indika.tv - Emilia Pérez
Emilia-Perez.jpeg

Emilia Pérez

Diretor
Jacques Audiard
Elenco
Zoe Saldana, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez
Ano
2024
País
França

Drama Cinema ml-musica ml-relacoes ml-independente ml-frança ml-drogas ml-cannes ml-oscar ml-lgbt ml-teatro ml-rm

Emilia Pérez

"Emilia Pérez" é um filme para o nicho, do nicho, do nicho - ou seja, a chance de você odiar essa recomendação é enorme, mas calma, você precisa considerar alguns pontos importantes antes de decidir ir, ou não, adiante. Para começar, o filme recebeu nada menos que 13 indicações para o Oscar 2025 -  isso mesmo, essa produção francesa, falada em espanhol e que se passa no México, foi o filme com mais indicações da edição e um dos mais premiados na temporada 2024/25 de festivais pelo mundo, com cerca de 80 vitórias em mais 210 indicações. O fato é que "Emilia Pérez" é uma obra que carrega ousadia em cada frame e que provoca tanto fascínio quanto desconforto, especialmente depois de sua recepção avassaladora no Festival de Cannes 2024, onde recebeu a maior ovação do evento e prêmios importantes como o de Melhor Atriz, para todo o seu elenco feminino, e o de Melhor Filme, dado pelo Júri. Esse burburinho, sem dúvida, ajudou o filme a se estabelecer como uma experiência visual e emocional única, mas que vem dividindo opiniões desde sempre: enquanto alguns o celebram como uma peça arrojada de arte, outros poderão vê-lo como um exercício excessivamente experimental. Nós ficamos com a segunda opção!

O filme combina drama e musical para narrar a trajetória de Emilia Pérez (Karla Sofía Gascón), uma personagem transgênero que começa sua história como um chefão do narcotráfico mexicano até que decide mudar de vida ao passar por uma cirurgia para se tornar uma mulher definitivamente. Essa decisão não apenas transforma sua própria existência, mas também impacta profundamente as dinâmicas das pessoas ao seu redor, incluindo sua relação com a advogada Rita (Zoe Saldaña), com sua mulher Jess (Selena Gomez) e com seus dois filhos pequenos. Confira o trailer:

O roteiro, assinado pelo próprio Audiard (de "Ferrugem e Osso"), desenha uma narrativa longa e ambiciosa, traçando a jornada de uma personagem que tenta conciliar um passado violento com seu desejo por redenção e aceitação. Ok, até aí tudo bem, no entanto a coisa começa a complicar quando o diretor abandona sua linguagem cinematográfica mais tradicional para abraçar um estilo visual audacioso e estilizado - inspirado por musicais de Busby Berkeley e modernizado com influências de cineastas como Baz Luhrmann (Moulin Rouge). Audiard entrega números musicais que mesclam simetria, cor e movimento; mas que soam sem muito propósito e muitas vezes até quebrando o clima de uma cena que nem precisaria desse artificio para nos impactar. A proposta aqui é romper com a lógica narrativa linear para construir momentos de puro espetáculo visual, mesmo que gratuitamente - em uma das cenas, por exemplo, Selena Gomez canta em um quarto enquanto sua performance é intercalada com registros em selfie e uma versão teatral de sua música em um palco futurista. Veja, essas escolhas pseudo-criativas, embora fascinantes para alguns, são desafiadoras para aqueles que preferem algo mais convencional - o fato do filme ser um musical não-diegético, ou seja, com os personagens cantando e dançando fora do "realismo" da história, impressiona as vezes, mas irrita quase sempre.

A trilha sonora, composta pela artista francês Camille Clément Ducol, complementa essa abordagem mais inovadora de Audiard com músicas originais que transitam entre o emocional e o surreal - eu diria que o trabalho de Camille é uma extensão direta dos estados psicológicos dos personagens, adicionando camadas à narrativa que, fossem melhor dosadas, poderiam funcionar melhor. Karla Sofía Gascón é a prova que um pouco mais de equilíbrio faria bem para "Emilia Pérez". Ela entrega uma performance corajosa e multifacetada como protagonista, explorando sua ambiguidade moral, sua força e suas vulnerabilidades de uma maneira muito sensível e inteligente. Emilia não é apenas uma protagonista trans, é preciso dizer, ela é uma figura cuja complexidade impacta em suas escolhas e conflitos, transcendendo questões identitárias para entregar uma excelente jornada. Já Zoe Saldaña, como a advogada de Emilia, oferece uma presença que equilibra empatia com pragmatismo, enquanto Selena Gomez surpreende com uma performance que sabe se apoiar na intensidade emocional de sua personagem e de sua relação ambígua com a história.

"Emilia Pérez" sofre de uma falta de coesão narrativa. Sua abordagem opta por explorar "momentos" ao invés de construir um arco dramático claro - o que certamente resultaria em uma melhor experiência. A história de Emilia em si, é boa demais - muitas vezes até parece com uma biografia ficcional, no entanto o filme não consegue encontrar uma resposta satisfatória para tudo aquilo que quer comunicar e ao escolher o musical como linha conceitual, acaba fechando esse caixão de pirotecnias aleatórias. Temas como redenção, violência do narcotráfico e até os desafios na busca por uma identidade de gênero, estão no filme, mas ao tentar abraçar mais do que poderia conter, "Emilia Pérez" parece tropeçar na sua própria pretensão de ser singular e memorável.

Para aqueles dispostos a mergulhar em uma narrativa que desafia convenções e que se diverte em territórios pouco explorados, "Emilia Pérez" merece uma chance – mesmo com suas imperfeições, pode ser debatido e também admirado, mas vá por sua conta e risco!

O filme entra em cartaz dia 06 de fevereiro nos cinemas de todo Brasil.

"Emilia Pérez" é um filme para o nicho, do nicho, do nicho - ou seja, a chance de você odiar essa recomendação é enorme, mas calma, você precisa considerar alguns pontos importantes antes de decidir ir, ou não, adiante. Para começar, o filme recebeu nada menos que 13 indicações para o Oscar 2025 -  isso mesmo, essa produção francesa, falada em espanhol e que se passa no México, foi o filme com mais indicações da edição e um dos mais premiados na temporada 2024/25 de festivais pelo mundo, com cerca de 80 vitórias em mais 210 indicações. O fato é que "Emilia Pérez" é uma obra que carrega ousadia em cada frame e que provoca tanto fascínio quanto desconforto, especialmente depois de sua recepção avassaladora no Festival de Cannes 2024, onde recebeu a maior ovação do evento e prêmios importantes como o de Melhor Atriz, para todo o seu elenco feminino, e o de Melhor Filme, dado pelo Júri. Esse burburinho, sem dúvida, ajudou o filme a se estabelecer como uma experiência visual e emocional única, mas que vem dividindo opiniões desde sempre: enquanto alguns o celebram como uma peça arrojada de arte, outros poderão vê-lo como um exercício excessivamente experimental. Nós ficamos com a segunda opção!

O filme combina drama e musical para narrar a trajetória de Emilia Pérez (Karla Sofía Gascón), uma personagem transgênero que começa sua história como um chefão do narcotráfico mexicano até que decide mudar de vida ao passar por uma cirurgia para se tornar uma mulher definitivamente. Essa decisão não apenas transforma sua própria existência, mas também impacta profundamente as dinâmicas das pessoas ao seu redor, incluindo sua relação com a advogada Rita (Zoe Saldaña), com sua mulher Jess (Selena Gomez) e com seus dois filhos pequenos. Confira o trailer:

O roteiro, assinado pelo próprio Audiard (de "Ferrugem e Osso"), desenha uma narrativa longa e ambiciosa, traçando a jornada de uma personagem que tenta conciliar um passado violento com seu desejo por redenção e aceitação. Ok, até aí tudo bem, no entanto a coisa começa a complicar quando o diretor abandona sua linguagem cinematográfica mais tradicional para abraçar um estilo visual audacioso e estilizado - inspirado por musicais de Busby Berkeley e modernizado com influências de cineastas como Baz Luhrmann (Moulin Rouge). Audiard entrega números musicais que mesclam simetria, cor e movimento; mas que soam sem muito propósito e muitas vezes até quebrando o clima de uma cena que nem precisaria desse artificio para nos impactar. A proposta aqui é romper com a lógica narrativa linear para construir momentos de puro espetáculo visual, mesmo que gratuitamente - em uma das cenas, por exemplo, Selena Gomez canta em um quarto enquanto sua performance é intercalada com registros em selfie e uma versão teatral de sua música em um palco futurista. Veja, essas escolhas pseudo-criativas, embora fascinantes para alguns, são desafiadoras para aqueles que preferem algo mais convencional - o fato do filme ser um musical não-diegético, ou seja, com os personagens cantando e dançando fora do "realismo" da história, impressiona as vezes, mas irrita quase sempre.

A trilha sonora, composta pela artista francês Camille Clément Ducol, complementa essa abordagem mais inovadora de Audiard com músicas originais que transitam entre o emocional e o surreal - eu diria que o trabalho de Camille é uma extensão direta dos estados psicológicos dos personagens, adicionando camadas à narrativa que, fossem melhor dosadas, poderiam funcionar melhor. Karla Sofía Gascón é a prova que um pouco mais de equilíbrio faria bem para "Emilia Pérez". Ela entrega uma performance corajosa e multifacetada como protagonista, explorando sua ambiguidade moral, sua força e suas vulnerabilidades de uma maneira muito sensível e inteligente. Emilia não é apenas uma protagonista trans, é preciso dizer, ela é uma figura cuja complexidade impacta em suas escolhas e conflitos, transcendendo questões identitárias para entregar uma excelente jornada. Já Zoe Saldaña, como a advogada de Emilia, oferece uma presença que equilibra empatia com pragmatismo, enquanto Selena Gomez surpreende com uma performance que sabe se apoiar na intensidade emocional de sua personagem e de sua relação ambígua com a história.

"Emilia Pérez" sofre de uma falta de coesão narrativa. Sua abordagem opta por explorar "momentos" ao invés de construir um arco dramático claro - o que certamente resultaria em uma melhor experiência. A história de Emilia em si, é boa demais - muitas vezes até parece com uma biografia ficcional, no entanto o filme não consegue encontrar uma resposta satisfatória para tudo aquilo que quer comunicar e ao escolher o musical como linha conceitual, acaba fechando esse caixão de pirotecnias aleatórias. Temas como redenção, violência do narcotráfico e até os desafios na busca por uma identidade de gênero, estão no filme, mas ao tentar abraçar mais do que poderia conter, "Emilia Pérez" parece tropeçar na sua própria pretensão de ser singular e memorável.

Para aqueles dispostos a mergulhar em uma narrativa que desafia convenções e que se diverte em territórios pouco explorados, "Emilia Pérez" merece uma chance – mesmo com suas imperfeições, pode ser debatido e também admirado, mas vá por sua conta e risco!

O filme entra em cartaz dia 06 de fevereiro nos cinemas de todo Brasil.

Acesse com o Facebook Acesse com o Google

Cookies: a gente guarda estatísticas de visitas para melhorar sua experiência de navegação, ao continuar navegando você concorda com a nossa Política de Privacidade.