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A Pior Pessoa do Mundo

“A Pior Pessoa do Mundo” foi a representante da Noruega na categoria "Melhor Filme Internacional" no Oscar de 2022, além de surpreender com uma indicação em "Melhor Roteiro Original" - muito merecido, diga-se de passagem. O filme é uma comédia romântica com muitos elementos de drama (ou vice-versa, dependendo da sua interpretação) sobre escolhas, decisões, consequências, crise de identidade e paixões.

Na trama, Julie (Renate Reinsve) é jovem, bonita, inteligente e não sabe exatamente o que deseja em sua vida amorosa e profissional. Uma noite ela conhece Aksel (Anders Danielsen Lie), um romancista gráfico, 15 anos mais velho que ela, e eles rapidamente se apaixonam. Algum tempo depois, ela também conhece um barista de café, Eivind (Herbert Nordrum), que também está em um relacionamento. Julie tem que decidir, não apenas entre dois homens, mas também quem ela é e quem ela quer ser. Confira o trailer:

Prepare-se pois a identificação será imediata, afinal o filme explora de maneira muito inteligente um momento delicado da vida da protagonista, em que a mente inquietante da jovem começa questionar sua existência e seus caminhos. O roteiro, assinado pelo diretor Joachim Trier e pelo também cineasta Eskil Vogt (do excelente "Blind") conduz todos os desdobramentos de maneira orgânica. Você tem a exata sensação de estar acompanhando filmagens reais e não atores interpretando papéis ficcionais - é impressionante.

A direção de Trier é sofisticada - ele faz algo que não é muito comum, abordando temas complexos com uma sensibilidade admirável, além de transitar entre os gêneros sem causar estranheza. No início temos uma comédia romântica e com as reviravoltas da vida da protagonista somos inseridos em seus dramas pessoais internos e amorosos. Alinhada a esse conceito narrativo, é perceptível a qualidade da direção de fotografia de Kasper Andersen (“Loucos por Justiça”) - um desbunde à parte. E aqui preciso citar uma cena que acontece no segundo ato que intercala a crueza da realidade e a magia do cinema de uma forma sensacional! Só não vou especificar detalhadamente para não estragar a sua experiência; mas repare e lembre desse review!

“A Pior Pessoa do Mundo” (ou Verdens Verste Menneske, no original) não se resume a uma história sobre o que o título sugere, mas sim sobre as complexidades do ser humano, que envolve crise existencial e que inclui a expectativa de seu parceiro, o receio de construir uma família, filhos e todos os desafios que a vida trás com o nosso amadurecimento.

Vale muito a pena! Renate Reinsve, levou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes pela protagonista do filme que, sem dúvida, pode ser considerado um dos melhores de 2021 e não fosse o incrível (mas polêmico) "Drive my Car", teria levado o Oscar tranquilamente!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“A Pior Pessoa do Mundo” foi a representante da Noruega na categoria "Melhor Filme Internacional" no Oscar de 2022, além de surpreender com uma indicação em "Melhor Roteiro Original" - muito merecido, diga-se de passagem. O filme é uma comédia romântica com muitos elementos de drama (ou vice-versa, dependendo da sua interpretação) sobre escolhas, decisões, consequências, crise de identidade e paixões.

Na trama, Julie (Renate Reinsve) é jovem, bonita, inteligente e não sabe exatamente o que deseja em sua vida amorosa e profissional. Uma noite ela conhece Aksel (Anders Danielsen Lie), um romancista gráfico, 15 anos mais velho que ela, e eles rapidamente se apaixonam. Algum tempo depois, ela também conhece um barista de café, Eivind (Herbert Nordrum), que também está em um relacionamento. Julie tem que decidir, não apenas entre dois homens, mas também quem ela é e quem ela quer ser. Confira o trailer:

Prepare-se pois a identificação será imediata, afinal o filme explora de maneira muito inteligente um momento delicado da vida da protagonista, em que a mente inquietante da jovem começa questionar sua existência e seus caminhos. O roteiro, assinado pelo diretor Joachim Trier e pelo também cineasta Eskil Vogt (do excelente "Blind") conduz todos os desdobramentos de maneira orgânica. Você tem a exata sensação de estar acompanhando filmagens reais e não atores interpretando papéis ficcionais - é impressionante.

A direção de Trier é sofisticada - ele faz algo que não é muito comum, abordando temas complexos com uma sensibilidade admirável, além de transitar entre os gêneros sem causar estranheza. No início temos uma comédia romântica e com as reviravoltas da vida da protagonista somos inseridos em seus dramas pessoais internos e amorosos. Alinhada a esse conceito narrativo, é perceptível a qualidade da direção de fotografia de Kasper Andersen (“Loucos por Justiça”) - um desbunde à parte. E aqui preciso citar uma cena que acontece no segundo ato que intercala a crueza da realidade e a magia do cinema de uma forma sensacional! Só não vou especificar detalhadamente para não estragar a sua experiência; mas repare e lembre desse review!

“A Pior Pessoa do Mundo” (ou Verdens Verste Menneske, no original) não se resume a uma história sobre o que o título sugere, mas sim sobre as complexidades do ser humano, que envolve crise existencial e que inclui a expectativa de seu parceiro, o receio de construir uma família, filhos e todos os desafios que a vida trás com o nosso amadurecimento.

Vale muito a pena! Renate Reinsve, levou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes pela protagonista do filme que, sem dúvida, pode ser considerado um dos melhores de 2021 e não fosse o incrível (mas polêmico) "Drive my Car", teria levado o Oscar tranquilamente!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Blind

"Blind" é um grande filme, mas você só vai perceber isso depois que conseguir digerir sua proposta e, em retrospectiva, encaixar uma série de detalhes que a principio pareciam até uma certa loucura do roteirista ou um experimento cinematográfico para um público bem alternativo e amante da arte independente! Vai por mim: tudo fará muito sentido e a genialidade da dinâmica narrativa de "Blind" é justamente a de brincar com nossas percepções, como se não conseguíssemos enxergar as várias pistas que o diretor Eskil Vogt vai nos dando - e não estou sendo redundante.

Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma linda mulher que perdeu a visão já adulta. Aparentemente deprimida com a nova condição, ela resolve ficar isolada em sua própria casa, onde se sente mais segura. Seu grande parceiro nesta difícil adaptação é o marido, Morten (Henrik Rafaelsen). Porém, com o passar dos dias, presa em um cotidiano monocromático, suas lembranças de um mundo que ela conheceu vão desaparecendo gradativamente, é quando ela percebe que o maior perigo está dentro de si mesma. Confira o trailer:

"Blind" fala sobre a solidão e os reflexos que ela pode causar no nosso comportamento - principalmente se essa solidão for uma escolha, mesmo que inconsciente, para se proteger de uma nova condição. O impacto que ela causa no outro é tão profundo quanto reflexivo e talvez esse premiado filme norueguês pareça confuso demais para quem não está disposto a embarcar em uma narrativa bastante particular - e aqui não basta estar apenas disposto, será preciso ter paciência até que as coisas façam sentido! O filme não é "uma viagem" , ele é uma representação clara de como nossa mente pode nos derrubar a qualquer momento e isso se extende para quem está assistindo. Olha, filme tão difícil, quanto genial! Vale muito a pena!

"Blind" foi premiado como Melhor Roteiro no Festival de Sundance, nos EUA, em 2014; foi exibido com sucesso e também premiado no Festival de Berlim com o "Label Europa Cinema", além de acumular mais de uma dezena de indicações e troféus em festivais ao redor do mundo! Com essa chancela, "Blind" se permite sair do óbvio desde o seu roteiro até sua direção e quem amarra tudo isso é uma montagem sensacional. Toda estranheza incomoda visualmente e é com uma edição bem orgânica que a narrativa subverte o conceito espacial e temporal, fazendo nossa cabeça quase explodir!

É muito interessante como o mundo de Ingrid é exatamente o mesmo de quem assiste ao filme - existe uma linha muito tênue entre realidade e imaginação e seguindo essa lógica, o diretor Eskil Vogt, nos convida para brincar - não foi uma vez que pausei e voltei o filme para tentar entender o que tinha acontecido ou se foi uma distração momentânea que tinha me confundido. O bacana é que a história vai se desenvolvendo sem a menor pressa, mesmo correndo o risco de perder audiência, tudo acontece no seu devido tempo e quando nos damos conta do que realmente está acontecendo já caminhamos para o final - ao melhor estilo "Sexto Sentido", mas sem a necessidade de provar que tudo foi minuciosamente pensado.

Algumas cenas podem parecer exageradas, colocadas para chocar, mas não, tudo tem seu propósito e, justamente por isso, nosso pré-conceito trabalha sem filtro e no final das contas, nunca acerta. Criticamos, sentimos asco, julgamos e até sofremos pelo outro, mas esquecemos que, como na vida, toda história tem dois lados e nem sempre teremos acesso a eles. "Blind" funciona no detalhe, não se esqueça, pois essa percepção mudará sua experiência ao assistir as filme.

Vale muito a pena! 

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"Blind" é um grande filme, mas você só vai perceber isso depois que conseguir digerir sua proposta e, em retrospectiva, encaixar uma série de detalhes que a principio pareciam até uma certa loucura do roteirista ou um experimento cinematográfico para um público bem alternativo e amante da arte independente! Vai por mim: tudo fará muito sentido e a genialidade da dinâmica narrativa de "Blind" é justamente a de brincar com nossas percepções, como se não conseguíssemos enxergar as várias pistas que o diretor Eskil Vogt vai nos dando - e não estou sendo redundante.

Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma linda mulher que perdeu a visão já adulta. Aparentemente deprimida com a nova condição, ela resolve ficar isolada em sua própria casa, onde se sente mais segura. Seu grande parceiro nesta difícil adaptação é o marido, Morten (Henrik Rafaelsen). Porém, com o passar dos dias, presa em um cotidiano monocromático, suas lembranças de um mundo que ela conheceu vão desaparecendo gradativamente, é quando ela percebe que o maior perigo está dentro de si mesma. Confira o trailer:

"Blind" fala sobre a solidão e os reflexos que ela pode causar no nosso comportamento - principalmente se essa solidão for uma escolha, mesmo que inconsciente, para se proteger de uma nova condição. O impacto que ela causa no outro é tão profundo quanto reflexivo e talvez esse premiado filme norueguês pareça confuso demais para quem não está disposto a embarcar em uma narrativa bastante particular - e aqui não basta estar apenas disposto, será preciso ter paciência até que as coisas façam sentido! O filme não é "uma viagem" , ele é uma representação clara de como nossa mente pode nos derrubar a qualquer momento e isso se extende para quem está assistindo. Olha, filme tão difícil, quanto genial! Vale muito a pena!

"Blind" foi premiado como Melhor Roteiro no Festival de Sundance, nos EUA, em 2014; foi exibido com sucesso e também premiado no Festival de Berlim com o "Label Europa Cinema", além de acumular mais de uma dezena de indicações e troféus em festivais ao redor do mundo! Com essa chancela, "Blind" se permite sair do óbvio desde o seu roteiro até sua direção e quem amarra tudo isso é uma montagem sensacional. Toda estranheza incomoda visualmente e é com uma edição bem orgânica que a narrativa subverte o conceito espacial e temporal, fazendo nossa cabeça quase explodir!

É muito interessante como o mundo de Ingrid é exatamente o mesmo de quem assiste ao filme - existe uma linha muito tênue entre realidade e imaginação e seguindo essa lógica, o diretor Eskil Vogt, nos convida para brincar - não foi uma vez que pausei e voltei o filme para tentar entender o que tinha acontecido ou se foi uma distração momentânea que tinha me confundido. O bacana é que a história vai se desenvolvendo sem a menor pressa, mesmo correndo o risco de perder audiência, tudo acontece no seu devido tempo e quando nos damos conta do que realmente está acontecendo já caminhamos para o final - ao melhor estilo "Sexto Sentido", mas sem a necessidade de provar que tudo foi minuciosamente pensado.

Algumas cenas podem parecer exageradas, colocadas para chocar, mas não, tudo tem seu propósito e, justamente por isso, nosso pré-conceito trabalha sem filtro e no final das contas, nunca acerta. Criticamos, sentimos asco, julgamos e até sofremos pelo outro, mas esquecemos que, como na vida, toda história tem dois lados e nem sempre teremos acesso a eles. "Blind" funciona no detalhe, não se esqueça, pois essa percepção mudará sua experiência ao assistir as filme.

Vale muito a pena! 

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Borderliner

"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".

Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção  entre o certo e o errado.

"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!

Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!

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"Borderliner" (Grenseland) é uma minissérie norueguesa bem ao estilo "Forbrydelsen" mas com uma pegada mais "The Killing" - eu explico: a minissérie trás o tom sombrio da dinamarquesa "Forbrydelsen", mas com a narrativa um pouco mais dinâmica como da sua versão americana"The Killing".

Para proteger sua família, o detetive Nikolai (Tobias Santelmann) encobre um caso de assassinato. Mas quando sua parceira, a também investigadora Anniken (Ellen Dorrit Petersen) suspeita que algo está errado, Nikolai acaba ficando preso em um jogo perigoso de mentiras, tirando completamente sua percepção  entre o certo e o errado.

"Borderliner" estava na minha lista há algum um tempo e acabava sempre deixando de lado,.Não cometa esse erro, se você gosta de séries policiais, investigação, bem ao estilo "The Killing", "The Sinner"; assista "Borderliner"! Sua estrutura narrativa é bem interessante e a maneira como Nikolai vai se complicando a cada descoberta é angustiante. Seguindo o conceito nórdico de cinematografia, é impressionante como o conceito visual se apropria da história e provoca os nossos sentidos - reparem!

Minissérie em 8 episódios e sem previsão de uma segunda temporada... ainda bem!

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Bordertown

"Bordertown" é uma série finlandesa da Netflix muito inteligente e com um formato excelente para assistir em um final de semana. "Sorjonen" (título original) é uma co-produção da Finlândia com a França e foi apresentada para o Mercado Internacional na MIPTV de 2017. Validada pelo sucesso de audiência e alguns prêmios internacionais, a Netflix garantiu o direito de distribuição. Basicamente um detetive muda da capital para uma cidade pequena (divisa com a Russia) para se dedicar mais a família e cuidar da mulher que se recupera de um tumor no cérebro. Acontece que a cidade não é tão pacata quanto parece e alguns assassinatos começam acontecer. Kari Sorjonen então é chamado para ajudar a solucionar esses casos, porém seus métodos (completamente sensoriais) causam, naturalmente, certa estranheza na nova equipe.

Até aí nada de muito original, mas existem dois pontos muito interessantes. O primeiro é o clima da série, quase um "noir". Muito bem produzida pela Fisher King, a série tem uma direção muito interessante, pois usa exclusivamente da qualidade do roteiro para instigar nossa imaginação - ou seja, ela não mostra tudo; ela sugere - principalmente nas soluções dos casos. Não existe um grande final ou uma cena grandiosa para fechar o episódio; o processo em si, a investigação é muito mais importante que a identidade do assassino e isso é feito com muita elegância estética. A série tem uma certa granulação (mesmo produzida em digital) que fortalece o clima, trazendo a força da saudosa película para narrativa. As locações também merecem a destaque: são maravilhosas, uma melhor que a outra. Não é uma superprodução, mas parece - graças a uma direção muito inteligente! O outro ponto bem legal é que na 1ª Temporada (11 episódios de 55 minutos) é dividida em 5 casos - o primeiro leva três episódios e os demais dois, porém um arco maior existe e está tão bem inserido que você nem nota que é uma espécie de procedural (ou pelo menos uma nova leitura do formato de um caso por semana). Aquela ansiedade de terminar a temporada é diluída a cada 2, 3 horas e mesmo assim você não tem vontade de parar de assistir...rs.

"Bodertown" é daquelas preciosidades escondidas no catálogo da Netflix (como "La Casa de Papel" era antes de virar hype). Ótimo entretenimento, com qualidade, inteligente e uma grande atuação do Ville Virtanen (de "Sauna").

Uma última observação: é uma série que tem o seu tempo de adaptação, a língua causa estranheza e a narrativa começa um pouco devagar; depois que entendemos o ritmo, ela flui muito bem! Vale o play com certeza!!!!

PS: segunda temporada foi lançada em 2018 e a terceira em 2019. 

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"Bordertown" é uma série finlandesa da Netflix muito inteligente e com um formato excelente para assistir em um final de semana. "Sorjonen" (título original) é uma co-produção da Finlândia com a França e foi apresentada para o Mercado Internacional na MIPTV de 2017. Validada pelo sucesso de audiência e alguns prêmios internacionais, a Netflix garantiu o direito de distribuição. Basicamente um detetive muda da capital para uma cidade pequena (divisa com a Russia) para se dedicar mais a família e cuidar da mulher que se recupera de um tumor no cérebro. Acontece que a cidade não é tão pacata quanto parece e alguns assassinatos começam acontecer. Kari Sorjonen então é chamado para ajudar a solucionar esses casos, porém seus métodos (completamente sensoriais) causam, naturalmente, certa estranheza na nova equipe.

Até aí nada de muito original, mas existem dois pontos muito interessantes. O primeiro é o clima da série, quase um "noir". Muito bem produzida pela Fisher King, a série tem uma direção muito interessante, pois usa exclusivamente da qualidade do roteiro para instigar nossa imaginação - ou seja, ela não mostra tudo; ela sugere - principalmente nas soluções dos casos. Não existe um grande final ou uma cena grandiosa para fechar o episódio; o processo em si, a investigação é muito mais importante que a identidade do assassino e isso é feito com muita elegância estética. A série tem uma certa granulação (mesmo produzida em digital) que fortalece o clima, trazendo a força da saudosa película para narrativa. As locações também merecem a destaque: são maravilhosas, uma melhor que a outra. Não é uma superprodução, mas parece - graças a uma direção muito inteligente! O outro ponto bem legal é que na 1ª Temporada (11 episódios de 55 minutos) é dividida em 5 casos - o primeiro leva três episódios e os demais dois, porém um arco maior existe e está tão bem inserido que você nem nota que é uma espécie de procedural (ou pelo menos uma nova leitura do formato de um caso por semana). Aquela ansiedade de terminar a temporada é diluída a cada 2, 3 horas e mesmo assim você não tem vontade de parar de assistir...rs.

"Bodertown" é daquelas preciosidades escondidas no catálogo da Netflix (como "La Casa de Papel" era antes de virar hype). Ótimo entretenimento, com qualidade, inteligente e uma grande atuação do Ville Virtanen (de "Sauna").

Uma última observação: é uma série que tem o seu tempo de adaptação, a língua causa estranheza e a narrativa começa um pouco devagar; depois que entendemos o ritmo, ela flui muito bem! Vale o play com certeza!!!!

PS: segunda temporada foi lançada em 2018 e a terceira em 2019. 

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Califado

Califado

Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico! 

"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):

O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!

O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!

O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia  do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado  "Em Pedaços".

"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!

Vale seu play sem o menor medo de errar!

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Antes de mais nada é preciso dizer que "Califado" é surpreendente e muito em breve deve cair no gosto de muitos assinantes da Netflix. Essa série sueca de 8 episódios é muito original, se não pelo tema, pela forma como retrata o terrorismo ao nos colocar dentro do extremismo devastador do Estado Islâmico! 

"Califado" acompanha três personagens-chaves, não por acaso, mulheres: Pervin (Gizem Erdogan) é uma sueca que mora na Síria e que vive o terror de viver com o marido Husam (Amed Bozan), jihadista do Estado Islâmico. Já Fatima (Aliette Opheim) é uma policial sueca que faz parte de um departamento que monitora atividades do Oriente Médio, muitas delas terroristas. E por fim, Sulle (Nora Rios), uma adolescente de 15 anos, adepta da religião muçulmana, que acredita que o governo sueco é contra sua crença e que a luta extremista do E.I. é 100% legítima! Embora as três histórias pareçam completamente distintas, elas começam a se interligar (e esse é um dos pontos altos da série) quando surge a suspeita que um possível ataque terrorista está sendo orquestrado a partir da Síria e que o alvo é a Suécia. Confira o trailer (dublado):

O maior mérito da série é o nível de tensão que ela vai criando - quase como uma bola de neve, eu diria. O roteiro é muito feliz ao construir uma complexa rede entre os personagens e fatos isolados que parecem sem conexão, nos provocando a não acreditar em tudo que assistimos - mais ou menos como "Homeland" fez em suas primeiras temporadas, porém com o agravante de nos mostrar um universo pouco confortável, cheio de dogmas e costumes difíceis de digerir (um sentimento muito próximo da experiência de assistir "Nada Ortodoxa")! Olha, "Califado" é uma série excelente, mas é pesada, tem cenas fortes e mexe com um assunto que mesmo parecendo muito distante, nos soa muito familiar!

O fanatismo e a irracionalidade são elementos narrativos certeiros para séries desse gênero e "Califado" bebe muito na mesma fonte de referências que vai de "24 horas" à, já citada,"Homeland". Justamente por isso, essa produção sueca se apoia em um nível de qualidade de produção excelente e na tradição nórdica de séries de investigação para entregar um drama focado nos personagens e não no terrorismo em si! A própria trama da personagem que investiga a denúncia do possível ataque e que supostamente seria a protagonista (Fatima), não tem a força dramática que as histórias de Sulle (e de sua família) e, principalmente, de Pervin - que, na minha opinião, rouba essa primeira temporada pra ela! Pervin vive em um ambiente claustrofóbico, onde o nível de tensão e o medo da morte é absurdo. O reflexo da sua jornada nos atinge a cada episódio e, por incrível que pareça, nos distancia de quem deveria ser a heroína - criando até uma certa antipatia por ela. Já Sulle funciona como ponto de reflexão, empatia e identificação para quem se coloca no lugar de seus pais - aqui a discussão ganha profundidade e, te garanto, é difícil encontrar as respostas!

O diretor Goran Kapetanovic é muito criativo na sua forma de contar a história - com uma câmera mais solta, nervosa até, temos a real impressão de sempre estarmos seguindo algum personagem e é incrível como o sentimento de insegurança e angústia toma conta de nós quando os perdemos de vista, mesmo com a câmera ainda se movimentando, meio perdida, até que nos encontramos com eles novamente - e quando isso acontece não gostamos muito do que vemos! Outro ponto que vale reparar é como Kapetanovic escolhe o que vai mostrar e mesmo quando ele só sugere, já sentimos exatamente a tensão que a cena pede - e isso acontece muito, reparem! A fotografia  do diretor Jonas Alarik segue muito a escola nórdica de enquadramento, porém sem aquele look gélido, azulado, frio, e sim trazendo o marrom, o calor, cheio de contrastes de Raqqa, na Síria, intercalando planos extremamente fechados com panorâmicas belíssimas. As cenas em Estocolmo seguem a mesma lógica, sempre com a preocupação de mostrar o que é real, sem maquiagem - e isso ajuda a contar a história de uma forma muito interessante. Me lembrou um filme alemão sensacional e que eu indico de olhos fechados, chamado  "Em Pedaços".

"Califado" é uma ótima surpresa e um entretenimento de altíssima qualidade para quem gosta de séries de investigação, terrorismo e dramas pessoais. O roteiro nos prende do começo ao fim e, mesmo tendo um ou outro deslize, justifica a quantidade de elogios que a série vem recebendo da crítica. Agora é esperar o anuncio da segunda temporada!

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Culpa

Antes de mais nada é preciso dizer que "Culpa" (Den Skyldige, no original) é um filmaço! Mas calma, ele pode não te agradar pela forma, mas nunca pelo conteúdo. Veja, se em "Locke", de 2013, Tom Hardy passou o filme inteiro em uma BMW falando no celular e mais recentemente "Calls"se tornou uma das melhores séries de ficção científica apenas nos mostrando os diálogos de pessoas falando no telefone, é de se esperar que uma dinâmica narrativa bem executada nem sempre precise de ação para contar uma boa história - apenas os diálogos e um bom trabalho do elenco é o suficiente para nos provocar sensações e sentimentos que transformam aquela jornada em uma experiência única.

A "Culpa" é justamente isso: o policial Asger Holm (Jakob Cedergren) está acostumado a trabalhar nas ruas de Copenhagen, mas devido a um conflito ético no trabalho, ele é direcionado para cuidar da mesa de emergências da polícia. Encarregado de receber ligações e transmitir às delegacias responsáveis, ele é surpreendido pela chamada de uma mulher desesperada, tentando comunicar o seu sequestro sem chamar a atenção do sequestrador. Infelizmente, ela precisa desligar antes de ser descoberta, de modo que Asger dispõe de poucas informações para encontrá-la. É aí que começa uma corrida contra o relógio para descobrir onde ela está, para mobilizar os policiais mais próximos e salvar a vítima antes que uma tragédia aconteça. Confira o trailer:

Esse premiadíssimo filme dinamarquês é mais um ótimo exemplo do casamento perfeito entre um roteiro excelente e uma atuação muito acima da média. Jakob Cedergren (Forbrydelsen) dá uma aula de interpretação ao se apropriar do silêncio para expor seus sentimentos mais profundos e, descaradamente, manipular nossas percepções sobre aquela situação que está vivendo. O roteiro escrito pelo diretor Gustav Möller ao lado de Emil Nygaard Albertsen, é extremamente eficiente em pontuar vários momentos de tensão sem ao menos precisar nos mostrar tudo que está acontecendo. O fato da história ser contada pelo olhar de um único personagem a partir do que só ele imagina, cria uma sensação de angustia quase que indescritível. Möller, ainda é muito perspicaz como diretor ao nos conceder algum tempo para que possamos recuperar o fôlego e aí seguir em frente, porém sua gramática cinematográfica só alimenta nossa expectativa e também nos convida a imaginar o que vai acontecer do outro lado linha a cada toque do telefone (ou quando acende a luz vermelha assim que uma chamado acontece). Além de explicar gradativamente o motivo de Asger estar afastado de suas funções, o roteiro constrói sua personalidade sem precisar ser didático demais - o que faz todo sentido pelas atitudes que o protagonista tem durante os 90 minutos de filme.

A montagem de Carla Luffe, que fez sua carreira na publicidade, é outro aspecto que merece bastante destaque - ela é capaz de aplicar aquele conceito do "menos é mais" tão comum quando precisamos contar uma boa história em pouco tempo. Embora a escassez de tempo não fosse uma preocupação aqui, imagine o quão monótono seria um filme onde tudo que vemos se resume a um homem enquadrado atrás de uma mesa com um fone na cabeça. Em "Culpa" não existe monotonia, e sim um mergulho profundo na pré concepção de nossos estigmas e (in)seguranças - por mais incoerente que possa parecer essa definição!

"Culpa" funciona muito bem como um suspense, mas é no drama que o filme ganha outro valor - no drama pessoal mais precisamente! É um exercício cinematográfico dos mais complicados transformar o público em personagens ativos da história e em "Culpa" temos a exata sensação de estar ao lado de Asger Holm, escutando sua conversa, sem saber exatamente o que está acontecendo, mas julgando pelas atitudes dele (que também não tem todas as ferramentas para fazer isso com segurança e... ética)!

Vale muito a pena!

Assista Agora

Antes de mais nada é preciso dizer que "Culpa" (Den Skyldige, no original) é um filmaço! Mas calma, ele pode não te agradar pela forma, mas nunca pelo conteúdo. Veja, se em "Locke", de 2013, Tom Hardy passou o filme inteiro em uma BMW falando no celular e mais recentemente "Calls"se tornou uma das melhores séries de ficção científica apenas nos mostrando os diálogos de pessoas falando no telefone, é de se esperar que uma dinâmica narrativa bem executada nem sempre precise de ação para contar uma boa história - apenas os diálogos e um bom trabalho do elenco é o suficiente para nos provocar sensações e sentimentos que transformam aquela jornada em uma experiência única.

A "Culpa" é justamente isso: o policial Asger Holm (Jakob Cedergren) está acostumado a trabalhar nas ruas de Copenhagen, mas devido a um conflito ético no trabalho, ele é direcionado para cuidar da mesa de emergências da polícia. Encarregado de receber ligações e transmitir às delegacias responsáveis, ele é surpreendido pela chamada de uma mulher desesperada, tentando comunicar o seu sequestro sem chamar a atenção do sequestrador. Infelizmente, ela precisa desligar antes de ser descoberta, de modo que Asger dispõe de poucas informações para encontrá-la. É aí que começa uma corrida contra o relógio para descobrir onde ela está, para mobilizar os policiais mais próximos e salvar a vítima antes que uma tragédia aconteça. Confira o trailer:

Esse premiadíssimo filme dinamarquês é mais um ótimo exemplo do casamento perfeito entre um roteiro excelente e uma atuação muito acima da média. Jakob Cedergren (Forbrydelsen) dá uma aula de interpretação ao se apropriar do silêncio para expor seus sentimentos mais profundos e, descaradamente, manipular nossas percepções sobre aquela situação que está vivendo. O roteiro escrito pelo diretor Gustav Möller ao lado de Emil Nygaard Albertsen, é extremamente eficiente em pontuar vários momentos de tensão sem ao menos precisar nos mostrar tudo que está acontecendo. O fato da história ser contada pelo olhar de um único personagem a partir do que só ele imagina, cria uma sensação de angustia quase que indescritível. Möller, ainda é muito perspicaz como diretor ao nos conceder algum tempo para que possamos recuperar o fôlego e aí seguir em frente, porém sua gramática cinematográfica só alimenta nossa expectativa e também nos convida a imaginar o que vai acontecer do outro lado linha a cada toque do telefone (ou quando acende a luz vermelha assim que uma chamado acontece). Além de explicar gradativamente o motivo de Asger estar afastado de suas funções, o roteiro constrói sua personalidade sem precisar ser didático demais - o que faz todo sentido pelas atitudes que o protagonista tem durante os 90 minutos de filme.

A montagem de Carla Luffe, que fez sua carreira na publicidade, é outro aspecto que merece bastante destaque - ela é capaz de aplicar aquele conceito do "menos é mais" tão comum quando precisamos contar uma boa história em pouco tempo. Embora a escassez de tempo não fosse uma preocupação aqui, imagine o quão monótono seria um filme onde tudo que vemos se resume a um homem enquadrado atrás de uma mesa com um fone na cabeça. Em "Culpa" não existe monotonia, e sim um mergulho profundo na pré concepção de nossos estigmas e (in)seguranças - por mais incoerente que possa parecer essa definição!

"Culpa" funciona muito bem como um suspense, mas é no drama que o filme ganha outro valor - no drama pessoal mais precisamente! É um exercício cinematográfico dos mais complicados transformar o público em personagens ativos da história e em "Culpa" temos a exata sensação de estar ao lado de Asger Holm, escutando sua conversa, sem saber exatamente o que está acontecendo, mas julgando pelas atitudes dele (que também não tem todas as ferramentas para fazer isso com segurança e... ética)!

Vale muito a pena!

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Equinox

"Equinox" é um ótima série, mesmo se apoiando em alguns esteriótipos para se estabelecer no gênero, eu diria que já é possível defini-la como a primeira grande surpresa do ano de 2021 no catálogo da Netflix (mesmo tendo chegado no finalzinho de 2020). Agora não espere uma jornada fácil, essa série dinamarquesa é cheia de simbolismos e informações que não necessariamente se encontram nos seis primeiros episódios da primeira temporada - mais ou menos como "Hereditário"ou "Midsommar".

A série acompanha a jornada de Astrid (Danica Curcic), uma jovem que, em 1999, viu sua irmã mais velha e quase todos os colegas de classe desaparecerem de uma forma completamente misteriosa e sem deixar qualquer vestígio, na noite de formatura. Desde então ela ficou traumatizada, crescendo cercada por visões terríveis e pesadelos envolvendo sua irmã e os outros desaparecidos. 21 anos depois, Astrid volta a ser assombrada e depois de receber uma ligação de um dos sobreviventes, ela se propõe a investigar o que realmente aconteceu na época e buscar a verdade sobre o paradeiro de sua irmã Ida (Karoline Hamm). Confira o trailer:

Se você é daqueles que precisam de todas as respostas para chancelar a qualidade de uma série ou de um filme, "Equinox" não é para você - pelo menos não por enquanto. A primeira temporada tem um história bastante consistente, envolvente e bem desenvolvida, mas difícil. As peças vão se encaixando com a mesma velocidade que outras pontas vão se abrindo, porém a sensação que nos dá é que tudo parece fazer parte de um planejamento (o que é um alívio). Mesmo que algumas soluções, ainda assim, possam incomodar pela superficialidade, existe um contraste narrativo muito interessante entre o palpável e o interpretativo, que é capaz de sustentar o mistério até o final. O próprio produtor da série, Piv Bernth (de "The Killing"- o original) definiu: “Equinox é uma história muito única sobre a diferença entre realidade e imaginação, e a relação entre livre arbítrio e destino – tudo isso em uma família dinamarquesa normal”.

"Equinox" foi competente ao misturar (possíveis) elementos sobrenaturais com problemas reais, típicos da adolescência, sem ser piegas, com isso o roteiro estabeleceu um drama sólido de como as pessoas vulneráveis podem ser levadas a acreditar em crenças surreais, seja por fragilidade ou até por distúrbios psicológicos - e aqui vale ressaltar que a primeira temporada foi baseada em um podcast de muito sucesso na Dinamarca chamado "Equinox 1985", mas não se sabe ao certo como seria uma segunda temporada, embora o gancho do final (que ainda pode dividir opiniões) nos provoque a torcer para que ela aconteça. 

Tendo em vista todas as observações que pontuamos acima, recomendamos "Equinox" com tranquilidade e mesmo se tratando de lendas e folclores locais, fica a dica: tudo tem uma explicação, mesmo que, nesse caso, ela não venha como estamos acostumados!

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"Equinox" é um ótima série, mesmo se apoiando em alguns esteriótipos para se estabelecer no gênero, eu diria que já é possível defini-la como a primeira grande surpresa do ano de 2021 no catálogo da Netflix (mesmo tendo chegado no finalzinho de 2020). Agora não espere uma jornada fácil, essa série dinamarquesa é cheia de simbolismos e informações que não necessariamente se encontram nos seis primeiros episódios da primeira temporada - mais ou menos como "Hereditário"ou "Midsommar".

A série acompanha a jornada de Astrid (Danica Curcic), uma jovem que, em 1999, viu sua irmã mais velha e quase todos os colegas de classe desaparecerem de uma forma completamente misteriosa e sem deixar qualquer vestígio, na noite de formatura. Desde então ela ficou traumatizada, crescendo cercada por visões terríveis e pesadelos envolvendo sua irmã e os outros desaparecidos. 21 anos depois, Astrid volta a ser assombrada e depois de receber uma ligação de um dos sobreviventes, ela se propõe a investigar o que realmente aconteceu na época e buscar a verdade sobre o paradeiro de sua irmã Ida (Karoline Hamm). Confira o trailer:

Se você é daqueles que precisam de todas as respostas para chancelar a qualidade de uma série ou de um filme, "Equinox" não é para você - pelo menos não por enquanto. A primeira temporada tem um história bastante consistente, envolvente e bem desenvolvida, mas difícil. As peças vão se encaixando com a mesma velocidade que outras pontas vão se abrindo, porém a sensação que nos dá é que tudo parece fazer parte de um planejamento (o que é um alívio). Mesmo que algumas soluções, ainda assim, possam incomodar pela superficialidade, existe um contraste narrativo muito interessante entre o palpável e o interpretativo, que é capaz de sustentar o mistério até o final. O próprio produtor da série, Piv Bernth (de "The Killing"- o original) definiu: “Equinox é uma história muito única sobre a diferença entre realidade e imaginação, e a relação entre livre arbítrio e destino – tudo isso em uma família dinamarquesa normal”.

"Equinox" foi competente ao misturar (possíveis) elementos sobrenaturais com problemas reais, típicos da adolescência, sem ser piegas, com isso o roteiro estabeleceu um drama sólido de como as pessoas vulneráveis podem ser levadas a acreditar em crenças surreais, seja por fragilidade ou até por distúrbios psicológicos - e aqui vale ressaltar que a primeira temporada foi baseada em um podcast de muito sucesso na Dinamarca chamado "Equinox 1985", mas não se sabe ao certo como seria uma segunda temporada, embora o gancho do final (que ainda pode dividir opiniões) nos provoque a torcer para que ela aconteça. 

Tendo em vista todas as observações que pontuamos acima, recomendamos "Equinox" com tranquilidade e mesmo se tratando de lendas e folclores locais, fica a dica: tudo tem uma explicação, mesmo que, nesse caso, ela não venha como estamos acostumados!

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Força Maior

"Força Maior" é sobre um relacionamento que não existe mais e onde um evento marcante funciona apenas como gatilho para expor a fragilidade de uma relação desgastada e que mesmo apoiada em uma estrutura familiar aparentemente segura, já não faz mais nenhum sentido para o casal - por mais dolorido que possa ser assistir a história acontecendo, é o sentimento que o diretor Ruben Östlund (o mesmo de "The Square") consegue nos provocar através dos seus protagonistas que transforma o filme em algo quase insuportável emocionalmente de lidar.

Durante as férias em família em um luxuoso hotel nos Alpes Suíços, uma família é surpreendida por uma avalanche que se aproxima do restaurante onde estão almoçando. Cego pelo desespero, o pai, Tomás (Johannes Kuhnke), reage impulsivamente deixando sua mulher, Ebba (Lisa Loven Kongsli), e seus dois filhos pequenos para trás. Passado o susto, essa sua atitude se transforma em um grande problema para seu casamento e para o relacionamento com todos a sua volta. Confira o trailer:

"Força Maior" não é um filme fácil. Sua narrativa extremamente cadenciada deixa claro uma identidade bastante autoral de Östlund e que nem todos vão se identificar -principalmente com a quantidade de simbolismo que o roteiro vai propondo para sua audiência durante a história. Como em "The Square" (indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2018), nada que assistimos em cena é por acaso e toda relação entre os personagens esconde, na verdade, uma série de camadas que vão se revelando com o passar do tempo - que, inclusive, aqui, é indicado por uma legenda no inicio de cada ato.

A sensação de vazio que o diretor constrói é de uma profundidade única - hora com planos abertos, uma câmera fixa, apenas como observador; hora com takes mais longos que o necessário, aproveitando ou o silêncio da situação ou o cenário gélido lindamente enquadrado pelo diretor de fotografia, o excelente Fredrik Wenzel, mesmo depois que a ação termina. Reparem como essa dinâmica nos causa um certo desconforto e como o silêncio (ensurdecedor) muitas vezes nos incomoda mais do que se os personagens estivessem gritando um com o outro em cena. As cenas onde Ebba expõe sua decepção com o marido em jantares com amigos (e são duas dessas) são um bom exemplo: elas representam um constrangimento quase que insuportável entre a fala dela e as reações dos personagens que escutam a história. Tanto Johannes Kuhnke quanto Lisa Loven Kongsli, aliás, são capazes de decodificar suas emoções de uma forma tão contida que é impossível não nos colocarmos no lugar deles nessas situações - é um aula de atuação e de direção de atores.

Vencedor do prêmio de melhor filme da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes de 2014 e vastamente premiado em festivais importantes ao redor do globo, "Força Maior" vai dialogar com aqueles que se conectaram com filmes ou séries como "História de um Casamento"ou "Cenas de um Casamento". Perceba como Östlund usa de uma certa tortura moral como uma espécie de crítica às relações de uma sociedade extremamente superficial, que muitas vezes vivem na ilusão de uma família perfeita onde a felicidade está ligada ao dinheiro e a adoração dos amigos, mas que esquecem do que realmente importa: o amor que um dia pode até ter existido, mas que o tempo não perdoou em destruir.

Vale muito o seu play e sua reflexão!

Assista Agora

"Força Maior" é sobre um relacionamento que não existe mais e onde um evento marcante funciona apenas como gatilho para expor a fragilidade de uma relação desgastada e que mesmo apoiada em uma estrutura familiar aparentemente segura, já não faz mais nenhum sentido para o casal - por mais dolorido que possa ser assistir a história acontecendo, é o sentimento que o diretor Ruben Östlund (o mesmo de "The Square") consegue nos provocar através dos seus protagonistas que transforma o filme em algo quase insuportável emocionalmente de lidar.

Durante as férias em família em um luxuoso hotel nos Alpes Suíços, uma família é surpreendida por uma avalanche que se aproxima do restaurante onde estão almoçando. Cego pelo desespero, o pai, Tomás (Johannes Kuhnke), reage impulsivamente deixando sua mulher, Ebba (Lisa Loven Kongsli), e seus dois filhos pequenos para trás. Passado o susto, essa sua atitude se transforma em um grande problema para seu casamento e para o relacionamento com todos a sua volta. Confira o trailer:

"Força Maior" não é um filme fácil. Sua narrativa extremamente cadenciada deixa claro uma identidade bastante autoral de Östlund e que nem todos vão se identificar -principalmente com a quantidade de simbolismo que o roteiro vai propondo para sua audiência durante a história. Como em "The Square" (indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2018), nada que assistimos em cena é por acaso e toda relação entre os personagens esconde, na verdade, uma série de camadas que vão se revelando com o passar do tempo - que, inclusive, aqui, é indicado por uma legenda no inicio de cada ato.

A sensação de vazio que o diretor constrói é de uma profundidade única - hora com planos abertos, uma câmera fixa, apenas como observador; hora com takes mais longos que o necessário, aproveitando ou o silêncio da situação ou o cenário gélido lindamente enquadrado pelo diretor de fotografia, o excelente Fredrik Wenzel, mesmo depois que a ação termina. Reparem como essa dinâmica nos causa um certo desconforto e como o silêncio (ensurdecedor) muitas vezes nos incomoda mais do que se os personagens estivessem gritando um com o outro em cena. As cenas onde Ebba expõe sua decepção com o marido em jantares com amigos (e são duas dessas) são um bom exemplo: elas representam um constrangimento quase que insuportável entre a fala dela e as reações dos personagens que escutam a história. Tanto Johannes Kuhnke quanto Lisa Loven Kongsli, aliás, são capazes de decodificar suas emoções de uma forma tão contida que é impossível não nos colocarmos no lugar deles nessas situações - é um aula de atuação e de direção de atores.

Vencedor do prêmio de melhor filme da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes de 2014 e vastamente premiado em festivais importantes ao redor do globo, "Força Maior" vai dialogar com aqueles que se conectaram com filmes ou séries como "História de um Casamento"ou "Cenas de um Casamento". Perceba como Östlund usa de uma certa tortura moral como uma espécie de crítica às relações de uma sociedade extremamente superficial, que muitas vezes vivem na ilusão de uma família perfeita onde a felicidade está ligada ao dinheiro e a adoração dos amigos, mas que esquecem do que realmente importa: o amor que um dia pode até ter existido, mas que o tempo não perdoou em destruir.

Vale muito o seu play e sua reflexão!

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Mil Vezes Boa Noite

Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!

Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:

Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa,  "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).

Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.

"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.

Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais! 

Assista Agora

Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!

Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:

Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa,  "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).

Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.

"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.

Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais! 

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Nudes

"Nudes" vai te surpreender! Essa série antológica norueguesa que está disponível na Globoplay, é tão importante quanto impactante. Diferente de "Depois de Lucia" onde os reflexos das fotos (ou vídeos) vazados na internet se concentravam no ambiente em que a personagem estava inserida, tendo o bullying como principal elemento narrativo, aqui o mergulho é um pouco menos cruel, mas nem por isso fácil de digerir - as histórias giram em torno das consequências mais intimas de quem, de alguma forma, sofreu com o mesmo problema. Nessa primeira temporada, são 3 histórias contadas em 3 (ou 4) episódios sequenciais, que trazem um recorte de algumas situações em que a intimidade e a privacidade não foram respeitadas em uma era nada empática de redes sociais.

Ada (Anna Storeng Frøseth), Sofia (Lena Reinhardtsen) e Viktor (Tord Kinge) são três jovens de 14, 16 e 18 anos respectivamente, que moram em diferentes partes da Noruega, mas que acabam vivendo o mesmo drama: suas vidas se transformaram em um inferno graças a uma foto ou um vídeo íntimo que viralizou nas redes sociais. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Todas as três histórias trazem um estilo visual muito parecido com as séries inglesas da BBC e um roteiro, se não tão profundo, honesto (no sentido verdadeiro da palavra) e muito pautado na realidade de uma geração: Sofia, de 16 anos, faz sexo com um jovem em uma festa, até que uma pessoa qualquer grava tudo escondido e depois espalha o vídeo para toda escola assistir - o conflito aqui é descobrir quem foi o responsável. Já Ada, de 14, conhece um garoto no Tinder e para apimentar a relação, troca nudes com ele, porém, pouco depois, uma outra pessoa entra em contato com ela dizendo que suas fotos foram compartilhadas em vários fóruns de pornografia. Ele pode ajuda-la, mas Ida terá que pagar por isso - a chantagem move a história nesse track. E finalmente Viktor, um rapaz de 18 anos, que é acusado de pornografia infantil por um vídeo que postou no Snapchat onde uma amiga de 17 anos fazia sexo com seu parceiro. Em uma tentativa de retirar as graves acusações, Viktor precisa entender que suas ações terão enormes consequências - nessa saga, a ideia é mostrar o outro lado, de quem fez a maldade, mesmo sem pensar na gravidade do problema.

Veja, "Nudes" não tem o propósito de exaltar a morbidez da juventude, mas sim de mostrar algumas formas de lidar com essa terrível exposição - mesmo que a duras penas, e com marcas profundas na vida de cada um dos protagonistas. Não existe nada de romantismo e muito menos uma jornada do herói - a série é dura, conectada com a realidade e muito direta em sua mensagem. O fato de cada episódio ter cerca de vinte minutos, gera uma fluidez na narrativa, mas não permite maiores discussões ou desenvolvimentos dos personagens. O elenco é ótimo e isso traz grande verossimilhança para as situações - destaque para Anna Storeng Frøseth como Ada.

É impossível não pensar que cada uma das histórias que assistimos pode estar acontecendo no exato momento e com milhares de adolescentes. A ideia de posicionar a audiência respeitando uma estrutura onde em um episódio temos a apresentação, em outro o drama que os personagens vivem e no último como aquilo foi resolvido; nos dá tempo para reflexões importantes - nos colocamos no lugar de cada uma das vitimas (e em um deles, no lugar de quem cometeu o crime). Sim, o julgamento é imediato, mas a série foi muito feliz em mostrar a imaturidade dos jovens, a inconsequência, a inocência... isso deixa tudo muito palpável e machuca.

Vale a pena para os pais com seus filhos adolescentes. Essa série tem muito a ensinar!

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"Nudes" vai te surpreender! Essa série antológica norueguesa que está disponível na Globoplay, é tão importante quanto impactante. Diferente de "Depois de Lucia" onde os reflexos das fotos (ou vídeos) vazados na internet se concentravam no ambiente em que a personagem estava inserida, tendo o bullying como principal elemento narrativo, aqui o mergulho é um pouco menos cruel, mas nem por isso fácil de digerir - as histórias giram em torno das consequências mais intimas de quem, de alguma forma, sofreu com o mesmo problema. Nessa primeira temporada, são 3 histórias contadas em 3 (ou 4) episódios sequenciais, que trazem um recorte de algumas situações em que a intimidade e a privacidade não foram respeitadas em uma era nada empática de redes sociais.

Ada (Anna Storeng Frøseth), Sofia (Lena Reinhardtsen) e Viktor (Tord Kinge) são três jovens de 14, 16 e 18 anos respectivamente, que moram em diferentes partes da Noruega, mas que acabam vivendo o mesmo drama: suas vidas se transformaram em um inferno graças a uma foto ou um vídeo íntimo que viralizou nas redes sociais. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Todas as três histórias trazem um estilo visual muito parecido com as séries inglesas da BBC e um roteiro, se não tão profundo, honesto (no sentido verdadeiro da palavra) e muito pautado na realidade de uma geração: Sofia, de 16 anos, faz sexo com um jovem em uma festa, até que uma pessoa qualquer grava tudo escondido e depois espalha o vídeo para toda escola assistir - o conflito aqui é descobrir quem foi o responsável. Já Ada, de 14, conhece um garoto no Tinder e para apimentar a relação, troca nudes com ele, porém, pouco depois, uma outra pessoa entra em contato com ela dizendo que suas fotos foram compartilhadas em vários fóruns de pornografia. Ele pode ajuda-la, mas Ida terá que pagar por isso - a chantagem move a história nesse track. E finalmente Viktor, um rapaz de 18 anos, que é acusado de pornografia infantil por um vídeo que postou no Snapchat onde uma amiga de 17 anos fazia sexo com seu parceiro. Em uma tentativa de retirar as graves acusações, Viktor precisa entender que suas ações terão enormes consequências - nessa saga, a ideia é mostrar o outro lado, de quem fez a maldade, mesmo sem pensar na gravidade do problema.

Veja, "Nudes" não tem o propósito de exaltar a morbidez da juventude, mas sim de mostrar algumas formas de lidar com essa terrível exposição - mesmo que a duras penas, e com marcas profundas na vida de cada um dos protagonistas. Não existe nada de romantismo e muito menos uma jornada do herói - a série é dura, conectada com a realidade e muito direta em sua mensagem. O fato de cada episódio ter cerca de vinte minutos, gera uma fluidez na narrativa, mas não permite maiores discussões ou desenvolvimentos dos personagens. O elenco é ótimo e isso traz grande verossimilhança para as situações - destaque para Anna Storeng Frøseth como Ada.

É impossível não pensar que cada uma das histórias que assistimos pode estar acontecendo no exato momento e com milhares de adolescentes. A ideia de posicionar a audiência respeitando uma estrutura onde em um episódio temos a apresentação, em outro o drama que os personagens vivem e no último como aquilo foi resolvido; nos dá tempo para reflexões importantes - nos colocamos no lugar de cada uma das vitimas (e em um deles, no lugar de quem cometeu o crime). Sim, o julgamento é imediato, mas a série foi muito feliz em mostrar a imaturidade dos jovens, a inconsequência, a inocência... isso deixa tudo muito palpável e machuca.

Vale a pena para os pais com seus filhos adolescentes. Essa série tem muito a ensinar!

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Ponto Vermelho

"Ponto Vermelho" é uma produção sueca da Netflix comandada pelo diretor Alain Darborg. Bem na linha do suspense psicológico onde em grande parte do filme o inimigo é completamente desconhecido, posso dizer que a experiência não decepciona. Existem muitos elementos narrativos que misturam filmes como "Mar Aberto" de 2003 e "Louca Obsessão" de 1990 - o que acaba criando uma dinâmica angustiante e até certo ponto bastante corajosa. Aliás, temos um final bem corajoso, eu diria!

David (Anastasios Soulis) acaba de se formar em engenharia e aproveita a felicidade do momento para pedir a namorada, Nadja (Nanna Blondell) em casamento. Um ano e meio se passa e o casal feliz agora está tão feliz assim - o que faz Nadja esconder que está grávida do marido. Após uma discussão, David resolve convidar a mulher para passar um final de semana acampando num lugar remoto ao norte da Suécia - a idéia era aproveitar o momento para tentar salvar a relação, se reconectarem. Acontece que um desentendimento bobo no caminho, com dois irmãos racistas, passa a ameaçar a paz do casal, e, o que era para ser um final de semana de reconciliação acaba se tornando um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (legendado em inglês):

Embora o prólogo seja superficial demais, é possível ter a real percepção de como a dinâmica do casal vai influenciar na história. Talvez um pouco deslocado e até apressado, o roteiro dePer Dickson e do diretor Alain Darborg vai se equilibrando com o passar do tempo e inserindo muitos gatilhos visuais e narrativos de medo e angústia - o primeiro contato com os irmãos racistas é um bom exemplo. Ao se apropriar do estilo “o perigo pode estar em qualquer lugar”, o filme ganha muita força e acaba potencializando o cenário escolhido: uma inóspita região de gelo, como vimos recentemente em "O Céu da Meia-Noite". A noite, com tempestade, sem iluminação, apenas os dois personagens no meio de uma situação sem controle, faz o suspense natural de "Mar Aberto" vir na nossa lembrança.

Porém esse mesmo roteiro que cria essa atmosfera de terror tão sensível, começa trapacear a audiência quando a "caça ao rato" termina já no inicio do terceiro ato, pois ele passa a usar alguns artifícios que não são apresentados em nenhum momento da trama e isso incomoda um pouco. Mesmo impactando a imaginação, já que as cenas de maus-tratos aos animais são apenas sugeridas e acabam servindo de preparação para as de tortura que virão adiante - daí a forte referência de "Louca Obsessão"; "Ponto Vermelho" oscila demais até sua conclusão. 

Anastasios Soulis e Nanna Blondell estão ótimos e carregam o filme nas costas, junto com uma direção competente de Darborg, mas faltou um pouco mais de violência para tornar o filme inesquecível e marcante - e aqui é uma opinião bem pessoal, já que fiquei satisfeito com o final e como o drama foi se construindo. Digamos que seria a cereja do bolo, mesmo com tudo fazendo sentido como fez! Em todo caso, "Ponto Vermelho" é um bom  suspense psicológico com toques de ação e perseguição que vai entreter e provocar sensações interessantes.

Não é um filme inesquecível, ok? Mas cumpre muito bem o seu papel na discussão sobre até que ponto a vingança vale a pena!

Assista Agora

"Ponto Vermelho" é uma produção sueca da Netflix comandada pelo diretor Alain Darborg. Bem na linha do suspense psicológico onde em grande parte do filme o inimigo é completamente desconhecido, posso dizer que a experiência não decepciona. Existem muitos elementos narrativos que misturam filmes como "Mar Aberto" de 2003 e "Louca Obsessão" de 1990 - o que acaba criando uma dinâmica angustiante e até certo ponto bastante corajosa. Aliás, temos um final bem corajoso, eu diria!

David (Anastasios Soulis) acaba de se formar em engenharia e aproveita a felicidade do momento para pedir a namorada, Nadja (Nanna Blondell) em casamento. Um ano e meio se passa e o casal feliz agora está tão feliz assim - o que faz Nadja esconder que está grávida do marido. Após uma discussão, David resolve convidar a mulher para passar um final de semana acampando num lugar remoto ao norte da Suécia - a idéia era aproveitar o momento para tentar salvar a relação, se reconectarem. Acontece que um desentendimento bobo no caminho, com dois irmãos racistas, passa a ameaçar a paz do casal, e, o que era para ser um final de semana de reconciliação acaba se tornando um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (legendado em inglês):

Embora o prólogo seja superficial demais, é possível ter a real percepção de como a dinâmica do casal vai influenciar na história. Talvez um pouco deslocado e até apressado, o roteiro dePer Dickson e do diretor Alain Darborg vai se equilibrando com o passar do tempo e inserindo muitos gatilhos visuais e narrativos de medo e angústia - o primeiro contato com os irmãos racistas é um bom exemplo. Ao se apropriar do estilo “o perigo pode estar em qualquer lugar”, o filme ganha muita força e acaba potencializando o cenário escolhido: uma inóspita região de gelo, como vimos recentemente em "O Céu da Meia-Noite". A noite, com tempestade, sem iluminação, apenas os dois personagens no meio de uma situação sem controle, faz o suspense natural de "Mar Aberto" vir na nossa lembrança.

Porém esse mesmo roteiro que cria essa atmosfera de terror tão sensível, começa trapacear a audiência quando a "caça ao rato" termina já no inicio do terceiro ato, pois ele passa a usar alguns artifícios que não são apresentados em nenhum momento da trama e isso incomoda um pouco. Mesmo impactando a imaginação, já que as cenas de maus-tratos aos animais são apenas sugeridas e acabam servindo de preparação para as de tortura que virão adiante - daí a forte referência de "Louca Obsessão"; "Ponto Vermelho" oscila demais até sua conclusão. 

Anastasios Soulis e Nanna Blondell estão ótimos e carregam o filme nas costas, junto com uma direção competente de Darborg, mas faltou um pouco mais de violência para tornar o filme inesquecível e marcante - e aqui é uma opinião bem pessoal, já que fiquei satisfeito com o final e como o drama foi se construindo. Digamos que seria a cereja do bolo, mesmo com tudo fazendo sentido como fez! Em todo caso, "Ponto Vermelho" é um bom  suspense psicológico com toques de ação e perseguição que vai entreter e provocar sensações interessantes.

Não é um filme inesquecível, ok? Mas cumpre muito bem o seu papel na discussão sobre até que ponto a vingança vale a pena!

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Som na Faixa

Se a Alemanha contou a sua história empreendedora através da Wirecard em "Rei dos Stonks", por que a Suécia não deveria contar sua versão do "sucesso" através do Spotify em "Som na Faixa"? Com um tom dramático bem mais próximo de "WeCrashed""The Dropout" e "Super Pumped: A Batalha Pela Uber", "The Playlist" (no original) surpreende por encontrar uma linha narrativa original dentro de um subgênero pouco criativo que vem ganhando cada vez mais audiência dentro das plataformas de streaming - dessa vez a história não é focada em um fundador excêntrico ou em controversas estratégias de crescimento a qualquer custo (embora também tenha isso), mas na visão holística de uma enorme transformação de mercado pelo ponto de vista de todos os seus principais atores.

A minissérie em 6 episódios conta a jornada de um grupo de jovens empreendedores, liderados por Daniel Ek (Edvin Endre), que aceita uma missão aparentemente impossível: mudar a indústria da música (e de consumo) com a criação de uma plataforma de streaming gratuita onde, sem a necessidade de downloads, seria possível  montar (e socializar) uma playlist 100% pessoal. Confira o trailer:

Baseada no romance "Spotify Untold", igualmente conhecido como "Spotify Inifrån", escrito pelo Sven Carlsson e pelo Jonas Leijonhufvud, a minissérie dirigida pelo talentoso Per-Olav Sørensen (o mesmo do excelente "Areia Movediça") se aproveita de uma dinâmica muito inteligente para contar uma mesma história sob os olhares (e interesses) de 6 personagens diferentes (um por episódio). Dentro de um complexo ecossistema empreendedor, perceber a importância de cada uma das peças para que uma ideia se transforme, de fato, em algo relevante como negócio, não é tão simples quanto parece e "Som na Faixa" sabe exatamente como replicar essa situação.

Mesmo sendo uma produção sueca, o roteiro ficou nas mãos do inglês Christian Spurrier (de "Silent Witness") que com muita criatividade imprimiu uma fluidez narrativa das mais competentes: se no primeiro episódio conhecemos o fundador do Spotify, Daniel Ek; no segundo somos surpreendidos ao entendermos o outro lado da disrupção que Ek comandou, ou seja, aqui os holofotes vão para Per Sundin (Ulf Stenberg), o então presidente da Sony Music da Suécia. O interessante é que algumas cenas até se repetem, mas os próprios diálogos ou o tom de determinadas passagens são mostradas de maneiras diferentes criando a exata sensação de que para uma história sempre existem três versões: a de cada lado envolvido e, claro, a verdadeira que podemos nunca conhecer. Esse mesmo conceito se repete com outros quatro personagens: a advogada (Petra Hansson - Gizem Erdogan), o desenvolvedor (Andreas Ehn - Joel Lützow), o sócio (Martin Lorentzon -  Christian Hillborg) e, finalmente, e não por acaso a última da cadeia: a artista (Bobbie - Janice Kavander).

"Som na Faixa" é muito cuidadosa ao explorar perspectivas diferentes sobre um mesmo evento, porém são nas inúmeras camadas que a minissérie vai desenvolvendo a partir desses personagens-chaves que, para mim, justificaria coloca-la entre as melhores ficções (mesmo baseada em fatos reais) sobre uma jornada empreendedora. Em níveis diferentes, conseguimos entender como esse caminho é desafiador desde a busca por uma solução para um problema real (as referências sobre o momento do mercado musical, a pirataria e até sobre o "Pirate Bay") até nas discussões sobre tecnologia e modelos de negócios (freemium x premium). Olha, até as aquisições duvidosas como a do uTorrent e o famoso embate com a Taylor Swift estão na história.

O fato é que "The Playlist" é um prato cheio para quem gosta do assunto, além de ser mais um exemplo de como a Netflix parece não conhece a fundo o potencial de seus próprios produtos - esse é uma pérola quase nada explorado pelo marketing da plataforma! Vale muito o seu play!

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Se a Alemanha contou a sua história empreendedora através da Wirecard em "Rei dos Stonks", por que a Suécia não deveria contar sua versão do "sucesso" através do Spotify em "Som na Faixa"? Com um tom dramático bem mais próximo de "WeCrashed""The Dropout" e "Super Pumped: A Batalha Pela Uber", "The Playlist" (no original) surpreende por encontrar uma linha narrativa original dentro de um subgênero pouco criativo que vem ganhando cada vez mais audiência dentro das plataformas de streaming - dessa vez a história não é focada em um fundador excêntrico ou em controversas estratégias de crescimento a qualquer custo (embora também tenha isso), mas na visão holística de uma enorme transformação de mercado pelo ponto de vista de todos os seus principais atores.

A minissérie em 6 episódios conta a jornada de um grupo de jovens empreendedores, liderados por Daniel Ek (Edvin Endre), que aceita uma missão aparentemente impossível: mudar a indústria da música (e de consumo) com a criação de uma plataforma de streaming gratuita onde, sem a necessidade de downloads, seria possível  montar (e socializar) uma playlist 100% pessoal. Confira o trailer:

Baseada no romance "Spotify Untold", igualmente conhecido como "Spotify Inifrån", escrito pelo Sven Carlsson e pelo Jonas Leijonhufvud, a minissérie dirigida pelo talentoso Per-Olav Sørensen (o mesmo do excelente "Areia Movediça") se aproveita de uma dinâmica muito inteligente para contar uma mesma história sob os olhares (e interesses) de 6 personagens diferentes (um por episódio). Dentro de um complexo ecossistema empreendedor, perceber a importância de cada uma das peças para que uma ideia se transforme, de fato, em algo relevante como negócio, não é tão simples quanto parece e "Som na Faixa" sabe exatamente como replicar essa situação.

Mesmo sendo uma produção sueca, o roteiro ficou nas mãos do inglês Christian Spurrier (de "Silent Witness") que com muita criatividade imprimiu uma fluidez narrativa das mais competentes: se no primeiro episódio conhecemos o fundador do Spotify, Daniel Ek; no segundo somos surpreendidos ao entendermos o outro lado da disrupção que Ek comandou, ou seja, aqui os holofotes vão para Per Sundin (Ulf Stenberg), o então presidente da Sony Music da Suécia. O interessante é que algumas cenas até se repetem, mas os próprios diálogos ou o tom de determinadas passagens são mostradas de maneiras diferentes criando a exata sensação de que para uma história sempre existem três versões: a de cada lado envolvido e, claro, a verdadeira que podemos nunca conhecer. Esse mesmo conceito se repete com outros quatro personagens: a advogada (Petra Hansson - Gizem Erdogan), o desenvolvedor (Andreas Ehn - Joel Lützow), o sócio (Martin Lorentzon -  Christian Hillborg) e, finalmente, e não por acaso a última da cadeia: a artista (Bobbie - Janice Kavander).

"Som na Faixa" é muito cuidadosa ao explorar perspectivas diferentes sobre um mesmo evento, porém são nas inúmeras camadas que a minissérie vai desenvolvendo a partir desses personagens-chaves que, para mim, justificaria coloca-la entre as melhores ficções (mesmo baseada em fatos reais) sobre uma jornada empreendedora. Em níveis diferentes, conseguimos entender como esse caminho é desafiador desde a busca por uma solução para um problema real (as referências sobre o momento do mercado musical, a pirataria e até sobre o "Pirate Bay") até nas discussões sobre tecnologia e modelos de negócios (freemium x premium). Olha, até as aquisições duvidosas como a do uTorrent e o famoso embate com a Taylor Swift estão na história.

O fato é que "The Playlist" é um prato cheio para quem gosta do assunto, além de ser mais um exemplo de como a Netflix parece não conhece a fundo o potencial de seus próprios produtos - esse é uma pérola quase nada explorado pelo marketing da plataforma! Vale muito o seu play!

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Top Model

"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

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"Top Model" (ou "The Model") é um filme dinamarquês de 2016 pouco original, mas não digo isso com demérito e sim com certa preocupação. É mais uma história sobre o universo predatório da moda que serve de aviso para milhões de adolescentes que sonham em sair de uma cidade pequena e estampar as mais cobiçadas capas de revistas e desfilar para as mais importantes grifes - o diferencial aqui, é justamente a forma realista e provocadora como o diretor Mads Matthiesen (de "Equinox") retrata essa atmosfera tentadora e pouco ficcional.

Emma (Maria Palm) é uma modelo emergente no meio artístico que está lutando para conseguir um espaço no cenário da moda parisiense depois de sair de uma pequena cidade do interior da Dinamarca. Em meio a sua batalha por espaço, ela desenvolve uma certa obsessão por um famoso fotógrafo de moda, Shane White (Ed Skrein), depois que uma rápida relação se estabelece entre os dois. Confira o trailer:

Talvez o ponto a ser observado de imediato, são os sinais de uma jornada que parece tão comum à tantas modelos em inicio de carreira. Obviamente sem generalizar e respeitando inúmeros profissionais que transitam nesse universo, é mais uma história que se encaixa na receita de um estereótipo criado depois de inúmeras repetições: a rotina de uma jovem, no caso dinamarquesa, que se aventura em Paris, sob a desconfiança da sua família pouco presente e da crença de um namorado de colégio, a quem promete amor eterno.  Porém, o amor é frágil demais diante da possibilidade de tantas realizações de uma profissão tão glamorosa - e Matthiesen equilibra perfeitamente o perrengue do dia a dia com as oportunidades sociais que a profissão facilmente impõe.

O contraste entre a Dinamarca, e a história construída por lá e que fica para trás rapidamente, e a Paris que surge iluminada como a oportunidade de uma vida, fazem com que os enquadramentos retratem exatamente essa dicotomia - reparem como o filme trabalha a beleza do silêncio em planos da cidade como se estivessem nos preparando para o caos que o dia vai se tornar, se estendendo até a altas horas da noite, afinal estamos falando da "metrópole da moda". Esse e outros detalhes que podem passar despercebidos, criam inúmeras camadas na personagem Emma - aliás, a atriz que interpreta a protagonista, Maria Palm, é modelo profissional e se aproveita perfeitamente da familiaridade com o universo da profissão para representar algum encantamento dentro do competitivo, mas deslumbrante, mundo da moda pelos olhos de quem sonhou mais do que viveu. Ela merece nosso elogio, pela neutralidade e ao mesmo tempo pela profundidade com que interioriza tantos sentimentos, tão comuns para a idade (ela tem 16 anos na história).

"Top Model" é mais provocador do que surpreendente. Tudo é muito claro e vai se encaixando quase que automaticamente sem a menor intenção de criar um plot twist matador (desculpem o trocadilho). Sua dinâmica é bem construída e nos leva para dentro de uma jovem em transformação e sem a menor capacidade intelectual de sobreviver a tantos predadores - sucesso, homens, oportunidades, mulheres, dinheiro, competição! Filme vencedor Göteborg Film Festival em 2016, com uma levada conceitual bem independente, mas fácil de acompanhar e de se entreter! 

Pode te surpreender!

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Verdade e Justiça

"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!

O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:

O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.  

Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".

Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!

Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida! 

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"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!

O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:

O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.  

Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".

Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!

Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida! 

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Zona de Confronto

Você vai se surpreender com esse filme! Essa produção dinamarquesa, muito premiada em festivais por todo mundo em 2020, têm muitos méritos e talvez o maior deles seja justamente o de trabalhar a dualidade do ser humano de acordo com o meio (ou condições) em que ele está inserido. Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar quem é o "mocinho" e quem é o "bandido" - essa dinâmica se encaixa perfeitamente ao conceito narrativo que os diretores Frederik Louis Hviid e Anders Olholm imprimem na história e acredite: ele vai mexer com suas mais diversas emoções!

Quando um jovem árabe é gravemente ferido por oficiais durante uma operação, toda a comunidade de Svalegarden fica indignada e passa a clamar por justiça. A polícia, preocupada com uma possível insurreição na cidade, aumenta o número de viaturas nas ruas para manter a ordem. Até que os policiais Jens (Simons Sears) e Mike (Jacob Hauberg Lohmann) acabam encurralados durante a patrulha, já que a violência escala após a revelação de novas e chocantes informações sobre a ação do dia anterior. Presos dentro da comunidade para um acerto de contas e envolvidos em uma guerra sócio-cultural, os dois precisam encontrar uma forma de sair daquele ambiente e permanecerem vivos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Antes de qualquer coisa, é preciso alinhar as expectativas: embora "Shorta" (no original)  tenha vários elementos que nos direcionem para um ótimo thriller de ação policial (o que de fato existe na trama), o tom independente e autoral do filme também se faz igualmente presente. Em muitos momentos percebemos que a narrativa se torna mais cadenciada, focada nos dramas internos dos personagens e nas relações entre os pares que o roteiro apenas sugere, nos provocando a imaginar "como" e "por quê" aquela determinada tensão vai ganhando uma forma e uma dramaticidade quase insuportáveis.

O filme é de fato muito competente em mostrar os pontos de vista de todos os envolvidos - e o elenco (muito talentoso) ajuda demais nessa construção. A revolta dos imigrantes faz sentido por um lado, uma vez que são tratados pela sociedade como uma espécie de subcategoria de seres humanos, e frequentemente são brutalizados e vistos como marginais ao mesmo tempo, por outro lado, a polícia também tem seus fantasmas para lidar já que está sempre sob uma enorme pressão - o filme humaniza essas situações pelo olhar da "lei" através de Mike e Jens, respectivamente. Aliás, é essa dualidade que nos conecta imediatamente ao caso do norte-americano George Floyd e a onda de protestos do Black Lives Matter nos EUA, porém o roteiro foi mesmo baseado em um caso que aconteceu na Dinamarca em 1992.

Com um estilo parecido ao do Antoine Fuqua de "Dia de Treinamento" e até mesmo do brasileiro José Padilha de "Tropa de Elite", Hviid e Olholm entregam um filme dinâmico, profundo e corajoso, que além de te deixar tenso durante toda jornada, ainda vai te provocar uma série de reflexões - e aqui eu cito uma passagem importante de "Zona de Confronto" quando a mãe de um imigrante diz: “se você sempre é tratado como algo que não é, eventualmente você acaba acreditando que é”! Seja qual for sua percepção sobre o texto, eu te garanto que além do entretenimento, você terá muito o que discutir após os créditos - mas não espere por respostas fáceis!

Vale seu play!

Assista Agora

Você vai se surpreender com esse filme! Essa produção dinamarquesa, muito premiada em festivais por todo mundo em 2020, têm muitos méritos e talvez o maior deles seja justamente o de trabalhar a dualidade do ser humano de acordo com o meio (ou condições) em que ele está inserido. Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar quem é o "mocinho" e quem é o "bandido" - essa dinâmica se encaixa perfeitamente ao conceito narrativo que os diretores Frederik Louis Hviid e Anders Olholm imprimem na história e acredite: ele vai mexer com suas mais diversas emoções!

Quando um jovem árabe é gravemente ferido por oficiais durante uma operação, toda a comunidade de Svalegarden fica indignada e passa a clamar por justiça. A polícia, preocupada com uma possível insurreição na cidade, aumenta o número de viaturas nas ruas para manter a ordem. Até que os policiais Jens (Simons Sears) e Mike (Jacob Hauberg Lohmann) acabam encurralados durante a patrulha, já que a violência escala após a revelação de novas e chocantes informações sobre a ação do dia anterior. Presos dentro da comunidade para um acerto de contas e envolvidos em uma guerra sócio-cultural, os dois precisam encontrar uma forma de sair daquele ambiente e permanecerem vivos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Antes de qualquer coisa, é preciso alinhar as expectativas: embora "Shorta" (no original)  tenha vários elementos que nos direcionem para um ótimo thriller de ação policial (o que de fato existe na trama), o tom independente e autoral do filme também se faz igualmente presente. Em muitos momentos percebemos que a narrativa se torna mais cadenciada, focada nos dramas internos dos personagens e nas relações entre os pares que o roteiro apenas sugere, nos provocando a imaginar "como" e "por quê" aquela determinada tensão vai ganhando uma forma e uma dramaticidade quase insuportáveis.

O filme é de fato muito competente em mostrar os pontos de vista de todos os envolvidos - e o elenco (muito talentoso) ajuda demais nessa construção. A revolta dos imigrantes faz sentido por um lado, uma vez que são tratados pela sociedade como uma espécie de subcategoria de seres humanos, e frequentemente são brutalizados e vistos como marginais ao mesmo tempo, por outro lado, a polícia também tem seus fantasmas para lidar já que está sempre sob uma enorme pressão - o filme humaniza essas situações pelo olhar da "lei" através de Mike e Jens, respectivamente. Aliás, é essa dualidade que nos conecta imediatamente ao caso do norte-americano George Floyd e a onda de protestos do Black Lives Matter nos EUA, porém o roteiro foi mesmo baseado em um caso que aconteceu na Dinamarca em 1992.

Com um estilo parecido ao do Antoine Fuqua de "Dia de Treinamento" e até mesmo do brasileiro José Padilha de "Tropa de Elite", Hviid e Olholm entregam um filme dinâmico, profundo e corajoso, que além de te deixar tenso durante toda jornada, ainda vai te provocar uma série de reflexões - e aqui eu cito uma passagem importante de "Zona de Confronto" quando a mãe de um imigrante diz: “se você sempre é tratado como algo que não é, eventualmente você acaba acreditando que é”! Seja qual for sua percepção sobre o texto, eu te garanto que além do entretenimento, você terá muito o que discutir após os créditos - mas não espere por respostas fáceis!

Vale seu play!

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