"Shirley" é um filme difícil, com uma narrativa truncada e um ar independente conceitualmente - aliás, é isso que vai fazer com que as pessoas amem ou odeiem essa cinebiografia produzida por Martin Scorsese e dirigia pela talentosa Josephine Decker. Apenas contextualizando, Shirley Jackson foi a escritora responsável pela obra "A Assombração da Casa da Colina", escrito em 1959 e que em 2018 ganhou uma adaptação pela mãos de Mike Flanagan para a Netflix com o título de "A Maldição da Residência Hill" - vale dizer que até hoje essa é considerada uma das maiores obras de terror do século XX.
Em "Shirley" temos um recorte da mente perturbada da escritora (Elisabeth Moss), que se apoia no gênero de terror para enfrentar seus mais profundos fantasmas em uma realidade completamente machista personificada pelo seu marido Stanley Hyman (Michael Stuhlbarg), um professor universitário cínico e prepotente em relação à ela, mas extremamente querido pela comunidade acadêmica local. Ambos abrigam um jovem casal e é a partir da aproximação com Rose (Odessa Young) que a escritora encontra uma real inspiração para o seu novo projeto, o romance "Hangsaman". Confira o trailer (em inglês):
Embora "Shirley" seja uma biografia (muito perturbadora), a diretora Josephine Decker trabalha muito bem os elementos dramáticos com uma pitada de suspense psicológico que o roteiro de Sarah Gubbins, que é baseado no livro de Susan Scarf Merrell, propõe. Veja, o filme basicamente se passa dentro da casa de "Shirley" onde muito das cenas são filmadas com lentes bem fechadas, ou seja, existe uma sensação de claustrofobia na mesma medida que a própria narrativa vai nos provocando uma sensação de angustia avassaladora.
Se algumas escolhas Decker privilegiam o conceito narrativo mais denso, pode ter certeza que a veracidade de algumas situações estarão sempre em dúvida, por outro lado, essas mesmas situações vão estabelecer um ar mais autoral ao filme sem perder a essência, mesmo que antecipando alguns gatilhos. Eu explico: Shirley Jackson sofria de agorafobia, o que justifica todas as passagens do roteiro sobre o seu medo de sair de casa e até de priorizar a reclusão; porém essa condição foi desenvolvida mais para os anos 60, bem depois dos acontecimentos que assistimos no filme.
O fato é que todas as licenças que o filme se apropria estão completamente alinhas com a condução de Decker e isso merece muitos elogios - desde a montagem fragmentada de David Barker (de "Birds of Paradise") até a fotografia do genial Sturla Brandth Grøvlen (de "Victoria" e "Drunk") que é pautada nos incômodos planos detalhes das situações. Sobre o elenco, obviamente que Elisabeth Moss dá mais um show, mas fica impossível não citar o trabalho de Michael Stuhlbarg - perfeito!
A vida de Shirley Jackson, que se tornou leitura obrigatória em escolas americanas, soa tão perturbadora quanto suas histórias e o recorte que assistimos em "Shirley" nos traz uma boa noção dessa jornada criativa que influenciou nomes como Stephen King e Neil Gaiman. Agora esteja atento, pois o filme é muito desconfortável porque exibe, sem cortes, como o machismo pode afetar a vida de mulheres fantásticas, expondo os traumas e as marcas deixadas durante anos de opressão.
Vale a pena e embora não seja genial, certamente a conexão com as mulheres refletirá em uma experiência mais impactante.
Obs: "Shirley" foi muito elogiado no Festival de Sundance em 2020, chegando a conquistar o "U.S. Dramatic Special Jury Award".
"Shirley" é um filme difícil, com uma narrativa truncada e um ar independente conceitualmente - aliás, é isso que vai fazer com que as pessoas amem ou odeiem essa cinebiografia produzida por Martin Scorsese e dirigia pela talentosa Josephine Decker. Apenas contextualizando, Shirley Jackson foi a escritora responsável pela obra "A Assombração da Casa da Colina", escrito em 1959 e que em 2018 ganhou uma adaptação pela mãos de Mike Flanagan para a Netflix com o título de "A Maldição da Residência Hill" - vale dizer que até hoje essa é considerada uma das maiores obras de terror do século XX.
Em "Shirley" temos um recorte da mente perturbada da escritora (Elisabeth Moss), que se apoia no gênero de terror para enfrentar seus mais profundos fantasmas em uma realidade completamente machista personificada pelo seu marido Stanley Hyman (Michael Stuhlbarg), um professor universitário cínico e prepotente em relação à ela, mas extremamente querido pela comunidade acadêmica local. Ambos abrigam um jovem casal e é a partir da aproximação com Rose (Odessa Young) que a escritora encontra uma real inspiração para o seu novo projeto, o romance "Hangsaman". Confira o trailer (em inglês):
Embora "Shirley" seja uma biografia (muito perturbadora), a diretora Josephine Decker trabalha muito bem os elementos dramáticos com uma pitada de suspense psicológico que o roteiro de Sarah Gubbins, que é baseado no livro de Susan Scarf Merrell, propõe. Veja, o filme basicamente se passa dentro da casa de "Shirley" onde muito das cenas são filmadas com lentes bem fechadas, ou seja, existe uma sensação de claustrofobia na mesma medida que a própria narrativa vai nos provocando uma sensação de angustia avassaladora.
Se algumas escolhas Decker privilegiam o conceito narrativo mais denso, pode ter certeza que a veracidade de algumas situações estarão sempre em dúvida, por outro lado, essas mesmas situações vão estabelecer um ar mais autoral ao filme sem perder a essência, mesmo que antecipando alguns gatilhos. Eu explico: Shirley Jackson sofria de agorafobia, o que justifica todas as passagens do roteiro sobre o seu medo de sair de casa e até de priorizar a reclusão; porém essa condição foi desenvolvida mais para os anos 60, bem depois dos acontecimentos que assistimos no filme.
O fato é que todas as licenças que o filme se apropria estão completamente alinhas com a condução de Decker e isso merece muitos elogios - desde a montagem fragmentada de David Barker (de "Birds of Paradise") até a fotografia do genial Sturla Brandth Grøvlen (de "Victoria" e "Drunk") que é pautada nos incômodos planos detalhes das situações. Sobre o elenco, obviamente que Elisabeth Moss dá mais um show, mas fica impossível não citar o trabalho de Michael Stuhlbarg - perfeito!
A vida de Shirley Jackson, que se tornou leitura obrigatória em escolas americanas, soa tão perturbadora quanto suas histórias e o recorte que assistimos em "Shirley" nos traz uma boa noção dessa jornada criativa que influenciou nomes como Stephen King e Neil Gaiman. Agora esteja atento, pois o filme é muito desconfortável porque exibe, sem cortes, como o machismo pode afetar a vida de mulheres fantásticas, expondo os traumas e as marcas deixadas durante anos de opressão.
Vale a pena e embora não seja genial, certamente a conexão com as mulheres refletirá em uma experiência mais impactante.
Obs: "Shirley" foi muito elogiado no Festival de Sundance em 2020, chegando a conquistar o "U.S. Dramatic Special Jury Award".
"Showbiz Kids", documentário original da HBO, é simplesmente sensacional - um recorte de como é ser uma criança nos Estúdios de Hollywood! A forma como o diretor Alex Winter (também ex-ator quando criança) foi construindo a narrativa com entrevistas, imagens de arquivo e cenas dos filmes que cada uma daquelas ex-estrelas mirins participaram, criou uma dinâmica muito interessante que nos prende aos assuntos abordados e quando nos damos conta, o filme já acabou, nos deixando um certo aperto no coração e uma reflexão bastante importante, principalmente para aqueles que tem filhos!
O documentário expõe os altos e baixos de ser uma estrela mirim em Hollywood, mostrando como uma carreira na indústria do entretenimento com tão pouca idade pode cobrar um preço caro e afetar profundamente o psicológico e o futuro dessas crianças. São entrevistas com atores conhecidos por seus trabalhos na infância, como Henry Thomas, Evan Rachel Wood, Wil Wheaton, Cameron Boyce e Milla Jovovich. Além disso, o filme trás uma referência quase antropológica ao mostrar Baby Peggy, a primeira grande estrela mirim americana, além de acompanhar a jornada de dois jovens (e suas mães, claro) que estão buscando um lugar de destaque no "showbiz". Confira o trailer:
O mais bacana de "Showbiz Kids" é que o diretor foi capaz de encontrar vários perfis de atores que foram referências quando crianças, desde aquele que gostou da experiência até aquele se sentiu forçado pelos pais para estar ali. O interessante, inclusive, é que entre as duas pontas existem vários temas bastante espinhosos que fizeram parte da vida de todos, como: abuso sexual, pedofilia, drogas, ganância ou até os reflexos da pressão e insegurança daquela linha tênue entre sucesso e fracasso, natural da profissão, mas que para uma criança é de uma crueldade inimaginável (irresponsável, eu diria) - reparem nas mães das duas crianças que ainda não alcançaram a fama e entendam a postura opressora que é imposta à elas mesmo com uma certa fantasia de liberdade de escolha! Complicado!
"Showbiz Kids" é, sem dúvida, um dos melhores documentários de 2020 e certamente estará presente na temporada de premiações. Dito isso, não perca tempo, dê o play e saiba que são esses exemplos que nos fazem refletir sobre a educação que daremos aos nossos filhos!
"Showbiz Kids", documentário original da HBO, é simplesmente sensacional - um recorte de como é ser uma criança nos Estúdios de Hollywood! A forma como o diretor Alex Winter (também ex-ator quando criança) foi construindo a narrativa com entrevistas, imagens de arquivo e cenas dos filmes que cada uma daquelas ex-estrelas mirins participaram, criou uma dinâmica muito interessante que nos prende aos assuntos abordados e quando nos damos conta, o filme já acabou, nos deixando um certo aperto no coração e uma reflexão bastante importante, principalmente para aqueles que tem filhos!
O documentário expõe os altos e baixos de ser uma estrela mirim em Hollywood, mostrando como uma carreira na indústria do entretenimento com tão pouca idade pode cobrar um preço caro e afetar profundamente o psicológico e o futuro dessas crianças. São entrevistas com atores conhecidos por seus trabalhos na infância, como Henry Thomas, Evan Rachel Wood, Wil Wheaton, Cameron Boyce e Milla Jovovich. Além disso, o filme trás uma referência quase antropológica ao mostrar Baby Peggy, a primeira grande estrela mirim americana, além de acompanhar a jornada de dois jovens (e suas mães, claro) que estão buscando um lugar de destaque no "showbiz". Confira o trailer:
O mais bacana de "Showbiz Kids" é que o diretor foi capaz de encontrar vários perfis de atores que foram referências quando crianças, desde aquele que gostou da experiência até aquele se sentiu forçado pelos pais para estar ali. O interessante, inclusive, é que entre as duas pontas existem vários temas bastante espinhosos que fizeram parte da vida de todos, como: abuso sexual, pedofilia, drogas, ganância ou até os reflexos da pressão e insegurança daquela linha tênue entre sucesso e fracasso, natural da profissão, mas que para uma criança é de uma crueldade inimaginável (irresponsável, eu diria) - reparem nas mães das duas crianças que ainda não alcançaram a fama e entendam a postura opressora que é imposta à elas mesmo com uma certa fantasia de liberdade de escolha! Complicado!
"Showbiz Kids" é, sem dúvida, um dos melhores documentários de 2020 e certamente estará presente na temporada de premiações. Dito isso, não perca tempo, dê o play e saiba que são esses exemplos que nos fazem refletir sobre a educação que daremos aos nossos filhos!
"Spotlight" é de fato marcante e vai te provocar inúmeras reflexões! Dirigido pelo Tom McCarthy (de "Ganhar ou Ganhar: A Vida é um Jogo"), o filme retrata uma das maiores investigações jornalísticas da história recente dos Estados Unidos. Lançado em 2015, o roteiro aborda com maestria, detalhes sobre o escândalo de abusos sexuais envolvendo membros da Igreja Católica em Boston, Massachusetts. Olha, é impressionante como filme apresenta uma análise detalhada da investigação ao mesmo tempo em que nos provoca um olhar critico para temas importantes e indigestos, como o abuso de poder e a influência institucional da Igreja.
O drama vencedor do Oscar de "Melhor Filme" em 2016, acompanha a equipe de jornalistas investigativos do jornal The Boston Globe, conhecida como "Spotlight", enquanto eles se aprofundam na denúncia de abusos sexuais cometidos por padres católicos na cidade de Boston. A história se desenrola de forma envolvente e realista, à medida que a equipe luta para desvendar o caso e expor a verdade por trás do abuso de poder dentro da Igreja. Confira o trailer:
O ponto alto de "Spotlight - Segredos Revelados" é, sem dúvida, sua abordagem sóbria e intensamente realista. O diretor Tom McCarthy opta por uma narrativa linear, focando no desenvolvimento meticuloso da investigação e no impacto que ela tem sobre toda equipe de jornalistas. Aliás, o trabalho dos atores só colabora para validar a escolha desse conceito. Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Stanley Tucci entregam performances poderosas e emocionalmente densas - chega a ser impressionante a entrega do elenco na construção de algumas camadas tão sensíveis que fica impossível não se identificar com toda aquela cruzada. É como se estivéssemos lá, nessa luta!
O roteiro, também vencedor do Oscar, foi escrito pelo próprio McCarthy com a ajuda de Josh Singer - olha, eu diria que é uma verdadeira obra-prima. Ele equilibra tão bem a complexidade da investigação com os dilemas éticos e morais enfrentados pelos personagens que não são raras a vezes que nos pegamos pensando o que faríamos naquelas situações. Outro ponto interessante do roteiro de "Spotlight" é a forma como ele mergulha no tema da responsabilidade da Igreja, questionando a influência e a força da instituição perante uma comunidade inteira - raparem no senso de urgência que acompanha os personagens na tentativa de expor a verdade, independentemente das consequências dessa decisão. A direção de McCarthy é precisa e minimalista, sem recorrer a artifícios visuais desnecessários ou cair em clichês baratos. Ele enfatiza o trabalho dos jornalistas e o peso das informações reveladas, criando uma atmosfera de tensão crescente ao longo do filme onde uma bela trilha sonora, embora sutil, soa extremamente eficaz como complemento para esse estilo de narrativa.
A grande verdade é que "Spotlight" é muito mais do que um simples filme de investigação. Sua complexidade ideológica está nos detalhes, na forma como ele aponta o problema e estimula o debate, a reflexão. Ao construir a sua narrativa em cima de discussões sobre a hipocrisia, a ética e a coragem, somos diretamente impactados e nos sentimos desafiados a sempre questionar o sistema e a lutar pelo que é certo, mesmo que para isso tenhamos que olhar para os nossos próprios fantasmas como sociedade e enfrenta-los.
Vale muito o seu play!
"Spotlight" é de fato marcante e vai te provocar inúmeras reflexões! Dirigido pelo Tom McCarthy (de "Ganhar ou Ganhar: A Vida é um Jogo"), o filme retrata uma das maiores investigações jornalísticas da história recente dos Estados Unidos. Lançado em 2015, o roteiro aborda com maestria, detalhes sobre o escândalo de abusos sexuais envolvendo membros da Igreja Católica em Boston, Massachusetts. Olha, é impressionante como filme apresenta uma análise detalhada da investigação ao mesmo tempo em que nos provoca um olhar critico para temas importantes e indigestos, como o abuso de poder e a influência institucional da Igreja.
O drama vencedor do Oscar de "Melhor Filme" em 2016, acompanha a equipe de jornalistas investigativos do jornal The Boston Globe, conhecida como "Spotlight", enquanto eles se aprofundam na denúncia de abusos sexuais cometidos por padres católicos na cidade de Boston. A história se desenrola de forma envolvente e realista, à medida que a equipe luta para desvendar o caso e expor a verdade por trás do abuso de poder dentro da Igreja. Confira o trailer:
O ponto alto de "Spotlight - Segredos Revelados" é, sem dúvida, sua abordagem sóbria e intensamente realista. O diretor Tom McCarthy opta por uma narrativa linear, focando no desenvolvimento meticuloso da investigação e no impacto que ela tem sobre toda equipe de jornalistas. Aliás, o trabalho dos atores só colabora para validar a escolha desse conceito. Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams e Stanley Tucci entregam performances poderosas e emocionalmente densas - chega a ser impressionante a entrega do elenco na construção de algumas camadas tão sensíveis que fica impossível não se identificar com toda aquela cruzada. É como se estivéssemos lá, nessa luta!
O roteiro, também vencedor do Oscar, foi escrito pelo próprio McCarthy com a ajuda de Josh Singer - olha, eu diria que é uma verdadeira obra-prima. Ele equilibra tão bem a complexidade da investigação com os dilemas éticos e morais enfrentados pelos personagens que não são raras a vezes que nos pegamos pensando o que faríamos naquelas situações. Outro ponto interessante do roteiro de "Spotlight" é a forma como ele mergulha no tema da responsabilidade da Igreja, questionando a influência e a força da instituição perante uma comunidade inteira - raparem no senso de urgência que acompanha os personagens na tentativa de expor a verdade, independentemente das consequências dessa decisão. A direção de McCarthy é precisa e minimalista, sem recorrer a artifícios visuais desnecessários ou cair em clichês baratos. Ele enfatiza o trabalho dos jornalistas e o peso das informações reveladas, criando uma atmosfera de tensão crescente ao longo do filme onde uma bela trilha sonora, embora sutil, soa extremamente eficaz como complemento para esse estilo de narrativa.
A grande verdade é que "Spotlight" é muito mais do que um simples filme de investigação. Sua complexidade ideológica está nos detalhes, na forma como ele aponta o problema e estimula o debate, a reflexão. Ao construir a sua narrativa em cima de discussões sobre a hipocrisia, a ética e a coragem, somos diretamente impactados e nos sentimos desafiados a sempre questionar o sistema e a lutar pelo que é certo, mesmo que para isso tenhamos que olhar para os nossos próprios fantasmas como sociedade e enfrenta-los.
Vale muito o seu play!
"The Handmaid's Tale" (ou "O Conto da Aia") é o tipo da série que nos faz assinar um serviço de streaming só para poder assistir todas as temporadas - mais ou menos como foi "House of Cards" nos primórdios da Netflix. Impecável na forma, sensacional no conteúdo - não existe outra forma de definir a série da Hulu que aqui no Brasil está na Globoplay!
Baseado no livro homônimo escrito pela canadense Margaret Atwood, a série conta a história da queda do governo democrático dos EUA e consequentemente a ascensão de uma nova forma de autoridade, a República de Gilead, uma espécie de administração cristã fundamentalista totalitária na qual o respeito às leis sagradas deve ser seguido acima de tudo e onde a mulher passa a ser massacrada como indivíduo, sendo obrigada a servir aos Comandantes para, simplesmente, parir seus filhos - tudo isso pelos olhos de June/Offred (Elisabeth Moss). Confira o trailer:
Impactante visualmente e narrativamente, "The Handmaid's Tale" é uma pérola - mas nem por isso será uma jornada das mais tranquilas. Muito dessa qualidade se dá pelo fato de que a própria autora do livro tenha trabalhado ao lado de Bruce Miller (de "The 4400") na adaptação para a tela desse futuro não tão distópico que toca em elementos muito presentes em nossa sociedade atual que vai do feminismo radical ao fundamentalismo religioso. E não é só isso, a dualidade das questões também impressiona, veja: com a queda abrupta da taxa de natalidade, segundo os fundamentalistas causado pelos elevados níveis de poluição e pelo comportamento permissivo da comunidade que vivia em um universo de drogas e de desrespeito aos valores tradicionais, o sexo feminino se torna um bem valioso ao mesmo tempo em que é necessário o uso da força para conquista-lo.
Entende como as "boas intenções" escondem camadas muito mais profundas e perigosas?
O roteiro foi muito feliz em dividir a trama em duas linhas temporais que se misturam sem muito aviso, mas que ao perceber essa dinâmica da montagem, nos trazem uma enorme sensação de insegurança e de angústia. As peças são apresentadas aos poucos, mas a potência com que isso acontece é muito marcante. De um lado temos o dia-a-dia das aias, as poucas mulheres férteis que ainda restaram nos Estados Unidos que foram capturadas, torturadas, mutiladas e tendo passado por uma verdadeira lavagem cerebral, coação e castigos físicos, para que os Comandantes as estuprem como se fosse a coisa mais normal do mundo - esse é o status atual das mulheres neste Universo. Já do outro lado, conhecemos o passado, extremamente fragmentado e sem respeitar uma linearidade, onde os personagens são construídos e as situações são explicadas ponto a ponto - é aqui que entendemos o valor da complexa performance de Elisabeth Moss que lhe rendeu um Emmy em 2017.
Com um elenco muito bom, uma direção de arte de se aplaudir de pé e uma fotografia belíssima, "The Handmaid's Tale" justifica o prêmio de melhor série dramática de 2017. Uma série que nos mostra o que uma sociedade pode se tornar quando uma camada extremista assume o controle e passa a dizer o que deve ou o que não deve ser feito. Em um cenário com muitas interferências, um ódio gratuito contra a sexualidade do outro, inúmeras tentativas de suprimir os direitos individuais, fica impossível não refletir sobre nossa realidade (e as redes sociais estão estão aí para provar como isso tudo é perigoso). Com inteligência e aproveitando o poder do entretenimento, eu diria que "The Handmaid's Tale" é uma série tão necessária quanto imperdível!
E que vale muito o seu play!
"The Handmaid's Tale" (ou "O Conto da Aia") é o tipo da série que nos faz assinar um serviço de streaming só para poder assistir todas as temporadas - mais ou menos como foi "House of Cards" nos primórdios da Netflix. Impecável na forma, sensacional no conteúdo - não existe outra forma de definir a série da Hulu que aqui no Brasil está na Globoplay!
Baseado no livro homônimo escrito pela canadense Margaret Atwood, a série conta a história da queda do governo democrático dos EUA e consequentemente a ascensão de uma nova forma de autoridade, a República de Gilead, uma espécie de administração cristã fundamentalista totalitária na qual o respeito às leis sagradas deve ser seguido acima de tudo e onde a mulher passa a ser massacrada como indivíduo, sendo obrigada a servir aos Comandantes para, simplesmente, parir seus filhos - tudo isso pelos olhos de June/Offred (Elisabeth Moss). Confira o trailer:
Impactante visualmente e narrativamente, "The Handmaid's Tale" é uma pérola - mas nem por isso será uma jornada das mais tranquilas. Muito dessa qualidade se dá pelo fato de que a própria autora do livro tenha trabalhado ao lado de Bruce Miller (de "The 4400") na adaptação para a tela desse futuro não tão distópico que toca em elementos muito presentes em nossa sociedade atual que vai do feminismo radical ao fundamentalismo religioso. E não é só isso, a dualidade das questões também impressiona, veja: com a queda abrupta da taxa de natalidade, segundo os fundamentalistas causado pelos elevados níveis de poluição e pelo comportamento permissivo da comunidade que vivia em um universo de drogas e de desrespeito aos valores tradicionais, o sexo feminino se torna um bem valioso ao mesmo tempo em que é necessário o uso da força para conquista-lo.
Entende como as "boas intenções" escondem camadas muito mais profundas e perigosas?
O roteiro foi muito feliz em dividir a trama em duas linhas temporais que se misturam sem muito aviso, mas que ao perceber essa dinâmica da montagem, nos trazem uma enorme sensação de insegurança e de angústia. As peças são apresentadas aos poucos, mas a potência com que isso acontece é muito marcante. De um lado temos o dia-a-dia das aias, as poucas mulheres férteis que ainda restaram nos Estados Unidos que foram capturadas, torturadas, mutiladas e tendo passado por uma verdadeira lavagem cerebral, coação e castigos físicos, para que os Comandantes as estuprem como se fosse a coisa mais normal do mundo - esse é o status atual das mulheres neste Universo. Já do outro lado, conhecemos o passado, extremamente fragmentado e sem respeitar uma linearidade, onde os personagens são construídos e as situações são explicadas ponto a ponto - é aqui que entendemos o valor da complexa performance de Elisabeth Moss que lhe rendeu um Emmy em 2017.
Com um elenco muito bom, uma direção de arte de se aplaudir de pé e uma fotografia belíssima, "The Handmaid's Tale" justifica o prêmio de melhor série dramática de 2017. Uma série que nos mostra o que uma sociedade pode se tornar quando uma camada extremista assume o controle e passa a dizer o que deve ou o que não deve ser feito. Em um cenário com muitas interferências, um ódio gratuito contra a sexualidade do outro, inúmeras tentativas de suprimir os direitos individuais, fica impossível não refletir sobre nossa realidade (e as redes sociais estão estão aí para provar como isso tudo é perigoso). Com inteligência e aproveitando o poder do entretenimento, eu diria que "The Handmaid's Tale" é uma série tão necessária quanto imperdível!
E que vale muito o seu play!
Depois de todas as polêmicas que envolveram a produção de "The Idol", é natural que a série, de fato, chame a atenção da audiência - e aqui, também é inegável, que a forma como a trama foi embalada (sim, estou falando das inúmeras cenas de sexo e nudez), ainda potencialize esse interesse. Passado os cinco episódios da primeira temporada, essa expectativa criada em cima da produção da HBO acabou fazendo com que a conta ficasse alta demais - principalmente para aqueles que já não estavam dispostos a embarcar no conceito escolhido por Sam Levinson e pelo Abel ‘The Weeknd’ Tesfaye para retratar uma "realidade" tão distante para meros mortais como nós. É notável a tentativa de seus criadores em tentar mostrar os bastidores da indústria da música e seus excessos como forma de liberdade criativa, no entanto, me parece, que faltou um pouco mais de cuidado e, principalmente, de planejamento para as peças se encaixarem. Ok, mas isso faz da série algo horrível? Para alguns sim, mas esse não é o nosso caso - pelo menos não em sua totalidade!
Na história, a jovem mega-estrela pop Jocelyn (Lily-Rose Depp) está disposta a tudo para alcançar um patamar nunca antes visto em uma celebridade. Após sofrer um colapso nervoso em sua última turnê graças a morte prematura de sua mãe, ela conhece Tedros (The Weeknd), o dono de uma boate da moda de L.A., que se torna seu guru e uma espécie de diretor criativo. Seguindo um caminho conturbado que envolve fama, dinheiro, sexo e segredos, a cantora passa a se relacionar mais intensamente com o empresário, cruzando todos os limites do bom senso, onde o preço a ser pago pode ser crucial para sua carreira. Confira o trailer:
Embora "The Idol" ensaie priorizar o valor da fama pela perspectiva de uma estrela em estado de vulnerabilidade como em "Um Lugar Qualquer" ou até como em "Nasce uma Estrela", o que realmente encontramos na tela é um recorte surreal de um roteiro sem a menor profundidade. Talvez se esses cinco episódios fizessem parte de uma primeira temporada com 12 episódios, nossa análise pudesse ser menos rígida, afinal, como prólogo, essa breve jornada poderia até servir para algo maior. Acontece que esse algo maior não chega em nenhum momento e por mais que visualmente a série tenha um certo requinte estético, seu recheio deixa um pouco a desejar - sobrevivendo por lapsos de criatividade que só nos provoca alguma curiosidade.
Veja, classificar "The Idol" como horrorosa me parece um pouco exagerado demais e vou usar uma referência para tentar estabelecer um padrão entre critica e falso moralismo: quando entendemos que o Hank Moody (David Duchovny) de "Californication", mesmo sendo um escritor famoso, tinha sua personalidade completamente autodestrutiva, que precisava lidar com sua "insegurança" através dos vícios e de seus relacionamentos passageiros, criando, inclusive, sérios problemas de bloqueio criativo; estávamos frente a frente com um drama (em tom cômico, é verdade) construído a partir de escolhas onde o protagonista perdia mais do que ganhava. Isso gerou criticas na época? Sim, mas que se dissiparam pela proposta do Tom Kapinos que passou a fazer sentido narrativamente com o passar dos episódios. Aqui, a Jocelyn de Levinson parece nunca perder, mesmo quando apenas o prazer parece motiva-la. Mas é óbvio que existem camadas extremamente ricas para o roteiro explorar a partir dessa relação entre o prazer imediato e as consequências dessa sua postura - o potencial da cruzada de Jocelyn é tão rica quanto de Moody e embora o tom seja completamente diferente, existe uma luz no fim do túnel. Só que parece não ter dado tempo dessa luz aparecer - resta saber se isso não é resultado de falta de competência.
Lily-Rose Depp briga por sua Jocelyn com garras e dentes. Ela mantém a mesma atmosfera de vulnerabilidade até quando precisa ser sexy e segura perante sua posição como estrela do showbiz - e isso merece elogios, mesmo tento muito que provar como atriz (e ter contracenado tanto com ‘The Weeknd’ também não ajudou, vamos combinar). Algumas críticas também apontaram que "The Idol" retrata as mulheres de forma objetificada e que o estilo de vida autodestrutivo da protagonista é explorado de maneira glamorizada, e eu até concordo em partes, mas se olharmos essas circunstâncias como gatilhos para conflitos dramáticos que podem ser melhor explorados, faz até sentido; o problema é que não sabemos se a série terá chance de provar que tudo fazia parte de algo maior.
Dê seu play por conta e risco, mas se você leu até aqui, existe uma boa chance de você gostar.
Depois de todas as polêmicas que envolveram a produção de "The Idol", é natural que a série, de fato, chame a atenção da audiência - e aqui, também é inegável, que a forma como a trama foi embalada (sim, estou falando das inúmeras cenas de sexo e nudez), ainda potencialize esse interesse. Passado os cinco episódios da primeira temporada, essa expectativa criada em cima da produção da HBO acabou fazendo com que a conta ficasse alta demais - principalmente para aqueles que já não estavam dispostos a embarcar no conceito escolhido por Sam Levinson e pelo Abel ‘The Weeknd’ Tesfaye para retratar uma "realidade" tão distante para meros mortais como nós. É notável a tentativa de seus criadores em tentar mostrar os bastidores da indústria da música e seus excessos como forma de liberdade criativa, no entanto, me parece, que faltou um pouco mais de cuidado e, principalmente, de planejamento para as peças se encaixarem. Ok, mas isso faz da série algo horrível? Para alguns sim, mas esse não é o nosso caso - pelo menos não em sua totalidade!
Na história, a jovem mega-estrela pop Jocelyn (Lily-Rose Depp) está disposta a tudo para alcançar um patamar nunca antes visto em uma celebridade. Após sofrer um colapso nervoso em sua última turnê graças a morte prematura de sua mãe, ela conhece Tedros (The Weeknd), o dono de uma boate da moda de L.A., que se torna seu guru e uma espécie de diretor criativo. Seguindo um caminho conturbado que envolve fama, dinheiro, sexo e segredos, a cantora passa a se relacionar mais intensamente com o empresário, cruzando todos os limites do bom senso, onde o preço a ser pago pode ser crucial para sua carreira. Confira o trailer:
Embora "The Idol" ensaie priorizar o valor da fama pela perspectiva de uma estrela em estado de vulnerabilidade como em "Um Lugar Qualquer" ou até como em "Nasce uma Estrela", o que realmente encontramos na tela é um recorte surreal de um roteiro sem a menor profundidade. Talvez se esses cinco episódios fizessem parte de uma primeira temporada com 12 episódios, nossa análise pudesse ser menos rígida, afinal, como prólogo, essa breve jornada poderia até servir para algo maior. Acontece que esse algo maior não chega em nenhum momento e por mais que visualmente a série tenha um certo requinte estético, seu recheio deixa um pouco a desejar - sobrevivendo por lapsos de criatividade que só nos provoca alguma curiosidade.
Veja, classificar "The Idol" como horrorosa me parece um pouco exagerado demais e vou usar uma referência para tentar estabelecer um padrão entre critica e falso moralismo: quando entendemos que o Hank Moody (David Duchovny) de "Californication", mesmo sendo um escritor famoso, tinha sua personalidade completamente autodestrutiva, que precisava lidar com sua "insegurança" através dos vícios e de seus relacionamentos passageiros, criando, inclusive, sérios problemas de bloqueio criativo; estávamos frente a frente com um drama (em tom cômico, é verdade) construído a partir de escolhas onde o protagonista perdia mais do que ganhava. Isso gerou criticas na época? Sim, mas que se dissiparam pela proposta do Tom Kapinos que passou a fazer sentido narrativamente com o passar dos episódios. Aqui, a Jocelyn de Levinson parece nunca perder, mesmo quando apenas o prazer parece motiva-la. Mas é óbvio que existem camadas extremamente ricas para o roteiro explorar a partir dessa relação entre o prazer imediato e as consequências dessa sua postura - o potencial da cruzada de Jocelyn é tão rica quanto de Moody e embora o tom seja completamente diferente, existe uma luz no fim do túnel. Só que parece não ter dado tempo dessa luz aparecer - resta saber se isso não é resultado de falta de competência.
Lily-Rose Depp briga por sua Jocelyn com garras e dentes. Ela mantém a mesma atmosfera de vulnerabilidade até quando precisa ser sexy e segura perante sua posição como estrela do showbiz - e isso merece elogios, mesmo tento muito que provar como atriz (e ter contracenado tanto com ‘The Weeknd’ também não ajudou, vamos combinar). Algumas críticas também apontaram que "The Idol" retrata as mulheres de forma objetificada e que o estilo de vida autodestrutivo da protagonista é explorado de maneira glamorizada, e eu até concordo em partes, mas se olharmos essas circunstâncias como gatilhos para conflitos dramáticos que podem ser melhor explorados, faz até sentido; o problema é que não sabemos se a série terá chance de provar que tudo fazia parte de algo maior.
Dê seu play por conta e risco, mas se você leu até aqui, existe uma boa chance de você gostar.
Quando Ted Sarandos disse que queria que a Netflix se tornasse a HBO antes que a HBO pudesse se tornar uma Netflix, ele projetava que a Netflix pudesse ser tão boa quanto a HBO na produção de conteúdo original, antes mesmo que a HBO pudesse ser tão bom quanto a Netflix em oferecer produtos sob demanda. Assistindo "The Jinx" não pude deixar de refletir sobre essa afirmação do executivo da Netflix! "The Jinx" é incrível, realmente muito bom, ganhou 2 Emmys em 2015, inclusive de melhor série de "não-ficção" e mesmo assim não teve 1/5 da projeção, pelo menos no Brasil, do que representou "Making a Murderer"!
Isso mostra a força que a Netflix tem e como o trabalho de construção de uma marca ganhou tanta credibilidade ao desenvolver tantas produções de qualidade em tão pouco tempo. Não que a HBO não tenha feito, muito pelo contrário, mas as franquias Game of Thrones ou True Detective não duraram pra sempre.
Dito isso, vamos ao que interessa: "The Jinx" é a melhor série de true crime já desenvolvida - pelo menos na nossa opinião! Após o relativo sucesso de "Entre Segredos e Mentiras", filme baseado nos casos de violência que cercaram o protagonista Robert Durst com Rian Gosling e Kristen Dunst, o diretor Andrew Jarecki recebeu um telefonema do próprio Durst. A proposta era simples, ele queria dar um depoimento em vídeo sobre sua versão dos acontecimentos da história. Esclarecer de uma vez por todas que ele não é e nunca foi um assassino em série. Completamente extasiado, Jarecki aceitou na hora e aí surgiu essa obra de arte da HBO. Confira o trailer:
O fato de "The Jinx" ser uma série documental de seis episódios ampliou nosso entendimento sobre a psique do milionário nova-iorquino Robert Durst. Andrew Jarecki usou de anos de pesquisa para compor uma verdadeira e complicada investigação sobre Durst - um homem complexo, frio, tido como o principal suspeito de uma série de crimes não solucionados. Chega a ser impressionante como Jarecki tem a capacidade de fazer as perguntas certas ao mesmo tempo em que vai construindo uma linha temporal que culmina em um dos finais mais impressionantes que eu já assisti em toda a minha vida - e não estou brincando! Foram 25 horas de depoimento de Durst muito bem amarrados com encenações e gravações de arquivo que vão mudando a história de acordo com a própria investigação.
Carismático e inteligente, Robert Durst parece ter saído das histórias mais macabras sobre assassinatos e, mesmo que o público não saiba se ele realmente cometeu os assassinatos, sua serenidade assustadora acaba nos conquistando - é impressionante! O fato é que o documentário nos provoca a cada episódio, nos fazendo questionar se aquele homem tão particular (e corajoso - afinal ele está dando a cara a tapa a todo momento) é realmente um assassino ou apenas um azarado (por isso o “jinx” do título), que estava sempre no lugar e na hora errada.
Veja, "Making a Murderer" é realmente muito bom, claro, mas "The Jinx" é ainda melhor! Pode acreditar!
Quando Ted Sarandos disse que queria que a Netflix se tornasse a HBO antes que a HBO pudesse se tornar uma Netflix, ele projetava que a Netflix pudesse ser tão boa quanto a HBO na produção de conteúdo original, antes mesmo que a HBO pudesse ser tão bom quanto a Netflix em oferecer produtos sob demanda. Assistindo "The Jinx" não pude deixar de refletir sobre essa afirmação do executivo da Netflix! "The Jinx" é incrível, realmente muito bom, ganhou 2 Emmys em 2015, inclusive de melhor série de "não-ficção" e mesmo assim não teve 1/5 da projeção, pelo menos no Brasil, do que representou "Making a Murderer"!
Isso mostra a força que a Netflix tem e como o trabalho de construção de uma marca ganhou tanta credibilidade ao desenvolver tantas produções de qualidade em tão pouco tempo. Não que a HBO não tenha feito, muito pelo contrário, mas as franquias Game of Thrones ou True Detective não duraram pra sempre.
Dito isso, vamos ao que interessa: "The Jinx" é a melhor série de true crime já desenvolvida - pelo menos na nossa opinião! Após o relativo sucesso de "Entre Segredos e Mentiras", filme baseado nos casos de violência que cercaram o protagonista Robert Durst com Rian Gosling e Kristen Dunst, o diretor Andrew Jarecki recebeu um telefonema do próprio Durst. A proposta era simples, ele queria dar um depoimento em vídeo sobre sua versão dos acontecimentos da história. Esclarecer de uma vez por todas que ele não é e nunca foi um assassino em série. Completamente extasiado, Jarecki aceitou na hora e aí surgiu essa obra de arte da HBO. Confira o trailer:
O fato de "The Jinx" ser uma série documental de seis episódios ampliou nosso entendimento sobre a psique do milionário nova-iorquino Robert Durst. Andrew Jarecki usou de anos de pesquisa para compor uma verdadeira e complicada investigação sobre Durst - um homem complexo, frio, tido como o principal suspeito de uma série de crimes não solucionados. Chega a ser impressionante como Jarecki tem a capacidade de fazer as perguntas certas ao mesmo tempo em que vai construindo uma linha temporal que culmina em um dos finais mais impressionantes que eu já assisti em toda a minha vida - e não estou brincando! Foram 25 horas de depoimento de Durst muito bem amarrados com encenações e gravações de arquivo que vão mudando a história de acordo com a própria investigação.
Carismático e inteligente, Robert Durst parece ter saído das histórias mais macabras sobre assassinatos e, mesmo que o público não saiba se ele realmente cometeu os assassinatos, sua serenidade assustadora acaba nos conquistando - é impressionante! O fato é que o documentário nos provoca a cada episódio, nos fazendo questionar se aquele homem tão particular (e corajoso - afinal ele está dando a cara a tapa a todo momento) é realmente um assassino ou apenas um azarado (por isso o “jinx” do título), que estava sempre no lugar e na hora errada.
Veja, "Making a Murderer" é realmente muito bom, claro, mas "The Jinx" é ainda melhor! Pode acreditar!
Quando "The Morning Show" foi apresentado, rapidamente associei sua importância como uma espécie de "House of Cards" da AppleTV+! Não só por na época ser o cartão de visitas do novo serviço de streaming da Apple, mas também por trabalhar elementos muito próximos ao sucesso da Netflix. Focado nos dramas e intrigas nos bastidores do programa jornalístico matinal de maior sucesso dos EUA, "The Morning Show" escancara a incansável necessidade do ser humano na busca pelo poder e pelo sucesso a qualquer preço!
Baseada no livro "Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV", de Brian Stelter e com roteiro de Kerry Ehrin ("Bates Motel"), "The Morning Show" retrata os reflexos de um escândalo sexual envolvendo seu principal âncora, Mitch Kessler (Steve Carell). Após 15 anos de parceria, agora sozinha na bancada, a experiente e respeitada jornalista Alex Levy (Jennifer Aniston) se vê pressionada a reformular o programa a fim de aumentar a audiência e manter seu emprego - já que para os executivos da emissora, uma transformação seria necessária para se adequar a um estilo de jornalismo mais moderno. É nesse turbilhão que surge Bradley Jackson (Reese Witherspoon), uma repórter vinda do interior que ganhou notoriedade nacional após um vídeo, onde confrontava um manifestante, viralizar na internet. Convidada a dividir a bancada com Alex Levy, Bradley Jackson "cai de para-quedas" em um ambiente cheio de egos, traições e mentiras onde o desafio diário não é a busca pela verdade e sim a manutenção do emprego!
Depois de alguns episódios fica claro que "The Morning Show" tem força, mas que precisa de alguns ajustes - e isso acontece. A necessidade de criar uma dinâmica que prendesse um potencial novo assinante, mais atrapalha do que ajuda. No começo você vai perceber uma necessidade enorme de criar subtramas que surgem sem o menor sentido, mas depois elas vão perdendo força porque não se sustentam como deveriam e o que interessa passa a fluir melhor.
Jennifer Aniston começa muito bem, mas com o decorrer dos episódios vai cansando (é incrível como ainda vemos a Rachel em determinadas atitudes da personagem - aliás, eu diria até que Alex Levy é o que poderia ter se tornado a personagem de "Friends" mais velha - mimada e fria). Reese Witherspoon por outro lado mostra que continua em ótima forma depois de "Big Little Lies" - ela funciona bem como uma desbocada jornalista caipira idealista. É perceptível que o elenco cheio de atores conhecidos como Nestor Carbonell, Billy Crudup, Mark Duplass, Bel Powley e Joe Marinelli, podem entregar ótimas histórias, com personagens bem complexos e interessantes, mas depois da primeira temporada, será vital para a série que o roteiro de Kerry Ehrin encontre um maior equilíbrio e uma certa identidade!
Os assuntos são ótimos e aí eu destaco a maneira como a história do assédio envolvendo Mitch é contada - além de mostrar a famosa "caça as bruxas", tão comum nos dias de hoje, ela nos provoca a pensar sobre o princípio da dúvida, isso instiga e valoriza a discussão - o último episódio, inclusive, coloca o assunto em outro patamar, com cenas chocantes e diálogos bem pesados! Outro ponto interessante é a relação familiar de Alex e a sensação de vazio que a personagem passa, mesmo quando está ao lado do ex-marido e da filha adolescente - é uma pena que vá perdendo força durante a temporada até sumir nos 3 ou 4 últimos episódios!
A produção não poderia ser melhor - são 15 milhões de dólares por episódio (números nível GoT). Muito bem dirigida e fotografada (aqui a referência de House of Cards é até mais clara). Vários planos sequência, trocando o foco do protagonismo naturalmente, tudo realizado com inteligência, técnica e propósito - muito bom! A trilha sonora também está excelente.
Indico com a maior tranquilidade. Vale seu play!
Quando "The Morning Show" foi apresentado, rapidamente associei sua importância como uma espécie de "House of Cards" da AppleTV+! Não só por na época ser o cartão de visitas do novo serviço de streaming da Apple, mas também por trabalhar elementos muito próximos ao sucesso da Netflix. Focado nos dramas e intrigas nos bastidores do programa jornalístico matinal de maior sucesso dos EUA, "The Morning Show" escancara a incansável necessidade do ser humano na busca pelo poder e pelo sucesso a qualquer preço!
Baseada no livro "Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV", de Brian Stelter e com roteiro de Kerry Ehrin ("Bates Motel"), "The Morning Show" retrata os reflexos de um escândalo sexual envolvendo seu principal âncora, Mitch Kessler (Steve Carell). Após 15 anos de parceria, agora sozinha na bancada, a experiente e respeitada jornalista Alex Levy (Jennifer Aniston) se vê pressionada a reformular o programa a fim de aumentar a audiência e manter seu emprego - já que para os executivos da emissora, uma transformação seria necessária para se adequar a um estilo de jornalismo mais moderno. É nesse turbilhão que surge Bradley Jackson (Reese Witherspoon), uma repórter vinda do interior que ganhou notoriedade nacional após um vídeo, onde confrontava um manifestante, viralizar na internet. Convidada a dividir a bancada com Alex Levy, Bradley Jackson "cai de para-quedas" em um ambiente cheio de egos, traições e mentiras onde o desafio diário não é a busca pela verdade e sim a manutenção do emprego!
Depois de alguns episódios fica claro que "The Morning Show" tem força, mas que precisa de alguns ajustes - e isso acontece. A necessidade de criar uma dinâmica que prendesse um potencial novo assinante, mais atrapalha do que ajuda. No começo você vai perceber uma necessidade enorme de criar subtramas que surgem sem o menor sentido, mas depois elas vão perdendo força porque não se sustentam como deveriam e o que interessa passa a fluir melhor.
Jennifer Aniston começa muito bem, mas com o decorrer dos episódios vai cansando (é incrível como ainda vemos a Rachel em determinadas atitudes da personagem - aliás, eu diria até que Alex Levy é o que poderia ter se tornado a personagem de "Friends" mais velha - mimada e fria). Reese Witherspoon por outro lado mostra que continua em ótima forma depois de "Big Little Lies" - ela funciona bem como uma desbocada jornalista caipira idealista. É perceptível que o elenco cheio de atores conhecidos como Nestor Carbonell, Billy Crudup, Mark Duplass, Bel Powley e Joe Marinelli, podem entregar ótimas histórias, com personagens bem complexos e interessantes, mas depois da primeira temporada, será vital para a série que o roteiro de Kerry Ehrin encontre um maior equilíbrio e uma certa identidade!
Os assuntos são ótimos e aí eu destaco a maneira como a história do assédio envolvendo Mitch é contada - além de mostrar a famosa "caça as bruxas", tão comum nos dias de hoje, ela nos provoca a pensar sobre o princípio da dúvida, isso instiga e valoriza a discussão - o último episódio, inclusive, coloca o assunto em outro patamar, com cenas chocantes e diálogos bem pesados! Outro ponto interessante é a relação familiar de Alex e a sensação de vazio que a personagem passa, mesmo quando está ao lado do ex-marido e da filha adolescente - é uma pena que vá perdendo força durante a temporada até sumir nos 3 ou 4 últimos episódios!
A produção não poderia ser melhor - são 15 milhões de dólares por episódio (números nível GoT). Muito bem dirigida e fotografada (aqui a referência de House of Cards é até mais clara). Vários planos sequência, trocando o foco do protagonismo naturalmente, tudo realizado com inteligência, técnica e propósito - muito bom! A trilha sonora também está excelente.
Indico com a maior tranquilidade. Vale seu play!
Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.
Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):
No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.
Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.
Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.
"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.
Vale muito o seu play!
Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.
Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):
No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.
Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.
Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.
"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.
Vale muito o seu play!
"The Undoing" nunca foi uma aposta e isso precisa ficar muito claro, pois desde o seu anúncio em 25 de janeiro de 2020, foi muito fácil perceber que a junção de alguns elementos resultariam no sucesso absoluto que a minissérie se tornou - tanto que a própria HBO atrasou ao máximo o seu lançamento para evitar algum tipo de impacto inicial devido a pandemia, já que a série estrearia em maio.
"The Undoing" é mais um thriller psicológico com o selo de David E. Kelley, um cara que já ganhou 11 Emmys, e assinou um outro recente sucesso da HBO: "Big Little Lies". Dito isso, você traz para a direção Susanne Bier do incrível "The Night Manager" e um elenco com Nicole Kidman, Hugh Grant, Noah Jupe e Donald Sutherland; e a receita está pronta! Repare: a minissérie conta a história de Grace Sachs (Nicole Kidman), uma terapeuta de sucesso que parece ter uma vida perfeita. Ela mora no Upper East Side, é casada com Jonathan (Hugh Grant), um marido extremamente dedicado, oncologista pediátrico de um grande hospital de câncer de NY, e tem um filho tranquilo e inteligente, Henry (Noah Jupe de "Um lugar silencioso"). Acontece que, da noite para o dia, sua vida vira de ponta cabeça quando uma morte violenta toma conta dos noticiários locais e seu marido desaparece misteriosamente - criando assim uma suspeita que parecia muito distante da realidade de Grace, mas na verdade não era. Confira o trailer:
"The Undoing" têm muitos méritos e o primeiro talvez seja o de nos prender durante seis episódios, provocando aquele sentimento de incerteza a cada plot twist e, sem roubar no jogo, escondendo quem realmente matou Elena (Matilda De Angelis). O bacana do roteiro, mesmo com algumas escorregadas, é que todas as peças são colocadas na mesa rapidamente e mesmo assim ainda é muito difícil encaixá-las, como se o "óbvio" fosse um pecado e o "surpreendente" apenas uma ferramenta narrativa para nos deixar incrédulos. Como tudo que a HBO faz nesse sentido, essa minissérie é mais uma daquelas imperdíveis e que vai te entreter com inteligência e qualidade!
Quando assisti o primeiro episódio de "The Undoing" comenteique o roteiro precisaria amarrar muito bem os perfis dos personagens com as descobertas das investigações para que o mistério se mantivesse até o final e com isso eliminasse a impressão inicial de que apenas Jonathan tinha muito a esconder. Finalizado todos os episódios, é fácil afirmar que o roteiro cumpriu o seu papel de nos provocar a descobrir "quem matou", porém é preciso que se diga que acontece um distanciamento das investigações para focar no impacto que o crime teve na família de Grace. Alguns pontos que levantei, como a tensão sexual criada entre Grace e Elena foi praticamente esquecida e muito mal aproveitada. Outro elemento que, na minha opinião fez muita falta no final e que amarraria perfeitamente com o depoimento de Grace no julgamento, foi a escolha de eliminar do roteiro o fato dela estar prestes a lançar um livro chamado “Você deveria ter conhecido”, em que ela critica as mulheres por não valorizarem sua intuição e as ensina a prestar mais atenção nas primeiras impressões dos homens ao começarem um relacionamento - assim que terminarem de assistir, reparem como seria perfeito essa conexão com tudo que vimos no episódio 6!
Fora essas duas passagens, Kelley é muito perspicaz em usar da nossa familiaridade com o gênero para ir nos distanciando da realidade, dos fatos - ele faz isso tão bem e Susanne Bie aproveita cada umas dessas possibilidades para criar uma atmosfera de dúvida que vai se sustentando e nos criando uma sensação de ansiedade. Um ponto que exemplifica muito bem essa característica do texto é quando Jonathan comenta com sua advogada que, além de Elena, teve mais um caso fora do casamento - pronto, bastou isso para colocar uma puga atrás da nossa orelha! Outro ponto alto, claro, é o trabalho do elenco: Donald Sutherland está simplesmente impecável e chega forte para as premiações de 2021! Nicole Kidman e Hugh Grant tem química, são carismáticos, bonitos, inteligentes, elegantes e a soma de tudo isso entrega um casal que parece ser inabalável - o legal é que, juntamente tudo isso, rotula os personagens, mas de uma forma tão orgânica que nos perdemos entre ficção e realidade! Talvez aqui esteja o diferencial do projeto: "The Undoing" não é sobre descobrir o assassino e sim uma busca por entender "como" e "porquê" uma pessoa aparentemente normal pode se tornar um!
Antes de finalizar, fica um comentário muito pessoal: a minissérie pode até parecer um pouco decepcionante com seu final - para mim, não foi o caso; mas será preciso observar as várias camadas que vão sendo construídas durante a história, principalmente porque sabemos do o background profissional de Grace - e ao perceber isso, "The Undoing" se torna ainda mais fascinante, pois ela está sempre buscando respostas no seu repertório como psiquiatra. Haley Fitzgerald (Noma Dumezweni), a advogada que conduziu o caso, talvez seja a personificação do que estamos pensando como audiência, mas com aquela "coragem" que não temos para assumir nossas (su)posições e que ao trazer a "sociopatia" para uma discussão tão próxima da realidade, no mínimo, devemos repensar e ligar nosso sinal de alerta!
Dê o play e divirta-se!
"The Undoing" nunca foi uma aposta e isso precisa ficar muito claro, pois desde o seu anúncio em 25 de janeiro de 2020, foi muito fácil perceber que a junção de alguns elementos resultariam no sucesso absoluto que a minissérie se tornou - tanto que a própria HBO atrasou ao máximo o seu lançamento para evitar algum tipo de impacto inicial devido a pandemia, já que a série estrearia em maio.
"The Undoing" é mais um thriller psicológico com o selo de David E. Kelley, um cara que já ganhou 11 Emmys, e assinou um outro recente sucesso da HBO: "Big Little Lies". Dito isso, você traz para a direção Susanne Bier do incrível "The Night Manager" e um elenco com Nicole Kidman, Hugh Grant, Noah Jupe e Donald Sutherland; e a receita está pronta! Repare: a minissérie conta a história de Grace Sachs (Nicole Kidman), uma terapeuta de sucesso que parece ter uma vida perfeita. Ela mora no Upper East Side, é casada com Jonathan (Hugh Grant), um marido extremamente dedicado, oncologista pediátrico de um grande hospital de câncer de NY, e tem um filho tranquilo e inteligente, Henry (Noah Jupe de "Um lugar silencioso"). Acontece que, da noite para o dia, sua vida vira de ponta cabeça quando uma morte violenta toma conta dos noticiários locais e seu marido desaparece misteriosamente - criando assim uma suspeita que parecia muito distante da realidade de Grace, mas na verdade não era. Confira o trailer:
"The Undoing" têm muitos méritos e o primeiro talvez seja o de nos prender durante seis episódios, provocando aquele sentimento de incerteza a cada plot twist e, sem roubar no jogo, escondendo quem realmente matou Elena (Matilda De Angelis). O bacana do roteiro, mesmo com algumas escorregadas, é que todas as peças são colocadas na mesa rapidamente e mesmo assim ainda é muito difícil encaixá-las, como se o "óbvio" fosse um pecado e o "surpreendente" apenas uma ferramenta narrativa para nos deixar incrédulos. Como tudo que a HBO faz nesse sentido, essa minissérie é mais uma daquelas imperdíveis e que vai te entreter com inteligência e qualidade!
Quando assisti o primeiro episódio de "The Undoing" comenteique o roteiro precisaria amarrar muito bem os perfis dos personagens com as descobertas das investigações para que o mistério se mantivesse até o final e com isso eliminasse a impressão inicial de que apenas Jonathan tinha muito a esconder. Finalizado todos os episódios, é fácil afirmar que o roteiro cumpriu o seu papel de nos provocar a descobrir "quem matou", porém é preciso que se diga que acontece um distanciamento das investigações para focar no impacto que o crime teve na família de Grace. Alguns pontos que levantei, como a tensão sexual criada entre Grace e Elena foi praticamente esquecida e muito mal aproveitada. Outro elemento que, na minha opinião fez muita falta no final e que amarraria perfeitamente com o depoimento de Grace no julgamento, foi a escolha de eliminar do roteiro o fato dela estar prestes a lançar um livro chamado “Você deveria ter conhecido”, em que ela critica as mulheres por não valorizarem sua intuição e as ensina a prestar mais atenção nas primeiras impressões dos homens ao começarem um relacionamento - assim que terminarem de assistir, reparem como seria perfeito essa conexão com tudo que vimos no episódio 6!
Fora essas duas passagens, Kelley é muito perspicaz em usar da nossa familiaridade com o gênero para ir nos distanciando da realidade, dos fatos - ele faz isso tão bem e Susanne Bie aproveita cada umas dessas possibilidades para criar uma atmosfera de dúvida que vai se sustentando e nos criando uma sensação de ansiedade. Um ponto que exemplifica muito bem essa característica do texto é quando Jonathan comenta com sua advogada que, além de Elena, teve mais um caso fora do casamento - pronto, bastou isso para colocar uma puga atrás da nossa orelha! Outro ponto alto, claro, é o trabalho do elenco: Donald Sutherland está simplesmente impecável e chega forte para as premiações de 2021! Nicole Kidman e Hugh Grant tem química, são carismáticos, bonitos, inteligentes, elegantes e a soma de tudo isso entrega um casal que parece ser inabalável - o legal é que, juntamente tudo isso, rotula os personagens, mas de uma forma tão orgânica que nos perdemos entre ficção e realidade! Talvez aqui esteja o diferencial do projeto: "The Undoing" não é sobre descobrir o assassino e sim uma busca por entender "como" e "porquê" uma pessoa aparentemente normal pode se tornar um!
Antes de finalizar, fica um comentário muito pessoal: a minissérie pode até parecer um pouco decepcionante com seu final - para mim, não foi o caso; mas será preciso observar as várias camadas que vão sendo construídas durante a história, principalmente porque sabemos do o background profissional de Grace - e ao perceber isso, "The Undoing" se torna ainda mais fascinante, pois ela está sempre buscando respostas no seu repertório como psiquiatra. Haley Fitzgerald (Noma Dumezweni), a advogada que conduziu o caso, talvez seja a personificação do que estamos pensando como audiência, mas com aquela "coragem" que não temos para assumir nossas (su)posições e que ao trazer a "sociopatia" para uma discussão tão próxima da realidade, no mínimo, devemos repensar e ligar nosso sinal de alerta!
Dê o play e divirta-se!
Se você assistiu algum dos dois (razoavelmente) recentes documentários, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" (HBO) e "Fyre" (Netflix), você já entendeu como a força de uma comunicação e do poder do convencimento podem influenciar uma pessoa (ou muitas), independente da capacidade de realização que o interlocutor possa ter. Em diferentes níveis, foi isso que Elizabeth Holmes da Theranos fez com seus investidores e Billy McFarland fez com todos que estavam envolvidos em seu Festival megalomaníaco! Pois bem, em "The Vow" surge um personagem raro, que consegue unir, com a mesma competência, a capacidade de comunicação com a de realização e ainda chancelado por um QI de 240 pontos: esse é o fundador da NXIVM, Keith Raniere.
"The Vow", documentário divido em 9 partes de 50 minutos, conta mais do que a história de Keith Raniere, criador de uma empresa de marketing multi-nível, que cresceu absurdamente nos Estados Unidos até ser fechada por sérios problemas trabalhistas. Aproveitando do seu comprovado discurso de convencimento, Keith criou a ESP (Executive Success Programs) um Programa de Sucesso Executivo focado no desenvolvimento pessoal. Seguindo o mesmo conceito de pirâmide, ele foi, pouco a pouco, transformando seus professores em aliciadores e seus alunos em uma espécie de seguidores de uma seita com atuações bastante questionáveis e que, posteriormente, acabou se transformando no principal motivo para uma dura jornada pessoal de ex-membros da organização para desmascarar seu fundador, que se auto-denominava "Vanguarda", e suas reais intenções com tudo isso! Confira o trailer:
A história por trás de "The Vow" chamou atenção da mídia internacional pelo fato da atriz Allison Mack, a Chloe Sullivan em "Smallville", ser uma das aliciadoras mais próxima de Keith Raniere, porém o comentário é muito feliz em dissecar a instituição pelos olhos de quem esteve lá, mas saiu por vontade própria ao perceber que algo estava muito errado. A jornada de três personagens bastante importantes na desconstrução dessa organização criminosa que se tornou a NXIVM, é o ponto de partida para uma história realmente impressionante. Sarah Edmonson, Bonnie Piesse e Mark Vicente, e um pouco mais a frente, Catherine Oxenberg, são acompanhados pela produção durante todos os episódios, contando suas histórias e tentando reverter uma situação que eles mesmos ajudaram a provocar, cada um em seu nível. Ao mesmo tempo vemos inúmeras imagens de arquivos, depoimentos, cenas do treinamento, entrevistas do próprio Keith e sua equipe, e até um encontro bastante impactante com o Dalai-lama.
O que mais me chamou a atenção foram os discursos de Keith: completamente coerentes, bem estruturados e de uma capacidade intelectual e de manipulação que em muitos momentos me fizeram questionar se, em algum momento da vida, eu também não seria uma potencial vítima - tenho certeza que você fará esse mesmo questionamento e talvez por isso, esse sentimento gere tanta vergonha e arrependimento nos protagonistas.
Dê o play sem o menor receio!
Se você assistiu algum dos dois (razoavelmente) recentes documentários, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" (HBO) e "Fyre" (Netflix), você já entendeu como a força de uma comunicação e do poder do convencimento podem influenciar uma pessoa (ou muitas), independente da capacidade de realização que o interlocutor possa ter. Em diferentes níveis, foi isso que Elizabeth Holmes da Theranos fez com seus investidores e Billy McFarland fez com todos que estavam envolvidos em seu Festival megalomaníaco! Pois bem, em "The Vow" surge um personagem raro, que consegue unir, com a mesma competência, a capacidade de comunicação com a de realização e ainda chancelado por um QI de 240 pontos: esse é o fundador da NXIVM, Keith Raniere.
"The Vow", documentário divido em 9 partes de 50 minutos, conta mais do que a história de Keith Raniere, criador de uma empresa de marketing multi-nível, que cresceu absurdamente nos Estados Unidos até ser fechada por sérios problemas trabalhistas. Aproveitando do seu comprovado discurso de convencimento, Keith criou a ESP (Executive Success Programs) um Programa de Sucesso Executivo focado no desenvolvimento pessoal. Seguindo o mesmo conceito de pirâmide, ele foi, pouco a pouco, transformando seus professores em aliciadores e seus alunos em uma espécie de seguidores de uma seita com atuações bastante questionáveis e que, posteriormente, acabou se transformando no principal motivo para uma dura jornada pessoal de ex-membros da organização para desmascarar seu fundador, que se auto-denominava "Vanguarda", e suas reais intenções com tudo isso! Confira o trailer:
A história por trás de "The Vow" chamou atenção da mídia internacional pelo fato da atriz Allison Mack, a Chloe Sullivan em "Smallville", ser uma das aliciadoras mais próxima de Keith Raniere, porém o comentário é muito feliz em dissecar a instituição pelos olhos de quem esteve lá, mas saiu por vontade própria ao perceber que algo estava muito errado. A jornada de três personagens bastante importantes na desconstrução dessa organização criminosa que se tornou a NXIVM, é o ponto de partida para uma história realmente impressionante. Sarah Edmonson, Bonnie Piesse e Mark Vicente, e um pouco mais a frente, Catherine Oxenberg, são acompanhados pela produção durante todos os episódios, contando suas histórias e tentando reverter uma situação que eles mesmos ajudaram a provocar, cada um em seu nível. Ao mesmo tempo vemos inúmeras imagens de arquivos, depoimentos, cenas do treinamento, entrevistas do próprio Keith e sua equipe, e até um encontro bastante impactante com o Dalai-lama.
O que mais me chamou a atenção foram os discursos de Keith: completamente coerentes, bem estruturados e de uma capacidade intelectual e de manipulação que em muitos momentos me fizeram questionar se, em algum momento da vida, eu também não seria uma potencial vítima - tenho certeza que você fará esse mesmo questionamento e talvez por isso, esse sentimento gere tanta vergonha e arrependimento nos protagonistas.
Dê o play sem o menor receio!
Duro, mas emocionante como a vida pode ser! Finalmente estreou no Brasil o documentário indicado em três categorias no Emmy de 2021, "Tina"! Em meio a tantas cinebiografias, essa maravilhosa produção da HBO nos remete ao universo de uma verdadeira Diva ou, como ela mesma gosta de se posicionar, de uma verdadeira lenda do rock’n’roll! A grande questão porém, é que o roteiro (como não podia deixar de ser) foca pouco mais da metade do seu tempo nas dores mais profundas da cantora enquanto ainda era casada com Ike Turner, ex-marido e figura abusiva que marcou a carreira e a vida de Tina Turner, deixando sua redenção apenas para o final do segundo ato, onde, aí sim, conseguimos relaxar de uma narrativa extremamente densa e curtir alguns dos sucessos que fizeram muita gente dançar nos anos 80.
"Tina" se propõe a fazer um recorte bastante delicado da vida e da carreira da cantora americana Tina Turner. Ela que começou sua carreira cantando em corais de igrejas e virou uma das maiores artistas de sua geração, superou as probabilidades impossíveis de se tornar uma das primeiras artistas afro-americanas a alcançar um público internacional capaz de lotar estádios e ainda chegar ao primeiro lugar da Billboard. Confira o trailer (em inglês):
Existe uma arriscada escolha conceitual dos diretores e roteiristas Daniel Lindsay e T.J. Martin (vencedores do Oscar em 2012 pelo incrível "Undefeated") ao desenhar uma árdua linha do tempo que nos movimenta pela história de Tina Turner - veja, ao assumir alguns pontos contrastantes em relação ao que representou a cantora na sua vida pública e na sua vida privada, "Tina" acaba reconectando a protagonista com seus piores fantasmas, deixando boa parte da história muito cadenciada e realmente densa. Seu depoimento inicial, por exemplo, é forte, dolorido e carrega um certo tom de melancolia e isso impacta diretamente na nossa experiência como audiência, já que nem todos vão suportar o baque da narrativa - o que eu quero dizer é que não existe um equilíbrio, tudo de ruim é jogado na nossa cara sem dó!
Por outro lado, passada a tempestade, a sensação de alívio é enorme e é quando somos tomados pela emoção, pela nostalgia e passamos a valorizar ainda mais as conquistas de Tina Turner. É muito interessante como os depoimentos vão sendo recortados com imagens de arquivo nunca antes mostrados e gravações de antigas entrevistas com a própria cantora que contextualizam exatamente o momento que ela estava passando e tudo que ela vinha carregando. Aqui cabe um comentário pessoal, duas passagens me chamaram a atenção: a tentativa de suicídio contado por ela e uma entrevista onde o entrevistador pergunta se ela já amou ou foi amada durante a vida! Olha, se prepare para sentir uma facada no peito!
A proposta de pontuar o processo de redenção de Tina Turner parece encontrar um final apoteótico com esse documentário. Com alguma variedade de fortes depoimentos, de gente de peso como Oprah Winfrey e Angela Bassett (que viveu a cantora em sua cinebiografia de 1993, chamada "Tina – A verdadeira história de Tina Turner") além, é claro, dos relatos da própria protagonista (hoje uma jovem senhora cheia de vida), "Tina" tem o mérito de organizar perfeitamente a trajetória de uma vida difícil, mas que serviu como combustível para moldar a cantora que conhecemos dançando com aquele sorriso fácil como poucas artistas de sua geração. Não é exagero afirmar que a emoção vai tomando conta da narrativa, trocando a dor pela alegria, como se fosse um belíssimo prêmio por termos dividido tantos momentos complicados com a protagonista - e te garanto: não deixe de assistir os créditos após o "black" do final, serão os créditos mais especiais que você vai assistir em muito tempo!
Vale demais o seu play!
Em tempo, Tina lançou uma autobiografia no início dos anos 1990 chamada "Tina Turner: Minha história de amor" e atualmente um espetáculo vem fazendo muito sucesso na Broadway: "Tina -The Tina Turner Musical".
Duro, mas emocionante como a vida pode ser! Finalmente estreou no Brasil o documentário indicado em três categorias no Emmy de 2021, "Tina"! Em meio a tantas cinebiografias, essa maravilhosa produção da HBO nos remete ao universo de uma verdadeira Diva ou, como ela mesma gosta de se posicionar, de uma verdadeira lenda do rock’n’roll! A grande questão porém, é que o roteiro (como não podia deixar de ser) foca pouco mais da metade do seu tempo nas dores mais profundas da cantora enquanto ainda era casada com Ike Turner, ex-marido e figura abusiva que marcou a carreira e a vida de Tina Turner, deixando sua redenção apenas para o final do segundo ato, onde, aí sim, conseguimos relaxar de uma narrativa extremamente densa e curtir alguns dos sucessos que fizeram muita gente dançar nos anos 80.
"Tina" se propõe a fazer um recorte bastante delicado da vida e da carreira da cantora americana Tina Turner. Ela que começou sua carreira cantando em corais de igrejas e virou uma das maiores artistas de sua geração, superou as probabilidades impossíveis de se tornar uma das primeiras artistas afro-americanas a alcançar um público internacional capaz de lotar estádios e ainda chegar ao primeiro lugar da Billboard. Confira o trailer (em inglês):
Existe uma arriscada escolha conceitual dos diretores e roteiristas Daniel Lindsay e T.J. Martin (vencedores do Oscar em 2012 pelo incrível "Undefeated") ao desenhar uma árdua linha do tempo que nos movimenta pela história de Tina Turner - veja, ao assumir alguns pontos contrastantes em relação ao que representou a cantora na sua vida pública e na sua vida privada, "Tina" acaba reconectando a protagonista com seus piores fantasmas, deixando boa parte da história muito cadenciada e realmente densa. Seu depoimento inicial, por exemplo, é forte, dolorido e carrega um certo tom de melancolia e isso impacta diretamente na nossa experiência como audiência, já que nem todos vão suportar o baque da narrativa - o que eu quero dizer é que não existe um equilíbrio, tudo de ruim é jogado na nossa cara sem dó!
Por outro lado, passada a tempestade, a sensação de alívio é enorme e é quando somos tomados pela emoção, pela nostalgia e passamos a valorizar ainda mais as conquistas de Tina Turner. É muito interessante como os depoimentos vão sendo recortados com imagens de arquivo nunca antes mostrados e gravações de antigas entrevistas com a própria cantora que contextualizam exatamente o momento que ela estava passando e tudo que ela vinha carregando. Aqui cabe um comentário pessoal, duas passagens me chamaram a atenção: a tentativa de suicídio contado por ela e uma entrevista onde o entrevistador pergunta se ela já amou ou foi amada durante a vida! Olha, se prepare para sentir uma facada no peito!
A proposta de pontuar o processo de redenção de Tina Turner parece encontrar um final apoteótico com esse documentário. Com alguma variedade de fortes depoimentos, de gente de peso como Oprah Winfrey e Angela Bassett (que viveu a cantora em sua cinebiografia de 1993, chamada "Tina – A verdadeira história de Tina Turner") além, é claro, dos relatos da própria protagonista (hoje uma jovem senhora cheia de vida), "Tina" tem o mérito de organizar perfeitamente a trajetória de uma vida difícil, mas que serviu como combustível para moldar a cantora que conhecemos dançando com aquele sorriso fácil como poucas artistas de sua geração. Não é exagero afirmar que a emoção vai tomando conta da narrativa, trocando a dor pela alegria, como se fosse um belíssimo prêmio por termos dividido tantos momentos complicados com a protagonista - e te garanto: não deixe de assistir os créditos após o "black" do final, serão os créditos mais especiais que você vai assistir em muito tempo!
Vale demais o seu play!
Em tempo, Tina lançou uma autobiografia no início dos anos 1990 chamada "Tina Turner: Minha história de amor" e atualmente um espetáculo vem fazendo muito sucesso na Broadway: "Tina -The Tina Turner Musical".
"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.
"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de Denise Huskins.
Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.
Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.
Vale seu play!
"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.
"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de Denise Huskins.
Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.
Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.
Vale seu play!
"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!
O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali.
Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você" essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!
A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.
No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!
"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!
O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali.
Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você" essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!
A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.
No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!