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Quinta, 23 Maio 2019 11:01

Tendências - “Black-ish”, “Grown-ish”, “Mixed-ish”!

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Para a TV aberta americana, retratar o cotidiano de uma família afro-americana de classe média alta em um bairro majoritariamente branco seria transformador e empolgante. Seria a possibilidade de discutir o preconceito em várias esferas e com o suporte poderoso do humor. Mas uma grande pergunta martelava a cabeça dos executivos da ABC: será que funcionaria?

O convite para escrever no "Viu no Blog" surgiu pelo LinkedIn. Na Rede Social onde muitos visitam apenas para atualizar seus currículos, vi um espaço útil para projetar ideias e visões sobre entretenimento, meu ambiente de trabalho. Acabei por me viciar nessa vontade de analisar a arte de fazer TV (seja linear, streaming ou VOD). Tudo o que consumimos no audiovisual traça uma persona da gente. É instigante decupar esses recortes de mundo aos quais nos associamos constantemente. Por isso, aceitei o desafio e espero que os pontos levantados aqui possam gerar conversas produtivas e reflexões saudáveis para o nosso dia a dia.

Quando Black-ish chegou ao mercado, em setembro de 2014, a palavra “representatividade” ainda não estava na boca do povo. O tempo passou e a série criada por Kenya Barris frutificou debates e estimulou a criação de espaços para falar sobre identidade cultural na TV de maneira atraente. O que observamos em Black-ish foi um fenômeno que desabrochou em outras produções audiovisuais: o senso de pertencimento com responsabilidade social. É a partir deste senso de pertencimento que quero construir minha teoria para a franquia “-ish”. Perguntas como “qual é a minha tribo?”, “quais são as minhas raízes?”, “como os outros me veem?”, “como eu desejo ser visto?” elaboram um vínculo bem honesto com a audiência. É da nossa natureza tentar nos agrupar, nos reconhecer e até nos repelir. 

Ao tratar esse dilema diário com uma seriedade descontraída, Black-ish atingiu um ponto de equilíbrio para seus personagens. Representações verossímeis e carismáticas, que acolhem a dúvida de ser e existir. Observando o terreno fértil para expandir o universo criativo da série, Barris não demorou para desenvolver uma história independente para a filha mais velha do casal Johnson. Formatada para o canal teen Freeform, a série Grown-ish é um spin-off que acompanha Zoey saindo da casa dos pais para se aventurar na vida adulta. Apesar da narrativa clássica do colegial americano, esse produto foi além de uma atração para adolescentes. 

 

Herdeira do êxito de Black-ish, Grown-ish surgiu em 2018 para abordar a juventude, mas enfatizando o pertencimento com causa. As temáticas da representatividade, do feminismo, da cultura maker vieram com força. O protagonismo da jovem atriz Yara Shahidi ofereceu a continuidade necessária para as sementes plantadas por Black-ish lá nos idos de 2014. 

O estigma de alienação e descomprometimento social, normalmente atrelado ao público adolescente, foi desafiado por Grown-ish. Sem ser didática ou moralista, a série teen abraçou aquele dilema do ser e existir. Problematizar questões não significa deixar o entretenimento de lado, muito pelo contrário. A diversão consciente é o novo hype, principalmente às novas gerações. Grown-ish foi tão bem que, no intervalo de um ano, garantiu três temporadas no Freeform. 

O protagonismo feminino da família Johnson não parou por aí. Com a bem-sucedida campanha de Grown-ish, a emissora ABC logo vislumbrou espaço criativo para mais um membro do clã seguir carreira solo. Rainbow Johnson (Tracee Ellis Ross) é a matriarca de Black-ish e terá sua história contada em Mixed-ish. Como o próprio nome indica, Bow cresceu em uma família miscigenada nos anos 80 e precisa lidar com uma mudança radical, sair de uma comunidade hippie para um subúrbio tradicional americano.

 

Seja aonde for, o senso de pertencimento mostra-se como o elemento essencial para a construção da narrativa. Esse é o salto de qualidade de Black-ish, mantido pelas versões derivadas da história central. Tal estratégia fortaleceu os personagens e permitiu contextualizações mais realistas. O produto ganhou flexibilidade e diversificação, atendendo às demandas da sociedade com nuances e camadas de conteúdos independentes. Um bom exemplo para quem gosta de bons spin-offs. 

Alguma dúvida de que funcionou?

   

Read 4083 times Last modified on Quinta, 26 Março 2020 13:54

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