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Quarta, 08 Janeiro 2020 08:32

Tendências - As armas da Europa na Guerra do Streaming

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O resgate do regionalismo no território SVOD (serviço on-demand por assinatura) é a principal arma dos conglomerados europeus para contra-atacar na guerra dos streamings. Hoje, veremos algumas iniciativas que prometem se destacar em 2020. Confira:

Em 2020, o mercado audiovisual sentirá o primeiro impacto da grande batalha dos streamers. Empresas do calibre da Disney, HBO, Apple e Amazon estarão em plena expansão para novos territórios, principalmente Europa. Os investimentos estarão concentrados no acervo dos estúdios americanos e na produção de conteúdo original, majoritariamente norte-americano também. Sem falar na Netflix, que continua sua cruzada com larga vantagem em águas internacionais. Este cenário já estava sendo construído há algum tempo. Uma resposta estratégica também não tardou a aparecer: Emissoras Europeias uniram esforços para trazer o melhor de suas programações em um mesmo ambiente, fortalecendo o conceito “produção original feito por quem conhece seu público”.

O ambiente é gélido, misterioso e assustador. As paisagens repletas de neve e ventos cortantes complementam o estilo “Nordic Noir”, as histórias de suspense e investigação com o DNA da Escandinávia. Produções originais dos países nórdicos (Noruega, Finlândia, Suécia e Dinamarca) explodiram no contexto internacional nos últimos anos e fomentaram a biblioteca da Netflix por determinado tempo. O interesse pelo suspense nórdico agora alimenta o apetite da Nordic Entertainment (NENT) na região, que possui planos ambiciosos para sua plataforma agregadora Viaplay. Já disponível nos países citados acima, a empresa pretende expandir para a Islândia e dobrar a produção original local neste ano. “Honour”, uma série de sucesso sobre quatro advogadas que comandam uma empresa que defende somente mulheres, conquistou visibilidade em outros cantos da Europa, como Alemanha e Bélgica.

Coproduções internacionais também estão no norte da NENT, que já produziu “Face to Face” com a inglesa Fremantle Media e “Huss” com o sueco Kanal 5 e ZDF, a emissora pública alemã. “Face to Face” conta a história do detetive dinamarquês Bjørn Rasmussen, que busca a verdade sobre a morte de sua filha. Muitos acreditam que ela tenha cometido suicídio, porém o pai resiste a essa hipótese e o suspense aumenta cada vez mais que ele se aproxima do real motivo. Já “Huss” é um drama sobre Katarina Huss, uma mulher recém-formada na Academia de Polícia da Suécia que precisa lidar com os desafios do crime em Gotemburgo e com seus colegas de trabalho.

Da esquerda para a direita, “Huss” e “Face to Face”

Em janeiro de 2019, a NENT anunciou uma joint venture com um estúdio britânico para ampliar o desenvolvimento, produção e financiamento de obras ficcionais premium com apelo para audiências globais. A ideia é explorar o inglês como idioma universal para navegar com mais facilidade por outros mercados.

Por falar em língua inglesa, temos uma união inusitada na recente BritBox. A parceria entre as emissoras concorrentes BBC e ITV promete oferecer um mix de programas clássicos que os britânicos amam e originais exclusivos da plataforma. Lançada inicialmente nos Estados Unidos e Canadá, os consumidores ingleses passaram a aproveitar o conteúdo agora em novembro de 2019. Títulos como Downton Abbey, Victoria, Broadchurch e Love Island estão disponíveis e os planos para 2020 incluem o convite para o canal Channel 4 se juntar a esta empreitada. Ainda é incerto quanto será investido em conteúdos originais ou coproduções internacionais. Por enquanto, o foco é o estabelecimento da marca na Inglaterra com sua imensa biblioteca de programas e séries locais.

Fruto do acordo entre a americana Discovery e a companhia alemã ProSiebenSat1, o serviço Joyn foi lançado em junho de 2019 e entrega uma ampla oferta de canais lineares e on-demand. Além dos conteúdos ofertados pela Discovery e ProSiebenSat1, a plataforma inclui canais públicos como ARD e ZDF e parceiros como Viacom, WELT e Sport1.

A estratégia para 2020 passa por contratar 20 produções originais, com foco em narrativas mais ousadas que as utilizadas na TV linear. O primeiro drama é uma coprodução Alemanha/Chile chamada “Dignity”. Inspirada em uma história real, a série apresenta a seita alemã Colonia Dignidad, criada pelo antigo soldado nazista Paul Schaefer no Chile. O culto promoveu quatro décadas de tortura, abuso infantil e assassinatos e foi protegido pela ditadura do General Augusto Pinochet. Confira o trailer:

Na França, os concorrentes internos também uniram forças para montar um hub de conteúdos locais. As empresas France Télévisions, TF1 e M6 prometem compilar seus acervos e atrações atuais em novo agregador chamado Salto. Prevista para ser lançada no primeiro trimestre de 2020, mesmo período que o Disney+ adentra ao território francês, a plataforma terá suas atenções voltadas ao melhor do conteúdo francês e europeu (coproduções). Há rumores de que as emissoras envolvidas na criação do Salto estabeleceram acordos com produtores para recuperar projetos que hoje estão nas mãos da Netflix e Amazon. Essa negociação pode colocar os streamings americanos em uma situação delicada. A Comissão da União Europeia fixou uma cota de 30% dedicada ao conteúdo local sobre o catálogo dos serviços de streamings. A regra passa a valer como lei a partir de setembro de 2020, porém os países da UE podem pressionar por esse percentual antes do prazo final.

Atingir esse volume sem poder contar com o acervo das emissoras locais será um dos maiores desafios dos gigantes do on-demand no Velho Continente neste ano. O jogo fica cada vez mais disputado e os concorrentes regionais estão aparecendo no cenário para defender seus territórios e conquistar mais espaço no ambiente internacional. A Europa é um mercado dinâmico, complexo e nacionalista em vários aspectos. Saber falar a língua dos nativos (não só no sentido literal) garantirá a confiança e a preferência dos consumidores.    

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