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Elize Matsunaga: Era uma vez um crime

Quanto menos você souber sobre o caso Elize Matsunaga, mais você vai se surpreender com a minissérie documental da Netflix que decupa, ponto a ponto, o crime que abalou o Brasil em 2012 por sua brutalidade e pela relevância social de sua vitima, o empresário e herdeiro do grupo Yoki, Marcos Matsunaga. 

"Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" revisita o assassinato e o esquartejamento de Marcos Matsunaga, pelos olhos de sua esposa Elize - a autora confessa do crime. Da infância em Chopinzinho, pequena cidade do Paraná, até o conturbado relacionamento com o empresário antes do assassinato, a minissérie de quatro episódios se aprofunda nos detalhes que sucederam o fato, desde as tentativas de acobertamento do crime, passando pela confissão, prisão até o julgamento em 2016. Confira o trailer: 

Sem a menor dúvida, o maior mérito da minissérie documental dirigida de forma muito competente pela Eliza Capai, é o de poder contar com a própria assassina dando sua versão da história. Ter Elize Matsunaga dando seu depoimento, no mínimo, nos provoca estranheza e curiosidade. Assassina confessa de seu marido, Eliza parece estar em outra dimensão. Suas palavras soam tão superficiais quanto sua tentativa de explicar algo que não tem explicação - a razão pela qual matou Marcos! Ao relatar os casos de infidelidades do marido, as brigas intensas entre eles (quase sempre baseadas no ciúme de ambos), além de uma convivência marcada por excentricidades que vão de ter uma cobra como animal de estimação ao arsenal bélico que tinham em casa, Elize tenta associar suas decisões infelizes (definição dada por ela) àquela tragédia que ela mesma provocou.

Embora a diretora tente equilibrar os dois lados da história, é inegável que a presença de Elize tenha uma força quase irreparável perante a necessidade (ou tentativa) de se manter neutra. Capai de fato se propõe a conduzir a linha narrativa, brilhantemente construída por uma edição extremamente competente, sem impor uma verdade absoluta, mas ao dar tanto holofote para uma criminosa (psicopata), a nossa experiência levanta inúmeros julgamentos a cada nova descoberta revelada pelo roteiro. Escrito pela Diana Golts (de "The Last Defense"), a minissérie se apropria da complexidade e da passionalidade da história para criar "ganchos" que praticamente nos impedem de parar de assistir os episódios - por isso comentei: quanto menos você souber, melhor.

A produção, claro, não está interessada em inocentar Elize, apenas se propõe a compreender suas motivações de uma forma até elegante - e isso, sinceramente, pode incomodar parte da audiência. Em alguns momentos temos a impressão que falta uma certa vontade em relatar certas nuances da investigação e o interesse em cobrir lacunas abertas durante o julgamento - a possibilidade de existir uma terceira pessoa que possa ter ajudado Elize a cometer o crime é só um dos exemplos dessa superficialidade narrativa. Por outro lado, ter acesso aos bastidores de um crime tão marcante, pela voz de quem cometeu a atrocidade, praticamente nos coloca dentro daquele universo sem o olhar sensacionalista que a imprensa vendeu na época. Desconstruir alguns dos personagens, anos depois do crime, valida "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" como um dos melhores documentários de "true crime" produzidos no Brasil até aqui e, mesmo com suas falhas (quase que retóricas), soa ter cumprido o seu papel de se tornar um verdadeiro registro histórico do crime.

Vale seu play!

Assista Agora

Quanto menos você souber sobre o caso Elize Matsunaga, mais você vai se surpreender com a minissérie documental da Netflix que decupa, ponto a ponto, o crime que abalou o Brasil em 2012 por sua brutalidade e pela relevância social de sua vitima, o empresário e herdeiro do grupo Yoki, Marcos Matsunaga. 

"Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" revisita o assassinato e o esquartejamento de Marcos Matsunaga, pelos olhos de sua esposa Elize - a autora confessa do crime. Da infância em Chopinzinho, pequena cidade do Paraná, até o conturbado relacionamento com o empresário antes do assassinato, a minissérie de quatro episódios se aprofunda nos detalhes que sucederam o fato, desde as tentativas de acobertamento do crime, passando pela confissão, prisão até o julgamento em 2016. Confira o trailer: 

Sem a menor dúvida, o maior mérito da minissérie documental dirigida de forma muito competente pela Eliza Capai, é o de poder contar com a própria assassina dando sua versão da história. Ter Elize Matsunaga dando seu depoimento, no mínimo, nos provoca estranheza e curiosidade. Assassina confessa de seu marido, Eliza parece estar em outra dimensão. Suas palavras soam tão superficiais quanto sua tentativa de explicar algo que não tem explicação - a razão pela qual matou Marcos! Ao relatar os casos de infidelidades do marido, as brigas intensas entre eles (quase sempre baseadas no ciúme de ambos), além de uma convivência marcada por excentricidades que vão de ter uma cobra como animal de estimação ao arsenal bélico que tinham em casa, Elize tenta associar suas decisões infelizes (definição dada por ela) àquela tragédia que ela mesma provocou.

Embora a diretora tente equilibrar os dois lados da história, é inegável que a presença de Elize tenha uma força quase irreparável perante a necessidade (ou tentativa) de se manter neutra. Capai de fato se propõe a conduzir a linha narrativa, brilhantemente construída por uma edição extremamente competente, sem impor uma verdade absoluta, mas ao dar tanto holofote para uma criminosa (psicopata), a nossa experiência levanta inúmeros julgamentos a cada nova descoberta revelada pelo roteiro. Escrito pela Diana Golts (de "The Last Defense"), a minissérie se apropria da complexidade e da passionalidade da história para criar "ganchos" que praticamente nos impedem de parar de assistir os episódios - por isso comentei: quanto menos você souber, melhor.

A produção, claro, não está interessada em inocentar Elize, apenas se propõe a compreender suas motivações de uma forma até elegante - e isso, sinceramente, pode incomodar parte da audiência. Em alguns momentos temos a impressão que falta uma certa vontade em relatar certas nuances da investigação e o interesse em cobrir lacunas abertas durante o julgamento - a possibilidade de existir uma terceira pessoa que possa ter ajudado Elize a cometer o crime é só um dos exemplos dessa superficialidade narrativa. Por outro lado, ter acesso aos bastidores de um crime tão marcante, pela voz de quem cometeu a atrocidade, praticamente nos coloca dentro daquele universo sem o olhar sensacionalista que a imprensa vendeu na época. Desconstruir alguns dos personagens, anos depois do crime, valida "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" como um dos melhores documentários de "true crime" produzidos no Brasil até aqui e, mesmo com suas falhas (quase que retóricas), soa ter cumprido o seu papel de se tornar um verdadeiro registro histórico do crime.

Vale seu play!

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Eu Te Amo, Agora Morra

Dividido em 2 partes de 1 hora, em média, essa minissérie documental da HBO mostra o julgamento de Michelle Carter, uma jovem de 17 anos que foi acusada de incentivar o namorado, Conrad Roy, de 18 anos, a se suicidar. O curioso dessa história é que eles sempre estiveram a mais de 60 km de distância um do outro. Todo relacionamento era baseado em mensagens de celular (60.000 pra ser exato)! Por mais maluca que possa parecer essa história, a diretora Erin Lee Carr (Mommy Dead and Dearest) foi muito inteligente em humanizar o caso sem levantar nenhuma bandeira e por mais que sejamos convidados a fazer nossos próprios julgamentos, a cada nova informação nossa cabeça dá um nó!

No dia 14 de julho de 2014, Conrad Roy foi encontrado morto depois de respirar uma enorme quantidade de monóxido de carbono dentro da sua caminhonete, no estacionamento de um supermercado. O que parecia mais um caso de suicídio logo se transformou em uma acusação de homicídio culposo quando, junto ao corpo, foi encontrado um celular sem bateria. Já com o inicio das investigações, foi descoberto uma série de mensagens que, aparentemente, incentivaram Roy a se matar. A responsável por essas mensagens era Michelle Carter, sua namorada. Roy e Michelle namoraram cerca de 2 anos e nesse período se encontraram apenas 5 vezes. A distância e o tempo não afastou o casal, pelo contrário, só fortaleceu a relação: as várias de mensagens que eles trocavam diariamente, só comprovam a enorme sintonia que existia entre os dois - e a minissérie usa muito bem esse material como conceito narrativo, o que dá um tom de proximidade com nossa realidade impressionante. O fato é que eles realmente pareciam se amar e se apoiar em todas as situações, porém Roy sofria de uma depressão severa e Michelle apresentava fortes sinais de sociopatia, ou seja, essa relação era uma bomba prestes a explodir!

É nesse cenário que o documentário ganha força. Com depoimentos da família Roy, dos investigadores, de um jornalista, do advogado de Michelle e de um psiquiatra, "Eu Te Amo, Agora Morra" mostra toda a cronologia do caso: da preparação do suicídio até o veredito do juiz, usando as trocas de mensagens entre o casal como uma espécie de "narrador" (o som das mensagem saindo e chegando são angustiantes) e as cenas do julgamento e das reportagens da época como "fechamentos de bloco", extremamente bem montados, diga-se de passagem. Esse é o tipo de documentário, aliás, que você não consegue tirar o olho da tela - ele é dinâmico, envolvente, interessante e até o último segundo fica impossível cravar qual será o resultado dessa trama tão complexa e mesmo assim a grande discussão moral da história fica martelando na nossa cabeça por algum tempo! Olha, vale o play!!!!

PS: A abertura da minissérie é de um bom gosto incrível!!!!

Assista Agora 

Dividido em 2 partes de 1 hora, em média, essa minissérie documental da HBO mostra o julgamento de Michelle Carter, uma jovem de 17 anos que foi acusada de incentivar o namorado, Conrad Roy, de 18 anos, a se suicidar. O curioso dessa história é que eles sempre estiveram a mais de 60 km de distância um do outro. Todo relacionamento era baseado em mensagens de celular (60.000 pra ser exato)! Por mais maluca que possa parecer essa história, a diretora Erin Lee Carr (Mommy Dead and Dearest) foi muito inteligente em humanizar o caso sem levantar nenhuma bandeira e por mais que sejamos convidados a fazer nossos próprios julgamentos, a cada nova informação nossa cabeça dá um nó!

No dia 14 de julho de 2014, Conrad Roy foi encontrado morto depois de respirar uma enorme quantidade de monóxido de carbono dentro da sua caminhonete, no estacionamento de um supermercado. O que parecia mais um caso de suicídio logo se transformou em uma acusação de homicídio culposo quando, junto ao corpo, foi encontrado um celular sem bateria. Já com o inicio das investigações, foi descoberto uma série de mensagens que, aparentemente, incentivaram Roy a se matar. A responsável por essas mensagens era Michelle Carter, sua namorada. Roy e Michelle namoraram cerca de 2 anos e nesse período se encontraram apenas 5 vezes. A distância e o tempo não afastou o casal, pelo contrário, só fortaleceu a relação: as várias de mensagens que eles trocavam diariamente, só comprovam a enorme sintonia que existia entre os dois - e a minissérie usa muito bem esse material como conceito narrativo, o que dá um tom de proximidade com nossa realidade impressionante. O fato é que eles realmente pareciam se amar e se apoiar em todas as situações, porém Roy sofria de uma depressão severa e Michelle apresentava fortes sinais de sociopatia, ou seja, essa relação era uma bomba prestes a explodir!

É nesse cenário que o documentário ganha força. Com depoimentos da família Roy, dos investigadores, de um jornalista, do advogado de Michelle e de um psiquiatra, "Eu Te Amo, Agora Morra" mostra toda a cronologia do caso: da preparação do suicídio até o veredito do juiz, usando as trocas de mensagens entre o casal como uma espécie de "narrador" (o som das mensagem saindo e chegando são angustiantes) e as cenas do julgamento e das reportagens da época como "fechamentos de bloco", extremamente bem montados, diga-se de passagem. Esse é o tipo de documentário, aliás, que você não consegue tirar o olho da tela - ele é dinâmico, envolvente, interessante e até o último segundo fica impossível cravar qual será o resultado dessa trama tão complexa e mesmo assim a grande discussão moral da história fica martelando na nossa cabeça por algum tempo! Olha, vale o play!!!!

PS: A abertura da minissérie é de um bom gosto incrível!!!!

Assista Agora 

Eu Terei Sumido na Escuridão

Dos documentários "true crime" que já assisti e analisei até hoje, "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO talvez seja o mais humano de todos. Essa característica não faz dele o melhor ou o pior do gênero, mas certamente nos entrega uma narrativa diferente, nos provocando a embarcar em uma história terrível, mas sob o ponto de vista de uma terceira pessoa, a escritora Michelle McNamara, que é capaz de nos conquistar com suas angustias, medos, revoltas e até com uma certa coragem ao expôr suas fragilidades da mesma forma com que tenta, incansavelmente,  desvendar uma das maiores sequências de crimes bárbaros da história dos EUA. 

McNamara é a autora do livro homônimo "I'll Be Gone in the Dark" (título original), onde narra sua jornada como escritora durante a investigação de uma série de casos de estupros e assassinatos em Sacramento durante as décadas de 70 e 80 que posteriormente ficou conhecido como "O caso do assassino de Golden State". Confira o trailer:

A série conta em detalhes todo o trabalho de Michelle McNamara como jornalista investigativa até o momento em que passa a se dedicar integralmente ao caso não resolvido do assassino de Golden State, que estuprou 50 mulheres e matou outras 10 pessoas. O interessante dessa jornada é que pouco a pouco a obstinação de McNamara vai se transformando em uma enorme obsessão, fazendo com que o próprio assassino (ou o que ele representa) domine sua mente e interfira visivelmente na sua vida pessoal - e aqui temos o ponto alto da série: essa linha tênue onde McNamara tenta se equilibrar tem reflexos cruciais e eles são muito mais profundos do que qualquer um que vivia com ela poderia imaginar. Olha, em vários momentos é preciso ter estômago, já que muitas sobreviventes contam sobre os ataques que sofreram com uma riqueza de sensações assustadora e em outros, sofremos na pele as mesmas angústias de uma McNamara inconformada (e pressionada) com o fato do assassino ainda estar solto e isso, de certa forma, vai nos impulsionando a torcer por uma resolução, mesmo sabendo que a protagonista não estará lá para ver! 

Escrito por Liz Garbus (que também dirige dois episódios), a série se divide entre a investigação de McNamara e sua biografia recente, até que ambos se misturam quando ela começa a escrever o livro sobre o assassino. Se apoiando muito na semiótica, Garbus (que já foi indicada para dois Oscars: um com "The Farm: Angola, USA" e outro com o excepcional "What Happened, Miss Simone?") soube trabalhar como ninguém o fato de que McNamara nunca esteve presente durante a produção da série - ao usar suas palavras escritas no livro, brilhantemente narradas por Karen Kilgariff, a diretora acabou criando um tom poético para a visão de McNamara ao mesmo tempo que a força emocional de suas palavras contrastam com a brutalidade dos ataques.

Garbus alternou inúmeras entrevistas bem interessantes, com imagens de arquivo e até uma ou outra dramatização. Dar voz ao marido de McNamara, aos amigos, fãs do blog que escrevia, policiais que trabalharam na investigação na época dos crimes e, por fim, para os seus próprios parceiros de trabalho, mostram exatamente a quantidade de informações relevantes que essa história demanda. O bacana é que mesmo com tanto material, em nenhum momento nos sentimos perdidos - o ritmo é intenso, mas muito bem construído, com muitos elementos de ficção, inclusive, só que extremamente pertinentes ao conceito narrativo imposto pela diretora!

""Eu Terei Sumido na Escuridão" vai agradar quem gosta de séries policiais de crimes reais da mesma forma de quem gosta de biografias com pessoas interessantes e inteligentes. Essa mistura de gêneros entrega um resultado impecável e que, certamente, virá muito forte na temporada de premiações do ano que vem. Vale muito o seu play, de verdade!

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Dos documentários "true crime" que já assisti e analisei até hoje, "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO talvez seja o mais humano de todos. Essa característica não faz dele o melhor ou o pior do gênero, mas certamente nos entrega uma narrativa diferente, nos provocando a embarcar em uma história terrível, mas sob o ponto de vista de uma terceira pessoa, a escritora Michelle McNamara, que é capaz de nos conquistar com suas angustias, medos, revoltas e até com uma certa coragem ao expôr suas fragilidades da mesma forma com que tenta, incansavelmente,  desvendar uma das maiores sequências de crimes bárbaros da história dos EUA. 

McNamara é a autora do livro homônimo "I'll Be Gone in the Dark" (título original), onde narra sua jornada como escritora durante a investigação de uma série de casos de estupros e assassinatos em Sacramento durante as décadas de 70 e 80 que posteriormente ficou conhecido como "O caso do assassino de Golden State". Confira o trailer:

A série conta em detalhes todo o trabalho de Michelle McNamara como jornalista investigativa até o momento em que passa a se dedicar integralmente ao caso não resolvido do assassino de Golden State, que estuprou 50 mulheres e matou outras 10 pessoas. O interessante dessa jornada é que pouco a pouco a obstinação de McNamara vai se transformando em uma enorme obsessão, fazendo com que o próprio assassino (ou o que ele representa) domine sua mente e interfira visivelmente na sua vida pessoal - e aqui temos o ponto alto da série: essa linha tênue onde McNamara tenta se equilibrar tem reflexos cruciais e eles são muito mais profundos do que qualquer um que vivia com ela poderia imaginar. Olha, em vários momentos é preciso ter estômago, já que muitas sobreviventes contam sobre os ataques que sofreram com uma riqueza de sensações assustadora e em outros, sofremos na pele as mesmas angústias de uma McNamara inconformada (e pressionada) com o fato do assassino ainda estar solto e isso, de certa forma, vai nos impulsionando a torcer por uma resolução, mesmo sabendo que a protagonista não estará lá para ver! 

Escrito por Liz Garbus (que também dirige dois episódios), a série se divide entre a investigação de McNamara e sua biografia recente, até que ambos se misturam quando ela começa a escrever o livro sobre o assassino. Se apoiando muito na semiótica, Garbus (que já foi indicada para dois Oscars: um com "The Farm: Angola, USA" e outro com o excepcional "What Happened, Miss Simone?") soube trabalhar como ninguém o fato de que McNamara nunca esteve presente durante a produção da série - ao usar suas palavras escritas no livro, brilhantemente narradas por Karen Kilgariff, a diretora acabou criando um tom poético para a visão de McNamara ao mesmo tempo que a força emocional de suas palavras contrastam com a brutalidade dos ataques.

Garbus alternou inúmeras entrevistas bem interessantes, com imagens de arquivo e até uma ou outra dramatização. Dar voz ao marido de McNamara, aos amigos, fãs do blog que escrevia, policiais que trabalharam na investigação na época dos crimes e, por fim, para os seus próprios parceiros de trabalho, mostram exatamente a quantidade de informações relevantes que essa história demanda. O bacana é que mesmo com tanto material, em nenhum momento nos sentimos perdidos - o ritmo é intenso, mas muito bem construído, com muitos elementos de ficção, inclusive, só que extremamente pertinentes ao conceito narrativo imposto pela diretora!

""Eu Terei Sumido na Escuridão" vai agradar quem gosta de séries policiais de crimes reais da mesma forma de quem gosta de biografias com pessoas interessantes e inteligentes. Essa mistura de gêneros entrega um resultado impecável e que, certamente, virá muito forte na temporada de premiações do ano que vem. Vale muito o seu play, de verdade!

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Flordelis: Questiona ou Adora

O Brasil é mestre em criar personagens que, com o tempo, vão se mostrando mais complexos do que a própria mídia costuma retratar - e para o bem do entretenimento (e apenas dele), suas histórias vão sendo contadas de uma forma envolvente e, muitas vezes, surpreendente. A minissérie documental "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais um ótimo exemplo dessa exploração da "vida como ela é" após um fato marcante, nesse caso um crime! Aqui temos um recorte dos mais interessantes sobre os escândalos em torno da figura pública, pastora evangélica e deputada-federal mulher mais votada do país em 2018 (pelo Rio de Janeiro), Flordelis dos Santos de Souza. Essa produção da Boutique de Filmes para o Globoplay, mergulha nos detalhes do assassinato do marido de Flordelis, Anderson do Carmo, em um crime que chocou o Brasil em 2019 e levantou questões perturbadoras sobre a moralidade, poder e manipulação a partir de uma personagem de aparente santidade. A produção parte de uma investigação intensa e detalhada ao mesmo tempo que traça um perfil psicológico e social de uma mulher cujas contradições são tão grandes quanto sua notoriedade.

Ao longo de seis episódios, vemos como Flordelis, uma líder religiosa carismática e influente, com uma trajetória de vida que ia da adoção de dezenas de crianças à atuação como parlamentar, transformou-se em ré em um julgamento acusada de ser a mandante do assassinato de seu próprio marido. A narrativa constrói uma visão em camadas da vida de Flordelis, desde sua ascensão meteórica como pastora e política, até a queda abrupta após as revelações chocantes sobre seu envolvimento no crime. Confira o trailer aqui:

É inegável que "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais uma aula de narrativa documental que nos remete ao melhor do drama policial.  A forma como a diretora Mariana Jaspe consegue equilibrar o factual com uma exploração mais profunda da figura pública de Flordelis e do impacto que suas ações tiveram na sociedade ao longo dos anos, é de se aplaudir de pé. O tom de mistério, da fotografia às inserções gráficas, potencializa a maneira como a minissérie levanta perguntas essenciais sobre poder, fé e manipulação, especialmente no contexto de líderes religiosos e sociais que têm influência não apenas dentro de suas igrejas, mas também em esferas políticas e na comunidade. O roteiro é muito eficaz em nos colocar diante de uma figura que, por anos, foi venerada por muitos, inclusive por repórteres e celebridades, mas que se viu envolta em um turbilhão de acusações, inclusive de assassinato.

Jaspe utiliza imagens de arquivo e reconstituições, além de uma variedade de fontes, incluindo entrevistas com familiares, investigadores, ex-integrantes da igreja, jornalistas e autoridades envolvidas no caso, para oferecer um panorama completo dos eventos que levaram ao assassinato de Anderson do Carmo e as investigações que se seguiram. Essa multiplicidade de perspectivas enriquece a narrativa, permitindo uma reflexão sobre as diversas faces da vida de Flordelis - desde a figura materna e de pastora carismática até a de uma mulher dissimulada acusada de tramar um crime brutal. Nesse sentido a montagem da minissérie dá um show - ela é muito eficaz ao manter o ritmo e a tensão constante, revelando as reviravoltas de forma não-linear, o que nos mantém intrigados e, ao mesmo tempo, chocados com as informações que surgem a cada episódio. O formato escolhido por Jaspe permite que a audiência acompanhe o desenvolvimento dos fatos em tempo real, trazendo à tona os detalhes da investigações e o processo judicial, sem perder de vista as complexidades do caso e o histórico de vida dos personagens.

O subtítulo "Questiona ou Adora" é uma provocação inteligente por refletir perfeitamente a dualidade que permeia a imagem de Flordelis: aqueles que a seguiam cegamente, admirando sua história de vida e devoção religiosa, e aqueles que começaram a questionar sua verdadeira índole quando as primeiras suspeitas sobre seu envolvimento no assassinato surgiram. A minissérie é muito competente ao explorar essa dicotomia, sempre de maneira cuidadosa, sem tentar oferecer respostas fáceis ou unilaterais, mas se aproveitando da ambiguidade que ronda a personagem principal para entregar uma peça sólida para quem busca entender mais sobre os aspectos sombrios que podem cercar figuras ditas "autoridade moral".

Vale muito o seu play!

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O Brasil é mestre em criar personagens que, com o tempo, vão se mostrando mais complexos do que a própria mídia costuma retratar - e para o bem do entretenimento (e apenas dele), suas histórias vão sendo contadas de uma forma envolvente e, muitas vezes, surpreendente. A minissérie documental "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais um ótimo exemplo dessa exploração da "vida como ela é" após um fato marcante, nesse caso um crime! Aqui temos um recorte dos mais interessantes sobre os escândalos em torno da figura pública, pastora evangélica e deputada-federal mulher mais votada do país em 2018 (pelo Rio de Janeiro), Flordelis dos Santos de Souza. Essa produção da Boutique de Filmes para o Globoplay, mergulha nos detalhes do assassinato do marido de Flordelis, Anderson do Carmo, em um crime que chocou o Brasil em 2019 e levantou questões perturbadoras sobre a moralidade, poder e manipulação a partir de uma personagem de aparente santidade. A produção parte de uma investigação intensa e detalhada ao mesmo tempo que traça um perfil psicológico e social de uma mulher cujas contradições são tão grandes quanto sua notoriedade.

Ao longo de seis episódios, vemos como Flordelis, uma líder religiosa carismática e influente, com uma trajetória de vida que ia da adoção de dezenas de crianças à atuação como parlamentar, transformou-se em ré em um julgamento acusada de ser a mandante do assassinato de seu próprio marido. A narrativa constrói uma visão em camadas da vida de Flordelis, desde sua ascensão meteórica como pastora e política, até a queda abrupta após as revelações chocantes sobre seu envolvimento no crime. Confira o trailer aqui:

É inegável que "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais uma aula de narrativa documental que nos remete ao melhor do drama policial.  A forma como a diretora Mariana Jaspe consegue equilibrar o factual com uma exploração mais profunda da figura pública de Flordelis e do impacto que suas ações tiveram na sociedade ao longo dos anos, é de se aplaudir de pé. O tom de mistério, da fotografia às inserções gráficas, potencializa a maneira como a minissérie levanta perguntas essenciais sobre poder, fé e manipulação, especialmente no contexto de líderes religiosos e sociais que têm influência não apenas dentro de suas igrejas, mas também em esferas políticas e na comunidade. O roteiro é muito eficaz em nos colocar diante de uma figura que, por anos, foi venerada por muitos, inclusive por repórteres e celebridades, mas que se viu envolta em um turbilhão de acusações, inclusive de assassinato.

Jaspe utiliza imagens de arquivo e reconstituições, além de uma variedade de fontes, incluindo entrevistas com familiares, investigadores, ex-integrantes da igreja, jornalistas e autoridades envolvidas no caso, para oferecer um panorama completo dos eventos que levaram ao assassinato de Anderson do Carmo e as investigações que se seguiram. Essa multiplicidade de perspectivas enriquece a narrativa, permitindo uma reflexão sobre as diversas faces da vida de Flordelis - desde a figura materna e de pastora carismática até a de uma mulher dissimulada acusada de tramar um crime brutal. Nesse sentido a montagem da minissérie dá um show - ela é muito eficaz ao manter o ritmo e a tensão constante, revelando as reviravoltas de forma não-linear, o que nos mantém intrigados e, ao mesmo tempo, chocados com as informações que surgem a cada episódio. O formato escolhido por Jaspe permite que a audiência acompanhe o desenvolvimento dos fatos em tempo real, trazendo à tona os detalhes da investigações e o processo judicial, sem perder de vista as complexidades do caso e o histórico de vida dos personagens.

O subtítulo "Questiona ou Adora" é uma provocação inteligente por refletir perfeitamente a dualidade que permeia a imagem de Flordelis: aqueles que a seguiam cegamente, admirando sua história de vida e devoção religiosa, e aqueles que começaram a questionar sua verdadeira índole quando as primeiras suspeitas sobre seu envolvimento no assassinato surgiram. A minissérie é muito competente ao explorar essa dicotomia, sempre de maneira cuidadosa, sem tentar oferecer respostas fáceis ou unilaterais, mas se aproveitando da ambiguidade que ronda a personagem principal para entregar uma peça sólida para quem busca entender mais sobre os aspectos sombrios que podem cercar figuras ditas "autoridade moral".

Vale muito o seu play!

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Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão

Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão

O documentário "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" é praticamente uma escolha obrigatória para quem assistiu (e gostou) de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão". Embora sem o mesmo brilhantismo narrativo da minissérie de 4 episódios que nos apresentou os detalhes mais secretos do esquema de pirâmide sexual com menores de Epstein, que envolvia poderosos políticos, empresários, acadêmicos e até celebridades; o filme sobre sua parceira Ghislaine serve, basicamente, como um epílogo de uma história que embrulha o estômago por todo contexto que envolveu suas vítimas.

Este documentário parte dos pontos que ficaram abertos depois dos acontecimentos da minissérie. Os detalhes sobre o caso de tráfico sexual pelo prisma do envolvimento de Ghislaine Maxwell, socialite e cúmplice de Jeffrey Epstein, ganha ainda mais força com os depoimentos das próprias vítimas e do recente julgamento pelo qual ela passou. Confira o trailer (em inglês):

Se "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" fosse o quinto episódio de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" tudo faria mais sentido - porém há dois anos atrás Ghislaine sequer tinha sido indiciada, o que, claro, impactou na escolha da diretora Lisa Bryant em fechar o primeiro ciclo com o rico material que ela tinha na época. E aqui cabe uma observação relevante: a minissérie foi baseada no ivro de James Patterson “Filthy Rich: The Shocking True Story of Jeffrey Epstein”, o que permitiu a Lisa se aprofundar em diversos detalhes que, infelizmente, não se repetiu no filme de Ghislaine. Em muitos momentos, inclusive, a narrativa se torna até repetitiva e incrivelmente superficial com o claro intuito de tentar relembrar o caso Epstein sem tirar o foco da nova protagonista.

Isso prejudica a experiência? Absolutamente não, porém cria um vinculo tão grande com a obra anterior que seria desrespeitoso da minha parte dizer que a história de "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" se conta sozinha - não, ela não se conta e isolada perde completamente sua força! Com a ajuda de Maiken Baird (produtora de sucessos como "Ícaro" e "Allen contra Farrow") Lisa revisita alguns elementos que conectados ao caso, nos ajudam a entender um pouco mais da relação entre Ghislaine e Epstein -  o ponto alto, no entanto, se dá na construção do perfil de Ghislaine e como sua relação com o pai, o milionário da mídia Robert Maxwell, definiu traços da sua personalidade marcante (e doentia).

"Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" basicamente repete a fragilidade de “Who is Ghislaine Maxwell?”, da HBO, que bebeu da fonte de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão", mas que trouxe poucas novidades para o entendimento do caso como um todo (inclusive de sua investigação e julgamento). Eu diria que esse documentário é até dinâmico, bem produzido, bem dirigido e que funciona muito bem como encerramento de um assunto que passou de novidade (e até surpreendente pelos nomes envolvidos e pelo fim trágico de Epstein) para um tema que dominou os noticiários por muito tempo e que me pareceu ter se desgastado demais.

Repetindo: vale seu play, apenas se você já assistiu "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"!

Assista Agora

O documentário "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" é praticamente uma escolha obrigatória para quem assistiu (e gostou) de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão". Embora sem o mesmo brilhantismo narrativo da minissérie de 4 episódios que nos apresentou os detalhes mais secretos do esquema de pirâmide sexual com menores de Epstein, que envolvia poderosos políticos, empresários, acadêmicos e até celebridades; o filme sobre sua parceira Ghislaine serve, basicamente, como um epílogo de uma história que embrulha o estômago por todo contexto que envolveu suas vítimas.

Este documentário parte dos pontos que ficaram abertos depois dos acontecimentos da minissérie. Os detalhes sobre o caso de tráfico sexual pelo prisma do envolvimento de Ghislaine Maxwell, socialite e cúmplice de Jeffrey Epstein, ganha ainda mais força com os depoimentos das próprias vítimas e do recente julgamento pelo qual ela passou. Confira o trailer (em inglês):

Se "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" fosse o quinto episódio de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" tudo faria mais sentido - porém há dois anos atrás Ghislaine sequer tinha sido indiciada, o que, claro, impactou na escolha da diretora Lisa Bryant em fechar o primeiro ciclo com o rico material que ela tinha na época. E aqui cabe uma observação relevante: a minissérie foi baseada no ivro de James Patterson “Filthy Rich: The Shocking True Story of Jeffrey Epstein”, o que permitiu a Lisa se aprofundar em diversos detalhes que, infelizmente, não se repetiu no filme de Ghislaine. Em muitos momentos, inclusive, a narrativa se torna até repetitiva e incrivelmente superficial com o claro intuito de tentar relembrar o caso Epstein sem tirar o foco da nova protagonista.

Isso prejudica a experiência? Absolutamente não, porém cria um vinculo tão grande com a obra anterior que seria desrespeitoso da minha parte dizer que a história de "Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" se conta sozinha - não, ela não se conta e isolada perde completamente sua força! Com a ajuda de Maiken Baird (produtora de sucessos como "Ícaro" e "Allen contra Farrow") Lisa revisita alguns elementos que conectados ao caso, nos ajudam a entender um pouco mais da relação entre Ghislaine e Epstein -  o ponto alto, no entanto, se dá na construção do perfil de Ghislaine e como sua relação com o pai, o milionário da mídia Robert Maxwell, definiu traços da sua personalidade marcante (e doentia).

"Ghislaine Maxwell: Poder e Perversão" basicamente repete a fragilidade de “Who is Ghislaine Maxwell?”, da HBO, que bebeu da fonte de "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão", mas que trouxe poucas novidades para o entendimento do caso como um todo (inclusive de sua investigação e julgamento). Eu diria que esse documentário é até dinâmico, bem produzido, bem dirigido e que funciona muito bem como encerramento de um assunto que passou de novidade (e até surpreendente pelos nomes envolvidos e pelo fim trágico de Epstein) para um tema que dominou os noticiários por muito tempo e que me pareceu ter se desgastado demais.

Repetindo: vale seu play, apenas se você já assistiu "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão"!

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Isabella: O Caso Nardoni

No cenário dos crimes que chocaram o Brasil, sem a menor dúvida, o caso da morte da menina Isabella Nardoni se destaca como um dos mais intrigantes e emocionalmente carregados da nossa história. O documentário "Isabella: O Caso Nardoni" oferece uma oportunidade única de explorar não apenas os aspectos investigativos do caso, mas também a profundidade das emoções humanas de quem, de fato, sofreu com o crime - e te falo: você não vai precisar mais do que dez minutos para sentir o coração completamente dilacerado! Embora a produção da Netflix não acrescente absolutamente nenhuma informação nova sobre o caso, inclusive, inexplicavelmente, deixe de lado elementos importantes da perícia, posso afirmar que se trata de um ótimo entretenimento para quem gosta do gênero "true crime".

Passados 15 anos, a Netflix retoma o assunto em "Isabella: O Caso Nardoni" - um filme que explora, em detalhes, os eventos em torno do assassinato de 2008, quando o pai Alexandre e a madrasta Anna Carolina Jatobá, asfixiaram a criança e depois a jogaram do sexto andar. Mostrando como foi o trabalho da polícia, da perícia e dos advogados, em meio ao sofrimento da mãe biológica, do circo midiático em torno do caso e das calorosas cobranças da população que, indignada, desejava uma rápida resolução para esse violento homicídio, os diretores Micael Langer e Cláudio Manoel praticamente reconstroem o dia do crime e exploram, passo a passo, os reflexos dessa tragédia. Confira o trailer:

Sem a menor dúvida, um dos pontos fortes do documentário está na discussão sobre os detalhes técnicos da investigação policial e do processo judicial que se seguiram ao crime. Desde a reconstituição dos fatos até a análise forense, a narrativa é muito feliz em explorar os desafios enfrentados pelas autoridades para reconstruir os eventos da noite fatídica, dando voz a quem realmente esteve lá. Mesmo que o filme soe superficial em alguns momentos, a história é recheada de curiosidades e passagens que ao mesmo tempo que indignam, nos envolvem. Misturando depoimentos atuais e um rico material de pesquisa, essencialmente imagens de arquivo, "Isabella: O Caso Nardoni" praticamente nos impede de tirar os olhos da tela até que os créditos subam.

Agora, é preciso que se diga, o roteiro explora a tragédia da morte de Isabella evocando uma gama complexa de emoções: tristeza, raiva, empatia e indignação; permitindo que a audiência compreenda não apenas a dor da família, mas também os desafios emocionais enfrentados pelas equipes de investigação e de advogados. As entrevistas com a delegada, com uma especialista criminal, com a responsável pela perícia e com o promotor, são tão reveladoras quanto a dos familiares, no entanto os insights emocionais mais poderosos, que enriquecem a narrativa, são mesmo da mãe, Ana, e da avó, Rosa.

"Isabella: O Caso Nardoni" não se limita aos fatos frios do caso, já que o filme, naturalmente, cria uma conexão emocional com a audiência - principalmente pornos transportar de volta no tempo, proporcionando uma visão mais vívida sobre os eventos. Esse olhar em retrospectiva faz toda a diferença na maneira como interpretamos os detalhes do caso e, essencialmente, cada comportamento dos envolvidos. Sim, existe uma leve sensação de que algo diferente poderia ter sido mostrado, mas essa cereja do bolo nunca chega - então não crie tantas expectativas, apenas mergulhe na proposta dos diretores e revisite a história com um pouco mais de maturidade, mesmo que ainda pareça um certo oportunismo.

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No cenário dos crimes que chocaram o Brasil, sem a menor dúvida, o caso da morte da menina Isabella Nardoni se destaca como um dos mais intrigantes e emocionalmente carregados da nossa história. O documentário "Isabella: O Caso Nardoni" oferece uma oportunidade única de explorar não apenas os aspectos investigativos do caso, mas também a profundidade das emoções humanas de quem, de fato, sofreu com o crime - e te falo: você não vai precisar mais do que dez minutos para sentir o coração completamente dilacerado! Embora a produção da Netflix não acrescente absolutamente nenhuma informação nova sobre o caso, inclusive, inexplicavelmente, deixe de lado elementos importantes da perícia, posso afirmar que se trata de um ótimo entretenimento para quem gosta do gênero "true crime".

Passados 15 anos, a Netflix retoma o assunto em "Isabella: O Caso Nardoni" - um filme que explora, em detalhes, os eventos em torno do assassinato de 2008, quando o pai Alexandre e a madrasta Anna Carolina Jatobá, asfixiaram a criança e depois a jogaram do sexto andar. Mostrando como foi o trabalho da polícia, da perícia e dos advogados, em meio ao sofrimento da mãe biológica, do circo midiático em torno do caso e das calorosas cobranças da população que, indignada, desejava uma rápida resolução para esse violento homicídio, os diretores Micael Langer e Cláudio Manoel praticamente reconstroem o dia do crime e exploram, passo a passo, os reflexos dessa tragédia. Confira o trailer:

Sem a menor dúvida, um dos pontos fortes do documentário está na discussão sobre os detalhes técnicos da investigação policial e do processo judicial que se seguiram ao crime. Desde a reconstituição dos fatos até a análise forense, a narrativa é muito feliz em explorar os desafios enfrentados pelas autoridades para reconstruir os eventos da noite fatídica, dando voz a quem realmente esteve lá. Mesmo que o filme soe superficial em alguns momentos, a história é recheada de curiosidades e passagens que ao mesmo tempo que indignam, nos envolvem. Misturando depoimentos atuais e um rico material de pesquisa, essencialmente imagens de arquivo, "Isabella: O Caso Nardoni" praticamente nos impede de tirar os olhos da tela até que os créditos subam.

Agora, é preciso que se diga, o roteiro explora a tragédia da morte de Isabella evocando uma gama complexa de emoções: tristeza, raiva, empatia e indignação; permitindo que a audiência compreenda não apenas a dor da família, mas também os desafios emocionais enfrentados pelas equipes de investigação e de advogados. As entrevistas com a delegada, com uma especialista criminal, com a responsável pela perícia e com o promotor, são tão reveladoras quanto a dos familiares, no entanto os insights emocionais mais poderosos, que enriquecem a narrativa, são mesmo da mãe, Ana, e da avó, Rosa.

"Isabella: O Caso Nardoni" não se limita aos fatos frios do caso, já que o filme, naturalmente, cria uma conexão emocional com a audiência - principalmente pornos transportar de volta no tempo, proporcionando uma visão mais vívida sobre os eventos. Esse olhar em retrospectiva faz toda a diferença na maneira como interpretamos os detalhes do caso e, essencialmente, cada comportamento dos envolvidos. Sim, existe uma leve sensação de que algo diferente poderia ter sido mostrado, mas essa cereja do bolo nunca chega - então não crie tantas expectativas, apenas mergulhe na proposta dos diretores e revisite a história com um pouco mais de maturidade, mesmo que ainda pareça um certo oportunismo.

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Jeffrey Epstein: Poder e Perversão

"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é mais uma daquelas histórias, como a que vimos em "Deixando Neverland" (da HBO), que nos embrulha o estômago a cada minuto ou a cada descoberta. Como comentamos em um artigo no nosso blog no começo de 2020, chamado: "Jeffrey Epstein, guardem esse nome", a Netflix seguiu a tendência e resolveu produzir um documentário dividido em quatro episódios sobre os detalhes mais secretos do esquema de pirâmide sexual com menores de Epstein, que envolviam poderosos políticos, empresários, acadêmicos e até celebridades. O livro de James Patterson “Filthy Rich: The Shocking True Story of Jeffrey Epstein” serviu como base para o desenvolvimento da minissérie onde nos deparamos com o lado mais sombrio de um ser humano que acreditava que, com sua fortuna, sairia ileso de qualquer situação que o comprometesse (e ele não era o único!). Confira o trailer:

Se no documentário da HBO o incômodo vinha dos depoimentos impressionantes dos jovens abusados por uma celebridade tão importante como Michael Jackson, já em "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão", vemos claramente o mindset de impunidade que o dinheiro, o poder e a influência causam no ser humano e as marcas que deixam nas suas vítimas. O mais interessante desse roteiro da dupla John Connolly e Tom Malloy,  é a forma como a história vai se construindo através de uma narrativa não linear - um conceito que vimos recentemente em outra produção da Netflix: "Arremesso Final" e que funcionou muito bem em uma jornada tão carregada de drama como essa. O "vai e volta" dos fatos vai nos situando em uma linha do tempo cheia de recortes e fatos isolados que, juntos, vão nos corroendo com uma força absurda - são tantos detalhes que fica impossível não reconstruir as cenas de abuso e perversão mentalmente - e isso é extremamente cruel. Imaginar crianças de 12, 14 anos, compradas com duzentos dólares, sendo abusadas por Epstein com tanta recorrência, chega parecer mentira. E não era!

Não contente, a sequência de depoimentos chocantes sobre a época em que eram abusadas, contadas pelas próprias vítimas, com um nível de clareza e sinceridade absurdas (muitas vezes admitindo os próprios erros e excessos), o documentários ainda desvenda a forma maquiavélica como tudo era arquitetado, como as garotas eram aliciadas e a razão pela qual Epstein não temia ser pego. Se nos três primeiros episódios temos a impressão que se tratava de um fetiche doentio de Epstein, no último descobrimos que o problema era muito maior, amplo e tão sério que deve ter tirado o sono de muita gente grande! A exposição dessa história impressionante envolve desde presidentes americanos até um membro da realeza britânica - e além de deixar claro (mas sem tantas provas, isso é um fato) que a perversão não era exclusividade de Epstein, muito do poder que ele tinha se baseava em uma moeda de troca muito peculiar!

O documentário é muito cuidadoso ao mostrar (ou pelo menos tentar mostrar) todos os lados da história, mesmo que muitos deles apenas por legendas, mas é preciso elogiar o poder que a edição trouxe para o projeto: com muitas cenas de noticiários e inúmeras entrevistas com personagens envolvidos na investigação, dando voz até para defesa de Epstein, cria-se uma dinâmica tão envolvente que vai nos provocando, nos mal-tratando, mas que nos mantém ligados até o final e com aquele desejo insuportável que justiça seja feita!

"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é uma minissérie que vale muito a pena, mas que não é tão fácil de digerir ou suportar (principalmente para aqueles que já tem filhos).

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"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é mais uma daquelas histórias, como a que vimos em "Deixando Neverland" (da HBO), que nos embrulha o estômago a cada minuto ou a cada descoberta. Como comentamos em um artigo no nosso blog no começo de 2020, chamado: "Jeffrey Epstein, guardem esse nome", a Netflix seguiu a tendência e resolveu produzir um documentário dividido em quatro episódios sobre os detalhes mais secretos do esquema de pirâmide sexual com menores de Epstein, que envolviam poderosos políticos, empresários, acadêmicos e até celebridades. O livro de James Patterson “Filthy Rich: The Shocking True Story of Jeffrey Epstein” serviu como base para o desenvolvimento da minissérie onde nos deparamos com o lado mais sombrio de um ser humano que acreditava que, com sua fortuna, sairia ileso de qualquer situação que o comprometesse (e ele não era o único!). Confira o trailer:

Se no documentário da HBO o incômodo vinha dos depoimentos impressionantes dos jovens abusados por uma celebridade tão importante como Michael Jackson, já em "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão", vemos claramente o mindset de impunidade que o dinheiro, o poder e a influência causam no ser humano e as marcas que deixam nas suas vítimas. O mais interessante desse roteiro da dupla John Connolly e Tom Malloy,  é a forma como a história vai se construindo através de uma narrativa não linear - um conceito que vimos recentemente em outra produção da Netflix: "Arremesso Final" e que funcionou muito bem em uma jornada tão carregada de drama como essa. O "vai e volta" dos fatos vai nos situando em uma linha do tempo cheia de recortes e fatos isolados que, juntos, vão nos corroendo com uma força absurda - são tantos detalhes que fica impossível não reconstruir as cenas de abuso e perversão mentalmente - e isso é extremamente cruel. Imaginar crianças de 12, 14 anos, compradas com duzentos dólares, sendo abusadas por Epstein com tanta recorrência, chega parecer mentira. E não era!

Não contente, a sequência de depoimentos chocantes sobre a época em que eram abusadas, contadas pelas próprias vítimas, com um nível de clareza e sinceridade absurdas (muitas vezes admitindo os próprios erros e excessos), o documentários ainda desvenda a forma maquiavélica como tudo era arquitetado, como as garotas eram aliciadas e a razão pela qual Epstein não temia ser pego. Se nos três primeiros episódios temos a impressão que se tratava de um fetiche doentio de Epstein, no último descobrimos que o problema era muito maior, amplo e tão sério que deve ter tirado o sono de muita gente grande! A exposição dessa história impressionante envolve desde presidentes americanos até um membro da realeza britânica - e além de deixar claro (mas sem tantas provas, isso é um fato) que a perversão não era exclusividade de Epstein, muito do poder que ele tinha se baseava em uma moeda de troca muito peculiar!

O documentário é muito cuidadoso ao mostrar (ou pelo menos tentar mostrar) todos os lados da história, mesmo que muitos deles apenas por legendas, mas é preciso elogiar o poder que a edição trouxe para o projeto: com muitas cenas de noticiários e inúmeras entrevistas com personagens envolvidos na investigação, dando voz até para defesa de Epstein, cria-se uma dinâmica tão envolvente que vai nos provocando, nos mal-tratando, mas que nos mantém ligados até o final e com aquele desejo insuportável que justiça seja feita!

"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é uma minissérie que vale muito a pena, mas que não é tão fácil de digerir ou suportar (principalmente para aqueles que já tem filhos).

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John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo

Sua definição de "pirado" vai mudar depois que você assistir o documentário da Netflix "John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo". É sério, McAfee (aquele mesmo do antivírus que todo mundo usava quando os PCs ainda dominavam o mundo) faz CEOs excêntricos como Adam Neumann da WeWork e Travis Kalanick da UBER parecerem ter saído do jardim da infância!

"Running With The Devil: The Wild World Of John McAfee" (no original) conta em pouco menos de duas horas, toda a jornada do milionário e gênio da tecnologia John McAfee durante os anos em que viveu como foragido da justiça, acusado, inclusive, de assassinato. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Charlie Russell (de "Chris Packham: Asperger's and Me") esse documentário traz cenas e entrevistas inéditas (e surpreendentes) sobre alguns dos momentos mais conturbados da vida deMcAfee. Com uma edição primorosa do Joby Gee, Russell se aproveita de um material riquíssimo produzido pela "Vice" pouco mais de dez anos atrás, que resultou em uma estreita relação de amizade entre o próprio McAfee e um videomaker que anos depois voltou a captar em imagens, a loucura e o comportamento cheio de abusos do protagonista até ele ser preso na Espanha em outubro de 2020.

Um dos pioneiros da indústria da segurança digital, o criador do antivírus que até hoje ainda leva seu nome, se tornou milionário quando sua empresa foi vendida para a Intel em um negócio de US$ 7,6 bilhões. A partir daí, McAfee passou a viver no limite, com direito a envolvimento com drogas pesadas, álcool e prostituição - sua última esposa, inclusive, era prostituta. Porém a questão mais presente em "John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo" diz respeito a sua fuga de Belize para Guatemala quando foi acusado de assassinar seu vizinho, Gregory Faull, com um tiro na nuca - o crime, inclusive, que nunca foi solucionado. Essa passagem foi só o gatilho para as inúmeras paranóias (ou não) e teorias da conspiração que fizeram McAfee praticamente viver em águas internacionais com medo de ser morto.

Embora o documentário seja muito competente em explorar esse recorte específico, citando rapidamente outras polêmicas em que McAfee esteve envolvido, temos a sensação que o personagem merecia uma obra mais completa - talvez uma minissérie que se aprofundasse em temas como a derrocada de sua fortuna, os embates com a Intel para que a empresa desvinculasse o seu nome do antivírus, a pretensão de se tornar presidente dos EUA e os outros investimentos que ele fez em startups que foram mal sucedidas - o cara foi de antibióticos naturais à criptomoedas, para você ter uma ideia.

"John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo" é um documentário dinâmico, bem construído e muito interessante - um mergulho no intimo de um personagem único e que foi capaz de transitar entre a genialidade e o caos com a mesma competência. Vale muito o seu play!

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Sua definição de "pirado" vai mudar depois que você assistir o documentário da Netflix "John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo". É sério, McAfee (aquele mesmo do antivírus que todo mundo usava quando os PCs ainda dominavam o mundo) faz CEOs excêntricos como Adam Neumann da WeWork e Travis Kalanick da UBER parecerem ter saído do jardim da infância!

"Running With The Devil: The Wild World Of John McAfee" (no original) conta em pouco menos de duas horas, toda a jornada do milionário e gênio da tecnologia John McAfee durante os anos em que viveu como foragido da justiça, acusado, inclusive, de assassinato. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pelo Charlie Russell (de "Chris Packham: Asperger's and Me") esse documentário traz cenas e entrevistas inéditas (e surpreendentes) sobre alguns dos momentos mais conturbados da vida deMcAfee. Com uma edição primorosa do Joby Gee, Russell se aproveita de um material riquíssimo produzido pela "Vice" pouco mais de dez anos atrás, que resultou em uma estreita relação de amizade entre o próprio McAfee e um videomaker que anos depois voltou a captar em imagens, a loucura e o comportamento cheio de abusos do protagonista até ele ser preso na Espanha em outubro de 2020.

Um dos pioneiros da indústria da segurança digital, o criador do antivírus que até hoje ainda leva seu nome, se tornou milionário quando sua empresa foi vendida para a Intel em um negócio de US$ 7,6 bilhões. A partir daí, McAfee passou a viver no limite, com direito a envolvimento com drogas pesadas, álcool e prostituição - sua última esposa, inclusive, era prostituta. Porém a questão mais presente em "John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo" diz respeito a sua fuga de Belize para Guatemala quando foi acusado de assassinar seu vizinho, Gregory Faull, com um tiro na nuca - o crime, inclusive, que nunca foi solucionado. Essa passagem foi só o gatilho para as inúmeras paranóias (ou não) e teorias da conspiração que fizeram McAfee praticamente viver em águas internacionais com medo de ser morto.

Embora o documentário seja muito competente em explorar esse recorte específico, citando rapidamente outras polêmicas em que McAfee esteve envolvido, temos a sensação que o personagem merecia uma obra mais completa - talvez uma minissérie que se aprofundasse em temas como a derrocada de sua fortuna, os embates com a Intel para que a empresa desvinculasse o seu nome do antivírus, a pretensão de se tornar presidente dos EUA e os outros investimentos que ele fez em startups que foram mal sucedidas - o cara foi de antibióticos naturais à criptomoedas, para você ter uma ideia.

"John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo" é um documentário dinâmico, bem construído e muito interessante - um mergulho no intimo de um personagem único e que foi capaz de transitar entre a genialidade e o caos com a mesma competência. Vale muito o seu play!

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Lorena

"Lorena" é uma minissérie documental da Prime Vídeo das mais curiosas - primeiro por se tratar de uma história incomum e segundo por ser um recorte infeliz de parte de uma sociedade americana que merece (ou não) ser estudada. Desde o inicio do documentário já nos deparamos com o circo que foi criado em cima de um fato muito sério, que teve como causa episódios de violência doméstica e como resultado uma lesão corporal das mais graves. O grande problema, no entanto, foi a espetacularização do caso e graças a isso, as consequências foram as mais cruéis para todos os envolvidos.

Em 1993, as manchetes de todo mundo divulgavam, vorazmente, a história da jovem imigrante Lorena Bobbitt que cortou o órgão genital de seu marido, John Wayne Bobbitt, um ex-fuzileiro da marinha americana. O assunto, que dominou a imprensa ao longo de todo o ano, e que virou motivo piada por muito tempo, trazia o "bizarro" como seu fator mais instigante, mas escondia uma dolorosa experiência de sofrimento fisico e psicológico contínuo ao longo de quatro anos de uma relação completamente abusiva. Confira o trailer (em inglês):

Dividida em quatro episódios de uma hora, a minissérie produzida por Jordan Peele (vencedor do Oscar por "Corra!") tenta corrigir os erros cometidos pela mídia nos anos 90, entender as motivações de Lorena para atacar John Wayne e ainda posicionar os dois lados da história de uma forma que a própria audiência tire suas conclusões - e te garanto: é impossível não julgar as atitudes dos dois personagens a cada nova informação! Obviamente, o documentário traça uma linha do tempo baseada não apenas em como o crime se tornou alvo de tabloides mundiais (com um significado cultural bem mais forte nos Estados Unidos), mas de como essa narrativa foi contada de uma forma completamente unilateral. Mesmo respeitando as limitações da época do crime, "Lorena" busca outros olhares, interpretações e acaba pontuando, da sua forma, como a sociedade lidou com tudo isso da pior maneira possível. Vale lembrar que quando o caso veio à tona, todos lembravam do membro decepado do rapaz, mas poucos comentavam sobre a moça que foi agredida e estuprada.

A minissérie é muito competente em montar um denso e complexo mapa de conexões onde nomes, locais, circunstâncias e contextos são interligados de maneira muito simples e inteligente, nos dando uma percepção bastante clara e completa sobre o caso. São depoimentos de médicos, cirurgiões, enfermeiros, socorristas, advogados, familiares, amigos e até de membros do júri, que se conectam com uma quantidade enorme (e relevante) de imagens de arquivo - aliás, em um dos episódios temos acesso aos trechos mais importantes do testemunho da própria Lorena em seu julgamento, que na época foi transmitido ao vivo pela "Court TV", e olha, são impressionantes! Sem cortes, sem trilha, apenas as palavras de uma mulher que mal consegue se comunicar, relatando como foi violentada e estuprada pelo marido - é de embrulhar o estômago e muito difícil de assistir.

Dirigida pelo talentoso Joshua Rofé, a minissérie acerta em cheio ao mostrar diversos olhares de uma mesma história sem ter a pretensão (pelo menos descaradamente) de nomear um vilão ou um mocinho. O fato é que "Lorena" explica como o senso comum preferiu se apegar ao que existe de mais superficial sobre o assunto, buscando um debate ignorante sobre violência em troca de uma audiência alta, enquanto as consequências desse silêncio serviram apenas para dar continuidade a um problema que está longe de ser extinto!

Vale muito o seu play!

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"Lorena" é uma minissérie documental da Prime Vídeo das mais curiosas - primeiro por se tratar de uma história incomum e segundo por ser um recorte infeliz de parte de uma sociedade americana que merece (ou não) ser estudada. Desde o inicio do documentário já nos deparamos com o circo que foi criado em cima de um fato muito sério, que teve como causa episódios de violência doméstica e como resultado uma lesão corporal das mais graves. O grande problema, no entanto, foi a espetacularização do caso e graças a isso, as consequências foram as mais cruéis para todos os envolvidos.

Em 1993, as manchetes de todo mundo divulgavam, vorazmente, a história da jovem imigrante Lorena Bobbitt que cortou o órgão genital de seu marido, John Wayne Bobbitt, um ex-fuzileiro da marinha americana. O assunto, que dominou a imprensa ao longo de todo o ano, e que virou motivo piada por muito tempo, trazia o "bizarro" como seu fator mais instigante, mas escondia uma dolorosa experiência de sofrimento fisico e psicológico contínuo ao longo de quatro anos de uma relação completamente abusiva. Confira o trailer (em inglês):

Dividida em quatro episódios de uma hora, a minissérie produzida por Jordan Peele (vencedor do Oscar por "Corra!") tenta corrigir os erros cometidos pela mídia nos anos 90, entender as motivações de Lorena para atacar John Wayne e ainda posicionar os dois lados da história de uma forma que a própria audiência tire suas conclusões - e te garanto: é impossível não julgar as atitudes dos dois personagens a cada nova informação! Obviamente, o documentário traça uma linha do tempo baseada não apenas em como o crime se tornou alvo de tabloides mundiais (com um significado cultural bem mais forte nos Estados Unidos), mas de como essa narrativa foi contada de uma forma completamente unilateral. Mesmo respeitando as limitações da época do crime, "Lorena" busca outros olhares, interpretações e acaba pontuando, da sua forma, como a sociedade lidou com tudo isso da pior maneira possível. Vale lembrar que quando o caso veio à tona, todos lembravam do membro decepado do rapaz, mas poucos comentavam sobre a moça que foi agredida e estuprada.

A minissérie é muito competente em montar um denso e complexo mapa de conexões onde nomes, locais, circunstâncias e contextos são interligados de maneira muito simples e inteligente, nos dando uma percepção bastante clara e completa sobre o caso. São depoimentos de médicos, cirurgiões, enfermeiros, socorristas, advogados, familiares, amigos e até de membros do júri, que se conectam com uma quantidade enorme (e relevante) de imagens de arquivo - aliás, em um dos episódios temos acesso aos trechos mais importantes do testemunho da própria Lorena em seu julgamento, que na época foi transmitido ao vivo pela "Court TV", e olha, são impressionantes! Sem cortes, sem trilha, apenas as palavras de uma mulher que mal consegue se comunicar, relatando como foi violentada e estuprada pelo marido - é de embrulhar o estômago e muito difícil de assistir.

Dirigida pelo talentoso Joshua Rofé, a minissérie acerta em cheio ao mostrar diversos olhares de uma mesma história sem ter a pretensão (pelo menos descaradamente) de nomear um vilão ou um mocinho. O fato é que "Lorena" explica como o senso comum preferiu se apegar ao que existe de mais superficial sobre o assunto, buscando um debate ignorante sobre violência em troca de uma audiência alta, enquanto as consequências desse silêncio serviram apenas para dar continuidade a um problema que está longe de ser extinto!

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Making a Murderer

Por mais paradoxal que meu comentário possa parecer, "Making a Murderer" é uma aula de roteiro, de direção, mas, principalmente, de atuação! Que história sensacional e o quanto ela é capaz de gerar sensações tão intensas!

"Making a Murderer" é uma série documental da Netflix que conta a história deSteven Averyque, após ter passado 18 anos preso por um crime que "supostamente" não cometeu, consegue a liberdade devido a um exame de DNA que provaria sua inocência. O caso vira notícia, claro, afinal a fragilidade do sistema penal americano é completamente exposta, e quando Avery está prestes a ganhar uma gigantesca indenização do Estado, ele se torna o principal suspeito de um outro assassinato: o da fotógrafa e jornalista Teresa Halbach. Confira o trailer:

A série foi pioneira em construir uma narrativa quase ficcional para contara essa história - por isso meu comentário no inicio desse review. Com episódios de uma hora, "Making a Murderer" acompanha a investigação, o julgamento e todas as contradições que giram em torno dos dois casos envolvendo Avery.Muito bem dirigido pelas diretoras Laura Ricciardi e Moira Demos, além de incrivelmente bem editado pela própria Demos, a série é um case de storytelling! As duas trabalharam durante dez anos em cima dessa história, entrevistando pessoas próximas ao Steven Avery e até alguns dos investigadores envolvidos nos casos, mas o ponto alto da série é a forma como elas vão juntando as peças e decifrando cada um dos acontecimentos em uma linha do tempo quase imaginária, ao mesmo tempo em que continuam apurando outros fatos e juntando documentos e gravações para uma segunda temporada!

A frase de um dos advogados de Avery define exatamente o conceito da série: "você pode até ter certeza de que nunca vai cometer um crime, mas não pode ter certeza de que nunca vai ser acusado de um. Caso você seja, é isso que pode te acontecer. E é aterrorizante." - de fato não sabemos se Steven cometeu ou não um crime ou o que realmente aconteceu com Teresa Halback, mas as pessoas envolvidas são tão singulares e estão dentro de um universo tão sem noção que somos imediatamente sugados para dentro da história e ela vai nos consumindo pouco a pouco!

"Making a Murderer" ganhou quatro Emmys em 2016 e se tonou uma experiência imperdível para quem gosta de séries de investigação e mistério! Vale muito a pena no nível mais elevado que um review pode oferecer!

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Por mais paradoxal que meu comentário possa parecer, "Making a Murderer" é uma aula de roteiro, de direção, mas, principalmente, de atuação! Que história sensacional e o quanto ela é capaz de gerar sensações tão intensas!

"Making a Murderer" é uma série documental da Netflix que conta a história deSteven Averyque, após ter passado 18 anos preso por um crime que "supostamente" não cometeu, consegue a liberdade devido a um exame de DNA que provaria sua inocência. O caso vira notícia, claro, afinal a fragilidade do sistema penal americano é completamente exposta, e quando Avery está prestes a ganhar uma gigantesca indenização do Estado, ele se torna o principal suspeito de um outro assassinato: o da fotógrafa e jornalista Teresa Halbach. Confira o trailer:

A série foi pioneira em construir uma narrativa quase ficcional para contara essa história - por isso meu comentário no inicio desse review. Com episódios de uma hora, "Making a Murderer" acompanha a investigação, o julgamento e todas as contradições que giram em torno dos dois casos envolvendo Avery.Muito bem dirigido pelas diretoras Laura Ricciardi e Moira Demos, além de incrivelmente bem editado pela própria Demos, a série é um case de storytelling! As duas trabalharam durante dez anos em cima dessa história, entrevistando pessoas próximas ao Steven Avery e até alguns dos investigadores envolvidos nos casos, mas o ponto alto da série é a forma como elas vão juntando as peças e decifrando cada um dos acontecimentos em uma linha do tempo quase imaginária, ao mesmo tempo em que continuam apurando outros fatos e juntando documentos e gravações para uma segunda temporada!

A frase de um dos advogados de Avery define exatamente o conceito da série: "você pode até ter certeza de que nunca vai cometer um crime, mas não pode ter certeza de que nunca vai ser acusado de um. Caso você seja, é isso que pode te acontecer. E é aterrorizante." - de fato não sabemos se Steven cometeu ou não um crime ou o que realmente aconteceu com Teresa Halback, mas as pessoas envolvidas são tão singulares e estão dentro de um universo tão sem noção que somos imediatamente sugados para dentro da história e ela vai nos consumindo pouco a pouco!

"Making a Murderer" ganhou quatro Emmys em 2016 e se tonou uma experiência imperdível para quem gosta de séries de investigação e mistério! Vale muito a pena no nível mais elevado que um review pode oferecer!

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Mistério e Morte no Hotel Cecil

"Mistério e Morte no Hotel Cecil" foi o nome dado para a primeira temporada de uma nova série que pretende desvendar todos os mistérios e ampliar as discussões sobre alguns crimes reais que, por alguma razão, ficaram marcados na memória de todos nós (ou pelo menos da sociedade americana). A temporada de estreia de "Cena do Crime" foi dirigida pelo indicado ao Oscar pela terceira parte da trilogia "Paradise Lost", Joe Berlinger - um diretor que usa e abusa das dramatizações para criar uma certa sensação de angustia e ansiedade, tornando seu conceito narrativo muito próximo da ficção, especialmente dos thrillers policiais.

Em "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" acompanhamos a desconstrução de toda uma mitologia e mistérios em torno de um dos locais mais infames de crimes contemporâneos: o Hotel Cecil. No centro de Los Angeles, o hotel é frequentemente associado a algumas das mais notórias atividades da cidade, entre suicídios, assassinatos e crimes sem explicações, até a presença de hóspedes "famosos" e serial killers que aterrorizaram a sociedade americana durante os anos. Em 2013, a universitária Elisa Lam estava hospedada no Cecil quando desapareceu, iniciando um frenesi na mídia e mobilizando uma comunidade global de detetives internéticos ansiosos para solucionar o caso. O desaparecimento de Lam, mais recente capítulo na complexa história do hotel, oferece uma visão arrepiante e cativante de um dos locais mais nefastos de LA. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" tem um história tão maluca que se encaixa muito bem no estilo que o diretor Joe Berlinger gosta de trabalhar e essa, digamos, espetacularização narrativa de um "drama real" pode incomodar algumas pessoas - veja, o caso de Elisa vai ser explorado de todas maneiras, da tese mais provável à teoria conspiratória mais absurda, e que nem por isso deixa de fazer algum sentido.

Não se trata de um relato documental tradicional, com uma linguagem mais jornalística e um tom mais sério do texto; muito pelo contrário, nos quatro episódios dessa primeira temporada o que mais vemos são tantas camadas sendo analisadas que até nos esquecemos de pontos realmente importantes da investigação. O que eu quero dizer com isso é que não se trata de uma série onde as pistas são entregues ao mesmo tempo que os investigadores tem acesso a elas para, juntos, encontrarmos a solução do mistério - tudo é entregue de acordo com as necessidades narrativas e não respeitando a linha do tempo! Com isso a série ganha em entretenimento, mas parece se distanciar da realidade - é um estilo!

Um ponto que vale a pena reparar é que todos os “personagens” do documentário foram cuidadosamente escolhidos para maximizar essa atmosfera surreal criada em torno da histeria que a morte de Elisa provocou na época e como isso impactou profundamente na vida de alguns deles. A relação dos investigadores de internet com o caso dava um spin-off tranquilamente. Enfim, "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" é dinâmico, te prende, é interessante, mas não toca a alma como "Making a Murderer" ou "The Staircase" - é entretenimento na forma de documentário com toques de ficção como o recente sucesso, também da Netflix, "Night Stalker" tão bem explorou!

PS: Aliás, um dica antes do play: se você não assistiu "Night Stalker", faça isso antes de "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil", pois alguns personagens se repetem e a experiência fica ainda mais completa.   

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"Mistério e Morte no Hotel Cecil" foi o nome dado para a primeira temporada de uma nova série que pretende desvendar todos os mistérios e ampliar as discussões sobre alguns crimes reais que, por alguma razão, ficaram marcados na memória de todos nós (ou pelo menos da sociedade americana). A temporada de estreia de "Cena do Crime" foi dirigida pelo indicado ao Oscar pela terceira parte da trilogia "Paradise Lost", Joe Berlinger - um diretor que usa e abusa das dramatizações para criar uma certa sensação de angustia e ansiedade, tornando seu conceito narrativo muito próximo da ficção, especialmente dos thrillers policiais.

Em "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" acompanhamos a desconstrução de toda uma mitologia e mistérios em torno de um dos locais mais infames de crimes contemporâneos: o Hotel Cecil. No centro de Los Angeles, o hotel é frequentemente associado a algumas das mais notórias atividades da cidade, entre suicídios, assassinatos e crimes sem explicações, até a presença de hóspedes "famosos" e serial killers que aterrorizaram a sociedade americana durante os anos. Em 2013, a universitária Elisa Lam estava hospedada no Cecil quando desapareceu, iniciando um frenesi na mídia e mobilizando uma comunidade global de detetives internéticos ansiosos para solucionar o caso. O desaparecimento de Lam, mais recente capítulo na complexa história do hotel, oferece uma visão arrepiante e cativante de um dos locais mais nefastos de LA. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso dizer que "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" tem um história tão maluca que se encaixa muito bem no estilo que o diretor Joe Berlinger gosta de trabalhar e essa, digamos, espetacularização narrativa de um "drama real" pode incomodar algumas pessoas - veja, o caso de Elisa vai ser explorado de todas maneiras, da tese mais provável à teoria conspiratória mais absurda, e que nem por isso deixa de fazer algum sentido.

Não se trata de um relato documental tradicional, com uma linguagem mais jornalística e um tom mais sério do texto; muito pelo contrário, nos quatro episódios dessa primeira temporada o que mais vemos são tantas camadas sendo analisadas que até nos esquecemos de pontos realmente importantes da investigação. O que eu quero dizer com isso é que não se trata de uma série onde as pistas são entregues ao mesmo tempo que os investigadores tem acesso a elas para, juntos, encontrarmos a solução do mistério - tudo é entregue de acordo com as necessidades narrativas e não respeitando a linha do tempo! Com isso a série ganha em entretenimento, mas parece se distanciar da realidade - é um estilo!

Um ponto que vale a pena reparar é que todos os “personagens” do documentário foram cuidadosamente escolhidos para maximizar essa atmosfera surreal criada em torno da histeria que a morte de Elisa provocou na época e como isso impactou profundamente na vida de alguns deles. A relação dos investigadores de internet com o caso dava um spin-off tranquilamente. Enfim, "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil" é dinâmico, te prende, é interessante, mas não toca a alma como "Making a Murderer" ou "The Staircase" - é entretenimento na forma de documentário com toques de ficção como o recente sucesso, também da Netflix, "Night Stalker" tão bem explorou!

PS: Aliás, um dica antes do play: se você não assistiu "Night Stalker", faça isso antes de "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil", pois alguns personagens se repetem e a experiência fica ainda mais completa.   

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Morte no Vale do Silício

Se você assistiu "Tetris", filme que conta a história dos bastidores "nebulosos" que levaram o jogo a se tornar um dos mais vendidos da história, certamente você vai se surpreender com a história dessa minissérie documental produzida pela Discovery. "Morte no Vale do Silício" poderia ser, tranquilamente, a continuação da produção da AppleTV+, até porquê parte do que vimos contextualizado no filme ajuda (e muito) a entender todas as teorias que envolveram a morte do outro criador do jogo (esse não citado no filme) durante a investigação que acompanhamos em três episódios aqui. Veja, estabelecer o que representou para a União Soviética ter um produto criado em seus domínios, em plena Guerra Fria, e que acabou se tornando um fenômeno de vendas (leia-se "que gerou muito dinheiro") em todo mundo, vai te colocar em lugares muito particulares nesse excelente True Crime - pode acreditar!

Em setembro de 1998, Vladimir Pokhilko, um dos desenvolvedores do Tetris, e parceiro de Alexey Pajitno (esse sim, aquele do filme), foi encontrado morto ao lado da esposa e do filho de 12 anos em sua casa no Vale do Silício. Na época, a conclusão atestava que a morte do programador russo foi dada como um assassinato seguido de suicídio - ou seja, Pokhilko teria matado a esposa, o filho e depois se suicidado. Porém, uma das responsáveis pela investigação, Sandra Brown, retorna à cena do crime anos depois e faz uma descoberta que pode não só mudar a resolução do caso, mas também abrir novos mistérios e teorias sinistras sobre o crime que chocou os EUA. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pela talentosa Misty Showalter, produtora de vários documentários e que aqui estreia na função, "Morte no Vale do Silício"oferece uma análise minuciosa dos eventos de 1998 pelo ponto de vista dos investigadores e dos amigos das vitimas - o que acaba criando um verdadeiro choque de realidades de acordo com a resolução do caso, já que ninguém nunca acreditou que Vladimir Pokhilko seria capaz de fazer o que o laudo do legista e parte da investigação afirmaram que ele fez. Partindo desse embate de percepções, a narrativa nos conduz até a União Soviética dos anos 80 onde o roteiro se apropria de inúmeras reportagens da época, com uma edição primorosa, e tenta construir um cenário que coloca a máfia e até o atual presidente da Rússia, Vladimir Putin (olha ele aí de novo), no centro dessa investigação.  

Mesmo que Showalter se apoie em algumas dramatizações para construir todo o clima de mistério e até para nos impactar visualmente, sem dúvida alguma que são os depoimentos de Sandra Brown e suas novas descobertas 23 anos depois, que fazem com a história fique realmente empolgante - algumas revelações de Brown são até óbvias olhando em perspectiva, porém as reações, hoje, dos investigadores envolvidos no caso, na época, acabam dizendo muito sobre a forma como tudo foi "resolvido" sob as vistas grossas do FBI que aparentemente já vinha monitorando Pokhilko e sua possível relação com a máfia antes mesmo de sua morte.

Resumindo, "The Tetris Murders" (no original) é uma minissérie que cativa muito mais pelas perguntas do que pelas respostas - o embate que Brown provoca com seus colegas de trabalho no final do terceiro episódio dá o exato tom pessoal que a história representa. Muito bem conduzida, talvez a narrativa só tenha falhado por não ter usado algumas intervenções gráficas que ajudariam a conectar os pontos de uma forma mais fluida, já que o roteiro mergulha fundo em um crime perturbador ao mesmo tempo em que contextualiza o período sócio-politico importante e ainda cria uma espécie de extensão óbvia de tudo que assistimos no filme "Tetris" - então se você ainda não assistiu, assista o filme antes, pois isso fará total diferença na sua experiência com a minissérie. 

Vale muito o seu play!

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Se você assistiu "Tetris", filme que conta a história dos bastidores "nebulosos" que levaram o jogo a se tornar um dos mais vendidos da história, certamente você vai se surpreender com a história dessa minissérie documental produzida pela Discovery. "Morte no Vale do Silício" poderia ser, tranquilamente, a continuação da produção da AppleTV+, até porquê parte do que vimos contextualizado no filme ajuda (e muito) a entender todas as teorias que envolveram a morte do outro criador do jogo (esse não citado no filme) durante a investigação que acompanhamos em três episódios aqui. Veja, estabelecer o que representou para a União Soviética ter um produto criado em seus domínios, em plena Guerra Fria, e que acabou se tornando um fenômeno de vendas (leia-se "que gerou muito dinheiro") em todo mundo, vai te colocar em lugares muito particulares nesse excelente True Crime - pode acreditar!

Em setembro de 1998, Vladimir Pokhilko, um dos desenvolvedores do Tetris, e parceiro de Alexey Pajitno (esse sim, aquele do filme), foi encontrado morto ao lado da esposa e do filho de 12 anos em sua casa no Vale do Silício. Na época, a conclusão atestava que a morte do programador russo foi dada como um assassinato seguido de suicídio - ou seja, Pokhilko teria matado a esposa, o filho e depois se suicidado. Porém, uma das responsáveis pela investigação, Sandra Brown, retorna à cena do crime anos depois e faz uma descoberta que pode não só mudar a resolução do caso, mas também abrir novos mistérios e teorias sinistras sobre o crime que chocou os EUA. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pela talentosa Misty Showalter, produtora de vários documentários e que aqui estreia na função, "Morte no Vale do Silício"oferece uma análise minuciosa dos eventos de 1998 pelo ponto de vista dos investigadores e dos amigos das vitimas - o que acaba criando um verdadeiro choque de realidades de acordo com a resolução do caso, já que ninguém nunca acreditou que Vladimir Pokhilko seria capaz de fazer o que o laudo do legista e parte da investigação afirmaram que ele fez. Partindo desse embate de percepções, a narrativa nos conduz até a União Soviética dos anos 80 onde o roteiro se apropria de inúmeras reportagens da época, com uma edição primorosa, e tenta construir um cenário que coloca a máfia e até o atual presidente da Rússia, Vladimir Putin (olha ele aí de novo), no centro dessa investigação.  

Mesmo que Showalter se apoie em algumas dramatizações para construir todo o clima de mistério e até para nos impactar visualmente, sem dúvida alguma que são os depoimentos de Sandra Brown e suas novas descobertas 23 anos depois, que fazem com a história fique realmente empolgante - algumas revelações de Brown são até óbvias olhando em perspectiva, porém as reações, hoje, dos investigadores envolvidos no caso, na época, acabam dizendo muito sobre a forma como tudo foi "resolvido" sob as vistas grossas do FBI que aparentemente já vinha monitorando Pokhilko e sua possível relação com a máfia antes mesmo de sua morte.

Resumindo, "The Tetris Murders" (no original) é uma minissérie que cativa muito mais pelas perguntas do que pelas respostas - o embate que Brown provoca com seus colegas de trabalho no final do terceiro episódio dá o exato tom pessoal que a história representa. Muito bem conduzida, talvez a narrativa só tenha falhado por não ter usado algumas intervenções gráficas que ajudariam a conectar os pontos de uma forma mais fluida, já que o roteiro mergulha fundo em um crime perturbador ao mesmo tempo em que contextualiza o período sócio-politico importante e ainda cria uma espécie de extensão óbvia de tudo que assistimos no filme "Tetris" - então se você ainda não assistiu, assista o filme antes, pois isso fará total diferença na sua experiência com a minissérie. 

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Night Stalker

"Night Stalker" talvez seja a minissérie estilo "true crime" que mais tenha me impressionado. Não sei se pela história em si, mas pelo fato de se tratar de um assassino em série que (aparentemente) não seguia um padrão para escolher suas vitimas, mas que tinha métodos cruéis, muitas vezes sádicos e que, justamente por isso, acabou ganhando o status de ser a representação mais próxima do mal na figura de um ser humano.

Essa minissérie documental da Netflix foi dividida em quatro episódios de cerca de 45 minutos e conta os detalhes da investigação e da incansável busca por um serial killer que ganhou o apelido de "Night Stalker". Na década de 80, em Los Angeles, na Califórnia, a população passou anos amedrontada por existir um assassino que perseguia carros, invadia casas durante a noite e matava mulheres, homens, idosos, jovens, além de molestar e abusar de crianças. Ele usava facas, armas de fogo, algemas de dedos e inúmeros outros objetos para cometer os crimes. Foram mais de 40 vítimas, entre os homicídios e as que sobreviveram, o que fez com que os investigadores Gil Carrillo e Frank Salerno iniciassem uma verdadeira caçada para prender o criminoso. Confira o trailer (em inglês):

Os diretores Tiller Russell e James Carroll escolheram o "docudrama" como conceito narrativo, o que, de fato, nos coloca dentro daquele tenebroso universo como se estivéssemos assistindo um filme de ficção - e isso é muito bacana. Ao misturar cenas de arquivo com representações extremamente dramáticas, muitas vezes angustiantes até, a edição cria uma dinâmica bastante interessante que ajuda a nos prender do começo ao fim. O fato do roteiro apresentar os principais investigadores do caso, Gil Carrillo, que estava em seu primeiro trabalho no departamento de homicídios, e o famoso investigador da época, Frank Salermo, a quem todos respeitavam, como narradores, faz a história ter uma personalidade, uma cara - são tantos flashbacks, histórias pessoais, comentários sinceros e emocionantes, que fica fácil criar um vínculo afetivo com esses personagens.

Ao entrar no arco narrativo principal, as coisas ficam bem mais pesadas: existe muita crueldade nos crimes. A história choca, é brutal e o fato do documentário intercalar depoimentos de familiares das vitimas com sobreviventes e com os investigadores, tudo ganha uma carga emotiva muito grande. Agora, é preciso ressaltar que mesmo sendo um caso muito complexo, os diretores nos conduzem com muita facilidade por vários detalhes da investigação sem precisar maiores explicações - fica tudo muito claro. Dito isso, a recomendação vem acompanhada de um rápido aviso: vale a pena para quem gosta de minisséries de crimes reais, mas ao mesmo tempo esteja preparado para encarar uma jornada pesada, com muitas fotos e detalhes dos crimes que podem impressionar (começando pela fisionomia do próprio assassino, reparem)!

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"Night Stalker" talvez seja a minissérie estilo "true crime" que mais tenha me impressionado. Não sei se pela história em si, mas pelo fato de se tratar de um assassino em série que (aparentemente) não seguia um padrão para escolher suas vitimas, mas que tinha métodos cruéis, muitas vezes sádicos e que, justamente por isso, acabou ganhando o status de ser a representação mais próxima do mal na figura de um ser humano.

Essa minissérie documental da Netflix foi dividida em quatro episódios de cerca de 45 minutos e conta os detalhes da investigação e da incansável busca por um serial killer que ganhou o apelido de "Night Stalker". Na década de 80, em Los Angeles, na Califórnia, a população passou anos amedrontada por existir um assassino que perseguia carros, invadia casas durante a noite e matava mulheres, homens, idosos, jovens, além de molestar e abusar de crianças. Ele usava facas, armas de fogo, algemas de dedos e inúmeros outros objetos para cometer os crimes. Foram mais de 40 vítimas, entre os homicídios e as que sobreviveram, o que fez com que os investigadores Gil Carrillo e Frank Salerno iniciassem uma verdadeira caçada para prender o criminoso. Confira o trailer (em inglês):

Os diretores Tiller Russell e James Carroll escolheram o "docudrama" como conceito narrativo, o que, de fato, nos coloca dentro daquele tenebroso universo como se estivéssemos assistindo um filme de ficção - e isso é muito bacana. Ao misturar cenas de arquivo com representações extremamente dramáticas, muitas vezes angustiantes até, a edição cria uma dinâmica bastante interessante que ajuda a nos prender do começo ao fim. O fato do roteiro apresentar os principais investigadores do caso, Gil Carrillo, que estava em seu primeiro trabalho no departamento de homicídios, e o famoso investigador da época, Frank Salermo, a quem todos respeitavam, como narradores, faz a história ter uma personalidade, uma cara - são tantos flashbacks, histórias pessoais, comentários sinceros e emocionantes, que fica fácil criar um vínculo afetivo com esses personagens.

Ao entrar no arco narrativo principal, as coisas ficam bem mais pesadas: existe muita crueldade nos crimes. A história choca, é brutal e o fato do documentário intercalar depoimentos de familiares das vitimas com sobreviventes e com os investigadores, tudo ganha uma carga emotiva muito grande. Agora, é preciso ressaltar que mesmo sendo um caso muito complexo, os diretores nos conduzem com muita facilidade por vários detalhes da investigação sem precisar maiores explicações - fica tudo muito claro. Dito isso, a recomendação vem acompanhada de um rápido aviso: vale a pena para quem gosta de minisséries de crimes reais, mas ao mesmo tempo esteja preparado para encarar uma jornada pesada, com muitas fotos e detalhes dos crimes que podem impressionar (começando pela fisionomia do próprio assassino, reparem)!

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O Caso Celso Daniel

Desde o grande sucesso de "Making a Murderer", documentários investigativos ganharam alguns elementos que ajudaram a transformar uma narrativa que historicamente soava maçante para a audiência em algo mais dinâmico, muito mais agradável de assistir. O conceito de "True Crime" ganhou força com as plataformas de streaming e são incontáveis as produções imperdíveis espalhadas por aí - e que certamente você já assistiu algumas, inclusive recomendadas por nós. Aqui no Brasil, histórias interessantes começaram a surgir e, muito bem produzidas, passaram a chamar atenção dos assinantes, porém, como nas produções estrangeiras, o equilibro entre informação e entretenimento parece ser o maior desafio desse tipo de minissérie e, certamente, o ponto sensível que aproxima ou afasta a audiência - dependendo da sua preferência pessoal.

Em "O Caso Celso Daniel" temos mais uma vez essa equação para resolver. A minissérie exclusiva da Globoplay foi baseada em uma ampla pesquisa e em um farto material documental para discutir em detalhes um dos casos policiais mais polêmicos do século no Brasil, principalmente pelo seu viés politico e pelas inúmeras teorias da conspiração que foram criadas através dos anos. Confira o trailer:

É verdade que "O Caso Celso Daniel" não tem a força do "Caso Evandro", já que é muito mais fácil criar empatia com um familiar que acabou de perder um filho em meio a requintes de crueldade do que com um politico, por mais relevante que tenha sido, que foi assassinado em circunstâncias misteriosas (para muitos como queima de arquivo). Certamente moradores do Grande ABC em São Paulo, mais especificamente de Santa André, não concordem com minha afirmação até pela relação emocional que o protagonista tinha com a cidade e com seus cidadãos, mas o fato é que essa minissérie produzida pela Joana Henning e dirigida pelo excelente Marcos Jorge (de "Estômago") precisa de um esforço muito maior para nos prender - e ela sabe disso!

Toda pesquisa e o material jornalístico são realmente impressionantes: das imagens de arquivo aos depoimentos, tantos anos depois, de personagens importantes e que de alguma forma estiveram envolvidos com o crime ou com sua investigação - de fato tudo está ali. Do outro lado, vem a necessidade do entretenimento, de deixar a minissérie mais envolvente para não parecer uma matéria do Fantástico e é aí que "O Caso Celso Daniel" ganha força: usando de dramatizações com atores até reconstituições em animação, esses artifícios ajudam a trama a ganhar uma coerência como storytelling - fica fácil entender como a história chegou até aquele ponto e porquê uma versão vai se sobrepondo à outra. Veja, talvez falte uma unidade conceitual entre essas técnicas, mas é inegável que essa escolha deixa a narrativa mais dinâmica e não tão presa ao, digamos, jornalismo raiz.

As três perguntas centrais que permeiam os 8 episódios da minissérie são: quem matou Celso Daniel? Havia, de fato, corrupção na prefeitura de Santo André? E, finalmente, existiu alguma relação entre a corrupção (ou a descoberta dela) com o assassinato do prefeito de Santo André? Independente das duas primeiras perguntas já terem encontradas suas respostas, talvez seja a terceira que nos mova nessa jornada. Dependendo da sua orientação politica, alguns detalhes vão te agradar, enquanto outros podem parecer tendenciosos demais, mas entenda: isso não pode ser visto como um problema, essa discussão faz parte daquele universo, já que o que não faltou nesse misterioso caso de assassinato foram contradições e discussões meramente políticas.

Então, se você gosta de crime e de politica, pode dar o play que sua diversão está garantida!

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Desde o grande sucesso de "Making a Murderer", documentários investigativos ganharam alguns elementos que ajudaram a transformar uma narrativa que historicamente soava maçante para a audiência em algo mais dinâmico, muito mais agradável de assistir. O conceito de "True Crime" ganhou força com as plataformas de streaming e são incontáveis as produções imperdíveis espalhadas por aí - e que certamente você já assistiu algumas, inclusive recomendadas por nós. Aqui no Brasil, histórias interessantes começaram a surgir e, muito bem produzidas, passaram a chamar atenção dos assinantes, porém, como nas produções estrangeiras, o equilibro entre informação e entretenimento parece ser o maior desafio desse tipo de minissérie e, certamente, o ponto sensível que aproxima ou afasta a audiência - dependendo da sua preferência pessoal.

Em "O Caso Celso Daniel" temos mais uma vez essa equação para resolver. A minissérie exclusiva da Globoplay foi baseada em uma ampla pesquisa e em um farto material documental para discutir em detalhes um dos casos policiais mais polêmicos do século no Brasil, principalmente pelo seu viés politico e pelas inúmeras teorias da conspiração que foram criadas através dos anos. Confira o trailer:

É verdade que "O Caso Celso Daniel" não tem a força do "Caso Evandro", já que é muito mais fácil criar empatia com um familiar que acabou de perder um filho em meio a requintes de crueldade do que com um politico, por mais relevante que tenha sido, que foi assassinado em circunstâncias misteriosas (para muitos como queima de arquivo). Certamente moradores do Grande ABC em São Paulo, mais especificamente de Santa André, não concordem com minha afirmação até pela relação emocional que o protagonista tinha com a cidade e com seus cidadãos, mas o fato é que essa minissérie produzida pela Joana Henning e dirigida pelo excelente Marcos Jorge (de "Estômago") precisa de um esforço muito maior para nos prender - e ela sabe disso!

Toda pesquisa e o material jornalístico são realmente impressionantes: das imagens de arquivo aos depoimentos, tantos anos depois, de personagens importantes e que de alguma forma estiveram envolvidos com o crime ou com sua investigação - de fato tudo está ali. Do outro lado, vem a necessidade do entretenimento, de deixar a minissérie mais envolvente para não parecer uma matéria do Fantástico e é aí que "O Caso Celso Daniel" ganha força: usando de dramatizações com atores até reconstituições em animação, esses artifícios ajudam a trama a ganhar uma coerência como storytelling - fica fácil entender como a história chegou até aquele ponto e porquê uma versão vai se sobrepondo à outra. Veja, talvez falte uma unidade conceitual entre essas técnicas, mas é inegável que essa escolha deixa a narrativa mais dinâmica e não tão presa ao, digamos, jornalismo raiz.

As três perguntas centrais que permeiam os 8 episódios da minissérie são: quem matou Celso Daniel? Havia, de fato, corrupção na prefeitura de Santo André? E, finalmente, existiu alguma relação entre a corrupção (ou a descoberta dela) com o assassinato do prefeito de Santo André? Independente das duas primeiras perguntas já terem encontradas suas respostas, talvez seja a terceira que nos mova nessa jornada. Dependendo da sua orientação politica, alguns detalhes vão te agradar, enquanto outros podem parecer tendenciosos demais, mas entenda: isso não pode ser visto como um problema, essa discussão faz parte daquele universo, já que o que não faltou nesse misterioso caso de assassinato foram contradições e discussões meramente políticas.

Então, se você gosta de crime e de politica, pode dar o play que sua diversão está garantida!

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O Caso Evandro

"O Caso Evandro" é uma das histórias mais impressionantes que você vai assistir, mesmo sendo (como eu) um devorador de minisséries e filmes de "true crime"! Para quem escutou o famoso podcast "Projetos Humanos" do jornalista Ivan Mizanzuk sobre o caso, certamente sua experiência será ainda mais especial - mas aqui vale a pena um comentário: a minissérie de nove episódios do Globoplay tem uma construção narrativa muito mais direta (até pelo tempo disponível para a produção) que, sozinha, entrega uma experiência das mais avassaladoras.

No dia 06 de Abril de 1992, na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, Evandro Ramos Caetano, um menino de apenas 6 anos de idade, desapareceu misteriosamente. Poucos dias depois, seu corpo foi encontrado sem as mãos, cabelos e vísceras. A suspeita era de que se tratava de um sacrifício em uma espécie de ritual satânico. Essa morte impactou os pais por todo o estado do Paraná, já que o Estado enfrentava um surto de crianças desaparecidas naquele momento. Com o passar dos dias, sete pessoas foram presas e confessaram que usaram Evandro em um ritual macabro. Mas o caso estava longe de ser encerrado, assim como a culpa daquelas pessoas estava longe de ser devidamente esclarecida em um ambiente que envolveu intolerância religiosa, disputas politicas, rivalidade entre as polícias Civil e Militar, além de um julgamento popular e midiático cruel. Confira o trailer:

Dirigida pelo talentoso Aly Muritiba com o apoio de Michelle Chevrand, a série sobre "O Caso Evandro" é uma montanha russa de emoções. Se no primeiro episódio temos a impressão que o tom narrativo está completamente desconectado do conceito visual imposto pelos diretores, a partir do segundo o que vemos é uma uma aula de storytelling. Com a presença essencial de Ivan Mizanzuk, Muritiba usa sua capacidade como também diretor de ficção para criar encenações (e até reconstituições) que provocam sentimentos e sensações muito particulares para um documentário - a própria maneira ele e Chevrand deixam Mizanzuk conduzir os fatos, ora como narrador, ora como especialista do caso, cria uma relação de proximidade com a história, como se tivesse em uma conversa entre amigos.

O nível da produção é altíssimo, digno das melhores séries de "true crime" da HBO ou da Netflix. Todas as inserções gráficas que servem de apoio à narrativa, facilitam nossa conexão imediata em uma linha do tempo bastante complexa, já que envolve muitos personagens e situações paralelas que tendem a nos tirar o foco do crime em si. Naturalmente, os diretores amarram todas (ou quase todas) as pontas usando diversas técnicas para contar a história - o momento em que eles chamam alguns dos personagens para apresentar uma nova prova sobre o caso tantos anos depois, é um ótimo exemplo desse domínio narrativo, digno de se aplaudir de pé.

O roteiro de Angelo Defanti, Arthur Warren, Ludmila Naves e Tainá Muhringer também merece elogios. Imagine a complexidade de adaptar mais de 40 horas de podcast em pouco menos de 9 horas de minissérie - e te garanto: eles não aliviam, o que transforma a jornada em algo um pouco indigesto. São muitos depoimentos, de vários personagens importantes, imagens de arquivo, áudios perturbadores; enfim, um primor de documentário com reviravoltas impressionantes.

Vale muito a pena!

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"O Caso Evandro" é uma das histórias mais impressionantes que você vai assistir, mesmo sendo (como eu) um devorador de minisséries e filmes de "true crime"! Para quem escutou o famoso podcast "Projetos Humanos" do jornalista Ivan Mizanzuk sobre o caso, certamente sua experiência será ainda mais especial - mas aqui vale a pena um comentário: a minissérie de nove episódios do Globoplay tem uma construção narrativa muito mais direta (até pelo tempo disponível para a produção) que, sozinha, entrega uma experiência das mais avassaladoras.

No dia 06 de Abril de 1992, na cidade de Guaratuba, no litoral do Paraná, Evandro Ramos Caetano, um menino de apenas 6 anos de idade, desapareceu misteriosamente. Poucos dias depois, seu corpo foi encontrado sem as mãos, cabelos e vísceras. A suspeita era de que se tratava de um sacrifício em uma espécie de ritual satânico. Essa morte impactou os pais por todo o estado do Paraná, já que o Estado enfrentava um surto de crianças desaparecidas naquele momento. Com o passar dos dias, sete pessoas foram presas e confessaram que usaram Evandro em um ritual macabro. Mas o caso estava longe de ser encerrado, assim como a culpa daquelas pessoas estava longe de ser devidamente esclarecida em um ambiente que envolveu intolerância religiosa, disputas politicas, rivalidade entre as polícias Civil e Militar, além de um julgamento popular e midiático cruel. Confira o trailer:

Dirigida pelo talentoso Aly Muritiba com o apoio de Michelle Chevrand, a série sobre "O Caso Evandro" é uma montanha russa de emoções. Se no primeiro episódio temos a impressão que o tom narrativo está completamente desconectado do conceito visual imposto pelos diretores, a partir do segundo o que vemos é uma uma aula de storytelling. Com a presença essencial de Ivan Mizanzuk, Muritiba usa sua capacidade como também diretor de ficção para criar encenações (e até reconstituições) que provocam sentimentos e sensações muito particulares para um documentário - a própria maneira ele e Chevrand deixam Mizanzuk conduzir os fatos, ora como narrador, ora como especialista do caso, cria uma relação de proximidade com a história, como se tivesse em uma conversa entre amigos.

O nível da produção é altíssimo, digno das melhores séries de "true crime" da HBO ou da Netflix. Todas as inserções gráficas que servem de apoio à narrativa, facilitam nossa conexão imediata em uma linha do tempo bastante complexa, já que envolve muitos personagens e situações paralelas que tendem a nos tirar o foco do crime em si. Naturalmente, os diretores amarram todas (ou quase todas) as pontas usando diversas técnicas para contar a história - o momento em que eles chamam alguns dos personagens para apresentar uma nova prova sobre o caso tantos anos depois, é um ótimo exemplo desse domínio narrativo, digno de se aplaudir de pé.

O roteiro de Angelo Defanti, Arthur Warren, Ludmila Naves e Tainá Muhringer também merece elogios. Imagine a complexidade de adaptar mais de 40 horas de podcast em pouco menos de 9 horas de minissérie - e te garanto: eles não aliviam, o que transforma a jornada em algo um pouco indigesto. São muitos depoimentos, de vários personagens importantes, imagens de arquivo, áudios perturbadores; enfim, um primor de documentário com reviravoltas impressionantes.

Vale muito a pena!

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O Caso Robinho

Jornalisticamente impactante e narrativamente bem estruturado - a partir daí, "O Caso Robinho" é um verdadeiro convite ao julgamento com base em fatos que realmente nos deixam com o estômago embrulhado. Essa produção Original Globoplay examina o polêmico caso de acusação de estupro coletivo envolvendo o ex-jogador brasileiro. Em quatro episódios, com cerca de trinta minutos cada, a minissérie explora os detalhes da investigação que levou ao julgamento de Robinho e de um "amigo", por violência sexual, abordando também os desdobramentos jurídicos, as implicações sociais e a reação pública em torno do caso. No entanto, e aqui vale o destaque, o que mais chama nossa atenção mesmo, são os áudios originais de conversas monitoradas pela polícia, do jogador com seus amigos, advogados e com sua mulher Vivian, assim que começaram as investigações na Itália - é como estivéssemos na posição de espiões e com tais informações fossemos conectando todas as peças na busca por uma resposta definitiva.

"O Caso Robinho" reconstitui os eventos a partir de depoimentos da própria vítima, que falou sobre o assunto pela primeira vez, mas também pelo olhar de especialistas, advogados, jornalistas e pessoas ligadas ao mundo do futebol, incluindo áudios e transcrições de mensagens que revelam o comportamento de Robinho e sua percepção sobre o caso. Esse material de arquivo, inclusive, é crucial para entender não apenas o ponto de vista da acusação e dos acusados, mas também a mentalidade do jogador e de seus amigos, destacando questões sensíveis de sexismo e poder que permeiam o caso. Os episódios são construídos de forma a nos guiar pelos principais momentos da investigação e dos processos legais, pré e pós julgamento, explorando não só as provas como os argumentos que embasaram a condenação do ex-atleta. 

Mesmo com a minissérie basicamente se apoiando em dois pilares, o depoimento da vítima e os áudios grampeados do telefone dos acusados, é notável como a direção é habilidosa em conduzir a narrativa com um ritmo capaz de sustentar a tensão e o interesse de quem assiste. "O Caso Robinho" não apenas descreve os eventos, mas também oferece contexto para entender o impacto do crime perante a sociedade e no meio esportivo, em um momento em que a discussão sobre violência contra a mulher está em pauta. Ao examinar as atitudes de Robinho e as reações de seu círculo social e profissional, os episódios vão, pouco a pouco, evidenciando como o futebol, no Brasil, ainda se encontra em um lugar privilegiado onde ídolos são frequentemente protegidos pela fama e pelo apoio de fanáticos, mesmo diante de provas tão claras e acusações tão graves.

Embora a produção conte com uma montagem cuidadosa que intercala cenas de arquivo, entrevistas e análises, criando uma narrativa de certo modo informativa pela perspectiva de quem está sendo investigado, é de se notar também que falta um pouco de imparcialidade no roteiro. Não que as provas não sejam fortes o suficiente para tal postura, mas a desconstrução de um fato que soa tão absoluto é sempre um bom e provocador caminho - basta lembrar de minisséries como "Elize Matsunaga: Era uma vez um crime", por exemplo. As entrevistas com advogados e jornalistas contribuem para a compreensão dos aspectos jurídicos do caso, claro, abordando os desafios e as complexidades de um julgamento internacional, mas existe sempre com o viés de acusação, nunca de defesa - é como se essa voz fosse apenas aquela que ouvimos nos áudios.

Veja, a escolha da Globoplay em explorar o caso Robinho reflete o compromisso da plataforma de streaming em abordar temas sensíveis e urgentes, como a violência sexual e a necessidade de responsabilização de figuras públicas, em documentários muito bem produzidos. Essa minissérie, como outros "Originais" já produzidos, nos faz entender a importância de discutir crimes contra mulher e como a cultura do silêncio ainda cerca alguns casos de violência, especialmente quando os acusados são pessoas de alto poder aquisitivo ou influência, porém, digo sempre: é preciso ir além do óbvio, mostrar os lados de forma equilibrada, e é nesse ponto que  sentimos que faltou algo aqui. "O Caso Robinho" é eficaz em trazer para os holofotes o peso das provas e a importância de manter um olhar crítico sobre figuras públicas que se acham acima do bem e do mal, é também curioso pela forma como decodifica as mensagens grampeadas em uma narrativa "true crime" realmente fluída que se posiciona contra o ex-atleta sem receio de parecer tendenciosa, mas peca por não se aprofundar em elementos que nos parece de igual importância: a participação de outras pessoas que também cometeram o crime naquela noite é um deles!

Vale seu play, embora fique uma sensação de que dava para entregar mais!

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Jornalisticamente impactante e narrativamente bem estruturado - a partir daí, "O Caso Robinho" é um verdadeiro convite ao julgamento com base em fatos que realmente nos deixam com o estômago embrulhado. Essa produção Original Globoplay examina o polêmico caso de acusação de estupro coletivo envolvendo o ex-jogador brasileiro. Em quatro episódios, com cerca de trinta minutos cada, a minissérie explora os detalhes da investigação que levou ao julgamento de Robinho e de um "amigo", por violência sexual, abordando também os desdobramentos jurídicos, as implicações sociais e a reação pública em torno do caso. No entanto, e aqui vale o destaque, o que mais chama nossa atenção mesmo, são os áudios originais de conversas monitoradas pela polícia, do jogador com seus amigos, advogados e com sua mulher Vivian, assim que começaram as investigações na Itália - é como estivéssemos na posição de espiões e com tais informações fossemos conectando todas as peças na busca por uma resposta definitiva.

"O Caso Robinho" reconstitui os eventos a partir de depoimentos da própria vítima, que falou sobre o assunto pela primeira vez, mas também pelo olhar de especialistas, advogados, jornalistas e pessoas ligadas ao mundo do futebol, incluindo áudios e transcrições de mensagens que revelam o comportamento de Robinho e sua percepção sobre o caso. Esse material de arquivo, inclusive, é crucial para entender não apenas o ponto de vista da acusação e dos acusados, mas também a mentalidade do jogador e de seus amigos, destacando questões sensíveis de sexismo e poder que permeiam o caso. Os episódios são construídos de forma a nos guiar pelos principais momentos da investigação e dos processos legais, pré e pós julgamento, explorando não só as provas como os argumentos que embasaram a condenação do ex-atleta. 

Mesmo com a minissérie basicamente se apoiando em dois pilares, o depoimento da vítima e os áudios grampeados do telefone dos acusados, é notável como a direção é habilidosa em conduzir a narrativa com um ritmo capaz de sustentar a tensão e o interesse de quem assiste. "O Caso Robinho" não apenas descreve os eventos, mas também oferece contexto para entender o impacto do crime perante a sociedade e no meio esportivo, em um momento em que a discussão sobre violência contra a mulher está em pauta. Ao examinar as atitudes de Robinho e as reações de seu círculo social e profissional, os episódios vão, pouco a pouco, evidenciando como o futebol, no Brasil, ainda se encontra em um lugar privilegiado onde ídolos são frequentemente protegidos pela fama e pelo apoio de fanáticos, mesmo diante de provas tão claras e acusações tão graves.

Embora a produção conte com uma montagem cuidadosa que intercala cenas de arquivo, entrevistas e análises, criando uma narrativa de certo modo informativa pela perspectiva de quem está sendo investigado, é de se notar também que falta um pouco de imparcialidade no roteiro. Não que as provas não sejam fortes o suficiente para tal postura, mas a desconstrução de um fato que soa tão absoluto é sempre um bom e provocador caminho - basta lembrar de minisséries como "Elize Matsunaga: Era uma vez um crime", por exemplo. As entrevistas com advogados e jornalistas contribuem para a compreensão dos aspectos jurídicos do caso, claro, abordando os desafios e as complexidades de um julgamento internacional, mas existe sempre com o viés de acusação, nunca de defesa - é como se essa voz fosse apenas aquela que ouvimos nos áudios.

Veja, a escolha da Globoplay em explorar o caso Robinho reflete o compromisso da plataforma de streaming em abordar temas sensíveis e urgentes, como a violência sexual e a necessidade de responsabilização de figuras públicas, em documentários muito bem produzidos. Essa minissérie, como outros "Originais" já produzidos, nos faz entender a importância de discutir crimes contra mulher e como a cultura do silêncio ainda cerca alguns casos de violência, especialmente quando os acusados são pessoas de alto poder aquisitivo ou influência, porém, digo sempre: é preciso ir além do óbvio, mostrar os lados de forma equilibrada, e é nesse ponto que  sentimos que faltou algo aqui. "O Caso Robinho" é eficaz em trazer para os holofotes o peso das provas e a importância de manter um olhar crítico sobre figuras públicas que se acham acima do bem e do mal, é também curioso pela forma como decodifica as mensagens grampeadas em uma narrativa "true crime" realmente fluída que se posiciona contra o ex-atleta sem receio de parecer tendenciosa, mas peca por não se aprofundar em elementos que nos parece de igual importância: a participação de outras pessoas que também cometeram o crime naquela noite é um deles!

Vale seu play, embora fique uma sensação de que dava para entregar mais!

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O Crime do Século

"O Crime do Século", sem a menor dúvida, é um olhar mais amplo, e dos mais perturbadores, sobre a epidemia dos opioides nos EUA. Se você gostou dos potentes "Dopesick" e "Império da Dor",além do emocionante "Prescrição Fatal", pode dar o play tranquilamente porque o que você vai encontrar nesse documentário em duas partes da HBO é um cenário ainda mais profundo sobre o absurdo que foi a comercialização dessas drogas por um viés social e politico que com certeza vai te impactar de verdade. Olha, é de embrulhar o estômago!

"O Crime do Século" apresenta uma acusação mordaz contra a indústria farmacêutica e as regulamentações governamentais que permitem a superprodução, distribuição imprudente e abuso de opioides sintéticos. Com a participação de testemunhas-chave de uma longa investigação, o filme explora as origens de uma das maiores tragédias de saúde pública da atualidade. Confira o trailer (em inglês):

Com uma abordagem técnica afiada, rica em detalhes artísticos e carregada de emoções intensas, o documentário dirigido pelo multi-premiado Alex Gibney (de "Um Táxi para a Escuridão" e "A Inventora"de fato exerce um impacto profundo na audiência, nos convidando a refletir sobre os complexos dilemas humanos e institucionais a cada nova subtrama. Mesmo que em um primeiro olhar, sua narrativa soe verborrágica, "O Crime do Século" não hesita em expor as entranhas do escândalo da crise de opioides, destacando a interconexão entre empresas farmacêuticas, prescrições médicas exageradas e pacientes viciados em analgésicos. A narrativa de Gibney é construída com maestria, alternando depoimentos de especialistas, sobreviventes da crise e profissionais da saúde, além de investigadores e jornalistas, criando um panorama abrangente e convincente dos eventos reais que assistimos em "Dopesick" e "Império da Dor". 

Equilibrando dados estatísticos com histórias importantes, a edição de Andy Grieve é muito inteligente em criar uma dinâmica bastante fluida entre as entrevistas feitas por Gibney, inúmeras (e surpreendentes) imagens de arquivo e aplicações gráficas belíssimas, o que resulta em uma experiência que ao mesmo tempo nos informa e nos comove. Repare como aescolha cuidadosa das imagens de arquivo contrastam com os recortes de documentos (normalmente e-mails ou gravações de telefone), evocando uma sensação angustiante e revoltante que captura a dor e a luta das vítimas da crise, com a ganância e ostentação de quem enriqueceu com a epidemia.

Ao longo de "O Crime do Século", nossas emoções oscilam entre a indignação e a tristeza, culminando em uma catarse emocional poderosa. A revolta diante da ganância corporativa e do sistema de saúde falho é acompanhada por um senso de urgência que nenhum politico foi capaz de entender, mesmo diante dos fatos - e nós sabemos a razão. O genial do documentário é que ele não se contenta em apenas expor o problema do OxyContin, da Purdue ou dos Sacklers, mas também nos apresenta um personagem que merece sua atenção: John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína.

Vale muito o seu play!

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"O Crime do Século", sem a menor dúvida, é um olhar mais amplo, e dos mais perturbadores, sobre a epidemia dos opioides nos EUA. Se você gostou dos potentes "Dopesick" e "Império da Dor",além do emocionante "Prescrição Fatal", pode dar o play tranquilamente porque o que você vai encontrar nesse documentário em duas partes da HBO é um cenário ainda mais profundo sobre o absurdo que foi a comercialização dessas drogas por um viés social e politico que com certeza vai te impactar de verdade. Olha, é de embrulhar o estômago!

"O Crime do Século" apresenta uma acusação mordaz contra a indústria farmacêutica e as regulamentações governamentais que permitem a superprodução, distribuição imprudente e abuso de opioides sintéticos. Com a participação de testemunhas-chave de uma longa investigação, o filme explora as origens de uma das maiores tragédias de saúde pública da atualidade. Confira o trailer (em inglês):

Com uma abordagem técnica afiada, rica em detalhes artísticos e carregada de emoções intensas, o documentário dirigido pelo multi-premiado Alex Gibney (de "Um Táxi para a Escuridão" e "A Inventora"de fato exerce um impacto profundo na audiência, nos convidando a refletir sobre os complexos dilemas humanos e institucionais a cada nova subtrama. Mesmo que em um primeiro olhar, sua narrativa soe verborrágica, "O Crime do Século" não hesita em expor as entranhas do escândalo da crise de opioides, destacando a interconexão entre empresas farmacêuticas, prescrições médicas exageradas e pacientes viciados em analgésicos. A narrativa de Gibney é construída com maestria, alternando depoimentos de especialistas, sobreviventes da crise e profissionais da saúde, além de investigadores e jornalistas, criando um panorama abrangente e convincente dos eventos reais que assistimos em "Dopesick" e "Império da Dor". 

Equilibrando dados estatísticos com histórias importantes, a edição de Andy Grieve é muito inteligente em criar uma dinâmica bastante fluida entre as entrevistas feitas por Gibney, inúmeras (e surpreendentes) imagens de arquivo e aplicações gráficas belíssimas, o que resulta em uma experiência que ao mesmo tempo nos informa e nos comove. Repare como aescolha cuidadosa das imagens de arquivo contrastam com os recortes de documentos (normalmente e-mails ou gravações de telefone), evocando uma sensação angustiante e revoltante que captura a dor e a luta das vítimas da crise, com a ganância e ostentação de quem enriqueceu com a epidemia.

Ao longo de "O Crime do Século", nossas emoções oscilam entre a indignação e a tristeza, culminando em uma catarse emocional poderosa. A revolta diante da ganância corporativa e do sistema de saúde falho é acompanhada por um senso de urgência que nenhum politico foi capaz de entender, mesmo diante dos fatos - e nós sabemos a razão. O genial do documentário é que ele não se contenta em apenas expor o problema do OxyContin, da Purdue ou dos Sacklers, mas também nos apresenta um personagem que merece sua atenção: John Kapoor, fundador da Insys Therapeutics e criador de um potente spray de fentanil - um opioide 50 vezes mais potente que a heroína.

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O Diabo no Tribunal

Mais pela sua história do que propriamente pela qualidade do documentário, "O Diabo no Tribunal" é um filme imperdível para aqueles que gostam de tramas impactantes na linha do sobrenatural e que se deliciaram com "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" - até porquê a história de um é a base do outro, naquela linha tênue entre o "true crime" e o "filme de horror". Aqui temos um mergulho dos mais intrigantes em uma atmosfera, de fato, obscura do mundo da possessão demoníaca - as imagens e gravações disponibilizadas pelo diretor Chris Holt (do elogiado "I, Sniper") são realmente impressionantes, contextualizando (e para muitos justificando) o notório caso de David Glatzel, Arne Cheyenne Johnson e o trágico assassinato de Alan Bono.

"The Devil on Trial" (no original) acompanha as investigações dos eventos assustadores que cercam o caso Glatzel-Johnson. O pesadelo começa no início da década de 1980 quando David Glatzel, um garoto de 11 anos, acredita ter sido possuído por uma entidade demoníaca. A situação, no entanto, toma um rumo ainda mais trágico quando Arne Cheyenne Johnson, cunhado de David, diz ser o novo hospedeiro da força sobrenatural e que por isso assassinou seu amigo, Alan Bono. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, o filme se destaca pelo tom assustador da sua narrativa que é 100% validado pela presença de quem realmente esteve envolvido no caso em todas as suas fases, incluindo o próprio David, seus irmãos (Alan e Carl), e até mesmo Arne. A partir de algumas gravações caseiras, com fotos e áudios que nunca antes foram mostrados ao público, as reconstituições com atores que recontam os eventos dão um ar de ficção para o documentário, mas o que mais nos provoca mesmo é o fato de sabermos que tudo aquilo é verdade - ou pelo menos que é a verdade que cada um tem para contar! "Existem pessoas que mentem. Mas eu sentei com o David, o Arne, o Alan e Carl por horas a fio e a história nunca mudou. Eu acho que eles estão me contando a verdade - mas é a interpretação deles da verdade, em vez de ser um fato consolidado. Mas eles acreditam, e eu também acredito, que o que dizem é verdadeiro", disse o diretor Chris Holt para a Variety na época do lançamento.

No entanto, e aí eu acho que "O Diabo no Tribunal" poderia ter ido um pouquinho mais longe, algumas questões vão sendo postas em dúvida. Para começar, o famoso casal Ed e Lorraine Warren, são tratados com certa superficialidade pelo roteiro. Veja, ao mesmo tempo que a participação e histórico da dupla de investigadores soem importantes, a veracidade de suas conquistas são colocadas a prova em todo momento - nem mesmo a rápida retrospectiva sobre eles e os depoimentos de seu neto, Chris McKinnell, ajudam a audiência a ter uma noção definitiva sobre as intenções dos Warren com o caso. Outro ponto que poderia ser melhor explorado (e não da forma "plot twist" que o roteiro propôs) é a relação de Judy Glatzel com seus filhos e marido - a dinâmica familiar me pareceu problemática, no entanto faltou um estilo mais "Making a Murderer" de abordagem.

Para finalizar, eu diria que "O Diabo no Tribunal" transcende as convenções dos documentários de true crime ao adicionar uma camada de horror que explora o impacto visceral da possessão demoníaca na vida daquelas pessoas. A habilidade do Chris Holt em equilibrar a recriação dos eventos com depoimentos reais e evidências que os Warren coletaram proporciona uma experiência mais autêntica e angustiante do que estamos acostumados encontrar no gênero. No entanto, minha única crítica fica pela falta de uma pesquisa mais minuciosa e não apenas na espetacularização dos fatos - essa estratégia narrativa instiga reflexões? Claro que sim, mas fica a sensação de que daria para ir além (sem trocadilhos).

Se você é curioso e gosta do assunto, seu entretenimento está garantido!

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Mais pela sua história do que propriamente pela qualidade do documentário, "O Diabo no Tribunal" é um filme imperdível para aqueles que gostam de tramas impactantes na linha do sobrenatural e que se deliciaram com "Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio" - até porquê a história de um é a base do outro, naquela linha tênue entre o "true crime" e o "filme de horror". Aqui temos um mergulho dos mais intrigantes em uma atmosfera, de fato, obscura do mundo da possessão demoníaca - as imagens e gravações disponibilizadas pelo diretor Chris Holt (do elogiado "I, Sniper") são realmente impressionantes, contextualizando (e para muitos justificando) o notório caso de David Glatzel, Arne Cheyenne Johnson e o trágico assassinato de Alan Bono.

"The Devil on Trial" (no original) acompanha as investigações dos eventos assustadores que cercam o caso Glatzel-Johnson. O pesadelo começa no início da década de 1980 quando David Glatzel, um garoto de 11 anos, acredita ter sido possuído por uma entidade demoníaca. A situação, no entanto, toma um rumo ainda mais trágico quando Arne Cheyenne Johnson, cunhado de David, diz ser o novo hospedeiro da força sobrenatural e que por isso assassinou seu amigo, Alan Bono. Confira o trailer:

Em um primeiro olhar, o filme se destaca pelo tom assustador da sua narrativa que é 100% validado pela presença de quem realmente esteve envolvido no caso em todas as suas fases, incluindo o próprio David, seus irmãos (Alan e Carl), e até mesmo Arne. A partir de algumas gravações caseiras, com fotos e áudios que nunca antes foram mostrados ao público, as reconstituições com atores que recontam os eventos dão um ar de ficção para o documentário, mas o que mais nos provoca mesmo é o fato de sabermos que tudo aquilo é verdade - ou pelo menos que é a verdade que cada um tem para contar! "Existem pessoas que mentem. Mas eu sentei com o David, o Arne, o Alan e Carl por horas a fio e a história nunca mudou. Eu acho que eles estão me contando a verdade - mas é a interpretação deles da verdade, em vez de ser um fato consolidado. Mas eles acreditam, e eu também acredito, que o que dizem é verdadeiro", disse o diretor Chris Holt para a Variety na época do lançamento.

No entanto, e aí eu acho que "O Diabo no Tribunal" poderia ter ido um pouquinho mais longe, algumas questões vão sendo postas em dúvida. Para começar, o famoso casal Ed e Lorraine Warren, são tratados com certa superficialidade pelo roteiro. Veja, ao mesmo tempo que a participação e histórico da dupla de investigadores soem importantes, a veracidade de suas conquistas são colocadas a prova em todo momento - nem mesmo a rápida retrospectiva sobre eles e os depoimentos de seu neto, Chris McKinnell, ajudam a audiência a ter uma noção definitiva sobre as intenções dos Warren com o caso. Outro ponto que poderia ser melhor explorado (e não da forma "plot twist" que o roteiro propôs) é a relação de Judy Glatzel com seus filhos e marido - a dinâmica familiar me pareceu problemática, no entanto faltou um estilo mais "Making a Murderer" de abordagem.

Para finalizar, eu diria que "O Diabo no Tribunal" transcende as convenções dos documentários de true crime ao adicionar uma camada de horror que explora o impacto visceral da possessão demoníaca na vida daquelas pessoas. A habilidade do Chris Holt em equilibrar a recriação dos eventos com depoimentos reais e evidências que os Warren coletaram proporciona uma experiência mais autêntica e angustiante do que estamos acostumados encontrar no gênero. No entanto, minha única crítica fica pela falta de uma pesquisa mais minuciosa e não apenas na espetacularização dos fatos - essa estratégia narrativa instiga reflexões? Claro que sim, mas fica a sensação de que daria para ir além (sem trocadilhos).

Se você é curioso e gosta do assunto, seu entretenimento está garantido!

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O Fotógrafo e o Carteiro

"O que é poder? Poder é ficar impune!" - Talvez a resposta do mega-empresário argentino Alfredo Yabrán tenha sido inocente ou uma armadilha para expor seu caráter, o fato é que essa frase define perfeitamente o que representa o documentário da Netflix, "O Fotógrafo e o Carteiro", que tem no seu subtítulo o tamanho da comoção que o assassinato do fotógrafo José Luiz Cabezas provocou no país. De fato foi "O Crime que Parou a Argentina"!

Em pouco mais de 90 minutos, acompanhamos a investigação sobre a morte de Cabezas. Sequestrado, torturado e assassinado, José foi morto um ano após ter feito a foto que tirou do anonimato Alfredo Yabrán, considerado um mafioso com forte influência no governo, acusado de utilizar suas empresas para o tráfico de drogas, de armas e lavagem de dinheiro. Por meio de material de arquivo e depoimentos, o documentário investiga o caso e reconstrói, passo a passo, o crime ocorrido em 1997. Confira o trailer (em espanhol):

Seguindo uma proposta narrativa que busca nas obras de "True Crime" dos EUA uma dinâmica narrativa mais envolvente, eu diria que "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" está mais para uma reportagem especial do Fantástico. Não falo isso com demérito algum, mas é claro que o trabalho do diretor argentino Alejandro Hartmann (o mesmo de "Quem Matou María Marta?") se apoia muito mais no jornalismo do que no entretenimento.

A forma como Hartmann constrói a linha do tempo, mesmo que não respeitando sua linearidade ao buscar no passado algumas explicações que poderiam ajudar no entendimento da audiência, é primorosa. Para nós brasileiros, pouco familiarizados com os bastidores da politica e da sociedade argentina, essa escolha do diretor cai como uma luva, pois facilmente entendemos o caso, reconhecemos seus personagens e suas motivações, mas, principalmente, nos envolvemos com a história - inclusive com muitas referências do caso PC Farias, além de aspectos narrativos que vi em "O Caso Celso Daniel" da Globoplay.

Era 27 de janeiro de 1997 quando encontraram o cadáver de Cabezas algemado e completamente carbonizado dentro de um carro em uma vala em um dos principais pontos turísticos do litoral portenho da época. A investigação que revelou esquemas de corrupção e atos de repressão à imprensa é o tema central do documentário, mas o que impressiona são os nomes envolvidos no caso que vão do ex-presidente Carlos Menem, passando pelo ex-ministro da economia do país, Domingo Cavallo, e do ex-governador de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, até chegar no nome de Alfredo Yabrán.

Para quem gosta de conspirações politicas, investigações jornalísticas e, claro, de um bom "true crime" sem o sensacionalismo da narrativa, "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" é uma curiosa e até surpreendente pedida!

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"O que é poder? Poder é ficar impune!" - Talvez a resposta do mega-empresário argentino Alfredo Yabrán tenha sido inocente ou uma armadilha para expor seu caráter, o fato é que essa frase define perfeitamente o que representa o documentário da Netflix, "O Fotógrafo e o Carteiro", que tem no seu subtítulo o tamanho da comoção que o assassinato do fotógrafo José Luiz Cabezas provocou no país. De fato foi "O Crime que Parou a Argentina"!

Em pouco mais de 90 minutos, acompanhamos a investigação sobre a morte de Cabezas. Sequestrado, torturado e assassinado, José foi morto um ano após ter feito a foto que tirou do anonimato Alfredo Yabrán, considerado um mafioso com forte influência no governo, acusado de utilizar suas empresas para o tráfico de drogas, de armas e lavagem de dinheiro. Por meio de material de arquivo e depoimentos, o documentário investiga o caso e reconstrói, passo a passo, o crime ocorrido em 1997. Confira o trailer (em espanhol):

Seguindo uma proposta narrativa que busca nas obras de "True Crime" dos EUA uma dinâmica narrativa mais envolvente, eu diria que "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" está mais para uma reportagem especial do Fantástico. Não falo isso com demérito algum, mas é claro que o trabalho do diretor argentino Alejandro Hartmann (o mesmo de "Quem Matou María Marta?") se apoia muito mais no jornalismo do que no entretenimento.

A forma como Hartmann constrói a linha do tempo, mesmo que não respeitando sua linearidade ao buscar no passado algumas explicações que poderiam ajudar no entendimento da audiência, é primorosa. Para nós brasileiros, pouco familiarizados com os bastidores da politica e da sociedade argentina, essa escolha do diretor cai como uma luva, pois facilmente entendemos o caso, reconhecemos seus personagens e suas motivações, mas, principalmente, nos envolvemos com a história - inclusive com muitas referências do caso PC Farias, além de aspectos narrativos que vi em "O Caso Celso Daniel" da Globoplay.

Era 27 de janeiro de 1997 quando encontraram o cadáver de Cabezas algemado e completamente carbonizado dentro de um carro em uma vala em um dos principais pontos turísticos do litoral portenho da época. A investigação que revelou esquemas de corrupção e atos de repressão à imprensa é o tema central do documentário, mas o que impressiona são os nomes envolvidos no caso que vão do ex-presidente Carlos Menem, passando pelo ex-ministro da economia do país, Domingo Cavallo, e do ex-governador de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, até chegar no nome de Alfredo Yabrán.

Para quem gosta de conspirações politicas, investigações jornalísticas e, claro, de um bom "true crime" sem o sensacionalismo da narrativa, "O Fotógrafo e o Carteiro: O crime que parou a Argentina" é uma curiosa e até surpreendente pedida!

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O Golpista do Tinder

"O Golpista do Tinder" é excelente, mas chega embrulhar o estômago! Eu diria até que o documentário é surpreendente, pela sua história bizarra e pela qualidade narrativa impressa pela diretora estreante Felicity Morris (que já havia produzido "Don't F**k with Cats: Uma Caçada Online"). O fato é que essa produção original da Netflix é uma mistura muito equilibrada de sucessos como "Fyre Festival" e "A Bad Boy Billionaires" com "Dirty John – O Golpe do Amor".

O filme tem uma premissa básica, acompanhar a história real de Simon Leviev, um prolífico vigarista conhecido por ganhar a confiança e aplicar golpes financeiros em várias mulheres que o conheceram pelo Tinder, a partir dos relatos de suas próprias vítimas. Confira o trailer:

Talvez o grande mérito de "O Golpista do Tinder" tenha sido humanizar uma história que para muitos pode parecer absurda (ou um ato de ingenuidade) com tantas ferramentas e informações que temos hoje em dia para nos proteger. Veja, quando Marcelo Nascimento da Rocha se passou por Henrique Constantino, filho do fundador daGole deu entrevista para Amaury Jr. falando (olha a cara de pau) dos planos de expansão da empresa aérea no meio de um famoso camarote do carnaval de Salvador, os tempos eram outros - era quase impossível validar uma informação (ou uma identidade) tão rapidamente para evitar o constrangimento de dar voz para um picareta. Hoje não, bastam alguns cliques e temos praticamente todas as informações que precisamos antes de conhecer uma pessoa pessoalmente - e mesmo assim histórias como essa continuam a se repetir.

Isso só mostra como Simon Leviev era profissional (além de doente). Partindo do principio que não é fácil achar o "amor da vida online", Cecilie (que teve mais de mil "matches" pelo app) mal conseguia acreditar quando encontrou um playboy boa pinta e bilionário que, de cara, se interessou por ela. Seu depoimento é tão sincero quanto desafiador - já que é impossível, sentado no sofá e sem conhecer profundamente o contexto de vida da vítima, não julgar suas atitudes desde o primeiro momento. Muito bem montado pelo premiado Julian Hart (Fórmula 1: Dirigir para Viver) e com um roteiro redondinho de Morris, "O Golpista do Tinder" vai construindo uma linha temporal coerente e dinâmica, usando de vários elementos narrativos muito pessoais para ilustrar os depoimentos das vitimas como mensagens de WhatsApp, ligações telefônicas, fotos do Instagram, etc.

Do depoimento da vítimas até a descoberta do golpe e o envolvimento da imprense norueguesa,"O Golpista do Tinder" constrói um conto de fadas, montando um verdadeiro palácio com cartas de baralho que depois simplesmente desmoronam - o interessante é que esse processo levou tempo e o documentário é muito feliz em nos posicionar nessa jornada a partir do desespero das vitimas perante as descobertas e do cinismo com que o golpista fortalecia suas relações. Aliás, esse cinismo é tão provocador que nos sentimos insultados pelas vitimas, impactando diretamente na nossa experiência ao assistir as quase duas horas de filme.

Olha, o que eu posso dizer é que vale muito a pena o seu play, mas o sentimento quando subirem os créditos não será dos mais agradáveis. Você vai entender!

Ah, e antes de finalizar, olhe são essa história: Em dezembro de 2020, Simon fingiu ser um paramédico para furar a fila das vacinas e ser imunizado contra a Covid-19. Em uma entrevista à emissora israelense Channel 12, ele comentou: “Não sou alguém que costuma esperar em filas”! 

Sem comentários!

Assista Agora

"O Golpista do Tinder" é excelente, mas chega embrulhar o estômago! Eu diria até que o documentário é surpreendente, pela sua história bizarra e pela qualidade narrativa impressa pela diretora estreante Felicity Morris (que já havia produzido "Don't F**k with Cats: Uma Caçada Online"). O fato é que essa produção original da Netflix é uma mistura muito equilibrada de sucessos como "Fyre Festival" e "A Bad Boy Billionaires" com "Dirty John – O Golpe do Amor".

O filme tem uma premissa básica, acompanhar a história real de Simon Leviev, um prolífico vigarista conhecido por ganhar a confiança e aplicar golpes financeiros em várias mulheres que o conheceram pelo Tinder, a partir dos relatos de suas próprias vítimas. Confira o trailer:

Talvez o grande mérito de "O Golpista do Tinder" tenha sido humanizar uma história que para muitos pode parecer absurda (ou um ato de ingenuidade) com tantas ferramentas e informações que temos hoje em dia para nos proteger. Veja, quando Marcelo Nascimento da Rocha se passou por Henrique Constantino, filho do fundador daGole deu entrevista para Amaury Jr. falando (olha a cara de pau) dos planos de expansão da empresa aérea no meio de um famoso camarote do carnaval de Salvador, os tempos eram outros - era quase impossível validar uma informação (ou uma identidade) tão rapidamente para evitar o constrangimento de dar voz para um picareta. Hoje não, bastam alguns cliques e temos praticamente todas as informações que precisamos antes de conhecer uma pessoa pessoalmente - e mesmo assim histórias como essa continuam a se repetir.

Isso só mostra como Simon Leviev era profissional (além de doente). Partindo do principio que não é fácil achar o "amor da vida online", Cecilie (que teve mais de mil "matches" pelo app) mal conseguia acreditar quando encontrou um playboy boa pinta e bilionário que, de cara, se interessou por ela. Seu depoimento é tão sincero quanto desafiador - já que é impossível, sentado no sofá e sem conhecer profundamente o contexto de vida da vítima, não julgar suas atitudes desde o primeiro momento. Muito bem montado pelo premiado Julian Hart (Fórmula 1: Dirigir para Viver) e com um roteiro redondinho de Morris, "O Golpista do Tinder" vai construindo uma linha temporal coerente e dinâmica, usando de vários elementos narrativos muito pessoais para ilustrar os depoimentos das vitimas como mensagens de WhatsApp, ligações telefônicas, fotos do Instagram, etc.

Do depoimento da vítimas até a descoberta do golpe e o envolvimento da imprense norueguesa,"O Golpista do Tinder" constrói um conto de fadas, montando um verdadeiro palácio com cartas de baralho que depois simplesmente desmoronam - o interessante é que esse processo levou tempo e o documentário é muito feliz em nos posicionar nessa jornada a partir do desespero das vitimas perante as descobertas e do cinismo com que o golpista fortalecia suas relações. Aliás, esse cinismo é tão provocador que nos sentimos insultados pelas vitimas, impactando diretamente na nossa experiência ao assistir as quase duas horas de filme.

Olha, o que eu posso dizer é que vale muito a pena o seu play, mas o sentimento quando subirem os créditos não será dos mais agradáveis. Você vai entender!

Ah, e antes de finalizar, olhe são essa história: Em dezembro de 2020, Simon fingiu ser um paramédico para furar a fila das vacinas e ser imunizado contra a Covid-19. Em uma entrevista à emissora israelense Channel 12, ele comentou: “Não sou alguém que costuma esperar em filas”! 

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