"Acima das Nuvens" fala sobre o dolorido processo de envelhecer pelos olhos de uma atriz completamente dependente de um personagem que não representa há muitos anos e que, por uma rasteira do destino, terá que encarar de frente, interpretado por uma jovem e talentosa atriz marcada por atitudes, digamos, pouco convencionais - e aí é que está a genialidade do filme e de sua narrativa metalinguística: Juliette Binoche é essa atriz que precisa encarar o que ela mesmo foi, porém em uma peça de teatro.
Há 20 anos, Maria Enders (Binoche) ficou famosa por uma atuação memorável nos palcos pelas mãos do renomado dramaturgo e cineasta Wilhelm Melchior. Anos depois, ela tem que enfrentar o fato de que terá que dividir cena com uma jovem estrela de Hollywood que irá interpretar o mesmo papel em uma remontagem do espetáculo que a consagrou. Sua nova personagem, porém, é a antítese da jovialidade e irresponsabilidade que Maria representou um dia, agora ela fará o papel de uma empresária de meia-idade, insegura e apaixonada pela assistente 20 anos mais jovem. Para se preparar para o espetáculo, Enders parte com sua bela, jovem e dedicada assistente Vallentine (Kristen Stewart) para a região montanhosa suíça de Engadin, onde é obrigada a enfrentar o presente, o revisitar seu passado e , principalmente, encarar seus desejos mais ocultos e solitários. Confira o trailer:
Reparem no contexto: Maria Enders está tentando recomeçar sua vida depois de um divórcio pouco amigável, carrega o fato de ter sido ignorada por um amor platônico da juventude e com quem dividiu cena em vários trabalhos do seu mentor Wilhelm Melchior que, inclusive, acaba de abandona-la depois de se suicidar, justamente no momento em que ela iria fazer uma homenagem por sua história e obra. Sim, são três situações razoavelmente independentes, mas que carregam as marcas que Maria insiste em esconder e isso se torna um presente inimaginável na construção de uma personagem tão cheia de camadas que ela resolve interpretar - e que para Binoche a regra é serve da mesma forma!
A passagem do tempo, simbolizada pelas nuvens sinuosas de Sils Maria, nos Alpes suíços, é o primeiro de muitos símbolos que o talentoso diretor Olivier Assayas propõe para "Acima das Nuvens". O filme é uma espécie de jornada de auto-conhecimento ou até um drama de redenção fantasiado de conflito geracional, cheio de comentários e críticas sobre arte, cinema, relacionamentos, irresponsabilidades e sobre cultura de celebridades. Ao acompanharmos a relação de Maria Enders e Vallentine percebemos a dualidade entre os textos da peça sendo ensaiada com divagações pessoais que impactam no relacionamento das duas, com muita sensibilidade e provocando muitas desconfianças em quem assiste - será que a vida está imitando a arte?
"Acima das Nuvens" não é um filme fácil, seu simbolismo é frequente e mergulhar nele é quase condicional para se apaixonar pelo filme - embora o diretor equilibre muito bem o jogo do "duplo sentido", ele não faz questão nenhuma de entregar suas convicções. Assayas não se esquece do universo em que esta inserido e muito menos do passado de Binoche ou de Kristen Stewart para citar os "valores" do cinema moderno americano frente ao clássico e artísticos cinema europeu ou até sobre o abismo temporal que se abre e vai sugando as oportunidades de uma atriz experiente em detrimento ao novo estilo de vida marginal de outras atrizes que são notícia - é cruel, mas real!
Veja, "Acima das Nuvens" concorreu em Cannes em 2014 e levou mais de 20 prêmios em sua carreira nos festivais - seu conceito narrativo é muito autoral e extremamente independente, ou seja, vai agradar quem gosta do estilo e quem está disposto a olhar para os detalhes muito além do que vemos nas telas!
É lindo, mas não será para todos!
"Acima das Nuvens" fala sobre o dolorido processo de envelhecer pelos olhos de uma atriz completamente dependente de um personagem que não representa há muitos anos e que, por uma rasteira do destino, terá que encarar de frente, interpretado por uma jovem e talentosa atriz marcada por atitudes, digamos, pouco convencionais - e aí é que está a genialidade do filme e de sua narrativa metalinguística: Juliette Binoche é essa atriz que precisa encarar o que ela mesmo foi, porém em uma peça de teatro.
Há 20 anos, Maria Enders (Binoche) ficou famosa por uma atuação memorável nos palcos pelas mãos do renomado dramaturgo e cineasta Wilhelm Melchior. Anos depois, ela tem que enfrentar o fato de que terá que dividir cena com uma jovem estrela de Hollywood que irá interpretar o mesmo papel em uma remontagem do espetáculo que a consagrou. Sua nova personagem, porém, é a antítese da jovialidade e irresponsabilidade que Maria representou um dia, agora ela fará o papel de uma empresária de meia-idade, insegura e apaixonada pela assistente 20 anos mais jovem. Para se preparar para o espetáculo, Enders parte com sua bela, jovem e dedicada assistente Vallentine (Kristen Stewart) para a região montanhosa suíça de Engadin, onde é obrigada a enfrentar o presente, o revisitar seu passado e , principalmente, encarar seus desejos mais ocultos e solitários. Confira o trailer:
Reparem no contexto: Maria Enders está tentando recomeçar sua vida depois de um divórcio pouco amigável, carrega o fato de ter sido ignorada por um amor platônico da juventude e com quem dividiu cena em vários trabalhos do seu mentor Wilhelm Melchior que, inclusive, acaba de abandona-la depois de se suicidar, justamente no momento em que ela iria fazer uma homenagem por sua história e obra. Sim, são três situações razoavelmente independentes, mas que carregam as marcas que Maria insiste em esconder e isso se torna um presente inimaginável na construção de uma personagem tão cheia de camadas que ela resolve interpretar - e que para Binoche a regra é serve da mesma forma!
A passagem do tempo, simbolizada pelas nuvens sinuosas de Sils Maria, nos Alpes suíços, é o primeiro de muitos símbolos que o talentoso diretor Olivier Assayas propõe para "Acima das Nuvens". O filme é uma espécie de jornada de auto-conhecimento ou até um drama de redenção fantasiado de conflito geracional, cheio de comentários e críticas sobre arte, cinema, relacionamentos, irresponsabilidades e sobre cultura de celebridades. Ao acompanharmos a relação de Maria Enders e Vallentine percebemos a dualidade entre os textos da peça sendo ensaiada com divagações pessoais que impactam no relacionamento das duas, com muita sensibilidade e provocando muitas desconfianças em quem assiste - será que a vida está imitando a arte?
"Acima das Nuvens" não é um filme fácil, seu simbolismo é frequente e mergulhar nele é quase condicional para se apaixonar pelo filme - embora o diretor equilibre muito bem o jogo do "duplo sentido", ele não faz questão nenhuma de entregar suas convicções. Assayas não se esquece do universo em que esta inserido e muito menos do passado de Binoche ou de Kristen Stewart para citar os "valores" do cinema moderno americano frente ao clássico e artísticos cinema europeu ou até sobre o abismo temporal que se abre e vai sugando as oportunidades de uma atriz experiente em detrimento ao novo estilo de vida marginal de outras atrizes que são notícia - é cruel, mas real!
Veja, "Acima das Nuvens" concorreu em Cannes em 2014 e levou mais de 20 prêmios em sua carreira nos festivais - seu conceito narrativo é muito autoral e extremamente independente, ou seja, vai agradar quem gosta do estilo e quem está disposto a olhar para os detalhes muito além do que vemos nas telas!
É lindo, mas não será para todos!
Eu não precisei mais do que quatro minutos para ter meu coração completamente destruído por esse filme! É sério, "Alabama Monroe" é um excelente filme, mas também implacável, duro, intenso e muito profundo. Uma aula de roteiro, de direção e de montagem - não por acaso foi um dos filmes mais premiados no circuito de festivais entre os anos de 2013 e 2015, inclusive representou a Bélgica no Oscar de 2014 como "Melhor Filme Internacional".
Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista, apesar das diferenças entre eles: ela toda tatuada, realista religiosa e cosmopolita; ele um músico, ateu romântico e do campo. Quando a filha do casal fica muito doente, o amor dos dois é levado a julgamento pela dor, mas principalmente pela maneira como cada um enxerga o mundo. Confira o trailer:
Eu poderia iniciar esse review dizendo que "Alabama Monroe" é um filme sobre as dificuldades que a vida nos impõe sem pedir licença. Mas não, essa belíssima produção belga é, na verdade, uma verdadeira história de amor - mas não dessas onde as peças se encaixam perfeitamente. Aliás, é na diferença "de ser e de viver" que Elise e Didier se conectam, mesmo que o preço passe a ser muito alto quando os conflitos de ideias começam a pautar a relação. Embora tocante, principalmente se você já tiver uma família formada, o roteiro usa e abusa da música para estabelecer o mais profundo elo entre o casal e é assim, desde o inicio, que essa linda história é construída (e destruída).
Dirigida pelo talentoso Felix van Groeningen (de "Querido Menino"), "Alabama Monroe" teve o roteiro escrito pelo próprio diretor ao lado de Carl Joos Johan, adaptando de uma peça teatral de Johan Heldenbergh, o que cria uma atmosfera profunda de identificação entre o autor e o ator - fossem os tempos da Academia, Heldenbergh teria enormes chances de receber uma indicação como "Melhor Ator" no Oscar. Sua performance atém de visceral, é realista e tão cheia de camadas que temos a impressão de estarmos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena em que ele expõe toda sua dor para a platéia durante um show da sua banda, já no terceiro ato do filme, é digna de se aplaudir de pé! Reparem. Veerle Baetens não fica muito atrás, ela é uma espécie de camaleão, capaz de entregar uma doçura em uma cena e imediatamente depois o que vemos é uma pessoa completamente diferente, selvagem, impulsiva. Essa quebra de expectativa é lindamente orquestrada por uma montagem que passei por várias linhas do tempo com muita sabedoria, criando um clima de incerteza e tensão impressionantes - Nico Leunen (de "Ad Astra") matou a pau!
Veja, inicialmente o filme parece querer nos levar para uma certa emotividade barata a partir de uma história que traz, em seu centro, uma linda criança com câncer - e de fato somos tocados por essa circunstância. Mas Groeningen é genial ao nos surpreender, ele entende o peso da sua narrativa e ao lado de Leunen, nos afasta desse sentimentalismo fácil, dispensando, por exemplo, uma trilha sonora nesses momentos de maior sofrimento. Por outro lado, ele usa a música para nos reconectar com o casal, com o amor, com a relação, na esperança de que tudo pode dar certo para eles, porém, como na vida, algumas marcas não são esquecidas assim!
Embora "Alabama Monroe" também faça sentido como título, talvez o original "The Broken Circle Breakdown" tenha muito mais a dizer sobre o filme!
Vale muito o seu play!
Eu não precisei mais do que quatro minutos para ter meu coração completamente destruído por esse filme! É sério, "Alabama Monroe" é um excelente filme, mas também implacável, duro, intenso e muito profundo. Uma aula de roteiro, de direção e de montagem - não por acaso foi um dos filmes mais premiados no circuito de festivais entre os anos de 2013 e 2015, inclusive representou a Bélgica no Oscar de 2014 como "Melhor Filme Internacional".
Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh) se apaixonam à primeira vista, apesar das diferenças entre eles: ela toda tatuada, realista religiosa e cosmopolita; ele um músico, ateu romântico e do campo. Quando a filha do casal fica muito doente, o amor dos dois é levado a julgamento pela dor, mas principalmente pela maneira como cada um enxerga o mundo. Confira o trailer:
Eu poderia iniciar esse review dizendo que "Alabama Monroe" é um filme sobre as dificuldades que a vida nos impõe sem pedir licença. Mas não, essa belíssima produção belga é, na verdade, uma verdadeira história de amor - mas não dessas onde as peças se encaixam perfeitamente. Aliás, é na diferença "de ser e de viver" que Elise e Didier se conectam, mesmo que o preço passe a ser muito alto quando os conflitos de ideias começam a pautar a relação. Embora tocante, principalmente se você já tiver uma família formada, o roteiro usa e abusa da música para estabelecer o mais profundo elo entre o casal e é assim, desde o inicio, que essa linda história é construída (e destruída).
Dirigida pelo talentoso Felix van Groeningen (de "Querido Menino"), "Alabama Monroe" teve o roteiro escrito pelo próprio diretor ao lado de Carl Joos Johan, adaptando de uma peça teatral de Johan Heldenbergh, o que cria uma atmosfera profunda de identificação entre o autor e o ator - fossem os tempos da Academia, Heldenbergh teria enormes chances de receber uma indicação como "Melhor Ator" no Oscar. Sua performance atém de visceral, é realista e tão cheia de camadas que temos a impressão de estarmos assistindo um documentário e não uma ficção. A cena em que ele expõe toda sua dor para a platéia durante um show da sua banda, já no terceiro ato do filme, é digna de se aplaudir de pé! Reparem. Veerle Baetens não fica muito atrás, ela é uma espécie de camaleão, capaz de entregar uma doçura em uma cena e imediatamente depois o que vemos é uma pessoa completamente diferente, selvagem, impulsiva. Essa quebra de expectativa é lindamente orquestrada por uma montagem que passei por várias linhas do tempo com muita sabedoria, criando um clima de incerteza e tensão impressionantes - Nico Leunen (de "Ad Astra") matou a pau!
Veja, inicialmente o filme parece querer nos levar para uma certa emotividade barata a partir de uma história que traz, em seu centro, uma linda criança com câncer - e de fato somos tocados por essa circunstância. Mas Groeningen é genial ao nos surpreender, ele entende o peso da sua narrativa e ao lado de Leunen, nos afasta desse sentimentalismo fácil, dispensando, por exemplo, uma trilha sonora nesses momentos de maior sofrimento. Por outro lado, ele usa a música para nos reconectar com o casal, com o amor, com a relação, na esperança de que tudo pode dar certo para eles, porém, como na vida, algumas marcas não são esquecidas assim!
Embora "Alabama Monroe" também faça sentido como título, talvez o original "The Broken Circle Breakdown" tenha muito mais a dizer sobre o filme!
Vale muito o seu play!
Esse é um filme pouco diferente do cinema espanhol que conhecemos, mas que também não deixa de ser uma ótima surpresa - embora tenha um conceito mais poético, profundo eu diria.
"Amar", basicamente, acompanha a história de amor que Laura (María Pedraza) e Carlos (Pol Monen) vivenciam: desde sua intensidade até a natural fragilidade do primeiro amor e como eles enxergam a realidade quando se sentem abalados pelas dificuldades naturais de uma relação e sentem que todo romantismo que idealizaram não passou de uma fase! Confira o trailer (em espanhol):
Antes de mais nada é preciso dizer que "Amar" é muito bem dirigido pelo Esteban Crespo, embora seja apenas seu primeiro longa-metragem. O filme dialoga com alguns dramas adolescentes como sexualidade, descobertas, inseguranças, sonhos e decepções; mas sem se fazer piegas - de fato existe um cuidado em retratar com certo realismo a relação entre os protagonistas. Veja, não estamos diante de um grande roteiro, mas é preciso elogiar a forma como Crespo construiu a narrativa, provocando os atores, trabalhando com as lentes mais fechadas nos momentos mais introspectivos, mas enquadrando a cidade ora em segundo plano como um pano de fundo completamente desfocado e colorido, ora como um personagem, aqui com uso das grandes angulares, para estabelecer todo aquele universo underground europeu.
Como um resultado desse apuro estético. Amar", para mim, é um bastante maduro e merecedor de todos os elogios que recebeu desde seu lançamento - além de uma indicação para o Prêmio Goya (o "Oscar Espanhol") para a incrível performance de Pol Monen. Saiba que você está diante de um filme de relações adolescentes muito bem realizado e que não se apega a esteriótipos para conseguir tocar no alma - e acredite: ele vai tocar.
Vale muito o seu play - como entretenimento, mas com uma pegada de cinema independente!
Esse é um filme pouco diferente do cinema espanhol que conhecemos, mas que também não deixa de ser uma ótima surpresa - embora tenha um conceito mais poético, profundo eu diria.
"Amar", basicamente, acompanha a história de amor que Laura (María Pedraza) e Carlos (Pol Monen) vivenciam: desde sua intensidade até a natural fragilidade do primeiro amor e como eles enxergam a realidade quando se sentem abalados pelas dificuldades naturais de uma relação e sentem que todo romantismo que idealizaram não passou de uma fase! Confira o trailer (em espanhol):
Antes de mais nada é preciso dizer que "Amar" é muito bem dirigido pelo Esteban Crespo, embora seja apenas seu primeiro longa-metragem. O filme dialoga com alguns dramas adolescentes como sexualidade, descobertas, inseguranças, sonhos e decepções; mas sem se fazer piegas - de fato existe um cuidado em retratar com certo realismo a relação entre os protagonistas. Veja, não estamos diante de um grande roteiro, mas é preciso elogiar a forma como Crespo construiu a narrativa, provocando os atores, trabalhando com as lentes mais fechadas nos momentos mais introspectivos, mas enquadrando a cidade ora em segundo plano como um pano de fundo completamente desfocado e colorido, ora como um personagem, aqui com uso das grandes angulares, para estabelecer todo aquele universo underground europeu.
Como um resultado desse apuro estético. Amar", para mim, é um bastante maduro e merecedor de todos os elogios que recebeu desde seu lançamento - além de uma indicação para o Prêmio Goya (o "Oscar Espanhol") para a incrível performance de Pol Monen. Saiba que você está diante de um filme de relações adolescentes muito bem realizado e que não se apega a esteriótipos para conseguir tocar no alma - e acredite: ele vai tocar.
Vale muito o seu play - como entretenimento, mas com uma pegada de cinema independente!
"Amigos para a Vida" é muito melhor do que pode parecer em um primeiro olhar, especialmente se você gostou de séries como "This is Us" ou "A Million Little Things". O filme dirigido pelo Jesse Zwick (da série "Nashville: No Ritmo da Fama") mescla com muita sabedoria um certo humor carregado de ironias com um drama cheio de camadas que vai ganhando corpo conforme a trama se desenrola, deixando uma aparente superficialidade para trás até chegar ao ponto de explorar com seriedade temas como amizade, amor, perda e a busca pela felicidade. Talvez quem tenha assistido a excelente produção francesa "Les petits mouchoirs" (que aqui no Brasil surgiu como "Até a Eternidade") ache "Amigos para a Vida" mais do mesmo, mas eu posso te garantir que além de um ótimo e leve entretenimento, esse filme vai tocar o seu coração.
A história, basicamente, gira em torno de Alex (Jason Ritter), um jovem que tenta lidar com a depressão. Quando seus amigos de faculdade descobrem sua tentativa de suicídio, decidem se reunir para um fim de semana juntos, na esperança de animá-lo. A partir desse encontro, antigos segredos são revelados, velhas feridas são reabertas e novos laços são formados. Confira o trailer (em inglês):
O tweet de Alex antes de sua tentativa de suicídio dizia: "Pergunte por mim amanhã e você encontrará um homem morto" - essa é uma frase dita por Mercutio antes de sua morte em "Romeu e Julieta" de William Shakespeare e não por acaso o ponto de partida para uma jornada de reencontro que discute a cada momento a importância de estar "hoje" ao lado de quem você realmente estima. "For Alex" (no original) se apropria de uma situação dramática para fazer um retrato honesto e comovente da vida, com seus altos e baixos, alegrias e tristezas. Quando o roteiro do próprio Zwick encontra seu verdadeiro caminho (e isso demora pelo menos um ato), percebemos que o desenvolvimento da trama vai além de uma premissa batida sobre a importância da amizade, do amor e da esperança; e a leveza como tudo isso é personificado pelo elenco cria uma fácil (e nostálgica) conexão que te fará rir, chorar e refletir sobre a vida.
O elenco, de fato, é um dos pontos fortes de "Amigos para a Vida" - basta dizer que esse foi um dos primeiros trabalhos de Jane Levy (a Zoey de "Zoey e a Sua Fantástica Playlist") e de Aubrey Plaza (a Harper Spiller de "The White Lotus"). Basicamente formado por 7 atores, o elenco mostra uma química invejável para esse tipo de texto - a forma como o roteiro vai envolvendo os personagens e seus dramas do passado, embora previsíveis, nos coloca dentro daquela dinâmica tão particular. Jason Ritter entrega uma performance interessante como Alex, transmitindo uma dor e uma fragilidade que vai além do estereótipo. Nate Parker e Max Greenfield também estão ótimos - seus personagens são multidimensionais e cheios de nuances, trazendo uma veracidade para a história que vale a pena ressaltar.
A direção de Jesse Zwick é competente, mas pouco criativa. Embora sensível e perspicaz, ele prefere se apoiar no equilíbrio entre o humor e o drama, sem cair em pieguices ou clichês, do que provocar seus atores e assim leva-los para um lugar desconhecido que traria ainda mais profundidade para as discussões - e é aqui que a fotografia do Andre Lascaris (de "Playdates") potencializa o trabalho do elenco, já que ele é capaz de capturar as nuances de cada relação sem expor seu real significado. "Amigos para a Vida" é isso, um filme que mostra como os amigos podem ser a nossa maior fonte de apoio nos momentos mais difíceis da vida, mesmo que essa relação seja carregada de marcas que precisam ser discutidas!
Vale seu play!
"Amigos para a Vida" é muito melhor do que pode parecer em um primeiro olhar, especialmente se você gostou de séries como "This is Us" ou "A Million Little Things". O filme dirigido pelo Jesse Zwick (da série "Nashville: No Ritmo da Fama") mescla com muita sabedoria um certo humor carregado de ironias com um drama cheio de camadas que vai ganhando corpo conforme a trama se desenrola, deixando uma aparente superficialidade para trás até chegar ao ponto de explorar com seriedade temas como amizade, amor, perda e a busca pela felicidade. Talvez quem tenha assistido a excelente produção francesa "Les petits mouchoirs" (que aqui no Brasil surgiu como "Até a Eternidade") ache "Amigos para a Vida" mais do mesmo, mas eu posso te garantir que além de um ótimo e leve entretenimento, esse filme vai tocar o seu coração.
A história, basicamente, gira em torno de Alex (Jason Ritter), um jovem que tenta lidar com a depressão. Quando seus amigos de faculdade descobrem sua tentativa de suicídio, decidem se reunir para um fim de semana juntos, na esperança de animá-lo. A partir desse encontro, antigos segredos são revelados, velhas feridas são reabertas e novos laços são formados. Confira o trailer (em inglês):
O tweet de Alex antes de sua tentativa de suicídio dizia: "Pergunte por mim amanhã e você encontrará um homem morto" - essa é uma frase dita por Mercutio antes de sua morte em "Romeu e Julieta" de William Shakespeare e não por acaso o ponto de partida para uma jornada de reencontro que discute a cada momento a importância de estar "hoje" ao lado de quem você realmente estima. "For Alex" (no original) se apropria de uma situação dramática para fazer um retrato honesto e comovente da vida, com seus altos e baixos, alegrias e tristezas. Quando o roteiro do próprio Zwick encontra seu verdadeiro caminho (e isso demora pelo menos um ato), percebemos que o desenvolvimento da trama vai além de uma premissa batida sobre a importância da amizade, do amor e da esperança; e a leveza como tudo isso é personificado pelo elenco cria uma fácil (e nostálgica) conexão que te fará rir, chorar e refletir sobre a vida.
O elenco, de fato, é um dos pontos fortes de "Amigos para a Vida" - basta dizer que esse foi um dos primeiros trabalhos de Jane Levy (a Zoey de "Zoey e a Sua Fantástica Playlist") e de Aubrey Plaza (a Harper Spiller de "The White Lotus"). Basicamente formado por 7 atores, o elenco mostra uma química invejável para esse tipo de texto - a forma como o roteiro vai envolvendo os personagens e seus dramas do passado, embora previsíveis, nos coloca dentro daquela dinâmica tão particular. Jason Ritter entrega uma performance interessante como Alex, transmitindo uma dor e uma fragilidade que vai além do estereótipo. Nate Parker e Max Greenfield também estão ótimos - seus personagens são multidimensionais e cheios de nuances, trazendo uma veracidade para a história que vale a pena ressaltar.
A direção de Jesse Zwick é competente, mas pouco criativa. Embora sensível e perspicaz, ele prefere se apoiar no equilíbrio entre o humor e o drama, sem cair em pieguices ou clichês, do que provocar seus atores e assim leva-los para um lugar desconhecido que traria ainda mais profundidade para as discussões - e é aqui que a fotografia do Andre Lascaris (de "Playdates") potencializa o trabalho do elenco, já que ele é capaz de capturar as nuances de cada relação sem expor seu real significado. "Amigos para a Vida" é isso, um filme que mostra como os amigos podem ser a nossa maior fonte de apoio nos momentos mais difíceis da vida, mesmo que essa relação seja carregada de marcas que precisam ser discutidas!
Vale seu play!
“Amor e Outras Drogas” é uma ótima comédia romântica para ver, dar muitas risadas e até se emocionar! Eu diria até que o filme poderia ser, tranquilamente, um longo episódio de “Modern Love” da Prime Video - até a personagem Maggie de Hathaway, lembra o papel que a atriz interpretou na série, aquela que transitava de mulher radiante de felicidade para uma pessoa deprimida.
Aqui, Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) é um "pegador" do tipo que perde a conta do número de mulheres com quem já transou. Após ser demitido do cargo de vendedor em uma loja de eletrodomésticos por ter seduzido uma das funcionárias, ele passa a trabalhar num grande laboratório da indústria farmacêutica. Como representante comercial, sua função é abordar médicos e convencê-los a prescrever os produtos da empresa para seus pacientes. Em uma dessas visitas, ele conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway), uma jovem de 26 anos que sofre de mal de Parkinson. Inicialmente, Jamie fica atraído pela beleza física e por ter sido dispensado por ela, mas aos poucos descobre que existe algo mais forte. Maggie, por sua vez, também sente o mesmo, mas não quer levar o caso adiante por causa de sua condição. Confira o trailer (em inglês):
Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o elenco. O ator Jake Gyllenhaal está perfeito, com seu charme e desenvoltura. - é impressionante a química que ele tem em cena ao lado de Anne Hathaway, que também está ótima. O filme se passa nos anos 90, então pode esperar inúmeras cenas com os dois embalados por uma trilha sonora cheia de músicas viciantes.
A direção de Edward Zwick (“Diamante de Sangue”) é competente ao mesclar comédia, romance e drama de forma fluída e leve. A fotografia de Steven Fierberg (de "Emily em Paris") também impressiona pela sensibilidade - algo pouco comum em filmes do gênero. Fierberg transida perfeitamente entre os planos mais abertos para estabelecer a dinâmica quase caótica do relacionamento dos personagens com o close-ups das passagens mais introspectivas e sentimentais que seguem - sua lente é capaz de captar perfeitamente o sentimento que o diretor provoca em seus atores e que, inegavelmente, nos toca de uma forma impressionante.
Escrita por Charles Randolph, Edward Zwick e Marshall Herskovitz e baseado no livro de Jamie Reidy, “Amor e Outras Drogas” tem um início cheio de momentos cômicos e muito romance, mas também vai te fazer refletir sobre alguns temas bem relevantes. E prepare-se para se comover com essa história que vai muito além de uma trama água com açúcar que possa parecer.
Vale muito a pena!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
“Amor e Outras Drogas” é uma ótima comédia romântica para ver, dar muitas risadas e até se emocionar! Eu diria até que o filme poderia ser, tranquilamente, um longo episódio de “Modern Love” da Prime Video - até a personagem Maggie de Hathaway, lembra o papel que a atriz interpretou na série, aquela que transitava de mulher radiante de felicidade para uma pessoa deprimida.
Aqui, Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) é um "pegador" do tipo que perde a conta do número de mulheres com quem já transou. Após ser demitido do cargo de vendedor em uma loja de eletrodomésticos por ter seduzido uma das funcionárias, ele passa a trabalhar num grande laboratório da indústria farmacêutica. Como representante comercial, sua função é abordar médicos e convencê-los a prescrever os produtos da empresa para seus pacientes. Em uma dessas visitas, ele conhece Maggie Murdock (Anne Hathaway), uma jovem de 26 anos que sofre de mal de Parkinson. Inicialmente, Jamie fica atraído pela beleza física e por ter sido dispensado por ela, mas aos poucos descobre que existe algo mais forte. Maggie, por sua vez, também sente o mesmo, mas não quer levar o caso adiante por causa de sua condição. Confira o trailer (em inglês):
Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o elenco. O ator Jake Gyllenhaal está perfeito, com seu charme e desenvoltura. - é impressionante a química que ele tem em cena ao lado de Anne Hathaway, que também está ótima. O filme se passa nos anos 90, então pode esperar inúmeras cenas com os dois embalados por uma trilha sonora cheia de músicas viciantes.
A direção de Edward Zwick (“Diamante de Sangue”) é competente ao mesclar comédia, romance e drama de forma fluída e leve. A fotografia de Steven Fierberg (de "Emily em Paris") também impressiona pela sensibilidade - algo pouco comum em filmes do gênero. Fierberg transida perfeitamente entre os planos mais abertos para estabelecer a dinâmica quase caótica do relacionamento dos personagens com o close-ups das passagens mais introspectivas e sentimentais que seguem - sua lente é capaz de captar perfeitamente o sentimento que o diretor provoca em seus atores e que, inegavelmente, nos toca de uma forma impressionante.
Escrita por Charles Randolph, Edward Zwick e Marshall Herskovitz e baseado no livro de Jamie Reidy, “Amor e Outras Drogas” tem um início cheio de momentos cômicos e muito romance, mas também vai te fazer refletir sobre alguns temas bem relevantes. E prepare-se para se comover com essa história que vai muito além de uma trama água com açúcar que possa parecer.
Vale muito a pena!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
“Amor ou Consequência” é daqueles filmes que passam bem rápido, mas que a gente gostaria que não tivesse fim!
“Jeux d'enfants” (título original) é uma produção fraco-suiça de 2003, que aproveita de seu roteiro primoroso e uma narrativa fantástica (no sentido estético da palavra), para contar um ingênua história de amor através do tempo: já adultos, os melhores amigos Julien Janvier (Guillaume Canet) e Sophie Kowalsky (Marion Cotillard) continuam um estranho jogo que começaram quando ainda eram crianças - uma espécie de competição onde, para superar o outro, é preciso aceitar desafios bem ousados que os colocam em situações bastante, digamos, constrangedoras! Veja o trailer:
Seguindo o conceito estético de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", “Amor ou Consequência” tem o mérito de unir fotografia, trilha, interpretação e construir uma unidade narrativa impressionante - tudo é muito bem planejado pelo diretor Yann Samuel (de "Ironias do Amor"). É incrível como ele faz com que a gente tenha a estranha sensação de não parar de sorrir durante o filme inteiro, tão belo é o seu trabalho.
Eu diria que “Amor ou Consequência” não se trata de uma comédia romântica normal ou uma história água com açúcar tipo "Sessão da tarde", mas sim de um filme inteligente, criativo, muito bem realizado, tecnicamente perfeito - leve, reflexivo e, além de tudo, muito gostoso de assistir!
Recomendadíssimo!!!!!
“Amor ou Consequência” é daqueles filmes que passam bem rápido, mas que a gente gostaria que não tivesse fim!
“Jeux d'enfants” (título original) é uma produção fraco-suiça de 2003, que aproveita de seu roteiro primoroso e uma narrativa fantástica (no sentido estético da palavra), para contar um ingênua história de amor através do tempo: já adultos, os melhores amigos Julien Janvier (Guillaume Canet) e Sophie Kowalsky (Marion Cotillard) continuam um estranho jogo que começaram quando ainda eram crianças - uma espécie de competição onde, para superar o outro, é preciso aceitar desafios bem ousados que os colocam em situações bastante, digamos, constrangedoras! Veja o trailer:
Seguindo o conceito estético de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", “Amor ou Consequência” tem o mérito de unir fotografia, trilha, interpretação e construir uma unidade narrativa impressionante - tudo é muito bem planejado pelo diretor Yann Samuel (de "Ironias do Amor"). É incrível como ele faz com que a gente tenha a estranha sensação de não parar de sorrir durante o filme inteiro, tão belo é o seu trabalho.
Eu diria que “Amor ou Consequência” não se trata de uma comédia romântica normal ou uma história água com açúcar tipo "Sessão da tarde", mas sim de um filme inteligente, criativo, muito bem realizado, tecnicamente perfeito - leve, reflexivo e, além de tudo, muito gostoso de assistir!
Recomendadíssimo!!!!!
"Amor Platônico" vai te surpreender - especialmente se você gostou de séries como "Easy" ou "Love", ambas da Netflix. Eu diria, inclusive, que a série criada pela Francesca Delbanco (de "Amigos da Faculdade") e pelo Nicholas Stoller (de "Mais que Amigos") é a junção do que existe de melhor dessas duas referências. A produção original da AppleTV+ com a Sony nos conquista pela inteligência e sensibilidade com que equilibra o humor ácido com o drama real, trazendo para a história personagens cheios de camadas, que carregam suas inúmeras falhas, mas que nem por isso deixam de ser cativantes; além de uma abordagem extremamente honesta e complexa das relações interpessoais, especialmente entre homem e mulher, mas pela perspectiva (dúbia) da amizade.
"Platonic" (no original), basicamente, gira em torno de Will (Seth Rogen) e Sylvia (Rose Byrne), amigos de longa data que se reencontram após o divórcio de Will. Apesar do respeito mútuo, existe uma química inegável entre eles, o que transforma essa afetuosa relação em algo mais desafiador do que todos podiam imaginar, confrontando-os com seus próprios medos, inseguranças e expectativas de uma vida adulta que teima em complicar as coisas. Confira o trailer (em inglês):
Em um primeiro olhar fica claro que "Amor Platônico" se destaca pela forma com que o roteiro tece sua narrativa - existe uma dinâmica carregada de humor non senseque nos envolve. Veja, o humor ácido e perspicaz que encontramos no texto muito bem desenvolvido por Delbanco e Stoller funciona perfeitamente ao abordar os momentos de profunda sensibilidade que seus personagens estão vivendo - mesmo as situações soando absurdas, existe um toque de realismo que nos provoca alguma identificação e empatia. Ao explorar as nuances das relações humanas com essa leveza, a série sobe de patamar - ela não se contenta com soluções fáceis ou clichês, quebrando nossas expectativas ao mesmo tempo que nos convida para refletir sobre as diversas formas de amor e sobre a natureza de certa forma complexa da amizade entre o homem e a mulher.
Assuntos como: problemas no trabalho, desconfianças nos relacionamentos, o próximo passo dentro de um casamento de longa data, as idas e vindas conflituosas por problemas que surgem aos montes na vida adulta, o ciúmes fantasiado de segurança, enfim, vários pontos tão próximos de nós que aqui são uma espécie de plano de fundo para situações pela qual Will e Sylvia precisam passar - o interessante é que o fato dos personagens estarem na meia idade só potencializa tais discussões. Tanto Delbanco quanto Stoller também se dividem na direção dos episódios, deixando com que Seth Rogen e Rose Byrne entreguem o que têm de melhor. A química entre os dois atores é invejável e essencial para que nos apaixonemos pela proposta da série - mesmo que inicialmente pareça bobinha demais. A trilha sonora também merece destaque: as músicas da abertura dão o exato tom do que vem pela frente nos dez episódios da temporada.
"Amor Platônico" tem uma atmosfera positiva e acolhedora - é uma delicia de assistir. Seu conceito narrativo não busca grandiosidade, mas tenta (e quase sempre consegue) se aprofundar na dinâmica natural entre os personagens em pouco mais de trinta minutos por episódio - não será raro você se pegar refletindo sobre uma passagem que acabou de assistir ou de fazer algum paralelo com suas próprias histórias mais íntimas. Aqui realmente temos uma série inteligente, divertida e até emocionante; um retrato honesto sobre relacionamentos modernos que merece demais sua atenção!
Imperdível!
"Amor Platônico" vai te surpreender - especialmente se você gostou de séries como "Easy" ou "Love", ambas da Netflix. Eu diria, inclusive, que a série criada pela Francesca Delbanco (de "Amigos da Faculdade") e pelo Nicholas Stoller (de "Mais que Amigos") é a junção do que existe de melhor dessas duas referências. A produção original da AppleTV+ com a Sony nos conquista pela inteligência e sensibilidade com que equilibra o humor ácido com o drama real, trazendo para a história personagens cheios de camadas, que carregam suas inúmeras falhas, mas que nem por isso deixam de ser cativantes; além de uma abordagem extremamente honesta e complexa das relações interpessoais, especialmente entre homem e mulher, mas pela perspectiva (dúbia) da amizade.
"Platonic" (no original), basicamente, gira em torno de Will (Seth Rogen) e Sylvia (Rose Byrne), amigos de longa data que se reencontram após o divórcio de Will. Apesar do respeito mútuo, existe uma química inegável entre eles, o que transforma essa afetuosa relação em algo mais desafiador do que todos podiam imaginar, confrontando-os com seus próprios medos, inseguranças e expectativas de uma vida adulta que teima em complicar as coisas. Confira o trailer (em inglês):
Em um primeiro olhar fica claro que "Amor Platônico" se destaca pela forma com que o roteiro tece sua narrativa - existe uma dinâmica carregada de humor non senseque nos envolve. Veja, o humor ácido e perspicaz que encontramos no texto muito bem desenvolvido por Delbanco e Stoller funciona perfeitamente ao abordar os momentos de profunda sensibilidade que seus personagens estão vivendo - mesmo as situações soando absurdas, existe um toque de realismo que nos provoca alguma identificação e empatia. Ao explorar as nuances das relações humanas com essa leveza, a série sobe de patamar - ela não se contenta com soluções fáceis ou clichês, quebrando nossas expectativas ao mesmo tempo que nos convida para refletir sobre as diversas formas de amor e sobre a natureza de certa forma complexa da amizade entre o homem e a mulher.
Assuntos como: problemas no trabalho, desconfianças nos relacionamentos, o próximo passo dentro de um casamento de longa data, as idas e vindas conflituosas por problemas que surgem aos montes na vida adulta, o ciúmes fantasiado de segurança, enfim, vários pontos tão próximos de nós que aqui são uma espécie de plano de fundo para situações pela qual Will e Sylvia precisam passar - o interessante é que o fato dos personagens estarem na meia idade só potencializa tais discussões. Tanto Delbanco quanto Stoller também se dividem na direção dos episódios, deixando com que Seth Rogen e Rose Byrne entreguem o que têm de melhor. A química entre os dois atores é invejável e essencial para que nos apaixonemos pela proposta da série - mesmo que inicialmente pareça bobinha demais. A trilha sonora também merece destaque: as músicas da abertura dão o exato tom do que vem pela frente nos dez episódios da temporada.
"Amor Platônico" tem uma atmosfera positiva e acolhedora - é uma delicia de assistir. Seu conceito narrativo não busca grandiosidade, mas tenta (e quase sempre consegue) se aprofundar na dinâmica natural entre os personagens em pouco mais de trinta minutos por episódio - não será raro você se pegar refletindo sobre uma passagem que acabou de assistir ou de fazer algum paralelo com suas próprias histórias mais íntimas. Aqui realmente temos uma série inteligente, divertida e até emocionante; um retrato honesto sobre relacionamentos modernos que merece demais sua atenção!
Imperdível!
Lindo e sensível - talvez não tenha melhor forma de definir o francês, "Amour". Lançado em 2012 e dirigido por Michael Haneke (de "Happy End"), posso dizer que esse é um drama austero e profundamente comovente que explora as complexidades do amor pela perspectiva da velhice e da realidade que vai se tornando o fim da vida. O filme, que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2012 e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013, é um retrato intimista, e de certa forma brutal, da devoção entre um casal idoso que enfrenta os desafios de uma doença e da inevitável perda. Com performances impecáveis e uma direção bastante minimalista, "Amour" oferece uma reflexão implacável sobre o amor e a dignidade no final da vida. Para aqueles que gostaram de "Meu Pai", "Amour" é uma experiência parecida e, justamente por isso, imperdível.
A trama segue Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), um casal de aposentados que vive uma vida tranquila e culta em Paris. Ambos são ex-professores de música e compartilham uma vida de amor e companheirismo. No entanto, sua rotina é abalada quando Anne sofre um derrame que paralisa um lado de seu corpo. À medida que sua condição se deteriora, Georges assume o papel de cuidador, enfrentando a dor emocional e física de ver sua amada esposa perder gradualmente sua independência e dignidade. Confira o trailer:
Michael Haneke é conhecido por sua abordagem fria e meticulosa diante de uma narrativa cinematográfica que muitas vezes se comunica pelo subtexto. Certamente ele aplica seu estilo em "Amour" de uma maneira que intensifica o impacto emocional da história. Haneke evita qualquer sentimentalismo ou melodrama, optando por uma direção precisa e uma câmera fixa que conta a história por si só - é lindo e angustiante. Repare como essa abordagem permite que a audiência experimente a crueza e a realidade da situação, oferecendo uma visão não filtrada da fragilidade humana e da natureza implacável de uma doença - como se estivéssemos observando os fatos, ali, no silêncio. A direção de fotografia de Darius Khondji (indicado ao Oscar por "Bardo" e "Evita") é igualmente discreta, utilizando luz natural e uma paleta de cores suaves para criar uma sensação de intimidade e desolação. No entanto, como o apartamento do casal serve como o único cenário do filme, Khondji brinca com as limitações, criando uma extensão da experiência dos personagens, se apropriando dos espaços cada vez mais confinados para refletir o mundo em declínio de Anne e Georges. Aliás, as escolhas visuais de Haneke e Khondji enfatizam demais essa claustrofobia e esse isolamento, aumentando a sensação de impotência e desespero que permeia toda a narrativa.
Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva entregam performances extraordinárias como Georges e Anne. Trintignant, com uma contenção emocional notável, retrata Georges como um homem dedicado, cuja paciência e compaixão são testadas ao limite enquanto ele cuida de sua esposa. Sua atuação é uma masterclass de sutileza, capturando a força silenciosa e a vulnerabilidade de um homem confrontado com a perda iminente. Riva, em uma performance profundamente corajosa, retrata Anne com uma dignidade e graça comoventes, mesmo quando sua personagem está sendo consumida pela doença. A deterioração de Anne é retratada com uma autenticidade dolorosa, e Riva lida com os desafios físicos do papel de maneira que é ao mesmo tempo devastadora e inspiradora. O filme também conta com uma breve, mas impactante, participação de Isabelle Huppert como Eva, a filha do casal, cuja incapacidade de compreender plenamente o que seus pais estão enfrentando adiciona outra camada de complexidade emocional à narrativa. Huppert representa o ponto de vista externo, mostrando o conflito entre as obrigações familiares e as realidades da vida cotidiana. Uma pancada!
"Amour" não é um filme fácil de assistir, é preciso que se diga - sua narrativa lenta e implacável, combinada com a recusa de Haneke em fornecer qualquer forma de alívio emocional ou resolução simples. No entanto, é justamente essa honestidade brutal em não suavizar a experiência do envelhecimento e da morte que tornam "Amour" tão poderoso - você vai se sentir forçado a confrontar a realidade da mortalidade de uma maneira que é desconfortável, mas necessária; e isso é lindo! Um filme que não se esquiva das verdades difíceis da vida, um retrato corajoso e honesto do amor e da dor - em sua ambiguidade e incômodo! Filmaço!
Vale muito o seu play!
Lindo e sensível - talvez não tenha melhor forma de definir o francês, "Amour". Lançado em 2012 e dirigido por Michael Haneke (de "Happy End"), posso dizer que esse é um drama austero e profundamente comovente que explora as complexidades do amor pela perspectiva da velhice e da realidade que vai se tornando o fim da vida. O filme, que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2012 e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2013, é um retrato intimista, e de certa forma brutal, da devoção entre um casal idoso que enfrenta os desafios de uma doença e da inevitável perda. Com performances impecáveis e uma direção bastante minimalista, "Amour" oferece uma reflexão implacável sobre o amor e a dignidade no final da vida. Para aqueles que gostaram de "Meu Pai", "Amour" é uma experiência parecida e, justamente por isso, imperdível.
A trama segue Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), um casal de aposentados que vive uma vida tranquila e culta em Paris. Ambos são ex-professores de música e compartilham uma vida de amor e companheirismo. No entanto, sua rotina é abalada quando Anne sofre um derrame que paralisa um lado de seu corpo. À medida que sua condição se deteriora, Georges assume o papel de cuidador, enfrentando a dor emocional e física de ver sua amada esposa perder gradualmente sua independência e dignidade. Confira o trailer:
Michael Haneke é conhecido por sua abordagem fria e meticulosa diante de uma narrativa cinematográfica que muitas vezes se comunica pelo subtexto. Certamente ele aplica seu estilo em "Amour" de uma maneira que intensifica o impacto emocional da história. Haneke evita qualquer sentimentalismo ou melodrama, optando por uma direção precisa e uma câmera fixa que conta a história por si só - é lindo e angustiante. Repare como essa abordagem permite que a audiência experimente a crueza e a realidade da situação, oferecendo uma visão não filtrada da fragilidade humana e da natureza implacável de uma doença - como se estivéssemos observando os fatos, ali, no silêncio. A direção de fotografia de Darius Khondji (indicado ao Oscar por "Bardo" e "Evita") é igualmente discreta, utilizando luz natural e uma paleta de cores suaves para criar uma sensação de intimidade e desolação. No entanto, como o apartamento do casal serve como o único cenário do filme, Khondji brinca com as limitações, criando uma extensão da experiência dos personagens, se apropriando dos espaços cada vez mais confinados para refletir o mundo em declínio de Anne e Georges. Aliás, as escolhas visuais de Haneke e Khondji enfatizam demais essa claustrofobia e esse isolamento, aumentando a sensação de impotência e desespero que permeia toda a narrativa.
Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva entregam performances extraordinárias como Georges e Anne. Trintignant, com uma contenção emocional notável, retrata Georges como um homem dedicado, cuja paciência e compaixão são testadas ao limite enquanto ele cuida de sua esposa. Sua atuação é uma masterclass de sutileza, capturando a força silenciosa e a vulnerabilidade de um homem confrontado com a perda iminente. Riva, em uma performance profundamente corajosa, retrata Anne com uma dignidade e graça comoventes, mesmo quando sua personagem está sendo consumida pela doença. A deterioração de Anne é retratada com uma autenticidade dolorosa, e Riva lida com os desafios físicos do papel de maneira que é ao mesmo tempo devastadora e inspiradora. O filme também conta com uma breve, mas impactante, participação de Isabelle Huppert como Eva, a filha do casal, cuja incapacidade de compreender plenamente o que seus pais estão enfrentando adiciona outra camada de complexidade emocional à narrativa. Huppert representa o ponto de vista externo, mostrando o conflito entre as obrigações familiares e as realidades da vida cotidiana. Uma pancada!
"Amour" não é um filme fácil de assistir, é preciso que se diga - sua narrativa lenta e implacável, combinada com a recusa de Haneke em fornecer qualquer forma de alívio emocional ou resolução simples. No entanto, é justamente essa honestidade brutal em não suavizar a experiência do envelhecimento e da morte que tornam "Amour" tão poderoso - você vai se sentir forçado a confrontar a realidade da mortalidade de uma maneira que é desconfortável, mas necessária; e isso é lindo! Um filme que não se esquiva das verdades difíceis da vida, um retrato corajoso e honesto do amor e da dor - em sua ambiguidade e incômodo! Filmaço!
Vale muito o seu play!
"Antes do Inverno" é o típico drama de relações que nos provoca uma série de reflexões onde, sem dúvida, a principal é: o amor é capaz de superar todas as dificuldades mesmo com o passar dos anos? Certamente você já deve estar parando para pensar sobre o assunto e se eu estou certo, pode ter certeza que essa produção francesa dirigida pelo incrível Philippe Claudel (de "Une enfance"), é para você - mas lembre-se: a complexidade das relações humanas expostas no filme chega repleta de sutilezas e sem pressa para se conectar aos fatos, ou seja, a narrativa é inteligente, mas cadenciada, o que pode te incomodar, mas que fique claro que a história só cresce e que seu terceiro ato acaba colocando o filme em outro patamar.
Paul (Daniel Auteuil) é um neurocirurgião de 60 anos casado com Lucie (Kristin Scott Thomas). A monotonia do cotidiano toma conta do casal até que lindos buquês de rosas começam a ser entregues de forma anônima na casa deles, justamente no momento em que Lou (Leïla Bekhti), uma jovem de 20 anos, não para de cruzar o caminho de Paul - é aí que percebemos que algumas máscaras começam a cair e que muito do que vemos, na verdade, não passam de aparências. Confira o trailer:
Claramente Claudel se propõe a gerar muito mais perguntas do que respostas logo de cara. Com muita sensibilidade, o diretor pontua sua narrativa com o pacato dia a dia de um típico casal bem sucedido, já estabelecido profissionalmente, seguro financeiramente, mas completamente distante afetivamente. As questões que transitam por esse universo cada vez mais frio (daí vem o nome do filme), invocam dúvidas como se aquelas pessoas, de fato, não fossem realmente quem elas gostariam de ser. A vida de Paul e Lucie claramente é confortável, mas o vazio entre eles é tão ensurdecedor que realmente nos perguntamos se aquilo tudo era realmente o que eles sonharam para o futuro.
Com o tempo passando, a idade chegando e a necessidade de ser feliz sufocando, a narrativa nos joga com muita força na direção parede com outros questionamentos existenciais que chegam a incomodar nossa intimidade e até funcionar como uma espécie de gatilho emocional onde refletimos se, justamente antes da velhice, seria aquele o momento certo para revelar frases não ditas, discussões esquecidas ou os segredos guardados? Perceba como tudo que envolve Paul e Lucie poderia acontecer comigo ou com você e é nessa atmosfera de insegurança que a história passa a entregar suas pistas e algumas atitudes dos personagens passam a fazer mais sentido.
Se temos o marido nem tão infiel, mas que se faz parecer para se sentir vivo; ou a garota sem rumo, que precisa se apoiar em alguém para continuar seu caminho; ou a esposa independente que quer parecer mais forte do que realmente é; ou o melhor melhor amigo que cobiça aquela vida, para ele (e só para ele) perfeita; e até a irmã desequilibrada que, obviamente, é a única capaz de dizer as verdades, mesmo que sua condição a impeça de ser ouvida; é claro que todas essas personas soam clichês, mas a magia de Avant l'hiver (no original) está em justamente assumir a normalidade como uma visão muito mais complexa da vida - e é isso que nos prende, que nos conquista e que nos faz pensar profundamente!
Vale muito o seu play!
"Antes do Inverno" é o típico drama de relações que nos provoca uma série de reflexões onde, sem dúvida, a principal é: o amor é capaz de superar todas as dificuldades mesmo com o passar dos anos? Certamente você já deve estar parando para pensar sobre o assunto e se eu estou certo, pode ter certeza que essa produção francesa dirigida pelo incrível Philippe Claudel (de "Une enfance"), é para você - mas lembre-se: a complexidade das relações humanas expostas no filme chega repleta de sutilezas e sem pressa para se conectar aos fatos, ou seja, a narrativa é inteligente, mas cadenciada, o que pode te incomodar, mas que fique claro que a história só cresce e que seu terceiro ato acaba colocando o filme em outro patamar.
Paul (Daniel Auteuil) é um neurocirurgião de 60 anos casado com Lucie (Kristin Scott Thomas). A monotonia do cotidiano toma conta do casal até que lindos buquês de rosas começam a ser entregues de forma anônima na casa deles, justamente no momento em que Lou (Leïla Bekhti), uma jovem de 20 anos, não para de cruzar o caminho de Paul - é aí que percebemos que algumas máscaras começam a cair e que muito do que vemos, na verdade, não passam de aparências. Confira o trailer:
Claramente Claudel se propõe a gerar muito mais perguntas do que respostas logo de cara. Com muita sensibilidade, o diretor pontua sua narrativa com o pacato dia a dia de um típico casal bem sucedido, já estabelecido profissionalmente, seguro financeiramente, mas completamente distante afetivamente. As questões que transitam por esse universo cada vez mais frio (daí vem o nome do filme), invocam dúvidas como se aquelas pessoas, de fato, não fossem realmente quem elas gostariam de ser. A vida de Paul e Lucie claramente é confortável, mas o vazio entre eles é tão ensurdecedor que realmente nos perguntamos se aquilo tudo era realmente o que eles sonharam para o futuro.
Com o tempo passando, a idade chegando e a necessidade de ser feliz sufocando, a narrativa nos joga com muita força na direção parede com outros questionamentos existenciais que chegam a incomodar nossa intimidade e até funcionar como uma espécie de gatilho emocional onde refletimos se, justamente antes da velhice, seria aquele o momento certo para revelar frases não ditas, discussões esquecidas ou os segredos guardados? Perceba como tudo que envolve Paul e Lucie poderia acontecer comigo ou com você e é nessa atmosfera de insegurança que a história passa a entregar suas pistas e algumas atitudes dos personagens passam a fazer mais sentido.
Se temos o marido nem tão infiel, mas que se faz parecer para se sentir vivo; ou a garota sem rumo, que precisa se apoiar em alguém para continuar seu caminho; ou a esposa independente que quer parecer mais forte do que realmente é; ou o melhor melhor amigo que cobiça aquela vida, para ele (e só para ele) perfeita; e até a irmã desequilibrada que, obviamente, é a única capaz de dizer as verdades, mesmo que sua condição a impeça de ser ouvida; é claro que todas essas personas soam clichês, mas a magia de Avant l'hiver (no original) está em justamente assumir a normalidade como uma visão muito mais complexa da vida - e é isso que nos prende, que nos conquista e que nos faz pensar profundamente!
Vale muito o seu play!
"Anticristo" é um filme do diretor dinamarquês Lars Von Trier (Dogville) e somente por isso fico a vontade em fazer duas afirmações: é um dos filme mais fortes e perturbadores que eu já recomendei por aqui e, por consequência, é também uma aula de cinema - mas isso vou explicar melhor logo mais a frente!
O filme conta a história de um casal devastado pela morte do seu único filho, que se mudam para uma casa no meio de uma floresta para tentar superar esse episódio profundamente traumático. Acontece que os questionamentos do marido, um psicanalista (cujo personagem não tem nome propositalmente e é interpretado pelo excelente Willem Dafoe), começam a abalar qualquer tentativa de reaproximação do casal - as reflexões sobre a dor do luto e o reflexo em sua esposa (Charlotte Gainsbourg) desencadeiam uma espiral de acontecimentos misteriosos e assustadores onde as consequências dessa jornada psicológica se transformam no pior pesadelo que uma pessoa poderia vivenciar!
Pois bem, vamos retomar à primeira afirmação que fiz no inicio do texto: o filme é difícil de assistir! O tema é extremamente polêmico e a forma com que o diretor (e também roteirista) escolhe para nos mostrar as sequências dos fatos é tão explícita e sem o menor pudor que chega a embrulhar o estômago - e isso é uma das marcas de Von Trier, portanto, então se você não se identifica com o diretor, esqueça, não dê o play, porque você vai se chocar!
O roteiro fortalece uma história que poderia ser considerada uma espécie de tratado psicanalítico digno de doutorado - são signos e metáforas que constroem uma trama que nos remete à inúmeras sensações, muitas delas não tão agradáveis. Admito que não foi fácil o caminho até o final, então fortaleço meu conselho: se você não tem estômago, fuja! Agora, se a idéia é encarar as quase duas horas do filme, se prepare para ver um primor de direção - e um convite para uma experiencia extremamente sensorial e propositalmente desconfortável. Como cinema, os enquadramentos são lindos, a fotografia do diretor Anthony Dod Mantle (vencedor do Oscar em 2009 por "Quem quer ser um Milionário?") é linda, a trilha sonora do também dinamarquês, Kristian Eidnes Andersen, é genial.
É preciso ressaltar que Lars Von Trier foi capaz de contar uma história densa com uma técnica ímpar - quando começa o “prólogo” em PB (preto e branco), rodando em 60, 120 quadros por segundo (mais lento), mas com uma intensidade que vai além da velocidade de captação da câmera, alternando planos abertos com super closes ao som de uma trilha bastante intimista, nossa, é para ver e rever - por isso da minha segunda afirmação! Quando retomamos a história, que inteligentemente é dividida em 4 atos, percebemos uma progressão na narrativa contada pela fotografia, pelos movimentos, pelos enquadramentos, que é genial! Repare! As performances dos protagonistas, Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, também merece destaque - são viscerais e apoiadas em muita técnica. Lindo de ver e difícil de digerir!
Certamente não é um filme que diverte, que vai agradar a um público muito pequeno, mas garanto que é um filme que ensina muito! Indico com todas as ressalvas que o texto pontuou!
"Anticristo" é um filme do diretor dinamarquês Lars Von Trier (Dogville) e somente por isso fico a vontade em fazer duas afirmações: é um dos filme mais fortes e perturbadores que eu já recomendei por aqui e, por consequência, é também uma aula de cinema - mas isso vou explicar melhor logo mais a frente!
O filme conta a história de um casal devastado pela morte do seu único filho, que se mudam para uma casa no meio de uma floresta para tentar superar esse episódio profundamente traumático. Acontece que os questionamentos do marido, um psicanalista (cujo personagem não tem nome propositalmente e é interpretado pelo excelente Willem Dafoe), começam a abalar qualquer tentativa de reaproximação do casal - as reflexões sobre a dor do luto e o reflexo em sua esposa (Charlotte Gainsbourg) desencadeiam uma espiral de acontecimentos misteriosos e assustadores onde as consequências dessa jornada psicológica se transformam no pior pesadelo que uma pessoa poderia vivenciar!
Pois bem, vamos retomar à primeira afirmação que fiz no inicio do texto: o filme é difícil de assistir! O tema é extremamente polêmico e a forma com que o diretor (e também roteirista) escolhe para nos mostrar as sequências dos fatos é tão explícita e sem o menor pudor que chega a embrulhar o estômago - e isso é uma das marcas de Von Trier, portanto, então se você não se identifica com o diretor, esqueça, não dê o play, porque você vai se chocar!
O roteiro fortalece uma história que poderia ser considerada uma espécie de tratado psicanalítico digno de doutorado - são signos e metáforas que constroem uma trama que nos remete à inúmeras sensações, muitas delas não tão agradáveis. Admito que não foi fácil o caminho até o final, então fortaleço meu conselho: se você não tem estômago, fuja! Agora, se a idéia é encarar as quase duas horas do filme, se prepare para ver um primor de direção - e um convite para uma experiencia extremamente sensorial e propositalmente desconfortável. Como cinema, os enquadramentos são lindos, a fotografia do diretor Anthony Dod Mantle (vencedor do Oscar em 2009 por "Quem quer ser um Milionário?") é linda, a trilha sonora do também dinamarquês, Kristian Eidnes Andersen, é genial.
É preciso ressaltar que Lars Von Trier foi capaz de contar uma história densa com uma técnica ímpar - quando começa o “prólogo” em PB (preto e branco), rodando em 60, 120 quadros por segundo (mais lento), mas com uma intensidade que vai além da velocidade de captação da câmera, alternando planos abertos com super closes ao som de uma trilha bastante intimista, nossa, é para ver e rever - por isso da minha segunda afirmação! Quando retomamos a história, que inteligentemente é dividida em 4 atos, percebemos uma progressão na narrativa contada pela fotografia, pelos movimentos, pelos enquadramentos, que é genial! Repare! As performances dos protagonistas, Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, também merece destaque - são viscerais e apoiadas em muita técnica. Lindo de ver e difícil de digerir!
Certamente não é um filme que diverte, que vai agradar a um público muito pequeno, mas garanto que é um filme que ensina muito! Indico com todas as ressalvas que o texto pontuou!
Se você gosta de um bom filme que discute "relações", algo como "Closer" ou "Cenas de um Casamento", pode ter certeza: esse filme é para você. "Apenas Uma Noite"é um filme franco-americano dirigido por uma estreante, a iraniana Massy Tadjedin. Essa condição faz com que Tadjedin não arrisque conceitualmente, perdendo ótimas oportunidades de criar camadas que colocariam o filme em outro patamar. Por outro lado ela compensa com um ótimo roteiro (escrito por ela) e pela maneira sensível como conduz os fatos - ela sabe muito bem como manipular nossas emoções e a pergunta "e se fosse comigo?" nos acompanha durante toda a jornada.
Joanna (Keira Knightley) e Michael Reed (Sam Worthington) estão casados há três anos. Certa noite, essa união feliz e bem-sucedida é colocada à prova, quando Michael viaja à trabalho com uma bela colega (Eva Mendes) e Joanna aceita o convite de um antigo namorado (Guillaume Canet) para tomar alguns drinques. Confira o trailer e se apaixone pela trama:
É inegável que, embora simples, a trama é extremamente bem construída e de fácil identificação - ela é capaz de mexer com nossos fantasmas da mesma forma como brinca com nossos desejos mais íntimos. Essa dualidade é proposital e muito interessante, o que transforma a narrativa em algo envolvente, provocador e até sensual, dando aos personagens uma complexidade que vai além dos diálogos, digamos, superficiais.
Chama atenção a performance do elenco - ela é excelente dentro da proposta mais intimista de Tadjedin. Knightley e Worthington apresentam uma química tão realista quanto emocionante e ao serem envolvidos por uma cinematografia impressionante de Peter Deming (de "O Menu"), que é capaz transformar a "ocasião em ladrão" com cenas noturnas evocativas e paisagens urbanas deslumbrantes, se estabelece uma atmosfera sensorial como poucas vezes encontramos em filmes desse tamanho..
"Apenas Uma Noite" aborda temas importantes como a fidelidade, o compromisso real e a tentação despretensiosa, explorando a dramaticidade das relações humanas e os desafios que os casais enfrentam nos momentos de fraqueza e insegurança. A história realmente nos mantém envolvidos e interessados da mesmo forma que nos provoca inúmeras reflexões sobre a importância do amor verdadeiro perante o desejo. No geral, "Last Night" (no original) é um filme intenso, que certamente irá cativar aqueles que buscam uma jornada que transita entre o drama e o romance com a mesma competência!
Definitivamente vale muito a pena o seu play!
Se você gosta de um bom filme que discute "relações", algo como "Closer" ou "Cenas de um Casamento", pode ter certeza: esse filme é para você. "Apenas Uma Noite"é um filme franco-americano dirigido por uma estreante, a iraniana Massy Tadjedin. Essa condição faz com que Tadjedin não arrisque conceitualmente, perdendo ótimas oportunidades de criar camadas que colocariam o filme em outro patamar. Por outro lado ela compensa com um ótimo roteiro (escrito por ela) e pela maneira sensível como conduz os fatos - ela sabe muito bem como manipular nossas emoções e a pergunta "e se fosse comigo?" nos acompanha durante toda a jornada.
Joanna (Keira Knightley) e Michael Reed (Sam Worthington) estão casados há três anos. Certa noite, essa união feliz e bem-sucedida é colocada à prova, quando Michael viaja à trabalho com uma bela colega (Eva Mendes) e Joanna aceita o convite de um antigo namorado (Guillaume Canet) para tomar alguns drinques. Confira o trailer e se apaixone pela trama:
É inegável que, embora simples, a trama é extremamente bem construída e de fácil identificação - ela é capaz de mexer com nossos fantasmas da mesma forma como brinca com nossos desejos mais íntimos. Essa dualidade é proposital e muito interessante, o que transforma a narrativa em algo envolvente, provocador e até sensual, dando aos personagens uma complexidade que vai além dos diálogos, digamos, superficiais.
Chama atenção a performance do elenco - ela é excelente dentro da proposta mais intimista de Tadjedin. Knightley e Worthington apresentam uma química tão realista quanto emocionante e ao serem envolvidos por uma cinematografia impressionante de Peter Deming (de "O Menu"), que é capaz transformar a "ocasião em ladrão" com cenas noturnas evocativas e paisagens urbanas deslumbrantes, se estabelece uma atmosfera sensorial como poucas vezes encontramos em filmes desse tamanho..
"Apenas Uma Noite" aborda temas importantes como a fidelidade, o compromisso real e a tentação despretensiosa, explorando a dramaticidade das relações humanas e os desafios que os casais enfrentam nos momentos de fraqueza e insegurança. A história realmente nos mantém envolvidos e interessados da mesmo forma que nos provoca inúmeras reflexões sobre a importância do amor verdadeiro perante o desejo. No geral, "Last Night" (no original) é um filme intenso, que certamente irá cativar aqueles que buscam uma jornada que transita entre o drama e o romance com a mesma competência!
Definitivamente vale muito a pena o seu play!
"As Leis da Termodinâmica", filme espanhol distribuído pela Netflix (por isso o selo de Original), é muito bacana. Na verdade ele começa um pouco lento, fiquei até na dúvida se o filme era um documentário ou uma ficção e isso até me gerou um certo desconforto. O fato é que o filme é um híbrido dos dois gêneros e assim que se entende a dinâmica narrativa, o filme flui muito tranquilo porque tem um roteiro inteligente e é muito bem dirigido pelo Mateo Gil - um dos roteiristas de "Mar Adentro" do chileno Alejandro Amenábar e vencedor do Oscar estrangeiro de 2005.
"Las leyes de la termodinámica" (no original), conta a história (improvável) de amor entre um assistente de professor universitário e cientista com uma modelo famosa - uma pegada meio "Nothing Hill". O grande trunfo do filme, é a forma como essa história é contada, pois é feito um paralelo entre as fases de um relacionamento com as Leis da Termodinâmica - pode parecer chato e até um formato repetitivo, mas é muito inteligente e extremamente bem explorada pelo diretor (que também assina o roteiro). Fica impossível não se identificar com uma ou outra situação! O filme é categorizado como uma comédia romântica, mas é inteligente e vai além do óbvio, surpreende pela qualidade.
Tecnicamente é excelente também: tem uma montagem dinâmica, intervenções gráficas interessantes (e que ajudam contar a história sem chamar muito a atenção) e os atores estão ótimos (Vito Sanz, especialmente). Vale muito a pena. Entretenimento leve e inteligente!
\Vale o play. Vale a indicação!!! Assistam no clima que a surpresa será boa!!!
"As Leis da Termodinâmica", filme espanhol distribuído pela Netflix (por isso o selo de Original), é muito bacana. Na verdade ele começa um pouco lento, fiquei até na dúvida se o filme era um documentário ou uma ficção e isso até me gerou um certo desconforto. O fato é que o filme é um híbrido dos dois gêneros e assim que se entende a dinâmica narrativa, o filme flui muito tranquilo porque tem um roteiro inteligente e é muito bem dirigido pelo Mateo Gil - um dos roteiristas de "Mar Adentro" do chileno Alejandro Amenábar e vencedor do Oscar estrangeiro de 2005.
"Las leyes de la termodinámica" (no original), conta a história (improvável) de amor entre um assistente de professor universitário e cientista com uma modelo famosa - uma pegada meio "Nothing Hill". O grande trunfo do filme, é a forma como essa história é contada, pois é feito um paralelo entre as fases de um relacionamento com as Leis da Termodinâmica - pode parecer chato e até um formato repetitivo, mas é muito inteligente e extremamente bem explorada pelo diretor (que também assina o roteiro). Fica impossível não se identificar com uma ou outra situação! O filme é categorizado como uma comédia romântica, mas é inteligente e vai além do óbvio, surpreende pela qualidade.
Tecnicamente é excelente também: tem uma montagem dinâmica, intervenções gráficas interessantes (e que ajudam contar a história sem chamar muito a atenção) e os atores estão ótimos (Vito Sanz, especialmente). Vale muito a pena. Entretenimento leve e inteligente!
\Vale o play. Vale a indicação!!! Assistam no clima que a surpresa será boa!!!
"Augustine" é um filme denso na sua forma e no seu conteúdo. No seu "conteúdo" por se tratar de um assunto extremamente delicado e que levanta muitas questões, inclusive éticas, até hoje: a histeria. Já olhando pelo prisma da "forma", a então diretora estreante Alice Winocour (que depois veio dirigir o ótimo "A Jornada") impõe um conceito visual cheio de metáforas, usando e abusando das sombras e de um mood completamente opressor, depressivo - o que diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente naquele universo empírico do século XIX.
Inverno de 1885, Paris. O professor e brilhante neurologista francês Jean-Martin Charcot (Vincent Lindon), do Hospital Pitié-Salpêtriere, está estudando uma doença misteriosa que passou a ser conhecida como histeria. A jovem Augustine (Soko), de 19 anos, torna-se uma espécie de "material de estudos" e para comprovar suas teses, o professor passa usar a paciente para angariar recursos de pesquisa através de demonstrações por hipnose. Aos poucos, no entanto, Augustine passa de objeto de estudo para objeto do desejo de Charcot. Confira o trailer:
Antes de mais nada, vale ressaltar o contexto em que a trama está inserida: durante o século XIX a palavra “histeria” praticamente definia todas as atitudes (femininas) que, aparentemente, o bom sendo não podia explicar. Carregada de mística (e o sinal da cruz que uma senhora faz quando Augustine tem seu primeiro surto, ainda no prólogo, diz muito sobre o assunto), a complexidade dessa neurose sempre foi um dos maiores mistérios científicos da época e responsável por levar inúmeras mulheres a serem acusadas de bruxaria na Idade Média. Para o médico Jean-Martin Charcot essas atitudes eram um desafio - foi ele que iniciou os estudos sobre a doença, que iriam ser futuramente aprimorados por seu mais famoso aluno: Sigmund Freud, culminando no desenvolvimento da psicanálise - histeria, aliás, vem do grego “histeros”, que significa "útero".
Em "Augustine" temos um recorte real bastante interessante sobre esse processo iniciado por Charcot - embora impactante visualmente, a busca pelo desconhecido fazia parte daquela sociedade. Olhando em retrospectiva, e aí está o grande mérito de Winocour, a história da protagonista não tem nada de romance (distanciando essa produção francesa de outros títulos que seguem a mesma linha como "Um Método Perigoso", dirigido por David Cronenberg e lançado em 2011). Aqui a realidade é mais crua, a relação médico/paciente é mais visceral e a tensão sexual que vai se criando conforme a história vai progredindo está no detalhe, nas pausas, nos olhares e no receio brilhantemente criado pelos atores, deixando uma expectativa que beira a confusão entre convicção e desejo - Lindon e Soko dão uma aula!
Partindo do princípio que a histeria é um distúrbio mental específico que apresenta sintomas físicos reais, que na maioria das vezes parecem exagerados e fingidos, mas que não são; o roteiro da própria Winocour sabe usar dessa dualidade perceptiva para construir um elo entre os protagonistas - a submissão regida pelo conhecimento até uma quase dependência, também potencializa essa aproximação de Charcot e Augustine e ajuda a estabelecer o ápice da narrativa. Dito isso, é de se considerar que o filme sabe onde provocar reflexões e mesmo com uma levada mais cadenciada, nos posiciona perfeitamente perante uma realidade que deixou marcas, tanto para o bem quanto para o mal. Então se você gosta de um estudo menos superficial sobre a condição humana, pode dar o play que a "reflexão" está garantida!
"Augustine" é um filme denso na sua forma e no seu conteúdo. No seu "conteúdo" por se tratar de um assunto extremamente delicado e que levanta muitas questões, inclusive éticas, até hoje: a histeria. Já olhando pelo prisma da "forma", a então diretora estreante Alice Winocour (que depois veio dirigir o ótimo "A Jornada") impõe um conceito visual cheio de metáforas, usando e abusando das sombras e de um mood completamente opressor, depressivo - o que diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente naquele universo empírico do século XIX.
Inverno de 1885, Paris. O professor e brilhante neurologista francês Jean-Martin Charcot (Vincent Lindon), do Hospital Pitié-Salpêtriere, está estudando uma doença misteriosa que passou a ser conhecida como histeria. A jovem Augustine (Soko), de 19 anos, torna-se uma espécie de "material de estudos" e para comprovar suas teses, o professor passa usar a paciente para angariar recursos de pesquisa através de demonstrações por hipnose. Aos poucos, no entanto, Augustine passa de objeto de estudo para objeto do desejo de Charcot. Confira o trailer:
Antes de mais nada, vale ressaltar o contexto em que a trama está inserida: durante o século XIX a palavra “histeria” praticamente definia todas as atitudes (femininas) que, aparentemente, o bom sendo não podia explicar. Carregada de mística (e o sinal da cruz que uma senhora faz quando Augustine tem seu primeiro surto, ainda no prólogo, diz muito sobre o assunto), a complexidade dessa neurose sempre foi um dos maiores mistérios científicos da época e responsável por levar inúmeras mulheres a serem acusadas de bruxaria na Idade Média. Para o médico Jean-Martin Charcot essas atitudes eram um desafio - foi ele que iniciou os estudos sobre a doença, que iriam ser futuramente aprimorados por seu mais famoso aluno: Sigmund Freud, culminando no desenvolvimento da psicanálise - histeria, aliás, vem do grego “histeros”, que significa "útero".
Em "Augustine" temos um recorte real bastante interessante sobre esse processo iniciado por Charcot - embora impactante visualmente, a busca pelo desconhecido fazia parte daquela sociedade. Olhando em retrospectiva, e aí está o grande mérito de Winocour, a história da protagonista não tem nada de romance (distanciando essa produção francesa de outros títulos que seguem a mesma linha como "Um Método Perigoso", dirigido por David Cronenberg e lançado em 2011). Aqui a realidade é mais crua, a relação médico/paciente é mais visceral e a tensão sexual que vai se criando conforme a história vai progredindo está no detalhe, nas pausas, nos olhares e no receio brilhantemente criado pelos atores, deixando uma expectativa que beira a confusão entre convicção e desejo - Lindon e Soko dão uma aula!
Partindo do princípio que a histeria é um distúrbio mental específico que apresenta sintomas físicos reais, que na maioria das vezes parecem exagerados e fingidos, mas que não são; o roteiro da própria Winocour sabe usar dessa dualidade perceptiva para construir um elo entre os protagonistas - a submissão regida pelo conhecimento até uma quase dependência, também potencializa essa aproximação de Charcot e Augustine e ajuda a estabelecer o ápice da narrativa. Dito isso, é de se considerar que o filme sabe onde provocar reflexões e mesmo com uma levada mais cadenciada, nos posiciona perfeitamente perante uma realidade que deixou marcas, tanto para o bem quanto para o mal. Então se você gosta de um estudo menos superficial sobre a condição humana, pode dar o play que a "reflexão" está garantida!
"La vie d'Adèle" (que internacionalmente recebeu o terrível título de "Azul é a cor mais quente") é excelente, embora seja, notavelmente, pesado!
Baseado em uma graphic novel francesa da autora Julie Maroh que a escreveu quando tinha 19 anos e levou cinco anos para terminar, o filme é uma bela história de amor, amadurecimento e se concentra nos primeiros anos da relação entre Adèle (Adèle Exarchopoulos), uma estudante que está descobrindo o sexo, e a pintora Emma (Léa Seydoux), poucos anos mais velha - sim, o filme, como o próprio nome original adianta, é sobre a vida de Adèle e nada mais, mas não se engane: o roteiro é cheio de camadas e tem uma profundidade impressionante! Confira o trailer:
O filme foi o vencedor da "Palme d'Or" em Cannes (2013) na categoria "Melhor Direção" e, pela primeira vez na história do Festival, o prêmio de "Melhor Atriz" foi dividido entre as duas protagonistas. De fato "Azul é a Cor Mais Quente" é muito bem dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche - ele usa e abusa dos planos fechados e foi capaz de tirar uma naturalidade impressionante com esse tipo de lente mais introspectiva, mesmo que as vezes possa nos chocar pela proximidade exagerada.
As duas atrizes também estão simplesmente perfeitas, mas o trabalho de Adèle Exarchopoulos me chamou mais atenção - o papel dela é dificílimo e ela, além de corajosa, foi capaz de construir uma personagem com alma, intensa e delicada ao mesmo tempo.
Olha, para quem gosta de filmes de relações, intenso, cheio de camadas, esse filme é simplesmente imperdível, mas saiba que não se trata de uma história fácil, seu conceito narrativo é denso e o roteiro não alivia. Vale muito a pena - esse é um dos melhores filmes de 2013 com a mais absoluta certeza e só não foi mais longe em algumas premiações pela ousadia, para muitos exagerada, de algumas cenas.
PS: O filme levou mais de 80 prêmios enquanto fazia carreira por vários festivais do mundo em que foi selecionado!
"La vie d'Adèle" (que internacionalmente recebeu o terrível título de "Azul é a cor mais quente") é excelente, embora seja, notavelmente, pesado!
Baseado em uma graphic novel francesa da autora Julie Maroh que a escreveu quando tinha 19 anos e levou cinco anos para terminar, o filme é uma bela história de amor, amadurecimento e se concentra nos primeiros anos da relação entre Adèle (Adèle Exarchopoulos), uma estudante que está descobrindo o sexo, e a pintora Emma (Léa Seydoux), poucos anos mais velha - sim, o filme, como o próprio nome original adianta, é sobre a vida de Adèle e nada mais, mas não se engane: o roteiro é cheio de camadas e tem uma profundidade impressionante! Confira o trailer:
O filme foi o vencedor da "Palme d'Or" em Cannes (2013) na categoria "Melhor Direção" e, pela primeira vez na história do Festival, o prêmio de "Melhor Atriz" foi dividido entre as duas protagonistas. De fato "Azul é a Cor Mais Quente" é muito bem dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche - ele usa e abusa dos planos fechados e foi capaz de tirar uma naturalidade impressionante com esse tipo de lente mais introspectiva, mesmo que as vezes possa nos chocar pela proximidade exagerada.
As duas atrizes também estão simplesmente perfeitas, mas o trabalho de Adèle Exarchopoulos me chamou mais atenção - o papel dela é dificílimo e ela, além de corajosa, foi capaz de construir uma personagem com alma, intensa e delicada ao mesmo tempo.
Olha, para quem gosta de filmes de relações, intenso, cheio de camadas, esse filme é simplesmente imperdível, mas saiba que não se trata de uma história fácil, seu conceito narrativo é denso e o roteiro não alivia. Vale muito a pena - esse é um dos melhores filmes de 2013 com a mais absoluta certeza e só não foi mais longe em algumas premiações pela ousadia, para muitos exagerada, de algumas cenas.
PS: O filme levou mais de 80 prêmios enquanto fazia carreira por vários festivais do mundo em que foi selecionado!
"Belle Époque" é um delicioso convite à nostalgia! Como em "Meia-noite em Paris" ou em “O Último Amor de Mr. Morgan”, o filme traz no roteiro uma leveza e uma sensibilidade impressionantes para discutir a importância de olhar para si, para só depois poder encontrar o outro. Eu diria, inclusive, que essa produção francesa dirigida pelo talentoso Nicolas Bedos (de "Os Infiéis") traz o que existe de melhor nos dramas de relação para o tom envolvente de uma comédia que em nenhum instante se perde no usual e que sabe aproveitar os gatilhos emocionais para nos perguntar, a cada momento, se estaríamos dispostos a viver a melhor época de nossa vida de novo!
Victor (Daniel Auteuil) é um sexagenário desiludido com o casamento em crise. Quando ele é apresentado para a empresa de Antoine (Guillaume Canet) que o sugere um serviço que une encenação teatral com recriação histórica, sua vida vira de cabeça para baixo. Victor decide então reviver o que ele considera a semana mais marcante de sua vida, onde, 40 anos antes, conheceu um grande e inesquecível amor. Confira o trailer:
Talvez o grande mérito de "Belle Époque" seja o de nos provocar, não só uma reflexão profunda como também a lidar com a dor da autoindulgência! Obviamente que todo aquele sentimento mais nostálgico escondido em nossa memória e principalmente em nosso coração, nos acompanha por toda jornada, porém o texto do próprio Bedos estabelece que mesmo nas decisões mais racionais, de alguma forma, é possível encontrar um leve sorriso ou um aprendizado capaz de mudar nossa percepção - essa dinâmica narrativa deixa tudo mais agradável, te garanto. Sim, eu sei que pode até parecer filosófico demais, mas é justamente por isso que o filme nos prende do começo ao fim - a identificação com Victor é imediata e a conexão com sua situação soa tão realista que nos permite estar ao seu lado, custe o que custar.
Guillaume Canet (como Antoine) e a belíssima Doria Tillier (como Margot) representam com muita sabedoria alguns arquétipos que se encaixam perfeitamente ao novo olhar sobre o sucesso e o fracasso das relações: o controlador e bem sucedido empresário que se apaixona pela sensível e talentosa artista que busca o seu lugar no mundo. Esse é exatamente o mesmo recorte, só que invertido, de Marianne Drumond (Fanny Ardant) e de Victor (Daniel Auteuil) - aqui as discussões sobre o peso de algumas escolhas e o reflexo de determinadas decisões de vida vão do presente ao passado para o casal em crise com a mesma simetria que um dia pode se tornar o futuro do casal que ainda luta para se encontrar.
Com uma trilha sonora original que vai de Billie Holiday à Fontella Bass, "La Belle Époque" (no original) celebra o amor sem pieguice - como uma bela poesia aos saudosistas ou um choque de realidade aos mais racionais, tudo sem esquecer do bom entretenimento. Se a arte nos permite sonhar, Bedos certamente se aproveitou da sua para nos presentear com um universo tão mágico quanto palpável, daqueles que não queremos acordar mesmo na hora marcada. Se o filme soa como uma reencenação de uma história de amor, certamente você vai sentir seu coração apertar por desejar reviver algum momento especial da sua vida!
E é por isso que vale muito o seu play!
"Belle Époque" é um delicioso convite à nostalgia! Como em "Meia-noite em Paris" ou em “O Último Amor de Mr. Morgan”, o filme traz no roteiro uma leveza e uma sensibilidade impressionantes para discutir a importância de olhar para si, para só depois poder encontrar o outro. Eu diria, inclusive, que essa produção francesa dirigida pelo talentoso Nicolas Bedos (de "Os Infiéis") traz o que existe de melhor nos dramas de relação para o tom envolvente de uma comédia que em nenhum instante se perde no usual e que sabe aproveitar os gatilhos emocionais para nos perguntar, a cada momento, se estaríamos dispostos a viver a melhor época de nossa vida de novo!
Victor (Daniel Auteuil) é um sexagenário desiludido com o casamento em crise. Quando ele é apresentado para a empresa de Antoine (Guillaume Canet) que o sugere um serviço que une encenação teatral com recriação histórica, sua vida vira de cabeça para baixo. Victor decide então reviver o que ele considera a semana mais marcante de sua vida, onde, 40 anos antes, conheceu um grande e inesquecível amor. Confira o trailer:
Talvez o grande mérito de "Belle Époque" seja o de nos provocar, não só uma reflexão profunda como também a lidar com a dor da autoindulgência! Obviamente que todo aquele sentimento mais nostálgico escondido em nossa memória e principalmente em nosso coração, nos acompanha por toda jornada, porém o texto do próprio Bedos estabelece que mesmo nas decisões mais racionais, de alguma forma, é possível encontrar um leve sorriso ou um aprendizado capaz de mudar nossa percepção - essa dinâmica narrativa deixa tudo mais agradável, te garanto. Sim, eu sei que pode até parecer filosófico demais, mas é justamente por isso que o filme nos prende do começo ao fim - a identificação com Victor é imediata e a conexão com sua situação soa tão realista que nos permite estar ao seu lado, custe o que custar.
Guillaume Canet (como Antoine) e a belíssima Doria Tillier (como Margot) representam com muita sabedoria alguns arquétipos que se encaixam perfeitamente ao novo olhar sobre o sucesso e o fracasso das relações: o controlador e bem sucedido empresário que se apaixona pela sensível e talentosa artista que busca o seu lugar no mundo. Esse é exatamente o mesmo recorte, só que invertido, de Marianne Drumond (Fanny Ardant) e de Victor (Daniel Auteuil) - aqui as discussões sobre o peso de algumas escolhas e o reflexo de determinadas decisões de vida vão do presente ao passado para o casal em crise com a mesma simetria que um dia pode se tornar o futuro do casal que ainda luta para se encontrar.
Com uma trilha sonora original que vai de Billie Holiday à Fontella Bass, "La Belle Époque" (no original) celebra o amor sem pieguice - como uma bela poesia aos saudosistas ou um choque de realidade aos mais racionais, tudo sem esquecer do bom entretenimento. Se a arte nos permite sonhar, Bedos certamente se aproveitou da sua para nos presentear com um universo tão mágico quanto palpável, daqueles que não queremos acordar mesmo na hora marcada. Se o filme soa como uma reencenação de uma história de amor, certamente você vai sentir seu coração apertar por desejar reviver algum momento especial da sua vida!
E é por isso que vale muito o seu play!
Como em "O Método Kominsky" e mais recentemente em "A Nova Vida de Toby", assistir "Better Things" é como olhar pela janela, reconhecer a vida e, com muito bom humor, enfrentá-la. Existe uma honestidade no texto dessa excelente produção do FX (disponível aqui no Star+) que nos envolve e nos conecta com a protagonista de uma forma muito natural. Enxergar a beleza da maternidade pode soar até usual, mas reconhecer suas dificuldades já exige um pouco mais de coragem, e é nesse ponto que os criadores da série, Pamela Adlon e Louis C.K., dão uma aula de sensibilidade ao entregar uma jornada emocionante, inteligente, dinâmica e muito afinada com a realidade, a partir da perspectiva de quem de fato merece os holofotes: a mulher!
'Better Things', basicamente, conta a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz, mãe e divorciada que cuida de suas três filhas sozinha. Apesar de sua profissão, a vida de Sam não é tão glamorosa quanto se pensa; ela trabalha duro para pagar as contas, cuidar das três filhas, Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward); e ainda poder se reconectar com sua essência, mesmo com as marcas que a vida foi deixando para ela. Confira o excelente 'first look' (em inglês):
Premiadíssimo, Louis C.K. é a mente criativa por trás de projetos como "Louis" e "Trapaça"; que ao se encontrar com Pamela Adlon (a inesquecível Marcy de "Californication"), nos entrega uma abordagem realista sobre a vida cotidiana, retratando com muita autenticidade os altos e baixos da experiência de ser mãe, explorando os desafios, as alegrias, as frustrações e os sacrifícios envolvidos na criação e na educação dos filhos. A dupla mostra muita competência ao abordar uma variedade de questões relevantes, como relacionamentos, feminismo, envelhecimento e até passagens mais curiosas como o mercado de trabalho para mulheres na indústria do entretenimento - reparem como o texto trata desses temas de forma inteligente e perspicaz, sem perder a mão, equilibrando o tom mais descontraído ao mesmo tempo em que não deixa de lado o drama e os sentimentos mais íntimos dos personagens.
Aliás, o que dizer sobre a performance de Pamela Adlon como Sam Fox? É impossível não citá-la como um dos destaques não só da série, mas do entretenimento como um todo. Sua interpretação é crua, quase documental, sincera ao extremo e muitas vezes hilária - ela já tinha provado sua capacidade com Marcy e agora só ratifica sua qualidade como artista, inclusive sendo indicada ao Emmy 7 vezes. Adlon tem um alcance de interpretação invejável, capaz de trabalhar uma vulnerabilidade e uma autenticidade cativantes, tornando Sam uma personagem mais humana, com falhas palpáveis, na qual a audiência se reconhece, se identifica e, claro, torce!
Outro aspecto que me chamou a atenção em "Better Things" diz respeito à sua representação diversificada de personagens. A série foi capaz de apresentar uma ampla gama de possibilidades ao retratar mulheres complexas, cada uma com suas próprias histórias e desafios, capazes de abordar assuntos difíceis e desconfortáveis, mas sempre de forma genuína e respeitosa. Repare no terceiro episódio da primeira temporada como a mãe de Sam lida com o fato de um homem negro ir jantar em sua casa. Existe uma leveza e uma ironia no texto que são dignas de muitos elogios.
"Better Things" é uma série cativante que retrata com autenticidade a vida e a luta de uma mulher moderna: como mãe e como profissional. Eu diria que essas cinco temporadas (e sim, a série tem um final) são uma experiência das mais envolventes, divertidas, sinceras e reflexivas - que vão deixar muitas saudades.
Vai na fé que vale muito o seu play!
Como em "O Método Kominsky" e mais recentemente em "A Nova Vida de Toby", assistir "Better Things" é como olhar pela janela, reconhecer a vida e, com muito bom humor, enfrentá-la. Existe uma honestidade no texto dessa excelente produção do FX (disponível aqui no Star+) que nos envolve e nos conecta com a protagonista de uma forma muito natural. Enxergar a beleza da maternidade pode soar até usual, mas reconhecer suas dificuldades já exige um pouco mais de coragem, e é nesse ponto que os criadores da série, Pamela Adlon e Louis C.K., dão uma aula de sensibilidade ao entregar uma jornada emocionante, inteligente, dinâmica e muito afinada com a realidade, a partir da perspectiva de quem de fato merece os holofotes: a mulher!
'Better Things', basicamente, conta a história de Sam (Pamela Adlon), uma atriz, mãe e divorciada que cuida de suas três filhas sozinha. Apesar de sua profissão, a vida de Sam não é tão glamorosa quanto se pensa; ela trabalha duro para pagar as contas, cuidar das três filhas, Max (Mikey Madison), Frankie (Hannah Alligood) e Duke (Olivia Edward); e ainda poder se reconectar com sua essência, mesmo com as marcas que a vida foi deixando para ela. Confira o excelente 'first look' (em inglês):
Premiadíssimo, Louis C.K. é a mente criativa por trás de projetos como "Louis" e "Trapaça"; que ao se encontrar com Pamela Adlon (a inesquecível Marcy de "Californication"), nos entrega uma abordagem realista sobre a vida cotidiana, retratando com muita autenticidade os altos e baixos da experiência de ser mãe, explorando os desafios, as alegrias, as frustrações e os sacrifícios envolvidos na criação e na educação dos filhos. A dupla mostra muita competência ao abordar uma variedade de questões relevantes, como relacionamentos, feminismo, envelhecimento e até passagens mais curiosas como o mercado de trabalho para mulheres na indústria do entretenimento - reparem como o texto trata desses temas de forma inteligente e perspicaz, sem perder a mão, equilibrando o tom mais descontraído ao mesmo tempo em que não deixa de lado o drama e os sentimentos mais íntimos dos personagens.
Aliás, o que dizer sobre a performance de Pamela Adlon como Sam Fox? É impossível não citá-la como um dos destaques não só da série, mas do entretenimento como um todo. Sua interpretação é crua, quase documental, sincera ao extremo e muitas vezes hilária - ela já tinha provado sua capacidade com Marcy e agora só ratifica sua qualidade como artista, inclusive sendo indicada ao Emmy 7 vezes. Adlon tem um alcance de interpretação invejável, capaz de trabalhar uma vulnerabilidade e uma autenticidade cativantes, tornando Sam uma personagem mais humana, com falhas palpáveis, na qual a audiência se reconhece, se identifica e, claro, torce!
Outro aspecto que me chamou a atenção em "Better Things" diz respeito à sua representação diversificada de personagens. A série foi capaz de apresentar uma ampla gama de possibilidades ao retratar mulheres complexas, cada uma com suas próprias histórias e desafios, capazes de abordar assuntos difíceis e desconfortáveis, mas sempre de forma genuína e respeitosa. Repare no terceiro episódio da primeira temporada como a mãe de Sam lida com o fato de um homem negro ir jantar em sua casa. Existe uma leveza e uma ironia no texto que são dignas de muitos elogios.
"Better Things" é uma série cativante que retrata com autenticidade a vida e a luta de uma mulher moderna: como mãe e como profissional. Eu diria que essas cinco temporadas (e sim, a série tem um final) são uma experiência das mais envolventes, divertidas, sinceras e reflexivas - que vão deixar muitas saudades.
Vai na fé que vale muito o seu play!
"Blind" é um grande filme, mas você só vai perceber isso depois que conseguir digerir sua proposta e, em retrospectiva, encaixar uma série de detalhes que a principio pareciam até uma certa loucura do roteirista ou um experimento cinematográfico para um público bem alternativo e amante da arte independente! Vai por mim: tudo fará muito sentido e a genialidade da dinâmica narrativa de "Blind" é justamente a de brincar com nossas percepções, como se não conseguíssemos enxergar as várias pistas que o diretor Eskil Vogt vai nos dando - e não estou sendo redundante.
Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma linda mulher que perdeu a visão já adulta. Aparentemente deprimida com a nova condição, ela resolve ficar isolada em sua própria casa, onde se sente mais segura. Seu grande parceiro nesta difícil adaptação é o marido, Morten (Henrik Rafaelsen). Porém, com o passar dos dias, presa em um cotidiano monocromático, suas lembranças de um mundo que ela conheceu vão desaparecendo gradativamente, é quando ela percebe que o maior perigo está dentro de si mesma. Confira o trailer:
"Blind" fala sobre a solidão e os reflexos que ela pode causar no nosso comportamento - principalmente se essa solidão for uma escolha, mesmo que inconsciente, para se proteger de uma nova condição. O impacto que ela causa no outro é tão profundo quanto reflexivo e talvez esse premiado filme norueguês pareça confuso demais para quem não está disposto a embarcar em uma narrativa bastante particular - e aqui não basta estar apenas disposto, será preciso ter paciência até que as coisas façam sentido! O filme não é "uma viagem" , ele é uma representação clara de como nossa mente pode nos derrubar a qualquer momento e isso se extende para quem está assistindo. Olha, filme tão difícil, quanto genial! Vale muito a pena!
"Blind" foi premiado como Melhor Roteiro no Festival de Sundance, nos EUA, em 2014; foi exibido com sucesso e também premiado no Festival de Berlim com o "Label Europa Cinema", além de acumular mais de uma dezena de indicações e troféus em festivais ao redor do mundo! Com essa chancela, "Blind" se permite sair do óbvio desde o seu roteiro até sua direção e quem amarra tudo isso é uma montagem sensacional. Toda estranheza incomoda visualmente e é com uma edição bem orgânica que a narrativa subverte o conceito espacial e temporal, fazendo nossa cabeça quase explodir!
É muito interessante como o mundo de Ingrid é exatamente o mesmo de quem assiste ao filme - existe uma linha muito tênue entre realidade e imaginação e seguindo essa lógica, o diretor Eskil Vogt, nos convida para brincar - não foi uma vez que pausei e voltei o filme para tentar entender o que tinha acontecido ou se foi uma distração momentânea que tinha me confundido. O bacana é que a história vai se desenvolvendo sem a menor pressa, mesmo correndo o risco de perder audiência, tudo acontece no seu devido tempo e quando nos damos conta do que realmente está acontecendo já caminhamos para o final - ao melhor estilo "Sexto Sentido", mas sem a necessidade de provar que tudo foi minuciosamente pensado.
Algumas cenas podem parecer exageradas, colocadas para chocar, mas não, tudo tem seu propósito e, justamente por isso, nosso pré-conceito trabalha sem filtro e no final das contas, nunca acerta. Criticamos, sentimos asco, julgamos e até sofremos pelo outro, mas esquecemos que, como na vida, toda história tem dois lados e nem sempre teremos acesso a eles. "Blind" funciona no detalhe, não se esqueça, pois essa percepção mudará sua experiência ao assistir as filme.
Vale muito a pena!
"Blind" é um grande filme, mas você só vai perceber isso depois que conseguir digerir sua proposta e, em retrospectiva, encaixar uma série de detalhes que a principio pareciam até uma certa loucura do roteirista ou um experimento cinematográfico para um público bem alternativo e amante da arte independente! Vai por mim: tudo fará muito sentido e a genialidade da dinâmica narrativa de "Blind" é justamente a de brincar com nossas percepções, como se não conseguíssemos enxergar as várias pistas que o diretor Eskil Vogt vai nos dando - e não estou sendo redundante.
Ingrid (Ellen Dorrit Petersen) é uma linda mulher que perdeu a visão já adulta. Aparentemente deprimida com a nova condição, ela resolve ficar isolada em sua própria casa, onde se sente mais segura. Seu grande parceiro nesta difícil adaptação é o marido, Morten (Henrik Rafaelsen). Porém, com o passar dos dias, presa em um cotidiano monocromático, suas lembranças de um mundo que ela conheceu vão desaparecendo gradativamente, é quando ela percebe que o maior perigo está dentro de si mesma. Confira o trailer:
"Blind" fala sobre a solidão e os reflexos que ela pode causar no nosso comportamento - principalmente se essa solidão for uma escolha, mesmo que inconsciente, para se proteger de uma nova condição. O impacto que ela causa no outro é tão profundo quanto reflexivo e talvez esse premiado filme norueguês pareça confuso demais para quem não está disposto a embarcar em uma narrativa bastante particular - e aqui não basta estar apenas disposto, será preciso ter paciência até que as coisas façam sentido! O filme não é "uma viagem" , ele é uma representação clara de como nossa mente pode nos derrubar a qualquer momento e isso se extende para quem está assistindo. Olha, filme tão difícil, quanto genial! Vale muito a pena!
"Blind" foi premiado como Melhor Roteiro no Festival de Sundance, nos EUA, em 2014; foi exibido com sucesso e também premiado no Festival de Berlim com o "Label Europa Cinema", além de acumular mais de uma dezena de indicações e troféus em festivais ao redor do mundo! Com essa chancela, "Blind" se permite sair do óbvio desde o seu roteiro até sua direção e quem amarra tudo isso é uma montagem sensacional. Toda estranheza incomoda visualmente e é com uma edição bem orgânica que a narrativa subverte o conceito espacial e temporal, fazendo nossa cabeça quase explodir!
É muito interessante como o mundo de Ingrid é exatamente o mesmo de quem assiste ao filme - existe uma linha muito tênue entre realidade e imaginação e seguindo essa lógica, o diretor Eskil Vogt, nos convida para brincar - não foi uma vez que pausei e voltei o filme para tentar entender o que tinha acontecido ou se foi uma distração momentânea que tinha me confundido. O bacana é que a história vai se desenvolvendo sem a menor pressa, mesmo correndo o risco de perder audiência, tudo acontece no seu devido tempo e quando nos damos conta do que realmente está acontecendo já caminhamos para o final - ao melhor estilo "Sexto Sentido", mas sem a necessidade de provar que tudo foi minuciosamente pensado.
Algumas cenas podem parecer exageradas, colocadas para chocar, mas não, tudo tem seu propósito e, justamente por isso, nosso pré-conceito trabalha sem filtro e no final das contas, nunca acerta. Criticamos, sentimos asco, julgamos e até sofremos pelo outro, mas esquecemos que, como na vida, toda história tem dois lados e nem sempre teremos acesso a eles. "Blind" funciona no detalhe, não se esqueça, pois essa percepção mudará sua experiência ao assistir as filme.
Vale muito a pena!
Admito que na época que assisti “Blue Valentine” ou "Namorados Para Sempre" (como foi chamado por aqui), achei que fosse mais um filme independente sobre relações, feito por um diretor desconhecido e com atores ainda sem muita projeção - o que não seria demérito nenhum, mas como a experiência me dizia: tinha 50% de chances de funcionar bem. Pois bem, depois dos primeiros 30 minutos de filme, fui obrigado a parar de assistir e ir pesquisar na internet quantos prêmios esse filme havia ganhado, pois tudo era muito bom!!!
A história de Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) que, casados há vários anos e com uma filha pequena, estão passando por um momento de crise, vendo o relacionamento ser contaminado por uma série de incertezas e inseguranças, me fisgou de cara! É lindo de ver a luta intima dos personagens para conseguir seguir em frente e tentar superar todos os seus problemas, buscando no passado tudo aquilo que fez com que eles se apaixonassem um pelo outro, é visceral! Puxa, vale muito a pena!
A direção do "novato" Derek Cianfrance é perfeita, com enquadramentos menos usuais (cheio de closes), com uma câmera mais solta, movimentos leves, uma fotografia linda do ucraniano Andrij Parekh; enfim, tem tudo que eu mais prezo em um filme sensível com esse tema - juro que fiquei de boca aberta na época! O trabalho do casal de protagonistas é perfeita (e foi nessa pesquisa que descobri que ela rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Michelle Willians em 2011). Tudo me impressionou muito: do roteiro à direção! O que eu posso dizer depois dessa experiência é que acho incrível como um filme desses pode passar tão batido pelos cinemas, sem nenhuma grande promoção e depois ser pouco indicado para se assistir no streaming! Lembro, que me senti um desatento!
“Blue Valentine”é duro, difícil, mas ao mesmo tempo gera uma reflexão profunda devido a forma como a história é contada e isso faz dele único! Nossa, vale muito a pena assistir e acompanhem esse diretor: Derek Cianfrance. Ele é muito bom e por esse filme ganhou muitos prêmios como o diretor mais promissor do ano!!!! Olha, se você, como eu, não se deu conta que esse filme poderia ser muito bom, assista imediatamente!
Admito que na época que assisti “Blue Valentine” ou "Namorados Para Sempre" (como foi chamado por aqui), achei que fosse mais um filme independente sobre relações, feito por um diretor desconhecido e com atores ainda sem muita projeção - o que não seria demérito nenhum, mas como a experiência me dizia: tinha 50% de chances de funcionar bem. Pois bem, depois dos primeiros 30 minutos de filme, fui obrigado a parar de assistir e ir pesquisar na internet quantos prêmios esse filme havia ganhado, pois tudo era muito bom!!!
A história de Cindy (Michelle Williams) e Dean (Ryan Gosling) que, casados há vários anos e com uma filha pequena, estão passando por um momento de crise, vendo o relacionamento ser contaminado por uma série de incertezas e inseguranças, me fisgou de cara! É lindo de ver a luta intima dos personagens para conseguir seguir em frente e tentar superar todos os seus problemas, buscando no passado tudo aquilo que fez com que eles se apaixonassem um pelo outro, é visceral! Puxa, vale muito a pena!
A direção do "novato" Derek Cianfrance é perfeita, com enquadramentos menos usuais (cheio de closes), com uma câmera mais solta, movimentos leves, uma fotografia linda do ucraniano Andrij Parekh; enfim, tem tudo que eu mais prezo em um filme sensível com esse tema - juro que fiquei de boca aberta na época! O trabalho do casal de protagonistas é perfeita (e foi nessa pesquisa que descobri que ela rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para Michelle Willians em 2011). Tudo me impressionou muito: do roteiro à direção! O que eu posso dizer depois dessa experiência é que acho incrível como um filme desses pode passar tão batido pelos cinemas, sem nenhuma grande promoção e depois ser pouco indicado para se assistir no streaming! Lembro, que me senti um desatento!
“Blue Valentine”é duro, difícil, mas ao mesmo tempo gera uma reflexão profunda devido a forma como a história é contada e isso faz dele único! Nossa, vale muito a pena assistir e acompanhem esse diretor: Derek Cianfrance. Ele é muito bom e por esse filme ganhou muitos prêmios como o diretor mais promissor do ano!!!! Olha, se você, como eu, não se deu conta que esse filme poderia ser muito bom, assista imediatamente!
Esse é um filme que a gente não cansa de ver e rever - e se você, por um acaso da vida, ainda não assistiu, pare tudo o que está fazendo e vá para o play sem o menor receio de errar. "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", dirigido pelo gênio Michel Gondry, é uma obra que transcende o rótulo de "filme de gênero", muito pelo contrário, o romance ou/e a ficção científica estão lá, mas como em "Her", não é algo tão fácil de explicar. O fato é que esse filme nos entrega uma experiência cinematográfica única! Com um roteiro brilhante, assinado por Charlie Kaufman (de "Quero Ser John Malkovich"), "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" oferece uma visão intimista sobre a saudade, o amor e a inevitável dor que acompanha as relações humanas. Assim como o já citado "Her", a narrativa mistura elementos tecnológicos com uma jornada emocional profunda, criando um retrato visceral e muito original sobre o que significa amar e ser amado de verdade.
A trama segue Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet), um casal cujas personalidades contrastantes levam ao término de seu relacionamento. Em um ato de desespero, Clementine contrata uma empresa especializada em apagar memórias para se livrar de qualquer vestígio emocional de Joel. Quando Joel descobre isso, ele decide fazer o mesmo. Contudo, à medida que as memórias são deletadas, Joel percebe que ainda deseja manter aquelas lembranças, mesmo as dolorosas, e luta para preservar partes de Clementine dentro de sua mente. O resultado é uma narrativa que se desenrola tanto no presente quanto no interior da mente de Joel, em uma montanha-russa emocional que questiona se pelo amor vale o sofrimento. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro vencedor do Oscar de Kaufman, sem a menor dúvida, é o coração pulsante de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" (no original). Kaufman, mais uma vez, usa da sua infinita criatividade (com um certo toque de loucura) para explorar temas universais como a perda e o arrependimento pela perspectiva da complexidade do amor. Mantendo um equilíbrio entre a introspecção melancólica e momentos de um humor bem peculiar, a escrita de Kaufman é habilidosa em capturar a autenticidade de um relacionamento em todas as suas camadas: as nuances das brigas, as pequenas demonstrações de afeto e a maneira como lembranças felizes podem coexistir com as mágoas - a forma como Kaufman desafia a audiência a refletir sobre a fragilidade da memória e como ela molda nossa identidade e nossas conexões com os outros, é simplesmente fantástica.
Michel Gondry parece ser o agente perfeito para transformar as palavras do roteiro em arte visual - ele dirige o filme com uma inventividade que reflete perfeitamente a subjetividade da memória e complexidade da mente humana. O uso de efeitos práticos, em vez de CGI, adiciona um toque tangível às sequências surreais, como a deformação dos espaços e os ambientes desmoronando enquanto as memórias desaparecem. A câmera de Gondry captura esses momentos com um estilo quase artesanal, criando uma conexão emocional profunda entre nós e o caos mental de Joel. Cada cena é meticulosamente desenhada para refletir o estado emocional do protagonista, transformando a mente em um cenário tão belo quanto inquietante. Jim Carrey e Kate Winslet, olha, transcendem qualquer expectativa. Carrey, conhecido por suas comédias, surpreende ao interpretar Joel com uma sutileza que transmite sua dor, confusão e esperança. Winslet, por sua vez, brilha como Clementine, uma personagem vibrante e imprevisível que contrasta perfeitamente com a introspecção de Joel. Juntos, eles criam uma química única que torna o relacionamento entre eles extremamente genuíno.
A trilha sonora de Jon Brion (muito premiado por "Embriagado de Amor") é outro destaque, com composições delicadas que acentuam a vulnerabilidade emocional do filme. Músicas como "Everybody’s Gotta Learn Sometime", de Beck, complementam perfeitamente o tom da narrativa, conectando a audiência às emoções de Joel e Clementine de uma maneira rara. O design de som também merece aplausos, criando transições suaves e por vezes angustiantes entre as memórias, o presente e o caos mental - é um baita trabalho de mixagem, diga-se de passagem. Agora saiba que "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" não é uma jornada tão tranquila assim - o ritmo não linear e a estrutura narrativa complexa podem ser desafiadores para alguns, e sua abordagem densa pode parecer intimidadora em um primeiro olhar, no entanto, esses elementos são fundamentais para a experiência que é assistir esse filme imperdível!
Esse é um filme que nos lembra que as memórias, mesmo as dolorosas, fazem parte de quem somos e que o amor, com todas as suas camadas, faz valer o risco do sofrimento. Você está diante de uma obra obrigatória para quem aprecia o cinema que desafia a mente e o coração sem medir esforços. Vale seu play!
Esse é um filme que a gente não cansa de ver e rever - e se você, por um acaso da vida, ainda não assistiu, pare tudo o que está fazendo e vá para o play sem o menor receio de errar. "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", dirigido pelo gênio Michel Gondry, é uma obra que transcende o rótulo de "filme de gênero", muito pelo contrário, o romance ou/e a ficção científica estão lá, mas como em "Her", não é algo tão fácil de explicar. O fato é que esse filme nos entrega uma experiência cinematográfica única! Com um roteiro brilhante, assinado por Charlie Kaufman (de "Quero Ser John Malkovich"), "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" oferece uma visão intimista sobre a saudade, o amor e a inevitável dor que acompanha as relações humanas. Assim como o já citado "Her", a narrativa mistura elementos tecnológicos com uma jornada emocional profunda, criando um retrato visceral e muito original sobre o que significa amar e ser amado de verdade.
A trama segue Joel Barish (Jim Carrey) e Clementine Kruczynski (Kate Winslet), um casal cujas personalidades contrastantes levam ao término de seu relacionamento. Em um ato de desespero, Clementine contrata uma empresa especializada em apagar memórias para se livrar de qualquer vestígio emocional de Joel. Quando Joel descobre isso, ele decide fazer o mesmo. Contudo, à medida que as memórias são deletadas, Joel percebe que ainda deseja manter aquelas lembranças, mesmo as dolorosas, e luta para preservar partes de Clementine dentro de sua mente. O resultado é uma narrativa que se desenrola tanto no presente quanto no interior da mente de Joel, em uma montanha-russa emocional que questiona se pelo amor vale o sofrimento. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro vencedor do Oscar de Kaufman, sem a menor dúvida, é o coração pulsante de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" (no original). Kaufman, mais uma vez, usa da sua infinita criatividade (com um certo toque de loucura) para explorar temas universais como a perda e o arrependimento pela perspectiva da complexidade do amor. Mantendo um equilíbrio entre a introspecção melancólica e momentos de um humor bem peculiar, a escrita de Kaufman é habilidosa em capturar a autenticidade de um relacionamento em todas as suas camadas: as nuances das brigas, as pequenas demonstrações de afeto e a maneira como lembranças felizes podem coexistir com as mágoas - a forma como Kaufman desafia a audiência a refletir sobre a fragilidade da memória e como ela molda nossa identidade e nossas conexões com os outros, é simplesmente fantástica.
Michel Gondry parece ser o agente perfeito para transformar as palavras do roteiro em arte visual - ele dirige o filme com uma inventividade que reflete perfeitamente a subjetividade da memória e complexidade da mente humana. O uso de efeitos práticos, em vez de CGI, adiciona um toque tangível às sequências surreais, como a deformação dos espaços e os ambientes desmoronando enquanto as memórias desaparecem. A câmera de Gondry captura esses momentos com um estilo quase artesanal, criando uma conexão emocional profunda entre nós e o caos mental de Joel. Cada cena é meticulosamente desenhada para refletir o estado emocional do protagonista, transformando a mente em um cenário tão belo quanto inquietante. Jim Carrey e Kate Winslet, olha, transcendem qualquer expectativa. Carrey, conhecido por suas comédias, surpreende ao interpretar Joel com uma sutileza que transmite sua dor, confusão e esperança. Winslet, por sua vez, brilha como Clementine, uma personagem vibrante e imprevisível que contrasta perfeitamente com a introspecção de Joel. Juntos, eles criam uma química única que torna o relacionamento entre eles extremamente genuíno.
A trilha sonora de Jon Brion (muito premiado por "Embriagado de Amor") é outro destaque, com composições delicadas que acentuam a vulnerabilidade emocional do filme. Músicas como "Everybody’s Gotta Learn Sometime", de Beck, complementam perfeitamente o tom da narrativa, conectando a audiência às emoções de Joel e Clementine de uma maneira rara. O design de som também merece aplausos, criando transições suaves e por vezes angustiantes entre as memórias, o presente e o caos mental - é um baita trabalho de mixagem, diga-se de passagem. Agora saiba que "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" não é uma jornada tão tranquila assim - o ritmo não linear e a estrutura narrativa complexa podem ser desafiadores para alguns, e sua abordagem densa pode parecer intimidadora em um primeiro olhar, no entanto, esses elementos são fundamentais para a experiência que é assistir esse filme imperdível!
Esse é um filme que nos lembra que as memórias, mesmo as dolorosas, fazem parte de quem somos e que o amor, com todas as suas camadas, faz valer o risco do sofrimento. Você está diante de uma obra obrigatória para quem aprecia o cinema que desafia a mente e o coração sem medir esforços. Vale seu play!
Em julho de 2021, quando saiu o primeiro teaser do remake de "Cenas de um Casamento", de Ingmar Bergman, escrevi um artigo no blog da Viu Review simplesmente agradecendo a HBO. Dirigida por Hagai Levi e com Jessica Chastain e Oscar Isaac no elenco; depois de assistir todos os episódios, preciso me retratar: agradecer é pouco, juro fidelidade até que a morte nos separe!
Com a frase "até que a morte nos separe" na cabeça, conhecemos Johan (Isaac) e Marianne (Chastain), à primeira vista um casal que parece ter uma vida perfeita. Porém essa suposta felicidade, é apenas uma fachada social para um relacionamento conturbado e que se torna ainda pior quando Marianne admite que está tendo um caso. Em pouco tempo eles se separam, mas ainda tentando uma reconciliação. Mesmo buscando outros relacionamentos, Johan e Marianne percebem que têm uma ligação importante e também muitos problemas que dificultam novas conexões. Confira o trailer:
Eu conheci "Cenas de um Casamento" em 1996, quando fui assistir a adaptação de Maria Adelaide Amaral para o teatrocom Tony Ramos e Regina Braga como protagonistas. Embora eu já estudasse artes cênicas na época, o sueco Ingmar Bergman ainda era uma novidade para mim, porém aquele texto que apresentava a relação de um casal em crise, me conectou a um gênero que até hoje tem minha preferência: os dramas de relação. Foi graças a "Cenas de um Casamento" que me aprofundei no estudo da carreira e na visão estética e narrativa de Bergman a partir do seu livro, que recomendo muito, "Imagens" (Ed. Martins Fontes).
Contextualizada a minha relação com Bergman e sua obra, é naturalmente óbvia a minha predisposição de amar essa adaptação da HBO pelas mãos do talentoso diretor israelense Hagai Levi (de “The Affair” e do excelente "Our Boys"), mesmo sabendo que essa minissérie não agradará a todos. Levi além de ter uma estética diferenciada, é muito criativo - o prólogo de cada um dos episódios mostrando os bastidores e a preparação para as gravações das cenas, além de ser uma clara homenagem ao cineasta Ingmar Bergman, também nos prepara para uma conexão imediata com os personagens e suas dores, como se fossemos observadores presentes de um espetáculo que já assistimos em outros momentos da vida (real).
A forma com que Levi nos move perante o drama é impecável, mas o conteúdo acaba sendo a parte brutal da receita - sim, são cenas propositalmente longas para criar uma sensação de desconforto tão grande que é preciso pausar algumas vezes a minissérie para recuperar o fôlego. O constrangimento de quem observa determinada cena, claramente desconfortável para quem protagoniza, é tão evidente, que nos remetemos para memórias muito pessoais - e muitas vezes isso será uma machadada no peito!
A trilha sonora de Evgueni e Sasha Galperine (de "The Undoing"e "Sem Amor") é sensacional, e ao ser aplicada no epílogo dos episódios (quando os créditos são apresentados) em uma série de planos abertos, brilhantemente fotografados pelo genial diretor ucraniano Andrij Parekh de "Namorados para Sempre", nos causa uma sensação de vazio e angústia muito interessante como experiência sensorial.
Além de tudo isso, Jessica Chastain e Oscar Isaac dão um show de interpretação - extremamente contidos, no tom certo e interiorizando cada uma das frases que o outro dispara, faz tudo funcionar tão bem que fica impossível não imaginar que ambos chegam como fortes concorrentes nas próximas premiações do Globo de Ouro e do Emmy. Veja, não são cenas fáceis para ninguém e como comentei, elas são longas e praticamente todo o episódio de uma hora, em média, estamos diante de diálogos pesados, profundos, cheios de mágoas e dor.
O fato é que "Cenas de um Casamento" é uma aula de narrativa, de direção e de modernidade, adaptando um texto que já era bom, mas que ganhou toques de realismo tão palpáveis que transformam a maneira como encaramos aqueles dramas em uma projeção de relação que poderia ter sido a nossa.
Vale muito a pena!
Em julho de 2021, quando saiu o primeiro teaser do remake de "Cenas de um Casamento", de Ingmar Bergman, escrevi um artigo no blog da Viu Review simplesmente agradecendo a HBO. Dirigida por Hagai Levi e com Jessica Chastain e Oscar Isaac no elenco; depois de assistir todos os episódios, preciso me retratar: agradecer é pouco, juro fidelidade até que a morte nos separe!
Com a frase "até que a morte nos separe" na cabeça, conhecemos Johan (Isaac) e Marianne (Chastain), à primeira vista um casal que parece ter uma vida perfeita. Porém essa suposta felicidade, é apenas uma fachada social para um relacionamento conturbado e que se torna ainda pior quando Marianne admite que está tendo um caso. Em pouco tempo eles se separam, mas ainda tentando uma reconciliação. Mesmo buscando outros relacionamentos, Johan e Marianne percebem que têm uma ligação importante e também muitos problemas que dificultam novas conexões. Confira o trailer:
Eu conheci "Cenas de um Casamento" em 1996, quando fui assistir a adaptação de Maria Adelaide Amaral para o teatrocom Tony Ramos e Regina Braga como protagonistas. Embora eu já estudasse artes cênicas na época, o sueco Ingmar Bergman ainda era uma novidade para mim, porém aquele texto que apresentava a relação de um casal em crise, me conectou a um gênero que até hoje tem minha preferência: os dramas de relação. Foi graças a "Cenas de um Casamento" que me aprofundei no estudo da carreira e na visão estética e narrativa de Bergman a partir do seu livro, que recomendo muito, "Imagens" (Ed. Martins Fontes).
Contextualizada a minha relação com Bergman e sua obra, é naturalmente óbvia a minha predisposição de amar essa adaptação da HBO pelas mãos do talentoso diretor israelense Hagai Levi (de “The Affair” e do excelente "Our Boys"), mesmo sabendo que essa minissérie não agradará a todos. Levi além de ter uma estética diferenciada, é muito criativo - o prólogo de cada um dos episódios mostrando os bastidores e a preparação para as gravações das cenas, além de ser uma clara homenagem ao cineasta Ingmar Bergman, também nos prepara para uma conexão imediata com os personagens e suas dores, como se fossemos observadores presentes de um espetáculo que já assistimos em outros momentos da vida (real).
A forma com que Levi nos move perante o drama é impecável, mas o conteúdo acaba sendo a parte brutal da receita - sim, são cenas propositalmente longas para criar uma sensação de desconforto tão grande que é preciso pausar algumas vezes a minissérie para recuperar o fôlego. O constrangimento de quem observa determinada cena, claramente desconfortável para quem protagoniza, é tão evidente, que nos remetemos para memórias muito pessoais - e muitas vezes isso será uma machadada no peito!
A trilha sonora de Evgueni e Sasha Galperine (de "The Undoing"e "Sem Amor") é sensacional, e ao ser aplicada no epílogo dos episódios (quando os créditos são apresentados) em uma série de planos abertos, brilhantemente fotografados pelo genial diretor ucraniano Andrij Parekh de "Namorados para Sempre", nos causa uma sensação de vazio e angústia muito interessante como experiência sensorial.
Além de tudo isso, Jessica Chastain e Oscar Isaac dão um show de interpretação - extremamente contidos, no tom certo e interiorizando cada uma das frases que o outro dispara, faz tudo funcionar tão bem que fica impossível não imaginar que ambos chegam como fortes concorrentes nas próximas premiações do Globo de Ouro e do Emmy. Veja, não são cenas fáceis para ninguém e como comentei, elas são longas e praticamente todo o episódio de uma hora, em média, estamos diante de diálogos pesados, profundos, cheios de mágoas e dor.
O fato é que "Cenas de um Casamento" é uma aula de narrativa, de direção e de modernidade, adaptando um texto que já era bom, mas que ganhou toques de realismo tão palpáveis que transformam a maneira como encaramos aqueles dramas em uma projeção de relação que poderia ter sido a nossa.
Vale muito a pena!