indika.tv - Prime Video

Creed 2

Antes de falar de "Creed 2", eu preciso admitir que, para mim, a franquia "Rocky" terminou no quarto filme, quando ele nocauteia Ivan Drago com Burning Heart ecoando nos meus ouvidos, no ápice da guerra fria de 1985 - Meu Deus, eu assisti esse filme no cinema (rs)!!! Aquelas presepadas do 5 e do 6, devem ser esquecidas em nome do sucesso que essa nova série de filmes, que tem o filho do Apollo como protagonista, vem alcançando, ok?

Dito isso, agora podemos continuar sem nenhum peso na consciência! Creed trás para os anos 2000, um pouco do que Rocky representou para os anos 80! Fazendo esse paralelo, podemos dizer que "Creed" (2015) tem aquela atmosfera de cinema independente do "Rocky 1 e 2" - quando, inclusive, "o lutador" ganhou o Oscar de melhor filme em 1977. Ele espelha aquele conceito de cinema de autor, focado muito mais no drama do que na ação, nas lutas em si. Claro que com uma pegada mais moderna, mas com o mesmo foco na história mais existencial, com um roteiro mais profundo, trabalhado e com um diretor extremamente competente como o Ryan Coogler (de Pantera Negra) no comando para criar uma identidade própria, forte, ao mesmo tempo que revive um gênero que foi se perdendo no meio de tanta porcaria que fizeram durante anos. Funcionou! "Creed" foi um sucesso de bilheteria e de crítica - até presenteando o Stallone com uma indicação de melhor ator no Oscar de 2016!!!

Bom, ai vem Creed 2, filme que acabei de assistir: definitivamente é um filme menos autoral, eu diria que é mais de Estúdio, estilo blockbuster mesmo; sem tanta alma, sem tanto roteiro, mas com muito mais ação e aquela fórmula consagrada da jornada de superação do herói inseguro - como foi Rocky 3 e 4. Isso é um problema? De maneira nenhuma, Rocky 3 e 4 são os meus favoritos (me julguem, rs) e Creed 2 é praticamente um reboot desses dois filmes em um só! "Creed 2" é completamente previsível, superficial, mas muito (muito) divertido!  O filme trás aquele sorriso no rosto já nos primeiros acordes da música tema (aquela...) no momento da virada, na última luta, quando tudo parecia perdido...

É claro que você já viu isso, a sinopse já te entrega o que vem pela frente de cara: o filho do Apollo tendo que enfrentar o filho do Drago em busca de auto-afirmação fantasiada de vingança! O fato é que essa previsibilidade pouco importa, porque a sensação de assistir essa jornada "novamente" é maravilhosa!!! Aliás você que tem mais de 40 anos (e/ou é fã da série anterior), vai adivinhar o filme inteirinho; vai reconhecer muito dos filmes dos anos 80, mas vai se divertir como adolescente de novo!!! Já você, na casa do 20, vai começar a entender um pouco mais "por que?" o Stallone se tornou um dos atores mais bem pagos daquela época e um ícone de uma geração!!!

A verdade é que "Creed 2" é um conjunto de clichês, não tem nada de novo, tudo é uma versão mais moderna do que já foi contado um dia... Perde muito em qualidade cinematográfica para o primeiro filme, tem um diretor infinitamente menos relevante, deixam de lado aquela inserção gráfica magnífica do cartel dos lutadores que poderia virar uma marca da série (e que era linda), mas, mesmo assim, te garanto: "Creed 2" vale cada centavo!!! É muito divertido, além de ter aquele tom nostálgico dos anos 80... 

Assista Agora

Antes de falar de "Creed 2", eu preciso admitir que, para mim, a franquia "Rocky" terminou no quarto filme, quando ele nocauteia Ivan Drago com Burning Heart ecoando nos meus ouvidos, no ápice da guerra fria de 1985 - Meu Deus, eu assisti esse filme no cinema (rs)!!! Aquelas presepadas do 5 e do 6, devem ser esquecidas em nome do sucesso que essa nova série de filmes, que tem o filho do Apollo como protagonista, vem alcançando, ok?

Dito isso, agora podemos continuar sem nenhum peso na consciência! Creed trás para os anos 2000, um pouco do que Rocky representou para os anos 80! Fazendo esse paralelo, podemos dizer que "Creed" (2015) tem aquela atmosfera de cinema independente do "Rocky 1 e 2" - quando, inclusive, "o lutador" ganhou o Oscar de melhor filme em 1977. Ele espelha aquele conceito de cinema de autor, focado muito mais no drama do que na ação, nas lutas em si. Claro que com uma pegada mais moderna, mas com o mesmo foco na história mais existencial, com um roteiro mais profundo, trabalhado e com um diretor extremamente competente como o Ryan Coogler (de Pantera Negra) no comando para criar uma identidade própria, forte, ao mesmo tempo que revive um gênero que foi se perdendo no meio de tanta porcaria que fizeram durante anos. Funcionou! "Creed" foi um sucesso de bilheteria e de crítica - até presenteando o Stallone com uma indicação de melhor ator no Oscar de 2016!!!

Bom, ai vem Creed 2, filme que acabei de assistir: definitivamente é um filme menos autoral, eu diria que é mais de Estúdio, estilo blockbuster mesmo; sem tanta alma, sem tanto roteiro, mas com muito mais ação e aquela fórmula consagrada da jornada de superação do herói inseguro - como foi Rocky 3 e 4. Isso é um problema? De maneira nenhuma, Rocky 3 e 4 são os meus favoritos (me julguem, rs) e Creed 2 é praticamente um reboot desses dois filmes em um só! "Creed 2" é completamente previsível, superficial, mas muito (muito) divertido!  O filme trás aquele sorriso no rosto já nos primeiros acordes da música tema (aquela...) no momento da virada, na última luta, quando tudo parecia perdido...

É claro que você já viu isso, a sinopse já te entrega o que vem pela frente de cara: o filho do Apollo tendo que enfrentar o filho do Drago em busca de auto-afirmação fantasiada de vingança! O fato é que essa previsibilidade pouco importa, porque a sensação de assistir essa jornada "novamente" é maravilhosa!!! Aliás você que tem mais de 40 anos (e/ou é fã da série anterior), vai adivinhar o filme inteirinho; vai reconhecer muito dos filmes dos anos 80, mas vai se divertir como adolescente de novo!!! Já você, na casa do 20, vai começar a entender um pouco mais "por que?" o Stallone se tornou um dos atores mais bem pagos daquela época e um ícone de uma geração!!!

A verdade é que "Creed 2" é um conjunto de clichês, não tem nada de novo, tudo é uma versão mais moderna do que já foi contado um dia... Perde muito em qualidade cinematográfica para o primeiro filme, tem um diretor infinitamente menos relevante, deixam de lado aquela inserção gráfica magnífica do cartel dos lutadores que poderia virar uma marca da série (e que era linda), mas, mesmo assim, te garanto: "Creed 2" vale cada centavo!!! É muito divertido, além de ter aquele tom nostálgico dos anos 80... 

Assista Agora

Crescendo Juntas

Sabe aquele tipo de filme que você assiste com um leve sorriso no rosto? Pois é, "Crescendo Juntas" talvez seja a melhor definição de filme "que te abraça" - principalmente se você tiver uma filha menina (meu caso). Essa é o tipo de adaptação cinematográfica que não pode passar despercebida, "Are You There God? It's Me, Margaret" (no original) transcende as barreiras do drama trazendo uma leveza impressionante para discutir assuntos, digamos, cotidianos da vida de uma pré-adolescente, oferecendo assim uma experiência cativante, envolvente e muito reflexiva. Aliás, pela resposta do público e da crítica, o filme faz jus ao sucesso da obra de Judy Blume - o que já não seria uma tarefa fácil.

Margaret (Abby Ryder Fortson), de 11 anos, muda-se para uma nova cidade e começa a contemplar tudo que a vida, a amizade e a adolescência têm para oferecer - é um período de descobertas, mas também de muita insegurança. Ela conta com a mãe, católica, Bárbara (Rachel McAdams), que oferece um apoio amoroso, e com a avó, judia, Sylvia (Kathy Bates), que está tentando encontrar a felicidade mesmo longe da neta. Questões de identidade, do lugar de cada um no mundo e do que dá sentido à vida rapidamente os aproximam mais do que nunca, mas ainda existe um ponto a ser discutido: que religião seguir? Confira o trailer:

Os elementos que tornam "Crescendo Juntas" imperdível, me parece, vão além da trama, ou seja, naturalmente passa pela nossa identificação com os personagens. Semelhante a outras obras que exploraram a complexidade da adolescência, como "Lady Bird" e até "As Vantagens de Ser Invisível", aqui temos um olhar verdadeiro sobre a jornada de aceitação perante o novo - e a metáfora da mudança de cidade e da dúvida sobre qual religião pertencer se encaixam perfeitamente na bola de neve que se transforma a vida da protagonista quando ela é confrontada com os desafios que todas as meninas enfrentam nessa fase: de aprender a usar um sutiã, passando pelo entendimento das mudanças do corpo e a chegada da menstruação, até a importância ou o tabu de dar o primeiro beijo.

A direção sensível de Kelly Fremon Craig (do elogiado "Quase 18") merece aplausos, pois ela não apenas captura a essência do livro, como adiciona camadas emocionais à narrativa que nos deixam encantados - e aqui é preciso que se diga: muito dessa percepção de realidade passa pela performance impressionante de Abby Ryder Fortson. Reparem como ela explora a vulnerabilidade e autodescoberta de sua personagem de maneira autêntica, contribuindo para que as relações construídas ao longo da trama façam total sentido dentro de um contexto emocional tão caótico - olha, eu não me surpreenderia se Craig recebesse uma indicação ao Oscar. Outro detalhe que merece sua atenção: a escolha da fotografia, com seus tons suaves e nostálgicos, nos leva para um mergulho profundo na atmosfera da década de 70 - não por acaso, mérito do diretor Tim Ives, indicado duas vezes ao Emmy por "Stranger Things".  

Para finalizar, preciso reforçar que "Crescendo Juntas"  é realmente mais do que uma simples adaptação; é uma celebração da juventude, da busca pela identidade e pelo entendimento da complexidade das relações humanas. Craig inteligentemente coloca a obra da premiada Judy Blume em outro patamar, oferecendo um filme intimista que ressoa com o público de todas as idades, que aquece o coração ao mesmo tempo que provoca ótimas discussões - é um olhar honesto sobre uma fase onde tudo ganha uma dimensão muito maior do que os fatos em si, mas que por outro lado ajuda a construir autonomia e uma percepção de vida onde nem tudo é simples!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Sabe aquele tipo de filme que você assiste com um leve sorriso no rosto? Pois é, "Crescendo Juntas" talvez seja a melhor definição de filme "que te abraça" - principalmente se você tiver uma filha menina (meu caso). Essa é o tipo de adaptação cinematográfica que não pode passar despercebida, "Are You There God? It's Me, Margaret" (no original) transcende as barreiras do drama trazendo uma leveza impressionante para discutir assuntos, digamos, cotidianos da vida de uma pré-adolescente, oferecendo assim uma experiência cativante, envolvente e muito reflexiva. Aliás, pela resposta do público e da crítica, o filme faz jus ao sucesso da obra de Judy Blume - o que já não seria uma tarefa fácil.

Margaret (Abby Ryder Fortson), de 11 anos, muda-se para uma nova cidade e começa a contemplar tudo que a vida, a amizade e a adolescência têm para oferecer - é um período de descobertas, mas também de muita insegurança. Ela conta com a mãe, católica, Bárbara (Rachel McAdams), que oferece um apoio amoroso, e com a avó, judia, Sylvia (Kathy Bates), que está tentando encontrar a felicidade mesmo longe da neta. Questões de identidade, do lugar de cada um no mundo e do que dá sentido à vida rapidamente os aproximam mais do que nunca, mas ainda existe um ponto a ser discutido: que religião seguir? Confira o trailer:

Os elementos que tornam "Crescendo Juntas" imperdível, me parece, vão além da trama, ou seja, naturalmente passa pela nossa identificação com os personagens. Semelhante a outras obras que exploraram a complexidade da adolescência, como "Lady Bird" e até "As Vantagens de Ser Invisível", aqui temos um olhar verdadeiro sobre a jornada de aceitação perante o novo - e a metáfora da mudança de cidade e da dúvida sobre qual religião pertencer se encaixam perfeitamente na bola de neve que se transforma a vida da protagonista quando ela é confrontada com os desafios que todas as meninas enfrentam nessa fase: de aprender a usar um sutiã, passando pelo entendimento das mudanças do corpo e a chegada da menstruação, até a importância ou o tabu de dar o primeiro beijo.

A direção sensível de Kelly Fremon Craig (do elogiado "Quase 18") merece aplausos, pois ela não apenas captura a essência do livro, como adiciona camadas emocionais à narrativa que nos deixam encantados - e aqui é preciso que se diga: muito dessa percepção de realidade passa pela performance impressionante de Abby Ryder Fortson. Reparem como ela explora a vulnerabilidade e autodescoberta de sua personagem de maneira autêntica, contribuindo para que as relações construídas ao longo da trama façam total sentido dentro de um contexto emocional tão caótico - olha, eu não me surpreenderia se Craig recebesse uma indicação ao Oscar. Outro detalhe que merece sua atenção: a escolha da fotografia, com seus tons suaves e nostálgicos, nos leva para um mergulho profundo na atmosfera da década de 70 - não por acaso, mérito do diretor Tim Ives, indicado duas vezes ao Emmy por "Stranger Things".  

Para finalizar, preciso reforçar que "Crescendo Juntas"  é realmente mais do que uma simples adaptação; é uma celebração da juventude, da busca pela identidade e pelo entendimento da complexidade das relações humanas. Craig inteligentemente coloca a obra da premiada Judy Blume em outro patamar, oferecendo um filme intimista que ressoa com o público de todas as idades, que aquece o coração ao mesmo tempo que provoca ótimas discussões - é um olhar honesto sobre uma fase onde tudo ganha uma dimensão muito maior do que os fatos em si, mas que por outro lado ajuda a construir autonomia e uma percepção de vida onde nem tudo é simples!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Crime Sem Saída

"Crime Sem Saída" (ou "21 Bridges") traz o carimbo dos produtores Anthony Russo e Joe Russo de "Vingadores Ultimato" e, mais recentemente, do grande sucesso "Resgate" (da Netflix). O fato é que o irmãos Russo vem se posicionando como verdadeiros maestros quando se fala de um gênio tão pouco valorizado (antes da enxurrada de filmes de heróis) como o de "ação". Nesse filme temos um conceito muito interessante, mas que infelizmente não se sustenta - ou melhor, se dilui em poucos minutos de filme. A história mostra a caçada de um detetive chamado André (o eterno "Pantera Negra", Chadwick Boseman) encarregado de capturar uma dupla de ladrões que assassinou oito policiais durante um roubo, bastante suspeito, de cocaína. Pressionado pela própria corporação, Davis acredita que a única forma de encontrar os assassinos antes que eles fujam, é bloqueando as 21 pontes que ligam Manhattan aos outros bairros de NY, porém, para que o plano dê certo, ele tem apenas 5 horas para cumprir sua missão ou tudo estará perdido. Confira o trailer:

Pelo trailer já é possível perceber que o nível de ação é bem alto, e realmente é, mas é preciso dizer que o maior chamativo do filme, que é sua premissa, não dura mais do que os primeiros 30 minutos - o fato de Manhattan estar completamente sitiada (e do tempo ser escasso) não interfere em absolutamente nada (além da idéia de estar encurralado) nas escolhas ou motivações dos personagens e isso é um baita de um vacilo do roteiro. Conceitualmente o filme não sustenta a idéia, mas se apoia no ritmo frenético das perseguições muito bem realizadas e de um mistério bem raso e previsível, para nos levar até o final. "Crime Sem Saída" é um bom filme de ação, daqueles "pipoca" mesmo, que entretem e divertem sem a pretensão de se tornar um grande sucesso e sem parecer "forçado" demais! Vale o play se você gosta do gênero!

Uma coisa que me chamou muito a atenção foi a qualidade da produção, se não tão grandiosa quanto a do "Resgate", pelo menos foi muito bem fotografada pelo experiente diretor Paul Cameron (de "Colateral"  e "Déjà Vu"). Nova York tem um charme todo particular durante as madrugadas, completamente cinematográfica e Cameron aproveita muito bem esse mood para ajudar a contar a história - reparem! O diretor Brian Kirk é novato no cinema, mas ganhou muita notoriedade ao dirigir três excelentes episódios de Game of Thrones. Em "Crime Sem Saída" ele faz o "arroz com feijão", bem feito, mas sem nenhuma novidade estética ou conceitual - não dá para comparar com o trabalho que Sam Hargrave fez no "Resgate".

O roteiro acaba sendo o ponto fraco do filme. Não que seja ruim, vou reforçar, mas não se aprofunda em nada: na relação do protagonista com a mãe, no reflexo da tragédia familiar com a morte do pai e até na relação que André tem com sua "parceira" Frankie Burns (Sienna Miller). Entre os destaques do elenco não dá para deixar passar o ótimo trabalho de Chadwick Boseman - parece que o cara nasceu para ser herói de franquia e nesse filme ele é tão convincente que eu não vou me surpreender se tivermos outro filme. Stephan James (o Jesse Owens de "Raça") é um dos ladrões e sua performance está sensacional - ele fala com os olhos e essa qualidade, em um filme de ação, só coloca seu personagem em um outro patamar. Muita atenção para esse ator, com um personagem certo, ele pode ir bem longe! J.K. Simmons, lógico, sendo mais uma vez o próprio J.K. Simmons, com muita honra e talento!

Embora soe como uma certa crítica o enfoque na corrupção policial que o filme ensaia em fazer, tenho a impressão que essa escolha vem muito mais de uma referência narrativa dos filmes de ação dos anos 90 - justamente por isso que que encontramos um personagem completamente agarrado aos seus valores morais, muito (mas muito) reforçado em várias passagens do filme, mas que cria um vínculo fundamental com quem assiste - se Chadwick Boseman estivesse com a fantasia do Pantera Negra, já teríamos uma ótima continuação realizada (com o plus de vários efeitos especiais e explosões) e essas falhas do roteiro provavelmente nem estariam sendo discutidas, mas independente do figurino do protagonista, "Crime Sem Saída" entrega diversão, pode confiar!

Assista Agora

"Crime Sem Saída" (ou "21 Bridges") traz o carimbo dos produtores Anthony Russo e Joe Russo de "Vingadores Ultimato" e, mais recentemente, do grande sucesso "Resgate" (da Netflix). O fato é que o irmãos Russo vem se posicionando como verdadeiros maestros quando se fala de um gênio tão pouco valorizado (antes da enxurrada de filmes de heróis) como o de "ação". Nesse filme temos um conceito muito interessante, mas que infelizmente não se sustenta - ou melhor, se dilui em poucos minutos de filme. A história mostra a caçada de um detetive chamado André (o eterno "Pantera Negra", Chadwick Boseman) encarregado de capturar uma dupla de ladrões que assassinou oito policiais durante um roubo, bastante suspeito, de cocaína. Pressionado pela própria corporação, Davis acredita que a única forma de encontrar os assassinos antes que eles fujam, é bloqueando as 21 pontes que ligam Manhattan aos outros bairros de NY, porém, para que o plano dê certo, ele tem apenas 5 horas para cumprir sua missão ou tudo estará perdido. Confira o trailer:

Pelo trailer já é possível perceber que o nível de ação é bem alto, e realmente é, mas é preciso dizer que o maior chamativo do filme, que é sua premissa, não dura mais do que os primeiros 30 minutos - o fato de Manhattan estar completamente sitiada (e do tempo ser escasso) não interfere em absolutamente nada (além da idéia de estar encurralado) nas escolhas ou motivações dos personagens e isso é um baita de um vacilo do roteiro. Conceitualmente o filme não sustenta a idéia, mas se apoia no ritmo frenético das perseguições muito bem realizadas e de um mistério bem raso e previsível, para nos levar até o final. "Crime Sem Saída" é um bom filme de ação, daqueles "pipoca" mesmo, que entretem e divertem sem a pretensão de se tornar um grande sucesso e sem parecer "forçado" demais! Vale o play se você gosta do gênero!

Uma coisa que me chamou muito a atenção foi a qualidade da produção, se não tão grandiosa quanto a do "Resgate", pelo menos foi muito bem fotografada pelo experiente diretor Paul Cameron (de "Colateral"  e "Déjà Vu"). Nova York tem um charme todo particular durante as madrugadas, completamente cinematográfica e Cameron aproveita muito bem esse mood para ajudar a contar a história - reparem! O diretor Brian Kirk é novato no cinema, mas ganhou muita notoriedade ao dirigir três excelentes episódios de Game of Thrones. Em "Crime Sem Saída" ele faz o "arroz com feijão", bem feito, mas sem nenhuma novidade estética ou conceitual - não dá para comparar com o trabalho que Sam Hargrave fez no "Resgate".

O roteiro acaba sendo o ponto fraco do filme. Não que seja ruim, vou reforçar, mas não se aprofunda em nada: na relação do protagonista com a mãe, no reflexo da tragédia familiar com a morte do pai e até na relação que André tem com sua "parceira" Frankie Burns (Sienna Miller). Entre os destaques do elenco não dá para deixar passar o ótimo trabalho de Chadwick Boseman - parece que o cara nasceu para ser herói de franquia e nesse filme ele é tão convincente que eu não vou me surpreender se tivermos outro filme. Stephan James (o Jesse Owens de "Raça") é um dos ladrões e sua performance está sensacional - ele fala com os olhos e essa qualidade, em um filme de ação, só coloca seu personagem em um outro patamar. Muita atenção para esse ator, com um personagem certo, ele pode ir bem longe! J.K. Simmons, lógico, sendo mais uma vez o próprio J.K. Simmons, com muita honra e talento!

Embora soe como uma certa crítica o enfoque na corrupção policial que o filme ensaia em fazer, tenho a impressão que essa escolha vem muito mais de uma referência narrativa dos filmes de ação dos anos 90 - justamente por isso que que encontramos um personagem completamente agarrado aos seus valores morais, muito (mas muito) reforçado em várias passagens do filme, mas que cria um vínculo fundamental com quem assiste - se Chadwick Boseman estivesse com a fantasia do Pantera Negra, já teríamos uma ótima continuação realizada (com o plus de vários efeitos especiais e explosões) e essas falhas do roteiro provavelmente nem estariam sendo discutidas, mas independente do figurino do protagonista, "Crime Sem Saída" entrega diversão, pode confiar!

Assista Agora

Crimes em Hollywood

Na linha tênue de "Entre Facas e Segredos" e de "Magnatas do Crime", o diretor Tim Kirkby (de "Fleabag") até entrega um filme divertido e dinâmico, mas longe de ser genial. "Crimes em Hollywood" pode surpreender com sua narrativa, com ótimas performances de um elenco de peso e até pelo seu toque de mistério, mas não será lembrado como nada além de um bom entretenimento! Mesmo que a jornada do protagonista seja repleta de surpresas, fazendo com que algumas reviravoltas nos envolvam ainda mais com a trama, dá a impressão que falta um pouco de charme na proposta de Kirkby em transformar um filme "ok" em uma espécie de "noir moderninho" como na série "Knives Out", por exemplo.

"Last Looks" (no original) nos conduz por uma intrigante história de assassinato pelo olhar de Charlie Waldo (Charlie Hunnam), um detetive particular que se afastou de todos após um trágico (e mal explicado) incidente. Ele é arrastado de volta para o mundo da investigação quando uma antiga amiga, Lorena (Morena Baccarin), pede sua ajuda para resolver um crime onde o principal suspeito é um famoso astro da TV americana, o ator Alastair Pinch (Mel Gibson). Confira o trailer:

"Crimes em Hollywood" tem o mérito de construir uma história intrigante, sem cair no erro de se tornar um drama denso ou complexo demais. Longe disso, aqui o que encontramos é mais uma narrativa que se apoia na dramédia, com seus esteriótipos de gênero, que se propõe a entreter ao mesmo tempo em que habilmente captura a essência de uma investigação criminal que nos leva de volta aos clássicos repaginados de Agatha Christie. Kirkby, embora não arrisque como Rian Johnson ou Guy Ritchie, demonstra competência ao criar essa atmosfera inquietante dentro de um caos de tramas e sub-tramas que o roteiro propõe - e isso precisa ser ressaltado.

Já o roteiro de Howard Michael Gould (de "O Rei do Jogo") parece ser o calcanhar de Aquiles do filme. Muitas vezes ele se perde na necessidade de jogar várias peças no tabuleiro para nos afastar do que realmente importa: descobrir quem matou a mulher de Alastair Pinch. Essa escolha conceitual pode funcionar melhor em um livro, mas na adaptação me parece ser um erro, no entanto, e isso eu posso te garantir, não prejudica nossa experiência como audiência. Talvez, e aqui só o tempo dirá, a ideia seja mesmo deixar algo nas entrelinhas para justificar outros filmes e por assim dizer, iniciar uma franquia a partir de sua versão literária. Nesse sentido, surge outro problema: Charlie Hunnam sofre com a falta de carisma, principalmente quando está em cena com Mel Gibson. Gibson faz jus ao estereótipo de seu personagem com sua habilidade excepcional de ser caricato e humano ao mesmo tempo, enquanto Hunnam parece completamente dispensável como detetive - é como se esperássemos uma cartada genial de seu personagem e mesmo quando ela surge, não tem força para nos roubar um sorriso (ou um suspiro).

"Crimes em Hollywood" é bom, divertido e merece uma chance de ser descoberto pelo que oferece - mesmo com todos esses "poréns". Como história, o filme realmente cativa mais pelo seu inicio, do que pela conclusão do mistério, mas também não deixa aquela sensação de decepção, sabe? Como produção, a barra sobe mais um pouco e não deixa nada a desejar para outras produções do mesmo estilo. Como proposta para uma franquia, com um ou outro ajuste, podemos até seguir acreditando que mais histórias de crimes com essa atmosfera menos densa de narrativa vai continuar entregando ótimos momentos de diversão e entretenimento - mas não dá para esperar mais que isso, ok?

Assista Agora

Na linha tênue de "Entre Facas e Segredos" e de "Magnatas do Crime", o diretor Tim Kirkby (de "Fleabag") até entrega um filme divertido e dinâmico, mas longe de ser genial. "Crimes em Hollywood" pode surpreender com sua narrativa, com ótimas performances de um elenco de peso e até pelo seu toque de mistério, mas não será lembrado como nada além de um bom entretenimento! Mesmo que a jornada do protagonista seja repleta de surpresas, fazendo com que algumas reviravoltas nos envolvam ainda mais com a trama, dá a impressão que falta um pouco de charme na proposta de Kirkby em transformar um filme "ok" em uma espécie de "noir moderninho" como na série "Knives Out", por exemplo.

"Last Looks" (no original) nos conduz por uma intrigante história de assassinato pelo olhar de Charlie Waldo (Charlie Hunnam), um detetive particular que se afastou de todos após um trágico (e mal explicado) incidente. Ele é arrastado de volta para o mundo da investigação quando uma antiga amiga, Lorena (Morena Baccarin), pede sua ajuda para resolver um crime onde o principal suspeito é um famoso astro da TV americana, o ator Alastair Pinch (Mel Gibson). Confira o trailer:

"Crimes em Hollywood" tem o mérito de construir uma história intrigante, sem cair no erro de se tornar um drama denso ou complexo demais. Longe disso, aqui o que encontramos é mais uma narrativa que se apoia na dramédia, com seus esteriótipos de gênero, que se propõe a entreter ao mesmo tempo em que habilmente captura a essência de uma investigação criminal que nos leva de volta aos clássicos repaginados de Agatha Christie. Kirkby, embora não arrisque como Rian Johnson ou Guy Ritchie, demonstra competência ao criar essa atmosfera inquietante dentro de um caos de tramas e sub-tramas que o roteiro propõe - e isso precisa ser ressaltado.

Já o roteiro de Howard Michael Gould (de "O Rei do Jogo") parece ser o calcanhar de Aquiles do filme. Muitas vezes ele se perde na necessidade de jogar várias peças no tabuleiro para nos afastar do que realmente importa: descobrir quem matou a mulher de Alastair Pinch. Essa escolha conceitual pode funcionar melhor em um livro, mas na adaptação me parece ser um erro, no entanto, e isso eu posso te garantir, não prejudica nossa experiência como audiência. Talvez, e aqui só o tempo dirá, a ideia seja mesmo deixar algo nas entrelinhas para justificar outros filmes e por assim dizer, iniciar uma franquia a partir de sua versão literária. Nesse sentido, surge outro problema: Charlie Hunnam sofre com a falta de carisma, principalmente quando está em cena com Mel Gibson. Gibson faz jus ao estereótipo de seu personagem com sua habilidade excepcional de ser caricato e humano ao mesmo tempo, enquanto Hunnam parece completamente dispensável como detetive - é como se esperássemos uma cartada genial de seu personagem e mesmo quando ela surge, não tem força para nos roubar um sorriso (ou um suspiro).

"Crimes em Hollywood" é bom, divertido e merece uma chance de ser descoberto pelo que oferece - mesmo com todos esses "poréns". Como história, o filme realmente cativa mais pelo seu inicio, do que pela conclusão do mistério, mas também não deixa aquela sensação de decepção, sabe? Como produção, a barra sobe mais um pouco e não deixa nada a desejar para outras produções do mesmo estilo. Como proposta para uma franquia, com um ou outro ajuste, podemos até seguir acreditando que mais histórias de crimes com essa atmosfera menos densa de narrativa vai continuar entregando ótimos momentos de diversão e entretenimento - mas não dá para esperar mais que isso, ok?

Assista Agora

Crown Heights

Crown Heights

Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.

Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):

Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!  

Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.

Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.

"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).

Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights"  vale muito o seu play!

Assista Agora

Na linha de "Luta por Justiça" e de "Olhos que condenam", a história de "Crown Heights" é mais uma daquelas difíceis de digerir onde questionamos a racionalidade e os valores do ser humano sem o menor receio de ser injusto, afinal, o que vemos em pouco mais de 90 minutos é um retrato de uma sociedade racista e egocêntrica incapaz de olhar o outro através de suas próprias inseguranças e vulnerabilidades.

Quando Colin Warner (LaKeith Stanfield) é injustamente condenado por homicídio, seu melhor amigo, Carl King (Nnamdi Asomugha), dedica sua vida para provar a inocência de Colin. Adaptado de "This American Life", esta é a incrível história real sobre uma angustiante busca pela justiça por mais de 20 anos. Confira o trailer (em inglês):

Chancelado pelo prêmio de "Melhor Filme Dramático" pela audiência no Festival de Sundance em 2017, o filme dirigido pelo Matt Ruskin (muito conhecido por ter produzido o excelente "Conexão Escolbar") procura alinhar a vida de dois personagens na busca pela verdade. Se de uma lado temos o ponto de vista de quem foi condenado e sofre o dia a dia de uma prisão, do outro temos a resiliência de quem acredita que ainda é possível fazer justiça dentro de uma sociedade preconceituosa e elitista. E embora o roteiro do próprio Ruskin retrate a fragilidade do sistema penal e carcerário americano, é inegável que é a jornada dos protagonistas nos move, nos emociona e, principalmente, nos faz refletir!  

Sem a preocupação de colocar em dúvida a inocência de Colin Warner, "Crown Heights" se esforça é para retratar a realidade, considerando que o acusado está longe de ser um modelo irretocável de caráter. Warner parece ser uma boa pessoa se analisado pelo âmbito familiar, porém suas atitudes (e cada um é convidado ao julgamento unicamente por elas) também expõem suas falhas - o interessante dessa construção cuidadosa do personagem, é que o roteiro vai nos apresentando diversas camadas, humanizando Warner, e provando que nem sempre existem respostas 100% seguras para muitos atos quando eles são fortemente provocados pelo meio em que seus atores estão inseridos.

Como o recorte da vida de Warner apresentado no filme é bastante extenso, é natural percebermos que a narrativa se apoia na edição bem realizada pelo, duas vezes vencedor do Oscar (das quatro indicações que recebeu), Joe Hutshing. Sim, Hutshing (de "JFK") fragmenta a jornada; mas é extremamente competente em unir duas histórias com a mesma precisão com que pontua os problemas sociais e as inúmeras falhas do sistema sem que um assunto atropele o outro. Nesse ponto, aliás, o diretor Matt Ruskin também brilha - é impressionante como ele conduz os personagens, como eles vão se transformando e ganhando (ou perdendo) vida durante a progressão da história.

"Crown Heights" é muito envolvente, mas pouco confortável. Olhando em retrospectiva, chega a ser surpreendente que o filme não tenha ganhado os holofotes na temporada de premiação daquele ano, seja pelo roteiro muito bem escrito, pela direção surpreendente de Ruskin, mas, principalmente, pelas performances de LaKeith Stanfield, de Nnamdi Asomugha e até de Natalie Paul (como a futura esposa de Warner, Antoinette).

Por tudo isso e muito mais, "Crown Heights"  vale muito o seu play!

Assista Agora

Culpa

Antes de mais nada é preciso dizer que "Culpa" (Den Skyldige, no original) é um filmaço! Mas calma, ele pode não te agradar pela forma, mas nunca pelo conteúdo. Veja, se em "Locke", de 2013, Tom Hardy passou o filme inteiro em uma BMW falando no celular e mais recentemente "Calls"se tornou uma das melhores séries de ficção científica apenas nos mostrando os diálogos de pessoas falando no telefone, é de se esperar que uma dinâmica narrativa bem executada nem sempre precise de ação para contar uma boa história - apenas os diálogos e um bom trabalho do elenco é o suficiente para nos provocar sensações e sentimentos que transformam aquela jornada em uma experiência única.

A "Culpa" é justamente isso: o policial Asger Holm (Jakob Cedergren) está acostumado a trabalhar nas ruas de Copenhagen, mas devido a um conflito ético no trabalho, ele é direcionado para cuidar da mesa de emergências da polícia. Encarregado de receber ligações e transmitir às delegacias responsáveis, ele é surpreendido pela chamada de uma mulher desesperada, tentando comunicar o seu sequestro sem chamar a atenção do sequestrador. Infelizmente, ela precisa desligar antes de ser descoberta, de modo que Asger dispõe de poucas informações para encontrá-la. É aí que começa uma corrida contra o relógio para descobrir onde ela está, para mobilizar os policiais mais próximos e salvar a vítima antes que uma tragédia aconteça. Confira o trailer:

Esse premiadíssimo filme dinamarquês é mais um ótimo exemplo do casamento perfeito entre um roteiro excelente e uma atuação muito acima da média. Jakob Cedergren (Forbrydelsen) dá uma aula de interpretação ao se apropriar do silêncio para expor seus sentimentos mais profundos e, descaradamente, manipular nossas percepções sobre aquela situação que está vivendo. O roteiro escrito pelo diretor Gustav Möller ao lado de Emil Nygaard Albertsen, é extremamente eficiente em pontuar vários momentos de tensão sem ao menos precisar nos mostrar tudo que está acontecendo. O fato da história ser contada pelo olhar de um único personagem a partir do que só ele imagina, cria uma sensação de angustia quase que indescritível. Möller, ainda é muito perspicaz como diretor ao nos conceder algum tempo para que possamos recuperar o fôlego e aí seguir em frente, porém sua gramática cinematográfica só alimenta nossa expectativa e também nos convida a imaginar o que vai acontecer do outro lado linha a cada toque do telefone (ou quando acende a luz vermelha assim que uma chamado acontece). Além de explicar gradativamente o motivo de Asger estar afastado de suas funções, o roteiro constrói sua personalidade sem precisar ser didático demais - o que faz todo sentido pelas atitudes que o protagonista tem durante os 90 minutos de filme.

A montagem de Carla Luffe, que fez sua carreira na publicidade, é outro aspecto que merece bastante destaque - ela é capaz de aplicar aquele conceito do "menos é mais" tão comum quando precisamos contar uma boa história em pouco tempo. Embora a escassez de tempo não fosse uma preocupação aqui, imagine o quão monótono seria um filme onde tudo que vemos se resume a um homem enquadrado atrás de uma mesa com um fone na cabeça. Em "Culpa" não existe monotonia, e sim um mergulho profundo na pré concepção de nossos estigmas e (in)seguranças - por mais incoerente que possa parecer essa definição!

"Culpa" funciona muito bem como um suspense, mas é no drama que o filme ganha outro valor - no drama pessoal mais precisamente! É um exercício cinematográfico dos mais complicados transformar o público em personagens ativos da história e em "Culpa" temos a exata sensação de estar ao lado de Asger Holm, escutando sua conversa, sem saber exatamente o que está acontecendo, mas julgando pelas atitudes dele (que também não tem todas as ferramentas para fazer isso com segurança e... ética)!

Vale muito a pena!

Assista Agora

Antes de mais nada é preciso dizer que "Culpa" (Den Skyldige, no original) é um filmaço! Mas calma, ele pode não te agradar pela forma, mas nunca pelo conteúdo. Veja, se em "Locke", de 2013, Tom Hardy passou o filme inteiro em uma BMW falando no celular e mais recentemente "Calls"se tornou uma das melhores séries de ficção científica apenas nos mostrando os diálogos de pessoas falando no telefone, é de se esperar que uma dinâmica narrativa bem executada nem sempre precise de ação para contar uma boa história - apenas os diálogos e um bom trabalho do elenco é o suficiente para nos provocar sensações e sentimentos que transformam aquela jornada em uma experiência única.

A "Culpa" é justamente isso: o policial Asger Holm (Jakob Cedergren) está acostumado a trabalhar nas ruas de Copenhagen, mas devido a um conflito ético no trabalho, ele é direcionado para cuidar da mesa de emergências da polícia. Encarregado de receber ligações e transmitir às delegacias responsáveis, ele é surpreendido pela chamada de uma mulher desesperada, tentando comunicar o seu sequestro sem chamar a atenção do sequestrador. Infelizmente, ela precisa desligar antes de ser descoberta, de modo que Asger dispõe de poucas informações para encontrá-la. É aí que começa uma corrida contra o relógio para descobrir onde ela está, para mobilizar os policiais mais próximos e salvar a vítima antes que uma tragédia aconteça. Confira o trailer:

Esse premiadíssimo filme dinamarquês é mais um ótimo exemplo do casamento perfeito entre um roteiro excelente e uma atuação muito acima da média. Jakob Cedergren (Forbrydelsen) dá uma aula de interpretação ao se apropriar do silêncio para expor seus sentimentos mais profundos e, descaradamente, manipular nossas percepções sobre aquela situação que está vivendo. O roteiro escrito pelo diretor Gustav Möller ao lado de Emil Nygaard Albertsen, é extremamente eficiente em pontuar vários momentos de tensão sem ao menos precisar nos mostrar tudo que está acontecendo. O fato da história ser contada pelo olhar de um único personagem a partir do que só ele imagina, cria uma sensação de angustia quase que indescritível. Möller, ainda é muito perspicaz como diretor ao nos conceder algum tempo para que possamos recuperar o fôlego e aí seguir em frente, porém sua gramática cinematográfica só alimenta nossa expectativa e também nos convida a imaginar o que vai acontecer do outro lado linha a cada toque do telefone (ou quando acende a luz vermelha assim que uma chamado acontece). Além de explicar gradativamente o motivo de Asger estar afastado de suas funções, o roteiro constrói sua personalidade sem precisar ser didático demais - o que faz todo sentido pelas atitudes que o protagonista tem durante os 90 minutos de filme.

A montagem de Carla Luffe, que fez sua carreira na publicidade, é outro aspecto que merece bastante destaque - ela é capaz de aplicar aquele conceito do "menos é mais" tão comum quando precisamos contar uma boa história em pouco tempo. Embora a escassez de tempo não fosse uma preocupação aqui, imagine o quão monótono seria um filme onde tudo que vemos se resume a um homem enquadrado atrás de uma mesa com um fone na cabeça. Em "Culpa" não existe monotonia, e sim um mergulho profundo na pré concepção de nossos estigmas e (in)seguranças - por mais incoerente que possa parecer essa definição!

"Culpa" funciona muito bem como um suspense, mas é no drama que o filme ganha outro valor - no drama pessoal mais precisamente! É um exercício cinematográfico dos mais complicados transformar o público em personagens ativos da história e em "Culpa" temos a exata sensação de estar ao lado de Asger Holm, escutando sua conversa, sem saber exatamente o que está acontecendo, mas julgando pelas atitudes dele (que também não tem todas as ferramentas para fazer isso com segurança e... ética)!

Vale muito a pena!

Assista Agora

Daisy Jones & The Six

Costumo dizer que existe um tipo de história que não precisa muito para ser analisada, ela precisa ser sentida! Certamente "Daisy Jones & The Six" é uma delas! Essa minissérie da Prime Video, baseada no best-seller de Taylor Jenkins Reid, é um recorte profundamente emocional e nostálgico do representou o rock dos anos 70 - aliás, com forte inspiração em bandas icônicas como Fleetwood Mac (dizem até que as histórias se confundem). Criada por Scott Neustadter e Michael H. Weber (ambos de "Artista do Desastre") , essa minissérie de 10 episódios transforma o formato documental do livro em uma narrativa envolvente que mistura drama e música pela perspectiva da complexidade das relações humanas na busca pelo sucesso e reconhecimento em um período de auge da indústria fonográfica. "Daisy Jones & The Six" traz o melhor de "Quase Famosos" com a essência de qualquer grande cinebiografia musical de destaque - só que aqui, com muito mais tempo de tela para um desenvolvimento de personagens primoroso.

A trama de "Daisy Jones & The Six", basicamente, acompanha a ascensão e queda de uma talentosa banda fictícia, explorando os bastidores e a trajetória de cada um dos seus membros até o estrelato, além dos conflitos que levaram ao fim prematuro de um projeto que parecia único. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, é a narrativa estruturada como um documentário que vai chamar sua atenção. Essa proposta de Neustadter e Weber, de fato, cria uma dinâmica bastante interessante para quem assiste, trazendo uma certa sensação de realidade para a narrativa e fazendo com que as entrevistas dos integrantes da banda, relembrando eventos passados, soe nostálgica e ao mesmo tempo provocadora, já que o mistério sobre os acontecimentos que levaram ao fim da banda anos antes nos mantém engajados de uma forma impressionante. Nesse sentido, a ambientação acaba sendo um dos grandes trunfos da produção. O figurino, a direção de arte e a trilha sonora original capturam com autenticidade o espírito dos anos 70, nos transportando para uma época de excessos, criatividade e egos inflamados - um contraste com os dias atuais.

Riley Keough, neta de Elvis Presley, assume o papel da enigmática Daisy Jones, uma jovem cantora talentosa e autodestrutiva, cuja presença transforma completamente o destino da banda The Six. Sua performance carrega uma intensidade magnética, equilibrando insegurança com rebeldia. Ao seu lado, Sam Claflin interpreta Billy Dunne, o então líder da banda, cuja dinâmica com Daisy se torna o centro emocional da minissérie - repleta de tensão, uma química explosiva e, claro, sentimentos não tão bem resolvidos. A direção de James Ponsoldt (de "Falando a Real") e de Nzingha Stewart (de "Inventando Anna") aposta, com muita elegância, em uma estética granulada e um iluminação mais quente, evocando a sensação de estarmos assistindo a imagens de arquivo de uma Los Angeles dourada - os takes rodados em Super8, por exemplo, só valorizam esse conceito visual. Além disso, o uso das entrevistas intercaladas com flashbacks adiciona uma camada de profundidade à trama, revelando, pouco a pouco, como cada personagem enxerga os eventos do passado de forma subjetiva, muitas vezes até contraditória - e funciona demais!

"Daisy Jones & The Six" entrega uma experiência cativante, tanto para fãs da literatura quanto para amantes da música - aliás, é preciso que se diga: as músicas da banda foram compostas exclusivamente para a minissérie e entregam um realismo raro em produções desse tipo, algo que contribui demais para a imersão e para o senso de credibilidade da história. Com atuações marcantes, uma jornada emocional envolvente e uma trama que explora talento, o ego e as dores do sucesso, "Daisy Jones & The Six" é uma jóia que merece demais a sua atenção - por sua "forma" e por seu "conteúdo". Imperdível!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Costumo dizer que existe um tipo de história que não precisa muito para ser analisada, ela precisa ser sentida! Certamente "Daisy Jones & The Six" é uma delas! Essa minissérie da Prime Video, baseada no best-seller de Taylor Jenkins Reid, é um recorte profundamente emocional e nostálgico do representou o rock dos anos 70 - aliás, com forte inspiração em bandas icônicas como Fleetwood Mac (dizem até que as histórias se confundem). Criada por Scott Neustadter e Michael H. Weber (ambos de "Artista do Desastre") , essa minissérie de 10 episódios transforma o formato documental do livro em uma narrativa envolvente que mistura drama e música pela perspectiva da complexidade das relações humanas na busca pelo sucesso e reconhecimento em um período de auge da indústria fonográfica. "Daisy Jones & The Six" traz o melhor de "Quase Famosos" com a essência de qualquer grande cinebiografia musical de destaque - só que aqui, com muito mais tempo de tela para um desenvolvimento de personagens primoroso.

A trama de "Daisy Jones & The Six", basicamente, acompanha a ascensão e queda de uma talentosa banda fictícia, explorando os bastidores e a trajetória de cada um dos seus membros até o estrelato, além dos conflitos que levaram ao fim prematuro de um projeto que parecia único. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, é a narrativa estruturada como um documentário que vai chamar sua atenção. Essa proposta de Neustadter e Weber, de fato, cria uma dinâmica bastante interessante para quem assiste, trazendo uma certa sensação de realidade para a narrativa e fazendo com que as entrevistas dos integrantes da banda, relembrando eventos passados, soe nostálgica e ao mesmo tempo provocadora, já que o mistério sobre os acontecimentos que levaram ao fim da banda anos antes nos mantém engajados de uma forma impressionante. Nesse sentido, a ambientação acaba sendo um dos grandes trunfos da produção. O figurino, a direção de arte e a trilha sonora original capturam com autenticidade o espírito dos anos 70, nos transportando para uma época de excessos, criatividade e egos inflamados - um contraste com os dias atuais.

Riley Keough, neta de Elvis Presley, assume o papel da enigmática Daisy Jones, uma jovem cantora talentosa e autodestrutiva, cuja presença transforma completamente o destino da banda The Six. Sua performance carrega uma intensidade magnética, equilibrando insegurança com rebeldia. Ao seu lado, Sam Claflin interpreta Billy Dunne, o então líder da banda, cuja dinâmica com Daisy se torna o centro emocional da minissérie - repleta de tensão, uma química explosiva e, claro, sentimentos não tão bem resolvidos. A direção de James Ponsoldt (de "Falando a Real") e de Nzingha Stewart (de "Inventando Anna") aposta, com muita elegância, em uma estética granulada e um iluminação mais quente, evocando a sensação de estarmos assistindo a imagens de arquivo de uma Los Angeles dourada - os takes rodados em Super8, por exemplo, só valorizam esse conceito visual. Além disso, o uso das entrevistas intercaladas com flashbacks adiciona uma camada de profundidade à trama, revelando, pouco a pouco, como cada personagem enxerga os eventos do passado de forma subjetiva, muitas vezes até contraditória - e funciona demais!

"Daisy Jones & The Six" entrega uma experiência cativante, tanto para fãs da literatura quanto para amantes da música - aliás, é preciso que se diga: as músicas da banda foram compostas exclusivamente para a minissérie e entregam um realismo raro em produções desse tipo, algo que contribui demais para a imersão e para o senso de credibilidade da história. Com atuações marcantes, uma jornada emocional envolvente e uma trama que explora talento, o ego e as dores do sucesso, "Daisy Jones & The Six" é uma jóia que merece demais a sua atenção - por sua "forma" e por seu "conteúdo". Imperdível!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

De Cabeça Erguida

"De Cabeça Erguida" é um poderoso e denso drama francês que fala sobre ciclos. Ou melhor, talvez o filme seja muito mais uma provocação para uma reflexão sobre a possibilidade de uma quebra de um ciclo vicioso, recheado de violência e abandono, na esperança por uma segunda chance onde, aparentemente, isso parece impossível! Muito bem dirigido pela talentosa diretora (de atores), Emmanuelle Bercot (de "150 Miligramas"), o filme se apoia em um emaranhado de assuntos importantes e sensíveis que, através de uma jornada de 10 anos, tenta explicar (ou justificar) muitas das atitudes e como a experiência em reformatórios, impactaram na formação do caráter do protagonista.

Em "La Tête Haute" (no original) a história gira em torno de Malony (Rod Paradot), um garoto com sérios problemas disciplinares, e de sua educação dos 6 aos 18 anos de idade, período onde uma juíza da vara da infância e um assistente social tentam de todas as formas salvá-lo de um futuro com problemas ainda maiores. Confira o trailer:

Pode parecer que o roteiro escrito por Bercot ao lado de Marcia Romano (de "O Acontecimento") sofra de um vicio narrativo que escancara a fragilidade de uma estrutura “circular” onde o protagonista apronta, recebe e cumpre uma punição, então é liberado, aí apronta de novo, novamente é punido, e assim sucessivamente. Mas é preciso que se diga que essa estrutura, mesmo em alguns momentos cansativa, é totalmente proposital - ela reflete o ciclo vivido pela maioria dos garotos nas mesmas condições de Malony (algo parecido com o que encontramos em "DOM").

O interessante é que além dessa repetição quase insuportável para audiência (que nos faz desistir do protagonista em muitos momentos, inclusive), o roteiro vai inserindo outros elementos que funcionam como uma espécie de "bola de neve emocional": do romance com a filha de uma funcionária do centro educacional à separação do irmão mais novo que também vai para um reformatório, passando sempre pelo descontrole da mãe; o que temos é uma verdadeira personificação do caos! Sara Forastier está incrível (e irreconhecível) como a mãe inconsequente de Malony, Séverine; já Paradot, fazendo sua estreia no cinema como o protagonista revoltado, adicionam uma camada de tensão ao filme para lá de angustiante. Ainda sobre elenco, Catherine Deneuve como a juíza Florence e  Benoît Magimel como o tutor Yann também merecem aplausos e são a "cereja do bolo" da trama.

Bem no estilo de "Florida Project", a grande verdade é que "De Cabeça Erguida" nos toca a alma em muitos sentidos, já que além de fomentar inúmeros julgamentos (muitos mesmo), ainda sugere profundas reflexões sobre a realidade de uma juventude esquecida, não amada, sofrida e que parece sem solução. O convite para enxergar o futuro desses jovens, passa pelo nosso entendimento de que antes do futuro, é preciso entender o passado e lutar por cada um deles no presente.

Vale muito seu play!

Assista Agora

"De Cabeça Erguida" é um poderoso e denso drama francês que fala sobre ciclos. Ou melhor, talvez o filme seja muito mais uma provocação para uma reflexão sobre a possibilidade de uma quebra de um ciclo vicioso, recheado de violência e abandono, na esperança por uma segunda chance onde, aparentemente, isso parece impossível! Muito bem dirigido pela talentosa diretora (de atores), Emmanuelle Bercot (de "150 Miligramas"), o filme se apoia em um emaranhado de assuntos importantes e sensíveis que, através de uma jornada de 10 anos, tenta explicar (ou justificar) muitas das atitudes e como a experiência em reformatórios, impactaram na formação do caráter do protagonista.

Em "La Tête Haute" (no original) a história gira em torno de Malony (Rod Paradot), um garoto com sérios problemas disciplinares, e de sua educação dos 6 aos 18 anos de idade, período onde uma juíza da vara da infância e um assistente social tentam de todas as formas salvá-lo de um futuro com problemas ainda maiores. Confira o trailer:

Pode parecer que o roteiro escrito por Bercot ao lado de Marcia Romano (de "O Acontecimento") sofra de um vicio narrativo que escancara a fragilidade de uma estrutura “circular” onde o protagonista apronta, recebe e cumpre uma punição, então é liberado, aí apronta de novo, novamente é punido, e assim sucessivamente. Mas é preciso que se diga que essa estrutura, mesmo em alguns momentos cansativa, é totalmente proposital - ela reflete o ciclo vivido pela maioria dos garotos nas mesmas condições de Malony (algo parecido com o que encontramos em "DOM").

O interessante é que além dessa repetição quase insuportável para audiência (que nos faz desistir do protagonista em muitos momentos, inclusive), o roteiro vai inserindo outros elementos que funcionam como uma espécie de "bola de neve emocional": do romance com a filha de uma funcionária do centro educacional à separação do irmão mais novo que também vai para um reformatório, passando sempre pelo descontrole da mãe; o que temos é uma verdadeira personificação do caos! Sara Forastier está incrível (e irreconhecível) como a mãe inconsequente de Malony, Séverine; já Paradot, fazendo sua estreia no cinema como o protagonista revoltado, adicionam uma camada de tensão ao filme para lá de angustiante. Ainda sobre elenco, Catherine Deneuve como a juíza Florence e  Benoît Magimel como o tutor Yann também merecem aplausos e são a "cereja do bolo" da trama.

Bem no estilo de "Florida Project", a grande verdade é que "De Cabeça Erguida" nos toca a alma em muitos sentidos, já que além de fomentar inúmeros julgamentos (muitos mesmo), ainda sugere profundas reflexões sobre a realidade de uma juventude esquecida, não amada, sofrida e que parece sem solução. O convite para enxergar o futuro desses jovens, passa pelo nosso entendimento de que antes do futuro, é preciso entender o passado e lutar por cada um deles no presente.

Vale muito seu play!

Assista Agora

Dentro da Casa

"Dentro da Casa", filme do diretor François Ozon, do também excelente, "O Amante Duplo", brinca com o mesmo elemento narrativo que nos motivou assistir "A Mulher na Janela"e "The Voyeurs" -aquela curiosidade incontrolável de saber o que acontece na vida dos outros, dentro de quatro paredes. Se nos filmes citados o foco era o suspense psicológico, aqui o objetivo é mostrar o poder que as palavras têm na construção de uma imaginação quase literal de uma história! "Dentro da Casa" também provoca um certo desconforto pelo receio de ser descoberto, mas está longe de ser um thriller - eu diria, inclusive, que ele é um ótimo e criativo drama de relações.

Um pouco cansado da rotina de professor de literatura francesa, Germain (Fabrice Luchini) chega a atormentar sua esposa Jeanne (Kristin Scott Thomas) com suas reclamações, mas ela também tem seus problemas profissionais para resolver e nem sempre dá a atenção desejada. Até o dia em que ele descobre na redação de um dos seus alunos, o adolescente Claude (Ernst Umhauer), um estilo diferente de escrita, que dá início a um intrigante jogo de sedução entre pupilo e mestre, que acaba envolvendo a própria esposa, a família de um colega de classe e seu dia a dia profissional. Confira o trailer:

Baseado na peça teatral "The Boy in the Last Row" de Juan Mayorga, "Dentro da Casa" tem o mérito de manipular a realidade pelos olhos de vários personagens de uma forma que em muitos momentos nos pegamos contestando se aquilo tudo pode ser verossímil. A cada capítulo escrito (vamos chamar assim) que Claude entrega para Germain ler, somos arremessados para dentro de um contexto palpável, o lar de uma família aparentemente feliz. O interessante é que levada autoral do filme torna impossível cravar o que é real e o que é imaginação nesse mesmo contexto. Se para Germain as histórias do seu aluno não passam de uma pura interpretação de seus desejos mais adolescentes, para sua esposa Jeanne, os detalhes são tão reais que ela mesmo duvida que aquela história possa ser fruto da criatividade de um rapaz tão jovem.

Esse "vai e vem" entre realidade e imaginação, através dos textos de Claude, é muito bem traduzido em imagens por Ozon, que também assinou o roteiro. As intervenções metalinguísticas que o diretor faz durante algumas cenas são sensacionais e tira, mais uma vez, o peso da necessidade de surpreender a audiência com um plot twist matador, típico do suspense, afinal, a cada momento, só temos ferramentas para "supor" e nunca para "afirmar" que aquilo tudo está, de fato, acontecendo. Quando Claude traz para a história suas fantasias adolescentes, é clara a identificação de Germain com seu passado de escritor, ao mesmo tempo quando as soluções de seu aluno são mais trágicas, o que vemos é o medo do professor em assumir que está indo longe demais em pró da sua paixão pela literatura (ou pela reparação de uma frustração antiga).

"Dentro da Casa" parece um jogo, cheio de provocações e fantasias, onde a relação entre as pessoas, em diferente níveis, são expostas de uma forma muito autêntica - é uma verdadeira celebração aos diversos tipos de arte (literatura, cinema, artes plásticas, pintura). Ozon foi muito feliz em usar vários conceitos cinematográficos para incitar nossa imaginação e desejos - Emmanuelle Seigner (Esther) funciona como gatilho para isso, mas seria injusto com todo o excelente elenco dar esse mérito apenas para ela. O filme é tão bom e dinâmico que quando Claude finaliza sua história, surpreendentemente, pouco nos importa se tudo aquilo foi real em algum momento - o que no moveu até ali foram as sensações provocadas, como em um bom livro, aliás.

Vale muito seu play! Filmaço!

Assista Agora

"Dentro da Casa", filme do diretor François Ozon, do também excelente, "O Amante Duplo", brinca com o mesmo elemento narrativo que nos motivou assistir "A Mulher na Janela"e "The Voyeurs" -aquela curiosidade incontrolável de saber o que acontece na vida dos outros, dentro de quatro paredes. Se nos filmes citados o foco era o suspense psicológico, aqui o objetivo é mostrar o poder que as palavras têm na construção de uma imaginação quase literal de uma história! "Dentro da Casa" também provoca um certo desconforto pelo receio de ser descoberto, mas está longe de ser um thriller - eu diria, inclusive, que ele é um ótimo e criativo drama de relações.

Um pouco cansado da rotina de professor de literatura francesa, Germain (Fabrice Luchini) chega a atormentar sua esposa Jeanne (Kristin Scott Thomas) com suas reclamações, mas ela também tem seus problemas profissionais para resolver e nem sempre dá a atenção desejada. Até o dia em que ele descobre na redação de um dos seus alunos, o adolescente Claude (Ernst Umhauer), um estilo diferente de escrita, que dá início a um intrigante jogo de sedução entre pupilo e mestre, que acaba envolvendo a própria esposa, a família de um colega de classe e seu dia a dia profissional. Confira o trailer:

Baseado na peça teatral "The Boy in the Last Row" de Juan Mayorga, "Dentro da Casa" tem o mérito de manipular a realidade pelos olhos de vários personagens de uma forma que em muitos momentos nos pegamos contestando se aquilo tudo pode ser verossímil. A cada capítulo escrito (vamos chamar assim) que Claude entrega para Germain ler, somos arremessados para dentro de um contexto palpável, o lar de uma família aparentemente feliz. O interessante é que levada autoral do filme torna impossível cravar o que é real e o que é imaginação nesse mesmo contexto. Se para Germain as histórias do seu aluno não passam de uma pura interpretação de seus desejos mais adolescentes, para sua esposa Jeanne, os detalhes são tão reais que ela mesmo duvida que aquela história possa ser fruto da criatividade de um rapaz tão jovem.

Esse "vai e vem" entre realidade e imaginação, através dos textos de Claude, é muito bem traduzido em imagens por Ozon, que também assinou o roteiro. As intervenções metalinguísticas que o diretor faz durante algumas cenas são sensacionais e tira, mais uma vez, o peso da necessidade de surpreender a audiência com um plot twist matador, típico do suspense, afinal, a cada momento, só temos ferramentas para "supor" e nunca para "afirmar" que aquilo tudo está, de fato, acontecendo. Quando Claude traz para a história suas fantasias adolescentes, é clara a identificação de Germain com seu passado de escritor, ao mesmo tempo quando as soluções de seu aluno são mais trágicas, o que vemos é o medo do professor em assumir que está indo longe demais em pró da sua paixão pela literatura (ou pela reparação de uma frustração antiga).

"Dentro da Casa" parece um jogo, cheio de provocações e fantasias, onde a relação entre as pessoas, em diferente níveis, são expostas de uma forma muito autêntica - é uma verdadeira celebração aos diversos tipos de arte (literatura, cinema, artes plásticas, pintura). Ozon foi muito feliz em usar vários conceitos cinematográficos para incitar nossa imaginação e desejos - Emmanuelle Seigner (Esther) funciona como gatilho para isso, mas seria injusto com todo o excelente elenco dar esse mérito apenas para ela. O filme é tão bom e dinâmico que quando Claude finaliza sua história, surpreendentemente, pouco nos importa se tudo aquilo foi real em algum momento - o que no moveu até ali foram as sensações provocadas, como em um bom livro, aliás.

Vale muito seu play! Filmaço!

Assista Agora

Desaparecida

Se você gosta do estilo "Buscando..." de drama policial, pode dar o play tranquilamente em "Desaparecida" que seu entretenimento está garantido. Essa produção dirigida pelos novatos Nicholas D. Johnson e Will Merrick, ambos montadores de "Buscando...", não decepciona em nada, pelo contrário, é até mais dinâmico que seu antecessor. No entanto, também é preciso que se diga, que aqui percebemos uma dificuldade maior em criar aquela sensação claustrofobia que o diretor russo Timur Bekmambetov impôs com maestria na produção de 2018 - afinal é inegável que o estilo found footage tinha mais fôlego na época, mas nem por isso "Missing" (no original) deixa de ser bem criativo. 

Quando sua mãe Grace (Nia Long) desaparece enquanto estava de férias na Colômbia com seu novo namorado, a busca de June (Storm Reid) por respostas é prejudicada pela burocracia internacional. Embora os agentes Park (Daniel Henney) e Heather (Amy Landecker) assegurem à filha preocupada que estão fazendo tudo ao seu alcance, o tempo acaba jogando contra. Presa a milhares de quilômetros de distância em Los Angeles, June usa todas as tecnologias à sua disposição para tentar encontrar sua mãe antes que seja tarde demais. Conforme ela se aprofunda, suas investigações levantam mais perguntas do que respostas. Não apenas a informação sobre o novo namorado de sua mãe, Kevin (Ken Leung), é mais do que preocupante, como  também os mistérios envolvendo sua mãe, transformam essa jornada em algo surpreendente e angustiante. Confira o trailer:

Nesse tipo de produção a "forma" se sobrepõe ao "conteúdo" em um primeiro olhar, claro. É até muito bacana como os roteiros vão se adaptando à toda essa evolução tecnológica, e a cada nova incursão ao estilo, sempre percebemos um sopro de inovação e criatividade - a própria Sony usou desse conceito para vender "Desaparecida" como uma espécie de antologia que começou com "Buscando..." e que certamente deve ter outras histórias pela frente. 

Pensando na narrativa em si, o que encontramos em "Desaparecida" é uma linha temporal habilmente estruturada, alternando entre diferentes modos de enxergar uma situação, respeitando os limites das telas, o que contribui e muito para a construção da tensão em torno do mistério envolvendo Grace e Kevin. Reparem como a fórmula, mesmo repetida, funciona perfeitamente, nos dando a impressão de que, a medida que a investigação avança, somos levados a questionar todos os personagens e a formular nossas próprias teorias sobre o que realmente aconteceu. Talvez esteja aí o grande valor desse estilo gameficado do screen life!

Johnson e Merrick, de fato, criam uma atmosfera palpável de angústia e insegurança, trabalhando as cores e a estética a partir de uma paleta de cores mais sombria, onde o desenho de som e o silêncio em cena transformam toda aquela ambientação em algo muito mais melancólico - e Storm Reid também cumpre muito bem essa missão como protagonista. Veja, cada cena é cuidadosamente enquadrada pelo fotógrafo Steven Holleran (que esteve na segunda unidade de "Creed II") para transmitir a sensação de isolamento e desorientação que June enfrenta, intensificando ainda mais esse mood de suspense.

"Desaparecida" não deixa de nos provocar reflexões sobre nossas responsabilidades e pontuais culpas. O filme não se prende em explorar as repercussões que um evento traumático na vida de uma criança pode causar, mas também não deixa de questionar suas ações adolescente e como elas podem afetar aqueles ao seu redor. Dito isso, temos aqui mais um filme interessante e divertido que combina uma narrativa intrigante, com ótimas atuações e uma atmosfera intensa que nos leva em uma jornada das mais envolventes. 

Vale o seu play!

Assista Agora

Se você gosta do estilo "Buscando..." de drama policial, pode dar o play tranquilamente em "Desaparecida" que seu entretenimento está garantido. Essa produção dirigida pelos novatos Nicholas D. Johnson e Will Merrick, ambos montadores de "Buscando...", não decepciona em nada, pelo contrário, é até mais dinâmico que seu antecessor. No entanto, também é preciso que se diga, que aqui percebemos uma dificuldade maior em criar aquela sensação claustrofobia que o diretor russo Timur Bekmambetov impôs com maestria na produção de 2018 - afinal é inegável que o estilo found footage tinha mais fôlego na época, mas nem por isso "Missing" (no original) deixa de ser bem criativo. 

Quando sua mãe Grace (Nia Long) desaparece enquanto estava de férias na Colômbia com seu novo namorado, a busca de June (Storm Reid) por respostas é prejudicada pela burocracia internacional. Embora os agentes Park (Daniel Henney) e Heather (Amy Landecker) assegurem à filha preocupada que estão fazendo tudo ao seu alcance, o tempo acaba jogando contra. Presa a milhares de quilômetros de distância em Los Angeles, June usa todas as tecnologias à sua disposição para tentar encontrar sua mãe antes que seja tarde demais. Conforme ela se aprofunda, suas investigações levantam mais perguntas do que respostas. Não apenas a informação sobre o novo namorado de sua mãe, Kevin (Ken Leung), é mais do que preocupante, como  também os mistérios envolvendo sua mãe, transformam essa jornada em algo surpreendente e angustiante. Confira o trailer:

Nesse tipo de produção a "forma" se sobrepõe ao "conteúdo" em um primeiro olhar, claro. É até muito bacana como os roteiros vão se adaptando à toda essa evolução tecnológica, e a cada nova incursão ao estilo, sempre percebemos um sopro de inovação e criatividade - a própria Sony usou desse conceito para vender "Desaparecida" como uma espécie de antologia que começou com "Buscando..." e que certamente deve ter outras histórias pela frente. 

Pensando na narrativa em si, o que encontramos em "Desaparecida" é uma linha temporal habilmente estruturada, alternando entre diferentes modos de enxergar uma situação, respeitando os limites das telas, o que contribui e muito para a construção da tensão em torno do mistério envolvendo Grace e Kevin. Reparem como a fórmula, mesmo repetida, funciona perfeitamente, nos dando a impressão de que, a medida que a investigação avança, somos levados a questionar todos os personagens e a formular nossas próprias teorias sobre o que realmente aconteceu. Talvez esteja aí o grande valor desse estilo gameficado do screen life!

Johnson e Merrick, de fato, criam uma atmosfera palpável de angústia e insegurança, trabalhando as cores e a estética a partir de uma paleta de cores mais sombria, onde o desenho de som e o silêncio em cena transformam toda aquela ambientação em algo muito mais melancólico - e Storm Reid também cumpre muito bem essa missão como protagonista. Veja, cada cena é cuidadosamente enquadrada pelo fotógrafo Steven Holleran (que esteve na segunda unidade de "Creed II") para transmitir a sensação de isolamento e desorientação que June enfrenta, intensificando ainda mais esse mood de suspense.

"Desaparecida" não deixa de nos provocar reflexões sobre nossas responsabilidades e pontuais culpas. O filme não se prende em explorar as repercussões que um evento traumático na vida de uma criança pode causar, mas também não deixa de questionar suas ações adolescente e como elas podem afetar aqueles ao seu redor. Dito isso, temos aqui mais um filme interessante e divertido que combina uma narrativa intrigante, com ótimas atuações e uma atmosfera intensa que nos leva em uma jornada das mais envolventes. 

Vale o seu play!

Assista Agora

Despertar Mortal

Talvez o mais curioso de assistir "Despertar Mortal" seja o de ter a nítida sensação de que as peças não estão se encaixando. A própria diretora Skye Borgman (de "A Garota da Foto") entende que esse é seu maior trunfo narrativo e é com base nele que ela vai costurando a trama sem a menor pretensão de nos entregar todas as respostas, mesmo que superficialmente essa pareça ser sua intenção. Veja, temos o corpo, temos a arma, temos até a confissão do assassino, mas em nenhum momento encontramos "o motivo" - e é aí que surge uma teoria tão "absurda" quanto a do caso Arne Johnson, que alegou ter tido uma possessão demoníaca no ato do crime (a história foi retratada no terceiro capitulo da franquia "Invocação do Mal").

"Dead Asleep" (no original) acompanha e compartilha imagens exclusivas do caso de Randy Herman Jr., um jovem condenado pelo assassinato de sua melhor amiga, Brooke Preaston, que ele diz ter cometido durante uma crise de sonambulismo quando ambos moravam juntos em West Palm Beach, na Flórida, em 2017. Confira o trailer (em inglês):

Randy Herman Jr. é de uma cidade rural chamada Laceyville. Ele morou a vida inteira com sua mãe e com sua irmã depois que os pais se divorciaram. Embora Randy tenha um histórico de, na época da faculdade, beber muito e usar drogas de forma recreativa, ele nunca se envolveu em maiores problemas - podemos afirmar ainda que ele era o tipo de garoto que todos gostavam pela sua forma educada e divertida com que tratava as pessoas. Dito isso, entramos em uma questão delicada para esse tipo de conteúdo e que Borgman soube equilibrar perfeitamente: quanto de holofote é aceitável dar ao assassino (confesso) para ele contar sua versão?

Nesse caso especifico, todos os pré-conceitos sobre o assunto parecem se perder quando Randy dá seu primeiro depoimento no documentário - e se você acha que eu posso estar exagerando, até a mãe da vitima, demorou a acreditar que ele pudesse ter sido o responsável pelamorte de sua filha. Para ela não fazia o menor sentido - e vários outros depoimentos só confirmam essa percepção amorosa sobre dele. É aí que o documentário começa a desconstruir o personagem, tentando entender o que poderia ter motivado o crime. Misturando cenas de depoimentos com pessoas ligadas a ele na época, como a irmã de Brooke e um amigo bem próximo dos dois, com análises dos mais diversos especialistas (de forenses à especialistas em sono), "Despertar Mortal" tenta cobrir todas as lacunas e validar (ou destruir) a tese de que o sonambulismo tenha sido a causa do surto que vitimou a jovem.

De fato, são muitas nuances sobre a personalidade de Randy - o que dá um aspecto mais complexo ao caso, no entanto é inegável que ao final da jornada, tenhamos a sensação de que ainda faltaram algumas explicações. Isso é proposital, faz parte da proposta conceitual de Borgman - é como se ela apostasse que a história possa ter mais desdobramentos no futuro e que aí sim, ao cobrir esses novos fatos, sua obra mudaria de patamar para um "true crime" surpreendente e cheio de reviravoltas. Aliás, não espere reviravoltas em "Despertar Mortal", mesmo com uma informação surpreendente no final do primeiro episódio, não é nada que possa impactar na experiência como um todo - aqui, como no júri, o que vale é se convencer se Randy seria capaz de ter cometido o crime e por qual motivo; nada mais!

Vale seu play!

Assista Agora

Talvez o mais curioso de assistir "Despertar Mortal" seja o de ter a nítida sensação de que as peças não estão se encaixando. A própria diretora Skye Borgman (de "A Garota da Foto") entende que esse é seu maior trunfo narrativo e é com base nele que ela vai costurando a trama sem a menor pretensão de nos entregar todas as respostas, mesmo que superficialmente essa pareça ser sua intenção. Veja, temos o corpo, temos a arma, temos até a confissão do assassino, mas em nenhum momento encontramos "o motivo" - e é aí que surge uma teoria tão "absurda" quanto a do caso Arne Johnson, que alegou ter tido uma possessão demoníaca no ato do crime (a história foi retratada no terceiro capitulo da franquia "Invocação do Mal").

"Dead Asleep" (no original) acompanha e compartilha imagens exclusivas do caso de Randy Herman Jr., um jovem condenado pelo assassinato de sua melhor amiga, Brooke Preaston, que ele diz ter cometido durante uma crise de sonambulismo quando ambos moravam juntos em West Palm Beach, na Flórida, em 2017. Confira o trailer (em inglês):

Randy Herman Jr. é de uma cidade rural chamada Laceyville. Ele morou a vida inteira com sua mãe e com sua irmã depois que os pais se divorciaram. Embora Randy tenha um histórico de, na época da faculdade, beber muito e usar drogas de forma recreativa, ele nunca se envolveu em maiores problemas - podemos afirmar ainda que ele era o tipo de garoto que todos gostavam pela sua forma educada e divertida com que tratava as pessoas. Dito isso, entramos em uma questão delicada para esse tipo de conteúdo e que Borgman soube equilibrar perfeitamente: quanto de holofote é aceitável dar ao assassino (confesso) para ele contar sua versão?

Nesse caso especifico, todos os pré-conceitos sobre o assunto parecem se perder quando Randy dá seu primeiro depoimento no documentário - e se você acha que eu posso estar exagerando, até a mãe da vitima, demorou a acreditar que ele pudesse ter sido o responsável pelamorte de sua filha. Para ela não fazia o menor sentido - e vários outros depoimentos só confirmam essa percepção amorosa sobre dele. É aí que o documentário começa a desconstruir o personagem, tentando entender o que poderia ter motivado o crime. Misturando cenas de depoimentos com pessoas ligadas a ele na época, como a irmã de Brooke e um amigo bem próximo dos dois, com análises dos mais diversos especialistas (de forenses à especialistas em sono), "Despertar Mortal" tenta cobrir todas as lacunas e validar (ou destruir) a tese de que o sonambulismo tenha sido a causa do surto que vitimou a jovem.

De fato, são muitas nuances sobre a personalidade de Randy - o que dá um aspecto mais complexo ao caso, no entanto é inegável que ao final da jornada, tenhamos a sensação de que ainda faltaram algumas explicações. Isso é proposital, faz parte da proposta conceitual de Borgman - é como se ela apostasse que a história possa ter mais desdobramentos no futuro e que aí sim, ao cobrir esses novos fatos, sua obra mudaria de patamar para um "true crime" surpreendente e cheio de reviravoltas. Aliás, não espere reviravoltas em "Despertar Mortal", mesmo com uma informação surpreendente no final do primeiro episódio, não é nada que possa impactar na experiência como um todo - aqui, como no júri, o que vale é se convencer se Randy seria capaz de ter cometido o crime e por qual motivo; nada mais!

Vale seu play!

Assista Agora

Destruição Final

Se "O Céu da Meia-Noite" da Netflix trouxe alguns elementos do cinema catástrofe que esteve tão em evidência em 1998, e estamos falando mais especificamente de "Armageddon", "Destruição Final" da Amazon Prime Vídeo segue exatamente a mesma receita, mas buscando referências de outro filme lançado no mesmo ano e igualmente reconhecido: "Impacto Profundo"! Ou seja, se dois desses três filmes significaram um bom entretenimento para você, pode dar o play sem o menor receio porque a diversão está garantida!

"Destruição Final" (que tem "O Último Refúgio"como sub-título) acompanha aquela trama padrão de filmes catástrofe: um cometa está passando pela órbita da Terra e o que inicialmente parecia apenas curiosidade logo se transforma em terror quando o corpo celeste começa a se partir e seus fragmentos passam a causar uma devastação global sem precedentes. Ao longo da história, porém, acompanhamos a jornada da família de John Garrity (Gerard Butler) que, sorteados pelo governo, buscam chegar a um local seguro, uma espécie de bunker construído na Groenlândia. Confira o trailer:

O filme de Ric Roman Waugh (deInvasão ao Serviço Secreto) bebe da fonte de clássicos como o já citado "Impacto Profundo" (de Mimi Leder), mas também trás muitos elementos de "2012" (de Roland Emmerich) e, especialmente, de "Guerra dos Mundos", filme dirigido porSteven Spielberg, que se apega a luta de um homem pela vida de sua família em um momento de reconstrução da relação. Dito isso fica muito fácil afirmar que o roteiro de Chris Sparling segue a receita do gênero, mas peca em um único detalhe: você não vai encontrar uma cena marcante da destruição causada pelo cometa e isso, para mim, é um ponto bem sensível do filme - culpa do orçamento! Não que faça falta, mas estamos falando de entretenimento de gênero, a expectativa sempre vai existir quando escolhemos um filme como esse e aqui o impacto catastrófico é solucionado por reportagens da imprensa ao redor do mundo que misturam planos bem fechado e montagens que usam de pontos turísticos ou construções simbólicas para localizar a destruição, mas com um detalhe muito interessante: essas estruturas construídas pelo homem sobrevivem, já o próprio homem... Reparem!

Com total controle de suas limitações orçamentárias, o diretor Ric Roman Waugh usa e abusa da criatividade para nos entregar ótimos momentos de ação e planos bem impactantes onde o horror nos olhos de quem vê é mais importante do que, de fato, a destruição que ele está testemunhando. A angústia dos personagens em busca de sobrevivência é a principal linha narrativa, o resto é perfumaria - superficial, mas divertida!

"Destruição Final" (ou "Greenland", título original) é uma ótima sessão da tarde, sem pretensões de ser inesquecível, mas que traz para o sofá um entretenimento raiz, sem teorizações e alívios poéticos - é pura, e simplesmente, diversão! Vale o play! 

Assista Agora

Se "O Céu da Meia-Noite" da Netflix trouxe alguns elementos do cinema catástrofe que esteve tão em evidência em 1998, e estamos falando mais especificamente de "Armageddon", "Destruição Final" da Amazon Prime Vídeo segue exatamente a mesma receita, mas buscando referências de outro filme lançado no mesmo ano e igualmente reconhecido: "Impacto Profundo"! Ou seja, se dois desses três filmes significaram um bom entretenimento para você, pode dar o play sem o menor receio porque a diversão está garantida!

"Destruição Final" (que tem "O Último Refúgio"como sub-título) acompanha aquela trama padrão de filmes catástrofe: um cometa está passando pela órbita da Terra e o que inicialmente parecia apenas curiosidade logo se transforma em terror quando o corpo celeste começa a se partir e seus fragmentos passam a causar uma devastação global sem precedentes. Ao longo da história, porém, acompanhamos a jornada da família de John Garrity (Gerard Butler) que, sorteados pelo governo, buscam chegar a um local seguro, uma espécie de bunker construído na Groenlândia. Confira o trailer:

O filme de Ric Roman Waugh (deInvasão ao Serviço Secreto) bebe da fonte de clássicos como o já citado "Impacto Profundo" (de Mimi Leder), mas também trás muitos elementos de "2012" (de Roland Emmerich) e, especialmente, de "Guerra dos Mundos", filme dirigido porSteven Spielberg, que se apega a luta de um homem pela vida de sua família em um momento de reconstrução da relação. Dito isso fica muito fácil afirmar que o roteiro de Chris Sparling segue a receita do gênero, mas peca em um único detalhe: você não vai encontrar uma cena marcante da destruição causada pelo cometa e isso, para mim, é um ponto bem sensível do filme - culpa do orçamento! Não que faça falta, mas estamos falando de entretenimento de gênero, a expectativa sempre vai existir quando escolhemos um filme como esse e aqui o impacto catastrófico é solucionado por reportagens da imprensa ao redor do mundo que misturam planos bem fechado e montagens que usam de pontos turísticos ou construções simbólicas para localizar a destruição, mas com um detalhe muito interessante: essas estruturas construídas pelo homem sobrevivem, já o próprio homem... Reparem!

Com total controle de suas limitações orçamentárias, o diretor Ric Roman Waugh usa e abusa da criatividade para nos entregar ótimos momentos de ação e planos bem impactantes onde o horror nos olhos de quem vê é mais importante do que, de fato, a destruição que ele está testemunhando. A angústia dos personagens em busca de sobrevivência é a principal linha narrativa, o resto é perfumaria - superficial, mas divertida!

"Destruição Final" (ou "Greenland", título original) é uma ótima sessão da tarde, sem pretensões de ser inesquecível, mas que traz para o sofá um entretenimento raiz, sem teorizações e alívios poéticos - é pura, e simplesmente, diversão! Vale o play! 

Assista Agora

Detetive Alex Cross

A nova produção da Prime Vídeo, "Detetive Alex Cross", traz a receita que deu mais do que certo em outras produções de seu catálogo de originais como "Jack Ryan" e "Reacher" - o protagonista herói quase sem "super-poderes", mas que resolve tudo com o que têm deles! É isso, "Cross" (no original), criada por Ben Watkins (de "Burn Notice") e baseada nos livros do renomado autor James Patterson, traz para o streaming um dos personagens mais icônicos da literatura policial contemporânea. Conhecido por sua sagacidade, inteligência emocional e dedicação implacável à justiça, Alex Cross finalmente ganha uma adaptação que explora suas habilidades como investigador e psicólogo forense, ao mesmo tempo em que mergulha em suas lutas pessoais mais íntimas. A série entrega uma narrativa tensa e emocional, seguindo a tradição de produções mais clássicas como "CSI" ou "Criminal Minds", mas com um toque de modernidade, abandonando o estilo procedural, para embarcar em uma jornada melhor desenvolvida onde o protagonista e as suas relações interpessoais também ganham os holofotes.

Na trama, Alex Cross (Aldis Hodge) é um detetive brilhante e comprometido que tenta de todas as formas equilibrar sua vida como pai viúvo com o peso de ser um especialista em casos de homicídios brutais em Washington, DC. A série começa com Cross investigando uma série de crimes que o levam a enfrentar alguns dos assassinos mais perigosos e perturbadores de sua carreira, enquanto lida com a dor de nunca ter conseguido encontrar o responsável pela morte de sua esposa. Conforme os episódios avançam, a história revela o impacto que esses casos têm na psique de Cross e em seus laços familiares, destacando o preço emocional de sua vocação, especialmente quando alguns fantasmas do passado voltam para assombra-lo. Confira o trailer:

Essa adaptação de Ben Watkins é entretenimento puro. Mesmo que o texto equilibre com perfeição o drama psicológico com boas sequências de tensão e mistério, é de se notar que a proposta aqui não é entregar uma experiência visualmente marcante ou uma trama complexa ao ponto de nos deixar fora da zona de conforto, mas sim nos colocar próximo ao protagonista para que possamos nos divertir com a jornada em si. A narrativa se desenrola em um ritmo envolvente, alternando momentos de mais introspecção com cenas de ação e investigação bem construídas. A escolha de explorar a personalidade multifacetada de Alex Cross em vez de focar exclusivamente nos casos é um elemento que merece ser destacado, pois adiciona profundidade emocional e humaniza o personagem sem que pese demais no ritmo. Nesse sentido, Watkins faz bom uso dos elementos clássicos da obra de Patterson, como os enigmas psicológicos e os antagonistas meticulosos, mas adapta com inteligência para um formato que realmente envolve quem assiste.

A performance de Aldis Hodge é excepcional. Ele entrega uma interpretação que captura tanto a força e a inteligência do personagem quanto suas fragilidades para alguns assuntos - um exemplo disso é a combinação entre a cena onde ele está jantando na casa da namorada com o prólogo onde ele confronta um criminoso em um interrogatório, ambos no primeiro episódioHodge se aproveita de um roteiro eficaz em manter a tensão e o mistério, mas que também reserva espaço para explorar temas como trauma, luto e a resiliência diante da adversidade, para brilhar - ele, de fato, é muito carismático. Os diálogos realmente são bem escritos, muitas vezes carregados de subtexto, e as reviravoltas são bem planejadas, nos moldes mais tradicionais, eu diria. Com isso "Detetive Alex Cross" não foge de temas difíceis, com cenas de violência onde a complexidade do comportamento humano é colocada à prova, mas, por outro lado, também evita cair em um sensacionalismo barato, abordando tais assuntos com mais respeito do que com enrolação.

Agora é preciso alinhar as expectativas. Para se divertir com a série é necessário entender que algumas subtramas podem parecer um pouco forçadas ou até apressadas. Que certos episódios se apoiam em convenções do gênero que podem ser mais previsíveis para aqueles que gostam de thrillers policiais, No entanto, essas questões não devem comprometer a experiência em si, ou seja, não espere uma jornada complexa demais, aqui em "Detetive Alex Cross" o que vale mesmo é o entretenimento despretensioso!

Pode dar o play sem medo e divirta-se!

Assista Agora

A nova produção da Prime Vídeo, "Detetive Alex Cross", traz a receita que deu mais do que certo em outras produções de seu catálogo de originais como "Jack Ryan" e "Reacher" - o protagonista herói quase sem "super-poderes", mas que resolve tudo com o que têm deles! É isso, "Cross" (no original), criada por Ben Watkins (de "Burn Notice") e baseada nos livros do renomado autor James Patterson, traz para o streaming um dos personagens mais icônicos da literatura policial contemporânea. Conhecido por sua sagacidade, inteligência emocional e dedicação implacável à justiça, Alex Cross finalmente ganha uma adaptação que explora suas habilidades como investigador e psicólogo forense, ao mesmo tempo em que mergulha em suas lutas pessoais mais íntimas. A série entrega uma narrativa tensa e emocional, seguindo a tradição de produções mais clássicas como "CSI" ou "Criminal Minds", mas com um toque de modernidade, abandonando o estilo procedural, para embarcar em uma jornada melhor desenvolvida onde o protagonista e as suas relações interpessoais também ganham os holofotes.

Na trama, Alex Cross (Aldis Hodge) é um detetive brilhante e comprometido que tenta de todas as formas equilibrar sua vida como pai viúvo com o peso de ser um especialista em casos de homicídios brutais em Washington, DC. A série começa com Cross investigando uma série de crimes que o levam a enfrentar alguns dos assassinos mais perigosos e perturbadores de sua carreira, enquanto lida com a dor de nunca ter conseguido encontrar o responsável pela morte de sua esposa. Conforme os episódios avançam, a história revela o impacto que esses casos têm na psique de Cross e em seus laços familiares, destacando o preço emocional de sua vocação, especialmente quando alguns fantasmas do passado voltam para assombra-lo. Confira o trailer:

Essa adaptação de Ben Watkins é entretenimento puro. Mesmo que o texto equilibre com perfeição o drama psicológico com boas sequências de tensão e mistério, é de se notar que a proposta aqui não é entregar uma experiência visualmente marcante ou uma trama complexa ao ponto de nos deixar fora da zona de conforto, mas sim nos colocar próximo ao protagonista para que possamos nos divertir com a jornada em si. A narrativa se desenrola em um ritmo envolvente, alternando momentos de mais introspecção com cenas de ação e investigação bem construídas. A escolha de explorar a personalidade multifacetada de Alex Cross em vez de focar exclusivamente nos casos é um elemento que merece ser destacado, pois adiciona profundidade emocional e humaniza o personagem sem que pese demais no ritmo. Nesse sentido, Watkins faz bom uso dos elementos clássicos da obra de Patterson, como os enigmas psicológicos e os antagonistas meticulosos, mas adapta com inteligência para um formato que realmente envolve quem assiste.

A performance de Aldis Hodge é excepcional. Ele entrega uma interpretação que captura tanto a força e a inteligência do personagem quanto suas fragilidades para alguns assuntos - um exemplo disso é a combinação entre a cena onde ele está jantando na casa da namorada com o prólogo onde ele confronta um criminoso em um interrogatório, ambos no primeiro episódioHodge se aproveita de um roteiro eficaz em manter a tensão e o mistério, mas que também reserva espaço para explorar temas como trauma, luto e a resiliência diante da adversidade, para brilhar - ele, de fato, é muito carismático. Os diálogos realmente são bem escritos, muitas vezes carregados de subtexto, e as reviravoltas são bem planejadas, nos moldes mais tradicionais, eu diria. Com isso "Detetive Alex Cross" não foge de temas difíceis, com cenas de violência onde a complexidade do comportamento humano é colocada à prova, mas, por outro lado, também evita cair em um sensacionalismo barato, abordando tais assuntos com mais respeito do que com enrolação.

Agora é preciso alinhar as expectativas. Para se divertir com a série é necessário entender que algumas subtramas podem parecer um pouco forçadas ou até apressadas. Que certos episódios se apoiam em convenções do gênero que podem ser mais previsíveis para aqueles que gostam de thrillers policiais, No entanto, essas questões não devem comprometer a experiência em si, ou seja, não espere uma jornada complexa demais, aqui em "Detetive Alex Cross" o que vale mesmo é o entretenimento despretensioso!

Pode dar o play sem medo e divirta-se!

Assista Agora

Diana

"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.

O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.

Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.

O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!

Dito isso, vale o play tranquilamente!

Assista Agora

"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.

O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.

Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.

O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!

Dito isso, vale o play tranquilamente!

Assista Agora

Disque Jane

"Disque Jane" vai te surpreender! Primeiro por ser uma história baseada em fatos reais e segundo por ser uma jornada tão envolvente capaz de provocar, além de muitas reflexões, inúmeros questionamentos sobre o aborto. Agora é preciso dizer: é inegável o tom ativista do filme, por outro lado, o filme de estreia da até então roteirista Phyllis Nagy (indicada ao Oscar por "Carol" em 2015), consegue equilibrar muito bem uma trama pautada no processo de transformação da protagonista (na linha de "Breaking Bad"), com todo contexto politico e social da mulher na Chicago do final dos anos 60.

A vida feliz de Joy (Elizabeth Banks), junto de sua família, se desestabiliza quando a tão desejada gravidez passa a ser um risco para a sua vida. Temendo pelo pior, ela busca ajuda médica, que se recusa a ajuda-la pelas leis da época. Sua jornada para encontrar uma solução acaba a levando até o grupo chamado "Janes" (The Jane Collective), uma organização clandestina de mulheres que lhe dará uma alternativa mais segura para seu problema, em um processo que mudará sua vida para sempre. Confira o trailer (em inglês):

"Disque Jane" foi apresentado no Festival de Berlin em 2022 com potencial de levar o Urso de Ouro (que acabou ficando com o espanhol "Alcarrás" de Carla Simon) e sem dúvida que isso chancela o interesse da audiência em conhecer a história de Joy. No entanto, alguns elementos do roteiro escrito pela Hayley Schore e pelo Roshan Sethi parecem não se conectar com a proposta inicial de Nagy de apenas contar um boa história de empoderamento - existem alguns diálogos que saem um pouco do tom por justamente parecer lacrar demais. Isso não é um problema, eu diria, mas é inegável que incomoda, principalmente por deixar de lado embates muito mais interessantes sobre ética e, por consequência, conflitos morais que colocariam camadas mais profundas no amadurecimento da personagem. No final, a impressão que fica, é que fosse uma série, os roteiristas teriam um material maravilhoso para trabalhar - Kate Mara (como Lana) que o diga.

Chama atenção, sem a menor dúvida, a performance de Elizabeth Banks (fique atento ao trabalho dessa atriz, em breve ela estará no Oscar, pode apostar) - seu trabalho é muito consistente e, aqui, provavelmente o melhor de sua carreira. Banks tem a capacidade de despertar empatia mesmo quando notavelmente está cometendo um crime - reparem como ao longo do filme, em alguns momentos realmente dramáticos, ela equilibra tão bem o silêncio com o texto mais expositivo, que temos a exata noção do tamanho de sua dor (ou de suas dúvidas como mulher). Sigourney Weaver como a manda-chuva, Virginia, e Cory Michael Smith, como o jovem médico, Dean, também merecem elogios.

Mesmo que "Call Jane" (no original) passe essa sensação de pressa ou de superficialidade ao tentar fechar rapidamente todas as pontas que ficariam abertas, ainda assim considero o filme um ótimo drama, bem estruturado, bem dirigido (sem grandes destaques conceituais, é verdade) e com ótimas performances, capaz de colocar o dedo em alguns temas delicados que ainda hoje merecem o debate em todas as esferas da sociedade e que vão dialogar com grande parte da audiência feminina.

Pode dar o play sem medo que as conversas pós-créditos estão garantidas.

Assista Agora

"Disque Jane" vai te surpreender! Primeiro por ser uma história baseada em fatos reais e segundo por ser uma jornada tão envolvente capaz de provocar, além de muitas reflexões, inúmeros questionamentos sobre o aborto. Agora é preciso dizer: é inegável o tom ativista do filme, por outro lado, o filme de estreia da até então roteirista Phyllis Nagy (indicada ao Oscar por "Carol" em 2015), consegue equilibrar muito bem uma trama pautada no processo de transformação da protagonista (na linha de "Breaking Bad"), com todo contexto politico e social da mulher na Chicago do final dos anos 60.

A vida feliz de Joy (Elizabeth Banks), junto de sua família, se desestabiliza quando a tão desejada gravidez passa a ser um risco para a sua vida. Temendo pelo pior, ela busca ajuda médica, que se recusa a ajuda-la pelas leis da época. Sua jornada para encontrar uma solução acaba a levando até o grupo chamado "Janes" (The Jane Collective), uma organização clandestina de mulheres que lhe dará uma alternativa mais segura para seu problema, em um processo que mudará sua vida para sempre. Confira o trailer (em inglês):

"Disque Jane" foi apresentado no Festival de Berlin em 2022 com potencial de levar o Urso de Ouro (que acabou ficando com o espanhol "Alcarrás" de Carla Simon) e sem dúvida que isso chancela o interesse da audiência em conhecer a história de Joy. No entanto, alguns elementos do roteiro escrito pela Hayley Schore e pelo Roshan Sethi parecem não se conectar com a proposta inicial de Nagy de apenas contar um boa história de empoderamento - existem alguns diálogos que saem um pouco do tom por justamente parecer lacrar demais. Isso não é um problema, eu diria, mas é inegável que incomoda, principalmente por deixar de lado embates muito mais interessantes sobre ética e, por consequência, conflitos morais que colocariam camadas mais profundas no amadurecimento da personagem. No final, a impressão que fica, é que fosse uma série, os roteiristas teriam um material maravilhoso para trabalhar - Kate Mara (como Lana) que o diga.

Chama atenção, sem a menor dúvida, a performance de Elizabeth Banks (fique atento ao trabalho dessa atriz, em breve ela estará no Oscar, pode apostar) - seu trabalho é muito consistente e, aqui, provavelmente o melhor de sua carreira. Banks tem a capacidade de despertar empatia mesmo quando notavelmente está cometendo um crime - reparem como ao longo do filme, em alguns momentos realmente dramáticos, ela equilibra tão bem o silêncio com o texto mais expositivo, que temos a exata noção do tamanho de sua dor (ou de suas dúvidas como mulher). Sigourney Weaver como a manda-chuva, Virginia, e Cory Michael Smith, como o jovem médico, Dean, também merecem elogios.

Mesmo que "Call Jane" (no original) passe essa sensação de pressa ou de superficialidade ao tentar fechar rapidamente todas as pontas que ficariam abertas, ainda assim considero o filme um ótimo drama, bem estruturado, bem dirigido (sem grandes destaques conceituais, é verdade) e com ótimas performances, capaz de colocar o dedo em alguns temas delicados que ainda hoje merecem o debate em todas as esferas da sociedade e que vão dialogar com grande parte da audiência feminina.

Pode dar o play sem medo que as conversas pós-créditos estão garantidas.

Assista Agora

DOM

DOM

"DOM" é surpreendentemente boa - e digo isso com a tranquilidade de quem sabe as dificuldades que é produzir uma série desse tamanho aqui no Brasil. Embora algumas decisões conceituais sejam impactados diretamente pela limitação do orçamento de sua produção, o resultado final é de extrema qualidade narrativa e visual. "DOM" é um recorte social do Rio de Janeiro dos anos 2000 na sua essência, construído a partir de uma base histórica de 30 anos, justamente quando as drogas começaram a invadir os morros cariocas e se transformar em um cruel negócio dos mais lucrativos.

Na série acompanhamos duas histórias reais que se completam: a de Pedro Dom, um belo rapaz da classe média carioca que foi apresentado à cocaína na adolescência e que acabou colocando ele frente a frente com o crime, onde se transformou no líder de uma gangue criminosa que dominou os tabloides cariocas no início dos anos 2000. E a de seu pai, Victor Dantas, ex-mergulhador, que quando jovem fez uma descoberta no fundo do mar que logo o direcionou para o serviço de inteligência da polícia para combater, justamente, o inicio do tráfico de drogas no país. Confira o trailer:

A série é baseada nas obras "O Beijo da Bruxa", de Luiz Victor Lomba, e "DOM", de Tony Bellotto. Produzido e dirigido pelo sempre impecável Breno Silveira (de "Dois Filhos de Francisco"), o roteiro é bastante competente em cobrir os eventos em duas linhas temporais que a principio parece ter "apenas" a droga como conexão, mas que, posso garantir, vai muito além disso. As marcas do passado de Victor impactam diretamente no seu relacionamento com a família e principalmente com seu filho Pedro - então é preciso que se diga: não se trata da história de mais um criminoso ou da romantização da construção de um mito, muito pelo contrário, "DOM" traz para a discussão um problema social sério, o tráfico de drogas e o impacto dele nas famílias. 

Como já é de costume nos projetos de Breno Silveira, tecnicamente, "DOM" é um espetáculo. A fotografa do argentino Adrian Teijido (Capitu) mostra um contraste maravilhoso da cidade do Rio de Janeiro, criando uma dinâmica visual entre o morro, a praia e o asfalto, impressionante! A direção de Silveira, ao lado de Vicente Kubrusly, é precisa na construção do drama e das relações do núcleo central - só peca no trabalho com os atores do elenco de apoio. O trabalho do Claudio Amaral Peixoto na direção de arte também me chamou a atenção - o realismo quase minimalista compõe o cenário de uma forma completamente orgânica nas duas linhas temporais e ajuda demais na construção do mood da série.

Gabriel Leone é um dos melhores atores da sua geração - absolutamente tudo que assisti dele, me convenceu! Eu não gosto da sua versão adolescente na série, mas entendo a demanda. Sua postura como o jovem de classe média carioca, loiro e de olhos azuis, que aproveitava do racismo estrutural para entrar nos condomínios de luxo sem levantar suspeitas, é perfeito - me lembrou muito "The Bling Ring" de Sofia Coppola, mas com uma pegada mais "Cidade de Deus".

"DOM" tem visual de minissérie da Globo e isso é um baita elogio, tudo funciona perfeitamente e nos proporciona um experiência bastante visceral. Não se deixe enganar por qualquer tipo de glamourização ou pelos apelidos de Pedro Dom - essa coisa de "bandido fashion" ou "bandido gato" é marketing para vender jornal de terceira. A série é muito mais profunda, pesada até - ela mostra o uso excessivo de drogas sem se preocupar com os extremos e, por isso, é bem provável que você precise de um tempo para se conectar com a história. Mas vale a pena, mesmo que a jornada exija uma pausa entre um episódio e outro para recuperar o fôlego!

Assista Agora

"DOM" é surpreendentemente boa - e digo isso com a tranquilidade de quem sabe as dificuldades que é produzir uma série desse tamanho aqui no Brasil. Embora algumas decisões conceituais sejam impactados diretamente pela limitação do orçamento de sua produção, o resultado final é de extrema qualidade narrativa e visual. "DOM" é um recorte social do Rio de Janeiro dos anos 2000 na sua essência, construído a partir de uma base histórica de 30 anos, justamente quando as drogas começaram a invadir os morros cariocas e se transformar em um cruel negócio dos mais lucrativos.

Na série acompanhamos duas histórias reais que se completam: a de Pedro Dom, um belo rapaz da classe média carioca que foi apresentado à cocaína na adolescência e que acabou colocando ele frente a frente com o crime, onde se transformou no líder de uma gangue criminosa que dominou os tabloides cariocas no início dos anos 2000. E a de seu pai, Victor Dantas, ex-mergulhador, que quando jovem fez uma descoberta no fundo do mar que logo o direcionou para o serviço de inteligência da polícia para combater, justamente, o inicio do tráfico de drogas no país. Confira o trailer:

A série é baseada nas obras "O Beijo da Bruxa", de Luiz Victor Lomba, e "DOM", de Tony Bellotto. Produzido e dirigido pelo sempre impecável Breno Silveira (de "Dois Filhos de Francisco"), o roteiro é bastante competente em cobrir os eventos em duas linhas temporais que a principio parece ter "apenas" a droga como conexão, mas que, posso garantir, vai muito além disso. As marcas do passado de Victor impactam diretamente no seu relacionamento com a família e principalmente com seu filho Pedro - então é preciso que se diga: não se trata da história de mais um criminoso ou da romantização da construção de um mito, muito pelo contrário, "DOM" traz para a discussão um problema social sério, o tráfico de drogas e o impacto dele nas famílias. 

Como já é de costume nos projetos de Breno Silveira, tecnicamente, "DOM" é um espetáculo. A fotografa do argentino Adrian Teijido (Capitu) mostra um contraste maravilhoso da cidade do Rio de Janeiro, criando uma dinâmica visual entre o morro, a praia e o asfalto, impressionante! A direção de Silveira, ao lado de Vicente Kubrusly, é precisa na construção do drama e das relações do núcleo central - só peca no trabalho com os atores do elenco de apoio. O trabalho do Claudio Amaral Peixoto na direção de arte também me chamou a atenção - o realismo quase minimalista compõe o cenário de uma forma completamente orgânica nas duas linhas temporais e ajuda demais na construção do mood da série.

Gabriel Leone é um dos melhores atores da sua geração - absolutamente tudo que assisti dele, me convenceu! Eu não gosto da sua versão adolescente na série, mas entendo a demanda. Sua postura como o jovem de classe média carioca, loiro e de olhos azuis, que aproveitava do racismo estrutural para entrar nos condomínios de luxo sem levantar suspeitas, é perfeito - me lembrou muito "The Bling Ring" de Sofia Coppola, mas com uma pegada mais "Cidade de Deus".

"DOM" tem visual de minissérie da Globo e isso é um baita elogio, tudo funciona perfeitamente e nos proporciona um experiência bastante visceral. Não se deixe enganar por qualquer tipo de glamourização ou pelos apelidos de Pedro Dom - essa coisa de "bandido fashion" ou "bandido gato" é marketing para vender jornal de terceira. A série é muito mais profunda, pesada até - ela mostra o uso excessivo de drogas sem se preocupar com os extremos e, por isso, é bem provável que você precise de um tempo para se conectar com a história. Mas vale a pena, mesmo que a jornada exija uma pausa entre um episódio e outro para recuperar o fôlego!

Assista Agora

Dor e Glória

Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Dor e Glória" é um filme do Almodóvar na sua forma e no seu conteúdo!

Primeiro vamos falar do conteúdo: o filme conta a história do diretor de cinema Salvador Mallo (Antonio Banderas) que vive mergulhado em uma amarga melancolia graças à fortes dores no seu corpo, principalmente nas costas, impossibilitando-o, inclusive, de amarrar seu tênis. Essa condição acaba impedindo Salvador de trabalhar normalmente, já que ele mesmo defende que a dinâmica de um set de filmagem requer muita energia, dedicação e saúde - elementos que ele não encontra mais em si! Conformado com sua nova condição, o cineasta é provocado a passar por um dolorido processo de auto-análise, se obrigando a revisitar o passado na busca de um único objetivo: encontrar o caminho para continuar sua vida, em paz!

Sim, "Dor e Glória" é um filme de enorme reflexão, saudosista e até egocêntrico (no melhor sentido da palavra), já que Salvador Mallo é o alter-ego do próprio Pedro Almodóvar, mas a forma (e é claro que vamos falar mais dela logo abaixo) como ele conduz sua história mexe com a gente, pois é impossível não pensar na nossa própria vida. Essa dinâmica é tão inteligente que projetamos um filme a cada assunto (ou momento) em que ele precisa enfrentar seus "demônios" e a entrega que ele faz no final é só mais um belíssimo detalhe para um fechamento com chave de ouro!

Olha, vale muito a pena se você estiver disposto a enfrentar um filme mais cadenciado, sem uma dinâmica narrativa que possa empolgar, mas que tem no texto e, principalmente, no subtexto, uma espécie de imersão emocional muito genuína e reflexiva! É preciso gostar de Almodóvar para não se decepcionar!

Quando partimos do princípio que Salvador já teve seus momentos de glória e que agora ele só consegue enxergar (ou sentir) a dor, física e emocional, facilmente nos conectamos com o belíssimo trabalho do Antonio Banderas - indicado ao Oscar por esse trabalho. Ele está impecável como Salvador Mallo e é preciso dar muito mérito ao Almodóvar por isso - ele é um exímio diretor de atores e foi capaz de tirar o melhor de um Banderas completamente mergulhado na psiquê do seu mentor e amigo. É muito interessante o contraste que o ator conseguiu imprimir no seu personagem: se por um lado ele está rodeado de cores vivas, arte e conforto, por outro lado ele está sozinho e é incapaz de se conectar com a forma com que ele via (e vivia) a vida - o fato do apartamento de Salvador ser do próprio Almodóvar, só fortalece essa sensação de conflito interno! Um detalhe interessante do roteiro (e que nos faz pensar em várias passagens do filme) é como a vida não nos permite "jogar a sujeira para baixo do tapete"; em algum momento ela vai trabalhar para que a gente possa, finalmente, resolver essas pendências. É muito inteligente como os "nós" vão sendo desatados sem precisar forçar a barra e quando achamos que existe um certo exagero (o que até seria perdoável pelo estilo do diretor) ele nos explica com um único movimento de câmera, exatamente na última cena - e tudo faz mais sentido! Genial! O roteiro toca em pontos delicados como a percepção sobre o homossexualismo logo na infância, a relação com a religião, com as drogas, com a mãe, com os parceiros de trabalho e de vida; enfim, tudo está lá e muito bem amarrado - eu não teria ficado surpreso se fosse indicado para o Oscar de melhor roteiro original!

A fotografia do seu parceiro de longa data (mais um), Jose Luis Alcaine, segue sua gramática visual: das cores vivas, do contraste, dos planos abertos e da câmera fixa em 90% do filme - enquadramentos que parecem uma pintura estão lá também! Outro elemento que precisa ser destacado é o elenco que, além de Bandeiras, conta com um Asier Etxeandia (Por siempre Jamón e Velvet) como o ator Alberto Crespo que ficou 30 anos brigado com Salvador por desentendimentos criativos (e de comportamento) e pela participação cirúrgica de Penélope Cruz (Volver) eJulieta Serrano (Cuando vuelvas a mi lado) como a mãe de Salvador, Jacinta: a primeira na juventude e a segunda pouco antes de sua morte - aliás o diálogo entre Jacinta e Salvador no final do filme é algo digno de muitos prêmios, de roteiro e de atuação!

"Dor e Glória" é um filme que teria mais chances no Oscar não fosse o fenômeno "Parasita". Sua história é profunda, baseada em um roteiro inteligente e em um personagem muito bem construído pelo Antonio Banderas. A direção do Pedro Almodóvar é tecnicamente perfeita e cheia de detalhes quase imperceptíveis, mas que fazem a diferença. Reparem como ele trabalha o silêncio dos atores e mesmo assim somos capazes de sentir exatamente o drama que eles estão passando - a cena onde Salvador se despede de Frederico na porta do seu apartamento é um ótimo exemplo de como o subtexto do filme é importante: ele diz uma coisa, mas seu olhar diz outra! É demais! Vale muito o seu play e se o estilo Almodóvar te agradar, você vai se divertir muito! 

Assista Agora

Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Dor e Glória" é um filme do Almodóvar na sua forma e no seu conteúdo!

Primeiro vamos falar do conteúdo: o filme conta a história do diretor de cinema Salvador Mallo (Antonio Banderas) que vive mergulhado em uma amarga melancolia graças à fortes dores no seu corpo, principalmente nas costas, impossibilitando-o, inclusive, de amarrar seu tênis. Essa condição acaba impedindo Salvador de trabalhar normalmente, já que ele mesmo defende que a dinâmica de um set de filmagem requer muita energia, dedicação e saúde - elementos que ele não encontra mais em si! Conformado com sua nova condição, o cineasta é provocado a passar por um dolorido processo de auto-análise, se obrigando a revisitar o passado na busca de um único objetivo: encontrar o caminho para continuar sua vida, em paz!

Sim, "Dor e Glória" é um filme de enorme reflexão, saudosista e até egocêntrico (no melhor sentido da palavra), já que Salvador Mallo é o alter-ego do próprio Pedro Almodóvar, mas a forma (e é claro que vamos falar mais dela logo abaixo) como ele conduz sua história mexe com a gente, pois é impossível não pensar na nossa própria vida. Essa dinâmica é tão inteligente que projetamos um filme a cada assunto (ou momento) em que ele precisa enfrentar seus "demônios" e a entrega que ele faz no final é só mais um belíssimo detalhe para um fechamento com chave de ouro!

Olha, vale muito a pena se você estiver disposto a enfrentar um filme mais cadenciado, sem uma dinâmica narrativa que possa empolgar, mas que tem no texto e, principalmente, no subtexto, uma espécie de imersão emocional muito genuína e reflexiva! É preciso gostar de Almodóvar para não se decepcionar!

Quando partimos do princípio que Salvador já teve seus momentos de glória e que agora ele só consegue enxergar (ou sentir) a dor, física e emocional, facilmente nos conectamos com o belíssimo trabalho do Antonio Banderas - indicado ao Oscar por esse trabalho. Ele está impecável como Salvador Mallo e é preciso dar muito mérito ao Almodóvar por isso - ele é um exímio diretor de atores e foi capaz de tirar o melhor de um Banderas completamente mergulhado na psiquê do seu mentor e amigo. É muito interessante o contraste que o ator conseguiu imprimir no seu personagem: se por um lado ele está rodeado de cores vivas, arte e conforto, por outro lado ele está sozinho e é incapaz de se conectar com a forma com que ele via (e vivia) a vida - o fato do apartamento de Salvador ser do próprio Almodóvar, só fortalece essa sensação de conflito interno! Um detalhe interessante do roteiro (e que nos faz pensar em várias passagens do filme) é como a vida não nos permite "jogar a sujeira para baixo do tapete"; em algum momento ela vai trabalhar para que a gente possa, finalmente, resolver essas pendências. É muito inteligente como os "nós" vão sendo desatados sem precisar forçar a barra e quando achamos que existe um certo exagero (o que até seria perdoável pelo estilo do diretor) ele nos explica com um único movimento de câmera, exatamente na última cena - e tudo faz mais sentido! Genial! O roteiro toca em pontos delicados como a percepção sobre o homossexualismo logo na infância, a relação com a religião, com as drogas, com a mãe, com os parceiros de trabalho e de vida; enfim, tudo está lá e muito bem amarrado - eu não teria ficado surpreso se fosse indicado para o Oscar de melhor roteiro original!

A fotografia do seu parceiro de longa data (mais um), Jose Luis Alcaine, segue sua gramática visual: das cores vivas, do contraste, dos planos abertos e da câmera fixa em 90% do filme - enquadramentos que parecem uma pintura estão lá também! Outro elemento que precisa ser destacado é o elenco que, além de Bandeiras, conta com um Asier Etxeandia (Por siempre Jamón e Velvet) como o ator Alberto Crespo que ficou 30 anos brigado com Salvador por desentendimentos criativos (e de comportamento) e pela participação cirúrgica de Penélope Cruz (Volver) eJulieta Serrano (Cuando vuelvas a mi lado) como a mãe de Salvador, Jacinta: a primeira na juventude e a segunda pouco antes de sua morte - aliás o diálogo entre Jacinta e Salvador no final do filme é algo digno de muitos prêmios, de roteiro e de atuação!

"Dor e Glória" é um filme que teria mais chances no Oscar não fosse o fenômeno "Parasita". Sua história é profunda, baseada em um roteiro inteligente e em um personagem muito bem construído pelo Antonio Banderas. A direção do Pedro Almodóvar é tecnicamente perfeita e cheia de detalhes quase imperceptíveis, mas que fazem a diferença. Reparem como ele trabalha o silêncio dos atores e mesmo assim somos capazes de sentir exatamente o drama que eles estão passando - a cena onde Salvador se despede de Frederico na porta do seu apartamento é um ótimo exemplo de como o subtexto do filme é importante: ele diz uma coisa, mas seu olhar diz outra! É demais! Vale muito o seu play e se o estilo Almodóvar te agradar, você vai se divertir muito! 

Assista Agora

Dunkirk

Antes de mais nada, obrigado Nolan (mais uma vez)!!! "Dunkirk" é sensacional e importante!!! Sensacional porque, de cara, o Nolan já nos coloca dentro da Guerra, mais ou menos como o Spielberg fez naquela sequência inesquecível da chegada dos soldados na praia de Omaha em "O Resgate do Soldado Ryan", e importante porque ele faz isso usando o melhor da tecnologia que um Diretor pode ter nas mãos nos dias de hoje para contar uma história tão visceral com um equilíbrio cirúrgico!!!

A Operação Dínamo, também conhecida como o Milagre de Dunkirk, foi uma notável operação militar da Segunda Guerra Mundial, onde mais de trezentos mil soldados aliados foram salvos durante um intenso bombardeio durante a invasão da França pelas tropas de Hitler. Milagrosamente e devido a uma inexplicável reviravolta na estratégia alemã, os soldados conseguiram escapar pelo mar até a cidade inglesa de Dover, com ajuda de centenas de de civis que participaram do resgate!

Bom, dito isso, a primeira dica que eu daria é: assista no Imax - o filme foi pensado para esse tipo de tela e com todos os recursos de Imagem e Som que uma sala como essa proporciona (Spielberg não teve essa sorte em 1998, infelizmente). O fato dele ter rodado em 70mm boa parte do filme te coloca dentro daquela situação que os personagens estão vivendo sem pedir licença, pois amplia o tamanho da imagens com muito mais qualidade visual. É tão visceral a direção do Nolan que chega a ser angustiante - era uma experiência realmente intensa assistir no Imax! Já que isso não será mais possível, procure assistir na maior tela que você conseguir e com o melhor sistema de som disponível (e, por favor, alto!). Os enquadramentos, o desenho de som e a trilha (genial por sinal) do Hans Zimmer estão tão alinhados que a imersão é imediata e quando você percebe já está "sofrendo" dentro daquele inferno - e é um inferno, acredite!

Tenho que admitir que esse "soco na ponta do queixo" técnico me afastou um pouco de outra escolha do diretor (e do roteirista) que acabou me confundindo um pouco, então preste atenção que só melhora:  ele une períodos de tempo diferentes em uma mesma linha narrativa – a trajetória de um dos personagens acontece em uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço, a de um outro é durante um dia em alto mar com o civil britânico Dawson (Mark Rylance) levando seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país e um terceiro, apenas em uma hora, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo; mas todas essa histórias acontecem em um mesmo evento e simultaneamente, graças a uma edição muito interessante! Minha falta de atenção inicial acabou me causando um estranhamento, pois parecia que os caras haviam errado na continuidade (o que seria um absurdo), mas assim que acaba o filme e você reflete sobre ele, fica fácil lembrar dos letterings que apresentavam essas escolhas narrativas e tudo acaba fazendo muito sentido - e como se o filme não acabasse após os créditos!

"Dunkirk" é daqueles filmes tão essenciais quanto foi "Gravidade". Daqueles filmes que sobem um degrau do gênero pela genialidade do Diretor (e equipe), e que mesmo sem um roteiro fabuloso, visualmente te permite viver uma experiência única e muito pessoal a cada cena, como o cinema deve ser - "1917" que o diga! Edição de Som e Mixagem tem tudo para ser barbada no Oscar 2018, mas tenho a impressão que leva pelo menos mais umas 2 estatuetas já que tudo funciona tão bem! Ah, um detalhe sobre a fotografia que eu achei genial: em determinados momentos do filme, vem um look meio antigo, quase como em um jogo "Medal of Honor" e mais uma vez fica perceptível que nada que está ali é por acaso! É lindo!

Não deixe de assistir, sério!!! Sem dúvida um dos melhores filmes de 2017

Up-date: "Dunkirk" ganhou em três categorias no Oscar 2020, das 8 que foi indicado: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem e Melhor Edição! 

Assista Agora

Antes de mais nada, obrigado Nolan (mais uma vez)!!! "Dunkirk" é sensacional e importante!!! Sensacional porque, de cara, o Nolan já nos coloca dentro da Guerra, mais ou menos como o Spielberg fez naquela sequência inesquecível da chegada dos soldados na praia de Omaha em "O Resgate do Soldado Ryan", e importante porque ele faz isso usando o melhor da tecnologia que um Diretor pode ter nas mãos nos dias de hoje para contar uma história tão visceral com um equilíbrio cirúrgico!!!

A Operação Dínamo, também conhecida como o Milagre de Dunkirk, foi uma notável operação militar da Segunda Guerra Mundial, onde mais de trezentos mil soldados aliados foram salvos durante um intenso bombardeio durante a invasão da França pelas tropas de Hitler. Milagrosamente e devido a uma inexplicável reviravolta na estratégia alemã, os soldados conseguiram escapar pelo mar até a cidade inglesa de Dover, com ajuda de centenas de de civis que participaram do resgate!

Bom, dito isso, a primeira dica que eu daria é: assista no Imax - o filme foi pensado para esse tipo de tela e com todos os recursos de Imagem e Som que uma sala como essa proporciona (Spielberg não teve essa sorte em 1998, infelizmente). O fato dele ter rodado em 70mm boa parte do filme te coloca dentro daquela situação que os personagens estão vivendo sem pedir licença, pois amplia o tamanho da imagens com muito mais qualidade visual. É tão visceral a direção do Nolan que chega a ser angustiante - era uma experiência realmente intensa assistir no Imax! Já que isso não será mais possível, procure assistir na maior tela que você conseguir e com o melhor sistema de som disponível (e, por favor, alto!). Os enquadramentos, o desenho de som e a trilha (genial por sinal) do Hans Zimmer estão tão alinhados que a imersão é imediata e quando você percebe já está "sofrendo" dentro daquele inferno - e é um inferno, acredite!

Tenho que admitir que esse "soco na ponta do queixo" técnico me afastou um pouco de outra escolha do diretor (e do roteirista) que acabou me confundindo um pouco, então preste atenção que só melhora:  ele une períodos de tempo diferentes em uma mesma linha narrativa – a trajetória de um dos personagens acontece em uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço, a de um outro é durante um dia em alto mar com o civil britânico Dawson (Mark Rylance) levando seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país e um terceiro, apenas em uma hora, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo; mas todas essa histórias acontecem em um mesmo evento e simultaneamente, graças a uma edição muito interessante! Minha falta de atenção inicial acabou me causando um estranhamento, pois parecia que os caras haviam errado na continuidade (o que seria um absurdo), mas assim que acaba o filme e você reflete sobre ele, fica fácil lembrar dos letterings que apresentavam essas escolhas narrativas e tudo acaba fazendo muito sentido - e como se o filme não acabasse após os créditos!

"Dunkirk" é daqueles filmes tão essenciais quanto foi "Gravidade". Daqueles filmes que sobem um degrau do gênero pela genialidade do Diretor (e equipe), e que mesmo sem um roteiro fabuloso, visualmente te permite viver uma experiência única e muito pessoal a cada cena, como o cinema deve ser - "1917" que o diga! Edição de Som e Mixagem tem tudo para ser barbada no Oscar 2018, mas tenho a impressão que leva pelo menos mais umas 2 estatuetas já que tudo funciona tão bem! Ah, um detalhe sobre a fotografia que eu achei genial: em determinados momentos do filme, vem um look meio antigo, quase como em um jogo "Medal of Honor" e mais uma vez fica perceptível que nada que está ali é por acaso! É lindo!

Não deixe de assistir, sério!!! Sem dúvida um dos melhores filmes de 2017

Up-date: "Dunkirk" ganhou em três categorias no Oscar 2020, das 8 que foi indicado: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem e Melhor Edição! 

Assista Agora

El Presidente

Para quem gosta de futebol e tem um certo conhecimento sobre as figuras que compõem os bastidores do esporte, "El Presidente" vai surpreender positivamente por expor uma série de fatos que acompanhamos muito superficialmente por aqui, mas que contam com personagens que ficaram bem conhecidos em 2014, quando a Copa foi disputada no Brasil - aliás, essa incrível história só existe porque o nosso país tem uma enorme representatividade (para o bem e para o mal) em todas as camadas que transformam o futebol no esporte mais lucrativo do mundo!

"El Presidente" acompanha a história do escândalo de corrupção da Fifa em 2015, conhecido como "FIFA Gate", pelos olhos deSergio Jadue, responsável por um pequeno time de futebol chileno que saiu do anonimato para se tornar presidente da federação do país e uma peça importante nessa enorme conspiração que envolveu um suborno de150 milhões de dólares coordenado pelo então presidente da federação argentina de futebol, Julio Grondona. Confira o trailer:

Embora a série assuma um tom mais despojado que "Narcos", fica claro uma forte referência do conceito narrativo para contar a história. Um narrador, uma linha temporal completamente fragmentada, cenas que misturam realidade com ficção, uma edição com enorme personalidade (que dá o tom da trama) e uma fotografia criativa (mas não muito original). Tudo isso não é por acaso e vou explicar detalhadamente logo abaixo, porém é preciso dizer que "El Presidente" é, de fato, uma série muito divertida, dinâmica e com curiosidades que muitos de nós, amantes do futebol, nem sonhávamos que poderiam acontecer. Vale muito a pena, entretenimento garantido, mas fica a uma observação importante: provavelmente quem não é familiarizado com as dinâmicas do esporte e não conhece esses personagens reais, pode não aproveitar muito da série!

Produzido pela francesa Gaumont (responsável por "Narcos" da Netflix), pela chilena Fabula (vencedora do Oscar com "Uma Mulher Fantástica"), pela argentina Kapow (da série "Estocolmo") e sob a coordenação da Amazon Studios, "El Presidente" tem o vencedor do Oscar por "Birdman", Armando Bo, no comando do projeto. Fiz questão de citar todos os envolvidos para justificar a enorme qualidade da série. Claro que alguns elementos deixam um pouco a desejar como, por exemplo, a qualidade do elenco de apoio, bem abaixo do núcleo principal, e algumas dublagens completamente toscas dos personagens brasileiros - parece novela mexicana. As cenas de futebol também foram reproduzidas, o que acaba nos afastando um pouco da realidade dos fatos, mas não deixa de ser compreensível pelo enorme custo de direitos que estavam envolvidos em um obra que expõe o pior lado das confederações sul-americanas e da própria FIFA. Tudo isso passa a ser aceitável por se tratar de uma série que assume uma linguagem menos naturalista, mais caricata, ou seja, ela permite um ajuste do tom para diminuir a densidade da narrativa e caçoar de várias situações completamente non-sense que chegam parecer mentira - reparem em toda a sequência que envolve o sorteio dos grupos da Copa América de 2015 no Chile e você vai entender do que eu estou falando!

O roteiro se divide em duas linhas temporais e Armando Bo, na minha opinião, entrega demais essas quebras narrativas: além de legendas para dizer o que é passado e o que é presente, a fotografia usa de uma técnica já batida, mas não menos interessante, para nos localizar no tempo: o passado é gravado em uma janela 4:3 (como nas TVs antigas) e o presente, em 16:9 (como nas TVs de hoje) e não contente com tudo isso, Bo ainda se apoia na narração em OFF e no conceito visual de cada um desses períodos - é muito didatismo! Fora isso, a construção da história está muito clara, entendemos como as peças vão se encaixando e não nos sentimos perdidos em nenhum momento - um mérito enorme do roteiro e da edição, já que a trama não é tão simples, pois existem muitos personagens envolvidos, muitas nuances para se explicar e muita falcatrua pra gente conhecer. Como em "Narcos", ter um narrador ajuda muito e como em "Brás Cubas", essa função cabe ao próprio Julio Grondona, mesmo depois de morto.

Algumas passagens são realmente muito curiosas e como a própria Amazon definiu: "El Presidente" prova que, antes da bola rolar e depois do apito final, o jogo é muito mais sujo do que imaginamos. Andrés Parra como Sergio Jadue e Paulina Gaitan como sua esposa, Nené, estão impagáveis - eles são o contraponto entre a comédia e o drama, entre o escrachado e o sério, entre o over e o introspectivo - é muito bacana de se ver! Karla Souza (a Laurie de "How to Get Away with Murder") também está muito bem como a agente do FBI responsável pela investigação - sua personagem me pareceu o exato ponto de equilíbrio entre o casal de protagonistas.

"El Presidente" mostra o negócio por trás do futebol de uma forma quase caótica e isso é um grande mérito, pois temos a real sensação da superficialidade de como as decisões, que guiavam o futebol no continente, eram tomadas até pouco tempo. As disputas de poder entre os dirigentes sempre esbarravam na enorme quantia que cada um receberia - a história sobre a disputa dos direitos de transmissão dos campeonatos sul-americanos que envolviam o brasileiro J. Hawilla da Traffic é de embrulhar o estômago. Uma das coisas que mais me surpreendeu na série é a forma como essa quantidade de sujeira foi tirada debaixo do tapete e que pelo jeito não deve parar por aqui - uma segunda temporada deve ter um brasileiro como destaque: o ex presidente da FIFA, João Havelange.

Dada a quantidade de falcatruas que conhecemos (e muitas que nem sonhamos),  "El Presidente" tem material para muitas temporadas e espero que assim seja feito! Vou aguardar ansiosamente. Não perca tempo, vale muito seu play!

Assista Agora

Para quem gosta de futebol e tem um certo conhecimento sobre as figuras que compõem os bastidores do esporte, "El Presidente" vai surpreender positivamente por expor uma série de fatos que acompanhamos muito superficialmente por aqui, mas que contam com personagens que ficaram bem conhecidos em 2014, quando a Copa foi disputada no Brasil - aliás, essa incrível história só existe porque o nosso país tem uma enorme representatividade (para o bem e para o mal) em todas as camadas que transformam o futebol no esporte mais lucrativo do mundo!

"El Presidente" acompanha a história do escândalo de corrupção da Fifa em 2015, conhecido como "FIFA Gate", pelos olhos deSergio Jadue, responsável por um pequeno time de futebol chileno que saiu do anonimato para se tornar presidente da federação do país e uma peça importante nessa enorme conspiração que envolveu um suborno de150 milhões de dólares coordenado pelo então presidente da federação argentina de futebol, Julio Grondona. Confira o trailer:

Embora a série assuma um tom mais despojado que "Narcos", fica claro uma forte referência do conceito narrativo para contar a história. Um narrador, uma linha temporal completamente fragmentada, cenas que misturam realidade com ficção, uma edição com enorme personalidade (que dá o tom da trama) e uma fotografia criativa (mas não muito original). Tudo isso não é por acaso e vou explicar detalhadamente logo abaixo, porém é preciso dizer que "El Presidente" é, de fato, uma série muito divertida, dinâmica e com curiosidades que muitos de nós, amantes do futebol, nem sonhávamos que poderiam acontecer. Vale muito a pena, entretenimento garantido, mas fica a uma observação importante: provavelmente quem não é familiarizado com as dinâmicas do esporte e não conhece esses personagens reais, pode não aproveitar muito da série!

Produzido pela francesa Gaumont (responsável por "Narcos" da Netflix), pela chilena Fabula (vencedora do Oscar com "Uma Mulher Fantástica"), pela argentina Kapow (da série "Estocolmo") e sob a coordenação da Amazon Studios, "El Presidente" tem o vencedor do Oscar por "Birdman", Armando Bo, no comando do projeto. Fiz questão de citar todos os envolvidos para justificar a enorme qualidade da série. Claro que alguns elementos deixam um pouco a desejar como, por exemplo, a qualidade do elenco de apoio, bem abaixo do núcleo principal, e algumas dublagens completamente toscas dos personagens brasileiros - parece novela mexicana. As cenas de futebol também foram reproduzidas, o que acaba nos afastando um pouco da realidade dos fatos, mas não deixa de ser compreensível pelo enorme custo de direitos que estavam envolvidos em um obra que expõe o pior lado das confederações sul-americanas e da própria FIFA. Tudo isso passa a ser aceitável por se tratar de uma série que assume uma linguagem menos naturalista, mais caricata, ou seja, ela permite um ajuste do tom para diminuir a densidade da narrativa e caçoar de várias situações completamente non-sense que chegam parecer mentira - reparem em toda a sequência que envolve o sorteio dos grupos da Copa América de 2015 no Chile e você vai entender do que eu estou falando!

O roteiro se divide em duas linhas temporais e Armando Bo, na minha opinião, entrega demais essas quebras narrativas: além de legendas para dizer o que é passado e o que é presente, a fotografia usa de uma técnica já batida, mas não menos interessante, para nos localizar no tempo: o passado é gravado em uma janela 4:3 (como nas TVs antigas) e o presente, em 16:9 (como nas TVs de hoje) e não contente com tudo isso, Bo ainda se apoia na narração em OFF e no conceito visual de cada um desses períodos - é muito didatismo! Fora isso, a construção da história está muito clara, entendemos como as peças vão se encaixando e não nos sentimos perdidos em nenhum momento - um mérito enorme do roteiro e da edição, já que a trama não é tão simples, pois existem muitos personagens envolvidos, muitas nuances para se explicar e muita falcatrua pra gente conhecer. Como em "Narcos", ter um narrador ajuda muito e como em "Brás Cubas", essa função cabe ao próprio Julio Grondona, mesmo depois de morto.

Algumas passagens são realmente muito curiosas e como a própria Amazon definiu: "El Presidente" prova que, antes da bola rolar e depois do apito final, o jogo é muito mais sujo do que imaginamos. Andrés Parra como Sergio Jadue e Paulina Gaitan como sua esposa, Nené, estão impagáveis - eles são o contraponto entre a comédia e o drama, entre o escrachado e o sério, entre o over e o introspectivo - é muito bacana de se ver! Karla Souza (a Laurie de "How to Get Away with Murder") também está muito bem como a agente do FBI responsável pela investigação - sua personagem me pareceu o exato ponto de equilíbrio entre o casal de protagonistas.

"El Presidente" mostra o negócio por trás do futebol de uma forma quase caótica e isso é um grande mérito, pois temos a real sensação da superficialidade de como as decisões, que guiavam o futebol no continente, eram tomadas até pouco tempo. As disputas de poder entre os dirigentes sempre esbarravam na enorme quantia que cada um receberia - a história sobre a disputa dos direitos de transmissão dos campeonatos sul-americanos que envolviam o brasileiro J. Hawilla da Traffic é de embrulhar o estômago. Uma das coisas que mais me surpreendeu na série é a forma como essa quantidade de sujeira foi tirada debaixo do tapete e que pelo jeito não deve parar por aqui - uma segunda temporada deve ter um brasileiro como destaque: o ex presidente da FIFA, João Havelange.

Dada a quantidade de falcatruas que conhecemos (e muitas que nem sonhamos),  "El Presidente" tem material para muitas temporadas e espero que assim seja feito! Vou aguardar ansiosamente. Não perca tempo, vale muito seu play!

Assista Agora

Ela Disse

Se você gostou de "O Escândalo""A Assistente" ou "A Voz Mais Forte", saiba que "Ela Disse" pode ser considerada a cereja do bolo de uma discussão tão importante quanto necessária e que, contextualizada dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo gente muito importante, foi brilhantemente explorada pela diretora Maria Schrader (de "Nada Ortodoxa"). 

Baseado na investigação vencedora do prêmio Pulitzer pelo The New York Times, "Ela Disse" acompanha Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), duas jornalistas que juntas publicaram uma das histórias mais importantes e relevantes de uma geração: sérias denuncias de abuso sexual (e até estupro) contra o "todo poderoso" do cinema americano, o produtor e CEO da Miramax, Harvey Weinstein. A história que ajudou a lançar o movimento#Metoo, quebrou décadas de silêncio em torno do assunto de agressão sexual em Hollywood e alterou a cultura americana para sempre. Confira o trailer:

Com um time de primeiríssima qualidade, começando pelos produtores (os mesmos de "12 Anos de Escravidão", "Moonlight: Sob a Luz do Luar" e "Minari"), passando pela roteirista Rebecca Lenkiewicz (de "Ida") e culminando nas protagonistas Carey Mulligan e Zoe Kazan, "Ela Disse" pode ser considerado um dos melhores filmes de 2022 sem a menor sombra de dúvida. Mesmo com uma narrativa mais cadenciada, com uma levada mais jornalística do que investigativa e um texto denso (muitas vezes complexo), o filme cria uma atmosfera documental impressionante, expondo em detalhes todo o processo que levou as vitimas de Weinstein enfrentar o medo e denuncia-lo. 

Ao lado de Schrader, a diretora de fotografia Natasha Braier (de "Demônio de Neon") nos joga dentro da redação do The New York Times e sem pressa alguma vai nos presenteando com um drama ao melhor estilo "Todos os Homens do Presidente". Mulligan e Kazan estão incríveis - dignas de indicações ao Oscar, eu diria. Mesmo que em alguns momentos o roteiro ceda a tentação do sensacionalismo, o elenco segura com muito realismo toda a jornada entre uma denuncia isolada e a construção de uma matéria bombástica - o interessante é justamente perceber essa montanha russa de emoções nos olhos das protagonistas. A cena em que Jodi Kantor recebe a ligação de Ashley Judd (interpretando ela mesmo), é impagável! Reparem! No papel da editora da dupla, Rebecca Corbett, e do editor executivo do NYT, Dean Baquet, Patricia Clarkson e Andre Braugher, respectivamente, merecem elogios, bem como Mike Houston como Harvey Weinstein que mesmo sem aparecer seu rosto em nenhum momento, consegue passar toda imponência e força de seu personagem.

"Ela Disse" é sim um soco no estômago, mas que sugere muito mais do que mostra e muito por causa disso nos coloca em uma posição de permanente tensão e angustia - o áudio da gravação de uma das vitimas sendo assediada por Harvey, enquanto a câmera enquadra os corredores de um hotel, chega a ser chocante. Os depoimentos também - é um mais visceral que o outro e faz com que tenhamos a exata noção de como essas mulheres foram expostas e desrespeitadas. Na verdade não há muito o que dizer, é preciso mergulhar nessa verdadeira cruzada e se o tema de fato te interessar, não deixe de ler "Ela Disse: Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo"- que como o filme, é tão surpreendente quanto doloroso!

Assista Agora

Se você gostou de "O Escândalo""A Assistente" ou "A Voz Mais Forte", saiba que "Ela Disse" pode ser considerada a cereja do bolo de uma discussão tão importante quanto necessária e que, contextualizada dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo gente muito importante, foi brilhantemente explorada pela diretora Maria Schrader (de "Nada Ortodoxa"). 

Baseado na investigação vencedora do prêmio Pulitzer pelo The New York Times, "Ela Disse" acompanha Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), duas jornalistas que juntas publicaram uma das histórias mais importantes e relevantes de uma geração: sérias denuncias de abuso sexual (e até estupro) contra o "todo poderoso" do cinema americano, o produtor e CEO da Miramax, Harvey Weinstein. A história que ajudou a lançar o movimento#Metoo, quebrou décadas de silêncio em torno do assunto de agressão sexual em Hollywood e alterou a cultura americana para sempre. Confira o trailer:

Com um time de primeiríssima qualidade, começando pelos produtores (os mesmos de "12 Anos de Escravidão", "Moonlight: Sob a Luz do Luar" e "Minari"), passando pela roteirista Rebecca Lenkiewicz (de "Ida") e culminando nas protagonistas Carey Mulligan e Zoe Kazan, "Ela Disse" pode ser considerado um dos melhores filmes de 2022 sem a menor sombra de dúvida. Mesmo com uma narrativa mais cadenciada, com uma levada mais jornalística do que investigativa e um texto denso (muitas vezes complexo), o filme cria uma atmosfera documental impressionante, expondo em detalhes todo o processo que levou as vitimas de Weinstein enfrentar o medo e denuncia-lo. 

Ao lado de Schrader, a diretora de fotografia Natasha Braier (de "Demônio de Neon") nos joga dentro da redação do The New York Times e sem pressa alguma vai nos presenteando com um drama ao melhor estilo "Todos os Homens do Presidente". Mulligan e Kazan estão incríveis - dignas de indicações ao Oscar, eu diria. Mesmo que em alguns momentos o roteiro ceda a tentação do sensacionalismo, o elenco segura com muito realismo toda a jornada entre uma denuncia isolada e a construção de uma matéria bombástica - o interessante é justamente perceber essa montanha russa de emoções nos olhos das protagonistas. A cena em que Jodi Kantor recebe a ligação de Ashley Judd (interpretando ela mesmo), é impagável! Reparem! No papel da editora da dupla, Rebecca Corbett, e do editor executivo do NYT, Dean Baquet, Patricia Clarkson e Andre Braugher, respectivamente, merecem elogios, bem como Mike Houston como Harvey Weinstein que mesmo sem aparecer seu rosto em nenhum momento, consegue passar toda imponência e força de seu personagem.

"Ela Disse" é sim um soco no estômago, mas que sugere muito mais do que mostra e muito por causa disso nos coloca em uma posição de permanente tensão e angustia - o áudio da gravação de uma das vitimas sendo assediada por Harvey, enquanto a câmera enquadra os corredores de um hotel, chega a ser chocante. Os depoimentos também - é um mais visceral que o outro e faz com que tenhamos a exata noção de como essas mulheres foram expostas e desrespeitadas. Na verdade não há muito o que dizer, é preciso mergulhar nessa verdadeira cruzada e se o tema de fato te interessar, não deixe de ler "Ela Disse: Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo"- que como o filme, é tão surpreendente quanto doloroso!

Assista Agora