"A Chegada" talvez tenha sido o melhor filme que eu assisti em 2016. O filme vai muito além daquilo que vemos na tela, ou no trailer, ou de quem acha que é simplesmente "um filme de E.T." - não é! Longe disso! Eu diria que seu lindo conceito narrativo está muito mais para a profundidade de "Árvore da Vida" do que propriamente para um embate bélico de um filme de ação com toques de ficção científica como, por favor me perdoem, "Independence Day".
"Arrival" (no original) tem uma premissa relativamente simples e pouco original. Em um dia como outro qualquer, doze naves ovaladas surgem sem aviso em pontos aleatórios do globo. Imediatamente, pânico, violência e confusão começam, enquanto governos tentam estruturar uma maneira de se comunicar com essa força invasora, que simplesmente paira sobre nosso planeta e que assusta mais pela sua presença do que por qualquer tipo de ação. Confira o trailer:
O roteiro desse filme é simplesmente primoroso! Mesmo sendo uma ficção científica clássica, sua estrutura narrativa nos tira completamente de uma zona de conforto que pode, inclusive, afastar aqueles que buscam alguma pancadaria. "A Chegada" não quer te assustar, quer fazer você pensar! Denis Villeneuve com o apoio sempre preciso do fotografo Bradford Young (que já ganhou o Festival de Sundance duas vezes) e de mais um trabalho introspectivo e quase silencioso de Amy Adams, estão completamente alinhados com uma proposta profunda e reflexiva sobre o "desconhecido". Veja, em qualquer filme de Villeneuve nada está em cena à toa - parece que o diretor sempre está querendo nos dizer algo que ainda não percebemos e aqui ele eleva esse conceito quase que a perfeição.
O filme, sim, tem muitos pontos que inevitavelmente nos fazem lembrar de "Contato" (filme de 1997 de Robert Zemeckis com Jodie Foster). Ambos os filmes discutem sobre a importância da comunicação e como conceitos empíricos podem simplesmente desaparecer a partir de uma experiência, digamos, inexplicável ou de difícil percepção para os mais céticos. Em "A Chegada", Villeneuve está na verdade revisitando a natureza da linguagem e das relações com um pouco mais de profundidade e, claro, maturidade. Ele brinca com a não-linearidade na montagem, em outro ótimo trabalho de Joe Walker, da mesma forma como os ETs percebem a relação entre tempo e espaço - olha, é uma das coisas mais bacanas que você vai experienciar!
Dizer que Denis Villeneuve, pra variar, mata a pau, é chover no molhado. Não canso de afirmar que, ao lado do Derek Cianfrance e do Darren Aronofsky, ele é um dos melhores diretores da sua geração! Não por acaso quem gostou de "Interestelar" do Nolan vai se conectar com "A Chegada", já que esse filme também é tão fora do óbvio que nos faz refletir por horas após os créditos subirem ao som do trabalho magnifico de Jóhann Jóhannsson, diga-se de passagem.
Vale muito a pena. O filme é uma verdadeira poesia visual!
Up-date: "A Chegada" ganhou o Oscar de Melhor Edição de Som, além de ser indicado em outras 7 categorias em 2017, inclusive de "Melhor Filme".
"A Chegada" talvez tenha sido o melhor filme que eu assisti em 2016. O filme vai muito além daquilo que vemos na tela, ou no trailer, ou de quem acha que é simplesmente "um filme de E.T." - não é! Longe disso! Eu diria que seu lindo conceito narrativo está muito mais para a profundidade de "Árvore da Vida" do que propriamente para um embate bélico de um filme de ação com toques de ficção científica como, por favor me perdoem, "Independence Day".
"Arrival" (no original) tem uma premissa relativamente simples e pouco original. Em um dia como outro qualquer, doze naves ovaladas surgem sem aviso em pontos aleatórios do globo. Imediatamente, pânico, violência e confusão começam, enquanto governos tentam estruturar uma maneira de se comunicar com essa força invasora, que simplesmente paira sobre nosso planeta e que assusta mais pela sua presença do que por qualquer tipo de ação. Confira o trailer:
O roteiro desse filme é simplesmente primoroso! Mesmo sendo uma ficção científica clássica, sua estrutura narrativa nos tira completamente de uma zona de conforto que pode, inclusive, afastar aqueles que buscam alguma pancadaria. "A Chegada" não quer te assustar, quer fazer você pensar! Denis Villeneuve com o apoio sempre preciso do fotografo Bradford Young (que já ganhou o Festival de Sundance duas vezes) e de mais um trabalho introspectivo e quase silencioso de Amy Adams, estão completamente alinhados com uma proposta profunda e reflexiva sobre o "desconhecido". Veja, em qualquer filme de Villeneuve nada está em cena à toa - parece que o diretor sempre está querendo nos dizer algo que ainda não percebemos e aqui ele eleva esse conceito quase que a perfeição.
O filme, sim, tem muitos pontos que inevitavelmente nos fazem lembrar de "Contato" (filme de 1997 de Robert Zemeckis com Jodie Foster). Ambos os filmes discutem sobre a importância da comunicação e como conceitos empíricos podem simplesmente desaparecer a partir de uma experiência, digamos, inexplicável ou de difícil percepção para os mais céticos. Em "A Chegada", Villeneuve está na verdade revisitando a natureza da linguagem e das relações com um pouco mais de profundidade e, claro, maturidade. Ele brinca com a não-linearidade na montagem, em outro ótimo trabalho de Joe Walker, da mesma forma como os ETs percebem a relação entre tempo e espaço - olha, é uma das coisas mais bacanas que você vai experienciar!
Dizer que Denis Villeneuve, pra variar, mata a pau, é chover no molhado. Não canso de afirmar que, ao lado do Derek Cianfrance e do Darren Aronofsky, ele é um dos melhores diretores da sua geração! Não por acaso quem gostou de "Interestelar" do Nolan vai se conectar com "A Chegada", já que esse filme também é tão fora do óbvio que nos faz refletir por horas após os créditos subirem ao som do trabalho magnifico de Jóhann Jóhannsson, diga-se de passagem.
Vale muito a pena. O filme é uma verdadeira poesia visual!
Up-date: "A Chegada" ganhou o Oscar de Melhor Edição de Som, além de ser indicado em outras 7 categorias em 2017, inclusive de "Melhor Filme".
"A Guerra do Amanhã" é um típico filme de ação com toques de ficção cientifica que mistura viagem no tempo, aliens, fim do mundo e relações familiares. Sim, é isso mesmo: é como se o roteirista Zach Dean (A fuga) tivesse buscado os principais elementos narrativos de vários filmes do passado para construir a sua história - uma mistura de "Independence Day", "Armageddon" e "Alien".
Em plena final da Copa do Mundo de 2022 (onde, inclusive, o Brasil está prestes a fazer o seu gol), um exército chega do futuro para pedir socorro já que a humanidade está perdendo uma batalha global contra uma espécie mortal de alienígenas em 2051. Para garantir a sobrevivência dos humanos, soldados e civis do presente são recrutados e enviados para o futuro para continuar uma luta que parece ser em vão. Determinado a salvar o mundo por sua filha, Dan Forester (Chris Pratt) se une a uma cientista brilhante e a seu pai afastado para reescrever o destino do planeta. Confira o trailer:
Produzido originalmente pela Paramount Pictures, almejando um grande lançamento cinematográfico, o filme acabou sendo adquirido pela Amazon Studios e chegando no catálogo do Prime Vídeo de onde se transformou na maior estreia da história do serviço de streaming (pelo menos até o momento em que escrevemos esse review). Claramente referenciado por alguns jogos de video game como "Halo" ou "Destiny", o filme é entretenimento puro, ou seja, não espere um roteiro profundo, cheio de discussões existenciais ou construções narrativas surpreendentes. O filme é ação pura, em três cenários distintos, com objetivos e missões se renovando em cada ato, e com uma dinâmica totalmente ajustada ao gênero - de fato como um bom game.
Será preciso um boa dose de suspensão da realidade, mesmo considerando que essa realidade é uma ficção cientifica. O roteiro vai muito bem nos dois primeiros atos e talvez vacile no terceiro, porém não deve ser cobrado por isso já que ele entrega ação, tiros e pancadaria - ponto final! Algumas soluções são infantis? Sim. Temos a sensação de já termos assistido algo parecido? Muito. Mesmo assim é divertido? Completamente.
Tecnicamente muito bem dirigido pelo ótimo Chris McKay (LEGO Batman: O Filme), "A Guerra do Amanhã" tem um design de produção fantástico, especialmente com uma criatura muito bem concebida pelo Ken Barthelmey, das franquias "Maze Runner" e "Animais Fantásticos" - digno de Oscar e no nível de "Alien". Outro ponto que merece destaque são as ótimas sequências de ação - muito bem realizadas. Os efeitos visuais também não decepcionam e o Desenho de Som e Mixagem são incríveis! De fato teríamos uma ótima experiência cinematográfica se esse fosse o caso!
"A Guerra do Amanhã" é tão previsível quanto divertido! O filme se beneficia especialmente do carisma de Chris Pratt e de uma química bastante honesta com Yvonne Strahovski. Os aliens criam uma sensação de terror e desespero, dando a real situação de caos - completamente imersiva. Mesmo não sendo um exemplo de originalidade, posso dizer que para os fãs de ação e "ficção científica pipoca", o filme será uma ótima pedida. Então aumente o som, assista na maior tela que puder e dê play - nessas condições a experiência será das mais bacanas!
"A Guerra do Amanhã" é um típico filme de ação com toques de ficção cientifica que mistura viagem no tempo, aliens, fim do mundo e relações familiares. Sim, é isso mesmo: é como se o roteirista Zach Dean (A fuga) tivesse buscado os principais elementos narrativos de vários filmes do passado para construir a sua história - uma mistura de "Independence Day", "Armageddon" e "Alien".
Em plena final da Copa do Mundo de 2022 (onde, inclusive, o Brasil está prestes a fazer o seu gol), um exército chega do futuro para pedir socorro já que a humanidade está perdendo uma batalha global contra uma espécie mortal de alienígenas em 2051. Para garantir a sobrevivência dos humanos, soldados e civis do presente são recrutados e enviados para o futuro para continuar uma luta que parece ser em vão. Determinado a salvar o mundo por sua filha, Dan Forester (Chris Pratt) se une a uma cientista brilhante e a seu pai afastado para reescrever o destino do planeta. Confira o trailer:
Produzido originalmente pela Paramount Pictures, almejando um grande lançamento cinematográfico, o filme acabou sendo adquirido pela Amazon Studios e chegando no catálogo do Prime Vídeo de onde se transformou na maior estreia da história do serviço de streaming (pelo menos até o momento em que escrevemos esse review). Claramente referenciado por alguns jogos de video game como "Halo" ou "Destiny", o filme é entretenimento puro, ou seja, não espere um roteiro profundo, cheio de discussões existenciais ou construções narrativas surpreendentes. O filme é ação pura, em três cenários distintos, com objetivos e missões se renovando em cada ato, e com uma dinâmica totalmente ajustada ao gênero - de fato como um bom game.
Será preciso um boa dose de suspensão da realidade, mesmo considerando que essa realidade é uma ficção cientifica. O roteiro vai muito bem nos dois primeiros atos e talvez vacile no terceiro, porém não deve ser cobrado por isso já que ele entrega ação, tiros e pancadaria - ponto final! Algumas soluções são infantis? Sim. Temos a sensação de já termos assistido algo parecido? Muito. Mesmo assim é divertido? Completamente.
Tecnicamente muito bem dirigido pelo ótimo Chris McKay (LEGO Batman: O Filme), "A Guerra do Amanhã" tem um design de produção fantástico, especialmente com uma criatura muito bem concebida pelo Ken Barthelmey, das franquias "Maze Runner" e "Animais Fantásticos" - digno de Oscar e no nível de "Alien". Outro ponto que merece destaque são as ótimas sequências de ação - muito bem realizadas. Os efeitos visuais também não decepcionam e o Desenho de Som e Mixagem são incríveis! De fato teríamos uma ótima experiência cinematográfica se esse fosse o caso!
"A Guerra do Amanhã" é tão previsível quanto divertido! O filme se beneficia especialmente do carisma de Chris Pratt e de uma química bastante honesta com Yvonne Strahovski. Os aliens criam uma sensação de terror e desespero, dando a real situação de caos - completamente imersiva. Mesmo não sendo um exemplo de originalidade, posso dizer que para os fãs de ação e "ficção científica pipoca", o filme será uma ótima pedida. Então aumente o som, assista na maior tela que puder e dê play - nessas condições a experiência será das mais bacanas!
"A Vastidão da Noite" ("The Vast of Night", título original) é uma ficção científica com toques de filme independente, de baixo orçamento e que se baseia em um conceito narrativo que não vai agradar a todos, mas que resolve, com muita criatividade e talento, as limitações da produção. É claro que quando falamos de um "filme de ETs", nossa maior expectativa gira em torno da maneira como a criatura será apresentada ou nos sustos que ela pode nos causar (basta lembrar de "Sinais"), mas "A Vastidão da Noite" não segue esse caminho e isso, quase sempre, causa uma certa decepção - não foi o meu caso, eu gostei muito do filme. Muito mesmo!
O filme se passa em poucas horas, durante uma noite aparentemente normal, em uma cidade bem do interior no Novo México. Estamos no final dos anos 50, uma época onde a ficção científica domina a TV e o Cinema seguindo as novidades da recém-criada corrida espacial e da rivalidade entre americanos e russos. Dois adolescentes, a telefonista Fay (Sierra McCormick) e o apresentador de um programa da rádio local, Everett (Jake Horowitz), percebem uma misteriosa interferência no rádio. Os sons, quase indecifráveis, desencadeiam para uma série de situações bastante curiosas que os levam a crer que algo fantástico está acontecendo na cidade enquanto todo o resto da população está no ginásio de uma escola assistindo um jogo de basquete colegial. Confira o trailer (em inglês):
"A Vastidão da Noite" é o primeiro projeto para o cinema do diretor e roteirista Andrew Patterson. Patterson rodou todo o filme em apenas 17 dias, com seu próprio investimento, o que só valoriza ainda mais o resultado que vemos na tela - a sensação é de estarmos ouvindo histórias sobre alienígenas de várias pessoas que garantem ser testemunhas dessas incríveis experiências. Muitos podem dizer que essa estrutura transforma o filme em verborrágico demais ou que falta ação e suspense dá sono - e de fato essas escolhas do diretor estão muito presentes na narrativa, mas de modo algum isso atrapalha a experiência de quem gosta do assunto e do gênero raiz.
Olha, vale muito a pena, mas, por favor, não esperem algo hollywoodiano, ok?
Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o seu roteiro. Ele pode parecer muito denso, já que os diálogos dominam as cenas e isso deve causar um certo estranhamento inicial. Como os planos são muito longos, a câmera quase não se mexe enquanto um personagem conta (ou está ouvindo) uma história, enquanto nas cenas onde eles precisam ir para outros pontos da cidade, vemos vários planos-sequência muito bem realizados - a sensação é que estamos acompanhando aquela jornada em tempo real. O fato de Patterson imprimir uma linguagem extremamente autoral só beneficia a forma como ele resolveu alguns planos bastante complexos - sua edição (sim, foi ele quem editou o filme) colabora com essa frequente sensação de urgência dos protagonistas em contraponto aos momentos introspectivos e de reflexão durante os depoimentos dos coadjuvantes. Outro recurso interessante é a forma como Patterson nos faz acreditar em uma situação especifica e rapidamente nos sugere que essa mesma situação pode não passar de uma mera ficção ou de uma fantasia de um programa de TV - em muitos momentos ele deixa a tela completamente preta, ouvimos apenas a voz ou efeitos sonoros e isso basta para nos provocar e criar uma atmosfera de mistério absurdo, em outros ele transfere a imagem do filme para dentro de um aparelho de TV e assim vai transitando entre os dois mundos. O fato é que durante essas pausas dramáticas, existe uma sensação de que alguma coisa muito séria está prestes a acontecer e isso nos acompanha durante todo o filme, reparem!
As referências de "A Guerra dos Mundos" vai de Orson Welles em 1938 à Steven Spielberg de 20015. Algumas cenas nos remetem ao clássico "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" - tudo isso serve como uma homenagem bastante respeitosa ao gênero! "A Vastidão da Noite" é muito bem dirigida em todos os sentidos, trás muito de Paul Thomas Anderson, mas também referencia a inventividade de M. Night Shyamalan ou dinâmica de J.J. Abrams. A fotografia do chileno M.I. Littin-Menz e a trilha sonora de Erick Alexander e Jared Bulmer só colaboram (e nunca se sobressaem) nessa construção tão particular de Patterson - é como se tudo fizesse sentido por ser do tamanho que é e com as peças que ele tem (como vemos muito em curtas-metragens).
"A Vastidão da Noite" é uma ficção cientifica nostálgica e imperdível para quem cresceu assistindo os filmes de Spielberg e acreditando que existem muitas histórias fantásticas para se contar sem necessariamente de encher o filme com tecnologia, Computação Gráfica e o escambau, onde o fator humano e o ato de dividir uma experiência (seja ela verdadeira ou não) já é o suficiente para nos fazer viajar com a imaginação - e digo mais: o final do filme comprova justamente isso!
Vale muito seu play!
"A Vastidão da Noite" ("The Vast of Night", título original) é uma ficção científica com toques de filme independente, de baixo orçamento e que se baseia em um conceito narrativo que não vai agradar a todos, mas que resolve, com muita criatividade e talento, as limitações da produção. É claro que quando falamos de um "filme de ETs", nossa maior expectativa gira em torno da maneira como a criatura será apresentada ou nos sustos que ela pode nos causar (basta lembrar de "Sinais"), mas "A Vastidão da Noite" não segue esse caminho e isso, quase sempre, causa uma certa decepção - não foi o meu caso, eu gostei muito do filme. Muito mesmo!
O filme se passa em poucas horas, durante uma noite aparentemente normal, em uma cidade bem do interior no Novo México. Estamos no final dos anos 50, uma época onde a ficção científica domina a TV e o Cinema seguindo as novidades da recém-criada corrida espacial e da rivalidade entre americanos e russos. Dois adolescentes, a telefonista Fay (Sierra McCormick) e o apresentador de um programa da rádio local, Everett (Jake Horowitz), percebem uma misteriosa interferência no rádio. Os sons, quase indecifráveis, desencadeiam para uma série de situações bastante curiosas que os levam a crer que algo fantástico está acontecendo na cidade enquanto todo o resto da população está no ginásio de uma escola assistindo um jogo de basquete colegial. Confira o trailer (em inglês):
"A Vastidão da Noite" é o primeiro projeto para o cinema do diretor e roteirista Andrew Patterson. Patterson rodou todo o filme em apenas 17 dias, com seu próprio investimento, o que só valoriza ainda mais o resultado que vemos na tela - a sensação é de estarmos ouvindo histórias sobre alienígenas de várias pessoas que garantem ser testemunhas dessas incríveis experiências. Muitos podem dizer que essa estrutura transforma o filme em verborrágico demais ou que falta ação e suspense dá sono - e de fato essas escolhas do diretor estão muito presentes na narrativa, mas de modo algum isso atrapalha a experiência de quem gosta do assunto e do gênero raiz.
Olha, vale muito a pena, mas, por favor, não esperem algo hollywoodiano, ok?
Um dos pontos altos do filme, sem dúvida, é o seu roteiro. Ele pode parecer muito denso, já que os diálogos dominam as cenas e isso deve causar um certo estranhamento inicial. Como os planos são muito longos, a câmera quase não se mexe enquanto um personagem conta (ou está ouvindo) uma história, enquanto nas cenas onde eles precisam ir para outros pontos da cidade, vemos vários planos-sequência muito bem realizados - a sensação é que estamos acompanhando aquela jornada em tempo real. O fato de Patterson imprimir uma linguagem extremamente autoral só beneficia a forma como ele resolveu alguns planos bastante complexos - sua edição (sim, foi ele quem editou o filme) colabora com essa frequente sensação de urgência dos protagonistas em contraponto aos momentos introspectivos e de reflexão durante os depoimentos dos coadjuvantes. Outro recurso interessante é a forma como Patterson nos faz acreditar em uma situação especifica e rapidamente nos sugere que essa mesma situação pode não passar de uma mera ficção ou de uma fantasia de um programa de TV - em muitos momentos ele deixa a tela completamente preta, ouvimos apenas a voz ou efeitos sonoros e isso basta para nos provocar e criar uma atmosfera de mistério absurdo, em outros ele transfere a imagem do filme para dentro de um aparelho de TV e assim vai transitando entre os dois mundos. O fato é que durante essas pausas dramáticas, existe uma sensação de que alguma coisa muito séria está prestes a acontecer e isso nos acompanha durante todo o filme, reparem!
As referências de "A Guerra dos Mundos" vai de Orson Welles em 1938 à Steven Spielberg de 20015. Algumas cenas nos remetem ao clássico "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" - tudo isso serve como uma homenagem bastante respeitosa ao gênero! "A Vastidão da Noite" é muito bem dirigida em todos os sentidos, trás muito de Paul Thomas Anderson, mas também referencia a inventividade de M. Night Shyamalan ou dinâmica de J.J. Abrams. A fotografia do chileno M.I. Littin-Menz e a trilha sonora de Erick Alexander e Jared Bulmer só colaboram (e nunca se sobressaem) nessa construção tão particular de Patterson - é como se tudo fizesse sentido por ser do tamanho que é e com as peças que ele tem (como vemos muito em curtas-metragens).
"A Vastidão da Noite" é uma ficção cientifica nostálgica e imperdível para quem cresceu assistindo os filmes de Spielberg e acreditando que existem muitas histórias fantásticas para se contar sem necessariamente de encher o filme com tecnologia, Computação Gráfica e o escambau, onde o fator humano e o ato de dividir uma experiência (seja ela verdadeira ou não) já é o suficiente para nos fazer viajar com a imaginação - e digo mais: o final do filme comprova justamente isso!
Vale muito seu play!
É muito difícil pensar que "Aniquilação" seria uma unanimidade - pelo contrário, embora cheio de camadas e interpretações que realmente nos envolvem, o filme dirigido pelo Alex Garland (de "Devs") é muito mais para aquele amante do cinema que aprecia narrativas mais desafiadoras, com visuais deslumbrantes, mas fora do óbvio; do que para aquele que busca apenas o conforto de um bom entretenimento. Sim, "Aniquilação" é realmente desconfortável na sua essência, principalmente por explorar de uma forma muito inteligente, a fragilidade da humanidade perante o desconhecido, mergulhando fundo em conceitos existenciais e psicológicos que olha, são de cair o queixo.
Na trama, acompanhamos a jornada da bióloga Lena (Natalie Portman) para descobrir o motivo do desaparecimento de seu marido Kane (Oscar Isaac). Após um longo tempo sem respostas, Lena é contactada pela doutora Ventress (Jennifer Jason Leigh), uma psicóloga que trabalha para o governo e que há três anos estuda um fenômeno que vem ganhando proporções catastróficas. Conversando com a doutora, a bióloga descobre que o marido desapareceu em um local chamado "Area X", marco zero desse misterioso fenômeno. É então que Lena parte para uma expedição, com outras três cientistas, cada uma em sua especialidade, com o propósito de descobrir o que realmente está acontecendo naquela região. Confira o trailer:
Talvez o primeiro impacto de "Aniquilação" seja justamente a qualidade de diversos aspectos técnicos e artísticos. A direção de Alex Garland cria uma atmosfera intensa e misteriosa, incorporando elementos que vão desde o terror psicológico até a ficção científica extraterrestre, passando por ótimos momentos de ação e suspense. Ao usar na narrativa sua enorme capacidade de mergulhar na psicologia humana e explorar o desconhecido como poucos, Garland entrega personagens complexos emocionalmente em uma jornada de sobrevivência que vai muito além das mutações e dos eventos aparentemente inexplicáveis. Veja, o filme levanta questões profundas sobre identidade, sobre autodestruição e sobre a própria natureza como se fosse um enorme quebra-cabeça que nem todos estarão dispostos a desvendar.
Visualmente belíssimo, mas com algumas escolhas conceituais que também vão dividir opiniões, eu diria que é a fotografia do Rob Hardy (também de "Devs") que alinha as expectativas entre o bom gosto do real e e a provocação do imaginário como função cinematográfica - com visuais que misturam beleza e terror em um só golpe, tornando a "Área X" um lugar intrigante e amedrontador, "Aniquilação" ganha tons de angustia e ansiedade como dificilmente encontramos. É aí que entra uma trilha sonora simplesmente genial - Geoff Barrow e Ben Salisbury complementam a experiência, jogando a audiência em um verdadeiro estado imersivo e alucinante (literalmente).
Natalie Portman, claro, segura a história com elegância - ela captura a complexidade emocional de sua personagem enquanto enfrenta o desconhecido (externo e íntimo). Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson, Gina Rodriguez e Oscar Isaac também entregam boas performances, acrescentando certa profundidade aos membros da expedição, cada um com suas próprias motivações e medos - mas aqui eu achei que faltou um pouco de tempo de tela para que essas relações, de fato, impactassem no todo como poderia.
Produzido pela Netflix, "Aniquilação" nos desafia a questionar o que somos e como enfrentamos o que não podemos explicar, algo como vimos em "A Chegada". E creio eu que é essa reflexão que torna a obra realmente imperdível, então se você prefere narrativas mais leves e previsíveis, talvez seja melhor buscar outra opção, caso contrário pode dar o play sem medo!
É muito difícil pensar que "Aniquilação" seria uma unanimidade - pelo contrário, embora cheio de camadas e interpretações que realmente nos envolvem, o filme dirigido pelo Alex Garland (de "Devs") é muito mais para aquele amante do cinema que aprecia narrativas mais desafiadoras, com visuais deslumbrantes, mas fora do óbvio; do que para aquele que busca apenas o conforto de um bom entretenimento. Sim, "Aniquilação" é realmente desconfortável na sua essência, principalmente por explorar de uma forma muito inteligente, a fragilidade da humanidade perante o desconhecido, mergulhando fundo em conceitos existenciais e psicológicos que olha, são de cair o queixo.
Na trama, acompanhamos a jornada da bióloga Lena (Natalie Portman) para descobrir o motivo do desaparecimento de seu marido Kane (Oscar Isaac). Após um longo tempo sem respostas, Lena é contactada pela doutora Ventress (Jennifer Jason Leigh), uma psicóloga que trabalha para o governo e que há três anos estuda um fenômeno que vem ganhando proporções catastróficas. Conversando com a doutora, a bióloga descobre que o marido desapareceu em um local chamado "Area X", marco zero desse misterioso fenômeno. É então que Lena parte para uma expedição, com outras três cientistas, cada uma em sua especialidade, com o propósito de descobrir o que realmente está acontecendo naquela região. Confira o trailer:
Talvez o primeiro impacto de "Aniquilação" seja justamente a qualidade de diversos aspectos técnicos e artísticos. A direção de Alex Garland cria uma atmosfera intensa e misteriosa, incorporando elementos que vão desde o terror psicológico até a ficção científica extraterrestre, passando por ótimos momentos de ação e suspense. Ao usar na narrativa sua enorme capacidade de mergulhar na psicologia humana e explorar o desconhecido como poucos, Garland entrega personagens complexos emocionalmente em uma jornada de sobrevivência que vai muito além das mutações e dos eventos aparentemente inexplicáveis. Veja, o filme levanta questões profundas sobre identidade, sobre autodestruição e sobre a própria natureza como se fosse um enorme quebra-cabeça que nem todos estarão dispostos a desvendar.
Visualmente belíssimo, mas com algumas escolhas conceituais que também vão dividir opiniões, eu diria que é a fotografia do Rob Hardy (também de "Devs") que alinha as expectativas entre o bom gosto do real e e a provocação do imaginário como função cinematográfica - com visuais que misturam beleza e terror em um só golpe, tornando a "Área X" um lugar intrigante e amedrontador, "Aniquilação" ganha tons de angustia e ansiedade como dificilmente encontramos. É aí que entra uma trilha sonora simplesmente genial - Geoff Barrow e Ben Salisbury complementam a experiência, jogando a audiência em um verdadeiro estado imersivo e alucinante (literalmente).
Natalie Portman, claro, segura a história com elegância - ela captura a complexidade emocional de sua personagem enquanto enfrenta o desconhecido (externo e íntimo). Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson, Gina Rodriguez e Oscar Isaac também entregam boas performances, acrescentando certa profundidade aos membros da expedição, cada um com suas próprias motivações e medos - mas aqui eu achei que faltou um pouco de tempo de tela para que essas relações, de fato, impactassem no todo como poderia.
Produzido pela Netflix, "Aniquilação" nos desafia a questionar o que somos e como enfrentamos o que não podemos explicar, algo como vimos em "A Chegada". E creio eu que é essa reflexão que torna a obra realmente imperdível, então se você prefere narrativas mais leves e previsíveis, talvez seja melhor buscar outra opção, caso contrário pode dar o play sem medo!
Se você ainda não assistiu "Distrito 9", assista! Visualmente impactante e repleto de críticas sociais afiadíssimas, essa produção de 2009, dirigida por Neill Blomkamp, se destaca não só pela sua abordagem inovadora da ficção científica (para época), mas também pela sua profunda reflexão sobre a humanidade e sobre a segregação. Para quem não sabe, "Distrito 9" é baseado no curta-metragem de Blomkamp, "Alive in Joburg", e expande suas ideias para criar uma narrativa que é ao mesmo tempo perturbadora e provocativa. Vale citar que, assumindo essa identidade critica, Blomkamp também veio a dirigir outros filmes que abordam temas similares como exclusão e discriminação, sempre com o mesmo toque de ficção científica, são eles: "Elysium" e "Chappie".
A trama se passa em um mundo onde uma enorme nave alienígena paira sobre Joanesburgo, África do Sul, desde 1982. Dentro dela, milhões de alienígenas – chamados de "camarões" devido à sua aparência – são encontrados malnutridos e em estado deplorável. As autoridades decidem confiná-los em uma área militarizada chamada Distrito 9, transformando-os em refugiados segregados. A história se concentra em Wikus van de Merwe (Sharlto Copley), um funcionário de uma corporação privada encarregada de realocar os alienígenas para um campo ainda mais distante. No entanto, durante a operação, Wikus é exposto a um fluido alienígena que começa a transformá-lo em um dos "camarões". Confira o trailer:
Neill Blomkamp, em sua estreia como diretor de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável ao criar um universo visualmente coeso e com uma temática para lá de densa. O diretor utiliza uma estética de documentário, com câmeras de mão e entrevistas simuladas, que adicionam uma camada de realismo e urgência para uma narrativa que não se perde no tempo - parece, de fato, que tudo aquilo é muito real (e não é?). A direção de fotografia de Trent Opaloch (o cara por trás de "Vingadores: Ultimato") é extremamente eficaz, utilizando uma conceito visual, digamos "desbotado" e um estilo de enquadramento que enfatiza toda aquela degradação e a brutalidade do ambiente - somos realmente jogados naquela atmosfera de uma maneira bastante imersiva. Já o roteiro, escrito por Blomkamp e pela Terri Tatchell (sua esposa), equilibra perfeitamente a ação visceral com uma crítica social incisiva, focando em temas sensíveis como racismo, xenofobia e segregação, usando a situação dos alienígenas como uma metáfora para a condição dos refugiados e das minorias marginalizadas. A real: a narrativa não apenas entretém, mas também nos convida a refletir sobre questões éticas e sociais bem contemporâneas.
Sharlto Copley (o Wikus) captura muito bem a transformação gradual de um burocrata arrogante e insensível para uma figura mais empática. Copley, com seu carisma, nos leva a sentir a dor, a luta e a desesperança de Wikus à medida que ele enfrenta a alienação e a perseguição. Sua atuação é um dos pilares que sustentam a narrativa, tornando-o um personagem complexo e cheio de nuances. Os efeitos visuais, especialmente para um filme de orçamento relativamente modesto como o de "Distrito 9" são impressionantes- foram gastos meros 30 milhões de dólares. Os alienígenas são renderizados com um nível de detalhe e realismo que facilita a suspensão da descrença, deixando as interações com os personagens humanos incrivelmente convincentes. A combinação de CGI e a performance do elenco é muito harmoniosa, criando um mundo que é estranho, mas familiar - mérito total de Blomkamp.
Indicado a 4 Oscars, inclusive de Melhor Filme de 2009, "Distrito 9" muda na sua segunda metade quando a ênfase passa a ser a ação e os efeitos especiais, perdendo um pouco do foco nas questões sociais que tornaram a primeira metade tão poderosa. No entanto, esse fato não diminui em nada a importância e o impacto de "Distrito 9" como critica e como entretenimento. O filme pode (e deve) ser considerado um marco dentro do gênero de ficção científica pela relação "orçamento x resultado", e que oferece uma exploração rica e provocativa de temas sociais tão atuais através de uma narrativa envolvente e visualmente deslumbrante.
Para fãs de ficção científica, "Distrito 9" é essencial!
Se você ainda não assistiu "Distrito 9", assista! Visualmente impactante e repleto de críticas sociais afiadíssimas, essa produção de 2009, dirigida por Neill Blomkamp, se destaca não só pela sua abordagem inovadora da ficção científica (para época), mas também pela sua profunda reflexão sobre a humanidade e sobre a segregação. Para quem não sabe, "Distrito 9" é baseado no curta-metragem de Blomkamp, "Alive in Joburg", e expande suas ideias para criar uma narrativa que é ao mesmo tempo perturbadora e provocativa. Vale citar que, assumindo essa identidade critica, Blomkamp também veio a dirigir outros filmes que abordam temas similares como exclusão e discriminação, sempre com o mesmo toque de ficção científica, são eles: "Elysium" e "Chappie".
A trama se passa em um mundo onde uma enorme nave alienígena paira sobre Joanesburgo, África do Sul, desde 1982. Dentro dela, milhões de alienígenas – chamados de "camarões" devido à sua aparência – são encontrados malnutridos e em estado deplorável. As autoridades decidem confiná-los em uma área militarizada chamada Distrito 9, transformando-os em refugiados segregados. A história se concentra em Wikus van de Merwe (Sharlto Copley), um funcionário de uma corporação privada encarregada de realocar os alienígenas para um campo ainda mais distante. No entanto, durante a operação, Wikus é exposto a um fluido alienígena que começa a transformá-lo em um dos "camarões". Confira o trailer:
Neill Blomkamp, em sua estreia como diretor de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável ao criar um universo visualmente coeso e com uma temática para lá de densa. O diretor utiliza uma estética de documentário, com câmeras de mão e entrevistas simuladas, que adicionam uma camada de realismo e urgência para uma narrativa que não se perde no tempo - parece, de fato, que tudo aquilo é muito real (e não é?). A direção de fotografia de Trent Opaloch (o cara por trás de "Vingadores: Ultimato") é extremamente eficaz, utilizando uma conceito visual, digamos "desbotado" e um estilo de enquadramento que enfatiza toda aquela degradação e a brutalidade do ambiente - somos realmente jogados naquela atmosfera de uma maneira bastante imersiva. Já o roteiro, escrito por Blomkamp e pela Terri Tatchell (sua esposa), equilibra perfeitamente a ação visceral com uma crítica social incisiva, focando em temas sensíveis como racismo, xenofobia e segregação, usando a situação dos alienígenas como uma metáfora para a condição dos refugiados e das minorias marginalizadas. A real: a narrativa não apenas entretém, mas também nos convida a refletir sobre questões éticas e sociais bem contemporâneas.
Sharlto Copley (o Wikus) captura muito bem a transformação gradual de um burocrata arrogante e insensível para uma figura mais empática. Copley, com seu carisma, nos leva a sentir a dor, a luta e a desesperança de Wikus à medida que ele enfrenta a alienação e a perseguição. Sua atuação é um dos pilares que sustentam a narrativa, tornando-o um personagem complexo e cheio de nuances. Os efeitos visuais, especialmente para um filme de orçamento relativamente modesto como o de "Distrito 9" são impressionantes- foram gastos meros 30 milhões de dólares. Os alienígenas são renderizados com um nível de detalhe e realismo que facilita a suspensão da descrença, deixando as interações com os personagens humanos incrivelmente convincentes. A combinação de CGI e a performance do elenco é muito harmoniosa, criando um mundo que é estranho, mas familiar - mérito total de Blomkamp.
Indicado a 4 Oscars, inclusive de Melhor Filme de 2009, "Distrito 9" muda na sua segunda metade quando a ênfase passa a ser a ação e os efeitos especiais, perdendo um pouco do foco nas questões sociais que tornaram a primeira metade tão poderosa. No entanto, esse fato não diminui em nada a importância e o impacto de "Distrito 9" como critica e como entretenimento. O filme pode (e deve) ser considerado um marco dentro do gênero de ficção científica pela relação "orçamento x resultado", e que oferece uma exploração rica e provocativa de temas sociais tão atuais através de uma narrativa envolvente e visualmente deslumbrante.
Para fãs de ficção científica, "Distrito 9" é essencial!
"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).
Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:
Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.
A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion" e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.
Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.
O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter" uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.
"Encounter" é um filme difícil de definir como gênero ao dar o play. Ele tem elementos de ficção cientifica, de suspense, de road movie, de drama e acreditem: tudo muito bem arquitetado para que a gente não tire os olhos da tela até entendermos como as peças vão se encaixando até entregar um final dos mais interessantes e satisfatórios - além, é claro, de ter no elenco um dos atores que mais vem se destacando nos últimos anos: Riz Ahmed (de "O Som do Silêncio" e "The Night Of", só para citar dois sucessos recentes do ator).
Aqui, Ahmed é um fuzileiro naval condecorado chamado Malik Khan. Certo dia ele aparece na casa da ex-mulher e simplesmente pega seus dois filhos, Jay (Lucian River-Chauhan) e Bobby (Aditya Geddada) no que ele considera ser uma missão de resgate para salva-los de uma ameaça não humana. Conforme a jornada os leva em direção ao perigo, os meninos precisam deixar a infância para trás e entender qual é a verdadeira ameaça que eles precisam enfrentar. Confira o trailer:
Apenas para alinharmos a expectativa: "Encounter" não é um filme de ação como "A Guerra do Amanhã". Embora o prólogo do filme mostre uma incrível (e quase poética) sequência onde microorganismos alienígenas penetram em uma versão reimaginada do corpo humano como se iniciasse ali uma conquista silenciosa para destruição da humanidade que se daria pelas próprias fraquezas do seu hospedeiro, o talentoso diretor Michael Pearce (de "Beast") não só impõe um tom narrativo dos mais sofisticados, como nos prepara para um drama cheio de tensão e angústia - onde a força das cenas está muito mais no psicológico do que no impacto visual.
A premissa nos levava a crer que se tratava de um filme próximo de "Invasion" e o desenrolar da história nos coloca em contato com uma versão até mais dark e complexa que a série da AppleTV+. A forma como Pearce estabelece as relações de Malik Khan com seus filhos, consigo e com aquela atmosfera "apocalíptica", é sensacional - mesmo que em alguns momentos a narrativa se torne mais cadenciada do que estamos esperando. Os planos fechados do diretor, com o desenho de som de Paul Davies, uma trilha sonora que mistura desde os ruídos mais bruscos com agudos extremamente irritantes, tudo criado porJed Kurzel ("Alien: Covenant"), e uma fotografia linda de Benjamin Kracun ("The Third Day"), faz o filme brincar, o tempo todo, com a nossa perspectiva - mesmo parecendo óbvio, somos surpreendidos em muitos momentos.
Riz Ahmed é um grande ator - ele leva o filme nas costas com uma habilidade única. Suas cenas não precisam de diálogos, sua entrega está no olhar, no movimento pontuado, na forma como ele se aproxima ou se relaciona com a ação sem ao menos precisar expor isso ao público que assiste. Sua capacidade de se transformar de acordo com as demandas do roteiro impressiona e, tanto Lucian River-Chauhan quanto Aditya Geddada, seus filhos, acompanham. Octavia Spencer faz uma pequena participação, mas sem dúvida traz humanidade para narrativa e merece destaque.
O fato é que a união do talento com o primor técnico e artístico fazem de "Encounter" uma agradável surpresa que pode colher frutos, mesmo sendo azarão (como inclusive foi "O Som do Silêncio"), na próxima temporada de premiações. O filme é muito bom, profundo, provocador, incômodo, mas não vai agradar a todos justamente por sua identidade quase independente. Por outro lado, fica aqui a recomendação de um bom drama de relações que vai além do óbvio, mesmo quando se torna óbvio.
"Godzilla Minus One" é um "filme de monstro" raiz - na sua forma e na sua essência! Justamente por essa característica tão marcante, fugindo desse estereótipo blockbuster mais genérico onde efeitos especiais cansativos se sobrepõem perante uma narrativa menos estruturada, é que essa produção japonesa, vencedora do Oscar de "Melhor Efeitos Visuais" em 2014, surge como uma relevante surpresa no universo kaiju (subgênero da ficção científica, criado pelos diretores Eiji Tsuburaya e Ishiro Honda, mentes por trás do "Godzilla" original de 1954). Dirigida pelo mestre japonês Takashi Yamazaki ("Papeis em Branco"), essa nova versão nos leva ao Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, um país devastado e em reconstrução, assombrado por uma criatura colossal que emerge do mar para semear o terror. E aqui cabe um comentário importante: mais do que um monstro gigante, esse Godzilla se torna um símbolo das feridas ainda abertas da guerra, um lembrete cruel da fragilidade da paz e do custo humano que deixaram marcas em várias gerações daquele país.
Basicamente, a trama de "Minus One"acompanha a jornada de um jovem piloto kamikaze, Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), que se junta à uma força-tarefa encarregada de impedir que um misterioso monstro, Godzilla, chegue em Tóquio. Ao lado de outros sobreviventes da guerra, Koichi terá que enfrentar não apenas a fúria dessa criatura, mas também seus próprios traumas e demônios interiores. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Pensado para celebrar o aniversário de 70 anos de Gojira (nome original do monstrão), "Godzilla Minus One" se destaca por sua simplicidade narrativa e por um visual belíssimo - e não falo apenas dos incríveis efeitos especiais, mas de uma fotografia cheia de identidade e criatividade que soa até improvável dado o surpreendente baixo orçamento da produção. Densa e com camadas emocionais bastante sensíveis, essa versão de Godzilla vai além da simples proposta de mostrar o tamanho da destruição proporcionada pelo monstro ao se apropriar de personagens que se colocam no centro de uma reflexão mais ampla sobre a tradição e os costumes de toda uma sociedade ainda em reconstrução pós-guerra. Ao explorar temas como a culpa, a importância da sobrevivência como nação, a esperança como fator humano e a busca por uma redenção em um mundo em ruínas, Yamazaki constrói com maestria uma atmosfera opressiva e angustiante que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante os 120 minutos de filme.
Se as cenas de ação são de tirar o fôlego, com efeitos visuais realmente impressionantes, eu diria que é conexão com uma realidade palpável que faz de "Godzilla Minus One" mais impactante - embora a estética seja diferente de"Cloverfield", as sensações que o caos nos provoca são parecidas. Yamazaki sabe fazer do seu monstro um catalisador para o desenvolvimento dos personagens principais sem cair no estereótipo do herói hollywoodiano - embora Koichi tenha um pouquinho de "William Wallace", é inegável. A trilha sonora de Naoki Satô (seis vezes indicado ao Oscar do Japão, o "Awards of the Japanese Academy") é sensacional - ela funciona tão bem com o desenho de som criado pelo Moin G. Khan que somos incapazes de afirmar o que é real e o que é diegético. Tem uma cena no terceiro ato onde a total ausência de som dá o tom do drama - reparem na dramaticidade que essa escolha conceitual provoca!
O fato é "Minus One" é uma experiência completa, que nos faz sentir o horror do incontrolável, que nos faz pensar sobre o valor da vida e que até nos emociona por tudo que envolve aquela jornada. Falta alguma coragem para o roteiro assumir alguns riscos e deixar a entrega menos previsível? Sim, mas com tudo dentro do aceitável, é impossível negar que essa versão de "Godzilla" dá um baile em tudo que já foi feito, com muito mais dinheiro, no recente "Monsterverso". Aliás, essa é a prova que muitas vezes o retorno ao essencial bem feito vale muito mais do que o novo feito na superficialidade!
Vale muito o seu play!
"Godzilla Minus One" é um "filme de monstro" raiz - na sua forma e na sua essência! Justamente por essa característica tão marcante, fugindo desse estereótipo blockbuster mais genérico onde efeitos especiais cansativos se sobrepõem perante uma narrativa menos estruturada, é que essa produção japonesa, vencedora do Oscar de "Melhor Efeitos Visuais" em 2014, surge como uma relevante surpresa no universo kaiju (subgênero da ficção científica, criado pelos diretores Eiji Tsuburaya e Ishiro Honda, mentes por trás do "Godzilla" original de 1954). Dirigida pelo mestre japonês Takashi Yamazaki ("Papeis em Branco"), essa nova versão nos leva ao Japão do pós-Segunda Guerra Mundial, um país devastado e em reconstrução, assombrado por uma criatura colossal que emerge do mar para semear o terror. E aqui cabe um comentário importante: mais do que um monstro gigante, esse Godzilla se torna um símbolo das feridas ainda abertas da guerra, um lembrete cruel da fragilidade da paz e do custo humano que deixaram marcas em várias gerações daquele país.
Basicamente, a trama de "Minus One"acompanha a jornada de um jovem piloto kamikaze, Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), que se junta à uma força-tarefa encarregada de impedir que um misterioso monstro, Godzilla, chegue em Tóquio. Ao lado de outros sobreviventes da guerra, Koichi terá que enfrentar não apenas a fúria dessa criatura, mas também seus próprios traumas e demônios interiores. Confira o trailer (com legendas em inglês):
Pensado para celebrar o aniversário de 70 anos de Gojira (nome original do monstrão), "Godzilla Minus One" se destaca por sua simplicidade narrativa e por um visual belíssimo - e não falo apenas dos incríveis efeitos especiais, mas de uma fotografia cheia de identidade e criatividade que soa até improvável dado o surpreendente baixo orçamento da produção. Densa e com camadas emocionais bastante sensíveis, essa versão de Godzilla vai além da simples proposta de mostrar o tamanho da destruição proporcionada pelo monstro ao se apropriar de personagens que se colocam no centro de uma reflexão mais ampla sobre a tradição e os costumes de toda uma sociedade ainda em reconstrução pós-guerra. Ao explorar temas como a culpa, a importância da sobrevivência como nação, a esperança como fator humano e a busca por uma redenção em um mundo em ruínas, Yamazaki constrói com maestria uma atmosfera opressiva e angustiante que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela durante os 120 minutos de filme.
Se as cenas de ação são de tirar o fôlego, com efeitos visuais realmente impressionantes, eu diria que é conexão com uma realidade palpável que faz de "Godzilla Minus One" mais impactante - embora a estética seja diferente de"Cloverfield", as sensações que o caos nos provoca são parecidas. Yamazaki sabe fazer do seu monstro um catalisador para o desenvolvimento dos personagens principais sem cair no estereótipo do herói hollywoodiano - embora Koichi tenha um pouquinho de "William Wallace", é inegável. A trilha sonora de Naoki Satô (seis vezes indicado ao Oscar do Japão, o "Awards of the Japanese Academy") é sensacional - ela funciona tão bem com o desenho de som criado pelo Moin G. Khan que somos incapazes de afirmar o que é real e o que é diegético. Tem uma cena no terceiro ato onde a total ausência de som dá o tom do drama - reparem na dramaticidade que essa escolha conceitual provoca!
O fato é "Minus One" é uma experiência completa, que nos faz sentir o horror do incontrolável, que nos faz pensar sobre o valor da vida e que até nos emociona por tudo que envolve aquela jornada. Falta alguma coragem para o roteiro assumir alguns riscos e deixar a entrega menos previsível? Sim, mas com tudo dentro do aceitável, é impossível negar que essa versão de "Godzilla" dá um baile em tudo que já foi feito, com muito mais dinheiro, no recente "Monsterverso". Aliás, essa é a prova que muitas vezes o retorno ao essencial bem feito vale muito mais do que o novo feito na superficialidade!
Vale muito o seu play!
"Interestelar" do Christopher Nolan é genial. É um filme tecnicamente perfeito e nem vale a pena falar da direção porque é chover no molhado; mas o roteiro é, realmente, incrível - um dos mais profundos que o cinema recente teve o prazer de produzir! Como eu gosto de dizer, esse filme é uma ficção científica com alma - talvez uma ótima combinação de estilos que envolveria ícones como Spielberg, Kubrick e Malick. Com todo cuidado para não parecer exagerado e não decepcionar aqueles que esperam algo mais óbvio, é preciso alinhar as expectativas já que o filme é uma verdadeira jornada interdimensional que combina elementos científicos intrigantes com uma profundidade emocional arrebatadora - ao discutir a espiritualidade, o roteiro usa inúmeras referências de muitas doutrinas, mas tudo com um toque empírico e ao mesmo tempo com muita sensibilidade!
Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele seguirá em busca de uma nova casa. No entanto, com o passar dos anos, sua filha Murph (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta. Confira o trailer (que já é uma obra-prima):
Levantar questionamentos sobre o amor, a humanidade e o desconhecido. Sim, "Interestelar" não é apenas uma aventura espacial, mas também uma exploração íntima das conexões humanas. A relação entre Cooper (McConaughey) e sua filha Murphy (Chastain) é o coração pulsante do filme. A emoção desse vínculo ecoa através das vastas extensões do espaço, estabelecendo uma ligação única entre a jornada intergaláctica e as nossas experiências pessoais - especialmente se você tiver filhos. Nolan habilmente entrelaça a narrativa com fortes elementos científicos e com o que há de melhor no cinema: as emoções humanas. É impressionante como ele cria uma experiência cinematográfica verdadeiramente envolvente.
O aspecto científico de "Interestelar" também não pode ser subestimado. O filme mergulha na teoria da relatividade e explora o conceito de que o tempo pode ser afetado por campos gravitacionais intensos. A equipe de astronautas embarca em uma missão para encontrar um novo lar para a humanidade em planetas distantes, cada um com sua própria relação complexa com o tempo. A exploração desses mundos e a luta para entender as implicações do tempo dilatado geram momentos de tensão e emoção, mais uma vez demonstrando a mestria de Nolan em equilibrar ciência e entretenimento. A trilha sonora de Hans Zimmer desempenha um papel vital sob esse conceito - com sua combinação de elementos orquestrais e eletrônicos, a música intensifica as emoções e a grandiosidade das cenas. A trilha sonora se torna um elemento narrativo por si só, amplificando os momentos de suspense e de reflexão. A fusão entre a música de Zimmer e a direção de Nolan cria uma atmosfera única que ressoa profundamente na nossa alma!
No vasto panorama do cinema contemporâneo, poucos diretores conseguiram capturar a imaginação do público como Christopher Nolan. Seu épico sci-fi "Interestelar" está cheio de camadas, de interpretações e de teorias (cientificas e espirituais). A sensação que eu tive quando terminou o filme foi ainda mais especial e profunda de quando assisti o excelente "Contato" em 1997 - e olha, "Interestelar" é o tipo do filme onde é preciso ir "além" do que vemos na tela mesmo! Obra-Prima!
Se você não assistiu, assista. Se você assistiu em 2014, reveja - sua experiência será igualmente espetacular!
Up-date: "Interestelar" ganhou em uma categoria no Oscar 2015: Melhor Efeitos Visuais, mas foram cinco indicações.
"Interestelar" do Christopher Nolan é genial. É um filme tecnicamente perfeito e nem vale a pena falar da direção porque é chover no molhado; mas o roteiro é, realmente, incrível - um dos mais profundos que o cinema recente teve o prazer de produzir! Como eu gosto de dizer, esse filme é uma ficção científica com alma - talvez uma ótima combinação de estilos que envolveria ícones como Spielberg, Kubrick e Malick. Com todo cuidado para não parecer exagerado e não decepcionar aqueles que esperam algo mais óbvio, é preciso alinhar as expectativas já que o filme é uma verdadeira jornada interdimensional que combina elementos científicos intrigantes com uma profundidade emocional arrebatadora - ao discutir a espiritualidade, o roteiro usa inúmeras referências de muitas doutrinas, mas tudo com um toque empírico e ao mesmo tempo com muita sensibilidade!
Após ver a Terra consumindo boa parte de suas reservas naturais, um grupo de astronautas recebe a missão de verificar possíveis planetas para receberem a população mundial, possibilitando a continuação da espécie. Cooper (Matthew McConaughey) é chamado para liderar o grupo e aceita a missão sabendo que pode nunca mais ver os filhos. Ao lado de Brand (Anne Hathaway), Jenkins (Marlon Sanders) e Doyle (Wes Bentley), ele seguirá em busca de uma nova casa. No entanto, com o passar dos anos, sua filha Murph (Mackenzie Foy / Jessica Chastain) investirá numa própria jornada para também tentar salvar a população do planeta. Confira o trailer (que já é uma obra-prima):
Levantar questionamentos sobre o amor, a humanidade e o desconhecido. Sim, "Interestelar" não é apenas uma aventura espacial, mas também uma exploração íntima das conexões humanas. A relação entre Cooper (McConaughey) e sua filha Murphy (Chastain) é o coração pulsante do filme. A emoção desse vínculo ecoa através das vastas extensões do espaço, estabelecendo uma ligação única entre a jornada intergaláctica e as nossas experiências pessoais - especialmente se você tiver filhos. Nolan habilmente entrelaça a narrativa com fortes elementos científicos e com o que há de melhor no cinema: as emoções humanas. É impressionante como ele cria uma experiência cinematográfica verdadeiramente envolvente.
O aspecto científico de "Interestelar" também não pode ser subestimado. O filme mergulha na teoria da relatividade e explora o conceito de que o tempo pode ser afetado por campos gravitacionais intensos. A equipe de astronautas embarca em uma missão para encontrar um novo lar para a humanidade em planetas distantes, cada um com sua própria relação complexa com o tempo. A exploração desses mundos e a luta para entender as implicações do tempo dilatado geram momentos de tensão e emoção, mais uma vez demonstrando a mestria de Nolan em equilibrar ciência e entretenimento. A trilha sonora de Hans Zimmer desempenha um papel vital sob esse conceito - com sua combinação de elementos orquestrais e eletrônicos, a música intensifica as emoções e a grandiosidade das cenas. A trilha sonora se torna um elemento narrativo por si só, amplificando os momentos de suspense e de reflexão. A fusão entre a música de Zimmer e a direção de Nolan cria uma atmosfera única que ressoa profundamente na nossa alma!
No vasto panorama do cinema contemporâneo, poucos diretores conseguiram capturar a imaginação do público como Christopher Nolan. Seu épico sci-fi "Interestelar" está cheio de camadas, de interpretações e de teorias (cientificas e espirituais). A sensação que eu tive quando terminou o filme foi ainda mais especial e profunda de quando assisti o excelente "Contato" em 1997 - e olha, "Interestelar" é o tipo do filme onde é preciso ir "além" do que vemos na tela mesmo! Obra-Prima!
Se você não assistiu, assista. Se você assistiu em 2014, reveja - sua experiência será igualmente espetacular!
Up-date: "Interestelar" ganhou em uma categoria no Oscar 2015: Melhor Efeitos Visuais, mas foram cinco indicações.
Na linha do "ame ou odeie", "Não! Não Olhe!", dirigido por Jordan Peele e lançado em 2022, é uma obra que de fato desafia aquele tipo de categorização fácil já que seu roteiro mistura elementos de suspense, ficção científica e, claro, crítica social em uma narrativa dinâmica e singular. Peele, conhecido por seus trabalhos anteriores como "Corra!" e "Nós", mais uma vez demonstra sua habilidade em criar histórias que são tanto provocativas quanto profundamente envolventes e "Não! Não Olhe!" segue essa identidade, oferecendo uma experiência visualmente deslumbrante e intelectualmente estimulante - porém sem tanto impacto da violência como vimos anteriormente.
A trama segue os irmãos OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer), que administram um rancho de cavalos em uma área rural da Califórnia. Após a morte misteriosa de seu pai, os irmãos começam a notar atividades estranhas no céu acima de sua propriedade. Decididos a descobrir a verdade e capturar evidências da presença de OVNIs, eles se envolvem em uma série de eventos cada vez mais inquietantes. Confira o trailer:
"Nope" (no original) é muito inteligente ao explorar o desejo humano de controlar o desconhecido (e de como se dar bem com isso). Baseado nessa premissa, o roteiro de Peele acaba sendo uma ótima combinação de mistério e crítica social capaz de abordar temas mais sensíveis como a exploração da dor e do trauma como forma de entretenimento - a mercantilização do medo e o impacto do espetáculo na sociedade contemporânea, mais uma vez, provocam ótimas discussões. Peele, conhecido por suas incisivas observações comportamentais, utiliza de uma inofensiva trama de ficção científica para comentar sobre a obsessão humana em diferentes níveis. Repare como os diálogos afiados e cheios de subtexto incentivam a audiência a refletir sobre as camadas mais profundas da história. Já sua direção é, como sempre, meticulosa e inventiva. Peele utiliza uma paleta de cores contrastante e uma cinematografia de grande escala para capturar a beleza e a ameaça daquele cenário desértico. A escolha de locações com grande amplitude pontua ainda mais a sensação claustrofóbica de saber que existe uma força invisível que nos observa e quer nos fazer mal (a qualquer momento).
Daniel Kaluuya oferece uma performance introspectiva, capturando a dor de um homem assombrado pela perda do pai e pelo dever de proteger o legado de sua família. Kaluuya, com seu olhar penetrante e presença reservada, traz uma profundidade emocional ao papel, tornando OJ um personagem cativante e empático - sempre no tom certo. Já Keke Palmer é um contraponto energético e carismático, imbuindo sua personagem com uma mistura de ambição, coragem e vulnerabilidade. No entanto é a química entre os dois que torna essa maluquice de Peele palpável, fundamentando a narrativa em uma relação fraternal convincente e marcante.
"Não! Não Olhe!" é visualmente impressionante e desafiador, mas não esteve isento de críticas - com momentos de introspecção que interrompem a construção do suspense, muito se falou sobre "quebra de expectativas" como algo ruim. Eu discordo, mas entendo que a natureza abstrata de algumas das metáforas e mensagens do diretor podem não ressoar com todos os públicos, deixando algumas interpretações muito abertas. O fato é que, como M. Night Shyamalan, Jordan Peele não se faz de desentendido ao trazer o mistério como sua arma de marketing, mesmo que com isso se torne refém de seus mecanismos de plot twist! Se "Sinais" de Shyamalan era um filme sobre fé, saiba que "Não! Não Olhe!" é um filme sobre evidências para aqueles que apreciam histórias que são ao mesmo tempo entretenimento e reflexão!
Vale seu play!
Na linha do "ame ou odeie", "Não! Não Olhe!", dirigido por Jordan Peele e lançado em 2022, é uma obra que de fato desafia aquele tipo de categorização fácil já que seu roteiro mistura elementos de suspense, ficção científica e, claro, crítica social em uma narrativa dinâmica e singular. Peele, conhecido por seus trabalhos anteriores como "Corra!" e "Nós", mais uma vez demonstra sua habilidade em criar histórias que são tanto provocativas quanto profundamente envolventes e "Não! Não Olhe!" segue essa identidade, oferecendo uma experiência visualmente deslumbrante e intelectualmente estimulante - porém sem tanto impacto da violência como vimos anteriormente.
A trama segue os irmãos OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer), que administram um rancho de cavalos em uma área rural da Califórnia. Após a morte misteriosa de seu pai, os irmãos começam a notar atividades estranhas no céu acima de sua propriedade. Decididos a descobrir a verdade e capturar evidências da presença de OVNIs, eles se envolvem em uma série de eventos cada vez mais inquietantes. Confira o trailer:
"Nope" (no original) é muito inteligente ao explorar o desejo humano de controlar o desconhecido (e de como se dar bem com isso). Baseado nessa premissa, o roteiro de Peele acaba sendo uma ótima combinação de mistério e crítica social capaz de abordar temas mais sensíveis como a exploração da dor e do trauma como forma de entretenimento - a mercantilização do medo e o impacto do espetáculo na sociedade contemporânea, mais uma vez, provocam ótimas discussões. Peele, conhecido por suas incisivas observações comportamentais, utiliza de uma inofensiva trama de ficção científica para comentar sobre a obsessão humana em diferentes níveis. Repare como os diálogos afiados e cheios de subtexto incentivam a audiência a refletir sobre as camadas mais profundas da história. Já sua direção é, como sempre, meticulosa e inventiva. Peele utiliza uma paleta de cores contrastante e uma cinematografia de grande escala para capturar a beleza e a ameaça daquele cenário desértico. A escolha de locações com grande amplitude pontua ainda mais a sensação claustrofóbica de saber que existe uma força invisível que nos observa e quer nos fazer mal (a qualquer momento).
Daniel Kaluuya oferece uma performance introspectiva, capturando a dor de um homem assombrado pela perda do pai e pelo dever de proteger o legado de sua família. Kaluuya, com seu olhar penetrante e presença reservada, traz uma profundidade emocional ao papel, tornando OJ um personagem cativante e empático - sempre no tom certo. Já Keke Palmer é um contraponto energético e carismático, imbuindo sua personagem com uma mistura de ambição, coragem e vulnerabilidade. No entanto é a química entre os dois que torna essa maluquice de Peele palpável, fundamentando a narrativa em uma relação fraternal convincente e marcante.
"Não! Não Olhe!" é visualmente impressionante e desafiador, mas não esteve isento de críticas - com momentos de introspecção que interrompem a construção do suspense, muito se falou sobre "quebra de expectativas" como algo ruim. Eu discordo, mas entendo que a natureza abstrata de algumas das metáforas e mensagens do diretor podem não ressoar com todos os públicos, deixando algumas interpretações muito abertas. O fato é que, como M. Night Shyamalan, Jordan Peele não se faz de desentendido ao trazer o mistério como sua arma de marketing, mesmo que com isso se torne refém de seus mecanismos de plot twist! Se "Sinais" de Shyamalan era um filme sobre fé, saiba que "Não! Não Olhe!" é um filme sobre evidências para aqueles que apreciam histórias que são ao mesmo tempo entretenimento e reflexão!
Vale seu play!
"Ninguém Vai te Salvar" é mais um que entra naquela prateleira do "ame ou odeie" e a razão é muito simples - existe uma quebra de expectativa após o segundo ato que, mesmo inteligente (e muito interpretativo), subverte o estilo narrativo proposto no inicio e impacta diretamente na experiência emocional daquela audiência que até ali sofreu com seus medos e, claro, com muitos sustos junto com a protagonista. O que eu quero dizer, é que o filme escrito e dirigido pelo Brian Duffield (roteirista de "Amor e Monstros") é muito mais do que um suspense sobre extraterrestres que chegam no meio da noite para te abduzir - ainda que esse elemento fantástico (e nostálgico) esteja presente, é o horror da culpa e a perda das conexões humanas que realmente assustam a protagonista e nem todo mundo vai comprar isso!
"No One Will Save You" (título original) acompanha a vida da jovem e reclusa Brynn Adams (Kaitlyn Dever) quando, em uma certa noite, criaturas extraterrestres inexplicavelmente invadem sua casa, forçando ela a lutar por sua sobrevivência ao mesmo tempo em que precisa lidar com seus traumas do passado. Confira o trailer:
Se você está em busca de um filme que sabe exatamente despertar alguns "medos" que intimamente sabemos ter sido construídos muito mais pela própria cultura cinematográfica que vem da nossa infância do que por experiências evidentemente reais, pode dar o play em "Ninguém Vai te Salvar" que seu entretenimento está garantido. No entanto, preciso alinhar alguns pontos com você: o que faz desse filme algo, de fato, singular é a dose generosa de drama psicológico que a história carrega, equilibrando perfeitamente aquele tom de ficção cientifica mais independente de "A Vastidão da Noite" com a gramática angustiante e requintada conceitualmente de uma grande produção como "Sinais" do Shyamalan.
Mais até do que a competente direção de Duffield., é no seu texto que a verdadeira magia de "Ninguém Vai te Salvar" reside - a sua capacidade de nos fazer questionar a natureza daquela realidade em várias sequências onde qualquer tipo de diálogo é completamente descartável (por mais paradoxal que possa parecer) e a tensão é representada apenas pelos olhos da protagonista que enxerga seu inimigo sem ao menos entender a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, olha, eu diria que é um mergulho emocional e sensorial na trama. São tantas sensações que em pouco mais de 90 minutos, dificilmente encontramos tempo para respirar ou refletir sobre o que realmente causa mais terror em Adams: um extraterrestre ou os fantasmas que voltam à tona pelo contato com eles. E aqui cabe um comentário: Kaitlyn Dever é peça fundamental para que esse complicado quebra-cabeça funcione - sozinha, ela leva o filme nas costas e mesmo quando o diretor abre mão daquela estratégia de manter o "monstro" em segredo para estabelecer o terror e só depois impactar a audiência visualmente, é mesmo pelo seu drama mais pessoal que criamos a conexão direta com ela - a cena que ela entra na delegacia após a primeira noite de invasão, é um ótimo exemplo disso!
Antes de finalizar, é importante destacar a inteligência do roteiro em brincar com as nossas expectativas - é o que nos mantém constantemente intrigados. Os sustos com as criaturas existem, mas a necessidade de entender tudo aquilo que está acontecendo (e seus reflexos na protagonista) é muito mais envolvente. Cada cena é uma pista, e cada elemento cênico, uma revelação - isso exige muita atenção aos detalhes e alguma capacidade interpretativa já que o filme não entrega todas as respostas e por isso muitos vão odiar seu final (já adianto). Agora, tudo vai fazer muito mais sentido se você embarcar na maneira inteligente como "Ninguém Vai te Salvar" aborda temas como identidade e trauma - essa abordagem profundamente tocante cria uma camada extra para a narrativa, mais subjetiva, até reflexiva eu diria, e mesmo assim não exclui alguns bons sustos, perseguições, e toda angústia sobre aquela relação assustadora com o desconhecido que carregamos desde "Contatos Imediatos do Terceiro Grau"!
Vale seu play, desde que você seja capaz de enxergar além de um garota fugindo de um monstro de outro planeta!
"Ninguém Vai te Salvar" é mais um que entra naquela prateleira do "ame ou odeie" e a razão é muito simples - existe uma quebra de expectativa após o segundo ato que, mesmo inteligente (e muito interpretativo), subverte o estilo narrativo proposto no inicio e impacta diretamente na experiência emocional daquela audiência que até ali sofreu com seus medos e, claro, com muitos sustos junto com a protagonista. O que eu quero dizer, é que o filme escrito e dirigido pelo Brian Duffield (roteirista de "Amor e Monstros") é muito mais do que um suspense sobre extraterrestres que chegam no meio da noite para te abduzir - ainda que esse elemento fantástico (e nostálgico) esteja presente, é o horror da culpa e a perda das conexões humanas que realmente assustam a protagonista e nem todo mundo vai comprar isso!
"No One Will Save You" (título original) acompanha a vida da jovem e reclusa Brynn Adams (Kaitlyn Dever) quando, em uma certa noite, criaturas extraterrestres inexplicavelmente invadem sua casa, forçando ela a lutar por sua sobrevivência ao mesmo tempo em que precisa lidar com seus traumas do passado. Confira o trailer:
Se você está em busca de um filme que sabe exatamente despertar alguns "medos" que intimamente sabemos ter sido construídos muito mais pela própria cultura cinematográfica que vem da nossa infância do que por experiências evidentemente reais, pode dar o play em "Ninguém Vai te Salvar" que seu entretenimento está garantido. No entanto, preciso alinhar alguns pontos com você: o que faz desse filme algo, de fato, singular é a dose generosa de drama psicológico que a história carrega, equilibrando perfeitamente aquele tom de ficção cientifica mais independente de "A Vastidão da Noite" com a gramática angustiante e requintada conceitualmente de uma grande produção como "Sinais" do Shyamalan.
Mais até do que a competente direção de Duffield., é no seu texto que a verdadeira magia de "Ninguém Vai te Salvar" reside - a sua capacidade de nos fazer questionar a natureza daquela realidade em várias sequências onde qualquer tipo de diálogo é completamente descartável (por mais paradoxal que possa parecer) e a tensão é representada apenas pelos olhos da protagonista que enxerga seu inimigo sem ao menos entender a razão pela qual tudo aquilo está acontecendo, olha, eu diria que é um mergulho emocional e sensorial na trama. São tantas sensações que em pouco mais de 90 minutos, dificilmente encontramos tempo para respirar ou refletir sobre o que realmente causa mais terror em Adams: um extraterrestre ou os fantasmas que voltam à tona pelo contato com eles. E aqui cabe um comentário: Kaitlyn Dever é peça fundamental para que esse complicado quebra-cabeça funcione - sozinha, ela leva o filme nas costas e mesmo quando o diretor abre mão daquela estratégia de manter o "monstro" em segredo para estabelecer o terror e só depois impactar a audiência visualmente, é mesmo pelo seu drama mais pessoal que criamos a conexão direta com ela - a cena que ela entra na delegacia após a primeira noite de invasão, é um ótimo exemplo disso!
Antes de finalizar, é importante destacar a inteligência do roteiro em brincar com as nossas expectativas - é o que nos mantém constantemente intrigados. Os sustos com as criaturas existem, mas a necessidade de entender tudo aquilo que está acontecendo (e seus reflexos na protagonista) é muito mais envolvente. Cada cena é uma pista, e cada elemento cênico, uma revelação - isso exige muita atenção aos detalhes e alguma capacidade interpretativa já que o filme não entrega todas as respostas e por isso muitos vão odiar seu final (já adianto). Agora, tudo vai fazer muito mais sentido se você embarcar na maneira inteligente como "Ninguém Vai te Salvar" aborda temas como identidade e trauma - essa abordagem profundamente tocante cria uma camada extra para a narrativa, mais subjetiva, até reflexiva eu diria, e mesmo assim não exclui alguns bons sustos, perseguições, e toda angústia sobre aquela relação assustadora com o desconhecido que carregamos desde "Contatos Imediatos do Terceiro Grau"!
Vale seu play, desde que você seja capaz de enxergar além de um garota fugindo de um monstro de outro planeta!
Esse filme é uma verdadeira pancada - e olha, extremamente corajoso! "O Nevoeiro" é surpreendente em sua proposta de construir um suspense que mergulha a audiência em um verdadeiro pesadelo recheado de mistério e desespero. Comandado pelo Frank Darabont, diretor conhecido por duas das melhores adaptações de obras de Stephen King para o cinema, "Um Sonho de Liberdade" e "À Espera de um Milagre", mais uma vez demonstra sua habilidade em criar uma atmosfera realmente intensa e muito angustiante - se inicialmente você acha que o filme poder ser mais uma produção de baixo orçamento do autor, não vai demorar muito para você entender o tamanho da profundidade que tem esse texto. Sem brincadeira, o filme é uma baita jornada emocional que desafia as nossas expectativas e deixa uma marca poderosa bem no estilo "explodiu minha cabeça" assim que o créditos sobem!
A história de "O Nevoeiro" se desenrola em uma pequena cidade que, após uma tempestade violenta, é envolvida por um misterioso nevoeiro. Conforme o nevoeiro se espessa, os moradores descobrem que algo sinistro se esconde dentro dele, algo que desperta medo e paranoia. Presos em um supermercado, um grupo de sobreviventes luta não apenas contra o mal que habita o nevoeiro, mas também contra o colapso da civilidade e da esperança do ser humano. Confira o trailer (em inglês):
Como um amante da obra de Stephen King, mas sempre receoso pela forma como a adaptação vai acontecer, posso te garantir que a força de "O Nevoeiro", como no livro, está na nossa capacidade de imaginar o "mal" - seja ela a entidade que for, dessa ou de outra dimensão, desse ou de outro planeta. A estrutura narrativa construída por Darabont, que também assina o roteiro, está extremamente alinhada com sua capacidade de criar uma relação opressora e claustrofóbica com o ambiente, ao mesmo tempo em que eleva o tom de discussões religiosas ou filosóficas sobre a morte, sobre o desconhecido - essa combinação explosiva do medo, do isolamento e da necessidade de se relacionar com o outro ser humano, amplia a tensão de uma maneira avassaladora.
Como diretor, Darabont é magistral, capturando não apenas o terror físico das criaturas escondidas no nevoeiro, mas também o terror psicológico que surge da incerteza e da desconfiança entre os sobreviventes. A fotografia do Rohn Schmidt (um dos responsáveis pelo look de "The Walking Dead") é sombria, pesada e alinhada aos efeitos visuais (uns bons, outros nem tanto) que nos transporta para dentro do supermercado com a mesma eficiência que nos convida a explorar o desconhecido em forma de nevoeiro. Essa sensação de isolamento de um lado e desamparo de outro, é tão palpável que não se surpreenda se você precisar pausar o filme algumas vezes para recuperar o fôlego. Aliás, dois pontos que fazem o filme brilhar: a edição de som e sua trilha sonora. Repleta de notas dissonantes e atmosféricas, essa combinação intensifica ainda mais a sensação de angústia e suspense - um pouco de "Aniquilação" com "Rua Cloverfield, 10".
Thomas Jane como David Drayton, Marcia Gay Harden como Mrs. Carmody, e Toby Jones como Ollie Weeks, sem dúvida fazem de "The Mist" (no original) algo muito mais profundo - suas interações e conflitos adicionam camadas de complexidade à narrativa, elevando o filme para além do simples suspense com toques de mistério. Eu diria até que estamos mais próximos de um thriller psicológico, daqueles que não apenas assusta, mas também provoca boas reflexões sobre a natureza humana e os limites da busca pela sobrevivência.
Imperdível!
Esse filme é uma verdadeira pancada - e olha, extremamente corajoso! "O Nevoeiro" é surpreendente em sua proposta de construir um suspense que mergulha a audiência em um verdadeiro pesadelo recheado de mistério e desespero. Comandado pelo Frank Darabont, diretor conhecido por duas das melhores adaptações de obras de Stephen King para o cinema, "Um Sonho de Liberdade" e "À Espera de um Milagre", mais uma vez demonstra sua habilidade em criar uma atmosfera realmente intensa e muito angustiante - se inicialmente você acha que o filme poder ser mais uma produção de baixo orçamento do autor, não vai demorar muito para você entender o tamanho da profundidade que tem esse texto. Sem brincadeira, o filme é uma baita jornada emocional que desafia as nossas expectativas e deixa uma marca poderosa bem no estilo "explodiu minha cabeça" assim que o créditos sobem!
A história de "O Nevoeiro" se desenrola em uma pequena cidade que, após uma tempestade violenta, é envolvida por um misterioso nevoeiro. Conforme o nevoeiro se espessa, os moradores descobrem que algo sinistro se esconde dentro dele, algo que desperta medo e paranoia. Presos em um supermercado, um grupo de sobreviventes luta não apenas contra o mal que habita o nevoeiro, mas também contra o colapso da civilidade e da esperança do ser humano. Confira o trailer (em inglês):
Como um amante da obra de Stephen King, mas sempre receoso pela forma como a adaptação vai acontecer, posso te garantir que a força de "O Nevoeiro", como no livro, está na nossa capacidade de imaginar o "mal" - seja ela a entidade que for, dessa ou de outra dimensão, desse ou de outro planeta. A estrutura narrativa construída por Darabont, que também assina o roteiro, está extremamente alinhada com sua capacidade de criar uma relação opressora e claustrofóbica com o ambiente, ao mesmo tempo em que eleva o tom de discussões religiosas ou filosóficas sobre a morte, sobre o desconhecido - essa combinação explosiva do medo, do isolamento e da necessidade de se relacionar com o outro ser humano, amplia a tensão de uma maneira avassaladora.
Como diretor, Darabont é magistral, capturando não apenas o terror físico das criaturas escondidas no nevoeiro, mas também o terror psicológico que surge da incerteza e da desconfiança entre os sobreviventes. A fotografia do Rohn Schmidt (um dos responsáveis pelo look de "The Walking Dead") é sombria, pesada e alinhada aos efeitos visuais (uns bons, outros nem tanto) que nos transporta para dentro do supermercado com a mesma eficiência que nos convida a explorar o desconhecido em forma de nevoeiro. Essa sensação de isolamento de um lado e desamparo de outro, é tão palpável que não se surpreenda se você precisar pausar o filme algumas vezes para recuperar o fôlego. Aliás, dois pontos que fazem o filme brilhar: a edição de som e sua trilha sonora. Repleta de notas dissonantes e atmosféricas, essa combinação intensifica ainda mais a sensação de angústia e suspense - um pouco de "Aniquilação" com "Rua Cloverfield, 10".
Thomas Jane como David Drayton, Marcia Gay Harden como Mrs. Carmody, e Toby Jones como Ollie Weeks, sem dúvida fazem de "The Mist" (no original) algo muito mais profundo - suas interações e conflitos adicionam camadas de complexidade à narrativa, elevando o filme para além do simples suspense com toques de mistério. Eu diria até que estamos mais próximos de um thriller psicológico, daqueles que não apenas assusta, mas também provoca boas reflexões sobre a natureza humana e os limites da busca pela sobrevivência.
Imperdível!
"O Problema dos 3 Corpos" é uma mistura de "Contato", "A Chegada" e até de "V" (aquela do SBT mesmo, dos extraterrestres lagartos e tal). Lançada em 2024 pela Netflix, essa série é uma adaptação ambiciosa da aclamada trilogia de ficção científica escrita por Cixin Liu e desenvolvida por nada menos que David Benioff e D. B. Weiss (de "Game of Thrones") e pelo Alexander Woo (de "True Blood"). Com um nível de produção bastante requintado, essa adaptação busca capturar a complexidade e a profundidade do material original, trazendo uma narrativa densa e intelectualmente estimulante para as telas, explorando os meandros da ciência, da filosofia, da humanidade e do mistério com muito equilíbrio e sem esquecer do entretenimento. E oha, que entretenimento bom!
A trama de "O Problema dos 3 Corpos" gira em torno da descoberta da existência de uma civilização alienígena em um sistema estelar triplamente complexo, que pode ameaçar a sobrevivência da humanidade em algum momento do futuro. A série alterna entre o passado e o presente, começando com os eventos da Revolução Cultural Chinesa e progredindo até os dias de hoje onde cientistas enfrentam a possibilidade de um invasão extraterrestre. Confira o trailer:
Benioff e Weiss, juntamente com Woo, trazem sua experiência em criar narrativas épicas para uma ficção científica que vai construindo camadas, de fato, envolventes. Desde o primeiro episódio, o que vemos é a essência filosófica e científica do romance de Liu, adaptada em uma história dinâmica e provocadora. O roteiro é denso e exige atenção pela falta de linearidade temporal e por carregar na sua gênese temas menos usuais para a audiência, por outro lado é recompensador para os apreciadores do gênero todo esse desafio intelectual e, principalmente, essa provocação sobre uma percepção de mundo cheia de simbolismos. A direção de Minkie Spiro (de "Fosse/Verdon") e dos outros diretores envolvidos no projeto, é eficaz ao capturar a grandiosidade do universo original com maestria - se há alguns anos essa adaptação parecia impossível, posso dizer que a cinematografia aplicada em "O Problema dos 3 Corpos" é realmente impressionante - com uma paleta de cores rica e efeitos visuais de alta qualidade, a direção foi capaz de criar cenários visualmente deslumbrantes. As sequências que retratam o sistema estelar triplamente complexo pela perspectiva de um jogo de video-game são particularmente notáveis, oferecendo uma sensação de maravilha pelo visual e de perigo iminente pela narrativa. Incrível!
A série também se destaca por performances convincentes de seu elenco realmente talentoso. Zine Tseng no passado e Rosalind Chao no presente, entregam uma jornada poderosa e emotiva para Ye Wenjie, capturando a dor e a determinação de uma mulher que testemunhou tragédias inimagináveis e que busca respostas em meio ao caos. já Eiza González (como Auggie Salazar), Jess Hong (como Jin Cheng) e Jovan Adepo (como Saul Durand) trazem uma mistura de curiosidade intelectual e vulnerabilidade emocional, tornando seus personagens cativantes em suas dinâmicas de amizade. Benedict Wong e Jonathan Pryce também merecem elogios por entregar atuações sólidas que ajudam a ancorar a narrativa em uma realidade que passa a ser palpável graças a eles - a cena em que Pryce tenta explicar sobre a mentira a partir de um conto de fadas para alguém que é literal é simplesmente sensacional.
É inegável que "O Problema dos 3 Corpos" carrega o peso de sua profundidade como narrativa e de sua densidade vinda do material original - não é uma série fácil de acompanhar e isso pode afastar aqueles que buscam só um entretenimento banal. Aqui, nada é banal - o que vemos na tela é realmente algo ambicioso e estimulante, uma história que oferece uma visão fascinante de um dos romances de ficção científica mais influentes dos últimos tempos e que, com um conceito visual estilizado e sua narrativa desafiadora, nos faz pensar com mais cuidado sobre a ciência e a existência humana através do tempo e do espaço. Simples, não?
Um golaço da Netflix que pede o seu play!
"O Problema dos 3 Corpos" é uma mistura de "Contato", "A Chegada" e até de "V" (aquela do SBT mesmo, dos extraterrestres lagartos e tal). Lançada em 2024 pela Netflix, essa série é uma adaptação ambiciosa da aclamada trilogia de ficção científica escrita por Cixin Liu e desenvolvida por nada menos que David Benioff e D. B. Weiss (de "Game of Thrones") e pelo Alexander Woo (de "True Blood"). Com um nível de produção bastante requintado, essa adaptação busca capturar a complexidade e a profundidade do material original, trazendo uma narrativa densa e intelectualmente estimulante para as telas, explorando os meandros da ciência, da filosofia, da humanidade e do mistério com muito equilíbrio e sem esquecer do entretenimento. E oha, que entretenimento bom!
A trama de "O Problema dos 3 Corpos" gira em torno da descoberta da existência de uma civilização alienígena em um sistema estelar triplamente complexo, que pode ameaçar a sobrevivência da humanidade em algum momento do futuro. A série alterna entre o passado e o presente, começando com os eventos da Revolução Cultural Chinesa e progredindo até os dias de hoje onde cientistas enfrentam a possibilidade de um invasão extraterrestre. Confira o trailer:
Benioff e Weiss, juntamente com Woo, trazem sua experiência em criar narrativas épicas para uma ficção científica que vai construindo camadas, de fato, envolventes. Desde o primeiro episódio, o que vemos é a essência filosófica e científica do romance de Liu, adaptada em uma história dinâmica e provocadora. O roteiro é denso e exige atenção pela falta de linearidade temporal e por carregar na sua gênese temas menos usuais para a audiência, por outro lado é recompensador para os apreciadores do gênero todo esse desafio intelectual e, principalmente, essa provocação sobre uma percepção de mundo cheia de simbolismos. A direção de Minkie Spiro (de "Fosse/Verdon") e dos outros diretores envolvidos no projeto, é eficaz ao capturar a grandiosidade do universo original com maestria - se há alguns anos essa adaptação parecia impossível, posso dizer que a cinematografia aplicada em "O Problema dos 3 Corpos" é realmente impressionante - com uma paleta de cores rica e efeitos visuais de alta qualidade, a direção foi capaz de criar cenários visualmente deslumbrantes. As sequências que retratam o sistema estelar triplamente complexo pela perspectiva de um jogo de video-game são particularmente notáveis, oferecendo uma sensação de maravilha pelo visual e de perigo iminente pela narrativa. Incrível!
A série também se destaca por performances convincentes de seu elenco realmente talentoso. Zine Tseng no passado e Rosalind Chao no presente, entregam uma jornada poderosa e emotiva para Ye Wenjie, capturando a dor e a determinação de uma mulher que testemunhou tragédias inimagináveis e que busca respostas em meio ao caos. já Eiza González (como Auggie Salazar), Jess Hong (como Jin Cheng) e Jovan Adepo (como Saul Durand) trazem uma mistura de curiosidade intelectual e vulnerabilidade emocional, tornando seus personagens cativantes em suas dinâmicas de amizade. Benedict Wong e Jonathan Pryce também merecem elogios por entregar atuações sólidas que ajudam a ancorar a narrativa em uma realidade que passa a ser palpável graças a eles - a cena em que Pryce tenta explicar sobre a mentira a partir de um conto de fadas para alguém que é literal é simplesmente sensacional.
É inegável que "O Problema dos 3 Corpos" carrega o peso de sua profundidade como narrativa e de sua densidade vinda do material original - não é uma série fácil de acompanhar e isso pode afastar aqueles que buscam só um entretenimento banal. Aqui, nada é banal - o que vemos na tela é realmente algo ambicioso e estimulante, uma história que oferece uma visão fascinante de um dos romances de ficção científica mais influentes dos últimos tempos e que, com um conceito visual estilizado e sua narrativa desafiadora, nos faz pensar com mais cuidado sobre a ciência e a existência humana através do tempo e do espaço. Simples, não?
Um golaço da Netflix que pede o seu play!
"Rua Cloverfield, 10" é realmente um drama dos mais envolventes justamente por não respeitar os limites de gênero - se em um primeiro momento achamos que estamos imersos em um profundo e tenso drama psicológico, em algum momento você terá a certeza de que se trata mesmo é de um angustiante thriller de suspense até que finalmente somos arremessados em uma bem estruturada e empolgante ficção cientifica! O fato é que se você é fã de cinema-raiz e valoriza histórias, de fato, cativantes, "Rua Cloverfield, 10" não deve (e não pode) passar despercebido. Dirigido por Dan Trachtenberg (de "O Predador: A Caçada"), o filme se destaca pela sua narrativa intrigante com que discute as nuances mais cruéis da "Arte da Sobrevivência".
Michelle (Mary Elizabeth Winstead) é uma mulher que, após um acidente de carro, acorda em um bunker subterrâneo com um estranho chamado Howard (John Goodman). Howard alega que o mundo exterior foi devastado por um ataque químico e que eles são os únicos sobreviventes. Com a incerteza pairando no ar, Michelle e um terceiro habitante, Emmett (John Gallagher Jr.), devem aprender a confiar um no outro enquanto tentam descobrir a verdade sobre o que realmente aconteceu lá fora. Confira o trailer:
É inegável;l que "Rua Cloverfield, 10" se destaca mesmo é por sua habilidade em criar uma atmosfera realmente tensa, intensa e claustrofóbica. A direção de Trachtenberg se aproveita da premissa do desconhecido e do gatilho da dúvida para construir uma narrativa excepcional, conseguindo nos manter em um nível de tensão que só cresce ao longo do filme - e isso é raríssimo (lembram de "Sinais"?)! A fotografia do Jeff Cutter (de "Daisy Jones & The Six") se concentra basicamente dentro de um bunker escuro e misterioso, fazendo com que suas lentes amplifiquem a sensação de isolamento e de paranoia dos personagens de uma maneira impressionante. A performance de John Goodman é verdadeiramente arrepiante, ele incorpora perfeitamente a complexidade de seu personagem, alternando entre momentos de compaixão e ameaça - essa dualidade de Howard é justamente o que nos faz entender o tamanho do drama de Michelle.
A trilha sonora, composta pelo genial Bear McCreary (de "Da Vinci's Demons", "Outlander" e muitos outros) adiciona camadas puramente emocionais à narrativa, aumentando ainda mais a sensação de perigo iminente. Os detalhes meticulosos na direção Trachtenberg se confundem com as performances do elenco, com a enorme capacidade da produção em nos colocar dentro de um cenário catastrófico que vai desde aquele bunker até os efeitos especiais que experienciamos no terceiro ato - a contribuição dessa harmonia de elementos técnicos e artísticos para a autenticidade da história, mesmo sendo uma ficção cientifica, é genial.
Dito isso, é muito fácil atestar que o que torna "Rua Cloverfield, 10" ainda mais fascinante, certamente, é a forma como o roteiro desafia as nossas expectativas e brinca com a nossa percepção de realidade. A trama é repleta de reviravoltas surpreendentes que nos mantêm constantemente intrigados e ansiosos por respostas - que muitas vezes podem não vir (então não espere uma jornada fácil ou didática demais). Reparem como a desconstrução gradual da personagem de Michelle é particularmente interessante - a medida que ela passa de uma vítima assustada para uma protagonista resiliente, ganhamos ainda mais em ação e emoção! Esse é o tom!
"Rua Cloverfield, 10" é um verdadeiro retrato sobre a luta pela sobrevivência em meio ao caos e pelo real sentido da vida! Vale muito o seu play!
"Rua Cloverfield, 10" é realmente um drama dos mais envolventes justamente por não respeitar os limites de gênero - se em um primeiro momento achamos que estamos imersos em um profundo e tenso drama psicológico, em algum momento você terá a certeza de que se trata mesmo é de um angustiante thriller de suspense até que finalmente somos arremessados em uma bem estruturada e empolgante ficção cientifica! O fato é que se você é fã de cinema-raiz e valoriza histórias, de fato, cativantes, "Rua Cloverfield, 10" não deve (e não pode) passar despercebido. Dirigido por Dan Trachtenberg (de "O Predador: A Caçada"), o filme se destaca pela sua narrativa intrigante com que discute as nuances mais cruéis da "Arte da Sobrevivência".
Michelle (Mary Elizabeth Winstead) é uma mulher que, após um acidente de carro, acorda em um bunker subterrâneo com um estranho chamado Howard (John Goodman). Howard alega que o mundo exterior foi devastado por um ataque químico e que eles são os únicos sobreviventes. Com a incerteza pairando no ar, Michelle e um terceiro habitante, Emmett (John Gallagher Jr.), devem aprender a confiar um no outro enquanto tentam descobrir a verdade sobre o que realmente aconteceu lá fora. Confira o trailer:
É inegável;l que "Rua Cloverfield, 10" se destaca mesmo é por sua habilidade em criar uma atmosfera realmente tensa, intensa e claustrofóbica. A direção de Trachtenberg se aproveita da premissa do desconhecido e do gatilho da dúvida para construir uma narrativa excepcional, conseguindo nos manter em um nível de tensão que só cresce ao longo do filme - e isso é raríssimo (lembram de "Sinais"?)! A fotografia do Jeff Cutter (de "Daisy Jones & The Six") se concentra basicamente dentro de um bunker escuro e misterioso, fazendo com que suas lentes amplifiquem a sensação de isolamento e de paranoia dos personagens de uma maneira impressionante. A performance de John Goodman é verdadeiramente arrepiante, ele incorpora perfeitamente a complexidade de seu personagem, alternando entre momentos de compaixão e ameaça - essa dualidade de Howard é justamente o que nos faz entender o tamanho do drama de Michelle.
A trilha sonora, composta pelo genial Bear McCreary (de "Da Vinci's Demons", "Outlander" e muitos outros) adiciona camadas puramente emocionais à narrativa, aumentando ainda mais a sensação de perigo iminente. Os detalhes meticulosos na direção Trachtenberg se confundem com as performances do elenco, com a enorme capacidade da produção em nos colocar dentro de um cenário catastrófico que vai desde aquele bunker até os efeitos especiais que experienciamos no terceiro ato - a contribuição dessa harmonia de elementos técnicos e artísticos para a autenticidade da história, mesmo sendo uma ficção cientifica, é genial.
Dito isso, é muito fácil atestar que o que torna "Rua Cloverfield, 10" ainda mais fascinante, certamente, é a forma como o roteiro desafia as nossas expectativas e brinca com a nossa percepção de realidade. A trama é repleta de reviravoltas surpreendentes que nos mantêm constantemente intrigados e ansiosos por respostas - que muitas vezes podem não vir (então não espere uma jornada fácil ou didática demais). Reparem como a desconstrução gradual da personagem de Michelle é particularmente interessante - a medida que ela passa de uma vítima assustada para uma protagonista resiliente, ganhamos ainda mais em ação e emoção! Esse é o tom!
"Rua Cloverfield, 10" é um verdadeiro retrato sobre a luta pela sobrevivência em meio ao caos e pelo real sentido da vida! Vale muito o seu play!