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A História Não Contada

Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey  que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.

Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:

Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.

Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe! 

"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.

Vale seu play!

Assista Agora

Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey  que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.

Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:

Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.

Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe! 

"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.

Vale seu play!

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Close

Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.

Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.

Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante. 

Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!

Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!

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Um filme lindo, mas que machuca profundamente! "Close" é uma raridade que vai além da nossa compreensão como audiência que está sempre em busca do "algo mais"! Sim, essa produção belga que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Internacional" em 2023 chega cheia de simbolismo, de honestidade, de sensibilidade - esse é um filme que sinceramente está longe de ser um entretenimento usual, eu diria até que, mais do que assistir, "Close" merece ser sentido! Dirigido pelo jovem e talentoso Lukas Dhont (de "Girl - O Florescer de Uma Garota"), "Close" nos presenteia com uma história de amizade verdadeira pela perspectiva de um olhar mais íntimo, apoiado na delicadeza das nuances não-ditas em uma atmosfera de emoções que transita perfeitamente entre a felicidade e a dor de uma maneira que dificilmente encontramos retratadas com tanta veracidade e respeito, nas telas.

Basicamente, o filme gira em trono de Léo (Eden Dambrine) e Rémi (Gustav De Waele), dois garotos de 13 anos que, unidos por um laço até então inquebrável, veem sua relação abalada após um evento inexplicavelmente trágico, deixando marcas que nunca mais poderão ser esquecidas. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Ao assistir "Close" você vai entender perfeitamente o verdadeiro poder do silêncio como forma de comunicação. O exercício cinematográfico que Dhont impõe para o seu elenco é de se aplaudir de pé - pela proposta e pelo seu impressionante resultado. A performance do elenco está tão alinhada ao conceito narrativo sugerido pelo diretor, que temos a exata impressão de estarmos mergulhando em um complexo universo de sentimentos e sensações, onde a dor da perda se entrelaça com a beleza da saudade e a angústia da busca por respostas. Mais do que um filme sobre amizade adolescente, "Close" é um estudo honesto sobre masculinidade (e o preconceito) em suas mais diversas camadas, explorando temas como a repressão emocional, o bullying, a homofobia e a dificuldade de lidar com o luto.

Visualmente poético, a fotografia do veterano Frank van den Eeden (de 'Animals") captura a beleza pulsante da juventude com a mesma classe com que usa certos tons melancólicos e etéreos para retratar os eventos marcantes do roteiro. Veja, Eeden sabe o valor do simbolismo como estilo visual e não por acaso ele evoca, com o equilíbrio entre as lentes mais abertas e os super close-ups, o desfocado das paisagens em segundo plano com os personagens lindamente enquadrados em primeiro, os movimentos de câmera lineares de um lado e os nervosos do outro, "As flores do mal" de Charles Baudelaire - é como se aquele teor metafísico trouxesse a musicalidade para a alienação social ou o rigor formal criasse um caráter mais sinestésico para o filme. Reparem como seus planos são como uma pintura que utiliza cores vivas para se apropriar de uma temática mais onírica. enquanto a trilha sonora composta por Valentin Hadjadj emoldura perfeitamente cada cena com uma melodia, de fato, tocante. 

Por tudo isso classifico "Close" como uma jornada sensorial e emocional que nos provoca refletir sobre os laços que nos unem, a fragilidade da vida e a importância de lidar com a dor de forma honesta e autêntica. Se as atuações de Dambrine e De Waele são arrebatadoras, transbordando química e emoção a cada cena, o que dizer do trabalho irretocável de Émilie Dequenne como a mãe Rémi? Nada em "Close" merece ser deixado de lado, seja na proposta de explorar as dores da adolescência de uma maneira bastante realista ou até como o filme traz para os holofotes os desafios e cuidados para com os jovens que reprimem suas emoções e acabam não suportando essa pressão!

Se prepare uma obra em que gestos, cores e silêncios falam mais alto do que as próprias palavras. Vale muito o seu play!

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Ferrari

"Ferrari" caminha na linha tênue entre o "ame ou odeie" pelo simples pretensiosismo de querer ir além do que desvendar um personagem complexo em apenas 120 minutos. Se você está esperando um filme sobre os desafios de uma prova de automobilismo como "Ford x Ferrari", provavelmente você vai se decepcionar. Se por outro lado você acha que está diante de um drama de relações potente como "História de um Casamento" você também pode se frustar, no entanto, é preciso que se diga, que o filme do diretor Michael Mann tem um pouco das duas coisas, em camadas menos profundas, é verdade, mas que traz uma certa dinâmica para a narrativa - o único "porém" é a sensação de que nada foi explorado como poderia. Mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas saiba que com um roteiro pautado na biografia de Enzo Ferrari, o que você vai encontrar é muito mais uma análise íntima de como o grande "commendatore" lidava com seus problemas do que uma jornada de ambição, de perda e de busca por redenção em um momento crucial de sua vida - ao fim do terceiro ato, você vai entender onde quero chegar.

O filme se desenrola em 1957, quando a Scuderia Ferrari enfrenta uma grave crise financeira. Atormentado pela morte de seu filho Dino e pelo declínio da empresa que construiu com sua esposa Laura (Penélope Cruz), Enzo (Adam Driver) decide apostar tudo na emblemática e catastrófica corrida Mille Miglia. A decisão arriscada coloca em xeque não apenas o futuro da Ferrari, mas também o seu próprio casamento. Confira o trailer:

É inegável que através da direção precisa de Mann, somos transportados para um universo onde um homem é atormentado por seus demônios internos. Essa premissa funciona porque a parte do "homem atormentado" se sobressai perante a do "universo". Com roteiro Troy Kennedy Martin, baseado no livro de Brock Yates, "Ferrari" não se limita a retratar os feitos de Enzo como empreendedor ou como visionário, mas também procura explorar as profundezas de sua alma, revelando suas falhas, seus conflitos internos e suas motivações mais pessoais - a grande questão, no entanto, é que se dividíssemos em dois caminhos, provavelmente teríamos mais nuances dessa jornada tão incrível. Veja, através da figura de Enzo, somos convidados a refletir sobre a ambição, o luto, a redenção e o preço do sucesso, o que acho que faltou é só um pouco mais de tempo para que tudo fizesse sentido como obra única.

Driver entrega uma performance realmente impecável, capturando toda força do seu personagem a partir de sua obsessão e vulnerabilidade - só senti um pouco de falta de entender suas reais motivações. Já Cruz, obviamente, brilha como Laura, a esposa que tenta sobreviver após a perda do filho e que tem que lidar com o marido famoso e infiel, e ao mesmo tempo servir como pilar de apoio em meio às dificuldades. Mann se aproveita de tanto talento para construir um filme com alma e tecnicamente exemplar - de um lado focando nos atores e do outro criando sequências de ação de tirar o fôlego. Aliás, a cena do acidente em Guidizzol é realmente impactante. É aqui que entra uma fotografia impecável do Erik Messerschmidt (de "O Assassino") - ele captura a beleza estonteante da Itália dos anos 50 e a adrenalina das corridas de automobilismo com a mesma beleza com que enquadra Driver e Cruz discutindo uma relação cheia de mágoas e dor.

Se as cenas de corrida são perfeitas, transmitindo a emoção e o perigo das competições naquela época, "Ferrari" parece pecar por não escolher apenas um lado da moeda. Ao olhar em retrospectiva, o acidente de Mille Miglia não se conecta com os dramas matrimoniais que Enzo enfrenta minutos antes - é como se precisássemos de dois filmes para cobrir tantos eventos importantes, mas distintos em sua origem. Com isso "Ferrari" acaba sendo um bom exemplo de como atuações excepcionais, uma direção impecável e uma história que merecia ser contada, não necessariamente se transforma em um filme inesquecível. O fato é que se você se conecta com um universo do esporte, você pode se incomodar com o drama de relação de Enzo e aqui o inverso é totalmente verdadeiro; mas se você estiver disposto em embarcar na proposta de Mann, aposto que seu entretenimento está mais que garantido!

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"Ferrari" caminha na linha tênue entre o "ame ou odeie" pelo simples pretensiosismo de querer ir além do que desvendar um personagem complexo em apenas 120 minutos. Se você está esperando um filme sobre os desafios de uma prova de automobilismo como "Ford x Ferrari", provavelmente você vai se decepcionar. Se por outro lado você acha que está diante de um drama de relações potente como "História de um Casamento" você também pode se frustar, no entanto, é preciso que se diga, que o filme do diretor Michael Mann tem um pouco das duas coisas, em camadas menos profundas, é verdade, mas que traz uma certa dinâmica para a narrativa - o único "porém" é a sensação de que nada foi explorado como poderia. Mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas saiba que com um roteiro pautado na biografia de Enzo Ferrari, o que você vai encontrar é muito mais uma análise íntima de como o grande "commendatore" lidava com seus problemas do que uma jornada de ambição, de perda e de busca por redenção em um momento crucial de sua vida - ao fim do terceiro ato, você vai entender onde quero chegar.

O filme se desenrola em 1957, quando a Scuderia Ferrari enfrenta uma grave crise financeira. Atormentado pela morte de seu filho Dino e pelo declínio da empresa que construiu com sua esposa Laura (Penélope Cruz), Enzo (Adam Driver) decide apostar tudo na emblemática e catastrófica corrida Mille Miglia. A decisão arriscada coloca em xeque não apenas o futuro da Ferrari, mas também o seu próprio casamento. Confira o trailer:

É inegável que através da direção precisa de Mann, somos transportados para um universo onde um homem é atormentado por seus demônios internos. Essa premissa funciona porque a parte do "homem atormentado" se sobressai perante a do "universo". Com roteiro Troy Kennedy Martin, baseado no livro de Brock Yates, "Ferrari" não se limita a retratar os feitos de Enzo como empreendedor ou como visionário, mas também procura explorar as profundezas de sua alma, revelando suas falhas, seus conflitos internos e suas motivações mais pessoais - a grande questão, no entanto, é que se dividíssemos em dois caminhos, provavelmente teríamos mais nuances dessa jornada tão incrível. Veja, através da figura de Enzo, somos convidados a refletir sobre a ambição, o luto, a redenção e o preço do sucesso, o que acho que faltou é só um pouco mais de tempo para que tudo fizesse sentido como obra única.

Driver entrega uma performance realmente impecável, capturando toda força do seu personagem a partir de sua obsessão e vulnerabilidade - só senti um pouco de falta de entender suas reais motivações. Já Cruz, obviamente, brilha como Laura, a esposa que tenta sobreviver após a perda do filho e que tem que lidar com o marido famoso e infiel, e ao mesmo tempo servir como pilar de apoio em meio às dificuldades. Mann se aproveita de tanto talento para construir um filme com alma e tecnicamente exemplar - de um lado focando nos atores e do outro criando sequências de ação de tirar o fôlego. Aliás, a cena do acidente em Guidizzol é realmente impactante. É aqui que entra uma fotografia impecável do Erik Messerschmidt (de "O Assassino") - ele captura a beleza estonteante da Itália dos anos 50 e a adrenalina das corridas de automobilismo com a mesma beleza com que enquadra Driver e Cruz discutindo uma relação cheia de mágoas e dor.

Se as cenas de corrida são perfeitas, transmitindo a emoção e o perigo das competições naquela época, "Ferrari" parece pecar por não escolher apenas um lado da moeda. Ao olhar em retrospectiva, o acidente de Mille Miglia não se conecta com os dramas matrimoniais que Enzo enfrenta minutos antes - é como se precisássemos de dois filmes para cobrir tantos eventos importantes, mas distintos em sua origem. Com isso "Ferrari" acaba sendo um bom exemplo de como atuações excepcionais, uma direção impecável e uma história que merecia ser contada, não necessariamente se transforma em um filme inesquecível. O fato é que se você se conecta com um universo do esporte, você pode se incomodar com o drama de relação de Enzo e aqui o inverso é totalmente verdadeiro; mas se você estiver disposto em embarcar na proposta de Mann, aposto que seu entretenimento está mais que garantido!

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Godzilla Minus One

"Godzilla Minus One" é um "filme de monstro" raiz - na sua forma e na sua essência! Justamente por essa característica tão marcante, fugindo desse estereótipo blockbuster mais genérico onde efeitos especiais cansativos se sobrepõem perante uma narrativa menos estruturada, é que essa produção japonesa, vencedora do Oscar de "Melhor Efeitos Visuais" em 2014, surge como uma relevante surpresa no universo kaiju (subgênero da ficção científica, criado pelos diretores Eiji Tsuburaya e Ishiro Honda, mentes por trás do "Godzilla" original de 1954). Dirigida pelo mestre japonês Takashi Yamazaki ("Papeis em Branco"), essa nova versão nos leva ao Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, um país devastado e em reconstrução, assombrado por uma criatura colossal que emerge do mar para semear o terror. E aqui cabe um comentário importante: mais do que um monstro gigante, esse Godzilla se torna um símbolo das feridas ainda abertas da guerra, um lembrete cruel da fragilidade da paz e do custo humano que deixaram marcas em várias gerações daquele país.

Basicamente, a trama de "Minus One"acompanha a jornada de um jovem piloto kamikaze, Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), que se junta à uma força-tarefa encarregada de impedir que um misterioso monstro, Godzilla, chegue em Tóquio. Ao lado de outros sobreviventes da guerra, Koichi terá que enfrentar não apenas a fúria dessa criatura, mas também seus próprios traumas e demônios interiores. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Pensado para celebrar o aniversário de 70 anos de Gojira (nome original do monstrão), "Godzilla Minus One" se destaca por sua simplicidade narrativa e por um visual belíssimo - e não falo apenas dos incríveis efeitos especiais, mas de uma fotografia cheia de identidade e criatividade que soa até improvável dado o surpreendente baixo orçamento da produção. Densa e com camadas emocionais bastante sensíveis, essa versão de Godzilla vai além da simples proposta de mostrar o tamanho da destruição proporcionada pelo monstro ao se apropriar de personagens que se colocam no centro de uma reflexão mais ampla sobre a tradição e os costumes de toda uma sociedade ainda em reconstrução pós-guerra. Ao explorar temas como a culpa, a importância da sobrevivência como nação, a esperança como fator humano e a busca por uma redenção em um mundo em ruínas, Yamazaki constrói com maestria uma atmosfera opressiva e angustiante que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante os 120 minutos de filme.

Se as cenas de ação são de tirar o fôlego, com efeitos visuais realmente impressionantes, eu diria que é conexão com uma realidade palpável que faz de "Godzilla Minus One" mais impactante - embora a estética seja diferente de"Cloverfield",  as sensações que o caos nos provoca são parecidas. Yamazaki sabe fazer do seu monstro um catalisador para o desenvolvimento dos personagens principais sem cair no estereótipo do herói hollywoodiano - embora Koichi tenha um pouquinho de "William Wallace", é inegável. A trilha sonora de Naoki Satô (seis vezes indicado ao Oscar do Japão, o "Awards of the Japanese Academy") é sensacional - ela funciona tão bem com o desenho de som criado pelo Moin G. Khan que somos incapazes de afirmar o que é real e o que é diegético. Tem uma cena no terceiro ato onde a total ausência de som dá o tom do drama - reparem na dramaticidade que essa escolha conceitual provoca!

O fato é "Minus One" é uma experiência completa, que nos faz sentir o horror do incontrolável, que nos faz pensar sobre o valor da vida e que até nos emociona por tudo que envolve aquela jornada. Falta alguma coragem para o roteiro assumir alguns riscos e deixar a entrega menos previsível? Sim, mas com tudo dentro do aceitável, é impossível negar que essa versão de "Godzilla" dá um baile em tudo que já foi feito, com muito mais dinheiro, no recente "Monsterverso". Aliás, essa é a prova que muitas vezes o retorno ao essencial bem feito vale muito mais do que o novo feito na superficialidade!

Vale muito o seu play!

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"Godzilla Minus One" é um "filme de monstro" raiz - na sua forma e na sua essência! Justamente por essa característica tão marcante, fugindo desse estereótipo blockbuster mais genérico onde efeitos especiais cansativos se sobrepõem perante uma narrativa menos estruturada, é que essa produção japonesa, vencedora do Oscar de "Melhor Efeitos Visuais" em 2014, surge como uma relevante surpresa no universo kaiju (subgênero da ficção científica, criado pelos diretores Eiji Tsuburaya e Ishiro Honda, mentes por trás do "Godzilla" original de 1954). Dirigida pelo mestre japonês Takashi Yamazaki ("Papeis em Branco"), essa nova versão nos leva ao Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, um país devastado e em reconstrução, assombrado por uma criatura colossal que emerge do mar para semear o terror. E aqui cabe um comentário importante: mais do que um monstro gigante, esse Godzilla se torna um símbolo das feridas ainda abertas da guerra, um lembrete cruel da fragilidade da paz e do custo humano que deixaram marcas em várias gerações daquele país.

Basicamente, a trama de "Minus One"acompanha a jornada de um jovem piloto kamikaze, Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), que se junta à uma força-tarefa encarregada de impedir que um misterioso monstro, Godzilla, chegue em Tóquio. Ao lado de outros sobreviventes da guerra, Koichi terá que enfrentar não apenas a fúria dessa criatura, mas também seus próprios traumas e demônios interiores. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Pensado para celebrar o aniversário de 70 anos de Gojira (nome original do monstrão), "Godzilla Minus One" se destaca por sua simplicidade narrativa e por um visual belíssimo - e não falo apenas dos incríveis efeitos especiais, mas de uma fotografia cheia de identidade e criatividade que soa até improvável dado o surpreendente baixo orçamento da produção. Densa e com camadas emocionais bastante sensíveis, essa versão de Godzilla vai além da simples proposta de mostrar o tamanho da destruição proporcionada pelo monstro ao se apropriar de personagens que se colocam no centro de uma reflexão mais ampla sobre a tradição e os costumes de toda uma sociedade ainda em reconstrução pós-guerra. Ao explorar temas como a culpa, a importância da sobrevivência como nação, a esperança como fator humano e a busca por uma redenção em um mundo em ruínas, Yamazaki constrói com maestria uma atmosfera opressiva e angustiante que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante os 120 minutos de filme.

Se as cenas de ação são de tirar o fôlego, com efeitos visuais realmente impressionantes, eu diria que é conexão com uma realidade palpável que faz de "Godzilla Minus One" mais impactante - embora a estética seja diferente de"Cloverfield",  as sensações que o caos nos provoca são parecidas. Yamazaki sabe fazer do seu monstro um catalisador para o desenvolvimento dos personagens principais sem cair no estereótipo do herói hollywoodiano - embora Koichi tenha um pouquinho de "William Wallace", é inegável. A trilha sonora de Naoki Satô (seis vezes indicado ao Oscar do Japão, o "Awards of the Japanese Academy") é sensacional - ela funciona tão bem com o desenho de som criado pelo Moin G. Khan que somos incapazes de afirmar o que é real e o que é diegético. Tem uma cena no terceiro ato onde a total ausência de som dá o tom do drama - reparem na dramaticidade que essa escolha conceitual provoca!

O fato é "Minus One" é uma experiência completa, que nos faz sentir o horror do incontrolável, que nos faz pensar sobre o valor da vida e que até nos emociona por tudo que envolve aquela jornada. Falta alguma coragem para o roteiro assumir alguns riscos e deixar a entrega menos previsível? Sim, mas com tudo dentro do aceitável, é impossível negar que essa versão de "Godzilla" dá um baile em tudo que já foi feito, com muito mais dinheiro, no recente "Monsterverso". Aliás, essa é a prova que muitas vezes o retorno ao essencial bem feito vale muito mais do que o novo feito na superficialidade!

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Joika

Joika

Essa era uma história que merecia ser contada e digo mais: você vai se surpreender com sua força! "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é, de fato, uma jornada inspiradora de paixão e de superação que nos conquista logo de cara. O desconhecido diretor e roteirista James Napier Robertson (da elogiada "Whina") mostra muito talento e competência ao contar a história real de Joy Womack, uma bailarina americana que desafiou inúmeras barreiras culturais para se tornar a primeira americana a se apresentar no prestigiado Ballet Bolshoi. Narrada com uma sensibilidade impressionante e fotografada com um realismo visceral, "The American" (no original) merece demais a sua a atenção, especialmente se você se identifica com filmes como "Cisne Negro", "Birds of Paradise" e até com o georgiano, "E então nós dançamos"! Vale dizer que essa produção conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Milão, além do prêmio da audiência no Palm Springs International Film Festival em 2024.

Basicamente, o filme segue Joy (Talia Ryder), uma prodígio do balé que aspira se tornar a Prima Ballerina da Academia Bolshoi de Moscou. Aos quinze anos, ela se muda para a Rússia, apoiada pelos pais, com a esperança de ser aceita na prestigiada academia. No entanto, ela rapidamente se depara com a hostilidade de suas colegas e de uma severa diretora, Tatiyana Volkova (Diane Kruger), que constantemente a chama pejorativamente de “a americana”. Determinada a provar seu valor, independente de seu país de origem, Joy enfrenta desafios físicos e emocionais enquanto luta para conquistar seu lugar de destaque na história do balé mundial. Confira o trailer (em inglês):

Naturalmente já é possível imaginar que "Joika" é um mergulha na realidade implacável dessa arte tão exigente e cheia de tradição. A pressão constante pela excelência, a disciplina draconiana e as privações físicas e emocionais são retratadas com uma honestidade brutal no filme que olha, se tem uma coisa que Robertson não faz, é nos poupar do lado sombrio da busca pela perfeição como manifestação artística  Sensível e precisa, a direção nos conduzi por uma história recheada de ritmo e emoção que não cai na tentação de cortar caminhos para encontrar a conexão com a audiência. É claro que o drama está lá desde o primeiro ato, mas a forma como o roteiro vai construindo a jornada nos entrega uma série de sensações muito particulares - veja, se em "Cisne Negro" Aronofsky brinca com nossa percepção da realidade, aqui, é justamente a realidade que nos mantém angustiado até os créditos subirem.

Além da qualidade artística da direção, alguns elementos técnicos merecem destaque - a já citada fotografia é uma delas. Assinada pelo polonês Tomasz Naumiuk (de "Rastros"), a fotografia captura a beleza e a melancolia da vida na Rússia, utilizando tons frios e contrastes marcantes para criar uma atmosfera tão imersiva quanto desconfortável - algo como vimos em "O Gambito da Rainha". Já a trilha sonora composta por Dana Lund (de "The Dark Horse") transita entre melodias depressivas e outras inspiradoras acompanhando perfeitamente a jornada de Joy, intensificando as emoções, elevando a experiência e nos aproximando dos grandes clássicos do balé. Sobre o elenco, Talia Ryder entrega uma performance de tirar o fôlego - a melhor de sua carreira. Sua atuação captura a força, a determinação e a vulnerabilidade da personagem com maestria - seu domínio físico é impressionante, traduzindo em cada movimento sua paixão e a sua dor. Diane Kruger também brilha - imponente e intimidadora, mas com nuances de fragilidade, a atriz entrega uma personagem tão complexa e humana que eu diria ser "uma personificação das contradições do mundo do balé".

Mesmo que tenha surgido timidamente, "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é sim um filme imperdível - especialmente para aqueles que buscam dramas inspiradores, histórias reais e atuações memoráveis. É um convite para entendermos as nuances da arte pela perspectiva da paixão avassaladora, da força e da resiliência como fator primordial do espírito humano. Entretenimento, mas inteligente na sua essência, saiba que você vai se emocionar, vai se inspirar e até refletir sobre o valor de acreditar em um sonho, sem aquela conotação piegas, de buscar a excelência e de encontrar na superação, os próprios limites.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Essa era uma história que merecia ser contada e digo mais: você vai se surpreender com sua força! "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é, de fato, uma jornada inspiradora de paixão e de superação que nos conquista logo de cara. O desconhecido diretor e roteirista James Napier Robertson (da elogiada "Whina") mostra muito talento e competência ao contar a história real de Joy Womack, uma bailarina americana que desafiou inúmeras barreiras culturais para se tornar a primeira americana a se apresentar no prestigiado Ballet Bolshoi. Narrada com uma sensibilidade impressionante e fotografada com um realismo visceral, "The American" (no original) merece demais a sua a atenção, especialmente se você se identifica com filmes como "Cisne Negro", "Birds of Paradise" e até com o georgiano, "E então nós dançamos"! Vale dizer que essa produção conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Milão, além do prêmio da audiência no Palm Springs International Film Festival em 2024.

Basicamente, o filme segue Joy (Talia Ryder), uma prodígio do balé que aspira se tornar a Prima Ballerina da Academia Bolshoi de Moscou. Aos quinze anos, ela se muda para a Rússia, apoiada pelos pais, com a esperança de ser aceita na prestigiada academia. No entanto, ela rapidamente se depara com a hostilidade de suas colegas e de uma severa diretora, Tatiyana Volkova (Diane Kruger), que constantemente a chama pejorativamente de “a americana”. Determinada a provar seu valor, independente de seu país de origem, Joy enfrenta desafios físicos e emocionais enquanto luta para conquistar seu lugar de destaque na história do balé mundial. Confira o trailer (em inglês):

Naturalmente já é possível imaginar que "Joika" é um mergulha na realidade implacável dessa arte tão exigente e cheia de tradição. A pressão constante pela excelência, a disciplina draconiana e as privações físicas e emocionais são retratadas com uma honestidade brutal no filme que olha, se tem uma coisa que Robertson não faz, é nos poupar do lado sombrio da busca pela perfeição como manifestação artística  Sensível e precisa, a direção nos conduzi por uma história recheada de ritmo e emoção que não cai na tentação de cortar caminhos para encontrar a conexão com a audiência. É claro que o drama está lá desde o primeiro ato, mas a forma como o roteiro vai construindo a jornada nos entrega uma série de sensações muito particulares - veja, se em "Cisne Negro" Aronofsky brinca com nossa percepção da realidade, aqui, é justamente a realidade que nos mantém angustiado até os créditos subirem.

Além da qualidade artística da direção, alguns elementos técnicos merecem destaque - a já citada fotografia é uma delas. Assinada pelo polonês Tomasz Naumiuk (de "Rastros"), a fotografia captura a beleza e a melancolia da vida na Rússia, utilizando tons frios e contrastes marcantes para criar uma atmosfera tão imersiva quanto desconfortável - algo como vimos em "O Gambito da Rainha". Já a trilha sonora composta por Dana Lund (de "The Dark Horse") transita entre melodias depressivas e outras inspiradoras acompanhando perfeitamente a jornada de Joy, intensificando as emoções, elevando a experiência e nos aproximando dos grandes clássicos do balé. Sobre o elenco, Talia Ryder entrega uma performance de tirar o fôlego - a melhor de sua carreira. Sua atuação captura a força, a determinação e a vulnerabilidade da personagem com maestria - seu domínio físico é impressionante, traduzindo em cada movimento sua paixão e a sua dor. Diane Kruger também brilha - imponente e intimidadora, mas com nuances de fragilidade, a atriz entrega uma personagem tão complexa e humana que eu diria ser "uma personificação das contradições do mundo do balé".

Mesmo que tenha surgido timidamente, "Joika: Uma Americana no Bolshoi" é sim um filme imperdível - especialmente para aqueles que buscam dramas inspiradores, histórias reais e atuações memoráveis. É um convite para entendermos as nuances da arte pela perspectiva da paixão avassaladora, da força e da resiliência como fator primordial do espírito humano. Entretenimento, mas inteligente na sua essência, saiba que você vai se emocionar, vai se inspirar e até refletir sobre o valor de acreditar em um sonho, sem aquela conotação piegas, de buscar a excelência e de encontrar na superação, os próprios limites.

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O Museu

Esse é mais um projeto dos criativos Mariano Cohn, Andrés Duprat e Gastón Duprat - e se você não sabe de quem eu estou falando, volte três casas e assista os imperdíveis: "O Cidadão Ilustre", "Meu Querido Zelador" e "O Faz Nada"! Olha, é impressionante como esse trio (um dos mais criativos do cinema argentino em muito tempo) tem uma capacidade absurda de criar personagens complexos e ao mesmo tempo apaixonantes - em todos os seus projetos, nada é o que parece e nem por isso o roteiro se apoia em esteriótipos para soar engraçado. Na verdade, e me contradizendo, os estereótipos até estão lá, mas mais humanizados, cheios de camadas, na linha tênue entre o ame ou odeie ou entre o mocinho e o bandido - simplesmente genial! Em "O Museu", mais uma vez, seu protagonista, o impagável Antonio Dumas (brilhantemente interpretado pelo Oscar Martínez), brilha e traz consigo a interessante premissa de discutir (e criticar) o papel da arte na superficial sociedade contemporânea.

Basicamente, "Bellas Artes" (no original) acompanha o dia a dia de Antonio Dumas, um renomado e cínico curador, que acaba de assumir a direção do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri. A partir dessa premissa aparentemente simples, essa série de seis episódios tece uma narrativa inteligente e multifacetada, explorando temas sensíveis como a mercantilização da arte, a superficialidade da elite cultural, a banalização da cultura woke e a busca por um significado em um mundo cada vez mais caótico. Confira o trailer:

Pautada pelo humor ácido e cirúrgico,"O Museu" nos apresenta a um universo peculiar, onde obras de arte desafiam as convenções e provocam questionamentos sobre o que realmente é arte - obviamente que sempre carregada de muita crítica e alguns apontamentos bem politicamente incorretos (ainda bem). É através do olhar aguçado de Antonio Dumas que somos confrontados com algumas das instalações mais bizarras, performances excêntricas e conceitos pseudo-abstratos que desafiam nossa percepção do belo. Com uma dinâmica narrativa das mais agradáveis, a série nos leva além das aparências ao buscar um significado mais profundo nas obras, questionando os valores e as crenças que permeiam o mundo na atualidade, sem perder a classe, o respeito ou a piada - não necessariamente nessa ordem.

Oscar Martínez (o protagonista de "O Cidadão Ilustre"), mais uma vez entrega uma performance magistral como Antonio Dumas, capturando com perfeição toda a arrogância, o egocentrismo, o cinismo e até um descompasso geracional do seu personagem com muita verdade. Veja, aqui não se trata de levantar bandeiras ou de diminuir algumas lutas, mas de discutir todas essas agendas por outras perspectivas ao ponto de refletirmos sobre algumas "verdades absolutas" que não se sustentam (ou pelo menos, não deveriam). Ao lado de Martínez, encontramos um elenco talentoso, incluindo um impagável Fernando Albizu e uma divertida Aixa Villagrán - mesmo sem tanto tempo de tela, eles a ajudam a construir um Antonio Duma bem mais palpável. Aqui a direção dos Duprat e de Cohn ganha força - utilizando de uma gramática cinematográfica já conhecida desde seus outros projetos, o trio basicamente recria a mesma atmosfera divertida e constrangedora que já virou uma identidade e que nos coloca na frente da tela com a certeza de que vamos encontrar um ótimo entretenimento.

A verdade é que "O Museu" é uma obra de arte em si mesma, desde que você se conecte com o humor mais ácido e provocador de seus criadores. Eu diria até que a série é um convite para uma jornada intelectual única que vai te fazer pensar ao mesmo tempo em que vai te desafiar a rever suas percepções sobre a arte em um mundo transformado, conectado e superficial, mas com um toque de cinismo divertidíssimo!

Vale muito o seu play!

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Esse é mais um projeto dos criativos Mariano Cohn, Andrés Duprat e Gastón Duprat - e se você não sabe de quem eu estou falando, volte três casas e assista os imperdíveis: "O Cidadão Ilustre", "Meu Querido Zelador" e "O Faz Nada"! Olha, é impressionante como esse trio (um dos mais criativos do cinema argentino em muito tempo) tem uma capacidade absurda de criar personagens complexos e ao mesmo tempo apaixonantes - em todos os seus projetos, nada é o que parece e nem por isso o roteiro se apoia em esteriótipos para soar engraçado. Na verdade, e me contradizendo, os estereótipos até estão lá, mas mais humanizados, cheios de camadas, na linha tênue entre o ame ou odeie ou entre o mocinho e o bandido - simplesmente genial! Em "O Museu", mais uma vez, seu protagonista, o impagável Antonio Dumas (brilhantemente interpretado pelo Oscar Martínez), brilha e traz consigo a interessante premissa de discutir (e criticar) o papel da arte na superficial sociedade contemporânea.

Basicamente, "Bellas Artes" (no original) acompanha o dia a dia de Antonio Dumas, um renomado e cínico curador, que acaba de assumir a direção do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía, em Madri. A partir dessa premissa aparentemente simples, essa série de seis episódios tece uma narrativa inteligente e multifacetada, explorando temas sensíveis como a mercantilização da arte, a superficialidade da elite cultural, a banalização da cultura woke e a busca por um significado em um mundo cada vez mais caótico. Confira o trailer:

Pautada pelo humor ácido e cirúrgico,"O Museu" nos apresenta a um universo peculiar, onde obras de arte desafiam as convenções e provocam questionamentos sobre o que realmente é arte - obviamente que sempre carregada de muita crítica e alguns apontamentos bem politicamente incorretos (ainda bem). É através do olhar aguçado de Antonio Dumas que somos confrontados com algumas das instalações mais bizarras, performances excêntricas e conceitos pseudo-abstratos que desafiam nossa percepção do belo. Com uma dinâmica narrativa das mais agradáveis, a série nos leva além das aparências ao buscar um significado mais profundo nas obras, questionando os valores e as crenças que permeiam o mundo na atualidade, sem perder a classe, o respeito ou a piada - não necessariamente nessa ordem.

Oscar Martínez (o protagonista de "O Cidadão Ilustre"), mais uma vez entrega uma performance magistral como Antonio Dumas, capturando com perfeição toda a arrogância, o egocentrismo, o cinismo e até um descompasso geracional do seu personagem com muita verdade. Veja, aqui não se trata de levantar bandeiras ou de diminuir algumas lutas, mas de discutir todas essas agendas por outras perspectivas ao ponto de refletirmos sobre algumas "verdades absolutas" que não se sustentam (ou pelo menos, não deveriam). Ao lado de Martínez, encontramos um elenco talentoso, incluindo um impagável Fernando Albizu e uma divertida Aixa Villagrán - mesmo sem tanto tempo de tela, eles a ajudam a construir um Antonio Duma bem mais palpável. Aqui a direção dos Duprat e de Cohn ganha força - utilizando de uma gramática cinematográfica já conhecida desde seus outros projetos, o trio basicamente recria a mesma atmosfera divertida e constrangedora que já virou uma identidade e que nos coloca na frente da tela com a certeza de que vamos encontrar um ótimo entretenimento.

A verdade é que "O Museu" é uma obra de arte em si mesma, desde que você se conecte com o humor mais ácido e provocador de seus criadores. Eu diria até que a série é um convite para uma jornada intelectual única que vai te fazer pensar ao mesmo tempo em que vai te desafiar a rever suas percepções sobre a arte em um mundo transformado, conectado e superficial, mas com um toque de cinismo divertidíssimo!

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Rio-Paris

"Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447", minissérie produzida pelo Globoplay, não deixa absolutamente nada a desejar para obras semelhantes como "Voo 370: O Avião Que Desapareceu" ou "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing", ambas da Netflix, ou "Risco de Voo", da Prime Vídeo. E já adianto: você vai assistir esses quatro episódios com um certo nó na garganta! Em um ano marcado por diversas homenagens e reflexões depois de 15 anos da tragédia do voo da Air France, essa obra documental chama atenção pela qualidade técnica e artística, além de uma bem construída linha narrativa que se apoia em vasto material de pesquisa, que certamente vai intrigar aqueles que buscam ir além dos fatos para mergulhar em uma complexa história por trás do acidente que vitimou 228 pessoas, de 32 nacionalidades, sendo 59 brasileiros. Mais do que um doloroso relato factual, a produção se destaca como um tributo sensível às vítimas, entrelaçando o jornalismo investigativo com o drama pessoal de alguns familiares, em uma jornada capaz de nos prender a atenção do início ao fim sem deixar qualquer espaço para sequer retomarmos o fôlego.

Basicamente, "Rio-Paris - A Tragédia do Voo 447" acompanha os bastidores da investigação sobre a queda do avião da Air France, que aconteceu no dia 1º de junho de 2009, reconstruindo minuto a minuto, a infeliz cadeia de acontecimentos, falhas tecnológicas e de procedimento que causaram a queda do avião no mar. Além das dificuldades de encontrar os destroços e o trauma das famílias que foram destruídas pela tragédia, a minissérie ainda pontua como esse acidente foi mudando na história da aviação de lá para cá.

Filmado na França, nos Estados Unidos e no Brasil ao longo de três meses, a minissérie nos conduz por uma jornada indigesta de investigação, construindo uma narrativa muito acessível e fácil de compreender até para os mais leigos. É perceptível como a direção se preocupou em cobrir todos os fatos respeitando uma linha temporal coerente - veja, os detalhes que antecederam a queda, bem como as particularidades que aconteceram durante o voo e, obviamente, após o acidente do avião, tudo vai sendo desvendado ponto a ponto, sem atropelos ou julgamentos precipitados. A direção sabe perfeitamente como conectar os depoimentos comoventes de familiares das vítimas, que compartilham suas histórias de perda e de luto, com a busca por resposta a partir de reconstituições muito bem feitas, sempre apoiadas aos dados recuperados das caixas-preta do Air France 447. É impressionante como essa dinâmica nos aproxima da angústia e do desespero vivenciados naquela noite de junho de forma tão visceral e multifacetada.

"Rio-Paris" se destaca pela qualidade impecável da pesquisa jornalística da Globo e de seu vasto material de arquivo, no entanto a produção também merece ser reconhecida pelas intervenções de CG e pela gramática mais ficcional que, ao mesmo tempo que capturam a tensão antes da queda, recriam uma trilha de acontecimentos que fazem toda diferença para a nossa experiência como audiência. Se a narrativa peca na falta de emoção ao dublar os diálogos entres os pilotos durante o voo, sem dúvida que o conceito estético/visual da minissérie deixa bem claro como tudo aconteceu. Aqui também preciso citar a trilha sonora que envelopa os depoimentos dos familiares das vítimas - ela é tocante, melancólica, mas belíssima. Repare como ela sublinha a carga emocional das entrevistas de uma forma sensível e reflexiva, criando sensações bastante desconfortáveis.

Dirigido porRafael Norton, com roteiro de Andrey Frasson e Gabriel Mitani, "Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447" é um convite à reflexão sobre os limites da segurança dos voos, sobre as condições humanas em momentos que exigem total controle emocional, além, é claro, de ser um lembrete importante sobre a luta por justiça e respeito a memória daqueles que partiram tão tragicamente. Imperdível para quem gosta de histórias marcantes, para quem busca entender essa complexa história por trás do acidente e assim se conectar com a dor e a esperança daqueles que foram profundamente impactados por ele, mais uma vez, eu te digo: a Globoplay realmente entrega um documentário digno de muito prêmios!

Imperdível!

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"Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447", minissérie produzida pelo Globoplay, não deixa absolutamente nada a desejar para obras semelhantes como "Voo 370: O Avião Que Desapareceu" ou "Queda Livre: A Tragédia do Caso Boeing", ambas da Netflix, ou "Risco de Voo", da Prime Vídeo. E já adianto: você vai assistir esses quatro episódios com um certo nó na garganta! Em um ano marcado por diversas homenagens e reflexões depois de 15 anos da tragédia do voo da Air France, essa obra documental chama atenção pela qualidade técnica e artística, além de uma bem construída linha narrativa que se apoia em vasto material de pesquisa, que certamente vai intrigar aqueles que buscam ir além dos fatos para mergulhar em uma complexa história por trás do acidente que vitimou 228 pessoas, de 32 nacionalidades, sendo 59 brasileiros. Mais do que um doloroso relato factual, a produção se destaca como um tributo sensível às vítimas, entrelaçando o jornalismo investigativo com o drama pessoal de alguns familiares, em uma jornada capaz de nos prender a atenção do início ao fim sem deixar qualquer espaço para sequer retomarmos o fôlego.

Basicamente, "Rio-Paris - A Tragédia do Voo 447" acompanha os bastidores da investigação sobre a queda do avião da Air France, que aconteceu no dia 1º de junho de 2009, reconstruindo minuto a minuto, a infeliz cadeia de acontecimentos, falhas tecnológicas e de procedimento que causaram a queda do avião no mar. Além das dificuldades de encontrar os destroços e o trauma das famílias que foram destruídas pela tragédia, a minissérie ainda pontua como esse acidente foi mudando na história da aviação de lá para cá.

Filmado na França, nos Estados Unidos e no Brasil ao longo de três meses, a minissérie nos conduz por uma jornada indigesta de investigação, construindo uma narrativa muito acessível e fácil de compreender até para os mais leigos. É perceptível como a direção se preocupou em cobrir todos os fatos respeitando uma linha temporal coerente - veja, os detalhes que antecederam a queda, bem como as particularidades que aconteceram durante o voo e, obviamente, após o acidente do avião, tudo vai sendo desvendado ponto a ponto, sem atropelos ou julgamentos precipitados. A direção sabe perfeitamente como conectar os depoimentos comoventes de familiares das vítimas, que compartilham suas histórias de perda e de luto, com a busca por resposta a partir de reconstituições muito bem feitas, sempre apoiadas aos dados recuperados das caixas-preta do Air France 447. É impressionante como essa dinâmica nos aproxima da angústia e do desespero vivenciados naquela noite de junho de forma tão visceral e multifacetada.

"Rio-Paris" se destaca pela qualidade impecável da pesquisa jornalística da Globo e de seu vasto material de arquivo, no entanto a produção também merece ser reconhecida pelas intervenções de CG e pela gramática mais ficcional que, ao mesmo tempo que capturam a tensão antes da queda, recriam uma trilha de acontecimentos que fazem toda diferença para a nossa experiência como audiência. Se a narrativa peca na falta de emoção ao dublar os diálogos entres os pilotos durante o voo, sem dúvida que o conceito estético/visual da minissérie deixa bem claro como tudo aconteceu. Aqui também preciso citar a trilha sonora que envelopa os depoimentos dos familiares das vítimas - ela é tocante, melancólica, mas belíssima. Repare como ela sublinha a carga emocional das entrevistas de uma forma sensível e reflexiva, criando sensações bastante desconfortáveis.

Dirigido porRafael Norton, com roteiro de Andrey Frasson e Gabriel Mitani, "Rio-Paris: A Tragédia do Voo 447" é um convite à reflexão sobre os limites da segurança dos voos, sobre as condições humanas em momentos que exigem total controle emocional, além, é claro, de ser um lembrete importante sobre a luta por justiça e respeito a memória daqueles que partiram tão tragicamente. Imperdível para quem gosta de histórias marcantes, para quem busca entender essa complexa história por trás do acidente e assim se conectar com a dor e a esperança daqueles que foram profundamente impactados por ele, mais uma vez, eu te digo: a Globoplay realmente entrega um documentário digno de muito prêmios!

Imperdível!

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Romário, O Cara

A minissérie documental da HBO, "Romário, O Cara", dirigida por Bruno Maia, é, de fato, imperdível - especialmente para amantes do futebol (e para os maiores de 40 anos então, nem se fala). Este documentário não apenas revigora a memória do Romário como um dos maiores jogadores da história do futebol mundial, como também nos proporciona uma imersão profunda em sua jornada pessoal e profissional desde os tempos de Olaria. É inegável que a obra se destaca por sua abordagem íntima e desmistificadora, um tanto reminiscentes de produções como "The Last Dance" - referência que o diretor faz questão de citar para justificar as decisões criativas que tomou durante as filmagens. Agora, é preciso que se diga: o que diferencia "Romário, O Cara" das demais produções do gênero é, primeiro, o seu equilíbrio cuidadoso entre os momentos de glória do jogador no campo e as complexidades de sua vida fora dele, segundo, o tempo de tela infinitamente maior que de outros documentários sobre craques do Brasil - isso nos proporciona uma visão completa e emocionante da busca pelo Tetracampeonato na Copa do Mundo de 1994 sob a perspectiva da carreira do Cara!

"Romário, O Cara" explora a trajetória do carismático atacante brasileiro Romário, desde os campos de várzea no Rio de Janeiro até o estrelato no cenário mundial do futebol. A série narra os bastidores de sua carreira brilhante e controversa, passando pelo Vasco, PSV, Barcelona, Flamengo e culminando na conquista da Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos. Com depoimentos inéditos de personalidades como Ronaldo, Bebeto, Neymar, Parreira e Guardiola, além de entrevistas exclusivas com um Romário sem filtro e imagens de arquivo impressionantes, a minissérie traz à vida os triunfos e as dificuldades enfrentadas pelo jogador que encantou o mundo com sua técnica apurada e sua personalidade inconfundível. Confira o trailer:

No cerne da série, a direção de Bruno Maia brilha intensamente - ele adota um estilo que se equilibra habilmente entre a reverência e a crítica. Ele não se limita a glorificar Romário, mas também explora suas falhas e contradições, apresentando um retrato complexo e honesto. As cenas de partidas clássicas são magistralmente intercaladas com entrevistas e imagens de bastidores, criando um ritmo que nos prende do início ao fim - é praticamente impossível não maratonar a série..

A montagem também merece destaque - é ela que consegue transformar dezenas de horas de entrevistas e cenas de arquivo em uma narrativa coesa e dinâmica. Com uma estrutura não linear, o que inicialmente pode parecer confuso, mas logo se revela uma decisão acertada, temos a exata noção da intensidade dos jogos do passado, mas também a introspecção dos momentos de reflexão do jogador do presente. Essa escolha permite que a série explore paralelamente a ascensão de Romário e os desafios pessoais que moldaram seu caráter e suas decisões dentro e fora do campo olhada em retrospectiva - funciona demais!

Como já era de se esperar, "Romário, O Cara" se destaca por sua profundidade emocional e capacidade de humanizar um protagonista autêntico. Romário, com sua personalidade e opiniões contundentes, é apresentado de forma crua e isso gera cada pérola que só nos resta rir. Seus conflitos com treinadores, sua relação com a mídia, suas bagunças fora de campo e suas vitórias e derrotas são explorados com um grau de franqueza que é raro em documentários esportivos. Para aqueles que vivem e respiram futebol, "Romário, O Cara" realmente oferece uma jornada nostálgica pelos anos dourados de um dos maiores ícones do esporte mundial que, para nossa sorte, é brasileiro!

Vale muito o seu play!

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A minissérie documental da HBO, "Romário, O Cara", dirigida por Bruno Maia, é, de fato, imperdível - especialmente para amantes do futebol (e para os maiores de 40 anos então, nem se fala). Este documentário não apenas revigora a memória do Romário como um dos maiores jogadores da história do futebol mundial, como também nos proporciona uma imersão profunda em sua jornada pessoal e profissional desde os tempos de Olaria. É inegável que a obra se destaca por sua abordagem íntima e desmistificadora, um tanto reminiscentes de produções como "The Last Dance" - referência que o diretor faz questão de citar para justificar as decisões criativas que tomou durante as filmagens. Agora, é preciso que se diga: o que diferencia "Romário, O Cara" das demais produções do gênero é, primeiro, o seu equilíbrio cuidadoso entre os momentos de glória do jogador no campo e as complexidades de sua vida fora dele, segundo, o tempo de tela infinitamente maior que de outros documentários sobre craques do Brasil - isso nos proporciona uma visão completa e emocionante da busca pelo Tetracampeonato na Copa do Mundo de 1994 sob a perspectiva da carreira do Cara!

"Romário, O Cara" explora a trajetória do carismático atacante brasileiro Romário, desde os campos de várzea no Rio de Janeiro até o estrelato no cenário mundial do futebol. A série narra os bastidores de sua carreira brilhante e controversa, passando pelo Vasco, PSV, Barcelona, Flamengo e culminando na conquista da Copa do Mundo de 1994 nos Estados Unidos. Com depoimentos inéditos de personalidades como Ronaldo, Bebeto, Neymar, Parreira e Guardiola, além de entrevistas exclusivas com um Romário sem filtro e imagens de arquivo impressionantes, a minissérie traz à vida os triunfos e as dificuldades enfrentadas pelo jogador que encantou o mundo com sua técnica apurada e sua personalidade inconfundível. Confira o trailer:

No cerne da série, a direção de Bruno Maia brilha intensamente - ele adota um estilo que se equilibra habilmente entre a reverência e a crítica. Ele não se limita a glorificar Romário, mas também explora suas falhas e contradições, apresentando um retrato complexo e honesto. As cenas de partidas clássicas são magistralmente intercaladas com entrevistas e imagens de bastidores, criando um ritmo que nos prende do início ao fim - é praticamente impossível não maratonar a série..

A montagem também merece destaque - é ela que consegue transformar dezenas de horas de entrevistas e cenas de arquivo em uma narrativa coesa e dinâmica. Com uma estrutura não linear, o que inicialmente pode parecer confuso, mas logo se revela uma decisão acertada, temos a exata noção da intensidade dos jogos do passado, mas também a introspecção dos momentos de reflexão do jogador do presente. Essa escolha permite que a série explore paralelamente a ascensão de Romário e os desafios pessoais que moldaram seu caráter e suas decisões dentro e fora do campo olhada em retrospectiva - funciona demais!

Como já era de se esperar, "Romário, O Cara" se destaca por sua profundidade emocional e capacidade de humanizar um protagonista autêntico. Romário, com sua personalidade e opiniões contundentes, é apresentado de forma crua e isso gera cada pérola que só nos resta rir. Seus conflitos com treinadores, sua relação com a mídia, suas bagunças fora de campo e suas vitórias e derrotas são explorados com um grau de franqueza que é raro em documentários esportivos. Para aqueles que vivem e respiram futebol, "Romário, O Cara" realmente oferece uma jornada nostálgica pelos anos dourados de um dos maiores ícones do esporte mundial que, para nossa sorte, é brasileiro!

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The Royal Hotel

Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Um barril de pólvora prestes a explodir - é essa a sensação que vai te acompanhar durante os 90 minutos de "The Royal Hotel". Como não poderia deixar de ser, o filme dirigido pela talentosa cineasta australiana Kitty Green, dividiu opiniões ao brincar com a percepção de perigo de forma homeopática. Green se apropria do mesmo conceito narrativo de seu filme anterior, "A Assistente", para provar novamente que muitas vezes o que fica subentendido tem muito mais força dramática do que se explorado visualmente - é impressionante como o domínio dessa gramática é capaz de gerar ansiedade, angustia e até medo, já que as situações que assistimos na tela, infelizmente, são mais "normais" do que podemos imaginar. Perturbador na sua essência, "The Royal Hotel" é na verdade um drama psicológico cheio de nuances sobre a que ponto a hostilidade masculina pode chegar e como o machismo tóxico em um ambiente inóspito e decadente pode ser perigoso.

Na trama acompanhamos duas mochileiras canadenses, Hanna (Julia Garnere) e Liv (Jessica Henwick), que aceitam um emprego no remoto pub Royal Hotel para ganhar um dinheiro extra e depois seguirem em uma viagem de intercâmbio pela Austrália. Quando o comportamento dos habitantes locais, em sua maioria formado por mineradores alcoólatras e violentos, começa a ultrapassar os limites, as meninas ficam presas em uma situação que rapidamente foge de seu controle. Confira o trailer (em inglês):

No roteiro escrito pela própria Green ao lado do novato Oscar Redding, a princípio, o The Royal Hotel parece ser apenas mais um bar decadente no interior árido de qualquer país. Obviamente que à medida que a noite avança, Hanna e Liv se veem cada vez mais cercada pelo perigo - que se estivéssemos falando de "Um Drink no Inverno" seriam vampiros sedentos por sangue, mas aqui não! Aqui é pior! O que as protagonistas precisam enfrentar amedronta pela proximidade com a realidade, o horror está nos olhares lascivos, nos comentários maldosos e no comportamento abusivo por parte dos homens que frequentam o local. Green sabe como o tema é sensível e com muita inteligência ela eleva o clima de tensão gradativamente, transformando o que poderia ser uma simples passagem em um pesadelo realmente claustrofóbico e sufocante.

Como um recorte visceral da cultura do machismo e da violência, Green tenta não levantar bandeiras, mas deixa claro que existe uma situação normalizada pela sociedade (e aqui incluo as próprias mulheres) que tende a ser cada vez mais perigosa. Utilizando enquadramentos belíssimos para criar uma atmosfera sufocante, a fotografia do Michael Latham (de "Pelé'") transforma os tons desérticos da natureza australiana em uma extensão decadente com uma temperatura infernal que pontua o comportamento dentro do pub. Eu diria que o trabalho de Latham é tão bem realizado que é possível sentir o calor, o cheiro do álcool e a textura dos móveis empoeirados que compõem aquele cenário. Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao trabalho de desenho de som e mixagem - é impressionante como tudo contribui para potencializar essa sensação constante de desconforto.

Tanto Julia Garner quanto Jessica Henwick estão impecáveis - elas conseguem transmitir com maestria o medo e a vulnerabilidade de suas personagens apenas com o olhar, com as pausas, com a respiração. Daniel Henshall (como Dolly) e Ursula Yovich (como Carol) também entregam performances sólidas e críveis - o primeiro captura a essência da brutalidade masculina e da misoginia enraizada na cultura local e a segunda, a desesperança, a introspecção e um estado de negação dos mais incômodos.

"The Royal Hotel" não é apenas um excelente drama psicológico, é também um estudo contundente da cultura do machismo e da violência contra a mulher. Kitty Green não se furta em mostrar a crueza da realidade enfrentada por muitas mulheres, especialmente em locais remotos e patriarcais - o que nos provoca boas reflexões sobre a objetificação do corpo feminino e os perigos da cultura do estupro. Desconfortável, o filme escolhe não impactar visualmente, no entanto tudo é tão bem construído tecnicamente e soa tão palpável que a urgência que encontramos na narrativa, de fato, vai dialogar com todos - não apenas aqueles(as) mais sensíveis ao tema.

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Uma Vida

Não tem jeito, você vai se emocionar! "Uma Vida: A História de Nicholas Winton", dirigido pelo excelente James Hawes (de "Slow Horses"), é um filme biográfico que traz à tona a inspiradora história de Nicholas Winton, o humanitário britânico que resgatou centenas de crianças judias da Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma direção inspirada e uma narrativa realmente potente, o filme oferece uma visão profunda e comovente do efeito de um indivíduo diante de uma das épocas mais sombrias da história - olha, é impossível não lembrar de "A Lista de Schindler", no entanto, e é preciso que se diga, aqui a jornada é construída nos bastidores, fugindo daquele impacto visual do horror da guerra que estamos acostumados a encontrar em outras produções, mas nem por isso, e eu posso garantir, a história perde força.

"One Life" (no original), basicamente, acompanha a vida de Winton (interpretado por Anthony Hopkins nos tempos atuais e por Johnny Flynn no passado), que, em 1938, viajou para Praga e testemunhou a iminente ameaça nazista sobre a população judaica. Movido por um senso de urgência e compaixão, Winton organizou uma série de transportes que salvaram 669 crianças, levando-as para a Grã-Bretanha. O filme detalha, em retrospectiva, as dificuldades logísticas e emocionais enfrentadas por Winton e sua equipe para salvar o maior número de crianças possíveis antes da invasão alemã de Adolf Hitler. Confira o trailer (em inglês):

É chover no molhado dizer que Anthony Hopkins entrega uma performance magistral como Nicholas Winton - mas é impressionante como o ator captura a profundidade emocional e a determinação silenciosa do personagem. Hopkins, com sua presença imponente e sua inigualável habilidade de transmitir nuances sutis, dá vida a Winton de uma maneira que ressoa profundamente na audiência. James Hawes sabe do ator que tem nas mãos e justamente por isso dirige o filme com uma sensibilidade que evita o sensacionalismo, focando em contar a história de seu protagonista com honestidade e respeito. A fotografia de Zac Nicholson (de "A História Pessoal de David Copperfield") é visualmente impressionante, utilizando uma paleta de cores que realça o contraste entre os dias sombrios da guerra e os momentos de esperança e salvação - as cenas do pré-guerra em Praga, por exemplo, são capturadas com um realismo que é capaz de relativizar as limitações do orçamento quando exige mais da produção, enquanto os close-ups no rosto de Hopkins, já no presente, destacam a carga emocional das memórias e da forma como o personagem sempre olhou para o mundo.

O roteiro de Lucinda Coxon e de Nick Drake, baseado no livro de Barbara Winton, é bem estruturado, abordando não apenas os eventos históricos, mas também as motivações internas e os dilemas éticos enfrentados por Nicholas Winton através dos tempos. Coxon e Drake tecem uma narrativa que é ao mesmo tempo relevante como recorte histórico e emocionalmente envolvente como entretenimento, evitando didatismos e permitindo que a trama se desenrole de uma forma mais orgânica. As interações entre Winton e as crianças, bem como os seus momentos de conflito interno, são tratados com delicadeza trazendo uma camada de realismo absurda para o filme. A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por "Nada de Novo no Front"), trilha complementa a narrativa com músicas que variam entre o melancólico e o inspirador, sublinhando os momentos de tensão e triunfo ao ponto de "esmagar nosso coração".

"Uma Vida: A História de Nicholas Winton" não apenas celebra o heroísmo de Winton, mas também oferece uma reflexão sobre o impacto que uma única pessoa pode ter no mundo. O filme destaca a importância de uma ação altruísta e o poder das decisões morais, especialmente em tempos de crise. A humildade de Winton, que manteve suas ações em segredo por décadas, é um testemunho da verdadeira natureza do amor ao próximo, algo que o filme desenvolve de maneira eficaz e por isso nos conectamos tanto com ele. Para alguns o ritmo pode parecer um pouco lento, mas o que posso adiantar é que estamos diante de uma jornada profundamente comovente que não só ilumina um capítulo importante da história, mas também nos desafia a refletir sobre nosso próprio olhar para a bem maior.

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Não tem jeito, você vai se emocionar! "Uma Vida: A História de Nicholas Winton", dirigido pelo excelente James Hawes (de "Slow Horses"), é um filme biográfico que traz à tona a inspiradora história de Nicholas Winton, o humanitário britânico que resgatou centenas de crianças judias da Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma direção inspirada e uma narrativa realmente potente, o filme oferece uma visão profunda e comovente do efeito de um indivíduo diante de uma das épocas mais sombrias da história - olha, é impossível não lembrar de "A Lista de Schindler", no entanto, e é preciso que se diga, aqui a jornada é construída nos bastidores, fugindo daquele impacto visual do horror da guerra que estamos acostumados a encontrar em outras produções, mas nem por isso, e eu posso garantir, a história perde força.

"One Life" (no original), basicamente, acompanha a vida de Winton (interpretado por Anthony Hopkins nos tempos atuais e por Johnny Flynn no passado), que, em 1938, viajou para Praga e testemunhou a iminente ameaça nazista sobre a população judaica. Movido por um senso de urgência e compaixão, Winton organizou uma série de transportes que salvaram 669 crianças, levando-as para a Grã-Bretanha. O filme detalha, em retrospectiva, as dificuldades logísticas e emocionais enfrentadas por Winton e sua equipe para salvar o maior número de crianças possíveis antes da invasão alemã de Adolf Hitler. Confira o trailer (em inglês):

É chover no molhado dizer que Anthony Hopkins entrega uma performance magistral como Nicholas Winton - mas é impressionante como o ator captura a profundidade emocional e a determinação silenciosa do personagem. Hopkins, com sua presença imponente e sua inigualável habilidade de transmitir nuances sutis, dá vida a Winton de uma maneira que ressoa profundamente na audiência. James Hawes sabe do ator que tem nas mãos e justamente por isso dirige o filme com uma sensibilidade que evita o sensacionalismo, focando em contar a história de seu protagonista com honestidade e respeito. A fotografia de Zac Nicholson (de "A História Pessoal de David Copperfield") é visualmente impressionante, utilizando uma paleta de cores que realça o contraste entre os dias sombrios da guerra e os momentos de esperança e salvação - as cenas do pré-guerra em Praga, por exemplo, são capturadas com um realismo que é capaz de relativizar as limitações do orçamento quando exige mais da produção, enquanto os close-ups no rosto de Hopkins, já no presente, destacam a carga emocional das memórias e da forma como o personagem sempre olhou para o mundo.

O roteiro de Lucinda Coxon e de Nick Drake, baseado no livro de Barbara Winton, é bem estruturado, abordando não apenas os eventos históricos, mas também as motivações internas e os dilemas éticos enfrentados por Nicholas Winton através dos tempos. Coxon e Drake tecem uma narrativa que é ao mesmo tempo relevante como recorte histórico e emocionalmente envolvente como entretenimento, evitando didatismos e permitindo que a trama se desenrole de uma forma mais orgânica. As interações entre Winton e as crianças, bem como os seus momentos de conflito interno, são tratados com delicadeza trazendo uma camada de realismo absurda para o filme. A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por "Nada de Novo no Front"), trilha complementa a narrativa com músicas que variam entre o melancólico e o inspirador, sublinhando os momentos de tensão e triunfo ao ponto de "esmagar nosso coração".

"Uma Vida: A História de Nicholas Winton" não apenas celebra o heroísmo de Winton, mas também oferece uma reflexão sobre o impacto que uma única pessoa pode ter no mundo. O filme destaca a importância de uma ação altruísta e o poder das decisões morais, especialmente em tempos de crise. A humildade de Winton, que manteve suas ações em segredo por décadas, é um testemunho da verdadeira natureza do amor ao próximo, algo que o filme desenvolve de maneira eficaz e por isso nos conectamos tanto com ele. Para alguns o ritmo pode parecer um pouco lento, mas o que posso adiantar é que estamos diante de uma jornada profundamente comovente que não só ilumina um capítulo importante da história, mas também nos desafia a refletir sobre nosso próprio olhar para a bem maior.

Vale muito o seu play!

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