Se você gosta de uma boa jornada de mistério, com um toque de ficção cientifica e de suspense psicológico, certamente você vai se surpreender com essa pérola escondida no catálogo da Globoplay! "O Mistério de Midwich", minissérie britânica criada por David Farr (do excelente "The Night Manager"), propõe uma nova leitura do clássico romance “The Midwich Cuckoos”, de John Wyndham - já adaptado anteriormente para o cinema como “A Aldeia dos Amaldiçoados”. Nesta nova versão em sete episódios, a produção da Sky atualiza a atmosfera de paranoia e estranhamento do texto original com uma estética mais moderna e um tom bastante intimista, muitas vezes até cadenciado demais, que se aproxima muito do estilo narrativo de obras de sucesso recente como “The Leftovers”, e até mesmo da série “Origem”, ao explorar o "inexplicável" pelo viés das relações humanas.
A sinopse oficial apresenta a minissérie da seguinte maneira: Uma pequena e pacata cidade da Inglaterra, considerada uma das melhores do país para uma criança crescer, é tomada pelo caos quando todos os seus moradores desmaiam misteriosamente por algumas horas. Ao acordarem, descobrem que todas as mulheres em idade fértil estão grávidas. Com o tempo, as crianças nascidas desse evento começam a demonstrar comportamentos estranhos e habilidades sobrenaturais, levantando questões perturbadoras sobre sua origem e razão de existirem. Confira o trailer (em inglês):
É impressionante como logo no primeiro episódio, Farr estabelece com precisão o desconforto que regerá toda a narrativa da minissérie. "O Mistério de Midwich" aposta em uma construção densa, com ritmo deliberadamente lento e uma direção que privilegia o silêncio e os olhares, gerando uma tensão crescente que não depende de sustos ou efeitos visuais excessivos. O mistério aqui é tratado com respeito à inteligência da audiência, ou seja, ao invés de entregar respostas fáceis ou focar no espetáculo, o roteiro se interessa muito mais pelo impacto psicológico e social que aquele evento provoca nos adultos e, posteriormente, no próprio conceito de maternidade, autonomia e medo do desconhecido. É importante destacar, no entanto, como essa adaptação ressignifica temas do romance original para o nosso tempo - o que era, nos anos 1950, uma metáfora para o medo de uma invasão bélica, aqui ganha contornos mais sutis e atuais. Você vai perceber algumas discussões sobre o controle reprodutivo, sobre o papel das mães, sobre o luto e sobre a impossibilidade de moldar o que não se compreende. Há, também, uma crítica velada ao excesso de racionalidade diante de eventos que desafiam a lógica, o que aproxima a minissérie de um drama até filosófico com a mesma potência caso fosse apenas um clássico thriller de ficção científica.
Tecnicamente, a produção é eficiente, mas contida - até por suas restrições de orçamento. Com uma fotografia fria e desoladora, esse tom reforça o clima de estranhamento e desconexão emocional. A trilha sonora é pontual, porém ela acentua a tensão em momentos-chave da história, sem nunca se sobrepor à atmosfera construída pela mise-en-scène. Os efeitos visuais são discretos (e nem tão espetaculares assim) - utilizados apenas quando a trama exige, nunca como muleta narrativa. Já o elenco liderado por Keeley Hawes (a Susannah Zellaby) e por Max Beesley (o Paul Haynes) oferece performances profundas - sem nunca sair do tom contido. Hawes, em especial, transmite com delicadeza a angústia de uma mãe que ama seu filho, mas sente que ele não pertence ao seu mundo. Essa ambiguidade, aliás, permeia toda a minissérie: os filhos são ao mesmo tempo milagres e ameaças, inocentes e predadores, parte da humanidade e completamente alheios a ela. E "O Mistério de Midwich" sabe explorar esse paradoxo com muito cuidado, evitando julgamentos fáceis, mas sempre com um ar provocador.
Se há algo que pode incomodar, eu diria que é mesmo o seu ritmo de narrativa - em certos momentos o drama parece se alongar mais do que necessário, especialmente no segundo e terceiro episódios. Ainda assim, essa escolha favorece a imersão e a reflexão, já que “O Mistério de Midwich” está mais preocupado em gerar perguntas do que oferecer resoluções simples. A minissérie, saiba disso, não vai te entregar um grande clímax explosivo, pelo contrário, ela opta por um desfecho coerente com seu tom, mantendo o desconforto como elemento central. No fim das contas, "O Mistério de Midwich" é de fato intrigante e madura - um convite a reflexão sobre os limites da empatia, da maternidade e da humanidade em si. Embora não traga reviravoltas estrondosas ou cenas memoráveis no sentido tradicional das palavras, a minissérie se destaca justamente por sua ambição em mergulhar fundo na inquietude silenciosa de um pesadelo que se confunde com a naturalidade do cotidiano.
"O Mistério de Midwich" é uma ficção científica que não grita - apenas observa, e isso é o que mais assusta e o que faz valer o seu play! Só vai!
Se você gosta de uma boa jornada de mistério, com um toque de ficção cientifica e de suspense psicológico, certamente você vai se surpreender com essa pérola escondida no catálogo da Globoplay! "O Mistério de Midwich", minissérie britânica criada por David Farr (do excelente "The Night Manager"), propõe uma nova leitura do clássico romance “The Midwich Cuckoos”, de John Wyndham - já adaptado anteriormente para o cinema como “A Aldeia dos Amaldiçoados”. Nesta nova versão em sete episódios, a produção da Sky atualiza a atmosfera de paranoia e estranhamento do texto original com uma estética mais moderna e um tom bastante intimista, muitas vezes até cadenciado demais, que se aproxima muito do estilo narrativo de obras de sucesso recente como “The Leftovers”, e até mesmo da série “Origem”, ao explorar o "inexplicável" pelo viés das relações humanas.
A sinopse oficial apresenta a minissérie da seguinte maneira: Uma pequena e pacata cidade da Inglaterra, considerada uma das melhores do país para uma criança crescer, é tomada pelo caos quando todos os seus moradores desmaiam misteriosamente por algumas horas. Ao acordarem, descobrem que todas as mulheres em idade fértil estão grávidas. Com o tempo, as crianças nascidas desse evento começam a demonstrar comportamentos estranhos e habilidades sobrenaturais, levantando questões perturbadoras sobre sua origem e razão de existirem. Confira o trailer (em inglês):
É impressionante como logo no primeiro episódio, Farr estabelece com precisão o desconforto que regerá toda a narrativa da minissérie. "O Mistério de Midwich" aposta em uma construção densa, com ritmo deliberadamente lento e uma direção que privilegia o silêncio e os olhares, gerando uma tensão crescente que não depende de sustos ou efeitos visuais excessivos. O mistério aqui é tratado com respeito à inteligência da audiência, ou seja, ao invés de entregar respostas fáceis ou focar no espetáculo, o roteiro se interessa muito mais pelo impacto psicológico e social que aquele evento provoca nos adultos e, posteriormente, no próprio conceito de maternidade, autonomia e medo do desconhecido. É importante destacar, no entanto, como essa adaptação ressignifica temas do romance original para o nosso tempo - o que era, nos anos 1950, uma metáfora para o medo de uma invasão bélica, aqui ganha contornos mais sutis e atuais. Você vai perceber algumas discussões sobre o controle reprodutivo, sobre o papel das mães, sobre o luto e sobre a impossibilidade de moldar o que não se compreende. Há, também, uma crítica velada ao excesso de racionalidade diante de eventos que desafiam a lógica, o que aproxima a minissérie de um drama até filosófico com a mesma potência caso fosse apenas um clássico thriller de ficção científica.
Tecnicamente, a produção é eficiente, mas contida - até por suas restrições de orçamento. Com uma fotografia fria e desoladora, esse tom reforça o clima de estranhamento e desconexão emocional. A trilha sonora é pontual, porém ela acentua a tensão em momentos-chave da história, sem nunca se sobrepor à atmosfera construída pela mise-en-scène. Os efeitos visuais são discretos (e nem tão espetaculares assim) - utilizados apenas quando a trama exige, nunca como muleta narrativa. Já o elenco liderado por Keeley Hawes (a Susannah Zellaby) e por Max Beesley (o Paul Haynes) oferece performances profundas - sem nunca sair do tom contido. Hawes, em especial, transmite com delicadeza a angústia de uma mãe que ama seu filho, mas sente que ele não pertence ao seu mundo. Essa ambiguidade, aliás, permeia toda a minissérie: os filhos são ao mesmo tempo milagres e ameaças, inocentes e predadores, parte da humanidade e completamente alheios a ela. E "O Mistério de Midwich" sabe explorar esse paradoxo com muito cuidado, evitando julgamentos fáceis, mas sempre com um ar provocador.
Se há algo que pode incomodar, eu diria que é mesmo o seu ritmo de narrativa - em certos momentos o drama parece se alongar mais do que necessário, especialmente no segundo e terceiro episódios. Ainda assim, essa escolha favorece a imersão e a reflexão, já que “O Mistério de Midwich” está mais preocupado em gerar perguntas do que oferecer resoluções simples. A minissérie, saiba disso, não vai te entregar um grande clímax explosivo, pelo contrário, ela opta por um desfecho coerente com seu tom, mantendo o desconforto como elemento central. No fim das contas, "O Mistério de Midwich" é de fato intrigante e madura - um convite a reflexão sobre os limites da empatia, da maternidade e da humanidade em si. Embora não traga reviravoltas estrondosas ou cenas memoráveis no sentido tradicional das palavras, a minissérie se destaca justamente por sua ambição em mergulhar fundo na inquietude silenciosa de um pesadelo que se confunde com a naturalidade do cotidiano.
"O Mistério de Midwich" é uma ficção científica que não grita - apenas observa, e isso é o que mais assusta e o que faz valer o seu play! Só vai!
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