É uma história incrível, com um protagonista muito carismático que abraça sua jornada até seu êxito com muita resiliência, força de vontade e foco - e por ser uma história real, isso ainda ganha o peso da veracidade e nos provoca a experienciar aquele universo como se estivéssemos lá! Sem falar que nos faz enxergar nossa realidade com outros olhos - talvez seja esse o grande mérito do filme! Ele cumpre esse papel muito bem!!! Ponto!

Imagine que um garoto da República do Malawi, cercado de miséria, sem poder frequentar a escola por falta de dinheiro, sem o conhecimento científico e técnico, foi capaz de encontrar uma solução que mudaria a expectativa de vida da sua família e de toda uma comunidade, apoiado "apenas" na sua própria capacidade e na vontade de aprender por conta própria aquilo que se recusavam a ensinar! Sem falar na pressão, no medo de falhar e na responsabilidade de assumir, tão jovem, que essa derradeira tentativa de sobreviver poderia dar errado! É de levantar e aplaudir, pois, por todos os lados, ele só se encontrava dificuldade e isso nunca o abalava!

"O Menino que Descobriu o Vento" é um ótimo filme, com uma fotografia linda do experiente Dick Pope (duas vezes indicado ao Oscar) e o mérito de nos envolver com aquela jornada rapidamente! Chiwetel Ejiofor e Aïssa Maïga (pais do garoto) dão um show! Aïssa Maïga, guardem esse nome, merece um caminhão de prêmios por essa atuação - ela está impecável! É possível sentir sua dor só com seu olhar, com seu silêncio! Um show! O garoto, Maxwell Simba, também merece destaque. É seu primeiro filme e não me surpreenderia se ganhasse alguma indicação importante na próxima temporada de premiações.

Minha única critica é com a direção do, debutante na função, Chiwetel Ejiofor - não prejudica, não compromete, mas é impossível não pensar nessa história sendo contada por um grande diretor e, por incrível que pareça, me vinham dois nomes na cabeça: Steven Spielberg e Steve McQueen - certamente esse filme iria para outro patamar, patamar de Oscar, porque a história é sensacional! O roteiro, adaptado pelo Ejiofor, também não é ruim, mas poderia ser melhor - tem um 3º ato muito curto, ou seja, por mais que a jornada tenha sido longa, parece que a resolução é muito simples e rápida. Mais uma vez: nem a direção, nem o roteiro, prejudicam a experiência, mas a sensação que o filme poderia estar em outro nível, isso não dá para esconder!

Vale o play? Com a mais absoluta certeza! Filme feito para emocionar e para aquela reflexão "pós crédito"!

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O Preço da Verdade

"O Preço da Verdade" (Dark Waters) é o típico projeto que se fosse uma minissérie seria sensacional - nível "Chernobyl", mas devido a limitação de tempo, se tornou apenas um ótimo filme!

Ele conta a história real de um recém-nomeado sócio de um escritório de advocacia, Rob Bilott (Mark Ruffalo), que tem como especialidade defender empresas químicas em processos corporativos. Após ser procurado por um fazendeiro de sua cidade natal em West Virgínia, devido a uma misteriosa sequência de 190 mortes de cabeças de gado, Bilott se vê no meio de uma suspeita muito indesejável: a responsável seria uma fábrica da "gigante" DuPont que emprega 90% da cidade de Parkersburg e que estaria contaminando a principal fonte de abastecimento de água da região! A partir daí, Rob Bilott começa a reunir provas contundentes e ao iniciar um processo contra a Dupont, ele descobre que os efeitos desse crime ambiental é infinitamente maior do que ele imaginava e que podem ter provocado reflexos na saúde de 99% da população mundial até os dias de hoje. Olha, é de revirar o estômago - pode até soar como uma grande conspiração, mas o filme é muito inteligente em se apoiar em uma série de fatos amplamente divulgados na época e que, de alguma forma, nos convidam a refletir sobre nossa atuação perante o planeta que gostaríamos de deixar para os nosso filhos e netos! Não é um filme que se propõe a levantar bandeiras ideológicas, mas, certamente, é um filme que vai te fazer pensar! Vale muito a pena!

"O Preço da Verdade" é inspirado numa história verdadeira e seu roteiro foi desenvolvido a partir de um artigo publicado em 2016 pelo jornal The New York Times, intitulado: “O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont” (você pode ler esse artigo na íntegra, em inglês, aqui). A história é, de fato, complexa, já que a cadeia de eventos é extensa e as informações vão se amontoando na mesma velocidade em que os documentos da Dupont chegam no escritório de Rob Bilott para serem analisados. São mais de 20 anos de processo que precisaram ser condensados em pouco mais de duas horas de filme - é pouco para a riqueza do material, pela força da trama e pelas motivações de ótimos personagens. Por mais estereotipados que possam parecer, não podemos esquecer que estamos falando de personagens típicos de uma cidade do interior de West Virgínia que hoje tem cerca de 30 mil habitantes ou de advogados corporativos de Cincinnati, Ohio e não de Nova Yorke.  Por outro lado vemos a jornada de ascensão social e profissional de um jovem e talentoso advogado, maravilhosamente interpretado por Mark Ruffalo - aliás Ruffalo poderia ter disputado a temporada premiações como "Melhor Ator", tranquilamente! A quem diga que é sua melhor atuação desde "Foxcatcher".

Outro ponto que merece destaque é a direção do Todd Haynes - é dele o excelente "Longe do Paraíso", indicado à 4 Oscars em 2003. Haynes não inventa moda, foca na direção dos atores e prova que não é preciso de uma câmera documental (nada contra) estilo Adam McKay, para se "documentar" uma história real na ficção! Os planos são bem construídos, mas fica claro que o foco está na relação entre os personagens, no diálogo, no peso das investigações e no reflexo da impunidade - é esse o grande trunfo do filme que nos move até o final com a faca nos dentes! O roteiro soube alinhar todos esses elementos, com as ferramentas que tinha e com isso transformou um filme complexo em uma história dinâmica e muito passional! O departamento de arte foi competente em fazer todas as transições de épocas e a fotografia do Edward Lachman foi inteligente em se aproveitar disso para deixar o filme ainda mais bonito visualmente - aliás, Lachman é aquele tipo de diretor de fotografia que praticamente não erra. Parceiro de Haynes em vários projetos, foi indicado ao Oscar duas vezes por filmes do diretor: 2016 por "Carol" e 2003 por "Longe do Paraíso".

"O Preço da Verdade" é um filme que foi pouco percebido nas premiações, talvez por seu lançamento ter acontecido muito no final do ano, mas merecia uma melhor chance. O elenco, além de Ruffalo, conta com Anne Hathaway como a esposa de Bilott - uma personagem discreta, mas com momentos pontuais que merecem destaque: a cena do hospital onde ela contra-cena com outro peso-pesado, Tim Robbins (Tom Terp), é sensacional! Bill Pullman e Victor Garber também estão no filme. Resumindo: gostei do que assisti, me penalizei com o roteirista por ter tido que adaptar uma grande história em pouco tempo de tela e fico muito a vontade para indicar "O Preço da Verdade". É um filme que nos provoca e mexe com a gente, principalmente por nos mostrar um outro lado da busca incansável do capitalismo americano pelo lucro a qualquer preço! Vale a pena!

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"O Preço da Verdade" (Dark Waters) é o típico projeto que se fosse uma minissérie seria sensacional - nível "Chernobyl", mas devido a limitação de tempo, se tornou apenas um ótimo filme!

Ele conta a história real de um recém-nomeado sócio de um escritório de advocacia, Rob Bilott (Mark Ruffalo), que tem como especialidade defender empresas químicas em processos corporativos. Após ser procurado por um fazendeiro de sua cidade natal em West Virgínia, devido a uma misteriosa sequência de 190 mortes de cabeças de gado, Bilott se vê no meio de uma suspeita muito indesejável: a responsável seria uma fábrica da "gigante" DuPont que emprega 90% da cidade de Parkersburg e que estaria contaminando a principal fonte de abastecimento de água da região! A partir daí, Rob Bilott começa a reunir provas contundentes e ao iniciar um processo contra a Dupont, ele descobre que os efeitos desse crime ambiental é infinitamente maior do que ele imaginava e que podem ter provocado reflexos na saúde de 99% da população mundial até os dias de hoje. Olha, é de revirar o estômago - pode até soar como uma grande conspiração, mas o filme é muito inteligente em se apoiar em uma série de fatos amplamente divulgados na época e que, de alguma forma, nos convidam a refletir sobre nossa atuação perante o planeta que gostaríamos de deixar para os nosso filhos e netos! Não é um filme que se propõe a levantar bandeiras ideológicas, mas, certamente, é um filme que vai te fazer pensar! Vale muito a pena!

"O Preço da Verdade" é inspirado numa história verdadeira e seu roteiro foi desenvolvido a partir de um artigo publicado em 2016 pelo jornal The New York Times, intitulado: “O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont” (você pode ler esse artigo na íntegra, em inglês, aqui). A história é, de fato, complexa, já que a cadeia de eventos é extensa e as informações vão se amontoando na mesma velocidade em que os documentos da Dupont chegam no escritório de Rob Bilott para serem analisados. São mais de 20 anos de processo que precisaram ser condensados em pouco mais de duas horas de filme - é pouco para a riqueza do material, pela força da trama e pelas motivações de ótimos personagens. Por mais estereotipados que possam parecer, não podemos esquecer que estamos falando de personagens típicos de uma cidade do interior de West Virgínia que hoje tem cerca de 30 mil habitantes ou de advogados corporativos de Cincinnati, Ohio e não de Nova Yorke.  Por outro lado vemos a jornada de ascensão social e profissional de um jovem e talentoso advogado, maravilhosamente interpretado por Mark Ruffalo - aliás Ruffalo poderia ter disputado a temporada premiações como "Melhor Ator", tranquilamente! A quem diga que é sua melhor atuação desde "Foxcatcher".

Outro ponto que merece destaque é a direção do Todd Haynes - é dele o excelente "Longe do Paraíso", indicado à 4 Oscars em 2003. Haynes não inventa moda, foca na direção dos atores e prova que não é preciso de uma câmera documental (nada contra) estilo Adam McKay, para se "documentar" uma história real na ficção! Os planos são bem construídos, mas fica claro que o foco está na relação entre os personagens, no diálogo, no peso das investigações e no reflexo da impunidade - é esse o grande trunfo do filme que nos move até o final com a faca nos dentes! O roteiro soube alinhar todos esses elementos, com as ferramentas que tinha e com isso transformou um filme complexo em uma história dinâmica e muito passional! O departamento de arte foi competente em fazer todas as transições de épocas e a fotografia do Edward Lachman foi inteligente em se aproveitar disso para deixar o filme ainda mais bonito visualmente - aliás, Lachman é aquele tipo de diretor de fotografia que praticamente não erra. Parceiro de Haynes em vários projetos, foi indicado ao Oscar duas vezes por filmes do diretor: 2016 por "Carol" e 2003 por "Longe do Paraíso".

"O Preço da Verdade" é um filme que foi pouco percebido nas premiações, talvez por seu lançamento ter acontecido muito no final do ano, mas merecia uma melhor chance. O elenco, além de Ruffalo, conta com Anne Hathaway como a esposa de Bilott - uma personagem discreta, mas com momentos pontuais que merecem destaque: a cena do hospital onde ela contra-cena com outro peso-pesado, Tim Robbins (Tom Terp), é sensacional! Bill Pullman e Victor Garber também estão no filme. Resumindo: gostei do que assisti, me penalizei com o roteirista por ter tido que adaptar uma grande história em pouco tempo de tela e fico muito a vontade para indicar "O Preço da Verdade". É um filme que nos provoca e mexe com a gente, principalmente por nos mostrar um outro lado da busca incansável do capitalismo americano pelo lucro a qualquer preço! Vale a pena!

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O Próprio Enterro

O cinema muitas vezes nos surpreende ao contar histórias emocionantes e inspiradoras que são baseadas em eventos da vida real, mas em "O Próprio Enterro" ainda temos um elemento que, de fato, chama a atenção: trata-se de uma história, no mínimo, inusitada. O filme dirigido pela Maggie Betts (de "Noviciado") é uma dessas pérolas que não apenas merece sua atenção, mas também vai te envolver do começo ao fim, graças a uma narrativa muito bem construída, atuações notáveis e uma direção precisa capaz criar uma experiência cativante! Eu diria que "The Burial" (no original) tem aquele toque de batalha jurídica ao melhor estilo “David x Golias corporativo" que fez de "Erin Brockovich" uma referências para filmes como "O Preço da Verdade".

Quando o acordo com o poderoso Loewen Group dá errado, o dono de uma pequena cadeia de funerárias do Mississipi, Jeremiah O’Keefe (Tommy Lee Jones), contrata o advogado rockstar Willie E. Gary (Jamie Foxx) para salvar o negócio de sua família. Os ânimos explodem quando os dois passam a expor as práticas questionáveis da gigante canadense do ramo funerário, que vão de corrupção à injustiças raciais, em um contexto social que vai muito além dos tribunais. Confira o trailer (em inglês):

A narrativa de "O Próprio Enterro"se desenrola de maneira envolvente, se apoiando na "dramédia" para revelar detalhes complexos de um caso que mudou a vida de seu protagonista e serviu de gatilho para discussões muito mais profundas - essencialmente no que diz respeito aos conflitos raciais da história americana através das décadas. Betts sabe que não é preciso pesar na mão em nenhum momento - sua proposta conceitual traz sim o embate, mas nunca de uma forma dramática demais. Mesmo que exista uma certa densidade no assunto, sua atmosfera nunca é impactante, mesmo com aquela profundidade emocional que nos remete ao básico do "já sei onde tudo isso vai dar"!

A fotografia da incrível Maryse Alberti (de "O Lutador") é meticulosamente planejada para pontuar as sombras e contrastes do tribunal perante a luz e a cor do "maravilhoso mundo de Willie E. Gary" - a conotação de "sonho americano" realmente acompanha a jornada dos personagens, mas cada um com sua particularidade, inclusive visual. Se o roteiro da própria Maggie Betts acerta na apresentação desses personagens, ela certamente derrapa no desenvolvimento de outros - algumas peças (raras) se perdem e ótimas premissas simplesmente são deixadas de lado para focar apenas em  O’Keefe e Gary. É o caso da personagem Mame Downes da atriz Jurnee Smollet e de Mike Allred e Hal Dockins dos atores Alan Ruck e Mamoudou Athie, respectivamente. Ah, Bill Camp como o todo poderoso Ray Loewen brilha quando é demandado e por isso merece elogios.

"O Próprio Enterro" é realmente um ótimo entretenimento, mas longe de ser inesquecível. No entanto é daqueles que chega quietinho e vai conquistando a audiência ao ponto de marcar 91% de aprovação no Rotten Tomatoes.As performances acima da média são um bom atrativo - especialmente de Foxx; mas não é só isso já que Betts conduz uma narrativa que, mesmo com seus vacilos, é cativante. O filme sabe mesmo mergulhar nas complexidades da justiça americana pelos olhos de quem está disposto a lutar pela verdade até quando tudo leva a crer que a batalha já está perdida. Original? Longe disso, mas muito divertido mesmo sem ser uma comédia como muitos disseram por aí.

Vale seu play!

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O cinema muitas vezes nos surpreende ao contar histórias emocionantes e inspiradoras que são baseadas em eventos da vida real, mas em "O Próprio Enterro" ainda temos um elemento que, de fato, chama a atenção: trata-se de uma história, no mínimo, inusitada. O filme dirigido pela Maggie Betts (de "Noviciado") é uma dessas pérolas que não apenas merece sua atenção, mas também vai te envolver do começo ao fim, graças a uma narrativa muito bem construída, atuações notáveis e uma direção precisa capaz criar uma experiência cativante! Eu diria que "The Burial" (no original) tem aquele toque de batalha jurídica ao melhor estilo “David x Golias corporativo" que fez de "Erin Brockovich" uma referências para filmes como "O Preço da Verdade".

Quando o acordo com o poderoso Loewen Group dá errado, o dono de uma pequena cadeia de funerárias do Mississipi, Jeremiah O’Keefe (Tommy Lee Jones), contrata o advogado rockstar Willie E. Gary (Jamie Foxx) para salvar o negócio de sua família. Os ânimos explodem quando os dois passam a expor as práticas questionáveis da gigante canadense do ramo funerário, que vão de corrupção à injustiças raciais, em um contexto social que vai muito além dos tribunais. Confira o trailer (em inglês):

A narrativa de "O Próprio Enterro"se desenrola de maneira envolvente, se apoiando na "dramédia" para revelar detalhes complexos de um caso que mudou a vida de seu protagonista e serviu de gatilho para discussões muito mais profundas - essencialmente no que diz respeito aos conflitos raciais da história americana através das décadas. Betts sabe que não é preciso pesar na mão em nenhum momento - sua proposta conceitual traz sim o embate, mas nunca de uma forma dramática demais. Mesmo que exista uma certa densidade no assunto, sua atmosfera nunca é impactante, mesmo com aquela profundidade emocional que nos remete ao básico do "já sei onde tudo isso vai dar"!

A fotografia da incrível Maryse Alberti (de "O Lutador") é meticulosamente planejada para pontuar as sombras e contrastes do tribunal perante a luz e a cor do "maravilhoso mundo de Willie E. Gary" - a conotação de "sonho americano" realmente acompanha a jornada dos personagens, mas cada um com sua particularidade, inclusive visual. Se o roteiro da própria Maggie Betts acerta na apresentação desses personagens, ela certamente derrapa no desenvolvimento de outros - algumas peças (raras) se perdem e ótimas premissas simplesmente são deixadas de lado para focar apenas em  O’Keefe e Gary. É o caso da personagem Mame Downes da atriz Jurnee Smollet e de Mike Allred e Hal Dockins dos atores Alan Ruck e Mamoudou Athie, respectivamente. Ah, Bill Camp como o todo poderoso Ray Loewen brilha quando é demandado e por isso merece elogios.

"O Próprio Enterro" é realmente um ótimo entretenimento, mas longe de ser inesquecível. No entanto é daqueles que chega quietinho e vai conquistando a audiência ao ponto de marcar 91% de aprovação no Rotten Tomatoes.As performances acima da média são um bom atrativo - especialmente de Foxx; mas não é só isso já que Betts conduz uma narrativa que, mesmo com seus vacilos, é cativante. O filme sabe mesmo mergulhar nas complexidades da justiça americana pelos olhos de quem está disposto a lutar pela verdade até quando tudo leva a crer que a batalha já está perdida. Original? Longe disso, mas muito divertido mesmo sem ser uma comédia como muitos disseram por aí.

Vale seu play!

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O que te faz mais Forte

"Stronger" (título original) conta a história real de uma das vítimas atingida por uma bomba no final da maratona de Boston em 2013. O filme mostra todo o processo de raiva, aceitação, superação e tudo mais que o tema pede! Mas é preciso relativizar a força do roteiro: poderia ser um grande filme, algo como o "Escafandro e a Borboleta", mas não será isso você vai encontrar e nem por isso sua experiência será ruim, muito pelo contrário, o filme é denso mas foi todo construído para te emocionar. Veja o trailer:

Aos 23 anos, Jeff (Jake Gyllenhaal), um trabalhador de classe média que tentava reconquistar o coração da sua ex-namorada, Erin (Tatiana Maslany). Enquanto esperava por ela ocorreu a explosão -  Jeff perde ambas as pernas! Já no hospital, Jeff recupera a consciência e consegue ajudar a polícia a identificar um dos terroristas, mas a sua luta pessoal está só começando. Com a ajuda da família e de Erin, Jeff dedica meses e meses para sua reabilitação física e emocional. A sua determinação e coragem de viver, ultrapassar a devastadora adversidade até se tornar num símbolo de força, resistência e inspiração para sua família e para todo um país!

É fato que em "O que te faz mais Forte", o diretorDavid Gordon Green (de "Prova de Amor") e o roteiristaJohn Polono narram a jornada de Bauman com o objetivo de  entender os efeitos íntimos de uma tragédia tão marcante. Embora abuse de um certo patriotismo vazio, o filme foca nas reações humanas e não na tragédia em si - medindo o peso daquele instante e os reflexos na vida da vítima, de seus familiares e de toda uma população apavorada com o terrorismo pós 11/9.

Jake Gyllenhaal entrega mais um grande trabalho! Em mais um trabalho impecável, ele assume todos os desafios da recuperação: as quedas, o esforço para tarefas mais simples como pegar papel higiênico no banheiro até o fato de ser alçado ao posto de herói pela mídia e pela família. Tatiana Maslany (a eterna Sarah Manning de Orphan Black) faz um trabalho igualmente competente - principalmente ao lidar com a culpa por ser a razão de Bauman estar onde estava! Reparem que o filme não se apoia no romantismo e sim na dificuldade que é ajudar alguém que não quer se ajudar!

"O que te faz mais Forte" vale o seu play, é um ótimo filme sem a menor dúvida - só acho que o roteiro vacila em alguns momentos e perde uma enorme oportunidade de ser inesquecível (como o livro)!

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"Stronger" (título original) conta a história real de uma das vítimas atingida por uma bomba no final da maratona de Boston em 2013. O filme mostra todo o processo de raiva, aceitação, superação e tudo mais que o tema pede! Mas é preciso relativizar a força do roteiro: poderia ser um grande filme, algo como o "Escafandro e a Borboleta", mas não será isso você vai encontrar e nem por isso sua experiência será ruim, muito pelo contrário, o filme é denso mas foi todo construído para te emocionar. Veja o trailer:

Aos 23 anos, Jeff (Jake Gyllenhaal), um trabalhador de classe média que tentava reconquistar o coração da sua ex-namorada, Erin (Tatiana Maslany). Enquanto esperava por ela ocorreu a explosão -  Jeff perde ambas as pernas! Já no hospital, Jeff recupera a consciência e consegue ajudar a polícia a identificar um dos terroristas, mas a sua luta pessoal está só começando. Com a ajuda da família e de Erin, Jeff dedica meses e meses para sua reabilitação física e emocional. A sua determinação e coragem de viver, ultrapassar a devastadora adversidade até se tornar num símbolo de força, resistência e inspiração para sua família e para todo um país!

É fato que em "O que te faz mais Forte", o diretorDavid Gordon Green (de "Prova de Amor") e o roteiristaJohn Polono narram a jornada de Bauman com o objetivo de  entender os efeitos íntimos de uma tragédia tão marcante. Embora abuse de um certo patriotismo vazio, o filme foca nas reações humanas e não na tragédia em si - medindo o peso daquele instante e os reflexos na vida da vítima, de seus familiares e de toda uma população apavorada com o terrorismo pós 11/9.

Jake Gyllenhaal entrega mais um grande trabalho! Em mais um trabalho impecável, ele assume todos os desafios da recuperação: as quedas, o esforço para tarefas mais simples como pegar papel higiênico no banheiro até o fato de ser alçado ao posto de herói pela mídia e pela família. Tatiana Maslany (a eterna Sarah Manning de Orphan Black) faz um trabalho igualmente competente - principalmente ao lidar com a culpa por ser a razão de Bauman estar onde estava! Reparem que o filme não se apoia no romantismo e sim na dificuldade que é ajudar alguém que não quer se ajudar!

"O que te faz mais Forte" vale o seu play, é um ótimo filme sem a menor dúvida - só acho que o roteiro vacila em alguns momentos e perde uma enorme oportunidade de ser inesquecível (como o livro)!

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O Segredo - Ouse Sonhar

O Segredo - Ouse Sonhar

Como tudo na vida que possa soar oportunismo, muitas histórias interessantes acabaram caindo na definição pejorativa de auto-ajuda sem ao menos ter a chance de nos convencer do contrário. A mesma avalanche que traz, leva, e, certamente, esse movimento nos afastou de ótimas narrativas pelo simples fato de nos apoiarmos no preconceito como uma forma de defesa - natural pela enorme quantidade de besteiras que foram ditas e produzidas durante anos. O fato é que "O Segredo - Ouse Sonhar" recebeu esse olhar desconfiado (inclusive desse que vos escreve), injustamente, já que o filme é uma delicia de assistir e, sim, nos entrega mensagens que nos enchem de energia.

Baseado em uma das histórias do livro de sucesso "O Segredo", de Rhonda Byrne, o filme nos apresenta Miranda (Katie Holmes), uma viúva com três filhos que acaba se envolvendo em um acidente de trânsito que, sem ela desconfiar, vai mudar o rumo da sua vida. Ao se oferecer para consertar o parachoque danificado do carro de Miranda, Bray (Josh Lucas) passa a compartilhar com ela (e com seus filhos) sua filosofia e crença no poder do universo para entregar o que queremos. Bray explica sua teoria sobre a lei da atração e o quanto é importante acreditar que os pensamentos positivos têm um grande poder de influenciar diretamente no dia a dia de qualquer pessoa, sendo possível alcançar qualquer objetivo da vida da melhor forma - algo que para Miranda soa fora da realidade. Confira o trailer:

Inegavelmente que depois de ler a sinopse e assistir o trailer, temos a clara sensação de que se trata de mais um filme "água com açúcar" bem ao estilo "Sessão da Tarde" - e, de fato, a construção narrativa comprova essa percepção, mas nem por isso "O Segredo - Ouse Sonhar" deixa de ser um bom entretenimento. O filme surpreende pela forma fluída que a história é contada e pela qualidade da sua produção. O diretor Andy Tennant não inventa, apenas replica a mesma fórmula de sucesso que ele usou por muito tempo em "O Método Kominsky" - tratar de assuntos que beiram a superficialidade, com sensibilidade, inteligência e emoção. E veja, a superficialidade está no forma como reagimos ao nosso próprio preconceito, não necessariamente ao tema em si. Tennant é esperto, ele cria uma atmosfera muito confortável para quem assiste e quando nos damos conta, já estamos completamente envolvidos com os personagens. Katie Holmes continua sendo a Joe de "Dawson's Creek", só que 15 anos mais velha. Josh Lucas não é lá aquele grande ator, mas a verdade é que existe química entre ambos - a conexão funciona!

O roteiro, é preciso que se diga, cai na tentação de transformar Bray na salvação de uma Miranda pessimista e falida - essa interpretação é legítima, mas entendendo o real objetivo do filme, fica muito fácil embarcar na sua proposta e essa composição completamente estereotipada passa batido ou pelo menos não incomoda tanto. "O Segredo - Ouse Sonhar" está recheado de frases prontas e motivacionais, mas quem dá o play não se incomoda em ouvi-las e, sim, a sensação de bem-estar que o filme produz justifica a escolha. Se você acredita na frase: "É através das coincidências que Deus permanece anônimo", pode dar o play sem o menor receio que seu entretenimento e o sorriso ao final do filme estão garantidos!

Sorrindo, eu te digo: vale seu play! 

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Como tudo na vida que possa soar oportunismo, muitas histórias interessantes acabaram caindo na definição pejorativa de auto-ajuda sem ao menos ter a chance de nos convencer do contrário. A mesma avalanche que traz, leva, e, certamente, esse movimento nos afastou de ótimas narrativas pelo simples fato de nos apoiarmos no preconceito como uma forma de defesa - natural pela enorme quantidade de besteiras que foram ditas e produzidas durante anos. O fato é que "O Segredo - Ouse Sonhar" recebeu esse olhar desconfiado (inclusive desse que vos escreve), injustamente, já que o filme é uma delicia de assistir e, sim, nos entrega mensagens que nos enchem de energia.

Baseado em uma das histórias do livro de sucesso "O Segredo", de Rhonda Byrne, o filme nos apresenta Miranda (Katie Holmes), uma viúva com três filhos que acaba se envolvendo em um acidente de trânsito que, sem ela desconfiar, vai mudar o rumo da sua vida. Ao se oferecer para consertar o parachoque danificado do carro de Miranda, Bray (Josh Lucas) passa a compartilhar com ela (e com seus filhos) sua filosofia e crença no poder do universo para entregar o que queremos. Bray explica sua teoria sobre a lei da atração e o quanto é importante acreditar que os pensamentos positivos têm um grande poder de influenciar diretamente no dia a dia de qualquer pessoa, sendo possível alcançar qualquer objetivo da vida da melhor forma - algo que para Miranda soa fora da realidade. Confira o trailer:

Inegavelmente que depois de ler a sinopse e assistir o trailer, temos a clara sensação de que se trata de mais um filme "água com açúcar" bem ao estilo "Sessão da Tarde" - e, de fato, a construção narrativa comprova essa percepção, mas nem por isso "O Segredo - Ouse Sonhar" deixa de ser um bom entretenimento. O filme surpreende pela forma fluída que a história é contada e pela qualidade da sua produção. O diretor Andy Tennant não inventa, apenas replica a mesma fórmula de sucesso que ele usou por muito tempo em "O Método Kominsky" - tratar de assuntos que beiram a superficialidade, com sensibilidade, inteligência e emoção. E veja, a superficialidade está no forma como reagimos ao nosso próprio preconceito, não necessariamente ao tema em si. Tennant é esperto, ele cria uma atmosfera muito confortável para quem assiste e quando nos damos conta, já estamos completamente envolvidos com os personagens. Katie Holmes continua sendo a Joe de "Dawson's Creek", só que 15 anos mais velha. Josh Lucas não é lá aquele grande ator, mas a verdade é que existe química entre ambos - a conexão funciona!

O roteiro, é preciso que se diga, cai na tentação de transformar Bray na salvação de uma Miranda pessimista e falida - essa interpretação é legítima, mas entendendo o real objetivo do filme, fica muito fácil embarcar na sua proposta e essa composição completamente estereotipada passa batido ou pelo menos não incomoda tanto. "O Segredo - Ouse Sonhar" está recheado de frases prontas e motivacionais, mas quem dá o play não se incomoda em ouvi-las e, sim, a sensação de bem-estar que o filme produz justifica a escolha. Se você acredita na frase: "É através das coincidências que Deus permanece anônimo", pode dar o play sem o menor receio que seu entretenimento e o sorriso ao final do filme estão garantidos!

Sorrindo, eu te digo: vale seu play! 

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O Sequestro do Voo 375

Existe uma linha tênue entre o que deve ser mostrado e o que se é capaz de mostrar quando um diretor entra em um projeto onde a necessidade de intervenções gráficas (leia-se efeitos especiais ou CGI) é fundamental para mudar o patamar de um filme. Contar a história real de um sequestro de avião, com desdobramentos tão espetaculares visualmente, como o do voo 375, de fato, não deve ter sido uma tarefa das mais fáceis e por isso o diretor Marcos Baldini (que ganhou fama com o seu "Bruna Surfistinha") já merece elogios. No entanto, como no excelente "Voo United 93" do Paul Greengrass ensinou, um fator completamente independente da espetacularização visual precisa ser prioridade: o drama da condição humana. Em "O Sequestro do Voo 375" é possível entender separadamente o recorte politico da época, a pressão das autoridades, o desespero pelo qual Nonato estava passando, a intensidade emocional que levou o piloto Murilo fazer uma manobra improvável para tentar salvar sua vida e de seus passageiros, mas ao juntar todos esses elementos dramáticos com as tais intervenções, o filme peca pela falta de prioridade - e também de apuro técnico (leia-se orçamento). Isso é um problema? Para alguns será, para outros tende a passar despercebido, pois o filme realmente consegue manter o nível de tensão do inicio ao fim e, principalmente, consegue sim entregar um ótimo entretenimento.

Nonato (Jorge Paz) é um homem de origem simples e em sérias dificuldades financeiras. Inconformado com a sua situação e como o então presidente José Sarney administrava a crise do país pós-ditadura, ele decide protestar contra o Governo de uma forma drástica: sequestrar o voo 375 da Vasp, com mais de cem passageiros, ordenando que o comandante Murilo (Danilo Grangheia) jogue o avião em cima do Palácio do Planalto em Brasília. Confira o trailer:

Saiba que o mais interessante do "O Sequestro do Voo 375" é sua proposta. O filme não apenas narra os eventos do sequestro em si, mas também nos convida para um mergulho na psicologia do seu protagonista, Nonato. Jorge Paz, mesmo que em alguns momentos soe um pouco estereotipado demais, sabe da sua capacidade como ator e como transmitir seu desespero com o olhar. Mais do que sua relação com o personagem Murilo de Grangheia, seus melhores momentos se dão com a troca empática que tem com a controladora de voo, Luisa interpretada por Roberta Gualda. A relação humana entre universos tão diferentes, mas que compactuavam com o drama sócio-politico da época, se faz tão presente na narrativa que chega a ser curioso porquê os roteiristas Lusa Silvestre (de "Estômago") e Mikael de Albuquerque (de "O Rei da TV") não priorizaram esse caminho - essa escolha certamente tiraria o peso de alguns planos com CGI desnecessários e daria lastro para o ápice do filme.

Por outro lado, é preciso exaltar a sequência impressionante da manobra feita pelo comandante Murilo - especialmente nas cenas realizadas dentro do avião. Existe uma intensidade visual que está totalmente alinhada com o drama que aquelas pessoas passaram ali. É praticamente impossível você não se colocar naquela situação e ainda agradecer por não ter estado lá. A fotografia desempenha um papel crucial em criar essa atmosfera angustiante, claustrofóbica e opressiva dentro do avião e junto com a montagem, refletir o desespero de quem vivenciou tal experiência - sem dúvida alguma que esse é o ponto alto do filme. Na reconstrução de época, finalzinho dos anos 80, a produção é mais feliz na direção de arte, nos cenários e nos figurinos do que na caracterização dos personagens - reparem como as imagens de arquivo que acompanham os créditos finais depõem contra o filme. Se o comandante Murilo real não tinha bigode, por que Grangheia está de bigode na ficção? Se o co-piloto Vangelis era branco, por que escalaram o ator César Mello? Não faz sentido e nos afasta na relação de verossimilhança com a obra.

Mesmo com algumas inexplicáveis escolhas conceituais e de produção, "O Sequestro do Voo 375" é um filme que provavelmente irá além das suas expectativas, oferecendo uma experiência envolvente e emocionalmente impactante. Com uma combinação das mais interessantes entre boas performances, uma direção habilidosa quando necessária e uma narrativa realmente poderosa por ser baseada em eventos reais, o filme é mais do que uma simples história de sequestro com um CGI mais ou menos - é uma reflexão inteligente e corajosa sobre os limites da desesperança. Aliás um comentário: essa é uma iniciativa importante do Star+ em investir em histórias que até pouco tempo pareciam impossíveis de serem contatadas por aqui. E se você ficou curioso ou quer saber mais sobre o voo 375, sugiro o livro "Caixa-preta: O relato de três desastres aéreos brasileiros" de Ivan Sant'Anna.

Vale seu play!

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Existe uma linha tênue entre o que deve ser mostrado e o que se é capaz de mostrar quando um diretor entra em um projeto onde a necessidade de intervenções gráficas (leia-se efeitos especiais ou CGI) é fundamental para mudar o patamar de um filme. Contar a história real de um sequestro de avião, com desdobramentos tão espetaculares visualmente, como o do voo 375, de fato, não deve ter sido uma tarefa das mais fáceis e por isso o diretor Marcos Baldini (que ganhou fama com o seu "Bruna Surfistinha") já merece elogios. No entanto, como no excelente "Voo United 93" do Paul Greengrass ensinou, um fator completamente independente da espetacularização visual precisa ser prioridade: o drama da condição humana. Em "O Sequestro do Voo 375" é possível entender separadamente o recorte politico da época, a pressão das autoridades, o desespero pelo qual Nonato estava passando, a intensidade emocional que levou o piloto Murilo fazer uma manobra improvável para tentar salvar sua vida e de seus passageiros, mas ao juntar todos esses elementos dramáticos com as tais intervenções, o filme peca pela falta de prioridade - e também de apuro técnico (leia-se orçamento). Isso é um problema? Para alguns será, para outros tende a passar despercebido, pois o filme realmente consegue manter o nível de tensão do inicio ao fim e, principalmente, consegue sim entregar um ótimo entretenimento.

Nonato (Jorge Paz) é um homem de origem simples e em sérias dificuldades financeiras. Inconformado com a sua situação e como o então presidente José Sarney administrava a crise do país pós-ditadura, ele decide protestar contra o Governo de uma forma drástica: sequestrar o voo 375 da Vasp, com mais de cem passageiros, ordenando que o comandante Murilo (Danilo Grangheia) jogue o avião em cima do Palácio do Planalto em Brasília. Confira o trailer:

Saiba que o mais interessante do "O Sequestro do Voo 375" é sua proposta. O filme não apenas narra os eventos do sequestro em si, mas também nos convida para um mergulho na psicologia do seu protagonista, Nonato. Jorge Paz, mesmo que em alguns momentos soe um pouco estereotipado demais, sabe da sua capacidade como ator e como transmitir seu desespero com o olhar. Mais do que sua relação com o personagem Murilo de Grangheia, seus melhores momentos se dão com a troca empática que tem com a controladora de voo, Luisa interpretada por Roberta Gualda. A relação humana entre universos tão diferentes, mas que compactuavam com o drama sócio-politico da época, se faz tão presente na narrativa que chega a ser curioso porquê os roteiristas Lusa Silvestre (de "Estômago") e Mikael de Albuquerque (de "O Rei da TV") não priorizaram esse caminho - essa escolha certamente tiraria o peso de alguns planos com CGI desnecessários e daria lastro para o ápice do filme.

Por outro lado, é preciso exaltar a sequência impressionante da manobra feita pelo comandante Murilo - especialmente nas cenas realizadas dentro do avião. Existe uma intensidade visual que está totalmente alinhada com o drama que aquelas pessoas passaram ali. É praticamente impossível você não se colocar naquela situação e ainda agradecer por não ter estado lá. A fotografia desempenha um papel crucial em criar essa atmosfera angustiante, claustrofóbica e opressiva dentro do avião e junto com a montagem, refletir o desespero de quem vivenciou tal experiência - sem dúvida alguma que esse é o ponto alto do filme. Na reconstrução de época, finalzinho dos anos 80, a produção é mais feliz na direção de arte, nos cenários e nos figurinos do que na caracterização dos personagens - reparem como as imagens de arquivo que acompanham os créditos finais depõem contra o filme. Se o comandante Murilo real não tinha bigode, por que Grangheia está de bigode na ficção? Se o co-piloto Vangelis era branco, por que escalaram o ator César Mello? Não faz sentido e nos afasta na relação de verossimilhança com a obra.

Mesmo com algumas inexplicáveis escolhas conceituais e de produção, "O Sequestro do Voo 375" é um filme que provavelmente irá além das suas expectativas, oferecendo uma experiência envolvente e emocionalmente impactante. Com uma combinação das mais interessantes entre boas performances, uma direção habilidosa quando necessária e uma narrativa realmente poderosa por ser baseada em eventos reais, o filme é mais do que uma simples história de sequestro com um CGI mais ou menos - é uma reflexão inteligente e corajosa sobre os limites da desesperança. Aliás um comentário: essa é uma iniciativa importante do Star+ em investir em histórias que até pouco tempo pareciam impossíveis de serem contatadas por aqui. E se você ficou curioso ou quer saber mais sobre o voo 375, sugiro o livro "Caixa-preta: O relato de três desastres aéreos brasileiros" de Ivan Sant'Anna.

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Obrigado por Fumar

Tudo pode ser vendido, desde que você tenha os argumentos certos! É com certo tom de ironia que o diretor Jason Reitman (de "Tully") fez sua estreia em longas-metragem em 2005 com o excelente (e polêmico) "Obrigado por Fumar". Se na época do seu lançamento a discussão sobre "liberdade de escolha" parecia se apoiar na forma como uma mensagem poderia ser manipulada apenas através da publicidade e do marketing, hoje, alguns bons anos depois, sabemos que o problema é muito (mas, muito) mais profundo - e talvez por isso faça total sentido revisitar o filme. O conceito narrativo escolhido por Reitman ganhou outras camadas, principalmente com diretores como Adam McKay ou até com o Spike Lee, e isso não nos impacta mais: aquela montagem mais recortada e o tom mais satirizado funcionam como gatilho para discussões profundas sobre assuntos bem sérios, mas não é tão novidade assim. Porém, é de se elogiar a maneira como o diretor, ainda começando, "brinca" com nossa percepção sobre o que é certo e errado através de pontos de vista diferentes e de como a uma determinada mensagem pode ser replicada dependendo de como ela é interpretada - em tempos de rede social, isso acaba ganhando uma importância ainda maior, não?

Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o porta-voz de grandes empresas de cigarros que ganha a vida defendendo a liberdade de escolha dos fumantes nos Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde e também pelo senador Ortolan K. Finistirre (William H. Macy), que deseja colocar um rótulo de veneno nos maços de cigarros, Nick passa a manipular informações de forma a diminuir os riscos da nicotina em entrevistas em programas de TV. Sua fama faz com que Nick atraia a atenção de Heather Holloway (Katie Holmes), uma jovem repórter de Washington que deseja investigá-lo. Embora ele diga repetidamente que trabalha apenas para pagar as contas, sua relação com o trabalho passa a mudar quando seu filho Joey (Cameron Bright) busca entender em que realmente seu pai trabalha. 

Obviamente que "Obrigado por Fumar" é uma crítica mordaz aos métodos de manipulação de informações utilizados por inúmeros lobistas e relações públicas quando o objetivo é defender algo que é indefensável. Embora o roteiro, baseado no livro de Christopher Buckley, seja inteligente o suficiente ao mostrar como Nick habilmente distorce a verdade, utilizando argumentos convincentes e artifícios retóricos para moldar a opinião pública a seu favor, é na exposição da natureza subjetiva do seu discurso que o filme questiona a ética por trás de promoção de produtos prejudiciais à saúde. Existe uma sensibilidade impressionante na forma como os diálogos são construídos e como o protagonista lida com a moralidade, ou seja, excluindo o cinismo proposital da provocação, o que temos é uma aula de persuasão e vendas.

Naylor é uma figura fascinante e contraditória - e isso humaniza seu personagem em tempos onde ser herói ou bandido era definido exclusivamente pelos atos durante uma visão única da história. Aqui, o tom é mais acizentado, pois as perspectivas sobre o assunto são diferentes e complementares. Veja, apesar de promover um produto prejudicial, Naylor é apresentado como um personagem carismático e cativante - existe uma quebra de expectativa que dificulta nossa análise crítica. A complexidade da relação moral do protagonista reside no conflito interno entre sua profissão e sua vida pessoal, brilhantemente representados pelo filho pré-adolescente e pela jornalista sedutora que entram na trama para desempenhar papéis importantes nesse jogo de manipulação - Heather Holloway, inclusive, traz até a "hipocrisia" para a discussão.

Com um humor sutil e razoavelmente sarcástico, o filme não apenas faz piadas sobre a indústria do tabaco, mas também sobre as contradições do universo politico (já viram isso em algum lugar?), corporativo (ops!) e midiático (bingo!). Fato é que, ao explorar o mundo controverso do tabaco através dos olhos de um porta-voz carismático, "Obrigado por Fumar" nos convida a questionar a verdade, a ética e o papel da comunicação persuasiva nas decisões que tomamos até hoje. Com sua mistura de humor inteligente e crítica social, este filme continua a ser relevante ao destacar as táticas utilizadas para moldar percepções e influenciar debates.

Vale muito o seu play!

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Tudo pode ser vendido, desde que você tenha os argumentos certos! É com certo tom de ironia que o diretor Jason Reitman (de "Tully") fez sua estreia em longas-metragem em 2005 com o excelente (e polêmico) "Obrigado por Fumar". Se na época do seu lançamento a discussão sobre "liberdade de escolha" parecia se apoiar na forma como uma mensagem poderia ser manipulada apenas através da publicidade e do marketing, hoje, alguns bons anos depois, sabemos que o problema é muito (mas, muito) mais profundo - e talvez por isso faça total sentido revisitar o filme. O conceito narrativo escolhido por Reitman ganhou outras camadas, principalmente com diretores como Adam McKay ou até com o Spike Lee, e isso não nos impacta mais: aquela montagem mais recortada e o tom mais satirizado funcionam como gatilho para discussões profundas sobre assuntos bem sérios, mas não é tão novidade assim. Porém, é de se elogiar a maneira como o diretor, ainda começando, "brinca" com nossa percepção sobre o que é certo e errado através de pontos de vista diferentes e de como a uma determinada mensagem pode ser replicada dependendo de como ela é interpretada - em tempos de rede social, isso acaba ganhando uma importância ainda maior, não?

Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o porta-voz de grandes empresas de cigarros que ganha a vida defendendo a liberdade de escolha dos fumantes nos Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde e também pelo senador Ortolan K. Finistirre (William H. Macy), que deseja colocar um rótulo de veneno nos maços de cigarros, Nick passa a manipular informações de forma a diminuir os riscos da nicotina em entrevistas em programas de TV. Sua fama faz com que Nick atraia a atenção de Heather Holloway (Katie Holmes), uma jovem repórter de Washington que deseja investigá-lo. Embora ele diga repetidamente que trabalha apenas para pagar as contas, sua relação com o trabalho passa a mudar quando seu filho Joey (Cameron Bright) busca entender em que realmente seu pai trabalha. 

Obviamente que "Obrigado por Fumar" é uma crítica mordaz aos métodos de manipulação de informações utilizados por inúmeros lobistas e relações públicas quando o objetivo é defender algo que é indefensável. Embora o roteiro, baseado no livro de Christopher Buckley, seja inteligente o suficiente ao mostrar como Nick habilmente distorce a verdade, utilizando argumentos convincentes e artifícios retóricos para moldar a opinião pública a seu favor, é na exposição da natureza subjetiva do seu discurso que o filme questiona a ética por trás de promoção de produtos prejudiciais à saúde. Existe uma sensibilidade impressionante na forma como os diálogos são construídos e como o protagonista lida com a moralidade, ou seja, excluindo o cinismo proposital da provocação, o que temos é uma aula de persuasão e vendas.

Naylor é uma figura fascinante e contraditória - e isso humaniza seu personagem em tempos onde ser herói ou bandido era definido exclusivamente pelos atos durante uma visão única da história. Aqui, o tom é mais acizentado, pois as perspectivas sobre o assunto são diferentes e complementares. Veja, apesar de promover um produto prejudicial, Naylor é apresentado como um personagem carismático e cativante - existe uma quebra de expectativa que dificulta nossa análise crítica. A complexidade da relação moral do protagonista reside no conflito interno entre sua profissão e sua vida pessoal, brilhantemente representados pelo filho pré-adolescente e pela jornalista sedutora que entram na trama para desempenhar papéis importantes nesse jogo de manipulação - Heather Holloway, inclusive, traz até a "hipocrisia" para a discussão.

Com um humor sutil e razoavelmente sarcástico, o filme não apenas faz piadas sobre a indústria do tabaco, mas também sobre as contradições do universo politico (já viram isso em algum lugar?), corporativo (ops!) e midiático (bingo!). Fato é que, ao explorar o mundo controverso do tabaco através dos olhos de um porta-voz carismático, "Obrigado por Fumar" nos convida a questionar a verdade, a ética e o papel da comunicação persuasiva nas decisões que tomamos até hoje. Com sua mistura de humor inteligente e crítica social, este filme continua a ser relevante ao destacar as táticas utilizadas para moldar percepções e influenciar debates.

Vale muito o seu play!

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Olhos que condenam

"Olhos que condenam" é uma minissérie Original da Netflix com apenas 4 episódios de uma hora de duração, em média (o último tem quase um hora e meia), produzida pela Oprah Winfrey e que recentemente se tornou a "série" mais assistida nos EUA desde o seu lançamento no final de maio! E olha, posso garantir que não foi por acaso!!! "Olhos que condenam" embrulha o estômago de uma forma que chega a incomodar, pois, embora seja uma ficção, foi baseada em fatos reais e esses fatos são cruéis, injustos, doloridos, e tudo de ruim que você possa imaginar! Saber que tudo aquilo realmente aconteceu transforma nossa experiência de uma forma avassaladora! Sem exageros!

A minissérie conta a história de cinco adolescentes do Harlem - quatro negros e um hispânico - que foram condenados por um estupro que, aparentemente, não cometeram. A trajetória de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise é retratada desde os primeiros interrogatórios em 1989 até  a absolvição em 2002 de uma forma muito inteligente e dinâmica. "Olhos que condenam" traz para ficção muito do que vimos no documental "Making a Murderer" - com o agravante dos suspeitos serem adolescentes! A narrativa tem a preocupação de mostrar todos os lados da história, independente dos seus valores e isso nos choca, nos faz refletir sobre nossos próprios julgamentos ou preconceitos.

A direção da excelente Ava DuVernay, de "Selma" e do indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2017, "A 13ª Emenda", é segura e vital para entendimento de cada detalhe da história. Ela mistura cenas reais da época do crime, com planos muito criativos e inteligentes - ela passeia pela linha do tempo sem a necessidade de legendar cada salto com muita delicadeza. A fotografia também é ótima, mas falha em alguns planos por excesso de inventividade - alguns "blurs" chegam atrapalhar o trabalho dos atores, principalmente nos planos fechados. Aliás, os atores estão ótimos: das crianças aos adultos, passando pela família e pelos advogados - todos muito bem escalados e no tom certo. Destaque para: Jharrel Jerome como Korey Wise, Felicity Huffman como Linda Fairstein e os sempre geniais John Leguizamo e Michael Kenneth William como Raymond Santana Sr. e Bobby McCray, respectivamente.

A verdade é que "Olhos que condenam" é o tipo de minissérie que mexe com a gente pelo simples fato de ter uma história surpreendente, que nos coloca na situação daqueles personagens imediatamente. É difícil não se emocionar, não se revoltar, não sofrer com aquilo que estamos assistindo e esse, na minha opinião, é o grande acerto da Netflix em querer contar essa história absurda. Se você gostou de filmes como "Tempo de Matar" ou do já comentado "Making a Murderer", dê o play  sem o menor receio porque vale muito a pena, mesmo!!!

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"Olhos que condenam" é uma minissérie Original da Netflix com apenas 4 episódios de uma hora de duração, em média (o último tem quase um hora e meia), produzida pela Oprah Winfrey e que recentemente se tornou a "série" mais assistida nos EUA desde o seu lançamento no final de maio! E olha, posso garantir que não foi por acaso!!! "Olhos que condenam" embrulha o estômago de uma forma que chega a incomodar, pois, embora seja uma ficção, foi baseada em fatos reais e esses fatos são cruéis, injustos, doloridos, e tudo de ruim que você possa imaginar! Saber que tudo aquilo realmente aconteceu transforma nossa experiência de uma forma avassaladora! Sem exageros!

A minissérie conta a história de cinco adolescentes do Harlem - quatro negros e um hispânico - que foram condenados por um estupro que, aparentemente, não cometeram. A trajetória de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise é retratada desde os primeiros interrogatórios em 1989 até  a absolvição em 2002 de uma forma muito inteligente e dinâmica. "Olhos que condenam" traz para ficção muito do que vimos no documental "Making a Murderer" - com o agravante dos suspeitos serem adolescentes! A narrativa tem a preocupação de mostrar todos os lados da história, independente dos seus valores e isso nos choca, nos faz refletir sobre nossos próprios julgamentos ou preconceitos.

A direção da excelente Ava DuVernay, de "Selma" e do indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2017, "A 13ª Emenda", é segura e vital para entendimento de cada detalhe da história. Ela mistura cenas reais da época do crime, com planos muito criativos e inteligentes - ela passeia pela linha do tempo sem a necessidade de legendar cada salto com muita delicadeza. A fotografia também é ótima, mas falha em alguns planos por excesso de inventividade - alguns "blurs" chegam atrapalhar o trabalho dos atores, principalmente nos planos fechados. Aliás, os atores estão ótimos: das crianças aos adultos, passando pela família e pelos advogados - todos muito bem escalados e no tom certo. Destaque para: Jharrel Jerome como Korey Wise, Felicity Huffman como Linda Fairstein e os sempre geniais John Leguizamo e Michael Kenneth William como Raymond Santana Sr. e Bobby McCray, respectivamente.

A verdade é que "Olhos que condenam" é o tipo de minissérie que mexe com a gente pelo simples fato de ter uma história surpreendente, que nos coloca na situação daqueles personagens imediatamente. É difícil não se emocionar, não se revoltar, não sofrer com aquilo que estamos assistindo e esse, na minha opinião, é o grande acerto da Netflix em querer contar essa história absurda. Se você gostou de filmes como "Tempo de Matar" ou do já comentado "Making a Murderer", dê o play  sem o menor receio porque vale muito a pena, mesmo!!!

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Operação Cerveja

Você vai se surpreender! "Operação Cerveja" é um ótimo filme, que sabe equilibrar perfeitamente o tom mais crítico com uma boa levada de entretenimento - bem na linha de "Green Book", aliás, filme que deu para o mesmo diretor, Peter Farrelly, dois Oscars em 2019. Aqui o conceito "road movie" se repete, porém de uma forma menos usual, se apropriando mais uma vez de uma história real para retratar as aventuras (insanas) de um jovem americano que resolveu viver a experiência de estar em uma guerra sem saber exatamente qual o tamanho do problema que ele estava arranjando para si mesmo - obviamente que muito foi romanizado, mas a jornada é tão surreal que vai te proporcionar ótimas risadas.

A história é simples, mas não por isso menos empolgante: John "Chickie" Donohue (Zac Efron), é um jovem de 22 anos que sai de Nova York, em 1967, para levar cerveja (isso mesmo: cerveja) para seus amigos de infância enquanto eles lutavam no Vietnã e assim proporcionar algum momento de prazer em pleno campo de batalha. Confira o trailer (em inglês):

"The Greatest Beer Run Ever" (no original) é um filme cheio de camadas e se engana quem pensa que se trata de uma comédia leve com alguns momentos de tensão e muita aventura. Não, não é nada disso. O roteiro de Brian Hayes Currie, companheiro de Farrelly em "Green Book", é muito competente em inserir imputs narrativos que mesmo funcionando como pano de fundo ao arco principal, nos provocam inúmera reflexões - a principal delas (muito pertinente na sociedade que vivemos) é justamente sobre a diferença entre o que achamos que conhecemos e o que, de fato, é a realidade (fora de uma determinada "bolha').

Ao se apegar em uma história tão absurda que só poderia ter acontecido na vida real, "Operação Cerveja" transita entre a critica sociopolítica e o non-sense - a própria construção cênica do filme nos dá a exata impressão de que tudo aquilo não pode estar acontecendo, mesmo sabendo que aconteceu e que alguém voltou para contar aquela história. Zac Efron brilha dentro dessa dinâmica de ingenuidade e descoberta, enquanto os outros personagens (coadjuvantes) estabelecem os fatos e apresentam a real perspectiva preocupante daquela atmosfera - essa dicotomia, em vários momentos, funciona como alivio cômico, o que traz leveza para narrativa. Algumas passagens, como nas cenas com Russell Crowe (o fotógrafo de guerra, Coates), pendem para o drama, mas reparem que nunca se sobressaem ao ponto de nos impactar ao ponto de transformar nossa experiência como audiência em algo mais denso.

"Operação Cerveja" tem muito mais qualidades do que defeitos, mas é preciso entender a proposta do diretor e, por assim dizer, não levar o filme tão a sério. Com ótimas participações como a de Bill Murray (como o "Coronel"), Paul Adelstein (como Mr. Donohue), de Matt Cook (como Lt. Habershaw) e principalmente de Kevin K. Tran (como "Oklahoma"), Peter Farrelly entrega mais uma vez uma jornada emocional que nos conquista enquanto nos entretem e só por isso, já vale seu play!

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Você vai se surpreender! "Operação Cerveja" é um ótimo filme, que sabe equilibrar perfeitamente o tom mais crítico com uma boa levada de entretenimento - bem na linha de "Green Book", aliás, filme que deu para o mesmo diretor, Peter Farrelly, dois Oscars em 2019. Aqui o conceito "road movie" se repete, porém de uma forma menos usual, se apropriando mais uma vez de uma história real para retratar as aventuras (insanas) de um jovem americano que resolveu viver a experiência de estar em uma guerra sem saber exatamente qual o tamanho do problema que ele estava arranjando para si mesmo - obviamente que muito foi romanizado, mas a jornada é tão surreal que vai te proporcionar ótimas risadas.

A história é simples, mas não por isso menos empolgante: John "Chickie" Donohue (Zac Efron), é um jovem de 22 anos que sai de Nova York, em 1967, para levar cerveja (isso mesmo: cerveja) para seus amigos de infância enquanto eles lutavam no Vietnã e assim proporcionar algum momento de prazer em pleno campo de batalha. Confira o trailer (em inglês):

"The Greatest Beer Run Ever" (no original) é um filme cheio de camadas e se engana quem pensa que se trata de uma comédia leve com alguns momentos de tensão e muita aventura. Não, não é nada disso. O roteiro de Brian Hayes Currie, companheiro de Farrelly em "Green Book", é muito competente em inserir imputs narrativos que mesmo funcionando como pano de fundo ao arco principal, nos provocam inúmera reflexões - a principal delas (muito pertinente na sociedade que vivemos) é justamente sobre a diferença entre o que achamos que conhecemos e o que, de fato, é a realidade (fora de uma determinada "bolha').

Ao se apegar em uma história tão absurda que só poderia ter acontecido na vida real, "Operação Cerveja" transita entre a critica sociopolítica e o non-sense - a própria construção cênica do filme nos dá a exata impressão de que tudo aquilo não pode estar acontecendo, mesmo sabendo que aconteceu e que alguém voltou para contar aquela história. Zac Efron brilha dentro dessa dinâmica de ingenuidade e descoberta, enquanto os outros personagens (coadjuvantes) estabelecem os fatos e apresentam a real perspectiva preocupante daquela atmosfera - essa dicotomia, em vários momentos, funciona como alivio cômico, o que traz leveza para narrativa. Algumas passagens, como nas cenas com Russell Crowe (o fotógrafo de guerra, Coates), pendem para o drama, mas reparem que nunca se sobressaem ao ponto de nos impactar ao ponto de transformar nossa experiência como audiência em algo mais denso.

"Operação Cerveja" tem muito mais qualidades do que defeitos, mas é preciso entender a proposta do diretor e, por assim dizer, não levar o filme tão a sério. Com ótimas participações como a de Bill Murray (como o "Coronel"), Paul Adelstein (como Mr. Donohue), de Matt Cook (como Lt. Habershaw) e principalmente de Kevin K. Tran (como "Oklahoma"), Peter Farrelly entrega mais uma vez uma jornada emocional que nos conquista enquanto nos entretem e só por isso, já vale seu play!

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Os 7 de Chicago

"Os 7 de Chicago" é uma agradável surpresa no catálogo da Netflix. Esse é o segundo filme dirigido pelo badalado roteirista de "A Rede Social", "A Grande Jogada" e "Steve Jobs", Aaron Sorkin. Mesmo com a certeza de que Sorkin é infinitamente melhor como Roteirista do que como Diretor, aqui ele entrega um filme muito bem realizado tecnicamente e claramente vemos uma evolução artística ao equilibrar muito bem sua capacidade de contar a história com a câmera e uma condução segura no trabalho com os atores - ponto alto do filme!

O filme acompanha a história real do julgamento de sete líderes de grupos completamente independentes entre si que queriam, de alguma forma, protestar contra o aumento absurdo do recrutamento de americanos para lutar na Guerra do Vietnã durante o governo do democrata Lyndon Johnson. A forma encontrada por eles foi aproveitar a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago para chamar a atenção do país, afinal todos estariam assistindo. O problema é que essas manifestações, que tinham um caráter pacífico, acabaram se transformando em um enfrentamento bastante violento com a policia local e transformando os "7 de Chicago" em verdadeiros bodes expiatórios de uma tramóia politica muito mais relevante do que parecia inicialmente. Confira o trailer:

Claramente referenciado pelo trabalho de Spike Lee, Sorkin é muito inteligente em não inventar moda ao se apropriar de um conceito narrativo já estabelecido para filmes de tribunal - ele mesmo começou sua carreira com "Questão de Honra" em 1992; um drama de tirar o fôlego que funciona perfeitamente como linha condutora enquanto flashbacks explicam fatos marcantes da história. Na própria "A Rede Social" ele usou muito dessa estratégia! Pois bem, com isso "Os 7 de Chicago" não sofre com o fato de 80% do filme se passar em um único cenário e mesmo com duas horas de filme, a dinâmica é tão fluída que fica impossível não se divertir com que estamos assistindo. Tenho a impressão que esse filme pode correr por fora na temporada de premiações do próximo e ano e não vou me surpreender se beliscar algo em categorias como Ator coadjuvante, Montagem e Roteiro Adaptado. 

Já na abertura entendemos a qualidade do roteiro e a força narrativa que veremos a seguir ao apresentar os protagonistas: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), co-fundadores do Partido Internacional da Juventude e líderes da contracultura - ambos com postura aguerrida e confrontadora; Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), dois amigos ativistas que prezam pela organização e pelas manifestações não violentas; David Dellinger (John Carroll Lynch), pai de família, pacifista radical e anti-belicista e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras e o “oitavo” réu; em poucos minutos, já se estabelecem as posições de cada personagem e a razão pela qual eles estão prestes a se encontrar em Chicago - reparem que as imagens dos personagens na ficção são intercaladas com coberturas jornalísticas da época sobre o Vietnã e sobre tudo que envolve a revolta dos grupos que acabei de citar.

Quando o assistente da promotoria (Joseph Gordon-Levitt) recebe a missão de processar cada um desses líderes, de cara entendemos que tudo não passa de um show político - e aqui eu já preciso citar o incrível trabalho deFrank Langella como o Juiz Julius Hoffman e deMark Rylance como o advogado William Kunstler. Claro que "Os 7 de Chicago" usa de várias licenças poéticas para potencializar o efeito dramático, principalmente na construção desses ótimos personagens. A própria relação que Abbie Hoffman tem com Jerry Rubin serve de exemplo - um pouco estereotipados propositalmente, mas que servem como o alivio cômico perfeito para equilibrar os momentos de tensão que certamente causarão sua revolta. 

Para finalizar, talvez o mais fantástico de "Os 7 de Chicago", independente de se tratar de uma história real (e brutal), é que o filme traz muitas sensações para quem assiste, transformando um assunto tão sério (e atual) em um entretenimento de altíssima qualidade - o que eu quero dizer, é que mesmo com o peso dos fatos, você vai rir e se emocionar com a mesma facilidade - e isso é raro! Vale a pena enfatizar que o filme tem uma importância histórica bastante clara e faz uma crítica inteligente e certeira (como vimos em "Infiltrado na Klan", por exemplo): "a democracia e a liberdade tem como maior ameaça o abuso de pessoas despreparadas que por um acaso inexplicável estão no comando de uma política egoísta e medrosa!" Dito isso, vale muito seu play e, claro, uma reflexão! Grande filme!

Assista Agora

"Os 7 de Chicago" é uma agradável surpresa no catálogo da Netflix. Esse é o segundo filme dirigido pelo badalado roteirista de "A Rede Social", "A Grande Jogada" e "Steve Jobs", Aaron Sorkin. Mesmo com a certeza de que Sorkin é infinitamente melhor como Roteirista do que como Diretor, aqui ele entrega um filme muito bem realizado tecnicamente e claramente vemos uma evolução artística ao equilibrar muito bem sua capacidade de contar a história com a câmera e uma condução segura no trabalho com os atores - ponto alto do filme!

O filme acompanha a história real do julgamento de sete líderes de grupos completamente independentes entre si que queriam, de alguma forma, protestar contra o aumento absurdo do recrutamento de americanos para lutar na Guerra do Vietnã durante o governo do democrata Lyndon Johnson. A forma encontrada por eles foi aproveitar a Convenção Nacional Democrata de 1968 em Chicago para chamar a atenção do país, afinal todos estariam assistindo. O problema é que essas manifestações, que tinham um caráter pacífico, acabaram se transformando em um enfrentamento bastante violento com a policia local e transformando os "7 de Chicago" em verdadeiros bodes expiatórios de uma tramóia politica muito mais relevante do que parecia inicialmente. Confira o trailer:

Claramente referenciado pelo trabalho de Spike Lee, Sorkin é muito inteligente em não inventar moda ao se apropriar de um conceito narrativo já estabelecido para filmes de tribunal - ele mesmo começou sua carreira com "Questão de Honra" em 1992; um drama de tirar o fôlego que funciona perfeitamente como linha condutora enquanto flashbacks explicam fatos marcantes da história. Na própria "A Rede Social" ele usou muito dessa estratégia! Pois bem, com isso "Os 7 de Chicago" não sofre com o fato de 80% do filme se passar em um único cenário e mesmo com duas horas de filme, a dinâmica é tão fluída que fica impossível não se divertir com que estamos assistindo. Tenho a impressão que esse filme pode correr por fora na temporada de premiações do próximo e ano e não vou me surpreender se beliscar algo em categorias como Ator coadjuvante, Montagem e Roteiro Adaptado. 

Já na abertura entendemos a qualidade do roteiro e a força narrativa que veremos a seguir ao apresentar os protagonistas: Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) e Jerry Rubin (Jeremy Strong), co-fundadores do Partido Internacional da Juventude e líderes da contracultura - ambos com postura aguerrida e confrontadora; Tom Hayden (Eddie Redmayne) e Rennie Davis (Alex Sharp), dois amigos ativistas que prezam pela organização e pelas manifestações não violentas; David Dellinger (John Carroll Lynch), pai de família, pacifista radical e anti-belicista e Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), co-fundador do Partido dos Panteras Negras e o “oitavo” réu; em poucos minutos, já se estabelecem as posições de cada personagem e a razão pela qual eles estão prestes a se encontrar em Chicago - reparem que as imagens dos personagens na ficção são intercaladas com coberturas jornalísticas da época sobre o Vietnã e sobre tudo que envolve a revolta dos grupos que acabei de citar.

Quando o assistente da promotoria (Joseph Gordon-Levitt) recebe a missão de processar cada um desses líderes, de cara entendemos que tudo não passa de um show político - e aqui eu já preciso citar o incrível trabalho deFrank Langella como o Juiz Julius Hoffman e deMark Rylance como o advogado William Kunstler. Claro que "Os 7 de Chicago" usa de várias licenças poéticas para potencializar o efeito dramático, principalmente na construção desses ótimos personagens. A própria relação que Abbie Hoffman tem com Jerry Rubin serve de exemplo - um pouco estereotipados propositalmente, mas que servem como o alivio cômico perfeito para equilibrar os momentos de tensão que certamente causarão sua revolta. 

Para finalizar, talvez o mais fantástico de "Os 7 de Chicago", independente de se tratar de uma história real (e brutal), é que o filme traz muitas sensações para quem assiste, transformando um assunto tão sério (e atual) em um entretenimento de altíssima qualidade - o que eu quero dizer, é que mesmo com o peso dos fatos, você vai rir e se emocionar com a mesma facilidade - e isso é raro! Vale a pena enfatizar que o filme tem uma importância histórica bastante clara e faz uma crítica inteligente e certeira (como vimos em "Infiltrado na Klan", por exemplo): "a democracia e a liberdade tem como maior ameaça o abuso de pessoas despreparadas que por um acaso inexplicável estão no comando de uma política egoísta e medrosa!" Dito isso, vale muito seu play e, claro, uma reflexão! Grande filme!

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Os Meninos que Enganavam Nazistas

Baseado no livro autobiográfico deJoseph Joffo lançado em 1973, "Os Meninos Que Enganavam Nazistas" é filme francês que conta a saga de dois irmãos judeus que tentam sobreviver durante a 2ª Guerra Mundial com a esperança de um dia reencontrar seus pais. Confira o trailer:

Os Joffo são uma família de judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões do país, tornando a vida de toda uma comunidade em um inferno doloroso. Com medo do que essa realidade pudesse influenciar na vida de Joseph (Dorian Le Clech) e de Maurice (Batyste Fleurial), o pai Roman (Patrick Bruel) obriga os filhos a fugir, seguindo um plano mirabolante, para que ambos se encontrem em uma região neutra e assim a família poder seguir sua vida em paz! Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.

A história é muito bonita, emocionante, angustiante às vezes - e pesa o fato de sabermos se tratar de uma jornada real! O filme em si é muito é muito bem realizado pelo diretor Christian Duguay, tem uma fotografia impressionante de linda, feita pelo Christophe Graillot alinhado a um desenho de produção de primeira (destaque para o visual de Paris e Nice da época) muito bem pontuada com um movimento de câmera bastante fluido - muito bonito mesmo, parece uma pintura!

O roteiro também segura nossa atenção por quase duas horas, sem fazer muito esforço. A única coisa que me incomodou em alguns momentos foi o caminho que o Diretor escolheu para o acting dos atores - achei que estava um tom acima, um pouco "over" mesmo e isso prejudicou muito toda a construção de algumas cenas. Ficou um pouco dramático demais, do tipo: "aqui você tem que se emocionar!" Não sei se foi impressão minha ou se, de fato, faltou um cuidado maior nesse ponto. Fora isso, é muito difícil achar algum defeito técnico no filme.

Eu gostei; em alguns momentos gostei mais e em outros achei que deu um derrapada feia, mas o saldo ainda é positivo! Vale a pena para uma sessão da tarde, não mais do que isso!

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Baseado no livro autobiográfico deJoseph Joffo lançado em 1973, "Os Meninos Que Enganavam Nazistas" é filme francês que conta a saga de dois irmãos judeus que tentam sobreviver durante a 2ª Guerra Mundial com a esperança de um dia reencontrar seus pais. Confira o trailer:

Os Joffo são uma família de judeus que vivem na França em uma época onde os nazistas ocuparam algumas regiões do país, tornando a vida de toda uma comunidade em um inferno doloroso. Com medo do que essa realidade pudesse influenciar na vida de Joseph (Dorian Le Clech) e de Maurice (Batyste Fleurial), o pai Roman (Patrick Bruel) obriga os filhos a fugir, seguindo um plano mirabolante, para que ambos se encontrem em uma região neutra e assim a família poder seguir sua vida em paz! Passando várias situações de risco e contando com a ajuda de surpreendentes personagens que aparecem na trajetória dos irmãos, os dois precisam unir forças e juntos enfrentar todos os inúmeros obstáculos que vão ter pela frente.

A história é muito bonita, emocionante, angustiante às vezes - e pesa o fato de sabermos se tratar de uma jornada real! O filme em si é muito é muito bem realizado pelo diretor Christian Duguay, tem uma fotografia impressionante de linda, feita pelo Christophe Graillot alinhado a um desenho de produção de primeira (destaque para o visual de Paris e Nice da época) muito bem pontuada com um movimento de câmera bastante fluido - muito bonito mesmo, parece uma pintura!

O roteiro também segura nossa atenção por quase duas horas, sem fazer muito esforço. A única coisa que me incomodou em alguns momentos foi o caminho que o Diretor escolheu para o acting dos atores - achei que estava um tom acima, um pouco "over" mesmo e isso prejudicou muito toda a construção de algumas cenas. Ficou um pouco dramático demais, do tipo: "aqui você tem que se emocionar!" Não sei se foi impressão minha ou se, de fato, faltou um cuidado maior nesse ponto. Fora isso, é muito difícil achar algum defeito técnico no filme.

Eu gostei; em alguns momentos gostei mais e em outros achei que deu um derrapada feia, mas o saldo ainda é positivo! Vale a pena para uma sessão da tarde, não mais do que isso!

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Os Miseráveis

Esse filme é simplesmente espetacular - e com a mais absoluta certeza, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o grande vencedor do Oscar 2020 na categoria "Melhor Filme Estrangeiro". "Les Miserables" (no original) parte da premissa da famosa obra de Vitor Hugo para discutir a realidade multicultural na França, especialmente em Paris. Com um conceito visual extremamente poético na sua essência cinematográfica e contrastando com uma narrativa visceral do seu roteiro incrivelmente realista, o filme dirigido pelo talentoso (e estreante) Ladj Ly, sem exagero algum, pode ser considerado uma obra-prima - uma espécie de "Cidade de Deus" francês!  

Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem oficial que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime daquela comuna (uma espécie de comunidade multi-racial situada nos subúrbios de Paris). Convocado para atuar no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois policiais de métodos pouco convencionais, em menos de 24 horas, ele logo se vê envolvido um uma verdadeira "guerra de percepções" resultado de uma enorme tensão entre as diferentes gangues do local e a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Baseado em seu premiado curta-metragem de 2017, o diretor malinês Ladj Ly se apropria do contexto marcante das manifestações de 2005 na França para ampliar sua (já provada e bem sucedida) narrativa para entregar uma obra conectada com uma realidade europeia pautada na violência e na intolerância racial, social, religiosa e, claro, cultural. O aspecto documental de "Os Miseráveis" traz para uma potente narrativa, elementos tão marcantes de obras como "Florida Project" (no seu aspecto mais emocional) e "Je Suis Karl"(no seu lado mais impactante) - eu diria que é o encontro do caos com o sentimento mais íntimo do não-pertencimento. Impressionante!

O fato do diretor ser um morador de Montfermeil acaba chancelando um aspecto importante, mas que teria tudo para se tornar um problema: a caracterização dos personagens sempre pensado, construído e desenvolvido com o simples intuito de tipificar alguém - do branco racista ao muçulmano espiritualmente redescoberto. Fernando Meirelles fez muito disso em "Cidade de Deus" e, como lá, aqui também funcionou.  O impacto dos personagens na história é essencial, principalmente quando explora temas sensíveis à sociedade moderna e também quando busca levantar questões que o próprio estilo de Ly faz questão de jogar na nossa cara com sua câmera nervosa ou com sua lente 85mm que coloca os atores em close-ups capazes de tocar nossa alma.

"Os Miseráveis" não é uma versão moderna do clássico francês como muitos podem achar, embora as referências, obviamente, sejam gigantescas. O filme também não é um drama policial ao melhor estilo "Dia de Treinamento" mesmo com suas similaridades narrativas. O que temos aqui é um encontro entre o cinema independente na sua forma, com a importância cultural que o cinema de ação pode provocar - uma aula de direção, de fotografia (do premiado com o César Awards, Julien Poupard) e de um roteiro que é capaz de trabalhar com muita sensibilidade a simbologia da união de uma nação em meio a uma Copa do Mundo (e o prólogo só reforça a ideia) com a dolorosa imagem de uma criança segurando um coquetel molotov achando que ali está a solução para todos os problemas estruturais de um país dividido na sua essência.

Olha, vale muito a pena!

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Esse filme é simplesmente espetacular - e com a mais absoluta certeza, não fosse o fenômeno "Parasita", seria o grande vencedor do Oscar 2020 na categoria "Melhor Filme Estrangeiro". "Les Miserables" (no original) parte da premissa da famosa obra de Vitor Hugo para discutir a realidade multicultural na França, especialmente em Paris. Com um conceito visual extremamente poético na sua essência cinematográfica e contrastando com uma narrativa visceral do seu roteiro incrivelmente realista, o filme dirigido pelo talentoso (e estreante) Ladj Ly, sem exagero algum, pode ser considerado uma obra-prima - uma espécie de "Cidade de Deus" francês!  

Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem oficial que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime daquela comuna (uma espécie de comunidade multi-racial situada nos subúrbios de Paris). Convocado para atuar no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois policiais de métodos pouco convencionais, em menos de 24 horas, ele logo se vê envolvido um uma verdadeira "guerra de percepções" resultado de uma enorme tensão entre as diferentes gangues do local e a própria polícia. Confira o trailer (em inglês):

Baseado em seu premiado curta-metragem de 2017, o diretor malinês Ladj Ly se apropria do contexto marcante das manifestações de 2005 na França para ampliar sua (já provada e bem sucedida) narrativa para entregar uma obra conectada com uma realidade europeia pautada na violência e na intolerância racial, social, religiosa e, claro, cultural. O aspecto documental de "Os Miseráveis" traz para uma potente narrativa, elementos tão marcantes de obras como "Florida Project" (no seu aspecto mais emocional) e "Je Suis Karl"(no seu lado mais impactante) - eu diria que é o encontro do caos com o sentimento mais íntimo do não-pertencimento. Impressionante!

O fato do diretor ser um morador de Montfermeil acaba chancelando um aspecto importante, mas que teria tudo para se tornar um problema: a caracterização dos personagens sempre pensado, construído e desenvolvido com o simples intuito de tipificar alguém - do branco racista ao muçulmano espiritualmente redescoberto. Fernando Meirelles fez muito disso em "Cidade de Deus" e, como lá, aqui também funcionou.  O impacto dos personagens na história é essencial, principalmente quando explora temas sensíveis à sociedade moderna e também quando busca levantar questões que o próprio estilo de Ly faz questão de jogar na nossa cara com sua câmera nervosa ou com sua lente 85mm que coloca os atores em close-ups capazes de tocar nossa alma.

"Os Miseráveis" não é uma versão moderna do clássico francês como muitos podem achar, embora as referências, obviamente, sejam gigantescas. O filme também não é um drama policial ao melhor estilo "Dia de Treinamento" mesmo com suas similaridades narrativas. O que temos aqui é um encontro entre o cinema independente na sua forma, com a importância cultural que o cinema de ação pode provocar - uma aula de direção, de fotografia (do premiado com o César Awards, Julien Poupard) e de um roteiro que é capaz de trabalhar com muita sensibilidade a simbologia da união de uma nação em meio a uma Copa do Mundo (e o prólogo só reforça a ideia) com a dolorosa imagem de uma criança segurando um coquetel molotov achando que ali está a solução para todos os problemas estruturais de um país dividido na sua essência.

Olha, vale muito a pena!

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Padre Stu

"Padre Stu" não é sobre o que você está pensando ou baseado no marketing que foi construído em cima do filme. Não, "Padre Stu" é melhor, mais intenso, mais profundo e muito mais humano se nos permitirmos entender seu propósito. Aliás, o filme é justamente sobre encontrar um propósito depois de tantas rejeições - o prólogo expõe justamente essa condição e é a partir dele que toda narrativa é construída pelos olhos de quem busca uma chance de ser respeitado.

Baseado em uma história real, "Father Stu" (no original) acompanha a jornada de um boxeador que vira um padre. Quando uma lesão encerra sua carreira no boxe, Stuart Long (Mark Wahlberg) se muda para Los Angeles sonhando com uma nova carreira: se tornar ator. Enquanto trabalha no açougue de um supermercado, ele conhece Carmen (Teresa Ruiz), uma professora católica. Determinado a conquistá-la, o agnóstico de longa data começa a ir para igreja para impressioná-la. Mas sobreviver a um terrível acidente de motocicleta o deixa imaginando se ele poderia usar essa segunda chance para ajudar os outros a encontrar o caminho, levando à surpreendente percepção de que ele deveria ser um padre católico. Confira o trailer:

"Padre Stu" tem muitos elementos narrativos que nos remetem ao premiado "O Lutador" do Darren Aronofsky. O filme é muito bem dirigido pela estreante Rosalind Ross e tem na imersão através do íntimo do personagem um verdadeiro estudo sobre um homem marcado por uma única obsessão: provar que pode dar certo na vida, custe o que custar. Inegavelmente que Mark Wahlberg se aproveita da oportunidade para entregar um personagem extremamente visceral em todos os sentidos - sua performance é exemplar no que diz respeito ao range de atuação. Wahlberg transita entre extremos com muita naturalidade e usa do seu próprio corpo para simbolizar essa transformação de caráter - é chocante como ele se desconstrói. É só uma pena que uma inegável limitação técnica do roteiro lhe impeça um reconhecimento maior nas premiações - seria merecido.

Aliás é Ross que também assina o roteiro do seu primeiro longa-metragem. É um fato que ela escorrega na falta de experiência ao perder muito tempo pontuando as falhas e perdições do protagonista, para só depois explorar o seu interesse pela fé cristã - é como se o roteiro precisasse destacar o quão perdido Stu estava para assim valorizar seu processo de transformação. Não que isso seja um grande problema, mas em determinado momento temos a impressão que a história não evolui e quando ela de fato ganha força, o filme já está quase acabando e a emoção parece não ter tempo de aparecer. Eu não sei se essa escolha foi uma estratégia para o filme não parecer religioso demais, mas, sinceramente, em nenhum momento isso seria uma preocupação para quem assiste graças ao trabalho do próprio Wahlberg.

Inicialmente apresentado como "Luta Pela Fé: A História do Padre Stu", é preciso dizer que não se trata de um filme cristão em sua origem, embora tenha muitos elementos que justificariam essa classificação. Antes do play, saiba que mais do que a linda mensagem de superação e de transformação, a história por si só já se sustentaria sem a necessidade de se apegar tanto aos esteriótipos da religião (mesmo aproveitando o tema para discutir certos dogmas que em muitos momentos soam hipócritas) - eu diria até que "Padre Stu" tem uma trama mais espiritualista do que religiosa na sua essência, com aquele leve toque de lição de vida motivacional.

Agora, é um filme que vale sim por toda a jornada e que se apoia na qualidade da produção, na performance marcante de Wahlberg e na mensagem positiva do final para conquistar uma audiência bem especifica!

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"Padre Stu" não é sobre o que você está pensando ou baseado no marketing que foi construído em cima do filme. Não, "Padre Stu" é melhor, mais intenso, mais profundo e muito mais humano se nos permitirmos entender seu propósito. Aliás, o filme é justamente sobre encontrar um propósito depois de tantas rejeições - o prólogo expõe justamente essa condição e é a partir dele que toda narrativa é construída pelos olhos de quem busca uma chance de ser respeitado.

Baseado em uma história real, "Father Stu" (no original) acompanha a jornada de um boxeador que vira um padre. Quando uma lesão encerra sua carreira no boxe, Stuart Long (Mark Wahlberg) se muda para Los Angeles sonhando com uma nova carreira: se tornar ator. Enquanto trabalha no açougue de um supermercado, ele conhece Carmen (Teresa Ruiz), uma professora católica. Determinado a conquistá-la, o agnóstico de longa data começa a ir para igreja para impressioná-la. Mas sobreviver a um terrível acidente de motocicleta o deixa imaginando se ele poderia usar essa segunda chance para ajudar os outros a encontrar o caminho, levando à surpreendente percepção de que ele deveria ser um padre católico. Confira o trailer:

"Padre Stu" tem muitos elementos narrativos que nos remetem ao premiado "O Lutador" do Darren Aronofsky. O filme é muito bem dirigido pela estreante Rosalind Ross e tem na imersão através do íntimo do personagem um verdadeiro estudo sobre um homem marcado por uma única obsessão: provar que pode dar certo na vida, custe o que custar. Inegavelmente que Mark Wahlberg se aproveita da oportunidade para entregar um personagem extremamente visceral em todos os sentidos - sua performance é exemplar no que diz respeito ao range de atuação. Wahlberg transita entre extremos com muita naturalidade e usa do seu próprio corpo para simbolizar essa transformação de caráter - é chocante como ele se desconstrói. É só uma pena que uma inegável limitação técnica do roteiro lhe impeça um reconhecimento maior nas premiações - seria merecido.

Aliás é Ross que também assina o roteiro do seu primeiro longa-metragem. É um fato que ela escorrega na falta de experiência ao perder muito tempo pontuando as falhas e perdições do protagonista, para só depois explorar o seu interesse pela fé cristã - é como se o roteiro precisasse destacar o quão perdido Stu estava para assim valorizar seu processo de transformação. Não que isso seja um grande problema, mas em determinado momento temos a impressão que a história não evolui e quando ela de fato ganha força, o filme já está quase acabando e a emoção parece não ter tempo de aparecer. Eu não sei se essa escolha foi uma estratégia para o filme não parecer religioso demais, mas, sinceramente, em nenhum momento isso seria uma preocupação para quem assiste graças ao trabalho do próprio Wahlberg.

Inicialmente apresentado como "Luta Pela Fé: A História do Padre Stu", é preciso dizer que não se trata de um filme cristão em sua origem, embora tenha muitos elementos que justificariam essa classificação. Antes do play, saiba que mais do que a linda mensagem de superação e de transformação, a história por si só já se sustentaria sem a necessidade de se apegar tanto aos esteriótipos da religião (mesmo aproveitando o tema para discutir certos dogmas que em muitos momentos soam hipócritas) - eu diria até que "Padre Stu" tem uma trama mais espiritualista do que religiosa na sua essência, com aquele leve toque de lição de vida motivacional.

Agora, é um filme que vale sim por toda a jornada e que se apoia na qualidade da produção, na performance marcante de Wahlberg e na mensagem positiva do final para conquistar uma audiência bem especifica!

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Pai, Filho, Pátria

"Pai, Filho, Pátria" (Father Soldier Son, título original) é um documentário que destrói seu coração - e é preciso dizer isso logo de cara, pois será necessário estar muito no clima para conseguir enfrentar a história da família Eisch até o final! O filme é uma produção do New York Times e foi um dos indicados como "Melhor Documentário" no Tribeca Film Festival de 2020 e vencedor na categoria "Melhor Edição" no mesmo evento. De fato, essa indicação só confirma o ótimo trabalho das jornalistas e diretoras Leslye Davis e Catrin Einhorn que acompanharam a jornada do sargento Brian Eisch para se reconectar com seus filhos depois de retornar da guerra do Afeganistão. 

Propositalmente não vou colocar o trailer nessa primeira parte do review como de costume, pois a experiência de assistir "Pai, Filho, Pátria" sem saber muito sobre ele é visceral, quase devastadora, mas incrivelmente marcante - principalmente se você, como eu, já for pai. Eu admito que não tinha assistido cinco minutos do filme (fiz questão de pausar para ver o tempo) e já estava emocionado e, claro, muito angustiado pelo que poderia vir mais à frente. Posso adiantar que é um plot twist atrás do outro e muitos deles de difícil digestão. Olha, "Pai, Filho, Pátria" é cruel, mas vale muito a pena pela reflexão que ele nos provoca a fazer e pelo recorte de uma cultura que, mesmo conhecida, tem um impacto muito marcante dentro das famílias americanas! 

Era pra ser apenas uma reportagem para o NYT sobre o drama de ser um jovem soldado, pai solteiro e obrigado a ficar longe dos filhos para lutar no Afeganistão, mas acabou se transformando em um documentário extremamente crítico sobre a real função das forças armadas, do patriotismo e da alternativa de ascensão social que o exército proporciona para muitos jovens. A equipe, então, passou a acompanhar Brian e seus dois filhos, Isaac, 12 anos, e Joey, com 7 anos,por dez anos. O que vemos a partir daí é uma série de situações que nos incomodam, seja pela ideologia, pelo modo de encarar a vida, pela maneira míope e antiquada de criar os filhos e também pelas surpresas que a vida teima em nos apresentar. Confira o trailer (em inglês): 

Além do roteiro, tecnicamente o filme tem dois pontos altos: a direção foge um pouco da gramática documental - na verdade, ela se apoia muito mais na dinâmica de uma ficção quase poética, com enquadramentos belíssimos e uma sensibilidade muito grande para escolher o distanciamento exato de cada uma das discussões. A impressão que me deu é que as diretoras tinham sempre a lente certa para captar cada uma das emoções - como se já estivesse tudo programado. O outro ponto alto, claro, é a edição:  a montadora Amy Foote foi brilhante ao encaixar as peças de 10 anos de material em apenas 1:40 de filme e mesmo assim contar uma história com uma lógica incrível, trazer tantas discussões e ainda por cima nos provocar tantas sensações.

"Pai, Filho, Pátria" é um documentário que não me surpreenderá se for indicado ao Oscar 2021 - tem potencial para isso, pelo tema e pela densidade que a história se transformou. Se prepare emocionalmente, dê o play e depois reflita sobre tudo o que acabou de assistir!

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"Pai, Filho, Pátria" (Father Soldier Son, título original) é um documentário que destrói seu coração - e é preciso dizer isso logo de cara, pois será necessário estar muito no clima para conseguir enfrentar a história da família Eisch até o final! O filme é uma produção do New York Times e foi um dos indicados como "Melhor Documentário" no Tribeca Film Festival de 2020 e vencedor na categoria "Melhor Edição" no mesmo evento. De fato, essa indicação só confirma o ótimo trabalho das jornalistas e diretoras Leslye Davis e Catrin Einhorn que acompanharam a jornada do sargento Brian Eisch para se reconectar com seus filhos depois de retornar da guerra do Afeganistão. 

Propositalmente não vou colocar o trailer nessa primeira parte do review como de costume, pois a experiência de assistir "Pai, Filho, Pátria" sem saber muito sobre ele é visceral, quase devastadora, mas incrivelmente marcante - principalmente se você, como eu, já for pai. Eu admito que não tinha assistido cinco minutos do filme (fiz questão de pausar para ver o tempo) e já estava emocionado e, claro, muito angustiado pelo que poderia vir mais à frente. Posso adiantar que é um plot twist atrás do outro e muitos deles de difícil digestão. Olha, "Pai, Filho, Pátria" é cruel, mas vale muito a pena pela reflexão que ele nos provoca a fazer e pelo recorte de uma cultura que, mesmo conhecida, tem um impacto muito marcante dentro das famílias americanas! 

Era pra ser apenas uma reportagem para o NYT sobre o drama de ser um jovem soldado, pai solteiro e obrigado a ficar longe dos filhos para lutar no Afeganistão, mas acabou se transformando em um documentário extremamente crítico sobre a real função das forças armadas, do patriotismo e da alternativa de ascensão social que o exército proporciona para muitos jovens. A equipe, então, passou a acompanhar Brian e seus dois filhos, Isaac, 12 anos, e Joey, com 7 anos,por dez anos. O que vemos a partir daí é uma série de situações que nos incomodam, seja pela ideologia, pelo modo de encarar a vida, pela maneira míope e antiquada de criar os filhos e também pelas surpresas que a vida teima em nos apresentar. Confira o trailer (em inglês): 

Além do roteiro, tecnicamente o filme tem dois pontos altos: a direção foge um pouco da gramática documental - na verdade, ela se apoia muito mais na dinâmica de uma ficção quase poética, com enquadramentos belíssimos e uma sensibilidade muito grande para escolher o distanciamento exato de cada uma das discussões. A impressão que me deu é que as diretoras tinham sempre a lente certa para captar cada uma das emoções - como se já estivesse tudo programado. O outro ponto alto, claro, é a edição:  a montadora Amy Foote foi brilhante ao encaixar as peças de 10 anos de material em apenas 1:40 de filme e mesmo assim contar uma história com uma lógica incrível, trazer tantas discussões e ainda por cima nos provocar tantas sensações.

"Pai, Filho, Pátria" é um documentário que não me surpreenderá se for indicado ao Oscar 2021 - tem potencial para isso, pelo tema e pela densidade que a história se transformou. Se prepare emocionalmente, dê o play e depois reflita sobre tudo o que acabou de assistir!

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Pam & Tommy

"Pam & Tommy" é um retrato do que viria a ser o mundo das subcelebridades alguns anos depois, embora a sua própria história já seja o suficiente para entender o tamanho da hipocrisia que a sociedade custa em esconder ao mesmo tempo em que a exposição é seu maior ativo - e aqui é impossível não julgar alguns dos personagens da minissérie pelo simples fato de que sabemos exatamente o que aconteceu depois. Claro que é preciso colocar na balança o contexto da época, alguma ingenuidade (será?) e o impacto que aquele sex-tape teve devido o inicio da internet, mas também não se pode esquecer que do outro lado da tela estavam personagens controversos, com seus defeitos e qualidades - e é isso que a trama tenta nos mostrar: a história que não conhecemos!

Baseada em uma história real, "Pam & Tommy" segue o turbulento relacionamento de Pamela Anderson (Lily James), atriz conhecida por seu trabalho na série Baywatch e já um sex-symbol, com Tommy Lee (Sebastian Stan), baterista da decadente banda Mötley Crüe. Em 1996, o casal estampou tablóides do mundo inteiro com um vídeo de sua lua de mel que acabou roubada e distribuída para o público pelo ex-ator pornô Michael Morrison (Nick Offerman) e seu amigo Rand Gauthier (Seth Rogen). Confira o trailer:

Inicialmente "Pam & Tommy" usa de um tom mais descontraído, para não dizer pastelão, para estabelecer a personalidade de todos os personagens masculinos da história - essa escolha conceitual impacta diretamente na performance dos atores e mesmo com o over-acting muito presente, tanto Seth Rogen quanto Sebastian Stan vão bem. Quando as dores e fantasmas de Pamela Anderson começam a ganhar mais destaque após o terceiro episódio, o tom muda um pouquinho e Lily James brilha demais - o problema é que de um lado temos o espalhafatoso e do outro um mergulho profundo na alma feminina. Em muitos momentos o choque dessas duas linhas não se conversam e parece que a minissérie perde sua identidade ou, pior, busca o caminho mais fácil para tentar alcançar seus objetivos.

Veja, "Pam & Tommy"é, narrativamente, muito eficiente e tem uma produção com estilo, cuidadosa e muito bem concebida. O ótimo elenco e boas direções justificam os elogios que recebeu, minha critica é que falta unidade conceitual - um problema quando se tem vários diretores em um mesmo projeto. Os episódios funcionam perfeitamente quando pensado individualmente, mas como conjunto da obra, oscila. Essa dinâmica acaba tornando a narrativa maniqueísta demais com Tommy representando o inferno e Pam o angelical, quando na verdade eles são muito mais do que isso. Essa unidimensionalidade não deixa irmos além na experiência - a audiência que Pamela Anderson precisou passar em seu processo contra a Penthouse é um bom exemplo: poxa, ela sofre, escuta o que pior uma mulher pode escutar e logo depois diz para a senhora que vai limpar a sala de reunião "Desculpe pela bagunça que fizemos”"; não dá!

Após 8 episódios, o sentimento é que "Pam & Tommy" é um ótimo entretenimento, muito bacana de assistir, mas poderia ter sido um pouco mais corajosa e menos preocupada em estereotipar seus personagens - é nesse momento que conceitos narrativos interferem na nossa experiência. Vai funcionar mais para alguns do que para outros e acho que, sinceramente, vale muito o seu play; só não dá para carimbar a obra como algo excepcional.

Boa para maratonar, para reviver uma época especial para muitos e para curtir uma trilha sonora sensacional!

Assista Agora

"Pam & Tommy" é um retrato do que viria a ser o mundo das subcelebridades alguns anos depois, embora a sua própria história já seja o suficiente para entender o tamanho da hipocrisia que a sociedade custa em esconder ao mesmo tempo em que a exposição é seu maior ativo - e aqui é impossível não julgar alguns dos personagens da minissérie pelo simples fato de que sabemos exatamente o que aconteceu depois. Claro que é preciso colocar na balança o contexto da época, alguma ingenuidade (será?) e o impacto que aquele sex-tape teve devido o inicio da internet, mas também não se pode esquecer que do outro lado da tela estavam personagens controversos, com seus defeitos e qualidades - e é isso que a trama tenta nos mostrar: a história que não conhecemos!

Baseada em uma história real, "Pam & Tommy" segue o turbulento relacionamento de Pamela Anderson (Lily James), atriz conhecida por seu trabalho na série Baywatch e já um sex-symbol, com Tommy Lee (Sebastian Stan), baterista da decadente banda Mötley Crüe. Em 1996, o casal estampou tablóides do mundo inteiro com um vídeo de sua lua de mel que acabou roubada e distribuída para o público pelo ex-ator pornô Michael Morrison (Nick Offerman) e seu amigo Rand Gauthier (Seth Rogen). Confira o trailer:

Inicialmente "Pam & Tommy" usa de um tom mais descontraído, para não dizer pastelão, para estabelecer a personalidade de todos os personagens masculinos da história - essa escolha conceitual impacta diretamente na performance dos atores e mesmo com o over-acting muito presente, tanto Seth Rogen quanto Sebastian Stan vão bem. Quando as dores e fantasmas de Pamela Anderson começam a ganhar mais destaque após o terceiro episódio, o tom muda um pouquinho e Lily James brilha demais - o problema é que de um lado temos o espalhafatoso e do outro um mergulho profundo na alma feminina. Em muitos momentos o choque dessas duas linhas não se conversam e parece que a minissérie perde sua identidade ou, pior, busca o caminho mais fácil para tentar alcançar seus objetivos.

Veja, "Pam & Tommy"é, narrativamente, muito eficiente e tem uma produção com estilo, cuidadosa e muito bem concebida. O ótimo elenco e boas direções justificam os elogios que recebeu, minha critica é que falta unidade conceitual - um problema quando se tem vários diretores em um mesmo projeto. Os episódios funcionam perfeitamente quando pensado individualmente, mas como conjunto da obra, oscila. Essa dinâmica acaba tornando a narrativa maniqueísta demais com Tommy representando o inferno e Pam o angelical, quando na verdade eles são muito mais do que isso. Essa unidimensionalidade não deixa irmos além na experiência - a audiência que Pamela Anderson precisou passar em seu processo contra a Penthouse é um bom exemplo: poxa, ela sofre, escuta o que pior uma mulher pode escutar e logo depois diz para a senhora que vai limpar a sala de reunião "Desculpe pela bagunça que fizemos”"; não dá!

Após 8 episódios, o sentimento é que "Pam & Tommy" é um ótimo entretenimento, muito bacana de assistir, mas poderia ter sido um pouco mais corajosa e menos preocupada em estereotipar seus personagens - é nesse momento que conceitos narrativos interferem na nossa experiência. Vai funcionar mais para alguns do que para outros e acho que, sinceramente, vale muito o seu play; só não dá para carimbar a obra como algo excepcional.

Boa para maratonar, para reviver uma época especial para muitos e para curtir uma trilha sonora sensacional!

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Pose

Imagine-se diferente de todos ao seu redor. Imagine que resolva mostrar ao mundo quem você é, e não há preconceito, luta, injustiça e humilhação que o detenha de alcançar seu grande sonho... simplesmente ser quem você é! "Pose" é isso e muito mais!

A série se passa em meados dos anos 80/90, em Nova York, onde, para sobreviver e se proteger, os transexuais se reúnem em "famílias", sob as diretrizes das chamadas "Mães", que enxergam o melhor em cada um de seus "filhos", e se lançam nos badalados bailes LGBTQ, em busca de oportunidades para mostrar ao mundo toda a sua sensualidade, beleza e ousadia, através dos movimentos inusitados da Dança Vogue - leia-se a diva mor Madonna no hot parade. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que a trilha sonora é um elemento a parte - simplesmente incrível! Já o roteiro não suaviza ao expor o fantasma da AIDS e como a doença continuava causando medo e incerteza na comunidade, embora o tratamento já mostrasse alguns resultados importantes - bem diferente de “Halston”dos anos 70 e do mesmo Ryan Murphy (criador da série). Drogas, violência, conteúdo sexual e uma pegada de humor trágico, é um retrato do que enfrentavam os transsexuais, com muita pose, para serem aceitos e respeitados em suas diferenças - e há muita sensibilidade para dimensionar isso naquela sociedade.

Outro ponto que merece destaque, diz respeito ao maior elenco transexual reunido em uma única produção! Blanca (Mj Rodriguez), Elektra (Dominique Jackson), Angel (Indya Moore) e Candy (Angelica Ross) trazem para a tela, o que há por trás de todas as cores e brilhos daquele universo onde não se trata de escolha ou de opção, é simplesmente ser quem realmente é - e olha, não foi por acaso que "Pose" teve 10 indicações ao Emmy, inclusive como "Melhor Elenco em Série Dramática", além de mais de 70 indicações e 30 prêmios em vários festivais pelo mundo.

O fato é que "Pose" brilha dentro e fora de cada um dos personagens, sem perder de vista a elegância e a sutileza para tocar em temas muito desconfortáveis, mas essenciais na discussão sobre tolerância e respeito, onde a voz das minorias reverbera, humildemente, na evolução do ser humano pelos olhos da cultura pop. 

Vale o play!

Escrito por Willy Roosevelt com Edição de André Siqueira - uma parceria @tudocine1

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Imagine-se diferente de todos ao seu redor. Imagine que resolva mostrar ao mundo quem você é, e não há preconceito, luta, injustiça e humilhação que o detenha de alcançar seu grande sonho... simplesmente ser quem você é! "Pose" é isso e muito mais!

A série se passa em meados dos anos 80/90, em Nova York, onde, para sobreviver e se proteger, os transexuais se reúnem em "famílias", sob as diretrizes das chamadas "Mães", que enxergam o melhor em cada um de seus "filhos", e se lançam nos badalados bailes LGBTQ, em busca de oportunidades para mostrar ao mundo toda a sua sensualidade, beleza e ousadia, através dos movimentos inusitados da Dança Vogue - leia-se a diva mor Madonna no hot parade. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que a trilha sonora é um elemento a parte - simplesmente incrível! Já o roteiro não suaviza ao expor o fantasma da AIDS e como a doença continuava causando medo e incerteza na comunidade, embora o tratamento já mostrasse alguns resultados importantes - bem diferente de “Halston”dos anos 70 e do mesmo Ryan Murphy (criador da série). Drogas, violência, conteúdo sexual e uma pegada de humor trágico, é um retrato do que enfrentavam os transsexuais, com muita pose, para serem aceitos e respeitados em suas diferenças - e há muita sensibilidade para dimensionar isso naquela sociedade.

Outro ponto que merece destaque, diz respeito ao maior elenco transexual reunido em uma única produção! Blanca (Mj Rodriguez), Elektra (Dominique Jackson), Angel (Indya Moore) e Candy (Angelica Ross) trazem para a tela, o que há por trás de todas as cores e brilhos daquele universo onde não se trata de escolha ou de opção, é simplesmente ser quem realmente é - e olha, não foi por acaso que "Pose" teve 10 indicações ao Emmy, inclusive como "Melhor Elenco em Série Dramática", além de mais de 70 indicações e 30 prêmios em vários festivais pelo mundo.

O fato é que "Pose" brilha dentro e fora de cada um dos personagens, sem perder de vista a elegância e a sutileza para tocar em temas muito desconfortáveis, mas essenciais na discussão sobre tolerância e respeito, onde a voz das minorias reverbera, humildemente, na evolução do ser humano pelos olhos da cultura pop. 

Vale o play!

Escrito por Willy Roosevelt com Edição de André Siqueira - uma parceria @tudocine1

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Querida Alice

Sob um primeiro olhar, "Querida Alice" pode dar a impressão de se tratar de um thriller psicológico anos 90 bem ao estilo "Dormindo com o Inimigo" ou "Atração Fatal", no entanto o filme de estreia da diretora inglesa Mary Nighy (de "Industry") vai muito além - ele traz para tela uma jornada íntima, realista e brutal sobre as dores de um relacionamento tóxico sem precisar impactar a audiência com imagens fortes para manter aquele impressionante clima de tensão que nos acompanha durante toda a jornada da protagonista. Veja, o filme não se preocupa em mostrar o abuso em si, ele apenas deixa subentendido, no entanto, a perspectiva de Alice para o seu drama é visceral!

Na trama acompanhamos a história da Alice do título (interpretada por Anna Kendrick), uma mulher cuja identidade foi se fragilizando com o tempo e com isso se desconectando das amizades graças a seu namorado, Ross (Charlie Carrick), um jovem artista psicologicamente abusivo. É quando Alice se junta com Tess (Kaniehtiio Horn) e Sophie (Wunmi Mosaku) para uma viagem entre amigas, que ela entende o quanto precisa encontrar forças para se libertar desse relacionamento que vem acabando com sua auto-estima pouco am pouco. Confira o trailer (em inglês):

"Querida Alice" estreou no Festival de Cinema de Toronto em setembro de 2022 e acabou sendo aclamado pela crítica especializada, o que gerou a expectativa de algumas indicações ao Oscar do ano seguinte - expectativas essas que não se confirmaram e, para mim, de maneira até injusta. Mesmo com uma aprovação de 86% no Rotten Tomatoes e uma atuação primorosa de Kendrick (tranquilamente a melhor de sua carreira), o filme não emplacou e continuou dividindo opiniões até hoje. Para muitos, ele é cadenciado demais - existe uma linha de comentários que defende que a história não evolui e quando ela finalmente encontra seu clímax, é solucionada rapidamente. Eu discordo, porém entendo essa resistência, já que o filme, de fato, se apoia muito mais nos fantasmas de Alice do que em cenas visualmente impactantes (por sua crueldade e brutalidade) que encontramos em outros filmes com o mesmo tema.

Nighy deliberadamente escolhe o caminho mais difícil para contar essa história que exige uma certa conexão com a protagonista para entender o sofrimento que ela está passando - por isso afirmo tranquilamente que as mulheres vão se relacionar melhor com o filme. A diretora esbanja sensibilidade e mostra dominar a gramática cinematográfica do suspense psicológico - guardem esse nome: Mary Nighy. Já conceitualmente, os roteiristas Alanna Francis e Mark Van de Ven (ambos do excelente "The Rest of Us") se apropriam muito mais das sensações de medo e angustia do que do embate psicológico expositivo - mesmo que a ótima montagem do talentoso Gareth C. Scales (de "O Espião Inglês") sugira um confronto iminente (mais ou menos como em  "A Assistente").

"Querida Alice" tem uma atmosfera tão realista que podemos nem nos dar conta que estamos falando de uma ficção. Embora o roteiro use uma subtrama frágil sobre o desaparecimento de uma jovem para criar um clima de suspense que nunca se concretiza, é na dor e na fragilidade emocional de Alice que a história realmente brilha - as crises de ansiedade e desespero da protagonista são tão realistas quanto chocantes, e podem ser passíveis de gatilhos para quem sofre de síndrome do pânico, então cuidado ao dar o play. Por outro lado, aqui também temos um drama importante, bem realizado e muito bem equilibrado, que talvez se distancie um pouco do entretenimento barato para expor como o abuso psicológico pode ser tão perigoso e avassalador quanto o fisico.

Vale muito seu play!

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Sob um primeiro olhar, "Querida Alice" pode dar a impressão de se tratar de um thriller psicológico anos 90 bem ao estilo "Dormindo com o Inimigo" ou "Atração Fatal", no entanto o filme de estreia da diretora inglesa Mary Nighy (de "Industry") vai muito além - ele traz para tela uma jornada íntima, realista e brutal sobre as dores de um relacionamento tóxico sem precisar impactar a audiência com imagens fortes para manter aquele impressionante clima de tensão que nos acompanha durante toda a jornada da protagonista. Veja, o filme não se preocupa em mostrar o abuso em si, ele apenas deixa subentendido, no entanto, a perspectiva de Alice para o seu drama é visceral!

Na trama acompanhamos a história da Alice do título (interpretada por Anna Kendrick), uma mulher cuja identidade foi se fragilizando com o tempo e com isso se desconectando das amizades graças a seu namorado, Ross (Charlie Carrick), um jovem artista psicologicamente abusivo. É quando Alice se junta com Tess (Kaniehtiio Horn) e Sophie (Wunmi Mosaku) para uma viagem entre amigas, que ela entende o quanto precisa encontrar forças para se libertar desse relacionamento que vem acabando com sua auto-estima pouco am pouco. Confira o trailer (em inglês):

"Querida Alice" estreou no Festival de Cinema de Toronto em setembro de 2022 e acabou sendo aclamado pela crítica especializada, o que gerou a expectativa de algumas indicações ao Oscar do ano seguinte - expectativas essas que não se confirmaram e, para mim, de maneira até injusta. Mesmo com uma aprovação de 86% no Rotten Tomatoes e uma atuação primorosa de Kendrick (tranquilamente a melhor de sua carreira), o filme não emplacou e continuou dividindo opiniões até hoje. Para muitos, ele é cadenciado demais - existe uma linha de comentários que defende que a história não evolui e quando ela finalmente encontra seu clímax, é solucionada rapidamente. Eu discordo, porém entendo essa resistência, já que o filme, de fato, se apoia muito mais nos fantasmas de Alice do que em cenas visualmente impactantes (por sua crueldade e brutalidade) que encontramos em outros filmes com o mesmo tema.

Nighy deliberadamente escolhe o caminho mais difícil para contar essa história que exige uma certa conexão com a protagonista para entender o sofrimento que ela está passando - por isso afirmo tranquilamente que as mulheres vão se relacionar melhor com o filme. A diretora esbanja sensibilidade e mostra dominar a gramática cinematográfica do suspense psicológico - guardem esse nome: Mary Nighy. Já conceitualmente, os roteiristas Alanna Francis e Mark Van de Ven (ambos do excelente "The Rest of Us") se apropriam muito mais das sensações de medo e angustia do que do embate psicológico expositivo - mesmo que a ótima montagem do talentoso Gareth C. Scales (de "O Espião Inglês") sugira um confronto iminente (mais ou menos como em  "A Assistente").

"Querida Alice" tem uma atmosfera tão realista que podemos nem nos dar conta que estamos falando de uma ficção. Embora o roteiro use uma subtrama frágil sobre o desaparecimento de uma jovem para criar um clima de suspense que nunca se concretiza, é na dor e na fragilidade emocional de Alice que a história realmente brilha - as crises de ansiedade e desespero da protagonista são tão realistas quanto chocantes, e podem ser passíveis de gatilhos para quem sofre de síndrome do pânico, então cuidado ao dar o play. Por outro lado, aqui também temos um drama importante, bem realizado e muito bem equilibrado, que talvez se distancie um pouco do entretenimento barato para expor como o abuso psicológico pode ser tão perigoso e avassalador quanto o fisico.

Vale muito seu play!

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Radioactive

Quem já nos conhece há algum tempo sabe que eu tenho uma tese de que biografias deveriam ser produzidas apenas como minisséries e não mais no formato de filmes. É um pecado que a história de uma vida tão genial tenha que ser contada apenas em 120 minutos! Com "Radioactive" não é diferente - Marie Curie é uma personagem incrível, cheia de camadas, que faz parte da história mundial por sua descoberta da radioatividade, vencedora de dois prêmios Nobel, cientista, física  química, mulher, imigrante, mãe de outra mulher incrível e, tudo isso, precisou ser contado sem nenhuma profundidade por causa da limitação de tempo. Não que o filme seja ruim, de fato ele não é e precisa ser assistido por sua importância histórica, inclusive; mas dava para ir além... muito além!

Devota da ciência, Marie (Rosamund Pike) sempre enfrentou dificuldades em conseguir apoio para suas experiências devido ao fato de ser uma mulher. Ao conhecer Pierre Curie (Sam Riley), ela logo se surpreende pelo fato dele conhecer seu trabalho, o que a deixa lisonjeada. Logo os dois estão trabalhando e, posteriormente, iniciam um relacionamento que resultou em duas filhas. Juntos, Marie e Pierre descobrem dois novos elementos químicos, o "radio" e o "polônio", que dão início ao uso da radioatividade. Confira o trailer (em inglês):

De cara, o que mais chama atenção em "Radioactive" é a direção de arte de Michael Carlin (“Enola Holmes”) e a fotografia do Anthony Dod Mantle (vencedor do Oscar por "Quem quer ser um Milionário"- a Paris do inicio do século XX está incrível! E, logo depois, nos deparamos com outro trabalho incrível de Rosamund Pike como Marie Curie e uma excelente participações de Anya Taylor-Joy como a filha mais velha de Curie, Irène. Embora o roteiro sofra com a necessidade de condensar anos de existência e de trabalho da personagem em apenas duas horas, como comentamos, é inegável que a diretora Marjane Satrapi consegue impor um bom ritmo para a história e ainda simplificar um assunto tão complicado com ótimas analogias que nos ajudam a entender o tamanho das descobertas de Curie - a analogia que ela faz com a uva é muito bacana, reparem! O que incomoda um pouco é a velocidade como tudo acontece e a falta de coerência na montagem - e aqui vale o registro: as soluções artísticas nas transições são bem criativas, o que atrapalha é que os flashfowards e os flashbacks ficaram tão perdidos dentro da linha temporal da narrativa quando as citações de uma relação cientifica e espiritual tão presentes em Paris naquela época - uma pena!

"Radioactive" serve muito bem como retrato de uma personalidade que pouca gente conhece e que merecia ter sua história contada pelo brilhantismo de suas descobertas. São muitas curiosidades para quem gosta de personalidades e muitas lições para quem gosta de empreendedorismo, bem na linha de "Self Made - A Vida e a História de Madam C.J. Walker", só que com menos tempo de tela. Se você procura por cinebiografias, essa é mais uma interessante para acompanhar - não será inesquecível, mas é um ótimo exemplo de como uma obra audiovisual pode ampliar nosso conhecimento história e nos apresentar personagens importantes (e interessantes) que pouco temos acesso!

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Quem já nos conhece há algum tempo sabe que eu tenho uma tese de que biografias deveriam ser produzidas apenas como minisséries e não mais no formato de filmes. É um pecado que a história de uma vida tão genial tenha que ser contada apenas em 120 minutos! Com "Radioactive" não é diferente - Marie Curie é uma personagem incrível, cheia de camadas, que faz parte da história mundial por sua descoberta da radioatividade, vencedora de dois prêmios Nobel, cientista, física  química, mulher, imigrante, mãe de outra mulher incrível e, tudo isso, precisou ser contado sem nenhuma profundidade por causa da limitação de tempo. Não que o filme seja ruim, de fato ele não é e precisa ser assistido por sua importância histórica, inclusive; mas dava para ir além... muito além!

Devota da ciência, Marie (Rosamund Pike) sempre enfrentou dificuldades em conseguir apoio para suas experiências devido ao fato de ser uma mulher. Ao conhecer Pierre Curie (Sam Riley), ela logo se surpreende pelo fato dele conhecer seu trabalho, o que a deixa lisonjeada. Logo os dois estão trabalhando e, posteriormente, iniciam um relacionamento que resultou em duas filhas. Juntos, Marie e Pierre descobrem dois novos elementos químicos, o "radio" e o "polônio", que dão início ao uso da radioatividade. Confira o trailer (em inglês):

De cara, o que mais chama atenção em "Radioactive" é a direção de arte de Michael Carlin (“Enola Holmes”) e a fotografia do Anthony Dod Mantle (vencedor do Oscar por "Quem quer ser um Milionário"- a Paris do inicio do século XX está incrível! E, logo depois, nos deparamos com outro trabalho incrível de Rosamund Pike como Marie Curie e uma excelente participações de Anya Taylor-Joy como a filha mais velha de Curie, Irène. Embora o roteiro sofra com a necessidade de condensar anos de existência e de trabalho da personagem em apenas duas horas, como comentamos, é inegável que a diretora Marjane Satrapi consegue impor um bom ritmo para a história e ainda simplificar um assunto tão complicado com ótimas analogias que nos ajudam a entender o tamanho das descobertas de Curie - a analogia que ela faz com a uva é muito bacana, reparem! O que incomoda um pouco é a velocidade como tudo acontece e a falta de coerência na montagem - e aqui vale o registro: as soluções artísticas nas transições são bem criativas, o que atrapalha é que os flashfowards e os flashbacks ficaram tão perdidos dentro da linha temporal da narrativa quando as citações de uma relação cientifica e espiritual tão presentes em Paris naquela época - uma pena!

"Radioactive" serve muito bem como retrato de uma personalidade que pouca gente conhece e que merecia ter sua história contada pelo brilhantismo de suas descobertas. São muitas curiosidades para quem gosta de personalidades e muitas lições para quem gosta de empreendedorismo, bem na linha de "Self Made - A Vida e a História de Madam C.J. Walker", só que com menos tempo de tela. Se você procura por cinebiografias, essa é mais uma interessante para acompanhar - não será inesquecível, mas é um ótimo exemplo de como uma obra audiovisual pode ampliar nosso conhecimento história e nos apresentar personagens importantes (e interessantes) que pouco temos acesso!

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Remando para o Ouro

Essa é mais uma história do esporte que merecia ser contada e diferente do que estamos acostumados, aqui o foco é o remo! Mas não desanime, já que esse esporte pode até parecer pouco convencional para nós brasileiros, mas aqui é a jornada que importa. Dirigido pelo astro George Clooney e baseado na história real da equipe de remo da Universidade de Washington, o filme nos convida a mergulhar na década de 1930, época marcada pela Grande Depressão e pela ascensão do nazismo - embora o contexto sócio-politico, de fato, não seja o foco. Eu quero dizer é que em "Remando para o Ouro" o que realmente interessa é o drama esportivo pela perspectiva de seus atletas, da perseverança, da superação e de certa forma, do poder transformador do trabalho em equipe.

"The Boys in the Boat" (no original) basicamente retrata a história real de um grupo de jovens azarões que acabam sob os holofotes do esporte ao enfrentarem de igual para igual rivais da elite americana do remo até alcançarem o grande objetivo de disputar os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. Confira o trailer (em inglês):

Se você procura originalidade pode ser que você não se conecte com "Remando para o Ouro", já que sua narrativa é extremamente linear e muito previsível. Por outro lado, o que nos encanta nesse projeto liderado por Clooney é justamente a simplicidade com que ele conta essa história - claramente esse é um daqueles filmes despretensiosos e gostosos de assistir. Para alinhar as expectavas, não espere mais do que um agradável e curioso entretenimento. Embora o roteiro do Daniel James Brown (autor do livro que deu origem ao filme) e do Mark L. Smith (de "O Regresso") não se limite a ser um mero conto de fadas sobre uma equipe de remo, eu diria que é na fórmula "importância da resiliência", "trabalho em equipe" e "busca pelos nossos sonhos" que a narrativa se apoia. Agora é preciso ressaltar: todo o contexto que a equipe de remo da Universidade de Washington estava inserida faz dessa jornada algo muito especial!

A direção de Clooney é precisa e envolvente, mas conservadora. Ele conduz a narrativa com ritmo impecável, alternando com maestria momentos de ação e tensão com cenas de profunda introspecção e emoção. A fotografia do Martin Ruhe (de "O Céu da Meia-Noite") captura com maestria a beleza das paisagens e a grandiosidade das competições de remo nos EUA e depois em Berlin - as cenas das regatas, acreditem, são excelentes! Obviamente que a trilha sonora, em um filme esportivo, é um elemento essencial para a construção das camadas emocionais da história e aqui o trabalho de Alexandre Desplat (vencedor de dois Oscars por "A Forma da Água" e "O Grande Hotel Budapeste") é simplesmente sensacional!

Embora o filme peque na construção de personagens complexos e multidimensionais, Callum Turner, ainda assim, entrega uma performance honesta. O ponto é que "Remando para o Ouro" vem com esse mood inspirador, emocionante e visualmente deslumbrante - um filme feito para te tocar com uma história improvável de jovens remadores que, contra todas as probabilidades, alcançaram a glória e provaram (e aqui me desculpe o tom auto-ajuda) que mais importante que o "destino" é o "caminho"!

Vale seu play!

Assista Agora

Essa é mais uma história do esporte que merecia ser contada e diferente do que estamos acostumados, aqui o foco é o remo! Mas não desanime, já que esse esporte pode até parecer pouco convencional para nós brasileiros, mas aqui é a jornada que importa. Dirigido pelo astro George Clooney e baseado na história real da equipe de remo da Universidade de Washington, o filme nos convida a mergulhar na década de 1930, época marcada pela Grande Depressão e pela ascensão do nazismo - embora o contexto sócio-politico, de fato, não seja o foco. Eu quero dizer é que em "Remando para o Ouro" o que realmente interessa é o drama esportivo pela perspectiva de seus atletas, da perseverança, da superação e de certa forma, do poder transformador do trabalho em equipe.

"The Boys in the Boat" (no original) basicamente retrata a história real de um grupo de jovens azarões que acabam sob os holofotes do esporte ao enfrentarem de igual para igual rivais da elite americana do remo até alcançarem o grande objetivo de disputar os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. Confira o trailer (em inglês):

Se você procura originalidade pode ser que você não se conecte com "Remando para o Ouro", já que sua narrativa é extremamente linear e muito previsível. Por outro lado, o que nos encanta nesse projeto liderado por Clooney é justamente a simplicidade com que ele conta essa história - claramente esse é um daqueles filmes despretensiosos e gostosos de assistir. Para alinhar as expectavas, não espere mais do que um agradável e curioso entretenimento. Embora o roteiro do Daniel James Brown (autor do livro que deu origem ao filme) e do Mark L. Smith (de "O Regresso") não se limite a ser um mero conto de fadas sobre uma equipe de remo, eu diria que é na fórmula "importância da resiliência", "trabalho em equipe" e "busca pelos nossos sonhos" que a narrativa se apoia. Agora é preciso ressaltar: todo o contexto que a equipe de remo da Universidade de Washington estava inserida faz dessa jornada algo muito especial!

A direção de Clooney é precisa e envolvente, mas conservadora. Ele conduz a narrativa com ritmo impecável, alternando com maestria momentos de ação e tensão com cenas de profunda introspecção e emoção. A fotografia do Martin Ruhe (de "O Céu da Meia-Noite") captura com maestria a beleza das paisagens e a grandiosidade das competições de remo nos EUA e depois em Berlin - as cenas das regatas, acreditem, são excelentes! Obviamente que a trilha sonora, em um filme esportivo, é um elemento essencial para a construção das camadas emocionais da história e aqui o trabalho de Alexandre Desplat (vencedor de dois Oscars por "A Forma da Água" e "O Grande Hotel Budapeste") é simplesmente sensacional!

Embora o filme peque na construção de personagens complexos e multidimensionais, Callum Turner, ainda assim, entrega uma performance honesta. O ponto é que "Remando para o Ouro" vem com esse mood inspirador, emocionante e visualmente deslumbrante - um filme feito para te tocar com uma história improvável de jovens remadores que, contra todas as probabilidades, alcançaram a glória e provaram (e aqui me desculpe o tom auto-ajuda) que mais importante que o "destino" é o "caminho"!

Vale seu play!

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Rise

É muito provável que se você está lendo esse review, você também conheça o astro do basquete norte-americano e MVP da NBA em 2021, Giannis Antetokounmpo. O que provavelmente você ainda não conheça é sua incrível história de vida e o que levou um jovem grego de descendência africana até o topo do esporte ao fazer do modesto Milwaukee Bucks, campeão depois de meio século da sua última conquista e, pasmem, marcando 50 pontos no jogo final - onde apenas 7 jogadores na história conseguiram esse feito.

"Rise" não mostra o sucesso de Giannis mais sim a jornada da família Antetokounmpo após Veronika (Yetide Badaki) e Charles (Dayo Okeniyi) chegarem na Grécia, vindos na Nigéria, onde lutaram para sobreviver e sustentar seus cinco filhos, enquanto viviam sob a ameaça diária de deportação. Com seu filho mais velho ainda na Nigéria com parentes, o casal estava desesperado para obter cidadania grega mas se via minado por um sistema que bloqueava, a cada tentativa, todas as possibilidades de se legalizarem. Quando não estavam estudando ou vendendo artigos para turistas nas ruas com o resto da família, os irmãos Thanasis (Ral Agada) e Giannis (Uche Agada) iam escondidos jogar basquete com um time juvenil local. Ingressando tarde no esporte, eles descobriram suas grandes habilidades na quadra e se esforçaram muito para se tornarem atletas de altíssimo nível. Com a ajuda de um jovem agente, Haris (Efthimis Chalkidis), Giannis se credenciou para o NBA Draft em 2013 em uma improvável perspectiva que mudaria não apenas sua vida, mas a vida de toda a sua família. Confira o trailer (dublado):

"Rise" é uma mistura de "Arremessando Alto" com "King Richard" e com um toque de "American Underdog" - ou seja, se você gostou de qualquer um desses títulos, você está no lugar certo! Embora o roteiro do Arash Amel (indicado ao Emmy em 2014 por "Grace of Monaco") não seja um primor e a direção do nigeriano Akin Omotoso (mais conhecido como o ator que interpretou o General Solomon em "Senhor das Armas") seja apenas mediana, "Rise" tem uma história sensacional e extremamente curiosa - eu diria até surpreendente visto que os três irmão de Giannis também conseguiram jogar no basquete americano.

Obviamente que pelo tamanho do seu protagonista, essa história merecia um diretor mais experiente e uma produção mais bem cuidada, mas em nada isso atrapalha nossa experiência como audiência. Você vai se revoltar, se emocionar e ainda torcer pelos personagens (mesmo sabendo o que a realidade já tratou de nos contar), mas também vai encontrar inúmeras frases de efeito (sempre com aquele tom motivacional barato) e algumas cenas super clichês (mesmo que bonitas visualmente), como a de Thanasis e Giannis treinando na chuva sob o olhar atento do seu pai Charles. Um ponto alto, sem dúvida, é a presença de Fela Kuti na trilha sonora, que, diga-se de passagem, é um dos elementos mais bem trabalhados no filme.

O fato é que "Rise", embora seja um filme para quem gosta de histórias marcantes e de superação sobre, hoje, astros do esporte; ainda traz um drama familiar muito interessante e real, além de uma jornada pela busca de pertencimento que toca em assuntos delicados e sensíveis como o racismo e a crise de imigração da Grécia no inicio dos anos 2000, mas que peca pela superficialidade como tratou o processo de ascensão de Giannis até chegar na NBA - talvez não fosse nem essa a proposta, eu entendo, mas é impossível não lembrar de como os títulos recentes que mencionei acima olharam para esse elemento dramático tão essencial e que acaba colocando o filme em outro patamar.

Vale pela história, pelo entretenimento e pela sensação de alegria e satisfação ao ver os créditos subindo com o resultado real de toda essa jornada!

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É muito provável que se você está lendo esse review, você também conheça o astro do basquete norte-americano e MVP da NBA em 2021, Giannis Antetokounmpo. O que provavelmente você ainda não conheça é sua incrível história de vida e o que levou um jovem grego de descendência africana até o topo do esporte ao fazer do modesto Milwaukee Bucks, campeão depois de meio século da sua última conquista e, pasmem, marcando 50 pontos no jogo final - onde apenas 7 jogadores na história conseguiram esse feito.

"Rise" não mostra o sucesso de Giannis mais sim a jornada da família Antetokounmpo após Veronika (Yetide Badaki) e Charles (Dayo Okeniyi) chegarem na Grécia, vindos na Nigéria, onde lutaram para sobreviver e sustentar seus cinco filhos, enquanto viviam sob a ameaça diária de deportação. Com seu filho mais velho ainda na Nigéria com parentes, o casal estava desesperado para obter cidadania grega mas se via minado por um sistema que bloqueava, a cada tentativa, todas as possibilidades de se legalizarem. Quando não estavam estudando ou vendendo artigos para turistas nas ruas com o resto da família, os irmãos Thanasis (Ral Agada) e Giannis (Uche Agada) iam escondidos jogar basquete com um time juvenil local. Ingressando tarde no esporte, eles descobriram suas grandes habilidades na quadra e se esforçaram muito para se tornarem atletas de altíssimo nível. Com a ajuda de um jovem agente, Haris (Efthimis Chalkidis), Giannis se credenciou para o NBA Draft em 2013 em uma improvável perspectiva que mudaria não apenas sua vida, mas a vida de toda a sua família. Confira o trailer (dublado):

"Rise" é uma mistura de "Arremessando Alto" com "King Richard" e com um toque de "American Underdog" - ou seja, se você gostou de qualquer um desses títulos, você está no lugar certo! Embora o roteiro do Arash Amel (indicado ao Emmy em 2014 por "Grace of Monaco") não seja um primor e a direção do nigeriano Akin Omotoso (mais conhecido como o ator que interpretou o General Solomon em "Senhor das Armas") seja apenas mediana, "Rise" tem uma história sensacional e extremamente curiosa - eu diria até surpreendente visto que os três irmão de Giannis também conseguiram jogar no basquete americano.

Obviamente que pelo tamanho do seu protagonista, essa história merecia um diretor mais experiente e uma produção mais bem cuidada, mas em nada isso atrapalha nossa experiência como audiência. Você vai se revoltar, se emocionar e ainda torcer pelos personagens (mesmo sabendo o que a realidade já tratou de nos contar), mas também vai encontrar inúmeras frases de efeito (sempre com aquele tom motivacional barato) e algumas cenas super clichês (mesmo que bonitas visualmente), como a de Thanasis e Giannis treinando na chuva sob o olhar atento do seu pai Charles. Um ponto alto, sem dúvida, é a presença de Fela Kuti na trilha sonora, que, diga-se de passagem, é um dos elementos mais bem trabalhados no filme.

O fato é que "Rise", embora seja um filme para quem gosta de histórias marcantes e de superação sobre, hoje, astros do esporte; ainda traz um drama familiar muito interessante e real, além de uma jornada pela busca de pertencimento que toca em assuntos delicados e sensíveis como o racismo e a crise de imigração da Grécia no inicio dos anos 2000, mas que peca pela superficialidade como tratou o processo de ascensão de Giannis até chegar na NBA - talvez não fosse nem essa a proposta, eu entendo, mas é impossível não lembrar de como os títulos recentes que mencionei acima olharam para esse elemento dramático tão essencial e que acaba colocando o filme em outro patamar.

Vale pela história, pelo entretenimento e pela sensação de alegria e satisfação ao ver os créditos subindo com o resultado real de toda essa jornada!

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