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Sexta, 26 Julho 2019 10:05

Control (Ian Curtis) – Uma biografia que todo apaixonado por Música e Cinema deveria assistir

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Atualmente no Cinema temos três estilos de filmes que estão em alta: heróis, animações clássicas da Disney em "live-action" e as “biografias” musicais, como os recentes "Bohemian Rhapsody" (filme do Queen), "Rocket Man" (filme do Elton John) e o "The Dirt" (filme do Mötley Crüe). Referente a este último estilo, aproveito o recente crescimento de interesse do público e da mídia para destacar o filme "Control" de 2007, que retrata a história de Ian Curtis, vocalista do Joy Division, banda de pós-punk que se tornou uma das maiores influências na música. Confira:

Antes de falar do filme, é importante contextualizar brevemente sobre o Joy Division, banda britânica do final dos anos 70, e, que neste ano, fez 40 anos desde o lançamento do seu primeiro álbum de estúdio, o emblemático "Unknown Pleasures". Praticamente, se não houvesse Joy Division, a sonoridade de muitas bandas dos anos 90 e da maioria das bandas atuais chamadas “indie”, com certeza, seria outra. Apenas como exemplo básico, bandas como Radiohead, The Smiths, The Strokes, The Killers, Franz Ferdinand e, no Brasil, Legião Urbana, levam na suas composições instrumentais (principalmente no timbre, efeitos e técnicas utilizadas nas suas guitarras e teclados) influência direta dos trabalhos do Joy Division. E se você ainda não sabe ao certo quem é o Joy Division, é só procurar pelos clássicos "Love Will Tear Us Apart" e "Transmission" que, certamente, você já ouviu uma delas, ou "Atmosphere", que tocou na primeira temporada de "Stranger Things". Se ainda assim, o Joy Division parecer estranho, saiba que o New Order, principal banda de New Wave dos anos 80, é formadas pelos membros do Joy Division, que, após a morte de Ian Curtis, decidiram criar uma nova banda com uma sonoridade mais eletrônica, como os clássicos "Bizarre Love Triangle" e "Blue Monday".

Feito um breve resumo sobre o Joy Division, vamos falar de "Control", filme de 2007, que é o meu filme biográfico musical favorito.

O nome do filme é uma referência da música “She's Lost Control”, faixa do álbum “Unknown Pleasures” de 1979, e diferente dos filmes de “biografias musicais” atuais que são constituídos em sua maioria por ficção e não seguem, de fato, a realidade, em “Control”, temos um roteiro mais próximo daquilo que seria a vida de Ian Curtis na época do Joy Division. Vale ressaltar que o filme foi baseado no livro "Touching from a Distance", escrito pela esposa dele, Deborah Curtis, que também participou na sua produção.

Toda a narrativa do filme é ótima, trata os âmbitos pessoais e musicais de Ian Curtis de forma natural, sem forçar qualquer cena com o objetivo de causar apreensão ou gerar grande expectativa no público, e isso é muito legal, pois, diferente de "Bohemian Rhapsody", que é um filme com aquela pegada mais hollywoodiana, e com uma estética artificial, onde o seu desenvolvimento é centrado para deixar o público extasiado com os acontecimentos exagerados em torno de Freddie Mercury e do Queen, em “Control”, temos o oposto disso, com um roteiro que se preocupou, sobretudo, em mostrar o lado mais pessoal de Ian Curtis, destacando seus relacionamentos, problemas emocionais, conflitos mentais e dificuldades com a sua doença (epilepsia), o que acarretou posteriormente no seu suicídio.

O filme retratou muito bem os aspectos do Joy Division, rodado em preto e branco e com ângulos de câmeras mais planos, causando uma sensação fria, crua e direta, focando principalmente nos diálogos e reações dos personagens. E nisso, o diretor Anton Corbijn acertou em cheio, pois conseguiu entregar aos admiradores do Joy Division, uma obra à altura de toda a arte e originalidade da banda, com imagens que remetem muito bem o clima das suas músicas e letras.

Vale ressaltar a incrível atuação de Sam Riley ao interpretar Ian Curtis - digna de Oscar! Uma atuação que os próprios membros do Joy Division, na época, Peter Hook e Bernard Summer, disseram ser uma reencarnação da personalidade e aparência do próprio Ian. E de fato, a atuação de Riley nos faz vivenciar toda a angustia e intensidade que era a vida de Ian Curtis. O ator atingiu com perfeição a sua presença de palco única, com seu olhar fixo e profundo, seus movimentos aleatórios e sua loucura ao cantar. Também, nos diálogos e interações, conhecemos todo o lado introspectivo e depressivo de Ian, seja na forma de se relacionar com os membros da banda ou com sua própria família.

A atuação de Riley é o ponto alto do filme, nos fazendo sentir muito bem todos os pesos que Ian Curtis carregava, como por exemplo, numa das melhores cenas do filme, no concerto de Derby Hall em que o cantor congela e não consegue subir ao palco, fazendo com que um músico substituto tente preencher a lacuna deixada pelo vocalista, o que fez o público do show ficar irado - naquele momento, nos bastidores do show, Tony, agente da banda, tenta convencê-lo a subir ao palco, mas Ian diz que ninguém gosta dele e que ele mesmo é o culpado disso! Depois de muita reflexão, Ian sobe ao palco quase em transe, canta um pouco, mas não resiste e sai. Dá uma olhada:

A trilha sonora também é um espetáculo à parte: traz The Velvet Underground, Buzzcocks, Iggy Pop, David Bowie e Kraftwerk que, junto com Siouxsie and the Banshees e Sex Pistols, são as principais influências do Joy Division. Outros pontos interessantes são:  a versão especial da música “Shadowplay” que o The Killers fez para o filme, e, também, que em toda trilha sonora teve participação direta do New Order nas escolhas das músicas, e que também cedeu algumas músicas de autoria própria.

É incrível notar toda a sensibilidade artística que todos tiveram para criar “Control”, conseguindo emitir toda uma atmosfera musical, mas sem perder o foco principal que era o Ian Curtis. Não é à toa que o filme atingiu notas incríveis nos principais canais de crítica de cinema, como no Rotten Tomatoes com 87% de aprovação, 90 no The New York Times, 88 na Rolling Stone e 78 no Metacritic baseado em 27 críticas.

“Control” é um filme para quem quer mergulhar nas várias questões que envolvem o processo criativo de uma música, onde por trás das notas, melodias e letras, há sempre um oceano infinito de coisas acontecendo, mas que, para o público, chega apenas a ponta do iceberg: a música prontinha e redondinha para ser ouvida. Um filme de essência musical que traz, de forma pura e original, a mente criativa e perturbada de Ian Curtis do Joy Division.

Se você quiser saber um pouco mais sobre o Joy Division e os 40 anos do lançamento do clássico álbum "Unknown Pleasures", confira um podcast especial que eu participo por mais de 1h:30m, no "Música Sem Título": https://musicasemtitulo.com.br/podcasts/play/joy-division-40-anos-de-unknown-pleasures

Agora, aproveite para entrar no clima e ouça alguns clássicos do Joy Division que separei para a playlist do mês do "Viu no Blog":

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