O adjetivo "idiota" foi redefinido em "O Homem mais odiado da Internet" - e não falo apenas do personagem, mas também de todos que viam nele um herói! Dito isso, prepara-se para uma jornada completamente indigesta, cruel e revoltante! Essa minissérie de 3 episódios da Netflix expõe, de fato, uma das figuras mais desprezíveis que você vai conhecer na sua vida - e ver ele se dar muito mal, será a força motivadora que vai te fazer suportar essa história absurda!
Hunter Moore ganhou fama por se considerar um profissional especializado em arruinar a vida dos outros graças a um site que ele criou chamado "IsAnyoneUp", focado em fotos de mulheres nuas sem o consentimento das vítimas e ainda indicando seus respectivos perfis nas redes sociais. O mais mórbido, porém, é que, com a popularidade do site, Hunter conquistou milhares de seguidores fiéis, em especial por fortalecer misoginia e todo tipo de discurso de ódio em seu fórum. Além da busca de uma mãe para que Hunter fosse punido por seus crimes, a minissérie expõe o ponto de vista de várias vítimas que tiveram sua intimidade exposta e por isso sua vida transformada completamente.
Dirigida pelo praticamente estreante Rob Miller, "O Homem mais odiado da Internet" surpreende pela qualidade técnica e artística que além de criar uma linha do tempo extremamente cuidadosa para que a audiência tenha a exata noção do que aconteceu com algumas das vitimas do "IsAnyoneUp", ainda denuncia um verdadeiro submundo de depravação virtual e desmascara o que há de mais nojento na internet.
Miller foi muito inteligente ao construir um perfil do Hunter Moore a partir de suas próprias atitudes e declarações - essa escolha é provocativa já que naturalmente exalta nossas emoções não pelo olhar da vitima, mas pela perspectiva de alguém que um dia poderia ter sido sua vitima. Já ao detalhar os bastidores da saga de Charlotte Laws, que foi até às últimas consequências para impedir que outras mulheres fossem expostas como sua filha, o diretor usa da empatia imediata como gatilho para criar nossa conexão com a jornada e nos manter grudados na tela - como disse acima, a cada nova aparição de Moore temos mais vontade de vê-lo se dar mal (para manter a educação) - aqui é preciso mencionar o excelente trabalho do montador Jules Cornell (indicado ao Emmy em 2019 por "Deixando Neverland").
O fato é que no decorrer das quase três horas de documentário, acompanhamos a ascensão de Moore, que alcançou veículos de imprensa do nível de "The Rolling Stones", "Village Voice" e "Vice", até sua queda que envolveu o coletivo hacker "Anonymous" e uma grandiosa investigação do FBI - tudo graças à Laws. Mais do que uma caçada ao criminoso, "O Homem mais odiado da Internet" é um retrato de uma sociedade doentia, basta pensar que o site de Moore tinha mais 100 milhões de acessos em 2012, e que mesmo com muito mérito, parece ter chegado alguns anos atrasado.
PS: a título de curiosidade, Charlotte Laws ajudou a implementar legislações sobre o tema em mais de 40 estados nos EUA.
Vale muito o seu play!
O adjetivo "idiota" foi redefinido em "O Homem mais odiado da Internet" - e não falo apenas do personagem, mas também de todos que viam nele um herói! Dito isso, prepara-se para uma jornada completamente indigesta, cruel e revoltante! Essa minissérie de 3 episódios da Netflix expõe, de fato, uma das figuras mais desprezíveis que você vai conhecer na sua vida - e ver ele se dar muito mal, será a força motivadora que vai te fazer suportar essa história absurda!
Hunter Moore ganhou fama por se considerar um profissional especializado em arruinar a vida dos outros graças a um site que ele criou chamado "IsAnyoneUp", focado em fotos de mulheres nuas sem o consentimento das vítimas e ainda indicando seus respectivos perfis nas redes sociais. O mais mórbido, porém, é que, com a popularidade do site, Hunter conquistou milhares de seguidores fiéis, em especial por fortalecer misoginia e todo tipo de discurso de ódio em seu fórum. Além da busca de uma mãe para que Hunter fosse punido por seus crimes, a minissérie expõe o ponto de vista de várias vítimas que tiveram sua intimidade exposta e por isso sua vida transformada completamente.
Dirigida pelo praticamente estreante Rob Miller, "O Homem mais odiado da Internet" surpreende pela qualidade técnica e artística que além de criar uma linha do tempo extremamente cuidadosa para que a audiência tenha a exata noção do que aconteceu com algumas das vitimas do "IsAnyoneUp", ainda denuncia um verdadeiro submundo de depravação virtual e desmascara o que há de mais nojento na internet.
Miller foi muito inteligente ao construir um perfil do Hunter Moore a partir de suas próprias atitudes e declarações - essa escolha é provocativa já que naturalmente exalta nossas emoções não pelo olhar da vitima, mas pela perspectiva de alguém que um dia poderia ter sido sua vitima. Já ao detalhar os bastidores da saga de Charlotte Laws, que foi até às últimas consequências para impedir que outras mulheres fossem expostas como sua filha, o diretor usa da empatia imediata como gatilho para criar nossa conexão com a jornada e nos manter grudados na tela - como disse acima, a cada nova aparição de Moore temos mais vontade de vê-lo se dar mal (para manter a educação) - aqui é preciso mencionar o excelente trabalho do montador Jules Cornell (indicado ao Emmy em 2019 por "Deixando Neverland").
O fato é que no decorrer das quase três horas de documentário, acompanhamos a ascensão de Moore, que alcançou veículos de imprensa do nível de "The Rolling Stones", "Village Voice" e "Vice", até sua queda que envolveu o coletivo hacker "Anonymous" e uma grandiosa investigação do FBI - tudo graças à Laws. Mais do que uma caçada ao criminoso, "O Homem mais odiado da Internet" é um retrato de uma sociedade doentia, basta pensar que o site de Moore tinha mais 100 milhões de acessos em 2012, e que mesmo com muito mérito, parece ter chegado alguns anos atrasado.
PS: a título de curiosidade, Charlotte Laws ajudou a implementar legislações sobre o tema em mais de 40 estados nos EUA.
Vale muito o seu play!
"O Limite" (ou "The Line" no original) é uma minissérie documental em quatro episódios, simplesmente surpreendente. Embora os primeiros episódios sugiram se tratar de um impactante e imersivo documentário sobre "guerra" ao melhor estilo "1917" (só que dos dias atuais), essa produção da Apple, na verdade, está muito mais para um excelente "True Crime" - com o diferencial de que seu personagem principal é um oficial da marinha americana que está sendo acusado de ter cometido "crimes de guerra" e que precisa provar sua inocência antes de ser condenado a prisão perpétua.
Nas guerras, há uma linha tênue entre o certo e o errado. "O Limite" analisa justamente essas ambiguidades morais dentro de uma das missões mais difíceis, porém bem sucedida, da recente intervenção americana no Iraque, a partir das acusações feitas contra o oficial Eddie Gallagher. Denunciado em 2018 por grande parte dos seus subordinados e companheiros de pelotão, Gallagher acabou sendo levado aos tribunais dos EUA em um julgamento que mexeu com a opinião publica e até com o então presidente dos EUA, Donald Trump. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelos documentaristas Jeff Zimbalist e Doug Shultz, "O Limite" é mais uma aula de construção narrativa - daquelas que nos fazem ficar grudados na frente da TV até o último episódio sem a menor ideia do que realmente encontraremos pela frente.
Tanto na forma quanto no conteúdo, a minissérie chama atenção pela jornada de cada um dos personagens, quebrando a linha temporal entre o presente e o passando, nos colocando dentro de uma missão dos SEALs no Iraque "sem cortes" - como poucas vezes vi (e senti), tudo é muito impactante. Os diretores não economizaram nas imagens e muito menos nas histórias dos próprios soldados - nos entregando assim, uma trama complexa do ponto de vista moral, mas também cheia de camadas, onde os códigos de conduta de um esquadrão de elite são rapidamente colocados a prova, tamanho era a hostilidade da situação e o caráter de alguns soldados.
Veja, essa historia é contada por quem esteve lá, no campo de batalha e vivenciou os horrores da guerra - são depoimentos duros, fotografias impactantes e imagens das câmeras acopladas nos capacetes dos próprios soldados que chegam a embrulhar o estômago em vários momentos: é uma realidade de fato muito cruel. A edição também cria uma dinâmica bem interessante, que remete aos bons filmes de guerra na ficção, com os diretores construindo uma trama envolvente e ao mesmo tempo em que vão desconstruindo nossa percepção sobre o que realmente aconteceu. Quando o "Documentário de Guerra" dá lugar para o "True Crime", com bons elementos de um "Drama de Tribunal", temos a impressão que a história fica ainda melhor. Os desdobramentos são bem surpreendentes, com direito a ótimas reviravoltas e inacreditáveis desfechos - bem na linha de "Making a Murderer" ou até "The Jinx" (inclusive com um depoimento chocante já no apagar das luzes).
"O Limite" é sem dúvida uma das melhores minisséries documentais do ano. Um retrato de uma realidade cruel por um lado e hipócrita por outro. Uma enorme e polêmica discussão sobre moralidade, direitos humanos e até sobre comportamento geracional - tudo isso arquitetado por uma narrativa ágil em alguns momentos e reflexiva em outros. Um convite empolgante para a reflexão, mesmo que isso faça nossa opinião mudar a cada nova descoberta.
Vale muito a pena!
"O Limite" (ou "The Line" no original) é uma minissérie documental em quatro episódios, simplesmente surpreendente. Embora os primeiros episódios sugiram se tratar de um impactante e imersivo documentário sobre "guerra" ao melhor estilo "1917" (só que dos dias atuais), essa produção da Apple, na verdade, está muito mais para um excelente "True Crime" - com o diferencial de que seu personagem principal é um oficial da marinha americana que está sendo acusado de ter cometido "crimes de guerra" e que precisa provar sua inocência antes de ser condenado a prisão perpétua.
Nas guerras, há uma linha tênue entre o certo e o errado. "O Limite" analisa justamente essas ambiguidades morais dentro de uma das missões mais difíceis, porém bem sucedida, da recente intervenção americana no Iraque, a partir das acusações feitas contra o oficial Eddie Gallagher. Denunciado em 2018 por grande parte dos seus subordinados e companheiros de pelotão, Gallagher acabou sendo levado aos tribunais dos EUA em um julgamento que mexeu com a opinião publica e até com o então presidente dos EUA, Donald Trump. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelos documentaristas Jeff Zimbalist e Doug Shultz, "O Limite" é mais uma aula de construção narrativa - daquelas que nos fazem ficar grudados na frente da TV até o último episódio sem a menor ideia do que realmente encontraremos pela frente.
Tanto na forma quanto no conteúdo, a minissérie chama atenção pela jornada de cada um dos personagens, quebrando a linha temporal entre o presente e o passando, nos colocando dentro de uma missão dos SEALs no Iraque "sem cortes" - como poucas vezes vi (e senti), tudo é muito impactante. Os diretores não economizaram nas imagens e muito menos nas histórias dos próprios soldados - nos entregando assim, uma trama complexa do ponto de vista moral, mas também cheia de camadas, onde os códigos de conduta de um esquadrão de elite são rapidamente colocados a prova, tamanho era a hostilidade da situação e o caráter de alguns soldados.
Veja, essa historia é contada por quem esteve lá, no campo de batalha e vivenciou os horrores da guerra - são depoimentos duros, fotografias impactantes e imagens das câmeras acopladas nos capacetes dos próprios soldados que chegam a embrulhar o estômago em vários momentos: é uma realidade de fato muito cruel. A edição também cria uma dinâmica bem interessante, que remete aos bons filmes de guerra na ficção, com os diretores construindo uma trama envolvente e ao mesmo tempo em que vão desconstruindo nossa percepção sobre o que realmente aconteceu. Quando o "Documentário de Guerra" dá lugar para o "True Crime", com bons elementos de um "Drama de Tribunal", temos a impressão que a história fica ainda melhor. Os desdobramentos são bem surpreendentes, com direito a ótimas reviravoltas e inacreditáveis desfechos - bem na linha de "Making a Murderer" ou até "The Jinx" (inclusive com um depoimento chocante já no apagar das luzes).
"O Limite" é sem dúvida uma das melhores minisséries documentais do ano. Um retrato de uma realidade cruel por um lado e hipócrita por outro. Uma enorme e polêmica discussão sobre moralidade, direitos humanos e até sobre comportamento geracional - tudo isso arquitetado por uma narrativa ágil em alguns momentos e reflexiva em outros. Um convite empolgante para a reflexão, mesmo que isso faça nossa opinião mudar a cada nova descoberta.
Vale muito a pena!
Lançado em uma época em que o "True Crime" ainda colhia os frutos do sucesso repentino de "Making a Murderer"e do surpreendente "The Jinx", "O.J.: Made in America" foi uma verdadeira bomba no mercado cinematográfico quando a ESPN, e seu diretor Ezra Edelman, montaram uma versão de 8 horas, transformando a minissérie de 5 episódios em um longa-metragem que rodou os principais festivais de cinema do mundo, sendo amplamente premiado e mais: fechando sua carreira como o grande vencedor do Oscar de 2017.
Essa minissérie documental é uma profunda exploração sobre o caso O.J. Simpson (quando o ex-astro da NFL "supostamente" assassinou sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman) em uma das tramas mais famosas da história dos Estados Unidos e provavelmente a narrativa criminal mais importante da cultura recente do hemisfério ocidental. A partir desse evento brutal, o que vemos é uma análise definitiva sobre o culto à personalidade, sobre as celebridades, a mídia sensacionalista, o racismo estrutural, o poder e, principalmente, sobre o falho sistema de justiça americano. Confira o trailer (em inglês):
Muito do que se tornou "O.J.: Made in America" é mérito de Edelman, pois com muita criatividade (e sagacidade), o diretor conta a história dos Estados Unidos dos últimos 50 anos a partir de um olhar crítico sobre um crime que simplesmente parou o país em 1994. Pelo prisma da tensão racial que sempre existiu por lá, a minissérie discute a adoração cega por celebridades durante o processo de transformação midiática da sociedade que passou a se relacionar com assuntos sérios (muitos deles extremamente pesados) com se fossem espetáculos em uma era pré-rede social.
Com uma edição lindamente equilibrada e muito competente do trio Bret Granato, Maya Mumma e Ben Sozanski, "O.J.: Made in America" basicamente se divide em três linhas narrativas diferentes, mas que se conversam a todo momento: a primeira explora a carreira esportiva de sucesso de O.J.. A segunda já faz um recorte mais intimista da vida pessoal do ex-atleta, enquanto a terceira, expõe, sem se preocupar com o impacto do tema, o aumento da violência racial em Los Angeles. Veja, tudo isso é costurado de forma muito orgânica e, de certa forma, respeitando toda a cronologia do caso - com isso, temos a impressão de estar assistindo a vários documentários misturados em um; contudo, cada um desenvolvido com extrema competência pelo roteiro do próprio Edelman.
"O.J.: Made in America" é, acima de tudo, um sério e minucioso trabalho jornalístico que habilmente se transformou em entretenimento - esse de muita qualidade e sempre muito preocupado em não levantar bandeiras desnecessárias ou que fugissem ao contexto tão bem estabelecido pela produção. Todos os lados da história e seus atores, são apresentados como iguais: O.J., a família das vítimas, a comunidade negra dos EUA, o departamento de polícia de Los Angeles, etc. Por tudo isso, a minissérie merece todo o reconhecimento recebido e não por acaso é considerado um dos melhores trabalhos do gênero "true crime" da história!
Vale muito o seu play!
Lançado em uma época em que o "True Crime" ainda colhia os frutos do sucesso repentino de "Making a Murderer"e do surpreendente "The Jinx", "O.J.: Made in America" foi uma verdadeira bomba no mercado cinematográfico quando a ESPN, e seu diretor Ezra Edelman, montaram uma versão de 8 horas, transformando a minissérie de 5 episódios em um longa-metragem que rodou os principais festivais de cinema do mundo, sendo amplamente premiado e mais: fechando sua carreira como o grande vencedor do Oscar de 2017.
Essa minissérie documental é uma profunda exploração sobre o caso O.J. Simpson (quando o ex-astro da NFL "supostamente" assassinou sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman) em uma das tramas mais famosas da história dos Estados Unidos e provavelmente a narrativa criminal mais importante da cultura recente do hemisfério ocidental. A partir desse evento brutal, o que vemos é uma análise definitiva sobre o culto à personalidade, sobre as celebridades, a mídia sensacionalista, o racismo estrutural, o poder e, principalmente, sobre o falho sistema de justiça americano. Confira o trailer (em inglês):
Muito do que se tornou "O.J.: Made in America" é mérito de Edelman, pois com muita criatividade (e sagacidade), o diretor conta a história dos Estados Unidos dos últimos 50 anos a partir de um olhar crítico sobre um crime que simplesmente parou o país em 1994. Pelo prisma da tensão racial que sempre existiu por lá, a minissérie discute a adoração cega por celebridades durante o processo de transformação midiática da sociedade que passou a se relacionar com assuntos sérios (muitos deles extremamente pesados) com se fossem espetáculos em uma era pré-rede social.
Com uma edição lindamente equilibrada e muito competente do trio Bret Granato, Maya Mumma e Ben Sozanski, "O.J.: Made in America" basicamente se divide em três linhas narrativas diferentes, mas que se conversam a todo momento: a primeira explora a carreira esportiva de sucesso de O.J.. A segunda já faz um recorte mais intimista da vida pessoal do ex-atleta, enquanto a terceira, expõe, sem se preocupar com o impacto do tema, o aumento da violência racial em Los Angeles. Veja, tudo isso é costurado de forma muito orgânica e, de certa forma, respeitando toda a cronologia do caso - com isso, temos a impressão de estar assistindo a vários documentários misturados em um; contudo, cada um desenvolvido com extrema competência pelo roteiro do próprio Edelman.
"O.J.: Made in America" é, acima de tudo, um sério e minucioso trabalho jornalístico que habilmente se transformou em entretenimento - esse de muita qualidade e sempre muito preocupado em não levantar bandeiras desnecessárias ou que fugissem ao contexto tão bem estabelecido pela produção. Todos os lados da história e seus atores, são apresentados como iguais: O.J., a família das vítimas, a comunidade negra dos EUA, o departamento de polícia de Los Angeles, etc. Por tudo isso, a minissérie merece todo o reconhecimento recebido e não por acaso é considerado um dos melhores trabalhos do gênero "true crime" da história!
Vale muito o seu play!
"Os Crimes da Nossa Mãe" é mais uma minissérie de true crime que vai revirar o seu estômago! Sim, a história é tão bizarra quanto surpreendente, mas não é um caso isolado e justamente por isso, eu sugiro que antes do play aqui, assista "Em Nome do Céu" - uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+. Digo isso pois muito do que é explicado, detalhado e discutido na minissérie de ficção (mesmo que baseado em fatos reais) servirá de base para que você realmente entenda o tamanho das atrocidades em que Lori Vallow, seu atual parceiro, Chad Daybell, e seu irmão, Alex Cox, estavam envolvidos.
A minissérie de apenas três episódios conta a história, justamente, de Lori Vallow - uma mulher vista pelos amigos e familiares como uma mãe dedicada de três filhos, uma esposa amorosa e uma pessoa bastante religiosa que fazia parte da comunidade mórmon do Texas. Tudo muda em três anos quando ela conhece Chad Daybell e ambos passam a ser considerados os principais suspeitos do desaparecimento e assassinato dos dois filhos mais novos Lori, de seu quarto marido e da mulher de Chad. Confira o trailer:
Dirigido pela Skye Borgman (a mesma de "A Garota da Foto") a minissérie se apoia em depoimentos bem impactantes e extremamente honestos, carregado de emoção, de Colby Ryan, o filho mais velho (e único sobrevivente) de Lori. Ao contar em detalhes toda história da sua família, Colby acaba funcionando como uma espécie e fio condutor da trama, humanizando a narrativa e adicionando um elemento essencial para que um true crime nos impacta tanto: incredulidade! Veja, tudo em "Os Crimes da Nossa Mãe" é apresentado para que possamos colocar uma única questão em pauta: como uma mulher aparentemente comum se tornou a mãe mais infame e odiada dos Estados Unidos?
De fato Borgman consegue nos manter grudados à trama com muita competência, mesmo que em alguns momentos use de um artifício (para mim pouco honesto) que manipula nossa percepção sobre o andamento da história: a edição. Ao montar os episódios suprimindo algumas informações ou colocando-as fora de ordem, a diretora acaba fortalecendo certas passagens que, na verdade, nem precisariam de tamanho sensacionalismo para nos impactar. A técnica funciona se olharmos pelo prisma do entretenimento, mas incomoda pela sensação de manipulação. Atrapalha nossa experiência? Só para aqueles que gostam de ir construindo o quebra-cabeça junto com a narrativa.
Ao explorar o impacto que o fundamentalismo religioso tem na vida das pessoas e como isso pode ser facilmente inserido dentro de qualquer comunidade ou cotidiano, temos a real dimensão de como o ser humano pode ser doente, cruel e perigoso em nome da palavra de Deus - esse é um viés que vem sendo muito bem explorado nesse tipo de produção, inclusive com muitas imagens de arquivo e recortes de como a mídia sempre tratou o assunto. A verdade é que o que antes parecia "coisa de ficção", hoje em dia é a "mais pura realidade"!
Nesse aspecto, "Os Crimes da Nossa Mãe" vai te deixar sem chão, ao mesmo tempo em que procura a todo momento fugir daquela estrutura mais, digamos, investigativa. Entender (ou não) o "porquê" é muito mais o foco do que essencialmente descobrir "quem" matou - mas já adianto: são tantas passagens tão insanas, vários fatos tão desconexos com a realidade, que olha, até a "confusão natural" da narrativa passa a fazer parte fundamental da nossa experiência como audiência.
Vale muito o seu play!
"Os Crimes da Nossa Mãe" é mais uma minissérie de true crime que vai revirar o seu estômago! Sim, a história é tão bizarra quanto surpreendente, mas não é um caso isolado e justamente por isso, eu sugiro que antes do play aqui, assista "Em Nome do Céu" - uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+. Digo isso pois muito do que é explicado, detalhado e discutido na minissérie de ficção (mesmo que baseado em fatos reais) servirá de base para que você realmente entenda o tamanho das atrocidades em que Lori Vallow, seu atual parceiro, Chad Daybell, e seu irmão, Alex Cox, estavam envolvidos.
A minissérie de apenas três episódios conta a história, justamente, de Lori Vallow - uma mulher vista pelos amigos e familiares como uma mãe dedicada de três filhos, uma esposa amorosa e uma pessoa bastante religiosa que fazia parte da comunidade mórmon do Texas. Tudo muda em três anos quando ela conhece Chad Daybell e ambos passam a ser considerados os principais suspeitos do desaparecimento e assassinato dos dois filhos mais novos Lori, de seu quarto marido e da mulher de Chad. Confira o trailer:
Dirigido pela Skye Borgman (a mesma de "A Garota da Foto") a minissérie se apoia em depoimentos bem impactantes e extremamente honestos, carregado de emoção, de Colby Ryan, o filho mais velho (e único sobrevivente) de Lori. Ao contar em detalhes toda história da sua família, Colby acaba funcionando como uma espécie e fio condutor da trama, humanizando a narrativa e adicionando um elemento essencial para que um true crime nos impacta tanto: incredulidade! Veja, tudo em "Os Crimes da Nossa Mãe" é apresentado para que possamos colocar uma única questão em pauta: como uma mulher aparentemente comum se tornou a mãe mais infame e odiada dos Estados Unidos?
De fato Borgman consegue nos manter grudados à trama com muita competência, mesmo que em alguns momentos use de um artifício (para mim pouco honesto) que manipula nossa percepção sobre o andamento da história: a edição. Ao montar os episódios suprimindo algumas informações ou colocando-as fora de ordem, a diretora acaba fortalecendo certas passagens que, na verdade, nem precisariam de tamanho sensacionalismo para nos impactar. A técnica funciona se olharmos pelo prisma do entretenimento, mas incomoda pela sensação de manipulação. Atrapalha nossa experiência? Só para aqueles que gostam de ir construindo o quebra-cabeça junto com a narrativa.
Ao explorar o impacto que o fundamentalismo religioso tem na vida das pessoas e como isso pode ser facilmente inserido dentro de qualquer comunidade ou cotidiano, temos a real dimensão de como o ser humano pode ser doente, cruel e perigoso em nome da palavra de Deus - esse é um viés que vem sendo muito bem explorado nesse tipo de produção, inclusive com muitas imagens de arquivo e recortes de como a mídia sempre tratou o assunto. A verdade é que o que antes parecia "coisa de ficção", hoje em dia é a "mais pura realidade"!
Nesse aspecto, "Os Crimes da Nossa Mãe" vai te deixar sem chão, ao mesmo tempo em que procura a todo momento fugir daquela estrutura mais, digamos, investigativa. Entender (ou não) o "porquê" é muito mais o foco do que essencialmente descobrir "quem" matou - mas já adianto: são tantas passagens tão insanas, vários fatos tão desconexos com a realidade, que olha, até a "confusão natural" da narrativa passa a fazer parte fundamental da nossa experiência como audiência.
Vale muito o seu play!
A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!
"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):
Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropsey) vai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.
"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).
Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.
Vale o play!
A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!
"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):
Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropsey) vai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.
"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).
Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.
Vale o play!
"Brutal" - talvez essa seja a melhor forma de definir a minissérie de 5 capítulos da HBO que conta a terrível história do assassinato da jovem atriz Daniella Perez. De cara é preciso dizer que não será uma jornada fácil - o que vemos na tela é difícil de digerir, causa revolta, nos surpreende e, invariavelmente, nos emociona. O fato do fio condutor ser baseado nos depoimentos (e recordações) da sua mãe, Glória, cria uma dimensão sentimental que normalmente não costumamos encontrar no gênero de "True Crime", o que diferencia a obra e nos aproxima da dor e da saudade de quem realmente sofre com isso até hoje.
"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" conta em detalhes tudo o que esteve por trás do crime a partir da perspectiva da mãe de Daniella, além de uma visão muito particular dos familiares e de amigos da atriz. Das motivações ao veredito, passando pelas investigações e a repercussão do crime na época, a minissérie constrói uma linha do tempo que te coloca dentro do drama vivido pela Gloria Perez durante tantos anos. Confira o trailer:
É inegável a qualidade estética e narrativa de "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez", porém a série não responde várias perguntas ou insinuações que ela mesmo levanta, principalmente em seus primeiros episódios - o real envolvimento da policia na investigação do crime é um exemplo desse gap. Isso, inclusive, não é uma critica ao resultado final da obra, que fique claro, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com algumas questões que possam te acompanhar durante toda a jornada e que você não terá uma resposta definitiva.
Para organizar a complexa narrativa, os diretores Guto Barra e Tatiana Issa (amiga pessoal do ex-marido de Raul Gazola), pontuam os capítulos a partir de tópicos específicos que nos ajudam a criar uma linha concisa e orgânica de entendimento. No primeiro episódio o foco é o dia do crime; no segundo, os assassinos são apresentados e se estabelece a ligação com os fatos e com a época; no terceiro, Glória passa a dar detalhes da sua cruzada em encontrar respostas por conta própria; no quarto, o histórico dos criminosos é exposto com o intuito de criar um perfil mais profundo sobre eles; e por fim, no quinto e último, acompanhamos o julgamento e como a justiça lidou com o caso anos após o assassinato de Daniella.
"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" é impactante na forma e no conteúdo, da mesma maneira em que nos fisga emocionalmente graças as ótimas escolhas da direção. Eu diria que é uma minissérie dura de assistir, daquelas que precisamos parar e respirar em várias passagens. Por outro lado é uma das melhores produções do gênero já produzidas no país e que nos ajuda a entender uma história que foi espetacularizada pela mídia, mas que tinha um lado humano muito importante e que não foi respeitado. Pela voz de Glória, de seu irmão, de seu filho e de sua sobrinha, conhecemos a dor de ter uma família devastada por dois personagens cruéis, perigosos, gananciosos e desprezíveis.
Um golaço da HBO Brasil que vale muito o seu play (desde que você esteja preparado para uma dura jornada)!
"Brutal" - talvez essa seja a melhor forma de definir a minissérie de 5 capítulos da HBO que conta a terrível história do assassinato da jovem atriz Daniella Perez. De cara é preciso dizer que não será uma jornada fácil - o que vemos na tela é difícil de digerir, causa revolta, nos surpreende e, invariavelmente, nos emociona. O fato do fio condutor ser baseado nos depoimentos (e recordações) da sua mãe, Glória, cria uma dimensão sentimental que normalmente não costumamos encontrar no gênero de "True Crime", o que diferencia a obra e nos aproxima da dor e da saudade de quem realmente sofre com isso até hoje.
"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" conta em detalhes tudo o que esteve por trás do crime a partir da perspectiva da mãe de Daniella, além de uma visão muito particular dos familiares e de amigos da atriz. Das motivações ao veredito, passando pelas investigações e a repercussão do crime na época, a minissérie constrói uma linha do tempo que te coloca dentro do drama vivido pela Gloria Perez durante tantos anos. Confira o trailer:
É inegável a qualidade estética e narrativa de "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez", porém a série não responde várias perguntas ou insinuações que ela mesmo levanta, principalmente em seus primeiros episódios - o real envolvimento da policia na investigação do crime é um exemplo desse gap. Isso, inclusive, não é uma critica ao resultado final da obra, que fique claro, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com algumas questões que possam te acompanhar durante toda a jornada e que você não terá uma resposta definitiva.
Para organizar a complexa narrativa, os diretores Guto Barra e Tatiana Issa (amiga pessoal do ex-marido de Raul Gazola), pontuam os capítulos a partir de tópicos específicos que nos ajudam a criar uma linha concisa e orgânica de entendimento. No primeiro episódio o foco é o dia do crime; no segundo, os assassinos são apresentados e se estabelece a ligação com os fatos e com a época; no terceiro, Glória passa a dar detalhes da sua cruzada em encontrar respostas por conta própria; no quarto, o histórico dos criminosos é exposto com o intuito de criar um perfil mais profundo sobre eles; e por fim, no quinto e último, acompanhamos o julgamento e como a justiça lidou com o caso anos após o assassinato de Daniella.
"Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez" é impactante na forma e no conteúdo, da mesma maneira em que nos fisga emocionalmente graças as ótimas escolhas da direção. Eu diria que é uma minissérie dura de assistir, daquelas que precisamos parar e respirar em várias passagens. Por outro lado é uma das melhores produções do gênero já produzidas no país e que nos ajuda a entender uma história que foi espetacularizada pela mídia, mas que tinha um lado humano muito importante e que não foi respeitado. Pela voz de Glória, de seu irmão, de seu filho e de sua sobrinha, conhecemos a dor de ter uma família devastada por dois personagens cruéis, perigosos, gananciosos e desprezíveis.
Um golaço da HBO Brasil que vale muito o seu play (desde que você esteja preparado para uma dura jornada)!
Oscar Pistorius é um fenômeno! Daqueles raros atletas que estão indiscutivelmente muito acima de seus adversários - e aqui com um detalhe ainda mais impressionante, Pistorius não tem parte das duas pernas e mesmo assim disputou uma semi-final olímpica em Londres! Dono de seis medalhas de ouro paralímpicas, o ex-atleta sul-africano Oscar Pistorius é acusado de premeditar e assassinar sua então namorada, a modelo, Reeva Steenkamp em 14 de fevereiro de 2013. Ao melhor estilo "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" e "O.J.: Made in America", essa série documental da Prime Vídeo, destrincha não só crime, mas o seu julgamento e como o acontecimento está inserido em uma sociedade marcada pela desigualdade. Mas é preciso dizer: embora a série seja sensacional, ela é muito (mas, muito) impactante - inclusive visualmente.
Dividido em quatro partes, "Pistorius" mostra a história do velocista Oscar Pistorius, que matou a tiros sua namorada no Dia dos Namorados de 2013. Sendo um homem, branco, de classe média, que viveu inserido em uma nação destruída pelo racismo, pela violência e pela desigualdade social, o filme contextualiza os desafios, esperanças e triunfos do atleta que viu todos os seus sonhos desmoronarem após, supostamente, assassinar sua namorada deliberadamente e depois enfrentar um julgamento recheado de emoção, sob um olhar marcante de desaprovação de toda imprensa internacional. Confira o trailer:
Muito bem dirigida pelo diretor Vaughan Sivell, série se aproveita de um rico material de apoio para expor as duas teses sobre aquela noite de 2013. A partir do segundo episódio - já que o primeiro faz um verdadeiro (e competente) resumo da vida e da carreira de Pistorius - temos acesso a documentos importantes da investigação, reconstituições em 3D, fotografias (muito impactantes) e cenas do tribunal, que na época foi transmitido ao vivo pela TV africana. Aliás, dois elementos chamam muito atenção durante os episódios: a cobertura mundial da imprensa, com diversas reportagens repercutindo o crime e tentando entender qual foi a motivação de Pistorius já o sentenciando antes mesmo do julgamento e, infelizmente, as imagens do corpo de Reeve Steenkamp, completamente ensanguentado, após ser assassinada.
Embora "Pistorius" não deixe dúvidas sobre a culpa do ex-atleta, fica claro que seu julgamento foi cercado de elementos que iam além dos fatos marcantes da noite do crime - mais ou menos como aconteceu com O.J. Simpson - e aqui não estou fazendo nenhum julgamento de valor e muito menos inocentando ou culpando os personagens, mas relatando que o mórbido interesse que as pessoas têm em histórias que envolvam crimes e figuras famosas, sem dúvida, fazem de um julgamento sério, um circo de horrores (a própria juíza sofreu o gosto dessa postura parcial das pessoas que se baseiam em suas crenças para definir quem é o mocinho e quem é o bandido).
O fato é que "Pistorius" vai te provocar a cada episódio, vai incentivar discussões e interpretações; mas ao mesmo tempo funciona como um ótimo entretenimento, mesmo que apoiado em uma situação de embrulhar o estômago. Vale muito a pena se você também for fã de "true crime"!
Oscar Pistorius é um fenômeno! Daqueles raros atletas que estão indiscutivelmente muito acima de seus adversários - e aqui com um detalhe ainda mais impressionante, Pistorius não tem parte das duas pernas e mesmo assim disputou uma semi-final olímpica em Londres! Dono de seis medalhas de ouro paralímpicas, o ex-atleta sul-africano Oscar Pistorius é acusado de premeditar e assassinar sua então namorada, a modelo, Reeva Steenkamp em 14 de fevereiro de 2013. Ao melhor estilo "A Mente do Assassino: Aaron Hernandez" e "O.J.: Made in America", essa série documental da Prime Vídeo, destrincha não só crime, mas o seu julgamento e como o acontecimento está inserido em uma sociedade marcada pela desigualdade. Mas é preciso dizer: embora a série seja sensacional, ela é muito (mas, muito) impactante - inclusive visualmente.
Dividido em quatro partes, "Pistorius" mostra a história do velocista Oscar Pistorius, que matou a tiros sua namorada no Dia dos Namorados de 2013. Sendo um homem, branco, de classe média, que viveu inserido em uma nação destruída pelo racismo, pela violência e pela desigualdade social, o filme contextualiza os desafios, esperanças e triunfos do atleta que viu todos os seus sonhos desmoronarem após, supostamente, assassinar sua namorada deliberadamente e depois enfrentar um julgamento recheado de emoção, sob um olhar marcante de desaprovação de toda imprensa internacional. Confira o trailer:
Muito bem dirigida pelo diretor Vaughan Sivell, série se aproveita de um rico material de apoio para expor as duas teses sobre aquela noite de 2013. A partir do segundo episódio - já que o primeiro faz um verdadeiro (e competente) resumo da vida e da carreira de Pistorius - temos acesso a documentos importantes da investigação, reconstituições em 3D, fotografias (muito impactantes) e cenas do tribunal, que na época foi transmitido ao vivo pela TV africana. Aliás, dois elementos chamam muito atenção durante os episódios: a cobertura mundial da imprensa, com diversas reportagens repercutindo o crime e tentando entender qual foi a motivação de Pistorius já o sentenciando antes mesmo do julgamento e, infelizmente, as imagens do corpo de Reeve Steenkamp, completamente ensanguentado, após ser assassinada.
Embora "Pistorius" não deixe dúvidas sobre a culpa do ex-atleta, fica claro que seu julgamento foi cercado de elementos que iam além dos fatos marcantes da noite do crime - mais ou menos como aconteceu com O.J. Simpson - e aqui não estou fazendo nenhum julgamento de valor e muito menos inocentando ou culpando os personagens, mas relatando que o mórbido interesse que as pessoas têm em histórias que envolvam crimes e figuras famosas, sem dúvida, fazem de um julgamento sério, um circo de horrores (a própria juíza sofreu o gosto dessa postura parcial das pessoas que se baseiam em suas crenças para definir quem é o mocinho e quem é o bandido).
O fato é que "Pistorius" vai te provocar a cada episódio, vai incentivar discussões e interpretações; mas ao mesmo tempo funciona como um ótimo entretenimento, mesmo que apoiado em uma situação de embrulhar o estômago. Vale muito a pena se você também for fã de "true crime"!
"Prescrição Fatal" é uma minissérie documental da Netflix muito curiosa, pois ela mistura dois estilos de documentários bastante peculiares: no primeiro momento, achamos que estamos assistindo mais um "Making a Murderer", onde o foco é a investigação de um crime misterioso, porém as coisas são resolvidas tão rapidamente que logo desconfiamos se existirá conteúdo relevante para segurar mais 3 episódios até o seu final! Não é por acaso, pois esse segundo momento traz muito do "estilo Michael Moore", usando esse prólogo "true crime" só como motivação para o que vem a seguir - e aí a forma se encontra com o conteúdo e o narrador se coloca em primeira pessoa, não mais para desvendar, mas sim para expor!
"Pharmacist" (O Farmacêutico) é o nome original da série e, nesse caso, a tradução jogou contra nossa experiência, pois ela entrega o que vem pela frente e, conceitualmente, tira de quem move a história o seu protagonismo! Dan Schneider é um senhor de Nova Orleans que perdeu seu filho assassinado quando, supostamente, ele iria comprar drogas. Ainda em um período de intensa dor e luto, ele começa a perceber que muitos outros jovens estão morrendo de overdose na sua cidade, porém a droga responsável por tantas mortes sai do local onde ele trabalha: uma farmácia! É aí que que os paralelos vão sendo construídos e a série vai ganhando força, afinal Schneider não se conforma em ser uma peça fundamental nessa cadeia - da mesma forma que um traficante foi na morte do seu filho! Olha, vale muito a pena, mas é preciso dizer que, mais uma vez, ter acesso a essa realidade tão dura (e completamente institucionalizada) não é tão fácil de digerir! Assista o trailer (em inglês) porque vale a pena:
Encontrar o assassino do seu filho e entender o motivo da sua morte, é assim que Dan Schneider nos é apresentado. O primeiro episódio é, de fato, uma grande sequência investigativa com um plot twist sensacional, mas não é esse o gênero da minissérie - que fique bem claro! A direção de Jenner Furst e Julia Willoughby Nason usa desse primeiro ato como um convite para conhecer o protagonista em um momento de muita dor e entender como um drama pessoal é capaz de mover (e motivar) suas ações para que os acontecimentos que vão se seguir sejam devidamente justificados - embora não necessariamente vinculados! É até engraçado como o roteiro se preocupa em tentar transformar um fato isolado em um propósito de vida - eu diria até que funciona, mas não me pareceu tão natural como a minissérie nos vende! O fato é que, conhecendo o modo de enxergar seus desafios, temos um perfil bastante sólido de Dan Schneider - ele é o herói da série! Mas e o vilão? É quando entra em cena Jacqueline Cleggett, uma média que só atende depois que o sol se põe e que tem como pacientes jovens viciados em uma droga chamada OxyContin. O OxyContin é um opioide analgésico extremamente potente que, mal prescrito, pode causar o vício - afinal sua composição é basicamente igual ao da heroína (palavras de uma especialista). Não é preciso dizer que Cleggett não se preocupava com a saúde dos pacientes, certo?
A luta de Dan Schneider é muito bem retratada durante os quatro episódios, existem ganchos muito fortes entre um episódio e outro que nos prendem à história e sabendo que a série não é sobre o crime que matou o filho de Schneider e sim sobre sua luta para provar que Cleggett e o OxyContin são os reais motivos de tantas mortes de jovens na sua região (a maior dos EUA), o entretenimento está garantido. Existem elementos completamente dispensáveis durante a narrativa como a passagem do Katrina e a destruição total da região ou a citação da indústria do tabaco ou até uma suposta perseguição de carro que Schneider sofreu, porém não se pode negar que o roteiro aproveita dessas passagens importantes para criar vínculos de tensão e empatia com sua narrativa principal, fazendo com que tudo ganhe um sentido e deixando a história bastante dinâmica!
Eu gostei muito de "Prescrição Fatal" e indico tranquilamente!
"Prescrição Fatal" é uma minissérie documental da Netflix muito curiosa, pois ela mistura dois estilos de documentários bastante peculiares: no primeiro momento, achamos que estamos assistindo mais um "Making a Murderer", onde o foco é a investigação de um crime misterioso, porém as coisas são resolvidas tão rapidamente que logo desconfiamos se existirá conteúdo relevante para segurar mais 3 episódios até o seu final! Não é por acaso, pois esse segundo momento traz muito do "estilo Michael Moore", usando esse prólogo "true crime" só como motivação para o que vem a seguir - e aí a forma se encontra com o conteúdo e o narrador se coloca em primeira pessoa, não mais para desvendar, mas sim para expor!
"Pharmacist" (O Farmacêutico) é o nome original da série e, nesse caso, a tradução jogou contra nossa experiência, pois ela entrega o que vem pela frente e, conceitualmente, tira de quem move a história o seu protagonismo! Dan Schneider é um senhor de Nova Orleans que perdeu seu filho assassinado quando, supostamente, ele iria comprar drogas. Ainda em um período de intensa dor e luto, ele começa a perceber que muitos outros jovens estão morrendo de overdose na sua cidade, porém a droga responsável por tantas mortes sai do local onde ele trabalha: uma farmácia! É aí que que os paralelos vão sendo construídos e a série vai ganhando força, afinal Schneider não se conforma em ser uma peça fundamental nessa cadeia - da mesma forma que um traficante foi na morte do seu filho! Olha, vale muito a pena, mas é preciso dizer que, mais uma vez, ter acesso a essa realidade tão dura (e completamente institucionalizada) não é tão fácil de digerir! Assista o trailer (em inglês) porque vale a pena:
Encontrar o assassino do seu filho e entender o motivo da sua morte, é assim que Dan Schneider nos é apresentado. O primeiro episódio é, de fato, uma grande sequência investigativa com um plot twist sensacional, mas não é esse o gênero da minissérie - que fique bem claro! A direção de Jenner Furst e Julia Willoughby Nason usa desse primeiro ato como um convite para conhecer o protagonista em um momento de muita dor e entender como um drama pessoal é capaz de mover (e motivar) suas ações para que os acontecimentos que vão se seguir sejam devidamente justificados - embora não necessariamente vinculados! É até engraçado como o roteiro se preocupa em tentar transformar um fato isolado em um propósito de vida - eu diria até que funciona, mas não me pareceu tão natural como a minissérie nos vende! O fato é que, conhecendo o modo de enxergar seus desafios, temos um perfil bastante sólido de Dan Schneider - ele é o herói da série! Mas e o vilão? É quando entra em cena Jacqueline Cleggett, uma média que só atende depois que o sol se põe e que tem como pacientes jovens viciados em uma droga chamada OxyContin. O OxyContin é um opioide analgésico extremamente potente que, mal prescrito, pode causar o vício - afinal sua composição é basicamente igual ao da heroína (palavras de uma especialista). Não é preciso dizer que Cleggett não se preocupava com a saúde dos pacientes, certo?
A luta de Dan Schneider é muito bem retratada durante os quatro episódios, existem ganchos muito fortes entre um episódio e outro que nos prendem à história e sabendo que a série não é sobre o crime que matou o filho de Schneider e sim sobre sua luta para provar que Cleggett e o OxyContin são os reais motivos de tantas mortes de jovens na sua região (a maior dos EUA), o entretenimento está garantido. Existem elementos completamente dispensáveis durante a narrativa como a passagem do Katrina e a destruição total da região ou a citação da indústria do tabaco ou até uma suposta perseguição de carro que Schneider sofreu, porém não se pode negar que o roteiro aproveita dessas passagens importantes para criar vínculos de tensão e empatia com sua narrativa principal, fazendo com que tudo ganhe um sentido e deixando a história bastante dinâmica!
Eu gostei muito de "Prescrição Fatal" e indico tranquilamente!
De cara, “Quarto 2806: A Acusação” chama muito a atenção pela qualidade visual do documentário, e que só se fortalece pelos conceitos narrativos muito mais próximos da ficção do que normalmente estamos acostumados a encontrar em uma série como essa. Por outro lado, a história em si é muito indigesta, mas o diretor Jalil Lespert foi muito inteligente ao equilibrar "fatos" com "suposições" a todo momento, o que, naturalmente, nos provoca algumas emoções bem particulares - nem todas tão agradáveis. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "House of Cards", mas da vida real e com consequências muito mais sérias!
A história acompanha as investigações a partir das acusações de assédio sexual de uma camareira (Nafissatou Diallo) de um hotel de luxo em Nova York, contra o ex-diretor do FMI e na época postulante a presidente da França, o político Dominique Strauss-Kahn. Confira o trailer:
Além de nos conduzir por uma narrativa de fácil entendimento, “Quarto 2806: A Acusação” nos mostra tanto a ascensão profissional de Strauss-Kahn, quanto uma verdadeira compulsão sexual que resultou na sua queda. Se a construção de sua carreira se mostrava sólida, suas atitudes pessoais, das mais íntimas às mais descaradas, iam minando seu enorme carisma perante o povo francês e se tornando um prato cheio para seus inimigos - entre eles, seu adversário político, Nicolas Sarkozy. O paralelo entre a maneira como a mídia internacional, particularmente a francesa, e as investigações nos EUA discutem sobre as questõesrelacionadas a DSK (como era conhecido) é apenas um reflexo de como o diretor vai nos colocando na posição de julgamento em todo momento, sem nem mesmo nos apresentar todas as peças do quebra-cabeça e isso é genial!
A acusação de Diallo inicialmente parece forte, consistente, mas depois se mostra insuficiente para batermos o martelo sobre a culpa de DSK, não pela falta de coerência do seu depoimento, mas pela dúvida que o caso vai levantando a cada nova descoberta, o que inclui algumas atitudes da própria vítima - e aqui não estamos nos colocando na posição de senhores da verdade, apenas levantando as versões que o próprio documentário nos apresenta e que a narrativa nos provoca com tanta maestria, como se fizéssemos parte do júri. Reparem como essa isenção de um pré julgamento só vai criando incertezas (mesmo que moralmente pendendo para um dos lados sempre) - a maneira como Anne Sinclair, mulher de Strauss-Kahn e herdeira de uma das maiores fortunas da França, lida com a situação é um grande exemplo dessa dualidade do documentário.
O fato é que “Quarto 2806: A Acusação” não mostra muitas respostas, mas apresenta opiniões e como uma boa conversa entre amigos, vai provocar a discussão e interpretações diferentes! Eu diria que a série de 4 episódios, vale muito a pena pela história, mas talvez tenha ainda mais valor pela forma como ela contada e por tudo que ela nos provoca!
De cara, “Quarto 2806: A Acusação” chama muito a atenção pela qualidade visual do documentário, e que só se fortalece pelos conceitos narrativos muito mais próximos da ficção do que normalmente estamos acostumados a encontrar em uma série como essa. Por outro lado, a história em si é muito indigesta, mas o diretor Jalil Lespert foi muito inteligente ao equilibrar "fatos" com "suposições" a todo momento, o que, naturalmente, nos provoca algumas emoções bem particulares - nem todas tão agradáveis. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "House of Cards", mas da vida real e com consequências muito mais sérias!
A história acompanha as investigações a partir das acusações de assédio sexual de uma camareira (Nafissatou Diallo) de um hotel de luxo em Nova York, contra o ex-diretor do FMI e na época postulante a presidente da França, o político Dominique Strauss-Kahn. Confira o trailer:
Além de nos conduzir por uma narrativa de fácil entendimento, “Quarto 2806: A Acusação” nos mostra tanto a ascensão profissional de Strauss-Kahn, quanto uma verdadeira compulsão sexual que resultou na sua queda. Se a construção de sua carreira se mostrava sólida, suas atitudes pessoais, das mais íntimas às mais descaradas, iam minando seu enorme carisma perante o povo francês e se tornando um prato cheio para seus inimigos - entre eles, seu adversário político, Nicolas Sarkozy. O paralelo entre a maneira como a mídia internacional, particularmente a francesa, e as investigações nos EUA discutem sobre as questõesrelacionadas a DSK (como era conhecido) é apenas um reflexo de como o diretor vai nos colocando na posição de julgamento em todo momento, sem nem mesmo nos apresentar todas as peças do quebra-cabeça e isso é genial!
A acusação de Diallo inicialmente parece forte, consistente, mas depois se mostra insuficiente para batermos o martelo sobre a culpa de DSK, não pela falta de coerência do seu depoimento, mas pela dúvida que o caso vai levantando a cada nova descoberta, o que inclui algumas atitudes da própria vítima - e aqui não estamos nos colocando na posição de senhores da verdade, apenas levantando as versões que o próprio documentário nos apresenta e que a narrativa nos provoca com tanta maestria, como se fizéssemos parte do júri. Reparem como essa isenção de um pré julgamento só vai criando incertezas (mesmo que moralmente pendendo para um dos lados sempre) - a maneira como Anne Sinclair, mulher de Strauss-Kahn e herdeira de uma das maiores fortunas da França, lida com a situação é um grande exemplo dessa dualidade do documentário.
O fato é que “Quarto 2806: A Acusação” não mostra muitas respostas, mas apresenta opiniões e como uma boa conversa entre amigos, vai provocar a discussão e interpretações diferentes! Eu diria que a série de 4 episódios, vale muito a pena pela história, mas talvez tenha ainda mais valor pela forma como ela contada e por tudo que ela nos provoca!
"Roubos Inacreditáveis", série documental da Netflix, é surpreendentemente bacana. Além de dar uma outra conotação ao tão badalado sub-gênero de "true crime", a série tem um conceito narrativo leve, dinâmico e muito bem construído para entregar histórias sensacionais que misturam depoimentos dos envolvidos nos crimes com ótimas dramatizações. Talvez o que diferencia tanto essa produção seja o tom escolhido - ele é mais despojado e cínico, mesmo que muito emocionante em várias passagens.
O documentário conta em seis episódios, a história de três roubos muito curiosos - talvez os mais curiosos da história moderna dos Estados Unidos. O grande trunfo porém, é que todas as histórias partem de um único ponto de vista: o dos criminosos. Em um cassino de Las Vegas, Heather Tallchief, uma jovem de 21 anos rouba milhões em dinheiro vivo. Num aeroporto de Miami, Karls Monzon, um imigrante cubano, assalta um armazém, depois de recorrer aos programas de TV para conhecer as técnicas de como não ser preso. E por fim, em Kentucky, Toby Curtsinger, um pai de família e bastante respeitado na comunidade, é acusado de um dos maiores roubos de bourbon da história. Confira o trailer (em inglês):
Produzida pela Dirty Robber, empresa por trás do vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem "Dois Estranhos", e com direção de Derek Doneen (The Price of Free), Martin Desmond Roe (Dois Estranhos ) e Nick Frew (Inacreditável Esporte Clube), "Roubos Inacreditáveis" tem tudo para se tornar um grande sucesso e ganhar várias temporadas. Ao posicionar a audiência para conhecer o lado do criminoso e assim entender as motivações que os levaram a cometerem os crimes, somos imediatamente fisgados por histórias bastante humanas, nos gerando uma enorme e surpreendente empatia - e quando nos damos conta, estamos torcendo para os bandidos e não para os mocinhos. Eu diria que assim que o crime é solucionados e os culpados são presos, a sensação que temos é quase decepcionante - por mais maluco que possa parecer.
Por ser uma série documental, naturalmente quebramos aquele pré-conceito da descrença - é como se estivéssemos assistido um "La Casa de Papel" da vida real! Entender como cada um dos personagens definiu seu alvo, montou seu planejamento, cuidou dos detalhes, lidou com a glória do sucesso e também com os erros bobos que ajudaram os investigadores a descobrir a verdade, é empolgante. Os diretores foram muito inteligentes em encontrar o perfeito equilíbrio ao captar depoimentos muito sinceros e emocionantes tanto dos criminosos quanto de seus familiares e cúmplices, enquanto do outro lado conhecemos o processo da polícia e dos investigadores que resolveram os casos.
Embora a série não faça questão alguma de esconder o resultado dos crimes, é muito curioso assistir os protagonistas falando sobre o assunto com tanta liberdade. Talvez o ponto mais curioso de "Heist" (no original) é que nos perguntamos, depois de conhecer todo o contexto, se fossemos nós os personagens, valeria a pena arriscar tudo para cometer um daqueles crimes que pareciam tão perfeitos e por motivos tão "justificáveis"?
Reflita sobre a resposta...rs.
Vale muito a pena! Mesmo!
"Roubos Inacreditáveis", série documental da Netflix, é surpreendentemente bacana. Além de dar uma outra conotação ao tão badalado sub-gênero de "true crime", a série tem um conceito narrativo leve, dinâmico e muito bem construído para entregar histórias sensacionais que misturam depoimentos dos envolvidos nos crimes com ótimas dramatizações. Talvez o que diferencia tanto essa produção seja o tom escolhido - ele é mais despojado e cínico, mesmo que muito emocionante em várias passagens.
O documentário conta em seis episódios, a história de três roubos muito curiosos - talvez os mais curiosos da história moderna dos Estados Unidos. O grande trunfo porém, é que todas as histórias partem de um único ponto de vista: o dos criminosos. Em um cassino de Las Vegas, Heather Tallchief, uma jovem de 21 anos rouba milhões em dinheiro vivo. Num aeroporto de Miami, Karls Monzon, um imigrante cubano, assalta um armazém, depois de recorrer aos programas de TV para conhecer as técnicas de como não ser preso. E por fim, em Kentucky, Toby Curtsinger, um pai de família e bastante respeitado na comunidade, é acusado de um dos maiores roubos de bourbon da história. Confira o trailer (em inglês):
Produzida pela Dirty Robber, empresa por trás do vencedor do Oscar de Melhor Curta-Metragem "Dois Estranhos", e com direção de Derek Doneen (The Price of Free), Martin Desmond Roe (Dois Estranhos ) e Nick Frew (Inacreditável Esporte Clube), "Roubos Inacreditáveis" tem tudo para se tornar um grande sucesso e ganhar várias temporadas. Ao posicionar a audiência para conhecer o lado do criminoso e assim entender as motivações que os levaram a cometerem os crimes, somos imediatamente fisgados por histórias bastante humanas, nos gerando uma enorme e surpreendente empatia - e quando nos damos conta, estamos torcendo para os bandidos e não para os mocinhos. Eu diria que assim que o crime é solucionados e os culpados são presos, a sensação que temos é quase decepcionante - por mais maluco que possa parecer.
Por ser uma série documental, naturalmente quebramos aquele pré-conceito da descrença - é como se estivéssemos assistido um "La Casa de Papel" da vida real! Entender como cada um dos personagens definiu seu alvo, montou seu planejamento, cuidou dos detalhes, lidou com a glória do sucesso e também com os erros bobos que ajudaram os investigadores a descobrir a verdade, é empolgante. Os diretores foram muito inteligentes em encontrar o perfeito equilíbrio ao captar depoimentos muito sinceros e emocionantes tanto dos criminosos quanto de seus familiares e cúmplices, enquanto do outro lado conhecemos o processo da polícia e dos investigadores que resolveram os casos.
Embora a série não faça questão alguma de esconder o resultado dos crimes, é muito curioso assistir os protagonistas falando sobre o assunto com tanta liberdade. Talvez o ponto mais curioso de "Heist" (no original) é que nos perguntamos, depois de conhecer todo o contexto, se fossemos nós os personagens, valeria a pena arriscar tudo para cometer um daqueles crimes que pareciam tão perfeitos e por motivos tão "justificáveis"?
Reflita sobre a resposta...rs.
Vale muito a pena! Mesmo!
A Netflix continua apostando em séries documentais que abordam histórias de crimes reais. Se você gostou de "The Jinx", “The Staircase”, “Cenas de um Homicídio: Uma Família Vizinha” e “Amanda Knox”, não deixe de assistir “Sob Suspeita: O Caso Wesphael”. Em cinco episódios de pouco mais de 30 minutos, o diretor Alain Brunard se aproveita de um ótimo roteiro de Georges Huercano, Yann Le Gal e Pascal Vrebos para mostrar o polêmico caso do político belga Bernard Wesphael, acusado de assassinar a esposa Véronique Pirotton, em 2013.
O crime chamou a atenção da mídia na época pelo fato de que, embora as investigações e todas as evidências o apontassem como culpado, Wesphael sustentou até o fim seu argumento de inocência, apesar de ter sido a única pessoa que esteve com Véronique naquela noite e de haver relatos de testemunhas que afirmaram ter escutado sons suspeitos vindos do quarto deles.
O casal, que estava recém-separado, estaria tentando uma reconciliação num hotel em Ostende, cidade turística belga, quando Véronique foi encontrada morta no banheiro, com um saco plástico na cabeça e vários hematomas pelo corpo. Mesmo que parecendo impossível, a tese sustentada por Wesphael foi a de que ela havia cometido suicídio.
A série, como todos já devem saber, não traz soluções para o crime e isso não é exatamente um problema, já que, como muitas de suas antecessoras, a narrativa acaba focando em um dos personagens, no caso o político, que insiste na versão de um possível comportamento autodestrutivo da ex-mulher, que envolvia desde a infidelidade, tendências suicidas até o consumo excessivo de álcool e medicamentos - os depoimentos Wesphael para o documentário são impressionantes.
Infelizmente Véronique não tem voz, apenas sua irmã, um primo e alguns jornalistas tentam mostrar um outro lado da personalidade da vitima e sua relação conflituosa com o acusado. O fato é que ficamos sem uma conclusão sobre o que de fato aconteceu, porém a produção tem o mérito de prender a atenção da audiência desde o primeiro minuto da narrativa e a todo momento, provocando cada um de nós a tirar nossas próprias conclusões, independente do veredito ou de todas as evidências apresentadas.
Vale muito a pena, mas será preciso ter estômago ou, no mínimo, uma boa dose de isenção para traçar mentalmente todas as possibilidades - e posso garantir, não são muitas!
Escrito por Ana Cristina Paixão com Edição de André Siqueira
A Netflix continua apostando em séries documentais que abordam histórias de crimes reais. Se você gostou de "The Jinx", “The Staircase”, “Cenas de um Homicídio: Uma Família Vizinha” e “Amanda Knox”, não deixe de assistir “Sob Suspeita: O Caso Wesphael”. Em cinco episódios de pouco mais de 30 minutos, o diretor Alain Brunard se aproveita de um ótimo roteiro de Georges Huercano, Yann Le Gal e Pascal Vrebos para mostrar o polêmico caso do político belga Bernard Wesphael, acusado de assassinar a esposa Véronique Pirotton, em 2013.
O crime chamou a atenção da mídia na época pelo fato de que, embora as investigações e todas as evidências o apontassem como culpado, Wesphael sustentou até o fim seu argumento de inocência, apesar de ter sido a única pessoa que esteve com Véronique naquela noite e de haver relatos de testemunhas que afirmaram ter escutado sons suspeitos vindos do quarto deles.
O casal, que estava recém-separado, estaria tentando uma reconciliação num hotel em Ostende, cidade turística belga, quando Véronique foi encontrada morta no banheiro, com um saco plástico na cabeça e vários hematomas pelo corpo. Mesmo que parecendo impossível, a tese sustentada por Wesphael foi a de que ela havia cometido suicídio.
A série, como todos já devem saber, não traz soluções para o crime e isso não é exatamente um problema, já que, como muitas de suas antecessoras, a narrativa acaba focando em um dos personagens, no caso o político, que insiste na versão de um possível comportamento autodestrutivo da ex-mulher, que envolvia desde a infidelidade, tendências suicidas até o consumo excessivo de álcool e medicamentos - os depoimentos Wesphael para o documentário são impressionantes.
Infelizmente Véronique não tem voz, apenas sua irmã, um primo e alguns jornalistas tentam mostrar um outro lado da personalidade da vitima e sua relação conflituosa com o acusado. O fato é que ficamos sem uma conclusão sobre o que de fato aconteceu, porém a produção tem o mérito de prender a atenção da audiência desde o primeiro minuto da narrativa e a todo momento, provocando cada um de nós a tirar nossas próprias conclusões, independente do veredito ou de todas as evidências apresentadas.
Vale muito a pena, mas será preciso ter estômago ou, no mínimo, uma boa dose de isenção para traçar mentalmente todas as possibilidades - e posso garantir, não são muitas!
Escrito por Ana Cristina Paixão com Edição de André Siqueira
Se você gostou de “The Keepers” e “Sob Suspeita: O Caso Wesphael”não pode perder “Sophie: a Murder in West Cork", mais uma minissérie documental de true crime da Netflix. O documentário em três partes segue uma fórmula vencedora que desde “Making a Murderer” (2015): aborda um crime brutal, mostra falhas graves na investigação e um erro judiciário que leva ao reexame do caso, que permanece sem solução.
Nessa minissérie, que foi produzida com o aval da família da vítima (importante citar pelo impacto que tem na narrativa), explora as circunstâncias em torno do misterioso assassinato da produtora de cinema e TV francesa Sophie Toscan du Plantier, esposa do famoso produtor de cinema francês Daniel Toscan du Plantier. O corpo de Sophie foi encontrado dois dias antes do Natal de 1996 em sua casa de férias no condado de Cork na Irlanda. O principal suspeito do assassinato foi o jornalista inglês Ian Bailey, que manteve sua alegação de inocência. Bailey, um jornalista que colaborava com vários jornais ingleses, chegou a ser detido duas vezes, mas não foi indiciado por falta de provas. As suspeitas surgiram por matérias jornalísticas escritas por Bailey que revelavam elementos do crime que apenas os investigadores e o assassino poderiam conhecer. Confira o trailer (em inglês):
Sophie: a Murder in West Cork" foi dirigida e escrita pelo John Dower (“My Scientology Movie”) ecoproduzida pelo vencedor do Oscar Simon Chinn (“Man On Wire” e “Searching For Sugarman”) e é conduzida através dos depoimentos da polícia, residentes de Schull (cidade costeira da Irlanda), amigos e família da vítima, além do próprio suspeito do crime, Ian Bailey, que foi inclusive o primeiro a reportar a morte da produtora. A maioria das três partes do documentário é focada em como a polícia construiu um caso contra Bailey, que incluiu vários depoimentos de testemunhas.
O interessante é que a família de Sophie continua convencida da culpa de Bailey, mas nenhum elemento de informação coletado durante a investigação foi suficiente para elucidar o mistério em torno da morte dela. O único vestígio de DNA encontrado na cena do crime, que não pertencia a Sophie, não foi identificado. As especulações sobre outros assassinos em potencial vão desde a teoria de que um assassino perseguiu e matou Sophie até a improvável (e absurda) suposição de que ela foi atacada por um cavalo perdido.
O fato é que a minissérie vale a pena pela belíssima fotografia, uma excelente direção e pela sensibilidade ao retratar uma história tão absurda. “Sophie: a Murder in West Cork" nos faz pensar que nem em uma cidadezinha remota da Irlanda estamos a salvo da maldade humana. Sophie foi para Schull para ter paz de espírito e acabou encontrando a morte aos 39 anos.
Escrito por Ana Cristina Paixão
Se você gostou de “The Keepers” e “Sob Suspeita: O Caso Wesphael”não pode perder “Sophie: a Murder in West Cork", mais uma minissérie documental de true crime da Netflix. O documentário em três partes segue uma fórmula vencedora que desde “Making a Murderer” (2015): aborda um crime brutal, mostra falhas graves na investigação e um erro judiciário que leva ao reexame do caso, que permanece sem solução.
Nessa minissérie, que foi produzida com o aval da família da vítima (importante citar pelo impacto que tem na narrativa), explora as circunstâncias em torno do misterioso assassinato da produtora de cinema e TV francesa Sophie Toscan du Plantier, esposa do famoso produtor de cinema francês Daniel Toscan du Plantier. O corpo de Sophie foi encontrado dois dias antes do Natal de 1996 em sua casa de férias no condado de Cork na Irlanda. O principal suspeito do assassinato foi o jornalista inglês Ian Bailey, que manteve sua alegação de inocência. Bailey, um jornalista que colaborava com vários jornais ingleses, chegou a ser detido duas vezes, mas não foi indiciado por falta de provas. As suspeitas surgiram por matérias jornalísticas escritas por Bailey que revelavam elementos do crime que apenas os investigadores e o assassino poderiam conhecer. Confira o trailer (em inglês):
Sophie: a Murder in West Cork" foi dirigida e escrita pelo John Dower (“My Scientology Movie”) ecoproduzida pelo vencedor do Oscar Simon Chinn (“Man On Wire” e “Searching For Sugarman”) e é conduzida através dos depoimentos da polícia, residentes de Schull (cidade costeira da Irlanda), amigos e família da vítima, além do próprio suspeito do crime, Ian Bailey, que foi inclusive o primeiro a reportar a morte da produtora. A maioria das três partes do documentário é focada em como a polícia construiu um caso contra Bailey, que incluiu vários depoimentos de testemunhas.
O interessante é que a família de Sophie continua convencida da culpa de Bailey, mas nenhum elemento de informação coletado durante a investigação foi suficiente para elucidar o mistério em torno da morte dela. O único vestígio de DNA encontrado na cena do crime, que não pertencia a Sophie, não foi identificado. As especulações sobre outros assassinos em potencial vão desde a teoria de que um assassino perseguiu e matou Sophie até a improvável (e absurda) suposição de que ela foi atacada por um cavalo perdido.
O fato é que a minissérie vale a pena pela belíssima fotografia, uma excelente direção e pela sensibilidade ao retratar uma história tão absurda. “Sophie: a Murder in West Cork" nos faz pensar que nem em uma cidadezinha remota da Irlanda estamos a salvo da maldade humana. Sophie foi para Schull para ter paz de espírito e acabou encontrando a morte aos 39 anos.
Escrito por Ana Cristina Paixão
Quando Ted Sarandos disse que queria que a Netflix se tornasse a HBO antes que a HBO pudesse se tornar uma Netflix, ele projetava que a Netflix pudesse ser tão boa quanto a HBO na produção de conteúdo original, antes mesmo que a HBO pudesse ser tão bom quanto a Netflix em oferecer produtos sob demanda. Assistindo "The Jinx" não pude deixar de refletir sobre essa afirmação do executivo da Netflix! "The Jinx" é incrível, realmente muito bom, ganhou 2 Emmys em 2015, inclusive de melhor série de "não-ficção" e mesmo assim não teve 1/5 da projeção, pelo menos no Brasil, do que representou "Making a Murderer"!
Isso mostra a força que a Netflix tem e como o trabalho de construção de uma marca ganhou tanta credibilidade ao desenvolver tantas produções de qualidade em tão pouco tempo. Não que a HBO não tenha feito, muito pelo contrário, mas as franquias Game of Thrones ou True Detective não duraram pra sempre.
Dito isso, vamos ao que interessa: "The Jinx" é a melhor série de true crime já desenvolvida - pelo menos na nossa opinião! Após o relativo sucesso de "Entre Segredos e Mentiras", filme baseado nos casos de violência que cercaram o protagonista Robert Durst com Rian Gosling e Kristen Dunst, o diretor Andrew Jarecki recebeu um telefonema do próprio Durst. A proposta era simples, ele queria dar um depoimento em vídeo sobre sua versão dos acontecimentos da história. Esclarecer de uma vez por todas que ele não é e nunca foi um assassino em série. Completamente extasiado, Jarecki aceitou na hora e aí surgiu essa obra de arte da HBO. Confira o trailer:
O fato de "The Jinx" ser uma série documental de seis episódios ampliou nosso entendimento sobre a psique do milionário nova-iorquino Robert Durst. Andrew Jarecki usou de anos de pesquisa para compor uma verdadeira e complicada investigação sobre Durst - um homem complexo, frio, tido como o principal suspeito de uma série de crimes não solucionados. Chega a ser impressionante como Jarecki tem a capacidade de fazer as perguntas certas ao mesmo tempo em que vai construindo uma linha temporal que culmina em um dos finais mais impressionantes que eu já assisti em toda a minha vida - e não estou brincando! Foram 25 horas de depoimento de Durst muito bem amarrados com encenações e gravações de arquivo que vão mudando a história de acordo com a própria investigação.
Carismático e inteligente, Robert Durst parece ter saído das histórias mais macabras sobre assassinatos e, mesmo que o público não saiba se ele realmente cometeu os assassinatos, sua serenidade assustadora acaba nos conquistando - é impressionante! O fato é que o documentário nos provoca a cada episódio, nos fazendo questionar se aquele homem tão particular (e corajoso - afinal ele está dando a cara a tapa a todo momento) é realmente um assassino ou apenas um azarado (por isso o “jinx” do título), que estava sempre no lugar e na hora errada.
Veja, "Making a Murderer" é realmente muito bom, claro, mas "The Jinx" é ainda melhor! Pode acreditar!
Quando Ted Sarandos disse que queria que a Netflix se tornasse a HBO antes que a HBO pudesse se tornar uma Netflix, ele projetava que a Netflix pudesse ser tão boa quanto a HBO na produção de conteúdo original, antes mesmo que a HBO pudesse ser tão bom quanto a Netflix em oferecer produtos sob demanda. Assistindo "The Jinx" não pude deixar de refletir sobre essa afirmação do executivo da Netflix! "The Jinx" é incrível, realmente muito bom, ganhou 2 Emmys em 2015, inclusive de melhor série de "não-ficção" e mesmo assim não teve 1/5 da projeção, pelo menos no Brasil, do que representou "Making a Murderer"!
Isso mostra a força que a Netflix tem e como o trabalho de construção de uma marca ganhou tanta credibilidade ao desenvolver tantas produções de qualidade em tão pouco tempo. Não que a HBO não tenha feito, muito pelo contrário, mas as franquias Game of Thrones ou True Detective não duraram pra sempre.
Dito isso, vamos ao que interessa: "The Jinx" é a melhor série de true crime já desenvolvida - pelo menos na nossa opinião! Após o relativo sucesso de "Entre Segredos e Mentiras", filme baseado nos casos de violência que cercaram o protagonista Robert Durst com Rian Gosling e Kristen Dunst, o diretor Andrew Jarecki recebeu um telefonema do próprio Durst. A proposta era simples, ele queria dar um depoimento em vídeo sobre sua versão dos acontecimentos da história. Esclarecer de uma vez por todas que ele não é e nunca foi um assassino em série. Completamente extasiado, Jarecki aceitou na hora e aí surgiu essa obra de arte da HBO. Confira o trailer:
O fato de "The Jinx" ser uma série documental de seis episódios ampliou nosso entendimento sobre a psique do milionário nova-iorquino Robert Durst. Andrew Jarecki usou de anos de pesquisa para compor uma verdadeira e complicada investigação sobre Durst - um homem complexo, frio, tido como o principal suspeito de uma série de crimes não solucionados. Chega a ser impressionante como Jarecki tem a capacidade de fazer as perguntas certas ao mesmo tempo em que vai construindo uma linha temporal que culmina em um dos finais mais impressionantes que eu já assisti em toda a minha vida - e não estou brincando! Foram 25 horas de depoimento de Durst muito bem amarrados com encenações e gravações de arquivo que vão mudando a história de acordo com a própria investigação.
Carismático e inteligente, Robert Durst parece ter saído das histórias mais macabras sobre assassinatos e, mesmo que o público não saiba se ele realmente cometeu os assassinatos, sua serenidade assustadora acaba nos conquistando - é impressionante! O fato é que o documentário nos provoca a cada episódio, nos fazendo questionar se aquele homem tão particular (e corajoso - afinal ele está dando a cara a tapa a todo momento) é realmente um assassino ou apenas um azarado (por isso o “jinx” do título), que estava sempre no lugar e na hora errada.
Veja, "Making a Murderer" é realmente muito bom, claro, mas "The Jinx" é ainda melhor! Pode acreditar!
Se você gostou das séries "The Jinx" (HBO), "Making a Murderer" (Netflix) e do documentário "Amanda Knox" (Netflix) não deixe de assistir "The Staircase" (Netflix). Embora tenha uma dinâmica narrativa um pouco diferente de todos os outros, onde a investigação se mistura com o julgamento (e sua repercussão), "The Starircase" foca, 80% do tempo, no julgamento (e nas estratégias de defesa) de Michael Peterson - um escritor americano que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen empurrando ela escada abaixo.
O documentário com oito episódios acompanha a história de Michael Peterson, um romancista norte-americano com então 58 anos que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen jogando-a da escada. David Rudolf, advogado de Peterson, argumenta que Kathleen estava sozinha quando levou um tombo e caiu, tratando-se o caso de um acidente. Michael e Kathleen moravam em Durham, na Carolina do Norte, em uma casa com Clayton, Todd, Margaret e Martha, filhos de Michael, e Caitlin, filha de Kathleen. Na madrugada do acidente, Michael afirmou que estava no quintal perto da piscina quando ouviu um barulho no interior do imóvel, se deparando com Kathleen sangrando na beira das escadas. Confira o trailer:
Bom, como é característica desse tipo de série documental, vemos apenas um lado dos envolvidos, mas sem dúvida alguma isso não diminui a complexidade que é contar uma história maluca como essa. E acreditem, a história é muito maluca!!! A série tem um ritmo interessante, embora não tão cheio de reviravoltas como "Making a Murderer" - isso precisa ser dito. Ela é mais convidativa à reflexão dos fatos do que sobre as teorias de conspiração, o que pode dar a sensação que ela é mais lenta, mas não é! Assim que você pega o ritmo, ela voa! O caso é complexo, cheio de especulações, e isso ajuda quem assiste a não querer parar a maratona!
Se você gosta do tema, vai adorar a série - só não espere um final surpreendente como "The Jinx", por exemplo, pois acho que nunca mais vai acontecer aquilo! "The Starircase" tem 13 episódios, de 50 minutos em média, que passam voando! Vale muito o seu play!
Se você gostou das séries "The Jinx" (HBO), "Making a Murderer" (Netflix) e do documentário "Amanda Knox" (Netflix) não deixe de assistir "The Staircase" (Netflix). Embora tenha uma dinâmica narrativa um pouco diferente de todos os outros, onde a investigação se mistura com o julgamento (e sua repercussão), "The Starircase" foca, 80% do tempo, no julgamento (e nas estratégias de defesa) de Michael Peterson - um escritor americano que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen empurrando ela escada abaixo.
O documentário com oito episódios acompanha a história de Michael Peterson, um romancista norte-americano com então 58 anos que foi acusado de ter assassinado sua mulher Kathleen jogando-a da escada. David Rudolf, advogado de Peterson, argumenta que Kathleen estava sozinha quando levou um tombo e caiu, tratando-se o caso de um acidente. Michael e Kathleen moravam em Durham, na Carolina do Norte, em uma casa com Clayton, Todd, Margaret e Martha, filhos de Michael, e Caitlin, filha de Kathleen. Na madrugada do acidente, Michael afirmou que estava no quintal perto da piscina quando ouviu um barulho no interior do imóvel, se deparando com Kathleen sangrando na beira das escadas. Confira o trailer:
Bom, como é característica desse tipo de série documental, vemos apenas um lado dos envolvidos, mas sem dúvida alguma isso não diminui a complexidade que é contar uma história maluca como essa. E acreditem, a história é muito maluca!!! A série tem um ritmo interessante, embora não tão cheio de reviravoltas como "Making a Murderer" - isso precisa ser dito. Ela é mais convidativa à reflexão dos fatos do que sobre as teorias de conspiração, o que pode dar a sensação que ela é mais lenta, mas não é! Assim que você pega o ritmo, ela voa! O caso é complexo, cheio de especulações, e isso ajuda quem assiste a não querer parar a maratona!
Se você gosta do tema, vai adorar a série - só não espere um final surpreendente como "The Jinx", por exemplo, pois acho que nunca mais vai acontecer aquilo! "The Starircase" tem 13 episódios, de 50 minutos em média, que passam voando! Vale muito o seu play!
Se você assistiu algum dos dois (razoavelmente) recentes documentários, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" (HBO) e "Fyre" (Netflix), você já entendeu como a força de uma comunicação e do poder do convencimento podem influenciar uma pessoa (ou muitas), independente da capacidade de realização que o interlocutor possa ter. Em diferentes níveis, foi isso que Elizabeth Holmes da Theranos fez com seus investidores e Billy McFarland fez com todos que estavam envolvidos em seu Festival megalomaníaco! Pois bem, em "The Vow" surge um personagem raro, que consegue unir, com a mesma competência, a capacidade de comunicação com a de realização e ainda chancelado por um QI de 240 pontos: esse é o fundador da NXIVM, Keith Raniere.
"The Vow", documentário divido em 9 partes de 50 minutos, conta mais do que a história de Keith Raniere, criador de uma empresa de marketing multi-nível, que cresceu absurdamente nos Estados Unidos até ser fechada por sérios problemas trabalhistas. Aproveitando do seu comprovado discurso de convencimento, Keith criou a ESP (Executive Success Programs) um Programa de Sucesso Executivo focado no desenvolvimento pessoal. Seguindo o mesmo conceito de pirâmide, ele foi, pouco a pouco, transformando seus professores em aliciadores e seus alunos em uma espécie de seguidores de uma seita com atuações bastante questionáveis e que, posteriormente, acabou se transformando no principal motivo para uma dura jornada pessoal de ex-membros da organização para desmascarar seu fundador, que se auto-denominava "Vanguarda", e suas reais intenções com tudo isso! Confira o trailer:
A história por trás de "The Vow" chamou atenção da mídia internacional pelo fato da atriz Allison Mack, a Chloe Sullivan em "Smallville", ser uma das aliciadoras mais próxima de Keith Raniere, porém o comentário é muito feliz em dissecar a instituição pelos olhos de quem esteve lá, mas saiu por vontade própria ao perceber que algo estava muito errado. A jornada de três personagens bastante importantes na desconstrução dessa organização criminosa que se tornou a NXIVM, é o ponto de partida para uma história realmente impressionante. Sarah Edmonson, Bonnie Piesse e Mark Vicente, e um pouco mais a frente, Catherine Oxenberg, são acompanhados pela produção durante todos os episódios, contando suas histórias e tentando reverter uma situação que eles mesmos ajudaram a provocar, cada um em seu nível. Ao mesmo tempo vemos inúmeras imagens de arquivos, depoimentos, cenas do treinamento, entrevistas do próprio Keith e sua equipe, e até um encontro bastante impactante com o Dalai-lama.
O que mais me chamou a atenção foram os discursos de Keith: completamente coerentes, bem estruturados e de uma capacidade intelectual e de manipulação que em muitos momentos me fizeram questionar se, em algum momento da vida, eu também não seria uma potencial vítima - tenho certeza que você fará esse mesmo questionamento e talvez por isso, esse sentimento gere tanta vergonha e arrependimento nos protagonistas.
Dê o play sem o menor receio!
Se você assistiu algum dos dois (razoavelmente) recentes documentários, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" (HBO) e "Fyre" (Netflix), você já entendeu como a força de uma comunicação e do poder do convencimento podem influenciar uma pessoa (ou muitas), independente da capacidade de realização que o interlocutor possa ter. Em diferentes níveis, foi isso que Elizabeth Holmes da Theranos fez com seus investidores e Billy McFarland fez com todos que estavam envolvidos em seu Festival megalomaníaco! Pois bem, em "The Vow" surge um personagem raro, que consegue unir, com a mesma competência, a capacidade de comunicação com a de realização e ainda chancelado por um QI de 240 pontos: esse é o fundador da NXIVM, Keith Raniere.
"The Vow", documentário divido em 9 partes de 50 minutos, conta mais do que a história de Keith Raniere, criador de uma empresa de marketing multi-nível, que cresceu absurdamente nos Estados Unidos até ser fechada por sérios problemas trabalhistas. Aproveitando do seu comprovado discurso de convencimento, Keith criou a ESP (Executive Success Programs) um Programa de Sucesso Executivo focado no desenvolvimento pessoal. Seguindo o mesmo conceito de pirâmide, ele foi, pouco a pouco, transformando seus professores em aliciadores e seus alunos em uma espécie de seguidores de uma seita com atuações bastante questionáveis e que, posteriormente, acabou se transformando no principal motivo para uma dura jornada pessoal de ex-membros da organização para desmascarar seu fundador, que se auto-denominava "Vanguarda", e suas reais intenções com tudo isso! Confira o trailer:
A história por trás de "The Vow" chamou atenção da mídia internacional pelo fato da atriz Allison Mack, a Chloe Sullivan em "Smallville", ser uma das aliciadoras mais próxima de Keith Raniere, porém o comentário é muito feliz em dissecar a instituição pelos olhos de quem esteve lá, mas saiu por vontade própria ao perceber que algo estava muito errado. A jornada de três personagens bastante importantes na desconstrução dessa organização criminosa que se tornou a NXIVM, é o ponto de partida para uma história realmente impressionante. Sarah Edmonson, Bonnie Piesse e Mark Vicente, e um pouco mais a frente, Catherine Oxenberg, são acompanhados pela produção durante todos os episódios, contando suas histórias e tentando reverter uma situação que eles mesmos ajudaram a provocar, cada um em seu nível. Ao mesmo tempo vemos inúmeras imagens de arquivos, depoimentos, cenas do treinamento, entrevistas do próprio Keith e sua equipe, e até um encontro bastante impactante com o Dalai-lama.
O que mais me chamou a atenção foram os discursos de Keith: completamente coerentes, bem estruturados e de uma capacidade intelectual e de manipulação que em muitos momentos me fizeram questionar se, em algum momento da vida, eu também não seria uma potencial vítima - tenho certeza que você fará esse mesmo questionamento e talvez por isso, esse sentimento gere tanta vergonha e arrependimento nos protagonistas.
Dê o play sem o menor receio!
"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.
"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de Denise Huskins.
Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.
Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.
Vale seu play!
"Um Pesadelo Americano" é um típico true crime de três episódios que além de intenso em sua proposta narrativa, é profundamente intrigante pela forma como a história é desconstruída. Chancelada por ser um projeto da mesma equipe criativa que produziu "O Golpista do Tinder", essa minissérie nos conduz por um caso absurdo pela perspectiva de quem investiga, mesmo que a narrativa seja feita por quem, de fato, foi vítima. É isso mesmo, essa quebra de expectativa entre o que vemos na tela e o que de fato aconteceu, nos provoca inúmeros julgamentos que diz muito sobre a maneira com que somos influenciados. Eu diria, inclusive, que essa produção original da Netflix é uma verdadeira imersão no obscuro labirinto da pseudo justiça e da hipocrisia da mídia americana, sem o receio de nos expor como parte desse circo - e aqui, ao surgir a comparação com "Garota Exemplar", entendemos exatamente onde a direção de Felicity Morris queria chegar.
"American Nightmare" (no original) foca na história do casal Denise Huskins e Aaron Quinn. Os dois são surpreendidos quando um grupo de pessoas em roupas de mergulho invadem sua casa e fazem os dois de reféns. Após serem supostamente drogados, Denise é levada pelos criminosos e Aaron só consegue fazer contato com a polícia no dia seguinte - é aí que o pesadelo começa, já que depois de um depoimento cheio de brechas, o jovem se torna o principal suspeito do desaparecimento misterioso da namorada. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, encontramos em "Um Pesadelo Americano" uma maestria técnica e artística empregada na sua realização que realmente chama atenção pela similaridade com uma obra de ficção. A forma como Morris explora cada nuance da história, capturando a intensidade emocional dos fatos e toda dinâmica da investigação, realmente nos faz lembrar de filmes do gênero, mais especificamente do próprio "Garota Exemplar" do grande David Fincher - que por curiosidade havia sido lançado um ano antes do crime. Obviamente que essa comparação extrapola o conceito narrativo para se transformar, por incrível que possa parecer, no ponto de partida da investigação diante dos depoimentos de Aaron Quinn e depois de Denise Huskins.
Apresentando as versões sobre o caso a partir de três personagens chave e em episódios "independentes", a direção não só propõe a construção de um quebra-cabeça como também controla quais as peças quer nos entregar. Veja, o roteiro é muito bem amarrado, o que potencializa o trabalho do montador que se delicia com inúmeros depoimentos (inclusive do casal), imagens de câmeras e áudios de policiais e dos suspeitos durante as investigações, gravações de celulares, reportagens de tv da época, e-mails, fotos, enfim, uma quantidade enorme de material que ajudam a compor a linha do tempo de maneira clara e dinâmica, mesmo que de certa forma fragmentada. Veja, até quando a direção propõe algumas reconstituições, o que vemos é uma gramática visual simplesmente cinematográfica e muito envolvente.
Existe uma certa genialidade na minissérie ao desconstruir pré-conceitos e oferecer uma nova perspectiva sobre o caso a cada informação, interpretação ou dúvida levantada por alguém. Essa quebra de expectativa funciona perfeitamente nos dois primeiro episódios, criando uma atmosfera de mistério. No entanto, já o terceiro episódio parece perder um pouco dessa unidade narrativa - elementos aparentemente insignificantes ganham relevância, questionando a veracidade das acusações e provocando uma análise crítica sobre a responsabilidade da mídia e da polícia durante a investigação. Aqui não se trata mais sobre o que aconteceu com Denise e sim sobre como o caso foi tratado. Dito isso, "Pesadelo Americano" não conta apenas com uma história intrigante, mas também nos convida a desafiar a forma como percebemos a verdade e a justiça com um toque de crítica social ao levantar discussões relevantes, especialmente, sobre a misoginia institucionalizada.
Vale seu play!
Se você está com saudade dos bons tempos de "Game of Thrones" não deixe de assistir a minissérie documental, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho"! Você vai precisar assistir apenas um episódio para entender que eu não estou exagerando - essa produção original da Globoplay, sem a menor sombra de dúvidas, é o "Game of Thrones da vida real"! Escrita e dirigida pelo jornalista Fellipe Awi (com a retaguarda de Ricardo Calil e de Gian Carlo Bellotti), a minissérie é uma verdadeira imersão na história sórdida (e fascinante) do Rio de Janeiro pela perspectiva da contravenção - ao assistir os sete episódios, não serão raras as reflexões sobre a seriedade de um país que acompanha de camarote uma verdadeira guerra, bem como fomenta a hipocrisia de uma sociedade marcada pelo crime, mas que faz vistas grossas por medo ou/e por admiração daqueles que se impõem pelo poder e pelo dinheiro.
"Vale o Escrito", basicamente, narra a ascensão e queda do jogo do bicho na Cidade Maravilhosa, entrelaçando a trajetória de duas famílias rivais, os Andrade e os Garcia, em uma guerra sangrenta pelo poder. A minissérie aborda desde seu início no século XIX, passando pela criminalização das apostas e dos jogos de azar, o investimento no carnaval pautado pelo ego até o envolvimento das milícias na conquista por territórios. Confira o trailer:
Narrado com maestria pelo Pedro Bial, que inclusive está na supervisão artística do novo projeto do "Conversa.Doc", núcleo de documentários do seu programa na TV, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" dá uma aula de storytelling! Sua uma narrativa é envolvente, densa e eletrizante - Awi tece com muita inteligência um verdadeiro drama politico, cheio de conspirações, traições e reviravoltas, sempre apoiado em imagens de arquivo, depoimentos de figuras chave dessa história e inserções gráficas impecáveis pela qualidade técnica e artística. A forma como a linha temporal é construída pelo roteiro (e pela edição) nos dá a exata noção do tamanho e da complexidade que é o submundo do jogo no Rio de Janeiro.
De fato, "Vale o Escrito" não se contenta em apenas apresentar os fatos históricos - a minissérie vai além ao fazer uma análise profunda dos impactos sociais, políticos e culturais do jogo do bicho na sociedade carioca ao longo de décadas. É impressionante como a própria mídia se relaciona com essa dinâmica - ao ponto de um dos maiores (e mais violentos) contraventores do país ser capa de revista e símbolo sexual por muitos anos. Através de entrevistas com especialistas em segurança (muitos deles da policia civil e do BOPE), jornalistas e, acreditem, com os próprios bicheiros e seus familiares, somos confrontados por aquela incomoda sensação de impunidade. Ao entendermos, ponto a ponto, como as relações que envolve essa atividade ilegal se dão, desde sua origem até os dias atuais, temos a certeza (mais uma vez) que é impossível esse país dar certo!
Com uma estética impecável, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" captura a beleza e a sordidez do Rio de Janeiro com sabedoria - mesmo que o viés politico ainda mostre sua cara em alguns momentos. A montagem ágil e dinâmica nos guia por essa jornada como poucas vezes você experienciou - não é fácil deixar de emendar um episódio no outro. Na linha de "Doutor Castor", aqui também existe uma atmosfera envolvente e angustiante que ao longo dos episódios nos magnetiza e, com era de se esperar, ganha força ao retratar de maneira visceral a alma de um Rio de Janeiro esquecido, revelando as entranhas do poder, da corrupção e da violência que permeiam a história da cidade - sem cortes.
Olha, é uma pancada, mas que não deixa de ser uma material importante e simplesmente imperdível! Vale muito o seu play!
Se você está com saudade dos bons tempos de "Game of Thrones" não deixe de assistir a minissérie documental, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho"! Você vai precisar assistir apenas um episódio para entender que eu não estou exagerando - essa produção original da Globoplay, sem a menor sombra de dúvidas, é o "Game of Thrones da vida real"! Escrita e dirigida pelo jornalista Fellipe Awi (com a retaguarda de Ricardo Calil e de Gian Carlo Bellotti), a minissérie é uma verdadeira imersão na história sórdida (e fascinante) do Rio de Janeiro pela perspectiva da contravenção - ao assistir os sete episódios, não serão raras as reflexões sobre a seriedade de um país que acompanha de camarote uma verdadeira guerra, bem como fomenta a hipocrisia de uma sociedade marcada pelo crime, mas que faz vistas grossas por medo ou/e por admiração daqueles que se impõem pelo poder e pelo dinheiro.
"Vale o Escrito", basicamente, narra a ascensão e queda do jogo do bicho na Cidade Maravilhosa, entrelaçando a trajetória de duas famílias rivais, os Andrade e os Garcia, em uma guerra sangrenta pelo poder. A minissérie aborda desde seu início no século XIX, passando pela criminalização das apostas e dos jogos de azar, o investimento no carnaval pautado pelo ego até o envolvimento das milícias na conquista por territórios. Confira o trailer:
Narrado com maestria pelo Pedro Bial, que inclusive está na supervisão artística do novo projeto do "Conversa.Doc", núcleo de documentários do seu programa na TV, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" dá uma aula de storytelling! Sua uma narrativa é envolvente, densa e eletrizante - Awi tece com muita inteligência um verdadeiro drama politico, cheio de conspirações, traições e reviravoltas, sempre apoiado em imagens de arquivo, depoimentos de figuras chave dessa história e inserções gráficas impecáveis pela qualidade técnica e artística. A forma como a linha temporal é construída pelo roteiro (e pela edição) nos dá a exata noção do tamanho e da complexidade que é o submundo do jogo no Rio de Janeiro.
De fato, "Vale o Escrito" não se contenta em apenas apresentar os fatos históricos - a minissérie vai além ao fazer uma análise profunda dos impactos sociais, políticos e culturais do jogo do bicho na sociedade carioca ao longo de décadas. É impressionante como a própria mídia se relaciona com essa dinâmica - ao ponto de um dos maiores (e mais violentos) contraventores do país ser capa de revista e símbolo sexual por muitos anos. Através de entrevistas com especialistas em segurança (muitos deles da policia civil e do BOPE), jornalistas e, acreditem, com os próprios bicheiros e seus familiares, somos confrontados por aquela incomoda sensação de impunidade. Ao entendermos, ponto a ponto, como as relações que envolve essa atividade ilegal se dão, desde sua origem até os dias atuais, temos a certeza (mais uma vez) que é impossível esse país dar certo!
Com uma estética impecável, "Vale o Escrito: A Guerra do Jogo do Bicho" captura a beleza e a sordidez do Rio de Janeiro com sabedoria - mesmo que o viés politico ainda mostre sua cara em alguns momentos. A montagem ágil e dinâmica nos guia por essa jornada como poucas vezes você experienciou - não é fácil deixar de emendar um episódio no outro. Na linha de "Doutor Castor", aqui também existe uma atmosfera envolvente e angustiante que ao longo dos episódios nos magnetiza e, com era de se esperar, ganha força ao retratar de maneira visceral a alma de um Rio de Janeiro esquecido, revelando as entranhas do poder, da corrupção e da violência que permeiam a história da cidade - sem cortes.
Olha, é uma pancada, mas que não deixa de ser uma material importante e simplesmente imperdível! Vale muito o seu play!
Na linha de "Isabella: O Caso Nardoni" e "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime", a Netflix lança mais um documentário, dessa vez para contar a história bizarra por traz do desaparecimento de Eliza Samudio. "Vítima Invisível", dirigido pela Juliana Antunes, revisita um dos casos criminais mais chocantes de nossa história recente, o assassinato de Eliza Samudio, onde o principal suspeito era o então goleiro do Flamengo e estrela em ascensão, Bruno Fernandes. O interessante aqui é que a narrativa vai além da mera reconstrução dos eventos que levaram ao desaparecimento de Eliza, oferecendo uma análise crítica sobre a violência de gênero, a invisibilidade das vítimas de feminicídio e as falhas sistêmicas da justiça e da sociedade na proteção dessas mulheres.
O caso de Eliza Samudio, ocorrido em 2010, envolveu um crime brutal que recebeu enorme cobertura da mídia e abalou o Brasil. Eliza era mãe de um filho com Bruno, que inicialmente se recusava a reconhecer a paternidade da criança. Após uma série de ameaças e violência, Eliza desapareceu, e a investigação subsequente apontou para o envolvimento direto do "goleiro Bruno" no crime. O corpo de Eliza nunca foi encontrado, e as circunstâncias de sua morte continuam envoltas em mistério. O documentário explora esse contexto, mas não se limita aos fatos já amplamente divulgados pela imprensa, em vez disso, Antunes busca dar voz à própria Eliza através de mensagens que ela mesmo trocava com um amigo pelo computador, além de inúmeras imagens de arquivo que ajudam a construir esse drama. Confira o trailer:
A abordagem de Juliana Antunes em "Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é sóbria e reflexiva. O filme evita o sensacionalismo que muitas vezes cerca casos de grande repercussão midiática e foca no impacto humano e emocional dessa história em quem viveu ela de perto - especialmente sua mãe, Sonia Moura, e o delegado responsável pelo caso, Edson Moreira da Silva. Mas Antunes não para por aí, ao dar destaque para opiniões de especialistas em violência de gênero, advogados e jornalistas, o documentário ainda contextualiza o crime dentro de uma narrativa maior sobre os altos índices de feminicídio no Brasil e a normalização da violência contra as mulheres em tempos de redes sociais, especialmente quando seu autor é uma celebridade.
Um dos aspectos mais poderosos aqui, é preciso que se diga, é a forma como Antunes reconstrói a imagem de Eliza Samudio. Muitas vezes retratada pela mídia de forma superficial, ora como uma oportunista ora como vítima, cuja história pessoal foi transformada em entretenimento, o documentário busca humanizar Eliza, independente de suas escolhas durante a vida - o roteiro acaba revelando suas aspirações, seu histórico familiar, seu papel como mãe e suas tentativas desesperadas de escapar de uma situação de violência. O título, "Vítima Invisível", faz referência à forma como a vida de Eliza foi, em muitos aspectos, ignorada e minimizada tanto pelo sistema judicial quanto pela sociedade em geral, até que ela se tornou mais uma ponto estatístico de um crime hediondo. É um fato que a direção de Antunes é marcada pela sensibilidade com que trata o tema - ela intercala entrevistas atuais, com imagens de arquivo e recriações simbólicas dos eventos, o que cria, propositalmente, uma atmosfera de empatia e respeito pela memória de Eliza, mas acreditem, mesmo assim, é difícil não julgar.
Outro ponto forte do documentário é a análise crítica da cobertura midiática do caso. O filme destaca como a mídia explorou "a história de amor" entre Bruno e sua amante para atrair audiência, muitas vezes sensacionalizando o caso e desumanizando Eliza mesmo antes de sua morte - ao invés de focar na gravidade da violência que ela sofria e na necessidade de ações preventivas para protege-la. Eliza chegou a ter uma medida protetiva negada por uma juíza. No entanto, um elemento dramático pode frustrar a audiência: a ausência de respostas definitivas sobre o destino de Eliza. Como o corpo dela nunca foi encontrado e alguns detalhes do crime permanecem incertos mesmo depois do julgamento, o documentário inevitavelmente deixa lacunas, refletindo a própria complexidade e incerteza do caso. Nesse sentido, as cenas no tribunal são muito interessantes como análise, mas as informações que você vai encontrar na sua tela após o final do documentário, essas sim vão explodir sua cabeça e dar a exata noção do mundo em que vivemos. Prestem atenção nos nomes em questão!
"Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é um documentário poderoso e necessário que vai além do sensacionalismo em torno de um crime brutal para oferecer uma reflexão profunda sobre a violência de gênero e as falhas sistêmicas que perpetuam esse ciclo. pode acreditar, vai valer o seu play!
Na linha de "Isabella: O Caso Nardoni" e "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime", a Netflix lança mais um documentário, dessa vez para contar a história bizarra por traz do desaparecimento de Eliza Samudio. "Vítima Invisível", dirigido pela Juliana Antunes, revisita um dos casos criminais mais chocantes de nossa história recente, o assassinato de Eliza Samudio, onde o principal suspeito era o então goleiro do Flamengo e estrela em ascensão, Bruno Fernandes. O interessante aqui é que a narrativa vai além da mera reconstrução dos eventos que levaram ao desaparecimento de Eliza, oferecendo uma análise crítica sobre a violência de gênero, a invisibilidade das vítimas de feminicídio e as falhas sistêmicas da justiça e da sociedade na proteção dessas mulheres.
O caso de Eliza Samudio, ocorrido em 2010, envolveu um crime brutal que recebeu enorme cobertura da mídia e abalou o Brasil. Eliza era mãe de um filho com Bruno, que inicialmente se recusava a reconhecer a paternidade da criança. Após uma série de ameaças e violência, Eliza desapareceu, e a investigação subsequente apontou para o envolvimento direto do "goleiro Bruno" no crime. O corpo de Eliza nunca foi encontrado, e as circunstâncias de sua morte continuam envoltas em mistério. O documentário explora esse contexto, mas não se limita aos fatos já amplamente divulgados pela imprensa, em vez disso, Antunes busca dar voz à própria Eliza através de mensagens que ela mesmo trocava com um amigo pelo computador, além de inúmeras imagens de arquivo que ajudam a construir esse drama. Confira o trailer:
A abordagem de Juliana Antunes em "Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é sóbria e reflexiva. O filme evita o sensacionalismo que muitas vezes cerca casos de grande repercussão midiática e foca no impacto humano e emocional dessa história em quem viveu ela de perto - especialmente sua mãe, Sonia Moura, e o delegado responsável pelo caso, Edson Moreira da Silva. Mas Antunes não para por aí, ao dar destaque para opiniões de especialistas em violência de gênero, advogados e jornalistas, o documentário ainda contextualiza o crime dentro de uma narrativa maior sobre os altos índices de feminicídio no Brasil e a normalização da violência contra as mulheres em tempos de redes sociais, especialmente quando seu autor é uma celebridade.
Um dos aspectos mais poderosos aqui, é preciso que se diga, é a forma como Antunes reconstrói a imagem de Eliza Samudio. Muitas vezes retratada pela mídia de forma superficial, ora como uma oportunista ora como vítima, cuja história pessoal foi transformada em entretenimento, o documentário busca humanizar Eliza, independente de suas escolhas durante a vida - o roteiro acaba revelando suas aspirações, seu histórico familiar, seu papel como mãe e suas tentativas desesperadas de escapar de uma situação de violência. O título, "Vítima Invisível", faz referência à forma como a vida de Eliza foi, em muitos aspectos, ignorada e minimizada tanto pelo sistema judicial quanto pela sociedade em geral, até que ela se tornou mais uma ponto estatístico de um crime hediondo. É um fato que a direção de Antunes é marcada pela sensibilidade com que trata o tema - ela intercala entrevistas atuais, com imagens de arquivo e recriações simbólicas dos eventos, o que cria, propositalmente, uma atmosfera de empatia e respeito pela memória de Eliza, mas acreditem, mesmo assim, é difícil não julgar.
Outro ponto forte do documentário é a análise crítica da cobertura midiática do caso. O filme destaca como a mídia explorou "a história de amor" entre Bruno e sua amante para atrair audiência, muitas vezes sensacionalizando o caso e desumanizando Eliza mesmo antes de sua morte - ao invés de focar na gravidade da violência que ela sofria e na necessidade de ações preventivas para protege-la. Eliza chegou a ter uma medida protetiva negada por uma juíza. No entanto, um elemento dramático pode frustrar a audiência: a ausência de respostas definitivas sobre o destino de Eliza. Como o corpo dela nunca foi encontrado e alguns detalhes do crime permanecem incertos mesmo depois do julgamento, o documentário inevitavelmente deixa lacunas, refletindo a própria complexidade e incerteza do caso. Nesse sentido, as cenas no tribunal são muito interessantes como análise, mas as informações que você vai encontrar na sua tela após o final do documentário, essas sim vão explodir sua cabeça e dar a exata noção do mundo em que vivemos. Prestem atenção nos nomes em questão!
"Vítima Invisível - O Caso de Eliza Samudio" é um documentário poderoso e necessário que vai além do sensacionalismo em torno de um crime brutal para oferecer uma reflexão profunda sobre a violência de gênero e as falhas sistêmicas que perpetuam esse ciclo. pode acreditar, vai valer o seu play!
Da mesma forma que eu disse que "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez"era uma minissérie dura de assistir, daquelas que precisamos parar e respirar em várias passagens, certamente em "Volta Priscila" a condição será a mesma - esses quatro episódios vão dilacerar o seu coração! Dirigida por Eduardo Rajabally e Bruna Rodrigues para o Disney+, "Volta Priscila" explora o misterioso e ainda não resolvido desaparecimento de Priscila Belfort, irmã do lutador de MMA Vitor Belfort. A produção traz uma abordagem sensível e cuidadosa sobre o caso, equilibrando o impacto emocional da tragédia familiar com uma análise investigativa dos eventos que levaram ao desaparecimento de Priscila em 2004. "Volta Priscila" não apenas revisita o caso, mas também lança luz sobre questões mais delicadas como as imposições nas relações familiares e o impacto da depressão na vida das pessoas.
A minissérie conta com entrevistas com familiares, amigos e envolvidos no processo que relembram os eventos em torno do desaparecimento de Priscila. Ela desapareceu em plena luz do dia no centro do Rio de Janeiro, e, apesar dos esforços incansáveis de sua família e de investigações, seu paradeiro ainda permanece desconhecido. O foco emocional da minissérie está em Jovita Belfort, que desde o desaparecimento da filha se tornou uma voz ativa na busca por respostas. Confira o trailer:
Inegavelmente que Rajabally e Rodrigues optam por uma abordagem delicada e respeitosa ao levantar algumas questões sobre o desaparecimento de Priscila - isso de fato impacta na nossa experiência como audiência já faltam provocações. Ao dar o play você não vai encontrar grandes novidades sobre o caso, mas vai entender perfeitamente todo o contexto familiar, pessoal e investigativo que deixaram muito mais perguntas do que respostas. Ao mesmo tempo que utilizam de recursos documentais tradicionais, como entrevistas e imagens de arquivo, a direção consegue entregar uma narrativa eficaz intercalando o passado e o presente, mas principalmente o intimo e o especulativo. Veja, com os depoimentos de Jovina, de Vitor, de Joana Prado e de algumas amigas de Priscila, temos um olhar humano e sincero do impacto devastador do desaparecimento em suas vidas. Os depoimentos de Joana, por exemplo, são especialmente tocantes, transmitindo a dor, a frustração e a esperança que perdura na família quase duas décadas depois, mas com um tom um pouco mais racional (mesmo que cheio de emoção).
Já quando minissérie explora o desaparecimento de Priscila em um cenário mais amplo, tentando analisar as falhas durante a investigação e como a mídia lidou com o caso, entendemos exatamente como algumas questões, especialmente institucionais, dificultam a busca por pessoas desaparecidas no país - minha crítica é pelo fato de não existir uma imersão tão evidente em alguns pontos sensíveis que facilmente percebemos durante a minissérie. A relação do pai de Priscila com o pai do namorado de sua filha, por exemplo, não é explorado, apenas citado. Aliás, só sabemos que a família desse namorado de Priscila é poderosa, mas não sabemos nem quem é e nem o que fazem (e consigo imaginar a razão)! Ao citar outras linhas de investigação durante esses "quase vinte anos", por outro lado, temos uma noção bem dolorosa de como é difícil lidar com as especulações e com a falta de humanidade das pessoas em um momento tão difícil. Em uma passagem do documentário, Vitor Belfort chega a falar abertamente sobre a dor permanente que a família enfrenta por ter que lidar com as respostas erradas diariamente: “Ontem meus pais enterraram minha irmã. Hoje temos que enterrar minha irmã de novo. É um enterro diário. É assim há 20 anos”!
Embora as investigações tenham chegado a vários becos sem saída, "Volta Priscila" foi inteligente ao revisitar alguns eventos, levantar algumas hipóteses e até discutir teorias que foram exploradas ao longo dos anos. Ao fazer isso, a minissérie nos mantém ligados, o tom de mistério nos acompanha e, sem sensacionalismo, cria uma abordagem interessante sobre o todo. Sim, eu sei que a falta de uma conclusão definitiva soa frustrante, dada a natureza não resolvida do caso, mas mais do que o aspecto "true crime" da narrativa, o recorte emocional é ainda mais potente - pode deixar uma sensação de vazio e talvez seja essa a razão que a torna interessante como conceito: tentar replicar 1% da dor que é viver com a incerteza! Funciona!
Vale muito o seu play!
Da mesma forma que eu disse que "Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez"era uma minissérie dura de assistir, daquelas que precisamos parar e respirar em várias passagens, certamente em "Volta Priscila" a condição será a mesma - esses quatro episódios vão dilacerar o seu coração! Dirigida por Eduardo Rajabally e Bruna Rodrigues para o Disney+, "Volta Priscila" explora o misterioso e ainda não resolvido desaparecimento de Priscila Belfort, irmã do lutador de MMA Vitor Belfort. A produção traz uma abordagem sensível e cuidadosa sobre o caso, equilibrando o impacto emocional da tragédia familiar com uma análise investigativa dos eventos que levaram ao desaparecimento de Priscila em 2004. "Volta Priscila" não apenas revisita o caso, mas também lança luz sobre questões mais delicadas como as imposições nas relações familiares e o impacto da depressão na vida das pessoas.
A minissérie conta com entrevistas com familiares, amigos e envolvidos no processo que relembram os eventos em torno do desaparecimento de Priscila. Ela desapareceu em plena luz do dia no centro do Rio de Janeiro, e, apesar dos esforços incansáveis de sua família e de investigações, seu paradeiro ainda permanece desconhecido. O foco emocional da minissérie está em Jovita Belfort, que desde o desaparecimento da filha se tornou uma voz ativa na busca por respostas. Confira o trailer:
Inegavelmente que Rajabally e Rodrigues optam por uma abordagem delicada e respeitosa ao levantar algumas questões sobre o desaparecimento de Priscila - isso de fato impacta na nossa experiência como audiência já faltam provocações. Ao dar o play você não vai encontrar grandes novidades sobre o caso, mas vai entender perfeitamente todo o contexto familiar, pessoal e investigativo que deixaram muito mais perguntas do que respostas. Ao mesmo tempo que utilizam de recursos documentais tradicionais, como entrevistas e imagens de arquivo, a direção consegue entregar uma narrativa eficaz intercalando o passado e o presente, mas principalmente o intimo e o especulativo. Veja, com os depoimentos de Jovina, de Vitor, de Joana Prado e de algumas amigas de Priscila, temos um olhar humano e sincero do impacto devastador do desaparecimento em suas vidas. Os depoimentos de Joana, por exemplo, são especialmente tocantes, transmitindo a dor, a frustração e a esperança que perdura na família quase duas décadas depois, mas com um tom um pouco mais racional (mesmo que cheio de emoção).
Já quando minissérie explora o desaparecimento de Priscila em um cenário mais amplo, tentando analisar as falhas durante a investigação e como a mídia lidou com o caso, entendemos exatamente como algumas questões, especialmente institucionais, dificultam a busca por pessoas desaparecidas no país - minha crítica é pelo fato de não existir uma imersão tão evidente em alguns pontos sensíveis que facilmente percebemos durante a minissérie. A relação do pai de Priscila com o pai do namorado de sua filha, por exemplo, não é explorado, apenas citado. Aliás, só sabemos que a família desse namorado de Priscila é poderosa, mas não sabemos nem quem é e nem o que fazem (e consigo imaginar a razão)! Ao citar outras linhas de investigação durante esses "quase vinte anos", por outro lado, temos uma noção bem dolorosa de como é difícil lidar com as especulações e com a falta de humanidade das pessoas em um momento tão difícil. Em uma passagem do documentário, Vitor Belfort chega a falar abertamente sobre a dor permanente que a família enfrenta por ter que lidar com as respostas erradas diariamente: “Ontem meus pais enterraram minha irmã. Hoje temos que enterrar minha irmã de novo. É um enterro diário. É assim há 20 anos”!
Embora as investigações tenham chegado a vários becos sem saída, "Volta Priscila" foi inteligente ao revisitar alguns eventos, levantar algumas hipóteses e até discutir teorias que foram exploradas ao longo dos anos. Ao fazer isso, a minissérie nos mantém ligados, o tom de mistério nos acompanha e, sem sensacionalismo, cria uma abordagem interessante sobre o todo. Sim, eu sei que a falta de uma conclusão definitiva soa frustrante, dada a natureza não resolvida do caso, mas mais do que o aspecto "true crime" da narrativa, o recorte emocional é ainda mais potente - pode deixar uma sensação de vazio e talvez seja essa a razão que a torna interessante como conceito: tentar replicar 1% da dor que é viver com a incerteza! Funciona!
Vale muito o seu play!