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Dirty John – O Golpe do Amor

"Dirty John – O Golpe do Amor" é uma série interessante pela sua premissa, mas mediana na sua execução. É claro que fato de ser baseado em uma história real e trazer um personagem forte como protagonista chama atenção de cara! Inicialmente, me fez lembrar "American Crime Story", porém, na prática, "Dirty John" acaba se enrolando em todo seu potencial com um roteiro menos empolgante e uma estrutura narrativa um pouco confusa, se afastando de qualquer tipo de comparação com as duas temporadas de "American Crime" - até podemos considerar uma similaridade com "Versace" nos primeiros episódios, mas depois não se sustenta.

"Dirty John – O Golpe do Amor" é a versão para TV de um podcast do jornal Los Angeles Times que fez muito sucesso nos EUA. A série mostra a relação do golpista "profissional" John Meehan, com a empresária Debra Newell. Debra é uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas com uma vida amorosa completamente fracassada. Carente e insegura, ela se torna uma presa fácil para John depois de um encontro marcado, veja só, pela internet! Com seu charme e sedução, John vai tomando conta da vida de Debra e é, justamente, esse o elemento que mais atrapalha e transforma a série em apenas um bom entretenimento. Confira o trailer:

As consequências do relacionamento abusivo e conturbado dos personagens são apresentados muito rapidamente, ou seja, nem bem nos envolvemos com o personagem do John e já definimos que ele é um canalha. O roteiro não nos coloca no papel da ótima Connie Britton, pois em nenhum momento temos a impressão que ele pode ser apenas um cara mal interpretado. O grande mérito de "American Crime Story", por exemplo, é sempre mostrar os dois lados e isso nos gera dúvidas ou até incredulidade em alguns momentos: O. J. Simpson era um monstro assassino ou um bode expiatório resultado de um ambiente conturbado pelas disputas raciais que os EUA vivia na época? John, nunca é tratado como um inocente pelo roteiro e isso é rotular demais o personagem. O próprio Eric Bana também não ajuda muito nesse processo - ele é muito canastrão, sem carisma e limitado demais para construir um personagem tão sedutor e cheio de camadas como o John deveria ser pra ter enganado tanta mulher inteligente e bem sucedida. A própria estrutura narrativa também começa a derrapar depois do 4º ou 5º episódio: ela se torna confusa demais com a construção do passado do John que simplesmente "cai de paraquedas" no episódio. Quando terminei série, tive a percepção que não existe uma linha narrativa convincente que justifique os 8 episódios - talvez por ser uma adaptação de um podcast, isso tenha se tornado um complicador. Não sei, em muitos momentos me pareceu arrastado demais!

O fato é que Dirty John nasceu para ser uma minissérie, mas se fez dela uma série que poderia ser muito melhor do que é! Não é ruim, de verdade... mas poderia ser melhor! Se você gostou de "American Crime Story" e até de "Você", é possível que se divirta com a série, mesmo com todas essas limitações criativas. É um entretenimento razoável de um gênero que está em alta na Netflix e que faz muito sucesso com a audiência!

Ah, uma segunda temporada já está confirmada e pelo que apurei deve mostrar um outro caso do próprio John que não, necessariamente, tenha a ver com a primeira temporada, criando assim uma contextualização mais antológica para o projeto. Vamos esperar!!!

Assista Agora

"Dirty John – O Golpe do Amor" é uma série interessante pela sua premissa, mas mediana na sua execução. É claro que fato de ser baseado em uma história real e trazer um personagem forte como protagonista chama atenção de cara! Inicialmente, me fez lembrar "American Crime Story", porém, na prática, "Dirty John" acaba se enrolando em todo seu potencial com um roteiro menos empolgante e uma estrutura narrativa um pouco confusa, se afastando de qualquer tipo de comparação com as duas temporadas de "American Crime" - até podemos considerar uma similaridade com "Versace" nos primeiros episódios, mas depois não se sustenta.

"Dirty John – O Golpe do Amor" é a versão para TV de um podcast do jornal Los Angeles Times que fez muito sucesso nos EUA. A série mostra a relação do golpista "profissional" John Meehan, com a empresária Debra Newell. Debra é uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas com uma vida amorosa completamente fracassada. Carente e insegura, ela se torna uma presa fácil para John depois de um encontro marcado, veja só, pela internet! Com seu charme e sedução, John vai tomando conta da vida de Debra e é, justamente, esse o elemento que mais atrapalha e transforma a série em apenas um bom entretenimento. Confira o trailer:

As consequências do relacionamento abusivo e conturbado dos personagens são apresentados muito rapidamente, ou seja, nem bem nos envolvemos com o personagem do John e já definimos que ele é um canalha. O roteiro não nos coloca no papel da ótima Connie Britton, pois em nenhum momento temos a impressão que ele pode ser apenas um cara mal interpretado. O grande mérito de "American Crime Story", por exemplo, é sempre mostrar os dois lados e isso nos gera dúvidas ou até incredulidade em alguns momentos: O. J. Simpson era um monstro assassino ou um bode expiatório resultado de um ambiente conturbado pelas disputas raciais que os EUA vivia na época? John, nunca é tratado como um inocente pelo roteiro e isso é rotular demais o personagem. O próprio Eric Bana também não ajuda muito nesse processo - ele é muito canastrão, sem carisma e limitado demais para construir um personagem tão sedutor e cheio de camadas como o John deveria ser pra ter enganado tanta mulher inteligente e bem sucedida. A própria estrutura narrativa também começa a derrapar depois do 4º ou 5º episódio: ela se torna confusa demais com a construção do passado do John que simplesmente "cai de paraquedas" no episódio. Quando terminei série, tive a percepção que não existe uma linha narrativa convincente que justifique os 8 episódios - talvez por ser uma adaptação de um podcast, isso tenha se tornado um complicador. Não sei, em muitos momentos me pareceu arrastado demais!

O fato é que Dirty John nasceu para ser uma minissérie, mas se fez dela uma série que poderia ser muito melhor do que é! Não é ruim, de verdade... mas poderia ser melhor! Se você gostou de "American Crime Story" e até de "Você", é possível que se divirta com a série, mesmo com todas essas limitações criativas. É um entretenimento razoável de um gênero que está em alta na Netflix e que faz muito sucesso com a audiência!

Ah, uma segunda temporada já está confirmada e pelo que apurei deve mostrar um outro caso do próprio John que não, necessariamente, tenha a ver com a primeira temporada, criando assim uma contextualização mais antológica para o projeto. Vamos esperar!!!

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(500) Dias com Ela

Esse filme é uma graça - inteligente, criativo, envolvente e muito sensível! "(500) Dias com Ela", dirigido pelo Marc Webb pode, tranquilamente, ser considerada uma comédia romântica moderna, que sob um novo olhar narrativo, surpreende o público ao subverter alguns elementos tão emblemáticos do estilo "água com açúcar". Lançado em 2009, posso te afirmar que o filme, de fato, apresenta uma história cativante, narrada de uma forma diferente, mais para o não-linear do que para o clássico, e que explora as complexidades do amor com muita sabedoria, expondo os desejos mais íntimos ao mesmo tempo que precisamos lidar com as expectativas que criamos sobre os relacionamentos. 

O filme gira em torno de Tom Hansen (interpretado por Joseph Gordon-Levitt), um romântico incorrigível que se apaixona perdidamente por Summer Finn (interpretada por Zooey Deschanel), uma mulher que não acredita em amor verdadeiro. A história é apresentada em 500 dias não consecutivos, pulando entre os altos e baixos do relacionamento de Tom e Summer. Confira o trailer (em inglês):

Marc Webb construiu sua carreira como diretor de videoclipes e certamente por isso, ele trouxe para o seu primeiro longa-metragem um certo suspiro de criatividade e inovação ao narrar uma cotidiana história de amor sob uma perspectiva bastante realista e nem por isso menos envolvente visualmente - já que o diretor usa e abusa da narrativa fragmentada para construir essa ligação que dificilmente conseguimos explicar quando acontece conosco. Isso é muito genial, pois embora nossa vida seja linear, nossas decisões e escolhas se baseiam em experiências diversas e, como conceito, "(500) Dias com Ela" tem muito disso. Reparem como a narrativa habilmente desconstrói a ideia de que o amor é sempre um conto de fadas, mostrando que as pessoas podem ter visões diferentes sobre o amor e sobre as expectativas que depositam nele.

Webb é notável ao usar técnicas como a sobreposição de imagens, animações e sequências de dança, criando uma dinâmica única para o filme e mergulhando no mundo mais subjetivo dos personagens, ajudando a transmitir suas emoções de maneira tangível. Joseph Gordon-Levitt entrega uma atuação encantadora como Tom, capturando perfeitamente a vulnerabilidade e a complexidade emocional de seu personagem. Zooey Deschanel traz uma mistura de doçura e atitude para sua performance como Summer, tornando-a uma figura intrigante e cheia de camadas. Agora, a química entre os dois atores, olha, é tão palpável - eu diria até que é o coração do filme.

O roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber é tão afiado quanto perspicaz. Os diálogos inteligentes e os monólogos internos que revelam os pensamentos e as inseguranças dos personagens, criando uma conexão genuína com a audiência, são excelentes! Talvez por isso,  "(500) Days of Summer" (no original)  transcenda o gênero de "comédia romântica", oferecendo uma visão mais realista e, por vezes, até melancólica dos relacionamentos amorosos - essa honestidade e capacidade de retratar as complexidades do amor moderno merecem todos os elogios (e prêmios) que o filme colecionou!

Vale muito o seu play!

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Esse filme é uma graça - inteligente, criativo, envolvente e muito sensível! "(500) Dias com Ela", dirigido pelo Marc Webb pode, tranquilamente, ser considerada uma comédia romântica moderna, que sob um novo olhar narrativo, surpreende o público ao subverter alguns elementos tão emblemáticos do estilo "água com açúcar". Lançado em 2009, posso te afirmar que o filme, de fato, apresenta uma história cativante, narrada de uma forma diferente, mais para o não-linear do que para o clássico, e que explora as complexidades do amor com muita sabedoria, expondo os desejos mais íntimos ao mesmo tempo que precisamos lidar com as expectativas que criamos sobre os relacionamentos. 

O filme gira em torno de Tom Hansen (interpretado por Joseph Gordon-Levitt), um romântico incorrigível que se apaixona perdidamente por Summer Finn (interpretada por Zooey Deschanel), uma mulher que não acredita em amor verdadeiro. A história é apresentada em 500 dias não consecutivos, pulando entre os altos e baixos do relacionamento de Tom e Summer. Confira o trailer (em inglês):

Marc Webb construiu sua carreira como diretor de videoclipes e certamente por isso, ele trouxe para o seu primeiro longa-metragem um certo suspiro de criatividade e inovação ao narrar uma cotidiana história de amor sob uma perspectiva bastante realista e nem por isso menos envolvente visualmente - já que o diretor usa e abusa da narrativa fragmentada para construir essa ligação que dificilmente conseguimos explicar quando acontece conosco. Isso é muito genial, pois embora nossa vida seja linear, nossas decisões e escolhas se baseiam em experiências diversas e, como conceito, "(500) Dias com Ela" tem muito disso. Reparem como a narrativa habilmente desconstrói a ideia de que o amor é sempre um conto de fadas, mostrando que as pessoas podem ter visões diferentes sobre o amor e sobre as expectativas que depositam nele.

Webb é notável ao usar técnicas como a sobreposição de imagens, animações e sequências de dança, criando uma dinâmica única para o filme e mergulhando no mundo mais subjetivo dos personagens, ajudando a transmitir suas emoções de maneira tangível. Joseph Gordon-Levitt entrega uma atuação encantadora como Tom, capturando perfeitamente a vulnerabilidade e a complexidade emocional de seu personagem. Zooey Deschanel traz uma mistura de doçura e atitude para sua performance como Summer, tornando-a uma figura intrigante e cheia de camadas. Agora, a química entre os dois atores, olha, é tão palpável - eu diria até que é o coração do filme.

O roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber é tão afiado quanto perspicaz. Os diálogos inteligentes e os monólogos internos que revelam os pensamentos e as inseguranças dos personagens, criando uma conexão genuína com a audiência, são excelentes! Talvez por isso,  "(500) Days of Summer" (no original)  transcenda o gênero de "comédia romântica", oferecendo uma visão mais realista e, por vezes, até melancólica dos relacionamentos amorosos - essa honestidade e capacidade de retratar as complexidades do amor moderno merecem todos os elogios (e prêmios) que o filme colecionou!

Vale muito o seu play!

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10.000 Km

"10.000 Km" é um filme sobre a vida real - e como tal, nem sempre tudo é tão espetacular! Obviamente que essa premiada produção espanhola vai se conectar com aquela audiência que se identifica com a situação, seja por uma memória afetiva, seja por uma experiência similar; mas o fato é que é preciso entender que o filme se trata de um recorte sobre como os relacionamentos vão se transformando e que a perspectiva de quem a assiste nem sempre é a mesma de quem vive - e talvez aí esteja o grande mérito dessa obra: ela nos toca como se nos reconhecêssemos na figura daqueles dois personagens.

Um ano longe e com um continente entre eles, Alex (Natalia Tena) e Sergi (David Verdaguer) precisam se adaptar a uma nova realidade e contar com a comunicação virtual para tentar manter viva a chama de seu relacionamento. Mas com os cotidianos não mais compartilhados e o contato mútuo desaparecido, a tecnologia que supostamente aproximou o mundo pode simplesmente separá-los. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Se você gostou de "Malcolm e Marie"ou "Cenas de um Casamento", é bem possível que você vá gostar de "10.000 Km". Embora a estrutura narrativa seja um pouco menos fluída que a produção americana do diretor Sam Levinson ou que a recente série da HBO, aqui seguimos basicamente a mesma cartilha: dois ótimos atores discutindo e lidando com as dificuldades de uma relação. O diretor Carlos Marques-Marcet (que inclusive venceu o Goya de "Melhor Novo Diretor" em 2015 com esse filme) cria uma dinâmica bastante interessante e criativa para estabelecer o processo de degradação de um relacionamento quando as expectativas já não estão mais alinhadas. O roteiro do próprio Marcel em parceria com Clara Roquet, foi muito feliz em fragmentar essa desconexão entre os personagens usando o tempo de separação física como termômetro da relação e, ao mesmo tempo, expondo as fragilidades da comunicação e da tecnologia quando a "essência" já não existe mais.

Veja, após um belíssimo prólogo construído em um competente plano sequência (ou seja, sem cortes), "10.000 Km" se apoia 90% das cenas em ligações de vídeo ou troca de mensagens entre os personagens, retratando uma realidade moderna, mas fria e distante (e aqui não menciono a questão geográfica). As cenas vão de comemorações de aniversários, passando pelo sexo virtual até chegar nas brigas e desentendimentos que só crescem com o passar do tempo. Funciona, mas pode soar monótono para grande parte da audiência - principalmente durante o segundo ato.

"10.000 Km" é original, profundo e muito bem realizado em todos os aspectos técnicos e artísticos. Não se trata de uma história convencional, embora tenhamos a correta impressão de que tudo aquilo não soa tão distante de nós. O caráter experimental e independente do filme chega a ser óbvio, porém não vai afastar quem se interessa por dramas de relação, muito pelo contrário.

O filme chega chancelado por inúmeros prêmios em festivais importantes de cinema independente como o European Film Awards, o Gaudí Awards, o Seattle International Film Festival, o SXSW Film Festival e o próprio Goya.

Vale a pena! "10.000 Km" é um filme dos mais interessantes e com muita alma - mesmo que ela esteja profundamente machucada.

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"10.000 Km" é um filme sobre a vida real - e como tal, nem sempre tudo é tão espetacular! Obviamente que essa premiada produção espanhola vai se conectar com aquela audiência que se identifica com a situação, seja por uma memória afetiva, seja por uma experiência similar; mas o fato é que é preciso entender que o filme se trata de um recorte sobre como os relacionamentos vão se transformando e que a perspectiva de quem a assiste nem sempre é a mesma de quem vive - e talvez aí esteja o grande mérito dessa obra: ela nos toca como se nos reconhecêssemos na figura daqueles dois personagens.

Um ano longe e com um continente entre eles, Alex (Natalia Tena) e Sergi (David Verdaguer) precisam se adaptar a uma nova realidade e contar com a comunicação virtual para tentar manter viva a chama de seu relacionamento. Mas com os cotidianos não mais compartilhados e o contato mútuo desaparecido, a tecnologia que supostamente aproximou o mundo pode simplesmente separá-los. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Se você gostou de "Malcolm e Marie"ou "Cenas de um Casamento", é bem possível que você vá gostar de "10.000 Km". Embora a estrutura narrativa seja um pouco menos fluída que a produção americana do diretor Sam Levinson ou que a recente série da HBO, aqui seguimos basicamente a mesma cartilha: dois ótimos atores discutindo e lidando com as dificuldades de uma relação. O diretor Carlos Marques-Marcet (que inclusive venceu o Goya de "Melhor Novo Diretor" em 2015 com esse filme) cria uma dinâmica bastante interessante e criativa para estabelecer o processo de degradação de um relacionamento quando as expectativas já não estão mais alinhadas. O roteiro do próprio Marcel em parceria com Clara Roquet, foi muito feliz em fragmentar essa desconexão entre os personagens usando o tempo de separação física como termômetro da relação e, ao mesmo tempo, expondo as fragilidades da comunicação e da tecnologia quando a "essência" já não existe mais.

Veja, após um belíssimo prólogo construído em um competente plano sequência (ou seja, sem cortes), "10.000 Km" se apoia 90% das cenas em ligações de vídeo ou troca de mensagens entre os personagens, retratando uma realidade moderna, mas fria e distante (e aqui não menciono a questão geográfica). As cenas vão de comemorações de aniversários, passando pelo sexo virtual até chegar nas brigas e desentendimentos que só crescem com o passar do tempo. Funciona, mas pode soar monótono para grande parte da audiência - principalmente durante o segundo ato.

"10.000 Km" é original, profundo e muito bem realizado em todos os aspectos técnicos e artísticos. Não se trata de uma história convencional, embora tenhamos a correta impressão de que tudo aquilo não soa tão distante de nós. O caráter experimental e independente do filme chega a ser óbvio, porém não vai afastar quem se interessa por dramas de relação, muito pelo contrário.

O filme chega chancelado por inúmeros prêmios em festivais importantes de cinema independente como o European Film Awards, o Gaudí Awards, o Seattle International Film Festival, o SXSW Film Festival e o próprio Goya.

Vale a pena! "10.000 Km" é um filme dos mais interessantes e com muita alma - mesmo que ela esteja profundamente machucada.

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100 Metros

Esse é o tipo do filme que você até suspeita o que vai acontecer e mesmo assim, quando acontece, você se emociona e tem aquela gostosa sensação do "coração quentinho". Mas "100 Metros" é um grande filme? Não na sua "forma", mas certamente em seu "conteúdo", sim! Essa produção espanhola dirigida pelo Marcel Barrena (de "Món Petit") conquistou corações ao redor do mundo com sua história tocante de inspiração e superação. Mesmo que a produção não seja um primor e que o roteiro muitas vezes encontre atalhos para provocar determinadas emoções, eu posso te garantir que se trata de um ótimo entretenimento que vale a pena ser assistido - essencialmente por sua história impressionante, bem na linha de "O Escafandro e a Borboleta" e "Intocáveis"!

Baseado em uma história real, "100 Metros" nos apresenta Ramón, um publicitário de 35 anos que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao ser diagnosticado com esclerose múltipla. Inconformado com sua condição, Ramón se propõe a terminar uma competição "Ironman", apesar de lhe terem dito que não conseguia fazer ao menos uma corrida de 100 metros. Confira o trailer (em espanhol):

Existe uma certa sensibilidade do roteiro, também escrito por Barrena, em acompanhar a jornada de Ramón sem apelar para o "coitadismo" - algo como vimos no documentário, esse sim mais impactante e igualmente imperdível, "Gleason". Veja, não se trata de uma narrativa focada numa condição repleta de desafios e obstáculos, isso está subentendido, o que importa mesmo é como o protagonista busca a aceitação do diagnostico e encontra um objetivo que o motiva a continuar vivendo. A forma como o enredo mergulha nas complexidades físicas e emocionais de Ramón é notável, proporcionando uma conexão genuína com quem assiste - e talvez aí, esteja o maior mérito do filme e a razão pela qual nem nos importamos com algumas inconsistências do roteiro. Reparem como a narrativa não se limita em destacar o sofrimento, mas também celebra os triunfos e a capacidade humana de enfrentar adversidades aparentemente insuperáveis e mesmo que soe "auto-ajuda", faz todo sentido na nossa percepção e, olha, nos faz refletir!

O elenco de "100 Metros" merece aplausos por suas performances. Dani Rovira, o Ramón, entrega uma atuação poderosa e cheia de nuances - ele nos faz rir e chorar com a mesma facilidade com que nos faz torcer por sua jornada. A química com seus companheiros de cena, Karra Elejalde (seu sogro, Manolo) e Alexandra Jiménez (sua esposa, Inma), é impressionante - a dinâmica familiar e de amizade entre eles, confere uma profundidade à história que certamente a coloca em outro patamar. As atuações são genuínas, elas amplificam a mensagem do filme, transmitindo a importância do apoio mútuo diante de problemas que facilmente nos derrubaria. A fotografia do Xavi Giménez (o mesmo de "Durante a Tormenta") é cativante, afinal o que dizer das belas locações de Calella e Barcelona, na Espanha. Já a trilha sonora (bastante premiada), essa é impecável - emotiva, ela trabalha em perfeita harmonia com o texto para intensificar nossas sensações, nos transportando diretamente para a experiência de estar ao lado de Ramón.

"100 Metros" naturalmente transcende suas próprias fronteiras com uma narrativa profundamente comovente e com performances das mais honestas - especialmente Jiménez. Esse é o tipo do  filme que nos cativa desde o primeiro momento com sua mensagem de determinação e de superação que ressoa intensamente, nos convidando a refletir sobre nossas próprias vidas - uma jornada compartilhada de emoções e inspiração que continuará a ecoar muito além dos créditos finais, acreditem!

PS: a montagem que intercala cenas da ficção com os arquivos pessoais de Ramón é sensacional e muito, muito, forte!

Vale seu play!

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Esse é o tipo do filme que você até suspeita o que vai acontecer e mesmo assim, quando acontece, você se emociona e tem aquela gostosa sensação do "coração quentinho". Mas "100 Metros" é um grande filme? Não na sua "forma", mas certamente em seu "conteúdo", sim! Essa produção espanhola dirigida pelo Marcel Barrena (de "Món Petit") conquistou corações ao redor do mundo com sua história tocante de inspiração e superação. Mesmo que a produção não seja um primor e que o roteiro muitas vezes encontre atalhos para provocar determinadas emoções, eu posso te garantir que se trata de um ótimo entretenimento que vale a pena ser assistido - essencialmente por sua história impressionante, bem na linha de "O Escafandro e a Borboleta" e "Intocáveis"!

Baseado em uma história real, "100 Metros" nos apresenta Ramón, um publicitário de 35 anos que vê sua vida virar de cabeça para baixo ao ser diagnosticado com esclerose múltipla. Inconformado com sua condição, Ramón se propõe a terminar uma competição "Ironman", apesar de lhe terem dito que não conseguia fazer ao menos uma corrida de 100 metros. Confira o trailer (em espanhol):

Existe uma certa sensibilidade do roteiro, também escrito por Barrena, em acompanhar a jornada de Ramón sem apelar para o "coitadismo" - algo como vimos no documentário, esse sim mais impactante e igualmente imperdível, "Gleason". Veja, não se trata de uma narrativa focada numa condição repleta de desafios e obstáculos, isso está subentendido, o que importa mesmo é como o protagonista busca a aceitação do diagnostico e encontra um objetivo que o motiva a continuar vivendo. A forma como o enredo mergulha nas complexidades físicas e emocionais de Ramón é notável, proporcionando uma conexão genuína com quem assiste - e talvez aí, esteja o maior mérito do filme e a razão pela qual nem nos importamos com algumas inconsistências do roteiro. Reparem como a narrativa não se limita em destacar o sofrimento, mas também celebra os triunfos e a capacidade humana de enfrentar adversidades aparentemente insuperáveis e mesmo que soe "auto-ajuda", faz todo sentido na nossa percepção e, olha, nos faz refletir!

O elenco de "100 Metros" merece aplausos por suas performances. Dani Rovira, o Ramón, entrega uma atuação poderosa e cheia de nuances - ele nos faz rir e chorar com a mesma facilidade com que nos faz torcer por sua jornada. A química com seus companheiros de cena, Karra Elejalde (seu sogro, Manolo) e Alexandra Jiménez (sua esposa, Inma), é impressionante - a dinâmica familiar e de amizade entre eles, confere uma profundidade à história que certamente a coloca em outro patamar. As atuações são genuínas, elas amplificam a mensagem do filme, transmitindo a importância do apoio mútuo diante de problemas que facilmente nos derrubaria. A fotografia do Xavi Giménez (o mesmo de "Durante a Tormenta") é cativante, afinal o que dizer das belas locações de Calella e Barcelona, na Espanha. Já a trilha sonora (bastante premiada), essa é impecável - emotiva, ela trabalha em perfeita harmonia com o texto para intensificar nossas sensações, nos transportando diretamente para a experiência de estar ao lado de Ramón.

"100 Metros" naturalmente transcende suas próprias fronteiras com uma narrativa profundamente comovente e com performances das mais honestas - especialmente Jiménez. Esse é o tipo do  filme que nos cativa desde o primeiro momento com sua mensagem de determinação e de superação que ressoa intensamente, nos convidando a refletir sobre nossas próprias vidas - uma jornada compartilhada de emoções e inspiração que continuará a ecoar muito além dos créditos finais, acreditem!

PS: a montagem que intercala cenas da ficção com os arquivos pessoais de Ramón é sensacional e muito, muito, forte!

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2 Outonos e 3 Invernos

2 Outonos e 3 Invernos

"2 Outonos e 3 Invernos" é um premiado filme francês dirigido pelo Sébastien Betbeder que fala, basicamente, sobre os ciclos de um relacionamento. Com um conceito narrativo e visual bem particular, Betbeder nos entrega um filme leve, mas não por isso superficial, que nos provoca a entender como cada um dos personagens se relaciona com o amor.

Na história, Arman, um jovem de  33 anos, está querendo mudar seu estilo de vida e para começar, ele resolve correr no parque aos sábados. É lá que ele conhece Amélie, uma linda parisiense que parece não ser muito, digamos, feliz na escolha de seus relacionamentos. Ao se esbarrem, a primeira impressão causa um choque, porém é no segundo encontro casual que eles realmente se dão uma chance. Benjamin, melhor amigo de Arman, também está no inicio de relacionamento depois de se recuperar de um AVC e ambos vão trocando experiências para tentar encontrar o caminho da felicidade. Entre dois outonos e três invernos, as vidas de Amélie, Arman e Benjamin se cruzam em encontros, desencontros, acidentes e muitas memórias, em um cenário belíssimo! Confira o trailer:

Embora "2 Outonos e 3 Invernos" tenha muitos elementos que o confundem com uma comédia romântica, eu diria que sua história está mais para um leve drama com toques de romance e bem pouco de comédia - um típico filme francês de relações, eu diria: simpático e muito gostoso de assistir! Vale muito o seu play se você estiver no clima, se gostar do estilo Woody Allen e se curtiu a série da Prime Video, "Modern Love"!

Não por acaso citei o estilo Woody Allen de fazer um filme, pois  "2 Outonos e 3 Invernos" claramente bebe da mesma fonte que "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), principalmente ao permitir que os personagens quebrem a quarta parede, encarando diretamente a audiência, para comentar várias das circunstâncias que o filme está mostrando, quase como um narrador onipresente, com o intuito de facilitar o entendimento das complexidades sentimentais que estão vivendo. Ao escolher o aspecto 4:3 (que nos remete ao antigo estilo das telas de TV quadradas), a câmera na mão e uma quantidade enorme de grãos, praticamente "sujando" várias cenas, o diretor Sébastien Betbeder ao lado do fotógrafo Sylvain Verdet, trás um conceito muito documental para o filme - tanto que ele chegou a filmar algumas passagens com uma câmera 16mm. Esse conceito visual nos dá a ideia de se tratar de testemunhos pessoais dos casais, contrastando com uma espécie de "esquetes" que pontuam os três atos do filme. Enquanto assistia, em vários momentos tive a impressão que o roteiro mais parceria ser de uma peça de teatro do que cinema em si - e isso não é demérito, apenas um estilo narrativo que aqui funcionou perfeitamente.

Betbeder também assina o roteiro e com isso fica claro o alinhamento entre o estilo visual e o narrativo. Basicamente o que encontramos é uma história focada nos atores, no texto e com pouquíssima ação - o que para muitos pode dar a impressão de uma certa verborragia. Não foi o meu caso! Porém é preciso dizer que 90 minutos é pouco tempo de tela para abordar com profundidade as nuances e detalhes de dois casais. Quando o roteiro escorrega para os coadjuvantes, Benjamin (Bastien Bouillon) e Katia (Audrey Bastien), o filme perde força - não pela qualidade dos atores, mas pela dispersão, pela falta de foco. Tanto Vincent Macaigne (Arman), quanto Maud Wyler (Amélie) tinham qualidades suficientes para segurar a história tranquilamente - a impressão que ficou é que algo se perdeu nesse vai e volta de tramas e sub-tramas (que pouco acrescentam uma na outra, diga-se de passagem).

"2 Outonos e 3 Invernos" foi bem em bons festivais como Torino e RiverRun - o que já justificaria sua atenção, caso você tenha uma inclinação para filmes independentes, Mas essa produção francesa trás um pouco mais: ela vem para provar que é possível discutir assuntos pesados sem a necessidade vital de nos destruir emocionalmente, mesmo que em alguns momentos possamos sentir o vazio de uma relação fadada ao término, o resultado é extremamente agradável - um ótimo entretenimento!

"2 Outonos e 3 Invernos" é um premiado filme francês dirigido pelo Sébastien Betbeder que fala, basicamente, sobre os ciclos de um relacionamento. Com um conceito narrativo e visual bem particular, Betbeder nos entrega um filme leve, mas não por isso superficial, que nos provoca a entender como cada um dos personagens se relaciona com o amor.

Na história, Arman, um jovem de  33 anos, está querendo mudar seu estilo de vida e para começar, ele resolve correr no parque aos sábados. É lá que ele conhece Amélie, uma linda parisiense que parece não ser muito, digamos, feliz na escolha de seus relacionamentos. Ao se esbarrem, a primeira impressão causa um choque, porém é no segundo encontro casual que eles realmente se dão uma chance. Benjamin, melhor amigo de Arman, também está no inicio de relacionamento depois de se recuperar de um AVC e ambos vão trocando experiências para tentar encontrar o caminho da felicidade. Entre dois outonos e três invernos, as vidas de Amélie, Arman e Benjamin se cruzam em encontros, desencontros, acidentes e muitas memórias, em um cenário belíssimo! Confira o trailer:

Embora "2 Outonos e 3 Invernos" tenha muitos elementos que o confundem com uma comédia romântica, eu diria que sua história está mais para um leve drama com toques de romance e bem pouco de comédia - um típico filme francês de relações, eu diria: simpático e muito gostoso de assistir! Vale muito o seu play se você estiver no clima, se gostar do estilo Woody Allen e se curtiu a série da Prime Video, "Modern Love"!

Não por acaso citei o estilo Woody Allen de fazer um filme, pois  "2 Outonos e 3 Invernos" claramente bebe da mesma fonte que "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (1977), principalmente ao permitir que os personagens quebrem a quarta parede, encarando diretamente a audiência, para comentar várias das circunstâncias que o filme está mostrando, quase como um narrador onipresente, com o intuito de facilitar o entendimento das complexidades sentimentais que estão vivendo. Ao escolher o aspecto 4:3 (que nos remete ao antigo estilo das telas de TV quadradas), a câmera na mão e uma quantidade enorme de grãos, praticamente "sujando" várias cenas, o diretor Sébastien Betbeder ao lado do fotógrafo Sylvain Verdet, trás um conceito muito documental para o filme - tanto que ele chegou a filmar algumas passagens com uma câmera 16mm. Esse conceito visual nos dá a ideia de se tratar de testemunhos pessoais dos casais, contrastando com uma espécie de "esquetes" que pontuam os três atos do filme. Enquanto assistia, em vários momentos tive a impressão que o roteiro mais parceria ser de uma peça de teatro do que cinema em si - e isso não é demérito, apenas um estilo narrativo que aqui funcionou perfeitamente.

Betbeder também assina o roteiro e com isso fica claro o alinhamento entre o estilo visual e o narrativo. Basicamente o que encontramos é uma história focada nos atores, no texto e com pouquíssima ação - o que para muitos pode dar a impressão de uma certa verborragia. Não foi o meu caso! Porém é preciso dizer que 90 minutos é pouco tempo de tela para abordar com profundidade as nuances e detalhes de dois casais. Quando o roteiro escorrega para os coadjuvantes, Benjamin (Bastien Bouillon) e Katia (Audrey Bastien), o filme perde força - não pela qualidade dos atores, mas pela dispersão, pela falta de foco. Tanto Vincent Macaigne (Arman), quanto Maud Wyler (Amélie) tinham qualidades suficientes para segurar a história tranquilamente - a impressão que ficou é que algo se perdeu nesse vai e volta de tramas e sub-tramas (que pouco acrescentam uma na outra, diga-se de passagem).

"2 Outonos e 3 Invernos" foi bem em bons festivais como Torino e RiverRun - o que já justificaria sua atenção, caso você tenha uma inclinação para filmes independentes, Mas essa produção francesa trás um pouco mais: ela vem para provar que é possível discutir assuntos pesados sem a necessidade vital de nos destruir emocionalmente, mesmo que em alguns momentos possamos sentir o vazio de uma relação fadada ao término, o resultado é extremamente agradável - um ótimo entretenimento!

45 Anos

"45 Anos" é um lindo filme que fala sobre o amor, porém sob uma perspectiva diferente: é aquele amor do "felizes para sempre" que pode ser desconstruído em um simples "piscar de olhos". Sutil, inteligente e no tom certo, o roteiro é uma verdadeira aula, onde tudo se encaixa tão perfeitamente em cada detalhe, especialmente na relação entre os personagens, que temos a exata sensação de que um dia poderemos viver algo parecido!

Kate Mercer (Charlotte Rampling) está planejando a festa de comemoração dos seus 45 anos de casada. Porém, cinco dias antes do evento, o marido Geoff (Tom Courtenay) recebe a notícia de que o corpo de seu primeiro amor foi finalmente encontrado, congelado, no meio dos Alpes Suíços. A estrutura emocional dele é então seriamente abalada e Kate passa a não saber se, de fato, terá o que comemorar durante a celebração. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido brilhantemente pelo britânico Andrew Haigh (de "A Rota Selvagem"), "45 Years" (no original) é de uma sensibilidade impressionante. A forma como o roteiro do próprio Haigh, baseado em um curta-metragem escrito pelo David Constantine chamado "In Another Country", aborda as dificuldades de um relacionamento mesmo depois de tantos anos de amor e cumplicidade, é de cortar o coração. Veja, o texto sugere uma simples, porém potente, metáfora ao indicar que o cadáver congelado manteve a mesma aparência de sua precoce morte, ou seja, enquanto Geoff e Kate tentam se adaptar às suas condições, lutam contra o inevitável envelhecimento e contra os problemas de tanto tempo de convivência, uma grande paixão de juventude é encontrada praticamente intacta - se o gelo conservou a imagem, talvez também tenha conservado a paixão de Geoff.

É interessante como direção de Haigh consegue equilibrar muito bem os sentimentos do dois protagonistas perante a situação - existe uma alternância consciente entre os planos mais abertos para explorar o dia a dia (muitas vezes vazio) do casal com os planos fechados que praticamente desnudam toda a fragilidade de seu relacionamento. Reparem que existe uma honestidade nos diálogos que chega a ser cruel - muito dessa sensação aliás, se deve a química entre Courtenay e Rampling - ela indicada ao Oscar de "Melhor Atriz" em 2016 e ambos vencedores do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2015.

"45 Anos" se apropria de uma narrativa que vai criando um clima quase insustentável de tensão com o passar dos dias e com a aproximação da comemoração dos 45 anos de casamento, representado pela montagem do Jonathan Alberts (de "Black Birds"), ao mesmo tempo em que nos provoca uma profunda reflexão sobre a fragilidade do amor, quando uma vida juntos já não é mais a certeza de que o futuro possa ser mesmo tão feliz - é duro, complexo, mas belíssimo!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

"45 Anos" é um lindo filme que fala sobre o amor, porém sob uma perspectiva diferente: é aquele amor do "felizes para sempre" que pode ser desconstruído em um simples "piscar de olhos". Sutil, inteligente e no tom certo, o roteiro é uma verdadeira aula, onde tudo se encaixa tão perfeitamente em cada detalhe, especialmente na relação entre os personagens, que temos a exata sensação de que um dia poderemos viver algo parecido!

Kate Mercer (Charlotte Rampling) está planejando a festa de comemoração dos seus 45 anos de casada. Porém, cinco dias antes do evento, o marido Geoff (Tom Courtenay) recebe a notícia de que o corpo de seu primeiro amor foi finalmente encontrado, congelado, no meio dos Alpes Suíços. A estrutura emocional dele é então seriamente abalada e Kate passa a não saber se, de fato, terá o que comemorar durante a celebração. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido brilhantemente pelo britânico Andrew Haigh (de "A Rota Selvagem"), "45 Years" (no original) é de uma sensibilidade impressionante. A forma como o roteiro do próprio Haigh, baseado em um curta-metragem escrito pelo David Constantine chamado "In Another Country", aborda as dificuldades de um relacionamento mesmo depois de tantos anos de amor e cumplicidade, é de cortar o coração. Veja, o texto sugere uma simples, porém potente, metáfora ao indicar que o cadáver congelado manteve a mesma aparência de sua precoce morte, ou seja, enquanto Geoff e Kate tentam se adaptar às suas condições, lutam contra o inevitável envelhecimento e contra os problemas de tanto tempo de convivência, uma grande paixão de juventude é encontrada praticamente intacta - se o gelo conservou a imagem, talvez também tenha conservado a paixão de Geoff.

É interessante como direção de Haigh consegue equilibrar muito bem os sentimentos do dois protagonistas perante a situação - existe uma alternância consciente entre os planos mais abertos para explorar o dia a dia (muitas vezes vazio) do casal com os planos fechados que praticamente desnudam toda a fragilidade de seu relacionamento. Reparem que existe uma honestidade nos diálogos que chega a ser cruel - muito dessa sensação aliás, se deve a química entre Courtenay e Rampling - ela indicada ao Oscar de "Melhor Atriz" em 2016 e ambos vencedores do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2015.

"45 Anos" se apropria de uma narrativa que vai criando um clima quase insustentável de tensão com o passar dos dias e com a aproximação da comemoração dos 45 anos de casamento, representado pela montagem do Jonathan Alberts (de "Black Birds"), ao mesmo tempo em que nos provoca uma profunda reflexão sobre a fragilidade do amor, quando uma vida juntos já não é mais a certeza de que o futuro possa ser mesmo tão feliz - é duro, complexo, mas belíssimo!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

A Arte de Amar

Se Woody Allen fosse francês, ele teria dirigido esse filme! Está tudo lá: a narração conectando o sentimento com a ação, os personagens se encontrando por acaso, as relações sendo desconstruídas por situações incomuns, as sensações pontuando a narrativa, além do diálogo inteligente, enfim, "A Arte de Amar" é uma clara homenagem ao cineasta americano em sua fase mais autoral, apegado aos personagens mais adultos, urbanos, complexos, neuróticos e, por muitas vezes, até melancólicos. Dito isso, se você gosta dos clássicos dramas de relação fantasiados de comédia dos anos 70 e 80, você está no lugar certo!

A sinopse é tão curta quanto eficaz para nos fisgar sem a menor pretensão de nos indicar o que realmente vamos encontrar no filme, veja: um grupo heterogêneo de parisienses embarca em uma aventura diversa para tentar encontrar seu par ideal. Confira o trailer:

O título do filme faz uma referência pontual ao poeta Ovídio, cujo seu manual "Arte de Amar" ensinava técnicas de sedução para seus leitores. A referência literária não para por aí, já que o roteiro do também diretor (e ator) Emmanuel Mouret, se apropria de uma narração quase poética e de um certa divisão em capítulos para construir algumas histórias que se conectam em algum momento do filme. "Não há amor sem música", "É preciso esconder suas infidelidades", "Nunca recuse o que lhe é oferecido", são os ótimos títulos que ilustram perfeitamente o que vamos encontrar assim que começa a ação.

O tom é leve, divertido, cínico e muitas vezes até irônico - quase um crônica como vimos em "Modern Love". Aliás, a estrutura é bem parecida! Um ponto muito interessante, porém, é que todas as histórias giram em torno da infidelidade ou da lealdade entre amigos e casais, retratando uma classe média francesa de uma maneira auto-suficiente em sua "forma", mas neurótica em seu "conteúdo". Além de um direção competente de Mouret, é de brilhar os olhos o elenco estelar e sua performance - Frédérique Bel, Judith Godrèche, Julie Depardieu, Pascale Arbillot, François Cluzet, Élodie Navarre, Gaspard Ulliel, Stanislas Merhar; enfim, todos merecem ser aplaudidos de pé pela sensibilidade, pelo controle emocional e pela verdade com que tratam (e defendem) as imperfeições de seus personagens.

"A Arte de Amar" brinca com audiência de uma forma deliciosa - é como se estivéssemos ouvindo (ou assistindo) verdadeiros causos sobre o amor que acometeu algum conhecido de um conhecido ou aquele amigo que não vemos há anos. O filme brilha pela sua elegância estética e pela sua inteligência textual, mesmo quando não se preocupa em amarrar todas as pontas, afinal, uma história de amor é isso e o conceito narrativo se mantém 100% alinhado ao que mais importa: os sentimentos e sensações que tudo aquilo pode nos provocar!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Se Woody Allen fosse francês, ele teria dirigido esse filme! Está tudo lá: a narração conectando o sentimento com a ação, os personagens se encontrando por acaso, as relações sendo desconstruídas por situações incomuns, as sensações pontuando a narrativa, além do diálogo inteligente, enfim, "A Arte de Amar" é uma clara homenagem ao cineasta americano em sua fase mais autoral, apegado aos personagens mais adultos, urbanos, complexos, neuróticos e, por muitas vezes, até melancólicos. Dito isso, se você gosta dos clássicos dramas de relação fantasiados de comédia dos anos 70 e 80, você está no lugar certo!

A sinopse é tão curta quanto eficaz para nos fisgar sem a menor pretensão de nos indicar o que realmente vamos encontrar no filme, veja: um grupo heterogêneo de parisienses embarca em uma aventura diversa para tentar encontrar seu par ideal. Confira o trailer:

O título do filme faz uma referência pontual ao poeta Ovídio, cujo seu manual "Arte de Amar" ensinava técnicas de sedução para seus leitores. A referência literária não para por aí, já que o roteiro do também diretor (e ator) Emmanuel Mouret, se apropria de uma narração quase poética e de um certa divisão em capítulos para construir algumas histórias que se conectam em algum momento do filme. "Não há amor sem música", "É preciso esconder suas infidelidades", "Nunca recuse o que lhe é oferecido", são os ótimos títulos que ilustram perfeitamente o que vamos encontrar assim que começa a ação.

O tom é leve, divertido, cínico e muitas vezes até irônico - quase um crônica como vimos em "Modern Love". Aliás, a estrutura é bem parecida! Um ponto muito interessante, porém, é que todas as histórias giram em torno da infidelidade ou da lealdade entre amigos e casais, retratando uma classe média francesa de uma maneira auto-suficiente em sua "forma", mas neurótica em seu "conteúdo". Além de um direção competente de Mouret, é de brilhar os olhos o elenco estelar e sua performance - Frédérique Bel, Judith Godrèche, Julie Depardieu, Pascale Arbillot, François Cluzet, Élodie Navarre, Gaspard Ulliel, Stanislas Merhar; enfim, todos merecem ser aplaudidos de pé pela sensibilidade, pelo controle emocional e pela verdade com que tratam (e defendem) as imperfeições de seus personagens.

"A Arte de Amar" brinca com audiência de uma forma deliciosa - é como se estivéssemos ouvindo (ou assistindo) verdadeiros causos sobre o amor que acometeu algum conhecido de um conhecido ou aquele amigo que não vemos há anos. O filme brilha pela sua elegância estética e pela sua inteligência textual, mesmo quando não se preocupa em amarrar todas as pontas, afinal, uma história de amor é isso e o conceito narrativo se mantém 100% alinhado ao que mais importa: os sentimentos e sensações que tudo aquilo pode nos provocar!

Vale muito o seu play!

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A Delicadeza do Amor

"La délicatesse" (no original) é mais um daqueles filmes que você assiste sorrindo - até quando o peito aperta um pouquinho, dá para prever que algo bom vem pela frente. Eu diria que o filme traz um cinema francês clássico sob um novo olhar, com a propriedade de quem tem a sensibilidade de captar os pequenos gestos no meio de grandes atuações. Mérito de Audrey Tautou e François Damiens e de uma direção segura de David e Stéphane Foenkinos que vale a sessão!

Nathalie (Audrey Tautou) tem uma vida maravilhosa. Ela é jovem, bonita e tem o casamento perfeito. Mas depois de um terrível acidente, seu mundo vira de ponta cabeça. Nos anos seguintes, ela foca em seu trabalho, deixando seus sentimentos de lado. Então, de repente, sem mesmo entender o porquê, ela beija o homem mais inesperado -- seu colega de trabalho, Markus (François Damiens). Esse casal incomum embarca numa jornada emocional; uma jornada que suscita todos os tipos de questões e hostilidade no trabalho. Confira o trailer:

A grande questão que o roteiro levanta, brilhantemente adaptado do romance do próprio David Foenkinos, é se, de fato, podemos escolher uma maneira de redescobrir o prazer de viver?

Veja, Nathalie e Markus formam um casal improvável: ele, sueco, introspectivo e fisicamente desajeitado; ela, linda, naturalmente irradiante. E aqui cabe uma passagem interessante do filme que define a inteligência do roteiro e a felicidade da escolha do elenco: em um fim de noite, já levemente bêbado de vinho (e paixão), Charles (Bruno Todeschini), o chefe de Nathalie , diz: “Nathalie é daquela categoria especial de mulher que anula todas as outras. Nathalie é Yoko Ono – do tipo que é capaz de acabar com a maior banda de rock do mundo.”

Talvez o prólogo de "A Delicadeza do Amor" não justifique o que vem a seguir, mas ao mesmo tempo é muito inteligente ao nos posicionar naquilo que Tautou parece fazer de melhor no cinema: viver um conto de fadas - então espere, tenha paciência com a história! A própria fotografia do diretor Rémy Chevrin vai nos transportando para Paris pouco a pouco, da mesma forma que Gordon Willis fez com Manhattan de Woody Allen. Ela cria uma atmosfera de fantasia dentro de um cenário realista que é lindo de sentir. O filme dos irmãos Foenkinos é justamente isso: um drama sensorial, que nos tira da realidade, mesmo em muitos momentos explorando situações brutalmente reais! Esse choque é justamente o diferencial da narrativa!

"A Delicadeza do Amor" é uma história de renascimento, mas é também um conto sobre a singularidade do amor, que prova, mais uma vez, que a beleza está nos detalhes. Reparem como um filme de 2011 continua extremamente atual, em tempos instagramáveis de uma supervalorização da aparência, da beleza fútil, do sucesso material e da riqueza vazia, existem valores muito mais importantes e verdadeiros!

Vale muito a pena!

Assista Agora

"La délicatesse" (no original) é mais um daqueles filmes que você assiste sorrindo - até quando o peito aperta um pouquinho, dá para prever que algo bom vem pela frente. Eu diria que o filme traz um cinema francês clássico sob um novo olhar, com a propriedade de quem tem a sensibilidade de captar os pequenos gestos no meio de grandes atuações. Mérito de Audrey Tautou e François Damiens e de uma direção segura de David e Stéphane Foenkinos que vale a sessão!

Nathalie (Audrey Tautou) tem uma vida maravilhosa. Ela é jovem, bonita e tem o casamento perfeito. Mas depois de um terrível acidente, seu mundo vira de ponta cabeça. Nos anos seguintes, ela foca em seu trabalho, deixando seus sentimentos de lado. Então, de repente, sem mesmo entender o porquê, ela beija o homem mais inesperado -- seu colega de trabalho, Markus (François Damiens). Esse casal incomum embarca numa jornada emocional; uma jornada que suscita todos os tipos de questões e hostilidade no trabalho. Confira o trailer:

A grande questão que o roteiro levanta, brilhantemente adaptado do romance do próprio David Foenkinos, é se, de fato, podemos escolher uma maneira de redescobrir o prazer de viver?

Veja, Nathalie e Markus formam um casal improvável: ele, sueco, introspectivo e fisicamente desajeitado; ela, linda, naturalmente irradiante. E aqui cabe uma passagem interessante do filme que define a inteligência do roteiro e a felicidade da escolha do elenco: em um fim de noite, já levemente bêbado de vinho (e paixão), Charles (Bruno Todeschini), o chefe de Nathalie , diz: “Nathalie é daquela categoria especial de mulher que anula todas as outras. Nathalie é Yoko Ono – do tipo que é capaz de acabar com a maior banda de rock do mundo.”

Talvez o prólogo de "A Delicadeza do Amor" não justifique o que vem a seguir, mas ao mesmo tempo é muito inteligente ao nos posicionar naquilo que Tautou parece fazer de melhor no cinema: viver um conto de fadas - então espere, tenha paciência com a história! A própria fotografia do diretor Rémy Chevrin vai nos transportando para Paris pouco a pouco, da mesma forma que Gordon Willis fez com Manhattan de Woody Allen. Ela cria uma atmosfera de fantasia dentro de um cenário realista que é lindo de sentir. O filme dos irmãos Foenkinos é justamente isso: um drama sensorial, que nos tira da realidade, mesmo em muitos momentos explorando situações brutalmente reais! Esse choque é justamente o diferencial da narrativa!

"A Delicadeza do Amor" é uma história de renascimento, mas é também um conto sobre a singularidade do amor, que prova, mais uma vez, que a beleza está nos detalhes. Reparem como um filme de 2011 continua extremamente atual, em tempos instagramáveis de uma supervalorização da aparência, da beleza fútil, do sucesso material e da riqueza vazia, existem valores muito mais importantes e verdadeiros!

Vale muito a pena!

Assista Agora

A Escavação

"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!

A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:

Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?

"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa! 

É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!

Assista Agora

"A Escavação" me surpreendeu. Talvez por ter entrado sem muitas expectativas, logo nos primeiros minutos do filme já foi possível perceber muita qualidade em todos os sentidos. Embora não tenha muitas similaridades narrativas, essa produção da Netflix me lembrou muito a atmosfera do "O Jardineiro Fiel", inclusive em sua direção - o diretor Simon Stone traz muito do cinema autoral do Fernando Meirelles para o seu filme e isso agrada demais!

A trama, baseada em uma história real, se passa em 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva que mora com seu filho Robert (Archie Barnes) em uma mansão em Sutton Hoo, localizada perto do condado de Suffolk, na Inglaterra. Curiosa com alguns montes que fazem parte da sua propriedade, ela chama Basil Brown (Ralph Fiennes), um arqueólogo amador, para escavar suas terras. É lá que ele encontra um dos tesouros mais importantes da história - um grande barco funerário muito bem preservado, principalmente quando consideramos que ele pode ser rastreado para uma Europa da Idade Média, que até o momento era uma área quase carente de mais informações para os historiadores. Com a descoberta de prataria e outros acessórios de enorme valor, o trabalho toma outra dimensão, com museus e outras entidades governamentais se envolvendo cada vez mais na escavação e, mais uma vez, deixando de lado os créditos de Brown. Confira o trailer:

Além de uma ótima direção, a trilha sonora de Stefan Gregory, em seu primeiro longa-metragem, também me chamou a atenção e é impressionante como ela se encaixa perfeitamente a uma bela fotografia, digna de prêmios (inclusive), do Mike Eley. Já o roteiro de Moira Buffini, de “O Último Vice-Rei”, dá uma leve vacilada quando desvia o foco desenvolvido em um primeiro ato sensacional, para um romance dispensável - principalmente por se tratar de um filme que se apoia no drama denso de uma protagonista bastante complexa, cheia de camadas, e no desafio de um personagem igualmente profundo e que parece buscar uma redenção quase espiritual - e aqui cabe uma observação: enquanto a relação entre Pretty e Brown nos provoca algumas dúvidas e até uma certa angústia, o de Piggott (Lily James) com Rory Lomax (Johnny Flynn) é quase adolescente de tão óbvio. Se o propósito era se permitir uma certa liberdade criativa ao trazer um romance ficcional para história, por que não focar na relação com o filho, com o passado, com os questionamentos de um luto mal vivido ou, no caso de Brown, no distanciamento da esposa e na insegurança no futuro do casamento?

"A Escavação" tem uma história envolvente, mas poderia ter ido mais longe! Não prejudica em nada na experiência de quem está assistindo, o filme continua sendo muito bom, com um drama bem estabelecido, só que o potencial era tão grande que fica impossível não comentar. Ao pontuar conceitos espirituais sobre o que realmente deixamos para a próxima geração, através de paralelos com a arqueologia, "The Dig" (titulo original) nos provoca a refletir sobre como lidar com a vida mesmo sabendo da vulnerabilidade que ela representa! 

É um belo filme, com seus defeitos e qualidades, que merece ser visto e fatalmente vai te surpreender também!

Assista Agora

A Favorita

"A Favorita" teve 10 indicações para o Oscar de 2019 e isso, por si só, já o credenciaria como um grande filme. Na verdade é filme grandioso, mas não sei se é um grande filme - daqueles inesquecíveis!

"A Favorita" conta a história conturbada da Rainha Anne com sua amiga e confidente Sarah. A influência que Sarah tem sobre a Rainha abre caminho para vários tipos de interpretação e isso ganha ainda mais força com a chegada Abigail que, pouso a pouco, vai se inserindo no meio dessa relação. A disputa pela atenção da Rainha é só a maquiagem que o diretor usou para falar sobre a imperfeição do ser humano quando o assunto é a busca pelo poder!!!

A maneira provocativa que o diretor grego Yorgos Lanthimos imprime no filme émuito interessante: ele alinha esse conceito com vários elementos narrativos que vão pontuandomuito bem esse "tom acima", o problema éque essa escolha faz com que a história derrape em vários momentos!!! A interpretação é estereotipada, com raros momentos de internalização e isso, para mim, soa como o caminho mais fácil! Funcionou, pois das 10 indicações, 3 envolvem as atrizes do filme, 2em uma mesma categoria "Atriz Coadjuvante". A fotografia têm momentos magníficos e outros extremamente duvidosos. Na verdade, desde o "Cervo Sagrado", eu acho que Yorgos Lanthimos coloca tantas idéias, algumas desconexas, na sua direção que acabam atrapalhando o resultado final. 

Bom, dito isso, talvez seja necessário entender cada uma das indicações: (1) "Edição", muito boa, mas não vai levar! (2) "Fotografia", como comentei acima, tem grandes momentos, lindos planos, o trabalho que o Robbie Ryan fez com o a luz do fogo contrastando com o fundo preto é lindo, mas foram nas escolhas das lentes que eu acho que ele derrapou. Eu vi ele explicando que era uma sensação de aprisionamento que ele buscou, para mim, não funcionou. A distorção da imagem ficou desconexa demais, mas é uma opinião muito pessoal. Nunca trocaria a fotografia de "Roma" pela de "A Favorita" - que se beneficia muito mais do cenário para compor grandes quadros! (3) "Desenho de Produção", forte candidato. Tudo é realmente lindo e vai brigar cabeça a cabeça com "Pantera Negra" - eu acho que essa é uma das categorias mais disputadas do ano! (4) "Figurino", também acho uma das favoritas, mas com um "Pantera Negra" bem próximo! (5) e (6) "Atriz Coadjuvante", Emma Stone e Rachel Weisz, ambas tem chance, talvez com Rachel Weisz um pouco a frente, mas acho difícil a Regina King de  "Se a rua Beale falasse" não levar - lembrando que a Amy Adams ainda corre forte por fora!!! (6) "Atriz", Olivia Colman, mereceria demais, foi um grande trabalho - o ponto alto do filme ao lado do departamento de arte. (8) "Roteiro Original", não vai levar, pode esquecer - é bom, sim, critico, inteligente, mas tem "Green Book", "Roma" e "Vice" na frente! (9) Direção, se Yorgos Lanthimos ganhar eu mudo de nome! (10) "Melhor Filme", o prêmio foi a indicação!

O fato é que "A Favorita" é interessante, bem feito, bonito... mas achei um pouco super estimado pela Academia. Das 10 indicações, 3 ou 4 estariam de bom tamanho!! Eu não me apaixonei, mas não posso dizer que não é um filme bom!!! Como disse um amigo: Gostei, mas não gostei!!!!...rs

Up-Date: "A Favorita" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!

Assista Agora

"A Favorita" teve 10 indicações para o Oscar de 2019 e isso, por si só, já o credenciaria como um grande filme. Na verdade é filme grandioso, mas não sei se é um grande filme - daqueles inesquecíveis!

"A Favorita" conta a história conturbada da Rainha Anne com sua amiga e confidente Sarah. A influência que Sarah tem sobre a Rainha abre caminho para vários tipos de interpretação e isso ganha ainda mais força com a chegada Abigail que, pouso a pouco, vai se inserindo no meio dessa relação. A disputa pela atenção da Rainha é só a maquiagem que o diretor usou para falar sobre a imperfeição do ser humano quando o assunto é a busca pelo poder!!!

A maneira provocativa que o diretor grego Yorgos Lanthimos imprime no filme émuito interessante: ele alinha esse conceito com vários elementos narrativos que vão pontuandomuito bem esse "tom acima", o problema éque essa escolha faz com que a história derrape em vários momentos!!! A interpretação é estereotipada, com raros momentos de internalização e isso, para mim, soa como o caminho mais fácil! Funcionou, pois das 10 indicações, 3 envolvem as atrizes do filme, 2em uma mesma categoria "Atriz Coadjuvante". A fotografia têm momentos magníficos e outros extremamente duvidosos. Na verdade, desde o "Cervo Sagrado", eu acho que Yorgos Lanthimos coloca tantas idéias, algumas desconexas, na sua direção que acabam atrapalhando o resultado final. 

Bom, dito isso, talvez seja necessário entender cada uma das indicações: (1) "Edição", muito boa, mas não vai levar! (2) "Fotografia", como comentei acima, tem grandes momentos, lindos planos, o trabalho que o Robbie Ryan fez com o a luz do fogo contrastando com o fundo preto é lindo, mas foram nas escolhas das lentes que eu acho que ele derrapou. Eu vi ele explicando que era uma sensação de aprisionamento que ele buscou, para mim, não funcionou. A distorção da imagem ficou desconexa demais, mas é uma opinião muito pessoal. Nunca trocaria a fotografia de "Roma" pela de "A Favorita" - que se beneficia muito mais do cenário para compor grandes quadros! (3) "Desenho de Produção", forte candidato. Tudo é realmente lindo e vai brigar cabeça a cabeça com "Pantera Negra" - eu acho que essa é uma das categorias mais disputadas do ano! (4) "Figurino", também acho uma das favoritas, mas com um "Pantera Negra" bem próximo! (5) e (6) "Atriz Coadjuvante", Emma Stone e Rachel Weisz, ambas tem chance, talvez com Rachel Weisz um pouco a frente, mas acho difícil a Regina King de  "Se a rua Beale falasse" não levar - lembrando que a Amy Adams ainda corre forte por fora!!! (6) "Atriz", Olivia Colman, mereceria demais, foi um grande trabalho - o ponto alto do filme ao lado do departamento de arte. (8) "Roteiro Original", não vai levar, pode esquecer - é bom, sim, critico, inteligente, mas tem "Green Book", "Roma" e "Vice" na frente! (9) Direção, se Yorgos Lanthimos ganhar eu mudo de nome! (10) "Melhor Filme", o prêmio foi a indicação!

O fato é que "A Favorita" é interessante, bem feito, bonito... mas achei um pouco super estimado pela Academia. Das 10 indicações, 3 ou 4 estariam de bom tamanho!! Eu não me apaixonei, mas não posso dizer que não é um filme bom!!! Como disse um amigo: Gostei, mas não gostei!!!!...rs

Up-Date: "A Favorita" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Atriz!

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A Linha Vermelha do Destino

"A Linha Vermelha do Destino" é uma espécie de "Before Sunrise" argentino, mas sem o talento do diretor Richard Linklater! 

Uma lenda antiga diz que um fio vermelho invisível conecta aqueles que estão destinados a se encontrar, independentemente de hora, local ou das circunstâncias. Essa linha pode esticar ou contrair, mas nunca quebrar. Manuel (Benjamín Vicuña) e April (Eugenia Suárez) parecem estar vinculados por esse destino infalível. Depois de se conhecerem em um avião, eles se apaixonam instantaneamente, sentem que são um para o outro, mas o destino faz com que se separem e nunca mais se encontrem. Sete anos depois, ambos formaram suas famílias e estão felizes: Manuelcom Laura (Guillermina Valdés) e April com Bruno (Hugo Silva). Mas desejo, amor e destino os colocam frente a frente novamente para viver outro encontro inesquecível, colocando seus valores e crenças sobre o amor em crise e onde surgem aquelas perguntas com as respostas mais difíceis: Você pode amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo? Reencontrar o grande amor da vida é uma coisa boa? Quando existe amor entre duas pessoas, o fim é sempre feliz?

Olha, o filme não é ruim, longe disso - mas poderia ter ido além com uma premissa tão bacana quando essa! "El Hilo Rojo" (titulo original), na minha opinião, pecou pela falta de sensibilidade na hora de transformar algo simples em um filme com mais alma. É fato que existem lampejos de profundidade no roteiro, principalmente ao relatar aquela confusão de sentimentos tão único que os personagens estão vivendo, mas, infelizmente, 80% do tempo não passou de uma comédia romântica com um pouco mais de estilo. Nesse caso não acho que seja demérito e sim a proposta que a diretora Daniela Goggi escolheu.

Pra quem gosta do gênero, vale muito a pena!

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"A Linha Vermelha do Destino" é uma espécie de "Before Sunrise" argentino, mas sem o talento do diretor Richard Linklater! 

Uma lenda antiga diz que um fio vermelho invisível conecta aqueles que estão destinados a se encontrar, independentemente de hora, local ou das circunstâncias. Essa linha pode esticar ou contrair, mas nunca quebrar. Manuel (Benjamín Vicuña) e April (Eugenia Suárez) parecem estar vinculados por esse destino infalível. Depois de se conhecerem em um avião, eles se apaixonam instantaneamente, sentem que são um para o outro, mas o destino faz com que se separem e nunca mais se encontrem. Sete anos depois, ambos formaram suas famílias e estão felizes: Manuelcom Laura (Guillermina Valdés) e April com Bruno (Hugo Silva). Mas desejo, amor e destino os colocam frente a frente novamente para viver outro encontro inesquecível, colocando seus valores e crenças sobre o amor em crise e onde surgem aquelas perguntas com as respostas mais difíceis: Você pode amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo? Reencontrar o grande amor da vida é uma coisa boa? Quando existe amor entre duas pessoas, o fim é sempre feliz?

Olha, o filme não é ruim, longe disso - mas poderia ter ido além com uma premissa tão bacana quando essa! "El Hilo Rojo" (titulo original), na minha opinião, pecou pela falta de sensibilidade na hora de transformar algo simples em um filme com mais alma. É fato que existem lampejos de profundidade no roteiro, principalmente ao relatar aquela confusão de sentimentos tão único que os personagens estão vivendo, mas, infelizmente, 80% do tempo não passou de uma comédia romântica com um pouco mais de estilo. Nesse caso não acho que seja demérito e sim a proposta que a diretora Daniela Goggi escolheu.

Pra quem gosta do gênero, vale muito a pena!

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A Lula e a Baleia

Muito antes de "História de um Casamento", Noah Baumbach já nos presenteava com uma incisiva e honesta exploração das complexidades das relações familiares e os efeitos duradouros do divórcio, mas de uma forma diferente. "A Lula e a Baleia" tem um roteiro afiado e atuações excepcionalmente sinceras, tudo para retratar, com uma visão nua e crua, as dinâmicas disfuncionais de uma família intelectual do Brooklyn nos anos 80. Baseado em parte nas próprias experiências de Baumbach, "The Squid and the Whale" (no original) é de fato um estudo de caráter que ressoa com autenticidade e empatia de uma forma impressionante - razão pela qual recebeu uma indicação ao Oscar de "Melhor Roteiro Original" em 2006, além inúmeras outras no Critics Choice, no Golden Globe, no Spirit Awards e até em Sundance (inclusive levando os prêmios de "Melhor Diretor" e "Melhor Roteiro").

A trama segue os Berkman, uma família que se desintegra quando os pais, Bernard (Jeff Daniels) e Joan (Laura Linney), decidem se divorciar. Bernard é um escritor arrogante e pretensioso que enfrenta dificuldades em sua carreira, enquanto Joan está emergindo como uma escritora de sucesso. Seus filhos, Walt (Jesse Eisenberg) e Frank (Owen Kline), são pegos no meio do conflito, cada um lidando com a separação de maneiras distintas e muitas vezes dolorosas. Confira o trailer (em inglês):

Realmente a direção de Baumbach é precisa e cirurgicamente intimista - ele utiliza uma abordagem visual despojada que acaba colocando o foco nas performances e nos diálogos. Obviamente que ele sabe que seu roteiro é uma das maiores forças do filme, com um texto afiado e uma estrutura que permite a exploração profunda dos personagens. Baumbach não tem medo de expor as falhas e hipocrisias de seus protagonistas, criando uma narrativa que é ao mesmo tempo dolorosa e catártica. É muito interessante como "A Lula e a Baleia" é capaz de abordar temas como ego, insegurança, e a busca por identidade de uma maneira que ao mesmo tempo soa pessoal e universal.

A Fotografia de Robert Yeoman (indicado ao Oscar pelo seu belíssimo trabalho em "O Grande Hotel Budapeste") trabalha a suavidade das cores e traz uma iluminação mais naturalista para potencializar a sensação de realismo e de proximidade com a audiência - é como se não existisse a barreira entre a ficção e a realidade pela perspectiva mais íntima das situações. A escolha de filmar em locações reais no Brooklyn adiciona uma camada de autenticidade que enriquece a narrativa e impacta diretamente no trabalho do elenco. Jeff Daniels entrega uma performance memorável como Bernard, capturando perfeitamente a arrogância intelectual e a vulnerabilidade subjacente de um homem incapaz de lidar com o fracasso. Laura Linney, como Joan, oferece uma atuação poderosa e cheia de camadas, equilibrando a determinação profissional com a complexidade emocional de uma mulher em transição. Agora, o que dizer da química entre Daniels e Linney? Palpável ao extremo, o que torna suas interações simultaneamente cômicas e trágicas como poucas vezes encontramos na tela.

"A Lula e a Baleia" é um filme que se destaca por sua honestidade brutal e por sua habilidade em capturar em detalhes as especificidades das relações em um momento tão sensível - a confusão e a dor de um jovem tentando encontrar seu próprio caminho em meio ao caos familiar, por exemplo, é genal. Aliás, ponto para Jesse Eisenberg em um de seus primeiros papéis de destaque. Claro que a abordagem de Baumbach ao tema do divórcio é notável por sua sinceridade e falta de sentimentalismo, mas o seu valor mesmo está em como ele oferece uma visão clara e não idealizada das consequências emocionais para todos os envolvidos. Então sim, "A Lula e a Baleia" é um filme que desafia a audiência a confrontar as imperfeições da vida familiar e a reconhecer a resiliência necessária para seguir em frente, então se você gosta de narrativas introspectivas e emocionalmente ressonantes, eu diria que esse filme é para você e vai valer muito o seu play!

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Muito antes de "História de um Casamento", Noah Baumbach já nos presenteava com uma incisiva e honesta exploração das complexidades das relações familiares e os efeitos duradouros do divórcio, mas de uma forma diferente. "A Lula e a Baleia" tem um roteiro afiado e atuações excepcionalmente sinceras, tudo para retratar, com uma visão nua e crua, as dinâmicas disfuncionais de uma família intelectual do Brooklyn nos anos 80. Baseado em parte nas próprias experiências de Baumbach, "The Squid and the Whale" (no original) é de fato um estudo de caráter que ressoa com autenticidade e empatia de uma forma impressionante - razão pela qual recebeu uma indicação ao Oscar de "Melhor Roteiro Original" em 2006, além inúmeras outras no Critics Choice, no Golden Globe, no Spirit Awards e até em Sundance (inclusive levando os prêmios de "Melhor Diretor" e "Melhor Roteiro").

A trama segue os Berkman, uma família que se desintegra quando os pais, Bernard (Jeff Daniels) e Joan (Laura Linney), decidem se divorciar. Bernard é um escritor arrogante e pretensioso que enfrenta dificuldades em sua carreira, enquanto Joan está emergindo como uma escritora de sucesso. Seus filhos, Walt (Jesse Eisenberg) e Frank (Owen Kline), são pegos no meio do conflito, cada um lidando com a separação de maneiras distintas e muitas vezes dolorosas. Confira o trailer (em inglês):

Realmente a direção de Baumbach é precisa e cirurgicamente intimista - ele utiliza uma abordagem visual despojada que acaba colocando o foco nas performances e nos diálogos. Obviamente que ele sabe que seu roteiro é uma das maiores forças do filme, com um texto afiado e uma estrutura que permite a exploração profunda dos personagens. Baumbach não tem medo de expor as falhas e hipocrisias de seus protagonistas, criando uma narrativa que é ao mesmo tempo dolorosa e catártica. É muito interessante como "A Lula e a Baleia" é capaz de abordar temas como ego, insegurança, e a busca por identidade de uma maneira que ao mesmo tempo soa pessoal e universal.

A Fotografia de Robert Yeoman (indicado ao Oscar pelo seu belíssimo trabalho em "O Grande Hotel Budapeste") trabalha a suavidade das cores e traz uma iluminação mais naturalista para potencializar a sensação de realismo e de proximidade com a audiência - é como se não existisse a barreira entre a ficção e a realidade pela perspectiva mais íntima das situações. A escolha de filmar em locações reais no Brooklyn adiciona uma camada de autenticidade que enriquece a narrativa e impacta diretamente no trabalho do elenco. Jeff Daniels entrega uma performance memorável como Bernard, capturando perfeitamente a arrogância intelectual e a vulnerabilidade subjacente de um homem incapaz de lidar com o fracasso. Laura Linney, como Joan, oferece uma atuação poderosa e cheia de camadas, equilibrando a determinação profissional com a complexidade emocional de uma mulher em transição. Agora, o que dizer da química entre Daniels e Linney? Palpável ao extremo, o que torna suas interações simultaneamente cômicas e trágicas como poucas vezes encontramos na tela.

"A Lula e a Baleia" é um filme que se destaca por sua honestidade brutal e por sua habilidade em capturar em detalhes as especificidades das relações em um momento tão sensível - a confusão e a dor de um jovem tentando encontrar seu próprio caminho em meio ao caos familiar, por exemplo, é genal. Aliás, ponto para Jesse Eisenberg em um de seus primeiros papéis de destaque. Claro que a abordagem de Baumbach ao tema do divórcio é notável por sua sinceridade e falta de sentimentalismo, mas o seu valor mesmo está em como ele oferece uma visão clara e não idealizada das consequências emocionais para todos os envolvidos. Então sim, "A Lula e a Baleia" é um filme que desafia a audiência a confrontar as imperfeições da vida familiar e a reconhecer a resiliência necessária para seguir em frente, então se você gosta de narrativas introspectivas e emocionalmente ressonantes, eu diria que esse filme é para você e vai valer muito o seu play!

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A Luz entre Oceanos

Derek Cianfrance (de "Blue Vallentine") é um dos melhores diretores da sua geração! O cara manda muito bem, a câmera está sempre no lugar certo, para contar a história que tem que ser contada! Em "A Luz entre Oceanos" ele mais uma vez está impecável para contara a história de Tom Sherbourne (Michael Fassbender) e a sua esposa Isabel (Alicia Vikander), um casal feliz que vive em uma ilha na costa da Austrália, no período após a Primeira Guerra Mundial. O maior desejo de Tom e Isabel é ter um filho, mas depois de Isabel abortar algumas vezes, eles acabam perdendo a esperança. No entanto, um dia o casal resgata uma menina em um barco, provavelmente resultado de um naufrágio. Os dois decidem chamá-la de Lucy e adotá-la como filha. Após alguns anos de felicidade, Tom e Isabel, em uma visita ao continente, encontram a viúva Hannah Roennfeldt (Rachel Weisz) que perdeu o marido e a filha no mar. Fica claro para Tom que Lucy é, na verdade, filha de Hannah, e ele sente que é o seu dever devolver a criança à mãe. Mas Isabel não quer que a sua família seja destruída por uma crise de consciência do marido. A partir daí, um maravilhoso sonho se transforma em um terrível pesadelo, trazendo à tona questões difíceis sobre o casamento e a paternidade. Confira o trailer:

"A Luz entre Oceanos" é lindamente bem fotografado pelo diretor Adam Arkapaw (True Detective) e tem um trilha sonora digna de Oscar do, 10 vezes indicado, Alexandre Desplat (Adoráveis Mulheres) - ele venceu duas vezes com "O Grande Hotel Budapeste" e "A Forma da Água". Embora tenha vencido o Festival de Veneza em 2016, o filme me deu a sensação que se tivesse 15 minutos a menos tudo terminaria melhor. Na verdade não sei se é só uma opinião pessoal, certa ou errada, mas quando me entregam demais acabo ficando com preguiça de me envolver tanto. Mas e o público, será que não prefere algo mais fácil? Talvez achar o equilíbrio seja o melhor caminho, talvez o roteiro do próprio Cianfrance, baseado no livro de M.L. Stedman, tenha feito essa escolha, mas para mim ficou a nítida impressão que o filme poderia ter me levado mais longe, porque a história é muito envolvente de fato, mas são aconteceu - ele acabou não me permitindo discutir sobre o final, sobre as escolhas, sobre a história em si!

Eu gostei do filme, ele poético, profundo e visceral em muitos momentos. Para quem acompanha o diretor, o filme é imperdível! Se você gostou de "Blue Valentine" certamente vai encontrar a marca de Cianfrance nesse filme! Não é um filme muito dinâmico, mas mesmo assim vale à pena - só não espere algo que te surpreenda!

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Derek Cianfrance (de "Blue Vallentine") é um dos melhores diretores da sua geração! O cara manda muito bem, a câmera está sempre no lugar certo, para contar a história que tem que ser contada! Em "A Luz entre Oceanos" ele mais uma vez está impecável para contara a história de Tom Sherbourne (Michael Fassbender) e a sua esposa Isabel (Alicia Vikander), um casal feliz que vive em uma ilha na costa da Austrália, no período após a Primeira Guerra Mundial. O maior desejo de Tom e Isabel é ter um filho, mas depois de Isabel abortar algumas vezes, eles acabam perdendo a esperança. No entanto, um dia o casal resgata uma menina em um barco, provavelmente resultado de um naufrágio. Os dois decidem chamá-la de Lucy e adotá-la como filha. Após alguns anos de felicidade, Tom e Isabel, em uma visita ao continente, encontram a viúva Hannah Roennfeldt (Rachel Weisz) que perdeu o marido e a filha no mar. Fica claro para Tom que Lucy é, na verdade, filha de Hannah, e ele sente que é o seu dever devolver a criança à mãe. Mas Isabel não quer que a sua família seja destruída por uma crise de consciência do marido. A partir daí, um maravilhoso sonho se transforma em um terrível pesadelo, trazendo à tona questões difíceis sobre o casamento e a paternidade. Confira o trailer:

"A Luz entre Oceanos" é lindamente bem fotografado pelo diretor Adam Arkapaw (True Detective) e tem um trilha sonora digna de Oscar do, 10 vezes indicado, Alexandre Desplat (Adoráveis Mulheres) - ele venceu duas vezes com "O Grande Hotel Budapeste" e "A Forma da Água". Embora tenha vencido o Festival de Veneza em 2016, o filme me deu a sensação que se tivesse 15 minutos a menos tudo terminaria melhor. Na verdade não sei se é só uma opinião pessoal, certa ou errada, mas quando me entregam demais acabo ficando com preguiça de me envolver tanto. Mas e o público, será que não prefere algo mais fácil? Talvez achar o equilíbrio seja o melhor caminho, talvez o roteiro do próprio Cianfrance, baseado no livro de M.L. Stedman, tenha feito essa escolha, mas para mim ficou a nítida impressão que o filme poderia ter me levado mais longe, porque a história é muito envolvente de fato, mas são aconteceu - ele acabou não me permitindo discutir sobre o final, sobre as escolhas, sobre a história em si!

Eu gostei do filme, ele poético, profundo e visceral em muitos momentos. Para quem acompanha o diretor, o filme é imperdível! Se você gostou de "Blue Valentine" certamente vai encontrar a marca de Cianfrance nesse filme! Não é um filme muito dinâmico, mas mesmo assim vale à pena - só não espere algo que te surpreenda!

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A Maratona de Brittany

Esse filme poderia, tranquilamente, ser um excelente episódio de "Modern Love". Sim, "A Maratona de Brittany" é apaixonante pela atmosfera, por sua personagem, pelas discussões que o roteiro levanta e, principalmente, pela forma sensível com que o diretor estreante Paul Downs Colaizzo brinca (no melhor dos sentidos) com nossas emoções. Mesmo que inicialmente o filme pareça mais uma daquelas comédias românticas onde a jornada de autodescoberta e superação dita a narrativa, o que encontramos mesmo é uma história sensível e profunda na sua proposta de retratar uma realidade de fácil identificação que a eleva para um outro patamar, ressignificando o que seria perigosamente definido como piegas em algo realmente cativante, inspirador e olha, até emocionante.

Aqui acompanhamos a história de Brittany Forgler (Jillian Bell), uma mulher de 27 anos, sem grana e bem acima do peso, que, após uma chamada de seu médico, decide mudar radicalmente sua vida. Ela começa uma verdadeira cruzada para melhorar seu corpo e seus hábitos, treinando para a Maratona de Nova York, que a levará a desafiar não apenas suas limitações físicas, mas também suas inseguranças e problemas de autoestima. Com o apoio de sua vizinha Catherine (Michaela Watkins) e do amigo gay Seth (Micah Stock), Brittany embarca em uma jornada de autodescoberta que a levará a lugares totalmente inesperados. Confira o trailer (em inglês):

Colaizzo acompanhou os desafios de sua amiga na vida real, Brittany O’Neill, para melhorar sua saúde e assim conseguir alcançar seu objetivo de terminar os 42 km da maratona de Nova York. Foi inspirado por ela, que ele convenceu a atriz Jillian Bell para protagonizar o filme que conta justamente essa história - uma história que poderia ser minha, sua ou de algum conhecido e é isso que nos prende nessa produção original da Amazon que chegou a ser indicado como "Melhor Filme" no Festival Internacional de Cinema de São Paulo e em Sundance em 2019 - aliás, pelo voto do público, o filme levou o prêmio nesse festival.

A escolha do elenco é realmente impecável. Jillian Bell entrega uma performance cativante e genuína - digna de uma indicação ao Oscar. Repare como ela se analisa, sem muitas falas, mais no olhar, na respiração, no silêncio. Ela, de fato, consegue nos levar em uma montanha-russa de sentimentos, fazendo com que a identificação se torne um gatilho poderoso que nos envolve em suas lutas, dores, fracassos e triunfos. "A Maratona de Brittany" também se destaca por uma trilha sonora (mais uma vez referenciada pelas comédias de relação mais moderninhas) que acentua nossas emoções se alinhando ao enredo de forma magistral. A fotografia do Seamus Tierney (de "Emily em Paris") retrata a solidão que contrasta com a agitação da cidade de Nova York, criando assim um ambiente que reflete exatamente as transformações de Brittany de uma maneira tão bela quanto simbólica.

É notável como "Brittany Runs a Marathon" (no original) usa de uma linguagem simples e acessível para abordar questões de autenticidade e autoaceitação. A narrativa não apenas toca no tema da perda de peso sem cair na armadilha da "gordofobia", como também examina a necessidade de se encontrar o amor próprio, independente das expectativas da sociedade - a relação com a "amiga" Gretchen (Alice Lee), mesmo que em algumas passagens soe estereotipada, não perdoa na honestidade de um texto nada maniqueísta. Então, se essa pode ou não ser uma mensagem inspiradora que equilibra elementos como disciplina, humildade e determinação, só o tempo dirá, mas tenha certeza que, no mínimo, você está diante de um ótimo entretenimento!

Vale seu play!

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Esse filme poderia, tranquilamente, ser um excelente episódio de "Modern Love". Sim, "A Maratona de Brittany" é apaixonante pela atmosfera, por sua personagem, pelas discussões que o roteiro levanta e, principalmente, pela forma sensível com que o diretor estreante Paul Downs Colaizzo brinca (no melhor dos sentidos) com nossas emoções. Mesmo que inicialmente o filme pareça mais uma daquelas comédias românticas onde a jornada de autodescoberta e superação dita a narrativa, o que encontramos mesmo é uma história sensível e profunda na sua proposta de retratar uma realidade de fácil identificação que a eleva para um outro patamar, ressignificando o que seria perigosamente definido como piegas em algo realmente cativante, inspirador e olha, até emocionante.

Aqui acompanhamos a história de Brittany Forgler (Jillian Bell), uma mulher de 27 anos, sem grana e bem acima do peso, que, após uma chamada de seu médico, decide mudar radicalmente sua vida. Ela começa uma verdadeira cruzada para melhorar seu corpo e seus hábitos, treinando para a Maratona de Nova York, que a levará a desafiar não apenas suas limitações físicas, mas também suas inseguranças e problemas de autoestima. Com o apoio de sua vizinha Catherine (Michaela Watkins) e do amigo gay Seth (Micah Stock), Brittany embarca em uma jornada de autodescoberta que a levará a lugares totalmente inesperados. Confira o trailer (em inglês):

Colaizzo acompanhou os desafios de sua amiga na vida real, Brittany O’Neill, para melhorar sua saúde e assim conseguir alcançar seu objetivo de terminar os 42 km da maratona de Nova York. Foi inspirado por ela, que ele convenceu a atriz Jillian Bell para protagonizar o filme que conta justamente essa história - uma história que poderia ser minha, sua ou de algum conhecido e é isso que nos prende nessa produção original da Amazon que chegou a ser indicado como "Melhor Filme" no Festival Internacional de Cinema de São Paulo e em Sundance em 2019 - aliás, pelo voto do público, o filme levou o prêmio nesse festival.

A escolha do elenco é realmente impecável. Jillian Bell entrega uma performance cativante e genuína - digna de uma indicação ao Oscar. Repare como ela se analisa, sem muitas falas, mais no olhar, na respiração, no silêncio. Ela, de fato, consegue nos levar em uma montanha-russa de sentimentos, fazendo com que a identificação se torne um gatilho poderoso que nos envolve em suas lutas, dores, fracassos e triunfos. "A Maratona de Brittany" também se destaca por uma trilha sonora (mais uma vez referenciada pelas comédias de relação mais moderninhas) que acentua nossas emoções se alinhando ao enredo de forma magistral. A fotografia do Seamus Tierney (de "Emily em Paris") retrata a solidão que contrasta com a agitação da cidade de Nova York, criando assim um ambiente que reflete exatamente as transformações de Brittany de uma maneira tão bela quanto simbólica.

É notável como "Brittany Runs a Marathon" (no original) usa de uma linguagem simples e acessível para abordar questões de autenticidade e autoaceitação. A narrativa não apenas toca no tema da perda de peso sem cair na armadilha da "gordofobia", como também examina a necessidade de se encontrar o amor próprio, independente das expectativas da sociedade - a relação com a "amiga" Gretchen (Alice Lee), mesmo que em algumas passagens soe estereotipada, não perdoa na honestidade de um texto nada maniqueísta. Então, se essa pode ou não ser uma mensagem inspiradora que equilibra elementos como disciplina, humildade e determinação, só o tempo dirá, mas tenha certeza que, no mínimo, você está diante de um ótimo entretenimento!

Vale seu play!

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A Million Little Things

Acho que um dos grandes méritos dessa "segunda fase" do Globoplay é fazer o caminho inverso ao da Netflix, mas com o objetivo de chegar, exatamente, no mesmo lugar. Quando o Globoplay foi lançado, encontrávamos apenas conteúdo da Globo, ou seja, um catálogo enorme de produções próprias de altíssima qualidade, mas que não eram inéditos e representavam um material com características bem regionais. Com o tempo a plataforma foi mudando sua estratégia, ampliando seu olhar para o mercado e alinhando seu conteúdo inédito com as estréias da TV, até que veio a excelente sacada de lançar antes na plataforma e, em alguns casos, tudo de uma vez para o usuário "maratonar". Agora o Globoplay evoluiu ainda mais, pois passou a produzir projetos exclusivos para o streaming, sem nem passar pela TV e também licenciar conteúdo criado (e exibido) fora da emissora!!! Vamos falar muito desses conteúdos, mas fiz essa introdução toda apenas para dizer que: "A Million Little Things" está lá, no Globoplay, e você não pode deixar de assistir!!!!!

Essa série é a versão da ABC do sucesso da NBC, "This is Us". Na verdade uma série não tem nada a ver com a outra no seu conteúdo, mas a forma de contar a história e os sentimentos que ela é capaz de gerar ao assistirmos cada episódio é exatamente o mesmo! "A Million Little Things" não foca na família, foca na amizade! Seu ponto de partida é o suicídio de um dos protagonistas e, sempre misturando passado e presente, como essa tragédia refletiu na vida de cada um dos seus melhores amigos. Veja o trailer:

A trama não é complicada e talvez não tenha a genialidade narrativa de "This is Us", mas entrega um entretenimento de muita qualidade, humano, sensível e muito, mas muito, fácil de se identificar. Cada um dos personagens tem seu fantasma, seu drama pessoal, mas o roteiro não faz questão nenhuma de enrolar a audiência, ele vai mostrando cada traço da personalidade dos personagens e suas respectivas ações de uma maneira muito orgânica e de repente, você está preso na trama e quer saber sempre mais. Todo episódio tem um detalhe novo que te coloca imediatamente na posição do outro - até julgamento fazemos...rs. Eu assisti três episódios de uma levada só e não queria parar. Durante a 1ª temporada minha única dúvida era se episódios manteriam a qualidade inicial e não se perderiam pelo número absurdo que a TV aberta americana ainda exige para manter sua audiência - para se ter uma idéia são 17 episódios, um absurdo se compararmos com os 10 (em média) do streaming!

O elenco é excelente, a direção muito competente - repare no movimento de camera, com uma levada mais solta, equilibrando o documental com a ficção. Muitos planos fechados para captar as sensações dos personagens - enfim, bebeu da fonte de "This is Us" com muita competência e quem ganhou foi o publico com uma série de ótima qualidade!!! Não deixe de assistir, você vai me agradecer por isso!!! Globoplay, como era de se esperar, não veio para brincar...

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Acho que um dos grandes méritos dessa "segunda fase" do Globoplay é fazer o caminho inverso ao da Netflix, mas com o objetivo de chegar, exatamente, no mesmo lugar. Quando o Globoplay foi lançado, encontrávamos apenas conteúdo da Globo, ou seja, um catálogo enorme de produções próprias de altíssima qualidade, mas que não eram inéditos e representavam um material com características bem regionais. Com o tempo a plataforma foi mudando sua estratégia, ampliando seu olhar para o mercado e alinhando seu conteúdo inédito com as estréias da TV, até que veio a excelente sacada de lançar antes na plataforma e, em alguns casos, tudo de uma vez para o usuário "maratonar". Agora o Globoplay evoluiu ainda mais, pois passou a produzir projetos exclusivos para o streaming, sem nem passar pela TV e também licenciar conteúdo criado (e exibido) fora da emissora!!! Vamos falar muito desses conteúdos, mas fiz essa introdução toda apenas para dizer que: "A Million Little Things" está lá, no Globoplay, e você não pode deixar de assistir!!!!!

Essa série é a versão da ABC do sucesso da NBC, "This is Us". Na verdade uma série não tem nada a ver com a outra no seu conteúdo, mas a forma de contar a história e os sentimentos que ela é capaz de gerar ao assistirmos cada episódio é exatamente o mesmo! "A Million Little Things" não foca na família, foca na amizade! Seu ponto de partida é o suicídio de um dos protagonistas e, sempre misturando passado e presente, como essa tragédia refletiu na vida de cada um dos seus melhores amigos. Veja o trailer:

A trama não é complicada e talvez não tenha a genialidade narrativa de "This is Us", mas entrega um entretenimento de muita qualidade, humano, sensível e muito, mas muito, fácil de se identificar. Cada um dos personagens tem seu fantasma, seu drama pessoal, mas o roteiro não faz questão nenhuma de enrolar a audiência, ele vai mostrando cada traço da personalidade dos personagens e suas respectivas ações de uma maneira muito orgânica e de repente, você está preso na trama e quer saber sempre mais. Todo episódio tem um detalhe novo que te coloca imediatamente na posição do outro - até julgamento fazemos...rs. Eu assisti três episódios de uma levada só e não queria parar. Durante a 1ª temporada minha única dúvida era se episódios manteriam a qualidade inicial e não se perderiam pelo número absurdo que a TV aberta americana ainda exige para manter sua audiência - para se ter uma idéia são 17 episódios, um absurdo se compararmos com os 10 (em média) do streaming!

O elenco é excelente, a direção muito competente - repare no movimento de camera, com uma levada mais solta, equilibrando o documental com a ficção. Muitos planos fechados para captar as sensações dos personagens - enfim, bebeu da fonte de "This is Us" com muita competência e quem ganhou foi o publico com uma série de ótima qualidade!!! Não deixe de assistir, você vai me agradecer por isso!!! Globoplay, como era de se esperar, não veio para brincar...

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A Nova Vida de Toby

"A Nova Vida de Toby" é uma pérola escondida no Star+! Eu diria que a série é uma espécie de "Sex and City" dos divorciados (com mais de 40 anos, claro). Sim, eu sei que pode parecer cômico, talvez irônico (e muitas vezes é assim mesmo que o roteiro encara algumas situações pela qual o protagonista precisa passar), porém é no tom de crônica da narração em off, vejam só, feito por uma mulher, que a história ganha um ar todo especial. Essa incrível adaptação da obra de Taffy Brodesser-Akner retrata, basicamente, o que acontece com um homem recém-divorciado em uma Nova York, dos apps de relacionamento, que "nunca dorme". Em uma mistura muito bem equilibrada (e inteligente) de drama e comédia, facilmente embarcamos na jornada de autodescoberta e de transformação de Toby, nos provocando muitas reflexões sobre os nossos próprios relacionamentos, mas, principalmente, sobre todas aquelas convenções que vão se ruindo com o dia a dia de um casamento. Olha, muito bacana mesmo!

Toby (Jesse Eisenberg) é um médico de quarenta anos em crise que precisa lidar com o divórcio mal resolvido. Em meio ao novo mundo dos encontros casuais por aplicativo e um inesperado sucesso em sua nova vida de solteiro, sua ex-mulher, Rachel (Claire Danes) simplesmente desaparece, deixando-o sozinho com seus dois filhos. Agora, com esse mistério pairando sobre sua cabeça e a responsabilidade de cuidar dos filhos, Toby precisa repensar sobre seu relacionamento e descobrir o que deu errado no casamento para, assim, tentar encontrar a ex-mulher com a ajuda dos amigos Seth (Adam Brody) e Libby (a impagável, Lizzy Caplan). Confira o trailer:

Uma das principais qualidades de "A Nova Vida de Toby" é, sem dúvida, o seu roteiro muito bem escrito - o texto é muito bom, honesto, sarcástico na medida certa e, obviamente, muito realista. Veja, é a partir de uma situação cada vez mais usual como o divórcio, que a série explora alguns aspectos da condição humana muito particulares da situação - em um mesmo episódio tentamos entender a razão da revolta de Toby, da sua tristeza, da sensação de solidão, das suas insatisfações e até da sua libido e fantasias sexuais. A narrativa é construída de forma a manter o nosso interesse, se apoiando em diálogos perspicazes e em situações muito familiares - acho até que a "graça" de tudo está aí.

A direção da Shari Springer Berman e do Robert Pulcini, ambos de "WeCrashed" e "Succession", merece muitos elogios - é sensacional como eles criam uma atmosfera de angustia e liberdade, aproveitando essa dualidade de sentimentos para enriquecer nossa experiência como audiência. Os planos que mostram Nova York de ponta cabeça (afinal é assim que Toby passa a enxergar sua vida), a câmera mais agitada capturando com sensibilidade como os personagens se encontram emocionalmente e os planos completamente estáticos, travados, quando apontam para um momento de introspecção; brincam com a nossa percepção sobre toda essa fase de fragilidade do protagonista de uma maneira única!

"Fleishman is in Trouble" (no original) vai se conectar com uma audiência mais madura, só que de uma maneira diferente de "O Método Kominsky", por exemplo. Aqui os papéis de gênero estão em destaque, são discutidos com mais intensidade, impactam mais nas nossas reflexões e na maneira como olhamos o outro lado da história - no entanto, como na série da Netflix, é possível esperar ótimos momentos de entretenimento, muita emoção, boas risadas e incontáveis reflexões sobre a importância de dividir o trabalho doméstico, de entender os anseios do companheiro, das mentiras (normalmente contadas pelos amigos) sobre o casamento, dos danos causados ​​pelo mito ultrapassado do “felizes para sempre”, sobre a melancolia da meia-idade e sobre as duras verdades sobre a maternidade que ninguém quer discutir.

Dito tudo isso, é impossível deixar de dar um play, não é mesmo?

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"A Nova Vida de Toby" é uma pérola escondida no Star+! Eu diria que a série é uma espécie de "Sex and City" dos divorciados (com mais de 40 anos, claro). Sim, eu sei que pode parecer cômico, talvez irônico (e muitas vezes é assim mesmo que o roteiro encara algumas situações pela qual o protagonista precisa passar), porém é no tom de crônica da narração em off, vejam só, feito por uma mulher, que a história ganha um ar todo especial. Essa incrível adaptação da obra de Taffy Brodesser-Akner retrata, basicamente, o que acontece com um homem recém-divorciado em uma Nova York, dos apps de relacionamento, que "nunca dorme". Em uma mistura muito bem equilibrada (e inteligente) de drama e comédia, facilmente embarcamos na jornada de autodescoberta e de transformação de Toby, nos provocando muitas reflexões sobre os nossos próprios relacionamentos, mas, principalmente, sobre todas aquelas convenções que vão se ruindo com o dia a dia de um casamento. Olha, muito bacana mesmo!

Toby (Jesse Eisenberg) é um médico de quarenta anos em crise que precisa lidar com o divórcio mal resolvido. Em meio ao novo mundo dos encontros casuais por aplicativo e um inesperado sucesso em sua nova vida de solteiro, sua ex-mulher, Rachel (Claire Danes) simplesmente desaparece, deixando-o sozinho com seus dois filhos. Agora, com esse mistério pairando sobre sua cabeça e a responsabilidade de cuidar dos filhos, Toby precisa repensar sobre seu relacionamento e descobrir o que deu errado no casamento para, assim, tentar encontrar a ex-mulher com a ajuda dos amigos Seth (Adam Brody) e Libby (a impagável, Lizzy Caplan). Confira o trailer:

Uma das principais qualidades de "A Nova Vida de Toby" é, sem dúvida, o seu roteiro muito bem escrito - o texto é muito bom, honesto, sarcástico na medida certa e, obviamente, muito realista. Veja, é a partir de uma situação cada vez mais usual como o divórcio, que a série explora alguns aspectos da condição humana muito particulares da situação - em um mesmo episódio tentamos entender a razão da revolta de Toby, da sua tristeza, da sensação de solidão, das suas insatisfações e até da sua libido e fantasias sexuais. A narrativa é construída de forma a manter o nosso interesse, se apoiando em diálogos perspicazes e em situações muito familiares - acho até que a "graça" de tudo está aí.

A direção da Shari Springer Berman e do Robert Pulcini, ambos de "WeCrashed" e "Succession", merece muitos elogios - é sensacional como eles criam uma atmosfera de angustia e liberdade, aproveitando essa dualidade de sentimentos para enriquecer nossa experiência como audiência. Os planos que mostram Nova York de ponta cabeça (afinal é assim que Toby passa a enxergar sua vida), a câmera mais agitada capturando com sensibilidade como os personagens se encontram emocionalmente e os planos completamente estáticos, travados, quando apontam para um momento de introspecção; brincam com a nossa percepção sobre toda essa fase de fragilidade do protagonista de uma maneira única!

"Fleishman is in Trouble" (no original) vai se conectar com uma audiência mais madura, só que de uma maneira diferente de "O Método Kominsky", por exemplo. Aqui os papéis de gênero estão em destaque, são discutidos com mais intensidade, impactam mais nas nossas reflexões e na maneira como olhamos o outro lado da história - no entanto, como na série da Netflix, é possível esperar ótimos momentos de entretenimento, muita emoção, boas risadas e incontáveis reflexões sobre a importância de dividir o trabalho doméstico, de entender os anseios do companheiro, das mentiras (normalmente contadas pelos amigos) sobre o casamento, dos danos causados ​​pelo mito ultrapassado do “felizes para sempre”, sobre a melancolia da meia-idade e sobre as duras verdades sobre a maternidade que ninguém quer discutir.

Dito tudo isso, é impossível deixar de dar um play, não é mesmo?

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A Pior Pessoa do Mundo

“A Pior Pessoa do Mundo” foi a representante da Noruega na categoria "Melhor Filme Internacional" no Oscar de 2022, além de surpreender com uma indicação em "Melhor Roteiro Original" - muito merecido, diga-se de passagem. O filme é uma comédia romântica com muitos elementos de drama (ou vice-versa, dependendo da sua interpretação) sobre escolhas, decisões, consequências, crise de identidade e paixões.

Na trama, Julie (Renate Reinsve) é jovem, bonita, inteligente e não sabe exatamente o que deseja em sua vida amorosa e profissional. Uma noite ela conhece Aksel (Anders Danielsen Lie), um romancista gráfico, 15 anos mais velho que ela, e eles rapidamente se apaixonam. Algum tempo depois, ela também conhece um barista de café, Eivind (Herbert Nordrum), que também está em um relacionamento. Julie tem que decidir, não apenas entre dois homens, mas também quem ela é e quem ela quer ser. Confira o trailer:

Prepare-se pois a identificação será imediata, afinal o filme explora de maneira muito inteligente um momento delicado da vida da protagonista, em que a mente inquietante da jovem começa questionar sua existência e seus caminhos. O roteiro, assinado pelo diretor Joachim Trier e pelo também cineasta Eskil Vogt (do excelente "Blind") conduz todos os desdobramentos de maneira orgânica. Você tem a exata sensação de estar acompanhando filmagens reais e não atores interpretando papéis ficcionais - é impressionante.

A direção de Trier é sofisticada - ele faz algo que não é muito comum, abordando temas complexos com uma sensibilidade admirável, além de transitar entre os gêneros sem causar estranheza. No início temos uma comédia romântica e com as reviravoltas da vida da protagonista somos inseridos em seus dramas pessoais internos e amorosos. Alinhada a esse conceito narrativo, é perceptível a qualidade da direção de fotografia de Kasper Andersen (“Loucos por Justiça”) - um desbunde à parte. E aqui preciso citar uma cena que acontece no segundo ato que intercala a crueza da realidade e a magia do cinema de uma forma sensacional! Só não vou especificar detalhadamente para não estragar a sua experiência; mas repare e lembre desse review!

“A Pior Pessoa do Mundo” (ou Verdens Verste Menneske, no original) não se resume a uma história sobre o que o título sugere, mas sim sobre as complexidades do ser humano, que envolve crise existencial e que inclui a expectativa de seu parceiro, o receio de construir uma família, filhos e todos os desafios que a vida trás com o nosso amadurecimento.

Vale muito a pena! Renate Reinsve, levou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes pela protagonista do filme que, sem dúvida, pode ser considerado um dos melhores de 2021 e não fosse o incrível (mas polêmico) "Drive my Car", teria levado o Oscar tranquilamente!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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“A Pior Pessoa do Mundo” foi a representante da Noruega na categoria "Melhor Filme Internacional" no Oscar de 2022, além de surpreender com uma indicação em "Melhor Roteiro Original" - muito merecido, diga-se de passagem. O filme é uma comédia romântica com muitos elementos de drama (ou vice-versa, dependendo da sua interpretação) sobre escolhas, decisões, consequências, crise de identidade e paixões.

Na trama, Julie (Renate Reinsve) é jovem, bonita, inteligente e não sabe exatamente o que deseja em sua vida amorosa e profissional. Uma noite ela conhece Aksel (Anders Danielsen Lie), um romancista gráfico, 15 anos mais velho que ela, e eles rapidamente se apaixonam. Algum tempo depois, ela também conhece um barista de café, Eivind (Herbert Nordrum), que também está em um relacionamento. Julie tem que decidir, não apenas entre dois homens, mas também quem ela é e quem ela quer ser. Confira o trailer:

Prepare-se pois a identificação será imediata, afinal o filme explora de maneira muito inteligente um momento delicado da vida da protagonista, em que a mente inquietante da jovem começa questionar sua existência e seus caminhos. O roteiro, assinado pelo diretor Joachim Trier e pelo também cineasta Eskil Vogt (do excelente "Blind") conduz todos os desdobramentos de maneira orgânica. Você tem a exata sensação de estar acompanhando filmagens reais e não atores interpretando papéis ficcionais - é impressionante.

A direção de Trier é sofisticada - ele faz algo que não é muito comum, abordando temas complexos com uma sensibilidade admirável, além de transitar entre os gêneros sem causar estranheza. No início temos uma comédia romântica e com as reviravoltas da vida da protagonista somos inseridos em seus dramas pessoais internos e amorosos. Alinhada a esse conceito narrativo, é perceptível a qualidade da direção de fotografia de Kasper Andersen (“Loucos por Justiça”) - um desbunde à parte. E aqui preciso citar uma cena que acontece no segundo ato que intercala a crueza da realidade e a magia do cinema de uma forma sensacional! Só não vou especificar detalhadamente para não estragar a sua experiência; mas repare e lembre desse review!

“A Pior Pessoa do Mundo” (ou Verdens Verste Menneske, no original) não se resume a uma história sobre o que o título sugere, mas sim sobre as complexidades do ser humano, que envolve crise existencial e que inclui a expectativa de seu parceiro, o receio de construir uma família, filhos e todos os desafios que a vida trás com o nosso amadurecimento.

Vale muito a pena! Renate Reinsve, levou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes pela protagonista do filme que, sem dúvida, pode ser considerado um dos melhores de 2021 e não fosse o incrível (mas polêmico) "Drive my Car", teria levado o Oscar tranquilamente!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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À Sombra de Duas Mulheres

"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme francês de 2015 com uma carreira bastante interessante em festivais independentes pelo mundo. Mas mais importante que isso, certamente é a forma magistral como o diretor Philippe Garrel foi capaz de construir um relação completamente destruída pelo dia a dia e como a confiança passa a ser o maior problema de um casal, visivelmente frágil. Reparem que Garrel vai nos direcionando por um caminho, de repente ele quebra nossa expectativa e aí ele sugere uma solução que parece menos provável até que ele encontra seu ponto final - ele, de fato, brinca com nossa percepção ao nos colocar no papel dos protagonistas!

Pierre (Stanislas Merhar) e Manon (Clotilde Courau) formam um casal de documentaristas que sobrevivem fazendo trabalhos temporários para poder dar suporte aos filmes que desejam realizar. Cansado do cotidiano e de suas dificuldades e mesmo, aparentemente, apaixonado por Manon, Pierre acaba se aproximando de Elizabeth (Lena Paugam) uma estágiaria de cinema formada em história e, a partir daí, passa a manter um relacionamento constante com as duas mulheres. Acontece que a atração sexual do primeiro contato vai se transformando e o que parecia um caso passageiro, passa a complicar a relação de todos os envolvidos e mesmo sem ao menos se conhecerem, muitas verdades começam vir à tona. Confira o trailer:

Para quem assistiu o recente "Malcolm e Marie""À Sombra de Duas Mulheres" vai cair como uma luva! O filme francês é notavelmente mais profundo ao discutir as camadas de uma relação fragilizada pela convivência. Se pela sinopse e pelo trailer temos a impressão que o assunto abordado é a traição, eu já te aviso: traição é só o "fim", porque o "meio" mesmo, são as pequenas situações que nos levam, justamente, praticar a traição - e o bacana é que o roteiro nos mostra ambos os lados e é assim que julgamos muitas atitudes, seja se baseando no gênero, seja quando percebemos que na verdade, cada um dos personagens sempre foi incapaz de enxergar o que o outro precisava ou estava sentindo.

Diferente da produção da Netflix, Philippe Garrel usa e abusa do silêncio propositalmente - e isso é cruel para quem assiste, pois nos dá o tempo suficiente para visitarmos nossas lembranças, recapitular algumas de nossas atitudes durante a vida e ainda espelhar nossas fraquezas nos personagens. Se no inicio temos uma visão machista de um relacionamento falido, logo entendemos o lado da mulher e suas necessidades, mesmo sem levantar nenhuma bandeira, todos podem errar -  quando se trata de discutir a igualdade com isenção, na alegria e na tristeza, as consequências são para todos!

"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme muito cadenciado, focado no que é dito e no que é sentido, sem nenhuma dinâmica cênica que nos impacte visualmente, porém é tão profundo na sua proposta, que rapidamente somos fisgados e nem vemos o tempo passar - que diga-se de passagem é o ideal para uma narrativa com esse  conceito: não cansa, é objetivo e nos faz refletir intensamente sobre "escolhas"! Não é um filme fácil, mas para quem for capaz de perceber a sensibilidade nos pequenos atos e entender onde esses mesmos atos podem nos levar, certamente a experiência vai valer a pena!

Vale seu play!

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"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme francês de 2015 com uma carreira bastante interessante em festivais independentes pelo mundo. Mas mais importante que isso, certamente é a forma magistral como o diretor Philippe Garrel foi capaz de construir um relação completamente destruída pelo dia a dia e como a confiança passa a ser o maior problema de um casal, visivelmente frágil. Reparem que Garrel vai nos direcionando por um caminho, de repente ele quebra nossa expectativa e aí ele sugere uma solução que parece menos provável até que ele encontra seu ponto final - ele, de fato, brinca com nossa percepção ao nos colocar no papel dos protagonistas!

Pierre (Stanislas Merhar) e Manon (Clotilde Courau) formam um casal de documentaristas que sobrevivem fazendo trabalhos temporários para poder dar suporte aos filmes que desejam realizar. Cansado do cotidiano e de suas dificuldades e mesmo, aparentemente, apaixonado por Manon, Pierre acaba se aproximando de Elizabeth (Lena Paugam) uma estágiaria de cinema formada em história e, a partir daí, passa a manter um relacionamento constante com as duas mulheres. Acontece que a atração sexual do primeiro contato vai se transformando e o que parecia um caso passageiro, passa a complicar a relação de todos os envolvidos e mesmo sem ao menos se conhecerem, muitas verdades começam vir à tona. Confira o trailer:

Para quem assistiu o recente "Malcolm e Marie""À Sombra de Duas Mulheres" vai cair como uma luva! O filme francês é notavelmente mais profundo ao discutir as camadas de uma relação fragilizada pela convivência. Se pela sinopse e pelo trailer temos a impressão que o assunto abordado é a traição, eu já te aviso: traição é só o "fim", porque o "meio" mesmo, são as pequenas situações que nos levam, justamente, praticar a traição - e o bacana é que o roteiro nos mostra ambos os lados e é assim que julgamos muitas atitudes, seja se baseando no gênero, seja quando percebemos que na verdade, cada um dos personagens sempre foi incapaz de enxergar o que o outro precisava ou estava sentindo.

Diferente da produção da Netflix, Philippe Garrel usa e abusa do silêncio propositalmente - e isso é cruel para quem assiste, pois nos dá o tempo suficiente para visitarmos nossas lembranças, recapitular algumas de nossas atitudes durante a vida e ainda espelhar nossas fraquezas nos personagens. Se no inicio temos uma visão machista de um relacionamento falido, logo entendemos o lado da mulher e suas necessidades, mesmo sem levantar nenhuma bandeira, todos podem errar -  quando se trata de discutir a igualdade com isenção, na alegria e na tristeza, as consequências são para todos!

"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme muito cadenciado, focado no que é dito e no que é sentido, sem nenhuma dinâmica cênica que nos impacte visualmente, porém é tão profundo na sua proposta, que rapidamente somos fisgados e nem vemos o tempo passar - que diga-se de passagem é o ideal para uma narrativa com esse  conceito: não cansa, é objetivo e nos faz refletir intensamente sobre "escolhas"! Não é um filme fácil, mas para quem for capaz de perceber a sensibilidade nos pequenos atos e entender onde esses mesmos atos podem nos levar, certamente a experiência vai valer a pena!

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A Teacher

Um verdadeiro soco no estômago! Essa minissérie do Hulu (aqui no Brasil no Disney+) é importante pelos temas que aborda, mas genial ao abordar esses temas com muita inteligência - na "forma" e no "conteúdo"! É um fato: "A Teacher" nos prende pela sua intensidade e pela profundidade emocional com que discute uma relação proibida, complexa e sensível. Criada por Hannah Fidell, conhecida por seu trabalho no filme homônimo de 2013, "A Teacher" oferece uma exploração corajosa e inquietante pelas dinâmicas do abuso e do poder em um relacionamento entre uma professora e seu aluno. Para você que gostou de produções como "A Caça" e "Segredos de um Escândalo", saiba que aqui temos uma perspectiva diferente, mas com a mesma qualidade narrativa, provocativa e emocionalmente carregada.

A trama gira em torno de Claire Wilson (Kate Mara), uma jovem professora do ensino médio que começa um relacionamento ilícito com seu aluno, Eric Walker (Nick Robinson). A minissérie explora as consequências deste relacionamento, tanto para Claire quanto para Eric, abordando nuances de consentimento e manipulação, além do impacto duradouro do abuso na vida de cada um deles. Confira o trailer:

Hannah Fidell, ao adaptar seu próprio filme, mostra uma habilidade notável em aprofundar os dramas de seus personagens e assim expandir uma narrativa que já havia funcionado anteriormente - mas a minissérie é melhor! O roteiro é bem estruturado e aborda o relacionamento central com uma complexidade moral rara. A minissérie não cai na armadilha de romantizar ou simplificar o abuso, mas sim, apresenta as consequências devastadoras de maneira realista e direta. Fidell, como roteirista, sabe equilibrar momentos de tensão com cenas de pura reflexão, permitindo que o público entenda a gravidade das ações de Claire e as ramificações para Eric. O golaço aqui é a forma como tudo isso se encaixa, já que a história é contada em episódios de 20/30 minutos, permitindo que a tensão fundamental do drama carregue a trama adiante sem perder a força episódica.

Veja, à medida que os episódios de "A Teacher" se desenrolam, vemos como as ações de Claire afetam profundamente a vida de Eric e como ele lida com as repercussões emocionais e sociais - nesse sentido a direção de Fidell é cirúrgica ao pontuar com sensibilidade e certa introspecção, as nuances das interações dos protagonistas. Ela utiliza uma abordagem visual intimista, com uma interessante escolha por close-ups em contraponto a uma fotografia que destaca o ambiente escolar e doméstico, criando ao mesmo tempo uma sensação de proximidade e tensão constantes. Kate Mara, mais uma vez, entrega uma performance poderosa - ela captura a ambiguidade moral e a vulnerabilidade de sua personagem para brilhar; eu diria: digna de prêmios! Mara consegue transmitir essa dualidade de Claire, tornando-a uma figura trágica e muitas vezes desconfortável de lidar. Já Nick Robinson também brilha - ele oferece uma performance autêntica e comovente de um jovem que lida com a confusão e a dor de ser manipulado por alguém em posição de autoridade. A química entre Mara e Robinson é convincente demais, destacando ainda mais o caráter perturbador de um relacionamento doentio.

"A Teacher" segue uma linha delicada, perturbadora e desconfortável. É justamente por essa atmosfera que a minissérie gera o impacto e a relevância que o tema pede. Essa exploração cuidadosa e, por vezes, incômoda do conceito social de masculinidade e sua reação ao ser confrontado com o abuso, coloca essa produção em uma prateleira que faz por merecer uma atenção especial. As dinâmicas de poder podem provocar gatilhos que valem a sua atenção, ou seja, esteja preparado para uma jornada indigesta que desafia e fomenta a reflexão ao ponto de se tornar memorável. Uma pena que "A Teacher" não recebeu o destaque que merece - de um ótimo entretenimento com um toque relevante de provocação!

Vale seu play!

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Um verdadeiro soco no estômago! Essa minissérie do Hulu (aqui no Brasil no Disney+) é importante pelos temas que aborda, mas genial ao abordar esses temas com muita inteligência - na "forma" e no "conteúdo"! É um fato: "A Teacher" nos prende pela sua intensidade e pela profundidade emocional com que discute uma relação proibida, complexa e sensível. Criada por Hannah Fidell, conhecida por seu trabalho no filme homônimo de 2013, "A Teacher" oferece uma exploração corajosa e inquietante pelas dinâmicas do abuso e do poder em um relacionamento entre uma professora e seu aluno. Para você que gostou de produções como "A Caça" e "Segredos de um Escândalo", saiba que aqui temos uma perspectiva diferente, mas com a mesma qualidade narrativa, provocativa e emocionalmente carregada.

A trama gira em torno de Claire Wilson (Kate Mara), uma jovem professora do ensino médio que começa um relacionamento ilícito com seu aluno, Eric Walker (Nick Robinson). A minissérie explora as consequências deste relacionamento, tanto para Claire quanto para Eric, abordando nuances de consentimento e manipulação, além do impacto duradouro do abuso na vida de cada um deles. Confira o trailer:

Hannah Fidell, ao adaptar seu próprio filme, mostra uma habilidade notável em aprofundar os dramas de seus personagens e assim expandir uma narrativa que já havia funcionado anteriormente - mas a minissérie é melhor! O roteiro é bem estruturado e aborda o relacionamento central com uma complexidade moral rara. A minissérie não cai na armadilha de romantizar ou simplificar o abuso, mas sim, apresenta as consequências devastadoras de maneira realista e direta. Fidell, como roteirista, sabe equilibrar momentos de tensão com cenas de pura reflexão, permitindo que o público entenda a gravidade das ações de Claire e as ramificações para Eric. O golaço aqui é a forma como tudo isso se encaixa, já que a história é contada em episódios de 20/30 minutos, permitindo que a tensão fundamental do drama carregue a trama adiante sem perder a força episódica.

Veja, à medida que os episódios de "A Teacher" se desenrolam, vemos como as ações de Claire afetam profundamente a vida de Eric e como ele lida com as repercussões emocionais e sociais - nesse sentido a direção de Fidell é cirúrgica ao pontuar com sensibilidade e certa introspecção, as nuances das interações dos protagonistas. Ela utiliza uma abordagem visual intimista, com uma interessante escolha por close-ups em contraponto a uma fotografia que destaca o ambiente escolar e doméstico, criando ao mesmo tempo uma sensação de proximidade e tensão constantes. Kate Mara, mais uma vez, entrega uma performance poderosa - ela captura a ambiguidade moral e a vulnerabilidade de sua personagem para brilhar; eu diria: digna de prêmios! Mara consegue transmitir essa dualidade de Claire, tornando-a uma figura trágica e muitas vezes desconfortável de lidar. Já Nick Robinson também brilha - ele oferece uma performance autêntica e comovente de um jovem que lida com a confusão e a dor de ser manipulado por alguém em posição de autoridade. A química entre Mara e Robinson é convincente demais, destacando ainda mais o caráter perturbador de um relacionamento doentio.

"A Teacher" segue uma linha delicada, perturbadora e desconfortável. É justamente por essa atmosfera que a minissérie gera o impacto e a relevância que o tema pede. Essa exploração cuidadosa e, por vezes, incômoda do conceito social de masculinidade e sua reação ao ser confrontado com o abuso, coloca essa produção em uma prateleira que faz por merecer uma atenção especial. As dinâmicas de poder podem provocar gatilhos que valem a sua atenção, ou seja, esteja preparado para uma jornada indigesta que desafia e fomenta a reflexão ao ponto de se tornar memorável. Uma pena que "A Teacher" não recebeu o destaque que merece - de um ótimo entretenimento com um toque relevante de provocação!

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A Vida em Si

Quando "A Vida em Si" estreou no Brasil, em dezembro de 2018, o filme chegou cheio de expectativas, afinal o seu diretor e roteirista era o Dan Fogelman - nada menos do que a mente criativa por trás do sucesso "This is Us" (e se você ainda não assistiu essa série, não perca tempo, clique no link e seja muito feliz!). Acontece que essa alta expectativa acabou interferindo diretamente na percepção da crítica que, após a première, caiu matando em cima do trabalho de Fogelman! É inegável que o filme tem muitos problemas, mas nem de longe é um filme ruim - eu diria, inclusive, que o filme é bom. Dê uma olhada no trailer antes de continuarmos:

No filme, acompanhamos a história de Abby (Olivia Wilde) e Will (Oscar Isaac), um casal de nova-iorquinos apaixonados e que está prestes a ter um bebê. Contudo, um evento inesperado muda completamente o rumo do casal e de muitos personagens que, de alguma forma, vivenciaram aquela situação. Dividido em 4 atos, o roteiro tenta criar um ponto de intersecção entre Irwin (Mandy Patinkin), Dylan (Olivia Cooke), Saccione (Antonio Banderas), Javier (Sergio Peris-Mencheta), Isabel (Laia Costa) e Rodrigo (Àlex Monner) expondo os reflexos do passado nas consequências do presente - um conceito narrativo, mais ou menos, como "Amores Perros", "Babel", "Crash" e outros inúmeros exemplos, porém, nesse caso, de uma forma mais romantizada, carregada de drama e de, infelizmente, uma falta de identidade - mas isso falaremos mais abaixo!

"A Vida em Si" deve ser assistido com a menor pretensão possível, pois assim a experiência de cada uma das descobertas será essencial para o seu julgamento no final do filme. Embora com um roteiro um pouco desequilibrado, a narrativa tem ótimos momentos e, de fato, sua conclusão é bastante satisfatória. Fica a impressão que Dan Fogelman quis colocar tantos elementos (narrativos e visuais) que ele acabou se perdendo no meio de suas próprias escolhas e referências em algo que poderia ser mais profundo, mesmo que ainda manipulador! Se você gosta do estilo de "This is Us" é bem possível que você vá se identificar e gostar de "A Vida em Si". Por essa similaridade, eu recomendo!

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Quando "A Vida em Si" estreou no Brasil, em dezembro de 2018, o filme chegou cheio de expectativas, afinal o seu diretor e roteirista era o Dan Fogelman - nada menos do que a mente criativa por trás do sucesso "This is Us" (e se você ainda não assistiu essa série, não perca tempo, clique no link e seja muito feliz!). Acontece que essa alta expectativa acabou interferindo diretamente na percepção da crítica que, após a première, caiu matando em cima do trabalho de Fogelman! É inegável que o filme tem muitos problemas, mas nem de longe é um filme ruim - eu diria, inclusive, que o filme é bom. Dê uma olhada no trailer antes de continuarmos:

No filme, acompanhamos a história de Abby (Olivia Wilde) e Will (Oscar Isaac), um casal de nova-iorquinos apaixonados e que está prestes a ter um bebê. Contudo, um evento inesperado muda completamente o rumo do casal e de muitos personagens que, de alguma forma, vivenciaram aquela situação. Dividido em 4 atos, o roteiro tenta criar um ponto de intersecção entre Irwin (Mandy Patinkin), Dylan (Olivia Cooke), Saccione (Antonio Banderas), Javier (Sergio Peris-Mencheta), Isabel (Laia Costa) e Rodrigo (Àlex Monner) expondo os reflexos do passado nas consequências do presente - um conceito narrativo, mais ou menos, como "Amores Perros", "Babel", "Crash" e outros inúmeros exemplos, porém, nesse caso, de uma forma mais romantizada, carregada de drama e de, infelizmente, uma falta de identidade - mas isso falaremos mais abaixo!

"A Vida em Si" deve ser assistido com a menor pretensão possível, pois assim a experiência de cada uma das descobertas será essencial para o seu julgamento no final do filme. Embora com um roteiro um pouco desequilibrado, a narrativa tem ótimos momentos e, de fato, sua conclusão é bastante satisfatória. Fica a impressão que Dan Fogelman quis colocar tantos elementos (narrativos e visuais) que ele acabou se perdendo no meio de suas próprias escolhas e referências em algo que poderia ser mais profundo, mesmo que ainda manipulador! Se você gosta do estilo de "This is Us" é bem possível que você vá se identificar e gostar de "A Vida em Si". Por essa similaridade, eu recomendo!

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