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The Meyerowitz Stories

Se tivesse sido dirigido pelo Wood Allen eu não me surpreenderia!

Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) é o patriarca da família, casado com Maureen (Emma Thompson) e pai de Matthew (Ben Stiller), Danny (Adam Sandler) e Jean (Elizabeth Marvel). Escultor aposentado e extremamente vaidoso, ele fica satisfeito ao saber que está sendo organizado uma exposição para celebrar seu trabalho artístico. Só que, em meio aos preparativos, Harold adoece e faz com que todos os filhos precisem se unir para ajudá-lo a se recuperar à tempo, o que resulta em algumas situações que colocam a limpo vários traumas do passado.

O filme é uma espécie de releitura da gramática cinematográfica que o Wood Allenimprimiu nos seus filmes durante anos. Imagina Nova York como cenário, um pianinho de fundo em (pelo menos) 75% do filme, diálogos longos (e existenciais), além de um cuidado enorme com a direção dos atores. Aliás o ponto alto da produção do Netflix é como o Dustin Hoffman e a Emma Thompson compõem seus personagens. Ben Stiller também está ótimo e o Adan Sandler não prejudica! Não vou me surpreender se algum deles for indicado para o Oscar.

O Noah Baumbach, na minha opinião, é melhor roteirista do que diretor - embora seu "História de um Casamento" o coloque em outro patamar de direção, mesmo trazendo as mesmas qualidades que mencionei acima! O seu filme é divertido na sua simplicidade, flui muito bem com suas escolhas narrativas e, para quem gosta de filmes de relação, cheio de dramas familiares inusitados, certamente vai se divertir com "The Meyerowitz Stories".

Vale o play se você gostar do estilo.

Assista Agora

Se tivesse sido dirigido pelo Wood Allen eu não me surpreenderia!

Harold Meyerowitz (Dustin Hoffman) é o patriarca da família, casado com Maureen (Emma Thompson) e pai de Matthew (Ben Stiller), Danny (Adam Sandler) e Jean (Elizabeth Marvel). Escultor aposentado e extremamente vaidoso, ele fica satisfeito ao saber que está sendo organizado uma exposição para celebrar seu trabalho artístico. Só que, em meio aos preparativos, Harold adoece e faz com que todos os filhos precisem se unir para ajudá-lo a se recuperar à tempo, o que resulta em algumas situações que colocam a limpo vários traumas do passado.

O filme é uma espécie de releitura da gramática cinematográfica que o Wood Allenimprimiu nos seus filmes durante anos. Imagina Nova York como cenário, um pianinho de fundo em (pelo menos) 75% do filme, diálogos longos (e existenciais), além de um cuidado enorme com a direção dos atores. Aliás o ponto alto da produção do Netflix é como o Dustin Hoffman e a Emma Thompson compõem seus personagens. Ben Stiller também está ótimo e o Adan Sandler não prejudica! Não vou me surpreender se algum deles for indicado para o Oscar.

O Noah Baumbach, na minha opinião, é melhor roteirista do que diretor - embora seu "História de um Casamento" o coloque em outro patamar de direção, mesmo trazendo as mesmas qualidades que mencionei acima! O seu filme é divertido na sua simplicidade, flui muito bem com suas escolhas narrativas e, para quem gosta de filmes de relação, cheio de dramas familiares inusitados, certamente vai se divertir com "The Meyerowitz Stories".

Vale o play se você gostar do estilo.

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The New Look

Ao escutar nomes como Christian Dior e Coco Chanel, automaticamente somos remetidos ao universo da alta costura, no entanto, "The New Look" não é uma série sobre moda - ela é uma série sobre o contexto onde essas duas personalidades estiveram inseridas. Talvez tenha sido essa quebra de expectativa a razão pela qual essa belíssima obra não tenha alcançado o reconhecimento que ela merecia. Criada por Todd A. Kessler, um dos nomes responsáveis por "Damages" e "Bloodline", essa série da Apple TV+ é competente ao combinar os bastidores da moda parisiense com as cicatrizes deixadas pela Segunda Guerra Mundial, inevitavelmente dialogando com outras produções mais estilizadas e densas como "The Crown" ou até "Somos os que Tiveram Sorte" - obviamente que com um recorte estético e temático muito próprio, centrado no impacto do nazismo sobre o mundo criativo e na gênese do império Dior como resposta ao colapso moral da Europa.

Ambientada entre os anos finais da ocupação nazista e os primeiros passos da reconstrução da França, "The New Look" acompanha a trajetória de Christian Dior (Ben Mendelsohn) enquanto tenta não apenas sobreviver ao momento opressor da guerra como encontrar uma forma de reagir por meio da sua arte - o que culminaria, anos depois, no famoso lançamento da coleção que redefiniria a silhueta feminina do pós-guerra. Paralelamente, acompanhamos a trajetória de Coco Chanel (Juliette Binoche), mergulhada em um arco muito mais sombrio, que envolve alianças controversas com os nazistas, uma ambição implacável e uma suposta decadência moral. A rivalidade entre os dois, embora não fosse o foco absoluto da narrativa, ganha contornos quase mitológicos quando a série decide confrontar não só seus estilos, mas também suas visões de mundo. Confira o trailer (em inglês):

Tecnicamente,"The New Look" é uma aula de rigor visual. A direção de arte e o figurino são realmente impecáveis - algo essencial numa série que se propõe a retratar o nascimento da alta costura moderna. O trabalho de Anne Seibel (indicada ao Oscar por "Meia-Noite em Paris") no desenho de produção e o de Karen Muller Serreau (de "A Rainha Serpente") no figurino, são dignos de muitos prêmios - o trabalho da dupla não apenas recria com precisão a estética da época, como também consegue capturar as transformações simbólicas do luto, da opressão e da liberdade através da arte. Veja, cada peça usada por Dior ou por Chanel, cada molde ou tecido, tornam-se ferramentas narrativas importantes que, inseridas em um cenário deslumbrante da arquitetura parisiense, acabam colocando a série em outro patamar de elegância estética. E aqui eu preciso citar o trabalho de Kessler na direção e do mexicano Jaime Reynoso na fotografia - reparem na conexão emocional que eles criam com os tons cinzentos e apagados que dominam os momentos de repressão, em contraste com os flashes de cor que surgem quando a arte fashion toma o centro da cena. É como se o ato de criar fosse também um ato de resistência!

A escolha de fazer os personagens franceses falarem inglês (com diferentes sotaques) de fato pode causar estranhamento, principalmente para quem busca um realismo maior. Mas também é preciso dizer que esse "detalhe" rapidamente se dilui com a força das atuações do elenco. Mendelsohn opta por uma abordagem mais contida e melancólica para Dior, sublinhando sua introspecção e seu sofrimento pessoal, enquanto Binoche dá para Chanel uma camada de arrogância e de negação que incomoda (propositalmente) em cada cena. Apesar dessa atmosfera tão envolvente, o roteiro de Kessler tem momentos de hesitação. Em certos episódios, a narrativa se fragmenta em subtramas que não se sustentam com o mesmo vigor do arco principal, ou seja, falta complexidade para alguns coadjuvantes históricos como Pierre Balmain ou Cristóbal Balenciaga - eles surgem mais como acenos do que como personagens que movem a trama.

Quando foca no dilema ético e artístico de seus protagonistas, é inegável que "The New Look" encontra sua melhor forma. O embate íntimo entre a arte como "alívio" e a criação como "arma", sem dúvida, se posiciona como um dos temas mais potentes da série, sobretudo quando colocado sob a sombra de um continente devastado e moralmente fraturado - e sim, você vai ser provocado a fazer julgamentos a cada passo dos protagonistas. Dito isso, mais do que uma cinebiografia luxuosa, "The New Look" nos oferece um retrato emocional de um tempo onde a beleza precisava ser inventada para que a vida voltasse a fazer sentido. A moda, aqui, não é apenas estética: é discurso, é política, é memória. E Dior, ao contrário de Chanel, é apresentado como aquele que entendeu que vestir o corpo feminino também significava restaurar sua dignidade depois da guerra. Não, "The New Look" não é uma série perfeita, mas é inteligente ao ponto de nos envolver - eu diria até que sua própria cadência nos permite perceber como seu conceito é um dos mais elegantes e ambiciosos já criados, especialmente se olharmos pela perspectiva do poder de uma ideia, de um traço no papel, de uma essência criativa que resiste ao tempo e aos horrores de um guerra.

Vale o seu play!

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Ao escutar nomes como Christian Dior e Coco Chanel, automaticamente somos remetidos ao universo da alta costura, no entanto, "The New Look" não é uma série sobre moda - ela é uma série sobre o contexto onde essas duas personalidades estiveram inseridas. Talvez tenha sido essa quebra de expectativa a razão pela qual essa belíssima obra não tenha alcançado o reconhecimento que ela merecia. Criada por Todd A. Kessler, um dos nomes responsáveis por "Damages" e "Bloodline", essa série da Apple TV+ é competente ao combinar os bastidores da moda parisiense com as cicatrizes deixadas pela Segunda Guerra Mundial, inevitavelmente dialogando com outras produções mais estilizadas e densas como "The Crown" ou até "Somos os que Tiveram Sorte" - obviamente que com um recorte estético e temático muito próprio, centrado no impacto do nazismo sobre o mundo criativo e na gênese do império Dior como resposta ao colapso moral da Europa.

Ambientada entre os anos finais da ocupação nazista e os primeiros passos da reconstrução da França, "The New Look" acompanha a trajetória de Christian Dior (Ben Mendelsohn) enquanto tenta não apenas sobreviver ao momento opressor da guerra como encontrar uma forma de reagir por meio da sua arte - o que culminaria, anos depois, no famoso lançamento da coleção que redefiniria a silhueta feminina do pós-guerra. Paralelamente, acompanhamos a trajetória de Coco Chanel (Juliette Binoche), mergulhada em um arco muito mais sombrio, que envolve alianças controversas com os nazistas, uma ambição implacável e uma suposta decadência moral. A rivalidade entre os dois, embora não fosse o foco absoluto da narrativa, ganha contornos quase mitológicos quando a série decide confrontar não só seus estilos, mas também suas visões de mundo. Confira o trailer (em inglês):

Tecnicamente,"The New Look" é uma aula de rigor visual. A direção de arte e o figurino são realmente impecáveis - algo essencial numa série que se propõe a retratar o nascimento da alta costura moderna. O trabalho de Anne Seibel (indicada ao Oscar por "Meia-Noite em Paris") no desenho de produção e o de Karen Muller Serreau (de "A Rainha Serpente") no figurino, são dignos de muitos prêmios - o trabalho da dupla não apenas recria com precisão a estética da época, como também consegue capturar as transformações simbólicas do luto, da opressão e da liberdade através da arte. Veja, cada peça usada por Dior ou por Chanel, cada molde ou tecido, tornam-se ferramentas narrativas importantes que, inseridas em um cenário deslumbrante da arquitetura parisiense, acabam colocando a série em outro patamar de elegância estética. E aqui eu preciso citar o trabalho de Kessler na direção e do mexicano Jaime Reynoso na fotografia - reparem na conexão emocional que eles criam com os tons cinzentos e apagados que dominam os momentos de repressão, em contraste com os flashes de cor que surgem quando a arte fashion toma o centro da cena. É como se o ato de criar fosse também um ato de resistência!

A escolha de fazer os personagens franceses falarem inglês (com diferentes sotaques) de fato pode causar estranhamento, principalmente para quem busca um realismo maior. Mas também é preciso dizer que esse "detalhe" rapidamente se dilui com a força das atuações do elenco. Mendelsohn opta por uma abordagem mais contida e melancólica para Dior, sublinhando sua introspecção e seu sofrimento pessoal, enquanto Binoche dá para Chanel uma camada de arrogância e de negação que incomoda (propositalmente) em cada cena. Apesar dessa atmosfera tão envolvente, o roteiro de Kessler tem momentos de hesitação. Em certos episódios, a narrativa se fragmenta em subtramas que não se sustentam com o mesmo vigor do arco principal, ou seja, falta complexidade para alguns coadjuvantes históricos como Pierre Balmain ou Cristóbal Balenciaga - eles surgem mais como acenos do que como personagens que movem a trama.

Quando foca no dilema ético e artístico de seus protagonistas, é inegável que "The New Look" encontra sua melhor forma. O embate íntimo entre a arte como "alívio" e a criação como "arma", sem dúvida, se posiciona como um dos temas mais potentes da série, sobretudo quando colocado sob a sombra de um continente devastado e moralmente fraturado - e sim, você vai ser provocado a fazer julgamentos a cada passo dos protagonistas. Dito isso, mais do que uma cinebiografia luxuosa, "The New Look" nos oferece um retrato emocional de um tempo onde a beleza precisava ser inventada para que a vida voltasse a fazer sentido. A moda, aqui, não é apenas estética: é discurso, é política, é memória. E Dior, ao contrário de Chanel, é apresentado como aquele que entendeu que vestir o corpo feminino também significava restaurar sua dignidade depois da guerra. Não, "The New Look" não é uma série perfeita, mas é inteligente ao ponto de nos envolver - eu diria até que sua própria cadência nos permite perceber como seu conceito é um dos mais elegantes e ambiciosos já criados, especialmente se olharmos pela perspectiva do poder de uma ideia, de um traço no papel, de uma essência criativa que resiste ao tempo e aos horrores de um guerra.

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The Offer

Essa minissérie é para você que tem uma relação muito particular com o cinema raiz americano em seus anos de ouro e, claro, com um dos melhores filmes de todos os tempos: o inigualável "O Poderoso Chefão". Criada por Leslie Greif (de "Brando") e Michael Tolkin (de "Escape at Dannemora"),"The Offer" mergulha com muita inteligência nos bastidores da produção de um dos filmes mais icônicos da história do cinema a partir de uma visão fascinante, e muitas vezes tumultuada, dos desafios enfrentados pela equipe de produção para trazer à vida a obra-prima de Mario Puzo e Francis Ford Coppola. Com uma narrativa envolvente, cheia de referências divertidas e um elenco dos mais inspirados, "The Offer", eu diria, é uma celebração sobre o cinema ao mesmo tempo que desmistifica a indústria cinematográfica justamente por mostrar as complexidades que é produzir um filme. Imperdível!

A trama é centrada na figura de Albert S. Ruddy (Miles Teller), o produtor que, contra todas as probabilidades, conseguiu navegar pelos inúmeros obstáculos que surgiram durante a produção de "O Poderoso Chefão". A série detalha suas interações com figuras-chave como o chefe do estúdio Robert Evans (Matthew Goode), o autor Mario Puzo (Patrick Gallo), e o próprio Coppola (Dan Fogler). Ao longo dos 10 episódios, "The Offer" explora as batalhas criativas, políticas e pessoais que marcaram a realização do clássico de 1972. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que essa é uma minissérie para quem assistiu "O Poderoso Chefão" - o roteiro de "The Offer" é tão bem construído, que você não vai precisar mais que cinco minutos para entender a proposta de seus criadores. Oferecendo um equilíbrio perfeito entre os desafios práticos de uma produção cinematográfica (sem ser didática demais) e as dinâmicas pessoais entre os personagens icônicos que se envolveram com o projeto, Tolkin e Greif não hesitam em explorar as dificuldades reais enfrentadas pela equipe, desde a resistência inicial dos executivos do estúdio até as ameaças da máfia, que temiam a representação "estereotipada" dos ítalo-americanos no filme. O interessante dessa abordagem escolhida pelos roteiristas é que ela provoca uma certa sensação de autenticidade e urgência, destacando a determinação e a paixão dos envolvidos em fazer de "O Poderoso Chefão" uma realidade, ao melhor estilo "custe o que custar".

Miles Teller oferece uma performance cativante como Albert S. Ruddy, capturando a vontade e o carisma necessários para superar os desafios monumentais da produção. Teller traz uma energia dinâmica ao personagem, tornando convincente sua jornada desde um produtor iniciante até um dos nomes mais respeitados de Hollywood. Já Matthew Goode, como o lendário Robert Evans, brilha com uma atuação cheia de nuances, retratando o chefe do estúdio com uma mistura de charme e intensidade realmente apaixonante. Dan Fogler, como Francis Ford Coppola, e Patrick Gallo, como Mario Puzo, também se destacam, trazendo à vida as personalidades únicas dos criadores do filme em uma jornada repleta de curiosidades - aliás, a química entre esses personagens é tão palpável, e suas interações fornecem insights tão valiosos sobre o processo criativo (e as tensões que permeiam a indústria), que temos a exata sensação de que ambos saíram de um documentário.

A direção é eficaz em capturar a época e o ambiente de Hollywood nos anos 70. A recriação de cenários e a atenção aos detalhes de produção, de fato, nos transportam para aquele universo de uma maneira muito divertida - só não podemos esquecer que a minissérie, em sua tentativa de dramatizar alguns eventos, toma certas liberdades criativas que podem até distorcer a realidade dos acontecimentos em si, afinal estamos falando de entretenimento! No entanto, posso te garantir que "The Offer" é muito bem-sucedida em oferecer uma visão intrigante e cativante do making of de um dos maiores filmes de todos os tempos. Como parte das comemorações dos 50 anos de "O Poderoso Chefão", essa minissérie é sim uma carta de amor ao cinema e merece demais sua atenção!

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Essa minissérie é para você que tem uma relação muito particular com o cinema raiz americano em seus anos de ouro e, claro, com um dos melhores filmes de todos os tempos: o inigualável "O Poderoso Chefão". Criada por Leslie Greif (de "Brando") e Michael Tolkin (de "Escape at Dannemora"),"The Offer" mergulha com muita inteligência nos bastidores da produção de um dos filmes mais icônicos da história do cinema a partir de uma visão fascinante, e muitas vezes tumultuada, dos desafios enfrentados pela equipe de produção para trazer à vida a obra-prima de Mario Puzo e Francis Ford Coppola. Com uma narrativa envolvente, cheia de referências divertidas e um elenco dos mais inspirados, "The Offer", eu diria, é uma celebração sobre o cinema ao mesmo tempo que desmistifica a indústria cinematográfica justamente por mostrar as complexidades que é produzir um filme. Imperdível!

A trama é centrada na figura de Albert S. Ruddy (Miles Teller), o produtor que, contra todas as probabilidades, conseguiu navegar pelos inúmeros obstáculos que surgiram durante a produção de "O Poderoso Chefão". A série detalha suas interações com figuras-chave como o chefe do estúdio Robert Evans (Matthew Goode), o autor Mario Puzo (Patrick Gallo), e o próprio Coppola (Dan Fogler). Ao longo dos 10 episódios, "The Offer" explora as batalhas criativas, políticas e pessoais que marcaram a realização do clássico de 1972. Confira o trailer (em inglês):

Obviamente que essa é uma minissérie para quem assistiu "O Poderoso Chefão" - o roteiro de "The Offer" é tão bem construído, que você não vai precisar mais que cinco minutos para entender a proposta de seus criadores. Oferecendo um equilíbrio perfeito entre os desafios práticos de uma produção cinematográfica (sem ser didática demais) e as dinâmicas pessoais entre os personagens icônicos que se envolveram com o projeto, Tolkin e Greif não hesitam em explorar as dificuldades reais enfrentadas pela equipe, desde a resistência inicial dos executivos do estúdio até as ameaças da máfia, que temiam a representação "estereotipada" dos ítalo-americanos no filme. O interessante dessa abordagem escolhida pelos roteiristas é que ela provoca uma certa sensação de autenticidade e urgência, destacando a determinação e a paixão dos envolvidos em fazer de "O Poderoso Chefão" uma realidade, ao melhor estilo "custe o que custar".

Miles Teller oferece uma performance cativante como Albert S. Ruddy, capturando a vontade e o carisma necessários para superar os desafios monumentais da produção. Teller traz uma energia dinâmica ao personagem, tornando convincente sua jornada desde um produtor iniciante até um dos nomes mais respeitados de Hollywood. Já Matthew Goode, como o lendário Robert Evans, brilha com uma atuação cheia de nuances, retratando o chefe do estúdio com uma mistura de charme e intensidade realmente apaixonante. Dan Fogler, como Francis Ford Coppola, e Patrick Gallo, como Mario Puzo, também se destacam, trazendo à vida as personalidades únicas dos criadores do filme em uma jornada repleta de curiosidades - aliás, a química entre esses personagens é tão palpável, e suas interações fornecem insights tão valiosos sobre o processo criativo (e as tensões que permeiam a indústria), que temos a exata sensação de que ambos saíram de um documentário.

A direção é eficaz em capturar a época e o ambiente de Hollywood nos anos 70. A recriação de cenários e a atenção aos detalhes de produção, de fato, nos transportam para aquele universo de uma maneira muito divertida - só não podemos esquecer que a minissérie, em sua tentativa de dramatizar alguns eventos, toma certas liberdades criativas que podem até distorcer a realidade dos acontecimentos em si, afinal estamos falando de entretenimento! No entanto, posso te garantir que "The Offer" é muito bem-sucedida em oferecer uma visão intrigante e cativante do making of de um dos maiores filmes de todos os tempos. Como parte das comemorações dos 50 anos de "O Poderoso Chefão", essa minissérie é sim uma carta de amor ao cinema e merece demais sua atenção!

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The One

"The One" é um novelão, mas não faço essa afirmação com nenhum tipo de demérito, até porquê o entretenimento é muito bom, mas apenas posiciono a série em uma categoria bastante específica para que você não crie uma expectativa e se decepcione. Bem mais próximo da francesa "Osmosis" do que da americana "Soulmates", essa produção inglesa vem chamando a atenção do público desde seu lançamento com uma premissa bastante explorada recentemente, mas dessa vez com uma trama bem amarrada, com toques de mistério policial e ótimos ganchos para as demais temporadas.

O arco principal acompanha a história de uma revolucionária startup multibilionária chamada The One, que já uniu milhões de pessoas ao redor do mundo graças a ciência e ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de indicar com exatidão quem é o seu match perfeito. Basta enviar uma amostra de DNA (um fio de cabelo, por exemplo) para que em alguns dias você tenha o perfil de sua alma gêmea. Encabeçando essa jornada empreendedora está Rebecca Webb (Hannah Ware), a co-fundadora e CEO da The One, que está sendo investigada pela detetive Kate Saunders (Zoë Tapper) por um suposto assassinato de seu colega de apartamento, que sumiu pouco depois da empresa estourar. Confira o trailer:

Como todo bom novelão, algumas histórias paralelas são inseridas na trama e acabam criando uma dinâmica bastante interessante para os episódios. Embora as histórias desses coadjuvantes estejam conectadas ao sistema da The One, garantindo explicações bem didáticas sobre seu funcionamento e suas consequências nas vidas das pessoas, pouco impacto causa no arco principal - esse com uma narrativa bem mais para "How To Get Away With Murder" do que para "Black Mirror". O roteiro aliás é bem previsível, com uma ou outra boa surpresa, mas nem por isso deixa de nos prender - a investigação de um suposto assassinato, bem no meio de uma jornada de sucesso profissional e de impacto na sociedade, com os reflexos da tecnologia ajudando (ou destruindo) casais; tudo isso se amarra muito bem - mas em nenhum momento se aprofunda em elementos filosóficos ou discussões éticas, tudo está ali com o único propósito do entretenimento!

A produção é bem cuidada, tem uma direção que não compromete, atores desconhecidos e medianos, um texto que vai exigir uma boa suspensão da realidade, com muitos flashbacks; e mesmo assim funciona - aliás, essa parece ser a receita infalível da Netflix: adaptações de livros bem avaliados pelo público (nesse caso do autor John Marrs), um orçamento sem grandes pretensões e equipes dispostas a entregar um bom produto - sem necessariamente ter alguém de grife como acontecia antigamente. Foi assim com "Não Fale com Estranhos" e "Por trás dos seus olhos", e até com o catalão "Se eu não tivesse te conhecido".

Para quem gosta da receita, só dar o play!

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"The One" é um novelão, mas não faço essa afirmação com nenhum tipo de demérito, até porquê o entretenimento é muito bom, mas apenas posiciono a série em uma categoria bastante específica para que você não crie uma expectativa e se decepcione. Bem mais próximo da francesa "Osmosis" do que da americana "Soulmates", essa produção inglesa vem chamando a atenção do público desde seu lançamento com uma premissa bastante explorada recentemente, mas dessa vez com uma trama bem amarrada, com toques de mistério policial e ótimos ganchos para as demais temporadas.

O arco principal acompanha a história de uma revolucionária startup multibilionária chamada The One, que já uniu milhões de pessoas ao redor do mundo graças a ciência e ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de indicar com exatidão quem é o seu match perfeito. Basta enviar uma amostra de DNA (um fio de cabelo, por exemplo) para que em alguns dias você tenha o perfil de sua alma gêmea. Encabeçando essa jornada empreendedora está Rebecca Webb (Hannah Ware), a co-fundadora e CEO da The One, que está sendo investigada pela detetive Kate Saunders (Zoë Tapper) por um suposto assassinato de seu colega de apartamento, que sumiu pouco depois da empresa estourar. Confira o trailer:

Como todo bom novelão, algumas histórias paralelas são inseridas na trama e acabam criando uma dinâmica bastante interessante para os episódios. Embora as histórias desses coadjuvantes estejam conectadas ao sistema da The One, garantindo explicações bem didáticas sobre seu funcionamento e suas consequências nas vidas das pessoas, pouco impacto causa no arco principal - esse com uma narrativa bem mais para "How To Get Away With Murder" do que para "Black Mirror". O roteiro aliás é bem previsível, com uma ou outra boa surpresa, mas nem por isso deixa de nos prender - a investigação de um suposto assassinato, bem no meio de uma jornada de sucesso profissional e de impacto na sociedade, com os reflexos da tecnologia ajudando (ou destruindo) casais; tudo isso se amarra muito bem - mas em nenhum momento se aprofunda em elementos filosóficos ou discussões éticas, tudo está ali com o único propósito do entretenimento!

A produção é bem cuidada, tem uma direção que não compromete, atores desconhecidos e medianos, um texto que vai exigir uma boa suspensão da realidade, com muitos flashbacks; e mesmo assim funciona - aliás, essa parece ser a receita infalível da Netflix: adaptações de livros bem avaliados pelo público (nesse caso do autor John Marrs), um orçamento sem grandes pretensões e equipes dispostas a entregar um bom produto - sem necessariamente ter alguém de grife como acontecia antigamente. Foi assim com "Não Fale com Estranhos" e "Por trás dos seus olhos", e até com o catalão "Se eu não tivesse te conhecido".

Para quem gosta da receita, só dar o play!

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The Pitt

The Pitt

"The Pitt" é muito (mas, muito) boa, porém já te adianto: não será uma jornada fácil! O fato é que essa produção Original Max chega como um sopro de vitalidade em um gênero que há décadas parecia ter cristalizado suas fórmulas. Embora seja impossível ignorar os paralelos com "ER" (ou "Plantão Médico", como preferir), uma série que moldou o formato de dramas médicos modernos, "The Pitt" se posiciona como uma evolução natural do gênero - fato que fará você pouco se lembrar daquele tom mais novelesco de "The Good Doctor" ou "Grey's Anatomy". Com a presença de R. Scott Gemmill e de John Wells, figuras essenciais na construção do legado criativo de "ER", e de Noah Wyle (o "John Carter" de "ER") retornando à TV em um papel central, essa série combina a nostalgia com a inovação, utilizando um formato que remete ao documental e que evoca aquele ritmo frenético em tempo real que vimos em "24 Horas". O resultado disso, é uma experiência imersiva e emocionalmente intensa, que traz relevância e urgência para histórias que vão te tirar da zona de conforto como audiência.

A trama de "The Pitt"acompanha um plantão de 15 horas no pronto-socorro de um hospital em Pittsburgh, liderado pelo experiente Dr. Michael “Robby” Robinavitch (Wyle). Durante esse período, Robby e sua equipe enfrentam uma série de desafios, desde casos médicos de altíssima complexidade até questões administrativas e emocionais que testam os limites de sua resiliência. Enquanto lida com a superlotação e a falta de recursos do hospital, Robby também carrega o peso pessoal de ser o aniversário de morte de seu antigo mentor, cuja perda durante a pandemia de Covid-19 ainda ecoa profundamente em sua vida. Confira o trailer e sinta o clima do que te espera:

Diferentemente de outras produções do gênero, "The Pitt" assume, sem o menor receio de errar, sua vocação em priorizar a prática médica no meio do caos, em detrimento do entretenimento despretensioso. A equipe de direção da série, liderada por John Wells, captura a intensidade de um pronto-socorro com uma precisão impressionante e visceral. Planos rápidos e câmeras mais nervosas enfatizam o sentimento de urgência do hospital, enquanto os momentos de respiro dramático oferecem passagens mais emocionais que aprofundam as camadas dos personagens. A fotografia se aproveita desse conceito e utiliza tons frios e uma iluminação clínica para refletir o ambiente funcional e, ao mesmo tempo, destacar a atmosfera clautrosfóbica por onde profissionais e seus pacientes precisam se relacionar. O roteiro de Gemmill é um dos pilares do sucesso da série por misturar a tensão médica com discussões sociais, abordando questões como desigualdade no acesso à saúde, burnout médico e os efeitos de traumas coletivos, como a pandemia, por exemplo. Os diálogos, mesmo repletos de termos técnicos, são naturais e bem ritmados, com momentos de alívio cômico que equilibram a intensidade dramática.

Já as relações entre os personagens até que são exploradas, mas é preciso reforçar que o foco da narrativa está mesmo na dinâmica do local, de seus casos e do impacto psicológico que o ambiente exerce sobre os profissionais, pacientes e familiares - então muito cuidado com alguns gatilhos. Cada episódio se desenrola em tempo real, intensificando a imersão e a sensação de que cada decisão é vital. Essa estrutura oferece uma perspectiva autêntica do trabalho médico, onde cada segundo pode definir a linha tênue entre a vida e a morte. Noah Wyle traz para a tela a complexidade de um médico veterano confiante e seguro, mas também assombrado pelas pressões de seu trabalho e pelas perdas pessoais ao longo da vida. A carga emocional de seu personagem é palpável, especialmente nas cenas que exploram sua luta para equilibrar a compaixão pelos pacientes com as demandas práticas de um sistema em colapso. Todo elenco de apoio é igualmente forte, com destaques para Tracy Ifeachor como Dr. Collins e Fiona Dourif como a  Dr. McKay - suas histórias adicionam uma profundidade emocional bem bacana para a série.

"The Pitt" é uma obra que resgata o espírito dos melhores tempos dos dramas médicos, mesmo que em alguns momentos perca força por alguns casos menos interessantes que acabam interrompendo o ritmo estabelecido pelos episódios mais intensos. Com performances de destaque, uma narrativa realmente imersiva e uma direção tecnicamente impecável, a série se firma como uma das grandes surpresas de 2025. Para quem busca uma experiência com intensidade emocional e autenticidade narrativa, "The Pitt" é um recorte pulsante do que significa salvar vidas em um ambiente cheio de imperfeições. 

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"The Pitt" é muito (mas, muito) boa, porém já te adianto: não será uma jornada fácil! O fato é que essa produção Original Max chega como um sopro de vitalidade em um gênero que há décadas parecia ter cristalizado suas fórmulas. Embora seja impossível ignorar os paralelos com "ER" (ou "Plantão Médico", como preferir), uma série que moldou o formato de dramas médicos modernos, "The Pitt" se posiciona como uma evolução natural do gênero - fato que fará você pouco se lembrar daquele tom mais novelesco de "The Good Doctor" ou "Grey's Anatomy". Com a presença de R. Scott Gemmill e de John Wells, figuras essenciais na construção do legado criativo de "ER", e de Noah Wyle (o "John Carter" de "ER") retornando à TV em um papel central, essa série combina a nostalgia com a inovação, utilizando um formato que remete ao documental e que evoca aquele ritmo frenético em tempo real que vimos em "24 Horas". O resultado disso, é uma experiência imersiva e emocionalmente intensa, que traz relevância e urgência para histórias que vão te tirar da zona de conforto como audiência.

A trama de "The Pitt"acompanha um plantão de 15 horas no pronto-socorro de um hospital em Pittsburgh, liderado pelo experiente Dr. Michael “Robby” Robinavitch (Wyle). Durante esse período, Robby e sua equipe enfrentam uma série de desafios, desde casos médicos de altíssima complexidade até questões administrativas e emocionais que testam os limites de sua resiliência. Enquanto lida com a superlotação e a falta de recursos do hospital, Robby também carrega o peso pessoal de ser o aniversário de morte de seu antigo mentor, cuja perda durante a pandemia de Covid-19 ainda ecoa profundamente em sua vida. Confira o trailer e sinta o clima do que te espera:

Diferentemente de outras produções do gênero, "The Pitt" assume, sem o menor receio de errar, sua vocação em priorizar a prática médica no meio do caos, em detrimento do entretenimento despretensioso. A equipe de direção da série, liderada por John Wells, captura a intensidade de um pronto-socorro com uma precisão impressionante e visceral. Planos rápidos e câmeras mais nervosas enfatizam o sentimento de urgência do hospital, enquanto os momentos de respiro dramático oferecem passagens mais emocionais que aprofundam as camadas dos personagens. A fotografia se aproveita desse conceito e utiliza tons frios e uma iluminação clínica para refletir o ambiente funcional e, ao mesmo tempo, destacar a atmosfera clautrosfóbica por onde profissionais e seus pacientes precisam se relacionar. O roteiro de Gemmill é um dos pilares do sucesso da série por misturar a tensão médica com discussões sociais, abordando questões como desigualdade no acesso à saúde, burnout médico e os efeitos de traumas coletivos, como a pandemia, por exemplo. Os diálogos, mesmo repletos de termos técnicos, são naturais e bem ritmados, com momentos de alívio cômico que equilibram a intensidade dramática.

Já as relações entre os personagens até que são exploradas, mas é preciso reforçar que o foco da narrativa está mesmo na dinâmica do local, de seus casos e do impacto psicológico que o ambiente exerce sobre os profissionais, pacientes e familiares - então muito cuidado com alguns gatilhos. Cada episódio se desenrola em tempo real, intensificando a imersão e a sensação de que cada decisão é vital. Essa estrutura oferece uma perspectiva autêntica do trabalho médico, onde cada segundo pode definir a linha tênue entre a vida e a morte. Noah Wyle traz para a tela a complexidade de um médico veterano confiante e seguro, mas também assombrado pelas pressões de seu trabalho e pelas perdas pessoais ao longo da vida. A carga emocional de seu personagem é palpável, especialmente nas cenas que exploram sua luta para equilibrar a compaixão pelos pacientes com as demandas práticas de um sistema em colapso. Todo elenco de apoio é igualmente forte, com destaques para Tracy Ifeachor como Dr. Collins e Fiona Dourif como a  Dr. McKay - suas histórias adicionam uma profundidade emocional bem bacana para a série.

"The Pitt" é uma obra que resgata o espírito dos melhores tempos dos dramas médicos, mesmo que em alguns momentos perca força por alguns casos menos interessantes que acabam interrompendo o ritmo estabelecido pelos episódios mais intensos. Com performances de destaque, uma narrativa realmente imersiva e uma direção tecnicamente impecável, a série se firma como uma das grandes surpresas de 2025. Para quem busca uma experiência com intensidade emocional e autenticidade narrativa, "The Pitt" é um recorte pulsante do que significa salvar vidas em um ambiente cheio de imperfeições. 

Vale muito o seu play!

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The Righteous Gemstones

Tente imaginar um sátira de "Succession", com a mesma configuração de família disfuncional, que se passa no universo da indústria da fé e com aquele leve toque de ironia ao melhor estilo Vince Gilligan - pois é isso que você vai encontrar na incrível "The Righteous Gemstones". Criada e protagonizada por Danny McBride, essa produção da HBO é uma sátira brilhante, ácida e incrivelmente divertida sobre o controverso mundo dos televangelistas norte-americanos dos anos 80. Comparável em estilo ao humor corrosivo e provocativo de produções como "Better Call Saul", mas com uma identidade própria carregada pela irreverência típica de McBride, a série explora as contradições e a hipocrisia de uma família que administra um verdadeiro império religioso, tentando se equilibrar entre o divino e o absolutamente profano.

A trama acompanha a rica e extravagante família Gemstone, liderada pelo patriarca Eli Gemstone (John Goodman), fundador de um império de televangelismo que atrai milhares de seguidores e movimenta milhões de dólares anualmente. Seus filhos, Jesse (Danny McBride), Kelvin (Adam Devine) e Judy (Edi Patterson), vivem em meio a um luxo quase obsceno, mas enfrentam constantemente escândalos, disputas internas, e contradições entre o que pregam e como realmente vivem. Com misto de humor e crítica, a série expõe as engrenagens por trás dos espetáculos religiosos midiáticos e das personalidades que enriquecem vendendo milagres e salvação. Confira o trailer (em inglês):

Danny McBride, além de criar e protagonizar, ainda lidera o roteiro de "The Righteous Gemstones" com extrema competência. Ele estabelece uma narrativa que flui com dinamismo entre o humor escrachado e o drama absurdo, sem nunca perder de vista o equilíbrio entre a sátira social e a crítica à religião como negócio. Como em "Succession", os diálogos são rápidos e inteligentes, apenas o tom é diferente: aqui muitas vezes os conflitos são mais hilários, sempre temperados com um cinismo que funciona perfeitamente dentro do universo cômico criado pela série. Mas não se engane: as semelhanças entre as duas produções da HBO funcionam justamente por suas diferenças – especialmente na rara habilidade de criar personagens deliberadamente antipáticos e complexos, que, paradoxalmente, conquistam o público por meio de suas imperfeições e vulnerabilidades.

Visualmente impecável, a estética colorida e extravagante evidencia o luxo e a ostentação dos Gemstones enraizados nos anos 80 - incluindo cenários grandiosos que vão de megatemplos até mansões exageradamente decoradas. Repare como o excelente trabalho de fotografia e da direção de arte complementam perfeitamente o conceito narrativo da série, destacando o vazio moral que reside por trás de tanto brilho e riqueza. McBride mostra domínio absoluto de sua proposta narrativa também como ator - ele  entrega um Jesse Gemstone que oscila entre arrogância desmedida e uma insegurança quase infantil. Já John Goodman oferece uma performance forte e consistente, garantindo o peso dramático ao melhor estilo Logan Roy - Eli Gemstone tem uma seriedade que contrasta demais com o caos ao seu redor. Adam Devine, por outro lado, explora bem o lado mais ingênuo de Kelvin, enquanto Edi Patterson, como Judy, rouba a cena com uma performance cheia de nuances, personificando o humor caricato de uma mulher buscando aprovação diante de um universo machista que faz da série tão cativante quanto provocadora.

Se há alguma ressalva a fazer em "The Righteous Gemstones" talvez seja o tipo de humor de seu roteiro que, embora brilhante, pode afastar parte da audiência menos confortável com sátiras religiosas ou que prefiram comédias mais suaves - aqui, de fato, nada é suave! "The Righteous Gemstones" é realmente uma dramédia excepcional, que não hesita em expor e criticar com inteligente as contradições da indústria da fé - com um humor politicamente incorreto de aplaudir de pé. Se você gostava da essência de "Succession" e da irreverência non-sense de "Better Call Saul" pode dar o play sem medo de errar - são três temporadas do mais alto nível e a quarta acabou de sair!

Entretenimento inteligente para quem aprecia uma crítica contundente à sociedade contemporânea!

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Tente imaginar um sátira de "Succession", com a mesma configuração de família disfuncional, que se passa no universo da indústria da fé e com aquele leve toque de ironia ao melhor estilo Vince Gilligan - pois é isso que você vai encontrar na incrível "The Righteous Gemstones". Criada e protagonizada por Danny McBride, essa produção da HBO é uma sátira brilhante, ácida e incrivelmente divertida sobre o controverso mundo dos televangelistas norte-americanos dos anos 80. Comparável em estilo ao humor corrosivo e provocativo de produções como "Better Call Saul", mas com uma identidade própria carregada pela irreverência típica de McBride, a série explora as contradições e a hipocrisia de uma família que administra um verdadeiro império religioso, tentando se equilibrar entre o divino e o absolutamente profano.

A trama acompanha a rica e extravagante família Gemstone, liderada pelo patriarca Eli Gemstone (John Goodman), fundador de um império de televangelismo que atrai milhares de seguidores e movimenta milhões de dólares anualmente. Seus filhos, Jesse (Danny McBride), Kelvin (Adam Devine) e Judy (Edi Patterson), vivem em meio a um luxo quase obsceno, mas enfrentam constantemente escândalos, disputas internas, e contradições entre o que pregam e como realmente vivem. Com misto de humor e crítica, a série expõe as engrenagens por trás dos espetáculos religiosos midiáticos e das personalidades que enriquecem vendendo milagres e salvação. Confira o trailer (em inglês):

Danny McBride, além de criar e protagonizar, ainda lidera o roteiro de "The Righteous Gemstones" com extrema competência. Ele estabelece uma narrativa que flui com dinamismo entre o humor escrachado e o drama absurdo, sem nunca perder de vista o equilíbrio entre a sátira social e a crítica à religião como negócio. Como em "Succession", os diálogos são rápidos e inteligentes, apenas o tom é diferente: aqui muitas vezes os conflitos são mais hilários, sempre temperados com um cinismo que funciona perfeitamente dentro do universo cômico criado pela série. Mas não se engane: as semelhanças entre as duas produções da HBO funcionam justamente por suas diferenças – especialmente na rara habilidade de criar personagens deliberadamente antipáticos e complexos, que, paradoxalmente, conquistam o público por meio de suas imperfeições e vulnerabilidades.

Visualmente impecável, a estética colorida e extravagante evidencia o luxo e a ostentação dos Gemstones enraizados nos anos 80 - incluindo cenários grandiosos que vão de megatemplos até mansões exageradamente decoradas. Repare como o excelente trabalho de fotografia e da direção de arte complementam perfeitamente o conceito narrativo da série, destacando o vazio moral que reside por trás de tanto brilho e riqueza. McBride mostra domínio absoluto de sua proposta narrativa também como ator - ele  entrega um Jesse Gemstone que oscila entre arrogância desmedida e uma insegurança quase infantil. Já John Goodman oferece uma performance forte e consistente, garantindo o peso dramático ao melhor estilo Logan Roy - Eli Gemstone tem uma seriedade que contrasta demais com o caos ao seu redor. Adam Devine, por outro lado, explora bem o lado mais ingênuo de Kelvin, enquanto Edi Patterson, como Judy, rouba a cena com uma performance cheia de nuances, personificando o humor caricato de uma mulher buscando aprovação diante de um universo machista que faz da série tão cativante quanto provocadora.

Se há alguma ressalva a fazer em "The Righteous Gemstones" talvez seja o tipo de humor de seu roteiro que, embora brilhante, pode afastar parte da audiência menos confortável com sátiras religiosas ou que prefiram comédias mais suaves - aqui, de fato, nada é suave! "The Righteous Gemstones" é realmente uma dramédia excepcional, que não hesita em expor e criticar com inteligente as contradições da indústria da fé - com um humor politicamente incorreto de aplaudir de pé. Se você gostava da essência de "Succession" e da irreverência non-sense de "Better Call Saul" pode dar o play sem medo de errar - são três temporadas do mais alto nível e a quarta acabou de sair!

Entretenimento inteligente para quem aprecia uma crítica contundente à sociedade contemporânea!

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The Square

Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!

Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:

"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.

O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!

Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!

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Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!

Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:

"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.

O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!

Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!

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The White Lotus

"The White Lotus" é sensacional! Certamente uma das melhores séries do ano, porém não vai agradar a todos pelas suas escolhas conceituais e narrativas bem particulares - e aqui cabe uma rápida comparação: se você não gostou de "Breaking Bad", é bem possível que você também não goste dessa produção da HBO, pois embora sejam completamente diferentes, alguns elementos muito marcantes na série de Vince Gilligan e que dividiu a opinião da audiência, praticamente explodem na tela em "The White Lotus" como o refinado humor negro inserido em diálogos cheios de profundidade dramática, uma pontuação de moodquase "insuportável" de boa (que em "Breaking Bad" era visual e aqui é sonoro) e para finalizar, o time entre uma ação e sua consequência que implica em sensações muito incomodas. Mas calma, vou aprofundar melhor isso mais abaixo.

A narrativa, centrada em umresort de luxo no Havaí, acompanha o cotidiano de alguns hóspedes e membros do quadro de funcionários e, à medida que seus problemas se misturam, as tramas se afunilam em um emaranhado de mentiras, ressentimentos e discussões que colocam toda a atmosfera paradisíaca e relaxante em xeque. Nessa primeira temporada temos uma mulher emocionalmente afetada que precisa cumprir o ritual de jogar as cinzas da sua mãe no mar, uma família típica americana completamente desestruturada e um casal em Lua de Mel absolutamente desconectados entre si - o que eles tem em comum: todos são ricos, brancos e estão em posições privilegiadas na sociedade graças a essas características. Confira o trailer:

Primeiro vamos falar do roteiro - genial, mas longe de ser perfeito. Imagino que por algum tipo de estratégia (desnecessária), a série começa já no final de uma semana de férias onde descobrimos que alguém que estava noresort,morreu.Embora isso não impacte em absolutamente nada na experiência de assistir "The White Lotus", acaba até irritando quando nos deparamos com a solução desse "impasse"! Por outro lado, toda jornada se sobressai a partir de um texto muito inspirado que soube equilibrar três elementos essenciais para a construção de uma narrativa tão imersiva: o elenco, a trilha sonora e uma excepcional montagem.

trilha sonora eclética composta por Cristobal Tapia de Veer (de "Electric Dreams") dita o ritmo sa série e nos traz sensações que uma montagem bem sagaz do Heather Persons ("The Flight Attendant") só amplifica. No meio disso tudo, um elenco sensacional. Destaque para Jennifer Coolidge como a solitária, insegura e cheia de problemas Tanya McQuoid; Steve Zahn, como Markum pai de família liberal e submisso marido de uma alta executiva paranóica e, finalmente, Murray Bartlett como Armond, o gerente do hotel, que enfrentou vícios e que há cinco anos luta para se manter sóbrio.

"The White Lotus" é um excelente entretenimento que mergulha nas diversas camadas dos personagens e que ritmadas por uma condução competente do diretor Mike White ("O Estado das Coisas") faz da crítica social apenas o ponto de partida para discutir uma série de outros assuntos que se fossem enxergados de outra forma, certamente, seriam classificados como "tabu".  Eu diria que a série toca fundo no egocentrismo, no conformismo, na falta de noção e percepção de mundo, além é claro, do pessimismo perante uma conturbada essência humana.

Vale muito a pena! Mesmo!

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"The White Lotus" é sensacional! Certamente uma das melhores séries do ano, porém não vai agradar a todos pelas suas escolhas conceituais e narrativas bem particulares - e aqui cabe uma rápida comparação: se você não gostou de "Breaking Bad", é bem possível que você também não goste dessa produção da HBO, pois embora sejam completamente diferentes, alguns elementos muito marcantes na série de Vince Gilligan e que dividiu a opinião da audiência, praticamente explodem na tela em "The White Lotus" como o refinado humor negro inserido em diálogos cheios de profundidade dramática, uma pontuação de moodquase "insuportável" de boa (que em "Breaking Bad" era visual e aqui é sonoro) e para finalizar, o time entre uma ação e sua consequência que implica em sensações muito incomodas. Mas calma, vou aprofundar melhor isso mais abaixo.

A narrativa, centrada em umresort de luxo no Havaí, acompanha o cotidiano de alguns hóspedes e membros do quadro de funcionários e, à medida que seus problemas se misturam, as tramas se afunilam em um emaranhado de mentiras, ressentimentos e discussões que colocam toda a atmosfera paradisíaca e relaxante em xeque. Nessa primeira temporada temos uma mulher emocionalmente afetada que precisa cumprir o ritual de jogar as cinzas da sua mãe no mar, uma família típica americana completamente desestruturada e um casal em Lua de Mel absolutamente desconectados entre si - o que eles tem em comum: todos são ricos, brancos e estão em posições privilegiadas na sociedade graças a essas características. Confira o trailer:

Primeiro vamos falar do roteiro - genial, mas longe de ser perfeito. Imagino que por algum tipo de estratégia (desnecessária), a série começa já no final de uma semana de férias onde descobrimos que alguém que estava noresort,morreu.Embora isso não impacte em absolutamente nada na experiência de assistir "The White Lotus", acaba até irritando quando nos deparamos com a solução desse "impasse"! Por outro lado, toda jornada se sobressai a partir de um texto muito inspirado que soube equilibrar três elementos essenciais para a construção de uma narrativa tão imersiva: o elenco, a trilha sonora e uma excepcional montagem.

trilha sonora eclética composta por Cristobal Tapia de Veer (de "Electric Dreams") dita o ritmo sa série e nos traz sensações que uma montagem bem sagaz do Heather Persons ("The Flight Attendant") só amplifica. No meio disso tudo, um elenco sensacional. Destaque para Jennifer Coolidge como a solitária, insegura e cheia de problemas Tanya McQuoid; Steve Zahn, como Markum pai de família liberal e submisso marido de uma alta executiva paranóica e, finalmente, Murray Bartlett como Armond, o gerente do hotel, que enfrentou vícios e que há cinco anos luta para se manter sóbrio.

"The White Lotus" é um excelente entretenimento que mergulha nas diversas camadas dos personagens e que ritmadas por uma condução competente do diretor Mike White ("O Estado das Coisas") faz da crítica social apenas o ponto de partida para discutir uma série de outros assuntos que se fossem enxergados de outra forma, certamente, seriam classificados como "tabu".  Eu diria que a série toca fundo no egocentrismo, no conformismo, na falta de noção e percepção de mundo, além é claro, do pessimismo perante uma conturbada essência humana.

Vale muito a pena! Mesmo!

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Them

"Them" consegue ser ambígua e polêmica desde o título: a série tem sido traduzida por "Eles" e "Outros" nas diferentes plataformas e sites. Nessa série antológica de época, uma família afro-americana se muda para um bairro caucasiano e racista. Acompanhamos seus 10 primeiros dias no novo lar. Confira o trailer:

A qualidade técnica é indiscutível e a ambientação do subúrbio americano dos anos 50 é simplesmente impecável, dos carros à trilha sonora. O contexto histórico também é retratado: na primeira metade do século 20, cerca de 6 milhões de afro-americanos deixaram o sul – rural e ainda segregacionista – em direção a centros urbanos, noutras regiões do país, no movimento conhecido como Grande Migração.

Os elementos de tensão e horror são diversos e muito bem trabalhados: traumas do passado, vizinhança hostil, sociedade racista, pesadelos, entidades ameaçadoras... A realidade é dúbia e a dúvida é sustentada, pelo menos, até o ousado penúltimo episódio – um flashback em preto e branco, focado em um personagem que até então mal havia dado as caras.

Em vários momentos, porém, a ousadia se transforma num flerte com o sadismo: além do horror psicológico, há uma dezena de cenas de violência explícita e até tortura. Isso não seria um problema se a direção não cruzasse a linha da “violência que serve à história”.

A partir do polêmico 5º episódio – onde avisos de gatilho, não à toa, aparecem antes do início – a crítica social sucumbe em detrimento ao horror onde o propósito parece ser chocar a audiência. Basta ver como as recentes produções "Lovecraft Country", "Nós" e "Corra!" trabalham o mesmo tema (racismo), dentro do mesmo gênero (terror), de forma mais equilibrada.

O casal protagonista convence tanto nos momentos dramáticos quanto nos explosivos, o que não é fácil. Interpretações num tom acima ou abaixo, somadas à violência desviada da mensagem central, comprometeriam o resultado final. A principal "vilã" também se destaca: ela ganha camadas e se vê forçada a flexibilizar convicções durante a jornada, sempre com um sorriso amarelo acompanhado de iminentes lágrimas.

Usando alegorias sádicas e excessos narrativos para falar sobre luto, culpa e racismo, "Them" te desafia a assisti-la sem revirar os olhos (ou o estômago) pelo menos uma vez. Uma experiência intensa e perturbadora, que vale mais pela jornada!

Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria@dicastreaming

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"Them" consegue ser ambígua e polêmica desde o título: a série tem sido traduzida por "Eles" e "Outros" nas diferentes plataformas e sites. Nessa série antológica de época, uma família afro-americana se muda para um bairro caucasiano e racista. Acompanhamos seus 10 primeiros dias no novo lar. Confira o trailer:

A qualidade técnica é indiscutível e a ambientação do subúrbio americano dos anos 50 é simplesmente impecável, dos carros à trilha sonora. O contexto histórico também é retratado: na primeira metade do século 20, cerca de 6 milhões de afro-americanos deixaram o sul – rural e ainda segregacionista – em direção a centros urbanos, noutras regiões do país, no movimento conhecido como Grande Migração.

Os elementos de tensão e horror são diversos e muito bem trabalhados: traumas do passado, vizinhança hostil, sociedade racista, pesadelos, entidades ameaçadoras... A realidade é dúbia e a dúvida é sustentada, pelo menos, até o ousado penúltimo episódio – um flashback em preto e branco, focado em um personagem que até então mal havia dado as caras.

Em vários momentos, porém, a ousadia se transforma num flerte com o sadismo: além do horror psicológico, há uma dezena de cenas de violência explícita e até tortura. Isso não seria um problema se a direção não cruzasse a linha da “violência que serve à história”.

A partir do polêmico 5º episódio – onde avisos de gatilho, não à toa, aparecem antes do início – a crítica social sucumbe em detrimento ao horror onde o propósito parece ser chocar a audiência. Basta ver como as recentes produções "Lovecraft Country", "Nós" e "Corra!" trabalham o mesmo tema (racismo), dentro do mesmo gênero (terror), de forma mais equilibrada.

O casal protagonista convence tanto nos momentos dramáticos quanto nos explosivos, o que não é fácil. Interpretações num tom acima ou abaixo, somadas à violência desviada da mensagem central, comprometeriam o resultado final. A principal "vilã" também se destaca: ela ganha camadas e se vê forçada a flexibilizar convicções durante a jornada, sempre com um sorriso amarelo acompanhado de iminentes lágrimas.

Usando alegorias sádicas e excessos narrativos para falar sobre luto, culpa e racismo, "Them" te desafia a assisti-la sem revirar os olhos (ou o estômago) pelo menos uma vez. Uma experiência intensa e perturbadora, que vale mais pela jornada!

Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria@dicastreaming

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This is Us

"This is Us" talvez tenha sido a melhor série da TV aberta americana (produzida e exibida pela NBC) dos últimos tempos - certamente de 2016 foi, tanto que foi a única série de TV aberta finalista do último Globo de Ouro. "This is Us" é excelente e se você ainda não assistiu, por favor, faça isso por você! Embora o marketing tenha focado na premissa dos personagens principais terem nascido no mesmo dia e isso não ter representado absolutamente nada no desenvolvimento narrativo das temporadas iniciais, sendo apenas o ponto de partida. "This is Us" vai muito além - é uma série sobre sensível sobre as relações familiares, sobre como o passado é importante na construção dos vínculos que temos com o presente, de como nossa personalidade amadurece (ou não) e de como cada fase da nossa vida é essencial para o nosso aprendizado e crescimento.

Criada por Dan Fogelman, a série acompanha o cotidiano da família Pearson durante várias linhas do tempo. Depois da morte de um dos seus trigêmeos no parte, o casal Rebecca (Mandy Moore) e Jack (Milo Ventimiglia) decidem adotar um recém nascido que acabara de ser resgatado pelos bombeiros. Durante os episódios, a série apresenta os problemas e dilemas dos Pearsons enquanto família e também tentando entender a vida particular de seus filhos depois de adultos: Randall (Sterling K. Brown) um advogado lidando com a volta de seu pai biológico, Kevin (Justin Hartley), um ator de televisão buscando novas oportunidades no teatro e Kate (Chrissy Metz), uma mulher tentando lidar com seu peso e superar traumas da infância. Confira o trailer:

O roteiro de "This is Us" trabalha muito bem a falta de linearidade das histórias - vamos do presente para o passado em um piscar de olhos e com isso nos surpreendemos com a forma como os arcos vão sendo desenvolvidos e encaixados! Esse conceito narrativo ajuda a construir a personalidade de cada um dos personagens como se estivéssemos abrindo um enorme álbum de fotos, sem seguir uma cronologia exata, mas sempre se apegando aos assuntos mais relevantes da vida de cada um - e é isso que nos prende aos episódios. O primeiro, que ainda pode ser chamado de piloto, já entrega a genialidade de Fogelman em nos surpreender pouco a pouco. Os atores estão muito bem, destaque para Brown (vencedor o Globo de Ouro), Jones e para Metz.

A verdade é que "This is Us"não traz nada de novo na forma ou no conteúdo, mas tem o mérito de aperfeiçoar a estrutura dramática de histórias pensadas para a TV aberta do começo dos anos 2000, sempre com uma bela trilha sonora de fundo e uma carga dramática bem potente - aquelas de desidratar de chorar, sabe? A série trouxe o melhor de "What about Brian" e de "Reunion" (séries que não funcionaram muito bem na época por estarem um pouco fora do Zeitgeist), mas que tinham qualidade e inovações interessantes e aqui melhor desenvolvidas e com um conceito mais claro para quem estava disposto esperar uma semana para o próximo episódios. 

Mesmo "This is Us" sendo uma obra-prima pré-streaming, pode encarar a jornada que você não vai se arrepender - e melhor: a série tem um final! Dito isso, vale o play com muita segurança, mas tenha sempre um lenço de papel do lado - você vai precisar!

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"This is Us" talvez tenha sido a melhor série da TV aberta americana (produzida e exibida pela NBC) dos últimos tempos - certamente de 2016 foi, tanto que foi a única série de TV aberta finalista do último Globo de Ouro. "This is Us" é excelente e se você ainda não assistiu, por favor, faça isso por você! Embora o marketing tenha focado na premissa dos personagens principais terem nascido no mesmo dia e isso não ter representado absolutamente nada no desenvolvimento narrativo das temporadas iniciais, sendo apenas o ponto de partida. "This is Us" vai muito além - é uma série sobre sensível sobre as relações familiares, sobre como o passado é importante na construção dos vínculos que temos com o presente, de como nossa personalidade amadurece (ou não) e de como cada fase da nossa vida é essencial para o nosso aprendizado e crescimento.

Criada por Dan Fogelman, a série acompanha o cotidiano da família Pearson durante várias linhas do tempo. Depois da morte de um dos seus trigêmeos no parte, o casal Rebecca (Mandy Moore) e Jack (Milo Ventimiglia) decidem adotar um recém nascido que acabara de ser resgatado pelos bombeiros. Durante os episódios, a série apresenta os problemas e dilemas dos Pearsons enquanto família e também tentando entender a vida particular de seus filhos depois de adultos: Randall (Sterling K. Brown) um advogado lidando com a volta de seu pai biológico, Kevin (Justin Hartley), um ator de televisão buscando novas oportunidades no teatro e Kate (Chrissy Metz), uma mulher tentando lidar com seu peso e superar traumas da infância. Confira o trailer:

O roteiro de "This is Us" trabalha muito bem a falta de linearidade das histórias - vamos do presente para o passado em um piscar de olhos e com isso nos surpreendemos com a forma como os arcos vão sendo desenvolvidos e encaixados! Esse conceito narrativo ajuda a construir a personalidade de cada um dos personagens como se estivéssemos abrindo um enorme álbum de fotos, sem seguir uma cronologia exata, mas sempre se apegando aos assuntos mais relevantes da vida de cada um - e é isso que nos prende aos episódios. O primeiro, que ainda pode ser chamado de piloto, já entrega a genialidade de Fogelman em nos surpreender pouco a pouco. Os atores estão muito bem, destaque para Brown (vencedor o Globo de Ouro), Jones e para Metz.

A verdade é que "This is Us"não traz nada de novo na forma ou no conteúdo, mas tem o mérito de aperfeiçoar a estrutura dramática de histórias pensadas para a TV aberta do começo dos anos 2000, sempre com uma bela trilha sonora de fundo e uma carga dramática bem potente - aquelas de desidratar de chorar, sabe? A série trouxe o melhor de "What about Brian" e de "Reunion" (séries que não funcionaram muito bem na época por estarem um pouco fora do Zeitgeist), mas que tinham qualidade e inovações interessantes e aqui melhor desenvolvidas e com um conceito mais claro para quem estava disposto esperar uma semana para o próximo episódios. 

Mesmo "This is Us" sendo uma obra-prima pré-streaming, pode encarar a jornada que você não vai se arrepender - e melhor: a série tem um final! Dito isso, vale o play com muita segurança, mas tenha sempre um lenço de papel do lado - você vai precisar!

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Three Pines

"Three Pines" merecia mais do que seus 8 episódios da primeira temporada, especialmente pelo seu confortável formato, antológico na sua essência, onde a cada dois episódios você tem uma uma nova trama de investigação para acompanhar ao lado do perspicaz Inspetor-Chefe Armand Gamache. Pois bem, Lançada em 2022 pela Amazon Prime Vídeo, mas aqui no Brasil disponível na Max, a série criada por Emilia di Girolamo (uma das roteiristas-chefe de "The Tunnel") é na verdade uma adaptação das famosas histórias de mistério policial da autora canadense Louise Penny, ambientadas na fictícia vila de Three Pines. A série mescla investigações de crimes complexos com uma atmosfera peculiar e misteriosa, combinando elementos de drama e suspense em uma narrativa bastante envolvente que explora temas sociais e psicológicos profundos. Assim como a saudosa série finlandesa "Bordertown" (quem souber do que eu estou falando, pode dar o play sem ao menos terminar essa análise), "Three Pines" vai além do enredo criminal americano que estamos acostumados, focando nas relações e histórias das pessoas envolvidas, se aproximando assim, muito mais do conceito nórdico de séries investigativas.

Aqui, acompanhamos Gamache (Alfred Molina) enquanto ele investiga uma série de assassinatos aparentemente desconexos em Three Pines. A vila, com seu charme bucólico e uma comunidade repleta de personagens excêntricos, serve de cenário para a descoberta de segredos e traumas enterrados pela sociedade local. À medida que Gamache se aprofunda em cada um dos casos, ele também enfrenta os desafios emocionais e morais envolvidos em suas investigações, o que o leva a questionar as camadas ocultas de humanidade que cercam cada crime. Confira o trailer (em inglês):

Logo de cara percebemos que "Three Pines" é habilmente dirigida por Samuel Donovan (de "The Crow"), pois ele cria, com muita elegância estética, uma ambientação visual que ao mesmo tempo que captura a beleza fria e melancólica das paisagens canadenses também reflete o mistério e a sensação de isolamento. Donovan aproveita do cenário quase nórdico do Canadá para intensificar o suspense de cada caso e nos remeter até uma gramática bem familiar para quem gosta de tramas investigativas. Ele retrata o vilarejo de Three Pines como um personagem (talvez aí a importância de seu título), ou seja, um lugar vivo que, embora aparentemente pacífico, abriga sombras e segredos que vão muito além do que é mostrado em sua superfície. Aliás, nesse sentido, o roteiro de Emilia di Girolamo é muito fiel ao espírito dos romances de Louise Penny, já que ela soube decodificar tanto o mistério dos casos quanto as nuances das relações pessoais dessa vila tão particular - algo como vimos uma ano antes em "Mare of Easttown".

É muito importante pontuar que série entende a importância de Three Pines em seu contexto narrativo da mesma forma como se apoia em Armand Gamache, não apenas nos plots de investigação, mas também ao abordar questões contemporâneas e sensíveis que inclui temas como desigualdade e preconceito, proporcionando um subtexto crítico que enriquece as reflexões perante os casos investigados. Alfred Molina, mais uma vez, entrega uma performance cativante. Com uma presença imponente, mas carregada de sensibilidade, Molina consegue transmitir a profundidade do personagem, um homem de moral irretocável e compassivo que está em constante confronto com as realidades sombrias que encontra em suas investigações. Gamache, nas mãos de Molina, é mais do que um simples detetive; ele é uma figura quase paternal, alguém que busca não apenas resolver crimes, mas entender o impacto deles sobre as pessoas ao seu redor - esse aspecto torna o personagem único e humaniza o enredo, oferecendo uma camada de emoção e introspecção das mais interessantes.

Veja, mesmo com uma narrativa que combina histórias episódicas com uma trama contínua que investiga temas mais amplos, como o valor da justiça e os impactos do trauma em uma comunidade, "Three Pines"pode parecer lenta para aqueles que esperam alguma ação ou reviravoltas frequentes. A proposta aqui, de fato, é adotar um ritmo mais pausado e introspectivo, o que permite uma construção detalhada da atmosfera e dos personagens. Talvez tenha sido esse estilo mais cadenciado o motivo que distanciou a série de um sucesso maior - para nós, diga-se de passagem, é justamente esse elemento, condizente com o tom literário da obra de Louise Penny, que faz dela um entretenimento dos mais agradáveis.

Vale muito o seu play, mas será preciso um pouco de paciência até entender a proposta dramática da série.

Assista Agora

"Three Pines" merecia mais do que seus 8 episódios da primeira temporada, especialmente pelo seu confortável formato, antológico na sua essência, onde a cada dois episódios você tem uma uma nova trama de investigação para acompanhar ao lado do perspicaz Inspetor-Chefe Armand Gamache. Pois bem, Lançada em 2022 pela Amazon Prime Vídeo, mas aqui no Brasil disponível na Max, a série criada por Emilia di Girolamo (uma das roteiristas-chefe de "The Tunnel") é na verdade uma adaptação das famosas histórias de mistério policial da autora canadense Louise Penny, ambientadas na fictícia vila de Three Pines. A série mescla investigações de crimes complexos com uma atmosfera peculiar e misteriosa, combinando elementos de drama e suspense em uma narrativa bastante envolvente que explora temas sociais e psicológicos profundos. Assim como a saudosa série finlandesa "Bordertown" (quem souber do que eu estou falando, pode dar o play sem ao menos terminar essa análise), "Three Pines" vai além do enredo criminal americano que estamos acostumados, focando nas relações e histórias das pessoas envolvidas, se aproximando assim, muito mais do conceito nórdico de séries investigativas.

Aqui, acompanhamos Gamache (Alfred Molina) enquanto ele investiga uma série de assassinatos aparentemente desconexos em Three Pines. A vila, com seu charme bucólico e uma comunidade repleta de personagens excêntricos, serve de cenário para a descoberta de segredos e traumas enterrados pela sociedade local. À medida que Gamache se aprofunda em cada um dos casos, ele também enfrenta os desafios emocionais e morais envolvidos em suas investigações, o que o leva a questionar as camadas ocultas de humanidade que cercam cada crime. Confira o trailer (em inglês):

Logo de cara percebemos que "Three Pines" é habilmente dirigida por Samuel Donovan (de "The Crow"), pois ele cria, com muita elegância estética, uma ambientação visual que ao mesmo tempo que captura a beleza fria e melancólica das paisagens canadenses também reflete o mistério e a sensação de isolamento. Donovan aproveita do cenário quase nórdico do Canadá para intensificar o suspense de cada caso e nos remeter até uma gramática bem familiar para quem gosta de tramas investigativas. Ele retrata o vilarejo de Three Pines como um personagem (talvez aí a importância de seu título), ou seja, um lugar vivo que, embora aparentemente pacífico, abriga sombras e segredos que vão muito além do que é mostrado em sua superfície. Aliás, nesse sentido, o roteiro de Emilia di Girolamo é muito fiel ao espírito dos romances de Louise Penny, já que ela soube decodificar tanto o mistério dos casos quanto as nuances das relações pessoais dessa vila tão particular - algo como vimos uma ano antes em "Mare of Easttown".

É muito importante pontuar que série entende a importância de Three Pines em seu contexto narrativo da mesma forma como se apoia em Armand Gamache, não apenas nos plots de investigação, mas também ao abordar questões contemporâneas e sensíveis que inclui temas como desigualdade e preconceito, proporcionando um subtexto crítico que enriquece as reflexões perante os casos investigados. Alfred Molina, mais uma vez, entrega uma performance cativante. Com uma presença imponente, mas carregada de sensibilidade, Molina consegue transmitir a profundidade do personagem, um homem de moral irretocável e compassivo que está em constante confronto com as realidades sombrias que encontra em suas investigações. Gamache, nas mãos de Molina, é mais do que um simples detetive; ele é uma figura quase paternal, alguém que busca não apenas resolver crimes, mas entender o impacto deles sobre as pessoas ao seu redor - esse aspecto torna o personagem único e humaniza o enredo, oferecendo uma camada de emoção e introspecção das mais interessantes.

Veja, mesmo com uma narrativa que combina histórias episódicas com uma trama contínua que investiga temas mais amplos, como o valor da justiça e os impactos do trauma em uma comunidade, "Three Pines"pode parecer lenta para aqueles que esperam alguma ação ou reviravoltas frequentes. A proposta aqui, de fato, é adotar um ritmo mais pausado e introspectivo, o que permite uma construção detalhada da atmosfera e dos personagens. Talvez tenha sido esse estilo mais cadenciado o motivo que distanciou a série de um sucesso maior - para nós, diga-se de passagem, é justamente esse elemento, condizente com o tom literário da obra de Louise Penny, que faz dela um entretenimento dos mais agradáveis.

Vale muito o seu play, mas será preciso um pouco de paciência até entender a proposta dramática da série.

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Time

"Time" vai muito além do que uma crítica ao sistema prisional americano ou a forma como o judiciário lida com os crimes cometidos por negros e pobres - o documentário fala sobre a solidão! Esse sentimento, tão doloroso, e ainda potencializado pelas repetidas decepções de um luta quase que diária pela liberdade, mas vista, olhem só, pelos olhos de quem está livre!

Nos anos 90, ainda muito jovens e cheios de sonhos, Fox e Rob Rich tentaram assaltar um banco em um ato de desespero, depois de ver seu negócio fracassar e se afundarem em dívidas. O resultado: ambos foram presos. Ela recebeu uma sentença de 13 anos, mas foi solta depois de três anos e meio. Ele pegou 60 anos de prisão, sem direito a fiança ou liberdade condicional. Confira o trailer:

Dirigido pela vencedora da categoria em Sundance (2020), Garrett Bradley usa de uma linguagem quase experimental para expor o que de mais íntimo acontece com Fox Rich assim que ela consegue sua liberdade. Única responsável por sua família com seis filhos, ela precisa encontrar uma maneira de manter a união, a esperança e, de alguma forma, ainda sobreviver perante uma dura realidade sem a presença do marido, preso. O interessante é que a diretora se apega as dificuldades do dia a dia e explora a dor que é não poder controlar o "tempo" (daí o nome do documentário): o bem mais precioso que um ser humano pode ter para ser feliz e que é ceifado pelo sistema. São gravações pessoais de Fox, misturadas ao trabalho de Bradley, que humanizam esses sentimentos e nos provocam a entender o valor da empatia.

Vale ressaltar que o documentário, embora crítico, não coloca Fox na posição de vítima - ela tem total consciência da besteira que cometeu e como suas atitudes influenciaram na vida de tantas famílias, inclusive na sua. O que vale, e isso também é genial, é que para toda história existem dois lados e ao quebrar a necessidade do julgamento e focar nos sentimentos, do arrependimento ao amor incondicional, "Time" prioriza muito mais os efeitos do encarceramento do que os fatos e acontecimentos em si!

Posso garantir que esse documentário vem forte para temporada de premiações em 2021!Vale muito a pena o seu play!

Assista Agora 

"Time" vai muito além do que uma crítica ao sistema prisional americano ou a forma como o judiciário lida com os crimes cometidos por negros e pobres - o documentário fala sobre a solidão! Esse sentimento, tão doloroso, e ainda potencializado pelas repetidas decepções de um luta quase que diária pela liberdade, mas vista, olhem só, pelos olhos de quem está livre!

Nos anos 90, ainda muito jovens e cheios de sonhos, Fox e Rob Rich tentaram assaltar um banco em um ato de desespero, depois de ver seu negócio fracassar e se afundarem em dívidas. O resultado: ambos foram presos. Ela recebeu uma sentença de 13 anos, mas foi solta depois de três anos e meio. Ele pegou 60 anos de prisão, sem direito a fiança ou liberdade condicional. Confira o trailer:

Dirigido pela vencedora da categoria em Sundance (2020), Garrett Bradley usa de uma linguagem quase experimental para expor o que de mais íntimo acontece com Fox Rich assim que ela consegue sua liberdade. Única responsável por sua família com seis filhos, ela precisa encontrar uma maneira de manter a união, a esperança e, de alguma forma, ainda sobreviver perante uma dura realidade sem a presença do marido, preso. O interessante é que a diretora se apega as dificuldades do dia a dia e explora a dor que é não poder controlar o "tempo" (daí o nome do documentário): o bem mais precioso que um ser humano pode ter para ser feliz e que é ceifado pelo sistema. São gravações pessoais de Fox, misturadas ao trabalho de Bradley, que humanizam esses sentimentos e nos provocam a entender o valor da empatia.

Vale ressaltar que o documentário, embora crítico, não coloca Fox na posição de vítima - ela tem total consciência da besteira que cometeu e como suas atitudes influenciaram na vida de tantas famílias, inclusive na sua. O que vale, e isso também é genial, é que para toda história existem dois lados e ao quebrar a necessidade do julgamento e focar nos sentimentos, do arrependimento ao amor incondicional, "Time" prioriza muito mais os efeitos do encarceramento do que os fatos e acontecimentos em si!

Posso garantir que esse documentário vem forte para temporada de premiações em 2021!Vale muito a pena o seu play!

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Tio Frank

"Tio Frank" fala sobre aceitar o diferente, mesmo que pelo ponto de vista do caos familiar, de uma educação rígida, tradicional do interior dos EUA, e sem perspectiva alguma de conhecer as inúmeras possibilidades que a vida pode oferecer para quem não tem a oportunidade de sair de daquele universo tão limitado. O filme, embora discuta assuntos complexos, traz uma delicadeza impressionante nos seus diálogos, nos proporcionando uma jornada de reflexão, muito mais pelo que é falado do que pelo que é mostrado, e isso é um enorme mérito do roteiro e da direção de Alan Ball (vencedor do Oscar de Roteiro Original em 2000 por "Beleza Americana"). 

No filme acompanhamos a adolescente Beth Bledsoe (Sophia Lillis) que deixa sua cidade natal na zona rural do sul dos Estados Unidos para estudar na Universidade de Nova York, onde seu amado tio Frank (Paul Bettany) é um respeitado professor de literatura. Porém, ela acaba descobrindo que seu tio é gay e que mora com seu parceiro, Wally (Peter Macdissi), escondendo esse fato de toda a sua família há muitos anos. Após a morte repentina do seu pai, Frank é forçado a voltar para casa de sua infância, com relutância, para o funeral, e finalmente enfrentar um trauma pelo qual ele passou toda a sua vida adulta fugindo. Confira o trailer:

Essa é uma história de auto-conhecimento e de aceitação - e é construída com muita elegância estética e narrativa. Os diálogos são carregados de emoção, mas sem se tornar piegas; as pitadas de humor são tão inteligentes e bem colocadas que a experiência de assistir o filme acaba ficando muito leve - mais ou menos como encontramos em "Minhas Mães e Meu Pai".  Outro ponto que merece ser destacado é o incrível trabalho do designer de produção Darcy Scanlin e do diretor de fotografia, com uma longa e respeitada carreira na publicidade, Khalid Mohtaseb - a concepção visual que os dois entregam para Ball cria uma sensação nostálgica dos anos 70, natural, cheia de cores e nada esteriotipada, tanto em NY quanto em Creekville, uma pequena cidade do interior da Carolina do Sul.

O trabalho do elenco também é dos melhores: além de uma dinâmica muito especial entre tio (Paul Bettany) e sobrinha (Sophia Lillis), é de se elogiar o relacionamento construído entre Frank e Wally - Macdissi é o tipo do ator que tem uma capacidade quase surreal de transitar entre o drama e a comédia com a mesma competência, tornando seu personagem muito agradável, simpático, alegre, esperançoso ao mesmo tempo que é complexo e cheio de cicatrizes emocionais. Wally, vale dizer, é um imigrante que veio da Arábia Saudita, que também mente para os pais sobre seus relacionamentos e que se mudou para os EUA com medo de ser morto pelo fato de ser homossexual - e o paralelo com a vida adolescente de Frank, que supostamente mora em um país livre, mas sofre das mesmas dores, é sensacional. Reparem nas cenas de flashback e como ela ganha ainda mais força depois de ouvir a história que Wally conta para Beth sobre como funciona o preconceito no seu país.

"Tio Frank", de fato, não parece ser uma história contada para enfatizar os problemas do preconceito e da ignorância, muito pelo contrário, o texto de Ball está muito mais preocupado em tentar corrigir a intolerância - o que deixa essa jornada mais fluida, empática e esperançosa. Mesmo nas cenas mais tensas, não existe o objetivo de chocar, apenas de mostrar o outro lado. Emocionante, leve e importante, "Tio Frank" merecia um maior reconhecimento na temporada de premiações - além de ser mais uma aula de roteiro de Ball, o elenco é simplesmente especial!

Vale muito o play! "Tio Frank" é daqueles filmes que terminamos sorrindo!

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"Tio Frank" fala sobre aceitar o diferente, mesmo que pelo ponto de vista do caos familiar, de uma educação rígida, tradicional do interior dos EUA, e sem perspectiva alguma de conhecer as inúmeras possibilidades que a vida pode oferecer para quem não tem a oportunidade de sair de daquele universo tão limitado. O filme, embora discuta assuntos complexos, traz uma delicadeza impressionante nos seus diálogos, nos proporcionando uma jornada de reflexão, muito mais pelo que é falado do que pelo que é mostrado, e isso é um enorme mérito do roteiro e da direção de Alan Ball (vencedor do Oscar de Roteiro Original em 2000 por "Beleza Americana"). 

No filme acompanhamos a adolescente Beth Bledsoe (Sophia Lillis) que deixa sua cidade natal na zona rural do sul dos Estados Unidos para estudar na Universidade de Nova York, onde seu amado tio Frank (Paul Bettany) é um respeitado professor de literatura. Porém, ela acaba descobrindo que seu tio é gay e que mora com seu parceiro, Wally (Peter Macdissi), escondendo esse fato de toda a sua família há muitos anos. Após a morte repentina do seu pai, Frank é forçado a voltar para casa de sua infância, com relutância, para o funeral, e finalmente enfrentar um trauma pelo qual ele passou toda a sua vida adulta fugindo. Confira o trailer:

Essa é uma história de auto-conhecimento e de aceitação - e é construída com muita elegância estética e narrativa. Os diálogos são carregados de emoção, mas sem se tornar piegas; as pitadas de humor são tão inteligentes e bem colocadas que a experiência de assistir o filme acaba ficando muito leve - mais ou menos como encontramos em "Minhas Mães e Meu Pai".  Outro ponto que merece ser destacado é o incrível trabalho do designer de produção Darcy Scanlin e do diretor de fotografia, com uma longa e respeitada carreira na publicidade, Khalid Mohtaseb - a concepção visual que os dois entregam para Ball cria uma sensação nostálgica dos anos 70, natural, cheia de cores e nada esteriotipada, tanto em NY quanto em Creekville, uma pequena cidade do interior da Carolina do Sul.

O trabalho do elenco também é dos melhores: além de uma dinâmica muito especial entre tio (Paul Bettany) e sobrinha (Sophia Lillis), é de se elogiar o relacionamento construído entre Frank e Wally - Macdissi é o tipo do ator que tem uma capacidade quase surreal de transitar entre o drama e a comédia com a mesma competência, tornando seu personagem muito agradável, simpático, alegre, esperançoso ao mesmo tempo que é complexo e cheio de cicatrizes emocionais. Wally, vale dizer, é um imigrante que veio da Arábia Saudita, que também mente para os pais sobre seus relacionamentos e que se mudou para os EUA com medo de ser morto pelo fato de ser homossexual - e o paralelo com a vida adolescente de Frank, que supostamente mora em um país livre, mas sofre das mesmas dores, é sensacional. Reparem nas cenas de flashback e como ela ganha ainda mais força depois de ouvir a história que Wally conta para Beth sobre como funciona o preconceito no seu país.

"Tio Frank", de fato, não parece ser uma história contada para enfatizar os problemas do preconceito e da ignorância, muito pelo contrário, o texto de Ball está muito mais preocupado em tentar corrigir a intolerância - o que deixa essa jornada mais fluida, empática e esperançosa. Mesmo nas cenas mais tensas, não existe o objetivo de chocar, apenas de mostrar o outro lado. Emocionante, leve e importante, "Tio Frank" merecia um maior reconhecimento na temporada de premiações - além de ser mais uma aula de roteiro de Ball, o elenco é simplesmente especial!

Vale muito o play! "Tio Frank" é daqueles filmes que terminamos sorrindo!

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Toc toc

Não sou um entusiasta de comédias, mas preciso admitir que a espanhola "Toc toc" é divertida e inteligente, mesmo com seus excessos! Um ótimo exemplo de como os esteriótipos podem render boas risadas sem ter que usar o escrachado como bengala!

O filme, como o próprio nome sugere, é uma história sobre pessoas com transtornos obsessivos compulsivos - uma livre adaptação da peça francesa de Laurent Baffie. Toda confusão gira em torno de 6 personagens que possuem diferentes tipos de TOC. Por um erro no sistema, todos acabam sendo agendados para o mesmo dia e horário, se encontrando na sala de espera do famoso psiquiatra, o Dr. Palomero. Para ajudar, o psiquiatra se atrasa e eles se veem obrigados a encarar seus problemas individuais como se estivessem em uma espécie de terapia de grupo. 

É preciso dizer, que o roteiro dá umas derrapadas no didatismo e soa previsível, mas que acaba não prejudicando em nada o ótimo e despretensioso entretenimento que é o filme. Destaque para o excelente elenco que conta com  Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Ana Rujas e o sempre sensacional Oscar Martínez!

Olha, "Toc toc" é realmente divertido! Vale muito o seu play se você estiver buscando algo leve, porém inteligente!

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Não sou um entusiasta de comédias, mas preciso admitir que a espanhola "Toc toc" é divertida e inteligente, mesmo com seus excessos! Um ótimo exemplo de como os esteriótipos podem render boas risadas sem ter que usar o escrachado como bengala!

O filme, como o próprio nome sugere, é uma história sobre pessoas com transtornos obsessivos compulsivos - uma livre adaptação da peça francesa de Laurent Baffie. Toda confusão gira em torno de 6 personagens que possuem diferentes tipos de TOC. Por um erro no sistema, todos acabam sendo agendados para o mesmo dia e horário, se encontrando na sala de espera do famoso psiquiatra, o Dr. Palomero. Para ajudar, o psiquiatra se atrasa e eles se veem obrigados a encarar seus problemas individuais como se estivessem em uma espécie de terapia de grupo. 

É preciso dizer, que o roteiro dá umas derrapadas no didatismo e soa previsível, mas que acaba não prejudicando em nada o ótimo e despretensioso entretenimento que é o filme. Destaque para o excelente elenco que conta com  Paco León, Alexandra Jiménez, Rossy de Palma, Nuria Herrero, Adrián Lastra, Ana Rujas e o sempre sensacional Oscar Martínez!

Olha, "Toc toc" é realmente divertido! Vale muito o seu play se você estiver buscando algo leve, porém inteligente!

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Toda Forma de Amor

"Toda Forma de Amor" (ou "Beginners") do diretor Mike Mills é um excelente filme! Na verdade é o típico filme que fala sobre relações de uma maneira muito delicada, sensível, onde o trabalho de direção se alinha com a história através de planos muito bem estudados, movimentos que acompanham uma narrativa leve, delicada, mesmo abordando assuntos tão pesados.

Aos 75 anos, o pai de Oliver (Ewan McGregor) se assume gay, diz que está com câncer terminal e por isso passou a ter uma vida mais ativa até a sua morte. Meses depois, Oliver conhece a imprevisível e irreverente Anna (Mélanie Laurent), o que faz com que ele se dedique a amá-la, lembrando-se de fatos e ensinamentos de seu saudoso pai, Hal (Christopher Plummer). Confira o trailer:

Mike Mills foi muito inteligente ao subverter o roteiro de "Toda Forma de Amor" iniciando uma jornada de (auto) conhecimento a partir da morte de Hal. Com uma história atemporal, as lembranças do protagonista se encaixam perfeitamente na maneira como ele enxerga a possibilidade de ser feliz ao lado de uma mulher que, olhem só, pode ama-lo de verdade! Essa dinâmica funciona como uma forma de Oliver tentar justificar sua dificuldade em corresponder Anna, o que transforma a história em um drama de relação leve, mas não por isso raso.

Christopher Plummer merece uma menção especial: seu trabalho mostrou exatamente a razão pela qual ganhou quase todos os principais prêmios da temporada, inclusive o Oscar e o Globo de Ouro de "Ator Coadjuvante" em 2012! Ele está irretocável - reparem! 

"Toda Forma de Amor" é daqueles filmes que chegam sem muito marketing, mas que nos conquistam, discretamente, e nos fazem ter aquela deliciosa sensação de ter assistido um belíssimo filme! Pode dar o play sem receio!

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"Toda Forma de Amor" (ou "Beginners") do diretor Mike Mills é um excelente filme! Na verdade é o típico filme que fala sobre relações de uma maneira muito delicada, sensível, onde o trabalho de direção se alinha com a história através de planos muito bem estudados, movimentos que acompanham uma narrativa leve, delicada, mesmo abordando assuntos tão pesados.

Aos 75 anos, o pai de Oliver (Ewan McGregor) se assume gay, diz que está com câncer terminal e por isso passou a ter uma vida mais ativa até a sua morte. Meses depois, Oliver conhece a imprevisível e irreverente Anna (Mélanie Laurent), o que faz com que ele se dedique a amá-la, lembrando-se de fatos e ensinamentos de seu saudoso pai, Hal (Christopher Plummer). Confira o trailer:

Mike Mills foi muito inteligente ao subverter o roteiro de "Toda Forma de Amor" iniciando uma jornada de (auto) conhecimento a partir da morte de Hal. Com uma história atemporal, as lembranças do protagonista se encaixam perfeitamente na maneira como ele enxerga a possibilidade de ser feliz ao lado de uma mulher que, olhem só, pode ama-lo de verdade! Essa dinâmica funciona como uma forma de Oliver tentar justificar sua dificuldade em corresponder Anna, o que transforma a história em um drama de relação leve, mas não por isso raso.

Christopher Plummer merece uma menção especial: seu trabalho mostrou exatamente a razão pela qual ganhou quase todos os principais prêmios da temporada, inclusive o Oscar e o Globo de Ouro de "Ator Coadjuvante" em 2012! Ele está irretocável - reparem! 

"Toda Forma de Amor" é daqueles filmes que chegam sem muito marketing, mas que nos conquistam, discretamente, e nos fazem ter aquela deliciosa sensação de ter assistido um belíssimo filme! Pode dar o play sem receio!

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Todos já sabem

"Todos já sabem" é o primeiro filme do iraniano Asghar Farhadi fora do seu país. O filme é uma co-produção Espanha/França/Italia e nem por isso Farhadi precisou abrir mão do seu estilo e controle criativo em todo o processo. Mais uma vez ele escreve um roteiro com uma história bastante consistente e dirige o filme com a competência técnica e a segurança narrativa quase imperceptível que já virou sua marca. Sério, se você não conhece a filmografia do Asghar Farhadi, saiba que ele já ganhou um Oscar com "O Apartamento" (The Salesman) e outro com "A Separação", além da Palme d'Or (em Cannes) pelo seu "O Passado"!!! Ou seja, seus três últimos filmes ganharam quase todos os prêmios mais cobiçados do cinema mundial... Fraco o cara?

Em "Todos já sabem" ele coloca na tela uma ambientação muito particular, pois o filme se passa em um pequeno vilarejo próximo de Madrid, cidade natal de Laura (Penélope Cruz). Ela retorna, acompanhado dos seus filhos, para o casamento da sua irmã. Porém, durante a festa, sua filha mais velha desaparece em circunstâncias muito parecidas com um outro sequestro que marcou muito a região pelo seu fim trágico. O desaparecimento de Irene e sua investigação trás a tona uma série de segredos (ou não - por isso o nome do filme) e mágoas que só aumentaram com o passar dos anos. O mistério sobre o paradeiro de Irene é muito bem construído e como os personagens vão se envolvendo acaba criando uma sensação de superficialidade daquelas relações - é muito interessante pela particularidade das histórias mal resolvidas. É quase um arquétipo de uma família amargurada que vive apenas de aparências apoiada em um passado que não existe mais!!! Imaginem a força que isso ganha em uma cidade tão pequena onde todos se conhecem...  Me lembrou muito o clima que o Walter Salles criou em "Abril Despedaçado" e de como o "ressentimento" foi consumindo aqueles personagens de dentro para fora e tudo em sua volta foi embolorando!

Um dos pontos altos do filme é, sem dúvida, o elenco! É uma interpretação melhor que a outra, com destaque para Bárbara Lennie  (Bea) que dá um show pela sua capacidade de externar aqueles sentimentos tão silenciosos e de uma forma tão natural que chega a doer na gente! Obviamente que Ricardo Darín, Penélope Cruz, Javier Bardem e Eduard Fernández também estão voando, mas isso já era de se esperar!!! Um detalhe importante: Asghar Farhadi é um grande diretor de atores, todos os filmes dele estão apoiados em grandes atuações - reparem - o roteiro ajuda, mas os atores sempre estão no tom certo!!!! Bom, a fotografia do filme também merece um comentário: é um lindo trabalho do José Luis Alcaine, o mesmo de "A Pele que Habito" -  se atentem para as cenas da festa de casamento e de quando o personagem do Javier Bardem procura pela esposa em casa, já mais para o final do filme!

Eu já escrevi dois reviews de filmes do Farhadi aqui no Viu Review, então gostaria de destacar uma frase que usei para iniciar o texto de The Salesman: "Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadi, para mim, é um desses caras". Dito isso, eu te convido a conhecer o trabalho dele, um cineasta extremamente autoral, mas que vai te surpreender com filmes intensos, envolventes e inteligentes, com qualidade técnica e artística incontestáveis!

Dê essa chance que você não vai se arrepender.

Assista Agora

"Todos já sabem" é o primeiro filme do iraniano Asghar Farhadi fora do seu país. O filme é uma co-produção Espanha/França/Italia e nem por isso Farhadi precisou abrir mão do seu estilo e controle criativo em todo o processo. Mais uma vez ele escreve um roteiro com uma história bastante consistente e dirige o filme com a competência técnica e a segurança narrativa quase imperceptível que já virou sua marca. Sério, se você não conhece a filmografia do Asghar Farhadi, saiba que ele já ganhou um Oscar com "O Apartamento" (The Salesman) e outro com "A Separação", além da Palme d'Or (em Cannes) pelo seu "O Passado"!!! Ou seja, seus três últimos filmes ganharam quase todos os prêmios mais cobiçados do cinema mundial... Fraco o cara?

Em "Todos já sabem" ele coloca na tela uma ambientação muito particular, pois o filme se passa em um pequeno vilarejo próximo de Madrid, cidade natal de Laura (Penélope Cruz). Ela retorna, acompanhado dos seus filhos, para o casamento da sua irmã. Porém, durante a festa, sua filha mais velha desaparece em circunstâncias muito parecidas com um outro sequestro que marcou muito a região pelo seu fim trágico. O desaparecimento de Irene e sua investigação trás a tona uma série de segredos (ou não - por isso o nome do filme) e mágoas que só aumentaram com o passar dos anos. O mistério sobre o paradeiro de Irene é muito bem construído e como os personagens vão se envolvendo acaba criando uma sensação de superficialidade daquelas relações - é muito interessante pela particularidade das histórias mal resolvidas. É quase um arquétipo de uma família amargurada que vive apenas de aparências apoiada em um passado que não existe mais!!! Imaginem a força que isso ganha em uma cidade tão pequena onde todos se conhecem...  Me lembrou muito o clima que o Walter Salles criou em "Abril Despedaçado" e de como o "ressentimento" foi consumindo aqueles personagens de dentro para fora e tudo em sua volta foi embolorando!

Um dos pontos altos do filme é, sem dúvida, o elenco! É uma interpretação melhor que a outra, com destaque para Bárbara Lennie  (Bea) que dá um show pela sua capacidade de externar aqueles sentimentos tão silenciosos e de uma forma tão natural que chega a doer na gente! Obviamente que Ricardo Darín, Penélope Cruz, Javier Bardem e Eduard Fernández também estão voando, mas isso já era de se esperar!!! Um detalhe importante: Asghar Farhadi é um grande diretor de atores, todos os filmes dele estão apoiados em grandes atuações - reparem - o roteiro ajuda, mas os atores sempre estão no tom certo!!!! Bom, a fotografia do filme também merece um comentário: é um lindo trabalho do José Luis Alcaine, o mesmo de "A Pele que Habito" -  se atentem para as cenas da festa de casamento e de quando o personagem do Javier Bardem procura pela esposa em casa, já mais para o final do filme!

Eu já escrevi dois reviews de filmes do Farhadi aqui no Viu Review, então gostaria de destacar uma frase que usei para iniciar o texto de The Salesman: "Tem Diretor que te dá a certeza de um grande filme e o iraniano Asghar Farhadi, para mim, é um desses caras". Dito isso, eu te convido a conhecer o trabalho dele, um cineasta extremamente autoral, mas que vai te surpreender com filmes intensos, envolventes e inteligentes, com qualidade técnica e artística incontestáveis!

Dê essa chance que você não vai se arrepender.

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Togetherness

Essa é uma série despretenciosa que foi lançada sem tanto alarde pela HBO em 2015. e que fechou o seu ciclo com apenas duas temporadas - se você gosta de séries como "Easy"ou "Modern Love", certamente "Togetherness" é para você, mas saiba que o gostinho de "quero mais" pode te consumir no final do 16º episódio. Criada pelos irmãos Duplass (dos geniais "Transparent" e "Room 104") e por Steve Zissis (de "Cruella"), "Togetherness" te fará rir e chorar em uma jornada, de fato, apaixonante. Com um humor até certo ponto ácido e uma sensibilidade bastante aguçada, a narrativa explora com muita inteligência os desafios da vida adulta com um toque de realismo que nos distancia daquelas comédias românticas mais tradicionais - talvez por isso ela tenha agradado mais a critica do que o público em geral, mesmo depois das duas indicações no "Critics Choice Awards" de 2015.

A trama, basicamente, gira em torno de Brett (Mark Duplass) e Michelle (Melanie Lynskey), um casal que enfrenta uma crise no casamento após a chegada dos filhos. Buscando recuperar a chama da paixão, eles decidem convidar o melhor amigo de Brett, Alex (Steve Zissis), e a irmã de Michelle, Tina (Amanda Peet), para morarem com eles. A convivência entre os quatro personagens, com suas próprias frustrações e inseguranças, gera situações hilárias e comoventes, explorando temas como amizade, amor, família e a busca pela felicidade. Confira o trailer a seguir (em inglês):

Me diga se você já viu isso em algum ligar: primeiro um casal na faixa dos seus 35 anos, com família e tudo mais, que se amam, mas que vem sofrendo com o desgaste natural após 10 anos de relacionamento. Segundo, um outro casal de amigos improváveis formado por um ator, quase fracassado, e uma linda mulher que ainda está solteira, mas não se conforma com isso. Pois é, eu sei sua resposta e é justamente isso que torna "Togetherness"  imperdível - a forma como os irmãos Duplass e a Nicole Holofcener capturam a essência da vida real, com seus altos e baixos, sem filtros ou romantizações, é impressionante (e dolorido). Reparem como a série até começa apresentando um lado mais cômico da trama e de seus personagens, mas conforme vão passando os episódios é o drama que vai dando o tom da narrativa.

"Togetherness" se destaca pela naturalidade das atuações de seu pequeno elenco - mérito da direção sensível e cirúrgica dos Duplass. Não por acaso, todo aquele contexto de identificação nos leva para uma jornada verdadeiramente emocional, onde nos empatizamos com as dúvidas e angústias dos personagens ao ponto de nos fazer questionar nossas próprias escolhas de vida. Sem dúvida que a série representa um convite a reflexão sobre o que realmente importa na vida.

Ao mesmo tempo que nos diverte com situações e personagens excêntricos cheios de camadas que nos conquistam com sua humanidade, "Togetherness" também sabe ser apaixonante pelas discussões sobre os dilemas da vida adulta. Os irmãos Duplass mais uma vez marcam um golaço com essa comédia dramática que aposta na sabedoria de seu conceito narrativo para falar de sentimentos e trazer sensações muito presentes em algum momento da nossa vida - é o equilíbrio perfeito entre o alivio cômico e o drama mais intenso! Olhando alguns anos em retrospectiva, fica fácil atestar que "Togetherness" merecia uma melhor chance - leia-se uma terceira e definitiva temporada!

Sim, essa é daquelas de sentimos seu cancelamento, mas que ainda assim merece ser descoberta!

Assista Agora

Essa é uma série despretenciosa que foi lançada sem tanto alarde pela HBO em 2015. e que fechou o seu ciclo com apenas duas temporadas - se você gosta de séries como "Easy"ou "Modern Love", certamente "Togetherness" é para você, mas saiba que o gostinho de "quero mais" pode te consumir no final do 16º episódio. Criada pelos irmãos Duplass (dos geniais "Transparent" e "Room 104") e por Steve Zissis (de "Cruella"), "Togetherness" te fará rir e chorar em uma jornada, de fato, apaixonante. Com um humor até certo ponto ácido e uma sensibilidade bastante aguçada, a narrativa explora com muita inteligência os desafios da vida adulta com um toque de realismo que nos distancia daquelas comédias românticas mais tradicionais - talvez por isso ela tenha agradado mais a critica do que o público em geral, mesmo depois das duas indicações no "Critics Choice Awards" de 2015.

A trama, basicamente, gira em torno de Brett (Mark Duplass) e Michelle (Melanie Lynskey), um casal que enfrenta uma crise no casamento após a chegada dos filhos. Buscando recuperar a chama da paixão, eles decidem convidar o melhor amigo de Brett, Alex (Steve Zissis), e a irmã de Michelle, Tina (Amanda Peet), para morarem com eles. A convivência entre os quatro personagens, com suas próprias frustrações e inseguranças, gera situações hilárias e comoventes, explorando temas como amizade, amor, família e a busca pela felicidade. Confira o trailer a seguir (em inglês):

Me diga se você já viu isso em algum ligar: primeiro um casal na faixa dos seus 35 anos, com família e tudo mais, que se amam, mas que vem sofrendo com o desgaste natural após 10 anos de relacionamento. Segundo, um outro casal de amigos improváveis formado por um ator, quase fracassado, e uma linda mulher que ainda está solteira, mas não se conforma com isso. Pois é, eu sei sua resposta e é justamente isso que torna "Togetherness"  imperdível - a forma como os irmãos Duplass e a Nicole Holofcener capturam a essência da vida real, com seus altos e baixos, sem filtros ou romantizações, é impressionante (e dolorido). Reparem como a série até começa apresentando um lado mais cômico da trama e de seus personagens, mas conforme vão passando os episódios é o drama que vai dando o tom da narrativa.

"Togetherness" se destaca pela naturalidade das atuações de seu pequeno elenco - mérito da direção sensível e cirúrgica dos Duplass. Não por acaso, todo aquele contexto de identificação nos leva para uma jornada verdadeiramente emocional, onde nos empatizamos com as dúvidas e angústias dos personagens ao ponto de nos fazer questionar nossas próprias escolhas de vida. Sem dúvida que a série representa um convite a reflexão sobre o que realmente importa na vida.

Ao mesmo tempo que nos diverte com situações e personagens excêntricos cheios de camadas que nos conquistam com sua humanidade, "Togetherness" também sabe ser apaixonante pelas discussões sobre os dilemas da vida adulta. Os irmãos Duplass mais uma vez marcam um golaço com essa comédia dramática que aposta na sabedoria de seu conceito narrativo para falar de sentimentos e trazer sensações muito presentes em algum momento da nossa vida - é o equilíbrio perfeito entre o alivio cômico e o drama mais intenso! Olhando alguns anos em retrospectiva, fica fácil atestar que "Togetherness" merecia uma melhor chance - leia-se uma terceira e definitiva temporada!

Sim, essa é daquelas de sentimos seu cancelamento, mas que ainda assim merece ser descoberta!

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Top Gun: Maverick

Se você tem mais de 45 anos, teve uma fita cassete da "melhor trilha sonora de todos os tempos" e ainda usou uma jaqueta aviador de pele de carneiro, pode ter certeza que você vai assistir "Top Gun: Maverick" com um leve sorriso no rosto graças a uma experiência altamente nostálgica e muito divertida! Sim, "Top Gun: Maverick," a aguardada sequência do clássico dos anos 80, é, de fato, imperdível! Dirigido pelo excelente Joseph Kosinski (de "Spiderhead"), o filme não só honra o legado do original, mas também resgata aquela saudosa receita "Jerry Bruckheimer" do gênero de ação, que vai de "Dias de Trovão" até "Con Air". Obviamente que não foi uma surpresa que essa sequência tenha recebido tantos elogios, no entanto as 6 indicações ao Oscar de 2022, inclusive como Melhor Filme do Ano, surpreendeu - mas fez jus ao que o cinema americano sabe fazer de melhor: entreter! 

Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) é um piloto à moda antiga da Marinha que coleciona muitas condecorações, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de aviões inimigos abatidos nos últimos 30 anos. Entretanto, nada disso foi suficiente para sua carreira decolar, visto que ele deixou de ser um capitão e tornou-se um mero instrutor de novos talentos. A explicação para esse declínio é simples: ele continua sendo o mesmo piloto rebelde de sempre, que não hesita em romper os limites e desafiar a morte. Até que Maverick é convocado para uma nova missão, onde precisa provar que o fator humano ainda é fundamental no mundo contemporâneo das guerras tecnológicas, mesmo que para isso tenha que lidar com o maior fantasma de seu passado: a perda de seu inesquecível parceiro, Goose (Anthony Edwards). Confira o trailer:

Mesmo que em um primeiro olhar "Maverick" soe como uma versão moderninha de "Ases Indomáveis", especialmente pelas novas versões de cenas clássicas como a que Rooster (Miles Teller), filho de Goose, aparece de bigode, camisa havaiana e tocando “Great Balls of Fire” no piano de um bar ou quando conhecemos Hangman (Glen Powell), o cadete loiro sem escrúpulos que antagoniza com o herói, como fazia Val Kilmer em 1986, e até pela aquela cena do vôlei de praia que agora é substituída por uma de futebol americano na areia; eu diria que o filme consegue ir além, especialmente na sua proposta de nos oferecer uma nova história sem perder sua essência - mesmo que para isso assuma o risco de parecer maniqueísta demais ao ter um herói ao melhor estilo "lobo solitário americano" enfrentando os inimigos "vestidos de preto" em condições quase impossíveis de vence-los.

No âmbito, digamos, mais técnico, "Top Gun: Maverick" é um espetáculo visual - um verdadeiro upgrade cinematográfico do que já foi surpreendente em 1986. E aqui vai uma curiosidade: todas as cenas de voo foram filmadas em jatos da Marinha dos EUA, onde o próprio elenco precisou passar por um processo árduo de treinamento. Ao lado do fotógrafo chileno Claudio Miranda (vencedor do Oscar por "As Aventuras de Pi"), Kosinski cria emocionantes sequências aéreas com câmeras onboard  bastante imersivas que mostram desde o real impacto da gravidade durante as manobras dos pilotos até a adrenalina de estar a um detalhe de perder a vida durante os combates - além de grandiosas, essas cenas são visceralmente impactantes.  

Com uma direção que equilibra momentos de ação intensa com passagens carregadas de emoção, como no reencontro de Maverick com o Ice Man (Val Kilmer), "Top Gun: Maverick" estabelece uma conexão nostálgica bem ao estilo de "Creed 2" (no caso com a franquia "Rocky"). Pontuado isso, fica impossível não considerar que esse não é apenas um novo capítulo de um clássico que marcou toda uma geração, mas uma celebração do que o cinema de entretenimento representa - talvez até um tributo aos filmes de ação dos anos 80 e 90, modernizado para uma parte da audiência contemporânea disposta a se divertir sem ter que filosofar!

Vale muito o seu play!

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Se você tem mais de 45 anos, teve uma fita cassete da "melhor trilha sonora de todos os tempos" e ainda usou uma jaqueta aviador de pele de carneiro, pode ter certeza que você vai assistir "Top Gun: Maverick" com um leve sorriso no rosto graças a uma experiência altamente nostálgica e muito divertida! Sim, "Top Gun: Maverick," a aguardada sequência do clássico dos anos 80, é, de fato, imperdível! Dirigido pelo excelente Joseph Kosinski (de "Spiderhead"), o filme não só honra o legado do original, mas também resgata aquela saudosa receita "Jerry Bruckheimer" do gênero de ação, que vai de "Dias de Trovão" até "Con Air". Obviamente que não foi uma surpresa que essa sequência tenha recebido tantos elogios, no entanto as 6 indicações ao Oscar de 2022, inclusive como Melhor Filme do Ano, surpreendeu - mas fez jus ao que o cinema americano sabe fazer de melhor: entreter! 

Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) é um piloto à moda antiga da Marinha que coleciona muitas condecorações, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de aviões inimigos abatidos nos últimos 30 anos. Entretanto, nada disso foi suficiente para sua carreira decolar, visto que ele deixou de ser um capitão e tornou-se um mero instrutor de novos talentos. A explicação para esse declínio é simples: ele continua sendo o mesmo piloto rebelde de sempre, que não hesita em romper os limites e desafiar a morte. Até que Maverick é convocado para uma nova missão, onde precisa provar que o fator humano ainda é fundamental no mundo contemporâneo das guerras tecnológicas, mesmo que para isso tenha que lidar com o maior fantasma de seu passado: a perda de seu inesquecível parceiro, Goose (Anthony Edwards). Confira o trailer:

Mesmo que em um primeiro olhar "Maverick" soe como uma versão moderninha de "Ases Indomáveis", especialmente pelas novas versões de cenas clássicas como a que Rooster (Miles Teller), filho de Goose, aparece de bigode, camisa havaiana e tocando “Great Balls of Fire” no piano de um bar ou quando conhecemos Hangman (Glen Powell), o cadete loiro sem escrúpulos que antagoniza com o herói, como fazia Val Kilmer em 1986, e até pela aquela cena do vôlei de praia que agora é substituída por uma de futebol americano na areia; eu diria que o filme consegue ir além, especialmente na sua proposta de nos oferecer uma nova história sem perder sua essência - mesmo que para isso assuma o risco de parecer maniqueísta demais ao ter um herói ao melhor estilo "lobo solitário americano" enfrentando os inimigos "vestidos de preto" em condições quase impossíveis de vence-los.

No âmbito, digamos, mais técnico, "Top Gun: Maverick" é um espetáculo visual - um verdadeiro upgrade cinematográfico do que já foi surpreendente em 1986. E aqui vai uma curiosidade: todas as cenas de voo foram filmadas em jatos da Marinha dos EUA, onde o próprio elenco precisou passar por um processo árduo de treinamento. Ao lado do fotógrafo chileno Claudio Miranda (vencedor do Oscar por "As Aventuras de Pi"), Kosinski cria emocionantes sequências aéreas com câmeras onboard  bastante imersivas que mostram desde o real impacto da gravidade durante as manobras dos pilotos até a adrenalina de estar a um detalhe de perder a vida durante os combates - além de grandiosas, essas cenas são visceralmente impactantes.  

Com uma direção que equilibra momentos de ação intensa com passagens carregadas de emoção, como no reencontro de Maverick com o Ice Man (Val Kilmer), "Top Gun: Maverick" estabelece uma conexão nostálgica bem ao estilo de "Creed 2" (no caso com a franquia "Rocky"). Pontuado isso, fica impossível não considerar que esse não é apenas um novo capítulo de um clássico que marcou toda uma geração, mas uma celebração do que o cinema de entretenimento representa - talvez até um tributo aos filmes de ação dos anos 80 e 90, modernizado para uma parte da audiência contemporânea disposta a se divertir sem ter que filosofar!

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Top Model

"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

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"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

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Três Estranhos Idênticos

É praticamente impossível escrever um review de "Três Estranhos Idênticos" sem deixar escapar algum spolier, então vou tomar o mesmo cuidado de quando analisei "Diga quem sou", inclusive me permitindo copiar um parágrafo quase que na sua íntegra para antecipar o que você vai encontrar ao dar o play mais abaixo: "Se prepare, pois existe uma profunda discussão moral em "Três Estranhos Idênticos" que é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe será um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!   

Na Nova York de 1980, três completos estranhos descobrem que são trigêmeos idênticos separados durante o nascimento. Aos 19 anos, a feliz reunião dos três os lança para uma fama internacional, mas também traz um segredo extraordinário e perturbador, capaz de transformar a compreensão da natureza humana. Confira o trailer:

A escolha do diretor Tim Wardle e da roteirista Grace Hughes-Hallett ao construir a narrativa do filme a partir da história do reencontro de três irmãos gêmeos idênticos que não se conheciam mesmo morando em um raio de 160 km entre eles, já nos fisga logo de cara, pois é o tipo premissa que parece muito mais uma ficção do que realidade. Caminhamos pela felicidade desse reencontro após 19 anos, que transformou os trigêmeos em celebridades instantâneas, e isso deixa a trama ainda mais gostosa de assistir, mas ao mesmo tempo vai nos colocando uma pulga atrás da orelha: o que vai acontecer para que toda essa alegria e cumplicidade acabe? É aí que Wardle e Hughes-Hallett começam a trazer um tom mais investigativo ao documentário, emprestando elementos de mistério conspiratório que deixariam "Arquivo X" e Dan Brown morrendo de inveja.

A história de Edward Galland, David Kellman e Robert Shafran é contada pelos depoimentos dos protagonistas, de seus familiares e amigos, e apoiada em inúmeras imagens de arquivo e vídeos caseiros. Muitas reportagens e programas de TV sobre o caso que fez muito sucesso na época, também se fundem ao conceito narrativo de Wardle muito naturalmente, com uma trilha sonora maravilhosa e uma edição exemplar. Talvez o único detalhe que pode incomodar os mais curiosos (e atentos) é o limite de informação disponível sobre o caso - não que o documentário se proponha a responder todas as perguntas, mas é preciso alertar: em "teorias" existem lacunas e aqui não será diferente!

Assistir "Três Estranhos Idênticos" sem muito mais informações talvez seja a melhor escolha para não impactar em nada sua experiência, pois ter uma história tão inacreditável contada por quem viveu de perto chega a ser surreal, principalmente quando algumas peças começam a surgir e assim podemos perceber como o ser humano pode ser egoísta, mesmo quando pautado pela premissa de estar pensando "no próximo". Com momentos realmente emocionantes, cheios de amor e alegria, o filme vai te conquistando, te preparando para passagens tristes, reflexivas e levantando discussões éticas de uma forma extraordinária.

Vale muito a pena, principalmente porque o filme chega com a propriedade de três indicações ao Emmy e mais de 60 participações em Festivais e Premiações ao redor do globo entre os anos de 2018 e 2019.

Imperdível!

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É praticamente impossível escrever um review de "Três Estranhos Idênticos" sem deixar escapar algum spolier, então vou tomar o mesmo cuidado de quando analisei "Diga quem sou", inclusive me permitindo copiar um parágrafo quase que na sua íntegra para antecipar o que você vai encontrar ao dar o play mais abaixo: "Se prepare, pois existe uma profunda discussão moral em "Três Estranhos Idênticos" que é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe será um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!   

Na Nova York de 1980, três completos estranhos descobrem que são trigêmeos idênticos separados durante o nascimento. Aos 19 anos, a feliz reunião dos três os lança para uma fama internacional, mas também traz um segredo extraordinário e perturbador, capaz de transformar a compreensão da natureza humana. Confira o trailer:

A escolha do diretor Tim Wardle e da roteirista Grace Hughes-Hallett ao construir a narrativa do filme a partir da história do reencontro de três irmãos gêmeos idênticos que não se conheciam mesmo morando em um raio de 160 km entre eles, já nos fisga logo de cara, pois é o tipo premissa que parece muito mais uma ficção do que realidade. Caminhamos pela felicidade desse reencontro após 19 anos, que transformou os trigêmeos em celebridades instantâneas, e isso deixa a trama ainda mais gostosa de assistir, mas ao mesmo tempo vai nos colocando uma pulga atrás da orelha: o que vai acontecer para que toda essa alegria e cumplicidade acabe? É aí que Wardle e Hughes-Hallett começam a trazer um tom mais investigativo ao documentário, emprestando elementos de mistério conspiratório que deixariam "Arquivo X" e Dan Brown morrendo de inveja.

A história de Edward Galland, David Kellman e Robert Shafran é contada pelos depoimentos dos protagonistas, de seus familiares e amigos, e apoiada em inúmeras imagens de arquivo e vídeos caseiros. Muitas reportagens e programas de TV sobre o caso que fez muito sucesso na época, também se fundem ao conceito narrativo de Wardle muito naturalmente, com uma trilha sonora maravilhosa e uma edição exemplar. Talvez o único detalhe que pode incomodar os mais curiosos (e atentos) é o limite de informação disponível sobre o caso - não que o documentário se proponha a responder todas as perguntas, mas é preciso alertar: em "teorias" existem lacunas e aqui não será diferente!

Assistir "Três Estranhos Idênticos" sem muito mais informações talvez seja a melhor escolha para não impactar em nada sua experiência, pois ter uma história tão inacreditável contada por quem viveu de perto chega a ser surreal, principalmente quando algumas peças começam a surgir e assim podemos perceber como o ser humano pode ser egoísta, mesmo quando pautado pela premissa de estar pensando "no próximo". Com momentos realmente emocionantes, cheios de amor e alegria, o filme vai te conquistando, te preparando para passagens tristes, reflexivas e levantando discussões éticas de uma forma extraordinária.

Vale muito a pena, principalmente porque o filme chega com a propriedade de três indicações ao Emmy e mais de 60 participações em Festivais e Premiações ao redor do globo entre os anos de 2018 e 2019.

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