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The Morning Show

Quando "The Morning Show" foi apresentado, rapidamente associei sua importância como uma espécie de "House of Cards" da AppleTV+! Não só por na época ser o cartão de visitas do novo serviço de streaming da Apple, mas também por trabalhar elementos muito próximos ao sucesso da Netflix. Focado nos dramas e intrigas nos bastidores do programa jornalístico matinal de maior sucesso dos EUA, "The Morning Show" escancara a incansável necessidade do ser humano na busca pelo poder e pelo sucesso a qualquer preço!

Baseada no livro "Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV", de Brian Stelter e com roteiro de Kerry Ehrin ("Bates Motel"), "The Morning Show" retrata os reflexos de um escândalo sexual envolvendo seu principal âncora, Mitch Kessler (Steve Carell). Após 15 anos de parceria, agora sozinha na bancada, a experiente e respeitada jornalista Alex Levy (Jennifer Aniston) se vê pressionada a reformular o programa a fim de aumentar a audiência e manter seu emprego - já que para os executivos da emissora, uma transformação seria necessária para se adequar a um estilo de jornalismo mais moderno. É nesse turbilhão que surge Bradley Jackson (Reese Witherspoon), uma repórter vinda do interior que ganhou notoriedade nacional após um vídeo, onde confrontava um manifestante, viralizar na internet. Convidada a dividir a bancada com Alex Levy, Bradley Jackson "cai de para-quedas" em um ambiente cheio de egos, traições e mentiras onde o desafio diário não é a busca pela verdade e sim a manutenção do emprego!

Depois de alguns episódios fica claro que "The Morning Show" tem força, mas que precisa de alguns ajustes - e isso acontece. A necessidade de criar uma dinâmica que prendesse um potencial novo assinante, mais atrapalha do que ajuda. No começo você vai perceber uma necessidade enorme de criar subtramas que surgem sem o menor sentido, mas depois elas vão perdendo força porque não se sustentam como deveriam e o que interessa passa a fluir melhor.

Jennifer Aniston começa muito bem, mas com o decorrer dos episódios vai cansando (é incrível como ainda vemos a Rachel em determinadas atitudes da personagem - aliás, eu diria até que Alex Levy é o que poderia ter se tornado a personagem de "Friends" mais velha - mimada e fria). Reese Witherspoon por outro lado mostra que continua em ótima forma depois de "Big Little Lies" - ela funciona bem como uma desbocada jornalista caipira idealista. É perceptível que o elenco cheio de atores conhecidos como Nestor Carbonell, Billy Crudup, Mark Duplass, Bel Powley e Joe Marinelli, podem entregar ótimas histórias, com personagens bem complexos e interessantes, mas depois da primeira temporada, será vital para a série que o roteiro de Kerry Ehrin encontre um maior equilíbrio e uma certa identidade!

Os assuntos são ótimos e aí eu destaco a maneira como a história do assédio envolvendo Mitch é contada - além de mostrar a famosa "caça as bruxas", tão comum nos dias de hoje, ela nos provoca a pensar sobre o princípio da dúvida, isso instiga e valoriza a discussão - o último episódio, inclusive, coloca o assunto em outro patamar, com cenas chocantes e diálogos bem pesados! Outro ponto interessante é a relação familiar de Alex e a sensação de vazio que a personagem passa, mesmo quando está ao lado do ex-marido e da filha adolescente - é uma pena que vá perdendo força durante a temporada até sumir nos 3 ou 4 últimos episódios!

A produção não poderia ser melhor - são 15 milhões de dólares por episódio (números nível GoT). Muito bem dirigida e fotografada (aqui a referência de House of Cards é até mais clara). Vários planos sequência, trocando o foco do protagonismo naturalmente, tudo realizado com inteligência, técnica e propósito - muito bom! A trilha sonora também está excelente. 

Indico com a maior tranquilidade. Vale seu play!

Assista Agora

Quando "The Morning Show" foi apresentado, rapidamente associei sua importância como uma espécie de "House of Cards" da AppleTV+! Não só por na época ser o cartão de visitas do novo serviço de streaming da Apple, mas também por trabalhar elementos muito próximos ao sucesso da Netflix. Focado nos dramas e intrigas nos bastidores do programa jornalístico matinal de maior sucesso dos EUA, "The Morning Show" escancara a incansável necessidade do ser humano na busca pelo poder e pelo sucesso a qualquer preço!

Baseada no livro "Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV", de Brian Stelter e com roteiro de Kerry Ehrin ("Bates Motel"), "The Morning Show" retrata os reflexos de um escândalo sexual envolvendo seu principal âncora, Mitch Kessler (Steve Carell). Após 15 anos de parceria, agora sozinha na bancada, a experiente e respeitada jornalista Alex Levy (Jennifer Aniston) se vê pressionada a reformular o programa a fim de aumentar a audiência e manter seu emprego - já que para os executivos da emissora, uma transformação seria necessária para se adequar a um estilo de jornalismo mais moderno. É nesse turbilhão que surge Bradley Jackson (Reese Witherspoon), uma repórter vinda do interior que ganhou notoriedade nacional após um vídeo, onde confrontava um manifestante, viralizar na internet. Convidada a dividir a bancada com Alex Levy, Bradley Jackson "cai de para-quedas" em um ambiente cheio de egos, traições e mentiras onde o desafio diário não é a busca pela verdade e sim a manutenção do emprego!

Depois de alguns episódios fica claro que "The Morning Show" tem força, mas que precisa de alguns ajustes - e isso acontece. A necessidade de criar uma dinâmica que prendesse um potencial novo assinante, mais atrapalha do que ajuda. No começo você vai perceber uma necessidade enorme de criar subtramas que surgem sem o menor sentido, mas depois elas vão perdendo força porque não se sustentam como deveriam e o que interessa passa a fluir melhor.

Jennifer Aniston começa muito bem, mas com o decorrer dos episódios vai cansando (é incrível como ainda vemos a Rachel em determinadas atitudes da personagem - aliás, eu diria até que Alex Levy é o que poderia ter se tornado a personagem de "Friends" mais velha - mimada e fria). Reese Witherspoon por outro lado mostra que continua em ótima forma depois de "Big Little Lies" - ela funciona bem como uma desbocada jornalista caipira idealista. É perceptível que o elenco cheio de atores conhecidos como Nestor Carbonell, Billy Crudup, Mark Duplass, Bel Powley e Joe Marinelli, podem entregar ótimas histórias, com personagens bem complexos e interessantes, mas depois da primeira temporada, será vital para a série que o roteiro de Kerry Ehrin encontre um maior equilíbrio e uma certa identidade!

Os assuntos são ótimos e aí eu destaco a maneira como a história do assédio envolvendo Mitch é contada - além de mostrar a famosa "caça as bruxas", tão comum nos dias de hoje, ela nos provoca a pensar sobre o princípio da dúvida, isso instiga e valoriza a discussão - o último episódio, inclusive, coloca o assunto em outro patamar, com cenas chocantes e diálogos bem pesados! Outro ponto interessante é a relação familiar de Alex e a sensação de vazio que a personagem passa, mesmo quando está ao lado do ex-marido e da filha adolescente - é uma pena que vá perdendo força durante a temporada até sumir nos 3 ou 4 últimos episódios!

A produção não poderia ser melhor - são 15 milhões de dólares por episódio (números nível GoT). Muito bem dirigida e fotografada (aqui a referência de House of Cards é até mais clara). Vários planos sequência, trocando o foco do protagonismo naturalmente, tudo realizado com inteligência, técnica e propósito - muito bom! A trilha sonora também está excelente. 

Indico com a maior tranquilidade. Vale seu play!

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The Royal Hotel

Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

Vale muito o seu play!

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Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

Vale muito o seu play!

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The Vow

Se você assistiu algum dos dois (razoavelmente) recentes documentários, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" (HBO) e "Fyre" (Netflix), você já entendeu como a força de uma comunicação e do poder do convencimento podem influenciar uma pessoa (ou muitas), independente da capacidade de realização que o interlocutor possa ter. Em diferentes níveis, foi isso que Elizabeth Holmes da Theranos fez com seus investidores e Billy McFarland fez com todos que estavam envolvidos em seu Festival megalomaníaco! Pois bem, em "The Vow" surge um personagem raro, que consegue unir, com a mesma competência, a capacidade de comunicação com a de realização e ainda chancelado por um QI de 240 pontos: esse é o fundador da NXIVM, Keith Raniere.

"The Vow", documentário divido em 9 partes de 50 minutos, conta mais do que a história de Keith Raniere, criador de uma empresa de marketing multi-nível, que cresceu absurdamente nos Estados Unidos até ser fechada por sérios problemas trabalhistas. Aproveitando do seu comprovado discurso de convencimento, Keith criou a ESP (Executive Success Programs) um Programa de Sucesso Executivo focado no desenvolvimento pessoal. Seguindo o mesmo conceito de pirâmide, ele foi, pouco a pouco, transformando seus professores em aliciadores e seus alunos em uma espécie de seguidores de uma seita com atuações bastante questionáveis e que, posteriormente, acabou se transformando no principal motivo para uma dura jornada pessoal de ex-membros da organização para desmascarar seu fundador, que se auto-denominava "Vanguarda", e suas reais intenções com tudo isso! Confira o trailer:

A história por trás de "The Vow" chamou atenção da mídia internacional pelo fato da atriz Allison Mack, a Chloe Sullivan em "Smallville", ser uma das aliciadoras mais próxima de Keith Raniere, porém o comentário é muito feliz em dissecar a instituição pelos olhos de quem esteve lá, mas saiu por vontade própria ao perceber que algo estava muito errado. A jornada de três personagens bastante importantes na desconstrução dessa organização criminosa que se tornou a NXIVM, é o ponto de partida para uma história realmente impressionante. Sarah Edmonson, Bonnie Piesse e Mark Vicente, e um pouco mais a frente, Catherine Oxenberg, são acompanhados pela produção durante todos os episódios, contando suas histórias e tentando reverter uma situação que eles mesmos ajudaram a provocar, cada um em seu nível. Ao mesmo tempo vemos inúmeras imagens de arquivos, depoimentos, cenas do treinamento, entrevistas do próprio Keith e sua equipe, e até um encontro bastante impactante com o Dalai-lama.

O que mais me chamou a atenção foram os discursos de Keith: completamente coerentes, bem estruturados e de uma capacidade intelectual e de manipulação que em muitos momentos me fizeram questionar se, em algum momento da vida, eu também não seria uma potencial vítima - tenho certeza que você fará esse mesmo questionamento e talvez por isso, esse sentimento gere tanta vergonha e arrependimento nos protagonistas.

Dê o play sem o menor receio!

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Se você assistiu algum dos dois (razoavelmente) recentes documentários, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" (HBO) e "Fyre" (Netflix), você já entendeu como a força de uma comunicação e do poder do convencimento podem influenciar uma pessoa (ou muitas), independente da capacidade de realização que o interlocutor possa ter. Em diferentes níveis, foi isso que Elizabeth Holmes da Theranos fez com seus investidores e Billy McFarland fez com todos que estavam envolvidos em seu Festival megalomaníaco! Pois bem, em "The Vow" surge um personagem raro, que consegue unir, com a mesma competência, a capacidade de comunicação com a de realização e ainda chancelado por um QI de 240 pontos: esse é o fundador da NXIVM, Keith Raniere.

"The Vow", documentário divido em 9 partes de 50 minutos, conta mais do que a história de Keith Raniere, criador de uma empresa de marketing multi-nível, que cresceu absurdamente nos Estados Unidos até ser fechada por sérios problemas trabalhistas. Aproveitando do seu comprovado discurso de convencimento, Keith criou a ESP (Executive Success Programs) um Programa de Sucesso Executivo focado no desenvolvimento pessoal. Seguindo o mesmo conceito de pirâmide, ele foi, pouco a pouco, transformando seus professores em aliciadores e seus alunos em uma espécie de seguidores de uma seita com atuações bastante questionáveis e que, posteriormente, acabou se transformando no principal motivo para uma dura jornada pessoal de ex-membros da organização para desmascarar seu fundador, que se auto-denominava "Vanguarda", e suas reais intenções com tudo isso! Confira o trailer:

A história por trás de "The Vow" chamou atenção da mídia internacional pelo fato da atriz Allison Mack, a Chloe Sullivan em "Smallville", ser uma das aliciadoras mais próxima de Keith Raniere, porém o comentário é muito feliz em dissecar a instituição pelos olhos de quem esteve lá, mas saiu por vontade própria ao perceber que algo estava muito errado. A jornada de três personagens bastante importantes na desconstrução dessa organização criminosa que se tornou a NXIVM, é o ponto de partida para uma história realmente impressionante. Sarah Edmonson, Bonnie Piesse e Mark Vicente, e um pouco mais a frente, Catherine Oxenberg, são acompanhados pela produção durante todos os episódios, contando suas histórias e tentando reverter uma situação que eles mesmos ajudaram a provocar, cada um em seu nível. Ao mesmo tempo vemos inúmeras imagens de arquivos, depoimentos, cenas do treinamento, entrevistas do próprio Keith e sua equipe, e até um encontro bastante impactante com o Dalai-lama.

O que mais me chamou a atenção foram os discursos de Keith: completamente coerentes, bem estruturados e de uma capacidade intelectual e de manipulação que em muitos momentos me fizeram questionar se, em algum momento da vida, eu também não seria uma potencial vítima - tenho certeza que você fará esse mesmo questionamento e talvez por isso, esse sentimento gere tanta vergonha e arrependimento nos protagonistas.

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Tina

Duro, mas emocionante como a vida pode ser! Finalmente estreou no Brasil o documentário indicado em três categorias no Emmy de 2021, "Tina"! Em meio a tantas cinebiografias, essa maravilhosa produção da HBO nos remete ao universo de uma verdadeira Diva ou, como ela mesma gosta de se posicionar, de uma verdadeira lenda do rock’n’roll! A grande questão porém, é que o roteiro (como não podia deixar de ser) foca pouco mais da metade do seu tempo nas dores mais profundas da cantora enquanto ainda era casada com Ike Turner, ex-marido e figura abusiva que marcou a carreira e a vida de Tina Turner, deixando sua redenção apenas para o final do segundo ato, onde, aí sim, conseguimos relaxar de uma narrativa extremamente densa e curtir alguns dos sucessos que fizeram muita gente dançar nos anos 80.

"Tina" se propõe a fazer um recorte bastante delicado da vida e da carreira da cantora americana Tina Turner. Ela que começou sua carreira cantando em corais de igrejas e virou uma das maiores artistas de sua geração, superou as probabilidades impossíveis de se tornar uma das primeiras artistas afro-americanas a alcançar um público internacional capaz de lotar estádios e ainda chegar ao primeiro lugar da Billboard. Confira o trailer (em inglês):

Existe uma arriscada escolha conceitual dos diretores e roteiristas Daniel Lindsay e T.J. Martin (vencedores do Oscar em 2012 pelo incrível "Undefeated") ao desenhar uma árdua linha do tempo que nos movimenta pela história de Tina Turner - veja, ao assumir alguns pontos contrastantes em relação ao que representou a cantora na sua vida pública e na sua vida privada, "Tina" acaba reconectando a protagonista com seus piores fantasmas, deixando boa parte da história muito cadenciada e realmente densa. Seu depoimento inicial, por exemplo, é forte, dolorido e carrega um certo tom de melancolia e isso impacta diretamente na nossa experiência como audiência, já que nem todos vão suportar o baque da narrativa - o que eu quero dizer é que não existe um equilíbrio, tudo de ruim é jogado na nossa cara sem dó!

Por outro lado, passada a tempestade, a sensação de alívio é enorme e é quando somos tomados pela emoção, pela nostalgia e passamos a valorizar ainda mais as conquistas de Tina Turner. É muito interessante como os depoimentos vão sendo recortados com imagens de arquivo nunca antes mostrados e gravações de antigas entrevistas com a própria cantora que contextualizam exatamente o momento que ela estava passando e tudo que ela vinha carregando. Aqui cabe um comentário pessoal, duas passagens me chamaram a atenção: a tentativa de suicídio contado por ela e uma entrevista onde o entrevistador pergunta se ela já amou ou foi amada durante a vida! Olha, se prepare para sentir uma facada no peito!

A proposta de pontuar o processo de redenção de Tina Turner parece encontrar um final apoteótico com esse documentário. Com alguma variedade de fortes depoimentos, de gente de peso como Oprah Winfrey e Angela Bassett (que viveu a cantora em sua cinebiografia de 1993, chamada "Tina – A verdadeira história de Tina Turner") além, é claro, dos relatos da própria protagonista (hoje uma jovem senhora cheia de vida), "Tina" tem o mérito de organizar perfeitamente a trajetória de uma vida difícil, mas que serviu como combustível para moldar a cantora que conhecemos dançando com aquele sorriso fácil como poucas artistas de sua geração. Não é exagero afirmar que a emoção vai tomando conta da narrativa, trocando a dor pela alegria, como se fosse um belíssimo prêmio por termos dividido tantos momentos complicados com a protagonista - e te garanto: não deixe de assistir os créditos após o "black" do final, serão os créditos mais especiais que você vai assistir em muito tempo!

Vale demais o seu play!

Em tempo, Tina lançou uma autobiografia no início dos anos 1990 chamada "Tina Turner: Minha história de amor" e atualmente um espetáculo vem fazendo muito sucesso na Broadway: "Tina -The Tina Turner Musical".

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Duro, mas emocionante como a vida pode ser! Finalmente estreou no Brasil o documentário indicado em três categorias no Emmy de 2021, "Tina"! Em meio a tantas cinebiografias, essa maravilhosa produção da HBO nos remete ao universo de uma verdadeira Diva ou, como ela mesma gosta de se posicionar, de uma verdadeira lenda do rock’n’roll! A grande questão porém, é que o roteiro (como não podia deixar de ser) foca pouco mais da metade do seu tempo nas dores mais profundas da cantora enquanto ainda era casada com Ike Turner, ex-marido e figura abusiva que marcou a carreira e a vida de Tina Turner, deixando sua redenção apenas para o final do segundo ato, onde, aí sim, conseguimos relaxar de uma narrativa extremamente densa e curtir alguns dos sucessos que fizeram muita gente dançar nos anos 80.

"Tina" se propõe a fazer um recorte bastante delicado da vida e da carreira da cantora americana Tina Turner. Ela que começou sua carreira cantando em corais de igrejas e virou uma das maiores artistas de sua geração, superou as probabilidades impossíveis de se tornar uma das primeiras artistas afro-americanas a alcançar um público internacional capaz de lotar estádios e ainda chegar ao primeiro lugar da Billboard. Confira o trailer (em inglês):

Existe uma arriscada escolha conceitual dos diretores e roteiristas Daniel Lindsay e T.J. Martin (vencedores do Oscar em 2012 pelo incrível "Undefeated") ao desenhar uma árdua linha do tempo que nos movimenta pela história de Tina Turner - veja, ao assumir alguns pontos contrastantes em relação ao que representou a cantora na sua vida pública e na sua vida privada, "Tina" acaba reconectando a protagonista com seus piores fantasmas, deixando boa parte da história muito cadenciada e realmente densa. Seu depoimento inicial, por exemplo, é forte, dolorido e carrega um certo tom de melancolia e isso impacta diretamente na nossa experiência como audiência, já que nem todos vão suportar o baque da narrativa - o que eu quero dizer é que não existe um equilíbrio, tudo de ruim é jogado na nossa cara sem dó!

Por outro lado, passada a tempestade, a sensação de alívio é enorme e é quando somos tomados pela emoção, pela nostalgia e passamos a valorizar ainda mais as conquistas de Tina Turner. É muito interessante como os depoimentos vão sendo recortados com imagens de arquivo nunca antes mostrados e gravações de antigas entrevistas com a própria cantora que contextualizam exatamente o momento que ela estava passando e tudo que ela vinha carregando. Aqui cabe um comentário pessoal, duas passagens me chamaram a atenção: a tentativa de suicídio contado por ela e uma entrevista onde o entrevistador pergunta se ela já amou ou foi amada durante a vida! Olha, se prepare para sentir uma facada no peito!

A proposta de pontuar o processo de redenção de Tina Turner parece encontrar um final apoteótico com esse documentário. Com alguma variedade de fortes depoimentos, de gente de peso como Oprah Winfrey e Angela Bassett (que viveu a cantora em sua cinebiografia de 1993, chamada "Tina – A verdadeira história de Tina Turner") além, é claro, dos relatos da própria protagonista (hoje uma jovem senhora cheia de vida), "Tina" tem o mérito de organizar perfeitamente a trajetória de uma vida difícil, mas que serviu como combustível para moldar a cantora que conhecemos dançando com aquele sorriso fácil como poucas artistas de sua geração. Não é exagero afirmar que a emoção vai tomando conta da narrativa, trocando a dor pela alegria, como se fosse um belíssimo prêmio por termos dividido tantos momentos complicados com a protagonista - e te garanto: não deixe de assistir os créditos após o "black" do final, serão os créditos mais especiais que você vai assistir em muito tempo!

Vale demais o seu play!

Em tempo, Tina lançou uma autobiografia no início dos anos 1990 chamada "Tina Turner: Minha história de amor" e atualmente um espetáculo vem fazendo muito sucesso na Broadway: "Tina -The Tina Turner Musical".

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Um Pesadelo Americano

Um Pesadelo Americano

"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.

"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de  Denise Huskins.

Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.

Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas  com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.

Vale seu play!

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"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.

"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de  Denise Huskins.

Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.

Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas  com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.

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Você

"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!

O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali. 

Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você"  essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!

A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.

No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!

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"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!

O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali. 

Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você"  essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!

A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.

No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!

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