Menos ação, mais tensão e uma boa dose de drama pessoal - é isso que você vai encontrar nessa produção da Showtime que está na Paramount+. "A Agência", na verdade, é uma adaptação da premiada série francesa "Le Bureau des Légendes" de Eric Rochant - que inclusive teve cinco excelentes temporadas por lá. Seguindo uma linha narrativa e visual que transita perfeitamente entre "O Dia do Chacal" e "The Night Manager", mas com um leve toque de "O Assassino" do David Fincher, essa é uma das séries de espionagem mais inteligentes, envolventes e sofisticadas que você vai encontrar no streaming. Sob a liderança de Jez e John-Henry Butterworth (de "Ford vs. Ferrari"), "The Agency" (no original) constrói uma trama densa e psicologicamente instigante, que ecoa o trabalho de mestres do gênero como John Le Carré. Com uma jornada recheada de dilemas morais e intrigas políticas, mas sempre com uma abordagem profundamente humana, eu diria que você vai se impressionar com "A Agência" por sua complexidade dramática e especialmente pela riqueza de seus personagens.
No centro da história está Brandon Cunningham (Michael Fassbender), codinome "Marciano", um agente da CIA recém-retornado de uma missão de seis anos no Sudão. Durante esse tempo, ele viveu como "Paul Lewis", uma identidade falsa que utilizou para infiltrações e recrutamentos. Porém, Marciano carrega as marcas psicológicas dessa longa missão e tem dificuldade em abandonar seu alter ego. A situação se complica quando Samia Zahir (Jodie Turner-Smith), uma antropóloga sudanesa com quem teve um relacionamento secreto, aparece inesperadamente em Londres. Dividido entre a paixão por Samia e a paranoia de que ela possa ser uma espiã, Marciano entra em uma espiral de decisões erráticas que ameaçam sua carreira e sua segurança ao mesmo tempo em que precisa lidar com o desaparecimento de uma fonte da CIA na Bielorrússia. Confira o trailer:
Não espere resposta fáceis já que o grande mérito de "A Agência" é seu foco no estudo de personagens. A partir da complexidade das relações humanas e da introspecção dos desejos pessoais e dos deveres profissionais, a série é muito competente ao explorar a deterioração mental e emocional do protagonista enquanto ele se aprofunda em um jogo de mentiras, manipulações e escolhas bastante duvidosas. A atuação de Michael Fassbender, claro, é magnética - ele captura tanto o carisma quanto as fraquezas de um homem que é referência em seu ofício, mas vive à beira do colapso. Repare como a interação de Fassbender com a personagem de Jodie Turner-Smith combina fragilidade e determinação, adicionando camadas tão bem desenvolvidas à trama que o mistério em torno das verdadeiras intenções de Samia nos mantém em constante tensão - é realmente impressionante.
Embora soe mais cadenciado, sem pressa de nos mostrar os caminhos narrativos que "A Agência" pretende desenvolver ao longo das temporadas, aqui encontramos subtramas de fato muito ricas em conflitos, bem estabelecidos e que naturalmente expandem o escopo da história. A investigação sobre o desaparecimento na Bielorrússia por exemplo, conecta o protagonista ao chefe do escritório da CIA em Londres, James Bradley (Richard Gere), e ao seu subordinado Henry Ogletree (Jeffrey Wright). Esses personagens e suas respectivas ações, criam uma rede de eventos que refletem perfeitamente a pressão global sobre a agência, particularmente em situações atuais de alto risco como a Guerra da Ucrânia - essa atualização do conteúdo geopolítico para as crises dos dias atuais, aliás, é o grande acerto da adaptação em relação ao material original. E não para por aí, já que paralelamente, a série ainda aborda negociações de paz na Guerra Civil do Sudão, mediadas pelos chineses; o treinamento de uma jovem espiã, Danny (Saura Lightfoot-Leon), para se infiltrar no programa nuclear do Irã; entre outras coisas mais.
Com um ritmo envolvente, combinando tensão psicológica com sequências mais tradicionais de espionagem, Jez e John-Henry Butterworth, ao lado do diretor Joe Wright, acertam ao moldar uma atmosfera ficcional que captura o realismo das operações da CIA, com diálogos cheios de detalhes que dão autenticidade ao universo retratado. Nesse sentido as comparações com as obras de John Le Carré são inevitáveis e até justas, já que assim como as histórias do lendário autor britânico, "A Agência" é mais sobre os dilemas internos e o impacto na vida de seus personagens do que propriamente sobre perseguições frenéticas e ações paramilitares como vemos em "Lioness". Dito isso, esteja preparado para uma abordagem madura e reflexiva que evita simplificações em prol de uma análise mais profunda do mundo da espionagem como poucas vezes encontramos e acredite: vai valer demais o seu play!
Menos ação, mais tensão e uma boa dose de drama pessoal - é isso que você vai encontrar nessa produção da Showtime que está na Paramount+. "A Agência", na verdade, é uma adaptação da premiada série francesa "Le Bureau des Légendes" de Eric Rochant - que inclusive teve cinco excelentes temporadas por lá. Seguindo uma linha narrativa e visual que transita perfeitamente entre "O Dia do Chacal" e "The Night Manager", mas com um leve toque de "O Assassino" do David Fincher, essa é uma das séries de espionagem mais inteligentes, envolventes e sofisticadas que você vai encontrar no streaming. Sob a liderança de Jez e John-Henry Butterworth (de "Ford vs. Ferrari"), "The Agency" (no original) constrói uma trama densa e psicologicamente instigante, que ecoa o trabalho de mestres do gênero como John Le Carré. Com uma jornada recheada de dilemas morais e intrigas políticas, mas sempre com uma abordagem profundamente humana, eu diria que você vai se impressionar com "A Agência" por sua complexidade dramática e especialmente pela riqueza de seus personagens.
No centro da história está Brandon Cunningham (Michael Fassbender), codinome "Marciano", um agente da CIA recém-retornado de uma missão de seis anos no Sudão. Durante esse tempo, ele viveu como "Paul Lewis", uma identidade falsa que utilizou para infiltrações e recrutamentos. Porém, Marciano carrega as marcas psicológicas dessa longa missão e tem dificuldade em abandonar seu alter ego. A situação se complica quando Samia Zahir (Jodie Turner-Smith), uma antropóloga sudanesa com quem teve um relacionamento secreto, aparece inesperadamente em Londres. Dividido entre a paixão por Samia e a paranoia de que ela possa ser uma espiã, Marciano entra em uma espiral de decisões erráticas que ameaçam sua carreira e sua segurança ao mesmo tempo em que precisa lidar com o desaparecimento de uma fonte da CIA na Bielorrússia. Confira o trailer:
Não espere resposta fáceis já que o grande mérito de "A Agência" é seu foco no estudo de personagens. A partir da complexidade das relações humanas e da introspecção dos desejos pessoais e dos deveres profissionais, a série é muito competente ao explorar a deterioração mental e emocional do protagonista enquanto ele se aprofunda em um jogo de mentiras, manipulações e escolhas bastante duvidosas. A atuação de Michael Fassbender, claro, é magnética - ele captura tanto o carisma quanto as fraquezas de um homem que é referência em seu ofício, mas vive à beira do colapso. Repare como a interação de Fassbender com a personagem de Jodie Turner-Smith combina fragilidade e determinação, adicionando camadas tão bem desenvolvidas à trama que o mistério em torno das verdadeiras intenções de Samia nos mantém em constante tensão - é realmente impressionante.
Embora soe mais cadenciado, sem pressa de nos mostrar os caminhos narrativos que "A Agência" pretende desenvolver ao longo das temporadas, aqui encontramos subtramas de fato muito ricas em conflitos, bem estabelecidos e que naturalmente expandem o escopo da história. A investigação sobre o desaparecimento na Bielorrússia por exemplo, conecta o protagonista ao chefe do escritório da CIA em Londres, James Bradley (Richard Gere), e ao seu subordinado Henry Ogletree (Jeffrey Wright). Esses personagens e suas respectivas ações, criam uma rede de eventos que refletem perfeitamente a pressão global sobre a agência, particularmente em situações atuais de alto risco como a Guerra da Ucrânia - essa atualização do conteúdo geopolítico para as crises dos dias atuais, aliás, é o grande acerto da adaptação em relação ao material original. E não para por aí, já que paralelamente, a série ainda aborda negociações de paz na Guerra Civil do Sudão, mediadas pelos chineses; o treinamento de uma jovem espiã, Danny (Saura Lightfoot-Leon), para se infiltrar no programa nuclear do Irã; entre outras coisas mais.
Com um ritmo envolvente, combinando tensão psicológica com sequências mais tradicionais de espionagem, Jez e John-Henry Butterworth, ao lado do diretor Joe Wright, acertam ao moldar uma atmosfera ficcional que captura o realismo das operações da CIA, com diálogos cheios de detalhes que dão autenticidade ao universo retratado. Nesse sentido as comparações com as obras de John Le Carré são inevitáveis e até justas, já que assim como as histórias do lendário autor britânico, "A Agência" é mais sobre os dilemas internos e o impacto na vida de seus personagens do que propriamente sobre perseguições frenéticas e ações paramilitares como vemos em "Lioness". Dito isso, esteja preparado para uma abordagem madura e reflexiva que evita simplificações em prol de uma análise mais profunda do mundo da espionagem como poucas vezes encontramos e acredite: vai valer demais o seu play!
Depois de muito do que já se foi falado e escrito sobre "Ainda Estou Aqui" vou tentar ser o mais honesto e direto possível: esse é um filme que retrata a nossa história - uma história que em hipótese alguma pode ser ignorada, normalizada e, principalmente, esquecida! E aqui não tenho a intenção nenhuma de soar politizado - meu intuito é falar sobre cinema (de qualidade)! Dito isso, posso te garantir que "Ainda Estou Aqui" é um daqueles filmes que chegam com um peso histórico inevitável e uma urgência que ressoa muito além de seu contexto original - sua história dói na alma, mas não deixa de aquecer o coração. Dirigido pelo grande Walter Salles, o filme adapta o livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva que conta a jornada de sua mãe, Eunice Paiva, e como ela lidou com o desaparecimento do marido durante o período de ditadura no Brasil tendo cinco crianças para cuidar. O filme não se limita a narrar os eventos brutais da ditadura militar, mas sim em mergulhar no impacto silencioso e corrosivo da ausência, da incerteza e da necessidade de seguir em frente mesmo quando o passado se recusa a ser enterrado. "Ainda Estou Aqui" é um tratado sobre a memória e sobre a dor através de uma perspectiva profundamente pessoal.
A trama se desenrola no Rio de Janeiro dos anos 1970, quando Rubens Paiva (Selton Mello), ex-deputado cassado pelo golpe de 1964, é sequestrado pelo regime militar e nunca mais retorna para casa. Eunice (Fernanda Torres), até então uma esposa e mãe dedicada, se vê obrigada a lidar com a situação e, paralelamente, com uma reestruturação completa de sua vida. "Ainda Estou Aqui" acompanha a protagonista em sua busca por respostas, enquanto enfrenta o peso do medo, da repressão e da transformação que se impõe sobre ela e seus filhos. Confira o trailer:
Basta assistir ao trailer para entender que "Ainda Estou Aqui" não será uma jornada muito confortável. É impressionante como o diretor Walter Salles demonstra um controle total sobre o material de Marcelo Rubens Paiva, entregando um filme que transita entre um universo de dor íntima em meio à denúncia política, mas sem nunca recorrer ao discurso panfletário. Sua direção se apoia na observação minuciosa da rotina de Eunice, construindo uma atmosfera de tensão crescente através de detalhes sutis - e é aí que está a genialidade da obra. Repare nos telefonemas interrompidos, nos olhares trocados em silêncio, nos agentes do regime que se movem nas sombras - tudo funciona como um grande quebra-cabeça, onde as peças tendem a se conectar e ao observarmos por uma perspectiva mais ampla, nos vemos imersos em uma experiência marcada pelo terror (psicológico). A fotografia de Adrian Tejido (de "Narcos" e "Dom") alterna entre uma câmera mais nervosa para capturar a urgência dos momentos de angústia com composições rigorosas que enfatizam o isolamento e o luto da protagonista. Em todo momento temos a sensação nostálgica daquele Rio de Janeiro raiz, cheio de cor e textura de uma Cidade Maravilhosa da câmera Super-8, porém sempre contrastando com uma realidade mais sombria, monocromática, pesada. A trilha sonora de Warren Ellis (de "A Proposta") complementa essa abordagem cheia de dicotomia que vai da alegria ao melancólico, contido é verdade, evitando manipulações emocionais fáceis ou desnecessários.
Fernanda Torres entrega uma das melhores atuações de sua carreira, equilibrando a força e a vulnerabilidade em uma performance que cresce a cada cena. Sua transição de esposa de classe média alta para uma mulher que precisa reconstruir sua identidade e lutar por justiça é sutil, mas avassaladora - aqui não temos cenas impactantes, algo mais gráfico, o esplendor do trabalho de Torres está sempre em impor o tom certo, na hora certa. Selton Mello, apesar de pouco tempo de tela, constrói um Rubens carismático e idealista, cuja ausência se torna um fantasma persistente ao longo do filme - seu trabalho é essencial para criarmos uma conexão emocional com a história. Sem ele, não existiria o Globo de Ouro de Fernanda Torres! E como não citar Fernanda Montenegro? Em uma participação breve e impactante, ela adiciona camadas profundas à narrativa ao interpretar a Eunice mais velha, nos anos 2000, refletindo sobre o passado com a dor que nunca se dissipou - e sem dizer uma única palavra!
"Ainda Estou Aqui" merece sua atenção, especialmente por evitar as armadilhas do melodrama e por escolher o caminho mais complexo dessa história: o de focar no impacto psicológico e social da ditadura e não o de recriar seus eventos mais brutais e desprezíveis. "Ainda Estou Aqui" é um filme que fala não apenas sobre o passado, mas sobre o presente, especialmente em um momento em que discursos revisionistas tentam reescrever essa história. Mais do que um drama histórico, essa é uma obra sobre o valor da memória, da resiliência e da necessidade de encarar a verdade, por mais dolorosa que ela seja, e mudar!
Imperdível!
Up-date:"Ainda Estou Aqui" ganhou como "Melhor Filme Internacional" no Oscar 2025!
O filme está em cartaz nos cinemas.
Depois de muito do que já se foi falado e escrito sobre "Ainda Estou Aqui" vou tentar ser o mais honesto e direto possível: esse é um filme que retrata a nossa história - uma história que em hipótese alguma pode ser ignorada, normalizada e, principalmente, esquecida! E aqui não tenho a intenção nenhuma de soar politizado - meu intuito é falar sobre cinema (de qualidade)! Dito isso, posso te garantir que "Ainda Estou Aqui" é um daqueles filmes que chegam com um peso histórico inevitável e uma urgência que ressoa muito além de seu contexto original - sua história dói na alma, mas não deixa de aquecer o coração. Dirigido pelo grande Walter Salles, o filme adapta o livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva que conta a jornada de sua mãe, Eunice Paiva, e como ela lidou com o desaparecimento do marido durante o período de ditadura no Brasil tendo cinco crianças para cuidar. O filme não se limita a narrar os eventos brutais da ditadura militar, mas sim em mergulhar no impacto silencioso e corrosivo da ausência, da incerteza e da necessidade de seguir em frente mesmo quando o passado se recusa a ser enterrado. "Ainda Estou Aqui" é um tratado sobre a memória e sobre a dor através de uma perspectiva profundamente pessoal.
A trama se desenrola no Rio de Janeiro dos anos 1970, quando Rubens Paiva (Selton Mello), ex-deputado cassado pelo golpe de 1964, é sequestrado pelo regime militar e nunca mais retorna para casa. Eunice (Fernanda Torres), até então uma esposa e mãe dedicada, se vê obrigada a lidar com a situação e, paralelamente, com uma reestruturação completa de sua vida. "Ainda Estou Aqui" acompanha a protagonista em sua busca por respostas, enquanto enfrenta o peso do medo, da repressão e da transformação que se impõe sobre ela e seus filhos. Confira o trailer:
Basta assistir ao trailer para entender que "Ainda Estou Aqui" não será uma jornada muito confortável. É impressionante como o diretor Walter Salles demonstra um controle total sobre o material de Marcelo Rubens Paiva, entregando um filme que transita entre um universo de dor íntima em meio à denúncia política, mas sem nunca recorrer ao discurso panfletário. Sua direção se apoia na observação minuciosa da rotina de Eunice, construindo uma atmosfera de tensão crescente através de detalhes sutis - e é aí que está a genialidade da obra. Repare nos telefonemas interrompidos, nos olhares trocados em silêncio, nos agentes do regime que se movem nas sombras - tudo funciona como um grande quebra-cabeça, onde as peças tendem a se conectar e ao observarmos por uma perspectiva mais ampla, nos vemos imersos em uma experiência marcada pelo terror (psicológico). A fotografia de Adrian Tejido (de "Narcos" e "Dom") alterna entre uma câmera mais nervosa para capturar a urgência dos momentos de angústia com composições rigorosas que enfatizam o isolamento e o luto da protagonista. Em todo momento temos a sensação nostálgica daquele Rio de Janeiro raiz, cheio de cor e textura de uma Cidade Maravilhosa da câmera Super-8, porém sempre contrastando com uma realidade mais sombria, monocromática, pesada. A trilha sonora de Warren Ellis (de "A Proposta") complementa essa abordagem cheia de dicotomia que vai da alegria ao melancólico, contido é verdade, evitando manipulações emocionais fáceis ou desnecessários.
Fernanda Torres entrega uma das melhores atuações de sua carreira, equilibrando a força e a vulnerabilidade em uma performance que cresce a cada cena. Sua transição de esposa de classe média alta para uma mulher que precisa reconstruir sua identidade e lutar por justiça é sutil, mas avassaladora - aqui não temos cenas impactantes, algo mais gráfico, o esplendor do trabalho de Torres está sempre em impor o tom certo, na hora certa. Selton Mello, apesar de pouco tempo de tela, constrói um Rubens carismático e idealista, cuja ausência se torna um fantasma persistente ao longo do filme - seu trabalho é essencial para criarmos uma conexão emocional com a história. Sem ele, não existiria o Globo de Ouro de Fernanda Torres! E como não citar Fernanda Montenegro? Em uma participação breve e impactante, ela adiciona camadas profundas à narrativa ao interpretar a Eunice mais velha, nos anos 2000, refletindo sobre o passado com a dor que nunca se dissipou - e sem dizer uma única palavra!
"Ainda Estou Aqui" merece sua atenção, especialmente por evitar as armadilhas do melodrama e por escolher o caminho mais complexo dessa história: o de focar no impacto psicológico e social da ditadura e não o de recriar seus eventos mais brutais e desprezíveis. "Ainda Estou Aqui" é um filme que fala não apenas sobre o passado, mas sobre o presente, especialmente em um momento em que discursos revisionistas tentam reescrever essa história. Mais do que um drama histórico, essa é uma obra sobre o valor da memória, da resiliência e da necessidade de encarar a verdade, por mais dolorosa que ela seja, e mudar!
Imperdível!
Up-date:"Ainda Estou Aqui" ganhou como "Melhor Filme Internacional" no Oscar 2025!
O filme está em cartaz nos cinemas.
Vamos lá: "Anora" é um filme de muita personalidade, mas que traz em seu DNA um caráter que nos remete aos filmes mais independentes e autorais, mesmo que transitando por um conceito narrativo que tende a quebrar algumas objeções ao se apropriar do drama e da ironia com o único intuito de entreter. O mérito dessa "disrupção", sem dúvida, é de Sean Baker. Baker é um cineasta que construiu sua carreira explorando personagens à margem da sociedade, revelando com sensibilidade e autenticidade as realidades invisibilizadas pelo cinema mais mainstream. Depois de filmes marcantes como "Tangerine" e "Projeto Flórida", ele retorna com "Anora", vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2024, consolidando seu status como um dos diretores mais instigantes da atualidade - mas é preciso que se diga: nem todos vão comprar suas ideias. Assim como "Zola"e "Victoria", "Anora" transita entre a crueldade do realismo social e a intensidade emocional de uma narrativa que escapa dos clichês habituais para entregar uma jornada realmente provocadora!
Na trama, conhecemos Ani (Mikey Madison), uma jovem dançarina e stripper que se vê inesperadamente envolvida em um casamento com o jovem e irresponsável filho de um oligarca russo. O que começa como uma oportunidade de ganhar um bom dinheiro, logo se transforma em um conto de fadas improvável que, mais rápido ainda, se torna uma batalha pelo controle de sua própria vida, assim que a família bilionária do rapaz intervém brutalmente para anular o tal casamento. Confira o trailer:
"Anora" é uma jornada tensa e emocional que desconstrói a ilusão de poder e autonomia quando até os sonhos mais simples podem ser esmagados pelo privilégio e por uma impressionante posição de desigualdade. No entanto, Baker não suaviza em um elemento que define a forma como nos relacionamos com a história de Ani (que na verdade se chama Anora): a intenção! O diretor, mais uma vez, prova sua habilidade em criar personagens autênticos e cheios de camadas. Ani não é apenas uma protagonista cativante, mas uma força de resistência contra as estruturas que tentam defini-la, porém cheia de falhas (e até oportunista). Mikey Madison, nesse sentido, entrega uma atuação visceral, equilibrando a fragilidade e a resiliência de sua personagem com uma naturalidade impressionante. Seu desempenho carrega a narrativa, conferindo credibilidade para a história e tornando a jornada da protagonista ainda mais impactante e dúbia.
A direção de Baker entende a potência de sua criação e por isso aposta no estilo quase documental para acompanhar a protagonista - essa câmera mais observadora, que usa e abusa de movimentos mais nervosos, já se tornou uma assinatura do cineasta. A fotografia do Drew Daniels (não por acaso de "The Idol") é granulada e totalmente naturalista, captando as ruas de Nova York com um olhar sem filtros - o que nos aproxima da realidade de Ani. Veja, a câmera de Baker está sempre em movimento, acompanhando a protagonista em longos planos-sequência que aumentam a imersão na história e ao se conectar com esse uso de luzes neon e com a ambientação urbana, temos a exata (e desconfortável) sensação de viver um certo romantismo decadente que reforça o contraste entre os sonhos da protagonista e a brutalidade do mundo que ela vive.
O roteiro, escrito pelo próprio Baker, combina um humor mais ácido, muita simbologia e um drama cheio de tensão - tudo flui de maneira bem orgânica, sem jamais perder o tom realista. Com uma trilha sonora, que mistura hip-hop, música eletrônica e composições bem melancólicas para pontuar os momentos mais intensos da narrativa, "Anora" mantém o ritmo envolvente, garantindo que cada cena contribua para a evolução da protagonista até o impacto de um desfecho que vai dividir opiniões, mas que observado mais profundamente, entrega algumas verdades que o diretor nunca fez questão de esconder. Dito isso, entenda que a história de "Anora" evita armadilhas narrativas convencionais, optando por um desenvolvimento mais imprevisível e emocionalmente honesto - ao invés de demonizar ou romantizar seus personagens, o filme os apresenta toda a sua complexidade que provoca a audiência a tirar suas próprias conclusões , especialmente sobre dilemas morais e intenções!
Vinte minutos a menos e a percepção de muita gente poderia mudar, mas mesmo assim ainda digo que vale a pena!!
Up-date: "Anora"ganhou em cinco categorias no Oscar 2025, inclusive como "Melhor Filme"!
O filme está em cartaz nos cinemas.
Vamos lá: "Anora" é um filme de muita personalidade, mas que traz em seu DNA um caráter que nos remete aos filmes mais independentes e autorais, mesmo que transitando por um conceito narrativo que tende a quebrar algumas objeções ao se apropriar do drama e da ironia com o único intuito de entreter. O mérito dessa "disrupção", sem dúvida, é de Sean Baker. Baker é um cineasta que construiu sua carreira explorando personagens à margem da sociedade, revelando com sensibilidade e autenticidade as realidades invisibilizadas pelo cinema mais mainstream. Depois de filmes marcantes como "Tangerine" e "Projeto Flórida", ele retorna com "Anora", vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2024, consolidando seu status como um dos diretores mais instigantes da atualidade - mas é preciso que se diga: nem todos vão comprar suas ideias. Assim como "Zola"e "Victoria", "Anora" transita entre a crueldade do realismo social e a intensidade emocional de uma narrativa que escapa dos clichês habituais para entregar uma jornada realmente provocadora!
Na trama, conhecemos Ani (Mikey Madison), uma jovem dançarina e stripper que se vê inesperadamente envolvida em um casamento com o jovem e irresponsável filho de um oligarca russo. O que começa como uma oportunidade de ganhar um bom dinheiro, logo se transforma em um conto de fadas improvável que, mais rápido ainda, se torna uma batalha pelo controle de sua própria vida, assim que a família bilionária do rapaz intervém brutalmente para anular o tal casamento. Confira o trailer:
"Anora" é uma jornada tensa e emocional que desconstrói a ilusão de poder e autonomia quando até os sonhos mais simples podem ser esmagados pelo privilégio e por uma impressionante posição de desigualdade. No entanto, Baker não suaviza em um elemento que define a forma como nos relacionamos com a história de Ani (que na verdade se chama Anora): a intenção! O diretor, mais uma vez, prova sua habilidade em criar personagens autênticos e cheios de camadas. Ani não é apenas uma protagonista cativante, mas uma força de resistência contra as estruturas que tentam defini-la, porém cheia de falhas (e até oportunista). Mikey Madison, nesse sentido, entrega uma atuação visceral, equilibrando a fragilidade e a resiliência de sua personagem com uma naturalidade impressionante. Seu desempenho carrega a narrativa, conferindo credibilidade para a história e tornando a jornada da protagonista ainda mais impactante e dúbia.
A direção de Baker entende a potência de sua criação e por isso aposta no estilo quase documental para acompanhar a protagonista - essa câmera mais observadora, que usa e abusa de movimentos mais nervosos, já se tornou uma assinatura do cineasta. A fotografia do Drew Daniels (não por acaso de "The Idol") é granulada e totalmente naturalista, captando as ruas de Nova York com um olhar sem filtros - o que nos aproxima da realidade de Ani. Veja, a câmera de Baker está sempre em movimento, acompanhando a protagonista em longos planos-sequência que aumentam a imersão na história e ao se conectar com esse uso de luzes neon e com a ambientação urbana, temos a exata (e desconfortável) sensação de viver um certo romantismo decadente que reforça o contraste entre os sonhos da protagonista e a brutalidade do mundo que ela vive.
O roteiro, escrito pelo próprio Baker, combina um humor mais ácido, muita simbologia e um drama cheio de tensão - tudo flui de maneira bem orgânica, sem jamais perder o tom realista. Com uma trilha sonora, que mistura hip-hop, música eletrônica e composições bem melancólicas para pontuar os momentos mais intensos da narrativa, "Anora" mantém o ritmo envolvente, garantindo que cada cena contribua para a evolução da protagonista até o impacto de um desfecho que vai dividir opiniões, mas que observado mais profundamente, entrega algumas verdades que o diretor nunca fez questão de esconder. Dito isso, entenda que a história de "Anora" evita armadilhas narrativas convencionais, optando por um desenvolvimento mais imprevisível e emocionalmente honesto - ao invés de demonizar ou romantizar seus personagens, o filme os apresenta toda a sua complexidade que provoca a audiência a tirar suas próprias conclusões , especialmente sobre dilemas morais e intenções!
Vinte minutos a menos e a percepção de muita gente poderia mudar, mas mesmo assim ainda digo que vale a pena!!
Up-date: "Anora"ganhou em cinco categorias no Oscar 2025, inclusive como "Melhor Filme"!
O filme está em cartaz nos cinemas.
Vai ser difícil você querer parar de assistir mais essa pérola que está no catálogo da Disney+! Com apenas 6 episódios nessa primeira temporada, "Mil Golpes", criada por Steven Knight (o brilhante roteirista por trás de sucessos como "Peaky Blinders"), é uma série intensa, visualmente deslumbrante e com uma história profundamente envolvente. Knight novamente demonstra seu talento ao criar um drama histórico brutal, com personagens reais e ambientado nas ruas violentas e decadentes do subúrbio de uma Londres vitoriana. Combinando a crueza da luta pela sobrevivência com uma narrativa que aborda temas sensíveis como racismo, imigração e identidade cultural, "Mil Golpes", pode apostar, já se coloca entre os grandes dramas de época dos últimos anos, ao lado de produções "de grife" como "The Knick" e "Gangs of New York".
A trama se passa em meados do século XIX e acompanha a trajetória de Hezekiah Moscow (Malachi Kirby), um imigrante jamaicano que chega à Londres em busca de uma nova vida, até ele se encontrar em um submundo sombrio dominado pela violência, pela corrupção e pelo preconceito racial. Lutando para sobreviver e prosperar, ele se envolve com o brutal mundo do boxe clandestino, onde ele cruza caminhos com Sugar Goodson (Stephen Graham), um lutador implacável, cuja abordagem para a vida e para o esporte torna-se o fio condutor para uma série de conflitos explosivos, tanto dentro quanto fora do ringue. Confira o trailer:
Steven Knight é conhecido por sua capacidade de criar atmosferas de tensão com um rigor histórico impressionante - e em "Mil Golpes" não é diferente! Sua escrita detalhada e meticulosa revela um profundo compromisso em retratar uma Londres sem romantismo ou glamourização exagerada. Knight expõe as entranhas de uma sociedade que se sustentava à base da exploração, discriminação e violência. Sua habilidade em criar personagens moralmente ambíguos, multifacetados e, ao mesmo tempo, profundamente humanos, é o ponto alto da série. Os diálogos são realmente afiados, vigorosos e frequentemente dúbios, mesmo quando refletem o desespero e as batalhas cotidianas das classes marginalizadas. Nesse sentido, a equipe de direção da série liderada por Nick Murphy (de "O Nevoeiro") merece um reconhecimento especial. Alinhado a uma fotografia deslumbrante e sombria, cada episódio tem uma textura visual quase palpável, lembrando em alguns momentos o estilo cru e fantasioso de séries como "Carnival Row". Repare como a Londres apresentada aqui é uma cidade ao mesmo tempo vibrante e sufocante, cheia de becos escuros, tavernas lotadas e arenas clandestinas. A violência das lutas é retratada com um realismo visceral, com cenas de combate coreografadas com uma precisão quase cirúrgica - cada golpe é sentido pela audiência, não apenas fisicamente, mas emocionalmente, algo reforçado pela excelente edição de som e pela trilha sonora primorosa.
A performance de Malachi Kirby é digna de todos os elogios, entregando um protagonista mais complexo do que carismático - seu Hezekiah é uma figura poderosa, movida por sonhos, dores e cicatrizes de uma vida difícil e de um passado marcante. Kirby sabe navegar com segurança pelas nuances emocionais do personagem - nos provocando uma enorme empatia por ele. Já Stephen Graham entrega outra atuação impressionante como Sugar Goodson, um homem cuja dureza exterior esconde cicatrizes profundas - Graham constrói um personagem enigmático, cativante e perigoso, que muitas vezes rouba a cena graças ao magnetismo de sua interpretação. Outro ponto alto de "Mil Golpes" não poderia deixar de ser a Mary Carr de Erin Doherty. Que personagem incrível, uma espécie de Don Corleone de saias - com sua força, inteligência, charme e, principalmente, coerência!
Se há um aspecto que merece um olhar mais crítico para "A Thousand Blows" (no original) é a lentidão ocasional com que a narrativa se desenvolve na metade inicial da temporada. Knight se dedica bastante a estabelecer cuidadosamente seu universo e os conflitos centrais, como aliás ele já tinha feito em Peaky Blinders - isso pode exigir um pouco mais de paciência daqueles mais ansiosos por uma ação imediata. No entanto, esse investimento compensa, já que a série vai ganhando força episódio após episódio, culminando em um final onde todos os elementos dramáticos finalmente se encaixam de forma brilhante. Saiba que "Mil Golpes" é, acima de tudo, uma série sobre resistência e sobrevivência em um mundo cruel e indiferente. Ao tratar com honestidade temas sensíveis, Steven Knight entrega mais um projeto notável, que certamente agradará os fãs de dramas históricos densos com um toque de humanidade que faz toda a diferença!.
Mais um título imperdível da Disney+! Vale muito o seu play!
Vai ser difícil você querer parar de assistir mais essa pérola que está no catálogo da Disney+! Com apenas 6 episódios nessa primeira temporada, "Mil Golpes", criada por Steven Knight (o brilhante roteirista por trás de sucessos como "Peaky Blinders"), é uma série intensa, visualmente deslumbrante e com uma história profundamente envolvente. Knight novamente demonstra seu talento ao criar um drama histórico brutal, com personagens reais e ambientado nas ruas violentas e decadentes do subúrbio de uma Londres vitoriana. Combinando a crueza da luta pela sobrevivência com uma narrativa que aborda temas sensíveis como racismo, imigração e identidade cultural, "Mil Golpes", pode apostar, já se coloca entre os grandes dramas de época dos últimos anos, ao lado de produções "de grife" como "The Knick" e "Gangs of New York".
A trama se passa em meados do século XIX e acompanha a trajetória de Hezekiah Moscow (Malachi Kirby), um imigrante jamaicano que chega à Londres em busca de uma nova vida, até ele se encontrar em um submundo sombrio dominado pela violência, pela corrupção e pelo preconceito racial. Lutando para sobreviver e prosperar, ele se envolve com o brutal mundo do boxe clandestino, onde ele cruza caminhos com Sugar Goodson (Stephen Graham), um lutador implacável, cuja abordagem para a vida e para o esporte torna-se o fio condutor para uma série de conflitos explosivos, tanto dentro quanto fora do ringue. Confira o trailer:
Steven Knight é conhecido por sua capacidade de criar atmosferas de tensão com um rigor histórico impressionante - e em "Mil Golpes" não é diferente! Sua escrita detalhada e meticulosa revela um profundo compromisso em retratar uma Londres sem romantismo ou glamourização exagerada. Knight expõe as entranhas de uma sociedade que se sustentava à base da exploração, discriminação e violência. Sua habilidade em criar personagens moralmente ambíguos, multifacetados e, ao mesmo tempo, profundamente humanos, é o ponto alto da série. Os diálogos são realmente afiados, vigorosos e frequentemente dúbios, mesmo quando refletem o desespero e as batalhas cotidianas das classes marginalizadas. Nesse sentido, a equipe de direção da série liderada por Nick Murphy (de "O Nevoeiro") merece um reconhecimento especial. Alinhado a uma fotografia deslumbrante e sombria, cada episódio tem uma textura visual quase palpável, lembrando em alguns momentos o estilo cru e fantasioso de séries como "Carnival Row". Repare como a Londres apresentada aqui é uma cidade ao mesmo tempo vibrante e sufocante, cheia de becos escuros, tavernas lotadas e arenas clandestinas. A violência das lutas é retratada com um realismo visceral, com cenas de combate coreografadas com uma precisão quase cirúrgica - cada golpe é sentido pela audiência, não apenas fisicamente, mas emocionalmente, algo reforçado pela excelente edição de som e pela trilha sonora primorosa.
A performance de Malachi Kirby é digna de todos os elogios, entregando um protagonista mais complexo do que carismático - seu Hezekiah é uma figura poderosa, movida por sonhos, dores e cicatrizes de uma vida difícil e de um passado marcante. Kirby sabe navegar com segurança pelas nuances emocionais do personagem - nos provocando uma enorme empatia por ele. Já Stephen Graham entrega outra atuação impressionante como Sugar Goodson, um homem cuja dureza exterior esconde cicatrizes profundas - Graham constrói um personagem enigmático, cativante e perigoso, que muitas vezes rouba a cena graças ao magnetismo de sua interpretação. Outro ponto alto de "Mil Golpes" não poderia deixar de ser a Mary Carr de Erin Doherty. Que personagem incrível, uma espécie de Don Corleone de saias - com sua força, inteligência, charme e, principalmente, coerência!
Se há um aspecto que merece um olhar mais crítico para "A Thousand Blows" (no original) é a lentidão ocasional com que a narrativa se desenvolve na metade inicial da temporada. Knight se dedica bastante a estabelecer cuidadosamente seu universo e os conflitos centrais, como aliás ele já tinha feito em Peaky Blinders - isso pode exigir um pouco mais de paciência daqueles mais ansiosos por uma ação imediata. No entanto, esse investimento compensa, já que a série vai ganhando força episódio após episódio, culminando em um final onde todos os elementos dramáticos finalmente se encaixam de forma brilhante. Saiba que "Mil Golpes" é, acima de tudo, uma série sobre resistência e sobrevivência em um mundo cruel e indiferente. Ao tratar com honestidade temas sensíveis, Steven Knight entrega mais um projeto notável, que certamente agradará os fãs de dramas históricos densos com um toque de humanidade que faz toda a diferença!.
Mais um título imperdível da Disney+! Vale muito o seu play!
Como a versão americana, com Naomi Watts, do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz, eu diria que essa nova adaptação de "Não Fale o Mal" também não decepciona, no entanto é preciso ressaltar que ela não não tem, nem de longe, a coragem e o requinte narrativo/estético do seu original - e aqui cabe uma sugestão: assista essa versão primeiro e se você gostar, pode ir tranquilo buscar o play do filme dinamarquês que tenho certeza, você vai amar justamente por suas diferenças! "Speak No Evil", no original, é daqueles filmes que permanecem martelando na nossa cabeça muito tempo após os créditos finais. Dirigido pelo James Watkins, conhecido pelo perturbador “A Mulher de Preto” (2012), o filme é mais do que um remake em inglês do excelente thriller psicológico de Christian e Mads Tafdrup, é na verdade uma releitura do material original que escolhe outros caminhos, talvez mais expositivos e menos impactantes, para entreter um público menos alternativo. Tal qual obras contemporâneas que causam muito desconforto ao trazer o horror mais psicológico para a narrativa, como “Midsommar” de Ari Aster, esse "Não Fale o Mal" de Watkins entrega uma jornada realmente intensa que sabe explorar magistralmente os limites sociais e a natureza da maldade escondida sob as aparências, digamos, mais gentis.
A trama segue um casal, a americana Louise (Mackenzie Davis) e o britânico Ben Dalton(Scoot McNairy), que durante uma viagem de férias na Itália, conhece outro casal, que transita entre o simpático e o sem noção, formado pelo carismático Paddy (James McAvoy) e sua esposa Agnes (Alix West Lefler). Encantados pelo novo vínculo criado, Louise e Ben aceitam o convite para visitar a casa dos novos amigos em uma isolada propriedade rural na Europa. O que deveria ser um agradável final de semana, rapidamente se transforma em uma sucessão perturbadora de situações chatas, pequenos conflitos, e manipulações sutis que questionam até onde somos capazes de suportar o desconforto para manter as aparências. Confira o trailer:
Para começar uma análise mais profunda, vale citar que Watkins acerta em cheio ao preservar a essência do original dinamarquês enquanto adiciona sua própria visão cinematográfica, aproveitando ao máximo o talento do elenco liderado por um inspirado McAvoy e destacando ainda mais os elementos inquietantes do roteiro dos Tafdrup. Sua direção é extremamente hábil ao manipular a tensão psicológica sem nunca revelar demais, preferindo trabalhar com uma atmosfera de ansiedade crescente. A sensação de ameaça constante permeia cada diálogo e cada silêncio prolongado, muitas vezes até constrangedores, enquanto o diretor brinca com a nossas expectativas sobre quando e como o verdadeiro terror irá se manifestar. Aqui, Watkins prova novamente que domina o gênero do suspense psicológico com excelência, nos guiando por uma experiência que nos tira da zona de conforto - olha, é impossível não nos colocarmos na situação que Ben e Louise estão passando.
A fotografia assinada por Tim Maurice-Jones (de "Atentado em Paris") traz uma iluminação baixa e enquadramentos meticulosamente posicionados que criam uma atmosfera claustrofóbica e opressora, especialmente no contraste entre as cenas internas, carregadas de ansiedade e tensão, e as paisagens externas aparentemente tranquilas e bucólicas. Cada plano, aliás, parece estrategicamente pensado para aumentar a sensação de vulnerabilidade dos protagonistas, reforçando o sentimento de que algo muito errado está acontecendo sob aquela superfície de gentileza excessiva. O roteiro é perfeito ao retratar como funciona o comportamento passivo-agressivo, especialmente por parte dos antagonistas. James McAvoy entrega mais uma performance assustadoramente convincente, oscilando entre a simpatia irresistível e uma marcante ambiguidade moral. Mackenzie Davis, para mim, é o grande destaque dessa versão - sua atuação é cheia de subtextos, um misto de força e insegurança muito convincente, que vão moldando o drama mais profundo que aquele casal vive (o gatilho da crise me pareceu até mais interessante que o original, inclusive).
Para quem já viu a versão dinamarquesa, algumas passagens podem parecer atenuadas, reduzindo levemente a surpresa que tanto marcou o filme original - mas o contrário não será verdadeiro, pode confiar. Mesmo assim, Watkins acerta ao preservar o impacto devastador da mensagem social sobre as armadilhas de algumas convenções e sobre o medo do confronto deliberado fantasiado de educação - algo que nos remete ao ótimo "Pisque Duas Vezes". É exatamente nessa reflexão que reside o verdadeiro horror da narrativa: até onde uma pessoa comum pode ir, abrindo mão de seus instintos e ignorando sinais de perigo, apenas para evitar desconfortos sociais? “Não Fale o Mal” em ambas as versões é uma obra profundamente perturbadora, cujo verdadeiro terror está nas banalidades que regem nosso comportamento - e isso vai te fazer pensar durante toda a jornada!
Vale demais o seu play!
Como a versão americana, com Naomi Watts, do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz, eu diria que essa nova adaptação de "Não Fale o Mal" também não decepciona, no entanto é preciso ressaltar que ela não não tem, nem de longe, a coragem e o requinte narrativo/estético do seu original - e aqui cabe uma sugestão: assista essa versão primeiro e se você gostar, pode ir tranquilo buscar o play do filme dinamarquês que tenho certeza, você vai amar justamente por suas diferenças! "Speak No Evil", no original, é daqueles filmes que permanecem martelando na nossa cabeça muito tempo após os créditos finais. Dirigido pelo James Watkins, conhecido pelo perturbador “A Mulher de Preto” (2012), o filme é mais do que um remake em inglês do excelente thriller psicológico de Christian e Mads Tafdrup, é na verdade uma releitura do material original que escolhe outros caminhos, talvez mais expositivos e menos impactantes, para entreter um público menos alternativo. Tal qual obras contemporâneas que causam muito desconforto ao trazer o horror mais psicológico para a narrativa, como “Midsommar” de Ari Aster, esse "Não Fale o Mal" de Watkins entrega uma jornada realmente intensa que sabe explorar magistralmente os limites sociais e a natureza da maldade escondida sob as aparências, digamos, mais gentis.
A trama segue um casal, a americana Louise (Mackenzie Davis) e o britânico Ben Dalton(Scoot McNairy), que durante uma viagem de férias na Itália, conhece outro casal, que transita entre o simpático e o sem noção, formado pelo carismático Paddy (James McAvoy) e sua esposa Agnes (Alix West Lefler). Encantados pelo novo vínculo criado, Louise e Ben aceitam o convite para visitar a casa dos novos amigos em uma isolada propriedade rural na Europa. O que deveria ser um agradável final de semana, rapidamente se transforma em uma sucessão perturbadora de situações chatas, pequenos conflitos, e manipulações sutis que questionam até onde somos capazes de suportar o desconforto para manter as aparências. Confira o trailer:
Para começar uma análise mais profunda, vale citar que Watkins acerta em cheio ao preservar a essência do original dinamarquês enquanto adiciona sua própria visão cinematográfica, aproveitando ao máximo o talento do elenco liderado por um inspirado McAvoy e destacando ainda mais os elementos inquietantes do roteiro dos Tafdrup. Sua direção é extremamente hábil ao manipular a tensão psicológica sem nunca revelar demais, preferindo trabalhar com uma atmosfera de ansiedade crescente. A sensação de ameaça constante permeia cada diálogo e cada silêncio prolongado, muitas vezes até constrangedores, enquanto o diretor brinca com a nossas expectativas sobre quando e como o verdadeiro terror irá se manifestar. Aqui, Watkins prova novamente que domina o gênero do suspense psicológico com excelência, nos guiando por uma experiência que nos tira da zona de conforto - olha, é impossível não nos colocarmos na situação que Ben e Louise estão passando.
A fotografia assinada por Tim Maurice-Jones (de "Atentado em Paris") traz uma iluminação baixa e enquadramentos meticulosamente posicionados que criam uma atmosfera claustrofóbica e opressora, especialmente no contraste entre as cenas internas, carregadas de ansiedade e tensão, e as paisagens externas aparentemente tranquilas e bucólicas. Cada plano, aliás, parece estrategicamente pensado para aumentar a sensação de vulnerabilidade dos protagonistas, reforçando o sentimento de que algo muito errado está acontecendo sob aquela superfície de gentileza excessiva. O roteiro é perfeito ao retratar como funciona o comportamento passivo-agressivo, especialmente por parte dos antagonistas. James McAvoy entrega mais uma performance assustadoramente convincente, oscilando entre a simpatia irresistível e uma marcante ambiguidade moral. Mackenzie Davis, para mim, é o grande destaque dessa versão - sua atuação é cheia de subtextos, um misto de força e insegurança muito convincente, que vão moldando o drama mais profundo que aquele casal vive (o gatilho da crise me pareceu até mais interessante que o original, inclusive).
Para quem já viu a versão dinamarquesa, algumas passagens podem parecer atenuadas, reduzindo levemente a surpresa que tanto marcou o filme original - mas o contrário não será verdadeiro, pode confiar. Mesmo assim, Watkins acerta ao preservar o impacto devastador da mensagem social sobre as armadilhas de algumas convenções e sobre o medo do confronto deliberado fantasiado de educação - algo que nos remete ao ótimo "Pisque Duas Vezes". É exatamente nessa reflexão que reside o verdadeiro horror da narrativa: até onde uma pessoa comum pode ir, abrindo mão de seus instintos e ignorando sinais de perigo, apenas para evitar desconfortos sociais? “Não Fale o Mal” em ambas as versões é uma obra profundamente perturbadora, cujo verdadeiro terror está nas banalidades que regem nosso comportamento - e isso vai te fazer pensar durante toda a jornada!
Vale demais o seu play!
Que história fantástica! Se você tem mais de 40 anos e é um apaixonado por basquete, esse documentário da HBO Sports, disponível na Max, vai te fazer dar boas gargalhadas. Quando se fala no Dream Team dos Estados Unidos, a lembrança é de um time que esmagou seus adversários nas Olimpíadas de Barcelona em 1992. Liderado por Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird, o primeiro time olímpico formado por jogadores da NBA se tornou um dos maiores ícones do esporte coletivo mundial. Mas há um detalhe pouco mencionado nessa trajetória: antes de dominar as quadras na Espanha, o Dream Team perdeu um jogo-treino contra um grupo de universitários conhecido como "Select Team". E é justamente essa história que "Nós Derrotamos o Dream Team", busca resgatar.
Dirigido por Michael Tolajian (produtor de "The Last Dance"), o documentário se apoia em imagens de arquivo e depoimentos de quem esteve lá e foi testemunha ocular desse acontecimento esportivo. "Nós Derrotamos o Dream Team" explora como oito jovens talentos do basquete universitário dos EUA conseguiram vencer, ainda que em um jogo treino, o time que mudaria a história do basquete mundial. Entre os entrevistados está Grant Hill, que se tornou um dos maiores jogadores da NBA e que serve como uma espécie de narrador dos eventos, detalhando o impacto desse jogo para todos os envolvidos e para a continuidade do projeto americano de retomar a hegemonia no basquete. Confira o trailer (em inglês):
O contexto histórico é essencial para entender a importância desse episódio. Até 1988, os Estados Unidos enviavam apenas equipes universitárias para torneios internacionais, mas a derrota para a União Soviética na semifinal olímpica daquele ano escancarou a necessidade de mudança. O acordo com a FIBA permitiu que os atletas da NBA representassem seu país nos Jogos, e assim nasceu o Dream Team, uma equipe montada para vencer o que disputar e com larga vantagem. Sabendo que as regras internacionais eram diferentes daquelas praticadas na NBA, o técnico Chuck Daly (ex-Detroit Pistons) resolveu testar seus jogadores em um ambiente controlado. Para isso, reuniu um grupo de universitários de elite, que incluía nomes como Chris Webber, Penny Hardaway e Allan Houston, para enfrentar os astros da NBA em um jogo-treino fechado ao público. O que deveria ser apenas um teste se transformou em um alerta para o Dream Team - acreditem: os jovens venceram a partida.
A grande sacada do documentário é justamente reconstruir a tensão desse momento. Os depoimentos dos jogadores universitários revelam a empolgação de quem sabia que estava vivendo um evento histórico. Já os relatos dos atletas do Dream Team mostram a surpresa e a frustração diante daquela derrota. A narrativa se intensifica ainda mais quando um dos assistentes técnicos de Daly, o emblemático Coach K, sugere que o treinador pode ter planejado algum tipo de situação adversa para acordar seus jogadores. Essa revelação, aliás, adiciona uma camada intrigante ao documentário, levantando questões sobre motivação e estratégia.
Visualmente, "Nós Derrotamos o Dream Team" é bem construído, combinando imagens restauradas da época com entrevistas recentes e algumas intervenções gráficas bem pertinentes. A montagem é outro ponto a se elogiar - ela mantém um ritmo dinâmico, alternando momentos de nostalgia com algumas análises mais técnicas do jogo, mas sempre preservando o bom humor. Além disso, a produção acerta demais ao contextualizar a evolução do basquete internacional, mostrando como esse episódio foi um prenúncio do crescimento do esporte fora dos Estados Unidos. No fim, o documentário não tenta diminuir o impacto do Dream Team, mas sim enriquecer sua história. O jogo contra os universitários foi um momento de vulnerabilidade para um time que parecia invencível, e a forma como reagiram a ele só reforça a grandeza do que conquistaram em Barcelona.
Para os fãs de basquete e de histórias esportivas, "Nós Derrotamos o Dream Team" é um relato fascinante, que mostra que até os gigantes podem tropeçar - e que às vezes, perder faz parte do processo e acaba se tornando essencial para alcançar a glória!
Vale demais o seu play!
Que história fantástica! Se você tem mais de 40 anos e é um apaixonado por basquete, esse documentário da HBO Sports, disponível na Max, vai te fazer dar boas gargalhadas. Quando se fala no Dream Team dos Estados Unidos, a lembrança é de um time que esmagou seus adversários nas Olimpíadas de Barcelona em 1992. Liderado por Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird, o primeiro time olímpico formado por jogadores da NBA se tornou um dos maiores ícones do esporte coletivo mundial. Mas há um detalhe pouco mencionado nessa trajetória: antes de dominar as quadras na Espanha, o Dream Team perdeu um jogo-treino contra um grupo de universitários conhecido como "Select Team". E é justamente essa história que "Nós Derrotamos o Dream Team", busca resgatar.
Dirigido por Michael Tolajian (produtor de "The Last Dance"), o documentário se apoia em imagens de arquivo e depoimentos de quem esteve lá e foi testemunha ocular desse acontecimento esportivo. "Nós Derrotamos o Dream Team" explora como oito jovens talentos do basquete universitário dos EUA conseguiram vencer, ainda que em um jogo treino, o time que mudaria a história do basquete mundial. Entre os entrevistados está Grant Hill, que se tornou um dos maiores jogadores da NBA e que serve como uma espécie de narrador dos eventos, detalhando o impacto desse jogo para todos os envolvidos e para a continuidade do projeto americano de retomar a hegemonia no basquete. Confira o trailer (em inglês):
O contexto histórico é essencial para entender a importância desse episódio. Até 1988, os Estados Unidos enviavam apenas equipes universitárias para torneios internacionais, mas a derrota para a União Soviética na semifinal olímpica daquele ano escancarou a necessidade de mudança. O acordo com a FIBA permitiu que os atletas da NBA representassem seu país nos Jogos, e assim nasceu o Dream Team, uma equipe montada para vencer o que disputar e com larga vantagem. Sabendo que as regras internacionais eram diferentes daquelas praticadas na NBA, o técnico Chuck Daly (ex-Detroit Pistons) resolveu testar seus jogadores em um ambiente controlado. Para isso, reuniu um grupo de universitários de elite, que incluía nomes como Chris Webber, Penny Hardaway e Allan Houston, para enfrentar os astros da NBA em um jogo-treino fechado ao público. O que deveria ser apenas um teste se transformou em um alerta para o Dream Team - acreditem: os jovens venceram a partida.
A grande sacada do documentário é justamente reconstruir a tensão desse momento. Os depoimentos dos jogadores universitários revelam a empolgação de quem sabia que estava vivendo um evento histórico. Já os relatos dos atletas do Dream Team mostram a surpresa e a frustração diante daquela derrota. A narrativa se intensifica ainda mais quando um dos assistentes técnicos de Daly, o emblemático Coach K, sugere que o treinador pode ter planejado algum tipo de situação adversa para acordar seus jogadores. Essa revelação, aliás, adiciona uma camada intrigante ao documentário, levantando questões sobre motivação e estratégia.
Visualmente, "Nós Derrotamos o Dream Team" é bem construído, combinando imagens restauradas da época com entrevistas recentes e algumas intervenções gráficas bem pertinentes. A montagem é outro ponto a se elogiar - ela mantém um ritmo dinâmico, alternando momentos de nostalgia com algumas análises mais técnicas do jogo, mas sempre preservando o bom humor. Além disso, a produção acerta demais ao contextualizar a evolução do basquete internacional, mostrando como esse episódio foi um prenúncio do crescimento do esporte fora dos Estados Unidos. No fim, o documentário não tenta diminuir o impacto do Dream Team, mas sim enriquecer sua história. O jogo contra os universitários foi um momento de vulnerabilidade para um time que parecia invencível, e a forma como reagiram a ele só reforça a grandeza do que conquistaram em Barcelona.
Para os fãs de basquete e de histórias esportivas, "Nós Derrotamos o Dream Team" é um relato fascinante, que mostra que até os gigantes podem tropeçar - e que às vezes, perder faz parte do processo e acaba se tornando essencial para alcançar a glória!
Vale demais o seu play!
É muito difícil olhar para "O Aprendiz" simplesmente pelo viés cinematográfico. Independente do posicionamento político, é praticamente impossível desassociar a figura pública de Donald Trump de um ser-humano com uma dificuldade enorme de lidar com o poder - graças as suas incontáveis inseguranças que aliás, o filme pontua com perfeição. Ao olhar pela perspectiva do empreendedor, certamente você vai encontrar em seu íntimo, traços megalomaníacos de um Adam Neumann com uma boa dose de fraqueza de Mark Zuckerberg - e aqui estou levando muito em consideração o que assistimos em "WeCrashed" e em "A Rede Social" (nada mais). Pois bem, "O Aprendiz" não é apenas um filme biográfico convencional, mas um estudo de personagem que examina as engrenagens do poder e a construção de uma persona pública. Dirigido por Ali Abbasi (de "Holy Spider") e roteirizado por Gabriel Sherman (de "A Voz Mais Forte"), temos aqui um recorte capaz de nos levar pelos bastidores da ascensão de Trump nos anos 1970 e 1980, explorando sua relação com o polêmico advogado e estrategista Roy Cohn. Longe de um retrato panfletário, o filme se apresenta como um drama psicológico dos mais eficientes, especialmente por discutir as nuances da ambição, da corrupção e da formação de um dos personagens mais polarizadores da história recente. A abordagem de Abbasi nos remete a obras como "O Lobo de Wall Street" e "Vice" com um toque nostálgico de "Succession", onde a ascensão ao poder é tratada com um misto de fascínio e, principalmente, de repulsa.
No início de sua carreira, Donald Trump (Sebastian Stan) buscou orientação de Roy Cohn (Jeremy Strong), advogado de extrema direita conhecido por sua influência pouco ortodoxa nos bastidores da política e dos negócios. Cohn se tornou uma figura determinante para a consolidação do ambicioso jovem empresário no mercado imobiliário, especialmente nos círculos de poder de Nova York. Ao longo dos anos, essa relação moldou não apenas sua trajetória profissional, mas sua visão de mundo e sua estratégia política. Confira o trailer:
Ali Abbasi constrói sua narrativa sem apelar para caricaturas ou julgamentos óbvios. Em vez disso, ele nos apresenta um jovem Trump ainda em processo de formação, absorvendo a crueldade e o pragmatismo de Cohn. A relação entre os dois é o coração do filme, funcionando como uma espécie de pacto faustiano, onde Trump, inicialmente ingênuo e ambicioso, aprende a manipular e dobrar as regras do jogo para alcançar seus objetivos - e aqui é preciso elogiar de pé, Jeremy Strong. Ele entrega uma performance que canaliza toda a arrogância, astúcia e frieza de Cohn, um personagem que se torna quase um mentor malévolo para Trump. Enquanto Sebastian Stan constrói um Trump diferente do que estamos acostumados a ver na mídia. Não é a figura bombástica dos anos 2010, mas um jovem empresário tentando consolidar seu nome em Nova York. Sua atuação foge da imitação barata na busca por nuances: há momentos de insegurança, hesitação e até mesmo vulnerabilidade, mas sempre permeados por uma crescente absorção da filosofia implacável de Cohn. A transformação ao longo da jornada é sutil, mas perceptível – e é aí que Abbasi acerta em cheio. Ele nos faz testemunhar a mutação do protagonista, em vez de simplesmente retratar a história por si só.
A direção de Abbasi aposta em um realismo seco, evitando os maneirismos estilísticos comuns em cinebiografias políticas. A fotografia do dinamarquês Kasper Tuxen (de "Loucos por Justiça") é primorosa - ele cria uma ambientação com tons frios e pastéis, sempre muito granulado, em enquadramentos que projetam os contrastes entre os luxuosos escritórios e os ambientes mais sombrios onde as negociações de bastidores aconteciam - é difícil não se perguntar a razão pela qual Tuxen não foi indicado ao Oscar 2025. O desenho de produção é outro espetáculo - limitado pelo aspecto 4:3 da tela, ele recria com precisão a Nova York dos anos 70 e 80, trazendo detalhes que vão desde dos trajes impecáveis de Cohn até os primeiros edifícios que levariam o nome Trump na fachada. Outro ponto que favorece demais nossa imersão é a trilha sonora - ela transita entre o minimalismo que intensifica a tensão e o jogo de poder entre os personagens com as referências culturais da época, marcada por bandas como Pet Shop Boys, por exemplo!
O roteiro de Gabriel Sherman se baseia em pesquisas detalhadas e depoimentos sobre essa fase inicial da vida de Trump, mas evita cair em uma abordagem documental. Em vez disso, a estrutura de "O Aprendiz" se assemelha ao drama mais psicológico, onde cada decisão tomada pelo protagonista tem consequências que reverberam até hoje. O diálogo é afiado, refletindo a retórica agressiva de Cohn e o aprendizado gradual de Trump em dominar o discurso e a manipulação da mídia. Mesmo que o filme não tente oferecer respostas definitivas sobre o impacto da relação entre Trump e Cohn, ele deixa claro como esse período foi determinante para o que viria depois - a transformação do jovem empresário em um jogador implacável da política e dos negócios não é tratada como um evento isolado, mas como um processo meticulosamente arquitetado.
Veja, "O Aprendiz" não é um filme que busca escândalos ou grandes revelações, mas sim uma imersão na mentalidade de poder e influência que moldou um dos personagens mais controversos do EUA, ou seja, para aqueles interessados em histórias de ascensão e corrupção, este é um drama que vale a pena ser visto e, claro, debatido.
Up Date: Tanto Sebastian Stan quanto Jeremy Strong foram indicados ao Oscar 2025 - o trabalho dos dois é uma aula!
É muito difícil olhar para "O Aprendiz" simplesmente pelo viés cinematográfico. Independente do posicionamento político, é praticamente impossível desassociar a figura pública de Donald Trump de um ser-humano com uma dificuldade enorme de lidar com o poder - graças as suas incontáveis inseguranças que aliás, o filme pontua com perfeição. Ao olhar pela perspectiva do empreendedor, certamente você vai encontrar em seu íntimo, traços megalomaníacos de um Adam Neumann com uma boa dose de fraqueza de Mark Zuckerberg - e aqui estou levando muito em consideração o que assistimos em "WeCrashed" e em "A Rede Social" (nada mais). Pois bem, "O Aprendiz" não é apenas um filme biográfico convencional, mas um estudo de personagem que examina as engrenagens do poder e a construção de uma persona pública. Dirigido por Ali Abbasi (de "Holy Spider") e roteirizado por Gabriel Sherman (de "A Voz Mais Forte"), temos aqui um recorte capaz de nos levar pelos bastidores da ascensão de Trump nos anos 1970 e 1980, explorando sua relação com o polêmico advogado e estrategista Roy Cohn. Longe de um retrato panfletário, o filme se apresenta como um drama psicológico dos mais eficientes, especialmente por discutir as nuances da ambição, da corrupção e da formação de um dos personagens mais polarizadores da história recente. A abordagem de Abbasi nos remete a obras como "O Lobo de Wall Street" e "Vice" com um toque nostálgico de "Succession", onde a ascensão ao poder é tratada com um misto de fascínio e, principalmente, de repulsa.
No início de sua carreira, Donald Trump (Sebastian Stan) buscou orientação de Roy Cohn (Jeremy Strong), advogado de extrema direita conhecido por sua influência pouco ortodoxa nos bastidores da política e dos negócios. Cohn se tornou uma figura determinante para a consolidação do ambicioso jovem empresário no mercado imobiliário, especialmente nos círculos de poder de Nova York. Ao longo dos anos, essa relação moldou não apenas sua trajetória profissional, mas sua visão de mundo e sua estratégia política. Confira o trailer:
Ali Abbasi constrói sua narrativa sem apelar para caricaturas ou julgamentos óbvios. Em vez disso, ele nos apresenta um jovem Trump ainda em processo de formação, absorvendo a crueldade e o pragmatismo de Cohn. A relação entre os dois é o coração do filme, funcionando como uma espécie de pacto faustiano, onde Trump, inicialmente ingênuo e ambicioso, aprende a manipular e dobrar as regras do jogo para alcançar seus objetivos - e aqui é preciso elogiar de pé, Jeremy Strong. Ele entrega uma performance que canaliza toda a arrogância, astúcia e frieza de Cohn, um personagem que se torna quase um mentor malévolo para Trump. Enquanto Sebastian Stan constrói um Trump diferente do que estamos acostumados a ver na mídia. Não é a figura bombástica dos anos 2010, mas um jovem empresário tentando consolidar seu nome em Nova York. Sua atuação foge da imitação barata na busca por nuances: há momentos de insegurança, hesitação e até mesmo vulnerabilidade, mas sempre permeados por uma crescente absorção da filosofia implacável de Cohn. A transformação ao longo da jornada é sutil, mas perceptível – e é aí que Abbasi acerta em cheio. Ele nos faz testemunhar a mutação do protagonista, em vez de simplesmente retratar a história por si só.
A direção de Abbasi aposta em um realismo seco, evitando os maneirismos estilísticos comuns em cinebiografias políticas. A fotografia do dinamarquês Kasper Tuxen (de "Loucos por Justiça") é primorosa - ele cria uma ambientação com tons frios e pastéis, sempre muito granulado, em enquadramentos que projetam os contrastes entre os luxuosos escritórios e os ambientes mais sombrios onde as negociações de bastidores aconteciam - é difícil não se perguntar a razão pela qual Tuxen não foi indicado ao Oscar 2025. O desenho de produção é outro espetáculo - limitado pelo aspecto 4:3 da tela, ele recria com precisão a Nova York dos anos 70 e 80, trazendo detalhes que vão desde dos trajes impecáveis de Cohn até os primeiros edifícios que levariam o nome Trump na fachada. Outro ponto que favorece demais nossa imersão é a trilha sonora - ela transita entre o minimalismo que intensifica a tensão e o jogo de poder entre os personagens com as referências culturais da época, marcada por bandas como Pet Shop Boys, por exemplo!
O roteiro de Gabriel Sherman se baseia em pesquisas detalhadas e depoimentos sobre essa fase inicial da vida de Trump, mas evita cair em uma abordagem documental. Em vez disso, a estrutura de "O Aprendiz" se assemelha ao drama mais psicológico, onde cada decisão tomada pelo protagonista tem consequências que reverberam até hoje. O diálogo é afiado, refletindo a retórica agressiva de Cohn e o aprendizado gradual de Trump em dominar o discurso e a manipulação da mídia. Mesmo que o filme não tente oferecer respostas definitivas sobre o impacto da relação entre Trump e Cohn, ele deixa claro como esse período foi determinante para o que viria depois - a transformação do jovem empresário em um jogador implacável da política e dos negócios não é tratada como um evento isolado, mas como um processo meticulosamente arquitetado.
Veja, "O Aprendiz" não é um filme que busca escândalos ou grandes revelações, mas sim uma imersão na mentalidade de poder e influência que moldou um dos personagens mais controversos do EUA, ou seja, para aqueles interessados em histórias de ascensão e corrupção, este é um drama que vale a pena ser visto e, claro, debatido.
Up Date: Tanto Sebastian Stan quanto Jeremy Strong foram indicados ao Oscar 2025 - o trabalho dos dois é uma aula!
Como normalmente acontece com a dramaturgia argentina, especialmente nas comédias, nem todos vão amar essa minissérie de seis episódios que está no Disney+. No entanto, para aqueles dispostos a embarcar em uma jornada envolvente e cheia de ironias, especialmente por sua abordagem mais humana e muito sincera sobre as pequenas tragédias do cotidiano, eu diria que "O Melhor Infarto da Minha Vida" é um tiro mais do que certeiro - pode apostar que será uma agradável surpresa! Antes do play, saiba que Hernán Casciari é um nome conhecido na literatura daquele país por sua escrita bem-humorada e quase sempre autobiográfica - foi a partir do material original de Casciari que o roteirista Lucas Figueroa (de "Viral") captura sua essência para adaptar uma inusitada experiência de quase-morte do escritor e assim entregar uma comédia com um olhar afiado sobre a vida, sobre o destino e sobre uma segunda chance. Na linha de obras como "After Life" de Ricky Gervais ou até da inesquecível "O Método Kominsky", ambas séries que misturam humor com muita reflexão, Figueroa desenvolve uma narrativa tão divertida quanto melancólica, mas sempre apaixonante.
Na trama acompanhamos Ariel (Alan Sabbagh), um "escritor fantasma" que leva um estilo de vida caótico e sem grandes perspectivas, até que um certo dia ele sofre um infarto fulminante. É justamente esse episódio que obriga Ariel a encarar sua própria mortalidade e a repensar a maneira como tem levado sua vida nos últimos anos. Enquanto se recupera, ele passa a ver o mundo de uma forma diferente e que, inevitavelmente, acaba transformando aqueles ao seu redor. Confia o trailer (em espanhol):
A diretora Mariana Wainstein até que acerta ao manter o tom agridoce que marca os textos de Casciari, equilibrando os momentos mais cômicos com uma sensibilidade emocional dos subtextos que dá uma interessante profundidade para a narrativa. Sua direção se destaca pelo uso inteligente de planos fechados que enfatizam os momentos de vulnerabilidade de Ariel, contrastando com uma paleta de cores mais acolhedora, que reforça o lado esperançoso da história - essa dicotomia visual, muito usada na cinematografia argentina, sem a menor sobra de dúvida, traz um charme extra para a minissérie. Nesse sentido, o roteiro, escrito por Figueroa em colaboração com Maria Zanetti e com a própria Wainstein, trabalha bem o conceito de renascimento pessoal, explorando como um evento traumático pode redefinir nossas prioridades, com leveza e uma certa despretensão.
Ao olhar para o elenco, encontramos Alan Sabbagh - o ator carrega a minissérie com uma atuação carismática, transitando com naturalidade entre o sarcasmo e a fragilidade de seu personagem, sem nunca escolher os caminhos mais fáceis. Sabbagh tem uma boa dinâmica com Olivia Molina, que interpreta Concha, e com Rogelio Gracia, que vive Javier - figuras essenciais na jornada do protagonista ao ponto de criar um retrato sincero de um homem em busca de um novo sentido para sua existência.
"O Melhor Infarto da Minha Vida" é, de fato, uma experiência enxuta e bem estruturada - daquelas que matamos em uma tarde, sem tempo para enrolações. A minissérie consegue ser leve e impactante com muita elegância, convidando a audiência a rir das ironias da vida enquanto reflete sobre a importância de estar presente no "agora". Aqui, não temos um drama convencional e tampouco uma história que se propõe a trazer grandes respostas filosóficas, muito pelo contrário, "O Melhor Infarto da Minha Vida" acerta mesmo ao construir um protagonista realista e falho enquanto torna sua jornada de redescoberta uma experiência realmente autêntica e marcante - para todos.
Se você gosta de narrativas que exploram o humor dentro de um contexto de tragédia, vale muito a pena dar uma chance para "O Melhor Infarto da Minha Vida"!
Como normalmente acontece com a dramaturgia argentina, especialmente nas comédias, nem todos vão amar essa minissérie de seis episódios que está no Disney+. No entanto, para aqueles dispostos a embarcar em uma jornada envolvente e cheia de ironias, especialmente por sua abordagem mais humana e muito sincera sobre as pequenas tragédias do cotidiano, eu diria que "O Melhor Infarto da Minha Vida" é um tiro mais do que certeiro - pode apostar que será uma agradável surpresa! Antes do play, saiba que Hernán Casciari é um nome conhecido na literatura daquele país por sua escrita bem-humorada e quase sempre autobiográfica - foi a partir do material original de Casciari que o roteirista Lucas Figueroa (de "Viral") captura sua essência para adaptar uma inusitada experiência de quase-morte do escritor e assim entregar uma comédia com um olhar afiado sobre a vida, sobre o destino e sobre uma segunda chance. Na linha de obras como "After Life" de Ricky Gervais ou até da inesquecível "O Método Kominsky", ambas séries que misturam humor com muita reflexão, Figueroa desenvolve uma narrativa tão divertida quanto melancólica, mas sempre apaixonante.
Na trama acompanhamos Ariel (Alan Sabbagh), um "escritor fantasma" que leva um estilo de vida caótico e sem grandes perspectivas, até que um certo dia ele sofre um infarto fulminante. É justamente esse episódio que obriga Ariel a encarar sua própria mortalidade e a repensar a maneira como tem levado sua vida nos últimos anos. Enquanto se recupera, ele passa a ver o mundo de uma forma diferente e que, inevitavelmente, acaba transformando aqueles ao seu redor. Confia o trailer (em espanhol):
A diretora Mariana Wainstein até que acerta ao manter o tom agridoce que marca os textos de Casciari, equilibrando os momentos mais cômicos com uma sensibilidade emocional dos subtextos que dá uma interessante profundidade para a narrativa. Sua direção se destaca pelo uso inteligente de planos fechados que enfatizam os momentos de vulnerabilidade de Ariel, contrastando com uma paleta de cores mais acolhedora, que reforça o lado esperançoso da história - essa dicotomia visual, muito usada na cinematografia argentina, sem a menor sobra de dúvida, traz um charme extra para a minissérie. Nesse sentido, o roteiro, escrito por Figueroa em colaboração com Maria Zanetti e com a própria Wainstein, trabalha bem o conceito de renascimento pessoal, explorando como um evento traumático pode redefinir nossas prioridades, com leveza e uma certa despretensão.
Ao olhar para o elenco, encontramos Alan Sabbagh - o ator carrega a minissérie com uma atuação carismática, transitando com naturalidade entre o sarcasmo e a fragilidade de seu personagem, sem nunca escolher os caminhos mais fáceis. Sabbagh tem uma boa dinâmica com Olivia Molina, que interpreta Concha, e com Rogelio Gracia, que vive Javier - figuras essenciais na jornada do protagonista ao ponto de criar um retrato sincero de um homem em busca de um novo sentido para sua existência.
"O Melhor Infarto da Minha Vida" é, de fato, uma experiência enxuta e bem estruturada - daquelas que matamos em uma tarde, sem tempo para enrolações. A minissérie consegue ser leve e impactante com muita elegância, convidando a audiência a rir das ironias da vida enquanto reflete sobre a importância de estar presente no "agora". Aqui, não temos um drama convencional e tampouco uma história que se propõe a trazer grandes respostas filosóficas, muito pelo contrário, "O Melhor Infarto da Minha Vida" acerta mesmo ao construir um protagonista realista e falho enquanto torna sua jornada de redescoberta uma experiência realmente autêntica e marcante - para todos.
Se você gosta de narrativas que exploram o humor dentro de um contexto de tragédia, vale muito a pena dar uma chance para "O Melhor Infarto da Minha Vida"!
Você vai se surpreender com "Paradise" - e aqui não me refiro de forma figurada, muito pelo contrário, já que a série do Hulu (aqui no Disney+) parece ter como premissa quebrar todas as expectativas de uma maneira tão fluída que dificilmente você se dará conta de "para onde está indo essa maluquice"! Veja, Dan Fogelman, conhecido por sua habilidade em construir reviravoltas narrativas realmente marcantes, retorna em "Paradise" depois de explorar com muita competência os dramas emocionais em "This Is Us" e "Pitch". Seu novo projeto, mais ambicioso, é um mergulho em uma atmosfera delicada, já que mistura intriga, conspiração e política, em um cenário bastante inesperado. O resultado é uma narrativa envolvente, que se distancia do sentimentalismo característico de suas obras anteriores e aposta em um suspense mais intenso, ágil e envolvente que vai te provocar a cada episódio. O fato é que "Paradise" chega como uma nova abordagem ao drama político com um toque primoroso de ficção científica!
A trama, basicamente, acompanha Xavier Collins (Sterling K. Brown), um agente do Serviço Secreto encarregado de proteger o presidente dos Estados Unidos, Cal Bradford (James Marsden), que governa em meio a uma importante crise mundial. Até que a rotina de Collins é bruscamente interrompida quando um crime coloca em xeque toda a estrutura do governo americano - o que parecia ser apenas mais uma história sobre proteção e lealdade, rapidamente se revela algo muito maior, trazendo à tona segredos, rivalidades e questões que vão muito além do que se podia imaginar. Confira o trailer (ou pare antes e vá direto ao "assista agora" - eu faria isso):
Pois bem, se você assistiu ao trailer, já sabe o que a aconteceu com Cal Bradford, mas esse fato é só a ponta de um iceberg que Fogelman insiste em esconder. Desde os primeiros episódios, "Paradise" se diferencia ao equilibrar um mistério intrigante com uma atmosfera politica de constante tensão ao melhor estilo "House of Cards". A narrativa que intercala o presente com momentos do passado dos personagens, vai revelando aos poucos as circunstâncias que os levaram até ali - e é impressionante como as peças vão se encaixando perfeitamente nessa história. A ambientação e a forma como o universo da série é construído, aliás, contribuem para que esse conceito "homeopático" brilhe, nos convidando para uma intensa imersão ao mesmo tempo em que cria uma sensação absurda de desconforto e incerteza sobre o que realmente está acontecendo. O roteiro de Fogelman utiliza dessas camadas de (pouca) informação para manter um ritmo alucinante, sem abrir mão do desenvolvimento dos personagens que conduzem a trama - e aqui eu já destaco o trabalho de Sterling K. Brown, de James Marsden, de Julianne Nicholson e de Sarah Shahi.
K. Brown entrega um protagonista tão carismático quanto complexo - um homem de caráter que carrega o peso de um trauma pessoal enquanto tenta navegar entre as conspirações que permeiam a sociedade em que vive. James Marsden, por sua vez, interpreta um presidente pop com um misto de charme e arrogância, sendo o tipo de figura política que oscila entre uma liderança inspiradora e a desconfiança de ser a peça fundamental de uma corrupção moral. Julianne Nicholson no papel de Sinatra, uma poderosa bilionária, influente politicamente e muito visionária (cuidado com as comparações irresponsáveis...rs) e Sarah Shahi, a psicoterapeuta Gabriela Torabi, encarregada de manter os ânimos sob controle dentro daquele universo, são as cerejas do bolo de "Paradise".
Um ponto interessante da série é que ao percebermos na narrativa a dualidade entre uma segurança aparente e um perigo iminente, entendemos perfeitamente sua proposta de manter um ar de diversão e imprevisibilidade que sempre oferece uma camada extra de mistério antes mesmo que tenhamos tempo de processar a anterior. Mesmo que "Paradise"gere comparações inevitáveis (que não vou citá-las para não estragar sua experiência), ainda assim, a série consegue manter um frescor ao apostar em ótimas reviravoltas e, claro, em um senso de urgência constante que vai te impedir de sair da frente da tela - como poucas vezes você já vivenciou. Posso apostar!
Vale muito o seu play!
Você vai se surpreender com "Paradise" - e aqui não me refiro de forma figurada, muito pelo contrário, já que a série do Hulu (aqui no Disney+) parece ter como premissa quebrar todas as expectativas de uma maneira tão fluída que dificilmente você se dará conta de "para onde está indo essa maluquice"! Veja, Dan Fogelman, conhecido por sua habilidade em construir reviravoltas narrativas realmente marcantes, retorna em "Paradise" depois de explorar com muita competência os dramas emocionais em "This Is Us" e "Pitch". Seu novo projeto, mais ambicioso, é um mergulho em uma atmosfera delicada, já que mistura intriga, conspiração e política, em um cenário bastante inesperado. O resultado é uma narrativa envolvente, que se distancia do sentimentalismo característico de suas obras anteriores e aposta em um suspense mais intenso, ágil e envolvente que vai te provocar a cada episódio. O fato é que "Paradise" chega como uma nova abordagem ao drama político com um toque primoroso de ficção científica!
A trama, basicamente, acompanha Xavier Collins (Sterling K. Brown), um agente do Serviço Secreto encarregado de proteger o presidente dos Estados Unidos, Cal Bradford (James Marsden), que governa em meio a uma importante crise mundial. Até que a rotina de Collins é bruscamente interrompida quando um crime coloca em xeque toda a estrutura do governo americano - o que parecia ser apenas mais uma história sobre proteção e lealdade, rapidamente se revela algo muito maior, trazendo à tona segredos, rivalidades e questões que vão muito além do que se podia imaginar. Confira o trailer (ou pare antes e vá direto ao "assista agora" - eu faria isso):
Pois bem, se você assistiu ao trailer, já sabe o que a aconteceu com Cal Bradford, mas esse fato é só a ponta de um iceberg que Fogelman insiste em esconder. Desde os primeiros episódios, "Paradise" se diferencia ao equilibrar um mistério intrigante com uma atmosfera politica de constante tensão ao melhor estilo "House of Cards". A narrativa que intercala o presente com momentos do passado dos personagens, vai revelando aos poucos as circunstâncias que os levaram até ali - e é impressionante como as peças vão se encaixando perfeitamente nessa história. A ambientação e a forma como o universo da série é construído, aliás, contribuem para que esse conceito "homeopático" brilhe, nos convidando para uma intensa imersão ao mesmo tempo em que cria uma sensação absurda de desconforto e incerteza sobre o que realmente está acontecendo. O roteiro de Fogelman utiliza dessas camadas de (pouca) informação para manter um ritmo alucinante, sem abrir mão do desenvolvimento dos personagens que conduzem a trama - e aqui eu já destaco o trabalho de Sterling K. Brown, de James Marsden, de Julianne Nicholson e de Sarah Shahi.
K. Brown entrega um protagonista tão carismático quanto complexo - um homem de caráter que carrega o peso de um trauma pessoal enquanto tenta navegar entre as conspirações que permeiam a sociedade em que vive. James Marsden, por sua vez, interpreta um presidente pop com um misto de charme e arrogância, sendo o tipo de figura política que oscila entre uma liderança inspiradora e a desconfiança de ser a peça fundamental de uma corrupção moral. Julianne Nicholson no papel de Sinatra, uma poderosa bilionária, influente politicamente e muito visionária (cuidado com as comparações irresponsáveis...rs) e Sarah Shahi, a psicoterapeuta Gabriela Torabi, encarregada de manter os ânimos sob controle dentro daquele universo, são as cerejas do bolo de "Paradise".
Um ponto interessante da série é que ao percebermos na narrativa a dualidade entre uma segurança aparente e um perigo iminente, entendemos perfeitamente sua proposta de manter um ar de diversão e imprevisibilidade que sempre oferece uma camada extra de mistério antes mesmo que tenhamos tempo de processar a anterior. Mesmo que "Paradise"gere comparações inevitáveis (que não vou citá-las para não estragar sua experiência), ainda assim, a série consegue manter um frescor ao apostar em ótimas reviravoltas e, claro, em um senso de urgência constante que vai te impedir de sair da frente da tela - como poucas vezes você já vivenciou. Posso apostar!
Vale muito o seu play!
Que série incrível - e realmente impactante! "Plantão Policial" me lembrou muito a dinamarquesa "Zona de Confronto"- pelo seu estilo quase documental e pela crueldade visceral de sua narrativa. O fato é que séries policiais sempre foram um dos pilares mais sólidos da TV americana, e "Plantão Policial" ou "On Call", no original, chega com uma proposta bastante provocativa ao mesclar um realismo absurdo, com muita intensidade e ótimas discussões sobre dilemas morais, diferenciando-se assim, das narrativas mais convencionais de investigação criminal. Criada por Tim Walsh e Elliot Wolf, com produção de Dick Wolf (de "Lei e Ordem"), essa produção da Prime Video mergulha no dia a dia de uma patrulha policial em Long Beach, Califórnia, acompanhando dois oficiais em um ambiente onde as linhas entre certo e errado são frequentemente desafiadas. Olha, para quem gosta da tensão e de uma abordagem realmente imersiva, essa nova aposta da Amazon Studios não vai decepcionar - ela entrega ação e drama na medida certa!
A trama, basicamente, segue o cotidiano da oficial Traci Harmon (Troian Bellisario), uma policial experiente e marcada pelo trauma da morte de sua última pupila, e Alex Diaz (Brandon Larracuente), um jovem oficial que ainda precisa aprender os limites entre empatia e impulsividade. A relação entre os dois funciona como o coração da série, adotando uma dinâmica de mentor e aprendiz, mas que se revela mais profunda conforme os episódios avançam. Harmon luta contra a culpa e tenta garantir que não repetirá os mesmos erros do passado, enquanto Diaz, lidando com problemas familiares e um irmão preso, busca se provar dentro da corporação. Confira o trailer e sinta o clima:
Uma das coisas que mais chamam a atenção de"PlantãoPolicial" é sua coragem em meio aquela estética ultra-realista. É justamente por esse gatilho narrativo que a construção dos personagens e de seus conflitos internos se mostram como dois dos maiores acertos da série. Veja, o roteiro não apenas explora a rotina exaustiva das patrulhas, como também mergulha nos dilemas íntimos dos protagonistas, tornando-os figuras mais palpáveis, complexas e análogas. A head-writer Molly Manning (de"Hightown") acerta ao criar diálogos diretos e honestos entre Harmon e Diaz, fazendo com que as interações entre eles tenham, além de tudo, um peso emocional profundo - aqui não há espaço para heroísmo idealizado; cada decisão traz consequências, e a ética policial, em diversas camadas, é constantemente questionada.
A direção de Brenna Malloy (não por acaso de "Chicago P.D.") e de Eriq La Salle (da saudosa "Without a Trace") adiciona um ritmo dinâmico para a série, utilizando uma estética mais documental, realista e claustrofóbica que reforça a tensão das situações enfrentadas pelos personagens. O uso de câmeras acopladas aos uniformes dos policiais é um dos acertos da série, trazendo uma perspectiva de fato imersiva e colocando a audiência dentro da ação. Repare como as cenas de"Plantão Policial" oscilam entre momentos de aparente rotina com situações de alta periculosidade, garantindo que cada episódio mantenha um nível constante de suspense e urgência - bem "a vida como ela é"! Agora é importante que se diga: a ação nunca é gratuita, mas sempre orgânica dentro de uma narrativa que surprendente pela forma, pelo conteúdo e pelo estilo.
Os episódios curtos, com cerca de 30 minutos cada, evitam enrolação e garantem que cada conflito tenha algum impacto, sem perder tempo com tramas secundárias irrelevantes. Aliás, se há um grande mérito em"PlantãoPolicial", é justamente sua capacidade de ser direta e com isso apresentar uma abordagem menos maniqueísta da justiça - a série reconhece que a aplicação da lei não é um jogo de mocinhos contra vilões, e que os próprios policiais, muitas vezes, precisam recorrer a decisões moralmente ambíguas para garantir a ordem (e a sobrevivência). Da mesma forma, os criminosos também não são retratados como figuras unidimensionais, mas como produtos de um ambiente e de um contexto que os moldam.
"PlantãoPolicial" não reinventa o gênero, mas traz frescor ao explorar a rotina policial com um olhar humano e sem romantizações, apostando no real e em ótimos gatilhos emocionais para criar uma experiência envolvente e reflexiva que vai fazer valer o seu play!
Que série incrível - e realmente impactante! "Plantão Policial" me lembrou muito a dinamarquesa "Zona de Confronto"- pelo seu estilo quase documental e pela crueldade visceral de sua narrativa. O fato é que séries policiais sempre foram um dos pilares mais sólidos da TV americana, e "Plantão Policial" ou "On Call", no original, chega com uma proposta bastante provocativa ao mesclar um realismo absurdo, com muita intensidade e ótimas discussões sobre dilemas morais, diferenciando-se assim, das narrativas mais convencionais de investigação criminal. Criada por Tim Walsh e Elliot Wolf, com produção de Dick Wolf (de "Lei e Ordem"), essa produção da Prime Video mergulha no dia a dia de uma patrulha policial em Long Beach, Califórnia, acompanhando dois oficiais em um ambiente onde as linhas entre certo e errado são frequentemente desafiadas. Olha, para quem gosta da tensão e de uma abordagem realmente imersiva, essa nova aposta da Amazon Studios não vai decepcionar - ela entrega ação e drama na medida certa!
A trama, basicamente, segue o cotidiano da oficial Traci Harmon (Troian Bellisario), uma policial experiente e marcada pelo trauma da morte de sua última pupila, e Alex Diaz (Brandon Larracuente), um jovem oficial que ainda precisa aprender os limites entre empatia e impulsividade. A relação entre os dois funciona como o coração da série, adotando uma dinâmica de mentor e aprendiz, mas que se revela mais profunda conforme os episódios avançam. Harmon luta contra a culpa e tenta garantir que não repetirá os mesmos erros do passado, enquanto Diaz, lidando com problemas familiares e um irmão preso, busca se provar dentro da corporação. Confira o trailer e sinta o clima:
Uma das coisas que mais chamam a atenção de"PlantãoPolicial" é sua coragem em meio aquela estética ultra-realista. É justamente por esse gatilho narrativo que a construção dos personagens e de seus conflitos internos se mostram como dois dos maiores acertos da série. Veja, o roteiro não apenas explora a rotina exaustiva das patrulhas, como também mergulha nos dilemas íntimos dos protagonistas, tornando-os figuras mais palpáveis, complexas e análogas. A head-writer Molly Manning (de"Hightown") acerta ao criar diálogos diretos e honestos entre Harmon e Diaz, fazendo com que as interações entre eles tenham, além de tudo, um peso emocional profundo - aqui não há espaço para heroísmo idealizado; cada decisão traz consequências, e a ética policial, em diversas camadas, é constantemente questionada.
A direção de Brenna Malloy (não por acaso de "Chicago P.D.") e de Eriq La Salle (da saudosa "Without a Trace") adiciona um ritmo dinâmico para a série, utilizando uma estética mais documental, realista e claustrofóbica que reforça a tensão das situações enfrentadas pelos personagens. O uso de câmeras acopladas aos uniformes dos policiais é um dos acertos da série, trazendo uma perspectiva de fato imersiva e colocando a audiência dentro da ação. Repare como as cenas de"Plantão Policial" oscilam entre momentos de aparente rotina com situações de alta periculosidade, garantindo que cada episódio mantenha um nível constante de suspense e urgência - bem "a vida como ela é"! Agora é importante que se diga: a ação nunca é gratuita, mas sempre orgânica dentro de uma narrativa que surprendente pela forma, pelo conteúdo e pelo estilo.
Os episódios curtos, com cerca de 30 minutos cada, evitam enrolação e garantem que cada conflito tenha algum impacto, sem perder tempo com tramas secundárias irrelevantes. Aliás, se há um grande mérito em"PlantãoPolicial", é justamente sua capacidade de ser direta e com isso apresentar uma abordagem menos maniqueísta da justiça - a série reconhece que a aplicação da lei não é um jogo de mocinhos contra vilões, e que os próprios policiais, muitas vezes, precisam recorrer a decisões moralmente ambíguas para garantir a ordem (e a sobrevivência). Da mesma forma, os criminosos também não são retratados como figuras unidimensionais, mas como produtos de um ambiente e de um contexto que os moldam.
"PlantãoPolicial" não reinventa o gênero, mas traz frescor ao explorar a rotina policial com um olhar humano e sem romantizações, apostando no real e em ótimos gatilhos emocionais para criar uma experiência envolvente e reflexiva que vai fazer valer o seu play!
Se em um primeiro olhar "Quadra de Ouro" parece uma segunda temporada do excelente "O Time da Redenção", posso te garantir que você vai se surpreender, pois essa minissérie da Netflix, produzida por nada menos que Barack Obama, é ainda melhor! Veja, a disputa por uma medalha de ouro no basquete olímpico nunca esteve tão acirrada. Nos últimos anos, a globalização do esporte reduziu as distâncias entre as seleções, tornando cada competição um verdadeiro espetáculo. É dentro desse contexto que "Quadra de Ouro"mergulha em um universo único, com um acesso sem precedentes aos bastidores das quatro seleções mais fortes do torneio de Paris 2024: EUA, França, Sérvia e Canadá. Bem ao estilo narrativo de "Formula 1: Dirigir paraViver" essa produção se apresenta como um registro envolvente do que é preciso para competir, e vencer, no mais alto nível do basquete mundial. Impressionante!
Com seis episódios,"Quadra de Ouro", na verdade, vai além da quadra, mostrando a preparação intensa, os desafios físicos e mentais, as rivalidades crescentes e os momentos de tensão que antecedem os jogos decisivos. Acompanhamos a rotina dos atletas, desde os treinos exaustivos até as conversas estratégicas nos vestiários, além das pressões externas que influenciam o desempenho dentro de quadra. O documentário costura habilmente momentos de bastidores com um recorte histórico do esporte a partir de depoimentos de estrelas como Kevin Durant, Steph Curry, Victor Wembanyama, Shai Gilgeous-Alexander e Bogdan Bogdanovic, além de lendas como Carmelo Anthony, Steve Nash e Tony Parker, que discutem a evolução do basquete internacional. Confira o trailer (em inglês):
O ponto alto de "Court of Gold", no original, está muito no contraste entre as seleções. Os EUA, com um legado dominante e a missão de retomar sua hegemonia, enfrentam uma nova geração de talentos internacionais prontos para desafiar sua supremacia. A França, impulsionada por Wembanyama, joga em casa e sente o peso da expectativa de sua torcida. A Sérvia, uma potência europeia tradicional, aposta na disciplina tática e na experiência de seus astros, especialmente Nikola Jokic; enquanto o Canadá, liderado por Shai Gilgeous-Alexander, representa a ascensão de uma nova força no cenário global. O roteiro da minissérie é muito bem amarrado, explorando a construção das rivalidades e o impacto da cultura esportiva em cada um desses países - especialmente na forma como o basquete é jogado e compreendido. Mais do que um simples registro olímpico, o roteiro é inteligente ao ponto de retratar a jornada a partir de seus ícones e referências, refletindo sobre o crescimento do basquete fora dos Estados Unidos e a democratização do talento de uma forma global.
Embora a minissérie se preocupe em mostrar como o esporte vai além das estatísticas, revelando os sacrifícios pessoais e a resiliência necessária para chegar ao topo, eu diria que a direção de Jake Rogal se preocupa muito mais em garantir um olhar imersivo no coletivo, especialmente por se tratar de um ambiente muito particular - as Olimpíadas de Paris. Nesse sentido, vale destacar que a montagem funciona perfeitamente ao intercalar imagens dos treinos com registros das partidas mais eletrizantes, capturando não apenas a intensidade do jogo, mas também as emoções individuais dos atletas e dos treinadores diante de uma competição tão importante. Ver os atletas americanos acompanhando outras modalidades durante os dias de competições, por exemplo, humaniza essa jornada, funcionando como um certo alívio narrativo para os momentos de maior tensão, como os jogos decisivos, as disputas por medalhas e os reflexos do peso emocional que impactam nas derrotas ou nas vitórias.
Com produção da Higher Ground Productions, em parceria com o Olympic Channel e Words + Pictures, "Quadra de Ouro" é uma experiência essencial para os fãs do esporte. A minissérie entrega um registro envolvente e bem produzido da luta pelo ouro olímpico, trazendo à tona não apenas o talento e a estratégia, mas também nuances de comportamento que definem grandes campeões. Com um equilíbrio entre ação, drama e história, esta é uma das produções mais interessantes sobre o esporte que já acompanhamos e certamente vai merecer um lugar ao lado dos grandes documentários da atualidade, como a queridinha "The Last Dance"!
Vale muito o seu play!
Se em um primeiro olhar "Quadra de Ouro" parece uma segunda temporada do excelente "O Time da Redenção", posso te garantir que você vai se surpreender, pois essa minissérie da Netflix, produzida por nada menos que Barack Obama, é ainda melhor! Veja, a disputa por uma medalha de ouro no basquete olímpico nunca esteve tão acirrada. Nos últimos anos, a globalização do esporte reduziu as distâncias entre as seleções, tornando cada competição um verdadeiro espetáculo. É dentro desse contexto que "Quadra de Ouro"mergulha em um universo único, com um acesso sem precedentes aos bastidores das quatro seleções mais fortes do torneio de Paris 2024: EUA, França, Sérvia e Canadá. Bem ao estilo narrativo de "Formula 1: Dirigir paraViver" essa produção se apresenta como um registro envolvente do que é preciso para competir, e vencer, no mais alto nível do basquete mundial. Impressionante!
Com seis episódios,"Quadra de Ouro", na verdade, vai além da quadra, mostrando a preparação intensa, os desafios físicos e mentais, as rivalidades crescentes e os momentos de tensão que antecedem os jogos decisivos. Acompanhamos a rotina dos atletas, desde os treinos exaustivos até as conversas estratégicas nos vestiários, além das pressões externas que influenciam o desempenho dentro de quadra. O documentário costura habilmente momentos de bastidores com um recorte histórico do esporte a partir de depoimentos de estrelas como Kevin Durant, Steph Curry, Victor Wembanyama, Shai Gilgeous-Alexander e Bogdan Bogdanovic, além de lendas como Carmelo Anthony, Steve Nash e Tony Parker, que discutem a evolução do basquete internacional. Confira o trailer (em inglês):
O ponto alto de "Court of Gold", no original, está muito no contraste entre as seleções. Os EUA, com um legado dominante e a missão de retomar sua hegemonia, enfrentam uma nova geração de talentos internacionais prontos para desafiar sua supremacia. A França, impulsionada por Wembanyama, joga em casa e sente o peso da expectativa de sua torcida. A Sérvia, uma potência europeia tradicional, aposta na disciplina tática e na experiência de seus astros, especialmente Nikola Jokic; enquanto o Canadá, liderado por Shai Gilgeous-Alexander, representa a ascensão de uma nova força no cenário global. O roteiro da minissérie é muito bem amarrado, explorando a construção das rivalidades e o impacto da cultura esportiva em cada um desses países - especialmente na forma como o basquete é jogado e compreendido. Mais do que um simples registro olímpico, o roteiro é inteligente ao ponto de retratar a jornada a partir de seus ícones e referências, refletindo sobre o crescimento do basquete fora dos Estados Unidos e a democratização do talento de uma forma global.
Embora a minissérie se preocupe em mostrar como o esporte vai além das estatísticas, revelando os sacrifícios pessoais e a resiliência necessária para chegar ao topo, eu diria que a direção de Jake Rogal se preocupa muito mais em garantir um olhar imersivo no coletivo, especialmente por se tratar de um ambiente muito particular - as Olimpíadas de Paris. Nesse sentido, vale destacar que a montagem funciona perfeitamente ao intercalar imagens dos treinos com registros das partidas mais eletrizantes, capturando não apenas a intensidade do jogo, mas também as emoções individuais dos atletas e dos treinadores diante de uma competição tão importante. Ver os atletas americanos acompanhando outras modalidades durante os dias de competições, por exemplo, humaniza essa jornada, funcionando como um certo alívio narrativo para os momentos de maior tensão, como os jogos decisivos, as disputas por medalhas e os reflexos do peso emocional que impactam nas derrotas ou nas vitórias.
Com produção da Higher Ground Productions, em parceria com o Olympic Channel e Words + Pictures, "Quadra de Ouro" é uma experiência essencial para os fãs do esporte. A minissérie entrega um registro envolvente e bem produzido da luta pelo ouro olímpico, trazendo à tona não apenas o talento e a estratégia, mas também nuances de comportamento que definem grandes campeões. Com um equilíbrio entre ação, drama e história, esta é uma das produções mais interessantes sobre o esporte que já acompanhamos e certamente vai merecer um lugar ao lado dos grandes documentários da atualidade, como a queridinha "The Last Dance"!
Vale muito o seu play!
Tirando seu protagonista icônico, "Um Completo Desconhecido" não tem absolutamente nada de novo - e isso poderia até soar ruim, mas não: o filme é muito bom! James Mangold, um diretor que já demonstrou sua habilidade em biografias musicais com "Johnny & June" (de 2005), agora retorna ao gênero com "A Complete Unknown", no original - um filme que surge da premissa de explorar um dos momentos mais emblemáticos da carreira de Bob Dylan. Estrelado por Timothée Chalamet, a narrativa se concentra na transição de Dylan do seu folk acústico para um rock cheio de eletricidade dos anos 1960 - um período que redefiniu sua trajetória e polarizou sua base de fãs. Assim como "Não Estou Lá", do diretor Todd Haynes, que retratou Dylan de forma fragmentada, "Um Completo Desconhecido" busca capturar a essência de um artista único, em constante reinvenção, mas com aquela abordagem mais linear, para não dizer tradicional, lembrando produções como "Bohemian Rhapsody" e, mais recentemente, "Elvis", que dramatizam a ascensão de um ícone da música, mas também a complexidade de seus conflitos internos.
A narrativa se desenrola no contexto do Festival de Newport de 1965, quando Dylan (Chalamet) surpreendeu (e enfureceu) os puristas do folk ao empunhar uma guitarra elétrica no palco. O roteiro, baseado no livro "Dylan Goes Electric!" de Elijah Wald, não se limita a reconstruir esse evento, claro, mas busca se aprofundar na relação do cantor com figuras-chave da época, como Joan Baez (Monica Barbaro), Pete Seeger (Edward Norton) eSylvie Russo (Elle Fanning). A escolha de Mangold em focar nesse recorte específico da vida de Dylan evita o formato convencional mais abrangente de cinebiografias, permitindo um mergulho mais detalhado na tensão entre tradição e inovação, autenticidade e loucura, arte e indústria. Confira o trailer:
Um ponto interessante do trabalho de Mangold é a forma como ele equilibra a mitificação e a desconstrução de Dylan, explorando sua relutância em ser um porta-voz de qualquer movimento - e até de sua feroz resistência em ser definido por algum tipo rótulo. A transição do folk para o rock não é apenas uma escolha musical, mas uma declaração de independência artística que marcou Dylan por anos - o filme acerta na mosca ao explorar as reações exacerbadas do seu público, de artistas e de alguns empresários diante dessa mudança. A tensão, aliás, cresce conforme Dylan enfrenta a ira dos puristas, simbolizando, além de tudo, seus dilemas perante sua própria identidade artística e seus desafios diante de sua ascensão meteórica. Meu único incomodo aqui, está na abordagem de Mangold: ele segue um caminho mais convencional que para mim, soou preguiçoso (o que me fez ficar muito surpreso por sua indicação ao Oscar). Isso define o filme como ruim? Longe disso, mas também é inegável que "Um Completo Desconhecido" aposta mais em uma estrutura acessível e emocional, que pode agradar ao grande público, do que algo mais desconstruído e subjetivo como muitos esperavam que Mangold entregaria.
Já Timothée Chalamet entrega uma performance meticulosa - que lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar de "Melhor Ator". Chalamet foge da imitação barata para capturar a persona enigmática e a atitude irreverente de Dylan. Seu trabalho vocal, essencial aqui, impressiona; especialmente pelo fato de ele mesmo interpretar as canções ao invés de recorrer às dublagens. Monica Barbaro, outra que ganhou uma indicação ao Oscar, assume com intensidade o papel de Joan Baez, demonstrando a complexa dinâmica entre os dois músicos, que transitava entre admiração, rivalidade e uma inevitável desconexão - especialmente quando Dylan se distancia da cena folk. Edward Norton, também indicado como "Coadjuvante", traz um equilíbrio necessário para narrativa, funcionando tanto como mentor quanto como catalisador emocional da metamorfose artística do protagonista.
Tecnicamente,"Um Completo Desconhecido"reforça sua atmosfera nostálgica com uma fotografia que remete ao cinema da década de 1960, assinada por Phedon Papamichael (de "Nebraska" e "Os 7 de Chigago"). O departamento de arte reconstrói minuciosamente os bastidores da cena musical folk de Greenwich Village e a transição para um Dylan mais sofisticado, cercado por músicos do blues elétrico. A trilha sonora, obviamente, é um dos pontos altos do filme - repare como a curadoria das canções reflete as camadas emocionais do protagonista, evitando um mero "greatest hits" e privilegiando faixas que dialogam com os dilemas de Dylan. No fim, "Um Completo Desconhecido" se destaca como uma cinebiografia sólida, talvez por isso tão tradicional, que é impulsionada por performances marcantes e por um olhar cuidadoso sobre um momento crucial da história do rock. O filme não tenta decifrar Bob Dylan, mas captura um instante em que ele se reinventou e, ao fazer isso, mudou para sempre o rumo da música americana.
Vale muito a pena!
Um Completo Desconhecido" recebeu oito indicações ao Oscar 2025!
O filme está em cartaz nos cinemas.
Tirando seu protagonista icônico, "Um Completo Desconhecido" não tem absolutamente nada de novo - e isso poderia até soar ruim, mas não: o filme é muito bom! James Mangold, um diretor que já demonstrou sua habilidade em biografias musicais com "Johnny & June" (de 2005), agora retorna ao gênero com "A Complete Unknown", no original - um filme que surge da premissa de explorar um dos momentos mais emblemáticos da carreira de Bob Dylan. Estrelado por Timothée Chalamet, a narrativa se concentra na transição de Dylan do seu folk acústico para um rock cheio de eletricidade dos anos 1960 - um período que redefiniu sua trajetória e polarizou sua base de fãs. Assim como "Não Estou Lá", do diretor Todd Haynes, que retratou Dylan de forma fragmentada, "Um Completo Desconhecido" busca capturar a essência de um artista único, em constante reinvenção, mas com aquela abordagem mais linear, para não dizer tradicional, lembrando produções como "Bohemian Rhapsody" e, mais recentemente, "Elvis", que dramatizam a ascensão de um ícone da música, mas também a complexidade de seus conflitos internos.
A narrativa se desenrola no contexto do Festival de Newport de 1965, quando Dylan (Chalamet) surpreendeu (e enfureceu) os puristas do folk ao empunhar uma guitarra elétrica no palco. O roteiro, baseado no livro "Dylan Goes Electric!" de Elijah Wald, não se limita a reconstruir esse evento, claro, mas busca se aprofundar na relação do cantor com figuras-chave da época, como Joan Baez (Monica Barbaro), Pete Seeger (Edward Norton) eSylvie Russo (Elle Fanning). A escolha de Mangold em focar nesse recorte específico da vida de Dylan evita o formato convencional mais abrangente de cinebiografias, permitindo um mergulho mais detalhado na tensão entre tradição e inovação, autenticidade e loucura, arte e indústria. Confira o trailer:
Um ponto interessante do trabalho de Mangold é a forma como ele equilibra a mitificação e a desconstrução de Dylan, explorando sua relutância em ser um porta-voz de qualquer movimento - e até de sua feroz resistência em ser definido por algum tipo rótulo. A transição do folk para o rock não é apenas uma escolha musical, mas uma declaração de independência artística que marcou Dylan por anos - o filme acerta na mosca ao explorar as reações exacerbadas do seu público, de artistas e de alguns empresários diante dessa mudança. A tensão, aliás, cresce conforme Dylan enfrenta a ira dos puristas, simbolizando, além de tudo, seus dilemas perante sua própria identidade artística e seus desafios diante de sua ascensão meteórica. Meu único incomodo aqui, está na abordagem de Mangold: ele segue um caminho mais convencional que para mim, soou preguiçoso (o que me fez ficar muito surpreso por sua indicação ao Oscar). Isso define o filme como ruim? Longe disso, mas também é inegável que "Um Completo Desconhecido" aposta mais em uma estrutura acessível e emocional, que pode agradar ao grande público, do que algo mais desconstruído e subjetivo como muitos esperavam que Mangold entregaria.
Já Timothée Chalamet entrega uma performance meticulosa - que lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar de "Melhor Ator". Chalamet foge da imitação barata para capturar a persona enigmática e a atitude irreverente de Dylan. Seu trabalho vocal, essencial aqui, impressiona; especialmente pelo fato de ele mesmo interpretar as canções ao invés de recorrer às dublagens. Monica Barbaro, outra que ganhou uma indicação ao Oscar, assume com intensidade o papel de Joan Baez, demonstrando a complexa dinâmica entre os dois músicos, que transitava entre admiração, rivalidade e uma inevitável desconexão - especialmente quando Dylan se distancia da cena folk. Edward Norton, também indicado como "Coadjuvante", traz um equilíbrio necessário para narrativa, funcionando tanto como mentor quanto como catalisador emocional da metamorfose artística do protagonista.
Tecnicamente,"Um Completo Desconhecido"reforça sua atmosfera nostálgica com uma fotografia que remete ao cinema da década de 1960, assinada por Phedon Papamichael (de "Nebraska" e "Os 7 de Chigago"). O departamento de arte reconstrói minuciosamente os bastidores da cena musical folk de Greenwich Village e a transição para um Dylan mais sofisticado, cercado por músicos do blues elétrico. A trilha sonora, obviamente, é um dos pontos altos do filme - repare como a curadoria das canções reflete as camadas emocionais do protagonista, evitando um mero "greatest hits" e privilegiando faixas que dialogam com os dilemas de Dylan. No fim, "Um Completo Desconhecido" se destaca como uma cinebiografia sólida, talvez por isso tão tradicional, que é impulsionada por performances marcantes e por um olhar cuidadoso sobre um momento crucial da história do rock. O filme não tenta decifrar Bob Dylan, mas captura um instante em que ele se reinventou e, ao fazer isso, mudou para sempre o rumo da música americana.
Vale muito a pena!
Um Completo Desconhecido" recebeu oito indicações ao Oscar 2025!
O filme está em cartaz nos cinemas.