"Years and Years", produção inglesa da BBC com a HBO impressiona pela qualidade narrativa logo de cara. Inteligente e provocadora, a minissérie de 6 episódios que estreou no último final de semana, mostra um futuro próximo, uma realidade que se baseia em uma distopia politica e tecnológica que incomoda, pelo simples fato de trazer para nossa experiência o benefício da dúvida, ou melhor, o malefício de uma análise verossímil do caminho que estamos percorrendo e que, muito em breve, pode se tornar a nossa realidade!
O primeiro episódio, além de nos situar perante os movimentos políticos atuais, faz um exercício de adiantar o tempo em alguns poucos anos. Para isso, a minissérie se utiliza da dinâmica de uma "tradicional" família britânica que transita por uma linha muito (mas muito) tênue entre a felicidade e o caos social - é genial como esse prólogo é bem construído!!!! Seguimos os impactos dessa realidade na vida dos Lyons: os quatro irmãos e suas respetivas famílias, cuja matriarca é a avó de humor e convicções duvidosas.
É importante destacar que história usa uma premissa "Black Mirror" apenas como pano de fundo, pois diferente da produção da Netflix, "Years and Years" tem muitas outras camadas, o que faz com que a história ganhe muita personalidade e profundidade, mas ao mesmo tempo pode incomodar quem a procura uma alternativa para o hiato entre as temporadas de "Black Mirror" - a minissérie da HBO é muito menos agitada, muito menos colorida e muito menos fantasiosa - o que para mim foi uma incrível surpresa e um diferencial respeitável, pois não se limita em mostrar "apenas" como a tecnologia influencia na vida dos personagens e sim como ela interfere na relação entre eles no dia a dia. Em "Years and Years" existe um arco maior, um desenvolvimento muito interessante de personagens: desde a irmã mais velha, uma famosa ativista, até a irmã mais nova, uma cadeirante, mãe solteira de dois filhos de relacionamentos diferentes. Ainda temos um ex-bancário frustrado, que perdeu todo o seu dinheiro em um colapso financeiro que é casado com uma mulher extremamente contestadora e que é negra; e o último irmão, um funcionário do governo responsável pelo alojamento de refugiados ucranianos e que é gay. Outro personagem que merece muito destaque e que deve ser bem recorrente nas próximas premiações é a de Vivienne Rook, uma líder política que ganha popularidade entre os eleitores por exteriorizar publicamente seu racismo, xenofobia, negação da cultura e das artes (alguém já viu isso por aí?) e que é interpretada "só" pela Emma Thompson.
Olha, vale ficar atento com essa minissérie e prometo que assim que assistir todos os 6 episódios volto com um análise completa dentro da Viu Review, mas por enquanto, dá uma olhada no trailer e se interessar vai para a HBO Go que toda semana você encontrará um episódio inédito. Divirta-se:
A direção é de Russell T. Davies e conta com Russell Tovey, Ruth Madeley, Rory Kinnear e Anna Reid no seu elenco.