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Um Lugar Qualquer

"Um Lugar Qualquer" fala de solidão, mas em uma outra camada, talvez até de uma forma mais cruel que é a de ter a impressão que temos tudo sob controle e que apenas as escolhas do passado foram a causa dessa situação. Entender que a felicidade não está no dinheiro ou na realização pessoal é um processo doloroso e, sim, o personagem Johnny Marco (Stephen Dorff) sente isso na pele - eu diria, inclusive, que por se tratar de uma relação "pai e filha" é até mais difícil lidar do que a situação do Bob Harris (Bill Murray) em "Encontros e Desencontros" (2003) - filme que discute sentimentos e sensações parecidos.


Em "Somewhere" (título original), acompanhamos o já citado Johnny Marco, um bem sucedido ator norte-americano que mora no lendário, mas impessoal, hotel Chateau Marmont enquanto se recupera de um leve acidente. A rotina do ator se resume em diversão, álcool e sexo, mas também no vazio, na falta de relação afetiva e muita melancolia, pois tudo (ou quase tudo) na vida de Marco lhe é entregue de bandeja, sem esforço, por conveniência da profissão. Quando sua filha Cleo (Elle Fanning) chega para passar uma temporada com ele, Marco percebe que a verdadeira felicidade não está nas conquistas profissionais ou na farra irresponsável, e sim na cumplicidade entre pai e filha, mas talvez já seja tarde demais para mudar algo que ele mesmo provocou. Confira o trailer:

Ser filha de um grande diretor não deve ser tarefa das mais fáceis, mas acredite: não foi por acaso que Sofia Coppola conquistou alguns dos principais prêmios que um diretor pode almejar na carreira - do Oscar de melhor roteiro original ao Leão de Ouro do Festival de Veneza. Dito isso, meu conselho é: quem não viu "Um Lugar Qualquer", veja, pois Sofia não é só a filha de Francis Ford Coppola! O filme é, de fato, muito bom, tem um roteiro muito bem escrito, com uma direção focada nos detalhes e toda aquela capacidade de captar o sentimento que ela mostrou em"Encontros e Desencontros" está ali, com a mesma maestria e sensibilidade.

Embora não seja uma jornada das mais fáceis, pelo estilo cadenciado do filme e pelo assunto que ele discute, "Um Lugar Qualquer" é muito provocador e merece muitos elogios. Claro que ele vai impactar um número limitado da audiência, possivelmente aquele que mergulha nas inúmeras camadas de um personagem bastante complexo e que se permite projetar na história suas próprias experiências e aqui, o silêncio e uma trilha sonora lindíssima facilitam essa imersão. Outro detalhe bem interessante: reparem como a Sofia Coppola conta essa história: ela usa  uma câmera fixa, como se o ação fizesse parte de um quadro, de uma pintura, para que possamos acompanhar a cena e só julgar o que estamos vendo; e aí vem o golaço, porque ela nos mostra um dos lados em profundidade e logo depois já nos pergunta" qual é o seu lado que sentiria, justamente, aquele julgamento? É incrível, pois mesmo sem perceber, estamos julgando aquele estilo de vida o tempo todo, mas depois vamos entendendo o preço que se paga por esse tipo "escolha".

"Um Lugar Qualquer" é um grande filme, mas será preciso uma certa sensibilidade para entender o "vazio" que a diretora propõe e em muitas passagens não vamos nos permitir encarar esse sentimento de frente, com sinceridade - e isso vai refletir na sua critica perante o que você assistiu! Para nós, imperdível!

Assista Agora

"Um Lugar Qualquer" fala de solidão, mas em uma outra camada, talvez até de uma forma mais cruel que é a de ter a impressão que temos tudo sob controle e que apenas as escolhas do passado foram a causa dessa situação. Entender que a felicidade não está no dinheiro ou na realização pessoal é um processo doloroso e, sim, o personagem Johnny Marco (Stephen Dorff) sente isso na pele - eu diria, inclusive, que por se tratar de uma relação "pai e filha" é até mais difícil lidar do que a situação do Bob Harris (Bill Murray) em "Encontros e Desencontros" (2003) - filme que discute sentimentos e sensações parecidos.


Em "Somewhere" (título original), acompanhamos o já citado Johnny Marco, um bem sucedido ator norte-americano que mora no lendário, mas impessoal, hotel Chateau Marmont enquanto se recupera de um leve acidente. A rotina do ator se resume em diversão, álcool e sexo, mas também no vazio, na falta de relação afetiva e muita melancolia, pois tudo (ou quase tudo) na vida de Marco lhe é entregue de bandeja, sem esforço, por conveniência da profissão. Quando sua filha Cleo (Elle Fanning) chega para passar uma temporada com ele, Marco percebe que a verdadeira felicidade não está nas conquistas profissionais ou na farra irresponsável, e sim na cumplicidade entre pai e filha, mas talvez já seja tarde demais para mudar algo que ele mesmo provocou. Confira o trailer:

Ser filha de um grande diretor não deve ser tarefa das mais fáceis, mas acredite: não foi por acaso que Sofia Coppola conquistou alguns dos principais prêmios que um diretor pode almejar na carreira - do Oscar de melhor roteiro original ao Leão de Ouro do Festival de Veneza. Dito isso, meu conselho é: quem não viu "Um Lugar Qualquer", veja, pois Sofia não é só a filha de Francis Ford Coppola! O filme é, de fato, muito bom, tem um roteiro muito bem escrito, com uma direção focada nos detalhes e toda aquela capacidade de captar o sentimento que ela mostrou em"Encontros e Desencontros" está ali, com a mesma maestria e sensibilidade.

Embora não seja uma jornada das mais fáceis, pelo estilo cadenciado do filme e pelo assunto que ele discute, "Um Lugar Qualquer" é muito provocador e merece muitos elogios. Claro que ele vai impactar um número limitado da audiência, possivelmente aquele que mergulha nas inúmeras camadas de um personagem bastante complexo e que se permite projetar na história suas próprias experiências e aqui, o silêncio e uma trilha sonora lindíssima facilitam essa imersão. Outro detalhe bem interessante: reparem como a Sofia Coppola conta essa história: ela usa  uma câmera fixa, como se o ação fizesse parte de um quadro, de uma pintura, para que possamos acompanhar a cena e só julgar o que estamos vendo; e aí vem o golaço, porque ela nos mostra um dos lados em profundidade e logo depois já nos pergunta" qual é o seu lado que sentiria, justamente, aquele julgamento? É incrível, pois mesmo sem perceber, estamos julgando aquele estilo de vida o tempo todo, mas depois vamos entendendo o preço que se paga por esse tipo "escolha".

"Um Lugar Qualquer" é um grande filme, mas será preciso uma certa sensibilidade para entender o "vazio" que a diretora propõe e em muitas passagens não vamos nos permitir encarar esse sentimento de frente, com sinceridade - e isso vai refletir na sua critica perante o que você assistiu! Para nós, imperdível!

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Um Lugar Silencioso: Dia Um

Esse é um filme que divide opiniões, especialmente se as expectativas não estiverem muito bem alinhadas. Veja, é preciso olhar para "Um Lugar Silencioso: Dia Um" como uma peça de um jogo mais elaborado - com uma estrutura conceitual muito parecida com "Cloverfield", por exemplo, ou seja, você não vai encontrar todas as respostas aqui, mas vai se divertir com um ótimo entretenimento que mistura ficção científica com algum drama. "A Quiet Place: Day One", no original, dirigido por Michael Sarnoski (de "Pig: A Vingança"), expande o universo tenso e aterrorizante criado por John Krasinski, porém com um olhar para os eventos que precederam o filme original. Este prelúdio aprofunda o impacto inicial da invasão das criaturas sensíveis ao som, proporcionando um mergulho visceral e emocional em um dos dias mais caóticos e desesperadores da humanidade. Assim como em "Bird Box" e até como em "Last of Us", o filme explora a fragilidade humana diante de uma invasão repentina e incompreensível, equilibrando momentos de angustia com uma incansável luta pela sobrevivência.

A história acompanha Samira (Lupita Nyong'o), uma mulher doente e solitária, que precisa lidar com o caos de Nova York enquanto o pânico inicial pela chegada das criaturas alienígenas se desenrola, capturando a devastação do primeiro dia da invasão. Embora se conecte tematicamente aos dois primeiros filmes da franquia, "Dia Um" funciona como uma narrativa independente, explorando o impacto local ao horror avassalador de um mundo subitamente silencioso. O foco está na luta para compreender o novo e assim sobreviver em um ambiente onde o menor ruído pode significar morte certa. Confira o trailer:

Michael Sarnoski traz uma abordagem intimista e emocional para o gênero de ficção científica, enquanto respeita os elementos de suspense que definiram a franquia. Sua direção se concentra em momentos de certa vulnerabilidade e coragem de Samira, utilizando o caos para explorar as escolhas morais e emocionais feitas sob extrema pressão. O resultado é um filme que é ao mesmo tempo um espetáculo visual aterrorizante e uma meditação "silenciosa" sobre a resiliência humana. A estética de "Dia Um" reflete o estilo de seus predecessores, mas com uma escala ampliada para capturar a devastação de Nova York. As cenas de destruição e de ação são realizadas com precisão técnica e visual, equilibrando a gramática do suspense com as explosões de terror e adrenalina. A direção de fotografia de Pat Scola (companheiro de Sarnoski em "Pig" ) transita entre a câmera fixa e uma mais nervosa, para criar uma atmosfera claustrofóbica, muitas vezes próxima aos personagens, amplificando a sensação de perigo iminente.

O som, como esperado, desempenha um papel crucial na narrativa. A trilha sonora é utilizada com parcimônia, deixando que o silêncio e o som ambiente dominem o espaço. O design de som é meticuloso nesse sentido, já que é ele que pontua e destaca o impacto aterrador de cada ruído - sério, é angustiante, uma tensão constante. Esse domínio técnico permite que "Um Lugar Silencioso: Dia Um"mantenha a audiência à beira da cadeira, transformando a falta de som em uma ferramenta narrativa tão poderosa quanto as próprias criaturas. Lupita Nyong'o entrega uma interpretação convincente que ancora esse tipo de terror com emoções reais. Nyong'o e Joseph Quinn, como Erick, são humanos, com medos, dúvidas e até momentos de heroísmo, o que permite uma certa conecção com suas lutas e triunfos. Embora menos focado em um núcleo familiar, como os dois primeiros filmes, "Dia Um" expande o universo explorando outras perspectivas e histórias de sobrevivência - se não com tanto brilho, pelo menos como um ótimo entretenimento.

"Um Lugar Silencioso" é uma franquia de regras muito bem estabelecidas, onde, desde a primeira cena do filme original, já sabemos que o menor barulho pode ser fatal para qualquer personagem. Dito isso, a repetição da experiência sensorial proposta por Krasinski em 2018 é mais que suficiente para fazer com que esse prelúdio funcione bem, mesmo que alguns ainda busquem maiores explicações canônicas para a invasão alienígena - o que não é o melhor caminho, já que o que vale aqui é a luta pela sobrevivência e só!

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Esse é um filme que divide opiniões, especialmente se as expectativas não estiverem muito bem alinhadas. Veja, é preciso olhar para "Um Lugar Silencioso: Dia Um" como uma peça de um jogo mais elaborado - com uma estrutura conceitual muito parecida com "Cloverfield", por exemplo, ou seja, você não vai encontrar todas as respostas aqui, mas vai se divertir com um ótimo entretenimento que mistura ficção científica com algum drama. "A Quiet Place: Day One", no original, dirigido por Michael Sarnoski (de "Pig: A Vingança"), expande o universo tenso e aterrorizante criado por John Krasinski, porém com um olhar para os eventos que precederam o filme original. Este prelúdio aprofunda o impacto inicial da invasão das criaturas sensíveis ao som, proporcionando um mergulho visceral e emocional em um dos dias mais caóticos e desesperadores da humanidade. Assim como em "Bird Box" e até como em "Last of Us", o filme explora a fragilidade humana diante de uma invasão repentina e incompreensível, equilibrando momentos de angustia com uma incansável luta pela sobrevivência.

A história acompanha Samira (Lupita Nyong'o), uma mulher doente e solitária, que precisa lidar com o caos de Nova York enquanto o pânico inicial pela chegada das criaturas alienígenas se desenrola, capturando a devastação do primeiro dia da invasão. Embora se conecte tematicamente aos dois primeiros filmes da franquia, "Dia Um" funciona como uma narrativa independente, explorando o impacto local ao horror avassalador de um mundo subitamente silencioso. O foco está na luta para compreender o novo e assim sobreviver em um ambiente onde o menor ruído pode significar morte certa. Confira o trailer:

Michael Sarnoski traz uma abordagem intimista e emocional para o gênero de ficção científica, enquanto respeita os elementos de suspense que definiram a franquia. Sua direção se concentra em momentos de certa vulnerabilidade e coragem de Samira, utilizando o caos para explorar as escolhas morais e emocionais feitas sob extrema pressão. O resultado é um filme que é ao mesmo tempo um espetáculo visual aterrorizante e uma meditação "silenciosa" sobre a resiliência humana. A estética de "Dia Um" reflete o estilo de seus predecessores, mas com uma escala ampliada para capturar a devastação de Nova York. As cenas de destruição e de ação são realizadas com precisão técnica e visual, equilibrando a gramática do suspense com as explosões de terror e adrenalina. A direção de fotografia de Pat Scola (companheiro de Sarnoski em "Pig" ) transita entre a câmera fixa e uma mais nervosa, para criar uma atmosfera claustrofóbica, muitas vezes próxima aos personagens, amplificando a sensação de perigo iminente.

O som, como esperado, desempenha um papel crucial na narrativa. A trilha sonora é utilizada com parcimônia, deixando que o silêncio e o som ambiente dominem o espaço. O design de som é meticuloso nesse sentido, já que é ele que pontua e destaca o impacto aterrador de cada ruído - sério, é angustiante, uma tensão constante. Esse domínio técnico permite que "Um Lugar Silencioso: Dia Um"mantenha a audiência à beira da cadeira, transformando a falta de som em uma ferramenta narrativa tão poderosa quanto as próprias criaturas. Lupita Nyong'o entrega uma interpretação convincente que ancora esse tipo de terror com emoções reais. Nyong'o e Joseph Quinn, como Erick, são humanos, com medos, dúvidas e até momentos de heroísmo, o que permite uma certa conecção com suas lutas e triunfos. Embora menos focado em um núcleo familiar, como os dois primeiros filmes, "Dia Um" expande o universo explorando outras perspectivas e histórias de sobrevivência - se não com tanto brilho, pelo menos como um ótimo entretenimento.

"Um Lugar Silencioso" é uma franquia de regras muito bem estabelecidas, onde, desde a primeira cena do filme original, já sabemos que o menor barulho pode ser fatal para qualquer personagem. Dito isso, a repetição da experiência sensorial proposta por Krasinski em 2018 é mais que suficiente para fazer com que esse prelúdio funcione bem, mesmo que alguns ainda busquem maiores explicações canônicas para a invasão alienígena - o que não é o melhor caminho, já que o que vale aqui é a luta pela sobrevivência e só!

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Um Motivo para Lutar

"Um Motivo para Lutar" realmente pode te surpreender! O filme dirigido por Romain Cogitore é uma mistura equilibrada de drama e romance, que se apoia em uma narrativa emocionalmente intensa e cheia de contrastes bem ao estilo "Mil Vezes Boa Noite". Essa produção francesa da Disney, explora a interseção delicada entre a ideologia e as relações humanas, oferecendo uma reflexão profunda sobre o impacto das convicções em momentos de conflito. O filme se destaca ao discutir como o ativismo social e ambiental moldam as escolhas e as dinâmicas entre os personagens, criando dilemas complexos que desafiam os limites entre o dever e o afeto.

A trama segue Stella (Lyna Khoudri), uma jovem ativista engajada na resistência contra um projeto de construção em uma área ambientalmente protegida conhecida como "ZAD" (Zone à Défendre). No meio desse conflito, ela se envolve com Alexandre (François Civil), um policial infiltrado na comunidade de ativistas. À medida que o relacionamento entre eles se desenvolve, os dilemas éticos e emocionais emergem, colocando em risco tanto suas convicções quanto seus sentimentos. Confira o trailer (em francês):

Cogitore dirige o filme com uma sensibilidade impressionante, especialmente ao tratar da intimidade inserida dentro de um contexto de tensão política. Sua direção evita simplificações, focando justamente na ambiguidade moral que permeia a relação entre os protagonistas e a própria causa que eles defendem. A construção narrativa é tão cuidadosa que faz com que a tensão emocional entre Stella e Alexandre se desenvolva de um forma gradual, mantendo a audiência intrigada e entretida até o final. O roteiro escrito por Cogitore em parceria com Thomas Bidegain (de "Ferrugem e Osso") e Catherine Paillé (de "O Segredo da Câmara Escura") equilibra bem essa relação mais pessoal sem nunca abrir mão do pano de fundo político. A forma como "Um Motivo para Lutar"aborda a linha tênue entre o idealismo e o extremismo é notável, evitando juízos fáceis e oferecendo uma visão humana tanto dos ativistas quanto das forças de repressão. 

A performance do elenco encabeçado por Lyna Khoudri e François Civil, sem dúvida, é um dos pontos altos do filme. Khoudri entrega uma personagem autêntica e visceral, revelando a sua intensidade e a sua vulnerabilidade diante dos dilemas afetivos e sociais que permeiam a narrativa. Civil também brilha ao interpretar Alexandre, um homem dividido entre sua missão profissional e o envolvimento emocional que nasce dentro da comunidade - a química entre os dois é palpável, e suas interações refletem a tensão entre "dever e desejo" a cada cena. Outro fator que ajuda a construir essa atmosfera de dualidade é a fotografia de Julien Hirsch (de "Lady Chatterley") - ao capturar as paisagens naturais da "ZAD", ele reforça tanto a beleza quanto a fragilidade do local. Os ambientes densos e isolados simbolizam a resistência dos ativistas e a pressão crescente que eles enfrentam, enquanto a escolha de cores mais naturalistas e uma iluminação suave complementam o tom intimista da narrativa. Repare como essa estética acentua os momentos de silêncio e reflexão, intensificando o impacto da história.

O foco na construção emocional e nas nuances dos personagens é um ponto relevante do trabalho de Cogitore, por outro lado essa identidade mais autoral impacta no ritmo e isso pode desgarrar alguns - e também pode dar a sensação de que a trama se alonga desnecessariamente em alguns momentos. No entanto, "Une Zone à Défendre" (no original), posso garantir, é uma experiência bastante envolvente especialmente por explorar a dinâmica entre Stella e Alexandre, respeitando a complexidade dos vínculos formados em contextos de conflito e a dificuldade de conciliar afetos com convicções. Realmente um convite para a reflexão sobre a natureza do compromisso e as fronteiras entre o amor e a lealdade por um ideal.

Vale muito o seu play!

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"Um Motivo para Lutar" realmente pode te surpreender! O filme dirigido por Romain Cogitore é uma mistura equilibrada de drama e romance, que se apoia em uma narrativa emocionalmente intensa e cheia de contrastes bem ao estilo "Mil Vezes Boa Noite". Essa produção francesa da Disney, explora a interseção delicada entre a ideologia e as relações humanas, oferecendo uma reflexão profunda sobre o impacto das convicções em momentos de conflito. O filme se destaca ao discutir como o ativismo social e ambiental moldam as escolhas e as dinâmicas entre os personagens, criando dilemas complexos que desafiam os limites entre o dever e o afeto.

A trama segue Stella (Lyna Khoudri), uma jovem ativista engajada na resistência contra um projeto de construção em uma área ambientalmente protegida conhecida como "ZAD" (Zone à Défendre). No meio desse conflito, ela se envolve com Alexandre (François Civil), um policial infiltrado na comunidade de ativistas. À medida que o relacionamento entre eles se desenvolve, os dilemas éticos e emocionais emergem, colocando em risco tanto suas convicções quanto seus sentimentos. Confira o trailer (em francês):

Cogitore dirige o filme com uma sensibilidade impressionante, especialmente ao tratar da intimidade inserida dentro de um contexto de tensão política. Sua direção evita simplificações, focando justamente na ambiguidade moral que permeia a relação entre os protagonistas e a própria causa que eles defendem. A construção narrativa é tão cuidadosa que faz com que a tensão emocional entre Stella e Alexandre se desenvolva de um forma gradual, mantendo a audiência intrigada e entretida até o final. O roteiro escrito por Cogitore em parceria com Thomas Bidegain (de "Ferrugem e Osso") e Catherine Paillé (de "O Segredo da Câmara Escura") equilibra bem essa relação mais pessoal sem nunca abrir mão do pano de fundo político. A forma como "Um Motivo para Lutar"aborda a linha tênue entre o idealismo e o extremismo é notável, evitando juízos fáceis e oferecendo uma visão humana tanto dos ativistas quanto das forças de repressão. 

A performance do elenco encabeçado por Lyna Khoudri e François Civil, sem dúvida, é um dos pontos altos do filme. Khoudri entrega uma personagem autêntica e visceral, revelando a sua intensidade e a sua vulnerabilidade diante dos dilemas afetivos e sociais que permeiam a narrativa. Civil também brilha ao interpretar Alexandre, um homem dividido entre sua missão profissional e o envolvimento emocional que nasce dentro da comunidade - a química entre os dois é palpável, e suas interações refletem a tensão entre "dever e desejo" a cada cena. Outro fator que ajuda a construir essa atmosfera de dualidade é a fotografia de Julien Hirsch (de "Lady Chatterley") - ao capturar as paisagens naturais da "ZAD", ele reforça tanto a beleza quanto a fragilidade do local. Os ambientes densos e isolados simbolizam a resistência dos ativistas e a pressão crescente que eles enfrentam, enquanto a escolha de cores mais naturalistas e uma iluminação suave complementam o tom intimista da narrativa. Repare como essa estética acentua os momentos de silêncio e reflexão, intensificando o impacto da história.

O foco na construção emocional e nas nuances dos personagens é um ponto relevante do trabalho de Cogitore, por outro lado essa identidade mais autoral impacta no ritmo e isso pode desgarrar alguns - e também pode dar a sensação de que a trama se alonga desnecessariamente em alguns momentos. No entanto, "Une Zone à Défendre" (no original), posso garantir, é uma experiência bastante envolvente especialmente por explorar a dinâmica entre Stella e Alexandre, respeitando a complexidade dos vínculos formados em contextos de conflito e a dificuldade de conciliar afetos com convicções. Realmente um convite para a reflexão sobre a natureza do compromisso e as fronteiras entre o amor e a lealdade por um ideal.

Vale muito o seu play!

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Um Reencontro

"Um Reencontro" é um típico romance francês - daqueles que assistimos sorrindo. Se você busca um filme sobre relações, leve, bem escrito, bem dirigido e bastante despretensioso, pode dar o play sem receio que sua diversão está garantida e também pode ter certeza: ele vai te provocar deliciosas memórias!

Pierre (François Cluzet) é um advogado criminalista reconhecido, casado há mais de 15 anos e que sempre coloca a família em primeiro lugar. Elsa (Sophie Marceau) é uma escritora recém-saída de um divórcio com dois filhos adolescentes e que vive um bom momento profissional. Um relacionamento amoroso entre os dois, portanto, seria proibido, mas desde a primeira troca de olhares, algo mudou na vida dos dois. Agora, eles terão que decidir se seguem esse desejo e essa paixão ou se param enquanto conseguem resistir um ao outro. Confira o trailer: 

Essa história escrita e dirigida pela francesa Lisa Azuelos (que também faz uma interessante participação como Anne, a mulher de Pierre) tem um elemento, que por sinal é explicado rapidamente durante o filme e que não tem a menor intenção de fazer dessa premissa uma verdade absoluta como em "As Leis da Termodinâmica", que remete à física quântica. Veja, se um átomo pode estar em diferentes lugares ao mesmo tempo, consequentemente, é possível que existam trajetórias diferentes ao mesmo tempo. Transportando para um relacionamento, diferentes possibilidades a partir de uma única ação não é algo tão absurdo - tanto que o livro que a personagem Elsa está lançando na ficção é intitulado “Homem Quântico”.

Feito esse disclaimer, "Um Reencontro" constrói sua narrativa em cima de algumas possibilidades a cada reencontro de Pierre e Elsa, respeitando uma ideia clara de "e se?" e assim se divertindo com todas as suspensões de realidade que um romance permitiria ter. Visualmente, Azuelos se alinha com o mesmo conceito: sua câmera passeia pelas reações dos protagonistas com uma delicadeza e sensibilidade impressionantes. Se os planos são fechamos, entendemos seus desejos mais íntimos; se plano está mais aberto, o que vemos é a confusão entre "razão" e "coração" que ambos precisam lidar a cada encontro. As transições entre essas duas situações, inclusive, são, além de criativas, tecnicamente muito bem executadas, criando um dinâmica muito bacana de assistir.

Tanto Marceau quanto François estão perfeitos - existe uma química entre os dois de dar inveja! A trilha sonora ajuda, e muito, na construção dessa relação e é um espetáculo a parte. Reparem como a montagem, responsabilidade de Stan Collet e Karine Prido, encaixa ótimos diálogos com essa trilha empolgante a partir de cortes precisos, dando um ar de modernidade diferenciado ao filme - além de reforçar a ideia sobre as diferentes possibilidades de uma relação entre dois personagens apaixonados que não podem se envolver - nesse sentido, as referência da literatura também estão no roteiro.  Eu diria que é o clássico do conteúdo com a modernidade da forma! Funciona!

"Um Reencontro" vale muito a pena mesmo! 

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"Um Reencontro" é um típico romance francês - daqueles que assistimos sorrindo. Se você busca um filme sobre relações, leve, bem escrito, bem dirigido e bastante despretensioso, pode dar o play sem receio que sua diversão está garantida e também pode ter certeza: ele vai te provocar deliciosas memórias!

Pierre (François Cluzet) é um advogado criminalista reconhecido, casado há mais de 15 anos e que sempre coloca a família em primeiro lugar. Elsa (Sophie Marceau) é uma escritora recém-saída de um divórcio com dois filhos adolescentes e que vive um bom momento profissional. Um relacionamento amoroso entre os dois, portanto, seria proibido, mas desde a primeira troca de olhares, algo mudou na vida dos dois. Agora, eles terão que decidir se seguem esse desejo e essa paixão ou se param enquanto conseguem resistir um ao outro. Confira o trailer: 

Essa história escrita e dirigida pela francesa Lisa Azuelos (que também faz uma interessante participação como Anne, a mulher de Pierre) tem um elemento, que por sinal é explicado rapidamente durante o filme e que não tem a menor intenção de fazer dessa premissa uma verdade absoluta como em "As Leis da Termodinâmica", que remete à física quântica. Veja, se um átomo pode estar em diferentes lugares ao mesmo tempo, consequentemente, é possível que existam trajetórias diferentes ao mesmo tempo. Transportando para um relacionamento, diferentes possibilidades a partir de uma única ação não é algo tão absurdo - tanto que o livro que a personagem Elsa está lançando na ficção é intitulado “Homem Quântico”.

Feito esse disclaimer, "Um Reencontro" constrói sua narrativa em cima de algumas possibilidades a cada reencontro de Pierre e Elsa, respeitando uma ideia clara de "e se?" e assim se divertindo com todas as suspensões de realidade que um romance permitiria ter. Visualmente, Azuelos se alinha com o mesmo conceito: sua câmera passeia pelas reações dos protagonistas com uma delicadeza e sensibilidade impressionantes. Se os planos são fechamos, entendemos seus desejos mais íntimos; se plano está mais aberto, o que vemos é a confusão entre "razão" e "coração" que ambos precisam lidar a cada encontro. As transições entre essas duas situações, inclusive, são, além de criativas, tecnicamente muito bem executadas, criando um dinâmica muito bacana de assistir.

Tanto Marceau quanto François estão perfeitos - existe uma química entre os dois de dar inveja! A trilha sonora ajuda, e muito, na construção dessa relação e é um espetáculo a parte. Reparem como a montagem, responsabilidade de Stan Collet e Karine Prido, encaixa ótimos diálogos com essa trilha empolgante a partir de cortes precisos, dando um ar de modernidade diferenciado ao filme - além de reforçar a ideia sobre as diferentes possibilidades de uma relação entre dois personagens apaixonados que não podem se envolver - nesse sentido, as referência da literatura também estão no roteiro.  Eu diria que é o clássico do conteúdo com a modernidade da forma! Funciona!

"Um Reencontro" vale muito a pena mesmo! 

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Uma Bela Manhã

Uma Bela Manhã

Um filme sobre a vida como ela é - linda, mas cheia de pancadas!

Talvez não tenha maneira mais direta de definir "Uma Bela Manhã", filme dirigido por uma das mais respeitadas cineastas francesas em atividade, Mia Hansen-Løve (de "O Que Está Por Vir"). Seguindo muito seu conceito cinematográfico de retratar a vida cotidiana e suas relações mais particulares, Mia, mais uma vez, lança um olhar dos mais interessantes sobre seus personagens ao mesmo tempo em que se revela disposta a confrontá-los com situações complexas, mas de fácil identificação. Veja, se você está a procura do embate natural das relações ou uma história que segue aquela estrutura mais tradicional, certamente esse filme não é para você. Por outro lado, se estiver disposto a mergulhar em uma narrativa profundamente intima, de uma personagem que tenta encontrar a alegria nas pequenas coisas e na esperança de que tudo vai se encaixar em algum momento, mesmo que para isso tenha que lidar com os tombos da vida e com o tempo que faz questão de mostrar a sua crueldade, você está no lugar certo - mas não será uma jornada fácil (e dependendo do momento em que está passando, será uma jornada dificílima)!

Sandra (Léa Seydoux) é uma jovem viúva que trabalha como tradutora e que cria sozinha sua filha de 8 anos, tendo que lidar com os desafios da maternidade ao mesmo tempo em que cuida de seu pai, Georg Kinsler (Pascal Greggory), um professor de Filosofia aposentado e que já não pode mais se esquivar de uma morte lenta diante de uma doença degenerativa. Enquanto ela embarca com sua família por obstáculos em hospitais e lares de idosos para instalar Georg em um lugar seguro, Sandra se envolve com Clément (Melvil Poupaud), um homem casado e amigo do seu falecido marido. Confira o trailer:

É impossível não olhar para "Un Beau Matin" (no original) e não ficar absolutamente boquiaberto com a performance de Léa Seydoux (de "Azul é a Cor Mais Quente"). Dentro daquela atmosfera tão deprimente quanto humana, Seydoux entrega no olhar, a sua dor - e saiba que o "deprimente" que cito não se vale do estereótipo ou do convencional, mas sim da sensibilidade de entender que longe da fantasia, existe uma batalha diária para lidar com sua própria cruz. E aqui, também é preciso que se diga, o roteiro da própria Mia enaltece essa perspectiva mais introspectiva em um confronto quase visceral entre o que se sente e o que se mostra! É impressionante como essa dualidade alcança tons tão marcantes na maneira como experienciamos o filme - é de sentir uma dor no peito, pelo outro, ou por nós mesmos.

A diretora sabe do tamanho de sua responsabilidade ao basear uma história de quase duas horas apenas na psicologia de seus personagens. Reparem como até mesmo um pedido aparentemente simples de uma ex-aluna de seu pai como “você poderia me passar o e-mail dele?”,  é capaz de levar Sandra às lágrimas. Sim, é um pedido cotidiano, mas o impacto do "comum" é o que move Mia na exploração magistral da condição humana como ninguém. Ela usa gatilhos narrativos perfeitos para discutir a complexidade dos relacionamentos (a dúvida natural de Clément sobre seu casamento, é um ótimo ponto) e das mudanças ao longo do tempo (a relação com sua mãe e sua irmã, e depois com seu pai, exemplificam bem essa provocação).  

A direção de arte de Mila Preli (de "História de um Olhar") é fantástica - reparem como os cenários ajudam a construir a personalidade dos personagens. Já a fotografia do Denis Lenoir (de "Irma Vep") ao mesmo tempo que cria um ambiente sutil e palpável, carrega uma densidade impressionante. O fato é que tecnicamente o filme é tão bom quanto artisticamente, mesmo com seu ar mais independente.  "Uma Bela Manhã" tem mesmo esse olhar sensível sobre a vida, sobre o tempo e sobre os relacionamentos amorosos e familiares, oferecendo uma experiência que certamente irá ressoar muito depois dos créditos finais - principalmente se você for uma pessoa que sofre, que luta, que chora e que se recompõe, que é forte quando necessário, mas frágil quando lhe permitem.

Filmaço!

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Um filme sobre a vida como ela é - linda, mas cheia de pancadas!

Talvez não tenha maneira mais direta de definir "Uma Bela Manhã", filme dirigido por uma das mais respeitadas cineastas francesas em atividade, Mia Hansen-Løve (de "O Que Está Por Vir"). Seguindo muito seu conceito cinematográfico de retratar a vida cotidiana e suas relações mais particulares, Mia, mais uma vez, lança um olhar dos mais interessantes sobre seus personagens ao mesmo tempo em que se revela disposta a confrontá-los com situações complexas, mas de fácil identificação. Veja, se você está a procura do embate natural das relações ou uma história que segue aquela estrutura mais tradicional, certamente esse filme não é para você. Por outro lado, se estiver disposto a mergulhar em uma narrativa profundamente intima, de uma personagem que tenta encontrar a alegria nas pequenas coisas e na esperança de que tudo vai se encaixar em algum momento, mesmo que para isso tenha que lidar com os tombos da vida e com o tempo que faz questão de mostrar a sua crueldade, você está no lugar certo - mas não será uma jornada fácil (e dependendo do momento em que está passando, será uma jornada dificílima)!

Sandra (Léa Seydoux) é uma jovem viúva que trabalha como tradutora e que cria sozinha sua filha de 8 anos, tendo que lidar com os desafios da maternidade ao mesmo tempo em que cuida de seu pai, Georg Kinsler (Pascal Greggory), um professor de Filosofia aposentado e que já não pode mais se esquivar de uma morte lenta diante de uma doença degenerativa. Enquanto ela embarca com sua família por obstáculos em hospitais e lares de idosos para instalar Georg em um lugar seguro, Sandra se envolve com Clément (Melvil Poupaud), um homem casado e amigo do seu falecido marido. Confira o trailer:

É impossível não olhar para "Un Beau Matin" (no original) e não ficar absolutamente boquiaberto com a performance de Léa Seydoux (de "Azul é a Cor Mais Quente"). Dentro daquela atmosfera tão deprimente quanto humana, Seydoux entrega no olhar, a sua dor - e saiba que o "deprimente" que cito não se vale do estereótipo ou do convencional, mas sim da sensibilidade de entender que longe da fantasia, existe uma batalha diária para lidar com sua própria cruz. E aqui, também é preciso que se diga, o roteiro da própria Mia enaltece essa perspectiva mais introspectiva em um confronto quase visceral entre o que se sente e o que se mostra! É impressionante como essa dualidade alcança tons tão marcantes na maneira como experienciamos o filme - é de sentir uma dor no peito, pelo outro, ou por nós mesmos.

A diretora sabe do tamanho de sua responsabilidade ao basear uma história de quase duas horas apenas na psicologia de seus personagens. Reparem como até mesmo um pedido aparentemente simples de uma ex-aluna de seu pai como “você poderia me passar o e-mail dele?”,  é capaz de levar Sandra às lágrimas. Sim, é um pedido cotidiano, mas o impacto do "comum" é o que move Mia na exploração magistral da condição humana como ninguém. Ela usa gatilhos narrativos perfeitos para discutir a complexidade dos relacionamentos (a dúvida natural de Clément sobre seu casamento, é um ótimo ponto) e das mudanças ao longo do tempo (a relação com sua mãe e sua irmã, e depois com seu pai, exemplificam bem essa provocação).  

A direção de arte de Mila Preli (de "História de um Olhar") é fantástica - reparem como os cenários ajudam a construir a personalidade dos personagens. Já a fotografia do Denis Lenoir (de "Irma Vep") ao mesmo tempo que cria um ambiente sutil e palpável, carrega uma densidade impressionante. O fato é que tecnicamente o filme é tão bom quanto artisticamente, mesmo com seu ar mais independente.  "Uma Bela Manhã" tem mesmo esse olhar sensível sobre a vida, sobre o tempo e sobre os relacionamentos amorosos e familiares, oferecendo uma experiência que certamente irá ressoar muito depois dos créditos finais - principalmente se você for uma pessoa que sofre, que luta, que chora e que se recompõe, que é forte quando necessário, mas frágil quando lhe permitem.

Filmaço!

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Uma Família Quase Perfeita

Na linha reflexiva e emocionalmente impactante de "Adolescência", a Netflix traz mais uma obra que certamente vai te tirar da zona de conforto. “Uma Família Quase Perfeita” tem um tipo de narrativa que vai se instalando lentamente na mente de quem assiste, provocando muitas teorias e julgamentos enquanto se revela pouco a pouco - veja, criando uma analogia mais clara e direta, a experiência de acompanhar essa minissérie sueca de seis episódios, é como perceber uma rachadura inicialmente sutil na fachada de uma casa aparentemente impecável, mas que em algum momento certamente vai desmoronar. Inspirada no best-seller homônimo de Mattias Edvardsson, adaptada por Hans Jörnlind e Anna Platt, e dirigida com precisão por Per Hanefjord, "En helt vanlig familj", no original, tem muito de “Areia Movediça”, mas com um toque de "Em Defesa de Jacob". O fato é que a minissérie aposta mais no recorte emocional de uma família destruída por um crime do que necessariamente por reviravoltas mirabolantes - embora elas existam. E te digo: é justamente aí que reside a força de sua narrativa, no modo metódico e sempre muito sensível com que destrincha temas como trauma, culpa, lealdade, confiança e, acima de tudo, como discute as imperfeições silenciosas de uma relação familiar.

Adam (Björn Bengtsson), um pastor respeitado, Ulrika (Lo Kauppi), uma advogada de sucesso, e sua filha adolescente Stella (Alexandra Karlsson Tyrefors) parecem formar uma família modelo em uma pequena cidade da Suécia. Mas quando Stella é acusada de assassinar brutalmente Chris Olsen (Christian Fandango Sundgren), seu novo e misterioso namorado, tudo desmorona. À medida que os segredos da família Sandell vêm à tona, o que começa como um mistério criminal rapidamente se transforma em um drama psicológico sobre até onde os pais estão dispostos a ir para proteger sua filha - e o que estão dispostos a ignorar em nome do amor. Confira o trailer, com legendas em inglês:

“Uma Família Quase Perfeita”  tem uma estrutura narrativa muito interessante no primeiro episódio, mas que infelizmente não se sustenta nos seguintes - pelo menos não da forma como é apresentada. Algumas situações-chave são contadas sob a perspectiva de um membro da família, criando camadas que se complementam e que se contradizem com maestria. Ao escolher esse formato, Hanefjord não só revela versões conflitantes de uma mesma história, como também desnuda com sutileza as fraturas emocionais que os personagens tentam manter ocultas até mesmo de si próprios - e nesse sentido acho que a minissérie consegue se estruturar melhor. Repare como o roteiro quebra nossas expectativas mais usuais sobre os personagens, evitando rotular vilões óbvios ou heróis absolutos - aqui todos estão imersos em dilemas éticos e afetivos que extrapolam o caso policial ou até mesmo o passado de Stella.

Visualmente, como não poderia deixar de ser, a minissérie adota aquela mesma estética fria e elegante típica dos dramas nórdicos, com uma direção de fotografia que favorece os tons azulados e neutros, reforçando a contenção emocional dos personagens em meio a alívios dramáticos mais quentes e íntimos. A câmera de Hanefjord, nesse sentido, é paciente, quase clínica, evitando excessos para se fixar nos detalhes: um olhar desconfiado, o silêncio prolongado, uma tensão disfarçada. Essa escolha estilística, aliada a uma trilha sonora inquietante e uma montagem completamente fragmentada, sustenta a tensão durante toda a jornada, mesmo nos momentos de aparente calmaria ou onde o ritmo fica um pouco mais cadenciado. Algumas subtramas, aliás, realmente parecem ser relevantes, mas acabam servindo apenas como um complemento pontual para uma mensagem maior que nunca é tão clara assim - e funciona, vaie dizer.

Apesar de partir de um crime brutal ou de uma decisão duvidosa que deixou marcas, “Uma Família Quase Perfeita” não se apressa em criar reviravoltas ou soluções fáceis. A minissérie prefere investir no impacto emocional da tragédia e na desconstrução da idealização familiar. O que está em jogo não é apenas a inocência de Stella, mas o modo como cada personagem negocia com suas próprias verdades, mentiras e fragilidades. Quando a máscara da normalidade começa a cair, o que resta é um conjunto de pessoas tentando desesperadamente manter de pé os escombros do que, um dia, já foi chamado de lar.  Antes do play, saiba que a história que Hanefjord quer contar não busca chocar ou surpreender, mas sim provocar - fazendo com que a audiência se pergunte até onde iria por alguém que ama, e se o amor, por si só, bastaria para justificar certos "silêncios".

“Uma Família Quase Perfeita” é um drama contido, sofisticado e, sobretudo, humano, que merece seu play!

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Na linha reflexiva e emocionalmente impactante de "Adolescência", a Netflix traz mais uma obra que certamente vai te tirar da zona de conforto. “Uma Família Quase Perfeita” tem um tipo de narrativa que vai se instalando lentamente na mente de quem assiste, provocando muitas teorias e julgamentos enquanto se revela pouco a pouco - veja, criando uma analogia mais clara e direta, a experiência de acompanhar essa minissérie sueca de seis episódios, é como perceber uma rachadura inicialmente sutil na fachada de uma casa aparentemente impecável, mas que em algum momento certamente vai desmoronar. Inspirada no best-seller homônimo de Mattias Edvardsson, adaptada por Hans Jörnlind e Anna Platt, e dirigida com precisão por Per Hanefjord, "En helt vanlig familj", no original, tem muito de “Areia Movediça”, mas com um toque de "Em Defesa de Jacob". O fato é que a minissérie aposta mais no recorte emocional de uma família destruída por um crime do que necessariamente por reviravoltas mirabolantes - embora elas existam. E te digo: é justamente aí que reside a força de sua narrativa, no modo metódico e sempre muito sensível com que destrincha temas como trauma, culpa, lealdade, confiança e, acima de tudo, como discute as imperfeições silenciosas de uma relação familiar.

Adam (Björn Bengtsson), um pastor respeitado, Ulrika (Lo Kauppi), uma advogada de sucesso, e sua filha adolescente Stella (Alexandra Karlsson Tyrefors) parecem formar uma família modelo em uma pequena cidade da Suécia. Mas quando Stella é acusada de assassinar brutalmente Chris Olsen (Christian Fandango Sundgren), seu novo e misterioso namorado, tudo desmorona. À medida que os segredos da família Sandell vêm à tona, o que começa como um mistério criminal rapidamente se transforma em um drama psicológico sobre até onde os pais estão dispostos a ir para proteger sua filha - e o que estão dispostos a ignorar em nome do amor. Confira o trailer, com legendas em inglês:

“Uma Família Quase Perfeita”  tem uma estrutura narrativa muito interessante no primeiro episódio, mas que infelizmente não se sustenta nos seguintes - pelo menos não da forma como é apresentada. Algumas situações-chave são contadas sob a perspectiva de um membro da família, criando camadas que se complementam e que se contradizem com maestria. Ao escolher esse formato, Hanefjord não só revela versões conflitantes de uma mesma história, como também desnuda com sutileza as fraturas emocionais que os personagens tentam manter ocultas até mesmo de si próprios - e nesse sentido acho que a minissérie consegue se estruturar melhor. Repare como o roteiro quebra nossas expectativas mais usuais sobre os personagens, evitando rotular vilões óbvios ou heróis absolutos - aqui todos estão imersos em dilemas éticos e afetivos que extrapolam o caso policial ou até mesmo o passado de Stella.

Visualmente, como não poderia deixar de ser, a minissérie adota aquela mesma estética fria e elegante típica dos dramas nórdicos, com uma direção de fotografia que favorece os tons azulados e neutros, reforçando a contenção emocional dos personagens em meio a alívios dramáticos mais quentes e íntimos. A câmera de Hanefjord, nesse sentido, é paciente, quase clínica, evitando excessos para se fixar nos detalhes: um olhar desconfiado, o silêncio prolongado, uma tensão disfarçada. Essa escolha estilística, aliada a uma trilha sonora inquietante e uma montagem completamente fragmentada, sustenta a tensão durante toda a jornada, mesmo nos momentos de aparente calmaria ou onde o ritmo fica um pouco mais cadenciado. Algumas subtramas, aliás, realmente parecem ser relevantes, mas acabam servindo apenas como um complemento pontual para uma mensagem maior que nunca é tão clara assim - e funciona, vaie dizer.

Apesar de partir de um crime brutal ou de uma decisão duvidosa que deixou marcas, “Uma Família Quase Perfeita” não se apressa em criar reviravoltas ou soluções fáceis. A minissérie prefere investir no impacto emocional da tragédia e na desconstrução da idealização familiar. O que está em jogo não é apenas a inocência de Stella, mas o modo como cada personagem negocia com suas próprias verdades, mentiras e fragilidades. Quando a máscara da normalidade começa a cair, o que resta é um conjunto de pessoas tentando desesperadamente manter de pé os escombros do que, um dia, já foi chamado de lar.  Antes do play, saiba que a história que Hanefjord quer contar não busca chocar ou surpreender, mas sim provocar - fazendo com que a audiência se pergunte até onde iria por alguém que ama, e se o amor, por si só, bastaria para justificar certos "silêncios".

“Uma Família Quase Perfeita” é um drama contido, sofisticado e, sobretudo, humano, que merece seu play!

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Uma Ideia de Você

"Uma Ideia de Você" é uma graça - daquele tipo de comédia romântica leve e divertida que você assiste com um leve sorriso no rosto bem ao estilo "Um Lugar Chamado Notting Hill" ou até "Yesterday". Dito isso, não espere muitas novidades narrativas no filme do diretor Michael Showalter (de "Os olhos de Tammy Faye") ao mesmo tempo que também é preciso elogiar sua capacidade de equilibrar uma certa atmosfera pop com uma certa crítica perante uma sociedade tão moderninha quanto hipócrita. Se basicamente essa ótima adaptação do livro homônimo de Robinne Lee soa como uma releitura atual de "Notting Hill" em sua essência, posso te garantir que assistir a história de amor de Solène e Hayes deve sim arrancar alguns suspiros de sua audiência.

"The Idea of You" (no original), basicamente, gira em torno de Solène (Anne Hathaway), uma mãe solteira de 40 anos que embarca em um romance inesperado com Hayes Campbell (Nicholas Galitzine), o vocalista de 24 anos da August Moon, a boy band mais popular do planeta. No entanto, o que poderia ser uma linda e feliz história de amor, rapidamente se transforma em uma relação insustentável devido a fama da Campbell, o preconceito dos fãs perante Solène e a falta de privacidade que o casal precisa enfrentar. Confira o trailer:

Pode soar até pretensioso demais, mas "Uma Ideia de Você"não se contenta em ser apenas mais uma comédia romântica água com açúcar usual. Embora sua estrutura narrativa e seu conceito visual indiquem isso, basta olhar um pouco mais atento para o roteiro escrito pelo próprio diretor Michael Showalter ao lado da autora Robinne Lee e da roteiristaJennifer Westfeldt (da série "The First Lady"), para perceber que o filme sabe explorar com alguma sensibilidade temas como a diferença de idade nas relações, a pressão da mídia em tempos de rede social, a busca pela felicidade após um divórcio traumático e, claro, a importância de seguir seus sonhos mesmo quando tudo indica que esse não será o caminho mais tranquilo. Com um roteiro inteligente e bem escrito, saiba que o filme não foge da premissa fantasiosa e dos clichês com aquele toque de sensualidade, para contar uma história improvável de uma pessoa comum que se apaixona por uma celebridade. Se o filme não é tão original assim, tenha certeza que pelo menos ele te fará rir, chorar e até refletir sobre a vida -  mas de um forma leve, ou seja, nada parecido como "Nasce uma Estrela", por exemplo.

A fotografia de "Uma Ideia de Você" é linda e colorida, capturando a energia vibrante da indústria musical - especialmente dos grandes concertos de pop. Jim Frohna (de "Big Little Lies") e o montadorPeter Teschner (de "Estrelas Além do Tempo"), estão alinhados com o estilo mais naturalista de Showalter - reparem na atenção aos detalhes e nas sensações que algumas cenas provocam. Existe uma beleza estética que lembra um filme mais autoral, independente. Sempre filmadas com lentes mais fechadas, recortadas por planos-detalhes rápidos, muitas vezes até sem uma trilha sonora ao fundo, algumas cenas expressam tanto sobre os personagens que é impossível não nos relacionarmos intimamente com eles.

É fácil perceber a química entre Hathaway e Galitzine - é inegável que os dois levam o filme para outro patamar! É possível que a comparação com Hugh Grant e com Julia Roberts soe desleal nesse sentido, mas não se pode deixar de lado a forma como Hathaway entrega uma performance comovente e divertida e como Galitzine nos surpreende com seu carisma e talento - eu prestaria mais atenção nesse rapaz. O fato é que "Uma Ideia de Você" realmente diverte com sua leveza e emoção e te conquista com sua simplicidade e sensibilidade. Ele poderia ser mais impactante se tivesse a coragem de seguir uma certa lógica em seu terceiro ato? Sim, mas aí não seria uma comédia romântica raiz com cara de sábado a tarde chuvoso, embaixo do cobertor e com um bom balde de pipoca na mão!

Vale muito o seu play

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"Uma Ideia de Você" é uma graça - daquele tipo de comédia romântica leve e divertida que você assiste com um leve sorriso no rosto bem ao estilo "Um Lugar Chamado Notting Hill" ou até "Yesterday". Dito isso, não espere muitas novidades narrativas no filme do diretor Michael Showalter (de "Os olhos de Tammy Faye") ao mesmo tempo que também é preciso elogiar sua capacidade de equilibrar uma certa atmosfera pop com uma certa crítica perante uma sociedade tão moderninha quanto hipócrita. Se basicamente essa ótima adaptação do livro homônimo de Robinne Lee soa como uma releitura atual de "Notting Hill" em sua essência, posso te garantir que assistir a história de amor de Solène e Hayes deve sim arrancar alguns suspiros de sua audiência.

"The Idea of You" (no original), basicamente, gira em torno de Solène (Anne Hathaway), uma mãe solteira de 40 anos que embarca em um romance inesperado com Hayes Campbell (Nicholas Galitzine), o vocalista de 24 anos da August Moon, a boy band mais popular do planeta. No entanto, o que poderia ser uma linda e feliz história de amor, rapidamente se transforma em uma relação insustentável devido a fama da Campbell, o preconceito dos fãs perante Solène e a falta de privacidade que o casal precisa enfrentar. Confira o trailer:

Pode soar até pretensioso demais, mas "Uma Ideia de Você"não se contenta em ser apenas mais uma comédia romântica água com açúcar usual. Embora sua estrutura narrativa e seu conceito visual indiquem isso, basta olhar um pouco mais atento para o roteiro escrito pelo próprio diretor Michael Showalter ao lado da autora Robinne Lee e da roteiristaJennifer Westfeldt (da série "The First Lady"), para perceber que o filme sabe explorar com alguma sensibilidade temas como a diferença de idade nas relações, a pressão da mídia em tempos de rede social, a busca pela felicidade após um divórcio traumático e, claro, a importância de seguir seus sonhos mesmo quando tudo indica que esse não será o caminho mais tranquilo. Com um roteiro inteligente e bem escrito, saiba que o filme não foge da premissa fantasiosa e dos clichês com aquele toque de sensualidade, para contar uma história improvável de uma pessoa comum que se apaixona por uma celebridade. Se o filme não é tão original assim, tenha certeza que pelo menos ele te fará rir, chorar e até refletir sobre a vida -  mas de um forma leve, ou seja, nada parecido como "Nasce uma Estrela", por exemplo.

A fotografia de "Uma Ideia de Você" é linda e colorida, capturando a energia vibrante da indústria musical - especialmente dos grandes concertos de pop. Jim Frohna (de "Big Little Lies") e o montadorPeter Teschner (de "Estrelas Além do Tempo"), estão alinhados com o estilo mais naturalista de Showalter - reparem na atenção aos detalhes e nas sensações que algumas cenas provocam. Existe uma beleza estética que lembra um filme mais autoral, independente. Sempre filmadas com lentes mais fechadas, recortadas por planos-detalhes rápidos, muitas vezes até sem uma trilha sonora ao fundo, algumas cenas expressam tanto sobre os personagens que é impossível não nos relacionarmos intimamente com eles.

É fácil perceber a química entre Hathaway e Galitzine - é inegável que os dois levam o filme para outro patamar! É possível que a comparação com Hugh Grant e com Julia Roberts soe desleal nesse sentido, mas não se pode deixar de lado a forma como Hathaway entrega uma performance comovente e divertida e como Galitzine nos surpreende com seu carisma e talento - eu prestaria mais atenção nesse rapaz. O fato é que "Uma Ideia de Você" realmente diverte com sua leveza e emoção e te conquista com sua simplicidade e sensibilidade. Ele poderia ser mais impactante se tivesse a coragem de seguir uma certa lógica em seu terceiro ato? Sim, mas aí não seria uma comédia romântica raiz com cara de sábado a tarde chuvoso, embaixo do cobertor e com um bom balde de pipoca na mão!

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Uma noite em Miami...

"Uma noite em Miami..." tem um roteiro extremamente original, criativo, inteligente; é muito bem dirigido pela estreante Regina King, fotografado pelo Tami Reiker; e o elenco é simplesmente incrível - mas o filme não será uma unanimidade! Na nossa opinião, o filme é excelente, mas é difícil, pois exige uma certa visão de mundo que aproxima a história muito mais dos americanos do que de outras platéias. Embora seja uma ficção, o roteiro usa de muitas referências reais, detalhes históricos que poucos conhecem e que será de difícil identificação - mais ou menos como aconteceu com "Era uma vez em Hollywood" do Tarantino.

O filme é uma adaptação de uma peça de teatro do dramaturgo Kemp Powers. Ele coloca o ativista Malcolm X (Kingsley Ben-Adir), o “rei do soul” Sam Cooke (Leslie Odom Jr.), o pugilista Muhammed Ali (Eli Goree) e o ator/jogador de futebol americano Jim Brown (Aldis Hodge) juntos em um quarto de hotel, numa noite de 1964 em que celebravam o título mundial de Cassius Clay. É ali que essas importantes personalidades confrontam seus próprios papéis perante a sociedade, sobretudo em relação ao racismo estrutural que imperava naquele momento. Confira o trailer:

Olha que genial: embora contemporâneos, amigos e militantes do movimento por direitos civis dos negros na década de 1960, essa noite que vemos no filme, nunca existiu na realidade, apenas na cabeça de Powers que foi capaz de criar uma atmosfera que transforma um inesperado bate-papo em um momento cheio de reflexões importantes para a sociedade (atual). Como em "Os 7 de Chicago", "One Night in Miami" (título original) faz uma poderosa introdução apresentando os quatro protagonistas individualmente, usando de um conceito narrativo criativo para expor exatamente suas respectivas personalidades e pontuando suas opiniões (e postura) em relação ao segregacionismo da época.

Além de tecnicamente perfeito e de entrar definitivamente em uma corrida por muitas indicações ao Oscar, “Uma Noite em Miami…” é muito inteligente ao evitar polemizar os momentos de racismo e violência contra negros como vemos em outras obras com essa temática. Muito pelo contrário, a obra foca no que é dito nas entrelinhas e na amplitude que essa reflexão ganha na voz de personagens tão marcantes para o movimento - mesmo sendo uma ficção, é de uma força impressionante! O filme é intenso, cadenciado, praticamente construído em diálogos profundos, mas que nos provoca muitas (e muitas) reflexões.

Vale muito a pena e reparem no incrível trabalho de Kingsley Ben-Adir como Malcolm X - é de aplaudir de pé!

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"Uma noite em Miami..." tem um roteiro extremamente original, criativo, inteligente; é muito bem dirigido pela estreante Regina King, fotografado pelo Tami Reiker; e o elenco é simplesmente incrível - mas o filme não será uma unanimidade! Na nossa opinião, o filme é excelente, mas é difícil, pois exige uma certa visão de mundo que aproxima a história muito mais dos americanos do que de outras platéias. Embora seja uma ficção, o roteiro usa de muitas referências reais, detalhes históricos que poucos conhecem e que será de difícil identificação - mais ou menos como aconteceu com "Era uma vez em Hollywood" do Tarantino.

O filme é uma adaptação de uma peça de teatro do dramaturgo Kemp Powers. Ele coloca o ativista Malcolm X (Kingsley Ben-Adir), o “rei do soul” Sam Cooke (Leslie Odom Jr.), o pugilista Muhammed Ali (Eli Goree) e o ator/jogador de futebol americano Jim Brown (Aldis Hodge) juntos em um quarto de hotel, numa noite de 1964 em que celebravam o título mundial de Cassius Clay. É ali que essas importantes personalidades confrontam seus próprios papéis perante a sociedade, sobretudo em relação ao racismo estrutural que imperava naquele momento. Confira o trailer:

Olha que genial: embora contemporâneos, amigos e militantes do movimento por direitos civis dos negros na década de 1960, essa noite que vemos no filme, nunca existiu na realidade, apenas na cabeça de Powers que foi capaz de criar uma atmosfera que transforma um inesperado bate-papo em um momento cheio de reflexões importantes para a sociedade (atual). Como em "Os 7 de Chicago", "One Night in Miami" (título original) faz uma poderosa introdução apresentando os quatro protagonistas individualmente, usando de um conceito narrativo criativo para expor exatamente suas respectivas personalidades e pontuando suas opiniões (e postura) em relação ao segregacionismo da época.

Além de tecnicamente perfeito e de entrar definitivamente em uma corrida por muitas indicações ao Oscar, “Uma Noite em Miami…” é muito inteligente ao evitar polemizar os momentos de racismo e violência contra negros como vemos em outras obras com essa temática. Muito pelo contrário, a obra foca no que é dito nas entrelinhas e na amplitude que essa reflexão ganha na voz de personagens tão marcantes para o movimento - mesmo sendo uma ficção, é de uma força impressionante! O filme é intenso, cadenciado, praticamente construído em diálogos profundos, mas que nos provoca muitas (e muitas) reflexões.

Vale muito a pena e reparem no incrível trabalho de Kingsley Ben-Adir como Malcolm X - é de aplaudir de pé!

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Uma Prova de Amor

Até onde pode ir o amor de uma mãe? 

Sem a menor dúvida, "Uma Prova de Amor" vai, no mínimo, te fazer refletir sobre essa questão - e não será muito fácil tirar uma conclusão. Como um bom drama deve ser, essa produção de 2009 segue a cartilha do gênero ao pé da letra, ou seja, em uma jornada nada tranquila, você vai rir, se apaixonar, se irritar, se emocionar e ainda assim vai demorar alguns segundos para se levantar depois que o créditos começarem a subir.

Anna Fitzgerald (Abigail Breslin - a simpática garotinha de "Little Miss Sunshine") foi concebida com o único intuito de ajudar a salvar sua irmã doente, Kate (Sofia Vassilieva). Em pouco tempo, Anna foi submetida a muitas doações, procedimentos extremamente invasivos, cirurgias, enfim, tudo para ajudar sua irmã. Cansada e disposta a ter uma vida normal, ela resolve levar seus pais para o tribunal afim de evitar uma doação de rim e assim conseguir o que seu advogado, Campbell Alexander (Alec Baldwin), definiu como "emancipação médica". Confira o trailer:

Embora a sinopse dê a entender que estamos diante de uma história onde o conflito principal seria decidido em um tribunal, posso garantir que "Uma Prova de Amor" vai muito além do sensacionalismo que o roteiro poderia criar em cima dessa premissa - mesmo tendo todos os elementos para fazer de "This is Us" um episódio da "Galinha Pintadinha". O diretor Nick Cassavetes (o mesmo de "Diário de uma Paixão") foi muito inteligente em construir uma dinâmica narrativa não-linear para a trama, fazendo com que toda questão judicial ficasse em segundo plano, priorizando assim a história de Kate e como sua condição impactou sua família em vários momentos - e aqui completo: inclusive nos momentos bons.

Veja, mesmo trazendo para discussão assuntos delicados e que exigem uma certa coragem para expo-los, Cassavetes não se aprofunda em nenhum deles com uma força desproporcional e impactante como no caso de "Alabama Monroe", por exemplo. Essa visão propositalmente superficial dá um tom fragmentado como se estivéssemos revisitando nossa memória, mas ao mesmo tempo suaviza o impacto emocional da trama - não que ele não exista, mas pelo menos temos tempo de nos recuperar entre um golpe e outro.

Abigail Breslin e Sofia Vassilieva criam uma relação incrível pela idade das duas atrizes - maduras, elas se comunicam com os olhos e isso é lindo. Cameron Diaz também vai muito bem e conduz perfeitamente o propósito do roteiro de coloca-la como antagonista, mesmo sendo a peça-chave da família e de toda aquela sensação que mistura nostalgia com dor - muito bem explorada pelo diretor de fotografia Caleb Deschanel (indicado a 6 Oscars, o último por "Nunca Deixe de Lembrar" em 2019). É como se estivéssemos assistindo uma espécie de "álbum de família" com direito a cenas felizes feitas em câmera lenta com uma música sentimental ao fundo.

Baseado no romance de Jodi Picoult, "Uma Prova de Amor" é um filme lindo em todos os aspectos - que será inesquecível para alguns, e apenas um bom entretenimento para outros, porém para ambos, ficará a certeza de que uma boa história, mesmo difícil de se adaptar, pode trazer uma narrativa cheia de sensibilidade e emoção sem se tornar, em nenhum momento, apelativa ou expositiva demais!

Vale seu play!

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Até onde pode ir o amor de uma mãe? 

Sem a menor dúvida, "Uma Prova de Amor" vai, no mínimo, te fazer refletir sobre essa questão - e não será muito fácil tirar uma conclusão. Como um bom drama deve ser, essa produção de 2009 segue a cartilha do gênero ao pé da letra, ou seja, em uma jornada nada tranquila, você vai rir, se apaixonar, se irritar, se emocionar e ainda assim vai demorar alguns segundos para se levantar depois que o créditos começarem a subir.

Anna Fitzgerald (Abigail Breslin - a simpática garotinha de "Little Miss Sunshine") foi concebida com o único intuito de ajudar a salvar sua irmã doente, Kate (Sofia Vassilieva). Em pouco tempo, Anna foi submetida a muitas doações, procedimentos extremamente invasivos, cirurgias, enfim, tudo para ajudar sua irmã. Cansada e disposta a ter uma vida normal, ela resolve levar seus pais para o tribunal afim de evitar uma doação de rim e assim conseguir o que seu advogado, Campbell Alexander (Alec Baldwin), definiu como "emancipação médica". Confira o trailer:

Embora a sinopse dê a entender que estamos diante de uma história onde o conflito principal seria decidido em um tribunal, posso garantir que "Uma Prova de Amor" vai muito além do sensacionalismo que o roteiro poderia criar em cima dessa premissa - mesmo tendo todos os elementos para fazer de "This is Us" um episódio da "Galinha Pintadinha". O diretor Nick Cassavetes (o mesmo de "Diário de uma Paixão") foi muito inteligente em construir uma dinâmica narrativa não-linear para a trama, fazendo com que toda questão judicial ficasse em segundo plano, priorizando assim a história de Kate e como sua condição impactou sua família em vários momentos - e aqui completo: inclusive nos momentos bons.

Veja, mesmo trazendo para discussão assuntos delicados e que exigem uma certa coragem para expo-los, Cassavetes não se aprofunda em nenhum deles com uma força desproporcional e impactante como no caso de "Alabama Monroe", por exemplo. Essa visão propositalmente superficial dá um tom fragmentado como se estivéssemos revisitando nossa memória, mas ao mesmo tempo suaviza o impacto emocional da trama - não que ele não exista, mas pelo menos temos tempo de nos recuperar entre um golpe e outro.

Abigail Breslin e Sofia Vassilieva criam uma relação incrível pela idade das duas atrizes - maduras, elas se comunicam com os olhos e isso é lindo. Cameron Diaz também vai muito bem e conduz perfeitamente o propósito do roteiro de coloca-la como antagonista, mesmo sendo a peça-chave da família e de toda aquela sensação que mistura nostalgia com dor - muito bem explorada pelo diretor de fotografia Caleb Deschanel (indicado a 6 Oscars, o último por "Nunca Deixe de Lembrar" em 2019). É como se estivéssemos assistindo uma espécie de "álbum de família" com direito a cenas felizes feitas em câmera lenta com uma música sentimental ao fundo.

Baseado no romance de Jodi Picoult, "Uma Prova de Amor" é um filme lindo em todos os aspectos - que será inesquecível para alguns, e apenas um bom entretenimento para outros, porém para ambos, ficará a certeza de que uma boa história, mesmo difícil de se adaptar, pode trazer uma narrativa cheia de sensibilidade e emoção sem se tornar, em nenhum momento, apelativa ou expositiva demais!

Vale seu play!

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Uma Questão de Química

"Uma Questão de Química" é uma graça, mas está longe de ser uma comédia ou uma história sobre uma química que faz fama e dinheiro como apresentadora de um programa de culinária na TV. Não é sobre isso, é sim sobre o papel da mulher na sociedade americana do início dos anos 1960 - que cá entre nós, são situações tão absurdas que soa até algo distante, mas olha, ainda acontece! A minissérie criada pelo Lee Eisenberg (do surpreendente "Na Mira do Júri"), baseada na obra de Bonnie Garmus, brilha por levantar discussões e tocar em temas sensíveis que vão dialogar perfeitamente com o universo feminino e com sua luta por transformações que a sociedade precisa reconhecer como essenciais - essa é a proposta do projeto. Veja, toda trama é construída em cima de elementos dramáticos para uma audiência que gosta e se identifica com histórias inspiradoras sobre mulheres que desafiam as normas sociais - e é exatamente isso que ela entrega!

"Lessons in Chemistry" (no original) conta a história de Elizabeth Zott (Brie Larson), uma química brilhante que vive as sombras de um machismo estrutural e que acaba demitida do laboratório onde trabalha por causa de uma gravidez inesperada. Elizabeth, sem muitas opções de trabalho devido a sua condição, decide aceitar um convite inesperado: se tornar apresentadora de um programa de culinária. O interessante é que ela acaba usando seu espaço na TV americana para ir além de receitas, e passa a ensinar às donas de casa sobre feminismo, igualdade e empoderamento. Confira o trailer:

Mesmo que a minissérie se apoie naquela história universal sobre a importância de seguir seus sonhos e nunca desistir de seus objetivos, tecnicamente, o roteiro de Eisenberg acaba falhando quando vai além, justamente por respeitar demais a gramática literária de sua matéria prima. Pessoalmente não acho que isso atrapalhe a experiência, mas é inegável que muitas pontas ficam soltas e principalmente, muitas expectativas acabam sendo quebradas sem fazer muito sentido - a que mais incomoda é a superficialidade com que a trama trata o processo de autodescoberta da protagonista e sua ascensão social/midiática quando ela se torna uma apresentadora de TV. O plot da rodovia também é fraco demais.

A performance de Brie Larson, sem dúvida, é um dos grandes destaques da minissérie - pode apostar que ela será indicada em todas as premiações de 2024. Larson foi capaz de entregar uma Elizabeth Zott complexa e cheia de camadas, mas sem cair no estereótipo da fragilidade que se transforma em poder; nada disso, Zott é uma mulher forte e determinada, claro, mas também é vulnerável e incrivelmente humana - a cena de conexão entre ela e sua filha recém-nascida (que ela nunca desejou) só pelo olhar, é simplesmente genial.

Todo elenco de apoio é excelente, com destaque para Lewis Pullman como Calvin Evans, Kevin Sussman como o produtor Walter Pine e a apaixonante Alice Halsey como Madeline (muita atenção com essa garota, ela é um fenômeno). Obviamente que a direção permite que o elenco brilhe, ela é segura tecnicamente e muito eficiente artisticamente - alinhada a uma produção detalhista, com figurinos e cenários que recriam com fidelidade a época, eu diria que "Uma Questão de Química" é realmente impecável nesse sentido! Então, se você está procurando uma série inspiradora, emocionante e que te fará refletir, pode dar o play que seu entretenimento está garantido pelos próximos 8 episódios!

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"Uma Questão de Química" é uma graça, mas está longe de ser uma comédia ou uma história sobre uma química que faz fama e dinheiro como apresentadora de um programa de culinária na TV. Não é sobre isso, é sim sobre o papel da mulher na sociedade americana do início dos anos 1960 - que cá entre nós, são situações tão absurdas que soa até algo distante, mas olha, ainda acontece! A minissérie criada pelo Lee Eisenberg (do surpreendente "Na Mira do Júri"), baseada na obra de Bonnie Garmus, brilha por levantar discussões e tocar em temas sensíveis que vão dialogar perfeitamente com o universo feminino e com sua luta por transformações que a sociedade precisa reconhecer como essenciais - essa é a proposta do projeto. Veja, toda trama é construída em cima de elementos dramáticos para uma audiência que gosta e se identifica com histórias inspiradoras sobre mulheres que desafiam as normas sociais - e é exatamente isso que ela entrega!

"Lessons in Chemistry" (no original) conta a história de Elizabeth Zott (Brie Larson), uma química brilhante que vive as sombras de um machismo estrutural e que acaba demitida do laboratório onde trabalha por causa de uma gravidez inesperada. Elizabeth, sem muitas opções de trabalho devido a sua condição, decide aceitar um convite inesperado: se tornar apresentadora de um programa de culinária. O interessante é que ela acaba usando seu espaço na TV americana para ir além de receitas, e passa a ensinar às donas de casa sobre feminismo, igualdade e empoderamento. Confira o trailer:

Mesmo que a minissérie se apoie naquela história universal sobre a importância de seguir seus sonhos e nunca desistir de seus objetivos, tecnicamente, o roteiro de Eisenberg acaba falhando quando vai além, justamente por respeitar demais a gramática literária de sua matéria prima. Pessoalmente não acho que isso atrapalhe a experiência, mas é inegável que muitas pontas ficam soltas e principalmente, muitas expectativas acabam sendo quebradas sem fazer muito sentido - a que mais incomoda é a superficialidade com que a trama trata o processo de autodescoberta da protagonista e sua ascensão social/midiática quando ela se torna uma apresentadora de TV. O plot da rodovia também é fraco demais.

A performance de Brie Larson, sem dúvida, é um dos grandes destaques da minissérie - pode apostar que ela será indicada em todas as premiações de 2024. Larson foi capaz de entregar uma Elizabeth Zott complexa e cheia de camadas, mas sem cair no estereótipo da fragilidade que se transforma em poder; nada disso, Zott é uma mulher forte e determinada, claro, mas também é vulnerável e incrivelmente humana - a cena de conexão entre ela e sua filha recém-nascida (que ela nunca desejou) só pelo olhar, é simplesmente genial.

Todo elenco de apoio é excelente, com destaque para Lewis Pullman como Calvin Evans, Kevin Sussman como o produtor Walter Pine e a apaixonante Alice Halsey como Madeline (muita atenção com essa garota, ela é um fenômeno). Obviamente que a direção permite que o elenco brilhe, ela é segura tecnicamente e muito eficiente artisticamente - alinhada a uma produção detalhista, com figurinos e cenários que recriam com fidelidade a época, eu diria que "Uma Questão de Química" é realmente impecável nesse sentido! Então, se você está procurando uma série inspiradora, emocionante e que te fará refletir, pode dar o play que seu entretenimento está garantido pelos próximos 8 episódios!

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Uma Razão Para Viver

Após ser diagnosticado com poliomelite, o jovem Robin Cavendish (Andrew Garfield) fica confinado a uma cama. Contrariando a opinião dos médicos, ele e sua esposa decidem viver uma história de amor e aproveitar cada momento como se fosse o último.

O roteiro é inteligente em não perder tempo explicando com o que o tempo vai mostrar naturalmente: Robin se apaixona por Diana (Claire Foy) e rapidamente o casal feliz já espera seu primeiro filho. Robin gosta muito de viajar e em uma dessas viagens, ele começa apresentar os primeiros sintomas da doença. O diagnóstico dos médicos é simples: ele viverá durante algum tempo em uma cama de hospital e depois morrerá. Não existiam tratamentos para a poliomelite na época, remédios ou meios de fazê-lo ter uma vida melhor. Enquanto Diana assume uma postura mais inconformada, já Robin quer morrer de uma vez. Mas e o amor? O filho recém nascido? É aí que o filme fortalece o conflito em busca de repostas e transforma o desejo de viver de Robin!

"Uma Razão Para Viver" nem de longe pode ser comparado ao "Escafandro e a Borboleta" - ambos com a mesma temática, mas com conceitos narrativos completamente diferentes. É até triste o que vou escrever, mas fico imaginando o Andrew Garfield recebendo esse roteiro e pensando: vou ganhar todos os prêmios possíveis com esse personagem e de fato, existia esse perspectiva... o único problema é que colocaram o ator Andy Serkis para dirigir e aí entrou água no chopp!

O que vemos no filme é um Diretor de Fotografia extremamente competente, no caso o Robert Richardson (10 vezes indicado ao Oscar), tentando salvar a pele do Diretor que não consegue encontrar a profundidade e a sensibilidade que o filme merecia - um desperdício! Alias, belíssimas imagens Richardson conseguiu enquadrar - sem dúvida o ponto mais alto do filme!

O fato é que "Breathe" (título original) poderia ser muito melhor do que realmente é. Esse filme na mão de um diretor como Cianfrance (Blue Valentine) , Andrew Garfield estaria agradecendo até hoje!

Vale como entretenimento!

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Após ser diagnosticado com poliomelite, o jovem Robin Cavendish (Andrew Garfield) fica confinado a uma cama. Contrariando a opinião dos médicos, ele e sua esposa decidem viver uma história de amor e aproveitar cada momento como se fosse o último.

O roteiro é inteligente em não perder tempo explicando com o que o tempo vai mostrar naturalmente: Robin se apaixona por Diana (Claire Foy) e rapidamente o casal feliz já espera seu primeiro filho. Robin gosta muito de viajar e em uma dessas viagens, ele começa apresentar os primeiros sintomas da doença. O diagnóstico dos médicos é simples: ele viverá durante algum tempo em uma cama de hospital e depois morrerá. Não existiam tratamentos para a poliomelite na época, remédios ou meios de fazê-lo ter uma vida melhor. Enquanto Diana assume uma postura mais inconformada, já Robin quer morrer de uma vez. Mas e o amor? O filho recém nascido? É aí que o filme fortalece o conflito em busca de repostas e transforma o desejo de viver de Robin!

"Uma Razão Para Viver" nem de longe pode ser comparado ao "Escafandro e a Borboleta" - ambos com a mesma temática, mas com conceitos narrativos completamente diferentes. É até triste o que vou escrever, mas fico imaginando o Andrew Garfield recebendo esse roteiro e pensando: vou ganhar todos os prêmios possíveis com esse personagem e de fato, existia esse perspectiva... o único problema é que colocaram o ator Andy Serkis para dirigir e aí entrou água no chopp!

O que vemos no filme é um Diretor de Fotografia extremamente competente, no caso o Robert Richardson (10 vezes indicado ao Oscar), tentando salvar a pele do Diretor que não consegue encontrar a profundidade e a sensibilidade que o filme merecia - um desperdício! Alias, belíssimas imagens Richardson conseguiu enquadrar - sem dúvida o ponto mais alto do filme!

O fato é que "Breathe" (título original) poderia ser muito melhor do que realmente é. Esse filme na mão de um diretor como Cianfrance (Blue Valentine) , Andrew Garfield estaria agradecendo até hoje!

Vale como entretenimento!

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Uma Vida

Não tem jeito, você vai se emocionar! "Uma Vida: A História de Nicholas Winton", dirigido pelo excelente James Hawes (de "Slow Horses"), é um filme biográfico que traz à tona a inspiradora história de Nicholas Winton, o humanitário britânico que resgatou centenas de crianças judias da Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma direção inspirada e uma narrativa realmente potente, o filme oferece uma visão profunda e comovente do efeito de um indivíduo diante de uma das épocas mais sombrias da história - olha, é impossível não lembrar de "A Lista de Schindler", no entanto, e é preciso que se diga, aqui a jornada é construída nos bastidores, fugindo daquele impacto visual do horror da guerra que estamos acostumados a encontrar em outras produções, mas nem por isso, e eu posso garantir, a história perde força.

"One Life" (no original), basicamente, acompanha a vida de Winton (interpretado por Anthony Hopkins nos tempos atuais e por Johnny Flynn no passado), que, em 1938, viajou para Praga e testemunhou a iminente ameaça nazista sobre a população judaica. Movido por um senso de urgência e compaixão, Winton organizou uma série de transportes que salvaram 669 crianças, levando-as para a Grã-Bretanha. O filme detalha, em retrospectiva, as dificuldades logísticas e emocionais enfrentadas por Winton e sua equipe para salvar o maior número de crianças possíveis antes da invasão alemã de Adolf Hitler. Confira o trailer (em inglês):

É chover no molhado dizer que Anthony Hopkins entrega uma performance magistral como Nicholas Winton - mas é impressionante como o ator captura a profundidade emocional e a determinação silenciosa do personagem. Hopkins, com sua presença imponente e sua inigualável habilidade de transmitir nuances sutis, dá vida a Winton de uma maneira que ressoa profundamente na audiência. James Hawes sabe do ator que tem nas mãos e justamente por isso dirige o filme com uma sensibilidade que evita o sensacionalismo, focando em contar a história de seu protagonista com honestidade e respeito. A fotografia de Zac Nicholson (de "A História Pessoal de David Copperfield") é visualmente impressionante, utilizando uma paleta de cores que realça o contraste entre os dias sombrios da guerra e os momentos de esperança e salvação - as cenas do pré-guerra em Praga, por exemplo, são capturadas com um realismo que é capaz de relativizar as limitações do orçamento quando exige mais da produção, enquanto os close-ups no rosto de Hopkins, já no presente, destacam a carga emocional das memórias e da forma como o personagem sempre olhou para o mundo.

O roteiro de Lucinda Coxon e de Nick Drake, baseado no livro de Barbara Winton, é bem estruturado, abordando não apenas os eventos históricos, mas também as motivações internas e os dilemas éticos enfrentados por Nicholas Winton através dos tempos. Coxon e Drake tecem uma narrativa que é ao mesmo tempo relevante como recorte histórico e emocionalmente envolvente como entretenimento, evitando didatismos e permitindo que a trama se desenrole de uma forma mais orgânica. As interações entre Winton e as crianças, bem como os seus momentos de conflito interno, são tratados com delicadeza trazendo uma camada de realismo absurda para o filme. A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por "Nada de Novo no Front"), trilha complementa a narrativa com músicas que variam entre o melancólico e o inspirador, sublinhando os momentos de tensão e triunfo ao ponto de "esmagar nosso coração".

"Uma Vida: A História de Nicholas Winton" não apenas celebra o heroísmo de Winton, mas também oferece uma reflexão sobre o impacto que uma única pessoa pode ter no mundo. O filme destaca a importância de uma ação altruísta e o poder das decisões morais, especialmente em tempos de crise. A humildade de Winton, que manteve suas ações em segredo por décadas, é um testemunho da verdadeira natureza do amor ao próximo, algo que o filme desenvolve de maneira eficaz e por isso nos conectamos tanto com ele. Para alguns o ritmo pode parecer um pouco lento, mas o que posso adiantar é que estamos diante de uma jornada profundamente comovente que não só ilumina um capítulo importante da história, mas também nos desafia a refletir sobre nosso próprio olhar para a bem maior.

Vale muito o seu play!

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Não tem jeito, você vai se emocionar! "Uma Vida: A História de Nicholas Winton", dirigido pelo excelente James Hawes (de "Slow Horses"), é um filme biográfico que traz à tona a inspiradora história de Nicholas Winton, o humanitário britânico que resgatou centenas de crianças judias da Tchecoslováquia durante a Segunda Guerra Mundial. Com uma direção inspirada e uma narrativa realmente potente, o filme oferece uma visão profunda e comovente do efeito de um indivíduo diante de uma das épocas mais sombrias da história - olha, é impossível não lembrar de "A Lista de Schindler", no entanto, e é preciso que se diga, aqui a jornada é construída nos bastidores, fugindo daquele impacto visual do horror da guerra que estamos acostumados a encontrar em outras produções, mas nem por isso, e eu posso garantir, a história perde força.

"One Life" (no original), basicamente, acompanha a vida de Winton (interpretado por Anthony Hopkins nos tempos atuais e por Johnny Flynn no passado), que, em 1938, viajou para Praga e testemunhou a iminente ameaça nazista sobre a população judaica. Movido por um senso de urgência e compaixão, Winton organizou uma série de transportes que salvaram 669 crianças, levando-as para a Grã-Bretanha. O filme detalha, em retrospectiva, as dificuldades logísticas e emocionais enfrentadas por Winton e sua equipe para salvar o maior número de crianças possíveis antes da invasão alemã de Adolf Hitler. Confira o trailer (em inglês):

É chover no molhado dizer que Anthony Hopkins entrega uma performance magistral como Nicholas Winton - mas é impressionante como o ator captura a profundidade emocional e a determinação silenciosa do personagem. Hopkins, com sua presença imponente e sua inigualável habilidade de transmitir nuances sutis, dá vida a Winton de uma maneira que ressoa profundamente na audiência. James Hawes sabe do ator que tem nas mãos e justamente por isso dirige o filme com uma sensibilidade que evita o sensacionalismo, focando em contar a história de seu protagonista com honestidade e respeito. A fotografia de Zac Nicholson (de "A História Pessoal de David Copperfield") é visualmente impressionante, utilizando uma paleta de cores que realça o contraste entre os dias sombrios da guerra e os momentos de esperança e salvação - as cenas do pré-guerra em Praga, por exemplo, são capturadas com um realismo que é capaz de relativizar as limitações do orçamento quando exige mais da produção, enquanto os close-ups no rosto de Hopkins, já no presente, destacam a carga emocional das memórias e da forma como o personagem sempre olhou para o mundo.

O roteiro de Lucinda Coxon e de Nick Drake, baseado no livro de Barbara Winton, é bem estruturado, abordando não apenas os eventos históricos, mas também as motivações internas e os dilemas éticos enfrentados por Nicholas Winton através dos tempos. Coxon e Drake tecem uma narrativa que é ao mesmo tempo relevante como recorte histórico e emocionalmente envolvente como entretenimento, evitando didatismos e permitindo que a trama se desenrole de uma forma mais orgânica. As interações entre Winton e as crianças, bem como os seus momentos de conflito interno, são tratados com delicadeza trazendo uma camada de realismo absurda para o filme. A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - composta por Volker Bertelmann (vencedor do Oscar por "Nada de Novo no Front"), trilha complementa a narrativa com músicas que variam entre o melancólico e o inspirador, sublinhando os momentos de tensão e triunfo ao ponto de "esmagar nosso coração".

"Uma Vida: A História de Nicholas Winton" não apenas celebra o heroísmo de Winton, mas também oferece uma reflexão sobre o impacto que uma única pessoa pode ter no mundo. O filme destaca a importância de uma ação altruísta e o poder das decisões morais, especialmente em tempos de crise. A humildade de Winton, que manteve suas ações em segredo por décadas, é um testemunho da verdadeira natureza do amor ao próximo, algo que o filme desenvolve de maneira eficaz e por isso nos conectamos tanto com ele. Para alguns o ritmo pode parecer um pouco lento, mas o que posso adiantar é que estamos diante de uma jornada profundamente comovente que não só ilumina um capítulo importante da história, mas também nos desafia a refletir sobre nosso próprio olhar para a bem maior.

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Upload

"Upload", nova série produzida pela Amazon para o seu Prime Vídeo, poderia ser, tranquilamente, um episódio engraçadinho (com uma ótima discussão existencial) de "Black Mirror" - já com grande potencial para um spin-offcomo "Nosedive" ou "San Junipero". Embora minha preferência seja pelos episódios mais dramáticos da série, é inegável que, desde sua criação, "Black Mirror" trás em seu DNA essa alternância inteligente e criativa entre gêneros. "Upload" não é uma antologia episódica, mas se aproveita dessa mesma estratégia para estabelecer seu universo e transitar entre vários temas, tendo como pano de fundo a tecnologia - e como tom, um certo sarcasmo!

Nathan Brown (Robbie Amell) é um jovem programador que, após sofrer um acidente bastante suspeito em um carro autônomo, tem seu "upload" feito para viver em uma espécie de paraíso tecnológico chamado Lakeview. Lá, ele percebe que a experiência pós-vida, exaustivamente anunciada pelo marketing da empresa "Horizon", não é tão perfeita quanto ele imaginava. Caro e vigiado por uma espécie de serviço de assistência 24h, chamado "Angel", Nathan percebe que estar alí não é um privilégio e sim a solução que sua namorada Ingrid Kannerman (Allegra Edwards) encontrou para manter seu relacionamento eternamente - já que a interação entre vivos e "mortos" funciona através de Realidade Virtual. Confira o trailer (em inglês):

"Upload" é uma mistura de "Black Mirror" (Netflix) com "Silicon Valley" (HBO) já que toda tecnologia nos é apresentada em uma versão (propositalmente) exagerada e com várias referências que, para os amantes desse universo, serão facilmente percebidas. Além disso, o roteiro insere várias situações que funcionam como uma espécie de crítica social - a própria contratação dos planos para viver nessa "eternidade virtual" se baseia em elementos que estamos bem acostumados, como a diferença entre aqueles que podem se dar ao luxo de comprar um pacote de dados ilimitados e outros que usam um "pré-pago" de 2GB que limitam suas ações e travam sua existência  até o mês seguinte assim que o pacote acaba. De fato esses paralelos são divertidos e transformaram essa primeira temporada em um ótimo (e leve) entretenimento.

Criada por Greg Daniels, roteirista com passagens por "Os Simpsons" e "Saturday Night Live", e também responsável pela criação de sucessos como "The Office" e "Parks and Recreation" , "Upload" acerta ao equilibrar seu conteúdo com a forma: todas as discussões sociais e referências tecnológicas são pontuadas através da comédia pastelão, enquanto a trama principal esconde um certo mistério, quase policial; e a relação entre Nathan Brown e seu "anjo" Nora (Andy Allo) dão aquele toque final e frescor de uma comédia romântica - muitos podem até achar uma falta de identidade do roteiro, mas na minha interpretação, a série da Amazon aproveita dessa variação de gêneros como uma estratégia narrativa para criar uma ótima dinâmica ao mesmo tempo que nos mantém curiosos durante toda temporada. 

Muito bem produzida, alternando (propositalmente também) ótimos efeitos visuais com outros extremamente toscos, "Upload" é um ótimo exemplo de alinhamento conceitual entre roteiro, direção e interpretação. Robbie Amell e Andy Allo estão excelentes nos papéis Nathan e Nora, com uma química invejável. Destaco também o trabalho de Kevin Bigley como o "sem noção" Luke e o ótimo Rhys Slack como Dylan.

Olha, posso dizer tranquilamente que a série me surpreendeu em vários aspectos e, mesmo não sendo meu gênero preferido, acabou me conquistando. A segunda temporada já foi confirmada pela Amazon e a esperança é que mantenha sua qualidade e, quem sabe, não desperdice tantas oportunidades de se aprofundar em alguns temas de maneira divertida e criativa - da mesma forma como foi capaz de apresentar ótimos personagens. Dez episódios de 30 minutos é a dose perfeita para esse tipo de série e "Upload" soube aproveitar desse formato muito bem! Não perca mais tempo e divirta-se!

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"Upload", nova série produzida pela Amazon para o seu Prime Vídeo, poderia ser, tranquilamente, um episódio engraçadinho (com uma ótima discussão existencial) de "Black Mirror" - já com grande potencial para um spin-offcomo "Nosedive" ou "San Junipero". Embora minha preferência seja pelos episódios mais dramáticos da série, é inegável que, desde sua criação, "Black Mirror" trás em seu DNA essa alternância inteligente e criativa entre gêneros. "Upload" não é uma antologia episódica, mas se aproveita dessa mesma estratégia para estabelecer seu universo e transitar entre vários temas, tendo como pano de fundo a tecnologia - e como tom, um certo sarcasmo!

Nathan Brown (Robbie Amell) é um jovem programador que, após sofrer um acidente bastante suspeito em um carro autônomo, tem seu "upload" feito para viver em uma espécie de paraíso tecnológico chamado Lakeview. Lá, ele percebe que a experiência pós-vida, exaustivamente anunciada pelo marketing da empresa "Horizon", não é tão perfeita quanto ele imaginava. Caro e vigiado por uma espécie de serviço de assistência 24h, chamado "Angel", Nathan percebe que estar alí não é um privilégio e sim a solução que sua namorada Ingrid Kannerman (Allegra Edwards) encontrou para manter seu relacionamento eternamente - já que a interação entre vivos e "mortos" funciona através de Realidade Virtual. Confira o trailer (em inglês):

"Upload" é uma mistura de "Black Mirror" (Netflix) com "Silicon Valley" (HBO) já que toda tecnologia nos é apresentada em uma versão (propositalmente) exagerada e com várias referências que, para os amantes desse universo, serão facilmente percebidas. Além disso, o roteiro insere várias situações que funcionam como uma espécie de crítica social - a própria contratação dos planos para viver nessa "eternidade virtual" se baseia em elementos que estamos bem acostumados, como a diferença entre aqueles que podem se dar ao luxo de comprar um pacote de dados ilimitados e outros que usam um "pré-pago" de 2GB que limitam suas ações e travam sua existência  até o mês seguinte assim que o pacote acaba. De fato esses paralelos são divertidos e transformaram essa primeira temporada em um ótimo (e leve) entretenimento.

Criada por Greg Daniels, roteirista com passagens por "Os Simpsons" e "Saturday Night Live", e também responsável pela criação de sucessos como "The Office" e "Parks and Recreation" , "Upload" acerta ao equilibrar seu conteúdo com a forma: todas as discussões sociais e referências tecnológicas são pontuadas através da comédia pastelão, enquanto a trama principal esconde um certo mistério, quase policial; e a relação entre Nathan Brown e seu "anjo" Nora (Andy Allo) dão aquele toque final e frescor de uma comédia romântica - muitos podem até achar uma falta de identidade do roteiro, mas na minha interpretação, a série da Amazon aproveita dessa variação de gêneros como uma estratégia narrativa para criar uma ótima dinâmica ao mesmo tempo que nos mantém curiosos durante toda temporada. 

Muito bem produzida, alternando (propositalmente também) ótimos efeitos visuais com outros extremamente toscos, "Upload" é um ótimo exemplo de alinhamento conceitual entre roteiro, direção e interpretação. Robbie Amell e Andy Allo estão excelentes nos papéis Nathan e Nora, com uma química invejável. Destaco também o trabalho de Kevin Bigley como o "sem noção" Luke e o ótimo Rhys Slack como Dylan.

Olha, posso dizer tranquilamente que a série me surpreendeu em vários aspectos e, mesmo não sendo meu gênero preferido, acabou me conquistando. A segunda temporada já foi confirmada pela Amazon e a esperança é que mantenha sua qualidade e, quem sabe, não desperdice tantas oportunidades de se aprofundar em alguns temas de maneira divertida e criativa - da mesma forma como foi capaz de apresentar ótimos personagens. Dez episódios de 30 minutos é a dose perfeita para esse tipo de série e "Upload" soube aproveitar desse formato muito bem! Não perca mais tempo e divirta-se!

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Val

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"Val" é um documentário sensacional, mas duro - pela coragem, pela humanidade e pela desconstrução de um símbolo de sucesso, fama e dinheiro tão particular dos astros de Hollywood nos anos 80 e 90 que trouxeram para os holofotes celebridades como Tom Cruise, Kevin Bacon e até Sean Penn. Essa produção original da A24 e distribuído pela Amazon, não suaviza em nenhum momento a jornada pessoal e profissional de Val Kilmer, mesmo quando rotulado de coadjuvante de luxo.  

Val Kilmer, um dos atores mais inconstantes de Hollywood, vem documentando sua vida e arte em milhares de gravações: de filmes caseiros com os irmãos, a momentos vividos enquanto interpretava papeis icônicos em filmes de sucesso como "Top Gun" e "Batman". Este documentário franco e original revela uma vida pautada por extremos, e um olhar cheio de emoção sobre o que significa ser artista. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pela dupla de estreantes Ting Poo e Leo Scott, o documentário faz um passeio pela história do ator com o claro propósito de desconstruir a celebridade e humanizar a jornada - é um verdadeiro mergulho na experiência de entender quem é Val Kilmer. O tema central (e seu protagonista) pode até soar desinteressante para muitos, mas acredite: talvez seja um dos recortes mais sinceros que assisti recentemente sobre o outro lado de ser uma celebridade. E aqui não dá para deixar de citar um documentário que vai muito nessa linha e que também vale sua atenção: "Showbiz Kids"da HBO Max.

A escolha por uma narrativa não-linear dá um ritmo muito interessante para o documentário, criando uma espécie de contraposição entre imagens de um Val Kilmer insatisfeito e ansioso em seu auge como ator promissor, com cenas dele completamente fragilizado, graças ao efeito devastador das cirurgias e sessões de radioterapia e quimioterapia que salvaram sua vida quando ele precisou cancelar a turnê de sua peça teatral devido a um câncer na garganta, em 2017. É preciso dizer que essa dicotomia é muito impressionante - observar sua dificuldade ao lidar com o aparelho de traqueostomia instalado em seu pescoço, impacta. 

Por outro lado, "Val" está cheio de curiosidades muito além dos bastidores de Hollywood - do desejo de se tornar ator, passando pela fase de estudos até as primeiras oportunidades, o documentário, de fato, não romantiza em nada a jornada de um aspirante ao sucesso. São inúmeras audições, decepções e intrigas. Mas também conquistas e reconhecimentos - os comentários dele sobre sua escolha para substituir Michael Keaton em "Batman" e sua dificuldade em atuar com o traje do herói, além dos problemas de relação com o diretor John Frankenheimer no set de "A Ilha do Dr. Moreau" onde contracenaria com seu ídolo Marlon Brando, são fascinantes.

"Val" é um documentário forte, melancólico e, sobretudo, de entendimento da vida e da obra do ator de 61 anos que teve momentos memoráveis, mas que também foi marcada pela irregularidade. De um jovem que trazia consigo um ideal romântico sobre a arte da atuação, mas que sucumbiu aos desejos comerciais dos Estúdios em uma época onde ser "Iceman" era mais valorizado do que ser "Hamlet".

Vale muito a pena!

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"Val" é um documentário sensacional, mas duro - pela coragem, pela humanidade e pela desconstrução de um símbolo de sucesso, fama e dinheiro tão particular dos astros de Hollywood nos anos 80 e 90 que trouxeram para os holofotes celebridades como Tom Cruise, Kevin Bacon e até Sean Penn. Essa produção original da A24 e distribuído pela Amazon, não suaviza em nenhum momento a jornada pessoal e profissional de Val Kilmer, mesmo quando rotulado de coadjuvante de luxo.  

Val Kilmer, um dos atores mais inconstantes de Hollywood, vem documentando sua vida e arte em milhares de gravações: de filmes caseiros com os irmãos, a momentos vividos enquanto interpretava papeis icônicos em filmes de sucesso como "Top Gun" e "Batman". Este documentário franco e original revela uma vida pautada por extremos, e um olhar cheio de emoção sobre o que significa ser artista. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pela dupla de estreantes Ting Poo e Leo Scott, o documentário faz um passeio pela história do ator com o claro propósito de desconstruir a celebridade e humanizar a jornada - é um verdadeiro mergulho na experiência de entender quem é Val Kilmer. O tema central (e seu protagonista) pode até soar desinteressante para muitos, mas acredite: talvez seja um dos recortes mais sinceros que assisti recentemente sobre o outro lado de ser uma celebridade. E aqui não dá para deixar de citar um documentário que vai muito nessa linha e que também vale sua atenção: "Showbiz Kids"da HBO Max.

A escolha por uma narrativa não-linear dá um ritmo muito interessante para o documentário, criando uma espécie de contraposição entre imagens de um Val Kilmer insatisfeito e ansioso em seu auge como ator promissor, com cenas dele completamente fragilizado, graças ao efeito devastador das cirurgias e sessões de radioterapia e quimioterapia que salvaram sua vida quando ele precisou cancelar a turnê de sua peça teatral devido a um câncer na garganta, em 2017. É preciso dizer que essa dicotomia é muito impressionante - observar sua dificuldade ao lidar com o aparelho de traqueostomia instalado em seu pescoço, impacta. 

Por outro lado, "Val" está cheio de curiosidades muito além dos bastidores de Hollywood - do desejo de se tornar ator, passando pela fase de estudos até as primeiras oportunidades, o documentário, de fato, não romantiza em nada a jornada de um aspirante ao sucesso. São inúmeras audições, decepções e intrigas. Mas também conquistas e reconhecimentos - os comentários dele sobre sua escolha para substituir Michael Keaton em "Batman" e sua dificuldade em atuar com o traje do herói, além dos problemas de relação com o diretor John Frankenheimer no set de "A Ilha do Dr. Moreau" onde contracenaria com seu ídolo Marlon Brando, são fascinantes.

"Val" é um documentário forte, melancólico e, sobretudo, de entendimento da vida e da obra do ator de 61 anos que teve momentos memoráveis, mas que também foi marcada pela irregularidade. De um jovem que trazia consigo um ideal romântico sobre a arte da atuação, mas que sucumbiu aos desejos comerciais dos Estúdios em uma época onde ser "Iceman" era mais valorizado do que ser "Hamlet".

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Verdade e Justiça

"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!

O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:

O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.  

Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".

Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!

Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida! 

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"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!

O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:

O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.  

Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".

Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!

Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida! 

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Verdades Dolorosas

Antes de iniciar esse review, uma pergunta: você mentiria para seu companheiro com o intuito de não desmotivá-lo perante uma jornada? Pois bem, é na tentativa de responder essa pergunta capciosa que a diretora e roteirista Nicole Holofcener (dos excelentes "Mrs. Fletcher" e "Togetherness") constrói um retrato ácido e comovente sobre as relações e as complexidades do casamento pela perspectiva da insegurança e da busca pela validação mesmo depois de uma certa idade. "Verdades Dolorosas" é um filme leve, divertido, mas muito realista - tão realista que não serão poucas as vezes que você vai se pegar rindo de si mesma ao se ver retratada na tela. Mas fica um aviso: ao melhor estilo Woody Allen, o filme ambientado em Nova York é quase uma crônica sobre as neuroses e os dilemas da classe média alta que, mais do que nos divertir, nos convida para ótimas reflexões, ou seja, é preciso gostar desse estilo narrativo onde o charme da história está naquilo com que nos identificamos, não necessariamente naquilo que estamos assistindo.

Protagonizado pela icônica Julia Louis-Dreyfus (de "Veep") e pelo versátil Tobias Menzies (de "The Crown" e "Game of Thrones"), "You Hurt My Feelings" (no original) acompanha a jornada de Beth, uma romancista de sucesso, e Don, seu marido, em uma vida aparentemente perfeita, mas que começa a ruir quando ela acidentalmente ouve ele criticando seu novo livro de forma brutal e honesta, mesmo dizendo repetidamente para ela que havia gostado! Confira o trailer:

A partir de um evento aparentemente banal, "Verdades Dolorosas" tece uma narrativa rica em nuances, explorando os meandros da comunicação, a fragilidade do ego e os questionamentos que surgem quando a verdade nua e crua é exposta. Como já havia provado em seus outros trabalhos, Holofcener demonstra maestria na construção de personagens para esse tipo de embate, explorando camadas e ambiguidades que os tornam extremamente humanos e cativantes - daí a facilidade de identificação com as dores e frustrações de cada um deles.  

Obviamente que a química entre Louis-Dreyfus e Menzies ajuda muito nessa entrega - a relação de seus personagens é tão palpável quanto suas performances, transbordando sensações e sentimentos repletos de emoção. Veja, o trabalho de Holofcener como diretora (essencialmente de atores) permite que eles transitem com a mesma competência entre a comédia sutil até o drama mais intimista onde percebemos uma real e profunda dor, só que sem pesar muito na mão. Existe uma precisão e uma sensibilidade que somados ao trabalho magistral do fotógrafo Jeffrey Waldron (de "The Morning Show") elevam a qualidade da narrativa colocando-a em outro patamar - o que eu quero dizer é que, por mais que possa parecer bobinha em um primeiro olhar, "Verdades Dolorosas" vai te tocar. Waldron usa uma câmera mais fixa e lentes mais fechadas para criar uma atmosfera intimista e claustrofóbica que reflete o estado emocional dos personagens, enquanto seus planos mais abertos passeiam por uma charmosa e apaixonante Nova York. A trilha sonora mais minimalista, composta por Michael Andrews, sem dúvida, complementa essa atmosfera com notas melancólicas e introspectivas, ao mesmo tempo otimistas e emotivas.

O fato é que "Verdades Dolorosas" não se limita a ser apenas um filme sobre um casamento em crise. Aqui temos uma reflexão profunda (e divertida) sobre a natureza das relações verdadeiramente sinceras, senão pelas palavras, pelo receio de magoar quem realmente amamos. Discussões sobre a busca pela aprovação do outro e a importância de uma comunicação honesta em qualquer relacionamento estão ali, mas acredite: a beleza desse filme está no entendimento de que a última coisa que queremos é magoar aqueles que escolhemos para dividir essa jornada complicada chamada vida!

Vale seu play!

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Antes de iniciar esse review, uma pergunta: você mentiria para seu companheiro com o intuito de não desmotivá-lo perante uma jornada? Pois bem, é na tentativa de responder essa pergunta capciosa que a diretora e roteirista Nicole Holofcener (dos excelentes "Mrs. Fletcher" e "Togetherness") constrói um retrato ácido e comovente sobre as relações e as complexidades do casamento pela perspectiva da insegurança e da busca pela validação mesmo depois de uma certa idade. "Verdades Dolorosas" é um filme leve, divertido, mas muito realista - tão realista que não serão poucas as vezes que você vai se pegar rindo de si mesma ao se ver retratada na tela. Mas fica um aviso: ao melhor estilo Woody Allen, o filme ambientado em Nova York é quase uma crônica sobre as neuroses e os dilemas da classe média alta que, mais do que nos divertir, nos convida para ótimas reflexões, ou seja, é preciso gostar desse estilo narrativo onde o charme da história está naquilo com que nos identificamos, não necessariamente naquilo que estamos assistindo.

Protagonizado pela icônica Julia Louis-Dreyfus (de "Veep") e pelo versátil Tobias Menzies (de "The Crown" e "Game of Thrones"), "You Hurt My Feelings" (no original) acompanha a jornada de Beth, uma romancista de sucesso, e Don, seu marido, em uma vida aparentemente perfeita, mas que começa a ruir quando ela acidentalmente ouve ele criticando seu novo livro de forma brutal e honesta, mesmo dizendo repetidamente para ela que havia gostado! Confira o trailer:

A partir de um evento aparentemente banal, "Verdades Dolorosas" tece uma narrativa rica em nuances, explorando os meandros da comunicação, a fragilidade do ego e os questionamentos que surgem quando a verdade nua e crua é exposta. Como já havia provado em seus outros trabalhos, Holofcener demonstra maestria na construção de personagens para esse tipo de embate, explorando camadas e ambiguidades que os tornam extremamente humanos e cativantes - daí a facilidade de identificação com as dores e frustrações de cada um deles.  

Obviamente que a química entre Louis-Dreyfus e Menzies ajuda muito nessa entrega - a relação de seus personagens é tão palpável quanto suas performances, transbordando sensações e sentimentos repletos de emoção. Veja, o trabalho de Holofcener como diretora (essencialmente de atores) permite que eles transitem com a mesma competência entre a comédia sutil até o drama mais intimista onde percebemos uma real e profunda dor, só que sem pesar muito na mão. Existe uma precisão e uma sensibilidade que somados ao trabalho magistral do fotógrafo Jeffrey Waldron (de "The Morning Show") elevam a qualidade da narrativa colocando-a em outro patamar - o que eu quero dizer é que, por mais que possa parecer bobinha em um primeiro olhar, "Verdades Dolorosas" vai te tocar. Waldron usa uma câmera mais fixa e lentes mais fechadas para criar uma atmosfera intimista e claustrofóbica que reflete o estado emocional dos personagens, enquanto seus planos mais abertos passeiam por uma charmosa e apaixonante Nova York. A trilha sonora mais minimalista, composta por Michael Andrews, sem dúvida, complementa essa atmosfera com notas melancólicas e introspectivas, ao mesmo tempo otimistas e emotivas.

O fato é que "Verdades Dolorosas" não se limita a ser apenas um filme sobre um casamento em crise. Aqui temos uma reflexão profunda (e divertida) sobre a natureza das relações verdadeiramente sinceras, senão pelas palavras, pelo receio de magoar quem realmente amamos. Discussões sobre a busca pela aprovação do outro e a importância de uma comunicação honesta em qualquer relacionamento estão ali, mas acredite: a beleza desse filme está no entendimento de que a última coisa que queremos é magoar aqueles que escolhemos para dividir essa jornada complicada chamada vida!

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Victoria

Só assista "Victoria" se conseguir lidar com a angustiante sensação do "vai dar m..." a todo momento - e se você for pai e de uma menina, tenho certeza que a experiência será ainda mais visceral!

Se em 2018 o diretor Erik Poppe nos colocou dentro da ilha de Utoya na Noruega e sofremos por 71 minutos o desespero daqueles jovens, tentando sobreviver a um ataque terrorista, com um plano sequência de tirar o fôlego e que um ano depois foi brilhantemente apropriado (mesmo que aqui com dois ou três cortes) pelo diretor Sam Mendes em 1917, agora é a vez de aplaudir de pé o resultado que o alemão Sebastian Schipper conseguiu com "Victoria" - foram 134 minutos sem cortes e melhor, trazendo um aspecto documental para o filme que vai nos consumindo de uma forma impressionante.

Victoria (Laia Costa) é uma jovem espanhola que está morando em Berlin há apenas 3 meses. Certa noite ela vai para um clube sozinha e acaba conhecendo Sonne (Frederick Lau) e seus três amigos (Boxer, Blinker e Fuss). Lentamente, Sonne vai se aproximando da garota e ganhando sua confiança até que ela resolve curtir o restinho da noite com o grupo. Acontece que a noite vai se mostrando mais perigosa do que Victoria poderia imaginar. Confira o trailer:

Inegavelmente que a gramática cinematográfica imposta por Schipper e pela talentosa diretora de fotografia norueguesa Sturla Brandth Grøvlen (que na época estava apenas em seu segundo longa-metragem, muito antes de explodir com "Druk - Mais Uma Rodada") é o que mais chama atenção logo de cara. Organicamente, a câmera segue os cinco personagens como se fossemos parte da cena. Com imagens que passeiam por uma Berlin prestes a amanhecer (emprestando um aspecto “Dogma 95” à obra) temos a exata impressão de viver aquela experiência sem ter que lidar com uma possível superficialidade de movimentos exagerados e tampouco com a instabilidade ou a perda de foco - de fato o aspecto técnico do filme impressiona.

É raro encontrarmos um filme que realmente nos coloca no meio da ação, criando uma experiência imersiva única e "Victoria" é muito bem sucedida nisso, porém a história também vai envolvendo e se aproveita muito bem de todas as escolhas conceituais que o diretor fez. Com um roteiro de certa forma enxuto e aproveitando a naturalidade (e o improviso) dos atores, em nenhum minuto sabemos o que vai acontecer com a protagonista, mas temos certeza que algo vai acontecer, pois a construção das relações e a concepção daquela dinâmica entre os personagens deixa claro que Victoria está em um barril de pólvora prestes a explodir - só não sabemos quando e como.

Não vai ser uma vez que você vai pensar: "Filha, vai para casa. Larga esses caras. Isso vai dar confusão". Obviamente que ela não vai te escutar e é essa expectativa não atendida que acaba sendo cruel para quem assiste. Não existe um aprofundamento relevante nas motivações ou personalidades dos personagens propositalmente - como tudo acontece em pouco mais de duas horas, em uma única noite, a proposta se encaixa e traz uma realidade brutal ao filme. Alemães (orientais) falando em um inglês quase monossilábico com uma jovem espanhola sozinha na madrugada em Berlin - tem como o clima se mostrar mais tenso?

"Victoria" é uma experiência imersiva imperdível! Vale muito o seu play!

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Só assista "Victoria" se conseguir lidar com a angustiante sensação do "vai dar m..." a todo momento - e se você for pai e de uma menina, tenho certeza que a experiência será ainda mais visceral!

Se em 2018 o diretor Erik Poppe nos colocou dentro da ilha de Utoya na Noruega e sofremos por 71 minutos o desespero daqueles jovens, tentando sobreviver a um ataque terrorista, com um plano sequência de tirar o fôlego e que um ano depois foi brilhantemente apropriado (mesmo que aqui com dois ou três cortes) pelo diretor Sam Mendes em 1917, agora é a vez de aplaudir de pé o resultado que o alemão Sebastian Schipper conseguiu com "Victoria" - foram 134 minutos sem cortes e melhor, trazendo um aspecto documental para o filme que vai nos consumindo de uma forma impressionante.

Victoria (Laia Costa) é uma jovem espanhola que está morando em Berlin há apenas 3 meses. Certa noite ela vai para um clube sozinha e acaba conhecendo Sonne (Frederick Lau) e seus três amigos (Boxer, Blinker e Fuss). Lentamente, Sonne vai se aproximando da garota e ganhando sua confiança até que ela resolve curtir o restinho da noite com o grupo. Acontece que a noite vai se mostrando mais perigosa do que Victoria poderia imaginar. Confira o trailer:

Inegavelmente que a gramática cinematográfica imposta por Schipper e pela talentosa diretora de fotografia norueguesa Sturla Brandth Grøvlen (que na época estava apenas em seu segundo longa-metragem, muito antes de explodir com "Druk - Mais Uma Rodada") é o que mais chama atenção logo de cara. Organicamente, a câmera segue os cinco personagens como se fossemos parte da cena. Com imagens que passeiam por uma Berlin prestes a amanhecer (emprestando um aspecto “Dogma 95” à obra) temos a exata impressão de viver aquela experiência sem ter que lidar com uma possível superficialidade de movimentos exagerados e tampouco com a instabilidade ou a perda de foco - de fato o aspecto técnico do filme impressiona.

É raro encontrarmos um filme que realmente nos coloca no meio da ação, criando uma experiência imersiva única e "Victoria" é muito bem sucedida nisso, porém a história também vai envolvendo e se aproveita muito bem de todas as escolhas conceituais que o diretor fez. Com um roteiro de certa forma enxuto e aproveitando a naturalidade (e o improviso) dos atores, em nenhum minuto sabemos o que vai acontecer com a protagonista, mas temos certeza que algo vai acontecer, pois a construção das relações e a concepção daquela dinâmica entre os personagens deixa claro que Victoria está em um barril de pólvora prestes a explodir - só não sabemos quando e como.

Não vai ser uma vez que você vai pensar: "Filha, vai para casa. Larga esses caras. Isso vai dar confusão". Obviamente que ela não vai te escutar e é essa expectativa não atendida que acaba sendo cruel para quem assiste. Não existe um aprofundamento relevante nas motivações ou personalidades dos personagens propositalmente - como tudo acontece em pouco mais de duas horas, em uma única noite, a proposta se encaixa e traz uma realidade brutal ao filme. Alemães (orientais) falando em um inglês quase monossilábico com uma jovem espanhola sozinha na madrugada em Berlin - tem como o clima se mostrar mais tenso?

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Vidas à Deriva

Você vai se surpreender - principalmente se você gosta de filmes angustiantes, baseado em fatos reais, como "127 Horas", por exemplo. Aliás, "Vidas à Deriva" é sim mais "um filme de ator" e admito: fiquei muito impressionado com a performance de Shailene Woodley (de "Big Little Lies") - praticamente sozinha, como James Franco (diga-se de passagem), ela é capaz de nos conectar com aquele pesadelo de uma forma muito particular, homeopática até, se aproveitando muito bem do "tempo de tela" para potencializar o valor do silêncio, da solidão, da reflexão e da angustia, que nos provoca, nos tira da zona de conforto e, finalmente, nos emociona! 

Apaixonados, os noivos Tami Oldham (Shailene Woodley) e Richard Sharp (Sam Claflin) velejam em mar aberto quando são atingidos por uma terrível tempestade. Passada a tormenta, ela se vê completamente perdida na embarcação em ruínas e tenta encontrar uma maneira de salvar a própria vida e a do parceiro bastante machucado. Confira o trailer:

Dirigido pelo talentoso cineasta islandês Baltasar Kormákur (de "A Fera") e escrito pelo trio Aaron Kandell, Jordan Kandell (ambos de "Moana") e David Branson Smith (de "UnReal"), "Vidas à Deriva" funciona basicamente como dois filmes em um - o primeiro é pautado no relacionamento de Oldham e Sharp; e o segundo na luta pela sobrevivência durante a deriva. Naturalmente, contada a partir de flashbacks, a versão romântica da história, de fato, não soa como das mais atraentes - tudo acontece tão rápido que mesmo com cenas belíssimas, muito bem fotografadas pelo craque Robert Richardson (vencedor de 3 Oscars, o último por "Hugo"), fica difícil se envolver ou se identificar com aquela dinâmica entre os personagens (soa adolescente demais). Já o lado mais dramático do filme, esse sim funciona perfeitamente, algo como "Mar Aberto" - e aqui cabe um comentário: durante esse plot, não existe muita ação ou cortes mais acelerados para criar tensão; a própria situação já nos provoca inúmeras sensações que acabam colocando nossa experiência em outro patamar. Funciona e bem!

É claro que a escolha conceitual de misturar esses dois plots tão diferentes em uma montagem que vai e volta na linha temporal sem deixar muito espaço para nos localizarmos ou nos conectarmos com os personagens, cria um fluxo narrativo frágil, mas tambémnão deixa de ser interessante, só que prejudica uma imersão mais profunda e em determinadas passagens faz falta essa relação de empatia - principalmente no primeiro e segundo atos. Sinceramente isso não me atrapalhou, pois eu achei que os saltos aconteceram de forma bem orgânica e consciente - lembra um pouco "Lost" nesse sentido; mas imagino que isso pode incomodar parte da audiência.

A jornada contada pelos olhos de Tami contém desespero (reparem na cena em que ela nota um navio cargueiro vindo ao seu encontro) e também alívio (igualmente ótima a cena em que a ela comemora a chegada da chuva, nua, sobre a proa do barco), e é essa dicotomia que dá o tom de "Vidas à Deriva" - essa complexidade da personagem X o drama que ela esta vivendo, faz valer a jornada da mesma forma que nos faz esquecer o lado "love is in the air" do roteiro; porém, é inegável que o ponto de virada do terceiro ato e o que se segue, ajuda demais na conclusão emocionante e (aí sim) coerente dessa história de amor em meio ao caos!

Vale muito o seu play!

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Você vai se surpreender - principalmente se você gosta de filmes angustiantes, baseado em fatos reais, como "127 Horas", por exemplo. Aliás, "Vidas à Deriva" é sim mais "um filme de ator" e admito: fiquei muito impressionado com a performance de Shailene Woodley (de "Big Little Lies") - praticamente sozinha, como James Franco (diga-se de passagem), ela é capaz de nos conectar com aquele pesadelo de uma forma muito particular, homeopática até, se aproveitando muito bem do "tempo de tela" para potencializar o valor do silêncio, da solidão, da reflexão e da angustia, que nos provoca, nos tira da zona de conforto e, finalmente, nos emociona! 

Apaixonados, os noivos Tami Oldham (Shailene Woodley) e Richard Sharp (Sam Claflin) velejam em mar aberto quando são atingidos por uma terrível tempestade. Passada a tormenta, ela se vê completamente perdida na embarcação em ruínas e tenta encontrar uma maneira de salvar a própria vida e a do parceiro bastante machucado. Confira o trailer:

Dirigido pelo talentoso cineasta islandês Baltasar Kormákur (de "A Fera") e escrito pelo trio Aaron Kandell, Jordan Kandell (ambos de "Moana") e David Branson Smith (de "UnReal"), "Vidas à Deriva" funciona basicamente como dois filmes em um - o primeiro é pautado no relacionamento de Oldham e Sharp; e o segundo na luta pela sobrevivência durante a deriva. Naturalmente, contada a partir de flashbacks, a versão romântica da história, de fato, não soa como das mais atraentes - tudo acontece tão rápido que mesmo com cenas belíssimas, muito bem fotografadas pelo craque Robert Richardson (vencedor de 3 Oscars, o último por "Hugo"), fica difícil se envolver ou se identificar com aquela dinâmica entre os personagens (soa adolescente demais). Já o lado mais dramático do filme, esse sim funciona perfeitamente, algo como "Mar Aberto" - e aqui cabe um comentário: durante esse plot, não existe muita ação ou cortes mais acelerados para criar tensão; a própria situação já nos provoca inúmeras sensações que acabam colocando nossa experiência em outro patamar. Funciona e bem!

É claro que a escolha conceitual de misturar esses dois plots tão diferentes em uma montagem que vai e volta na linha temporal sem deixar muito espaço para nos localizarmos ou nos conectarmos com os personagens, cria um fluxo narrativo frágil, mas tambémnão deixa de ser interessante, só que prejudica uma imersão mais profunda e em determinadas passagens faz falta essa relação de empatia - principalmente no primeiro e segundo atos. Sinceramente isso não me atrapalhou, pois eu achei que os saltos aconteceram de forma bem orgânica e consciente - lembra um pouco "Lost" nesse sentido; mas imagino que isso pode incomodar parte da audiência.

A jornada contada pelos olhos de Tami contém desespero (reparem na cena em que ela nota um navio cargueiro vindo ao seu encontro) e também alívio (igualmente ótima a cena em que a ela comemora a chegada da chuva, nua, sobre a proa do barco), e é essa dicotomia que dá o tom de "Vidas à Deriva" - essa complexidade da personagem X o drama que ela esta vivendo, faz valer a jornada da mesma forma que nos faz esquecer o lado "love is in the air" do roteiro; porém, é inegável que o ponto de virada do terceiro ato e o que se segue, ajuda demais na conclusão emocionante e (aí sim) coerente dessa história de amor em meio ao caos!

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Vinagre de Maçã

Como "The Dropout" e "Inventando Anna", "Vinagre de Maçã" mergulha na ascensão e queda de uma personagem carismática e manipuladora, explorando até que ponto a busca por sucesso e reconhecimento pode levar para uma completa destruição - e sim, Belle Gibson é mesmo uma mistura explosiva de Elizabeth Holmes com Anna Delvey. Inspirada na obra "The Woman Who Fooled the World", de Beau Donelly e Nick Toscano, "Apple Cider Vinegar" (no original) chega à Netflix como um dos lançamentos mais aguardados de 2025 e com a promessa de explorar o mundo das influencers digitais de "bem-estar" e os riscos da tão cultuada pseudociência de Instagram, a partir de uma história (assombrosamente) real.

Criada por Samantha Strauss (de "Nove Desconhecidos"), a minissérie de 6 episódios gira em torno de Belle Gibson (Kaitlyn Dever), uma jovem sem grandes perspectivas que constrói um império de mentiras ao alegar que curou um câncer terminal através de uma alimentação natural e de um estilo de vida alternativo. Seu discurso viraliza, transformando-a em uma referência no mercado do bem-estar, garantindo contratos milionários, um livro best-seller e um aplicativo de saúde que foi sucesso por muitos anos. Mas conforme jornalistas começam a investigar sua trajetória, as contradições vêm à tona e toda essa farsa ameaça desmoronar. Paralelamente, acompanhamos Milla Blake (Alycia Debnam-Carey), uma jovem diagnosticada com câncer que rejeita tratamentos médicos convencionais para seguir métodos mais alternativos - foi essa jornada que serviu como um espelho para as consequências reais da desinformação propagada por figuras como Belle. Confira o trailer (em inglês):

"Vinagre de Maçã" é realmente envolvente, especialmente por não se limitar a contar a história de uma fraude individual, mas sim por ampliar a discussão para um fenômeno infinitamente maior: a cultura da influência e a crescente credulidade em curas milagrosas exponenciadas na era digital. Strauss e sua equipe estruturam a narrativa de uma forma não linear, alternando entre diferentes períodos de tempo e muitas vezes utilizando quebras da quarta parede para reforçar o cinismo e a manipulação envolvidas no discurso da protagonista. Essa abordagem, aliás, confere um dinamismo impressionante para a narrativa, nos aproximando da trama, tornando a experiência do play muito mais imersiva e naturalmente crítica. Visualmente, "Vinagre de Maçã" também merece destaque - a minissérie dirigida pelo Jeffrey Walker (de "O Casamento de Ali") aposta em uma estética vibrante e cuidadosamente estilizada, refletindo o universo das redes sociais e do marketing digital com inúmeras intervenções gráficas. A paleta de cores mais saturada, uma fotografia impecável e uma montagem dinâmica reforçam o contraste entre a imagem vendida por Belle e a dura realidade por trás de sua farsa - eu diria até que "Vinagre de Maçã" é uma aula de marketing de percepção.

Kaitlyn Dever entrega uma performance digna de prêmios (talvez a melhor de sua respeitável carreira), transitando com maestria entre a vulnerabilidade de uma garota problemática e a frieza calculada de uma empreendedora voraz. Dever constrói sua personagem de maneira ambígua, ao mesmo tempo fascinante e repulsiva, que de fato lembra o magnetismo de Julia Garner em "Inventando Anna". Alycia Debnam-Carey também se destaca - ela traz profundidade para sua personagem, evidenciando o impacto destrutivo da pseudociência pautada na esperança de ter uma segunda chance. Em muitas passagens, sua luta é de cortar o coração. O elenco de apoio, que inclui Aisha Dee, Tilda Cobham-Hervey, Mark Coles Smith e Ashley Zukerman, contribui para dar o peso emocional que narrativa pede, adicionando camadas doloridas para a história e tornando os conflitos de vários núcleos ainda mais realista.

Obviamente que apesar de sua abordagem criativa, "Vinagre de Maçã" não está isenta de alguns deslizes estruturais. Em alguns momentos, a narrativa se perde em convencionalismos do gênero biográfico e algumas subtramas poderiam ser melhor desenvolvidas, no entanto, esses pontos não comprometem em nada, pois a trama consegue transitar com inteligência entre o drama e a crítica social sem parecer chapa-branca demais. Embalados por uma trilha sonora maravilhosa, com faixas inspiradoras contrastando com o tom irônico da minissérie, o que de certa forma reforça a proposta da narrativa, "Vinagre de Maçã" samba na nossa cara ao fazer um retrato honesto de uma influencer golpista e assim expor os perigos da desinformação e do culto às celebridades digitais.

Vale muito o seu play!

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Como "The Dropout" e "Inventando Anna", "Vinagre de Maçã" mergulha na ascensão e queda de uma personagem carismática e manipuladora, explorando até que ponto a busca por sucesso e reconhecimento pode levar para uma completa destruição - e sim, Belle Gibson é mesmo uma mistura explosiva de Elizabeth Holmes com Anna Delvey. Inspirada na obra "The Woman Who Fooled the World", de Beau Donelly e Nick Toscano, "Apple Cider Vinegar" (no original) chega à Netflix como um dos lançamentos mais aguardados de 2025 e com a promessa de explorar o mundo das influencers digitais de "bem-estar" e os riscos da tão cultuada pseudociência de Instagram, a partir de uma história (assombrosamente) real.

Criada por Samantha Strauss (de "Nove Desconhecidos"), a minissérie de 6 episódios gira em torno de Belle Gibson (Kaitlyn Dever), uma jovem sem grandes perspectivas que constrói um império de mentiras ao alegar que curou um câncer terminal através de uma alimentação natural e de um estilo de vida alternativo. Seu discurso viraliza, transformando-a em uma referência no mercado do bem-estar, garantindo contratos milionários, um livro best-seller e um aplicativo de saúde que foi sucesso por muitos anos. Mas conforme jornalistas começam a investigar sua trajetória, as contradições vêm à tona e toda essa farsa ameaça desmoronar. Paralelamente, acompanhamos Milla Blake (Alycia Debnam-Carey), uma jovem diagnosticada com câncer que rejeita tratamentos médicos convencionais para seguir métodos mais alternativos - foi essa jornada que serviu como um espelho para as consequências reais da desinformação propagada por figuras como Belle. Confira o trailer (em inglês):

"Vinagre de Maçã" é realmente envolvente, especialmente por não se limitar a contar a história de uma fraude individual, mas sim por ampliar a discussão para um fenômeno infinitamente maior: a cultura da influência e a crescente credulidade em curas milagrosas exponenciadas na era digital. Strauss e sua equipe estruturam a narrativa de uma forma não linear, alternando entre diferentes períodos de tempo e muitas vezes utilizando quebras da quarta parede para reforçar o cinismo e a manipulação envolvidas no discurso da protagonista. Essa abordagem, aliás, confere um dinamismo impressionante para a narrativa, nos aproximando da trama, tornando a experiência do play muito mais imersiva e naturalmente crítica. Visualmente, "Vinagre de Maçã" também merece destaque - a minissérie dirigida pelo Jeffrey Walker (de "O Casamento de Ali") aposta em uma estética vibrante e cuidadosamente estilizada, refletindo o universo das redes sociais e do marketing digital com inúmeras intervenções gráficas. A paleta de cores mais saturada, uma fotografia impecável e uma montagem dinâmica reforçam o contraste entre a imagem vendida por Belle e a dura realidade por trás de sua farsa - eu diria até que "Vinagre de Maçã" é uma aula de marketing de percepção.

Kaitlyn Dever entrega uma performance digna de prêmios (talvez a melhor de sua respeitável carreira), transitando com maestria entre a vulnerabilidade de uma garota problemática e a frieza calculada de uma empreendedora voraz. Dever constrói sua personagem de maneira ambígua, ao mesmo tempo fascinante e repulsiva, que de fato lembra o magnetismo de Julia Garner em "Inventando Anna". Alycia Debnam-Carey também se destaca - ela traz profundidade para sua personagem, evidenciando o impacto destrutivo da pseudociência pautada na esperança de ter uma segunda chance. Em muitas passagens, sua luta é de cortar o coração. O elenco de apoio, que inclui Aisha Dee, Tilda Cobham-Hervey, Mark Coles Smith e Ashley Zukerman, contribui para dar o peso emocional que narrativa pede, adicionando camadas doloridas para a história e tornando os conflitos de vários núcleos ainda mais realista.

Obviamente que apesar de sua abordagem criativa, "Vinagre de Maçã" não está isenta de alguns deslizes estruturais. Em alguns momentos, a narrativa se perde em convencionalismos do gênero biográfico e algumas subtramas poderiam ser melhor desenvolvidas, no entanto, esses pontos não comprometem em nada, pois a trama consegue transitar com inteligência entre o drama e a crítica social sem parecer chapa-branca demais. Embalados por uma trilha sonora maravilhosa, com faixas inspiradoras contrastando com o tom irônico da minissérie, o que de certa forma reforça a proposta da narrativa, "Vinagre de Maçã" samba na nossa cara ao fazer um retrato honesto de uma influencer golpista e assim expor os perigos da desinformação e do culto às celebridades digitais.

Vale muito o seu play!

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Viver duas vezes

"Viver duas vezes" é um filme interessante, pois ele transita entre a comédia e o drama em um piscar de olhos e isso, sem dúvida, nos provoca os mais diversos sentimentos - o que para um filme como esse, não poderia ser um melhor elogio. Esse filme espanhol (mais um dos bons) conta a história de um professor de matemática aposentado chamado Emilio (Oscar Martínez do excelente "O Cidadão Ilustre"). Mal humorado, metódico e completamente avesso ao uso de tecnologia, Emilio é um homem solitário que se contenta com uma vida pacata, tranquila, onde seus momentos de prazer se resumem em comer um pão com tomate e jogar Sudoku (que ele insiste em chamar de quadrado mágico) no seu Café preferido em Valência. Porém, sua vida vira de ponta cabeça quando ele é diagnosticado com Alzheimer. Resiliente com sua condição ele resolve procurar pelo seu grande amor adolescente antes que possa esquecê-la definitivamente por causa da doença. Confira o trailer, dublado:

Além de um Oscar Martínez brilhante como é de costume, o grande mérito de "Viver duas vezes" é, sem dúvida, a forma como a roteirista María Mínguez trata o assunto da doença e como a diretora Maria Ripoll imprime leveza e bom humor durante toda a jornada de Emilio na sua busca por Margarita (Isabel Requena). Enquanto Emilio não demonstra nenhum tipo de auto-piedade, sua neta Blanca (a divertida Mafalda Carbonell), uma pré-adolescente com deficiência física, escarancara uma relação verdadeira recheada de ironias e provocações bem humoradas devido as respectivas condições. O roteiro trás diálogos tão inteligentes que equilibra de uma forma magistral a comédia de situações e relações familiares com o drama e angustia da ação devastadora da doença! Olha, vale muito a pena - talvez o finalzinho deixe um pouco a desejar pela necessidade de entregar uma mensagem de amor, mas de resto é uma excelente pedida!

"Viver duas vezes" se apoia no trabalho do elenco sem deixar de valorizar um ótimo roteiro e uma direção bastante competente. Peço licença para repetir uma passagem que escrevi no review da série  "O Método Kominsky" e que se encaixa perfeitamente aqui: "O mal humor tem seu charme (vide Dr. House) e o desprendimento ao lidar com ele de uma forma leve, trás muita coisa boa para essa comédia cheia de drama (e de verdade)". Reparem na forma como as relações são discutidas: entre marido e mulher, entre pai e filha, entre vô e neta; ou como a dinâmica social atual e escolhas pessoais fundamentadas na superficialidade são discutidas quando Blanca comenta sobre a profissão de Coach do pai: “É uma profissão que ele inventou para não admitir que está desempregado”. E até quando Emilio comenta sobre a profissão que a filha insiste em contextualizar como mais importante do que realmente é, apenas para impressionar os outros ou ganhar algum respeito!

Porém, nem tudo é perfeito! A crise no casamento entre Julia (Inma Cuesta) e Felipe (Nacho López) ou a descoberta do namorado virtual de Blanca e ainda a progressão da doença de Emilio no final do filme, poderiam ser melhor trabalhados. Algumas soluções narrativas não me agradaram: a maneira como Blanca consegue o endereço verdadeiro de Margarita é um bom exemplo - sem falar na cena do casamento, completamente dispensável, não fosse o alivio dramático que ela gerou na introdução do terceiro ato. Outro elemento muito bacana e que joga o filme lá para cima é a fotografia da diretora Núria Roldos (de "Merlí") - é impossível não desejar conhecer o visual deslumbrante de Valência e Navarra, na Espanha. 

"Viver duas vezes" é um filme muito bacana, com muito mais acertos do que falhas. É uma dramédia característica do novo cinema espanhol e que vai conquistar muitos assinantes da Netflix. Se não tem a delicadeza ou a profundidade do cinema francês em filmes como "O melhor está por vir" ou "Intocáveis" tem o humor ácido e inteligente de "O Cidadão Ilustre" ou do argentino "Minha Obra-Prima". Pode dar o play sem o menor receio que a diversão e a emoção estão garantidos!

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"Viver duas vezes" é um filme interessante, pois ele transita entre a comédia e o drama em um piscar de olhos e isso, sem dúvida, nos provoca os mais diversos sentimentos - o que para um filme como esse, não poderia ser um melhor elogio. Esse filme espanhol (mais um dos bons) conta a história de um professor de matemática aposentado chamado Emilio (Oscar Martínez do excelente "O Cidadão Ilustre"). Mal humorado, metódico e completamente avesso ao uso de tecnologia, Emilio é um homem solitário que se contenta com uma vida pacata, tranquila, onde seus momentos de prazer se resumem em comer um pão com tomate e jogar Sudoku (que ele insiste em chamar de quadrado mágico) no seu Café preferido em Valência. Porém, sua vida vira de ponta cabeça quando ele é diagnosticado com Alzheimer. Resiliente com sua condição ele resolve procurar pelo seu grande amor adolescente antes que possa esquecê-la definitivamente por causa da doença. Confira o trailer, dublado:

Além de um Oscar Martínez brilhante como é de costume, o grande mérito de "Viver duas vezes" é, sem dúvida, a forma como a roteirista María Mínguez trata o assunto da doença e como a diretora Maria Ripoll imprime leveza e bom humor durante toda a jornada de Emilio na sua busca por Margarita (Isabel Requena). Enquanto Emilio não demonstra nenhum tipo de auto-piedade, sua neta Blanca (a divertida Mafalda Carbonell), uma pré-adolescente com deficiência física, escarancara uma relação verdadeira recheada de ironias e provocações bem humoradas devido as respectivas condições. O roteiro trás diálogos tão inteligentes que equilibra de uma forma magistral a comédia de situações e relações familiares com o drama e angustia da ação devastadora da doença! Olha, vale muito a pena - talvez o finalzinho deixe um pouco a desejar pela necessidade de entregar uma mensagem de amor, mas de resto é uma excelente pedida!

"Viver duas vezes" se apoia no trabalho do elenco sem deixar de valorizar um ótimo roteiro e uma direção bastante competente. Peço licença para repetir uma passagem que escrevi no review da série  "O Método Kominsky" e que se encaixa perfeitamente aqui: "O mal humor tem seu charme (vide Dr. House) e o desprendimento ao lidar com ele de uma forma leve, trás muita coisa boa para essa comédia cheia de drama (e de verdade)". Reparem na forma como as relações são discutidas: entre marido e mulher, entre pai e filha, entre vô e neta; ou como a dinâmica social atual e escolhas pessoais fundamentadas na superficialidade são discutidas quando Blanca comenta sobre a profissão de Coach do pai: “É uma profissão que ele inventou para não admitir que está desempregado”. E até quando Emilio comenta sobre a profissão que a filha insiste em contextualizar como mais importante do que realmente é, apenas para impressionar os outros ou ganhar algum respeito!

Porém, nem tudo é perfeito! A crise no casamento entre Julia (Inma Cuesta) e Felipe (Nacho López) ou a descoberta do namorado virtual de Blanca e ainda a progressão da doença de Emilio no final do filme, poderiam ser melhor trabalhados. Algumas soluções narrativas não me agradaram: a maneira como Blanca consegue o endereço verdadeiro de Margarita é um bom exemplo - sem falar na cena do casamento, completamente dispensável, não fosse o alivio dramático que ela gerou na introdução do terceiro ato. Outro elemento muito bacana e que joga o filme lá para cima é a fotografia da diretora Núria Roldos (de "Merlí") - é impossível não desejar conhecer o visual deslumbrante de Valência e Navarra, na Espanha. 

"Viver duas vezes" é um filme muito bacana, com muito mais acertos do que falhas. É uma dramédia característica do novo cinema espanhol e que vai conquistar muitos assinantes da Netflix. Se não tem a delicadeza ou a profundidade do cinema francês em filmes como "O melhor está por vir" ou "Intocáveis" tem o humor ácido e inteligente de "O Cidadão Ilustre" ou do argentino "Minha Obra-Prima". Pode dar o play sem o menor receio que a diversão e a emoção estão garantidos!

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