Em meio ao final de Game of Thrones e a esperança de que uma nova super produção possa, de alguma forma, substituir a série da HBO nos corações de milhões de pessoas ao redor do mundo (especialmente dos brasileiros), algumas imagens cirurgicamente vazadas na internet colocaram toda uma geração em estado de êxtase. Eram fotos de um "suposto" set de filmagem, aparentemente grandioso, onde alguns detalhes lembravam os figurinos ou objetos usados por personagens da Caverna do Dragão!
Tudo levava a crer que uma versão "Live Action" do desenho estava sendo produzida em algum canto do mundo, porém, na última quarta-feira, 15/05, o mistério foi finalmente revelado: As imagens faziam parte de uma campanha criada pela DPZ&T para promover o lançamento do Kwid Outsider da Renault. O que poderia parecer frustrante com a descoberta, e um tiro no pé da marca, logo se transformou em nostalgia com a liberação de um teaser muito interessante e ainda misterioso:
A grande questão que fica agora é se a Renault teve a coragem (e orçamento) para investir em uma sacada que poderia ser ainda mais genial ou se todo esse Buzz vai se limitar em um comercial de 2 minutos (e milhões de reduções para todas as mídias que você possa imaginar)!!!
Vamos voltar um pouco no tempo para entender o que, para mim, seria "sair da caixa" e transformar uma grande idéia de publicidade tradicional em um possível case de "Branded Entertainment" genial. Em 26 de abril de 2001 a BMW lançou, exclusivamente em seu site, um curta-metragem chamado “Ambush”. O filme foi dirigido pelo John Frankenheimer e deu início a uma campanha que virou case de marketing (e na minha opinião, um divisor de águas) - era uma nova forma de apresentar um produto (ou uma marca) usando o entretenimento como ferramenta de comunicação e apropriação de valores. O foco estava no alto custo de produção e não de mídia! Importante dizer que estamos falando de 4 anos antes do lançamento oficial do YouTube - para se ter uma idéia, o vídeo na internet era só uma aposta! Em uma época onde a internet ainda dificultava (e muito) a qualidade da exibição e distribuição de conteúdo, fazer essa aposta era inovar! Bom, no total foram 8 filmes dirigidos por oito grandes diretores: além de John Frankenheimer, estiveram no projeto "só": Ang Lee, Wong Kar-wai, Guy Ritchie, Alejandro González Iñárritu, John Woo, Joe Carnahan e Tony Scott. O fato é que a estratégia deu certo: a novidade foi tão grande na publicidade que Cannes, não sabendo em que categoria encaixar a campanha, criou a categoria Titanium Lion, exclusivamente para premiar a BMW Films - inclusive, essa categoria se tornou a mais importante e desejada do Festival até hoje! Produzidos pela Anonymous Content, os filmes estiveram no site bmwfilms.com até 2005 e acumularam mais de 100 milhões de views. Dá uma olhada (ou relembre) o primeiro:
Agora, vamos fazer um paralelo, trazer o conceito para 2019 e aproveitar a estratégia "cinematográfica" de lançamento da Renault com o pessoal da DPZ&T que, para mim, já deve ser premiada só pelo seu excelente planejamento (até aqui). Eu não sei o que veremos no dia 23 de maio, data do lançamento da campanha, mas se assistirmos um episódio inédito de Caverna do Dragão em "live action" de 10, 15 minutos; eu afirmaria (sem medo) que finalmente as marcas (aqui do Brasil) entenderam o que é Branded Entertainment de verdade! Seria corajoso, inteligente e inusitado!!!
Assisti uma palestra do PJ Pereira (da Pereira & O’Dell) no Rio2C esse ano: "Hit Making - A Mecânica por trás das Histórias de Sucesso". Nela, ele apresentou um case de um concurso da Adobe onde o Cartaz vencedor, feito por um estudante, exclusivamente, com um app da marca, se transformaria em um curta-metragem escrito e dirigido pelo Zach Braff e estrelado pela Alicia Silverstone. O resultado é incrível:
Outro formato que ele bateu muito na tecla, foi o usado na campanha "The Beauty Inside" para Toshiba/Intel. Também da Pereira & O’Dell, com 6 episódios, essa premiada websérie contava a história de Alex, um rapaz que todos os dias acordava como uma pessoa diferente. Assim, ele podia ser homem, mulher, criança, gordo, magro, oriental etc; com isso sua vida seguia cada vez mais solitária, pois seus relacionamentos eram sempre rasos e com regras que ele precisava seguir à risca para que nada saísse do seu controle, até que o destino prega uma peça e ele se apaixona de verdade. É um roteiro lindo, com uma história tão bem desenvolvida e trabalhada que se estivesse em um Netflix da vida, não seria nenhuma surpresa! Esse é o primeiro episódio:
Tudo isso para mostrar que se a Renault fizer um Curta-Metragem já será incrível, mas se ousasse ainda mais e criasse 3 ou 4 episódios semanais com histórias inéditas sobre a saga dos personagens da "Caverna do Dragão" e que culminasse em um final que nunca existiu no desenho original, afinal eles nunca conseguiram voltar para casa, seria realmente épico! Isso não vai acontecer (ou pelo menos é muito difícil que aconteça), mas acho importante discutir a força de um Branded Entertainment bem realizado e bem planejado. As agências precisam se reinventar constantemente, como disse o próprio Pereira. É saudável trazer mais roteiristas para trabalhar com os redatores, os custos de produção devem ser priorizados se comparados com os custos de mídia; os exemplos são muito relevantes para afirmar isso. Imagine o retorno se depois de Game of Thrones e Vingadores Ultimato (produções caríssimas), só se falasse do próximo episódio "live action" da Caverna do Dragão feito pela Renault? Vale a reflexão!
Nota meio&mensagem: A produção da Campanha da Renault é da Saigon e o diretor é excelente Felipe Vellasco (Vellas). As filmagens aconteceram no deserto de Salta, na Argentina e o elenco que interpreta os personagens do desenho são brasileiros (com exceção do Vingador, interpretado por um ator argentino).