Antes de mais nada é preciso dizer: a série, embora traga muito do humor negro do seu criador Garth Ennis, não é uma adaptação fiel dos quadrinhos, mas nem por isso deve ser renegada ou subestimada. "The Boys" é, sem dúvida, uma das séries mais originais lançadas esse ano - um prato cheio para a Prime Vídeo mostrar o seu cartão de visita e definitivamente entrar na briga pela aquisição de assinantes em um mercado que está se transformando em uma verdadeira batalha.
"The Boys" narra alguns eventos ocorridos entre 2006 e 2008, em uma Nova York ficcional, onde super-heróis existem, mas que, em sua grande maioria, tiveram seus valores morais corrompidos pela fama, sucesso e exposição. Ao se comportar de forma irresponsável, muitos desse heróis mascaram sua verdadeira personalidade se escondendo atrás do controle (e do marketing) de uma grande Corporação - o que representa uma crítica direta ao mundo das celebridades de hoje, diga-se de passagem. Continuando: após ver sua noiva ser morta por um desses heróis, Hughie Campbell percebe que existe uma verdadeira indústria de influência para encobrir as falhas de caráter desses poderosos agentes de mídia. É preciso dar um fim nessa situação, então Hughie se une ao misterioso Billy Butcher e inicia sua bizarra jornada para desmascarar essa enorme mentira.
Uma das coisas mais interessantes que percebi nos quatro episódios que eu já assisti, são alguns elementos narrativos muito parecidos com aqueles que encontrávamos em Breaking Bad. Está certo que são elementos pontuais, mas que foram essenciais para Breaking Bad se tornar um grande sucesso, pela inovação e inventividade. O primeiro deles é forma com a jornada de transformação de um personagem pacato em um potencial assassino foi apresentada - pode até parecer prematuro, mas a persona do Hughie Campbell fortalece, e muito, essa tese. Outro elemento foi a quebra das barreiras que separam os heróis dos bandidos, o certo do errado e até os motivos que justificam (para quem assiste) algumas ações extremas - é preciso lembrar que em Breaking Bad torcíamos para os bandidos, nos identificávamos com suas motivações e parecia tudo "normal". E por fim, e não menos importante, é o tom que "The Boys" trás para seus episódios, é aquele mood quase escrachado, mas que serve para mascarar todos os dramas mais íntimos e pesados dos personagens, toda a ação (e reação) entre eles e, principalmente, que diminui a importância daqueles momentos mais sanguinários e impactantes da trama, quase como uma pintura que choca, mas que já será esquecida ou digerida ao se trocar o foco. Olha, que fique claro que não é uma comparação (é até muito cedo para isso), mas todos esses elementos tiram "The Boys" do lugar comum, basta reparar!
Resumindo: com esse roteiro inteligente (cheio de detalhes e referências), uma direção muito competente, uma fotografia bem interessante e um tratamento de cor de muita personalidade - que criou uma marca, um look único e lindo para a série - "The Boys" mostra, para quem assiste, que nada está na tela por acaso e que se mantiver esse mesmo nível em algumas temporadas, pode realmente fazer muito barulho!
Vale muito a pena!!!!