"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.
Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida.
Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.
Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).
O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.
O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.
Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!
No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!
O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.
O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.
"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!
"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.
Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida.
Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.
Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).
O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.
O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.
Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!
No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!
O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.
O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.
"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!
Dois países europeus vem me chamando ainda mais atenção ultimamente devido suas produções de altíssima qualidade e, principalmente, pela qualidade dos roteiros, são eles: Espanha e Alemanha. "Nada Ortodoxa" é mais um achado da Netflix - uma minissérie alemã com apenas 4 episódios de 50 minutos que nos tira completamente da zona de conforto enquanto assistimos. Baseada no no best-seller “Unorthodox: The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots” (de Deborah Feldman), acompanhamos a jornada de libertação de Esther Shapiro (Shira Haas) uma judia hassídica que vivia em Williamsburg, Brooklyn, sob os rígidos costumes de numa comunidade fundamentada na crença de que os judeus devem viver à parte da sociedade, obedecendo regras religiosas ultra-conservadoras, onde as mulheres têm a única função de ter muitos filhos para substituir os 6 milhões de mortos no Holocausto. Confira o trailer:
"Nada Ortodoxa" tem muitas qualidades, mas sem dúvida nenhuma a construção de um linha narrativa que nos convida a lidar com o conflito da protagonista dividida entre a obrigação de uma vida enraizada nos costumes e hábitos de uma das células ultra-ortodoxas do judaísmo contra a oportunidade de viver sua juventude, ir atrás dos seus sonhos e, claro, experimentar tudo que uma cidade moderna e pulsante como Berlin pode oferecer. O choque de culturas visto pelos olhos de uma excelente atriz como a israelense Shira Haas (guardem esse nome) transforma uma história que pode parecer simples e batida em uma ótima opção de entretenimento e reflexão! Vale muito a pena mesmo! Golaço da Netflix!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Nada Ortodoxa" não tem a intenção de discutir religião, muito pelo contrário, é perceptível a preocupação da ótima diretora alemã Maria Schrader em expor uma realidade sem a necessidade de pré-julgamentos. Ela mostra, com muito cuidado, hábitos e costumes de uma comunidade patriarcal, extremamente machista, que tem castrado as mulheres durante séculos em nome de uma ideologia religiosa - por mais que isso possa nos incomodar (e incomoda!), a relação dentro dessa comunidade não parece aflitiva para outros personagens femininos. A própria Esther assume ser diferente para o marido, Yakov Shapiro (Amit Rahav) - outra vitima de sua descendência! O roteiro ainda acerta ao expôr a imaturidade de Yakov em momentos chave da história: da sua insegurança ao se relacionar sexualmente com a esposa até a incapacidade de entender que existe um mundo além Williamsburg - inclusive com internet!
A relação emocional que Esther tem com a música nos move durante os episódios, mas não se apeguem a isso - não por ser desinteressante, mas por existir um conflito muito maior dentro da protagonista. A montagem intercala sua jornada atual com flashbacks que constroem a motivação de Esther até sua decisão de fugir dos EUA! A fotografia do Wolfgang Thaler está tão alinhada com os sentimentos dela, que chega emocionar - reparem na cena em que ela entra no lago e tira a peruca - lido de ver e sentir! Se as cenas em Williamsbur são mais claustrofóbicas, os planos em Berlin são mais abertos, amplos, coloridos! O elenco está sensacional - e aqui eu faço um convite: assistam os 20 minutos de "making-of" que a Netflix sugere ao final do último episódio da minissérie - todo o esforço do Design de Produção, da Maquiagem, Cabelo, Fotografia e do próprio Elenco são bem documentados e fica fácil entender porque a minissérie deve ir bem na temporada de premiação em 2020. Shira Haas, por exemplo, deve aparecer como uma grande descoberta do ano - que trabalho magnífico que ela fez. O próprio Amit Rahav e Jeff Wilbusch (Moische Lefkovitch) também dão um show!
Olha, "Nada Ortodoxa" é uma minissérie que vai sofrer uma enorme pressão para se tornar série - seria um erro, mesmo tendo deixado alguns ganhos abertos! O que vemos em 4 episódios justificam os elogios que a produção vem recebendo da crítica. É uma história mais parada, de fato, mas nem por isso é chata ou daquelas que dão sono. O ponto de tensão está na expectativa do que vai acontecer com a protagonista quando seu marido encontrar ela em Berlin - essa angústia nos acompanha durante toda a jornada. Dito isso, eu sugiro "Nada Ortodoxa" para aqueles que se identificam com dramas de relação ao estilo "História de um Casamento" - não pela similaridade da história, mas pela cadência narrativa e pelos conflitos emocionais.
Vale muito a pena!!!!!
Dois países europeus vem me chamando ainda mais atenção ultimamente devido suas produções de altíssima qualidade e, principalmente, pela qualidade dos roteiros, são eles: Espanha e Alemanha. "Nada Ortodoxa" é mais um achado da Netflix - uma minissérie alemã com apenas 4 episódios de 50 minutos que nos tira completamente da zona de conforto enquanto assistimos. Baseada no no best-seller “Unorthodox: The Scandalous Rejection of My Hasidic Roots” (de Deborah Feldman), acompanhamos a jornada de libertação de Esther Shapiro (Shira Haas) uma judia hassídica que vivia em Williamsburg, Brooklyn, sob os rígidos costumes de numa comunidade fundamentada na crença de que os judeus devem viver à parte da sociedade, obedecendo regras religiosas ultra-conservadoras, onde as mulheres têm a única função de ter muitos filhos para substituir os 6 milhões de mortos no Holocausto. Confira o trailer:
"Nada Ortodoxa" tem muitas qualidades, mas sem dúvida nenhuma a construção de um linha narrativa que nos convida a lidar com o conflito da protagonista dividida entre a obrigação de uma vida enraizada nos costumes e hábitos de uma das células ultra-ortodoxas do judaísmo contra a oportunidade de viver sua juventude, ir atrás dos seus sonhos e, claro, experimentar tudo que uma cidade moderna e pulsante como Berlin pode oferecer. O choque de culturas visto pelos olhos de uma excelente atriz como a israelense Shira Haas (guardem esse nome) transforma uma história que pode parecer simples e batida em uma ótima opção de entretenimento e reflexão! Vale muito a pena mesmo! Golaço da Netflix!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Nada Ortodoxa" não tem a intenção de discutir religião, muito pelo contrário, é perceptível a preocupação da ótima diretora alemã Maria Schrader em expor uma realidade sem a necessidade de pré-julgamentos. Ela mostra, com muito cuidado, hábitos e costumes de uma comunidade patriarcal, extremamente machista, que tem castrado as mulheres durante séculos em nome de uma ideologia religiosa - por mais que isso possa nos incomodar (e incomoda!), a relação dentro dessa comunidade não parece aflitiva para outros personagens femininos. A própria Esther assume ser diferente para o marido, Yakov Shapiro (Amit Rahav) - outra vitima de sua descendência! O roteiro ainda acerta ao expôr a imaturidade de Yakov em momentos chave da história: da sua insegurança ao se relacionar sexualmente com a esposa até a incapacidade de entender que existe um mundo além Williamsburg - inclusive com internet!
A relação emocional que Esther tem com a música nos move durante os episódios, mas não se apeguem a isso - não por ser desinteressante, mas por existir um conflito muito maior dentro da protagonista. A montagem intercala sua jornada atual com flashbacks que constroem a motivação de Esther até sua decisão de fugir dos EUA! A fotografia do Wolfgang Thaler está tão alinhada com os sentimentos dela, que chega emocionar - reparem na cena em que ela entra no lago e tira a peruca - lido de ver e sentir! Se as cenas em Williamsbur são mais claustrofóbicas, os planos em Berlin são mais abertos, amplos, coloridos! O elenco está sensacional - e aqui eu faço um convite: assistam os 20 minutos de "making-of" que a Netflix sugere ao final do último episódio da minissérie - todo o esforço do Design de Produção, da Maquiagem, Cabelo, Fotografia e do próprio Elenco são bem documentados e fica fácil entender porque a minissérie deve ir bem na temporada de premiação em 2020. Shira Haas, por exemplo, deve aparecer como uma grande descoberta do ano - que trabalho magnífico que ela fez. O próprio Amit Rahav e Jeff Wilbusch (Moische Lefkovitch) também dão um show!
Olha, "Nada Ortodoxa" é uma minissérie que vai sofrer uma enorme pressão para se tornar série - seria um erro, mesmo tendo deixado alguns ganhos abertos! O que vemos em 4 episódios justificam os elogios que a produção vem recebendo da crítica. É uma história mais parada, de fato, mas nem por isso é chata ou daquelas que dão sono. O ponto de tensão está na expectativa do que vai acontecer com a protagonista quando seu marido encontrar ela em Berlin - essa angústia nos acompanha durante toda a jornada. Dito isso, eu sugiro "Nada Ortodoxa" para aqueles que se identificam com dramas de relação ao estilo "História de um Casamento" - não pela similaridade da história, mas pela cadência narrativa e pelos conflitos emocionais.
Vale muito a pena!!!!!
Se você gosta de "This is Us" você vai gostar de "Não me diga adeus", até porquê a roteirista por trás do filme é uma das produtoras com maior número de créditos de toda a série, ou seja, você que conhece o drama da família Pearson que Vera Herbert construiu, já sabe exatamente o que esperar da jornada da família Park aqui. Porém, antes de mais nada é preciso dizer: sim, existe uma carga dramática elevada, porém o roteiro é muito inteligente em criar uma dinâmica que se apropria da relação amorosa e protetora de um pai com sua filha transformando a trama em algo mais leve e emocionante, sem aquele sentimento dolorido e devastador como em "Alabama Monroe", por exemplo.
"Don't Make Me Go" (no original) acompanha um pai solteiro, Max (John Cho), e sua filha adolescente, Wally (Mia Isaac), enquanto partem em uma empolgante viagem pelo interior dos EUA, descobrindo novas camadas de seu amor um pelo outro e as reviravoltas inesperadas que a vida os reserva. Confira o trailer (em inglês):
Existem alguns elementos interessantes em "Não me diga adeus" que nos impactam logo de cara e, sem a menor dúvida, nos geram uma enorme empatia pela relação entre os protagonistas. Veja, apesar do foco parecer estar a todo momento com Max e nas difíceis decisões que ele precisa tomar, todo o filme é descrito pela ótica de sua filha, Wally - e é ela, inclusive, que narra toda a história e já no início nos adverte que "não iremos gostar do fim, mas sim da jornada!"
Em vinte minutos de filme somos jogados no drama de Max e na necessidade de encontrar um lugar seguro para sua filha após ser diagnosticado com câncer - mas não se preocupe, isso não é spoiler e sim o gatilho para tudo que virá a seguir. O ponto alto da experiência de assistir "Não me diga adeus" não está na espetacularização da doença e sim nas diversas situações curiosamente engraçadas ou constrangedoras que inicialmente podem até parecer forçadas, mas que são apresentadas de uma maneira extremamente plausível e natural, ratificando o comentário de Wally em sua narração inicial. A jovem diretora Hannah Marks (nomeada pela Rolling Stone em 2017 como uma das artistas com menos de 25 anos capaz de "mudar o mundo") foi muito feliz em trabalhar com muita sensibilidade as descobertas de uma relação entre um pai solteiro e sua filha adolescente - para um pai de menina como eu, é de encher o coração!
Mas nem tudo são flores. De fato existem alguns exageros, principalmente de Mia Isaac, que poderiam ser melhor conduzidos por Marks - o terceiro ato tem uma ou duas cenas que destoam do restante do filme, inclusive por menosprezar a percepção da audiência. Já Cho, como sempre, entrega um personagem contido, introspectivo e muito, mas muito, humano. A excelente trilha sonora de Jessica Rose Weiss (de "Cinderella") e a fotografia cirúrgica de Jaron Presant (de "Mr. Corman") ajudam a criar uma atmosfera nostálgica e emotiva (como em "This is Us", inclusive) que mexe com a gente de verdade.
"Não me diga adeus" é um excelente entretenimento!
Se você gosta de "This is Us" você vai gostar de "Não me diga adeus", até porquê a roteirista por trás do filme é uma das produtoras com maior número de créditos de toda a série, ou seja, você que conhece o drama da família Pearson que Vera Herbert construiu, já sabe exatamente o que esperar da jornada da família Park aqui. Porém, antes de mais nada é preciso dizer: sim, existe uma carga dramática elevada, porém o roteiro é muito inteligente em criar uma dinâmica que se apropria da relação amorosa e protetora de um pai com sua filha transformando a trama em algo mais leve e emocionante, sem aquele sentimento dolorido e devastador como em "Alabama Monroe", por exemplo.
"Don't Make Me Go" (no original) acompanha um pai solteiro, Max (John Cho), e sua filha adolescente, Wally (Mia Isaac), enquanto partem em uma empolgante viagem pelo interior dos EUA, descobrindo novas camadas de seu amor um pelo outro e as reviravoltas inesperadas que a vida os reserva. Confira o trailer (em inglês):
Existem alguns elementos interessantes em "Não me diga adeus" que nos impactam logo de cara e, sem a menor dúvida, nos geram uma enorme empatia pela relação entre os protagonistas. Veja, apesar do foco parecer estar a todo momento com Max e nas difíceis decisões que ele precisa tomar, todo o filme é descrito pela ótica de sua filha, Wally - e é ela, inclusive, que narra toda a história e já no início nos adverte que "não iremos gostar do fim, mas sim da jornada!"
Em vinte minutos de filme somos jogados no drama de Max e na necessidade de encontrar um lugar seguro para sua filha após ser diagnosticado com câncer - mas não se preocupe, isso não é spoiler e sim o gatilho para tudo que virá a seguir. O ponto alto da experiência de assistir "Não me diga adeus" não está na espetacularização da doença e sim nas diversas situações curiosamente engraçadas ou constrangedoras que inicialmente podem até parecer forçadas, mas que são apresentadas de uma maneira extremamente plausível e natural, ratificando o comentário de Wally em sua narração inicial. A jovem diretora Hannah Marks (nomeada pela Rolling Stone em 2017 como uma das artistas com menos de 25 anos capaz de "mudar o mundo") foi muito feliz em trabalhar com muita sensibilidade as descobertas de uma relação entre um pai solteiro e sua filha adolescente - para um pai de menina como eu, é de encher o coração!
Mas nem tudo são flores. De fato existem alguns exageros, principalmente de Mia Isaac, que poderiam ser melhor conduzidos por Marks - o terceiro ato tem uma ou duas cenas que destoam do restante do filme, inclusive por menosprezar a percepção da audiência. Já Cho, como sempre, entrega um personagem contido, introspectivo e muito, mas muito, humano. A excelente trilha sonora de Jessica Rose Weiss (de "Cinderella") e a fotografia cirúrgica de Jaron Presant (de "Mr. Corman") ajudam a criar uma atmosfera nostálgica e emotiva (como em "This is Us", inclusive) que mexe com a gente de verdade.
"Não me diga adeus" é um excelente entretenimento!
"Nasce uma Estrela" começa com um jeitão de comédia romântica, meio que no estilo "Nothing Hill" sabe?!!! Vem com aquela levada de "conto de fadas moderno" adaptada para universo da música, onde o Pop Star (famoso, rico e bonito) se apaixona pela garota normal, mas muito talentosa, que canta nos bares da noite após dar um duro danado durante o dia inteiro, aguentando o chefe idiota e a difícil batalha cotidiana da vida normal!!! Sim, eu sei que, pela rápida sinopse, parece o típico filme "Sessão da Tarde" que já cansamos de assistir... mas, te garanto, a superficialidade do enredo acaba justamente por aí, ou melhor, ela vai se transformando em algo muito mais intenso!!!
"Nasce uma Estrela" tem o mérito de revisitar uma história que já foi contada no cinema pelo menos três vezes, mas vem com um novo olhar e, principalmente, com uma sensibilidade muito interessante, diferente. Com o desenrolar do filme, vamos sendo apresentados às várias camadas dos personagens e das situações que os rodeiam e conforme você vai conhecendo cada uma delas, vai se aprofundando e entendendo dramas mais complexos do que parecem - aí fica fácil perceber porque ganhou mais de 50 prêmios em Festivais ao redor do Mundo e porque está indicado em 8 categorias do Oscar, inclusive como melhor filme!!!
O Filme traz em primeiro plano o sonho de um amor improvável, da imperdível chance de mostrar um talento escondido, mas logo trás à tona o drama do alcoolismo, da insegurança da perda de personalidade. Ao mesmo tempo que trás a sedução do sucesso, mostra o constrangimento do fracasso. Fala sobre cumplicidade familiar, mas também escancara as feridas de um passado marcado por decepções. O genial é que tudo isso está personificado nos dois personagens principais e em duas excelentes atuações: Bradley Cooper como Jack e Lady Gaga como Allie - aliás, Lady Gaga foi uma notável surpresa... a primeira cena dela mostra até um pouco de insegurança, mas depois ela vai ganhando força, encontrando o caminho, o tom certo! Já o Bradley Cooper, talvez tenha feito o melhor papel dele.
"Nasce uma Estrela" ainda tem "Shallow" concorrendo como Melhor Canção (e tem tudo para levar), Melhor Edição de Som (esquece) , Melhor Roteiro Adaptado (aqui também pode levar), Melhor Fotografia (duvido) e Melhor Ator Coadjuvante, com o também excelente Sam Elliott (que corre por fora, mas não seria uma surpresa se levasse). Uma categoria que senti falta na indicação foi a de Melhor Diretor - talvez por puro preconceito. Bradley Cooper fez um excelente trabalho, foi indicado em todos os prêmios até agora e, para mim, foi até melhor que o Bryan Singer em Bohemian Rhapsody, principalmente nas cenas de palco onde a comparação é inevitável. Está certo que são câmeras diferentes: a do Cooper é mais solta, mais orgânica; a do Singer, é mais fixa, ensaiada, porém muito inventiva - pessoalmente, gosto mais da escolha do Cooper: tem uns planos sequência, onde ele deixa aquele flare das luzes do palco interferirem na lente no meio da narrativa, de uma forma tão natural, que fica lindo!!!
Enfim, "Nasce uma Estrela" é um filme que transita por um universo bastante seguro, porque é praticamente impossível, quem assiste, não se importar (e não sofrer) com a história da protagonista. Cooper sabia disso e conduziu a história de uma maneira bem bacana - tecnicamente é muito bem realizado - até melhor que Bohemian.
Olha, é um excelente entretenimento, fácil de se emocionar!
Up-date: "Nasce uma Estrela" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Canção!
"Nasce uma Estrela" começa com um jeitão de comédia romântica, meio que no estilo "Nothing Hill" sabe?!!! Vem com aquela levada de "conto de fadas moderno" adaptada para universo da música, onde o Pop Star (famoso, rico e bonito) se apaixona pela garota normal, mas muito talentosa, que canta nos bares da noite após dar um duro danado durante o dia inteiro, aguentando o chefe idiota e a difícil batalha cotidiana da vida normal!!! Sim, eu sei que, pela rápida sinopse, parece o típico filme "Sessão da Tarde" que já cansamos de assistir... mas, te garanto, a superficialidade do enredo acaba justamente por aí, ou melhor, ela vai se transformando em algo muito mais intenso!!!
"Nasce uma Estrela" tem o mérito de revisitar uma história que já foi contada no cinema pelo menos três vezes, mas vem com um novo olhar e, principalmente, com uma sensibilidade muito interessante, diferente. Com o desenrolar do filme, vamos sendo apresentados às várias camadas dos personagens e das situações que os rodeiam e conforme você vai conhecendo cada uma delas, vai se aprofundando e entendendo dramas mais complexos do que parecem - aí fica fácil perceber porque ganhou mais de 50 prêmios em Festivais ao redor do Mundo e porque está indicado em 8 categorias do Oscar, inclusive como melhor filme!!!
O Filme traz em primeiro plano o sonho de um amor improvável, da imperdível chance de mostrar um talento escondido, mas logo trás à tona o drama do alcoolismo, da insegurança da perda de personalidade. Ao mesmo tempo que trás a sedução do sucesso, mostra o constrangimento do fracasso. Fala sobre cumplicidade familiar, mas também escancara as feridas de um passado marcado por decepções. O genial é que tudo isso está personificado nos dois personagens principais e em duas excelentes atuações: Bradley Cooper como Jack e Lady Gaga como Allie - aliás, Lady Gaga foi uma notável surpresa... a primeira cena dela mostra até um pouco de insegurança, mas depois ela vai ganhando força, encontrando o caminho, o tom certo! Já o Bradley Cooper, talvez tenha feito o melhor papel dele.
"Nasce uma Estrela" ainda tem "Shallow" concorrendo como Melhor Canção (e tem tudo para levar), Melhor Edição de Som (esquece) , Melhor Roteiro Adaptado (aqui também pode levar), Melhor Fotografia (duvido) e Melhor Ator Coadjuvante, com o também excelente Sam Elliott (que corre por fora, mas não seria uma surpresa se levasse). Uma categoria que senti falta na indicação foi a de Melhor Diretor - talvez por puro preconceito. Bradley Cooper fez um excelente trabalho, foi indicado em todos os prêmios até agora e, para mim, foi até melhor que o Bryan Singer em Bohemian Rhapsody, principalmente nas cenas de palco onde a comparação é inevitável. Está certo que são câmeras diferentes: a do Cooper é mais solta, mais orgânica; a do Singer, é mais fixa, ensaiada, porém muito inventiva - pessoalmente, gosto mais da escolha do Cooper: tem uns planos sequência, onde ele deixa aquele flare das luzes do palco interferirem na lente no meio da narrativa, de uma forma tão natural, que fica lindo!!!
Enfim, "Nasce uma Estrela" é um filme que transita por um universo bastante seguro, porque é praticamente impossível, quem assiste, não se importar (e não sofrer) com a história da protagonista. Cooper sabia disso e conduziu a história de uma maneira bem bacana - tecnicamente é muito bem realizado - até melhor que Bohemian.
Olha, é um excelente entretenimento, fácil de se emocionar!
Up-date: "Nasce uma Estrela" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Canção!
"O Acontecimento" é um drama pesadíssimo, visceral eu diria! A jornada que começa amena, quase juvenil, vai ganhando força e brutalidade até alcançar o seu ápice no terceiro ato. Sim, durante os mais de 90 minutos de filme, em vários momentos você sentirá a dor da protagonista - e aqui eu não falo apenas da dor física, embora ela exista e seja brilhantemente retratada pela diretora Audrey Diwan (de "À Beira da Loucura "); eu falo daquela dor na alma que nos tira do eixo, que nos faz refletir sobre o outro - algo como vimos recentemente em “Pieces of a Woman”, por exemplo.
O filme conta a história de Anne (Anamaria Vartolomei), uma jovem garota que engravida e que simplesmente não quer e não pode ter aquela criança, já que seu futuro brilhante seria comprometido. No entanto, na França dos anos 1960, o direito ao aborto ainda não existia. Pelo contrário: qualquer um que praticasse o aborto, tanto a mulher quanto o médico, seria preso. Anne então precisa correr contra o tempo para encontrar uma solução antes de colocar sua própria vida em risco. Confira o trailer:
Essa produção francesa chega ao streaming chancelada pelo "Golden Lion" e pelo "FIPRESCI Prize" no Festival de Veneza em 2021. Além de uma carreira internacional de respeito, "O Acontecimento" ainda rendeu muitos elogios da crítica especializada e do público, o que coloca o filme naquela disputada prateleira de grandes surpresas do ano. E não é para menos, de fato "L'événement" (no original) impressiona ao se aprofundar de uma maneira muito cruel no realismo de uma situação tão atual que nem nos damos conta que o filme se passa na década de 60.
Graças ao aspecto 4:3 (aquele mais quadrado das TVs de tubo de antigamente) em que foi filmado, a diretora é capaz de provocar sensações das mais desagradáveis para audiência - essa escolha conceitual incomoda muito, gera uma certa percepção de angústia, de opressão, de limite. Curiosamente, a história da protagonista, ou seja, o "conteúdo" do filme, está completamente alinhado à "forma" com que presenciamos o seu sofrimento. A jornada de Anne é dura, solitária demais - chega a ser impressionante como a atriz Anamaria Vartolomei encontra o tom certo, introspectivo, para lidar com suas decisões e consequências. A cena em Anne tenta fazer o aborto por si só, por exemplo, é simplesmente desesperadora, além de impactante.
Baseado no aclamado livro de Annie Ernaux, o que vemos na tela é um adaptação extremamente autoral e de altíssima qualidade cinematográfica. "O Acontecimento" é cadenciado, sem nenhuma ação aparente, até repetitivo em alguns momentos, mas com o tempo se apropria de uma verdadeira experiência sensorial para entregar um mergulho no íntimo da mulher e na forma como ela é julgada pela sociedade. Não é uma jornada confortável da mesma forma em que se mostra necessária a discussão sobre um tema polêmico e muito importante nos dias de hoje (mesmo 60 anos depois).
Vale muito o seu play!
"O Acontecimento" é um drama pesadíssimo, visceral eu diria! A jornada que começa amena, quase juvenil, vai ganhando força e brutalidade até alcançar o seu ápice no terceiro ato. Sim, durante os mais de 90 minutos de filme, em vários momentos você sentirá a dor da protagonista - e aqui eu não falo apenas da dor física, embora ela exista e seja brilhantemente retratada pela diretora Audrey Diwan (de "À Beira da Loucura "); eu falo daquela dor na alma que nos tira do eixo, que nos faz refletir sobre o outro - algo como vimos recentemente em “Pieces of a Woman”, por exemplo.
O filme conta a história de Anne (Anamaria Vartolomei), uma jovem garota que engravida e que simplesmente não quer e não pode ter aquela criança, já que seu futuro brilhante seria comprometido. No entanto, na França dos anos 1960, o direito ao aborto ainda não existia. Pelo contrário: qualquer um que praticasse o aborto, tanto a mulher quanto o médico, seria preso. Anne então precisa correr contra o tempo para encontrar uma solução antes de colocar sua própria vida em risco. Confira o trailer:
Essa produção francesa chega ao streaming chancelada pelo "Golden Lion" e pelo "FIPRESCI Prize" no Festival de Veneza em 2021. Além de uma carreira internacional de respeito, "O Acontecimento" ainda rendeu muitos elogios da crítica especializada e do público, o que coloca o filme naquela disputada prateleira de grandes surpresas do ano. E não é para menos, de fato "L'événement" (no original) impressiona ao se aprofundar de uma maneira muito cruel no realismo de uma situação tão atual que nem nos damos conta que o filme se passa na década de 60.
Graças ao aspecto 4:3 (aquele mais quadrado das TVs de tubo de antigamente) em que foi filmado, a diretora é capaz de provocar sensações das mais desagradáveis para audiência - essa escolha conceitual incomoda muito, gera uma certa percepção de angústia, de opressão, de limite. Curiosamente, a história da protagonista, ou seja, o "conteúdo" do filme, está completamente alinhado à "forma" com que presenciamos o seu sofrimento. A jornada de Anne é dura, solitária demais - chega a ser impressionante como a atriz Anamaria Vartolomei encontra o tom certo, introspectivo, para lidar com suas decisões e consequências. A cena em Anne tenta fazer o aborto por si só, por exemplo, é simplesmente desesperadora, além de impactante.
Baseado no aclamado livro de Annie Ernaux, o que vemos na tela é um adaptação extremamente autoral e de altíssima qualidade cinematográfica. "O Acontecimento" é cadenciado, sem nenhuma ação aparente, até repetitivo em alguns momentos, mas com o tempo se apropria de uma verdadeira experiência sensorial para entregar um mergulho no íntimo da mulher e na forma como ela é julgada pela sociedade. Não é uma jornada confortável da mesma forma em que se mostra necessária a discussão sobre um tema polêmico e muito importante nos dias de hoje (mesmo 60 anos depois).
Vale muito o seu play!
"O Caminho de Volta" não é sobre basquete ou como o esporte pode mudar a vida das pessoas. O filme dirigido pelo Gavin O'Connor (uma das mentes criativas por trás do sucesso que foi "Mare of Easttown") vai muito além, pois ele desconstrói, justamente, essa premissa; mostrando a realidade da luta diária que é combater o vício e, olhem só, mais do que isso, ele procura explorar os motivos que levam uma pessoa ao fundo poço. Eu diria que o filme é uma dura jornada sobre o divórcio, o luto, a saudade, a solidão e a dor de ter que conviver com tudo isso e não conseguir seguir em frente.
O ex-atleta e considerado um fenômeno do basquete em seus anos de colegial, Jack Cunningham (Ben Affleck) luta contra o alcoolismo ao mesmo tempo em que encara as dificuldades de um emprego monótono. Ele então recebe a oportunidade de treinar um time de basquete e recomeçar. Na medida em que o time começa a vencer, a sua vida melhora, mas as vitórias não parecem suficientes ao ponto de salvá-lo. Confira o trailer:
Muitos críticos consideram esse trabalho de Affleck como a atuação mais sincera de toda sua carreira - e isso pode não ser por acaso dado os problemas que o ator sofreu graças ao alcoolismo. O próprio ator comentou sobre a necessidade que uma pessoa tem de entender o vício, de procurar se recompor, aprender com ele, e depois aprender um pouco mais, para aí sim tentar seguir em frente. "O Caminho de Volta" discute o assunto de uma forma muito honesta e é até surpreendente o pouco destaque que o filme teve no circuito comercial. A escolha de O'Connor para comandar o projeto imprime o que o diretor tem de melhor: sua enorme capacidade de desvendar as camadas mais intimas de um personagem e explora-las sem sensacionalismo ou necessidade de chocar a audiência visualmente ("Mare of Easttown" foi assim).
Aqui, a qualidade técnica soa invejável para um filme (de orçamento) considerado tão pequeno, quase independente. Existe de fato um cuidado estético que tanto O'Connor quanto o fotógrafo Eduard Grau (do também excelente "Meu nome é Magic Johnson") insistem em preservar. Se o roteiro de Brad Ingelsby (de “The Friend”) sugere apresentar aquela fórmula clássica de filmes esportivos, onde um time fracassado e cheio de problemas de relacionamento muda de comportamento e começa a ganhar, rapidamente entendemos que o foco gira mesmo em torno do drama que é o simples ato de ir em bar e como isso ganha outra proporção quando o protagonista é um alcoólatra. Se a decisão conceitual de paralisar a imagem no inicio de quase todos os jogos do time e imediatamente mostrar seu placar final, parece ter sido acertada, ela ganha ainda mais mérito por estabelecer que nem tudo precisa ser mostrado, discutido ou exposto - quando o diálogo não é necessário, o impacto visual ganha muito mais potência. A cena de Jack no hospital assistindo seus amigos recebendo o resultado de um exame do filho, é um ótimo exemplo que fala por si só!
“O Caminho de Volta” é sensível e dolorido, não tem receio algum de provocar muitos momentos de emoção ao som de uma trilha sonora fabulosa composta pelo Rob Simonsen ( de “Tully”). Um filme com uma direção minimalista, impecável ao meu ver, com um ótimo roteiro e uma montagem primorosa, que utiliza o esporte como pano de fundo, mas que subverte a fórmula do caminho para a redenção. Como disse: não será um jornada das mais tranquilas, mas certamente vai te surpreender.
Vale muito seu play!
"O Caminho de Volta" não é sobre basquete ou como o esporte pode mudar a vida das pessoas. O filme dirigido pelo Gavin O'Connor (uma das mentes criativas por trás do sucesso que foi "Mare of Easttown") vai muito além, pois ele desconstrói, justamente, essa premissa; mostrando a realidade da luta diária que é combater o vício e, olhem só, mais do que isso, ele procura explorar os motivos que levam uma pessoa ao fundo poço. Eu diria que o filme é uma dura jornada sobre o divórcio, o luto, a saudade, a solidão e a dor de ter que conviver com tudo isso e não conseguir seguir em frente.
O ex-atleta e considerado um fenômeno do basquete em seus anos de colegial, Jack Cunningham (Ben Affleck) luta contra o alcoolismo ao mesmo tempo em que encara as dificuldades de um emprego monótono. Ele então recebe a oportunidade de treinar um time de basquete e recomeçar. Na medida em que o time começa a vencer, a sua vida melhora, mas as vitórias não parecem suficientes ao ponto de salvá-lo. Confira o trailer:
Muitos críticos consideram esse trabalho de Affleck como a atuação mais sincera de toda sua carreira - e isso pode não ser por acaso dado os problemas que o ator sofreu graças ao alcoolismo. O próprio ator comentou sobre a necessidade que uma pessoa tem de entender o vício, de procurar se recompor, aprender com ele, e depois aprender um pouco mais, para aí sim tentar seguir em frente. "O Caminho de Volta" discute o assunto de uma forma muito honesta e é até surpreendente o pouco destaque que o filme teve no circuito comercial. A escolha de O'Connor para comandar o projeto imprime o que o diretor tem de melhor: sua enorme capacidade de desvendar as camadas mais intimas de um personagem e explora-las sem sensacionalismo ou necessidade de chocar a audiência visualmente ("Mare of Easttown" foi assim).
Aqui, a qualidade técnica soa invejável para um filme (de orçamento) considerado tão pequeno, quase independente. Existe de fato um cuidado estético que tanto O'Connor quanto o fotógrafo Eduard Grau (do também excelente "Meu nome é Magic Johnson") insistem em preservar. Se o roteiro de Brad Ingelsby (de “The Friend”) sugere apresentar aquela fórmula clássica de filmes esportivos, onde um time fracassado e cheio de problemas de relacionamento muda de comportamento e começa a ganhar, rapidamente entendemos que o foco gira mesmo em torno do drama que é o simples ato de ir em bar e como isso ganha outra proporção quando o protagonista é um alcoólatra. Se a decisão conceitual de paralisar a imagem no inicio de quase todos os jogos do time e imediatamente mostrar seu placar final, parece ter sido acertada, ela ganha ainda mais mérito por estabelecer que nem tudo precisa ser mostrado, discutido ou exposto - quando o diálogo não é necessário, o impacto visual ganha muito mais potência. A cena de Jack no hospital assistindo seus amigos recebendo o resultado de um exame do filho, é um ótimo exemplo que fala por si só!
“O Caminho de Volta” é sensível e dolorido, não tem receio algum de provocar muitos momentos de emoção ao som de uma trilha sonora fabulosa composta pelo Rob Simonsen ( de “Tully”). Um filme com uma direção minimalista, impecável ao meu ver, com um ótimo roteiro e uma montagem primorosa, que utiliza o esporte como pano de fundo, mas que subverte a fórmula do caminho para a redenção. Como disse: não será um jornada das mais tranquilas, mas certamente vai te surpreender.
Vale muito seu play!
Inspirado no livro “Agustín Corazón Abierto”, posso te garantir: "O Farol das Orcas" é uma graça! Sem a menor dúvida, não se trata de um filme inesquecível e muito menos tecnicamente perfeito, mas a história (até por ser real) é simplesmente cativante, surpreendente e o cenário onde tudo acontece é deslumbrante!
O filme acompanha a vida de Beto (Joaquín Furriel) que vive isolado no Sul da Patagônia onde realiza alguns estudos e mantém um relacionamento de confiança com as orcas do local, especialmente uma chamada Shaka. O assunto acabou virando um documentário da National Geographicque foi assistido por Lola (Maribel Verdú), mãe do menino autista Tristán (Joaquín Rapalini), que presenciou o filho demonstrando sinais de emoções pela primeira vez em muito tempo. Lola então sai da Espanha onde mora com o filho e aparece de surpresa na casa de Beto com a esperança de que ele possa ajudar Tris a se reconectar consigo mesmo a partir da relação com a natureza e com os animais. Confira o trailer (em espanhol):
Sem a menor dúvida que a fotografia do Óscar Durán é a primeira coisa que chama a atenção em "O Farol das Orcas" - tudo é muito bonito, da natureza aos enquadramentos de Beto com as orcas. Fica muito claro que o diretor usou de um conceito visual extremamente minimalista e natural para chamar a atenção para uma história que por si só já nos impactaria positivamente, mas o equilíbrio entre forma e conteúdo, aqui, funciona perfeitamente. Ter uma linda e sensível história real nas mãos, ajudou muito, trouxe credibilidade e fluidez para a narrativa, mas é preciso dizer que o roteiro derrapa em alguns pontos - o que mais pode incomodar é a previsibilidade da história de amor entre Beto e Lola.
Joaquín Furriel tem uma relação impressionante com Joaquín Rapalini e passa muita verdade ao expor seu cuidado com o garoto ou mesmo tempo que declara seu amor pelas orcas, mas vacila demais quando quer ser o galã mal humorado marcado pelo passado. Maribel Verdú, por outro lado, se mantém constante, no tom certo, mas não brilha a ponto de torcermos por sua personagem. A direção do espanhol Gerardo Olivares é apenas honesta, daquelas que não prejudica nossa experiência (embora alguns erros de continuidade saltem na tela). Dito tudo isso, a grande verdade é que a história é muito maior que o filme e justamente por isso, o filme vale a pena.
É claro que “O Farol das Orcas” merece ser assistido - a mensagem é bonita, o impacto visual do poder da natureza perante os seres humanos é real e a maneira como o roteiro trata o autismo é muito respeitosa e carinhosa até. É preciso alertar que a narrativa que envolve tudo isso é bem cadenciada, ou seja, quem espera cenas de impacto ou emoção vai odiar o filme. Por outro lado, as relações são muito bem trabalhadas e nos move pela empatia - eu diria que é um filme com alma.
Vale o play, para aqueles que buscam uma história que vai além do filme!
Inspirado no livro “Agustín Corazón Abierto”, posso te garantir: "O Farol das Orcas" é uma graça! Sem a menor dúvida, não se trata de um filme inesquecível e muito menos tecnicamente perfeito, mas a história (até por ser real) é simplesmente cativante, surpreendente e o cenário onde tudo acontece é deslumbrante!
O filme acompanha a vida de Beto (Joaquín Furriel) que vive isolado no Sul da Patagônia onde realiza alguns estudos e mantém um relacionamento de confiança com as orcas do local, especialmente uma chamada Shaka. O assunto acabou virando um documentário da National Geographicque foi assistido por Lola (Maribel Verdú), mãe do menino autista Tristán (Joaquín Rapalini), que presenciou o filho demonstrando sinais de emoções pela primeira vez em muito tempo. Lola então sai da Espanha onde mora com o filho e aparece de surpresa na casa de Beto com a esperança de que ele possa ajudar Tris a se reconectar consigo mesmo a partir da relação com a natureza e com os animais. Confira o trailer (em espanhol):
Sem a menor dúvida que a fotografia do Óscar Durán é a primeira coisa que chama a atenção em "O Farol das Orcas" - tudo é muito bonito, da natureza aos enquadramentos de Beto com as orcas. Fica muito claro que o diretor usou de um conceito visual extremamente minimalista e natural para chamar a atenção para uma história que por si só já nos impactaria positivamente, mas o equilíbrio entre forma e conteúdo, aqui, funciona perfeitamente. Ter uma linda e sensível história real nas mãos, ajudou muito, trouxe credibilidade e fluidez para a narrativa, mas é preciso dizer que o roteiro derrapa em alguns pontos - o que mais pode incomodar é a previsibilidade da história de amor entre Beto e Lola.
Joaquín Furriel tem uma relação impressionante com Joaquín Rapalini e passa muita verdade ao expor seu cuidado com o garoto ou mesmo tempo que declara seu amor pelas orcas, mas vacila demais quando quer ser o galã mal humorado marcado pelo passado. Maribel Verdú, por outro lado, se mantém constante, no tom certo, mas não brilha a ponto de torcermos por sua personagem. A direção do espanhol Gerardo Olivares é apenas honesta, daquelas que não prejudica nossa experiência (embora alguns erros de continuidade saltem na tela). Dito tudo isso, a grande verdade é que a história é muito maior que o filme e justamente por isso, o filme vale a pena.
É claro que “O Farol das Orcas” merece ser assistido - a mensagem é bonita, o impacto visual do poder da natureza perante os seres humanos é real e a maneira como o roteiro trata o autismo é muito respeitosa e carinhosa até. É preciso alertar que a narrativa que envolve tudo isso é bem cadenciada, ou seja, quem espera cenas de impacto ou emoção vai odiar o filme. Por outro lado, as relações são muito bem trabalhadas e nos move pela empatia - eu diria que é um filme com alma.
Vale o play, para aqueles que buscam uma história que vai além do filme!
Eu sou suspeito para falar sobre o diretor iraniano AsgharFarhadi, mas como eu já havia comentado no review de "O apartamento", ele é daqueles poucos diretores que temos a certeza que sempre entregará um grande filme! Ele tem uma sensibilidade para falar sobre as relações humanas impressionante, especialmente entre casais, e ao mesmo tempo construir uma atmosfera de mistério que não necessariamente existe, mas que ao criarmos a expectativa sobre o "algo mais", ele simplesmente junta as peças e nos entrega o óbvio propositalmente - provando que a vida é cheia de segredos, mas que as respostas são as mais simples possíveis, basta ter coragem para encará-las.
"O Passado" mostra a ruína de uma relação entre um marido iraniano e sua esposa francesa, vivendo na Europa. Após quatro anos de separação, Ahmad (Ali Mosaffa) retorna a Paris, vindo de Teerã, a pedido da ex-mulher, Marie (Bérénice Bejo), para finalizar o processo do divórcio. Durante sua rápida estadia, Ahmad nota a conflituosa relação entre Marie e sua filha Lucie (Pauline Burlet). Os esforços de Ahmad para melhorar esse relacionamento acabam revelando muitos segredos e a cada embate os fantasmas do passado retornam ainda com mais força. Confira o trailer:
Tecnicamente perfeito - da Fotografia à Direção de Arte, o filme inteiro se apoia em um roteiro excelente. É incrível como os diálogos, mesmo longos, são bem construídos. Reparem como eles criam uma atmosfera de constrangimento e desencontros, tão palpável e natural se olharmos pelo ponto de vista das relações - seja elas quais forem! Farhadi mostra perfeitamente como é complicado lidar com relações disfuncionais: o futuro marido que sente inseguro com a presença do ex, a esposa que não consegue lidar com as escolhas de todos os homens que passaram pela sua vida, a filha adolescente que não consegue se comunicar com a mãe e olhem que interessante: como as crianças enxergam todos esses conflitos e sofrem por estar em um ambiente tão caótico emocionalmente. Sério, é um aula de atuação de todo elenco - especialmente de Bérénice Bejo que, inclusive, ganhou na categoria "Melhor Atriz" no Festival de Cannes em 2013.
Se para alguns o filme pode parecer cansativo, afinal muitas cenas parecem durar tempo demais, pode ter a mais absoluta certeza: ela é necessária para a total compreensão da história. Dentro do conceito narrativo de Asghar Farhadi (que mais uma vez também assina o roteiro) nenhum personagem ou situação é desperdiçada, todos e tudo cumprem suas funções com o único objetivo: nos provocar emocionalmente e criar sensações bem desconfortáveis - o próprio cenário, a casa da Marie, em reforma, sempre bagunçada e cheia de problemas, onde 70% do filme acontece, é quase uma metáfora de sua vida e nos dá uma agonia absurda.
De fato a cinematografia de Farhadi não agrada a todos e é compreensível, mas para aqueles dispostos a mergulhar nas camadas mais profundas dos personagens - que parecem simples, mas carregam uma complexidade inerente ao ser humano, olha, "Le passé" (no original) é outro filme imperdível desse talentoso e premiado cineasta!
Vale muito seu play!
Eu sou suspeito para falar sobre o diretor iraniano AsgharFarhadi, mas como eu já havia comentado no review de "O apartamento", ele é daqueles poucos diretores que temos a certeza que sempre entregará um grande filme! Ele tem uma sensibilidade para falar sobre as relações humanas impressionante, especialmente entre casais, e ao mesmo tempo construir uma atmosfera de mistério que não necessariamente existe, mas que ao criarmos a expectativa sobre o "algo mais", ele simplesmente junta as peças e nos entrega o óbvio propositalmente - provando que a vida é cheia de segredos, mas que as respostas são as mais simples possíveis, basta ter coragem para encará-las.
"O Passado" mostra a ruína de uma relação entre um marido iraniano e sua esposa francesa, vivendo na Europa. Após quatro anos de separação, Ahmad (Ali Mosaffa) retorna a Paris, vindo de Teerã, a pedido da ex-mulher, Marie (Bérénice Bejo), para finalizar o processo do divórcio. Durante sua rápida estadia, Ahmad nota a conflituosa relação entre Marie e sua filha Lucie (Pauline Burlet). Os esforços de Ahmad para melhorar esse relacionamento acabam revelando muitos segredos e a cada embate os fantasmas do passado retornam ainda com mais força. Confira o trailer:
Tecnicamente perfeito - da Fotografia à Direção de Arte, o filme inteiro se apoia em um roteiro excelente. É incrível como os diálogos, mesmo longos, são bem construídos. Reparem como eles criam uma atmosfera de constrangimento e desencontros, tão palpável e natural se olharmos pelo ponto de vista das relações - seja elas quais forem! Farhadi mostra perfeitamente como é complicado lidar com relações disfuncionais: o futuro marido que sente inseguro com a presença do ex, a esposa que não consegue lidar com as escolhas de todos os homens que passaram pela sua vida, a filha adolescente que não consegue se comunicar com a mãe e olhem que interessante: como as crianças enxergam todos esses conflitos e sofrem por estar em um ambiente tão caótico emocionalmente. Sério, é um aula de atuação de todo elenco - especialmente de Bérénice Bejo que, inclusive, ganhou na categoria "Melhor Atriz" no Festival de Cannes em 2013.
Se para alguns o filme pode parecer cansativo, afinal muitas cenas parecem durar tempo demais, pode ter a mais absoluta certeza: ela é necessária para a total compreensão da história. Dentro do conceito narrativo de Asghar Farhadi (que mais uma vez também assina o roteiro) nenhum personagem ou situação é desperdiçada, todos e tudo cumprem suas funções com o único objetivo: nos provocar emocionalmente e criar sensações bem desconfortáveis - o próprio cenário, a casa da Marie, em reforma, sempre bagunçada e cheia de problemas, onde 70% do filme acontece, é quase uma metáfora de sua vida e nos dá uma agonia absurda.
De fato a cinematografia de Farhadi não agrada a todos e é compreensível, mas para aqueles dispostos a mergulhar nas camadas mais profundas dos personagens - que parecem simples, mas carregam uma complexidade inerente ao ser humano, olha, "Le passé" (no original) é outro filme imperdível desse talentoso e premiado cineasta!
Vale muito seu play!
Talvez o primeiro passo para que uma relação seja bem sucedida, independente do tipo ou do propósito, sem a menor dúvida, diz respeito ao alinhamento de expectativas. Definitivamente, para os personagens de "O Refúgio" isso está longe de acontecer. Eu diria que a história que o ótimo diretor Sean Durkin conta, é tão impactante e visceral quanto a de "História de um Casamento" - embora o objeto do conflito, dessa vez, não seja um filho e sim o dinheiro (e a forma como ele é encarado).
Roy (Jude Law) é um empreendedor carismático e ambicioso que escolhe se mudar para Inglaterra com sua família, para aproveitar as oportunidades da Londres dos anos 80. Alisson (Carrie Coon), esposa de Roy, tem enormes dificuldades para se adaptar ao novo estilo de vida e vê os sonhos e as promessas do marido não se concretizarem, mais uma vez. O filme mostra o cotidiano do casal que precisa enfrentar as duras e indesejáveis verdades da vida, além da tentativa de encontrar uma forma de se conectar novamente - entre eles e com os filhos Bem (Charlie Shotwell) e Sam (Oona Roche). Confira o trailer (em inglês):
Já que o assunto é sobre "alinhar as expectativas", eu já antecipo: esse é mais um drama de relação denso e com uma narrativa bastante cadenciada onde o principal objetivo não é encontrar um fim e sim servir como "meio" para as provocações e reflexões que a história vai nos propondo durante os 100 minutos de filme. Veja, "O Refúgio" não se propõe a mostrar a transformação, mas quais são os gatilhos que podem nos levar até ela - e aqui é preciso deixar claro que esses gatilhos são dos mais dolorosos para quem se identifica com alguma passagem da trama.
Jude Law mais uma vez foi capaz de captar a essência daquela linha tênue entre a simpatia carismática cheia de energia com a insegurança e fragilidade de um homem que esperava mais (e mais) das suas conquistas - Law traz muito de Dan de "Closer" para o personagem. Já Carrie Coon é a personificação da angústia, da decepção, da falta de admiração pelo companheiro - ela é tão intensa que nos colocamos no seu lugar e passamos a enxergar seu marido com outros (não tão bons) olhos. Por se tratar de um "filme de relações", "O Refúgio" se movimenta muito mais pelos sentimentos dos personagens do que pela força da história.
Esse filme é um retrato absurdamente real de como uma vida de altos e baixos pode contaminar até os relacionamentos mais estáveis. Se Roy e Ali já demonstravam sinais de fragilidade antes mesmo da bomba estourar, certamente a relação familiar na presença dos filhos, não. E nesse ponto Durkin, que também assina o roteiro, soube valorizar (mesmo sem tempo de se aprofundar) como um relacionamento pesado pode impactar na vida das crianças - é para refletir!
Se você gosta de discutir as relações humanas, com personagens cheio de camadas, dê o play sem medo! Vale a pena!
Talvez o primeiro passo para que uma relação seja bem sucedida, independente do tipo ou do propósito, sem a menor dúvida, diz respeito ao alinhamento de expectativas. Definitivamente, para os personagens de "O Refúgio" isso está longe de acontecer. Eu diria que a história que o ótimo diretor Sean Durkin conta, é tão impactante e visceral quanto a de "História de um Casamento" - embora o objeto do conflito, dessa vez, não seja um filho e sim o dinheiro (e a forma como ele é encarado).
Roy (Jude Law) é um empreendedor carismático e ambicioso que escolhe se mudar para Inglaterra com sua família, para aproveitar as oportunidades da Londres dos anos 80. Alisson (Carrie Coon), esposa de Roy, tem enormes dificuldades para se adaptar ao novo estilo de vida e vê os sonhos e as promessas do marido não se concretizarem, mais uma vez. O filme mostra o cotidiano do casal que precisa enfrentar as duras e indesejáveis verdades da vida, além da tentativa de encontrar uma forma de se conectar novamente - entre eles e com os filhos Bem (Charlie Shotwell) e Sam (Oona Roche). Confira o trailer (em inglês):
Já que o assunto é sobre "alinhar as expectativas", eu já antecipo: esse é mais um drama de relação denso e com uma narrativa bastante cadenciada onde o principal objetivo não é encontrar um fim e sim servir como "meio" para as provocações e reflexões que a história vai nos propondo durante os 100 minutos de filme. Veja, "O Refúgio" não se propõe a mostrar a transformação, mas quais são os gatilhos que podem nos levar até ela - e aqui é preciso deixar claro que esses gatilhos são dos mais dolorosos para quem se identifica com alguma passagem da trama.
Jude Law mais uma vez foi capaz de captar a essência daquela linha tênue entre a simpatia carismática cheia de energia com a insegurança e fragilidade de um homem que esperava mais (e mais) das suas conquistas - Law traz muito de Dan de "Closer" para o personagem. Já Carrie Coon é a personificação da angústia, da decepção, da falta de admiração pelo companheiro - ela é tão intensa que nos colocamos no seu lugar e passamos a enxergar seu marido com outros (não tão bons) olhos. Por se tratar de um "filme de relações", "O Refúgio" se movimenta muito mais pelos sentimentos dos personagens do que pela força da história.
Esse filme é um retrato absurdamente real de como uma vida de altos e baixos pode contaminar até os relacionamentos mais estáveis. Se Roy e Ali já demonstravam sinais de fragilidade antes mesmo da bomba estourar, certamente a relação familiar na presença dos filhos, não. E nesse ponto Durkin, que também assina o roteiro, soube valorizar (mesmo sem tempo de se aprofundar) como um relacionamento pesado pode impactar na vida das crianças - é para refletir!
Se você gosta de discutir as relações humanas, com personagens cheio de camadas, dê o play sem medo! Vale a pena!
"O Sabor da Vida" é um típico drama francês - na sua essência e na sua cadência. O curioso, no entanto, é que o filme foi dirigido pelo Anh Hung Tran, de "O Cheiro do Papaia Verde" e de "As Luzes de um Verão" - todos reverenciados em Cannes. Esse imigrante vietnamita que desde os anos 90 se posicionou no cinema europeu como um contador de histórias sensíveis sobre as relações, sempre inseridas em um contexto poético, outra uma vez entrega um obra para, mais do que assistir, admirar! "La Passion de Dodin Bouffant" (no original) não é um filme tradicional, ele é mais uma poesia, cheia de simbolismos (claro), que explora a conexão íntima entre a gastronomia e as emoções humanas. Baseado na obra de Marcel Rouff, o filme retrata a relação complexa e profunda entre o renomado chef Dodin Bouffant e sua cozinheira Eugénie, em uma história que se desenrola na França de 1885. Com uma abordagem intimista e muito sensível, "O Sabor da Vida"evoca o universo sensorial da culinária como expressão de amor, desejo, dedicação e arte - uma espécie de "Chef's Table" do século XIX"!
A narrativa gira em torno da paixão que une Dodin (Benoît Magimel) e Eugénie (Juliette Binoche), tanto na cozinha quanto fora dela. Em meio à preparação de pratos elaborados e cenas de refinada técnica culinária, o relacionamento dos dois é revelado com muita sutileza. Dodin deseja que Eugénie se case com ele, mas ela hesita em aceitar, já que é uma mulher de princípios independentes e dedicada a sua arte - para ela, o amor entre os dois está na relação profissional. Acontece que a dualidade entre o desejo de liberdade de Eugénie e a conexão emocional que a gastronomia proporciona para ambos, reflete as nuances de uma relação que transcende as palavras até que Dodin, finalmente, resolve cozinhar para ela. Confira o trailer:
Até pela proposta narrativa de "O Sabor da Vida", imediatamente já entendemos o quanto a direção de Anh Hung Tran prioriza o sutil e o contemplativa. Capturando cada detalhe com precisão e profundidade, o diretor faz uso de uma cinematografia rica e texturizada, onde cada prato preparado se torna uma verdadeira obra de arte. A fotografia de Jonathan Ricquebourg volta sua câmera para as sensações e texturas daquele mundo cheio de cores e sabores - os pratos e ingredientes são filmados com um olhar cuidadoso, quase reverencial, evocando o fascínio e o respeito pela culinária francesa tradicional. Alinhado com o estilo de Hung Tran, Ricquebourg utiliza planos fechados que intensificam a experiência sensorial, permitindo que a audiência praticamente "sinta" o aroma e o gosto das preparações - um conselho: não assista esse filme com fome!
Benoît Magimel e Juliette Binoche, ambos com atuações sublimes, capturam a complexidade de seus personagens com uma química magnética (eles já foram um casal na vida real). Magimel traz a Dodin uma camada de profundidade que vai além do mero papel de um chef; ele é um homem apaixonado pela comida e pelas experiências que o sabor pode proporcionar, mas também é uma figura vulnerável e de certa forma inseguro perante seu amor por Eugénie. Binoche, por sua vez, oferece uma interpretação rica e contida, expressando uma força interior e uma independência que são fundamentais para o desenvolvimento da narrativa. A dinâmica entre os dois é carregada de desejo e respeito mútuo, se comunicando mais pelos gestos e olhares do que com palavras, em um retrato delicado do amor e do companheirismo verdadeiro.
Veja, o filme se concentra nos momentos de convivência silenciosa, nas delicadezas que revelam as profundezas emocionais dos protagonistas, ou seja, você está realmente diante de um drama de relações nada convencional, mas belíssimo de assistir. "O Sabor da Vida" poderia até ter, mas evita cenas dramáticas intensas para construir uma jornada onde os pequenos detalhes, como a preparação de uma refeição ou o ajuste cuidadoso de um prato, se tornam veículos de expressão muito mais potentes e representativos de um sentimento mais íntimo. Indicado ao Oscar de Filme Internacional pela França e premiado em festivais importantes em 2023, "O Sabor da Vida" é belo e reflexivo, moldado para aqueles que apreciam o cinema sensorial e o valor de uma boa gastronomia.
Vale muito o seu play!
"O Sabor da Vida" é um típico drama francês - na sua essência e na sua cadência. O curioso, no entanto, é que o filme foi dirigido pelo Anh Hung Tran, de "O Cheiro do Papaia Verde" e de "As Luzes de um Verão" - todos reverenciados em Cannes. Esse imigrante vietnamita que desde os anos 90 se posicionou no cinema europeu como um contador de histórias sensíveis sobre as relações, sempre inseridas em um contexto poético, outra uma vez entrega um obra para, mais do que assistir, admirar! "La Passion de Dodin Bouffant" (no original) não é um filme tradicional, ele é mais uma poesia, cheia de simbolismos (claro), que explora a conexão íntima entre a gastronomia e as emoções humanas. Baseado na obra de Marcel Rouff, o filme retrata a relação complexa e profunda entre o renomado chef Dodin Bouffant e sua cozinheira Eugénie, em uma história que se desenrola na França de 1885. Com uma abordagem intimista e muito sensível, "O Sabor da Vida"evoca o universo sensorial da culinária como expressão de amor, desejo, dedicação e arte - uma espécie de "Chef's Table" do século XIX"!
A narrativa gira em torno da paixão que une Dodin (Benoît Magimel) e Eugénie (Juliette Binoche), tanto na cozinha quanto fora dela. Em meio à preparação de pratos elaborados e cenas de refinada técnica culinária, o relacionamento dos dois é revelado com muita sutileza. Dodin deseja que Eugénie se case com ele, mas ela hesita em aceitar, já que é uma mulher de princípios independentes e dedicada a sua arte - para ela, o amor entre os dois está na relação profissional. Acontece que a dualidade entre o desejo de liberdade de Eugénie e a conexão emocional que a gastronomia proporciona para ambos, reflete as nuances de uma relação que transcende as palavras até que Dodin, finalmente, resolve cozinhar para ela. Confira o trailer:
Até pela proposta narrativa de "O Sabor da Vida", imediatamente já entendemos o quanto a direção de Anh Hung Tran prioriza o sutil e o contemplativa. Capturando cada detalhe com precisão e profundidade, o diretor faz uso de uma cinematografia rica e texturizada, onde cada prato preparado se torna uma verdadeira obra de arte. A fotografia de Jonathan Ricquebourg volta sua câmera para as sensações e texturas daquele mundo cheio de cores e sabores - os pratos e ingredientes são filmados com um olhar cuidadoso, quase reverencial, evocando o fascínio e o respeito pela culinária francesa tradicional. Alinhado com o estilo de Hung Tran, Ricquebourg utiliza planos fechados que intensificam a experiência sensorial, permitindo que a audiência praticamente "sinta" o aroma e o gosto das preparações - um conselho: não assista esse filme com fome!
Benoît Magimel e Juliette Binoche, ambos com atuações sublimes, capturam a complexidade de seus personagens com uma química magnética (eles já foram um casal na vida real). Magimel traz a Dodin uma camada de profundidade que vai além do mero papel de um chef; ele é um homem apaixonado pela comida e pelas experiências que o sabor pode proporcionar, mas também é uma figura vulnerável e de certa forma inseguro perante seu amor por Eugénie. Binoche, por sua vez, oferece uma interpretação rica e contida, expressando uma força interior e uma independência que são fundamentais para o desenvolvimento da narrativa. A dinâmica entre os dois é carregada de desejo e respeito mútuo, se comunicando mais pelos gestos e olhares do que com palavras, em um retrato delicado do amor e do companheirismo verdadeiro.
Veja, o filme se concentra nos momentos de convivência silenciosa, nas delicadezas que revelam as profundezas emocionais dos protagonistas, ou seja, você está realmente diante de um drama de relações nada convencional, mas belíssimo de assistir. "O Sabor da Vida" poderia até ter, mas evita cenas dramáticas intensas para construir uma jornada onde os pequenos detalhes, como a preparação de uma refeição ou o ajuste cuidadoso de um prato, se tornam veículos de expressão muito mais potentes e representativos de um sentimento mais íntimo. Indicado ao Oscar de Filme Internacional pela França e premiado em festivais importantes em 2023, "O Sabor da Vida" é belo e reflexivo, moldado para aqueles que apreciam o cinema sensorial e o valor de uma boa gastronomia.
Vale muito o seu play!
"O Tempo Que Te Dou" é um sopro de criatividade e inovação ao se propor contar uma bem construída e dinâmica história de amor, em dois tempos diferentes e em episódios de apenas 11 minutos - isso mesmo, a experiência de assistir episódios tão curtinhos e excelentes em sua essência, é demais! Auto-intitulada como "uma história de amor original Netflix", o projeto criado por Nadia de Santiago, Inés Pintor e Pablo Santidrián, além de visualmente impecável e cheio de identidade (trazendo o melhor do cinema independente espanhol pelas mãos de Santidrián e de Pintor), ainda tem um roteiro dos mais inteligentes e com um conceito narrativo extremamente original - veja, a cada episódio a história é dividida em minutos, sempre alternando entre passado e presente de acordo com o entendimento que a protagonista tem em relação ao término do seu namoro. Então se no começo da minissérie o passado tem mais peso perante o presente, com o passar dos episódios, o presente vai ganhando, minuto a minuto, mais importância - genial, não?
A minissérie basicamente, acompanha o casal Lina (Nadia de Santiago) e Nico (Álvaro de Cervantes), dois jovens que viveram um romance dos mais apaixonantes, mas que, aos poucos, foram se afastando. Quando o relacionamento com Nico chega ao fim, Lina precisa deixar as lembranças do relacionamento para trás e se concentrar em si mesma. Ao longo de 10 episódios, ela aprenderá a dedicar um minuto a menos ao passado e um a mais ao presente, dando novo significado à expressão “o tempo cura todas as feridas". Confira o trailer e se apaixone:
Tudo em "O Tempo Que Te Dou" merece sua máxima atenção, especialmente pela sensibilidade e delicadeza da sua narrativa . Aliás, essa narrativa que não segue uma linha temporal linear, mas sim um ritmo fragmentado, onde cada episódio dedica um tempo específico ao passado e ao presente, eu diria é ousada e intrigante. É praticamente impossível não se conectar com as diferentes fases da relação de Lina e Nico e criar um paralelo íntimos com nossas experiências de vida. É impressionante como o roteiro vai tecendo um mosaico de memórias, alegrias e tristezas e assim construindo a complexa personalidade dos personagens. Veja, não existe "mocinho" ou "bandido", mas sim uma relação de "causa e consequência" que chega a ser brutal emocionalmente - o final do episódio 6 é de cortar o coração!
A direção de Santidrián e de Pintor é precisa, explorando ao máximo as nuances das emoções de Lina - isso gera um range de sensações que toca a alma!. A fotografia do Alberto Pareja, por sua vez, é uma aula - reparem como ele evidencia os tons melancólicos no presente e as cores vibrantes no passado, traduzindo na tela o estado emocional dos personagens. Outro elemento sensacional da minissérie, claro, é a trilha sonora que se mistura entre o original e o pop espanhol amplificando a carga emocional de cada cena com muita elegância narrativa. Agora, o golaço mesmo está no elenco, especialmente Nadia de Santiago - ela entrega uma performance magistral, carregando nas costas o peso da história e nos presenteando com uma Lina autêntica e multifacetada. Sua atuação é visceral e comovente, capturando com perfeição a dor da perda, a saudade do passado e a esperança de um futuro melhor. Álvaro Cervantes também brilha, mesmo com menos tempo de tela - seu Nico é cativante e tão cheio de camadas que nos faz entender os motivos de suas atitudes até o término (o que não nos impede de torcer pela felicidade do casal).
Chega ser surpreendente que esse projeto não tenha recebido mais destaque já que "El tiempo que te doy" (no original) é na pura expressão das palavras: uma obra poética e profunda que explora com maestria os temas universais do amor, da perda, da superação e do autoconhecimento. Certamente um convite a refletir sobre nossas próprias relações, sobre os erros que cometemos e sobre as lições que aprendemos ao longo da vida. É um verdadeiro presente para quem gosta de boas histórias contadas de uma maneira criativa e original!
Vale demais esse play!
"O Tempo Que Te Dou" é um sopro de criatividade e inovação ao se propor contar uma bem construída e dinâmica história de amor, em dois tempos diferentes e em episódios de apenas 11 minutos - isso mesmo, a experiência de assistir episódios tão curtinhos e excelentes em sua essência, é demais! Auto-intitulada como "uma história de amor original Netflix", o projeto criado por Nadia de Santiago, Inés Pintor e Pablo Santidrián, além de visualmente impecável e cheio de identidade (trazendo o melhor do cinema independente espanhol pelas mãos de Santidrián e de Pintor), ainda tem um roteiro dos mais inteligentes e com um conceito narrativo extremamente original - veja, a cada episódio a história é dividida em minutos, sempre alternando entre passado e presente de acordo com o entendimento que a protagonista tem em relação ao término do seu namoro. Então se no começo da minissérie o passado tem mais peso perante o presente, com o passar dos episódios, o presente vai ganhando, minuto a minuto, mais importância - genial, não?
A minissérie basicamente, acompanha o casal Lina (Nadia de Santiago) e Nico (Álvaro de Cervantes), dois jovens que viveram um romance dos mais apaixonantes, mas que, aos poucos, foram se afastando. Quando o relacionamento com Nico chega ao fim, Lina precisa deixar as lembranças do relacionamento para trás e se concentrar em si mesma. Ao longo de 10 episódios, ela aprenderá a dedicar um minuto a menos ao passado e um a mais ao presente, dando novo significado à expressão “o tempo cura todas as feridas". Confira o trailer e se apaixone:
Tudo em "O Tempo Que Te Dou" merece sua máxima atenção, especialmente pela sensibilidade e delicadeza da sua narrativa . Aliás, essa narrativa que não segue uma linha temporal linear, mas sim um ritmo fragmentado, onde cada episódio dedica um tempo específico ao passado e ao presente, eu diria é ousada e intrigante. É praticamente impossível não se conectar com as diferentes fases da relação de Lina e Nico e criar um paralelo íntimos com nossas experiências de vida. É impressionante como o roteiro vai tecendo um mosaico de memórias, alegrias e tristezas e assim construindo a complexa personalidade dos personagens. Veja, não existe "mocinho" ou "bandido", mas sim uma relação de "causa e consequência" que chega a ser brutal emocionalmente - o final do episódio 6 é de cortar o coração!
A direção de Santidrián e de Pintor é precisa, explorando ao máximo as nuances das emoções de Lina - isso gera um range de sensações que toca a alma!. A fotografia do Alberto Pareja, por sua vez, é uma aula - reparem como ele evidencia os tons melancólicos no presente e as cores vibrantes no passado, traduzindo na tela o estado emocional dos personagens. Outro elemento sensacional da minissérie, claro, é a trilha sonora que se mistura entre o original e o pop espanhol amplificando a carga emocional de cada cena com muita elegância narrativa. Agora, o golaço mesmo está no elenco, especialmente Nadia de Santiago - ela entrega uma performance magistral, carregando nas costas o peso da história e nos presenteando com uma Lina autêntica e multifacetada. Sua atuação é visceral e comovente, capturando com perfeição a dor da perda, a saudade do passado e a esperança de um futuro melhor. Álvaro Cervantes também brilha, mesmo com menos tempo de tela - seu Nico é cativante e tão cheio de camadas que nos faz entender os motivos de suas atitudes até o término (o que não nos impede de torcer pela felicidade do casal).
Chega ser surpreendente que esse projeto não tenha recebido mais destaque já que "El tiempo que te doy" (no original) é na pura expressão das palavras: uma obra poética e profunda que explora com maestria os temas universais do amor, da perda, da superação e do autoconhecimento. Certamente um convite a refletir sobre nossas próprias relações, sobre os erros que cometemos e sobre as lições que aprendemos ao longo da vida. É um verdadeiro presente para quem gosta de boas histórias contadas de uma maneira criativa e original!
Vale demais esse play!
"O Verão de Sangaile" é quase um filme conceitual. Seu caráter independente, extremamente autoral e preocupado com o impacto estético transforma sua narrativa, quase sem diálogos, em um filme que parece não decolar (desculpe o trocadilho). Apenas parece, pois essa premiada produção lituana é cercada de sensibilidade e traz discussões pertinentes ao universo das protagonistas - de uma forma bem particular, claro, mas não menos inteligente ou profunda que outros filmes com a mesma temática - como "Duck Butter", por exemplo.
A jovem Sangaile (Julija Steponaitytė), de 17 anos, é fascinada por aviões de acrobacia. Ela conhece Auste (Aistė Diržiūtė), uma garota de sua idade, durante um show de aeronáutica no verão. Sangaile permite que a nova amiga descubra seus mais íntimos segredos e no meio do caminho cresce um amor adolescente - é aí que Auste acaba se tornando a única pessoa que realmente incentiva Sangaile a enfrentar seus medos e dramas pessoais. Confira o trailer em inglês:
Embora tenha uma identidade pouco comercial, "O Verão de Sangaile" impressiona pela fotografia e genialidade de Dominique Colin (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) que aproveita dos belíssimos cenários e de uma direção de arte afinadíssima para potencializar o trabalho da diretora Alante Kavaite como realizadora - ela imprime uma dinâmica bastante sutil, apostando no excelente trabalho de Julija Steponaitytė e de Aistė Diržiūtė, com muita coragem já que assume o risco de trocar o que é falado pelo o que é sentido! Certamente essa escolha pode afastar quem busca uma narrativa mais convencional, mas o fato é que Kavaite aproveita de cenas plasticamente bem executadas para provocar sentimentos e sensações ora acolhedoras, ora desconfortáveis - e aqui cabe uma observação: mesmo partindo de um mesmo plot de "La vie d'Adèle" (Azul é a cor mais quente), em nenhum momento nos sentimos incomodados ou chocados; todas as cenas são de muito bom gosto.
É interessante perceber que Sangailé, mesmo sofrendo por uma certa inadequação com o mundo em que vive, graças ao distanciamento quase mórbido que tem com sua família (especialmente com sua mãe) e sua solitária fascinação pelas apresentações de voos acrobáticos, é na vertigem que todos os pontos se unem - aquela expressa pela realidade cotidiana da adolescente e na metáfora que acompanha algumas passagens marcantes, como a necessidade de se auto-mutilar para se sentir viva. Reparem, são camadas sensíveis, mas muito bem desenvolvidas com uma relação artística interessante para aqueles dispostos a mergulhar na psiquê da protagonista.
"O Verão de Sangaile" fala sobre o vazio existencial, depressão, suicídio, amor, descobertas e sonhos, mas definitivamente de uma forma que apenas um público bem particular, alternativo e orientado para descobertas narrativas menos convencionais, vai gostar - é isso que o filme entrega e essa é a razão do seu sucesso nos vários festivais que participou pelo mundo. Vale dizer que Alante Kavaite venceu como melhor diretora em Sundance em 2015 e o filme foi indicado ao prêmio máximo do Festival.
Vale a pena, com certa identificação pela proposta artística!
"O Verão de Sangaile" é quase um filme conceitual. Seu caráter independente, extremamente autoral e preocupado com o impacto estético transforma sua narrativa, quase sem diálogos, em um filme que parece não decolar (desculpe o trocadilho). Apenas parece, pois essa premiada produção lituana é cercada de sensibilidade e traz discussões pertinentes ao universo das protagonistas - de uma forma bem particular, claro, mas não menos inteligente ou profunda que outros filmes com a mesma temática - como "Duck Butter", por exemplo.
A jovem Sangaile (Julija Steponaitytė), de 17 anos, é fascinada por aviões de acrobacia. Ela conhece Auste (Aistė Diržiūtė), uma garota de sua idade, durante um show de aeronáutica no verão. Sangaile permite que a nova amiga descubra seus mais íntimos segredos e no meio do caminho cresce um amor adolescente - é aí que Auste acaba se tornando a única pessoa que realmente incentiva Sangaile a enfrentar seus medos e dramas pessoais. Confira o trailer em inglês:
Embora tenha uma identidade pouco comercial, "O Verão de Sangaile" impressiona pela fotografia e genialidade de Dominique Colin (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain) que aproveita dos belíssimos cenários e de uma direção de arte afinadíssima para potencializar o trabalho da diretora Alante Kavaite como realizadora - ela imprime uma dinâmica bastante sutil, apostando no excelente trabalho de Julija Steponaitytė e de Aistė Diržiūtė, com muita coragem já que assume o risco de trocar o que é falado pelo o que é sentido! Certamente essa escolha pode afastar quem busca uma narrativa mais convencional, mas o fato é que Kavaite aproveita de cenas plasticamente bem executadas para provocar sentimentos e sensações ora acolhedoras, ora desconfortáveis - e aqui cabe uma observação: mesmo partindo de um mesmo plot de "La vie d'Adèle" (Azul é a cor mais quente), em nenhum momento nos sentimos incomodados ou chocados; todas as cenas são de muito bom gosto.
É interessante perceber que Sangailé, mesmo sofrendo por uma certa inadequação com o mundo em que vive, graças ao distanciamento quase mórbido que tem com sua família (especialmente com sua mãe) e sua solitária fascinação pelas apresentações de voos acrobáticos, é na vertigem que todos os pontos se unem - aquela expressa pela realidade cotidiana da adolescente e na metáfora que acompanha algumas passagens marcantes, como a necessidade de se auto-mutilar para se sentir viva. Reparem, são camadas sensíveis, mas muito bem desenvolvidas com uma relação artística interessante para aqueles dispostos a mergulhar na psiquê da protagonista.
"O Verão de Sangaile" fala sobre o vazio existencial, depressão, suicídio, amor, descobertas e sonhos, mas definitivamente de uma forma que apenas um público bem particular, alternativo e orientado para descobertas narrativas menos convencionais, vai gostar - é isso que o filme entrega e essa é a razão do seu sucesso nos vários festivais que participou pelo mundo. Vale dizer que Alante Kavaite venceu como melhor diretora em Sundance em 2015 e o filme foi indicado ao prêmio máximo do Festival.
Vale a pena, com certa identificação pela proposta artística!
"Palmer" é, essencialmente, um filme muito humano, daqueles que a história nos toca na alma e que nos faz torcer pelo protagonista desde o inicio, já que sabemos que sua transformação faz parte de uma jornada e é ela que vai nos mover em busca de um possível final feliz - eu disse, "possível"! A vida é assim!
Após 12 anos na prisão, Palmer (Justin Timberlake) sai da condicional e retorna para sua cidade natal, Sylvain, na Louisiana, onde sua avó o criou desde adolescente. Ainda sem rumo, tentando se reestabelecer na sociedade, Palmer acaba encontrando um propósito de vida ao conhecer um garoto de sete anos que mora com a mãe drogada em um trailer ao lado da sua casa. Sam (Ryder Allen) sofre todo tipo debullying por gostar de brincar com bonecas, de assistir animações “para” meninas e por vestir-se de maneira diferente dos demais garotos, ou seja, uma criança "diferente" do que a sociedade espera, especialmente em uma cidade tradicional e preconceituosa do interior dos EUA. Confira o trailer:
Ao assistir o trailer já sabemos exatamente onde vamos nos enfiar, certo? "Palmer" tem uma estrutura extremamente clichê, que sabe exatamente quais os atalhos sentimentais que precisa seguir para alcançar o seu objetivo: nos fazer refletir sobre os problemas da sociedade e a falta de empatia do ser humano, codificada em todas as formas de preconceito e personificada na figura de um garoto carismático e apaixonante - a relação com "Extraordinário" será natural, diga-se de passagem.
Como "Extraordinário", "Palmer" também não ousa, não vai além do suportável para mostrar todos os problemas que o roteiro pontua: bullying, drogas, abandono, racismo e preconceito. A narrativa faz o mínimo necessário para passar sua mensagem e nos provocar a reflexão, mas em nenhum momento nos impacta com tanta força como "Florida Project", por exemplo. Isso não é exatamente um problema, que fique claro, até porquê a idéia nunca foi se aprofundar realmente em nenhum desses assuntos tão espinhosos - o que facilita a jornada e fatalmente vai atingir um público muito maior.
O diretor Fisher Stevens (Amigos Inseparáveis) faz um "arroz com feijão" muito competente, mas é visível a falta de personalidade cinematográfica para transformar algumas situações em cenas melhores ou mais criativas - mesmo sem perder o conceito "soft" do projeto. Justin Timberlake faz um excelente trabalho e mostra, mais uma vez, potencial para voar alto na carreira de ator, se houver uma dedicação maior. O garoto Ryder Allen é um achado e não vou me surpreender se aparecer como indicado a "Ator Coadjuvante" em alguma grande premiação - no "Broadcast Film Critics Association Awards, ele já foi reconhecido.
"Palmer" vale muito a pena, é um filme simpático, bem realizado em todos os sentidos e muito inteligente em transformar um roteiro delicado da novata Cheryl Guerriero, em um filme emocionalmente na medida certa. Vai tranquilo!
"Palmer" é, essencialmente, um filme muito humano, daqueles que a história nos toca na alma e que nos faz torcer pelo protagonista desde o inicio, já que sabemos que sua transformação faz parte de uma jornada e é ela que vai nos mover em busca de um possível final feliz - eu disse, "possível"! A vida é assim!
Após 12 anos na prisão, Palmer (Justin Timberlake) sai da condicional e retorna para sua cidade natal, Sylvain, na Louisiana, onde sua avó o criou desde adolescente. Ainda sem rumo, tentando se reestabelecer na sociedade, Palmer acaba encontrando um propósito de vida ao conhecer um garoto de sete anos que mora com a mãe drogada em um trailer ao lado da sua casa. Sam (Ryder Allen) sofre todo tipo debullying por gostar de brincar com bonecas, de assistir animações “para” meninas e por vestir-se de maneira diferente dos demais garotos, ou seja, uma criança "diferente" do que a sociedade espera, especialmente em uma cidade tradicional e preconceituosa do interior dos EUA. Confira o trailer:
Ao assistir o trailer já sabemos exatamente onde vamos nos enfiar, certo? "Palmer" tem uma estrutura extremamente clichê, que sabe exatamente quais os atalhos sentimentais que precisa seguir para alcançar o seu objetivo: nos fazer refletir sobre os problemas da sociedade e a falta de empatia do ser humano, codificada em todas as formas de preconceito e personificada na figura de um garoto carismático e apaixonante - a relação com "Extraordinário" será natural, diga-se de passagem.
Como "Extraordinário", "Palmer" também não ousa, não vai além do suportável para mostrar todos os problemas que o roteiro pontua: bullying, drogas, abandono, racismo e preconceito. A narrativa faz o mínimo necessário para passar sua mensagem e nos provocar a reflexão, mas em nenhum momento nos impacta com tanta força como "Florida Project", por exemplo. Isso não é exatamente um problema, que fique claro, até porquê a idéia nunca foi se aprofundar realmente em nenhum desses assuntos tão espinhosos - o que facilita a jornada e fatalmente vai atingir um público muito maior.
O diretor Fisher Stevens (Amigos Inseparáveis) faz um "arroz com feijão" muito competente, mas é visível a falta de personalidade cinematográfica para transformar algumas situações em cenas melhores ou mais criativas - mesmo sem perder o conceito "soft" do projeto. Justin Timberlake faz um excelente trabalho e mostra, mais uma vez, potencial para voar alto na carreira de ator, se houver uma dedicação maior. O garoto Ryder Allen é um achado e não vou me surpreender se aparecer como indicado a "Ator Coadjuvante" em alguma grande premiação - no "Broadcast Film Critics Association Awards, ele já foi reconhecido.
"Palmer" vale muito a pena, é um filme simpático, bem realizado em todos os sentidos e muito inteligente em transformar um roteiro delicado da novata Cheryl Guerriero, em um filme emocionalmente na medida certa. Vai tranquilo!
"Paterson" é um reflexo poético da monotonia do cotidiano pelos olhos do veterano diretor, e especialista em captar as diversas camadas de um personagem, Jim Jarmusch - e nem por isso deixa de ser um ótimo e sensível filme, que fique claro!
Na história acompanhamos o dia a dia de Paterson (Adam Driver), um motorista de ônibus cujo seu nome, ele compartilha com uma cidadezinha de Nova Jersey. Ali, ele vive com sua namorada, a inquieta, Laura (Golshifteh Farahani). Durante 7 dias, assistimos a rotina de Paterson e sua enorme paixão pela poesia. Confira o trailer:
Sem dúvida que o maior mérito de "Paterson" está na ideia de que a beleza da vida está no detalhe! Sim, eu sei que pode parecer poético demais e que a cadência repetitiva do cotidiano de um único personagem pode dar sono - e de fato esse elemento vai polarizar muitas opiniões sobre o filme, mas te garanto: não tem nada de chato se colocar na posição de só observar! Temos a impressão que "Paterson" não nos leva a lugar algum e talvez essa percepção seja até adequada perante o conceito narrativo que Jarmusch quis imprimir no filme, porém é preciso dizer que existem nuances tão interessantes que impactam diretamente na nossa experiência - veja, existe uma pré-disposição a esperarmos que algo diferente aconteça na nossa vida e muitas vezes esse "algo" nunca acontece - a vida é assim e o filme também! Essa certa tensão da "espera" nos acompanha durante todo filme, nos causando uma certa ansiedade, mas quando entendemos a razão de tudo aquilo, simplesmente relaxamos e nos permitimos acompanhar a busca pelo entendimento de que a felicidade está na tranquilidade de saber quais os próximos passos temos que dar!
Prepare-se para um filme que te vai te provocar uma auto-reflexão, que teve uma carreira respeitada em festivais importantes por todo planeta e que retrata a monotonia da vida comum como poucas vezes assistimos! Vale muito o seu play, mas só se você estiver disposto a embarcar na proposta pouco usual do diretor!
“Todo dia é um novo dia”, já dizia o poema de Carlos Williams Carlos, um dos ídolos de Paterson - e é assim que o personagem vive: ele acorda nos braços da namorada, vai para o trabalho, conversa com seu supervisor pessimista, dirige seu ônibus, escuta uma ou outra conversa dos passageiros, almoça, escreve um pouco de poesia, chega em casa, janta e termina a noite com uma cerveja, num bar, depois de caminhar com o cachorro da namorada! Pronto, entra com um fade to black que determina o final do dia e tudo se repete com uma ou outra diferença que serve para nos encher de expectativas, até que...
Um dos elementos que merece elogios é a montagem inteligente que o brasileiro Affonso Gonçalves criou - o pace é tão constante que até as elipses que determinam algumas repetições diárias de eventos e que, eventualmente, pulam uma determinada ordem, nos divertem sem sabermos exatamente a razão! Reparem na cena que explica como a caixa de correio sempre fica torta ou em como Gonçalves procura sempre posicionar algum take do cachorro, como mero espectador (mal-humorado), reagindo a uma situação! Esse humor sutil, quase irônico, faz toda a diferença em vários momentos do filme - o que acaba deixando a experiência bastante agradável, quase como uma suspensão daquela realidade tão monótona!
Jarmusch sabe como ninguém sobre a importância de ter um bom ator que possa dar vida a um roteiro tão particular que ele mesmo escreve. Adam Driver se apoia em um tom bastante dócil e muito (mas, muito) contido, enquanto sua namorada Laura exala energia, em busca de algo que a tire da monotonia - ela faz questão de sempre mudar algo em sua casa, aprender alguma coisa diferente ou até de criar novas receitas para sair da mesmice. É tão bacana perceber como toda essa diferença entre eles os completam tão bem, que sempre estamos esperando um ou o outro vacilar só para provar que toda aquela cumplicidade nunca existiu de verdade!
"Paterson" não é um filme fácil, mas é um filme delicado e que exalta as pequenas coisas. Saber olhar e enxergar a beleza do cotidiano é para poucos e é exatamente isso que o diretor Jim Jarmusch quer: nos provocar a entender que a felicidade está nas pequenas coisas, mesmo que seja na risada incontrolável ao ver uma pessoa reclamando de um término de relação ou na alegria da companheira em poder te convidar para assistir um filme no cinema no sábado a noite!
Simples e lindo!
"Paterson" é um reflexo poético da monotonia do cotidiano pelos olhos do veterano diretor, e especialista em captar as diversas camadas de um personagem, Jim Jarmusch - e nem por isso deixa de ser um ótimo e sensível filme, que fique claro!
Na história acompanhamos o dia a dia de Paterson (Adam Driver), um motorista de ônibus cujo seu nome, ele compartilha com uma cidadezinha de Nova Jersey. Ali, ele vive com sua namorada, a inquieta, Laura (Golshifteh Farahani). Durante 7 dias, assistimos a rotina de Paterson e sua enorme paixão pela poesia. Confira o trailer:
Sem dúvida que o maior mérito de "Paterson" está na ideia de que a beleza da vida está no detalhe! Sim, eu sei que pode parecer poético demais e que a cadência repetitiva do cotidiano de um único personagem pode dar sono - e de fato esse elemento vai polarizar muitas opiniões sobre o filme, mas te garanto: não tem nada de chato se colocar na posição de só observar! Temos a impressão que "Paterson" não nos leva a lugar algum e talvez essa percepção seja até adequada perante o conceito narrativo que Jarmusch quis imprimir no filme, porém é preciso dizer que existem nuances tão interessantes que impactam diretamente na nossa experiência - veja, existe uma pré-disposição a esperarmos que algo diferente aconteça na nossa vida e muitas vezes esse "algo" nunca acontece - a vida é assim e o filme também! Essa certa tensão da "espera" nos acompanha durante todo filme, nos causando uma certa ansiedade, mas quando entendemos a razão de tudo aquilo, simplesmente relaxamos e nos permitimos acompanhar a busca pelo entendimento de que a felicidade está na tranquilidade de saber quais os próximos passos temos que dar!
Prepare-se para um filme que te vai te provocar uma auto-reflexão, que teve uma carreira respeitada em festivais importantes por todo planeta e que retrata a monotonia da vida comum como poucas vezes assistimos! Vale muito o seu play, mas só se você estiver disposto a embarcar na proposta pouco usual do diretor!
“Todo dia é um novo dia”, já dizia o poema de Carlos Williams Carlos, um dos ídolos de Paterson - e é assim que o personagem vive: ele acorda nos braços da namorada, vai para o trabalho, conversa com seu supervisor pessimista, dirige seu ônibus, escuta uma ou outra conversa dos passageiros, almoça, escreve um pouco de poesia, chega em casa, janta e termina a noite com uma cerveja, num bar, depois de caminhar com o cachorro da namorada! Pronto, entra com um fade to black que determina o final do dia e tudo se repete com uma ou outra diferença que serve para nos encher de expectativas, até que...
Um dos elementos que merece elogios é a montagem inteligente que o brasileiro Affonso Gonçalves criou - o pace é tão constante que até as elipses que determinam algumas repetições diárias de eventos e que, eventualmente, pulam uma determinada ordem, nos divertem sem sabermos exatamente a razão! Reparem na cena que explica como a caixa de correio sempre fica torta ou em como Gonçalves procura sempre posicionar algum take do cachorro, como mero espectador (mal-humorado), reagindo a uma situação! Esse humor sutil, quase irônico, faz toda a diferença em vários momentos do filme - o que acaba deixando a experiência bastante agradável, quase como uma suspensão daquela realidade tão monótona!
Jarmusch sabe como ninguém sobre a importância de ter um bom ator que possa dar vida a um roteiro tão particular que ele mesmo escreve. Adam Driver se apoia em um tom bastante dócil e muito (mas, muito) contido, enquanto sua namorada Laura exala energia, em busca de algo que a tire da monotonia - ela faz questão de sempre mudar algo em sua casa, aprender alguma coisa diferente ou até de criar novas receitas para sair da mesmice. É tão bacana perceber como toda essa diferença entre eles os completam tão bem, que sempre estamos esperando um ou o outro vacilar só para provar que toda aquela cumplicidade nunca existiu de verdade!
"Paterson" não é um filme fácil, mas é um filme delicado e que exalta as pequenas coisas. Saber olhar e enxergar a beleza do cotidiano é para poucos e é exatamente isso que o diretor Jim Jarmusch quer: nos provocar a entender que a felicidade está nas pequenas coisas, mesmo que seja na risada incontrolável ao ver uma pessoa reclamando de um término de relação ou na alegria da companheira em poder te convidar para assistir um filme no cinema no sábado a noite!
Simples e lindo!
Antes de mais nada é preciso avisar que "Pelas ruas de Paris" é um filme conceitual, autoral e voltado para um nicho muito específico de assinante - o filme é quase um Manifesto na verdade, na sua forma e no seu conteúdo! Desde o primeiro minuto é nítida a influência de cineastas como Terrence Malick por exemplo, então se você achou "Árvore da Vida" uma viagem ou "To the Wonder" sem pé nem cabeça, nem perca seu tempo lendo esse review, porque fatalmente você vai odiar o filme.
Basicamente, "Pelas ruas de Paris" conta a história de um casal: do primeiro beijo até o término da relação - nada original, eu sei, mas é aí que a experimentação entra em jogo pelas mãos da diretora Elisabeth Vogler que, de uma forma bastante onírica, vai contando todo o processo de desgaste daquele relacionamento pelo ponto de vista de uma jovem parisiense que, a cada momento, se coloca em uma postura de reflexão abusando das várias camadas que determina o individualismo e a complexidade humana. Mais um vez, se você não está disposto a entrar em uma experiência visual não dê o play, mas se um filme bastante conceitual te provoca à imergir em um universo tão particular, siga em frente!
"Pelas ruas de Paris" acompanha a relação de Anna e Greg, desde seu início circunstancial (e até juvenil) em um festival de música eletrônica até o ponto atual de amadurecimento que acaba desencadeando uma crise de relacionamento quando ele decide morar Espanha. Para Anna é preciso decidir se embarca no sonho do namorado ou se continua em Paris buscando seus próprios objetivos de vida - que, por sinal, ela nem sabe muito bem quais são. O ponto alto dessa premissa é o fato do casal parecer único no início e aos poucos ir se afastando pelas escolhas individuais - essa dicotomia é tão interessante quanto (vejam só) normal!
Os momentos de reflexão e indagação criam uma sensação bastante comum entre os jovens ao mesmo tempo em que provoca uma espécie de epifania na personagem - eu sei que pode parecer complexo em palavras, mas, na minha opinião, Elisabeth Vogler soube decodificar muito bem esse processo na forma de imagens. Ela aproveita a naturalidade do texto para misturar planos longos de diálogos com cortes completamente aleatórios tendo ao fundo belíssimas narrações em off. É claro que isso trás uma certa poesia para o filme, o que nos dois primeiros atos funcionam perfeitamente - minha única critica é com a falta de fôlego do terceiro ato. Tudo foi tão bem construído no visual e na narrativa, durante 50 minutos, que senti um pouco de descaso na conclusão de toda aquela jornada. A não linearidade se encaixa perfeitamente ao conceito do filme, trás na montagem pontos bastante relevantes e a fotografia funciona perfeitamente como um bela moldura para o trabalho de Noémie Schmidt. Admito que em um determinado momento achei que a diretora perdeu um pouco a mão na sua proposta conceitual, deixou tanto o movimento de câmera, quanto a interpretação, nervosas demais - perdeu a sutileza poética, mas por outro lado, é possível entender essas escolhas, pois a sensação de tensão e aprisionamento da personagem também foi aumentando.
"Pelas ruas de Paris" é interessante, difícil e muito particular. Como eu disse acima: ou você embarca na "viagem" que o filme propõe - e só faça isso se você realmente gostar desse tipo de experiência - ou procure o filme ao lado, pois "Pelas ruas de Paris" será genial para algumas (poucas) pessoas e uma grande porcaria para a grande maioria de assinantes - e nenhum dos dois grupos estarão tão errados assim!!!
Antes de mais nada é preciso avisar que "Pelas ruas de Paris" é um filme conceitual, autoral e voltado para um nicho muito específico de assinante - o filme é quase um Manifesto na verdade, na sua forma e no seu conteúdo! Desde o primeiro minuto é nítida a influência de cineastas como Terrence Malick por exemplo, então se você achou "Árvore da Vida" uma viagem ou "To the Wonder" sem pé nem cabeça, nem perca seu tempo lendo esse review, porque fatalmente você vai odiar o filme.
Basicamente, "Pelas ruas de Paris" conta a história de um casal: do primeiro beijo até o término da relação - nada original, eu sei, mas é aí que a experimentação entra em jogo pelas mãos da diretora Elisabeth Vogler que, de uma forma bastante onírica, vai contando todo o processo de desgaste daquele relacionamento pelo ponto de vista de uma jovem parisiense que, a cada momento, se coloca em uma postura de reflexão abusando das várias camadas que determina o individualismo e a complexidade humana. Mais um vez, se você não está disposto a entrar em uma experiência visual não dê o play, mas se um filme bastante conceitual te provoca à imergir em um universo tão particular, siga em frente!
"Pelas ruas de Paris" acompanha a relação de Anna e Greg, desde seu início circunstancial (e até juvenil) em um festival de música eletrônica até o ponto atual de amadurecimento que acaba desencadeando uma crise de relacionamento quando ele decide morar Espanha. Para Anna é preciso decidir se embarca no sonho do namorado ou se continua em Paris buscando seus próprios objetivos de vida - que, por sinal, ela nem sabe muito bem quais são. O ponto alto dessa premissa é o fato do casal parecer único no início e aos poucos ir se afastando pelas escolhas individuais - essa dicotomia é tão interessante quanto (vejam só) normal!
Os momentos de reflexão e indagação criam uma sensação bastante comum entre os jovens ao mesmo tempo em que provoca uma espécie de epifania na personagem - eu sei que pode parecer complexo em palavras, mas, na minha opinião, Elisabeth Vogler soube decodificar muito bem esse processo na forma de imagens. Ela aproveita a naturalidade do texto para misturar planos longos de diálogos com cortes completamente aleatórios tendo ao fundo belíssimas narrações em off. É claro que isso trás uma certa poesia para o filme, o que nos dois primeiros atos funcionam perfeitamente - minha única critica é com a falta de fôlego do terceiro ato. Tudo foi tão bem construído no visual e na narrativa, durante 50 minutos, que senti um pouco de descaso na conclusão de toda aquela jornada. A não linearidade se encaixa perfeitamente ao conceito do filme, trás na montagem pontos bastante relevantes e a fotografia funciona perfeitamente como um bela moldura para o trabalho de Noémie Schmidt. Admito que em um determinado momento achei que a diretora perdeu um pouco a mão na sua proposta conceitual, deixou tanto o movimento de câmera, quanto a interpretação, nervosas demais - perdeu a sutileza poética, mas por outro lado, é possível entender essas escolhas, pois a sensação de tensão e aprisionamento da personagem também foi aumentando.
"Pelas ruas de Paris" é interessante, difícil e muito particular. Como eu disse acima: ou você embarca na "viagem" que o filme propõe - e só faça isso se você realmente gostar desse tipo de experiência - ou procure o filme ao lado, pois "Pelas ruas de Paris" será genial para algumas (poucas) pessoas e uma grande porcaria para a grande maioria de assinantes - e nenhum dos dois grupos estarão tão errados assim!!!
“Pieces of a Woman” é um filme sensacional, mas já aviso: não será uma jornada nada fácil. É um verdadeiro soco no estômago e, como pai, talvez tenha sido os primeiros 30 minutos mais doloridos que já experienciei em um filme na minha vida! Sério, é muito difícil desvincular a percepção de uma realidade avassaladora de uma comprovada história de "ficção" como essa!
O filme acompanha Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf), um jovem casal que se prepara para a chegada da primeira filha. Decididos a fazer o parto em casa, o procedimento não acontece exatamente como previam e os dois precisam lidar com o impacto de uma tragédia. Sofrendo pressões familiares, midiáticas e de advogados, o casal precisa (re)descobrir uma forma de continuar a vida e de preservar o relacionamento em meio uma crise que toca a alma. Confira o trailer:
Impossível começar uma análise sem citar a aula de cinema que são os primeiros trinta minutos desse filme. Além criar uma atmosfera narrativa angustiante (quase como um filme de terror) e de ser um plano sequência (sem cortes) com mais de vinte minutos, criativo e tecnicamente perfeito, “Pieces of a Woman” nos deixa completamente destruídos ao acompanhar o trabalho de parto feito em casa pela parteira Eva (Molly Parker). A construção do relacionamento, as inseguranças do jovem casal, as dúvidas sobre o procedimento, a atenção e a humanidade da parteira; tudo isso é pontuado sem atropelos, no seu tempo, com uma câmera viva captando cada sensação, cada sentimento - é incrível (e penoso)!
A partir da tragédia do casal, o premiadíssimo diretor húngaro Kornél Mundruczó não deixa o nível dramático cair. Ele escolhe lindos planos para contar a destruição que uma tragédia como essa representa na vida de um ser humano, em uma relação e em todos que os cercam. A relação de Martha com sua mãe, com suas cicatrizes abertas, é um espetáculo de ambas as atrizes - Ellen Burstyn maltrata com sua técnica e capacidade dramática! Na verdade, acho que todo elenco está impecável e vou me surpreender se não forem indicados nessa temporada de premiações: Vanessa Kirby, inclusive, deve despontar até como favorita!
Puxa, o que dizer além de elogiar “Pieces of a Woman”? Talvez reafirmar a dor que ele vai provocar? Não sei, agora como audiência posso garantir que é uma experiência única e que nos provoca a entender as dores que a vida pode nos proporcionar sem esquecer de agradecer por tudo que ela já nos presenteou. Vale muito o seu play, mas será preciso força!
Observações:
1. O roteiro de Kata Wéber foi escrito a partir de uma experiência pessoal com seu parceiro, o próprio diretor, e, talvez por isso, sua protagonista transborda tanta honestidade, mesmo sendo um drama que estrapola a dor tão íntima e legítima de uma mãe!
2. O filme ganhou dois prêmios no Festival de Veneza em 2020: Melhor Filme e Melhor Atriz!
“Pieces of a Woman” é um filme sensacional, mas já aviso: não será uma jornada nada fácil. É um verdadeiro soco no estômago e, como pai, talvez tenha sido os primeiros 30 minutos mais doloridos que já experienciei em um filme na minha vida! Sério, é muito difícil desvincular a percepção de uma realidade avassaladora de uma comprovada história de "ficção" como essa!
O filme acompanha Martha (Vanessa Kirby) e Sean (Shia LaBeouf), um jovem casal que se prepara para a chegada da primeira filha. Decididos a fazer o parto em casa, o procedimento não acontece exatamente como previam e os dois precisam lidar com o impacto de uma tragédia. Sofrendo pressões familiares, midiáticas e de advogados, o casal precisa (re)descobrir uma forma de continuar a vida e de preservar o relacionamento em meio uma crise que toca a alma. Confira o trailer:
Impossível começar uma análise sem citar a aula de cinema que são os primeiros trinta minutos desse filme. Além criar uma atmosfera narrativa angustiante (quase como um filme de terror) e de ser um plano sequência (sem cortes) com mais de vinte minutos, criativo e tecnicamente perfeito, “Pieces of a Woman” nos deixa completamente destruídos ao acompanhar o trabalho de parto feito em casa pela parteira Eva (Molly Parker). A construção do relacionamento, as inseguranças do jovem casal, as dúvidas sobre o procedimento, a atenção e a humanidade da parteira; tudo isso é pontuado sem atropelos, no seu tempo, com uma câmera viva captando cada sensação, cada sentimento - é incrível (e penoso)!
A partir da tragédia do casal, o premiadíssimo diretor húngaro Kornél Mundruczó não deixa o nível dramático cair. Ele escolhe lindos planos para contar a destruição que uma tragédia como essa representa na vida de um ser humano, em uma relação e em todos que os cercam. A relação de Martha com sua mãe, com suas cicatrizes abertas, é um espetáculo de ambas as atrizes - Ellen Burstyn maltrata com sua técnica e capacidade dramática! Na verdade, acho que todo elenco está impecável e vou me surpreender se não forem indicados nessa temporada de premiações: Vanessa Kirby, inclusive, deve despontar até como favorita!
Puxa, o que dizer além de elogiar “Pieces of a Woman”? Talvez reafirmar a dor que ele vai provocar? Não sei, agora como audiência posso garantir que é uma experiência única e que nos provoca a entender as dores que a vida pode nos proporcionar sem esquecer de agradecer por tudo que ela já nos presenteou. Vale muito o seu play, mas será preciso força!
Observações:
1. O roteiro de Kata Wéber foi escrito a partir de uma experiência pessoal com seu parceiro, o próprio diretor, e, talvez por isso, sua protagonista transborda tanta honestidade, mesmo sendo um drama que estrapola a dor tão íntima e legítima de uma mãe!
2. O filme ganhou dois prêmios no Festival de Veneza em 2020: Melhor Filme e Melhor Atriz!
"Quatro dias com ela"
A história é razoavelmente simples - após uma década de recaídas, mentiras e manipulações, Deb (Glenn Close) precisa acreditar que sua filha de 30 e poucos anos, Molly (Mila Kunis), finalmente está disposta a se livrar das drogas. Nos quatro dias mais cruciais da desintoxicação, antes de iniciar um tratamentos inovador, o relacionamento entre elas é colocado à prova e é quando todos os fantasmas do passado voltam a assombrar aquela relação completamente destruída pela heroína e por decisões que vão além do vício. Confira o trailer (em inglês):
Em 2016, Eli Saslow publicou um artigo no Washington Post intitulado “How’s Amanda? A Story of Truth, Lies and an American Addiction”. O texto explorava a onda de toxicodependência nos EUA através de um caso especifico: o de Amanda Wendler. Foi esse trabalho jornalístico que serviu de base para o argumento que o próprio Saslow viria a escrever, trazendo para ficção uma junção desse caso com outros casos reais que fizeram parte de sua pesquisa e que, olha, impressionam demais pela densidade dramática e pela realidade avassaladora do problema.
Eu diria até que existe uma certa sensibilidade na escolha conceitual de Garcia, que construiu o roteiro a partir do material de Saslow, ao utilizar um recorte mais pontual da relação entre Deb e Molly, onde a convivência de alguns dias acaba criando uma forte conexão de empatia entre a audiência e a viciada, sem necessariamente se apoiar no julgamento perante o problema em si, mas sim na busca por justificativas que teriam gerado aquele problema. Mesmo que uma certa visão preconceituosa da mãe para com a própria filha dite as regras dessa relação (o que é até natural), é pela expectativa de que dias melhores aconteçam que nos mantemos dispostos à acompanhar o drama das personagens.
Como era de se esperar, claro, "Four Good Days" (no original) segue ponto a ponto aquela cartilha dramática dos filmes que abordam a luta de pais que buscam não desistir de seus filhos viciados, com uma boa dose de resiliência e amor, mas que, mesmo nas melhores intenções, tendem a fragilizar o problema por não saberem lidar muito bem com sua causa. Sim, talvez o filme possa mesmo parecer linear demais para parte da audiência, daqueles que não arriscam e que acabam preferindo o dramalhão, mas não se engane, pois existe um profundidade na história que merece demais sua atenção.
Vale muito o seu play!
"Quatro dias com ela"
A história é razoavelmente simples - após uma década de recaídas, mentiras e manipulações, Deb (Glenn Close) precisa acreditar que sua filha de 30 e poucos anos, Molly (Mila Kunis), finalmente está disposta a se livrar das drogas. Nos quatro dias mais cruciais da desintoxicação, antes de iniciar um tratamentos inovador, o relacionamento entre elas é colocado à prova e é quando todos os fantasmas do passado voltam a assombrar aquela relação completamente destruída pela heroína e por decisões que vão além do vício. Confira o trailer (em inglês):
Em 2016, Eli Saslow publicou um artigo no Washington Post intitulado “How’s Amanda? A Story of Truth, Lies and an American Addiction”. O texto explorava a onda de toxicodependência nos EUA através de um caso especifico: o de Amanda Wendler. Foi esse trabalho jornalístico que serviu de base para o argumento que o próprio Saslow viria a escrever, trazendo para ficção uma junção desse caso com outros casos reais que fizeram parte de sua pesquisa e que, olha, impressionam demais pela densidade dramática e pela realidade avassaladora do problema.
Eu diria até que existe uma certa sensibilidade na escolha conceitual de Garcia, que construiu o roteiro a partir do material de Saslow, ao utilizar um recorte mais pontual da relação entre Deb e Molly, onde a convivência de alguns dias acaba criando uma forte conexão de empatia entre a audiência e a viciada, sem necessariamente se apoiar no julgamento perante o problema em si, mas sim na busca por justificativas que teriam gerado aquele problema. Mesmo que uma certa visão preconceituosa da mãe para com a própria filha dite as regras dessa relação (o que é até natural), é pela expectativa de que dias melhores aconteçam que nos mantemos dispostos à acompanhar o drama das personagens.
Como era de se esperar, claro, "Four Good Days" (no original) segue ponto a ponto aquela cartilha dramática dos filmes que abordam a luta de pais que buscam não desistir de seus filhos viciados, com uma boa dose de resiliência e amor, mas que, mesmo nas melhores intenções, tendem a fragilizar o problema por não saberem lidar muito bem com sua causa. Sim, talvez o filme possa mesmo parecer linear demais para parte da audiência, daqueles que não arriscam e que acabam preferindo o dramalhão, mas não se engane, pois existe um profundidade na história que merece demais sua atenção.
Vale muito o seu play!
"Querido Menino" é um soco na boca do estômago por defender uma tese que vai completamente contra ao que acreditamos ser o remédio para tudo na vida: o amor não resolve todos os problemas do mundo! O diretor belga Felix van Groeningen, que já tinha mostrado todo o seu talento no premiado (e imperdível) "Alabama Monroe", usa toda a sua capacidade e sensibilidade para construir uma narrativa completamente claustrofóbica e viceral para contar a história real de um jovem garoto, amado e acolhido por todos, que luta para vencer as drogas - mas aqui o foco foge um pouco do problema do usuário e passa pelas consequências emocionais de quem o amou e o acolheu!
O filme aborda a relação entre um pai e seu filho. David (Steve Carell) é um respeitado jornalista, com textos publicados na Rolling Stone e no New York Times. Ele vive com sua segunda esposa e seus três filhos. O mais velho, Nic (Timothée Chalamet), fruto do primeiro casamento de David, está prestes a entrar para a universidade quando ele se vê em meio a uma rotina de consumo de drogas que começa a abalar seu dia a dia e a relação com seu pai. Confira o trailer:
"Querido Menino" é inspirado em dois livros, um de memórias do jornalista David Sheff chamado "Beautiful Boy" e outro do seu filho, Nic, "Tweak". O roteiro foi escrito pelo diretor ao lado de Luke Davies (responsável por "Lion" e "Relatos do Mundo") e trabalha muito bem dois sentimentos que deveriam estar em prateleiras separadas mas que acabam se tornando um consequência do outro: impotência e culpa! Mesmo sem uma exposição tão clara, é possível perceber que Nic se tornou mais introspectivo após o divórcio dos pais - a cena em que David se despede de Nic ainda criança no aeroporto, é simples, potente e esclarecedora. A fragilidade do garoto, não tem ligação nenhuma com o amor que recebia, mas talvez toda a liberdade e a enorme confiança, sim. É impressionante como o diretor nos coloca na posição de observador e nos provoca o julgamento a cada nova informação (muitas delas vindo das próprias atitudes de Nic durante a vida). O que leva o garoto para vício não foi a troca descontraída entre pai e filho e um cigarro de maconha, mas entendendo o contexto, isso não pode ter sido um gatilho?
O roteiro é muito cuidadoso em não apontar os culpados, mas também não deixa de indicar algumas pistas - seja pela troca de acusações entre os pais separados pelo celular ou a falta de pertencimento que o garoto sentia dentro da nova estrutura familiar que o pai criou. O interessante é que Felix van Groeningen usa a mesma estrutura narrativa fragmentada de "Alabama Monroe" e mais uma vez, nos entrega as peças "bagunçadas" para nós interpretarmos e só depois montarmos, de acordo com a nossa percepção de valor e capacidade analítica - o responsável pela edição, inclusive, é o mesmo Nico Leunen.
Um detalhe importante: o filme jamais demoniza o usuário de drogas e isso impacta diretamente na performance de Chalamet (indicado ao Globo de Ouro pelo papel), mas quem brilha mesmo, sem dúvida, é Steve Carell! Carrell entrega uma introspecção impressionante, passando toda a complexidade e desespero de um pai que se vê seu filho caminhar para a morte, sem saber o que fazer e, mais interessante, sem perder o tom - que seria extremamente natural para causar impacto em cenas de confronto. O fato é que o impacto do filme está no que é sentido e nunca no que é dito - e aqui eu peço que vocês reparem na cena em que a mulher de David, Karen (Maura Tierney), vai atrás de Nic com seu carro e em um determinado momento, desiste. Nada mais simbólico que isso, sem um palavra, só sentimento!
"Querido Menino" mostra que a jornada na dependência química não é somente do viciado, mas de todos aqueles que o amam e que as drogas (e o álcool) é a consequência, nunca a causa do problema. Mas qual o problema? Essa é a pergunta que David tenta responder como pai, mas que nem Nic, como filho, consegue entregar e mesmo sem o roteiro citar a depressão como gatilho para as atitudes do garoto, Groeningen, com muita sensibilidade, faz com que nosso sinal de alerta seja ligado para refletirmos e, principalmente, olharmos para dentro.
Vale muito a pena, mas esteja preparado para uma jornada difícil!
"Querido Menino" é um soco na boca do estômago por defender uma tese que vai completamente contra ao que acreditamos ser o remédio para tudo na vida: o amor não resolve todos os problemas do mundo! O diretor belga Felix van Groeningen, que já tinha mostrado todo o seu talento no premiado (e imperdível) "Alabama Monroe", usa toda a sua capacidade e sensibilidade para construir uma narrativa completamente claustrofóbica e viceral para contar a história real de um jovem garoto, amado e acolhido por todos, que luta para vencer as drogas - mas aqui o foco foge um pouco do problema do usuário e passa pelas consequências emocionais de quem o amou e o acolheu!
O filme aborda a relação entre um pai e seu filho. David (Steve Carell) é um respeitado jornalista, com textos publicados na Rolling Stone e no New York Times. Ele vive com sua segunda esposa e seus três filhos. O mais velho, Nic (Timothée Chalamet), fruto do primeiro casamento de David, está prestes a entrar para a universidade quando ele se vê em meio a uma rotina de consumo de drogas que começa a abalar seu dia a dia e a relação com seu pai. Confira o trailer:
"Querido Menino" é inspirado em dois livros, um de memórias do jornalista David Sheff chamado "Beautiful Boy" e outro do seu filho, Nic, "Tweak". O roteiro foi escrito pelo diretor ao lado de Luke Davies (responsável por "Lion" e "Relatos do Mundo") e trabalha muito bem dois sentimentos que deveriam estar em prateleiras separadas mas que acabam se tornando um consequência do outro: impotência e culpa! Mesmo sem uma exposição tão clara, é possível perceber que Nic se tornou mais introspectivo após o divórcio dos pais - a cena em que David se despede de Nic ainda criança no aeroporto, é simples, potente e esclarecedora. A fragilidade do garoto, não tem ligação nenhuma com o amor que recebia, mas talvez toda a liberdade e a enorme confiança, sim. É impressionante como o diretor nos coloca na posição de observador e nos provoca o julgamento a cada nova informação (muitas delas vindo das próprias atitudes de Nic durante a vida). O que leva o garoto para vício não foi a troca descontraída entre pai e filho e um cigarro de maconha, mas entendendo o contexto, isso não pode ter sido um gatilho?
O roteiro é muito cuidadoso em não apontar os culpados, mas também não deixa de indicar algumas pistas - seja pela troca de acusações entre os pais separados pelo celular ou a falta de pertencimento que o garoto sentia dentro da nova estrutura familiar que o pai criou. O interessante é que Felix van Groeningen usa a mesma estrutura narrativa fragmentada de "Alabama Monroe" e mais uma vez, nos entrega as peças "bagunçadas" para nós interpretarmos e só depois montarmos, de acordo com a nossa percepção de valor e capacidade analítica - o responsável pela edição, inclusive, é o mesmo Nico Leunen.
Um detalhe importante: o filme jamais demoniza o usuário de drogas e isso impacta diretamente na performance de Chalamet (indicado ao Globo de Ouro pelo papel), mas quem brilha mesmo, sem dúvida, é Steve Carell! Carrell entrega uma introspecção impressionante, passando toda a complexidade e desespero de um pai que se vê seu filho caminhar para a morte, sem saber o que fazer e, mais interessante, sem perder o tom - que seria extremamente natural para causar impacto em cenas de confronto. O fato é que o impacto do filme está no que é sentido e nunca no que é dito - e aqui eu peço que vocês reparem na cena em que a mulher de David, Karen (Maura Tierney), vai atrás de Nic com seu carro e em um determinado momento, desiste. Nada mais simbólico que isso, sem um palavra, só sentimento!
"Querido Menino" mostra que a jornada na dependência química não é somente do viciado, mas de todos aqueles que o amam e que as drogas (e o álcool) é a consequência, nunca a causa do problema. Mas qual o problema? Essa é a pergunta que David tenta responder como pai, mas que nem Nic, como filho, consegue entregar e mesmo sem o roteiro citar a depressão como gatilho para as atitudes do garoto, Groeningen, com muita sensibilidade, faz com que nosso sinal de alerta seja ligado para refletirmos e, principalmente, olharmos para dentro.
Vale muito a pena, mas esteja preparado para uma jornada difícil!
Com todos os clichês românticos possíveis e uma narrativa que muitas vezes beira o dramalhão meloso, posso te garantir: você vai se surpreender e se apaixonar por "Recomeço"! Lançada em 2022 pela Netflix, a minissérie é um drama dos mais encantadores e emocionantes - criada por Tembi Locke e inspirada em suas próprias memórias, retratadas no livro "From Scratch: A Memoir of Love, Sicily, and Finding Home". Olha, não se engane, a minissérie não é uma jornada tão tranquila assim, embora o primeiro episódio deixe a falsa impressão que "tivesse algumas piadinhas", facilmente poderia ser uma comédia romântica, "Recomeço" sabe da sua força dramática ao explorar as nuances entre o poder do amor, a dor da perda e o processo de reconstrução após uma tragédia - sempre pela perspectiva, muitas vezes crítica, da família.
Basicamente a trama gira em torno de Amy Wheeler (Zoe Saldaña), uma americana que se muda para a Itália para estudar arte e que, durante sua estadia em Florença, se apaixona por Lino (Eugenio Mastrandrea), um adorável chef siciliano. À medida que o romance engata, a história passa explorar as dinâmicas culturais entre as famílias de Amy e Lino, e os desafios que o casal enfrenta em sua relação intercultural. No entanto, o drama aumenta quando Lino é diagnosticado com uma doença terminal, forçando o casal a enfrentar a dor e as dificuldades de uma perda iminente. Confira o trailer, mas separe o lencinho:
"Recomeço" é profundamente pessoal e intimista, e por mais que possa parecer "mais do mesmo" ao fazer um recorte mais romântico, e depois dramático, das experiências reais de Locke e de sua luta quando descobre a doença de seu marido, existe uma certa sensação de magia na sua narrativa. A forma como ela retrata a reconstrução de sua vida confere à narrativa uma autenticidade emocional que é palpável e incrivelmente empática - é impossível não se conectar com a protagonista. "Recomeço" é um drama que toca em temas universais, claro, mas faz de uma maneira honesta, pontuando as expectativas de Amy Wheeler em contrapartida à dura realidade de Lino.
Zoe Saldaña oferece uma performance poderosa e sensível. Ela captura a jornada emocional de uma mulher apaixonada e cheia de vida que é forçada a enfrentar uma perda devastadora. Saldaña equilibra momentos de alegria e esperança com cenas de profundo desespero, tornando a trajetória de Amy incrivelmente humana. Sua química com Eugenio Mastrandrea é autêntica e comovente - é impressionante como os dois juntos formam o coração emocional da minissérie. E aqui cabe um comentário importante: o roteiro exalta a gastronomia italiana como um alívio entre as cenas mais dramáticas e ainda que flerte com alguns estereótipos, consegue evidenciar questões culturais clássicas que separam um modo de vida europeu do americano.
A direção de Nzingha Stewart (de "Daisy Jones & The Six") e de Dennie Gordon (de "Bloodline") é visualmente impressionante - especialmente nas cenas que se passam na Itália. As paisagens da Toscana e da Sicília são capturadas de maneira belíssima, servindo como pano de fundo para a jornada do casal. A fotografia aproveita ao máximo os contrastes entre o calor da cultura italiana e o peso do drama familiar em Los Angeles, criando um gatilho que reflete as tensões emocionais e culturais presentes na história. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora: com músicas que vão de baladas emocionantes a sons italianos mais tradicionais, eu diria que esse é o ponto que dá o tom da minissérie - a música não apenas reforça a emoção das cenas, mas também ajuda a criar uma atmosfera que destaca o encontro de culturas tão diferentes.
Com atuações comoventes e uma narrativa rica em sentimentos e sensações, "From Scratch" (no original) é uma das boas surpresas escondidas no streaming. Uma história de amor que não esquece dos reflexos sobre a família. Uma história de resiliência que não esquece de como essa jornada pode ser dolorosa. Uma história de vida que não esquece de como a conexão entre diferentes pessoas e culturas exige tanto de nós. Tudo contado com uma autenticidade que traz as experiências pessoais da autora ao mesmo tempo que oferece uma visão honesta e sincera sobre como as memórias podem servir como um ponto de inflexão da vida e com aqueles que amamos.
Imperdível!
Com todos os clichês românticos possíveis e uma narrativa que muitas vezes beira o dramalhão meloso, posso te garantir: você vai se surpreender e se apaixonar por "Recomeço"! Lançada em 2022 pela Netflix, a minissérie é um drama dos mais encantadores e emocionantes - criada por Tembi Locke e inspirada em suas próprias memórias, retratadas no livro "From Scratch: A Memoir of Love, Sicily, and Finding Home". Olha, não se engane, a minissérie não é uma jornada tão tranquila assim, embora o primeiro episódio deixe a falsa impressão que "tivesse algumas piadinhas", facilmente poderia ser uma comédia romântica, "Recomeço" sabe da sua força dramática ao explorar as nuances entre o poder do amor, a dor da perda e o processo de reconstrução após uma tragédia - sempre pela perspectiva, muitas vezes crítica, da família.
Basicamente a trama gira em torno de Amy Wheeler (Zoe Saldaña), uma americana que se muda para a Itália para estudar arte e que, durante sua estadia em Florença, se apaixona por Lino (Eugenio Mastrandrea), um adorável chef siciliano. À medida que o romance engata, a história passa explorar as dinâmicas culturais entre as famílias de Amy e Lino, e os desafios que o casal enfrenta em sua relação intercultural. No entanto, o drama aumenta quando Lino é diagnosticado com uma doença terminal, forçando o casal a enfrentar a dor e as dificuldades de uma perda iminente. Confira o trailer, mas separe o lencinho:
"Recomeço" é profundamente pessoal e intimista, e por mais que possa parecer "mais do mesmo" ao fazer um recorte mais romântico, e depois dramático, das experiências reais de Locke e de sua luta quando descobre a doença de seu marido, existe uma certa sensação de magia na sua narrativa. A forma como ela retrata a reconstrução de sua vida confere à narrativa uma autenticidade emocional que é palpável e incrivelmente empática - é impossível não se conectar com a protagonista. "Recomeço" é um drama que toca em temas universais, claro, mas faz de uma maneira honesta, pontuando as expectativas de Amy Wheeler em contrapartida à dura realidade de Lino.
Zoe Saldaña oferece uma performance poderosa e sensível. Ela captura a jornada emocional de uma mulher apaixonada e cheia de vida que é forçada a enfrentar uma perda devastadora. Saldaña equilibra momentos de alegria e esperança com cenas de profundo desespero, tornando a trajetória de Amy incrivelmente humana. Sua química com Eugenio Mastrandrea é autêntica e comovente - é impressionante como os dois juntos formam o coração emocional da minissérie. E aqui cabe um comentário importante: o roteiro exalta a gastronomia italiana como um alívio entre as cenas mais dramáticas e ainda que flerte com alguns estereótipos, consegue evidenciar questões culturais clássicas que separam um modo de vida europeu do americano.
A direção de Nzingha Stewart (de "Daisy Jones & The Six") e de Dennie Gordon (de "Bloodline") é visualmente impressionante - especialmente nas cenas que se passam na Itália. As paisagens da Toscana e da Sicília são capturadas de maneira belíssima, servindo como pano de fundo para a jornada do casal. A fotografia aproveita ao máximo os contrastes entre o calor da cultura italiana e o peso do drama familiar em Los Angeles, criando um gatilho que reflete as tensões emocionais e culturais presentes na história. Outro elemento que merece destaque é a trilha sonora: com músicas que vão de baladas emocionantes a sons italianos mais tradicionais, eu diria que esse é o ponto que dá o tom da minissérie - a música não apenas reforça a emoção das cenas, mas também ajuda a criar uma atmosfera que destaca o encontro de culturas tão diferentes.
Com atuações comoventes e uma narrativa rica em sentimentos e sensações, "From Scratch" (no original) é uma das boas surpresas escondidas no streaming. Uma história de amor que não esquece dos reflexos sobre a família. Uma história de resiliência que não esquece de como essa jornada pode ser dolorosa. Uma história de vida que não esquece de como a conexão entre diferentes pessoas e culturas exige tanto de nós. Tudo contado com uma autenticidade que traz as experiências pessoais da autora ao mesmo tempo que oferece uma visão honesta e sincera sobre como as memórias podem servir como um ponto de inflexão da vida e com aqueles que amamos.
Imperdível!
Poucas vezes você vai assistir um filme com tanta personalidade como "Réquiem para um Sonho", do incrível Darren Aronofsky (o diretor de "Mãe!"). Lançado em 2000, este filme muito impactante é capaz de nos levar para uma verdadeira montanha-russa emocional, basicamente explorando a relação de 4 personagens com as drogas e os reflexos devastadores do vício, pela perspectiva da ambição desenfreada e da busca incessante pela felicidade.
"Réquiem para um Sonho" segue quatro personagens: Harry (Jared Leto), Marion (Jennifer Connelly), Tyrone (Marlon Wayans) e Sara (Ellen Burstyn), cujas vidas são marcadas por aspirações e sonhos aparentemente inatingíveis. O filme habilmente entrelaça suas histórias enquanto eles se perdem em um labirinto de vícios, seja por drogas, amor ou fama. A narrativa cruamente realista evita o romantismo e mergulha nas profundezas sombrias das consequências dessas escolhas, resultando em um retrato visceral da fragilidade humana. Confira o trailer (em inglês):
Sem a menor dúvida que um dos pontos mais altos do filme está na direção - Aronofsky demonstra sua maestria ao utilizar uma variedade de técnicas visuais e estímulos sonoros que intensificam a nossa experiência de uma forma absurda, ao mesmo tempo em que cria uma atmosfera perturbadora para a narrativa. A montagem do Jay Rabinowitz (de "Oslo") é frenética, os cortes são rápidos e o alinhamento com a trilha sonora de Clint Mansell trabalham com tanta sinergia que acabam criando um ritmo muito particular, alucinante, eu diria; potencializando ainda mais a crescente ansiedade dos personagens. Reparem como a escolha dos enquadramentos e do uso de câmeras subjetivas são cirúrgicos, contribuindo para uma imersão profunda pela intimidade dos protagonistas, nos tornando uma espécie de cúmplice de suas tragédias.
O elenco é um show a parte, entregando performances que ecoam a angústia da narrativa de maneira poderosa. Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans e especialmente Ellen Burstyn (indicada ao Oscar pelo papel) transmitem a dor, a esperança e a desolação de seus personagens de maneira crua e autêntica. É o compromisso dessas atuações que nos permite a conexão emocional em uma espiral descendente, entendendo suas lutas e percebendo como elas são devastadoras.
"Réquiem para um Sonho", de fato, não é um filme fácil de assistir. Sua exploração sem concessões da realidade brutal do vício (e de seus reflexos) pode ser perturbador para muita gente - então cuidado. No entanto, é justamente por esse impacto emocional que o filme se torna tão memorável. Ao melhor estilo Aronofsky, o filme não apenas levanta questões sobre as escolhas individuais, mas também sobre a natureza da esperança e da busca pela felicidade em um mundo muitas vezes indiferente e implacável. Sua abordagem corajosa ao tratar de temas complexos e desconfortáveis torna a jornada um ponto de referência na exploração cinematográfica das sombras da psique humana.
Em um filme que transcende as barreiras do entretenimento tradicional, que exige reflexão e empatia, não existe a menor chance de não recomendar o play já com o status de "obra-prima"!
Poucas vezes você vai assistir um filme com tanta personalidade como "Réquiem para um Sonho", do incrível Darren Aronofsky (o diretor de "Mãe!"). Lançado em 2000, este filme muito impactante é capaz de nos levar para uma verdadeira montanha-russa emocional, basicamente explorando a relação de 4 personagens com as drogas e os reflexos devastadores do vício, pela perspectiva da ambição desenfreada e da busca incessante pela felicidade.
"Réquiem para um Sonho" segue quatro personagens: Harry (Jared Leto), Marion (Jennifer Connelly), Tyrone (Marlon Wayans) e Sara (Ellen Burstyn), cujas vidas são marcadas por aspirações e sonhos aparentemente inatingíveis. O filme habilmente entrelaça suas histórias enquanto eles se perdem em um labirinto de vícios, seja por drogas, amor ou fama. A narrativa cruamente realista evita o romantismo e mergulha nas profundezas sombrias das consequências dessas escolhas, resultando em um retrato visceral da fragilidade humana. Confira o trailer (em inglês):
Sem a menor dúvida que um dos pontos mais altos do filme está na direção - Aronofsky demonstra sua maestria ao utilizar uma variedade de técnicas visuais e estímulos sonoros que intensificam a nossa experiência de uma forma absurda, ao mesmo tempo em que cria uma atmosfera perturbadora para a narrativa. A montagem do Jay Rabinowitz (de "Oslo") é frenética, os cortes são rápidos e o alinhamento com a trilha sonora de Clint Mansell trabalham com tanta sinergia que acabam criando um ritmo muito particular, alucinante, eu diria; potencializando ainda mais a crescente ansiedade dos personagens. Reparem como a escolha dos enquadramentos e do uso de câmeras subjetivas são cirúrgicos, contribuindo para uma imersão profunda pela intimidade dos protagonistas, nos tornando uma espécie de cúmplice de suas tragédias.
O elenco é um show a parte, entregando performances que ecoam a angústia da narrativa de maneira poderosa. Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans e especialmente Ellen Burstyn (indicada ao Oscar pelo papel) transmitem a dor, a esperança e a desolação de seus personagens de maneira crua e autêntica. É o compromisso dessas atuações que nos permite a conexão emocional em uma espiral descendente, entendendo suas lutas e percebendo como elas são devastadoras.
"Réquiem para um Sonho", de fato, não é um filme fácil de assistir. Sua exploração sem concessões da realidade brutal do vício (e de seus reflexos) pode ser perturbador para muita gente - então cuidado. No entanto, é justamente por esse impacto emocional que o filme se torna tão memorável. Ao melhor estilo Aronofsky, o filme não apenas levanta questões sobre as escolhas individuais, mas também sobre a natureza da esperança e da busca pela felicidade em um mundo muitas vezes indiferente e implacável. Sua abordagem corajosa ao tratar de temas complexos e desconfortáveis torna a jornada um ponto de referência na exploração cinematográfica das sombras da psique humana.
Em um filme que transcende as barreiras do entretenimento tradicional, que exige reflexão e empatia, não existe a menor chance de não recomendar o play já com o status de "obra-prima"!