indika.tv - ml-oscar

Roman J. Israel, Esq.

Um advogado com princípios muito enraizados que, por uma circunstância de vida, faz uma escolha errada. Não é uma história tão original, mas te prende do começo ao fim!

Roman J. Israel (Denzel Washington) é um inteligente advogado que trabalha há muito tempo em uma firma de advocacia que ajudava pessoas de baixa renda. Roman era uma espécie de coadjuvante, não ia aos tribunais, conhecia todos os casos e ajudava na sua resolução, mas sempre atuando nos bastidores. Quando, inesperadamente, seu sócio morre, o protagonista acaba se envolvendo na situação da empresa e acaba tendo que começar a aparecer mais, porém com a projeção vem a responsabilidade e é aí que Roman J. Israel começa a se perder entre seu idealismo e a necessidade de se transformar em algo maior!

"Roman J. Israel" já se define pelo título - É um filme de personagem e embora eu ache o Denzel Washington um péssimo "perdedor" (vide a cara feia no Oscar 2017), ele está impecável no papel. Foi realmente merecida sua indicação como "Melhor Ator" em 2018. Já o filme, olha, é bom, mas tem um "problema" de roteiro que pode incomodar os mais exigentes - o primeiro ato é muito longo, com isso o clímax e o desfecho são pouco desenvolvidos. Quando a história pega, faltam só 40 minutos para acabar o filme e dá a impressão que tudo acaba sendo resolvido com muita pressa. Tinha um potencial de exploração muito maior (e aí não sei se foi o Estúdio que mandou cortar) porque a trama é bem amarradinha no segundo ato, criando uma sensação de angústia muito grande em quem assiste, mas, infelizmente, acaba rápido demais! O ritmo muda tão drasticamente que no final surge aquele: "Já?"!!!

O diretor é o Dan Gilroy, o mesmo do excelente "Nightcrawler" (O Abutre). Ele constrói muito bem essa atmosfera de tensão (inclusive porque é ele que escreve os roteiros que filma), mas em "Roman J. Israel, Esq.", embora competente demais na direção, seguro e sem querer aparecer muito, achei que acabou derrapando no roteiro pelo elementos que citei acima!

Resumindo: é um filme bom; com uma história realmente boa, mas tinha potencial pra ser um filme muito melhor! Vale o play, será um ótimo entretenimento, mas não é um filme inesquecível!

Assista Agora

Um advogado com princípios muito enraizados que, por uma circunstância de vida, faz uma escolha errada. Não é uma história tão original, mas te prende do começo ao fim!

Roman J. Israel (Denzel Washington) é um inteligente advogado que trabalha há muito tempo em uma firma de advocacia que ajudava pessoas de baixa renda. Roman era uma espécie de coadjuvante, não ia aos tribunais, conhecia todos os casos e ajudava na sua resolução, mas sempre atuando nos bastidores. Quando, inesperadamente, seu sócio morre, o protagonista acaba se envolvendo na situação da empresa e acaba tendo que começar a aparecer mais, porém com a projeção vem a responsabilidade e é aí que Roman J. Israel começa a se perder entre seu idealismo e a necessidade de se transformar em algo maior!

"Roman J. Israel" já se define pelo título - É um filme de personagem e embora eu ache o Denzel Washington um péssimo "perdedor" (vide a cara feia no Oscar 2017), ele está impecável no papel. Foi realmente merecida sua indicação como "Melhor Ator" em 2018. Já o filme, olha, é bom, mas tem um "problema" de roteiro que pode incomodar os mais exigentes - o primeiro ato é muito longo, com isso o clímax e o desfecho são pouco desenvolvidos. Quando a história pega, faltam só 40 minutos para acabar o filme e dá a impressão que tudo acaba sendo resolvido com muita pressa. Tinha um potencial de exploração muito maior (e aí não sei se foi o Estúdio que mandou cortar) porque a trama é bem amarradinha no segundo ato, criando uma sensação de angústia muito grande em quem assiste, mas, infelizmente, acaba rápido demais! O ritmo muda tão drasticamente que no final surge aquele: "Já?"!!!

O diretor é o Dan Gilroy, o mesmo do excelente "Nightcrawler" (O Abutre). Ele constrói muito bem essa atmosfera de tensão (inclusive porque é ele que escreve os roteiros que filma), mas em "Roman J. Israel, Esq.", embora competente demais na direção, seguro e sem querer aparecer muito, achei que acabou derrapando no roteiro pelo elementos que citei acima!

Resumindo: é um filme bom; com uma história realmente boa, mas tinha potencial pra ser um filme muito melhor! Vale o play, será um ótimo entretenimento, mas não é um filme inesquecível!

Assista Agora

Segredos de um Escândalo

Costumo dizer que antes de qualquer julgamento, precisamos escutar os dois lados da história. É mais ou menos o que o diretor Todd Haynes (indicado ao Oscar por "Longe do Paraíso" em 2003) faz em "Segredos de um Escândalo" ao revisitar a história real de Mary Kay Letourneau, uma professora de 34 anos que se envolveu com um aluno de 13, engravidou durante o relacionamento, foi presa e depois se casou com o jovem. Com uma narrativa repleta de simbolismos e algumas adaptações, Haynes mergulha no íntimo dos personagens (aqui fictícios) para discutir as consequências devastadoras de algumas escolhas complexas do passado e como o julgamento social, de fato, impacta para sempre nas relações mais íntimas de todos os envolvidos. O diretor constrói uma jornada cheia de nuances que explora os dilemas da paixão, mas que não entrega todas as respostas, ou seja, se você está esperando algo usual em dramas desse estilo, provavelmente você não vai se conectar com o filme - aqui nos afastamos do sensacionalismo barato para percorrer a via da autoconsciência e da reflexão.

Vinte anos anos após um escândalo que abalou a comunidade local, Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton), um casal com 23 anos de diferença, tentam ter uma vida normal, até que a atriz Elizabeth (Natalie Portman) se aproxima de Grace com o objetivo de se preparar para o seu próximo filme em que ela interpretará a própria Gracie. O problema é que essa jornada de pesquisa e estudos não só traz de volta vários fantasmas do passado como mexe com toda dinâmica de uma comunidade que nunca esteve disposta a esquecer o ocorrido. Confira o trailer:

Embora "Segredos de um Escândalo" tenha uma premissa que sugira um drama cheio de embates e julgamentos, eu diria que a originalidade do roteiro indicado ao Oscar, da novata Samy Burch, está justamente na quebra dessas expectativas. Cadenciada, mas sempre no tom certo, a narrativa funciona muito mais como uma espécie de mosaico de tonalidades emocionais do que como uma investigação profunda sobre mocinhos e bandidos de um caso realmente marcante. Com uma proposta muito mais honesta, o roteiro nos leva para um olhar além do escândalo em si, entregando um drama mais humano e levantando questionamentos sobre a moralidade, sobre o amor real, sobre o desejo, mas principalmente sobre as consequências de escolhas impensáveis. Veja, a narrativa não oferece respostas fáceis, mas tenha certeza que você vai se sentir provocado a refletir sobre as diversas faces da natureza humana.

A direção de Haynes é tecnicamente perfeita. Embora ele não arrisque na sua "forma", ele se aproveita do "conteúdo" para justamente desconstruir uma história complexa e ofertar para a audiência uma perspectiva menos superficial - Elizabeth é a personificação dessa estratégia que, simbolizada pela arte de atuar, lida com o desconforto daquela atmosfera de hipocrisia para entender as motivações todos os lados. Obviamente que a performance de Portman e de Moore dão tom desse jogo de verdades e aparências - as duas estão excepcionais, embora nenhuma tenha sido lembrada pela Academia e indicada ao Oscar. Uma pena, porque Portman entrega um trabalho realmente visceral, capturando toda a vulnerabilidade e a complexidade de Elizabeth enquanto ela navega pelos segredos mais obscuros de Gracie sem ao menos entender se está indo pelo caminho certo Enquanto Moore brilha com sua intensidade, transmitindo a dor, o arrependimento, a insegurança e a resiliência de uma mulher que enfrentou (e enfrenta) o julgamento da sociedade. 

"Segredos de um Escândalo" dividiu opiniões pelos caminhos escolhidos por Haynes - natural quando se troca o certo pelo diferente. Na minha humilde opinião estamos diante de um filme imperdível, especialmente se você aprecia dramas psicológicos mais intensos e reflexivos. Não será uma jornada tranquila, especialmente por sabermos como Hollywood e a indústria jornalística se apropriam de histórias repletas de sofrimento para entregar entretenimento barato sem ao menos olhar para seus protagonistas com alguma empatia. Aqui, mais do que empatia, existe respeito.

Vale seu play!

Assista Agora

Costumo dizer que antes de qualquer julgamento, precisamos escutar os dois lados da história. É mais ou menos o que o diretor Todd Haynes (indicado ao Oscar por "Longe do Paraíso" em 2003) faz em "Segredos de um Escândalo" ao revisitar a história real de Mary Kay Letourneau, uma professora de 34 anos que se envolveu com um aluno de 13, engravidou durante o relacionamento, foi presa e depois se casou com o jovem. Com uma narrativa repleta de simbolismos e algumas adaptações, Haynes mergulha no íntimo dos personagens (aqui fictícios) para discutir as consequências devastadoras de algumas escolhas complexas do passado e como o julgamento social, de fato, impacta para sempre nas relações mais íntimas de todos os envolvidos. O diretor constrói uma jornada cheia de nuances que explora os dilemas da paixão, mas que não entrega todas as respostas, ou seja, se você está esperando algo usual em dramas desse estilo, provavelmente você não vai se conectar com o filme - aqui nos afastamos do sensacionalismo barato para percorrer a via da autoconsciência e da reflexão.

Vinte anos anos após um escândalo que abalou a comunidade local, Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton), um casal com 23 anos de diferença, tentam ter uma vida normal, até que a atriz Elizabeth (Natalie Portman) se aproxima de Grace com o objetivo de se preparar para o seu próximo filme em que ela interpretará a própria Gracie. O problema é que essa jornada de pesquisa e estudos não só traz de volta vários fantasmas do passado como mexe com toda dinâmica de uma comunidade que nunca esteve disposta a esquecer o ocorrido. Confira o trailer:

Embora "Segredos de um Escândalo" tenha uma premissa que sugira um drama cheio de embates e julgamentos, eu diria que a originalidade do roteiro indicado ao Oscar, da novata Samy Burch, está justamente na quebra dessas expectativas. Cadenciada, mas sempre no tom certo, a narrativa funciona muito mais como uma espécie de mosaico de tonalidades emocionais do que como uma investigação profunda sobre mocinhos e bandidos de um caso realmente marcante. Com uma proposta muito mais honesta, o roteiro nos leva para um olhar além do escândalo em si, entregando um drama mais humano e levantando questionamentos sobre a moralidade, sobre o amor real, sobre o desejo, mas principalmente sobre as consequências de escolhas impensáveis. Veja, a narrativa não oferece respostas fáceis, mas tenha certeza que você vai se sentir provocado a refletir sobre as diversas faces da natureza humana.

A direção de Haynes é tecnicamente perfeita. Embora ele não arrisque na sua "forma", ele se aproveita do "conteúdo" para justamente desconstruir uma história complexa e ofertar para a audiência uma perspectiva menos superficial - Elizabeth é a personificação dessa estratégia que, simbolizada pela arte de atuar, lida com o desconforto daquela atmosfera de hipocrisia para entender as motivações todos os lados. Obviamente que a performance de Portman e de Moore dão tom desse jogo de verdades e aparências - as duas estão excepcionais, embora nenhuma tenha sido lembrada pela Academia e indicada ao Oscar. Uma pena, porque Portman entrega um trabalho realmente visceral, capturando toda a vulnerabilidade e a complexidade de Elizabeth enquanto ela navega pelos segredos mais obscuros de Gracie sem ao menos entender se está indo pelo caminho certo Enquanto Moore brilha com sua intensidade, transmitindo a dor, o arrependimento, a insegurança e a resiliência de uma mulher que enfrentou (e enfrenta) o julgamento da sociedade. 

"Segredos de um Escândalo" dividiu opiniões pelos caminhos escolhidos por Haynes - natural quando se troca o certo pelo diferente. Na minha humilde opinião estamos diante de um filme imperdível, especialmente se você aprecia dramas psicológicos mais intensos e reflexivos. Não será uma jornada tranquila, especialmente por sabermos como Hollywood e a indústria jornalística se apropriam de histórias repletas de sofrimento para entregar entretenimento barato sem ao menos olhar para seus protagonistas com alguma empatia. Aqui, mais do que empatia, existe respeito.

Vale seu play!

Assista Agora

Sem Amor

"Loveless" (titulo original) foi o representante da Russia indicadopara o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2018. Olha, é um filmão!!!

Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) estão no meio de um processo de divórcio litigioso, cheio de ressentimento, frustração e acusações. Ambos estão tentando iniciar novos ciclos, cada um com um novo parceiro. Ele estão impacientes para começar essa nova vida e virar a página desse tortuoso casamento - mesmo que isso implique na ameaça de abandonar o filho de 12 anos, Alyosha (Matvey Novikov). Depois de testemunhar uma das várias discussões dos pais, Alyosha simplesmente desaparece e a vida de Zhenya e Boris entram em parafuso! Confira o trailer:

Muito bem dirigido pelo Andrei Zvyagintsev, o mesmo de "Leviathan", que também disputou o Oscar em 2015. O cara é uma espécie de Asghar Farhadi da Rússia. Normalmente ele destrincha a relação humana até as últimas consequências sem o menor pudor de mostrar as imperfeições mais comuns do ser humano, porém ele emoldura esses dramas com uma fotografia sensacional - eu diria, inclusive, que a foto de "Loveless" é uma das mais bonitas do ano. Trabalho do seu parceiro Mikhail Krichman.  

Além dessa atmosférica única (e fria), os movimentos de câmera são precisos, até quando ela não se movimenta, por mais paradoxal que possa parecer. Zvyagintsev e Krichman já tinham feito exatamente isso em "Leviathan" e repetiu muito bem agora. O diretor cria sensações durante o filme inteiro e você embarca na maneira como ele narra os fatos de uma forma muito particular, pois você nunca sabe quem está certo, quem está errado, quem é o mocinho, quem é o bandido! É muito desafiador conhecer os personagens dos filmes dele, pois essas imperfeições estão sempre lá, mas ele entrega numa medida certa!!! Em "Sem amor", por exemplo, você não sabe se o drama está na mãe, no pai, na criança, na relação entre eles (ou parte deles), no momento de vida de cada um, etc. É muito bacana!

Para quem gosta de filmes estrangeiros, independentes, com potencial de Oscar, essa é uma grande oportunidade de conhecer o cinema Russo. Vale muito a pena!

Assista Agora 

"Loveless" (titulo original) foi o representante da Russia indicadopara o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2018. Olha, é um filmão!!!

Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) estão no meio de um processo de divórcio litigioso, cheio de ressentimento, frustração e acusações. Ambos estão tentando iniciar novos ciclos, cada um com um novo parceiro. Ele estão impacientes para começar essa nova vida e virar a página desse tortuoso casamento - mesmo que isso implique na ameaça de abandonar o filho de 12 anos, Alyosha (Matvey Novikov). Depois de testemunhar uma das várias discussões dos pais, Alyosha simplesmente desaparece e a vida de Zhenya e Boris entram em parafuso! Confira o trailer:

Muito bem dirigido pelo Andrei Zvyagintsev, o mesmo de "Leviathan", que também disputou o Oscar em 2015. O cara é uma espécie de Asghar Farhadi da Rússia. Normalmente ele destrincha a relação humana até as últimas consequências sem o menor pudor de mostrar as imperfeições mais comuns do ser humano, porém ele emoldura esses dramas com uma fotografia sensacional - eu diria, inclusive, que a foto de "Loveless" é uma das mais bonitas do ano. Trabalho do seu parceiro Mikhail Krichman.  

Além dessa atmosférica única (e fria), os movimentos de câmera são precisos, até quando ela não se movimenta, por mais paradoxal que possa parecer. Zvyagintsev e Krichman já tinham feito exatamente isso em "Leviathan" e repetiu muito bem agora. O diretor cria sensações durante o filme inteiro e você embarca na maneira como ele narra os fatos de uma forma muito particular, pois você nunca sabe quem está certo, quem está errado, quem é o mocinho, quem é o bandido! É muito desafiador conhecer os personagens dos filmes dele, pois essas imperfeições estão sempre lá, mas ele entrega numa medida certa!!! Em "Sem amor", por exemplo, você não sabe se o drama está na mãe, no pai, na criança, na relação entre eles (ou parte deles), no momento de vida de cada um, etc. É muito bacana!

Para quem gosta de filmes estrangeiros, independentes, com potencial de Oscar, essa é uma grande oportunidade de conhecer o cinema Russo. Vale muito a pena!

Assista Agora 

Tár

Nem de longe "Tár" é um filme fácil - e complemento: sua complexidade está em sua forma e em seu conteúdo. Dirigido brilhantemente por Todd Field (de "Pecados Íntimos"), o filme é uma uma espécie de drama psicológico, daqueles densos e envolventes, que explora as nuances do poder e da genialidade dentro de um contexto artístico muito particular. Assim como "Cisne Negro" de Darren Aronofsky ou "O Mestre" de Paul Thomas Anderson, "Tár" mergulha na psique de uma protagonista ambígua, revelando tanto seu talento quanto suas falhas mais palpáveis, através de uma narrativa que examina com muita inteligência a relação entre a arte e o ego, sempre questionando os limites da ambição em um universo onde a genialidade frequentemente é usada para justificar comportamentos tóxicos.

Lydia Tár (Cate Blanchett) é uma maestra renomada e diretora de uma importante orquestra sinfônica, cuja vida pessoal e carreira começam a se desintegrar em meio a acusações de abuso de poder e manipulação. A narrativa acompanha Lydia enquanto ela lida com a pressão de manter sua posição em um ambiente artístico altamente competitivo onde é lavada a enfrentar as consequências de suas próprias ações. A queda de Tár é retratada como uma exploração lenta e introspectiva dos reflexos psicológicos e sociais de seu comportamento, fazendo com que a audiência questione a linha tênue entre a genialidade e a tirania. Confira o belíssimo trailer aqui:

É impossível começar qualquer análise sobre "Tár" sem citar Cate Blanchett. É impressionante como ela é capaz de entregar uma atuação impecável atrás da outra - para mim, essa uma das mais marcantes da carreira, capturando com muita profundidade toda a complexidade de Lydia Tár através de uma performance poderosa e cheia de sensibilidade. Blanchett consegue transmitir tanto a genialidade quanto a arrogância da protagonista ao mesmo tempo que transita por uma área de vulnerabilidade oculta dificílima de alcançar como atriz. A forma como ela expressa o controle obsessivo de Tár sobre sua música, enquanto retrata a sua incapacidade de controlar sua vida pessoal, é hipnotizante. Sem dúvida que essa performance é essencial para a construção estética e narrativa do filme, já que o diretor se ancora, sem medo de errar, em uma personagem fascinante e imperfeita. A direção de Todd Field é precisa e contida nesse sentido, permitindo que a história se desenvolva de uma maneira deliberadamente imersiva. Obviamente que o filme evita julgamentos fáceis, optando por uma abordagem mais ambígua, que deixa espaço para diferentes interpretações sobre a protagonista e suas motivações. Repare como Field utiliza planos mais longos e uma estética bastante minimalista, capturando momentos de silêncio e criando uma tensão não-verbal para enriquecer o impacto emocional da trama. A atmosfera elegante e fria do filme reflete a sofisticação do mundo da música clássica, ao mesmo tempo que amplifica a sensação de isolamento que permeia a jornada de Tár.

A cinematografia do fotógrafo alemão Florian Hoffmeister (de "A Casa de Saddam") complementa a narrativa com uma estética extremamente precisa no sentido mais conceitual da palavra - ele pontua a cenas utilizando uma iluminação sutil com cores frias, para criar essa atmosfera opressiva e introspectiva proposta por Field. A câmera segue Tár em seus momentos mais íntimos, capturando a dualidade entre a figura pública brilhante e a mulher solitária e atormentada em sua vida pessoal. A escolha de filmar performances musicais em sequências mais longas e imersivas reflete tanto a beleza quanto o peso da criação artística - ao melhor estilo Darren Aronofsky (de "Cisne Negro"). Outro ponto que merece sua atenção é a montagem da indicada ao Oscar, Monika Willi (de "Amor") - seu trabalho intensifica a estrutura mais emocional do filme, refletindo a tensão crescente na vida de Tár como um elemento narrativo capaz de revelar os conflitos internos da protagonista a partir do ritmo, criando uma conexão contagiante com a música clássica. 

Ao explorar questões relevantes sobre poder e abuso, pela perspectiva critica da responsabilidade pessoal em um mundo que muitas vezes idolatra o talento em detrimento da ética, "Tár" levanta muito mais perguntas incômodas do que respostas superficiais, especialmente sobre as consequências de um comportamento arbitrário e da forma como a sociedade lida com figuras poderosas, especialmente nesse universo das artes. Dito isso, antecipo: não espere nada muito usual com esse filme, já que o objetivo aqui é provocar reflexões sobre a ambiguidade moral e as circunstâncias fascinantes do seu redor. 

Para aqueles que apreciam narrativas densas, "Tár" é de fato uma experiência cinematográfica que vale cada segundo.

Up-date: "Tár" recebeu seis indicações no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme.

Assista Agora

Nem de longe "Tár" é um filme fácil - e complemento: sua complexidade está em sua forma e em seu conteúdo. Dirigido brilhantemente por Todd Field (de "Pecados Íntimos"), o filme é uma uma espécie de drama psicológico, daqueles densos e envolventes, que explora as nuances do poder e da genialidade dentro de um contexto artístico muito particular. Assim como "Cisne Negro" de Darren Aronofsky ou "O Mestre" de Paul Thomas Anderson, "Tár" mergulha na psique de uma protagonista ambígua, revelando tanto seu talento quanto suas falhas mais palpáveis, através de uma narrativa que examina com muita inteligência a relação entre a arte e o ego, sempre questionando os limites da ambição em um universo onde a genialidade frequentemente é usada para justificar comportamentos tóxicos.

Lydia Tár (Cate Blanchett) é uma maestra renomada e diretora de uma importante orquestra sinfônica, cuja vida pessoal e carreira começam a se desintegrar em meio a acusações de abuso de poder e manipulação. A narrativa acompanha Lydia enquanto ela lida com a pressão de manter sua posição em um ambiente artístico altamente competitivo onde é lavada a enfrentar as consequências de suas próprias ações. A queda de Tár é retratada como uma exploração lenta e introspectiva dos reflexos psicológicos e sociais de seu comportamento, fazendo com que a audiência questione a linha tênue entre a genialidade e a tirania. Confira o belíssimo trailer aqui:

É impossível começar qualquer análise sobre "Tár" sem citar Cate Blanchett. É impressionante como ela é capaz de entregar uma atuação impecável atrás da outra - para mim, essa uma das mais marcantes da carreira, capturando com muita profundidade toda a complexidade de Lydia Tár através de uma performance poderosa e cheia de sensibilidade. Blanchett consegue transmitir tanto a genialidade quanto a arrogância da protagonista ao mesmo tempo que transita por uma área de vulnerabilidade oculta dificílima de alcançar como atriz. A forma como ela expressa o controle obsessivo de Tár sobre sua música, enquanto retrata a sua incapacidade de controlar sua vida pessoal, é hipnotizante. Sem dúvida que essa performance é essencial para a construção estética e narrativa do filme, já que o diretor se ancora, sem medo de errar, em uma personagem fascinante e imperfeita. A direção de Todd Field é precisa e contida nesse sentido, permitindo que a história se desenvolva de uma maneira deliberadamente imersiva. Obviamente que o filme evita julgamentos fáceis, optando por uma abordagem mais ambígua, que deixa espaço para diferentes interpretações sobre a protagonista e suas motivações. Repare como Field utiliza planos mais longos e uma estética bastante minimalista, capturando momentos de silêncio e criando uma tensão não-verbal para enriquecer o impacto emocional da trama. A atmosfera elegante e fria do filme reflete a sofisticação do mundo da música clássica, ao mesmo tempo que amplifica a sensação de isolamento que permeia a jornada de Tár.

A cinematografia do fotógrafo alemão Florian Hoffmeister (de "A Casa de Saddam") complementa a narrativa com uma estética extremamente precisa no sentido mais conceitual da palavra - ele pontua a cenas utilizando uma iluminação sutil com cores frias, para criar essa atmosfera opressiva e introspectiva proposta por Field. A câmera segue Tár em seus momentos mais íntimos, capturando a dualidade entre a figura pública brilhante e a mulher solitária e atormentada em sua vida pessoal. A escolha de filmar performances musicais em sequências mais longas e imersivas reflete tanto a beleza quanto o peso da criação artística - ao melhor estilo Darren Aronofsky (de "Cisne Negro"). Outro ponto que merece sua atenção é a montagem da indicada ao Oscar, Monika Willi (de "Amor") - seu trabalho intensifica a estrutura mais emocional do filme, refletindo a tensão crescente na vida de Tár como um elemento narrativo capaz de revelar os conflitos internos da protagonista a partir do ritmo, criando uma conexão contagiante com a música clássica. 

Ao explorar questões relevantes sobre poder e abuso, pela perspectiva critica da responsabilidade pessoal em um mundo que muitas vezes idolatra o talento em detrimento da ética, "Tár" levanta muito mais perguntas incômodas do que respostas superficiais, especialmente sobre as consequências de um comportamento arbitrário e da forma como a sociedade lida com figuras poderosas, especialmente nesse universo das artes. Dito isso, antecipo: não espere nada muito usual com esse filme, já que o objetivo aqui é provocar reflexões sobre a ambiguidade moral e as circunstâncias fascinantes do seu redor. 

Para aqueles que apreciam narrativas densas, "Tár" é de fato uma experiência cinematográfica que vale cada segundo.

Up-date: "Tár" recebeu seis indicações no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme.

Assista Agora

The Square

The Square

Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!

Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:

"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.

O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!

Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!

Assista Agora

Talvez o maior mérito do "The Square", filme sueco e um dos favoritos para levar o Oscar de filme estrangeiro em 2018, tenha sido retratar com muita maestria o momento que vivemos hoje. O momento que se discute essencialmente "limites", mas também opiniões, posturas e, por quê não, caráter (só que dos outros) com o escudo do individualismo baseado na superficialidade de uma posição de especialista em "manchetes". O filme mostra o outro lado de vários assuntos que dominaram a timeline do facebook em 2017 e que, certamente, vão nos acompanhar enquanto nos apegarmos aquelas três palavras que "definem" um pensamento e, por consequência, uma pessoa. É patético, mas é real!!!!

Grande vencedor do Festival de Cannes em 2017, "The Square: A Arte da Discórdia" acompanha um gerente de museu de arte contemporânea de Estocolmo que está usando de todas as armas possíveis para promover o sucesso de uma nova instalação e por isso decide contratar uma empresa de relações públicas. Acontece que após ter seu celular roubado, ele perde o controle do seu trabalho, da sua vida, e acaba provocando situações drásticas capazes de colocar em jogo os seus próprios princípios e sua carreira! Confira o trailer:

"The Square" é um grande filme, com um grande roteiro e muito bem dirigido. Ruben Östlund, o diretor, já tinha ganhado o Festival de Berlin em 2010 com um curta "Incident by a Bank" rodado todo em plano sequência e com planos bem abertos, pontuando um ou outro momento com um preciso movimento de câmera lateral ou frontal. Em "The Square", ele trás essa assinatura, se não nos planos-sequência, nos enquadramentos mais abertos, mostrando (e comprovando) que nem sempre existe a necessidade de uma lente mais fechada para provocar uma sensação de certo impacto. É uma aula de cinematografia (em parceria com Fredrik Wenzel) e de direção de atores.

O roteiro é genial - ele traz um constrangimento que é difícil lidar! Sinceramente, eu não me surpreenderia se tivesse sido indicado como "Melhor Roteiro Original". Filme que mostra elementos novos na sua gramática e, principalmente, na genialidade da condução de história. Coincidentemente, uma frase do final que repito muito: "Ser bonzinho é fácil, difícil é ser justo" define muito bem o que é esse filme e onde ele quer nos provocar!

Se prepare, pois com "The Square" vale muito as 2:30 de filme!

Assista Agora

Tick, Tick... Boom!

Em 2012 a série que mais me chamou a atenção no up-front da NBC foi, sem dúvida alguma, "Smash"!  Produzida por Steven Spielberg a série era uma experiência visual que tinha como proposta trazer para a TV aberta americana toda a atmosfera de um espetáculo da Broadway, sem esquecer, claro, de uma narrativa focada no entretenimento e no drama dos bastidores de um musical. Para os menos envolvido com esse universo, a série acompanhava a jornada de dois diretores, Julia e Tom, tentando criar mais um sucesso na Broadway, dessa vez um musical baseado na vida da icônica atriz Marilyn Monroe. 

"Tick, Tick... Boom!" segue o mesmo conceito de "Smash", com a mesma genialidade e mais: com muita sensibilidade por se tratar de uma história real. E aqui cabe um aviso importante: só assista essa produção da Netflix se você gostar de musical, pois sua estrutura narrativa foi construída em cima de lindas melodias e as performances musicais funcionam como ferramenta para que a "suspensão da realidade" seja inserida dentro de um contexto completamente dramático e realista.

O filme conta a história de Jonathan Larson (Andrew Garfield), um jovem compositor teatral que sonhava em lançar "Superbia", um musical que escreveu durante 8 anos - sua dedicação ao projeto, os desafios criativos, a relação com os amigos e com a namorada, as dúvidas, a falta de dinheiro e, talvez o mais dramático disso tudo, em uma Nova York dos anos 80 onde a AIDS ceifava a comunidade artística da cidade. Confira o trailer:

Para quem não sabe, Jonathan Larson foi o criador de RENT, espetáculo da Broadway que ganhou todos os prêmios possíveis e imagináveis e que continua em cartaz até hoje - 25 anos após sua estreia. RENT acompanhava um grupo de jovens lidando com a falta de dinheiro, de oportunidades, em um ambiente de pressão, assombrados pela AIDS, e que surpreendeu pela inovação narrativa que trazia para o palco uma realidade que nada tinha a ver com o mundo lúdico de "Cats", por exemplo. Pois bem, o que vemos em  "Tick, Tick... Boom!" é justamente esse universo sendo contado por Larson em um espetáculo que ele criou antes de RENT.

Embora o filme destaque RENT como um futuro que a trama nunca alcança, o diretor Lin-Manuel Miranda é cirúrgico ao conectar as duas pontas de um recorte tão importante da vida do protagonista sem esquecer da sua essência: as músicas. É lindo como elas ajudam a contar a história e para aqueles apaixonados por musicais, sem dúvida, que referências como "Seasons of Love" ou "La Vie Boheme" vão emocionar. Veja, embora "Tick, Tick... Boom!" não tenha tantas cenas grandiosas onde a música domina a narrativa e a estética como "Rocketman", por exemplo, o que não vai faltar é emoção, pois tudo é tão bem amarrado que em muitos momentos apenas embarcamos na história seja ela falada ou cantada.

É impensável que Andrew Garfield não seja indicado ao Oscar de "Melhor Ator" em 2022 - e embora o filme siga a fórmula de estabelecer um desafio que mesmo com talento e dedicação ele soa impossível de se atingir, contemplando assim as dores e as dúvidas de ser um artista, Garfield ainda canta, com alma, com emoção e com o carisma de Larson - que inclusive pode ser comprovado nos créditos onde imagens de arquivo mostram algumas passagens que acabamos de assistir no filme.

"Tick, Tick... Boom!" é uma aula de roteiro adaptado, de trilha sonora, de direção e de performance dos atores. Um dos melhores filmes do ano, tranquilamente - mas que vai agradar apenas um pequeno nicho e que com certeza vai fazer muito barulho na próxima temporada de premiações. Simplesmente imperdível!

Assista Agora

Em 2012 a série que mais me chamou a atenção no up-front da NBC foi, sem dúvida alguma, "Smash"!  Produzida por Steven Spielberg a série era uma experiência visual que tinha como proposta trazer para a TV aberta americana toda a atmosfera de um espetáculo da Broadway, sem esquecer, claro, de uma narrativa focada no entretenimento e no drama dos bastidores de um musical. Para os menos envolvido com esse universo, a série acompanhava a jornada de dois diretores, Julia e Tom, tentando criar mais um sucesso na Broadway, dessa vez um musical baseado na vida da icônica atriz Marilyn Monroe. 

"Tick, Tick... Boom!" segue o mesmo conceito de "Smash", com a mesma genialidade e mais: com muita sensibilidade por se tratar de uma história real. E aqui cabe um aviso importante: só assista essa produção da Netflix se você gostar de musical, pois sua estrutura narrativa foi construída em cima de lindas melodias e as performances musicais funcionam como ferramenta para que a "suspensão da realidade" seja inserida dentro de um contexto completamente dramático e realista.

O filme conta a história de Jonathan Larson (Andrew Garfield), um jovem compositor teatral que sonhava em lançar "Superbia", um musical que escreveu durante 8 anos - sua dedicação ao projeto, os desafios criativos, a relação com os amigos e com a namorada, as dúvidas, a falta de dinheiro e, talvez o mais dramático disso tudo, em uma Nova York dos anos 80 onde a AIDS ceifava a comunidade artística da cidade. Confira o trailer:

Para quem não sabe, Jonathan Larson foi o criador de RENT, espetáculo da Broadway que ganhou todos os prêmios possíveis e imagináveis e que continua em cartaz até hoje - 25 anos após sua estreia. RENT acompanhava um grupo de jovens lidando com a falta de dinheiro, de oportunidades, em um ambiente de pressão, assombrados pela AIDS, e que surpreendeu pela inovação narrativa que trazia para o palco uma realidade que nada tinha a ver com o mundo lúdico de "Cats", por exemplo. Pois bem, o que vemos em  "Tick, Tick... Boom!" é justamente esse universo sendo contado por Larson em um espetáculo que ele criou antes de RENT.

Embora o filme destaque RENT como um futuro que a trama nunca alcança, o diretor Lin-Manuel Miranda é cirúrgico ao conectar as duas pontas de um recorte tão importante da vida do protagonista sem esquecer da sua essência: as músicas. É lindo como elas ajudam a contar a história e para aqueles apaixonados por musicais, sem dúvida, que referências como "Seasons of Love" ou "La Vie Boheme" vão emocionar. Veja, embora "Tick, Tick... Boom!" não tenha tantas cenas grandiosas onde a música domina a narrativa e a estética como "Rocketman", por exemplo, o que não vai faltar é emoção, pois tudo é tão bem amarrado que em muitos momentos apenas embarcamos na história seja ela falada ou cantada.

É impensável que Andrew Garfield não seja indicado ao Oscar de "Melhor Ator" em 2022 - e embora o filme siga a fórmula de estabelecer um desafio que mesmo com talento e dedicação ele soa impossível de se atingir, contemplando assim as dores e as dúvidas de ser um artista, Garfield ainda canta, com alma, com emoção e com o carisma de Larson - que inclusive pode ser comprovado nos créditos onde imagens de arquivo mostram algumas passagens que acabamos de assistir no filme.

"Tick, Tick... Boom!" é uma aula de roteiro adaptado, de trilha sonora, de direção e de performance dos atores. Um dos melhores filmes do ano, tranquilamente - mas que vai agradar apenas um pequeno nicho e que com certeza vai fazer muito barulho na próxima temporada de premiações. Simplesmente imperdível!

Assista Agora

Tio Frank

"Tio Frank" fala sobre aceitar o diferente, mesmo que pelo ponto de vista do caos familiar, de uma educação rígida, tradicional do interior dos EUA, e sem perspectiva alguma de conhecer as inúmeras possibilidades que a vida pode oferecer para quem não tem a oportunidade de sair de daquele universo tão limitado. O filme, embora discuta assuntos complexos, traz uma delicadeza impressionante nos seus diálogos, nos proporcionando uma jornada de reflexão, muito mais pelo que é falado do que pelo que é mostrado, e isso é um enorme mérito do roteiro e da direção de Alan Ball (vencedor do Oscar de Roteiro Original em 2000 por "Beleza Americana"). 

No filme acompanhamos a adolescente Beth Bledsoe (Sophia Lillis) que deixa sua cidade natal na zona rural do sul dos Estados Unidos para estudar na Universidade de Nova York, onde seu amado tio Frank (Paul Bettany) é um respeitado professor de literatura. Porém, ela acaba descobrindo que seu tio é gay e que mora com seu parceiro, Wally (Peter Macdissi), escondendo esse fato de toda a sua família há muitos anos. Após a morte repentina do seu pai, Frank é forçado a voltar para casa de sua infância, com relutância, para o funeral, e finalmente enfrentar um trauma pelo qual ele passou toda a sua vida adulta fugindo. Confira o trailer:

Essa é uma história de auto-conhecimento e de aceitação - e é construída com muita elegância estética e narrativa. Os diálogos são carregados de emoção, mas sem se tornar piegas; as pitadas de humor são tão inteligentes e bem colocadas que a experiência de assistir o filme acaba ficando muito leve - mais ou menos como encontramos em "Minhas Mães e Meu Pai".  Outro ponto que merece ser destacado é o incrível trabalho do designer de produção Darcy Scanlin e do diretor de fotografia, com uma longa e respeitada carreira na publicidade, Khalid Mohtaseb - a concepção visual que os dois entregam para Ball cria uma sensação nostálgica dos anos 70, natural, cheia de cores e nada esteriotipada, tanto em NY quanto em Creekville, uma pequena cidade do interior da Carolina do Sul.

O trabalho do elenco também é dos melhores: além de uma dinâmica muito especial entre tio (Paul Bettany) e sobrinha (Sophia Lillis), é de se elogiar o relacionamento construído entre Frank e Wally - Macdissi é o tipo do ator que tem uma capacidade quase surreal de transitar entre o drama e a comédia com a mesma competência, tornando seu personagem muito agradável, simpático, alegre, esperançoso ao mesmo tempo que é complexo e cheio de cicatrizes emocionais. Wally, vale dizer, é um imigrante que veio da Arábia Saudita, que também mente para os pais sobre seus relacionamentos e que se mudou para os EUA com medo de ser morto pelo fato de ser homossexual - e o paralelo com a vida adolescente de Frank, que supostamente mora em um país livre, mas sofre das mesmas dores, é sensacional. Reparem nas cenas de flashback e como ela ganha ainda mais força depois de ouvir a história que Wally conta para Beth sobre como funciona o preconceito no seu país.

"Tio Frank", de fato, não parece ser uma história contada para enfatizar os problemas do preconceito e da ignorância, muito pelo contrário, o texto de Ball está muito mais preocupado em tentar corrigir a intolerância - o que deixa essa jornada mais fluida, empática e esperançosa. Mesmo nas cenas mais tensas, não existe o objetivo de chocar, apenas de mostrar o outro lado. Emocionante, leve e importante, "Tio Frank" merecia um maior reconhecimento na temporada de premiações - além de ser mais uma aula de roteiro de Ball, o elenco é simplesmente especial!

Vale muito o play! "Tio Frank" é daqueles filmes que terminamos sorrindo!

Assista Agora

"Tio Frank" fala sobre aceitar o diferente, mesmo que pelo ponto de vista do caos familiar, de uma educação rígida, tradicional do interior dos EUA, e sem perspectiva alguma de conhecer as inúmeras possibilidades que a vida pode oferecer para quem não tem a oportunidade de sair de daquele universo tão limitado. O filme, embora discuta assuntos complexos, traz uma delicadeza impressionante nos seus diálogos, nos proporcionando uma jornada de reflexão, muito mais pelo que é falado do que pelo que é mostrado, e isso é um enorme mérito do roteiro e da direção de Alan Ball (vencedor do Oscar de Roteiro Original em 2000 por "Beleza Americana"). 

No filme acompanhamos a adolescente Beth Bledsoe (Sophia Lillis) que deixa sua cidade natal na zona rural do sul dos Estados Unidos para estudar na Universidade de Nova York, onde seu amado tio Frank (Paul Bettany) é um respeitado professor de literatura. Porém, ela acaba descobrindo que seu tio é gay e que mora com seu parceiro, Wally (Peter Macdissi), escondendo esse fato de toda a sua família há muitos anos. Após a morte repentina do seu pai, Frank é forçado a voltar para casa de sua infância, com relutância, para o funeral, e finalmente enfrentar um trauma pelo qual ele passou toda a sua vida adulta fugindo. Confira o trailer:

Essa é uma história de auto-conhecimento e de aceitação - e é construída com muita elegância estética e narrativa. Os diálogos são carregados de emoção, mas sem se tornar piegas; as pitadas de humor são tão inteligentes e bem colocadas que a experiência de assistir o filme acaba ficando muito leve - mais ou menos como encontramos em "Minhas Mães e Meu Pai".  Outro ponto que merece ser destacado é o incrível trabalho do designer de produção Darcy Scanlin e do diretor de fotografia, com uma longa e respeitada carreira na publicidade, Khalid Mohtaseb - a concepção visual que os dois entregam para Ball cria uma sensação nostálgica dos anos 70, natural, cheia de cores e nada esteriotipada, tanto em NY quanto em Creekville, uma pequena cidade do interior da Carolina do Sul.

O trabalho do elenco também é dos melhores: além de uma dinâmica muito especial entre tio (Paul Bettany) e sobrinha (Sophia Lillis), é de se elogiar o relacionamento construído entre Frank e Wally - Macdissi é o tipo do ator que tem uma capacidade quase surreal de transitar entre o drama e a comédia com a mesma competência, tornando seu personagem muito agradável, simpático, alegre, esperançoso ao mesmo tempo que é complexo e cheio de cicatrizes emocionais. Wally, vale dizer, é um imigrante que veio da Arábia Saudita, que também mente para os pais sobre seus relacionamentos e que se mudou para os EUA com medo de ser morto pelo fato de ser homossexual - e o paralelo com a vida adolescente de Frank, que supostamente mora em um país livre, mas sofre das mesmas dores, é sensacional. Reparem nas cenas de flashback e como ela ganha ainda mais força depois de ouvir a história que Wally conta para Beth sobre como funciona o preconceito no seu país.

"Tio Frank", de fato, não parece ser uma história contada para enfatizar os problemas do preconceito e da ignorância, muito pelo contrário, o texto de Ball está muito mais preocupado em tentar corrigir a intolerância - o que deixa essa jornada mais fluida, empática e esperançosa. Mesmo nas cenas mais tensas, não existe o objetivo de chocar, apenas de mostrar o outro lado. Emocionante, leve e importante, "Tio Frank" merecia um maior reconhecimento na temporada de premiações - além de ser mais uma aula de roteiro de Ball, o elenco é simplesmente especial!

Vale muito o play! "Tio Frank" é daqueles filmes que terminamos sorrindo!

Assista Agora

Toy Story 4

Tem franquias que não deveriam ter um fim!

Fiz questão de começar o review dessa forma para deixar bem claro que "Toy Story" vai muito além dos 4 filmes que a Pixar (e agora Disney) produziu! "Toy Story" representa uma mudança de paradigmas na animação (desde 1995), claro, mas talvez seu maior valor esteja na maneira como cada uma das 4 histórias foram criadas, contadas e consumidas por toda uma geração que aprendeu que os "valores" estão inseridos desde as pequenas atitudes até as grandes conquistas... Que esses "valores" não são um "fim" e sim um caminho que vale muito a pena ser percorrido ao lado das pessoas (ou brinquedos) que amaramos na construção do nosso caráter!!!

"Toy Story 4" mais uma vez nos faz refletir sobre a importância dessas pequenas conquistas e o quanto ela pode representar no nosso desenvolvimento como ser humano! "Toy Story 4" apresenta Bonnie, uma simpática e adorável criança (e é incrível como nos entregamos à ela - nem parece que estamos falando de uma animação, dada a qualidade emocional que os animadores e roteiristas aplicaram na personagem) que está a caminho do seu primeiro dia na escola. Todo receio de enfrentar essa nova situação é jogada na nossa cara de uma maneira muito real: toda a relação com seus pais, a vontade de se apegar a algum brinquedo como necessidade de estar ao lado de algo conhecido e seguro nessa jornada de descobertas e até a apresentação da primeira professora e daquele novo mundo que vai acompanha-la por muito tempo durante a vida. Confira o trailer:

É muito bacana que já na primeira atividade na sala de aula, Bonnie cria o simpático e descompensado "Garfinho". Nessa atividade solitária de artesanato, Bonnie estabelece sua identificação com o novo personagem e é inacreditável como passamos a nos importar com eles. Woody que não quis deixar Bonnie ir sozinha para escola, chega a duvidar se aquela "colagem" poderia mesmo representar algo para ela  e quando ele percebe que aquele garfo plástico também tem vida (e sentimento), mesmo não sendo um brinquedo, tudo muda! "Garfinho" representa tudo que foge do padrão, do "status quo", mas que aos olhos de uma criança, não importa, afinal as crianças não se preocupam com isso e sim com a magia de ter algo que represente algo verdadeiro para elas, mesmo que lúdico! A alegria da criança está na simplicidade e na inocência - "Slapt", tapa na cara!

A história mostra a jornada de Woody para provar que o "Garfinho" é realmente importante para Bonnie. Só que as coisas começam a sair do controle quando, em uma viagem, o "Garfinho" resolve fugir por acreditar que o melhor lugar para ele seria o lixo - afinal ele não é um brinquedo de verdade e foi de lá que ele saiu ("Slapt" de novo!). Entendendo a importância do novo "brinquedinho" de Bonnie, Woody enfrenta os mais diferentes desafios dentro de um "Antiquário" repleto de elementos "assustadores" para recuperar o bendito "Garfinho" antes mesmo que Bonnie se dê conta do seu desaparecimento definitivo. Mas "crianças perdem brinquedos a todo momento!" - essa frase é repetida várias vezes durante o filme, mas não justifica ou não conforta o sentimento de Woody perante aquela simpática criaturinha!!! Woody nunca deixa um brinquedo para trás, certo? É incrível como as metáforas são colocadas em todos os momentos durante o filme e isso, por si só, já credencia "Toy Story 4" como um dos grandes filmes do ano! Soma-se a isso uma animação de cair o queixo, principalmente nas cenas dentro do "Antiquário" cheio de teias de aranha e poeira; e das cenas noturnas do parque de diversão!!! A luz desfocada em segundo plano parece de verdade de tão perfeita que está. É realmente lindo!!!!

O fato é que a franquia "Toy Story" foi se reinventando (para nossa surpresa) e nos provocando para olhar o mundo de uma outra forma, sem vacilar um frame no que tem de mais importante, na sua essência: uma boa história, uma história com alma! "Toy Story 4" não foge disso, é uma aula de storyteling e de representatividade, mas sem levantar nenhuma bandeira, apenas tratando seu propósito com verdade e paixão! 

Não deixe de assistir com seu filhos, sozinho, com a namorada... e prepare-se para enxugar aquela lágrima que vai teimar em cair! Vale muito a pena!!!!!

Up-date: "Toy Story 4" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Animação!

Assista Agora

Tem franquias que não deveriam ter um fim!

Fiz questão de começar o review dessa forma para deixar bem claro que "Toy Story" vai muito além dos 4 filmes que a Pixar (e agora Disney) produziu! "Toy Story" representa uma mudança de paradigmas na animação (desde 1995), claro, mas talvez seu maior valor esteja na maneira como cada uma das 4 histórias foram criadas, contadas e consumidas por toda uma geração que aprendeu que os "valores" estão inseridos desde as pequenas atitudes até as grandes conquistas... Que esses "valores" não são um "fim" e sim um caminho que vale muito a pena ser percorrido ao lado das pessoas (ou brinquedos) que amaramos na construção do nosso caráter!!!

"Toy Story 4" mais uma vez nos faz refletir sobre a importância dessas pequenas conquistas e o quanto ela pode representar no nosso desenvolvimento como ser humano! "Toy Story 4" apresenta Bonnie, uma simpática e adorável criança (e é incrível como nos entregamos à ela - nem parece que estamos falando de uma animação, dada a qualidade emocional que os animadores e roteiristas aplicaram na personagem) que está a caminho do seu primeiro dia na escola. Todo receio de enfrentar essa nova situação é jogada na nossa cara de uma maneira muito real: toda a relação com seus pais, a vontade de se apegar a algum brinquedo como necessidade de estar ao lado de algo conhecido e seguro nessa jornada de descobertas e até a apresentação da primeira professora e daquele novo mundo que vai acompanha-la por muito tempo durante a vida. Confira o trailer:

É muito bacana que já na primeira atividade na sala de aula, Bonnie cria o simpático e descompensado "Garfinho". Nessa atividade solitária de artesanato, Bonnie estabelece sua identificação com o novo personagem e é inacreditável como passamos a nos importar com eles. Woody que não quis deixar Bonnie ir sozinha para escola, chega a duvidar se aquela "colagem" poderia mesmo representar algo para ela  e quando ele percebe que aquele garfo plástico também tem vida (e sentimento), mesmo não sendo um brinquedo, tudo muda! "Garfinho" representa tudo que foge do padrão, do "status quo", mas que aos olhos de uma criança, não importa, afinal as crianças não se preocupam com isso e sim com a magia de ter algo que represente algo verdadeiro para elas, mesmo que lúdico! A alegria da criança está na simplicidade e na inocência - "Slapt", tapa na cara!

A história mostra a jornada de Woody para provar que o "Garfinho" é realmente importante para Bonnie. Só que as coisas começam a sair do controle quando, em uma viagem, o "Garfinho" resolve fugir por acreditar que o melhor lugar para ele seria o lixo - afinal ele não é um brinquedo de verdade e foi de lá que ele saiu ("Slapt" de novo!). Entendendo a importância do novo "brinquedinho" de Bonnie, Woody enfrenta os mais diferentes desafios dentro de um "Antiquário" repleto de elementos "assustadores" para recuperar o bendito "Garfinho" antes mesmo que Bonnie se dê conta do seu desaparecimento definitivo. Mas "crianças perdem brinquedos a todo momento!" - essa frase é repetida várias vezes durante o filme, mas não justifica ou não conforta o sentimento de Woody perante aquela simpática criaturinha!!! Woody nunca deixa um brinquedo para trás, certo? É incrível como as metáforas são colocadas em todos os momentos durante o filme e isso, por si só, já credencia "Toy Story 4" como um dos grandes filmes do ano! Soma-se a isso uma animação de cair o queixo, principalmente nas cenas dentro do "Antiquário" cheio de teias de aranha e poeira; e das cenas noturnas do parque de diversão!!! A luz desfocada em segundo plano parece de verdade de tão perfeita que está. É realmente lindo!!!!

O fato é que a franquia "Toy Story" foi se reinventando (para nossa surpresa) e nos provocando para olhar o mundo de uma outra forma, sem vacilar um frame no que tem de mais importante, na sua essência: uma boa história, uma história com alma! "Toy Story 4" não foge disso, é uma aula de storyteling e de representatividade, mas sem levantar nenhuma bandeira, apenas tratando seu propósito com verdade e paixão! 

Não deixe de assistir com seu filhos, sozinho, com a namorada... e prepare-se para enxugar aquela lágrima que vai teimar em cair! Vale muito a pena!!!!!

Up-date: "Toy Story 4" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Animação!

Assista Agora

Trabalho Interno

"Trabalho Interno" é daqueles documentários que faz você perder completamente a fé no ser humano. Pode até parecer que o filme tem o objetivo de explicar como um sistema complexo foi desmoronando até encontrar o seu ápice em 2008, mas não, ele vai além: o que vemos na tela é um conjunto de ganância, hipocrisia e total falta de empatia do tamanho do bônus anual de cada um dos executivos dos bancos de investimentos envolvido na crise. Triste, mas real!

Em 2008, uma crise econômica de proporções globais fez com que milhões de pessoas perdessem suas casas e empregos. Ao todo, foram gastos mais de US$ 20 trilhões para combater a situação. Através de uma extensa pesquisa e entrevistas com pessoas ligadas ao mundo financeiro, políticos e jornalistas, é desvendado o relacionamento corrosivo que envolveu representantes da política, da justiça e do mundo acadêmico. Confira o trailer:

"Trabalho Interno" foi o grande vencedor do Oscar de melhor Documentário em 2011 e sua importância justifica o prêmio. Com o roteiro escrito pelos estreantes Chad Beck e Adam Bolt, e dirigido por Charles Ferguson (de "No End in Sight" que fazia uma abordagem critica do governo de George W. Bush e a intervenção americana no Iraque), o documentário surpreende pela clareza com que discute o assunto - é fácil perceber a organicidade do roteiro, nos dando a falsa impressão de que o tema é imensamente mais fácil e que tudo que aconteceu é muito pior do que imaginávamos. A montagem usa de uma narrativa bastante dinâmica, equilibrando perfeitamente entrevistas com animações praticamente auto-explicativas, e ainda uma narração perfeita que une todos os pontos no tom exato e sem rodeios (mérito de Matt Damon).

O bacana é que "Trabalho Interno" não se limita em explicar como a bolha econômica foi sendo construída. Ao melhor estilo "Michael Moore", há uma claro, e positivo, interesse de apontar os culpados e de denunciar, ponto a ponto, como alguns executivos enriqueceram com a crise. A desregulamentação iniciada pelo governo Reagan se estende até a administração de Barack Obama, passando, obviamente, por George W. Bush - Ferguson não passa pano em ninguém e isso qualifica sua posição como cineasta.  O problema é que as denuncias não param por aí, não se salvam professores de universidades como Havard e Columbia, lobistas, diretores de grandes bancos, bancos de investimento e até de equipes econômicas dos presidentes americanos citados. Olha, é de embrulhar o estômago!

A divisão em capítulos ajuda muito a dinâmica do documentário, mas em nenhum momento ele se apoia em performances individuais para nos conquistar. Mesmo quando as perguntas vazam pelo microfone, o foco é muito mais na reação do entrevistado (e são tantas incríveis) do que na espetacularização na situação - e é aqui que o filme se distancia de Moore. "Inside the Job" (título original) é o filme que temos que assistir antes de "Margin Call" ou "A Grande Aposta", afinal ele nos dá a base intelectual para colhermos o que tem de melhor das outras produções. 

Um grande e dolorido documentário! Vale muito seu play!

Assista Agora

"Trabalho Interno" é daqueles documentários que faz você perder completamente a fé no ser humano. Pode até parecer que o filme tem o objetivo de explicar como um sistema complexo foi desmoronando até encontrar o seu ápice em 2008, mas não, ele vai além: o que vemos na tela é um conjunto de ganância, hipocrisia e total falta de empatia do tamanho do bônus anual de cada um dos executivos dos bancos de investimentos envolvido na crise. Triste, mas real!

Em 2008, uma crise econômica de proporções globais fez com que milhões de pessoas perdessem suas casas e empregos. Ao todo, foram gastos mais de US$ 20 trilhões para combater a situação. Através de uma extensa pesquisa e entrevistas com pessoas ligadas ao mundo financeiro, políticos e jornalistas, é desvendado o relacionamento corrosivo que envolveu representantes da política, da justiça e do mundo acadêmico. Confira o trailer:

"Trabalho Interno" foi o grande vencedor do Oscar de melhor Documentário em 2011 e sua importância justifica o prêmio. Com o roteiro escrito pelos estreantes Chad Beck e Adam Bolt, e dirigido por Charles Ferguson (de "No End in Sight" que fazia uma abordagem critica do governo de George W. Bush e a intervenção americana no Iraque), o documentário surpreende pela clareza com que discute o assunto - é fácil perceber a organicidade do roteiro, nos dando a falsa impressão de que o tema é imensamente mais fácil e que tudo que aconteceu é muito pior do que imaginávamos. A montagem usa de uma narrativa bastante dinâmica, equilibrando perfeitamente entrevistas com animações praticamente auto-explicativas, e ainda uma narração perfeita que une todos os pontos no tom exato e sem rodeios (mérito de Matt Damon).

O bacana é que "Trabalho Interno" não se limita em explicar como a bolha econômica foi sendo construída. Ao melhor estilo "Michael Moore", há uma claro, e positivo, interesse de apontar os culpados e de denunciar, ponto a ponto, como alguns executivos enriqueceram com a crise. A desregulamentação iniciada pelo governo Reagan se estende até a administração de Barack Obama, passando, obviamente, por George W. Bush - Ferguson não passa pano em ninguém e isso qualifica sua posição como cineasta.  O problema é que as denuncias não param por aí, não se salvam professores de universidades como Havard e Columbia, lobistas, diretores de grandes bancos, bancos de investimento e até de equipes econômicas dos presidentes americanos citados. Olha, é de embrulhar o estômago!

A divisão em capítulos ajuda muito a dinâmica do documentário, mas em nenhum momento ele se apoia em performances individuais para nos conquistar. Mesmo quando as perguntas vazam pelo microfone, o foco é muito mais na reação do entrevistado (e são tantas incríveis) do que na espetacularização na situação - e é aqui que o filme se distancia de Moore. "Inside the Job" (título original) é o filme que temos que assistir antes de "Margin Call" ou "A Grande Aposta", afinal ele nos dá a base intelectual para colhermos o que tem de melhor das outras produções. 

Um grande e dolorido documentário! Vale muito seu play!

Assista Agora

Trapaça

Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).

Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:

Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.

Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood  (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.

"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!

Assista Agora

Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).

Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:

Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.

Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood  (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.

"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!

Assista Agora

Três Anúncios para um Crime

Depois de meses sem ser encontrado o culpado no terrível caso de homicídio onde sua filha foi estuprada e depois carbonizada, Mildred Hayes (Frances McDormand) faz uma jogada ousada ao alugar três outdoors na entrada da pequena cidade de Ebbing no Missouri, e colocar uma mensagem polêmica dirigida a William Willoughby (Woody Harrelson), o respeitado chefe de polícia da cidade. Quando o seu parceiro Dixon (Sam Rockwell), um menino mimado pela mãe, extremamente imaturo e com uma inclinação para a violência, se envolve, a batalha entre Mildred e a policia, acaba saindo do controle. Confira o trailer:

Olha, "Três Anúncios para um Crime" é muito bom, mas não achei fenomenal! O roteiro é interessante, mas hoje em dia, com o que assistimos nas séries, acaba soando tão superficial no cinema que chega a ser cruel ter que entregar 200 páginas de roteiro para contar uma história como essa. Parece que não dá tempo de desenvolver a trama como ela merecia - foi uma sensação que tive e entendo que se trata de uma outra mídia, mas filmes de crimes (e principalmente quando envolve investigação) sofrem muito com essa limitação de tempo.

Agora, o filme parece que foi feito para Frances McDormand - vai ser difícil tirar o Oscar de "Melhor Atriz" dela. Sam Rockwell também está impecável - é meu favorito em ator coadjuvante. O Diretor foi muito bem, principalmente na direção dos atores, mas não dá pra comparar (ainda) com Del Toro e Nolan - e olha que ele, Martin McDonagh, já ganhou um Oscar em 2006 com seu Curta-Metragem "Six Shooter"- aliás, ele é o tipo de Diretor (e Roteirista) que vale a pena acompanhar!

Resumindo: "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri" (título original) é sim um grande filme, teve 7 indicações em 2018, mas não seria minha aposta para maior prêmio da noite!

Up-date: "Três Anúncios para um Crime" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante! 

Assista Agora

Depois de meses sem ser encontrado o culpado no terrível caso de homicídio onde sua filha foi estuprada e depois carbonizada, Mildred Hayes (Frances McDormand) faz uma jogada ousada ao alugar três outdoors na entrada da pequena cidade de Ebbing no Missouri, e colocar uma mensagem polêmica dirigida a William Willoughby (Woody Harrelson), o respeitado chefe de polícia da cidade. Quando o seu parceiro Dixon (Sam Rockwell), um menino mimado pela mãe, extremamente imaturo e com uma inclinação para a violência, se envolve, a batalha entre Mildred e a policia, acaba saindo do controle. Confira o trailer:

Olha, "Três Anúncios para um Crime" é muito bom, mas não achei fenomenal! O roteiro é interessante, mas hoje em dia, com o que assistimos nas séries, acaba soando tão superficial no cinema que chega a ser cruel ter que entregar 200 páginas de roteiro para contar uma história como essa. Parece que não dá tempo de desenvolver a trama como ela merecia - foi uma sensação que tive e entendo que se trata de uma outra mídia, mas filmes de crimes (e principalmente quando envolve investigação) sofrem muito com essa limitação de tempo.

Agora, o filme parece que foi feito para Frances McDormand - vai ser difícil tirar o Oscar de "Melhor Atriz" dela. Sam Rockwell também está impecável - é meu favorito em ator coadjuvante. O Diretor foi muito bem, principalmente na direção dos atores, mas não dá pra comparar (ainda) com Del Toro e Nolan - e olha que ele, Martin McDonagh, já ganhou um Oscar em 2006 com seu Curta-Metragem "Six Shooter"- aliás, ele é o tipo de Diretor (e Roteirista) que vale a pena acompanhar!

Resumindo: "Three Billboards Outside Ebbing, Missouri" (título original) é sim um grande filme, teve 7 indicações em 2018, mas não seria minha aposta para maior prêmio da noite!

Up-date: "Três Anúncios para um Crime" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante! 

Assista Agora

Triângulo da Tristeza

Filmaço! Bem na linha do genial "White Lotus", o surpreendente, e indicado ao Oscar 2023, "Triângulo da Tristeza" é uma verdadeira coleção de criticas sociais, políticas e até, com uma certa pitada proposital de hipocrisia, ideológicas. Com uma narrativa muito bem construída, se apoiando em uma sátira fundamentada, o filme que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2022 coloca em uma mesma prateleira as nuances (mesmo que estereotipadas) de uma luta de classes constante com os notáveis prazeres e desprazeres do capitalismo - na mesma linha de "Parasita", mas talvez aqui melhor posicionado quanto sua predileção.

Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean) são dois jovens modelos que acabam sendo convidados para um cruzeiro em um iate de luxo, repleto de milionários que esbanjam auto-confiança e desprezo pelos menos favorecidos. Porém, após uma noite de tormenta e um ataque de piratas, o barco acaba naufragando, deixando os sobreviventes presos numa ilha deserta. É nesse contexto que hierarquia social se inverte, afinal, ali, o dinheiro pouco importa e uma pessoa que sabe como sobreviver nesse local inóspito vira rei. Confira o trailer:

Dirigido e escrito pelo multi-talentoso sueco Ruben Östlund (de "The Square"), "Triângulo da Tristeza"  expõe com muita inteligência a fragilidade de uma nova classe de privilegiados que nada se diferencia daquela usualmente criticada por eles mesmos através de suas inúmeras "#", os influencers! A partir de diálogos inteligentes, profundos e irônicos, os personagens vão se contradizendo a cada nova situação que aquele universo proporciona, normalmente de forma bem bem-humorada, mas nem por isso menos impactante - a cena da senhora rica tentando convencer a jovem que trabalha no iate a entrar e relaxar na piscina é tão desconcertante quanto genial e dá o exato tom do filme.

Como nas duas referências citadas, além do roteiro ácido na medida certa, o elenco também se sobressai - na verdade, os personagens são tão bem construídos que os diálogos acabam fluindo de uma maneira muito orgânica, dando a exata sensação que nada ali é por acaso. Veja, se Carl é inseguro, sua namorada, Yaya, é uma modelo famosa que quer mais ser influencer (ou troféu de marido, como ela mesmo diz) mesmo que seu conteúdo consista apenas em selfies mentirosas. O filme ainda apresenta um simpático casal de idosos britânicos cuja fortuna foi conquistada com a venda de armas (e que sobreviveu, vejam só, a taxação de 25% sobre as minas terrestres, campeã de vendas da empresa) e um magnata russo, Dimitry (Zlatko Buric), que cresceu às custas da exploração do Leste Europeu pós-União Soviética, vendendo adubo, e que está aproveitando o cruzeiro junto com sua antiga esposa e sua atual (e claro, mais jovem) namorada.

"Triângulo da Tristeza" tem o mérito de transitar por todas as camadas desse abismo social com a sensibilidade de quem consegue enxergar além do luxo e do dinheiro. O roteiro visivelmente critica uma elite tão cega e presa na sua própria bolha, que nem no choque de realidade é capaz de trazer um pouco de bom senso para o seu modo de se relacionar com o mundo. Mas não se enganem, esse é o tipo do filme onde é necessário um olhar atento aos detalhes, pois é na forma como um hóspede rejeita uma bebida ou  como a tripulação se prepara para o cruzeiro pensando exclusivamente na gordas gorjetas, que entendemos perfeitamente como é a "ocasião que faz o ladrão".

Vale muito o seu play!

Ah, em tempo, "Triângulo da Tristeza" foi indicado em 3 categorias: "Melhor Roteiro Original", "Melhor Direção" e "Melhor Filme"!

Assista Agora

Filmaço! Bem na linha do genial "White Lotus", o surpreendente, e indicado ao Oscar 2023, "Triângulo da Tristeza" é uma verdadeira coleção de criticas sociais, políticas e até, com uma certa pitada proposital de hipocrisia, ideológicas. Com uma narrativa muito bem construída, se apoiando em uma sátira fundamentada, o filme que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2022 coloca em uma mesma prateleira as nuances (mesmo que estereotipadas) de uma luta de classes constante com os notáveis prazeres e desprazeres do capitalismo - na mesma linha de "Parasita", mas talvez aqui melhor posicionado quanto sua predileção.

Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean) são dois jovens modelos que acabam sendo convidados para um cruzeiro em um iate de luxo, repleto de milionários que esbanjam auto-confiança e desprezo pelos menos favorecidos. Porém, após uma noite de tormenta e um ataque de piratas, o barco acaba naufragando, deixando os sobreviventes presos numa ilha deserta. É nesse contexto que hierarquia social se inverte, afinal, ali, o dinheiro pouco importa e uma pessoa que sabe como sobreviver nesse local inóspito vira rei. Confira o trailer:

Dirigido e escrito pelo multi-talentoso sueco Ruben Östlund (de "The Square"), "Triângulo da Tristeza"  expõe com muita inteligência a fragilidade de uma nova classe de privilegiados que nada se diferencia daquela usualmente criticada por eles mesmos através de suas inúmeras "#", os influencers! A partir de diálogos inteligentes, profundos e irônicos, os personagens vão se contradizendo a cada nova situação que aquele universo proporciona, normalmente de forma bem bem-humorada, mas nem por isso menos impactante - a cena da senhora rica tentando convencer a jovem que trabalha no iate a entrar e relaxar na piscina é tão desconcertante quanto genial e dá o exato tom do filme.

Como nas duas referências citadas, além do roteiro ácido na medida certa, o elenco também se sobressai - na verdade, os personagens são tão bem construídos que os diálogos acabam fluindo de uma maneira muito orgânica, dando a exata sensação que nada ali é por acaso. Veja, se Carl é inseguro, sua namorada, Yaya, é uma modelo famosa que quer mais ser influencer (ou troféu de marido, como ela mesmo diz) mesmo que seu conteúdo consista apenas em selfies mentirosas. O filme ainda apresenta um simpático casal de idosos britânicos cuja fortuna foi conquistada com a venda de armas (e que sobreviveu, vejam só, a taxação de 25% sobre as minas terrestres, campeã de vendas da empresa) e um magnata russo, Dimitry (Zlatko Buric), que cresceu às custas da exploração do Leste Europeu pós-União Soviética, vendendo adubo, e que está aproveitando o cruzeiro junto com sua antiga esposa e sua atual (e claro, mais jovem) namorada.

"Triângulo da Tristeza" tem o mérito de transitar por todas as camadas desse abismo social com a sensibilidade de quem consegue enxergar além do luxo e do dinheiro. O roteiro visivelmente critica uma elite tão cega e presa na sua própria bolha, que nem no choque de realidade é capaz de trazer um pouco de bom senso para o seu modo de se relacionar com o mundo. Mas não se enganem, esse é o tipo do filme onde é necessário um olhar atento aos detalhes, pois é na forma como um hóspede rejeita uma bebida ou  como a tripulação se prepara para o cruzeiro pensando exclusivamente na gordas gorjetas, que entendemos perfeitamente como é a "ocasião que faz o ladrão".

Vale muito o seu play!

Ah, em tempo, "Triângulo da Tristeza" foi indicado em 3 categorias: "Melhor Roteiro Original", "Melhor Direção" e "Melhor Filme"!

Assista Agora

Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo

Provavelmente "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" é o filme mais maluco que você vai assistir em muitos anos! Ele tem tudo para ser uma espécie de "Matrix" de sua geração - mesmo que seu conteúdo, sua forma e principalmente seu tom, em muito pouco faz lembrar o filme de Lana e Lilly Wachowski. A questão é que aqui existe o mesmo elemento de disrupção que a produção de 1999 - é algo bastante criativo no seu enredo, onde nada (absolutamente nada) chega a ser absurdo para contar uma história aparentemente "sem pé nem cabeça", mas que esconde uma jornada existencial bastante profunda e cheia de provocações filosóficas. Dito isso e mesmo com a indicação ao Oscar 2023 como "Melhor Filme" (e mais 10 categorias), não serão todos que vão se conectar com o seu estilo - e aqui não vou nem falar de gênero, pois estou até agora tentando defini-lo.

Evelyn Wang (Michelle Yeoh) é uma imigrante chinesa que vive em um verdadeiro caos familiar. Tudo parece piorar quando ela se vê no meio de uma aventura onde, sozinha, precisará salvar o mundo, explorando outros universos e outras vidas que, vejam só, ela poderia ter vivido. Não bastasse, as coisas se complicam ainda mais quando ela fica presa nessa infinidade de possibilidades sem conseguir retornar para casa onde, de fato, sua vida fazia algum sentido. Confira o trailer:

Os diretores Dan Kwan eDaniel Scheinert, também conhecidos como “Daniels”, aproveitam de um conceito completamente independente de produção para criar uma espécie de alegoria cinematográfica sobre alguns dos mais complexos dramas - o humano. É incrível como a simbologia acompanha os detalhes da narrativa a partir de um roteiro extremamente original (também indicado ao Oscar) que se apoia no inusitado como forma de representar as ansiedades modernas. Se Neo usava da tecnologia para construir sua persona e se conectar com as mais diversas habilidades, aqui é o número exaustivo de multiversos que basicamente serve de metáfora para a quantidade absurda de informações que buscamos no mundo virtual com o intuito de sermos melhores do que realmente somos. Digo isso sem diminuir a importância de buscar o aprendizado contínuo, mas sim como alusão à inutilidade de muitos dos conteúdos que encontramos e que acabam gerando muito mais confusão do que beneficio.

Mais uma vez citando as irmãs Wachowski em "A Viagem" de 2012 ou até em "Sense8" em 2015, é importante reparar como as múltiplas histórias, dos múltiplos universos, se sustentam com a dinâmica enlouquecedora da narrativa, se comunicando de forma bem mais orgânica do que lógica - e aqui cabe um elogio eloquente para a montagem digna de muitos prêmios de Paul Rogers (também indicado ao Oscar). Outro elemento que chama a atenção e pontua o mood do filme é, sem dúvida, a trilha sonora (com duas músicas originais indicadas) - com um toque de sensibilidade, ela nos conduz das cenas de ação ao melhor estilo Jackie Chan ao conturbado relacionamento entre Wang e sua filha Joy (Stephanie Hsu) em um piscar de olhos.

"Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" tem uma história cheia de criticas ao mundo moderno (como os gatilhos que colocam os personagens em outros universos que emulam os desafios estúpidos que encontramos diariamente no TikTok) ao mesmo tempo em que revisita questões importantes como trauma geracional, maternidade, sexualidade e até o casamento. Pode parecer confuso e de fato até é - são tantos assuntos e tantas referências (muitas do cinema asiático), mas também existe um brilhantismo e até uma certa irresponsabilidade visual que empolga tanto quanto surpreende - agora, se você não está disposto a rir de um universo onde as pessoas tem dedos de salsicha ou acompanhar duas pedras discutindo sobre a vida, talvez o filme não seja para você!

Com mais de 275 prêmios em Festivais pelo mundo inteiro, fica difícil não dizer que esse filme vale seu play, né?

Up-date: "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" ganhou em sete categorias no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme!

Assista Agora

Provavelmente "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" é o filme mais maluco que você vai assistir em muitos anos! Ele tem tudo para ser uma espécie de "Matrix" de sua geração - mesmo que seu conteúdo, sua forma e principalmente seu tom, em muito pouco faz lembrar o filme de Lana e Lilly Wachowski. A questão é que aqui existe o mesmo elemento de disrupção que a produção de 1999 - é algo bastante criativo no seu enredo, onde nada (absolutamente nada) chega a ser absurdo para contar uma história aparentemente "sem pé nem cabeça", mas que esconde uma jornada existencial bastante profunda e cheia de provocações filosóficas. Dito isso e mesmo com a indicação ao Oscar 2023 como "Melhor Filme" (e mais 10 categorias), não serão todos que vão se conectar com o seu estilo - e aqui não vou nem falar de gênero, pois estou até agora tentando defini-lo.

Evelyn Wang (Michelle Yeoh) é uma imigrante chinesa que vive em um verdadeiro caos familiar. Tudo parece piorar quando ela se vê no meio de uma aventura onde, sozinha, precisará salvar o mundo, explorando outros universos e outras vidas que, vejam só, ela poderia ter vivido. Não bastasse, as coisas se complicam ainda mais quando ela fica presa nessa infinidade de possibilidades sem conseguir retornar para casa onde, de fato, sua vida fazia algum sentido. Confira o trailer:

Os diretores Dan Kwan eDaniel Scheinert, também conhecidos como “Daniels”, aproveitam de um conceito completamente independente de produção para criar uma espécie de alegoria cinematográfica sobre alguns dos mais complexos dramas - o humano. É incrível como a simbologia acompanha os detalhes da narrativa a partir de um roteiro extremamente original (também indicado ao Oscar) que se apoia no inusitado como forma de representar as ansiedades modernas. Se Neo usava da tecnologia para construir sua persona e se conectar com as mais diversas habilidades, aqui é o número exaustivo de multiversos que basicamente serve de metáfora para a quantidade absurda de informações que buscamos no mundo virtual com o intuito de sermos melhores do que realmente somos. Digo isso sem diminuir a importância de buscar o aprendizado contínuo, mas sim como alusão à inutilidade de muitos dos conteúdos que encontramos e que acabam gerando muito mais confusão do que beneficio.

Mais uma vez citando as irmãs Wachowski em "A Viagem" de 2012 ou até em "Sense8" em 2015, é importante reparar como as múltiplas histórias, dos múltiplos universos, se sustentam com a dinâmica enlouquecedora da narrativa, se comunicando de forma bem mais orgânica do que lógica - e aqui cabe um elogio eloquente para a montagem digna de muitos prêmios de Paul Rogers (também indicado ao Oscar). Outro elemento que chama a atenção e pontua o mood do filme é, sem dúvida, a trilha sonora (com duas músicas originais indicadas) - com um toque de sensibilidade, ela nos conduz das cenas de ação ao melhor estilo Jackie Chan ao conturbado relacionamento entre Wang e sua filha Joy (Stephanie Hsu) em um piscar de olhos.

"Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" tem uma história cheia de criticas ao mundo moderno (como os gatilhos que colocam os personagens em outros universos que emulam os desafios estúpidos que encontramos diariamente no TikTok) ao mesmo tempo em que revisita questões importantes como trauma geracional, maternidade, sexualidade e até o casamento. Pode parecer confuso e de fato até é - são tantos assuntos e tantas referências (muitas do cinema asiático), mas também existe um brilhantismo e até uma certa irresponsabilidade visual que empolga tanto quanto surpreende - agora, se você não está disposto a rir de um universo onde as pessoas tem dedos de salsicha ou acompanhar duas pedras discutindo sobre a vida, talvez o filme não seja para você!

Com mais de 275 prêmios em Festivais pelo mundo inteiro, fica difícil não dizer que esse filme vale seu play, né?

Up-date: "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" ganhou em sete categorias no Oscar 2023, inclusive de Melhor Filme!

Assista Agora

Um Completo Desconhecido

Tirando seu protagonista icônico, "Um Completo Desconhecido" não tem absolutamente nada de novo - e isso poderia até soar ruim, mas não: o filme é muito bom! James Mangold, um diretor que já demonstrou sua habilidade em biografias musicais com "Johnny & June" (de 2005), agora retorna ao gênero com "A Complete Unknown", no original - um filme que surge da premissa de explorar um dos momentos mais emblemáticos da carreira de Bob Dylan. Estrelado por Timothée Chalamet, a narrativa se concentra na transição de Dylan do seu folk acústico para um rock cheio de eletricidade dos anos 1960 - um período que redefiniu sua trajetória e polarizou sua base de fãs. Assim como "Não Estou Lá", do diretor Todd Haynes, que retratou Dylan de forma fragmentada, "Um Completo Desconhecido" busca capturar a essência de um artista único, em constante reinvenção, mas com aquela abordagem mais linear, para não dizer tradicional, lembrando produções como "Bohemian Rhapsody" e, mais recentemente, "Elvis", que dramatizam a ascensão de um ícone da música, mas também a complexidade de seus conflitos internos.

A narrativa se desenrola no contexto do Festival de Newport de 1965, quando Dylan (Chalamet) surpreendeu (e enfureceu) os puristas do folk ao empunhar uma guitarra elétrica no palco. O roteiro, baseado no livro "Dylan Goes Electric!" de Elijah Wald, não se limita a reconstruir esse evento, claro, mas busca se aprofundar na relação do cantor com figuras-chave da época, como Joan Baez (Monica Barbaro), Pete Seeger (Edward Norton) eSylvie Russo (Elle Fanning). A escolha de Mangold em focar nesse recorte específico da vida de Dylan evita o formato convencional mais abrangente de cinebiografias, permitindo um mergulho mais detalhado na tensão entre tradição e inovação, autenticidade e loucura, arte e indústria. Confira o trailer:

Um ponto interessante do trabalho de Mangold é a forma como ele equilibra a mitificação e a desconstrução de Dylan, explorando sua relutância em ser um porta-voz de qualquer movimento - e até de sua feroz resistência em ser definido por algum tipo rótulo. A transição do folk para o rock não é apenas uma escolha musical, mas uma declaração de independência artística que marcou Dylan por anos - o filme acerta na mosca ao explorar as reações exacerbadas do seu público, de artistas e de alguns empresários diante dessa mudança. A tensão, aliás, cresce conforme Dylan enfrenta a ira dos puristas, simbolizando, além de tudo, seus dilemas perante sua própria identidade artística e seus desafios diante de sua ascensão meteórica. Meu único incomodo aqui, está na abordagem de Mangold: ele segue um caminho mais convencional que para mim, soou preguiçoso (o que me fez ficar muito surpreso por sua indicação ao Oscar). Isso define o filme como ruim? Longe disso, mas também é inegável que "Um Completo Desconhecido" aposta mais em uma estrutura acessível e emocional, que pode agradar ao grande público, do que algo mais desconstruído e subjetivo como muitos esperavam que Mangold entregaria.

Já Timothée Chalamet entrega uma performance meticulosa - que lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar de "Melhor Ator". Chalamet foge da imitação barata para capturar a persona enigmática e a atitude irreverente de Dylan. Seu trabalho vocal, essencial aqui, impressiona; especialmente pelo fato de ele mesmo interpretar as canções ao invés de recorrer às dublagens. Monica Barbaro, outra que ganhou uma indicação ao Oscar, assume com intensidade o papel de Joan Baez, demonstrando a complexa dinâmica entre os dois músicos, que transitava entre admiração, rivalidade e uma inevitável desconexão - especialmente quando Dylan se distancia da cena folk. Edward Norton, também indicado como "Coadjuvante", traz um equilíbrio necessário para narrativa, funcionando tanto como mentor quanto como catalisador emocional da metamorfose artística do protagonista.

Tecnicamente,"Um Completo Desconhecido"reforça sua atmosfera nostálgica com uma fotografia que remete ao cinema da década de 1960, assinada por Phedon Papamichael (de "Nebraska" e "Os 7 de Chigago"). O departamento de arte reconstrói minuciosamente os bastidores da cena musical folk de Greenwich Village e a transição para um Dylan mais sofisticado, cercado por músicos do blues elétrico. A trilha sonora, obviamente, é um dos pontos altos do filme - repare como a curadoria das canções reflete as camadas emocionais do protagonista, evitando um mero "greatest hits" e privilegiando faixas que dialogam com os dilemas de Dylan. No fim, "Um Completo Desconhecido" se destaca como uma cinebiografia sólida, talvez por isso tão tradicional, que é impulsionada por performances marcantes e por um olhar cuidadoso sobre um momento crucial da história do rock. O filme não tenta decifrar Bob Dylan, mas captura um instante em que ele se reinventou e, ao fazer isso, mudou para sempre o rumo da música americana. 

Vale muito a pena!

Um Completo Desconhecido" recebeu oito indicações ao Oscar 2025!

O filme está em cartaz nos cinemas.

Tirando seu protagonista icônico, "Um Completo Desconhecido" não tem absolutamente nada de novo - e isso poderia até soar ruim, mas não: o filme é muito bom! James Mangold, um diretor que já demonstrou sua habilidade em biografias musicais com "Johnny & June" (de 2005), agora retorna ao gênero com "A Complete Unknown", no original - um filme que surge da premissa de explorar um dos momentos mais emblemáticos da carreira de Bob Dylan. Estrelado por Timothée Chalamet, a narrativa se concentra na transição de Dylan do seu folk acústico para um rock cheio de eletricidade dos anos 1960 - um período que redefiniu sua trajetória e polarizou sua base de fãs. Assim como "Não Estou Lá", do diretor Todd Haynes, que retratou Dylan de forma fragmentada, "Um Completo Desconhecido" busca capturar a essência de um artista único, em constante reinvenção, mas com aquela abordagem mais linear, para não dizer tradicional, lembrando produções como "Bohemian Rhapsody" e, mais recentemente, "Elvis", que dramatizam a ascensão de um ícone da música, mas também a complexidade de seus conflitos internos.

A narrativa se desenrola no contexto do Festival de Newport de 1965, quando Dylan (Chalamet) surpreendeu (e enfureceu) os puristas do folk ao empunhar uma guitarra elétrica no palco. O roteiro, baseado no livro "Dylan Goes Electric!" de Elijah Wald, não se limita a reconstruir esse evento, claro, mas busca se aprofundar na relação do cantor com figuras-chave da época, como Joan Baez (Monica Barbaro), Pete Seeger (Edward Norton) eSylvie Russo (Elle Fanning). A escolha de Mangold em focar nesse recorte específico da vida de Dylan evita o formato convencional mais abrangente de cinebiografias, permitindo um mergulho mais detalhado na tensão entre tradição e inovação, autenticidade e loucura, arte e indústria. Confira o trailer:

Um ponto interessante do trabalho de Mangold é a forma como ele equilibra a mitificação e a desconstrução de Dylan, explorando sua relutância em ser um porta-voz de qualquer movimento - e até de sua feroz resistência em ser definido por algum tipo rótulo. A transição do folk para o rock não é apenas uma escolha musical, mas uma declaração de independência artística que marcou Dylan por anos - o filme acerta na mosca ao explorar as reações exacerbadas do seu público, de artistas e de alguns empresários diante dessa mudança. A tensão, aliás, cresce conforme Dylan enfrenta a ira dos puristas, simbolizando, além de tudo, seus dilemas perante sua própria identidade artística e seus desafios diante de sua ascensão meteórica. Meu único incomodo aqui, está na abordagem de Mangold: ele segue um caminho mais convencional que para mim, soou preguiçoso (o que me fez ficar muito surpreso por sua indicação ao Oscar). Isso define o filme como ruim? Longe disso, mas também é inegável que "Um Completo Desconhecido" aposta mais em uma estrutura acessível e emocional, que pode agradar ao grande público, do que algo mais desconstruído e subjetivo como muitos esperavam que Mangold entregaria.

Já Timothée Chalamet entrega uma performance meticulosa - que lhe rendeu mais uma indicação ao Oscar de "Melhor Ator". Chalamet foge da imitação barata para capturar a persona enigmática e a atitude irreverente de Dylan. Seu trabalho vocal, essencial aqui, impressiona; especialmente pelo fato de ele mesmo interpretar as canções ao invés de recorrer às dublagens. Monica Barbaro, outra que ganhou uma indicação ao Oscar, assume com intensidade o papel de Joan Baez, demonstrando a complexa dinâmica entre os dois músicos, que transitava entre admiração, rivalidade e uma inevitável desconexão - especialmente quando Dylan se distancia da cena folk. Edward Norton, também indicado como "Coadjuvante", traz um equilíbrio necessário para narrativa, funcionando tanto como mentor quanto como catalisador emocional da metamorfose artística do protagonista.

Tecnicamente,"Um Completo Desconhecido"reforça sua atmosfera nostálgica com uma fotografia que remete ao cinema da década de 1960, assinada por Phedon Papamichael (de "Nebraska" e "Os 7 de Chigago"). O departamento de arte reconstrói minuciosamente os bastidores da cena musical folk de Greenwich Village e a transição para um Dylan mais sofisticado, cercado por músicos do blues elétrico. A trilha sonora, obviamente, é um dos pontos altos do filme - repare como a curadoria das canções reflete as camadas emocionais do protagonista, evitando um mero "greatest hits" e privilegiando faixas que dialogam com os dilemas de Dylan. No fim, "Um Completo Desconhecido" se destaca como uma cinebiografia sólida, talvez por isso tão tradicional, que é impulsionada por performances marcantes e por um olhar cuidadoso sobre um momento crucial da história do rock. O filme não tenta decifrar Bob Dylan, mas captura um instante em que ele se reinventou e, ao fazer isso, mudou para sempre o rumo da música americana. 

Vale muito a pena!

Um Completo Desconhecido" recebeu oito indicações ao Oscar 2025!

O filme está em cartaz nos cinemas.

Um Filho

"Um Filho" é um grande filme, mas também uma pancada sem dó - daquelas que deixam marcas profundas mesmo após os créditos subirem! Antes de mais nada é preciso deixar claro que o filme dirigido pelo talentoso Florian Zeller não é uma continuação de seu projeto anterior, o extraordinário “Meu Pai” - talvez um prequel se encaixe melhor se olharmos pelo prisma de uma franquia, já que o personagem de Anthony Hopkins também está no filme e em uma única cena já explica justamente a razão de Peter (Hugh Jackman) nem ser citado em "Meu Pai". Pontuada essa sensível conexão entre as duas obras, temos mais uma vez uma história cheia de camadas, potente, densa e muito realista, onde a depressão de um filho e o relacionamento dele com seus pais separados constroem uma jornada de muita dor e angústia.

A agitada vida de Peter (Jackman) com sua nova parceira Beth (Vanessa Kirby) e seu filho recém-nascido, vira de cabeça para baixo quando sua ex-mulher Kate (Laura Dern) aparece com o filho adolescente do casal, Nicholas (Zen McGrath). O jovem está distante, irritado e ausente da escola há meses. Peter então, tenta cuidar do filho como gostaria que seu pai tivesse feito com ele, mas ao procurar o passado para corrigir seus erros, ele enfrenta enormes desafios para se conectar com Nicholas e o que parecia ser uma solução acaba se tornando um problema ainda maior. Confira o trailer:

"É preciso olhar para os nosso filhos, só que não da forma como achamos ser a correta, apenas baseado em nossas próprias experiências (boas e ruins), mas a partir de um cuidado individualizado, respeitando suas dores mais íntimas e, principalmente, o seu tempo". É com essa frase em mente que acompanhamos toda a jornada de Peter e Kate com seu filho Nicholas - reparem como o silêncio, o olhar e a postura dos personagens, geram uma angústia permanente, onde, de fora, fica claro que em algum momento algo de muito ruim pode acontecer. Mas como é possível que aqueles pais, claramente amorosos e cuidadosos, não percebam isso? Pois é, não percebem, pois não se trata de amor e sim de aceitar uma condição que foge do nosso controle - a depressão é isso e precisa ser levada a sério. Em uma das cenas mais impactantes do filme, Vanessa Kirby mostra todo seu talento justamente levantando essa questão e dói!

Mais uma vez Zeller vai arquitetando um trama sem a pressa de expor seus reais objetivos. A angústia sentimental genuína que Nicholas transmite para a audiência se materializa em inúmeras cenas onde o adolescente é confrontado diretamente por seus pais e até por sua madrasta, no entanto o outro lado também é verdadeiro, já que parece existir uma barreira etária (ou cultural) que impede que os diálogos fluam da maneira mais apropriada. Esse incômodo que o roteiro habilmente retrata, tem um impacto emocional em quem assiste que, como na história, vai minando as esperanças de um final feliz e olha que o terceiro ato, como uma cereja no bolo, sabe fechar sua proposta com um toque avassalador de realidade.

Tecnicamente perfeito em todos os seus aspectos, "Um Filho" de fato não alcançou as glórias de “Meu Pai”, mas acreditem: isso não faz a menor diferença na experiência que é lidar com essa história visceral. No entanto esse não é um filme que recomendaria para qualquer pessoa - os gatilhos são fortes e machucam demais!  Embora pertinente, esse alerta não deve diminuir o valor cinematográfico que a obra tem. "The Son" (no original) é um excelente filme, com seu drama denso, emocionante e importante por trocar em um assunto tão sensível, só que dessa vez, pelo olhar e pela percepção de quem está de fora mas não tem como ajudar. Brilhante!

Vale cada segundo do seu play!

PS: Fechando a trilogia de relações familiares e saúde mental iniciada por "Meu Pai" e agora "Um Filho", "A Mãe" deve focar em Anne lidando com a famosa "síndrome do ninho vazio" quando seus dois filhos saem de casa para construir vidas próprias ao mesmo tempo em que ela também suspeita que seu marido, Paul (Rufus Sewell o interpretou em "Meu Pai"), está tendo um caso.

Assista Agora

"Um Filho" é um grande filme, mas também uma pancada sem dó - daquelas que deixam marcas profundas mesmo após os créditos subirem! Antes de mais nada é preciso deixar claro que o filme dirigido pelo talentoso Florian Zeller não é uma continuação de seu projeto anterior, o extraordinário “Meu Pai” - talvez um prequel se encaixe melhor se olharmos pelo prisma de uma franquia, já que o personagem de Anthony Hopkins também está no filme e em uma única cena já explica justamente a razão de Peter (Hugh Jackman) nem ser citado em "Meu Pai". Pontuada essa sensível conexão entre as duas obras, temos mais uma vez uma história cheia de camadas, potente, densa e muito realista, onde a depressão de um filho e o relacionamento dele com seus pais separados constroem uma jornada de muita dor e angústia.

A agitada vida de Peter (Jackman) com sua nova parceira Beth (Vanessa Kirby) e seu filho recém-nascido, vira de cabeça para baixo quando sua ex-mulher Kate (Laura Dern) aparece com o filho adolescente do casal, Nicholas (Zen McGrath). O jovem está distante, irritado e ausente da escola há meses. Peter então, tenta cuidar do filho como gostaria que seu pai tivesse feito com ele, mas ao procurar o passado para corrigir seus erros, ele enfrenta enormes desafios para se conectar com Nicholas e o que parecia ser uma solução acaba se tornando um problema ainda maior. Confira o trailer:

"É preciso olhar para os nosso filhos, só que não da forma como achamos ser a correta, apenas baseado em nossas próprias experiências (boas e ruins), mas a partir de um cuidado individualizado, respeitando suas dores mais íntimas e, principalmente, o seu tempo". É com essa frase em mente que acompanhamos toda a jornada de Peter e Kate com seu filho Nicholas - reparem como o silêncio, o olhar e a postura dos personagens, geram uma angústia permanente, onde, de fora, fica claro que em algum momento algo de muito ruim pode acontecer. Mas como é possível que aqueles pais, claramente amorosos e cuidadosos, não percebam isso? Pois é, não percebem, pois não se trata de amor e sim de aceitar uma condição que foge do nosso controle - a depressão é isso e precisa ser levada a sério. Em uma das cenas mais impactantes do filme, Vanessa Kirby mostra todo seu talento justamente levantando essa questão e dói!

Mais uma vez Zeller vai arquitetando um trama sem a pressa de expor seus reais objetivos. A angústia sentimental genuína que Nicholas transmite para a audiência se materializa em inúmeras cenas onde o adolescente é confrontado diretamente por seus pais e até por sua madrasta, no entanto o outro lado também é verdadeiro, já que parece existir uma barreira etária (ou cultural) que impede que os diálogos fluam da maneira mais apropriada. Esse incômodo que o roteiro habilmente retrata, tem um impacto emocional em quem assiste que, como na história, vai minando as esperanças de um final feliz e olha que o terceiro ato, como uma cereja no bolo, sabe fechar sua proposta com um toque avassalador de realidade.

Tecnicamente perfeito em todos os seus aspectos, "Um Filho" de fato não alcançou as glórias de “Meu Pai”, mas acreditem: isso não faz a menor diferença na experiência que é lidar com essa história visceral. No entanto esse não é um filme que recomendaria para qualquer pessoa - os gatilhos são fortes e machucam demais!  Embora pertinente, esse alerta não deve diminuir o valor cinematográfico que a obra tem. "The Son" (no original) é um excelente filme, com seu drama denso, emocionante e importante por trocar em um assunto tão sensível, só que dessa vez, pelo olhar e pela percepção de quem está de fora mas não tem como ajudar. Brilhante!

Vale cada segundo do seu play!

PS: Fechando a trilogia de relações familiares e saúde mental iniciada por "Meu Pai" e agora "Um Filho", "A Mãe" deve focar em Anne lidando com a famosa "síndrome do ninho vazio" quando seus dois filhos saem de casa para construir vidas próprias ao mesmo tempo em que ela também suspeita que seu marido, Paul (Rufus Sewell o interpretou em "Meu Pai"), está tendo um caso.

Assista Agora

Um Limite Entre Nós

Existe uma linha tênue entre a genialidade de "Um Limite Entre Nós" e uma verborragia cansativa e sonolenta - quem vai definir o resultado dessa equação é o seu gosto pessoal! Partindo do principio que o filme é uma adaptação de um espetáculo teatral dos anos 80 chamado "Fences" (que também dá nome ao filme na sua versão original - algo como "Cercas"), é possível ter uma ideia de como a dinâmica narrativa está apoiada em diálogos profundos, muitas vezes longos, poucos cenários (basicamente o quintal do protagonista) e performances de cair o queixo - o que justifica a cara feia de Denzel Washington ao perder o Oscar de 2017 para Casey Affleck por "Manchester à Beira-Mar".

A premissa é até que simples: "Um Limite Entre Nós" é um filme que acompanha o casal Troy Maxson (Washington) e Rose Lee Maxson (Viola Davis), e que explora os relacionamentos entre eles, seus filhos e suas perspectivas e aspirações na vida, fazendo dos conflitos do dia-a-dia de seus personagens uma ferramenta para traçar uma poética análise sobre ciclos, culpa, rancor e, talvez, perdão. Confira ao trailer:

Ao lado de "Malcolm X", sem a menor dúvida, esse é o melhor trabalho de Denzel Washington no cinema. Infinitamente melhor que aqueles que lhe renderam o Oscar com "Tempos de Glória" e "Dia de Treinamento" - e olha que estamos falando de um ator que foi indicado 9 vezes, a última com "A Tragédia de Macbeth" que, para mim, completa o pódio de seus melhores trabalhos. Isso sem falar em Viola Davis, essa sim premiada em 2017 com o Oscar de melhor Atriz Coadjuvante! Tanto Washington quanto Davis seguram o filme em quase duas horas e meia de um drama que explora a profundidade dos personagens como poucas vezes vi. O trabalho é dificílimo, são inúmeras camadas para serem construídas e mesmo assim os dois brilham sem cair na armadilha de teatralizar a interpretação - o tom é perfeito para o cinema, mas meu amigo, o olhar, o silêncio, as nuances da respiração, das pausas, da interiorização sem querer expor nada além de um sentimento pontual, duro, sofrido; olha, uma verdadeira aula para quem aprecia essa arte!

E aqui cabe uma história interessante sobre o processo que levou Denzel Washington até a direção e produção dessa obra prima: Em meados dos anos 80, Washington foi ao teatro ver James Earl Jones (de "Star Wars") estrelar o espetáculo - sua identificação com o filho do protagonista foi imediata. Porém, o tempo passou e antes de morrer, em 2005, o autor August Wilson escreveu um roteiro que adaptava para o cinema sua peça. Este roteiro rodou Hollywood, sem sucesso. Dizem (e nunca ninguém confirmou esse fato) que havia um pedido importante feito pelo autor: o diretor deveria ser negro. Pois bem, quando esse roteiro chegou nas mãos de Denzel Washington, ele já era um ator respeitado e influente. Porém, lembrando de sua experiência no teatro, ele preferiu se manter fiel ao texto original e encenar a peça, ao invés de fazer um filme - que aliás rendeu para ele e para Viola Davis, que interpretou sua esposa também nos palcos, dois Tonys Awards, em 2010; além do troféu de Melhor Reencenação. 

Em 2013, quando Washington resolveu assumir o projeto para o cinema, já era claro que o projeto despertaria a curiosidade do público e que a critica receberia a filme de braços abertos - foi o que aconteceu. Desde a fotografia de Charlotte Bruus Christensen (premiada em Cannes por "A Caça") ao desenho de produção de David Gropman (de "A Vida de Pi"), tudo funciona perfeitamente. O roteiro adaptado por Wilson é só a cereja do bolo, porque todo recheio é tão magistral que fica impossível afirmar que a história não foi feita para a telona. Denzel Washington como diretor, foi bem demais - sua capacidade como ator influenciou todo elenco, ou seja, todos estão perfeitos, inclusive Stephen Henderson que faz o melhor amigo de Maxson, o adorável Bono.

"Um Limite Entre Nós" foi indicado ao prêmio de Melhor Filme de 2016 e, na minha opinião, é muito mais profundo e sincero que o vencedor daquela noite (o ótimo, claro, mas muito mais fácil de assistir), "Moonlight: Sob a Luz do Luar"

Se você ainda não deu uma chance para "Um Limite Entre Nós", não perca tempo! Vale muito a pena!

Assista Agora

Existe uma linha tênue entre a genialidade de "Um Limite Entre Nós" e uma verborragia cansativa e sonolenta - quem vai definir o resultado dessa equação é o seu gosto pessoal! Partindo do principio que o filme é uma adaptação de um espetáculo teatral dos anos 80 chamado "Fences" (que também dá nome ao filme na sua versão original - algo como "Cercas"), é possível ter uma ideia de como a dinâmica narrativa está apoiada em diálogos profundos, muitas vezes longos, poucos cenários (basicamente o quintal do protagonista) e performances de cair o queixo - o que justifica a cara feia de Denzel Washington ao perder o Oscar de 2017 para Casey Affleck por "Manchester à Beira-Mar".

A premissa é até que simples: "Um Limite Entre Nós" é um filme que acompanha o casal Troy Maxson (Washington) e Rose Lee Maxson (Viola Davis), e que explora os relacionamentos entre eles, seus filhos e suas perspectivas e aspirações na vida, fazendo dos conflitos do dia-a-dia de seus personagens uma ferramenta para traçar uma poética análise sobre ciclos, culpa, rancor e, talvez, perdão. Confira ao trailer:

Ao lado de "Malcolm X", sem a menor dúvida, esse é o melhor trabalho de Denzel Washington no cinema. Infinitamente melhor que aqueles que lhe renderam o Oscar com "Tempos de Glória" e "Dia de Treinamento" - e olha que estamos falando de um ator que foi indicado 9 vezes, a última com "A Tragédia de Macbeth" que, para mim, completa o pódio de seus melhores trabalhos. Isso sem falar em Viola Davis, essa sim premiada em 2017 com o Oscar de melhor Atriz Coadjuvante! Tanto Washington quanto Davis seguram o filme em quase duas horas e meia de um drama que explora a profundidade dos personagens como poucas vezes vi. O trabalho é dificílimo, são inúmeras camadas para serem construídas e mesmo assim os dois brilham sem cair na armadilha de teatralizar a interpretação - o tom é perfeito para o cinema, mas meu amigo, o olhar, o silêncio, as nuances da respiração, das pausas, da interiorização sem querer expor nada além de um sentimento pontual, duro, sofrido; olha, uma verdadeira aula para quem aprecia essa arte!

E aqui cabe uma história interessante sobre o processo que levou Denzel Washington até a direção e produção dessa obra prima: Em meados dos anos 80, Washington foi ao teatro ver James Earl Jones (de "Star Wars") estrelar o espetáculo - sua identificação com o filho do protagonista foi imediata. Porém, o tempo passou e antes de morrer, em 2005, o autor August Wilson escreveu um roteiro que adaptava para o cinema sua peça. Este roteiro rodou Hollywood, sem sucesso. Dizem (e nunca ninguém confirmou esse fato) que havia um pedido importante feito pelo autor: o diretor deveria ser negro. Pois bem, quando esse roteiro chegou nas mãos de Denzel Washington, ele já era um ator respeitado e influente. Porém, lembrando de sua experiência no teatro, ele preferiu se manter fiel ao texto original e encenar a peça, ao invés de fazer um filme - que aliás rendeu para ele e para Viola Davis, que interpretou sua esposa também nos palcos, dois Tonys Awards, em 2010; além do troféu de Melhor Reencenação. 

Em 2013, quando Washington resolveu assumir o projeto para o cinema, já era claro que o projeto despertaria a curiosidade do público e que a critica receberia a filme de braços abertos - foi o que aconteceu. Desde a fotografia de Charlotte Bruus Christensen (premiada em Cannes por "A Caça") ao desenho de produção de David Gropman (de "A Vida de Pi"), tudo funciona perfeitamente. O roteiro adaptado por Wilson é só a cereja do bolo, porque todo recheio é tão magistral que fica impossível afirmar que a história não foi feita para a telona. Denzel Washington como diretor, foi bem demais - sua capacidade como ator influenciou todo elenco, ou seja, todos estão perfeitos, inclusive Stephen Henderson que faz o melhor amigo de Maxson, o adorável Bono.

"Um Limite Entre Nós" foi indicado ao prêmio de Melhor Filme de 2016 e, na minha opinião, é muito mais profundo e sincero que o vencedor daquela noite (o ótimo, claro, mas muito mais fácil de assistir), "Moonlight: Sob a Luz do Luar"

Se você ainda não deu uma chance para "Um Limite Entre Nós", não perca tempo! Vale muito a pena!

Assista Agora

Verdade e Justiça

"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!

O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:

O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.  

Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".

Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!

Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida! 

Assista Agora

"Verdade e Justiça" chegou na Prime Vídeo da Amazon com status de ter representado a Estônia no Globo de Ouro e no Oscar 2021 e com isso chancelar sua qualidade narrativa e visual. De fato, o filme é irretocável tecnicamente e tem um conceito visual de cair o queixo, porém sua narrativa é muito difícil, lenta, cadenciada, sem muitos conflitos - me lembrou um filme espanhol de 2018 chamado "Sob a Pele do Lobo". Veja, o filme é lindo, profundo, mas será preciso certa persistência e explico a razão abaixo!

O filme conta a história de Andrés (Priit Loog), um homem de poucas posses que obtém uma fazenda num lugar inóspito (apesar de belo) na Estônia do século XIX, para estabelecer vida nova com sua mulher, Krõõt (Maiken Pius). Para melhorar de vida, no entanto, ele terá que lutar contra a resistência da terra úmida e pantanosa de sua nova propriedade, ao mesmo tempo que terá que lidar com seu grosseiro vizinho, Pearu (Priit Võigemast). Confira o trailer:

O primeiro elemento que chama a atenção, sem dúvida, é a fotografia do diretor Rein Kotov - ele foi o fotógrafo de outro filme indicado ao Oscar, dessa vez o representante da Geórgia: "Tangerinas" de 2013. A quantidade de planos abertos que enaltecem as belezas da Europa Oriental são tão imponentes quanto os planos fechados que expõe a alma dos personagens em momentos belíssimos, com performances de se aplaudir de pé. Destaco o trabalho de Loog, mas principalmente de Võigemast.  

Dirigido pelo estreante e talentoso Tanel Toom (guardem esse nome), "Verdade e Justiça" (Tõde ja õigus, no original) discute a complexidade dessas duas palavras e como um homem pode se perder enquanto persegue cada uma delas a todo custo. O filme fala da dor da perda, da insegurança do novo, da falta de controle sobre os eventos da vida, mas principalmente, da forma como lidamos com as adversidades e como a sequência de alguns atos podem mudar nossa forma de enxergar o mundo e o outro! É por isso que no início do filme não temos dificuldade de torcer por Andrés, mas após perceber que aquele lugar que ele construiu com a esperança de encontrar a felicidade, e que curiosamente é chamado de "Ascensão do Ladrão", deixa de representar um sonho para se tornar uma espécie de obsessão, corrompendo sua alma e nos apresentando um outro lado do personagem, somos obrigados a rever nossa opinião e passar a julgar, também, suas atitudes - como em "O Farol".

Mas por que será necessário ser persistente? Simplesmente pelo fato do filme ter mais de duas horas e meia, ser uma história que se passa em vinte e quatro anos, com pouquíssima ação e muitos diálogos, além de ter uma dinâmica narrativa lenta demais. Será necessário uma certa sensibilidade para mergulhar naquela atmosfera gélida e assim aproveitar as inúmeras reviravoltas que a história (como a vida) dá!

Vale a pena, para aqueles que buscam a complexidade da alma humana e sua relação com o meio em que está inserida! 

Assista Agora

Vice

Eu comecei assistir "Vice" com o sentimento de que teria o meu filme favorito ao Oscar 2019 assim que terminasse. Não foi o que aconteceu!!! Na verdade o filme é ótimo, não tenha a menor dúvida disso, mas não será uma unanimidade... Não espere isso!!!

"Vice" conta a história Dick Cheney, vice-presidente do governo George W. Bush e responsável, entre outras coisas, por uma das passagens mais sombrias da história recente dos EUA - a invasão do Iraque, tendo como desculpa os ataques de 11 de setembro!!!! O personagem por si só é muito controverso e o mérito do filme, na minha opinião, é contar a história sem levantar nenhuma bandeira - ele conta os fatos, expõe as motivações e deixa toda a análise crítica para quem assiste; aliás, assim se faz cinema de verdade!!! O diretor e roteirista, Adam McKay, é muito talentoso e já tinha provado isso com "A Grande Aposta", mas tenho a impressão que em "Vice" ele é ainda mais autoral, disposto arriscar no conceito estético (como diretor) e narrativo (como roteirista) - e o resultado é excelente. 

"Vice" concorreu em 8 categorias e vou usar essas indicações para analisar o filme: (1) "Edição", o filme tem um edição muito dinâmica, inteligente, provocadora e muito, mas muito, publicitária (e aqui falo sem demérito, e sim como elogio) - funciona muito bem, a favor do roteiro sem prejudicar a direção, por essa enorme qualidade, para mim, era um grande candidato a levar a estatueta!

(2) "Roteiro Original", Adam McKay domina essa parada. Já ganhou um Oscar na categoria "Roteiro Adaptado" alguns anos atrás e posso afirmar: o roteiro de "Vice" é ainda melhor que o da "A Grande Aposta"! Muito criativo, inventivo e inteligente - não é um filme fácil, mas passa a mensagem tão redonda que você sai do cinema apto a discutir sobre politica internacional com qualquer especialista.

(3) "Direção", esquece! Embora seja uma direção de qualidade, muito segura (e essa já é a segunda indicação), não dava para competir com Spike Lee e com o Cuaron naquele ano!

(4) "Melhor ator", bom, o mainstream queria o Rami Malek com a estatueta, ou até um Bradley Cooper da vida, mas bom, bom mesmo era o Christian Bale. Que trabalho sensacional!!! Era a minha melhor aposta e na época seria um pecado ele não levar, porque ele está simplesmente perfeito! O range de atuação dele é tão impressionante que você entende as razões de algumas das decisões (ou posições) esdrúxulas do personagem como inevitáveis! Claro que não eram, mas ele tem esse poder... "políticos" tem esse poder de convencimento!

(5) "Ator Coadjuvante", Sam Rockwell, como George Bush - o prêmio foi sua indicação, merecida e valeu!!!

(6) "Atriz Coadjuvante", Amy Adams - que atriz incrível! A sua primeira cena no filme já justificaria o prêmio, mas ela vai além (como sempre). Não era a favorita, mas poderia surpreender!

(7) "Maquiagem", segue a mesma linha do vencedor de 2018, "O destino de uma nação", e era a minha aposta!!!

Finalmente (8) "Melhor Filme" tinha potencial para levar, mas não acho que tinha a qualidade cinematográfica de "Roma" ou até de "Infiltrado na Klan"; só que o histórico recente credenciava o filme entre os favoritos: tinha muita chance, mas não levou!

O fato é que "Vice" vale muito a pena, mesmo a Academia tendo sido bem econômica na sua avaliação.

Up-date: "Vice" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Maquiagem e Cabelo!

Assista Agora

Eu comecei assistir "Vice" com o sentimento de que teria o meu filme favorito ao Oscar 2019 assim que terminasse. Não foi o que aconteceu!!! Na verdade o filme é ótimo, não tenha a menor dúvida disso, mas não será uma unanimidade... Não espere isso!!!

"Vice" conta a história Dick Cheney, vice-presidente do governo George W. Bush e responsável, entre outras coisas, por uma das passagens mais sombrias da história recente dos EUA - a invasão do Iraque, tendo como desculpa os ataques de 11 de setembro!!!! O personagem por si só é muito controverso e o mérito do filme, na minha opinião, é contar a história sem levantar nenhuma bandeira - ele conta os fatos, expõe as motivações e deixa toda a análise crítica para quem assiste; aliás, assim se faz cinema de verdade!!! O diretor e roteirista, Adam McKay, é muito talentoso e já tinha provado isso com "A Grande Aposta", mas tenho a impressão que em "Vice" ele é ainda mais autoral, disposto arriscar no conceito estético (como diretor) e narrativo (como roteirista) - e o resultado é excelente. 

"Vice" concorreu em 8 categorias e vou usar essas indicações para analisar o filme: (1) "Edição", o filme tem um edição muito dinâmica, inteligente, provocadora e muito, mas muito, publicitária (e aqui falo sem demérito, e sim como elogio) - funciona muito bem, a favor do roteiro sem prejudicar a direção, por essa enorme qualidade, para mim, era um grande candidato a levar a estatueta!

(2) "Roteiro Original", Adam McKay domina essa parada. Já ganhou um Oscar na categoria "Roteiro Adaptado" alguns anos atrás e posso afirmar: o roteiro de "Vice" é ainda melhor que o da "A Grande Aposta"! Muito criativo, inventivo e inteligente - não é um filme fácil, mas passa a mensagem tão redonda que você sai do cinema apto a discutir sobre politica internacional com qualquer especialista.

(3) "Direção", esquece! Embora seja uma direção de qualidade, muito segura (e essa já é a segunda indicação), não dava para competir com Spike Lee e com o Cuaron naquele ano!

(4) "Melhor ator", bom, o mainstream queria o Rami Malek com a estatueta, ou até um Bradley Cooper da vida, mas bom, bom mesmo era o Christian Bale. Que trabalho sensacional!!! Era a minha melhor aposta e na época seria um pecado ele não levar, porque ele está simplesmente perfeito! O range de atuação dele é tão impressionante que você entende as razões de algumas das decisões (ou posições) esdrúxulas do personagem como inevitáveis! Claro que não eram, mas ele tem esse poder... "políticos" tem esse poder de convencimento!

(5) "Ator Coadjuvante", Sam Rockwell, como George Bush - o prêmio foi sua indicação, merecida e valeu!!!

(6) "Atriz Coadjuvante", Amy Adams - que atriz incrível! A sua primeira cena no filme já justificaria o prêmio, mas ela vai além (como sempre). Não era a favorita, mas poderia surpreender!

(7) "Maquiagem", segue a mesma linha do vencedor de 2018, "O destino de uma nação", e era a minha aposta!!!

Finalmente (8) "Melhor Filme" tinha potencial para levar, mas não acho que tinha a qualidade cinematográfica de "Roma" ou até de "Infiltrado na Klan"; só que o histórico recente credenciava o filme entre os favoritos: tinha muita chance, mas não levou!

O fato é que "Vice" vale muito a pena, mesmo a Academia tendo sido bem econômica na sua avaliação.

Up-date: "Vice" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Maquiagem e Cabelo!

Assista Agora

Viva - A Vida é uma Festa

"Viva - A Vida é uma Festa" é um jornada tão agradável que torcemos (e muito) para o filme nunca acabar - mesmo que tenhamos que lidar com os sentimentos mais escondidos (e muitas vezes doloridos) dentro de nós. Sim, não é um caminho emocionalmente dos mais fáceis, mas eu diria que mesmo assim é uma delicia ter lidar com o sentimento da saudade por uma perspectiva tão acolhedora e humana quanto essa! 

Apesar de a música ter sido banida há algumas gerações em sua família, Miguel (Anthony Gonzalez) sonha em se tornar um grande músico como seu ídolo, Ernesto de la Cruz (Benjamin Bratt). Desesperado para provar o seu talento, Miguel acaba sendo levado para o "Mundo dos Mortos" onde conhece um encantador trapaceiro chamado Hector (Gael García Bernal), e juntos eles partem em uma jornada extraordinária para descobrir a verdade por trás da história da família de Miguel.

De fato, o roteiro não é tão original ou criativo quanto "Divertidamente", mas certamente é uma das mensagens mais bonitas (e generosas) que um filme que Pixar já produziu - além de um visual incrivelmente lindo! Digno de Oscar! Vale dizer que "Viva - A Vida é uma Festa" foi dirigido por uma das mentes mais criativas da Disney/Pixar: Lee Unkrich de "Toy Story 3" e codirigido por Adrian Molina (story artist de “Universidade Monstros”).

"Coco" (título original) é daqueles filmes imperdíveis, para ver e rever quantas vezes nosso coração aguentar!

Up-date: "Viva - A Vida é uma Festa" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Música e Melhor Animação! 

Assista Agora

"Viva - A Vida é uma Festa" é um jornada tão agradável que torcemos (e muito) para o filme nunca acabar - mesmo que tenhamos que lidar com os sentimentos mais escondidos (e muitas vezes doloridos) dentro de nós. Sim, não é um caminho emocionalmente dos mais fáceis, mas eu diria que mesmo assim é uma delicia ter lidar com o sentimento da saudade por uma perspectiva tão acolhedora e humana quanto essa! 

Apesar de a música ter sido banida há algumas gerações em sua família, Miguel (Anthony Gonzalez) sonha em se tornar um grande músico como seu ídolo, Ernesto de la Cruz (Benjamin Bratt). Desesperado para provar o seu talento, Miguel acaba sendo levado para o "Mundo dos Mortos" onde conhece um encantador trapaceiro chamado Hector (Gael García Bernal), e juntos eles partem em uma jornada extraordinária para descobrir a verdade por trás da história da família de Miguel.

De fato, o roteiro não é tão original ou criativo quanto "Divertidamente", mas certamente é uma das mensagens mais bonitas (e generosas) que um filme que Pixar já produziu - além de um visual incrivelmente lindo! Digno de Oscar! Vale dizer que "Viva - A Vida é uma Festa" foi dirigido por uma das mentes mais criativas da Disney/Pixar: Lee Unkrich de "Toy Story 3" e codirigido por Adrian Molina (story artist de “Universidade Monstros”).

"Coco" (título original) é daqueles filmes imperdíveis, para ver e rever quantas vezes nosso coração aguentar!

Up-date: "Viva - A Vida é uma Festa" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Música e Melhor Animação! 

Assista Agora

Wakanda para Sempre

Existe um certo tom melancólico em "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" que o talentoso diretor e roteirista Ryan Coogler consegue transformar em homenagem - embora as imagens sejam lindas e as performances dos atores notavelmente sinceras, é no silêncio que a emoção explode quando a lembrança de Chadwick Boseman é invocada. Talvez esse seja o gatilho emocional que Coogler precisava para entregar, mais uma vez, um filme de herói com certo diferencial - o roteiro, de fato, exige mais dos atores e em muitos momentos a própria direção se apoia na câmera mais solta, naquele close-up escolhido cirurgicamente e no bem executado "foco e desfoco" da cena, para que aquela poesia mais intimista seja capaz de colocar o filme em outro patamar. Sim, o "Pantera Negra 2" tem muita ação, muita piadinha "estilo Marvel", mas é inegavelmente mais equilibrado e inteligente do que normalmente encontramos no MCU!

Após a morte de T'Challa (Boseman) e com a nação de Wakanda já fragilizada, Rainha Ramonda (Angela Bassett), Shuri (Letitia Wright), M'Baku (Winston Duke), Okoye (Danai Gurira) e as Dora Milaje precisam lutar contra uma grande pressão internacional para que o país divida suas reservas de Vibranium, material que permitiu grandes avanços tecnológicos no país. Ao mesmo tempo em que uma nova raça, também detentora de reservas de Vibranium, os Talokan, emerge das profundezas do oceano, sob a liderança de seu rei Namor (Tenoch Huerta), para cobrar por séculos e séculos de exploração. Confira o trailer:

Visualmente, um verdadeiro espetáculo - o que justifica três das cinco indicações ao Oscar 2023: cabelo e maquiagem, figurino e, finalmente o favorito, efeitos especiais. O interessante, no entanto, é que especificamente na franquia Pantera Negra, o visual serve muito mais como elemento de apoio ao ator e sua história, do que como bengala para as inúmeras (e muito bem feitas) cenas de ação. Veja, é muito claro o cuidado de Coogler em usar todos esses elementos visuais para potencializar seu propósito de mexer com a emoção da audiência - o que talvez tenha justificado, inclusive, as duas outras indicações: canção original com "Lift Me Up" de Rhianna e Angela Bassett como atriz coadjuvante.

Bassett dá um show - ela é o ponto de conexão entre a dor e o instinto de proteção. Sua Ramonda é a personificação do sentimento materno mais puro e o que para muitos críticos soou piegas demais, para mim funcionou como uma luva. Dizer que "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" tende para o sentimentalismo em detrimento ao aspecto transgressor e politico, desculpe, mas me parece superficial demais. É óbvio que a morte de Boseman influenciou em algumas escolhas conceituais e narrativas do filme, mas, embora longa, a história funciona como um excelente entretenimento. Veja, as provocações sobre racismo, colonialismo e representação cultural continuam lá, mesmo que sem aquela enorme bandeira levantada - e isso é mais um ponto para se aplaudir, não para criticar.  

O risco de trazer uma sequência para um personagem que fez tanto sucesso no passado recente e que não pode contar mais com a figura carismática de seu protagonista, era um risco e todos sabiam disso. Porém, independente de qualquer coisa, eu posso te dizer tranquilamente que "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" mesmo não sendo tão autoral quando o primeiro, mesmo sem um roteiro tão redondinho e até sem aquela história surpreendente de origem que chamou atenção até do Oscar, ainda sim é muito divertido e muito bem realizado, com muitos momentos tão emocionantes quanto marcantes.

Vale o seu play! 

Up-date: "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" levou o Oscar na categoria "Melhor Figurino" em 2023! 

Assista Agora

Existe um certo tom melancólico em "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" que o talentoso diretor e roteirista Ryan Coogler consegue transformar em homenagem - embora as imagens sejam lindas e as performances dos atores notavelmente sinceras, é no silêncio que a emoção explode quando a lembrança de Chadwick Boseman é invocada. Talvez esse seja o gatilho emocional que Coogler precisava para entregar, mais uma vez, um filme de herói com certo diferencial - o roteiro, de fato, exige mais dos atores e em muitos momentos a própria direção se apoia na câmera mais solta, naquele close-up escolhido cirurgicamente e no bem executado "foco e desfoco" da cena, para que aquela poesia mais intimista seja capaz de colocar o filme em outro patamar. Sim, o "Pantera Negra 2" tem muita ação, muita piadinha "estilo Marvel", mas é inegavelmente mais equilibrado e inteligente do que normalmente encontramos no MCU!

Após a morte de T'Challa (Boseman) e com a nação de Wakanda já fragilizada, Rainha Ramonda (Angela Bassett), Shuri (Letitia Wright), M'Baku (Winston Duke), Okoye (Danai Gurira) e as Dora Milaje precisam lutar contra uma grande pressão internacional para que o país divida suas reservas de Vibranium, material que permitiu grandes avanços tecnológicos no país. Ao mesmo tempo em que uma nova raça, também detentora de reservas de Vibranium, os Talokan, emerge das profundezas do oceano, sob a liderança de seu rei Namor (Tenoch Huerta), para cobrar por séculos e séculos de exploração. Confira o trailer:

Visualmente, um verdadeiro espetáculo - o que justifica três das cinco indicações ao Oscar 2023: cabelo e maquiagem, figurino e, finalmente o favorito, efeitos especiais. O interessante, no entanto, é que especificamente na franquia Pantera Negra, o visual serve muito mais como elemento de apoio ao ator e sua história, do que como bengala para as inúmeras (e muito bem feitas) cenas de ação. Veja, é muito claro o cuidado de Coogler em usar todos esses elementos visuais para potencializar seu propósito de mexer com a emoção da audiência - o que talvez tenha justificado, inclusive, as duas outras indicações: canção original com "Lift Me Up" de Rhianna e Angela Bassett como atriz coadjuvante.

Bassett dá um show - ela é o ponto de conexão entre a dor e o instinto de proteção. Sua Ramonda é a personificação do sentimento materno mais puro e o que para muitos críticos soou piegas demais, para mim funcionou como uma luva. Dizer que "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" tende para o sentimentalismo em detrimento ao aspecto transgressor e politico, desculpe, mas me parece superficial demais. É óbvio que a morte de Boseman influenciou em algumas escolhas conceituais e narrativas do filme, mas, embora longa, a história funciona como um excelente entretenimento. Veja, as provocações sobre racismo, colonialismo e representação cultural continuam lá, mesmo que sem aquela enorme bandeira levantada - e isso é mais um ponto para se aplaudir, não para criticar.  

O risco de trazer uma sequência para um personagem que fez tanto sucesso no passado recente e que não pode contar mais com a figura carismática de seu protagonista, era um risco e todos sabiam disso. Porém, independente de qualquer coisa, eu posso te dizer tranquilamente que "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" mesmo não sendo tão autoral quando o primeiro, mesmo sem um roteiro tão redondinho e até sem aquela história surpreendente de origem que chamou atenção até do Oscar, ainda sim é muito divertido e muito bem realizado, com muitos momentos tão emocionantes quanto marcantes.

Vale o seu play! 

Up-date: "Pantera Negra: Wakanda para Sempre" levou o Oscar na categoria "Melhor Figurino" em 2023! 

Assista Agora