"Iris" (que em em inglês recebeu o título de "In the Shadow of Iris") é um excelente drama policial francês - daqueles que as informações mais embaralham nossa cabeça, mas que em nenhum momento rouba no jogo. Talvez sem a necessidade de uma suspensão da realidade tão marcante como em "Contratiempo", mas não menos competente na construção de seu mistério - eu diria até que "Iris" vem bem na linha do ótimo "O Amante Duplo".
Iris (Charlotte Le Bon) a linda esposa de Antoine (Jalil Lespert), um banqueiro muito rico e poderoso, desaparece no centro de Paris enquanto esperava do lado de fora de um restaurante enquanto o marido pagava a conta. Depois de apenas algumas horas, um sequestrador exige meio milhão de euros como resgate - a grande questão, porém, é que nem tudo é o que parece quando a corda começa a estourar para lado mais fraco. Confira o trailer com legendas em inglês:
"Iris" que na verdade é um remake do filme "Chaos" (2000), de Hideo Nakata, é instigante desde o primeiro plano. O roteiro do australiano Andrew Bovell vai construindo uma trama que parece previsível, mas que vai nos provocando um certo caos (e aqui fica impossível não citar o acerto do título original). Lespert, que também dirige o filme, foi muito feliz (e corajoso) ao escolher um conceito visual onde os planos (e os cortes) são rápidos e quase sempre "sujos", para justamente nos causar uma sensação de confusão - o fato é que o diretor não deixa de mostrar absolutamente nada durante as cenas, mas nunca ele expõe com clareza a razão de determinados movimentos dos atores em ação.
A dúvida sobre o que assistimos em uma cena, algum relance de personagem ou o que de fato aconteceu como um todo, ganha uma camada ainda mais corajosa quando Lespert não diferencia visualmente as ações na linha do tempo, ou seja, o que é flashback tem exatamente o mesmo conceito estético que o presente. A fotografia do Pierre-Yves Bastard (Versailles) é igualmente linda ao retratar Paris com a mesma competência em que cria esse mood de mistério que o roteiro tanto exige. O elenco também caminha alinhado com essa proposta: Charlotte Le Bon está impecável mais uma vez, mas quem rouba a cena, sem dúvida, é Camille Cottin - ela é uma das melhores atrizes da França na atualidade: versátil e sempre no tom certo!
"Iris" é o tipo do filme que está escondido no catálogo do streaming, mas que vale muito a pena e que é louco para entrar no boca a boca dos amantes de dramas policiais - eu diria, inclusive, que é um thriller que merece ser descoberto e apreciado como um ótimo entretenimento. Saíba que ele é desafiador - um prato cheio para quem gosta de mistério policial com um toque sex appeal!
Vale o play!
"Iris" (que em em inglês recebeu o título de "In the Shadow of Iris") é um excelente drama policial francês - daqueles que as informações mais embaralham nossa cabeça, mas que em nenhum momento rouba no jogo. Talvez sem a necessidade de uma suspensão da realidade tão marcante como em "Contratiempo", mas não menos competente na construção de seu mistério - eu diria até que "Iris" vem bem na linha do ótimo "O Amante Duplo".
Iris (Charlotte Le Bon) a linda esposa de Antoine (Jalil Lespert), um banqueiro muito rico e poderoso, desaparece no centro de Paris enquanto esperava do lado de fora de um restaurante enquanto o marido pagava a conta. Depois de apenas algumas horas, um sequestrador exige meio milhão de euros como resgate - a grande questão, porém, é que nem tudo é o que parece quando a corda começa a estourar para lado mais fraco. Confira o trailer com legendas em inglês:
"Iris" que na verdade é um remake do filme "Chaos" (2000), de Hideo Nakata, é instigante desde o primeiro plano. O roteiro do australiano Andrew Bovell vai construindo uma trama que parece previsível, mas que vai nos provocando um certo caos (e aqui fica impossível não citar o acerto do título original). Lespert, que também dirige o filme, foi muito feliz (e corajoso) ao escolher um conceito visual onde os planos (e os cortes) são rápidos e quase sempre "sujos", para justamente nos causar uma sensação de confusão - o fato é que o diretor não deixa de mostrar absolutamente nada durante as cenas, mas nunca ele expõe com clareza a razão de determinados movimentos dos atores em ação.
A dúvida sobre o que assistimos em uma cena, algum relance de personagem ou o que de fato aconteceu como um todo, ganha uma camada ainda mais corajosa quando Lespert não diferencia visualmente as ações na linha do tempo, ou seja, o que é flashback tem exatamente o mesmo conceito estético que o presente. A fotografia do Pierre-Yves Bastard (Versailles) é igualmente linda ao retratar Paris com a mesma competência em que cria esse mood de mistério que o roteiro tanto exige. O elenco também caminha alinhado com essa proposta: Charlotte Le Bon está impecável mais uma vez, mas quem rouba a cena, sem dúvida, é Camille Cottin - ela é uma das melhores atrizes da França na atualidade: versátil e sempre no tom certo!
"Iris" é o tipo do filme que está escondido no catálogo do streaming, mas que vale muito a pena e que é louco para entrar no boca a boca dos amantes de dramas policiais - eu diria, inclusive, que é um thriller que merece ser descoberto e apreciado como um ótimo entretenimento. Saíba que ele é desafiador - um prato cheio para quem gosta de mistério policial com um toque sex appeal!
Vale o play!
"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é mais uma daquelas histórias, como a que vimos em "Deixando Neverland" (da HBO), que nos embrulha o estômago a cada minuto ou a cada descoberta. Como comentamos em um artigo no nosso blog no começo de 2020, chamado: "Jeffrey Epstein, guardem esse nome", a Netflix seguiu a tendência e resolveu produzir um documentário dividido em quatro episódios sobre os detalhes mais secretos do esquema de pirâmide sexual com menores de Epstein, que envolviam poderosos políticos, empresários, acadêmicos e até celebridades. O livro de James Patterson “Filthy Rich: The Shocking True Story of Jeffrey Epstein” serviu como base para o desenvolvimento da minissérie onde nos deparamos com o lado mais sombrio de um ser humano que acreditava que, com sua fortuna, sairia ileso de qualquer situação que o comprometesse (e ele não era o único!). Confira o trailer:
Se no documentário da HBO o incômodo vinha dos depoimentos impressionantes dos jovens abusados por uma celebridade tão importante como Michael Jackson, já em "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão", vemos claramente o mindset de impunidade que o dinheiro, o poder e a influência causam no ser humano e as marcas que deixam nas suas vítimas. O mais interessante desse roteiro da dupla John Connolly e Tom Malloy, é a forma como a história vai se construindo através de uma narrativa não linear - um conceito que vimos recentemente em outra produção da Netflix: "Arremesso Final" e que funcionou muito bem em uma jornada tão carregada de drama como essa. O "vai e volta" dos fatos vai nos situando em uma linha do tempo cheia de recortes e fatos isolados que, juntos, vão nos corroendo com uma força absurda - são tantos detalhes que fica impossível não reconstruir as cenas de abuso e perversão mentalmente - e isso é extremamente cruel. Imaginar crianças de 12, 14 anos, compradas com duzentos dólares, sendo abusadas por Epstein com tanta recorrência, chega parecer mentira. E não era!
Não contente, a sequência de depoimentos chocantes sobre a época em que eram abusadas, contadas pelas próprias vítimas, com um nível de clareza e sinceridade absurdas (muitas vezes admitindo os próprios erros e excessos), o documentários ainda desvenda a forma maquiavélica como tudo era arquitetado, como as garotas eram aliciadas e a razão pela qual Epstein não temia ser pego. Se nos três primeiros episódios temos a impressão que se tratava de um fetiche doentio de Epstein, no último descobrimos que o problema era muito maior, amplo e tão sério que deve ter tirado o sono de muita gente grande! A exposição dessa história impressionante envolve desde presidentes americanos até um membro da realeza britânica - e além de deixar claro (mas sem tantas provas, isso é um fato) que a perversão não era exclusividade de Epstein, muito do poder que ele tinha se baseava em uma moeda de troca muito peculiar!
O documentário é muito cuidadoso ao mostrar (ou pelo menos tentar mostrar) todos os lados da história, mesmo que muitos deles apenas por legendas, mas é preciso elogiar o poder que a edição trouxe para o projeto: com muitas cenas de noticiários e inúmeras entrevistas com personagens envolvidos na investigação, dando voz até para defesa de Epstein, cria-se uma dinâmica tão envolvente que vai nos provocando, nos mal-tratando, mas que nos mantém ligados até o final e com aquele desejo insuportável que justiça seja feita!
"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é uma minissérie que vale muito a pena, mas que não é tão fácil de digerir ou suportar (principalmente para aqueles que já tem filhos).
"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é mais uma daquelas histórias, como a que vimos em "Deixando Neverland" (da HBO), que nos embrulha o estômago a cada minuto ou a cada descoberta. Como comentamos em um artigo no nosso blog no começo de 2020, chamado: "Jeffrey Epstein, guardem esse nome", a Netflix seguiu a tendência e resolveu produzir um documentário dividido em quatro episódios sobre os detalhes mais secretos do esquema de pirâmide sexual com menores de Epstein, que envolviam poderosos políticos, empresários, acadêmicos e até celebridades. O livro de James Patterson “Filthy Rich: The Shocking True Story of Jeffrey Epstein” serviu como base para o desenvolvimento da minissérie onde nos deparamos com o lado mais sombrio de um ser humano que acreditava que, com sua fortuna, sairia ileso de qualquer situação que o comprometesse (e ele não era o único!). Confira o trailer:
Se no documentário da HBO o incômodo vinha dos depoimentos impressionantes dos jovens abusados por uma celebridade tão importante como Michael Jackson, já em "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão", vemos claramente o mindset de impunidade que o dinheiro, o poder e a influência causam no ser humano e as marcas que deixam nas suas vítimas. O mais interessante desse roteiro da dupla John Connolly e Tom Malloy, é a forma como a história vai se construindo através de uma narrativa não linear - um conceito que vimos recentemente em outra produção da Netflix: "Arremesso Final" e que funcionou muito bem em uma jornada tão carregada de drama como essa. O "vai e volta" dos fatos vai nos situando em uma linha do tempo cheia de recortes e fatos isolados que, juntos, vão nos corroendo com uma força absurda - são tantos detalhes que fica impossível não reconstruir as cenas de abuso e perversão mentalmente - e isso é extremamente cruel. Imaginar crianças de 12, 14 anos, compradas com duzentos dólares, sendo abusadas por Epstein com tanta recorrência, chega parecer mentira. E não era!
Não contente, a sequência de depoimentos chocantes sobre a época em que eram abusadas, contadas pelas próprias vítimas, com um nível de clareza e sinceridade absurdas (muitas vezes admitindo os próprios erros e excessos), o documentários ainda desvenda a forma maquiavélica como tudo era arquitetado, como as garotas eram aliciadas e a razão pela qual Epstein não temia ser pego. Se nos três primeiros episódios temos a impressão que se tratava de um fetiche doentio de Epstein, no último descobrimos que o problema era muito maior, amplo e tão sério que deve ter tirado o sono de muita gente grande! A exposição dessa história impressionante envolve desde presidentes americanos até um membro da realeza britânica - e além de deixar claro (mas sem tantas provas, isso é um fato) que a perversão não era exclusividade de Epstein, muito do poder que ele tinha se baseava em uma moeda de troca muito peculiar!
O documentário é muito cuidadoso ao mostrar (ou pelo menos tentar mostrar) todos os lados da história, mesmo que muitos deles apenas por legendas, mas é preciso elogiar o poder que a edição trouxe para o projeto: com muitas cenas de noticiários e inúmeras entrevistas com personagens envolvidos na investigação, dando voz até para defesa de Epstein, cria-se uma dinâmica tão envolvente que vai nos provocando, nos mal-tratando, mas que nos mantém ligados até o final e com aquele desejo insuportável que justiça seja feita!
"Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" é uma minissérie que vale muito a pena, mas que não é tão fácil de digerir ou suportar (principalmente para aqueles que já tem filhos).
"Jovem e Bela" é um excelente drama francês sobre as dores da adolescência pelo ponto de vista de uma jovem de 17 anos que está descobrindo o sexo. Foi a partir dessa premissa que o diretor François Ozon (dos ótimos "O Amante Duplo"e "Dentro da Casa") construiu uma história de amadurecimento usando as quatro estações do ano de forma quase poética, que conquistou o Festival de San Sebastián e o fez concorrer à Palma de Ouro de Cannes em 2013.
No filme conhecemos a jovem Isabelle (Marine Vacth) que durante uma viagem de verão com a família, vive a sua primeira experiência sexual. Ao voltar para casa, em Paris, ela divide o seu tempo entre a escola e um novo trabalho que coloca a relação com sua mãe divorciada, Sylvie (Géraldine Pailhas), em cheque.
Antes de assistir o trailer, é preciso dizer que quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência - mas a escolha é sua!
Se inicialmente "Jovem e Bela" pode parecer uma trama jovem sobre os amores de um verão de descobertas e suas consequências na relação com os pais como "Julho Agosto", basta assistir 20 minutos de filme para se surpreender com o caminho escolhido por Ozon para discutir as dores da adolescência. Claramente referenciado por Stanley Kubrick e a linha narrativa tênue entre o valor da imagem em contra-ponto com a riqueza do íntimo que o diretor gostava de imprimir em seus filmes de relação, Ozon chega a brincar com nossa percepção sobre o poder da escolha - principalmente no que diz respeito a hipocrisia do olhar "adulto" sobre o assunto.
Como de costume, o roteiro do próprio Ozon se apoia no jogo de palavras e de situações bem particulares (nem sempre inéditas) para nos conduzir em uma espécie de mergulho pela psiquê de Isabelle - de onde, aliás, conseguimos poucas respostas, mas muitas reflexões. Ao nos provocar, "Jovem e Bela" ganha nossa atenção por diversos motivos: o apelo sexual está presente, mas o entorno acaba sendo mais envolvente - algo como "De Olhos bem Fechados" ou "Lolita", mas com um leve toque de humor e ironia, graças a ótima participação de Frédéric Pierrot como o padrasto da protagonista. A escolha de Marine Vacth certamente foi a decisão mais acertada de Ozon - sua performance é também impecável: hipnotizante pela sua beleza e provocadora pela sua postura quase neutra em relação aos seus dramas.
Segmentado em quatro capítulos (representadas pelas estações do ano) e pontuado pelas músicas de Françoise Hardy, cantora francesa dos anos 1960/70 que, como Isabelle, transmite uma certa melancolia introspectiva e até enigmática, "Jovem e Bela" se apropria de "L’amour d'un garçon" (de 1963), "À quoi ça sert" (de 1969), "Première rencontre" (de 1973) e "Je suis moi" (de 1974) para entregar uma jornada de infinitas possibilidades que percorrem a adolescência de uma jovem impactada pelas suas escolhas e pelas escolhas das pessoas que a cercam em uma leitura que nos direciona para inegáveis julgamentos morais, brilhantemente ilustrado no roteiro pelo poema "Ninguém é sério aos 17 anos" de Arthur Rimbaud.
Vale muito o seu play!
"Jovem e Bela" é um excelente drama francês sobre as dores da adolescência pelo ponto de vista de uma jovem de 17 anos que está descobrindo o sexo. Foi a partir dessa premissa que o diretor François Ozon (dos ótimos "O Amante Duplo"e "Dentro da Casa") construiu uma história de amadurecimento usando as quatro estações do ano de forma quase poética, que conquistou o Festival de San Sebastián e o fez concorrer à Palma de Ouro de Cannes em 2013.
No filme conhecemos a jovem Isabelle (Marine Vacth) que durante uma viagem de verão com a família, vive a sua primeira experiência sexual. Ao voltar para casa, em Paris, ela divide o seu tempo entre a escola e um novo trabalho que coloca a relação com sua mãe divorciada, Sylvie (Géraldine Pailhas), em cheque.
Antes de assistir o trailer, é preciso dizer que quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência - mas a escolha é sua!
Se inicialmente "Jovem e Bela" pode parecer uma trama jovem sobre os amores de um verão de descobertas e suas consequências na relação com os pais como "Julho Agosto", basta assistir 20 minutos de filme para se surpreender com o caminho escolhido por Ozon para discutir as dores da adolescência. Claramente referenciado por Stanley Kubrick e a linha narrativa tênue entre o valor da imagem em contra-ponto com a riqueza do íntimo que o diretor gostava de imprimir em seus filmes de relação, Ozon chega a brincar com nossa percepção sobre o poder da escolha - principalmente no que diz respeito a hipocrisia do olhar "adulto" sobre o assunto.
Como de costume, o roteiro do próprio Ozon se apoia no jogo de palavras e de situações bem particulares (nem sempre inéditas) para nos conduzir em uma espécie de mergulho pela psiquê de Isabelle - de onde, aliás, conseguimos poucas respostas, mas muitas reflexões. Ao nos provocar, "Jovem e Bela" ganha nossa atenção por diversos motivos: o apelo sexual está presente, mas o entorno acaba sendo mais envolvente - algo como "De Olhos bem Fechados" ou "Lolita", mas com um leve toque de humor e ironia, graças a ótima participação de Frédéric Pierrot como o padrasto da protagonista. A escolha de Marine Vacth certamente foi a decisão mais acertada de Ozon - sua performance é também impecável: hipnotizante pela sua beleza e provocadora pela sua postura quase neutra em relação aos seus dramas.
Segmentado em quatro capítulos (representadas pelas estações do ano) e pontuado pelas músicas de Françoise Hardy, cantora francesa dos anos 1960/70 que, como Isabelle, transmite uma certa melancolia introspectiva e até enigmática, "Jovem e Bela" se apropria de "L’amour d'un garçon" (de 1963), "À quoi ça sert" (de 1969), "Première rencontre" (de 1973) e "Je suis moi" (de 1974) para entregar uma jornada de infinitas possibilidades que percorrem a adolescência de uma jovem impactada pelas suas escolhas e pelas escolhas das pessoas que a cercam em uma leitura que nos direciona para inegáveis julgamentos morais, brilhantemente ilustrado no roteiro pelo poema "Ninguém é sério aos 17 anos" de Arthur Rimbaud.
Vale muito o seu play!
"Kiki: Os Segredos do Desejo" acompanha cinco história de amor e sexo que se desenrolam ao longo de uma temporada de verão em Madrid, quando os personagens descobrem fontes de prazer bem estranhas e extremamente incomuns com nomes impronunciáveis como: Dacrifilia, Hifefilia, Somnofilia, Harpaxofilia… vemos tabus sendo quebrados, um a um, conforme esses casais se envolvem em uma emocionante libertação onde nenhum prazer é negado, seja qual for a sua forma.
Antes de mais nada é preciso dizer que para se divertir assistindo "Kiki: Os Segredos do Desejo" é preciso estar acostumado com o humor "ácido" do cinema espanhol. Seu roteiro é um ótimo exemplo do equilíbrio entre comédia e drama que uma nova geração de diretores espanhóis vem produzindo - nesse caso temos um filme sobre relações, sobre sexo, sobre traços do comportamento humano que nem imaginaríamos que pudesse ser real ou verdadeiro. Embora muito bem feito, muito bem dirigido pelo também ator Paco León e com um roteiro excelente (embora constrangedor no melhor e engraçado sentido da palavra, se isso é possível), "Kiki" ganha ainda mais força com o elenco - é uma interpretação melhor que a outra!
Olha, dessa nova linha de filmes espanhóis que já analisamos, "El bar" ainda é melhor, mas "Kiki: Os Segredos do Desejo" também é divertidíssimo e se você tiver afim de ser provocado, com uma narrativa menos convencional, eu indico tranquilamente!
"Kiki: Os Segredos do Desejo" acompanha cinco história de amor e sexo que se desenrolam ao longo de uma temporada de verão em Madrid, quando os personagens descobrem fontes de prazer bem estranhas e extremamente incomuns com nomes impronunciáveis como: Dacrifilia, Hifefilia, Somnofilia, Harpaxofilia… vemos tabus sendo quebrados, um a um, conforme esses casais se envolvem em uma emocionante libertação onde nenhum prazer é negado, seja qual for a sua forma.
Antes de mais nada é preciso dizer que para se divertir assistindo "Kiki: Os Segredos do Desejo" é preciso estar acostumado com o humor "ácido" do cinema espanhol. Seu roteiro é um ótimo exemplo do equilíbrio entre comédia e drama que uma nova geração de diretores espanhóis vem produzindo - nesse caso temos um filme sobre relações, sobre sexo, sobre traços do comportamento humano que nem imaginaríamos que pudesse ser real ou verdadeiro. Embora muito bem feito, muito bem dirigido pelo também ator Paco León e com um roteiro excelente (embora constrangedor no melhor e engraçado sentido da palavra, se isso é possível), "Kiki" ganha ainda mais força com o elenco - é uma interpretação melhor que a outra!
Olha, dessa nova linha de filmes espanhóis que já analisamos, "El bar" ainda é melhor, mas "Kiki: Os Segredos do Desejo" também é divertidíssimo e se você tiver afim de ser provocado, com uma narrativa menos convencional, eu indico tranquilamente!
"Losing Alice" é sensacional, eu diria, imperdível! Provavelmente você nem saiba do que eu estou falando, já que a série estreou quietinha, sem muito marketing e na AppleTV+, serviço de streaming que ainda está se estabelecendo no mercado nacional; mas, meu amigo, essa produção israelense com elementos de suspense psicológico, drama e erotismo, bem ao estilo "Instinto Selvagem" ou "Mulher solteira procura", nos prende de tal forma que nem vemos o tempo passar!
A trama é inspirada na história de Fausto e está dividida em 8 episódios de 50 minutos. Ela acompanha Alice (Ayelet Zurer) uma ambiciosa diretora de cinema de 47 anos que tenta dar uma guinada em sua carreira depois de passar um bom tempo cuidado de sua família. Quando ela encontra uma jovem e sexy roteirista, Sophie (Lihi Kornowski), sua vida vira de ponta cabeça. Alice fica obcecada pelo roteiro de Sophie que, por coincidência, seu marido, David (Gal Toren) irá protagonizar, e faz de tudo para assumir a direção do projeto. Obviamente que ela entra no projeto e conforme as duas vão se aproximando e o roteiro de Sophie vai ganhando vida, Alice vai renunciando toda sua integridade moral em um jogo perigoso de sedução, busca pelo sucesso e poder. Confira o trailer:
"Losing Alice", é escrita e dirigida por Sigal Avin, o que nos proporciona uma total integração de um texto excelente com uma direção muito segura e de muita qualidade. Veja, não se trata de uma tarefa fácil já que a história, propositalmente, orbita entre o real e a fantasia de uma forma muito orgânica e inteligente, nos provocando a criar inúmeras teorias do que realmente está acontecendo - mesmo que não esteja acontecendo nada demais! É incrível como o roteiro nos convida para mergulhar nas inúmeras camadas dos protagonistas (e aqui cito: Alice, Sophie e o próprio David) e encarar de frente todos os seus desejos mais ocultos e particulares, suas angústias, inseguranças, alegrias, e claro, ambições.
A fotografia, a trilha sonora e a direção de arte são sensacionais - tudo se conecta perfeitamente com uma atmosfera provocante, cheia de fetiches, no limite da tensão e do prazer. Reparem na casa de Alice e David - ela é toda de vidro e a relação com os vizinhos, embora pontuais, fortalecem a personalidade dos protagonistas e a complexidade das suas atitudes. É, de fato, um roteiro muito cuidadoso, com uma direção de muito bom gosto e uma produção irretocável - nível HBO!
Com essa chancela, embarque nessa jornada que vai valer muito a pena!
"Losing Alice" é sensacional, eu diria, imperdível! Provavelmente você nem saiba do que eu estou falando, já que a série estreou quietinha, sem muito marketing e na AppleTV+, serviço de streaming que ainda está se estabelecendo no mercado nacional; mas, meu amigo, essa produção israelense com elementos de suspense psicológico, drama e erotismo, bem ao estilo "Instinto Selvagem" ou "Mulher solteira procura", nos prende de tal forma que nem vemos o tempo passar!
A trama é inspirada na história de Fausto e está dividida em 8 episódios de 50 minutos. Ela acompanha Alice (Ayelet Zurer) uma ambiciosa diretora de cinema de 47 anos que tenta dar uma guinada em sua carreira depois de passar um bom tempo cuidado de sua família. Quando ela encontra uma jovem e sexy roteirista, Sophie (Lihi Kornowski), sua vida vira de ponta cabeça. Alice fica obcecada pelo roteiro de Sophie que, por coincidência, seu marido, David (Gal Toren) irá protagonizar, e faz de tudo para assumir a direção do projeto. Obviamente que ela entra no projeto e conforme as duas vão se aproximando e o roteiro de Sophie vai ganhando vida, Alice vai renunciando toda sua integridade moral em um jogo perigoso de sedução, busca pelo sucesso e poder. Confira o trailer:
"Losing Alice", é escrita e dirigida por Sigal Avin, o que nos proporciona uma total integração de um texto excelente com uma direção muito segura e de muita qualidade. Veja, não se trata de uma tarefa fácil já que a história, propositalmente, orbita entre o real e a fantasia de uma forma muito orgânica e inteligente, nos provocando a criar inúmeras teorias do que realmente está acontecendo - mesmo que não esteja acontecendo nada demais! É incrível como o roteiro nos convida para mergulhar nas inúmeras camadas dos protagonistas (e aqui cito: Alice, Sophie e o próprio David) e encarar de frente todos os seus desejos mais ocultos e particulares, suas angústias, inseguranças, alegrias, e claro, ambições.
A fotografia, a trilha sonora e a direção de arte são sensacionais - tudo se conecta perfeitamente com uma atmosfera provocante, cheia de fetiches, no limite da tensão e do prazer. Reparem na casa de Alice e David - ela é toda de vidro e a relação com os vizinhos, embora pontuais, fortalecem a personalidade dos protagonistas e a complexidade das suas atitudes. É, de fato, um roteiro muito cuidadoso, com uma direção de muito bom gosto e uma produção irretocável - nível HBO!
Com essa chancela, embarque nessa jornada que vai valer muito a pena!
Foi no verão de 1983, quando Oliver (Armie Hammer), um americano de 24 anos, foi passar o verão na Lombardia, Itália, com a família de Elio (Timothée Chalamet). Interpretado porMichael Stuhlbarg, o pai de Elio é professor e todo ano recebe um aluno para trabalhar como seu assistente de pesquisa. Elio com 17 anos, é imediatamente fisgado pela postura confiante, quase arrogante, de Oliver. Ao se sentir atraído fisicamente, Elio passa por um processo extremamente confuso de descobertas, medos e sentimentos que pareciam completamente distante da sua realidade.
"Call me by your name" (título original), para mim, vale muito pelo final do terceiro ato onde vemos uma cena linda entre um pai e um filho conversando com a mais pura sinceridade e afeto - no tom certo e com um trabalho sensacional do veterano Stuhlbarg com o jovem Chalamet. Penso que a indicação para o Oscar de 2018 como melhor ator é muito reflexo dessa cena! Fora isso, o filme é muito bem realizado, bem dirigido pelo Luca Guadagnino, mas não passa disso! A indicação como Melhor Filme, sem dúvida, já foi seu maior prêmio e talvez, sua maior chance esteja na categoria "Roteiro Adaptado" - seria a minha maior aposta!
Na verdade, acho até que esperava mais, mas entendo que para algumas pessoas o filme deve ter uma conexão mais forte, com isso a recomendação precisa ser relativizada, pois vai ficar claro, nos primeiros minutos, se esse filme é ou não para você!
Up-date: "Me chame pelo seu nome" ganhou em uma categoria no Oscar 2018: Melhor Roteiro Adaptado!
Foi no verão de 1983, quando Oliver (Armie Hammer), um americano de 24 anos, foi passar o verão na Lombardia, Itália, com a família de Elio (Timothée Chalamet). Interpretado porMichael Stuhlbarg, o pai de Elio é professor e todo ano recebe um aluno para trabalhar como seu assistente de pesquisa. Elio com 17 anos, é imediatamente fisgado pela postura confiante, quase arrogante, de Oliver. Ao se sentir atraído fisicamente, Elio passa por um processo extremamente confuso de descobertas, medos e sentimentos que pareciam completamente distante da sua realidade.
"Call me by your name" (título original), para mim, vale muito pelo final do terceiro ato onde vemos uma cena linda entre um pai e um filho conversando com a mais pura sinceridade e afeto - no tom certo e com um trabalho sensacional do veterano Stuhlbarg com o jovem Chalamet. Penso que a indicação para o Oscar de 2018 como melhor ator é muito reflexo dessa cena! Fora isso, o filme é muito bem realizado, bem dirigido pelo Luca Guadagnino, mas não passa disso! A indicação como Melhor Filme, sem dúvida, já foi seu maior prêmio e talvez, sua maior chance esteja na categoria "Roteiro Adaptado" - seria a minha maior aposta!
Na verdade, acho até que esperava mais, mas entendo que para algumas pessoas o filme deve ter uma conexão mais forte, com isso a recomendação precisa ser relativizada, pois vai ficar claro, nos primeiros minutos, se esse filme é ou não para você!
Up-date: "Me chame pelo seu nome" ganhou em uma categoria no Oscar 2018: Melhor Roteiro Adaptado!
“No Matarás” é mais um suspense psicológico espanhol (e isso já diz muito dado o sucesso das recentes produções do país como "Remédio Amargo", "Quem com ferro fere" e "A Casa") que vai te deixar preso do início ao fim. Isso porque logo após um evento traumático envolvendo o protagonista, as coisas começam ir de mal a pior.
Na trama, Dani (Mario Casas) é um bom rapaz que durante os últimos anos se dedicou exclusivamente a cuidar do seu pai doente até a sua morte. Justamente quando ele decide retomar a sua vida e fazer uma longa viagem, Dani conhece Mila (Milena Smit), uma mulher tão perturbadora e sensual como instável, quei transforma sua noite em um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (em espanhol):
Embora a história se mantenha eletrizante por mais de uma hora, na sequência final algumas revelações e acontecimentos beiram o exagero, mais ou menos como o que já vimos em outros filmes espanhóis, mas nada que comprometa o bom entretenimento que essa noite alucinante proporciona. A direção de David Victori (de "Sky Rojo") contribui para criação dessa atmosfera: ela é energética, seja pelos cortes frequentes, pela trilha sonora ou pelo fato do tempo inteiro acompanharmos uma movimentação de câmera que caminha junto com os personagens - uma técnica que funciona muito bem nessa narrativa que explora a sensação de urgência e todos os anseios e desespero do protagonista.
A direção de fotografia de Elías M. Félix ("O Pacto ") também é eficiente e faz um bom uso da iluminação, do brilho do neon e das cores vibrantes da noite agitada, caótica e trágica. No elenco, Mario Casas (“Um Contratempo” e "Remédio Amargo") tem se mostrado o ator perfeito para viver esses papeis que o colocam em situações desesperadoras, já que o ator transita muito bem suas emoções. A atriz Milena Smit (“Mães Paralelas”) também entrega um trabalho sensacional - é impossível você não sentir raiva da personagem que o tempo todo testará sua paciência.
“No Matarás” é envolvente e consegue prender sua atenção o tempo inteiro, além das surpresas que os desdobramentos da história proporciona, ainda que dê uma derrapada na reta final, tenho certeza que sua experiência durante uma hora e meia será no mínimo proveitosa.
Se você procura um bom entretenimento, só dar o play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
“No Matarás” é mais um suspense psicológico espanhol (e isso já diz muito dado o sucesso das recentes produções do país como "Remédio Amargo", "Quem com ferro fere" e "A Casa") que vai te deixar preso do início ao fim. Isso porque logo após um evento traumático envolvendo o protagonista, as coisas começam ir de mal a pior.
Na trama, Dani (Mario Casas) é um bom rapaz que durante os últimos anos se dedicou exclusivamente a cuidar do seu pai doente até a sua morte. Justamente quando ele decide retomar a sua vida e fazer uma longa viagem, Dani conhece Mila (Milena Smit), uma mulher tão perturbadora e sensual como instável, quei transforma sua noite em um verdadeiro pesadelo. Confira o trailer (em espanhol):
Embora a história se mantenha eletrizante por mais de uma hora, na sequência final algumas revelações e acontecimentos beiram o exagero, mais ou menos como o que já vimos em outros filmes espanhóis, mas nada que comprometa o bom entretenimento que essa noite alucinante proporciona. A direção de David Victori (de "Sky Rojo") contribui para criação dessa atmosfera: ela é energética, seja pelos cortes frequentes, pela trilha sonora ou pelo fato do tempo inteiro acompanharmos uma movimentação de câmera que caminha junto com os personagens - uma técnica que funciona muito bem nessa narrativa que explora a sensação de urgência e todos os anseios e desespero do protagonista.
A direção de fotografia de Elías M. Félix ("O Pacto ") também é eficiente e faz um bom uso da iluminação, do brilho do neon e das cores vibrantes da noite agitada, caótica e trágica. No elenco, Mario Casas (“Um Contratempo” e "Remédio Amargo") tem se mostrado o ator perfeito para viver esses papeis que o colocam em situações desesperadoras, já que o ator transita muito bem suas emoções. A atriz Milena Smit (“Mães Paralelas”) também entrega um trabalho sensacional - é impossível você não sentir raiva da personagem que o tempo todo testará sua paciência.
“No Matarás” é envolvente e consegue prender sua atenção o tempo inteiro, além das surpresas que os desdobramentos da história proporciona, ainda que dê uma derrapada na reta final, tenho certeza que sua experiência durante uma hora e meia será no mínimo proveitosa.
Se você procura um bom entretenimento, só dar o play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
"Nudes" vai te surpreender! Essa série antológica norueguesa que está disponível na Globoplay, é tão importante quanto impactante. Diferente de "Depois de Lucia" onde os reflexos das fotos (ou vídeos) vazados na internet se concentravam no ambiente em que a personagem estava inserida, tendo o bullying como principal elemento narrativo, aqui o mergulho é um pouco menos cruel, mas nem por isso fácil de digerir - as histórias giram em torno das consequências mais intimas de quem, de alguma forma, sofreu com o mesmo problema. Nessa primeira temporada, são 3 histórias contadas em 3 (ou 4) episódios sequenciais, que trazem um recorte de algumas situações em que a intimidade e a privacidade não foram respeitadas em uma era nada empática de redes sociais.
Ada (Anna Storeng Frøseth), Sofia (Lena Reinhardtsen) e Viktor (Tord Kinge) são três jovens de 14, 16 e 18 anos respectivamente, que moram em diferentes partes da Noruega, mas que acabam vivendo o mesmo drama: suas vidas se transformaram em um inferno graças a uma foto ou um vídeo íntimo que viralizou nas redes sociais. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Todas as três histórias trazem um estilo visual muito parecido com as séries inglesas da BBC e um roteiro, se não tão profundo, honesto (no sentido verdadeiro da palavra) e muito pautado na realidade de uma geração: Sofia, de 16 anos, faz sexo com um jovem em uma festa, até que uma pessoa qualquer grava tudo escondido e depois espalha o vídeo para toda escola assistir - o conflito aqui é descobrir quem foi o responsável. Já Ada, de 14, conhece um garoto no Tinder e para apimentar a relação, troca nudes com ele, porém, pouco depois, uma outra pessoa entra em contato com ela dizendo que suas fotos foram compartilhadas em vários fóruns de pornografia. Ele pode ajuda-la, mas Ida terá que pagar por isso - a chantagem move a história nesse track. E finalmente Viktor, um rapaz de 18 anos, que é acusado de pornografia infantil por um vídeo que postou no Snapchat onde uma amiga de 17 anos fazia sexo com seu parceiro. Em uma tentativa de retirar as graves acusações, Viktor precisa entender que suas ações terão enormes consequências - nessa saga, a ideia é mostrar o outro lado, de quem fez a maldade, mesmo sem pensar na gravidade do problema.
Veja, "Nudes" não tem o propósito de exaltar a morbidez da juventude, mas sim de mostrar algumas formas de lidar com essa terrível exposição - mesmo que a duras penas, e com marcas profundas na vida de cada um dos protagonistas. Não existe nada de romantismo e muito menos uma jornada do herói - a série é dura, conectada com a realidade e muito direta em sua mensagem. O fato de cada episódio ter cerca de vinte minutos, gera uma fluidez na narrativa, mas não permite maiores discussões ou desenvolvimentos dos personagens. O elenco é ótimo e isso traz grande verossimilhança para as situações - destaque para Anna Storeng Frøseth como Ada.
É impossível não pensar que cada uma das histórias que assistimos pode estar acontecendo no exato momento e com milhares de adolescentes. A ideia de posicionar a audiência respeitando uma estrutura onde em um episódio temos a apresentação, em outro o drama que os personagens vivem e no último como aquilo foi resolvido; nos dá tempo para reflexões importantes - nos colocamos no lugar de cada uma das vitimas (e em um deles, no lugar de quem cometeu o crime). Sim, o julgamento é imediato, mas a série foi muito feliz em mostrar a imaturidade dos jovens, a inconsequência, a inocência... isso deixa tudo muito palpável e machuca.
Vale a pena para os pais com seus filhos adolescentes. Essa série tem muito a ensinar!
"Nudes" vai te surpreender! Essa série antológica norueguesa que está disponível na Globoplay, é tão importante quanto impactante. Diferente de "Depois de Lucia" onde os reflexos das fotos (ou vídeos) vazados na internet se concentravam no ambiente em que a personagem estava inserida, tendo o bullying como principal elemento narrativo, aqui o mergulho é um pouco menos cruel, mas nem por isso fácil de digerir - as histórias giram em torno das consequências mais intimas de quem, de alguma forma, sofreu com o mesmo problema. Nessa primeira temporada, são 3 histórias contadas em 3 (ou 4) episódios sequenciais, que trazem um recorte de algumas situações em que a intimidade e a privacidade não foram respeitadas em uma era nada empática de redes sociais.
Ada (Anna Storeng Frøseth), Sofia (Lena Reinhardtsen) e Viktor (Tord Kinge) são três jovens de 14, 16 e 18 anos respectivamente, que moram em diferentes partes da Noruega, mas que acabam vivendo o mesmo drama: suas vidas se transformaram em um inferno graças a uma foto ou um vídeo íntimo que viralizou nas redes sociais. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Todas as três histórias trazem um estilo visual muito parecido com as séries inglesas da BBC e um roteiro, se não tão profundo, honesto (no sentido verdadeiro da palavra) e muito pautado na realidade de uma geração: Sofia, de 16 anos, faz sexo com um jovem em uma festa, até que uma pessoa qualquer grava tudo escondido e depois espalha o vídeo para toda escola assistir - o conflito aqui é descobrir quem foi o responsável. Já Ada, de 14, conhece um garoto no Tinder e para apimentar a relação, troca nudes com ele, porém, pouco depois, uma outra pessoa entra em contato com ela dizendo que suas fotos foram compartilhadas em vários fóruns de pornografia. Ele pode ajuda-la, mas Ida terá que pagar por isso - a chantagem move a história nesse track. E finalmente Viktor, um rapaz de 18 anos, que é acusado de pornografia infantil por um vídeo que postou no Snapchat onde uma amiga de 17 anos fazia sexo com seu parceiro. Em uma tentativa de retirar as graves acusações, Viktor precisa entender que suas ações terão enormes consequências - nessa saga, a ideia é mostrar o outro lado, de quem fez a maldade, mesmo sem pensar na gravidade do problema.
Veja, "Nudes" não tem o propósito de exaltar a morbidez da juventude, mas sim de mostrar algumas formas de lidar com essa terrível exposição - mesmo que a duras penas, e com marcas profundas na vida de cada um dos protagonistas. Não existe nada de romantismo e muito menos uma jornada do herói - a série é dura, conectada com a realidade e muito direta em sua mensagem. O fato de cada episódio ter cerca de vinte minutos, gera uma fluidez na narrativa, mas não permite maiores discussões ou desenvolvimentos dos personagens. O elenco é ótimo e isso traz grande verossimilhança para as situações - destaque para Anna Storeng Frøseth como Ada.
É impossível não pensar que cada uma das histórias que assistimos pode estar acontecendo no exato momento e com milhares de adolescentes. A ideia de posicionar a audiência respeitando uma estrutura onde em um episódio temos a apresentação, em outro o drama que os personagens vivem e no último como aquilo foi resolvido; nos dá tempo para reflexões importantes - nos colocamos no lugar de cada uma das vitimas (e em um deles, no lugar de quem cometeu o crime). Sim, o julgamento é imediato, mas a série foi muito feliz em mostrar a imaturidade dos jovens, a inconsequência, a inocência... isso deixa tudo muito palpável e machuca.
Vale a pena para os pais com seus filhos adolescentes. Essa série tem muito a ensinar!
"O Acontecimento" é um drama pesadíssimo, visceral eu diria! A jornada que começa amena, quase juvenil, vai ganhando força e brutalidade até alcançar o seu ápice no terceiro ato. Sim, durante os mais de 90 minutos de filme, em vários momentos você sentirá a dor da protagonista - e aqui eu não falo apenas da dor física, embora ela exista e seja brilhantemente retratada pela diretora Audrey Diwan (de "À Beira da Loucura "); eu falo daquela dor na alma que nos tira do eixo, que nos faz refletir sobre o outro - algo como vimos recentemente em “Pieces of a Woman”, por exemplo.
O filme conta a história de Anne (Anamaria Vartolomei), uma jovem garota que engravida e que simplesmente não quer e não pode ter aquela criança, já que seu futuro brilhante seria comprometido. No entanto, na França dos anos 1960, o direito ao aborto ainda não existia. Pelo contrário: qualquer um que praticasse o aborto, tanto a mulher quanto o médico, seria preso. Anne então precisa correr contra o tempo para encontrar uma solução antes de colocar sua própria vida em risco. Confira o trailer:
Essa produção francesa chega ao streaming chancelada pelo "Golden Lion" e pelo "FIPRESCI Prize" no Festival de Veneza em 2021. Além de uma carreira internacional de respeito, "O Acontecimento" ainda rendeu muitos elogios da crítica especializada e do público, o que coloca o filme naquela disputada prateleira de grandes surpresas do ano. E não é para menos, de fato "L'événement" (no original) impressiona ao se aprofundar de uma maneira muito cruel no realismo de uma situação tão atual que nem nos damos conta que o filme se passa na década de 60.
Graças ao aspecto 4:3 (aquele mais quadrado das TVs de tubo de antigamente) em que foi filmado, a diretora é capaz de provocar sensações das mais desagradáveis para audiência - essa escolha conceitual incomoda muito, gera uma certa percepção de angústia, de opressão, de limite. Curiosamente, a história da protagonista, ou seja, o "conteúdo" do filme, está completamente alinhado à "forma" com que presenciamos o seu sofrimento. A jornada de Anne é dura, solitária demais - chega a ser impressionante como a atriz Anamaria Vartolomei encontra o tom certo, introspectivo, para lidar com suas decisões e consequências. A cena em Anne tenta fazer o aborto por si só, por exemplo, é simplesmente desesperadora, além de impactante.
Baseado no aclamado livro de Annie Ernaux, o que vemos na tela é um adaptação extremamente autoral e de altíssima qualidade cinematográfica. "O Acontecimento" é cadenciado, sem nenhuma ação aparente, até repetitivo em alguns momentos, mas com o tempo se apropria de uma verdadeira experiência sensorial para entregar um mergulho no íntimo da mulher e na forma como ela é julgada pela sociedade. Não é uma jornada confortável da mesma forma em que se mostra necessária a discussão sobre um tema polêmico e muito importante nos dias de hoje (mesmo 60 anos depois).
Vale muito o seu play!
"O Acontecimento" é um drama pesadíssimo, visceral eu diria! A jornada que começa amena, quase juvenil, vai ganhando força e brutalidade até alcançar o seu ápice no terceiro ato. Sim, durante os mais de 90 minutos de filme, em vários momentos você sentirá a dor da protagonista - e aqui eu não falo apenas da dor física, embora ela exista e seja brilhantemente retratada pela diretora Audrey Diwan (de "À Beira da Loucura "); eu falo daquela dor na alma que nos tira do eixo, que nos faz refletir sobre o outro - algo como vimos recentemente em “Pieces of a Woman”, por exemplo.
O filme conta a história de Anne (Anamaria Vartolomei), uma jovem garota que engravida e que simplesmente não quer e não pode ter aquela criança, já que seu futuro brilhante seria comprometido. No entanto, na França dos anos 1960, o direito ao aborto ainda não existia. Pelo contrário: qualquer um que praticasse o aborto, tanto a mulher quanto o médico, seria preso. Anne então precisa correr contra o tempo para encontrar uma solução antes de colocar sua própria vida em risco. Confira o trailer:
Essa produção francesa chega ao streaming chancelada pelo "Golden Lion" e pelo "FIPRESCI Prize" no Festival de Veneza em 2021. Além de uma carreira internacional de respeito, "O Acontecimento" ainda rendeu muitos elogios da crítica especializada e do público, o que coloca o filme naquela disputada prateleira de grandes surpresas do ano. E não é para menos, de fato "L'événement" (no original) impressiona ao se aprofundar de uma maneira muito cruel no realismo de uma situação tão atual que nem nos damos conta que o filme se passa na década de 60.
Graças ao aspecto 4:3 (aquele mais quadrado das TVs de tubo de antigamente) em que foi filmado, a diretora é capaz de provocar sensações das mais desagradáveis para audiência - essa escolha conceitual incomoda muito, gera uma certa percepção de angústia, de opressão, de limite. Curiosamente, a história da protagonista, ou seja, o "conteúdo" do filme, está completamente alinhado à "forma" com que presenciamos o seu sofrimento. A jornada de Anne é dura, solitária demais - chega a ser impressionante como a atriz Anamaria Vartolomei encontra o tom certo, introspectivo, para lidar com suas decisões e consequências. A cena em Anne tenta fazer o aborto por si só, por exemplo, é simplesmente desesperadora, além de impactante.
Baseado no aclamado livro de Annie Ernaux, o que vemos na tela é um adaptação extremamente autoral e de altíssima qualidade cinematográfica. "O Acontecimento" é cadenciado, sem nenhuma ação aparente, até repetitivo em alguns momentos, mas com o tempo se apropria de uma verdadeira experiência sensorial para entregar um mergulho no íntimo da mulher e na forma como ela é julgada pela sociedade. Não é uma jornada confortável da mesma forma em que se mostra necessária a discussão sobre um tema polêmico e muito importante nos dias de hoje (mesmo 60 anos depois).
Vale muito o seu play!
Antes de mais nada é preciso atestar que "O Amante Duplo" não será das jornadas mais tranquilas, pois esse suspense psicológico francês usa e abusa de cenas bem desconfortáveis para colocar a audiência dentro de um universo que pode até soar inverossímil, mas ao embarcar com uma certa descrença da realidade, fica impossível não ser impactado pela forma como o diretor François Ozon nos conduz pela história.
Chloé (Marine Vacth) é uma mulher reprimida sexualmente que, constantemente, sente dores na altura do estômago. Acreditando que seu problema seja psicológico, ela busca a ajuda profissional de Paul (Jérémie Renier), um psicólogo indicado por sua ginecologista. Porém, conforme as sessões vão evoluindo, eles acabam se apaixonando. Diante da situação, Paul resolve encerrar a terapia e indica uma colega para tratar sua futura esposa. Acontece que Chloé, enciumada por uma situação bem particular, resolve se consultar com outro psicólogo e acaba conhecendo o irmão gêmeo de Paul, criando um triângulo amoroso perigoso e cheio de segredos. Confira o trailer:
O plano-detalhe inicial de "O Amante Duplo" já vai te dizer exatamente o que vem pela frente - e é essa postura honesta de Ozon que você precisa levar em consideração ao decidir se continua ou não o filme. Posso te adiantar que outras cenas impactantes ou apelativas (como queiram) vão acontecer! Essa escolha do diretor não é por acaso: se o desconforto não está nos diálogos bem trabalhados do roteiro, fatalmente se aplica em algumas cenas que acabam justificando a complexidade dos personagens e a dinâmica narrativa da história. O que inicialmente parece um drama ao melhor estilo "Sessão de Terapia", logo se transforma em suspense psicológico com várias referências de "O Homem Duplicado", mas com toques de Roman Polanski e Brian De Palma.
É inegável a qualidade estética do filme. François Ozonfaz um belo trabalho com seus enquadramentos, criando planos muito bem desenhados tecnicamente, para dar a sensação de um desconforto completamente fora da realidade ao mesmo tempo que ele aproveita para internalizar muitas questões que estão sendo discutidas nos próprios diálogos entre paciente e terapeuta - repare, por exemplo, como ele prioriza os personagens em primeiro plano e imediatamente usa o foco para enquadrar suas imagens nos espelhos. A montagem valoriza esse distanciamento da realidade, mas a conexão imediata entre pensamentos, olhares e discurso, são completamente desconstruídos a cada cena - essa manipulação aumenta a sensação de mistério, de caos psicológico, de vazio e ainda traz um enorme impacto visual para a narrativa - as cenas no museu são lindas.
Vacth está excelente: seus olhares, sua dor e sua insegurança estão tatuadas no seu corpo - é impressionante como ela transita entre a retração e a liberação sexual em todo momento. Renier também está muito bem: a dualidade entre um homem misterioso e o outro transparente, ou ainda um passivo e o outro ativo, com fraquezas e fortalezas, funciona perfeitamente na proposta visual do filme e nos deixa cheio de dúvidas que se sustentam até o inicio do terceiro ato. O fato é que "O Amante Duplo" tem tudo que um bom suspense psicológico precisa, inclusive uma enorme facilidade para chocar e fazer nossa mente explodir - se normalmente o final decepciona a audiência menos ligada em filmes autorais e independentes, aqui não será o caso!
Em tempo: para quem conhece a essência das teorias psicanalíticas freudianas, fica fácil reconhecer a maravilhosa metáfora visual que o diretor imprime em vários momentos dessa surpreendente adaptação do livro "Lives of the Twins" de Joyce Carol Oates. Vale muito seu play, mas esteja preparado!
Antes de mais nada é preciso atestar que "O Amante Duplo" não será das jornadas mais tranquilas, pois esse suspense psicológico francês usa e abusa de cenas bem desconfortáveis para colocar a audiência dentro de um universo que pode até soar inverossímil, mas ao embarcar com uma certa descrença da realidade, fica impossível não ser impactado pela forma como o diretor François Ozon nos conduz pela história.
Chloé (Marine Vacth) é uma mulher reprimida sexualmente que, constantemente, sente dores na altura do estômago. Acreditando que seu problema seja psicológico, ela busca a ajuda profissional de Paul (Jérémie Renier), um psicólogo indicado por sua ginecologista. Porém, conforme as sessões vão evoluindo, eles acabam se apaixonando. Diante da situação, Paul resolve encerrar a terapia e indica uma colega para tratar sua futura esposa. Acontece que Chloé, enciumada por uma situação bem particular, resolve se consultar com outro psicólogo e acaba conhecendo o irmão gêmeo de Paul, criando um triângulo amoroso perigoso e cheio de segredos. Confira o trailer:
O plano-detalhe inicial de "O Amante Duplo" já vai te dizer exatamente o que vem pela frente - e é essa postura honesta de Ozon que você precisa levar em consideração ao decidir se continua ou não o filme. Posso te adiantar que outras cenas impactantes ou apelativas (como queiram) vão acontecer! Essa escolha do diretor não é por acaso: se o desconforto não está nos diálogos bem trabalhados do roteiro, fatalmente se aplica em algumas cenas que acabam justificando a complexidade dos personagens e a dinâmica narrativa da história. O que inicialmente parece um drama ao melhor estilo "Sessão de Terapia", logo se transforma em suspense psicológico com várias referências de "O Homem Duplicado", mas com toques de Roman Polanski e Brian De Palma.
É inegável a qualidade estética do filme. François Ozonfaz um belo trabalho com seus enquadramentos, criando planos muito bem desenhados tecnicamente, para dar a sensação de um desconforto completamente fora da realidade ao mesmo tempo que ele aproveita para internalizar muitas questões que estão sendo discutidas nos próprios diálogos entre paciente e terapeuta - repare, por exemplo, como ele prioriza os personagens em primeiro plano e imediatamente usa o foco para enquadrar suas imagens nos espelhos. A montagem valoriza esse distanciamento da realidade, mas a conexão imediata entre pensamentos, olhares e discurso, são completamente desconstruídos a cada cena - essa manipulação aumenta a sensação de mistério, de caos psicológico, de vazio e ainda traz um enorme impacto visual para a narrativa - as cenas no museu são lindas.
Vacth está excelente: seus olhares, sua dor e sua insegurança estão tatuadas no seu corpo - é impressionante como ela transita entre a retração e a liberação sexual em todo momento. Renier também está muito bem: a dualidade entre um homem misterioso e o outro transparente, ou ainda um passivo e o outro ativo, com fraquezas e fortalezas, funciona perfeitamente na proposta visual do filme e nos deixa cheio de dúvidas que se sustentam até o inicio do terceiro ato. O fato é que "O Amante Duplo" tem tudo que um bom suspense psicológico precisa, inclusive uma enorme facilidade para chocar e fazer nossa mente explodir - se normalmente o final decepciona a audiência menos ligada em filmes autorais e independentes, aqui não será o caso!
Em tempo: para quem conhece a essência das teorias psicanalíticas freudianas, fica fácil reconhecer a maravilhosa metáfora visual que o diretor imprime em vários momentos dessa surpreendente adaptação do livro "Lives of the Twins" de Joyce Carol Oates. Vale muito seu play, mas esteja preparado!
O adjetivo "idiota" foi redefinido em "O Homem mais odiado da Internet" - e não falo apenas do personagem, mas também de todos que viam nele um herói! Dito isso, prepara-se para uma jornada completamente indigesta, cruel e revoltante! Essa minissérie de 3 episódios da Netflix expõe, de fato, uma das figuras mais desprezíveis que você vai conhecer na sua vida - e ver ele se dar muito mal, será a força motivadora que vai te fazer suportar essa história absurda!
Hunter Moore ganhou fama por se considerar um profissional especializado em arruinar a vida dos outros graças a um site que ele criou chamado "IsAnyoneUp", focado em fotos de mulheres nuas sem o consentimento das vítimas e ainda indicando seus respectivos perfis nas redes sociais. O mais mórbido, porém, é que, com a popularidade do site, Hunter conquistou milhares de seguidores fiéis, em especial por fortalecer misoginia e todo tipo de discurso de ódio em seu fórum. Além da busca de uma mãe para que Hunter fosse punido por seus crimes, a minissérie expõe o ponto de vista de várias vítimas que tiveram sua intimidade exposta e por isso sua vida transformada completamente.
Dirigida pelo praticamente estreante Rob Miller, "O Homem mais odiado da Internet" surpreende pela qualidade técnica e artística que além de criar uma linha do tempo extremamente cuidadosa para que a audiência tenha a exata noção do que aconteceu com algumas das vitimas do "IsAnyoneUp", ainda denuncia um verdadeiro submundo de depravação virtual e desmascara o que há de mais nojento na internet.
Miller foi muito inteligente ao construir um perfil do Hunter Moore a partir de suas próprias atitudes e declarações - essa escolha é provocativa já que naturalmente exalta nossas emoções não pelo olhar da vitima, mas pela perspectiva de alguém que um dia poderia ter sido sua vitima. Já ao detalhar os bastidores da saga de Charlotte Laws, que foi até às últimas consequências para impedir que outras mulheres fossem expostas como sua filha, o diretor usa da empatia imediata como gatilho para criar nossa conexão com a jornada e nos manter grudados na tela - como disse acima, a cada nova aparição de Moore temos mais vontade de vê-lo se dar mal (para manter a educação) - aqui é preciso mencionar o excelente trabalho do montador Jules Cornell (indicado ao Emmy em 2019 por "Deixando Neverland").
O fato é que no decorrer das quase três horas de documentário, acompanhamos a ascensão de Moore, que alcançou veículos de imprensa do nível de "The Rolling Stones", "Village Voice" e "Vice", até sua queda que envolveu o coletivo hacker "Anonymous" e uma grandiosa investigação do FBI - tudo graças à Laws. Mais do que uma caçada ao criminoso, "O Homem mais odiado da Internet" é um retrato de uma sociedade doentia, basta pensar que o site de Moore tinha mais 100 milhões de acessos em 2012, e que mesmo com muito mérito, parece ter chegado alguns anos atrasado.
PS: a título de curiosidade, Charlotte Laws ajudou a implementar legislações sobre o tema em mais de 40 estados nos EUA.
Vale muito o seu play!
O adjetivo "idiota" foi redefinido em "O Homem mais odiado da Internet" - e não falo apenas do personagem, mas também de todos que viam nele um herói! Dito isso, prepara-se para uma jornada completamente indigesta, cruel e revoltante! Essa minissérie de 3 episódios da Netflix expõe, de fato, uma das figuras mais desprezíveis que você vai conhecer na sua vida - e ver ele se dar muito mal, será a força motivadora que vai te fazer suportar essa história absurda!
Hunter Moore ganhou fama por se considerar um profissional especializado em arruinar a vida dos outros graças a um site que ele criou chamado "IsAnyoneUp", focado em fotos de mulheres nuas sem o consentimento das vítimas e ainda indicando seus respectivos perfis nas redes sociais. O mais mórbido, porém, é que, com a popularidade do site, Hunter conquistou milhares de seguidores fiéis, em especial por fortalecer misoginia e todo tipo de discurso de ódio em seu fórum. Além da busca de uma mãe para que Hunter fosse punido por seus crimes, a minissérie expõe o ponto de vista de várias vítimas que tiveram sua intimidade exposta e por isso sua vida transformada completamente.
Dirigida pelo praticamente estreante Rob Miller, "O Homem mais odiado da Internet" surpreende pela qualidade técnica e artística que além de criar uma linha do tempo extremamente cuidadosa para que a audiência tenha a exata noção do que aconteceu com algumas das vitimas do "IsAnyoneUp", ainda denuncia um verdadeiro submundo de depravação virtual e desmascara o que há de mais nojento na internet.
Miller foi muito inteligente ao construir um perfil do Hunter Moore a partir de suas próprias atitudes e declarações - essa escolha é provocativa já que naturalmente exalta nossas emoções não pelo olhar da vitima, mas pela perspectiva de alguém que um dia poderia ter sido sua vitima. Já ao detalhar os bastidores da saga de Charlotte Laws, que foi até às últimas consequências para impedir que outras mulheres fossem expostas como sua filha, o diretor usa da empatia imediata como gatilho para criar nossa conexão com a jornada e nos manter grudados na tela - como disse acima, a cada nova aparição de Moore temos mais vontade de vê-lo se dar mal (para manter a educação) - aqui é preciso mencionar o excelente trabalho do montador Jules Cornell (indicado ao Emmy em 2019 por "Deixando Neverland").
O fato é que no decorrer das quase três horas de documentário, acompanhamos a ascensão de Moore, que alcançou veículos de imprensa do nível de "The Rolling Stones", "Village Voice" e "Vice", até sua queda que envolveu o coletivo hacker "Anonymous" e uma grandiosa investigação do FBI - tudo graças à Laws. Mais do que uma caçada ao criminoso, "O Homem mais odiado da Internet" é um retrato de uma sociedade doentia, basta pensar que o site de Moore tinha mais 100 milhões de acessos em 2012, e que mesmo com muito mérito, parece ter chegado alguns anos atrasado.
PS: a título de curiosidade, Charlotte Laws ajudou a implementar legislações sobre o tema em mais de 40 estados nos EUA.
Vale muito o seu play!
"Pobres Criaturas" é realmente excelente, mas não se deixe levar por tantos elogios da critica e do público - e muito menos pelos quatro Oscars que o filme abocanhou em 2024. Sim, nem todos vão gostar do filme, mas saiba que quem gostar, na verdade vai amar! Escrevo isso com a mais absoluta tranquilidade, pois o filme é uma experiência cinematográfica única, que te fará rir, pensar e questionar a própria natureza humana de uma forma bastante particular. Por essa perspectiva, o filme é imperdível. Dirigido pelo aclamado Yorgos Lanthimos (de "A Favorita"), "Poor Things" (no original) tem uma dinâmica visual impressionante e uma narrativa pouco usual, orbitando entre uma comédia mais ácida e o drama totalmente existencialista - daqueles que desafiam as convenções sociais e exploram temas como identidade, gênero, sexualidade e morte, tudo junto e misturado. Profundo, não? Sim, muito, no entanto só dê o play se estiver disposto a mergulhar na proposta mais conceitual do diretor com seu estilo mais teatral, criativo e muito inventivo.
Baseado no livro homônimo de Alasdair Grey e referenciando o clássico "Frankenstein", a história se passa em uma atmosfera vitoriana atemporal e acompanha Bella Baxter (Emma Stone), trazida de volta à vida após se jogar de uma ponte. O experimento realizado pelo doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cientista brilhante, porém nada ortodoxo, é um sucesso, no entanto Bella, querendo conhecer mais do mundo, foge com um advogado e graças a maturidade que vai adquirindo passa exigir igualdade e liberdade. Confira o trailer:
Todos sabemos que o grego Yorgos Lanthimos é conhecido por seu estilo peculiar, que combina o humor negro com temas mais sérios em uma abordagem quase sempre perturbadora. Pois bem, aqui ele utiliza da sua assinatura como cineasta para recriar, com muita simbologia e sensibilidade, o cabo de guerra intenso entre o desejo e a razão - claro, com aquele toque de monstruosidade que tende a penalizar, com a mesma força, mas de modos distintos, os homens e as mulheres. Reparem como, em cinco "capítulos", o desenvolvimento da mente de Bella vai se transformando e a experiência de conhecer o mundo (e sair daquilo que a limitava) faz com que ela se aproxime cada vez mais do seu corpo amadurecido. É lindo de perceber esses detalhes a partir de planos simétricos e lentes completamente anguladas, criando uma atmosfera surreal e desconcertante, perfeita para os diálogos secos e sarcásticos do roteiro de Tony McNamara (duas vezes indicado ao Oscar) que coloca frente a frente modos tão diferentes de pensar e agir.
Obviamente que o elenco de "Pobres Criaturas" é a cereja do bolo dessa overdose visual de cor e estilo. Impecável em todas as camadas, eu diria que esse é o melhor trabalho (até aqui) da atriz Emma Stone - ela é capaz de entregar uma performance multifacetada e complexa, mesmo mergulhada no esteriótipo que vai se desconstruindo de acordo com o seu ganho de maturidade. Stone captura perfeitamente a confusão, a frustração e a resiliência de Bella perante suas descobertas, em todas as suas fases. Willem Dafoe, meu Deus, também está excelente como o Dr. Baxter - um personagem excêntrico e enigmático, sempre com aquele toque de sadismo tão sutil e ao mesmo tempo tão potente. Outro que merece destaque, claro, é Mark Ruffalo - simplesmente impecável, mais uma vez!
"Pobres Criaturas" é um filme que não se encaixa em nenhuma dessas prateleiras mais tradicionais do cinema atual. Ele é uma comédia, um drama e um filme de terror clássico, tudo ao mesmo tempo - uma mistura de "A Tragédia de Macbeth" com "A Invenção de Hugo Cabret" e aquele toque final de "Irma Vep" ou de "Hereditário". Veja, Lanthimos não tem, e nunca terá, medo de abordar temas ou tabus e ainda assim desafiar as expectativas da audiência com textos e cenas de fato impactantes, então esteja preparado para se chocar. Para aqueles mais tradicionais, sugiro passar longe dessa recomendação. Já para aqueles que vão se aventurar nesse mundo estranho e fascinante do diretor, muito possivelmente, serão recompensados com uma obra de arte singular e memorável.
Vale muito o seu play!
Up-date: "Pobres Criaturas" ganhou em quatro categorias no Oscar 2024, inclusive de Melhor Atriz!
"Pobres Criaturas" é realmente excelente, mas não se deixe levar por tantos elogios da critica e do público - e muito menos pelos quatro Oscars que o filme abocanhou em 2024. Sim, nem todos vão gostar do filme, mas saiba que quem gostar, na verdade vai amar! Escrevo isso com a mais absoluta tranquilidade, pois o filme é uma experiência cinematográfica única, que te fará rir, pensar e questionar a própria natureza humana de uma forma bastante particular. Por essa perspectiva, o filme é imperdível. Dirigido pelo aclamado Yorgos Lanthimos (de "A Favorita"), "Poor Things" (no original) tem uma dinâmica visual impressionante e uma narrativa pouco usual, orbitando entre uma comédia mais ácida e o drama totalmente existencialista - daqueles que desafiam as convenções sociais e exploram temas como identidade, gênero, sexualidade e morte, tudo junto e misturado. Profundo, não? Sim, muito, no entanto só dê o play se estiver disposto a mergulhar na proposta mais conceitual do diretor com seu estilo mais teatral, criativo e muito inventivo.
Baseado no livro homônimo de Alasdair Grey e referenciando o clássico "Frankenstein", a história se passa em uma atmosfera vitoriana atemporal e acompanha Bella Baxter (Emma Stone), trazida de volta à vida após se jogar de uma ponte. O experimento realizado pelo doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cientista brilhante, porém nada ortodoxo, é um sucesso, no entanto Bella, querendo conhecer mais do mundo, foge com um advogado e graças a maturidade que vai adquirindo passa exigir igualdade e liberdade. Confira o trailer:
Todos sabemos que o grego Yorgos Lanthimos é conhecido por seu estilo peculiar, que combina o humor negro com temas mais sérios em uma abordagem quase sempre perturbadora. Pois bem, aqui ele utiliza da sua assinatura como cineasta para recriar, com muita simbologia e sensibilidade, o cabo de guerra intenso entre o desejo e a razão - claro, com aquele toque de monstruosidade que tende a penalizar, com a mesma força, mas de modos distintos, os homens e as mulheres. Reparem como, em cinco "capítulos", o desenvolvimento da mente de Bella vai se transformando e a experiência de conhecer o mundo (e sair daquilo que a limitava) faz com que ela se aproxime cada vez mais do seu corpo amadurecido. É lindo de perceber esses detalhes a partir de planos simétricos e lentes completamente anguladas, criando uma atmosfera surreal e desconcertante, perfeita para os diálogos secos e sarcásticos do roteiro de Tony McNamara (duas vezes indicado ao Oscar) que coloca frente a frente modos tão diferentes de pensar e agir.
Obviamente que o elenco de "Pobres Criaturas" é a cereja do bolo dessa overdose visual de cor e estilo. Impecável em todas as camadas, eu diria que esse é o melhor trabalho (até aqui) da atriz Emma Stone - ela é capaz de entregar uma performance multifacetada e complexa, mesmo mergulhada no esteriótipo que vai se desconstruindo de acordo com o seu ganho de maturidade. Stone captura perfeitamente a confusão, a frustração e a resiliência de Bella perante suas descobertas, em todas as suas fases. Willem Dafoe, meu Deus, também está excelente como o Dr. Baxter - um personagem excêntrico e enigmático, sempre com aquele toque de sadismo tão sutil e ao mesmo tempo tão potente. Outro que merece destaque, claro, é Mark Ruffalo - simplesmente impecável, mais uma vez!
"Pobres Criaturas" é um filme que não se encaixa em nenhuma dessas prateleiras mais tradicionais do cinema atual. Ele é uma comédia, um drama e um filme de terror clássico, tudo ao mesmo tempo - uma mistura de "A Tragédia de Macbeth" com "A Invenção de Hugo Cabret" e aquele toque final de "Irma Vep" ou de "Hereditário". Veja, Lanthimos não tem, e nunca terá, medo de abordar temas ou tabus e ainda assim desafiar as expectativas da audiência com textos e cenas de fato impactantes, então esteja preparado para se chocar. Para aqueles mais tradicionais, sugiro passar longe dessa recomendação. Já para aqueles que vão se aventurar nesse mundo estranho e fascinante do diretor, muito possivelmente, serão recompensados com uma obra de arte singular e memorável.
Vale muito o seu play!
Up-date: "Pobres Criaturas" ganhou em quatro categorias no Oscar 2024, inclusive de Melhor Atriz!
"Proibido por Deus" é muito bom! Esse documentário produzido pela Hulu (e que aqui no Brasil você encontra no Star+) acompanha mais uma história "cabeluda" que expõe aquela receita explosiva que tem tudo para dar errado: politica, religião, sexo e poder, com um certo toque especial de hipocrisia que a sociedade americana adora fingir que não existe. Mesmo que inicialmente nossa percepção seja baseada em uma única perspectiva sobre o escândalo que derrubou Jerry Fallwell Jr., filho de um dos mais influentes pastores evangélicos do país, diretor da Liberty University e um dos mais importantes apoiadores de Donald Trump durante a campanha que o levou à presidência dos EUA, o filme dirigido pelo premiado Billy Corben (de "Cocaine Cowboys: The Kings of Miami") se esforça para equilibrar inúmeros fatos relevantes sobre o caso com um recorte de como a comunidade evangélica e o culto à personalidade podem, de fato, decidir uma eleição presidencial.
"God Forbid: The Sex Scandal that Brought Down a Dynasty" (no original) nos apresenta Giancarlo Granda, um ex-funcionário do badalado Fontainebleau Hotel em Miami Beach, que compartilha detalhes íntimos sobre seu relacionamento de 7 anos com uma mulher 20 anos mais velha, Becki Falwell, e seu influente marido, Jerry Falwell Jr. Confira o trailer (em inglês):
Com uma pegada que mistura "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" (da Netflix) com "The Vow" (da HBO), "Proibido por Deus" é muito mais do que um olhar ingênuo sobre fantasias e desejos como pode parecer em seu primeiro ato, já que o roteiro não se limita em contar apenas as aventuras sexuais de um complicado e sórdido relacionamento de Granda com o casal de evangélicos, mas em uma camada mais profunda, ele discute a enorme influência que a rica cúpula evangélica americana tem sobre a política dos Estados Unidos e sobre a perigosa ascensão do ultra-nacionalismo cristão. Veja, é muito interessante como Corben vai contextualizando os acontecimentos envolvendo Granda e os Fallwell, e criando pontos de conexão com uma herança histórica, social e politica vergonhosa.
Através de uma narrativa extremamente envolvente e dinâmica que mostra, aí sim, os reflexos da falta de maturidade de um jovem ambicioso, o filme acaba provocando discussões significativas ao levantar questões importantes sobre as lideranças religiosas, sobre os valores mais conservadores, sobre a ética pessoal e, principalmente, sobre moralidade - talvez por isso, esse caso tenha ganhado uma repercussão tão importante ao mostrar a capacidade que os escândalos tem em influenciar a percepção pública e a reputação dos envolvidos em tempos de redes sociais, mesmo que isso vá mudando enquanto as verdades vão aparecendo.
Se apropriando de um tom de denúncia, "Proibido por Deus" funciona muito bem como entretenimento, no entanto não deixa de tocar em pontos sensíveis à condição humana que nos tiram de uma zona de conforto como audiência, e, claro, nos convida ao julgamento - esse conceito funciona tão bem que nem vemos o tempo passar, mesmo quando a história parece não caminhar para uma conclusão. Dito isso, tenho certeza que vale pela diversão então fica impossível não recomendar o play!
"Proibido por Deus" é muito bom! Esse documentário produzido pela Hulu (e que aqui no Brasil você encontra no Star+) acompanha mais uma história "cabeluda" que expõe aquela receita explosiva que tem tudo para dar errado: politica, religião, sexo e poder, com um certo toque especial de hipocrisia que a sociedade americana adora fingir que não existe. Mesmo que inicialmente nossa percepção seja baseada em uma única perspectiva sobre o escândalo que derrubou Jerry Fallwell Jr., filho de um dos mais influentes pastores evangélicos do país, diretor da Liberty University e um dos mais importantes apoiadores de Donald Trump durante a campanha que o levou à presidência dos EUA, o filme dirigido pelo premiado Billy Corben (de "Cocaine Cowboys: The Kings of Miami") se esforça para equilibrar inúmeros fatos relevantes sobre o caso com um recorte de como a comunidade evangélica e o culto à personalidade podem, de fato, decidir uma eleição presidencial.
"God Forbid: The Sex Scandal that Brought Down a Dynasty" (no original) nos apresenta Giancarlo Granda, um ex-funcionário do badalado Fontainebleau Hotel em Miami Beach, que compartilha detalhes íntimos sobre seu relacionamento de 7 anos com uma mulher 20 anos mais velha, Becki Falwell, e seu influente marido, Jerry Falwell Jr. Confira o trailer (em inglês):
Com uma pegada que mistura "Jeffrey Epstein: Poder e Perversão" (da Netflix) com "The Vow" (da HBO), "Proibido por Deus" é muito mais do que um olhar ingênuo sobre fantasias e desejos como pode parecer em seu primeiro ato, já que o roteiro não se limita em contar apenas as aventuras sexuais de um complicado e sórdido relacionamento de Granda com o casal de evangélicos, mas em uma camada mais profunda, ele discute a enorme influência que a rica cúpula evangélica americana tem sobre a política dos Estados Unidos e sobre a perigosa ascensão do ultra-nacionalismo cristão. Veja, é muito interessante como Corben vai contextualizando os acontecimentos envolvendo Granda e os Fallwell, e criando pontos de conexão com uma herança histórica, social e politica vergonhosa.
Através de uma narrativa extremamente envolvente e dinâmica que mostra, aí sim, os reflexos da falta de maturidade de um jovem ambicioso, o filme acaba provocando discussões significativas ao levantar questões importantes sobre as lideranças religiosas, sobre os valores mais conservadores, sobre a ética pessoal e, principalmente, sobre moralidade - talvez por isso, esse caso tenha ganhado uma repercussão tão importante ao mostrar a capacidade que os escândalos tem em influenciar a percepção pública e a reputação dos envolvidos em tempos de redes sociais, mesmo que isso vá mudando enquanto as verdades vão aparecendo.
Se apropriando de um tom de denúncia, "Proibido por Deus" funciona muito bem como entretenimento, no entanto não deixa de tocar em pontos sensíveis à condição humana que nos tiram de uma zona de conforto como audiência, e, claro, nos convida ao julgamento - esse conceito funciona tão bem que nem vemos o tempo passar, mesmo quando a história parece não caminhar para uma conclusão. Dito isso, tenho certeza que vale pela diversão então fica impossível não recomendar o play!
Poucas vezes você vai assistir um filme com tanta personalidade como "Réquiem para um Sonho", do incrível Darren Aronofsky (o diretor de "Mãe!"). Lançado em 2000, este filme muito impactante é capaz de nos levar para uma verdadeira montanha-russa emocional, basicamente explorando a relação de 4 personagens com as drogas e os reflexos devastadores do vício, pela perspectiva da ambição desenfreada e da busca incessante pela felicidade.
"Réquiem para um Sonho" segue quatro personagens: Harry (Jared Leto), Marion (Jennifer Connelly), Tyrone (Marlon Wayans) e Sara (Ellen Burstyn), cujas vidas são marcadas por aspirações e sonhos aparentemente inatingíveis. O filme habilmente entrelaça suas histórias enquanto eles se perdem em um labirinto de vícios, seja por drogas, amor ou fama. A narrativa cruamente realista evita o romantismo e mergulha nas profundezas sombrias das consequências dessas escolhas, resultando em um retrato visceral da fragilidade humana. Confira o trailer (em inglês):
Sem a menor dúvida que um dos pontos mais altos do filme está na direção - Aronofsky demonstra sua maestria ao utilizar uma variedade de técnicas visuais e estímulos sonoros que intensificam a nossa experiência de uma forma absurda, ao mesmo tempo em que cria uma atmosfera perturbadora para a narrativa. A montagem do Jay Rabinowitz (de "Oslo") é frenética, os cortes são rápidos e o alinhamento com a trilha sonora de Clint Mansell trabalham com tanta sinergia que acabam criando um ritmo muito particular, alucinante, eu diria; potencializando ainda mais a crescente ansiedade dos personagens. Reparem como a escolha dos enquadramentos e do uso de câmeras subjetivas são cirúrgicos, contribuindo para uma imersão profunda pela intimidade dos protagonistas, nos tornando uma espécie de cúmplice de suas tragédias.
O elenco é um show a parte, entregando performances que ecoam a angústia da narrativa de maneira poderosa. Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans e especialmente Ellen Burstyn (indicada ao Oscar pelo papel) transmitem a dor, a esperança e a desolação de seus personagens de maneira crua e autêntica. É o compromisso dessas atuações que nos permite a conexão emocional em uma espiral descendente, entendendo suas lutas e percebendo como elas são devastadoras.
"Réquiem para um Sonho", de fato, não é um filme fácil de assistir. Sua exploração sem concessões da realidade brutal do vício (e de seus reflexos) pode ser perturbador para muita gente - então cuidado. No entanto, é justamente por esse impacto emocional que o filme se torna tão memorável. Ao melhor estilo Aronofsky, o filme não apenas levanta questões sobre as escolhas individuais, mas também sobre a natureza da esperança e da busca pela felicidade em um mundo muitas vezes indiferente e implacável. Sua abordagem corajosa ao tratar de temas complexos e desconfortáveis torna a jornada um ponto de referência na exploração cinematográfica das sombras da psique humana.
Em um filme que transcende as barreiras do entretenimento tradicional, que exige reflexão e empatia, não existe a menor chance de não recomendar o play já com o status de "obra-prima"!
Poucas vezes você vai assistir um filme com tanta personalidade como "Réquiem para um Sonho", do incrível Darren Aronofsky (o diretor de "Mãe!"). Lançado em 2000, este filme muito impactante é capaz de nos levar para uma verdadeira montanha-russa emocional, basicamente explorando a relação de 4 personagens com as drogas e os reflexos devastadores do vício, pela perspectiva da ambição desenfreada e da busca incessante pela felicidade.
"Réquiem para um Sonho" segue quatro personagens: Harry (Jared Leto), Marion (Jennifer Connelly), Tyrone (Marlon Wayans) e Sara (Ellen Burstyn), cujas vidas são marcadas por aspirações e sonhos aparentemente inatingíveis. O filme habilmente entrelaça suas histórias enquanto eles se perdem em um labirinto de vícios, seja por drogas, amor ou fama. A narrativa cruamente realista evita o romantismo e mergulha nas profundezas sombrias das consequências dessas escolhas, resultando em um retrato visceral da fragilidade humana. Confira o trailer (em inglês):
Sem a menor dúvida que um dos pontos mais altos do filme está na direção - Aronofsky demonstra sua maestria ao utilizar uma variedade de técnicas visuais e estímulos sonoros que intensificam a nossa experiência de uma forma absurda, ao mesmo tempo em que cria uma atmosfera perturbadora para a narrativa. A montagem do Jay Rabinowitz (de "Oslo") é frenética, os cortes são rápidos e o alinhamento com a trilha sonora de Clint Mansell trabalham com tanta sinergia que acabam criando um ritmo muito particular, alucinante, eu diria; potencializando ainda mais a crescente ansiedade dos personagens. Reparem como a escolha dos enquadramentos e do uso de câmeras subjetivas são cirúrgicos, contribuindo para uma imersão profunda pela intimidade dos protagonistas, nos tornando uma espécie de cúmplice de suas tragédias.
O elenco é um show a parte, entregando performances que ecoam a angústia da narrativa de maneira poderosa. Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans e especialmente Ellen Burstyn (indicada ao Oscar pelo papel) transmitem a dor, a esperança e a desolação de seus personagens de maneira crua e autêntica. É o compromisso dessas atuações que nos permite a conexão emocional em uma espiral descendente, entendendo suas lutas e percebendo como elas são devastadoras.
"Réquiem para um Sonho", de fato, não é um filme fácil de assistir. Sua exploração sem concessões da realidade brutal do vício (e de seus reflexos) pode ser perturbador para muita gente - então cuidado. No entanto, é justamente por esse impacto emocional que o filme se torna tão memorável. Ao melhor estilo Aronofsky, o filme não apenas levanta questões sobre as escolhas individuais, mas também sobre a natureza da esperança e da busca pela felicidade em um mundo muitas vezes indiferente e implacável. Sua abordagem corajosa ao tratar de temas complexos e desconfortáveis torna a jornada um ponto de referência na exploração cinematográfica das sombras da psique humana.
Em um filme que transcende as barreiras do entretenimento tradicional, que exige reflexão e empatia, não existe a menor chance de não recomendar o play já com o status de "obra-prima"!
"Saltburn", novo filme da vencedora do Oscar de Melhor Roteiro por "Bela Vingança", Emerald Fennell, chegou ao streaming recheado de polêmicas - especialmente por algumas cenas que para muitos soaram desnecessárias. E inicio esse review discordando dessa percepção mais superficial sobre as escolhas conceituais de Fennell, já que não há nada mais cinematográfico que usar de imagens para manipular sensações, sejam elas boas ou ruins - e aqui ela queria realmente provocar as ruins! Dito isso, fica claro que "Saltburn", de fato, não será para todos e é compreensível, pois a trama tem esse elemento provocativo bastante autoral, independente e corajoso, que faz todo sentido nessa construção de camadas que vai se aprofundando até chegar no limite dos segredos mais íntimos de um personagem. O filme, indicado ao "Critics Choice Awards" como um dos melhores do ano, tem um mood mais obscuro, uma trama igualmente envolvente e uma dinâmica das mais interessantes e cheia de suspense, como se encontrássemos um ponto de conexão entre "Me Chame Pelo Seu Nome", "Ligações Perigosas" e "O Talentoso Ripley".
Lutando para encontrar seu lugar de pertencimento em Oxford, o bolsista Oliver Quick (Barry Keoghan) é atraído para o mundo de excessos do encantador e aristocrata Felix Catton (Jacob Elordi). Quando Quick é convidado por Felix para passar o verão em Saltburn, a enorme mansão de sua família excêntrica, toda essa relação de dinheiro, paixão e poder ganha outra dimensão em uma história perversa sobre privilégios e desejos ocultos. Confira o trailer:
"Saltburn" transita perfeitamente entre o drama de relações e o thriller psicológico com fortes elementos de erotismo. Ao fazer uma crítica mordaz à alta classe britânica, o roteiro escrito pela própria Fennell, mostra, pouco a pouco, como o dinheiro e o poder podem realmente corromper as pessoas, potencializando o vazio existencial e escancarando a fragilidade de uma forma muito visceral, talvez até insana. O interessante é que o filme sabe exatamente a importância das ligações entre os personagens, criando laços que soam indestrutíveis, mas que ao passar do tempo se mostram tão fugazes ao ponto de nos tomar por uma atmosfera de tensão e angústia constantes - repare como a gente nunca sabe o limite de cada um (especialmente do protagonista).
Claro que a direção Fennell é elegante e precisa, mas é a fotografia do grande Linus Sandgren (vencedor do Oscar por "La La Land") que dá o exato tom daquele universo ostensivo e opressor. Talvez minha única crítica (ou dúvida) sobre o conceito visual do filme seja pela escolha de uma janela 4:3 (mais quadrada) - na minha humilde opinião, o 16:9, com o aspecto mais alongado (retangular), daria uma sensação ainda maior de grandiosidade para as cenas em Saltburn. Por outro lado, e preciso admitir, é justamente essa escolha que captura a beleza e a melancolia da mansão Catton com a mesma competência.
Se a direção, a fotografia e o desenho de produção criam aquela atmosfera claustrofóbica e tentadora para a história acontecer, saiba que é no trabalho do elenco que o filme se sustenta. Barry Keoghan e Jacob Elordi estão ótimos. Keoghan, por sinal, entrega a melhor performance de sua carreira até aqui - madura e cheia de nuances, ele se credencia para uma indicação ao Oscar 2024. Elordi, por sua vez, mostra que é mais do que apenas um rostinho bonito, com uma atuação carismática e enigmática, ele é a força motriz para que Keoghan brilhe. Resumindo, "Saltburn" é um filme de nuances, detalhes, sensibilidade, com personagens fortes que, mesmo complexos na sua essência (o que vai dividir opiniões), vai te proporcionar uma jornada das mais desconfortáveis.
Vale muito o seu play!
"Saltburn", novo filme da vencedora do Oscar de Melhor Roteiro por "Bela Vingança", Emerald Fennell, chegou ao streaming recheado de polêmicas - especialmente por algumas cenas que para muitos soaram desnecessárias. E inicio esse review discordando dessa percepção mais superficial sobre as escolhas conceituais de Fennell, já que não há nada mais cinematográfico que usar de imagens para manipular sensações, sejam elas boas ou ruins - e aqui ela queria realmente provocar as ruins! Dito isso, fica claro que "Saltburn", de fato, não será para todos e é compreensível, pois a trama tem esse elemento provocativo bastante autoral, independente e corajoso, que faz todo sentido nessa construção de camadas que vai se aprofundando até chegar no limite dos segredos mais íntimos de um personagem. O filme, indicado ao "Critics Choice Awards" como um dos melhores do ano, tem um mood mais obscuro, uma trama igualmente envolvente e uma dinâmica das mais interessantes e cheia de suspense, como se encontrássemos um ponto de conexão entre "Me Chame Pelo Seu Nome", "Ligações Perigosas" e "O Talentoso Ripley".
Lutando para encontrar seu lugar de pertencimento em Oxford, o bolsista Oliver Quick (Barry Keoghan) é atraído para o mundo de excessos do encantador e aristocrata Felix Catton (Jacob Elordi). Quando Quick é convidado por Felix para passar o verão em Saltburn, a enorme mansão de sua família excêntrica, toda essa relação de dinheiro, paixão e poder ganha outra dimensão em uma história perversa sobre privilégios e desejos ocultos. Confira o trailer:
"Saltburn" transita perfeitamente entre o drama de relações e o thriller psicológico com fortes elementos de erotismo. Ao fazer uma crítica mordaz à alta classe britânica, o roteiro escrito pela própria Fennell, mostra, pouco a pouco, como o dinheiro e o poder podem realmente corromper as pessoas, potencializando o vazio existencial e escancarando a fragilidade de uma forma muito visceral, talvez até insana. O interessante é que o filme sabe exatamente a importância das ligações entre os personagens, criando laços que soam indestrutíveis, mas que ao passar do tempo se mostram tão fugazes ao ponto de nos tomar por uma atmosfera de tensão e angústia constantes - repare como a gente nunca sabe o limite de cada um (especialmente do protagonista).
Claro que a direção Fennell é elegante e precisa, mas é a fotografia do grande Linus Sandgren (vencedor do Oscar por "La La Land") que dá o exato tom daquele universo ostensivo e opressor. Talvez minha única crítica (ou dúvida) sobre o conceito visual do filme seja pela escolha de uma janela 4:3 (mais quadrada) - na minha humilde opinião, o 16:9, com o aspecto mais alongado (retangular), daria uma sensação ainda maior de grandiosidade para as cenas em Saltburn. Por outro lado, e preciso admitir, é justamente essa escolha que captura a beleza e a melancolia da mansão Catton com a mesma competência.
Se a direção, a fotografia e o desenho de produção criam aquela atmosfera claustrofóbica e tentadora para a história acontecer, saiba que é no trabalho do elenco que o filme se sustenta. Barry Keoghan e Jacob Elordi estão ótimos. Keoghan, por sinal, entrega a melhor performance de sua carreira até aqui - madura e cheia de nuances, ele se credencia para uma indicação ao Oscar 2024. Elordi, por sua vez, mostra que é mais do que apenas um rostinho bonito, com uma atuação carismática e enigmática, ele é a força motriz para que Keoghan brilhe. Resumindo, "Saltburn" é um filme de nuances, detalhes, sensibilidade, com personagens fortes que, mesmo complexos na sua essência (o que vai dividir opiniões), vai te proporcionar uma jornada das mais desconfortáveis.
Vale muito o seu play!
Antes de mais nada, é preciso alinhar as expectativas para que o documentário da Netflix, "Sexo Bilionário", não seja uma experiência menos marcante. Se você está esperando um interessante estudo de caso de como o PornHub se tornou um dos dez sites mais visitados no planeta, transformando todo um mercado e por isso faturando bilhões de dólares em publicidade, esquece - você vai se decepcionar. Não que o filme dirigido pela veterana Suzanne Hillinger (de "American Masters") não faça um rápido recorte dessa timeline de sucesso como negócio, mas o que ela quer mesmo (e por isso fique a vontade em julgar essa escolha), é colocar gasolina na fogueira - o roteiro claramente prefere discutir as polêmicas ao redor do site, do que só conectar os pontos sensíveis de toda jornada e deixar que a audiência tire suas próprias conclusões.
Para quem não conhece, o Pornhub é o mais famoso site de conteúdo adulto da internet. Ele não só revolucionou a maneira como as pessoas consomem pornografia, como mudou drasticamente todo seu mercado. No entanto, ao deixar o seu conteúdo mais acessível aos usuários, a empresa que fatura bilhões por ano, se envolveu em grandes polêmicas e sérias alegações, incluindo tráfico sexual e disseminação de conteúdo não consensual. Em meio a isso tudo, se abre o debate sob a proteção dos profissionais da pornografia, enquanto se tenta eliminar qualquer resquício de imagens proibidas por lei. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que os assuntos levantados no documentário são muito sérios, merecem uma discussão mais profunda e uma reflexão extremamente ampla, principalmente pela forma como esse tipo de conteúdo é destruído na internet e como isso pode impactar na vida de qualquer pessoa que tenha sua privacidade exposta sem sua autorização. Vincular a dor de uma pessoa ao prazer de outra, de fato, não faz o menor sentido. A grande questão é que aqui, o valor dado ao "polêmico" praticamente encobre o que de bom a plataforma tecnológica construiu ao longo dos anos - me refiro aos resultados como negócio e como beneficio no processo de independência de atores e atrizes que disruptou a indústria pornográfica no mundo.
Claro que Hillinger faz um esforço tremendo para mostrar todos os lados da mesma história, porém ela naturalmente acaba levantando uma bandeira que desequilibra a sua narrativa. Ao expor com muita habilidade os problemas das contas não verificadas que postavam vídeos com teor inapropriado (como tráfico sexual, pedofilia e estupros), ela praticamente nos obriga a concordar que o site não trouxe nada de bom para a sociedade - afinal tudo faz sentido em seu discurso. Mesmo quando ela sugere ampliar alguns pontos sobre o tema, trazendo para a conversa quem vive dessa indústria, nós já estamos pré dispostos a nem dar mais ouvidos. Acontece que no final do filme, fica fácil perceber esse tom de manipulação e é por isso que "Money Shot: The Pornhub Story" (no original) pode te fisgar com mais força - abra os olhos (e a mente), pois perceber a complexidade do negócio só vai enriquecer sua experiência.
"Sexo Bilionário" é mais complexo do que parece e certamente vai provocar longas discussões dependendo do prisma que você enxergar a história. Seja a partir de entrevistas interessantes com atrizes do cinema pornô (como Siri Dahl, Asa Akira e Gwen Adora) ou pelos depoimentos de ex-funcionárias que conheciam os bastidores do Pornhub (como Noelle Perdue), é inegável que o tema vai prender sua atenção do início ao fim, te tirar da zona de conforto e, principalmente, te convidar para ótimas reflexões - só não espere uma narrativa 100% isenta.
Vale muito o seu play!
Antes de mais nada, é preciso alinhar as expectativas para que o documentário da Netflix, "Sexo Bilionário", não seja uma experiência menos marcante. Se você está esperando um interessante estudo de caso de como o PornHub se tornou um dos dez sites mais visitados no planeta, transformando todo um mercado e por isso faturando bilhões de dólares em publicidade, esquece - você vai se decepcionar. Não que o filme dirigido pela veterana Suzanne Hillinger (de "American Masters") não faça um rápido recorte dessa timeline de sucesso como negócio, mas o que ela quer mesmo (e por isso fique a vontade em julgar essa escolha), é colocar gasolina na fogueira - o roteiro claramente prefere discutir as polêmicas ao redor do site, do que só conectar os pontos sensíveis de toda jornada e deixar que a audiência tire suas próprias conclusões.
Para quem não conhece, o Pornhub é o mais famoso site de conteúdo adulto da internet. Ele não só revolucionou a maneira como as pessoas consomem pornografia, como mudou drasticamente todo seu mercado. No entanto, ao deixar o seu conteúdo mais acessível aos usuários, a empresa que fatura bilhões por ano, se envolveu em grandes polêmicas e sérias alegações, incluindo tráfico sexual e disseminação de conteúdo não consensual. Em meio a isso tudo, se abre o debate sob a proteção dos profissionais da pornografia, enquanto se tenta eliminar qualquer resquício de imagens proibidas por lei. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que os assuntos levantados no documentário são muito sérios, merecem uma discussão mais profunda e uma reflexão extremamente ampla, principalmente pela forma como esse tipo de conteúdo é destruído na internet e como isso pode impactar na vida de qualquer pessoa que tenha sua privacidade exposta sem sua autorização. Vincular a dor de uma pessoa ao prazer de outra, de fato, não faz o menor sentido. A grande questão é que aqui, o valor dado ao "polêmico" praticamente encobre o que de bom a plataforma tecnológica construiu ao longo dos anos - me refiro aos resultados como negócio e como beneficio no processo de independência de atores e atrizes que disruptou a indústria pornográfica no mundo.
Claro que Hillinger faz um esforço tremendo para mostrar todos os lados da mesma história, porém ela naturalmente acaba levantando uma bandeira que desequilibra a sua narrativa. Ao expor com muita habilidade os problemas das contas não verificadas que postavam vídeos com teor inapropriado (como tráfico sexual, pedofilia e estupros), ela praticamente nos obriga a concordar que o site não trouxe nada de bom para a sociedade - afinal tudo faz sentido em seu discurso. Mesmo quando ela sugere ampliar alguns pontos sobre o tema, trazendo para a conversa quem vive dessa indústria, nós já estamos pré dispostos a nem dar mais ouvidos. Acontece que no final do filme, fica fácil perceber esse tom de manipulação e é por isso que "Money Shot: The Pornhub Story" (no original) pode te fisgar com mais força - abra os olhos (e a mente), pois perceber a complexidade do negócio só vai enriquecer sua experiência.
"Sexo Bilionário" é mais complexo do que parece e certamente vai provocar longas discussões dependendo do prisma que você enxergar a história. Seja a partir de entrevistas interessantes com atrizes do cinema pornô (como Siri Dahl, Asa Akira e Gwen Adora) ou pelos depoimentos de ex-funcionárias que conheciam os bastidores do Pornhub (como Noelle Perdue), é inegável que o tema vai prender sua atenção do início ao fim, te tirar da zona de conforto e, principalmente, te convidar para ótimas reflexões - só não espere uma narrativa 100% isenta.
Vale muito o seu play!
"Shame" é um filme para adultos em sua forma e em seu conteúdo - complexo e provocador, eu completaria! Dirigido pelo excelente Steve McQueen (vencedor do Oscar por "12 Anos de Escravidão"), o filme, de fato, desafia a audiência ao lidar com o desconforto iminente ao explorar a vulnerabilidade em sua perspectiva mais crua e sincera. A narrativa proposta pelo diretor não se destaca só pelo tema corajoso, mas também pela excelência técnica e pela força das atuações do seu elenco - é impressionante como uma história, digamos, cotidiana, se transforma em uma jornada emocional marcante e avassaladora, e sempre palpável! McQueen, conhecido por seu olhar clínico sobre temas mais sensíveis, nos oferece uma exploração brutalmente honesta sobre o vício e sobre a alienação de uma maneira única, deixando para nós o ônus da reflexão sem pedir muita licença. "Shame" teve uma carreira primorosa nos festivais e premiações de 2011 e 2012, acumulando cerca de
Na trama acompanhamos Brandon (Michael Fassbender), um executivo de sucesso em Nova York, cujo vício em sexo consome sua vida de forma crescente. Quando sua irmã Sissy (Carey Mulligan) aparece de surpresa, sua existência meticulosamente controlada é lançada em um caos, forçando-o a confrontar as consequências de seu comportamento e a natureza de sua compulsão. Confira o trailer:
Depois de assistir o trailer de "Shame" fica complicado começar uma análise sem citar a fotografia de Sean Bobbitt (de "Judas e o Messias Negro"). Pilar fundamental do filme, encapsulando a fria e austera beleza de Nova York em tons metálicos e azuis gélidos. Bobbitt utiliza longos planos-sequência e uma câmera frequentemente estática para observar os personagens com uma impassível precisão que não raramente nos tira o equilíbrio. Essas escolhas não são meramente estéticas; elas servem para amplificar a sensação de isolamento e monotonia que permeiam a vida do protagonista. Repare a forma como a cidade é filmada - ela reflete a própria existência de Brandon: uma espécie de fachada brilhante que esconde uma profunda solidão e um desespero capaz de consumir todos que se relacionam com ele.
É aqui que entra Michael Fassbender - o ator entrega uma atuação visceral, ao mesmo tempo fascinante e perturbadora. Ele incorpora Brandon com uma intensidade que transcende o seu drama, tornando sua luta interna desconfortavelmente real - chega a ser um absurdo ele não ter sido indicado ao Oscar de 2012 (ano em que Jean Dujardin ganhou com "O Artista"). Carey Mulligan, por outro lado, apresenta uma Sissy que é tanto uma vulnerável vítima quanto uma força caótica, adicionando camadas ao conflito central que movem a história para um patamar angustiante. A direção de Steve McQueen é implacável em sua honestidade nesse sentido. Ele se recusa a suavizar os cantos afiados da história ou a oferecer resoluções fáceis - cada cena é construída com uma precisão meticulosa, o que torna a experiência da audiência um tanto desafiadora. Calma, você vai entender o que estou dizendo assim que der o play.
O roteiro de "Shame" é carregado de significado. Existe uma certa economia de diálogos que serve para sublinhar a comunicação truncada entre os personagens e o vazio emocional que Brandon tenta preencher com sexo. Dito isso, já dá para se ter uma ideia do que esperar, mas não se engane, o filme exige uma introspecção profunda, ele desafia nossa percepção sobre a linha tênue entre a intimidade e a compulsão, e oferece um retrato inabalável da luta interna de um homem à beira do colapso. Esteja preparado para uma jornada que pode ser tão incômoda quanto reveladora, uma verdadeira imersão na complexidade da condição humana que vale muito o seu play!
"Shame" é um filme para adultos em sua forma e em seu conteúdo - complexo e provocador, eu completaria! Dirigido pelo excelente Steve McQueen (vencedor do Oscar por "12 Anos de Escravidão"), o filme, de fato, desafia a audiência ao lidar com o desconforto iminente ao explorar a vulnerabilidade em sua perspectiva mais crua e sincera. A narrativa proposta pelo diretor não se destaca só pelo tema corajoso, mas também pela excelência técnica e pela força das atuações do seu elenco - é impressionante como uma história, digamos, cotidiana, se transforma em uma jornada emocional marcante e avassaladora, e sempre palpável! McQueen, conhecido por seu olhar clínico sobre temas mais sensíveis, nos oferece uma exploração brutalmente honesta sobre o vício e sobre a alienação de uma maneira única, deixando para nós o ônus da reflexão sem pedir muita licença. "Shame" teve uma carreira primorosa nos festivais e premiações de 2011 e 2012, acumulando cerca de
Na trama acompanhamos Brandon (Michael Fassbender), um executivo de sucesso em Nova York, cujo vício em sexo consome sua vida de forma crescente. Quando sua irmã Sissy (Carey Mulligan) aparece de surpresa, sua existência meticulosamente controlada é lançada em um caos, forçando-o a confrontar as consequências de seu comportamento e a natureza de sua compulsão. Confira o trailer:
Depois de assistir o trailer de "Shame" fica complicado começar uma análise sem citar a fotografia de Sean Bobbitt (de "Judas e o Messias Negro"). Pilar fundamental do filme, encapsulando a fria e austera beleza de Nova York em tons metálicos e azuis gélidos. Bobbitt utiliza longos planos-sequência e uma câmera frequentemente estática para observar os personagens com uma impassível precisão que não raramente nos tira o equilíbrio. Essas escolhas não são meramente estéticas; elas servem para amplificar a sensação de isolamento e monotonia que permeiam a vida do protagonista. Repare a forma como a cidade é filmada - ela reflete a própria existência de Brandon: uma espécie de fachada brilhante que esconde uma profunda solidão e um desespero capaz de consumir todos que se relacionam com ele.
É aqui que entra Michael Fassbender - o ator entrega uma atuação visceral, ao mesmo tempo fascinante e perturbadora. Ele incorpora Brandon com uma intensidade que transcende o seu drama, tornando sua luta interna desconfortavelmente real - chega a ser um absurdo ele não ter sido indicado ao Oscar de 2012 (ano em que Jean Dujardin ganhou com "O Artista"). Carey Mulligan, por outro lado, apresenta uma Sissy que é tanto uma vulnerável vítima quanto uma força caótica, adicionando camadas ao conflito central que movem a história para um patamar angustiante. A direção de Steve McQueen é implacável em sua honestidade nesse sentido. Ele se recusa a suavizar os cantos afiados da história ou a oferecer resoluções fáceis - cada cena é construída com uma precisão meticulosa, o que torna a experiência da audiência um tanto desafiadora. Calma, você vai entender o que estou dizendo assim que der o play.
O roteiro de "Shame" é carregado de significado. Existe uma certa economia de diálogos que serve para sublinhar a comunicação truncada entre os personagens e o vazio emocional que Brandon tenta preencher com sexo. Dito isso, já dá para se ter uma ideia do que esperar, mas não se engane, o filme exige uma introspecção profunda, ele desafia nossa percepção sobre a linha tênue entre a intimidade e a compulsão, e oferece um retrato inabalável da luta interna de um homem à beira do colapso. Esteja preparado para uma jornada que pode ser tão incômoda quanto reveladora, uma verdadeira imersão na complexidade da condição humana que vale muito o seu play!
Se você procura uma narrativa convencional, mesmo gostando de filmes independentes, "Synonymes" não é para você!
O filme chega ao streaming com a chancela de ter vencido um dos festivais mais importantes e respeitados do mundo, o Festival de Berlin. Porém, se limitar em posicionar a obra como a escolha certa apenas pelo prêmio recebido chega a ser ingenuidade, já que seu caráter independente vem acompanhado de uma proposta bastante provocadora e, em muitas cenas, chocante. Assistir "Synonymes" não será uma jornada tranquila para quem não se adapta a uma linguagem mais conceitual, anos luz do cinema comercial, mas, por outro lado, é impossível não atestar que essa produção francesa realmente consegue alcançar todos os seus objetivos - desde que você se proponha chegar ao final!
Yoav (Tom Mercier), um jovem israelense, chega a Paris esperando que a França e os franceses o salvem da loucura de seu país. Determinado a extinguir suas origens e se tornar francês, ele abandona a língua hebraica e se esforça de todas as maneiras para encontrar uma nova identidade. No entanto, ele percebe que o extremismo religioso e a violência política ocorrem igualmente no país europeu, sendo praticados tanto pelos locais quanto por seus conterrâneos em solo francês. Confira o trailer:
O mais interessante de "Synonymes" é a sensação de solidão que o filme nos provoca - na verdade, "provocação" talvez não seja a palavra correta para definir esse sentimento e isso fica muito claro já na primeira sequência do filme. O diretor israelense Nadav Lapid eleva a máxima potência a percepção de incômodo perante o novo, a quebra de expectativa e a submissão que nossas escolhas nos cobram para não assumirmos uma dura realidade que é o dia a dia longe de casa, completamente fora da nossa zona de conforto - quem teve a oportunidade de morar em outro país, certamente, vai se conectar com esses pontos, mesmo que em diferentes níveis. O fato é que o conceito de incômodo está em toda narrativa e ele nos atinge com muita força graças ao total alinhamento com o conceito visual da obra.
Existe uma certa liberdade narrativa e estética que remete à Nouvelle Vague (movimento artístico do cinema francês que se insere no período contestatório dos anos sessenta), isso é inegável. A fotografia do premiado diretor Shai Goldman enquadra uma Paris cheia de contrastes, com uma câmera nervosa, criando uma estética turbulenta, pontuando perfeitamente a confusão Yoav. Mesmo quando ele se junta com Émile (Quentin Dolmaire) e Caroline (Louise Chevillotte), e aí temos uma câmera mais fixa, para discutir o amor, o futuro, a música e até as experiências literárias de cada um, o filme nos passa uma clara impressão de que, mesmo cultos, pedantes e livres em sua sexualidade, os personagens estão presos em uma condição burguesa completamente oposta. Se Yoav ostenta um orgulho de querer ser francês, seus amigos franceses sequer possuem essa pretensão. Reparem na cena do hino nacional, quando Yoav "percebe" que o orgulho francês está igualmente baseado na quantidade de sangue derramado em sua história - tudo naturalmente impresso na letra da Marselhesa.
"Synonymes" é um filme cheio de símbolos: do amigo compatriota que só quer arranjar confusão e fomenta o racismo estrutural na França ao "bico" de ator pornô fantasiado de trabalho de modelo no berço da industria da moda. E olha, eu nem vou me atrever a dizer que o filme vai dividir opiniões, pois ele será completamente indigesto para qualquer pessoa que insista em descobrir o cinema independente por "Synonyms" - não aconselho!
O vencedor de Urso de Ouro de 2019 é para poucos - ele faz "The Square"parecer um episódio da Galinha Pintadinha (se é que você me entende)!
Se você procura uma narrativa convencional, mesmo gostando de filmes independentes, "Synonymes" não é para você!
O filme chega ao streaming com a chancela de ter vencido um dos festivais mais importantes e respeitados do mundo, o Festival de Berlin. Porém, se limitar em posicionar a obra como a escolha certa apenas pelo prêmio recebido chega a ser ingenuidade, já que seu caráter independente vem acompanhado de uma proposta bastante provocadora e, em muitas cenas, chocante. Assistir "Synonymes" não será uma jornada tranquila para quem não se adapta a uma linguagem mais conceitual, anos luz do cinema comercial, mas, por outro lado, é impossível não atestar que essa produção francesa realmente consegue alcançar todos os seus objetivos - desde que você se proponha chegar ao final!
Yoav (Tom Mercier), um jovem israelense, chega a Paris esperando que a França e os franceses o salvem da loucura de seu país. Determinado a extinguir suas origens e se tornar francês, ele abandona a língua hebraica e se esforça de todas as maneiras para encontrar uma nova identidade. No entanto, ele percebe que o extremismo religioso e a violência política ocorrem igualmente no país europeu, sendo praticados tanto pelos locais quanto por seus conterrâneos em solo francês. Confira o trailer:
O mais interessante de "Synonymes" é a sensação de solidão que o filme nos provoca - na verdade, "provocação" talvez não seja a palavra correta para definir esse sentimento e isso fica muito claro já na primeira sequência do filme. O diretor israelense Nadav Lapid eleva a máxima potência a percepção de incômodo perante o novo, a quebra de expectativa e a submissão que nossas escolhas nos cobram para não assumirmos uma dura realidade que é o dia a dia longe de casa, completamente fora da nossa zona de conforto - quem teve a oportunidade de morar em outro país, certamente, vai se conectar com esses pontos, mesmo que em diferentes níveis. O fato é que o conceito de incômodo está em toda narrativa e ele nos atinge com muita força graças ao total alinhamento com o conceito visual da obra.
Existe uma certa liberdade narrativa e estética que remete à Nouvelle Vague (movimento artístico do cinema francês que se insere no período contestatório dos anos sessenta), isso é inegável. A fotografia do premiado diretor Shai Goldman enquadra uma Paris cheia de contrastes, com uma câmera nervosa, criando uma estética turbulenta, pontuando perfeitamente a confusão Yoav. Mesmo quando ele se junta com Émile (Quentin Dolmaire) e Caroline (Louise Chevillotte), e aí temos uma câmera mais fixa, para discutir o amor, o futuro, a música e até as experiências literárias de cada um, o filme nos passa uma clara impressão de que, mesmo cultos, pedantes e livres em sua sexualidade, os personagens estão presos em uma condição burguesa completamente oposta. Se Yoav ostenta um orgulho de querer ser francês, seus amigos franceses sequer possuem essa pretensão. Reparem na cena do hino nacional, quando Yoav "percebe" que o orgulho francês está igualmente baseado na quantidade de sangue derramado em sua história - tudo naturalmente impresso na letra da Marselhesa.
"Synonymes" é um filme cheio de símbolos: do amigo compatriota que só quer arranjar confusão e fomenta o racismo estrutural na França ao "bico" de ator pornô fantasiado de trabalho de modelo no berço da industria da moda. E olha, eu nem vou me atrever a dizer que o filme vai dividir opiniões, pois ele será completamente indigesto para qualquer pessoa que insista em descobrir o cinema independente por "Synonyms" - não aconselho!
O vencedor de Urso de Ouro de 2019 é para poucos - ele faz "The Square"parecer um episódio da Galinha Pintadinha (se é que você me entende)!
Independente das discussões (e serão muitas) sobre Juízo de Valor, eu diria que a minissérie documental do Hulu, "The Ashley Madison Affair", é imperdível. A partir de um roteiro extremamente dinâmico, temos acesso aos bastidores do controverso site de relacionamentos para pessoas casadas, o Ashley Madison, e tudo que envolveu os vazamentos de dados de milhões de usuários em 2005. O filme, dirigido com maestria pela competente Johanna Hamilton (de "Bad Boys e Bilionários: Índia"), não apenas apresenta os escândalos de adultérios que chocaram o mundo, mas também oferece uma visão crítica e envolvente sobre a interseção entre negócio, tecnologia e intimidade. Elogiado pela profundidade de sua abordagem e pela coragem ao discutir verdades incômodas, aqui temos uma obra que transcende a mera exposição de fatos para explorar as complexidades morais e sociais que envolvem a privacidade online, mesmo para quem trai.
"The Ashley Madison Affair" nos conduz por uma jornada fascinante pelos meandros do site conhecido por facilitar encontros extraconjugais. O documentário revela a ascensão e queda do império digital comandado pelo então CEO da companhia, Noel Biderman. Por meio de entrevistas exclusivas com funcionários da empresa, jornalistas e investigadores, além de um rico material de arquivo e encenações de muito bom gosto, a minissérie discute as consequências devastadoras para relacionamentos e reputações depois do vazamento de dados que impactou, além da empresa, milhões de pessoas. Confira o trailer (em inglês):
Vale tudo para fazer um negócio se tornar um enorme sucesso financeiro, mesmo com um produto teoricamente imoral, se existirem milhões de pessoas dispostas a pagar por ele? Talvez tenha partido desse questionamento a construção narrativa que Hamilton brilhantemente explora em três episódios. Em nenhum momento você vai ficar confortável com o que está assistindo, ao mesmo tempo, olhando pela perspectiva do negócio, sua análise ficará ainda mais confusa, pois mesmo que tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo faz um grande sentido, do conceito ao produto em si, curiosamente ficamos em dúvida se realmente vale a pena embarcar na jornada.
Ao adentrar os meandros da história, "The Ashley Madison Affair" não se contenta em ser um mero relato sobre eventos polêmicos envolvendo os usuários de um site que estimula o adultério. Muito pelo contrário, a diretora quer mesmo provocar, para só depois expor as motivações por trás do negócio, dando voz para a figura de Noel Biderman que revela uma complexidade humana que transcende os julgamentos mais simplistas - chega ser impressionante como ele se expõe ao mesmo tempo em fazia muita coisa errada nos bastidores da empresa. Veja, o roteiro destaca essa interconexão entre o sucesso do site e os desejos de seus usuários frequentes, dando certo holofote para um mal que acompanha a sociedade americana desde sempre: a hipocrisia.
Na linha de "Sexo Bilionário", o que eleva "The Ashley Madison Affair" é sua capacidade de fundir uma história polêmica com uma qualidade técnica e artística de produção de uma maneira bastante harmoniosa - os depoimentos de usuários na voz de atores e atrizes dão o exato tom do que significa essa exploração intensa sobre os limites da privacidade em um mundo cada vez mais conectado. A fotografia também cria uma atmosfera de sedução que intensifica as emoções, guiando a audiência por esse labirinto de escândalos e fantasia, de fato, envolvente.A pesquisa meticulosa é evidente em cada cena, revelando nuances que escapariam a narrativas superficiais - e isso é um golaço. A edição dinâmica mantém um ritmo que prende a nossa atenção, transformando informações densas em uma experiência cativante que certamente vai te fazer refletir, independente do olhar que você tenha sobre o site ou sobre o caso (e aqui sem trocadilhos)!
Vale muito o seu play!
Independente das discussões (e serão muitas) sobre Juízo de Valor, eu diria que a minissérie documental do Hulu, "The Ashley Madison Affair", é imperdível. A partir de um roteiro extremamente dinâmico, temos acesso aos bastidores do controverso site de relacionamentos para pessoas casadas, o Ashley Madison, e tudo que envolveu os vazamentos de dados de milhões de usuários em 2005. O filme, dirigido com maestria pela competente Johanna Hamilton (de "Bad Boys e Bilionários: Índia"), não apenas apresenta os escândalos de adultérios que chocaram o mundo, mas também oferece uma visão crítica e envolvente sobre a interseção entre negócio, tecnologia e intimidade. Elogiado pela profundidade de sua abordagem e pela coragem ao discutir verdades incômodas, aqui temos uma obra que transcende a mera exposição de fatos para explorar as complexidades morais e sociais que envolvem a privacidade online, mesmo para quem trai.
"The Ashley Madison Affair" nos conduz por uma jornada fascinante pelos meandros do site conhecido por facilitar encontros extraconjugais. O documentário revela a ascensão e queda do império digital comandado pelo então CEO da companhia, Noel Biderman. Por meio de entrevistas exclusivas com funcionários da empresa, jornalistas e investigadores, além de um rico material de arquivo e encenações de muito bom gosto, a minissérie discute as consequências devastadoras para relacionamentos e reputações depois do vazamento de dados que impactou, além da empresa, milhões de pessoas. Confira o trailer (em inglês):
Vale tudo para fazer um negócio se tornar um enorme sucesso financeiro, mesmo com um produto teoricamente imoral, se existirem milhões de pessoas dispostas a pagar por ele? Talvez tenha partido desse questionamento a construção narrativa que Hamilton brilhantemente explora em três episódios. Em nenhum momento você vai ficar confortável com o que está assistindo, ao mesmo tempo, olhando pela perspectiva do negócio, sua análise ficará ainda mais confusa, pois mesmo que tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo faz um grande sentido, do conceito ao produto em si, curiosamente ficamos em dúvida se realmente vale a pena embarcar na jornada.
Ao adentrar os meandros da história, "The Ashley Madison Affair" não se contenta em ser um mero relato sobre eventos polêmicos envolvendo os usuários de um site que estimula o adultério. Muito pelo contrário, a diretora quer mesmo provocar, para só depois expor as motivações por trás do negócio, dando voz para a figura de Noel Biderman que revela uma complexidade humana que transcende os julgamentos mais simplistas - chega ser impressionante como ele se expõe ao mesmo tempo em fazia muita coisa errada nos bastidores da empresa. Veja, o roteiro destaca essa interconexão entre o sucesso do site e os desejos de seus usuários frequentes, dando certo holofote para um mal que acompanha a sociedade americana desde sempre: a hipocrisia.
Na linha de "Sexo Bilionário", o que eleva "The Ashley Madison Affair" é sua capacidade de fundir uma história polêmica com uma qualidade técnica e artística de produção de uma maneira bastante harmoniosa - os depoimentos de usuários na voz de atores e atrizes dão o exato tom do que significa essa exploração intensa sobre os limites da privacidade em um mundo cada vez mais conectado. A fotografia também cria uma atmosfera de sedução que intensifica as emoções, guiando a audiência por esse labirinto de escândalos e fantasia, de fato, envolvente.A pesquisa meticulosa é evidente em cada cena, revelando nuances que escapariam a narrativas superficiais - e isso é um golaço. A edição dinâmica mantém um ritmo que prende a nossa atenção, transformando informações densas em uma experiência cativante que certamente vai te fazer refletir, independente do olhar que você tenha sobre o site ou sobre o caso (e aqui sem trocadilhos)!
Vale muito o seu play!
Depois de todas as polêmicas que envolveram a produção de "The Idol", é natural que a série, de fato, chame a atenção da audiência - e aqui, também é inegável, que a forma como a trama foi embalada (sim, estou falando das inúmeras cenas de sexo e nudez), ainda potencialize esse interesse. Passado os cinco episódios da primeira temporada, essa expectativa criada em cima da produção da HBO acabou fazendo com que a conta ficasse alta demais - principalmente para aqueles que já não estavam dispostos a embarcar no conceito escolhido por Sam Levinson e pelo Abel ‘The Weeknd’ Tesfaye para retratar uma "realidade" tão distante para meros mortais como nós. É notável a tentativa de seus criadores em tentar mostrar os bastidores da indústria da música e seus excessos como forma de liberdade criativa, no entanto, me parece, que faltou um pouco mais de cuidado e, principalmente, de planejamento para as peças se encaixarem. Ok, mas isso faz da série algo horrível? Para alguns sim, mas esse não é o nosso caso - pelo menos não em sua totalidade!
Na história, a jovem mega-estrela pop Jocelyn (Lily-Rose Depp) está disposta a tudo para alcançar um patamar nunca antes visto em uma celebridade. Após sofrer um colapso nervoso em sua última turnê graças a morte prematura de sua mãe, ela conhece Tedros (The Weeknd), o dono de uma boate da moda de L.A., que se torna seu guru e uma espécie de diretor criativo. Seguindo um caminho conturbado que envolve fama, dinheiro, sexo e segredos, a cantora passa a se relacionar mais intensamente com o empresário, cruzando todos os limites do bom senso, onde o preço a ser pago pode ser crucial para sua carreira. Confira o trailer:
Embora "The Idol" ensaie priorizar o valor da fama pela perspectiva de uma estrela em estado de vulnerabilidade como em "Um Lugar Qualquer" ou até como em "Nasce uma Estrela", o que realmente encontramos na tela é um recorte surreal de um roteiro sem a menor profundidade. Talvez se esses cinco episódios fizessem parte de uma primeira temporada com 12 episódios, nossa análise pudesse ser menos rígida, afinal, como prólogo, essa breve jornada poderia até servir para algo maior. Acontece que esse algo maior não chega em nenhum momento e por mais que visualmente a série tenha um certo requinte estético, seu recheio deixa um pouco a desejar - sobrevivendo por lapsos de criatividade que só nos provoca alguma curiosidade.
Veja, classificar "The Idol" como horrorosa me parece um pouco exagerado demais e vou usar uma referência para tentar estabelecer um padrão entre critica e falso moralismo: quando entendemos que o Hank Moody (David Duchovny) de "Californication", mesmo sendo um escritor famoso, tinha sua personalidade completamente autodestrutiva, que precisava lidar com sua "insegurança" através dos vícios e de seus relacionamentos passageiros, criando, inclusive, sérios problemas de bloqueio criativo; estávamos frente a frente com um drama (em tom cômico, é verdade) construído a partir de escolhas onde o protagonista perdia mais do que ganhava. Isso gerou criticas na época? Sim, mas que se dissiparam pela proposta do Tom Kapinos que passou a fazer sentido narrativamente com o passar dos episódios. Aqui, a Jocelyn de Levinson parece nunca perder, mesmo quando apenas o prazer parece motiva-la. Mas é óbvio que existem camadas extremamente ricas para o roteiro explorar a partir dessa relação entre o prazer imediato e as consequências dessa sua postura - o potencial da cruzada de Jocelyn é tão rica quanto de Moody e embora o tom seja completamente diferente, existe uma luz no fim do túnel. Só que parece não ter dado tempo dessa luz aparecer - resta saber se isso não é resultado de falta de competência.
Lily-Rose Depp briga por sua Jocelyn com garras e dentes. Ela mantém a mesma atmosfera de vulnerabilidade até quando precisa ser sexy e segura perante sua posição como estrela do showbiz - e isso merece elogios, mesmo tento muito que provar como atriz (e ter contracenado tanto com ‘The Weeknd’ também não ajudou, vamos combinar). Algumas críticas também apontaram que "The Idol" retrata as mulheres de forma objetificada e que o estilo de vida autodestrutivo da protagonista é explorado de maneira glamorizada, e eu até concordo em partes, mas se olharmos essas circunstâncias como gatilhos para conflitos dramáticos que podem ser melhor explorados, faz até sentido; o problema é que não sabemos se a série terá chance de provar que tudo fazia parte de algo maior.
Dê seu play por conta e risco, mas se você leu até aqui, existe uma boa chance de você gostar.
Depois de todas as polêmicas que envolveram a produção de "The Idol", é natural que a série, de fato, chame a atenção da audiência - e aqui, também é inegável, que a forma como a trama foi embalada (sim, estou falando das inúmeras cenas de sexo e nudez), ainda potencialize esse interesse. Passado os cinco episódios da primeira temporada, essa expectativa criada em cima da produção da HBO acabou fazendo com que a conta ficasse alta demais - principalmente para aqueles que já não estavam dispostos a embarcar no conceito escolhido por Sam Levinson e pelo Abel ‘The Weeknd’ Tesfaye para retratar uma "realidade" tão distante para meros mortais como nós. É notável a tentativa de seus criadores em tentar mostrar os bastidores da indústria da música e seus excessos como forma de liberdade criativa, no entanto, me parece, que faltou um pouco mais de cuidado e, principalmente, de planejamento para as peças se encaixarem. Ok, mas isso faz da série algo horrível? Para alguns sim, mas esse não é o nosso caso - pelo menos não em sua totalidade!
Na história, a jovem mega-estrela pop Jocelyn (Lily-Rose Depp) está disposta a tudo para alcançar um patamar nunca antes visto em uma celebridade. Após sofrer um colapso nervoso em sua última turnê graças a morte prematura de sua mãe, ela conhece Tedros (The Weeknd), o dono de uma boate da moda de L.A., que se torna seu guru e uma espécie de diretor criativo. Seguindo um caminho conturbado que envolve fama, dinheiro, sexo e segredos, a cantora passa a se relacionar mais intensamente com o empresário, cruzando todos os limites do bom senso, onde o preço a ser pago pode ser crucial para sua carreira. Confira o trailer:
Embora "The Idol" ensaie priorizar o valor da fama pela perspectiva de uma estrela em estado de vulnerabilidade como em "Um Lugar Qualquer" ou até como em "Nasce uma Estrela", o que realmente encontramos na tela é um recorte surreal de um roteiro sem a menor profundidade. Talvez se esses cinco episódios fizessem parte de uma primeira temporada com 12 episódios, nossa análise pudesse ser menos rígida, afinal, como prólogo, essa breve jornada poderia até servir para algo maior. Acontece que esse algo maior não chega em nenhum momento e por mais que visualmente a série tenha um certo requinte estético, seu recheio deixa um pouco a desejar - sobrevivendo por lapsos de criatividade que só nos provoca alguma curiosidade.
Veja, classificar "The Idol" como horrorosa me parece um pouco exagerado demais e vou usar uma referência para tentar estabelecer um padrão entre critica e falso moralismo: quando entendemos que o Hank Moody (David Duchovny) de "Californication", mesmo sendo um escritor famoso, tinha sua personalidade completamente autodestrutiva, que precisava lidar com sua "insegurança" através dos vícios e de seus relacionamentos passageiros, criando, inclusive, sérios problemas de bloqueio criativo; estávamos frente a frente com um drama (em tom cômico, é verdade) construído a partir de escolhas onde o protagonista perdia mais do que ganhava. Isso gerou criticas na época? Sim, mas que se dissiparam pela proposta do Tom Kapinos que passou a fazer sentido narrativamente com o passar dos episódios. Aqui, a Jocelyn de Levinson parece nunca perder, mesmo quando apenas o prazer parece motiva-la. Mas é óbvio que existem camadas extremamente ricas para o roteiro explorar a partir dessa relação entre o prazer imediato e as consequências dessa sua postura - o potencial da cruzada de Jocelyn é tão rica quanto de Moody e embora o tom seja completamente diferente, existe uma luz no fim do túnel. Só que parece não ter dado tempo dessa luz aparecer - resta saber se isso não é resultado de falta de competência.
Lily-Rose Depp briga por sua Jocelyn com garras e dentes. Ela mantém a mesma atmosfera de vulnerabilidade até quando precisa ser sexy e segura perante sua posição como estrela do showbiz - e isso merece elogios, mesmo tento muito que provar como atriz (e ter contracenado tanto com ‘The Weeknd’ também não ajudou, vamos combinar). Algumas críticas também apontaram que "The Idol" retrata as mulheres de forma objetificada e que o estilo de vida autodestrutivo da protagonista é explorado de maneira glamorizada, e eu até concordo em partes, mas se olharmos essas circunstâncias como gatilhos para conflitos dramáticos que podem ser melhor explorados, faz até sentido; o problema é que não sabemos se a série terá chance de provar que tudo fazia parte de algo maior.
Dê seu play por conta e risco, mas se você leu até aqui, existe uma boa chance de você gostar.