Antes de mais nada é preciso dizer que "Dois Papas" é mais um grande filme que a Netflix lança esse ano e que, com a mais absoluta certeza, disputará algumas categorias no Oscar 2020! O filme de pouco mais de duas horas tem basicamente dois atores em cena - Jonathan Pryce (o High Sparrow de Game of Thrones) e Anthony Hopkins (que dispensa apresentações). O trabalho desses dois atores é uma coisa que merece ser estudada - eles estão perfeitos como Bento XVI e Francisco, respectivamente. Depois da morte do Papa João Paulo II e da escolha de Bento XVI, a Igreja Católica passa a sofrer com escândalos de pedofilia e corrupção, o que leva o Cardeal Jorge Bergoglio (Francisco) querer se aposentar, porém para que isso se concretize é necessário a assinatura com a aceitação do Papa. Acontece que Bento XVI possui uma maneira completamente diferente de enxergar os dogmas da igreja e Bergoglio foi um dos seus mais ferrenhos críticos. A declarada oposição de ideias entre os protagonistas, gera uma condição muito interessante (e que deveria ser replicada nesse mundo polarizado que vivemos): de uma forma muito orgânica, surge uma aproximação fraternal (e até espiritual) entre eles, a partir do "simples" exercício de ouvir o que o outro tem a dizer (e a pedir)! É interessante perceber a forma como o roteiro nos mostra os momentos de fraquezas, de dúvidas, de falhas e de receio durante a vida dos dois personagens e como isso, de alguma forma, influenciaria nas decisões que eles estavam prestes a tomar! Olha, nessa época de natal, eu diria que esse filme é imperdível! Assistam com toda a família porque vale muito a pena!
Acho que mais do que uma obra "baseada em fatos reais", o maior acerto do filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles é o estudo de personalidade que o roteirista Anthony McCarten (A Teoria de Tudo) nos apresenta. O filme acaba criando uma certa dependência nos dois protagonistas, mas ao mesmo tempo resgata o que há de mais humano no processo de auto-conhecimento e de reflexão que ambos precisam passar para se perdoarem e seguirem adiante. É lindo de assistir!
O roteiro equilibra tão bem assuntos espinhosos, pontos de vista diferentes e ideais completamente contraditórios, mas com respeito, inteligência e até humor - a cena durante os créditos dos dois papas (um argentino e outro alemão) assistindo a final da Copa de 2014 no Brasil é impagável! Meirelles foi muito feliz ao deixar os dois atores "soltos" para dialogarem e aproveitarem a organicidade que o texto sugeria. As pausas, os olhares, os tímidos sorrisos, o receito de ir além, o respeito mútuo, a humildade e o reconhecimento, nossa, tudo está lá e é tão perceptível e dinâmico que nem vemos o tempo passar - até nos momentos mais delicados quando o assunto fica realmente mais pesado, como a lembrança da ditadura argentina ou a discussão sobre pedofilia na igreja, o filme elabora tão bem as idéias e fica tão alinhado com as escolhas conceituais da direção do brasileiro e, claro do fotógrafo e parceiro, César Charlone, que impressiona! A troca da janela de exibição de 16:9 para a antiga 4:3, o preto e branco, a câmera mais nervosa e até a inserção de cenas reais, de noticiários e reportagens da época - tudo isso trás uma veracidade que mexe com a gente! Reparem em como o conceito visual ajuda a contar a história e transforma um simples artifício em uma experiência imersiva bastante intensa - é como se estivemos revivendo toda aquela dor junto com os personagens!
A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - existe uma variação de ritmos e tons que vão pontuando a aproximação dos dois personagens de acordo com a liberdade que ambos vão conquistando - a cena do piano e dos dois dançando tango ao se despedirem, é isso: o elo de respeito que foi construído a partir do momento que ambos se permitiram conhecer outros olhares, outros gostos, outra forma de ver a vida. Puxa, são tantos detalhes, tanto cuidado que, para mim, é uma aula de cinema - mais uma vez, reparem na cena em que Francisco impede os seguranças de interferirem no passeio que Bento XVI faz em um dos salões no Vaticano em meio aos turistas, ele diz algo assim: deixe, ele esta feliz! É tão humana a relação que foi construída que muitas vezes nem nos damos conta que são dois atores conversando por quase duas horas de filme. Uma sugestão que pode enriquecer a experiência de acompanhar "Dois Papas" - assistam a minissérie italiana "Pode me chamar de Francisco", ela se aprofunda na história da ditadura e como realmente tudo aconteceu - essa parte pode ter parecido um pouco confusa ou superficial no filme, mas na minissérie fica tudo muito claro (e tem na Netflix).
"Dois Papas" é daqueles filmes que nos enchem de amor ao assistir, que quebra alguns pré-conceitos e que nos fazem acreditar que mesmo com nossa falhas (inerentes ao ser humano e isso é dito no filme) é possível enxergar o mundo de uma outra forma e trabalhar para sua constante evolução. Não se surpreendam se Jonathan Pryce e Anthony Hopkins forem indicados para o Oscar, junto com Melhor Filme (talvez), Melhor Roteiro (certeza) e Melhor Fotografia (quem sabe). Grande filme, merece seu play já!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Dois Papas" é mais um grande filme que a Netflix lança esse ano e que, com a mais absoluta certeza, disputará algumas categorias no Oscar 2020! O filme de pouco mais de duas horas tem basicamente dois atores em cena - Jonathan Pryce (o High Sparrow de Game of Thrones) e Anthony Hopkins (que dispensa apresentações). O trabalho desses dois atores é uma coisa que merece ser estudada - eles estão perfeitos como Bento XVI e Francisco, respectivamente. Depois da morte do Papa João Paulo II e da escolha de Bento XVI, a Igreja Católica passa a sofrer com escândalos de pedofilia e corrupção, o que leva o Cardeal Jorge Bergoglio (Francisco) querer se aposentar, porém para que isso se concretize é necessário a assinatura com a aceitação do Papa. Acontece que Bento XVI possui uma maneira completamente diferente de enxergar os dogmas da igreja e Bergoglio foi um dos seus mais ferrenhos críticos. A declarada oposição de ideias entre os protagonistas, gera uma condição muito interessante (e que deveria ser replicada nesse mundo polarizado que vivemos): de uma forma muito orgânica, surge uma aproximação fraternal (e até espiritual) entre eles, a partir do "simples" exercício de ouvir o que o outro tem a dizer (e a pedir)! É interessante perceber a forma como o roteiro nos mostra os momentos de fraquezas, de dúvidas, de falhas e de receio durante a vida dos dois personagens e como isso, de alguma forma, influenciaria nas decisões que eles estavam prestes a tomar! Olha, nessa época de natal, eu diria que esse filme é imperdível! Assistam com toda a família porque vale muito a pena!
Acho que mais do que uma obra "baseada em fatos reais", o maior acerto do filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles é o estudo de personalidade que o roteirista Anthony McCarten (A Teoria de Tudo) nos apresenta. O filme acaba criando uma certa dependência nos dois protagonistas, mas ao mesmo tempo resgata o que há de mais humano no processo de auto-conhecimento e de reflexão que ambos precisam passar para se perdoarem e seguirem adiante. É lindo de assistir!
O roteiro equilibra tão bem assuntos espinhosos, pontos de vista diferentes e ideais completamente contraditórios, mas com respeito, inteligência e até humor - a cena durante os créditos dos dois papas (um argentino e outro alemão) assistindo a final da Copa de 2014 no Brasil é impagável! Meirelles foi muito feliz ao deixar os dois atores "soltos" para dialogarem e aproveitarem a organicidade que o texto sugeria. As pausas, os olhares, os tímidos sorrisos, o receito de ir além, o respeito mútuo, a humildade e o reconhecimento, nossa, tudo está lá e é tão perceptível e dinâmico que nem vemos o tempo passar - até nos momentos mais delicados quando o assunto fica realmente mais pesado, como a lembrança da ditadura argentina ou a discussão sobre pedofilia na igreja, o filme elabora tão bem as idéias e fica tão alinhado com as escolhas conceituais da direção do brasileiro e, claro do fotógrafo e parceiro, César Charlone, que impressiona! A troca da janela de exibição de 16:9 para a antiga 4:3, o preto e branco, a câmera mais nervosa e até a inserção de cenas reais, de noticiários e reportagens da época - tudo isso trás uma veracidade que mexe com a gente! Reparem em como o conceito visual ajuda a contar a história e transforma um simples artifício em uma experiência imersiva bastante intensa - é como se estivemos revivendo toda aquela dor junto com os personagens!
A trilha sonora é outro elemento que merece destaque - existe uma variação de ritmos e tons que vão pontuando a aproximação dos dois personagens de acordo com a liberdade que ambos vão conquistando - a cena do piano e dos dois dançando tango ao se despedirem, é isso: o elo de respeito que foi construído a partir do momento que ambos se permitiram conhecer outros olhares, outros gostos, outra forma de ver a vida. Puxa, são tantos detalhes, tanto cuidado que, para mim, é uma aula de cinema - mais uma vez, reparem na cena em que Francisco impede os seguranças de interferirem no passeio que Bento XVI faz em um dos salões no Vaticano em meio aos turistas, ele diz algo assim: deixe, ele esta feliz! É tão humana a relação que foi construída que muitas vezes nem nos damos conta que são dois atores conversando por quase duas horas de filme. Uma sugestão que pode enriquecer a experiência de acompanhar "Dois Papas" - assistam a minissérie italiana "Pode me chamar de Francisco", ela se aprofunda na história da ditadura e como realmente tudo aconteceu - essa parte pode ter parecido um pouco confusa ou superficial no filme, mas na minissérie fica tudo muito claro (e tem na Netflix).
"Dois Papas" é daqueles filmes que nos enchem de amor ao assistir, que quebra alguns pré-conceitos e que nos fazem acreditar que mesmo com nossa falhas (inerentes ao ser humano e isso é dito no filme) é possível enxergar o mundo de uma outra forma e trabalhar para sua constante evolução. Não se surpreendam se Jonathan Pryce e Anthony Hopkins forem indicados para o Oscar, junto com Melhor Filme (talvez), Melhor Roteiro (certeza) e Melhor Fotografia (quem sabe). Grande filme, merece seu play já!
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