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O Último Duelo

"O Último Duelo" não é um filme de ação, de disputas politicas ou religiosas, de traição ou violência - embora tenha tudo isso. "O Último Duelo" é um drama (profundo) sobre a verdade, mesmo que essa venha mascarada por um contexto de época onde a misoginia e o patriarcado significavam honra e virilidade. O roteiro escrito por Matt Damon, Ben Affleck e Nicole Holofcener, é baseado em um livro sobre o último duelo judicial oficialmente reconhecido na França, mas que chega acompanhado por um subtexto atual e importante que ganha muita potência na mão (e na cabeça) criativa de Ridley Scott que resolveu contar a mesma história a partir de três diferentes perspectivas. 

No filme acompanhamos a história real de uma mulher francesa do século XIV, Marguerite de Carrouges (Jodie Comer), que desafiou os costumes medievais ao denunciar e levar a julgamento o homem que a violentou, Jacque Le Cris (Adam Driver), ex-companheiro de batalhas e desafeto de seu marido, Jean de Carrouges (Matt Damon). Confira o trailer:

Embora "O Último Duelo" tenha sido muito criticado por se preocupar mais em estabelecer a rivalidade entre Le Cris e Jean de Carrouges, do que pela luta por justiça de Marguerite em uma época em que a Igreja ditava as regras e um Rei simplesmente as aplicava de acordo com sua vontade, eu gostei e, sinceramente, não tive essa leitura - muito pelo contrário, o valor das circunstâncias que levaram ao duelo, para mim, são muito mais potentes do que as disputas carregadas de vaidade entre os personagens, porém Scott usa desse gatilho para gerar entretenimento ao mesmo tempo em que cria pontos de reflexão sobre o ato sofrido por Marguerite.

Partindo do conceito de que uma história possui três versões, "O Último Duelo" se aproveita de uma montagem competente da Claire Simpson (vencedora do Oscar pelo inesquecível "Platoon") para criar uma dinâmica narrativa muito interessante e provocadora - reparem como vamos mudando nossa "interpretação da verdade" a cada perspectiva. Pois bem, alinhado a isso, Scott vai entregando pequenos detalhes que vão diferenciando cada uma das versões - são pequenas nuances, diálogos em ordens diferentes e até olhares significantes que vão remodelando a narrativa. É muito bacana!

Alternando cenas de batalhas (sangrentas) bem construídas, que nos lembram os bons tempos de Scott comandando "Gladiador" (2000), com momentos bastante intimistas mesmo envolto a crueldade daquele universo, "O Último Duelo" deve agradar uma audiência mais sensível aos assuntos que exigem um olhar menos superficial e também aqueles que buscam, simplesmente, entretenimento de qualidade. Tecnicamente muito seguro como sempre, Scott sabe o seu valor, marcando essa condução tão polarizada com planos perfeitos e movimentos de câmera belíssimos, sem falar, é claro, da marcante fotografia cinzenta e sombria (ao melhor estilo Game of Thrones) de Dariusz Wolski (de "Relatos do Mundo").

Olha, vale muito o seu play!

Assista Agora

"O Último Duelo" não é um filme de ação, de disputas politicas ou religiosas, de traição ou violência - embora tenha tudo isso. "O Último Duelo" é um drama (profundo) sobre a verdade, mesmo que essa venha mascarada por um contexto de época onde a misoginia e o patriarcado significavam honra e virilidade. O roteiro escrito por Matt Damon, Ben Affleck e Nicole Holofcener, é baseado em um livro sobre o último duelo judicial oficialmente reconhecido na França, mas que chega acompanhado por um subtexto atual e importante que ganha muita potência na mão (e na cabeça) criativa de Ridley Scott que resolveu contar a mesma história a partir de três diferentes perspectivas. 

No filme acompanhamos a história real de uma mulher francesa do século XIV, Marguerite de Carrouges (Jodie Comer), que desafiou os costumes medievais ao denunciar e levar a julgamento o homem que a violentou, Jacque Le Cris (Adam Driver), ex-companheiro de batalhas e desafeto de seu marido, Jean de Carrouges (Matt Damon). Confira o trailer:

Embora "O Último Duelo" tenha sido muito criticado por se preocupar mais em estabelecer a rivalidade entre Le Cris e Jean de Carrouges, do que pela luta por justiça de Marguerite em uma época em que a Igreja ditava as regras e um Rei simplesmente as aplicava de acordo com sua vontade, eu gostei e, sinceramente, não tive essa leitura - muito pelo contrário, o valor das circunstâncias que levaram ao duelo, para mim, são muito mais potentes do que as disputas carregadas de vaidade entre os personagens, porém Scott usa desse gatilho para gerar entretenimento ao mesmo tempo em que cria pontos de reflexão sobre o ato sofrido por Marguerite.

Partindo do conceito de que uma história possui três versões, "O Último Duelo" se aproveita de uma montagem competente da Claire Simpson (vencedora do Oscar pelo inesquecível "Platoon") para criar uma dinâmica narrativa muito interessante e provocadora - reparem como vamos mudando nossa "interpretação da verdade" a cada perspectiva. Pois bem, alinhado a isso, Scott vai entregando pequenos detalhes que vão diferenciando cada uma das versões - são pequenas nuances, diálogos em ordens diferentes e até olhares significantes que vão remodelando a narrativa. É muito bacana!

Alternando cenas de batalhas (sangrentas) bem construídas, que nos lembram os bons tempos de Scott comandando "Gladiador" (2000), com momentos bastante intimistas mesmo envolto a crueldade daquele universo, "O Último Duelo" deve agradar uma audiência mais sensível aos assuntos que exigem um olhar menos superficial e também aqueles que buscam, simplesmente, entretenimento de qualidade. Tecnicamente muito seguro como sempre, Scott sabe o seu valor, marcando essa condução tão polarizada com planos perfeitos e movimentos de câmera belíssimos, sem falar, é claro, da marcante fotografia cinzenta e sombria (ao melhor estilo Game of Thrones) de Dariusz Wolski (de "Relatos do Mundo").

Olha, vale muito o seu play!

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13 Reasons Why

Sabe aquela série que a Netflix lança sem muito marketing, com uma levada meio anos 80/90 e que te trás um monte de referências da adolescência?

Pelo jeito a Netflix entendeu o resultado (e o hype) de "Stranger Things" ao lançar "13 Reasons Why"! É exatamente a mesma estratégia e o resultado tende a ser bem similar!!! Aproveite o final de semana e assista, você vai me agradecer! A série conta a história de uma adolescente que se suicidou, mas que antes criou um espécie de "ARG" (alternate reality game) para contar o motivo do seu suicídio para as pessoas que, de alguma forma, foram responsáveis por essa atitude!!! Cada episódio (são 13) é narrado pela protagonista a partir de uma gravação de fita-cassete, ou seja, cada lado da fita, um episódio!!! É muito original o formato da série, e, mesmo se passando nos dias de hoje, trás muito do conceito narrativo de séries clássicas (adolescentes) dos anos 90, mas sem ser piegas! Vale muito a pena. Confira o trailer:

Assim que acabei o episódio final de "13 Reasons Why" tive a certeza de que era uma das coisas mais bacanas que eu assisti na vida! É um episódio realmente especial e que fecha com chave de ouro um arco muito bem construído. É um episódio difícil, duro, profundo, bem feito, bem dirigido, bem interpretado, mas principalmente bem fundamentado! Os produtores e criadores da série foram precisos ao abordar o assunto "suicídio" com uma linguagem correta e verdadeira para os jovens e, indiscutivelmente, para os pais desses jovens - nos faz refletir (e muito)!

"13 Reasons Why" traz aquilo que eu acredito ser um conteúdo perfeito: é um ótimo entretenimento, sem dúvida, mas traz assuntos tão difíceis quanto necessários de serem retratados de uma forma muito inteligente! Se você em algum momento achar que uma ou outra situação está forçando uma barra, eu te aconselho a assistir o documentário "The Hunting Ground" e você vai ver que tudo aquilo realmente existe e que muita gente prefere fechar os olhos do que tirar de uma Universidade o principal jogador de futebol americano que vai fazer com que a cidade e a instituição fiquem famosos por ganhar um campeonato - isso aconteceu, inclusive, com um jogador que hoje ganha milhões na NFL. Revoltante!!!

Vale muito a pena!

Up Date: a série tem mais duas temporadas disponíveis, mas que infelizmente não seguiram a qualidade da primeira!

Assista Agora

Sabe aquela série que a Netflix lança sem muito marketing, com uma levada meio anos 80/90 e que te trás um monte de referências da adolescência?

Pelo jeito a Netflix entendeu o resultado (e o hype) de "Stranger Things" ao lançar "13 Reasons Why"! É exatamente a mesma estratégia e o resultado tende a ser bem similar!!! Aproveite o final de semana e assista, você vai me agradecer! A série conta a história de uma adolescente que se suicidou, mas que antes criou um espécie de "ARG" (alternate reality game) para contar o motivo do seu suicídio para as pessoas que, de alguma forma, foram responsáveis por essa atitude!!! Cada episódio (são 13) é narrado pela protagonista a partir de uma gravação de fita-cassete, ou seja, cada lado da fita, um episódio!!! É muito original o formato da série, e, mesmo se passando nos dias de hoje, trás muito do conceito narrativo de séries clássicas (adolescentes) dos anos 90, mas sem ser piegas! Vale muito a pena. Confira o trailer:

Assim que acabei o episódio final de "13 Reasons Why" tive a certeza de que era uma das coisas mais bacanas que eu assisti na vida! É um episódio realmente especial e que fecha com chave de ouro um arco muito bem construído. É um episódio difícil, duro, profundo, bem feito, bem dirigido, bem interpretado, mas principalmente bem fundamentado! Os produtores e criadores da série foram precisos ao abordar o assunto "suicídio" com uma linguagem correta e verdadeira para os jovens e, indiscutivelmente, para os pais desses jovens - nos faz refletir (e muito)!

"13 Reasons Why" traz aquilo que eu acredito ser um conteúdo perfeito: é um ótimo entretenimento, sem dúvida, mas traz assuntos tão difíceis quanto necessários de serem retratados de uma forma muito inteligente! Se você em algum momento achar que uma ou outra situação está forçando uma barra, eu te aconselho a assistir o documentário "The Hunting Ground" e você vai ver que tudo aquilo realmente existe e que muita gente prefere fechar os olhos do que tirar de uma Universidade o principal jogador de futebol americano que vai fazer com que a cidade e a instituição fiquem famosos por ganhar um campeonato - isso aconteceu, inclusive, com um jogador que hoje ganha milhões na NFL. Revoltante!!!

Vale muito a pena!

Up Date: a série tem mais duas temporadas disponíveis, mas que infelizmente não seguiram a qualidade da primeira!

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548 Dias

"É preciso olhar por nossas crianças!"

Mais uma vez eu inicio um review com esse aviso já que, depois do play, você vai encontrar uma narrativa bastante interessante sobre o que de fato aconteceu com Patricia Aguilar, uma jovem espanhola de 18 anos, que permaneceu refém de uma seita no Peru, entre 2016 e 2018, depois de ficar dois anos trocando mensagens com um falso guru espiritual pela internet. Em 3 episódios extremamente dinâmicos, "548 Dias: Capturadas por uma Seita‘" vai te provocar profundas reflexões sobre o valor de uma relação mais próxima e aberta entre pais e filhos. E reparem: o golaço do documentário escrito e dirigido pela dupla Olmo Figueredo e José Ortuño é justamente o de mostrar os dois lados da história: o dos pais e o da filha. Olha, eu diria que essa é uma saga perturbadora, mas igualmente essencial!

Como dá para imaginar, a minissérie conta a história real de Patricia Aguilar que foge de casa assim que chega à maioridade. A família fica dias sem notícias até que recebe um sinal de vida mais preocupante que seu silêncio: a garota parece estar fora de si, sendo controlada por outra pessoa. Patricia fora manipulada desde os 16 anos por Félix Steven Manrique, conhecido como "Príncipe Gurdjieff", um autointitulado guru que a convenceu ir encontra-lo no Peru. Ao longo dos episódios, a família Aguilar narra com muita honestidade e dor, os longos meses de angústia até recuperar a filha, além de mostrar o primeiro depoimento da própria Patrícia contando a sua versão da história. Confira o trailer:

A partir de um conceito corajoso que mistura depoimentos dos envolvidos nos caso, conversas gravadas dos celulares, reconstituições de passagens importantes da história, animação em estilo japonês e até imagens de arquivo da própria policia peruana, "548 Dias: Capturadas por uma Seita‘" dá uma verdadeira aula de como construir uma narrativa com uma linha temporal complexa pelo tempo a ser retratado, mas ao mesmo tempo humana e honesta, que se preocupa em não esconder as falhas dentro de uma relação familiar que parecia ser tão saudável, do mesmo jeito que explora os perigos escondidos atrás de uma tela de computador e que, infelizmente, não podemos controlar.

Chega ser revoltante a maneira como o roteiro desvenda toda a operação online da seita e como seu idealizador agia de forma coercitiva e manipuladora. Manrique se baseava em ensinamentos espirituais e filosóficos distorcidos, com fortes elementos de manipulação psicológica e lavagem cerebral para recrutar sua vitimas - normalmente mulheres mais jovens em total estado de vulnerabilidade emocional. Mais impressionante até, é como essas vitimas se submetiam aos desejos do falso guru e como ele sempre foi capaz de controlar a situação fazendo com que suas "esposas" acreditassem que ele, de fato, era um ser iluminado e especial. Sem dar spoiler, mas tem uma cena onde uma de suas vitimas, mesmo depois de todos os abusos que sofreu, ainda demonstra carinho e respeito por Manrique.

Certamente "548 días: Captada por una Secta" (no original) vai mexer com suas emoções e julgamentos, mas talvez, mais importante que a dura jornada da família Aguilar em si, seja a mensagem que fica durante os créditos: atenção para os perigos das seitas e o poder que líderes carismáticos podem ter sobre os seguidores vulneráveis! A minissérie sabe exatamente seu lugar como ferramenta de informação e denúncia e, sem cair na morosidade dos jornalismo tradicional, expõe um fluxo de acontecimentos que se mistura ao entretenimento, mas que não esquece do elemento humano. Olmo Figueredo e José Ortuño sabem o valor do drama, mostram a dor de quem fica e de quem vai, mas fazem questão de deixar claro que, nos dias de hoje, ninguém está imune a uma experiência terrível como essa. 

Por tudo isso, vale muito o seu play!

Assista Agora

"É preciso olhar por nossas crianças!"

Mais uma vez eu inicio um review com esse aviso já que, depois do play, você vai encontrar uma narrativa bastante interessante sobre o que de fato aconteceu com Patricia Aguilar, uma jovem espanhola de 18 anos, que permaneceu refém de uma seita no Peru, entre 2016 e 2018, depois de ficar dois anos trocando mensagens com um falso guru espiritual pela internet. Em 3 episódios extremamente dinâmicos, "548 Dias: Capturadas por uma Seita‘" vai te provocar profundas reflexões sobre o valor de uma relação mais próxima e aberta entre pais e filhos. E reparem: o golaço do documentário escrito e dirigido pela dupla Olmo Figueredo e José Ortuño é justamente o de mostrar os dois lados da história: o dos pais e o da filha. Olha, eu diria que essa é uma saga perturbadora, mas igualmente essencial!

Como dá para imaginar, a minissérie conta a história real de Patricia Aguilar que foge de casa assim que chega à maioridade. A família fica dias sem notícias até que recebe um sinal de vida mais preocupante que seu silêncio: a garota parece estar fora de si, sendo controlada por outra pessoa. Patricia fora manipulada desde os 16 anos por Félix Steven Manrique, conhecido como "Príncipe Gurdjieff", um autointitulado guru que a convenceu ir encontra-lo no Peru. Ao longo dos episódios, a família Aguilar narra com muita honestidade e dor, os longos meses de angústia até recuperar a filha, além de mostrar o primeiro depoimento da própria Patrícia contando a sua versão da história. Confira o trailer:

A partir de um conceito corajoso que mistura depoimentos dos envolvidos nos caso, conversas gravadas dos celulares, reconstituições de passagens importantes da história, animação em estilo japonês e até imagens de arquivo da própria policia peruana, "548 Dias: Capturadas por uma Seita‘" dá uma verdadeira aula de como construir uma narrativa com uma linha temporal complexa pelo tempo a ser retratado, mas ao mesmo tempo humana e honesta, que se preocupa em não esconder as falhas dentro de uma relação familiar que parecia ser tão saudável, do mesmo jeito que explora os perigos escondidos atrás de uma tela de computador e que, infelizmente, não podemos controlar.

Chega ser revoltante a maneira como o roteiro desvenda toda a operação online da seita e como seu idealizador agia de forma coercitiva e manipuladora. Manrique se baseava em ensinamentos espirituais e filosóficos distorcidos, com fortes elementos de manipulação psicológica e lavagem cerebral para recrutar sua vitimas - normalmente mulheres mais jovens em total estado de vulnerabilidade emocional. Mais impressionante até, é como essas vitimas se submetiam aos desejos do falso guru e como ele sempre foi capaz de controlar a situação fazendo com que suas "esposas" acreditassem que ele, de fato, era um ser iluminado e especial. Sem dar spoiler, mas tem uma cena onde uma de suas vitimas, mesmo depois de todos os abusos que sofreu, ainda demonstra carinho e respeito por Manrique.

Certamente "548 días: Captada por una Secta" (no original) vai mexer com suas emoções e julgamentos, mas talvez, mais importante que a dura jornada da família Aguilar em si, seja a mensagem que fica durante os créditos: atenção para os perigos das seitas e o poder que líderes carismáticos podem ter sobre os seguidores vulneráveis! A minissérie sabe exatamente seu lugar como ferramenta de informação e denúncia e, sem cair na morosidade dos jornalismo tradicional, expõe um fluxo de acontecimentos que se mistura ao entretenimento, mas que não esquece do elemento humano. Olmo Figueredo e José Ortuño sabem o valor do drama, mostram a dor de quem fica e de quem vai, mas fazem questão de deixar claro que, nos dias de hoje, ninguém está imune a uma experiência terrível como essa. 

Por tudo isso, vale muito o seu play!

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A Acusação

"A Acusação" (ou "Le Mensonge" no original) é uma minissérie de 4 episódios que se apoia em um drama denso para discutir assuntos delicados como a pedofilia, as relações entre pais e filhos e, principalmente, o princípio da presunção de inocência.

Na trama, Claude Arbone (Daniel Auteuil) é um homem bem-sucedido com uma carreira política impecável e uma família aparentemente feliz. Ele tem sua vida virada de cabeça para baixo quando seu neto de nove anos, Lucas (Alex Terrier-Thiebaux), o acusa de estupro. Diante do escândalo e de uma longa jornada para provar sua inocência, durante 15 anos, Claude passa a ver sua família completamente dividida até que algumas verdades começam a surgir. Confira o trailer (em francês):

Comandada pelo Vincent Garenq, diretor que construiu sua carreira em documentários, a minissérie muitas vezes se apropria da ficção para elevar o tom dramático dando a exata noção da seriedade de uma acusação como essa e também como toda sociedade (e todo o sistema) lida com ela - algo como vimos no excelente "A Caça"de Thomas Vinterberg.

Talvez sem tanta profundidade e esmero cinematográfico como na produção dinamarquesa que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" em 2014, "Le Mensonge" sofre com o próprio conceito narrativo que se propõe a usar - o recorte temporal é tão extenso que mesmo com uma edição competente, alguns momentos da história se tornam repetitivos, enquanto outros parecem servir apenas como trampolim para um final que soa previsível. O interessante porém, é que Garenq a todo momento fomenta a dúvida, mesmo que os fatos indiquem um caminho mais plausível perante a situação. Na verdade aqui não existe a intenção de surpreender a audiência com uma revelação bombástica, mas sim de colocar as peças na mesa e nos provocar o julgamento enquanto supomos o que, de fato, aconteceu.

Como na inglesa "Em Prantos", "A Acusação" parece uma versão roteirizada de algo que aconteceu na vida real - não é o caso, mas poderia ter sido. Essa sensação nos acompanha nos quatro episódios e nos mantém presos em uma trama bastante envolvente e atual. Mesmo que você perceba um ou outro vacilo narrativo (e estético), como nas passagens em que Claude está no tribunal onde a história poderia ter sido melhor desenvolvida ou no romance de Lucas (Victor Meutelet), quando adulto, que é totalmente dispensável, te garanto que em nada prejudicará sua experiência e no final tudo se encaixará perfeitamente como um bom entretenimento, bem realizado e com temas tão pertinentes para ótimas discussões. 

Vale seu play! 

Assista Agora

"A Acusação" (ou "Le Mensonge" no original) é uma minissérie de 4 episódios que se apoia em um drama denso para discutir assuntos delicados como a pedofilia, as relações entre pais e filhos e, principalmente, o princípio da presunção de inocência.

Na trama, Claude Arbone (Daniel Auteuil) é um homem bem-sucedido com uma carreira política impecável e uma família aparentemente feliz. Ele tem sua vida virada de cabeça para baixo quando seu neto de nove anos, Lucas (Alex Terrier-Thiebaux), o acusa de estupro. Diante do escândalo e de uma longa jornada para provar sua inocência, durante 15 anos, Claude passa a ver sua família completamente dividida até que algumas verdades começam a surgir. Confira o trailer (em francês):

Comandada pelo Vincent Garenq, diretor que construiu sua carreira em documentários, a minissérie muitas vezes se apropria da ficção para elevar o tom dramático dando a exata noção da seriedade de uma acusação como essa e também como toda sociedade (e todo o sistema) lida com ela - algo como vimos no excelente "A Caça"de Thomas Vinterberg.

Talvez sem tanta profundidade e esmero cinematográfico como na produção dinamarquesa que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" em 2014, "Le Mensonge" sofre com o próprio conceito narrativo que se propõe a usar - o recorte temporal é tão extenso que mesmo com uma edição competente, alguns momentos da história se tornam repetitivos, enquanto outros parecem servir apenas como trampolim para um final que soa previsível. O interessante porém, é que Garenq a todo momento fomenta a dúvida, mesmo que os fatos indiquem um caminho mais plausível perante a situação. Na verdade aqui não existe a intenção de surpreender a audiência com uma revelação bombástica, mas sim de colocar as peças na mesa e nos provocar o julgamento enquanto supomos o que, de fato, aconteceu.

Como na inglesa "Em Prantos", "A Acusação" parece uma versão roteirizada de algo que aconteceu na vida real - não é o caso, mas poderia ter sido. Essa sensação nos acompanha nos quatro episódios e nos mantém presos em uma trama bastante envolvente e atual. Mesmo que você perceba um ou outro vacilo narrativo (e estético), como nas passagens em que Claude está no tribunal onde a história poderia ter sido melhor desenvolvida ou no romance de Lucas (Victor Meutelet), quando adulto, que é totalmente dispensável, te garanto que em nada prejudicará sua experiência e no final tudo se encaixará perfeitamente como um bom entretenimento, bem realizado e com temas tão pertinentes para ótimas discussões. 

Vale seu play! 

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A Assistente

A Assistente

Será preciso uma certa sensibilidade para entender a proposta narrativa de "A Assistente", filme de estreia da diretora Kitty Green - que antes havia dirigido apenas documentários e isso acaba ficando claro na maneira como ela internaliza as dores da protagonista, a excelente Julia Garner de "Ozark". Não se trata de um filme tradicional, seu conceito é completamente autoral, cadenciado, trazendo um retrato realista de um ambiente pesado, onde o mal-estar está no rosto de cada funcionário e que se apoia no silêncio para causar uma repulsa pelo simples fato de nos provocar a imaginar o que estaria acontecendo do outro lado da parede!

O filme acompanha um dia na rotina de Jane (Julia Garner), uma assistente de um alto executivo de cinema que trabalha em uma famosa produtora em Manhattan. Jane é a primeira a chegar e a última a sair, responde pelas burocracias do escritório, precisa ouvir desaforos e ainda fazer vista grossa para os abusos dos superiores (e dos puxa-sacos), enfim, aquele pacote completo de uma estagiária que sonha em ter uma oportunidade de ascensão profissional. Porém tudo o que rodeia esse emprego a incomoda e a postura de seu chefe passa a ser retratada como um fantasma onipresente que Jane tem que enfrentar a cada chamada ameaçadora de telefone, a cada e-mail passivo-agressivo que ela recebe ou até a cada compromisso que ela precisa marcar para que essa "entidade" cumpra sua agenda sem maiores problemas. Confira o trailer (em inglês):

Um dos elementos que mais me chamaram a atenção no roteiro de "A Assistente" foi a forma como tudo fica sugestionado e como os pequenos gestos ganham tanto peso no sentimento de Jane - esse trabalho de Garner mereceria uma indicação ao Oscar, tranquilamente! Diferente de "O Escândalo" ou de "A voz mais forte",  não se trata de um filme onde os assédios (morais e sexuais) são visíveis, mas sim de ações estruturais que vão se acumulando e ganhando uma forma aterrorizante e transformando o dia da protagonista em um verdadeiro pesadelo moral - o fato de não se ver, não quer dizer que não exista, certo? O desenho de som ajuda a pontuar esse terror do desconhecido, bem como nos guia através do que ouvimos de passagem - isso é tão bem explorado, que a própria Jane quase não fala durante os 90 minutos de filme e sentimos exatamente o seu sofrimento!

Embora muito cuidadosa, a história ganhou sua contextualização dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo “ex-chefões” de Hollywood, como Harvey Weinstein por exemplo. Onde o ambiente desconfortável se torna praticamente um personagem, inserido em uma gelada Nova Yorke, "A Assistente" cumpre o seu papel de criar a tensão, a angústia e a reflexão, mas talvez cometa o pecado de acreditar que somente o sentimento da protagonista basta para conquistar sua platéia - vai funcionar para alguns, mas muitos outros vão se decepcionar pela falta de conflito externo!

Filme difícil, assunto importante e conceito narrativo corajoso - nós gostamos e indicamos de olhos fechados!

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Será preciso uma certa sensibilidade para entender a proposta narrativa de "A Assistente", filme de estreia da diretora Kitty Green - que antes havia dirigido apenas documentários e isso acaba ficando claro na maneira como ela internaliza as dores da protagonista, a excelente Julia Garner de "Ozark". Não se trata de um filme tradicional, seu conceito é completamente autoral, cadenciado, trazendo um retrato realista de um ambiente pesado, onde o mal-estar está no rosto de cada funcionário e que se apoia no silêncio para causar uma repulsa pelo simples fato de nos provocar a imaginar o que estaria acontecendo do outro lado da parede!

O filme acompanha um dia na rotina de Jane (Julia Garner), uma assistente de um alto executivo de cinema que trabalha em uma famosa produtora em Manhattan. Jane é a primeira a chegar e a última a sair, responde pelas burocracias do escritório, precisa ouvir desaforos e ainda fazer vista grossa para os abusos dos superiores (e dos puxa-sacos), enfim, aquele pacote completo de uma estagiária que sonha em ter uma oportunidade de ascensão profissional. Porém tudo o que rodeia esse emprego a incomoda e a postura de seu chefe passa a ser retratada como um fantasma onipresente que Jane tem que enfrentar a cada chamada ameaçadora de telefone, a cada e-mail passivo-agressivo que ela recebe ou até a cada compromisso que ela precisa marcar para que essa "entidade" cumpra sua agenda sem maiores problemas. Confira o trailer (em inglês):

Um dos elementos que mais me chamaram a atenção no roteiro de "A Assistente" foi a forma como tudo fica sugestionado e como os pequenos gestos ganham tanto peso no sentimento de Jane - esse trabalho de Garner mereceria uma indicação ao Oscar, tranquilamente! Diferente de "O Escândalo" ou de "A voz mais forte",  não se trata de um filme onde os assédios (morais e sexuais) são visíveis, mas sim de ações estruturais que vão se acumulando e ganhando uma forma aterrorizante e transformando o dia da protagonista em um verdadeiro pesadelo moral - o fato de não se ver, não quer dizer que não exista, certo? O desenho de som ajuda a pontuar esse terror do desconhecido, bem como nos guia através do que ouvimos de passagem - isso é tão bem explorado, que a própria Jane quase não fala durante os 90 minutos de filme e sentimos exatamente o seu sofrimento!

Embora muito cuidadosa, a história ganhou sua contextualização dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo “ex-chefões” de Hollywood, como Harvey Weinstein por exemplo. Onde o ambiente desconfortável se torna praticamente um personagem, inserido em uma gelada Nova Yorke, "A Assistente" cumpre o seu papel de criar a tensão, a angústia e a reflexão, mas talvez cometa o pecado de acreditar que somente o sentimento da protagonista basta para conquistar sua platéia - vai funcionar para alguns, mas muitos outros vão se decepcionar pela falta de conflito externo!

Filme difícil, assunto importante e conceito narrativo corajoso - nós gostamos e indicamos de olhos fechados!

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A Caça

Criança não mente! Será?

Essa é apenas uma das polêmicas abordadas pelo excelente drama dinamarquês "A Caça" - o filme rendeu para Mads Mikkelsen o prêmio de Melhor Ator no festival de Cannes em 2012 e o credenciou para protagonizar a incrível série "Hannibal". Além disso, "Jagten" (título original) concorreu ao Globo de Ouro, ao Batfa e ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014.

Na trama, Lucas é um homem recém-divorciado que tenta se reerguer no novo emprego em uma escola infantil, mas sua sorte começa a mudar quando Klara (Annika Wedderkopp), filha do seu melhor amigo Marcus (Lasse Fogelstrøm), inventa uma mentira impiedosa com graves consequências, após ela não ter dele a atenção que queria. Antes que Lucas tenha a real dimensão do que está acontecendo, ele se torna o Inimigo número 1 da cidade e enfrenta a hostilidade de todos ao redor, correndo o risco de não conseguir provar sua inocência. Confira o trailer:

Traçando um paralelo entre os acontecimentos do filme e o momento em que vivemos, é inevitável concluir que o "cancelamento sempre existiu" - mesmo antes da internet. Se você mora ou já morou em cidade pequena, sabe bem disso. Uma pessoa "supostamente" tem uma atitude questionável, a notícia se espalha, o julgamento popular é imediato e dá início a um processo de "assassinato de reputação", que muitas vezes é irreversível - mesmo após provado que tudo não passava de boato ou engano. É exatamente o mesmo mecanismo do cancelamento da internet, que se diferencia somente pela velocidade e escala em que acontece. Nota-se, também, o poder do senso comum na sociedade: instantaneamente, as pessoas acreditam que “criança não mente” e que “se falam e voltam atrás, é porque criaram trauma ou medo”. Sabemos que isso é o que realmente acontece na grande maioria dos casos, mas os "canceladores" ignoram o benefício da dúvida e as autoridades legais, antecipando o julgamento.

Dirigido pelo excelente Thomas Vinterberg (de "Kursk - A Última Missão" e do também indicado ao Oscar, "Druk - Mais Uma Rodada") e com roteiro de Tobias Lindholm,  "A Caça" constrói com maestria um clima crescente de suspense e o final nos mostra a amplitude semântica da palavra "sequelas". A última cena, especialmente, não poderia justificar melhor o título desse filme que é simplesmente imperdível!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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Criança não mente! Será?

Essa é apenas uma das polêmicas abordadas pelo excelente drama dinamarquês "A Caça" - o filme rendeu para Mads Mikkelsen o prêmio de Melhor Ator no festival de Cannes em 2012 e o credenciou para protagonizar a incrível série "Hannibal". Além disso, "Jagten" (título original) concorreu ao Globo de Ouro, ao Batfa e ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014.

Na trama, Lucas é um homem recém-divorciado que tenta se reerguer no novo emprego em uma escola infantil, mas sua sorte começa a mudar quando Klara (Annika Wedderkopp), filha do seu melhor amigo Marcus (Lasse Fogelstrøm), inventa uma mentira impiedosa com graves consequências, após ela não ter dele a atenção que queria. Antes que Lucas tenha a real dimensão do que está acontecendo, ele se torna o Inimigo número 1 da cidade e enfrenta a hostilidade de todos ao redor, correndo o risco de não conseguir provar sua inocência. Confira o trailer:

Traçando um paralelo entre os acontecimentos do filme e o momento em que vivemos, é inevitável concluir que o "cancelamento sempre existiu" - mesmo antes da internet. Se você mora ou já morou em cidade pequena, sabe bem disso. Uma pessoa "supostamente" tem uma atitude questionável, a notícia se espalha, o julgamento popular é imediato e dá início a um processo de "assassinato de reputação", que muitas vezes é irreversível - mesmo após provado que tudo não passava de boato ou engano. É exatamente o mesmo mecanismo do cancelamento da internet, que se diferencia somente pela velocidade e escala em que acontece. Nota-se, também, o poder do senso comum na sociedade: instantaneamente, as pessoas acreditam que “criança não mente” e que “se falam e voltam atrás, é porque criaram trauma ou medo”. Sabemos que isso é o que realmente acontece na grande maioria dos casos, mas os "canceladores" ignoram o benefício da dúvida e as autoridades legais, antecipando o julgamento.

Dirigido pelo excelente Thomas Vinterberg (de "Kursk - A Última Missão" e do também indicado ao Oscar, "Druk - Mais Uma Rodada") e com roteiro de Tobias Lindholm,  "A Caça" constrói com maestria um clima crescente de suspense e o final nos mostra a amplitude semântica da palavra "sequelas". A última cena, especialmente, não poderia justificar melhor o título desse filme que é simplesmente imperdível!

Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria @dicastreaming 

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A Casa que Jack Construiu

Lars Von Trier (de "Melancolia") nos presenteia com algo insano e incandescente. Uma aula de como desenvolver personagens complexos, metáforas imponentes e um roteiro genial!

Um dia, durante um encontro fortuito na estrada, o arquiteto Jack (Matt Dillon) mata uma mulher. Este evento provoca um prazer inesperado no personagem, que passa a assassinar dezenas de pessoas ao longo de doze anos. Devido ao descaso das autoridades e a indiferença dos habitantes locais, o criminoso não encontra dificuldade em planejar seus crimes, executa-los ao olhar de todos e guardar os cadáveres num grande frigorífico. Tempos mais tarde, ele compartilha os seus casos mais marcantes com o sábio Virgílio (Bruno Ganz) em uma jornada rumo ao inferno. Confira o trailer:

Indubitavelmente Lars Von Trier nos choca! Uma mente doentia? Um gênio incompreendido? Talvez seja a mistura dos dois, porém, não podemos ter a audácia de mencionar que ele não engrandece o cinema em geral - esqueça seus escândalos pessoais, estou focando no artista, e com esse foco, ele figura na prateleira de cima dos diretores deste século. Sempre será um desperdício encararmos qualquer filme de Von Trier com uma mente fechada, objetiva e crua. O alcance mensurado por suas hipérboles sistemáticas conceituais sobre religião, credo e cor nos inflamam e nos causam estranheza e repúdio, no entanto, se olharmos com olhos de libertação ou até, uma libertinagem utópica, talvez a compreensão de seus filmes passam a ser mais “mastigáveis” para o grande público.

O modo com que Lars molda essa narrativa é grosseiramente genial. O clímax imposto em cada passagem de incidentes, é fluida e intrigante. A maneira como é diluída o tesão no âmago do protagonista psicopata que usa e abusa de diálogos efervescentes e metáforas distópicas, com o único e belo intuito de colecionar corpos, é instigante e soberbo. A violência gráfica é essencial, observamos que o diretor não quer nos chocar, e sim passar a mensagem de que o mundo caminha para o limbo social - o nocivo está presente em cada canto, no entanto, sua perceptividade em demonstrar as fraquezas do protagonista, aproximando ele da audiência, nos causa medo, e esse receio não é deferido pelas atrocidades mostradas, e sim por não sabermos quem é quem no mundo de hoje, não há nada mais aterrorizante do que não saber em quem confiar, a maldade pode estar ao seu lado.

Mas o mal tem cura? O desejo de esfolar, decapitar, estrangular é subversivo? Nascemos com isso ou vamos lapidando esse ódio continuo sobre o próximo com o passar do tempo? Lars Von Trier usa a arte como ponto de ebulição. O mal é derivado desse ostracismo artístico. O diretor nos presenteia com um filme asqueroso, impactante, lindo e reflexivo. Afinal, o inferno é alcançado após a morte ou já estamos nele? Assistam, é uma viagem existencial, quase espectral, até a podridão humana!

Um serial Killer com traços normais. Você conseguiria reconhecer um assassino em série? Eu aposto que não! "A Casa que Jack Construiu" é uma obra-prima!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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Lars Von Trier (de "Melancolia") nos presenteia com algo insano e incandescente. Uma aula de como desenvolver personagens complexos, metáforas imponentes e um roteiro genial!

Um dia, durante um encontro fortuito na estrada, o arquiteto Jack (Matt Dillon) mata uma mulher. Este evento provoca um prazer inesperado no personagem, que passa a assassinar dezenas de pessoas ao longo de doze anos. Devido ao descaso das autoridades e a indiferença dos habitantes locais, o criminoso não encontra dificuldade em planejar seus crimes, executa-los ao olhar de todos e guardar os cadáveres num grande frigorífico. Tempos mais tarde, ele compartilha os seus casos mais marcantes com o sábio Virgílio (Bruno Ganz) em uma jornada rumo ao inferno. Confira o trailer:

Indubitavelmente Lars Von Trier nos choca! Uma mente doentia? Um gênio incompreendido? Talvez seja a mistura dos dois, porém, não podemos ter a audácia de mencionar que ele não engrandece o cinema em geral - esqueça seus escândalos pessoais, estou focando no artista, e com esse foco, ele figura na prateleira de cima dos diretores deste século. Sempre será um desperdício encararmos qualquer filme de Von Trier com uma mente fechada, objetiva e crua. O alcance mensurado por suas hipérboles sistemáticas conceituais sobre religião, credo e cor nos inflamam e nos causam estranheza e repúdio, no entanto, se olharmos com olhos de libertação ou até, uma libertinagem utópica, talvez a compreensão de seus filmes passam a ser mais “mastigáveis” para o grande público.

O modo com que Lars molda essa narrativa é grosseiramente genial. O clímax imposto em cada passagem de incidentes, é fluida e intrigante. A maneira como é diluída o tesão no âmago do protagonista psicopata que usa e abusa de diálogos efervescentes e metáforas distópicas, com o único e belo intuito de colecionar corpos, é instigante e soberbo. A violência gráfica é essencial, observamos que o diretor não quer nos chocar, e sim passar a mensagem de que o mundo caminha para o limbo social - o nocivo está presente em cada canto, no entanto, sua perceptividade em demonstrar as fraquezas do protagonista, aproximando ele da audiência, nos causa medo, e esse receio não é deferido pelas atrocidades mostradas, e sim por não sabermos quem é quem no mundo de hoje, não há nada mais aterrorizante do que não saber em quem confiar, a maldade pode estar ao seu lado.

Mas o mal tem cura? O desejo de esfolar, decapitar, estrangular é subversivo? Nascemos com isso ou vamos lapidando esse ódio continuo sobre o próximo com o passar do tempo? Lars Von Trier usa a arte como ponto de ebulição. O mal é derivado desse ostracismo artístico. O diretor nos presenteia com um filme asqueroso, impactante, lindo e reflexivo. Afinal, o inferno é alcançado após a morte ou já estamos nele? Assistam, é uma viagem existencial, quase espectral, até a podridão humana!

Um serial Killer com traços normais. Você conseguiria reconhecer um assassino em série? Eu aposto que não! "A Casa que Jack Construiu" é uma obra-prima!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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A Grande Entrevista

Para um experiência completa, antes de assistir essa recomendação eu sugiro dois documentários que vão contextualizar com muito mais profundidade o tamanho do problema em que Príncipe Andrew se meteu em 2010, são eles: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" e "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão". No entanto, se você busca apenas um ótimo entretenimento "A Grande Entrevista" por si só já cumpre esse papel (e aí se a curiosidade tomar conta de você, busque essas duas outras produções da Netflix). O fato é que esse filme dirigido pelo talentoso Philip Martin (de "The Crown" e vencedor do Emmy com "Prime Suspect: The Final Act") e baseado no livro "Scoops" de Sam McAlister, é mais um daqueles dramas jornalísticos, com fortes elementos biográficos e com um toque de thriller político que vem fazendo muito sucesso no cinema e no streaming e que certamente vai te fazer lembrar de "Ela Disse", de "O Escândalo" e de "American Crime Story: Impeachment", para citar apenas três grandes sucessos.

Aqui, a trama basicamente acompanha a jornalista Emily Maitlis (Gillian Anderson) e a produtora Sam McAlister (Billie Piper) em sua missão de conseguir uma entrevista exclusiva com o Príncipe Andrew (Rufus Sewell) para o News Night da BBC. O objetivo: fazê-lo responder sobre sua relação próxima com o bilionário e pedófilo Jeffrey Epstein que acabara de aparecer morto na prisão. Em meio ao turbilhão dos fatos, a insegurança do jogo de poder entre a manipulação e a pressão da mídia, essas duas mulheres lutam para revelar a verdade e expor a hipocrisia da realeza britânica em rede nacional. Confira o trailer:

Mais do que um relato importante sobre os fatos, "A Grande Entrevista" é um interessante estudo de personagem - é fascinante como rapidamente o roteiro nos coloca dentro do assunto pelo olhar investigativo (e crítico) de McAlister e pelo receio (assustador) de Andrew. É ai que o filme  ganha força, já que as performances de Piper e Sewell, respectivamente, são impecáveis. Enquanto existe um tom mais visceral em McAlister que captura com exatidão a ambição, a tenacidade e a frustração de não ser reconhecida em uma época onde a BBC passava por maus bocados, Anderson e Sewell revivem o embate midiático de uma forma tão sensível e detalhista que temos a exata sensação de estarmos assistindo a entrevista original e não sua dramatização.

Veja, com uma qualidade técnica e artística invejável, o filme de fato oferece um contraponto sólido e humano de como as jornalistas lidaram com o caso e de como isso impactou na relação dos britânicos com a realeza - especialmente em um ponto onde as mídias sociais borbulhavam com sua ironia e julgamento. A direção de Martin é precisa nesse sentido, já que ele usa os fatos de maneira muito elegante para criar uma atmosfera tensa e claustrofóbica que prende a audiência do início ao fim - talvez a personificação dessa relação conflituosa entre os personagens e o tempo onde os escândalos acontecem para serem julgados por qualquer um, esteja justamente em Amanda Thirsk (Keeley Hawes) secretária particular do Príncipe.

Obviamente que "A Grande Entrevista" te fará questionar os limites do poder, da verdade e da justiça. Rufus Sewell recria o desconforto e as manias de Andrew com maestria - até sua estranha obsessão por ursinhos de pelúcia está no filme. A fotografia da Nanu Segal, vale ressaltar, contribui para a construção do caos interno que é esse personagem com a mesma competência com que enquadra o vazio existencial do Palácio de Buckingham, fazendo assim um retrato corajoso e instigante de um momento crucial na história recente da realeza e um tributo à força e à perseverança das mulheres que desafiaram o status quo em busca de uma verdade bastante inconveniente.

Vale muito a pena!

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Para um experiência completa, antes de assistir essa recomendação eu sugiro dois documentários que vão contextualizar com muito mais profundidade o tamanho do problema em que Príncipe Andrew se meteu em 2010, são eles: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" e "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão". No entanto, se você busca apenas um ótimo entretenimento "A Grande Entrevista" por si só já cumpre esse papel (e aí se a curiosidade tomar conta de você, busque essas duas outras produções da Netflix). O fato é que esse filme dirigido pelo talentoso Philip Martin (de "The Crown" e vencedor do Emmy com "Prime Suspect: The Final Act") e baseado no livro "Scoops" de Sam McAlister, é mais um daqueles dramas jornalísticos, com fortes elementos biográficos e com um toque de thriller político que vem fazendo muito sucesso no cinema e no streaming e que certamente vai te fazer lembrar de "Ela Disse", de "O Escândalo" e de "American Crime Story: Impeachment", para citar apenas três grandes sucessos.

Aqui, a trama basicamente acompanha a jornalista Emily Maitlis (Gillian Anderson) e a produtora Sam McAlister (Billie Piper) em sua missão de conseguir uma entrevista exclusiva com o Príncipe Andrew (Rufus Sewell) para o News Night da BBC. O objetivo: fazê-lo responder sobre sua relação próxima com o bilionário e pedófilo Jeffrey Epstein que acabara de aparecer morto na prisão. Em meio ao turbilhão dos fatos, a insegurança do jogo de poder entre a manipulação e a pressão da mídia, essas duas mulheres lutam para revelar a verdade e expor a hipocrisia da realeza britânica em rede nacional. Confira o trailer:

Mais do que um relato importante sobre os fatos, "A Grande Entrevista" é um interessante estudo de personagem - é fascinante como rapidamente o roteiro nos coloca dentro do assunto pelo olhar investigativo (e crítico) de McAlister e pelo receio (assustador) de Andrew. É ai que o filme  ganha força, já que as performances de Piper e Sewell, respectivamente, são impecáveis. Enquanto existe um tom mais visceral em McAlister que captura com exatidão a ambição, a tenacidade e a frustração de não ser reconhecida em uma época onde a BBC passava por maus bocados, Anderson e Sewell revivem o embate midiático de uma forma tão sensível e detalhista que temos a exata sensação de estarmos assistindo a entrevista original e não sua dramatização.

Veja, com uma qualidade técnica e artística invejável, o filme de fato oferece um contraponto sólido e humano de como as jornalistas lidaram com o caso e de como isso impactou na relação dos britânicos com a realeza - especialmente em um ponto onde as mídias sociais borbulhavam com sua ironia e julgamento. A direção de Martin é precisa nesse sentido, já que ele usa os fatos de maneira muito elegante para criar uma atmosfera tensa e claustrofóbica que prende a audiência do início ao fim - talvez a personificação dessa relação conflituosa entre os personagens e o tempo onde os escândalos acontecem para serem julgados por qualquer um, esteja justamente em Amanda Thirsk (Keeley Hawes) secretária particular do Príncipe.

Obviamente que "A Grande Entrevista" te fará questionar os limites do poder, da verdade e da justiça. Rufus Sewell recria o desconforto e as manias de Andrew com maestria - até sua estranha obsessão por ursinhos de pelúcia está no filme. A fotografia da Nanu Segal, vale ressaltar, contribui para a construção do caos interno que é esse personagem com a mesma competência com que enquadra o vazio existencial do Palácio de Buckingham, fazendo assim um retrato corajoso e instigante de um momento crucial na história recente da realeza e um tributo à força e à perseverança das mulheres que desafiaram o status quo em busca de uma verdade bastante inconveniente.

Vale muito a pena!

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A História Não Contada

Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey  que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.

Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:

Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.

Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe! 

"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.

Vale seu play!

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Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey  que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.

Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:

Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.

Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe! 

"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.

Vale seu play!

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Acredite em Mim: A História de Lisa McVey

Mulheres vítimas de estupro são violentadas duas vezes: uma pelo agressor, e a outra quando precisam provar que foram realmente estupradas. Isso, quando denunciam, pois na maioria dos casos elas não se sentem encorajadas para expor a violência. A ficção, seja no formato de filmes, séries ou minisséries, possui um papel social muito importante, pois denuncia o problema, dando voz a essas mulheres, promovendo o debate público e revelando como a questão é muito sensível e traumática para as vítimas.

O tema pode ser visto na excelente minissérie “Inacreditável”e agora nesse filme do Star+, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey”. As duas produções são certeiras ao provocar um sentimento de impotência e desconforto em quem assiste, pois escancara o despreparo da polícia em lidar com crimes de estupro e como isso afeta o psicológico da mulher para o resto da sua vida.

O filme apresenta um aterrorizante caso real de sequestro seguido de estupro ocorrido nos Estados Unidos, em 1984. A trama é dividida em duas partes: na primeira, mostra o rapto da adolescente Lisa McVey (Katie Douglas), e todo o tempo que ela ficou no cativeiro sendo ameaçada e violentada pelo serial killer Bobby Joe Long (Rossif Sutherland). Já na segunda parte, a história foca nos interrogatórios policiais e como a garota foi desacreditada por todos, inclusive pela própria avó (Kim Horsman). A única exceção é o detetive Larry Pinkerton (David James Elliott), que acredita no seu depoimento e decide seguir as pistas que ela deu para capturar o assassino. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Jim Donovan, profissional que construiu sua carreira na TV, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey” possui certas limitações, tanto orçamentárias, quanto artísticas, já que foi produzido a toque de caixa e sem o mesmo esmero de uma atração feita para o cinema. No entanto, a produção não decepciona e transmite a sua mensagem de maneira satisfatória - atenção para o trabalho de Katie Douglas.

Por apresentar um caso verídico com o máximo de detalhes e realismo, o roteiro de Christina Welsh provoca nosso envolvimento com a obra de uma maneira bastante intensa. Afinal, tudo que presenciamos, infelizmente, aconteceu… A experiência é de fato impactante e a conclusão que se chega é que a realidade é muito mais chocante que a ficção!

Vale a pena!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Mulheres vítimas de estupro são violentadas duas vezes: uma pelo agressor, e a outra quando precisam provar que foram realmente estupradas. Isso, quando denunciam, pois na maioria dos casos elas não se sentem encorajadas para expor a violência. A ficção, seja no formato de filmes, séries ou minisséries, possui um papel social muito importante, pois denuncia o problema, dando voz a essas mulheres, promovendo o debate público e revelando como a questão é muito sensível e traumática para as vítimas.

O tema pode ser visto na excelente minissérie “Inacreditável”e agora nesse filme do Star+, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey”. As duas produções são certeiras ao provocar um sentimento de impotência e desconforto em quem assiste, pois escancara o despreparo da polícia em lidar com crimes de estupro e como isso afeta o psicológico da mulher para o resto da sua vida.

O filme apresenta um aterrorizante caso real de sequestro seguido de estupro ocorrido nos Estados Unidos, em 1984. A trama é dividida em duas partes: na primeira, mostra o rapto da adolescente Lisa McVey (Katie Douglas), e todo o tempo que ela ficou no cativeiro sendo ameaçada e violentada pelo serial killer Bobby Joe Long (Rossif Sutherland). Já na segunda parte, a história foca nos interrogatórios policiais e como a garota foi desacreditada por todos, inclusive pela própria avó (Kim Horsman). A única exceção é o detetive Larry Pinkerton (David James Elliott), que acredita no seu depoimento e decide seguir as pistas que ela deu para capturar o assassino. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Jim Donovan, profissional que construiu sua carreira na TV, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey” possui certas limitações, tanto orçamentárias, quanto artísticas, já que foi produzido a toque de caixa e sem o mesmo esmero de uma atração feita para o cinema. No entanto, a produção não decepciona e transmite a sua mensagem de maneira satisfatória - atenção para o trabalho de Katie Douglas.

Por apresentar um caso verídico com o máximo de detalhes e realismo, o roteiro de Christina Welsh provoca nosso envolvimento com a obra de uma maneira bastante intensa. Afinal, tudo que presenciamos, infelizmente, aconteceu… A experiência é de fato impactante e a conclusão que se chega é que a realidade é muito mais chocante que a ficção!

Vale a pena!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Allen contra Farrow

"Allen contra Farrow" é mais um soco no estômago - provavelmente tão intenso quando "Deixando Neverland". Talvez porquê o Woody Allen seja uma espécie Michael Jackson do cinema, se não para o público, certamente para toda classe cinematográfica de Hollywood. Não sei até que ponto a grandiosidade artística de um profissional como Allen interferiu na quantidade avassaladora de criticas que esse documentário em 4 partes da HBO recebeu, mas o fato é que, para mim e independente das minhas convicções como ser humano, a série é muito boa - mas é preciso dizer: existe uma certa espetacularização ao melhor estilo "American Crime Story" de um assunto bastante sensível.

A série mergulha nos bastidores de um dos escândalos mais notórios de Hollywood: a denúncia de abuso sexual que recaiu sobre o diretor Woody Allen em 1992, levada a público por Dylan Farrow, sua filha adotiva com a atriz Mia Farrow. Dylan tinha apenas sete anos quando acusou o pai de molestá-la dentro da casa de sua mãe, no estado americano de Connecticut. Deu-se início, em seguida, a um turbulento processo de custódia que ganhou as manchetes do mundo todo. Na época, Allen e Mia viviam um relacionamento de 12 anos e tinham três filhos – dois adotivos, Dylan e Moses, e um biológico, Satchel (agora conhecido como Ronan Farrow). Na esteira das alegações feitas por Dylan, veio à tona o fato de que Allen também se relacionava com outra filha de Mia, Soon-Yi Previn, sem que ninguém soubesse. Confira o trailer:

Se você espera um documentário marcado por uma investigação jornalística profunda e uma narrativa menos cinematográfica, pode esquecer, "Allen contra Farrow" não é para você. A série traz para a discussão temas pesados e quase sempre pautados por imagens bastante perturbadoras, porém o conceito narrativo é extremamente voltado para o entretenimento, com uma edição dinâmica, uma direção claramente orientada para manipulação de sentimentos, apoiada em artifícios dramáticos e, claro, que explora apenas um lado da história - mesmo citando o outro lado em todos os episódios, mas sem a mesma força de contra-argumentação.

O que pode incomodar, é o fato dos diretores Kirby Dick (duas vezes indicado ao Oscar - "The Invisible War" e "Twist of Faith") e Amy Ziering (com uma indicação por "The Invisible War"), e que repetem a parceria no assunto depois do aclamado "The Hunting Ground", escancararem suas opiniões sobre o caso e com isso desacreditarem nas provas contrárias à acusação, como por exemplo um depoimento de Moses Farrow (filho adotivo de Mia), que diz ter sofrido abuso físico pelas mãos de sua mãe. A impressão de que foi "dois pesos duas medidas" não para por aí - Ronan Farrow (filho biológico do casal) alega ter sido orientado pelo pai para defende-lo publicamente em troca de dinheiro para faculdade, porém em nenhum momento do documentário é abordado o fato de que Mia Farrow tenha feito uma oferta para Woody Allen em troca de abafar o caso mediante ao pagamento. Esse tipo de atitude, aliás, acaba desqualificando algo muito sério, como o filme que Farrow fez com Dylan dias depois dela ter, supostamente, sofrido abuso.

Ao se pautar apenas pelo documentário, qualquer ser humano será incapaz de dar um play em qualquer outro filme do Woody Allen, mas, sinceramente, não sei se seria esse o caso - muita coisa fica no ar, é pouco conclusivo e até os fatos são confusos. Cabe a quem assiste interpretar os fatos e tentar se abster da manipulação emocional que a própria história propõe. Tecnicamente, o documentário merece elogios, aproveitando muito bem os filmes caseiros da família, depoimentos de muitas pessoas que estiveram envolvidos com aquela situação, cenas de arquivo dos noticiários da época, ilustrações dos julgamentos pela guarda dos filhos, gravações telefônicas inéditas, enfim, é um show de montagem e de conexão dos fatos - algumas forçando demais a barra (como a que tenta encontrar padrões nos filmes de Allen para justificar suas atitudes pessoais) e outras completamente coerentes com a visão de quem sofreu durante anos com o fato - o encontro de Dylan com o promotor do caso é rápido, mas muito humano!

Olha, mesmo sabendo que vai dividir opiniões eu indico "Allen contra Farrow" de olhos fechados, mas aviso: não será uma jornada fácil (principalmente nos episódios 2 e 3)!

Assista Agora

"Allen contra Farrow" é mais um soco no estômago - provavelmente tão intenso quando "Deixando Neverland". Talvez porquê o Woody Allen seja uma espécie Michael Jackson do cinema, se não para o público, certamente para toda classe cinematográfica de Hollywood. Não sei até que ponto a grandiosidade artística de um profissional como Allen interferiu na quantidade avassaladora de criticas que esse documentário em 4 partes da HBO recebeu, mas o fato é que, para mim e independente das minhas convicções como ser humano, a série é muito boa - mas é preciso dizer: existe uma certa espetacularização ao melhor estilo "American Crime Story" de um assunto bastante sensível.

A série mergulha nos bastidores de um dos escândalos mais notórios de Hollywood: a denúncia de abuso sexual que recaiu sobre o diretor Woody Allen em 1992, levada a público por Dylan Farrow, sua filha adotiva com a atriz Mia Farrow. Dylan tinha apenas sete anos quando acusou o pai de molestá-la dentro da casa de sua mãe, no estado americano de Connecticut. Deu-se início, em seguida, a um turbulento processo de custódia que ganhou as manchetes do mundo todo. Na época, Allen e Mia viviam um relacionamento de 12 anos e tinham três filhos – dois adotivos, Dylan e Moses, e um biológico, Satchel (agora conhecido como Ronan Farrow). Na esteira das alegações feitas por Dylan, veio à tona o fato de que Allen também se relacionava com outra filha de Mia, Soon-Yi Previn, sem que ninguém soubesse. Confira o trailer:

Se você espera um documentário marcado por uma investigação jornalística profunda e uma narrativa menos cinematográfica, pode esquecer, "Allen contra Farrow" não é para você. A série traz para a discussão temas pesados e quase sempre pautados por imagens bastante perturbadoras, porém o conceito narrativo é extremamente voltado para o entretenimento, com uma edição dinâmica, uma direção claramente orientada para manipulação de sentimentos, apoiada em artifícios dramáticos e, claro, que explora apenas um lado da história - mesmo citando o outro lado em todos os episódios, mas sem a mesma força de contra-argumentação.

O que pode incomodar, é o fato dos diretores Kirby Dick (duas vezes indicado ao Oscar - "The Invisible War" e "Twist of Faith") e Amy Ziering (com uma indicação por "The Invisible War"), e que repetem a parceria no assunto depois do aclamado "The Hunting Ground", escancararem suas opiniões sobre o caso e com isso desacreditarem nas provas contrárias à acusação, como por exemplo um depoimento de Moses Farrow (filho adotivo de Mia), que diz ter sofrido abuso físico pelas mãos de sua mãe. A impressão de que foi "dois pesos duas medidas" não para por aí - Ronan Farrow (filho biológico do casal) alega ter sido orientado pelo pai para defende-lo publicamente em troca de dinheiro para faculdade, porém em nenhum momento do documentário é abordado o fato de que Mia Farrow tenha feito uma oferta para Woody Allen em troca de abafar o caso mediante ao pagamento. Esse tipo de atitude, aliás, acaba desqualificando algo muito sério, como o filme que Farrow fez com Dylan dias depois dela ter, supostamente, sofrido abuso.

Ao se pautar apenas pelo documentário, qualquer ser humano será incapaz de dar um play em qualquer outro filme do Woody Allen, mas, sinceramente, não sei se seria esse o caso - muita coisa fica no ar, é pouco conclusivo e até os fatos são confusos. Cabe a quem assiste interpretar os fatos e tentar se abster da manipulação emocional que a própria história propõe. Tecnicamente, o documentário merece elogios, aproveitando muito bem os filmes caseiros da família, depoimentos de muitas pessoas que estiveram envolvidos com aquela situação, cenas de arquivo dos noticiários da época, ilustrações dos julgamentos pela guarda dos filhos, gravações telefônicas inéditas, enfim, é um show de montagem e de conexão dos fatos - algumas forçando demais a barra (como a que tenta encontrar padrões nos filmes de Allen para justificar suas atitudes pessoais) e outras completamente coerentes com a visão de quem sofreu durante anos com o fato - o encontro de Dylan com o promotor do caso é rápido, mas muito humano!

Olha, mesmo sabendo que vai dividir opiniões eu indico "Allen contra Farrow" de olhos fechados, mas aviso: não será uma jornada fácil (principalmente nos episódios 2 e 3)!

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Amante, Stalker e Mortal

Essa é um história impressionante, eu diria, inclusive, que beira o absurdo, mas que os apaixonados por true crime vão se deliciar. É Inegável que em plena era digital, as relações interpessoais foram completamente remodeladas, no entanto os perigos do mundo real não só persistem, como foram potencializadas - é o que revela esse instigante documentário da Netflix que vem chamando a atenção de muita gente desde seu lançamento. "Amante, Stalker e Mortal", dirigido pelo Sam Hobkinson (de "Os Cleptocratas"), não inova na narrativa e muito menos na sua proposta visual, no entanto usa e abusa de todas as ferramentas desse sub-gênero para explorar as relações humanas pela perspectiva da obsessão - aquela capaz de transformar uma relação casual em um longo pesadelo com consequências devastadoras.

Dave é um pai de família recém divorciado que buscava um relacionamento casual em apps para solteiros, até que ele se vê em uma espécie de triângulo amoroso com duas mulheres: Liz e Cari. O que parecia ser uma aventura passageira se transforma em um inferno quando uma delas, obcecada por Dave, se torna uma espécie stalker ao melhor estilo "Dormindo com o Inimigo" ou "Mulher Solteira Procura". "Amante, Stalker e Mortal" acompanha em retrospectiva, justamente, a trajetória de Dave, desde o início desses relacionamentos até seu final surpreendente para uma história real, revelando os mecanismos da obsessão e da fragilidade das relações modernas. Confira o trailer (em inglês):

Embora "Amante, Stalker e Mortal" soe como mais um daqueles podcasts de true crime que ganharam tanta relevância nos EUA nos últimos anos, é preciso dizer que Hobkinson é muito competente ao conduzir a narrativa dessa versão documental para TV com muita maestria, já que ele utiliza entrevistas atuais com os envolvidos, sempre ilustrando com imagens reais, ou com aquelas encenações que, é verdade, acabam construindo um retrato vívido, multifacetado e detalhado do caso.

Com a ajuda desses elementos narrativos que aproximam o documentário da ficção (e aqui a história por si só já se encaixa perfeitamente para o desenvolvimento desse conceito), "Amante, Stalker e Mortal" transcende os bastidores da investigação policial para lançar uma certa luz sobre os perigos do mundo virtual e as consequências de cruzar com uma pessoa obsessiva em seu mais alto grau de loucura - é quase impossível você não se colocar no lugar da vítima tamanha furada que o cara entrou. Sabendo dessa relação empática que a audiência vai estabelecendo com o protagonista, Hobkinson usa de todas os gatilhos emocionais para deixar sua narrativa ainda mais envolvente - a trilha sonora, por exemplo, intensifica a atmosfera de suspense, enquanto sua edição mais ágil acaba prendendo nossa atenção até quando a história parece ficar desinteressante.

Agora é preciso alinhar as expectativas, já que "Amante, Stalker e Mortal" não vai se tornar seu true crime preferido - lugar que "Making a Murderer"ou "The Jinx" já deveriam ocupar. No entanto, para quem gosta de documentários mais intrigantes e até perturbadores pela sua proximidade com as relações de hoje, eu atesto que essa é mesmo uma obra que nos faz pensar duas vezes antes de dar o próximo like, ou deslizar para direita. Veja, por trás da tela, existem pessoas reais com suas fragilidades e obsessões que desconhecemos e aqui temos a exata noção de como nossas percepções sobre as relações online podem ser completamente transformadas - é um alerta em forma de soco no estômago, que nos faz questionar a segurança de nossas interações e a dificuldade de conhecer a real identidade das pessoas com quem conversamos através de um app.

Vale seu play! 

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Essa é um história impressionante, eu diria, inclusive, que beira o absurdo, mas que os apaixonados por true crime vão se deliciar. É Inegável que em plena era digital, as relações interpessoais foram completamente remodeladas, no entanto os perigos do mundo real não só persistem, como foram potencializadas - é o que revela esse instigante documentário da Netflix que vem chamando a atenção de muita gente desde seu lançamento. "Amante, Stalker e Mortal", dirigido pelo Sam Hobkinson (de "Os Cleptocratas"), não inova na narrativa e muito menos na sua proposta visual, no entanto usa e abusa de todas as ferramentas desse sub-gênero para explorar as relações humanas pela perspectiva da obsessão - aquela capaz de transformar uma relação casual em um longo pesadelo com consequências devastadoras.

Dave é um pai de família recém divorciado que buscava um relacionamento casual em apps para solteiros, até que ele se vê em uma espécie de triângulo amoroso com duas mulheres: Liz e Cari. O que parecia ser uma aventura passageira se transforma em um inferno quando uma delas, obcecada por Dave, se torna uma espécie stalker ao melhor estilo "Dormindo com o Inimigo" ou "Mulher Solteira Procura". "Amante, Stalker e Mortal" acompanha em retrospectiva, justamente, a trajetória de Dave, desde o início desses relacionamentos até seu final surpreendente para uma história real, revelando os mecanismos da obsessão e da fragilidade das relações modernas. Confira o trailer (em inglês):

Embora "Amante, Stalker e Mortal" soe como mais um daqueles podcasts de true crime que ganharam tanta relevância nos EUA nos últimos anos, é preciso dizer que Hobkinson é muito competente ao conduzir a narrativa dessa versão documental para TV com muita maestria, já que ele utiliza entrevistas atuais com os envolvidos, sempre ilustrando com imagens reais, ou com aquelas encenações que, é verdade, acabam construindo um retrato vívido, multifacetado e detalhado do caso.

Com a ajuda desses elementos narrativos que aproximam o documentário da ficção (e aqui a história por si só já se encaixa perfeitamente para o desenvolvimento desse conceito), "Amante, Stalker e Mortal" transcende os bastidores da investigação policial para lançar uma certa luz sobre os perigos do mundo virtual e as consequências de cruzar com uma pessoa obsessiva em seu mais alto grau de loucura - é quase impossível você não se colocar no lugar da vítima tamanha furada que o cara entrou. Sabendo dessa relação empática que a audiência vai estabelecendo com o protagonista, Hobkinson usa de todas os gatilhos emocionais para deixar sua narrativa ainda mais envolvente - a trilha sonora, por exemplo, intensifica a atmosfera de suspense, enquanto sua edição mais ágil acaba prendendo nossa atenção até quando a história parece ficar desinteressante.

Agora é preciso alinhar as expectativas, já que "Amante, Stalker e Mortal" não vai se tornar seu true crime preferido - lugar que "Making a Murderer"ou "The Jinx" já deveriam ocupar. No entanto, para quem gosta de documentários mais intrigantes e até perturbadores pela sua proximidade com as relações de hoje, eu atesto que essa é mesmo uma obra que nos faz pensar duas vezes antes de dar o próximo like, ou deslizar para direita. Veja, por trás da tela, existem pessoas reais com suas fragilidades e obsessões que desconhecemos e aqui temos a exata noção de como nossas percepções sobre as relações online podem ser completamente transformadas - é um alerta em forma de soco no estômago, que nos faz questionar a segurança de nossas interações e a dificuldade de conhecer a real identidade das pessoas com quem conversamos através de um app.

Vale seu play! 

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American Crime Story - 3ª Temporada

Diferente das duas primeiras (excelentes) temporadas da série antológica "American Crime Story", dessa vez a vítima central é o foco da narrativa. Aqui não se trata de algo impactante como o destino do suposto criminoso O.J. Simpson e dos embates de seus advogados no tribunal americano, muito menos de desvendar os fantasmas do assassino de Gianni Versace, Andrew Cunanan - a construção de "Impeachment" basicamente deixa de lado a intimidade do presidente Bill Clinton para dar voz ao curioso e improvável lado mais fraco da história: Monica Lewinsky e sua relação com uma companheira de trabalho, a sempre dissimulada Linda Tripp.

"American Crime Story: Impeachment" se baseia no livro "A Vast Conspiracy", de Jeffrey Toobin, e acompanha os bastidores dos fatos que envolveram Bill Clinton (Clive Owen) quando era o presidente dos EUA (entre 1995 a 1997), e sua relação com a estagiária Monica Lewinsky (Beanie Feldstein). Assim que o caso se tornou inconveniente para Clinton, Monica foi transferida para o Pentágono, onde conheceu Linda Tripp (Sarah Paulson), ex-funcionária da Casa Branca que virou sua confidente e que, por acaso, nutria um profundo desprezo pela família do presidente - estava armada a bomba relógio! Confira o trailer (em inglês):

Durante muitos anos, Monica Lewinsky foi tratada como a mulher que tentou destruir o casamento do homem mais poderoso do mundo, enquanto as mentiras do então presidente dos EUA eram ignoradas em favor de uma esposa fiel, que perdoou o marido mesmo depois de tantas histórias de traição, e abuso de poder, vir a público - fatos que lhe causaram uma enorme humilhação. Dito isso, o que é mais perceptível nessa temporada de American Crime Story, não é necessariamente o fato (ou a relação) envolvendo Monica e Bill, mas sim mostrar a perspectiva do elo mais fraco - com suas fragilidades de caráter, sim, mas também explorando a "sacanagem" que fizeram com ela (e aqui não estou falando da sua relação "amorosa").

E é ai que entra o grande destaque dessa temporada: Sarah Paulson, atriz que brilhou em "O Povo Contra O.J. Simpson", onde, inclusive, ganhou o Emmy por sua performance como Marcia Clark; retorna à franquia de uma forma simplesmente impecável! Irreconhecível como Linda Tripp, ex-servidora da Casa Branca, a atriz dá vida a uma figura marcante no caso por ter se aproximado de Monica apenas para se "vingar" dos Clinton e por ter gravado conversas telefônicas com Monica, onde ela estimulava a estagiária a dar detalhes de todos encontros com o presidente. O interessante porém, é que Paulson constrói uma personagem com tantas camadas, profundidade e nuances que, por si só, já mereceria ser chamada de protagonista de "Impeachment"  - ela dá um verdadeiro show!

"Impeachment" foi considerada por muitos a temporada mais fraca de "American Crime Story"- eu discordo! Eu diria que essa temporada é a mais humana de todas e talvez por isso a menos espetacular como narrativa. Assistir "American Crime Story: Impeachment" é como ler um livro que encontra nos detalhes a força de sua trama, onde o envolvimento é diretamente proporcional ao nosso interesse pelo fato em si. Veja, aqui não estamos falando de mortes envolvendo um astro do futebol americano ou do assassinato de um maiores estilistas de todos os tempos, estamos falando de uma jovem como tantas outras que teimava em romantizar uma relação improvável, extremamente sexual, que pagou um preço caro por sua ingenuidade e que precisou lidar com uma mídia (e uma sociedade) hipócrita e cruel.

Vale seu play!

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Diferente das duas primeiras (excelentes) temporadas da série antológica "American Crime Story", dessa vez a vítima central é o foco da narrativa. Aqui não se trata de algo impactante como o destino do suposto criminoso O.J. Simpson e dos embates de seus advogados no tribunal americano, muito menos de desvendar os fantasmas do assassino de Gianni Versace, Andrew Cunanan - a construção de "Impeachment" basicamente deixa de lado a intimidade do presidente Bill Clinton para dar voz ao curioso e improvável lado mais fraco da história: Monica Lewinsky e sua relação com uma companheira de trabalho, a sempre dissimulada Linda Tripp.

"American Crime Story: Impeachment" se baseia no livro "A Vast Conspiracy", de Jeffrey Toobin, e acompanha os bastidores dos fatos que envolveram Bill Clinton (Clive Owen) quando era o presidente dos EUA (entre 1995 a 1997), e sua relação com a estagiária Monica Lewinsky (Beanie Feldstein). Assim que o caso se tornou inconveniente para Clinton, Monica foi transferida para o Pentágono, onde conheceu Linda Tripp (Sarah Paulson), ex-funcionária da Casa Branca que virou sua confidente e que, por acaso, nutria um profundo desprezo pela família do presidente - estava armada a bomba relógio! Confira o trailer (em inglês):

Durante muitos anos, Monica Lewinsky foi tratada como a mulher que tentou destruir o casamento do homem mais poderoso do mundo, enquanto as mentiras do então presidente dos EUA eram ignoradas em favor de uma esposa fiel, que perdoou o marido mesmo depois de tantas histórias de traição, e abuso de poder, vir a público - fatos que lhe causaram uma enorme humilhação. Dito isso, o que é mais perceptível nessa temporada de American Crime Story, não é necessariamente o fato (ou a relação) envolvendo Monica e Bill, mas sim mostrar a perspectiva do elo mais fraco - com suas fragilidades de caráter, sim, mas também explorando a "sacanagem" que fizeram com ela (e aqui não estou falando da sua relação "amorosa").

E é ai que entra o grande destaque dessa temporada: Sarah Paulson, atriz que brilhou em "O Povo Contra O.J. Simpson", onde, inclusive, ganhou o Emmy por sua performance como Marcia Clark; retorna à franquia de uma forma simplesmente impecável! Irreconhecível como Linda Tripp, ex-servidora da Casa Branca, a atriz dá vida a uma figura marcante no caso por ter se aproximado de Monica apenas para se "vingar" dos Clinton e por ter gravado conversas telefônicas com Monica, onde ela estimulava a estagiária a dar detalhes de todos encontros com o presidente. O interessante porém, é que Paulson constrói uma personagem com tantas camadas, profundidade e nuances que, por si só, já mereceria ser chamada de protagonista de "Impeachment"  - ela dá um verdadeiro show!

"Impeachment" foi considerada por muitos a temporada mais fraca de "American Crime Story"- eu discordo! Eu diria que essa temporada é a mais humana de todas e talvez por isso a menos espetacular como narrativa. Assistir "American Crime Story: Impeachment" é como ler um livro que encontra nos detalhes a força de sua trama, onde o envolvimento é diretamente proporcional ao nosso interesse pelo fato em si. Veja, aqui não estamos falando de mortes envolvendo um astro do futebol americano ou do assassinato de um maiores estilistas de todos os tempos, estamos falando de uma jovem como tantas outras que teimava em romantizar uma relação improvável, extremamente sexual, que pagou um preço caro por sua ingenuidade e que precisou lidar com uma mídia (e uma sociedade) hipócrita e cruel.

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Assassinato nas Profundezas

Se você não conhece o empresário dinamarquês Peter Madsen, eu vou tentar defini-lo antes de comentar sobre essa história impressionante que a Netflix transformou em um documentário de cerca de 90 minutos: ele é uma espécie de "padre do balão" que queria ser um "Elon Musk"! Muito reconhecido no seu país pela sua excentricidade e por mostrar muita confiança ao embarcar em projetos independentes curiosos que envolviam a construção de foguetes e submarinos, mas que na verdade mais pareciam enormes sucatas desenvolvidas com relevantes quantias vindo de doações, Madsen viu sua vida virar de ponta cabeça quando uma jornalista sueca simplesmente desapareceu após embarcar em uma de suas criações, o submarino UC3 Nautilus, para um entrevista.

“Into the Deep: The Submarine Murder Case” (no original) conta pelo ponto de vista dos estagiários de Madsen, a história do misterioso desaparecimento deKim Wall. Com uma narrativa envolvente, o documentário procura traçar um paralelo entre (para alguns) o homem brilhante e adorado por todos e (para muitos) o suspeito de um dos crimes mais brutais da história da Dinamarca. Confira o trailer (em inglês):

É inegável que a jovem diretora Emma Sullivan se beneficiou da "sorte" de, na época do crime, estar filmando um documentário que buscava retratar o entusiasmo de Peter Madsen e de seus jovens assistentes voluntários que orgulhosamente mostravam suas recentes invenções (e projetos futuros) durante a intimidade dos dias de trabalho duro nos galpões de Copenhague, onde aparentemente a "magia" acontecia. Aliás essa dinâmica narrativa mais intimista causa um certo desconforto inicialmente, já que somos jogados no drama de acompanhar em "tempo real", e sem muita explicação, o dia em que Madsen não apareceu para trabalhar - acompanhar os estagiários buscando as notícias sobre o chefe e descobrindo que o UC3 Nautilus havia afundado na Baía de Køge, próximo da divisa com a Suécia, até soa falso pela imprevisibilidade da situação; mas o fato é que tudo aquilo era real.

Diferente do genial "Icarus" onde uma situação "semelhante" acontece com o diretor, Sullivan parece não saber aproveitar todo o potencial do material que tem em suas mãos e acaba vacilando ao seguir um roteiro que tira o impacto midiático do momento ao escolher construir um perfil definitivo que comprovasse que Madsen poderia ser diferente daquele personagem que todos admiravam, em vez de se aprofundar na investigação sobre o misterioso desaparecimento de Wall. Isso não prejudica nossa experiência, pois a história é realmente muito impressionante, mas a sensação de que aquilo poderia ser algo muito mais profundo, existe.

Os depoimentos de quem viveu ao lado de Madsen antes dos fatos mostrados no filme são muito interessantes, pois refletem um misto de sentimentos e sensações únicas - passam da preocupação, para a dúvida até chegar na incredulidade, na decepção e na raiva. Nesse ponto, Sullivan acerta ao amarrar diversos depoimentos com arquivos do próprio Madsen e com matérias da imprensa local. Dito isso, minha conclusão é que "Assassinato nas Profundezas" é muito melhor como história do que como obra audiovisual, porém como é impossível dissociar as duas, não recomendar esse documentário que, inclusive, já rendeu um outro projeto, dessa vez na HBO, chamado "Submersa: O Desaparecimento de Kim Wall" dirigido pela mais experiente Erin Lee Carr de "Eu Te Amo, Agora Morra - O Caso de Michelle Carter", soa até injustiça - porque, sim, você vai se surpreender (e se revoltar) com o que assistirá na tela!

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Se você não conhece o empresário dinamarquês Peter Madsen, eu vou tentar defini-lo antes de comentar sobre essa história impressionante que a Netflix transformou em um documentário de cerca de 90 minutos: ele é uma espécie de "padre do balão" que queria ser um "Elon Musk"! Muito reconhecido no seu país pela sua excentricidade e por mostrar muita confiança ao embarcar em projetos independentes curiosos que envolviam a construção de foguetes e submarinos, mas que na verdade mais pareciam enormes sucatas desenvolvidas com relevantes quantias vindo de doações, Madsen viu sua vida virar de ponta cabeça quando uma jornalista sueca simplesmente desapareceu após embarcar em uma de suas criações, o submarino UC3 Nautilus, para um entrevista.

“Into the Deep: The Submarine Murder Case” (no original) conta pelo ponto de vista dos estagiários de Madsen, a história do misterioso desaparecimento deKim Wall. Com uma narrativa envolvente, o documentário procura traçar um paralelo entre (para alguns) o homem brilhante e adorado por todos e (para muitos) o suspeito de um dos crimes mais brutais da história da Dinamarca. Confira o trailer (em inglês):

É inegável que a jovem diretora Emma Sullivan se beneficiou da "sorte" de, na época do crime, estar filmando um documentário que buscava retratar o entusiasmo de Peter Madsen e de seus jovens assistentes voluntários que orgulhosamente mostravam suas recentes invenções (e projetos futuros) durante a intimidade dos dias de trabalho duro nos galpões de Copenhague, onde aparentemente a "magia" acontecia. Aliás essa dinâmica narrativa mais intimista causa um certo desconforto inicialmente, já que somos jogados no drama de acompanhar em "tempo real", e sem muita explicação, o dia em que Madsen não apareceu para trabalhar - acompanhar os estagiários buscando as notícias sobre o chefe e descobrindo que o UC3 Nautilus havia afundado na Baía de Køge, próximo da divisa com a Suécia, até soa falso pela imprevisibilidade da situação; mas o fato é que tudo aquilo era real.

Diferente do genial "Icarus" onde uma situação "semelhante" acontece com o diretor, Sullivan parece não saber aproveitar todo o potencial do material que tem em suas mãos e acaba vacilando ao seguir um roteiro que tira o impacto midiático do momento ao escolher construir um perfil definitivo que comprovasse que Madsen poderia ser diferente daquele personagem que todos admiravam, em vez de se aprofundar na investigação sobre o misterioso desaparecimento de Wall. Isso não prejudica nossa experiência, pois a história é realmente muito impressionante, mas a sensação de que aquilo poderia ser algo muito mais profundo, existe.

Os depoimentos de quem viveu ao lado de Madsen antes dos fatos mostrados no filme são muito interessantes, pois refletem um misto de sentimentos e sensações únicas - passam da preocupação, para a dúvida até chegar na incredulidade, na decepção e na raiva. Nesse ponto, Sullivan acerta ao amarrar diversos depoimentos com arquivos do próprio Madsen e com matérias da imprensa local. Dito isso, minha conclusão é que "Assassinato nas Profundezas" é muito melhor como história do que como obra audiovisual, porém como é impossível dissociar as duas, não recomendar esse documentário que, inclusive, já rendeu um outro projeto, dessa vez na HBO, chamado "Submersa: O Desaparecimento de Kim Wall" dirigido pela mais experiente Erin Lee Carr de "Eu Te Amo, Agora Morra - O Caso de Michelle Carter", soa até injustiça - porque, sim, você vai se surpreender (e se revoltar) com o que assistirá na tela!

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Assédio

A Minissérie "Assédio" foi lançada exclusivamente para o Globoplay em uma tentativa da Globo de entrar com mais força na briga contra a Netflix e se tornar relevante também no streaming - e com projetos como esse, tem tudo para conseguir: "Assédio" conta a história do médico Abdelmassih, aquele mesmo que estuprou 37 pacientes e que foi condenado a mais de 100 anos de prisão (e depois liberado para cumprir prisão domiciliar). O que eu tenho para dizer é que a minissérie está linda.

Dirigida pela Amora Mautner, "Assédio" tem um conceito estético muito bem definido e uma personalidade que se não vê muito por aí na TV aberta. Com muitas referências conceituais de "House of Cards"- do estilo da trilha incidental aos movimentos de câmera lineares, muita coisa chama atenção: a fotografia é diferente, mais escura, com pontos de luz pontuando só no que interessa da cena e uma cor mais esverdeada que traz uma frieza interessante para os ambientes (embora, as vezes, até se pesa um pouco a mão).

No primeiro episódio, no prólogo, a "janela de projeção" mais cinematográfica e aquela música tema criam um clima incrível que se sustenta durante todo o episódio, extremamente bem dirigido - uma pena que não mantiveram aquela janela (barras maiores que deixariam o projeto mais elegante, mas ok, seria um risco para um público ainda mais acostumado com as novelas do que com um cinema autoral). Até as cenas mais delicadas com alguma violência sexual, estão lindamente bem realizadas. O roteiro começa muito bem, mas lá pelo quarto episódio perde um pouco de força; mas mesmo assim incomoda demais! A história é muito forte, o personagem belamente interpretado pelo Calloni é um doente, maníaco, maluco - e cruel. Cenas fortes, impactantes, mas nada é gratuito, muito pelo contrário, tudo faz sentido e dá voz a quem antes ficava calada, com medo. É muito duro imaginar que se trata de uma história real! Mesmo!!!

A verdade é que a Globo mostra que não entra na onda do streaming para fazer número ou backup de catálogo, entra com a mesma capacidade técnica e criativa que vemos na TV com a liberdade que um serviço mais "prime" oferece - não tem como dar errado! Co-produção Globo/Globoplay/O2 entrega um resultado de altíssimo nível!!!

Vale muito seu play!

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A Minissérie "Assédio" foi lançada exclusivamente para o Globoplay em uma tentativa da Globo de entrar com mais força na briga contra a Netflix e se tornar relevante também no streaming - e com projetos como esse, tem tudo para conseguir: "Assédio" conta a história do médico Abdelmassih, aquele mesmo que estuprou 37 pacientes e que foi condenado a mais de 100 anos de prisão (e depois liberado para cumprir prisão domiciliar). O que eu tenho para dizer é que a minissérie está linda.

Dirigida pela Amora Mautner, "Assédio" tem um conceito estético muito bem definido e uma personalidade que se não vê muito por aí na TV aberta. Com muitas referências conceituais de "House of Cards"- do estilo da trilha incidental aos movimentos de câmera lineares, muita coisa chama atenção: a fotografia é diferente, mais escura, com pontos de luz pontuando só no que interessa da cena e uma cor mais esverdeada que traz uma frieza interessante para os ambientes (embora, as vezes, até se pesa um pouco a mão).

No primeiro episódio, no prólogo, a "janela de projeção" mais cinematográfica e aquela música tema criam um clima incrível que se sustenta durante todo o episódio, extremamente bem dirigido - uma pena que não mantiveram aquela janela (barras maiores que deixariam o projeto mais elegante, mas ok, seria um risco para um público ainda mais acostumado com as novelas do que com um cinema autoral). Até as cenas mais delicadas com alguma violência sexual, estão lindamente bem realizadas. O roteiro começa muito bem, mas lá pelo quarto episódio perde um pouco de força; mas mesmo assim incomoda demais! A história é muito forte, o personagem belamente interpretado pelo Calloni é um doente, maníaco, maluco - e cruel. Cenas fortes, impactantes, mas nada é gratuito, muito pelo contrário, tudo faz sentido e dá voz a quem antes ficava calada, com medo. É muito duro imaginar que se trata de uma história real! Mesmo!!!

A verdade é que a Globo mostra que não entra na onda do streaming para fazer número ou backup de catálogo, entra com a mesma capacidade técnica e criativa que vemos na TV com a liberdade que um serviço mais "prime" oferece - não tem como dar errado! Co-produção Globo/Globoplay/O2 entrega um resultado de altíssimo nível!!!

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Atleta A

"Atleta A" é um verdadeiro soco no estômago!

Esse documentário da Netflix, expõe o médico oficial da equipe de ginástica olímpica do EUA, Larry Nassar, que abusou das jovens atletas durante anos, sem que a Federação iniciasse, ao menos, uma investigação depois de denúncias que vinham desde 2015! Olha, além de emocionante, "Atleta A" é desconfortável como duas outras recentes produções: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"da Netflix e "Deixando Neverland" da HBO. Confira o trailer (em inglês):

O grande mérito do documentário dirigido pela dupla Bonni Cohen e Jon Shenk e talvez a razão pela qual ele seja diferente dos outros dois títulos mencionados, é a forma direta e avassaladora como o roteiro vai ligando os fatos a partir da denúncia de uma potencial medalhista olímpica, Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas atletas, adolescentes de 13 anos que foram abusadas sistematicamente por Nassar. Para quem gosta de esporte e, no meu caso, pai de um menina, fica quase impossível não pausar o filme para recuperar o fôlego, dada a potência e coragem dos depoimentos que assistimos - é simplesmente sensacional a forma como uma história complexa foi bem explicada em apenas 1:40.

Não é difícil perceber a sensibilidade com que Cohen e Shenk desenvolveram as histórias de algumas peças importantes dessa denúncia que abalou o esporte americano em 2016 durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Embora paralelas, seu encontro se transforma em um dos momentos mais emocionantes do filme, onde vemos algumas vítimas do médico lendo seus relatos sobre o trauma e a vergonha que sentiram após os abusos perante uma juíza incrédula. Foram 150 sobreviventes unidas para desmascarar Larry Nassar. O interessante, porém, é que o documentário é capaz de equilibrar perfeitamente a construção de uma investigação jornalística (e não policial) com a própria história do esporte, com alguns métodos (e personagens) que fizeram sucesso na Romênia de Nadia Comaneti e foram importados para transformar os EUA em uma potência do esporte!

"Atleta A", de fato, vale muito a pena, mas se prepare, pois não será um jornada das mais fáceis já que além das investigações sobre abuso de menores, nos deparamos com personagens movidos por poder, dinheiro, fama; elementos que nada tem a ver com os valores do esporte e com o sonho de criança de muitas dessas atletas que queriam representar o seu país nas competições internacionais - e aqui eu cito uma passagem que me marcou muito: existe uma linha muito tênue entre exigência e assédio moral, agora projete isso em uma criança de pouco mais de dez anos e fica fácil entender porquê o assunto mexe tanto com a gente!

Dê o play, mas esteja disposto a viver uma série de sensações, onde muitas delas não serão tão agradáveis! 

Assista Agora

"Atleta A" é um verdadeiro soco no estômago!

Esse documentário da Netflix, expõe o médico oficial da equipe de ginástica olímpica do EUA, Larry Nassar, que abusou das jovens atletas durante anos, sem que a Federação iniciasse, ao menos, uma investigação depois de denúncias que vinham desde 2015! Olha, além de emocionante, "Atleta A" é desconfortável como duas outras recentes produções: "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"da Netflix e "Deixando Neverland" da HBO. Confira o trailer (em inglês):

O grande mérito do documentário dirigido pela dupla Bonni Cohen e Jon Shenk e talvez a razão pela qual ele seja diferente dos outros dois títulos mencionados, é a forma direta e avassaladora como o roteiro vai ligando os fatos a partir da denúncia de uma potencial medalhista olímpica, Maggie Nichols, que teve seu sonho de disputar uma Olimpíada ceifado por uma Federação hipócrita, mais preocupada com uma medalha de ouro do que com o respeito por suas atletas, adolescentes de 13 anos que foram abusadas sistematicamente por Nassar. Para quem gosta de esporte e, no meu caso, pai de um menina, fica quase impossível não pausar o filme para recuperar o fôlego, dada a potência e coragem dos depoimentos que assistimos - é simplesmente sensacional a forma como uma história complexa foi bem explicada em apenas 1:40.

Não é difícil perceber a sensibilidade com que Cohen e Shenk desenvolveram as histórias de algumas peças importantes dessa denúncia que abalou o esporte americano em 2016 durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Embora paralelas, seu encontro se transforma em um dos momentos mais emocionantes do filme, onde vemos algumas vítimas do médico lendo seus relatos sobre o trauma e a vergonha que sentiram após os abusos perante uma juíza incrédula. Foram 150 sobreviventes unidas para desmascarar Larry Nassar. O interessante, porém, é que o documentário é capaz de equilibrar perfeitamente a construção de uma investigação jornalística (e não policial) com a própria história do esporte, com alguns métodos (e personagens) que fizeram sucesso na Romênia de Nadia Comaneti e foram importados para transformar os EUA em uma potência do esporte!

"Atleta A", de fato, vale muito a pena, mas se prepare, pois não será um jornada das mais fáceis já que além das investigações sobre abuso de menores, nos deparamos com personagens movidos por poder, dinheiro, fama; elementos que nada tem a ver com os valores do esporte e com o sonho de criança de muitas dessas atletas que queriam representar o seu país nas competições internacionais - e aqui eu cito uma passagem que me marcou muito: existe uma linha muito tênue entre exigência e assédio moral, agora projete isso em uma criança de pouco mais de dez anos e fica fácil entender porquê o assunto mexe tanto com a gente!

Dê o play, mas esteja disposto a viver uma série de sensações, onde muitas delas não serão tão agradáveis! 

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Bata antes de Entrar

Angustiante - eu só te digo isso: angustiante!

Sim, o filme sabe como explorar temas como a tentação, a infidelidade e as consequências morais de algumas decisões, digamos, mais impulsivas. O diretor,  Eli Roth ("O Albergue"), de fato, sabe mesmo como criar uma atmosfera de suspense que nos tira da zona de conforto. Porém, também é preciso que se diga, que o filme não será uma unanimidade, já que o roteiro tem dificuldades para desenvolver plenamente suas ótimas ideias, principalmente quando escolhe o caminho mais fácil, excessivamente exagerado em certos momentos. É como se Roth quisesse ser um Tarantino! Funciona? Claro que sim, mas mais como entretenimento despretensioso do que como um filme inesquecível!

"Bata Antes de Entrar" conta a história de Evan Webber (Keanu Reeves) um arquiteto bem-sucedido que está sozinho em casa durante um fim de semana enquanto sua esposa e filhos estão viajando. Sua tranquilidade, porém, é interrompida quando duas jovens, Genesis (Lorenza Izzo) e Bel (Ana de Armas), batem em sua porta em busca de ajuda durante uma tempestade. Se inicialmente elas tentam seduzi-lo, no dia seguinte, elas passam a persegui-lo implacavelmente, transformando um ato de fraqueza em uma experiência das mais macabras! Confira o trailer:

A direção de Roth é eficaz em muitos sentidos - na criação de uma tensão progressiva e ao usar de elementos visuais para transmitir algum desconforto, sucesso. O filme acaba ganhando uma dimensão menos superficial com a fotografia do Antonio Quercia e a trilha sonora assinada pelo Manuel Riveiro, ambos de "Aftershock" - eles contribuem demais nessa construção de uma a atmosfera quase claustrofóbica e intensa, aumentando a curiosa sensação de paranoia e agonia vivida pelo protagonista de uma forma impressionante.

Aliás, a atuação de Keanu Reeves é ótima - ele retrata com maestria essa luta interna entre a moral e a tentação, conforme ele é seduzido pelas jovens. Poderia ser melhor desenvolvido? Sim, mas em nada atrapalha nossa experiência. Lorenza Izzo e Ana de Armas também entregam performances convincentes, alternando entre uma aparência inocente e outra manipuladora, com a mesma competência. Tudo isso faz de "Bata antes de Entrar" em filme provocativo - um bom suspense psicológico sem derramar uma gota de sangue (ou, pelo menos, sem derramar muito sangue) e que sabe brincar com nossas mais diversas sensações e, por que não, fantasias! 

Uma coisa é certa, "Knock Knock" (no original) funciona muito melhor como um entretenimento, que mergulha nas nuances da tentação e das consequências morais do impulso, do que como um thriller psicológico profundo cheio de interpretações e teorias como o próprio trailer pode sugerir. Dito isso, aproveite e experiência e divirta-se!

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Angustiante - eu só te digo isso: angustiante!

Sim, o filme sabe como explorar temas como a tentação, a infidelidade e as consequências morais de algumas decisões, digamos, mais impulsivas. O diretor,  Eli Roth ("O Albergue"), de fato, sabe mesmo como criar uma atmosfera de suspense que nos tira da zona de conforto. Porém, também é preciso que se diga, que o filme não será uma unanimidade, já que o roteiro tem dificuldades para desenvolver plenamente suas ótimas ideias, principalmente quando escolhe o caminho mais fácil, excessivamente exagerado em certos momentos. É como se Roth quisesse ser um Tarantino! Funciona? Claro que sim, mas mais como entretenimento despretensioso do que como um filme inesquecível!

"Bata Antes de Entrar" conta a história de Evan Webber (Keanu Reeves) um arquiteto bem-sucedido que está sozinho em casa durante um fim de semana enquanto sua esposa e filhos estão viajando. Sua tranquilidade, porém, é interrompida quando duas jovens, Genesis (Lorenza Izzo) e Bel (Ana de Armas), batem em sua porta em busca de ajuda durante uma tempestade. Se inicialmente elas tentam seduzi-lo, no dia seguinte, elas passam a persegui-lo implacavelmente, transformando um ato de fraqueza em uma experiência das mais macabras! Confira o trailer:

A direção de Roth é eficaz em muitos sentidos - na criação de uma tensão progressiva e ao usar de elementos visuais para transmitir algum desconforto, sucesso. O filme acaba ganhando uma dimensão menos superficial com a fotografia do Antonio Quercia e a trilha sonora assinada pelo Manuel Riveiro, ambos de "Aftershock" - eles contribuem demais nessa construção de uma a atmosfera quase claustrofóbica e intensa, aumentando a curiosa sensação de paranoia e agonia vivida pelo protagonista de uma forma impressionante.

Aliás, a atuação de Keanu Reeves é ótima - ele retrata com maestria essa luta interna entre a moral e a tentação, conforme ele é seduzido pelas jovens. Poderia ser melhor desenvolvido? Sim, mas em nada atrapalha nossa experiência. Lorenza Izzo e Ana de Armas também entregam performances convincentes, alternando entre uma aparência inocente e outra manipuladora, com a mesma competência. Tudo isso faz de "Bata antes de Entrar" em filme provocativo - um bom suspense psicológico sem derramar uma gota de sangue (ou, pelo menos, sem derramar muito sangue) e que sabe brincar com nossas mais diversas sensações e, por que não, fantasias! 

Uma coisa é certa, "Knock Knock" (no original) funciona muito melhor como um entretenimento, que mergulha nas nuances da tentação e das consequências morais do impulso, do que como um thriller psicológico profundo cheio de interpretações e teorias como o próprio trailer pode sugerir. Dito isso, aproveite e experiência e divirta-se!

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Bebê Rena

Recomendado pela crítica e pela audiência, "Bebê Rena" é realmente uma jornada singular sobre temas nada tranquilos que vão mexer com você - e não se engane, a minissérie de 7 episódios da Netflix não tem absolutamente nada de comédia, ou pelo menos, não em sua essência dramática. Basicamente, esse projeto encabeçado pelo até então desconhecido Richard Gadd é uma mistura de "I May Destroy You"com "Amante, Stalker e Mortal" e certamente vai te levar por a uma jornada pelos cantos mais obscuros da mente humana, explorando temas delicados como trauma, abuso, obsessão e vingança, mas de uma forma extremamente angustiante! Sim, se você realmente está disposto a enfrentar uma experiência tão imersiva quanto perturbadora, você está no "play"certo!

"Bebê Rena" acompanha a história verídica do comediante, barman e escritor Donny Dunn (versão ficcional de Richard Gadd, vivido por ele mesmo), que se envolve com a desconhecida Martha (Jessica Gunning), uma mulher vulnerável que está passando por seus próprios (e sérios) problemas pessoais. Esse rápido e distorcido encontro acaba seguindo para uma estranha obsessão, que acaba impactando a vida dos dois, provocando Donny a enfrentar um trauma profundo e sombrio de seu passado. Confira o trailer (em inglês):

Mesmo que em um primeiro olhar a minissérie tenha um leve tom de comédia, daquelas irônicas e bem construídas que estamos acostumados encontrar entre as produções britânicas, posso te garantir que "Bebê Rena" é mesmo um profundo thriller psicológico com fortes influências dos melhores (e patológicos) dramas de relações. É justamente por essa quebra de expectativas que somos sugados pela história de Gadd - chega ser surpreendente, ao nos darmos conta, como ficamos imersos em uma profunda reflexão sobre a natureza humana e os efeitos devastadores de um trauma. E aqui não estamos relativizando os contextos, já que o roteiro nos convida a questionar os limites da obsessão, da vingança e do perdão a todo momento e de uma maneira muito inteligente.

Essa conexão com o protagonista nos remete aos tempos de "Breaking Bad" e de como nos sentíamos angustiados com Walter White, Jesse Pinkman e até com Jane Margolis. O que eu quero dizer é que temos a exata noção do que é certo e o que é errado nessa história, mas mesmo assim nos empatizamos com Gadd e entendemos perfeitamente suas motivações para agir e ser quem ele é - aliás a estratégia narrativa do roteiro, entregando uma peça por vez e nos provocando criar nossa própria "big picture" da história, é simplesmente genial. Richard Gadd, como ator, entrega uma performance magistral, capturando com perfeição a fragilidade e o medo do seu personagem - o fato dele ser inseguro vai se justificando de acordo com sua desconstrução e esse processo é tão cheio de camadas que Vince Gilligan deve estar orgulhoso. Já Jessica Gunning é brilhante ao transitar entre a obsessão, a imaturidade, a sensibilidade e o desequilíbrio da sua personagem de um jeito, olha, perturbador - as explosões de sua personagem chega a dar medo!

"Bebê Rena" se destaca pela originalidade com que apresenta uma atmosfera sombria e claustrofóbica mesmo que fantasiada de mais uma caso improvável de perseguição! Saiba que essa história não é exatamente sobre a relação doentia entre Donny e Martha, mas sim sobre o que essa estranha conexão desperta em Donny - essa não é uma peça tão fácil de encaixar, mas será essencial para que você entenda onde Gadd quis chegar. 

Prepare-se para uma jornada perturbadora, pesada (na forma e no conteúdo) e inesquecível, digna de muito prêmios!

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Recomendado pela crítica e pela audiência, "Bebê Rena" é realmente uma jornada singular sobre temas nada tranquilos que vão mexer com você - e não se engane, a minissérie de 7 episódios da Netflix não tem absolutamente nada de comédia, ou pelo menos, não em sua essência dramática. Basicamente, esse projeto encabeçado pelo até então desconhecido Richard Gadd é uma mistura de "I May Destroy You"com "Amante, Stalker e Mortal" e certamente vai te levar por a uma jornada pelos cantos mais obscuros da mente humana, explorando temas delicados como trauma, abuso, obsessão e vingança, mas de uma forma extremamente angustiante! Sim, se você realmente está disposto a enfrentar uma experiência tão imersiva quanto perturbadora, você está no "play"certo!

"Bebê Rena" acompanha a história verídica do comediante, barman e escritor Donny Dunn (versão ficcional de Richard Gadd, vivido por ele mesmo), que se envolve com a desconhecida Martha (Jessica Gunning), uma mulher vulnerável que está passando por seus próprios (e sérios) problemas pessoais. Esse rápido e distorcido encontro acaba seguindo para uma estranha obsessão, que acaba impactando a vida dos dois, provocando Donny a enfrentar um trauma profundo e sombrio de seu passado. Confira o trailer (em inglês):

Mesmo que em um primeiro olhar a minissérie tenha um leve tom de comédia, daquelas irônicas e bem construídas que estamos acostumados encontrar entre as produções britânicas, posso te garantir que "Bebê Rena" é mesmo um profundo thriller psicológico com fortes influências dos melhores (e patológicos) dramas de relações. É justamente por essa quebra de expectativas que somos sugados pela história de Gadd - chega ser surpreendente, ao nos darmos conta, como ficamos imersos em uma profunda reflexão sobre a natureza humana e os efeitos devastadores de um trauma. E aqui não estamos relativizando os contextos, já que o roteiro nos convida a questionar os limites da obsessão, da vingança e do perdão a todo momento e de uma maneira muito inteligente.

Essa conexão com o protagonista nos remete aos tempos de "Breaking Bad" e de como nos sentíamos angustiados com Walter White, Jesse Pinkman e até com Jane Margolis. O que eu quero dizer é que temos a exata noção do que é certo e o que é errado nessa história, mas mesmo assim nos empatizamos com Gadd e entendemos perfeitamente suas motivações para agir e ser quem ele é - aliás a estratégia narrativa do roteiro, entregando uma peça por vez e nos provocando criar nossa própria "big picture" da história, é simplesmente genial. Richard Gadd, como ator, entrega uma performance magistral, capturando com perfeição a fragilidade e o medo do seu personagem - o fato dele ser inseguro vai se justificando de acordo com sua desconstrução e esse processo é tão cheio de camadas que Vince Gilligan deve estar orgulhoso. Já Jessica Gunning é brilhante ao transitar entre a obsessão, a imaturidade, a sensibilidade e o desequilíbrio da sua personagem de um jeito, olha, perturbador - as explosões de sua personagem chega a dar medo!

"Bebê Rena" se destaca pela originalidade com que apresenta uma atmosfera sombria e claustrofóbica mesmo que fantasiada de mais uma caso improvável de perseguição! Saiba que essa história não é exatamente sobre a relação doentia entre Donny e Martha, mas sim sobre o que essa estranha conexão desperta em Donny - essa não é uma peça tão fácil de encaixar, mas será essencial para que você entenda onde Gadd quis chegar. 

Prepare-se para uma jornada perturbadora, pesada (na forma e no conteúdo) e inesquecível, digna de muito prêmios!

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Bela Vingança

Se "Bela Vingança" tem um grande mérito, eu diria que é o de ser um filme corajoso e que mesmo com uma certa previsibilidade (proposital), não tem receio algum de correr riscos, entregando um resultado estético e narrativo que merece ser elogiado de pé! O filme de estreia como diretora da atriz (já indicada ao Emmy duas vezes, por "The Crown" e por "Killing Eve") Emerald Fennell, transborda honestidade e responsabilidade ao tocar em uma ferida delicada e que vai gerar muito desconforto: a teoria do estupro discutida não só pelo lado de quem sofre, mas também pelo lado de quem se omite. Veja, existe sim um componente claramente didático no roteiro (que levou o Oscar de "original" em 2020), mas nem por isso o entretenimento é colocado de lado e mesmo com algumas cenas bem chocantes visualmente, fica fácil entender mesmo quando o lado mais intimo do ser humano é retratado - é aí que sentimos na pele.

Cassie (Carey Mulligan) é uma mulher com profundos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e que finge estar bêbada para quando homens mal-intencionados se aproximarem com a desculpa de que vão ajudá-la, entrar em ação e se vingar dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la. Acontece que nem todos os homens, aparentemente, estão na mesma prateleira, é aí que Cassie começa a refletir se sua postura é a mais correta e se suas escolhas de vida estão, de fato, a fazendo feliz. Confira o trailer:

"Bela Vingança" tem um cuidado que pode passar batido pelos mais desatentos, mas que vale pontuar para que você preste bem atenção e aproveite melhor a experiência: o filme pode até parecer meio sem identidade, com uma narrativa um pouco desconexa e sem manter um padrão visual alinhado com a proposta inicial, mas tudo isso tem sua razão de ser. Se no primeiro momento a estética lembra um slasher dos anos 80 (como "X - A Marca da Morte"), rapidamente ele pode soar como um drama adolescente (ao melhor estilo "Nudes" ou "13 Reasons Why") e por fim ainda emular uma certa atmosfera moderninha de comédia romântica (meio "Modern Love") - e tudo isso não acontece por acaso, é como se existisse uma representação gráfica da confusão mental pela qual a protagonista tem que conviver e que vai se misturando durante a trama. A relação com seus pais é um ótimo exemplo desse conceito. Aliás essa escolha de Fennell faz todo sentido quando olhamos em retrospectiva depois que descobrimos todas as nuances da história e por quais caminhos ela se desenvolve até o final - é genial essa sensibilidade do roteiro e da direção.

Mulligan está simplesmente sensacional como Cassandra - reparem como ela trabalha seu range de interpretação sem antecipar suas motivações, ou seja, você nunca sabe o que esperar da atriz em cena. Seu estilo fisico sugere certa meiguice; seu humor, alguma ironia; e suas ações alguma angustia. É impressionante, inclusive, como a escalação do elenco foi feliz em construir uma persona de "quem vê cara, não vê coração" também do lado masculino, trazendo ídolos de outras produções que marcaram época como “caras legais” - a ideia de quebra de expectativas é fundamental para entendermos a raiz do problema que o filme discute com sabedoria.

"Bela Vingança" pode até soar como um belo tapa na cara para a masculinidade tóxica, mas isso seria uma análise superficial e lacradora demais para nosso conceito editorial, já que, como obra cinematográfica, o filme vai muito além ao respeitar o que mais interessa em toda essa discussão: entender o sentimento de quem carrega essa marca seja pelo ato que não necessariamente tenha sofrido, mas que de alguma forma impactou em sua vida e que foi potencializado pelo "caminhão de omissões" típicas de uma sociedade hipócrita - a cena com a reitora da faculdade é impagável justamente por isso). Os últimos vinte minutos do filme, aliás, são essenciais para fechar o arco com sagacidade e ousadia, o que transforma a jornada de um gosto amargo em um fio de esperança!

Vale muito o seu play!

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Se "Bela Vingança" tem um grande mérito, eu diria que é o de ser um filme corajoso e que mesmo com uma certa previsibilidade (proposital), não tem receio algum de correr riscos, entregando um resultado estético e narrativo que merece ser elogiado de pé! O filme de estreia como diretora da atriz (já indicada ao Emmy duas vezes, por "The Crown" e por "Killing Eve") Emerald Fennell, transborda honestidade e responsabilidade ao tocar em uma ferida delicada e que vai gerar muito desconforto: a teoria do estupro discutida não só pelo lado de quem sofre, mas também pelo lado de quem se omite. Veja, existe sim um componente claramente didático no roteiro (que levou o Oscar de "original" em 2020), mas nem por isso o entretenimento é colocado de lado e mesmo com algumas cenas bem chocantes visualmente, fica fácil entender mesmo quando o lado mais intimo do ser humano é retratado - é aí que sentimos na pele.

Cassie (Carey Mulligan) é uma mulher com profundos traumas do passado que frequenta bares todas as noites e que finge estar bêbada para quando homens mal-intencionados se aproximarem com a desculpa de que vão ajudá-la, entrar em ação e se vingar dos predadores que tiveram o azar de conhecê-la. Acontece que nem todos os homens, aparentemente, estão na mesma prateleira, é aí que Cassie começa a refletir se sua postura é a mais correta e se suas escolhas de vida estão, de fato, a fazendo feliz. Confira o trailer:

"Bela Vingança" tem um cuidado que pode passar batido pelos mais desatentos, mas que vale pontuar para que você preste bem atenção e aproveite melhor a experiência: o filme pode até parecer meio sem identidade, com uma narrativa um pouco desconexa e sem manter um padrão visual alinhado com a proposta inicial, mas tudo isso tem sua razão de ser. Se no primeiro momento a estética lembra um slasher dos anos 80 (como "X - A Marca da Morte"), rapidamente ele pode soar como um drama adolescente (ao melhor estilo "Nudes" ou "13 Reasons Why") e por fim ainda emular uma certa atmosfera moderninha de comédia romântica (meio "Modern Love") - e tudo isso não acontece por acaso, é como se existisse uma representação gráfica da confusão mental pela qual a protagonista tem que conviver e que vai se misturando durante a trama. A relação com seus pais é um ótimo exemplo desse conceito. Aliás essa escolha de Fennell faz todo sentido quando olhamos em retrospectiva depois que descobrimos todas as nuances da história e por quais caminhos ela se desenvolve até o final - é genial essa sensibilidade do roteiro e da direção.

Mulligan está simplesmente sensacional como Cassandra - reparem como ela trabalha seu range de interpretação sem antecipar suas motivações, ou seja, você nunca sabe o que esperar da atriz em cena. Seu estilo fisico sugere certa meiguice; seu humor, alguma ironia; e suas ações alguma angustia. É impressionante, inclusive, como a escalação do elenco foi feliz em construir uma persona de "quem vê cara, não vê coração" também do lado masculino, trazendo ídolos de outras produções que marcaram época como “caras legais” - a ideia de quebra de expectativas é fundamental para entendermos a raiz do problema que o filme discute com sabedoria.

"Bela Vingança" pode até soar como um belo tapa na cara para a masculinidade tóxica, mas isso seria uma análise superficial e lacradora demais para nosso conceito editorial, já que, como obra cinematográfica, o filme vai muito além ao respeitar o que mais interessa em toda essa discussão: entender o sentimento de quem carrega essa marca seja pelo ato que não necessariamente tenha sofrido, mas que de alguma forma impactou em sua vida e que foi potencializado pelo "caminhão de omissões" típicas de uma sociedade hipócrita - a cena com a reitora da faculdade é impagável justamente por isso). Os últimos vinte minutos do filme, aliás, são essenciais para fechar o arco com sagacidade e ousadia, o que transforma a jornada de um gosto amargo em um fio de esperança!

Vale muito o seu play!

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Califado

Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico! 

"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):

O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!

O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!

O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia  do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado  "Em Pedaços".

"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!

Vale seu play sem o menor medo de errar!

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Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico! 

"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):

O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!

O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!

O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia  do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado  "Em Pedaços".

"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!

Vale seu play sem o menor medo de errar!

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