"Roubos Inacreditáveis", série documental da Netflix, é surpreendentemente bacana. Além de dar uma outra conotação ao tão badalado sub-gênero de "true crime", a série tem um conceito narrativo leve, dinâmico e muito bem construído para entregar histórias sensacionais que misturam depoimentos dos envolvidos nos crimes com ótimas dramatizações. Talvez o que diferencia tanto essa produção seja o tom escolhido - ele é mais despojado e cínico, mesmo que muito emocionante em várias passagens.
O documentário conta em seis episódios, a história de três roubos muito curiosos - talvez os mais curiosos da história moderna dos Estados Unidos. O grande trunfo porém, é que todas as histórias partem de um único ponto de vista: o dos criminosos. Em um cassino de Las Vegas, Heather Tallchief, uma jovem de 21 anos rouba milhões em dinheiro vivo. Num aeroporto de Miami, Karls Monzon, um imigrante cubano, assalta um armazém, depois de recorrer aos programas de TV para conhecer as técnicas de como não ser preso. E por fim, em Kentucky, Toby Curtsinger, um pai de família e bastante respeitado na comunidade, é acusado de um dos maiores roubos de bourbon da história. Confira o trailer (em inglês):
Produzida pela Dirty Robber, empresa por trás do vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem "Dois Estranhos", e com direção de Derek Doneen (The Price of Free), Martin Desmond Roe (Dois Estranhos ) e Nick Frew (Inacreditável Esporte Clube), "Roubos Inacreditáveis" tem tudo para se tornar um grande sucesso e ganhar várias temporadas. Ao posicionar a audiência para conhecer o lado do criminoso e assim entender as motivações que os levaram a cometerem os crimes, somos imediatamente fisgados por histórias bastante humanas, nos gerando uma enorme e surpreendente empatia - e quando nos damos conta, estamos torcendo para os bandidos e não para os mocinhos. Eu diria que assim que o crime é solucionados e os culpados são presos, a sensação que temos é quase decepcionante - por mais maluco que possa parecer.
Por ser uma série documental, naturalmente quebramos aquele pré-conceito da descrença - é como se estivéssemos assistido um "La Casa de Papel" da vida real! Entender como cada um dos personagens definiu seu alvo, montou seu planejamento, cuidou dos detalhes, lidou com a glória do sucesso e também com os erros bobos que ajudaram os investigadores a descobrir a verdade, é empolgante. Os diretores foram muito inteligentes em encontrar o perfeito equilíbrio ao captar depoimentos muito sinceros e emocionantes tanto dos criminosos quanto de seus familiares e cúmplices, enquanto do outro lado conhecemos o processo da polícia e dos investigadores que resolveram os casos.
Embora a série não faça questão alguma de esconder o resultado dos crimes, é muito curioso assistir os protagonistas falando sobre o assunto com tanta liberdade. Talvez o ponto mais curioso de "Heist" (no original) é que nos perguntamos, depois de conhecer todo o contexto, se fossemos nós os personagens, valeria a pena arriscar tudo para cometer um daqueles crimes que pareciam tão perfeitos e por motivos tão "justificáveis"?
Reflita sobre a resposta...rs.
Vale muito a pena! Mesmo!
"Roubos Inacreditáveis", série documental da Netflix, é surpreendentemente bacana. Além de dar uma outra conotação ao tão badalado sub-gênero de "true crime", a série tem um conceito narrativo leve, dinâmico e muito bem construído para entregar histórias sensacionais que misturam depoimentos dos envolvidos nos crimes com ótimas dramatizações. Talvez o que diferencia tanto essa produção seja o tom escolhido - ele é mais despojado e cínico, mesmo que muito emocionante em várias passagens.
O documentário conta em seis episódios, a história de três roubos muito curiosos - talvez os mais curiosos da história moderna dos Estados Unidos. O grande trunfo porém, é que todas as histórias partem de um único ponto de vista: o dos criminosos. Em um cassino de Las Vegas, Heather Tallchief, uma jovem de 21 anos rouba milhões em dinheiro vivo. Num aeroporto de Miami, Karls Monzon, um imigrante cubano, assalta um armazém, depois de recorrer aos programas de TV para conhecer as técnicas de como não ser preso. E por fim, em Kentucky, Toby Curtsinger, um pai de família e bastante respeitado na comunidade, é acusado de um dos maiores roubos de bourbon da história. Confira o trailer (em inglês):
Produzida pela Dirty Robber, empresa por trás do vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem "Dois Estranhos", e com direção de Derek Doneen (The Price of Free), Martin Desmond Roe (Dois Estranhos ) e Nick Frew (Inacreditável Esporte Clube), "Roubos Inacreditáveis" tem tudo para se tornar um grande sucesso e ganhar várias temporadas. Ao posicionar a audiência para conhecer o lado do criminoso e assim entender as motivações que os levaram a cometerem os crimes, somos imediatamente fisgados por histórias bastante humanas, nos gerando uma enorme e surpreendente empatia - e quando nos damos conta, estamos torcendo para os bandidos e não para os mocinhos. Eu diria que assim que o crime é solucionados e os culpados são presos, a sensação que temos é quase decepcionante - por mais maluco que possa parecer.
Por ser uma série documental, naturalmente quebramos aquele pré-conceito da descrença - é como se estivéssemos assistido um "La Casa de Papel" da vida real! Entender como cada um dos personagens definiu seu alvo, montou seu planejamento, cuidou dos detalhes, lidou com a glória do sucesso e também com os erros bobos que ajudaram os investigadores a descobrir a verdade, é empolgante. Os diretores foram muito inteligentes em encontrar o perfeito equilíbrio ao captar depoimentos muito sinceros e emocionantes tanto dos criminosos quanto de seus familiares e cúmplices, enquanto do outro lado conhecemos o processo da polícia e dos investigadores que resolveram os casos.
Embora a série não faça questão alguma de esconder o resultado dos crimes, é muito curioso assistir os protagonistas falando sobre o assunto com tanta liberdade. Talvez o ponto mais curioso de "Heist" (no original) é que nos perguntamos, depois de conhecer todo o contexto, se fossemos nós os personagens, valeria a pena arriscar tudo para cometer um daqueles crimes que pareciam tão perfeitos e por motivos tão "justificáveis"?
Reflita sobre a resposta...rs.
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"Sabor da Vida" é mais um motivo para agradecer essa "era de streaming" por nos dar a oportunidade de conhecer um tipo de filme que jamais entraria no circuito de cinema comercial aqui no Brasil. Essa produção japonesa, brilhantemente dirigida pela premiada Naomi Kawase (responsável pelo filme oficial dos jogos olímpicos de Tokyo e, acreditem, 9 vezes indicada para premiações no Festival de Cannes - levando para casa quatro desses prêmios), é delicada, profunda e sensível. Uma verdadeira poesia visual para discutir, entre outras coisas, a importância de uma segunda chance sob um olhar sem preconceito e humano.
Sentaro (Masatoshi Nagase) é um chef de um pequeno negócio especializado em dorayakis - um tradicional doce oriental a base de pasta de feijão vermelho. Quando uma senhora de 76 anos, Tokue (Kirin Kiki), se oferece para ajudar na cozinha, ele relutantemente aceita. Mas graças a uma receita secreta de Tokue, o pequeno negócio logo floresce, porém o preconceito impede que essa parceria de sucesso prospere, por outro lado, os laços criados entre eles acabam ajudando na busca pela cura de velhas feridas. Confira o trailer:
"Sabor da Vida" é um filme bastante cadenciado, com uma estrutura dramática densa e complexa. Sua proposta mais autoral entrega uma história bem construída, claro, mas pouco expositiva, ou seja, muito do que sentimos ao assistir o filme é o que vai nos ajudar a entender a intenção de Kawase em discutir um sério problema da sociedade japonesa sem precisar criar grandes embates através do diálogo. A diretora é extremamente competente ao usar o silêncio dos atores da mesma forma em que se aproveita de desenho de som para construir sensações a partir de planos que são verdadeiras pinturas (e que ainda expressam o valor da cultura japonesa).
Grande vencedor do Festival Internacional de Cinema de São Paulo em 2015, o filme cria uma conexão de empatia e respeito ao próximo como poucas vezes vimos no cinema, e muito mérito disso se dá pela performance e química entre Masatoshi Nagase e Kirin Kiki. O personagem de Nagase é cheio de marcas no seu intimo. Já para Kirin as marcas estão no seu corpo, mas para ambos é a dor o combustível que os faz buscar uma nova oportunidade de ser feliz - e já te adianto que você vai se impressionar com a verdade com que essa dupla conduz seus personagens durante toda história.
Com uma leve atmosfera de solidão que nos remete as consequências que a vida insiste em nos mostrar, "Sabor da Vida" vai fundo na reflexão, além de ser uma aula de direção de atores e de construção de uma trama lírica e ao mesmo tempo muito realista. Para os amantes de filmes independentes, de dramas bem estruturados e de uma beleza visual única, esse "play" é quase uma obrigação!
"Sabor da Vida" é mais um motivo para agradecer essa "era de streaming" por nos dar a oportunidade de conhecer um tipo de filme que jamais entraria no circuito de cinema comercial aqui no Brasil. Essa produção japonesa, brilhantemente dirigida pela premiada Naomi Kawase (responsável pelo filme oficial dos jogos olímpicos de Tokyo e, acreditem, 9 vezes indicada para premiações no Festival de Cannes - levando para casa quatro desses prêmios), é delicada, profunda e sensível. Uma verdadeira poesia visual para discutir, entre outras coisas, a importância de uma segunda chance sob um olhar sem preconceito e humano.
Sentaro (Masatoshi Nagase) é um chef de um pequeno negócio especializado em dorayakis - um tradicional doce oriental a base de pasta de feijão vermelho. Quando uma senhora de 76 anos, Tokue (Kirin Kiki), se oferece para ajudar na cozinha, ele relutantemente aceita. Mas graças a uma receita secreta de Tokue, o pequeno negócio logo floresce, porém o preconceito impede que essa parceria de sucesso prospere, por outro lado, os laços criados entre eles acabam ajudando na busca pela cura de velhas feridas. Confira o trailer:
"Sabor da Vida" é um filme bastante cadenciado, com uma estrutura dramática densa e complexa. Sua proposta mais autoral entrega uma história bem construída, claro, mas pouco expositiva, ou seja, muito do que sentimos ao assistir o filme é o que vai nos ajudar a entender a intenção de Kawase em discutir um sério problema da sociedade japonesa sem precisar criar grandes embates através do diálogo. A diretora é extremamente competente ao usar o silêncio dos atores da mesma forma em que se aproveita de desenho de som para construir sensações a partir de planos que são verdadeiras pinturas (e que ainda expressam o valor da cultura japonesa).
Grande vencedor do Festival Internacional de Cinema de São Paulo em 2015, o filme cria uma conexão de empatia e respeito ao próximo como poucas vezes vimos no cinema, e muito mérito disso se dá pela performance e química entre Masatoshi Nagase e Kirin Kiki. O personagem de Nagase é cheio de marcas no seu intimo. Já para Kirin as marcas estão no seu corpo, mas para ambos é a dor o combustível que os faz buscar uma nova oportunidade de ser feliz - e já te adianto que você vai se impressionar com a verdade com que essa dupla conduz seus personagens durante toda história.
Com uma leve atmosfera de solidão que nos remete as consequências que a vida insiste em nos mostrar, "Sabor da Vida" vai fundo na reflexão, além de ser uma aula de direção de atores e de construção de uma trama lírica e ao mesmo tempo muito realista. Para os amantes de filmes independentes, de dramas bem estruturados e de uma beleza visual única, esse "play" é quase uma obrigação!
"Safety" é muito bacana (muito "mesmo"!) - daqueles filmes emocionantes que nos fazem sorrir com o coração e com a alma! Safety para quem está pouco familiarizado com o Futebol Americano é uma posição importante da linha de defesa de um time e que em uma tradução livre significa "segurança". Muito mais do que contar a história de um atleta que joga nessa posição, o título do filme pretende explorar o real significado da palavra dentro do âmbito familiar e é isso que transforma essa produção original da Disney em um filme simplesmente imperdível!
Essa é a história real de Ray McElrathbey (Jay Reeves), um jovem jogador de futebol americano recém chegado em uma das Universidades mais tradicionais dos EUA quando o assunto é o programa de bolsas para o esporte. A oportunidade de jogar nos "Tigers" de Clemson é tão relevante quanto ganhar uma bolsa integral da Universidade, porém McElrathbey precisa enfrentar uma série de desafiadores obstáculos na vida e lutar contra muitas adversidades para manter essa condição de estudante e atleta, ao mesmo tempo que precisa cuidar de seu irmão de 11 anos de idade enquanto sua mãe passa por um tratamento para se livrar das drogas. Confira o trailer:
Veja, mesmo com inúmeras referências ao esporte, inclusive com diálogos bastante complicados até para os mais familiarizados, "Safety" não é um filme de futebol americano na sua essência - são pouquíssimas cenas de jogos ou de citações sobre a necessidade de vencer o título da temporada. Obviamente que a atmosfera esportiva e a importância dos Tigers para a comunidade são claramente perceptíveis durante o desenrolar do filme, mas eu diria que a relação direta com o esporte em si para por aí. É inegável que a audiência acostumada com o futebol americano vai se relacionar de uma maneira muito mais profunda com a trama, mas o roteiro de Nick Santora (da série “Prison Break”) cumpre muito bem o papel didático para fisgar um público mais abrangente.
"Safety" é um excelente exemplo de história que daria um filme impactante se o conceito narrativo se apoiasse no realismo brutal do drama familiar como em "Florida Project"ou "Palmer", mas assim não seria um filme "Disney". A escolha (ou imposição) do diretor Reginald Hudlin (“O Pai da Black Music”) por um tom mais brando prejudica a experiência? Não, muito pelo contrário, mas não dá para negar que a busca pela solução do problema acaba ganhando uma importância narrativa muito maior do que o problema em si.
Tecnicamente o filme é muito bem realizado - dos planos abertos do campo de futebol americano para nos posicionar perante a grandiosidade do esporte e de sua tradição para a universidade de Clemson aos cortes bem executados entre uma câmera subjetiva ou um movimento de travelling para nos colocar no campo de jogo. Tudo isso, porém, são apenas elementos visualmente impactantes para emoldurar as mensagens inspiradoras e emocionantes, além de ótimos momentos que servem como alívios cômicos (principalmente com o ótimo Thaddeus J. Mixson - o irmão mais novo de Ray, Fahmarr).
"Safety" é repleto de clichês, mas que funciona perfeitamente para nos emocionar, além de trazer aquela sensação de bem-estar tão característico das produções da Disney que em nenhum momento perdem o seu brilho ou a simpatia dos personagens.
Vale muito a pena!
"Safety" é muito bacana (muito "mesmo"!) - daqueles filmes emocionantes que nos fazem sorrir com o coração e com a alma! Safety para quem está pouco familiarizado com o Futebol Americano é uma posição importante da linha de defesa de um time e que em uma tradução livre significa "segurança". Muito mais do que contar a história de um atleta que joga nessa posição, o título do filme pretende explorar o real significado da palavra dentro do âmbito familiar e é isso que transforma essa produção original da Disney em um filme simplesmente imperdível!
Essa é a história real de Ray McElrathbey (Jay Reeves), um jovem jogador de futebol americano recém chegado em uma das Universidades mais tradicionais dos EUA quando o assunto é o programa de bolsas para o esporte. A oportunidade de jogar nos "Tigers" de Clemson é tão relevante quanto ganhar uma bolsa integral da Universidade, porém McElrathbey precisa enfrentar uma série de desafiadores obstáculos na vida e lutar contra muitas adversidades para manter essa condição de estudante e atleta, ao mesmo tempo que precisa cuidar de seu irmão de 11 anos de idade enquanto sua mãe passa por um tratamento para se livrar das drogas. Confira o trailer:
Veja, mesmo com inúmeras referências ao esporte, inclusive com diálogos bastante complicados até para os mais familiarizados, "Safety" não é um filme de futebol americano na sua essência - são pouquíssimas cenas de jogos ou de citações sobre a necessidade de vencer o título da temporada. Obviamente que a atmosfera esportiva e a importância dos Tigers para a comunidade são claramente perceptíveis durante o desenrolar do filme, mas eu diria que a relação direta com o esporte em si para por aí. É inegável que a audiência acostumada com o futebol americano vai se relacionar de uma maneira muito mais profunda com a trama, mas o roteiro de Nick Santora (da série “Prison Break”) cumpre muito bem o papel didático para fisgar um público mais abrangente.
"Safety" é um excelente exemplo de história que daria um filme impactante se o conceito narrativo se apoiasse no realismo brutal do drama familiar como em "Florida Project"ou "Palmer", mas assim não seria um filme "Disney". A escolha (ou imposição) do diretor Reginald Hudlin (“O Pai da Black Music”) por um tom mais brando prejudica a experiência? Não, muito pelo contrário, mas não dá para negar que a busca pela solução do problema acaba ganhando uma importância narrativa muito maior do que o problema em si.
Tecnicamente o filme é muito bem realizado - dos planos abertos do campo de futebol americano para nos posicionar perante a grandiosidade do esporte e de sua tradição para a universidade de Clemson aos cortes bem executados entre uma câmera subjetiva ou um movimento de travelling para nos colocar no campo de jogo. Tudo isso, porém, são apenas elementos visualmente impactantes para emoldurar as mensagens inspiradoras e emocionantes, além de ótimos momentos que servem como alívios cômicos (principalmente com o ótimo Thaddeus J. Mixson - o irmão mais novo de Ray, Fahmarr).
"Safety" é repleto de clichês, mas que funciona perfeitamente para nos emocionar, além de trazer aquela sensação de bem-estar tão característico das produções da Disney que em nenhum momento perdem o seu brilho ou a simpatia dos personagens.
Vale muito a pena!
Se “Halston” é a versão biográfica hollywoodiana de um ícone da moda para o streaming, sem a menor dúvida que "Saint Laurent" cumpre o mesmo papel para o cinema independente - e essa analogia vai além do conteúdo, já que a forma com que o diretor francês Bertrand Bonello (de "Coma") cobre um recorte importante da carreira do estilista é pouco convencional e extremamente autoral. Certamente que as escolhas estéticas e narrativas do diretor vão afastar parte da audiência, porém, para o amante da moda, de cinebiografias e, principalmente, para quem gosta de filmes mais autorais, posso dizer que você está prestes a assistir um excelente filme!
O filme basicamente acompanha um recorte da vida de Yves Saint Laurent, especificamente entre os anos de 1967 e 1976, período em que, mesmo frágil emocionalmente, o famoso estilista estava no auge de sua carreira. confira o trailer:
Não por acaso "Saint Laurent" ostenta o selo de "Seleção Oficial" no Festival de Cannes 2014 e foi indicado pela França para concorrer na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2015. O curioso, porém, é que essa não é a única obra sobre o estilista que foi produzida e reconhecida naquele ano de 2014 - enquanto "Saint Laurent", de Bonello, insiste em explorar os aspectos mais sombrios da personalidade do protagonista."Yves Saint Laurent", de Jalil Lespert, uma versão "autorizada" por Pierre Bergé, companheiro do estilista que faleceu em 2008, foca na vida do jovem que vai se transformando na velocidade de seu prestígio e através da tumultuada relação com o próprio Bergé.
Veja, aqui o roteiro se propõe a mostrar o reinado de Saint Laurent no mundo da alta costura francesa sem se aprofundar em como ele conquistou esse status. O valor da obra está no processo criativo, nos relacionamentos amorosos, nas dificuldades emocionais e nas polêmicas com o marido e empresário Pierre Berger, mas sem levantar nenhuma bandeira ou provocar grandes discussões sobre os caminhos que o estilista escolheu durante a carreira - o que acaba distanciando a narrativa de "Halston", por exemplo. Em compensação, o recorte do filme é verdadeiramente impactante visualmente - seja pela maneira como o protagonista criava ou pela sua postura íntima em relação aos seus parceiros e amigos.
Propositalmente cadenciado e sem respeitar a linearidade das passagens retratadas, "Saint Laurent" vai incomodar os menos dispostos a encarar uma narrativa quase experimental. O primeiro ato, de fato, é o menos chamativo, porém ao entender a proposta do diretor, tudo muda de figura e nos conectamos com o personagem maravilhosamente interpretado pelo Gaspard Ulliel (de "Era uma segunda vez") - performance que lhe rendeu inúmeros prêmios e indicações, inclusive para o "Oscar Francês", o César Awards. Dito isso, é preciso comentar que o filme cresce muito quando se apoia na ruína íntima de Yves Saint Laurent (é onde se aproxima de Halston - por isso a comparação inicial), principalmente nos instantes em que a notoriedade, o dinheiro, a bajulação e o reconhecimento, já não eram suficientes para torna-lo uma pessoa feliz e realizada - por incrível que pareça!
Vale seu play!
Se “Halston” é a versão biográfica hollywoodiana de um ícone da moda para o streaming, sem a menor dúvida que "Saint Laurent" cumpre o mesmo papel para o cinema independente - e essa analogia vai além do conteúdo, já que a forma com que o diretor francês Bertrand Bonello (de "Coma") cobre um recorte importante da carreira do estilista é pouco convencional e extremamente autoral. Certamente que as escolhas estéticas e narrativas do diretor vão afastar parte da audiência, porém, para o amante da moda, de cinebiografias e, principalmente, para quem gosta de filmes mais autorais, posso dizer que você está prestes a assistir um excelente filme!
O filme basicamente acompanha um recorte da vida de Yves Saint Laurent, especificamente entre os anos de 1967 e 1976, período em que, mesmo frágil emocionalmente, o famoso estilista estava no auge de sua carreira. confira o trailer:
Não por acaso "Saint Laurent" ostenta o selo de "Seleção Oficial" no Festival de Cannes 2014 e foi indicado pela França para concorrer na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2015. O curioso, porém, é que essa não é a única obra sobre o estilista que foi produzida e reconhecida naquele ano de 2014 - enquanto "Saint Laurent", de Bonello, insiste em explorar os aspectos mais sombrios da personalidade do protagonista."Yves Saint Laurent", de Jalil Lespert, uma versão "autorizada" por Pierre Bergé, companheiro do estilista que faleceu em 2008, foca na vida do jovem que vai se transformando na velocidade de seu prestígio e através da tumultuada relação com o próprio Bergé.
Veja, aqui o roteiro se propõe a mostrar o reinado de Saint Laurent no mundo da alta costura francesa sem se aprofundar em como ele conquistou esse status. O valor da obra está no processo criativo, nos relacionamentos amorosos, nas dificuldades emocionais e nas polêmicas com o marido e empresário Pierre Berger, mas sem levantar nenhuma bandeira ou provocar grandes discussões sobre os caminhos que o estilista escolheu durante a carreira - o que acaba distanciando a narrativa de "Halston", por exemplo. Em compensação, o recorte do filme é verdadeiramente impactante visualmente - seja pela maneira como o protagonista criava ou pela sua postura íntima em relação aos seus parceiros e amigos.
Propositalmente cadenciado e sem respeitar a linearidade das passagens retratadas, "Saint Laurent" vai incomodar os menos dispostos a encarar uma narrativa quase experimental. O primeiro ato, de fato, é o menos chamativo, porém ao entender a proposta do diretor, tudo muda de figura e nos conectamos com o personagem maravilhosamente interpretado pelo Gaspard Ulliel (de "Era uma segunda vez") - performance que lhe rendeu inúmeros prêmios e indicações, inclusive para o "Oscar Francês", o César Awards. Dito isso, é preciso comentar que o filme cresce muito quando se apoia na ruína íntima de Yves Saint Laurent (é onde se aproxima de Halston - por isso a comparação inicial), principalmente nos instantes em que a notoriedade, o dinheiro, a bajulação e o reconhecimento, já não eram suficientes para torna-lo uma pessoa feliz e realizada - por incrível que pareça!
Vale seu play!
"Sandy & Junior: A História" é uma das coisas mais sensacionais que assisti recentemente ! A minissérie documental da Globoplay é de um primor técnico e artístico muito (mas muito) acima da média. Em pouco mais de sete horas, somos transportados para uma jornada de 30 anos de história através de uma dinâmica narrativa que é uma aula de roteiro, montagem, direção e, claro, de entretenimento, daqueles onde sentimos na alma a capacidade e a sensibilidade do diretor em nos colocar muito próximos do processo de construção de um projeto de sucesso de uma dupla que, para muitos, é a maior referência da música jovem que o Brasil já teve - e com muito merecimento! Sinceramente não me lembro de um documentário sobre a carreira de algum artista, seja ele de qualquer segmento, que tenha conseguido amarrar tantas passagens, épocas e histórias com tamanha competência! É de se emocionar, até para quem não é um grande fã da dupla, pelo simples fato que a história que vemos na tela tem muita verdade, coração! Confira o trailer:
Produzido pela Goga Cine e baseado em um vasto arquivo musical e pessoal, "Sandy & Junior: A História" acompanha diversos momentos da trajetória da dupla, com inúmeras cenas inéditas: desde a saída emocionados do palco em seu último show em 2007 até imagens caseiras de toda a infância cantando e dançando, em casa, ao lado dos pais. Entre tantas preciosidades, vemos depoimentos de artistas como Roberto Carlos, Ivete Sangalo, Laura Pausini, além de todos os bastidores, da concepção aos shows, da mega turnê "Nossa História" que aconteceu em 2019.
Olha, esse documentário é cheio de camadas, capaz de desmistificar alguns detalhes da vida pessoal da dupla, como reforçar que, além de muito talento, é preciso muito trabalho, dedicação e renúncia para alcançar objetivos profissionais com tanta excelência!
Talvez o maior mérito do diretor Douglas Aguilar tenha sido o de humanizar dois artistas tão diferentes, porém tão complementares, como a Sandy e o Junior. Se partirmos do princípio que os irmãos foram referência para uma geração, com fãs que cresceram e amadureceram ouvindo suas músicas, assistindo seus shows ou acompanhando a longa carreira, é natural a sensação de um certo distanciamento e até uma adoração pela "figura pública" que representa a dupla - e é aí que o documentário se diferencia: o que vemos nos episódios é o lado humano dos dois, com suas qualidades e talentos, mas também com suas fraquezas e inseguranças; e isso é lindo de ver! Com muita sensibilidade, Aguilar foi muito feliz na forma como reconstruiu uma história tão rica e tão importante para muitas pessoas - não são raros os momentos em que vemos o Junior se emocionar ao relembrar passagens delicadas da carreira. A própria Sandy confidencia sobre seus medos ou algum incomodo por um ou outro comentário sobre ela e sua vida pessoal. Tudo isso vem com um enquadramento perfeito, com uma luz linda, um movimento orgânico da câmera! Quando temos a nítida impressão de quão invencíveis eles foram se tornando ao passar por cima de tanta coisa e subir cada um desses degraus - da rotina cruel de trabalho às decisões mais delicadas que tinham que tomar visando uma melhor qualidade de vida, o tom dos depoimentos e a construção narrativa também vão se alinhando com as imagens certas de arquivo, com os offs colocados no lugar exato, com as pausas, com a trilha sonora! Demais! É muito bacana perceber que por trás de artistas tão completos, existem seres humanos - e nisso o documentário não economiza!
Outro elemento que vai chamar a atenção é a construção do projeto do retorno da dupla - a turnê "Nossa História" é um evento tão gigantesco que foi considerado a segunda maior do mundo, ficando atrás apenas da série de shows que o Elton John fez em 2019. É de fato uma coisa do outro mundo, nível popstar mesmo!!! O trabalho do diretor Raoni Carneiro ao lado do marido da Sandy, Lucas Lima e, claro, da própria dupla e do pai Xororó, é algo que merece muitos elogios. São tantos detalhes, tanto trabalho e cuidado, que, sem dúvida, muita gente que nem imaginava a quantidade de profissionais envolvidos para colocar um show como esse de pé, vai rever alguns conceitos!
"Sandy & Junior: A História" vai muito além do que vimos em "This is It" e "Never say Never" e não se surpreendam se trouxer muitos prêmios na próxima temporada de premiação, tanto de TV como de Cinema! Se você gosta da dupla, esse documentário é imperdível! Se você gosta de música e entretenimento, esse documentário é essencial! E se você é apenas um curioso, tenha certeza, você vai sair com uma outra visão sobre a Sandy, sobre o Junior e sobre todo o universo que rodeia esses dois artistas que, juntos, se transformaram em verdadeiros fenômenos e que merecem todo o respeito e admiração de milhões de pessoas!
Não perca tempo, dê o play, porque você não vai se arrepender!
"Sandy & Junior: A História" é uma das coisas mais sensacionais que assisti recentemente ! A minissérie documental da Globoplay é de um primor técnico e artístico muito (mas muito) acima da média. Em pouco mais de sete horas, somos transportados para uma jornada de 30 anos de história através de uma dinâmica narrativa que é uma aula de roteiro, montagem, direção e, claro, de entretenimento, daqueles onde sentimos na alma a capacidade e a sensibilidade do diretor em nos colocar muito próximos do processo de construção de um projeto de sucesso de uma dupla que, para muitos, é a maior referência da música jovem que o Brasil já teve - e com muito merecimento! Sinceramente não me lembro de um documentário sobre a carreira de algum artista, seja ele de qualquer segmento, que tenha conseguido amarrar tantas passagens, épocas e histórias com tamanha competência! É de se emocionar, até para quem não é um grande fã da dupla, pelo simples fato que a história que vemos na tela tem muita verdade, coração! Confira o trailer:
Produzido pela Goga Cine e baseado em um vasto arquivo musical e pessoal, "Sandy & Junior: A História" acompanha diversos momentos da trajetória da dupla, com inúmeras cenas inéditas: desde a saída emocionados do palco em seu último show em 2007 até imagens caseiras de toda a infância cantando e dançando, em casa, ao lado dos pais. Entre tantas preciosidades, vemos depoimentos de artistas como Roberto Carlos, Ivete Sangalo, Laura Pausini, além de todos os bastidores, da concepção aos shows, da mega turnê "Nossa História" que aconteceu em 2019.
Olha, esse documentário é cheio de camadas, capaz de desmistificar alguns detalhes da vida pessoal da dupla, como reforçar que, além de muito talento, é preciso muito trabalho, dedicação e renúncia para alcançar objetivos profissionais com tanta excelência!
Talvez o maior mérito do diretor Douglas Aguilar tenha sido o de humanizar dois artistas tão diferentes, porém tão complementares, como a Sandy e o Junior. Se partirmos do princípio que os irmãos foram referência para uma geração, com fãs que cresceram e amadureceram ouvindo suas músicas, assistindo seus shows ou acompanhando a longa carreira, é natural a sensação de um certo distanciamento e até uma adoração pela "figura pública" que representa a dupla - e é aí que o documentário se diferencia: o que vemos nos episódios é o lado humano dos dois, com suas qualidades e talentos, mas também com suas fraquezas e inseguranças; e isso é lindo de ver! Com muita sensibilidade, Aguilar foi muito feliz na forma como reconstruiu uma história tão rica e tão importante para muitas pessoas - não são raros os momentos em que vemos o Junior se emocionar ao relembrar passagens delicadas da carreira. A própria Sandy confidencia sobre seus medos ou algum incomodo por um ou outro comentário sobre ela e sua vida pessoal. Tudo isso vem com um enquadramento perfeito, com uma luz linda, um movimento orgânico da câmera! Quando temos a nítida impressão de quão invencíveis eles foram se tornando ao passar por cima de tanta coisa e subir cada um desses degraus - da rotina cruel de trabalho às decisões mais delicadas que tinham que tomar visando uma melhor qualidade de vida, o tom dos depoimentos e a construção narrativa também vão se alinhando com as imagens certas de arquivo, com os offs colocados no lugar exato, com as pausas, com a trilha sonora! Demais! É muito bacana perceber que por trás de artistas tão completos, existem seres humanos - e nisso o documentário não economiza!
Outro elemento que vai chamar a atenção é a construção do projeto do retorno da dupla - a turnê "Nossa História" é um evento tão gigantesco que foi considerado a segunda maior do mundo, ficando atrás apenas da série de shows que o Elton John fez em 2019. É de fato uma coisa do outro mundo, nível popstar mesmo!!! O trabalho do diretor Raoni Carneiro ao lado do marido da Sandy, Lucas Lima e, claro, da própria dupla e do pai Xororó, é algo que merece muitos elogios. São tantos detalhes, tanto trabalho e cuidado, que, sem dúvida, muita gente que nem imaginava a quantidade de profissionais envolvidos para colocar um show como esse de pé, vai rever alguns conceitos!
"Sandy & Junior: A História" vai muito além do que vimos em "This is It" e "Never say Never" e não se surpreendam se trouxer muitos prêmios na próxima temporada de premiação, tanto de TV como de Cinema! Se você gosta da dupla, esse documentário é imperdível! Se você gosta de música e entretenimento, esse documentário é essencial! E se você é apenas um curioso, tenha certeza, você vai sair com uma outra visão sobre a Sandy, sobre o Junior e sobre todo o universo que rodeia esses dois artistas que, juntos, se transformaram em verdadeiros fenômenos e que merecem todo o respeito e admiração de milhões de pessoas!
Não perca tempo, dê o play, porque você não vai se arrepender!
"Seberg", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Contra Todos", passou quase despercebido pelos cinemas em 2020 e, sinceramente, merecia mais atenção. Primeiro pela força de uma história real, de fato, surpreendente e segundo pelo excelente trabalho de Kristen Stewart como protagonista.
Para quem não conhece, Seberg foi uma verdadeira estrela de um movimento cinematográfico francês chamado Nouvelle Vague,trabalhando com nomes consagrados como Jean-Luc Godard e François Truffaut. Embora tenha evitado Hollywood ao máximo, Seberg acabou escalada para viverJoana D’Arc de Otto Preminger, porém um acidente durante as filmagens quase matou a atriz queimada. Embora o filme pontue esse fato, é o inicio do romance com Hakim Jamal (Anthony Mackie), integrante dos Panteras Negras, e sua relação com o movimento dos direitos civis, que transformaram uma investigação feita pelo FBI no maior pesadelo da sua vida. Confira o trailer:
O fato do roteiro focar em um breve recorte da vida de Jean Seberg ajuda no desenvolvimento do drama pela qual a atriz passou, mas nos distancia do entendimento sobre o tamanho e a importância que ela tinha como figura pública. Dito isso, demoramos um pouco mais para mergulhar nas aflições da personagem - fato que não aconteceu em "Judy", por exemplo. Porém, assim que nos familiarizamos com o contexto politico e social da época e nos reconhecemos na forma como a atriz reage aos absurdos raciais, claro, tudo passa a fluir melhor. Kristen Stewart tem muito mérito nisso, já que seu trabalho explora todas as camadas de uma estrela, cheia de problemas pessoais, mas incrivelmente a frente do seu tempo. Vince Vaughn como o veterano radical e sem escrúpulos que trabalha no FBI, Carl Kowalski, também merece elogios. Reparem!
O interessante de "Seberg contra Todos", além de apresentar uma personagem forte e uma história que merecia ser contada, é a forma cruel como os fatos vão sendo construídos e como, pouco a pouco, isso vai interferindo na vida (e na sanidade) da protagonista. Saiba que o filme tem um caminho, uma direção clara, que impede maiores distrações, com isso tudo fica engessado e não dá tempo de provocar muitas reflexões como em "Infiltrado na Klan" ou em "Os Sete de Chicago"- para citar produções com eventos de uma mesma época e que trazem muitas referências. Independente disso, a recomendação é das mais tranquilas: trata-se de um ótimo filme, que acabou sendo deixado de lado injustamente e que merece muito o seu play!
Antes de terminar, mais uma observação: Rachel Morrison, jovem indicada ao Oscar na categoria "Melhor Fotografia" por "Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi" de 2017, e que também trabalhou em "Pantera Negra" (2018), mais uma vez dá um show - o trabalho dela em "Seberg" é digno de prêmios!
"Seberg", que no Brasil ganhou o subtítulo de "Contra Todos", passou quase despercebido pelos cinemas em 2020 e, sinceramente, merecia mais atenção. Primeiro pela força de uma história real, de fato, surpreendente e segundo pelo excelente trabalho de Kristen Stewart como protagonista.
Para quem não conhece, Seberg foi uma verdadeira estrela de um movimento cinematográfico francês chamado Nouvelle Vague,trabalhando com nomes consagrados como Jean-Luc Godard e François Truffaut. Embora tenha evitado Hollywood ao máximo, Seberg acabou escalada para viverJoana D’Arc de Otto Preminger, porém um acidente durante as filmagens quase matou a atriz queimada. Embora o filme pontue esse fato, é o inicio do romance com Hakim Jamal (Anthony Mackie), integrante dos Panteras Negras, e sua relação com o movimento dos direitos civis, que transformaram uma investigação feita pelo FBI no maior pesadelo da sua vida. Confira o trailer:
O fato do roteiro focar em um breve recorte da vida de Jean Seberg ajuda no desenvolvimento do drama pela qual a atriz passou, mas nos distancia do entendimento sobre o tamanho e a importância que ela tinha como figura pública. Dito isso, demoramos um pouco mais para mergulhar nas aflições da personagem - fato que não aconteceu em "Judy", por exemplo. Porém, assim que nos familiarizamos com o contexto politico e social da época e nos reconhecemos na forma como a atriz reage aos absurdos raciais, claro, tudo passa a fluir melhor. Kristen Stewart tem muito mérito nisso, já que seu trabalho explora todas as camadas de uma estrela, cheia de problemas pessoais, mas incrivelmente a frente do seu tempo. Vince Vaughn como o veterano radical e sem escrúpulos que trabalha no FBI, Carl Kowalski, também merece elogios. Reparem!
O interessante de "Seberg contra Todos", além de apresentar uma personagem forte e uma história que merecia ser contada, é a forma cruel como os fatos vão sendo construídos e como, pouco a pouco, isso vai interferindo na vida (e na sanidade) da protagonista. Saiba que o filme tem um caminho, uma direção clara, que impede maiores distrações, com isso tudo fica engessado e não dá tempo de provocar muitas reflexões como em "Infiltrado na Klan" ou em "Os Sete de Chicago"- para citar produções com eventos de uma mesma época e que trazem muitas referências. Independente disso, a recomendação é das mais tranquilas: trata-se de um ótimo filme, que acabou sendo deixado de lado injustamente e que merece muito o seu play!
Antes de terminar, mais uma observação: Rachel Morrison, jovem indicada ao Oscar na categoria "Melhor Fotografia" por "Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi" de 2017, e que também trabalhou em "Pantera Negra" (2018), mais uma vez dá um show - o trabalho dela em "Seberg" é digno de prêmios!
Esse é mais um "ame ou odeie" que o streaming está nos dando a oportunidade de julgar. Embora tenha toda aquela atmosfera misteriosa que nos acostumamos a encontrar nas minisséries de suspense policial da HBO, "Sede Assassina" é um filme - e isso precisa ser muito bem pontuado, pois você não vai encontrar um desenvolvimento profundo dos personagens e muito menos entender perfeitamente suas motivações, simplesmente porque não há tempo de tela suficiente para que o talentoso diretor argentino Damián Szifron (de "Relatos Selvagens") possa colocar sua narrativa em um outro nível. No entanto Szifron está longe de ser um cineasta medíocre e o caminho que ele encontrou para nos provocar como audiência é justamente quebrando nossas expectativas, ou seja, mesmo carregado de estereótipos do gênero, o filme é surpreendente por sua imprevisibilidade - não em relação a história em si, mas em relação ao destino de seus personagens.
Eleanor (Shailene Woodley), uma jovem investigadora lidando com demônios de seu passado, é convocada à cena de um crime brutal que acontece na noite de Réveillon em Baltimore onde um atirador misterioso, literalmente, abate nada menos do que 29 pessoas que festejavam em vários prédios dentro de um mesmo perímetro. Logo, uma caçada ao criminoso começa, mas o comportamento enigmático do atirador atrapalha os rumos da investigação liderada pelo experiente e pressionado, Geoffrey Lammark (Ben Mendelsohn). Então, Eleanor se vê cada vez mais atraída para o caso assim que percebe que, devido a sua própria mente, pode ser a única pessoa capaz de entender os passos desse assassino singular. Confira o trailer:
Talvez o prólogo de "Sede Assassina" seja o mais interessante e bem estruturado que você vai assistir em algum tempo. De fato Szifron estabelece o tamanho do problema a partir de um conceito visual e de uma narrativa tão dinâmica (graças a sua edição) que olha, impressiona! A trama que segue é intrigante, nos prende. Ela é repleta de suspense e de algumas reviravoltas importantes, mas acho que é no mergulho dentro do universo sombrio e perturbador do atirador, que encontramos seu grande trunfo - mesmo que sempre trabalhando a partir das suposições dos investigadores. Aqui não se trata de quem foi, mas sim como encontra-lo e podemos dizer que, ao lado do roteirista estreante Jonathan Wakeham, o diretor consegue provocar essa sensação de corrida contra o tempo (antes que o próximo ataque possa acontecer) de uma forma muito inteligente, realística e criativa.
Shailene Woodley e Ben Mendelsohn são dois craques - é uma pena que o formato escolhido para contar essa história prejudique tanto o trabalho de ambos. A direção de Szifron até consegue explorar algumas nuances psicológicas dos personagens, nos levando a questionar suas próprias capacidades, mas é inegável que a sensação de superficialidade nos acompanhe por toda a jornada. Já a fotografia do Javier Julia (de "Relatos Selvagens" e "Argentina 1985") é um show a parte - reparem como aqui existe uma profundidade conceitual muito bem planejada, como ele brinca com uma atmosfera mais urbana marcada pelas sombras em contraste com a luz artificial, que define uma linha tênue entre o caos e o glamour, e que depois se transforma em uma uma atmosfera gélida, sinistra, quase monocromática da investigação. É como se ele saísse de uma estética neo noir para um thriller oitentista.
Escondido entre um diálogo mais critico ou um plano bem construído, o filme também explora o vazio do consumismo e a pandemia do capitalismo americano perante a normalização dos transtornos psicológicos modernos. Dito isso, "Sede Assassina" é essencialmente um excelente entretenimento para quem gosta de investigações e algum drama com ótimas (mas poucas) cenas de ação bem construídas. Mesmo que desde o seu lançamento o filme tenha sido assunto divergente entre crítica e público, é de se elogiar a limonada que Szifron fez com seus poucos limões ao potencializar uma trama, de certa forma simples, com um visual belíssimo e uma condução que prioriza as reviravoltas inesperadas mesmo que custe nossa empatia pelo que os personagens têm de melhor.
Vale seu play!
Esse é mais um "ame ou odeie" que o streaming está nos dando a oportunidade de julgar. Embora tenha toda aquela atmosfera misteriosa que nos acostumamos a encontrar nas minisséries de suspense policial da HBO, "Sede Assassina" é um filme - e isso precisa ser muito bem pontuado, pois você não vai encontrar um desenvolvimento profundo dos personagens e muito menos entender perfeitamente suas motivações, simplesmente porque não há tempo de tela suficiente para que o talentoso diretor argentino Damián Szifron (de "Relatos Selvagens") possa colocar sua narrativa em um outro nível. No entanto Szifron está longe de ser um cineasta medíocre e o caminho que ele encontrou para nos provocar como audiência é justamente quebrando nossas expectativas, ou seja, mesmo carregado de estereótipos do gênero, o filme é surpreendente por sua imprevisibilidade - não em relação a história em si, mas em relação ao destino de seus personagens.
Eleanor (Shailene Woodley), uma jovem investigadora lidando com demônios de seu passado, é convocada à cena de um crime brutal que acontece na noite de Réveillon em Baltimore onde um atirador misterioso, literalmente, abate nada menos do que 29 pessoas que festejavam em vários prédios dentro de um mesmo perímetro. Logo, uma caçada ao criminoso começa, mas o comportamento enigmático do atirador atrapalha os rumos da investigação liderada pelo experiente e pressionado, Geoffrey Lammark (Ben Mendelsohn). Então, Eleanor se vê cada vez mais atraída para o caso assim que percebe que, devido a sua própria mente, pode ser a única pessoa capaz de entender os passos desse assassino singular. Confira o trailer:
Talvez o prólogo de "Sede Assassina" seja o mais interessante e bem estruturado que você vai assistir em algum tempo. De fato Szifron estabelece o tamanho do problema a partir de um conceito visual e de uma narrativa tão dinâmica (graças a sua edição) que olha, impressiona! A trama que segue é intrigante, nos prende. Ela é repleta de suspense e de algumas reviravoltas importantes, mas acho que é no mergulho dentro do universo sombrio e perturbador do atirador, que encontramos seu grande trunfo - mesmo que sempre trabalhando a partir das suposições dos investigadores. Aqui não se trata de quem foi, mas sim como encontra-lo e podemos dizer que, ao lado do roteirista estreante Jonathan Wakeham, o diretor consegue provocar essa sensação de corrida contra o tempo (antes que o próximo ataque possa acontecer) de uma forma muito inteligente, realística e criativa.
Shailene Woodley e Ben Mendelsohn são dois craques - é uma pena que o formato escolhido para contar essa história prejudique tanto o trabalho de ambos. A direção de Szifron até consegue explorar algumas nuances psicológicas dos personagens, nos levando a questionar suas próprias capacidades, mas é inegável que a sensação de superficialidade nos acompanhe por toda a jornada. Já a fotografia do Javier Julia (de "Relatos Selvagens" e "Argentina 1985") é um show a parte - reparem como aqui existe uma profundidade conceitual muito bem planejada, como ele brinca com uma atmosfera mais urbana marcada pelas sombras em contraste com a luz artificial, que define uma linha tênue entre o caos e o glamour, e que depois se transforma em uma uma atmosfera gélida, sinistra, quase monocromática da investigação. É como se ele saísse de uma estética neo noir para um thriller oitentista.
Escondido entre um diálogo mais critico ou um plano bem construído, o filme também explora o vazio do consumismo e a pandemia do capitalismo americano perante a normalização dos transtornos psicológicos modernos. Dito isso, "Sede Assassina" é essencialmente um excelente entretenimento para quem gosta de investigações e algum drama com ótimas (mas poucas) cenas de ação bem construídas. Mesmo que desde o seu lançamento o filme tenha sido assunto divergente entre crítica e público, é de se elogiar a limonada que Szifron fez com seus poucos limões ao potencializar uma trama, de certa forma simples, com um visual belíssimo e uma condução que prioriza as reviravoltas inesperadas mesmo que custe nossa empatia pelo que os personagens têm de melhor.
Vale seu play!
Costumo dizer que antes de qualquer julgamento, precisamos escutar os dois lados da história. É mais ou menos o que o diretor Todd Haynes (indicado ao Oscar por "Longe do Paraíso" em 2003) faz em "Segredos de um Escândalo" ao revisitar a história real de Mary Kay Letourneau, uma professora de 34 anos que se envolveu com um aluno de 13, engravidou durante o relacionamento, foi presa e depois se casou com o jovem. Com uma narrativa repleta de simbolismos e algumas adaptações, Haynes mergulha no íntimo dos personagens (aqui fictícios) para discutir as consequências devastadoras de algumas escolhas complexas do passado e como o julgamento social, de fato, impacta para sempre nas relações mais íntimas de todos os envolvidos. O diretor constrói uma jornada cheia de nuances que explora os dilemas da paixão, mas que não entrega todas as respostas, ou seja, se você está esperando algo usual em dramas desse estilo, provavelmente você não vai se conectar com o filme - aqui nos afastamos do sensacionalismo barato para percorrer a via da autoconsciência e da reflexão.
Vinte anos anos após um escândalo que abalou a comunidade local, Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton), um casal com 23 anos de diferença, tentam ter uma vida normal, até que a atriz Elizabeth (Natalie Portman) se aproxima de Grace com o objetivo de se preparar para o seu próximo filme em que ela interpretará a própria Gracie. O problema é que essa jornada de pesquisa e estudos não só traz de volta vários fantasmas do passado como mexe com toda dinâmica de uma comunidade que nunca esteve disposta a esquecer o ocorrido. Confira o trailer:
Embora "Segredos de um Escândalo" tenha uma premissa que sugira um drama cheio de embates e julgamentos, eu diria que a originalidade do roteiro indicado ao Oscar, da novata Samy Burch, está justamente na quebra dessas expectativas. Cadenciada, mas sempre no tom certo, a narrativa funciona muito mais como uma espécie de mosaico de tonalidades emocionais do que como uma investigação profunda sobre mocinhos e bandidos de um caso realmente marcante. Com uma proposta muito mais honesta, o roteiro nos leva para um olhar além do escândalo em si, entregando um drama mais humano e levantando questionamentos sobre a moralidade, sobre o amor real, sobre o desejo, mas principalmente sobre as consequências de escolhas impensáveis. Veja, a narrativa não oferece respostas fáceis, mas tenha certeza que você vai se sentir provocado a refletir sobre as diversas faces da natureza humana.
A direção de Haynes é tecnicamente perfeita. Embora ele não arrisque na sua "forma", ele se aproveita do "conteúdo" para justamente desconstruir uma história complexa e ofertar para a audiência uma perspectiva menos superficial - Elizabeth é a personificação dessa estratégia que, simbolizada pela arte de atuar, lida com o desconforto daquela atmosfera de hipocrisia para entender as motivações todos os lados. Obviamente que a performance de Portman e de Moore dão tom desse jogo de verdades e aparências - as duas estão excepcionais, embora nenhuma tenha sido lembrada pela Academia e indicada ao Oscar. Uma pena, porque Portman entrega um trabalho realmente visceral, capturando toda a vulnerabilidade e a complexidade de Elizabeth enquanto ela navega pelos segredos mais obscuros de Gracie sem ao menos entender se está indo pelo caminho certo Enquanto Moore brilha com sua intensidade, transmitindo a dor, o arrependimento, a insegurança e a resiliência de uma mulher que enfrentou (e enfrenta) o julgamento da sociedade.
"Segredos de um Escândalo" dividiu opiniões pelos caminhos escolhidos por Haynes - natural quando se troca o certo pelo diferente. Na minha humilde opinião estamos diante de um filme imperdível, especialmente se você aprecia dramas psicológicos mais intensos e reflexivos. Não será uma jornada tranquila, especialmente por sabermos como Hollywood e a indústria jornalística se apropriam de histórias repletas de sofrimento para entregar entretenimento barato sem ao menos olhar para seus protagonistas com alguma empatia. Aqui, mais do que empatia, existe respeito.
Vale seu play!
Costumo dizer que antes de qualquer julgamento, precisamos escutar os dois lados da história. É mais ou menos o que o diretor Todd Haynes (indicado ao Oscar por "Longe do Paraíso" em 2003) faz em "Segredos de um Escândalo" ao revisitar a história real de Mary Kay Letourneau, uma professora de 34 anos que se envolveu com um aluno de 13, engravidou durante o relacionamento, foi presa e depois se casou com o jovem. Com uma narrativa repleta de simbolismos e algumas adaptações, Haynes mergulha no íntimo dos personagens (aqui fictícios) para discutir as consequências devastadoras de algumas escolhas complexas do passado e como o julgamento social, de fato, impacta para sempre nas relações mais íntimas de todos os envolvidos. O diretor constrói uma jornada cheia de nuances que explora os dilemas da paixão, mas que não entrega todas as respostas, ou seja, se você está esperando algo usual em dramas desse estilo, provavelmente você não vai se conectar com o filme - aqui nos afastamos do sensacionalismo barato para percorrer a via da autoconsciência e da reflexão.
Vinte anos anos após um escândalo que abalou a comunidade local, Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton), um casal com 23 anos de diferença, tentam ter uma vida normal, até que a atriz Elizabeth (Natalie Portman) se aproxima de Grace com o objetivo de se preparar para o seu próximo filme em que ela interpretará a própria Gracie. O problema é que essa jornada de pesquisa e estudos não só traz de volta vários fantasmas do passado como mexe com toda dinâmica de uma comunidade que nunca esteve disposta a esquecer o ocorrido. Confira o trailer:
Embora "Segredos de um Escândalo" tenha uma premissa que sugira um drama cheio de embates e julgamentos, eu diria que a originalidade do roteiro indicado ao Oscar, da novata Samy Burch, está justamente na quebra dessas expectativas. Cadenciada, mas sempre no tom certo, a narrativa funciona muito mais como uma espécie de mosaico de tonalidades emocionais do que como uma investigação profunda sobre mocinhos e bandidos de um caso realmente marcante. Com uma proposta muito mais honesta, o roteiro nos leva para um olhar além do escândalo em si, entregando um drama mais humano e levantando questionamentos sobre a moralidade, sobre o amor real, sobre o desejo, mas principalmente sobre as consequências de escolhas impensáveis. Veja, a narrativa não oferece respostas fáceis, mas tenha certeza que você vai se sentir provocado a refletir sobre as diversas faces da natureza humana.
A direção de Haynes é tecnicamente perfeita. Embora ele não arrisque na sua "forma", ele se aproveita do "conteúdo" para justamente desconstruir uma história complexa e ofertar para a audiência uma perspectiva menos superficial - Elizabeth é a personificação dessa estratégia que, simbolizada pela arte de atuar, lida com o desconforto daquela atmosfera de hipocrisia para entender as motivações todos os lados. Obviamente que a performance de Portman e de Moore dão tom desse jogo de verdades e aparências - as duas estão excepcionais, embora nenhuma tenha sido lembrada pela Academia e indicada ao Oscar. Uma pena, porque Portman entrega um trabalho realmente visceral, capturando toda a vulnerabilidade e a complexidade de Elizabeth enquanto ela navega pelos segredos mais obscuros de Gracie sem ao menos entender se está indo pelo caminho certo Enquanto Moore brilha com sua intensidade, transmitindo a dor, o arrependimento, a insegurança e a resiliência de uma mulher que enfrentou (e enfrenta) o julgamento da sociedade.
"Segredos de um Escândalo" dividiu opiniões pelos caminhos escolhidos por Haynes - natural quando se troca o certo pelo diferente. Na minha humilde opinião estamos diante de um filme imperdível, especialmente se você aprecia dramas psicológicos mais intensos e reflexivos. Não será uma jornada tranquila, especialmente por sabermos como Hollywood e a indústria jornalística se apropriam de histórias repletas de sofrimento para entregar entretenimento barato sem ao menos olhar para seus protagonistas com alguma empatia. Aqui, mais do que empatia, existe respeito.
Vale seu play!
"Segredos Oficiais" é um daqueles dramas políticos de revirar o estômago, ainda mais por se tratar de um história real e muito recente. Seguindo a história por trás do excelente "Vice", que mostra o lado americano, ou melhor: os bastidores da decisão que levaram o EUA atacar o Iraque pós 11 de setembro; esse filme do diretor sul-africano Gavin Hood (de X-Men Origens: Wolverine), acompanha a história de Katherine Gun (Keira Knightley), uma agente britânica da GCHQ (ou Government Communications Headquarters) que atuava, basicamente, coletando informações como tradutora de mandarim. Porém, em 2003, ela e seus colegas receberam ordens através de um e-mail para que buscassem informações sobre membros do Conselho de Segurança da ONU que pudessem ser utilizados para chantagear seis países a votarem a favor da Guerra do Iraque. Reconhecendo a ilegalidade daquela ordem e a maneira manipuladora como Tony Blair informava os cidadãos britânicos sobre sua relação com Bush, Katherine resolveu divulgar esse e-mail através do “The Observer”, quebrando assim o "Ato de Segredos Oficiais" - o que resultou em um processo que colocou em risco sua vida, sua carreira e seu casamento! Confira o trailer:
Talvez sem o peso de tantas informações bastante complexas ou até de uma cadeia de intrigas tão bem estruturadas como em "O Relatório", "Segredos Oficiais" entrega um filme interessante, dinâmico e muito bem realizado - uma excelente opção para quem gosta do gênero. Talvez o grande mérito do filme seja o de humanizar a protagonista, mostrando suas fraquezas e dúvidas, ao mesmo tempo em que age baseada em seus princípios e se enche de coragem para vazar o documento. Mesmo sem grandes inovações narrativas, temos um roteiro equilibrado e que não se preocupa com alegorias visuais e sim em traçar uma linha temporal coerente com os acontecimentos que marcaram a história e, principalmente, transformaram a vida de Katherine Gun durante pouco mais de um ano! Vale seu play, com a mais absoluta certeza!
Apesar de se tratar de um filme baseado em histórias reais e relativamente recente, "Segredos Oficiais" resiste ao impulso de idealizar seus heróis ou exacerbar um patriotismo unilateral pautado em uma bandeira pacifista. O fato de vermos Katherine insegura em diversos momentos ou de se arrepender de suas decisões, ao mesmo tempo em que acompanhamos as falhas de revisão do próprio “The Observer” ao publicar a matéria do jornalista Martin Bright (Matt Smith) que se delicia com o meteórico sucesso, mas logo depois é questionado sobre a veracidade da sua reportagem ou até quando Ben Emmerson (Ralph Fiennes), advogado que se utiliza de um argumento extremamente arriscado na defesa de Gun na tentativa de desqualificar a procuradoria nos tribunais. Essa humanização dos personagens, mostrando suas falhas e egos ajuda demais na identificação com o público e cria uma tensão quase documental durante a apresentação dos fatos.
Gavin Hood faz o seu arroz com feijão de uma forma muito competente e acredito que sua familiaridade com a atuação tenha contribuído para o excelente trabalho que realizou com todo o elenco. Keira Knightley e Ralph Fiennes chamam atenção por uma performance sem nenhum exagero (acreditem se quiser). O conceito estético que Hood imprimiu também me agradou: misturar ficção com imagens de arquivo da época sempre funciona, mas a forma como ele integrou na narrativa ficou extremamente natural - até quando vem um tom mais crítico sobre meios de comunicação que colocam suas ideologias e interesses acima da própria notícia ou que mudam seus discursos de acordo com a quantidade de dinheiro e exposição que uma matéria pode gerar.
O filme chegou a concorrer ao prêmio de melhor filme no Festival de Hamburgo em 2019, o que chancela a qualidade de "Segredos Oficiais". Vale muito pela história, pela qualidade da produção e do elenco. Um ótimo entretenimento e um material quase complementar ao já citado "Vice" do Adam McKay.
"Segredos Oficiais" é um daqueles dramas políticos de revirar o estômago, ainda mais por se tratar de um história real e muito recente. Seguindo a história por trás do excelente "Vice", que mostra o lado americano, ou melhor: os bastidores da decisão que levaram o EUA atacar o Iraque pós 11 de setembro; esse filme do diretor sul-africano Gavin Hood (de X-Men Origens: Wolverine), acompanha a história de Katherine Gun (Keira Knightley), uma agente britânica da GCHQ (ou Government Communications Headquarters) que atuava, basicamente, coletando informações como tradutora de mandarim. Porém, em 2003, ela e seus colegas receberam ordens através de um e-mail para que buscassem informações sobre membros do Conselho de Segurança da ONU que pudessem ser utilizados para chantagear seis países a votarem a favor da Guerra do Iraque. Reconhecendo a ilegalidade daquela ordem e a maneira manipuladora como Tony Blair informava os cidadãos britânicos sobre sua relação com Bush, Katherine resolveu divulgar esse e-mail através do “The Observer”, quebrando assim o "Ato de Segredos Oficiais" - o que resultou em um processo que colocou em risco sua vida, sua carreira e seu casamento! Confira o trailer:
Talvez sem o peso de tantas informações bastante complexas ou até de uma cadeia de intrigas tão bem estruturadas como em "O Relatório", "Segredos Oficiais" entrega um filme interessante, dinâmico e muito bem realizado - uma excelente opção para quem gosta do gênero. Talvez o grande mérito do filme seja o de humanizar a protagonista, mostrando suas fraquezas e dúvidas, ao mesmo tempo em que age baseada em seus princípios e se enche de coragem para vazar o documento. Mesmo sem grandes inovações narrativas, temos um roteiro equilibrado e que não se preocupa com alegorias visuais e sim em traçar uma linha temporal coerente com os acontecimentos que marcaram a história e, principalmente, transformaram a vida de Katherine Gun durante pouco mais de um ano! Vale seu play, com a mais absoluta certeza!
Apesar de se tratar de um filme baseado em histórias reais e relativamente recente, "Segredos Oficiais" resiste ao impulso de idealizar seus heróis ou exacerbar um patriotismo unilateral pautado em uma bandeira pacifista. O fato de vermos Katherine insegura em diversos momentos ou de se arrepender de suas decisões, ao mesmo tempo em que acompanhamos as falhas de revisão do próprio “The Observer” ao publicar a matéria do jornalista Martin Bright (Matt Smith) que se delicia com o meteórico sucesso, mas logo depois é questionado sobre a veracidade da sua reportagem ou até quando Ben Emmerson (Ralph Fiennes), advogado que se utiliza de um argumento extremamente arriscado na defesa de Gun na tentativa de desqualificar a procuradoria nos tribunais. Essa humanização dos personagens, mostrando suas falhas e egos ajuda demais na identificação com o público e cria uma tensão quase documental durante a apresentação dos fatos.
Gavin Hood faz o seu arroz com feijão de uma forma muito competente e acredito que sua familiaridade com a atuação tenha contribuído para o excelente trabalho que realizou com todo o elenco. Keira Knightley e Ralph Fiennes chamam atenção por uma performance sem nenhum exagero (acreditem se quiser). O conceito estético que Hood imprimiu também me agradou: misturar ficção com imagens de arquivo da época sempre funciona, mas a forma como ele integrou na narrativa ficou extremamente natural - até quando vem um tom mais crítico sobre meios de comunicação que colocam suas ideologias e interesses acima da própria notícia ou que mudam seus discursos de acordo com a quantidade de dinheiro e exposição que uma matéria pode gerar.
O filme chegou a concorrer ao prêmio de melhor filme no Festival de Hamburgo em 2019, o que chancela a qualidade de "Segredos Oficiais". Vale muito pela história, pela qualidade da produção e do elenco. Um ótimo entretenimento e um material quase complementar ao já citado "Vice" do Adam McKay.
Um grande filme, visceral eu diria, mas já adianto: não será uma jornada fácil, pois a história é tão potente que vai mexer com suas mais particulares emoções e deixar uma marca incrivelmente profunda! "Segunda Chance" da talentosa (e premiada) diretora dinamarquesa Susanne Bier (de "The Night Manager") é simplesmente imperdível. Uma obra-prima do cinema nórdico (com toda aquela qualidade técnica e artística) que nos leva por uma montanha-russa de sentimentos, explorando temas dolorosos como depressão, maternidade, redenção, amor e, principalmente, escolhas que moldam nossas vidas para sempre. Não é à toa que o filme conquistou diversos prêmios ao redor do planeta e é frequentemente comparado com produções igualmente impactantes, como "Incêndios" ou até com “Pieces of a Woman”, então prepare-se para uma experiência, de fato, marcante!
O filme conta a história de Andreas (Nikolaj Coster-Waldau, o inesquecível Jaime Lannister de GoT), um dedicado policial que, junto com seu parceiro Simon (Ulrich Thomsen), se vêem envolvidos em um drama de partir o coração quando encontram um bebê de poucos meses em condições deploráveis dentro de um armário durante uma intervenção de briga doméstica entre um casal de viciados. Esse evento chocante desencadeia uma série de atitudes impensáveis que levam seus personagens a confrontar os próprios demônios e enfrentar consequências realmente marcantes em suas vidas. Confira o trailer:
Esse é um filme que tem alma, que conta com uma direção precisa de Bier, especialmente de seu elenco, e que alcança um outro patamar através da fotografia sensível de Michael Snyman (parceiro da diretora em "The Night Manager"). Snyman cria uma atmosfera intensa com seus close-ups que ecoam o turbilhão emocional dos personagens. Sabendo disso, Bier se aproveita desses enquadramentos de forma habilidosa, potencializando os momentos de alta tensão para capturar as expressões dos atores carregadas de emoção com um silêncio ensurdecedor - mesmo que em muitos momentos a trilha sonora, composta por Johan Söderqvist (de "Anatomia de um Escândalo"), complemente perfeitamente o mood do filme, ampliando o impacto das cenas de uma maneira bastante poética, mas não menos dolorosa.
O elenco realmente entrega performances brilhantes. Waldau mergulha profundamente nessa dor silenciosa de Andreas, mostrando toda transformação de um policial até certo modo bruto em um homem que enfrenta dilemas morais angustiantes - o elemento que desencadeia essa humanidade, a empatia, vai te fazer criar inúmeros julgamentos durante o filme e é isso que nos envolve tanto com suas escolhas. A química entre os atores é palpável, tornando cada interação entre eles ainda mais real - e aqui é impossível não citar o trabalho cheio de nuances de Maria Bonnevie como Anna, a esposa de Andreas.
"Segunda Chance" tem um senso de urgência e desconforto que permeia toda a narrativa - a sensação de angústia é mesmo muito presente. O roteiro de Bier ao lado de Anders Thomas Jensen (vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Election Night", depois de improváveis três indicações seguidas ao mesmo prêmio) nos provoca, a todo momento, refletir sobre as consequências de nossas escolhas, mesmo as mais difíceis, e como elas podem moldar nosso destino de maneiras tão inesperadas - isso toca nosso coração de verdade. Então, sem muita enrolação, não deixa de assistir esse filme, você não vai se arrepender!
Um grande filme, visceral eu diria, mas já adianto: não será uma jornada fácil, pois a história é tão potente que vai mexer com suas mais particulares emoções e deixar uma marca incrivelmente profunda! "Segunda Chance" da talentosa (e premiada) diretora dinamarquesa Susanne Bier (de "The Night Manager") é simplesmente imperdível. Uma obra-prima do cinema nórdico (com toda aquela qualidade técnica e artística) que nos leva por uma montanha-russa de sentimentos, explorando temas dolorosos como depressão, maternidade, redenção, amor e, principalmente, escolhas que moldam nossas vidas para sempre. Não é à toa que o filme conquistou diversos prêmios ao redor do planeta e é frequentemente comparado com produções igualmente impactantes, como "Incêndios" ou até com “Pieces of a Woman”, então prepare-se para uma experiência, de fato, marcante!
O filme conta a história de Andreas (Nikolaj Coster-Waldau, o inesquecível Jaime Lannister de GoT), um dedicado policial que, junto com seu parceiro Simon (Ulrich Thomsen), se vêem envolvidos em um drama de partir o coração quando encontram um bebê de poucos meses em condições deploráveis dentro de um armário durante uma intervenção de briga doméstica entre um casal de viciados. Esse evento chocante desencadeia uma série de atitudes impensáveis que levam seus personagens a confrontar os próprios demônios e enfrentar consequências realmente marcantes em suas vidas. Confira o trailer:
Esse é um filme que tem alma, que conta com uma direção precisa de Bier, especialmente de seu elenco, e que alcança um outro patamar através da fotografia sensível de Michael Snyman (parceiro da diretora em "The Night Manager"). Snyman cria uma atmosfera intensa com seus close-ups que ecoam o turbilhão emocional dos personagens. Sabendo disso, Bier se aproveita desses enquadramentos de forma habilidosa, potencializando os momentos de alta tensão para capturar as expressões dos atores carregadas de emoção com um silêncio ensurdecedor - mesmo que em muitos momentos a trilha sonora, composta por Johan Söderqvist (de "Anatomia de um Escândalo"), complemente perfeitamente o mood do filme, ampliando o impacto das cenas de uma maneira bastante poética, mas não menos dolorosa.
O elenco realmente entrega performances brilhantes. Waldau mergulha profundamente nessa dor silenciosa de Andreas, mostrando toda transformação de um policial até certo modo bruto em um homem que enfrenta dilemas morais angustiantes - o elemento que desencadeia essa humanidade, a empatia, vai te fazer criar inúmeros julgamentos durante o filme e é isso que nos envolve tanto com suas escolhas. A química entre os atores é palpável, tornando cada interação entre eles ainda mais real - e aqui é impossível não citar o trabalho cheio de nuances de Maria Bonnevie como Anna, a esposa de Andreas.
"Segunda Chance" tem um senso de urgência e desconforto que permeia toda a narrativa - a sensação de angústia é mesmo muito presente. O roteiro de Bier ao lado de Anders Thomas Jensen (vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Election Night", depois de improváveis três indicações seguidas ao mesmo prêmio) nos provoca, a todo momento, refletir sobre as consequências de nossas escolhas, mesmo as mais difíceis, e como elas podem moldar nosso destino de maneiras tão inesperadas - isso toca nosso coração de verdade. Então, sem muita enrolação, não deixa de assistir esse filme, você não vai se arrepender!
"A Vida e a História de Madam C.J. Walker" retrata a incrível história real deSarah Breedlove, a primeira mulher negra no mundo a tronar-se milionária. A minissérie de 4 capítulos da Netflix pode até ser reconhecida pela trajetória de sucesso da C.J. Walker e toda revolução que seus produtos representaram no setor de beleza para mulheres negras, mas na verdade, a história fala mesmo é de resiliência - para mim, uma das qualidades essenciais para quem quer (ou precisa) empreender. Confira o trailer:
A impressionante história de uma filha de escravos que se tornou uma das mulheres mais influentes de sua época foi contada na biografia On Her Own Ground, escrita por A'Lelia Bundles. O livro inspirou a série que tem como produtor executivo ninguém menos de LeBron James. Em 1908, na Louisiana, Sul dos Estados Unidos, Sarah Breedlove (Octavia Spencer) sobrevivia como lavadeira até que um dia ela recebeu a visita de Addie Munroe (Carmen Ejogo), uma vendedora que lhe oferecia um certo produto que prometia fazer seu cabelo crescer de uma forma mais rápida e sedosa. Com algum tempo de uso, a vida de Sarah muda completamente, aumentando sua auto-estima e abrindo a possibilidade de revender o produto usando seu depoimento real para convencer as possíveis compradoras. Sua estratégia funciona, porém Munroe impede que Breedlove continue com as vendas por não querer seu produto vinculado à uma lavandeira! Inconformada, ela resolve produzir seu próprio produto, atacando o ponto mais sensível da concorrente: o cheiro ruim que ficava no cabelo após a aplicação. A partir do sucesso do novo produto, "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" pontua todos os momentos cruciais na construção de um império da beleza em uma época em que grande parte dos Estados Unidos vivia sob rígidas leis de segregação racial.
De cara, é preciso dizer que o roteiro da minissérie escrito pela Nicole Jefferson Asher, Elle Johnson (Bosh) e Janine Sherman (E.R.) tropeça na própria pretensão de se tornar inovador, porém entrega um resultado interessante e satisfatório - muito mais pela força da história de Breedlove do que pelas escolhas criativas das roteiristas. Existem algumas intervenções visuais durante os momentos de reflexão da protagonista que poderiam criar uma certa leveza artística para a minissérie, mas a forma como foi realizada tira completamente do contexto narrativo e não entrega o impacto visual que se propunha - se a culpa é da roteirista, da produção ou da própria diretora, fica difícil cravar, mas o fato é que não funcionou - ficou simples demais! Essa, aliás, é minha única critica em relação a minissérie - até sua proposta musical ao melhor estilo Baz Luhrmann eu gostei, ou seja, ao mesmo tempo em que se constrói uma história de época super engessada, também encontramos cenas importantes sendo embaladas ao som de um hip hop moderno, por exemplo!
A direção de DeMane Davis (de "How to Get Away with Murder") e de Kasi Lemmons (de "Harriet") não impressiona, mas também não compromete - cada uma dirigiu dois capítulos. Já a fotografia de Kira Kelly (de "A 13ª Emenda") está muito bonita, embora seja perceptível o incomodo por ser uma produção sem tantos recursos. Gostei muito do trabalho de arte e um pouco menos da montagem - o resultado final é uma minissérie com uma grande história que mereceria um maior investimento para alcançar o status de forte concorrente na próxima temporada de premiações - e aí nem preciso mencionar a qualidade do trabalho da Octavia Spencer, certo?
Agora, quando nos deparamos com frases impactantes como “o cabelo é nossa herança", "ele diz de onde viemos, onde estivemos e para onde vamos”, “o cabelo pode ser liberdade ou prisão” e “se ela fica bonita, todas nós ficamos bonita”, temos uma tendência natural em diminuir o valor do roteiro perante uma grande história, mas nesse caso o contexto faz todo o sentido, pois esse tipo de escolha serve como um impulso perante uma postura de marca que hoje é até usual, mas que na época foi um grande diferencial. Sarah Breedlove não vendia apenas um produto, ela vendia um novo estilo de vida; e construiu um império graças à coerência do seu discurso com seu propósito - ela queria criar possibilidades reais para uma ascensão social da mulher negra através de um trabalho digno, em um mercado até então dominado pelos brancos e isso acabou se tornando prioridade nos investimentos que ela sempre fez em treinamentos para que centenas de mulheres pudessem trabalhar como cabeleireiras e vendedoras de seus produtos.
Olha, a minissérie é inspiradora, tem uma dinâmica muito interessante e escancara alguns elementos essências para quem quer ou já empreende. Além de uma aula de percepção de mercado, desenvolvimento de produto, comunicação com seu publico (comunidade), estratégia de vendas e pitching; "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" é um excelente entretenimento! Vale muito a pena!
"A Vida e a História de Madam C.J. Walker" retrata a incrível história real deSarah Breedlove, a primeira mulher negra no mundo a tronar-se milionária. A minissérie de 4 capítulos da Netflix pode até ser reconhecida pela trajetória de sucesso da C.J. Walker e toda revolução que seus produtos representaram no setor de beleza para mulheres negras, mas na verdade, a história fala mesmo é de resiliência - para mim, uma das qualidades essenciais para quem quer (ou precisa) empreender. Confira o trailer:
A impressionante história de uma filha de escravos que se tornou uma das mulheres mais influentes de sua época foi contada na biografia On Her Own Ground, escrita por A'Lelia Bundles. O livro inspirou a série que tem como produtor executivo ninguém menos de LeBron James. Em 1908, na Louisiana, Sul dos Estados Unidos, Sarah Breedlove (Octavia Spencer) sobrevivia como lavadeira até que um dia ela recebeu a visita de Addie Munroe (Carmen Ejogo), uma vendedora que lhe oferecia um certo produto que prometia fazer seu cabelo crescer de uma forma mais rápida e sedosa. Com algum tempo de uso, a vida de Sarah muda completamente, aumentando sua auto-estima e abrindo a possibilidade de revender o produto usando seu depoimento real para convencer as possíveis compradoras. Sua estratégia funciona, porém Munroe impede que Breedlove continue com as vendas por não querer seu produto vinculado à uma lavandeira! Inconformada, ela resolve produzir seu próprio produto, atacando o ponto mais sensível da concorrente: o cheiro ruim que ficava no cabelo após a aplicação. A partir do sucesso do novo produto, "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" pontua todos os momentos cruciais na construção de um império da beleza em uma época em que grande parte dos Estados Unidos vivia sob rígidas leis de segregação racial.
De cara, é preciso dizer que o roteiro da minissérie escrito pela Nicole Jefferson Asher, Elle Johnson (Bosh) e Janine Sherman (E.R.) tropeça na própria pretensão de se tornar inovador, porém entrega um resultado interessante e satisfatório - muito mais pela força da história de Breedlove do que pelas escolhas criativas das roteiristas. Existem algumas intervenções visuais durante os momentos de reflexão da protagonista que poderiam criar uma certa leveza artística para a minissérie, mas a forma como foi realizada tira completamente do contexto narrativo e não entrega o impacto visual que se propunha - se a culpa é da roteirista, da produção ou da própria diretora, fica difícil cravar, mas o fato é que não funcionou - ficou simples demais! Essa, aliás, é minha única critica em relação a minissérie - até sua proposta musical ao melhor estilo Baz Luhrmann eu gostei, ou seja, ao mesmo tempo em que se constrói uma história de época super engessada, também encontramos cenas importantes sendo embaladas ao som de um hip hop moderno, por exemplo!
A direção de DeMane Davis (de "How to Get Away with Murder") e de Kasi Lemmons (de "Harriet") não impressiona, mas também não compromete - cada uma dirigiu dois capítulos. Já a fotografia de Kira Kelly (de "A 13ª Emenda") está muito bonita, embora seja perceptível o incomodo por ser uma produção sem tantos recursos. Gostei muito do trabalho de arte e um pouco menos da montagem - o resultado final é uma minissérie com uma grande história que mereceria um maior investimento para alcançar o status de forte concorrente na próxima temporada de premiações - e aí nem preciso mencionar a qualidade do trabalho da Octavia Spencer, certo?
Agora, quando nos deparamos com frases impactantes como “o cabelo é nossa herança", "ele diz de onde viemos, onde estivemos e para onde vamos”, “o cabelo pode ser liberdade ou prisão” e “se ela fica bonita, todas nós ficamos bonita”, temos uma tendência natural em diminuir o valor do roteiro perante uma grande história, mas nesse caso o contexto faz todo o sentido, pois esse tipo de escolha serve como um impulso perante uma postura de marca que hoje é até usual, mas que na época foi um grande diferencial. Sarah Breedlove não vendia apenas um produto, ela vendia um novo estilo de vida; e construiu um império graças à coerência do seu discurso com seu propósito - ela queria criar possibilidades reais para uma ascensão social da mulher negra através de um trabalho digno, em um mercado até então dominado pelos brancos e isso acabou se tornando prioridade nos investimentos que ela sempre fez em treinamentos para que centenas de mulheres pudessem trabalhar como cabeleireiras e vendedoras de seus produtos.
Olha, a minissérie é inspiradora, tem uma dinâmica muito interessante e escancara alguns elementos essências para quem quer ou já empreende. Além de uma aula de percepção de mercado, desenvolvimento de produto, comunicação com seu publico (comunidade), estratégia de vendas e pitching; "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" é um excelente entretenimento! Vale muito a pena!
Vamos filosofar um pouquinho! Sementes podres nunca irão cultivar bons frutos, correto? Mas como saber quais sementes são realmente ruins? A frase do célebre escritor Victor Hugo vai mais fundo nesta questão ao afirmar o seguinte: “Não há nem ervas daninhas, nem homens maus. Há sim, maus cultivadores.” Esta frase inicia esse ótimo filme francês “Sementes Podres”, assim como a introdução deste texto reflete a sua mensagem e tema.
Na trama, o trapaceiro Wael (Kheiron) vive de pequenos golpes com Monique (Catherine Deneuve), sua mãe adotiva. Sua vida se transforma no dia em que um amigo, Victor (André Dussollier), oferece a ele, por insistência de Monique, um pequeno trabalho voluntário como mentor de um grupo de estudantes com dificuldades. A partir desse entrecho, o filme irá promover muitos ensinamentos e reflexões. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Aprendemos que crianças e jovens precisam de educação, cuidado e oportunidades para se tornarem bons cidadãos. E que mesmo aqueles, rotulados como rebeldes infratores (ou as sementes podres do título), podem ter os seus destinos mudados caso uma mão seja estendida para que eles possam ter um novo recomeço. Esta temática - riquíssima e sempre muito necessária - nos é apresentada de forma leve e descontraída. O roteiro apresenta um humor simples e até mesmo inocente, mas ao mesmo tempo muito objetivo e assertivo nas suas intenções.
A mensagem é transmitida de forma tão clara que até mesmo uma criança de pouca idade poderá compreendê-la. O filme tem um apelo autobiográfico muito forte, já que o protagonista da história, o ator iraniano Kheiron, também é o roteirista e o diretor. As suas vivências pessoais, como refugiado de origem islâmica na Europa, serviram de inspiração para compor o seu personagem, dando um brilho ainda maior para obra. E o brilho não para aí, Kheiron divide a cena com a diva francesa Catherine Deneuve, numa dobradinha perfeita!
Misturando comédia e drama de forma equilibrada, “Sementes Podres” diverte, emociona e passa a sua mensagem com maestria e simplicidade.
Vale muito a pena!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
Vamos filosofar um pouquinho! Sementes podres nunca irão cultivar bons frutos, correto? Mas como saber quais sementes são realmente ruins? A frase do célebre escritor Victor Hugo vai mais fundo nesta questão ao afirmar o seguinte: “Não há nem ervas daninhas, nem homens maus. Há sim, maus cultivadores.” Esta frase inicia esse ótimo filme francês “Sementes Podres”, assim como a introdução deste texto reflete a sua mensagem e tema.
Na trama, o trapaceiro Wael (Kheiron) vive de pequenos golpes com Monique (Catherine Deneuve), sua mãe adotiva. Sua vida se transforma no dia em que um amigo, Victor (André Dussollier), oferece a ele, por insistência de Monique, um pequeno trabalho voluntário como mentor de um grupo de estudantes com dificuldades. A partir desse entrecho, o filme irá promover muitos ensinamentos e reflexões. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Aprendemos que crianças e jovens precisam de educação, cuidado e oportunidades para se tornarem bons cidadãos. E que mesmo aqueles, rotulados como rebeldes infratores (ou as sementes podres do título), podem ter os seus destinos mudados caso uma mão seja estendida para que eles possam ter um novo recomeço. Esta temática - riquíssima e sempre muito necessária - nos é apresentada de forma leve e descontraída. O roteiro apresenta um humor simples e até mesmo inocente, mas ao mesmo tempo muito objetivo e assertivo nas suas intenções.
A mensagem é transmitida de forma tão clara que até mesmo uma criança de pouca idade poderá compreendê-la. O filme tem um apelo autobiográfico muito forte, já que o protagonista da história, o ator iraniano Kheiron, também é o roteirista e o diretor. As suas vivências pessoais, como refugiado de origem islâmica na Europa, serviram de inspiração para compor o seu personagem, dando um brilho ainda maior para obra. E o brilho não para aí, Kheiron divide a cena com a diva francesa Catherine Deneuve, numa dobradinha perfeita!
Misturando comédia e drama de forma equilibrada, “Sementes Podres” diverte, emociona e passa a sua mensagem com maestria e simplicidade.
Vale muito a pena!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
"Senna por Ayrton" transcende o propósito de ser mais um mero documentário em homenagem aos 30 anos de sua morte. Na verdade a minissérie em três episódios da Globoplay traz o que a própria Globo tem de melhor: um riquíssimo acervo de imagens e entrevistas com o piloto para assim construir um tributo comovente e íntimo a um dos maiores ícones do esporte mundial, o inesquecível Ayrton Senna da Silva (ou do Brasil, como preferir). Mais do que reviver corridas épicas e momentos marcantes de sua carreira, a minissérie ainda foi capaz de mergulhar na alma do piloto pela perspectiva nostálgica de quem acompanhou toda sua trajetória pela televisão - não só assistindo as corridas, mas também os telejornais, especiais, etc. Eu diria, inclusive, que "Senna por Ayrton" é um imperdível e definitivo recorte jornalístico que merece ser assistido toda vez que a saudade bater!
Com direção de Rafael Pirrho e Rafael Timóteo, ambos roteiristas ao lado de Camila Côrtes e José Emílio Aguiar, "Senna por Ayrton" é o resultado de um um mergulho em cerca de 150 horas de arquivos da Globo (e também de outros veículos de comunicação do país e estrangeiros) brilhantemente montados para traçar a trajetória de Senna desde seus primórdios no kart até o trágico acidente em Ímola, em 1994. Explorando suas relações, motivações, fé, ambições e lutas internas, a minissérie se apoia na perspectiva de vida e carreira do próprio Ayrton, um esportista que nunca escondeu a inquietude pela busca constante de aperfeiçoamento e, claro, de vitórias. Confira o trailer:
Bom, pelo trailer já dá para se ter uma ideia do que esperar, certo? Errado, é muito mais do que isso! "Senna por Ayrton" é um retorno ao melhores dias dos anos 80 e 90 pelo olhar muito especial de quem construiu memórias marcantes em toda uma geração. Nada na minissérie é ruim, tudo tem seu encaixe e propósito ao ponto de torcermos para que aquela experiência não acabe. "Senna por Ayrton" vai além das pistas, revelando um lado menos conhecido do piloto - embora, é preciso dizer, não traga lá muitas novidades para quem (como eu) de fato é fã ferrenho do piloto. Mesmo que a minissérie tenha matérias que exploram sua relação com a família, seus hobbies, sua fé, sem dúvida que é nas conquistas esportivas que nos apegamos emocionalmente.
Aqui, tudo é construído em cima de uma contexto mais amplo - o que deve ter dado um baita de um trabalho para organizar. Vemos desde um Senna devoto até um esportista (com razão) vingativo. Essa visão mais holística do homem contribui para uma compreensão mais profunda de sua persona e do impacto que ele teve para os brasileiros em uma época onde nada dava certo para nós - no esporte e na vida. Nesse sentido é impossível não destacar a qualidade técnica e artística impecáveis do projeto - a direção, o roteiro e a montagem foram capazes de capturar a beleza viciante das corridas de fórmula 1 (mas sem aquela gramática cinematográfica belíssima que hoje encontramos nos streamings) ao mesmo tempo que contam uma história coesa e dinâmica criando um ritmo envolvente que nos impede de sair da frente da TV até que o terceiro episódio termine.
Ao som do "Tema da Vitória" e envolvidos pelas narrações inesquecíveis de Galvão Bueno, "Senna por Ayrton" é tão emocionante quanto inspirador - cenário perfeito para nos conectarmos com as imagens históricas de Ayrton Senna ao longo de 20 anos de carreira. Mais do que um tributo ao campeão Ayrton Senna, essa minissérie é uma celebração da vida, da superação e do legado duradouro de um ídolo que continuará transcendendo gerações graças a esse tipo de produto audiovisual. Se você tem mais de 40 anos, prepare-se para se emocionar, porque eu te garanto: essas lembranças vão tocar sua alma!
Imperdível!
"Senna por Ayrton" transcende o propósito de ser mais um mero documentário em homenagem aos 30 anos de sua morte. Na verdade a minissérie em três episódios da Globoplay traz o que a própria Globo tem de melhor: um riquíssimo acervo de imagens e entrevistas com o piloto para assim construir um tributo comovente e íntimo a um dos maiores ícones do esporte mundial, o inesquecível Ayrton Senna da Silva (ou do Brasil, como preferir). Mais do que reviver corridas épicas e momentos marcantes de sua carreira, a minissérie ainda foi capaz de mergulhar na alma do piloto pela perspectiva nostálgica de quem acompanhou toda sua trajetória pela televisão - não só assistindo as corridas, mas também os telejornais, especiais, etc. Eu diria, inclusive, que "Senna por Ayrton" é um imperdível e definitivo recorte jornalístico que merece ser assistido toda vez que a saudade bater!
Com direção de Rafael Pirrho e Rafael Timóteo, ambos roteiristas ao lado de Camila Côrtes e José Emílio Aguiar, "Senna por Ayrton" é o resultado de um um mergulho em cerca de 150 horas de arquivos da Globo (e também de outros veículos de comunicação do país e estrangeiros) brilhantemente montados para traçar a trajetória de Senna desde seus primórdios no kart até o trágico acidente em Ímola, em 1994. Explorando suas relações, motivações, fé, ambições e lutas internas, a minissérie se apoia na perspectiva de vida e carreira do próprio Ayrton, um esportista que nunca escondeu a inquietude pela busca constante de aperfeiçoamento e, claro, de vitórias. Confira o trailer:
Bom, pelo trailer já dá para se ter uma ideia do que esperar, certo? Errado, é muito mais do que isso! "Senna por Ayrton" é um retorno ao melhores dias dos anos 80 e 90 pelo olhar muito especial de quem construiu memórias marcantes em toda uma geração. Nada na minissérie é ruim, tudo tem seu encaixe e propósito ao ponto de torcermos para que aquela experiência não acabe. "Senna por Ayrton" vai além das pistas, revelando um lado menos conhecido do piloto - embora, é preciso dizer, não traga lá muitas novidades para quem (como eu) de fato é fã ferrenho do piloto. Mesmo que a minissérie tenha matérias que exploram sua relação com a família, seus hobbies, sua fé, sem dúvida que é nas conquistas esportivas que nos apegamos emocionalmente.
Aqui, tudo é construído em cima de uma contexto mais amplo - o que deve ter dado um baita de um trabalho para organizar. Vemos desde um Senna devoto até um esportista (com razão) vingativo. Essa visão mais holística do homem contribui para uma compreensão mais profunda de sua persona e do impacto que ele teve para os brasileiros em uma época onde nada dava certo para nós - no esporte e na vida. Nesse sentido é impossível não destacar a qualidade técnica e artística impecáveis do projeto - a direção, o roteiro e a montagem foram capazes de capturar a beleza viciante das corridas de fórmula 1 (mas sem aquela gramática cinematográfica belíssima que hoje encontramos nos streamings) ao mesmo tempo que contam uma história coesa e dinâmica criando um ritmo envolvente que nos impede de sair da frente da TV até que o terceiro episódio termine.
Ao som do "Tema da Vitória" e envolvidos pelas narrações inesquecíveis de Galvão Bueno, "Senna por Ayrton" é tão emocionante quanto inspirador - cenário perfeito para nos conectarmos com as imagens históricas de Ayrton Senna ao longo de 20 anos de carreira. Mais do que um tributo ao campeão Ayrton Senna, essa minissérie é uma celebração da vida, da superação e do legado duradouro de um ídolo que continuará transcendendo gerações graças a esse tipo de produto audiovisual. Se você tem mais de 40 anos, prepare-se para se emocionar, porque eu te garanto: essas lembranças vão tocar sua alma!
Imperdível!
Estava muito ansioso para assistir "Sergio" - filme sobre o diplomata Sergio Viera de Mello, morto em um ataque terrorista em Bagdá, mas também estava muito receoso com a escolha do diretor Greg Barker, um documentarista com nenhuma experiência em dramaturgia. Pois bem, meu receio se confirmou, mas o maior problema do filme está no seu roteiro e talvez Baker tenha muita culpa disso como com explicar mais a frente.
Baseado no livro "O homem que queria salvar o mundo: Uma biografia de Sergio Vieira de Mello" de Samantha Power, o filme acompanha os momentos mais marcantes do brasileiro Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura) que dedicou a maior parte de sua carreira como diplomata da ONU trabalhando nas regiões mais instáveis do mundo, negociando habilmente com presidentes, revolucionários e criminosos de guerra para proteger a vida de pessoas comuns. Porém, assim que Sergio chega para uma missão em Bagdá, recém-mergulhada no caos após a invasão americana, uma explosão de um carro bomba faz com que as paredes da sede da ONU caiam literalmente sobre ele, desencadeando uma emocionante luta entre vida e morte. Confira o trailer:
De fato "Sergio" não é um filme ruim, mas quando um diretor se propõe a contar a história de uma personalidade tão importante pelas suas ações humanitárias e relacionamentos políticos que interferiram ativamente na história recente desse planeta, é de se esperar muito mais do que um romance água com açúcar como vemos em 1/3 do filme! Aliás, o tempo que o roteiro perde para contar a história de amor entre Sergio e Carolina é completamente desproporcional à quantidade de assuntos políticos (lei-se intrigas) que o filme deixou de explorar. Dito isso, "Sergio" é um filme muito bem realizado, com dois atores acima da média, uma fotografia linda e um roteiro fraco. O resultado final ainda é um filme mediano, que deve ser esquecido em poucas semanas, mas que merece ser assistido pelo tamanho e importância do seu protagonista!
Agora vamos falar de Greg Barker,, diretor do filme! Em 2009 ele dirigiu um ótimo documentário sobre o próprio Sergio Vieira de Mello, então é de pressupor que não existiria profissional melhor para orientar a criação do roteiro - como diretor, lógico, mas como especialista no assunto! Porém Barker não assina o roteiro e se ele, por acaso, orientou Craig Borten (Os 33) para escrever um lado de Sergio pouco explorado no seu documentário, ele que definiu a superficialidade que o filme se tornou! O roteiro intercala a tentativa de resgatar Sergio dos escombros logo após o ataque terrorista com passagens de sua vida como diplomata, como pai e como, meu Deus, amante! Essa estratégia até funciona como conceito narrativo, ela cria uma dinâmica interessante para o filme - e aqui eu posso afirmar: não é a forma, o problema é o conteúdo! Quando vemos Sergio discutindo com um representante americano no processo de reconstrução do Iraque logo no inicio do filme, temos a impressão que as intrigas políticas vão dar o tom - mais ou menos como "O Relatório" mostrou - que nada, tudo não passa de uma bengala para mostrar a força diplomática de Mello e sua personalidade. No próprio processo de independência do Timor Leste, marco na carreira do brasileiro, todas as cenas não tem a menor tensão - poxa, imagina ter que lidar com revolucionários e criminosos de guerra como diz na própria sinopse - imaginem o nível de angustia, insegurança e até de medo que deve ser? Mas você não encontra muito disso no filme, ele serve apenas para conhecer alguns detalhes de história, só que explorados bem superficialmente!
Como diretor em si, Greg Barker não entrega um filme ruim não, mas ele deve metade dos elogios para o Wagner Moura e para Ana de Armas e a outra metade para o fotógrafo Adrian Teijido - que trabalhou com Moura em "Marighella" e "Narcos". Tem uma cena, onde Sergio Vieira de Mello vai conversar com uma senhora do Timor Leste e ela conta o que espera da vida e do seu futuro. O texto é interessante, com uma certa poesia, com o Wagner segurando a cena com muita generosidade, mas a senhora é pessimamente dirigida, deixando sua fala falsa, com um atuação terrível de ruim - não sei nem se a senhora é atriz, mas o fato é que a cena está lá e o resultado é constrangedor. As soluções criativas de Barker são muito fracas! Sério, esse filme na mão de um Fernando Meirelles com um roteiro do Bráulio Mantovani seria outro nível!
Pode até parecer que eu não gostei do filme, mas não é o caso - o filme vai bem como entretenimento, o que incomoda é saber que uma boa história foi contada da forma errada - vocês lembram daquele primeiro filme do Steve Jobs de 2013? Depois comparem com o filme do Danny Boyle e do Aaron Sorkin de 2015! Esse é o meu sentimento - uma boa história funciona muito melhor na mão de quem sabe! Como disse anteriormente, "Sergio" serve para conhecermos sua história, mesmo que superficialmente, mas com uma carga bem importante para nós brasileiros - ainda mais nos dias de hoje!
Vale o play, claro, mas não crie as altas expectativas que eu criei!
Estava muito ansioso para assistir "Sergio" - filme sobre o diplomata Sergio Viera de Mello, morto em um ataque terrorista em Bagdá, mas também estava muito receoso com a escolha do diretor Greg Barker, um documentarista com nenhuma experiência em dramaturgia. Pois bem, meu receio se confirmou, mas o maior problema do filme está no seu roteiro e talvez Baker tenha muita culpa disso como com explicar mais a frente.
Baseado no livro "O homem que queria salvar o mundo: Uma biografia de Sergio Vieira de Mello" de Samantha Power, o filme acompanha os momentos mais marcantes do brasileiro Sergio Vieira de Mello (Wagner Moura) que dedicou a maior parte de sua carreira como diplomata da ONU trabalhando nas regiões mais instáveis do mundo, negociando habilmente com presidentes, revolucionários e criminosos de guerra para proteger a vida de pessoas comuns. Porém, assim que Sergio chega para uma missão em Bagdá, recém-mergulhada no caos após a invasão americana, uma explosão de um carro bomba faz com que as paredes da sede da ONU caiam literalmente sobre ele, desencadeando uma emocionante luta entre vida e morte. Confira o trailer:
De fato "Sergio" não é um filme ruim, mas quando um diretor se propõe a contar a história de uma personalidade tão importante pelas suas ações humanitárias e relacionamentos políticos que interferiram ativamente na história recente desse planeta, é de se esperar muito mais do que um romance água com açúcar como vemos em 1/3 do filme! Aliás, o tempo que o roteiro perde para contar a história de amor entre Sergio e Carolina é completamente desproporcional à quantidade de assuntos políticos (lei-se intrigas) que o filme deixou de explorar. Dito isso, "Sergio" é um filme muito bem realizado, com dois atores acima da média, uma fotografia linda e um roteiro fraco. O resultado final ainda é um filme mediano, que deve ser esquecido em poucas semanas, mas que merece ser assistido pelo tamanho e importância do seu protagonista!
Agora vamos falar de Greg Barker,, diretor do filme! Em 2009 ele dirigiu um ótimo documentário sobre o próprio Sergio Vieira de Mello, então é de pressupor que não existiria profissional melhor para orientar a criação do roteiro - como diretor, lógico, mas como especialista no assunto! Porém Barker não assina o roteiro e se ele, por acaso, orientou Craig Borten (Os 33) para escrever um lado de Sergio pouco explorado no seu documentário, ele que definiu a superficialidade que o filme se tornou! O roteiro intercala a tentativa de resgatar Sergio dos escombros logo após o ataque terrorista com passagens de sua vida como diplomata, como pai e como, meu Deus, amante! Essa estratégia até funciona como conceito narrativo, ela cria uma dinâmica interessante para o filme - e aqui eu posso afirmar: não é a forma, o problema é o conteúdo! Quando vemos Sergio discutindo com um representante americano no processo de reconstrução do Iraque logo no inicio do filme, temos a impressão que as intrigas políticas vão dar o tom - mais ou menos como "O Relatório" mostrou - que nada, tudo não passa de uma bengala para mostrar a força diplomática de Mello e sua personalidade. No próprio processo de independência do Timor Leste, marco na carreira do brasileiro, todas as cenas não tem a menor tensão - poxa, imagina ter que lidar com revolucionários e criminosos de guerra como diz na própria sinopse - imaginem o nível de angustia, insegurança e até de medo que deve ser? Mas você não encontra muito disso no filme, ele serve apenas para conhecer alguns detalhes de história, só que explorados bem superficialmente!
Como diretor em si, Greg Barker não entrega um filme ruim não, mas ele deve metade dos elogios para o Wagner Moura e para Ana de Armas e a outra metade para o fotógrafo Adrian Teijido - que trabalhou com Moura em "Marighella" e "Narcos". Tem uma cena, onde Sergio Vieira de Mello vai conversar com uma senhora do Timor Leste e ela conta o que espera da vida e do seu futuro. O texto é interessante, com uma certa poesia, com o Wagner segurando a cena com muita generosidade, mas a senhora é pessimamente dirigida, deixando sua fala falsa, com um atuação terrível de ruim - não sei nem se a senhora é atriz, mas o fato é que a cena está lá e o resultado é constrangedor. As soluções criativas de Barker são muito fracas! Sério, esse filme na mão de um Fernando Meirelles com um roteiro do Bráulio Mantovani seria outro nível!
Pode até parecer que eu não gostei do filme, mas não é o caso - o filme vai bem como entretenimento, o que incomoda é saber que uma boa história foi contada da forma errada - vocês lembram daquele primeiro filme do Steve Jobs de 2013? Depois comparem com o filme do Danny Boyle e do Aaron Sorkin de 2015! Esse é o meu sentimento - uma boa história funciona muito melhor na mão de quem sabe! Como disse anteriormente, "Sergio" serve para conhecermos sua história, mesmo que superficialmente, mas com uma carga bem importante para nós brasileiros - ainda mais nos dias de hoje!
Vale o play, claro, mas não crie as altas expectativas que eu criei!
Nada será tão tranquilo ao apertar o play! Sério, na linha do inesquecível "Olhos que Condenam", "Seven Seconds" é realmente visceral ao oferecer uma exploração corajosa e emocionalmente intensa sobre as tensões raciais nos EUA pela perspectiva da corrupção policial e das falhas do sistema de justiça do país. Inspirada no filme russo "Major", de Yuriy Bykov, essa minissérie lançada em 2018 e criada por Veena Sud, adapta com muita inteligência e sensibilidade a narrativa original, porém dentro de um contexto americano, abordando temas que são tanto oportunos quanto atemporais. Com performances de fato poderosas (que garantiu até um Emmy para Regina King), uma narrativa angustiante na sua essência e uma crítica social bastante incisiva, "Seven Seconds", é possível dizer, se estabelece como uma das minisséries mais impactantes dos últimos anos e que, sem dúvida, vai fazer você se perguntar "por que raios eu não assisti essa maravilha antes?".
A trama é desencadeada por um incidente trágico: um jovem afro-americano, Brenton Butler (Daykwon Gaines), é atropelado por um policial branco, Pete Jablonski (Beau Knapp), em Jersey City. O policial, em pânico, decide encobrir o acidente com a ajuda de seus colegas, desencadeando uma série de eventos que expõem as fissuras profundas no sistema de justiça e nas relações raciais. A minissérie acompanha a luta da família Butler, especialmente da mãe de Brenton, Latrice (Regina King), por justiça, enquanto a promotora pública KJ Harper (Clare-Hope Ashitey) tenta navegar pelos obstáculos institucionais que dificultam a busca pela verdade. Confira o trailer:
Veena Sud, conhecida por seu magistral trabalho como showrunner em "The Killing", traz para Netflix sua habilidade em construir mistérios complexos e dramas emocionais. "Seven Seconds", na realidade, não se limita a ser um simples drama policial, muito pelo contrário, ela é uma minissérie que se aprofunda nas questões sociais e raciais com muito tato, apresentando uma narrativa que funciona tanto como um thriller jurídico quanto como um recorte importante de uma sociedade doente. Sud sabe abordar a corrupção policial, o preconceito e a dor da perda com uma elegância que faz com que narrativa fuja do sensacionalismo e provoque discussões, sempre focando na humanidade dos personagens e na complexidade moral das situações que coda uma deles enfrentam. A direção, que envolve vários profissionais ao longo da minissérie, é igualmente eficaz ao criar uma atmosfera de tensão e desespero constantes. A fotografia do Yaron Orbach (de "Paixão Obsessiva") é um primor! Sombria e realista, Orbach utiliza cores frias e uma iluminação 100% naturalista, para acentuar a densidade da narrativa. Repare como as cenas são frequentemente filmadas de maneira a enfatizar o isolamento dos personagens, reforçando a sensação de alienação e da desconexão em uma sociedade marcada pela injustiça.
O roteiro, co-escrito por Sud e sua equipe, é bem estruturado e equilibrado, mesclando a dor do drama pessoal com a dinâmica mais envolvente de uma investigação criminal - nesse sentido, a minissérie faz um excelente trabalho ao capturar a frustração e a raiva de uma comunidade que se sente repetidamente traída por aqueles que deveriam protegê-la. Olha, é de embrulhar o estômago! O ritmo da narrativa é excelente, permitindo que as emoções dos personagens e as implicações de suas ações se desenrolem de maneira orgânica e impactante. Regina King é o coração pulsante dessa proposta - ela captura a dor crua de uma mãe que perde seu filho de forma brutal e injusta. King traz uma intensidade emocional devastadora e poderosa, tornando sua Latrice uma personagem profundamente humana e de fácil conexão. Clare-Hope Ashitey também se destaca retratando uma promotora pública que luta com seus próprios demônios enquanto tenta fazer o que é certo em um sistema corrupto e por isso muito traiçoeiro!
"Seven Seconds" traz temas pesados em um ritmo deliberado que pode ser emocionalmente exaustivo para muitos. No entanto, é justamente essa proposta que aumenta o impacto da minissérie, deixando a audiência de olhos vidrados de um lado e tocada na alma de outro! Poderosa e necessária, a trama oferece uma crítica incisiva sobre as falhas sistêmicas e da injustiça racial. Sem levantar bandeiras desnecessárias, a narrativa deixa a mensagem de uma exploração corajosa sobre as complexidades morais e emocionais envolvidas em casos de brutalidade policial com suas consequências devastadoras. Olha, essa jornada é um desafio que vai te provocar uma reflexão intensa sobre questões essenciais, especialmente sobre o valor da verdade e da humanidade.
Vale muito!
Nada será tão tranquilo ao apertar o play! Sério, na linha do inesquecível "Olhos que Condenam", "Seven Seconds" é realmente visceral ao oferecer uma exploração corajosa e emocionalmente intensa sobre as tensões raciais nos EUA pela perspectiva da corrupção policial e das falhas do sistema de justiça do país. Inspirada no filme russo "Major", de Yuriy Bykov, essa minissérie lançada em 2018 e criada por Veena Sud, adapta com muita inteligência e sensibilidade a narrativa original, porém dentro de um contexto americano, abordando temas que são tanto oportunos quanto atemporais. Com performances de fato poderosas (que garantiu até um Emmy para Regina King), uma narrativa angustiante na sua essência e uma crítica social bastante incisiva, "Seven Seconds", é possível dizer, se estabelece como uma das minisséries mais impactantes dos últimos anos e que, sem dúvida, vai fazer você se perguntar "por que raios eu não assisti essa maravilha antes?".
A trama é desencadeada por um incidente trágico: um jovem afro-americano, Brenton Butler (Daykwon Gaines), é atropelado por um policial branco, Pete Jablonski (Beau Knapp), em Jersey City. O policial, em pânico, decide encobrir o acidente com a ajuda de seus colegas, desencadeando uma série de eventos que expõem as fissuras profundas no sistema de justiça e nas relações raciais. A minissérie acompanha a luta da família Butler, especialmente da mãe de Brenton, Latrice (Regina King), por justiça, enquanto a promotora pública KJ Harper (Clare-Hope Ashitey) tenta navegar pelos obstáculos institucionais que dificultam a busca pela verdade. Confira o trailer:
Veena Sud, conhecida por seu magistral trabalho como showrunner em "The Killing", traz para Netflix sua habilidade em construir mistérios complexos e dramas emocionais. "Seven Seconds", na realidade, não se limita a ser um simples drama policial, muito pelo contrário, ela é uma minissérie que se aprofunda nas questões sociais e raciais com muito tato, apresentando uma narrativa que funciona tanto como um thriller jurídico quanto como um recorte importante de uma sociedade doente. Sud sabe abordar a corrupção policial, o preconceito e a dor da perda com uma elegância que faz com que narrativa fuja do sensacionalismo e provoque discussões, sempre focando na humanidade dos personagens e na complexidade moral das situações que coda uma deles enfrentam. A direção, que envolve vários profissionais ao longo da minissérie, é igualmente eficaz ao criar uma atmosfera de tensão e desespero constantes. A fotografia do Yaron Orbach (de "Paixão Obsessiva") é um primor! Sombria e realista, Orbach utiliza cores frias e uma iluminação 100% naturalista, para acentuar a densidade da narrativa. Repare como as cenas são frequentemente filmadas de maneira a enfatizar o isolamento dos personagens, reforçando a sensação de alienação e da desconexão em uma sociedade marcada pela injustiça.
O roteiro, co-escrito por Sud e sua equipe, é bem estruturado e equilibrado, mesclando a dor do drama pessoal com a dinâmica mais envolvente de uma investigação criminal - nesse sentido, a minissérie faz um excelente trabalho ao capturar a frustração e a raiva de uma comunidade que se sente repetidamente traída por aqueles que deveriam protegê-la. Olha, é de embrulhar o estômago! O ritmo da narrativa é excelente, permitindo que as emoções dos personagens e as implicações de suas ações se desenrolem de maneira orgânica e impactante. Regina King é o coração pulsante dessa proposta - ela captura a dor crua de uma mãe que perde seu filho de forma brutal e injusta. King traz uma intensidade emocional devastadora e poderosa, tornando sua Latrice uma personagem profundamente humana e de fácil conexão. Clare-Hope Ashitey também se destaca retratando uma promotora pública que luta com seus próprios demônios enquanto tenta fazer o que é certo em um sistema corrupto e por isso muito traiçoeiro!
"Seven Seconds" traz temas pesados em um ritmo deliberado que pode ser emocionalmente exaustivo para muitos. No entanto, é justamente essa proposta que aumenta o impacto da minissérie, deixando a audiência de olhos vidrados de um lado e tocada na alma de outro! Poderosa e necessária, a trama oferece uma crítica incisiva sobre as falhas sistêmicas e da injustiça racial. Sem levantar bandeiras desnecessárias, a narrativa deixa a mensagem de uma exploração corajosa sobre as complexidades morais e emocionais envolvidas em casos de brutalidade policial com suas consequências devastadoras. Olha, essa jornada é um desafio que vai te provocar uma reflexão intensa sobre questões essenciais, especialmente sobre o valor da verdade e da humanidade.
Vale muito!
Antes de mais nada, é preciso alinhar as expectativas para que o documentário da Netflix, "Sexo Bilionário", não seja uma experiência menos marcante. Se você está esperando um interessante estudo de caso de como o PornHub se tornou um dos dez sites mais visitados no planeta, transformando todo um mercado e por isso faturando bilhões de dólares em publicidade, esquece - você vai se decepcionar. Não que o filme dirigido pela veterana Suzanne Hillinger (de "American Masters") não faça um rápido recorte dessa timeline de sucesso como negócio, mas o que ela quer mesmo (e por isso fique a vontade em julgar essa escolha), é colocar gasolina na fogueira - o roteiro claramente prefere discutir as polêmicas ao redor do site, do que só conectar os pontos sensíveis de toda jornada e deixar que a audiência tire suas próprias conclusões.
Para quem não conhece, o Pornhub é o mais famoso site de conteúdo adulto da internet. Ele não só revolucionou a maneira como as pessoas consomem pornografia, como mudou drasticamente todo seu mercado. No entanto, ao deixar o seu conteúdo mais acessível aos usuários, a empresa que fatura bilhões por ano, se envolveu em grandes polêmicas e sérias alegações, incluindo tráfico sexual e disseminação de conteúdo não consensual. Em meio a isso tudo, se abre o debate sob a proteção dos profissionais da pornografia, enquanto se tenta eliminar qualquer resquício de imagens proibidas por lei. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que os assuntos levantados no documentário são muito sérios, merecem uma discussão mais profunda e uma reflexão extremamente ampla, principalmente pela forma como esse tipo de conteúdo é destruído na internet e como isso pode impactar na vida de qualquer pessoa que tenha sua privacidade exposta sem sua autorização. Vincular a dor de uma pessoa ao prazer de outra, de fato, não faz o menor sentido. A grande questão é que aqui, o valor dado ao "polêmico" praticamente encobre o que de bom a plataforma tecnológica construiu ao longo dos anos - me refiro aos resultados como negócio e como beneficio no processo de independência de atores e atrizes que disruptou a indústria pornográfica no mundo.
Claro que Hillinger faz um esforço tremendo para mostrar todos os lados da mesma história, porém ela naturalmente acaba levantando uma bandeira que desequilibra a sua narrativa. Ao expor com muita habilidade os problemas das contas não verificadas que postavam vídeos com teor inapropriado (como tráfico sexual, pedofilia e estupros), ela praticamente nos obriga a concordar que o site não trouxe nada de bom para a sociedade - afinal tudo faz sentido em seu discurso. Mesmo quando ela sugere ampliar alguns pontos sobre o tema, trazendo para a conversa quem vive dessa indústria, nós já estamos pré dispostos a nem dar mais ouvidos. Acontece que no final do filme, fica fácil perceber esse tom de manipulação e é por isso que "Money Shot: The Pornhub Story" (no original) pode te fisgar com mais força - abra os olhos (e a mente), pois perceber a complexidade do negócio só vai enriquecer sua experiência.
"Sexo Bilionário" é mais complexo do que parece e certamente vai provocar longas discussões dependendo do prisma que você enxergar a história. Seja a partir de entrevistas interessantes com atrizes do cinema pornô (como Siri Dahl, Asa Akira e Gwen Adora) ou pelos depoimentos de ex-funcionárias que conheciam os bastidores do Pornhub (como Noelle Perdue), é inegável que o tema vai prender sua atenção do início ao fim, te tirar da zona de conforto e, principalmente, te convidar para ótimas reflexões - só não espere uma narrativa 100% isenta.
Vale muito o seu play!
Antes de mais nada, é preciso alinhar as expectativas para que o documentário da Netflix, "Sexo Bilionário", não seja uma experiência menos marcante. Se você está esperando um interessante estudo de caso de como o PornHub se tornou um dos dez sites mais visitados no planeta, transformando todo um mercado e por isso faturando bilhões de dólares em publicidade, esquece - você vai se decepcionar. Não que o filme dirigido pela veterana Suzanne Hillinger (de "American Masters") não faça um rápido recorte dessa timeline de sucesso como negócio, mas o que ela quer mesmo (e por isso fique a vontade em julgar essa escolha), é colocar gasolina na fogueira - o roteiro claramente prefere discutir as polêmicas ao redor do site, do que só conectar os pontos sensíveis de toda jornada e deixar que a audiência tire suas próprias conclusões.
Para quem não conhece, o Pornhub é o mais famoso site de conteúdo adulto da internet. Ele não só revolucionou a maneira como as pessoas consomem pornografia, como mudou drasticamente todo seu mercado. No entanto, ao deixar o seu conteúdo mais acessível aos usuários, a empresa que fatura bilhões por ano, se envolveu em grandes polêmicas e sérias alegações, incluindo tráfico sexual e disseminação de conteúdo não consensual. Em meio a isso tudo, se abre o debate sob a proteção dos profissionais da pornografia, enquanto se tenta eliminar qualquer resquício de imagens proibidas por lei. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que os assuntos levantados no documentário são muito sérios, merecem uma discussão mais profunda e uma reflexão extremamente ampla, principalmente pela forma como esse tipo de conteúdo é destruído na internet e como isso pode impactar na vida de qualquer pessoa que tenha sua privacidade exposta sem sua autorização. Vincular a dor de uma pessoa ao prazer de outra, de fato, não faz o menor sentido. A grande questão é que aqui, o valor dado ao "polêmico" praticamente encobre o que de bom a plataforma tecnológica construiu ao longo dos anos - me refiro aos resultados como negócio e como beneficio no processo de independência de atores e atrizes que disruptou a indústria pornográfica no mundo.
Claro que Hillinger faz um esforço tremendo para mostrar todos os lados da mesma história, porém ela naturalmente acaba levantando uma bandeira que desequilibra a sua narrativa. Ao expor com muita habilidade os problemas das contas não verificadas que postavam vídeos com teor inapropriado (como tráfico sexual, pedofilia e estupros), ela praticamente nos obriga a concordar que o site não trouxe nada de bom para a sociedade - afinal tudo faz sentido em seu discurso. Mesmo quando ela sugere ampliar alguns pontos sobre o tema, trazendo para a conversa quem vive dessa indústria, nós já estamos pré dispostos a nem dar mais ouvidos. Acontece que no final do filme, fica fácil perceber esse tom de manipulação e é por isso que "Money Shot: The Pornhub Story" (no original) pode te fisgar com mais força - abra os olhos (e a mente), pois perceber a complexidade do negócio só vai enriquecer sua experiência.
"Sexo Bilionário" é mais complexo do que parece e certamente vai provocar longas discussões dependendo do prisma que você enxergar a história. Seja a partir de entrevistas interessantes com atrizes do cinema pornô (como Siri Dahl, Asa Akira e Gwen Adora) ou pelos depoimentos de ex-funcionárias que conheciam os bastidores do Pornhub (como Noelle Perdue), é inegável que o tema vai prender sua atenção do início ao fim, te tirar da zona de conforto e, principalmente, te convidar para ótimas reflexões - só não espere uma narrativa 100% isenta.
Vale muito o seu play!
"Shame" é um filme para adultos em sua forma e em seu conteúdo - complexo e provocador, eu completaria! Dirigido pelo excelente Steve McQueen (vencedor do Oscar por "12 Anos de Escravidão"), o filme, de fato, desafia a audiência ao lidar com o desconforto iminente ao explorar a vulnerabilidade em sua perspectiva mais crua e sincera. A narrativa proposta pelo diretor não se destaca só pelo tema corajoso, mas também pela excelência técnica e pela força das atuações do seu elenco - é impressionante como uma história, digamos, cotidiana, se transforma em uma jornada emocional marcante e avassaladora, e sempre palpável! McQueen, conhecido por seu olhar clínico sobre temas mais sensíveis, nos oferece uma exploração brutalmente honesta sobre o vício e sobre a alienação de uma maneira única, deixando para nós o ônus da reflexão sem pedir muita licença. "Shame" teve uma carreira primorosa nos festivais e premiações de 2011 e 2012, acumulando cerca de
Na trama acompanhamos Brandon (Michael Fassbender), um executivo de sucesso em Nova York, cujo vício em sexo consome sua vida de forma crescente. Quando sua irmã Sissy (Carey Mulligan) aparece de surpresa, sua existência meticulosamente controlada é lançada em um caos, forçando-o a confrontar as consequências de seu comportamento e a natureza de sua compulsão. Confira o trailer:
Depois de assistir o trailer de "Shame" fica complicado começar uma análise sem citar a fotografia de Sean Bobbitt (de "Judas e o Messias Negro"). Pilar fundamental do filme, encapsulando a fria e austera beleza de Nova York em tons metálicos e azuis gélidos. Bobbitt utiliza longos planos-sequência e uma câmera frequentemente estática para observar os personagens com uma impassível precisão que não raramente nos tira o equilíbrio. Essas escolhas não são meramente estéticas; elas servem para amplificar a sensação de isolamento e monotonia que permeiam a vida do protagonista. Repare a forma como a cidade é filmada - ela reflete a própria existência de Brandon: uma espécie de fachada brilhante que esconde uma profunda solidão e um desespero capaz de consumir todos que se relacionam com ele.
É aqui que entra Michael Fassbender - o ator entrega uma atuação visceral, ao mesmo tempo fascinante e perturbadora. Ele incorpora Brandon com uma intensidade que transcende o seu drama, tornando sua luta interna desconfortavelmente real - chega a ser um absurdo ele não ter sido indicado ao Oscar de 2012 (ano em que Jean Dujardin ganhou com "O Artista"). Carey Mulligan, por outro lado, apresenta uma Sissy que é tanto uma vulnerável vítima quanto uma força caótica, adicionando camadas ao conflito central que movem a história para um patamar angustiante. A direção de Steve McQueen é implacável em sua honestidade nesse sentido. Ele se recusa a suavizar os cantos afiados da história ou a oferecer resoluções fáceis - cada cena é construída com uma precisão meticulosa, o que torna a experiência da audiência um tanto desafiadora. Calma, você vai entender o que estou dizendo assim que der o play.
O roteiro de "Shame" é carregado de significado. Existe uma certa economia de diálogos que serve para sublinhar a comunicação truncada entre os personagens e o vazio emocional que Brandon tenta preencher com sexo. Dito isso, já dá para se ter uma ideia do que esperar, mas não se engane, o filme exige uma introspecção profunda, ele desafia nossa percepção sobre a linha tênue entre a intimidade e a compulsão, e oferece um retrato inabalável da luta interna de um homem à beira do colapso. Esteja preparado para uma jornada que pode ser tão incômoda quanto reveladora, uma verdadeira imersão na complexidade da condição humana que vale muito o seu play!
"Shame" é um filme para adultos em sua forma e em seu conteúdo - complexo e provocador, eu completaria! Dirigido pelo excelente Steve McQueen (vencedor do Oscar por "12 Anos de Escravidão"), o filme, de fato, desafia a audiência ao lidar com o desconforto iminente ao explorar a vulnerabilidade em sua perspectiva mais crua e sincera. A narrativa proposta pelo diretor não se destaca só pelo tema corajoso, mas também pela excelência técnica e pela força das atuações do seu elenco - é impressionante como uma história, digamos, cotidiana, se transforma em uma jornada emocional marcante e avassaladora, e sempre palpável! McQueen, conhecido por seu olhar clínico sobre temas mais sensíveis, nos oferece uma exploração brutalmente honesta sobre o vício e sobre a alienação de uma maneira única, deixando para nós o ônus da reflexão sem pedir muita licença. "Shame" teve uma carreira primorosa nos festivais e premiações de 2011 e 2012, acumulando cerca de
Na trama acompanhamos Brandon (Michael Fassbender), um executivo de sucesso em Nova York, cujo vício em sexo consome sua vida de forma crescente. Quando sua irmã Sissy (Carey Mulligan) aparece de surpresa, sua existência meticulosamente controlada é lançada em um caos, forçando-o a confrontar as consequências de seu comportamento e a natureza de sua compulsão. Confira o trailer:
Depois de assistir o trailer de "Shame" fica complicado começar uma análise sem citar a fotografia de Sean Bobbitt (de "Judas e o Messias Negro"). Pilar fundamental do filme, encapsulando a fria e austera beleza de Nova York em tons metálicos e azuis gélidos. Bobbitt utiliza longos planos-sequência e uma câmera frequentemente estática para observar os personagens com uma impassível precisão que não raramente nos tira o equilíbrio. Essas escolhas não são meramente estéticas; elas servem para amplificar a sensação de isolamento e monotonia que permeiam a vida do protagonista. Repare a forma como a cidade é filmada - ela reflete a própria existência de Brandon: uma espécie de fachada brilhante que esconde uma profunda solidão e um desespero capaz de consumir todos que se relacionam com ele.
É aqui que entra Michael Fassbender - o ator entrega uma atuação visceral, ao mesmo tempo fascinante e perturbadora. Ele incorpora Brandon com uma intensidade que transcende o seu drama, tornando sua luta interna desconfortavelmente real - chega a ser um absurdo ele não ter sido indicado ao Oscar de 2012 (ano em que Jean Dujardin ganhou com "O Artista"). Carey Mulligan, por outro lado, apresenta uma Sissy que é tanto uma vulnerável vítima quanto uma força caótica, adicionando camadas ao conflito central que movem a história para um patamar angustiante. A direção de Steve McQueen é implacável em sua honestidade nesse sentido. Ele se recusa a suavizar os cantos afiados da história ou a oferecer resoluções fáceis - cada cena é construída com uma precisão meticulosa, o que torna a experiência da audiência um tanto desafiadora. Calma, você vai entender o que estou dizendo assim que der o play.
O roteiro de "Shame" é carregado de significado. Existe uma certa economia de diálogos que serve para sublinhar a comunicação truncada entre os personagens e o vazio emocional que Brandon tenta preencher com sexo. Dito isso, já dá para se ter uma ideia do que esperar, mas não se engane, o filme exige uma introspecção profunda, ele desafia nossa percepção sobre a linha tênue entre a intimidade e a compulsão, e oferece um retrato inabalável da luta interna de um homem à beira do colapso. Esteja preparado para uma jornada que pode ser tão incômoda quanto reveladora, uma verdadeira imersão na complexidade da condição humana que vale muito o seu play!
Independente dos julgamentos morais e éticos, "Shiny Flakes - Drogas online" é um excelente documentário, com uma história impressionante e que, fatalmente, será um tapa na cara de muita gente (e já vou explicar a razão). Ah, e antes de mais nada eu quero esclarecer que tudo que será escrito daqui pra frente não tem a menor intenção de glorificar o trabalho ou a postura de Maximilian Schmidt - o verdadeiro Moritz que serviu de inspiração para a ótima série da Netflix, "Como Vender Drogas Online (Rápido)".
"Shiny Flakes" narra a incrível jornada de ascensão e queda do alemão Maximilian Schmidt, e como ele criou um verdadeiro império de vendas de drogas com apenas 20 anos. A partir de uma loja virtual, montada e gerida dentro do seu próprio quarto, sem a ajuda de ninguém, em pouco mais de três anos, a ousada startup se transformou no maior (e disruptivo) sucesso de um mercado ilícito bilionário. Além de gerar um lucro absurdo e transformar Maximilian em uma verdadeira celebridade com requintes de Walter White, o documentário mostra em detalhes como tudo de fato aconteceu pelo olhar do próprio protagonista que, aliás, no momento da sua prisão tinha mais de uma tonelada de drogas no seu armário. Confira o trailer:
Inegavelmente "Shiny Flakes" é um estudo de caso dos mais curiosos para os empreendedores e para quem gosta do assunto, principalmente se trocarmos o produto em questão por algo, digamos, lícito. O próprio Maximilian Schmidt descreve todo o processo de ideação, execução, crescimento e logística de uma forma que certamente fará inveja a muito vendedor de curso de Instagram com a "fórmula mágica do sucesso". Talvez a lição mais interessante da primeira metade do documentário esteja resumida na seguinte frase: "Muita gente diz que com pouco esforço poderia ter feito isso. Essa é a diferença: alguns fazem, outros não!"
Um dos grandes acertos de "Shiny Flakes", sem dúvida, foi a forma como a dupla de diretores, Eva Müller e Michael Schmitt, contam a história. Com uma dinâmica narrativa bastante fluída e simples. O documentário é praticamente um exercício de reconstituição com o próprio protagonista - isso mesmo, Maximilian atua nas cenas como um ator (e vai muito bem, inclusive). Misturando depoimentos dos investigadores envolvidos no caso com os de Maximilian Schmidt em vários momentos da sua vida de criminoso, tudo se encaixa perfeitamente com um mood quase irônico e cínico da situação - o sorriso arrogante e sem noção no rosto de Maximilian é irritante!
Quando a produção reproduz em detalhes o quarto de onde Maximilian realizava a operação e deixa bem claro que se trata de um cenário sem a menor intenção de esconder o que é "ficção" do que é "realidade", os diretores nos apresentam a uma técnica cinematográfica que gera muita empatia, identificação e acaba funcionando como um convite para aquela imersão: a quebra da quarta parede faz parte da narrativa e em diversas formas - quando escutamos a voz da diretora em uma pergunta, quando o protagonista fala diretamente para câmera após uma ação e até quando na reconstituição ouvimos o "corta" e o ator pergunta para "nós" se ficou bom.
Outro elemento que mostra o cuidado da produção diz respeito as inserções gráficas: a arte que constrói a planta original do apartamento de Maximilian a partir do seu quarto é um bom exemplo. Tudo funciona tão organicamente que nos dá a dimensão de como essa história é surreal de simples e encaixa tão bem na narrativa que temos a exata impressão que o modelo de operação do negócio seria facilmente replicável - além, claro, de ter deixado os investigadores boquiabertos pela simplicidade, audácia e ao mesmo tempo, pelo cuidado que Maximilian teve para não deixar rastros. O fato é que ninguém imaginava que o "Barão das Drogas Online" fosse um jovem que agia sozinho no quarto da casa em que morava com seus pais.
Olha, vale muito a pena!
Independente dos julgamentos morais e éticos, "Shiny Flakes - Drogas online" é um excelente documentário, com uma história impressionante e que, fatalmente, será um tapa na cara de muita gente (e já vou explicar a razão). Ah, e antes de mais nada eu quero esclarecer que tudo que será escrito daqui pra frente não tem a menor intenção de glorificar o trabalho ou a postura de Maximilian Schmidt - o verdadeiro Moritz que serviu de inspiração para a ótima série da Netflix, "Como Vender Drogas Online (Rápido)".
"Shiny Flakes" narra a incrível jornada de ascensão e queda do alemão Maximilian Schmidt, e como ele criou um verdadeiro império de vendas de drogas com apenas 20 anos. A partir de uma loja virtual, montada e gerida dentro do seu próprio quarto, sem a ajuda de ninguém, em pouco mais de três anos, a ousada startup se transformou no maior (e disruptivo) sucesso de um mercado ilícito bilionário. Além de gerar um lucro absurdo e transformar Maximilian em uma verdadeira celebridade com requintes de Walter White, o documentário mostra em detalhes como tudo de fato aconteceu pelo olhar do próprio protagonista que, aliás, no momento da sua prisão tinha mais de uma tonelada de drogas no seu armário. Confira o trailer:
Inegavelmente "Shiny Flakes" é um estudo de caso dos mais curiosos para os empreendedores e para quem gosta do assunto, principalmente se trocarmos o produto em questão por algo, digamos, lícito. O próprio Maximilian Schmidt descreve todo o processo de ideação, execução, crescimento e logística de uma forma que certamente fará inveja a muito vendedor de curso de Instagram com a "fórmula mágica do sucesso". Talvez a lição mais interessante da primeira metade do documentário esteja resumida na seguinte frase: "Muita gente diz que com pouco esforço poderia ter feito isso. Essa é a diferença: alguns fazem, outros não!"
Um dos grandes acertos de "Shiny Flakes", sem dúvida, foi a forma como a dupla de diretores, Eva Müller e Michael Schmitt, contam a história. Com uma dinâmica narrativa bastante fluída e simples. O documentário é praticamente um exercício de reconstituição com o próprio protagonista - isso mesmo, Maximilian atua nas cenas como um ator (e vai muito bem, inclusive). Misturando depoimentos dos investigadores envolvidos no caso com os de Maximilian Schmidt em vários momentos da sua vida de criminoso, tudo se encaixa perfeitamente com um mood quase irônico e cínico da situação - o sorriso arrogante e sem noção no rosto de Maximilian é irritante!
Quando a produção reproduz em detalhes o quarto de onde Maximilian realizava a operação e deixa bem claro que se trata de um cenário sem a menor intenção de esconder o que é "ficção" do que é "realidade", os diretores nos apresentam a uma técnica cinematográfica que gera muita empatia, identificação e acaba funcionando como um convite para aquela imersão: a quebra da quarta parede faz parte da narrativa e em diversas formas - quando escutamos a voz da diretora em uma pergunta, quando o protagonista fala diretamente para câmera após uma ação e até quando na reconstituição ouvimos o "corta" e o ator pergunta para "nós" se ficou bom.
Outro elemento que mostra o cuidado da produção diz respeito as inserções gráficas: a arte que constrói a planta original do apartamento de Maximilian a partir do seu quarto é um bom exemplo. Tudo funciona tão organicamente que nos dá a dimensão de como essa história é surreal de simples e encaixa tão bem na narrativa que temos a exata impressão que o modelo de operação do negócio seria facilmente replicável - além, claro, de ter deixado os investigadores boquiabertos pela simplicidade, audácia e ao mesmo tempo, pelo cuidado que Maximilian teve para não deixar rastros. O fato é que ninguém imaginava que o "Barão das Drogas Online" fosse um jovem que agia sozinho no quarto da casa em que morava com seus pais.
Olha, vale muito a pena!
"Showbiz Kids", documentário original da HBO, é simplesmente sensacional - um recorte de como é ser uma criança nos Estúdios de Hollywood! A forma como o diretor Alex Winter (também ex-ator quando criança) foi construindo a narrativa com entrevistas, imagens de arquivo e cenas dos filmes que cada uma daquelas ex-estrelas mirins participaram, criou uma dinâmica muito interessante que nos prende aos assuntos abordados e quando nos damos conta, o filme já acabou, nos deixando um certo aperto no coração e uma reflexão bastante importante, principalmente para aqueles que tem filhos!
O documentário expõe os altos e baixos de ser uma estrela mirim em Hollywood, mostrando como uma carreira na indústria do entretenimento com tão pouca idade pode cobrar um preço caro e afetar profundamente o psicológico e o futuro dessas crianças. São entrevistas com atores conhecidos por seus trabalhos na infância, como Henry Thomas, Evan Rachel Wood, Wil Wheaton, Cameron Boyce e Milla Jovovich. Além disso, o filme trás uma referência quase antropológica ao mostrar Baby Peggy, a primeira grande estrela mirim americana, além de acompanhar a jornada de dois jovens (e suas mães, claro) que estão buscando um lugar de destaque no "showbiz". Confira o trailer:
O mais bacana de "Showbiz Kids" é que o diretor foi capaz de encontrar vários perfis de atores que foram referências quando crianças, desde aquele que gostou da experiência até aquele se sentiu forçado pelos pais para estar ali. O interessante, inclusive, é que entre as duas pontas existem vários temas bastante espinhosos que fizeram parte da vida de todos, como: abuso sexual, pedofilia, drogas, ganância ou até os reflexos da pressão e insegurança daquela linha tênue entre sucesso e fracasso, natural da profissão, mas que para uma criança é de uma crueldade inimaginável (irresponsável, eu diria) - reparem nas mães das duas crianças que ainda não alcançaram a fama e entendam a postura opressora que é imposta à elas mesmo com uma certa fantasia de liberdade de escolha! Complicado!
"Showbiz Kids" é, sem dúvida, um dos melhores documentários de 2020 e certamente estará presente na temporada de premiações. Dito isso, não perca tempo, dê o play e saiba que são esses exemplos que nos fazem refletir sobre a educação que daremos aos nossos filhos!
"Showbiz Kids", documentário original da HBO, é simplesmente sensacional - um recorte de como é ser uma criança nos Estúdios de Hollywood! A forma como o diretor Alex Winter (também ex-ator quando criança) foi construindo a narrativa com entrevistas, imagens de arquivo e cenas dos filmes que cada uma daquelas ex-estrelas mirins participaram, criou uma dinâmica muito interessante que nos prende aos assuntos abordados e quando nos damos conta, o filme já acabou, nos deixando um certo aperto no coração e uma reflexão bastante importante, principalmente para aqueles que tem filhos!
O documentário expõe os altos e baixos de ser uma estrela mirim em Hollywood, mostrando como uma carreira na indústria do entretenimento com tão pouca idade pode cobrar um preço caro e afetar profundamente o psicológico e o futuro dessas crianças. São entrevistas com atores conhecidos por seus trabalhos na infância, como Henry Thomas, Evan Rachel Wood, Wil Wheaton, Cameron Boyce e Milla Jovovich. Além disso, o filme trás uma referência quase antropológica ao mostrar Baby Peggy, a primeira grande estrela mirim americana, além de acompanhar a jornada de dois jovens (e suas mães, claro) que estão buscando um lugar de destaque no "showbiz". Confira o trailer:
O mais bacana de "Showbiz Kids" é que o diretor foi capaz de encontrar vários perfis de atores que foram referências quando crianças, desde aquele que gostou da experiência até aquele se sentiu forçado pelos pais para estar ali. O interessante, inclusive, é que entre as duas pontas existem vários temas bastante espinhosos que fizeram parte da vida de todos, como: abuso sexual, pedofilia, drogas, ganância ou até os reflexos da pressão e insegurança daquela linha tênue entre sucesso e fracasso, natural da profissão, mas que para uma criança é de uma crueldade inimaginável (irresponsável, eu diria) - reparem nas mães das duas crianças que ainda não alcançaram a fama e entendam a postura opressora que é imposta à elas mesmo com uma certa fantasia de liberdade de escolha! Complicado!
"Showbiz Kids" é, sem dúvida, um dos melhores documentários de 2020 e certamente estará presente na temporada de premiações. Dito isso, não perca tempo, dê o play e saiba que são esses exemplos que nos fazem refletir sobre a educação que daremos aos nossos filhos!
Na Sicília, Giuseppe (Gaetano Fernandez), um garoto de 13 anos, desaparece de uma pequena Vila à beira de uma floresta. Sua amiga Luna (Julia Jedlikowska) recusa-se a aceitar seu desaparecimento e resolve se rebelar contra o silêncio e a cumplicidade do todos. Para encontrá-lo, Luna precisa de coragem para enfrentar o desconhecido - um lago que é uma espécie de entrada misteriosa para o mundo sombrio que provavelmente engoliu Giuseppe.
A base da história é inspirada em um caso real ocorrido em 1993: o sequestro de Giuseppe di Matteo, filho de um ex-chefe da Máfia que passou a ser um informante da policia, porém os diretores Fabio Grassadonia e Antonio Piazza usam da fantasia para fazer um paralelo entre a forma de uma pré-adolescente ver a realidade e estabelecer o universo violento da região.
O roteiro usa e abusa da construção de arquétipos vindos dos contos de fada para contar a história: enquanto a mãe de Luna soa como uma versão das “madrastas más”, o caráter íntegro de Giuseppe o aproxima dos príncipes encantados e a sensibilidade sonhadora de Luna das princesas à espera do final feliz! A própria fotografia do diretor Luca Bigazzi aproveita da belíssima paisagem mediterrânea para abusar dos longos planos-sequência, panorâmicas, cheia de planos abertos, além de alguns momentos onde a perspectiva parece distorcida como se alguém observasse toda a ação. Todo conceito estético é ainda mais valorizado pela linda trilha sonora de Anton Spielmann criando o universo que transita entre o encantamento e o sinistro, entre a fantasia e o real, trazendo muitas referências dos Irmãos Grimm.
É preciso dizer que "O Fantasma da Sicília" (título em português) é um pouco longo demais, reflexo desse estilo mais autoral e artístico dos diretores, o que dá a impressão de um filme que não evolui. O primeiro e o terceiro atos são excelentes, mas o ponto fraco é, sem dúvida, o segundo ato - eisso tende a cansar quem não está envolvido com o filme ou se identifica com esse tipo de cinema.
Não é um filme fácil, é lento, mas é muito bom! Eu gostei, mas sei que vai agradar um nicho bem pequeno de cinéfilos!!!
Na Sicília, Giuseppe (Gaetano Fernandez), um garoto de 13 anos, desaparece de uma pequena Vila à beira de uma floresta. Sua amiga Luna (Julia Jedlikowska) recusa-se a aceitar seu desaparecimento e resolve se rebelar contra o silêncio e a cumplicidade do todos. Para encontrá-lo, Luna precisa de coragem para enfrentar o desconhecido - um lago que é uma espécie de entrada misteriosa para o mundo sombrio que provavelmente engoliu Giuseppe.
A base da história é inspirada em um caso real ocorrido em 1993: o sequestro de Giuseppe di Matteo, filho de um ex-chefe da Máfia que passou a ser um informante da policia, porém os diretores Fabio Grassadonia e Antonio Piazza usam da fantasia para fazer um paralelo entre a forma de uma pré-adolescente ver a realidade e estabelecer o universo violento da região.
O roteiro usa e abusa da construção de arquétipos vindos dos contos de fada para contar a história: enquanto a mãe de Luna soa como uma versão das “madrastas más”, o caráter íntegro de Giuseppe o aproxima dos príncipes encantados e a sensibilidade sonhadora de Luna das princesas à espera do final feliz! A própria fotografia do diretor Luca Bigazzi aproveita da belíssima paisagem mediterrânea para abusar dos longos planos-sequência, panorâmicas, cheia de planos abertos, além de alguns momentos onde a perspectiva parece distorcida como se alguém observasse toda a ação. Todo conceito estético é ainda mais valorizado pela linda trilha sonora de Anton Spielmann criando o universo que transita entre o encantamento e o sinistro, entre a fantasia e o real, trazendo muitas referências dos Irmãos Grimm.
É preciso dizer que "O Fantasma da Sicília" (título em português) é um pouco longo demais, reflexo desse estilo mais autoral e artístico dos diretores, o que dá a impressão de um filme que não evolui. O primeiro e o terceiro atos são excelentes, mas o ponto fraco é, sem dúvida, o segundo ato - eisso tende a cansar quem não está envolvido com o filme ou se identifica com esse tipo de cinema.
Não é um filme fácil, é lento, mas é muito bom! Eu gostei, mas sei que vai agradar um nicho bem pequeno de cinéfilos!!!