indika.tv - ml-relacoes

Top Gun: Maverick

Se você tem mais de 45 anos, teve uma fita cassete da "melhor trilha sonora de todos os tempos" e ainda usou uma jaqueta aviador de pele de carneiro, pode ter certeza que você vai assistir "Top Gun: Maverick" com um leve sorriso no rosto graças a uma experiência altamente nostálgica e muito divertida! Sim, "Top Gun: Maverick," a aguardada sequência do clássico dos anos 80, é, de fato, imperdível! Dirigido pelo excelente Joseph Kosinski (de "Spiderhead"), o filme não só honra o legado do original, mas também resgata aquela saudosa receita "Jerry Bruckheimer" do gênero de ação, que vai de "Dias de Trovão" até "Con Air". Obviamente que não foi uma surpresa que essa sequência tenha recebido tantos elogios, no entanto as 6 indicações ao Oscar de 2022, inclusive como Melhor Filme do Ano, surpreendeu - mas fez jus ao que o cinema americano sabe fazer de melhor: entreter! 

Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) é um piloto à moda antiga da Marinha que coleciona muitas condecorações, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de aviões inimigos abatidos nos últimos 30 anos. Entretanto, nada disso foi suficiente para sua carreira decolar, visto que ele deixou de ser um capitão e tornou-se um mero instrutor de novos talentos. A explicação para esse declínio é simples: ele continua sendo o mesmo piloto rebelde de sempre, que não hesita em romper os limites e desafiar a morte. Até que Maverick é convocado para uma nova missão, onde precisa provar que o fator humano ainda é fundamental no mundo contemporâneo das guerras tecnológicas, mesmo que para isso tenha que lidar com o maior fantasma de seu passado: a perda de seu inesquecível parceiro, Goose (Anthony Edwards). Confira o trailer:

Mesmo que em um primeiro olhar "Maverick" soe como uma versão moderninha de "Ases Indomáveis", especialmente pelas novas versões de cenas clássicas como a que Rooster (Miles Teller), filho de Goose, aparece de bigode, camisa havaiana e tocando “Great Balls of Fire” no piano de um bar ou quando conhecemos Hangman (Glen Powell), o cadete loiro sem escrúpulos que antagoniza com o herói, como fazia Val Kilmer em 1986, e até pela aquela cena do vôlei de praia que agora é substituída por uma de futebol americano na areia; eu diria que o filme consegue ir além, especialmente na sua proposta de nos oferecer uma nova história sem perder sua essência - mesmo que para isso assuma o risco de parecer maniqueísta demais ao ter um herói ao melhor estilo "lobo solitário americano" enfrentando os inimigos "vestidos de preto" em condições quase impossíveis de vence-los.

No âmbito, digamos, mais técnico, "Top Gun: Maverick" é um espetáculo visual - um verdadeiro upgrade cinematográfico do que já foi surpreendente em 1986. E aqui vai uma curiosidade: todas as cenas de voo foram filmadas em jatos da Marinha dos EUA, onde o próprio elenco precisou passar por um processo árduo de treinamento. Ao lado do fotógrafo chileno Claudio Miranda (vencedor do Oscar por "As Aventuras de Pi"), Kosinski cria emocionantes sequências aéreas com câmeras onboard  bastante imersivas que mostram desde o real impacto da gravidade durante as manobras dos pilotos até a adrenalina de estar a um detalhe de perder a vida durante os combates - além de grandiosas, essas cenas são visceralmente impactantes.  

Com uma direção que equilibra momentos de ação intensa com passagens carregadas de emoção, como no reencontro de Maverick com o Ice Man (Val Kilmer), "Top Gun: Maverick" estabelece uma conexão nostálgica bem ao estilo de "Creed 2" (no caso com a franquia "Rocky"). Pontuado isso, fica impossível não considerar que esse não é apenas um novo capítulo de um clássico que marcou toda uma geração, mas uma celebração do que o cinema de entretenimento representa - talvez até um tributo aos filmes de ação dos anos 80 e 90, modernizado para uma parte da audiência contemporânea disposta a se divertir sem ter que filosofar!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Se você tem mais de 45 anos, teve uma fita cassete da "melhor trilha sonora de todos os tempos" e ainda usou uma jaqueta aviador de pele de carneiro, pode ter certeza que você vai assistir "Top Gun: Maverick" com um leve sorriso no rosto graças a uma experiência altamente nostálgica e muito divertida! Sim, "Top Gun: Maverick," a aguardada sequência do clássico dos anos 80, é, de fato, imperdível! Dirigido pelo excelente Joseph Kosinski (de "Spiderhead"), o filme não só honra o legado do original, mas também resgata aquela saudosa receita "Jerry Bruckheimer" do gênero de ação, que vai de "Dias de Trovão" até "Con Air". Obviamente que não foi uma surpresa que essa sequência tenha recebido tantos elogios, no entanto as 6 indicações ao Oscar de 2022, inclusive como Melhor Filme do Ano, surpreendeu - mas fez jus ao que o cinema americano sabe fazer de melhor: entreter! 

Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) é um piloto à moda antiga da Marinha que coleciona muitas condecorações, medalhas de combate e grande reconhecimento pela quantidade de aviões inimigos abatidos nos últimos 30 anos. Entretanto, nada disso foi suficiente para sua carreira decolar, visto que ele deixou de ser um capitão e tornou-se um mero instrutor de novos talentos. A explicação para esse declínio é simples: ele continua sendo o mesmo piloto rebelde de sempre, que não hesita em romper os limites e desafiar a morte. Até que Maverick é convocado para uma nova missão, onde precisa provar que o fator humano ainda é fundamental no mundo contemporâneo das guerras tecnológicas, mesmo que para isso tenha que lidar com o maior fantasma de seu passado: a perda de seu inesquecível parceiro, Goose (Anthony Edwards). Confira o trailer:

Mesmo que em um primeiro olhar "Maverick" soe como uma versão moderninha de "Ases Indomáveis", especialmente pelas novas versões de cenas clássicas como a que Rooster (Miles Teller), filho de Goose, aparece de bigode, camisa havaiana e tocando “Great Balls of Fire” no piano de um bar ou quando conhecemos Hangman (Glen Powell), o cadete loiro sem escrúpulos que antagoniza com o herói, como fazia Val Kilmer em 1986, e até pela aquela cena do vôlei de praia que agora é substituída por uma de futebol americano na areia; eu diria que o filme consegue ir além, especialmente na sua proposta de nos oferecer uma nova história sem perder sua essência - mesmo que para isso assuma o risco de parecer maniqueísta demais ao ter um herói ao melhor estilo "lobo solitário americano" enfrentando os inimigos "vestidos de preto" em condições quase impossíveis de vence-los.

No âmbito, digamos, mais técnico, "Top Gun: Maverick" é um espetáculo visual - um verdadeiro upgrade cinematográfico do que já foi surpreendente em 1986. E aqui vai uma curiosidade: todas as cenas de voo foram filmadas em jatos da Marinha dos EUA, onde o próprio elenco precisou passar por um processo árduo de treinamento. Ao lado do fotógrafo chileno Claudio Miranda (vencedor do Oscar por "As Aventuras de Pi"), Kosinski cria emocionantes sequências aéreas com câmeras onboard  bastante imersivas que mostram desde o real impacto da gravidade durante as manobras dos pilotos até a adrenalina de estar a um detalhe de perder a vida durante os combates - além de grandiosas, essas cenas são visceralmente impactantes.  

Com uma direção que equilibra momentos de ação intensa com passagens carregadas de emoção, como no reencontro de Maverick com o Ice Man (Val Kilmer), "Top Gun: Maverick" estabelece uma conexão nostálgica bem ao estilo de "Creed 2" (no caso com a franquia "Rocky"). Pontuado isso, fica impossível não considerar que esse não é apenas um novo capítulo de um clássico que marcou toda uma geração, mas uma celebração do que o cinema de entretenimento representa - talvez até um tributo aos filmes de ação dos anos 80 e 90, modernizado para uma parte da audiência contemporânea disposta a se divertir sem ter que filosofar!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Top Model

"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

Assista Agora

"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

Assista Agora

Três Estranhos Idênticos

É praticamente impossível escrever um review de "Três Estranhos Idênticos" sem deixar escapar algum spolier, então vou tomar o mesmo cuidado de quando analisei "Diga quem sou", inclusive me permitindo copiar um parágrafo quase que na sua íntegra para antecipar o que você vai encontrar ao dar o play mais abaixo: "Se prepare, pois existe uma profunda discussão moral em "Três Estranhos Idênticos" que é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe será um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!   

Na Nova York de 1980, três completos estranhos descobrem que são trigêmeos idênticos separados durante o nascimento. Aos 19 anos, a feliz reunião dos três os lança para uma fama internacional, mas também traz um segredo extraordinário e perturbador, capaz de transformar a compreensão da natureza humana. Confira o trailer:

A escolha do diretor Tim Wardle e da roteirista Grace Hughes-Hallett ao construir a narrativa do filme a partir da história do reencontro de três irmãos gêmeos idênticos que não se conheciam mesmo morando em um raio de 160 km entre eles, já nos fisga logo de cara, pois é o tipo premissa que parece muito mais uma ficção do que realidade. Caminhamos pela felicidade desse reencontro após 19 anos, que transformou os trigêmeos em celebridades instantâneas, e isso deixa a trama ainda mais gostosa de assistir, mas ao mesmo tempo vai nos colocando uma pulga atrás da orelha: o que vai acontecer para que toda essa alegria e cumplicidade acabe? É aí que Wardle e Hughes-Hallett começam a trazer um tom mais investigativo ao documentário, emprestando elementos de mistério conspiratório que deixariam "Arquivo X" e Dan Brown morrendo de inveja.

A história de Edward Galland, David Kellman e Robert Shafran é contada pelos depoimentos dos protagonistas, de seus familiares e amigos, e apoiada em inúmeras imagens de arquivo e vídeos caseiros. Muitas reportagens e programas de TV sobre o caso que fez muito sucesso na época, também se fundem ao conceito narrativo de Wardle muito naturalmente, com uma trilha sonora maravilhosa e uma edição exemplar. Talvez o único detalhe que pode incomodar os mais curiosos (e atentos) é o limite de informação disponível sobre o caso - não que o documentário se proponha a responder todas as perguntas, mas é preciso alertar: em "teorias" existem lacunas e aqui não será diferente!

Assistir "Três Estranhos Idênticos" sem muito mais informações talvez seja a melhor escolha para não impactar em nada sua experiência, pois ter uma história tão inacreditável contada por quem viveu de perto chega a ser surreal, principalmente quando algumas peças começam a surgir e assim podemos perceber como o ser humano pode ser egoísta, mesmo quando pautado pela premissa de estar pensando "no próximo". Com momentos realmente emocionantes, cheios de amor e alegria, o filme vai te conquistando, te preparando para passagens tristes, reflexivas e levantando discussões éticas de uma forma extraordinária.

Vale muito a pena, principalmente porque o filme chega com a propriedade de três indicações ao Emmy e mais de 60 participações em Festivais e Premiações ao redor do globo entre os anos de 2018 e 2019.

Imperdível!

Assista Agora

É praticamente impossível escrever um review de "Três Estranhos Idênticos" sem deixar escapar algum spolier, então vou tomar o mesmo cuidado de quando analisei "Diga quem sou", inclusive me permitindo copiar um parágrafo quase que na sua íntegra para antecipar o que você vai encontrar ao dar o play mais abaixo: "Se prepare, pois existe uma profunda discussão moral em "Três Estranhos Idênticos" que é surpreendente, principalmente por tudo que vamos descobrindo durante o filme. Agora, nem de longe será um documentário fácil de digerir ou de aceitar, mas certamente te fará refletir muito!   

Na Nova York de 1980, três completos estranhos descobrem que são trigêmeos idênticos separados durante o nascimento. Aos 19 anos, a feliz reunião dos três os lança para uma fama internacional, mas também traz um segredo extraordinário e perturbador, capaz de transformar a compreensão da natureza humana. Confira o trailer:

A escolha do diretor Tim Wardle e da roteirista Grace Hughes-Hallett ao construir a narrativa do filme a partir da história do reencontro de três irmãos gêmeos idênticos que não se conheciam mesmo morando em um raio de 160 km entre eles, já nos fisga logo de cara, pois é o tipo premissa que parece muito mais uma ficção do que realidade. Caminhamos pela felicidade desse reencontro após 19 anos, que transformou os trigêmeos em celebridades instantâneas, e isso deixa a trama ainda mais gostosa de assistir, mas ao mesmo tempo vai nos colocando uma pulga atrás da orelha: o que vai acontecer para que toda essa alegria e cumplicidade acabe? É aí que Wardle e Hughes-Hallett começam a trazer um tom mais investigativo ao documentário, emprestando elementos de mistério conspiratório que deixariam "Arquivo X" e Dan Brown morrendo de inveja.

A história de Edward Galland, David Kellman e Robert Shafran é contada pelos depoimentos dos protagonistas, de seus familiares e amigos, e apoiada em inúmeras imagens de arquivo e vídeos caseiros. Muitas reportagens e programas de TV sobre o caso que fez muito sucesso na época, também se fundem ao conceito narrativo de Wardle muito naturalmente, com uma trilha sonora maravilhosa e uma edição exemplar. Talvez o único detalhe que pode incomodar os mais curiosos (e atentos) é o limite de informação disponível sobre o caso - não que o documentário se proponha a responder todas as perguntas, mas é preciso alertar: em "teorias" existem lacunas e aqui não será diferente!

Assistir "Três Estranhos Idênticos" sem muito mais informações talvez seja a melhor escolha para não impactar em nada sua experiência, pois ter uma história tão inacreditável contada por quem viveu de perto chega a ser surreal, principalmente quando algumas peças começam a surgir e assim podemos perceber como o ser humano pode ser egoísta, mesmo quando pautado pela premissa de estar pensando "no próximo". Com momentos realmente emocionantes, cheios de amor e alegria, o filme vai te conquistando, te preparando para passagens tristes, reflexivas e levantando discussões éticas de uma forma extraordinária.

Vale muito a pena, principalmente porque o filme chega com a propriedade de três indicações ao Emmy e mais de 60 participações em Festivais e Premiações ao redor do globo entre os anos de 2018 e 2019.

Imperdível!

Assista Agora

Treta

Se você assistir 2 episódios de "Treta", sua percepção será uma. Se você assistir 7, será outra. Se você assistir toda minissérie você vai entender perfeitamente a razão pela qual ela ganhou a maioria (para não dizer os principais) dos prêmios que disputou no Emmy 2023 e no Globo de Ouro 2024. Criada pelo sul-coreano Lee Sung Jin (um dos roteiristas de "Silicon Valley"), essa minissérie pode ser considerada uma das melhores produções da Netflix em todos os tempos - mas já te adiando: essa opinião não será uma unanimidade já que a trama, para alguns, pode parecer esquisita demais, um pouco maçante em alguns episódios e com um final, digamos, fora do usual, ao ponto de exigir muita reflexão para embarcar na proposta do seu criador. Veja, acompanhar a história de dois estranhos que se envolvem em uma briga de trânsito, passam a se perseguir e provocar um ao outro, não é algo tão criativo assim, mas a forma como isso se transforma em uma verdadeira provocação, inteligente eu pontuaria, sobre "causa e consequência", isso sim é! Além, obviamente, de ser um olhar dos mais interessantes sobre a raiva e suas implicações nas relações humanas no mundo moderno - algo que encontramos nas camadas mais profundas de "Parasita", por exemplo.

Danny Cho (Steven Yeun) é um empreiteiro frustrado com sérios problemas financeiros e de auto-estima. Amy Lau (Ali Wong) é uma empresária bem-sucedida, casada e com uma realidade muito diferente de Danny, mas nem por isso mais fácil. O caminho desses dois mundos acaba se cruzando inesperadamente após um desentendimento no trânsito. A raiva causada pelo incidente e o desejo de vingança que toma conta dos dois vão, pouco a pouco, consumindo suas mentes e trazendo consequências caóticas às suas vidas. Confira o trailer:

A partir de um olhar mais cuidadoso, é possível afirmar que a minissérie pode ser considerada imperdível por vários motivos e provavelmente o primeiro que vai te chamar atenção será o roteiro. Original e instigante, o roteiro do próprio Jin oferece uma visão diferente sobre um tema tão comum: a raiva. O texto é bem escrito, é inteligente, e sabe explorar com sensibilidade as nuances psicológicas dos personagens quando tomados por esse sentimento. Aqui não se trata apenas dos atos, mas também dos gatilhos que impulsionam um ser humano a agir de forma irracional em pleno século XXI.

Em segundo lugar, as performances dos premiados  Steven Yeun e Ali Wong são simplesmente impecáveis. Yeun, que já havia se destacado em produções como "Minari" (quando foi, inclusive, indicado ao Oscar), mostra mais uma vez seu talento, interpretando um homem ressentido e violento que busca desesperadamente ser amado - sua capacidade de construir um personagem complexo na sua intimidade e simples na sua postura cotidiana, é de se aplaudir de pé. Já Wong entrega uma performance visceral, dando vida para uma mulher forte e impulsiva, mas ao mesmo tempo carente e que luta para ser aceita como mãe, trazendo do seu passado uma série de fantasmas que pontualmente impactam demais nas suas escolhas como ser humano.

A direção de Sung Jin é o terceiro pilar de "Treta". O diretor consegue criar uma atmosfera claustrofóbica e tensa, que reflete o estado emocional dos seus personagens a cada sequência que ele se propõe a construir com uma capacidade artística que me lembrou muito Bong Joon-ho. Ao alinhar uma fotografia elegante e o uso de uma trilha sonoro especialmente eficaz, Jin entrega um verdadeiro tratado crítico e mordaz sobre a sociedade contemporânea que alimenta a raiva e a intolerância a cada "mão na buzina". Saiba que "Beef" (no original) vai ficar na sua cabeça por muito tempo, te fazendo pensar ao ponto de transformar algumas de suas atitudes dependendo da sua sensibilidade e disposição! 

Um drama com toques de humor non-sense para dar o play e esquecer (ou lembrar demais) da vida!

Assista Agora

Se você assistir 2 episódios de "Treta", sua percepção será uma. Se você assistir 7, será outra. Se você assistir toda minissérie você vai entender perfeitamente a razão pela qual ela ganhou a maioria (para não dizer os principais) dos prêmios que disputou no Emmy 2023 e no Globo de Ouro 2024. Criada pelo sul-coreano Lee Sung Jin (um dos roteiristas de "Silicon Valley"), essa minissérie pode ser considerada uma das melhores produções da Netflix em todos os tempos - mas já te adiando: essa opinião não será uma unanimidade já que a trama, para alguns, pode parecer esquisita demais, um pouco maçante em alguns episódios e com um final, digamos, fora do usual, ao ponto de exigir muita reflexão para embarcar na proposta do seu criador. Veja, acompanhar a história de dois estranhos que se envolvem em uma briga de trânsito, passam a se perseguir e provocar um ao outro, não é algo tão criativo assim, mas a forma como isso se transforma em uma verdadeira provocação, inteligente eu pontuaria, sobre "causa e consequência", isso sim é! Além, obviamente, de ser um olhar dos mais interessantes sobre a raiva e suas implicações nas relações humanas no mundo moderno - algo que encontramos nas camadas mais profundas de "Parasita", por exemplo.

Danny Cho (Steven Yeun) é um empreiteiro frustrado com sérios problemas financeiros e de auto-estima. Amy Lau (Ali Wong) é uma empresária bem-sucedida, casada e com uma realidade muito diferente de Danny, mas nem por isso mais fácil. O caminho desses dois mundos acaba se cruzando inesperadamente após um desentendimento no trânsito. A raiva causada pelo incidente e o desejo de vingança que toma conta dos dois vão, pouco a pouco, consumindo suas mentes e trazendo consequências caóticas às suas vidas. Confira o trailer:

A partir de um olhar mais cuidadoso, é possível afirmar que a minissérie pode ser considerada imperdível por vários motivos e provavelmente o primeiro que vai te chamar atenção será o roteiro. Original e instigante, o roteiro do próprio Jin oferece uma visão diferente sobre um tema tão comum: a raiva. O texto é bem escrito, é inteligente, e sabe explorar com sensibilidade as nuances psicológicas dos personagens quando tomados por esse sentimento. Aqui não se trata apenas dos atos, mas também dos gatilhos que impulsionam um ser humano a agir de forma irracional em pleno século XXI.

Em segundo lugar, as performances dos premiados  Steven Yeun e Ali Wong são simplesmente impecáveis. Yeun, que já havia se destacado em produções como "Minari" (quando foi, inclusive, indicado ao Oscar), mostra mais uma vez seu talento, interpretando um homem ressentido e violento que busca desesperadamente ser amado - sua capacidade de construir um personagem complexo na sua intimidade e simples na sua postura cotidiana, é de se aplaudir de pé. Já Wong entrega uma performance visceral, dando vida para uma mulher forte e impulsiva, mas ao mesmo tempo carente e que luta para ser aceita como mãe, trazendo do seu passado uma série de fantasmas que pontualmente impactam demais nas suas escolhas como ser humano.

A direção de Sung Jin é o terceiro pilar de "Treta". O diretor consegue criar uma atmosfera claustrofóbica e tensa, que reflete o estado emocional dos seus personagens a cada sequência que ele se propõe a construir com uma capacidade artística que me lembrou muito Bong Joon-ho. Ao alinhar uma fotografia elegante e o uso de uma trilha sonoro especialmente eficaz, Jin entrega um verdadeiro tratado crítico e mordaz sobre a sociedade contemporânea que alimenta a raiva e a intolerância a cada "mão na buzina". Saiba que "Beef" (no original) vai ficar na sua cabeça por muito tempo, te fazendo pensar ao ponto de transformar algumas de suas atitudes dependendo da sua sensibilidade e disposição! 

Um drama com toques de humor non-sense para dar o play e esquecer (ou lembrar demais) da vida!

Assista Agora

Triângulo da Tristeza

Triângulo da Tristeza

Filmaço! Bem na linha do genial "White Lotus", o surpreendente, e indicado ao Oscar 2023, "Triângulo da Tristeza" é uma verdadeira coleção de criticas sociais, políticas e até, com uma certa pitada proposital de hipocrisia, ideológicas. Com uma narrativa muito bem construída, se apoiando em uma sátira fundamentada, o filme que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2022 coloca em uma mesma prateleira as nuances (mesmo que estereotipadas) de uma luta de classes constante com os notáveis prazeres e desprazeres do capitalismo - na mesma linha de "Parasita", mas talvez aqui melhor posicionado quanto sua predileção.

Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean) são dois jovens modelos que acabam sendo convidados para um cruzeiro em um iate de luxo, repleto de milionários que esbanjam auto-confiança e desprezo pelos menos favorecidos. Porém, após uma noite de tormenta e um ataque de piratas, o barco acaba naufragando, deixando os sobreviventes presos numa ilha deserta. É nesse contexto que hierarquia social se inverte, afinal, ali, o dinheiro pouco importa e uma pessoa que sabe como sobreviver nesse local inóspito vira rei. Confira o trailer:

Dirigido e escrito pelo multi-talentoso sueco Ruben Östlund (de "The Square"), "Triângulo da Tristeza"  expõe com muita inteligência a fragilidade de uma nova classe de privilegiados que nada se diferencia daquela usualmente criticada por eles mesmos através de suas inúmeras "#", os influencers! A partir de diálogos inteligentes, profundos e irônicos, os personagens vão se contradizendo a cada nova situação que aquele universo proporciona, normalmente de forma bem bem-humorada, mas nem por isso menos impactante - a cena da senhora rica tentando convencer a jovem que trabalha no iate a entrar e relaxar na piscina é tão desconcertante quanto genial e dá o exato tom do filme.

Como nas duas referências citadas, além do roteiro ácido na medida certa, o elenco também se sobressai - na verdade, os personagens são tão bem construídos que os diálogos acabam fluindo de uma maneira muito orgânica, dando a exata sensação que nada ali é por acaso. Veja, se Carl é inseguro, sua namorada, Yaya, é uma modelo famosa que quer mais ser influencer (ou troféu de marido, como ela mesmo diz) mesmo que seu conteúdo consista apenas em selfies mentirosas. O filme ainda apresenta um simpático casal de idosos britânicos cuja fortuna foi conquistada com a venda de armas (e que sobreviveu, vejam só, a taxação de 25% sobre as minas terrestres, campeã de vendas da empresa) e um magnata russo, Dimitry (Zlatko Buric), que cresceu às custas da exploração do Leste Europeu pós-União Soviética, vendendo adubo, e que está aproveitando o cruzeiro junto com sua antiga esposa e sua atual (e claro, mais jovem) namorada.

"Triângulo da Tristeza" tem o mérito de transitar por todas as camadas desse abismo social com a sensibilidade de quem consegue enxergar além do luxo e do dinheiro. O roteiro visivelmente critica uma elite tão cega e presa na sua própria bolha, que nem no choque de realidade é capaz de trazer um pouco de bom senso para o seu modo de se relacionar com o mundo. Mas não se enganem, esse é o tipo do filme onde é necessário um olhar atento aos detalhes, pois é na forma como um hóspede rejeita uma bebida ou  como a tripulação se prepara para o cruzeiro pensando exclusivamente na gordas gorjetas, que entendemos perfeitamente como é a "ocasião que faz o ladrão".

Vale muito o seu play!

Ah, em tempo, "Triângulo da Tristeza" foi indicado em 3 categorias: "Melhor Roteiro Original", "Melhor Direção" e "Melhor Filme"!

Assista Agora

Filmaço! Bem na linha do genial "White Lotus", o surpreendente, e indicado ao Oscar 2023, "Triângulo da Tristeza" é uma verdadeira coleção de criticas sociais, políticas e até, com uma certa pitada proposital de hipocrisia, ideológicas. Com uma narrativa muito bem construída, se apoiando em uma sátira fundamentada, o filme que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2022 coloca em uma mesma prateleira as nuances (mesmo que estereotipadas) de uma luta de classes constante com os notáveis prazeres e desprazeres do capitalismo - na mesma linha de "Parasita", mas talvez aqui melhor posicionado quanto sua predileção.

Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean) são dois jovens modelos que acabam sendo convidados para um cruzeiro em um iate de luxo, repleto de milionários que esbanjam auto-confiança e desprezo pelos menos favorecidos. Porém, após uma noite de tormenta e um ataque de piratas, o barco acaba naufragando, deixando os sobreviventes presos numa ilha deserta. É nesse contexto que hierarquia social se inverte, afinal, ali, o dinheiro pouco importa e uma pessoa que sabe como sobreviver nesse local inóspito vira rei. Confira o trailer:

Dirigido e escrito pelo multi-talentoso sueco Ruben Östlund (de "The Square"), "Triângulo da Tristeza"  expõe com muita inteligência a fragilidade de uma nova classe de privilegiados que nada se diferencia daquela usualmente criticada por eles mesmos através de suas inúmeras "#", os influencers! A partir de diálogos inteligentes, profundos e irônicos, os personagens vão se contradizendo a cada nova situação que aquele universo proporciona, normalmente de forma bem bem-humorada, mas nem por isso menos impactante - a cena da senhora rica tentando convencer a jovem que trabalha no iate a entrar e relaxar na piscina é tão desconcertante quanto genial e dá o exato tom do filme.

Como nas duas referências citadas, além do roteiro ácido na medida certa, o elenco também se sobressai - na verdade, os personagens são tão bem construídos que os diálogos acabam fluindo de uma maneira muito orgânica, dando a exata sensação que nada ali é por acaso. Veja, se Carl é inseguro, sua namorada, Yaya, é uma modelo famosa que quer mais ser influencer (ou troféu de marido, como ela mesmo diz) mesmo que seu conteúdo consista apenas em selfies mentirosas. O filme ainda apresenta um simpático casal de idosos britânicos cuja fortuna foi conquistada com a venda de armas (e que sobreviveu, vejam só, a taxação de 25% sobre as minas terrestres, campeã de vendas da empresa) e um magnata russo, Dimitry (Zlatko Buric), que cresceu às custas da exploração do Leste Europeu pós-União Soviética, vendendo adubo, e que está aproveitando o cruzeiro junto com sua antiga esposa e sua atual (e claro, mais jovem) namorada.

"Triângulo da Tristeza" tem o mérito de transitar por todas as camadas desse abismo social com a sensibilidade de quem consegue enxergar além do luxo e do dinheiro. O roteiro visivelmente critica uma elite tão cega e presa na sua própria bolha, que nem no choque de realidade é capaz de trazer um pouco de bom senso para o seu modo de se relacionar com o mundo. Mas não se enganem, esse é o tipo do filme onde é necessário um olhar atento aos detalhes, pois é na forma como um hóspede rejeita uma bebida ou  como a tripulação se prepara para o cruzeiro pensando exclusivamente na gordas gorjetas, que entendemos perfeitamente como é a "ocasião que faz o ladrão".

Vale muito o seu play!

Ah, em tempo, "Triângulo da Tristeza" foi indicado em 3 categorias: "Melhor Roteiro Original", "Melhor Direção" e "Melhor Filme"!

Assista Agora

Truman

Todos temos a certeza que um dia vamos morrer, faz parte do ciclo natural da vida; porém saber que esse dia se aproxima e que algumas questões precisam ser resolvidas não deve ser o melhor dos sentimentos. "Truman" trata desse assunto delicado de uma forma mais leve - não divertida, mas talvez com uma sensibilidade que nos conecta imediatamente aos personagens e nos convida a acompanhar essa jornada de despedidas. "Truman" é um filme duro, mas muito bonito e, principalmente, honesto com o sentimento de todos os personagens sem aquela obrigação de parecer politicamente correto - esse é apenas um dos muitos elogios que essa premiada co-produção argentina/espanhola merece.

Quando Julián (Ricardo Darín) recebe a visita de seu amigo de infância, Tomás (Javier Cámara), ele sabe que, na verdade, o reencontro não será de todo feliz. Julián tem câncer e decidiu parar o tratamento para aproveitar os últimos meses de vida e colocar as coisas em ordem antes de partir. Para isso, ele precisa da ajuda de Tomás, em especial, para achar um lar adequado para o seu amado cachorro, Truman. Confira o trailer:

Veja, diferente de "O melhor está por vir", belíssimo filme francês, que equilibra perfeitamente a comédia e o drama partindo de uma premissa muito parecida; "Truman" é mais realista, com isso o drama acaba se sobressaindo - obviamente que isso não exclui momentos divertidos e até constrangedores da relação entre Julián e Tomás, mas, de fato, aqui o tom é outro. Dirigido e roteirizado (em parceria com Tomàs Aragay) pelo excelente diretor espanhol, Cesc Gay (de "O Que os Homens Falam"), a trama não tem deslizes, não escolhe o caminho fácil do dramalhão e nos coloca um sorriso no rosto com a mesma tranquilidade com que nos emociona.

Ter o Darín no elenco é a certeza de encontrar um personagem humano, cheio de camadas, com qualidades e defeitos. Mais uma vez ele entrega uma performance exemplar - dessa vez pontuando com a mesma classe uma certa afetuosidade com um dolorido enfrentamento da realidade. A coisa só melhora quando encontramos ao seu lado o ótimo Javier Cámara (um dos atores favoritos de Pedro Almodóvar e que já esteve em três de seus filmes) que embora coadjuvante, tem uma sensibilidade impressionante e mesmo com suas fraquezas como homem, justifica sua dor, seus arrependimentos e sua empatia - o interessante de tudo isso, é que os diálogos não contam essa história, mas o subtexto sim.  

"Truman" tem seu maior valor ao nos provocar olhar para dentro, em revisitar nossa memória afetiva e, claro, fazendo tudo isso sem nos obrigar a carregar o peso de nossas escolhas. Premiado em Festivais renomados como o "Gaudí Awards", "Goya Awards" e "San Sebastián" (só para citar alguns), esse drama com toques de comédia,  é muito mais importante pelo significado que carrega do que pela sequência de ações de cada uma das cenas, ou seja, se algo pode parecer superficial ou cotidiano demais, é justamente no silêncio da alma que essa história ganha força e beleza.

Tipo do filme que ao final, merece um brinde de uma boa taça de vinho ao lado das pessoas que amamos para que assim possamos celebrar a vida!

Vale muito seu play!

Assista Agora

Todos temos a certeza que um dia vamos morrer, faz parte do ciclo natural da vida; porém saber que esse dia se aproxima e que algumas questões precisam ser resolvidas não deve ser o melhor dos sentimentos. "Truman" trata desse assunto delicado de uma forma mais leve - não divertida, mas talvez com uma sensibilidade que nos conecta imediatamente aos personagens e nos convida a acompanhar essa jornada de despedidas. "Truman" é um filme duro, mas muito bonito e, principalmente, honesto com o sentimento de todos os personagens sem aquela obrigação de parecer politicamente correto - esse é apenas um dos muitos elogios que essa premiada co-produção argentina/espanhola merece.

Quando Julián (Ricardo Darín) recebe a visita de seu amigo de infância, Tomás (Javier Cámara), ele sabe que, na verdade, o reencontro não será de todo feliz. Julián tem câncer e decidiu parar o tratamento para aproveitar os últimos meses de vida e colocar as coisas em ordem antes de partir. Para isso, ele precisa da ajuda de Tomás, em especial, para achar um lar adequado para o seu amado cachorro, Truman. Confira o trailer:

Veja, diferente de "O melhor está por vir", belíssimo filme francês, que equilibra perfeitamente a comédia e o drama partindo de uma premissa muito parecida; "Truman" é mais realista, com isso o drama acaba se sobressaindo - obviamente que isso não exclui momentos divertidos e até constrangedores da relação entre Julián e Tomás, mas, de fato, aqui o tom é outro. Dirigido e roteirizado (em parceria com Tomàs Aragay) pelo excelente diretor espanhol, Cesc Gay (de "O Que os Homens Falam"), a trama não tem deslizes, não escolhe o caminho fácil do dramalhão e nos coloca um sorriso no rosto com a mesma tranquilidade com que nos emociona.

Ter o Darín no elenco é a certeza de encontrar um personagem humano, cheio de camadas, com qualidades e defeitos. Mais uma vez ele entrega uma performance exemplar - dessa vez pontuando com a mesma classe uma certa afetuosidade com um dolorido enfrentamento da realidade. A coisa só melhora quando encontramos ao seu lado o ótimo Javier Cámara (um dos atores favoritos de Pedro Almodóvar e que já esteve em três de seus filmes) que embora coadjuvante, tem uma sensibilidade impressionante e mesmo com suas fraquezas como homem, justifica sua dor, seus arrependimentos e sua empatia - o interessante de tudo isso, é que os diálogos não contam essa história, mas o subtexto sim.  

"Truman" tem seu maior valor ao nos provocar olhar para dentro, em revisitar nossa memória afetiva e, claro, fazendo tudo isso sem nos obrigar a carregar o peso de nossas escolhas. Premiado em Festivais renomados como o "Gaudí Awards", "Goya Awards" e "San Sebastián" (só para citar alguns), esse drama com toques de comédia,  é muito mais importante pelo significado que carrega do que pela sequência de ações de cada uma das cenas, ou seja, se algo pode parecer superficial ou cotidiano demais, é justamente no silêncio da alma que essa história ganha força e beleza.

Tipo do filme que ao final, merece um brinde de uma boa taça de vinho ao lado das pessoas que amamos para que assim possamos celebrar a vida!

Vale muito seu play!

Assista Agora

Trust

Se você acompanhou o dia a dia da Família Roy, dona de um dos maiores conglomerados de Mídia e Entretenimento do Mundo na ficção, certamente vai se envolver com a história real da família Getty, que fez fortuna com a indústria do petróleo e foi considerada uma das mais ricas do mundo, mas também uma das mais infelizes. Pelas mão do grande Danny Boyle (de "Steve Jobs") e do roteirista Simon Beaufoy (de "Quem Quer Ser um Milionário?"), a minissérie "Trust" faz um radiografia muito inteligente e provocativa sobre a dinâmica familiar dos Getty, proporcionando uma experiência que não por acaso nos remete aos clássicos como "O Poderoso Chefão" ou "Fargo". Dito isso, é muito fácil entender a razão pela qual não conseguimos tirar os olhos da tela desde o primeiro episódio e como somos cativados por uma narrativa tensa, angustiante e muitas vezes constrangedora, com atuações incríveis e uma direção capaz de nos inserir tanto no glamour quanto na decadência brutal da aristocracia britânica.

Ambientada em 1973, a trama inicia quando o jovem neto de J. Paul Getty (Donald Sutherland) é sequestrado em Roma e um resgate de milhões de dólares é exigido. O problema é que a família não demonstra tanto interesse em conseguir o rapaz de volta: o próprio avô de J. Paul Getty III (Harris Dickinson) se recusa a liberar a quantia e argumenta que se pagasse um centavo para os sequestradores, em breve teria os outros 14 netos sequestrados. Já o pai do sequestrado, envolvido em drogas, não responde os telefonemas dos sequestradores e sobra para mãe do rapaz, Gail Getty (Hilary Swank), com dificuldades financeiras, negociar pela vida do filho. Confira o trailer (em inglês):

O que realmente diferencia "Trust", e que mais uma vez nos faz lembrar de “Succession”, é a maneira como o texto de Beaufoy mergulha na psicologia doentia de seus personagens e na complexidade das relações entre eles. À medida que a história se desenrola, somos levados a questionar o que motiva esses indivíduos, com tanto dinheiro, a agir de uma forma tão extrema para proteger seus interesses. Ao confrontar questões morais profundas, enquanto nos mantém presos em um enredo de fato cativante, a minissérie se apropria da disfuncionalidade absurda da família para criar um palco onde Donald Sutherland brilha e Brendan Fraser, como James Fletcher Chace, entrega uma das melhores performances de sua carreira. Aliás, é inegável a química entre eles - de arrepiar.

Ao olhar sob o aspecto mais técnico de "Trust", posso te garantir: é igualmente impressionante! A direção de arte da Suttirat Anne Larlarb (de "Obi-Wan Kenobi") e a fotografia da dupla Christopher Ross e Monika Lenczewska, ambos sem muito destaque até aquele momento, mas extremamente talentosos, merecem nossa atenção - eles constroem uma atmosfera de ostentação e riqueza em detalhes. Cada cenário, figurino e enquadramento contribuem para uma imersão profunda na década de 1970 onde o luxo da família Getty salta aos olhos, mas também machuca o coração. Aqui cabe o elogio para a trilha sonora do James Lavelle (de "The Man From Mo' Wax") que combina músicas clássicas com contemporâneas que ressaltam, como poucas, as emoções e a tensão da narrativa durante todos os episódios.

O fato é que "Trust" é o tipo de obra-prima que merecia um maior reconhecimento - ser de 2018 e da FX certamente prejudicou seu alcance; e sim, a minissérie também tem alguns momentos mais lentos, escuros, introspectivos, mas repare como tudo é tão bem encaixado com a proposta de Boyle que olha, se você está em busca de uma trama inteligente e com algumas reviravoltas muito bem construídas, pode dar o play sem receio algum. Você certamente vai encontrar atuações soberbas, uma produção meticulosa e uma narrativa que desafia as convenções, entregando uma experiência realmente envolvente e intrigante.

Imperdível!

Assista Agora

Se você acompanhou o dia a dia da Família Roy, dona de um dos maiores conglomerados de Mídia e Entretenimento do Mundo na ficção, certamente vai se envolver com a história real da família Getty, que fez fortuna com a indústria do petróleo e foi considerada uma das mais ricas do mundo, mas também uma das mais infelizes. Pelas mão do grande Danny Boyle (de "Steve Jobs") e do roteirista Simon Beaufoy (de "Quem Quer Ser um Milionário?"), a minissérie "Trust" faz um radiografia muito inteligente e provocativa sobre a dinâmica familiar dos Getty, proporcionando uma experiência que não por acaso nos remete aos clássicos como "O Poderoso Chefão" ou "Fargo". Dito isso, é muito fácil entender a razão pela qual não conseguimos tirar os olhos da tela desde o primeiro episódio e como somos cativados por uma narrativa tensa, angustiante e muitas vezes constrangedora, com atuações incríveis e uma direção capaz de nos inserir tanto no glamour quanto na decadência brutal da aristocracia britânica.

Ambientada em 1973, a trama inicia quando o jovem neto de J. Paul Getty (Donald Sutherland) é sequestrado em Roma e um resgate de milhões de dólares é exigido. O problema é que a família não demonstra tanto interesse em conseguir o rapaz de volta: o próprio avô de J. Paul Getty III (Harris Dickinson) se recusa a liberar a quantia e argumenta que se pagasse um centavo para os sequestradores, em breve teria os outros 14 netos sequestrados. Já o pai do sequestrado, envolvido em drogas, não responde os telefonemas dos sequestradores e sobra para mãe do rapaz, Gail Getty (Hilary Swank), com dificuldades financeiras, negociar pela vida do filho. Confira o trailer (em inglês):

O que realmente diferencia "Trust", e que mais uma vez nos faz lembrar de “Succession”, é a maneira como o texto de Beaufoy mergulha na psicologia doentia de seus personagens e na complexidade das relações entre eles. À medida que a história se desenrola, somos levados a questionar o que motiva esses indivíduos, com tanto dinheiro, a agir de uma forma tão extrema para proteger seus interesses. Ao confrontar questões morais profundas, enquanto nos mantém presos em um enredo de fato cativante, a minissérie se apropria da disfuncionalidade absurda da família para criar um palco onde Donald Sutherland brilha e Brendan Fraser, como James Fletcher Chace, entrega uma das melhores performances de sua carreira. Aliás, é inegável a química entre eles - de arrepiar.

Ao olhar sob o aspecto mais técnico de "Trust", posso te garantir: é igualmente impressionante! A direção de arte da Suttirat Anne Larlarb (de "Obi-Wan Kenobi") e a fotografia da dupla Christopher Ross e Monika Lenczewska, ambos sem muito destaque até aquele momento, mas extremamente talentosos, merecem nossa atenção - eles constroem uma atmosfera de ostentação e riqueza em detalhes. Cada cenário, figurino e enquadramento contribuem para uma imersão profunda na década de 1970 onde o luxo da família Getty salta aos olhos, mas também machuca o coração. Aqui cabe o elogio para a trilha sonora do James Lavelle (de "The Man From Mo' Wax") que combina músicas clássicas com contemporâneas que ressaltam, como poucas, as emoções e a tensão da narrativa durante todos os episódios.

O fato é que "Trust" é o tipo de obra-prima que merecia um maior reconhecimento - ser de 2018 e da FX certamente prejudicou seu alcance; e sim, a minissérie também tem alguns momentos mais lentos, escuros, introspectivos, mas repare como tudo é tão bem encaixado com a proposta de Boyle que olha, se você está em busca de uma trama inteligente e com algumas reviravoltas muito bem construídas, pode dar o play sem receio algum. Você certamente vai encontrar atuações soberbas, uma produção meticulosa e uma narrativa que desafia as convenções, entregando uma experiência realmente envolvente e intrigante.

Imperdível!

Assista Agora

Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo

Provavelmente "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" é o filme mais maluco que você vai assistir em muitos anos! Ele tem tudo para ser uma espécie de "Matrix" de sua geração - mesmo que seu conteúdo, sua forma e principalmente seu tom, em muito pouco faz lembrar o filme de Lana e Lilly Wachowski. A questão é que aqui existe o mesmo elemento de disrupção que a produção de 1999 - é algo bastante criativo no seu enredo, onde nada (absolutamente nada) chega a ser absurdo para contar uma história aparentemente "sem pé nem cabeça", mas que esconde uma jornada existencial bastante profunda e cheia de provocações filosóficas. Dito isso e mesmo com a indicação ao Oscar 2023 como "Melhor Filme" (e mais 10 categorias), não serão todos que vão se conectar com o seu estilo - e aqui não vou nem falar de gênero, pois estou até agora tentando defini-lo.

Evelyn Wang (Michelle Yeoh) é uma imigrante chinesa que vive em um verdadeiro caos familiar. Tudo parece piorar quando ela se vê no meio de uma aventura onde, sozinha, precisará salvar o mundo, explorando outros universos e outras vidas que, vejam só, ela poderia ter vivido. Não bastasse, as coisas se complicam ainda mais quando ela fica presa nessa infinidade de possibilidades sem conseguir retornar para casa onde, de fato, sua vida fazia algum sentido. Confira o trailer:

Os diretores Dan Kwan eDaniel Scheinert, também conhecidos como “Daniels”, aproveitam de um conceito completamente independente de produção para criar uma espécie de alegoria cinematográfica sobre alguns dos mais complexos dramas - o humano. É incrível como a simbologia acompanha os detalhes da narrativa a partir de um roteiro extremamente original (também indicado ao Oscar) que se apoia no inusitado como forma de representar as ansiedades modernas. Se Neo usava da tecnologia para construir sua persona e se conectar com as mais diversas habilidades, aqui é o número exaustivo de multiversos que basicamente serve de metáfora para a quantidade absurda de informações que buscamos no mundo virtual com o intuito de sermos melhores do que realmente somos. Digo isso sem diminuir a importância de buscar o aprendizado contínuo, mas sim como alusão à inutilidade de muitos dos conteúdos que encontramos e que acabam gerando muito mais confusão do que beneficio.

Mais uma vez citando as irmãs Wachowski em "A Viagem" de 2012 ou até em "Sense8" em 2015, é importante reparar como as múltiplas histórias, dos múltiplos universos, se sustentam com a dinâmica enlouquecedora da narrativa, se comunicando de forma bem mais orgânica do que lógica - e aqui cabe um elogio eloquente para a montagem digna de muitos prêmios de Paul Rogers (também indicado ao Oscar). Outro elemento que chama a atenção e pontua o mood do filme é, sem dúvida, a trilha sonora (com duas músicas originais indicadas) - com um toque de sensibilidade, ela nos conduz das cenas de ação ao melhor estilo Jackie Chan ao conturbado relacionamento entre Wang e sua filha Joy (Stephanie Hsu) em um piscar de olhos.

"Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" tem uma história cheia de criticas ao mundo moderno (como os gatilhos que colocam os personagens em outros universos que emulam os desafios estúpidos que encontramos diariamente no TikTok) ao mesmo tempo em que revisita questões importantes como trauma geracional, maternidade, sexualidade e até o casamento. Pode parecer confuso e de fato até é - são tantos assuntos e tantas referências (muitas do cinema asiático), mas também existe um brilhantismo e até uma certa irresponsabilidade visual que empolga tanto quanto surpreende - agora, se você não está disposto a rir de um universo onde as pessoas tem dedos de salsicha ou acompanhar duas pedras discutindo sobre a vida, talvez o filme não seja para você!

Com mais de 275 prêmios em Festivais pelo mundo inteiro, fica difícil não dizer que esse filme vale seu play, né?

Up-date: "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" ganhou em sete categorias no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme!

Assista Agora

Provavelmente "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" é o filme mais maluco que você vai assistir em muitos anos! Ele tem tudo para ser uma espécie de "Matrix" de sua geração - mesmo que seu conteúdo, sua forma e principalmente seu tom, em muito pouco faz lembrar o filme de Lana e Lilly Wachowski. A questão é que aqui existe o mesmo elemento de disrupção que a produção de 1999 - é algo bastante criativo no seu enredo, onde nada (absolutamente nada) chega a ser absurdo para contar uma história aparentemente "sem pé nem cabeça", mas que esconde uma jornada existencial bastante profunda e cheia de provocações filosóficas. Dito isso e mesmo com a indicação ao Oscar 2023 como "Melhor Filme" (e mais 10 categorias), não serão todos que vão se conectar com o seu estilo - e aqui não vou nem falar de gênero, pois estou até agora tentando defini-lo.

Evelyn Wang (Michelle Yeoh) é uma imigrante chinesa que vive em um verdadeiro caos familiar. Tudo parece piorar quando ela se vê no meio de uma aventura onde, sozinha, precisará salvar o mundo, explorando outros universos e outras vidas que, vejam só, ela poderia ter vivido. Não bastasse, as coisas se complicam ainda mais quando ela fica presa nessa infinidade de possibilidades sem conseguir retornar para casa onde, de fato, sua vida fazia algum sentido. Confira o trailer:

Os diretores Dan Kwan eDaniel Scheinert, também conhecidos como “Daniels”, aproveitam de um conceito completamente independente de produção para criar uma espécie de alegoria cinematográfica sobre alguns dos mais complexos dramas - o humano. É incrível como a simbologia acompanha os detalhes da narrativa a partir de um roteiro extremamente original (também indicado ao Oscar) que se apoia no inusitado como forma de representar as ansiedades modernas. Se Neo usava da tecnologia para construir sua persona e se conectar com as mais diversas habilidades, aqui é o número exaustivo de multiversos que basicamente serve de metáfora para a quantidade absurda de informações que buscamos no mundo virtual com o intuito de sermos melhores do que realmente somos. Digo isso sem diminuir a importância de buscar o aprendizado contínuo, mas sim como alusão à inutilidade de muitos dos conteúdos que encontramos e que acabam gerando muito mais confusão do que beneficio.

Mais uma vez citando as irmãs Wachowski em "A Viagem" de 2012 ou até em "Sense8" em 2015, é importante reparar como as múltiplas histórias, dos múltiplos universos, se sustentam com a dinâmica enlouquecedora da narrativa, se comunicando de forma bem mais orgânica do que lógica - e aqui cabe um elogio eloquente para a montagem digna de muitos prêmios de Paul Rogers (também indicado ao Oscar). Outro elemento que chama a atenção e pontua o mood do filme é, sem dúvida, a trilha sonora (com duas músicas originais indicadas) - com um toque de sensibilidade, ela nos conduz das cenas de ação ao melhor estilo Jackie Chan ao conturbado relacionamento entre Wang e sua filha Joy (Stephanie Hsu) em um piscar de olhos.

"Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" tem uma história cheia de criticas ao mundo moderno (como os gatilhos que colocam os personagens em outros universos que emulam os desafios estúpidos que encontramos diariamente no TikTok) ao mesmo tempo em que revisita questões importantes como trauma geracional, maternidade, sexualidade e até o casamento. Pode parecer confuso e de fato até é - são tantos assuntos e tantas referências (muitas do cinema asiático), mas também existe um brilhantismo e até uma certa irresponsabilidade visual que empolga tanto quanto surpreende - agora, se você não está disposto a rir de um universo onde as pessoas tem dedos de salsicha ou acompanhar duas pedras discutindo sobre a vida, talvez o filme não seja para você!

Com mais de 275 prêmios em Festivais pelo mundo inteiro, fica difícil não dizer que esse filme vale seu play, né?

Up-date: "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" ganhou em sete categorias no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme!

Assista Agora

Tudo o que Respira

É possível encontrar alguma beleza no meio do caos, da poluição e do descaso perante a natureza e ainda assim perceber que existe um fio de esperança? É justamente essa pergunta que diretor indiano, Shaunak Sen (de "Cities of Sleep") pretende responder com o seu nomeado ao Oscar de "Melhor Documentário" e multi-premiado (foram mais de 20 prêmios em festivais pelo mundo inteiro), "Tudo o que Respira". No entanto é preciso que se diga, embora chancelado pelo "Grand Jury Prize" em Sundance e pelo "Golden Eye" em Cannes, ambos em 2022, esse longa-metragem deve dividir opiniões por dois motivos: primeiro por ter um roteiro que fragmenta a jornada de uma forma pouco usual (quase sempre sem maiores explicações) e segundo pela narrativa mais cadenciada que tenta equilibrar lindas imagens com a triste realidade que é viver em uma Nova Deli nada glamourosa.

O filme segue três jovens (Saud, Salik e Nadeem) que dirigem um hospital de aves dedicado ao resgate de "milhafres pretos" feridos em Nova Deli, uma das cidades mais populosas do mundo, na Índia. À medida que a toxicidade ambiental e a agitação civil aumentam, a relação entre o ser humano e algumas espécies negligenciadas formam uma espécie de crônica poética da ecologia em colapso e aprofunda debates que expõem o tamanho da falha social que conduz a evolução. Confira o trailer:

milhafre-preto é uma espécie de ave carnívora que se alimenta de ratos e outros animais que são facilmente encontrados em locais onde existe um volume considerável de lixo. Acontece que a mesma poluição que alimenta, também mata - inclusive, existem partículas cancerígenas em níveis tão absurdos no ar de determinados locais de Nova Deli que fazem com que as aves simplesmente caiam do céu. Contextualizado o absurdo desse cenário apocalíptico, o roteiro se esforça para equilibrar as nuances de uma vida caótica controlada pelo ser humano (que não por acaso sofre com suas próprias diferenças - e isso é brilhantemente retratado em vários níveis dentro da história: das escolhas pessoais de Nadeem às ondas de protestos religiosos extremamente violentos nas ruas da capital da Índia) e de uma natureza que segue se adaptando e improvisando (onde os pássaros passaram, vejam só, a utilizar as bitucas de cigarro encontradas nos lixões para espantar parasitas).

Obviamente que a descrição até aqui retratada pode soar indigesta, e de fato a sensação de repulsa é enorme, porém Shaunak Sen ao lado dos fotógrafos Ben Bernhard, Riju Das e Saumyananda Sahi, aproveitam desse cenário para extrair o máximo de beleza possível - os planos, muitos deles sensíveis em bem executas panorâmicas, dão a exata noção do tamanho do problema. Não raramente Sen traz para o primeiro plano uma infinidade de ratos se alimentando de lixo, larvas se chacoalhando num tanque de água parada ou ainda o céu coberto por aves sobrevoando as ruas imundas ou os lixões abertos - reparem em como o diretor usa do desenho de som (quase insuportável) para provocar uma experiência imersiva tão impressionante quanto angustiante.

Mas nem só de "dor" vive "Tudo o que Respira", existe o "amor" e a maneira como o diretor retrata a jornada dos irmãos Mohammade constrói sua narrativa para que a audiência entenda as dificuldades, os medos, os anseios e as frustrações de cada um deles,  é simplesmente genial - veja, o filme não se preocupa em se aprofundar ou entregar todas as informações, mas o que importa está sempre ali na tela, mesmo que exija uma certa interpretação como quando o silêncio, entre um assunto e outro, diz mais que qualquer diálogo. 

Vale muito o seu play, desde que você esteja disposto a sair de uma bolha para encarar essa dura (e não tão distante assim) realidade!

Assista Agora

É possível encontrar alguma beleza no meio do caos, da poluição e do descaso perante a natureza e ainda assim perceber que existe um fio de esperança? É justamente essa pergunta que diretor indiano, Shaunak Sen (de "Cities of Sleep") pretende responder com o seu nomeado ao Oscar de "Melhor Documentário" e multi-premiado (foram mais de 20 prêmios em festivais pelo mundo inteiro), "Tudo o que Respira". No entanto é preciso que se diga, embora chancelado pelo "Grand Jury Prize" em Sundance e pelo "Golden Eye" em Cannes, ambos em 2022, esse longa-metragem deve dividir opiniões por dois motivos: primeiro por ter um roteiro que fragmenta a jornada de uma forma pouco usual (quase sempre sem maiores explicações) e segundo pela narrativa mais cadenciada que tenta equilibrar lindas imagens com a triste realidade que é viver em uma Nova Deli nada glamourosa.

O filme segue três jovens (Saud, Salik e Nadeem) que dirigem um hospital de aves dedicado ao resgate de "milhafres pretos" feridos em Nova Deli, uma das cidades mais populosas do mundo, na Índia. À medida que a toxicidade ambiental e a agitação civil aumentam, a relação entre o ser humano e algumas espécies negligenciadas formam uma espécie de crônica poética da ecologia em colapso e aprofunda debates que expõem o tamanho da falha social que conduz a evolução. Confira o trailer:

milhafre-preto é uma espécie de ave carnívora que se alimenta de ratos e outros animais que são facilmente encontrados em locais onde existe um volume considerável de lixo. Acontece que a mesma poluição que alimenta, também mata - inclusive, existem partículas cancerígenas em níveis tão absurdos no ar de determinados locais de Nova Deli que fazem com que as aves simplesmente caiam do céu. Contextualizado o absurdo desse cenário apocalíptico, o roteiro se esforça para equilibrar as nuances de uma vida caótica controlada pelo ser humano (que não por acaso sofre com suas próprias diferenças - e isso é brilhantemente retratado em vários níveis dentro da história: das escolhas pessoais de Nadeem às ondas de protestos religiosos extremamente violentos nas ruas da capital da Índia) e de uma natureza que segue se adaptando e improvisando (onde os pássaros passaram, vejam só, a utilizar as bitucas de cigarro encontradas nos lixões para espantar parasitas).

Obviamente que a descrição até aqui retratada pode soar indigesta, e de fato a sensação de repulsa é enorme, porém Shaunak Sen ao lado dos fotógrafos Ben Bernhard, Riju Das e Saumyananda Sahi, aproveitam desse cenário para extrair o máximo de beleza possível - os planos, muitos deles sensíveis em bem executas panorâmicas, dão a exata noção do tamanho do problema. Não raramente Sen traz para o primeiro plano uma infinidade de ratos se alimentando de lixo, larvas se chacoalhando num tanque de água parada ou ainda o céu coberto por aves sobrevoando as ruas imundas ou os lixões abertos - reparem em como o diretor usa do desenho de som (quase insuportável) para provocar uma experiência imersiva tão impressionante quanto angustiante.

Mas nem só de "dor" vive "Tudo o que Respira", existe o "amor" e a maneira como o diretor retrata a jornada dos irmãos Mohammade constrói sua narrativa para que a audiência entenda as dificuldades, os medos, os anseios e as frustrações de cada um deles,  é simplesmente genial - veja, o filme não se preocupa em se aprofundar ou entregar todas as informações, mas o que importa está sempre ali na tela, mesmo que exija uma certa interpretação como quando o silêncio, entre um assunto e outro, diz mais que qualquer diálogo. 

Vale muito o seu play, desde que você esteja disposto a sair de uma bolha para encarar essa dura (e não tão distante assim) realidade!

Assista Agora

Tudo ou Nada

Olha, não será uma jornada das mais tranquilas - já aviso! "Tudo ou Nada" é intenso e emocionante, mas também uma pancada sem muita dó! Dirigido pela talentosa Delphine Deloget, esse filme chega chancelado pelos elogios do público e da crítica especializada ao receber a indicação "Um Certo Olhar" no Festival de Cannes 2023, além de outros reconhecimentos em vários festivais ao redor do mundo. Com uma narrativa dura, impactante e cheia de desconforto, eu diria que você está diante de uma experiência cinematográfica das mais profundas e tocantes por sua visão amarga da vida adulta - sem cortes, mas com algum pré-julgamento.

A trama, protagonizada pela brilhante Virginie Efira, acompanha a árdua jornada de Sylvie, uma mãe solteira que enfrenta a dor de perder a guarda de seu filho caçula, Sofiane, após um acidente doméstico. Determinada a recuperar a custódia do filho, Sylvie mergulha em uma batalha judicial e emocionalmente desgastante, confrontando um sistema implacável que coloca em xeque até sua capacidade como mãe. Confira o trailer:

Uma jornada de reflexão através da dor e da impotência - talvez essa seja a forma mais simples de definir a complexidade de "Rien à Perdre" (no original). Com uma narrativa bem construída, o que vemos na tela é um retrato comovente da realidade de Sylvie a partir de um olhar honesto e sem censura sobre ser mãe. Veja, o filme se propõe a explorar as nuances da maternidade, questionando os padrões sociais e as estruturas que marginalizam mulheres como Sylvie e é com essa forte premissa que Deloget mostra como sua luta transcende a esfera individual e passa a ser vista como um símbolo para tantas outras que enfrentam desafios semelhantes. Ao longo da narrativa, somos confrontados com questionamentos sobre os limites da maternidade (muitas vezes em meio ao caos), sobre o papel do Estado na vida familiar (carregada de hipocrisia) e sobre a fragilidade do sistema judicial em muitos pontos (especialmente fora de contextos).

Aqui, a direção de Deloget é precisa e sensível, explorando com muita competência os detalhes que a história tem para contar em suas diversas camadas - mesmo aquelas não tão óbvias. Sua câmera se torna uma extensão da protagonista, capturando a realidade cruel de Sylvie e a beleza fugaz dos momentos de ternura entre ela e seus filhos. Aliás, é impossível não elogiar Virginie Efira - ela entrega uma performance magistral, capaz de equilibrar a força interior e a fragilidade de sua personagem com a mesma maestria. Cada olhar, cada gesto, cada palavra e cada momento de silêncio, transbordam emoção, nos convidando para um mergulho mais profundo na dor e na resiliência de Sylvie. Tudo isso, alinhado a uma fotografia maravilhosa de Guillaume Schiffman (indicado ao Oscar por "O Artista"), rica em tons frios e melancólicos que traduzem a angústia e a solidão da personagem; e da trilha sonora minimalista que pontua a narrativa com notas de esperança e força. Olha, eu diria que que nada está nesse filme por acaso.

"Tudo ou Nada", é preciso pontuar, não oferece respostas fáceis, mas vai te convidar à reflexão sobre as complexas relações entre mães e filhos, e sobre o impacto que a sociedade pode exercer sobre essa dinâmica nada padronizada. Essencial em sua proposta, esse filme de fato toca nossa alma de uma maneira avassaladora e nos provoca a repensar alguns conceitos sobre maternidade, sobre justiça social e sobre a força do amor - com um pouco mais de empatia por um lado e de conservadorismo do outro. Grande filme, mas nada simples!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Olha, não será uma jornada das mais tranquilas - já aviso! "Tudo ou Nada" é intenso e emocionante, mas também uma pancada sem muita dó! Dirigido pela talentosa Delphine Deloget, esse filme chega chancelado pelos elogios do público e da crítica especializada ao receber a indicação "Um Certo Olhar" no Festival de Cannes 2023, além de outros reconhecimentos em vários festivais ao redor do mundo. Com uma narrativa dura, impactante e cheia de desconforto, eu diria que você está diante de uma experiência cinematográfica das mais profundas e tocantes por sua visão amarga da vida adulta - sem cortes, mas com algum pré-julgamento.

A trama, protagonizada pela brilhante Virginie Efira, acompanha a árdua jornada de Sylvie, uma mãe solteira que enfrenta a dor de perder a guarda de seu filho caçula, Sofiane, após um acidente doméstico. Determinada a recuperar a custódia do filho, Sylvie mergulha em uma batalha judicial e emocionalmente desgastante, confrontando um sistema implacável que coloca em xeque até sua capacidade como mãe. Confira o trailer:

Uma jornada de reflexão através da dor e da impotência - talvez essa seja a forma mais simples de definir a complexidade de "Rien à Perdre" (no original). Com uma narrativa bem construída, o que vemos na tela é um retrato comovente da realidade de Sylvie a partir de um olhar honesto e sem censura sobre ser mãe. Veja, o filme se propõe a explorar as nuances da maternidade, questionando os padrões sociais e as estruturas que marginalizam mulheres como Sylvie e é com essa forte premissa que Deloget mostra como sua luta transcende a esfera individual e passa a ser vista como um símbolo para tantas outras que enfrentam desafios semelhantes. Ao longo da narrativa, somos confrontados com questionamentos sobre os limites da maternidade (muitas vezes em meio ao caos), sobre o papel do Estado na vida familiar (carregada de hipocrisia) e sobre a fragilidade do sistema judicial em muitos pontos (especialmente fora de contextos).

Aqui, a direção de Deloget é precisa e sensível, explorando com muita competência os detalhes que a história tem para contar em suas diversas camadas - mesmo aquelas não tão óbvias. Sua câmera se torna uma extensão da protagonista, capturando a realidade cruel de Sylvie e a beleza fugaz dos momentos de ternura entre ela e seus filhos. Aliás, é impossível não elogiar Virginie Efira - ela entrega uma performance magistral, capaz de equilibrar a força interior e a fragilidade de sua personagem com a mesma maestria. Cada olhar, cada gesto, cada palavra e cada momento de silêncio, transbordam emoção, nos convidando para um mergulho mais profundo na dor e na resiliência de Sylvie. Tudo isso, alinhado a uma fotografia maravilhosa de Guillaume Schiffman (indicado ao Oscar por "O Artista"), rica em tons frios e melancólicos que traduzem a angústia e a solidão da personagem; e da trilha sonora minimalista que pontua a narrativa com notas de esperança e força. Olha, eu diria que que nada está nesse filme por acaso.

"Tudo ou Nada", é preciso pontuar, não oferece respostas fáceis, mas vai te convidar à reflexão sobre as complexas relações entre mães e filhos, e sobre o impacto que a sociedade pode exercer sobre essa dinâmica nada padronizada. Essencial em sua proposta, esse filme de fato toca nossa alma de uma maneira avassaladora e nos provoca a repensar alguns conceitos sobre maternidade, sobre justiça social e sobre a força do amor - com um pouco mais de empatia por um lado e de conservadorismo do outro. Grande filme, mas nada simples!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Tully

Talvez uma das experiências mais marcantes e sensacionais na vida de uma uma mulher (e de um homem) seja se tornar mãe (e pai) - a grande questão é que essa jornada não tem nada de romântica e é justamente isso que "Tully", com muita sensibilidade e uma boa dose de verdade, discute!

Marlo (Charlize Theron) é uma mãe de três filhos – um deles recém-nascido – que vive uma vida muito atarefada e exaustiva. Certo dia, seu irmão oferece para ela, como presente, a ajuda de uma babá para cuidar das crianças durante o período da noite, Tully (Mackenzie Davis). Mesmo hesitante, ela acaba se surpreendendo com a jovem e criando um laço emocional capaz de mudar sua vida. Confira o trailer:

Se em "Namorados Para Sempre"(“Blue Valentine”), o diretor Derek Cianfrance expõe as incertezas e inseguranças de um jovem casal que passa por uma profunda crise em seu casamento, "Tully" transporta essa dura realidade para a maternidade. Talvez o filme dirigido pelo sempre excelente Jason Reitman em mais uma parceria com a roteirista Diablo Cody (os mesmos de "Juno" e "Jovens Adultos") suavize na "forma", mas sem dúvida alguma continua respeitando a força e o impacto do "conteúdo". Veja, se em "Juno" a dupla discutiu a gravidez na adolescência e as implicações de uma adoção, agora eles retratam os meses seguintes ao nascimento de um terceiro filho e o que isso representa para uma mulher na casa dos 30 anos - sem esconder nenhum detalhe, aliás.

Alguns pontos chamam muito atenção em "Tully": o primeiro é que o filme é muito bem dirigido - ratificando o talento de Reitman no trabalho com os atores. A química entre Charlize Theron e Mackenzie Davis impressiona. O subtexto é tão bem trabalhado que somos capazes de imaginar exatamente o que as personagens estão vivendo internamente e como isso está refletindo na relação entre elas. É isso que nos leva ao segundo destaque: Charlize Theron está fantástica como Marlo - uma atriz belíssima (e aqui falo do seu talento e da sua beleza física) que já provou ser capaz de se desconstruir em pró da composição dramática de suas personagens, mais uma vez dá uma aula com sua performance. E por, fim, não menos importante, é o roteiro Cody: os diálogos são tão afiados, irônicos e incrivelmente sensíveis que é impossível qualquer mulher (mãe) não se conectar com a história - para os homens, pais, que muitas vezes são incapazes de ler com exatidão o que acontece com uma mulher após o nascimento de um filho, também vale o comentário.

"Tully" é um filme com alma, tecnicamente representada por uma edição capaz de potencializar e dar o tom exato de um excelente roteiro e uma direção muito competente. Lembrando que estamos falando das imperfeições da maternidade, que quebram velhas concepções de como uma família deve funcionar e que metaforicamente expõe as dores íntimas das mulheres com muita inteligência, sem a necessidade de uma exposição exagerada e muito menos de entregar todas as respostas - afinal, cada um é cada um!

Val muito o seu play!

Assista Agora

Talvez uma das experiências mais marcantes e sensacionais na vida de uma uma mulher (e de um homem) seja se tornar mãe (e pai) - a grande questão é que essa jornada não tem nada de romântica e é justamente isso que "Tully", com muita sensibilidade e uma boa dose de verdade, discute!

Marlo (Charlize Theron) é uma mãe de três filhos – um deles recém-nascido – que vive uma vida muito atarefada e exaustiva. Certo dia, seu irmão oferece para ela, como presente, a ajuda de uma babá para cuidar das crianças durante o período da noite, Tully (Mackenzie Davis). Mesmo hesitante, ela acaba se surpreendendo com a jovem e criando um laço emocional capaz de mudar sua vida. Confira o trailer:

Se em "Namorados Para Sempre"(“Blue Valentine”), o diretor Derek Cianfrance expõe as incertezas e inseguranças de um jovem casal que passa por uma profunda crise em seu casamento, "Tully" transporta essa dura realidade para a maternidade. Talvez o filme dirigido pelo sempre excelente Jason Reitman em mais uma parceria com a roteirista Diablo Cody (os mesmos de "Juno" e "Jovens Adultos") suavize na "forma", mas sem dúvida alguma continua respeitando a força e o impacto do "conteúdo". Veja, se em "Juno" a dupla discutiu a gravidez na adolescência e as implicações de uma adoção, agora eles retratam os meses seguintes ao nascimento de um terceiro filho e o que isso representa para uma mulher na casa dos 30 anos - sem esconder nenhum detalhe, aliás.

Alguns pontos chamam muito atenção em "Tully": o primeiro é que o filme é muito bem dirigido - ratificando o talento de Reitman no trabalho com os atores. A química entre Charlize Theron e Mackenzie Davis impressiona. O subtexto é tão bem trabalhado que somos capazes de imaginar exatamente o que as personagens estão vivendo internamente e como isso está refletindo na relação entre elas. É isso que nos leva ao segundo destaque: Charlize Theron está fantástica como Marlo - uma atriz belíssima (e aqui falo do seu talento e da sua beleza física) que já provou ser capaz de se desconstruir em pró da composição dramática de suas personagens, mais uma vez dá uma aula com sua performance. E por, fim, não menos importante, é o roteiro Cody: os diálogos são tão afiados, irônicos e incrivelmente sensíveis que é impossível qualquer mulher (mãe) não se conectar com a história - para os homens, pais, que muitas vezes são incapazes de ler com exatidão o que acontece com uma mulher após o nascimento de um filho, também vale o comentário.

"Tully" é um filme com alma, tecnicamente representada por uma edição capaz de potencializar e dar o tom exato de um excelente roteiro e uma direção muito competente. Lembrando que estamos falando das imperfeições da maternidade, que quebram velhas concepções de como uma família deve funcionar e que metaforicamente expõe as dores íntimas das mulheres com muita inteligência, sem a necessidade de uma exposição exagerada e muito menos de entregar todas as respostas - afinal, cada um é cada um!

Val muito o seu play!

Assista Agora

Tulsa King

Para os amantes de "The Sopranos" eu sei o quanto é difícil encontrar uma "série de máfia com alma" e por isso que afirmo com muita segurança: "Tulsa King" pode te conquistar - é um baita entretenimento para quem gosta do gênero e com o bônus de um Sylvester Stallone muito inspirado. Olha, essa é daquelas séries que pega você de surpresa, justamente por misturar com muita inteligência aquela atmosfera de crimes, com um bom drama e um toque de humor ácido que resulta em algo verdadeiramente envolvente. Com Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em "Yellowstone", "Hell or High Water" e "Sicario", "Tulsa King"traz uma abordagem original ao gênero de máfia ao fugir dos grandes centros, se ambientar na distante cidade de Tulsa, Oklahoma, e oferecer, assim como "Ozark" ou "Lilyhammer", uma combinação perfeita entre personagens bastante complexos e uma trama realmente cheia de tensão.

Sylvester Stallone interpreta Dwight Manfredi, um capo da máfia nova-iorquina que ficou 25 anos preso depois de “cometer” um assassinato para a sua família do crime. Após cumprir toda sua pena sem dedurar seu chefe Pete “The Rock” Invernizzi (A.C. Peterson) e seu filho Don Charles “Chickie” Invernizzi (Domenick Lombardozzi), Manfredi reencontra o círculo interno da família esperando algum tipo de recompensa por sua lealdade e sacrifício. Ao invés disso, Manfredi é isolado em uma cidade interiorana sem qualquer perspectiva de crescimento ou respeito que acreditava ter em Nova York. Mas, através de raiva, orgulho e arrependimento, ele decide, enfim, se tornar o rei do crime de Tulsa. Confira o trailer:

Taylor Sheridan, em "Tulsa King", continua mostrando sua habilidade para criar narrativas ricas em personagens interessantes inseridos em uma atmosfera de fato desafiadora. Aqui, ele mistura habilmente os elementos de drama e ação, mantendo a audiência imersa na jornada de Manfredi com muita facilidade. Sheridan conta com o respeitável reforço de Terence Winter, um dos roteiristas chefes de "Família Soprano" e responsável por sucessos que vão de  "O Lobo de Wall Street" até "Boardwalk Empire" - juntos, eles conseguem equilibrar a violência crua do gênero com um humor quase britânico, mesmo explorando temas mais profundos como lealdade, redenção e identidade - a própria premissa sobre a adaptação em um mundo que mudou drasticamente enquanto esteve preso, faz com que todos esses pontos estejam conectados perfeitamente aos desafios do protagonista. Repare como os diálogos são bem construídos, cheios de nuances e que refletem a complexidade tanto dos personagens quanto de suas motivações.

Sylvester Stallone, em seu primeiro papel principal em uma série de televisão, obviamente, entrega uma performance carismática e imponente. Sly traz uma mistura de angústia e charme a Manfredi, capturando a essência de um homem que, apesar de envelhecido, ainda possui a astúcia e a força necessárias para comandar o crime - mesmo que com um senso de urgência divertidíssimo.. Seu trabalho realmente é uma das âncoras da série - é difícil não gostar dele, apesar de suas falhas de caráter (meio Walter White, eu diria). O elenco de apoio também é sólido, com trabalhos notáveis como o de Andrea Savage (a Stacy Beale), uma agente do FBI com uma história complicada, e de Martin Starr, o impagável Bodhi, um local que se torna um dos principais aliados de Manfredi - a química entre esses personagens é sensacional!

"Tulsa King" é entretenimento puro e embora invoque algum tipo de comparação (injusta) com "The Sopranos", entrega o que promete respeitando sua proposta - mesmo que em certos momentos recorra aos clichês do gênero de máfia e que em outros suas subtramas pareçam depender de um melhor desenvolvimento, posso te adiantar que nada diminui a qualidade da série. Olha, essa produção da Paramount+ tem potencial para ser uma espécie de "canto do cisne" para Sylvester Stallone desde que não caia na pretensão de ser mais do que é, ou seja, se ficar nos bastidores do crime, nas intrigas da máfia e nos dramas sobre um criminoso tentando se reinventar em meio a arrependimentos, podemos ter ótimas temporadas de uma produção original, divertida e com potencial de deixar sua marca.

Vale seu play!

Assista Agora

Para os amantes de "The Sopranos" eu sei o quanto é difícil encontrar uma "série de máfia com alma" e por isso que afirmo com muita segurança: "Tulsa King" pode te conquistar - é um baita entretenimento para quem gosta do gênero e com o bônus de um Sylvester Stallone muito inspirado. Olha, essa é daquelas séries que pega você de surpresa, justamente por misturar com muita inteligência aquela atmosfera de crimes, com um bom drama e um toque de humor ácido que resulta em algo verdadeiramente envolvente. Com Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em "Yellowstone", "Hell or High Water" e "Sicario", "Tulsa King"traz uma abordagem original ao gênero de máfia ao fugir dos grandes centros, se ambientar na distante cidade de Tulsa, Oklahoma, e oferecer, assim como "Ozark" ou "Lilyhammer", uma combinação perfeita entre personagens bastante complexos e uma trama realmente cheia de tensão.

Sylvester Stallone interpreta Dwight Manfredi, um capo da máfia nova-iorquina que ficou 25 anos preso depois de “cometer” um assassinato para a sua família do crime. Após cumprir toda sua pena sem dedurar seu chefe Pete “The Rock” Invernizzi (A.C. Peterson) e seu filho Don Charles “Chickie” Invernizzi (Domenick Lombardozzi), Manfredi reencontra o círculo interno da família esperando algum tipo de recompensa por sua lealdade e sacrifício. Ao invés disso, Manfredi é isolado em uma cidade interiorana sem qualquer perspectiva de crescimento ou respeito que acreditava ter em Nova York. Mas, através de raiva, orgulho e arrependimento, ele decide, enfim, se tornar o rei do crime de Tulsa. Confira o trailer:

Taylor Sheridan, em "Tulsa King", continua mostrando sua habilidade para criar narrativas ricas em personagens interessantes inseridos em uma atmosfera de fato desafiadora. Aqui, ele mistura habilmente os elementos de drama e ação, mantendo a audiência imersa na jornada de Manfredi com muita facilidade. Sheridan conta com o respeitável reforço de Terence Winter, um dos roteiristas chefes de "Família Soprano" e responsável por sucessos que vão de  "O Lobo de Wall Street" até "Boardwalk Empire" - juntos, eles conseguem equilibrar a violência crua do gênero com um humor quase britânico, mesmo explorando temas mais profundos como lealdade, redenção e identidade - a própria premissa sobre a adaptação em um mundo que mudou drasticamente enquanto esteve preso, faz com que todos esses pontos estejam conectados perfeitamente aos desafios do protagonista. Repare como os diálogos são bem construídos, cheios de nuances e que refletem a complexidade tanto dos personagens quanto de suas motivações.

Sylvester Stallone, em seu primeiro papel principal em uma série de televisão, obviamente, entrega uma performance carismática e imponente. Sly traz uma mistura de angústia e charme a Manfredi, capturando a essência de um homem que, apesar de envelhecido, ainda possui a astúcia e a força necessárias para comandar o crime - mesmo que com um senso de urgência divertidíssimo.. Seu trabalho realmente é uma das âncoras da série - é difícil não gostar dele, apesar de suas falhas de caráter (meio Walter White, eu diria). O elenco de apoio também é sólido, com trabalhos notáveis como o de Andrea Savage (a Stacy Beale), uma agente do FBI com uma história complicada, e de Martin Starr, o impagável Bodhi, um local que se torna um dos principais aliados de Manfredi - a química entre esses personagens é sensacional!

"Tulsa King" é entretenimento puro e embora invoque algum tipo de comparação (injusta) com "The Sopranos", entrega o que promete respeitando sua proposta - mesmo que em certos momentos recorra aos clichês do gênero de máfia e que em outros suas subtramas pareçam depender de um melhor desenvolvimento, posso te adiantar que nada diminui a qualidade da série. Olha, essa produção da Paramount+ tem potencial para ser uma espécie de "canto do cisne" para Sylvester Stallone desde que não caia na pretensão de ser mais do que é, ou seja, se ficar nos bastidores do crime, nas intrigas da máfia e nos dramas sobre um criminoso tentando se reinventar em meio a arrependimentos, podemos ter ótimas temporadas de uma produção original, divertida e com potencial de deixar sua marca.

Vale seu play!

Assista Agora

Um Brinde ao Sucesso

"Um Brinde ao Sucesso" é muito divertido e uma delícia de assistir! Embora discuta temas como a "inveja", o "rancor", a "insegurança" e a "falsidade", essa produção francesa dirigida pelo ótimo Daniel Cohen (de "Como um Chef") é daquelas que se destaca não apenas pela trama envolvente, mas também pela habilidade única de capturar a essência da vida cotidiana de uma maneira encantadoramente real. O filme, tranquilamente, poderia ser um episódio de "Modern Love" ou algo que Woody Allen adoraria ter feito, no entanto o toque francês contemporâneo que explora as complexidades das relações humanas com uma leve pitada de humor, olha, é incrível e mais uma vez mostra estar bem afiado.

Na trama, a dinâmica entre dois casais de "grandes" amigos é abalada quando a subestimada (e submissa) Léa Monteil (Bérénice Bejo) resolve escrever um livro que rapidamente se transforma em um super best-seller. Seu sucesso inesperado desperta inveja de sua melhor amiga Karine Léger (Florence Foresti) e a insegurança de seu namorado, Marc Seyriey (Vincent Cassel), gerando assim uma profunda crise pessoal em todos ao seu redor. Confira o trailer:

Embora o título nacional "Um Brinde ao Sucesso" seja absolutamente irônico e inteligente (coisa rara hoje em dia), o original em francês "Le bonheur des uns...", algo como “A felicidade de uns...”, transforma essas "reticências" em um gatilho tão alinhado ao roteiro e a forma como Cohen conduz a narrativa que chega ser um pecado não ter sido usado por aqui também. Sim, o filme é cheio de "reticências" que exige da audiência uma interpretação que vai além daquilo que é falado - e aqui fica impossível não citar o extraordinário trabalho do seu elenco.

Bejo, Foresti, Cassel e até o "sem noção" François Damiens (Francis Léger) dão uma aula de conexão. A química entre eles transforma nossa experiência em algo tão próximo que é impossível não nos projetarmos para as situações absurdas que todos vivem - sem falar nos comentários ácidos do casal Léger que certamente vai te fazer lembrar de alguém(s). A atuação magistral do elenco adiciona profundidade aos personagens, tornando a trama mais rica e envolvente, se apoiando na comédia de situação, sem esquecer do drama mais íntimo de cada um deles - essa dicotomia é perfeita para construir uma dinâmica que nos faz achar graça, mas que também nos incomoda (no bom sentido) em muitos momentos.  

A trilha sonora de Maxime Desprez e de Michaël Tordjman (ambos de "Homens à Beira de um Ataque de Nervos") é tão sutil quanto eficaz, mas junto com a cinematografia de Stephan Massis (da ótima série francesa, "Engrenages") dão o tom daquela atmosfera moderna de Paris que transforma a vida urbana francesa em sequências e enquadramentos quase poéticos. O que eu quero dizer é que, ao capturar a autenticidade das relações humanas nesse cenário tão particular, especialmente quando confrontadas com as complexidades da ambição e do sucesso, o filme ganha força pela sua realidade quase que cruel. Mas calma, pois a abordagem do diretor pretende explorar muito mais as nuances da amizade e do ego com uma visão única sobre as escolhas que fazemos quando estamos buscando a felicidade que percebemos no outro, do que o embate constrangedor de quem não tem nada para nos acrescentar durante a vida (embora eu, no lugar da protagonista, não sei se teria tanta paciência)!

Acredite, "Um Brinde ao Sucesso" é mais um dos tesouros escondidos nas plataformas de streaming que merece o seu play!

Assista Agora

"Um Brinde ao Sucesso" é muito divertido e uma delícia de assistir! Embora discuta temas como a "inveja", o "rancor", a "insegurança" e a "falsidade", essa produção francesa dirigida pelo ótimo Daniel Cohen (de "Como um Chef") é daquelas que se destaca não apenas pela trama envolvente, mas também pela habilidade única de capturar a essência da vida cotidiana de uma maneira encantadoramente real. O filme, tranquilamente, poderia ser um episódio de "Modern Love" ou algo que Woody Allen adoraria ter feito, no entanto o toque francês contemporâneo que explora as complexidades das relações humanas com uma leve pitada de humor, olha, é incrível e mais uma vez mostra estar bem afiado.

Na trama, a dinâmica entre dois casais de "grandes" amigos é abalada quando a subestimada (e submissa) Léa Monteil (Bérénice Bejo) resolve escrever um livro que rapidamente se transforma em um super best-seller. Seu sucesso inesperado desperta inveja de sua melhor amiga Karine Léger (Florence Foresti) e a insegurança de seu namorado, Marc Seyriey (Vincent Cassel), gerando assim uma profunda crise pessoal em todos ao seu redor. Confira o trailer:

Embora o título nacional "Um Brinde ao Sucesso" seja absolutamente irônico e inteligente (coisa rara hoje em dia), o original em francês "Le bonheur des uns...", algo como “A felicidade de uns...”, transforma essas "reticências" em um gatilho tão alinhado ao roteiro e a forma como Cohen conduz a narrativa que chega ser um pecado não ter sido usado por aqui também. Sim, o filme é cheio de "reticências" que exige da audiência uma interpretação que vai além daquilo que é falado - e aqui fica impossível não citar o extraordinário trabalho do seu elenco.

Bejo, Foresti, Cassel e até o "sem noção" François Damiens (Francis Léger) dão uma aula de conexão. A química entre eles transforma nossa experiência em algo tão próximo que é impossível não nos projetarmos para as situações absurdas que todos vivem - sem falar nos comentários ácidos do casal Léger que certamente vai te fazer lembrar de alguém(s). A atuação magistral do elenco adiciona profundidade aos personagens, tornando a trama mais rica e envolvente, se apoiando na comédia de situação, sem esquecer do drama mais íntimo de cada um deles - essa dicotomia é perfeita para construir uma dinâmica que nos faz achar graça, mas que também nos incomoda (no bom sentido) em muitos momentos.  

A trilha sonora de Maxime Desprez e de Michaël Tordjman (ambos de "Homens à Beira de um Ataque de Nervos") é tão sutil quanto eficaz, mas junto com a cinematografia de Stephan Massis (da ótima série francesa, "Engrenages") dão o tom daquela atmosfera moderna de Paris que transforma a vida urbana francesa em sequências e enquadramentos quase poéticos. O que eu quero dizer é que, ao capturar a autenticidade das relações humanas nesse cenário tão particular, especialmente quando confrontadas com as complexidades da ambição e do sucesso, o filme ganha força pela sua realidade quase que cruel. Mas calma, pois a abordagem do diretor pretende explorar muito mais as nuances da amizade e do ego com uma visão única sobre as escolhas que fazemos quando estamos buscando a felicidade que percebemos no outro, do que o embate constrangedor de quem não tem nada para nos acrescentar durante a vida (embora eu, no lugar da protagonista, não sei se teria tanta paciência)!

Acredite, "Um Brinde ao Sucesso" é mais um dos tesouros escondidos nas plataformas de streaming que merece o seu play!

Assista Agora

Um Filho

"Um Filho" é um grande filme, mas também uma pancada sem dó - daquelas que deixam marcas profundas mesmo após os créditos subirem! Antes de mais nada é preciso deixar claro que o filme dirigido pelo talentoso Florian Zeller não é uma continuação de seu projeto anterior, o extraordinário “Meu Pai” - talvez um prequel se encaixe melhor se olharmos pelo prisma de uma franquia, já que o personagem de Anthony Hopkins também está no filme e em uma única cena já explica justamente a razão de Peter (Hugh Jackman) nem ser citado em "Meu Pai". Pontuada essa sensível conexão entre as duas obras, temos mais uma vez uma história cheia de camadas, potente, densa e muito realista, onde a depressão de um filho e o relacionamento dele com seus pais separados constroem uma jornada de muita dor e angústia.

A agitada vida de Peter (Jackman) com sua nova parceira Beth (Vanessa Kirby) e seu filho recém-nascido, vira de cabeça para baixo quando sua ex-mulher Kate (Laura Dern) aparece com o filho adolescente do casal, Nicholas (Zen McGrath). O jovem está distante, irritado e ausente da escola há meses. Peter então, tenta cuidar do filho como gostaria que seu pai tivesse feito com ele, mas ao procurar o passado para corrigir seus erros, ele enfrenta enormes desafios para se conectar com Nicholas e o que parecia ser uma solução acaba se tornando um problema ainda maior. Confira o trailer:

"É preciso olhar para os nosso filhos, só que não da forma como achamos ser a correta, apenas baseado em nossas próprias experiências (boas e ruins), mas a partir de um cuidado individualizado, respeitando suas dores mais íntimas e, principalmente, o seu tempo". É com essa frase em mente que acompanhamos toda a jornada de Peter e Kate com seu filho Nicholas - reparem como o silêncio, o olhar e a postura dos personagens, geram uma angústia permanente, onde, de fora, fica claro que em algum momento algo de muito ruim pode acontecer. Mas como é possível que aqueles pais, claramente amorosos e cuidadosos, não percebam isso? Pois é, não percebem, pois não se trata de amor e sim de aceitar uma condição que foge do nosso controle - a depressão é isso e precisa ser levada a sério. Em uma das cenas mais impactantes do filme, Vanessa Kirby mostra todo seu talento justamente levantando essa questão e dói!

Mais uma vez Zeller vai arquitetando um trama sem a pressa de expor seus reais objetivos. A angústia sentimental genuína que Nicholas transmite para a audiência se materializa em inúmeras cenas onde o adolescente é confrontado diretamente por seus pais e até por sua madrasta, no entanto o outro lado também é verdadeiro, já que parece existir uma barreira etária (ou cultural) que impede que os diálogos fluam da maneira mais apropriada. Esse incômodo que o roteiro habilmente retrata, tem um impacto emocional em quem assiste que, como na história, vai minando as esperanças de um final feliz e olha que o terceiro ato, como uma cereja no bolo, sabe fechar sua proposta com um toque avassalador de realidade.

Tecnicamente perfeito em todos os seus aspectos, "Um Filho" de fato não alcançou as glórias de “Meu Pai”, mas acreditem: isso não faz a menor diferença na experiência que é lidar com essa história visceral. No entanto esse não é um filme que recomendaria para qualquer pessoa - os gatilhos são fortes e machucam demais!  Embora pertinente, esse alerta não deve diminuir o valor cinematográfico que a obra tem. "The Son" (no original) é um excelente filme, com seu drama denso, emocionante e importante por trocar em um assunto tão sensível, só que dessa vez, pelo olhar e pela percepção de quem está de fora mas não tem como ajudar. Brilhante!

Vale cada segundo do seu play!

PS: Fechando a trilogia de relações familiares e saúde mental iniciada por "Meu Pai" e agora "Um Filho", "A Mãe" deve focar em Anne lidando com a famosa "síndrome do ninho vazio" quando seus dois filhos saem de casa para construir vidas próprias ao mesmo tempo em que ela também suspeita que seu marido, Paul (Rufus Sewell o interpretou em "Meu Pai"), está tendo um caso.

Assista Agora

"Um Filho" é um grande filme, mas também uma pancada sem dó - daquelas que deixam marcas profundas mesmo após os créditos subirem! Antes de mais nada é preciso deixar claro que o filme dirigido pelo talentoso Florian Zeller não é uma continuação de seu projeto anterior, o extraordinário “Meu Pai” - talvez um prequel se encaixe melhor se olharmos pelo prisma de uma franquia, já que o personagem de Anthony Hopkins também está no filme e em uma única cena já explica justamente a razão de Peter (Hugh Jackman) nem ser citado em "Meu Pai". Pontuada essa sensível conexão entre as duas obras, temos mais uma vez uma história cheia de camadas, potente, densa e muito realista, onde a depressão de um filho e o relacionamento dele com seus pais separados constroem uma jornada de muita dor e angústia.

A agitada vida de Peter (Jackman) com sua nova parceira Beth (Vanessa Kirby) e seu filho recém-nascido, vira de cabeça para baixo quando sua ex-mulher Kate (Laura Dern) aparece com o filho adolescente do casal, Nicholas (Zen McGrath). O jovem está distante, irritado e ausente da escola há meses. Peter então, tenta cuidar do filho como gostaria que seu pai tivesse feito com ele, mas ao procurar o passado para corrigir seus erros, ele enfrenta enormes desafios para se conectar com Nicholas e o que parecia ser uma solução acaba se tornando um problema ainda maior. Confira o trailer:

"É preciso olhar para os nosso filhos, só que não da forma como achamos ser a correta, apenas baseado em nossas próprias experiências (boas e ruins), mas a partir de um cuidado individualizado, respeitando suas dores mais íntimas e, principalmente, o seu tempo". É com essa frase em mente que acompanhamos toda a jornada de Peter e Kate com seu filho Nicholas - reparem como o silêncio, o olhar e a postura dos personagens, geram uma angústia permanente, onde, de fora, fica claro que em algum momento algo de muito ruim pode acontecer. Mas como é possível que aqueles pais, claramente amorosos e cuidadosos, não percebam isso? Pois é, não percebem, pois não se trata de amor e sim de aceitar uma condição que foge do nosso controle - a depressão é isso e precisa ser levada a sério. Em uma das cenas mais impactantes do filme, Vanessa Kirby mostra todo seu talento justamente levantando essa questão e dói!

Mais uma vez Zeller vai arquitetando um trama sem a pressa de expor seus reais objetivos. A angústia sentimental genuína que Nicholas transmite para a audiência se materializa em inúmeras cenas onde o adolescente é confrontado diretamente por seus pais e até por sua madrasta, no entanto o outro lado também é verdadeiro, já que parece existir uma barreira etária (ou cultural) que impede que os diálogos fluam da maneira mais apropriada. Esse incômodo que o roteiro habilmente retrata, tem um impacto emocional em quem assiste que, como na história, vai minando as esperanças de um final feliz e olha que o terceiro ato, como uma cereja no bolo, sabe fechar sua proposta com um toque avassalador de realidade.

Tecnicamente perfeito em todos os seus aspectos, "Um Filho" de fato não alcançou as glórias de “Meu Pai”, mas acreditem: isso não faz a menor diferença na experiência que é lidar com essa história visceral. No entanto esse não é um filme que recomendaria para qualquer pessoa - os gatilhos são fortes e machucam demais!  Embora pertinente, esse alerta não deve diminuir o valor cinematográfico que a obra tem. "The Son" (no original) é um excelente filme, com seu drama denso, emocionante e importante por trocar em um assunto tão sensível, só que dessa vez, pelo olhar e pela percepção de quem está de fora mas não tem como ajudar. Brilhante!

Vale cada segundo do seu play!

PS: Fechando a trilogia de relações familiares e saúde mental iniciada por "Meu Pai" e agora "Um Filho", "A Mãe" deve focar em Anne lidando com a famosa "síndrome do ninho vazio" quando seus dois filhos saem de casa para construir vidas próprias ao mesmo tempo em que ela também suspeita que seu marido, Paul (Rufus Sewell o interpretou em "Meu Pai"), está tendo um caso.

Assista Agora

Um Homem por Inteiro

O que "House of Cards", "Succession", "Billions" e "The Night Of" tem em comum? Dada as suas respectivas perspectivas e contextos, sem dúvida que a "relação com o poder" é o que move seus personagens em suas jornadas mais íntimas. Em "Um Homem por Inteiro" o que encontramos é justamente isso - é como se essa adaptação do livro de Tom Wolfe buscasse o que existe de melhor nessas quatro fontes e transformasse em uma narrativa única, dinâmica, densa e muito envolvente. No entanto aqui cabe uma crítica: a minissérie de seis episódios da Netflix tem tantas camadas para explorar que a impressão que fica é que não seria nada absurdo se tivéssemos, pelo menos, mais dois episódios para tudo se conectar com mais tranquilidade. 

Basicamente acompanhamos a trajetória de Charlie Croker (Jeff Daniels), um ex-atleta que construiu um verdadeiro império imobiliário do zero, mas que de repente se vê à beira do abismo após uma série de movimentos financeiros de seus credores. Enfrentando uma iminente falência que resultaria na perda de tudo que conquistou, inclusive seu status de vencedor, Croker passa lutar com todas as suas armas para recuperar seu negócio e se proteger daqueles que querem se aproveitar dessa situação. Confira o trailer:

Ter Regina King (de "This is Us") e Thomas Schlamme (de "House of Cards") na direção e David E. Kelley (de "Big Little Lies") na produção e roteiro, por si só, já colocaria "Um Homem por Inteiro" naquela prateleira de "precisamos assistir"! E acredite, você não vai se decepcionar - mas talvez fique com um certo gostinho de que a trama poderia ir mais longe. O que vemos na tela é uma minissérie que não se limita em ser um drama sobre negócios e ambição como a sinopse sugere. "A Man in Full" (no original) se apropria de temas mais universais como as relações familiares, a quebra de lealdade, a masculinidade tóxica, o racismo e até a redenção, para servir de gatilhos narrativos e assim oferecer uma reflexão mais profunda sobre a natureza humana nos tempos atuais - o próprio autor sugeriu que sua história captura o espírito dos anos 1990 como uma reimaginação para a os Estados Unidos de hoje, oferecendo um cenário instável que reflete desafios contemporâneos sem cortes.

De fato a jornada de Charlie Crokeré um lembrete de que a queda pode ser apenas o início de uma nova ascensão se olhada por uma perspectiva mais estoica. Veja, tanto Wolfe em seu livro, quanto Kelley em seu roteiro, acreditam que a verdadeira riqueza reside nos "valores" e nas "atitudes" do ser humano perante o seu meio, no entanto, o que a narrativa entrega propositalmente é a quebra dessa expectativa, a subversão de uma linha tênue entre o controle e o descontrole, tanto para aqueles que dominam a relação de poder quanto para aqueles que estão em uma posição de vulnerabilidade. Nesse ponto é impossível não citar o elenco que dá vida para personagens totalmente multidimensionais: Jeff Daniels brilha com seu protagonista bronco e resiliente; Diane Lane como Martha Croker, ex-esposa de Charlie, traz um mulher se redescobrindo depois do divórcio, mas que tem na idade sua maior barreira; enquanto Lucy Liu entrega uma performance impressionante pelo tamanho de sua personagem, a Joyce Newman, uma mulher marcada por um passado doloroso. Isso sem falar no núcleo de William Jackson Harper como Wes Jordan e de Jon Michael Hill como Conrad Hensley, que marca a luta por justiça e uma questão racial bastante pertinente. Mas olha, quem brilha mesmo é Tom Pelphrey ele está simplesmente impecável como o ressentido e invejoso, mas ambicioso, Raymond Peepgrass.

"Um Homem por Inteiro" é muito bem realizada e nos envolve rapidamente, especialmente para aqueles que se deliciam com "Succession" e "Billions", porém, com um olhar macro, é perceptível que a minissérie não tem a complexidade e a força crítica do material original de Tom Wolfe. Kelley cumpre o seu papel ao modernizar e simplificar a história para uma audiência menos exigente e mesmo que o resultado não seja tão profundo, a densidade narrativa e a relevância temática continuam lá - sem falar no excelente entretenimento.

Vale su play!

Assista Agora

O que "House of Cards", "Succession", "Billions" e "The Night Of" tem em comum? Dada as suas respectivas perspectivas e contextos, sem dúvida que a "relação com o poder" é o que move seus personagens em suas jornadas mais íntimas. Em "Um Homem por Inteiro" o que encontramos é justamente isso - é como se essa adaptação do livro de Tom Wolfe buscasse o que existe de melhor nessas quatro fontes e transformasse em uma narrativa única, dinâmica, densa e muito envolvente. No entanto aqui cabe uma crítica: a minissérie de seis episódios da Netflix tem tantas camadas para explorar que a impressão que fica é que não seria nada absurdo se tivéssemos, pelo menos, mais dois episódios para tudo se conectar com mais tranquilidade. 

Basicamente acompanhamos a trajetória de Charlie Croker (Jeff Daniels), um ex-atleta que construiu um verdadeiro império imobiliário do zero, mas que de repente se vê à beira do abismo após uma série de movimentos financeiros de seus credores. Enfrentando uma iminente falência que resultaria na perda de tudo que conquistou, inclusive seu status de vencedor, Croker passa lutar com todas as suas armas para recuperar seu negócio e se proteger daqueles que querem se aproveitar dessa situação. Confira o trailer:

Ter Regina King (de "This is Us") e Thomas Schlamme (de "House of Cards") na direção e David E. Kelley (de "Big Little Lies") na produção e roteiro, por si só, já colocaria "Um Homem por Inteiro" naquela prateleira de "precisamos assistir"! E acredite, você não vai se decepcionar - mas talvez fique com um certo gostinho de que a trama poderia ir mais longe. O que vemos na tela é uma minissérie que não se limita em ser um drama sobre negócios e ambição como a sinopse sugere. "A Man in Full" (no original) se apropria de temas mais universais como as relações familiares, a quebra de lealdade, a masculinidade tóxica, o racismo e até a redenção, para servir de gatilhos narrativos e assim oferecer uma reflexão mais profunda sobre a natureza humana nos tempos atuais - o próprio autor sugeriu que sua história captura o espírito dos anos 1990 como uma reimaginação para a os Estados Unidos de hoje, oferecendo um cenário instável que reflete desafios contemporâneos sem cortes.

De fato a jornada de Charlie Crokeré um lembrete de que a queda pode ser apenas o início de uma nova ascensão se olhada por uma perspectiva mais estoica. Veja, tanto Wolfe em seu livro, quanto Kelley em seu roteiro, acreditam que a verdadeira riqueza reside nos "valores" e nas "atitudes" do ser humano perante o seu meio, no entanto, o que a narrativa entrega propositalmente é a quebra dessa expectativa, a subversão de uma linha tênue entre o controle e o descontrole, tanto para aqueles que dominam a relação de poder quanto para aqueles que estão em uma posição de vulnerabilidade. Nesse ponto é impossível não citar o elenco que dá vida para personagens totalmente multidimensionais: Jeff Daniels brilha com seu protagonista bronco e resiliente; Diane Lane como Martha Croker, ex-esposa de Charlie, traz um mulher se redescobrindo depois do divórcio, mas que tem na idade sua maior barreira; enquanto Lucy Liu entrega uma performance impressionante pelo tamanho de sua personagem, a Joyce Newman, uma mulher marcada por um passado doloroso. Isso sem falar no núcleo de William Jackson Harper como Wes Jordan e de Jon Michael Hill como Conrad Hensley, que marca a luta por justiça e uma questão racial bastante pertinente. Mas olha, quem brilha mesmo é Tom Pelphrey ele está simplesmente impecável como o ressentido e invejoso, mas ambicioso, Raymond Peepgrass.

"Um Homem por Inteiro" é muito bem realizada e nos envolve rapidamente, especialmente para aqueles que se deliciam com "Succession" e "Billions", porém, com um olhar macro, é perceptível que a minissérie não tem a complexidade e a força crítica do material original de Tom Wolfe. Kelley cumpre o seu papel ao modernizar e simplificar a história para uma audiência menos exigente e mesmo que o resultado não seja tão profundo, a densidade narrativa e a relevância temática continuam lá - sem falar no excelente entretenimento.

Vale su play!

Assista Agora

Um Instante de Amor

"Um Instante de Amor" é um filmaço, mas atenção: ele é um típico drama independente francês, ou seja, sua cadência narrativa é bastante complexa, existe uma certa poesia nos movimentos de câmera e uma tridimensionalidade absurda no desenvolvimento dos personagens. Resumindo, ele é um filme para quem gosta de fugir do óbvio e para quem se permite embarcar em uma imersão emocional mais elaborada e sensível. O filme dirigido pela talentosa Nicole Garcia (quatro vezes indicada à Palme d'Or em Cannes - a última com esse filme) é uma delicada exploração da alma humana, embalada por performances envolventes e por uma abordagem sensível sobre as complexidades da paixão, dos anseios reprimidos e dos desafios psicológicos na Europa dos anos 50.

Gabrielle (Marion Cotillard) é uma mulher bela e solitária que não sabe lidar muito bem com seus impulsos sexuais. Preocupada com a sanidade mental da filha, cada vez mais perturbada, sua mãe arma um casamento com o pedreiro José (Alex Brendemühl). Após sofrer um aborto e descobrir que tem problemas renais, Gabrielle vai se tratar durante algumas semanas em uma clínica particular, onde encontra a paixão, que jamais teve pelo marido, em um tenente à beira da morte (Louis Garrel). Confira o trailer:

Baseado na obra da italiana Milena Agus, "Um Instante de Amor" seria um presente para qualquer atriz. No caso, a essência da obra cobra do filme uma performance arrebatadora - que Marion Cotillard supre com muita competência. Sua entrega emocional é notável, nos permitindo compartilhar suas angústias e paixões de uma maneira extremamente visceral. É impressionante como Cotillard mergulha na complexidade da personagem, capturando os altos e baixos de seus sentimentos de uma forma, ao mesmo tempo, crua e delicada. Sua presença magnética em cena dá o tom do roteiro escrito pelo Jacques Fieschi (de "Ilusões Perdidas" e "La Californie") a partir de um texto cheio de metáforas e referências clínicas - a doença renal de Gabrielle, por exemplo, parte do seu desejo encarcerado dentro de um conceito muito bem definido pela medicina grega onde órgãos específicos adoeciam como causa e consequência de determinadas emoções em desequilíbrio. 

Nicole Garcia, que também colaborou no roteiro ao lado de Natalie Carter (de "Um Segredo Em Família"), demonstra uma enorme capacidade técnica ao construir um universo visual que enriquece a narrativa através de gatilhos emocionais. Inclusive, a fotografia do Christophe Beaucarne (de "Coco antes de Chanel") exerce um papel crucial aqui, já que ela captura toda a atmosfera da França/Suíça do pós-guerra de maneira autêntica, com cenários rurais pitorescos e paisagens campestres belíssimas. O uso habilidoso de tons e texturas realça ainda mais as transformações íntimas da protagonista, enquanto a trilha sonora pontua cada momento crucial, aprofundando a conexão emocional com a história.

Veja, "Um Instante de Amor" não apenas nos envolve em uma história de amor, mas também mergulha na exploração da sexualidade e da autodescoberta. A diretora explora com sensibilidade a jornada de Gabrielle para compreender seus próprios desejos e identidade, rompendo com as expectativas sociais e as amarras da época. Essa abordagem corajosa adiciona camadas de profundidade à narrativa que ganham um valor inestimável no terceiro ato com uma resolução tão surpreendente quanto transformadora. Eu diria que Garcia foi capaz de criar, com invejável sabedoria, uma experiência única que merece todos os elogios!

Vale muito!

Assista Agora

"Um Instante de Amor" é um filmaço, mas atenção: ele é um típico drama independente francês, ou seja, sua cadência narrativa é bastante complexa, existe uma certa poesia nos movimentos de câmera e uma tridimensionalidade absurda no desenvolvimento dos personagens. Resumindo, ele é um filme para quem gosta de fugir do óbvio e para quem se permite embarcar em uma imersão emocional mais elaborada e sensível. O filme dirigido pela talentosa Nicole Garcia (quatro vezes indicada à Palme d'Or em Cannes - a última com esse filme) é uma delicada exploração da alma humana, embalada por performances envolventes e por uma abordagem sensível sobre as complexidades da paixão, dos anseios reprimidos e dos desafios psicológicos na Europa dos anos 50.

Gabrielle (Marion Cotillard) é uma mulher bela e solitária que não sabe lidar muito bem com seus impulsos sexuais. Preocupada com a sanidade mental da filha, cada vez mais perturbada, sua mãe arma um casamento com o pedreiro José (Alex Brendemühl). Após sofrer um aborto e descobrir que tem problemas renais, Gabrielle vai se tratar durante algumas semanas em uma clínica particular, onde encontra a paixão, que jamais teve pelo marido, em um tenente à beira da morte (Louis Garrel). Confira o trailer:

Baseado na obra da italiana Milena Agus, "Um Instante de Amor" seria um presente para qualquer atriz. No caso, a essência da obra cobra do filme uma performance arrebatadora - que Marion Cotillard supre com muita competência. Sua entrega emocional é notável, nos permitindo compartilhar suas angústias e paixões de uma maneira extremamente visceral. É impressionante como Cotillard mergulha na complexidade da personagem, capturando os altos e baixos de seus sentimentos de uma forma, ao mesmo tempo, crua e delicada. Sua presença magnética em cena dá o tom do roteiro escrito pelo Jacques Fieschi (de "Ilusões Perdidas" e "La Californie") a partir de um texto cheio de metáforas e referências clínicas - a doença renal de Gabrielle, por exemplo, parte do seu desejo encarcerado dentro de um conceito muito bem definido pela medicina grega onde órgãos específicos adoeciam como causa e consequência de determinadas emoções em desequilíbrio. 

Nicole Garcia, que também colaborou no roteiro ao lado de Natalie Carter (de "Um Segredo Em Família"), demonstra uma enorme capacidade técnica ao construir um universo visual que enriquece a narrativa através de gatilhos emocionais. Inclusive, a fotografia do Christophe Beaucarne (de "Coco antes de Chanel") exerce um papel crucial aqui, já que ela captura toda a atmosfera da França/Suíça do pós-guerra de maneira autêntica, com cenários rurais pitorescos e paisagens campestres belíssimas. O uso habilidoso de tons e texturas realça ainda mais as transformações íntimas da protagonista, enquanto a trilha sonora pontua cada momento crucial, aprofundando a conexão emocional com a história.

Veja, "Um Instante de Amor" não apenas nos envolve em uma história de amor, mas também mergulha na exploração da sexualidade e da autodescoberta. A diretora explora com sensibilidade a jornada de Gabrielle para compreender seus próprios desejos e identidade, rompendo com as expectativas sociais e as amarras da época. Essa abordagem corajosa adiciona camadas de profundidade à narrativa que ganham um valor inestimável no terceiro ato com uma resolução tão surpreendente quanto transformadora. Eu diria que Garcia foi capaz de criar, com invejável sabedoria, uma experiência única que merece todos os elogios!

Vale muito!

Assista Agora

Um Limite Entre Nós

Existe uma linha tênue entre a genialidade de "Um Limite Entre Nós" e uma verborragia cansativa e sonolenta - quem vai definir o resultado dessa equação é o seu gosto pessoal! Partindo do principio que o filme é uma adaptação de um espetáculo teatral dos anos 80 chamado "Fences" (que também dá nome ao filme na sua versão original - algo como "Cercas"), é possível ter uma ideia de como a dinâmica narrativa está apoiada em diálogos profundos, muitas vezes longos, poucos cenários (basicamente o quintal do protagonista) e performances de cair o queixo - o que justifica a cara feia de Denzel Washington ao perder o Oscar de 2017 para Casey Affleck por "Manchester à Beira-Mar".

A premissa é até que simples: "Um Limite Entre Nós" é um filme que acompanha o casal Troy Maxson (Washington) e Rose Lee Maxson (Viola Davis), e que explora os relacionamentos entre eles, seus filhos e suas perspectivas e aspirações na vida, fazendo dos conflitos do dia-a-dia de seus personagens uma ferramenta para traçar uma poética análise sobre ciclos, culpa, rancor e, talvez, perdão. Confira ao trailer:

Ao lado de "Malcolm X", sem a menor dúvida, esse é o melhor trabalho de Denzel Washington no cinema. Infinitamente melhor que aqueles que lhe renderam o Oscar com "Tempos de Glória" e "Dia de Treinamento" - e olha que estamos falando de um ator que foi indicado 9 vezes, a última com "A Tragédia de Macbeth" que, para mim, completa o pódio de seus melhores trabalhos. Isso sem falar em Viola Davis, essa sim premiada em 2017 com o Oscar de melhor Atriz Coadjuvante! Tanto Washington quanto Davis seguram o filme em quase duas horas e meia de um drama que explora a profundidade dos personagens como poucas vezes vi. O trabalho é dificílimo, são inúmeras camadas para serem construídas e mesmo assim os dois brilham sem cair na armadilha de teatralizar a interpretação - o tom é perfeito para o cinema, mas meu amigo, o olhar, o silêncio, as nuances da respiração, das pausas, da interiorização sem querer expor nada além de um sentimento pontual, duro, sofrido; olha, uma verdadeira aula para quem aprecia essa arte!

E aqui cabe uma história interessante sobre o processo que levou Denzel Washington até a direção e produção dessa obra prima: Em meados dos anos 80, Washington foi ao teatro ver James Earl Jones (de "Star Wars") estrelar o espetáculo - sua identificação com o filho do protagonista foi imediata. Porém, o tempo passou e antes de morrer, em 2005, o autor August Wilson escreveu um roteiro que adaptava para o cinema sua peça. Este roteiro rodou Hollywood, sem sucesso. Dizem (e nunca ninguém confirmou esse fato) que havia um pedido importante feito pelo autor: o diretor deveria ser negro. Pois bem, quando esse roteiro chegou nas mãos de Denzel Washington, ele já era um ator respeitado e influente. Porém, lembrando de sua experiência no teatro, ele preferiu se manter fiel ao texto original e encenar a peça, ao invés de fazer um filme - que aliás rendeu para ele e para Viola Davis, que interpretou sua esposa também nos palcos, dois Tonys Awards, em 2010; além do troféu de Melhor Reencenação. 

Em 2013, quando Washington resolveu assumir o projeto para o cinema, já era claro que o projeto despertaria a curiosidade do público e que a critica receberia a filme de braços abertos - foi o que aconteceu. Desde a fotografia de Charlotte Bruus Christensen (premiada em Cannes por "A Caça") ao desenho de produção de David Gropman (de "A Vida de Pi"), tudo funciona perfeitamente. O roteiro adaptado por Wilson é só a cereja do bolo, porque todo recheio é tão magistral que fica impossível afirmar que a história não foi feita para a telona. Denzel Washington como diretor, foi bem demais - sua capacidade como ator influenciou todo elenco, ou seja, todos estão perfeitos, inclusive Stephen Henderson que faz o melhor amigo de Maxson, o adorável Bono.

"Um Limite Entre Nós" foi indicado ao prêmio de Melhor Filme de 2016 e, na minha opinião, é muito mais profundo e sincero que o vencedor daquela noite (o ótimo, claro, mas muito mais fácil de assistir), "Moonlight: Sob a Luz do Luar"

Se você ainda não deu uma chance para "Um Limite Entre Nós", não perca tempo! Vale muito a pena!

Assista Agora

Existe uma linha tênue entre a genialidade de "Um Limite Entre Nós" e uma verborragia cansativa e sonolenta - quem vai definir o resultado dessa equação é o seu gosto pessoal! Partindo do principio que o filme é uma adaptação de um espetáculo teatral dos anos 80 chamado "Fences" (que também dá nome ao filme na sua versão original - algo como "Cercas"), é possível ter uma ideia de como a dinâmica narrativa está apoiada em diálogos profundos, muitas vezes longos, poucos cenários (basicamente o quintal do protagonista) e performances de cair o queixo - o que justifica a cara feia de Denzel Washington ao perder o Oscar de 2017 para Casey Affleck por "Manchester à Beira-Mar".

A premissa é até que simples: "Um Limite Entre Nós" é um filme que acompanha o casal Troy Maxson (Washington) e Rose Lee Maxson (Viola Davis), e que explora os relacionamentos entre eles, seus filhos e suas perspectivas e aspirações na vida, fazendo dos conflitos do dia-a-dia de seus personagens uma ferramenta para traçar uma poética análise sobre ciclos, culpa, rancor e, talvez, perdão. Confira ao trailer:

Ao lado de "Malcolm X", sem a menor dúvida, esse é o melhor trabalho de Denzel Washington no cinema. Infinitamente melhor que aqueles que lhe renderam o Oscar com "Tempos de Glória" e "Dia de Treinamento" - e olha que estamos falando de um ator que foi indicado 9 vezes, a última com "A Tragédia de Macbeth" que, para mim, completa o pódio de seus melhores trabalhos. Isso sem falar em Viola Davis, essa sim premiada em 2017 com o Oscar de melhor Atriz Coadjuvante! Tanto Washington quanto Davis seguram o filme em quase duas horas e meia de um drama que explora a profundidade dos personagens como poucas vezes vi. O trabalho é dificílimo, são inúmeras camadas para serem construídas e mesmo assim os dois brilham sem cair na armadilha de teatralizar a interpretação - o tom é perfeito para o cinema, mas meu amigo, o olhar, o silêncio, as nuances da respiração, das pausas, da interiorização sem querer expor nada além de um sentimento pontual, duro, sofrido; olha, uma verdadeira aula para quem aprecia essa arte!

E aqui cabe uma história interessante sobre o processo que levou Denzel Washington até a direção e produção dessa obra prima: Em meados dos anos 80, Washington foi ao teatro ver James Earl Jones (de "Star Wars") estrelar o espetáculo - sua identificação com o filho do protagonista foi imediata. Porém, o tempo passou e antes de morrer, em 2005, o autor August Wilson escreveu um roteiro que adaptava para o cinema sua peça. Este roteiro rodou Hollywood, sem sucesso. Dizem (e nunca ninguém confirmou esse fato) que havia um pedido importante feito pelo autor: o diretor deveria ser negro. Pois bem, quando esse roteiro chegou nas mãos de Denzel Washington, ele já era um ator respeitado e influente. Porém, lembrando de sua experiência no teatro, ele preferiu se manter fiel ao texto original e encenar a peça, ao invés de fazer um filme - que aliás rendeu para ele e para Viola Davis, que interpretou sua esposa também nos palcos, dois Tonys Awards, em 2010; além do troféu de Melhor Reencenação. 

Em 2013, quando Washington resolveu assumir o projeto para o cinema, já era claro que o projeto despertaria a curiosidade do público e que a critica receberia a filme de braços abertos - foi o que aconteceu. Desde a fotografia de Charlotte Bruus Christensen (premiada em Cannes por "A Caça") ao desenho de produção de David Gropman (de "A Vida de Pi"), tudo funciona perfeitamente. O roteiro adaptado por Wilson é só a cereja do bolo, porque todo recheio é tão magistral que fica impossível afirmar que a história não foi feita para a telona. Denzel Washington como diretor, foi bem demais - sua capacidade como ator influenciou todo elenco, ou seja, todos estão perfeitos, inclusive Stephen Henderson que faz o melhor amigo de Maxson, o adorável Bono.

"Um Limite Entre Nós" foi indicado ao prêmio de Melhor Filme de 2016 e, na minha opinião, é muito mais profundo e sincero que o vencedor daquela noite (o ótimo, claro, mas muito mais fácil de assistir), "Moonlight: Sob a Luz do Luar"

Se você ainda não deu uma chance para "Um Limite Entre Nós", não perca tempo! Vale muito a pena!

Assista Agora

Um lindo dia na vizinhança

Mais do que um filme sobre o "perdão", "Um lindo dia na vizinhança" fala sobre se "reconectar", com uma sensibilidade impressionante - mesmo que em muitos momentos tenhamos a exata impressão de que aquilo tudo não passa de uma enorme forçada de barra! O interessante, inclusive, é que justamente por isso que o filme nos toca, já que a diretora Marielle Heller usa do carisma (inacreditável - no fiel sentido da palavra) de Fred Rogers, um apresentador de um programa infantil de TV dos anos 70, para contar a história de um jornalista marcado pelo rancor e pela relação nada saudável com seu pai.

Lloyd Vogel (Matthew Rhys) é um jornalista sobrecarregado psicologicamente, que recebe a missão de escrever um artigo sobre o apresentador Fred Rogers (Tom Hanks) para a revista Esquire. Lloyd é um homem cuja vida (aos seus olhos) nunca lhe foi generosa, apesar do seu sucesso profissional - ele carrega consigo uma mágoa profunda por seu pai, Jerry (Chris Cooper). Ao aceitar o trabalho, Vogel acaba se surpreendendo com a maneira como seu entrevistado enxerga a vida e, principalmente, se relaciona com as pessoas. Aos poucos, Vogel e Rogers tornam-se cada vez mais íntimos, dividindo detalhes sobre a vida, sobre suas relações pessoais, com as esposas, filhos e, claro, com as feridas que o convívio com a família pode deixar. Confira o trailer:

Que as pessoas não são 100% ruins, da mesma forma que não são 100% boas, nós já sabemos; ou pelo menos essa é a regra imposta pela sociedade. Mas antes de falar sobre como existem exceções para determinadas regras, vamos contextualizar a história: “Vizinhança de Mister Rogers” foi um dos programas infantis a ficar mais tempo em exibição nos EUA (perdendo apenas recentemente para Vila Sésamo), nele o apresentador Fred Rogers utilizava do lúdico para falar sobre temas do cotidiano e até assuntos mais pesados como morte, depressão, divórcio, raiva, guerra. A grande questão é que Fred parecia ser um personagem dentro e fora do estúdio de gravação e isso instigou demais Lloyd Vogel. Seria possível alguém ser tão carismático, bondoso e empático por tanto tempo e com todo mundo?

“Como é ser casada com um santo?”, questiona o jornalista. “Não gosto desse termo, é como se o que ele é, fosse algo inatingível”, retruca Joanne (Maryann Plunkett), esposa de Rogers. Veja, embora a alma do filme seja Fred, a diretora quer mesmo é contar a história de Lloyd Vogel e a forma com que ela brinca com os conceitos lúdicos do programa do Mister Rogers, fazendo transições entre as maquetes e os movimentos em stop motion com os lugares reais do cotidiano de Vogel criam, metaforicamente, pontos de vista muito interessantes sobre seus fantasmas e como ele se esforça enfrentá-los.

Obviamente que Tom Hanks é o nome do filme - apoiado em uma belíssima maquiagem e nos figurinos exatos de Fred Rogers, o ator dá mais uma aula de caracterização ao mergulhar nas camadas mais profundas do personagem, com expressões pontualmente contidas no silêncio pausado da forma como Rogers se comunicava aos pequenos vícios corporais do apresentador. Matthew Rhys também está muito bem - sua expressão demonstra exatamente toda a carga emocional que Lloyd carrega consigo. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora de Nate Heller - ela pontua perfeitamente o mood das cenas e traz a belíssima "The Promisse" na voz de Tracy Chapman.

"Um Lindo Dia na Vizinhança" é um filme que não fez tanto barulho, mas que vai te surpreender pela sensibilidade e beleza do seu roteiro (de Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue). É um filme com alma, emocionante, dramático e inteligente ao nos mostrar o lado bom de uma boa conversa. Vale a pena!

Up-date: "Um Lindo Dia na Vizinhança" garantiu mais uma indicação para Tom Hanks no Oscar 2020: Melhor Ator Coadjuvante!

Assista Agora

Mais do que um filme sobre o "perdão", "Um lindo dia na vizinhança" fala sobre se "reconectar", com uma sensibilidade impressionante - mesmo que em muitos momentos tenhamos a exata impressão de que aquilo tudo não passa de uma enorme forçada de barra! O interessante, inclusive, é que justamente por isso que o filme nos toca, já que a diretora Marielle Heller usa do carisma (inacreditável - no fiel sentido da palavra) de Fred Rogers, um apresentador de um programa infantil de TV dos anos 70, para contar a história de um jornalista marcado pelo rancor e pela relação nada saudável com seu pai.

Lloyd Vogel (Matthew Rhys) é um jornalista sobrecarregado psicologicamente, que recebe a missão de escrever um artigo sobre o apresentador Fred Rogers (Tom Hanks) para a revista Esquire. Lloyd é um homem cuja vida (aos seus olhos) nunca lhe foi generosa, apesar do seu sucesso profissional - ele carrega consigo uma mágoa profunda por seu pai, Jerry (Chris Cooper). Ao aceitar o trabalho, Vogel acaba se surpreendendo com a maneira como seu entrevistado enxerga a vida e, principalmente, se relaciona com as pessoas. Aos poucos, Vogel e Rogers tornam-se cada vez mais íntimos, dividindo detalhes sobre a vida, sobre suas relações pessoais, com as esposas, filhos e, claro, com as feridas que o convívio com a família pode deixar. Confira o trailer:

Que as pessoas não são 100% ruins, da mesma forma que não são 100% boas, nós já sabemos; ou pelo menos essa é a regra imposta pela sociedade. Mas antes de falar sobre como existem exceções para determinadas regras, vamos contextualizar a história: “Vizinhança de Mister Rogers” foi um dos programas infantis a ficar mais tempo em exibição nos EUA (perdendo apenas recentemente para Vila Sésamo), nele o apresentador Fred Rogers utilizava do lúdico para falar sobre temas do cotidiano e até assuntos mais pesados como morte, depressão, divórcio, raiva, guerra. A grande questão é que Fred parecia ser um personagem dentro e fora do estúdio de gravação e isso instigou demais Lloyd Vogel. Seria possível alguém ser tão carismático, bondoso e empático por tanto tempo e com todo mundo?

“Como é ser casada com um santo?”, questiona o jornalista. “Não gosto desse termo, é como se o que ele é, fosse algo inatingível”, retruca Joanne (Maryann Plunkett), esposa de Rogers. Veja, embora a alma do filme seja Fred, a diretora quer mesmo é contar a história de Lloyd Vogel e a forma com que ela brinca com os conceitos lúdicos do programa do Mister Rogers, fazendo transições entre as maquetes e os movimentos em stop motion com os lugares reais do cotidiano de Vogel criam, metaforicamente, pontos de vista muito interessantes sobre seus fantasmas e como ele se esforça enfrentá-los.

Obviamente que Tom Hanks é o nome do filme - apoiado em uma belíssima maquiagem e nos figurinos exatos de Fred Rogers, o ator dá mais uma aula de caracterização ao mergulhar nas camadas mais profundas do personagem, com expressões pontualmente contidas no silêncio pausado da forma como Rogers se comunicava aos pequenos vícios corporais do apresentador. Matthew Rhys também está muito bem - sua expressão demonstra exatamente toda a carga emocional que Lloyd carrega consigo. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora de Nate Heller - ela pontua perfeitamente o mood das cenas e traz a belíssima "The Promisse" na voz de Tracy Chapman.

"Um Lindo Dia na Vizinhança" é um filme que não fez tanto barulho, mas que vai te surpreender pela sensibilidade e beleza do seu roteiro (de Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue). É um filme com alma, emocionante, dramático e inteligente ao nos mostrar o lado bom de uma boa conversa. Vale a pena!

Up-date: "Um Lindo Dia na Vizinhança" garantiu mais uma indicação para Tom Hanks no Oscar 2020: Melhor Ator Coadjuvante!

Assista Agora

Um lugar bem longe daqui

Antes de mais nada é preciso alinhar as expectativas para que você possa se conectar com a história de "Um lugar bem longe daqui" sem se decepcionar com sua trama - embora o trailer (e toda campanha de marketing) tenha sugerido, o filme não é um suspense policial, muito menos um drama de tribunal! "Um lugar bem longe daqui" é muito mais um drama de relação, quase adolescente, que se apoia nas descobertas do amadurecimento, nos fantasmas do passado e no pré-conceito social para construir uma narrativa muito interessante com a única intenção de te tocar a alma! E cá entre nós, funciona!

Abandonada quando menina, Kya (Daisy Edgar-Jones) cresceu isolada em uma pequena propriedade nos perigosos pântanos da Carolina do Norte. Quando Chase Andrews (Harris Dickinson), um rico garoto da cidade é encontrado morto, Kya imediatamente se torna a principal suspeita. À medida que o caso se desenrola, o veredicto torna-se cada vez mais obscuro, já que muitos elementos do passado podem mostrar o que de fato aconteceu com Andrews. Confira o trailer:

Baseado no fenômeno mundial que é o livro homônimo de Delia Owens, "Um lugar bem longe daqui"sofre por não encontrar sua identidade logo de cara, já que o prólogo escrito pela Lucy Alibar (indicada ao Oscar por "Indomável Sonhadora" em 2012) sugere um caminho que na realidade está bem distante do que realmente a história vai contar. Se inicialmente temos a sensação de estar assistindo um filme sobre um misterioso assassinato em uma pequena cidade dos EUA ao melhor estilo HBO, basta alguns minutos para entendermos que esse é apenas o pano de fundo distante para uma história bem mais água com açúcar. Isso é ruim? Não, mas é inegável que os dois gêneros não se conversam e com isso muitas pessoas tendem a se decepcionar.

Entendido o gênero de "Um lugar bem longe daqui", tudo muda! Embora a narrativa soe cadenciada demais, é de elogiar a forma como a diretora Olivia Newman (de "Minha primeira luta") vai conduzindo a história de Kya sem parecer apressada demais - é como se tudo tivesse seu tempo de acontecer e quando nos damos conta, não conseguimos mais tirar os olhos da tela. A história vai te envolvendo com delicadeza e potência ato a ato e mesmo com alguns clichês (muitos deles mais literários do que cinematográficos), nos conquista. Muito desse mérito tem nome e sobrenome: Daisy Edgar-Jones - essa menina é um verdadeiro talento e vem trilhando uma carreira que muito em breve vai fazer ela ser reconhecida como uma das melhores atrizes de sua geração!

 "Um lugar bem longe daqui" é um ótimo e fácil entretenimento, com uma história honesta e dinâmica na sua construção, que parece sair do contexto cinematográfico para homenagear o leitor do best-seller. Competente tecnicamente, bem realizado artisticamente, o filme de Newman vai transitar perfeitamente entre o suspiro de "Uma Garota Exemplar" e o peso de "O Castelo de Vidro", mas que na verdade é muito mais um "O céu está em todo lugar" sem a pirotecnia gráfica ou a fantasia do amor perfeito - ops, o amor perfeito está lá sim!

Vale seu play!

Assista Agora

Antes de mais nada é preciso alinhar as expectativas para que você possa se conectar com a história de "Um lugar bem longe daqui" sem se decepcionar com sua trama - embora o trailer (e toda campanha de marketing) tenha sugerido, o filme não é um suspense policial, muito menos um drama de tribunal! "Um lugar bem longe daqui" é muito mais um drama de relação, quase adolescente, que se apoia nas descobertas do amadurecimento, nos fantasmas do passado e no pré-conceito social para construir uma narrativa muito interessante com a única intenção de te tocar a alma! E cá entre nós, funciona!

Abandonada quando menina, Kya (Daisy Edgar-Jones) cresceu isolada em uma pequena propriedade nos perigosos pântanos da Carolina do Norte. Quando Chase Andrews (Harris Dickinson), um rico garoto da cidade é encontrado morto, Kya imediatamente se torna a principal suspeita. À medida que o caso se desenrola, o veredicto torna-se cada vez mais obscuro, já que muitos elementos do passado podem mostrar o que de fato aconteceu com Andrews. Confira o trailer:

Baseado no fenômeno mundial que é o livro homônimo de Delia Owens, "Um lugar bem longe daqui"sofre por não encontrar sua identidade logo de cara, já que o prólogo escrito pela Lucy Alibar (indicada ao Oscar por "Indomável Sonhadora" em 2012) sugere um caminho que na realidade está bem distante do que realmente a história vai contar. Se inicialmente temos a sensação de estar assistindo um filme sobre um misterioso assassinato em uma pequena cidade dos EUA ao melhor estilo HBO, basta alguns minutos para entendermos que esse é apenas o pano de fundo distante para uma história bem mais água com açúcar. Isso é ruim? Não, mas é inegável que os dois gêneros não se conversam e com isso muitas pessoas tendem a se decepcionar.

Entendido o gênero de "Um lugar bem longe daqui", tudo muda! Embora a narrativa soe cadenciada demais, é de elogiar a forma como a diretora Olivia Newman (de "Minha primeira luta") vai conduzindo a história de Kya sem parecer apressada demais - é como se tudo tivesse seu tempo de acontecer e quando nos damos conta, não conseguimos mais tirar os olhos da tela. A história vai te envolvendo com delicadeza e potência ato a ato e mesmo com alguns clichês (muitos deles mais literários do que cinematográficos), nos conquista. Muito desse mérito tem nome e sobrenome: Daisy Edgar-Jones - essa menina é um verdadeiro talento e vem trilhando uma carreira que muito em breve vai fazer ela ser reconhecida como uma das melhores atrizes de sua geração!

 "Um lugar bem longe daqui" é um ótimo e fácil entretenimento, com uma história honesta e dinâmica na sua construção, que parece sair do contexto cinematográfico para homenagear o leitor do best-seller. Competente tecnicamente, bem realizado artisticamente, o filme de Newman vai transitar perfeitamente entre o suspiro de "Uma Garota Exemplar" e o peso de "O Castelo de Vidro", mas que na verdade é muito mais um "O céu está em todo lugar" sem a pirotecnia gráfica ou a fantasia do amor perfeito - ops, o amor perfeito está lá sim!

Vale seu play!

Assista Agora

Um Lugar Qualquer

"Um Lugar Qualquer" fala de solidão, mas em uma outra camada, talvez até de uma forma mais cruel que é a de ter a impressão que temos tudo sob controle e que apenas as escolhas do passado foram a causa dessa situação. Entender que a felicidade não está no dinheiro ou na realização pessoal é um processo doloroso e, sim, o personagem Johnny Marco (Stephen Dorff) sente isso na pele - eu diria, inclusive, que por se tratar de uma relação "pai e filha" é até mais difícil lidar do que a situação do Bob Harris (Bill Murray) em "Encontros e Desencontros" (2003) - filme que discute sentimentos e sensações parecidos.


Em "Somewhere" (título original), acompanhamos o já citado Johnny Marco, um bem sucedido ator norte-americano que mora no lendário, mas impessoal, hotel Chateau Marmont enquanto se recupera de um leve acidente. A rotina do ator se resume em diversão, álcool e sexo, mas também no vazio, na falta de relação afetiva e muita melancolia, pois tudo (ou quase tudo) na vida de Marco lhe é entregue de bandeja, sem esforço, por conveniência da profissão. Quando sua filha Cleo (Elle Fanning) chega para passar uma temporada com ele, Marco percebe que a verdadeira felicidade não está nas conquistas profissionais ou na farra irresponsável, e sim na cumplicidade entre pai e filha, mas talvez já seja tarde demais para mudar algo que ele mesmo provocou. Confira o trailer:

Ser filha de um grande diretor não deve ser tarefa das mais fáceis, mas acredite: não foi por acaso que Sofia Coppola conquistou alguns dos principais prêmios que um diretor pode almejar na carreira - do Oscar de melhor roteiro original ao Leão de Ouro do Festival de Veneza. Dito isso, meu conselho é: quem não viu "Um Lugar Qualquer", veja, pois Sofia não é só a filha de Francis Ford Coppola! O filme é, de fato, muito bom, tem um roteiro muito bem escrito, com uma direção focada nos detalhes e toda aquela capacidade de captar o sentimento que ela mostrou em"Encontros e Desencontros" está ali, com a mesma maestria e sensibilidade.

Embora não seja uma jornada das mais fáceis, pelo estilo cadenciado do filme e pelo assunto que ele discute, "Um Lugar Qualquer" é muito provocador e merece muitos elogios. Claro que ele vai impactar um número limitado da audiência, possivelmente aquele que mergulha nas inúmeras camadas de um personagem bastante complexo e que se permite projetar na história suas próprias experiências e aqui, o silêncio e uma trilha sonora lindíssima facilitam essa imersão. Outro detalhe bem interessante: reparem como a Sofia Coppola conta essa história: ela usa  uma câmera fixa, como se o ação fizesse parte de um quadro, de uma pintura, para que possamos acompanhar a cena e só julgar o que estamos vendo; e aí vem o golaço, porque ela nos mostra um dos lados em profundidade e logo depois já nos pergunta" qual é o seu lado que sentiria, justamente, aquele julgamento? É incrível, pois mesmo sem perceber, estamos julgando aquele estilo de vida o tempo todo, mas depois vamos entendendo o preço que se paga por esse tipo "escolha".

"Um Lugar Qualquer" é um grande filme, mas será preciso uma certa sensibilidade para entender o "vazio" que a diretora propõe e em muitas passagens não vamos nos permitir encarar esse sentimento de frente, com sinceridade - e isso vai refletir na sua critica perante o que você assistiu! Para nós, imperdível!

Assista Agora

"Um Lugar Qualquer" fala de solidão, mas em uma outra camada, talvez até de uma forma mais cruel que é a de ter a impressão que temos tudo sob controle e que apenas as escolhas do passado foram a causa dessa situação. Entender que a felicidade não está no dinheiro ou na realização pessoal é um processo doloroso e, sim, o personagem Johnny Marco (Stephen Dorff) sente isso na pele - eu diria, inclusive, que por se tratar de uma relação "pai e filha" é até mais difícil lidar do que a situação do Bob Harris (Bill Murray) em "Encontros e Desencontros" (2003) - filme que discute sentimentos e sensações parecidos.


Em "Somewhere" (título original), acompanhamos o já citado Johnny Marco, um bem sucedido ator norte-americano que mora no lendário, mas impessoal, hotel Chateau Marmont enquanto se recupera de um leve acidente. A rotina do ator se resume em diversão, álcool e sexo, mas também no vazio, na falta de relação afetiva e muita melancolia, pois tudo (ou quase tudo) na vida de Marco lhe é entregue de bandeja, sem esforço, por conveniência da profissão. Quando sua filha Cleo (Elle Fanning) chega para passar uma temporada com ele, Marco percebe que a verdadeira felicidade não está nas conquistas profissionais ou na farra irresponsável, e sim na cumplicidade entre pai e filha, mas talvez já seja tarde demais para mudar algo que ele mesmo provocou. Confira o trailer:

Ser filha de um grande diretor não deve ser tarefa das mais fáceis, mas acredite: não foi por acaso que Sofia Coppola conquistou alguns dos principais prêmios que um diretor pode almejar na carreira - do Oscar de melhor roteiro original ao Leão de Ouro do Festival de Veneza. Dito isso, meu conselho é: quem não viu "Um Lugar Qualquer", veja, pois Sofia não é só a filha de Francis Ford Coppola! O filme é, de fato, muito bom, tem um roteiro muito bem escrito, com uma direção focada nos detalhes e toda aquela capacidade de captar o sentimento que ela mostrou em"Encontros e Desencontros" está ali, com a mesma maestria e sensibilidade.

Embora não seja uma jornada das mais fáceis, pelo estilo cadenciado do filme e pelo assunto que ele discute, "Um Lugar Qualquer" é muito provocador e merece muitos elogios. Claro que ele vai impactar um número limitado da audiência, possivelmente aquele que mergulha nas inúmeras camadas de um personagem bastante complexo e que se permite projetar na história suas próprias experiências e aqui, o silêncio e uma trilha sonora lindíssima facilitam essa imersão. Outro detalhe bem interessante: reparem como a Sofia Coppola conta essa história: ela usa  uma câmera fixa, como se o ação fizesse parte de um quadro, de uma pintura, para que possamos acompanhar a cena e só julgar o que estamos vendo; e aí vem o golaço, porque ela nos mostra um dos lados em profundidade e logo depois já nos pergunta" qual é o seu lado que sentiria, justamente, aquele julgamento? É incrível, pois mesmo sem perceber, estamos julgando aquele estilo de vida o tempo todo, mas depois vamos entendendo o preço que se paga por esse tipo "escolha".

"Um Lugar Qualquer" é um grande filme, mas será preciso uma certa sensibilidade para entender o "vazio" que a diretora propõe e em muitas passagens não vamos nos permitir encarar esse sentimento de frente, com sinceridade - e isso vai refletir na sua critica perante o que você assistiu! Para nós, imperdível!

Assista Agora