"11/9 - A Vida sob Ataque" é um documentário muito humano, sensível e ao mesmo tempo impactante, já que seu foco é exclusivamente contar a história do 11 de setembro pelos olhos de alguns novaiorquinos que de alguma forma presenciaram os ataques as Torres Gêmeas.
É de fato um relato único, comovente e vívido do dia que mudou o mundo moderno. "9/11 Life Under Attack" (no original) é um filme de 90 minutos da ITV que conta histórias nunca antes reveladas, criadas por meio de uma montagem de vários vídeos e áudios inéditos. Confira o trailer (em inglês):
Veja, o que você vai encontrar é o mais próximo do que uma pessoa conseguiu assistir durante os ataques em NY. O diretor Nigel Levy (o mesmo por trás de "Formula 1: Dirigir para Viver") reuniu dezenas de vídeos caseiros e construiu uma narrativa "minuto a minuto" dos atentados. Sem nenhum depoimento, apenas apresentando os personagens com legendas, áudios das rádios locais, dos controladores de voo, de telefonemas vindos das Torres e dos aviões, Levy ilustra toda a tensão e incredulidade que as testemunhas viveram naquela manhã.
Claro que muitas daquelas imagens nós já conhecemos, mas as histórias não - são tão pessoais quanto desesperadoras! É conjunto de narrativas em primeira pessoa (na maioria das vezes) que nos impacta de uma forma muito sentimental, pois não faz parte de uma reinterpretação dos fatos, de uma lembrança distante ou de uma visão confortável do que acontecia - tudo que vemos em "real time" talvez seja a melhor definição do caos e isso é impressionante!
Para quem gostou de "11/9: Dentro da Sala de Guerra do Presidente" e "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" esse é mais um documentário imperdível - pela originalidade e pelo testemunho cruel! Vale muito a pena, mesmo!
"11/9 - A Vida sob Ataque" é um documentário muito humano, sensível e ao mesmo tempo impactante, já que seu foco é exclusivamente contar a história do 11 de setembro pelos olhos de alguns novaiorquinos que de alguma forma presenciaram os ataques as Torres Gêmeas.
É de fato um relato único, comovente e vívido do dia que mudou o mundo moderno. "9/11 Life Under Attack" (no original) é um filme de 90 minutos da ITV que conta histórias nunca antes reveladas, criadas por meio de uma montagem de vários vídeos e áudios inéditos. Confira o trailer (em inglês):
Veja, o que você vai encontrar é o mais próximo do que uma pessoa conseguiu assistir durante os ataques em NY. O diretor Nigel Levy (o mesmo por trás de "Formula 1: Dirigir para Viver") reuniu dezenas de vídeos caseiros e construiu uma narrativa "minuto a minuto" dos atentados. Sem nenhum depoimento, apenas apresentando os personagens com legendas, áudios das rádios locais, dos controladores de voo, de telefonemas vindos das Torres e dos aviões, Levy ilustra toda a tensão e incredulidade que as testemunhas viveram naquela manhã.
Claro que muitas daquelas imagens nós já conhecemos, mas as histórias não - são tão pessoais quanto desesperadoras! É conjunto de narrativas em primeira pessoa (na maioria das vezes) que nos impacta de uma forma muito sentimental, pois não faz parte de uma reinterpretação dos fatos, de uma lembrança distante ou de uma visão confortável do que acontecia - tudo que vemos em "real time" talvez seja a melhor definição do caos e isso é impressionante!
Para quem gostou de "11/9: Dentro da Sala de Guerra do Presidente" e "Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra ao Terror" esse é mais um documentário imperdível - pela originalidade e pelo testemunho cruel! Vale muito a pena, mesmo!
"A Acusação" (ou "Le Mensonge" no original) é uma minissérie de 4 episódios que se apoia em um drama denso para discutir assuntos delicados como a pedofilia, as relações entre pais e filhos e, principalmente, o princípio da presunção de inocência.
Na trama, Claude Arbone (Daniel Auteuil) é um homem bem-sucedido com uma carreira política impecável e uma família aparentemente feliz. Ele tem sua vida virada de cabeça para baixo quando seu neto de nove anos, Lucas (Alex Terrier-Thiebaux), o acusa de estupro. Diante do escândalo e de uma longa jornada para provar sua inocência, durante 15 anos, Claude passa a ver sua família completamente dividida até que algumas verdades começam a surgir. Confira o trailer (em francês):
Comandada pelo Vincent Garenq, diretor que construiu sua carreira em documentários, a minissérie muitas vezes se apropria da ficção para elevar o tom dramático dando a exata noção da seriedade de uma acusação como essa e também como toda sociedade (e todo o sistema) lida com ela - algo como vimos no excelente "A Caça"de Thomas Vinterberg.
Talvez sem tanta profundidade e esmero cinematográfico como na produção dinamarquesa que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" em 2014, "Le Mensonge" sofre com o próprio conceito narrativo que se propõe a usar - o recorte temporal é tão extenso que mesmo com uma edição competente, alguns momentos da história se tornam repetitivos, enquanto outros parecem servir apenas como trampolim para um final que soa previsível. O interessante porém, é que Garenq a todo momento fomenta a dúvida, mesmo que os fatos indiquem um caminho mais plausível perante a situação. Na verdade aqui não existe a intenção de surpreender a audiência com uma revelação bombástica, mas sim de colocar as peças na mesa e nos provocar o julgamento enquanto supomos o que, de fato, aconteceu.
Como na inglesa "Em Prantos", "A Acusação" parece uma versão roteirizada de algo que aconteceu na vida real - não é o caso, mas poderia ter sido. Essa sensação nos acompanha nos quatro episódios e nos mantém presos em uma trama bastante envolvente e atual. Mesmo que você perceba um ou outro vacilo narrativo (e estético), como nas passagens em que Claude está no tribunal onde a história poderia ter sido melhor desenvolvida ou no romance de Lucas (Victor Meutelet), quando adulto, que é totalmente dispensável, te garanto que em nada prejudicará sua experiência e no final tudo se encaixará perfeitamente como um bom entretenimento, bem realizado e com temas tão pertinentes para ótimas discussões.
Vale seu play!
"A Acusação" (ou "Le Mensonge" no original) é uma minissérie de 4 episódios que se apoia em um drama denso para discutir assuntos delicados como a pedofilia, as relações entre pais e filhos e, principalmente, o princípio da presunção de inocência.
Na trama, Claude Arbone (Daniel Auteuil) é um homem bem-sucedido com uma carreira política impecável e uma família aparentemente feliz. Ele tem sua vida virada de cabeça para baixo quando seu neto de nove anos, Lucas (Alex Terrier-Thiebaux), o acusa de estupro. Diante do escândalo e de uma longa jornada para provar sua inocência, durante 15 anos, Claude passa a ver sua família completamente dividida até que algumas verdades começam a surgir. Confira o trailer (em francês):
Comandada pelo Vincent Garenq, diretor que construiu sua carreira em documentários, a minissérie muitas vezes se apropria da ficção para elevar o tom dramático dando a exata noção da seriedade de uma acusação como essa e também como toda sociedade (e todo o sistema) lida com ela - algo como vimos no excelente "A Caça"de Thomas Vinterberg.
Talvez sem tanta profundidade e esmero cinematográfico como na produção dinamarquesa que concorreu ao Oscar de "Melhor Filme Estrangeiro" em 2014, "Le Mensonge" sofre com o próprio conceito narrativo que se propõe a usar - o recorte temporal é tão extenso que mesmo com uma edição competente, alguns momentos da história se tornam repetitivos, enquanto outros parecem servir apenas como trampolim para um final que soa previsível. O interessante porém, é que Garenq a todo momento fomenta a dúvida, mesmo que os fatos indiquem um caminho mais plausível perante a situação. Na verdade aqui não existe a intenção de surpreender a audiência com uma revelação bombástica, mas sim de colocar as peças na mesa e nos provocar o julgamento enquanto supomos o que, de fato, aconteceu.
Como na inglesa "Em Prantos", "A Acusação" parece uma versão roteirizada de algo que aconteceu na vida real - não é o caso, mas poderia ter sido. Essa sensação nos acompanha nos quatro episódios e nos mantém presos em uma trama bastante envolvente e atual. Mesmo que você perceba um ou outro vacilo narrativo (e estético), como nas passagens em que Claude está no tribunal onde a história poderia ter sido melhor desenvolvida ou no romance de Lucas (Victor Meutelet), quando adulto, que é totalmente dispensável, te garanto que em nada prejudicará sua experiência e no final tudo se encaixará perfeitamente como um bom entretenimento, bem realizado e com temas tão pertinentes para ótimas discussões.
Vale seu play!
Acho que um dos grandes méritos dessa "segunda fase" do Globoplay é fazer o caminho inverso ao da Netflix, mas com o objetivo de chegar, exatamente, no mesmo lugar. Quando o Globoplay foi lançado, encontrávamos apenas conteúdo da Globo, ou seja, um catálogo enorme de produções próprias de altíssima qualidade, mas que não eram inéditos e representavam um material com características bem regionais. Com o tempo a plataforma foi mudando sua estratégia, ampliando seu olhar para o mercado e alinhando seu conteúdo inédito com as estréias da TV, até que veio a excelente sacada de lançar antes na plataforma e, em alguns casos, tudo de uma vez para o usuário "maratonar". Agora o Globoplay evoluiu ainda mais, pois passou a produzir projetos exclusivos para o streaming, sem nem passar pela TV e também licenciar conteúdo criado (e exibido) fora da emissora!!! Vamos falar muito desses conteúdos, mas fiz essa introdução toda apenas para dizer que: "A Million Little Things" está lá, no Globoplay, e você não pode deixar de assistir!!!!!
Essa série é a versão da ABC do sucesso da NBC, "This is Us". Na verdade uma série não tem nada a ver com a outra no seu conteúdo, mas a forma de contar a história e os sentimentos que ela é capaz de gerar ao assistirmos cada episódio é exatamente o mesmo! "A Million Little Things" não foca na família, foca na amizade! Seu ponto de partida é o suicídio de um dos protagonistas e, sempre misturando passado e presente, como essa tragédia refletiu na vida de cada um dos seus melhores amigos. Veja o trailer:
A trama não é complicada e talvez não tenha a genialidade narrativa de "This is Us", mas entrega um entretenimento de muita qualidade, humano, sensível e muito, mas muito, fácil de se identificar. Cada um dos personagens tem seu fantasma, seu drama pessoal, mas o roteiro não faz questão nenhuma de enrolar a audiência, ele vai mostrando cada traço da personalidade dos personagens e suas respectivas ações de uma maneira muito orgânica e de repente, você está preso na trama e quer saber sempre mais. Todo episódio tem um detalhe novo que te coloca imediatamente na posição do outro - até julgamento fazemos...rs. Eu assisti três episódios de uma levada só e não queria parar. Durante a 1ª temporada minha única dúvida era se episódios manteriam a qualidade inicial e não se perderiam pelo número absurdo que a TV aberta americana ainda exige para manter sua audiência - para se ter uma idéia são 17 episódios, um absurdo se compararmos com os 10 (em média) do streaming!
O elenco é excelente, a direção muito competente - repare no movimento de camera, com uma levada mais solta, equilibrando o documental com a ficção. Muitos planos fechados para captar as sensações dos personagens - enfim, bebeu da fonte de "This is Us" com muita competência e quem ganhou foi o publico com uma série de ótima qualidade!!! Não deixe de assistir, você vai me agradecer por isso!!! Globoplay, como era de se esperar, não veio para brincar...
Acho que um dos grandes méritos dessa "segunda fase" do Globoplay é fazer o caminho inverso ao da Netflix, mas com o objetivo de chegar, exatamente, no mesmo lugar. Quando o Globoplay foi lançado, encontrávamos apenas conteúdo da Globo, ou seja, um catálogo enorme de produções próprias de altíssima qualidade, mas que não eram inéditos e representavam um material com características bem regionais. Com o tempo a plataforma foi mudando sua estratégia, ampliando seu olhar para o mercado e alinhando seu conteúdo inédito com as estréias da TV, até que veio a excelente sacada de lançar antes na plataforma e, em alguns casos, tudo de uma vez para o usuário "maratonar". Agora o Globoplay evoluiu ainda mais, pois passou a produzir projetos exclusivos para o streaming, sem nem passar pela TV e também licenciar conteúdo criado (e exibido) fora da emissora!!! Vamos falar muito desses conteúdos, mas fiz essa introdução toda apenas para dizer que: "A Million Little Things" está lá, no Globoplay, e você não pode deixar de assistir!!!!!
Essa série é a versão da ABC do sucesso da NBC, "This is Us". Na verdade uma série não tem nada a ver com a outra no seu conteúdo, mas a forma de contar a história e os sentimentos que ela é capaz de gerar ao assistirmos cada episódio é exatamente o mesmo! "A Million Little Things" não foca na família, foca na amizade! Seu ponto de partida é o suicídio de um dos protagonistas e, sempre misturando passado e presente, como essa tragédia refletiu na vida de cada um dos seus melhores amigos. Veja o trailer:
A trama não é complicada e talvez não tenha a genialidade narrativa de "This is Us", mas entrega um entretenimento de muita qualidade, humano, sensível e muito, mas muito, fácil de se identificar. Cada um dos personagens tem seu fantasma, seu drama pessoal, mas o roteiro não faz questão nenhuma de enrolar a audiência, ele vai mostrando cada traço da personalidade dos personagens e suas respectivas ações de uma maneira muito orgânica e de repente, você está preso na trama e quer saber sempre mais. Todo episódio tem um detalhe novo que te coloca imediatamente na posição do outro - até julgamento fazemos...rs. Eu assisti três episódios de uma levada só e não queria parar. Durante a 1ª temporada minha única dúvida era se episódios manteriam a qualidade inicial e não se perderiam pelo número absurdo que a TV aberta americana ainda exige para manter sua audiência - para se ter uma idéia são 17 episódios, um absurdo se compararmos com os 10 (em média) do streaming!
O elenco é excelente, a direção muito competente - repare no movimento de camera, com uma levada mais solta, equilibrando o documental com a ficção. Muitos planos fechados para captar as sensações dos personagens - enfim, bebeu da fonte de "This is Us" com muita competência e quem ganhou foi o publico com uma série de ótima qualidade!!! Não deixe de assistir, você vai me agradecer por isso!!! Globoplay, como era de se esperar, não veio para brincar...
"Angela Black" é uma minissérie de seis episódios fruto de uma parceria internacional entre a Spectrum (produtora responsável pelo excelente "Manhunt") e a emissora britânica ITV (principal concorrente da BBC). Exibida com exclusividade no Brasil pela Globoplay, "Angela Black" é um bom drama com elementos de investigação e suspense que toca em assuntos delicados como violência doméstica, por exemplo. Aliás, o prólogo do primeiro episódio já nos prende pelo impacto da sugestão, ao mesmo tempo que também entrega uma característica que pode incomodar uma audiência mais exigente: a direção de Craig Viveiros (Ghosted) é muito expositiva - mas vamos nos aprofundar sobre o assunto um pouco mais abaixo.
Na história conhecemos Angela (Joanne Froggatt de "Downton Abbey"), uma mulher que parece levar uma vida normal com uma uma linda casa no subúrbio de Londres. A personagem se mostra em uma vida perfeita, com dois lindos filhos e um marido bem sucedido, charmoso e trabalhador, além de prestar serviços voluntários em um abrigo para cães. Porém, na realidade, Angela vive em um casamento extremamente tóxico com Olivier Meyer (Michiel Huisman), um homem extremamente controlador e agressivo, que já a violentou várias vezes. Após um dos ataques de fúria de Meyer, ela se encontra com um estranho chamado Ed (Samuel Adewunmi), e é ele que acaba revelando todos os segredos e traições do seu marido, levando a Angela a querer resolver tudo da sua maneira. Confira o trailer (em inglês):
Vamos lá, antes de mais nada é preciso dizer que "Angela Black" é um ótimo entretenimento e mesmo que se afaste do tema pela qual a série ganhou muita relevância na Inglaterra (a violência doméstica), a narrativa não enrola, trazendo uma dinâmica interessante para a história, mesmo abusando dos esteriótipos do gênero. O que eu quero dizer é que "Angela Black" é uma mistura do clássico "Dormindo com o Inimigo", "Doctor Foster", "The Undoing", tudo isso com um toque muito presente do "estilo Harlan Coben" ("Não Fale com Estranhos") de mistério - e é daí que deve vir tanta exposição e didatismo!
Viveiros tem um bom roteiro na mão, com várias passagens que vão exigir uma certa suspensão da realidade (claro!), algumas tramas completamente dispensáveis de conspirações e assassinatos, mas é impossível negar que a história é, de fato, bem amarrada. Talvez por se tratar de um produto veiculado na TV aberta do Reino Unido, algumas escolhas conceituais acabam afastando a minissérie daquele "estilo HBO" de dramas profundos de investigação que fundem nossa cabeça. A performance dos atores soa um pouco acima do tom - a própria Froggatt parece não acreditar na dor e desespero íntimo que sua personagem está sentindo em muitos momentos. Huisman não prejudica, mas definitivamente não tem a capacidade de Alexander Skarsgård (o Perry Wright de "Big Little Lies"). A produção em si é excelente, com uma fotografia bem elaborada e até com uma direção interessante - os movimentos de câmera são ótimos, não fosse a obrigação de deixar tudo muito claro: se escutamos o marido bater na mulher, por que terminar a cena com um close no dente arrancado no chão?
"Angela Black" é mais um bom achado no catálogo da Globoplay que vai agradar muitas pessoas e mesmo com suas imperfeições, não deve afastar quem gosta de um bom mistério com um gostinho de vingança e superação.
Vale a pena!
"Angela Black" é uma minissérie de seis episódios fruto de uma parceria internacional entre a Spectrum (produtora responsável pelo excelente "Manhunt") e a emissora britânica ITV (principal concorrente da BBC). Exibida com exclusividade no Brasil pela Globoplay, "Angela Black" é um bom drama com elementos de investigação e suspense que toca em assuntos delicados como violência doméstica, por exemplo. Aliás, o prólogo do primeiro episódio já nos prende pelo impacto da sugestão, ao mesmo tempo que também entrega uma característica que pode incomodar uma audiência mais exigente: a direção de Craig Viveiros (Ghosted) é muito expositiva - mas vamos nos aprofundar sobre o assunto um pouco mais abaixo.
Na história conhecemos Angela (Joanne Froggatt de "Downton Abbey"), uma mulher que parece levar uma vida normal com uma uma linda casa no subúrbio de Londres. A personagem se mostra em uma vida perfeita, com dois lindos filhos e um marido bem sucedido, charmoso e trabalhador, além de prestar serviços voluntários em um abrigo para cães. Porém, na realidade, Angela vive em um casamento extremamente tóxico com Olivier Meyer (Michiel Huisman), um homem extremamente controlador e agressivo, que já a violentou várias vezes. Após um dos ataques de fúria de Meyer, ela se encontra com um estranho chamado Ed (Samuel Adewunmi), e é ele que acaba revelando todos os segredos e traições do seu marido, levando a Angela a querer resolver tudo da sua maneira. Confira o trailer (em inglês):
Vamos lá, antes de mais nada é preciso dizer que "Angela Black" é um ótimo entretenimento e mesmo que se afaste do tema pela qual a série ganhou muita relevância na Inglaterra (a violência doméstica), a narrativa não enrola, trazendo uma dinâmica interessante para a história, mesmo abusando dos esteriótipos do gênero. O que eu quero dizer é que "Angela Black" é uma mistura do clássico "Dormindo com o Inimigo", "Doctor Foster", "The Undoing", tudo isso com um toque muito presente do "estilo Harlan Coben" ("Não Fale com Estranhos") de mistério - e é daí que deve vir tanta exposição e didatismo!
Viveiros tem um bom roteiro na mão, com várias passagens que vão exigir uma certa suspensão da realidade (claro!), algumas tramas completamente dispensáveis de conspirações e assassinatos, mas é impossível negar que a história é, de fato, bem amarrada. Talvez por se tratar de um produto veiculado na TV aberta do Reino Unido, algumas escolhas conceituais acabam afastando a minissérie daquele "estilo HBO" de dramas profundos de investigação que fundem nossa cabeça. A performance dos atores soa um pouco acima do tom - a própria Froggatt parece não acreditar na dor e desespero íntimo que sua personagem está sentindo em muitos momentos. Huisman não prejudica, mas definitivamente não tem a capacidade de Alexander Skarsgård (o Perry Wright de "Big Little Lies"). A produção em si é excelente, com uma fotografia bem elaborada e até com uma direção interessante - os movimentos de câmera são ótimos, não fosse a obrigação de deixar tudo muito claro: se escutamos o marido bater na mulher, por que terminar a cena com um close no dente arrancado no chão?
"Angela Black" é mais um bom achado no catálogo da Globoplay que vai agradar muitas pessoas e mesmo com suas imperfeições, não deve afastar quem gosta de um bom mistério com um gostinho de vingança e superação.
Vale a pena!
A adolescência é a fase mais complicada e difícil na vida de uma pessoa. Nesta época passamos por um turbilhão de mudanças - psicológicas, hormonais, sociais e comportamentais - que irão moldar o nosso caráter e definir o nosso lugar no mundo! “As Vantagens de Ser Invisível" aborda este universo de maneira simples e, ao mesmo tempo, profunda. Lida, principalmente, com dois problemas muito sérios que afligem a juventude: a depressão e o suicídio. Apesar dos temas pesados, há uma leveza na condução do enredo que torna a experiência de acompanhar a história muito prazerosa.
A trama é ambientada nos anos 90 e apresenta muitas referências literárias e musicais da época, o que garante um charme especial à produção. O protagonista é Charlie (Logan Lerman), um jovem retraído que possui bastante dificuldade em fazer novas amizades. Tudo muda, quando ele conhece dois veteranos, a descolada Sam (Emma Watson) e seu meio-irmão Patrick (Ezra Miller), que o ajudam a viver novas experiências. Embora esteja feliz nessa nova fase, Charlie possui traumas do passado que o impedem de seguir a sua vida de maneira plena e saudável. Confira o trailer:
Dirigido por Stephen Chbosky (de "Extraordinário"), fica fácil perceber a razão de todos os personagens serem bastante reais e cativantes - a ponto de você se identificar com as suas histórias e questões emocionais. E o enredo vai mais longe, apresentando ainda outros temas importantes, como virgindade, drogas, violência contra a mulher, bullying, assédio de menores e homofobia. Destaco ainda o excelente roteiro (do próprio Chbosky) e o ótimo trabalho do elenco jovem, em especial da atriz Emma Watson que está não menos que perfeita!
Por fim, preciso confessar que The Perks of Being a Wallflower (no original) foi uma surpresa muito agradável. Gostei tanto, que a produção entra fácil numa lista com as melhores produções sobre os dramas da juventude. Portanto, recomendo que não deixem de assistir, principalmente se você gosta deste universo teen, mas está cansado de produções que retratam os jovens de maneira rasa e sem conteúdo.
Aliás, “As Vantagens de Ser Invisível" recebeu mais de 50 indicações e recebeu inúmeros prêmios em festivais de cinema como "Film Independent Spirit Awards", "Hollywood Film Awards" e até no "People's Choice Awards" de 2013.
Vale muito o seu play!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
A adolescência é a fase mais complicada e difícil na vida de uma pessoa. Nesta época passamos por um turbilhão de mudanças - psicológicas, hormonais, sociais e comportamentais - que irão moldar o nosso caráter e definir o nosso lugar no mundo! “As Vantagens de Ser Invisível" aborda este universo de maneira simples e, ao mesmo tempo, profunda. Lida, principalmente, com dois problemas muito sérios que afligem a juventude: a depressão e o suicídio. Apesar dos temas pesados, há uma leveza na condução do enredo que torna a experiência de acompanhar a história muito prazerosa.
A trama é ambientada nos anos 90 e apresenta muitas referências literárias e musicais da época, o que garante um charme especial à produção. O protagonista é Charlie (Logan Lerman), um jovem retraído que possui bastante dificuldade em fazer novas amizades. Tudo muda, quando ele conhece dois veteranos, a descolada Sam (Emma Watson) e seu meio-irmão Patrick (Ezra Miller), que o ajudam a viver novas experiências. Embora esteja feliz nessa nova fase, Charlie possui traumas do passado que o impedem de seguir a sua vida de maneira plena e saudável. Confira o trailer:
Dirigido por Stephen Chbosky (de "Extraordinário"), fica fácil perceber a razão de todos os personagens serem bastante reais e cativantes - a ponto de você se identificar com as suas histórias e questões emocionais. E o enredo vai mais longe, apresentando ainda outros temas importantes, como virgindade, drogas, violência contra a mulher, bullying, assédio de menores e homofobia. Destaco ainda o excelente roteiro (do próprio Chbosky) e o ótimo trabalho do elenco jovem, em especial da atriz Emma Watson que está não menos que perfeita!
Por fim, preciso confessar que The Perks of Being a Wallflower (no original) foi uma surpresa muito agradável. Gostei tanto, que a produção entra fácil numa lista com as melhores produções sobre os dramas da juventude. Portanto, recomendo que não deixem de assistir, principalmente se você gosta deste universo teen, mas está cansado de produções que retratam os jovens de maneira rasa e sem conteúdo.
Aliás, “As Vantagens de Ser Invisível" recebeu mais de 50 indicações e recebeu inúmeros prêmios em festivais de cinema como "Film Independent Spirit Awards", "Hollywood Film Awards" e até no "People's Choice Awards" de 2013.
Vale muito o seu play!
Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar
A Minissérie "Assédio" foi lançada exclusivamente para o Globoplay em uma tentativa da Globo de entrar com mais força na briga contra a Netflix e se tornar relevante também no streaming - e com projetos como esse, tem tudo para conseguir: "Assédio" conta a história do médico Abdelmassih, aquele mesmo que estuprou 37 pacientes e que foi condenado a mais de 100 anos de prisão (e depois liberado para cumprir prisão domiciliar). O que eu tenho para dizer é que a minissérie está linda.
Dirigida pela Amora Mautner, "Assédio" tem um conceito estético muito bem definido e uma personalidade que se não vê muito por aí na TV aberta. Com muitas referências conceituais de "House of Cards"- do estilo da trilha incidental aos movimentos de câmera lineares, muita coisa chama atenção: a fotografia é diferente, mais escura, com pontos de luz pontuando só no que interessa da cena e uma cor mais esverdeada que traz uma frieza interessante para os ambientes (embora, as vezes, até se pesa um pouco a mão).
No primeiro episódio, no prólogo, a "janela de projeção" mais cinematográfica e aquela música tema criam um clima incrível que se sustenta durante todo o episódio, extremamente bem dirigido - uma pena que não mantiveram aquela janela (barras maiores que deixariam o projeto mais elegante, mas ok, seria um risco para um público ainda mais acostumado com as novelas do que com um cinema autoral). Até as cenas mais delicadas com alguma violência sexual, estão lindamente bem realizadas. O roteiro começa muito bem, mas lá pelo quarto episódio perde um pouco de força; mas mesmo assim incomoda demais! A história é muito forte, o personagem belamente interpretado pelo Calloni é um doente, maníaco, maluco - e cruel. Cenas fortes, impactantes, mas nada é gratuito, muito pelo contrário, tudo faz sentido e dá voz a quem antes ficava calada, com medo. É muito duro imaginar que se trata de uma história real! Mesmo!!!
A verdade é que a Globo mostra que não entra na onda do streaming para fazer número ou backup de catálogo, entra com a mesma capacidade técnica e criativa que vemos na TV com a liberdade que um serviço mais "prime" oferece - não tem como dar errado! Co-produção Globo/Globoplay/O2 entrega um resultado de altíssimo nível!!!
Vale muito seu play!
A Minissérie "Assédio" foi lançada exclusivamente para o Globoplay em uma tentativa da Globo de entrar com mais força na briga contra a Netflix e se tornar relevante também no streaming - e com projetos como esse, tem tudo para conseguir: "Assédio" conta a história do médico Abdelmassih, aquele mesmo que estuprou 37 pacientes e que foi condenado a mais de 100 anos de prisão (e depois liberado para cumprir prisão domiciliar). O que eu tenho para dizer é que a minissérie está linda.
Dirigida pela Amora Mautner, "Assédio" tem um conceito estético muito bem definido e uma personalidade que se não vê muito por aí na TV aberta. Com muitas referências conceituais de "House of Cards"- do estilo da trilha incidental aos movimentos de câmera lineares, muita coisa chama atenção: a fotografia é diferente, mais escura, com pontos de luz pontuando só no que interessa da cena e uma cor mais esverdeada que traz uma frieza interessante para os ambientes (embora, as vezes, até se pesa um pouco a mão).
No primeiro episódio, no prólogo, a "janela de projeção" mais cinematográfica e aquela música tema criam um clima incrível que se sustenta durante todo o episódio, extremamente bem dirigido - uma pena que não mantiveram aquela janela (barras maiores que deixariam o projeto mais elegante, mas ok, seria um risco para um público ainda mais acostumado com as novelas do que com um cinema autoral). Até as cenas mais delicadas com alguma violência sexual, estão lindamente bem realizadas. O roteiro começa muito bem, mas lá pelo quarto episódio perde um pouco de força; mas mesmo assim incomoda demais! A história é muito forte, o personagem belamente interpretado pelo Calloni é um doente, maníaco, maluco - e cruel. Cenas fortes, impactantes, mas nada é gratuito, muito pelo contrário, tudo faz sentido e dá voz a quem antes ficava calada, com medo. É muito duro imaginar que se trata de uma história real! Mesmo!!!
A verdade é que a Globo mostra que não entra na onda do streaming para fazer número ou backup de catálogo, entra com a mesma capacidade técnica e criativa que vemos na TV com a liberdade que um serviço mais "prime" oferece - não tem como dar errado! Co-produção Globo/Globoplay/O2 entrega um resultado de altíssimo nível!!!
Vale muito seu play!
Provavelmente "Bacurau" não seja o tipo de filme que você está pensando que é - eu diria que ele está muito mais para "Cidade de Deus" do que para "Abril Despedaçado", portanto se você tinha qualquer tipo de receio, pode confiar: "Bacurau" é um grande filme e vai te surpreender!
No sertão de Pernambuco, existe uma cidade chamada Bacurau. Quando uma moradora respeitada por todos, dona Carmelita, morre, estranhos episódios começam acontecer. É quando Lunga (Silvero Pereira) é chamado para ajudar seus conterrâneos, mas o perigo vai muito além do que todos poderiam imaginar.
Antes de assistir o trailer eu preciso te dar mais um aviso: quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência! Agora é com você:
Não é por acaso que o filme começa com ares de ficção científica, onde vemos a Terra pela perspectiva de quem está no espaço. Conforme a câmera vai se movimentando para estabelecer o cenário onde a ação que assistiremos nas próximas duas horas vai desenrolar, percebemos que o destino não é o hemisfério norte ou o Estados Unidos, como de costume. O destino é o hemisfério sul, a América do Sul, mais precisamente em um país, vejam só, chamado Brasil. Acontece que o mergulho dramático ainda vai além até chegarmos em Bacurau - e como a placa que indica a proximidade da cidade, em meio a uma estrada cheia de buracos e um calor de matar, sugere: se for para Bacurau, vá em paz!
Não existem forma melhor de começar um filme como a partir do roteiro escrito por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (que também dirigem a obra) - sem dizer uma única palavra, já entendemos a importância que aquele cenário trará para trama. E não digo isso pela necessidade regionalista de exaltar um Brasil que muitos de nós não conhecemos e que sofre com a miséria e com a corrupção daqueles que deveriam defender os interesses de um povo sofrido - e eu disse um povo sofrido, não infeliz! Se você leu até aqui, já pode estar imaginando: mais um filme sobre o sertão, briga de famílias, dificuldades sociais, seca, calor e mosquitos. Embora "Bacurau" tenha tudo isso, ele é muito mais, já que não se trata de um drama e sim de um filme de ação - por mais que ele seja construído em cima de camadas bem profundas e sutilmente referenciadas em um texto inteligente e, principalmente, provocativo.
"Bacurau" é uma viagem emocional, o nosso "Casamento Vermelho"! Tecnicamente muito bem realizado, com uma fotografia belíssima do Pedro Sotero, não é por acaso que o filme venceu o Prêmio do Juri no Festival de Cannes em 2019 e esteve concorrendo em mais de 70 eventos ao redor do globo, tendo levado mais de 50 prêmios em todos eles. Ao dar o play, tenha em mente que nada que os diretores colocam em cena está ali por acaso - desde uma explicação sobre a real localização da cidade no Google Earth ao tosco disco voador com aspecto de anos 70 que aparece misteriosamente - é muito interessante como o roteiro brinca com a dicotomia entre tecnologia e tradição cultural ou até entre violência e tranquilidade.
Quando me propus a escrever um review sobre "Bacurau" meu único propósito era: preciso dizer para as pessoas assistirem a esse filme, mas não posso prejudicar sua experiência, para que elas tenham a exata sensação que sinto agora: a de ter assistido um filme realmente incrível! Diferente de outros reviews, não me aprofundei na trama e nem critiquei alguns elementos artísticos justamente para não quebrar sua expectativa - então se você buscou algo assim, você pode até estar irritado comigo, mas assista o filme porque tenho certeza que essa irritação vai ser tornar agradecimento.
Vale muito a pena!
Provavelmente "Bacurau" não seja o tipo de filme que você está pensando que é - eu diria que ele está muito mais para "Cidade de Deus" do que para "Abril Despedaçado", portanto se você tinha qualquer tipo de receio, pode confiar: "Bacurau" é um grande filme e vai te surpreender!
No sertão de Pernambuco, existe uma cidade chamada Bacurau. Quando uma moradora respeitada por todos, dona Carmelita, morre, estranhos episódios começam acontecer. É quando Lunga (Silvero Pereira) é chamado para ajudar seus conterrâneos, mas o perigo vai muito além do que todos poderiam imaginar.
Antes de assistir o trailer eu preciso te dar mais um aviso: quanto menos você souber sobre o filme, mais impactante será sua experiência! Agora é com você:
Não é por acaso que o filme começa com ares de ficção científica, onde vemos a Terra pela perspectiva de quem está no espaço. Conforme a câmera vai se movimentando para estabelecer o cenário onde a ação que assistiremos nas próximas duas horas vai desenrolar, percebemos que o destino não é o hemisfério norte ou o Estados Unidos, como de costume. O destino é o hemisfério sul, a América do Sul, mais precisamente em um país, vejam só, chamado Brasil. Acontece que o mergulho dramático ainda vai além até chegarmos em Bacurau - e como a placa que indica a proximidade da cidade, em meio a uma estrada cheia de buracos e um calor de matar, sugere: se for para Bacurau, vá em paz!
Não existem forma melhor de começar um filme como a partir do roteiro escrito por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (que também dirigem a obra) - sem dizer uma única palavra, já entendemos a importância que aquele cenário trará para trama. E não digo isso pela necessidade regionalista de exaltar um Brasil que muitos de nós não conhecemos e que sofre com a miséria e com a corrupção daqueles que deveriam defender os interesses de um povo sofrido - e eu disse um povo sofrido, não infeliz! Se você leu até aqui, já pode estar imaginando: mais um filme sobre o sertão, briga de famílias, dificuldades sociais, seca, calor e mosquitos. Embora "Bacurau" tenha tudo isso, ele é muito mais, já que não se trata de um drama e sim de um filme de ação - por mais que ele seja construído em cima de camadas bem profundas e sutilmente referenciadas em um texto inteligente e, principalmente, provocativo.
"Bacurau" é uma viagem emocional, o nosso "Casamento Vermelho"! Tecnicamente muito bem realizado, com uma fotografia belíssima do Pedro Sotero, não é por acaso que o filme venceu o Prêmio do Juri no Festival de Cannes em 2019 e esteve concorrendo em mais de 70 eventos ao redor do globo, tendo levado mais de 50 prêmios em todos eles. Ao dar o play, tenha em mente que nada que os diretores colocam em cena está ali por acaso - desde uma explicação sobre a real localização da cidade no Google Earth ao tosco disco voador com aspecto de anos 70 que aparece misteriosamente - é muito interessante como o roteiro brinca com a dicotomia entre tecnologia e tradição cultural ou até entre violência e tranquilidade.
Quando me propus a escrever um review sobre "Bacurau" meu único propósito era: preciso dizer para as pessoas assistirem a esse filme, mas não posso prejudicar sua experiência, para que elas tenham a exata sensação que sinto agora: a de ter assistido um filme realmente incrível! Diferente de outros reviews, não me aprofundei na trama e nem critiquei alguns elementos artísticos justamente para não quebrar sua expectativa - então se você buscou algo assim, você pode até estar irritado comigo, mas assista o filme porque tenho certeza que essa irritação vai ser tornar agradecimento.
Vale muito a pena!
Se você é fã de true crime (mas fã mesmo), você vai se amarrar em "Baseado Numa História Real" - não por ser mais uma trama do gênero, mas pela forma como a narrativa brinca com os elementos dramáticos tão característicos para construir mistérios que vem conquistando uma audiência absurda nos últimos anos. "Baseado Numa História Real" está para o true crime, da mesma forma que Silicon Valley está para o universo de startups. Lançada em 2023 pelo Peacock e aqui distribuída pelo Globoplay, a série criada por Craig Rosenberg (de, nada menos que, "The Boys"), combina a leveza da sátira com a densidade do suspense para explorar a obsessão contemporânea com crimes reais e a cultura dos podcasts sobre o assunto. Com uma abordagem que mescla humor ácido (um tanto sombrio em vários momentos), mistério e crítica social, "Baseado Numa História Real" questiona o fascínio que o público tem por histórias de crimes violentos, enquanto cria uma jornada envolvente e, por vezes, desconcertante.
A trama gira em torno de Ava (Kaley Cuoco) e Nathan (Chris Messina), um casal de Los Angeles que, ao enfrentar dificuldades financeiras, vê uma oportunidade lucrativa quando descobrem que alguém próximo a eles pode ser um assassino em série. Em vez de denunciar o criminoso, eles decidem criar um podcast de crime real, capitalizando o fascínio público por esse tipo de conteúdo. Ao longo dos 8 episódios, o casal se vê envolvido em uma série de eventos cada vez mais perigosos e fora de controle, enquanto tentam equilibrar suas vidas pessoais e o desejo de sucesso na mídia. Confira o trailer:
Uma das forças de "Baseado Numa História Real", sem dúvida, é a forma como a série satiriza a obsessão moderna por crimes reais - menos pastelão de que "Only Murders in the Building"e menos criativa que "Depois da Festa", no entanto igualmente divertida e possivelmente mais equilibrada do que as duas. Se criação de podcasts e séries documentais sobre assassinatos se tornou um fenômeno da cultura pop, a série de Craig Rosenberg captura muito bem a ironia dessa obsessão ao questionar o quanto as pessoas estão dispostas a explorar o sofrimento real em nome do entretenimento (e, óbvio, do dinheiro). Ava e Nathan, longe de serem heróis tradicionais, se tornam cúmplices morais na exploração de uma tragédia para seus próprios ganhos, o que faz a audiência refletir sobre a linha tênue entre a curiosidade e a hipocrisia.
A série se destaca também pelo tom sarcástico, mesmo quando lida com temas perturbadores ou cenas visualmente impactantes. O humor negro do roteiro permeia os diálogos e as situações absurdas em que Ava e Nathan se metem - o que ajuda nesse equilíbrio entre o suspense crescente e os momentos mais leves da história. Essa mistura de comédia e tensão, aliás, é uma das marcas registradas da narrativa de Rosenberg, basta lembrar de "The Boys, porém, aqui, com episódios mais curtos e uma trama que avança rapidamente, a narrativa precisa ser realmente eficaz para manter o engajamento. Repleta de reviravoltas inesperadas que, embora por vezes exageradas, mantêm o tom cômico e satírico, a série usa e abusa de um ar de imprevisibilidade que funciona demais! Kaley Cuoco parece se reinventar mais uma vez - ela oferece uma atuação divertida e cheia de camadas. Repare como ela é competente ao criar uma mulher desesperada para revitalizar sua vida e seu casamento, ao mesmo tempo em que se vê fascinada pela possibilidade de sucesso financeiro com o podcast. E aí a química com Chris Messina se faz valer - é o marido cético e pragmático que, apesar de inicialmente hesitante, acaba sendo atraído pela ideia da mulher amada, o que cria uma dinâmica interessante entre o casal.
Já pelo título, a crítica que "Baseado Numa História Real" faz ao consumo desenfreado de histórias de crimes reais, levanta questões sobre a moralidade de transformar a brutalidade em entretenimento e a forma como o público, muitas vezes, se desconecta da realidade por trás dessas histórias. Os protagonistas que inicialmente começam o podcast como uma solução para seus problemas, rapidamente percebem que estão em um caminho perigoso e que pode ter consequências reais - esse "comentário" sobre a desumanização do trágico na cultura moderna dá à série uma profundidade surpreendente, fazendo com que "as entrelinhas" cheguem muito além de um comédia superficial.
Vale a pena conferir!
Se você é fã de true crime (mas fã mesmo), você vai se amarrar em "Baseado Numa História Real" - não por ser mais uma trama do gênero, mas pela forma como a narrativa brinca com os elementos dramáticos tão característicos para construir mistérios que vem conquistando uma audiência absurda nos últimos anos. "Baseado Numa História Real" está para o true crime, da mesma forma que Silicon Valley está para o universo de startups. Lançada em 2023 pelo Peacock e aqui distribuída pelo Globoplay, a série criada por Craig Rosenberg (de, nada menos que, "The Boys"), combina a leveza da sátira com a densidade do suspense para explorar a obsessão contemporânea com crimes reais e a cultura dos podcasts sobre o assunto. Com uma abordagem que mescla humor ácido (um tanto sombrio em vários momentos), mistério e crítica social, "Baseado Numa História Real" questiona o fascínio que o público tem por histórias de crimes violentos, enquanto cria uma jornada envolvente e, por vezes, desconcertante.
A trama gira em torno de Ava (Kaley Cuoco) e Nathan (Chris Messina), um casal de Los Angeles que, ao enfrentar dificuldades financeiras, vê uma oportunidade lucrativa quando descobrem que alguém próximo a eles pode ser um assassino em série. Em vez de denunciar o criminoso, eles decidem criar um podcast de crime real, capitalizando o fascínio público por esse tipo de conteúdo. Ao longo dos 8 episódios, o casal se vê envolvido em uma série de eventos cada vez mais perigosos e fora de controle, enquanto tentam equilibrar suas vidas pessoais e o desejo de sucesso na mídia. Confira o trailer:
Uma das forças de "Baseado Numa História Real", sem dúvida, é a forma como a série satiriza a obsessão moderna por crimes reais - menos pastelão de que "Only Murders in the Building"e menos criativa que "Depois da Festa", no entanto igualmente divertida e possivelmente mais equilibrada do que as duas. Se criação de podcasts e séries documentais sobre assassinatos se tornou um fenômeno da cultura pop, a série de Craig Rosenberg captura muito bem a ironia dessa obsessão ao questionar o quanto as pessoas estão dispostas a explorar o sofrimento real em nome do entretenimento (e, óbvio, do dinheiro). Ava e Nathan, longe de serem heróis tradicionais, se tornam cúmplices morais na exploração de uma tragédia para seus próprios ganhos, o que faz a audiência refletir sobre a linha tênue entre a curiosidade e a hipocrisia.
A série se destaca também pelo tom sarcástico, mesmo quando lida com temas perturbadores ou cenas visualmente impactantes. O humor negro do roteiro permeia os diálogos e as situações absurdas em que Ava e Nathan se metem - o que ajuda nesse equilíbrio entre o suspense crescente e os momentos mais leves da história. Essa mistura de comédia e tensão, aliás, é uma das marcas registradas da narrativa de Rosenberg, basta lembrar de "The Boys, porém, aqui, com episódios mais curtos e uma trama que avança rapidamente, a narrativa precisa ser realmente eficaz para manter o engajamento. Repleta de reviravoltas inesperadas que, embora por vezes exageradas, mantêm o tom cômico e satírico, a série usa e abusa de um ar de imprevisibilidade que funciona demais! Kaley Cuoco parece se reinventar mais uma vez - ela oferece uma atuação divertida e cheia de camadas. Repare como ela é competente ao criar uma mulher desesperada para revitalizar sua vida e seu casamento, ao mesmo tempo em que se vê fascinada pela possibilidade de sucesso financeiro com o podcast. E aí a química com Chris Messina se faz valer - é o marido cético e pragmático que, apesar de inicialmente hesitante, acaba sendo atraído pela ideia da mulher amada, o que cria uma dinâmica interessante entre o casal.
Já pelo título, a crítica que "Baseado Numa História Real" faz ao consumo desenfreado de histórias de crimes reais, levanta questões sobre a moralidade de transformar a brutalidade em entretenimento e a forma como o público, muitas vezes, se desconecta da realidade por trás dessas histórias. Os protagonistas que inicialmente começam o podcast como uma solução para seus problemas, rapidamente percebem que estão em um caminho perigoso e que pode ter consequências reais - esse "comentário" sobre a desumanização do trágico na cultura moderna dá à série uma profundidade surpreendente, fazendo com que "as entrelinhas" cheguem muito além de um comédia superficial.
Vale a pena conferir!
"Bastardos Inglórios" é mais uma obra-prima do mestre Tarantino! Eliminar nazistas, que tema lindo, não acham? Misture esse lindo tema com um roteiro inteligente, atuações estupendas e uma direção visceral, pronto... temos um clássico!
Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é eliminar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que ela fuja para Paris. Lá Dreyfuss se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja uma forma de se vingar. Confira o trailer:
Fatalmente, penso que junto com "Pulp Fiction", "Bastardos Inglórios" está, tranquilamente, no top 2 do Tarantino até aqui - na minha opinião.
Se trata de uma obra com a narração de fatos de uma França sob o domínio nazista com um roteiro perspicaz, não há como negar! A direção se alinha com uma estrutura narrativa que vai abordando os acontecimentos e intercalando os personagens até completar a ação - é uma completa “bagunça” arrumada. Tarantino abusa dos seus artifícios de imersão, é fácil nos sentirmos parte do filme, é um senso de espacialidade única. As explosões e o sangue jorrando não demora a aparecer - é um filme do Tarantino, né? Mas o verdadeiro mérito se encontra na dualidade designada para toda a narrativa, onde mesclam esplendorosamente bem as cenas de crueldade com os diálogos impecáveis.
Os diálogos são a cobertura e a cereja do bolo - eles são expressivos e intensos. A veracidade com que as conversas fluem é angustiante, isso aumenta o nível de tensão e o receio, o desconforto, vão nos invadindo de uma forma implacável! As atuações estão esplendorosas, o destaque vai para Waltz, que não por acaso venceu o Oscar de "Ator Coadjuvante" em 2010, com um personagem magnífico, misturando uma serenidade densa com um senso de crueldade - um assassino perfeito e digo mais: é um dos melhores coadjuvantes do século, sem dúvida. Pitt é outro que está ótimo, o personagem caiu como uma luva para o ator, está descontraído e elegante, uma excelente atuação. Todos do elenco parecem muito a vontade, era nítido que o clima nos bastidores realmente colocaria o filme em outro patamar - foi o que aconteceu!
Tarantino nos presenteia do melhor "jeito tarantinesco" possível: referências ao extremo, sangue jorrando em litros, um vilão odiável e fogo nos nazistas - olha que coisa linda de se contar e de assistir. "Bastardos Inglórios" é nitidamente um filme fora da curva. Personagens inesquecíveis, uma narrativa pesada colocando em jogo a sobrevivência de todos em cena com o maior clamor de originalidade e perspicácia possível - um marco do cinema, um dos melhores filmes da década! É impressionante como o filme consegue nos transmitir o alívio de tentar expurgar essa raça nazista que só nos deixou sequelas!
É a junção de brutalidade e inteligência sendo codificada em um filme icônico! Tarantino é gênio e é um deleite ver e rever essa obra! Ainda preciso dizer que vale a pena?
Up-date: "Bastardos Inglórios" recebeu 8 indicações no Oscar 2010, inclusive "Melhor Filme"!
Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee
"Bastardos Inglórios" é mais uma obra-prima do mestre Tarantino! Eliminar nazistas, que tema lindo, não acham? Misture esse lindo tema com um roteiro inteligente, atuações estupendas e uma direção visceral, pronto... temos um clássico!
Segunda Guerra Mundial. A França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é eliminar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que ela fuja para Paris. Lá Dreyfuss se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja uma forma de se vingar. Confira o trailer:
Fatalmente, penso que junto com "Pulp Fiction", "Bastardos Inglórios" está, tranquilamente, no top 2 do Tarantino até aqui - na minha opinião.
Se trata de uma obra com a narração de fatos de uma França sob o domínio nazista com um roteiro perspicaz, não há como negar! A direção se alinha com uma estrutura narrativa que vai abordando os acontecimentos e intercalando os personagens até completar a ação - é uma completa “bagunça” arrumada. Tarantino abusa dos seus artifícios de imersão, é fácil nos sentirmos parte do filme, é um senso de espacialidade única. As explosões e o sangue jorrando não demora a aparecer - é um filme do Tarantino, né? Mas o verdadeiro mérito se encontra na dualidade designada para toda a narrativa, onde mesclam esplendorosamente bem as cenas de crueldade com os diálogos impecáveis.
Os diálogos são a cobertura e a cereja do bolo - eles são expressivos e intensos. A veracidade com que as conversas fluem é angustiante, isso aumenta o nível de tensão e o receio, o desconforto, vão nos invadindo de uma forma implacável! As atuações estão esplendorosas, o destaque vai para Waltz, que não por acaso venceu o Oscar de "Ator Coadjuvante" em 2010, com um personagem magnífico, misturando uma serenidade densa com um senso de crueldade - um assassino perfeito e digo mais: é um dos melhores coadjuvantes do século, sem dúvida. Pitt é outro que está ótimo, o personagem caiu como uma luva para o ator, está descontraído e elegante, uma excelente atuação. Todos do elenco parecem muito a vontade, era nítido que o clima nos bastidores realmente colocaria o filme em outro patamar - foi o que aconteceu!
Tarantino nos presenteia do melhor "jeito tarantinesco" possível: referências ao extremo, sangue jorrando em litros, um vilão odiável e fogo nos nazistas - olha que coisa linda de se contar e de assistir. "Bastardos Inglórios" é nitidamente um filme fora da curva. Personagens inesquecíveis, uma narrativa pesada colocando em jogo a sobrevivência de todos em cena com o maior clamor de originalidade e perspicácia possível - um marco do cinema, um dos melhores filmes da década! É impressionante como o filme consegue nos transmitir o alívio de tentar expurgar essa raça nazista que só nos deixou sequelas!
É a junção de brutalidade e inteligência sendo codificada em um filme icônico! Tarantino é gênio e é um deleite ver e rever essa obra! Ainda preciso dizer que vale a pena?
Up-date: "Bastardos Inglórios" recebeu 8 indicações no Oscar 2010, inclusive "Melhor Filme"!
Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee
É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!
Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:
Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.
É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.
A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.
O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!
Sendo assim, só posso te dizer: vale muito seu play!
É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!
Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:
Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.
É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.
A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.
O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!
Sendo assim, só posso te dizer: vale muito seu play!
"Cheaters" traz para sua narrativa o tom mais leve de "Easy"da Netflix com o drama mais profundo e cheio de camadas de "Cenas de um Casamento"da Max - obviamente que empacotado com o charme estético das produções britânicas e o humor requintado de seu criador, o roteirista Oliver Lyttelton. O fato é que "Cheaters" parece descender de "Dates" e "True Love" ao oferecer uma abordagem criativa e pontualmente cômica sobre as complexidades dos relacionamentos. Dirigida por Elliot Hegarty (de "Lovesick"), a série se destaca pelo seu texto afiado e por personagens muito bem desenvolvidos que trazem para tela temas sensíveis como a infidelidade e a importância do sexo, com uma sinceridade que cativa a audiência de uma maneira impressionante. Aqui, aliás, temos uma combinação de humor ácido e de observações bem pertinentes sobre a vida amorosa em uma série que possivelmente você nem ouviu falar, mas que vale demais a sua atenção!
A trama segue Fola (Susan Wokoma) e Josh (Joshua McGuire), dois estranhos que se conhecem de maneira inusitada quando seu voo da Finlândia para a Inglaterra é cancelado - depois da tensão e de alguns drinks, eles acabam passando a noite juntos. O que começa como uma aventura casual de apenas uma noite, rapidamente se complica quando eles descobrem que ambos estão em relacionamentos sérios e pior, que eles acabaram de se tornar vizinhos em Londres. Confira o teaser original da BBC em inglês:
A série explora com muita inteligência e equilíbrio as consequências das ações de Fola e Joshe as dificuldades deles em manter o segredo em um mundo onde a verdade inevitavelmente vem à tona quando o destino resolve interferir. Partindo desse princípio, Oliver Lyttelton demonstra uma habilidade notável para escrever diálogos ágeis e inteligentes que capturam a essência das interações humanas com muita sensibilidade. "Cheaters" não se limita em explorar apenas a infidelidade, mas também consegue mergulhar nas emoções e nos dilemas que surgem de situações complicadas e que moralmente soam ambíguas - é inegável que a proximidade da ficção com a realidade, nos envolve como protagonistas de histórias parecidas.
Enquanto a narrativa é estruturada de forma a manter o público engajado, com episódios curtos e bem ritmados que facilitam a maratona, a direção de Elliot Hegarty traz uma elegância estética eficaz utilizando uma abordagem visual simples e direta que permite que os diálogos e as atuações brilhem, enquanto a imagem é composta com muito bom gosto. Hegarty aproveita bem os cenários urbanos e a vida cotidiana de Londres para criar uma sensação de autenticidade - reparem como a fotografia de Karl Oskarsson (de "Borgen") contribui para isso, criando uma conexão eficaz entre a cidade e seus personagens de forma vibrante e realista.
Wokoma e McGuire são o coração da série, trazendo performances carismáticas e autênticas que tornam seus personagens simpáticos, mesmo com suas falhas. Wokoma, em particular, se destaca por sua habilidade de equilibrar humor e vulnerabilidade, enquanto McGuire traz uma energia desajeitada e cativante a Josh. A química entre os dois é palpável, o que é crucial para a história - aliás, Jack Fox como Zack e Callie Cooke como Esther, parceiros de Fola e Josh, respectivamente, também merecem elogios.
Sempre com uma trilha sonora belíssima, "Cheaters" transita muito bem entre o leve e o melancólico, refletindo as emoções dos personagens com muita coerência. Essa mistura de comédia com drama para falar sobre honestidade, arrependimento e até sobre a busca por conexão em um mundo muitas vezes superficial, faz da série uma verdadeira pérola escondida no catálogo da Globoplay - uma visão honesta e muitas vezes hilária das dificuldades de manter relacionamentos em um mundo moderno sem precisar se apoiar em clichês!
Vale muito o play!
"Cheaters" traz para sua narrativa o tom mais leve de "Easy"da Netflix com o drama mais profundo e cheio de camadas de "Cenas de um Casamento"da Max - obviamente que empacotado com o charme estético das produções britânicas e o humor requintado de seu criador, o roteirista Oliver Lyttelton. O fato é que "Cheaters" parece descender de "Dates" e "True Love" ao oferecer uma abordagem criativa e pontualmente cômica sobre as complexidades dos relacionamentos. Dirigida por Elliot Hegarty (de "Lovesick"), a série se destaca pelo seu texto afiado e por personagens muito bem desenvolvidos que trazem para tela temas sensíveis como a infidelidade e a importância do sexo, com uma sinceridade que cativa a audiência de uma maneira impressionante. Aqui, aliás, temos uma combinação de humor ácido e de observações bem pertinentes sobre a vida amorosa em uma série que possivelmente você nem ouviu falar, mas que vale demais a sua atenção!
A trama segue Fola (Susan Wokoma) e Josh (Joshua McGuire), dois estranhos que se conhecem de maneira inusitada quando seu voo da Finlândia para a Inglaterra é cancelado - depois da tensão e de alguns drinks, eles acabam passando a noite juntos. O que começa como uma aventura casual de apenas uma noite, rapidamente se complica quando eles descobrem que ambos estão em relacionamentos sérios e pior, que eles acabaram de se tornar vizinhos em Londres. Confira o teaser original da BBC em inglês:
A série explora com muita inteligência e equilíbrio as consequências das ações de Fola e Joshe as dificuldades deles em manter o segredo em um mundo onde a verdade inevitavelmente vem à tona quando o destino resolve interferir. Partindo desse princípio, Oliver Lyttelton demonstra uma habilidade notável para escrever diálogos ágeis e inteligentes que capturam a essência das interações humanas com muita sensibilidade. "Cheaters" não se limita em explorar apenas a infidelidade, mas também consegue mergulhar nas emoções e nos dilemas que surgem de situações complicadas e que moralmente soam ambíguas - é inegável que a proximidade da ficção com a realidade, nos envolve como protagonistas de histórias parecidas.
Enquanto a narrativa é estruturada de forma a manter o público engajado, com episódios curtos e bem ritmados que facilitam a maratona, a direção de Elliot Hegarty traz uma elegância estética eficaz utilizando uma abordagem visual simples e direta que permite que os diálogos e as atuações brilhem, enquanto a imagem é composta com muito bom gosto. Hegarty aproveita bem os cenários urbanos e a vida cotidiana de Londres para criar uma sensação de autenticidade - reparem como a fotografia de Karl Oskarsson (de "Borgen") contribui para isso, criando uma conexão eficaz entre a cidade e seus personagens de forma vibrante e realista.
Wokoma e McGuire são o coração da série, trazendo performances carismáticas e autênticas que tornam seus personagens simpáticos, mesmo com suas falhas. Wokoma, em particular, se destaca por sua habilidade de equilibrar humor e vulnerabilidade, enquanto McGuire traz uma energia desajeitada e cativante a Josh. A química entre os dois é palpável, o que é crucial para a história - aliás, Jack Fox como Zack e Callie Cooke como Esther, parceiros de Fola e Josh, respectivamente, também merecem elogios.
Sempre com uma trilha sonora belíssima, "Cheaters" transita muito bem entre o leve e o melancólico, refletindo as emoções dos personagens com muita coerência. Essa mistura de comédia com drama para falar sobre honestidade, arrependimento e até sobre a busca por conexão em um mundo muitas vezes superficial, faz da série uma verdadeira pérola escondida no catálogo da Globoplay - uma visão honesta e muitas vezes hilária das dificuldades de manter relacionamentos em um mundo moderno sem precisar se apoiar em clichês!
Vale muito o play!
"Cidade Proibida" é uma série procedural, ou seja, com uma história por episódio mas com uma arco maior que se extende por toda temporada, aliás, durante os episódios não vamos deixar de assistir muitas traições, paixões, ciúmes, crimes, suspense e mistério. Com mulheres fatais e homens violentos vivendo em uma cidade rica, charmosa, elegante e perigosa, a série acompanha as aventuras do detetive particular Zózimo Barbosa (Vladimir Brichta) em pleno Rio de Janeiro da década de 50! Confira o trailer:
Ex-policial, Zózimo decide trabalhar sozinho e se especializa em investigar casos extraconjugais. De quebra, acaba sempre se envolvendo com as belas clientes. No dia a dia das investigações - entre uma tocaia atrás de um amante e um chope no Bar Sereia, ponto de encontro dos personagens principais na trama - Zózimo conta com a ajuda da garota de programaMarli (Regiane Alves), do corrupto delegado Paranhos (Ailton Graça) e do malandro e sedutor profissional, que atende pelo nome de Bonitão (José Loreto).
Desde o primeiro episódio de "Cidade Proibida" já é possível se divertir. A adaptação está excelente e o "clima noir" de um saudoso Rio de Janeiro é perfeito. Me impressionei com o Desenho de Som e Trilha Sonora da série - nível internacional! Tecnicamente a série funciona bem, porém senti um pouco de falta de coragem para arriscar um pouquinho mais: não sei, talvez filmar em 2:35 para entender o tamanho do quadro e dar uma sensação mais cinematográfica ou até diminuir bem a saturação, realçar um pouco o RGB e aumentar o contraste para criar uma identidade menos televisiva - porém nada disso interfere na qualidade do projeto, é preciso que se diga! Era possível chegar próximo a um nível HBO, mas acho que o primeiro passo foi dado e funcionou!!!
Muito bacana, vale o play pela diversão e entretenimento se você gostar de uma dramaturgia nacional de qualidade! A primeira temporada conta com 12 episódios de 40 minutos, mas uma segunda temporada ainda não foi confirmada!
PS: A abertura ficou excelente!
"Cidade Proibida" é uma série procedural, ou seja, com uma história por episódio mas com uma arco maior que se extende por toda temporada, aliás, durante os episódios não vamos deixar de assistir muitas traições, paixões, ciúmes, crimes, suspense e mistério. Com mulheres fatais e homens violentos vivendo em uma cidade rica, charmosa, elegante e perigosa, a série acompanha as aventuras do detetive particular Zózimo Barbosa (Vladimir Brichta) em pleno Rio de Janeiro da década de 50! Confira o trailer:
Ex-policial, Zózimo decide trabalhar sozinho e se especializa em investigar casos extraconjugais. De quebra, acaba sempre se envolvendo com as belas clientes. No dia a dia das investigações - entre uma tocaia atrás de um amante e um chope no Bar Sereia, ponto de encontro dos personagens principais na trama - Zózimo conta com a ajuda da garota de programaMarli (Regiane Alves), do corrupto delegado Paranhos (Ailton Graça) e do malandro e sedutor profissional, que atende pelo nome de Bonitão (José Loreto).
Desde o primeiro episódio de "Cidade Proibida" já é possível se divertir. A adaptação está excelente e o "clima noir" de um saudoso Rio de Janeiro é perfeito. Me impressionei com o Desenho de Som e Trilha Sonora da série - nível internacional! Tecnicamente a série funciona bem, porém senti um pouco de falta de coragem para arriscar um pouquinho mais: não sei, talvez filmar em 2:35 para entender o tamanho do quadro e dar uma sensação mais cinematográfica ou até diminuir bem a saturação, realçar um pouco o RGB e aumentar o contraste para criar uma identidade menos televisiva - porém nada disso interfere na qualidade do projeto, é preciso que se diga! Era possível chegar próximo a um nível HBO, mas acho que o primeiro passo foi dado e funcionou!!!
Muito bacana, vale o play pela diversão e entretenimento se você gostar de uma dramaturgia nacional de qualidade! A primeira temporada conta com 12 episódios de 40 minutos, mas uma segunda temporada ainda não foi confirmada!
PS: A abertura ficou excelente!
Mesmo sendo uma série de 2019, só assista "Departure" se você estiver disposto a fazer uma viagem nostálgica para o final dos anos 90, em uma época pré-streaming, onde a narrativa se permitia criar uma atmosfera de mistério, repleta de reviravoltas, mas completamente distante da realidade. O fato é que essa produção canadense que recebe o selo de original da Peacock (plataforma da NBC ainda inédita no Brasil) é uma espécie de "24 Horas" com "C.S.I" - dinâmica, divertida, interessante, mas claramente feita para a TV aberta.
Após o misterioso desaparecimento do voo 716 no meio do Oceano Atlântico, a investigadora Kendra Malley (Archie Panjabi) é recrutada pelo seu antigo chefe e mentor, Howard Lawson (o saudoso Christopher Plummer em seu último trabalho), para comandar uma equipe de elite e assim tentar descobrir o que de fato aconteceu com aeronave e, quem sabe, localizar possíveis sobreviventes. Confira o trailer (em inglês):
"Departure" segue a cartilha da era de ouro da TV americana, inclusive com um alto nível de produção. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "C.S.I" de 6 horas ou uma temporada de "24 horas" em 6 episódios. O formato de antologia (onde a história se encerra em alguns episódios definidos) se mistura àquela estrutura de procedural (quando o arco principal se encerra em um episódio, mas deixa tramas secundárias para serem desenvolvidas em outros) - e isso é muito importante ressaltar para que as expectativas estejam alinhadas: a trama não tem o menor compromisso em ser 100% realista, o propósito da narrativa é apenas o de te segurar até o último segundo da temporada, mesmo que para isso algumas soluções possam soar absurdas. Os elementos dramáticos desse tipo de formato se repetem em vários títulos, portanto, não se irrite, apenas embarque na proposta e se divirta - muitos de nós fazíamos isso antes de Netflix, Globoplay, Prime Vídeo, etc.
É inegável a qualidade do trabalho de T.J. Scott, um diretor que construiu sua carreira dirigindo episódios de séries (de "Xena: A Princesa Guerreira" à "Star Trek: Discovery") da mesma forma que muitos brasileiros dirigiam novelas antes de buscarem outro caminhos, portanto é natural encontrarmos alguns vícios narrativos de Scott em toda temporada. Praticamente todas as cenas possuem um trilha sonora de fundo para manipular nossas emoções (tensão, drama, mistério, romance, etc), aqueles cortes onde o foco está na reação do personagem depois de uma "grande" descoberta que precedia o intervalo, inúmeras cenas se passam dentro de um mesmo cenário (no caso o QG da equipe - uma espécie de CTU de "24 horas") e até a construção de um arco com o filho adolescente revoltado que só traz problemas para a protagonista que sente dividida entre a família e sua missão profissional.
Além de Panjabi e Plummer, a série ainda conta com um elenco de peso como Kris Holden-Ried (The Umbrella Academy) como Dom, Rebecca Liddiard (Run This Town) como Madelyn, Tamara Duarte (Longmire) como Nadia, Mark Rendall (Versailles) como Theo, Peter Mensah (Midnight, Texas) como Levi e Sasha Roiz (Grimm) como Pavel Bartok; e isso, sem a menor dúvida, ajuda muito no desenvolvimento da história que, acreditem, conquistou a audiência americana, rendendo, inclusive, uma segunda temporada que estreia em 2022 - onde Kendra Malley e sua equipe vão investigar um acidente de trem.
"Departure" é um entretenimento despretensioso, rápido, divertido e até surpreendente, que vai te prender do início ao fim desde que você esteja disposto a acreditar naquela história, sem julgamentos ou preconceitos. Típica série boa para aquele sábado chuvoso onde não queremos nada muito profundo, apenas curtir bons episódios - como fazíamos antigamente com os boxes de DVDs.
Vale o seu play!
Mesmo sendo uma série de 2019, só assista "Departure" se você estiver disposto a fazer uma viagem nostálgica para o final dos anos 90, em uma época pré-streaming, onde a narrativa se permitia criar uma atmosfera de mistério, repleta de reviravoltas, mas completamente distante da realidade. O fato é que essa produção canadense que recebe o selo de original da Peacock (plataforma da NBC ainda inédita no Brasil) é uma espécie de "24 Horas" com "C.S.I" - dinâmica, divertida, interessante, mas claramente feita para a TV aberta.
Após o misterioso desaparecimento do voo 716 no meio do Oceano Atlântico, a investigadora Kendra Malley (Archie Panjabi) é recrutada pelo seu antigo chefe e mentor, Howard Lawson (o saudoso Christopher Plummer em seu último trabalho), para comandar uma equipe de elite e assim tentar descobrir o que de fato aconteceu com aeronave e, quem sabe, localizar possíveis sobreviventes. Confira o trailer (em inglês):
"Departure" segue a cartilha da era de ouro da TV americana, inclusive com um alto nível de produção. Veja, é como se estivéssemos assistindo um episódio de "C.S.I" de 6 horas ou uma temporada de "24 horas" em 6 episódios. O formato de antologia (onde a história se encerra em alguns episódios definidos) se mistura àquela estrutura de procedural (quando o arco principal se encerra em um episódio, mas deixa tramas secundárias para serem desenvolvidas em outros) - e isso é muito importante ressaltar para que as expectativas estejam alinhadas: a trama não tem o menor compromisso em ser 100% realista, o propósito da narrativa é apenas o de te segurar até o último segundo da temporada, mesmo que para isso algumas soluções possam soar absurdas. Os elementos dramáticos desse tipo de formato se repetem em vários títulos, portanto, não se irrite, apenas embarque na proposta e se divirta - muitos de nós fazíamos isso antes de Netflix, Globoplay, Prime Vídeo, etc.
É inegável a qualidade do trabalho de T.J. Scott, um diretor que construiu sua carreira dirigindo episódios de séries (de "Xena: A Princesa Guerreira" à "Star Trek: Discovery") da mesma forma que muitos brasileiros dirigiam novelas antes de buscarem outro caminhos, portanto é natural encontrarmos alguns vícios narrativos de Scott em toda temporada. Praticamente todas as cenas possuem um trilha sonora de fundo para manipular nossas emoções (tensão, drama, mistério, romance, etc), aqueles cortes onde o foco está na reação do personagem depois de uma "grande" descoberta que precedia o intervalo, inúmeras cenas se passam dentro de um mesmo cenário (no caso o QG da equipe - uma espécie de CTU de "24 horas") e até a construção de um arco com o filho adolescente revoltado que só traz problemas para a protagonista que sente dividida entre a família e sua missão profissional.
Além de Panjabi e Plummer, a série ainda conta com um elenco de peso como Kris Holden-Ried (The Umbrella Academy) como Dom, Rebecca Liddiard (Run This Town) como Madelyn, Tamara Duarte (Longmire) como Nadia, Mark Rendall (Versailles) como Theo, Peter Mensah (Midnight, Texas) como Levi e Sasha Roiz (Grimm) como Pavel Bartok; e isso, sem a menor dúvida, ajuda muito no desenvolvimento da história que, acreditem, conquistou a audiência americana, rendendo, inclusive, uma segunda temporada que estreia em 2022 - onde Kendra Malley e sua equipe vão investigar um acidente de trem.
"Departure" é um entretenimento despretensioso, rápido, divertido e até surpreendente, que vai te prender do início ao fim desde que você esteja disposto a acreditar naquela história, sem julgamentos ou preconceitos. Típica série boa para aquele sábado chuvoso onde não queremos nada muito profundo, apenas curtir bons episódios - como fazíamos antigamente com os boxes de DVDs.
Vale o seu play!
Se o diretor Adam McKay (de "Succession" e "Vice") assistisse o documentário Original do Globoplay, "Doutor Castor", certamente ele não descansaria até transformar essa história em uma minissérie digna de muitos Emmys! É sério, poucas vezes assisti algo tão insano (e olha que demorei para encontrar uma palavra que definisse tão perfeitamente o que acabei de presenciar na tela), com um personagem tão genial quanto complexo capaz de deixar um Walter White ou um Tony Soprano com uma certa inveja (e não acho que seja um exagero já que Castor de Andrade, de fato, existiu)!
"Doutor Castor" é uma série documental de quatro episódios que, basicamente, conta a história de Castor de Andrade, o bicheiro mais famoso do Rio de Janeiro. A produção explora as múltiplas facetas de um personagem que transitava em diversos ambientes, desde o jogo do bicho e a criminalidade até duas das paixões mais populares do brasileiro (e por consequência do carioca): o carnaval e o futebol. Confira o trailer:
Existe um certo tom de romantismo na narrativa de "Doutor Castor" na mesma medida que enxergamos a hipocrisia da sociedade. Eram outros tempos, claro, mas a história do Castor de Andrade é igualmente inacreditável quanto a do colombiano Pablo Escobar - não pela magnitude, mas pela forma com que o personagem se misturava ao inconsciente coletivo da época que respeitava o poder, o privilégio e uma, digamos, bem feitoria social mesmo que os "meios" não justificassem os "fins". O que vemos na narrativa, inúmeras vezes, é uma completa distorção da realidade, tão explícita que chega a embrulhar o estômago, por outro lado, conhecemos um personagem de uma simpatia e carisma absurdos que, não se surpreenda, provoca uma certa relativização dos fatos - exatamente igual como fizemos com "Breaking Bad" ou "Sopranos" na ficção.
Com uma direção extremamente competente do Marco Antonio Araujo, “Doutor Castor” se propõe a fazer um recorte de um Rio de Janeiro malandro, quase esteriotipado (basta assistir alguns depoimentos de personagens que parecem ter saído de um tirinha de jornal dos anos 70 e que não por acaso usam como cenário um típico botequim carioca), através de três eixos fundamentais (o carnaval, o futebol e o jogo do bicho) que vão se misturando pouco a pouco e ajudando a criar uma figura mítica que transita pela contravenção e pelo crime organizado com a mesma tranquilidade com que é entrevistado pelo Jô Soares, por exemplo.
É incrível como todos os caminhos levam à emblemática figura de Castor de Andrade, que entre os anos 60 e 90, atuou desde patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel à cartola do Bangu Atlético Clube, vice campeão brasileiro em 1985, passando pela posição "condecorada" de maior e mais influente bicheiro do Rio. Eu diria que "Doutor Castor" é um verdadeiro mergulho no universo de um personagem tão único, tão contraditório, tão perturbado e tão (acreditem) amado, de onde você terá uma enorme dificuldade de escapar antes do fim e que, com a mais absoluta certeza, vai mexer com sua percepção sobre o "certo" e o "errado" como poucas vezes você experienciou!
"Doutor Castor" é uma aula de narrativa, simplesmente imperdível!
Se o diretor Adam McKay (de "Succession" e "Vice") assistisse o documentário Original do Globoplay, "Doutor Castor", certamente ele não descansaria até transformar essa história em uma minissérie digna de muitos Emmys! É sério, poucas vezes assisti algo tão insano (e olha que demorei para encontrar uma palavra que definisse tão perfeitamente o que acabei de presenciar na tela), com um personagem tão genial quanto complexo capaz de deixar um Walter White ou um Tony Soprano com uma certa inveja (e não acho que seja um exagero já que Castor de Andrade, de fato, existiu)!
"Doutor Castor" é uma série documental de quatro episódios que, basicamente, conta a história de Castor de Andrade, o bicheiro mais famoso do Rio de Janeiro. A produção explora as múltiplas facetas de um personagem que transitava em diversos ambientes, desde o jogo do bicho e a criminalidade até duas das paixões mais populares do brasileiro (e por consequência do carioca): o carnaval e o futebol. Confira o trailer:
Existe um certo tom de romantismo na narrativa de "Doutor Castor" na mesma medida que enxergamos a hipocrisia da sociedade. Eram outros tempos, claro, mas a história do Castor de Andrade é igualmente inacreditável quanto a do colombiano Pablo Escobar - não pela magnitude, mas pela forma com que o personagem se misturava ao inconsciente coletivo da época que respeitava o poder, o privilégio e uma, digamos, bem feitoria social mesmo que os "meios" não justificassem os "fins". O que vemos na narrativa, inúmeras vezes, é uma completa distorção da realidade, tão explícita que chega a embrulhar o estômago, por outro lado, conhecemos um personagem de uma simpatia e carisma absurdos que, não se surpreenda, provoca uma certa relativização dos fatos - exatamente igual como fizemos com "Breaking Bad" ou "Sopranos" na ficção.
Com uma direção extremamente competente do Marco Antonio Araujo, “Doutor Castor” se propõe a fazer um recorte de um Rio de Janeiro malandro, quase esteriotipado (basta assistir alguns depoimentos de personagens que parecem ter saído de um tirinha de jornal dos anos 70 e que não por acaso usam como cenário um típico botequim carioca), através de três eixos fundamentais (o carnaval, o futebol e o jogo do bicho) que vão se misturando pouco a pouco e ajudando a criar uma figura mítica que transita pela contravenção e pelo crime organizado com a mesma tranquilidade com que é entrevistado pelo Jô Soares, por exemplo.
É incrível como todos os caminhos levam à emblemática figura de Castor de Andrade, que entre os anos 60 e 90, atuou desde patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel à cartola do Bangu Atlético Clube, vice campeão brasileiro em 1985, passando pela posição "condecorada" de maior e mais influente bicheiro do Rio. Eu diria que "Doutor Castor" é um verdadeiro mergulho no universo de um personagem tão único, tão contraditório, tão perturbado e tão (acreditem) amado, de onde você terá uma enorme dificuldade de escapar antes do fim e que, com a mais absoluta certeza, vai mexer com sua percepção sobre o "certo" e o "errado" como poucas vezes você experienciou!
"Doutor Castor" é uma aula de narrativa, simplesmente imperdível!
"Dreamgirls" (que no Brasil ganhou o subtítulo de "Em Busca de um Sonho") é uma verdadeira viagem pela "Black Music" através dos anos 60, 70 e 80, com suas releituras e o seu movimento (politico, social e cultural). Visualmente impecável, o filme é um musical bem construído e potente, que carrega em seus personagens o ritmo e o drama com a mesma importância, e mesmo que falte um aprofundamento maior nas histórias isoladas, o conjunto é praticamente impecável, realista e emocionante - um verdadeiro show!
Baseado no musical homônimo, que estreou na Broadway em 1981, "Dreamgirls" acompanha a jornada de Effie White (Jennifer Hudson), Deena Jones (Beyoncé) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) que formam um grupo musical e começam a fazer sucesso com a ajuda de um empresário extremamente manipulador, Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx). Não demora para surgir tensões inconciliáveis entre as talentosas jovens quando Curtis resolve mudar a dinâmica do grupo para se ajustar a uma demanda do mercado. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro do excelente Bill Condon (de "Deuses e Monstros" e "Chicago") adapta com muita qualidade o espetáculo de Tom Eyen e nos apresenta um trio fictício livremente inspirado na história de Diana Ross e as Supremes. O caminho entre a realidade e a ficção é praticamente o mesmo: três garotas de Detroit são descobertas pela recém-inagurada gravadora Motown ao fazerem muito sucesso com um ingênuo, mas envolvente, doo-wopda época. Logo depois, a líder, daquele estilo "Diva", com a voz mais potente, mas esteticamente menos atraente, é trocada pela integrante mais bonita, tudo isso para que o grupo emplaque nas paradas de sucesso. Daí vem a necessidade de se reinventar, custe o que custar, com o trio se moldando à moda musical de cada época, do soul ao disco music das décadas de 70 e 80.
O interessante porém, é que essa jornada de sucesso, conflitos, decadência e reinvenção é até melhor trabalhado pelo diretor do que pelo roteiro - não que a história seja ruim, mas o recorte temporal é muito extenso e com isso fica impossível se aprofundar nas peculiaridades de cada momento com o a mesma qualidade que vemos no prólogo. Condon que também dirige o filme, aplica um conceito estético muito particular, que equilibra perfeitamente a tradição dos musicais da Broadway com a modernidade das superproduções dos vídeo clipes para criar uma atmosfera cinematográfica bem alinhada com o mood da disrupção do cenário musical - mesmo respeitando as características mais marcantes de cada período.
"Dreamgirls" é belíssimo como musical e muito competente como drama. Se Beyoncé não pode ser considerada uma atriz de primeira linha, certamente ela também não decepciona ao encarnar, com muita propriedade, aquele perfil de cantora que se adapta a um novo momento da música negra. Por outro lado, a novata Jennifer Hudson rouba a cena assim que abre a boca - todos os seus solos são verdadeiros monólogos cantados, de se aplaudir de pé. Eddie Murphy como James 'Thunder' Early, uma mistura de James Brown com Marvin Gaye, alcança o grande papel dramático da sua carreira - ele está sensacional!
Entretenimento de primeira qualidade artística e técnica, com ritmo, cor, drama e muita emoção!
Pode dar o play sem o menor receio!
Up-date: "Dreamgirls" ganhou em duas categorias no Oscar 2007: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Mixagem, mas esteve indicado em mais 4 categorias, sendo que em "Melhor Música" tinha três composições na disputa.
"Dreamgirls" (que no Brasil ganhou o subtítulo de "Em Busca de um Sonho") é uma verdadeira viagem pela "Black Music" através dos anos 60, 70 e 80, com suas releituras e o seu movimento (politico, social e cultural). Visualmente impecável, o filme é um musical bem construído e potente, que carrega em seus personagens o ritmo e o drama com a mesma importância, e mesmo que falte um aprofundamento maior nas histórias isoladas, o conjunto é praticamente impecável, realista e emocionante - um verdadeiro show!
Baseado no musical homônimo, que estreou na Broadway em 1981, "Dreamgirls" acompanha a jornada de Effie White (Jennifer Hudson), Deena Jones (Beyoncé) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose) que formam um grupo musical e começam a fazer sucesso com a ajuda de um empresário extremamente manipulador, Curtis Taylor Jr. (Jamie Foxx). Não demora para surgir tensões inconciliáveis entre as talentosas jovens quando Curtis resolve mudar a dinâmica do grupo para se ajustar a uma demanda do mercado. Confira o trailer (em inglês):
O roteiro do excelente Bill Condon (de "Deuses e Monstros" e "Chicago") adapta com muita qualidade o espetáculo de Tom Eyen e nos apresenta um trio fictício livremente inspirado na história de Diana Ross e as Supremes. O caminho entre a realidade e a ficção é praticamente o mesmo: três garotas de Detroit são descobertas pela recém-inagurada gravadora Motown ao fazerem muito sucesso com um ingênuo, mas envolvente, doo-wopda época. Logo depois, a líder, daquele estilo "Diva", com a voz mais potente, mas esteticamente menos atraente, é trocada pela integrante mais bonita, tudo isso para que o grupo emplaque nas paradas de sucesso. Daí vem a necessidade de se reinventar, custe o que custar, com o trio se moldando à moda musical de cada época, do soul ao disco music das décadas de 70 e 80.
O interessante porém, é que essa jornada de sucesso, conflitos, decadência e reinvenção é até melhor trabalhado pelo diretor do que pelo roteiro - não que a história seja ruim, mas o recorte temporal é muito extenso e com isso fica impossível se aprofundar nas peculiaridades de cada momento com o a mesma qualidade que vemos no prólogo. Condon que também dirige o filme, aplica um conceito estético muito particular, que equilibra perfeitamente a tradição dos musicais da Broadway com a modernidade das superproduções dos vídeo clipes para criar uma atmosfera cinematográfica bem alinhada com o mood da disrupção do cenário musical - mesmo respeitando as características mais marcantes de cada período.
"Dreamgirls" é belíssimo como musical e muito competente como drama. Se Beyoncé não pode ser considerada uma atriz de primeira linha, certamente ela também não decepciona ao encarnar, com muita propriedade, aquele perfil de cantora que se adapta a um novo momento da música negra. Por outro lado, a novata Jennifer Hudson rouba a cena assim que abre a boca - todos os seus solos são verdadeiros monólogos cantados, de se aplaudir de pé. Eddie Murphy como James 'Thunder' Early, uma mistura de James Brown com Marvin Gaye, alcança o grande papel dramático da sua carreira - ele está sensacional!
Entretenimento de primeira qualidade artística e técnica, com ritmo, cor, drama e muita emoção!
Pode dar o play sem o menor receio!
Up-date: "Dreamgirls" ganhou em duas categorias no Oscar 2007: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Mixagem, mas esteve indicado em mais 4 categorias, sendo que em "Melhor Música" tinha três composições na disputa.
"E então nós dançamos" é um belíssimo e sensível filme sobre a aceitação da homossexualidade em diversas esferas da sociedade, bem na linha de "Me chame pelo seu nome" - obviamente que respeitando suas particularidades culturais e talvez esteja aí o grande trunfo do roteiro, já que a história se passa na Geórgia, país extremamente preconceituoso, onde a figura do homem é exaltada e onde até o seu tradicional ballet se baseia em "movimentos masculinizados e de força impositiva".
O jovem Merab (Levan Gelbakhiani) faz parte de uma companhia georgiana de dança folclórica, seguindo os passos do pai. Descontente com a vida de precariedade financeira e o baixo reconhecimento artístico, ele tem sua vida transformada pela chegada de Irakli (Bachi Valishvili), dançarino novato que disputa com ele a mesma vaga em uma importante audição que pode coloca-lo no elenco principal do National Georgian Ensemble. Porém Merab descobre, pela primeira vez, sua paixão por outro rapaz, dentro de um contexto homofóbico e, não surpreendente, violento. Confira o trailer:
Como no já referenciado "Me chame pelo seu nome", esse premiado filme vindo da Geórgia deixa claro, já nos seus primeiros minutos, qual é o seu objetivo: assim que o novato Irakli entra na sala de dança onde se encontra com Merab, sabemos que os dois ficarão juntos em algum momento do filme, mesmo que o diretor sueco Levan Akin (de "O Círculo") sugira que a disputa será pelo protagonismo da companhia de dança. A grande questão, no entanto, ganha mais profundidade quando o comentário sobre um colega gay que foi agredido e expulso da companhia vem à tona - é a partir desse gatilho que Akin começa a construir as angústias e euforias das descobertas de Merab e até de Irakli.
Veja, ao mesmo tempo que Merab descobre uma nova paixão, é o seu amor pela dança que pode afasta-lo da felicidade - e mais uma vez o roteiro se aprofunda em questionar: onde está a felicidade? Essas nuances vão e voltam a cada aproximação entre os personagens em seus diversos ambientes sociais - essa dinâmica faz com que tenhamos a sensação de que, em outro país, o protagonista faria parte um grupo e encontraria seu caminho com mais tranquilidade, mas a barreira está na tradição cultural, na mente fechada da sociedade georgiana. Seja no ambiente familiar, caótico por sinal, no grupo de dança e até nas reuniões com os amigos, a história deixa claro que o homem precisa se relacionar com a mulher. Uma das cenas mais emblemáticas, na minha opinião, é quando Mary (Ana Javakishvili), parceira de dança e amiga intima de Merab, mostra uma camisinha, convidando ele para uma relação sexual casual que, obviamente, ele se esquiva.
"E então nós dançamos" é uma drama de relação onde o pano de fundo é a dança. Dito isso é de se esperar cenas bem coreografadas e culturalmente relevantes para nós que assistimos a produção do outro lado do planeta. Destaco as passagens ao som de ‘Take a Chance on Me’ do ABBA, e ‘Honey’, de Robyn; além da excelente cena final ao melhor estilo "Cisne Negro" / "Flashdance". Muito bem dirigido por Akin (reparem no complexo plano-sequência durante o casamento do irmão do protagonista), o cinema georgiano debuta com classe por aqui e por isso a recomendação - mesmo sabendo que apenas um pequeno nicho dos nosso usuários vão se relacionar bem com a história. Uma pena, já que o filme tem muita qualidade e mereceria maior atenção!
Vale seu play!
"E então nós dançamos" é um belíssimo e sensível filme sobre a aceitação da homossexualidade em diversas esferas da sociedade, bem na linha de "Me chame pelo seu nome" - obviamente que respeitando suas particularidades culturais e talvez esteja aí o grande trunfo do roteiro, já que a história se passa na Geórgia, país extremamente preconceituoso, onde a figura do homem é exaltada e onde até o seu tradicional ballet se baseia em "movimentos masculinizados e de força impositiva".
O jovem Merab (Levan Gelbakhiani) faz parte de uma companhia georgiana de dança folclórica, seguindo os passos do pai. Descontente com a vida de precariedade financeira e o baixo reconhecimento artístico, ele tem sua vida transformada pela chegada de Irakli (Bachi Valishvili), dançarino novato que disputa com ele a mesma vaga em uma importante audição que pode coloca-lo no elenco principal do National Georgian Ensemble. Porém Merab descobre, pela primeira vez, sua paixão por outro rapaz, dentro de um contexto homofóbico e, não surpreendente, violento. Confira o trailer:
Como no já referenciado "Me chame pelo seu nome", esse premiado filme vindo da Geórgia deixa claro, já nos seus primeiros minutos, qual é o seu objetivo: assim que o novato Irakli entra na sala de dança onde se encontra com Merab, sabemos que os dois ficarão juntos em algum momento do filme, mesmo que o diretor sueco Levan Akin (de "O Círculo") sugira que a disputa será pelo protagonismo da companhia de dança. A grande questão, no entanto, ganha mais profundidade quando o comentário sobre um colega gay que foi agredido e expulso da companhia vem à tona - é a partir desse gatilho que Akin começa a construir as angústias e euforias das descobertas de Merab e até de Irakli.
Veja, ao mesmo tempo que Merab descobre uma nova paixão, é o seu amor pela dança que pode afasta-lo da felicidade - e mais uma vez o roteiro se aprofunda em questionar: onde está a felicidade? Essas nuances vão e voltam a cada aproximação entre os personagens em seus diversos ambientes sociais - essa dinâmica faz com que tenhamos a sensação de que, em outro país, o protagonista faria parte um grupo e encontraria seu caminho com mais tranquilidade, mas a barreira está na tradição cultural, na mente fechada da sociedade georgiana. Seja no ambiente familiar, caótico por sinal, no grupo de dança e até nas reuniões com os amigos, a história deixa claro que o homem precisa se relacionar com a mulher. Uma das cenas mais emblemáticas, na minha opinião, é quando Mary (Ana Javakishvili), parceira de dança e amiga intima de Merab, mostra uma camisinha, convidando ele para uma relação sexual casual que, obviamente, ele se esquiva.
"E então nós dançamos" é uma drama de relação onde o pano de fundo é a dança. Dito isso é de se esperar cenas bem coreografadas e culturalmente relevantes para nós que assistimos a produção do outro lado do planeta. Destaco as passagens ao som de ‘Take a Chance on Me’ do ABBA, e ‘Honey’, de Robyn; além da excelente cena final ao melhor estilo "Cisne Negro" / "Flashdance". Muito bem dirigido por Akin (reparem no complexo plano-sequência durante o casamento do irmão do protagonista), o cinema georgiano debuta com classe por aqui e por isso a recomendação - mesmo sabendo que apenas um pequeno nicho dos nosso usuários vão se relacionar bem com a história. Uma pena, já que o filme tem muita qualidade e mereceria maior atenção!
Vale seu play!
"Evil" é muito bacana - um ótimo e despretensioso entretenimento que foi capaz de juntar elementos de "Código da Vinci", da franquia "Invocação do Mal", de "O Advogado do Diabo" e até de "Arquivo X". Por mais que essa mistura soe até indigesta, tudo funciona perfeitamente, pois a série segue o conceito procedural para construir a sua linha narrativa, ou seja, em cada episódio temos um misterioso caso para ser investigado, enquanto acompanhamos um arco maior baseado nos problemas e nas relações conflituosas entre os personagens.
Um seminarista chamado David Acosta (Mike Colter) trabalha para a igreja católica usando sua fé e sua sensibilidade para investigar possíveis casos sobrenaturais. Mas, ele precisa contratar a psicóloga forense Kristen Bouchard (Katja Herbers) para oferecer um contraponto e levantar as dúvidas que naturalmente poderiam surgir. Confira o trailer:
"Evil" (que por aqui ganhou um sugestivo subtítulo, "Contatos Sobrenaturais") foi criada por Robert e Michelle King, o casal responsável por "The Good Wife" e pelo derivado "The Good Fight" e tem Michael Emerson (o Ben de "Lost") no seu elenco. Dito isso, já é possível antecipar que a série não deve ser tão levada a sério para que ela se torne aquele compromisso de "apenas um episódio antes de dormir". Ela carrega esse mood informal e antes de nos darmos conta, estamos viciados - então cuidado!
Vendida como um suspense, posso te garantir que ela não passa nem perto da experiência de assistir "A Maldição da Residência Hill" da Netflix - é importante alinhar essa expectativa. Você pode até levar um susto aqui e outro ali, mas nada que possa impactar na sua noite de sono. Os episódios partem do principio fantástico das situações, mas finalizam com respostas céticas e palpáveis sobre os ditos "fenômenos", porém existe algo por trás e a genialidade do roteiro está em nos dar detalhes que, justamente, não podem ser explicados - essa dualidade de interpretações é muito interessante e praticamente nos transformam em um detetive da internet para encontrar uma possível brecha ou a inconsistência de uma tese.
Outro ponto que me agradou, mesmo não se preocupando em se aprofundar, são os confrontos ideológicos entre ciência e religião. Personificadas por Acosta e Bouchard (e essa ainda conta com a ajuda do ótimo Ben Shakir), as discussões são interessantes, respeitosas e até provocadoras - o clima entre os dois personagens e a tensão sexual que os rodeiam, ajudam criar outro elemento narrativo que funciona perfeitamente com a proposta da série: o que é certo e o que é errado, perante a fé ou a ciência? Os subtextos são excelentes e merecem uma certa atenção, mas nunca interferem na linha mais leve dos episódios - mesmo em assuntos densos.
O final da primeira temporada estabelece alguns ganchos interessantes, mas talvez tenha sido expositiva demais. Por outro lado, o roteiro deixa claro que não existe a menor necessidade de se prender aos casos da semana para a série funcionar - focar na mitologia do arco maior foi uma acerto muito bem explorado na segunda temporada que mantém a qualidade, surpreende até e ainda garante uma renovação para a terceira.
Mais uma vez, "Evil - Contatos Sobrenaturais" é entretenimento puro e muito divertido!
"Evil" é muito bacana - um ótimo e despretensioso entretenimento que foi capaz de juntar elementos de "Código da Vinci", da franquia "Invocação do Mal", de "O Advogado do Diabo" e até de "Arquivo X". Por mais que essa mistura soe até indigesta, tudo funciona perfeitamente, pois a série segue o conceito procedural para construir a sua linha narrativa, ou seja, em cada episódio temos um misterioso caso para ser investigado, enquanto acompanhamos um arco maior baseado nos problemas e nas relações conflituosas entre os personagens.
Um seminarista chamado David Acosta (Mike Colter) trabalha para a igreja católica usando sua fé e sua sensibilidade para investigar possíveis casos sobrenaturais. Mas, ele precisa contratar a psicóloga forense Kristen Bouchard (Katja Herbers) para oferecer um contraponto e levantar as dúvidas que naturalmente poderiam surgir. Confira o trailer:
"Evil" (que por aqui ganhou um sugestivo subtítulo, "Contatos Sobrenaturais") foi criada por Robert e Michelle King, o casal responsável por "The Good Wife" e pelo derivado "The Good Fight" e tem Michael Emerson (o Ben de "Lost") no seu elenco. Dito isso, já é possível antecipar que a série não deve ser tão levada a sério para que ela se torne aquele compromisso de "apenas um episódio antes de dormir". Ela carrega esse mood informal e antes de nos darmos conta, estamos viciados - então cuidado!
Vendida como um suspense, posso te garantir que ela não passa nem perto da experiência de assistir "A Maldição da Residência Hill" da Netflix - é importante alinhar essa expectativa. Você pode até levar um susto aqui e outro ali, mas nada que possa impactar na sua noite de sono. Os episódios partem do principio fantástico das situações, mas finalizam com respostas céticas e palpáveis sobre os ditos "fenômenos", porém existe algo por trás e a genialidade do roteiro está em nos dar detalhes que, justamente, não podem ser explicados - essa dualidade de interpretações é muito interessante e praticamente nos transformam em um detetive da internet para encontrar uma possível brecha ou a inconsistência de uma tese.
Outro ponto que me agradou, mesmo não se preocupando em se aprofundar, são os confrontos ideológicos entre ciência e religião. Personificadas por Acosta e Bouchard (e essa ainda conta com a ajuda do ótimo Ben Shakir), as discussões são interessantes, respeitosas e até provocadoras - o clima entre os dois personagens e a tensão sexual que os rodeiam, ajudam criar outro elemento narrativo que funciona perfeitamente com a proposta da série: o que é certo e o que é errado, perante a fé ou a ciência? Os subtextos são excelentes e merecem uma certa atenção, mas nunca interferem na linha mais leve dos episódios - mesmo em assuntos densos.
O final da primeira temporada estabelece alguns ganchos interessantes, mas talvez tenha sido expositiva demais. Por outro lado, o roteiro deixa claro que não existe a menor necessidade de se prender aos casos da semana para a série funcionar - focar na mitologia do arco maior foi uma acerto muito bem explorado na segunda temporada que mantém a qualidade, surpreende até e ainda garante uma renovação para a terceira.
Mais uma vez, "Evil - Contatos Sobrenaturais" é entretenimento puro e muito divertido!
"Expresso do Amanhã" (Snowpiercer, título original) do diretor coreano vencedor do Oscar 2020, Bong Joon Ho, é uma mistura do seu mais famoso filme, "Parasita" com "Mãe!" do Darren Aronofsky. Só por essas referências já fica fácil entender a razão pela qual "Expresso do Amanhã" precisa ser assistido, além de justificar a quantidade enorme de indicações que o filme levou em Festivais entre os anos de 2013 e 2014 - foram mais de 100.
Nessa adaptação de uma famosa HQ francesa chamada "Le Transperceneige" de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette, Bong Joon Ho trás mais uma vez para a discussão vários elementos do capitalismo como a pirâmide de classes e as diferenças sociais que assolam nossa sociedade moderna. Dessa vez o cenário é uma locomotiva que, após a extinção humana decorrente de uma alteração climática catastrófica que transformou a Terra em uma enorme Bola do Gelo, se tornou o único refúgio de uma pequena parcela da humanidade que foi dividida em vagões de acordo com sua classe social. Confira o trailer:
Em um único cenário, cheio de metáforas (como em "Mãe!"), com uma forte e profunda crítica social (como em "Parasita"), "Expresso do Amanhã" é mais um daqueles filmes que nos faz sentir culpa por não ter assistido antes. Muito bem realizado, com um roteiro inteligente e um desenho de produção impecável, o filme é um convite para conhecer o trabalho do genial Bong Joon Ho, além de ser um entretenimento de altíssima qualidade - daqueles que nos tira da zona de conforto e nos faz refletir a cada página do roteiro filmada.
O roteiro escrito por Bong Joon Ho e pelo Kelly Masterson ("Risco Imediato") foi muito feliz na adaptação de uma obra extremamente complexa para apenas duas horas - ao focar na insatisfação de Curtis (Chris Evans), um jovem líder da casta mais miserável da locomotiva, a história equilibra muito bem o drama e a ação de um movimento crescente de revolta, quando Curtis e seus companheiro resolvem invadir os demais vagões na busca por condições melhores de sobrevivência. O interessante é que essa jornada de ascendência social é muito bem traduzida de acordo com a construção do ambiente que representa cada vagão. A delicadeza com que as metáforas são inseridas contrasta com o exagero daquele universo, seja ele alegórico ou no over-acting de alguns personagens como a porta-voz/governanta Mason (Tilda Swinton).
As cenas de violência são um espetáculo à parte, bem como em "Parasita", Bong Joon Ho alterna a ação como se fosse uma apresentação de balé, com movimentos do elenco extremamente organizados, com uma câmera completamente caótica e um conceito visual bem "tarantinesco"! Reparem na cena da luta no túnel: a construção da tensão é tão bem feita, que a própria dificuldade de perceber o que realmente está acontecendo serve como um gatilho emocional impressionante. Aliás, a fotografia do diretor Kyung-pyo Hong ajuda a estabelecer tanto o conceito visual como narrativo do filme, deixando tudo muito bem alinhado - a própria escolha de Bong Joon Ho em alternar planos mais abertos para estabelecer a posição social dos personagens, com planos fechados dos momentos de auto-analise do protagonista, ajudam a entender desde a força da discussão social até como ela e o poder podem corromper o ser humano.
Interessante uma frase que li ao pesquisar sobre a profundidade do texto da HQ que claramente guiou a direção do filme e muito me impressionou: "A história funciona como um verdadeiro tubo de ensaio em que os autores analisam toda a humanidade, testando suas capacidades de organização, justiça e relacionamento, e a passagem do protagonista, vagão por vagão, é uma pintura fiel da sociedade estratificada. Com um enredo instigante e violento, repleto de ação e escárnio"! Eu diria que essa sentença resume perfeitamente o que você está prestes a assistir, mas ainda assim cabe um complemento: "Expresso do Amanhã" é um filme corajoso, indigesto e indispensável!
"Expresso do Amanhã" (Snowpiercer, título original) do diretor coreano vencedor do Oscar 2020, Bong Joon Ho, é uma mistura do seu mais famoso filme, "Parasita" com "Mãe!" do Darren Aronofsky. Só por essas referências já fica fácil entender a razão pela qual "Expresso do Amanhã" precisa ser assistido, além de justificar a quantidade enorme de indicações que o filme levou em Festivais entre os anos de 2013 e 2014 - foram mais de 100.
Nessa adaptação de uma famosa HQ francesa chamada "Le Transperceneige" de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jean-Marc Rochette, Bong Joon Ho trás mais uma vez para a discussão vários elementos do capitalismo como a pirâmide de classes e as diferenças sociais que assolam nossa sociedade moderna. Dessa vez o cenário é uma locomotiva que, após a extinção humana decorrente de uma alteração climática catastrófica que transformou a Terra em uma enorme Bola do Gelo, se tornou o único refúgio de uma pequena parcela da humanidade que foi dividida em vagões de acordo com sua classe social. Confira o trailer:
Em um único cenário, cheio de metáforas (como em "Mãe!"), com uma forte e profunda crítica social (como em "Parasita"), "Expresso do Amanhã" é mais um daqueles filmes que nos faz sentir culpa por não ter assistido antes. Muito bem realizado, com um roteiro inteligente e um desenho de produção impecável, o filme é um convite para conhecer o trabalho do genial Bong Joon Ho, além de ser um entretenimento de altíssima qualidade - daqueles que nos tira da zona de conforto e nos faz refletir a cada página do roteiro filmada.
O roteiro escrito por Bong Joon Ho e pelo Kelly Masterson ("Risco Imediato") foi muito feliz na adaptação de uma obra extremamente complexa para apenas duas horas - ao focar na insatisfação de Curtis (Chris Evans), um jovem líder da casta mais miserável da locomotiva, a história equilibra muito bem o drama e a ação de um movimento crescente de revolta, quando Curtis e seus companheiro resolvem invadir os demais vagões na busca por condições melhores de sobrevivência. O interessante é que essa jornada de ascendência social é muito bem traduzida de acordo com a construção do ambiente que representa cada vagão. A delicadeza com que as metáforas são inseridas contrasta com o exagero daquele universo, seja ele alegórico ou no over-acting de alguns personagens como a porta-voz/governanta Mason (Tilda Swinton).
As cenas de violência são um espetáculo à parte, bem como em "Parasita", Bong Joon Ho alterna a ação como se fosse uma apresentação de balé, com movimentos do elenco extremamente organizados, com uma câmera completamente caótica e um conceito visual bem "tarantinesco"! Reparem na cena da luta no túnel: a construção da tensão é tão bem feita, que a própria dificuldade de perceber o que realmente está acontecendo serve como um gatilho emocional impressionante. Aliás, a fotografia do diretor Kyung-pyo Hong ajuda a estabelecer tanto o conceito visual como narrativo do filme, deixando tudo muito bem alinhado - a própria escolha de Bong Joon Ho em alternar planos mais abertos para estabelecer a posição social dos personagens, com planos fechados dos momentos de auto-analise do protagonista, ajudam a entender desde a força da discussão social até como ela e o poder podem corromper o ser humano.
Interessante uma frase que li ao pesquisar sobre a profundidade do texto da HQ que claramente guiou a direção do filme e muito me impressionou: "A história funciona como um verdadeiro tubo de ensaio em que os autores analisam toda a humanidade, testando suas capacidades de organização, justiça e relacionamento, e a passagem do protagonista, vagão por vagão, é uma pintura fiel da sociedade estratificada. Com um enredo instigante e violento, repleto de ação e escárnio"! Eu diria que essa sentença resume perfeitamente o que você está prestes a assistir, mas ainda assim cabe um complemento: "Expresso do Amanhã" é um filme corajoso, indigesto e indispensável!
O Brasil é mestre em criar personagens que, com o tempo, vão se mostrando mais complexos do que a própria mídia costuma retratar - e para o bem do entretenimento (e apenas dele), suas histórias vão sendo contadas de uma forma envolvente e, muitas vezes, surpreendente. A minissérie documental "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais um ótimo exemplo dessa exploração da "vida como ela é" após um fato marcante, nesse caso um crime! Aqui temos um recorte dos mais interessantes sobre os escândalos em torno da figura pública, pastora evangélica e deputada-federal mulher mais votada do país em 2018 (pelo Rio de Janeiro), Flordelis dos Santos de Souza. Essa produção da Boutique de Filmes para o Globoplay, mergulha nos detalhes do assassinato do marido de Flordelis, Anderson do Carmo, em um crime que chocou o Brasil em 2019 e levantou questões perturbadoras sobre a moralidade, poder e manipulação a partir de uma personagem de aparente santidade. A produção parte de uma investigação intensa e detalhada ao mesmo tempo que traça um perfil psicológico e social de uma mulher cujas contradições são tão grandes quanto sua notoriedade.
Ao longo de seis episódios, vemos como Flordelis, uma líder religiosa carismática e influente, com uma trajetória de vida que ia da adoção de dezenas de crianças à atuação como parlamentar, transformou-se em ré em um julgamento acusada de ser a mandante do assassinato de seu próprio marido. A narrativa constrói uma visão em camadas da vida de Flordelis, desde sua ascensão meteórica como pastora e política, até a queda abrupta após as revelações chocantes sobre seu envolvimento no crime. Confira o trailer aqui:
É inegável que "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais uma aula de narrativa documental que nos remete ao melhor do drama policial. A forma como a diretora Mariana Jaspe consegue equilibrar o factual com uma exploração mais profunda da figura pública de Flordelis e do impacto que suas ações tiveram na sociedade ao longo dos anos, é de se aplaudir de pé. O tom de mistério, da fotografia às inserções gráficas, potencializa a maneira como a minissérie levanta perguntas essenciais sobre poder, fé e manipulação, especialmente no contexto de líderes religiosos e sociais que têm influência não apenas dentro de suas igrejas, mas também em esferas políticas e na comunidade. O roteiro é muito eficaz em nos colocar diante de uma figura que, por anos, foi venerada por muitos, inclusive por repórteres e celebridades, mas que se viu envolta em um turbilhão de acusações, inclusive de assassinato.
Jaspe utiliza imagens de arquivo e reconstituições, além de uma variedade de fontes, incluindo entrevistas com familiares, investigadores, ex-integrantes da igreja, jornalistas e autoridades envolvidas no caso, para oferecer um panorama completo dos eventos que levaram ao assassinato de Anderson do Carmo e as investigações que se seguiram. Essa multiplicidade de perspectivas enriquece a narrativa, permitindo uma reflexão sobre as diversas faces da vida de Flordelis - desde a figura materna e de pastora carismática até a de uma mulher dissimulada acusada de tramar um crime brutal. Nesse sentido a montagem da minissérie dá um show - ela é muito eficaz ao manter o ritmo e a tensão constante, revelando as reviravoltas de forma não-linear, o que nos mantém intrigados e, ao mesmo tempo, chocados com as informações que surgem a cada episódio. O formato escolhido por Jaspe permite que a audiência acompanhe o desenvolvimento dos fatos em tempo real, trazendo à tona os detalhes da investigações e o processo judicial, sem perder de vista as complexidades do caso e o histórico de vida dos personagens.
O subtítulo "Questiona ou Adora" é uma provocação inteligente por refletir perfeitamente a dualidade que permeia a imagem de Flordelis: aqueles que a seguiam cegamente, admirando sua história de vida e devoção religiosa, e aqueles que começaram a questionar sua verdadeira índole quando as primeiras suspeitas sobre seu envolvimento no assassinato surgiram. A minissérie é muito competente ao explorar essa dicotomia, sempre de maneira cuidadosa, sem tentar oferecer respostas fáceis ou unilaterais, mas se aproveitando da ambiguidade que ronda a personagem principal para entregar uma peça sólida para quem busca entender mais sobre os aspectos sombrios que podem cercar figuras ditas "autoridade moral".
Vale muito o seu play!
O Brasil é mestre em criar personagens que, com o tempo, vão se mostrando mais complexos do que a própria mídia costuma retratar - e para o bem do entretenimento (e apenas dele), suas histórias vão sendo contadas de uma forma envolvente e, muitas vezes, surpreendente. A minissérie documental "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais um ótimo exemplo dessa exploração da "vida como ela é" após um fato marcante, nesse caso um crime! Aqui temos um recorte dos mais interessantes sobre os escândalos em torno da figura pública, pastora evangélica e deputada-federal mulher mais votada do país em 2018 (pelo Rio de Janeiro), Flordelis dos Santos de Souza. Essa produção da Boutique de Filmes para o Globoplay, mergulha nos detalhes do assassinato do marido de Flordelis, Anderson do Carmo, em um crime que chocou o Brasil em 2019 e levantou questões perturbadoras sobre a moralidade, poder e manipulação a partir de uma personagem de aparente santidade. A produção parte de uma investigação intensa e detalhada ao mesmo tempo que traça um perfil psicológico e social de uma mulher cujas contradições são tão grandes quanto sua notoriedade.
Ao longo de seis episódios, vemos como Flordelis, uma líder religiosa carismática e influente, com uma trajetória de vida que ia da adoção de dezenas de crianças à atuação como parlamentar, transformou-se em ré em um julgamento acusada de ser a mandante do assassinato de seu próprio marido. A narrativa constrói uma visão em camadas da vida de Flordelis, desde sua ascensão meteórica como pastora e política, até a queda abrupta após as revelações chocantes sobre seu envolvimento no crime. Confira o trailer aqui:
É inegável que "Flordelis: Questiona ou Adora" é mais uma aula de narrativa documental que nos remete ao melhor do drama policial. A forma como a diretora Mariana Jaspe consegue equilibrar o factual com uma exploração mais profunda da figura pública de Flordelis e do impacto que suas ações tiveram na sociedade ao longo dos anos, é de se aplaudir de pé. O tom de mistério, da fotografia às inserções gráficas, potencializa a maneira como a minissérie levanta perguntas essenciais sobre poder, fé e manipulação, especialmente no contexto de líderes religiosos e sociais que têm influência não apenas dentro de suas igrejas, mas também em esferas políticas e na comunidade. O roteiro é muito eficaz em nos colocar diante de uma figura que, por anos, foi venerada por muitos, inclusive por repórteres e celebridades, mas que se viu envolta em um turbilhão de acusações, inclusive de assassinato.
Jaspe utiliza imagens de arquivo e reconstituições, além de uma variedade de fontes, incluindo entrevistas com familiares, investigadores, ex-integrantes da igreja, jornalistas e autoridades envolvidas no caso, para oferecer um panorama completo dos eventos que levaram ao assassinato de Anderson do Carmo e as investigações que se seguiram. Essa multiplicidade de perspectivas enriquece a narrativa, permitindo uma reflexão sobre as diversas faces da vida de Flordelis - desde a figura materna e de pastora carismática até a de uma mulher dissimulada acusada de tramar um crime brutal. Nesse sentido a montagem da minissérie dá um show - ela é muito eficaz ao manter o ritmo e a tensão constante, revelando as reviravoltas de forma não-linear, o que nos mantém intrigados e, ao mesmo tempo, chocados com as informações que surgem a cada episódio. O formato escolhido por Jaspe permite que a audiência acompanhe o desenvolvimento dos fatos em tempo real, trazendo à tona os detalhes da investigações e o processo judicial, sem perder de vista as complexidades do caso e o histórico de vida dos personagens.
O subtítulo "Questiona ou Adora" é uma provocação inteligente por refletir perfeitamente a dualidade que permeia a imagem de Flordelis: aqueles que a seguiam cegamente, admirando sua história de vida e devoção religiosa, e aqueles que começaram a questionar sua verdadeira índole quando as primeiras suspeitas sobre seu envolvimento no assassinato surgiram. A minissérie é muito competente ao explorar essa dicotomia, sempre de maneira cuidadosa, sem tentar oferecer respostas fáceis ou unilaterais, mas se aproveitando da ambiguidade que ronda a personagem principal para entregar uma peça sólida para quem busca entender mais sobre os aspectos sombrios que podem cercar figuras ditas "autoridade moral".
Vale muito o seu play!
"Framing Britney Spears", que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "A vida de uma estrela", é mais um documentário produzido pelo The New York Times para a plataforma Hulu. De imediato, temos a sensação de que se trata de mais uma história de construção de um fenômeno pop americano que acaba despencando depois de decisões e atitudes bastante questionáveis. De fato esse arco narrativo está no filme, mas o interessante é a perspectiva que a diretora Samantha Stark nos mostra - o que acaba destruindo aquele pré conceito que tomamos como a mais absoluta verdade sem ao menos nos aprofundar ou procurar entender o outro lado da história.
O documentário acompanha a ascensão de Britney Spears como um fenômeno global até sua queda, considerado até hoje como uma espécie de esporte nacional da mais cruel das formas. A partir de depoimentos de pessoas próximas a ela e de advogados que, de alguma maneira, estavam envolvidos no mistério da tutela legal exercida por seu pai e que gerou um movimento popular importante no país: o Free Britney. Confira o teaser:
A carreira de Britney Spears é um case de sucesso em um período onde as "boys bands" dominavam as paradas e os corações adolescentes. Sua chegada no cenário musical criou um enorme desconforto, pela forma como ela se apresentava, mas por outro lado provocou um sentimento de identificação que subverteu as inúmeras manifestações machistas, hipócritas e conservadoras, tão comum na sociedade americana. O fato é que Britney venceu, marcou uma geração e o documentário é muito feliz em resumir essa jornada de forma direta, sem perder muito tempo. Hoje, quase 13 anos depois de um surto registrado pelas câmeras e virar piada no mundo inteiro, sua vida é controlada pelo seu pai - mesmo ela sendo considerada capaz de tomar suas próprias decisões. É incrível como muitas pessoas ainda consideram a cantora como uma artista de sucesso que simplesmente surtou e nem se preocupam em entender como a vida dela chegou neste ponto. É exatamente esse o objetivo de "Framing Britney Spears": dar voz à Britney, sem necessariamente poder contar com ela no documentário.
Veja, não se trata de um documentário com um conceito narrativo inovador ou visualmente inesquecível, digno de Oscar ou muitos prêmios, "Framing Britney Spears" é quase uma reportagem especial de qualquer programa jornalístico com um arco narrativo, digamos, mais cinematográfico - mas isso não deve incomodar, pois a história é realmente muito boa e a maneira como a diretora nos apresenta essa jornada, cria um vinculo emocional com a protagonista que fica difícil não defende-la. Os que antes a consideravam uma louca, certamente vão enxergar a situação com outros olhos.
O documentário é superficial, está longe de ter a qualidade narrativa e a pesquisa de "Sandy & Junior: A História", por exemplo; mas atinge seu objetivo e nos entretem ao mesmo temo que nos faz refletir sobre como existe um certo prazer sádico em endeusar um artista (ou esportista) durante o seu ápice, para depois sacramentar sua queda, transformando sua vida em um verdadeiro inferno - como em "Tiger" da HBO, para citar outra produção na mesma linha.
A verdade é que esse é outro documentário onde final não é tão feliz, mas que pelo menos ainda nos deixa uma esperança. Vale o play!
"Framing Britney Spears", que aqui no Brasil ganhou o subtítulo de "A vida de uma estrela", é mais um documentário produzido pelo The New York Times para a plataforma Hulu. De imediato, temos a sensação de que se trata de mais uma história de construção de um fenômeno pop americano que acaba despencando depois de decisões e atitudes bastante questionáveis. De fato esse arco narrativo está no filme, mas o interessante é a perspectiva que a diretora Samantha Stark nos mostra - o que acaba destruindo aquele pré conceito que tomamos como a mais absoluta verdade sem ao menos nos aprofundar ou procurar entender o outro lado da história.
O documentário acompanha a ascensão de Britney Spears como um fenômeno global até sua queda, considerado até hoje como uma espécie de esporte nacional da mais cruel das formas. A partir de depoimentos de pessoas próximas a ela e de advogados que, de alguma maneira, estavam envolvidos no mistério da tutela legal exercida por seu pai e que gerou um movimento popular importante no país: o Free Britney. Confira o teaser:
A carreira de Britney Spears é um case de sucesso em um período onde as "boys bands" dominavam as paradas e os corações adolescentes. Sua chegada no cenário musical criou um enorme desconforto, pela forma como ela se apresentava, mas por outro lado provocou um sentimento de identificação que subverteu as inúmeras manifestações machistas, hipócritas e conservadoras, tão comum na sociedade americana. O fato é que Britney venceu, marcou uma geração e o documentário é muito feliz em resumir essa jornada de forma direta, sem perder muito tempo. Hoje, quase 13 anos depois de um surto registrado pelas câmeras e virar piada no mundo inteiro, sua vida é controlada pelo seu pai - mesmo ela sendo considerada capaz de tomar suas próprias decisões. É incrível como muitas pessoas ainda consideram a cantora como uma artista de sucesso que simplesmente surtou e nem se preocupam em entender como a vida dela chegou neste ponto. É exatamente esse o objetivo de "Framing Britney Spears": dar voz à Britney, sem necessariamente poder contar com ela no documentário.
Veja, não se trata de um documentário com um conceito narrativo inovador ou visualmente inesquecível, digno de Oscar ou muitos prêmios, "Framing Britney Spears" é quase uma reportagem especial de qualquer programa jornalístico com um arco narrativo, digamos, mais cinematográfico - mas isso não deve incomodar, pois a história é realmente muito boa e a maneira como a diretora nos apresenta essa jornada, cria um vinculo emocional com a protagonista que fica difícil não defende-la. Os que antes a consideravam uma louca, certamente vão enxergar a situação com outros olhos.
O documentário é superficial, está longe de ter a qualidade narrativa e a pesquisa de "Sandy & Junior: A História", por exemplo; mas atinge seu objetivo e nos entretem ao mesmo temo que nos faz refletir sobre como existe um certo prazer sádico em endeusar um artista (ou esportista) durante o seu ápice, para depois sacramentar sua queda, transformando sua vida em um verdadeiro inferno - como em "Tiger" da HBO, para citar outra produção na mesma linha.
A verdade é que esse é outro documentário onde final não é tão feliz, mas que pelo menos ainda nos deixa uma esperança. Vale o play!