"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é tão excelente que chega a ser inacreditável que o Star+ não tenha dado mais atenção ao marketing dessa minissérie baseada em fatos reais que além de te surpreender, vai te prender durante os 8 episódios de uma forma impressionante. Veja, se inicialmente temos a leve impressão de estarmos diante de uma narrativa que nos remete àquela história de um pacato cidadão que vê uma oportunidade de se dar muito bem na vida mesmo que para isso ele tenha que sujar as mãos, ao melhor estilo "anti-herói" de Walter White em "Breaking Bad"; imediatamente depois somos jogados ao mundo do empreendedorismo com fortes gatilhos emocionais como em "O Urso" ou "Physical", mas que na verdade tudo não passa de uma jornada de vaidade, crime e dinheiro como em "The Thing About Pam" ou “Halston”, por exemplo.
Somen “Steve” Banerjee (Kumail Nanjiani) é um empreendedor indiano-americano que criou o Chippendales - conhecido na década de 70 como o primeiro show de strip-tease apenas com modelos masculinos. Depois de imigrar para Playa del Rey, na Califórnia, Steve vê uma oportunidade única de transformar um bar de gamão em algo único, inédito e muito rentável. Sua ambição o leva ao sucesso, com decisões firmes, criativas e visionárias, com a mesma velocidade com que sua vaidade e insegurança emocional começa destrui-lo. Confira o trailer:
Eu dei o play sem muito saber sobre a história - mal sabia, inclusive, que ela era real; porém acho necessário dizer que o clube Chippendales (de onde vem o título original "Welcome to Chippendales"), de fato, marcou uma geração de mulheres que buscavam liberdade e diversão no final dos anos 70, com a mesma veemência com que figurou nos noticiários americanos pelos consecutivos casos de assassinato e suicídio que envolveram funcionários que ali trabalharam. Por isso que a minissérie se apoia em elementos de true crime, mas 90% do seu tempo ela é muito mais sobre negócios, sucesso, dinheiro e vaidade do que qualquer outra coisa - eu diria que são ”os bastidores de showbiz" que nos guiam durante toda a jornada
Criada por Robert Siegel (o mesmo de "Pam & Tommy"), "Bem-Vindos ao Clube da Sedução" nos envolve de tal maneira que naturalmente emendamos um episódio no outro - e aqui cabe um aviso: como em “Halston” e em "Hollywood", algumas cenas que recriam o cenário gay da época, podem chocar parte da audiência. Por outro lado, o trabalho do departamento de Arte é fenomenal - dos cabelos aos figurinos, até mesmo passando pelos cenários cuidadosamente recriados, temos um projeto tecnicamente impecável e visualmente muito caprichado. O elenco encabeçado pelo talentoso Kumail Nanjiani também merece destaque. Todo núcleo principal que conta com Murray Bartlett (o Nick De Noia), Annaleigh Ashford (como Irene) e a impagável Juliette Lewis (como Denise), é digno de prêmios pela performance e pela capacidade de equilibrar a dor mais íntima com o estereótipo mais despojado típico daquele universo.
"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é uma jóia que pode até incomodar os mais preconceituosos, mas que encanta pela veracidade de sua jornada e nos provoca inúmeras reflexões sobre o poder que o sucesso e o dinheiro tem de transformar até quem são, como a própria Irene definiu, "pessoas boas". Com um roteiro de muita profundidade, que discute assuntos espinhosos e marcantes para toda uma sociedade, ao mesmo tempo em que nos maravilha com uma qualidade artística acima da média, fica fácil afirmar que estamos diante de um dos títulos mais subestimados de 2022 e que merece (e muito) o seu play!
"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é tão excelente que chega a ser inacreditável que o Star+ não tenha dado mais atenção ao marketing dessa minissérie baseada em fatos reais que além de te surpreender, vai te prender durante os 8 episódios de uma forma impressionante. Veja, se inicialmente temos a leve impressão de estarmos diante de uma narrativa que nos remete àquela história de um pacato cidadão que vê uma oportunidade de se dar muito bem na vida mesmo que para isso ele tenha que sujar as mãos, ao melhor estilo "anti-herói" de Walter White em "Breaking Bad"; imediatamente depois somos jogados ao mundo do empreendedorismo com fortes gatilhos emocionais como em "O Urso" ou "Physical", mas que na verdade tudo não passa de uma jornada de vaidade, crime e dinheiro como em "The Thing About Pam" ou “Halston”, por exemplo.
Somen “Steve” Banerjee (Kumail Nanjiani) é um empreendedor indiano-americano que criou o Chippendales - conhecido na década de 70 como o primeiro show de strip-tease apenas com modelos masculinos. Depois de imigrar para Playa del Rey, na Califórnia, Steve vê uma oportunidade única de transformar um bar de gamão em algo único, inédito e muito rentável. Sua ambição o leva ao sucesso, com decisões firmes, criativas e visionárias, com a mesma velocidade com que sua vaidade e insegurança emocional começa destrui-lo. Confira o trailer:
Eu dei o play sem muito saber sobre a história - mal sabia, inclusive, que ela era real; porém acho necessário dizer que o clube Chippendales (de onde vem o título original "Welcome to Chippendales"), de fato, marcou uma geração de mulheres que buscavam liberdade e diversão no final dos anos 70, com a mesma veemência com que figurou nos noticiários americanos pelos consecutivos casos de assassinato e suicídio que envolveram funcionários que ali trabalharam. Por isso que a minissérie se apoia em elementos de true crime, mas 90% do seu tempo ela é muito mais sobre negócios, sucesso, dinheiro e vaidade do que qualquer outra coisa - eu diria que são ”os bastidores de showbiz" que nos guiam durante toda a jornada
Criada por Robert Siegel (o mesmo de "Pam & Tommy"), "Bem-Vindos ao Clube da Sedução" nos envolve de tal maneira que naturalmente emendamos um episódio no outro - e aqui cabe um aviso: como em “Halston” e em "Hollywood", algumas cenas que recriam o cenário gay da época, podem chocar parte da audiência. Por outro lado, o trabalho do departamento de Arte é fenomenal - dos cabelos aos figurinos, até mesmo passando pelos cenários cuidadosamente recriados, temos um projeto tecnicamente impecável e visualmente muito caprichado. O elenco encabeçado pelo talentoso Kumail Nanjiani também merece destaque. Todo núcleo principal que conta com Murray Bartlett (o Nick De Noia), Annaleigh Ashford (como Irene) e a impagável Juliette Lewis (como Denise), é digno de prêmios pela performance e pela capacidade de equilibrar a dor mais íntima com o estereótipo mais despojado típico daquele universo.
"Bem-Vindos ao Clube da Sedução" é uma jóia que pode até incomodar os mais preconceituosos, mas que encanta pela veracidade de sua jornada e nos provoca inúmeras reflexões sobre o poder que o sucesso e o dinheiro tem de transformar até quem são, como a própria Irene definiu, "pessoas boas". Com um roteiro de muita profundidade, que discute assuntos espinhosos e marcantes para toda uma sociedade, ao mesmo tempo em que nos maravilha com uma qualidade artística acima da média, fica fácil afirmar que estamos diante de um dos títulos mais subestimados de 2022 e que merece (e muito) o seu play!
Uma cinebiografia diferente! Talvez essa seja a melhor forma de descrever "Bob Marley: One Love" do diretor Reinaldo Marcus Green - e basta lembrar do seu trabalho anterior, "King Richard", para entender que, como na história das tenistas Williams onde a perspectiva era de seu pai, sua proposta de humanizar o protagonista, focando muito mais em sua vulnerabilidade do que no ícone que ele se tornou, faz todo o sentido! É isso, essa é uma jornada que oferece uma visão íntima da vida e do legado de uma das maiores referências da música e da cultura mundial: Bob Marley. "One Love" busca capturar a essência do homem por trás da lenda, mostrando não apenas seu impacto na música e na luta pela paz dentro de um contexto sócio-político, mas também os desafios pessoais e os obstáculos que enfrentou ao longo de sua trajetória.
A narrativa se passa quase que inteiramente entre 1976 e 1978, período de conflitos armados na Jamaica onde os hits como "I Shot the Sheriff" ou "No Woman, No Cry" já existiam. Através das memórias de seu protagonista (interpretado pelo talentoso Kingsley Ben-Adir) o filme se concentra em momentos-chave da vida de Marley, desde suas origens humildes na Jamaica até sua ascensão como um fenômeno global, imortalizado pelas mensagens de amor e resistência que permeiam sua música. O roteiro não se limita a ser um tributo à sua carreira; ele também aprofunda as relações pessoais de Marley, como seu casamento com Rita Marley e a complexa dinâmica com seus filhos e outros parceiros musicais. Confira o trailer:
Não espere encontrar um pequeno Bob, triste pelo abandono do seu pai, sofrendo sob a dura realidade de uma Jamaica colonizada. Esquece! O filme de Reinaldo Marcus Green entrega uma direção sensível e cuidadosa, mas sem cair na tentação de transformar a vida de Marley em uma narrativa simplista de “ascensão e queda”. Em vez disso,o diretor se apropria de um recorte temporal para focar na essência espiritual e cultural do protagonista. Claro que o filme não se esquiva dos momentos difíceis - ele aborda as tensões políticas na Jamaica e até o atentado sofrido por Marley, mas sem dúvida alguma que é pela celebração da alegria e da transcendência de sua música que somos praticamente obrigados a não tirar os olhos da tela. Repare como a música de Marley é incorporada à narrativa - canções icônicas como “One Love”, “Redemption Song” e “No Woman, No Cry” são usadas de maneira orgânica, não apenas como pano de fundo, mas como elementos que impulsionam a história e refletem emoções e desafios. Aqui, a trilha sonora é tratada como um personagem em si, lembrando o impacto que essas músicas continuam a ter globalmente, décadas após sua criação.
Kingsley Ben-Adir, mais uma vez, oferece uma performance poderosa e envolvente. Ele traz para tela a presença carismática e a serenidade de Marley, bem como suas lutas mais internas e a intensidade de seu compromisso com a arte em sua proposta de usar a música como uma mensagem de paz. É importante dizer que Ben-Adir não se limita a "imitar" ou a se apoiar nos trejeitos de Marley, muito pelo contrário, ele incorpora sua alma, tornando seu personagem mais do que apenas um ícone distante. Seu desempenho é complementar ao de Lashana Lynch, que interpreta Rita Marley - ela traz a complexidade e a força para uma mulher que, além de ser esposa, foi uma parceira essencial na vida e na carreira do músico. A química entre os dois é impressionante, tão palpável quanto a beleza dessa fala de Rita: "As vezes o mensageiro tem que se tornar a mensagem!".
Sem a menor dúvida que "Bob Marley: One Love" é uma cinematografia vibrante que evoca desde as paisagens jamaicanas, que nos transporta para os bairros humildes de Kingston, como o brilho do sucesso, através dos palcos ao redor do mundo onde Marley se apresentou. O filme realmente sabe capturar a essência de uma época, criando uma atmosfera autêntica que celebra a cultura jamaicana e a universalidade de uma mensagem muito potente. E embora enfrente as limitações inerentes de um biografia, o filme consegue equilibrar momentos de alegria e dor, oferecendo ao público uma experiência imersiva e emocionante que reflete a atemporalidade da obra de Marley. Para os fãs e para aqueles que buscam entender o impacto duradouro de sua música, "One Love" é uma obra imperdível.
Vale muito o seu play!
Uma cinebiografia diferente! Talvez essa seja a melhor forma de descrever "Bob Marley: One Love" do diretor Reinaldo Marcus Green - e basta lembrar do seu trabalho anterior, "King Richard", para entender que, como na história das tenistas Williams onde a perspectiva era de seu pai, sua proposta de humanizar o protagonista, focando muito mais em sua vulnerabilidade do que no ícone que ele se tornou, faz todo o sentido! É isso, essa é uma jornada que oferece uma visão íntima da vida e do legado de uma das maiores referências da música e da cultura mundial: Bob Marley. "One Love" busca capturar a essência do homem por trás da lenda, mostrando não apenas seu impacto na música e na luta pela paz dentro de um contexto sócio-político, mas também os desafios pessoais e os obstáculos que enfrentou ao longo de sua trajetória.
A narrativa se passa quase que inteiramente entre 1976 e 1978, período de conflitos armados na Jamaica onde os hits como "I Shot the Sheriff" ou "No Woman, No Cry" já existiam. Através das memórias de seu protagonista (interpretado pelo talentoso Kingsley Ben-Adir) o filme se concentra em momentos-chave da vida de Marley, desde suas origens humildes na Jamaica até sua ascensão como um fenômeno global, imortalizado pelas mensagens de amor e resistência que permeiam sua música. O roteiro não se limita a ser um tributo à sua carreira; ele também aprofunda as relações pessoais de Marley, como seu casamento com Rita Marley e a complexa dinâmica com seus filhos e outros parceiros musicais. Confira o trailer:
Não espere encontrar um pequeno Bob, triste pelo abandono do seu pai, sofrendo sob a dura realidade de uma Jamaica colonizada. Esquece! O filme de Reinaldo Marcus Green entrega uma direção sensível e cuidadosa, mas sem cair na tentação de transformar a vida de Marley em uma narrativa simplista de “ascensão e queda”. Em vez disso,o diretor se apropria de um recorte temporal para focar na essência espiritual e cultural do protagonista. Claro que o filme não se esquiva dos momentos difíceis - ele aborda as tensões políticas na Jamaica e até o atentado sofrido por Marley, mas sem dúvida alguma que é pela celebração da alegria e da transcendência de sua música que somos praticamente obrigados a não tirar os olhos da tela. Repare como a música de Marley é incorporada à narrativa - canções icônicas como “One Love”, “Redemption Song” e “No Woman, No Cry” são usadas de maneira orgânica, não apenas como pano de fundo, mas como elementos que impulsionam a história e refletem emoções e desafios. Aqui, a trilha sonora é tratada como um personagem em si, lembrando o impacto que essas músicas continuam a ter globalmente, décadas após sua criação.
Kingsley Ben-Adir, mais uma vez, oferece uma performance poderosa e envolvente. Ele traz para tela a presença carismática e a serenidade de Marley, bem como suas lutas mais internas e a intensidade de seu compromisso com a arte em sua proposta de usar a música como uma mensagem de paz. É importante dizer que Ben-Adir não se limita a "imitar" ou a se apoiar nos trejeitos de Marley, muito pelo contrário, ele incorpora sua alma, tornando seu personagem mais do que apenas um ícone distante. Seu desempenho é complementar ao de Lashana Lynch, que interpreta Rita Marley - ela traz a complexidade e a força para uma mulher que, além de ser esposa, foi uma parceira essencial na vida e na carreira do músico. A química entre os dois é impressionante, tão palpável quanto a beleza dessa fala de Rita: "As vezes o mensageiro tem que se tornar a mensagem!".
Sem a menor dúvida que "Bob Marley: One Love" é uma cinematografia vibrante que evoca desde as paisagens jamaicanas, que nos transporta para os bairros humildes de Kingston, como o brilho do sucesso, através dos palcos ao redor do mundo onde Marley se apresentou. O filme realmente sabe capturar a essência de uma época, criando uma atmosfera autêntica que celebra a cultura jamaicana e a universalidade de uma mensagem muito potente. E embora enfrente as limitações inerentes de um biografia, o filme consegue equilibrar momentos de alegria e dor, oferecendo ao público uma experiência imersiva e emocionante que reflete a atemporalidade da obra de Marley. Para os fãs e para aqueles que buscam entender o impacto duradouro de sua música, "One Love" é uma obra imperdível.
Vale muito o seu play!
É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen!
"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!
De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando. O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!
Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos.
O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!
Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!
É incrível como a música ativa os gatilhos das lembranças e das emoções com tanta força!!! E como o cinema potencializa isso!!! Acho que um dos trunfos de "Bohemian Rhapsody" é justamente esse: nos levar para uma época que deixou muita saudade (se você tem mais de 35 anos), tendo como trilha sonora uma das maiores bandas de todos os tempos, o Queen!
"Bohemian Rhapsody" conta a história por trás da ascensão do Queen, através de seu estilo próprio, da sua música que oscilava entre o rock e o pop capaz, e dos enormes sucessos como a própria canção que da nome ao filme. "Bohemian Rhapsody" é inteligente ao relatar também as tensões da banda, o estilo de vida de Freddie Mercury e passagens emblemáticas como a reunião na véspera do festival Live Aid (organizado por Bob Geldof, em Wembley, no ano de 1985), onde cantor, compositor e pianista do Queen, já lidando com a realidade da sua doença, conduziu a sua banda em um dos concertos mais lendários da história da música!
De fato, a história do Freddie Mercury merecia ser contada, ele era um gênio, muito a frente do seu tempo e não consigo imaginar o tamanho que seria se ainda estivesse vivo; mas tenho que dizer que, como filme em si, o roteiro deixa um pouco a desejar. Ele nos passa a impressão de já termos assistido algo parecido, pois a estrutura narrativa segue a mesma fórmula de vários outros filmes biográficos de um Rock Star. Claro que isso não prejudica a experiência, mas também não coloca o filme como uma obra a ser referenciada ou inovadora. Faça o exercício de assistir "Cazuza" ou "Elis" antes de assistir "Bohemian Rhapsody" e você vai entender o que eu estou falando. O filme é grandioso sim, mas não é um grande filme! Ele tinha potencial para provocar mais, mas aliviaram!
Na minha opinião "Quase Famosos" e "Ray" são melhores como obras cinematográficas, mas isso pouco vai importar porque o diretor Bryan Singer (Os Suspeitos e X-men) entrega o que promete com muita maestria: um filme dinâmico, bem realizado e, principalmente, nostálgico! É impossível não destacar o 3º ato para ilustrar minha afirmação - ele é alucinante!!!! Singer trás a atmosfera grandiosa de um show histórico como nunca tinha visto; ele nos coloca no palco, junto com a banda, e no meio do publico em um Wembley lotado - tudo ao mesmo tempo! Ele mexe com nossa fantasia de subir no palco e ver um Estádio com mais de 100 mil pessoas esperando para cantar sua música - mais ou menos como o Aronofsky fez em Cisne Negro ou como o Oliver Stone fez em "Any Given Sunday". É muito bacana! Fiquei imaginando esse filme em Imax!!! A fotografia também merece um destaque especial. Belo trabalho do Newton Thomas Sigel (Tom Sigel). Rami Malek como Freddie Mercury tem seus bons momentos - tem uma cena que ele fala com os olhos que é sensacional!! É possível sentir sua dor sem ele dizer uma só palavra - digna de prêmios!!! A direção de arte e maquiagem eu achei mediana, não compromete, mas também não salta aos olhos.
O fato é que mesmo, com algumas limitações de roteiro, "Bohemian Rhapsody" merece ser visto, com o som lá no alto! É divertido, emocionante e justifica o Hype!!!!
Up-date: "Bohemian Rhapsody" ganhou em quatro categorias no Oscar 2019: Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem, Melhor Montagem e Melhor Ator!
Barry Sanders foi um dos maiores jogadores de futebol americano de todos os tempos. Sua carreira na NFL, de 1989 a 1998, foi marcada por uma combinação de velocidade, habilidade e força que o tornou um dos running backs mais dominantes da história da liga. O que ninguém esperava é que, no seu auge, Sanders se aposentasse "da noite para o dia" sem maiores explicações - algo como se o Pelé resolvesse parar de jogar 3 meses antes da Copa de 70. Sim, a comparação pode até parecer absurda, mas foi exatamente isso que aconteceu em 1999, levantando inúmeras perguntas sobre os reais motivos dessa decisão e que os diretores estreantes, Paul Monusky, Micaela Powers, Angela Torma, tentam responder a partir de uma retrospectiva belíssima e de uma entrevista inédita com o seu protagonista que fala de assuntos que vão muito além das histórias vividas dentro das quatro linhas.
Quando o craque Barry Sanders sumiu no auge de sua carreira, ele deixou o mundo da NFL em choque. Ele ainda estava voando, tentando quebrar o histórico recorde de jardas corridas, quando embarcou em um voo para a Inglaterra e nunca mais pisou em campo. Agora, 24 anos depois, Barry revisita sua carreira para finalmente desvendar o mistério sobre sua aposentadoria. Confira o trailer (em inglês):
Produzido pela "NFL Films", esse excelente documentário parece feito sob medida para os amantes do esporte. Aliás, mais que um documentário esportivo, "Bye Bye Barry" é uma verdadeira imersão na vida de um atleta cuja carreira transcendeu as estatísticas ao deixar uma marca impressionante nos livros da liga profissional de futebol americano. Mesmo estreantes, o trio de diretores se apropria de depoimentos exclusivos de colegas de equipe, treinadores, torcedores do Lions (entre eles astros como Jeff Daniels e Eminem), familiares e do próprio Sanders, para revelar os desafios e triunfos que moldaram a trajetória do jogador, proporcionando uma compreensão mais profunda do homem por trás do capacete - e talvez seja aqui que a obra surpreenda. O foco na personalidade de Sanders, humaniza o personagem e ao mostrar que ele era um jogador introvertido e que preferia manter sua vida pessoal longe dos holofotes, contrastando com a imagem de superstar que ele tinha dentro de campo, tudo que segue passa a fazer mais sentido.
Muito bem montado, o filme captura a intensidade dos momentos cruciais nos jogos, nos transportando para a emoção do campo, ao mesmo tempo que explora os desafios pessoais que levaram à sua decisão única de se aposentar, lançando luz sobre as complexidades do mundo esportivo para um jovem que só queria jogar futebol. Existe aqui uma sensibilidade da direção em criar paralelos entre o Sanders do passado e o do presente, como se esse olhar em retrospectiva nos ajudasse a entender que nada foi por acaso e que, mesmo sem parecer, nunca existiu arrependimentos. Veja, mesmo que exista um certo tom de homenagem para um dos maiores jogadores da história da liga, eu diria que "Bye Bye Barry" é mesmo uma oportunidade de conhecer a personalidade de alguém realmente diferente do que estamos acostumados.
A profundidade da pesquisa é evidente, revelando nuances pouco conhecidas sobre a dinâmica entre Sanders e as equipes em que jogou, essencialmente o Detroit Lions. Agora, saiba que o documentário vai além do simples relato de jogadas espetaculares, mergulhando nas questões humanas que moldaram o legado do jogador. Seja na busca por culpados de suas derrotas, no entendimento sobre as pressões externas diante de suas vitórias e, especialmente, pelas consequências pessoais que o esporte trouxe para a vida do atleta, "Bye Bye Barry" é um relato sensível feito para quem realmente gosta do esporte e de sua história através dos anos - nesse caso, pela perspectiva do ser humano e de suas escolhas.
Vale muito o seu play!
Barry Sanders foi um dos maiores jogadores de futebol americano de todos os tempos. Sua carreira na NFL, de 1989 a 1998, foi marcada por uma combinação de velocidade, habilidade e força que o tornou um dos running backs mais dominantes da história da liga. O que ninguém esperava é que, no seu auge, Sanders se aposentasse "da noite para o dia" sem maiores explicações - algo como se o Pelé resolvesse parar de jogar 3 meses antes da Copa de 70. Sim, a comparação pode até parecer absurda, mas foi exatamente isso que aconteceu em 1999, levantando inúmeras perguntas sobre os reais motivos dessa decisão e que os diretores estreantes, Paul Monusky, Micaela Powers, Angela Torma, tentam responder a partir de uma retrospectiva belíssima e de uma entrevista inédita com o seu protagonista que fala de assuntos que vão muito além das histórias vividas dentro das quatro linhas.
Quando o craque Barry Sanders sumiu no auge de sua carreira, ele deixou o mundo da NFL em choque. Ele ainda estava voando, tentando quebrar o histórico recorde de jardas corridas, quando embarcou em um voo para a Inglaterra e nunca mais pisou em campo. Agora, 24 anos depois, Barry revisita sua carreira para finalmente desvendar o mistério sobre sua aposentadoria. Confira o trailer (em inglês):
Produzido pela "NFL Films", esse excelente documentário parece feito sob medida para os amantes do esporte. Aliás, mais que um documentário esportivo, "Bye Bye Barry" é uma verdadeira imersão na vida de um atleta cuja carreira transcendeu as estatísticas ao deixar uma marca impressionante nos livros da liga profissional de futebol americano. Mesmo estreantes, o trio de diretores se apropria de depoimentos exclusivos de colegas de equipe, treinadores, torcedores do Lions (entre eles astros como Jeff Daniels e Eminem), familiares e do próprio Sanders, para revelar os desafios e triunfos que moldaram a trajetória do jogador, proporcionando uma compreensão mais profunda do homem por trás do capacete - e talvez seja aqui que a obra surpreenda. O foco na personalidade de Sanders, humaniza o personagem e ao mostrar que ele era um jogador introvertido e que preferia manter sua vida pessoal longe dos holofotes, contrastando com a imagem de superstar que ele tinha dentro de campo, tudo que segue passa a fazer mais sentido.
Muito bem montado, o filme captura a intensidade dos momentos cruciais nos jogos, nos transportando para a emoção do campo, ao mesmo tempo que explora os desafios pessoais que levaram à sua decisão única de se aposentar, lançando luz sobre as complexidades do mundo esportivo para um jovem que só queria jogar futebol. Existe aqui uma sensibilidade da direção em criar paralelos entre o Sanders do passado e o do presente, como se esse olhar em retrospectiva nos ajudasse a entender que nada foi por acaso e que, mesmo sem parecer, nunca existiu arrependimentos. Veja, mesmo que exista um certo tom de homenagem para um dos maiores jogadores da história da liga, eu diria que "Bye Bye Barry" é mesmo uma oportunidade de conhecer a personalidade de alguém realmente diferente do que estamos acostumados.
A profundidade da pesquisa é evidente, revelando nuances pouco conhecidas sobre a dinâmica entre Sanders e as equipes em que jogou, essencialmente o Detroit Lions. Agora, saiba que o documentário vai além do simples relato de jogadas espetaculares, mergulhando nas questões humanas que moldaram o legado do jogador. Seja na busca por culpados de suas derrotas, no entendimento sobre as pressões externas diante de suas vitórias e, especialmente, pelas consequências pessoais que o esporte trouxe para a vida do atleta, "Bye Bye Barry" é um relato sensível feito para quem realmente gosta do esporte e de sua história através dos anos - nesse caso, pela perspectiva do ser humano e de suas escolhas.
Vale muito o seu play!
"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!
O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:
Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".
É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.
É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade.
"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!
"Casa Gucci" é um bom filme, mas poderia ser uma temporada sensacional de "American Crime Story", tranquilamente. Se você assistiu a série, vai entender o que estou afirmando: todos os elementos dramáticos da série estão no roteiro de Becky Johnston e Roberto Bentivegna, porém sem muito aprofundamento devido ao tempo limitado de tela. - embora o filme tenha mais que duas horas e meia. Justamente por isso, a trama oscila e se em muitos momentos nos envolvemos com uma dinâmica narrativa interessante e direta, em outros temos e exata sensação de muita pressa para chegar em determinado ponto da história. Veja, se na segunda temporada da série vimos o que aconteceu com Gianni Versace, sua relação familiar, profissional e até com seu assassino, aqui o conceito é exatamente o mesmo, mas com Maurizio Gucci e Patrizia Reggiani, cercados de dinheiro, fama, glamour, poder, traição e, óbvio, morte!
O filme acompanha a ambiciosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e seu inesperado romance com Maurizio Gucci (Adam Driver). Eles se conhecem meio que por acaso, se apaixonam, se casam, e ela entra na dinâmica familiar, dona de uma das marcas mais luxuosas da Itália. Quando Patrizia percebe que os negócios da família não atraem Maurizio e vê que o verdadeiro poder está nas mãos de seu sogro, Rodolfo (Jeremy Irons), e do irmão dele, Aldo (Al Pacino), ela tenta ganhar a confiança de todos para que seu marido passe a ser considerado um nome forte dentro do império Gucci, já que o outro herdeiro, seu primo Paolo (Jared Leto), exala mediocridade. O problema é que Patrizia escolhe uma tática bastante arriscada para isso: colocar a família uns contra os outros - mas vida dá voltas e acaba cobrando seu preço. Confira o trailer:
Visualmente bellissimo, resultado da longa parceira entre o fotógrafo Dariusz Wolsk (Prometheus) e Ridley Scott, "Casa Gucci" convence ao estabelecer aquela atmosfera quase caótica que sempre envolveu a família Gucci - sinônimo de riqueza e opulência, característico dos anos 70 e 80, onde a Máfia impactava diretamente na herança cultural dos italianos vindos da Sicília. E de fato, alguns bons personagens do filme como Rodolfo (em mais um competente trabalho de Jeremy Irons) e Aldo (aquele Al Pacino que conhecemos) parecem ter acabado de sair de uma reunião da "Cosa Nostra".
É inegável também, que o elenco se sobressai em relação ao roteiro. Lady Gaga merece uma indicação ao Oscar pela sua Patrizia Reggiani e Jared Leto, com seu Paolo, vai chegar como fortíssimo concorrente nas premiações de 2022 - ele, irreconhecível, está impecável, além de funcionar como um essencial alívio cômico em muitos momentos. Adam Driver é outro que brilha, embora mais contido, seu personagem não exige tanto do seu talento. Outro ponto que merece sua atenção e muitos elogios, diz respeito a todo departamento de arte, do Desenho de Produção de Arthur Max (Gladiador) até o Figurino de Janty Yates (também de "Gladiador") - todos ganhadores ou indicados ao Oscar. A maquiagem, especialmente de Leto, também está um espetáculo e a trilha sonora que mistura da ópera ao pop americano, perfeita.
É até interessante como Ridley Scott impõe um certo estilo mais novelesco ao filme - existe um sotaque italiano que soa forçado e o próprio Jared Leto parece sempre estar um tom acima, exagerado. Essa escolha conceitual do diretor cria um certo clima familiar para a história e o roteiro se aproveita desse dramalhão que durou quase 30 anos para expor um recorte importante da sociedade da época que se baseava na ganância e no poder para forma de conquistar sua (falsa) felicidade.
"Casa Gucci" é um filme sobre falsidade, que chega fácil, de uma forma divertida e equilibrando muito bem uma história interessante com um bom entretenimento. Vale a pena!
"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.
Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:
Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive.
Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.
Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.
"Cassandro" é sensível em sua temática, mas muito potente em sua mensagem! Dirigido pelo documentarista Roger Ross Williams, vencedor do Oscar pelo curta-metragem "Music by Prudence" e depois indicado pelo longa "Life, Animated", essa ficção é muito feliz ao fazer um recorte certeiro da vida de Saúl Armendáriz, oferecendo uma visão única e emocionante de um lutador gay de luta-livre que precisou vencer o preconceito para se estabelecer como uma verdadeira estrela do entretenimento mexicano nos anos 80 e 90. Saiba que o filme não será uma unanimidade, pela sua forma, com uma pegada mais independente de cinema, como pelo seu conteúdo, muitas vezes provocativo ao extremo - porém é preciso destacar sua abordagem bastante corajosa e autêntica, não apenas explorando a intensidade dos bastidores do mundo da luta livre, como também os desafios da homossexualidade perante as normas sociais da época. Com uma narrativa cativante e uma impecável direção, Williams nos entrega um retrato multifacetado de Cassandro que certamente vai tocar seu coração.
Saúl Armendáriz (Gael García Bernal), um lutador gay de lucha libre de El Paso, alcança a fama internacional depois de criar o personagem "exótico" Cassandro, conhecido como o "Liberace da Lucha Libre". Durante esse processo, no entanto, ele subverte não apenas o mundo machista do entretenimento, como também precisa se assumir perante a própria vida com a ajuda de sua mãe Yocasta (Perla De La Rosa), até que o relacionamento com um homem casado e alguns fantasmas do passado colocam tudo isso a perder. Confira o trailer:
Parta do princípio que "Cassandro" é um olhar profundo sobre a família - de uma relação protetora quase patológica entre mãe e filho até o conflito doloroso com o pai Eduardo (Robert Salas), figura que lhe fez amar o esporte que viraria sua profissão, mas que também deixou a marca da destruição familiar ao abandonar Yocasta quando Saúl ainda era uma criança. Por outro lado existe o simbolismo da luta-livre, que encena a brutalidade e expõe o preconceito dentro e fora do ringue - e é aqui que nasce uma forte amizade com Sabrina (Roberta Colindrez), um encontro proporcionado pela admiração profissional e pelo amor ao esporte, mas que acaba construindo uma nova maneira dele enxergar o mundo que vive.
Na realidade, a força do filme não está apenas na história cativante de um personagem realmente interessante, complexo e real, mas também na maestria técnica e artística com que Williams conduz sua narrativa. Ao lado do fotógrafo argentino Matias Penachino (de "Tiempo Compartido"), o diretor entrega um conceito visual muito impactante e extremamente imersivo, mesmo com um aspecto 4:3 (aquele das TVs de antigamente, capturando a intensidade das lutas ao mesmo tempo que mergulha na vulnerabilidade do protagonista fora do ringue. A trilha sonora, aliás, aprimora essa atmosfera, nos conectando emocionalmente e proporcionando para Gael García Bernal todas as ferramentas para que ele possa brilhar de verdade - e como ele brilha! Performance digna de indicação ao Oscar, eu arriscaria.
Existe uma pesquisa meticulosa, facilmente percebida na relação: direção de arte / roteiro / direção - são tantos detalhes que em muitos momentos acreditamos que estamos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena da entrevista entre "El Hijo del Santo" (o original) e o lutador é um excelente exemplo dessa quebra de realidades. O fato é que o filme não apenas retrata a vida de Saúl Armendáriz, mas também serve como uma reflexão profunda sobre temas universais como identidade, aceitação e coragem. Ao analisar essas inúmeras camadas emocionais, bem como as pressões sociais enfrentadas pelo protagonista, fica fácil atestar que "Cassandro" nos oferece uma visão que não tem muito a ver com a luta livre em si, mas sim com as complexidades das relações humanas com aquela forte influência de melancolia.
"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.
O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):
Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.
Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.
O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!
Dito isso, vale o play tranquilamente!
"Diana", filme que erroneamente foi vendido como uma cinebiografia, é uma espécie de "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real - e não falo isso com demérito algum, mas é preciso alinhar as expectativas para que você não se decepcione com o recorte (e o caminho) escolhido para contar como foram os dois últimos anos de vida da princesa Diana, entre sua chocante entrevista para e jornalista Martin Bashir do programaPanorama, da BBC, em novembro de 1995 até sua morte em 31 de agosto de 1997, em Paris.
O filme mostra, basicamente, a princesa Diana (Naomi Watts), a mulher mais famosa do mundo na época, embarcando em um caso de amor complicado com um homem simples e reservado, o cirurgião cardíaco paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews). Confira o trailer (em inglês):
Dirigido por Oliver Hirschbiegel (de "A Queda! As Últimas Horas de Hitler"), "Diana" é um filme agradável de assistir, mas funciona muito mais como curiosidade do que por sua narrativa dramática e cheia de camadas de uma protagonista complexa que todos conhecem seu destino. "Diana" é um sopro do que poderia representar uma cinebiografia de uma personalidade com esse tamanho, embora o roteiro Stephen Jeffreys, inspirado no livro de Kate Snell, "Diana Her Last Love'", deixe claro isso desde o seu início, ou seja, em hipótese nenhuma, depois do play, pode-se dizer que a audiência foi enganada. Tirando algumas passagens como quando Diana cruza o olhar com o médico Hasnat Khan e na cena seguinte ela já está sonhando com a cabeça no travesseiro, toda apaixonada; Hirschbiegel e Jeffreys foram muito felizes em expor alguns detalhes da intimidade da princesa sem precisar coloca-la em um pedestal. Se sua fama destruiu sua privacidade, afastou o que seria seu grande amor e a separou de seus filhos, seu ativismo em causas nobres e a forma como ela manipulava a imprensa também ajudou a transformar sua vida - a passagem que mostra sua relação com o repórter do "The Sun" para vazar as famosas fotos dela com Dodi Fayed (Cas Anvar) em seu iate, é um bom exemplo disso.
Muito bem fotografado pelo suíço Rainer Klausmann (do excelente "Em Pedaços"), "Diana" não compromete em absolutamente nenhum elemento técnico ou artístico. Naomi Watts fez um excelente trabalho - uma construção de personagem que merece elogios e, principalmente, com uma consciência corporal bastante competente, trazendo para tela vários trejeitos da Diana que, ao lado da maquiagem, facilmente nos transportam para o passado.
O farto é que "Diana" deixa um gostinho de "quero mais" por imaginarmos que sua vida seria muito mais interessante do que a que foi retratada no filme - mas repito, isso não diminui o valor da historia já que esse não era o objetivo e ponto final! Talvez em "The Crown" ou em "Spencer", filme dirigido por Pablo Larraín e com Kristen Stewart como protagonista, tenhamos isso. A questão do desejo das pessoas em viver uma vida através das atitudes de seus ídolos e o papel da mídia sensacionalista inglesa nisso tudo é até mencionada, mas sem muita força. Então lembre-se: "Diana" é "Um Lugar Chamado Notting Hill" da vida real e mais nada!
Dito isso, vale o play tranquilamente!
"Dreamgirls" (que no Brasil ganhou o subtítulo de "Em Busca de um Sonho") é uma verdadeira viagem pela "Black Music" através dos anos 60, 70 e 80, com suas releituras e o seu movimento (politico, social e cultural). Visualmente impecável, o filme é um musical bem construído e potente, que carrega em seus personagens o ritmo e o drama com a mesma importância, e mesmo que falte um aprofundamento maior nas histórias isoladas, o conjunto é praticamente impecável, realista e emocionante - um verdadeiro show!
Baseado no musical homônimo, que estreou na Broadway em 1981, "Dreamgirls" acompanha a jornada de Effie White (Jennifer Hudson), Deena Jones (Beyoncé) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) que formam um grupo musical e começam a fazer sucesso com a ajuda de um empresário extremamente manipulador, Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx). Não demora para surgir tensões inconciliáveis entre as talentosas jovens quando Curtis resolve mudar a dinâmica do grupo para se ajustar a uma demanda do mercado. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro do excelente Bill Condon (de "Deuses e Monstros" e "Chicago") adapta com muita qualidade o espetáculo de Tom Eyen e nos apresenta um trio fictício livremente inspirado na história de Diana Ross e as Supremes. O caminho entre a realidade e a ficção é praticamente o mesmo: três garotas de Detroit são descobertas pela recém-inagurada gravadora Motown ao fazerem muito sucesso com um ingênuo, mas envolvente, doo-wopda época. Logo depois, a líder, daquele estilo "Diva", com a voz mais potente, mas esteticamente menos atraente, é trocada pela integrante mais bonita, tudo isso para que o grupo emplaque nas paradas de sucesso. Daí vem a necessidade de se reinventar, custe o que custar, com o trio se moldando à moda musical de cada época, do soul ao disco music das décadas de 70 e 80.
O interessante porém, é que essa jornada de sucesso, conflitos, decadência e reinvenção é até melhor trabalhado pelo diretor do que pelo roteiro - não que a história seja ruim, mas o recorte temporal é muito extenso e com isso fica impossível se aprofundar nas peculiaridades de cada momento com o a mesma qualidade que vemos no prólogo. Condon que também dirige o filme, aplica um conceito estético muito particular, que equilibra perfeitamente a tradição dos musicais da Broadway com a modernidade das superproduções dos vídeo clipes para criar uma atmosfera cinematográfica bem alinhada com o mood da disrupção do cenário musical - mesmo respeitando as características mais marcantes de cada período.
"Dreamgirls" é belíssimo como musical e muito competente como drama. Se Beyoncé não pode ser considerada uma atriz de primeira linha, certamente ela também não decepciona ao encarnar, com muita propriedade, aquele perfil de cantora que se adapta a um novo momento da música negra. Por outro lado, a novata Jennifer Hudson rouba a cena assim que abre a boca - todos os seus solos são verdadeiros monólogos cantados, de se aplaudir de pé. Eddie Murphy como James 'Thunder' Early, uma mistura de James Brown com Marvin Gaye, alcança o grande papel dramático da sua carreira - ele está sensacional!
Entretenimento de primeira qualidade artística e técnica, com ritmo, cor, drama e muita emoção!
Pode dar o play sem o menor receio!
Up-date: "Dreamgirls" ganhou em duas categorias no Oscar 2007: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Mixagem, mas esteve indicado em mais 4 categorias, sendo que em "Melhor Música" tinha três composições na disputa.
"Dreamgirls" (que no Brasil ganhou o subtítulo de "Em Busca de um Sonho") é uma verdadeira viagem pela "Black Music" através dos anos 60, 70 e 80, com suas releituras e o seu movimento (politico, social e cultural). Visualmente impecável, o filme é um musical bem construído e potente, que carrega em seus personagens o ritmo e o drama com a mesma importância, e mesmo que falte um aprofundamento maior nas histórias isoladas, o conjunto é praticamente impecável, realista e emocionante - um verdadeiro show!
Baseado no musical homônimo, que estreou na Broadway em 1981, "Dreamgirls" acompanha a jornada de Effie White (Jennifer Hudson), Deena Jones (Beyoncé) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) que formam um grupo musical e começam a fazer sucesso com a ajuda de um empresário extremamente manipulador, Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx). Não demora para surgir tensões inconciliáveis entre as talentosas jovens quando Curtis resolve mudar a dinâmica do grupo para se ajustar a uma demanda do mercado. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro do excelente Bill Condon (de "Deuses e Monstros" e "Chicago") adapta com muita qualidade o espetáculo de Tom Eyen e nos apresenta um trio fictício livremente inspirado na história de Diana Ross e as Supremes. O caminho entre a realidade e a ficção é praticamente o mesmo: três garotas de Detroit são descobertas pela recém-inagurada gravadora Motown ao fazerem muito sucesso com um ingênuo, mas envolvente, doo-wopda época. Logo depois, a líder, daquele estilo "Diva", com a voz mais potente, mas esteticamente menos atraente, é trocada pela integrante mais bonita, tudo isso para que o grupo emplaque nas paradas de sucesso. Daí vem a necessidade de se reinventar, custe o que custar, com o trio se moldando à moda musical de cada época, do soul ao disco music das décadas de 70 e 80.
O interessante porém, é que essa jornada de sucesso, conflitos, decadência e reinvenção é até melhor trabalhado pelo diretor do que pelo roteiro - não que a história seja ruim, mas o recorte temporal é muito extenso e com isso fica impossível se aprofundar nas peculiaridades de cada momento com o a mesma qualidade que vemos no prólogo. Condon que também dirige o filme, aplica um conceito estético muito particular, que equilibra perfeitamente a tradição dos musicais da Broadway com a modernidade das superproduções dos vídeo clipes para criar uma atmosfera cinematográfica bem alinhada com o mood da disrupção do cenário musical - mesmo respeitando as características mais marcantes de cada período.
"Dreamgirls" é belíssimo como musical e muito competente como drama. Se Beyoncé não pode ser considerada uma atriz de primeira linha, certamente ela também não decepciona ao encarnar, com muita propriedade, aquele perfil de cantora que se adapta a um novo momento da música negra. Por outro lado, a novata Jennifer Hudson rouba a cena assim que abre a boca - todos os seus solos são verdadeiros monólogos cantados, de se aplaudir de pé. Eddie Murphy como James 'Thunder' Early, uma mistura de James Brown com Marvin Gaye, alcança o grande papel dramático da sua carreira - ele está sensacional!
Entretenimento de primeira qualidade artística e técnica, com ritmo, cor, drama e muita emoção!
Pode dar o play sem o menor receio!
Up-date: "Dreamgirls" ganhou em duas categorias no Oscar 2007: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Mixagem, mas esteve indicado em mais 4 categorias, sendo que em "Melhor Música" tinha três composições na disputa.
É preciso muito cuidado ao analisar o filme "Eike - Tudo ou Nada" - primeiro como obra cinematográfica e depois pelo valor de seu personagem e do que ele representou para universo empreendedor por muitos anos, mas vamos por partes. Eike, o personagem, tem aura de Bernie Madoff com o mindset de Elizabeth Holmes (da Theranos), ou seja, ele era uma bomba relógio prestes a explodir e por isso é tão fascinante (independente de julgamentos pré-estabelecidos ou opniões pessoais) - e aqui cabe citar uma passagem do próprio roteiro que ilustra isso: "na vida não se pode pensar pequeno demais, mas também não se pode acreditar ser maior do que realmente é". Já como um filme de longa-metragem, muito bem produzido por sinal, a narrativa está repleta de problemas e escolhas criativas (ou conceituais) de qualidade muito duvidosa e passagens tão mal resolvidas que, infelizmente, beiram o constrangimento - se você acha que posso estar exagerando, reparem na forma que o texto explica o que é um IPO e como o passado do personagem com a atriz Luma de Oliveira foi retratado.
Feita essa introdução e colocando as cartas na mesa, admito que dei o play apenas pela curiosidade e, mesmo longe (mas muito longe) de ser um grande filme, saí satisfeito com o que encontrei. Baseado na obra de Malu Gaspar, "Eike - Tudo ou Nada" acompanha o processo de ascensão e queda do Grupo X pelos olhos do empresário e ex-bilionário Eike Batista. A história que começa em 2006, quando a economia brasileira estava borbulhando por conta do pré-sal, Eike decide criar a OGX, petroleira que o transforma no sétimo homem mais rico do mundo mesmo que acompanhado de especulações e mentiras - razões, inclusive, pela qual a empresa vai à falência, levando com ela tanto o seu patrimônio quanto o poder e prestígio que demorou anos para ele construir. Confira o trailer:
Assim como nos acostumamos a encontrar nos catálogos dos streamings obras que expõem os bastidores nada glamourosos do empreendedorismo (e de seus fundadores) como no Facebook, no Spotify, no Uber, na Theranos e até no WeWork, é notável a iniciativa de trazer para o grande público a história do grupo X, uma empresa brasileira, e os conceitos e ideias que fizeram um brasileiro, Eike Batista, convencer inúmeros investidores a entrar no negócio e assim captar mais de 1 bilhão de dólares. Veja, não tem nada de errado em acreditar que sua ideia pode dar certo e lutar por ela, o complicado é fechar os olhos para a realidade que teima em te mostrar que o caminho não é bem esse que o powerpoint aceitou - e pasmem, no caso do Eike, até o governo deu uma forcinha (mesmo que daquele jeito que estamos acostumados) ao mudar a regra do jogo no meio do campeonato quando resolveu retirar 41 blocos (os mais aptos a encontrar petróleo) do leilão do pré-sal para proteger a Petrobras.
O ponto alto do filme, como não poderia deixar de ser, está em abordar essas nuances em um recorte cruel do capitalismo pelos olhos de um empreendedor considerado visionário - e aqui pontuo elementos marcantes dessa trajetória de Eike, desde o risco de uma aposta, a busca por investimentos, os equívocos muitas vezes pautados pelo ego, a montanha-russa de emoções a cada movimento estratégico e, claro, até chegar na corrupção. Dirigido e roteirizado por Dida Andrade e Andradina Azevedo, "Eike - Tudo ou Nada" teria material para ser uma série, mas o recorte escolhido para o filme conecta muito bem a jornada com o personagem, mesmo que soe um pouco ingênuo nos dias de hoje. O que foge disso, é o que na verdade incomoda: embora compreensível, o arco do investidor amador que perde tudo com a queda do grupo X, especificamente da OGX, é tão dispensável quanto a discussão sobre a calvice de Eike!
Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar se Eike era um mentiroso compulsivo ou um empreendedor genial, um nacionalista empenhado no progresso do país ou um egocêntrico sem limites e sem moral na busca pelo poder, um homem à frente do seu tempo ou mais um estelionatário que usou de seu passado para ganhar muito dinheiro; o fato é que se "Eike - Tudo ou Nada" não deve ser considerado um grande filme, mas certamente ele é um retrato curioso de um megalomaníaco, egocêntrico e manipulador que se encaixou dentro de um sistema mentiroso para ganhar muito dinheiro - mesmo sabendo que haveria um preço a se pagar!
Pela história, pelo personagem, vale seu play!
É preciso muito cuidado ao analisar o filme "Eike - Tudo ou Nada" - primeiro como obra cinematográfica e depois pelo valor de seu personagem e do que ele representou para universo empreendedor por muitos anos, mas vamos por partes. Eike, o personagem, tem aura de Bernie Madoff com o mindset de Elizabeth Holmes (da Theranos), ou seja, ele era uma bomba relógio prestes a explodir e por isso é tão fascinante (independente de julgamentos pré-estabelecidos ou opniões pessoais) - e aqui cabe citar uma passagem do próprio roteiro que ilustra isso: "na vida não se pode pensar pequeno demais, mas também não se pode acreditar ser maior do que realmente é". Já como um filme de longa-metragem, muito bem produzido por sinal, a narrativa está repleta de problemas e escolhas criativas (ou conceituais) de qualidade muito duvidosa e passagens tão mal resolvidas que, infelizmente, beiram o constrangimento - se você acha que posso estar exagerando, reparem na forma que o texto explica o que é um IPO e como o passado do personagem com a atriz Luma de Oliveira foi retratado.
Feita essa introdução e colocando as cartas na mesa, admito que dei o play apenas pela curiosidade e, mesmo longe (mas muito longe) de ser um grande filme, saí satisfeito com o que encontrei. Baseado na obra de Malu Gaspar, "Eike - Tudo ou Nada" acompanha o processo de ascensão e queda do Grupo X pelos olhos do empresário e ex-bilionário Eike Batista. A história que começa em 2006, quando a economia brasileira estava borbulhando por conta do pré-sal, Eike decide criar a OGX, petroleira que o transforma no sétimo homem mais rico do mundo mesmo que acompanhado de especulações e mentiras - razões, inclusive, pela qual a empresa vai à falência, levando com ela tanto o seu patrimônio quanto o poder e prestígio que demorou anos para ele construir. Confira o trailer:
Assim como nos acostumamos a encontrar nos catálogos dos streamings obras que expõem os bastidores nada glamourosos do empreendedorismo (e de seus fundadores) como no Facebook, no Spotify, no Uber, na Theranos e até no WeWork, é notável a iniciativa de trazer para o grande público a história do grupo X, uma empresa brasileira, e os conceitos e ideias que fizeram um brasileiro, Eike Batista, convencer inúmeros investidores a entrar no negócio e assim captar mais de 1 bilhão de dólares. Veja, não tem nada de errado em acreditar que sua ideia pode dar certo e lutar por ela, o complicado é fechar os olhos para a realidade que teima em te mostrar que o caminho não é bem esse que o powerpoint aceitou - e pasmem, no caso do Eike, até o governo deu uma forcinha (mesmo que daquele jeito que estamos acostumados) ao mudar a regra do jogo no meio do campeonato quando resolveu retirar 41 blocos (os mais aptos a encontrar petróleo) do leilão do pré-sal para proteger a Petrobras.
O ponto alto do filme, como não poderia deixar de ser, está em abordar essas nuances em um recorte cruel do capitalismo pelos olhos de um empreendedor considerado visionário - e aqui pontuo elementos marcantes dessa trajetória de Eike, desde o risco de uma aposta, a busca por investimentos, os equívocos muitas vezes pautados pelo ego, a montanha-russa de emoções a cada movimento estratégico e, claro, até chegar na corrupção. Dirigido e roteirizado por Dida Andrade e Andradina Azevedo, "Eike - Tudo ou Nada" teria material para ser uma série, mas o recorte escolhido para o filme conecta muito bem a jornada com o personagem, mesmo que soe um pouco ingênuo nos dias de hoje. O que foge disso, é o que na verdade incomoda: embora compreensível, o arco do investidor amador que perde tudo com a queda do grupo X, especificamente da OGX, é tão dispensável quanto a discussão sobre a calvice de Eike!
Não serão poucas as vezes que você vai se perguntar se Eike era um mentiroso compulsivo ou um empreendedor genial, um nacionalista empenhado no progresso do país ou um egocêntrico sem limites e sem moral na busca pelo poder, um homem à frente do seu tempo ou mais um estelionatário que usou de seu passado para ganhar muito dinheiro; o fato é que se "Eike - Tudo ou Nada" não deve ser considerado um grande filme, mas certamente ele é um retrato curioso de um megalomaníaco, egocêntrico e manipulador que se encaixou dentro de um sistema mentiroso para ganhar muito dinheiro - mesmo sabendo que haveria um preço a se pagar!
Pela história, pelo personagem, vale seu play!
Quanto menos você souber sobre o caso Elize Matsunaga, mais você vai se surpreender com a minissérie documental da Netflix que decupa, ponto a ponto, o crime que abalou o Brasil em 2012 por sua brutalidade e pela relevância social de sua vitima, o empresário e herdeiro do grupo Yoki, Marcos Matsunaga.
"Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" revisita o assassinato e o esquartejamento de Marcos Matsunaga, pelos olhos de sua esposa Elize - a autora confessa do crime. Da infância em Chopinzinho, pequena cidade do Paraná, até o conturbado relacionamento com o empresário antes do assassinato, a minissérie de quatro episódios se aprofunda nos detalhes que sucederam o fato, desde as tentativas de acobertamento do crime, passando pela confissão, prisão até o julgamento em 2016. Confira o trailer:
Sem a menor dúvida, o maior mérito da minissérie documental dirigida de forma muito competente pela Eliza Capai, é o de poder contar com a própria assassina dando sua versão da história. Ter Elize Matsunaga dando seu depoimento, no mínimo, nos provoca estranheza e curiosidade. Assassina confessa de seu marido, Eliza parece estar em outra dimensão. Suas palavras soam tão superficiais quanto sua tentativa de explicar algo que não tem explicação - a razão pela qual matou Marcos! Ao relatar os casos de infidelidades do marido, as brigas intensas entre eles (quase sempre baseadas no ciúme de ambos), além de uma convivência marcada por excentricidades que vão de ter uma cobra como animal de estimação ao arsenal bélico que tinham em casa, Elize tenta associar suas decisões infelizes (definição dada por ela) àquela tragédia que ela mesma provocou.
Embora a diretora tente equilibrar os dois lados da história, é inegável que a presença de Elize tenha uma força quase irreparável perante a necessidade (ou tentativa) de se manter neutra. Capai de fato se propõe a conduzir a linha narrativa, brilhantemente construída por uma edição extremamente competente, sem impor uma verdade absoluta, mas ao dar tanto holofote para uma criminosa (psicopata), a nossa experiência levanta inúmeros julgamentos a cada nova descoberta revelada pelo roteiro. Escrito pela Diana Golts (de "The Last Defense"), a minissérie se apropria da complexidade e da passionalidade da história para criar "ganchos" que praticamente nos impedem de parar de assistir os episódios - por isso comentei: quanto menos você souber, melhor.
A produção, claro, não está interessada em inocentar Elize, apenas se propõe a compreender suas motivações de uma forma até elegante - e isso, sinceramente, pode incomodar parte da audiência. Em alguns momentos temos a impressão que falta uma certa vontade em relatar certas nuances da investigação e o interesse em cobrir lacunas abertas durante o julgamento - a possibilidade de existir uma terceira pessoa que possa ter ajudado Elize a cometer o crime é só um dos exemplos dessa superficialidade narrativa. Por outro lado, ter acesso aos bastidores de um crime tão marcante, pela voz de quem cometeu a atrocidade, praticamente nos coloca dentro daquele universo sem o olhar sensacionalista que a imprensa vendeu na época. Desconstruir alguns dos personagens, anos depois do crime, valida "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" como um dos melhores documentários de "true crime" produzidos no Brasil até aqui e, mesmo com suas falhas (quase que retóricas), soa ter cumprido o seu papel de se tornar um verdadeiro registro histórico do crime.
Vale seu play!
Quanto menos você souber sobre o caso Elize Matsunaga, mais você vai se surpreender com a minissérie documental da Netflix que decupa, ponto a ponto, o crime que abalou o Brasil em 2012 por sua brutalidade e pela relevância social de sua vitima, o empresário e herdeiro do grupo Yoki, Marcos Matsunaga.
"Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" revisita o assassinato e o esquartejamento de Marcos Matsunaga, pelos olhos de sua esposa Elize - a autora confessa do crime. Da infância em Chopinzinho, pequena cidade do Paraná, até o conturbado relacionamento com o empresário antes do assassinato, a minissérie de quatro episódios se aprofunda nos detalhes que sucederam o fato, desde as tentativas de acobertamento do crime, passando pela confissão, prisão até o julgamento em 2016. Confira o trailer:
Sem a menor dúvida, o maior mérito da minissérie documental dirigida de forma muito competente pela Eliza Capai, é o de poder contar com a própria assassina dando sua versão da história. Ter Elize Matsunaga dando seu depoimento, no mínimo, nos provoca estranheza e curiosidade. Assassina confessa de seu marido, Eliza parece estar em outra dimensão. Suas palavras soam tão superficiais quanto sua tentativa de explicar algo que não tem explicação - a razão pela qual matou Marcos! Ao relatar os casos de infidelidades do marido, as brigas intensas entre eles (quase sempre baseadas no ciúme de ambos), além de uma convivência marcada por excentricidades que vão de ter uma cobra como animal de estimação ao arsenal bélico que tinham em casa, Elize tenta associar suas decisões infelizes (definição dada por ela) àquela tragédia que ela mesma provocou.
Embora a diretora tente equilibrar os dois lados da história, é inegável que a presença de Elize tenha uma força quase irreparável perante a necessidade (ou tentativa) de se manter neutra. Capai de fato se propõe a conduzir a linha narrativa, brilhantemente construída por uma edição extremamente competente, sem impor uma verdade absoluta, mas ao dar tanto holofote para uma criminosa (psicopata), a nossa experiência levanta inúmeros julgamentos a cada nova descoberta revelada pelo roteiro. Escrito pela Diana Golts (de "The Last Defense"), a minissérie se apropria da complexidade e da passionalidade da história para criar "ganchos" que praticamente nos impedem de parar de assistir os episódios - por isso comentei: quanto menos você souber, melhor.
A produção, claro, não está interessada em inocentar Elize, apenas se propõe a compreender suas motivações de uma forma até elegante - e isso, sinceramente, pode incomodar parte da audiência. Em alguns momentos temos a impressão que falta uma certa vontade em relatar certas nuances da investigação e o interesse em cobrir lacunas abertas durante o julgamento - a possibilidade de existir uma terceira pessoa que possa ter ajudado Elize a cometer o crime é só um dos exemplos dessa superficialidade narrativa. Por outro lado, ter acesso aos bastidores de um crime tão marcante, pela voz de quem cometeu a atrocidade, praticamente nos coloca dentro daquele universo sem o olhar sensacionalista que a imprensa vendeu na época. Desconstruir alguns dos personagens, anos depois do crime, valida "Elize Matsunaga: Era Uma Vez Um Crime" como um dos melhores documentários de "true crime" produzidos no Brasil até aqui e, mesmo com suas falhas (quase que retóricas), soa ter cumprido o seu papel de se tornar um verdadeiro registro histórico do crime.
Vale seu play!
"Elvis" é tranquilamente um dos melhores filmes de 2022 - independente do que possa conquistar daqui para frente. Mas antes de falar do filme em si, é preciso exaltar a capacidade que o diretor Baz Luhrmann tem de contar uma história com criatividade, inventividade, cor e música! Luhrmann traz com muita maturidade os inúmeros aprendizados de seus filmes anteriores, "Romeu + Julieta", "O Grande Gatsby", e, principalmente, "Moulin Rouge". Para alinhar as expectativas, eu diria até que "Elvis" é uma espécie de "Moulin Rouge", só que em Las Vegas, sem ser um musical, mas com muita música (boa) ditando o ritmo de quase três horas de filme!
Essa cinebiografia de Elvis Presley (Austin Butler) acompanha décadas da vida do "Rei do Rock" e sua ascensão à fama, a partir do seu relacionamento com o empresário "Coronel" Tom Parker (Tom Hanks). A história mergulha na dinâmica entre o cantor e seu empresário controlador por mais de 20 anos de parceria, usando a paisagem dos EUA em constante evolução e a transformação de Elvis como cantor. No meio de sua jornada e carreira, Elvis ainda encontra Priscilla Presley (Olivia DeJonge), fonte de sua inspiração e uma das pessoas mais importantes de sua vida. Confira o trailer:
A partir de agora vamos falar de um filme tecnicamente exemplar. Sim, a história é incrível, Elvis Presley foi um personagem marcante e sua jornada tem tudo que uma cinebiografia de uma celebridade musical precisa, mas meu amigo, a forma como Luhrmann decodificou todos esses elementos narrativos em uma experiência visual, é impressionante! São técnicas e mais técnicas que combinadas estabelecem uma dinâmica tão orgânica, seja nas transições, nos movimentos de câmera ou simplesmente nas texturas, que muitas vezes nem sabemos se o que estamos assistindo são imagens de arquivo ou de fato um filme produzido mais de 50 anos depois dos fatos. O trabalho do diretor de fotografia e parceiro de Luhmann, Mandy Walker (de "Australia" e "Mulan"), é incrível! Junto com um departamento de arte comandado pelo Damien Drew (de "O Grande Gatsby") e a trilha sonora de Elliott Wheeler (de "The Get Down"), o que vemos é um raro alinhamento técnico e artístico que nos coloca em uma atmosfera única - reparem como tudo se encaixa perfeitamente na proposta do diretor, das aplicações gráficas aos belos enquadramentos do atores!
Aliás, o que dizer de Austin Butler e Tom Hanks? Butler se esforça ao máximo para fugir da superficialidade da imitação - da voz marcante ao estilo de dançar, o ator tenta criar um certa identificação com Elvis Presley, humanizando o ícone em cenas mais dramáticas e deixando que as performances musicais falem por si - e funciona. Já Hanks, bem, ele sabe o que faz - e aqui um detalhe faz toda diferença na construção do seu personagem: a maquiagem! Hanks aproveita dessa transformação para se distanciar de outros personagens que interpretou e por incrível que pareça entrega algo completamente novo dentro de sua carreira tão completa. Existe uma certa complexidade na figura de Parker que qualquer outro ator sucumbiria a tentação do estereótipo; Tom Hanks não e Baz Luhrmann sabe tanto disso que teima em enquadrar o rosto do ator em close-ups onde apenas os olhos falam - é lindo de ver!
Sob o olhar de quem reconhece o entretenimento e as referências do pop como conceitos narrativos, é inegável que "Elvis" além de um grande filme, também é um belo espetáculo - mas essa visão, acreditem, foge do convencional. Luhrmann não é e nunca foi convencional! Essa característica marcante do diretor está em cada frame de "Elvis" e aceitar sua proposta será essencial para aproveitar a experiência que é assistir essa história. Inegável a qualidade como obra, mesmo com um recorte tão extenso e nada intimo do personagem que reflete muito bem uma de suas frases mais marcantes: "Se não puder falar, cante!"
Vale muito o seu play!
"Elvis" é tranquilamente um dos melhores filmes de 2022 - independente do que possa conquistar daqui para frente. Mas antes de falar do filme em si, é preciso exaltar a capacidade que o diretor Baz Luhrmann tem de contar uma história com criatividade, inventividade, cor e música! Luhrmann traz com muita maturidade os inúmeros aprendizados de seus filmes anteriores, "Romeu + Julieta", "O Grande Gatsby", e, principalmente, "Moulin Rouge". Para alinhar as expectativas, eu diria até que "Elvis" é uma espécie de "Moulin Rouge", só que em Las Vegas, sem ser um musical, mas com muita música (boa) ditando o ritmo de quase três horas de filme!
Essa cinebiografia de Elvis Presley (Austin Butler) acompanha décadas da vida do "Rei do Rock" e sua ascensão à fama, a partir do seu relacionamento com o empresário "Coronel" Tom Parker (Tom Hanks). A história mergulha na dinâmica entre o cantor e seu empresário controlador por mais de 20 anos de parceria, usando a paisagem dos EUA em constante evolução e a transformação de Elvis como cantor. No meio de sua jornada e carreira, Elvis ainda encontra Priscilla Presley (Olivia DeJonge), fonte de sua inspiração e uma das pessoas mais importantes de sua vida. Confira o trailer:
A partir de agora vamos falar de um filme tecnicamente exemplar. Sim, a história é incrível, Elvis Presley foi um personagem marcante e sua jornada tem tudo que uma cinebiografia de uma celebridade musical precisa, mas meu amigo, a forma como Luhrmann decodificou todos esses elementos narrativos em uma experiência visual, é impressionante! São técnicas e mais técnicas que combinadas estabelecem uma dinâmica tão orgânica, seja nas transições, nos movimentos de câmera ou simplesmente nas texturas, que muitas vezes nem sabemos se o que estamos assistindo são imagens de arquivo ou de fato um filme produzido mais de 50 anos depois dos fatos. O trabalho do diretor de fotografia e parceiro de Luhmann, Mandy Walker (de "Australia" e "Mulan"), é incrível! Junto com um departamento de arte comandado pelo Damien Drew (de "O Grande Gatsby") e a trilha sonora de Elliott Wheeler (de "The Get Down"), o que vemos é um raro alinhamento técnico e artístico que nos coloca em uma atmosfera única - reparem como tudo se encaixa perfeitamente na proposta do diretor, das aplicações gráficas aos belos enquadramentos do atores!
Aliás, o que dizer de Austin Butler e Tom Hanks? Butler se esforça ao máximo para fugir da superficialidade da imitação - da voz marcante ao estilo de dançar, o ator tenta criar um certa identificação com Elvis Presley, humanizando o ícone em cenas mais dramáticas e deixando que as performances musicais falem por si - e funciona. Já Hanks, bem, ele sabe o que faz - e aqui um detalhe faz toda diferença na construção do seu personagem: a maquiagem! Hanks aproveita dessa transformação para se distanciar de outros personagens que interpretou e por incrível que pareça entrega algo completamente novo dentro de sua carreira tão completa. Existe uma certa complexidade na figura de Parker que qualquer outro ator sucumbiria a tentação do estereótipo; Tom Hanks não e Baz Luhrmann sabe tanto disso que teima em enquadrar o rosto do ator em close-ups onde apenas os olhos falam - é lindo de ver!
Sob o olhar de quem reconhece o entretenimento e as referências do pop como conceitos narrativos, é inegável que "Elvis" além de um grande filme, também é um belo espetáculo - mas essa visão, acreditem, foge do convencional. Luhrmann não é e nunca foi convencional! Essa característica marcante do diretor está em cada frame de "Elvis" e aceitar sua proposta será essencial para aproveitar a experiência que é assistir essa história. Inegável a qualidade como obra, mesmo com um recorte tão extenso e nada intimo do personagem que reflete muito bem uma de suas frases mais marcantes: "Se não puder falar, cante!"
Vale muito o seu play!
"Estados Unidos vs Billie Holiday" é mais um soco no estômago que acompanha a tendência audiovisual de discutir o racismo estrutural que foi se construindo durante as gerações e que não perdoava nem as celebridades de sua época, no caso uma das maiores vozes do jazz americano. Inegavelmente que o filme funciona muito mais como uma apresentação biográfica bastante relevante na história do que como uma obra cinematográfica inesquecível, porém é de se elogiar alguns pontos importantes, entre eles o incrível trabalho de Andra Day como protagonista - que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2021 de Melhor Atriz.
No filme, Billie Holiday é investigada pela Agência Americana de Narcóticos no auge do seu sucesso. A entidade suspeitava que a cantora recebia drogas como retribuição por seu ativismo político. Voz do sucesso "Strange Fruit", cuja letra denunciava o linchamento que os negros sofriam na época e que incomodava a elite (criando a sensação da insegurança de que através da música surgisse uma revolução de cobrança aos direitos civis dos negros), Holiday sofreu uma intensa perseguição com o claro objetivo de impedir suas apresentações, sempre lotadas. No entanto, o responsável pelo caso, o agente Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes), acaba trocando de lado após se apaixonar pela cantora. Confira o trailer (em inglês):
Talvez o ponto que mais incomode quem assiste "Estados Unidos vs Billie Holiday" é seu ritmo. A dinâmica narrativa imposta pelo roteiro, de fato, não é das mais fluídas, nos causando uma ligeira sensação de cansaço, já que o eventos se tornam repetitivos. Por outro lado, existem duas jornadas de personagens, de Holiday e de Fletcher, que vão se transformando com o passar dos atos e que nos mantém ligados na história, torcendo para que tudo possa ser resolvido e ambos tenham paz. Me parece, mais uma vez, que o tempo de tela jogou contra - o filme do diretor Lee Daniels (indicado ao Oscar por "Preciosa") merecia um roteiro melhor, com um recorte mais cirúrgico da vida de Holiday para se encaixar melhor no formato, talvez como aconteceu em Judy ou, melhor ainda, em "Uma noite em Miami..." e em "A Voz Suprema do Blues".
Se desconectar do impacto psicológico e político do Estado norte-americano sobre a cantora é praticamente impossível, algo muito próximo do que passou a atriz Seberg alguns anos mais tarde, porém é preciso que se diga que a proximidade ideológica do diretor traz um sentimentalismo um pouco exagerado para o filme, como se fosse necessário bater sempre na mesma tecla para alcançar a empatia de quem assiste. Definitivamente, Billie Holiday não precisava disso! Quando Daniels se propõe a explorar sua capacidade como cineasta, ele entrega um plano sequência belíssimo no final do segundo ato, com uma fotografia linda e uma construção cênica exuberante que nos causa um impacto bastante profundo ao ver aquela cruz queimando - o que prova que faltou mais equilíbrio, mais roteiro e mais sensibilidade.
"Estados Unidos vs Billie Holiday" é filme didático, importante culturalmente e denso! Vai agradar quem gosta de cinebiografias musicais - inclusive as cenas em que Andra Day está cantando e uma narrativa é construída em segundo plano para sobrepor as letras das músicas, são lindas! Vale como entretenimento para aqueles se identificam com o tema e com o gênero. O filme é uma mistura de "Small Axe"com a já citada, "Judy"!
"Estados Unidos vs Billie Holiday" é mais um soco no estômago que acompanha a tendência audiovisual de discutir o racismo estrutural que foi se construindo durante as gerações e que não perdoava nem as celebridades de sua época, no caso uma das maiores vozes do jazz americano. Inegavelmente que o filme funciona muito mais como uma apresentação biográfica bastante relevante na história do que como uma obra cinematográfica inesquecível, porém é de se elogiar alguns pontos importantes, entre eles o incrível trabalho de Andra Day como protagonista - que lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2021 de Melhor Atriz.
No filme, Billie Holiday é investigada pela Agência Americana de Narcóticos no auge do seu sucesso. A entidade suspeitava que a cantora recebia drogas como retribuição por seu ativismo político. Voz do sucesso "Strange Fruit", cuja letra denunciava o linchamento que os negros sofriam na época e que incomodava a elite (criando a sensação da insegurança de que através da música surgisse uma revolução de cobrança aos direitos civis dos negros), Holiday sofreu uma intensa perseguição com o claro objetivo de impedir suas apresentações, sempre lotadas. No entanto, o responsável pelo caso, o agente Jimmy Fletcher (Trevante Rhodes), acaba trocando de lado após se apaixonar pela cantora. Confira o trailer (em inglês):
Talvez o ponto que mais incomode quem assiste "Estados Unidos vs Billie Holiday" é seu ritmo. A dinâmica narrativa imposta pelo roteiro, de fato, não é das mais fluídas, nos causando uma ligeira sensação de cansaço, já que o eventos se tornam repetitivos. Por outro lado, existem duas jornadas de personagens, de Holiday e de Fletcher, que vão se transformando com o passar dos atos e que nos mantém ligados na história, torcendo para que tudo possa ser resolvido e ambos tenham paz. Me parece, mais uma vez, que o tempo de tela jogou contra - o filme do diretor Lee Daniels (indicado ao Oscar por "Preciosa") merecia um roteiro melhor, com um recorte mais cirúrgico da vida de Holiday para se encaixar melhor no formato, talvez como aconteceu em Judy ou, melhor ainda, em "Uma noite em Miami..." e em "A Voz Suprema do Blues".
Se desconectar do impacto psicológico e político do Estado norte-americano sobre a cantora é praticamente impossível, algo muito próximo do que passou a atriz Seberg alguns anos mais tarde, porém é preciso que se diga que a proximidade ideológica do diretor traz um sentimentalismo um pouco exagerado para o filme, como se fosse necessário bater sempre na mesma tecla para alcançar a empatia de quem assiste. Definitivamente, Billie Holiday não precisava disso! Quando Daniels se propõe a explorar sua capacidade como cineasta, ele entrega um plano sequência belíssimo no final do segundo ato, com uma fotografia linda e uma construção cênica exuberante que nos causa um impacto bastante profundo ao ver aquela cruz queimando - o que prova que faltou mais equilíbrio, mais roteiro e mais sensibilidade.
"Estados Unidos vs Billie Holiday" é filme didático, importante culturalmente e denso! Vai agradar quem gosta de cinebiografias musicais - inclusive as cenas em que Andra Day está cantando e uma narrativa é construída em segundo plano para sobrepor as letras das músicas, são lindas! Vale como entretenimento para aqueles se identificam com o tema e com o gênero. O filme é uma mistura de "Small Axe"com a já citada, "Judy"!
Quando Céline Dion surgiu deslumbrante na Torre Eiffel para fechar a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024 e encantou a todos cantando o sucesso "L’Hymne à l’amour", certamente grande parte do público não imaginava o que esse fenômeno da música mundial estava passando em sua vida privada e te garanto, você vai se emocionar com o que "Eu Sou: Celine Dion" vai te mostrar! Dirigido por Irene Taylor (documentarista indicada ao Oscar por "The Final Inch"), o filme é um retrato profundamente emotivo e intimista que oferece uma visão crua e abrangente da vida e da carreira da cantora canadense após ela ter anunciado sofrer da rara síndrome da pessoa rígida (em inglês, Stiff Person Syndrome). Conhecida mundialmente por sua voz poderosa e sua presença cativante no palco, Dion é uma das artistas mais bem-sucedidas de todos os tempos e olha, justamente por essa aura de intocável, chega a ser surpreendente sua coragem por permitir que esse documentário tenha sido produzido. "Eu Sou: Celine Dion" não apenas pontua suas realizações profissionais ao longo dos anos, como também explora sem cortes a sua luta diária para recuperar aquilo que mais ama fazer na vida: cantar!
“Eu Sou: Celine Dion” nos fornece uma visão honesta dos bastidores da luta da icônica superestrela contra uma doença que transformou sua vida. Este documentário inspirador destaca como a música guiou a vida da artista, ao mesmo tempo que mostra a resiliência do espírito humano. Agora é preciso um alerta: o filme contém cenas impactantes de traumas ligados à saúde! Confira o trailer:
Irene Taylor é conhecida por sua habilidade em contar histórias humanas com profundidade e é isso que ela traz para o difícil, "Eu Sou: Celine Dion". Taylor é meticulosa e, de certa forma, fria, permitindo que a personalidade vibrante e a resiliência de Dion brilhem em cada frame com o mesmo impacto com que retrata a doença da cantora - algumas sequências, como a de Celine tendo uma convulsão após ensaiar em um estúdio, são de rasgar o coração. A diretora utiliza uma combinação eficaz de entrevistas, imagens de arquivo e gravações de performances ao vivo para pintar um retrato completo da artista, mas é com material captado no presente que o documentário ganha força dramática. O roteiro é cuidadosamente estruturado para equilibrar os altos e baixos da jornada de Dion, na carreira e na vida. Ele não se esquiva de abordar outros momentos difíceis, como a morte de seu marido, René Angélil, em 2016, ou os desafios de Dion em equilibrar sua vida pessoal com uma carreira que exigiu e exige muito dela.
Seguindo essa proposta de dar uma perspectiva rica e multifacetada sobre sua vida e carreira pós-diagnóstico, o documentário se aproveita de vários momentos de vulnerabilidade de Dion, mas tudo é tratado com uma honestidade que a humaniza de uma forma avassaladora ao ponto de ela mesma permitir que as imagens pós-convulsão fossem captadas. A fotografia de Nick Midwig (de "Marvel 616") é impressionante pela sua eficácia - ele captura tanto a grandiosidade das performances de Dion quanto a intimidade dolorosa dos dias atuais. A edição de Richard Comeau e de Christian Jensen merece um destaque especial: repare como as cenas dos shows são montadas com uma energia que transmite a magia das apresentações ao vivo, enquanto as entrevistas e cenas do cotidiano atual de Dion são capturadas com uma sensibilidade que nos permite ser um mero observador, e assim nos conectar profundamente com as dores da artista.
Naturalmente que "Eu Sou: Celine Dion"inclui muitos dos maiores sucessos da cantora - as músicas são utilizadas de maneira que intensificam a narrativa, ajudam a contar passagens de sua vida e, obviamente, sublinham os momentos de triunfo e de tristeza. Como vimos em "Gleason", esse documentário também traz muita dor, desconforto e até questionamentos - não se surpreenda se em muitos momentos você se perguntar "Como isso é tudo possível?". Pois bem, deixando a "Diva" de lado e apresentando uma Celine Dion de cara limpa, cabelos presos e uma larga camisa branca e moletom, o documentário é sim um retrato de alguém que precisava desabafar e que não estava mais disposta a manter as mesmas e evasivas justificativas para o seu sumiço, o "problema" é que o resultado dessa proposta íntima e sincera é realmente brutal!
Vale muito o seu play, mas esteja preparado!
Quando Céline Dion surgiu deslumbrante na Torre Eiffel para fechar a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024 e encantou a todos cantando o sucesso "L’Hymne à l’amour", certamente grande parte do público não imaginava o que esse fenômeno da música mundial estava passando em sua vida privada e te garanto, você vai se emocionar com o que "Eu Sou: Celine Dion" vai te mostrar! Dirigido por Irene Taylor (documentarista indicada ao Oscar por "The Final Inch"), o filme é um retrato profundamente emotivo e intimista que oferece uma visão crua e abrangente da vida e da carreira da cantora canadense após ela ter anunciado sofrer da rara síndrome da pessoa rígida (em inglês, Stiff Person Syndrome). Conhecida mundialmente por sua voz poderosa e sua presença cativante no palco, Dion é uma das artistas mais bem-sucedidas de todos os tempos e olha, justamente por essa aura de intocável, chega a ser surpreendente sua coragem por permitir que esse documentário tenha sido produzido. "Eu Sou: Celine Dion" não apenas pontua suas realizações profissionais ao longo dos anos, como também explora sem cortes a sua luta diária para recuperar aquilo que mais ama fazer na vida: cantar!
“Eu Sou: Celine Dion” nos fornece uma visão honesta dos bastidores da luta da icônica superestrela contra uma doença que transformou sua vida. Este documentário inspirador destaca como a música guiou a vida da artista, ao mesmo tempo que mostra a resiliência do espírito humano. Agora é preciso um alerta: o filme contém cenas impactantes de traumas ligados à saúde! Confira o trailer:
Irene Taylor é conhecida por sua habilidade em contar histórias humanas com profundidade e é isso que ela traz para o difícil, "Eu Sou: Celine Dion". Taylor é meticulosa e, de certa forma, fria, permitindo que a personalidade vibrante e a resiliência de Dion brilhem em cada frame com o mesmo impacto com que retrata a doença da cantora - algumas sequências, como a de Celine tendo uma convulsão após ensaiar em um estúdio, são de rasgar o coração. A diretora utiliza uma combinação eficaz de entrevistas, imagens de arquivo e gravações de performances ao vivo para pintar um retrato completo da artista, mas é com material captado no presente que o documentário ganha força dramática. O roteiro é cuidadosamente estruturado para equilibrar os altos e baixos da jornada de Dion, na carreira e na vida. Ele não se esquiva de abordar outros momentos difíceis, como a morte de seu marido, René Angélil, em 2016, ou os desafios de Dion em equilibrar sua vida pessoal com uma carreira que exigiu e exige muito dela.
Seguindo essa proposta de dar uma perspectiva rica e multifacetada sobre sua vida e carreira pós-diagnóstico, o documentário se aproveita de vários momentos de vulnerabilidade de Dion, mas tudo é tratado com uma honestidade que a humaniza de uma forma avassaladora ao ponto de ela mesma permitir que as imagens pós-convulsão fossem captadas. A fotografia de Nick Midwig (de "Marvel 616") é impressionante pela sua eficácia - ele captura tanto a grandiosidade das performances de Dion quanto a intimidade dolorosa dos dias atuais. A edição de Richard Comeau e de Christian Jensen merece um destaque especial: repare como as cenas dos shows são montadas com uma energia que transmite a magia das apresentações ao vivo, enquanto as entrevistas e cenas do cotidiano atual de Dion são capturadas com uma sensibilidade que nos permite ser um mero observador, e assim nos conectar profundamente com as dores da artista.
Naturalmente que "Eu Sou: Celine Dion"inclui muitos dos maiores sucessos da cantora - as músicas são utilizadas de maneira que intensificam a narrativa, ajudam a contar passagens de sua vida e, obviamente, sublinham os momentos de triunfo e de tristeza. Como vimos em "Gleason", esse documentário também traz muita dor, desconforto e até questionamentos - não se surpreenda se em muitos momentos você se perguntar "Como isso é tudo possível?". Pois bem, deixando a "Diva" de lado e apresentando uma Celine Dion de cara limpa, cabelos presos e uma larga camisa branca e moletom, o documentário é sim um retrato de alguém que precisava desabafar e que não estava mais disposta a manter as mesmas e evasivas justificativas para o seu sumiço, o "problema" é que o resultado dessa proposta íntima e sincera é realmente brutal!
Vale muito o seu play, mas esteja preparado!
"Eu, Tonya" acompanha a vida da ex-patinadora no gelo Tonya Harding e mesmo construindo uma linha temporal com um recorte especifico, seu resultado como obra cinematográfica chama atenção pela qualidade do roteiro e pela performance do elenco - algo que dificilmente se conecta quando o assunto é cinebiografia.
Durante a década de 1990, ela conseguiu superar sua infância pobre e surgir como uma verdadeira campeã no campeonato nacional americano e ainda conquistar a medalha de prata no Campeonato Mundial de 1991. Porém, ela ficou realmente conhecida quando seu marido, Jeff Gilloly, e dois "supostos" ladrões tentaram incapacitar uma de suas principais adversárias, Nancy Kerrigan (Caitlin Carver) quebrando a perna dela durante a preparação para as Olimpíadas de Inverno na Noruega em 1994. Confira o trailer:
Gostei muito do filme, muito mesmo! Talvez por eu me lembrar perfeitamente do que aconteceu na época e como aquilo tomou conta da mídia (ao melhor estilo O.J. Simpson). O diretor Craig Gillespie foi capaz de fazer um filme com muita inteligência - usou de vários artifícios narrativos para costurar a história desde a época em que Tonya ainda era uma criança até a sua apresentação nas Olimpíadas de Inverno aos 23 anos de idade. Ele brincou com as mídias da época, usou vários recursos estéticos e narrativos com total equilíbrio e propriedade. O filme tem alguns planos sequências belíssimos. Ele fez uma espécie de "Cisne Negro" no gelo - aplicou o conceito que o Aronofsky usou na dança para dar a leveza e o movimento das apresentações no gelo e ficou lindo!
Margot Robbie mais uma vez provou ser uma ótima atriz e não fosse pelo show da Frances McDormand, seria minha favorita para o Oscar 2018! Ela é linda e estava completamente desconstruída para o papel - demais! Allison Janney vai levar melhor atriz coadjuvante - pode me cobrar!!! Grande performance!!! O trabalho de montagem, terceira e última indicação, também é muito bom, mas acho que não tem força vai levar!!!
Olha, estamos falando de um grande filme - acho até um pecado não estar entre os 9 finalistas na disputa de Melhor Filme do Ano - não que fosse, mas sua indicação chancelaria sua qualidade!
Vale muito seu play!
"Eu, Tonya" acompanha a vida da ex-patinadora no gelo Tonya Harding e mesmo construindo uma linha temporal com um recorte especifico, seu resultado como obra cinematográfica chama atenção pela qualidade do roteiro e pela performance do elenco - algo que dificilmente se conecta quando o assunto é cinebiografia.
Durante a década de 1990, ela conseguiu superar sua infância pobre e surgir como uma verdadeira campeã no campeonato nacional americano e ainda conquistar a medalha de prata no Campeonato Mundial de 1991. Porém, ela ficou realmente conhecida quando seu marido, Jeff Gilloly, e dois "supostos" ladrões tentaram incapacitar uma de suas principais adversárias, Nancy Kerrigan (Caitlin Carver) quebrando a perna dela durante a preparação para as Olimpíadas de Inverno na Noruega em 1994. Confira o trailer:
Gostei muito do filme, muito mesmo! Talvez por eu me lembrar perfeitamente do que aconteceu na época e como aquilo tomou conta da mídia (ao melhor estilo O.J. Simpson). O diretor Craig Gillespie foi capaz de fazer um filme com muita inteligência - usou de vários artifícios narrativos para costurar a história desde a época em que Tonya ainda era uma criança até a sua apresentação nas Olimpíadas de Inverno aos 23 anos de idade. Ele brincou com as mídias da época, usou vários recursos estéticos e narrativos com total equilíbrio e propriedade. O filme tem alguns planos sequências belíssimos. Ele fez uma espécie de "Cisne Negro" no gelo - aplicou o conceito que o Aronofsky usou na dança para dar a leveza e o movimento das apresentações no gelo e ficou lindo!
Margot Robbie mais uma vez provou ser uma ótima atriz e não fosse pelo show da Frances McDormand, seria minha favorita para o Oscar 2018! Ela é linda e estava completamente desconstruída para o papel - demais! Allison Janney vai levar melhor atriz coadjuvante - pode me cobrar!!! Grande performance!!! O trabalho de montagem, terceira e última indicação, também é muito bom, mas acho que não tem força vai levar!!!
Olha, estamos falando de um grande filme - acho até um pecado não estar entre os 9 finalistas na disputa de Melhor Filme do Ano - não que fosse, mas sua indicação chancelaria sua qualidade!
Vale muito seu play!
Até que ponto o "marketing de percepção" pode se tornar relevante em uma rede social? A reposta é simples: se não houver conteúdo que justifique aquela exposição, não vale a pena! Mas, será mesmo?
Esse documentário da HBO, mostra como é possível construir uma influenciadora mesmo que seja completamente falsa a vida que ela leva. Em "Fake Famous" acompanhamos 3 cobaias escolhidas para um experimento onde são usados todos os truques possíveis para torná-las famosas - da compra de seguidores, likes e comentários no Instagram, até a produção de fotos falsas ou a criação de relações com patrocinadores que não existem comercialmente. Confira o trailer:
A ideia nasceu quando o jornalista Nick Bilton, em sua estreia como documentarista, depois de passar pelo The New York Times e depois pela Vanity Fair como repórter especializado em tecnologia, falou para um de seus editores que conseguiria transformar uma pessoa comum em um influenciador em 10 minutos. A resposta foi positiva, dizendo que o conceito poderia gerar um documentário bastante interessante. A partir daí, Bilton começou a colocar seu projeto em prática. Ele realizou um longo processo de pesquisa e escolha de elenco até encontrar seus três objetos de estudo: Dominique, uma carismática funcionária de uma loja de roupas e aspirante a atriz; Chris, um estilista iniciante recém chegado à Los Angeles; e Wylie, um jovem, gay, assistente em uma empresa do mercado imobiliário.
O interessante do documentário é justamente entender até que ponto o volume de seguidores reflete a relevância que um influenciador pode ter. Ao acompanhar os três personagens, temos a imediata percepção que com os números (na maioria falsos e comprados) vem um bônus, mas também o ônus. Criar algo inexistente pode funcionar, mas o teste prova que não é uma matemática exata e expõe diversos fatores - o impacto na vida desses personagens, certamente, é o que mais impressiona ou você conhece alguém que quer ter uma vida de mentira? Ops, não precisa responder!
Em uma sociedade pautada pelo que é visto e não pelo que é falado, "Fake Famous - uma experiência surreal nas redes" é uma provocação inteligente, com uma narrativa fácil, dinâmica e muito interessante, que nos prende e nos provoca a cada fase do processo. São atalhos que brincam com a percepção de quem acompanha a vida de personalidades nas redes sociais, mais precisamente o Instagram, e como isso vem se transformando em um problema para toda uma jovem geração - e aqui cabe minha única critica ao documentário: faltou se aprofundar nesse problema com uma proposta mais séria de informação e estatística.
Tirando esse detalhe, é impossível não indicar "Fake Famous" por levantar questões importantes sobre esse recorte social tão atual e, claro, pelo entretenimento bastante curioso e instigante que a experiência proporciona para quem vive e assiste. Vale muito a pena!
Até que ponto o "marketing de percepção" pode se tornar relevante em uma rede social? A reposta é simples: se não houver conteúdo que justifique aquela exposição, não vale a pena! Mas, será mesmo?
Esse documentário da HBO, mostra como é possível construir uma influenciadora mesmo que seja completamente falsa a vida que ela leva. Em "Fake Famous" acompanhamos 3 cobaias escolhidas para um experimento onde são usados todos os truques possíveis para torná-las famosas - da compra de seguidores, likes e comentários no Instagram, até a produção de fotos falsas ou a criação de relações com patrocinadores que não existem comercialmente. Confira o trailer:
A ideia nasceu quando o jornalista Nick Bilton, em sua estreia como documentarista, depois de passar pelo The New York Times e depois pela Vanity Fair como repórter especializado em tecnologia, falou para um de seus editores que conseguiria transformar uma pessoa comum em um influenciador em 10 minutos. A resposta foi positiva, dizendo que o conceito poderia gerar um documentário bastante interessante. A partir daí, Bilton começou a colocar seu projeto em prática. Ele realizou um longo processo de pesquisa e escolha de elenco até encontrar seus três objetos de estudo: Dominique, uma carismática funcionária de uma loja de roupas e aspirante a atriz; Chris, um estilista iniciante recém chegado à Los Angeles; e Wylie, um jovem, gay, assistente em uma empresa do mercado imobiliário.
O interessante do documentário é justamente entender até que ponto o volume de seguidores reflete a relevância que um influenciador pode ter. Ao acompanhar os três personagens, temos a imediata percepção que com os números (na maioria falsos e comprados) vem um bônus, mas também o ônus. Criar algo inexistente pode funcionar, mas o teste prova que não é uma matemática exata e expõe diversos fatores - o impacto na vida desses personagens, certamente, é o que mais impressiona ou você conhece alguém que quer ter uma vida de mentira? Ops, não precisa responder!
Em uma sociedade pautada pelo que é visto e não pelo que é falado, "Fake Famous - uma experiência surreal nas redes" é uma provocação inteligente, com uma narrativa fácil, dinâmica e muito interessante, que nos prende e nos provoca a cada fase do processo. São atalhos que brincam com a percepção de quem acompanha a vida de personalidades nas redes sociais, mais precisamente o Instagram, e como isso vem se transformando em um problema para toda uma jovem geração - e aqui cabe minha única critica ao documentário: faltou se aprofundar nesse problema com uma proposta mais séria de informação e estatística.
Tirando esse detalhe, é impossível não indicar "Fake Famous" por levantar questões importantes sobre esse recorte social tão atual e, claro, pelo entretenimento bastante curioso e instigante que a experiência proporciona para quem vive e assiste. Vale muito a pena!
"Fique Rico ou Morra Tentando" é uma jornada tão impressionante que por muitas vezes você vai se perguntar se tudo aquilo de fato aconteceu - e a resposta é: "não, nem tudo que está no filme faz parte da história real do rapper 50 Cent"! Dito isso é possível estabelecer que o filme funciona muito mais como thriller de ação do que como um drama biográfico - o que certamente vai dividir opiniões, porém é fato que após o play, seu entretenimento estará garantido, principalmente se você gostar de séries como "Power", por exemplo.
Marcus (50 Cent) é um jovem da periferia que sofreu uma atentado que por pouco não lhe tirou a vida. Em meio à sua recuperação, ele se lembra de uma vida difícil como órfão nas ruas violentas do Bronx. Sua vida muda após conhecer um ex-condenado, que luta para transforma-lo em uma estrela do rap. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo Jim Sheridan (indicado ao Oscar por 6 vezes e que tem em seu currículo clássicos como "Em Nome do Pai" e "Meu Pé Esquerdo"), "Fique Rico ou Morra Tentando" é um excelente exemplo de como uma história bem contada (mesmo com um roteiro mediano) é capaz de criar inúmeras sensações que vão da tensão absurda até o alívio de um momento de emoção - e aqui sugiro que você repare na ótima performance de Viola Davis como a vó de Marcus para entender como isso acontece na prática.
Como era de se esperar (e mesmo fora da sua zona de conforto), Sheridan comandou uma produção de altíssima qualidade, que tem no seu elenco o maior trunfo. Veja, se Curtis “50 Cent” Jackson não pode ser considerado um grande ator, é de se elogiar a capacidade que o diretor teve em potencializar a naturalidade do rapper criando uma química impressionante com atores veteranos como Adewale Akinnuoye-Agbaje (o Mr. Eko de "Lost") e Terrence Howard (de "Ray"). Se em "Nasce uma Estrela" a jornada (para a fama) do herói (músico) se pautava pelo romance e por uma relação problemática entre um casal improvável, aqui o foco é inversamente proporcional: não existe romantismo, tudo é obscuro, denso - como deve ser o submundo das drogas e da violência nua e crua. Aliás essa atmosfera é brilhantemente retratada por uma fotografia que coloca NY quase como um personagem, graças ao talento de Declan Quinn (o cara por trás de "Hamilton").
"Fique Rico ou Morra Tentando" pode não agradar a todos, mas é inegável sua qualidade como produção cinematográfica. Saíba que a dinâmica narrativa é extremamente eficiente, fazendo com que a história, mesmo carregada de violência e cenas impactantes, flua muito bem e que, embora superficialmente, nos permite embarcar em um universo sombrio, diferente do que vemos em um artista de sucesso como “50 Cent” quando está no palco - algo que também encontramos na minissérie "Mike".
Em tempo: mesmo com uma recepção favorável, chegando a 73% de aprovação da audiência, "Fique Rico ou Morra Tentando" rendeu apenas $46.442.528 dólares em bilheteria, pouco para um filme que havia custado $40.000.000 dólares na época.
"Fique Rico ou Morra Tentando" é uma jornada tão impressionante que por muitas vezes você vai se perguntar se tudo aquilo de fato aconteceu - e a resposta é: "não, nem tudo que está no filme faz parte da história real do rapper 50 Cent"! Dito isso é possível estabelecer que o filme funciona muito mais como thriller de ação do que como um drama biográfico - o que certamente vai dividir opiniões, porém é fato que após o play, seu entretenimento estará garantido, principalmente se você gostar de séries como "Power", por exemplo.
Marcus (50 Cent) é um jovem da periferia que sofreu uma atentado que por pouco não lhe tirou a vida. Em meio à sua recuperação, ele se lembra de uma vida difícil como órfão nas ruas violentas do Bronx. Sua vida muda após conhecer um ex-condenado, que luta para transforma-lo em uma estrela do rap. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo Jim Sheridan (indicado ao Oscar por 6 vezes e que tem em seu currículo clássicos como "Em Nome do Pai" e "Meu Pé Esquerdo"), "Fique Rico ou Morra Tentando" é um excelente exemplo de como uma história bem contada (mesmo com um roteiro mediano) é capaz de criar inúmeras sensações que vão da tensão absurda até o alívio de um momento de emoção - e aqui sugiro que você repare na ótima performance de Viola Davis como a vó de Marcus para entender como isso acontece na prática.
Como era de se esperar (e mesmo fora da sua zona de conforto), Sheridan comandou uma produção de altíssima qualidade, que tem no seu elenco o maior trunfo. Veja, se Curtis “50 Cent” Jackson não pode ser considerado um grande ator, é de se elogiar a capacidade que o diretor teve em potencializar a naturalidade do rapper criando uma química impressionante com atores veteranos como Adewale Akinnuoye-Agbaje (o Mr. Eko de "Lost") e Terrence Howard (de "Ray"). Se em "Nasce uma Estrela" a jornada (para a fama) do herói (músico) se pautava pelo romance e por uma relação problemática entre um casal improvável, aqui o foco é inversamente proporcional: não existe romantismo, tudo é obscuro, denso - como deve ser o submundo das drogas e da violência nua e crua. Aliás essa atmosfera é brilhantemente retratada por uma fotografia que coloca NY quase como um personagem, graças ao talento de Declan Quinn (o cara por trás de "Hamilton").
"Fique Rico ou Morra Tentando" pode não agradar a todos, mas é inegável sua qualidade como produção cinematográfica. Saíba que a dinâmica narrativa é extremamente eficiente, fazendo com que a história, mesmo carregada de violência e cenas impactantes, flua muito bem e que, embora superficialmente, nos permite embarcar em um universo sombrio, diferente do que vemos em um artista de sucesso como “50 Cent” quando está no palco - algo que também encontramos na minissérie "Mike".
Em tempo: mesmo com uma recepção favorável, chegando a 73% de aprovação da audiência, "Fique Rico ou Morra Tentando" rendeu apenas $46.442.528 dólares em bilheteria, pouco para um filme que havia custado $40.000.000 dólares na época.
"Flora e Filho" que no Brasil ganhou o "inspirado" subtítulo de "Música em Família" é uma graça, daqueles que assistimos com um leve sorriso no rosto e que no final deixa nosso coração quentinho, sabe? E tudo isso não é por acaso, já que o diretor John Carney é o mesmo do imperdível "Apenas Uma Vez" e do excelente "Mesmo Se Nada Der Certo", e ainda traz uma premissa narrativa bem parecida com seus filmes anteriores, ou seja, contar uma história sobre um relacionamento difícil, dessa vez entre mãe e filho, que encontra um propósito em comum por meio da música. O filme distribuído pela Apple foi exibido noFestival de Toronto 2023 e acabou recebendo muitos elogios, tanto dos críticos quanto do público.
Flora (Eve Hewson) é uma mãe solteira que simplesmente não sabe mais o que fazer para se conectar com Max (Orén Kinlan), seu filho adolescente e, claro, rebelde. Quando a polícia sugere que Flora encontre um hobby para Max, ela entrega um antigo violão reformado para ele. O que ela imaginava que transformaria a vida do seu filho, acaba transformando a dela quando ela passa a ter aulas de violão pela internet com um músico fracassado de Los Angeles, Jeff (Joseph Gordon-Levitt). A partir daí, Flora e Max descobrem o poder que a música pode ter em uma relação que parecia impossível de funcionar. Confira o trailer (em inglês):
"Flora e Filho" é um filme que, de fato, transcende as barreiras do sub-gênero musical com aquele leve toque de comédia romântica. Como já faz parte da sua identidade, a direção de John Carney, se aproveita do drama familiar, ou da desconstrução dele, para discutir o real poder da conexão humana e a importância do perdão para que as coisas possam voltar a funcionar. E aqui não estamos falando do perdão entre mãe e filho, e sim sobre o "se perdoar". Obviamente que Carney não pesa na mão em nenhum momento, ou seja, não espere nada muito profundo ou desenvolvido demais, a ideia é mesmo contar uma história que nos faça lembrar que, mesmo nos momentos mais difíceis, a música pode iluminar nosso caminho e nos unir de maneiras inesperadas. Sim, eu sei que pode parecer poético demais e até soar um pouco "auto-ajuda", mas é por aí mesmo que encontramos a beleza do filme como um entretenimento despretensioso, mas muito acolhedor.
O roteiro do próprio Carney é bom, mas tem um certo desequilíbrio estrutural: os dois primeiros atos parecem mais cadenciados que sua conclusão, que soa apressada demais. É certo que o filme merecia pelo menos mais dez minutos de história - foi uma escolha conceitual do diretor e roteirista que funciona, mas também deixa uma sensação de que cabia mais. A fotografia cativante do experiente John Conroy (de "Westworld") ajuda a quebrar uma atmosfera de solidão com movimentos e soluções criativas que aproximam os personagens mesmo estando distantes - seja geograficamente ou emocionalmente. Reparem como de repente conexões são criadas e tudo parece fazer sentido. As poucas cenas de performances musicais funcionam como a "cereja do bolo" capturando a magia do processo criativo, proporcionando para audiência uma imersão emotiva na história. É aqui que, curiosamente, Eve Hewson mais se destaca - é impressionante como ela usa bem o seu olhar mais íntimo, criando um contra-ponto com ótimas e engraçadas passagens em que seu jeito "desbocado" de se expressar nos diverte.
Se a trilha sonora de "Flora e Filho" não tem a potência tão característica da filmografia de Carney (que já lhe rendeu dezenas de prêmios e uma indicação ao Oscar), saiba que a música original “High Life” vai sim te pegar! Agora um aviso: esteja preparado para um jornada que se recusa a romantizar a experiência da maternidade e que consegue incluir diálogos inquietantes quanto “às vezes eu gostaria que ele sumisse” sem fazer com que percamos a simpatia por uma mão que busca a todo custo se conectar com seu filho - o olhar para si, aqui, nunca é tratado como egoísmo e sim como autodescoberta; fica a reflexão!
Ps: Antes de finalizar, é impossível não citar a propaganda descarada do GarageBand. Embora o filme tenha sido adquirido pela Apple já basicamente pronto, o “papel” do software na trama não me parece apenas uma coincidência. Novos tempos, meu amigo!
"Flora e Filho" que no Brasil ganhou o "inspirado" subtítulo de "Música em Família" é uma graça, daqueles que assistimos com um leve sorriso no rosto e que no final deixa nosso coração quentinho, sabe? E tudo isso não é por acaso, já que o diretor John Carney é o mesmo do imperdível "Apenas Uma Vez" e do excelente "Mesmo Se Nada Der Certo", e ainda traz uma premissa narrativa bem parecida com seus filmes anteriores, ou seja, contar uma história sobre um relacionamento difícil, dessa vez entre mãe e filho, que encontra um propósito em comum por meio da música. O filme distribuído pela Apple foi exibido noFestival de Toronto 2023 e acabou recebendo muitos elogios, tanto dos críticos quanto do público.
Flora (Eve Hewson) é uma mãe solteira que simplesmente não sabe mais o que fazer para se conectar com Max (Orén Kinlan), seu filho adolescente e, claro, rebelde. Quando a polícia sugere que Flora encontre um hobby para Max, ela entrega um antigo violão reformado para ele. O que ela imaginava que transformaria a vida do seu filho, acaba transformando a dela quando ela passa a ter aulas de violão pela internet com um músico fracassado de Los Angeles, Jeff (Joseph Gordon-Levitt). A partir daí, Flora e Max descobrem o poder que a música pode ter em uma relação que parecia impossível de funcionar. Confira o trailer (em inglês):
"Flora e Filho" é um filme que, de fato, transcende as barreiras do sub-gênero musical com aquele leve toque de comédia romântica. Como já faz parte da sua identidade, a direção de John Carney, se aproveita do drama familiar, ou da desconstrução dele, para discutir o real poder da conexão humana e a importância do perdão para que as coisas possam voltar a funcionar. E aqui não estamos falando do perdão entre mãe e filho, e sim sobre o "se perdoar". Obviamente que Carney não pesa na mão em nenhum momento, ou seja, não espere nada muito profundo ou desenvolvido demais, a ideia é mesmo contar uma história que nos faça lembrar que, mesmo nos momentos mais difíceis, a música pode iluminar nosso caminho e nos unir de maneiras inesperadas. Sim, eu sei que pode parecer poético demais e até soar um pouco "auto-ajuda", mas é por aí mesmo que encontramos a beleza do filme como um entretenimento despretensioso, mas muito acolhedor.
O roteiro do próprio Carney é bom, mas tem um certo desequilíbrio estrutural: os dois primeiros atos parecem mais cadenciados que sua conclusão, que soa apressada demais. É certo que o filme merecia pelo menos mais dez minutos de história - foi uma escolha conceitual do diretor e roteirista que funciona, mas também deixa uma sensação de que cabia mais. A fotografia cativante do experiente John Conroy (de "Westworld") ajuda a quebrar uma atmosfera de solidão com movimentos e soluções criativas que aproximam os personagens mesmo estando distantes - seja geograficamente ou emocionalmente. Reparem como de repente conexões são criadas e tudo parece fazer sentido. As poucas cenas de performances musicais funcionam como a "cereja do bolo" capturando a magia do processo criativo, proporcionando para audiência uma imersão emotiva na história. É aqui que, curiosamente, Eve Hewson mais se destaca - é impressionante como ela usa bem o seu olhar mais íntimo, criando um contra-ponto com ótimas e engraçadas passagens em que seu jeito "desbocado" de se expressar nos diverte.
Se a trilha sonora de "Flora e Filho" não tem a potência tão característica da filmografia de Carney (que já lhe rendeu dezenas de prêmios e uma indicação ao Oscar), saiba que a música original “High Life” vai sim te pegar! Agora um aviso: esteja preparado para um jornada que se recusa a romantizar a experiência da maternidade e que consegue incluir diálogos inquietantes quanto “às vezes eu gostaria que ele sumisse” sem fazer com que percamos a simpatia por uma mão que busca a todo custo se conectar com seu filho - o olhar para si, aqui, nunca é tratado como egoísmo e sim como autodescoberta; fica a reflexão!
Ps: Antes de finalizar, é impossível não citar a propaganda descarada do GarageBand. Embora o filme tenha sido adquirido pela Apple já basicamente pronto, o “papel” do software na trama não me parece apenas uma coincidência. Novos tempos, meu amigo!
O Brasil é mestre em criar personagens que, com o tempo, vão se mostrando mais complexos do que a própria mídia costuma retratar - e para o bem do entretenimento (e apenas dele), suas histórias vão sendo contadas de uma forma envolvente e, muitas vezes, surpreendente. A minissérie documental "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais um ótimo exemplo dessa exploração da "vida como ela é" após um fato marcante, nesse caso um crime! Aqui temos um recorte dos mais interessantes sobre os escândalos em torno da figura pública, pastora evangélica e deputada-federal mulher mais votada do país em 2018 (pelo Rio de Janeiro), Flordelis dos Santos de Souza. Essa produção da Boutique de Filmes para o Globoplay, mergulha nos detalhes do assassinato do marido de Flordelis, Anderson do Carmo, em um crime que chocou o Brasil em 2019 e levantou questões perturbadoras sobre a moralidade, poder e manipulação a partir de uma personagem de aparente santidade. A produção parte de uma investigação intensa e detalhada ao mesmo tempo que traça um perfil psicológico e social de uma mulher cujas contradições são tão grandes quanto sua notoriedade.
Ao longo de seis episódios, vemos como Flordelis, uma líder religiosa carismática e influente, com uma trajetória de vida que ia da adoção de dezenas de crianças à atuação como parlamentar, transformou-se em ré em um julgamento acusada de ser a mandante do assassinato de seu próprio marido. A narrativa constrói uma visão em camadas da vida de Flordelis, desde sua ascensão meteórica como pastora e política, até a queda abrupta após as revelações chocantes sobre seu envolvimento no crime. Confira o trailer aqui:
É inegável que "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais uma aula de narrativa documental que nos remete ao melhor do drama policial. A forma como a diretora Mariana Jaspe consegue equilibrar o factual com uma exploração mais profunda da figura pública de Flordelis e do impacto que suas ações tiveram na sociedade ao longo dos anos, é de se aplaudir de pé. O tom de mistério, da fotografia às inserções gráficas, potencializa a maneira como a minissérie levanta perguntas essenciais sobre poder, fé e manipulação, especialmente no contexto de líderes religiosos e sociais que têm influência não apenas dentro de suas igrejas, mas também em esferas políticas e na comunidade. O roteiro é muito eficaz em nos colocar diante de uma figura que, por anos, foi venerada por muitos, inclusive por repórteres e celebridades, mas que se viu envolta em um turbilhão de acusações, inclusive de assassinato.
Jaspe utiliza imagens de arquivo e reconstituições, além de uma variedade de fontes, incluindo entrevistas com familiares, investigadores, ex-integrantes da igreja, jornalistas e autoridades envolvidas no caso, para oferecer um panorama completo dos eventos que levaram ao assassinato de Anderson do Carmo e as investigações que se seguiram. Essa multiplicidade de perspectivas enriquece a narrativa, permitindo uma reflexão sobre as diversas faces da vida de Flordelis - desde a figura materna e de pastora carismática até a de uma mulher dissimulada acusada de tramar um crime brutal. Nesse sentido a montagem da minissérie dá um show - ela é muito eficaz ao manter o ritmo e a tensão constante, revelando as reviravoltas de forma não-linear, o que nos mantém intrigados e, ao mesmo tempo, chocados com as informações que surgem a cada episódio. O formato escolhido por Jaspe permite que a audiência acompanhe o desenvolvimento dos fatos em tempo real, trazendo à tona os detalhes da investigações e o processo judicial, sem perder de vista as complexidades do caso e o histórico de vida dos personagens.
O subtítulo "Questiona ou Adora" é uma provocação inteligente por refletir perfeitamente a dualidade que permeia a imagem de Flordelis: aqueles que a seguiam cegamente, admirando sua história de vida e devoção religiosa, e aqueles que começaram a questionar sua verdadeira índole quando as primeiras suspeitas sobre seu envolvimento no assassinato surgiram. A minissérie é muito competente ao explorar essa dicotomia, sempre de maneira cuidadosa, sem tentar oferecer respostas fáceis ou unilaterais, mas se aproveitando da ambiguidade que ronda a personagem principal para entregar uma peça sólida para quem busca entender mais sobre os aspectos sombrios que podem cercar figuras ditas "autoridade moral".
Vale muito o seu play!
O Brasil é mestre em criar personagens que, com o tempo, vão se mostrando mais complexos do que a própria mídia costuma retratar - e para o bem do entretenimento (e apenas dele), suas histórias vão sendo contadas de uma forma envolvente e, muitas vezes, surpreendente. A minissérie documental "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais um ótimo exemplo dessa exploração da "vida como ela é" após um fato marcante, nesse caso um crime! Aqui temos um recorte dos mais interessantes sobre os escândalos em torno da figura pública, pastora evangélica e deputada-federal mulher mais votada do país em 2018 (pelo Rio de Janeiro), Flordelis dos Santos de Souza. Essa produção da Boutique de Filmes para o Globoplay, mergulha nos detalhes do assassinato do marido de Flordelis, Anderson do Carmo, em um crime que chocou o Brasil em 2019 e levantou questões perturbadoras sobre a moralidade, poder e manipulação a partir de uma personagem de aparente santidade. A produção parte de uma investigação intensa e detalhada ao mesmo tempo que traça um perfil psicológico e social de uma mulher cujas contradições são tão grandes quanto sua notoriedade.
Ao longo de seis episódios, vemos como Flordelis, uma líder religiosa carismática e influente, com uma trajetória de vida que ia da adoção de dezenas de crianças à atuação como parlamentar, transformou-se em ré em um julgamento acusada de ser a mandante do assassinato de seu próprio marido. A narrativa constrói uma visão em camadas da vida de Flordelis, desde sua ascensão meteórica como pastora e política, até a queda abrupta após as revelações chocantes sobre seu envolvimento no crime. Confira o trailer aqui:
É inegável que "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais uma aula de narrativa documental que nos remete ao melhor do drama policial. A forma como a diretora Mariana Jaspe consegue equilibrar o factual com uma exploração mais profunda da figura pública de Flordelis e do impacto que suas ações tiveram na sociedade ao longo dos anos, é de se aplaudir de pé. O tom de mistério, da fotografia às inserções gráficas, potencializa a maneira como a minissérie levanta perguntas essenciais sobre poder, fé e manipulação, especialmente no contexto de líderes religiosos e sociais que têm influência não apenas dentro de suas igrejas, mas também em esferas políticas e na comunidade. O roteiro é muito eficaz em nos colocar diante de uma figura que, por anos, foi venerada por muitos, inclusive por repórteres e celebridades, mas que se viu envolta em um turbilhão de acusações, inclusive de assassinato.
Jaspe utiliza imagens de arquivo e reconstituições, além de uma variedade de fontes, incluindo entrevistas com familiares, investigadores, ex-integrantes da igreja, jornalistas e autoridades envolvidas no caso, para oferecer um panorama completo dos eventos que levaram ao assassinato de Anderson do Carmo e as investigações que se seguiram. Essa multiplicidade de perspectivas enriquece a narrativa, permitindo uma reflexão sobre as diversas faces da vida de Flordelis - desde a figura materna e de pastora carismática até a de uma mulher dissimulada acusada de tramar um crime brutal. Nesse sentido a montagem da minissérie dá um show - ela é muito eficaz ao manter o ritmo e a tensão constante, revelando as reviravoltas de forma não-linear, o que nos mantém intrigados e, ao mesmo tempo, chocados com as informações que surgem a cada episódio. O formato escolhido por Jaspe permite que a audiência acompanhe o desenvolvimento dos fatos em tempo real, trazendo à tona os detalhes da investigações e o processo judicial, sem perder de vista as complexidades do caso e o histórico de vida dos personagens.
O subtítulo "Questiona ou Adora" é uma provocação inteligente por refletir perfeitamente a dualidade que permeia a imagem de Flordelis: aqueles que a seguiam cegamente, admirando sua história de vida e devoção religiosa, e aqueles que começaram a questionar sua verdadeira índole quando as primeiras suspeitas sobre seu envolvimento no assassinato surgiram. A minissérie é muito competente ao explorar essa dicotomia, sempre de maneira cuidadosa, sem tentar oferecer respostas fáceis ou unilaterais, mas se aproveitando da ambiguidade que ronda a personagem principal para entregar uma peça sólida para quem busca entender mais sobre os aspectos sombrios que podem cercar figuras ditas "autoridade moral".
Vale muito o seu play!
"Framing Britney Spears", que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "A vida de uma estrela", é mais um documentário produzido pelo The New York Times para a plataforma Hulu. De imediato, temos a sensação de que se trata de mais uma história de construção de um fenômeno pop americano que acaba despencando depois de decisões e atitudes bastante questionáveis. De fato esse arco narrativo está no filme, mas o interessante é a perspectiva que a diretora Samantha Stark nos mostra - o que acaba destruindo aquele pré conceito que tomamos como a mais absoluta verdade sem ao menos nos aprofundar ou procurar entender o outro lado da história.
O documentário acompanha a ascensão de Britney Spears como um fenômeno global até sua queda, considerado até hoje como uma espécie de esporte nacional da mais cruel das formas. A partir de depoimentos de pessoas próximas a ela e de advogados que, de alguma maneira, estavam envolvidos no mistério da tutela legal exercida por seu pai e que gerou um movimento popular importante no país: o Free Britney. Confira o teaser:
A carreira de Britney Spears é um case de sucesso em um período onde as "boys bands" dominavam as paradas e os corações adolescentes. Sua chegada no cenário musical criou um enorme desconforto, pela forma como ela se apresentava, mas por outro lado provocou um sentimento de identificação que subverteu as inúmeras manifestações machistas, hipócritas e conservadoras, tão comum na sociedade americana. O fato é que Britney venceu, marcou uma geração e o documentário é muito feliz em resumir essa jornada de forma direta, sem perder muito tempo. Hoje, quase 13 anos depois de um surto registrado pelas câmeras e virar piada no mundo inteiro, sua vida é controlada pelo seu pai - mesmo ela sendo considerada capaz de tomar suas próprias decisões. É incrível como muitas pessoas ainda consideram a cantora como uma artista de sucesso que simplesmente surtou e nem se preocupam em entender como a vida dela chegou neste ponto. É exatamente esse o objetivo de "Framing Britney Spears": dar voz à Britney, sem necessariamente poder contar com ela no documentário.
Veja, não se trata de um documentário com um conceito narrativo inovador ou visualmente inesquecível, digno de Oscar ou muitos prêmios, "Framing Britney Spears" é quase uma reportagem especial de qualquer programa jornalístico com um arco narrativo, digamos, mais cinematográfico - mas isso não deve incomodar, pois a história é realmente muito boa e a maneira como a diretora nos apresenta essa jornada, cria um vinculo emocional com a protagonista que fica difícil não defende-la. Os que antes a consideravam uma louca, certamente vão enxergar a situação com outros olhos.
O documentário é superficial, está longe de ter a qualidade narrativa e a pesquisa de "Sandy & Junior: A História", por exemplo; mas atinge seu objetivo e nos entretem ao mesmo temo que nos faz refletir sobre como existe um certo prazer sádico em endeusar um artista (ou esportista) durante o seu ápice, para depois sacramentar sua queda, transformando sua vida em um verdadeiro inferno - como em "Tiger" da HBO, para citar outra produção na mesma linha.
A verdade é que esse é outro documentário onde final não é tão feliz, mas que pelo menos ainda nos deixa uma esperança. Vale o play!
"Framing Britney Spears", que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "A vida de uma estrela", é mais um documentário produzido pelo The New York Times para a plataforma Hulu. De imediato, temos a sensação de que se trata de mais uma história de construção de um fenômeno pop americano que acaba despencando depois de decisões e atitudes bastante questionáveis. De fato esse arco narrativo está no filme, mas o interessante é a perspectiva que a diretora Samantha Stark nos mostra - o que acaba destruindo aquele pré conceito que tomamos como a mais absoluta verdade sem ao menos nos aprofundar ou procurar entender o outro lado da história.
O documentário acompanha a ascensão de Britney Spears como um fenômeno global até sua queda, considerado até hoje como uma espécie de esporte nacional da mais cruel das formas. A partir de depoimentos de pessoas próximas a ela e de advogados que, de alguma maneira, estavam envolvidos no mistério da tutela legal exercida por seu pai e que gerou um movimento popular importante no país: o Free Britney. Confira o teaser:
A carreira de Britney Spears é um case de sucesso em um período onde as "boys bands" dominavam as paradas e os corações adolescentes. Sua chegada no cenário musical criou um enorme desconforto, pela forma como ela se apresentava, mas por outro lado provocou um sentimento de identificação que subverteu as inúmeras manifestações machistas, hipócritas e conservadoras, tão comum na sociedade americana. O fato é que Britney venceu, marcou uma geração e o documentário é muito feliz em resumir essa jornada de forma direta, sem perder muito tempo. Hoje, quase 13 anos depois de um surto registrado pelas câmeras e virar piada no mundo inteiro, sua vida é controlada pelo seu pai - mesmo ela sendo considerada capaz de tomar suas próprias decisões. É incrível como muitas pessoas ainda consideram a cantora como uma artista de sucesso que simplesmente surtou e nem se preocupam em entender como a vida dela chegou neste ponto. É exatamente esse o objetivo de "Framing Britney Spears": dar voz à Britney, sem necessariamente poder contar com ela no documentário.
Veja, não se trata de um documentário com um conceito narrativo inovador ou visualmente inesquecível, digno de Oscar ou muitos prêmios, "Framing Britney Spears" é quase uma reportagem especial de qualquer programa jornalístico com um arco narrativo, digamos, mais cinematográfico - mas isso não deve incomodar, pois a história é realmente muito boa e a maneira como a diretora nos apresenta essa jornada, cria um vinculo emocional com a protagonista que fica difícil não defende-la. Os que antes a consideravam uma louca, certamente vão enxergar a situação com outros olhos.
O documentário é superficial, está longe de ter a qualidade narrativa e a pesquisa de "Sandy & Junior: A História", por exemplo; mas atinge seu objetivo e nos entretem ao mesmo temo que nos faz refletir sobre como existe um certo prazer sádico em endeusar um artista (ou esportista) durante o seu ápice, para depois sacramentar sua queda, transformando sua vida em um verdadeiro inferno - como em "Tiger" da HBO, para citar outra produção na mesma linha.
A verdade é que esse é outro documentário onde final não é tão feliz, mas que pelo menos ainda nos deixa uma esperança. Vale o play!
A voz dele se confundiu com a história esportiva do país nos últimos 40 e poucos anos. Aliás, ninguém cobriu mais vitórias (e derrotas) do esporte brasileiro como ele. Sim, estou falando do locutor Galvão Bueno que teve um recorte bastante interessante de sua vida, com alguns momentos dos mais marcantes de sua carreira, retratados no documentário original da Globoplay, "Galvão: Olha o que ele fez". Dirigido pelo Sidney Garambone e pelo Gustavo Gomes, os cinco episódios tem um conceito visual e uma dinâmica narrativa das mais interessantes - equilibrando perfeitamente o lado humano com o do personagem "Galvão". Fica o aviso: para aqueles que são apaixonados pelo esporte, é impossível não maratonar essa série!
A beleza de "Galvão: Olha o que ele fez" está justamente na honestidade de seu protagonista. A partir de depoimentos do próprio Galvão e de muitas celebridades do esporte e do jornalismo, a série se concentra em expor os bastidores de sua jornada como locutor, além de sua intimidade profissional e, olha só, pessoal, como marido e pai. A série, obviamente, aborda seus momentos mais importantes, as conquistas, as dores e os muitos desafios profissionais, mas também desmistifica o personagem de um forma nunca vista antes e que vai te surpreender. Confira o trailer que você terá uma ideia do que esperar:
Galvão Bueno pode não ser uma unanimidade - alguns apreciam sua paixão e entusiasmo, enquanto outros criticam veemente sua forma de narrar um jogo ou de tecer alguns comentários, digamos, mais exaltados; mas é inegável que ele está (e estará) na memória emotiva da maioria dos brasileiros há (e por) muito tempo. Sua presença como locutor titular da Rede Globo proporcionou para ele e para nós, incontáveis jornadas esportivas que iam da Fórmula 1 ao Futebol, passando pelo Vôlei, pelo Boxe, pelo Basquete, etc.
E é mais ou menos seguindo essa linha nostálgica que o roteiro de "Galvão: Olha o que ele fez" consegue capturar uma verdade muito difícil para esse tipo de celebridade. O interessante, no entanto, é que a linha temporal de toda essa longa história é pontuada pelo presente, mais precisamente pelos jogos da Seleção na última Copa do Mundo, e isso nos dá a exata noção da responsabilidade que é comandar um evento esportivo como esse - assistir aos jogos pelo ponto de vista do Galvão, dentro de sua cabine de transmissão e ao lados de toda sua equipe, é simplesmente sensacional. A preparação, as resenhas com os amigos mais próximos, os bastidores antes de entrar no ar; tudo isso é mostrado, e melhor: sem filtro!
É praticamente impossível nominar todas as pessoas que deram seu depoimento durante a série - falando bem (e mal) de algumas de suas atitudes e posturas perante assuntos espinhosos, ou até de como ele mesmo foi se construindo e se tornando a "a voz do esporte" na Globo. Seu poder e influência é facilmente percebido por essas conversas com jornalistas, atletas, executivos e até com seus filhos e mulher. Suas paixões e desafetos também estão lá - e aqui cabe a curiosa informação das pessoas que não quiseram participar do projeto, é o caso do Piquet, do Renato Mauricio Prado, do Felipão e até do Neymar.
O fato é que "Galvão: Olha o que ele fez" é um documentário para assistir muitas vezes, um verdadeiro presente para quem viveu as melhores (e piores) experiências com o esporte desde os anos 80 ao lado de um profissional que é considerado insubstituível. Galvão Bueno para muitos é um gênio, para outros "chato pra caramba", mas olhar para sua carreira e não entender a importância dessa obra como recorte histórico da televisão brasileira e do esporte mundial, ou até como homenagem se assim preferirem, passa pela imaturidade de não celebrar o que será realmente inesquecível!
Golaço da Globoplay!
A voz dele se confundiu com a história esportiva do país nos últimos 40 e poucos anos. Aliás, ninguém cobriu mais vitórias (e derrotas) do esporte brasileiro como ele. Sim, estou falando do locutor Galvão Bueno que teve um recorte bastante interessante de sua vida, com alguns momentos dos mais marcantes de sua carreira, retratados no documentário original da Globoplay, "Galvão: Olha o que ele fez". Dirigido pelo Sidney Garambone e pelo Gustavo Gomes, os cinco episódios tem um conceito visual e uma dinâmica narrativa das mais interessantes - equilibrando perfeitamente o lado humano com o do personagem "Galvão". Fica o aviso: para aqueles que são apaixonados pelo esporte, é impossível não maratonar essa série!
A beleza de "Galvão: Olha o que ele fez" está justamente na honestidade de seu protagonista. A partir de depoimentos do próprio Galvão e de muitas celebridades do esporte e do jornalismo, a série se concentra em expor os bastidores de sua jornada como locutor, além de sua intimidade profissional e, olha só, pessoal, como marido e pai. A série, obviamente, aborda seus momentos mais importantes, as conquistas, as dores e os muitos desafios profissionais, mas também desmistifica o personagem de um forma nunca vista antes e que vai te surpreender. Confira o trailer que você terá uma ideia do que esperar:
Galvão Bueno pode não ser uma unanimidade - alguns apreciam sua paixão e entusiasmo, enquanto outros criticam veemente sua forma de narrar um jogo ou de tecer alguns comentários, digamos, mais exaltados; mas é inegável que ele está (e estará) na memória emotiva da maioria dos brasileiros há (e por) muito tempo. Sua presença como locutor titular da Rede Globo proporcionou para ele e para nós, incontáveis jornadas esportivas que iam da Fórmula 1 ao Futebol, passando pelo Vôlei, pelo Boxe, pelo Basquete, etc.
E é mais ou menos seguindo essa linha nostálgica que o roteiro de "Galvão: Olha o que ele fez" consegue capturar uma verdade muito difícil para esse tipo de celebridade. O interessante, no entanto, é que a linha temporal de toda essa longa história é pontuada pelo presente, mais precisamente pelos jogos da Seleção na última Copa do Mundo, e isso nos dá a exata noção da responsabilidade que é comandar um evento esportivo como esse - assistir aos jogos pelo ponto de vista do Galvão, dentro de sua cabine de transmissão e ao lados de toda sua equipe, é simplesmente sensacional. A preparação, as resenhas com os amigos mais próximos, os bastidores antes de entrar no ar; tudo isso é mostrado, e melhor: sem filtro!
É praticamente impossível nominar todas as pessoas que deram seu depoimento durante a série - falando bem (e mal) de algumas de suas atitudes e posturas perante assuntos espinhosos, ou até de como ele mesmo foi se construindo e se tornando a "a voz do esporte" na Globo. Seu poder e influência é facilmente percebido por essas conversas com jornalistas, atletas, executivos e até com seus filhos e mulher. Suas paixões e desafetos também estão lá - e aqui cabe a curiosa informação das pessoas que não quiseram participar do projeto, é o caso do Piquet, do Renato Mauricio Prado, do Felipão e até do Neymar.
O fato é que "Galvão: Olha o que ele fez" é um documentário para assistir muitas vezes, um verdadeiro presente para quem viveu as melhores (e piores) experiências com o esporte desde os anos 80 ao lado de um profissional que é considerado insubstituível. Galvão Bueno para muitos é um gênio, para outros "chato pra caramba", mas olhar para sua carreira e não entender a importância dessa obra como recorte histórico da televisão brasileira e do esporte mundial, ou até como homenagem se assim preferirem, passa pela imaturidade de não celebrar o que será realmente inesquecível!
Golaço da Globoplay!