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Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria

É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!

Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:

Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.

É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em  "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.

A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.

O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da  minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!

Sendo assim, só posso te dizer: vale muito seu play!

Assista Agora

É praticamente impossível você passar inteiro pelos 5 episódios da minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria"- simplesmente impossível! Embora realizado (e dirigido) por um jornalista, o competente Marcelo Canellas, o que fatalmente impacta na narrativa menos cinematográfica da obra, dando um caráter mais de "reportagem especial"; é de se elogiar a forma como ele vai costurando os fatos e atribuindo em uma linha do tempo dolorosa, o peso exato de cada fase da luta por justiça dos pais e dos sobreviventes da tragédia de 2013. Eu diria que esse material é uma espécie de conteúdo complementar de luxo que basicamente eleva a experiência de ter assistido a versão ficcional da Netflix, "Todo Dia A Mesma Noite", para outro patamar!

Aqui, Canellas (que viveu parte de sua vida em Santa Maria) conta a história da batalha judicial pelo viés dos familiares das vítimas e de alguns sobreviventes, revivendo os detalhes que levaram à tragédia, a partir de imagens de arquivo e entrevistas que chegam a partir o coração. Confira o trailer:

Depois do primeiro impacto visual onde Canellas se apropria de uma boa quantidade de vídeos amadores (quase todos gravados pelo celular de quem conseguiu sobreviver ao incêndio da Boate Kiss) para estabelecer o tamanho da tragédia que aconteceu naquela pequena cidade do Rio Grande do Sul, e de alguns depoimentos de quem esteve no local durante o caos, percebemos que a narrativa subverte o "entretenimento" e se torna mais "informativa" - a própria narração do repórter dá o tom desse conceito e mesmo que alguns assuntos levantados por ele soem desinteressantes em um olhar mais crítico, a conexão que vai se estabelecendo com aquela comunidade faz toda diferença na forma como nos relacionaremos com o que vem a seguir.

É notável a preocupação do documentário em trabalhar apenas com os fatos, evitando ao máximo qualquer especulação que não possa ser provada por A + B - a forma como os alvarás e outras liberações (que a série da Netflix pontua como decisões politicas ou de relacionamento) que um dos donos da Boate, Mauro Hoffmann, teria conseguido, nem citado é. Embora a narrativa até soe investigativa, pouco se traz de novidade. Por outro lado, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" se aproveita de uma edição primorosa para deixar um recorte histórico bastante fluido - é inegável que assistir a versão real da história e dos personagens que conhecemos em  "Todo Dia A Mesma Noite", nos impressiona.

A imparcialidade de Canellas também merece elogio: a mesma voz que ele dá aos familiares e sobreviventes, ele também dá aos acusados. Essa postura chega incomodar em alguns momentos, mas enriquece a discussão e provoca o julgamento. Ao revelar as tensões entre sobreviventes, advogados, acusados e sociedade, o documentário ganha um tom midiático que, para mim, seria dispensável, mas sem dúvida alguma fortalece o conflito fortalece e prende nossa atenção. Agora, é muito (mas muito) difícil não sentir um verdadeiro nó na garganta diante do dolorido relato de um dos sobreviventes, Delvani, a respeito daquela noite, no tribunal - essa humanização da tragédia mexe com nossas emoções de uma forma muito peculiar.

O fato é que "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria" funciona como um olhar mais realista, crível e visceral ao material que a jornalista Daniela Arbex emprestou para a ficção - isso, aliás, não diminui o valor da  minissérie da Netflix, pelo contrário, apenas chancela sua importância e dimensiona toda a dor que experienciamos de uma maneira completamente diferente, deixando claro que ainda havia muito a ser contato, tanto de um lado quanto do outro, nos provocando ainda mais indignação e empatia!

Sendo assim, só posso te dizer: vale muito seu play!

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Dossiê Chapecó

Depois da ótima minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria", chegou a vez de revisitarmos outra tragédia que marcou a história recente do nosso país. "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" surge como uma obra definitiva sobre o terrível acidente que dizimou 71 pessoas naquele 29 de novembro de 2016 quando a Chapecoense viajava para disputar o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana. Imperdível pelo relado sensível e profundo, essa produção da Discovery para a HBO não apenas emociona, mas também instiga reflexões profundas sobre a força do espírito humano diante das adversidades e sobre a capacidade que algumas pessoas tem de colocar dezenas de vidas em risco para ganhar um "trocado"!

"Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" narra em quatro episódios, a trágica queda do voo LaMia 2933, que transportava a equipe de futebol da Chapecoense, jornalistas e tripulação em novembro de 2016. A aeronave caiu nas montanhas da Colômbia, deixando a comunidade do futebol em choque. Esse documentário apresenta a história arrebatadora da equipe, as circunstâncias que levaram ao acidente, a busca por culpados, as vidas perdidas e a incrível jornada do clube e das famílias afetadas para se reerguer. Ao mergulhar na investigação e na experiência das vítimas, o filme traça um paralelo interessante sobre a humanidade em seu estado mais vulnerável e compassivo, e a dificuldade que se tem de fazer justiça nesse país! Confira o trailer:

"Dossiê Chapecó" chega chancelada pela indicação ao Emmy na categoria Melhor Documentário em 2022 e por mergulhar fundo na investigação da tragédia, apresentando uma análise detalhada do acidente e das consequências que abalaram o mundo do futebol. O roteiro constrói uma narrativa extremamente fluida que revela de maneira impactante a busca por respostas, examinando as complexidades de um acidente aéreo, além das responsabilidades e lições a serem aprendidas depois de tantas falhas - muitas delas pautadas na ganância. Com depoimentos exclusivos dos sobreviventes, de familiares das vítimas e jornalistas envolvidos naquela cobertura, a minissérie consegue a proeza de trazer para frente das câmeras peças-chaves da investigação como Ricardo Albacete, fundador da companhia aérea e dono do avião, e Marcos Rocha, ex-piloto e um dos proprietários da empresa, ainda exilado nos EUA - o seu sócio morreu no acidente.

A qualidade da produção é inegável, com uma edição impressionante, capaz de capturar tanto a dor e angústia quanto a revolta e indignação depois da tragédia. E aqui eu cito pelo menos três passagens duras, impactantes: a primeira, sem dúvida, são as imagens inéditas gravadas pelos próprios socorristas colombianos minutos após a queda do 2933 da LaMia - a cena de um dos sobreviventes, funcionário da empresa, Erwin Tumiri, em completo estado de choque tentando entender o que aconteceu após ser resgatado. Olha, vai dilacerar seu coração. O segundo, é a simulação do acidente pela perspectiva de quem estava dentro do avião com a narração do Alan Ruschel e do Neto - um golpe duro, eu diria, sufocante! E finalmente, o terceiro, as inúmeras imagens de arquivo, todas com som original - uma delas narrada pelo próprio Galvão Bueno, na chegada dos corpos em Chapecó. É um mergulho doloroso ao passado que todos vão se lembrar!

Assistir "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" é mais do que simplesmente dar um play em um documentário qualquer; é vivenciar novamente uma jornada emocional difícil de digerir e que de alguma forma nos tocou a alma em 2016. E embora seja uma lição de humanidade, uma sensível homenagem às vidas perdidas e um tributo à resiliência daqueles que sobreviveram, a minissérie não deixa de lado seu caráter investigativo e seu tom de denúncia em nenhum momento - e aqui é impossível não citar a participação do Senador Romário. Olha, mais uma "pancada" que chega no streaming para apertar, de novo, nosso coração!

Vale muito o seu play!

Assista Agora

Depois da ótima minissérie documental da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria", chegou a vez de revisitarmos outra tragédia que marcou a história recente do nosso país. "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" surge como uma obra definitiva sobre o terrível acidente que dizimou 71 pessoas naquele 29 de novembro de 2016 quando a Chapecoense viajava para disputar o primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana. Imperdível pelo relado sensível e profundo, essa produção da Discovery para a HBO não apenas emociona, mas também instiga reflexões profundas sobre a força do espírito humano diante das adversidades e sobre a capacidade que algumas pessoas tem de colocar dezenas de vidas em risco para ganhar um "trocado"!

"Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" narra em quatro episódios, a trágica queda do voo LaMia 2933, que transportava a equipe de futebol da Chapecoense, jornalistas e tripulação em novembro de 2016. A aeronave caiu nas montanhas da Colômbia, deixando a comunidade do futebol em choque. Esse documentário apresenta a história arrebatadora da equipe, as circunstâncias que levaram ao acidente, a busca por culpados, as vidas perdidas e a incrível jornada do clube e das famílias afetadas para se reerguer. Ao mergulhar na investigação e na experiência das vítimas, o filme traça um paralelo interessante sobre a humanidade em seu estado mais vulnerável e compassivo, e a dificuldade que se tem de fazer justiça nesse país! Confira o trailer:

"Dossiê Chapecó" chega chancelada pela indicação ao Emmy na categoria Melhor Documentário em 2022 e por mergulhar fundo na investigação da tragédia, apresentando uma análise detalhada do acidente e das consequências que abalaram o mundo do futebol. O roteiro constrói uma narrativa extremamente fluida que revela de maneira impactante a busca por respostas, examinando as complexidades de um acidente aéreo, além das responsabilidades e lições a serem aprendidas depois de tantas falhas - muitas delas pautadas na ganância. Com depoimentos exclusivos dos sobreviventes, de familiares das vítimas e jornalistas envolvidos naquela cobertura, a minissérie consegue a proeza de trazer para frente das câmeras peças-chaves da investigação como Ricardo Albacete, fundador da companhia aérea e dono do avião, e Marcos Rocha, ex-piloto e um dos proprietários da empresa, ainda exilado nos EUA - o seu sócio morreu no acidente.

A qualidade da produção é inegável, com uma edição impressionante, capaz de capturar tanto a dor e angústia quanto a revolta e indignação depois da tragédia. E aqui eu cito pelo menos três passagens duras, impactantes: a primeira, sem dúvida, são as imagens inéditas gravadas pelos próprios socorristas colombianos minutos após a queda do 2933 da LaMia - a cena de um dos sobreviventes, funcionário da empresa, Erwin Tumiri, em completo estado de choque tentando entender o que aconteceu após ser resgatado. Olha, vai dilacerar seu coração. O segundo, é a simulação do acidente pela perspectiva de quem estava dentro do avião com a narração do Alan Ruschel e do Neto - um golpe duro, eu diria, sufocante! E finalmente, o terceiro, as inúmeras imagens de arquivo, todas com som original - uma delas narrada pelo próprio Galvão Bueno, na chegada dos corpos em Chapecó. É um mergulho doloroso ao passado que todos vão se lembrar!

Assistir "Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia" é mais do que simplesmente dar um play em um documentário qualquer; é vivenciar novamente uma jornada emocional difícil de digerir e que de alguma forma nos tocou a alma em 2016. E embora seja uma lição de humanidade, uma sensível homenagem às vidas perdidas e um tributo à resiliência daqueles que sobreviveram, a minissérie não deixa de lado seu caráter investigativo e seu tom de denúncia em nenhum momento - e aqui é impossível não citar a participação do Senador Romário. Olha, mais uma "pancada" que chega no streaming para apertar, de novo, nosso coração!

Vale muito o seu play!

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O Ninho: Futebol & Tragédia

Olha, "O Ninho: Futebol & Tragédia" é uma pancada tão forte quanto o excelente documentário da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria". Essa produção da Netflix em parceria com o UOL, é um relato visceral e sensível sobre a tragédia que abalou o Flamengo em 2019, quando um incêndio no seu centro de treinamento vitimou 10 jovens jogadores das categorias de base do clube. Mais do que um doloroso registro histórico, a minissérie dirigida pelo Pedro Asbeg (de "Lei da Selva - A história do jogo do bicho") é um mergulho profundo na dor e na luta por justiça das famílias das vítimas, abrindo espaço para reflexões sobre as falhas estruturais e a negligência que culminaram em uma das mais brutais tragédias do nosso país.

"O Ninho: Futebol & Tragédia" acompanha a trajetória profissional de alguns jovens que estavam no centro de treinamento do Flamengo no dia do incêndio em 2019. Reunindo jornalistas, parentes, dirigentes e advogados, a minissérie de três episódios explora e busca as respostas sobre a tragédia ao mesmo tempo em que conta as histórias desses atletas que passavam parte de suas vidas dentro do Ninho, sob os cuidados do clube. "O Ninho" investiga não só o incêndio que marcou o futebol nacional, como também as consequências diretas da inércia da justiça em todos aqueles que foram impactados pela tragédia! Confira o trailer:

O fato do filme não se limitar apenas em apresentar os fatos obscuros que culminaram no dia do incêndio, sem a menor dúvida que humaniza a narrativa - muito ao expor a dor de quem, de fato, sofre até hoje com aquela tragédia. O roteiro é inteligente em se apoiar nas entrevistas com os familiares e com os jogadores sobreviventes para construir uma verdadeira cruzada emocional sobre o drama que todos viveram naquela noite sob diversas perspectivas. Essa estratégia conceitual funciona como uma espécie de quebra-cabeça e conforme as peças vão sendo apresentadas, sua montagem tem um resultado impressionante em quem assiste - eu diria que é um soco no estômago atrás do outro. 

A dor dilacerante dos pais que perderam seus filhos é retratada com sensibilidade e respeito, sem cair no sensacionalismo barato, graças a direção precisa e elegante de Asbeg - ele sabe respeitar o espaço do entrevistado, deixando a câmera fazer o seu papel de contar aquilo que não pode ser falado. Asbeg também utiliza de uma série de recursos gráficos e algumas reconstituições muito bem planejadas que não só contextualizam a história e dão voz aos personagens como também nos provoca algumas sensações nada agradáveis. Já com as imagens de arquivo, especialmente dos programas esportivos da época, e mais depoimentos de algumas peças-chave do processo, somos convidados a, mais uma vez, lidar com aquele terrível sentimento de impunidade que assola nosso pais desde sempre. Existe um tom de melancolia, denso e extremamente realista, que contribui demais para a imersão nessa atmosfera de luto e desolação que permeiam todos os episódios.

"O Ninho: Futebol & Tragédia" é um documentário essencial para entender as raízes da tragédia que atingiu o Flamengo e, por extensão, o futebol brasileiro e suas politicagens. Mais do que um filme sobre um incêndio, eu diria que é no grito por justiça e uma reflexão sobre a fragilidade da vida - somos tocados na alma como em "Dossiê Chapecó", por exemplo. Dito isso, fica fácil atestar que é mesmo impossível assistir a essa minissérie e não se emocionar com a dor das famílias, a resiliência dos sobreviventes e ao mesmo tempo não se indignar com a falta de empatia do clube e da justiça na busca pelos responsáveis. "O Ninho: Futebol & Tragédia" é uma obra imperdível, mas de difícil digestão - uma jornada realmente dolorosa e impactante que marca!

Vale seu play!

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Olha, "O Ninho: Futebol & Tragédia" é uma pancada tão forte quanto o excelente documentário da Globoplay, "Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria". Essa produção da Netflix em parceria com o UOL, é um relato visceral e sensível sobre a tragédia que abalou o Flamengo em 2019, quando um incêndio no seu centro de treinamento vitimou 10 jovens jogadores das categorias de base do clube. Mais do que um doloroso registro histórico, a minissérie dirigida pelo Pedro Asbeg (de "Lei da Selva - A história do jogo do bicho") é um mergulho profundo na dor e na luta por justiça das famílias das vítimas, abrindo espaço para reflexões sobre as falhas estruturais e a negligência que culminaram em uma das mais brutais tragédias do nosso país.

"O Ninho: Futebol & Tragédia" acompanha a trajetória profissional de alguns jovens que estavam no centro de treinamento do Flamengo no dia do incêndio em 2019. Reunindo jornalistas, parentes, dirigentes e advogados, a minissérie de três episódios explora e busca as respostas sobre a tragédia ao mesmo tempo em que conta as histórias desses atletas que passavam parte de suas vidas dentro do Ninho, sob os cuidados do clube. "O Ninho" investiga não só o incêndio que marcou o futebol nacional, como também as consequências diretas da inércia da justiça em todos aqueles que foram impactados pela tragédia! Confira o trailer:

O fato do filme não se limitar apenas em apresentar os fatos obscuros que culminaram no dia do incêndio, sem a menor dúvida que humaniza a narrativa - muito ao expor a dor de quem, de fato, sofre até hoje com aquela tragédia. O roteiro é inteligente em se apoiar nas entrevistas com os familiares e com os jogadores sobreviventes para construir uma verdadeira cruzada emocional sobre o drama que todos viveram naquela noite sob diversas perspectivas. Essa estratégia conceitual funciona como uma espécie de quebra-cabeça e conforme as peças vão sendo apresentadas, sua montagem tem um resultado impressionante em quem assiste - eu diria que é um soco no estômago atrás do outro. 

A dor dilacerante dos pais que perderam seus filhos é retratada com sensibilidade e respeito, sem cair no sensacionalismo barato, graças a direção precisa e elegante de Asbeg - ele sabe respeitar o espaço do entrevistado, deixando a câmera fazer o seu papel de contar aquilo que não pode ser falado. Asbeg também utiliza de uma série de recursos gráficos e algumas reconstituições muito bem planejadas que não só contextualizam a história e dão voz aos personagens como também nos provoca algumas sensações nada agradáveis. Já com as imagens de arquivo, especialmente dos programas esportivos da época, e mais depoimentos de algumas peças-chave do processo, somos convidados a, mais uma vez, lidar com aquele terrível sentimento de impunidade que assola nosso pais desde sempre. Existe um tom de melancolia, denso e extremamente realista, que contribui demais para a imersão nessa atmosfera de luto e desolação que permeiam todos os episódios.

"O Ninho: Futebol & Tragédia" é um documentário essencial para entender as raízes da tragédia que atingiu o Flamengo e, por extensão, o futebol brasileiro e suas politicagens. Mais do que um filme sobre um incêndio, eu diria que é no grito por justiça e uma reflexão sobre a fragilidade da vida - somos tocados na alma como em "Dossiê Chapecó", por exemplo. Dito isso, fica fácil atestar que é mesmo impossível assistir a essa minissérie e não se emocionar com a dor das famílias, a resiliência dos sobreviventes e ao mesmo tempo não se indignar com a falta de empatia do clube e da justiça na busca pelos responsáveis. "O Ninho: Futebol & Tragédia" é uma obra imperdível, mas de difícil digestão - uma jornada realmente dolorosa e impactante que marca!

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Todo dia a mesma noite

"Todo dia a mesma noite" é excelente, porém é preciso um certo alerta para os pais e mães que estão lendo essa análise: a jornada será especialmente difícil, já que é impossível não gerar empatia por aqueles personagens e pelo momento que eles estão passando. A minissérie da Netflix que revive os acontecimentos da Boate Kiss em Santa Maria não é, necessariamente, sobre a noite da tragédia e sim sobre os reflexos na vida de quem sobreviveu e, principalmente, é sobre a luta por justiça daqueles que perderam seus filhos de uma forma tão absurda quanto brutal. Olha, a dor será quase insuportável!

Baseada no livro homônimo da jornalista e escritora Daniela Arbex, "Todo dia a mesma noite" relembra aquela noite de janeiro de 2013 onde 242 jovens perderam a vida na Boate Kiss e todas as noites que se repetiram para os sobreviventes e familiares até hoje. A partir dos trágicos acontecimentos, acompanhamos toda luta por justiça, liderada pelos pais das vítimas, para que algo parecido nunca mais se voltasse acontecer. Confira o trailer:

Existe uma certa economia narrativa (muito inteligente, aliás) ao reconstruir a linha do tempo da tragédia. Os cinco episódios, são mais do que necessários e tirando uma ou outra passagem, tem uma dinâmica extremamente eficaz que praticamente nos impede de parar de assistir enquanto o final não chega. A história é cruel, mas a forma como o roteirista Gustavo Lipsztein (de "1 Contra Todos") e a diretora geral Julia Rezende (de "De Pernas pro Ar 3") nos conduzem pela jornada, acaba provocando um efeito de solidariedade, uma identificação imediata, que mesmo naquele enorme desconforto, nos mantém envolvidos em um lugar bem particular entre a tristeza pelas vítimas e a indignação pela impunidade.

A produção é de altíssimo nível - tanto Julia quanto a co-diretora Carol Minêm (de "O Rei da TV") são extremamente competentes em usar uma certa limitação cênica à favor da narrativa. Veja, em nenhum momento a minissérie transforma o terror do interior da boate em algo que pudesse gerar muito impacto visual - assim que o incêndio começa, o foco se afasta dos personagens e passa a retratar a escuridão e o pânico em si. Rapidamente se estabelece o caos, de dentro para fora, mas nunca pautado no detalhe sórdido e descartável do sensacionalismo - esse equilíbrio é praticamente perfeito, porém alguns artifícios narrativos nos ferem demais: os celulares tocando em meio aos corpos cobertos após a noticia do incêndio começar a circular na pequena cidade e a sequência dos pais de um jovem procurando pelo carro no estacionamento e não pelo corpo do filho na rua, são ótimos e sensíveis exemplos desse cuidado com a verdade crua demais.

Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Debora Lamm e Thelmo Fernandes, mesmo derrapando no sotaque (pra que forçar algo que nunca funcionou?) e em algumas frases prontas, brilham na segunda metade da minissérie quando os holofotes passam a ser a luta por justiça e não a dor da perda de um filho. O desenho de produção que recriou o interior e o exterior da boate merece elogios e a fotografia do Dante Belluti (de "Todas as Mulheres do Mundo") está impecável no mesmo nível. Minha única crítica cai na necessidade de usar a trilha sonora como gatilho emocional quando a própria cena e o trabalho dos atores já dariam conta do recado - chega a irritar o fade in e fade out constante da música incidental!

"Todo dia a mesma noite" nos toca a alma ao mesmo tempo em que consegue mexer em uma ferida que vai além do sentimentalismo barato. A jornada é dura, densa, cruel, mas também é provocadora e importante para mostrar algo que todo mundo já sabe: o lixo que é nosso sistema judiciário e como os poderosos estão sempre protegidos. O fato é que "ninguém queria matar, mas matou" - e foram 242 jovens que, inclusive, poderiam ser filhos de qualquer um de nós!

Vale muito o seu play!

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"Todo dia a mesma noite" é excelente, porém é preciso um certo alerta para os pais e mães que estão lendo essa análise: a jornada será especialmente difícil, já que é impossível não gerar empatia por aqueles personagens e pelo momento que eles estão passando. A minissérie da Netflix que revive os acontecimentos da Boate Kiss em Santa Maria não é, necessariamente, sobre a noite da tragédia e sim sobre os reflexos na vida de quem sobreviveu e, principalmente, é sobre a luta por justiça daqueles que perderam seus filhos de uma forma tão absurda quanto brutal. Olha, a dor será quase insuportável!

Baseada no livro homônimo da jornalista e escritora Daniela Arbex, "Todo dia a mesma noite" relembra aquela noite de janeiro de 2013 onde 242 jovens perderam a vida na Boate Kiss e todas as noites que se repetiram para os sobreviventes e familiares até hoje. A partir dos trágicos acontecimentos, acompanhamos toda luta por justiça, liderada pelos pais das vítimas, para que algo parecido nunca mais se voltasse acontecer. Confira o trailer:

Existe uma certa economia narrativa (muito inteligente, aliás) ao reconstruir a linha do tempo da tragédia. Os cinco episódios, são mais do que necessários e tirando uma ou outra passagem, tem uma dinâmica extremamente eficaz que praticamente nos impede de parar de assistir enquanto o final não chega. A história é cruel, mas a forma como o roteirista Gustavo Lipsztein (de "1 Contra Todos") e a diretora geral Julia Rezende (de "De Pernas pro Ar 3") nos conduzem pela jornada, acaba provocando um efeito de solidariedade, uma identificação imediata, que mesmo naquele enorme desconforto, nos mantém envolvidos em um lugar bem particular entre a tristeza pelas vítimas e a indignação pela impunidade.

A produção é de altíssimo nível - tanto Julia quanto a co-diretora Carol Minêm (de "O Rei da TV") são extremamente competentes em usar uma certa limitação cênica à favor da narrativa. Veja, em nenhum momento a minissérie transforma o terror do interior da boate em algo que pudesse gerar muito impacto visual - assim que o incêndio começa, o foco se afasta dos personagens e passa a retratar a escuridão e o pânico em si. Rapidamente se estabelece o caos, de dentro para fora, mas nunca pautado no detalhe sórdido e descartável do sensacionalismo - esse equilíbrio é praticamente perfeito, porém alguns artifícios narrativos nos ferem demais: os celulares tocando em meio aos corpos cobertos após a noticia do incêndio começar a circular na pequena cidade e a sequência dos pais de um jovem procurando pelo carro no estacionamento e não pelo corpo do filho na rua, são ótimos e sensíveis exemplos desse cuidado com a verdade crua demais.

Paulo Gorgulho, Bianca Byington, Leonardo Medeiros, Debora Lamm e Thelmo Fernandes, mesmo derrapando no sotaque (pra que forçar algo que nunca funcionou?) e em algumas frases prontas, brilham na segunda metade da minissérie quando os holofotes passam a ser a luta por justiça e não a dor da perda de um filho. O desenho de produção que recriou o interior e o exterior da boate merece elogios e a fotografia do Dante Belluti (de "Todas as Mulheres do Mundo") está impecável no mesmo nível. Minha única crítica cai na necessidade de usar a trilha sonora como gatilho emocional quando a própria cena e o trabalho dos atores já dariam conta do recado - chega a irritar o fade in e fade out constante da música incidental!

"Todo dia a mesma noite" nos toca a alma ao mesmo tempo em que consegue mexer em uma ferida que vai além do sentimentalismo barato. A jornada é dura, densa, cruel, mas também é provocadora e importante para mostrar algo que todo mundo já sabe: o lixo que é nosso sistema judiciário e como os poderosos estão sempre protegidos. O fato é que "ninguém queria matar, mas matou" - e foram 242 jovens que, inclusive, poderiam ser filhos de qualquer um de nós!

Vale muito o seu play!

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