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Quarta, 07 Agosto 2019 14:32

Formatos - Para a Netflix "errar" é preciso

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Formatos de competição de talentos são um dos gêneros mais conhecidos na indústria. Há de todo tipo e para todo gosto, dos mais tradicionais como culinária e dança, aos mais exóticos como poesia e aprendiz de Papai Noel. E todos eles têm um elemento em comum: participantes sob pressão para "acertar". Mas isso está mudando:

Como comentei já comentei por aqui, "Survivor" foi o reality show que trouxe ao mundo o elemento da eliminação semanal dos participantes. Isso ajudou a criar a tensão e os conflitos necessários para prender a atenção do espectador e fez com que os formatos se aproximassem de seus colegas da ficção. 
 
Depois dele, o elemento foi aproveitado em quase todas as competições criativas na TV. Por competições criativas quero dizer desafios que exijam que o participante crie algo novo. São diferentes dos "talent searchs" (busca por talentos) como "The Voice", "Idol" ou "Dancing with the Stars" que apenas aproveitam os talentos que eles já têm.
 
Rapidamente o mercado adotou uma "fórmula" para esse tipo de competição: Um número X de candidatos disputam entre si o prêmio Y em desafios de criação de Z, sendo eliminados pelos jurados A, B e C semanalmente. 
 
Isso tudo em três blocos. No primeiro a apresentação do desafio e/ou tema da semana, no segundo a execução da prova e no terceiro a apresentação do resultado, o julgamento e a eliminação de um dos participantes.
 
A eliminação, nesse caso, ajuda a criar os conflitos e acirra a competitividade, mas não é suficiente. Por isso, outro elemento essencial é acrescentado: o tempo. Nesse tipo de competição o tempo sempre corre contra o participante. Em geral, tarefas que levariam dias numa oficina ou ateliê têm que ser realizadas em algumas horas. E julgadas por especialistas. O que abre espaço para o desastre. E ninguém quer passar vergonha em rede nacional, certo?
 
E assim têm sido por duas décadas. Essa divisão de blocos e esses dois elementos são cânones da TV aberta e do cabo, porque contam com a verba publicitária dos anúncios como receita. Mas não precisa ser assim para sempre. O mercado de Formatos tinha a esperança que os novos players (Netflix, YouTube, Facebook e Amazon) trouxessem a mesma disrupção para o universo da não-ficção que trouxeram para o consumo de ficção. Isso ainda não aconteceu, e talvez nunca aconteça, mas sem querer, a Netflix trouxe um elemento que altera a lógica das competições criativas: o erro. Ou melhor, a aceitação dele. E para ilustrar, trago três exemplos (sutis) da plataforma que indicam essa tendência:
 
Zumbo's Just Deserts
 
 
Uma competição australiana entre confeiteiros. Zumbo, o chefe confeiteiro que dá nome ao título, é um mago das sobremesas, criando doces dignos da fábrica de Willy Wonka. 
O interessante deste formato é que a prova final do episódio é, na verdade, uma repescagem entre os dois piores candidatos. Ambos têm que recriar uma das obras de arte de Zumbo num curto intervalo de tempo. E continua na competição quem conseguir fazer menos pior.  O resultado gera diversos risos de nervoso, mas todos sabem que é impossível acertar. A derrota é amarga, mas nem por isso os candidatos desistem de dar o melhor que podem. E é nisso que está o frescor do programa. Veja essa chamada:

Blown Away (Vidrados)
 
 
Uma competição canadense entre mestres vidreiros. Dez participantes têm que criar obras em vidro temáticas, o resultado é avaliado por jurados e um deles é eliminado a cada episódio. Até aqui nada de novo sob o calor do glory hole. A diferença é a matéria-prima. Vidro e pressão não combinam. Praticamente todos os participantes quebram suas obras ao longo das provas, sendo obrigados a recomeçar com um prazo ainda menor. Ainda assim o resultado é de tirar o fôlego. Aqui o erro se transforma, e os artistas vão moldando os conceitos das obras junto com o vidro. Em um dos episódios (spoiler alert), um dos participante não consegue terminar sua obra e decide expor os cacos remanescentes.
Em outras competições similares, talvez ele até abandonasse o programa antes da apresentação. Mas em "Blown Away"os jurados reconhecem as dificuldades inerentes ao ofício e comentam que até mesmo os cacos poderiam ser exibidos numa galeria, se "empacotados" de uma forma diferente. Ou seja, o erro é só um ponto de vista. Basta olhar por outro prisma e tudo se resolve.
 
 
Nail'd It! (Mandou Bem!)
 
 
Uma competição norte-americana, também entre confeiteiros. Talvez o mais explícito dos três exemplos. Duplas de participantes tem que recriar uma sobremesa extremamente complexa em apenas uma hora. Tem competitividade, tem rivalidade, tem eliminação e tem jurados. E nunca dá certo. E tudo bem!!! Nicole Byer, a apresentadora, é uma conhecida humorista nos EUA e faz desse limão um limonada com muito açúcar. Ao invés de vergonha, muitas risadas. É a materialização televisiva do meme 'expectativa x realidade'. 
 
 
Dá só uma no trailer: 
 
Note que em todos eles, a divisão dos blocos permanece, ainda que sem os intervalos comerciais. Isso pode ser uma estratégia de produção para licenciar os conteúdos orignais para canais de TV no futuro ou simplesmente inércia criativa. Em todo caso, mostra que há bastante e espaço para inovação. E o mercado agradece. Até a próxima.
Read 2653 times Last modified on Segunda, 12 Agosto 2019 23:40

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