Essa recomendação faz parte do nosso projeto "Semana dos Clássicos", onde convidamos você a revisitar filmes que mudaram os rumos da narrativa cinematográfica e que merecem um olhar mais critico sem esquecer, claro, do que pode ter representado emocionalmente na nossa vida!
Brutal, angustiante, visceral - não sei nem se esses adjetivos conseguem definir o que representa "A Mosca"! Lançado em 1986 e dirigido por David Cronenberg, "The Fly" (no original) é um dos filmes de ficção científica, com fortes elementos de terror, mais icônicos dos anos 80. Remake de uma obra de 1958, essa versão de Cronenberg não só reimaginou a premissa original, como também a elevou a novos patamares ao fundir o body horror em uma jornada que conecta a tragédia clássica com o romance moderno. Combinando efeitos especiais inovadores para época, uma maquiagem que lhe rendeu o Oscar em 1987, uma performance marcante de um jovem Jeff Goldblum e a visão única de um promissor Cronenberg, posso adiantar: "A Mosca" foi e continua sendo uma obra profundamente perturbadora e emocionalmente impactante que serve de referência para muitas produções até hoje - uma delas: "O Homem Invisível"de Leigh Whannell.
A trama segue o cientista Seth Brundle (Jeff Goldblum), que está trabalhando em uma invenção revolucionária: uma máquina de teletransporte. Inicialmente hesitante, Brundle decide testar o dispositivo em si mesmo. Porém, sem perceber, uma mosca entra na cabine de teletransporte com ele, causando uma fusão genética entre homem e inseto. O filme acompanha a progressiva e grotesca transformação de Brundle, enquanto ele se torna cada vez menos humano, tanto física quanto mentalmente. Ao mesmo tempo, sua namorada, a jornalista Veronica Quaife (Geena Davis), observa impotente a desintegração do homem que ama. Confira o trailer clássico em inglês:
Com uma atmosfera de filme independente, Cronenberg aborda com muita inteligência o drama mais íntimo da deterioração física e psicológica sem esquecer do impacto que o "body horror" pode gerar. Em "A Mosca", o diretor explora de forma implacável os medos do ser humano em relação as doenças, ao envelhecimento e até perante a perda de identidade. A transformação de Seth Brundle é (também metaforicamente) gradual, e Cronenberg não poupa a audiência dos detalhes grotescos dessa mutação, no entanto essa repulsa visual que a mutação provoca é equilibrada com o lado emocional do filme, já que a relação entre Brundle e Veronica se torna mais trágica à medida que a monstruosidade física do protagonista avança. Nesse sentido, o desempenho de Jeff Goldblum é essencial para o sucesso do filme - ele traz profundidade e vulnerabilidade para o seu personagem, fazendo com que quem assiste sinta empatia por ele, mesmo quando seu corpo e mente começam a se desintegrar - essa abordagem é ao mesmo tempo fascinante e cruel.
Veja, Cronenberg vai criando uma atmosfera densa e cada vez mais perturbadora pontuando a transformação física de Brundle - as sutis mudanças do inicio, como aumento de força e agilidade, logo evolui para a perda de controle sobre seu próprio corpo, com pele descamando, apêndices surgindo e secreções nojentas aparecendo. A transformação final de Brundle em uma mosca gigante é chocante, mas saiba que o horror é amplificado mesmo porque, nesse momento, a audiência já está emocionalmente conectada com o destino trágico do personagem. Aqui, os efeitos práticos, criados por Chris Walas (de "Gremlins") e Stephan Dupuis (de "Venon"), ganham força - cada estágio da mutação é feito com detalhes meticulosos, utilizando maquiagem e próteses, conferindo à transformação uma fisicalidade aterrorizante.
Em sua essência, "A Mosca" é uma palpável história de amor e perda. A deterioração de Brundle reflete o inevitável declínio físico e mental que todas as pessoas enfrentam com o tempo, e sua relação com Veronica se alinha com essa proposta - o que começa com paixão e descoberta, acaba se tornando um estudo sobre o luto e a impotência perante o fim. O filme sugere uma reflexão sobre o impacto devastador de uma doença, não apenas sobre aqueles que a sofrem, mas também sobre os entes queridos que ficam para assistir essa transformação. O medo da perda de identidade, do controle sobre o próprio corpo e da irreversível separação emocional são temas centrais que, analisando hoje em dia, fazem de "A Mosca" muito mais do que um simples filme de terror.
Vale muito o seu play!
Essa recomendação faz parte do nosso projeto "Semana dos Clássicos", onde convidamos você a revisitar filmes que mudaram os rumos da narrativa cinematográfica e que merecem um olhar mais critico sem esquecer, claro, do que pode ter representado emocionalmente na nossa vida!
Brutal, angustiante, visceral - não sei nem se esses adjetivos conseguem definir o que representa "A Mosca"! Lançado em 1986 e dirigido por David Cronenberg, "The Fly" (no original) é um dos filmes de ficção científica, com fortes elementos de terror, mais icônicos dos anos 80. Remake de uma obra de 1958, essa versão de Cronenberg não só reimaginou a premissa original, como também a elevou a novos patamares ao fundir o body horror em uma jornada que conecta a tragédia clássica com o romance moderno. Combinando efeitos especiais inovadores para época, uma maquiagem que lhe rendeu o Oscar em 1987, uma performance marcante de um jovem Jeff Goldblum e a visão única de um promissor Cronenberg, posso adiantar: "A Mosca" foi e continua sendo uma obra profundamente perturbadora e emocionalmente impactante que serve de referência para muitas produções até hoje - uma delas: "O Homem Invisível"de Leigh Whannell.
A trama segue o cientista Seth Brundle (Jeff Goldblum), que está trabalhando em uma invenção revolucionária: uma máquina de teletransporte. Inicialmente hesitante, Brundle decide testar o dispositivo em si mesmo. Porém, sem perceber, uma mosca entra na cabine de teletransporte com ele, causando uma fusão genética entre homem e inseto. O filme acompanha a progressiva e grotesca transformação de Brundle, enquanto ele se torna cada vez menos humano, tanto física quanto mentalmente. Ao mesmo tempo, sua namorada, a jornalista Veronica Quaife (Geena Davis), observa impotente a desintegração do homem que ama. Confira o trailer clássico em inglês:
Com uma atmosfera de filme independente, Cronenberg aborda com muita inteligência o drama mais íntimo da deterioração física e psicológica sem esquecer do impacto que o "body horror" pode gerar. Em "A Mosca", o diretor explora de forma implacável os medos do ser humano em relação as doenças, ao envelhecimento e até perante a perda de identidade. A transformação de Seth Brundle é (também metaforicamente) gradual, e Cronenberg não poupa a audiência dos detalhes grotescos dessa mutação, no entanto essa repulsa visual que a mutação provoca é equilibrada com o lado emocional do filme, já que a relação entre Brundle e Veronica se torna mais trágica à medida que a monstruosidade física do protagonista avança. Nesse sentido, o desempenho de Jeff Goldblum é essencial para o sucesso do filme - ele traz profundidade e vulnerabilidade para o seu personagem, fazendo com que quem assiste sinta empatia por ele, mesmo quando seu corpo e mente começam a se desintegrar - essa abordagem é ao mesmo tempo fascinante e cruel.
Veja, Cronenberg vai criando uma atmosfera densa e cada vez mais perturbadora pontuando a transformação física de Brundle - as sutis mudanças do inicio, como aumento de força e agilidade, logo evolui para a perda de controle sobre seu próprio corpo, com pele descamando, apêndices surgindo e secreções nojentas aparecendo. A transformação final de Brundle em uma mosca gigante é chocante, mas saiba que o horror é amplificado mesmo porque, nesse momento, a audiência já está emocionalmente conectada com o destino trágico do personagem. Aqui, os efeitos práticos, criados por Chris Walas (de "Gremlins") e Stephan Dupuis (de "Venon"), ganham força - cada estágio da mutação é feito com detalhes meticulosos, utilizando maquiagem e próteses, conferindo à transformação uma fisicalidade aterrorizante.
Em sua essência, "A Mosca" é uma palpável história de amor e perda. A deterioração de Brundle reflete o inevitável declínio físico e mental que todas as pessoas enfrentam com o tempo, e sua relação com Veronica se alinha com essa proposta - o que começa com paixão e descoberta, acaba se tornando um estudo sobre o luto e a impotência perante o fim. O filme sugere uma reflexão sobre o impacto devastador de uma doença, não apenas sobre aqueles que a sofrem, mas também sobre os entes queridos que ficam para assistir essa transformação. O medo da perda de identidade, do controle sobre o próprio corpo e da irreversível separação emocional são temas centrais que, analisando hoje em dia, fazem de "A Mosca" muito mais do que um simples filme de terror.
Vale muito o seu play!
"A Vastidão da Noite" ("The Vast of Night", título original) é uma ficção científica com toques de filme independente, de baixo orçamento e que se baseia em um conceito narrativo que não vai agradar a todos, mas que resolve, com muita criatividade e talento, as limitações da produção. É claro que quando falamos de um "filme de ETs", nossa maior expectativa gira em torno da maneira como a criatura será apresentada ou nos sustos que ela pode nos causar (basta lembrar de "Sinais"), mas "A Vastidão da Noite" não segue esse caminho e isso, quase sempre, causa uma certa decepção - não foi o meu caso, eu gostei muito do filme. Muito mesmo!
O filme se passa em poucas horas, durante uma noite aparentemente normal, em uma cidade bem do interior no Novo México. Estamos no final dos anos 50, uma época onde a ficção científica domina a TV e o Cinema seguindo as novidades da recém-criada corrida espacial e da rivalidade entre americanos e russos. Dois adolescentes, a telefonista Fay (Sierra McCormick) e o apresentador de um programa da rádio local, Everett (Jake Horowitz), percebem uma misteriosa interferência no rádio. Os sons, quase indecifráveis, desencadeiam para uma série de situações bastante curiosas que os levam a crer que algo fantástico está acontecendo na cidade enquanto todo o resto da população está no ginásio de uma escola assistindo um jogo de basquete colegial. Confira o trailer (em inglês):
"A Vastidão da Noite" é o primeiro projeto para o cinema do diretor e roteirista Andrew Patterson. Patterson rodou todo o filme em apenas 17 dias, com seu próprio investimento, o que só valoriza ainda mais o resultado que vemos na tela - a sensação é de estarmos ouvindo histórias sobre alienígenas de várias pessoas que garantem ser testemunhas dessas incríveis experiências. Muitos podem dizer que essa estrutura transforma o filme em verborrágico demais ou que falta ação e suspense dá sono - e de fato essas escolhas do diretor estão muito presentes na narrativa, mas de modo algum isso atrapalha a experiência de quem gosta do assunto e do gênero raiz.
Olha, vale muito a pena, mas, por favor, não esperem algo hollywoodiano, ok?
Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o seu roteiro. Ele pode parecer muito denso, já que os diálogos dominam as cenas e isso deve causar um certo estranhamento inicial. Como os planos são muito longos, a câmera quase não se mexe enquanto um personagem conta (ou está ouvindo) uma história, enquanto nas cenas onde eles precisam ir para outros pontos da cidade, vemos vários planos-sequência muito bem realizados - a sensação é que estamos acompanhando aquela jornada em tempo real. O fato de Patterson imprimir uma linguagem extremamente autoral só beneficia a forma como ele resolveu alguns planos bastante complexos - sua edição (sim, foi ele quem editou o filme) colabora com essa frequente sensação de urgência dos protagonistas em contraponto aos momentos introspectivos e de reflexão durante os depoimentos dos coadjuvantes. Outro recurso interessante é a forma como Patterson nos faz acreditar em uma situação especifica e rapidamente nos sugere que essa mesma situação pode não passar de uma mera ficção ou de uma fantasia de um programa de TV - em muitos momentos ele deixa a tela completamente preta, ouvimos apenas a voz ou efeitos sonoros e isso basta para nos provocar e criar uma atmosfera de mistério absurdo, em outros ele transfere a imagem do filme para dentro de um aparelho de TV e assim vai transitando entre os dois mundos. O fato é que durante essas pausas dramáticas, existe uma sensação de que alguma coisa muito séria está prestes a acontecer e isso nos acompanha durante todo o filme, reparem!
As referências de "A Guerra dos Mundos" vai de Orson Welles em 1938 à Steven Spielberg de 20015. Algumas cenas nos remetem ao clássico "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" - tudo isso serve como uma homenagem bastante respeitosa ao gênero! "A Vastidão da Noite" é muito bem dirigida em todos os sentidos, trás muito de Paul Thomas Anderson, mas também referencia a inventividade de M. Night Shyamalan ou dinâmica de J.J. Abrams. A fotografia do chileno M.I. Littin-Menz e a trilha sonora de Erick Alexander e Jared Bulmer só colaboram (e nunca se sobressaem) nessa construção tão particular de Patterson - é como se tudo fizesse sentido por ser do tamanho que é e com as peças que ele tem (como vemos muito em curtas-metragens).
"A Vastidão da Noite" é uma ficção cientifica nostálgica e imperdível para quem cresceu assistindo os filmes de Spielberg e acreditando que existem muitas histórias fantásticas para se contar sem necessariamente de encher o filme com tecnologia, Computação Gráfica e o escambau, onde o fator humano e o ato de dividir uma experiência (seja ela verdadeira ou não) já é o suficiente para nos fazer viajar com a imaginação - e digo mais: o final do filme comprova justamente isso!
Vale muito seu play!
"A Vastidão da Noite" ("The Vast of Night", título original) é uma ficção científica com toques de filme independente, de baixo orçamento e que se baseia em um conceito narrativo que não vai agradar a todos, mas que resolve, com muita criatividade e talento, as limitações da produção. É claro que quando falamos de um "filme de ETs", nossa maior expectativa gira em torno da maneira como a criatura será apresentada ou nos sustos que ela pode nos causar (basta lembrar de "Sinais"), mas "A Vastidão da Noite" não segue esse caminho e isso, quase sempre, causa uma certa decepção - não foi o meu caso, eu gostei muito do filme. Muito mesmo!
O filme se passa em poucas horas, durante uma noite aparentemente normal, em uma cidade bem do interior no Novo México. Estamos no final dos anos 50, uma época onde a ficção científica domina a TV e o Cinema seguindo as novidades da recém-criada corrida espacial e da rivalidade entre americanos e russos. Dois adolescentes, a telefonista Fay (Sierra McCormick) e o apresentador de um programa da rádio local, Everett (Jake Horowitz), percebem uma misteriosa interferência no rádio. Os sons, quase indecifráveis, desencadeiam para uma série de situações bastante curiosas que os levam a crer que algo fantástico está acontecendo na cidade enquanto todo o resto da população está no ginásio de uma escola assistindo um jogo de basquete colegial. Confira o trailer (em inglês):
"A Vastidão da Noite" é o primeiro projeto para o cinema do diretor e roteirista Andrew Patterson. Patterson rodou todo o filme em apenas 17 dias, com seu próprio investimento, o que só valoriza ainda mais o resultado que vemos na tela - a sensação é de estarmos ouvindo histórias sobre alienígenas de várias pessoas que garantem ser testemunhas dessas incríveis experiências. Muitos podem dizer que essa estrutura transforma o filme em verborrágico demais ou que falta ação e suspense dá sono - e de fato essas escolhas do diretor estão muito presentes na narrativa, mas de modo algum isso atrapalha a experiência de quem gosta do assunto e do gênero raiz.
Olha, vale muito a pena, mas, por favor, não esperem algo hollywoodiano, ok?
Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o seu roteiro. Ele pode parecer muito denso, já que os diálogos dominam as cenas e isso deve causar um certo estranhamento inicial. Como os planos são muito longos, a câmera quase não se mexe enquanto um personagem conta (ou está ouvindo) uma história, enquanto nas cenas onde eles precisam ir para outros pontos da cidade, vemos vários planos-sequência muito bem realizados - a sensação é que estamos acompanhando aquela jornada em tempo real. O fato de Patterson imprimir uma linguagem extremamente autoral só beneficia a forma como ele resolveu alguns planos bastante complexos - sua edição (sim, foi ele quem editou o filme) colabora com essa frequente sensação de urgência dos protagonistas em contraponto aos momentos introspectivos e de reflexão durante os depoimentos dos coadjuvantes. Outro recurso interessante é a forma como Patterson nos faz acreditar em uma situação especifica e rapidamente nos sugere que essa mesma situação pode não passar de uma mera ficção ou de uma fantasia de um programa de TV - em muitos momentos ele deixa a tela completamente preta, ouvimos apenas a voz ou efeitos sonoros e isso basta para nos provocar e criar uma atmosfera de mistério absurdo, em outros ele transfere a imagem do filme para dentro de um aparelho de TV e assim vai transitando entre os dois mundos. O fato é que durante essas pausas dramáticas, existe uma sensação de que alguma coisa muito séria está prestes a acontecer e isso nos acompanha durante todo o filme, reparem!
As referências de "A Guerra dos Mundos" vai de Orson Welles em 1938 à Steven Spielberg de 20015. Algumas cenas nos remetem ao clássico "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" - tudo isso serve como uma homenagem bastante respeitosa ao gênero! "A Vastidão da Noite" é muito bem dirigida em todos os sentidos, trás muito de Paul Thomas Anderson, mas também referencia a inventividade de M. Night Shyamalan ou dinâmica de J.J. Abrams. A fotografia do chileno M.I. Littin-Menz e a trilha sonora de Erick Alexander e Jared Bulmer só colaboram (e nunca se sobressaem) nessa construção tão particular de Patterson - é como se tudo fizesse sentido por ser do tamanho que é e com as peças que ele tem (como vemos muito em curtas-metragens).
"A Vastidão da Noite" é uma ficção cientifica nostálgica e imperdível para quem cresceu assistindo os filmes de Spielberg e acreditando que existem muitas histórias fantásticas para se contar sem necessariamente de encher o filme com tecnologia, Computação Gráfica e o escambau, onde o fator humano e o ato de dividir uma experiência (seja ela verdadeira ou não) já é o suficiente para nos fazer viajar com a imaginação - e digo mais: o final do filme comprova justamente isso!
Vale muito seu play!
Se você assiste "Bird Box", suspense da Netflix, com a expectativa de levar um caminhão de sustos ou de se deparar com uma terrível criatura de outro mundo em alguma cena-chave do filme, você vai se decepcionar!!! "Bird Box" não é esse tipo suspense, ele mais esconde (ou sugere) do que mostra! Se inicialmente isso te parece um problema, te garanto que não é - o filme tem uma trama bem desenvolvida e uma edição que potencializa essa virtude, criando uma dinâmica bastante envolvente! Ah, mas eu também preciso mencionar que assisti o filme sem ler o livro, o que ajudou muito na minha experiência, porque eu não sabia quase nada sobre a história além do que vi no trailer.
Bom, eu gostei do filme! Depois que terminei de assistir, minha percepção foi que "Bird Box" tem o roteiro que o M. Night Shyamalan precisava quando dirigiu "Fim dos Tempos" em 2008, afinal a premissa é muito parecida: "O mistério por trás de um surto de suicídios de pessoas normais, sem nenhum motivo aparente!" A verdade é que "Bird Box" tem um roteiro muito mais redondo (escrito pelo excelente Eric Heisserer - o mesmo de "A Chegada") do que "The Happening" (título original), mas não tem a genialidade da direção do Shyamalan - embora a dinamarquesa Susanne Bier faça um trabalho bastante competente, fica impossível não pensar na capacidade que o M. Night Shyamalan tem de criar aquela tensão, a expectativa sobre o que um personagem vai encontrar no próximo movimento. Ele é mestre nisso!
"Bird Box" tem o mistério, tem essa tensão, mas o drama da protagonista parece se sobrepor ao próprio gênero. As escolhas artísticas de não mostrar o "monstro/extraterreste" colabora para isso - aliás, a solução apresentada pela diretora para desenhar o momento de tensão da aproximação dessa entidade malígna lembra muito a "Black Smoke" de Lost. Só como curiosidade, li uma entrevista com a diretora onde ela comentava sobre essas escolhas, e ela disse que, por pressão dos executivos da Netflix, ela chegou a filmar uma sequência onde o "monstro" aparece, porém ela precisou cortar a cena na montagem, pois "o resultado pareceu muito mais cômico do que assustador!"- Fez bem!!!!
"Bird Box" bebe na fonte do conceito narrativo de "Tubarão" do Spielberg - 43 anos depois, é melhor não mostrar do que mostrar uma porcaria! Com isso, Susanne Bier criou um drama psicológico mais convincente que um suspende clássico, o problema é que parte do público estava esperando um suspense mais, digamos, expositivo! Pessoalmente, eu fiquei feliz com o drama e o equilíbrio com o suspense em si, achei bem produzido, bem fotografado, os atores estão bem, mas o fato é que não dá para classificar "Bird Box" como imperdível - ele é um bom entretenimento, nada além disso! Vale a diversão, vale o play!
Se você assiste "Bird Box", suspense da Netflix, com a expectativa de levar um caminhão de sustos ou de se deparar com uma terrível criatura de outro mundo em alguma cena-chave do filme, você vai se decepcionar!!! "Bird Box" não é esse tipo suspense, ele mais esconde (ou sugere) do que mostra! Se inicialmente isso te parece um problema, te garanto que não é - o filme tem uma trama bem desenvolvida e uma edição que potencializa essa virtude, criando uma dinâmica bastante envolvente! Ah, mas eu também preciso mencionar que assisti o filme sem ler o livro, o que ajudou muito na minha experiência, porque eu não sabia quase nada sobre a história além do que vi no trailer.
Bom, eu gostei do filme! Depois que terminei de assistir, minha percepção foi que "Bird Box" tem o roteiro que o M. Night Shyamalan precisava quando dirigiu "Fim dos Tempos" em 2008, afinal a premissa é muito parecida: "O mistério por trás de um surto de suicídios de pessoas normais, sem nenhum motivo aparente!" A verdade é que "Bird Box" tem um roteiro muito mais redondo (escrito pelo excelente Eric Heisserer - o mesmo de "A Chegada") do que "The Happening" (título original), mas não tem a genialidade da direção do Shyamalan - embora a dinamarquesa Susanne Bier faça um trabalho bastante competente, fica impossível não pensar na capacidade que o M. Night Shyamalan tem de criar aquela tensão, a expectativa sobre o que um personagem vai encontrar no próximo movimento. Ele é mestre nisso!
"Bird Box" tem o mistério, tem essa tensão, mas o drama da protagonista parece se sobrepor ao próprio gênero. As escolhas artísticas de não mostrar o "monstro/extraterreste" colabora para isso - aliás, a solução apresentada pela diretora para desenhar o momento de tensão da aproximação dessa entidade malígna lembra muito a "Black Smoke" de Lost. Só como curiosidade, li uma entrevista com a diretora onde ela comentava sobre essas escolhas, e ela disse que, por pressão dos executivos da Netflix, ela chegou a filmar uma sequência onde o "monstro" aparece, porém ela precisou cortar a cena na montagem, pois "o resultado pareceu muito mais cômico do que assustador!"- Fez bem!!!!
"Bird Box" bebe na fonte do conceito narrativo de "Tubarão" do Spielberg - 43 anos depois, é melhor não mostrar do que mostrar uma porcaria! Com isso, Susanne Bier criou um drama psicológico mais convincente que um suspende clássico, o problema é que parte do público estava esperando um suspense mais, digamos, expositivo! Pessoalmente, eu fiquei feliz com o drama e o equilíbrio com o suspense em si, achei bem produzido, bem fotografado, os atores estão bem, mas o fato é que não dá para classificar "Bird Box" como imperdível - ele é um bom entretenimento, nada além disso! Vale a diversão, vale o play!
Quando em 2014, assisti o premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé"), eu simplesmente o coloquei entre os melhores suspenses (psicológicos) de todos os tempos.Obviamente que ao sair a notícia de que um remake americano estava sendo produzido apenas 8 anos depois do sucesso do original, me enchi de desconfianças. Pois bem, essa nova versão dirigida pelo Matt Sobel (de "Vingança Sabor Cereja") é tão boa e surpreendente quanto!
Os irmãos gêmeos Elias e Lukas (Cameron e Nicholas Crovetti) vão passar uma temporada na casa de sua mãe (Naomi Watts) quando são surpreendidos pelas bandagens que cobrem seu rosto após um procedimento cirúrgico. Conforme o comportamento dela fica cada vez mais irreconhecível, os gêmeos passam a desconfiar de que ela seja uma impostora, despontando em uma montanha-russa de chantagens emocionais e jogos de manipulação para descobrir a verdade. Porém a verdade está além dessa desconexão com a realidade, servindo apenas de prenúncio para eventos que vão marcar a vida da família para sempre. Confira o trailer:
Quando foi lançado durante o Festival de Veneza de 2014, a versão austríaca de "Boa Noite, Mamãe" chamou muita atenção pela força dramática de uma história relativamente simples, interessante e perturbadora, que conseguia entregar uma série de reviravoltas que realmente faziam muito sentido se olhássemos em retrospectiva - conceito que havia ganhado outras proporções, alguns anos antes, com o inesquecível "Sexto Sentido" de M. "Night " Shyamalan. Pois bem, essa nova versão segue o mesmo conceito narrativo se apropriando da mesma história, mas trocando o ar mais independente e autoral do original, por uma dinâmica mais hollywoodiana de produção - o que, já adianto, funcionou perfeitamente.
O roteiro do estreante Kyle Warren praticamente repete a proposta de Franz e Fialla, inserindo um ou outro toque de horror, mas sempre se apoiando na construção daquele clima angustiante e crescente de paranoia. Ao focar a narrativa na percepção de duas crianças, é natural que a dúvida sobre o que de fato está acontecendo impacte também a audiência. Ao inserir um certo descontrole emocional da "mãe", a tensão já existente na premissa, ganha outros elementos que refletem imediatamente no fator claustrofóbico da "convivência", provocando sensações ainda mais desconfortáveis para quem assiste pela primeira vez o filme (sim, sua experiência com essa versão depende do quanto você conhece sobre a versão original).
Além do talento dos irmãos Crovetti (que já haviam chamado atenção em "Big Little Lies") é preciso que se elogie o trabalho de Watts. Ela é, sem dúvidas, o grande ganho da nova versão - sua capacidade como atriz permite que mesmo com diversos obstáculos que poderiam impedir que seu talento fosse aproveitado, já que a audiência não vê seu rosto em boa parte do filme, ela brilhe (e muito). Watts carrega no olhar uma dramaticidade que não me surpreenderia fosse reconhecida no Oscar - e não é só isso, sua expressão corporal, tom e range de interpretação estão simplesmente incríveis!
‘Boa Noite, Mamãe’ é um tiro certeiro para quem gosta de filmes de suspense que se propõem a surpreender no final. Sua narrativa é extremamente envolvente e construída para ser inquietante - as boas atuações do elenco principal, uma trilha sonora que pontua as intenções do clima sugerido pelo diretor e, lógico, as claras referências de "A Pele Que Habito" combinadas com a segurança de um roteiro que já foi testado e que funcionou bem, só ratificam a ideia da Amazon de trazer para o mainstream uma obra que até pouco tempo estava limitada ao cinema de nicho. Ponto para a era do streaming, ponto para quem apostou nesse remake!
Vale muitíssimo o seu play!
Quando em 2014, assisti o premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", dos diretores Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé"), eu simplesmente o coloquei entre os melhores suspenses (psicológicos) de todos os tempos.Obviamente que ao sair a notícia de que um remake americano estava sendo produzido apenas 8 anos depois do sucesso do original, me enchi de desconfianças. Pois bem, essa nova versão dirigida pelo Matt Sobel (de "Vingança Sabor Cereja") é tão boa e surpreendente quanto!
Os irmãos gêmeos Elias e Lukas (Cameron e Nicholas Crovetti) vão passar uma temporada na casa de sua mãe (Naomi Watts) quando são surpreendidos pelas bandagens que cobrem seu rosto após um procedimento cirúrgico. Conforme o comportamento dela fica cada vez mais irreconhecível, os gêmeos passam a desconfiar de que ela seja uma impostora, despontando em uma montanha-russa de chantagens emocionais e jogos de manipulação para descobrir a verdade. Porém a verdade está além dessa desconexão com a realidade, servindo apenas de prenúncio para eventos que vão marcar a vida da família para sempre. Confira o trailer:
Quando foi lançado durante o Festival de Veneza de 2014, a versão austríaca de "Boa Noite, Mamãe" chamou muita atenção pela força dramática de uma história relativamente simples, interessante e perturbadora, que conseguia entregar uma série de reviravoltas que realmente faziam muito sentido se olhássemos em retrospectiva - conceito que havia ganhado outras proporções, alguns anos antes, com o inesquecível "Sexto Sentido" de M. "Night " Shyamalan. Pois bem, essa nova versão segue o mesmo conceito narrativo se apropriando da mesma história, mas trocando o ar mais independente e autoral do original, por uma dinâmica mais hollywoodiana de produção - o que, já adianto, funcionou perfeitamente.
O roteiro do estreante Kyle Warren praticamente repete a proposta de Franz e Fialla, inserindo um ou outro toque de horror, mas sempre se apoiando na construção daquele clima angustiante e crescente de paranoia. Ao focar a narrativa na percepção de duas crianças, é natural que a dúvida sobre o que de fato está acontecendo impacte também a audiência. Ao inserir um certo descontrole emocional da "mãe", a tensão já existente na premissa, ganha outros elementos que refletem imediatamente no fator claustrofóbico da "convivência", provocando sensações ainda mais desconfortáveis para quem assiste pela primeira vez o filme (sim, sua experiência com essa versão depende do quanto você conhece sobre a versão original).
Além do talento dos irmãos Crovetti (que já haviam chamado atenção em "Big Little Lies") é preciso que se elogie o trabalho de Watts. Ela é, sem dúvidas, o grande ganho da nova versão - sua capacidade como atriz permite que mesmo com diversos obstáculos que poderiam impedir que seu talento fosse aproveitado, já que a audiência não vê seu rosto em boa parte do filme, ela brilhe (e muito). Watts carrega no olhar uma dramaticidade que não me surpreenderia fosse reconhecida no Oscar - e não é só isso, sua expressão corporal, tom e range de interpretação estão simplesmente incríveis!
‘Boa Noite, Mamãe’ é um tiro certeiro para quem gosta de filmes de suspense que se propõem a surpreender no final. Sua narrativa é extremamente envolvente e construída para ser inquietante - as boas atuações do elenco principal, uma trilha sonora que pontua as intenções do clima sugerido pelo diretor e, lógico, as claras referências de "A Pele Que Habito" combinadas com a segurança de um roteiro que já foi testado e que funcionou bem, só ratificam a ideia da Amazon de trazer para o mainstream uma obra que até pouco tempo estava limitada ao cinema de nicho. Ponto para a era do streaming, ponto para quem apostou nesse remake!
Vale muitíssimo o seu play!
"Get Out" (título original) talvez seja o maior exemplo de um marketing mal feito: o cartaz e o nome em português, "Corra", devem ter afastado muita gente (inclusive eu), o que é uma pena porque o filme é muito mais do que aquela estrutura superficial de humor negro que foi apresentada.
Chris (Daniel Kaluuya) e Rose (Allison Williams) são namorados há já algum tempo. Com o evoluir da relação, ela acha que chegou o momento de apresentar o namorado para os pais, Missy (Catherine Keener) e Dean (Bradley Whitford). Ela, então, resolve convidá-lo para uma reunião familiar que todos os anos os pais organizam em sua casa, numa zona rural dos EUA. Apesar de alguma relutância por parte de Chris, Rose acha que não há a menor necessidade de avisar seus pais, que ela considera cultos e esclarecidos, o fato de que ele é negro. Quando chegam ao evento, apesar de toda a simpatia com que é tratado, Chris percebe que algo de muito estranho se passa naquela casa e com aqueles convidados. Quando ele resolve fugir daquele ambiente bizarro e um pouco claustrofóbico, percebe que ninguém está interessado em deixá-lo partir e isso é só o começo de uma longa jornada. Confira o trailer:
"Corra" é muito bem dirigido pelo excelente Jordan Peele que estreia na função - ele foi capaz que trazer muito de um conceito que estava em alta na época: um suspense independente com um roteiro bem inteligente, cheio de críticas sociais e ideológicas e com momentos completamente non-sense. De fato, Jordan Peele representou muito bem uma nova geração de diretores e roteiristas de gênero que estão bombando atualmente!
O filme foi muito bem de publico, não nos patamares de "Bruxa de Blair" como muita gente falou, mas teve um lucro de respeito: custou 5 milhões de dólares e já faturou quase 250 milhões - foi um bom investimento ou não? O filme tem um roteiro muito bem estruturado, com bons plots e muito, mas muito, criativo - o que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018.
"Corra" é um suspense muito bem realizado, sai do lugar comum, passa sua mensagem sem parecer enfadonho e para quem gosta do gênero, é uma ótima pedida! Vale seu play tranquilamente!
"Get Out" (título original) talvez seja o maior exemplo de um marketing mal feito: o cartaz e o nome em português, "Corra", devem ter afastado muita gente (inclusive eu), o que é uma pena porque o filme é muito mais do que aquela estrutura superficial de humor negro que foi apresentada.
Chris (Daniel Kaluuya) e Rose (Allison Williams) são namorados há já algum tempo. Com o evoluir da relação, ela acha que chegou o momento de apresentar o namorado para os pais, Missy (Catherine Keener) e Dean (Bradley Whitford). Ela, então, resolve convidá-lo para uma reunião familiar que todos os anos os pais organizam em sua casa, numa zona rural dos EUA. Apesar de alguma relutância por parte de Chris, Rose acha que não há a menor necessidade de avisar seus pais, que ela considera cultos e esclarecidos, o fato de que ele é negro. Quando chegam ao evento, apesar de toda a simpatia com que é tratado, Chris percebe que algo de muito estranho se passa naquela casa e com aqueles convidados. Quando ele resolve fugir daquele ambiente bizarro e um pouco claustrofóbico, percebe que ninguém está interessado em deixá-lo partir e isso é só o começo de uma longa jornada. Confira o trailer:
"Corra" é muito bem dirigido pelo excelente Jordan Peele que estreia na função - ele foi capaz que trazer muito de um conceito que estava em alta na época: um suspense independente com um roteiro bem inteligente, cheio de críticas sociais e ideológicas e com momentos completamente non-sense. De fato, Jordan Peele representou muito bem uma nova geração de diretores e roteiristas de gênero que estão bombando atualmente!
O filme foi muito bem de publico, não nos patamares de "Bruxa de Blair" como muita gente falou, mas teve um lucro de respeito: custou 5 milhões de dólares e já faturou quase 250 milhões - foi um bom investimento ou não? O filme tem um roteiro muito bem estruturado, com bons plots e muito, mas muito, criativo - o que lhe rendeu o Oscar de Melhor Roteiro Original em 2018.
"Corra" é um suspense muito bem realizado, sai do lugar comum, passa sua mensagem sem parecer enfadonho e para quem gosta do gênero, é uma ótima pedida! Vale seu play tranquilamente!
Eu já disse uma vez e não canso de repetir: um dos melhores elogios que um diretor pode receber é quando o publico vê em seu filme o reflexo do seu estilo, do seu trabalho técnico, e isso é muito fácil de encontrar nos filmes do Shyamalan - quando ele acerta e quando ele erra. Ele é criativo demais, ele coloca a câmera sempre em lugares inusitados, os movimentos contam a história sem a necessidade de muitos cortes, ele brinca com os eixos como ninguém e quando o gênero é suspense, o cara domina a gramática como poucos!!! Sou fã do Shyamalan, sempre fui e acho ele um excelente diretor!!!
Pois bem, em "Fragmentado" ele parece ter retomado o que sabe fazer de melhor: nos envolver em uma trama misteriosa onde as respostas vão surgindo conforme a história se desenrola e muitas vezes, nos surpreendendo. Dennis (McAvoy) sequestra três estudantes aparentemente sem motivo algum e ao mantê-las em cativeiro ele vai desenvolvendo uma relação extremamente complexa com as meninas a ponto de duvidarmos da sua consciência. Claro que o filme foca nas multi-personalidades do protagonista, mas na forma com é conduzida. a história passa a ser muito mais interessante do que propriamente pelo seu conteúdo. Confira o trailer:
É um fato que "Fragmentado" funciona como entretenimento com um toque de suspense!!! Como mencionei, o filme é interessante, mas está longe de ser uma obra prima... e ainda bem!!!! Sem dúvida é o melhor filme dele depois da "Vila", mas, olha a crueldade: ainda é um filme inferior à "Sinais", "Corpo Fechado" e, claro, "Sexto Sentido".
O engraçado é que todo mundo, por muito tempo, assistiu os filmes do Shyamalan esperando a mesma fórmula de sucesso do Sexto Sentido, um plot twist matador no último ato, algo incrivelmente surpreendente que mudasse completamente nosso entendimento e fizesse nossa cabeça explodir! O problema é que ele acabou caindo no erro de querer defender essa expectativa em todo filme e foi decepcionando gradativamente o seu público até cair no ostracismo! Por que estou falando isso? Em "Fragmentado" ele foge dessa fórmula, mas não abre mão de sua aposta no diálogo bem construído, equilibrando o drama psicológico com uma narrativa estereotipada de gênero que funciona perfeitamente!
"Fragmentado" se torna, no mínimo, um filme divertido, mas no finalzinho que ele vacila ao querer agradar demais seus fãs para um futuro cross-over - ok, tem o propósito de provocar a audiência, claro, mas será que se sustenta, será que faz sentido? Eu admito que curti, mas prefiro esperar pra ver se vai funcionar mesmo! Por enquanto, aperto o play porque você vai se divertir!
Eu já disse uma vez e não canso de repetir: um dos melhores elogios que um diretor pode receber é quando o publico vê em seu filme o reflexo do seu estilo, do seu trabalho técnico, e isso é muito fácil de encontrar nos filmes do Shyamalan - quando ele acerta e quando ele erra. Ele é criativo demais, ele coloca a câmera sempre em lugares inusitados, os movimentos contam a história sem a necessidade de muitos cortes, ele brinca com os eixos como ninguém e quando o gênero é suspense, o cara domina a gramática como poucos!!! Sou fã do Shyamalan, sempre fui e acho ele um excelente diretor!!!
Pois bem, em "Fragmentado" ele parece ter retomado o que sabe fazer de melhor: nos envolver em uma trama misteriosa onde as respostas vão surgindo conforme a história se desenrola e muitas vezes, nos surpreendendo. Dennis (McAvoy) sequestra três estudantes aparentemente sem motivo algum e ao mantê-las em cativeiro ele vai desenvolvendo uma relação extremamente complexa com as meninas a ponto de duvidarmos da sua consciência. Claro que o filme foca nas multi-personalidades do protagonista, mas na forma com é conduzida. a história passa a ser muito mais interessante do que propriamente pelo seu conteúdo. Confira o trailer:
É um fato que "Fragmentado" funciona como entretenimento com um toque de suspense!!! Como mencionei, o filme é interessante, mas está longe de ser uma obra prima... e ainda bem!!!! Sem dúvida é o melhor filme dele depois da "Vila", mas, olha a crueldade: ainda é um filme inferior à "Sinais", "Corpo Fechado" e, claro, "Sexto Sentido".
O engraçado é que todo mundo, por muito tempo, assistiu os filmes do Shyamalan esperando a mesma fórmula de sucesso do Sexto Sentido, um plot twist matador no último ato, algo incrivelmente surpreendente que mudasse completamente nosso entendimento e fizesse nossa cabeça explodir! O problema é que ele acabou caindo no erro de querer defender essa expectativa em todo filme e foi decepcionando gradativamente o seu público até cair no ostracismo! Por que estou falando isso? Em "Fragmentado" ele foge dessa fórmula, mas não abre mão de sua aposta no diálogo bem construído, equilibrando o drama psicológico com uma narrativa estereotipada de gênero que funciona perfeitamente!
"Fragmentado" se torna, no mínimo, um filme divertido, mas no finalzinho que ele vacila ao querer agradar demais seus fãs para um futuro cross-over - ok, tem o propósito de provocar a audiência, claro, mas será que se sustenta, será que faz sentido? Eu admito que curti, mas prefiro esperar pra ver se vai funcionar mesmo! Por enquanto, aperto o play porque você vai se divertir!
Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!
Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:
Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.
Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.
Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!
Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!
Olha, assistir "Gêmeas: Mórbida Semelhança", minissérie em 6 episódios da Prime Vídeo, não é uma das tarefas das mais fáceis. No entanto, e é preciso que se diga, essa reinterpretação do filme dirigido pelo David Cronenberg, lançado em 1988 e estrelado pelo Jeremy Irons, é muito (mas, muito) boa. Seguindo (e respeitando) o estilo visceral de Cronenberg, a criadora Alice Birch (de "Normal People") foi capaz de repetir toda aquela atmosfera de suspense e horror do material original, na sua "forma" e no seu "conteúdo", e ainda desenvolver camadas mais profundas para as protagonistas Beverly e Elliot Mantle, brilhantemente interpretadas por Rachel Weisz. Inclusive, Birch chega a se apropriar do subgênero criado pelo diretor, chamado body horror, para impactar de uma maneira que chega a embrulhar o estômago - ou seja, se você tem medo de sangue, bisturi e afins, não dê o play!
Beverly e Elliot Mantle são renomadas cirurgiãs que compartilham tudo: desde a profissão até seus amantes e as drogas que consomem. Na missão de romper as barreiras do patriarcado na medicina e revolucionar os métodos de parto e da saúde feminina, elas desenvolvem um novo método de cirurgia ginecológica e obstetrícia, e até de pesquisas pouco convencionais. Altamente investidas na empreitada, elas testam os limites da ética médica e acabam se envolvendo em tensões que podem custar até a relação entre elas. Confira o trailer:
Existe uma violência perturbadora nessa minissérie que me faz classificar sua trama como algo bastante pesado - isso, claro, porque é o corpo humano seu principal instrumento de impacto. Veja, logo no começo do primeiro episódio, a direção estabelece seu tom quando somos apresentados ao dia a dia das Mantle com uma sequência de imagens de partos normais, de cesarianas, de incisões de Pfannenstiel e de sangue, muito sangue. A repulsa que essa brilhante edição causa é devastadora, principalmente por se tratar de registros extremamente realísticos - e aqui faço mais dois elogios: para o montador e para o departamento de efeitos e maquiagem.
Saindo da "forma" e indo um pouco para o "conteúdo", a trama constrói, sem a menor pressa de entregar os pontos, uma a dinâmica doentia entre as protagonistas. Tanto Beverly quanto Elliot são "fora da caixa" (para parecer educado e não chama-las de loucas), porém completamente diferentes entre si. Beverly, a gêmea de "cabelo preso" é séria e mais discreta, tem o sonho de criar uma clínica onde as mulheres possam ter um tratamento mais respeitoso e digno, porém é insegura perante suas relações e extremamente frágil - como se vivesse na sobra da irmã. Já Elliot, a gêmea “de cabelo solto”, é seu oposto, desbocada, abusa das drogas e do sexo casual para mostrar poder - é ela que quer expandir sua pesquisa (ilegal) sobre fertilidade e reprodução humana custe o que custar. Reparem como a relação entre elas cria uma forte sensação de claustrofobia, um sentimento de isolamento e, principalmente, de intensa alienação.
Como muitos dos filmes de David Cronenberg, essa nova versão de "Dead Ringers" (no original) explora de uma maneira muito inteligente, mas nada usual, temas sombrios como a obsessão, a deterioração mental, a solidão, a dependência e a falta de identidade, mergulhando nos recessos mais profundos da psique humana sem pedir licença para nos provocar. Uma aula de direção, com uma trilha sonora nostálgica e um desenho de produção incrível, sem falar, claro, de um desenho de som genial e de um roteiro bem construído e instigante, cheio de nuances e ironias que vão do mais sensível ao estereótipo sem sair do conceito proposto por Birch. Sensacional!
Se você estiver disposto a enfrentar a jornada, dê o play porque vai valer muito a pena!
Esse filme é simplesmente genial! Bem na linha do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", "Não Fale o Mal" é o que existe de melhor na cinematografia de M. Night Shyamalan (de "A Visita"), Ari Aster (de "Hereditário") e da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé")! Angustiante, corajoso e impactante! Lançado em 2022 e dirigido pelo dinamarquês Christian Tafdrup (olho nesse diretor), essa é a versão original do remake hollywoodiano que tem James McAvoy como protagonista. "Speak No Evil" (no original) é um suspense psicológico perturbador que explora os limites do desconforto em uma relação social e as consequências sombrias por ignorar todos os sinais de perigo - chega a ser impressionante como o filme utiliza a tensão psicológica e a dissonância cultural para criar um horror realmente inquietante que, olha, permanece com a audiência muito tempo depois dos créditos subirem!
A trama segue Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que, durante férias na Itália, conhece Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês aparentemente acolhedor e simpático. Após a viagem, Bjørn e Louise recebem um convite para visitar esse casal em sua casa no interior remoto da Holanda, e, apesar de hesitantes, decidem aceitar. À medida que a estadia avança, no entanto, comportamentos cada vez mais bizarros começam a surgir, gerando tensão entre os anfitriões e os visitantes, que se veem presos em uma situação bastante ameaçadora. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro co-escrito pelo diretor Christian Tafdrup e pelo seu irmão Mads, é uma crítica assustadora aos códigos de cortesia social que muitas vezes nos levam a ignorar comportamentos alarmantes pelo simples intuito de evitar conflitos. Obviamente que em "Não Fale o Mal" essa premissa é elevada até níveis extsratostfericos, mas chega a ser impressionante como a história revela o medo de parecer rude ou ofensivo e como isso pode se tornar um instrumento de manipulação e violência, ultrapassando os limites entre confiança e submissão que podem ser explorados de uma maneira muito cruel - para não dizer doentia. A narrativa dos Tafdrup não se preocupa em explicar as motivações dos antagonistas de forma óbvia, isso nem importa na verdade, mas sim em manter um nível de ambiguidade que só aumenta a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer a todo momento.
A direção de Christian é eficaz em criar essa atmosfera angustiante de desconforto crescente. Desde o início, o diretor constrói uma tensão sutil, utilizando diálogos aparentemente inofensivos e interações que soam inocentes para gerar uma sensação de mal-estar suportável. Ao explorar algumas dinâmicas de poder e certas pressões sociais que levam os personagens a ignorar sinais de alerta, questionando até que ponto somos levados a priorizar a polidez e a acomodação em situações desconfortáveis, o diretor manipula nossas sensações e nos entrega uma experiência rara - pela força e pela originalidade. Repare como a escolha de uma abordagem mais minimalista e focada na psicologia dos personagens só intensifica a sensação de impotência que vemos na tela. O trabalho de Morten Burian e Sidsel Siem Koch transmitem esse desconforto gradual de uma forma muito realista. Fedja van Huêt e Karina Smulders, por sua vez, entregam performances mais intensas, alternando entre a simpatia desconcertante e hostilidade velada, contribuindo para uma relação verdadeiramente sinistra.
A fotografia aqui, é quase um personagem: o uso de espaços mais apertados e planos mais fechados reforça o caráter opressor do filme, enquanto as paisagens isoladas da Holanda contribuem para o sentimento de vulnerabilidade dos personagens. A paleta de cores fria e os enquadramentos cuidadosamente compostos intensificam a sensação de angústia, transformando cenas simples em momentos de grande tensão - mérito de Erik Molberg Hansen (de "Industry"). Tecnicamente perfeito e artisticamente irretocável, "Não Fale o Mal" entrou para o ranking dos melhores filmes que já recomendei - por ser eficiente em seu propósito de gerar constrangimento e tensão, pela intensidade de sua trama e por transitar no limite do doentio e do perturbador com tanta sabedoria. Antes do play saiba que o filme não recorre aos sustos tradicionais do suspense, mas se apropria de uma abordagem psicológica profunda que culmina em um desfecho brutal e inquietante.
Não espere respostas, mergulhe na experiência. Vale demais o seu play!
Esse filme é simplesmente genial! Bem na linha do premiado filme austríaco "Goodnight Mommy", "Não Fale o Mal" é o que existe de melhor na cinematografia de M. Night Shyamalan (de "A Visita"), Ari Aster (de "Hereditário") e da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (de o "Chalé")! Angustiante, corajoso e impactante! Lançado em 2022 e dirigido pelo dinamarquês Christian Tafdrup (olho nesse diretor), essa é a versão original do remake hollywoodiano que tem James McAvoy como protagonista. "Speak No Evil" (no original) é um suspense psicológico perturbador que explora os limites do desconforto em uma relação social e as consequências sombrias por ignorar todos os sinais de perigo - chega a ser impressionante como o filme utiliza a tensão psicológica e a dissonância cultural para criar um horror realmente inquietante que, olha, permanece com a audiência muito tempo depois dos créditos subirem!
A trama segue Bjørn (Morten Burian) e Louise (Sidsel Siem Koch), um casal dinamarquês que, durante férias na Itália, conhece Patrick (Fedja van Huêt) e Karin (Karina Smulders), um casal holandês aparentemente acolhedor e simpático. Após a viagem, Bjørn e Louise recebem um convite para visitar esse casal em sua casa no interior remoto da Holanda, e, apesar de hesitantes, decidem aceitar. À medida que a estadia avança, no entanto, comportamentos cada vez mais bizarros começam a surgir, gerando tensão entre os anfitriões e os visitantes, que se veem presos em uma situação bastante ameaçadora. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro co-escrito pelo diretor Christian Tafdrup e pelo seu irmão Mads, é uma crítica assustadora aos códigos de cortesia social que muitas vezes nos levam a ignorar comportamentos alarmantes pelo simples intuito de evitar conflitos. Obviamente que em "Não Fale o Mal" essa premissa é elevada até níveis extsratostfericos, mas chega a ser impressionante como a história revela o medo de parecer rude ou ofensivo e como isso pode se tornar um instrumento de manipulação e violência, ultrapassando os limites entre confiança e submissão que podem ser explorados de uma maneira muito cruel - para não dizer doentia. A narrativa dos Tafdrup não se preocupa em explicar as motivações dos antagonistas de forma óbvia, isso nem importa na verdade, mas sim em manter um nível de ambiguidade que só aumenta a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer a todo momento.
A direção de Christian é eficaz em criar essa atmosfera angustiante de desconforto crescente. Desde o início, o diretor constrói uma tensão sutil, utilizando diálogos aparentemente inofensivos e interações que soam inocentes para gerar uma sensação de mal-estar suportável. Ao explorar algumas dinâmicas de poder e certas pressões sociais que levam os personagens a ignorar sinais de alerta, questionando até que ponto somos levados a priorizar a polidez e a acomodação em situações desconfortáveis, o diretor manipula nossas sensações e nos entrega uma experiência rara - pela força e pela originalidade. Repare como a escolha de uma abordagem mais minimalista e focada na psicologia dos personagens só intensifica a sensação de impotência que vemos na tela. O trabalho de Morten Burian e Sidsel Siem Koch transmitem esse desconforto gradual de uma forma muito realista. Fedja van Huêt e Karina Smulders, por sua vez, entregam performances mais intensas, alternando entre a simpatia desconcertante e hostilidade velada, contribuindo para uma relação verdadeiramente sinistra.
A fotografia aqui, é quase um personagem: o uso de espaços mais apertados e planos mais fechados reforça o caráter opressor do filme, enquanto as paisagens isoladas da Holanda contribuem para o sentimento de vulnerabilidade dos personagens. A paleta de cores fria e os enquadramentos cuidadosamente compostos intensificam a sensação de angústia, transformando cenas simples em momentos de grande tensão - mérito de Erik Molberg Hansen (de "Industry"). Tecnicamente perfeito e artisticamente irretocável, "Não Fale o Mal" entrou para o ranking dos melhores filmes que já recomendei - por ser eficiente em seu propósito de gerar constrangimento e tensão, pela intensidade de sua trama e por transitar no limite do doentio e do perturbador com tanta sabedoria. Antes do play saiba que o filme não recorre aos sustos tradicionais do suspense, mas se apropria de uma abordagem psicológica profunda que culmina em um desfecho brutal e inquietante.
Não espere respostas, mergulhe na experiência. Vale demais o seu play!
Na linha do "ame ou odeie", "Não! Não Olhe!", dirigido por Jordan Peele e lançado em 2022, é uma obra que de fato desafia aquele tipo de categorização fácil já que seu roteiro mistura elementos de suspense, ficção científica e, claro, crítica social em uma narrativa dinâmica e singular. Peele, conhecido por seus trabalhos anteriores como "Corra!" e "Nós", mais uma vez demonstra sua habilidade em criar histórias que são tanto provocativas quanto profundamente envolventes e "Não! Não Olhe!" segue essa identidade, oferecendo uma experiência visualmente deslumbrante e intelectualmente estimulante - porém sem tanto impacto da violência como vimos anteriormente.
A trama segue os irmãos OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer), que administram um rancho de cavalos em uma área rural da Califórnia. Após a morte misteriosa de seu pai, os irmãos começam a notar atividades estranhas no céu acima de sua propriedade. Decididos a descobrir a verdade e capturar evidências da presença de OVNIs, eles se envolvem em uma série de eventos cada vez mais inquietantes. Confira o trailer:
"Nope" (no original) é muito inteligente ao explorar o desejo humano de controlar o desconhecido (e de como se dar bem com isso). Baseado nessa premissa, o roteiro de Peele acaba sendo uma ótima combinação de mistério e crítica social capaz de abordar temas mais sensíveis como a exploração da dor e do trauma como forma de entretenimento - a mercantilização do medo e o impacto do espetáculo na sociedade contemporânea, mais uma vez, provocam ótimas discussões. Peele, conhecido por suas incisivas observações comportamentais, utiliza de uma inofensiva trama de ficção científica para comentar sobre a obsessão humana em diferentes níveis. Repare como os diálogos afiados e cheios de subtexto incentivam a audiência a refletir sobre as camadas mais profundas da história. Já sua direção é, como sempre, meticulosa e inventiva. Peele utiliza uma paleta de cores contrastante e uma cinematografia de grande escala para capturar a beleza e a ameaça daquele cenário desértico. A escolha de locações com grande amplitude pontua ainda mais a sensação claustrofóbica de saber que existe uma força invisível que nos observa e quer nos fazer mal (a qualquer momento).
Daniel Kaluuya oferece uma performance introspectiva, capturando a dor de um homem assombrado pela perda do pai e pelo dever de proteger o legado de sua família. Kaluuya, com seu olhar penetrante e presença reservada, traz uma profundidade emocional ao papel, tornando OJ um personagem cativante e empático - sempre no tom certo. Já Keke Palmer é um contraponto energético e carismático, imbuindo sua personagem com uma mistura de ambição, coragem e vulnerabilidade. No entanto é a química entre os dois que torna essa maluquice de Peele palpável, fundamentando a narrativa em uma relação fraternal convincente e marcante.
"Não! Não Olhe!" é visualmente impressionante e desafiador, mas não esteve isento de críticas - com momentos de introspecção que interrompem a construção do suspense, muito se falou sobre "quebra de expectativas" como algo ruim. Eu discordo, mas entendo que a natureza abstrata de algumas das metáforas e mensagens do diretor podem não ressoar com todos os públicos, deixando algumas interpretações muito abertas. O fato é que, como M. Night Shyamalan, Jordan Peele não se faz de desentendido ao trazer o mistério como sua arma de marketing, mesmo que com isso se torne refém de seus mecanismos de plot twist! Se "Sinais" de Shyamalan era um filme sobre fé, saiba que "Não! Não Olhe!" é um filme sobre evidências para aqueles que apreciam histórias que são ao mesmo tempo entretenimento e reflexão!
Vale seu play!
Na linha do "ame ou odeie", "Não! Não Olhe!", dirigido por Jordan Peele e lançado em 2022, é uma obra que de fato desafia aquele tipo de categorização fácil já que seu roteiro mistura elementos de suspense, ficção científica e, claro, crítica social em uma narrativa dinâmica e singular. Peele, conhecido por seus trabalhos anteriores como "Corra!" e "Nós", mais uma vez demonstra sua habilidade em criar histórias que são tanto provocativas quanto profundamente envolventes e "Não! Não Olhe!" segue essa identidade, oferecendo uma experiência visualmente deslumbrante e intelectualmente estimulante - porém sem tanto impacto da violência como vimos anteriormente.
A trama segue os irmãos OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer), que administram um rancho de cavalos em uma área rural da Califórnia. Após a morte misteriosa de seu pai, os irmãos começam a notar atividades estranhas no céu acima de sua propriedade. Decididos a descobrir a verdade e capturar evidências da presença de OVNIs, eles se envolvem em uma série de eventos cada vez mais inquietantes. Confira o trailer:
"Nope" (no original) é muito inteligente ao explorar o desejo humano de controlar o desconhecido (e de como se dar bem com isso). Baseado nessa premissa, o roteiro de Peele acaba sendo uma ótima combinação de mistério e crítica social capaz de abordar temas mais sensíveis como a exploração da dor e do trauma como forma de entretenimento - a mercantilização do medo e o impacto do espetáculo na sociedade contemporânea, mais uma vez, provocam ótimas discussões. Peele, conhecido por suas incisivas observações comportamentais, utiliza de uma inofensiva trama de ficção científica para comentar sobre a obsessão humana em diferentes níveis. Repare como os diálogos afiados e cheios de subtexto incentivam a audiência a refletir sobre as camadas mais profundas da história. Já sua direção é, como sempre, meticulosa e inventiva. Peele utiliza uma paleta de cores contrastante e uma cinematografia de grande escala para capturar a beleza e a ameaça daquele cenário desértico. A escolha de locações com grande amplitude pontua ainda mais a sensação claustrofóbica de saber que existe uma força invisível que nos observa e quer nos fazer mal (a qualquer momento).
Daniel Kaluuya oferece uma performance introspectiva, capturando a dor de um homem assombrado pela perda do pai e pelo dever de proteger o legado de sua família. Kaluuya, com seu olhar penetrante e presença reservada, traz uma profundidade emocional ao papel, tornando OJ um personagem cativante e empático - sempre no tom certo. Já Keke Palmer é um contraponto energético e carismático, imbuindo sua personagem com uma mistura de ambição, coragem e vulnerabilidade. No entanto é a química entre os dois que torna essa maluquice de Peele palpável, fundamentando a narrativa em uma relação fraternal convincente e marcante.
"Não! Não Olhe!" é visualmente impressionante e desafiador, mas não esteve isento de críticas - com momentos de introspecção que interrompem a construção do suspense, muito se falou sobre "quebra de expectativas" como algo ruim. Eu discordo, mas entendo que a natureza abstrata de algumas das metáforas e mensagens do diretor podem não ressoar com todos os públicos, deixando algumas interpretações muito abertas. O fato é que, como M. Night Shyamalan, Jordan Peele não se faz de desentendido ao trazer o mistério como sua arma de marketing, mesmo que com isso se torne refém de seus mecanismos de plot twist! Se "Sinais" de Shyamalan era um filme sobre fé, saiba que "Não! Não Olhe!" é um filme sobre evidências para aqueles que apreciam histórias que são ao mesmo tempo entretenimento e reflexão!
Vale seu play!
"Ninguém Vai te Salvar" é mais um que entra naquela prateleira do "ame ou odeie" e a razão é muito simples - existe uma quebra de expectativa após o segundo ato que, mesmo inteligente (e muito interpretativo), subverte o estilo narrativo proposto no inicio e impacta diretamente na experiência emocional daquela audiência que até ali sofreu com seus medos e, claro, com muitos sustos junto com a protagonista. O que eu quero dizer, é que o filme escrito e dirigido pelo Brian Duffield (roteirista de "Amor e Monstros") é muito mais do que um suspense sobre extraterrestres que chegam no meio da noite para te abduzir - ainda que esse elemento fantástico (e nostálgico) esteja presente, é o horror da culpa e a perda das conexões humanas que realmente assustam a protagonista e nem todo mundo vai comprar isso!
"No One Will Save You" (título original) acompanha a vida da jovem e reclusa Brynn Adams (Kaitlyn Dever) quando, em uma certa noite, criaturas extraterrestres inexplicavelmente invadem sua casa, forçando ela a lutar por sua sobrevivência ao mesmo tempo em que precisa lidar com seus traumas do passado. Confira o trailer:
Se você está em busca de um filme que sabe exatamente despertar alguns "medos" que intimamente sabemos ter sido construídos muito mais pela própria cultura cinematográfica que vem da nossa infância do que por experiências evidentemente reais, pode dar o play em "Ninguém Vai te Salvar" que seu entretenimento está garantido. No entanto, preciso alinhar alguns pontos com você: o que faz desse filme algo, de fato, singular é a dose generosa de drama psicológico que a história carrega, equilibrando perfeitamente aquele tom de ficção cientifica mais independente de "A Vastidão da Noite" com a gramática angustiante e requintada conceitualmente de uma grande produção como "Sinais" do Shyamalan.
Mais até do que a competente direção de Duffield., é no seu texto que a verdadeira magia de "Ninguém Vai te Salvar" reside - a sua capacidade de nos fazer questionar a natureza daquela realidade em várias sequências onde qualquer tipo de diálogo é completamente descartável (por mais paradoxal que possa parecer) e a tensão é representada apenas pelos olhos da protagonista que enxerga seu inimigo sem ao menos entender a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, olha, eu diria que é um mergulho emocional e sensorial na trama. São tantas sensações que em pouco mais de 90 minutos, dificilmente encontramos tempo para respirar ou refletir sobre o que realmente causa mais terror em Adams: um extraterrestre ou os fantasmas que voltam à tona pelo contato com eles. E aqui cabe um comentário: Kaitlyn Dever é peça fundamental para que esse complicado quebra-cabeça funcione - sozinha, ela leva o filme nas costas e mesmo quando o diretor abre mão daquela estratégia de manter o "monstro" em segredo para estabelecer o terror e só depois impactar a audiência visualmente, é mesmo pelo seu drama mais pessoal que criamos a conexão direta com ela - a cena que ela entra na delegacia após a primeira noite de invasão, é um ótimo exemplo disso!
Antes de finalizar, é importante destacar a inteligência do roteiro em brincar com as nossas expectativas - é o que nos mantém constantemente intrigados. Os sustos com as criaturas existem, mas a necessidade de entender tudo aquilo que está acontecendo (e seus reflexos na protagonista) é muito mais envolvente. Cada cena é uma pista, e cada elemento cênico, uma revelação - isso exige muita atenção aos detalhes e alguma capacidade interpretativa já que o filme não entrega todas as respostas e por isso muitos vão odiar seu final (já adianto). Agora, tudo vai fazer muito mais sentido se você embarcar na maneira inteligente como "Ninguém Vai te Salvar" aborda temas como identidade e trauma - essa abordagem profundamente tocante cria uma camada extra para a narrativa, mais subjetiva, até reflexiva eu diria, e mesmo assim não exclui alguns bons sustos, perseguições, e toda angústia sobre aquela relação assustadora com o desconhecido que carregamos desde "Contatos Imediatos do Terceiro Grau"!
Vale seu play, desde que você seja capaz de enxergar além de um garota fugindo de um monstro de outro planeta!
"Ninguém Vai te Salvar" é mais um que entra naquela prateleira do "ame ou odeie" e a razão é muito simples - existe uma quebra de expectativa após o segundo ato que, mesmo inteligente (e muito interpretativo), subverte o estilo narrativo proposto no inicio e impacta diretamente na experiência emocional daquela audiência que até ali sofreu com seus medos e, claro, com muitos sustos junto com a protagonista. O que eu quero dizer, é que o filme escrito e dirigido pelo Brian Duffield (roteirista de "Amor e Monstros") é muito mais do que um suspense sobre extraterrestres que chegam no meio da noite para te abduzir - ainda que esse elemento fantástico (e nostálgico) esteja presente, é o horror da culpa e a perda das conexões humanas que realmente assustam a protagonista e nem todo mundo vai comprar isso!
"No One Will Save You" (título original) acompanha a vida da jovem e reclusa Brynn Adams (Kaitlyn Dever) quando, em uma certa noite, criaturas extraterrestres inexplicavelmente invadem sua casa, forçando ela a lutar por sua sobrevivência ao mesmo tempo em que precisa lidar com seus traumas do passado. Confira o trailer:
Se você está em busca de um filme que sabe exatamente despertar alguns "medos" que intimamente sabemos ter sido construídos muito mais pela própria cultura cinematográfica que vem da nossa infância do que por experiências evidentemente reais, pode dar o play em "Ninguém Vai te Salvar" que seu entretenimento está garantido. No entanto, preciso alinhar alguns pontos com você: o que faz desse filme algo, de fato, singular é a dose generosa de drama psicológico que a história carrega, equilibrando perfeitamente aquele tom de ficção cientifica mais independente de "A Vastidão da Noite" com a gramática angustiante e requintada conceitualmente de uma grande produção como "Sinais" do Shyamalan.
Mais até do que a competente direção de Duffield., é no seu texto que a verdadeira magia de "Ninguém Vai te Salvar" reside - a sua capacidade de nos fazer questionar a natureza daquela realidade em várias sequências onde qualquer tipo de diálogo é completamente descartável (por mais paradoxal que possa parecer) e a tensão é representada apenas pelos olhos da protagonista que enxerga seu inimigo sem ao menos entender a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, olha, eu diria que é um mergulho emocional e sensorial na trama. São tantas sensações que em pouco mais de 90 minutos, dificilmente encontramos tempo para respirar ou refletir sobre o que realmente causa mais terror em Adams: um extraterrestre ou os fantasmas que voltam à tona pelo contato com eles. E aqui cabe um comentário: Kaitlyn Dever é peça fundamental para que esse complicado quebra-cabeça funcione - sozinha, ela leva o filme nas costas e mesmo quando o diretor abre mão daquela estratégia de manter o "monstro" em segredo para estabelecer o terror e só depois impactar a audiência visualmente, é mesmo pelo seu drama mais pessoal que criamos a conexão direta com ela - a cena que ela entra na delegacia após a primeira noite de invasão, é um ótimo exemplo disso!
Antes de finalizar, é importante destacar a inteligência do roteiro em brincar com as nossas expectativas - é o que nos mantém constantemente intrigados. Os sustos com as criaturas existem, mas a necessidade de entender tudo aquilo que está acontecendo (e seus reflexos na protagonista) é muito mais envolvente. Cada cena é uma pista, e cada elemento cênico, uma revelação - isso exige muita atenção aos detalhes e alguma capacidade interpretativa já que o filme não entrega todas as respostas e por isso muitos vão odiar seu final (já adianto). Agora, tudo vai fazer muito mais sentido se você embarcar na maneira inteligente como "Ninguém Vai te Salvar" aborda temas como identidade e trauma - essa abordagem profundamente tocante cria uma camada extra para a narrativa, mais subjetiva, até reflexiva eu diria, e mesmo assim não exclui alguns bons sustos, perseguições, e toda angústia sobre aquela relação assustadora com o desconhecido que carregamos desde "Contatos Imediatos do Terceiro Grau"!
Vale seu play, desde que você seja capaz de enxergar além de um garota fugindo de um monstro de outro planeta!
É impossível assistir "O Chalé" (ou "The Lodge", título original) e não lembrar de "Hereditário". De fato existem muitas semelhanças, principalmente por usar de alguns elementos visuais e até de um certo conceito narrativo para trazer o mesmo tom de suspense, porém se o filme do diretor Ari Aster se apoiava no sobrenatural, o da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (a mesma do excelente "Boa Noite, Mamãe" de 2014) usa mais do psicológico (mesmo que flertando com o inexplicável).
"O Chalé" conta a história de Aidan (Jaeden Martell) e Mia (Lia McHugh) que após viverem um drama familiar, são levados pelo pai, Richard (Richard Armitage), até um chalé da família para passar o Natal com sua nova namorada, Grace (Riley Keough). O problema é que ele precisa se ausentar alguns uns dias para trabalhar e a única opção é deixar as crianças com Grace, que mal as conhecem e ainda é taxada como a culpada pela separação de Richard. O que poderia ser uma ótima oportunidade de aproximação entre eles, logo se transforma em um verdadeiro terror quando situações inexplicáveis começam acontecer. Confira o trailer:
Na verdade "O Chalé" não me pareceu um filme tão autoral quanto "Hereditário", embora conceitualmente, seja! Minha percepção foi que Severin Fiala e Veronika Franz entregam um filme não tão profundo, sem tantas camadas e que exige menos da interpretação. O que eu quero dizer é que, mesmo misterioso, "O Chalé" é um filme mais fácil de entender, onde as peças do quebra-cabeça vão se encaixando com o tempo e no final tudo faz sentido e pronto - não precisamos sair igual loucos buscando mais informações além do que acabamos de assistir! Sendo assim, é um filme que deve agradar mais pessoas: aquelas que gostam do gênero e pretendem se entreter com ele, sem a necessidade de depois ficar discutindo sobre os mínimos detalhes! Eu gostei e indico com mais tranquilidade que "Hereitário" ou que o próprio "Boa Noite, Mamãe", mas saiba que se você se envolve com esse tipo de narrativa, sua diversão está garantida!
O roteiro de Sergio Casci, Veronika Franz e Severin Fiala consegue criar aquela dúvida interminável desde o momento em que o filme mergulha na tensão entre as crianças e a futura madrasta. O mérito de carregar tantas perguntas sem respostas até o final do segundo ato, merece ser destacado - poucos filmes conseguem manter o nível de tensão, de abstração dos fatos e de mistério com tanta competência. O problema, ao meu ver, é justamente o terceiro ato: não pelo conteúdo, mas pela forma como tudo é resolvido - me pareceu rápido demais! Até a metade do segundo ato, mais ou menos, o roteiro chega a empolgar: ele transita entre uma boa atmosfera de suspense sobrenatural e uma excelente linha de terror psicológico. Não que o final não faça sentido ou que seja ruim, longe disso, ele só é resolvido sem muitos questionamentos, tudo fica muito claro e explicado demais - até alguns enquadramentos são didáticos além da conta.
"O Chalé" não se apoia em tantas alegorias como "Hereditário", embora use muitos elementos que parecem ser até uma cópia do filme de Aster (e lógico que não é); cito duas: a sensação angustiante de misturar planos do chalé com a de uma casa em miniatura, que nos faz perder completamente a noção de espaço e realidade, e as referências às seitas religiosas (ou satânicas, dependendo do ponto de vista) - aqui temos uma cena sensacional gravada em vídeo, bem documental, que é angustiante e que explica muito sobre Grace e seus fantasmas - reparem! Além disso existe um certo mergulho na psiquê dos personagens que também são similares, principalmente da própria Grace (Riley Keough) e de Laura (Alicia Silverstone, em uma participação curta, mas marcante) com relação à Annie de Toni Collette. Sobre o elenco, mais um excelente trabalho, comedido, no tom certo e ao mesmo tempo bastante convincente do Jaeden Martell ("Em defesa de Jacob") - esse menino é um fenômeno e logo será reconhecido por isso - podem me cobrar!
O diretores já haviam provado conhecer exatamente essa gramática cinematográfica do suspense e, mais uma vez, fazem uma leitura visual muito interessante ao fixar a câmera e deixar que os atores contem a história como se estivessem em um palco. Quando escolhem os planos mais fechados, normalmente no rosto dos atores e em momentos extremamente introspectivos, temos a impressão que somos capazes que compreender perfeitamente aquele olhar e ao escutar o silêncio de suas pausas, vem aquela sensação aterrorizante de desconhecido - Riley Keough usa e abusa dessas pausas com muita maestria! A fotografia do grego Thimios Bakatakis (de "O Sacrifício do Cervo Sagrado") é linda e o Desenho de Som do Sylvain Bellemare (vencedor do Oscar com "A Chegada") e Paul Lucien Col (responsável por grandes sucessos da HBO como "Sharp Objects" e "Big Little Lies") é digno de prêmios!
"O Chalé" não é um filme de "sustos", é um filme de personagens complexos em sentimentos que, mesmo sem um mergulho tão profundo, nos provocam a reinterpretar as situações de acordo com a nossa crença - e isso é um dos pontos altos do filme. Ele é angustiante, um pouco claustrofóbico, mas bastante honesto ao construir o suspense baseado em uma trama que não rouba no jogo, que entrega as pistas nos momentos certos e nos deixa viajar em várias teorias. Vale como entretenimento sem a menor dúvida!
É impossível assistir "O Chalé" (ou "The Lodge", título original) e não lembrar de "Hereditário". De fato existem muitas semelhanças, principalmente por usar de alguns elementos visuais e até de um certo conceito narrativo para trazer o mesmo tom de suspense, porém se o filme do diretor Ari Aster se apoiava no sobrenatural, o da dupla Severin Fiala e Veronika Franz (a mesma do excelente "Boa Noite, Mamãe" de 2014) usa mais do psicológico (mesmo que flertando com o inexplicável).
"O Chalé" conta a história de Aidan (Jaeden Martell) e Mia (Lia McHugh) que após viverem um drama familiar, são levados pelo pai, Richard (Richard Armitage), até um chalé da família para passar o Natal com sua nova namorada, Grace (Riley Keough). O problema é que ele precisa se ausentar alguns uns dias para trabalhar e a única opção é deixar as crianças com Grace, que mal as conhecem e ainda é taxada como a culpada pela separação de Richard. O que poderia ser uma ótima oportunidade de aproximação entre eles, logo se transforma em um verdadeiro terror quando situações inexplicáveis começam acontecer. Confira o trailer:
Na verdade "O Chalé" não me pareceu um filme tão autoral quanto "Hereditário", embora conceitualmente, seja! Minha percepção foi que Severin Fiala e Veronika Franz entregam um filme não tão profundo, sem tantas camadas e que exige menos da interpretação. O que eu quero dizer é que, mesmo misterioso, "O Chalé" é um filme mais fácil de entender, onde as peças do quebra-cabeça vão se encaixando com o tempo e no final tudo faz sentido e pronto - não precisamos sair igual loucos buscando mais informações além do que acabamos de assistir! Sendo assim, é um filme que deve agradar mais pessoas: aquelas que gostam do gênero e pretendem se entreter com ele, sem a necessidade de depois ficar discutindo sobre os mínimos detalhes! Eu gostei e indico com mais tranquilidade que "Hereitário" ou que o próprio "Boa Noite, Mamãe", mas saiba que se você se envolve com esse tipo de narrativa, sua diversão está garantida!
O roteiro de Sergio Casci, Veronika Franz e Severin Fiala consegue criar aquela dúvida interminável desde o momento em que o filme mergulha na tensão entre as crianças e a futura madrasta. O mérito de carregar tantas perguntas sem respostas até o final do segundo ato, merece ser destacado - poucos filmes conseguem manter o nível de tensão, de abstração dos fatos e de mistério com tanta competência. O problema, ao meu ver, é justamente o terceiro ato: não pelo conteúdo, mas pela forma como tudo é resolvido - me pareceu rápido demais! Até a metade do segundo ato, mais ou menos, o roteiro chega a empolgar: ele transita entre uma boa atmosfera de suspense sobrenatural e uma excelente linha de terror psicológico. Não que o final não faça sentido ou que seja ruim, longe disso, ele só é resolvido sem muitos questionamentos, tudo fica muito claro e explicado demais - até alguns enquadramentos são didáticos além da conta.
"O Chalé" não se apoia em tantas alegorias como "Hereditário", embora use muitos elementos que parecem ser até uma cópia do filme de Aster (e lógico que não é); cito duas: a sensação angustiante de misturar planos do chalé com a de uma casa em miniatura, que nos faz perder completamente a noção de espaço e realidade, e as referências às seitas religiosas (ou satânicas, dependendo do ponto de vista) - aqui temos uma cena sensacional gravada em vídeo, bem documental, que é angustiante e que explica muito sobre Grace e seus fantasmas - reparem! Além disso existe um certo mergulho na psiquê dos personagens que também são similares, principalmente da própria Grace (Riley Keough) e de Laura (Alicia Silverstone, em uma participação curta, mas marcante) com relação à Annie de Toni Collette. Sobre o elenco, mais um excelente trabalho, comedido, no tom certo e ao mesmo tempo bastante convincente do Jaeden Martell ("Em defesa de Jacob") - esse menino é um fenômeno e logo será reconhecido por isso - podem me cobrar!
O diretores já haviam provado conhecer exatamente essa gramática cinematográfica do suspense e, mais uma vez, fazem uma leitura visual muito interessante ao fixar a câmera e deixar que os atores contem a história como se estivessem em um palco. Quando escolhem os planos mais fechados, normalmente no rosto dos atores e em momentos extremamente introspectivos, temos a impressão que somos capazes que compreender perfeitamente aquele olhar e ao escutar o silêncio de suas pausas, vem aquela sensação aterrorizante de desconhecido - Riley Keough usa e abusa dessas pausas com muita maestria! A fotografia do grego Thimios Bakatakis (de "O Sacrifício do Cervo Sagrado") é linda e o Desenho de Som do Sylvain Bellemare (vencedor do Oscar com "A Chegada") e Paul Lucien Col (responsável por grandes sucessos da HBO como "Sharp Objects" e "Big Little Lies") é digno de prêmios!
"O Chalé" não é um filme de "sustos", é um filme de personagens complexos em sentimentos que, mesmo sem um mergulho tão profundo, nos provocam a reinterpretar as situações de acordo com a nossa crença - e isso é um dos pontos altos do filme. Ele é angustiante, um pouco claustrofóbico, mas bastante honesto ao construir o suspense baseado em uma trama que não rouba no jogo, que entrega as pistas nos momentos certos e nos deixa viajar em várias teorias. Vale como entretenimento sem a menor dúvida!
Se você assistiu "O Homem sem Sombra", com Kevin Bacon e Elisabeth Shue, eu já te adianto: "O Homem Invisível" é muito (mas muito) melhor - eu diria que é outro nível de filme! Se em 2000 o filme trouxe avanços incríveis em efeitos especiais, o que acabou lhe garantindo uma indicação ao Oscar na categoria em 2001, a sua versão mais recente se apoia muito mais no roteiro e no excelente trabalho de Elisabeth Moss (a June de The Handmaid's Tale) - ela está tão incrível que não vou me surpreender se for indicada ao Oscar por esse trabalho!
A história acompanha Cecilia (Moss), uma mulher atormentada por um relacionamento abusivo com o milionário Adrian (Oliver Jackson-Cohen), um renomado especialista em óptica. Desesperada com sua situação, Cecília resolve fugir certa noite, porém as marcas dessa relação deixaram traumas profundos até que um dia ela recebe a notícia que seu ex cometeu um suicídio. Com o passar do tempo, porém, Cecilia passa a testemunhar alguns fenômenos bastante sinistros, o que a fazem suspeitar que Adrian não está morto, e sim que descobriu uma maneira de se tornar invisível para poder se vingar dela. Confira o trailer a seguir:
"O Homem Invisível" (The Invisible Man, título original) é um suspense de prato cheio, daqueles que nos gera a tensão só por imaginarmos o que pode acontecer e, claro, muitos sustos, já que o "silêncio" é muito bem trabalhado e o "vazio" é explorado com inteligência, graças ao ótimo trabalho do diretor Leigh Whannell. O filme, de fato, me surpreendeu, eu sinceramente não esperava que ele fosse tão bom e tão bem desenvolvido - ele entrega uma experiência de entretenimento ideal para quem gosta do gênero. Vale muito a pena e mais abaixo vou explicar a razão em detalhes!
Embora o filme seja baseado no personagem criado por H.G. Wells, Whannello (que também escreveu o roteiro) se apropriou apenas do fato de existir um personagem que descobre uma maneira de ficar invisível. A escolha de mostrar o ponto de vista da vítima, e não do "homem invisível", me pareceu muito acertada e ao usar uma temática extremamente atual, onde observamos os reflexos de uma relação abusiva sob olhar de quem viveu (e vive) um trauma tão marcante, é sensacional porque, de cara, já se cria uma identificação imediata com a protagonista, mesmo sem saber muito bem o que acontecia ao certo - e aqui o roteiro dá um show ao expôr toda essa relação conturbada e a motivação de Cecília logo no prólogo, com uma sequência inicial de tirar o fôlego!
Na direção, fica claro, com poucos minutos de filme, que Whannello domina a gramática cinematográfica do suspense. Certamente sua experiência anterior em títulos como Jogos Mortais, que roteirizou, e Sobrenatural, que dirigiu, serviram para entregar um filme interessante sem a necessidade de tantos efeitos especiais, afinal o detalhe do movimento era o suficiente. O fato dele usar o travelling (aquele movimento lateral da câmera) ou takes com uma lente "grande angular" para estabelecer o vazio da cena, por si só, já criam um clima de tensão absurdo. O detalhe do botão do fogão virando para aumentar a chama ou a respiração de uma noite de frio são só a cereja do bolo para uma angustia ou ansiedade que já foi construída segundos antes!
Outro elemento que te convido a observar é o desenho do som: como muitas vezes Cecilia está sozinha em cena, é preciso aumentar um pouco a relação do som (ou dos ruídos) com o ambiente para compensar esse vazio - o que é lindo de ver e ouvir, pois nossa sensibilidade auditiva é provocada a cada momento, como se estivéssemos tentando encontrar alguém que não podemos enxergar, junto com a protagonista. Se existe algo que poderia, talvez, ser melhor desenvolvido, acho que seria o drama mais intimo de Cecilia antes da certeza de que Adrian ainda estava vivo - acho que Whannello perdeu uma grande chance de discutir ainda mais a sanidade de Cecilia, bem como sua própria dúvida sobre o eventos (sobrenaturais) que ela vivenciou sozinha! Por outro lado, o roteiro é muito competente em nos surpreender - em pelo menos duas situações, ficamos de queixo caído, enquanto no final, embora interessante, a sensação de obviedade surge com força..
"O Homem Invisível" é o primeiro projeto da Universal com um selo que pretende produzir apenas remakes de monstros clássicos do cinema, mas com o foco no desenvolvimento das histórias e com uma levada mais autoral e independente dos seus roteiristas e diretores. Nesse caso, funcionou! "O Homem Invisível" custou pouco mais de 7 milhões de dólares e rendeu mais de 130 milhões - um sucesso absoluto de público e crítica e não se surpreendam se for bastante premiado na próxima temporada de festivais de gênero e se abocanhar umas 2 ou 3 indicações ao Oscar de 2021.
Sem exageros, vale muito seu play!
Se você assistiu "O Homem sem Sombra", com Kevin Bacon e Elisabeth Shue, eu já te adianto: "O Homem Invisível" é muito (mas muito) melhor - eu diria que é outro nível de filme! Se em 2000 o filme trouxe avanços incríveis em efeitos especiais, o que acabou lhe garantindo uma indicação ao Oscar na categoria em 2001, a sua versão mais recente se apoia muito mais no roteiro e no excelente trabalho de Elisabeth Moss (a June de The Handmaid's Tale) - ela está tão incrível que não vou me surpreender se for indicada ao Oscar por esse trabalho!
A história acompanha Cecilia (Moss), uma mulher atormentada por um relacionamento abusivo com o milionário Adrian (Oliver Jackson-Cohen), um renomado especialista em óptica. Desesperada com sua situação, Cecília resolve fugir certa noite, porém as marcas dessa relação deixaram traumas profundos até que um dia ela recebe a notícia que seu ex cometeu um suicídio. Com o passar do tempo, porém, Cecilia passa a testemunhar alguns fenômenos bastante sinistros, o que a fazem suspeitar que Adrian não está morto, e sim que descobriu uma maneira de se tornar invisível para poder se vingar dela. Confira o trailer a seguir:
"O Homem Invisível" (The Invisible Man, título original) é um suspense de prato cheio, daqueles que nos gera a tensão só por imaginarmos o que pode acontecer e, claro, muitos sustos, já que o "silêncio" é muito bem trabalhado e o "vazio" é explorado com inteligência, graças ao ótimo trabalho do diretor Leigh Whannell. O filme, de fato, me surpreendeu, eu sinceramente não esperava que ele fosse tão bom e tão bem desenvolvido - ele entrega uma experiência de entretenimento ideal para quem gosta do gênero. Vale muito a pena e mais abaixo vou explicar a razão em detalhes!
Embora o filme seja baseado no personagem criado por H.G. Wells, Whannello (que também escreveu o roteiro) se apropriou apenas do fato de existir um personagem que descobre uma maneira de ficar invisível. A escolha de mostrar o ponto de vista da vítima, e não do "homem invisível", me pareceu muito acertada e ao usar uma temática extremamente atual, onde observamos os reflexos de uma relação abusiva sob olhar de quem viveu (e vive) um trauma tão marcante, é sensacional porque, de cara, já se cria uma identificação imediata com a protagonista, mesmo sem saber muito bem o que acontecia ao certo - e aqui o roteiro dá um show ao expôr toda essa relação conturbada e a motivação de Cecília logo no prólogo, com uma sequência inicial de tirar o fôlego!
Na direção, fica claro, com poucos minutos de filme, que Whannello domina a gramática cinematográfica do suspense. Certamente sua experiência anterior em títulos como Jogos Mortais, que roteirizou, e Sobrenatural, que dirigiu, serviram para entregar um filme interessante sem a necessidade de tantos efeitos especiais, afinal o detalhe do movimento era o suficiente. O fato dele usar o travelling (aquele movimento lateral da câmera) ou takes com uma lente "grande angular" para estabelecer o vazio da cena, por si só, já criam um clima de tensão absurdo. O detalhe do botão do fogão virando para aumentar a chama ou a respiração de uma noite de frio são só a cereja do bolo para uma angustia ou ansiedade que já foi construída segundos antes!
Outro elemento que te convido a observar é o desenho do som: como muitas vezes Cecilia está sozinha em cena, é preciso aumentar um pouco a relação do som (ou dos ruídos) com o ambiente para compensar esse vazio - o que é lindo de ver e ouvir, pois nossa sensibilidade auditiva é provocada a cada momento, como se estivéssemos tentando encontrar alguém que não podemos enxergar, junto com a protagonista. Se existe algo que poderia, talvez, ser melhor desenvolvido, acho que seria o drama mais intimo de Cecilia antes da certeza de que Adrian ainda estava vivo - acho que Whannello perdeu uma grande chance de discutir ainda mais a sanidade de Cecilia, bem como sua própria dúvida sobre o eventos (sobrenaturais) que ela vivenciou sozinha! Por outro lado, o roteiro é muito competente em nos surpreender - em pelo menos duas situações, ficamos de queixo caído, enquanto no final, embora interessante, a sensação de obviedade surge com força..
"O Homem Invisível" é o primeiro projeto da Universal com um selo que pretende produzir apenas remakes de monstros clássicos do cinema, mas com o foco no desenvolvimento das histórias e com uma levada mais autoral e independente dos seus roteiristas e diretores. Nesse caso, funcionou! "O Homem Invisível" custou pouco mais de 7 milhões de dólares e rendeu mais de 130 milhões - um sucesso absoluto de público e crítica e não se surpreendam se for bastante premiado na próxima temporada de festivais de gênero e se abocanhar umas 2 ou 3 indicações ao Oscar de 2021.
Sem exageros, vale muito seu play!
"O Mundo depois de nós" é muito bom, principalmente por saber como alimentar nossas expectativas, com uma atmosfera de tensão constante realmente impressionante, para depois, conscientemente, quebrá-las sem dar todas as explicações. Dito isso, fica fácil atestar que sua maior força pode ser sua maior fraqueza para muitas pessoas - se colocando naquela incomoda prateleira do "8 ou 80" ou do "ame ou odeie" e adianto: para nós, está muito mais para o amor do 80! Dirigido por Sam Esmail (mente criativa por trás de "Mr. Robot") o filme mistura drama e suspense, quase psicológico, ao melhor estilo, e respeitando suas diferenças de gênero, "The Bar" e "Rua Cloverfield, 10". Aqui, mais uma vez, é o terror perante o desconhecido que nos move como audiência!
O casal Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke) vão passar um final de semana em uma mansão afastada da cidade com o simples intuito de descansar com seus filhos. Tudo vai bem até que um apagão traz dois desconhecidos com notícias de que algo muito estranho está acontecendo em todo EUA. E não é só isso, já que G.H. (Mahershala Ali) e Ruth (Myha'la) estão desesperados por abrigo, alegando que a casa é deles e que precisam entrar para se protegerem da grande ameaça invisível que arrisca a vida de todos. Agora, as duas famílias precisam se unir para se salvarem de um possível desastre e que, a cada momento, parece ficar mais assustador e perigoso. Confira o trailer:
O romance de Rumaan Alam que serviu de base para essa produção da Netflix, saiu bem em 2020 em uma época onde, infelizmente, a perspectiva sobre "o fim do mundo" pareceu sair da ficção para fazer parte do nosso cotidiano. Aquela sensação de angustia sobre a imprevisibilidade de uma situação que parecia impossível de acontecer, mas aconteceu, deixava um certo vazio e olha, assistindo essa adaptação posso te garantir que Esmail conseguiu replicar muito bem esse clima de incertezas em uma trama dinâmica, profunda e bem interessante. Saiba que a perspectiva de um "final infeliz" pelo ponto de vista de seis personagens diferentes, com suas prioridades e dores, é tão palpável que até os momentos visualmente mais impactantes (bem ao estilo filme catástrofe) parecem possíveis.
Produzido por Michelle e Barack Obama, "O Mundo depois de nós" parece ter uma mensagem um tanto óbvia: estamos mais perto desse absurdo do que você pode imaginar! Tecnicamente tudo é construído para confirmar essa premissa - as composições em GC, por exemplo, são ótimas e estão muito bem integradas ao trabalho fotográfico do diretor Tod Campbell de ("Stranger Things") - reparem como aquela mansão, com tudo que ela proporciona de conforto, não serve para absolutamente nada quando o caos está presente do lado de fora. Campbell brinca com nossa percepção se insegurança usando a amplitude focal da mesma forma como Kyung-pyo Hong fez em "Parasita" - os movimentos mostram os pavimentos como uma forma de subversão social ao mesmo tempo que a porta de vidro no fundo da sala serve como uma espécie de moldura que separa o "real" (com uma Amanda tranquila se servindo de uma taça de vinho) do "improvável" (com uma dezena de cervos assustados observando ela entre as sombras e frio) - lindo de ver toda essa simbologia.
Com um elenco afiado, um roteiro bem construído e uma direção acima da média, "Leave the World Behind" (no original) vai além do óbvio e entrega uma experiência cativante e provocativa, especialmente em seus detalhes - seja com diálogos mais críticos ou com nuances visuais que exigem nossa atenção por tamanha sensibilidade. De fato Esmail consegue mesclaro terror do desconhecido com as complexidades das relações humanas na medida certa e isso nos provoca algumas reflexões sobre a fragilidade da sociedade moderna - como, aliás, aconteceu em 2020 (então não se esqueça desse detalhe em nenhum momento que tudo fará ainda mais sentido).
Vale o seu play, mas não espere um filme com muita ação - a questão aqui é muito mais intima e interpretativa, ok?
"O Mundo depois de nós" é muito bom, principalmente por saber como alimentar nossas expectativas, com uma atmosfera de tensão constante realmente impressionante, para depois, conscientemente, quebrá-las sem dar todas as explicações. Dito isso, fica fácil atestar que sua maior força pode ser sua maior fraqueza para muitas pessoas - se colocando naquela incomoda prateleira do "8 ou 80" ou do "ame ou odeie" e adianto: para nós, está muito mais para o amor do 80! Dirigido por Sam Esmail (mente criativa por trás de "Mr. Robot") o filme mistura drama e suspense, quase psicológico, ao melhor estilo, e respeitando suas diferenças de gênero, "The Bar" e "Rua Cloverfield, 10". Aqui, mais uma vez, é o terror perante o desconhecido que nos move como audiência!
O casal Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke) vão passar um final de semana em uma mansão afastada da cidade com o simples intuito de descansar com seus filhos. Tudo vai bem até que um apagão traz dois desconhecidos com notícias de que algo muito estranho está acontecendo em todo EUA. E não é só isso, já que G.H. (Mahershala Ali) e Ruth (Myha'la) estão desesperados por abrigo, alegando que a casa é deles e que precisam entrar para se protegerem da grande ameaça invisível que arrisca a vida de todos. Agora, as duas famílias precisam se unir para se salvarem de um possível desastre e que, a cada momento, parece ficar mais assustador e perigoso. Confira o trailer:
O romance de Rumaan Alam que serviu de base para essa produção da Netflix, saiu bem em 2020 em uma época onde, infelizmente, a perspectiva sobre "o fim do mundo" pareceu sair da ficção para fazer parte do nosso cotidiano. Aquela sensação de angustia sobre a imprevisibilidade de uma situação que parecia impossível de acontecer, mas aconteceu, deixava um certo vazio e olha, assistindo essa adaptação posso te garantir que Esmail conseguiu replicar muito bem esse clima de incertezas em uma trama dinâmica, profunda e bem interessante. Saiba que a perspectiva de um "final infeliz" pelo ponto de vista de seis personagens diferentes, com suas prioridades e dores, é tão palpável que até os momentos visualmente mais impactantes (bem ao estilo filme catástrofe) parecem possíveis.
Produzido por Michelle e Barack Obama, "O Mundo depois de nós" parece ter uma mensagem um tanto óbvia: estamos mais perto desse absurdo do que você pode imaginar! Tecnicamente tudo é construído para confirmar essa premissa - as composições em GC, por exemplo, são ótimas e estão muito bem integradas ao trabalho fotográfico do diretor Tod Campbell de ("Stranger Things") - reparem como aquela mansão, com tudo que ela proporciona de conforto, não serve para absolutamente nada quando o caos está presente do lado de fora. Campbell brinca com nossa percepção se insegurança usando a amplitude focal da mesma forma como Kyung-pyo Hong fez em "Parasita" - os movimentos mostram os pavimentos como uma forma de subversão social ao mesmo tempo que a porta de vidro no fundo da sala serve como uma espécie de moldura que separa o "real" (com uma Amanda tranquila se servindo de uma taça de vinho) do "improvável" (com uma dezena de cervos assustados observando ela entre as sombras e frio) - lindo de ver toda essa simbologia.
Com um elenco afiado, um roteiro bem construído e uma direção acima da média, "Leave the World Behind" (no original) vai além do óbvio e entrega uma experiência cativante e provocativa, especialmente em seus detalhes - seja com diálogos mais críticos ou com nuances visuais que exigem nossa atenção por tamanha sensibilidade. De fato Esmail consegue mesclaro terror do desconhecido com as complexidades das relações humanas na medida certa e isso nos provoca algumas reflexões sobre a fragilidade da sociedade moderna - como, aliás, aconteceu em 2020 (então não se esqueça desse detalhe em nenhum momento que tudo fará ainda mais sentido).
Vale o seu play, mas não espere um filme com muita ação - a questão aqui é muito mais intima e interpretativa, ok?
"Rua Cloverfield, 10" é realmente um drama dos mais envolventes justamente por não respeitar os limites de gênero - se em um primeiro momento achamos que estamos imersos em um profundo e tenso drama psicológico, em algum momento você terá a certeza de que se trata mesmo é de um angustiante thriller de suspense até que finalmente somos arremessados em uma bem estruturada e empolgante ficção cientifica! O fato é que se você é fã de cinema-raiz e valoriza histórias, de fato, cativantes, "Rua Cloverfield, 10" não deve (e não pode) passar despercebido. Dirigido por Dan Trachtenberg (de "O Predador: A Caçada"), o filme se destaca pela sua narrativa intrigante com que discute as nuances mais cruéis da "Arte da Sobrevivência".
Michelle (Mary Elizabeth Winstead) é uma mulher que, após um acidente de carro, acorda em um bunker subterrâneo com um estranho chamado Howard (John Goodman). Howard alega que o mundo exterior foi devastado por um ataque químico e que eles são os únicos sobreviventes. Com a incerteza pairando no ar, Michelle e um terceiro habitante, Emmett (John Gallagher Jr.), devem aprender a confiar um no outro enquanto tentam descobrir a verdade sobre o que realmente aconteceu lá fora. Confira o trailer:
É inegável;l que "Rua Cloverfield, 10" se destaca mesmo é por sua habilidade em criar uma atmosfera realmente tensa, intensa e claustrofóbica. A direção de Trachtenberg se aproveita da premissa do desconhecido e do gatilho da dúvida para construir uma narrativa excepcional, conseguindo nos manter em um nível de tensão que só cresce ao longo do filme - e isso é raríssimo (lembram de "Sinais"?)! A fotografia do Jeff Cutter (de "Daisy Jones & The Six") se concentra basicamente dentro de um bunker escuro e misterioso, fazendo com que suas lentes amplifiquem a sensação de isolamento e de paranoia dos personagens de uma maneira impressionante. A performance de John Goodman é verdadeiramente arrepiante, ele incorpora perfeitamente a complexidade de seu personagem, alternando entre momentos de compaixão e ameaça - essa dualidade de Howard é justamente o que nos faz entender o tamanho do drama de Michelle.
A trilha sonora, composta pelo genial Bear McCreary (de "Da Vinci's Demons", "Outlander" e muitos outros) adiciona camadas puramente emocionais à narrativa, aumentando ainda mais a sensação de perigo iminente. Os detalhes meticulosos na direção Trachtenberg se confundem com as performances do elenco, com a enorme capacidade da produção em nos colocar dentro de um cenário catastrófico que vai desde aquele bunker até os efeitos especiais que experienciamos no terceiro ato - a contribuição dessa harmonia de elementos técnicos e artísticos para a autenticidade da história, mesmo sendo uma ficção cientifica, é genial.
Dito isso, é muito fácil atestar que o que torna "Rua Cloverfield, 10" ainda mais fascinante, certamente, é a forma como o roteiro desafia as nossas expectativas e brinca com a nossa percepção de realidade. A trama é repleta de reviravoltas surpreendentes que nos mantêm constantemente intrigados e ansiosos por respostas - que muitas vezes podem não vir (então não espere uma jornada fácil ou didática demais). Reparem como a desconstrução gradual da personagem de Michelle é particularmente interessante - a medida que ela passa de uma vítima assustada para uma protagonista resiliente, ganhamos ainda mais em ação e emoção! Esse é o tom!
"Rua Cloverfield, 10" é um verdadeiro retrato sobre a luta pela sobrevivência em meio ao caos e pelo real sentido da vida! Vale muito o seu play!
"Rua Cloverfield, 10" é realmente um drama dos mais envolventes justamente por não respeitar os limites de gênero - se em um primeiro momento achamos que estamos imersos em um profundo e tenso drama psicológico, em algum momento você terá a certeza de que se trata mesmo é de um angustiante thriller de suspense até que finalmente somos arremessados em uma bem estruturada e empolgante ficção cientifica! O fato é que se você é fã de cinema-raiz e valoriza histórias, de fato, cativantes, "Rua Cloverfield, 10" não deve (e não pode) passar despercebido. Dirigido por Dan Trachtenberg (de "O Predador: A Caçada"), o filme se destaca pela sua narrativa intrigante com que discute as nuances mais cruéis da "Arte da Sobrevivência".
Michelle (Mary Elizabeth Winstead) é uma mulher que, após um acidente de carro, acorda em um bunker subterrâneo com um estranho chamado Howard (John Goodman). Howard alega que o mundo exterior foi devastado por um ataque químico e que eles são os únicos sobreviventes. Com a incerteza pairando no ar, Michelle e um terceiro habitante, Emmett (John Gallagher Jr.), devem aprender a confiar um no outro enquanto tentam descobrir a verdade sobre o que realmente aconteceu lá fora. Confira o trailer:
É inegável;l que "Rua Cloverfield, 10" se destaca mesmo é por sua habilidade em criar uma atmosfera realmente tensa, intensa e claustrofóbica. A direção de Trachtenberg se aproveita da premissa do desconhecido e do gatilho da dúvida para construir uma narrativa excepcional, conseguindo nos manter em um nível de tensão que só cresce ao longo do filme - e isso é raríssimo (lembram de "Sinais"?)! A fotografia do Jeff Cutter (de "Daisy Jones & The Six") se concentra basicamente dentro de um bunker escuro e misterioso, fazendo com que suas lentes amplifiquem a sensação de isolamento e de paranoia dos personagens de uma maneira impressionante. A performance de John Goodman é verdadeiramente arrepiante, ele incorpora perfeitamente a complexidade de seu personagem, alternando entre momentos de compaixão e ameaça - essa dualidade de Howard é justamente o que nos faz entender o tamanho do drama de Michelle.
A trilha sonora, composta pelo genial Bear McCreary (de "Da Vinci's Demons", "Outlander" e muitos outros) adiciona camadas puramente emocionais à narrativa, aumentando ainda mais a sensação de perigo iminente. Os detalhes meticulosos na direção Trachtenberg se confundem com as performances do elenco, com a enorme capacidade da produção em nos colocar dentro de um cenário catastrófico que vai desde aquele bunker até os efeitos especiais que experienciamos no terceiro ato - a contribuição dessa harmonia de elementos técnicos e artísticos para a autenticidade da história, mesmo sendo uma ficção cientifica, é genial.
Dito isso, é muito fácil atestar que o que torna "Rua Cloverfield, 10" ainda mais fascinante, certamente, é a forma como o roteiro desafia as nossas expectativas e brinca com a nossa percepção de realidade. A trama é repleta de reviravoltas surpreendentes que nos mantêm constantemente intrigados e ansiosos por respostas - que muitas vezes podem não vir (então não espere uma jornada fácil ou didática demais). Reparem como a desconstrução gradual da personagem de Michelle é particularmente interessante - a medida que ela passa de uma vítima assustada para uma protagonista resiliente, ganhamos ainda mais em ação e emoção! Esse é o tom!
"Rua Cloverfield, 10" é um verdadeiro retrato sobre a luta pela sobrevivência em meio ao caos e pelo real sentido da vida! Vale muito o seu play!
"Servant", série da Apple TV+, já havia me chamado a atenção desde os primeiros teasers até seu trailer final. Primeiro por ser um suspense psicológico - gênero que eu gosto muito - e depois por ter M. Night Shyamalan como produtor executivo. Claro que a sinopse misteriosa ajudou a criar uma certa expectativa pelo seu lançamento e conforme as informações sobre a história foram surgindo, mais dúvidas do que certezas rodearam o projeto.
Pois bem, "Servant" conta o drama de Dorothy e Sean Turner que vivem o drama da perda repentina do filho de treze semanas, Jericho. Com um intuito terapêutico, Dorothy passa a se relacionar com um boneco, um bebê ultra realista, como se fosse seu filho real - e o bizarro não para por aí: para valorizar ainda mais o tratamento, o casal é orientado a contratar um babá para tornar o dia a dia bem próximo da realidade, acontece que a nova contratada começa a agir de uma forma tão estranha quanto Dorothy, o que acaba incomodando Sean e interferindo perigosamente na relação do casal. O que eu disser a partir daqui pode soar como spolier, então vou sugerir que você assista a série se gostar de um suspense bem montado e muito instigante. Vale ressaltar que os episódios são de 30 minutos, o que nos convida a sempre assistir o próximo episódio, pois a trama vai envolvendo e a curiosidade só aumenta conforme algumas respostas vão sendo colocadas pelo roteiro. Ah, sobre a dúvida que o projeto está gerando? Simples, é muito difícil que a série seja capaz de manter esse clima dos primeiros episódios durante as 6 temporadas prometidas por Shyamalan. Parece não ter fôlego para isso, mas é preciso esperar; enquanto isso a diversão está garantida!
Embora eu não tenha conseguido parar de assistir, algumas coisas me incomodaram em "Servant". A primeira é o fato do M. Night Shyamalan só ter dirigido o primeiro episódio - eu sei que é inviável um diretor como ele se comprometer com a direção do projeto inteiro, mas a diferença na gramática cinematográfica do primeiro episódio para os demais é enorme! Shyamalan é um dos diretores mais criativos que acompanho. Já comentei aquio quanto admiro sua capacidade de contar uma história sem a necessidade de ficar trocando a câmera de lugar em todo momento - ele tem um estilo muito claro e isso me fascina! Nos demais episódios, toda essa inventividade some e o "arroz com feijão" (muito bem feito, ok) impera! Não sei, faltou uma unidade conceitual - vou dar um exemplo: existe uma cena no episódio 1 onde o casal está conversando na cozinha. A câmera fica fixa na ponta da mesa e o atores entram e saem de quadro a todo momento, nem vemos o rosto deles direito, mas o diálogo não para e isso nos gera uma sensação ruim (bem alinhado com o mood da série). Outro detalhe, Shyamalan brinca muito com os planos fechados (close) durante alguns diálogos e isso dá uma certa sensação de claustrofobia - mais uma vez extremamente alinhado ao conceito narrativo na série que se passa 90% dentro do mesmo lugar: uma casa escura, elegante, porém decadente. A fotografia de Mike Gioulakis está espetacular - ele brinca com a sombra como ninguém (basta lembrar de "Nós"), mas isso é a única coisa que fica, o resto simplesmente desaparece nos demais episódios - uma pena!
A outra coisa que me incomoda é que a história que a série se propõe contar, termina logo depois do primeiro episódio e a partir daí o problema continua, mas o elemento mais aterrorizante some - ok, acho até que o roteiro soube trabalhar com isso, mas se você viu o teaser e depois o trailer, a entrega perde o sentido. O suspense psicológico está ali, elementos sobrenaturais são parcialmente descartados (pelo menos até agora) e o bizarro se transforma em paranóia. Em contraponto, o clima envolvente merece ser elogiado, percebemos nos episódios uma certa sensação de ameaça constante, sem saber exatamente quem é o inimigo (ou onde ele está), aproveitando uma atmosfera que provoca a nossa imaginação - é impossível ter certeza sobre o que, exatamente, está acontecendo ali!
Os atores estão ótimos: Dorothy (Lauren Ambrose de Arquivo X) está sensacional como uma "mãe" que não entende o que a maternidade representa, pelo simples fato do seu filho não existir - ela sabe, mas não aceita ou ignora! É interessante como ela se apoia no trabalho como repórter para se colocar acima do marido Sean (Toby Kebbell de Black Mirror) um inseguro crítico e consultor gastronômico - reparem nas reportagens de Dorothy: é possível perceber um desequilíbrio que só justifica suas ações dentro de casa. E em Sean, como ele se relaciona com suas criações - o sorvete de lagosta é um ótimo exemplo. A Trilha Sonora é quase um personagem, mérito de Trevor Gureckis (de Bloodline) - muito presente, ela pontua cada momento da história!
"Servant" é o tipo da série que adoramos assistir, discutir, tentar adivinhar o que tudo aquilo representa, mas é também uma incógnita - daquelas que normalmente nos frustramos com o final. Vamos aguardar e acompanhar tudo com muita atenção! O que eu posso garantir, hoje, é que "Servant" é um excelente entretenimento e nos envolve com sua trama logo de cara. Vale a pena!
"Servant", série da Apple TV+, já havia me chamado a atenção desde os primeiros teasers até seu trailer final. Primeiro por ser um suspense psicológico - gênero que eu gosto muito - e depois por ter M. Night Shyamalan como produtor executivo. Claro que a sinopse misteriosa ajudou a criar uma certa expectativa pelo seu lançamento e conforme as informações sobre a história foram surgindo, mais dúvidas do que certezas rodearam o projeto.
Pois bem, "Servant" conta o drama de Dorothy e Sean Turner que vivem o drama da perda repentina do filho de treze semanas, Jericho. Com um intuito terapêutico, Dorothy passa a se relacionar com um boneco, um bebê ultra realista, como se fosse seu filho real - e o bizarro não para por aí: para valorizar ainda mais o tratamento, o casal é orientado a contratar um babá para tornar o dia a dia bem próximo da realidade, acontece que a nova contratada começa a agir de uma forma tão estranha quanto Dorothy, o que acaba incomodando Sean e interferindo perigosamente na relação do casal. O que eu disser a partir daqui pode soar como spolier, então vou sugerir que você assista a série se gostar de um suspense bem montado e muito instigante. Vale ressaltar que os episódios são de 30 minutos, o que nos convida a sempre assistir o próximo episódio, pois a trama vai envolvendo e a curiosidade só aumenta conforme algumas respostas vão sendo colocadas pelo roteiro. Ah, sobre a dúvida que o projeto está gerando? Simples, é muito difícil que a série seja capaz de manter esse clima dos primeiros episódios durante as 6 temporadas prometidas por Shyamalan. Parece não ter fôlego para isso, mas é preciso esperar; enquanto isso a diversão está garantida!
Embora eu não tenha conseguido parar de assistir, algumas coisas me incomodaram em "Servant". A primeira é o fato do M. Night Shyamalan só ter dirigido o primeiro episódio - eu sei que é inviável um diretor como ele se comprometer com a direção do projeto inteiro, mas a diferença na gramática cinematográfica do primeiro episódio para os demais é enorme! Shyamalan é um dos diretores mais criativos que acompanho. Já comentei aquio quanto admiro sua capacidade de contar uma história sem a necessidade de ficar trocando a câmera de lugar em todo momento - ele tem um estilo muito claro e isso me fascina! Nos demais episódios, toda essa inventividade some e o "arroz com feijão" (muito bem feito, ok) impera! Não sei, faltou uma unidade conceitual - vou dar um exemplo: existe uma cena no episódio 1 onde o casal está conversando na cozinha. A câmera fica fixa na ponta da mesa e o atores entram e saem de quadro a todo momento, nem vemos o rosto deles direito, mas o diálogo não para e isso nos gera uma sensação ruim (bem alinhado com o mood da série). Outro detalhe, Shyamalan brinca muito com os planos fechados (close) durante alguns diálogos e isso dá uma certa sensação de claustrofobia - mais uma vez extremamente alinhado ao conceito narrativo na série que se passa 90% dentro do mesmo lugar: uma casa escura, elegante, porém decadente. A fotografia de Mike Gioulakis está espetacular - ele brinca com a sombra como ninguém (basta lembrar de "Nós"), mas isso é a única coisa que fica, o resto simplesmente desaparece nos demais episódios - uma pena!
A outra coisa que me incomoda é que a história que a série se propõe contar, termina logo depois do primeiro episódio e a partir daí o problema continua, mas o elemento mais aterrorizante some - ok, acho até que o roteiro soube trabalhar com isso, mas se você viu o teaser e depois o trailer, a entrega perde o sentido. O suspense psicológico está ali, elementos sobrenaturais são parcialmente descartados (pelo menos até agora) e o bizarro se transforma em paranóia. Em contraponto, o clima envolvente merece ser elogiado, percebemos nos episódios uma certa sensação de ameaça constante, sem saber exatamente quem é o inimigo (ou onde ele está), aproveitando uma atmosfera que provoca a nossa imaginação - é impossível ter certeza sobre o que, exatamente, está acontecendo ali!
Os atores estão ótimos: Dorothy (Lauren Ambrose de Arquivo X) está sensacional como uma "mãe" que não entende o que a maternidade representa, pelo simples fato do seu filho não existir - ela sabe, mas não aceita ou ignora! É interessante como ela se apoia no trabalho como repórter para se colocar acima do marido Sean (Toby Kebbell de Black Mirror) um inseguro crítico e consultor gastronômico - reparem nas reportagens de Dorothy: é possível perceber um desequilíbrio que só justifica suas ações dentro de casa. E em Sean, como ele se relaciona com suas criações - o sorvete de lagosta é um ótimo exemplo. A Trilha Sonora é quase um personagem, mérito de Trevor Gureckis (de Bloodline) - muito presente, ela pontua cada momento da história!
"Servant" é o tipo da série que adoramos assistir, discutir, tentar adivinhar o que tudo aquilo representa, mas é também uma incógnita - daquelas que normalmente nos frustramos com o final. Vamos aguardar e acompanhar tudo com muita atenção! O que eu posso garantir, hoje, é que "Servant" é um excelente entretenimento e nos envolve com sua trama logo de cara. Vale a pena!
"Shirley" é um filme difícil, com uma narrativa truncada e um ar independente conceitualmente - aliás, é isso que vai fazer com que as pessoas amem ou odeiem essa cinebiografia produzida por Martin Scorsese e dirigia pela talentosa Josephine Decker. Apenas contextualizando, Shirley Jackson foi a escritora responsável pela obra "A Assombração da Casa da Colina", escrito em 1959 e que em 2018 ganhou uma adaptação pela mãos de Mike Flanagan para a Netflix com o título de "A Maldição da Residência Hill" - vale dizer que até hoje essa é considerada uma das maiores obras de terror do século XX.
Em "Shirley" temos um recorte da mente perturbada da escritora (Elisabeth Moss), que se apoia no gênero de terror para enfrentar seus mais profundos fantasmas em uma realidade completamente machista personificada pelo seu marido Stanley Hyman (Michael Stuhlbarg), um professor universitário cínico e prepotente em relação à ela, mas extremamente querido pela comunidade acadêmica local. Ambos abrigam um jovem casal e é a partir da aproximação com Rose (Odessa Young) que a escritora encontra uma real inspiração para o seu novo projeto, o romance "Hangsaman". Confira o trailer (em inglês):
Embora "Shirley" seja uma biografia (muito perturbadora), a diretora Josephine Decker trabalha muito bem os elementos dramáticos com uma pitada de suspense psicológico que o roteiro de Sarah Gubbins, que é baseado no livro de Susan Scarf Merrell, propõe. Veja, o filme basicamente se passa dentro da casa de "Shirley" onde muito das cenas são filmadas com lentes bem fechadas, ou seja, existe uma sensação de claustrofobia na mesma medida que a própria narrativa vai nos provocando uma sensação de angustia avassaladora.
Se algumas escolhas Decker privilegiam o conceito narrativo mais denso, pode ter certeza que a veracidade de algumas situações estarão sempre em dúvida, por outro lado, essas mesmas situações vão estabelecer um ar mais autoral ao filme sem perder a essência, mesmo que antecipando alguns gatilhos. Eu explico: Shirley Jackson sofria de agorafobia, o que justifica todas as passagens do roteiro sobre o seu medo de sair de casa e até de priorizar a reclusão; porém essa condição foi desenvolvida mais para os anos 60, bem depois dos acontecimentos que assistimos no filme.
O fato é que todas as licenças que o filme se apropria estão completamente alinhas com a condução de Decker e isso merece muitos elogios - desde a montagem fragmentada de David Barker (de "Birds of Paradise") até a fotografia do genial Sturla Brandth Grøvlen (de "Victoria" e "Drunk") que é pautada nos incômodos planos detalhes das situações. Sobre o elenco, obviamente que Elisabeth Moss dá mais um show, mas fica impossível não citar o trabalho de Michael Stuhlbarg - perfeito!
A vida de Shirley Jackson, que se tornou leitura obrigatória em escolas americanas, soa tão perturbadora quanto suas histórias e o recorte que assistimos em "Shirley" nos traz uma boa noção dessa jornada criativa que influenciou nomes como Stephen King e Neil Gaiman. Agora esteja atento, pois o filme é muito desconfortável porque exibe, sem cortes, como o machismo pode afetar a vida de mulheres fantásticas, expondo os traumas e as marcas deixadas durante anos de opressão.
Vale a pena e embora não seja genial, certamente a conexão com as mulheres refletirá em uma experiência mais impactante.
Obs: "Shirley" foi muito elogiado no Festival de Sundance em 2020, chegando a conquistar o "U.S. Dramatic Special Jury Award".
"Shirley" é um filme difícil, com uma narrativa truncada e um ar independente conceitualmente - aliás, é isso que vai fazer com que as pessoas amem ou odeiem essa cinebiografia produzida por Martin Scorsese e dirigia pela talentosa Josephine Decker. Apenas contextualizando, Shirley Jackson foi a escritora responsável pela obra "A Assombração da Casa da Colina", escrito em 1959 e que em 2018 ganhou uma adaptação pela mãos de Mike Flanagan para a Netflix com o título de "A Maldição da Residência Hill" - vale dizer que até hoje essa é considerada uma das maiores obras de terror do século XX.
Em "Shirley" temos um recorte da mente perturbada da escritora (Elisabeth Moss), que se apoia no gênero de terror para enfrentar seus mais profundos fantasmas em uma realidade completamente machista personificada pelo seu marido Stanley Hyman (Michael Stuhlbarg), um professor universitário cínico e prepotente em relação à ela, mas extremamente querido pela comunidade acadêmica local. Ambos abrigam um jovem casal e é a partir da aproximação com Rose (Odessa Young) que a escritora encontra uma real inspiração para o seu novo projeto, o romance "Hangsaman". Confira o trailer (em inglês):
Embora "Shirley" seja uma biografia (muito perturbadora), a diretora Josephine Decker trabalha muito bem os elementos dramáticos com uma pitada de suspense psicológico que o roteiro de Sarah Gubbins, que é baseado no livro de Susan Scarf Merrell, propõe. Veja, o filme basicamente se passa dentro da casa de "Shirley" onde muito das cenas são filmadas com lentes bem fechadas, ou seja, existe uma sensação de claustrofobia na mesma medida que a própria narrativa vai nos provocando uma sensação de angustia avassaladora.
Se algumas escolhas Decker privilegiam o conceito narrativo mais denso, pode ter certeza que a veracidade de algumas situações estarão sempre em dúvida, por outro lado, essas mesmas situações vão estabelecer um ar mais autoral ao filme sem perder a essência, mesmo que antecipando alguns gatilhos. Eu explico: Shirley Jackson sofria de agorafobia, o que justifica todas as passagens do roteiro sobre o seu medo de sair de casa e até de priorizar a reclusão; porém essa condição foi desenvolvida mais para os anos 60, bem depois dos acontecimentos que assistimos no filme.
O fato é que todas as licenças que o filme se apropria estão completamente alinhas com a condução de Decker e isso merece muitos elogios - desde a montagem fragmentada de David Barker (de "Birds of Paradise") até a fotografia do genial Sturla Brandth Grøvlen (de "Victoria" e "Drunk") que é pautada nos incômodos planos detalhes das situações. Sobre o elenco, obviamente que Elisabeth Moss dá mais um show, mas fica impossível não citar o trabalho de Michael Stuhlbarg - perfeito!
A vida de Shirley Jackson, que se tornou leitura obrigatória em escolas americanas, soa tão perturbadora quanto suas histórias e o recorte que assistimos em "Shirley" nos traz uma boa noção dessa jornada criativa que influenciou nomes como Stephen King e Neil Gaiman. Agora esteja atento, pois o filme é muito desconfortável porque exibe, sem cortes, como o machismo pode afetar a vida de mulheres fantásticas, expondo os traumas e as marcas deixadas durante anos de opressão.
Vale a pena e embora não seja genial, certamente a conexão com as mulheres refletirá em uma experiência mais impactante.
Obs: "Shirley" foi muito elogiado no Festival de Sundance em 2020, chegando a conquistar o "U.S. Dramatic Special Jury Award".
Assisti "Vidro" (Glass), filme que "teoricamente" fecha a trilogia de "Corpo Fechado" e "Fragmentado", e "ok"! Na verdade talvez eu tenha me decepcionado mais do que não gostado o filme. Minha expectativa era alta, pois eu tinha a esperança que a trilogia havia sido planejada desde o começo e muito bem desenvolvida para ter um grande final ou até mesmo para fomentar o início de mais uma ótima franquia de heróis! Ilusão!!!!
Conhecendo o negócio, eu tenho absoluta certeza que o M. Night Shyamalan aproveitou a provocação de colocar o David Dunn em uma aparição rápida no filme anterior (e que funcionou para muita gente) para inventar essa trilogia! Eu digo isso tranquilamente porque "Vidro" comete um erro clássico de arco narrativo: tem uma quantidade absurda de diálogos explicativos - o que coloca o roteiro do filme em um nível muito medíocre (principalmente tendo um cara tão criativo como o Shyamalan no comando). Desde do inicio do filme a impressão que fica é a de uma necessidade enorme em unir a história dos outros dois filmes com a trama de "Vidro" - e não funciona, fica forçado, nada surpreende e, na boa, muito superficial!!!!
Eu sou um fã do M. Night Shyamalan, defendo o cara até quando o filme é ruim porque acho ele um excelente cineasta. Ele tem um domínio impressionante da gramatica cinematográfica, principalmente quando o assunto é criar tensão e por isso, me decepcionei. Ele estava irreconhecível, mesmo tendo escolhido a "ação" para vender seu filme e não o "suspense". Teve lapsos de genialidade, uma ou outra sequência bem filmada - como a cena em que a câmera está dentro do furgão enquanto Dunn e a Fera brigam do lado de fora - ali ele nos coloca dentro do filme de verdade, mas não durou muito!!! Ele abusou das câmeras em primeira pessoa e não ficou bacana. Eu sempre digo: se você não é o Spielberg, evite esse plano. Talvez em dois momentos tenha até funcionado, mas não mais que isso!
Outro momento de pouca inspiração foi na escolha de trabalhar com planos fechados demais, normalmente no rosto do ator, em algumas cenas de ação ou quando a câmera acompanhava os movimentos do ator por estar presa a ele - aqui cabe uma observação: juro que só vi essa técnica funcionar nas mãos do Vince Gilligan em Breaking Bad e porque tinha tudo a ver com a escolha conceitual da série. "Vidro" não tem unidade narrativa ou estética que lembre os outros filmes, da mesma forma como Fragmentado não tinha com o Corpo Fechado - são filmes tão diferentes que poderiam se completar tão genialmente, que chega a dar raiva esse terceiro ato!
Talvez quem leia esse Review tenha a certeza que eu odiei o filme. Não foi o caso, de verdade! Eu me diverti em alguns momentos. O filme tem sacadas excelentes como a do plano que antecede o prólogo de Corpo Fechado que o Shyamalan trouxe de volta ou até mesmo as cenas em que James McAvoy vai trocando de personalidade em sequência - o cara realmente é muito bom! Em compensação a participação dos personagens Casey Cooke (Fragmentado), Joseph Dunn e da Mrs. Price (Corpo Fechado) chega a ser constrangedora!
O fato é que a tentativa de criar uma franquia de heróis não deu certo na minha opinião - a solução que ele encontrou para uma possível sequência lembra os piores anos de "Heroes" - que aliás era tão genial na primeira temporada que se tornou case de como destruir uma idéia com tanto potencial - e acho que "Vidro" deixa o mesmo gosto amargo!!!
Shyamalan vinha bem, fez dois filmes ótimos, quando trouxe para tela o que mais domina - a tensão e o foco no diálogo! "Vidro" para mim, não funciona porque não tem nenhum desses pilares. A minha torcida é para que ele volte a fazer filme sem muito orçamento onde a sua criatividade realmente aparece e que, no gênero certo, faz toda a diferença! Já para "Vidro", eu sugiro: assista e depois me diga se eu fui duro demais; porque juro que eu queria mesmo era poder fazer um review mais bacana sobre o filme, mas não deu!!
Vale como entretenimento e só!
Assisti "Vidro" (Glass), filme que "teoricamente" fecha a trilogia de "Corpo Fechado" e "Fragmentado", e "ok"! Na verdade talvez eu tenha me decepcionado mais do que não gostado o filme. Minha expectativa era alta, pois eu tinha a esperança que a trilogia havia sido planejada desde o começo e muito bem desenvolvida para ter um grande final ou até mesmo para fomentar o início de mais uma ótima franquia de heróis! Ilusão!!!!
Conhecendo o negócio, eu tenho absoluta certeza que o M. Night Shyamalan aproveitou a provocação de colocar o David Dunn em uma aparição rápida no filme anterior (e que funcionou para muita gente) para inventar essa trilogia! Eu digo isso tranquilamente porque "Vidro" comete um erro clássico de arco narrativo: tem uma quantidade absurda de diálogos explicativos - o que coloca o roteiro do filme em um nível muito medíocre (principalmente tendo um cara tão criativo como o Shyamalan no comando). Desde do inicio do filme a impressão que fica é a de uma necessidade enorme em unir a história dos outros dois filmes com a trama de "Vidro" - e não funciona, fica forçado, nada surpreende e, na boa, muito superficial!!!!
Eu sou um fã do M. Night Shyamalan, defendo o cara até quando o filme é ruim porque acho ele um excelente cineasta. Ele tem um domínio impressionante da gramatica cinematográfica, principalmente quando o assunto é criar tensão e por isso, me decepcionei. Ele estava irreconhecível, mesmo tendo escolhido a "ação" para vender seu filme e não o "suspense". Teve lapsos de genialidade, uma ou outra sequência bem filmada - como a cena em que a câmera está dentro do furgão enquanto Dunn e a Fera brigam do lado de fora - ali ele nos coloca dentro do filme de verdade, mas não durou muito!!! Ele abusou das câmeras em primeira pessoa e não ficou bacana. Eu sempre digo: se você não é o Spielberg, evite esse plano. Talvez em dois momentos tenha até funcionado, mas não mais que isso!
Outro momento de pouca inspiração foi na escolha de trabalhar com planos fechados demais, normalmente no rosto do ator, em algumas cenas de ação ou quando a câmera acompanhava os movimentos do ator por estar presa a ele - aqui cabe uma observação: juro que só vi essa técnica funcionar nas mãos do Vince Gilligan em Breaking Bad e porque tinha tudo a ver com a escolha conceitual da série. "Vidro" não tem unidade narrativa ou estética que lembre os outros filmes, da mesma forma como Fragmentado não tinha com o Corpo Fechado - são filmes tão diferentes que poderiam se completar tão genialmente, que chega a dar raiva esse terceiro ato!
Talvez quem leia esse Review tenha a certeza que eu odiei o filme. Não foi o caso, de verdade! Eu me diverti em alguns momentos. O filme tem sacadas excelentes como a do plano que antecede o prólogo de Corpo Fechado que o Shyamalan trouxe de volta ou até mesmo as cenas em que James McAvoy vai trocando de personalidade em sequência - o cara realmente é muito bom! Em compensação a participação dos personagens Casey Cooke (Fragmentado), Joseph Dunn e da Mrs. Price (Corpo Fechado) chega a ser constrangedora!
O fato é que a tentativa de criar uma franquia de heróis não deu certo na minha opinião - a solução que ele encontrou para uma possível sequência lembra os piores anos de "Heroes" - que aliás era tão genial na primeira temporada que se tornou case de como destruir uma idéia com tanto potencial - e acho que "Vidro" deixa o mesmo gosto amargo!!!
Shyamalan vinha bem, fez dois filmes ótimos, quando trouxe para tela o que mais domina - a tensão e o foco no diálogo! "Vidro" para mim, não funciona porque não tem nenhum desses pilares. A minha torcida é para que ele volte a fazer filme sem muito orçamento onde a sua criatividade realmente aparece e que, no gênero certo, faz toda a diferença! Já para "Vidro", eu sugiro: assista e depois me diga se eu fui duro demais; porque juro que eu queria mesmo era poder fazer um review mais bacana sobre o filme, mas não deu!!
Vale como entretenimento e só!