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De Cabeça Erguida

"De Cabeça Erguida" é um poderoso e denso drama francês que fala sobre ciclos. Ou melhor, talvez o filme seja muito mais uma provocação para uma reflexão sobre a possibilidade de uma quebra de um ciclo vicioso, recheado de violência e abandono, na esperança por uma segunda chance onde, aparentemente, isso parece impossível! Muito bem dirigido pela talentosa diretora (de atores), Emmanuelle Bercot (de "150 Miligramas"), o filme se apoia em um emaranhado de assuntos importantes e sensíveis que, através de uma jornada de 10 anos, tenta explicar (ou justificar) muitas das atitudes e como a experiência em reformatórios, impactaram na formação do caráter do protagonista.

Em "La Tête Haute" (no original) a história gira em torno de Malony (Rod Paradot), um garoto com sérios problemas disciplinares, e de sua educação dos 6 aos 18 anos de idade, período onde uma juíza da vara da infância e um assistente social tentam de todas as formas salvá-lo de um futuro com problemas ainda maiores. Confira o trailer:

Pode parecer que o roteiro escrito por Bercot ao lado de Marcia Romano (de "O Acontecimento") sofra de um vicio narrativo que escancara a fragilidade de uma estrutura “circular” onde o protagonista apronta, recebe e cumpre uma punição, então é liberado, aí apronta de novo, novamente é punido, e assim sucessivamente. Mas é preciso que se diga que essa estrutura, mesmo em alguns momentos cansativa, é totalmente proposital - ela reflete o ciclo vivido pela maioria dos garotos nas mesmas condições de Malony (algo parecido com o que encontramos em "DOM").

O interessante é que além dessa repetição quase insuportável para audiência (que nos faz desistir do protagonista em muitos momentos, inclusive), o roteiro vai inserindo outros elementos que funcionam como uma espécie de "bola de neve emocional": do romance com a filha de uma funcionária do centro educacional à separação do irmão mais novo que também vai para um reformatório, passando sempre pelo descontrole da mãe; o que temos é uma verdadeira personificação do caos! Sara Forastier está incrível (e irreconhecível) como a mãe inconsequente de Malony, Séverine; já Paradot, fazendo sua estreia no cinema como o protagonista revoltado, adicionam uma camada de tensão ao filme para lá de angustiante. Ainda sobre elenco, Catherine Deneuve como a juíza Florence e  Benoît Magimel como o tutor Yann também merecem aplausos e são a "cereja do bolo" da trama.

Bem no estilo de "Florida Project", a grande verdade é que "De Cabeça Erguida" nos toca a alma em muitos sentidos, já que além de fomentar inúmeros julgamentos (muitos mesmo), ainda sugere profundas reflexões sobre a realidade de uma juventude esquecida, não amada, sofrida e que parece sem solução. O convite para enxergar o futuro desses jovens, passa pelo nosso entendimento de que antes do futuro, é preciso entender o passado e lutar por cada um deles no presente.

Vale muito seu play!

Assista Agora

"De Cabeça Erguida" é um poderoso e denso drama francês que fala sobre ciclos. Ou melhor, talvez o filme seja muito mais uma provocação para uma reflexão sobre a possibilidade de uma quebra de um ciclo vicioso, recheado de violência e abandono, na esperança por uma segunda chance onde, aparentemente, isso parece impossível! Muito bem dirigido pela talentosa diretora (de atores), Emmanuelle Bercot (de "150 Miligramas"), o filme se apoia em um emaranhado de assuntos importantes e sensíveis que, através de uma jornada de 10 anos, tenta explicar (ou justificar) muitas das atitudes e como a experiência em reformatórios, impactaram na formação do caráter do protagonista.

Em "La Tête Haute" (no original) a história gira em torno de Malony (Rod Paradot), um garoto com sérios problemas disciplinares, e de sua educação dos 6 aos 18 anos de idade, período onde uma juíza da vara da infância e um assistente social tentam de todas as formas salvá-lo de um futuro com problemas ainda maiores. Confira o trailer:

Pode parecer que o roteiro escrito por Bercot ao lado de Marcia Romano (de "O Acontecimento") sofra de um vicio narrativo que escancara a fragilidade de uma estrutura “circular” onde o protagonista apronta, recebe e cumpre uma punição, então é liberado, aí apronta de novo, novamente é punido, e assim sucessivamente. Mas é preciso que se diga que essa estrutura, mesmo em alguns momentos cansativa, é totalmente proposital - ela reflete o ciclo vivido pela maioria dos garotos nas mesmas condições de Malony (algo parecido com o que encontramos em "DOM").

O interessante é que além dessa repetição quase insuportável para audiência (que nos faz desistir do protagonista em muitos momentos, inclusive), o roteiro vai inserindo outros elementos que funcionam como uma espécie de "bola de neve emocional": do romance com a filha de uma funcionária do centro educacional à separação do irmão mais novo que também vai para um reformatório, passando sempre pelo descontrole da mãe; o que temos é uma verdadeira personificação do caos! Sara Forastier está incrível (e irreconhecível) como a mãe inconsequente de Malony, Séverine; já Paradot, fazendo sua estreia no cinema como o protagonista revoltado, adicionam uma camada de tensão ao filme para lá de angustiante. Ainda sobre elenco, Catherine Deneuve como a juíza Florence e  Benoît Magimel como o tutor Yann também merecem aplausos e são a "cereja do bolo" da trama.

Bem no estilo de "Florida Project", a grande verdade é que "De Cabeça Erguida" nos toca a alma em muitos sentidos, já que além de fomentar inúmeros julgamentos (muitos mesmo), ainda sugere profundas reflexões sobre a realidade de uma juventude esquecida, não amada, sofrida e que parece sem solução. O convite para enxergar o futuro desses jovens, passa pelo nosso entendimento de que antes do futuro, é preciso entender o passado e lutar por cada um deles no presente.

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Dentro da Casa

"Dentro da Casa", filme do diretor François Ozon, do também excelente, "O Amante Duplo", brinca com o mesmo elemento narrativo que nos motivou assistir "A Mulher na Janela"e "The Voyeurs" -aquela curiosidade incontrolável de saber o que acontece na vida dos outros, dentro de quatro paredes. Se nos filmes citados o foco era o suspense psicológico, aqui o objetivo é mostrar o poder que as palavras têm na construção de uma imaginação quase literal de uma história! "Dentro da Casa" também provoca um certo desconforto pelo receio de ser descoberto, mas está longe de ser um thriller - eu diria, inclusive, que ele é um ótimo e criativo drama de relações.

Um pouco cansado da rotina de professor de literatura francesa, Germain (Fabrice Luchini) chega a atormentar sua esposa Jeanne (Kristin Scott Thomas) com suas reclamações, mas ela também tem seus problemas profissionais para resolver e nem sempre dá a atenção desejada. Até o dia em que ele descobre na redação de um dos seus alunos, o adolescente Claude (Ernst Umhauer), um estilo diferente de escrita, que dá início a um intrigante jogo de sedução entre pupilo e mestre, que acaba envolvendo a própria esposa, a família de um colega de classe e seu dia a dia profissional. Confira o trailer:

Baseado na peça teatral "The Boy in the Last Row" de Juan Mayorga, "Dentro da Casa" tem o mérito de manipular a realidade pelos olhos de vários personagens de uma forma que em muitos momentos nos pegamos contestando se aquilo tudo pode ser verossímil. A cada capítulo escrito (vamos chamar assim) que Claude entrega para Germain ler, somos arremessados para dentro de um contexto palpável, o lar de uma família aparentemente feliz. O interessante é que levada autoral do filme torna impossível cravar o que é real e o que é imaginação nesse mesmo contexto. Se para Germain as histórias do seu aluno não passam de uma pura interpretação de seus desejos mais adolescentes, para sua esposa Jeanne, os detalhes são tão reais que ela mesmo duvida que aquela história possa ser fruto da criatividade de um rapaz tão jovem.

Esse "vai e vem" entre realidade e imaginação, através dos textos de Claude, é muito bem traduzido em imagens por Ozon, que também assinou o roteiro. As intervenções metalinguísticas que o diretor faz durante algumas cenas são sensacionais e tira, mais uma vez, o peso da necessidade de surpreender a audiência com um plot twist matador, típico do suspense, afinal, a cada momento, só temos ferramentas para "supor" e nunca para "afirmar" que aquilo tudo está, de fato, acontecendo. Quando Claude traz para a história suas fantasias adolescentes, é clara a identificação de Germain com seu passado de escritor, ao mesmo tempo quando as soluções de seu aluno são mais trágicas, o que vemos é o medo do professor em assumir que está indo longe demais em pró da sua paixão pela literatura (ou pela reparação de uma frustração antiga).

"Dentro da Casa" parece um jogo, cheio de provocações e fantasias, onde a relação entre as pessoas, em diferente níveis, são expostas de uma forma muito autêntica - é uma verdadeira celebração aos diversos tipos de arte (literatura, cinema, artes plásticas, pintura). Ozon foi muito feliz em usar vários conceitos cinematográficos para incitar nossa imaginação e desejos - Emmanuelle Seigner (Esther) funciona como gatilho para isso, mas seria injusto com todo o excelente elenco dar esse mérito apenas para ela. O filme é tão bom e dinâmico que quando Claude finaliza sua história, surpreendentemente, pouco nos importa se tudo aquilo foi real em algum momento - o que no moveu até ali foram as sensações provocadas, como em um bom livro, aliás.

Vale muito seu play! Filmaço!

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"Dentro da Casa", filme do diretor François Ozon, do também excelente, "O Amante Duplo", brinca com o mesmo elemento narrativo que nos motivou assistir "A Mulher na Janela"e "The Voyeurs" -aquela curiosidade incontrolável de saber o que acontece na vida dos outros, dentro de quatro paredes. Se nos filmes citados o foco era o suspense psicológico, aqui o objetivo é mostrar o poder que as palavras têm na construção de uma imaginação quase literal de uma história! "Dentro da Casa" também provoca um certo desconforto pelo receio de ser descoberto, mas está longe de ser um thriller - eu diria, inclusive, que ele é um ótimo e criativo drama de relações.

Um pouco cansado da rotina de professor de literatura francesa, Germain (Fabrice Luchini) chega a atormentar sua esposa Jeanne (Kristin Scott Thomas) com suas reclamações, mas ela também tem seus problemas profissionais para resolver e nem sempre dá a atenção desejada. Até o dia em que ele descobre na redação de um dos seus alunos, o adolescente Claude (Ernst Umhauer), um estilo diferente de escrita, que dá início a um intrigante jogo de sedução entre pupilo e mestre, que acaba envolvendo a própria esposa, a família de um colega de classe e seu dia a dia profissional. Confira o trailer:

Baseado na peça teatral "The Boy in the Last Row" de Juan Mayorga, "Dentro da Casa" tem o mérito de manipular a realidade pelos olhos de vários personagens de uma forma que em muitos momentos nos pegamos contestando se aquilo tudo pode ser verossímil. A cada capítulo escrito (vamos chamar assim) que Claude entrega para Germain ler, somos arremessados para dentro de um contexto palpável, o lar de uma família aparentemente feliz. O interessante é que levada autoral do filme torna impossível cravar o que é real e o que é imaginação nesse mesmo contexto. Se para Germain as histórias do seu aluno não passam de uma pura interpretação de seus desejos mais adolescentes, para sua esposa Jeanne, os detalhes são tão reais que ela mesmo duvida que aquela história possa ser fruto da criatividade de um rapaz tão jovem.

Esse "vai e vem" entre realidade e imaginação, através dos textos de Claude, é muito bem traduzido em imagens por Ozon, que também assinou o roteiro. As intervenções metalinguísticas que o diretor faz durante algumas cenas são sensacionais e tira, mais uma vez, o peso da necessidade de surpreender a audiência com um plot twist matador, típico do suspense, afinal, a cada momento, só temos ferramentas para "supor" e nunca para "afirmar" que aquilo tudo está, de fato, acontecendo. Quando Claude traz para a história suas fantasias adolescentes, é clara a identificação de Germain com seu passado de escritor, ao mesmo tempo quando as soluções de seu aluno são mais trágicas, o que vemos é o medo do professor em assumir que está indo longe demais em pró da sua paixão pela literatura (ou pela reparação de uma frustração antiga).

"Dentro da Casa" parece um jogo, cheio de provocações e fantasias, onde a relação entre as pessoas, em diferente níveis, são expostas de uma forma muito autêntica - é uma verdadeira celebração aos diversos tipos de arte (literatura, cinema, artes plásticas, pintura). Ozon foi muito feliz em usar vários conceitos cinematográficos para incitar nossa imaginação e desejos - Emmanuelle Seigner (Esther) funciona como gatilho para isso, mas seria injusto com todo o excelente elenco dar esse mérito apenas para ela. O filme é tão bom e dinâmico que quando Claude finaliza sua história, surpreendentemente, pouco nos importa se tudo aquilo foi real em algum momento - o que no moveu até ali foram as sensações provocadas, como em um bom livro, aliás.

Vale muito seu play! Filmaço!

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Desaparecida

Se você gosta do estilo "Buscando..." de drama policial, pode dar o play tranquilamente em "Desaparecida" que seu entretenimento está garantido. Essa produção dirigida pelos novatos Nicholas D. Johnson e Will Merrick, ambos montadores de "Buscando...", não decepciona em nada, pelo contrário, é até mais dinâmico que seu antecessor. No entanto, também é preciso que se diga, que aqui percebemos uma dificuldade maior em criar aquela sensação claustrofobia que o diretor russo Timur Bekmambetov impôs com maestria na produção de 2018 - afinal é inegável que o estilo found footage tinha mais fôlego na época, mas nem por isso "Missing" (no original) deixa de ser bem criativo. 

Quando sua mãe Grace (Nia Long) desaparece enquanto estava de férias na Colômbia com seu novo namorado, a busca de June (Storm Reid) por respostas é prejudicada pela burocracia internacional. Embora os agentes Park (Daniel Henney) e Heather (Amy Landecker) assegurem à filha preocupada que estão fazendo tudo ao seu alcance, o tempo acaba jogando contra. Presa a milhares de quilômetros de distância em Los Angeles, June usa todas as tecnologias à sua disposição para tentar encontrar sua mãe antes que seja tarde demais. Conforme ela se aprofunda, suas investigações levantam mais perguntas do que respostas. Não apenas a informação sobre o novo namorado de sua mãe, Kevin (Ken Leung), é mais do que preocupante, como  também os mistérios envolvendo sua mãe, transformam essa jornada em algo surpreendente e angustiante. Confira o trailer:

Nesse tipo de produção a "forma" se sobrepõe ao "conteúdo" em um primeiro olhar, claro. É até muito bacana como os roteiros vão se adaptando à toda essa evolução tecnológica, e a cada nova incursão ao estilo, sempre percebemos um sopro de inovação e criatividade - a própria Sony usou desse conceito para vender "Desaparecida" como uma espécie de antologia que começou com "Buscando..." e que certamente deve ter outras histórias pela frente. 

Pensando na narrativa em si, o que encontramos em "Desaparecida" é uma linha temporal habilmente estruturada, alternando entre diferentes modos de enxergar uma situação, respeitando os limites das telas, o que contribui e muito para a construção da tensão em torno do mistério envolvendo Grace e Kevin. Reparem como a fórmula, mesmo repetida, funciona perfeitamente, nos dando a impressão de que, a medida que a investigação avança, somos levados a questionar todos os personagens e a formular nossas próprias teorias sobre o que realmente aconteceu. Talvez esteja aí o grande valor desse estilo gameficado do screen life!

Johnson e Merrick, de fato, criam uma atmosfera palpável de angústia e insegurança, trabalhando as cores e a estética a partir de uma paleta de cores mais sombria, onde o desenho de som e o silêncio em cena transformam toda aquela ambientação em algo muito mais melancólico - e Storm Reid também cumpre muito bem essa missão como protagonista. Veja, cada cena é cuidadosamente enquadrada pelo fotógrafo Steven Holleran (que esteve na segunda unidade de "Creed II") para transmitir a sensação de isolamento e desorientação que June enfrenta, intensificando ainda mais esse mood de suspense.

"Desaparecida" não deixa de nos provocar reflexões sobre nossas responsabilidades e pontuais culpas. O filme não se prende em explorar as repercussões que um evento traumático na vida de uma criança pode causar, mas também não deixa de questionar suas ações adolescente e como elas podem afetar aqueles ao seu redor. Dito isso, temos aqui mais um filme interessante e divertido que combina uma narrativa intrigante, com ótimas atuações e uma atmosfera intensa que nos leva em uma jornada das mais envolventes. 

Vale o seu play!

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Se você gosta do estilo "Buscando..." de drama policial, pode dar o play tranquilamente em "Desaparecida" que seu entretenimento está garantido. Essa produção dirigida pelos novatos Nicholas D. Johnson e Will Merrick, ambos montadores de "Buscando...", não decepciona em nada, pelo contrário, é até mais dinâmico que seu antecessor. No entanto, também é preciso que se diga, que aqui percebemos uma dificuldade maior em criar aquela sensação claustrofobia que o diretor russo Timur Bekmambetov impôs com maestria na produção de 2018 - afinal é inegável que o estilo found footage tinha mais fôlego na época, mas nem por isso "Missing" (no original) deixa de ser bem criativo. 

Quando sua mãe Grace (Nia Long) desaparece enquanto estava de férias na Colômbia com seu novo namorado, a busca de June (Storm Reid) por respostas é prejudicada pela burocracia internacional. Embora os agentes Park (Daniel Henney) e Heather (Amy Landecker) assegurem à filha preocupada que estão fazendo tudo ao seu alcance, o tempo acaba jogando contra. Presa a milhares de quilômetros de distância em Los Angeles, June usa todas as tecnologias à sua disposição para tentar encontrar sua mãe antes que seja tarde demais. Conforme ela se aprofunda, suas investigações levantam mais perguntas do que respostas. Não apenas a informação sobre o novo namorado de sua mãe, Kevin (Ken Leung), é mais do que preocupante, como  também os mistérios envolvendo sua mãe, transformam essa jornada em algo surpreendente e angustiante. Confira o trailer:

Nesse tipo de produção a "forma" se sobrepõe ao "conteúdo" em um primeiro olhar, claro. É até muito bacana como os roteiros vão se adaptando à toda essa evolução tecnológica, e a cada nova incursão ao estilo, sempre percebemos um sopro de inovação e criatividade - a própria Sony usou desse conceito para vender "Desaparecida" como uma espécie de antologia que começou com "Buscando..." e que certamente deve ter outras histórias pela frente. 

Pensando na narrativa em si, o que encontramos em "Desaparecida" é uma linha temporal habilmente estruturada, alternando entre diferentes modos de enxergar uma situação, respeitando os limites das telas, o que contribui e muito para a construção da tensão em torno do mistério envolvendo Grace e Kevin. Reparem como a fórmula, mesmo repetida, funciona perfeitamente, nos dando a impressão de que, a medida que a investigação avança, somos levados a questionar todos os personagens e a formular nossas próprias teorias sobre o que realmente aconteceu. Talvez esteja aí o grande valor desse estilo gameficado do screen life!

Johnson e Merrick, de fato, criam uma atmosfera palpável de angústia e insegurança, trabalhando as cores e a estética a partir de uma paleta de cores mais sombria, onde o desenho de som e o silêncio em cena transformam toda aquela ambientação em algo muito mais melancólico - e Storm Reid também cumpre muito bem essa missão como protagonista. Veja, cada cena é cuidadosamente enquadrada pelo fotógrafo Steven Holleran (que esteve na segunda unidade de "Creed II") para transmitir a sensação de isolamento e desorientação que June enfrenta, intensificando ainda mais esse mood de suspense.

"Desaparecida" não deixa de nos provocar reflexões sobre nossas responsabilidades e pontuais culpas. O filme não se prende em explorar as repercussões que um evento traumático na vida de uma criança pode causar, mas também não deixa de questionar suas ações adolescente e como elas podem afetar aqueles ao seu redor. Dito isso, temos aqui mais um filme interessante e divertido que combina uma narrativa intrigante, com ótimas atuações e uma atmosfera intensa que nos leva em uma jornada das mais envolventes. 

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Despertar Mortal

Talvez o mais curioso de assistir "Despertar Mortal" seja o de ter a nítida sensação de que as peças não estão se encaixando. A própria diretora Skye Borgman (de "A Garota da Foto") entende que esse é seu maior trunfo narrativo e é com base nele que ela vai costurando a trama sem a menor pretensão de nos entregar todas as respostas, mesmo que superficialmente essa pareça ser sua intenção. Veja, temos o corpo, temos a arma, temos até a confissão do assassino, mas em nenhum momento encontramos "o motivo" - e é aí que surge uma teoria tão "absurda" quanto a do caso Arne Johnson, que alegou ter tido uma possessão demoníaca no ato do crime (a história foi retratada no terceiro capitulo da franquia "Invocação do Mal").

"Dead Asleep" (no original) acompanha e compartilha imagens exclusivas do caso de Randy Herman Jr., um jovem condenado pelo assassinato de sua melhor amiga, Brooke Preaston, que ele diz ter cometido durante uma crise de sonambulismo quando ambos moravam juntos em West Palm Beach, na Flórida, em 2017. Confira o trailer (em inglês):

Randy Herman Jr. é de uma cidade rural chamada Laceyville. Ele morou a vida inteira com sua mãe e com sua irmã depois que os pais se divorciaram. Embora Randy tenha um histórico de, na época da faculdade, beber muito e usar drogas de forma recreativa, ele nunca se envolveu em maiores problemas - podemos afirmar ainda que ele era o tipo de garoto que todos gostavam pela sua forma educada e divertida com que tratava as pessoas. Dito isso, entramos em uma questão delicada para esse tipo de conteúdo e que Borgman soube equilibrar perfeitamente: quanto de holofote é aceitável dar ao assassino (confesso) para ele contar sua versão?

Nesse caso especifico, todos os pré-conceitos sobre o assunto parecem se perder quando Randy dá seu primeiro depoimento no documentário - e se você acha que eu posso estar exagerando, até a mãe da vitima, demorou a acreditar que ele pudesse ter sido o responsável pelamorte de sua filha. Para ela não fazia o menor sentido - e vários outros depoimentos só confirmam essa percepção amorosa sobre dele. É aí que o documentário começa a desconstruir o personagem, tentando entender o que poderia ter motivado o crime. Misturando cenas de depoimentos com pessoas ligadas a ele na época, como a irmã de Brooke e um amigo bem próximo dos dois, com análises dos mais diversos especialistas (de forenses à especialistas em sono), "Despertar Mortal" tenta cobrir todas as lacunas e validar (ou destruir) a tese de que o sonambulismo tenha sido a causa do surto que vitimou a jovem.

De fato, são muitas nuances sobre a personalidade de Randy - o que dá um aspecto mais complexo ao caso, no entanto é inegável que ao final da jornada, tenhamos a sensação de que ainda faltaram algumas explicações. Isso é proposital, faz parte da proposta conceitual de Borgman - é como se ela apostasse que a história possa ter mais desdobramentos no futuro e que aí sim, ao cobrir esses novos fatos, sua obra mudaria de patamar para um "true crime" surpreendente e cheio de reviravoltas. Aliás, não espere reviravoltas em "Despertar Mortal", mesmo com uma informação surpreendente no final do primeiro episódio, não é nada que possa impactar na experiência como um todo - aqui, como no júri, o que vale é se convencer se Randy seria capaz de ter cometido o crime e por qual motivo; nada mais!

Vale seu play!

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Talvez o mais curioso de assistir "Despertar Mortal" seja o de ter a nítida sensação de que as peças não estão se encaixando. A própria diretora Skye Borgman (de "A Garota da Foto") entende que esse é seu maior trunfo narrativo e é com base nele que ela vai costurando a trama sem a menor pretensão de nos entregar todas as respostas, mesmo que superficialmente essa pareça ser sua intenção. Veja, temos o corpo, temos a arma, temos até a confissão do assassino, mas em nenhum momento encontramos "o motivo" - e é aí que surge uma teoria tão "absurda" quanto a do caso Arne Johnson, que alegou ter tido uma possessão demoníaca no ato do crime (a história foi retratada no terceiro capitulo da franquia "Invocação do Mal").

"Dead Asleep" (no original) acompanha e compartilha imagens exclusivas do caso de Randy Herman Jr., um jovem condenado pelo assassinato de sua melhor amiga, Brooke Preaston, que ele diz ter cometido durante uma crise de sonambulismo quando ambos moravam juntos em West Palm Beach, na Flórida, em 2017. Confira o trailer (em inglês):

Randy Herman Jr. é de uma cidade rural chamada Laceyville. Ele morou a vida inteira com sua mãe e com sua irmã depois que os pais se divorciaram. Embora Randy tenha um histórico de, na época da faculdade, beber muito e usar drogas de forma recreativa, ele nunca se envolveu em maiores problemas - podemos afirmar ainda que ele era o tipo de garoto que todos gostavam pela sua forma educada e divertida com que tratava as pessoas. Dito isso, entramos em uma questão delicada para esse tipo de conteúdo e que Borgman soube equilibrar perfeitamente: quanto de holofote é aceitável dar ao assassino (confesso) para ele contar sua versão?

Nesse caso especifico, todos os pré-conceitos sobre o assunto parecem se perder quando Randy dá seu primeiro depoimento no documentário - e se você acha que eu posso estar exagerando, até a mãe da vitima, demorou a acreditar que ele pudesse ter sido o responsável pelamorte de sua filha. Para ela não fazia o menor sentido - e vários outros depoimentos só confirmam essa percepção amorosa sobre dele. É aí que o documentário começa a desconstruir o personagem, tentando entender o que poderia ter motivado o crime. Misturando cenas de depoimentos com pessoas ligadas a ele na época, como a irmã de Brooke e um amigo bem próximo dos dois, com análises dos mais diversos especialistas (de forenses à especialistas em sono), "Despertar Mortal" tenta cobrir todas as lacunas e validar (ou destruir) a tese de que o sonambulismo tenha sido a causa do surto que vitimou a jovem.

De fato, são muitas nuances sobre a personalidade de Randy - o que dá um aspecto mais complexo ao caso, no entanto é inegável que ao final da jornada, tenhamos a sensação de que ainda faltaram algumas explicações. Isso é proposital, faz parte da proposta conceitual de Borgman - é como se ela apostasse que a história possa ter mais desdobramentos no futuro e que aí sim, ao cobrir esses novos fatos, sua obra mudaria de patamar para um "true crime" surpreendente e cheio de reviravoltas. Aliás, não espere reviravoltas em "Despertar Mortal", mesmo com uma informação surpreendente no final do primeiro episódio, não é nada que possa impactar na experiência como um todo - aqui, como no júri, o que vale é se convencer se Randy seria capaz de ter cometido o crime e por qual motivo; nada mais!

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Destruição Final

Destruição Final

Se "O Céu da Meia-Noite" da Netflix trouxe alguns elementos do cinema catástrofe que esteve tão em evidência em 1998, e estamos falando mais especificamente de "Armageddon", "Destruição Final" da Amazon Prime Vídeo segue exatamente a mesma receita, mas buscando referências de outro filme lançado no mesmo ano e igualmente reconhecido: "Impacto Profundo"! Ou seja, se dois desses três filmes significaram um bom entretenimento para você, pode dar o play sem o menor receio porque a diversão está garantida!

"Destruição Final" (que tem "O Último Refúgio"como sub-título) acompanha aquela trama padrão de filmes catástrofe: um cometa está passando pela órbita da Terra e o que inicialmente parecia apenas curiosidade logo se transforma em terror quando o corpo celeste começa a se partir e seus fragmentos passam a causar uma devastação global sem precedentes. Ao longo da história, porém, acompanhamos a jornada da família de John Garrity (Gerard Butler) que, sorteados pelo governo, buscam chegar a um local seguro, uma espécie de bunker construído na Groenlândia. Confira o trailer:

O filme de Ric Roman Waugh (deInvasão ao Serviço Secreto) bebe da fonte de clássicos como o já citado "Impacto Profundo" (de Mimi Leder), mas também trás muitos elementos de "2012" (de Roland Emmerich) e, especialmente, de "Guerra dos Mundos", filme dirigido porSteven Spielberg, que se apega a luta de um homem pela vida de sua família em um momento de reconstrução da relação. Dito isso fica muito fácil afirmar que o roteiro de Chris Sparling segue a receita do gênero, mas peca em um único detalhe: você não vai encontrar uma cena marcante da destruição causada pelo cometa e isso, para mim, é um ponto bem sensível do filme - culpa do orçamento! Não que faça falta, mas estamos falando de entretenimento de gênero, a expectativa sempre vai existir quando escolhemos um filme como esse e aqui o impacto catastrófico é solucionado por reportagens da imprensa ao redor do mundo que misturam planos bem fechado e montagens que usam de pontos turísticos ou construções simbólicas para localizar a destruição, mas com um detalhe muito interessante: essas estruturas construídas pelo homem sobrevivem, já o próprio homem... Reparem!

Com total controle de suas limitações orçamentárias, o diretor Ric Roman Waugh usa e abusa da criatividade para nos entregar ótimos momentos de ação e planos bem impactantes onde o horror nos olhos de quem vê é mais importante do que, de fato, a destruição que ele está testemunhando. A angústia dos personagens em busca de sobrevivência é a principal linha narrativa, o resto é perfumaria - superficial, mas divertida!

"Destruição Final" (ou "Greenland", título original) é uma ótima sessão da tarde, sem pretensões de ser inesquecível, mas que traz para o sofá um entretenimento raiz, sem teorizações e alívios poéticos - é pura, e simplesmente, diversão! Vale o play! 

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Se "O Céu da Meia-Noite" da Netflix trouxe alguns elementos do cinema catástrofe que esteve tão em evidência em 1998, e estamos falando mais especificamente de "Armageddon", "Destruição Final" da Amazon Prime Vídeo segue exatamente a mesma receita, mas buscando referências de outro filme lançado no mesmo ano e igualmente reconhecido: "Impacto Profundo"! Ou seja, se dois desses três filmes significaram um bom entretenimento para você, pode dar o play sem o menor receio porque a diversão está garantida!

"Destruição Final" (que tem "O Último Refúgio"como sub-título) acompanha aquela trama padrão de filmes catástrofe: um cometa está passando pela órbita da Terra e o que inicialmente parecia apenas curiosidade logo se transforma em terror quando o corpo celeste começa a se partir e seus fragmentos passam a causar uma devastação global sem precedentes. Ao longo da história, porém, acompanhamos a jornada da família de John Garrity (Gerard Butler) que, sorteados pelo governo, buscam chegar a um local seguro, uma espécie de bunker construído na Groenlândia. Confira o trailer:

O filme de Ric Roman Waugh (deInvasão ao Serviço Secreto) bebe da fonte de clássicos como o já citado "Impacto Profundo" (de Mimi Leder), mas também trás muitos elementos de "2012" (de Roland Emmerich) e, especialmente, de "Guerra dos Mundos", filme dirigido porSteven Spielberg, que se apega a luta de um homem pela vida de sua família em um momento de reconstrução da relação. Dito isso fica muito fácil afirmar que o roteiro de Chris Sparling segue a receita do gênero, mas peca em um único detalhe: você não vai encontrar uma cena marcante da destruição causada pelo cometa e isso, para mim, é um ponto bem sensível do filme - culpa do orçamento! Não que faça falta, mas estamos falando de entretenimento de gênero, a expectativa sempre vai existir quando escolhemos um filme como esse e aqui o impacto catastrófico é solucionado por reportagens da imprensa ao redor do mundo que misturam planos bem fechado e montagens que usam de pontos turísticos ou construções simbólicas para localizar a destruição, mas com um detalhe muito interessante: essas estruturas construídas pelo homem sobrevivem, já o próprio homem... Reparem!

Com total controle de suas limitações orçamentárias, o diretor Ric Roman Waugh usa e abusa da criatividade para nos entregar ótimos momentos de ação e planos bem impactantes onde o horror nos olhos de quem vê é mais importante do que, de fato, a destruição que ele está testemunhando. A angústia dos personagens em busca de sobrevivência é a principal linha narrativa, o resto é perfumaria - superficial, mas divertida!

"Destruição Final" (ou "Greenland", título original) é uma ótima sessão da tarde, sem pretensões de ser inesquecível, mas que traz para o sofá um entretenimento raiz, sem teorizações e alívios poéticos - é pura, e simplesmente, diversão! Vale o play! 

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Diana

"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.

O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.

Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.

O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!

Dito isso, vale o play tranquilamente!

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"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.

O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.

Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.

O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!

Dito isso, vale o play tranquilamente!

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Disque Jane

"Disque Jane" vai te surpreender! Primeiro por ser uma história baseada em fatos reais e segundo por ser uma jornada tão envolvente capaz de provocar, além de muitas reflexões, inúmeros questionamentos sobre o aborto. Agora é preciso dizer: é inegável o tom ativista do filme, por outro lado, o filme de estreia da até então roteirista Phyllis Nagy (indicada ao Oscar por "Carol" em 2015), consegue equilibrar muito bem uma trama pautada no processo de transformação da protagonista (na linha de "Breaking Bad"), com todo contexto politico e social da mulher na Chicago do final dos anos 60.

A vida feliz de Joy (Elizabeth Banks), junto de sua família, se desestabiliza quando a tão desejada gravidez passa a ser um risco para a sua vida. Temendo pelo pior, ela busca ajuda médica, que se recusa a ajuda-la pelas leis da época. Sua jornada para encontrar uma solução acaba a levando até o grupo chamado "Janes" (The Jane Collective), uma organização clandestina de mulheres que lhe dará uma alternativa mais segura para seu problema, em um processo que mudará sua vida para sempre. Confira o trailer (em inglês):

"Disque Jane" foi apresentado no Festival de Berlin em 2022 com potencial de levar o Urso de Ouro (que acabou ficando com o espanhol "Alcarrás" de Carla Simon) e sem dúvida que isso chancela o interesse da audiência em conhecer a história de Joy. No entanto, alguns elementos do roteiro escrito pela Hayley Schore e pelo Roshan Sethi parecem não se conectar com a proposta inicial de Nagy de apenas contar um boa história de empoderamento - existem alguns diálogos que saem um pouco do tom por justamente parecer lacrar demais. Isso não é um problema, eu diria, mas é inegável que incomoda, principalmente por deixar de lado embates muito mais interessantes sobre ética e, por consequência, conflitos morais que colocariam camadas mais profundas no amadurecimento da personagem. No final, a impressão que fica, é que fosse uma série, os roteiristas teriam um material maravilhoso para trabalhar - Kate Mara (como Lana) que o diga.

Chama atenção, sem a menor dúvida, a performance de Elizabeth Banks (fique atento ao trabalho dessa atriz, em breve ela estará no Oscar, pode apostar) - seu trabalho é muito consistente e, aqui, provavelmente o melhor de sua carreira. Banks tem a capacidade de despertar empatia mesmo quando notavelmente está cometendo um crime - reparem como ao longo do filme, em alguns momentos realmente dramáticos, ela equilibra tão bem o silêncio com o texto mais expositivo, que temos a exata noção do tamanho de sua dor (ou de suas dúvidas como mulher). Sigourney Weaver como a manda-chuva, Virginia, e Cory Michael Smith, como o jovem médico, Dean, também merecem elogios.

Mesmo que "Call Jane" (no original) passe essa sensação de pressa ou de superficialidade ao tentar fechar rapidamente todas as pontas que ficariam abertas, ainda assim considero o filme um ótimo drama, bem estruturado, bem dirigido (sem grandes destaques conceituais, é verdade) e com ótimas performances, capaz de colocar o dedo em alguns temas delicados que ainda hoje merecem o debate em todas as esferas da sociedade e que vão dialogar com grande parte da audiência feminina.

Pode dar o play sem medo que as conversas pós-créditos estão garantidas.

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"Disque Jane" vai te surpreender! Primeiro por ser uma história baseada em fatos reais e segundo por ser uma jornada tão envolvente capaz de provocar, além de muitas reflexões, inúmeros questionamentos sobre o aborto. Agora é preciso dizer: é inegável o tom ativista do filme, por outro lado, o filme de estreia da até então roteirista Phyllis Nagy (indicada ao Oscar por "Carol" em 2015), consegue equilibrar muito bem uma trama pautada no processo de transformação da protagonista (na linha de "Breaking Bad"), com todo contexto politico e social da mulher na Chicago do final dos anos 60.

A vida feliz de Joy (Elizabeth Banks), junto de sua família, se desestabiliza quando a tão desejada gravidez passa a ser um risco para a sua vida. Temendo pelo pior, ela busca ajuda médica, que se recusa a ajuda-la pelas leis da época. Sua jornada para encontrar uma solução acaba a levando até o grupo chamado "Janes" (The Jane Collective), uma organização clandestina de mulheres que lhe dará uma alternativa mais segura para seu problema, em um processo que mudará sua vida para sempre. Confira o trailer (em inglês):

"Disque Jane" foi apresentado no Festival de Berlin em 2022 com potencial de levar o Urso de Ouro (que acabou ficando com o espanhol "Alcarrás" de Carla Simon) e sem dúvida que isso chancela o interesse da audiência em conhecer a história de Joy. No entanto, alguns elementos do roteiro escrito pela Hayley Schore e pelo Roshan Sethi parecem não se conectar com a proposta inicial de Nagy de apenas contar um boa história de empoderamento - existem alguns diálogos que saem um pouco do tom por justamente parecer lacrar demais. Isso não é um problema, eu diria, mas é inegável que incomoda, principalmente por deixar de lado embates muito mais interessantes sobre ética e, por consequência, conflitos morais que colocariam camadas mais profundas no amadurecimento da personagem. No final, a impressão que fica, é que fosse uma série, os roteiristas teriam um material maravilhoso para trabalhar - Kate Mara (como Lana) que o diga.

Chama atenção, sem a menor dúvida, a performance de Elizabeth Banks (fique atento ao trabalho dessa atriz, em breve ela estará no Oscar, pode apostar) - seu trabalho é muito consistente e, aqui, provavelmente o melhor de sua carreira. Banks tem a capacidade de despertar empatia mesmo quando notavelmente está cometendo um crime - reparem como ao longo do filme, em alguns momentos realmente dramáticos, ela equilibra tão bem o silêncio com o texto mais expositivo, que temos a exata noção do tamanho de sua dor (ou de suas dúvidas como mulher). Sigourney Weaver como a manda-chuva, Virginia, e Cory Michael Smith, como o jovem médico, Dean, também merecem elogios.

Mesmo que "Call Jane" (no original) passe essa sensação de pressa ou de superficialidade ao tentar fechar rapidamente todas as pontas que ficariam abertas, ainda assim considero o filme um ótimo drama, bem estruturado, bem dirigido (sem grandes destaques conceituais, é verdade) e com ótimas performances, capaz de colocar o dedo em alguns temas delicados que ainda hoje merecem o debate em todas as esferas da sociedade e que vão dialogar com grande parte da audiência feminina.

Pode dar o play sem medo que as conversas pós-créditos estão garantidas.

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DOM

DOM

"DOM" é surpreendentemente boa - e digo isso com a tranquilidade de quem sabe as dificuldades que é produzir uma série desse tamanho aqui no Brasil. Embora algumas decisões conceituais sejam impactados diretamente pela limitação do orçamento de sua produção, o resultado final é de extrema qualidade narrativa e visual. "DOM" é um recorte social do Rio de Janeiro dos anos 2000 na sua essência, construído a partir de uma base histórica de 30 anos, justamente quando as drogas começaram a invadir os morros cariocas e se transformar em um cruel negócio dos mais lucrativos.

Na série acompanhamos duas histórias reais que se completam: a de Pedro Dom, um belo rapaz da classe média carioca que foi apresentado à cocaína na adolescência e que acabou colocando ele frente a frente com o crime, onde se transformou no líder de uma gangue criminosa que dominou os tabloides cariocas no início dos anos 2000. E a de seu pai, Victor Dantas, ex-mergulhador, que quando jovem fez uma descoberta no fundo do mar que logo o direcionou para o serviço de inteligência da polícia para combater, justamente, o inicio do tráfico de drogas no país. Confira o trailer:

A série é baseada nas obras "O Beijo da Bruxa", de Luiz Victor Lomba, e "DOM", de Tony Bellotto. Produzido e dirigido pelo sempre impecável Breno Silveira (de "Dois Filhos de Francisco"), o roteiro é bastante competente em cobrir os eventos em duas linhas temporais que a principio parece ter "apenas" a droga como conexão, mas que, posso garantir, vai muito além disso. As marcas do passado de Victor impactam diretamente no seu relacionamento com a família e principalmente com seu filho Pedro - então é preciso que se diga: não se trata da história de mais um criminoso ou da romantização da construção de um mito, muito pelo contrário, "DOM" traz para a discussão um problema social sério, o tráfico de drogas e o impacto dele nas famílias. 

Como já é de costume nos projetos de Breno Silveira, tecnicamente, "DOM" é um espetáculo. A fotografa do argentino Adrian Teijido (Capitu) mostra um contraste maravilhoso da cidade do Rio de Janeiro, criando uma dinâmica visual entre o morro, a praia e o asfalto, impressionante! A direção de Silveira, ao lado de Vicente Kubrusly, é precisa na construção do drama e das relações do núcleo central - só peca no trabalho com os atores do elenco de apoio. O trabalho do Claudio Amaral Peixoto na direção de arte também me chamou a atenção - o realismo quase minimalista compõe o cenário de uma forma completamente orgânica nas duas linhas temporais e ajuda demais na construção do mood da série.

Gabriel Leone é um dos melhores atores da sua geração - absolutamente tudo que assisti dele, me convenceu! Eu não gosto da sua versão adolescente na série, mas entendo a demanda. Sua postura como o jovem de classe média carioca, loiro e de olhos azuis, que aproveitava do racismo estrutural para entrar nos condomínios de luxo sem levantar suspeitas, é perfeito - me lembrou muito "The Bling Ring" de Sofia Coppola, mas com uma pegada mais "Cidade de Deus".

"DOM" tem visual de minissérie da Globo e isso é um baita elogio, tudo funciona perfeitamente e nos proporciona um experiência bastante visceral. Não se deixe enganar por qualquer tipo de glamourização ou pelos apelidos de Pedro Dom - essa coisa de "bandido fashion" ou "bandido gato" é marketing para vender jornal de terceira. A série é muito mais profunda, pesada até - ela mostra o uso excessivo de drogas sem se preocupar com os extremos e, por isso, é bem provável que você precise de um tempo para se conectar com a história. Mas vale a pena, mesmo que a jornada exija uma pausa entre um episódio e outro para recuperar o fôlego!

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"DOM" é surpreendentemente boa - e digo isso com a tranquilidade de quem sabe as dificuldades que é produzir uma série desse tamanho aqui no Brasil. Embora algumas decisões conceituais sejam impactados diretamente pela limitação do orçamento de sua produção, o resultado final é de extrema qualidade narrativa e visual. "DOM" é um recorte social do Rio de Janeiro dos anos 2000 na sua essência, construído a partir de uma base histórica de 30 anos, justamente quando as drogas começaram a invadir os morros cariocas e se transformar em um cruel negócio dos mais lucrativos.

Na série acompanhamos duas histórias reais que se completam: a de Pedro Dom, um belo rapaz da classe média carioca que foi apresentado à cocaína na adolescência e que acabou colocando ele frente a frente com o crime, onde se transformou no líder de uma gangue criminosa que dominou os tabloides cariocas no início dos anos 2000. E a de seu pai, Victor Dantas, ex-mergulhador, que quando jovem fez uma descoberta no fundo do mar que logo o direcionou para o serviço de inteligência da polícia para combater, justamente, o inicio do tráfico de drogas no país. Confira o trailer:

A série é baseada nas obras "O Beijo da Bruxa", de Luiz Victor Lomba, e "DOM", de Tony Bellotto. Produzido e dirigido pelo sempre impecável Breno Silveira (de "Dois Filhos de Francisco"), o roteiro é bastante competente em cobrir os eventos em duas linhas temporais que a principio parece ter "apenas" a droga como conexão, mas que, posso garantir, vai muito além disso. As marcas do passado de Victor impactam diretamente no seu relacionamento com a família e principalmente com seu filho Pedro - então é preciso que se diga: não se trata da história de mais um criminoso ou da romantização da construção de um mito, muito pelo contrário, "DOM" traz para a discussão um problema social sério, o tráfico de drogas e o impacto dele nas famílias. 

Como já é de costume nos projetos de Breno Silveira, tecnicamente, "DOM" é um espetáculo. A fotografa do argentino Adrian Teijido (Capitu) mostra um contraste maravilhoso da cidade do Rio de Janeiro, criando uma dinâmica visual entre o morro, a praia e o asfalto, impressionante! A direção de Silveira, ao lado de Vicente Kubrusly, é precisa na construção do drama e das relações do núcleo central - só peca no trabalho com os atores do elenco de apoio. O trabalho do Claudio Amaral Peixoto na direção de arte também me chamou a atenção - o realismo quase minimalista compõe o cenário de uma forma completamente orgânica nas duas linhas temporais e ajuda demais na construção do mood da série.

Gabriel Leone é um dos melhores atores da sua geração - absolutamente tudo que assisti dele, me convenceu! Eu não gosto da sua versão adolescente na série, mas entendo a demanda. Sua postura como o jovem de classe média carioca, loiro e de olhos azuis, que aproveitava do racismo estrutural para entrar nos condomínios de luxo sem levantar suspeitas, é perfeito - me lembrou muito "The Bling Ring" de Sofia Coppola, mas com uma pegada mais "Cidade de Deus".

"DOM" tem visual de minissérie da Globo e isso é um baita elogio, tudo funciona perfeitamente e nos proporciona um experiência bastante visceral. Não se deixe enganar por qualquer tipo de glamourização ou pelos apelidos de Pedro Dom - essa coisa de "bandido fashion" ou "bandido gato" é marketing para vender jornal de terceira. A série é muito mais profunda, pesada até - ela mostra o uso excessivo de drogas sem se preocupar com os extremos e, por isso, é bem provável que você precise de um tempo para se conectar com a história. Mas vale a pena, mesmo que a jornada exija uma pausa entre um episódio e outro para recuperar o fôlego!

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Dor e Glória

Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Dor e Glória" é um filme do Almodóvar na sua forma e no seu conteúdo!

Primeiro vamos falar do conteúdo: o filme conta a história do diretor de cinema Salvador Mallo (Antonio Banderas) que vive mergulhado em uma amarga melancolia graças à fortes dores no seu corpo, principalmente nas costas, impossibilitando-o, inclusive, de amarrar seu tênis. Essa condição acaba impedindo Salvador de trabalhar normalmente, já que ele mesmo defende que a dinâmica de um set de filmagem requer muita energia, dedicação e saúde - elementos que ele não encontra mais em si! Conformado com sua nova condição, o cineasta é provocado a passar por um dolorido processo de auto-análise, se obrigando a revisitar o passado na busca de um único objetivo: encontrar o caminho para continuar sua vida, em paz!

Sim, "Dor e Glória" é um filme de enorme reflexão, saudosista e até egocêntrico (no melhor sentido da palavra), já que Salvador Mallo é o alter-ego do próprio Pedro Almodóvar, mas a forma (e é claro que vamos falar mais dela logo abaixo) como ele conduz sua história mexe com a gente, pois é impossível não pensar na nossa própria vida. Essa dinâmica é tão inteligente que projetamos um filme a cada assunto (ou momento) em que ele precisa enfrentar seus "demônios" e a entrega que ele faz no final é só mais um belíssimo detalhe para um fechamento com chave de ouro!

Olha, vale muito a pena se você estiver disposto a enfrentar um filme mais cadenciado, sem uma dinâmica narrativa que possa empolgar, mas que tem no texto e, principalmente, no subtexto, uma espécie de imersão emocional muito genuína e reflexiva! É preciso gostar de Almodóvar para não se decepcionar!

Quando partimos do princípio que Salvador já teve seus momentos de glória e que agora ele só consegue enxergar (ou sentir) a dor, física e emocional, facilmente nos conectamos com o belíssimo trabalho do Antonio Banderas - indicado ao Oscar por esse trabalho. Ele está impecável como Salvador Mallo e é preciso dar muito mérito ao Almodóvar por isso - ele é um exímio diretor de atores e foi capaz de tirar o melhor de um Banderas completamente mergulhado na psiquê do seu mentor e amigo. É muito interessante o contraste que o ator conseguiu imprimir no seu personagem: se por um lado ele está rodeado de cores vivas, arte e conforto, por outro lado ele está sozinho e é incapaz de se conectar com a forma com que ele via (e vivia) a vida - o fato do apartamento de Salvador ser do próprio Almodóvar, só fortalece essa sensação de conflito interno! Um detalhe interessante do roteiro (e que nos faz pensar em várias passagens do filme) é como a vida não nos permite "jogar a sujeira para baixo do tapete"; em algum momento ela vai trabalhar para que a gente possa, finalmente, resolver essas pendências. É muito inteligente como os "nós" vão sendo desatados sem precisar forçar a barra e quando achamos que existe um certo exagero (o que até seria perdoável pelo estilo do diretor) ele nos explica com um único movimento de câmera, exatamente na última cena - e tudo faz mais sentido! Genial! O roteiro toca em pontos delicados como a percepção sobre o homossexualismo logo na infância, a relação com a religião, com as drogas, com a mãe, com os parceiros de trabalho e de vida; enfim, tudo está lá e muito bem amarrado - eu não teria ficado surpreso se fosse indicado para o Oscar de melhor roteiro original!

A fotografia do seu parceiro de longa data (mais um), Jose Luis Alcaine, segue sua gramática visual: das cores vivas, do contraste, dos planos abertos e da câmera fixa em 90% do filme - enquadramentos que parecem uma pintura estão lá também! Outro elemento que precisa ser destacado é o elenco que, além de Bandeiras, conta com um Asier Etxeandia (Por siempre Jamón e Velvet) como o ator Alberto Crespo que ficou 30 anos brigado com Salvador por desentendimentos criativos (e de comportamento) e pela participação cirúrgica de Penélope Cruz (Volver) eJulieta Serrano (Cuando vuelvas a mi lado) como a mãe de Salvador, Jacinta: a primeira na juventude e a segunda pouco antes de sua morte - aliás o diálogo entre Jacinta e Salvador no final do filme é algo digno de muitos prêmios, de roteiro e de atuação!

"Dor e Glória" é um filme que teria mais chances no Oscar não fosse o fenômeno "Parasita". Sua história é profunda, baseada em um roteiro inteligente e em um personagem muito bem construído pelo Antonio Banderas. A direção do Pedro Almodóvar é tecnicamente perfeita e cheia de detalhes quase imperceptíveis, mas que fazem a diferença. Reparem como ele trabalha o silêncio dos atores e mesmo assim somos capazes de sentir exatamente o drama que eles estão passando - a cena onde Salvador se despede de Frederico na porta do seu apartamento é um ótimo exemplo de como o subtexto do filme é importante: ele diz uma coisa, mas seu olhar diz outra! É demais! Vale muito o seu play e se o estilo Almodóvar te agradar, você vai se divertir muito! 

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Antes de mais nada é preciso deixar claro que "Dor e Glória" é um filme do Almodóvar na sua forma e no seu conteúdo!

Primeiro vamos falar do conteúdo: o filme conta a história do diretor de cinema Salvador Mallo (Antonio Banderas) que vive mergulhado em uma amarga melancolia graças à fortes dores no seu corpo, principalmente nas costas, impossibilitando-o, inclusive, de amarrar seu tênis. Essa condição acaba impedindo Salvador de trabalhar normalmente, já que ele mesmo defende que a dinâmica de um set de filmagem requer muita energia, dedicação e saúde - elementos que ele não encontra mais em si! Conformado com sua nova condição, o cineasta é provocado a passar por um dolorido processo de auto-análise, se obrigando a revisitar o passado na busca de um único objetivo: encontrar o caminho para continuar sua vida, em paz!

Sim, "Dor e Glória" é um filme de enorme reflexão, saudosista e até egocêntrico (no melhor sentido da palavra), já que Salvador Mallo é o alter-ego do próprio Pedro Almodóvar, mas a forma (e é claro que vamos falar mais dela logo abaixo) como ele conduz sua história mexe com a gente, pois é impossível não pensar na nossa própria vida. Essa dinâmica é tão inteligente que projetamos um filme a cada assunto (ou momento) em que ele precisa enfrentar seus "demônios" e a entrega que ele faz no final é só mais um belíssimo detalhe para um fechamento com chave de ouro!

Olha, vale muito a pena se você estiver disposto a enfrentar um filme mais cadenciado, sem uma dinâmica narrativa que possa empolgar, mas que tem no texto e, principalmente, no subtexto, uma espécie de imersão emocional muito genuína e reflexiva! É preciso gostar de Almodóvar para não se decepcionar!

Quando partimos do princípio que Salvador já teve seus momentos de glória e que agora ele só consegue enxergar (ou sentir) a dor, física e emocional, facilmente nos conectamos com o belíssimo trabalho do Antonio Banderas - indicado ao Oscar por esse trabalho. Ele está impecável como Salvador Mallo e é preciso dar muito mérito ao Almodóvar por isso - ele é um exímio diretor de atores e foi capaz de tirar o melhor de um Banderas completamente mergulhado na psiquê do seu mentor e amigo. É muito interessante o contraste que o ator conseguiu imprimir no seu personagem: se por um lado ele está rodeado de cores vivas, arte e conforto, por outro lado ele está sozinho e é incapaz de se conectar com a forma com que ele via (e vivia) a vida - o fato do apartamento de Salvador ser do próprio Almodóvar, só fortalece essa sensação de conflito interno! Um detalhe interessante do roteiro (e que nos faz pensar em várias passagens do filme) é como a vida não nos permite "jogar a sujeira para baixo do tapete"; em algum momento ela vai trabalhar para que a gente possa, finalmente, resolver essas pendências. É muito inteligente como os "nós" vão sendo desatados sem precisar forçar a barra e quando achamos que existe um certo exagero (o que até seria perdoável pelo estilo do diretor) ele nos explica com um único movimento de câmera, exatamente na última cena - e tudo faz mais sentido! Genial! O roteiro toca em pontos delicados como a percepção sobre o homossexualismo logo na infância, a relação com a religião, com as drogas, com a mãe, com os parceiros de trabalho e de vida; enfim, tudo está lá e muito bem amarrado - eu não teria ficado surpreso se fosse indicado para o Oscar de melhor roteiro original!

A fotografia do seu parceiro de longa data (mais um), Jose Luis Alcaine, segue sua gramática visual: das cores vivas, do contraste, dos planos abertos e da câmera fixa em 90% do filme - enquadramentos que parecem uma pintura estão lá também! Outro elemento que precisa ser destacado é o elenco que, além de Bandeiras, conta com um Asier Etxeandia (Por siempre Jamón e Velvet) como o ator Alberto Crespo que ficou 30 anos brigado com Salvador por desentendimentos criativos (e de comportamento) e pela participação cirúrgica de Penélope Cruz (Volver) eJulieta Serrano (Cuando vuelvas a mi lado) como a mãe de Salvador, Jacinta: a primeira na juventude e a segunda pouco antes de sua morte - aliás o diálogo entre Jacinta e Salvador no final do filme é algo digno de muitos prêmios, de roteiro e de atuação!

"Dor e Glória" é um filme que teria mais chances no Oscar não fosse o fenômeno "Parasita". Sua história é profunda, baseada em um roteiro inteligente e em um personagem muito bem construído pelo Antonio Banderas. A direção do Pedro Almodóvar é tecnicamente perfeita e cheia de detalhes quase imperceptíveis, mas que fazem a diferença. Reparem como ele trabalha o silêncio dos atores e mesmo assim somos capazes de sentir exatamente o drama que eles estão passando - a cena onde Salvador se despede de Frederico na porta do seu apartamento é um ótimo exemplo de como o subtexto do filme é importante: ele diz uma coisa, mas seu olhar diz outra! É demais! Vale muito o seu play e se o estilo Almodóvar te agradar, você vai se divertir muito! 

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El Presidente

Para quem gosta de futebol e tem um certo conhecimento sobre as figuras que compõem os bastidores do esporte, "El Presidente" vai surpreender positivamente por expor uma série de fatos que acompanhamos muito superficialmente por aqui, mas que contam com personagens que ficaram bem conhecidos em 2014, quando a Copa foi disputada no Brasil - aliás, essa incrível história só existe porque o nosso país tem uma enorme representatividade (para o bem e para o mal) em todas as camadas que transformam o futebol no esporte mais lucrativo do mundo!

"El Presidente" acompanha a história do escândalo de corrupção da Fifa em 2015, conhecido como "FIFA Gate", pelos olhos deSergio Jadue, responsável por um pequeno time de futebol chileno que saiu do anonimato para se tornar presidente da federação do país e uma peça importante nessa enorme conspiração que envolveu um suborno de150 milhões de dólares coordenado pelo então presidente da federação argentina de futebol, Julio Grondona. Confira o trailer:

Embora a série assuma um tom mais despojado que "Narcos", fica claro uma forte referência do conceito narrativo para contar a história. Um narrador, uma linha temporal completamente fragmentada, cenas que misturam realidade com ficção, uma edição com enorme personalidade (que dá o tom da trama) e uma fotografia criativa (mas não muito original). Tudo isso não é por acaso e vou explicar detalhadamente logo abaixo, porém é preciso dizer que "El Presidente" é, de fato, uma série muito divertida, dinâmica e com curiosidades que muitos de nós, amantes do futebol, nem sonhávamos que poderiam acontecer. Vale muito a pena, entretenimento garantido, mas fica a uma observação importante: provavelmente quem não é familiarizado com as dinâmicas do esporte e não conhece esses personagens reais, pode não aproveitar muito da série!

Produzido pela francesa Gaumont (responsável por "Narcos" da Netflix), pela chilena Fabula (vencedora do Oscar com "Uma Mulher Fantástica"), pela argentina Kapow (da série "Estocolmo") e sob a coordenação da Amazon Studios, "El Presidente" tem o vencedor do Oscar por "Birdman", Armando Bo, no comando do projeto. Fiz questão de citar todos os envolvidos para justificar a enorme qualidade da série. Claro que alguns elementos deixam um pouco a desejar como, por exemplo, a qualidade do elenco de apoio, bem abaixo do núcleo principal, e algumas dublagens completamente toscas dos personagens brasileiros - parece novela mexicana. As cenas de futebol também foram reproduzidas, o que acaba nos afastando um pouco da realidade dos fatos, mas não deixa de ser compreensível pelo enorme custo de direitos que estavam envolvidos em um obra que expõe o pior lado das confederações sul-americanas e da própria FIFA. Tudo isso passa a ser aceitável por se tratar de uma série que assume uma linguagem menos naturalista, mais caricata, ou seja, ela permite um ajuste do tom para diminuir a densidade da narrativa e caçoar de várias situações completamente non-sense que chegam parecer mentira - reparem em toda a sequência que envolve o sorteio dos grupos da Copa América de 2015 no Chile e você vai entender do que eu estou falando!

O roteiro se divide em duas linhas temporais e Armando Bo, na minha opinião, entrega demais essas quebras narrativas: além de legendas para dizer o que é passado e o que é presente, a fotografia usa de uma técnica já batida, mas não menos interessante, para nos localizar no tempo: o passado é gravado em uma janela 4:3 (como nas TVs antigas) e o presente, em 16:9 (como nas TVs de hoje) e não contente com tudo isso, Bo ainda se apoia na narração em OFF e no conceito visual de cada um desses períodos - é muito didatismo! Fora isso, a construção da história está muito clara, entendemos como as peças vão se encaixando e não nos sentimos perdidos em nenhum momento - um mérito enorme do roteiro e da edição, já que a trama não é tão simples, pois existem muitos personagens envolvidos, muitas nuances para se explicar e muita falcatrua pra gente conhecer. Como em "Narcos", ter um narrador ajuda muito e como em "Brás Cubas", essa função cabe ao próprio Julio Grondona, mesmo depois de morto.

Algumas passagens são realmente muito curiosas e como a própria Amazon definiu: "El Presidente" prova que, antes da bola rolar e depois do apito final, o jogo é muito mais sujo do que imaginamos. Andrés Parra como Sergio Jadue e Paulina Gaitan como sua esposa, Nené, estão impagáveis - eles são o contraponto entre a comédia e o drama, entre o escrachado e o sério, entre o over e o introspectivo - é muito bacana de se ver! Karla Souza (a Laurie de "How to Get Away with Murder") também está muito bem como a agente do FBI responsável pela investigação - sua personagem me pareceu o exato ponto de equilíbrio entre o casal de protagonistas.

"El Presidente" mostra o negócio por trás do futebol de uma forma quase caótica e isso é um grande mérito, pois temos a real sensação da superficialidade de como as decisões, que guiavam o futebol no continente, eram tomadas até pouco tempo. As disputas de poder entre os dirigentes sempre esbarravam na enorme quantia que cada um receberia - a história sobre a disputa dos direitos de transmissão dos campeonatos sul-americanos que envolviam o brasileiro J. Hawilla da Traffic é de embrulhar o estômago. Uma das coisas que mais me surpreendeu na série é a forma como essa quantidade de sujeira foi tirada debaixo do tapete e que pelo jeito não deve parar por aqui - uma segunda temporada deve ter um brasileiro como destaque: o ex presidente da FIFA, João Havelange.

Dada a quantidade de falcatruas que conhecemos (e muitas que nem sonhamos),  "El Presidente" tem material para muitas temporadas e espero que assim seja feito! Vou aguardar ansiosamente. Não perca tempo, vale muito seu play!

Assista Agora

Para quem gosta de futebol e tem um certo conhecimento sobre as figuras que compõem os bastidores do esporte, "El Presidente" vai surpreender positivamente por expor uma série de fatos que acompanhamos muito superficialmente por aqui, mas que contam com personagens que ficaram bem conhecidos em 2014, quando a Copa foi disputada no Brasil - aliás, essa incrível história só existe porque o nosso país tem uma enorme representatividade (para o bem e para o mal) em todas as camadas que transformam o futebol no esporte mais lucrativo do mundo!

"El Presidente" acompanha a história do escândalo de corrupção da Fifa em 2015, conhecido como "FIFA Gate", pelos olhos deSergio Jadue, responsável por um pequeno time de futebol chileno que saiu do anonimato para se tornar presidente da federação do país e uma peça importante nessa enorme conspiração que envolveu um suborno de150 milhões de dólares coordenado pelo então presidente da federação argentina de futebol, Julio Grondona. Confira o trailer:

Embora a série assuma um tom mais despojado que "Narcos", fica claro uma forte referência do conceito narrativo para contar a história. Um narrador, uma linha temporal completamente fragmentada, cenas que misturam realidade com ficção, uma edição com enorme personalidade (que dá o tom da trama) e uma fotografia criativa (mas não muito original). Tudo isso não é por acaso e vou explicar detalhadamente logo abaixo, porém é preciso dizer que "El Presidente" é, de fato, uma série muito divertida, dinâmica e com curiosidades que muitos de nós, amantes do futebol, nem sonhávamos que poderiam acontecer. Vale muito a pena, entretenimento garantido, mas fica a uma observação importante: provavelmente quem não é familiarizado com as dinâmicas do esporte e não conhece esses personagens reais, pode não aproveitar muito da série!

Produzido pela francesa Gaumont (responsável por "Narcos" da Netflix), pela chilena Fabula (vencedora do Oscar com "Uma Mulher Fantástica"), pela argentina Kapow (da série "Estocolmo") e sob a coordenação da Amazon Studios, "El Presidente" tem o vencedor do Oscar por "Birdman", Armando Bo, no comando do projeto. Fiz questão de citar todos os envolvidos para justificar a enorme qualidade da série. Claro que alguns elementos deixam um pouco a desejar como, por exemplo, a qualidade do elenco de apoio, bem abaixo do núcleo principal, e algumas dublagens completamente toscas dos personagens brasileiros - parece novela mexicana. As cenas de futebol também foram reproduzidas, o que acaba nos afastando um pouco da realidade dos fatos, mas não deixa de ser compreensível pelo enorme custo de direitos que estavam envolvidos em um obra que expõe o pior lado das confederações sul-americanas e da própria FIFA. Tudo isso passa a ser aceitável por se tratar de uma série que assume uma linguagem menos naturalista, mais caricata, ou seja, ela permite um ajuste do tom para diminuir a densidade da narrativa e caçoar de várias situações completamente non-sense que chegam parecer mentira - reparem em toda a sequência que envolve o sorteio dos grupos da Copa América de 2015 no Chile e você vai entender do que eu estou falando!

O roteiro se divide em duas linhas temporais e Armando Bo, na minha opinião, entrega demais essas quebras narrativas: além de legendas para dizer o que é passado e o que é presente, a fotografia usa de uma técnica já batida, mas não menos interessante, para nos localizar no tempo: o passado é gravado em uma janela 4:3 (como nas TVs antigas) e o presente, em 16:9 (como nas TVs de hoje) e não contente com tudo isso, Bo ainda se apoia na narração em OFF e no conceito visual de cada um desses períodos - é muito didatismo! Fora isso, a construção da história está muito clara, entendemos como as peças vão se encaixando e não nos sentimos perdidos em nenhum momento - um mérito enorme do roteiro e da edição, já que a trama não é tão simples, pois existem muitos personagens envolvidos, muitas nuances para se explicar e muita falcatrua pra gente conhecer. Como em "Narcos", ter um narrador ajuda muito e como em "Brás Cubas", essa função cabe ao próprio Julio Grondona, mesmo depois de morto.

Algumas passagens são realmente muito curiosas e como a própria Amazon definiu: "El Presidente" prova que, antes da bola rolar e depois do apito final, o jogo é muito mais sujo do que imaginamos. Andrés Parra como Sergio Jadue e Paulina Gaitan como sua esposa, Nené, estão impagáveis - eles são o contraponto entre a comédia e o drama, entre o escrachado e o sério, entre o over e o introspectivo - é muito bacana de se ver! Karla Souza (a Laurie de "How to Get Away with Murder") também está muito bem como a agente do FBI responsável pela investigação - sua personagem me pareceu o exato ponto de equilíbrio entre o casal de protagonistas.

"El Presidente" mostra o negócio por trás do futebol de uma forma quase caótica e isso é um grande mérito, pois temos a real sensação da superficialidade de como as decisões, que guiavam o futebol no continente, eram tomadas até pouco tempo. As disputas de poder entre os dirigentes sempre esbarravam na enorme quantia que cada um receberia - a história sobre a disputa dos direitos de transmissão dos campeonatos sul-americanos que envolviam o brasileiro J. Hawilla da Traffic é de embrulhar o estômago. Uma das coisas que mais me surpreendeu na série é a forma como essa quantidade de sujeira foi tirada debaixo do tapete e que pelo jeito não deve parar por aqui - uma segunda temporada deve ter um brasileiro como destaque: o ex presidente da FIFA, João Havelange.

Dada a quantidade de falcatruas que conhecemos (e muitas que nem sonhamos),  "El Presidente" tem material para muitas temporadas e espero que assim seja feito! Vou aguardar ansiosamente. Não perca tempo, vale muito seu play!

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Ela Disse

Se você gostou de "O Escândalo""A Assistente" ou "A Voz Mais Forte", saiba que "Ela Disse" pode ser considerada a cereja do bolo de uma discussão tão importante quanto necessária e que, contextualizada dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo gente muito importante, foi brilhantemente explorada pela diretora Maria Schrader (de "Nada Ortodoxa"). 

Baseado na investigação vencedora do prêmio Pulitzer pelo The New York Times, "Ela Disse" acompanha Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), duas jornalistas que juntas publicaram uma das histórias mais importantes e relevantes de uma geração: sérias denuncias de abuso sexual (e até estupro) contra o "todo poderoso" do cinema americano, o produtor e CEO da Miramax, Harvey Weinstein. A história que ajudou a lançar o movimento#Metoo, quebrou décadas de silêncio em torno do assunto de agressão sexual em Hollywood e alterou a cultura americana para sempre. Confira o trailer:

Com um time de primeiríssima qualidade, começando pelos produtores (os mesmos de "12 Anos de Escravidão", "Moonlight: Sob a Luz do Luar" e "Minari"), passando pela roteirista Rebecca Lenkiewicz (de "Ida") e culminando nas protagonistas Carey Mulligan e Zoe Kazan, "Ela Disse" pode ser considerado um dos melhores filmes de 2022 sem a menor sombra de dúvida. Mesmo com uma narrativa mais cadenciada, com uma levada mais jornalística do que investigativa e um texto denso (muitas vezes complexo), o filme cria uma atmosfera documental impressionante, expondo em detalhes todo o processo que levou as vitimas de Weinstein enfrentar o medo e denuncia-lo. 

Ao lado de Schrader, a diretora de fotografia Natasha Braier (de "Demônio de Neon") nos joga dentro da redação do The New York Times e sem pressa alguma vai nos presenteando com um drama ao melhor estilo "Todos os Homens do Presidente". Mulligan e Kazan estão incríveis - dignas de indicações ao Oscar, eu diria. Mesmo que em alguns momentos o roteiro ceda a tentação do sensacionalismo, o elenco segura com muito realismo toda a jornada entre uma denuncia isolada e a construção de uma matéria bombástica - o interessante é justamente perceber essa montanha russa de emoções nos olhos das protagonistas. A cena em que Jodi Kantor recebe a ligação de Ashley Judd (interpretando ela mesmo), é impagável! Reparem! No papel da editora da dupla, Rebecca Corbett, e do editor executivo do NYT, Dean Baquet, Patricia Clarkson e Andre Braugher, respectivamente, merecem elogios, bem como Mike Houston como Harvey Weinstein que mesmo sem aparecer seu rosto em nenhum momento, consegue passar toda imponência e força de seu personagem.

"Ela Disse" é sim um soco no estômago, mas que sugere muito mais do que mostra e muito por causa disso nos coloca em uma posição de permanente tensão e angustia - o áudio da gravação de uma das vitimas sendo assediada por Harvey, enquanto a câmera enquadra os corredores de um hotel, chega a ser chocante. Os depoimentos também - é um mais visceral que o outro e faz com que tenhamos a exata noção de como essas mulheres foram expostas e desrespeitadas. Na verdade não há muito o que dizer, é preciso mergulhar nessa verdadeira cruzada e se o tema de fato te interessar, não deixe de ler "Ela Disse: Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo"- que como o filme, é tão surpreendente quanto doloroso!

Assista Agora

Se você gostou de "O Escândalo""A Assistente" ou "A Voz Mais Forte", saiba que "Ela Disse" pode ser considerada a cereja do bolo de uma discussão tão importante quanto necessária e que, contextualizada dentro do movimento #MeToo e de todos os casos de abuso sexual envolvendo gente muito importante, foi brilhantemente explorada pela diretora Maria Schrader (de "Nada Ortodoxa"). 

Baseado na investigação vencedora do prêmio Pulitzer pelo The New York Times, "Ela Disse" acompanha Megan Twohey (Carey Mulligan) e Jodi Kantor (Zoe Kazan), duas jornalistas que juntas publicaram uma das histórias mais importantes e relevantes de uma geração: sérias denuncias de abuso sexual (e até estupro) contra o "todo poderoso" do cinema americano, o produtor e CEO da Miramax, Harvey Weinstein. A história que ajudou a lançar o movimento#Metoo, quebrou décadas de silêncio em torno do assunto de agressão sexual em Hollywood e alterou a cultura americana para sempre. Confira o trailer:

Com um time de primeiríssima qualidade, começando pelos produtores (os mesmos de "12 Anos de Escravidão", "Moonlight: Sob a Luz do Luar" e "Minari"), passando pela roteirista Rebecca Lenkiewicz (de "Ida") e culminando nas protagonistas Carey Mulligan e Zoe Kazan, "Ela Disse" pode ser considerado um dos melhores filmes de 2022 sem a menor sombra de dúvida. Mesmo com uma narrativa mais cadenciada, com uma levada mais jornalística do que investigativa e um texto denso (muitas vezes complexo), o filme cria uma atmosfera documental impressionante, expondo em detalhes todo o processo que levou as vitimas de Weinstein enfrentar o medo e denuncia-lo. 

Ao lado de Schrader, a diretora de fotografia Natasha Braier (de "Demônio de Neon") nos joga dentro da redação do The New York Times e sem pressa alguma vai nos presenteando com um drama ao melhor estilo "Todos os Homens do Presidente". Mulligan e Kazan estão incríveis - dignas de indicações ao Oscar, eu diria. Mesmo que em alguns momentos o roteiro ceda a tentação do sensacionalismo, o elenco segura com muito realismo toda a jornada entre uma denuncia isolada e a construção de uma matéria bombástica - o interessante é justamente perceber essa montanha russa de emoções nos olhos das protagonistas. A cena em que Jodi Kantor recebe a ligação de Ashley Judd (interpretando ela mesmo), é impagável! Reparem! No papel da editora da dupla, Rebecca Corbett, e do editor executivo do NYT, Dean Baquet, Patricia Clarkson e Andre Braugher, respectivamente, merecem elogios, bem como Mike Houston como Harvey Weinstein que mesmo sem aparecer seu rosto em nenhum momento, consegue passar toda imponência e força de seu personagem.

"Ela Disse" é sim um soco no estômago, mas que sugere muito mais do que mostra e muito por causa disso nos coloca em uma posição de permanente tensão e angustia - o áudio da gravação de uma das vitimas sendo assediada por Harvey, enquanto a câmera enquadra os corredores de um hotel, chega a ser chocante. Os depoimentos também - é um mais visceral que o outro e faz com que tenhamos a exata noção de como essas mulheres foram expostas e desrespeitadas. Na verdade não há muito o que dizer, é preciso mergulhar nessa verdadeira cruzada e se o tema de fato te interessar, não deixe de ler "Ela Disse: Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo"- que como o filme, é tão surpreendente quanto doloroso!

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Em Defesa de Cristo

"Em Defesa de Cristo" me pareceu ser mais um caso de um livro infinitamente melhor que o filme - não que ele seja ruim, mas é que a história é muito (mas, muito) boa.

Lee Strobel (Mike Vogel), é um jornalista conservador e linha dura, vivendo os melhores dias de sua carreira: uma premiada reportagem acaba de lhe render uma promoção como editor jurídico no jornal Chicago Tribune. Mas, seu casamento não vai muito bem. Sua esposa, Leslie (Erika Christensen), se converteu à fé cristã indo contra tudo que Lee pensava, como um ateu convicto, a respeito da religião. Utilizando sua vasta experiência sobre leis e usando o jornalismo como ponto de partida, Lee começa uma jornada para rebater os argumentos do cristianismo e assim salvar seu casamento. Investigando a maior história de sua carreira, Lee se vê cara a cara com fatos inesperados que podem mudar tudo que ele acredita ser verdade. Confira o trailer:

Tecnicamente o roteiro não está à altura que uma história dessas merece: Brian Bird nos apresenta uma resolução um pouco mais superficial e uma trama paralela que poderia ser melhor desenvolvida, se algumas camadas fossem exploradas - existe um embate intimo do protagonista que chama a atenção como gatilho, mas que parece não sair do lugar. Agora, mesmo com algumas inconsistências, eu não deixaria de assistir o filme - na verdade, eu gostei, só que é impossível não imaginar uma história tão potente como essa na mão de alguém com mais força na escrita e até na direção. Aliás, a direção do Jon Gunn ("De Coração Partido") é apenas protocolar - imagine se Denis Villeneuve (de "A Chegada") ou até o DarrenAronofsky (de "Cisne Negro") estivessem no projeto, olha, seria outro patamar!

De fato "The Case for Christ" (título original) é um filme bom, mas que transita pela mediocridade em vários aspectos e momentos - eu diria que é uma boa "Sessão da Tarde" que vai entreter, instigar, provocar, mas que não vai te marcar para sempre! É aquela diversão param sábado chuvoso!

Vale a pena nessas condições!

Assista Agora 

"Em Defesa de Cristo" me pareceu ser mais um caso de um livro infinitamente melhor que o filme - não que ele seja ruim, mas é que a história é muito (mas, muito) boa.

Lee Strobel (Mike Vogel), é um jornalista conservador e linha dura, vivendo os melhores dias de sua carreira: uma premiada reportagem acaba de lhe render uma promoção como editor jurídico no jornal Chicago Tribune. Mas, seu casamento não vai muito bem. Sua esposa, Leslie (Erika Christensen), se converteu à fé cristã indo contra tudo que Lee pensava, como um ateu convicto, a respeito da religião. Utilizando sua vasta experiência sobre leis e usando o jornalismo como ponto de partida, Lee começa uma jornada para rebater os argumentos do cristianismo e assim salvar seu casamento. Investigando a maior história de sua carreira, Lee se vê cara a cara com fatos inesperados que podem mudar tudo que ele acredita ser verdade. Confira o trailer:

Tecnicamente o roteiro não está à altura que uma história dessas merece: Brian Bird nos apresenta uma resolução um pouco mais superficial e uma trama paralela que poderia ser melhor desenvolvida, se algumas camadas fossem exploradas - existe um embate intimo do protagonista que chama a atenção como gatilho, mas que parece não sair do lugar. Agora, mesmo com algumas inconsistências, eu não deixaria de assistir o filme - na verdade, eu gostei, só que é impossível não imaginar uma história tão potente como essa na mão de alguém com mais força na escrita e até na direção. Aliás, a direção do Jon Gunn ("De Coração Partido") é apenas protocolar - imagine se Denis Villeneuve (de "A Chegada") ou até o DarrenAronofsky (de "Cisne Negro") estivessem no projeto, olha, seria outro patamar!

De fato "The Case for Christ" (título original) é um filme bom, mas que transita pela mediocridade em vários aspectos e momentos - eu diria que é uma boa "Sessão da Tarde" que vai entreter, instigar, provocar, mas que não vai te marcar para sempre! É aquela diversão param sábado chuvoso!

Vale a pena nessas condições!

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Emergência

O racismo estrutural existe - isso é um fato! Infelizmente esse mal está incutido em toda a sociedade, e é algo que todos nós cometemos, em maior ou menor grau, quer a gente aceite ou não. São tantos episódios que basta parar e observar, para entender prontamente que o racismo precisa ser combatido, sempre! O filme “Emergência”, disponível no catálogo da Prime Vídeo, trata exatamente disso - apresentando o racismo estrutural de forma visceral e, ao mesmo tempo, didática. O interessante é que o enredo não dá brecha para questionamentos, ele mostra exatamente como o problema continua enraizado e como é difícil ser extirpado para sempre da nossa realidade.

A trama mostra três estudantes universitários, Kunle (Donald Elise Watkins), Sean (RJ Cyler) e Carlos (Sebastian Chacon), dois negros e um latino, que antes de sair para uma balada, encontram uma garota desconhecida desacordada no chão da casa onde residem. A partir daí, eles vivem um impasse: chamar a emergência e correr o risco de serem acusados de algum crime, ou abandonar a menina, sem sofrer maiores consequências. Confira o trailer:

A premissa é muito inteligente em levantar questões bastante delicadas, mas pelos olhos de quem realmente sofre preconceito - e o roteiro da K.D. Dávila foi muito feliz em desenvolver um plot que explora a dificuldade de tomar uma decisão mais coerente pelos protagonistas, já que a garota desmaiada é branca, loira e menor de idade. Se chamarem a polícia ou a ambulância, será que vão acreditar na história deles? O receio e o medo que eles sentem é legítimo e verdadeiro, mas ao mesmo tempo escancara como o racismo estrutural pode moldar as atitudes das pessoas. Essa dualidade, ou desconforto, de comportamento exige uma sensibilidade enorme de condução para que as muitas camadas dos personagens possam ser aproveitadas, e o diretor Carey Williams (nomeado um dos novos diretores mais promissores de 2018 pela Filmmaker Magazine) foi muito seguro nesse desenvolvimento. 

“Emergência” é baseado em um curta-metragem e Williams, premiadíssimo em 2018 (vencedor do SXSW  e de Sundance no mesmo ano), que transita magistralmente por diversos gêneros: como a comédia, o drama e o suspense. Obviamente que esse é um daqueles filmes necessários, que todo mundo deveria ver e rever! É também provocativo, reflexivo e extremamente desconfortável! E é, antes de tudo, um aviso para que pessoas brancas como eu e você. tenham consciência que ainda precisamos evoluir muito, para um dia, finalmente, dizermos que vivemos em mundo mais justo e sem preconceitos.

Vale muito seu play, Vale muito sua reflexão!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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O racismo estrutural existe - isso é um fato! Infelizmente esse mal está incutido em toda a sociedade, e é algo que todos nós cometemos, em maior ou menor grau, quer a gente aceite ou não. São tantos episódios que basta parar e observar, para entender prontamente que o racismo precisa ser combatido, sempre! O filme “Emergência”, disponível no catálogo da Prime Vídeo, trata exatamente disso - apresentando o racismo estrutural de forma visceral e, ao mesmo tempo, didática. O interessante é que o enredo não dá brecha para questionamentos, ele mostra exatamente como o problema continua enraizado e como é difícil ser extirpado para sempre da nossa realidade.

A trama mostra três estudantes universitários, Kunle (Donald Elise Watkins), Sean (RJ Cyler) e Carlos (Sebastian Chacon), dois negros e um latino, que antes de sair para uma balada, encontram uma garota desconhecida desacordada no chão da casa onde residem. A partir daí, eles vivem um impasse: chamar a emergência e correr o risco de serem acusados de algum crime, ou abandonar a menina, sem sofrer maiores consequências. Confira o trailer:

A premissa é muito inteligente em levantar questões bastante delicadas, mas pelos olhos de quem realmente sofre preconceito - e o roteiro da K.D. Dávila foi muito feliz em desenvolver um plot que explora a dificuldade de tomar uma decisão mais coerente pelos protagonistas, já que a garota desmaiada é branca, loira e menor de idade. Se chamarem a polícia ou a ambulância, será que vão acreditar na história deles? O receio e o medo que eles sentem é legítimo e verdadeiro, mas ao mesmo tempo escancara como o racismo estrutural pode moldar as atitudes das pessoas. Essa dualidade, ou desconforto, de comportamento exige uma sensibilidade enorme de condução para que as muitas camadas dos personagens possam ser aproveitadas, e o diretor Carey Williams (nomeado um dos novos diretores mais promissores de 2018 pela Filmmaker Magazine) foi muito seguro nesse desenvolvimento. 

“Emergência” é baseado em um curta-metragem e Williams, premiadíssimo em 2018 (vencedor do SXSW  e de Sundance no mesmo ano), que transita magistralmente por diversos gêneros: como a comédia, o drama e o suspense. Obviamente que esse é um daqueles filmes necessários, que todo mundo deveria ver e rever! É também provocativo, reflexivo e extremamente desconfortável! E é, antes de tudo, um aviso para que pessoas brancas como eu e você. tenham consciência que ainda precisamos evoluir muito, para um dia, finalmente, dizermos que vivemos em mundo mais justo e sem preconceitos.

Vale muito seu play, Vale muito sua reflexão!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Encounter

"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).

Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:

Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.

A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion"  e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.

Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.

O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter"  uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.

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"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).

Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:

Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.

A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion"  e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.

Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.

O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter"  uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.

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Entre Mulheres

"Entre Mulheres" é excelente, mas muito difícil! Veja, no cenário cinematográfico contemporâneo, obras que exploram a complexidade das relações humanas e abordam temas sensíveis como o estupro, o assédio e a violência contra a mulher, têm ganhado cada vez mais destaque e o filme dirigido por Sarah Pulley (de "Histórias que Contamos"), é mais um exemplo notável dessa tendência. No entanto, aqui, não encontramos uma narrativa tão fluida, pois, propositalmente, a diretora prefere explorar o texto de uma forma que mistura o simbolismo com a dura realidade e essa escolha certamente vai afastar parte da audiência. Existe uma poesia e uma profundidade nas entrelinhas que impressionam, mas a cadência de como a trama é desenvolvida exige muita boa vontade até alcançar o final. 

Baseado no livro homônimo deMiriam Toews, "Entre Mulheres"  acompanha um grupo de mulheres que moram em uma comunidade cristã menonita isolada nos EUA. Alvos de crimes sexuais cometidos pelos homens da comunidade, elas criam um plebiscito para decidir se deixam a comunidade, que representa tudo o que elas conhecem até então, ou se ficam e lutam para torná-la um lugar mais seguro para elas e para as próximas gerações – uma opção não muito mais fácil, visto que quase todos os homens adultos do local se dispuseram a pagar a fiança dos criminosos e deram às suas esposas, mães, irmãs e filhas um ultimato: ou elas perdoam os agressores, ou terão de arriscar a danação eterna. Confira o trailer:

Depois de um prólogo praticamente perfeito em sua estrutura dramática, não existiria forma mais irônica de iniciar o filme em si se não com a frase: “Esta história é fruto da fértil imaginação feminina”. É impressionante como Sarah Pulley contextualiza o problema, apresenta as personagens e nos indica exatamente qual o caminho sua narrativa vai seguir, em pouquíssimos planos, quase sem nenhum diálogo, mas com uma narração tão potente quanto profunda e um texto, de fato, digno de Oscar - aliás, "Entre Mulheres" ganhou o prêmio de "Roteiro Adaptado" em 2023 e concorreu como "Melhor Filme do Ano".

A direção de Pulley merece aplausos, especialmente pela maneira como ela constrói a narrativa visualmente - eu diria que o filme é uma poesia visual, como "Retrato de uma Jovem em Chamas". A paleta de cores mais esverdeada, quase sem saturação, reflete exatamente o momento íntimo que as personagens estão passando. Existe uma frieza que conectada à fotografia do diretor Luc Montpellier (de "Tales from the Loop") cria uma atmosfera delicada, porém densa, que serve de moldura para o excepcional elenco brilhar. Além disso, por favor, reparem na trilha sonora original e como ela contribui para uma imersão visceral, nos guiando pelas profundezas das emoções sem precisar se sobressair. 

De fato, o elenco de "Entre Mulheres" oferece performances notáveis que elevam a narrativa aos patamares mais altos que uma produção tão intimista pode chegar. Pulley é sagaz em trabalhar o silêncio e em quebrar nossas expectativas com trocas de tom em um piscar de olhos - a verdade é que nunca sabemos o que vamos encontrar: se um conforto, uma palavra de sabedoria, uma passagem religiosa ou simplesmente uma discussão bastante ofensiva. Claire Foy, Rooney Mara, Judith Ivey e Jessie Buckley dão um verdadeiro show!

Para aqueles que se permitirem embarcar na proposta da diretora, eu adianto que "Entre Mulheres" tem uma capacidade única de mexer com nossas emoções de uma forma muito particular - essencialmente na audiência feminina. A narrativa não se contenta em apresentar uma história simples com superficialidade; em vez disso, ela mergulha fundo nas experiências das personagens, explorando temas como o amor, o perdão, o arrependimento e a reconciliação, mesmo que submersa naquela atmosfera de alienação, religião e violência. 

Vale seu play, mas não assista com sono!

Assista Agora

"Entre Mulheres" é excelente, mas muito difícil! Veja, no cenário cinematográfico contemporâneo, obras que exploram a complexidade das relações humanas e abordam temas sensíveis como o estupro, o assédio e a violência contra a mulher, têm ganhado cada vez mais destaque e o filme dirigido por Sarah Pulley (de "Histórias que Contamos"), é mais um exemplo notável dessa tendência. No entanto, aqui, não encontramos uma narrativa tão fluida, pois, propositalmente, a diretora prefere explorar o texto de uma forma que mistura o simbolismo com a dura realidade e essa escolha certamente vai afastar parte da audiência. Existe uma poesia e uma profundidade nas entrelinhas que impressionam, mas a cadência de como a trama é desenvolvida exige muita boa vontade até alcançar o final. 

Baseado no livro homônimo deMiriam Toews, "Entre Mulheres"  acompanha um grupo de mulheres que moram em uma comunidade cristã menonita isolada nos EUA. Alvos de crimes sexuais cometidos pelos homens da comunidade, elas criam um plebiscito para decidir se deixam a comunidade, que representa tudo o que elas conhecem até então, ou se ficam e lutam para torná-la um lugar mais seguro para elas e para as próximas gerações – uma opção não muito mais fácil, visto que quase todos os homens adultos do local se dispuseram a pagar a fiança dos criminosos e deram às suas esposas, mães, irmãs e filhas um ultimato: ou elas perdoam os agressores, ou terão de arriscar a danação eterna. Confira o trailer:

Depois de um prólogo praticamente perfeito em sua estrutura dramática, não existiria forma mais irônica de iniciar o filme em si se não com a frase: “Esta história é fruto da fértil imaginação feminina”. É impressionante como Sarah Pulley contextualiza o problema, apresenta as personagens e nos indica exatamente qual o caminho sua narrativa vai seguir, em pouquíssimos planos, quase sem nenhum diálogo, mas com uma narração tão potente quanto profunda e um texto, de fato, digno de Oscar - aliás, "Entre Mulheres" ganhou o prêmio de "Roteiro Adaptado" em 2023 e concorreu como "Melhor Filme do Ano".

A direção de Pulley merece aplausos, especialmente pela maneira como ela constrói a narrativa visualmente - eu diria que o filme é uma poesia visual, como "Retrato de uma Jovem em Chamas". A paleta de cores mais esverdeada, quase sem saturação, reflete exatamente o momento íntimo que as personagens estão passando. Existe uma frieza que conectada à fotografia do diretor Luc Montpellier (de "Tales from the Loop") cria uma atmosfera delicada, porém densa, que serve de moldura para o excepcional elenco brilhar. Além disso, por favor, reparem na trilha sonora original e como ela contribui para uma imersão visceral, nos guiando pelas profundezas das emoções sem precisar se sobressair. 

De fato, o elenco de "Entre Mulheres" oferece performances notáveis que elevam a narrativa aos patamares mais altos que uma produção tão intimista pode chegar. Pulley é sagaz em trabalhar o silêncio e em quebrar nossas expectativas com trocas de tom em um piscar de olhos - a verdade é que nunca sabemos o que vamos encontrar: se um conforto, uma palavra de sabedoria, uma passagem religiosa ou simplesmente uma discussão bastante ofensiva. Claire Foy, Rooney Mara, Judith Ivey e Jessie Buckley dão um verdadeiro show!

Para aqueles que se permitirem embarcar na proposta da diretora, eu adianto que "Entre Mulheres" tem uma capacidade única de mexer com nossas emoções de uma forma muito particular - essencialmente na audiência feminina. A narrativa não se contenta em apresentar uma história simples com superficialidade; em vez disso, ela mergulha fundo nas experiências das personagens, explorando temas como o amor, o perdão, o arrependimento e a reconciliação, mesmo que submersa naquela atmosfera de alienação, religião e violência. 

Vale seu play, mas não assista com sono!

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Era uma vez um Gênio

"Era uma vez um Gênio" é um grande filme, mas não deve agradar a todos e é muito simples explicar a razão: seu roteiro é cheio de simbolismo, que demanda um aprofundamento que vai além do diálogo ou do que vemos na tela, sua trama exige uma certa reflexão, uma busca pela conexão dos pontos e que em hipótese nenhuma é (ou será) explicada. O filme dirigido pelo grande George Miller (de "Mad Max: Estrada da Fúria") se afasta do entretenimento superficial e ultrapassa o óbvio para discutir como algumas decisões que tomamos cobram seu preço ao mesmo tempo em que também entrega uma série de coisas boas que tem seu valor. Olha, "Era uma vez um Gênio" é uma espécie de "Fonte da Vida" com "Mãe!" (ambos do Darren Aronofsky) com um leve toque de "Entrevista com o Vampiro".

A Dra. Alithea Binnie (Tilda Swinton) é uma académica respeitada, referência como historiadora, satisfeita com seu estilo de vida e uma pessoa extremamente racional. Durante uma visita a Istambul para participar de uma conferência, ela acaba experienciando uma situação fantástica quando encontra um Génio (Idris Elba) que lhe oferece três desejos em troca da sua liberdade. Porém, o que parecia uma simples fábula, na verdade se torna uma fantástica discussão sobre o amor e a solidão. Confira o trailer:

O roteiro do próprio Miller nos convida para uma reflexão antes mesmo de nos darmos conta de tudo que vamos encontrar em duas horas de história - é a partir daí que, propositalmente, as provocações se tornam excelentes reflexões. Veja, conhecer o valor de uma história é entender o papel social que ela desempenha como troca de experiências, capaz de explicar algo que ainda, digamos, não pode ser bem definida racionalmente - foi assim que surgiram diferentes mitologias (nórdica, grega, egípcia, etc) que pautaram a evolução humana. O que dizer, por exemplo, quando algumas questões mais complexas da vida passam a ter explicações realistas com base "apenas" na ciência, as histórias então perdem sentido? Passaram a funcionar apenas como metáforas? 

Em "Era uma vez um Gênio" tudo é uma grande metáfora, porém inserida dentro de um embate dos mais inteligentes: se de um lado temos o a força academia de Binnie, do outro temos as histórias vividas por, acreditem, um Gênio. Envolvido por uma atmosfera brilhante, Miller Miller cria uma verdadeira viagem para os olhos e para os ouvidos, começando pela fotografia maravilhosa do John Seale (vencedor do Oscar por "O Paciente Inglês") extremamente alinhada a um desenho de produção riquíssimo deRoger Ford (de "Babe"), uma trilha cirúrgica de Tom Holkenborg ("Mad Max: Estrada da Fúria"), além, é claro, de figurinos de cair o queixo de Kym Barret (de "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis") - aliás, é surpreendente o fato do filme não ter sido indicado em nenhuma categoria no Oscars 2023.

Como uma verdadeira experiência sensorial, "3000 Years of Longing" (no original) é surpreendente em sua intensidade mesmo dentro de sua proposta mais cadenciada - natural em uma conversa entre dois personagens ou em uma narrativa em off que serve para emoldurar o visual menos realista dos acontecimentos históricos. Para ficar mais fácil de entender, é como se estivéssemos lendo um livro e imaginando cada cena sem se preocupar exatamente com a riqueza de detalhes exata de uma época, mesmo tendo todas as referências para isso - é lindo!Em um jogo brilhante onde suas muitas histórias vão se conectando (espiritualmente até), ou na forma como Tilda Swinton e Idris Elba se provocam (fisicamente e emocionalmente) e até na escolha conceitual de George Miller ao retratar o vazio existencial usando a semiótica como base, posso garantir que esse filme é um presente para quem estiver disposto a embarcar nessa jornada com o coração aberto (mesmo que no final ele fique apertado)!

Vale muito o seu play (mas só se você gostou de "Fonte da Vida" ou de "Mãe!")!

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"Era uma vez um Gênio" é um grande filme, mas não deve agradar a todos e é muito simples explicar a razão: seu roteiro é cheio de simbolismo, que demanda um aprofundamento que vai além do diálogo ou do que vemos na tela, sua trama exige uma certa reflexão, uma busca pela conexão dos pontos e que em hipótese nenhuma é (ou será) explicada. O filme dirigido pelo grande George Miller (de "Mad Max: Estrada da Fúria") se afasta do entretenimento superficial e ultrapassa o óbvio para discutir como algumas decisões que tomamos cobram seu preço ao mesmo tempo em que também entrega uma série de coisas boas que tem seu valor. Olha, "Era uma vez um Gênio" é uma espécie de "Fonte da Vida" com "Mãe!" (ambos do Darren Aronofsky) com um leve toque de "Entrevista com o Vampiro".

A Dra. Alithea Binnie (Tilda Swinton) é uma académica respeitada, referência como historiadora, satisfeita com seu estilo de vida e uma pessoa extremamente racional. Durante uma visita a Istambul para participar de uma conferência, ela acaba experienciando uma situação fantástica quando encontra um Génio (Idris Elba) que lhe oferece três desejos em troca da sua liberdade. Porém, o que parecia uma simples fábula, na verdade se torna uma fantástica discussão sobre o amor e a solidão. Confira o trailer:

O roteiro do próprio Miller nos convida para uma reflexão antes mesmo de nos darmos conta de tudo que vamos encontrar em duas horas de história - é a partir daí que, propositalmente, as provocações se tornam excelentes reflexões. Veja, conhecer o valor de uma história é entender o papel social que ela desempenha como troca de experiências, capaz de explicar algo que ainda, digamos, não pode ser bem definida racionalmente - foi assim que surgiram diferentes mitologias (nórdica, grega, egípcia, etc) que pautaram a evolução humana. O que dizer, por exemplo, quando algumas questões mais complexas da vida passam a ter explicações realistas com base "apenas" na ciência, as histórias então perdem sentido? Passaram a funcionar apenas como metáforas? 

Em "Era uma vez um Gênio" tudo é uma grande metáfora, porém inserida dentro de um embate dos mais inteligentes: se de um lado temos o a força academia de Binnie, do outro temos as histórias vividas por, acreditem, um Gênio. Envolvido por uma atmosfera brilhante, Miller Miller cria uma verdadeira viagem para os olhos e para os ouvidos, começando pela fotografia maravilhosa do John Seale (vencedor do Oscar por "O Paciente Inglês") extremamente alinhada a um desenho de produção riquíssimo deRoger Ford (de "Babe"), uma trilha cirúrgica de Tom Holkenborg ("Mad Max: Estrada da Fúria"), além, é claro, de figurinos de cair o queixo de Kym Barret (de "Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis") - aliás, é surpreendente o fato do filme não ter sido indicado em nenhuma categoria no Oscars 2023.

Como uma verdadeira experiência sensorial, "3000 Years of Longing" (no original) é surpreendente em sua intensidade mesmo dentro de sua proposta mais cadenciada - natural em uma conversa entre dois personagens ou em uma narrativa em off que serve para emoldurar o visual menos realista dos acontecimentos históricos. Para ficar mais fácil de entender, é como se estivéssemos lendo um livro e imaginando cada cena sem se preocupar exatamente com a riqueza de detalhes exata de uma época, mesmo tendo todas as referências para isso - é lindo!Em um jogo brilhante onde suas muitas histórias vão se conectando (espiritualmente até), ou na forma como Tilda Swinton e Idris Elba se provocam (fisicamente e emocionalmente) e até na escolha conceitual de George Miller ao retratar o vazio existencial usando a semiótica como base, posso garantir que esse filme é um presente para quem estiver disposto a embarcar nessa jornada com o coração aberto (mesmo que no final ele fique apertado)!

Vale muito o seu play (mas só se você gostou de "Fonte da Vida" ou de "Mãe!")!

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Esquema de Risco

Muito divertido!

Sim, você está prestes a dar um play em um filme muito divertido, dinâmico e envolvente - ao melhor estilo Guy Ritchie! Em "Esquema de Risco" você vai encontrar muita ação, alguns elementos de comédia, toques de conspiração e espionagem, e, claro, muitos tiros, pancadarias, explosões, perseguições. De fato temos tudo que um bom entretenimento-pipoca pede em uma trama: muitas reviravoltas, personagens dos mais carismáticos e diálogos cheios de sagacidade, ironia, inteligência... Enfim, esse é o tipo do filme que torcemos para ter um segundo capítulo! 

O espião Orson Fortune (Jason Statham) precisa rastrear e conter a venda de uma nova tecnologia que está sendo realizada pelo bilionário Greg Simmonds (Hugh Grant). Junto com uma das melhores equipes de operações especiais do mundo, Fortune recruta o astro de Hollywood Danny Francesco (Josh Hartnett) para ajudá-los a passar despercebidos na missão de salvar o mundo. Confira o trailer:

Poucos diretores dominam tão bem a gramática cinematográfica de filmes de ação como Guy Ritchie - e melhor, sempre impondo sua identidade, seu estilo. Em "Esquema de Risco - Operação Fortune", mais uma vez, sua direção é impecável. Ele conduz a narrativa com uma habilidade impressionante, trabalhando todos os elementos técnicos e artísticos para criar uma dinâmica muito particular. Veja, Ritchie usa uma edição rápida e estilizada para manter um ritmo tão acelerado que fica impossível tirar os olhos da tela - ele (ao lado do seu montador e parceiro de "Magnatas do Crime", James Herbert) combinam perfeitamente as cenas de ação com momentos de humor e drama, com muito equilíbrio, criatividade e fluidez. A trilha sonora mais enérgica do Christopher Benstead e a fotografia vibrante do Alan Stewart, ambos de "Magnatas" também, contribuem para criar uma atmosfera das mais empolgantes em um cenário, olha, de cair o queixo.

O elenco também brilha! Ritchie é mestre em reunir um grupo de atores experientes e carismáticos, incluindo alguns de seus colaboradores frequentes, como Jason Statham, Mark Strong e Hugh Grant. A química entre eles é visível - reparem como todos, sem exceção, funcionam perfeitamente em pró da narrativa, entregando performances divertidas e convincentes, elevando ainda mais a qualidade do roteiro escrito pelo próprio diretor, pelo Ivan Atkinson e pelo Marn Davies (os dois acompanharam Ritchie em pelo menos quatro de seus filmes). Aqui, é impossível não destacar o trabalho exagerado (propositalmente) de Hugh Grant que funciona como um eficaz alívio cômico quase que permanente e a ironia cheia de sensualidade da ótima Aubrey Plaza.

Embora "Esquema de Risco - Operação Fortune" possa ser um filme extremamente divertido, ele pode não agradar aqueles que não são tão fãs do estilo de Ritchie - de fato, em algumas momentos, a narrativa pode parecer confusa, devido às reviravoltas e à estrutura fragmentada da história (além de se apoiar em alguns estereótipos e convenções do gênero de ação e do subgênero de "filmes de assalto"). No entanto, para quem estiver disposto a encarar essa experiência, como em "O Infiltrado", eu garanto: o filme é uma diversão no ponto certo, tão despretensioso quanto inteligente - daqueles que tanto faz falta no mundo das grandes franquias de hoje!

Vale muito o seu play!

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Muito divertido!

Sim, você está prestes a dar um play em um filme muito divertido, dinâmico e envolvente - ao melhor estilo Guy Ritchie! Em "Esquema de Risco" você vai encontrar muita ação, alguns elementos de comédia, toques de conspiração e espionagem, e, claro, muitos tiros, pancadarias, explosões, perseguições. De fato temos tudo que um bom entretenimento-pipoca pede em uma trama: muitas reviravoltas, personagens dos mais carismáticos e diálogos cheios de sagacidade, ironia, inteligência... Enfim, esse é o tipo do filme que torcemos para ter um segundo capítulo! 

O espião Orson Fortune (Jason Statham) precisa rastrear e conter a venda de uma nova tecnologia que está sendo realizada pelo bilionário Greg Simmonds (Hugh Grant). Junto com uma das melhores equipes de operações especiais do mundo, Fortune recruta o astro de Hollywood Danny Francesco (Josh Hartnett) para ajudá-los a passar despercebidos na missão de salvar o mundo. Confira o trailer:

Poucos diretores dominam tão bem a gramática cinematográfica de filmes de ação como Guy Ritchie - e melhor, sempre impondo sua identidade, seu estilo. Em "Esquema de Risco - Operação Fortune", mais uma vez, sua direção é impecável. Ele conduz a narrativa com uma habilidade impressionante, trabalhando todos os elementos técnicos e artísticos para criar uma dinâmica muito particular. Veja, Ritchie usa uma edição rápida e estilizada para manter um ritmo tão acelerado que fica impossível tirar os olhos da tela - ele (ao lado do seu montador e parceiro de "Magnatas do Crime", James Herbert) combinam perfeitamente as cenas de ação com momentos de humor e drama, com muito equilíbrio, criatividade e fluidez. A trilha sonora mais enérgica do Christopher Benstead e a fotografia vibrante do Alan Stewart, ambos de "Magnatas" também, contribuem para criar uma atmosfera das mais empolgantes em um cenário, olha, de cair o queixo.

O elenco também brilha! Ritchie é mestre em reunir um grupo de atores experientes e carismáticos, incluindo alguns de seus colaboradores frequentes, como Jason Statham, Mark Strong e Hugh Grant. A química entre eles é visível - reparem como todos, sem exceção, funcionam perfeitamente em pró da narrativa, entregando performances divertidas e convincentes, elevando ainda mais a qualidade do roteiro escrito pelo próprio diretor, pelo Ivan Atkinson e pelo Marn Davies (os dois acompanharam Ritchie em pelo menos quatro de seus filmes). Aqui, é impossível não destacar o trabalho exagerado (propositalmente) de Hugh Grant que funciona como um eficaz alívio cômico quase que permanente e a ironia cheia de sensualidade da ótima Aubrey Plaza.

Embora "Esquema de Risco - Operação Fortune" possa ser um filme extremamente divertido, ele pode não agradar aqueles que não são tão fãs do estilo de Ritchie - de fato, em algumas momentos, a narrativa pode parecer confusa, devido às reviravoltas e à estrutura fragmentada da história (além de se apoiar em alguns estereótipos e convenções do gênero de ação e do subgênero de "filmes de assalto"). No entanto, para quem estiver disposto a encarar essa experiência, como em "O Infiltrado", eu garanto: o filme é uma diversão no ponto certo, tão despretensioso quanto inteligente - daqueles que tanto faz falta no mundo das grandes franquias de hoje!

Vale muito o seu play!

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Estados Unidos vs Billie Holiday

"Estados Unidos vs Billie Holiday" é mais um soco no estômago que acompanha a tendência audiovisual de discutir o racismo estrutural que foi se construindo durante as gerações e que não perdoava nem as celebridades de sua época, no caso uma das maiores vozes do jazz americano. Inegavelmente que o filme funciona muito mais como uma apresentação biográfica bastante relevante na história do que como uma obra cinematográfica inesquecível, porém é de se elogiar alguns pontos importantes, entre eles o incrível trabalho de Andra Day como protagonista - que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2021 de Melhor Atriz.

No filme, Billie Holiday é investigada pela Agência Americana de Narcóticos no auge do seu sucesso. A entidade suspeitava que a cantora recebia drogas como retribuição por seu ativismo político. Voz do sucesso "Strange Fruit", cuja letra denunciava o linchamento que os negros sofriam na época e que incomodava a elite (criando a sensação da insegurança de que através da música surgisse uma revolução de cobrança aos direitos civis dos negros), Holiday sofreu uma intensa perseguição com o claro objetivo de impedir suas apresentações, sempre lotadas. No entanto, o responsável pelo caso, o agente Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes), acaba trocando de lado após se apaixonar pela cantora. Confira o trailer (em inglês):

Talvez o ponto que mais incomode quem assiste "Estados Unidos vs Billie Holiday" é seu ritmo. A dinâmica narrativa imposta pelo roteiro, de fato, não é das mais fluídas, nos causando uma ligeira sensação de cansaço, já que o eventos se tornam repetitivos. Por outro lado, existem duas jornadas de personagens, de Holiday e de Fletcher, que vão se transformando com o passar dos atos e que nos mantém ligados na história, torcendo para que tudo possa ser resolvido e ambos tenham paz. Me parece, mais uma vez, que o tempo de tela jogou contra - o filme do diretor Lee Daniels (indicado ao Oscar por "Preciosa") merecia um roteiro melhor, com um recorte mais cirúrgico da vida de Holiday para se encaixar melhor no formato, talvez como  aconteceu em Judy ou, melhor ainda, em "Uma noite em Miami..." e em "A Voz Suprema do Blues".

Se desconectar do impacto psicológico e político do Estado norte-americano sobre a cantora é praticamente impossível, algo muito próximo do que passou a atriz Seberg alguns anos mais tarde, porém é preciso que se diga que a proximidade ideológica do diretor traz um sentimentalismo um pouco exagerado para o filme, como se fosse necessário bater sempre na mesma tecla para alcançar a empatia de quem assiste. Definitivamente, Billie Holiday não precisava disso! Quando Daniels se propõe a explorar sua capacidade como cineasta, ele entrega um plano sequência belíssimo no final do segundo ato, com uma fotografia linda e uma construção cênica exuberante que nos causa um impacto bastante profundo ao ver aquela cruz queimando - o que prova que faltou mais equilíbrio, mais roteiro e mais sensibilidade.

"Estados Unidos vs Billie Holiday" é filme didático, importante culturalmente e denso! Vai agradar quem gosta de cinebiografias musicais - inclusive as cenas em que Andra Day está cantando e uma narrativa é construída em segundo plano para sobrepor as letras das músicas, são lindas! Vale como entretenimento para aqueles se identificam com o tema e com o gênero. O filme é uma mistura de "Small Axe"com a já citada, "Judy"!

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"Estados Unidos vs Billie Holiday" é mais um soco no estômago que acompanha a tendência audiovisual de discutir o racismo estrutural que foi se construindo durante as gerações e que não perdoava nem as celebridades de sua época, no caso uma das maiores vozes do jazz americano. Inegavelmente que o filme funciona muito mais como uma apresentação biográfica bastante relevante na história do que como uma obra cinematográfica inesquecível, porém é de se elogiar alguns pontos importantes, entre eles o incrível trabalho de Andra Day como protagonista - que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2021 de Melhor Atriz.

No filme, Billie Holiday é investigada pela Agência Americana de Narcóticos no auge do seu sucesso. A entidade suspeitava que a cantora recebia drogas como retribuição por seu ativismo político. Voz do sucesso "Strange Fruit", cuja letra denunciava o linchamento que os negros sofriam na época e que incomodava a elite (criando a sensação da insegurança de que através da música surgisse uma revolução de cobrança aos direitos civis dos negros), Holiday sofreu uma intensa perseguição com o claro objetivo de impedir suas apresentações, sempre lotadas. No entanto, o responsável pelo caso, o agente Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes), acaba trocando de lado após se apaixonar pela cantora. Confira o trailer (em inglês):

Talvez o ponto que mais incomode quem assiste "Estados Unidos vs Billie Holiday" é seu ritmo. A dinâmica narrativa imposta pelo roteiro, de fato, não é das mais fluídas, nos causando uma ligeira sensação de cansaço, já que o eventos se tornam repetitivos. Por outro lado, existem duas jornadas de personagens, de Holiday e de Fletcher, que vão se transformando com o passar dos atos e que nos mantém ligados na história, torcendo para que tudo possa ser resolvido e ambos tenham paz. Me parece, mais uma vez, que o tempo de tela jogou contra - o filme do diretor Lee Daniels (indicado ao Oscar por "Preciosa") merecia um roteiro melhor, com um recorte mais cirúrgico da vida de Holiday para se encaixar melhor no formato, talvez como  aconteceu em Judy ou, melhor ainda, em "Uma noite em Miami..." e em "A Voz Suprema do Blues".

Se desconectar do impacto psicológico e político do Estado norte-americano sobre a cantora é praticamente impossível, algo muito próximo do que passou a atriz Seberg alguns anos mais tarde, porém é preciso que se diga que a proximidade ideológica do diretor traz um sentimentalismo um pouco exagerado para o filme, como se fosse necessário bater sempre na mesma tecla para alcançar a empatia de quem assiste. Definitivamente, Billie Holiday não precisava disso! Quando Daniels se propõe a explorar sua capacidade como cineasta, ele entrega um plano sequência belíssimo no final do segundo ato, com uma fotografia linda e uma construção cênica exuberante que nos causa um impacto bastante profundo ao ver aquela cruz queimando - o que prova que faltou mais equilíbrio, mais roteiro e mais sensibilidade.

"Estados Unidos vs Billie Holiday" é filme didático, importante culturalmente e denso! Vai agradar quem gosta de cinebiografias musicais - inclusive as cenas em que Andra Day está cantando e uma narrativa é construída em segundo plano para sobrepor as letras das músicas, são lindas! Vale como entretenimento para aqueles se identificam com o tema e com o gênero. O filme é uma mistura de "Small Axe"com a já citada, "Judy"!

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Eu Sou: Celine Dion

Quando Céline Dion surgiu deslumbrante na Torre Eiffel para fechar a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024 e encantou a todos cantando o sucesso "L’Hymne à l’amour", certamente grande parte do público não imaginava o que esse fenômeno da música mundial estava passando em sua vida privada e te garanto, você vai se emocionar com o que "Eu Sou: Celine Dion" vai te mostrar! Dirigido por Irene Taylor (documentarista indicada ao Oscar por "The Final Inch"), o filme é um retrato profundamente emotivo e intimista que oferece uma visão crua e abrangente da vida e da carreira da cantora canadense após ela ter anunciado sofrer da rara síndrome da pessoa rígida (em inglês, Stiff Person Syndrome). Conhecida mundialmente por sua voz poderosa e sua presença cativante no palco, Dion é uma das artistas mais bem-sucedidas de todos os tempos e olha, justamente por essa aura de intocável, chega a ser surpreendente sua coragem por permitir que esse documentário tenha sido produzido. "Eu Sou: Celine Dion" não apenas pontua suas realizações profissionais ao longo dos anos, como também explora sem cortes a sua luta diária para recuperar aquilo que mais ama fazer na vida: cantar!

“Eu Sou: Celine Dion” nos fornece uma visão honesta dos bastidores da luta da icônica superestrela contra uma doença que transformou sua vida. Este documentário inspirador destaca como a música guiou a vida da artista, ao mesmo tempo que mostra a resiliência do espírito humano. Agora é preciso um alerta: o filme contém cenas impactantes de traumas ligados à saúde! Confira o trailer:

Irene Taylor é conhecida por sua habilidade em contar histórias humanas com profundidade e é isso que ela traz para o difícil, "Eu Sou: Celine Dion". Taylor é meticulosa e, de certa forma, fria, permitindo que a personalidade vibrante e a resiliência de Dion brilhem em cada frame com o mesmo impacto com que retrata a doença da cantora - algumas sequências, como a de Celine tendo uma convulsão após ensaiar em um estúdio, são de rasgar o coração. A diretora utiliza uma combinação eficaz de entrevistas, imagens de arquivo e gravações de performances ao vivo para pintar um retrato completo da artista, mas é com material captado no presente que o documentário ganha força dramática. O roteiro é cuidadosamente estruturado para equilibrar os altos e baixos da jornada de Dion, na carreira e na vida. Ele não se esquiva de abordar outros momentos difíceis, como a morte de seu marido, René Angélil, em 2016, ou os desafios de Dion em equilibrar sua vida pessoal com uma carreira que exigiu e exige muito dela.

Seguindo essa proposta de dar uma perspectiva rica e multifacetada sobre sua vida e carreira pós-diagnóstico, o documentário se aproveita de vários momentos de vulnerabilidade de Dion, mas tudo é tratado com uma honestidade que a humaniza de uma forma avassaladora ao ponto de ela mesma permitir que as imagens pós-convulsão fossem captadas. A fotografia de Nick Midwig (de "Marvel 616") é impressionante pela sua eficácia - ele captura tanto a grandiosidade das performances de Dion quanto a intimidade dolorosa dos dias atuais. A edição de Richard Comeau e de Christian Jensen merece um destaque especial: repare como as cenas dos shows são montadas com uma energia que transmite a magia das apresentações ao vivo, enquanto as entrevistas e cenas do cotidiano atual de Dion são capturadas com uma sensibilidade que nos permite ser um mero observador, e assim nos conectar profundamente com as dores da artista.

Naturalmente que "Eu Sou: Celine Dion"inclui muitos dos maiores sucessos da cantora - as músicas são utilizadas de maneira que intensificam a narrativa, ajudam a contar passagens de sua vida e, obviamente, sublinham os momentos de triunfo e de tristeza. Como vimos em "Gleason", esse documentário também traz muita dor, desconforto e até questionamentos - não se surpreenda se em muitos momentos você se perguntar "Como isso é tudo possível?". Pois bem, deixando a "Diva" de lado e apresentando uma Celine Dion de cara limpa, cabelos presos e uma larga camisa branca e moletom, o documentário é sim um retrato de alguém que precisava desabafar e que não estava mais disposta a manter as mesmas e evasivas justificativas para o seu sumiço, o "problema" é que o resultado dessa proposta íntima e sincera é realmente brutal!

Vale muito o seu play, mas esteja preparado!

Assista Agora

Quando Céline Dion surgiu deslumbrante na Torre Eiffel para fechar a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024 e encantou a todos cantando o sucesso "L’Hymne à l’amour", certamente grande parte do público não imaginava o que esse fenômeno da música mundial estava passando em sua vida privada e te garanto, você vai se emocionar com o que "Eu Sou: Celine Dion" vai te mostrar! Dirigido por Irene Taylor (documentarista indicada ao Oscar por "The Final Inch"), o filme é um retrato profundamente emotivo e intimista que oferece uma visão crua e abrangente da vida e da carreira da cantora canadense após ela ter anunciado sofrer da rara síndrome da pessoa rígida (em inglês, Stiff Person Syndrome). Conhecida mundialmente por sua voz poderosa e sua presença cativante no palco, Dion é uma das artistas mais bem-sucedidas de todos os tempos e olha, justamente por essa aura de intocável, chega a ser surpreendente sua coragem por permitir que esse documentário tenha sido produzido. "Eu Sou: Celine Dion" não apenas pontua suas realizações profissionais ao longo dos anos, como também explora sem cortes a sua luta diária para recuperar aquilo que mais ama fazer na vida: cantar!

“Eu Sou: Celine Dion” nos fornece uma visão honesta dos bastidores da luta da icônica superestrela contra uma doença que transformou sua vida. Este documentário inspirador destaca como a música guiou a vida da artista, ao mesmo tempo que mostra a resiliência do espírito humano. Agora é preciso um alerta: o filme contém cenas impactantes de traumas ligados à saúde! Confira o trailer:

Irene Taylor é conhecida por sua habilidade em contar histórias humanas com profundidade e é isso que ela traz para o difícil, "Eu Sou: Celine Dion". Taylor é meticulosa e, de certa forma, fria, permitindo que a personalidade vibrante e a resiliência de Dion brilhem em cada frame com o mesmo impacto com que retrata a doença da cantora - algumas sequências, como a de Celine tendo uma convulsão após ensaiar em um estúdio, são de rasgar o coração. A diretora utiliza uma combinação eficaz de entrevistas, imagens de arquivo e gravações de performances ao vivo para pintar um retrato completo da artista, mas é com material captado no presente que o documentário ganha força dramática. O roteiro é cuidadosamente estruturado para equilibrar os altos e baixos da jornada de Dion, na carreira e na vida. Ele não se esquiva de abordar outros momentos difíceis, como a morte de seu marido, René Angélil, em 2016, ou os desafios de Dion em equilibrar sua vida pessoal com uma carreira que exigiu e exige muito dela.

Seguindo essa proposta de dar uma perspectiva rica e multifacetada sobre sua vida e carreira pós-diagnóstico, o documentário se aproveita de vários momentos de vulnerabilidade de Dion, mas tudo é tratado com uma honestidade que a humaniza de uma forma avassaladora ao ponto de ela mesma permitir que as imagens pós-convulsão fossem captadas. A fotografia de Nick Midwig (de "Marvel 616") é impressionante pela sua eficácia - ele captura tanto a grandiosidade das performances de Dion quanto a intimidade dolorosa dos dias atuais. A edição de Richard Comeau e de Christian Jensen merece um destaque especial: repare como as cenas dos shows são montadas com uma energia que transmite a magia das apresentações ao vivo, enquanto as entrevistas e cenas do cotidiano atual de Dion são capturadas com uma sensibilidade que nos permite ser um mero observador, e assim nos conectar profundamente com as dores da artista.

Naturalmente que "Eu Sou: Celine Dion"inclui muitos dos maiores sucessos da cantora - as músicas são utilizadas de maneira que intensificam a narrativa, ajudam a contar passagens de sua vida e, obviamente, sublinham os momentos de triunfo e de tristeza. Como vimos em "Gleason", esse documentário também traz muita dor, desconforto e até questionamentos - não se surpreenda se em muitos momentos você se perguntar "Como isso é tudo possível?". Pois bem, deixando a "Diva" de lado e apresentando uma Celine Dion de cara limpa, cabelos presos e uma larga camisa branca e moletom, o documentário é sim um retrato de alguém que precisava desabafar e que não estava mais disposta a manter as mesmas e evasivas justificativas para o seu sumiço, o "problema" é que o resultado dessa proposta íntima e sincera é realmente brutal!

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Fallout

Olha, "Fallout" é uma série que não decepciona - especialmente para os fãs da aclamada franquia de jogos de videogame da Bethesda. Criada por Geneva Robertson-Dworet (de "Captain Marvel") e Graham Wagner (de "Silicon Valley"), sob a supervisão atenta de Lisa Joy e Jonathan Nolan (de "Westworld"), essa adaptação da Amazon Prime Video traz para as telas a exata atmosfera pós-apocalíptica e a rica narrativa dos jogos de forma magistral. A série consegue capturar a essência do universo "Fallout" com uma combinação impressionante de efeitos visuais excelentes, um enredo dos mais envolventes e personagens muito (mas, muito) bem desenvolvidos. Puxa, que experiência cativante e imersiva! Sensacional!

A trama se desenrola em um futuro devastado pela guerra nuclear, onde os sobreviventes emergem de abrigos subterrâneos chamados Vaults para reconstruir a sociedade em uma terra desolada e cheia de perigos. É nesse contexto que acompanhamos Lucy (Ella Purnell), uma jovem que acaba deixando sua casa para encontrar seu pai (Kyle MacLachlan) que foi sequestrado. Em sua missão, a protagonista acaba descobrindo um mundo pós-apocalíptico perigoso e cheio de monstros, onde conhece o soldado Maximus (Aaron Moten) e um caçador de recompensas morto-vivo conhecido como The Ghoul (Walton Goggins). Confira o trailer:

Com muita inteligência e um pouco de ousadia, Geneva Robertson-Dworet e Graham Wagner evitam adaptar diretamente um dos capítulo da franquia, preferindo assim uma certa liberdade para criar uma história que se passa no universo conhecido dos jogos, mas que não está diretamente conectada a nenhum deles - e funciona. O roteiro sabe do seu potencial como mitologia, com isso equilibra habilmente a ação intensa com o desenvolvimento de personagens dos mais interessantes (e até complexos na sua essência, eu diria). A narrativa escolhida pelo time criativo é estruturada de maneira a manter a audiência constantemente engajado, com reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão - talvez aqui esteja o grande segredo dessa primeira temporada: sua dinâmica bem resolvida.

A direção de arte de "Fallout"é excepcional - ela recria com precisão o visual retrofuturista característico da série de jogos. A atenção aos detalhes, desde os trajes desgastados até os icônicos Pip-Boys, contribui para uma imersão total no mundo devastado da série. Reparem como sua estética que mistura velho-oeste,art déco e um complexo militar-industrial saído diretamente das paranóias da Guerra Fria e do medo da aniquilação nuclear, se conectam com a cultura americana dos anos 50 em seu modernismo atompunk. A atenção aos detalhes vai dos figurinos, das armas, das maquiagens, até a trilha sonora com composições que variam do melancólico ao épico, realçando a atmosfera de desolação e (des)esperança da série. A música, juntamente com uma mixagem de som meticulosa, ajuda a nos transportar para aquele ambiente hostil e vibrante de uma forma bem parecida com o play de um video-game.

"Fallout" é uma adaptação impressionante que faz justiça ao legado dos jogos, oferecendo uma experiência visual e emocionalmente rica. A série é tecnicamente perfeita, ao mesmo tempo que mostra ter "alma". Ao trazer para a jornada de Lucy temas como sobrevivência, moralidade e a luta pelo poder em um mundo sem lei, a série meio que oferece uma reflexão sobre a natureza humana em situações extremas - sem perder de vista seu propósito: entreter com a maior qualidade possível! Sinceramente, "Fallout" é uma das melhores adaptações de games que já foi produzida até aqui - autêntica à essência do seu material de origem, engenhosa e satírica; e criativa ao abraçar uma linguagem narrativa que encontra o seu caminho perante uma temática singular em seu pós-apocalipse bastante bizarro. Bom demais!

Vale muito o seu play!

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Olha, "Fallout" é uma série que não decepciona - especialmente para os fãs da aclamada franquia de jogos de videogame da Bethesda. Criada por Geneva Robertson-Dworet (de "Captain Marvel") e Graham Wagner (de "Silicon Valley"), sob a supervisão atenta de Lisa Joy e Jonathan Nolan (de "Westworld"), essa adaptação da Amazon Prime Video traz para as telas a exata atmosfera pós-apocalíptica e a rica narrativa dos jogos de forma magistral. A série consegue capturar a essência do universo "Fallout" com uma combinação impressionante de efeitos visuais excelentes, um enredo dos mais envolventes e personagens muito (mas, muito) bem desenvolvidos. Puxa, que experiência cativante e imersiva! Sensacional!

A trama se desenrola em um futuro devastado pela guerra nuclear, onde os sobreviventes emergem de abrigos subterrâneos chamados Vaults para reconstruir a sociedade em uma terra desolada e cheia de perigos. É nesse contexto que acompanhamos Lucy (Ella Purnell), uma jovem que acaba deixando sua casa para encontrar seu pai (Kyle MacLachlan) que foi sequestrado. Em sua missão, a protagonista acaba descobrindo um mundo pós-apocalíptico perigoso e cheio de monstros, onde conhece o soldado Maximus (Aaron Moten) e um caçador de recompensas morto-vivo conhecido como The Ghoul (Walton Goggins). Confira o trailer:

Com muita inteligência e um pouco de ousadia, Geneva Robertson-Dworet e Graham Wagner evitam adaptar diretamente um dos capítulo da franquia, preferindo assim uma certa liberdade para criar uma história que se passa no universo conhecido dos jogos, mas que não está diretamente conectada a nenhum deles - e funciona. O roteiro sabe do seu potencial como mitologia, com isso equilibra habilmente a ação intensa com o desenvolvimento de personagens dos mais interessantes (e até complexos na sua essência, eu diria). A narrativa escolhida pelo time criativo é estruturada de maneira a manter a audiência constantemente engajado, com reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão - talvez aqui esteja o grande segredo dessa primeira temporada: sua dinâmica bem resolvida.

A direção de arte de "Fallout"é excepcional - ela recria com precisão o visual retrofuturista característico da série de jogos. A atenção aos detalhes, desde os trajes desgastados até os icônicos Pip-Boys, contribui para uma imersão total no mundo devastado da série. Reparem como sua estética que mistura velho-oeste,art déco e um complexo militar-industrial saído diretamente das paranóias da Guerra Fria e do medo da aniquilação nuclear, se conectam com a cultura americana dos anos 50 em seu modernismo atompunk. A atenção aos detalhes vai dos figurinos, das armas, das maquiagens, até a trilha sonora com composições que variam do melancólico ao épico, realçando a atmosfera de desolação e (des)esperança da série. A música, juntamente com uma mixagem de som meticulosa, ajuda a nos transportar para aquele ambiente hostil e vibrante de uma forma bem parecida com o play de um video-game.

"Fallout" é uma adaptação impressionante que faz justiça ao legado dos jogos, oferecendo uma experiência visual e emocionalmente rica. A série é tecnicamente perfeita, ao mesmo tempo que mostra ter "alma". Ao trazer para a jornada de Lucy temas como sobrevivência, moralidade e a luta pelo poder em um mundo sem lei, a série meio que oferece uma reflexão sobre a natureza humana em situações extremas - sem perder de vista seu propósito: entreter com a maior qualidade possível! Sinceramente, "Fallout" é uma das melhores adaptações de games que já foi produzida até aqui - autêntica à essência do seu material de origem, engenhosa e satírica; e criativa ao abraçar uma linguagem narrativa que encontra o seu caminho perante uma temática singular em seu pós-apocalipse bastante bizarro. Bom demais!

Vale muito o seu play!

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