Esse filme pode até parecer uma comédia inofensiva em um primeiro olhar, mas não se engane, embora divertida, "Jovens Adultos" vai tocar em algumas feridas que, no mínimo, vão te fazer olhar para o passado e refletir sobre a importância de algumas passagens de sua vida como processo de amadurecimento como ser humano. Dirigido pelo talentoso Jason Reitman (dos imperdíveis "Tully"e "Juno"), esse filme de 2011 é um retrato cru e realista da vida adulta que explora os relacionamentos pela perspectiva nostálgica de um retorno às origens - e olha, embutida nessa jornada existe uma atmosfera de melancolia que chega a corroer nossa alma. Aclamado pela crítica e pelo público, o filme recebeu indicações ao "Golden Globe" e "Critics Choice", além de reconhecimento em diversos festivais importantes do cinema como o de Toronto e o de Chicago, solidificando seu lugar de destaque como obra que equilibra perfeitamente uma narrativa bem estruturada com fortes elementos do cinema independente, mas que nunca deixa de lado sua proposta como entretenimento. Para aqueles que apreciam filmes que exploram as nuances da psique humana, "Jovens Adultos" é uma escolha certeira!
Na trama, somos apresentados a Mavis Gary (Charlize Theron), uma escritora de ficção de trinta e poucos anos que retorna à sua cidade natal em busca de inspiração para seu próximo livro. Determinada a reconquistar seu antigo namorado, Buddy Slade (Patrick Wilson), Mavis ignora o fato de que ele agora é casado e tem uma filha recém-nascida. O que se segue é uma jornada emocionalmente complexa, onde Mavis é confrontada com a realidade de suas escolhas passadas e forçada a confrontar seu próprio senso de identidade e propósito. Confira o trailer:
O que torna "Young Adult" (no original) verdadeiramente envolvente é a impressionante sensação de "uma hora vai dar M...". Essa sensação angustiante nos acompanha durante os 90 minutas de filme e o mérito disso está na dobradinha Charlize Theron e Jason Reitman. Começando pelo segundo, é importante notar como Reitman, mais uma vez, mostra o tamanho de sua capacidade em mergulhar nas profundezas das relações humanas, revelando as inúmeras camadas emocionais e complexas de seus personagens. A direção de Jason Reitman é magistral, capturando de forma sensível e crua as nuances do comportamento pautado na emoção - sim, existe uma dificuldade em retratar a vida adulta sem cair em clichês e Reitman nunca se deixa levar, ele é muito competente em pontuar as fraquezas mais intimas de seus personagens em função, única e exclusivamente, de sua narrativa. Aqui, tudo é muito palpável - talvez por isso nossa identificação imediata.
É nesse contexto que agora precisamos falar de Charlize Theron. Além de linda, caraterística que eleva sua personagem à níveis insuportáveis de arrogância com o único intuito de escondersua insegurança, Theron ainda entrega uma performance corajosa e multifacetada, trabalhando seu range com a propriedade de quem sabe das forças e fraquezas de sua personagem. Simplesmente magnética, ela entende a jornada de descoberta de Mavis Gary e apoiada no desequilíbrio entre a realidade e a nostalgia, a atriz é capaz de nos manter cativados do início ao fim. A fotografia do Eric Steelberg (parceiro inseparável de Reitman) trabalha com muito esmero os enquadramentos para que os personagens, apenas com o olhar, sejam capazes de transmitir todo sentimento que envolve aquelas situações, digamos, constrangedoras. Enquanto a trilha sonora evoca uma sensação de nostalgia e desilusão, o roteiro afiado de Diablo Cody, pontua o caos emocional da protagonista com diálogos inteligentes que nos tiram da zona de conforto.
É impossível não ser impactado pela sua honestidade brutal e pela sua capacidade de nos fazer questionar nossas próprias escolhas e arrependimentos ao assistir "Jovens Adultos". Um filme que sabe misturar o drama com a comédia sem cair no comum - e claro, estamos diante uma história atemporal sobre o amor, a autodescoberta e as dificuldades de lidar com vida adulta quando saímos daquele lugar onde sempre tivemos tudo sob controle. Esse é um filme que mostra que o mundo é muito maior e que a felicidade não está no que passou, mas no que está por vir, mesmo que chegue acompanhada de muita dor!
Vale muito o seu play
Esse filme pode até parecer uma comédia inofensiva em um primeiro olhar, mas não se engane, embora divertida, "Jovens Adultos" vai tocar em algumas feridas que, no mínimo, vão te fazer olhar para o passado e refletir sobre a importância de algumas passagens de sua vida como processo de amadurecimento como ser humano. Dirigido pelo talentoso Jason Reitman (dos imperdíveis "Tully"e "Juno"), esse filme de 2011 é um retrato cru e realista da vida adulta que explora os relacionamentos pela perspectiva nostálgica de um retorno às origens - e olha, embutida nessa jornada existe uma atmosfera de melancolia que chega a corroer nossa alma. Aclamado pela crítica e pelo público, o filme recebeu indicações ao "Golden Globe" e "Critics Choice", além de reconhecimento em diversos festivais importantes do cinema como o de Toronto e o de Chicago, solidificando seu lugar de destaque como obra que equilibra perfeitamente uma narrativa bem estruturada com fortes elementos do cinema independente, mas que nunca deixa de lado sua proposta como entretenimento. Para aqueles que apreciam filmes que exploram as nuances da psique humana, "Jovens Adultos" é uma escolha certeira!
Na trama, somos apresentados a Mavis Gary (Charlize Theron), uma escritora de ficção de trinta e poucos anos que retorna à sua cidade natal em busca de inspiração para seu próximo livro. Determinada a reconquistar seu antigo namorado, Buddy Slade (Patrick Wilson), Mavis ignora o fato de que ele agora é casado e tem uma filha recém-nascida. O que se segue é uma jornada emocionalmente complexa, onde Mavis é confrontada com a realidade de suas escolhas passadas e forçada a confrontar seu próprio senso de identidade e propósito. Confira o trailer:
O que torna "Young Adult" (no original) verdadeiramente envolvente é a impressionante sensação de "uma hora vai dar M...". Essa sensação angustiante nos acompanha durante os 90 minutas de filme e o mérito disso está na dobradinha Charlize Theron e Jason Reitman. Começando pelo segundo, é importante notar como Reitman, mais uma vez, mostra o tamanho de sua capacidade em mergulhar nas profundezas das relações humanas, revelando as inúmeras camadas emocionais e complexas de seus personagens. A direção de Jason Reitman é magistral, capturando de forma sensível e crua as nuances do comportamento pautado na emoção - sim, existe uma dificuldade em retratar a vida adulta sem cair em clichês e Reitman nunca se deixa levar, ele é muito competente em pontuar as fraquezas mais intimas de seus personagens em função, única e exclusivamente, de sua narrativa. Aqui, tudo é muito palpável - talvez por isso nossa identificação imediata.
É nesse contexto que agora precisamos falar de Charlize Theron. Além de linda, caraterística que eleva sua personagem à níveis insuportáveis de arrogância com o único intuito de escondersua insegurança, Theron ainda entrega uma performance corajosa e multifacetada, trabalhando seu range com a propriedade de quem sabe das forças e fraquezas de sua personagem. Simplesmente magnética, ela entende a jornada de descoberta de Mavis Gary e apoiada no desequilíbrio entre a realidade e a nostalgia, a atriz é capaz de nos manter cativados do início ao fim. A fotografia do Eric Steelberg (parceiro inseparável de Reitman) trabalha com muito esmero os enquadramentos para que os personagens, apenas com o olhar, sejam capazes de transmitir todo sentimento que envolve aquelas situações, digamos, constrangedoras. Enquanto a trilha sonora evoca uma sensação de nostalgia e desilusão, o roteiro afiado de Diablo Cody, pontua o caos emocional da protagonista com diálogos inteligentes que nos tiram da zona de conforto.
É impossível não ser impactado pela sua honestidade brutal e pela sua capacidade de nos fazer questionar nossas próprias escolhas e arrependimentos ao assistir "Jovens Adultos". Um filme que sabe misturar o drama com a comédia sem cair no comum - e claro, estamos diante uma história atemporal sobre o amor, a autodescoberta e as dificuldades de lidar com vida adulta quando saímos daquele lugar onde sempre tivemos tudo sob controle. Esse é um filme que mostra que o mundo é muito maior e que a felicidade não está no que passou, mas no que está por vir, mesmo que chegue acompanhada de muita dor!
Vale muito o seu play
"Juno" levou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2008, teve uma carreira premiadíssima nos Festivais pelo mundo e de fato merece ser assistido! Se você só passou por ele, volte e dê uma chance: ele é uma graça, leve, sensível, muito bem dirigido pelo Jason Reitman (Amor sem Escalas) e com uma interpretação maravilhosa da Ellen Page (também indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme).
Juno (Page) é uma estudante de 16 anos que descobre estar grávida do amigo Bleek (Michael Cera). Ao contrário do que sua personalidade parece mostrar, Juno sabe que não possui responsabilidade suficiente para cuidar de uma criança, e opta pelo aborto. Mas logo muda de ideia, e resolve dar o bebê para a adoção, a fim de que a criança possa ter uma família que a cuide e crie com carinho. Com a ajuda de sua amiga Leah (Olivia Thirlby), Juno conta a novidade para o pai (J.K. Simmons) e sua madrasta (Allison Janey), e após um tempo, se depara com o casal Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), que desejam adotar um bebê devido a impossibilidade de Vanessa em engravidar. Querendo apenas fugir da real importância de sua situação, Juno decide doar seu bebê para o casal, mas a realidade ainda em formação de Juno se choca com a convivência conflituosa do casamento entre Mark e Vanessa, o que acarreta algumas situações e aproximações improváveis. Confira o trailer:
Obviamente que o roteiro é o ponto alto do filme e aí é preciso que se diga que "Juno" é, essencialmente, um filme de personagens. A história pode até não ter grandes oscilações dramáticas tão comuns em produções onde os elementos "adolescente" e "gravidez" caminham juntos, mas é de se elogiar os diálogos construídos pela roteirista americana Diablo Cody (Paraíso: Em Busca da Felicidade) para a protagonista: são inteligentes, ácidos, irônicos e ao mesmo tempo inocentes - tudo no tom exato para fazer Page brilhar. Aliás, todo o elenco é para se aplaudir de pé: J.K. Simmons, Allison Janney, Michael Cera, Jennifer Garner e Jason Bateman; todos estão afinadíssimos com o texto de Cody. Reparem na Olivia Thirlby, que interpreta Leah, a melhor amiga de Juno - as melhores sacadas do filme são dela!
A trilha sonora é outro show: "All I Want Is You", "A Well Respected Man", "So Nice So Smart", "Sea of Love" e a emocionante "Anyone Else But You" que ganha uma sequência maravilhosa no final do filme com Page e Cera, são as cerejas do bolo. "Juno" é daqueles raros filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto e com o coração cheio de amor - se não é um filme inesquecível, embora tenha elementos para isso, certamente é um entretenimento que vai fazer seu dia melhor!
Vale muito a pena!
Up-date: "Juno" disputou na categoria "Melhor Filme" a ainda recebeu mais três indicações no Oscar 2020: além da vitória em "Roteiro Adaptado", Page disputou como "Melhor Atriz" e Jason Reitman como "Melhor Diretor".
"Juno" levou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2008, teve uma carreira premiadíssima nos Festivais pelo mundo e de fato merece ser assistido! Se você só passou por ele, volte e dê uma chance: ele é uma graça, leve, sensível, muito bem dirigido pelo Jason Reitman (Amor sem Escalas) e com uma interpretação maravilhosa da Ellen Page (também indicada ao Oscar de melhor atriz por esse filme).
Juno (Page) é uma estudante de 16 anos que descobre estar grávida do amigo Bleek (Michael Cera). Ao contrário do que sua personalidade parece mostrar, Juno sabe que não possui responsabilidade suficiente para cuidar de uma criança, e opta pelo aborto. Mas logo muda de ideia, e resolve dar o bebê para a adoção, a fim de que a criança possa ter uma família que a cuide e crie com carinho. Com a ajuda de sua amiga Leah (Olivia Thirlby), Juno conta a novidade para o pai (J.K. Simmons) e sua madrasta (Allison Janey), e após um tempo, se depara com o casal Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman), que desejam adotar um bebê devido a impossibilidade de Vanessa em engravidar. Querendo apenas fugir da real importância de sua situação, Juno decide doar seu bebê para o casal, mas a realidade ainda em formação de Juno se choca com a convivência conflituosa do casamento entre Mark e Vanessa, o que acarreta algumas situações e aproximações improváveis. Confira o trailer:
Obviamente que o roteiro é o ponto alto do filme e aí é preciso que se diga que "Juno" é, essencialmente, um filme de personagens. A história pode até não ter grandes oscilações dramáticas tão comuns em produções onde os elementos "adolescente" e "gravidez" caminham juntos, mas é de se elogiar os diálogos construídos pela roteirista americana Diablo Cody (Paraíso: Em Busca da Felicidade) para a protagonista: são inteligentes, ácidos, irônicos e ao mesmo tempo inocentes - tudo no tom exato para fazer Page brilhar. Aliás, todo o elenco é para se aplaudir de pé: J.K. Simmons, Allison Janney, Michael Cera, Jennifer Garner e Jason Bateman; todos estão afinadíssimos com o texto de Cody. Reparem na Olivia Thirlby, que interpreta Leah, a melhor amiga de Juno - as melhores sacadas do filme são dela!
A trilha sonora é outro show: "All I Want Is You", "A Well Respected Man", "So Nice So Smart", "Sea of Love" e a emocionante "Anyone Else But You" que ganha uma sequência maravilhosa no final do filme com Page e Cera, são as cerejas do bolo. "Juno" é daqueles raros filmes que assistimos com um leve sorriso no rosto e com o coração cheio de amor - se não é um filme inesquecível, embora tenha elementos para isso, certamente é um entretenimento que vai fazer seu dia melhor!
Vale muito a pena!
Up-date: "Juno" disputou na categoria "Melhor Filme" a ainda recebeu mais três indicações no Oscar 2020: além da vitória em "Roteiro Adaptado", Page disputou como "Melhor Atriz" e Jason Reitman como "Melhor Diretor".
"Kiki: Os Segredos do Desejo" acompanha cinco história de amor e sexo que se desenrolam ao longo de uma temporada de verão em Madrid, quando os personagens descobrem fontes de prazer bem estranhas e extremamente incomuns com nomes impronunciáveis como: Dacrifilia, Hifefilia, Somnofilia, Harpaxofilia… vemos tabus sendo quebrados, um a um, conforme esses casais se envolvem em uma emocionante libertação onde nenhum prazer é negado, seja qual for a sua forma.
Antes de mais nada é preciso dizer que para se divertir assistindo "Kiki: Os Segredos do Desejo" é preciso estar acostumado com o humor "ácido" do cinema espanhol. Seu roteiro é um ótimo exemplo do equilíbrio entre comédia e drama que uma nova geração de diretores espanhóis vem produzindo - nesse caso temos um filme sobre relações, sobre sexo, sobre traços do comportamento humano que nem imaginaríamos que pudesse ser real ou verdadeiro. Embora muito bem feito, muito bem dirigido pelo também ator Paco León e com um roteiro excelente (embora constrangedor no melhor e engraçado sentido da palavra, se isso é possível), "Kiki" ganha ainda mais força com o elenco - é uma interpretação melhor que a outra!
Olha, dessa nova linha de filmes espanhóis que já analisamos, "El bar" ainda é melhor, mas "Kiki: Os Segredos do Desejo" também é divertidíssimo e se você tiver afim de ser provocado, com uma narrativa menos convencional, eu indico tranquilamente!
"Kiki: Os Segredos do Desejo" acompanha cinco história de amor e sexo que se desenrolam ao longo de uma temporada de verão em Madrid, quando os personagens descobrem fontes de prazer bem estranhas e extremamente incomuns com nomes impronunciáveis como: Dacrifilia, Hifefilia, Somnofilia, Harpaxofilia… vemos tabus sendo quebrados, um a um, conforme esses casais se envolvem em uma emocionante libertação onde nenhum prazer é negado, seja qual for a sua forma.
Antes de mais nada é preciso dizer que para se divertir assistindo "Kiki: Os Segredos do Desejo" é preciso estar acostumado com o humor "ácido" do cinema espanhol. Seu roteiro é um ótimo exemplo do equilíbrio entre comédia e drama que uma nova geração de diretores espanhóis vem produzindo - nesse caso temos um filme sobre relações, sobre sexo, sobre traços do comportamento humano que nem imaginaríamos que pudesse ser real ou verdadeiro. Embora muito bem feito, muito bem dirigido pelo também ator Paco León e com um roteiro excelente (embora constrangedor no melhor e engraçado sentido da palavra, se isso é possível), "Kiki" ganha ainda mais força com o elenco - é uma interpretação melhor que a outra!
Olha, dessa nova linha de filmes espanhóis que já analisamos, "El bar" ainda é melhor, mas "Kiki: Os Segredos do Desejo" também é divertidíssimo e se você tiver afim de ser provocado, com uma narrativa menos convencional, eu indico tranquilamente!
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
"Lady Bird" é um filme simples, mas nem por isso deve ser tratado como superficial. Imagine uma jovem que tenta deixar sua família e a pequena cidade onde vive para ir estudar numa universidade em Nova Iorque; agora aplique na história as várias camadas com todos os tipos de relações que existem na adolescência e você já pode imaginar o que esperar em "Lady Bird". Confira o trailer:
O ano é 2002, Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e sua mãe Marion(Laurie Metcalf) estão retornando de uma visita a uma universidade local que pode representar o futuro da garota. Emocionadas ao ouvirem As Vinhas da Ira no toca-fitas do carro, elas enxugam as lágrimas e imediatamente retomam uma briga que parece ter surgido do nada, numa dinâmica que, facilmente, compreendemos ser a marca da relação entre as duas. A partir daí, acompanhamos cerca de um ano da vida de Lady Bird, retratando suas paixões ainda adolescentes, suas ansiedades e também as relações com várias pessoas que fazem parte do seu universo.
O filme é sensível, delicado e ao mesmo tempo extremamente profundo. Muito bem dirigido pela Greta Gerwig, mas melhor que sua direção (se é que isso é possível) é o roteiro que ela mesmo escreveu - quase auto-biográfico! Laurie Metcalfe, atriz coadjuvante, e Saoirse Ronan, protagonista, mereceram as indicações para o Oscar 2018. Gerwig disputava como diretora e como roteirista. A quinta indicação, na minha opinião, era a que poderia surpreender - Melhor filme! Não foi o caso!
Vale muito a pena!
Séries de crimes existem de sobra, e algumas seguem aquela linearidade e padrões já estabelecidos que muitas vezes temos a impressão de estarmos em uma nova temporada de algo que já vimos antes. Nem sempre essa familiaridade é um bom sinal, por isso quando alguma obra ousa contar de forma diferente a sua história, acaba se tornando um grande sucesso - como foi com o caso de ”Mare of Easttown” e “True Detective” da HBO, que embora não sejam tão diferentes assim, apostavam nos dramas pessoais de seus personagens que eram tão complexos quanto o mistério do crime central. ”Landscapers” consegue ser até mais do que isso (não estou dizendo que é melhor que as outras duas que eu citei, porque todas são excelentes em diferentes formas), já que além da profundidade que os personagens também possuem, a minissérie de quatro episódios acaba inserindo um conceito estético e narrativo diferentes, e muita arte para ir além de uma história previsível de crime, no caso, real - bem no tom de "Flesh and Blood: Um Crime Na Vizinhança", aliás.
O casal Susan (Olivia Colman) e Christopher (David Thewlis) viviam uma vida tranquila em um bairro residencial na pequena cidade de Mansfield, na Inglaterra, até se mudarem misteriosamente para Lille na França. Quando a polícia inglesa encontram dois corpos enterrados no quintal da casa que eram deles e descobrem que os cadáveres pertencem aos pais de Susan, ela e o marido se tornam, obviamente, os principais suspeitos de um crime que aconteceu 15 anos atrás. Confira o trailer (em inglês):
O interessante dessa minissérie é que ela transita entre vários gêneros com uma delicadeza admirável - do drama ao suspense, do suspense ao humor ácido (muito próximo de “Fargo”), e certas vezes até ao romance, afinal ”Landscapers”, no final das contas, não deixa de ser uma história de amor. Apesar de todos seus acertos, “Landscapers” deve atrair uma parcela bem específica da audiência, basta ver a grande aceitação entre a crítica especializada, alcançando até 98% de aceitação com base em 46 resenhas. Já a porcentagem entre o público ficou apenas em 75% - e eu digo "apenas" porque uma minissérie desse calibre merecia um consenso geral.
A minissérie tem um conceito narrativo bastante experimental, brincando com tudo que é possível (algo como acontece nos filmes de Wes Anderson, por exemplo): desde recriar cenas de clássicos do cinema para fazer metáforas com a trama principal, até mesmo mostrar os bastidores da gravação de alguma cena enquanto a trama acontece! O excelente diretor Will Sharpe (“A Vida Eletrizante de Louis Wain”) não tem medo de ousar e ir além do que uma história de crime deveria entregar, entretanto, são justamente essas escolhas conceituais que podem distanciar algumas pessoas mais desatentas.
Veja, embora a trama oscile entre o realismo e o surrealismo, nenhum dos recursos visuais parece gratuito, especialmente por se tratar de uma história em que os personagens, de fato, se encaixam nesse mundo fantástico - para não dizer "esquisito". A protagonista Susan (Olivia Colman) adora tanto cinema, que praticamente ignora os problemas da sua vida real, gastando até mais do que poderia para ter seus pôsteres e colecionáveis de clássicos do faroeste - entre outros absurdos que a personagem faz.
"Landscapers” prende a atenção - inicialmente pela história real em que se baseia, mas com o decorrer dos episódios o que nos encanta é a proposta artística, com o capricho da produção, a enorme criatividade, as sutilezas e, claro, as performances sublimes de seus protagonistas. Vale muito a pena e esteja preparado para se surpreender!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Séries de crimes existem de sobra, e algumas seguem aquela linearidade e padrões já estabelecidos que muitas vezes temos a impressão de estarmos em uma nova temporada de algo que já vimos antes. Nem sempre essa familiaridade é um bom sinal, por isso quando alguma obra ousa contar de forma diferente a sua história, acaba se tornando um grande sucesso - como foi com o caso de ”Mare of Easttown” e “True Detective” da HBO, que embora não sejam tão diferentes assim, apostavam nos dramas pessoais de seus personagens que eram tão complexos quanto o mistério do crime central. ”Landscapers” consegue ser até mais do que isso (não estou dizendo que é melhor que as outras duas que eu citei, porque todas são excelentes em diferentes formas), já que além da profundidade que os personagens também possuem, a minissérie de quatro episódios acaba inserindo um conceito estético e narrativo diferentes, e muita arte para ir além de uma história previsível de crime, no caso, real - bem no tom de "Flesh and Blood: Um Crime Na Vizinhança", aliás.
O casal Susan (Olivia Colman) e Christopher (David Thewlis) viviam uma vida tranquila em um bairro residencial na pequena cidade de Mansfield, na Inglaterra, até se mudarem misteriosamente para Lille na França. Quando a polícia inglesa encontram dois corpos enterrados no quintal da casa que eram deles e descobrem que os cadáveres pertencem aos pais de Susan, ela e o marido se tornam, obviamente, os principais suspeitos de um crime que aconteceu 15 anos atrás. Confira o trailer (em inglês):
O interessante dessa minissérie é que ela transita entre vários gêneros com uma delicadeza admirável - do drama ao suspense, do suspense ao humor ácido (muito próximo de “Fargo”), e certas vezes até ao romance, afinal ”Landscapers”, no final das contas, não deixa de ser uma história de amor. Apesar de todos seus acertos, “Landscapers” deve atrair uma parcela bem específica da audiência, basta ver a grande aceitação entre a crítica especializada, alcançando até 98% de aceitação com base em 46 resenhas. Já a porcentagem entre o público ficou apenas em 75% - e eu digo "apenas" porque uma minissérie desse calibre merecia um consenso geral.
A minissérie tem um conceito narrativo bastante experimental, brincando com tudo que é possível (algo como acontece nos filmes de Wes Anderson, por exemplo): desde recriar cenas de clássicos do cinema para fazer metáforas com a trama principal, até mesmo mostrar os bastidores da gravação de alguma cena enquanto a trama acontece! O excelente diretor Will Sharpe (“A Vida Eletrizante de Louis Wain”) não tem medo de ousar e ir além do que uma história de crime deveria entregar, entretanto, são justamente essas escolhas conceituais que podem distanciar algumas pessoas mais desatentas.
Veja, embora a trama oscile entre o realismo e o surrealismo, nenhum dos recursos visuais parece gratuito, especialmente por se tratar de uma história em que os personagens, de fato, se encaixam nesse mundo fantástico - para não dizer "esquisito". A protagonista Susan (Olivia Colman) adora tanto cinema, que praticamente ignora os problemas da sua vida real, gastando até mais do que poderia para ter seus pôsteres e colecionáveis de clássicos do faroeste - entre outros absurdos que a personagem faz.
"Landscapers” prende a atenção - inicialmente pela história real em que se baseia, mas com o decorrer dos episódios o que nos encanta é a proposta artística, com o capricho da produção, a enorme criatividade, as sutilezas e, claro, as performances sublimes de seus protagonistas. Vale muito a pena e esteja preparado para se surpreender!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!
Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:
"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.
Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!
"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.
Vale muito a pena!
Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!
Certa vez uma grande amiga me disse que quando nós nossos jovens temos uma série de convicções que ao amadurecemos entendemos que não serviram para nada, porém são essas mesmas convicções que ajudam a moldar nossa personalidade e permitem que tenhamos certas atitudes sem precisarmos sofrer por isso depois. "Licorice Pizza", novo filme do cultuado Paul Thomas Anderson (indicado para 11 Oscars, o último com "Trama Fantasma"), é uma homenagem nostálgica à adolescência em San Fernando Valley e as convicções pessoais do próprio diretor - eu diria que é sua história de amadurecimento!
Gary Valentine (Cooper Hoffman) tem 15 anos, certo sucesso na sua carreira como ator, uma lábia como poucos e um potencial empreendedor impressionante - ele é imparável. Alana Kane (Alana Haim) tem 25 anos, uma vida monótona, praticamente sem propósito, mas uma vontade enorme de dar certo - inclusive no amor. Ambos têm algo em comum: nenhum deles está preparado para essa etapa da vida e eles nem imaginam que isso pode ser um problema. Confira o trailer:
"Licorice Pizza" é na sua essência um filme sobre as descobertas de uma vida promissora e de um sentimento sincero entre dois jovens no inicio dos anos 70. Não é um filme sobre uma jornada impossível ou uma conquista inabalável, "Licorice Pizza" é sobre as imperfeições de ser quem somos, de aceitar o outro para se sentir bem protegido, é sobre esconder o amor, mesmo ele sendo a coisa mais clara que existe; é sobre ser feliz, mesmo que na inocência das nossas inseguranças.
Além de tecnicamente perfeito (por favor reparem nos movimentos de câmera - sensacionais), o filme tem um charme narrativo que poucos teriam a capacidade de expressar em imagens. Esse é o típico filme que nas mãos de outro diretor, teria tudo para passar batido, mas é incrível como Paul Thomas Anderson cria uma atmosfera saudosista fantástica, muitas vezes engraçadíssima, para nos mostrar aquele universo pelos olhos de Valentine e de Kane - que aliás, estão impecáveis juntos! É impossível não torcer por eles, como se o diretor tivesse encontrado o equilíbrio perfeito entre a densidade de um potente drama pessoal e a leveza de uma boa comédia romântica!
"Licorice Pizza" não é nem de longe o melhor trabalho do diretor, mas talvez seja o mais simpático - um sinal de amadurecimento que extrapola a construção dos personagens que ele mesmo criou. O filme conquista por sua sensibilidade e honestidade, é engraçado, é comovente, é atemporal, é pessoal, é sobre como se achar no outro e ainda é sobre acreditar naquilo que nos faz feliz, mesmo que em uma fase onde a intensidade é tão importante quanto a verdade.
Vale muito a pena!
Up-date: "Licorice Pizza" foi indicada em três categorias no Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Roteiro Original!
A vida como ela é - talvez uns dois (ou três) tons acima, capaz de causar um desconforto proposital tão palpável que não se espante se você se reconhecer em algumas das situações que vai encontrar ao longo dessas duas temporadas. "Life & Beth", lançada pelo Hulu em 2022, é uma série de dramédia que explora a vida de uma mulher em busca de sentido e renovação após passar por um evento trágico que a força confrontar o passado para tentar entender o futuro que a espera. Mesclando um humor requintado (sempre na medida certa) e momentos profundamente emocionais, "Life & Beth", eu diria, é uma reflexão honesta sobre conexão na busca por identidade, por autoconhecimento e por aprendizado ao lidar com o trauma. Amy Schumer, criadora do projeto, é conhecida nos EUA por seu estilo de comédia mordaz e provocadora, no entanto, aqui, ela entrega uma jornada mais introspectiva e sutil, revelando uma faceta de sua atuação que vai além do tradicional - e funciona (mesmo que não para todos)!
Beth (Schumer) é uma mulher de 30 e poucos anos que vive em Nova York e aparentemente tem uma vida estável e bem-sucedida. No entanto, após um incidente que abala sua vida, ela se vê forçada a reavaliar suas escolhas e repensar quem realmente é e o que quer da vida. Esse processo a leva de volta para Long Island onde cresceu, porém agora Beth precisa lidar com as memórias de sua infância e adolescência, enquanto tenta encontrar um novo caminho de amadurecimento. Confira o trailer:
Fácil na teoria, mas extremamente complicado na prática, uma das forças de "Life & Beth" está justamente na forma como a série sabe equilibrar o humor com o drama. Embora Amy Schumer seja conhecida pelo "over", aqui ela opta por um conceito mais contido, entregando momentos de vulnerabilidade genuína que exploram o impacto de traumas do passado e o desafio que é redefinir a própria identidade na vida adulta. O humor, embora presente, é mais delicado no conteúdo e muitas vezes vem de situações cotidianas e constrangedoras em sua forma, ou seja, em vez de piadas diretas, o divertido está na provocação inteligente da união muitas vezes desconexa do texto com a imagem. Essa proposta cria uma narrativa realmente envolvente que é ao mesmo tempo tocante e engraçada para aqueles que gostam de dramas de relação.
Amy Schumer, como não poderia deixar de ser, leva a série nas costas - ela oferece uma performance surpreendentemente emocional como Beth. Schumer consegue capturar a ambiguidade de uma mulher que, por fora, parece ter tudo sob controle, mas por dentro está profundamente insatisfeita e perdida. Sua atuação alinhado com o seu texto, é cheia de nuances - ela de fato mostra uma capacidade impressionante ao transmitir a complexidade de Beth sem recorrer ao escrachado. Essa jornada de redescoberta é cheia de momentos íntimos que destacam a pressão social para se ter sucesso, para que as expectativas de felicidade se comprovem e para que o peso dos traumas de infância seja apenas uma fase. Quanto ao elenco, destaco também o trabalho de Michael Cera - seu John, um fazendeiro excêntrico e interesse amoroso de Beth, traz uma atuação sutil e cativante, equilibrando uma certa inocência com seu jeito peculiar e tranquilo de enxergar a vida.
"Life & Beth" é eficaz ao explorar como o passado pode influenciar nossas decisões quando adultas, e como muitas vezes somos forçados a confrontá-lo para encontrar um caminho mais autêntico - muita atenção as discussões levantadas sobre os traumas familiares e as expectativas que são impostas desde a juventude. Mesmo que a série soe ter um ritmo mais lento, especialmente para aqueles que esperam um foco maior na comédia, eu adianto que "Life & Beth" entrega muito ao desenvolver sua narrativa de uma forma mais reflexiva e introspectiva, se apoiando em uma abordagem sincera sobre os desafios da "nossa" vida adulta com muita sabedoria.
Vale muito o seu play!
A vida como ela é - talvez uns dois (ou três) tons acima, capaz de causar um desconforto proposital tão palpável que não se espante se você se reconhecer em algumas das situações que vai encontrar ao longo dessas duas temporadas. "Life & Beth", lançada pelo Hulu em 2022, é uma série de dramédia que explora a vida de uma mulher em busca de sentido e renovação após passar por um evento trágico que a força confrontar o passado para tentar entender o futuro que a espera. Mesclando um humor requintado (sempre na medida certa) e momentos profundamente emocionais, "Life & Beth", eu diria, é uma reflexão honesta sobre conexão na busca por identidade, por autoconhecimento e por aprendizado ao lidar com o trauma. Amy Schumer, criadora do projeto, é conhecida nos EUA por seu estilo de comédia mordaz e provocadora, no entanto, aqui, ela entrega uma jornada mais introspectiva e sutil, revelando uma faceta de sua atuação que vai além do tradicional - e funciona (mesmo que não para todos)!
Beth (Schumer) é uma mulher de 30 e poucos anos que vive em Nova York e aparentemente tem uma vida estável e bem-sucedida. No entanto, após um incidente que abala sua vida, ela se vê forçada a reavaliar suas escolhas e repensar quem realmente é e o que quer da vida. Esse processo a leva de volta para Long Island onde cresceu, porém agora Beth precisa lidar com as memórias de sua infância e adolescência, enquanto tenta encontrar um novo caminho de amadurecimento. Confira o trailer:
Fácil na teoria, mas extremamente complicado na prática, uma das forças de "Life & Beth" está justamente na forma como a série sabe equilibrar o humor com o drama. Embora Amy Schumer seja conhecida pelo "over", aqui ela opta por um conceito mais contido, entregando momentos de vulnerabilidade genuína que exploram o impacto de traumas do passado e o desafio que é redefinir a própria identidade na vida adulta. O humor, embora presente, é mais delicado no conteúdo e muitas vezes vem de situações cotidianas e constrangedoras em sua forma, ou seja, em vez de piadas diretas, o divertido está na provocação inteligente da união muitas vezes desconexa do texto com a imagem. Essa proposta cria uma narrativa realmente envolvente que é ao mesmo tempo tocante e engraçada para aqueles que gostam de dramas de relação.
Amy Schumer, como não poderia deixar de ser, leva a série nas costas - ela oferece uma performance surpreendentemente emocional como Beth. Schumer consegue capturar a ambiguidade de uma mulher que, por fora, parece ter tudo sob controle, mas por dentro está profundamente insatisfeita e perdida. Sua atuação alinhado com o seu texto, é cheia de nuances - ela de fato mostra uma capacidade impressionante ao transmitir a complexidade de Beth sem recorrer ao escrachado. Essa jornada de redescoberta é cheia de momentos íntimos que destacam a pressão social para se ter sucesso, para que as expectativas de felicidade se comprovem e para que o peso dos traumas de infância seja apenas uma fase. Quanto ao elenco, destaco também o trabalho de Michael Cera - seu John, um fazendeiro excêntrico e interesse amoroso de Beth, traz uma atuação sutil e cativante, equilibrando uma certa inocência com seu jeito peculiar e tranquilo de enxergar a vida.
"Life & Beth" é eficaz ao explorar como o passado pode influenciar nossas decisões quando adultas, e como muitas vezes somos forçados a confrontá-lo para encontrar um caminho mais autêntico - muita atenção as discussões levantadas sobre os traumas familiares e as expectativas que são impostas desde a juventude. Mesmo que a série soe ter um ritmo mais lento, especialmente para aqueles que esperam um foco maior na comédia, eu adianto que "Life & Beth" entrega muito ao desenvolver sua narrativa de uma forma mais reflexiva e introspectiva, se apoiando em uma abordagem sincera sobre os desafios da "nossa" vida adulta com muita sabedoria.
Vale muito o seu play!
Se você ainda não assistiu, saiba que você vai rir, mas provavelmente também vai ficar constrangido com algumas situações (bem absurdas) que Mickey e Gus vão passar em três ótimas temporadas de "Love". Essa produção original da Netflix que estreou em 2016, na época sem muito barulho, trouxe para a plataforma o talento de Judd Apatow, roteirista que virou referência em um tipo de narrativa que, muitas vezes escrachado ou dramático demais, esconde no seu subtexto um humor inteligente e bastante reflexivo - não por acaso multi-premiado, ele tem em seu currículo sucessos que vão de "Girls" até "Os Simpsons". Dito isso, fica fácil entender a razão pela qual "Love" recebeu tantos elogios da crítica e ainda conquistou o público ao longo de 34 episódios, provando ser um verdadeiro achado no vasto catálogo da Netflix - reparem como a série captura a essência de um relacionamento moderno com uma leveza, expondo a vulnerabilidade, os tropeços e a autenticidade que muitas vezes ignoramos no nosso dia a dia.
Estrelada pelos talentosos Gillian Jacobs e Paul Rust, "Love" segue a vida de Mickey Dobbs (Jacobs), uma jovem debochada e viciada em sexo, e Gus Cruikshank (Rust), um nerd que acabou de ser traído pela namorada. Quando essas duas almas completamente imperfeitas se encontram, começa uma jornada tão caótica quanto envolvente que explora com muita inteligência os altos e baixos de um relacionamento moderno. Confira o trailer:
Nesse universo bem representado de séries sobre relacionamentos, "Love", na minha opinião, sempre se destacou por sua abordagem sincera sobre o tema, mas sem se levar muito a sério. Ao mergulhar fundo nas complexidades da conexão humana, deixando de lado as idealizações comuns das comédias românticas, o roteiro de Apatow foi muito sagaz em potencializar a química absurda entre Gillian Jacobs e Paul Rust - é impossível não torcer por eles, mesmo que muitas vezes tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo nunca vai funcionar. Essa nossa relação com o drama dos personagens fica tão palpável com o passar dos episódios que até a forma como eles retratam toda essa vulnerabilidade chega a incomodar (no bom sentido da experiência como audiência, claro).
A direção da série traz nomes como Dean Holland (de "The Office") e Lynn Shelton (de "The Morning Show") - o que dá o tom e o equilíbrio que o texto pede. É habilidosa a forma como os diretores capturam a essência de Los Angeles e a transformam em um personagem relevante para a história. Esse contexto deixa claro que existe uma complexidade geográfica que distancia pessoas de grupos tão diferentes e que só o acaso seria capaz de juntar um nerd introvertido com seus amigos esquisitos e a garota bonita e descolada, mas com seus sérios problemas de auto-estima. Veja, mesmo que soe estereotipado demais (e muitas vezes é) existe um cuidado absurdo ao retratar essa carga de manias que eles carregam com humanidade.
Ao abordar temas profundos, como vícios, comprometimento e autodescoberta, "Love" acrescenta camadas emocionais interessantes à trama, mas sem esquecer de uma certa simplicidade que se tornou uma marca e sua maior força. Digo isso pois a série não precisa de truques mirabolantes ou reviravoltas impressionantes para prender nossa atenção, por outro lado, talvez sua condução pessimista com um humor mais destrutivo seja demais e por isso pode não agradar a todos. As situações e referências batem muito com uma geração que iniciou sua era de consumo moldada por valores impulsionados pela internet e redes sociais e isso reflete na forma como lidamos com a história (sim, chega a dar raiva por algumas atitudes deles...rs). Agora, é um fato que muito daquilo tudo nos encanta com diálogos bem construídos e personagens que, de fato, se sentem e por isso parecem reais.
Prepare-se para se apaixonar e para se identificar com os altos e baixos de Mickey e Gus em uma jornada cheia de imperfeições que vale muito a pena acompanhar!
Se você ainda não assistiu, saiba que você vai rir, mas provavelmente também vai ficar constrangido com algumas situações (bem absurdas) que Mickey e Gus vão passar em três ótimas temporadas de "Love". Essa produção original da Netflix que estreou em 2016, na época sem muito barulho, trouxe para a plataforma o talento de Judd Apatow, roteirista que virou referência em um tipo de narrativa que, muitas vezes escrachado ou dramático demais, esconde no seu subtexto um humor inteligente e bastante reflexivo - não por acaso multi-premiado, ele tem em seu currículo sucessos que vão de "Girls" até "Os Simpsons". Dito isso, fica fácil entender a razão pela qual "Love" recebeu tantos elogios da crítica e ainda conquistou o público ao longo de 34 episódios, provando ser um verdadeiro achado no vasto catálogo da Netflix - reparem como a série captura a essência de um relacionamento moderno com uma leveza, expondo a vulnerabilidade, os tropeços e a autenticidade que muitas vezes ignoramos no nosso dia a dia.
Estrelada pelos talentosos Gillian Jacobs e Paul Rust, "Love" segue a vida de Mickey Dobbs (Jacobs), uma jovem debochada e viciada em sexo, e Gus Cruikshank (Rust), um nerd que acabou de ser traído pela namorada. Quando essas duas almas completamente imperfeitas se encontram, começa uma jornada tão caótica quanto envolvente que explora com muita inteligência os altos e baixos de um relacionamento moderno. Confira o trailer:
Nesse universo bem representado de séries sobre relacionamentos, "Love", na minha opinião, sempre se destacou por sua abordagem sincera sobre o tema, mas sem se levar muito a sério. Ao mergulhar fundo nas complexidades da conexão humana, deixando de lado as idealizações comuns das comédias românticas, o roteiro de Apatow foi muito sagaz em potencializar a química absurda entre Gillian Jacobs e Paul Rust - é impossível não torcer por eles, mesmo que muitas vezes tenhamos a exata sensação de que tudo aquilo nunca vai funcionar. Essa nossa relação com o drama dos personagens fica tão palpável com o passar dos episódios que até a forma como eles retratam toda essa vulnerabilidade chega a incomodar (no bom sentido da experiência como audiência, claro).
A direção da série traz nomes como Dean Holland (de "The Office") e Lynn Shelton (de "The Morning Show") - o que dá o tom e o equilíbrio que o texto pede. É habilidosa a forma como os diretores capturam a essência de Los Angeles e a transformam em um personagem relevante para a história. Esse contexto deixa claro que existe uma complexidade geográfica que distancia pessoas de grupos tão diferentes e que só o acaso seria capaz de juntar um nerd introvertido com seus amigos esquisitos e a garota bonita e descolada, mas com seus sérios problemas de auto-estima. Veja, mesmo que soe estereotipado demais (e muitas vezes é) existe um cuidado absurdo ao retratar essa carga de manias que eles carregam com humanidade.
Ao abordar temas profundos, como vícios, comprometimento e autodescoberta, "Love" acrescenta camadas emocionais interessantes à trama, mas sem esquecer de uma certa simplicidade que se tornou uma marca e sua maior força. Digo isso pois a série não precisa de truques mirabolantes ou reviravoltas impressionantes para prender nossa atenção, por outro lado, talvez sua condução pessimista com um humor mais destrutivo seja demais e por isso pode não agradar a todos. As situações e referências batem muito com uma geração que iniciou sua era de consumo moldada por valores impulsionados pela internet e redes sociais e isso reflete na forma como lidamos com a história (sim, chega a dar raiva por algumas atitudes deles...rs). Agora, é um fato que muito daquilo tudo nos encanta com diálogos bem construídos e personagens que, de fato, se sentem e por isso parecem reais.
Prepare-se para se apaixonar e para se identificar com os altos e baixos de Mickey e Gus em uma jornada cheia de imperfeições que vale muito a pena acompanhar!
Essa é uma série para você assistir acompanhado e acredite: vocês, juntos, vão rir de si. "Machos Alfa", é uma divertida comédia espanhola da Netflix que explora com sagacidade e ironia as transformações das dinâmicas de gênero em um mundo cada vez mais atento às questões de igualdade e empatia. Criada por Alberto Caballero, Laura Caballero e Daniel Deorador (reponsáveis pela premiada "La que se Avecina"), a série oferece uma abordagem cômica, mas crítica, sobre como os homens lidam com a desconstrução de sua masculinidade tradicional, em uma sociedade que avança para além dos antigos estereótipos. Com um tom que lembra produções como "Sentimental" misturado à perspicácia narrativa de "O que os homens falam" , "Machos Alfa" é o exemplo perfeito do equilíbrio primoroso entre humor, crítica social e desenvolvimento de ótimos personagens.
A série segue um grupo de quatro amigos: Pedro (Fernando Gil), Santi (Raúl Tejón), Luis (Fele Martínez) e Raúl (Gorka Otxoa). Todos enfrentam crises pessoais e profissionais enquanto tentam se adaptar às mudanças em suas vidas e em seus relacionamentos. Cada um representa um arquétipo masculino que é desconstruído ao longo da narrativa, seja pelo confronto com as expectativas sociais, seja por suas próprias inseguranças. A trama, que é leve e dinâmica, entrelaça os desafios desses homens com situações cômicas e por vezes reflexivas, criando uma jornada que é tão divertida quanto provocativa. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Sem a menor dúvida que o roteiro assinado pelo trio criativo, é um dos grandes pontos fortes de "Machos Alfa".. Ele aborda questões sobre o machismo estrutural, sobre as relações de poder, sobre sexualidade e sobre a vulnerabilidade emocional, sempre com diálogos rápidos, repletos de ironia e de identificação. Apesar do tom cômico predominante, a série brilha ao conseguir explorar esses temas sem superficialidade, utilizando o humor "apenas" como ferramenta narrativa para provocar reflexão e, principalmente, gerar empatia. O equilíbrio entre situações absurdas e os momentos mais sensíveis permite que a audiência se conecte com os personagens, mesmo quando suas atitudes são moralmente questionáveis.
Laura Caballero, também responsável pela direção, imprime um ritmo ágil e um conceito acessível à série. A escolha de cores vivas e cenários cotidianos reflete uma atmosfera leve e contemporâneo de produção, enquanto os enquadramentos frequentemente destacam os momentos de constrangimento ou de revelação dos personagens, reforçando a ideia de que a desconstrução masculina é tanto um caminho individual quanto coletivo. As performances do elenco principal são cativantes e contribuem significativamente para o sucesso de "Machos Alfa". Fernando Gil destaca-se por sua capacidade de transmitir o conflito interno de um homem que tenta equilibrar seu ego e suas inseguranças em um casamento instável. Raúl Tejón traz uma mistura de ingenuidade e charme, enquanto Fele Martínez entrega um Luis que é ao mesmo tempo adorável e patético. Já Gorka Otxoa, por sua vez, tem uma intensidade cômica que frequentemente rouba a cena - para mim, o melhor dos quatro.
Veja, ao longo das temporadas, "Machos Alfa" acerta ao desenvolver arcos narrativos que crescem em complexidade sem a pressa de ter que se provar. A série evita repetir fórmulas e investe no aprofundamento dos personagens e em suas relações, pois sabe do seu potencial. No entanto, alguns episódios podem até parecer arrastados ou exagerar nas situações cômicas - o que de fato dilui a força das mensagens, mas acredite, essa é uma comédia tão inteligente e tão atual que nem nos damos conta dos seus pequenos deslizes. Saiba que "Machos Alfa" combina humor e crítica de maneira coerente, nos proporcionando assim uma experiência realmente divertida e bastante relevante.
Vale muito o seu play!
Essa é uma série para você assistir acompanhado e acredite: vocês, juntos, vão rir de si. "Machos Alfa", é uma divertida comédia espanhola da Netflix que explora com sagacidade e ironia as transformações das dinâmicas de gênero em um mundo cada vez mais atento às questões de igualdade e empatia. Criada por Alberto Caballero, Laura Caballero e Daniel Deorador (reponsáveis pela premiada "La que se Avecina"), a série oferece uma abordagem cômica, mas crítica, sobre como os homens lidam com a desconstrução de sua masculinidade tradicional, em uma sociedade que avança para além dos antigos estereótipos. Com um tom que lembra produções como "Sentimental" misturado à perspicácia narrativa de "O que os homens falam" , "Machos Alfa" é o exemplo perfeito do equilíbrio primoroso entre humor, crítica social e desenvolvimento de ótimos personagens.
A série segue um grupo de quatro amigos: Pedro (Fernando Gil), Santi (Raúl Tejón), Luis (Fele Martínez) e Raúl (Gorka Otxoa). Todos enfrentam crises pessoais e profissionais enquanto tentam se adaptar às mudanças em suas vidas e em seus relacionamentos. Cada um representa um arquétipo masculino que é desconstruído ao longo da narrativa, seja pelo confronto com as expectativas sociais, seja por suas próprias inseguranças. A trama, que é leve e dinâmica, entrelaça os desafios desses homens com situações cômicas e por vezes reflexivas, criando uma jornada que é tão divertida quanto provocativa. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Sem a menor dúvida que o roteiro assinado pelo trio criativo, é um dos grandes pontos fortes de "Machos Alfa".. Ele aborda questões sobre o machismo estrutural, sobre as relações de poder, sobre sexualidade e sobre a vulnerabilidade emocional, sempre com diálogos rápidos, repletos de ironia e de identificação. Apesar do tom cômico predominante, a série brilha ao conseguir explorar esses temas sem superficialidade, utilizando o humor "apenas" como ferramenta narrativa para provocar reflexão e, principalmente, gerar empatia. O equilíbrio entre situações absurdas e os momentos mais sensíveis permite que a audiência se conecte com os personagens, mesmo quando suas atitudes são moralmente questionáveis.
Laura Caballero, também responsável pela direção, imprime um ritmo ágil e um conceito acessível à série. A escolha de cores vivas e cenários cotidianos reflete uma atmosfera leve e contemporâneo de produção, enquanto os enquadramentos frequentemente destacam os momentos de constrangimento ou de revelação dos personagens, reforçando a ideia de que a desconstrução masculina é tanto um caminho individual quanto coletivo. As performances do elenco principal são cativantes e contribuem significativamente para o sucesso de "Machos Alfa". Fernando Gil destaca-se por sua capacidade de transmitir o conflito interno de um homem que tenta equilibrar seu ego e suas inseguranças em um casamento instável. Raúl Tejón traz uma mistura de ingenuidade e charme, enquanto Fele Martínez entrega um Luis que é ao mesmo tempo adorável e patético. Já Gorka Otxoa, por sua vez, tem uma intensidade cômica que frequentemente rouba a cena - para mim, o melhor dos quatro.
Veja, ao longo das temporadas, "Machos Alfa" acerta ao desenvolver arcos narrativos que crescem em complexidade sem a pressa de ter que se provar. A série evita repetir fórmulas e investe no aprofundamento dos personagens e em suas relações, pois sabe do seu potencial. No entanto, alguns episódios podem até parecer arrastados ou exagerar nas situações cômicas - o que de fato dilui a força das mensagens, mas acredite, essa é uma comédia tão inteligente e tão atual que nem nos damos conta dos seus pequenos deslizes. Saiba que "Machos Alfa" combina humor e crítica de maneira coerente, nos proporcionando assim uma experiência realmente divertida e bastante relevante.
Vale muito o seu play!
Antes de falar de "Magnatas do Crime" gostaria de contextualizar o que representará assistir esse filme do diretor Guy Ritchie. Em 2000, quando assisti "Snatch: Porcos e Diamantes" nos cinemas, foi como se minha cabeça explodisse! Era um conceito visual tão diferente e tão alinhado àquela narrativa dinâmica e envolvente, que logo trouxe Ritchie para a minha lista de diretores favoritos. Sinceramente não sei explicar o que acabou me afastando de seus filmes, mas nada que veio depois me impactou, até assistir "Magnatas do Crime"! De fato não existe nada de novo, mas por outro lado fica muito claro, logo nos primeiros minutos, que aquela identidade de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" e de "Snatch" está de volta e eu diria: no melhor da sua forma!
Na história acompanhamos Michael Pearson (Matthew McConaughey). Elegante como sempre, Pearson está tentando vender o seu império de produção de maconha no Reino Unido, mas percebe que se aposentar em um mercado como esse não é (e nem será) tarefa das mais fáceis. O preço que ele está pedindo soa alto para os potenciais compradores e claro, os interessados no negócio são candidatos a se tornar verdadeiros chefões das drogas, com isso criasse uma espécie de caos, onde quem quer comprar faz de tudo para o preço baixar e quem quer vender não abre mão do valor e do potencial do negócio, mesmo que para isso, seja preciso, digamos, fazer um trabalho sujo! Confira o trailer (em inglês):
O mais bacana do filme, para mim, foi encontrar um Guy Ritchie no que ele sabe fazer de melhor: usar o plot central de um roteiro (que ele mesmo escreveu), para explorar todas as suas possibilidades em diversas ramificações. Isso não é apresentado de maneira simples, é preciso dizer, e muito menos de forma linear, porém tudo funciona tão orgânico que a cada movimento somos surpreendidos pelas reviravoltas da história e quando as peças resolvem se encaixar, tudo faz sentido! Como em "Snatch", por exemplo, não é o "fim" seu maior mérito, mas a "jornada"!
Entretenimento de ótima qualidade com a assinatura de um diretor (e roteirista) talentoso que pode ter se perdido no meio de suas próprias ambições, mas que se reencontrou e foi capaz de nos entregar diversão do começo ao fim!
Quando Fletcher (Hugh Grant) surge inesperadamente e praticamente força Ray (Charlie Hunnam) a escutar sua história, não sabemos exatamente se estamos escutando o que realmente aconteceu, se é um roteiro de cinema ou as duas coisas se confundindo de acordo com a vontade do seu autor. Essa confusão em um primeiro momento pode parecer enfadonha, mas acredite: não é! Fletcher é o fio condutor de uma trama caótica, porém muito bem organizada por uma montagem digna de prêmios. Tanto os flashbacks, quanto as repetições de cenas por um ponto de vista diferente, funcionam perfeitamente em pró da narrativa - não são muletas, são artifícios bem desenvolvidos pelo diretor e que transformam nossa experiência! Reparem!
O elenco dá um verdadeiro show com atuações no tom exato para o gênero - o que vai te roubar ótimas risadas, inclusive. Matthew McConaughey, Hugh Grant, Charlie Hunnam e Colin Farrell (Coach) estão impagáveis! A própria Michelle Dockery e o sempre competente Jeremy Strong funcionam perfeitamente para a narrativa, mesmo com pouco tempo de tela. O figurino é outro elemento que merece atenção: ele trás um tom farsesco para o filme, transformando a caracterização exagerada em atitude do personagem - como se as tribos fossem separadas pelo que vestem, não pelo que são ou pelo que falam!
"The Gentlemen" (título original) é inteligente, irônico e até um pouco audacioso se levarmos em conta que a narrativa é totalmente desconstruída até voltar a fazer sentido no terceiro ato. Mesmo navegando em aguas que lhe trazem segurança, Guy Ritchie prova sua importância para o roteiro dos novatos na função, Ivan Atkinson e Marn Davies, da mesma forma que interfere no trabalho dos seus montadores: o parceiro de longa data, James Herbert, e o seu novo respiro conceitual, Paul Machliss.
Resumindo: "Magnatas do Crime" é um filme de Guy Ritchie da mesma forma que "Era uma vez em Hollywood" é do Tarantino!
Antes de falar de "Magnatas do Crime" gostaria de contextualizar o que representará assistir esse filme do diretor Guy Ritchie. Em 2000, quando assisti "Snatch: Porcos e Diamantes" nos cinemas, foi como se minha cabeça explodisse! Era um conceito visual tão diferente e tão alinhado àquela narrativa dinâmica e envolvente, que logo trouxe Ritchie para a minha lista de diretores favoritos. Sinceramente não sei explicar o que acabou me afastando de seus filmes, mas nada que veio depois me impactou, até assistir "Magnatas do Crime"! De fato não existe nada de novo, mas por outro lado fica muito claro, logo nos primeiros minutos, que aquela identidade de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes" e de "Snatch" está de volta e eu diria: no melhor da sua forma!
Na história acompanhamos Michael Pearson (Matthew McConaughey). Elegante como sempre, Pearson está tentando vender o seu império de produção de maconha no Reino Unido, mas percebe que se aposentar em um mercado como esse não é (e nem será) tarefa das mais fáceis. O preço que ele está pedindo soa alto para os potenciais compradores e claro, os interessados no negócio são candidatos a se tornar verdadeiros chefões das drogas, com isso criasse uma espécie de caos, onde quem quer comprar faz de tudo para o preço baixar e quem quer vender não abre mão do valor e do potencial do negócio, mesmo que para isso, seja preciso, digamos, fazer um trabalho sujo! Confira o trailer (em inglês):
O mais bacana do filme, para mim, foi encontrar um Guy Ritchie no que ele sabe fazer de melhor: usar o plot central de um roteiro (que ele mesmo escreveu), para explorar todas as suas possibilidades em diversas ramificações. Isso não é apresentado de maneira simples, é preciso dizer, e muito menos de forma linear, porém tudo funciona tão orgânico que a cada movimento somos surpreendidos pelas reviravoltas da história e quando as peças resolvem se encaixar, tudo faz sentido! Como em "Snatch", por exemplo, não é o "fim" seu maior mérito, mas a "jornada"!
Entretenimento de ótima qualidade com a assinatura de um diretor (e roteirista) talentoso que pode ter se perdido no meio de suas próprias ambições, mas que se reencontrou e foi capaz de nos entregar diversão do começo ao fim!
Quando Fletcher (Hugh Grant) surge inesperadamente e praticamente força Ray (Charlie Hunnam) a escutar sua história, não sabemos exatamente se estamos escutando o que realmente aconteceu, se é um roteiro de cinema ou as duas coisas se confundindo de acordo com a vontade do seu autor. Essa confusão em um primeiro momento pode parecer enfadonha, mas acredite: não é! Fletcher é o fio condutor de uma trama caótica, porém muito bem organizada por uma montagem digna de prêmios. Tanto os flashbacks, quanto as repetições de cenas por um ponto de vista diferente, funcionam perfeitamente em pró da narrativa - não são muletas, são artifícios bem desenvolvidos pelo diretor e que transformam nossa experiência! Reparem!
O elenco dá um verdadeiro show com atuações no tom exato para o gênero - o que vai te roubar ótimas risadas, inclusive. Matthew McConaughey, Hugh Grant, Charlie Hunnam e Colin Farrell (Coach) estão impagáveis! A própria Michelle Dockery e o sempre competente Jeremy Strong funcionam perfeitamente para a narrativa, mesmo com pouco tempo de tela. O figurino é outro elemento que merece atenção: ele trás um tom farsesco para o filme, transformando a caracterização exagerada em atitude do personagem - como se as tribos fossem separadas pelo que vestem, não pelo que são ou pelo que falam!
"The Gentlemen" (título original) é inteligente, irônico e até um pouco audacioso se levarmos em conta que a narrativa é totalmente desconstruída até voltar a fazer sentido no terceiro ato. Mesmo navegando em aguas que lhe trazem segurança, Guy Ritchie prova sua importância para o roteiro dos novatos na função, Ivan Atkinson e Marn Davies, da mesma forma que interfere no trabalho dos seus montadores: o parceiro de longa data, James Herbert, e o seu novo respiro conceitual, Paul Machliss.
Resumindo: "Magnatas do Crime" é um filme de Guy Ritchie da mesma forma que "Era uma vez em Hollywood" é do Tarantino!
Se você lembra de "Desperate Housewives" com certo saudosismo, você vai se perguntar por qual razão ainda não assistiu a excelente "Mal de Família" da AppleTV+! "Bad Sisters", no original, é uma adaptação da cultuada série belga "Clan", criada por Malin-Sarah Gozin (de "Tabula Rasa"), que combina drama familiar e suspense com muito humor negro, em uma narrativa irresistível e que olha, é muito bem executada - não por acaso recebeu quatro indicações ao Emmy 2023 e venceu o BAFTA do mesmo ano como a Melhor Série Dramática do Reino Unido. Desenvolvida por Brett Baer e Dave Finkel (ambos de "30 Rock") e pela atriz Sharon Horgan, essa série apresenta uma visão divertida e sombria das complexidades dos laços familiares, levando a audiência por um mistério cheio de reviravoltas e personagens memoráveis. Com um tom que transita por produções como "Big Little Lies" e "Fleabag" (isso mesmo, por mais confuso que possa parecer), "Mal de Família" se destaca por seu equilíbrio entre o drama, o emocional e o cômico, explorando a tensão entre amor e os limites da moralidade.
A trama segue as cinco irmãs Garvey: Eva (Sharon Horgan), Grace (Anne-Marie Duff), Ursula (Eva Birthistle), Bibi (Sarah Greene) e Becka (Eve Hewson), que compartilham uma relação próxima, mas cheia de conflitos. Quando Grace se casa com John Paul (Claes Bang), um homem manipulador e emocionalmente abusivo, as irmãs rapidamente se unem em torno de um plano chocante: livrar-se dele de uma vez por todas. A narrativa alterna entre o presente, onde uma investigação de uma empresa de seguros tenta desvendar o que aconteceu com John Paul, e os eventos passados que levaram à sua morte, mantendo um certo suspense enquanto revela, pouco a pouco, as motivações e os segredos de cada uma das irmãs. Confira o trailer (em inglês):
Sharon Horgan, que também atua como produtora executiva, traz sua conhecida assinatura carregada de humor ácido e profundidade emocional. O roteiro é muito afiado e extremamente bem estruturado, combinando momentos de comédia com passagens impactantes e genuinamente emocionantes. Cada episódio sabe construir a tensão ao mesmo tempo que explora as dinâmicas familiares das irmãs Garvey, permitindo um entendimento mais amplo ao ponto de simpatizarmos com algumas decisões das protagonistas, mesmo quando elas cruzam a linha tênue entre o certo e o errado. A direção conceitualizada pela Dearbhla Walsh (de "The Handmaid's Tale"), enfatiza a beleza melancólica da Irlanda, com paisagens costeiras deslumbrantes e cenários que contrastam com a tensão crescente da narrativa. A fotografia do Tim Palmer (de "Line of Duty") brinca com a luz natural para destacar o ambiente, enquanto os enquadramentos capturam tanto a intimidade das relações familiares quanto o isolamento emocional de cada personagem - é como se ele, supostamente, quisesse deixar uma "Desperate Housewives" mais realista.
As performances de todo elenco são excepcionais. Sharon Horgan lidera o time com uma interpretação complexa e carismática - sua Eva, a irmã mais velha e protetora, é tão cheia de camadas que fica até difícil defini-la. Já Anne-Marie Duff oferece uma atuação comovente como Grace, cuja vulnerabilidade contrasta com a crueldade fria de seu marido, interpretado brilhantemente por Claes Bang - preste atenção em como a interação entre esses dois personagens quebra a expectativa que quem assiste. O drama da relação abusiva de Grace é muito visceral. Veja, o mistério central de "Mal de Família" é sustentado por um ritmo envolvente e uma montagem que equilibra as linhas temporais sem a menor confusão, com isso se abre espaço para uma atuação das protagonistas que potencializa as nuances de suas ações - é de se aplaudir de pé!
"Mal de Família" aborda temas importantes como o abuso emocional, a lealdade familiar e o peso das escolhas morais, sem perder de vista o entretenimento e a complexidade de seus personagens, no entanto a série nunca deixa de ser provocativa. A narrativa nos tira da zona de conforto com a mesma facilidade com que nos faz sorrir. Se em certos episódios a história parece se alongar ao enfatizar elementos cômicos ou subtramas que, embora divertidas, desviam do mistério principal, eu diria que são justamente essas escolhas que contribuem para a construção de um universo irônico na sua essência e profundamente sensível nos seus detalhes. Saiba que "Mal de Família" além de imperdível, é um dos melhores exemplos de como é possível adaptar (e expandir) uma narrativa internacional sem perder a criatividade e sua qualidade como obra fechada.
Vale muito o seu play!
Se você lembra de "Desperate Housewives" com certo saudosismo, você vai se perguntar por qual razão ainda não assistiu a excelente "Mal de Família" da AppleTV+! "Bad Sisters", no original, é uma adaptação da cultuada série belga "Clan", criada por Malin-Sarah Gozin (de "Tabula Rasa"), que combina drama familiar e suspense com muito humor negro, em uma narrativa irresistível e que olha, é muito bem executada - não por acaso recebeu quatro indicações ao Emmy 2023 e venceu o BAFTA do mesmo ano como a Melhor Série Dramática do Reino Unido. Desenvolvida por Brett Baer e Dave Finkel (ambos de "30 Rock") e pela atriz Sharon Horgan, essa série apresenta uma visão divertida e sombria das complexidades dos laços familiares, levando a audiência por um mistério cheio de reviravoltas e personagens memoráveis. Com um tom que transita por produções como "Big Little Lies" e "Fleabag" (isso mesmo, por mais confuso que possa parecer), "Mal de Família" se destaca por seu equilíbrio entre o drama, o emocional e o cômico, explorando a tensão entre amor e os limites da moralidade.
A trama segue as cinco irmãs Garvey: Eva (Sharon Horgan), Grace (Anne-Marie Duff), Ursula (Eva Birthistle), Bibi (Sarah Greene) e Becka (Eve Hewson), que compartilham uma relação próxima, mas cheia de conflitos. Quando Grace se casa com John Paul (Claes Bang), um homem manipulador e emocionalmente abusivo, as irmãs rapidamente se unem em torno de um plano chocante: livrar-se dele de uma vez por todas. A narrativa alterna entre o presente, onde uma investigação de uma empresa de seguros tenta desvendar o que aconteceu com John Paul, e os eventos passados que levaram à sua morte, mantendo um certo suspense enquanto revela, pouco a pouco, as motivações e os segredos de cada uma das irmãs. Confira o trailer (em inglês):
Sharon Horgan, que também atua como produtora executiva, traz sua conhecida assinatura carregada de humor ácido e profundidade emocional. O roteiro é muito afiado e extremamente bem estruturado, combinando momentos de comédia com passagens impactantes e genuinamente emocionantes. Cada episódio sabe construir a tensão ao mesmo tempo que explora as dinâmicas familiares das irmãs Garvey, permitindo um entendimento mais amplo ao ponto de simpatizarmos com algumas decisões das protagonistas, mesmo quando elas cruzam a linha tênue entre o certo e o errado. A direção conceitualizada pela Dearbhla Walsh (de "The Handmaid's Tale"), enfatiza a beleza melancólica da Irlanda, com paisagens costeiras deslumbrantes e cenários que contrastam com a tensão crescente da narrativa. A fotografia do Tim Palmer (de "Line of Duty") brinca com a luz natural para destacar o ambiente, enquanto os enquadramentos capturam tanto a intimidade das relações familiares quanto o isolamento emocional de cada personagem - é como se ele, supostamente, quisesse deixar uma "Desperate Housewives" mais realista.
As performances de todo elenco são excepcionais. Sharon Horgan lidera o time com uma interpretação complexa e carismática - sua Eva, a irmã mais velha e protetora, é tão cheia de camadas que fica até difícil defini-la. Já Anne-Marie Duff oferece uma atuação comovente como Grace, cuja vulnerabilidade contrasta com a crueldade fria de seu marido, interpretado brilhantemente por Claes Bang - preste atenção em como a interação entre esses dois personagens quebra a expectativa que quem assiste. O drama da relação abusiva de Grace é muito visceral. Veja, o mistério central de "Mal de Família" é sustentado por um ritmo envolvente e uma montagem que equilibra as linhas temporais sem a menor confusão, com isso se abre espaço para uma atuação das protagonistas que potencializa as nuances de suas ações - é de se aplaudir de pé!
"Mal de Família" aborda temas importantes como o abuso emocional, a lealdade familiar e o peso das escolhas morais, sem perder de vista o entretenimento e a complexidade de seus personagens, no entanto a série nunca deixa de ser provocativa. A narrativa nos tira da zona de conforto com a mesma facilidade com que nos faz sorrir. Se em certos episódios a história parece se alongar ao enfatizar elementos cômicos ou subtramas que, embora divertidas, desviam do mistério principal, eu diria que são justamente essas escolhas que contribuem para a construção de um universo irônico na sua essência e profundamente sensível nos seus detalhes. Saiba que "Mal de Família" além de imperdível, é um dos melhores exemplos de como é possível adaptar (e expandir) uma narrativa internacional sem perder a criatividade e sua qualidade como obra fechada.
Vale muito o seu play!
Simplesmente genial - e vou mais longe, se "O Urso" despontou como uma das mais agradáveis surpresas de 2022, eu diria que, para nós, "Meu Querido Zelador" tem tudo para assumir esse papel em 2023. Muito inteligente, divertida, envolvente e especialmente irônica, bem ao estilo de seus criadores, os geniais Mariano Cohn e Gastón Duprat (aqui com Martin Bustos também), a série se destaca por uma abordagem única de eventos da vida real explorados com um certo exagero, claro, mas nunca fugindo das nuances cotidianas do relacionamento entre um "zelador" e os moradores de um prédio. Oferecendo uma experiência que vai além do humor convencional, Cohn e Duprat acertam de novo e provam, mais uma vez, que o sucesso de "Cidadão Ilustre" e "O Faz Nada" não foi por acaso.
Eliseo (Guillermo Francella) é um dedicado zelador de um edifício de alto padrão em Buenos Aires. Trabalhando há 30 anos no mesmo local, ele conhece todos aqueles que moram e trabalham por ali. Apesar de dedicar-se ao seu trabalho, Eliseo possui uma habilidade única de persuasão, aprimorada ao longo dos anos, que lhe permite saber tudo o que acontece no prédio. Quando necessário, inclusive, ele abusa desse seu poder de manipular os moradores para seu próprio bem. No entanto, seu senso de justiça o faz distinguir quem merece ou não sua proteção, e quando ele passa a ser a "vítima" de um grupo de moradores que querem modernizar o local, o que obviamente custaria seu emprego, Eliseu inicia uma cruzada para provar o seu real valor, custe o que custar. Confira o trailer (em espanhol):
Em um primeiro olhar, é impossível não ficar entusiasmado com a capacidade de Francella em nos conquistar com o seu Eliseo. E aqui eu peço licença para citar duas referências importantes sobre o personagem - ele, nem de longe, é unidimensional. Eliseu tem uma complexidade emocional que vai além do estereótipo que a própria narrativa procura pontuar para que a história ganhe um tom mais leve. Veja, ele faz com que "Meu Querido Zelador" transite entre a critica social dos personagens de "Parasita" e a dualidade genial de Walter White em "Breaking Bad". Eu sei que pode parecer exagerado, mas os elementos que constroem a trama, e consequentemente o seu protagonista, nos faz refletir sobre o que é certo e o que é errado a cada nosso desafio que Eliseo precisa superar para manter o seu emprego.
Sim, ao assistir "Meu Querido Zelador" somos cativados por uma nova perspectiva sobre as relações humanas - especialmente aquela que chamamos de "ocasião". A maneira como o roteiro subverte nossas expectativas é tão genial quanto as ferramentas corporais de Francella ao se desconstruir de acordo com a situação que acabou de lidar. Não tenho certeza se a série não transcende os estereótipos de tão real que é aquela dinâmica entre zelador e moradores; o que eu sei é que é muito fácil se conectar com tudo aquilo. A direção está 100% alinhada ao ótimo texto, capturando a essência de cada conflito sem esquecer do equilíbrio vital do cômico com o dramático - reparem como o texto brinca com essa gramática a todo instante de forma tão genuína.
"Meu Querido Zelador" oferece uma experiência imperdível, que vai muito além das risadas superficiais e das bengalas que algumas comédias insistem em repetir. Os elementos que poderiam passar despercebidos, como um olhar, uma pausa ou um sorriso amarelo, se revelam essenciais para a riqueza que é a narrativa da série. Não se surpreenda se você se sentir nervoso, ansioso ou angustiado ao assistir algum dos onze episódios dessa primeira temporada, pois aquele clima constante de “vai dar m...” vai sendo construído, se acumulando, criando brechas até que, de repente, vem aquela deliciosa sensação de alivio.
Viciante e com um leve sabor vingança, seu play é obrigatório!
Simplesmente genial - e vou mais longe, se "O Urso" despontou como uma das mais agradáveis surpresas de 2022, eu diria que, para nós, "Meu Querido Zelador" tem tudo para assumir esse papel em 2023. Muito inteligente, divertida, envolvente e especialmente irônica, bem ao estilo de seus criadores, os geniais Mariano Cohn e Gastón Duprat (aqui com Martin Bustos também), a série se destaca por uma abordagem única de eventos da vida real explorados com um certo exagero, claro, mas nunca fugindo das nuances cotidianas do relacionamento entre um "zelador" e os moradores de um prédio. Oferecendo uma experiência que vai além do humor convencional, Cohn e Duprat acertam de novo e provam, mais uma vez, que o sucesso de "Cidadão Ilustre" e "O Faz Nada" não foi por acaso.
Eliseo (Guillermo Francella) é um dedicado zelador de um edifício de alto padrão em Buenos Aires. Trabalhando há 30 anos no mesmo local, ele conhece todos aqueles que moram e trabalham por ali. Apesar de dedicar-se ao seu trabalho, Eliseo possui uma habilidade única de persuasão, aprimorada ao longo dos anos, que lhe permite saber tudo o que acontece no prédio. Quando necessário, inclusive, ele abusa desse seu poder de manipular os moradores para seu próprio bem. No entanto, seu senso de justiça o faz distinguir quem merece ou não sua proteção, e quando ele passa a ser a "vítima" de um grupo de moradores que querem modernizar o local, o que obviamente custaria seu emprego, Eliseu inicia uma cruzada para provar o seu real valor, custe o que custar. Confira o trailer (em espanhol):
Em um primeiro olhar, é impossível não ficar entusiasmado com a capacidade de Francella em nos conquistar com o seu Eliseo. E aqui eu peço licença para citar duas referências importantes sobre o personagem - ele, nem de longe, é unidimensional. Eliseu tem uma complexidade emocional que vai além do estereótipo que a própria narrativa procura pontuar para que a história ganhe um tom mais leve. Veja, ele faz com que "Meu Querido Zelador" transite entre a critica social dos personagens de "Parasita" e a dualidade genial de Walter White em "Breaking Bad". Eu sei que pode parecer exagerado, mas os elementos que constroem a trama, e consequentemente o seu protagonista, nos faz refletir sobre o que é certo e o que é errado a cada nosso desafio que Eliseo precisa superar para manter o seu emprego.
Sim, ao assistir "Meu Querido Zelador" somos cativados por uma nova perspectiva sobre as relações humanas - especialmente aquela que chamamos de "ocasião". A maneira como o roteiro subverte nossas expectativas é tão genial quanto as ferramentas corporais de Francella ao se desconstruir de acordo com a situação que acabou de lidar. Não tenho certeza se a série não transcende os estereótipos de tão real que é aquela dinâmica entre zelador e moradores; o que eu sei é que é muito fácil se conectar com tudo aquilo. A direção está 100% alinhada ao ótimo texto, capturando a essência de cada conflito sem esquecer do equilíbrio vital do cômico com o dramático - reparem como o texto brinca com essa gramática a todo instante de forma tão genuína.
"Meu Querido Zelador" oferece uma experiência imperdível, que vai muito além das risadas superficiais e das bengalas que algumas comédias insistem em repetir. Os elementos que poderiam passar despercebidos, como um olhar, uma pausa ou um sorriso amarelo, se revelam essenciais para a riqueza que é a narrativa da série. Não se surpreenda se você se sentir nervoso, ansioso ou angustiado ao assistir algum dos onze episódios dessa primeira temporada, pois aquele clima constante de “vai dar m...” vai sendo construído, se acumulando, criando brechas até que, de repente, vem aquela deliciosa sensação de alivio.
Viciante e com um leve sabor vingança, seu play é obrigatório!
"Minha Mãe" (ou "Mia Madre" no original) é um belíssimo e sensível filme italiano sobre aceitação! Se inicialmente temos a impressão que a trama vai girar em torno das inseguranças de uma diretora de cinema durante um set de filmagem enquanto sua mãe está no hospital, muito doente; basta chegarmos no segundo ato para entender que o filme vai muito além - a experiência de ter que lidar com a morte que se aproxima ao mesmo tempo em que é preciso entender que a vida continua e que tudo aquilo faz parte de um ciclo que está se acabando, é simplesmente sensacional!
Margherita (Margherita Buy) é uma diretora de cinema que está no meio das filmagens do seu mais novo trabalho e que, ao mesmo tempo, testemunha o estado de saúde em declínio da sua mãe, que está internada no hospital. Para complicar ainda mais a sua situação, a chegada do ator americano Barry Huggins (John Turturro), que mal sabe falar italiano e parece ter uma séria dificuldade em decorar suas falas, coloca ainda mais pressão sobre a diretora que já está atrasada em seu cronograma. Enérgica quando algo não sai conforme sua vontade, ela precisa encarar as próprias impotências, que ganham força quando sua mãe adoece e fica internada no hospital. Diante da morte que se aproxima, Margherita vê desafiada sua (falsa) noção de que pode controlar tudo, de que as decisões estão estritamente em suas mãos. Ela vive se defendendo desses demônios particulares, da incapacidade de manter relações baseadas na troca, sendo racional e intransigente. Os boletins médicos desfavoráveis minam sua autoconfiança pouco a pouco, expondo uma vulnerabilidade até então escondida. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso dizer que Margherita Buy está simplesmente sensacional como protagonista! Ela fala com os olhos - suas cenas tem um dinâmica muito interessantes: ela sempre está procurando o silêncio no meio do caos que é seu dia a dia. Para quem não sabe o que significa estar em um set de filmagem, assistir "Mia Madre" é um retrato baste realista do "caos" que é ser um diretor - que ao mesmo tempo que está rodeado de profissionais, está sozinho nas decisões pela cena perfeita. O bacana é que o diretor Nanni Moretti, que também faz o personagem Giovanni, irmão de Margherita, traduz com muita sensibilidade o drama e a pressão que é dirigir um filme ao contrastar, justamente, com o drama pessoal da personagem. Entender que a jornada de Margherita é muito mais pessoal do que profissional, transforma a maneira como entendemos o filme - e aqui cabe um questionamento: até que ponto vale abrir mão da vida pessoal em detrimento da profissional? Ou vale a pena trazer para "casa" os problemas que temos no "escritório"? Qual o preço disso tudo? A cena em que Margherita "estaciona" o carro de sua mãe é genial, pois diz muito sobre esses questionamentos - reparem!
O roteiro do próprio Moretti ao lado de Valia Santella, Gaia Manzini e Chiara Valerio foi muito feliz em criar a sensação de desconforto e de urgência entre a linha narrativa que expõe o trabalho de Margherita como cineasta e sua constante preocupação como filha. A quebra de linearidade temporal é constante e muito bem pontuada na história, mas é tratada de uma forma muito orgânica no filme - como se mantivesse o fluxo, servindo apenas para juntar as peças e para entender o que aquela difícil situação representa para a protagonista. Outro mérito do roteiro diz respeito ao perfeito equilíbrio entre os momentos cômicos, muitos deles graças ao talento de John Turturro, com aqueles mais dramáticos - mas sempre com muita sensibilidade e sem pesar na mão (talvez a trilha exagere um pouco, mas nada além do que estamos acostumados).
"Minha Mãe" ganhou o "Prize of the Ecumenical Jury" em Cannes 2015 pela forma elegante com que explora a jornada humana através da perda para entender o valor de um novo começo. A verdade é que se trata de um filme completamente autoral, com um dinâmica narrativa bastante pessoal, independente e criativa; tão bem conduzido que mexe com tantas emoções e sentimentos que chega a nos marcar a alma.
Vale a pena para quem gosta de um filme menos convencional e mais introspectivo, mesmo que fantasiado com a leveza do tom.
"Minha Mãe" (ou "Mia Madre" no original) é um belíssimo e sensível filme italiano sobre aceitação! Se inicialmente temos a impressão que a trama vai girar em torno das inseguranças de uma diretora de cinema durante um set de filmagem enquanto sua mãe está no hospital, muito doente; basta chegarmos no segundo ato para entender que o filme vai muito além - a experiência de ter que lidar com a morte que se aproxima ao mesmo tempo em que é preciso entender que a vida continua e que tudo aquilo faz parte de um ciclo que está se acabando, é simplesmente sensacional!
Margherita (Margherita Buy) é uma diretora de cinema que está no meio das filmagens do seu mais novo trabalho e que, ao mesmo tempo, testemunha o estado de saúde em declínio da sua mãe, que está internada no hospital. Para complicar ainda mais a sua situação, a chegada do ator americano Barry Huggins (John Turturro), que mal sabe falar italiano e parece ter uma séria dificuldade em decorar suas falas, coloca ainda mais pressão sobre a diretora que já está atrasada em seu cronograma. Enérgica quando algo não sai conforme sua vontade, ela precisa encarar as próprias impotências, que ganham força quando sua mãe adoece e fica internada no hospital. Diante da morte que se aproxima, Margherita vê desafiada sua (falsa) noção de que pode controlar tudo, de que as decisões estão estritamente em suas mãos. Ela vive se defendendo desses demônios particulares, da incapacidade de manter relações baseadas na troca, sendo racional e intransigente. Os boletins médicos desfavoráveis minam sua autoconfiança pouco a pouco, expondo uma vulnerabilidade até então escondida. Confira o trailer:
Antes de mais nada é preciso dizer que Margherita Buy está simplesmente sensacional como protagonista! Ela fala com os olhos - suas cenas tem um dinâmica muito interessantes: ela sempre está procurando o silêncio no meio do caos que é seu dia a dia. Para quem não sabe o que significa estar em um set de filmagem, assistir "Mia Madre" é um retrato baste realista do "caos" que é ser um diretor - que ao mesmo tempo que está rodeado de profissionais, está sozinho nas decisões pela cena perfeita. O bacana é que o diretor Nanni Moretti, que também faz o personagem Giovanni, irmão de Margherita, traduz com muita sensibilidade o drama e a pressão que é dirigir um filme ao contrastar, justamente, com o drama pessoal da personagem. Entender que a jornada de Margherita é muito mais pessoal do que profissional, transforma a maneira como entendemos o filme - e aqui cabe um questionamento: até que ponto vale abrir mão da vida pessoal em detrimento da profissional? Ou vale a pena trazer para "casa" os problemas que temos no "escritório"? Qual o preço disso tudo? A cena em que Margherita "estaciona" o carro de sua mãe é genial, pois diz muito sobre esses questionamentos - reparem!
O roteiro do próprio Moretti ao lado de Valia Santella, Gaia Manzini e Chiara Valerio foi muito feliz em criar a sensação de desconforto e de urgência entre a linha narrativa que expõe o trabalho de Margherita como cineasta e sua constante preocupação como filha. A quebra de linearidade temporal é constante e muito bem pontuada na história, mas é tratada de uma forma muito orgânica no filme - como se mantivesse o fluxo, servindo apenas para juntar as peças e para entender o que aquela difícil situação representa para a protagonista. Outro mérito do roteiro diz respeito ao perfeito equilíbrio entre os momentos cômicos, muitos deles graças ao talento de John Turturro, com aqueles mais dramáticos - mas sempre com muita sensibilidade e sem pesar na mão (talvez a trilha exagere um pouco, mas nada além do que estamos acostumados).
"Minha Mãe" ganhou o "Prize of the Ecumenical Jury" em Cannes 2015 pela forma elegante com que explora a jornada humana através da perda para entender o valor de um novo começo. A verdade é que se trata de um filme completamente autoral, com um dinâmica narrativa bastante pessoal, independente e criativa; tão bem conduzido que mexe com tantas emoções e sentimentos que chega a nos marcar a alma.
Vale a pena para quem gosta de um filme menos convencional e mais introspectivo, mesmo que fantasiado com a leveza do tom.
Eu começo esse review admitindo que sou fã do cinema argentino e sugerindo que o que você vai ler daqui para frente pode parecer tendencioso, mas não é... pelo menos não em sua totalidade!!! Vamos lá: acabei de assistir um filme argentino extremamente despretensioso chamado "Minha Obra-Prima". Na verdade é uma co-produção Argentina/Espanha e isso diz muito, principalmente depois de descobrir que quem dirigiu o filme foi o Gastón Duprat! Se você não está ligando o nome a pessoa, estou aqui para te ajudar. Duprat co-dirigiu o excelente "El Ciudadano Ilustre"! Com esse cartão de visita, fica muito mais fácil definir "Minha Obra-Prima" porque o filme bebe na mesma fonte do mais que premiado "Cidadão" - talvez sem tanto brilho, mas ainda muito divertido e imperdível!!!!
A história do pintor rabugento e falido, Renzo Nervi, de seu melhor amigo, Arturo Silva, dono de uma galeria de arte, que tenta ajuda-lo de todas as maneiras e da relação conflituosa entre os dois na esperança de reviver os bons tempos do passado em uma realidade tão diferente, cheia de tanto modernismo de qualidade duvidosa. O filme trás esse resgate emotivo novamente, com dois grandes atores Guillermo Francella ("O Segredo dos Seus Olhos") e Luis Brandoni, como Nervi, comandados por uma delicadeza única na direção. É um grande trabalho, de fato!
"Minha Obra-Prima" é um ótimo filme, com dois personagens marcantes e cheio de camadas que podem te tocar em algum momento. Como em "Cidadão Ilustre", Duprat trabalha naquela linha bem tênue do non-sense cotidiano real com o drama existencial dos seus personagens. Nesse filme também funciona bem, mas é mais previsível - até propositalmente (me pareceu), mas atrapalha um pouco a experiência ao saber que falta algo que no "Cidadão Ilustre" sobrou! O problema não está na direção, que fique bem claro! Está no roteiro e mesmo assim é só uma referência cruel de comparação, porque é fato que o filme é muito bacana de assistir, daqueles bons pra ver na sexta a noite, sem a preocupação de ter que pensar muito, mesmo se aproximando de assuntos bem profundos, mas com a desculpa de parecer "sem noção"!
"Minha Obra-Prima" é entretenimento de primeira. Se você gosta de filme argentino ou de filme espanhol, que equilibra bem o que é drama e o que é comédia (inteligente) provavelmente você vai gostar desse filme. Daqueles filmes que já estão no catálogo e que deve ter passado despercebido pelas sugestões da plataforma... mas que nós resgatamos e indicamos com a maior tranquilidade! Filme premiado em Festivas e que vale o play!
Eu começo esse review admitindo que sou fã do cinema argentino e sugerindo que o que você vai ler daqui para frente pode parecer tendencioso, mas não é... pelo menos não em sua totalidade!!! Vamos lá: acabei de assistir um filme argentino extremamente despretensioso chamado "Minha Obra-Prima". Na verdade é uma co-produção Argentina/Espanha e isso diz muito, principalmente depois de descobrir que quem dirigiu o filme foi o Gastón Duprat! Se você não está ligando o nome a pessoa, estou aqui para te ajudar. Duprat co-dirigiu o excelente "El Ciudadano Ilustre"! Com esse cartão de visita, fica muito mais fácil definir "Minha Obra-Prima" porque o filme bebe na mesma fonte do mais que premiado "Cidadão" - talvez sem tanto brilho, mas ainda muito divertido e imperdível!!!!
A história do pintor rabugento e falido, Renzo Nervi, de seu melhor amigo, Arturo Silva, dono de uma galeria de arte, que tenta ajuda-lo de todas as maneiras e da relação conflituosa entre os dois na esperança de reviver os bons tempos do passado em uma realidade tão diferente, cheia de tanto modernismo de qualidade duvidosa. O filme trás esse resgate emotivo novamente, com dois grandes atores Guillermo Francella ("O Segredo dos Seus Olhos") e Luis Brandoni, como Nervi, comandados por uma delicadeza única na direção. É um grande trabalho, de fato!
"Minha Obra-Prima" é um ótimo filme, com dois personagens marcantes e cheio de camadas que podem te tocar em algum momento. Como em "Cidadão Ilustre", Duprat trabalha naquela linha bem tênue do non-sense cotidiano real com o drama existencial dos seus personagens. Nesse filme também funciona bem, mas é mais previsível - até propositalmente (me pareceu), mas atrapalha um pouco a experiência ao saber que falta algo que no "Cidadão Ilustre" sobrou! O problema não está na direção, que fique bem claro! Está no roteiro e mesmo assim é só uma referência cruel de comparação, porque é fato que o filme é muito bacana de assistir, daqueles bons pra ver na sexta a noite, sem a preocupação de ter que pensar muito, mesmo se aproximando de assuntos bem profundos, mas com a desculpa de parecer "sem noção"!
"Minha Obra-Prima" é entretenimento de primeira. Se você gosta de filme argentino ou de filme espanhol, que equilibra bem o que é drama e o que é comédia (inteligente) provavelmente você vai gostar desse filme. Daqueles filmes que já estão no catálogo e que deve ter passado despercebido pelas sugestões da plataforma... mas que nós resgatamos e indicamos com a maior tranquilidade! Filme premiado em Festivas e que vale o play!
A Diretora Lisa Cholodenko dirigiu alguns pilotos de séries americanas de certo sucesso como "Hung" e "Six Feet Under", mas foi escrevendo "The Kids Are All Right" (título original) que ela mostrou seu grande talento - trabalho que, inclusive, lhe rendeu uma indicação no Oscar de melhor Roteiro Original em 2011. O fato é que estamos falando de um belíssimo e sensível roteiro!
Dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh Hutcherson), são filhos do casal, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa aventura para encontrar o pai biológico sem que as mães saibam. Quando Paul (Mark Ruffalo) aparece tudo muda, já que logo ele passa a fazer parte do cotidiano da família. Confira o trailer:
"Minhas Mães e Meu Pai" acerta ao tratar um drama bastante denso na sua origem, com uma narrativa extremamente leve e envolvente. Cholodenko que também dirigiu o filme, parte de sua própria experiência para contar uma história que, antes de tudo, fala sobre amor, companheirismo e família. Ela pontua os momentos de confusão (natural pela situação) com inteligência, usando muito bem os alívios cômicos como pontos de equilíbrio. O trabalho excepcional do elenco é inegável - o que resultou em mais duas indicações ao Oscar. É preciso elogiar a sensibilidade como os atores foram dirigidos e a resposta que cada um deu em cena, também reflexo de um texto muito bem escrito - Annette Bening concorreu como "Melhor Atriz" e Mark Ruffalo como "Ator Coadjuvante".
Um orçamento de U$ 4 milhões e um cronograma de filmagem de apenas 23 dias, são outros dois fatores que surpreendem e validam com muito mérito todos os prêmios que o filme ganhou durante sua carreira em festivais com mais de 130 indicações, que vão do Melhor Filme do Ano para a Academia até a vitória no Globo de Ouro de 2011 como "Melhor Filme de Comédia ou Musical", passando por reconhecimentos importantes no BAFTA, em Berlin, no Spirit Awards, etc.
"Minhas Mães e Meu Pai" é um filme que nos enche o coração, que nos faz refletir sobre o real e verdadeiro significado do amor, sobre nossas inseguranças durante um relacionamento, sobre as escolhas de vida que fazemos e até sobre a forma com que olhamos as convenções sociais para determinados assuntos. Com uma trilha escolhida a dedo, que vai de David Bowie à Joni Mitchell, e uma edição (que também merecia uma indicação) fabulosa do Jeffrey M. Werner, esse filme de 2010 é simplesmente imperdível!
Sensível e inteligente!!! Assista!!!
A Diretora Lisa Cholodenko dirigiu alguns pilotos de séries americanas de certo sucesso como "Hung" e "Six Feet Under", mas foi escrevendo "The Kids Are All Right" (título original) que ela mostrou seu grande talento - trabalho que, inclusive, lhe rendeu uma indicação no Oscar de melhor Roteiro Original em 2011. O fato é que estamos falando de um belíssimo e sensível roteiro!
Dois irmãos adolescentes, Joni (Mia Wasikowaska) e Laser (Josh Hutcherson), são filhos do casal, Jules (Julianne Moore) e Nic (Annette Bening), concebidos através da inseminação artificial de um doador anônimo. Contudo, ao completar a maioridade, Joni encoraja o irmão a embarcar numa aventura para encontrar o pai biológico sem que as mães saibam. Quando Paul (Mark Ruffalo) aparece tudo muda, já que logo ele passa a fazer parte do cotidiano da família. Confira o trailer:
"Minhas Mães e Meu Pai" acerta ao tratar um drama bastante denso na sua origem, com uma narrativa extremamente leve e envolvente. Cholodenko que também dirigiu o filme, parte de sua própria experiência para contar uma história que, antes de tudo, fala sobre amor, companheirismo e família. Ela pontua os momentos de confusão (natural pela situação) com inteligência, usando muito bem os alívios cômicos como pontos de equilíbrio. O trabalho excepcional do elenco é inegável - o que resultou em mais duas indicações ao Oscar. É preciso elogiar a sensibilidade como os atores foram dirigidos e a resposta que cada um deu em cena, também reflexo de um texto muito bem escrito - Annette Bening concorreu como "Melhor Atriz" e Mark Ruffalo como "Ator Coadjuvante".
Um orçamento de U$ 4 milhões e um cronograma de filmagem de apenas 23 dias, são outros dois fatores que surpreendem e validam com muito mérito todos os prêmios que o filme ganhou durante sua carreira em festivais com mais de 130 indicações, que vão do Melhor Filme do Ano para a Academia até a vitória no Globo de Ouro de 2011 como "Melhor Filme de Comédia ou Musical", passando por reconhecimentos importantes no BAFTA, em Berlin, no Spirit Awards, etc.
"Minhas Mães e Meu Pai" é um filme que nos enche o coração, que nos faz refletir sobre o real e verdadeiro significado do amor, sobre nossas inseguranças durante um relacionamento, sobre as escolhas de vida que fazemos e até sobre a forma com que olhamos as convenções sociais para determinados assuntos. Com uma trilha escolhida a dedo, que vai de David Bowie à Joni Mitchell, e uma edição (que também merecia uma indicação) fabulosa do Jeffrey M. Werner, esse filme de 2010 é simplesmente imperdível!
Sensível e inteligente!!! Assista!!!
Essa série tem um humor bastante peculiar, inteligente e em muitas passagens vai exigir um certo, digamos, conhecimento da relação geo-politica-cultural-religiosa da Palestina, de Israel, dos EUA e, claro, da dinâmica cotidiana dos imigrantes na terra do Tio Sam. Dito isso, "Mo", um original Netflix criado por Mohammed Amer e Ramy Youssef, é aquele tipo raro de produção que consegue equilibrar humor, drama e crítica social com uma leveza irresistível, sem abrir mão de uma sinceridade realmente tocante. Olha, posso te garantir que essa série é uma pequena joia que ninguém comenta, mas que merece ser vista e celebrada.
Lançada em 2022, a série acompanha a vida do protagonista Mo Najjar (interpretado com brilhantismo pelo próprio Mohammed Amer), um palestino vivendo há anos em Houston, no Texas, enquanto espera a definição do seu pedido de asilo nos Estados Unidos. Com forte influência autobiográfica, "Mo" conquista o público ao explorar questões delicadas sobre imigração, identidade cultural e pertencimento, com um humor afiado e uma sensibilidade profundamente humana. Confira o trailer (em inglês):
Mo é um personagem extremamente carismático: rápido nas tiradas, cheio de simpatia e que sempre encontra maneiras criativas e, por vezes, questionáveis de lidar com as dificuldades que o dia a dia da sua vida traz. Mas não é só isso: ele também é vulnerável, já que precisa lidar diariamente com as feridas emocionais causadas pelos traumas de uma migração forçada, pelo luto da morte de seu pai e pela pressão de ser o principal suporte de sua família. Entre risadas genuínas e momentos de profunda reflexão, Mohammed Amer e Ramy Youssef apresentam um protagonista que foge dos estereótipos frequentemente vistos na mídia sobre refugiados, criando um retrato envolvente e realmente rico em nuances. E aqui cabe um elogio para um dos pontos fortes de "Mo": o seu roteiro. O texto acerta ao mostrar o constante atrito entre as tradições familiares palestinas e a realidade dos Estados Unidos. Veja, a série nunca perde a chance de destacar a burocracia absurda e frustrante do sistema de imigração americano, o que é feito com ironia, capaz de provocar risos e empatia, tudo junto e misturado.
A direção de Solvan Naim (de "Power"), é preciso que se diga, é competente ao ponto de capturar esse cotidiano multicultural de Houston, destacando com naturalidade a diversidade e a linguística que cerca Mo e sua família. Visualmente, a produção aposta em uma estética urbana realista, com cores vivas e enquadramentos mais dinâmicos, refletindo o ritmo acelerado e imprevisível da vida do protagonista em uma cidade grande. Aliás, a série sabe explorar muito bem esse cenário texano, criando um certo caos cultural ao trazer para a tela, elementos da cultura palestina e da americana com fluidez e bom humor. Nesse sentido, e respeitando o conceito narrativo de "Mo", o elenco secundário aparece como "a cereja do bolo" - Teresa Ruiz, que vive Maria, a namorada mexicana/americana de Mo, é encantadora. É ela que carrega boa parte da emoção e da tensão dramática da história - o relacionamento entre Maria e Mo é retratado com autenticidade, explorando a complexidade das diferenças culturais sem perder o tom afetuoso - nesse ponto lembra muito "Ninguém Quer".
Com apenas dezesseis episódios curtos e bem ritmados, divididos em duas excelente temporadas (e com um final), "Mo" é uma série das mais envolventes, daquelas que nunca se permitem cair em lugares-comuns ou exageros dramáticos. A força emocional da série está exatamente no equilíbrio que consegue alcançar entre a comédia absurda e a tragédia cotidiana, mas sempre com um olhar carinhoso, mesmo quando aborda temas mais dolorosos como o preconceito e o sentimento de nunca se sentir completamente em casa. Antes do play, saiba que "Mo" não é para qualquer um - essa é uma série que consegue ir além do entretenimento puro e simples para proporcionar uma reflexão sutil sobre a busca por identidade e oportunidade, sem nunca deixar de ser divertida ou acolhedora. É uma das melhores comédias dramáticas lançadas pela Netflix em muitos anos - mas que infelizmente vai cair naquela caixinha rasa de "ame ou adeie".
Para você, reafirmo: vale demais o play!
Essa série tem um humor bastante peculiar, inteligente e em muitas passagens vai exigir um certo, digamos, conhecimento da relação geo-politica-cultural-religiosa da Palestina, de Israel, dos EUA e, claro, da dinâmica cotidiana dos imigrantes na terra do Tio Sam. Dito isso, "Mo", um original Netflix criado por Mohammed Amer e Ramy Youssef, é aquele tipo raro de produção que consegue equilibrar humor, drama e crítica social com uma leveza irresistível, sem abrir mão de uma sinceridade realmente tocante. Olha, posso te garantir que essa série é uma pequena joia que ninguém comenta, mas que merece ser vista e celebrada.
Lançada em 2022, a série acompanha a vida do protagonista Mo Najjar (interpretado com brilhantismo pelo próprio Mohammed Amer), um palestino vivendo há anos em Houston, no Texas, enquanto espera a definição do seu pedido de asilo nos Estados Unidos. Com forte influência autobiográfica, "Mo" conquista o público ao explorar questões delicadas sobre imigração, identidade cultural e pertencimento, com um humor afiado e uma sensibilidade profundamente humana. Confira o trailer (em inglês):
Mo é um personagem extremamente carismático: rápido nas tiradas, cheio de simpatia e que sempre encontra maneiras criativas e, por vezes, questionáveis de lidar com as dificuldades que o dia a dia da sua vida traz. Mas não é só isso: ele também é vulnerável, já que precisa lidar diariamente com as feridas emocionais causadas pelos traumas de uma migração forçada, pelo luto da morte de seu pai e pela pressão de ser o principal suporte de sua família. Entre risadas genuínas e momentos de profunda reflexão, Mohammed Amer e Ramy Youssef apresentam um protagonista que foge dos estereótipos frequentemente vistos na mídia sobre refugiados, criando um retrato envolvente e realmente rico em nuances. E aqui cabe um elogio para um dos pontos fortes de "Mo": o seu roteiro. O texto acerta ao mostrar o constante atrito entre as tradições familiares palestinas e a realidade dos Estados Unidos. Veja, a série nunca perde a chance de destacar a burocracia absurda e frustrante do sistema de imigração americano, o que é feito com ironia, capaz de provocar risos e empatia, tudo junto e misturado.
A direção de Solvan Naim (de "Power"), é preciso que se diga, é competente ao ponto de capturar esse cotidiano multicultural de Houston, destacando com naturalidade a diversidade e a linguística que cerca Mo e sua família. Visualmente, a produção aposta em uma estética urbana realista, com cores vivas e enquadramentos mais dinâmicos, refletindo o ritmo acelerado e imprevisível da vida do protagonista em uma cidade grande. Aliás, a série sabe explorar muito bem esse cenário texano, criando um certo caos cultural ao trazer para a tela, elementos da cultura palestina e da americana com fluidez e bom humor. Nesse sentido, e respeitando o conceito narrativo de "Mo", o elenco secundário aparece como "a cereja do bolo" - Teresa Ruiz, que vive Maria, a namorada mexicana/americana de Mo, é encantadora. É ela que carrega boa parte da emoção e da tensão dramática da história - o relacionamento entre Maria e Mo é retratado com autenticidade, explorando a complexidade das diferenças culturais sem perder o tom afetuoso - nesse ponto lembra muito "Ninguém Quer".
Com apenas dezesseis episódios curtos e bem ritmados, divididos em duas excelente temporadas (e com um final), "Mo" é uma série das mais envolventes, daquelas que nunca se permitem cair em lugares-comuns ou exageros dramáticos. A força emocional da série está exatamente no equilíbrio que consegue alcançar entre a comédia absurda e a tragédia cotidiana, mas sempre com um olhar carinhoso, mesmo quando aborda temas mais dolorosos como o preconceito e o sentimento de nunca se sentir completamente em casa. Antes do play, saiba que "Mo" não é para qualquer um - essa é uma série que consegue ir além do entretenimento puro e simples para proporcionar uma reflexão sutil sobre a busca por identidade e oportunidade, sem nunca deixar de ser divertida ou acolhedora. É uma das melhores comédias dramáticas lançadas pela Netflix em muitos anos - mas que infelizmente vai cair naquela caixinha rasa de "ame ou adeie".
Para você, reafirmo: vale demais o play!
"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.
Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida.
Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.
Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).
O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.
O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.
Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!
No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!
O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.
O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.
"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!
"Modern Love", nova série da Prime Vídeo da Amazon, poderia tranquilamente se chamar "Crônicas de Nova York" e ter sido dirigida pelo Woody Allen. Inspirada em uma famosa coluna do jornal The New York Times, "Modern Love" fala desse sentimento tão único e ao mesmo tão plural que é o amor. De uma forma muito bacana, os 8 episódios de 30 minutos, mostram diversos tipos de relacionamentos, em estágios completamente diferentes, mas que possuem o amor como fio condutor, de uma forma leve e sensível.
Tendo como cenário uma Nova York charmosa, acolhedora, romântica e, claro, cosmopolita ao melhor estilo "Sex and City", "Modern Love" aproveita o elenco estrelado e o tom certo da direção para colocar sua irmã "Easy", da Netflix, no bolso. Olha, se você sorriu ao ler alguma das referências que citei, dê o play sem medo de errar, porque a diversão é garantida.
Uma amizade de certa forma comum entre as mulheres que moram em Nova York (e que são solteiras e sozinhas) com os porteiros dos seus prédios que cuidam delas como amigos confidentes, guarda-costas e até como figuras paternas - é nesse contexto que acontece a história do ótimo (e emocionante) primeiro episódio da série. Atenção para o excelente trabalho da Cristin Milioti (Balck Mirror) como uma mulher inteligente, porém insegura que vive em busca de um grande amor.
Já o segundo, acompanhamos a entrevista de uma famosa jornalista com o CEO de um aplicativo de namoro. Ao perguntar se ele já havia se apaixonado, Julie (Catherine Keener) desencadeia uma conversa que mudará o curso da vida dos dois de uma forma muito bem construída pelo roteiro. Tranquilamente esse é um dos melhores episódios da temporada: ele é dolorido, profundo e libertador. Destaque para incrível química entre Keener (a jornalista) e Patel (o entrevistado).
O terceiro episódio conta como uma Anne Hathaway na sua melhor forma como Lexi, uma mulher que precisa refletir sobre como sua experiência com o transtorno bipolar afetou sua vida amorosa e profissional durante anos. Impossível não se emocionar com o excelente trabalho de Hathaway, digna de prêmios! Outro ponto fora da curva foi o conceito visual que o diretor John Carney usou para retratar o distúrbio da protagonista - inventivo, criativo e na medida certa. É um grande e potente episódio também.
O quarto talvez seja o mais inconstante dos episódios dessa primeira temporada. Não que seja ruim, mas ele se apoia muito no trabalho da Tina Fey e acaba deixando uma discussão profunda e difícil em segundo plano. Durante o episódio isso vai se equilibrando e temos um cena excelente no restaurante entre Fey e John Slattery tentando ajustar um casamento que caminhava para o término. O roteiro é perfeito, pois trás a força de um conversa franca, direta e difícil para mesa com uma sensibilidade muito interessante.
Passando da metade, o quinto episódio usa o carisma de John Gallagher Jr, um jovem inseguro e depressivo que se apaixona por uma "famosa" influenciadora digital e que tem um primeiro encontro catastrófico. O trabalho de Gallagher como Ron traz uma sutileza muito interessante ao tratar de assuntos bastante delicados como depressão e ansiedade. Talvez esse seja com mais "Woody Allen" dos episódios e você vai ter essa certeza justamente no episódio final da temporada!
No sexto episódio Julia Garner (de Dirty John) diz a seguinte frase: "Ele era muito bonito. Usava suéteres de gola alta cinza e cheirava a loção pós-barba de menta e livros antigos. Ele tinha 55 anos e recentemente se divorciou pela segunda vez. Ele era meu pai. Ele não era realmente meu pai". Com essa premissa vemos pela primeira vez um amor diferente, mas que não é percebido facilmente pelo excelente Shea Whigham - um bem sucedido cientista que se apaixona pela estagiária 30 anos mais nova!
O sétimo episódio, para mim, foi o mais fraco de todos. Na história um casal gay resolve adotar uma bebê de uma moradora de rua. A história levanta temas importantes e até acerta o tom em alguns momentos, mas me pareceu muito arrastado, deixando o grande momento do episódio para uma única conversa como no episódio 4. Mesmo com o ótimo Andrew Scott, o episódio perdeu uma grande chance de ir mais fundo em assuntos espinhosos, preferindo ficar na superficialidade e na discussão existencial entre os personagens.
O oitavo e último episódio é dolorido na sua trama principal. Daqueles que aperta o coração ao contar a história de amor entre Margot e Kenji. Já na terceira idade os dois se apaixonam em uma prova de corrida de rua e se descobrem, pouco depois, uma espécie de almas gêmeas; porém nada dura para sempre e a forma como esse assunto passa a ser abordado no roteiro mexe com a gente! É uma linda história, com momentos emocionantes. Um outro grande destaque desse episódio é a maneira como os roteiristas encontram para amarrar todas as histórias e estabelecer a linha temporal entre elas - estabelecido um arco maior bem interessante.
"Modern Love" é uma série deliciosa de assistir. Você vai sorrir, se divertir, se emocionar e, principalmente, se identificar com alguma das 8 histórias dessa consistente primeira temporada! Vale muito a pena pela simplicidade do texto, mas pela profundidade dos assuntos e enorme qualidade do elenco e da produção!
Você já pode ter ouvido falar que "Mozart in the Jungle" é muito boa, mas te garanto: ela é ainda melhor do que você pode imaginar ao ler sua sinopse depois da recomendação! Essa série criada por Alex Timbers, Roman Coppola (de "Asteroid City") e Jason Schwartzman (de "The French Dispatch") explora com muita inteligência o mundo da música clássica com uma combinação envolvente de humor e de drama, mas com um toque de excentricidade que cria uma identidade toda especial para sua narrativa. Lançada em 2014 como um Original Amazon (antes até da "Prime Video" existir), a série se destaca por sua abordagem única e irreverente que oferece uma visão íntima, e muitas vezes irônica, dos bastidores de uma orquestra sinfônica. Veja, "Mozart in the Jungle" desconstrói completamente aquela imagem limpa e divina de uma Orquestra, e de seus musicistas, e isso é genial como premissa! Para quem gosta de séries mais provocadoras como "Transparent" e até como "The Marvelous Mrs. Maisel", só para ficar no streaming da Amazon, pode dar o play aqui porque essa experiência é igualmente cativante e bem-humorada!
A trama basicamente segue Hailey Rutledge (Lola Kirke), uma jovem oboísta que se junta à Orquestra Sinfônica de Nova York sob a batuta do excêntrico maestro Rodrigo De Souza (Gael García Bernal). Ao longo de quatro ótimas temporadas, a série explora suas lutas e triunfos no mundo da música clássica, além das vidas e desafios dos outros membros da orquestra, como a diretora Gloria Windsor (Bernadette Peters) e o maestro Thomas Pembridge (Malcolm McDowell). Confira o trailer:
A narrativa de "Mozart in the Jungle" mistura de maneira habilidosa a paixão pela música, os conflitos pessoais e a busca por excelência artística, mas essencialmente a história é sobre o valor das relações. O roteiro, baseado no livro de memórias de Blair Tindall ("Mozart in the Jungle: Sex, Drugs, and Classical Music"), é engenhoso e repleto de diálogos espirituosos e reflexivos. A série, de fato, é muito original ao abordar temas como ambição, amor e as pressões do mundo artístico - existe uma certa profundidade e complexidade, fazendo com que a audiência realmente se importe com as jornadas dos protagonistas em um ambiente que vai te lembrar "Whiplash: Em Busca da Perfeição". A direção de Paul Weitz (indicado ao Oscar por "About a Boy") faz questão de explorar aquela estética mais elegante e que preenchia a tela com tons de cores quentes e barrocas de Damien Chazelle, mas aqui com um mood, digamos, menos pesado.
A visão de Paul Weitz é essencial para dar vida para a narrativa de "Mozart in the Jungle" - a forma de explorar a música clássica é inovadora e acessível, quebrando o estigma de que este é um mundo elitista demais para apenas se entreter. Claro que existe a grandiosidade dos concertos, mas o que interessa é a intimidade dos ensaios e dos bastidores. Gael García Bernal brilha, trazendo uma energia vibrante e uma excentricidade cativante ao seu personagem Rodrigo. Sua performance é simultaneamente engraçada e emotiva, capturando a paixão e a genialidade de um maestro em constante luta pela perfeição. Lola Kirke também oferece uma performance autêntica e encantadora, retratando as inseguranças e os sonhos de uma jovem musicista tentando encontrar seu lugar. Outro nome que precisa ser citado é o de Malcolm McDowell - ele está excepcional!
Ao longo de suas quatro temporadas, "Mozart in the Jungle" evolui de maneira significativa, explorando novas histórias e aprofundando o desenvolvimento dos protagonistas, no entanto, é preciso que se diga, que em certos momentos, a série pode parecer um pouco dispersa, com subtramas que não são totalmente bem resolvidas. Essa sensação não impacta em nada no entretenimento se você estiver imersa na proposta da série (meio como acontecia com o Sex and the City, sabe?) - ela continuará encantadora ao celebrar a música de uma maneira realmente divertida. Então se prepare para acompanhar uma homenagem ao talento e à dedicação através de uma jornada que oferece uma visão rara e envolvente dos desafios e dos triunfos dos personagens em busca da excelência, mas sem nunca pesar muito na mão.
Imperdível!
Você já pode ter ouvido falar que "Mozart in the Jungle" é muito boa, mas te garanto: ela é ainda melhor do que você pode imaginar ao ler sua sinopse depois da recomendação! Essa série criada por Alex Timbers, Roman Coppola (de "Asteroid City") e Jason Schwartzman (de "The French Dispatch") explora com muita inteligência o mundo da música clássica com uma combinação envolvente de humor e de drama, mas com um toque de excentricidade que cria uma identidade toda especial para sua narrativa. Lançada em 2014 como um Original Amazon (antes até da "Prime Video" existir), a série se destaca por sua abordagem única e irreverente que oferece uma visão íntima, e muitas vezes irônica, dos bastidores de uma orquestra sinfônica. Veja, "Mozart in the Jungle" desconstrói completamente aquela imagem limpa e divina de uma Orquestra, e de seus musicistas, e isso é genial como premissa! Para quem gosta de séries mais provocadoras como "Transparent" e até como "The Marvelous Mrs. Maisel", só para ficar no streaming da Amazon, pode dar o play aqui porque essa experiência é igualmente cativante e bem-humorada!
A trama basicamente segue Hailey Rutledge (Lola Kirke), uma jovem oboísta que se junta à Orquestra Sinfônica de Nova York sob a batuta do excêntrico maestro Rodrigo De Souza (Gael García Bernal). Ao longo de quatro ótimas temporadas, a série explora suas lutas e triunfos no mundo da música clássica, além das vidas e desafios dos outros membros da orquestra, como a diretora Gloria Windsor (Bernadette Peters) e o maestro Thomas Pembridge (Malcolm McDowell). Confira o trailer:
A narrativa de "Mozart in the Jungle" mistura de maneira habilidosa a paixão pela música, os conflitos pessoais e a busca por excelência artística, mas essencialmente a história é sobre o valor das relações. O roteiro, baseado no livro de memórias de Blair Tindall ("Mozart in the Jungle: Sex, Drugs, and Classical Music"), é engenhoso e repleto de diálogos espirituosos e reflexivos. A série, de fato, é muito original ao abordar temas como ambição, amor e as pressões do mundo artístico - existe uma certa profundidade e complexidade, fazendo com que a audiência realmente se importe com as jornadas dos protagonistas em um ambiente que vai te lembrar "Whiplash: Em Busca da Perfeição". A direção de Paul Weitz (indicado ao Oscar por "About a Boy") faz questão de explorar aquela estética mais elegante e que preenchia a tela com tons de cores quentes e barrocas de Damien Chazelle, mas aqui com um mood, digamos, menos pesado.
A visão de Paul Weitz é essencial para dar vida para a narrativa de "Mozart in the Jungle" - a forma de explorar a música clássica é inovadora e acessível, quebrando o estigma de que este é um mundo elitista demais para apenas se entreter. Claro que existe a grandiosidade dos concertos, mas o que interessa é a intimidade dos ensaios e dos bastidores. Gael García Bernal brilha, trazendo uma energia vibrante e uma excentricidade cativante ao seu personagem Rodrigo. Sua performance é simultaneamente engraçada e emotiva, capturando a paixão e a genialidade de um maestro em constante luta pela perfeição. Lola Kirke também oferece uma performance autêntica e encantadora, retratando as inseguranças e os sonhos de uma jovem musicista tentando encontrar seu lugar. Outro nome que precisa ser citado é o de Malcolm McDowell - ele está excepcional!
Ao longo de suas quatro temporadas, "Mozart in the Jungle" evolui de maneira significativa, explorando novas histórias e aprofundando o desenvolvimento dos protagonistas, no entanto, é preciso que se diga, que em certos momentos, a série pode parecer um pouco dispersa, com subtramas que não são totalmente bem resolvidas. Essa sensação não impacta em nada no entretenimento se você estiver imersa na proposta da série (meio como acontecia com o Sex and the City, sabe?) - ela continuará encantadora ao celebrar a música de uma maneira realmente divertida. Então se prepare para acompanhar uma homenagem ao talento e à dedicação através de uma jornada que oferece uma visão rara e envolvente dos desafios e dos triunfos dos personagens em busca da excelência, mas sem nunca pesar muito na mão.
Imperdível!
Tenho a impressão que se o Vince Gilligan (Breaking Bad) tivesse escrito a série, nossa percepção seria completamente diferente, mas isso eu vou explicar um pouco mais a frente. "Mytho" é uma série francesa, distribuída pela Netflix, que traz para a discussão uma psicopatologia chamada Mitomania. Essa doença é definida como o hábito de mentir ou fantasiar desenfreadamente ou a tendência a narrar extraordinárias aventuras imaginárias como sendo verdadeiras - e é com essa informação que "Mytho" começa a fazer sentido.
Elvira (Marina Hands de "Lady Chatterley") é uma mãe e esposa dedicada, porém vem se sentindo cada dia mais invisível para sua família. Depois de um exame de mamografia ela "resolve" mentir que está com câncer em troca do amor dos três filhos e da atenção do marido ausente que tanto deseja. O problema é que uma mentira nunca vem sozinha e a necessidade de mentir outras vezes para poder sustentar a história original vai criando uma verdadeira bola de neve que influencia não só sua relação familiar, mas também a forma como os outros enxergam sua vida. Não dá para negar que a idéia é boa e, na verdade, a série também não é ruim - embora eu ache que os 6 episódios da primeira temporada sejam bem inconstantes, quase sem identidade!
Eu assisti em uma sentada e não me decepcionei, mas deu para sacar que nem todo mundo vai curtir. "Mytho" tem uma levada quase non-sense e as dinâmicas narrativas lembram muito o texto do Vince Gilligan, mas sem sua genialidade (claro!) e aquela capacidade de amarrar todas as pontas com uma enorme criatividade - e é isso que faz a série derrapar em vários momentos. Olha, eu acho que vale a tentativa, mas se você não gosta de "Better Call Saul" (para não cair no erro de comparar explicitamente com Breaking Bad), não dê o play! Agora, se você se diverte com aquele tipo de texto e está disposto a se aprofundar ou reinterpretar o que assistir, vá sem receio que você pode se surpreender!
Usando "Breaking Bad" como referência, "Mytho" foca na jornada, ou melhor, no processo de transformação da protagonista. Se para Walter White a doença era a contagem regressiva para mudar de vida e deixar sua família tranquila após a sua morte, para Elvira mentir sobre uma grave doença é a única alternativa para, também, melhorar sua vida, só que ela não vai morrer - mas é preciso ter em mente que ela está doente sim, e enxergar suas atitudes com base nessa afirmação muda toda experiência ao assistir a série. Marina Hands entrega uma personagem difícil, que começa frágil, mas que se transforma e ganha força, mesmo sem ter a consciência exata disso. A grande questão é que na série de Gilligan tudo estava muito mais amarrado e a dinâmica narrativa foi construindo um personagem muito mais complexo e sem pressa de entregar seu ápice. Em "Mytho" o roteiro se atropela - é perceptível a necessidade de se mostrar inventivo, mas erra na sua própria pretenção!
O texto é bom, as discussões interessantes, as sub-tramas são excelentes, mas o todo é confuso e sem um conceito narrativo muito definido - em um episódio tem uma sequência musical e em outro um travelling com a protagonista andando em primeiro plano enquanto tudo à sua volta está de frente para trás. Esse tipo de artificio narrativo não faz o menor sentido se não existir uma coerência com o conceito da série - a própria morte da vizinha ainda não foi explicada ou pelo menos como esse fato interfere na história (?). Com isso, os episódios vão passando e vamos ficando inseguros sobre o final que se aproxima, nos dá a sensação de que todos estão perdidos e não é verdade (pelo menos não 100%), porque a história até que caminha bem, tem alguns elementos bem discretos e interessantes (como a forma que Elvira compara sua família com os vizinhos toda manhã), tem um propósito interessante (a dor da transformação das relações - com o tempo e com o cotidiano) e ganha força quando caí a ficha que o problema da protagonista vai muito além "daquela" mentira pontual (afinal, existe uma psicopatologia ali) - eu confesso que cheguei até a achar que a história não se sustentaria, mas ela foi indo até que a entrega do final da temporada funciona bem.
Criada pelo Fabrice Gobert, o mesmo do grande sucesso "Les Revenants", a série é inteligente embora pareça bobinha em vários momentos. O drama do filho gay é bom, do marido adúltero também, da filha rebelde menos e da caçula blogueirinha tem um certo potencial, mas não foi tão bem aproveitado na primeira temporada. Agora, todo elenco merece parabéns; estão todos ótimos e no tom correto em seus conflitos pessoais - gostei! A produção também é muito boa, a fotografia também (uma mistura de "Breaking Bad" com "Desperates Housewives"). O trilha sonora merece destaque; é ela que ajuda a pontuar o momentos mais dramáticos com os momentos mais leves - alguns quase pastelão!
O fato é que só tempo dirá se "Mytho" é uma série que vai deixar saudade. Se as pontas abertas da primeira temporada fizerem algum sentido mais para frente e a jornada de cada um dos personagens se justificar de verdade, é bem possível que a série tenha algum sucesso; pessoalmente dou o benefício da dúvida depois de assistir essa primeira temporada, que vacila, que erra, mas que também traz bons elementos para nos entreter até seu final.
Não é, e imagino que nem será, uma unanimidade, então assista por conta e risco!
Tenho a impressão que se o Vince Gilligan (Breaking Bad) tivesse escrito a série, nossa percepção seria completamente diferente, mas isso eu vou explicar um pouco mais a frente. "Mytho" é uma série francesa, distribuída pela Netflix, que traz para a discussão uma psicopatologia chamada Mitomania. Essa doença é definida como o hábito de mentir ou fantasiar desenfreadamente ou a tendência a narrar extraordinárias aventuras imaginárias como sendo verdadeiras - e é com essa informação que "Mytho" começa a fazer sentido.
Elvira (Marina Hands de "Lady Chatterley") é uma mãe e esposa dedicada, porém vem se sentindo cada dia mais invisível para sua família. Depois de um exame de mamografia ela "resolve" mentir que está com câncer em troca do amor dos três filhos e da atenção do marido ausente que tanto deseja. O problema é que uma mentira nunca vem sozinha e a necessidade de mentir outras vezes para poder sustentar a história original vai criando uma verdadeira bola de neve que influencia não só sua relação familiar, mas também a forma como os outros enxergam sua vida. Não dá para negar que a idéia é boa e, na verdade, a série também não é ruim - embora eu ache que os 6 episódios da primeira temporada sejam bem inconstantes, quase sem identidade!
Eu assisti em uma sentada e não me decepcionei, mas deu para sacar que nem todo mundo vai curtir. "Mytho" tem uma levada quase non-sense e as dinâmicas narrativas lembram muito o texto do Vince Gilligan, mas sem sua genialidade (claro!) e aquela capacidade de amarrar todas as pontas com uma enorme criatividade - e é isso que faz a série derrapar em vários momentos. Olha, eu acho que vale a tentativa, mas se você não gosta de "Better Call Saul" (para não cair no erro de comparar explicitamente com Breaking Bad), não dê o play! Agora, se você se diverte com aquele tipo de texto e está disposto a se aprofundar ou reinterpretar o que assistir, vá sem receio que você pode se surpreender!
Usando "Breaking Bad" como referência, "Mytho" foca na jornada, ou melhor, no processo de transformação da protagonista. Se para Walter White a doença era a contagem regressiva para mudar de vida e deixar sua família tranquila após a sua morte, para Elvira mentir sobre uma grave doença é a única alternativa para, também, melhorar sua vida, só que ela não vai morrer - mas é preciso ter em mente que ela está doente sim, e enxergar suas atitudes com base nessa afirmação muda toda experiência ao assistir a série. Marina Hands entrega uma personagem difícil, que começa frágil, mas que se transforma e ganha força, mesmo sem ter a consciência exata disso. A grande questão é que na série de Gilligan tudo estava muito mais amarrado e a dinâmica narrativa foi construindo um personagem muito mais complexo e sem pressa de entregar seu ápice. Em "Mytho" o roteiro se atropela - é perceptível a necessidade de se mostrar inventivo, mas erra na sua própria pretenção!
O texto é bom, as discussões interessantes, as sub-tramas são excelentes, mas o todo é confuso e sem um conceito narrativo muito definido - em um episódio tem uma sequência musical e em outro um travelling com a protagonista andando em primeiro plano enquanto tudo à sua volta está de frente para trás. Esse tipo de artificio narrativo não faz o menor sentido se não existir uma coerência com o conceito da série - a própria morte da vizinha ainda não foi explicada ou pelo menos como esse fato interfere na história (?). Com isso, os episódios vão passando e vamos ficando inseguros sobre o final que se aproxima, nos dá a sensação de que todos estão perdidos e não é verdade (pelo menos não 100%), porque a história até que caminha bem, tem alguns elementos bem discretos e interessantes (como a forma que Elvira compara sua família com os vizinhos toda manhã), tem um propósito interessante (a dor da transformação das relações - com o tempo e com o cotidiano) e ganha força quando caí a ficha que o problema da protagonista vai muito além "daquela" mentira pontual (afinal, existe uma psicopatologia ali) - eu confesso que cheguei até a achar que a história não se sustentaria, mas ela foi indo até que a entrega do final da temporada funciona bem.
Criada pelo Fabrice Gobert, o mesmo do grande sucesso "Les Revenants", a série é inteligente embora pareça bobinha em vários momentos. O drama do filho gay é bom, do marido adúltero também, da filha rebelde menos e da caçula blogueirinha tem um certo potencial, mas não foi tão bem aproveitado na primeira temporada. Agora, todo elenco merece parabéns; estão todos ótimos e no tom correto em seus conflitos pessoais - gostei! A produção também é muito boa, a fotografia também (uma mistura de "Breaking Bad" com "Desperates Housewives"). O trilha sonora merece destaque; é ela que ajuda a pontuar o momentos mais dramáticos com os momentos mais leves - alguns quase pastelão!
O fato é que só tempo dirá se "Mytho" é uma série que vai deixar saudade. Se as pontas abertas da primeira temporada fizerem algum sentido mais para frente e a jornada de cada um dos personagens se justificar de verdade, é bem possível que a série tenha algum sucesso; pessoalmente dou o benefício da dúvida depois de assistir essa primeira temporada, que vacila, que erra, mas que também traz bons elementos para nos entreter até seu final.
Não é, e imagino que nem será, uma unanimidade, então assista por conta e risco!
“Nada a esconder” (título original - "Le seu") é um filme francês distribuído pela Netflix que é mais uma adaptação do premiadíssimo filme italiano de 2016, “Perfetti Sconosciuti” que, inclusive, já tinha ganhado uma versão espanhola do genial Álex de la Iglesia e que por muito tempo figurou na lista “não deixe de assistir” da Viu Review!
Vamos lá, essa versão francesa é muito parecida com a versão espanhola: Em um jantar entre amigos, para aliviar as tensões típicas da convivência, eles resolvem fazer uma brincadeira: todos os celulares são colocados na mesa e qualquer mensagem, e-mail ou ligação que eles receberem devem ser compartilhadas com os outros em voz alta, imediatamente, não importando o assunto ou quem esteja do outro lado da linha. Bem, só por essa breve sinopse dá para imaginar o constrangimento que se torna esse jantar. Impossível não se colocar na situação dos personagens e o clima que que se estabelece é angustiante e divertido. Confira o trailer (em francês):
O diretor Fred Cavayé trouxe para o filme um pouco menos de non-sense que o diretor espanhol - até por característica cinematográfica; trabalhando aquelas mesmas situações de uma forma mais realista, quase dramáticas em alguns momentos. É um conceito narrativo que funciona - talvez eu tivesse até ido por esse caminho se eu fosse dirigir esse roteiro, mas admito que com essa escolha, perdemos um pouco da inventividade e da fantasia que o Álex de la Iglesia havia mostrado anteriormente e que encaixou tão bem na trama.
Certamente, se eu não tivesse assistido a versão espanhola antes, eu teria colocado “Nada a esconder” na lista de imperdíveis com muita tranquilidade, mas eu gostaria de sugerir uma outra proposta com esse meu review: assistam as duas versões e vejam como, com um mesmo texto, os filmes podem ser tão diferentes e igualmente bons! Veja como o Non-sense espanhol é muito mais caricato e como o realismo francês é muito mais delicado. Veja como um não diminui o valor outro - é um bom exercício nos dias de hoje, afinal, ambos tem seus méritos, porém são sódiferentes!
“Nada a esconder” merece ser visto tanto quando “Perfectos Desconocidos”. Vale o play!!!
“Nada a esconder” (título original - "Le seu") é um filme francês distribuído pela Netflix que é mais uma adaptação do premiadíssimo filme italiano de 2016, “Perfetti Sconosciuti” que, inclusive, já tinha ganhado uma versão espanhola do genial Álex de la Iglesia e que por muito tempo figurou na lista “não deixe de assistir” da Viu Review!
Vamos lá, essa versão francesa é muito parecida com a versão espanhola: Em um jantar entre amigos, para aliviar as tensões típicas da convivência, eles resolvem fazer uma brincadeira: todos os celulares são colocados na mesa e qualquer mensagem, e-mail ou ligação que eles receberem devem ser compartilhadas com os outros em voz alta, imediatamente, não importando o assunto ou quem esteja do outro lado da linha. Bem, só por essa breve sinopse dá para imaginar o constrangimento que se torna esse jantar. Impossível não se colocar na situação dos personagens e o clima que que se estabelece é angustiante e divertido. Confira o trailer (em francês):
O diretor Fred Cavayé trouxe para o filme um pouco menos de non-sense que o diretor espanhol - até por característica cinematográfica; trabalhando aquelas mesmas situações de uma forma mais realista, quase dramáticas em alguns momentos. É um conceito narrativo que funciona - talvez eu tivesse até ido por esse caminho se eu fosse dirigir esse roteiro, mas admito que com essa escolha, perdemos um pouco da inventividade e da fantasia que o Álex de la Iglesia havia mostrado anteriormente e que encaixou tão bem na trama.
Certamente, se eu não tivesse assistido a versão espanhola antes, eu teria colocado “Nada a esconder” na lista de imperdíveis com muita tranquilidade, mas eu gostaria de sugerir uma outra proposta com esse meu review: assistam as duas versões e vejam como, com um mesmo texto, os filmes podem ser tão diferentes e igualmente bons! Veja como o Non-sense espanhol é muito mais caricato e como o realismo francês é muito mais delicado. Veja como um não diminui o valor outro - é um bom exercício nos dias de hoje, afinal, ambos tem seus méritos, porém são sódiferentes!
“Nada a esconder” merece ser visto tanto quando “Perfectos Desconocidos”. Vale o play!!!