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Ferrari

"Ferrari" caminha na linha tênue entre o "ame ou odeie" pelo simples pretensiosismo de querer ir além do que desvendar um personagem complexo em apenas 120 minutos. Se você está esperando um filme sobre os desafios de uma prova de automobilismo como "Ford x Ferrari", provavelmente você vai se decepcionar. Se por outro lado você acha que está diante de um drama de relações potente como "História de um Casamento" você também pode se frustar, no entanto, é preciso que se diga, que o filme do diretor Michael Mann tem um pouco das duas coisas, em camadas menos profundas, é verdade, mas que traz uma certa dinâmica para a narrativa - o único "porém" é a sensação de que nada foi explorado como poderia. Mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas saiba que com um roteiro pautado na biografia de Enzo Ferrari, o que você vai encontrar é muito mais uma análise íntima de como o grande "commendatore" lidava com seus problemas do que uma jornada de ambição, de perda e de busca por redenção em um momento crucial de sua vida - ao fim do terceiro ato, você vai entender onde quero chegar.

O filme se desenrola em 1957, quando a Scuderia Ferrari enfrenta uma grave crise financeira. Atormentado pela morte de seu filho Dino e pelo declínio da empresa que construiu com sua esposa Laura (Penélope Cruz), Enzo (Adam Driver) decide apostar tudo na emblemática e catastrófica corrida Mille Miglia. A decisão arriscada coloca em xeque não apenas o futuro da Ferrari, mas também o seu próprio casamento. Confira o trailer:

É inegável que através da direção precisa de Mann, somos transportados para um universo onde um homem é atormentado por seus demônios internos. Essa premissa funciona porque a parte do "homem atormentado" se sobressai perante a do "universo". Com roteiro Troy Kennedy Martin, baseado no livro de Brock Yates, "Ferrari" não se limita a retratar os feitos de Enzo como empreendedor ou como visionário, mas também procura explorar as profundezas de sua alma, revelando suas falhas, seus conflitos internos e suas motivações mais pessoais - a grande questão, no entanto, é que se dividíssemos em dois caminhos, provavelmente teríamos mais nuances dessa jornada tão incrível. Veja, através da figura de Enzo, somos convidados a refletir sobre a ambição, o luto, a redenção e o preço do sucesso, o que acho que faltou é só um pouco mais de tempo para que tudo fizesse sentido como obra única.

Driver entrega uma performance realmente impecável, capturando toda força do seu personagem a partir de sua obsessão e vulnerabilidade - só senti um pouco de falta de entender suas reais motivações. Já Cruz, obviamente, brilha como Laura, a esposa que tenta sobreviver após a perda do filho e que tem que lidar com o marido famoso e infiel, e ao mesmo tempo servir como pilar de apoio em meio às dificuldades. Mann se aproveita de tanto talento para construir um filme com alma e tecnicamente exemplar - de um lado focando nos atores e do outro criando sequências de ação de tirar o fôlego. Aliás, a cena do acidente em Guidizzol é realmente impactante. É aqui que entra uma fotografia impecável do Erik Messerschmidt (de "O Assassino") - ele captura a beleza estonteante da Itália dos anos 50 e a adrenalina das corridas de automobilismo com a mesma beleza com que enquadra Driver e Cruz discutindo uma relação cheia de mágoas e dor.

Se as cenas de corrida são perfeitas, transmitindo a emoção e o perigo das competições naquela época, "Ferrari" parece pecar por não escolher apenas um lado da moeda. Ao olhar em retrospectiva, o acidente de Mille Miglia não se conecta com os dramas matrimoniais que Enzo enfrenta minutos antes - é como se precisássemos de dois filmes para cobrir tantos eventos importantes, mas distintos em sua origem. Com isso "Ferrari" acaba sendo um bom exemplo de como atuações excepcionais, uma direção impecável e uma história que merecia ser contada, não necessariamente se transforma em um filme inesquecível. O fato é que se você se conecta com um universo do esporte, você pode se incomodar com o drama de relação de Enzo e aqui o inverso é totalmente verdadeiro; mas se você estiver disposto em embarcar na proposta de Mann, aposto que seu entretenimento está mais que garantido!

Assista Agora

"Ferrari" caminha na linha tênue entre o "ame ou odeie" pelo simples pretensiosismo de querer ir além do que desvendar um personagem complexo em apenas 120 minutos. Se você está esperando um filme sobre os desafios de uma prova de automobilismo como "Ford x Ferrari", provavelmente você vai se decepcionar. Se por outro lado você acha que está diante de um drama de relações potente como "História de um Casamento" você também pode se frustar, no entanto, é preciso que se diga, que o filme do diretor Michael Mann tem um pouco das duas coisas, em camadas menos profundas, é verdade, mas que traz uma certa dinâmica para a narrativa - o único "porém" é a sensação de que nada foi explorado como poderia. Mas o filme é ruim? Não, longe disso, mas saiba que com um roteiro pautado na biografia de Enzo Ferrari, o que você vai encontrar é muito mais uma análise íntima de como o grande "commendatore" lidava com seus problemas do que uma jornada de ambição, de perda e de busca por redenção em um momento crucial de sua vida - ao fim do terceiro ato, você vai entender onde quero chegar.

O filme se desenrola em 1957, quando a Scuderia Ferrari enfrenta uma grave crise financeira. Atormentado pela morte de seu filho Dino e pelo declínio da empresa que construiu com sua esposa Laura (Penélope Cruz), Enzo (Adam Driver) decide apostar tudo na emblemática e catastrófica corrida Mille Miglia. A decisão arriscada coloca em xeque não apenas o futuro da Ferrari, mas também o seu próprio casamento. Confira o trailer:

É inegável que através da direção precisa de Mann, somos transportados para um universo onde um homem é atormentado por seus demônios internos. Essa premissa funciona porque a parte do "homem atormentado" se sobressai perante a do "universo". Com roteiro Troy Kennedy Martin, baseado no livro de Brock Yates, "Ferrari" não se limita a retratar os feitos de Enzo como empreendedor ou como visionário, mas também procura explorar as profundezas de sua alma, revelando suas falhas, seus conflitos internos e suas motivações mais pessoais - a grande questão, no entanto, é que se dividíssemos em dois caminhos, provavelmente teríamos mais nuances dessa jornada tão incrível. Veja, através da figura de Enzo, somos convidados a refletir sobre a ambição, o luto, a redenção e o preço do sucesso, o que acho que faltou é só um pouco mais de tempo para que tudo fizesse sentido como obra única.

Driver entrega uma performance realmente impecável, capturando toda força do seu personagem a partir de sua obsessão e vulnerabilidade - só senti um pouco de falta de entender suas reais motivações. Já Cruz, obviamente, brilha como Laura, a esposa que tenta sobreviver após a perda do filho e que tem que lidar com o marido famoso e infiel, e ao mesmo tempo servir como pilar de apoio em meio às dificuldades. Mann se aproveita de tanto talento para construir um filme com alma e tecnicamente exemplar - de um lado focando nos atores e do outro criando sequências de ação de tirar o fôlego. Aliás, a cena do acidente em Guidizzol é realmente impactante. É aqui que entra uma fotografia impecável do Erik Messerschmidt (de "O Assassino") - ele captura a beleza estonteante da Itália dos anos 50 e a adrenalina das corridas de automobilismo com a mesma beleza com que enquadra Driver e Cruz discutindo uma relação cheia de mágoas e dor.

Se as cenas de corrida são perfeitas, transmitindo a emoção e o perigo das competições naquela época, "Ferrari" parece pecar por não escolher apenas um lado da moeda. Ao olhar em retrospectiva, o acidente de Mille Miglia não se conecta com os dramas matrimoniais que Enzo enfrenta minutos antes - é como se precisássemos de dois filmes para cobrir tantos eventos importantes, mas distintos em sua origem. Com isso "Ferrari" acaba sendo um bom exemplo de como atuações excepcionais, uma direção impecável e uma história que merecia ser contada, não necessariamente se transforma em um filme inesquecível. O fato é que se você se conecta com um universo do esporte, você pode se incomodar com o drama de relação de Enzo e aqui o inverso é totalmente verdadeiro; mas se você estiver disposto em embarcar na proposta de Mann, aposto que seu entretenimento está mais que garantido!

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Ficção Americana

Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!

A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):

O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil.  Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.

A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.

Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que  "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.

Imperdível!

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Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!

A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):

O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil.  Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.

A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.

Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que  "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.

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Filhos de Ninguém

É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!

O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.

A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight"). 

"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.

Vale muito o seu play!

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É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!

O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.

A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight"). 

"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.

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Fique Rico ou Morra Tentando

"Fique Rico ou Morra Tentando" é uma jornada tão impressionante que por muitas vezes você vai se perguntar se tudo aquilo de fato aconteceu - e a resposta é: "não, nem tudo que está no filme faz parte da história real do rapper 50 Cent"! Dito isso é possível estabelecer que o filme funciona muito mais como thriller de ação do que como um drama biográfico - o que certamente vai dividir opiniões, porém é fato que após o play, seu entretenimento estará garantido, principalmente se você gostar de séries como "Power", por exemplo.

Marcus (50 Cent) é um jovem da periferia que sofreu uma atentado que por pouco não lhe tirou a vida. Em meio à sua recuperação, ele se lembra de uma vida difícil como órfão nas ruas violentas do Bronx. Sua vida muda após conhecer um ex-condenado, que luta para transforma-lo em uma estrela do rap. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Jim Sheridan (indicado ao Oscar por 6 vezes e que tem em seu currículo clássicos como "Em Nome do Pai" e "Meu Pé Esquerdo"), "Fique Rico ou Morra Tentando" é um excelente exemplo de como uma história bem contada (mesmo com um roteiro mediano) é capaz de criar inúmeras sensações que vão da tensão absurda até o alívio de um momento de emoção -  e aqui sugiro que você repare na ótima performance de Viola Davis como a vó de Marcus para entender como isso acontece na prática.

Como era de se esperar (e mesmo fora da sua zona de conforto), Sheridan comandou uma produção de altíssima qualidade, que tem no seu elenco o maior trunfo. Veja, se Curtis “50 Cent” Jackson não pode ser considerado um grande ator, é de se elogiar a capacidade que o diretor teve em potencializar a naturalidade do rapper criando uma química impressionante com atores veteranos como Adewale Akinnuoye-Agbaje (o Mr. Eko de "Lost") e Terrence Howard (de "Ray"). Se em "Nasce uma Estrela" a jornada (para a fama) do herói (músico) se pautava pelo romance e por uma relação problemática entre um casal improvável, aqui o foco é inversamente proporcional: não existe romantismo, tudo é obscuro, denso - como deve ser o submundo das drogas e da violência nua e crua. Aliás essa atmosfera é brilhantemente retratada por uma fotografia que coloca NY quase como um personagem, graças ao talento de Declan Quinn (o cara por trás de "Hamilton").

"Fique Rico ou Morra Tentando" pode não agradar a todos, mas é inegável sua qualidade como produção cinematográfica. Saíba que a dinâmica narrativa é extremamente eficiente, fazendo com que a história, mesmo carregada de violência e cenas impactantes, flua muito bem e que, embora superficialmente, nos permite embarcar em um universo sombrio, diferente do que vemos em um artista de sucesso como “50 Cent” quando está no palco - algo que também encontramos na minissérie "Mike".

Em tempo: mesmo com uma recepção favorável, chegando a 73% de aprovação da audiência, "Fique Rico ou Morra Tentando" rendeu apenas $46.442.528 dólares em bilheteria, pouco para um filme que havia custado $40.000.000 dólares na época.

Assista Agora

"Fique Rico ou Morra Tentando" é uma jornada tão impressionante que por muitas vezes você vai se perguntar se tudo aquilo de fato aconteceu - e a resposta é: "não, nem tudo que está no filme faz parte da história real do rapper 50 Cent"! Dito isso é possível estabelecer que o filme funciona muito mais como thriller de ação do que como um drama biográfico - o que certamente vai dividir opiniões, porém é fato que após o play, seu entretenimento estará garantido, principalmente se você gostar de séries como "Power", por exemplo.

Marcus (50 Cent) é um jovem da periferia que sofreu uma atentado que por pouco não lhe tirou a vida. Em meio à sua recuperação, ele se lembra de uma vida difícil como órfão nas ruas violentas do Bronx. Sua vida muda após conhecer um ex-condenado, que luta para transforma-lo em uma estrela do rap. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Jim Sheridan (indicado ao Oscar por 6 vezes e que tem em seu currículo clássicos como "Em Nome do Pai" e "Meu Pé Esquerdo"), "Fique Rico ou Morra Tentando" é um excelente exemplo de como uma história bem contada (mesmo com um roteiro mediano) é capaz de criar inúmeras sensações que vão da tensão absurda até o alívio de um momento de emoção -  e aqui sugiro que você repare na ótima performance de Viola Davis como a vó de Marcus para entender como isso acontece na prática.

Como era de se esperar (e mesmo fora da sua zona de conforto), Sheridan comandou uma produção de altíssima qualidade, que tem no seu elenco o maior trunfo. Veja, se Curtis “50 Cent” Jackson não pode ser considerado um grande ator, é de se elogiar a capacidade que o diretor teve em potencializar a naturalidade do rapper criando uma química impressionante com atores veteranos como Adewale Akinnuoye-Agbaje (o Mr. Eko de "Lost") e Terrence Howard (de "Ray"). Se em "Nasce uma Estrela" a jornada (para a fama) do herói (músico) se pautava pelo romance e por uma relação problemática entre um casal improvável, aqui o foco é inversamente proporcional: não existe romantismo, tudo é obscuro, denso - como deve ser o submundo das drogas e da violência nua e crua. Aliás essa atmosfera é brilhantemente retratada por uma fotografia que coloca NY quase como um personagem, graças ao talento de Declan Quinn (o cara por trás de "Hamilton").

"Fique Rico ou Morra Tentando" pode não agradar a todos, mas é inegável sua qualidade como produção cinematográfica. Saíba que a dinâmica narrativa é extremamente eficiente, fazendo com que a história, mesmo carregada de violência e cenas impactantes, flua muito bem e que, embora superficialmente, nos permite embarcar em um universo sombrio, diferente do que vemos em um artista de sucesso como “50 Cent” quando está no palco - algo que também encontramos na minissérie "Mike".

Em tempo: mesmo com uma recepção favorável, chegando a 73% de aprovação da audiência, "Fique Rico ou Morra Tentando" rendeu apenas $46.442.528 dólares em bilheteria, pouco para um filme que havia custado $40.000.000 dólares na época.

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Força Maior

Força Maior

"Força Maior" é sobre um relacionamento que não existe mais e onde um evento marcante funciona apenas como gatilho para expor a fragilidade de uma relação desgastada e que mesmo apoiada em uma estrutura familiar aparentemente segura, já não faz mais nenhum sentido para o casal - por mais dolorido que possa ser assistir a história acontecendo, é o sentimento que o diretor Ruben Östlund (o mesmo de "The Square") consegue nos provocar através dos seus protagonistas que transforma o filme em algo quase insuportável emocionalmente de lidar.

Durante as férias em família em um luxuoso hotel nos Alpes Suíços, uma família é surpreendida por uma avalanche que se aproxima do restaurante onde estão almoçando. Cego pelo desespero, o pai, Tomás (Johannes Kuhnke), reage impulsivamente deixando sua mulher, Ebba (Lisa Loven Kongsli), e seus dois filhos pequenos para trás. Passado o susto, essa sua atitude se transforma em um grande problema para seu casamento e para o relacionamento com todos a sua volta. Confira o trailer:

"Força Maior" não é um filme fácil. Sua narrativa extremamente cadenciada deixa claro uma identidade bastante autoral de Östlund e que nem todos vão se identificar -principalmente com a quantidade de simbolismo que o roteiro vai propondo para sua audiência durante a história. Como em "The Square" (indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2018), nada que assistimos em cena é por acaso e toda relação entre os personagens esconde, na verdade, uma série de camadas que vão se revelando com o passar do tempo - que, inclusive, aqui, é indicado por uma legenda no inicio de cada ato.

A sensação de vazio que o diretor constrói é de uma profundidade única - hora com planos abertos, uma câmera fixa, apenas como observador; hora com takes mais longos que o necessário, aproveitando ou o silêncio da situação ou o cenário gélido lindamente enquadrado pelo diretor de fotografia, o excelente Fredrik Wenzel, mesmo depois que a ação termina. Reparem como essa dinâmica nos causa um certo desconforto e como o silêncio (ensurdecedor) muitas vezes nos incomoda mais do que se os personagens estivessem gritando um com o outro em cena. As cenas onde Ebba expõe sua decepção com o marido em jantares com amigos (e são duas dessas) são um bom exemplo: elas representam um constrangimento quase que insuportável entre a fala dela e as reações dos personagens que escutam a história. Tanto Johannes Kuhnke quanto Lisa Loven Kongsli, aliás, são capazes de decodificar suas emoções de uma forma tão contida que é impossível não nos colocarmos no lugar deles nessas situações - é um aula de atuação e de direção de atores.

Vencedor do prêmio de melhor filme da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes de 2014 e vastamente premiado em festivais importantes ao redor do globo, "Força Maior" vai dialogar com aqueles que se conectaram com filmes ou séries como "História de um Casamento"ou "Cenas de um Casamento". Perceba como Östlund usa de uma certa tortura moral como uma espécie de crítica às relações de uma sociedade extremamente superficial, que muitas vezes vivem na ilusão de uma família perfeita onde a felicidade está ligada ao dinheiro e a adoração dos amigos, mas que esquecem do que realmente importa: o amor que um dia pode até ter existido, mas que o tempo não perdoou em destruir.

Vale muito o seu play e sua reflexão!

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"Força Maior" é sobre um relacionamento que não existe mais e onde um evento marcante funciona apenas como gatilho para expor a fragilidade de uma relação desgastada e que mesmo apoiada em uma estrutura familiar aparentemente segura, já não faz mais nenhum sentido para o casal - por mais dolorido que possa ser assistir a história acontecendo, é o sentimento que o diretor Ruben Östlund (o mesmo de "The Square") consegue nos provocar através dos seus protagonistas que transforma o filme em algo quase insuportável emocionalmente de lidar.

Durante as férias em família em um luxuoso hotel nos Alpes Suíços, uma família é surpreendida por uma avalanche que se aproxima do restaurante onde estão almoçando. Cego pelo desespero, o pai, Tomás (Johannes Kuhnke), reage impulsivamente deixando sua mulher, Ebba (Lisa Loven Kongsli), e seus dois filhos pequenos para trás. Passado o susto, essa sua atitude se transforma em um grande problema para seu casamento e para o relacionamento com todos a sua volta. Confira o trailer:

"Força Maior" não é um filme fácil. Sua narrativa extremamente cadenciada deixa claro uma identidade bastante autoral de Östlund e que nem todos vão se identificar -principalmente com a quantidade de simbolismo que o roteiro vai propondo para sua audiência durante a história. Como em "The Square" (indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2018), nada que assistimos em cena é por acaso e toda relação entre os personagens esconde, na verdade, uma série de camadas que vão se revelando com o passar do tempo - que, inclusive, aqui, é indicado por uma legenda no inicio de cada ato.

A sensação de vazio que o diretor constrói é de uma profundidade única - hora com planos abertos, uma câmera fixa, apenas como observador; hora com takes mais longos que o necessário, aproveitando ou o silêncio da situação ou o cenário gélido lindamente enquadrado pelo diretor de fotografia, o excelente Fredrik Wenzel, mesmo depois que a ação termina. Reparem como essa dinâmica nos causa um certo desconforto e como o silêncio (ensurdecedor) muitas vezes nos incomoda mais do que se os personagens estivessem gritando um com o outro em cena. As cenas onde Ebba expõe sua decepção com o marido em jantares com amigos (e são duas dessas) são um bom exemplo: elas representam um constrangimento quase que insuportável entre a fala dela e as reações dos personagens que escutam a história. Tanto Johannes Kuhnke quanto Lisa Loven Kongsli, aliás, são capazes de decodificar suas emoções de uma forma tão contida que é impossível não nos colocarmos no lugar deles nessas situações - é um aula de atuação e de direção de atores.

Vencedor do prêmio de melhor filme da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes de 2014 e vastamente premiado em festivais importantes ao redor do globo, "Força Maior" vai dialogar com aqueles que se conectaram com filmes ou séries como "História de um Casamento"ou "Cenas de um Casamento". Perceba como Östlund usa de uma certa tortura moral como uma espécie de crítica às relações de uma sociedade extremamente superficial, que muitas vezes vivem na ilusão de uma família perfeita onde a felicidade está ligada ao dinheiro e a adoração dos amigos, mas que esquecem do que realmente importa: o amor que um dia pode até ter existido, mas que o tempo não perdoou em destruir.

Vale muito o seu play e sua reflexão!

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Gêmeas: Mórbida Semelhança

Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

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Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!

Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:

Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.

Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.

Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!

Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!

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Geração Riqueza

"Geração Riqueza" é um excelente (e duro) documentário da Amazon Studios sobre uma realidade social praticamente isenta de equilíbrio. Embora não seja uma experiência como "Fake Famous", o propósito é basicamente o mesmo: mostrar como valores essenciais estão subvertidos pelo dinheiro, fama, aparência e sexo - tudo sob o ponto de vista antropológico.

O documentário é parte de um projeto de 20 anos da fotógrafa Lauren Greenfield e mostra os excessos da cultura americana, compartilhada em grande parte do mundo em decorrência da globalização, onde o exagero de estilos de vida, movidos a muito dinheiro, que levam à compra de imensas casas, carros luxuosos e os mais supérfluos tipos de gastos, sempre com a intenção de impressionar o próximo, de chamar a atenção nas redes sociais e ainda massagear o ego. Lauren apresenta, por meio de personagens muito interessantes – da mãe que transformou a filha em modelo com apenas 3 anos de idade até a executiva que deixou a vida pessoal de lado por muitos anos e quis recuperar o tempo perdido gastando mais de meio milhão de dólares para tentar engravidar. "Geração Riqueza" é um reflexo da obsessão por riqueza e status social que, embora seja o principal combustível responsável por mover a economia do país, destrói as referências mais profundas de bom senso. Confira o trailer (em inglês):

“Generation Wealth” (no original) é muito feliz ao conduzir sua narrativa a partir das histórias de vida de jovens ricos em Los Angeles nos anos 90. Lauren Greenfield nos apresenta, com muita sensibilidade, o destino de muitos personagens, que naquela época possuíam um estilo de vida extravagante, e se tornaram agora pais de famílias e questionadores do seu comportamento no passado. Abrindo espaço para análises sociológicas, mas sem soar didático demais, o documentário faz uma radiografia de como o sonho americano se transformou em algo tão superficial como na busca de fama, fortuna (independente dos meios) e status social a partir dos anos 1970 e 1980 quando o crédito passou a ser facilitado pelos bancos - o que anos mais tarde culminou em uma grave crise imobiliária, diga-se de passagem exemplificada pela própria Islândia como vimos em "Trabalho Interno".

Relacionando o sucesso e dinheiro com a cultura da perfeição estética através de caros (e rentáveis) tratamentos com cosméticos e cirurgias plásticas, a valorização e o acesso à pornografia, jovens que transformam seus corpos em busca de reconhecimento masculino ou da mídia inspirados por celebridades como as Kardashians, vemos histórias sobre escolhas profissionais e pessoais que priorizam a fantasiosa sensação de bem estar que o dinheiro provoca, muitas vezes a partir de depoimentos surreais, tristes, reveladores e emocionantes, o roteiro facilmente nos convida para uma profunda reflexão crítica: como parte da sociedade vive alienada sem conseguir separar a realidade da ficção trazida por redes sociais e pela TV!

Olha, é um documentário tão impressionante quanto assustador - pela humanidade das histórias e pelo peso da realidade de uma geração que não tem a menor noção dos limites para alcançar um determinado status ou conseguir chamar a atenção pelo que se tem e não pelo que se é! Quando um filme "vazado", contendo uma relação sexual, transforma uma mulher em celebridade e passa a ser referência para muitos jovens, temos a exata ideia de como essa sociedade está doente e perdeu completamente a noção do respeito.

Realmente imperdível!

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"Geração Riqueza" é um excelente (e duro) documentário da Amazon Studios sobre uma realidade social praticamente isenta de equilíbrio. Embora não seja uma experiência como "Fake Famous", o propósito é basicamente o mesmo: mostrar como valores essenciais estão subvertidos pelo dinheiro, fama, aparência e sexo - tudo sob o ponto de vista antropológico.

O documentário é parte de um projeto de 20 anos da fotógrafa Lauren Greenfield e mostra os excessos da cultura americana, compartilhada em grande parte do mundo em decorrência da globalização, onde o exagero de estilos de vida, movidos a muito dinheiro, que levam à compra de imensas casas, carros luxuosos e os mais supérfluos tipos de gastos, sempre com a intenção de impressionar o próximo, de chamar a atenção nas redes sociais e ainda massagear o ego. Lauren apresenta, por meio de personagens muito interessantes – da mãe que transformou a filha em modelo com apenas 3 anos de idade até a executiva que deixou a vida pessoal de lado por muitos anos e quis recuperar o tempo perdido gastando mais de meio milhão de dólares para tentar engravidar. "Geração Riqueza" é um reflexo da obsessão por riqueza e status social que, embora seja o principal combustível responsável por mover a economia do país, destrói as referências mais profundas de bom senso. Confira o trailer (em inglês):

“Generation Wealth” (no original) é muito feliz ao conduzir sua narrativa a partir das histórias de vida de jovens ricos em Los Angeles nos anos 90. Lauren Greenfield nos apresenta, com muita sensibilidade, o destino de muitos personagens, que naquela época possuíam um estilo de vida extravagante, e se tornaram agora pais de famílias e questionadores do seu comportamento no passado. Abrindo espaço para análises sociológicas, mas sem soar didático demais, o documentário faz uma radiografia de como o sonho americano se transformou em algo tão superficial como na busca de fama, fortuna (independente dos meios) e status social a partir dos anos 1970 e 1980 quando o crédito passou a ser facilitado pelos bancos - o que anos mais tarde culminou em uma grave crise imobiliária, diga-se de passagem exemplificada pela própria Islândia como vimos em "Trabalho Interno".

Relacionando o sucesso e dinheiro com a cultura da perfeição estética através de caros (e rentáveis) tratamentos com cosméticos e cirurgias plásticas, a valorização e o acesso à pornografia, jovens que transformam seus corpos em busca de reconhecimento masculino ou da mídia inspirados por celebridades como as Kardashians, vemos histórias sobre escolhas profissionais e pessoais que priorizam a fantasiosa sensação de bem estar que o dinheiro provoca, muitas vezes a partir de depoimentos surreais, tristes, reveladores e emocionantes, o roteiro facilmente nos convida para uma profunda reflexão crítica: como parte da sociedade vive alienada sem conseguir separar a realidade da ficção trazida por redes sociais e pela TV!

Olha, é um documentário tão impressionante quanto assustador - pela humanidade das histórias e pelo peso da realidade de uma geração que não tem a menor noção dos limites para alcançar um determinado status ou conseguir chamar a atenção pelo que se tem e não pelo que se é! Quando um filme "vazado", contendo uma relação sexual, transforma uma mulher em celebridade e passa a ser referência para muitos jovens, temos a exata ideia de como essa sociedade está doente e perdeu completamente a noção do respeito.

Realmente imperdível!

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Gleason

ELA (esclerose lateral amiotrófica) é um doença do sistema nervoso que enfraquece os músculos e afeta as funções físicas, já que o cérebro não consegue mais se comunicar com o corpo graças a destruição gradual das células nervosas. Agora, imagine ser diagnosticado com apenas 34 anos, ter uma expectativa de vida de 2 a 5 anos e ainda descobrir, na mesma época, que sua esposa está grávida do seu primeiro filho!

Se você, como eu, sentiu um aperto no peito ao ler esse primeiro parágrafo, "A Luta de Steve" (título nacional) mostra justamente a jornada do ex-jogador de futebol americano, ídolo do New Orleans Saints, Steve Gleason, para se adaptar a essa nova realidade e, de alguma forma, ter uma relação com seu filho prestes a nascer. Sem muitos rodeios e de uma forma bastante cruel, o documentário escancara a progressão da doença e a maneira como Steve e sua família se preparam para um futuro preocupante. A medida que vemos os vídeos gravados por eles mesmos, entendemos o poder devastador da doença como poucas vezes vi documentado - trazendo discussões complexas sobre fé, convivência, resiliência, aceitação, esperança, etc! Confira o trailer (em inglês):

"Gleason" tem quase duas horas e é muito duro! Muito difícil de digerir e emocionante. As escolhas do diretor J. Clay Tweel só colaboram para um retrato real de como a doença vai destruindo o paciente e mudando completamente sua relação com a família e com o mundo - a opção por mostrar cenas inteiras sem muita edição só potencializa uma enxurrada de sensações que temos ao acompanhar Steve. É difícil, mas não por acaso o documentário ganhou o "Critics' Choice Documentary Awards", o "SXSW Film Festival" e ainda foi finalista do "Sundance Festival" em 2016.

Produzido pela "Amazon Studios", o documentário tem momentos únicos que valem muito sua atenção. O primeiro mostra a reação de esposa de Steve quando seu sogro leva o filho para conhecer um curandeiro - embora seja tocante a força de vontade e desejo de continuar vivendo de Steve, o que vemos sem corte algum é muito dolorido. Outro momento interessante é a discussão que Steve tem com seu pai sobre fé - são pontos de vista completamente diferentes, mas o que nos comove é a força da relação construída na cena e a dor que ambos (pais) tem que suportar. E para finalizar, a forma como Steve usa de sua notoriedade como esportista para ajudar outros pacientes de ELA. 

(Provavelmente você vai se lembrar de uma famosa campanha que viralizou em 2015 com o "Desafio do Balde de Gelo". Nela, celebridades se desafiavam a jogar um balde cheio de gelo em troca de doações para a pesquisa de ELA. Steve, inclusive, desafiou oPresidente Obama depois que ele aprovou a Lei Steven Gleason - o ato assinado pelo presidente americano dava acesso médico para as pessoas com a doença para conseguir um aparelho que gerava uma mensagem de acordo com os comandos visuais.) 

Misturando gravações pessoais, noticiários da época, entrevistas com familiares, amigos e, claro, com Steve e sua mulher, Michel Varisco, "Gleason" vai fundo no reflexos sociais, familiares, fisico e psicológico da doença! Vale muito a pena, mas é preciso estar preparado (eu mesmo pensei em desistir algumas vezes)!

Ah, antes de finalizar, o documentário ainda mostra uma conversa emocionante e franca com o vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, sobre paternidade e escolhas de vida, que é de apertar o coração!

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ELA (esclerose lateral amiotrófica) é um doença do sistema nervoso que enfraquece os músculos e afeta as funções físicas, já que o cérebro não consegue mais se comunicar com o corpo graças a destruição gradual das células nervosas. Agora, imagine ser diagnosticado com apenas 34 anos, ter uma expectativa de vida de 2 a 5 anos e ainda descobrir, na mesma época, que sua esposa está grávida do seu primeiro filho!

Se você, como eu, sentiu um aperto no peito ao ler esse primeiro parágrafo, "A Luta de Steve" (título nacional) mostra justamente a jornada do ex-jogador de futebol americano, ídolo do New Orleans Saints, Steve Gleason, para se adaptar a essa nova realidade e, de alguma forma, ter uma relação com seu filho prestes a nascer. Sem muitos rodeios e de uma forma bastante cruel, o documentário escancara a progressão da doença e a maneira como Steve e sua família se preparam para um futuro preocupante. A medida que vemos os vídeos gravados por eles mesmos, entendemos o poder devastador da doença como poucas vezes vi documentado - trazendo discussões complexas sobre fé, convivência, resiliência, aceitação, esperança, etc! Confira o trailer (em inglês):

"Gleason" tem quase duas horas e é muito duro! Muito difícil de digerir e emocionante. As escolhas do diretor J. Clay Tweel só colaboram para um retrato real de como a doença vai destruindo o paciente e mudando completamente sua relação com a família e com o mundo - a opção por mostrar cenas inteiras sem muita edição só potencializa uma enxurrada de sensações que temos ao acompanhar Steve. É difícil, mas não por acaso o documentário ganhou o "Critics' Choice Documentary Awards", o "SXSW Film Festival" e ainda foi finalista do "Sundance Festival" em 2016.

Produzido pela "Amazon Studios", o documentário tem momentos únicos que valem muito sua atenção. O primeiro mostra a reação de esposa de Steve quando seu sogro leva o filho para conhecer um curandeiro - embora seja tocante a força de vontade e desejo de continuar vivendo de Steve, o que vemos sem corte algum é muito dolorido. Outro momento interessante é a discussão que Steve tem com seu pai sobre fé - são pontos de vista completamente diferentes, mas o que nos comove é a força da relação construída na cena e a dor que ambos (pais) tem que suportar. E para finalizar, a forma como Steve usa de sua notoriedade como esportista para ajudar outros pacientes de ELA. 

(Provavelmente você vai se lembrar de uma famosa campanha que viralizou em 2015 com o "Desafio do Balde de Gelo". Nela, celebridades se desafiavam a jogar um balde cheio de gelo em troca de doações para a pesquisa de ELA. Steve, inclusive, desafiou oPresidente Obama depois que ele aprovou a Lei Steven Gleason - o ato assinado pelo presidente americano dava acesso médico para as pessoas com a doença para conseguir um aparelho que gerava uma mensagem de acordo com os comandos visuais.) 

Misturando gravações pessoais, noticiários da época, entrevistas com familiares, amigos e, claro, com Steve e sua mulher, Michel Varisco, "Gleason" vai fundo no reflexos sociais, familiares, fisico e psicológico da doença! Vale muito a pena, mas é preciso estar preparado (eu mesmo pensei em desistir algumas vezes)!

Ah, antes de finalizar, o documentário ainda mostra uma conversa emocionante e franca com o vocalista do Pearl Jam, Eddie Vedder, sobre paternidade e escolhas de vida, que é de apertar o coração!

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Golda

Esse é um filme sobre os horrores da guerra pela perspectiva do silêncio. E aqui não estou falando sobre "a ausência de som" e sim sobre a sua jornada solitária de alguém que precisa tomar decisões que impactam a vida de milhares de semelhantes e que precisa carregar a dor de estar nessa posição. Se você está em busca de uma experiência íntima que mistura o drama das tensões geopolíticas com a luta de um personagem histórico que pouca gente conhece, "Golda" é simplesmente imperdível. Dirigido por Guy Nattiv, o filme nos transporta para um momento crucial na história de Israel a partir de uma narrativa truncada, cadenciada, mas extremamente envolvente para aqueles que se identificam com o tema e com esse tipo de dinâmica. Bem ao estilo de "Oslo" ou de "O Destino de uma Nação""Golda" é um filme que se destaca, proporcionando uma visão única e poderosa desse doloroso capítulo da humanidade.

Ambientado na Guerra do Yom Kippur, em 1973, esse drama político baseado em uma história real, mostra como a primeira-ministra Golda Meir (Helen Mirren), conhecida como a “Dama de Ferro” de Israel, enfrenta uma possível destruição do Estado, tomando decisões de alto risco, enquanto trava uma batalha pessoal contra o câncer. Confira o trailer (em inglês):

Esteja preparado para se deparar com um filme difícil na sua proposta narrativa, mas genial na forma com que explora não apenas os desafios políticos da protagonista, mas também sua luta pessoal contra o câncer, oferecendo um olhar íntimo e humano de um momento crítico na história de Israel e também impactante na sua vida. O brilhantismo do trabalho de Mirren, que inexplicavelmente não foi indicada ao Oscar 2024 por esse personagem, está justamente em desmistificar a imagem de Golda Meir como uma líder incansável e segura que toma decisões de alto risco para salvar seu país de uma iminente destruição. Aqui, o que vemos é a fragilidade, o receio, o medo, a dor, e até a insegurança sobre o futuro, mas sempre com muita sensibilidade - o sentimento de Meir está no olhar não nas palavras e isso é bonito demais!

Obviamente que "Golda" brilha não apenas por sua narrativa envolvente ou por uma performance notavelmente acima da média, mas também por elementos técnicos e artísticos que elevam a nossa jornada como audiência. A fotografia do Jasper Wolf (de "Monos - Entre o Céu e o Inferno"), por exemplo, captura de maneira extremamente realista a atmosfera tensa da guerra através dos sentidos - olhar esse horror por uma tela ou escutar o sofrimento por um rádio, estando em segurança, exige do ator um trabalho de introspecção difícil, mas com uma lente fechada (85mm) que super expõe essa condição, conseguimos não só sentir a angustia e a tensão como também testemunhar os reflexos das decisões ali tomadas, sejam elas certas ou erradas. A direção habilidosa de Guy Nattiv (vencedor do Oscar de "Melhor Curta-Metragem" em 2019 por "Skin") sabe da importância dessa dicotomia e não por acaso mescla imagens documentais com suas reconstituições, nos guiando por essas reviravoltas politicas (e bélicas) com a eficiência de quem não esquece que é o ser humano quem transforma uma história. 

Dito isso, é de se elogiar como "Golda" demonstra um compromisso impressionante com a autenticidade histórica, recriando fielmente os eventos da época bem como transformando Helen Mirren na própria Meir com uma maquiagem que rendeu até uma indicação ao Oscar para o time de "ais do que um filme histórico, muito bem produzido e realizado, "Golda" é uma jornada emocional que nos leva aos corredores do poder, revelando a complexidade e coragem por trás da "Dama de Ferro" de Israel. Todo mundo vai gostar? Acho que não, mas se você leu até aqui, pode dar o play porque você não vai se arrepender. História pura, simplesmente imperdível!

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Esse é um filme sobre os horrores da guerra pela perspectiva do silêncio. E aqui não estou falando sobre "a ausência de som" e sim sobre a sua jornada solitária de alguém que precisa tomar decisões que impactam a vida de milhares de semelhantes e que precisa carregar a dor de estar nessa posição. Se você está em busca de uma experiência íntima que mistura o drama das tensões geopolíticas com a luta de um personagem histórico que pouca gente conhece, "Golda" é simplesmente imperdível. Dirigido por Guy Nattiv, o filme nos transporta para um momento crucial na história de Israel a partir de uma narrativa truncada, cadenciada, mas extremamente envolvente para aqueles que se identificam com o tema e com esse tipo de dinâmica. Bem ao estilo de "Oslo" ou de "O Destino de uma Nação""Golda" é um filme que se destaca, proporcionando uma visão única e poderosa desse doloroso capítulo da humanidade.

Ambientado na Guerra do Yom Kippur, em 1973, esse drama político baseado em uma história real, mostra como a primeira-ministra Golda Meir (Helen Mirren), conhecida como a “Dama de Ferro” de Israel, enfrenta uma possível destruição do Estado, tomando decisões de alto risco, enquanto trava uma batalha pessoal contra o câncer. Confira o trailer (em inglês):

Esteja preparado para se deparar com um filme difícil na sua proposta narrativa, mas genial na forma com que explora não apenas os desafios políticos da protagonista, mas também sua luta pessoal contra o câncer, oferecendo um olhar íntimo e humano de um momento crítico na história de Israel e também impactante na sua vida. O brilhantismo do trabalho de Mirren, que inexplicavelmente não foi indicada ao Oscar 2024 por esse personagem, está justamente em desmistificar a imagem de Golda Meir como uma líder incansável e segura que toma decisões de alto risco para salvar seu país de uma iminente destruição. Aqui, o que vemos é a fragilidade, o receio, o medo, a dor, e até a insegurança sobre o futuro, mas sempre com muita sensibilidade - o sentimento de Meir está no olhar não nas palavras e isso é bonito demais!

Obviamente que "Golda" brilha não apenas por sua narrativa envolvente ou por uma performance notavelmente acima da média, mas também por elementos técnicos e artísticos que elevam a nossa jornada como audiência. A fotografia do Jasper Wolf (de "Monos - Entre o Céu e o Inferno"), por exemplo, captura de maneira extremamente realista a atmosfera tensa da guerra através dos sentidos - olhar esse horror por uma tela ou escutar o sofrimento por um rádio, estando em segurança, exige do ator um trabalho de introspecção difícil, mas com uma lente fechada (85mm) que super expõe essa condição, conseguimos não só sentir a angustia e a tensão como também testemunhar os reflexos das decisões ali tomadas, sejam elas certas ou erradas. A direção habilidosa de Guy Nattiv (vencedor do Oscar de "Melhor Curta-Metragem" em 2019 por "Skin") sabe da importância dessa dicotomia e não por acaso mescla imagens documentais com suas reconstituições, nos guiando por essas reviravoltas politicas (e bélicas) com a eficiência de quem não esquece que é o ser humano quem transforma uma história. 

Dito isso, é de se elogiar como "Golda" demonstra um compromisso impressionante com a autenticidade histórica, recriando fielmente os eventos da época bem como transformando Helen Mirren na própria Meir com uma maquiagem que rendeu até uma indicação ao Oscar para o time de "ais do que um filme histórico, muito bem produzido e realizado, "Golda" é uma jornada emocional que nos leva aos corredores do poder, revelando a complexidade e coragem por trás da "Dama de Ferro" de Israel. Todo mundo vai gostar? Acho que não, mas se você leu até aqui, pode dar o play porque você não vai se arrepender. História pura, simplesmente imperdível!

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Green Book

Dos indicados ao Oscar de 2019 na categoria "Melhor Filme", "Green Book" é sem dúvida o mais sensível!!! É uma espécie de "Sideways" com "Intouchables" no que há de melhor dos dois filmes. 

Em um período onde a segregação racial imperava, o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) resolve recrutar um motorista, Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), para acompanhar-lo em uma turnê pelo sul dos EUA. O titulo do filme é uma referência ao guia usado na época para orientar os negros que viajavam pela região. Nele, eram indicados os hotéis, restaurantes e outros locais onde os negros tinham permissão para circular (e de fato esse guia existiu).

Agora fica fácil imaginar o quanto a amizade improvável dos dois personagens fortalece a relação da audiência com o filme - e o diretor Peter Farrelly (de "Debi & Lóide 2"- isso mesmo meu amigo, o cara está no Oscar agora...rs) não faz questão nenhuma de esconder essa sua estratégia - e ele entrega um grande filme!!!!!

"Green Book" recebeu 5 indicações: (1) "Edição", esquece, não vai levar - embora seja uma montagem muito competente, não trás elementos que justificariam uma vitória sobre "Vice", por exemplo! (2) "Roteiro Original", tem chance, mas a briga é de cachorro grande com "Vice" e "Roma"! (3) "Ator Coadjuvante", Mahershala Ali está incrível no personagem e é a minha aposta! (4) "Ator", Viggo Mortensen mereceu a indicação, é sua terceira e talvez a mais forte delas, mas em uma categoria com Christian Bale e Rami Malek acho muito improvável - uma pena, porque seria merecidíssimo! (5) "Filme", olha, vou dizer uma coisa que disse quando assisti "Moonlight" e "O Artista", não vou me surpreender se ganhar - é difícil, mas tem tantos elementos que a Academia adora, que é factível uma vitória correndo por fora!!!

O fato é que "Green Book" é um grande filme e se não tem a elegância cinematográfica de "Roma", tem, talvez, o único elemento que falta para "Roma" se tornar uma unanimidade: o carisma!!! Assista e me agradeça eternamente, vale muito o play!!!

Up-date: "Green Book" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Roteiro Original, Ator Coadjuvante e Melhor Filme"!

 Assista Agora 

Dos indicados ao Oscar de 2019 na categoria "Melhor Filme", "Green Book" é sem dúvida o mais sensível!!! É uma espécie de "Sideways" com "Intouchables" no que há de melhor dos dois filmes. 

Em um período onde a segregação racial imperava, o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) resolve recrutar um motorista, Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), para acompanhar-lo em uma turnê pelo sul dos EUA. O titulo do filme é uma referência ao guia usado na época para orientar os negros que viajavam pela região. Nele, eram indicados os hotéis, restaurantes e outros locais onde os negros tinham permissão para circular (e de fato esse guia existiu).

Agora fica fácil imaginar o quanto a amizade improvável dos dois personagens fortalece a relação da audiência com o filme - e o diretor Peter Farrelly (de "Debi & Lóide 2"- isso mesmo meu amigo, o cara está no Oscar agora...rs) não faz questão nenhuma de esconder essa sua estratégia - e ele entrega um grande filme!!!!!

"Green Book" recebeu 5 indicações: (1) "Edição", esquece, não vai levar - embora seja uma montagem muito competente, não trás elementos que justificariam uma vitória sobre "Vice", por exemplo! (2) "Roteiro Original", tem chance, mas a briga é de cachorro grande com "Vice" e "Roma"! (3) "Ator Coadjuvante", Mahershala Ali está incrível no personagem e é a minha aposta! (4) "Ator", Viggo Mortensen mereceu a indicação, é sua terceira e talvez a mais forte delas, mas em uma categoria com Christian Bale e Rami Malek acho muito improvável - uma pena, porque seria merecidíssimo! (5) "Filme", olha, vou dizer uma coisa que disse quando assisti "Moonlight" e "O Artista", não vou me surpreender se ganhar - é difícil, mas tem tantos elementos que a Academia adora, que é factível uma vitória correndo por fora!!!

O fato é que "Green Book" é um grande filme e se não tem a elegância cinematográfica de "Roma", tem, talvez, o único elemento que falta para "Roma" se tornar uma unanimidade: o carisma!!! Assista e me agradeça eternamente, vale muito o play!!!

Up-date: "Green Book" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Roteiro Original, Ator Coadjuvante e Melhor Filme"!

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Her

Her

"Her" é um grande filme! O roteiro é tão bom, é tão bem filmado que você nem se dá conta que 90% do filme está apoiado em um ator falando sozinho!

Escrito e dirigido por Spike Jonze (de "Onde Vivem os Monstros"), "Her" se passa em um futuro próximo na cidade de Los Angeles e acompanha Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem complexo e emotivo que trabalha escrevendo cartas pessoais e tocantes para outras pessoas. Com o coração partido após o final de um relacionamento, ele começa a ficar intrigado com um novo e avançado sistema operacional que promete ser uma espécie de entidade intuitiva e única - é aí que ele conhece "Samantha", uma voz feminina sensível e surpreendentemente engraçada. A medida em que as necessidades dela aumentam junto com as dele, a amizade dos dois se aprofunda em um eventual amor de um pelo outro. 

"Her" é uma história de amor extremamente original que explora a natureza evolutiva - e os riscos - da intimidade no mundo moderno. Spike Jonze, sempre um gênio, mereceu o Oscar de Roteiro Original (2014) por esse filme, mas merecia o de direção também - foi uma injustiça ele nem ter sido indicado. O filme, tecnicamente, beira a perfeição: cada movimento, cada corte, cada close... Jonze nos coloca dentro daquele universo de uma forma brutal, provocando aquela sensação de solidão do Twombly a todo momento - impressionante!

Não tem como não recomendar esse filme de olhos fechados! Spike Jonze é um mestre, tudo que ele faz é muito bom - se você ainda não conhece o trabalho dele, pode ir atrás que você não vai se arrepender! Olha, eu seria capaz de afirmar que "Her" é um dos melhores filmes que eu já assisti na vida! Se você, como eu, foi deixando essa maravilha de lado, corre porque é uma obra prima que merece muito o seu play!!!

PS: "Her" ganhou em apenas uma das quatro categorias na qual foi indicado para Oscar de 2014, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!

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"Her" é um grande filme! O roteiro é tão bom, é tão bem filmado que você nem se dá conta que 90% do filme está apoiado em um ator falando sozinho!

Escrito e dirigido por Spike Jonze (de "Onde Vivem os Monstros"), "Her" se passa em um futuro próximo na cidade de Los Angeles e acompanha Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem complexo e emotivo que trabalha escrevendo cartas pessoais e tocantes para outras pessoas. Com o coração partido após o final de um relacionamento, ele começa a ficar intrigado com um novo e avançado sistema operacional que promete ser uma espécie de entidade intuitiva e única - é aí que ele conhece "Samantha", uma voz feminina sensível e surpreendentemente engraçada. A medida em que as necessidades dela aumentam junto com as dele, a amizade dos dois se aprofunda em um eventual amor de um pelo outro. 

"Her" é uma história de amor extremamente original que explora a natureza evolutiva - e os riscos - da intimidade no mundo moderno. Spike Jonze, sempre um gênio, mereceu o Oscar de Roteiro Original (2014) por esse filme, mas merecia o de direção também - foi uma injustiça ele nem ter sido indicado. O filme, tecnicamente, beira a perfeição: cada movimento, cada corte, cada close... Jonze nos coloca dentro daquele universo de uma forma brutal, provocando aquela sensação de solidão do Twombly a todo momento - impressionante!

Não tem como não recomendar esse filme de olhos fechados! Spike Jonze é um mestre, tudo que ele faz é muito bom - se você ainda não conhece o trabalho dele, pode ir atrás que você não vai se arrepender! Olha, eu seria capaz de afirmar que "Her" é um dos melhores filmes que eu já assisti na vida! Se você, como eu, foi deixando essa maravilha de lado, corre porque é uma obra prima que merece muito o seu play!!!

PS: "Her" ganhou em apenas uma das quatro categorias na qual foi indicado para Oscar de 2014, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!

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Homecoming

Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano. 

Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):

Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.

Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.

Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.

Imperdível!

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Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano. 

Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):

Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.

Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.

Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.

Imperdível!

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Homem-Aranha: Sem Volta para Casa

"Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" sem dúvida é um dos melhores filmes do gênero já produzidos! Além de um excelente entretenimento se pensarmos no filme como algo isolado, seu caráter nostálgico também transforma nossa experiência como audiência em algo ainda mais divertido, já que a história recupera a essência e ajusta os caminhos de outras versões do herói que ficaram pelo caminho - eu diria até que "Sem Volta para Casa" serve quase como uma recompensa para quem assistiu os filmes do Homem-Aranha por tanto tempo.

Graças ao que aconteceu no final de "Longe de Casa", Peter Parker (Tom Holland) precisa lidar com as consequências de ter sua identidade como o herói revelada. Incapaz de separar sua vida normal das responsabilidade de ser um super-herói, além de ter sua reputação arruinada pela versão tendenciosa do Clarim, onde ele é acusado de ter matado Mysterio, Parker pede ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) que intervenha com alguma magia e assim faça com que todos esqueçam sua verdadeira identidade. Entretanto, o feitiço não sai como planejado e a situação torna-se ainda mais perigosa quando vilões de outros universos acabam indo parar no seu mundo. Agora, Peter não só precisa deter os vilões de suas outras versões, como também aprender que, com grandes poderes, realmente, vem grandes responsabilidades. Confira o trailer:

A título de curiosidade, "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" é uma espécie de livre adaptação de uma HQ que gerou muita controvérsia em 2007 chamada “Um Dia a Mais”. Aproveitando muito do seu conceito narrativo e cruzando com o planejamento da Marvel de explorar o Multiverso, o filme substitui Mefisto por Doutor Estranho, mas não deixa de pontuar no roteiro algumas passagens interessantes da história clássica (aqui apresentadas em outras versões do herói) sem descaraterizar a atual - alguns fãs mais, digamos, ferrenhos, até criticaram essa escolha, mas, pessoalmente, eu achei interessante, coerente e corajosa.

O diretor Jon Watts, como nos filmes anteriores, aproveita de uma dinâmica visual extremamente moderna tecnicamente para nos colocar ao lado do herói em todos os movimentos que ele faz pelos arranhas-céu de Nova York - essa predileção de Watts por nos provocar essa sensação de liberdade sempre foi algo a se observar, mas me parece que nesse filme ele subiu um degrau (mesmo com um ou outro CG duvidoso) - tem um plano, mais aberto, onde o Homem-Aranha se movimenta com suas teias com um pôr do sol ao fundo que é belíssimo. Outro elemento que o diretor domina e que tem o auxilio do roteiro de seus companheiros de longa data, Chris McKenna e Erik Sommers, sem dúvida, é a pausa correta para que humor espirituoso que enriquece os alívios cômicos funcionem sempre - a própria Marvel deveria aprender mais com a produção da Sony.

"Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" tem um toque de leveza (sem trocadilhos) que é empolgante e em cada gatilho visual, nossa relação com o filme só melhora - embora sem muita razão de acontecer, até a aparição de Charlie Cox faz sentido dentro do nosso coração de fã. A proposta da Marvel sempre foi transformar seu MCU em uma experiência própria, uma espécie de "série" que aproveita das salas de cinema (e agora do streaming) para construir algo maior e marcante para o imaginário coletivo, fantasiada de herói e divertida como uma boa história de HQ -  e essa trilogia de "Homem-Aranha" cumpre muito bem esse papel e fecha com chave-de-ouro a jornada do herói!

Vale muito seu play!

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"Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" sem dúvida é um dos melhores filmes do gênero já produzidos! Além de um excelente entretenimento se pensarmos no filme como algo isolado, seu caráter nostálgico também transforma nossa experiência como audiência em algo ainda mais divertido, já que a história recupera a essência e ajusta os caminhos de outras versões do herói que ficaram pelo caminho - eu diria até que "Sem Volta para Casa" serve quase como uma recompensa para quem assistiu os filmes do Homem-Aranha por tanto tempo.

Graças ao que aconteceu no final de "Longe de Casa", Peter Parker (Tom Holland) precisa lidar com as consequências de ter sua identidade como o herói revelada. Incapaz de separar sua vida normal das responsabilidade de ser um super-herói, além de ter sua reputação arruinada pela versão tendenciosa do Clarim, onde ele é acusado de ter matado Mysterio, Parker pede ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) que intervenha com alguma magia e assim faça com que todos esqueçam sua verdadeira identidade. Entretanto, o feitiço não sai como planejado e a situação torna-se ainda mais perigosa quando vilões de outros universos acabam indo parar no seu mundo. Agora, Peter não só precisa deter os vilões de suas outras versões, como também aprender que, com grandes poderes, realmente, vem grandes responsabilidades. Confira o trailer:

A título de curiosidade, "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" é uma espécie de livre adaptação de uma HQ que gerou muita controvérsia em 2007 chamada “Um Dia a Mais”. Aproveitando muito do seu conceito narrativo e cruzando com o planejamento da Marvel de explorar o Multiverso, o filme substitui Mefisto por Doutor Estranho, mas não deixa de pontuar no roteiro algumas passagens interessantes da história clássica (aqui apresentadas em outras versões do herói) sem descaraterizar a atual - alguns fãs mais, digamos, ferrenhos, até criticaram essa escolha, mas, pessoalmente, eu achei interessante, coerente e corajosa.

O diretor Jon Watts, como nos filmes anteriores, aproveita de uma dinâmica visual extremamente moderna tecnicamente para nos colocar ao lado do herói em todos os movimentos que ele faz pelos arranhas-céu de Nova York - essa predileção de Watts por nos provocar essa sensação de liberdade sempre foi algo a se observar, mas me parece que nesse filme ele subiu um degrau (mesmo com um ou outro CG duvidoso) - tem um plano, mais aberto, onde o Homem-Aranha se movimenta com suas teias com um pôr do sol ao fundo que é belíssimo. Outro elemento que o diretor domina e que tem o auxilio do roteiro de seus companheiros de longa data, Chris McKenna e Erik Sommers, sem dúvida, é a pausa correta para que humor espirituoso que enriquece os alívios cômicos funcionem sempre - a própria Marvel deveria aprender mais com a produção da Sony.

"Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" tem um toque de leveza (sem trocadilhos) que é empolgante e em cada gatilho visual, nossa relação com o filme só melhora - embora sem muita razão de acontecer, até a aparição de Charlie Cox faz sentido dentro do nosso coração de fã. A proposta da Marvel sempre foi transformar seu MCU em uma experiência própria, uma espécie de "série" que aproveita das salas de cinema (e agora do streaming) para construir algo maior e marcante para o imaginário coletivo, fantasiada de herói e divertida como uma boa história de HQ -  e essa trilogia de "Homem-Aranha" cumpre muito bem esse papel e fecha com chave-de-ouro a jornada do herói!

Vale muito seu play!

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Homens à Beira de um Ataque de Nervos

Em um primeiro olhar, "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" pode parecer aquele tipo de comédia pastelão, já que se apoia em esteriótipos muito bem definidos para contar uma história que soa superficial, mas é muito mais profunda do que aquilo que vemos na tela. A jovem diretora Audrey Dana (de "O que as mulheres querem") sabe muito bem disso e é aí que, de uma forma muito inteligente, ela usa da leveza e do sorriso fácil para nos manter engajados com a história e assim, pouco a pouco, vai no conectando com os dramas dos personagem sem pesar muito a mão. Eu diria que o filme é daqueles entretenimentos gostosos de assistir e que no final deixa uma mensagem bacana. Todos vão gostar? Não, definitivamente não. Começando pelo fato de ser uma produção francesa que traz no seu DNA uma ironia que permite o excesso sem soar idiota para quem embarca na narrativa e isso, sem dúvida, não agrada muita gente.Uma boa referência é "Normandia Nua" - se você gostou desse filme, provavelmente você vai se divertir aqui, caso contrário, melhor partir para o próximo.

Em "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" acompanhamos um grupo de homens de diferentes idades que, em crise, se inscrevem para um retiro terapêutico em meio à natureza. O que eles não imaginavam era que essa peculiar jornada de auto-descoberta seria comandada por uma excêntrica mentora chamada Ômega (Marina Hands). Confira o trailer:

O roteiro escrito pela Claire Barré (do premiado "Un monde plus grand") ao lado da própria Dana, embora seja construído com uma base humorística em sua essência, aborda temas profundos e relevantes, oferecendo uma perspectiva sobre a masculinidade contemporânea e os desafios que os homens enfrentam em suas vidas no dia a dia. Dana, com muita sensibilidade, consegue equilibrar com maestria os momentos mais escrachados com passagens mais sensíveis que, mesmo engraçadas, deixam fagulhas que bem trabalhadas entregam uma experiência cinematográfica reflexiva. Um bom exemplo é a discussão sobre a homossexualidade de um dos personagens que ao ser confrontado por um jovem que sofre da "síndrome de Fabry", onde um adulto tem a aparência física de um adolescente, dá uma aula sobre auto-aceitação e preconceito.

Olhando por uma perspectiva mais técnica até, Dana sabe que alternando momentos de humor com introspecção emocional, a audiência tende a se sentir mais tocada. A fotografia do Pierre Aïm (de "Inocência Roubada") merece certa atenção nesse sentido já que ela cria uma atmosfera visualmente envolvente nos planos mais abertos, aproveitando a natureza, mas sempre colocando um personagem em segundo plano, enquanto a ação em si acontece em primeiro plano - o interessante é que essa distância entre os quadros vai diminuindo com o decorrer do filme e no final, todos os personagens estão alinhados no mesmo ponto focal. É como se, visualmente, ficasse claro que embora diferentes em suas dores, no final, todos são iguais. Outro ponto que merece sua atenção, é a trilha sonora - ela é peça fundamental para pontuar as emoções e aqui eu destaco a performance de François-Xavier Demaison (o Antoine) bem no final do filme - muito bonito!

"Homens à Beira de um Ataque de Nervos" usa da qualidade dos seus atores, especialmente de Thierry Lhermitte (Hippolyte) e de Ramzy Bedia (Romain), para nos divertir com algumas das "histerias" mais "normais" do sexo masculino - aliás, essa é uma linha condutora bastante pertinente e proposital que nos remete à antológica comédia espanhola "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" de Pedro Almodóvar. No final, o que cada personagem busca, mesmo que de forma inconsciente, é o amor, a alegria e um sentido para continuar vivendo, e a partir do momento em que cada um deles começa a enfrentar seus traumas e rir de suas próprias frustrações, o tão desejado resultado chega - para eles e, essencialmente, para nós.

Vale seu play!

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Em um primeiro olhar, "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" pode parecer aquele tipo de comédia pastelão, já que se apoia em esteriótipos muito bem definidos para contar uma história que soa superficial, mas é muito mais profunda do que aquilo que vemos na tela. A jovem diretora Audrey Dana (de "O que as mulheres querem") sabe muito bem disso e é aí que, de uma forma muito inteligente, ela usa da leveza e do sorriso fácil para nos manter engajados com a história e assim, pouco a pouco, vai no conectando com os dramas dos personagem sem pesar muito a mão. Eu diria que o filme é daqueles entretenimentos gostosos de assistir e que no final deixa uma mensagem bacana. Todos vão gostar? Não, definitivamente não. Começando pelo fato de ser uma produção francesa que traz no seu DNA uma ironia que permite o excesso sem soar idiota para quem embarca na narrativa e isso, sem dúvida, não agrada muita gente.Uma boa referência é "Normandia Nua" - se você gostou desse filme, provavelmente você vai se divertir aqui, caso contrário, melhor partir para o próximo.

Em "Homens à Beira de um Ataque de Nervos" acompanhamos um grupo de homens de diferentes idades que, em crise, se inscrevem para um retiro terapêutico em meio à natureza. O que eles não imaginavam era que essa peculiar jornada de auto-descoberta seria comandada por uma excêntrica mentora chamada Ômega (Marina Hands). Confira o trailer:

O roteiro escrito pela Claire Barré (do premiado "Un monde plus grand") ao lado da própria Dana, embora seja construído com uma base humorística em sua essência, aborda temas profundos e relevantes, oferecendo uma perspectiva sobre a masculinidade contemporânea e os desafios que os homens enfrentam em suas vidas no dia a dia. Dana, com muita sensibilidade, consegue equilibrar com maestria os momentos mais escrachados com passagens mais sensíveis que, mesmo engraçadas, deixam fagulhas que bem trabalhadas entregam uma experiência cinematográfica reflexiva. Um bom exemplo é a discussão sobre a homossexualidade de um dos personagens que ao ser confrontado por um jovem que sofre da "síndrome de Fabry", onde um adulto tem a aparência física de um adolescente, dá uma aula sobre auto-aceitação e preconceito.

Olhando por uma perspectiva mais técnica até, Dana sabe que alternando momentos de humor com introspecção emocional, a audiência tende a se sentir mais tocada. A fotografia do Pierre Aïm (de "Inocência Roubada") merece certa atenção nesse sentido já que ela cria uma atmosfera visualmente envolvente nos planos mais abertos, aproveitando a natureza, mas sempre colocando um personagem em segundo plano, enquanto a ação em si acontece em primeiro plano - o interessante é que essa distância entre os quadros vai diminuindo com o decorrer do filme e no final, todos os personagens estão alinhados no mesmo ponto focal. É como se, visualmente, ficasse claro que embora diferentes em suas dores, no final, todos são iguais. Outro ponto que merece sua atenção, é a trilha sonora - ela é peça fundamental para pontuar as emoções e aqui eu destaco a performance de François-Xavier Demaison (o Antoine) bem no final do filme - muito bonito!

"Homens à Beira de um Ataque de Nervos" usa da qualidade dos seus atores, especialmente de Thierry Lhermitte (Hippolyte) e de Ramzy Bedia (Romain), para nos divertir com algumas das "histerias" mais "normais" do sexo masculino - aliás, essa é uma linha condutora bastante pertinente e proposital que nos remete à antológica comédia espanhola "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" de Pedro Almodóvar. No final, o que cada personagem busca, mesmo que de forma inconsciente, é o amor, a alegria e um sentido para continuar vivendo, e a partir do momento em que cada um deles começa a enfrentar seus traumas e rir de suas próprias frustrações, o tão desejado resultado chega - para eles e, essencialmente, para nós.

Vale seu play!

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I Wanna Dance with Somebody

Essa era uma história que merecia ser contada - uma pena que foi contada com tanta pressa! "I Wanna Dance with Somebody" é sim um filme muito envolvente por sua trilha sonora (os fãs da cantora vão amar), mas que ao mesmo tempo é muito prejudicado pela escolha criativa do roteirista Anthony McCarten (o mesmo de "Bohemian Rhapsody" - e isso explica muita coisa) em cobrir toda a vida de Whitney Houston em pouco menos de duas horas e meia. Essa escolha faz do filme um produto ruim? Longe disso, mas a sensação de superficialidade em algumas passagens importantes (como o abuso de drogas e álcool ou a derrocada financeira da cantora) pode incomodar os mais exigentes.

O filme é um retrato da complexa e multifacetada mulher por trás de uma voz única. Da garota do coral de Nova Jersey à uma das mais recordistas e premiadas artistas de todos tempos, o público vai ser levado em uma jornada emocionante pela vida e pela carreira de Whitney Houston (Naomi Ackie), com performances arrebatadoras e uma trilha composta pelos hits mais amados da diva. Confira o trailer:

O grande nome de "I Wanna Dance with Somebody" é a atriz Naomi Ackie (de "Small Axe") - sua capacidade de ir se transformando ao longo da linha temporal apressada da história, é impressionante!  Além de um trabalho vocal digno de Oscar e uma interpretação com muita alma, Ackie tem uma imposição corporal que pontua perfeitamente cada uma das fases de sua personagem - com pouquíssima maquiagem, essa jornada de construção de um ícone é tão impecável que mesmo fisicamente pouco parecida com a cantora, a atriz entrega muita verdade. Reparem como sua voz, seu sorriso e seu brilho vão se perdendo propositalmente ao longo do filme (lembram de "Judy"?).

Outro nome que merece destaque, sem dúvida, é Stanley Tucci como o produtor e amigo de Whitney, Clive Davis - ele dá uma aula de interpretação, tanto que uma das cenas mais belas do filme é quando ele pede para que a cantora procure uma clinica de reabilitação. Embora muito sensível, essa cena é um sopro de profundidade no meio de tanta superficialidade - a diretora Kasi Lemmons, que chamou atenção pelo seu "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", até tenta, mas acaba escolhendo "mais do mesmo" para contar uma história que já cansamos de assistir em seu "conteúdo", com uma gramática cinematográfica limitada e pouco criativa em sua "forma". Aqui cabe um comentário, mais uma vez remetendo ao que "Bohemian Rhapsody" tinha de melhor: se não é possível entregar um grande filme; o filme, no mínimo, precisa ser grandioso - Singer conseguiu, Lemmons vacilou um pouco.

Bem realizado tecnicamente e emocionante em vários momentos, quase sempre quando Whitney solta sua voz, "I Wanna Dance with Somebody", na verdade, é um imperdível resumão nostálgico da vida de uma das maiores cantoras de todos os tempos (para muitos a maior) e só!

PS: o documentário "Whitney: Can I be me" pode ser um bom complemento de uma realidade que você vai assistir aqui na ficção.

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Essa era uma história que merecia ser contada - uma pena que foi contada com tanta pressa! "I Wanna Dance with Somebody" é sim um filme muito envolvente por sua trilha sonora (os fãs da cantora vão amar), mas que ao mesmo tempo é muito prejudicado pela escolha criativa do roteirista Anthony McCarten (o mesmo de "Bohemian Rhapsody" - e isso explica muita coisa) em cobrir toda a vida de Whitney Houston em pouco menos de duas horas e meia. Essa escolha faz do filme um produto ruim? Longe disso, mas a sensação de superficialidade em algumas passagens importantes (como o abuso de drogas e álcool ou a derrocada financeira da cantora) pode incomodar os mais exigentes.

O filme é um retrato da complexa e multifacetada mulher por trás de uma voz única. Da garota do coral de Nova Jersey à uma das mais recordistas e premiadas artistas de todos tempos, o público vai ser levado em uma jornada emocionante pela vida e pela carreira de Whitney Houston (Naomi Ackie), com performances arrebatadoras e uma trilha composta pelos hits mais amados da diva. Confira o trailer:

O grande nome de "I Wanna Dance with Somebody" é a atriz Naomi Ackie (de "Small Axe") - sua capacidade de ir se transformando ao longo da linha temporal apressada da história, é impressionante!  Além de um trabalho vocal digno de Oscar e uma interpretação com muita alma, Ackie tem uma imposição corporal que pontua perfeitamente cada uma das fases de sua personagem - com pouquíssima maquiagem, essa jornada de construção de um ícone é tão impecável que mesmo fisicamente pouco parecida com a cantora, a atriz entrega muita verdade. Reparem como sua voz, seu sorriso e seu brilho vão se perdendo propositalmente ao longo do filme (lembram de "Judy"?).

Outro nome que merece destaque, sem dúvida, é Stanley Tucci como o produtor e amigo de Whitney, Clive Davis - ele dá uma aula de interpretação, tanto que uma das cenas mais belas do filme é quando ele pede para que a cantora procure uma clinica de reabilitação. Embora muito sensível, essa cena é um sopro de profundidade no meio de tanta superficialidade - a diretora Kasi Lemmons, que chamou atenção pelo seu "A Vida e a História de Madam C.J. Walker", até tenta, mas acaba escolhendo "mais do mesmo" para contar uma história que já cansamos de assistir em seu "conteúdo", com uma gramática cinematográfica limitada e pouco criativa em sua "forma". Aqui cabe um comentário, mais uma vez remetendo ao que "Bohemian Rhapsody" tinha de melhor: se não é possível entregar um grande filme; o filme, no mínimo, precisa ser grandioso - Singer conseguiu, Lemmons vacilou um pouco.

Bem realizado tecnicamente e emocionante em vários momentos, quase sempre quando Whitney solta sua voz, "I Wanna Dance with Somebody", na verdade, é um imperdível resumão nostálgico da vida de uma das maiores cantoras de todos os tempos (para muitos a maior) e só!

PS: o documentário "Whitney: Can I be me" pode ser um bom complemento de uma realidade que você vai assistir aqui na ficção.

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Interestelar

"Interestelar" do Christopher Nolan é genial. É um filme tecnicamente perfeito e nem vale a pena falar da direção porque é chover no molhado; mas o roteiro é, realmente, incrível - um dos mais profundos que o cinema recente teve o prazer de produzir! Como eu gosto de dizer, esse filme é uma ficção científica com alma - talvez uma ótima combinação de estilos que envolveria ícones como Spielberg, Kubrick e Malick. Com todo cuidado para não parecer exagerado e não decepcionar aqueles que esperam algo mais óbvio, é preciso alinhar as expectativas já que o filme é uma verdadeira jornada interdimensional que combina elementos científicos intrigantes com uma profundidade emocional arrebatadora - ao discutir a espiritualidade, o roteiro usa inúmeras referências de muitas doutrinas, mas tudo com um toque empírico e ao mesmo tempo com muita sensibilidade!

Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele seguirá em busca de uma nova casa. No entanto, com o passar dos anos, sua filha Murph (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta. Confira o trailer (que já é uma obra-prima):

Levantar questionamentos sobre o amor, a humanidade e o desconhecido. Sim, "Interestelar" não é apenas uma aventura espacial, mas também uma exploração íntima das conexões humanas. A relação entre Cooper (McConaughey) e sua filha Murphy (Chastain) é o coração pulsante do filme. A emoção desse vínculo ecoa através das vastas extensões do espaço, estabelecendo uma ligação única entre a jornada intergaláctica e as nossas experiências pessoais - especialmente se você tiver filhos. Nolan habilmente entrelaça a narrativa com fortes elementos científicos e com o que há de melhor no cinema: as emoções humanas. É impressionante como ele cria uma experiência cinematográfica verdadeiramente envolvente.

O aspecto científico de "Interestelar" também não pode ser subestimado. O filme mergulha na teoria da relatividade e explora o conceito de que o tempo pode ser afetado por campos gravitacionais intensos. A equipe de astronautas embarca em uma missão para encontrar um novo lar para a humanidade em planetas distantes, cada um com sua própria relação complexa com o tempo. A exploração desses mundos e a luta para entender as implicações do tempo dilatado geram momentos de tensão e emoção, mais uma vez demonstrando a mestria de Nolan em equilibrar ciência e entretenimento. A trilha sonora de Hans Zimmer desempenha um papel vital sob esse conceito - com sua combinação de elementos orquestrais e eletrônicos, a música intensifica as emoções e a grandiosidade das cenas. A trilha sonora se torna um elemento narrativo por si só, amplificando os momentos de suspense e de reflexão. A fusão entre a música de Zimmer e a direção de Nolan cria uma atmosfera única que ressoa profundamente na nossa alma!

No vasto panorama do cinema contemporâneo, poucos diretores conseguiram capturar a imaginação do público como Christopher Nolan. Seu épico sci-fi "Interestelar" está cheio de camadas, de interpretações e de teorias (cientificas e espirituais). A sensação que eu tive quando terminou o filme foi ainda mais especial e profunda de quando assisti o excelente "Contato" em 1997 - e olha, "Interestelar" é o tipo do filme onde é preciso ir "além" do que vemos na tela mesmo! Obra-Prima!

Se você não assistiu, assista. Se você assistiu em 2014, reveja - sua experiência será igualmente espetacular!

Up-date: "Interestelar" ganhou em uma categoria no Oscar 2015: Melhor Efeitos Visuais, mas foram cinco indicações.

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"Interestelar" do Christopher Nolan é genial. É um filme tecnicamente perfeito e nem vale a pena falar da direção porque é chover no molhado; mas o roteiro é, realmente, incrível - um dos mais profundos que o cinema recente teve o prazer de produzir! Como eu gosto de dizer, esse filme é uma ficção científica com alma - talvez uma ótima combinação de estilos que envolveria ícones como Spielberg, Kubrick e Malick. Com todo cuidado para não parecer exagerado e não decepcionar aqueles que esperam algo mais óbvio, é preciso alinhar as expectativas já que o filme é uma verdadeira jornada interdimensional que combina elementos científicos intrigantes com uma profundidade emocional arrebatadora - ao discutir a espiritualidade, o roteiro usa inúmeras referências de muitas doutrinas, mas tudo com um toque empírico e ao mesmo tempo com muita sensibilidade!

Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele seguirá em busca de uma nova casa. No entanto, com o passar dos anos, sua filha Murph (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta. Confira o trailer (que já é uma obra-prima):

Levantar questionamentos sobre o amor, a humanidade e o desconhecido. Sim, "Interestelar" não é apenas uma aventura espacial, mas também uma exploração íntima das conexões humanas. A relação entre Cooper (McConaughey) e sua filha Murphy (Chastain) é o coração pulsante do filme. A emoção desse vínculo ecoa através das vastas extensões do espaço, estabelecendo uma ligação única entre a jornada intergaláctica e as nossas experiências pessoais - especialmente se você tiver filhos. Nolan habilmente entrelaça a narrativa com fortes elementos científicos e com o que há de melhor no cinema: as emoções humanas. É impressionante como ele cria uma experiência cinematográfica verdadeiramente envolvente.

O aspecto científico de "Interestelar" também não pode ser subestimado. O filme mergulha na teoria da relatividade e explora o conceito de que o tempo pode ser afetado por campos gravitacionais intensos. A equipe de astronautas embarca em uma missão para encontrar um novo lar para a humanidade em planetas distantes, cada um com sua própria relação complexa com o tempo. A exploração desses mundos e a luta para entender as implicações do tempo dilatado geram momentos de tensão e emoção, mais uma vez demonstrando a mestria de Nolan em equilibrar ciência e entretenimento. A trilha sonora de Hans Zimmer desempenha um papel vital sob esse conceito - com sua combinação de elementos orquestrais e eletrônicos, a música intensifica as emoções e a grandiosidade das cenas. A trilha sonora se torna um elemento narrativo por si só, amplificando os momentos de suspense e de reflexão. A fusão entre a música de Zimmer e a direção de Nolan cria uma atmosfera única que ressoa profundamente na nossa alma!

No vasto panorama do cinema contemporâneo, poucos diretores conseguiram capturar a imaginação do público como Christopher Nolan. Seu épico sci-fi "Interestelar" está cheio de camadas, de interpretações e de teorias (cientificas e espirituais). A sensação que eu tive quando terminou o filme foi ainda mais especial e profunda de quando assisti o excelente "Contato" em 1997 - e olha, "Interestelar" é o tipo do filme onde é preciso ir "além" do que vemos na tela mesmo! Obra-Prima!

Se você não assistiu, assista. Se você assistiu em 2014, reveja - sua experiência será igualmente espetacular!

Up-date: "Interestelar" ganhou em uma categoria no Oscar 2015: Melhor Efeitos Visuais, mas foram cinco indicações.

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Invincible

Antes de mais nada é preciso avisar: "Invincible" será uma das animações mais violentas que você vai assistir! A surpreendente série da Prime Vídeo pinta, ou melhor, mancha de vermelho duas histórias bastante tradicionais: a "jornada do herói" e o ‘coming of age’.

Nesse universo, vários seres com superpoderes habitam a Terra (e outros planetas). Todos os heróis e vilões que você conhece parecem ter uma ‘versão beta’ em "Invincible". E isso não é ruim. Não mesmo! Os personagens possuem motivações convincentes e até dúbias. Há várias subtramas acontecendo ao mesmo tempo e, felizmente, o roteiro consegue costura-las organicamente.

A série adapta os HQs de Robert Kirkman e narra a vida de um jovem de 17 anos que é filho de um poderoso alienígena com uma humana, Mark Grayson. O adolescente ainda está aprendendo a usar seus poderes quando se vê frente a ameaças como invasões extraterrestres e vilões sádicos. E, enquanto tenta salvar o dia e seguir os passos de seu pai, um famoso super-herói, ele também tenta sobreviver ao seu processo de amadurecimento como um ser "quase" humano. Confira o trailer:

A série não tem uma definição clara de público alvo. A violência explícita e o mistério sombrio contrastam com um drama juvenil e diálogos simplórios (pra não dizer bobos). Em compensação, o humor afiado funciona bem. O espetacular elenco de vozes que vai de J.K. Simmons até Zachary Quinto, passando por Sandra Oh, Steven Yeun, Zazie Beetz, Gillian Jacobs, entre outros; eleva (ainda mais) o nível de carisma dos personagens. Por isso, fica a recomendação: assista no idioma original!

Esteticamente, a animação 2D se aproxima menos de clássicos japoneses (como "Akira") e mais de séries juvenis (como "X-Men: Evolution") - o conceito estético segue com grande fidelidade os traços originais de Ryan Otley e Cory Walker dos HQs, com a atmosfera e o tom bastante semelhantes às histórias publicadas pela Image Comics em 144 edições entre 2003 e 2018. Também por isso, a violência é ainda mais impactante!

A duração dos episódios poderia ser menor? Sim. Apesar disso, a carga dramática é crescente na segunda metade da temporada. Os dois últimos episódios, especialmente, são uma sequência de socos no estômago – em todos os sentidos.

"Invincible" traz um frescor sangrento ao já saturado universo dos super-heróis. Para Mark Grayson, testemunhar verdades inconvenientes e a fragilidade da vida humana são os golpes que mais machucam. Vale a pena!

Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria @dicastreaming 

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Antes de mais nada é preciso avisar: "Invincible" será uma das animações mais violentas que você vai assistir! A surpreendente série da Prime Vídeo pinta, ou melhor, mancha de vermelho duas histórias bastante tradicionais: a "jornada do herói" e o ‘coming of age’.

Nesse universo, vários seres com superpoderes habitam a Terra (e outros planetas). Todos os heróis e vilões que você conhece parecem ter uma ‘versão beta’ em "Invincible". E isso não é ruim. Não mesmo! Os personagens possuem motivações convincentes e até dúbias. Há várias subtramas acontecendo ao mesmo tempo e, felizmente, o roteiro consegue costura-las organicamente.

A série adapta os HQs de Robert Kirkman e narra a vida de um jovem de 17 anos que é filho de um poderoso alienígena com uma humana, Mark Grayson. O adolescente ainda está aprendendo a usar seus poderes quando se vê frente a ameaças como invasões extraterrestres e vilões sádicos. E, enquanto tenta salvar o dia e seguir os passos de seu pai, um famoso super-herói, ele também tenta sobreviver ao seu processo de amadurecimento como um ser "quase" humano. Confira o trailer:

A série não tem uma definição clara de público alvo. A violência explícita e o mistério sombrio contrastam com um drama juvenil e diálogos simplórios (pra não dizer bobos). Em compensação, o humor afiado funciona bem. O espetacular elenco de vozes que vai de J.K. Simmons até Zachary Quinto, passando por Sandra Oh, Steven Yeun, Zazie Beetz, Gillian Jacobs, entre outros; eleva (ainda mais) o nível de carisma dos personagens. Por isso, fica a recomendação: assista no idioma original!

Esteticamente, a animação 2D se aproxima menos de clássicos japoneses (como "Akira") e mais de séries juvenis (como "X-Men: Evolution") - o conceito estético segue com grande fidelidade os traços originais de Ryan Otley e Cory Walker dos HQs, com a atmosfera e o tom bastante semelhantes às histórias publicadas pela Image Comics em 144 edições entre 2003 e 2018. Também por isso, a violência é ainda mais impactante!

A duração dos episódios poderia ser menor? Sim. Apesar disso, a carga dramática é crescente na segunda metade da temporada. Os dois últimos episódios, especialmente, são uma sequência de socos no estômago – em todos os sentidos.

"Invincible" traz um frescor sangrento ao já saturado universo dos super-heróis. Para Mark Grayson, testemunhar verdades inconvenientes e a fragilidade da vida humana são os golpes que mais machucam. Vale a pena!

Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria @dicastreaming 

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Isabel

Olha, é impossível começar a análise de "Isabel" (que no original tem o subtítulo "La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende") sem dizer que essa minissérie chilena de 3 episódios é um verdadeiro soco no estômago e daqueles "sem dó"! Embora a produção esteja longe de ser um primor, a história de Allende é incrível, se confunde com suas obras de um forma completamente visceral e isso nos provoca uma série de sensações que, sinceramente, nos tira do eixo - especialmente no terceiro episódio. 

Como é de se pressupor, "Isabel" conta a jornada da chilena Isabel Allende, a autora de língua espanhola mais lida do mundo com mais de 74 milhões de exemplares vendidos. Da infância marcada pelo sumiço do Pai, a importância do avô em sua educação, as citações do tio Salvador Allende (padrinho dela) que tentou mudar o Chile e o mundo com a implantação de um governo de extrema esquerda, a influência e o medo da ditadura na sua vida, a militância pela defesa dos direitos humanos, seus amores e decepções até o sucesso mundial de seus livros e a morte da sua filha Paula. Confira o trailer (em espanhol):

Produzida pela CNTV, emissora de TV chilena, "Isabel" tem um roteiro muito competente por se tratar de uma biografia - embora alguns assuntos importantes sejam apenas pontuados, as escolhas das passagens marcantes da vida da escritora dão uma exata noção do que foi sua jornada. Com um conceito interessante onde a quebra de linearidade temporal vai construindo a narrativa e a personalidade da protagonista, seu único deslize está na necessidade quase didática de querer explicar demais - alguns planos são completamente descartáveis e deixam pouco para nossa imaginação. Talvez o grande culpado seja o próprio diretor Rodrigo Bazes, que construíu sua carreira como diretor de arte, passou a escrever roteiros e agora migra para o comando da produção. Sua inexperiência é visível principalmente quando suas escolhas conceituais partem para o lugar comum, forçando um certo sentimentalismo com o apoio incondicional de uma trilha sonora um pouco exagerada. Porém, nada disso impacta na nossa experiência como audiência, mas é inegável que essa história na mão de um diretor mais talentoso colocaria a minissérie em outro patamar.

A atriz Daniela Ramirez no papel da escritora, entrega ótimos momentos -  sua relação com a filha, desde o inicio até sua condição antes da morte é de cortar o coração - pela sinceridade e profundidade da relação que ela mesmo estabeleceu com todas as atrizes que interpretaram Paula. Tenho certeza de que aqueles que conhecem a obra de Allende vão identificar na tela muitas referências de sua obra, mas isso é só um bônus, pois toda jornada é muito bem conduzida e facilmente absorvida - sua relação espiritual que guiou sua obra "A Casa dos Espíritos" é um ótimo exemplo de como o roteiro acerta quando apenas sugere.

"Isabel" pode até começar um pouco morna, mas vai ganhando força e criando um vínculo emocional impressionante. Os vídeos pessoais de Allende ou os arquivos históricos da época são bem aproveitados na narrativa e trazem uma realidade bem interessante para a minissérie - é a cereja do bolo! O fato é que "Isabel - La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende" é imperdível para quem gosta de biografia, de literatura e de uma personagem feminina forte - nos seus erros e acertos!

Vale muito o seu play!

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Olha, é impossível começar a análise de "Isabel" (que no original tem o subtítulo "La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende") sem dizer que essa minissérie chilena de 3 episódios é um verdadeiro soco no estômago e daqueles "sem dó"! Embora a produção esteja longe de ser um primor, a história de Allende é incrível, se confunde com suas obras de um forma completamente visceral e isso nos provoca uma série de sensações que, sinceramente, nos tira do eixo - especialmente no terceiro episódio. 

Como é de se pressupor, "Isabel" conta a jornada da chilena Isabel Allende, a autora de língua espanhola mais lida do mundo com mais de 74 milhões de exemplares vendidos. Da infância marcada pelo sumiço do Pai, a importância do avô em sua educação, as citações do tio Salvador Allende (padrinho dela) que tentou mudar o Chile e o mundo com a implantação de um governo de extrema esquerda, a influência e o medo da ditadura na sua vida, a militância pela defesa dos direitos humanos, seus amores e decepções até o sucesso mundial de seus livros e a morte da sua filha Paula. Confira o trailer (em espanhol):

Produzida pela CNTV, emissora de TV chilena, "Isabel" tem um roteiro muito competente por se tratar de uma biografia - embora alguns assuntos importantes sejam apenas pontuados, as escolhas das passagens marcantes da vida da escritora dão uma exata noção do que foi sua jornada. Com um conceito interessante onde a quebra de linearidade temporal vai construindo a narrativa e a personalidade da protagonista, seu único deslize está na necessidade quase didática de querer explicar demais - alguns planos são completamente descartáveis e deixam pouco para nossa imaginação. Talvez o grande culpado seja o próprio diretor Rodrigo Bazes, que construíu sua carreira como diretor de arte, passou a escrever roteiros e agora migra para o comando da produção. Sua inexperiência é visível principalmente quando suas escolhas conceituais partem para o lugar comum, forçando um certo sentimentalismo com o apoio incondicional de uma trilha sonora um pouco exagerada. Porém, nada disso impacta na nossa experiência como audiência, mas é inegável que essa história na mão de um diretor mais talentoso colocaria a minissérie em outro patamar.

A atriz Daniela Ramirez no papel da escritora, entrega ótimos momentos -  sua relação com a filha, desde o inicio até sua condição antes da morte é de cortar o coração - pela sinceridade e profundidade da relação que ela mesmo estabeleceu com todas as atrizes que interpretaram Paula. Tenho certeza de que aqueles que conhecem a obra de Allende vão identificar na tela muitas referências de sua obra, mas isso é só um bônus, pois toda jornada é muito bem conduzida e facilmente absorvida - sua relação espiritual que guiou sua obra "A Casa dos Espíritos" é um ótimo exemplo de como o roteiro acerta quando apenas sugere.

"Isabel" pode até começar um pouco morna, mas vai ganhando força e criando um vínculo emocional impressionante. Os vídeos pessoais de Allende ou os arquivos históricos da época são bem aproveitados na narrativa e trazem uma realidade bem interessante para a minissérie - é a cereja do bolo! O fato é que "Isabel - La Historia Íntima de la Escritora Isabel Allende" é imperdível para quem gosta de biografia, de literatura e de uma personagem feminina forte - nos seus erros e acertos!

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IT - Capítulo II

Antes de mais nada eu preciso dizer que não sou um leitor, nem um fã incondicional das obras do Stephen King, mas reconheço a complexidade da sua escrita e sua habilidade para criar universos e histórias que brincam com nossa imaginação como ninguém. Não tenho a menor dúvida da qualidade dos seus livros, mas sei também da enorme dificuldade que é adaptar para o cinema, então sempre relativizo o resultado de alguns desses filmes. O fato é que gostei de pouca coisa que já foi para tela - "Um Sonho de Liberdade", "Carrie – A Estranha" (de 76), "O Iluminado" e "À espera de um Milagre" (tirando os 10 minutos finais) talvez sejam os meus preferidos. Existem outros honestos, mas também já saiu muita porcaria.

Dito isso e antes de comentar sobre o segundo capítulo de "IT", quero fazer algumas colocações sobre o primeiro. Para quem não sabe, "IT" parte da história de uma série de desaparecimentos que acontecem na pequena cidade de Derry no final dos anos 80 - sim, ao assistir a versão cinematográfica de 2017, fica impossível não se lembrar de "Stranger Things", principalmente quando a trama começa acompanhar o drama de Bill, irmão mais velho de um garoto de 8 anos chamado George, um dos desaparecidos. Inconformado, Bill passa a investigar esses desaparecimentos com a ajuda de seus melhores amigos, o conhecido “Clube dos Perdedores”. Quando o grupo passa ser assombrado pro visões dos seus medos mais profundos, o tom sobrenatural toma conta da história e o ameaçador Palhaço Pennywise ganha status de entidade maléfica. Veja o trailer do primeiro filme:

Sou capaz de imaginar como o livro pode ser assustador, mas no filme, o tom "anos 80" da narrativa, transforma a trama em um apanhado de clichês, se afastando da proposta mais séria que o diretor tenta imprimir no primeiro ato do filme. Conforme a trama vai se desenrolando, acaba ficando claro que não dá para levar aquela história tão a sério. Admito que o filme me prendeu, mas nem de longe me conquistou - talvez porque eu não seja o publico alvo. É inegável que o filme tem seu valor e isso se refletiu nas bilheterias do mundo inteiro, mas é preciso estar disposto a embarcar naquele tipo de história! Embora se apresente (e tenha sido vendido) como um terror clássico, para mim, "IT" é mais uma aventura adolescente com pitadas de suspense - uma espécie de "Stranger Things" versão Stephen King! Se você acha que pode gostar da mistura, assista o Capítulo I antes de seguir adiante pois alguns comentários a seguir podem conter spoilers.

A 2ª parte (ou capítulo II, como preferir) retoma a história vinte e sete anos depois que o "Clube dos Perdedores", supostamente, derrotaram Pennywise. Quando algumas crianças começam a desaparecer novamente, Mike, o único do grupo que permaneceu na cidade, convoca um a um do grupo de volta para Derry para cumprirem o pacto de sangue que fizeram quando ainda eram adolescentes. Traumatizados pelas experiências desse passado, eles precisam dominar seus medos mais uma vez, pois só assim terão alguma chance de eliminar Pennywise de uma vez por todas. Acontece que o filme, agora com o dobro do orçamento do primeiro, acaba se perdendo no que o anterior tinha de melhor - a ingenuidade! Os protagonistas cresceram, são adultos, não cabe mais aquele tom de aventura ao estilo "Goonies" e aquela suspensão da realidade precisa, mais uma vez, ser levada em conta - só que agora em níveis muito mais elevados. Além disso o roteiro rouba no jogo, pois ele trás para narrativa fashbacks de momentos-chave para a história que simplesmente não existiram na primeira parte. A jornada não se completa, as peças ficam perdidas e aí é preciso inventar soluções para que tudo se encaixe de alguma forma - e isso pode incomodar!

A direção do mesmo Andy Muschietti continua muito competente, mesmo com a mania de querer sempre fazer transições entre passado e presente a cada retrospectiva de personagem. A fotografia e o look do filme continuam belíssimos - a sequência inicial é tão boa quanto do primeiro filme, talvez até mais impactante pela violência. Os efeitos especiais ganharam um up grade com o orçamento maior, mas, em alguns momentos, continuam over (propositalmente). Agora, o que me incomodou mesmo foi o ritmo do filme! São quase 3 horas contando a história de cada um dos protagonistas isoladamente - fica tão arrastado que quando chega o momento deles enfrentarem Pennywise, você já está torcendo para acabar logo, porque ninguém aguenta mais. Digamos que não é um filme tão bom assim para nos prender durante tanto tempo!

 "IT 2" tem coisas boas, mas tem muita coisa questionável. Eu não comprei essa continuação. Talvez o fã ou leitor de Stephen King se identifique mais com o filme do que eu e por isso sigo com a indicação. O primeiro não tinha me conquistado, mas como eu disse: me prendeu. O segundo me cansou e continuou não me conquistando. Achei mais fraco, uma repetição de situações, só que com protagonistas mais velhos e ainda sem unidade narrativa nenhuma. Acredito pode até ter seu valor como filme de gênero, mas como a expectativa estava muito alta, sou capaz de afirmar que essa segunda parte pode decepcionar muita gente! 

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Antes de mais nada eu preciso dizer que não sou um leitor, nem um fã incondicional das obras do Stephen King, mas reconheço a complexidade da sua escrita e sua habilidade para criar universos e histórias que brincam com nossa imaginação como ninguém. Não tenho a menor dúvida da qualidade dos seus livros, mas sei também da enorme dificuldade que é adaptar para o cinema, então sempre relativizo o resultado de alguns desses filmes. O fato é que gostei de pouca coisa que já foi para tela - "Um Sonho de Liberdade", "Carrie – A Estranha" (de 76), "O Iluminado" e "À espera de um Milagre" (tirando os 10 minutos finais) talvez sejam os meus preferidos. Existem outros honestos, mas também já saiu muita porcaria.

Dito isso e antes de comentar sobre o segundo capítulo de "IT", quero fazer algumas colocações sobre o primeiro. Para quem não sabe, "IT" parte da história de uma série de desaparecimentos que acontecem na pequena cidade de Derry no final dos anos 80 - sim, ao assistir a versão cinematográfica de 2017, fica impossível não se lembrar de "Stranger Things", principalmente quando a trama começa acompanhar o drama de Bill, irmão mais velho de um garoto de 8 anos chamado George, um dos desaparecidos. Inconformado, Bill passa a investigar esses desaparecimentos com a ajuda de seus melhores amigos, o conhecido “Clube dos Perdedores”. Quando o grupo passa ser assombrado pro visões dos seus medos mais profundos, o tom sobrenatural toma conta da história e o ameaçador Palhaço Pennywise ganha status de entidade maléfica. Veja o trailer do primeiro filme:

Sou capaz de imaginar como o livro pode ser assustador, mas no filme, o tom "anos 80" da narrativa, transforma a trama em um apanhado de clichês, se afastando da proposta mais séria que o diretor tenta imprimir no primeiro ato do filme. Conforme a trama vai se desenrolando, acaba ficando claro que não dá para levar aquela história tão a sério. Admito que o filme me prendeu, mas nem de longe me conquistou - talvez porque eu não seja o publico alvo. É inegável que o filme tem seu valor e isso se refletiu nas bilheterias do mundo inteiro, mas é preciso estar disposto a embarcar naquele tipo de história! Embora se apresente (e tenha sido vendido) como um terror clássico, para mim, "IT" é mais uma aventura adolescente com pitadas de suspense - uma espécie de "Stranger Things" versão Stephen King! Se você acha que pode gostar da mistura, assista o Capítulo I antes de seguir adiante pois alguns comentários a seguir podem conter spoilers.

A 2ª parte (ou capítulo II, como preferir) retoma a história vinte e sete anos depois que o "Clube dos Perdedores", supostamente, derrotaram Pennywise. Quando algumas crianças começam a desaparecer novamente, Mike, o único do grupo que permaneceu na cidade, convoca um a um do grupo de volta para Derry para cumprirem o pacto de sangue que fizeram quando ainda eram adolescentes. Traumatizados pelas experiências desse passado, eles precisam dominar seus medos mais uma vez, pois só assim terão alguma chance de eliminar Pennywise de uma vez por todas. Acontece que o filme, agora com o dobro do orçamento do primeiro, acaba se perdendo no que o anterior tinha de melhor - a ingenuidade! Os protagonistas cresceram, são adultos, não cabe mais aquele tom de aventura ao estilo "Goonies" e aquela suspensão da realidade precisa, mais uma vez, ser levada em conta - só que agora em níveis muito mais elevados. Além disso o roteiro rouba no jogo, pois ele trás para narrativa fashbacks de momentos-chave para a história que simplesmente não existiram na primeira parte. A jornada não se completa, as peças ficam perdidas e aí é preciso inventar soluções para que tudo se encaixe de alguma forma - e isso pode incomodar!

A direção do mesmo Andy Muschietti continua muito competente, mesmo com a mania de querer sempre fazer transições entre passado e presente a cada retrospectiva de personagem. A fotografia e o look do filme continuam belíssimos - a sequência inicial é tão boa quanto do primeiro filme, talvez até mais impactante pela violência. Os efeitos especiais ganharam um up grade com o orçamento maior, mas, em alguns momentos, continuam over (propositalmente). Agora, o que me incomodou mesmo foi o ritmo do filme! São quase 3 horas contando a história de cada um dos protagonistas isoladamente - fica tão arrastado que quando chega o momento deles enfrentarem Pennywise, você já está torcendo para acabar logo, porque ninguém aguenta mais. Digamos que não é um filme tão bom assim para nos prender durante tanto tempo!

 "IT 2" tem coisas boas, mas tem muita coisa questionável. Eu não comprei essa continuação. Talvez o fã ou leitor de Stephen King se identifique mais com o filme do que eu e por isso sigo com a indicação. O primeiro não tinha me conquistado, mas como eu disse: me prendeu. O segundo me cansou e continuou não me conquistando. Achei mais fraco, uma repetição de situações, só que com protagonistas mais velhos e ainda sem unidade narrativa nenhuma. Acredito pode até ter seu valor como filme de gênero, mas como a expectativa estava muito alta, sou capaz de afirmar que essa segunda parte pode decepcionar muita gente! 

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Jack Ryan

Se você está com saudade dos bons tempos de "Homeland" nem precisa ler esse review inteiro, já pule direto para o play que você não vai se arrepender. Em quatro temporadas, "Jack Ryan" traz o melhor que uma série politica, com investigações internacionais (muito com o foco no terrorismo), com uma dinâmica narrativa envolvente e com uma produção de altíssimo nível, têm para oferecer. Desde seu lançamento em 2018 pela Prime Video, a série conquistou não apenas uma legião de fãs ávidos por tramas de espionagem, mas também a crítica especializada, acumulando elogios e reconhecimentos em diversos prêmios do setor - sendo indicado, inclusive, para três Emmys.

Baseada nos populares romances de Tom Clancy, "Jack Ryan" segue as intrigantes missões do analista da CIA que dá nome a série, interpretado brilhantemente por John Krasinski. A trama se desenrola quando Ryan se vê no centro de operações secretas para desvendar ameaças terroristas que podem abalar o equilíbrio do poder global. Com Wendell Pierce no papel de James Greer, a série oferece uma dinâmica convincente que nos cativa desde o primeiro episódio. Confira o trailer (em inglês):

Tal qual "24 Horas" e alguns anos depois "Homeland", a série retoma aquela receita infalível onde, com muita habilidade, é capaz de unir drama, ação e suspense, se apropriando do pseudo-realismo politico e da profundidade de seus personagens (imperfeitos) para nos entreter durante muitas horas - olha, é quase impossível assistir apenas um episódio por vez. Embora exista uma atmosfera de ficção, toda a construção narrativa respeita com muita verdade aquilo que o roteiro propõe, ou seja, as tramas e subtramas têm o mérito de nos impactar emocionante como se realmente tivessem acontecido. Carlton Cuse (sim, aquele mesmo de "Lost") e Graham Roland, criadores da série, sabem que a essência do material utilizado como base não é algo, digamos, tão inovador, contudo, a dupla consegue dar fôlego e contemporaneidade aos temas discutidos nas temporadas, entregando jornadas bem construídas tanto do ponto de vista técnico quanto no criativo.

Para você ter uma idéia, a primeira temporada de "Jack Ryan" custou cerca US$ 8 milhões por episódio, o que dá um aspecto de superprodução. Com planos de realmente tirar o fôlego e locações como Marrocos, França e Canadá, a série é visualmente impecável - nesse ponto ela nos remete muito a outro sucesso do streaming, "The Night Manager".  A fotografia toda conceitualizada pelo Richard Rutkowski (o mesmo de "The Americans: Rede de Espionagem") é deslumbrante - ela captura tanto essa grandiosidade dos cenários internacionais quanto a intensidade dos momentos de mais ação e angústia dos personagens, ajudando demais a garantir uma verossimilhança acima da média. E aqui cabe um outro elogio: reparem como a direção de arte e o desenho de produção garantem essa atmosfera extremamente realista e totalmente alinhada a proposta inicial dos seus criadores.

Embora seus personagens satélites, especialmente os vilões, soem complexos em relação às ambiguidades humanas, o Jack Ryan de Krasinski em si, está mais para um resgate daquele mocinho tradicional - suas batalhas intimas existem, mas, de fato, nem de longe invocam aquele turbilhão de fantasmas do passado dos saudosos Jack Bauer (24 Horas) e Carrie Mathison (Homeland). Talvez esse seja o ponto de equilíbrio que a série tenta encontrar (e consegue) a cada temporada - além das típicas histórias de heróis, os roteiros mergulham em dilemas éticos e com consequências inesperadas com muito mais leveza que as produções clássicas que citamos, diminuindo assim nossa ansiedade como audiência, mas por outro lado nos entregando um entretenimento com a mesma qualidade, as mesmas premissas narrativas, mas ainda mais divertido.

Olha, imperdível!

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Se você está com saudade dos bons tempos de "Homeland" nem precisa ler esse review inteiro, já pule direto para o play que você não vai se arrepender. Em quatro temporadas, "Jack Ryan" traz o melhor que uma série politica, com investigações internacionais (muito com o foco no terrorismo), com uma dinâmica narrativa envolvente e com uma produção de altíssimo nível, têm para oferecer. Desde seu lançamento em 2018 pela Prime Video, a série conquistou não apenas uma legião de fãs ávidos por tramas de espionagem, mas também a crítica especializada, acumulando elogios e reconhecimentos em diversos prêmios do setor - sendo indicado, inclusive, para três Emmys.

Baseada nos populares romances de Tom Clancy, "Jack Ryan" segue as intrigantes missões do analista da CIA que dá nome a série, interpretado brilhantemente por John Krasinski. A trama se desenrola quando Ryan se vê no centro de operações secretas para desvendar ameaças terroristas que podem abalar o equilíbrio do poder global. Com Wendell Pierce no papel de James Greer, a série oferece uma dinâmica convincente que nos cativa desde o primeiro episódio. Confira o trailer (em inglês):

Tal qual "24 Horas" e alguns anos depois "Homeland", a série retoma aquela receita infalível onde, com muita habilidade, é capaz de unir drama, ação e suspense, se apropriando do pseudo-realismo politico e da profundidade de seus personagens (imperfeitos) para nos entreter durante muitas horas - olha, é quase impossível assistir apenas um episódio por vez. Embora exista uma atmosfera de ficção, toda a construção narrativa respeita com muita verdade aquilo que o roteiro propõe, ou seja, as tramas e subtramas têm o mérito de nos impactar emocionante como se realmente tivessem acontecido. Carlton Cuse (sim, aquele mesmo de "Lost") e Graham Roland, criadores da série, sabem que a essência do material utilizado como base não é algo, digamos, tão inovador, contudo, a dupla consegue dar fôlego e contemporaneidade aos temas discutidos nas temporadas, entregando jornadas bem construídas tanto do ponto de vista técnico quanto no criativo.

Para você ter uma idéia, a primeira temporada de "Jack Ryan" custou cerca US$ 8 milhões por episódio, o que dá um aspecto de superprodução. Com planos de realmente tirar o fôlego e locações como Marrocos, França e Canadá, a série é visualmente impecável - nesse ponto ela nos remete muito a outro sucesso do streaming, "The Night Manager".  A fotografia toda conceitualizada pelo Richard Rutkowski (o mesmo de "The Americans: Rede de Espionagem") é deslumbrante - ela captura tanto essa grandiosidade dos cenários internacionais quanto a intensidade dos momentos de mais ação e angústia dos personagens, ajudando demais a garantir uma verossimilhança acima da média. E aqui cabe um outro elogio: reparem como a direção de arte e o desenho de produção garantem essa atmosfera extremamente realista e totalmente alinhada a proposta inicial dos seus criadores.

Embora seus personagens satélites, especialmente os vilões, soem complexos em relação às ambiguidades humanas, o Jack Ryan de Krasinski em si, está mais para um resgate daquele mocinho tradicional - suas batalhas intimas existem, mas, de fato, nem de longe invocam aquele turbilhão de fantasmas do passado dos saudosos Jack Bauer (24 Horas) e Carrie Mathison (Homeland). Talvez esse seja o ponto de equilíbrio que a série tenta encontrar (e consegue) a cada temporada - além das típicas histórias de heróis, os roteiros mergulham em dilemas éticos e com consequências inesperadas com muito mais leveza que as produções clássicas que citamos, diminuindo assim nossa ansiedade como audiência, mas por outro lado nos entregando um entretenimento com a mesma qualidade, as mesmas premissas narrativas, mas ainda mais divertido.

Olha, imperdível!

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