Filmes de ficção científica voltados para temas futuristas devem fixar por completo a atenção de quem estiver assistindo para que a pessoa não perca qualquer detalhe importante no meio do caminho. Filmes desse gênero são, na maioria das vezes, complexos e com roteiros "desconexos", abordando temáticas pouco familiares com o objetivo de causar impacto, reflexão e abstração.
Para que essa categoria de filme consiga triunfar dentro do propósito que destaquei acima, a sua trilha sonora deve estar totalmente alinhada com a sua idéia. Por isso, acredito que trilhas de ficção futurista são talvez (e só talvez) as mais difíceis de serem criadas, visto que a sua sonoridade deve permear o "novo", o "desconhecido", "aquilo que é incomum"; ou seja, emitir um sentido inovador dentro do seu próprio som. Para causar essa sensação, a utilização de sintetizadores/moduladores é feita de forma contundente, os quais são responsáveis pelas camadas mais profundas e também as mais rasas das músicas. E quando o assunto é esse "instrumento" específico, para quem já conhece Geoff Barrow dos tempos de Portishead, sabe que o cara é um gênio! Sua recente parceria com Ben Salisbury, desde 2015, tem gerado ótimos frutos, como as trilhas dos filmes "Ex-Machine", "Annihilation" e, também, o episódio "Men Against Fire" da série "Black Mirror".
Geoff Barrow e Ben Salisbury
Para a matéria não ficar muito extensa, vou focar na trilha de "Annihilation", último trabalho da dupla. Nesse filme, conseguimos perceber como o trabalho de produção de Barrow continua majestoso! Ele consegue evidenciar de uma forma incrível os elementos graves das músicas, o que, para mim, sempre são os maiores obstáculos numa produção, já que o grave não pode "estourar", mas também não pode soar baixo e sem intensidade. Em "Annihilation" sentimos todo o impacto possível de um grave pesado e bem regulado, como nas faixas "For Those That Follow", "The Alien", "Annihilation", trazendo efeitos sonoros espirais e alucinógenos que amplificam a distopia do filme. Outro ponto interessante que Barrow e Salisbury utilizam muito nas suas trilhas são as variações e contrastes entre elementos sintetizados e elementos orgânicos, como nas "Disoriented", "The Watchtower" e "Cells Divide, que carregam bases densas de efeitos com sustain (talvez violinos dissonantes?), componentes eletrônicos e arpejos de violão.
Além dessas várias nuances técnicas e de estilo dos músicos, ao assistir o filme ou ouvir a trilha completa, sentimos que todas as faixas correm de forma fluída, criando uma sonoridade atmosférica densa e viajante por meios das suas texturas sonoras ambientes, algo que - como eu disse lá no começo - é fundamental para obras que buscam prender quem assiste e colocá-lo numa sintonia e linha de pensamento desconexa do comum. Reparem:
Uma coisa é certa, se o filme é de ficção futurista e conta com a participação de Geoff Barrow e Ben Salisbury na composição da sua trilha sonora, fatalmente teremos uma obra audiovisual que nos colocará num estado reflexivo e numa experiência, digamos, metafísica.
Confira a nossa playlist deste mês e mergulhe nas profundezas sonoras de Barrow e Salisbury:
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