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Talvez a percepção sobre o roteiro de "A Viúva das Sombras" fosse completamente diferente há 25 anos atrás, em um período pré "Bluxa da Blair" - eu diria, inclusive, que esse filme serviria como um bom prequel do filme de 1999 se fizesse parte do mesmo universo. O que não é o caso e por isso saímos da sessão com o sentimento de que não assistimos nada de novo pela quantidade de referências do gênero que vão sendo amontoadas sem muita direção.

Baseado em eventos reais, o filme escrito por Svyatoslav Podgaevskii e dirigido por Ivan Minin se passa nos arredores da cidade de São Petersburgo, na Russia, no ano de 2017, e conta a história de um grupo de voluntários que, após um dia de treinamento, entra em uma densa floresta para resgatar um adolescente desaparecido. Nesse mesmo lugar, diversas pessoas sumiram nas últimas três décadas, e apenas alguns corpos foram encontrados, todos nus. Depois que a comunicação com a base fora da mata é interrompida misteriosamente e sem sucesso na busca pelo jovem, eventos passam acontecer quando a equipe resgata uma mulher que acredita em uma lenda local que diz existir entidades sobrenaturais sombrias que simplesmente somem com as pessoas em determinadas épocas do ano. Confira o trailer:

Embora eu até entenda a estratégia da distribuidora, o fato de uma produção russa ser dublada para o inglês em tempos onde qualquer serviço de streaming apresenta filmes do mundo inteiro, já me incomodou demais. Essa escolha "gratuita" cria uma certa superficialidade no trabalho dos atores, o que acaba atrapalhando a experiência em filmes desse gênero que exigem uma naturalidade e um realismo na interpretação. Fora isso, o filme não é corajoso em assumir um conceito estético que poderia coloca-lo em outro patamar: ele transita entre a gramática cinematográfica tradicional de um filme de terror clássico e o formato de “found footage” - um estilo de filmar em primeira pessoa que simula a gravação de um documentário, colocando a audiência sob o ponto de visa do personagem, dentro da história. Embora exista um bom uso da tecnologia e das diferentes câmeras e aspectos técnicos possíveis para criar essa atmosfera de realidade, falta consistência narrativa para manter a história de pé sobre esse mesmo prisma. O estreante diretor Ivan Minin se perde em tantas possibilidades que acaba buscando a segurança em elementos repetitivos - como um desenho de som que pontua o drama e movimentos, enquadramentos e cortes bruscos que geram sustos, mas que ficam tão previsíveis que não impactam na história como um todo.

Todos os personagens são rasos, estereotipados, mas é preciso dizer que se encaixam perfeitamente na proposta do filme de explorar os elementos do folclore russo para desenvolver a trama e criar uma mistura entre misticismo e suspense em um cenário tão comum, porém ideal para um clima de tensão permanente. Uma floresta cheia de símbolos marcados em árvores, sussurros, vultos, além das lendas contadas pelos mais velhos, digamos, não é um poço de originalidade., mas nem por isso deixa de funcionar - basta assistir o trailer!

"A Viúva das Sombras" não é ruim e pode até agradar quem gosta do estilo, do gênero e de alguns sustos; mas não vai servir como referência em nenhum dos aspectos técnicos ou artísticos, visual ou narrativo, já que tudo que está no filme é uma cópia de algo que já assistimos, que funcionou em uma época completamente diferente e que agora não passa de um entretenimento pontual.