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Assassinos da Lua das Flores

Martin Scorsese é um dos maiores cineastas da história do cinema - isso não há como negar. Com uma carreira de mais de 50 anos, ele já dirigiu alguns dos filmes mais importantes e aclamados de todos os tempos, como "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros", "Cassino" e "A Invenção de Hugo Cabret", só para citar os clássicos. Scorsese já foi indicado 9 vezes ao Oscar de  "Melhor Diretor" e venceu por "Os Infiltrados". De fato um currículo de respeito e é certamente por isso que nos propomos a assistir mais de três horas e meia de seu mais recente trabalho, o drama "Assassinos da Lua das Flores". Olha, o filme é realmente muito bom, dos melhores de sua carreira como diretor, mas meu amigo, é longo demais! Será preciso uma dose extra de empolgação para encarar essa jornada, mesmo sabendo que a qualidade técnica e artística é tão alta que nem vemos o tempo passar. "Assassinos da Lua das Flores" é mais uma prova do talento e da maestria de Scorsese, mas como uma minissérie, a experiência seria bem menos cansativa. 

Baseado no livro homônimo de David Grann, "Assassinos da Lua das Flores" conta a história real de uma série de assassinatos misteriosos que ocorreram na década de 1920 na tribo indígena Osage, no estado americano de Oklahoma. Os Osage eram donos de terras ricas em petróleo, e suas mortes levantaram suspeitas de que poderiam ter sido encomendadas por pessoas que queriam se apoderar de suas riquezas, especialmente William Hale (Robert De Niro). Confira o trailer:

Produzido pela AppleTV+ e estrelado por Leonardo DiCaprio, Jesse Plemons, Robert De Niro e Lily Gladstone, "Assassinos da Lua das Flores" tem todos os elementos que fazem os olhos dos votantes do Oscar brilhar. Sério, o filme é de cair o queixo - pela qualidade, pelo tamanho da produção, e, claro, pela forma que Scorsese reproduziu uma atmosfera de recorrente tensão e desconfiança, em pleno anos 20, com tanta perfeição. Você analisa os detalhes, destrincha o roteiro, repara em tudo e não encontra um vacilo sequer - é impressionante como a direção de Scorsese é impecável ao ponto de prender nossa atenção do início ao fim, em um misto de horror e poesia. Reparem como o roteiro do genial Eric Roth (vencedor do Oscar por "Forrest Gump" e indicado mais seis vezes, a última por "Duna") transita com perfeição entre a ganância, a vaidade e o desejo do individuo que se sobrepõe ao meio em que a história acontece - eu diria, uma espécie de faroeste macabro onde a tensão e a violência desenfreada dão o tom das relações sociais e humanas pela perspectiva de quem sofre e de quem comete crimes tão brutais.

DiCaprio interpreta Ernest Burkhart, um homem branco que se casa com uma mulher Osage, Mollie (Lily Gladstone), e se torna um dos responsáveis por articular os crimes a mando do tio William - e aqui cabe um observação sobre o texto: se inicialmente tudo fica subentendido, com o passar do tempo as motivações e ações ficam completamente escancaradas. Em nenhum momento o roteiro se propõe a seguir a sinopse, criar um mistério e gerar dúvidas - tudo é muito claro, no entanto são nas consequências intimas dos personagens que a trama ganha profundidade e reflexão (e talvez por isso o filme não tenha sido uma unanimidade). As performances dos atores são excelentes: DiCaprio dá um tom de complexidade e ambivalência ao seu Ernest que, na minha opinião, o credenciaria, no mínimo, para uma indicação ao Oscar. Já Lily Gladstone, essa vai ser a barbada do ano na categoria "Melhor Atriz", pode me cobrar depois.

Se "Assassinos da Lua das Flores" sabe explorar temas como corrupção e preconceito com certa brutalidade no seu "conteúdo", mas saiba que é na sua "forma" que o filme oferece uma visão verdadeiramente fascinante sobre aquele período turbulento da história americana. A fotografia do Rodrigo Prieto (mexicano parceiro de Alejandro G. Iñárritu e indicado cinco vezes ao Oscar) e a trilha sonora de Robbie Robertson (de "O Irlandês") provocam na audiência um misto de emoções que se alternam entre a tensão e a preocupação, e com aquela típica frieza do diretor, narra visualmente um banho de sangue étnico, com suas consequências sociais e impactos psicológicos, de um jeito onde o cinema parece funcionar, mais uma vez, como uma janela para muito do que acontece nos dias de hoje ao redor do nosso planeta.

Obrigado Scorsese!

Vale muito o play. Vale muito a reflexão!

Assista Agora

Martin Scorsese é um dos maiores cineastas da história do cinema - isso não há como negar. Com uma carreira de mais de 50 anos, ele já dirigiu alguns dos filmes mais importantes e aclamados de todos os tempos, como "Taxi Driver", "Os Bons Companheiros", "Cassino" e "A Invenção de Hugo Cabret", só para citar os clássicos. Scorsese já foi indicado 9 vezes ao Oscar de  "Melhor Diretor" e venceu por "Os Infiltrados". De fato um currículo de respeito e é certamente por isso que nos propomos a assistir mais de três horas e meia de seu mais recente trabalho, o drama "Assassinos da Lua das Flores". Olha, o filme é realmente muito bom, dos melhores de sua carreira como diretor, mas meu amigo, é longo demais! Será preciso uma dose extra de empolgação para encarar essa jornada, mesmo sabendo que a qualidade técnica e artística é tão alta que nem vemos o tempo passar. "Assassinos da Lua das Flores" é mais uma prova do talento e da maestria de Scorsese, mas como uma minissérie, a experiência seria bem menos cansativa. 

Baseado no livro homônimo de David Grann, "Assassinos da Lua das Flores" conta a história real de uma série de assassinatos misteriosos que ocorreram na década de 1920 na tribo indígena Osage, no estado americano de Oklahoma. Os Osage eram donos de terras ricas em petróleo, e suas mortes levantaram suspeitas de que poderiam ter sido encomendadas por pessoas que queriam se apoderar de suas riquezas, especialmente William Hale (Robert De Niro). Confira o trailer:

Produzido pela AppleTV+ e estrelado por Leonardo DiCaprio, Jesse Plemons, Robert De Niro e Lily Gladstone, "Assassinos da Lua das Flores" tem todos os elementos que fazem os olhos dos votantes do Oscar brilhar. Sério, o filme é de cair o queixo - pela qualidade, pelo tamanho da produção, e, claro, pela forma que Scorsese reproduziu uma atmosfera de recorrente tensão e desconfiança, em pleno anos 20, com tanta perfeição. Você analisa os detalhes, destrincha o roteiro, repara em tudo e não encontra um vacilo sequer - é impressionante como a direção de Scorsese é impecável ao ponto de prender nossa atenção do início ao fim, em um misto de horror e poesia. Reparem como o roteiro do genial Eric Roth (vencedor do Oscar por "Forrest Gump" e indicado mais seis vezes, a última por "Duna") transita com perfeição entre a ganância, a vaidade e o desejo do individuo que se sobrepõe ao meio em que a história acontece - eu diria, uma espécie de faroeste macabro onde a tensão e a violência desenfreada dão o tom das relações sociais e humanas pela perspectiva de quem sofre e de quem comete crimes tão brutais.

DiCaprio interpreta Ernest Burkhart, um homem branco que se casa com uma mulher Osage, Mollie (Lily Gladstone), e se torna um dos responsáveis por articular os crimes a mando do tio William - e aqui cabe um observação sobre o texto: se inicialmente tudo fica subentendido, com o passar do tempo as motivações e ações ficam completamente escancaradas. Em nenhum momento o roteiro se propõe a seguir a sinopse, criar um mistério e gerar dúvidas - tudo é muito claro, no entanto são nas consequências intimas dos personagens que a trama ganha profundidade e reflexão (e talvez por isso o filme não tenha sido uma unanimidade). As performances dos atores são excelentes: DiCaprio dá um tom de complexidade e ambivalência ao seu Ernest que, na minha opinião, o credenciaria, no mínimo, para uma indicação ao Oscar. Já Lily Gladstone, essa vai ser a barbada do ano na categoria "Melhor Atriz", pode me cobrar depois.

Se "Assassinos da Lua das Flores" sabe explorar temas como corrupção e preconceito com certa brutalidade no seu "conteúdo", mas saiba que é na sua "forma" que o filme oferece uma visão verdadeiramente fascinante sobre aquele período turbulento da história americana. A fotografia do Rodrigo Prieto (mexicano parceiro de Alejandro G. Iñárritu e indicado cinco vezes ao Oscar) e a trilha sonora de Robbie Robertson (de "O Irlandês") provocam na audiência um misto de emoções que se alternam entre a tensão e a preocupação, e com aquela típica frieza do diretor, narra visualmente um banho de sangue étnico, com suas consequências sociais e impactos psicológicos, de um jeito onde o cinema parece funcionar, mais uma vez, como uma janela para muito do que acontece nos dias de hoje ao redor do nosso planeta.

Obrigado Scorsese!

Vale muito o play. Vale muito a reflexão!

Assista Agora

Magnatas do Crime

Antes de falar de "Magnatas do Crime" gostaria de contextualizar o que representará assistir esse filme do diretor Guy Ritchie. Em 2000, quando assisti "Snatch: Porcos e Diamantes" nos cinemas, foi como se minha cabeça explodisse! Era um conceito visual tão diferente e tão alinhado àquela narrativa dinâmica e envolvente, que logo trouxe Ritchie para a minha lista de diretores favoritos. Sinceramente não sei explicar o que acabou me afastando de seus filmes, mas nada que veio depois me impactou, até assistir "Magnatas do Crime"! De fato não existe nada de novo, mas por outro lado fica muito claro, logo nos primeiros minutos, que aquela identidade de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" e de "Snatch" está de volta e eu diria: no melhor da sua forma!

Na história acompanhamos Michael Pearson (Matthew McConaughey). Elegante como sempre, Pearson está tentando vender o seu império de produção de maconha no Reino Unido, mas percebe que se aposentar em um mercado como esse não é (e nem será) tarefa das mais fáceis. O preço que ele está pedindo soa alto para os potenciais compradores e claro, os interessados no negócio são candidatos a se tornar verdadeiros chefões das drogas, com isso criasse uma espécie de caos, onde quem quer comprar faz de tudo para o preço baixar e quem quer vender não abre mão do valor e do potencial do negócio, mesmo que para isso, seja preciso, digamos, fazer um trabalho sujo! Confira o trailer (em inglês):

O mais bacana do filme, para mim, foi encontrar um Guy Ritchie no que ele sabe fazer de melhor: usar o plot central de um roteiro (que ele mesmo escreveu), para explorar todas as suas possibilidades em diversas ramificações. Isso não é apresentado de maneira simples, é preciso dizer, e muito menos de forma linear, porém tudo funciona tão orgânico que a cada movimento somos surpreendidos pelas reviravoltas da história e quando as peças resolvem se encaixar, tudo faz sentido! Como em "Snatch", por exemplo, não é o "fim" seu maior mérito, mas a "jornada"! 

Entretenimento de ótima qualidade com a assinatura de um diretor (e roteirista) talentoso que pode ter se perdido no meio de suas próprias ambições, mas que se reencontrou e foi capaz de nos entregar diversão do começo ao fim!

Quando Fletcher (Hugh Grant) surge inesperadamente e praticamente força Ray (Charlie Hunnam) a escutar sua história, não sabemos exatamente se estamos escutando o que realmente aconteceu, se é um roteiro de cinema ou as duas coisas se confundindo de acordo com a vontade do seu autor. Essa confusão em um primeiro momento pode parecer enfadonha, mas acredite: não é! Fletcher é o fio condutor de uma trama caótica, porém muito bem organizada por uma montagem digna de prêmios. Tanto os flashbacks, quanto as repetições de cenas por um ponto de vista diferente, funcionam perfeitamente em pró da narrativa - não são muletas, são artifícios bem desenvolvidos pelo diretor e que transformam nossa experiência! Reparem!

O elenco dá um verdadeiro show com atuações no tom exato para o gênero - o que vai te roubar ótimas risadas, inclusive. Matthew McConaughey, Hugh Grant, Charlie Hunnam e Colin Farrell (Coach) estão impagáveis! A própria Michelle Dockery e o sempre competente Jeremy Strong funcionam perfeitamente para a narrativa, mesmo com pouco tempo de tela. O figurino é outro elemento que merece atenção: ele trás um tom farsesco para o filme, transformando a caracterização exagerada em atitude do personagem - como se as tribos fossem separadas pelo que vestem, não pelo que são ou pelo que falam! 

"The Gentlemen" (título original) é inteligente, irônico e até um pouco audacioso se levarmos em conta que a narrativa é totalmente desconstruída até voltar a fazer sentido no terceiro ato. Mesmo navegando em aguas que lhe trazem segurança, Guy Ritchie prova sua importância para o roteiro dos novatos na função, Ivan Atkinson e Marn Davies, da mesma forma que interfere no trabalho dos seus montadores: o parceiro de longa data, James Herbert, e o seu novo respiro conceitual, Paul Machliss.

Resumindo: "Magnatas do Crime" é um filme de Guy Ritchie da mesma forma que "Era uma vez em Hollywood" é do Tarantino!

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Antes de falar de "Magnatas do Crime" gostaria de contextualizar o que representará assistir esse filme do diretor Guy Ritchie. Em 2000, quando assisti "Snatch: Porcos e Diamantes" nos cinemas, foi como se minha cabeça explodisse! Era um conceito visual tão diferente e tão alinhado àquela narrativa dinâmica e envolvente, que logo trouxe Ritchie para a minha lista de diretores favoritos. Sinceramente não sei explicar o que acabou me afastando de seus filmes, mas nada que veio depois me impactou, até assistir "Magnatas do Crime"! De fato não existe nada de novo, mas por outro lado fica muito claro, logo nos primeiros minutos, que aquela identidade de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" e de "Snatch" está de volta e eu diria: no melhor da sua forma!

Na história acompanhamos Michael Pearson (Matthew McConaughey). Elegante como sempre, Pearson está tentando vender o seu império de produção de maconha no Reino Unido, mas percebe que se aposentar em um mercado como esse não é (e nem será) tarefa das mais fáceis. O preço que ele está pedindo soa alto para os potenciais compradores e claro, os interessados no negócio são candidatos a se tornar verdadeiros chefões das drogas, com isso criasse uma espécie de caos, onde quem quer comprar faz de tudo para o preço baixar e quem quer vender não abre mão do valor e do potencial do negócio, mesmo que para isso, seja preciso, digamos, fazer um trabalho sujo! Confira o trailer (em inglês):

O mais bacana do filme, para mim, foi encontrar um Guy Ritchie no que ele sabe fazer de melhor: usar o plot central de um roteiro (que ele mesmo escreveu), para explorar todas as suas possibilidades em diversas ramificações. Isso não é apresentado de maneira simples, é preciso dizer, e muito menos de forma linear, porém tudo funciona tão orgânico que a cada movimento somos surpreendidos pelas reviravoltas da história e quando as peças resolvem se encaixar, tudo faz sentido! Como em "Snatch", por exemplo, não é o "fim" seu maior mérito, mas a "jornada"! 

Entretenimento de ótima qualidade com a assinatura de um diretor (e roteirista) talentoso que pode ter se perdido no meio de suas próprias ambições, mas que se reencontrou e foi capaz de nos entregar diversão do começo ao fim!

Quando Fletcher (Hugh Grant) surge inesperadamente e praticamente força Ray (Charlie Hunnam) a escutar sua história, não sabemos exatamente se estamos escutando o que realmente aconteceu, se é um roteiro de cinema ou as duas coisas se confundindo de acordo com a vontade do seu autor. Essa confusão em um primeiro momento pode parecer enfadonha, mas acredite: não é! Fletcher é o fio condutor de uma trama caótica, porém muito bem organizada por uma montagem digna de prêmios. Tanto os flashbacks, quanto as repetições de cenas por um ponto de vista diferente, funcionam perfeitamente em pró da narrativa - não são muletas, são artifícios bem desenvolvidos pelo diretor e que transformam nossa experiência! Reparem!

O elenco dá um verdadeiro show com atuações no tom exato para o gênero - o que vai te roubar ótimas risadas, inclusive. Matthew McConaughey, Hugh Grant, Charlie Hunnam e Colin Farrell (Coach) estão impagáveis! A própria Michelle Dockery e o sempre competente Jeremy Strong funcionam perfeitamente para a narrativa, mesmo com pouco tempo de tela. O figurino é outro elemento que merece atenção: ele trás um tom farsesco para o filme, transformando a caracterização exagerada em atitude do personagem - como se as tribos fossem separadas pelo que vestem, não pelo que são ou pelo que falam! 

"The Gentlemen" (título original) é inteligente, irônico e até um pouco audacioso se levarmos em conta que a narrativa é totalmente desconstruída até voltar a fazer sentido no terceiro ato. Mesmo navegando em aguas que lhe trazem segurança, Guy Ritchie prova sua importância para o roteiro dos novatos na função, Ivan Atkinson e Marn Davies, da mesma forma que interfere no trabalho dos seus montadores: o parceiro de longa data, James Herbert, e o seu novo respiro conceitual, Paul Machliss.

Resumindo: "Magnatas do Crime" é um filme de Guy Ritchie da mesma forma que "Era uma vez em Hollywood" é do Tarantino!

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Morte no Vale do Silício

Se você assistiu "Tetris", filme que conta a história dos bastidores "nebulosos" que levaram o jogo a se tornar um dos mais vendidos da história, certamente você vai se surpreender com a história dessa minissérie documental produzida pela Discovery. "Morte no Vale do Silício" poderia ser, tranquilamente, a continuação da produção da AppleTV+, até porquê parte do que vimos contextualizado no filme ajuda (e muito) a entender todas as teorias que envolveram a morte do outro criador do jogo (esse não citado no filme) durante a investigação que acompanhamos em três episódios aqui. Veja, estabelecer o que representou para a União Soviética ter um produto criado em seus domínios, em plena Guerra Fria, e que acabou se tornando um fenômeno de vendas (leia-se "que gerou muito dinheiro") em todo mundo, vai te colocar em lugares muito particulares nesse excelente True Crime - pode acreditar!

Em setembro de 1998, Vladimir Pokhilko, um dos desenvolvedores do Tetris, e parceiro de Alexey Pajitno (esse sim, aquele do filme), foi encontrado morto ao lado da esposa e do filho de 12 anos em sua casa no Vale do Silício. Na época, a conclusão atestava que a morte do programador russo foi dada como um assassinato seguido de suicídio - ou seja, Pokhilko teria matado a esposa, o filho e depois se suicidado. Porém, uma das responsáveis pela investigação, Sandra Brown, retorna à cena do crime anos depois e faz uma descoberta que pode não só mudar a resolução do caso, mas também abrir novos mistérios e teorias sinistras sobre o crime que chocou os EUA. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pela talentosa Misty Showalter, produtora de vários documentários e que aqui estreia na função, "Morte no Vale do Silício"oferece uma análise minuciosa dos eventos de 1998 pelo ponto de vista dos investigadores e dos amigos das vitimas - o que acaba criando um verdadeiro choque de realidades de acordo com a resolução do caso, já que ninguém nunca acreditou que Vladimir Pokhilko seria capaz de fazer o que o laudo do legista e parte da investigação afirmaram que ele fez. Partindo desse embate de percepções, a narrativa nos conduz até a União Soviética dos anos 80 onde o roteiro se apropria de inúmeras reportagens da época, com uma edição primorosa, e tenta construir um cenário que coloca a máfia e até o atual presidente da Rússia, Vladimir Putin (olha ele aí de novo), no centro dessa investigação.  

Mesmo que Showalter se apoie em algumas dramatizações para construir todo o clima de mistério e até para nos impactar visualmente, sem dúvida alguma que são os depoimentos de Sandra Brown e suas novas descobertas 23 anos depois, que fazem com a história fique realmente empolgante - algumas revelações de Brown são até óbvias olhando em perspectiva, porém as reações, hoje, dos investigadores envolvidos no caso, na época, acabam dizendo muito sobre a forma como tudo foi "resolvido" sob as vistas grossas do FBI que aparentemente já vinha monitorando Pokhilko e sua possível relação com a máfia antes mesmo de sua morte.

Resumindo, "The Tetris Murders" (no original) é uma minissérie que cativa muito mais pelas perguntas do que pelas respostas - o embate que Brown provoca com seus colegas de trabalho no final do terceiro episódio dá o exato tom pessoal que a história representa. Muito bem conduzida, talvez a narrativa só tenha falhado por não ter usado algumas intervenções gráficas que ajudariam a conectar os pontos de uma forma mais fluida, já que o roteiro mergulha fundo em um crime perturbador ao mesmo tempo em que contextualiza o período sócio-politico importante e ainda cria uma espécie de extensão óbvia de tudo que assistimos no filme "Tetris" - então se você ainda não assistiu, assista o filme antes, pois isso fará total diferença na sua experiência com a minissérie. 

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Se você assistiu "Tetris", filme que conta a história dos bastidores "nebulosos" que levaram o jogo a se tornar um dos mais vendidos da história, certamente você vai se surpreender com a história dessa minissérie documental produzida pela Discovery. "Morte no Vale do Silício" poderia ser, tranquilamente, a continuação da produção da AppleTV+, até porquê parte do que vimos contextualizado no filme ajuda (e muito) a entender todas as teorias que envolveram a morte do outro criador do jogo (esse não citado no filme) durante a investigação que acompanhamos em três episódios aqui. Veja, estabelecer o que representou para a União Soviética ter um produto criado em seus domínios, em plena Guerra Fria, e que acabou se tornando um fenômeno de vendas (leia-se "que gerou muito dinheiro") em todo mundo, vai te colocar em lugares muito particulares nesse excelente True Crime - pode acreditar!

Em setembro de 1998, Vladimir Pokhilko, um dos desenvolvedores do Tetris, e parceiro de Alexey Pajitno (esse sim, aquele do filme), foi encontrado morto ao lado da esposa e do filho de 12 anos em sua casa no Vale do Silício. Na época, a conclusão atestava que a morte do programador russo foi dada como um assassinato seguido de suicídio - ou seja, Pokhilko teria matado a esposa, o filho e depois se suicidado. Porém, uma das responsáveis pela investigação, Sandra Brown, retorna à cena do crime anos depois e faz uma descoberta que pode não só mudar a resolução do caso, mas também abrir novos mistérios e teorias sinistras sobre o crime que chocou os EUA. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido pela talentosa Misty Showalter, produtora de vários documentários e que aqui estreia na função, "Morte no Vale do Silício"oferece uma análise minuciosa dos eventos de 1998 pelo ponto de vista dos investigadores e dos amigos das vitimas - o que acaba criando um verdadeiro choque de realidades de acordo com a resolução do caso, já que ninguém nunca acreditou que Vladimir Pokhilko seria capaz de fazer o que o laudo do legista e parte da investigação afirmaram que ele fez. Partindo desse embate de percepções, a narrativa nos conduz até a União Soviética dos anos 80 onde o roteiro se apropria de inúmeras reportagens da época, com uma edição primorosa, e tenta construir um cenário que coloca a máfia e até o atual presidente da Rússia, Vladimir Putin (olha ele aí de novo), no centro dessa investigação.  

Mesmo que Showalter se apoie em algumas dramatizações para construir todo o clima de mistério e até para nos impactar visualmente, sem dúvida alguma que são os depoimentos de Sandra Brown e suas novas descobertas 23 anos depois, que fazem com a história fique realmente empolgante - algumas revelações de Brown são até óbvias olhando em perspectiva, porém as reações, hoje, dos investigadores envolvidos no caso, na época, acabam dizendo muito sobre a forma como tudo foi "resolvido" sob as vistas grossas do FBI que aparentemente já vinha monitorando Pokhilko e sua possível relação com a máfia antes mesmo de sua morte.

Resumindo, "The Tetris Murders" (no original) é uma minissérie que cativa muito mais pelas perguntas do que pelas respostas - o embate que Brown provoca com seus colegas de trabalho no final do terceiro episódio dá o exato tom pessoal que a história representa. Muito bem conduzida, talvez a narrativa só tenha falhado por não ter usado algumas intervenções gráficas que ajudariam a conectar os pontos de uma forma mais fluida, já que o roteiro mergulha fundo em um crime perturbador ao mesmo tempo em que contextualiza o período sócio-politico importante e ainda cria uma espécie de extensão óbvia de tudo que assistimos no filme "Tetris" - então se você ainda não assistiu, assista o filme antes, pois isso fará total diferença na sua experiência com a minissérie. 

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Nem um Passo em Falso

"Nem um Passo em Falso" é muito divertido! O filme traz todo o talento do diretor Steven Soderbergh (Traffic) e sua enorme capacidade de construir uma narrativa visualmente deslumbrante e extremamente alinhada com um roteiro tão bom quanto - e aqui o mérito é de Ed Solomon (Bill e Ted: Encare a Música). O filme é uma maravilhosa mistura (e por favor me perdoem pela licença criativa) de "Magnatas do Crime"do diretor Guy Ritchie com o "O Irlandês"do Scorsese.

A premissa é relativamente simples: situado em 1955, em Detroit, o filme acompanha um grupo de pequenos criminosos que foram contratados para roubar o que parecia ser apenas um documento, mas que depois se descobre, claro, ser mais importante do que isso - um projeto que vai mudar a história da humanidade (sem exageros). Confira o trailer:

É de se imaginar que o plano inicial fracassa e que a partir daí temos uma verdadeira corrida contra o tempo, cheio de traições e reviravoltas, onde os protagonistas Curt Goynes (Don Cheadle) e Ronald Russo (Benicio Del Toro) precisam escapar da polícia, de grupos mafiosos e ainda tentar se dar bem financeiramente. Olha, é um verdadeiro jogo de xadrez e visto que todos os personagens tem uma enorme importância na narrativa, é preciso prestar muita atenção para não perder em uma série de detalhes que fazem desse roteiro uma coisas mais interessantes que assisti em 2021.

Será natural se algumas pessoas acharem a história complexa e é aqui que Soderbergh mostra sua maturidade: ele cria uma dinâmica narrativa de perder o fôlego, mas não inventa tanta moda - ele é direto, sem rodeios. Seu foco não é impor sua habilidade inventiva (embora as use) e sim colocar a câmera no lugar certa e deixar os atores brilharem - Don Cheadle e Benicio Del Toro não decepcionam e não vou me surpreender se chegarem fortes na temporada de premiação de 2022. Veja, é interessante como Steven Soderbergh usa sua criatividade para compor algumas cenas, mas sem se sobressair ao texto - quando ele usa uma lente que gera uma certa distorção da imagem com o objetivo de criar a sensação de que algo não está certo e que aquele momento pode ter consequências graves, temos a exata confirmação da sua capacidade como cineasta, mas sem querer aparecer mais que a história. 

Outro ponto que me chamou a atenção é a montagem - elegante e sucinta, serve como "fio condutor" sem precisar ser didática demais. Nesse ponto, inclusive, a história se fasta de Guy Ritchie e se aproxima Scorsese. Reparem como o filme nunca deixa de ser uma trama sobre um assalto - são pessoas que montaram um plano e que estão, essencialmente, em busca de dinheiro e alimentando sua ganância. Pontuado isso, eu diria que "No Sudden Move" (no original) tem mais ação do que drama e é muito mais entretenimento do que uma imersão no submundo da Máfia, ou seja, um equilíbrio perfeito entre uma boa história e uma atmosfera complexa, mas envolvente - com um diretor talentoso no melhor da sua forma! Vale muito a pena!

Assista Agora

"Nem um Passo em Falso" é muito divertido! O filme traz todo o talento do diretor Steven Soderbergh (Traffic) e sua enorme capacidade de construir uma narrativa visualmente deslumbrante e extremamente alinhada com um roteiro tão bom quanto - e aqui o mérito é de Ed Solomon (Bill e Ted: Encare a Música). O filme é uma maravilhosa mistura (e por favor me perdoem pela licença criativa) de "Magnatas do Crime"do diretor Guy Ritchie com o "O Irlandês"do Scorsese.

A premissa é relativamente simples: situado em 1955, em Detroit, o filme acompanha um grupo de pequenos criminosos que foram contratados para roubar o que parecia ser apenas um documento, mas que depois se descobre, claro, ser mais importante do que isso - um projeto que vai mudar a história da humanidade (sem exageros). Confira o trailer:

É de se imaginar que o plano inicial fracassa e que a partir daí temos uma verdadeira corrida contra o tempo, cheio de traições e reviravoltas, onde os protagonistas Curt Goynes (Don Cheadle) e Ronald Russo (Benicio Del Toro) precisam escapar da polícia, de grupos mafiosos e ainda tentar se dar bem financeiramente. Olha, é um verdadeiro jogo de xadrez e visto que todos os personagens tem uma enorme importância na narrativa, é preciso prestar muita atenção para não perder em uma série de detalhes que fazem desse roteiro uma coisas mais interessantes que assisti em 2021.

Será natural se algumas pessoas acharem a história complexa e é aqui que Soderbergh mostra sua maturidade: ele cria uma dinâmica narrativa de perder o fôlego, mas não inventa tanta moda - ele é direto, sem rodeios. Seu foco não é impor sua habilidade inventiva (embora as use) e sim colocar a câmera no lugar certa e deixar os atores brilharem - Don Cheadle e Benicio Del Toro não decepcionam e não vou me surpreender se chegarem fortes na temporada de premiação de 2022. Veja, é interessante como Steven Soderbergh usa sua criatividade para compor algumas cenas, mas sem se sobressair ao texto - quando ele usa uma lente que gera uma certa distorção da imagem com o objetivo de criar a sensação de que algo não está certo e que aquele momento pode ter consequências graves, temos a exata confirmação da sua capacidade como cineasta, mas sem querer aparecer mais que a história. 

Outro ponto que me chamou a atenção é a montagem - elegante e sucinta, serve como "fio condutor" sem precisar ser didática demais. Nesse ponto, inclusive, a história se fasta de Guy Ritchie e se aproxima Scorsese. Reparem como o filme nunca deixa de ser uma trama sobre um assalto - são pessoas que montaram um plano e que estão, essencialmente, em busca de dinheiro e alimentando sua ganância. Pontuado isso, eu diria que "No Sudden Move" (no original) tem mais ação do que drama e é muito mais entretenimento do que uma imersão no submundo da Máfia, ou seja, um equilíbrio perfeito entre uma boa história e uma atmosfera complexa, mas envolvente - com um diretor talentoso no melhor da sua forma! Vale muito a pena!

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O Irlandês

O Irlandês

"O Irlandês" chegou recentemente na Netflix com status de produção do ano e não era para menos, afinal não é tão simples reunir em um mesmo filme Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci sob a direção de Martin Scorsese - só por esse primeiro parágrafo eu já poderia colocar o botão "assista agora" e descansar tranquilamente, mas não vou fazer isso, pois uma obra como essa vai muito além de um elenco sensacional e de um diretor premiadíssimo. "O Irlandês" é um filme de máfia, mas com um conceito narrativo muito inteligente e que aprofunda a discussão moral dos personagens sem parecer romântico - "O Poderoso Chefão" fez muito isso! O filme mostra a história de Frank Sheeran (Robert De Niro), não por acaso o irlandês do título, que se tornou uma espécie de liderança sindical enquanto, paralelamente, era considerado o assassino predileto de um dos mais respeitados chefões da Máfia. Sheeran é o narrador do filme, ele nos conta sua história em retrospectiva: do início da sua relação Russell Bufalino até o momento em que percebe estar sozinho na vida!  É impressionante como a narrativa é fluída e como somos convidados a julgar Sheeran por suas escolhas e nos penalizar por seus arrependimentos e culpas. Olha, certamente o filme estará em algumas categorias do próximo Oscar (2020), então não perca tempo: se você é um amante de "Os bons companheiros", "Era uma vez na América" e, claro, "O Poderoso Chefão", dê o play sem medo porque serão três horas e meia de muito prazer e entretenimento!

Antes de mais nada é preciso dizer que "O Irlandês" não é um filme violento na sua forma - talvez na sua essência, mas não na sua forma! Martin Scorsese é cirúrgico ao escolher os enquadramentos e movimentos de câmera que vão contar as histórias de assassinatos do filme. Em outros tempos tudo seria mostrado, hoje é apenas sugerido - um exemplo é o belo movimento de câmera do massacre na barbearia: existe uma certa poesia, muito bem ensaiada até o enquadramento final na floricultura. É como o signo que encontramos no cemitério desse o ponto final ao movimento e o resultado disso só nas manchetes do dia seguinte! É lindo! Claro que o assassinato à sangue frio não é deixado de lado, até porque o profissional que Frank Sheeran se tornou era conhecido como pintor: uma alegoria pela quantidade de sangue que espirra na parede após um tiro na cabeça à queima roupa! 

São muitos personagens, muitos nomes, apelidos e núcleos, mas o roteiro é muito inteligente em guiar nossa atenção apenas para o que realmente importa e quando um personagem tem uma certa relevância histórica, mas por não fazer parte daquela linha narrativa é apenas uma citação, surge um lettering nos apresentando ele e nos contando qual final levou! O roteiro, aliás, é muito bom e amarra muito bem todas as situações do passado e do presente de uma forma muito orgânica e sem a necessidade de interferências conceituais nas imagens - tudo é clean e com o desenho de produção se encarregando do desafio. A tecnologia que permitiu o rejuvenescimento dos atores é tão imperceptível perante a força da história que nem nos apegamos a ela, embora os movimentos do De Niro, por exemplo, muitas vezes entrega uma certa incompatibilidade entre idade e postura corporal (e até no timbre da voz). O filme é uma adaptação da obra de mesmo nome de Charles Brandt, um ex-investigador que liga (ou sugere uma ligação de) vários fatos da história americana com a Máfia. Steven Zaillan, de "A Lista de Schindler", assina o roteiro.

Embora o filme seja realmente longo, Scorsese não economiza em planos mais coreografados - como o próprio Alfonso Cuarón fez em Roma com seus traveliings interminavelmente bem executados. Só que aqui o equipamento é o Steadicam (aquela geringonça que vai presa no corpo do câmera-man e permite que ele ande com a câmera sem balançar muito) e o resultado é igualmente competente. A fotografia do mexicano Rodrigo Pietro, de "Silêncio", é espetacular - e, para mim, um forte concorrente ao Oscar - repare como ele posiciona a câmera nas passagens onde existem uma narração ou uma sequência de fatos, nos colocando como espectador ou melhor, como observador, permitindo que a história continue sendo contada sem a necessidade de participarmos dela ativamente. É uma percepção delicada, mas típico de cineastas acima da média que pensam cada plano, cada conceito, cada detalhe para termos a melhor experiência possível ao assistir o filme - por isso que Scorsese pediu para que o filme não fosse assistido na tela do celular!

Para finalizar alguns rápidos comentários sobre os atores: Al Pacino como Jimmy Hoffa é inferior ao trabalho que o Jack Nicholson fez com o mesmo personagem em 1992. De Niro está bem, faz um trabalho de introspecção e explora o silêncio e o olhar de uma forma magnífica (principalmente quando se refere a sua filha Peggy ou quando se sente incomodado com algum pedido de Ruffo).  Agora Joe Pesci está sensacional e sou capaz de apostar que será indicado ao Oscar de ator coadjuvante e tem grande chance de levar o prêmio pela segunda vez (a primeira foi com "Os bons companheiros", também do Scorsese).

"O Irlandês" é uma grande (literalmente) homenagem aos filmes de gângsters. Tem todos os elementos que nos fazem amar o gênero e a mesma mestria no comando que trouxe Martin Scorsese para o primeiro time de diretores de Hollywood. De fato não é sua melhor direção, existem erros de continuidade que nem montagem não foi capaz de esconder, mas é impossível não se envolver com a forma como ele conta a história e como aqueles personagens foram nos cativando, mesmo na sombra da marginalidade. "O Irlandês" é sim um dos melhores filmes do ano e deve fazer barulho por um bom tempo! Tiro certo da Netflix nesse momento conturbado do mercado! Vale o play!

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"O Irlandês" chegou recentemente na Netflix com status de produção do ano e não era para menos, afinal não é tão simples reunir em um mesmo filme Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci sob a direção de Martin Scorsese - só por esse primeiro parágrafo eu já poderia colocar o botão "assista agora" e descansar tranquilamente, mas não vou fazer isso, pois uma obra como essa vai muito além de um elenco sensacional e de um diretor premiadíssimo. "O Irlandês" é um filme de máfia, mas com um conceito narrativo muito inteligente e que aprofunda a discussão moral dos personagens sem parecer romântico - "O Poderoso Chefão" fez muito isso! O filme mostra a história de Frank Sheeran (Robert De Niro), não por acaso o irlandês do título, que se tornou uma espécie de liderança sindical enquanto, paralelamente, era considerado o assassino predileto de um dos mais respeitados chefões da Máfia. Sheeran é o narrador do filme, ele nos conta sua história em retrospectiva: do início da sua relação Russell Bufalino até o momento em que percebe estar sozinho na vida!  É impressionante como a narrativa é fluída e como somos convidados a julgar Sheeran por suas escolhas e nos penalizar por seus arrependimentos e culpas. Olha, certamente o filme estará em algumas categorias do próximo Oscar (2020), então não perca tempo: se você é um amante de "Os bons companheiros", "Era uma vez na América" e, claro, "O Poderoso Chefão", dê o play sem medo porque serão três horas e meia de muito prazer e entretenimento!

Antes de mais nada é preciso dizer que "O Irlandês" não é um filme violento na sua forma - talvez na sua essência, mas não na sua forma! Martin Scorsese é cirúrgico ao escolher os enquadramentos e movimentos de câmera que vão contar as histórias de assassinatos do filme. Em outros tempos tudo seria mostrado, hoje é apenas sugerido - um exemplo é o belo movimento de câmera do massacre na barbearia: existe uma certa poesia, muito bem ensaiada até o enquadramento final na floricultura. É como o signo que encontramos no cemitério desse o ponto final ao movimento e o resultado disso só nas manchetes do dia seguinte! É lindo! Claro que o assassinato à sangue frio não é deixado de lado, até porque o profissional que Frank Sheeran se tornou era conhecido como pintor: uma alegoria pela quantidade de sangue que espirra na parede após um tiro na cabeça à queima roupa! 

São muitos personagens, muitos nomes, apelidos e núcleos, mas o roteiro é muito inteligente em guiar nossa atenção apenas para o que realmente importa e quando um personagem tem uma certa relevância histórica, mas por não fazer parte daquela linha narrativa é apenas uma citação, surge um lettering nos apresentando ele e nos contando qual final levou! O roteiro, aliás, é muito bom e amarra muito bem todas as situações do passado e do presente de uma forma muito orgânica e sem a necessidade de interferências conceituais nas imagens - tudo é clean e com o desenho de produção se encarregando do desafio. A tecnologia que permitiu o rejuvenescimento dos atores é tão imperceptível perante a força da história que nem nos apegamos a ela, embora os movimentos do De Niro, por exemplo, muitas vezes entrega uma certa incompatibilidade entre idade e postura corporal (e até no timbre da voz). O filme é uma adaptação da obra de mesmo nome de Charles Brandt, um ex-investigador que liga (ou sugere uma ligação de) vários fatos da história americana com a Máfia. Steven Zaillan, de "A Lista de Schindler", assina o roteiro.

Embora o filme seja realmente longo, Scorsese não economiza em planos mais coreografados - como o próprio Alfonso Cuarón fez em Roma com seus traveliings interminavelmente bem executados. Só que aqui o equipamento é o Steadicam (aquela geringonça que vai presa no corpo do câmera-man e permite que ele ande com a câmera sem balançar muito) e o resultado é igualmente competente. A fotografia do mexicano Rodrigo Pietro, de "Silêncio", é espetacular - e, para mim, um forte concorrente ao Oscar - repare como ele posiciona a câmera nas passagens onde existem uma narração ou uma sequência de fatos, nos colocando como espectador ou melhor, como observador, permitindo que a história continue sendo contada sem a necessidade de participarmos dela ativamente. É uma percepção delicada, mas típico de cineastas acima da média que pensam cada plano, cada conceito, cada detalhe para termos a melhor experiência possível ao assistir o filme - por isso que Scorsese pediu para que o filme não fosse assistido na tela do celular!

Para finalizar alguns rápidos comentários sobre os atores: Al Pacino como Jimmy Hoffa é inferior ao trabalho que o Jack Nicholson fez com o mesmo personagem em 1992. De Niro está bem, faz um trabalho de introspecção e explora o silêncio e o olhar de uma forma magnífica (principalmente quando se refere a sua filha Peggy ou quando se sente incomodado com algum pedido de Ruffo).  Agora Joe Pesci está sensacional e sou capaz de apostar que será indicado ao Oscar de ator coadjuvante e tem grande chance de levar o prêmio pela segunda vez (a primeira foi com "Os bons companheiros", também do Scorsese).

"O Irlandês" é uma grande (literalmente) homenagem aos filmes de gângsters. Tem todos os elementos que nos fazem amar o gênero e a mesma mestria no comando que trouxe Martin Scorsese para o primeiro time de diretores de Hollywood. De fato não é sua melhor direção, existem erros de continuidade que nem montagem não foi capaz de esconder, mas é impossível não se envolver com a forma como ele conta a história e como aqueles personagens foram nos cativando, mesmo na sombra da marginalidade. "O Irlandês" é sim um dos melhores filmes do ano e deve fazer barulho por um bom tempo! Tiro certo da Netflix nesse momento conturbado do mercado! Vale o play!

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Rainhas do Crime

A adaptação da HQ "The Kitchen", da Vertigo, pela estreante na direção Andrea Berloff (indicada ao Oscar pelo roteiro de Straight Outta Compton: A História do N.W.A), é boa, mas poderia ser melhor. "Rainhas do Crime" é um exemplo claro de uma história com enorme potencial que é transformada em um bom filme, nada mais que isso. O que poderia ser o grande mérito da produção acabou se transformando no seu maior problema. É clara a tentativa da diretora de usar o empoderamento feminino como bandeira para dar o tom do filme e, sim, isso era importante, mas não essencial, pois a própria dinâmica da história já passaria a mensagem por si só se fosse bem trabalhada. 

Para você ter uma idéia, o  filme retrata uma Nova York no final dos anos 70, onde Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss) estão casadas com mafiosos irlandeses que comandam os negócios em Hell's Kitchen (exato, o mesmo cenário do Demolidor). Quando seus maridos são presos após um assalto mal sucedido, o trio fica a mercê do novo chefe local, Little Jackie (Myk Watford), que se recusa repassar o dinheiro necessário para o sustento delas e de suas famílias. Entendendo que a situação apenas pioraria com o tempo, Kathy, Ruby e Claire decidem então unir forças para tomar o poder do bairro, oferecendo apoio e proteção aos pequenos comerciantes locais. O poder do trio cresce tanto, que além de começar a incomodar Little Jackie, também chama a atenção da máfia italiana no Brooklin. A partir daí inicia-se uma guerra, onde as três mulheres precisam resolver as diferenças entre elas ao mesmo tempo que procuram se estabelecer no poder e impedir que os homens possam, de alguma forma, retomar os negócios.

"Rainhas do Crime" tem no seu elenco, o maior trunfo. O trio de protagonistas realmente faz a diferença. Destaque para Elisabeth Moss (The Handmaid's Tale) que usa o silêncio como forma de expressão, capaz de passar todo o sentimento de opressão que sua personagem viveu durante seu casamento só com o olhar. Já Melissa McCarthy usa e abusa da sua capacidade de se questionar a todo momento e isso gera uma sensação de insegurança que cai como uma luva para sua personagem. E por fim, Tiffany Haddish, um surpreendente trabalho se levarmos em consideração que sua praia é a comédia! É importante dizer que a diretora Andrea Berloff é competente no que se propõe a fazer, embora eu tenha achado suas escolhas conceituais muito superficiais, o filme que ela entrega é divertido de se assistir. O roteiro derrapa um pouquinho, não desenvolve muito bem as personagens e suas motivações são rapidamente apresentadas (e resolvidas). Faltou um pouco da jornada de transformação e isso fez falta. Um detalhe que me incomodou foi a tentativa do plot twist do 3º ato que envolveu a personagem "Ruby" - tudo foi tão mal construído que pareceu idéia do montador e não do roteirista e essa escolha prejudicou demais o final do filme. Digamos que ficou tudo atropelado!

O fato é que "Rainhas do Crime" perdeu uma grande oportunidade de ser um grande filme. Com esse elenco, um pouco mais de violência e um conceito visual com mais identidade, certamente, o filme faria muito mais barulho. Sinceramente pareceu que o propósito pessoal da diretora se tornou maior que a sua própria obra e isso imprimiu na tela e vem gerando muitas críticas. Uma pena, eu até gostei do filme, me diverti, mas de fato a impressão que ficou é que "Rainhas do Crime" não decola. Acho o até que a história é tão boa que funcionaria muito melhor se tivesse sido desenvolvida como série. Como filme, um entretenimento para um dia chuvoso.

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A adaptação da HQ "The Kitchen", da Vertigo, pela estreante na direção Andrea Berloff (indicada ao Oscar pelo roteiro de Straight Outta Compton: A História do N.W.A), é boa, mas poderia ser melhor. "Rainhas do Crime" é um exemplo claro de uma história com enorme potencial que é transformada em um bom filme, nada mais que isso. O que poderia ser o grande mérito da produção acabou se transformando no seu maior problema. É clara a tentativa da diretora de usar o empoderamento feminino como bandeira para dar o tom do filme e, sim, isso era importante, mas não essencial, pois a própria dinâmica da história já passaria a mensagem por si só se fosse bem trabalhada. 

Para você ter uma idéia, o  filme retrata uma Nova York no final dos anos 70, onde Kathy (Melissa McCarthy), Ruby (Tiffany Haddish) e Claire (Elisabeth Moss) estão casadas com mafiosos irlandeses que comandam os negócios em Hell's Kitchen (exato, o mesmo cenário do Demolidor). Quando seus maridos são presos após um assalto mal sucedido, o trio fica a mercê do novo chefe local, Little Jackie (Myk Watford), que se recusa repassar o dinheiro necessário para o sustento delas e de suas famílias. Entendendo que a situação apenas pioraria com o tempo, Kathy, Ruby e Claire decidem então unir forças para tomar o poder do bairro, oferecendo apoio e proteção aos pequenos comerciantes locais. O poder do trio cresce tanto, que além de começar a incomodar Little Jackie, também chama a atenção da máfia italiana no Brooklin. A partir daí inicia-se uma guerra, onde as três mulheres precisam resolver as diferenças entre elas ao mesmo tempo que procuram se estabelecer no poder e impedir que os homens possam, de alguma forma, retomar os negócios.

"Rainhas do Crime" tem no seu elenco, o maior trunfo. O trio de protagonistas realmente faz a diferença. Destaque para Elisabeth Moss (The Handmaid's Tale) que usa o silêncio como forma de expressão, capaz de passar todo o sentimento de opressão que sua personagem viveu durante seu casamento só com o olhar. Já Melissa McCarthy usa e abusa da sua capacidade de se questionar a todo momento e isso gera uma sensação de insegurança que cai como uma luva para sua personagem. E por fim, Tiffany Haddish, um surpreendente trabalho se levarmos em consideração que sua praia é a comédia! É importante dizer que a diretora Andrea Berloff é competente no que se propõe a fazer, embora eu tenha achado suas escolhas conceituais muito superficiais, o filme que ela entrega é divertido de se assistir. O roteiro derrapa um pouquinho, não desenvolve muito bem as personagens e suas motivações são rapidamente apresentadas (e resolvidas). Faltou um pouco da jornada de transformação e isso fez falta. Um detalhe que me incomodou foi a tentativa do plot twist do 3º ato que envolveu a personagem "Ruby" - tudo foi tão mal construído que pareceu idéia do montador e não do roteirista e essa escolha prejudicou demais o final do filme. Digamos que ficou tudo atropelado!

O fato é que "Rainhas do Crime" perdeu uma grande oportunidade de ser um grande filme. Com esse elenco, um pouco mais de violência e um conceito visual com mais identidade, certamente, o filme faria muito mais barulho. Sinceramente pareceu que o propósito pessoal da diretora se tornou maior que a sua própria obra e isso imprimiu na tela e vem gerando muitas críticas. Uma pena, eu até gostei do filme, me diverti, mas de fato a impressão que ficou é que "Rainhas do Crime" não decola. Acho o até que a história é tão boa que funcionaria muito melhor se tivesse sido desenvolvida como série. Como filme, um entretenimento para um dia chuvoso.

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Sou sua Mulher

A jovem diretora Julia Hart, chamou a atenção no circuito de filmes independentes e agora entrega em "Sou sua Mulher", um filme que mistura ação e drama com uma narrativa aparentemente clássica, muito parecida com "Rainhas do Crime", inclusive; mas com toques autorais muito marcantes que trazem uma originalidade bem interessante para o filme.

Na história, estamos em 1970, onde Jean (Rachel Brosnahan) é casada com o misterioso Eddie (Bill Heck) e cuida de um bebê, Harry - que foi levado inesperadamente para casa pelo marido. O cotidiano comum de um típico jovem casal americano da época é abalado após Eddie aparentemente trair seus parceiros. A partir daí, sem muitas informações sobre o real ofício do marido ou o que de fato aconteceu com ele, ela precisa fugir com a criança imediatamente enquanto é perseguida pelos ex-comparsas traídos em busca de vingança. Confira o trailer:

Talvez o mais bacana de "I'm Your Woman"(título original) é a forma como a narrativa é desconstruída para propor uma experiência completamente diferente das expectativas, graças a maneira como a protagonista se relaciona com as inúmeras incógnitas criadas pelos acontecimentos do primeiro ato. De fato, Rachel Brosnahan é capaz de nos transmitir toda a angústia ao ver sua vida ser revirada e completamente transformada, sem nada ter a ver com as irresponsabilidades do marido - e acreditem, será uma surpresa atrás da outra! 

Todo esse mistério acaba criando um suspense graças a falta de informações e é isso que nos move: a curiosidade! É aí que o trabalho da diretora Julia Hart ganha força, pois ao mesmo tempo que ela não se descuida do arco dramático de Jean, ela cria uma série de camadas psicológicas que vão transformando a jornada interna da personagem, deixando parecer que a ação é o elemento mais importante, quando na verdade é o auto-conhecimento e a capacidade de se emancipar que move a história - vale dizer que, desde o início, Jean é sufocada pelo machismo e por cobranças de que não seria “mulher” suficiente para os padrões sociais conservadores da época e isso é tão bem trabalhado que acaba ganhando uma profundidade muito maior que as excelentes cenas de ação que Hart no apresenta - aliás, reparem na cena da boate!

"Sou sua Mulher" é surpreendente por todos esse fatores, é muito bem realizado e é um ótimo entretenimento; mas não é apenas uma jornada superficial de tiros, perseguição, vingança e máfia! Sim, a narrativa estabelece uma perspectiva explicita sobre a importância do empoderamento feminino - no que é dito e no que pensado! Porém não força a barra, não cria malabarismos narrativos toscos só para provar uma posição ideológica e isso faz com que o filme cresça, agrade e flua.

Não é inesquecível, mas um bom entretenimento! Vale o play!

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A jovem diretora Julia Hart, chamou a atenção no circuito de filmes independentes e agora entrega em "Sou sua Mulher", um filme que mistura ação e drama com uma narrativa aparentemente clássica, muito parecida com "Rainhas do Crime", inclusive; mas com toques autorais muito marcantes que trazem uma originalidade bem interessante para o filme.

Na história, estamos em 1970, onde Jean (Rachel Brosnahan) é casada com o misterioso Eddie (Bill Heck) e cuida de um bebê, Harry - que foi levado inesperadamente para casa pelo marido. O cotidiano comum de um típico jovem casal americano da época é abalado após Eddie aparentemente trair seus parceiros. A partir daí, sem muitas informações sobre o real ofício do marido ou o que de fato aconteceu com ele, ela precisa fugir com a criança imediatamente enquanto é perseguida pelos ex-comparsas traídos em busca de vingança. Confira o trailer:

Talvez o mais bacana de "I'm Your Woman"(título original) é a forma como a narrativa é desconstruída para propor uma experiência completamente diferente das expectativas, graças a maneira como a protagonista se relaciona com as inúmeras incógnitas criadas pelos acontecimentos do primeiro ato. De fato, Rachel Brosnahan é capaz de nos transmitir toda a angústia ao ver sua vida ser revirada e completamente transformada, sem nada ter a ver com as irresponsabilidades do marido - e acreditem, será uma surpresa atrás da outra! 

Todo esse mistério acaba criando um suspense graças a falta de informações e é isso que nos move: a curiosidade! É aí que o trabalho da diretora Julia Hart ganha força, pois ao mesmo tempo que ela não se descuida do arco dramático de Jean, ela cria uma série de camadas psicológicas que vão transformando a jornada interna da personagem, deixando parecer que a ação é o elemento mais importante, quando na verdade é o auto-conhecimento e a capacidade de se emancipar que move a história - vale dizer que, desde o início, Jean é sufocada pelo machismo e por cobranças de que não seria “mulher” suficiente para os padrões sociais conservadores da época e isso é tão bem trabalhado que acaba ganhando uma profundidade muito maior que as excelentes cenas de ação que Hart no apresenta - aliás, reparem na cena da boate!

"Sou sua Mulher" é surpreendente por todos esse fatores, é muito bem realizado e é um ótimo entretenimento; mas não é apenas uma jornada superficial de tiros, perseguição, vingança e máfia! Sim, a narrativa estabelece uma perspectiva explicita sobre a importância do empoderamento feminino - no que é dito e no que pensado! Porém não força a barra, não cria malabarismos narrativos toscos só para provar uma posição ideológica e isso faz com que o filme cresça, agrade e flua.

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Tetris

"Tetris", isso mesmo, o filme que conta a história daquele famoso jogo da Nintendo, é surpreendente de tão divertido - mesmo que em alguns momentos soe fantasioso demais! Com muitos elementos dramáticos que acostumamos encontrar em séries que desvendam os bastidores de uma startup como em "WeCrashed" ou de um produto revolucionário como "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", essa produção da AppleTV+ ainda traz para trama toda uma atmosfera de nostalgia, de dramas políticos e até de filmes de ação, que nos envolve de tal maneira que não conseguimos tirar os olhos da tela durante duas horas. Olha, é entretenimento puro, mas com muita qualidade.

Antes de Tetris se tornar um fenômeno, ele passou por uma jornada extraordinária: quando o representante de jogos, Henk Rogers (Taron Egerton), descobriu o jogo do programador russo Alexey Pajitno (Nikita Efrenov) no final da década de 1980, quando a "Cortina de Ferro" da URSS estava prestes a cair. Com o objetivo de licenciar o titulo mundialmente para consoles de videogame, fliperamas, PCs e também para o futuro "gameboy", Rogers se envolve em um turbilhão de mentiras e corrupção, de modo que precisa negociar até com o serviço secreto russo, a KGB. Enquanto várias partes fazem reivindicações legais sobre o jogo, Rogers logo se vê no meio de uma enorme batalha legal que pode custar até seu casamento. Confira o trailer (em inglês):

É claro que, mesmo se baseando em fatos, o promissor diretor Jon S. Baird (de "Stan & Ollie") se permitiu algumas licenças poéticas para criar uma dinâmica que vai além de um estudo de caso e acaba se tornando um filme muito divertido - como o próprio Baird antecipou em uma matéria para o Collider, Tetris "não é um documentário"! Dito isso, fica muito fácil aceitar toda a jornada de Rogers já que Egerton mostra mais uma vez seu range na interpretação, capaz de dominar os alívios cômicos com a mesma qualidade em que convence como um empreendedor em busca de um sonho (muito arriscado) que parece impossível de realizar.

O roteiro de Noah Pink (criador de "Genius"), de fato, está longe de ser um profundo mergulho na psique do personagem - daqueles construídos em cima de inúmeras camadas e dramas marcantes que refletem algumas ações intempestivas no presente. Muito menos é uma detalhada investigação sobre a importância sociocultural ou politica do jogo em questão, no entanto, a simplicidade do texto, que em nenhum momento se perde em referências nostálgicas ou na densidade jurídica dos conflitos, aliada a uma narrativa inteligente, faz da nossa experiência como audiência, algo muito prazeroso.

As referências visuais, normalmente pautadas nos gráficos 8 bits dos videogames mais antigos, e uma trilha sonora simplesmente fantástica são as cerejas do bolo de "Tetris". Mesmo que em alguns momentos o filme vacile ao abusar dos estereótipos soviéticos (ao melhor estilo Stranger Things), é interessante perceber que tudo isso faz parte de escolha conceitual que torna a história, em termos narrativos, algo leve e fácil de consumir; deixando claro que até por trás dos bloquinhos caindo do alto de uma tela, existe uma boa história!

Vale muito o seu play!

PS: Sugiro, para contextualizar esse universo dos primórdios dos video-games, assistir a série "GDLK".

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"Tetris", isso mesmo, o filme que conta a história daquele famoso jogo da Nintendo, é surpreendente de tão divertido - mesmo que em alguns momentos soe fantasioso demais! Com muitos elementos dramáticos que acostumamos encontrar em séries que desvendam os bastidores de uma startup como em "WeCrashed" ou de um produto revolucionário como "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", essa produção da AppleTV+ ainda traz para trama toda uma atmosfera de nostalgia, de dramas políticos e até de filmes de ação, que nos envolve de tal maneira que não conseguimos tirar os olhos da tela durante duas horas. Olha, é entretenimento puro, mas com muita qualidade.

Antes de Tetris se tornar um fenômeno, ele passou por uma jornada extraordinária: quando o representante de jogos, Henk Rogers (Taron Egerton), descobriu o jogo do programador russo Alexey Pajitno (Nikita Efrenov) no final da década de 1980, quando a "Cortina de Ferro" da URSS estava prestes a cair. Com o objetivo de licenciar o titulo mundialmente para consoles de videogame, fliperamas, PCs e também para o futuro "gameboy", Rogers se envolve em um turbilhão de mentiras e corrupção, de modo que precisa negociar até com o serviço secreto russo, a KGB. Enquanto várias partes fazem reivindicações legais sobre o jogo, Rogers logo se vê no meio de uma enorme batalha legal que pode custar até seu casamento. Confira o trailer (em inglês):

É claro que, mesmo se baseando em fatos, o promissor diretor Jon S. Baird (de "Stan & Ollie") se permitiu algumas licenças poéticas para criar uma dinâmica que vai além de um estudo de caso e acaba se tornando um filme muito divertido - como o próprio Baird antecipou em uma matéria para o Collider, Tetris "não é um documentário"! Dito isso, fica muito fácil aceitar toda a jornada de Rogers já que Egerton mostra mais uma vez seu range na interpretação, capaz de dominar os alívios cômicos com a mesma qualidade em que convence como um empreendedor em busca de um sonho (muito arriscado) que parece impossível de realizar.

O roteiro de Noah Pink (criador de "Genius"), de fato, está longe de ser um profundo mergulho na psique do personagem - daqueles construídos em cima de inúmeras camadas e dramas marcantes que refletem algumas ações intempestivas no presente. Muito menos é uma detalhada investigação sobre a importância sociocultural ou politica do jogo em questão, no entanto, a simplicidade do texto, que em nenhum momento se perde em referências nostálgicas ou na densidade jurídica dos conflitos, aliada a uma narrativa inteligente, faz da nossa experiência como audiência, algo muito prazeroso.

As referências visuais, normalmente pautadas nos gráficos 8 bits dos videogames mais antigos, e uma trilha sonora simplesmente fantástica são as cerejas do bolo de "Tetris". Mesmo que em alguns momentos o filme vacile ao abusar dos estereótipos soviéticos (ao melhor estilo Stranger Things), é interessante perceber que tudo isso faz parte de escolha conceitual que torna a história, em termos narrativos, algo leve e fácil de consumir; deixando claro que até por trás dos bloquinhos caindo do alto de uma tela, existe uma boa história!

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PS: Sugiro, para contextualizar esse universo dos primórdios dos video-games, assistir a série "GDLK".

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Tokyo Vice

Você não vai se apaixonar por "Tokyo Vice" imediatamente - será necessários pelo menos 3 ou 4 episódios para você desejar emendar um episódio no outro (e isso vai acontecer)! Basicamente, essa série da HBO Max é um drama policial com fortes elementos de jornalismo investigativo. Ambientado no submundo da Yakuza na Tóquio dos anos 90, a série criada por J.T. Rogers (de "Oslo"), captura como poucas a vibrante energia da capital japonesa, contrastando sua atmosfera histriônica com a brutalidade do crime organizado. Com uma narrativa até certo ponto cadenciada, mas naturalmente envolvente, atuações impecáveis e uma proposta de direção das mais interessantes, "Tokyo Vice" se destacou como uma das melhores séries de 2022, figurando, inclusive, em premiações como o Critics Choice Awards e o Gotham Independent Film Awards.

Jake Adelstein (Ansel Elgort) é um jovem jornalista americano obcecado pelo Japão que se muda para Tóquio em busca de uma oportunidade no prestigiado jornal Meicho Shimbun. Motivado por um idealismo ingênuo, ele logo se depara com a dura realidade do crime organizado, atraindo a atenção de Sato (Ken Watanabe), um detetive da divisão de homicídios que o guia pelas complexas teias da Yakuza. Confira o trailer:

Certamente o que vai mudar sua percepção sobre "Tokyo Vice" é o fato de se tratar de uma história real. Na verdade a série é inspirada no livro homônimo de memória de Adelstein, um jornalista judeu que realmente vivenciou as experiências retratadas na série. Naturalmente que não estamos falando de uma cópia página por página do livro, mas a essência dramática, acreditem, é a mesma. Observar um imigrante, natural do Meio-Oeste americano, vivendo em Tóquio e mergulhando na cultura nacionalista japonesa, é só uma das qualidades do roteiro de J.T. Roger. É impressionante como ele sabe aproveitar dessa base factual para agregar um peso extra à narrativa, conferindo veracidade aos eventos e seus personagens de uma forma realmente orgânica.

A atmosfera noirda série é lindamente potencializada pela fotografia impecável do Daniel Satinoff (e sua equipe) - ele captura a beleza noturna, totalmente neon, de Tóquio ao mesmo tempo que pontua uma aura de perigo constante do submundo do crime. São planos realmente muito bem planejados e impecáveis em sua realização, que ao lado de uma trilha sonora extremamente melancólica dão o tom exato do suspense e da tensão que a direção, especialmente, de Michael Mann ("Heat") exige - aliás, "Tokyo Vice" tem muito de "Colateral" na sua proposta visual e narrativa, uma pena que o talento de Mann na concepção de uma unidade estética vá se perdendo depois do piloto. Outro destaque, sem dúvida, é Ansel Elgort - ele entrega uma performance visceral como Jake, transmitindo sua ambição, ingenuidade e, principalmente, sua gradual desilusão com aquele mundo que o cerca. Ken Watanabe também rouba a cena como Sato, um detetive experiente e ambivalente, dividido entre a lealdade à lei e a necessidade de fazer justiça. 

O fato é que "Tokyo Vice" começa morninha, mas vai aquecendo ao ponto de ter garantido uma segunda temporada com muitos méritos. Essa é uma série imperdível para os fãs de thrillers policiais baseado em histórias reais que de alguma forma provoca inúmeras sensações: da solidão ao entusiasmo, passando pela ansiedade e pela melancolia de seu protagonista - que não raramente se confunde com a atmosfera desafiadora de Tóquio. Ao explorar alguns temas através de vários personagens que se cruzam e se conectam por pontos em comum, como a dificuldade de um choque cultural tão marcante ou a busca por uma identidade que traria algum conforto ou até mesmo pela luta por justiça em um sistema tão corrompido e hipócrita, enfim, toda essa combinação de elementos resulta em uma experiência, de fato, única e memorável que vale a pena dar uma chance - por mais que inicialmente soe enganosa.

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Você não vai se apaixonar por "Tokyo Vice" imediatamente - será necessários pelo menos 3 ou 4 episódios para você desejar emendar um episódio no outro (e isso vai acontecer)! Basicamente, essa série da HBO Max é um drama policial com fortes elementos de jornalismo investigativo. Ambientado no submundo da Yakuza na Tóquio dos anos 90, a série criada por J.T. Rogers (de "Oslo"), captura como poucas a vibrante energia da capital japonesa, contrastando sua atmosfera histriônica com a brutalidade do crime organizado. Com uma narrativa até certo ponto cadenciada, mas naturalmente envolvente, atuações impecáveis e uma proposta de direção das mais interessantes, "Tokyo Vice" se destacou como uma das melhores séries de 2022, figurando, inclusive, em premiações como o Critics Choice Awards e o Gotham Independent Film Awards.

Jake Adelstein (Ansel Elgort) é um jovem jornalista americano obcecado pelo Japão que se muda para Tóquio em busca de uma oportunidade no prestigiado jornal Meicho Shimbun. Motivado por um idealismo ingênuo, ele logo se depara com a dura realidade do crime organizado, atraindo a atenção de Sato (Ken Watanabe), um detetive da divisão de homicídios que o guia pelas complexas teias da Yakuza. Confira o trailer:

Certamente o que vai mudar sua percepção sobre "Tokyo Vice" é o fato de se tratar de uma história real. Na verdade a série é inspirada no livro homônimo de memória de Adelstein, um jornalista judeu que realmente vivenciou as experiências retratadas na série. Naturalmente que não estamos falando de uma cópia página por página do livro, mas a essência dramática, acreditem, é a mesma. Observar um imigrante, natural do Meio-Oeste americano, vivendo em Tóquio e mergulhando na cultura nacionalista japonesa, é só uma das qualidades do roteiro de J.T. Roger. É impressionante como ele sabe aproveitar dessa base factual para agregar um peso extra à narrativa, conferindo veracidade aos eventos e seus personagens de uma forma realmente orgânica.

A atmosfera noirda série é lindamente potencializada pela fotografia impecável do Daniel Satinoff (e sua equipe) - ele captura a beleza noturna, totalmente neon, de Tóquio ao mesmo tempo que pontua uma aura de perigo constante do submundo do crime. São planos realmente muito bem planejados e impecáveis em sua realização, que ao lado de uma trilha sonora extremamente melancólica dão o tom exato do suspense e da tensão que a direção, especialmente, de Michael Mann ("Heat") exige - aliás, "Tokyo Vice" tem muito de "Colateral" na sua proposta visual e narrativa, uma pena que o talento de Mann na concepção de uma unidade estética vá se perdendo depois do piloto. Outro destaque, sem dúvida, é Ansel Elgort - ele entrega uma performance visceral como Jake, transmitindo sua ambição, ingenuidade e, principalmente, sua gradual desilusão com aquele mundo que o cerca. Ken Watanabe também rouba a cena como Sato, um detetive experiente e ambivalente, dividido entre a lealdade à lei e a necessidade de fazer justiça. 

O fato é que "Tokyo Vice" começa morninha, mas vai aquecendo ao ponto de ter garantido uma segunda temporada com muitos méritos. Essa é uma série imperdível para os fãs de thrillers policiais baseado em histórias reais que de alguma forma provoca inúmeras sensações: da solidão ao entusiasmo, passando pela ansiedade e pela melancolia de seu protagonista - que não raramente se confunde com a atmosfera desafiadora de Tóquio. Ao explorar alguns temas através de vários personagens que se cruzam e se conectam por pontos em comum, como a dificuldade de um choque cultural tão marcante ou a busca por uma identidade que traria algum conforto ou até mesmo pela luta por justiça em um sistema tão corrompido e hipócrita, enfim, toda essa combinação de elementos resulta em uma experiência, de fato, única e memorável que vale a pena dar uma chance - por mais que inicialmente soe enganosa.

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Trapaça

Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).

Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:

Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.

Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood  (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.

"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!

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Esse é mais um título que me fez perguntar: "Onde eu estava que não assisti esse filme antes?". "Trapaça" é uma produção de 2013 que foi indicada, pasmem, em dez categorias no Oscar - e com muito mérito, eu completo. Em uma época onde streaming era uma palavra que nem no dicionário estava, o filme simplesmente passou batido por mim e tenho a impressão de que por muita gente - o que é um pecado, pois ele é excelente, com uma narrativa dinâmica, muito bem dirigido e com performances de cair o queixo de um elenco que conta "só" com Christian Bale, Amy Adams, Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (todos indicados ao Oscar, inclusive).

Incrivelmente baseado em um fato real, o filme conta a história de Irving Rosenfeld (Bale), um grande trapaceiro que tem como sócia e amante Sydney Prosser (Adams). Depois de serem surpreendidos e pegos por uma ação do FBI, os dois são forçados a colaborar com o agente Richie DiMaso (Cooper), que infiltra Rosenfeld no mundo da máfia ao mesmo tempo em que tenta conseguir provas do envolvimento político do mais alto escalão do país, em corrupção através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Lawrence), aparecer e mudar completamente as regras do jogo. Confira o trailer:

Dirigido pelo sempre competente e muito talentoso (cinco vezes indicado ao Oscar), David Owen Russell de "Joy", "Trapaça" é meio que uma mistura de Guy Ritchie com Adam McKay, não visualmente (marca registrada dos dois diretores), mas na dinâmica narrativa, na escolha do tom e na ironia que cada linha de diálogo representa para a história que, a todo momento, soa tão absurda que parece mentira. Russell e seus montadores (Jay Cassidy, Crispin Struthers, Alan Baumgarten) constroem uma linha temporal muito interessante, narrada por diversos pontos de vista, com diferentes personagens, mas sempre mantendo a uma coerência cinematográfica que impressiona pela didática sem ser expositiva. Veja, quando vemos um verdadeiro "Zé Ninguém", careca, barrigudo, brega e, aparentemente, pacato, se transformar em Irving Rosenfeld; temos a certeza que a história vai nos levar para um lugar que nem podemos imaginar.

Escrito pelo próprio Russell ao lado de Eric Warren Singer (de "Top Gun: Maverick"), o filme vai nos surpreendendo a cada movimento dos personagens - como a trapaça está no centro da discussão, é impossível cravar o que de fato é sincero durante toda a jornada. O interessante é que todos os personagens parecem saber disso, e mesmo apoiados em alguns esteriótipos (propositais) e ações normalmente exageradas, toda essa desconfiança funciona como motivação e quando menos esperamos, algo quebra essa cadeia e somos surpreendidos. Talvez a personagem de Lawrence, a Rosalyn Rosenfeld, seja a personificação desse mood  (ela está incrível) ou até mesmo as maravilhosas conversas entre os personagens de Cooper e Louis C.K. (o Stoddard Thorsen) nos escritórios do FBI dos anos 70 sintetizem bem esse conceito um pouco "over" de ser.

"Trapaça" tem a sagacidade de enganar a audiência ao se apresentar como algo mais complexo do que realmente é. Russell foi muito feliz em "sugerir" muito mais do que "mostrar", nos provocando o julgamento a cada novo movimento - mas tudo isso de uma forma tão orgânica e fácil, que nem nos damos conta quando o filme termina. A história não precisa empolgar, não é esse o objetivo, são os personagens e como eles se relacionam que realmente importa - é na profundidade de algo aparentemente superficial que a magia realmente acontece. Uma aula!

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