Esse é o tipo do filme que você até suspeita o que vai acontecer e mesmo assim, quando acontece, você se emociona e tem aquela gostosa sensação do "coração quentinho". Mas "100 Metros" é um grande filme? Não na sua "forma", mas certamente em seu "conteúdo", sim! Essa produção espanhola dirigida pelo Marcel Barrena (de "Món Petit") conquistou corações ao redor do mundo com sua história tocante de inspiração e superação. Mesmo que a produção não seja um primor e que o roteiro muitas vezes encontre atalhos para provocar determinadas emoções, eu posso te garantir que se trata de um ótimo entretenimento que vale a pena ser assistido - essencialmente por sua história impressionante, bem na linha de "O Escafandro e a Borboleta" e "Intocáveis"!
Baseado em uma história real, "100 Metros" nos apresenta Ramón, um publicitário de 35 anos que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao ser diagnosticado com esclerose múltipla. Inconformado com sua condição, Ramón se propõe a terminar uma competição "Ironman", apesar de lhe terem dito que não conseguia fazer ao menos uma corrida de 100 metros. Confira o trailer (em espanhol):
Existe uma certa sensibilidade do roteiro, também escrito por Barrena, em acompanhar a jornada de Ramón sem apelar para o "coitadismo" - algo como vimos no documentário, esse sim mais impactante e igualmente imperdível, "Gleason". Veja, não se trata de uma narrativa focada numa condição repleta de desafios e obstáculos, isso está subentendido, o que importa mesmo é como o protagonista busca a aceitação do diagnostico e encontra um objetivo que o motiva a continuar vivendo. A forma como o enredo mergulha nas complexidades físicas e emocionais de Ramón é notável, proporcionando uma conexão genuína com quem assiste - e talvez aí, esteja o maior mérito do filme e a razão pela qual nem nos importamos com algumas inconsistências do roteiro. Reparem como a narrativa não se limita em destacar o sofrimento, mas também celebra os triunfos e a capacidade humana de enfrentar adversidades aparentemente insuperáveis e mesmo que soe "auto-ajuda", faz todo sentido na nossa percepção e, olha, nos faz refletir!
O elenco de "100 Metros" merece aplausos por suas performances. Dani Rovira, o Ramón, entrega uma atuação poderosa e cheia de nuances - ele nos faz rir e chorar com a mesma facilidade com que nos faz torcer por sua jornada. A química com seus companheiros de cena, Karra Elejalde (seu sogro, Manolo) e Alexandra Jiménez (sua esposa, Inma), é impressionante - a dinâmica familiar e de amizade entre eles, confere uma profundidade à história que certamente a coloca em outro patamar. As atuações são genuínas, elas amplificam a mensagem do filme, transmitindo a importância do apoio mútuo diante de problemas que facilmente nos derrubaria. A fotografia do Xavi Giménez (o mesmo de "Durante a Tormenta") é cativante, afinal o que dizer das belas locações de Calella e Barcelona, na Espanha. Já a trilha sonora (bastante premiada), essa é impecável - emotiva, ela trabalha em perfeita harmonia com o texto para intensificar nossas sensações, nos transportando diretamente para a experiência de estar ao lado de Ramón.
"100 Metros" naturalmente transcende suas próprias fronteiras com uma narrativa profundamente comovente e com performances das mais honestas - especialmente Jiménez. Esse é o tipo do filme que nos cativa desde o primeiro momento com sua mensagem de determinação e de superação que ressoa intensamente, nos convidando a refletir sobre nossas próprias vidas - uma jornada compartilhada de emoções e inspiração que continuará a ecoar muito além dos créditos finais, acreditem!
PS: a montagem que intercala cenas da ficção com os arquivos pessoais de Ramón é sensacional e muito, muito, forte!
Vale seu play!
Esse é o tipo do filme que você até suspeita o que vai acontecer e mesmo assim, quando acontece, você se emociona e tem aquela gostosa sensação do "coração quentinho". Mas "100 Metros" é um grande filme? Não na sua "forma", mas certamente em seu "conteúdo", sim! Essa produção espanhola dirigida pelo Marcel Barrena (de "Món Petit") conquistou corações ao redor do mundo com sua história tocante de inspiração e superação. Mesmo que a produção não seja um primor e que o roteiro muitas vezes encontre atalhos para provocar determinadas emoções, eu posso te garantir que se trata de um ótimo entretenimento que vale a pena ser assistido - essencialmente por sua história impressionante, bem na linha de "O Escafandro e a Borboleta" e "Intocáveis"!
Baseado em uma história real, "100 Metros" nos apresenta Ramón, um publicitário de 35 anos que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao ser diagnosticado com esclerose múltipla. Inconformado com sua condição, Ramón se propõe a terminar uma competição "Ironman", apesar de lhe terem dito que não conseguia fazer ao menos uma corrida de 100 metros. Confira o trailer (em espanhol):
Existe uma certa sensibilidade do roteiro, também escrito por Barrena, em acompanhar a jornada de Ramón sem apelar para o "coitadismo" - algo como vimos no documentário, esse sim mais impactante e igualmente imperdível, "Gleason". Veja, não se trata de uma narrativa focada numa condição repleta de desafios e obstáculos, isso está subentendido, o que importa mesmo é como o protagonista busca a aceitação do diagnostico e encontra um objetivo que o motiva a continuar vivendo. A forma como o enredo mergulha nas complexidades físicas e emocionais de Ramón é notável, proporcionando uma conexão genuína com quem assiste - e talvez aí, esteja o maior mérito do filme e a razão pela qual nem nos importamos com algumas inconsistências do roteiro. Reparem como a narrativa não se limita em destacar o sofrimento, mas também celebra os triunfos e a capacidade humana de enfrentar adversidades aparentemente insuperáveis e mesmo que soe "auto-ajuda", faz todo sentido na nossa percepção e, olha, nos faz refletir!
O elenco de "100 Metros" merece aplausos por suas performances. Dani Rovira, o Ramón, entrega uma atuação poderosa e cheia de nuances - ele nos faz rir e chorar com a mesma facilidade com que nos faz torcer por sua jornada. A química com seus companheiros de cena, Karra Elejalde (seu sogro, Manolo) e Alexandra Jiménez (sua esposa, Inma), é impressionante - a dinâmica familiar e de amizade entre eles, confere uma profundidade à história que certamente a coloca em outro patamar. As atuações são genuínas, elas amplificam a mensagem do filme, transmitindo a importância do apoio mútuo diante de problemas que facilmente nos derrubaria. A fotografia do Xavi Giménez (o mesmo de "Durante a Tormenta") é cativante, afinal o que dizer das belas locações de Calella e Barcelona, na Espanha. Já a trilha sonora (bastante premiada), essa é impecável - emotiva, ela trabalha em perfeita harmonia com o texto para intensificar nossas sensações, nos transportando diretamente para a experiência de estar ao lado de Ramón.
"100 Metros" naturalmente transcende suas próprias fronteiras com uma narrativa profundamente comovente e com performances das mais honestas - especialmente Jiménez. Esse é o tipo do filme que nos cativa desde o primeiro momento com sua mensagem de determinação e de superação que ressoa intensamente, nos convidando a refletir sobre nossas próprias vidas - uma jornada compartilhada de emoções e inspiração que continuará a ecoar muito além dos créditos finais, acreditem!
PS: a montagem que intercala cenas da ficção com os arquivos pessoais de Ramón é sensacional e muito, muito, forte!
Vale seu play!
"127 horas" é a uma espécie de "versão moderninha" (o que não é demérito algum) do excelente "Into the Wild", dirigido pelo do Sean Penn. Aqui, o também competente Danny Boyle (de "Steve Jobs") nos leva para uma jornada intensa e inspiradora de uma forma muito sensorial - reparem como ele nos provoca a cada dificuldade do protagonista, tornando praticamente impossível assistir todo o filme sem ter que pausar para, acreditem, tomar um copo de água (você vai entender ao assistir). Mesmo pautado na angústia do protagonista, "127 Horas" não é apenas um filme sobre sobrevivência, mas sim uma história que discute a força do espírito humano, eu diria até que é uma história de autodescoberta, de coragem e de superação, que merecia ser contada.
Baseado na história real de como alpinista Aron Ralston lutou para salvar a própria vida após um acidente. Em maio de 2003, Aron (James Franco) fazia mais uma escalada nas montanhas de Utah, Estados Unidos, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. Sua luta pela sobrevivência durante mais de cinco dias (sua agonia durou 127 horas) foi marcada por memórias e momentos de muita tensão e reflexão. Confira o trailer:
O roteiro, escrito pelo próprio Boyle ao lado de Simon Beaufoy, é excepcional, pois ele é capaz de capturar toda a essência da história de Ralston. A narrativa nos transporta para o deserto inóspito de Utah, onde somos imersos na angústia e no desespero de um homem que precisa lutar por sua sobrevivência. A habilidade do diretor em criar tensão é impressionante - sua escolha por uma narrativa visualmente impactante, usando vários formatos para captar as imagens dentro do Canyon, é tão arrojada quanto eficaz. Os planos que detalham aquela paisagem áridas através de uma fotografia vibrante do Anthony Dod Mantle (de "Quem quer ser um Milionário?") e do Enrique Chediak (de "Buena Vista Social Club") criam uma atmosfera visceral que nos transporta para o coração da história - reparem como os flashbacks e alucinações nos ajuda a mergulhar ainda mais na mente de Ralston.
A performance de James Franco é simplesmente extraordinária (tanto que lhe rendeu uma indicação ao Oscar por esse personagem). Ele personifica com maestria a jornada emocional de Aron Ralston, passando por uma ampla gama de emoções, desde a alegria inicial do aventureiro sem responsabilidades até o desespero e a dor intensa após o acidente. Franco consegue transmitir toda essa vulnerabilidade ao mesmo tempo uma determinação impressionante - ele é tão convincente que fica impossível não se conectar com sua luta. Outro aspecto marcante do filme é sem dúvida a trilha sonora composta por A.R. Rahman - ela desempenha um papel fundamental para intensificar as emoções e criar um profundo mood de suspense.
"127 Horas" nos desafia a refletir sobre nossas próprias limitações e sobre o valor de cada momento de nossa vida. Com uma atuação brilhante de Franco, que praticamente carrega o filme sozinho por mais de 90 minutos, uma direção das mais competentes (e inovadoras) de Danny Boyle e uma trama densa e envolvente, fica fácil atestar o impacto que o filme tem como experiência cinematográfica. Então prepare-se, pois essa história real de coragem e sobrevivência ficará gravada na sua memória por muito tempo.
Vale seu play!
Up-date: "127 horas" foi indicado em 6 categorias no Oscar 2011, inclusive como "Melhor Filme".
"127 horas" é a uma espécie de "versão moderninha" (o que não é demérito algum) do excelente "Into the Wild", dirigido pelo do Sean Penn. Aqui, o também competente Danny Boyle (de "Steve Jobs") nos leva para uma jornada intensa e inspiradora de uma forma muito sensorial - reparem como ele nos provoca a cada dificuldade do protagonista, tornando praticamente impossível assistir todo o filme sem ter que pausar para, acreditem, tomar um copo de água (você vai entender ao assistir). Mesmo pautado na angústia do protagonista, "127 Horas" não é apenas um filme sobre sobrevivência, mas sim uma história que discute a força do espírito humano, eu diria até que é uma história de autodescoberta, de coragem e de superação, que merecia ser contada.
Baseado na história real de como alpinista Aron Ralston lutou para salvar a própria vida após um acidente. Em maio de 2003, Aron (James Franco) fazia mais uma escalada nas montanhas de Utah, Estados Unidos, quando acabou ficando com seu braço preso em uma fenda. Sua luta pela sobrevivência durante mais de cinco dias (sua agonia durou 127 horas) foi marcada por memórias e momentos de muita tensão e reflexão. Confira o trailer:
O roteiro, escrito pelo próprio Boyle ao lado de Simon Beaufoy, é excepcional, pois ele é capaz de capturar toda a essência da história de Ralston. A narrativa nos transporta para o deserto inóspito de Utah, onde somos imersos na angústia e no desespero de um homem que precisa lutar por sua sobrevivência. A habilidade do diretor em criar tensão é impressionante - sua escolha por uma narrativa visualmente impactante, usando vários formatos para captar as imagens dentro do Canyon, é tão arrojada quanto eficaz. Os planos que detalham aquela paisagem áridas através de uma fotografia vibrante do Anthony Dod Mantle (de "Quem quer ser um Milionário?") e do Enrique Chediak (de "Buena Vista Social Club") criam uma atmosfera visceral que nos transporta para o coração da história - reparem como os flashbacks e alucinações nos ajuda a mergulhar ainda mais na mente de Ralston.
A performance de James Franco é simplesmente extraordinária (tanto que lhe rendeu uma indicação ao Oscar por esse personagem). Ele personifica com maestria a jornada emocional de Aron Ralston, passando por uma ampla gama de emoções, desde a alegria inicial do aventureiro sem responsabilidades até o desespero e a dor intensa após o acidente. Franco consegue transmitir toda essa vulnerabilidade ao mesmo tempo uma determinação impressionante - ele é tão convincente que fica impossível não se conectar com sua luta. Outro aspecto marcante do filme é sem dúvida a trilha sonora composta por A.R. Rahman - ela desempenha um papel fundamental para intensificar as emoções e criar um profundo mood de suspense.
"127 Horas" nos desafia a refletir sobre nossas próprias limitações e sobre o valor de cada momento de nossa vida. Com uma atuação brilhante de Franco, que praticamente carrega o filme sozinho por mais de 90 minutos, uma direção das mais competentes (e inovadoras) de Danny Boyle e uma trama densa e envolvente, fica fácil atestar o impacto que o filme tem como experiência cinematográfica. Então prepare-se, pois essa história real de coragem e sobrevivência ficará gravada na sua memória por muito tempo.
Vale seu play!
Up-date: "127 horas" foi indicado em 6 categorias no Oscar 2011, inclusive como "Melhor Filme".
"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!
A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:
Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?
"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa!
É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!
"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!
A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:
Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?
"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa!
É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!
"A Jornada" é um filme muito bacana, que fala sobre o empoderamento feminino, mas com muita sensibilidade e inteligência. O interessante, inclusive, é perceber como algumas difíceis escolhas que a mulher precisa fazer durante sua vida se transformam em um processo de auto-aceitação ao mesmo tempo em que ela mesmo precisa lidar com uma sociedade notavelmente machista. O filme se aproveita do dia a dia de muito esforço e superação da astronauta francesa Sarah (Eva Green), uma mãe solteira que se prepara para uma missão espacial. Ela luta para equilibrar o tempo e a atenção que sua filha pequena precisa com o intenso e rigoroso treinamento de uma missão espacial. Confira o trailer:
Talvez a frase do seu colega de missão Mike Shannon (Matt Dillon), defina muito bem o que "A Jornada" nos propõe: “Não existe um astronauta perfeito. Assim como não existe uma mãe perfeita” - e certamente, isso vai tocar algumas mulheres mais do que aos homens, mas a sua profundidade merece uma reflexão sincera para ambos os gêneros. Vale a pena, mesmo não sendo um filme inesquecível, ele pode mexer com você!
"Proxima" (título original), foi exibido nos Festivais de Toronto e San Sebastian em 2019, recebendo ótimas críticas e várias recomendações. Eu diria que o filme soube relatar muito bem os sentimentos mais íntimos de uma astronauta mulher pouco antes de partir para uma missão internacional no espaço. A cineasta Alice Winocour (de “Augustine” e “Transtorno”) imprime um tom aspiracional no filme, mas sem esquecer da humanidade da personagem - o antagonismo emocional entre a realização profissional e a responsabilidade como mãe é muito bem trabalhado em vários momentos críticos do roteiro. O trabalho da Eva Green (de "007: Cassino Royale") merece ser mencionado - ela é de uma verdade no olhar, no silêncio, no que não é dito, mas é sentido; impressionante! O próprio Matt Dillon surpreende, embora ainda que um pouco canastrão (e aí não sei se é uma birra que eu tenho), entregando um personagem bastante interessante e, de certa forma, até complexo - mas é uma pena que o roteiro não soube aproveitar mais o potencial do personagem. Faltou desenvolvimento.
A fotografia do diretor Georges Lechaptois é bem interessante e lembra muito a forma como o vencedor do Emmy Jakob Ihre retratou "Chernobyl". A diretora Alice Winocour destaca um elemento que vimos em "Interestelar" do Nolan, mas de uma forma diferente - reparem nas suas palavras: “Para mim, o cerne deste filme está em recontar as emoções, capturar a vida e a intensidade vital dos personagens. À medida que o lançamento se aproxima, esse impulso de viver deve se tornar ainda mais urgente, ardente e consumir a todos. Toda cena foi filmada para evocar velocidade, uma sensação de energia bruta”!
De fato "A Jornada" tem esse poder, mas de uma forma muito mais introspectiva do que ativa. A ação praticamente não existe, mas o drama familiar e a discussão sobre os limites das nossas escolhas ou os reflexos delas na vida de quem amamos, isso sim está lá. Não se trata de um filme dinâmico, mas sua pontuação nos permite empatizar pela personagem e por seus dramas. "A Jornada" é um presente de Winocour para Eva Green da mesma forma que Greta Gerwig fez com Saoirse Ronan em "Lady Bird".
"A Jornada" é um filme muito bacana, que fala sobre o empoderamento feminino, mas com muita sensibilidade e inteligência. O interessante, inclusive, é perceber como algumas difíceis escolhas que a mulher precisa fazer durante sua vida se transformam em um processo de auto-aceitação ao mesmo tempo em que ela mesmo precisa lidar com uma sociedade notavelmente machista. O filme se aproveita do dia a dia de muito esforço e superação da astronauta francesa Sarah (Eva Green), uma mãe solteira que se prepara para uma missão espacial. Ela luta para equilibrar o tempo e a atenção que sua filha pequena precisa com o intenso e rigoroso treinamento de uma missão espacial. Confira o trailer:
Talvez a frase do seu colega de missão Mike Shannon (Matt Dillon), defina muito bem o que "A Jornada" nos propõe: “Não existe um astronauta perfeito. Assim como não existe uma mãe perfeita” - e certamente, isso vai tocar algumas mulheres mais do que aos homens, mas a sua profundidade merece uma reflexão sincera para ambos os gêneros. Vale a pena, mesmo não sendo um filme inesquecível, ele pode mexer com você!
"Proxima" (título original), foi exibido nos Festivais de Toronto e San Sebastian em 2019, recebendo ótimas críticas e várias recomendações. Eu diria que o filme soube relatar muito bem os sentimentos mais íntimos de uma astronauta mulher pouco antes de partir para uma missão internacional no espaço. A cineasta Alice Winocour (de “Augustine” e “Transtorno”) imprime um tom aspiracional no filme, mas sem esquecer da humanidade da personagem - o antagonismo emocional entre a realização profissional e a responsabilidade como mãe é muito bem trabalhado em vários momentos críticos do roteiro. O trabalho da Eva Green (de "007: Cassino Royale") merece ser mencionado - ela é de uma verdade no olhar, no silêncio, no que não é dito, mas é sentido; impressionante! O próprio Matt Dillon surpreende, embora ainda que um pouco canastrão (e aí não sei se é uma birra que eu tenho), entregando um personagem bastante interessante e, de certa forma, até complexo - mas é uma pena que o roteiro não soube aproveitar mais o potencial do personagem. Faltou desenvolvimento.
A fotografia do diretor Georges Lechaptois é bem interessante e lembra muito a forma como o vencedor do Emmy Jakob Ihre retratou "Chernobyl". A diretora Alice Winocour destaca um elemento que vimos em "Interestelar" do Nolan, mas de uma forma diferente - reparem nas suas palavras: “Para mim, o cerne deste filme está em recontar as emoções, capturar a vida e a intensidade vital dos personagens. À medida que o lançamento se aproxima, esse impulso de viver deve se tornar ainda mais urgente, ardente e consumir a todos. Toda cena foi filmada para evocar velocidade, uma sensação de energia bruta”!
De fato "A Jornada" tem esse poder, mas de uma forma muito mais introspectiva do que ativa. A ação praticamente não existe, mas o drama familiar e a discussão sobre os limites das nossas escolhas ou os reflexos delas na vida de quem amamos, isso sim está lá. Não se trata de um filme dinâmico, mas sua pontuação nos permite empatizar pela personagem e por seus dramas. "A Jornada" é um presente de Winocour para Eva Green da mesma forma que Greta Gerwig fez com Saoirse Ronan em "Lady Bird".
Esse filme poderia, tranquilamente, ser um excelente episódio de "Modern Love". Sim, "A Maratona de Brittany" é apaixonante pela atmosfera, por sua personagem, pelas discussões que o roteiro levanta e, principalmente, pela forma sensível com que o diretor estreante Paul Downs Colaizzo brinca (no melhor dos sentidos) com nossas emoções. Mesmo que inicialmente o filme pareça mais uma daquelas comédias românticas onde a jornada de autodescoberta e superação dita a narrativa, o que encontramos mesmo é uma história sensível e profunda na sua proposta de retratar uma realidade de fácil identificação que a eleva para um outro patamar, ressignificando o que seria perigosamente definido como piegas em algo realmente cativante, inspirador e olha, até emocionante.
Aqui acompanhamos a história de Brittany Forgler (Jillian Bell), uma mulher de 27 anos, sem grana e bem acima do peso, que, após uma chamada de seu médico, decide mudar radicalmente sua vida. Ela começa uma verdadeira cruzada para melhorar seu corpo e seus hábitos, treinando para a Maratona de Nova York, que a levará a desafiar não apenas suas limitações físicas, mas também suas inseguranças e problemas de autoestima. Com o apoio de sua vizinha Catherine (Michaela Watkins) e do amigo gay Seth (Micah Stock), Brittany embarca em uma jornada de autodescoberta que a levará a lugares totalmente inesperados. Confira o trailer (em inglês):
Colaizzo acompanhou os desafios de sua amiga na vida real, Brittany O’Neill, para melhorar sua saúde e assim conseguir alcançar seu objetivo de terminar os 42 km da maratona de Nova York. Foi inspirado por ela, que ele convenceu a atriz Jillian Bell para protagonizar o filme que conta justamente essa história - uma história que poderia ser minha, sua ou de algum conhecido e é isso que nos prende nessa produção original da Amazon que chegou a ser indicado como "Melhor Filme" no Festival Internacional de Cinema de São Paulo e em Sundance em 2019 - aliás, pelo voto do público, o filme levou o prêmio nesse festival.
A escolha do elenco é realmente impecável. Jillian Bell entrega uma performance cativante e genuína - digna de uma indicação ao Oscar. Repare como ela se analisa, sem muitas falas, mais no olhar, na respiração, no silêncio. Ela, de fato, consegue nos levar em uma montanha-russa de sentimentos, fazendo com que a identificação se torne um gatilho poderoso que nos envolve em suas lutas, dores, fracassos e triunfos. "A Maratona de Brittany" também se destaca por uma trilha sonora (mais uma vez referenciada pelas comédias de relação mais moderninhas) que acentua nossas emoções se alinhando ao enredo de forma magistral. A fotografia do Seamus Tierney (de "Emily em Paris") retrata a solidão que contrasta com a agitação da cidade de Nova York, criando assim um ambiente que reflete exatamente as transformações de Brittany de uma maneira tão bela quanto simbólica.
É notável como "Brittany Runs a Marathon" (no original) usa de uma linguagem simples e acessível para abordar questões de autenticidade e autoaceitação. A narrativa não apenas toca no tema da perda de peso sem cair na armadilha da "gordofobia", como também examina a necessidade de se encontrar o amor próprio, independente das expectativas da sociedade - a relação com a "amiga" Gretchen (Alice Lee), mesmo que em algumas passagens soe estereotipada, não perdoa na honestidade de um texto nada maniqueísta. Então, se essa pode ou não ser uma mensagem inspiradora que equilibra elementos como disciplina, humildade e determinação, só o tempo dirá, mas tenha certeza que, no mínimo, você está diante de um ótimo entretenimento!
Vale seu play!
Esse filme poderia, tranquilamente, ser um excelente episódio de "Modern Love". Sim, "A Maratona de Brittany" é apaixonante pela atmosfera, por sua personagem, pelas discussões que o roteiro levanta e, principalmente, pela forma sensível com que o diretor estreante Paul Downs Colaizzo brinca (no melhor dos sentidos) com nossas emoções. Mesmo que inicialmente o filme pareça mais uma daquelas comédias românticas onde a jornada de autodescoberta e superação dita a narrativa, o que encontramos mesmo é uma história sensível e profunda na sua proposta de retratar uma realidade de fácil identificação que a eleva para um outro patamar, ressignificando o que seria perigosamente definido como piegas em algo realmente cativante, inspirador e olha, até emocionante.
Aqui acompanhamos a história de Brittany Forgler (Jillian Bell), uma mulher de 27 anos, sem grana e bem acima do peso, que, após uma chamada de seu médico, decide mudar radicalmente sua vida. Ela começa uma verdadeira cruzada para melhorar seu corpo e seus hábitos, treinando para a Maratona de Nova York, que a levará a desafiar não apenas suas limitações físicas, mas também suas inseguranças e problemas de autoestima. Com o apoio de sua vizinha Catherine (Michaela Watkins) e do amigo gay Seth (Micah Stock), Brittany embarca em uma jornada de autodescoberta que a levará a lugares totalmente inesperados. Confira o trailer (em inglês):
Colaizzo acompanhou os desafios de sua amiga na vida real, Brittany O’Neill, para melhorar sua saúde e assim conseguir alcançar seu objetivo de terminar os 42 km da maratona de Nova York. Foi inspirado por ela, que ele convenceu a atriz Jillian Bell para protagonizar o filme que conta justamente essa história - uma história que poderia ser minha, sua ou de algum conhecido e é isso que nos prende nessa produção original da Amazon que chegou a ser indicado como "Melhor Filme" no Festival Internacional de Cinema de São Paulo e em Sundance em 2019 - aliás, pelo voto do público, o filme levou o prêmio nesse festival.
A escolha do elenco é realmente impecável. Jillian Bell entrega uma performance cativante e genuína - digna de uma indicação ao Oscar. Repare como ela se analisa, sem muitas falas, mais no olhar, na respiração, no silêncio. Ela, de fato, consegue nos levar em uma montanha-russa de sentimentos, fazendo com que a identificação se torne um gatilho poderoso que nos envolve em suas lutas, dores, fracassos e triunfos. "A Maratona de Brittany" também se destaca por uma trilha sonora (mais uma vez referenciada pelas comédias de relação mais moderninhas) que acentua nossas emoções se alinhando ao enredo de forma magistral. A fotografia do Seamus Tierney (de "Emily em Paris") retrata a solidão que contrasta com a agitação da cidade de Nova York, criando assim um ambiente que reflete exatamente as transformações de Brittany de uma maneira tão bela quanto simbólica.
É notável como "Brittany Runs a Marathon" (no original) usa de uma linguagem simples e acessível para abordar questões de autenticidade e autoaceitação. A narrativa não apenas toca no tema da perda de peso sem cair na armadilha da "gordofobia", como também examina a necessidade de se encontrar o amor próprio, independente das expectativas da sociedade - a relação com a "amiga" Gretchen (Alice Lee), mesmo que em algumas passagens soe estereotipada, não perdoa na honestidade de um texto nada maniqueísta. Então, se essa pode ou não ser uma mensagem inspiradora que equilibra elementos como disciplina, humildade e determinação, só o tempo dirá, mas tenha certeza que, no mínimo, você está diante de um ótimo entretenimento!
Vale seu play!
Muito provavelmente, se você gostou de "127 Horas" ou de "Vidas à Deriva" você vai gostar de "A Queda", até porquê o filme é meio que uma mistura dessas duas produções - a grande diferença no entanto, e é impossível não pontuar que ela impacta diretamente na sua experiência, é que aqui não estamos diante de uma história real e por isso vai exigir um enorme (mas enorme mesmo) exercício de suspensão da realidade. Por outro lado, o conceito narrativo vai além daquela receita de te deixar "apenas" angustiado, ele vai te dar alguns (bons) sustos - mérito do ótimo trabalho na direção do talentoso Scott Mann (de "Refém do Jogo").
A alpinista Becky (Grace Caroline Currey), emocionalmente abalada após um incidente que a marcou sua vida, decide enfrentar seus fantasmas quando sua amiga, outra alpinista experiente e influenciadora digital, Hunter (Virginia Gardner), a convence de embarcar em um desafio de alto risco - chegar ao topo de uma torre de TV abandonada. Quando a escalada não sai como planejado, as duas precisam reunir coragem e força para elaborar um plano de sobrevivência a 600 metros de altura. Confira o trailer:
Com um pouco mais de 1h30 de duração, "A Queda" tem forças e fraquezas muito bem definidas - ao se dividir em praticamente dois grandes blocos: a escalada e o isolamento, o filme precisa desenvolver conflitos para nos manter conectados ao drama das personagens. Veja, no primeiro momento, Mann é muito inteligente ao estabelecer que a jornada "vai dar m..." - usando diferentes ângulos e cortes, o diretor aposta na montagem cirúrgica do Robert Hall (que traz no currículo o selo de "King's Man: A Origem") para impactar a audiência de uma forma muito natural, alternando planos abertos para mostrar como Becky e Hunter estão entrando em uma fria (ridiculamente alta), enquanto nos planos-detalhes ele dá a exata noção do quão perigoso e abandonado é o lugar em que elas estão arriscando suas vidas - a tensão começa aí, mas não para.
Já no segundo momento, é a angustia que ganha força e o poder dramático da história praticamente se reveza entre os elementos do suspense de sobrevivência e a ação na busca por uma solução para o problema. O interessante é que a construção da tensão que começou um pouco antes não se dissipa, ao contrário, ela alcança o seu ápice quando as protagonistas se dão conta do tamanho da furada em que se meteram - reparem como, sozinhas, a relação com o cenário (praticamente o deserto árido e a imensidão azul do céu) se transforma em um inimigo cruel para as duas. É nessa condição extrema de isolamento que o roteiro derrapa ao trocar o drama profundo (bem explorado em "127 Horas") pela superficialidade juvenil de uma traição completamente expositiva - "se" o tema ficasse restrito a dúvida ou a desconfiança de Becky, pode ter certeza que o filme ganharia uma camada muito mais dramática do que aquela mera discussão sobre "quem tomou a iniciativa?"!
"A Queda" é um filme vertiginoso - onde a composição feita em CG justifica os elogios que o filme vem recebendo - pessoalmente, eu só encontrei uma cena mal feita nesse quesito (e muito rápida aliás). Essa atmosfera sem dúvida alguma afeta diretamente o nosso senso de sobrevivência, nossa relação entre o risco de morrer e a urgência para sobreviver. Dito isso te garanto: o filme é um ótimo entretenimento, não tão profundo quanto poderia, mas com cenas bem construídas e surpresas narrativas que, se não tão originais, pelo menos muito bem encaixadas dentro de um contexto muito bem desenvolvido!
Vale seu play!
Muito provavelmente, se você gostou de "127 Horas" ou de "Vidas à Deriva" você vai gostar de "A Queda", até porquê o filme é meio que uma mistura dessas duas produções - a grande diferença no entanto, e é impossível não pontuar que ela impacta diretamente na sua experiência, é que aqui não estamos diante de uma história real e por isso vai exigir um enorme (mas enorme mesmo) exercício de suspensão da realidade. Por outro lado, o conceito narrativo vai além daquela receita de te deixar "apenas" angustiado, ele vai te dar alguns (bons) sustos - mérito do ótimo trabalho na direção do talentoso Scott Mann (de "Refém do Jogo").
A alpinista Becky (Grace Caroline Currey), emocionalmente abalada após um incidente que a marcou sua vida, decide enfrentar seus fantasmas quando sua amiga, outra alpinista experiente e influenciadora digital, Hunter (Virginia Gardner), a convence de embarcar em um desafio de alto risco - chegar ao topo de uma torre de TV abandonada. Quando a escalada não sai como planejado, as duas precisam reunir coragem e força para elaborar um plano de sobrevivência a 600 metros de altura. Confira o trailer:
Com um pouco mais de 1h30 de duração, "A Queda" tem forças e fraquezas muito bem definidas - ao se dividir em praticamente dois grandes blocos: a escalada e o isolamento, o filme precisa desenvolver conflitos para nos manter conectados ao drama das personagens. Veja, no primeiro momento, Mann é muito inteligente ao estabelecer que a jornada "vai dar m..." - usando diferentes ângulos e cortes, o diretor aposta na montagem cirúrgica do Robert Hall (que traz no currículo o selo de "King's Man: A Origem") para impactar a audiência de uma forma muito natural, alternando planos abertos para mostrar como Becky e Hunter estão entrando em uma fria (ridiculamente alta), enquanto nos planos-detalhes ele dá a exata noção do quão perigoso e abandonado é o lugar em que elas estão arriscando suas vidas - a tensão começa aí, mas não para.
Já no segundo momento, é a angustia que ganha força e o poder dramático da história praticamente se reveza entre os elementos do suspense de sobrevivência e a ação na busca por uma solução para o problema. O interessante é que a construção da tensão que começou um pouco antes não se dissipa, ao contrário, ela alcança o seu ápice quando as protagonistas se dão conta do tamanho da furada em que se meteram - reparem como, sozinhas, a relação com o cenário (praticamente o deserto árido e a imensidão azul do céu) se transforma em um inimigo cruel para as duas. É nessa condição extrema de isolamento que o roteiro derrapa ao trocar o drama profundo (bem explorado em "127 Horas") pela superficialidade juvenil de uma traição completamente expositiva - "se" o tema ficasse restrito a dúvida ou a desconfiança de Becky, pode ter certeza que o filme ganharia uma camada muito mais dramática do que aquela mera discussão sobre "quem tomou a iniciativa?"!
"A Queda" é um filme vertiginoso - onde a composição feita em CG justifica os elogios que o filme vem recebendo - pessoalmente, eu só encontrei uma cena mal feita nesse quesito (e muito rápida aliás). Essa atmosfera sem dúvida alguma afeta diretamente o nosso senso de sobrevivência, nossa relação entre o risco de morrer e a urgência para sobreviver. Dito isso te garanto: o filme é um ótimo entretenimento, não tão profundo quanto poderia, mas com cenas bem construídas e surpresas narrativas que, se não tão originais, pelo menos muito bem encaixadas dentro de um contexto muito bem desenvolvido!
Vale seu play!
Simplesmente sensacional!
O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível") é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!
Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:
Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.
Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.
Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!
Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!
Simplesmente sensacional!
O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível") é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!
Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:
Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.
Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.
Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!
Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!
Assistam esse filme! Não existe outra maneira de começar esse review sem exaltar a jornada do QB do St. Louis Rams, Kurt Warner. Sim, é um filme de superação como muitos que já assistimos, cheio de clichês, dificuldades, dor, dúvidas e redenção, porém com um elemento narrativo que subverte toda expectativa de sucesso de um personagem: essa é uma história impossível de acontecer... mas aconteceu, de verdade!
Kurt Warner (Zachary Levi) sempre amou futebol americano e começou uma carreira ainda no ensino médio em Iowa, um centro sem muita exposição nacional para o esporte. No entanto, enquanto buscava o seu grande sonho, ele passou por diversas dificuldades financeiras, chegando a trabalhar como repositor em um supermercado assim que saiu da faculdade. Após levar seu time até a final de uma modalidade que muitos chamavam de "circo", o Arena Football League, Warner tem a chance de estrear, com 28 anos, como quarterback da NFL. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que a história de Warner precisou de uma certa adaptação até chegar às telas - talvez uma minissérie se encaixasse melhor para explorar alguns pontos interessantes da jornada do jogador antes de alcançar seu sucesso, mas que acabaram ficarando de fora do filme, como por exemplo quando ele foi despachado para a NFL Europa assim que fechou contrato com o St. Louis Rams. Importante dizer que essas escolhas narrativas do roteiro não impactam em absolutamente nada na experiência de acompanhar essa cinebiografia.
Baseado no livro "All Things Possible" de Michael Silver e escrito pelos irmãos Erwin ("Talento e Fé") ao lado de David Aaron Cohen (da série "Friday Night Lights"), "American Underdog" equilibra perfeitamente os desafios pessoais de Warner com sua obsessão pelo esporte. Mais do que um filme sobre Futebol Americano, o que temos aqui é um ótimo drama sobre relações humanas em diversos momentos de vida - e talvez seja isso que nos impacte tanto. Construir uma carreira planejando cada um dos passos sem se desviar do objetivo pode até soar romântico, mas na prática a história é outra - a própria Sheryl Sandberg, COO do Facebook e braço direito de Mark Zuckerberg comenta em seu livro "Faça Acontecer" que é preciso fazer alguns desvios em busca de experiências (e aprimoramentos) até chegar ao objetivo final, de fato, preparado. É incrível como o roteiro capta esse principio e insere em um contexto sem abusar do didatismo, mas que acabam enriquecendo as camadas do personagem e, claro, nos faz cada vez mais torcer por ele.
O maior mérito de "American Underdog" não está nas cenas coreografadas no campo de jogo ou nas imagens de arquivo que brilhantemente são encaixadas entre um plano e outro para trazer o máximo de veracidade para a história. Não, o mérito está na construção do personagem e na exposição de uma atmosfera muito mais próxima do nosso dia a dia do que de um conto de fadas com final feliz. Claro que o abraço exagerado e desconfortável no técnico Dick Vermeil (Dennis Quaid) assim que recebe a noticia que terá uma chance na NFL é tão clichê quanto as cobranças grosseiras do coordenador ofensivo do time que tinham como propósito preparar o atleta para o momento-chave de sua carreira, mas tudo isso funciona - afinal, é um filme sobre o esporte e suas lições de resiliência!
Sendo assim, se você assistiu e gostou de "Rudy", "Safety", "No Limite" ou qualquer outro filme ou até documentário sobre histórias do esporte que já recomendamos, pode dar o play tranquilamente que você não vai se arrepender e provavelmente vai se surpreender com a história de Kurt Warner que em 5 anos saiu do nada até ganhar o Super Bowl e ser considerado o MVP da Temporada e da Final da NFL.
Vale muito o seu play!
Assistam esse filme! Não existe outra maneira de começar esse review sem exaltar a jornada do QB do St. Louis Rams, Kurt Warner. Sim, é um filme de superação como muitos que já assistimos, cheio de clichês, dificuldades, dor, dúvidas e redenção, porém com um elemento narrativo que subverte toda expectativa de sucesso de um personagem: essa é uma história impossível de acontecer... mas aconteceu, de verdade!
Kurt Warner (Zachary Levi) sempre amou futebol americano e começou uma carreira ainda no ensino médio em Iowa, um centro sem muita exposição nacional para o esporte. No entanto, enquanto buscava o seu grande sonho, ele passou por diversas dificuldades financeiras, chegando a trabalhar como repositor em um supermercado assim que saiu da faculdade. Após levar seu time até a final de uma modalidade que muitos chamavam de "circo", o Arena Football League, Warner tem a chance de estrear, com 28 anos, como quarterback da NFL. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que a história de Warner precisou de uma certa adaptação até chegar às telas - talvez uma minissérie se encaixasse melhor para explorar alguns pontos interessantes da jornada do jogador antes de alcançar seu sucesso, mas que acabaram ficarando de fora do filme, como por exemplo quando ele foi despachado para a NFL Europa assim que fechou contrato com o St. Louis Rams. Importante dizer que essas escolhas narrativas do roteiro não impactam em absolutamente nada na experiência de acompanhar essa cinebiografia.
Baseado no livro "All Things Possible" de Michael Silver e escrito pelos irmãos Erwin ("Talento e Fé") ao lado de David Aaron Cohen (da série "Friday Night Lights"), "American Underdog" equilibra perfeitamente os desafios pessoais de Warner com sua obsessão pelo esporte. Mais do que um filme sobre Futebol Americano, o que temos aqui é um ótimo drama sobre relações humanas em diversos momentos de vida - e talvez seja isso que nos impacte tanto. Construir uma carreira planejando cada um dos passos sem se desviar do objetivo pode até soar romântico, mas na prática a história é outra - a própria Sheryl Sandberg, COO do Facebook e braço direito de Mark Zuckerberg comenta em seu livro "Faça Acontecer" que é preciso fazer alguns desvios em busca de experiências (e aprimoramentos) até chegar ao objetivo final, de fato, preparado. É incrível como o roteiro capta esse principio e insere em um contexto sem abusar do didatismo, mas que acabam enriquecendo as camadas do personagem e, claro, nos faz cada vez mais torcer por ele.
O maior mérito de "American Underdog" não está nas cenas coreografadas no campo de jogo ou nas imagens de arquivo que brilhantemente são encaixadas entre um plano e outro para trazer o máximo de veracidade para a história. Não, o mérito está na construção do personagem e na exposição de uma atmosfera muito mais próxima do nosso dia a dia do que de um conto de fadas com final feliz. Claro que o abraço exagerado e desconfortável no técnico Dick Vermeil (Dennis Quaid) assim que recebe a noticia que terá uma chance na NFL é tão clichê quanto as cobranças grosseiras do coordenador ofensivo do time que tinham como propósito preparar o atleta para o momento-chave de sua carreira, mas tudo isso funciona - afinal, é um filme sobre o esporte e suas lições de resiliência!
Sendo assim, se você assistiu e gostou de "Rudy", "Safety", "No Limite" ou qualquer outro filme ou até documentário sobre histórias do esporte que já recomendamos, pode dar o play tranquilamente que você não vai se arrepender e provavelmente vai se surpreender com a história de Kurt Warner que em 5 anos saiu do nada até ganhar o Super Bowl e ser considerado o MVP da Temporada e da Final da NFL.
Vale muito o seu play!
A parceira Adam Sandler e Netflix quase colocou o ator, com toda justiça, na disputa do Oscar com "Jóias Brutas". Em "Arremessando Alto", tenho a impressão, que a performance não esteja no mesmo nível do filme anterior, porém é inegável a capacidade que Sandler tem de se reinventar e aqui, mais uma vez, ele entrega um personagem cheio de camadas, com uma profundidade emocional bastante interessante e, principalmente, com o um range de interpretação que coloca seu Stanley Sugerman como um dos seus melhores trabalhos.
Sugerman é um olheiro que trabalha para uma das franquias mais famosas do basquete americano, o 76ers da Filadélfia. Com a proposta de se tornar assistente técnico do lendário coach Doc Rivers, Sugerman precisa encontrar um jogador com potencial de sucesso para mudar os rumos do time na próxima temporada, porém seu superior não acredita que isso seja possível, é quando o olheiro e seu pupilo, o espanhol Bo Cruz (Juancho Hernangomez), passam a se esforçar ao máximo para provar que ambos merecem uma chance real na NBA. Confira o trailer:
Todo review que faço, onde o esporte é o pano de fundo, eu procuro pontuar o quanto conhecer sobre determinada modalidade vai impactar na experiência de quem assiste o filme. Alguns filmes usam do basquete, do futebol americano e até do futebol para contar uma história de superação, seja social ou até mesmo esportiva, traduzindo a premissa em uma jornada muito mais universal do que de nicho. Em "Arremessando Alto" a questão é um pouco diferente, pois mesmo trazendo elementos mais dramáticos para a narrativa, é o basquete que pauta 90% do roteiro escrito pelo Will Fetters (de "Nasce Uma Estrela ") e pelo Taylor Materne (responsável pelo projeto, olha que curioso, de um dos jogos mais incríveis de basquete da atualidade e que cobre, justamente, a jornada de descoberta e ascensão de um atleta, o NBA 2K20).
Mesmo com um roteiro cheio de clichês, "Arremessando Alto" entrega uma narrativa coerente com a proposta e, eu diria, despreocupada com a história - se na série "Swagger" da AppleTV+ encontramos uma discussão de ideais de superação, autoestima e resiliência, até temas mais delicados como o abandono parental e tensão racial impregnada na sociedade americana, aqui o que vemos é muito mais simples e direto: um ex-jogador que virou olheiro tentando provar o seu valor através do talento acima da média de um atleta europeu que, não fosse ele, não teria chance alguma de chegar no topo da NBA. Dito isso, se você está familiarizado com os astros da Liga, você vai se divertir ainda mais, pois são tantas participações especiais (e muitas delas bem relevantes para a história) que até perdi a conta.
Dirigido pelo estreante Jeremiah Zagar, "Hustle" (no original) foi feito para o fã de basquete que talvez nem esteja preocupado em se aprofundar na história, mas sim em se divertir com ela. São muitas curiosidades de bastidores orquestradas para um ator que vem mostrando seu valor dramático e que com isso cria um certo layer especial para o filme - de fato Sandler brilha! A curiosidade fica pelos 86% de aprovação da crítica e pelos 94% do público no Rotten Tomatoes, o que prova que a produção da Netflix foi muito feliz em equilibrar o drama de personagem com o entretenimento despretensioso de um filme sobre... basquete!
Vale muito seu play!
A parceira Adam Sandler e Netflix quase colocou o ator, com toda justiça, na disputa do Oscar com "Jóias Brutas". Em "Arremessando Alto", tenho a impressão, que a performance não esteja no mesmo nível do filme anterior, porém é inegável a capacidade que Sandler tem de se reinventar e aqui, mais uma vez, ele entrega um personagem cheio de camadas, com uma profundidade emocional bastante interessante e, principalmente, com o um range de interpretação que coloca seu Stanley Sugerman como um dos seus melhores trabalhos.
Sugerman é um olheiro que trabalha para uma das franquias mais famosas do basquete americano, o 76ers da Filadélfia. Com a proposta de se tornar assistente técnico do lendário coach Doc Rivers, Sugerman precisa encontrar um jogador com potencial de sucesso para mudar os rumos do time na próxima temporada, porém seu superior não acredita que isso seja possível, é quando o olheiro e seu pupilo, o espanhol Bo Cruz (Juancho Hernangomez), passam a se esforçar ao máximo para provar que ambos merecem uma chance real na NBA. Confira o trailer:
Todo review que faço, onde o esporte é o pano de fundo, eu procuro pontuar o quanto conhecer sobre determinada modalidade vai impactar na experiência de quem assiste o filme. Alguns filmes usam do basquete, do futebol americano e até do futebol para contar uma história de superação, seja social ou até mesmo esportiva, traduzindo a premissa em uma jornada muito mais universal do que de nicho. Em "Arremessando Alto" a questão é um pouco diferente, pois mesmo trazendo elementos mais dramáticos para a narrativa, é o basquete que pauta 90% do roteiro escrito pelo Will Fetters (de "Nasce Uma Estrela ") e pelo Taylor Materne (responsável pelo projeto, olha que curioso, de um dos jogos mais incríveis de basquete da atualidade e que cobre, justamente, a jornada de descoberta e ascensão de um atleta, o NBA 2K20).
Mesmo com um roteiro cheio de clichês, "Arremessando Alto" entrega uma narrativa coerente com a proposta e, eu diria, despreocupada com a história - se na série "Swagger" da AppleTV+ encontramos uma discussão de ideais de superação, autoestima e resiliência, até temas mais delicados como o abandono parental e tensão racial impregnada na sociedade americana, aqui o que vemos é muito mais simples e direto: um ex-jogador que virou olheiro tentando provar o seu valor através do talento acima da média de um atleta europeu que, não fosse ele, não teria chance alguma de chegar no topo da NBA. Dito isso, se você está familiarizado com os astros da Liga, você vai se divertir ainda mais, pois são tantas participações especiais (e muitas delas bem relevantes para a história) que até perdi a conta.
Dirigido pelo estreante Jeremiah Zagar, "Hustle" (no original) foi feito para o fã de basquete que talvez nem esteja preocupado em se aprofundar na história, mas sim em se divertir com ela. São muitas curiosidades de bastidores orquestradas para um ator que vem mostrando seu valor dramático e que com isso cria um certo layer especial para o filme - de fato Sandler brilha! A curiosidade fica pelos 86% de aprovação da crítica e pelos 94% do público no Rotten Tomatoes, o que prova que a produção da Netflix foi muito feliz em equilibrar o drama de personagem com o entretenimento despretensioso de um filme sobre... basquete!
Vale muito seu play!
"Atypical" é uma série pequena, mas muito bem estruturada. Ela conta a história de uma família onde o filho mais velho é autista. O interessante (e acho que o mérito maior da série) é que ela aborda temas bem pesados, atitudes e consequências delicadas, mas equilibra essa narrativa com certa leveza - na linha de "Extraordinário"! Ela mostra o problema, pontua com uma trilha excelente, mas depois não fica fazendo drama com assunto, pois cada um dos personagens lidam com suas atitudes de uma forma bem particular e adulta. Confira o trailer:
O protagonista de "Atypical", Sam (Keir Gilchrist) é um típico adolescente americano que está no ensino médio e passando por todos os dilemas da idade - com o diferencial de ser autista! Ao redor dele, além dos estereótipos clássicos que estamos acostumados a encontrar em séries desse tipo, está uma família um pouco confusa e amigos que desconsideram as reais necessidades de Sam. O interessante do roteiro é perceber algumas peculiaridades que, mesmo elevando um pouco o tom das relações, nos aproximam de uma realidade dramática e legítima. Vejam os personagens da mãe (Jennifer Jason Leigh) e do pai (Michael Rapaport) de Sam: eles caminham em jornadas completamente opostas, mesmo tendo o filho como referência - reparem e não se preocupem, o julgamento é justamente proposta pelo texto; mesmo que por empatia!
Outra personagem que merece destaque é a irmã Casey (Brigette Lundy-Paine) - mesmo que pareça um pouco ignorante de início, ela sabe lidar com Sam como poucas, com o silêncio ou até na gritaria, porém ela personifica seu amor através da compreensão, deixando de lado as relações de uma adolescente que vive os mesmos dilemas do irmão, só que em outra dimensão! O fato é que o roteiro trabalha muito bem essa dualidade, com a simplicidade do dia a dia e o desajuste de uma situação bem particular.
"Atypical" tem uma trama básica sobre problemas familiares que nos conquista logo de cara - é um ótimo exemplo de um bom drama fantasiado de comédia, que de boba não tem nada! O roteiro não se apoia na pieguice, ele questiona as atitudes de todos os personagens de maneira descontraída e mostra que ser normal é a missão mais complicada de todas, para todos!
Vale muito a pena!
"Atypical" é uma série pequena, mas muito bem estruturada. Ela conta a história de uma família onde o filho mais velho é autista. O interessante (e acho que o mérito maior da série) é que ela aborda temas bem pesados, atitudes e consequências delicadas, mas equilibra essa narrativa com certa leveza - na linha de "Extraordinário"! Ela mostra o problema, pontua com uma trilha excelente, mas depois não fica fazendo drama com assunto, pois cada um dos personagens lidam com suas atitudes de uma forma bem particular e adulta. Confira o trailer:
O protagonista de "Atypical", Sam (Keir Gilchrist) é um típico adolescente americano que está no ensino médio e passando por todos os dilemas da idade - com o diferencial de ser autista! Ao redor dele, além dos estereótipos clássicos que estamos acostumados a encontrar em séries desse tipo, está uma família um pouco confusa e amigos que desconsideram as reais necessidades de Sam. O interessante do roteiro é perceber algumas peculiaridades que, mesmo elevando um pouco o tom das relações, nos aproximam de uma realidade dramática e legítima. Vejam os personagens da mãe (Jennifer Jason Leigh) e do pai (Michael Rapaport) de Sam: eles caminham em jornadas completamente opostas, mesmo tendo o filho como referência - reparem e não se preocupem, o julgamento é justamente proposta pelo texto; mesmo que por empatia!
Outra personagem que merece destaque é a irmã Casey (Brigette Lundy-Paine) - mesmo que pareça um pouco ignorante de início, ela sabe lidar com Sam como poucas, com o silêncio ou até na gritaria, porém ela personifica seu amor através da compreensão, deixando de lado as relações de uma adolescente que vive os mesmos dilemas do irmão, só que em outra dimensão! O fato é que o roteiro trabalha muito bem essa dualidade, com a simplicidade do dia a dia e o desajuste de uma situação bem particular.
"Atypical" tem uma trama básica sobre problemas familiares que nos conquista logo de cara - é um ótimo exemplo de um bom drama fantasiado de comédia, que de boba não tem nada! O roteiro não se apoia na pieguice, ele questiona as atitudes de todos os personagens de maneira descontraída e mostra que ser normal é a missão mais complicada de todas, para todos!
Vale muito a pena!
É possível se conectar, se importar e se emocionar por um rover (aquela espécie de robô de exploração espacial projetado para mover-se na superfície de um outro planeta)? "Wall-E" da Disney/Pixar provou que sim, porém, tenho a impressão, que essa relação sentimental mudou de patamar com o belíssimo documentário produzido pela Amazon ao lado da Amblin (de Steven Spielberg), "Boa Noite, Oppy". O filme do diretor Ryan White (de "The Keepers") é uma aula de narrativa, com imagens belíssimas, que transforma um assunto extremamente complexo em uma verdadeira (e honesta) jornada sobre o amor incondicional!
"Boa Noite, Oppy" conta a história verídica e inspiradora da Opportunity e da Spirit, dois robôs enviados para Marte com a missão de explorar o planeta na busca por indícios de água que poderiam sugerir algum tipo de vida extraterrestre no passado. A missão que inicialmente seria de apenas 90 dias, acabou se extendendo por mais 15 anos, criando assim um elo extraordinário entre os rovers e seus cientistas e engenheiros, a milhões de quilômetros de distância. Confira o trailer (em inglês):
Como em "Inspiration4 - Viagem Estelar" e até em "De Volta ao Espaço", entender as motivações de determinadas pessoas que vivem pela ciência sem ao menos saber se todo o seu esforço técnico e intelectual um dia poderá ser recompensado com informações e descobertas que, de alguma forma, servirão como ponto de partida para mudar o mundo em que vivemos, é, no mínimo, uma jornada muito mais sobre propósito do que qualquer outra coisa. As relações humanas parecem ser deixadas de lado em pró de um bem maior, as relações emocionais parecem muito mais silenciosas e, claro, aquela atmosfera de tensão e recorrente pressão soa quase que insuportável.
Por incrível que pareça, "Boa Noite, Oppy" chega para desmistificar essa impressão e sua história acaba nos conquistando pela relação intima dos personagens com seu propósito e não só pelas dificuldades que esse propósito geram até alcançar o seu sucesso. A partir de um roteiro que equilibra perfeitamente a relações pessoais com as dificuldades inerentes ao desafio profissional de colocar um robô para explorar Marte, o documentário é muito feliz em revelar e acompanhar os bastidores da NASA pelos olhos de quem viveu seus melhores dias na agência espacial americana - são muitas curiosidades que, entre outras coisas, expõem a importância do planejamento e de toda ciência por trás do sonho que parecia impossível. Ao mostrar alguns hábitos interessantes e ritos que acabam fazendo toda diferença naquele ambiente, o roteiro também humaniza a narrativa - os depoimentos são lindamente inseridos dentro de um contexto que nos envolve, que nos faz torcer, que nos toca. A relação da música no dia a dia daquelas pessoas é um ótimo exemplo de como tudo aquilo é tão verdadeiro quanto emocionante!
O fato é que "Good Night Oppy" (no original) vai muito além do que uma simples narrativa documental - posso dizer que é a jornada que conquista pela sua alma. Reconhecer os laços emocionais entre criador e criatura é de uma honestidade incrível e que nos enche de amor, sem nos darmos conta. Dito isso, não se surpreenda ao perceber que está sentindo uma enorme emoção ao ver um robô saindo de uma condição critica em sua missão ou até quando ele resolve se comunicar após ensurdecedores minutos de silêncio.
Olha, vale muito o seu play!
É possível se conectar, se importar e se emocionar por um rover (aquela espécie de robô de exploração espacial projetado para mover-se na superfície de um outro planeta)? "Wall-E" da Disney/Pixar provou que sim, porém, tenho a impressão, que essa relação sentimental mudou de patamar com o belíssimo documentário produzido pela Amazon ao lado da Amblin (de Steven Spielberg), "Boa Noite, Oppy". O filme do diretor Ryan White (de "The Keepers") é uma aula de narrativa, com imagens belíssimas, que transforma um assunto extremamente complexo em uma verdadeira (e honesta) jornada sobre o amor incondicional!
"Boa Noite, Oppy" conta a história verídica e inspiradora da Opportunity e da Spirit, dois robôs enviados para Marte com a missão de explorar o planeta na busca por indícios de água que poderiam sugerir algum tipo de vida extraterrestre no passado. A missão que inicialmente seria de apenas 90 dias, acabou se extendendo por mais 15 anos, criando assim um elo extraordinário entre os rovers e seus cientistas e engenheiros, a milhões de quilômetros de distância. Confira o trailer (em inglês):
Como em "Inspiration4 - Viagem Estelar" e até em "De Volta ao Espaço", entender as motivações de determinadas pessoas que vivem pela ciência sem ao menos saber se todo o seu esforço técnico e intelectual um dia poderá ser recompensado com informações e descobertas que, de alguma forma, servirão como ponto de partida para mudar o mundo em que vivemos, é, no mínimo, uma jornada muito mais sobre propósito do que qualquer outra coisa. As relações humanas parecem ser deixadas de lado em pró de um bem maior, as relações emocionais parecem muito mais silenciosas e, claro, aquela atmosfera de tensão e recorrente pressão soa quase que insuportável.
Por incrível que pareça, "Boa Noite, Oppy" chega para desmistificar essa impressão e sua história acaba nos conquistando pela relação intima dos personagens com seu propósito e não só pelas dificuldades que esse propósito geram até alcançar o seu sucesso. A partir de um roteiro que equilibra perfeitamente a relações pessoais com as dificuldades inerentes ao desafio profissional de colocar um robô para explorar Marte, o documentário é muito feliz em revelar e acompanhar os bastidores da NASA pelos olhos de quem viveu seus melhores dias na agência espacial americana - são muitas curiosidades que, entre outras coisas, expõem a importância do planejamento e de toda ciência por trás do sonho que parecia impossível. Ao mostrar alguns hábitos interessantes e ritos que acabam fazendo toda diferença naquele ambiente, o roteiro também humaniza a narrativa - os depoimentos são lindamente inseridos dentro de um contexto que nos envolve, que nos faz torcer, que nos toca. A relação da música no dia a dia daquelas pessoas é um ótimo exemplo de como tudo aquilo é tão verdadeiro quanto emocionante!
O fato é que "Good Night Oppy" (no original) vai muito além do que uma simples narrativa documental - posso dizer que é a jornada que conquista pela sua alma. Reconhecer os laços emocionais entre criador e criatura é de uma honestidade incrível e que nos enche de amor, sem nos darmos conta. Dito isso, não se surpreenda ao perceber que está sentindo uma enorme emoção ao ver um robô saindo de uma condição critica em sua missão ou até quando ele resolve se comunicar após ensurdecedores minutos de silêncio.
Olha, vale muito o seu play!
"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.
O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.
Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:
Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).
Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.
Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".
Vale muito o play, mesmo assim.
"Cherry - Inocência Perdida", novo filme dos irmão Russo para o AppleTV+, vem dividindo opiniões graças a quantidade enorme de elementos que os diretores Anthony e Joe escolheram para compor, tanto o conceito visual como o narrativo. Eu, pessoalmente, gostei muito do filme - especialmente do trabalho do Tom Holland que desde "O diabo de cada dia"vem se mostrando cada vez mais maduro e consciente do seu talento.
O fato é que "Cherry" não é linear como obra, sua cadência varia muito entre os "capítulos" (cinco no total + prólogo e epílogo) que pontuam a jornada do protagonista e, talvez por isso, tenha encontrado ainda mais resistência - acho até que se o filme tivesse poucas intervenções gráficas e vinte minutos a menos, tirando um epílogo completamente dispensável, a percepção pudesse até ser outra - e aqui estou falando de percepção mesmo, porque o filme está longe de ser ruim como vou explicar abaixo.
Holland é Cherry (algo como "cabaço" - em um jogo de palavras também usado para definir alguém fraco de cabeça e de postura perante a vida) é um jovem americano que se alista no Exército depois que sua namorada resolve estudar no Canadá apenas para se afastar dele. Nessa mistura entre o luto emocional e a busca por um novo propósito, Cherry acaba descobrindo o horror na Guerra do Iraque e seus terríveis reflexos pós-traumáticos. Essa ruína física e mental culmina em um profundo vicio, primeiro em remédios contra a ansiedade e depois em heroína, transformando sua vida em um verdadeiro caos - uma bola de neve que mistura drogas, crimes e solidão. Confira o trailer:
Primeiro a quebra da quarta parede (aquele artifício narrativo onde o personagem fala diretamente para câmera, no meio da ação, quase como um confidente para quem assiste - tão bem utilizada por Frank Underwood de "House of Cards", diga-se de passagem) e depois muita narração em off, passam a impressão de um filme com muita identidade logo de cara. O problema é que identidade demais pode ter justamente o efeito contrário e os irmão Russo sentem isso na pele ao se perderem em decisões um pouco ingênuas e na necessidade de ganhar dinâmica reproduzindo uma estética de videoclipe dos anos 90. O curioso, porém, é que o trabalho dos irmãos no set é irretocável! Tanto a direção de cena como na de atores, eles merecem muitos elogios - eles entregam um filme muito bonito, bem fotografado e com personagens interessantes! Aliás, não é só o Tom Holland (esse digno de Oscar) que está voando, destaco também o trabalho da ótima Ciara Bravo (como Emily).
Misturando vários gêneros, muitos sem nenhuma conexão, que vão do romance ao drama de guerra, "Cherry - Inocência Perdida" é um filme (propositalmente) caótico que cobre um período gigantesco da vida de um personagem bem complexo, um homem que definha por conta do sistema que ele claramente não estava preparado para lidar, sem nenhum apoio, e que é incapaz de encontrar uma oportunidade para tentar sair desse caos que ele mesmo entrou - mais ou menos como aconteceu com os irmão Russo na direção tentando ser os irmãos Cohen.
Eu recomendo "Cherry", é ótimo entretenimento, uma produção de extrema qualidade técnica e que tem um trabalho que chancela Tom Holland como um grande ator; mas aquele potencial de Oscar que tanto se comentou, pode até ter pesado no final - exatamente como aconteceu com "Malcolm e Marie".
Vale muito o play, mesmo assim.
"Coach Carter" é uma ficção, embora baseada em uma história real, que de fato acontece com mais frequência do que imaginamos - basta assistir as excelentes séries documentais da Netflix, "Last Chance U"ou "Nada de Bandeja", para entender que a dinâmica entre educação/esporte está inserida na sociedade americana de diversas formas e em níveis de importância e pressão que, muitas vezes, beiram a hipocrisia, mas também fomentam a esperança de jovens talentosos em busca de uma (única oportunidade de) ascensão social.
"Coach Carter" (que no Brasil ganhou o sugestivo subtítulo de "Treino Para a Vida") é um filme de 2005 que narra a história real de Ken Carter (Samuel L. Jackson), um dono de loja de artigos esportivos de uma pequena cidade da Califórnia, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. Carter é um homem rígido, disciplinador, com métodos de treinamento pouco convencionais, mas que domina o esporte com a mesma vitalidade que impõe seu caráter transformador, dentro e fora das quadras, lutando para que seus comandados, além de atletas, se tornem alunos preparados para enfrentar as universidades. Confira o trailer:
O veterano diretor Thomas Carter, vencedor de três Emmys em sua carreira, foi muito competente em contar uma história que embora pareça simples, tem uma complexidade narrativa enorme, já que precisa condensar uma passagem biográfica marcante que envolve vários personagens (e seus respectivos dramas pessoais) em pouco mais de duas horas. Sua condução não traz nenhuma inovação conceitual que chame a atenção, é uma direção "feijão com arroz" - que nesse caso acaba deixando muito espaço para os atores brilharem. Samuel L. Jackson está impecável como sempre, mas aproveito para destacar o trabalho de Rick Gonzalez como Timo Cruz e uma (na época) não tão conhecida Octavia Spencer como Mrs. Battle.
Mesmo parecendo que "Coach Carter" segue um roteiro batido e completamente previsível, é de se destacar a qualidade dos diálogos e a coragem ao escolher o caminho menos óbvio para entregar uma experiência muito agradável para quem assiste o filme. Bem ao estilo "Sessão da Tarde", mas com uma mensagem muito bacana e cheio de lições de liderança e postura perante a vida. O filme é imperdível para quem gosta de esporte, de um bom drama de superação ou até para aqueles que buscam referências empreendedoras e inspiracionais para lidar com pessoas.
Vale a pena!
"Coach Carter" é uma ficção, embora baseada em uma história real, que de fato acontece com mais frequência do que imaginamos - basta assistir as excelentes séries documentais da Netflix, "Last Chance U"ou "Nada de Bandeja", para entender que a dinâmica entre educação/esporte está inserida na sociedade americana de diversas formas e em níveis de importância e pressão que, muitas vezes, beiram a hipocrisia, mas também fomentam a esperança de jovens talentosos em busca de uma (única oportunidade de) ascensão social.
"Coach Carter" (que no Brasil ganhou o sugestivo subtítulo de "Treino Para a Vida") é um filme de 2005 que narra a história real de Ken Carter (Samuel L. Jackson), um dono de loja de artigos esportivos de uma pequena cidade da Califórnia, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. Carter é um homem rígido, disciplinador, com métodos de treinamento pouco convencionais, mas que domina o esporte com a mesma vitalidade que impõe seu caráter transformador, dentro e fora das quadras, lutando para que seus comandados, além de atletas, se tornem alunos preparados para enfrentar as universidades. Confira o trailer:
O veterano diretor Thomas Carter, vencedor de três Emmys em sua carreira, foi muito competente em contar uma história que embora pareça simples, tem uma complexidade narrativa enorme, já que precisa condensar uma passagem biográfica marcante que envolve vários personagens (e seus respectivos dramas pessoais) em pouco mais de duas horas. Sua condução não traz nenhuma inovação conceitual que chame a atenção, é uma direção "feijão com arroz" - que nesse caso acaba deixando muito espaço para os atores brilharem. Samuel L. Jackson está impecável como sempre, mas aproveito para destacar o trabalho de Rick Gonzalez como Timo Cruz e uma (na época) não tão conhecida Octavia Spencer como Mrs. Battle.
Mesmo parecendo que "Coach Carter" segue um roteiro batido e completamente previsível, é de se destacar a qualidade dos diálogos e a coragem ao escolher o caminho menos óbvio para entregar uma experiência muito agradável para quem assiste o filme. Bem ao estilo "Sessão da Tarde", mas com uma mensagem muito bacana e cheio de lições de liderança e postura perante a vida. O filme é imperdível para quem gosta de esporte, de um bom drama de superação ou até para aqueles que buscam referências empreendedoras e inspiracionais para lidar com pessoas.
Vale a pena!
"Colin em Preto e Branco" chegou no catálogo da Netflix com o status de minissérie premium, dirigida por Ava DuVernay (do enorme sucesso da plataforma, "Olhos que Condenam") e criada em parceria com o próprio Colin Kaepernick - uma das grandes estrelas da NIKE, mesmo "aposentado". A grande questão, porém, é que as escolhas criativas de DuVernay devem afastar um público pouco disposto a se conectar com narrativas menos tradicionais e isso será um ponto sensível na continuidade do projeto que "claramente" mereceria mais episódios - ao final dos seis primeiros, temos a exata sensação de que "a história só está começando"!
Como uma espécie de entidade onipresente, Colin Kaepernick conta histórias sobre a cultura negra e como o racismo foi se institucionalizando nos EUA através dos tempos, principalmente no esporte, mas com reflexos na sociedade como um todo (inclusive dentro de sua própria casa), ao mesmo tempo em que narra sua jornada até a chegada na universidade. Negro e adotado por uma família branca, Kaepernick precisou enfrentar inúmeros obstáculos de raça, classe e cultura para poder crescer e ser reconhecido como um potencial atleta de elite. "Colin em Preto e Branco" acompanha o relacionamento com a família, com os amigos e companheiros de time em meio as descobertas da adolescência, além, é claro, da sua busca incansável por respostas, dentro e fora, dos campos. Confira o trailer (em inglês):
Independente da forma, o conteúdo de "Colin em Preto e Branco" é no mínimo curioso - afinal estamos falando de um atleta que pode ser considerado um dos melhores de sua geração no esporte mais popular dos EUA. A grande questão é que a expectativa em torno de sua história como ativista perante os direitos civis se confunde com sua carreira como atleta de futebol americano, na universidade e principalmente na NFL - quando em 2016, se recusou a levantar para cantar o hino nacional dos Estados Unidos em protesto ao tratamento recebido pela comunidade negra no país. Acontece que "Colin em Preto e Branco" foca nos dramas esportivos de Kaepernick na época do colegial e nos primeiros impactos que o racismo teve em sua vida.
Isso é ruim? Não, mas também não é o assunto mais importante da vida do protagonista como figura pública - por receio da Netflix ou um erro grave no marketing de divulgação, só isso pode justificar a escolha de categorizar "Colin em Preto e Branco" como minissérie! Veja, as pessoas que conhecem um pouco da jornada de Kaepernick não vão assistir a "minissérie" só para descobrir as razões que fizeram o jovem escolher o futebol americano e não o beisebol antes da universidade. A história é interessante? Sim, mas é pouco em relação ao que aconteceu depois: os impactos daquela atitude de 2016 no resto da carreira, por exemplo - é como se em "Divino Baggio"o filme não mostrasse o drama da final da Copa de 1994 para focar no sonho de Baggio em jogar pela seleção italiana.
A produção é de fato excelente, a direção também, mas dois pontos se sobressaem: a participação do Colin Kaepernick como condutor da história chega a ser emocionante em muitas passagens (a experiência de ver ele assistindo sua história em retrospectiva é incrível) e o trabalho do Jaden Michael como protagonista na adolescência - impressionante como Jaden é convincente. Repare como o conceito estético/narrativo, que elimina a quarta parede, nos coloca frente a frente com Kaepernick e com o que ele tem a dizer, funciona e é impactante - quem conhece um pouco mais do atleta, certamente, vai se conectar de uma forma diferente com esses prólogos dos episódios, mas quem caiu de para-quedas vai achar chato.
Eu pessoalmente gostei muito, mas sou suspeito por acompanhar o esporte e ser fã do atleta - que inclusive levou o meu time (San Francisco 49ers) ao Superbowl de 2013, depois de muito tempo. Para quem não sabe nada de futebol americano ou não conhece Kaepernick, "Colin em Preto e Branco" pode soar como mais um daqueles dramas esportivos sobre superação e resiliência com toques de seriado juvenil dos anos 90.
PS: a continuação da história será essencial para o reconhecimento do produto como obra importante sobre a luta contra o racismo e sobre a hipocrisia da sociedade (principalmente esportiva) americana, mas até o momento, nada foi confirmado pela Netflix. Sendo assim, a minissérie embora tenha um "fim", vai deixar um gostinho de "quero mais".
"Colin em Preto e Branco" chegou no catálogo da Netflix com o status de minissérie premium, dirigida por Ava DuVernay (do enorme sucesso da plataforma, "Olhos que Condenam") e criada em parceria com o próprio Colin Kaepernick - uma das grandes estrelas da NIKE, mesmo "aposentado". A grande questão, porém, é que as escolhas criativas de DuVernay devem afastar um público pouco disposto a se conectar com narrativas menos tradicionais e isso será um ponto sensível na continuidade do projeto que "claramente" mereceria mais episódios - ao final dos seis primeiros, temos a exata sensação de que "a história só está começando"!
Como uma espécie de entidade onipresente, Colin Kaepernick conta histórias sobre a cultura negra e como o racismo foi se institucionalizando nos EUA através dos tempos, principalmente no esporte, mas com reflexos na sociedade como um todo (inclusive dentro de sua própria casa), ao mesmo tempo em que narra sua jornada até a chegada na universidade. Negro e adotado por uma família branca, Kaepernick precisou enfrentar inúmeros obstáculos de raça, classe e cultura para poder crescer e ser reconhecido como um potencial atleta de elite. "Colin em Preto e Branco" acompanha o relacionamento com a família, com os amigos e companheiros de time em meio as descobertas da adolescência, além, é claro, da sua busca incansável por respostas, dentro e fora, dos campos. Confira o trailer (em inglês):
Independente da forma, o conteúdo de "Colin em Preto e Branco" é no mínimo curioso - afinal estamos falando de um atleta que pode ser considerado um dos melhores de sua geração no esporte mais popular dos EUA. A grande questão é que a expectativa em torno de sua história como ativista perante os direitos civis se confunde com sua carreira como atleta de futebol americano, na universidade e principalmente na NFL - quando em 2016, se recusou a levantar para cantar o hino nacional dos Estados Unidos em protesto ao tratamento recebido pela comunidade negra no país. Acontece que "Colin em Preto e Branco" foca nos dramas esportivos de Kaepernick na época do colegial e nos primeiros impactos que o racismo teve em sua vida.
Isso é ruim? Não, mas também não é o assunto mais importante da vida do protagonista como figura pública - por receio da Netflix ou um erro grave no marketing de divulgação, só isso pode justificar a escolha de categorizar "Colin em Preto e Branco" como minissérie! Veja, as pessoas que conhecem um pouco da jornada de Kaepernick não vão assistir a "minissérie" só para descobrir as razões que fizeram o jovem escolher o futebol americano e não o beisebol antes da universidade. A história é interessante? Sim, mas é pouco em relação ao que aconteceu depois: os impactos daquela atitude de 2016 no resto da carreira, por exemplo - é como se em "Divino Baggio"o filme não mostrasse o drama da final da Copa de 1994 para focar no sonho de Baggio em jogar pela seleção italiana.
A produção é de fato excelente, a direção também, mas dois pontos se sobressaem: a participação do Colin Kaepernick como condutor da história chega a ser emocionante em muitas passagens (a experiência de ver ele assistindo sua história em retrospectiva é incrível) e o trabalho do Jaden Michael como protagonista na adolescência - impressionante como Jaden é convincente. Repare como o conceito estético/narrativo, que elimina a quarta parede, nos coloca frente a frente com Kaepernick e com o que ele tem a dizer, funciona e é impactante - quem conhece um pouco mais do atleta, certamente, vai se conectar de uma forma diferente com esses prólogos dos episódios, mas quem caiu de para-quedas vai achar chato.
Eu pessoalmente gostei muito, mas sou suspeito por acompanhar o esporte e ser fã do atleta - que inclusive levou o meu time (San Francisco 49ers) ao Superbowl de 2013, depois de muito tempo. Para quem não sabe nada de futebol americano ou não conhece Kaepernick, "Colin em Preto e Branco" pode soar como mais um daqueles dramas esportivos sobre superação e resiliência com toques de seriado juvenil dos anos 90.
PS: a continuação da história será essencial para o reconhecimento do produto como obra importante sobre a luta contra o racismo e sobre a hipocrisia da sociedade (principalmente esportiva) americana, mas até o momento, nada foi confirmado pela Netflix. Sendo assim, a minissérie embora tenha um "fim", vai deixar um gostinho de "quero mais".
"De Cabeça Erguida" é um poderoso e denso drama francês que fala sobre ciclos. Ou melhor, talvez o filme seja muito mais uma provocação para uma reflexão sobre a possibilidade de uma quebra de um ciclo vicioso, recheado de violência e abandono, na esperança por uma segunda chance onde, aparentemente, isso parece impossível! Muito bem dirigido pela talentosa diretora (de atores), Emmanuelle Bercot (de "150 Miligramas"), o filme se apoia em um emaranhado de assuntos importantes e sensíveis que, através de uma jornada de 10 anos, tenta explicar (ou justificar) muitas das atitudes e como a experiência em reformatórios, impactaram na formação do caráter do protagonista.
Em "La Tête Haute" (no original) a história gira em torno de Malony (Rod Paradot), um garoto com sérios problemas disciplinares, e de sua educação dos 6 aos 18 anos de idade, período onde uma juíza da vara da infância e um assistente social tentam de todas as formas salvá-lo de um futuro com problemas ainda maiores. Confira o trailer:
Pode parecer que o roteiro escrito por Bercot ao lado de Marcia Romano (de "O Acontecimento") sofra de um vicio narrativo que escancara a fragilidade de uma estrutura “circular” onde o protagonista apronta, recebe e cumpre uma punição, então é liberado, aí apronta de novo, novamente é punido, e assim sucessivamente. Mas é preciso que se diga que essa estrutura, mesmo em alguns momentos cansativa, é totalmente proposital - ela reflete o ciclo vivido pela maioria dos garotos nas mesmas condições de Malony (algo parecido com o que encontramos em "DOM").
O interessante é que além dessa repetição quase insuportável para audiência (que nos faz desistir do protagonista em muitos momentos, inclusive), o roteiro vai inserindo outros elementos que funcionam como uma espécie de "bola de neve emocional": do romance com a filha de uma funcionária do centro educacional à separação do irmão mais novo que também vai para um reformatório, passando sempre pelo descontrole da mãe; o que temos é uma verdadeira personificação do caos! Sara Forastier está incrível (e irreconhecível) como a mãe inconsequente de Malony, Séverine; já Paradot, fazendo sua estreia no cinema como o protagonista revoltado, adicionam uma camada de tensão ao filme para lá de angustiante. Ainda sobre elenco, Catherine Deneuve como a juíza Florence e Benoît Magimel como o tutor Yann também merecem aplausos e são a "cereja do bolo" da trama.
Bem no estilo de "Florida Project", a grande verdade é que "De Cabeça Erguida" nos toca a alma em muitos sentidos, já que além de fomentar inúmeros julgamentos (muitos mesmo), ainda sugere profundas reflexões sobre a realidade de uma juventude esquecida, não amada, sofrida e que parece sem solução. O convite para enxergar o futuro desses jovens, passa pelo nosso entendimento de que antes do futuro, é preciso entender o passado e lutar por cada um deles no presente.
Vale muito seu play!
"De Cabeça Erguida" é um poderoso e denso drama francês que fala sobre ciclos. Ou melhor, talvez o filme seja muito mais uma provocação para uma reflexão sobre a possibilidade de uma quebra de um ciclo vicioso, recheado de violência e abandono, na esperança por uma segunda chance onde, aparentemente, isso parece impossível! Muito bem dirigido pela talentosa diretora (de atores), Emmanuelle Bercot (de "150 Miligramas"), o filme se apoia em um emaranhado de assuntos importantes e sensíveis que, através de uma jornada de 10 anos, tenta explicar (ou justificar) muitas das atitudes e como a experiência em reformatórios, impactaram na formação do caráter do protagonista.
Em "La Tête Haute" (no original) a história gira em torno de Malony (Rod Paradot), um garoto com sérios problemas disciplinares, e de sua educação dos 6 aos 18 anos de idade, período onde uma juíza da vara da infância e um assistente social tentam de todas as formas salvá-lo de um futuro com problemas ainda maiores. Confira o trailer:
Pode parecer que o roteiro escrito por Bercot ao lado de Marcia Romano (de "O Acontecimento") sofra de um vicio narrativo que escancara a fragilidade de uma estrutura “circular” onde o protagonista apronta, recebe e cumpre uma punição, então é liberado, aí apronta de novo, novamente é punido, e assim sucessivamente. Mas é preciso que se diga que essa estrutura, mesmo em alguns momentos cansativa, é totalmente proposital - ela reflete o ciclo vivido pela maioria dos garotos nas mesmas condições de Malony (algo parecido com o que encontramos em "DOM").
O interessante é que além dessa repetição quase insuportável para audiência (que nos faz desistir do protagonista em muitos momentos, inclusive), o roteiro vai inserindo outros elementos que funcionam como uma espécie de "bola de neve emocional": do romance com a filha de uma funcionária do centro educacional à separação do irmão mais novo que também vai para um reformatório, passando sempre pelo descontrole da mãe; o que temos é uma verdadeira personificação do caos! Sara Forastier está incrível (e irreconhecível) como a mãe inconsequente de Malony, Séverine; já Paradot, fazendo sua estreia no cinema como o protagonista revoltado, adicionam uma camada de tensão ao filme para lá de angustiante. Ainda sobre elenco, Catherine Deneuve como a juíza Florence e Benoît Magimel como o tutor Yann também merecem aplausos e são a "cereja do bolo" da trama.
Bem no estilo de "Florida Project", a grande verdade é que "De Cabeça Erguida" nos toca a alma em muitos sentidos, já que além de fomentar inúmeros julgamentos (muitos mesmo), ainda sugere profundas reflexões sobre a realidade de uma juventude esquecida, não amada, sofrida e que parece sem solução. O convite para enxergar o futuro desses jovens, passa pelo nosso entendimento de que antes do futuro, é preciso entender o passado e lutar por cada um deles no presente.
Vale muito seu play!
O novo documentário da Netflix, "De Volta ao Espaço", tem alguns elementos que a minissérie, também da plataforma, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não conseguiu captar; porém, é preciso que se diga, grande parte da estrutura narrativa se repete para contar uma outra história e com o mesmo fim: ser um entretenimento de marca da Space X, mas aqui com uma participação mais ativa de Elon Musk - o que transforma o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely (vencedores do Oscar de "Melhor Documentário" com "Free Solo") em um excelente e imperdível estudo de caso sobre acreditar em algo que muita gente via como impossível (sem romantismo e com uma sensibilidade que eu ainda não tinha presenciado em relação ao Musk).
O documentário relata a jornada de preparação da equipe SpaceX, junto ao trabalho de décadas desenvolvido ao lado de Elon Musk para a retomada das viagens espaciais desde o cancelamento do programa espacial da NASA em 2011. Confira o trailer (em inglês):
99% dos empreendedores sofrem questionamentos sobre seus negócios. Se o produto ou serviço prometem disruptar um mercado então, aí esse número sobe tranquilamente para 100% - não é uma jornada fácil lidar, dia a dia, com tanta rejeição, questionamentos e com a falta de percepção de pessoas que se julgam capazes de definir o que pode dar certo ou não baseados na "experiência". Acontece que vivemos em movimento, onde as regras nem sempre perpetuam ou acompanham as mudanças de paradigmas, onde transformar significa sair da zona de conforto e mergulhar no desconhecido baseado em uma tese que pode fazer algum sentido e é com essa crença que Elon Musk vem construindo sua fortaleza - em "De Volta ao Espaço" tudo isso fica muito claro!
Chin e Vasarhely foram muito felizes em equilibrar a narrativa do documentário, focando em Bob Behnken e Doug Hurley, os dois astronautas americanos que encabeçaram a missão de chegar a ISS (International Space Station ou Estação Espacial Internacional) decolando de solo americano, depois de tantos anos; ao mesmo tempo em que retrata as dores, os anseios, as decisões e as convicções de Elon Musk que o levaram a criar a SpaceX (investindo muito da sua fortuna). Um dos grande méritos da produção, sem dúvida, é o mood de muita intimidade da narrativa - isso humaniza a figura de Musk de uma forma que é impossível não torcer pelo seu sucesso. Quando ele diz que teria dinheiro para apenas três lançamentos; ou quando depois de mais um fracasso, ainda impactado emocionalmente, ele incentiva um outro lançamento a partir de todos os aprendizados que essas experiências deixaram; e ainda quando ele tem que ouvir de um de seus maiores ídolos, o astronauta Neil Armstrong, que aquele projeto não levaria a lugar algum e mesmo assim se manter alinhado com sua convicção; temos a certeza que estamos diante de alguém muito especial - como foi Steve Jobs por exemplo.
Com os depoimentos de muitas pessoas envolvidas com a SpaceX, engenheiros, astronautas, familiares e do próprio Musk, "De Volta ao Espaço" é um presente, um relato histórico para muitas gerações, mas principalmente é um material de muito aprendizado. São imagens belíssimas, mas que estão sempre acompanhadas de muita emoção, em um trabalho que mistura entretenimento com muitos insights empreendedores. De se aplaudir de pé!
Vale muito o seu play!
O novo documentário da Netflix, "De Volta ao Espaço", tem alguns elementos que a minissérie, também da plataforma, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não conseguiu captar; porém, é preciso que se diga, grande parte da estrutura narrativa se repete para contar uma outra história e com o mesmo fim: ser um entretenimento de marca da Space X, mas aqui com uma participação mais ativa de Elon Musk - o que transforma o filme dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhely (vencedores do Oscar de "Melhor Documentário" com "Free Solo") em um excelente e imperdível estudo de caso sobre acreditar em algo que muita gente via como impossível (sem romantismo e com uma sensibilidade que eu ainda não tinha presenciado em relação ao Musk).
O documentário relata a jornada de preparação da equipe SpaceX, junto ao trabalho de décadas desenvolvido ao lado de Elon Musk para a retomada das viagens espaciais desde o cancelamento do programa espacial da NASA em 2011. Confira o trailer (em inglês):
99% dos empreendedores sofrem questionamentos sobre seus negócios. Se o produto ou serviço prometem disruptar um mercado então, aí esse número sobe tranquilamente para 100% - não é uma jornada fácil lidar, dia a dia, com tanta rejeição, questionamentos e com a falta de percepção de pessoas que se julgam capazes de definir o que pode dar certo ou não baseados na "experiência". Acontece que vivemos em movimento, onde as regras nem sempre perpetuam ou acompanham as mudanças de paradigmas, onde transformar significa sair da zona de conforto e mergulhar no desconhecido baseado em uma tese que pode fazer algum sentido e é com essa crença que Elon Musk vem construindo sua fortaleza - em "De Volta ao Espaço" tudo isso fica muito claro!
Chin e Vasarhely foram muito felizes em equilibrar a narrativa do documentário, focando em Bob Behnken e Doug Hurley, os dois astronautas americanos que encabeçaram a missão de chegar a ISS (International Space Station ou Estação Espacial Internacional) decolando de solo americano, depois de tantos anos; ao mesmo tempo em que retrata as dores, os anseios, as decisões e as convicções de Elon Musk que o levaram a criar a SpaceX (investindo muito da sua fortuna). Um dos grande méritos da produção, sem dúvida, é o mood de muita intimidade da narrativa - isso humaniza a figura de Musk de uma forma que é impossível não torcer pelo seu sucesso. Quando ele diz que teria dinheiro para apenas três lançamentos; ou quando depois de mais um fracasso, ainda impactado emocionalmente, ele incentiva um outro lançamento a partir de todos os aprendizados que essas experiências deixaram; e ainda quando ele tem que ouvir de um de seus maiores ídolos, o astronauta Neil Armstrong, que aquele projeto não levaria a lugar algum e mesmo assim se manter alinhado com sua convicção; temos a certeza que estamos diante de alguém muito especial - como foi Steve Jobs por exemplo.
Com os depoimentos de muitas pessoas envolvidas com a SpaceX, engenheiros, astronautas, familiares e do próprio Musk, "De Volta ao Espaço" é um presente, um relato histórico para muitas gerações, mas principalmente é um material de muito aprendizado. São imagens belíssimas, mas que estão sempre acompanhadas de muita emoção, em um trabalho que mistura entretenimento com muitos insights empreendedores. De se aplaudir de pé!
Vale muito o seu play!
Não por acaso gosto de afirmar que a maravilha do streaming está na possibilidade de ter contato com filmes como "Divertimento"! Sim, essa é uma história improvável que merecia ser contada e mesmo com um roteiro que deixa algumas pontas soltas, eu te adianto: é impossível não se apaixonar pela história de Zahia Ziouali. Não se preocupe, eu sei que você nem imagina quem seja Zahia Ziouali, natural (eu também nunca tinha ouvido falar); e é justamente por isso que esse filme é tão bacana e merece ser visto - ele vai deixar o seu coração bem quentinho e será difícil tirar o sorriso do rosto por alguns minutos após os créditos! Dirigido por Marie-Castille Mention-Schaar (de "Os Herdeiros"), "Divertimento" é um drama francês inspirado em eventos reais que celebra a paixão pela música e a luta pela igualdade e diversidade no mundo das artes. Através da história de Ziouani, conhecemos uma jovem maestrina de origem argelina que, contra todas as adversidades, luta para realizar seu sonho de liderar uma orquestra sinfônica. Saiba que o filme é mais do que um simples relato sobre superação; é uma reflexão sobre a importância da resiliência e a força transformadora da arte perante a sociedade.
A trama se passa em 1995 e segue Zahia Ziouani (Oulaya Amamra), uma jovem talentosa e ambiciosa de apenas 17 anos que deseja se tornar regente em um universo predominantemente masculino e elitista. Vinda de um subúrbio parisiense, ela enfrenta todo tipo de preconceito enquanto tenta abrir seu próprio caminho no mundo da música clássica. Para alcançar esse objetivo, Zahia decide fundar sua própria orquestra, a Divertimento, onde busca não apenas realizar seus sonhos, mas também oferecer oportunidades para jovens talentos que, como ela e sua irmã Fettouma (Lina El Arabi), foram historicamente excluídos dos palcos tradicionais. Confira o trailer:
"Divertimento" usa da força e do talento da sua protagonista para abordar a questão da representatividade e da inclusão na música clássica, um campo frequentemente associado a uma elite cultural e econômica. O filme não se esquiva de retratar os obstáculos enfrentados por Zahia, desde o preconceito racial até a resistência do establishment musical em aceitar uma jovem mulher de origem árabe como líder de uma orquestra na França dos anos 90. A diretora Marie-Castille Mention-Schaar constrói uma narrativa que é uma homenagem ao talento e a paixão pela música, mas também uma crítica social que questiona as barreiras impostas por uma sociedade inegavelmente machista. A direção de Mention-Schaar é sensível e cuidadosa ao tocar em temas tão sensíveis, evitando o melodrama gratuito e focando muito mais na autenticidade da história de Zahia do que no vitimismo. O filme, nesse sentido, se destaca por seu realismo, utilizando a música como um elemento narrativo que transcende palavras e emoções, servindo como um meio de expressão e, principalmente, de resistência - as cenas em que Zahia conduz a orquestra são particularmente emocionantes, transmitindo a beleza e a intensidade da música clássica de uma forma que captura a audiência, mesmo para aqueles que não são tão familiarizados com esse tipo de arte.
Oulaya Amamra entrega uma atuação poderosa como Zahia, capturando a determinação da personagem, mas também a vulnerabilidade e a insegurança de uma garota de 17 anos. Amamra transmite com autenticidade o peso das expectativas e dos desafios que Zahia enfrenta, ao mesmo tempo que mostra sua paixão ardente pela música que a impulsiona. A forma como Amamra conduz sua personagem é magnética, com uma presença carismática e nuances emocionais primorosas - novamente: é impossível não se conectar com sua jornada. Outro ponto que merece ser observado é a forma como o roteiro sabe lidar com a relação entre a música e a identidade cultural, no entanto Clara Bourreau, que co-escreve com Mention-Schaar, vacila ao querer discutir tantos polis ao ponto de ficar sem tempo de tela para entregar o que ficou apenas sugerido como conflito.
Aproveitando dos contrastes visuais entre os cenários do subúrbio parisiense e os espaços clássicos e imponentes das salas de concerto, "Divertimento" usa da dicotomia entre a origem humilde de Zahia e o mundo elitista da música que ela deseja conquistar, para reforçar o caráter transformador da arte. Emocionante e inspirador, o filme combina a beleza da música com uma mensagem poderosa e atual sobre igualdade. Até por se tratar de um recorte biográfico, é possível afirmar que o filme não é apenas um tributo ao poder da música, mas também à força de uma mulher que, apesar de todas as adversidades, lutou para fazer da sua paixão uma realidade e um exemplo!
Imperdível!
Não por acaso gosto de afirmar que a maravilha do streaming está na possibilidade de ter contato com filmes como "Divertimento"! Sim, essa é uma história improvável que merecia ser contada e mesmo com um roteiro que deixa algumas pontas soltas, eu te adianto: é impossível não se apaixonar pela história de Zahia Ziouali. Não se preocupe, eu sei que você nem imagina quem seja Zahia Ziouali, natural (eu também nunca tinha ouvido falar); e é justamente por isso que esse filme é tão bacana e merece ser visto - ele vai deixar o seu coração bem quentinho e será difícil tirar o sorriso do rosto por alguns minutos após os créditos! Dirigido por Marie-Castille Mention-Schaar (de "Os Herdeiros"), "Divertimento" é um drama francês inspirado em eventos reais que celebra a paixão pela música e a luta pela igualdade e diversidade no mundo das artes. Através da história de Ziouani, conhecemos uma jovem maestrina de origem argelina que, contra todas as adversidades, luta para realizar seu sonho de liderar uma orquestra sinfônica. Saiba que o filme é mais do que um simples relato sobre superação; é uma reflexão sobre a importância da resiliência e a força transformadora da arte perante a sociedade.
A trama se passa em 1995 e segue Zahia Ziouani (Oulaya Amamra), uma jovem talentosa e ambiciosa de apenas 17 anos que deseja se tornar regente em um universo predominantemente masculino e elitista. Vinda de um subúrbio parisiense, ela enfrenta todo tipo de preconceito enquanto tenta abrir seu próprio caminho no mundo da música clássica. Para alcançar esse objetivo, Zahia decide fundar sua própria orquestra, a Divertimento, onde busca não apenas realizar seus sonhos, mas também oferecer oportunidades para jovens talentos que, como ela e sua irmã Fettouma (Lina El Arabi), foram historicamente excluídos dos palcos tradicionais. Confira o trailer:
"Divertimento" usa da força e do talento da sua protagonista para abordar a questão da representatividade e da inclusão na música clássica, um campo frequentemente associado a uma elite cultural e econômica. O filme não se esquiva de retratar os obstáculos enfrentados por Zahia, desde o preconceito racial até a resistência do establishment musical em aceitar uma jovem mulher de origem árabe como líder de uma orquestra na França dos anos 90. A diretora Marie-Castille Mention-Schaar constrói uma narrativa que é uma homenagem ao talento e a paixão pela música, mas também uma crítica social que questiona as barreiras impostas por uma sociedade inegavelmente machista. A direção de Mention-Schaar é sensível e cuidadosa ao tocar em temas tão sensíveis, evitando o melodrama gratuito e focando muito mais na autenticidade da história de Zahia do que no vitimismo. O filme, nesse sentido, se destaca por seu realismo, utilizando a música como um elemento narrativo que transcende palavras e emoções, servindo como um meio de expressão e, principalmente, de resistência - as cenas em que Zahia conduz a orquestra são particularmente emocionantes, transmitindo a beleza e a intensidade da música clássica de uma forma que captura a audiência, mesmo para aqueles que não são tão familiarizados com esse tipo de arte.
Oulaya Amamra entrega uma atuação poderosa como Zahia, capturando a determinação da personagem, mas também a vulnerabilidade e a insegurança de uma garota de 17 anos. Amamra transmite com autenticidade o peso das expectativas e dos desafios que Zahia enfrenta, ao mesmo tempo que mostra sua paixão ardente pela música que a impulsiona. A forma como Amamra conduz sua personagem é magnética, com uma presença carismática e nuances emocionais primorosas - novamente: é impossível não se conectar com sua jornada. Outro ponto que merece ser observado é a forma como o roteiro sabe lidar com a relação entre a música e a identidade cultural, no entanto Clara Bourreau, que co-escreve com Mention-Schaar, vacila ao querer discutir tantos polis ao ponto de ficar sem tempo de tela para entregar o que ficou apenas sugerido como conflito.
Aproveitando dos contrastes visuais entre os cenários do subúrbio parisiense e os espaços clássicos e imponentes das salas de concerto, "Divertimento" usa da dicotomia entre a origem humilde de Zahia e o mundo elitista da música que ela deseja conquistar, para reforçar o caráter transformador da arte. Emocionante e inspirador, o filme combina a beleza da música com uma mensagem poderosa e atual sobre igualdade. Até por se tratar de um recorte biográfico, é possível afirmar que o filme não é apenas um tributo ao poder da música, mas também à força de uma mulher que, apesar de todas as adversidades, lutou para fazer da sua paixão uma realidade e um exemplo!
Imperdível!
Eu costumo dizer que antes de qualquer julgamento é preciso conhecer o outro lado da história e talvez esse seja o grande mérito de "Divino Baggio". Veja, se para nós brasileiros o dia 17 de Julho de 1994 foi inesquecível, para os italianos e, mais precisamente, para o camisa 10 da Azzurra, Roberto Baggio, aquela final disputada no Rose Bowl, na cidade dePasadena nosEstados Unidos, também foi!
Essa produção original da Netflix acompanha algumas passagens importantes dos 22 anos de carreira de Roberto Baggio e mostra tanto a história do jogador de futebol quanto do homem por trás da camisa 10, incluindo seus conflitos com os técnicos, alguns importantes imprevistos e dificuldades durante a carreira e, claro, sua enorme capacidade de recuperação, pessoal e profissional. "Divino Baggio" é um verdadeiro retrato de um ícone destinado a se tornar um símbolo do futebol italiano em todo o mundo. Confira o trailer:
Como toda cinebiografia, é preciso fazer um recorte da jornada do personagem e a escolha dos roteiristas Ludovica Rampoldi e Stefano Sardo (de “O Garoto Invisível“) foi dividir o filme em três grandes arcos: uma grave lesão quando Baggio estava prestes a se transferir do pequeno Vicenza para a tradicional Fiorentina na séria A como o jogador jovem mais bem pago da Itália, depois os bastidores da sinuosa campanha na Copa do Mundo de 1994 e por fim a sua luta pela redenção e a chance de disputar a Copa do Mundo de 2002, já mais próximo da aposentadoria. Como em três grandes atos independentes, o único problema dessa escolha foi a falta de conexão entre essas passagens tão importantes na vida do jogador - mesmo com as legendas indicando os saltos temporais, faltou unidade narrativa, porém não prejudica em nada a experiência, mas impacta na fluidez do filme.
Dirigido por Letizia Lamartire (da série “Baby”), "Divino Baggio" prioriza os bastidores, o que, de fato, acontecia fora das quatro linhas, pelo ponto de vista do jogador - para aqueles que esperam muitas cenas dentro de campo, esquece, o filme está preocupado com a intimidade do personagem, não com a espetacularização do esporte - e aqui cabe um comentário: mesmo assim, as cenas de jogos foram muito bem produzidas e, por incrível que pareça, bem caracterizadas - diferente de outro título que também tem o futebol como pano de fundo e que não teve a mesma preocupação: "El Presidente". O nível de produção é incomparável! Um detalhe que vale reparar: as partidas de futebol são filmadas com cortes rápidos e misturadas com imagens reais; como as reproduções dos lances são bem fidedignas, é bem difícil definir o que é real e o que foi encenado.
"Divino Baggio" dá suas derrapadas, e até pelo orçamento da produção evita mostrar mais cenas dentro de campo ou outros personagens famosos, mas, fora dele, entrega uma cinebiografia que merece respeito e muito bem realizada - a caracterização de Andrea Arcangeli, por exemplo, é impressionante. O fato é que, mesmo com todo brasileiro já sabendo o final dessa história, nos sentimos presos ao drama e nos solidarizamos com ele. Ao entender o que acontecia nos bastidores enquanto comemorávamos o tetra, passamos a enxergar Baggio menos como o atleta que perdeu um pênalti e mais como ser humano, com defeitos e qualidades - e isso terá um imenso valor (emocionante até) ao concluirmos essa jornada!
Vale seu play!
Eu costumo dizer que antes de qualquer julgamento é preciso conhecer o outro lado da história e talvez esse seja o grande mérito de "Divino Baggio". Veja, se para nós brasileiros o dia 17 de Julho de 1994 foi inesquecível, para os italianos e, mais precisamente, para o camisa 10 da Azzurra, Roberto Baggio, aquela final disputada no Rose Bowl, na cidade dePasadena nosEstados Unidos, também foi!
Essa produção original da Netflix acompanha algumas passagens importantes dos 22 anos de carreira de Roberto Baggio e mostra tanto a história do jogador de futebol quanto do homem por trás da camisa 10, incluindo seus conflitos com os técnicos, alguns importantes imprevistos e dificuldades durante a carreira e, claro, sua enorme capacidade de recuperação, pessoal e profissional. "Divino Baggio" é um verdadeiro retrato de um ícone destinado a se tornar um símbolo do futebol italiano em todo o mundo. Confira o trailer:
Como toda cinebiografia, é preciso fazer um recorte da jornada do personagem e a escolha dos roteiristas Ludovica Rampoldi e Stefano Sardo (de “O Garoto Invisível“) foi dividir o filme em três grandes arcos: uma grave lesão quando Baggio estava prestes a se transferir do pequeno Vicenza para a tradicional Fiorentina na séria A como o jogador jovem mais bem pago da Itália, depois os bastidores da sinuosa campanha na Copa do Mundo de 1994 e por fim a sua luta pela redenção e a chance de disputar a Copa do Mundo de 2002, já mais próximo da aposentadoria. Como em três grandes atos independentes, o único problema dessa escolha foi a falta de conexão entre essas passagens tão importantes na vida do jogador - mesmo com as legendas indicando os saltos temporais, faltou unidade narrativa, porém não prejudica em nada a experiência, mas impacta na fluidez do filme.
Dirigido por Letizia Lamartire (da série “Baby”), "Divino Baggio" prioriza os bastidores, o que, de fato, acontecia fora das quatro linhas, pelo ponto de vista do jogador - para aqueles que esperam muitas cenas dentro de campo, esquece, o filme está preocupado com a intimidade do personagem, não com a espetacularização do esporte - e aqui cabe um comentário: mesmo assim, as cenas de jogos foram muito bem produzidas e, por incrível que pareça, bem caracterizadas - diferente de outro título que também tem o futebol como pano de fundo e que não teve a mesma preocupação: "El Presidente". O nível de produção é incomparável! Um detalhe que vale reparar: as partidas de futebol são filmadas com cortes rápidos e misturadas com imagens reais; como as reproduções dos lances são bem fidedignas, é bem difícil definir o que é real e o que foi encenado.
"Divino Baggio" dá suas derrapadas, e até pelo orçamento da produção evita mostrar mais cenas dentro de campo ou outros personagens famosos, mas, fora dele, entrega uma cinebiografia que merece respeito e muito bem realizada - a caracterização de Andrea Arcangeli, por exemplo, é impressionante. O fato é que, mesmo com todo brasileiro já sabendo o final dessa história, nos sentimos presos ao drama e nos solidarizamos com ele. Ao entender o que acontecia nos bastidores enquanto comemorávamos o tetra, passamos a enxergar Baggio menos como o atleta que perdeu um pênalti e mais como ser humano, com defeitos e qualidades - e isso terá um imenso valor (emocionante até) ao concluirmos essa jornada!
Vale seu play!
"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite", "Talento e Fé"e "Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!
O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.
Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.
Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo.
"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real.
E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.
Vale a muito pena!
"Estrada para a Glória" é um filmaço, mas que provavelmente você já assistiu algo parecido - e isso não é (e nem deve ser) um problema, pois histórias como essa movem a sociedade para frente, nos faz refletir e, principalmente, serve de ensinamento para inúmeros momentos da nossa vida se tivermos a capacidade de fazer a leitura certa. O fato é que se você gosta de filmes como "No Limite", "Talento e Fé"e "Coach Carter", você não vai se arrepender de ler esse review e dar o play!
O filme é baseado em uma história real que se passa em 1966 e conta a jornada do primeiro time de basquete universitário da NCAA formado apenas por negros como titulares. Em um momento de grande discriminação racial, o treinador Don Hanskins (Josh Lucas) inicia uma busca incansável pelos melhores jogadores de basquete do EUA, independente da cor de sua pele. Hanskins tinha como propósito avaliar um jogador apenas por suas habilidades e comprometimento, mas suas escolhas impactaram para além do esporte, iniciando assim uma luta admirável pelo fim do preconceito racial.
Embora o roteiro dos estreantes (em 2006) Christopher Cleveland e Bettina Gilois, não seja um primor técnico, sem dúvida que a produção de Jerry Bruckheimer é! "Glory Road" (no original) faz uma reconstrução de época extremamente detalhista e muito bem alinhado com o conceito estético que o diretor James Gartner e seu fotógrafo Jeffrey L. Kimball (de "Os Mercenários") impõem na narrativa. Você vai reparar que a imagem é até granulada, "suja", amarelada; tudo isso para nos colocar naquela atmosfera antiga e de tensão social dos anos 60. Talvez, para nós brasileiros, soe até um pouco distante entender o tamanho da responsabilidade que é treinar um time universitário de basquete, porém o roteiro trata de colocar os elementos dramáticos essenciais exatamente onde devem estar, para termos a noção de como os desafios daqueles personagens caminham para o sentido exato da história - se alguns plots são mal desenvolvidos, como a relação de Hanskins com sua mulher Mary (Emily Deschanel) ou até as ameaças que ela vinha recebendo por ser casada com um treinador acostumado a quebrar regras, até o drama sobre a condição de saúde que poderia ter matado um dos atletas durante a temporada; tudo parece se dissolver no último ato quando a "hora da verdade" chega.
Mas qual é "hora da verdade"? Simples: o grande jogo, a final da NCAA! E não, isso não é um spoiler e tenho certeza que você que leu até aqui não seria ingênuo de pensar que isso não aconteceria e é para você, que provavelmente conhece do esporte, que dois pontos do filme passam a enriquecer a experiência. O primeiro á a participação de luxo de Jon Voight como Adolph Rupp um dos treinadores mais bem-sucedidos da história de Kentucky e o segundo em número de vitórias da liga - Voight não tem muito tempo na tela, mas soube usar com muita sabedoria e talento. O outro ponto para se atentar diz respeito a um nome que não deve e nem pode passar despercebido - do então jogador de Kentucky, Pat Riley (Wes Brown). Riley é, até hoje, considerado um dos maiores da NBA de todos os tempos, com cinco títulos como treinador principal, um como jogador e mais quatro envolvido como assistente ou executivo.
"Estrada para a Glória" não é um filme exclusivo para os amantes do esporte - mas claro que será melhor aproveitados por eles. A trama é de fato potente, bem produzida, bem dirigida e traz todos os elementos dramáticos necessários para um bom entretenimento com o bônus de ser uma história real.
E em tempo: Texas Western X Kentucky é considerado até hoje o “Jogo do Século” no basquete universitário.
Vale a muito pena!
Quando Céline Dion surgiu deslumbrante na Torre Eiffel para fechar a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024 e encantou a todos cantando o sucesso "L’Hymne à l’amour", certamente grande parte do público não imaginava o que esse fenômeno da música mundial estava passando em sua vida privada e te garanto, você vai se emocionar com o que "Eu Sou: Celine Dion" vai te mostrar! Dirigido por Irene Taylor (documentarista indicada ao Oscar por "The Final Inch"), o filme é um retrato profundamente emotivo e intimista que oferece uma visão crua e abrangente da vida e da carreira da cantora canadense após ela ter anunciado sofrer da rara síndrome da pessoa rígida (em inglês, Stiff Person Syndrome). Conhecida mundialmente por sua voz poderosa e sua presença cativante no palco, Dion é uma das artistas mais bem-sucedidas de todos os tempos e olha, justamente por essa aura de intocável, chega a ser surpreendente sua coragem por permitir que esse documentário tenha sido produzido. "Eu Sou: Celine Dion" não apenas pontua suas realizações profissionais ao longo dos anos, como também explora sem cortes a sua luta diária para recuperar aquilo que mais ama fazer na vida: cantar!
“Eu Sou: Celine Dion” nos fornece uma visão honesta dos bastidores da luta da icônica superestrela contra uma doença que transformou sua vida. Este documentário inspirador destaca como a música guiou a vida da artista, ao mesmo tempo que mostra a resiliência do espírito humano. Agora é preciso um alerta: o filme contém cenas impactantes de traumas ligados à saúde! Confira o trailer:
Irene Taylor é conhecida por sua habilidade em contar histórias humanas com profundidade e é isso que ela traz para o difícil, "Eu Sou: Celine Dion". Taylor é meticulosa e, de certa forma, fria, permitindo que a personalidade vibrante e a resiliência de Dion brilhem em cada frame com o mesmo impacto com que retrata a doença da cantora - algumas sequências, como a de Celine tendo uma convulsão após ensaiar em um estúdio, são de rasgar o coração. A diretora utiliza uma combinação eficaz de entrevistas, imagens de arquivo e gravações de performances ao vivo para pintar um retrato completo da artista, mas é com material captado no presente que o documentário ganha força dramática. O roteiro é cuidadosamente estruturado para equilibrar os altos e baixos da jornada de Dion, na carreira e na vida. Ele não se esquiva de abordar outros momentos difíceis, como a morte de seu marido, René Angélil, em 2016, ou os desafios de Dion em equilibrar sua vida pessoal com uma carreira que exigiu e exige muito dela.
Seguindo essa proposta de dar uma perspectiva rica e multifacetada sobre sua vida e carreira pós-diagnóstico, o documentário se aproveita de vários momentos de vulnerabilidade de Dion, mas tudo é tratado com uma honestidade que a humaniza de uma forma avassaladora ao ponto de ela mesma permitir que as imagens pós-convulsão fossem captadas. A fotografia de Nick Midwig (de "Marvel 616") é impressionante pela sua eficácia - ele captura tanto a grandiosidade das performances de Dion quanto a intimidade dolorosa dos dias atuais. A edição de Richard Comeau e de Christian Jensen merece um destaque especial: repare como as cenas dos shows são montadas com uma energia que transmite a magia das apresentações ao vivo, enquanto as entrevistas e cenas do cotidiano atual de Dion são capturadas com uma sensibilidade que nos permite ser um mero observador, e assim nos conectar profundamente com as dores da artista.
Naturalmente que "Eu Sou: Celine Dion"inclui muitos dos maiores sucessos da cantora - as músicas são utilizadas de maneira que intensificam a narrativa, ajudam a contar passagens de sua vida e, obviamente, sublinham os momentos de triunfo e de tristeza. Como vimos em "Gleason", esse documentário também traz muita dor, desconforto e até questionamentos - não se surpreenda se em muitos momentos você se perguntar "Como isso é tudo possível?". Pois bem, deixando a "Diva" de lado e apresentando uma Celine Dion de cara limpa, cabelos presos e uma larga camisa branca e moletom, o documentário é sim um retrato de alguém que precisava desabafar e que não estava mais disposta a manter as mesmas e evasivas justificativas para o seu sumiço, o "problema" é que o resultado dessa proposta íntima e sincera é realmente brutal!
Vale muito o seu play, mas esteja preparado!
Quando Céline Dion surgiu deslumbrante na Torre Eiffel para fechar a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024 e encantou a todos cantando o sucesso "L’Hymne à l’amour", certamente grande parte do público não imaginava o que esse fenômeno da música mundial estava passando em sua vida privada e te garanto, você vai se emocionar com o que "Eu Sou: Celine Dion" vai te mostrar! Dirigido por Irene Taylor (documentarista indicada ao Oscar por "The Final Inch"), o filme é um retrato profundamente emotivo e intimista que oferece uma visão crua e abrangente da vida e da carreira da cantora canadense após ela ter anunciado sofrer da rara síndrome da pessoa rígida (em inglês, Stiff Person Syndrome). Conhecida mundialmente por sua voz poderosa e sua presença cativante no palco, Dion é uma das artistas mais bem-sucedidas de todos os tempos e olha, justamente por essa aura de intocável, chega a ser surpreendente sua coragem por permitir que esse documentário tenha sido produzido. "Eu Sou: Celine Dion" não apenas pontua suas realizações profissionais ao longo dos anos, como também explora sem cortes a sua luta diária para recuperar aquilo que mais ama fazer na vida: cantar!
“Eu Sou: Celine Dion” nos fornece uma visão honesta dos bastidores da luta da icônica superestrela contra uma doença que transformou sua vida. Este documentário inspirador destaca como a música guiou a vida da artista, ao mesmo tempo que mostra a resiliência do espírito humano. Agora é preciso um alerta: o filme contém cenas impactantes de traumas ligados à saúde! Confira o trailer:
Irene Taylor é conhecida por sua habilidade em contar histórias humanas com profundidade e é isso que ela traz para o difícil, "Eu Sou: Celine Dion". Taylor é meticulosa e, de certa forma, fria, permitindo que a personalidade vibrante e a resiliência de Dion brilhem em cada frame com o mesmo impacto com que retrata a doença da cantora - algumas sequências, como a de Celine tendo uma convulsão após ensaiar em um estúdio, são de rasgar o coração. A diretora utiliza uma combinação eficaz de entrevistas, imagens de arquivo e gravações de performances ao vivo para pintar um retrato completo da artista, mas é com material captado no presente que o documentário ganha força dramática. O roteiro é cuidadosamente estruturado para equilibrar os altos e baixos da jornada de Dion, na carreira e na vida. Ele não se esquiva de abordar outros momentos difíceis, como a morte de seu marido, René Angélil, em 2016, ou os desafios de Dion em equilibrar sua vida pessoal com uma carreira que exigiu e exige muito dela.
Seguindo essa proposta de dar uma perspectiva rica e multifacetada sobre sua vida e carreira pós-diagnóstico, o documentário se aproveita de vários momentos de vulnerabilidade de Dion, mas tudo é tratado com uma honestidade que a humaniza de uma forma avassaladora ao ponto de ela mesma permitir que as imagens pós-convulsão fossem captadas. A fotografia de Nick Midwig (de "Marvel 616") é impressionante pela sua eficácia - ele captura tanto a grandiosidade das performances de Dion quanto a intimidade dolorosa dos dias atuais. A edição de Richard Comeau e de Christian Jensen merece um destaque especial: repare como as cenas dos shows são montadas com uma energia que transmite a magia das apresentações ao vivo, enquanto as entrevistas e cenas do cotidiano atual de Dion são capturadas com uma sensibilidade que nos permite ser um mero observador, e assim nos conectar profundamente com as dores da artista.
Naturalmente que "Eu Sou: Celine Dion"inclui muitos dos maiores sucessos da cantora - as músicas são utilizadas de maneira que intensificam a narrativa, ajudam a contar passagens de sua vida e, obviamente, sublinham os momentos de triunfo e de tristeza. Como vimos em "Gleason", esse documentário também traz muita dor, desconforto e até questionamentos - não se surpreenda se em muitos momentos você se perguntar "Como isso é tudo possível?". Pois bem, deixando a "Diva" de lado e apresentando uma Celine Dion de cara limpa, cabelos presos e uma larga camisa branca e moletom, o documentário é sim um retrato de alguém que precisava desabafar e que não estava mais disposta a manter as mesmas e evasivas justificativas para o seu sumiço, o "problema" é que o resultado dessa proposta íntima e sincera é realmente brutal!
Vale muito o seu play, mas esteja preparado!