Inicialmente o que mais me chamou a atenção em "Power" (ou "Project Power", título original) foi o fato de se tratar de um projeto do diretores Henry Joost e Ariel Schulman, reponsáveis pelo ótimo "Nerve" e pela adaptação (do anunciado) "Megaman". Acontece que essa produção da Netflix, com um orçamento de 85 milhões de dólares, se apega tanto nas cenas de ação que acaba esquecendo de contar a história como deveria.
O filme acompanha um ex-militar, Art (Jamie Foxx) e um policial, Frank (Joseph Gordon-Levitt) que tentam descobrir quem está por trás do tráfico de uma nova droga que dá para seus usuários superpoderes aleatórios e com isso, claro, gerando uma série de problemas na cidade de New Orleans. Confira o trailer:
Embora não seja uma história muito original (basta lembrarmos do que assistimos em "The Boys"), "Power" tem alguns elementos bastante interessantes para um gênero de ação com grife - seu conceito visual e a montagem mais clipada, não são novidades, mas trazem uma certa elegância e uma dinâmica bacana para o filme, porém o roteiro não acompanha essa qualidade. Me deu a impressão de que quiseram criar algo tão complexo, que faltou tempo de tela para desenvolver todos os personagens - o fato de não sabermos exatamente quem é o vilão, é um ótimo exemplo dessa incoerência.
Mattson Tomlin é um roteirista romeno que caiu nas graças de Hollywood depois de escrever e dirigir alguns curtas-metragens. O interessante, porém, é que mesmo sem uma carreira premiada, Tomlin está envolvido com projetos grandes (e caros) como o do novo Batman, por exemplo. Só que seu trabalho em "Power" me deixou com a pulga atrás da orelha. Seu roteiro é irregular, com falhas técnicas, de certa forma, primárias para quem deveria dominar a gramática da ação - como já citamos, a falta de definição do vilão é o que mais me incomodou: em um primeiro momento achamos que seria o Rodrigo Santoro (e o seu estereotipado Biggie), logo depois achamos que o vilão mesmo é o fortão Wallace (Tait Fletcher), quando na verdade quem realmente manda em tudo é a Gardner (Amy Landecker). Outra coisa, o escolher para qual "mocinho" torcer também é um pouco confuso: seria para o Art, para o Frank ou para a adolescente Robin (Dominique Fishback)? Na verdade até não seria um grande problema ter três protagonistas, desde que ficasse estabelecido a importância de cada um dentro do contexto e com suas motivações bem desenvolvidas - não é o caso! O fato de não se aprofundar em nenhum dos temas que aborda, inclusive com algumas criticas sociais bem pontuadas, e nem explicar muito bem todas as motivações dos personagens-chave faz com que até os diálogos cheios de clichês pareçam gratuitos demais. E aqui cabe uma pequena observação: existe uma cultura de que filme de ação não precisa ter um bom roteiro para valer a pena, eu discordo, mas respeito - mas o que não pode, na minha opinião, é abrir mão de uma certa identificação com o protagonista para que venhamos a torcer por ele durante toda a jornada e no caso de "Power" isso acontece - sem falar que não existe grandes dificuldades para vencer os inimigos, nos privando daquela "tensão" pré combate!
A jovem Dominique Fishback talvez seja o destaque do elenco. Santoro tem potencial para mais, mas seu texto e tempo de tela não ajudaram. Jamie Foxx e Joseph Gordon-Levitt fazem o arroz com feijão bem feito e saem no 0 x 0. Amy Landecker e Tait Fletcher quase não aparecem, então não prejudicam. Alguns pontos que merecem destaque mostram a qualidade dos diretores: mesmo com uma edição bastante picotada (e aqui é impossível saber o quanto os produtores influenciaram no trabalho do montador Jeff McEvoy), o filme é bastante inventivo em algumas cenas de ação onde a câmera não está no lugar mais óbvio - isso pode causar uma certa confusão em algum momento, mas nos coloca dentro da cena: a sequência inicial do "Tocha Humana" e a cena no cassino clandestino com a "Mulher de Gelo" foram muito bem executadas. Reparem!
Antes de finalizar uma curiosidade que provavelmente vai passar despercebido para muitos, mas vale a referência: a camisa que Joseph Gordon-Levitt usa durante todo o filme é do time de futebol americano da cidade de New Orleans, o Saints. O nome estampado atrás é de um jogador chamado Steve Gleason - ele é considerado um verdadeiro herói por bloquear um punt do Falcons (de Atlanta) que acabou culminando no primeiro touchdownda equipe no seu retorno ao Estádio, que foi símbolo de uma cidade destruída pelo furacão Katrina. Essa jogada foi eternizada por uma estátua na frente do Superdome, mas a história não acaba por aí: em 2011, já aposentado e ainda muito jovem, Gleason foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) poucos dias antes de receber a noticia de que seria pai pela primeira vez! Com medo de não ter saúde para conhecer e se relacionar com o filho, Gleason resolve filmar sua rotina para fazer uma espécie de diário para seu filho e toda essa jornada acabou virando um emocionante documentário que leva o seu nome!
Dito isso e voltando ao motivo desse review, posso dizer que os amantes do gênero de ação vão se divertir com "Power", mas é inegável que, se melhor desenvolvida, a história entregaria muito mais que um filme sobre drogas e heróis sem uniforme. Toda aquela ambição pelo poder pincelada em algumas cenas poderiam transformar o filme em uma ótima alegoria sobre o egoísmo e corrupção social, existentes na cultura da violência, tão em alta ultimamente.
Inicialmente o que mais me chamou a atenção em "Power" (ou "Project Power", título original) foi o fato de se tratar de um projeto do diretores Henry Joost e Ariel Schulman, reponsáveis pelo ótimo "Nerve" e pela adaptação (do anunciado) "Megaman". Acontece que essa produção da Netflix, com um orçamento de 85 milhões de dólares, se apega tanto nas cenas de ação que acaba esquecendo de contar a história como deveria.
O filme acompanha um ex-militar, Art (Jamie Foxx) e um policial, Frank (Joseph Gordon-Levitt) que tentam descobrir quem está por trás do tráfico de uma nova droga que dá para seus usuários superpoderes aleatórios e com isso, claro, gerando uma série de problemas na cidade de New Orleans. Confira o trailer:
Embora não seja uma história muito original (basta lembrarmos do que assistimos em "The Boys"), "Power" tem alguns elementos bastante interessantes para um gênero de ação com grife - seu conceito visual e a montagem mais clipada, não são novidades, mas trazem uma certa elegância e uma dinâmica bacana para o filme, porém o roteiro não acompanha essa qualidade. Me deu a impressão de que quiseram criar algo tão complexo, que faltou tempo de tela para desenvolver todos os personagens - o fato de não sabermos exatamente quem é o vilão, é um ótimo exemplo dessa incoerência.
Mattson Tomlin é um roteirista romeno que caiu nas graças de Hollywood depois de escrever e dirigir alguns curtas-metragens. O interessante, porém, é que mesmo sem uma carreira premiada, Tomlin está envolvido com projetos grandes (e caros) como o do novo Batman, por exemplo. Só que seu trabalho em "Power" me deixou com a pulga atrás da orelha. Seu roteiro é irregular, com falhas técnicas, de certa forma, primárias para quem deveria dominar a gramática da ação - como já citamos, a falta de definição do vilão é o que mais me incomodou: em um primeiro momento achamos que seria o Rodrigo Santoro (e o seu estereotipado Biggie), logo depois achamos que o vilão mesmo é o fortão Wallace (Tait Fletcher), quando na verdade quem realmente manda em tudo é a Gardner (Amy Landecker). Outra coisa, o escolher para qual "mocinho" torcer também é um pouco confuso: seria para o Art, para o Frank ou para a adolescente Robin (Dominique Fishback)? Na verdade até não seria um grande problema ter três protagonistas, desde que ficasse estabelecido a importância de cada um dentro do contexto e com suas motivações bem desenvolvidas - não é o caso! O fato de não se aprofundar em nenhum dos temas que aborda, inclusive com algumas criticas sociais bem pontuadas, e nem explicar muito bem todas as motivações dos personagens-chave faz com que até os diálogos cheios de clichês pareçam gratuitos demais. E aqui cabe uma pequena observação: existe uma cultura de que filme de ação não precisa ter um bom roteiro para valer a pena, eu discordo, mas respeito - mas o que não pode, na minha opinião, é abrir mão de uma certa identificação com o protagonista para que venhamos a torcer por ele durante toda a jornada e no caso de "Power" isso acontece - sem falar que não existe grandes dificuldades para vencer os inimigos, nos privando daquela "tensão" pré combate!
A jovem Dominique Fishback talvez seja o destaque do elenco. Santoro tem potencial para mais, mas seu texto e tempo de tela não ajudaram. Jamie Foxx e Joseph Gordon-Levitt fazem o arroz com feijão bem feito e saem no 0 x 0. Amy Landecker e Tait Fletcher quase não aparecem, então não prejudicam. Alguns pontos que merecem destaque mostram a qualidade dos diretores: mesmo com uma edição bastante picotada (e aqui é impossível saber o quanto os produtores influenciaram no trabalho do montador Jeff McEvoy), o filme é bastante inventivo em algumas cenas de ação onde a câmera não está no lugar mais óbvio - isso pode causar uma certa confusão em algum momento, mas nos coloca dentro da cena: a sequência inicial do "Tocha Humana" e a cena no cassino clandestino com a "Mulher de Gelo" foram muito bem executadas. Reparem!
Antes de finalizar uma curiosidade que provavelmente vai passar despercebido para muitos, mas vale a referência: a camisa que Joseph Gordon-Levitt usa durante todo o filme é do time de futebol americano da cidade de New Orleans, o Saints. O nome estampado atrás é de um jogador chamado Steve Gleason - ele é considerado um verdadeiro herói por bloquear um punt do Falcons (de Atlanta) que acabou culminando no primeiro touchdownda equipe no seu retorno ao Estádio, que foi símbolo de uma cidade destruída pelo furacão Katrina. Essa jogada foi eternizada por uma estátua na frente do Superdome, mas a história não acaba por aí: em 2011, já aposentado e ainda muito jovem, Gleason foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA) poucos dias antes de receber a noticia de que seria pai pela primeira vez! Com medo de não ter saúde para conhecer e se relacionar com o filho, Gleason resolve filmar sua rotina para fazer uma espécie de diário para seu filho e toda essa jornada acabou virando um emocionante documentário que leva o seu nome!
Dito isso e voltando ao motivo desse review, posso dizer que os amantes do gênero de ação vão se divertir com "Power", mas é inegável que, se melhor desenvolvida, a história entregaria muito mais que um filme sobre drogas e heróis sem uniforme. Toda aquela ambição pelo poder pincelada em algumas cenas poderiam transformar o filme em uma ótima alegoria sobre o egoísmo e corrupção social, existentes na cultura da violência, tão em alta ultimamente.
"Vanilla Sky" está, sem dúvida, entre meus filmes preferidos! Muito bem conduzido pelo Cameron Crowe, "Vanilla Sky", produção de 2001, foi o primeiro filme que lembro ter me desafiado intelectualmente. Pois bem, após assistir a versão original "Preso na Escuridão" (ou "Abre Los Ojos" no original), tenho que admitir: ela é ainda melhor! O filme é infinitamente mais humano que seu remake americano, seu roteiro é ainda mais sensível e aquele conceito visual mais independente do genial diretor chileno, Alejandro Amenábar (de "Os Outros"), é muito mais bonito. Olha, esse filme é uma obra-prima por si só - ele apresenta uma narrativa complexa, com performances verdadeiramente cativantes, além de uma exploração profunda do valor da identidade de uma forma muito sensorial, eu diria, inclusive, única! Que experiência que o streaming nos proporciona! Assista!
A história acompanha a vida de César (Eduardo Noriega), um jovem carismático que tem tudo: beleza, riqueza e sucesso. No entanto, sua vida muda drasticamente após um acidente de carro, que o deixa desfigurado e com cicatrizes graves. À medida que ele tenta lidar com sua nova aparência e reconstruir sua vida, César mergulha em um mundo de sonhos e pesadelos interconectados, onde a linha entre a realidade e a fantasia se torna cada vez mais obscura.
É impressionante como "Preso na Escuridão" nos entrega uma atmosfera intensamente envolvente, provocadora e, claro, perturbadora. Amenábar, ao lado de seu fotógrafo Hans Burmann (de "Amnésia"), trabalha o conceito estético do filme de uma forma meticulosa, aproveitando de uma trilha sonora arrebatadora para transmitir a sensação de paranoia que permeia a mente do protagonista. Reparem nas sequências de sonhos e alucinações - elas são especialmente marcantes, com imagens surreais que desafiam nossas expectativas e nos levam a questionar o que é real e o que é fruto da imaginação.
O desempenho de Eduardo Noriega é brilhante e complexo - ele é capaz de capturar perfeitamente a transformação de um homem confiante e sedutor em um ser atormentado e desesperado - e aqui sem os trejeitos de uma figura já consagrada como Tom Cruise. A química entre Noriega e Penélope Cruz, que interpreta a enigmática Sofia, traz uma camada adicional de profundidade emocional à trama que chega a ser desconfortável. Veja, não será uma única que vez que você vai ser colocar no lugar de César e também de Sofia. O roteiro do próprio Amenábar trabalha essas sensações com reviravoltas surpreendentes - mas surpreendentes mesmo!
"Preso na Escuridão" é inteligente, criativo e potente, capaz de explorar questões filosóficas profundas, como a natureza da identidade, a influência da percepção na construção da realidade e os limites da nossa compreensão sobre mundo, sobre o amor e sobre nossa capacidade de se redimir, com a mesma competência com que nos provoca simples reflexões. De uma forma intrigante, o filme nos desafiado a cada cena, exigindo o máximo da nossa atenção e concentração - como um convite intelectualmente estimulante.
Pode acreditar "Preso na Escuridão" certamente merece um lugar na sua lista de filmes imperdíveis.
PS: O filme recebeu 10 indicações ao prêmio Goya de 1999, além de vencer
"Vanilla Sky" está, sem dúvida, entre meus filmes preferidos! Muito bem conduzido pelo Cameron Crowe, "Vanilla Sky", produção de 2001, foi o primeiro filme que lembro ter me desafiado intelectualmente. Pois bem, após assistir a versão original "Preso na Escuridão" (ou "Abre Los Ojos" no original), tenho que admitir: ela é ainda melhor! O filme é infinitamente mais humano que seu remake americano, seu roteiro é ainda mais sensível e aquele conceito visual mais independente do genial diretor chileno, Alejandro Amenábar (de "Os Outros"), é muito mais bonito. Olha, esse filme é uma obra-prima por si só - ele apresenta uma narrativa complexa, com performances verdadeiramente cativantes, além de uma exploração profunda do valor da identidade de uma forma muito sensorial, eu diria, inclusive, única! Que experiência que o streaming nos proporciona! Assista!
A história acompanha a vida de César (Eduardo Noriega), um jovem carismático que tem tudo: beleza, riqueza e sucesso. No entanto, sua vida muda drasticamente após um acidente de carro, que o deixa desfigurado e com cicatrizes graves. À medida que ele tenta lidar com sua nova aparência e reconstruir sua vida, César mergulha em um mundo de sonhos e pesadelos interconectados, onde a linha entre a realidade e a fantasia se torna cada vez mais obscura.
É impressionante como "Preso na Escuridão" nos entrega uma atmosfera intensamente envolvente, provocadora e, claro, perturbadora. Amenábar, ao lado de seu fotógrafo Hans Burmann (de "Amnésia"), trabalha o conceito estético do filme de uma forma meticulosa, aproveitando de uma trilha sonora arrebatadora para transmitir a sensação de paranoia que permeia a mente do protagonista. Reparem nas sequências de sonhos e alucinações - elas são especialmente marcantes, com imagens surreais que desafiam nossas expectativas e nos levam a questionar o que é real e o que é fruto da imaginação.
O desempenho de Eduardo Noriega é brilhante e complexo - ele é capaz de capturar perfeitamente a transformação de um homem confiante e sedutor em um ser atormentado e desesperado - e aqui sem os trejeitos de uma figura já consagrada como Tom Cruise. A química entre Noriega e Penélope Cruz, que interpreta a enigmática Sofia, traz uma camada adicional de profundidade emocional à trama que chega a ser desconfortável. Veja, não será uma única que vez que você vai ser colocar no lugar de César e também de Sofia. O roteiro do próprio Amenábar trabalha essas sensações com reviravoltas surpreendentes - mas surpreendentes mesmo!
"Preso na Escuridão" é inteligente, criativo e potente, capaz de explorar questões filosóficas profundas, como a natureza da identidade, a influência da percepção na construção da realidade e os limites da nossa compreensão sobre mundo, sobre o amor e sobre nossa capacidade de se redimir, com a mesma competência com que nos provoca simples reflexões. De uma forma intrigante, o filme nos desafiado a cada cena, exigindo o máximo da nossa atenção e concentração - como um convite intelectualmente estimulante.
Pode acreditar "Preso na Escuridão" certamente merece um lugar na sua lista de filmes imperdíveis.
PS: O filme recebeu 10 indicações ao prêmio Goya de 1999, além de vencer
"Print the Legend" é para você que é empreendedor ou para quem está prestes a tirar sua ideia do papel! Esse documentário produzido pela Netflix não romantiza a difícil jornada do empreendedor e tem o mérito de ampliar a nossa percepção sobre o universo de uma startup em um momento crucial para o seu sucesso (ou fracasso): o momento de crescer. Se eu pudesse definir "Print the Legend", eu diria que é um documentário sobre "as dores do crescimento" de uma startup, de seus fundadores e de como essas mudanças refletem nos relacionamentos e na cultura da empresa!
A partir da história de duas promissoras startups: a MarketBot e a FormLabs, entendemos como as impressoras 3D tem mudado a vida de muita gente, seja na impressão de armas de fogo, bijuterias ou até de órgãos humanos, e também como essa tecnologia pode prejudicar muitas indústrias, já que permite a fabricação de inúmeros itens com um custo baixo e de forma caseira. Entre os que produzem essa impressora, há empresas pequenas e grandes, e o documentário mostra muitos dos desafios envolvidos durante a corrida para disponibilizar o device para o público em geral. Confira o trailer (em inglês):
Muito bem escrito por Steven Klein (de "Out of Omaha") e pelo diretores Luis Lopez e Clay Tweel (de "Make Believe"), "Print the Legend" é mais um estudo de caso, quase um MBA de empreendedorismo que está escondido no catálogo de um serviço de streaming. O roteiro é muito feliz em retratar a rotina de pessoas que sonham em tornar a impressão 3D algo acessível para toda a sociedade. Com uma linha do tempo muito bem construída, a história mostra a evolução do mercado, desde as máquinas da 3DSystems e da Stratasys até o conceito open-source da MarketBot e low-costda FormLabs.
Embora o documentário tenha o mercado de impressão 3D como foco, os ensinamentos baseado nas experiências da MarketBot e da FormLabs, e de seu fundadores, são facilmente adaptáveis à realidade de qualquer empreendedor - todas as dificuldades que a startup enfrenta no seu processo de growth são discutidos por quem viveu essa dor. Da adaptação na forma de liderar uma equipe que já não está mais na garagem de casa à pressão de conseguir milhões em investimentos, ou até quando a startup começa incomodar uma gigante do setor e um processo de M&A passa a ser uma realidade tão presente quando um de quebra de patente.
Um ponto interessante que vale a pena reparar é como o co-founder da MarketBot, Bre Pattis, vai mudando com o passar do tempo - como sua postura vai influenciando na cultura da empresa, de acessível e aberta, para outra cada vez mais fechada e burocrática, ao ponto de tomar decisões polêmicas que vão contra os seus valores e propósito, ao comentário que a empresa passou a ser odiada pelos seus próprios funcionários.
Mesmo que o documentário dê holofote para um idiota como Cody Wilson, o cara que usou uma impressora 3D para criar armas de fogo e disponibilizou o projeto para qualquer um imprimir a sua, eu diria que "Print the Legend" é uma agradável surpresa. Além de um overview muito interessante sobre inovação e disrupção de mercado, os pontos levantados sobre o universo empreendedor são incríveis e provocam ótimas reflexões, principalmente aquela onde é preciso virar a chave e entender que o "sonho" agora é um "negócio" e que decisões difíceis e impopulares precisam ser tomadas.
Vale muito o seu play!
"Print the Legend" é para você que é empreendedor ou para quem está prestes a tirar sua ideia do papel! Esse documentário produzido pela Netflix não romantiza a difícil jornada do empreendedor e tem o mérito de ampliar a nossa percepção sobre o universo de uma startup em um momento crucial para o seu sucesso (ou fracasso): o momento de crescer. Se eu pudesse definir "Print the Legend", eu diria que é um documentário sobre "as dores do crescimento" de uma startup, de seus fundadores e de como essas mudanças refletem nos relacionamentos e na cultura da empresa!
A partir da história de duas promissoras startups: a MarketBot e a FormLabs, entendemos como as impressoras 3D tem mudado a vida de muita gente, seja na impressão de armas de fogo, bijuterias ou até de órgãos humanos, e também como essa tecnologia pode prejudicar muitas indústrias, já que permite a fabricação de inúmeros itens com um custo baixo e de forma caseira. Entre os que produzem essa impressora, há empresas pequenas e grandes, e o documentário mostra muitos dos desafios envolvidos durante a corrida para disponibilizar o device para o público em geral. Confira o trailer (em inglês):
Muito bem escrito por Steven Klein (de "Out of Omaha") e pelo diretores Luis Lopez e Clay Tweel (de "Make Believe"), "Print the Legend" é mais um estudo de caso, quase um MBA de empreendedorismo que está escondido no catálogo de um serviço de streaming. O roteiro é muito feliz em retratar a rotina de pessoas que sonham em tornar a impressão 3D algo acessível para toda a sociedade. Com uma linha do tempo muito bem construída, a história mostra a evolução do mercado, desde as máquinas da 3DSystems e da Stratasys até o conceito open-source da MarketBot e low-costda FormLabs.
Embora o documentário tenha o mercado de impressão 3D como foco, os ensinamentos baseado nas experiências da MarketBot e da FormLabs, e de seu fundadores, são facilmente adaptáveis à realidade de qualquer empreendedor - todas as dificuldades que a startup enfrenta no seu processo de growth são discutidos por quem viveu essa dor. Da adaptação na forma de liderar uma equipe que já não está mais na garagem de casa à pressão de conseguir milhões em investimentos, ou até quando a startup começa incomodar uma gigante do setor e um processo de M&A passa a ser uma realidade tão presente quando um de quebra de patente.
Um ponto interessante que vale a pena reparar é como o co-founder da MarketBot, Bre Pattis, vai mudando com o passar do tempo - como sua postura vai influenciando na cultura da empresa, de acessível e aberta, para outra cada vez mais fechada e burocrática, ao ponto de tomar decisões polêmicas que vão contra os seus valores e propósito, ao comentário que a empresa passou a ser odiada pelos seus próprios funcionários.
Mesmo que o documentário dê holofote para um idiota como Cody Wilson, o cara que usou uma impressora 3D para criar armas de fogo e disponibilizou o projeto para qualquer um imprimir a sua, eu diria que "Print the Legend" é uma agradável surpresa. Além de um overview muito interessante sobre inovação e disrupção de mercado, os pontos levantados sobre o universo empreendedor são incríveis e provocam ótimas reflexões, principalmente aquela onde é preciso virar a chave e entender que o "sonho" agora é um "negócio" e que decisões difíceis e impopulares precisam ser tomadas.
Vale muito o seu play!
O que as eleições da Argentina em 2015, Trindade e Tobago em 2009, Índia em 2010, Malásia em 2013, Itália em 2012, Quênia em 2013 e Colômbia 2011 tem em comum? Por mais surpreendente que possa parecer a resposta, o seu complemento é ainda mais assustador: "análise de dados"... "roubados". A responsável por isso interferiu em dois recentes momentos históricos da politica mundial: a improvável eleição de Trump e o plebicito do Brexit.
"Privacidade Hackeada", documentário original da Netflix, mostra como esses dados roubados ajudaram na manipulação de eleitores indecisos nesses dois eventos políticos e quais foram as consequências no processo de fragilização da democracia. Tendo como vilões dois personagens-chave: o Facebook e a Cambridge Analytica, o documentário analisa cada um dos movimentos estratégicos que renderam milhões de dólares para a empresa inglesa e uma grande dor de cabeça para o Mark Zuckerberg. É preciso dizer que o volume de informações prejudica a experiência de quem assiste e não conhece do assunto - por isso sugiro que, antes do documentário, você assista o filme da HBO "Brexit", pois nele fica mais fácil perceber como esses dados roubados foram, na prática, fundamentais na estratégia de campanha do "Leave.EU". O documentário vale muito a pena, mas claramente tem o objetivo de demonizar a tecnologia e o tamanho da nossa exposição que ela gera quando clicamos no quadradinho "aceito" de vários aplicativos e sites!
Através de um simples questionário de personalidade, a Cambridge Analytica se aproveitou de uma permissão especial do Facebook que dava acesso ao app para coletar não apenas os dados das pessoas que participavam do quiz, mas também os dados de todos os amigos dela - se você nunca respondeu um quiz, mas algum amigo já fez, seus dados também foram roubados sem você saber! Com essa enorme base de dados, a empresa inglesa, através do seu criador e CEO, Alexander Nix, negociava informações e estratégias de campanha com políticos em troca de enormes quantias de dinheiro. Imagina que cada perfil se baseava em 5 mil pontos de análise! Tudo começa a desmoronar quando dois ex-funcionários da Cambridge Analytica vão à público para desmascarar as estratégias de manipulação que eram criadas com essa quantidade absurda de dados. Christopher Wylie e Brittany Kaiser foram fundamentais na investigação feita pela jornalista do The Guardian, e finalista do Pulitzer,Carole Cadwalladr. Cadwalladr, ao lado do professor David Carroll, costuram todas essas informações com ajuda de muitas inserções gráficas e reportagens da época. Com isso, a narrativa fica mais dinâmica, fluida, mas ainda difícil de entender as pequenas nuances apresentadas por eles. Na minha visão, um dos fatores que colaboram com essa confusão é a ambiguidade de Brittany Kaiser - alta executiva da Cambridge Analytica, Kaiser parece viver em uma eterna colônia de férias e mesmo ajudando (e muito) nas investigações, sua postura acaba criando um certo distanciamento do seu propósito perante as autoridades e até perante os jornalistas - e o documentário faz uma força enorme para não acharmos que ela tem alguma culpa em toda história!
"Privacidade Hackeada" é aquele típico documentário que definimos como "mal necessário", pelo seu conteúdo, pela exposição de um assunto tão sério e pela força dos personagens envolvidos; mas peca ao definir quem são os bandidos e que são os mocinhos logo de cara, impedindo assim que a audiência reflita sobre os fatos e tirem suas próprias conclusões. A verdade é que somos levados à acreditar que tudo está perdido, sem ao menos ouvir o outro lado. Quando aos diretores Karim Amer e Jehane Noujaim (indicados ao Oscar de 2013 por "The Square") mostram Carole Cadwalladr citando, em sua apresentação no TED (sim, isso ainda é uma validação de "personalidade"), nomes como Sheryl Sandberg, Larry Page e Sergey Brin (entre outros) quase que intimando cada um deles a mostrar o rosto e discutir sobre o assunto, e depois não publica nenhuma resposta ou ponto de vista deles (o que certamente deve existir em uma fonte confiável), dá-se a impressão que todos são farinha do mesmo saco do Alexander Nix - e isso é muito ruim para uma obra que deveria ser imparcial. Enfim, o documentário é muito bom, super bem produzido, bem amarrado, mas derrapa nesses detalhes. Vale o play e vale a reflexão!
O que as eleições da Argentina em 2015, Trindade e Tobago em 2009, Índia em 2010, Malásia em 2013, Itália em 2012, Quênia em 2013 e Colômbia 2011 tem em comum? Por mais surpreendente que possa parecer a resposta, o seu complemento é ainda mais assustador: "análise de dados"... "roubados". A responsável por isso interferiu em dois recentes momentos históricos da politica mundial: a improvável eleição de Trump e o plebicito do Brexit.
"Privacidade Hackeada", documentário original da Netflix, mostra como esses dados roubados ajudaram na manipulação de eleitores indecisos nesses dois eventos políticos e quais foram as consequências no processo de fragilização da democracia. Tendo como vilões dois personagens-chave: o Facebook e a Cambridge Analytica, o documentário analisa cada um dos movimentos estratégicos que renderam milhões de dólares para a empresa inglesa e uma grande dor de cabeça para o Mark Zuckerberg. É preciso dizer que o volume de informações prejudica a experiência de quem assiste e não conhece do assunto - por isso sugiro que, antes do documentário, você assista o filme da HBO "Brexit", pois nele fica mais fácil perceber como esses dados roubados foram, na prática, fundamentais na estratégia de campanha do "Leave.EU". O documentário vale muito a pena, mas claramente tem o objetivo de demonizar a tecnologia e o tamanho da nossa exposição que ela gera quando clicamos no quadradinho "aceito" de vários aplicativos e sites!
Através de um simples questionário de personalidade, a Cambridge Analytica se aproveitou de uma permissão especial do Facebook que dava acesso ao app para coletar não apenas os dados das pessoas que participavam do quiz, mas também os dados de todos os amigos dela - se você nunca respondeu um quiz, mas algum amigo já fez, seus dados também foram roubados sem você saber! Com essa enorme base de dados, a empresa inglesa, através do seu criador e CEO, Alexander Nix, negociava informações e estratégias de campanha com políticos em troca de enormes quantias de dinheiro. Imagina que cada perfil se baseava em 5 mil pontos de análise! Tudo começa a desmoronar quando dois ex-funcionários da Cambridge Analytica vão à público para desmascarar as estratégias de manipulação que eram criadas com essa quantidade absurda de dados. Christopher Wylie e Brittany Kaiser foram fundamentais na investigação feita pela jornalista do The Guardian, e finalista do Pulitzer,Carole Cadwalladr. Cadwalladr, ao lado do professor David Carroll, costuram todas essas informações com ajuda de muitas inserções gráficas e reportagens da época. Com isso, a narrativa fica mais dinâmica, fluida, mas ainda difícil de entender as pequenas nuances apresentadas por eles. Na minha visão, um dos fatores que colaboram com essa confusão é a ambiguidade de Brittany Kaiser - alta executiva da Cambridge Analytica, Kaiser parece viver em uma eterna colônia de férias e mesmo ajudando (e muito) nas investigações, sua postura acaba criando um certo distanciamento do seu propósito perante as autoridades e até perante os jornalistas - e o documentário faz uma força enorme para não acharmos que ela tem alguma culpa em toda história!
"Privacidade Hackeada" é aquele típico documentário que definimos como "mal necessário", pelo seu conteúdo, pela exposição de um assunto tão sério e pela força dos personagens envolvidos; mas peca ao definir quem são os bandidos e que são os mocinhos logo de cara, impedindo assim que a audiência reflita sobre os fatos e tirem suas próprias conclusões. A verdade é que somos levados à acreditar que tudo está perdido, sem ao menos ouvir o outro lado. Quando aos diretores Karim Amer e Jehane Noujaim (indicados ao Oscar de 2013 por "The Square") mostram Carole Cadwalladr citando, em sua apresentação no TED (sim, isso ainda é uma validação de "personalidade"), nomes como Sheryl Sandberg, Larry Page e Sergey Brin (entre outros) quase que intimando cada um deles a mostrar o rosto e discutir sobre o assunto, e depois não publica nenhuma resposta ou ponto de vista deles (o que certamente deve existir em uma fonte confiável), dá-se a impressão que todos são farinha do mesmo saco do Alexander Nix - e isso é muito ruim para uma obra que deveria ser imparcial. Enfim, o documentário é muito bom, super bem produzido, bem amarrado, mas derrapa nesses detalhes. Vale o play e vale a reflexão!
"Projeto Gemini" é um filme divertido, do tipo que merece ser visto em uma tela bem grande e comendo um balde enorme de pipoca; mas não espere um graaaande filme - ele é o que é: entretenimento puro! Talvez por isso o marketing em cima do projeto tenha sido muito mais pela tecnologia de captação (3D+ em HFR) que o Diretor Ang Lee (Tigre e o Dragão) usou nas filmagens do que propriamente pela história em si - mas isso nós vamos falar um pouco mais para frente.
Ter Will Smith protagonizando um filme de ação já é garantia de uma boa bilheteria e os Estúdios sabem muito bem que essa receita permite pesar um pouco na mão pela forma e não se preocupar tanto com o conteúdo - mais ou menos como acontece em alguns games do gênero: é preciso ser divertido e não tão profundo ou complicado; e essa comparação não é por acaso. O filme conta história de um assassino de elite prestes a se aposentar chamado Henry Brogan. Após sua última missão, ele recebe uma informação que colocam os motivos dessa missão em cheque, expondo uma enorme rede de mentiras do Governo dos EUA. Até aí aí nada de novo para um filme de ação, até que se descobre que o tal jovem agente é uma versão 30 anos mais nova de Brogan. Dá só uma olhada no trailer:
Agora vamos falar da tecnologia "inovadora" por trás dessa história:
Quando em 2012, Peter Jackson gravou "Hobbit" em 48 quadros por segundo (o normal seria 24) ele justificou sua escolha como "uma oportunidade de colocar a audiência mais próxima dos personagens", já que, como o dobro de quadros, ganharíamos em qualidade e profundidade ao mesmo tempo que os movimentos pareceriam mais próximos da realidade - isso de fato acontece, mas o estranhamento foi tanto que muita gente achou que o filme estivesse com problemas (o que fez a Warner preparar um informativo explicando porque o filme estaria diferente) - o fato é que o tiro saiu pela culatra, primeiro pela quantidade de cinemas que tinham a capacidade de exibir o filme usando essa tecnologia nativa e depois pelas centenas de salas que tinham cópias convertidas e que, na opinião de muita gente, fez o filme parecer uma novela. Aqui cabe um comentário: antigamente uma novela era gravada (em vídeo) à 30 quadros por segundo, enquanto os filmes eram feitos (em película) à 24 - por isso tínhamos uma sensação mais poética ao ver um filme, enquanto a novela parecia mais com as nossas gravações caseiras. Por favor, é óbvio que existiam muitas outras diferenças, mas o ponto que quero exemplificar para todos entenderem é que essa velocidade de captação de imagem influenciava na forma como enxergávamos os filmes! Aliás, era por esse mesmo motivo que achávamos a séries americanas melhores, "parecendo filme" - pois elas também eram captadas em 24 quadros (e em película).
Dito isso, o "Projeto Gemini" foi vendido como uma nova era na captação imagens, pois o filme foi rodado em 120 quadros por segundo - uma taxa muito maior que o normal, ou seja, a qualidade da imagem seria melhor percebida devido a quantidade de quadros. Acontece que, como na época de "Hobbit", poucos cinemas estão preparados para exibir um filme nessa velocidade nativa - é preciso fazer uma conversão para, no mínimo, 60 quadros (o que já seria lindo), mas nossas salas só conseguem exibir em 24 ou 30 quadros na sua maioria. Ok, então porque resolveram filmar assim? Simples, existe um conceito visual em cima do filme muito claro e esse mérito não dá pra passar batido: aproximar o público da ação como se ele estive jogando um video-game e aí a experiência me pareceu funciona! Nas cenas de ação, a velocidade, sem a menor dúvida, interfere positivamente no resultado - tem um plano específico, feito em primeira pessoa, que realmente nos remete a um "jogo de tiro"! Qual o problema para mim (que conhece câmera que o Ang Lee usou): quando o plano está muito fechado (em Close) para cenas de diálogo (sem muito movimento) temos a sensação que os atores estão em um estúdio com "fundo verde", pois existe tanta informação visível em profundidade (pelo dobro de quadros) que parece que a paisagem é uma pintura aplicada - não fica nada natural e isso acontece muito no filme! Enquanto os planos abertos (gerais) ficam lindos, os fechados sofrem com essa percepção (ainda mais em 3D que o primeiro plano tende a "saltar" na tela).
De fato as cenas de ação funcionam muito bem - fica clara a capacidade inventiva do Ang Lee como diretor (o que muitas vezes exige uma boa dose de suspensão de realidade para embarcarmos na dinâmica do filme) para criar uma movimentação muito próxima dos games - o filme vale por esse aspecto técnico e artístico. Já o roteiro é terrível de ruim, sem a menor coerência narrativa que justifique a importância de alguns personagens na trama, fica parecendo que depois que cada um fez sua cena, basta eliminação-los e está tudo resolvido! O próprio final é super previsível e nenhum ator se sobressai à tecnologia - isso, para mim, é sempre um problema! Como eu disse, vale pelo entretenimento, se você gosta de muita ação, perseguição, tiroteiro e uma pitada de ficção científica; caso contrário não perca seu tempo. Assistir o filme para conhecer a nova tecnologia e se impressionar (ou não) por ela, também é um bom motivo, mas não espere mais do que uma boa experiência de entretenimento!
Só como curiosidade, o personagem do Will Smith mais novo não é maquiagem ou rejuvenescimento digital, é um rosto construído 100% do zero por computador e ficou bem interessante mesmo! Vale reparar! ;)
"Projeto Gemini" é um filme divertido, do tipo que merece ser visto em uma tela bem grande e comendo um balde enorme de pipoca; mas não espere um graaaande filme - ele é o que é: entretenimento puro! Talvez por isso o marketing em cima do projeto tenha sido muito mais pela tecnologia de captação (3D+ em HFR) que o Diretor Ang Lee (Tigre e o Dragão) usou nas filmagens do que propriamente pela história em si - mas isso nós vamos falar um pouco mais para frente.
Ter Will Smith protagonizando um filme de ação já é garantia de uma boa bilheteria e os Estúdios sabem muito bem que essa receita permite pesar um pouco na mão pela forma e não se preocupar tanto com o conteúdo - mais ou menos como acontece em alguns games do gênero: é preciso ser divertido e não tão profundo ou complicado; e essa comparação não é por acaso. O filme conta história de um assassino de elite prestes a se aposentar chamado Henry Brogan. Após sua última missão, ele recebe uma informação que colocam os motivos dessa missão em cheque, expondo uma enorme rede de mentiras do Governo dos EUA. Até aí aí nada de novo para um filme de ação, até que se descobre que o tal jovem agente é uma versão 30 anos mais nova de Brogan. Dá só uma olhada no trailer:
Agora vamos falar da tecnologia "inovadora" por trás dessa história:
Quando em 2012, Peter Jackson gravou "Hobbit" em 48 quadros por segundo (o normal seria 24) ele justificou sua escolha como "uma oportunidade de colocar a audiência mais próxima dos personagens", já que, como o dobro de quadros, ganharíamos em qualidade e profundidade ao mesmo tempo que os movimentos pareceriam mais próximos da realidade - isso de fato acontece, mas o estranhamento foi tanto que muita gente achou que o filme estivesse com problemas (o que fez a Warner preparar um informativo explicando porque o filme estaria diferente) - o fato é que o tiro saiu pela culatra, primeiro pela quantidade de cinemas que tinham a capacidade de exibir o filme usando essa tecnologia nativa e depois pelas centenas de salas que tinham cópias convertidas e que, na opinião de muita gente, fez o filme parecer uma novela. Aqui cabe um comentário: antigamente uma novela era gravada (em vídeo) à 30 quadros por segundo, enquanto os filmes eram feitos (em película) à 24 - por isso tínhamos uma sensação mais poética ao ver um filme, enquanto a novela parecia mais com as nossas gravações caseiras. Por favor, é óbvio que existiam muitas outras diferenças, mas o ponto que quero exemplificar para todos entenderem é que essa velocidade de captação de imagem influenciava na forma como enxergávamos os filmes! Aliás, era por esse mesmo motivo que achávamos a séries americanas melhores, "parecendo filme" - pois elas também eram captadas em 24 quadros (e em película).
Dito isso, o "Projeto Gemini" foi vendido como uma nova era na captação imagens, pois o filme foi rodado em 120 quadros por segundo - uma taxa muito maior que o normal, ou seja, a qualidade da imagem seria melhor percebida devido a quantidade de quadros. Acontece que, como na época de "Hobbit", poucos cinemas estão preparados para exibir um filme nessa velocidade nativa - é preciso fazer uma conversão para, no mínimo, 60 quadros (o que já seria lindo), mas nossas salas só conseguem exibir em 24 ou 30 quadros na sua maioria. Ok, então porque resolveram filmar assim? Simples, existe um conceito visual em cima do filme muito claro e esse mérito não dá pra passar batido: aproximar o público da ação como se ele estive jogando um video-game e aí a experiência me pareceu funciona! Nas cenas de ação, a velocidade, sem a menor dúvida, interfere positivamente no resultado - tem um plano específico, feito em primeira pessoa, que realmente nos remete a um "jogo de tiro"! Qual o problema para mim (que conhece câmera que o Ang Lee usou): quando o plano está muito fechado (em Close) para cenas de diálogo (sem muito movimento) temos a sensação que os atores estão em um estúdio com "fundo verde", pois existe tanta informação visível em profundidade (pelo dobro de quadros) que parece que a paisagem é uma pintura aplicada - não fica nada natural e isso acontece muito no filme! Enquanto os planos abertos (gerais) ficam lindos, os fechados sofrem com essa percepção (ainda mais em 3D que o primeiro plano tende a "saltar" na tela).
De fato as cenas de ação funcionam muito bem - fica clara a capacidade inventiva do Ang Lee como diretor (o que muitas vezes exige uma boa dose de suspensão de realidade para embarcarmos na dinâmica do filme) para criar uma movimentação muito próxima dos games - o filme vale por esse aspecto técnico e artístico. Já o roteiro é terrível de ruim, sem a menor coerência narrativa que justifique a importância de alguns personagens na trama, fica parecendo que depois que cada um fez sua cena, basta eliminação-los e está tudo resolvido! O próprio final é super previsível e nenhum ator se sobressai à tecnologia - isso, para mim, é sempre um problema! Como eu disse, vale pelo entretenimento, se você gosta de muita ação, perseguição, tiroteiro e uma pitada de ficção científica; caso contrário não perca seu tempo. Assistir o filme para conhecer a nova tecnologia e se impressionar (ou não) por ela, também é um bom motivo, mas não espere mais do que uma boa experiência de entretenimento!
Só como curiosidade, o personagem do Will Smith mais novo não é maquiagem ou rejuvenescimento digital, é um rosto construído 100% do zero por computador e ficou bem interessante mesmo! Vale reparar! ;)
Se você gostou de "WeCrashed", "The Dropout", "Super Pumped: A Batalha Pela Uber" e da também alemã, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", pode ter certeza que você vai se divertir (e muito) com a sátira inteligente e muito bem equilibrada de "Rei dos Stonks". Essa é mais uma série sobre startups, CEOs excêntricos e, claro, fraudes; porém o seu diferencial, além de ser "baseado em fatos reais mas sem citar nomes", é o tom - se em todas as outras referências sobre o assunto, o drama pautava a narrativa, aqui é a dramédia, o que, diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente ao tema. ;)
A trama gira em torno de Felix Armand (Thomas Schubert) um co-founder pouco reconhecido que quer chegar ao topo de sua Startup. Ele é o cérebro por trás da Fintech mais bem sucedida de todos os tempos da Alemanha - uma espécie de PayPal, que recebeu o sugestivo nome de CableCash. Pois bem, tudo começa a complicar após o IPO, onde é descoberto algumas movimentações suspeitas, investidores enganados, relações institucionais com mafiosos e sites de conteúdo impróprio, etc. Porém Felix acredita que tudo pode melhorar e como um "bom" empreendedor, luta com unhas e dentes para salvar sua empresa do desastre ao mesmo tempo em que tem que lidar com um CEO sem noção, Dr. Magnus Cramer (Matthias Brandt). Confira o trailer (em alemão):
Com uma narrativa mais despojada, divertida e leve como vimos em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" e até em "Clark" (para citar produções fora dos EUA, mas que fizeram sucesso na Netflix), "Rei dos Stonks" tem claras influências de “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese e do igualmente excelente “A Grande Jogada” de Adam McKay, com isso em mente fica fácil lembrar de uma das séries mais bacanas disponíveis no catálogo da Netflix atualmente: “Como Vender Drogas Online (Rápido)” - e claro que nada disso é por acaso, afinal Matthias Murmann (criador) e o time de produtores são os mesmos.
O ponto alto, sem a menor dúvida, é a forma como os roteiristas traçam paralelos entre o absurdo e o real - até porquê sabemos que muitas coisas que vemos em Startups nem são tão absurdas assim, basta lembrar das estripulias de Adam Neumann (da WeWork) e de Travis Kalanick (do UBER). O CEO da CableCash, Dr. Magnus Cramer, é a soma estereotipada de todos eles que sonha em ser reconhecido e respeitado como Jeff Bezos, Steve Jobs e, claro, Elon Musk (seu ídolo) - as citações são frequentes. Só por isso já teríamos uma série divertida, mas o fator "crescimento a qualquer custo" entra com força na história e tudo parece fazer ainda mais sentido - ver as jogadas de Felix para tentar salvar a empresa, é impagável.
Embora "Rei dos Stonks" seja um sátira, não vemos uma mão tão pesada no conceito narrativo quanto em "Silicon Valley" da HBO, mas diverte igual. A dinâmica dos episódios, como não poderia deixar de ser sabendo dos nomes envolvidos, é empolgante; porém as tramas mais profundas podem se tornar confusas para quem não está ambientado com o universo startupeiro e empreendedor - além de muitos personagens, os assuntos exigem um raciocínio lógico e um conhecimento sobre as artimanhas de investimento e relações corporativas (muito até é explicado, mas de forma rápida). Dito isso, a série vai agradar mais um nicho que parece estar crescendo dado o número de produções que vem explorando o tema - e essa é mais uma das boas!
Obs: A CableCash da vida real se chama Wirecard, mas muito do que se vê em tela realmente ocorreu. A empresa inicialmente se envolvia com traficantes de drogas, prostituição e pornografia on line, ou seja, clientes que queriam discrição em seus negócios. A série mostra bem essa relação conflituosa e também é eficaz em tentar explicar a dificuldade de legitimar a empresa e leva-la para outro patamar, no caso, o de capital aberto.
Vale seu play!
Se você gostou de "WeCrashed", "The Dropout", "Super Pumped: A Batalha Pela Uber" e da também alemã, "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", pode ter certeza que você vai se divertir (e muito) com a sátira inteligente e muito bem equilibrada de "Rei dos Stonks". Essa é mais uma série sobre startups, CEOs excêntricos e, claro, fraudes; porém o seu diferencial, além de ser "baseado em fatos reais mas sem citar nomes", é o tom - se em todas as outras referências sobre o assunto, o drama pautava a narrativa, aqui é a dramédia, o que, diga-se de passagem, se encaixa perfeitamente ao tema. ;)
A trama gira em torno de Felix Armand (Thomas Schubert) um co-founder pouco reconhecido que quer chegar ao topo de sua Startup. Ele é o cérebro por trás da Fintech mais bem sucedida de todos os tempos da Alemanha - uma espécie de PayPal, que recebeu o sugestivo nome de CableCash. Pois bem, tudo começa a complicar após o IPO, onde é descoberto algumas movimentações suspeitas, investidores enganados, relações institucionais com mafiosos e sites de conteúdo impróprio, etc. Porém Felix acredita que tudo pode melhorar e como um "bom" empreendedor, luta com unhas e dentes para salvar sua empresa do desastre ao mesmo tempo em que tem que lidar com um CEO sem noção, Dr. Magnus Cramer (Matthias Brandt). Confira o trailer (em alemão):
Com uma narrativa mais despojada, divertida e leve como vimos em "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth" e até em "Clark" (para citar produções fora dos EUA, mas que fizeram sucesso na Netflix), "Rei dos Stonks" tem claras influências de “O Lobo de Wall Street” de Martin Scorsese e do igualmente excelente “A Grande Jogada” de Adam McKay, com isso em mente fica fácil lembrar de uma das séries mais bacanas disponíveis no catálogo da Netflix atualmente: “Como Vender Drogas Online (Rápido)” - e claro que nada disso é por acaso, afinal Matthias Murmann (criador) e o time de produtores são os mesmos.
O ponto alto, sem a menor dúvida, é a forma como os roteiristas traçam paralelos entre o absurdo e o real - até porquê sabemos que muitas coisas que vemos em Startups nem são tão absurdas assim, basta lembrar das estripulias de Adam Neumann (da WeWork) e de Travis Kalanick (do UBER). O CEO da CableCash, Dr. Magnus Cramer, é a soma estereotipada de todos eles que sonha em ser reconhecido e respeitado como Jeff Bezos, Steve Jobs e, claro, Elon Musk (seu ídolo) - as citações são frequentes. Só por isso já teríamos uma série divertida, mas o fator "crescimento a qualquer custo" entra com força na história e tudo parece fazer ainda mais sentido - ver as jogadas de Felix para tentar salvar a empresa, é impagável.
Embora "Rei dos Stonks" seja um sátira, não vemos uma mão tão pesada no conceito narrativo quanto em "Silicon Valley" da HBO, mas diverte igual. A dinâmica dos episódios, como não poderia deixar de ser sabendo dos nomes envolvidos, é empolgante; porém as tramas mais profundas podem se tornar confusas para quem não está ambientado com o universo startupeiro e empreendedor - além de muitos personagens, os assuntos exigem um raciocínio lógico e um conhecimento sobre as artimanhas de investimento e relações corporativas (muito até é explicado, mas de forma rápida). Dito isso, a série vai agradar mais um nicho que parece estar crescendo dado o número de produções que vem explorando o tema - e essa é mais uma das boas!
Obs: A CableCash da vida real se chama Wirecard, mas muito do que se vê em tela realmente ocorreu. A empresa inicialmente se envolvia com traficantes de drogas, prostituição e pornografia on line, ou seja, clientes que queriam discrição em seus negócios. A série mostra bem essa relação conflituosa e também é eficaz em tentar explicar a dificuldade de legitimar a empresa e leva-la para outro patamar, no caso, o de capital aberto.
Vale seu play!
Uma ficção científica com alma! Não existe outra maneira de definir uma das maiores e melhores surpresas de 2023 - o filme "Resistência". O novo projeto de Gareth Edwards (de "Rogue One: Uma História Star Wars" e "Godzilla") chegou quietinho, mas logo de cara se mostrou uma experiência cinematográfica imperdível, equilibrando perfeitamente a ação com a reflexão em um futuro distópico. Ao explorar as consequências da guerra entre humanos e a tecnologia, especialmente a tão comentada inteligência artificial, o filme traz uma mensagem poderosa sobre a nossa humanidade e o valor das relações, algo como vimos em "I am Mother" e em "Devs" - só para citar duas obras imperdíveis disponíveis no streaming.
"Resistência" conta a história de Joshua (John David Washington), um ex-agente das forças especiais dos EUA que é recrutado para uma missão perigosa: caçar e eliminar o Criador, o arquiteto por trás de uma inteligência artificial avançada que desenvolveu uma arma misteriosa capaz de acabar com a soberania bélica americana em uma guerra contra o Oriente que pode custar a extinção de toda a humanidade. Confira o trailer:
Embora a sinopse possa parecer algo simples e talvez até um pouco batido, você não vai precisar mais do que quinze minutos para entender que o filme é muito mais profundo e interessante do que uma trama onde o "bem" luta contra o "mal" em pró da salvação do planeta e de sua raça. Edwards, com todo o seu talento para estabelecer universos bastante caóticos e visualmente requintados, cria uma narrativa complexa e envolvente, que explora temas como a natureza da inteligência artificial, o papel da humanidade no futuro e a importância da empatia, misturando a gramática da ação de filmes como "Distrito 9" e a poesia cheia de simbolismos, como encontramos em "Contos do Loop", por exemplo.
O roteiro, escrito por Edwards e Chris Weitz (também de "Rogue One") é bem planejado para explorar temas mais espinhosos sem ser expositivo demais - a passagem sobre a bomba atômica que dizimou Los Angeles sendo contata por quem foi acusado de começar uma guerra é simplesmente genial. Provocativo na medida certa sem esquecer do entretenimento do gênero, "Resistência" pontua o valor politico daquela relação entre humanos e máquinas enquanto seu subtexto discute o conceito de livre arbítrio e da natureza predadora da guerra. Com cenas de ação eletrizantes, Edwards também sabe da importância de imprimir um tom reflexivo à obra pra colocar sua narrativa e conceito estético em outro patamar - e consegue!
A fotografia de Greig Fraser (de "Duna" e "The Madalorian") é deslumbrante, enquanto a trilha sonora do mestre Hans Zimmer (de "A Origem") é proporcionalmente emocionante. As atuações de John David Washington como Joshua e da jovem Madeleine Yuna Voyles como Alphie, completam a receita do que há de melhor em ficção cientifica com o bônus de um desenho de produção e um CGI realmente impressionantes. Dito isso fica fácil perceber que estamos falando de um filme digno de Oscar, daqueles que ficam na nossa cabeça por muito tempo, testam a nossa humanidade e nos faz refletir sobre o futuro que nos espera.
"The Creator" (no original) é realmente imperdível!
Uma ficção científica com alma! Não existe outra maneira de definir uma das maiores e melhores surpresas de 2023 - o filme "Resistência". O novo projeto de Gareth Edwards (de "Rogue One: Uma História Star Wars" e "Godzilla") chegou quietinho, mas logo de cara se mostrou uma experiência cinematográfica imperdível, equilibrando perfeitamente a ação com a reflexão em um futuro distópico. Ao explorar as consequências da guerra entre humanos e a tecnologia, especialmente a tão comentada inteligência artificial, o filme traz uma mensagem poderosa sobre a nossa humanidade e o valor das relações, algo como vimos em "I am Mother" e em "Devs" - só para citar duas obras imperdíveis disponíveis no streaming.
"Resistência" conta a história de Joshua (John David Washington), um ex-agente das forças especiais dos EUA que é recrutado para uma missão perigosa: caçar e eliminar o Criador, o arquiteto por trás de uma inteligência artificial avançada que desenvolveu uma arma misteriosa capaz de acabar com a soberania bélica americana em uma guerra contra o Oriente que pode custar a extinção de toda a humanidade. Confira o trailer:
Embora a sinopse possa parecer algo simples e talvez até um pouco batido, você não vai precisar mais do que quinze minutos para entender que o filme é muito mais profundo e interessante do que uma trama onde o "bem" luta contra o "mal" em pró da salvação do planeta e de sua raça. Edwards, com todo o seu talento para estabelecer universos bastante caóticos e visualmente requintados, cria uma narrativa complexa e envolvente, que explora temas como a natureza da inteligência artificial, o papel da humanidade no futuro e a importância da empatia, misturando a gramática da ação de filmes como "Distrito 9" e a poesia cheia de simbolismos, como encontramos em "Contos do Loop", por exemplo.
O roteiro, escrito por Edwards e Chris Weitz (também de "Rogue One") é bem planejado para explorar temas mais espinhosos sem ser expositivo demais - a passagem sobre a bomba atômica que dizimou Los Angeles sendo contata por quem foi acusado de começar uma guerra é simplesmente genial. Provocativo na medida certa sem esquecer do entretenimento do gênero, "Resistência" pontua o valor politico daquela relação entre humanos e máquinas enquanto seu subtexto discute o conceito de livre arbítrio e da natureza predadora da guerra. Com cenas de ação eletrizantes, Edwards também sabe da importância de imprimir um tom reflexivo à obra pra colocar sua narrativa e conceito estético em outro patamar - e consegue!
A fotografia de Greig Fraser (de "Duna" e "The Madalorian") é deslumbrante, enquanto a trilha sonora do mestre Hans Zimmer (de "A Origem") é proporcionalmente emocionante. As atuações de John David Washington como Joshua e da jovem Madeleine Yuna Voyles como Alphie, completam a receita do que há de melhor em ficção cientifica com o bônus de um desenho de produção e um CGI realmente impressionantes. Dito isso fica fácil perceber que estamos falando de um filme digno de Oscar, daqueles que ficam na nossa cabeça por muito tempo, testam a nossa humanidade e nos faz refletir sobre o futuro que nos espera.
"The Creator" (no original) é realmente imperdível!
Sabe aquele episódio de "Black Mirror" que daria uma excelente série se fosse desenvolvido com mais calma, com ótimos personagens e ainda um arco cheio de mistério para "Iniciativa Dharma" alguma colocar defeito? Pois é, temos! "Ruptura", nova série da AppleTV+, é uma jóia para quem gosta de um drama bem construído, com elementos de ficção cientifica (com alma!) ao melhor estilo "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças", cheio de camadas e muito bem dirigido pela talentosa Aoife McArdle e pelo, acreditem, Ben Stiller - tudo isso baseado na criação de um estreante, o surpreendente Dan Erickson (guardem esse nome)!
Na trama conhecemos a história de alguns funcionários de uma empresa de tecnologia chamada Lumon. Sem muitas explicações, eles aceitam fazer um procedimento chamado de Severance, ou seja, eles separam suas personalidades em duas: uma que representa um funcionário exclusivo da Lumon e outra que é a pessoa que eles realmente são na vida real. O intrigante é que uma versão não sabe da outra, fazendo com que a mesma pessoa, viva em duas realidades distintas. Confira o trailer:
Em tempos pós-pandemia "Ruptura" tem um texto muito inteligente, cheio de críticas à tecnologia e, principalmente, perante nossas dinâmicas através dela. Claramente cheia de alegorias, muito bem colocadas e sempre cercada de muita ironia, o roteiro transforma o cotidiano dos personagens em uma espécie de prisão corporativista, explorando uma rotina exaustiva e completamente alienada que serve como fuga para o "eu" real - curioso como conhecemos muitas pessoas assim, não?
Mark (Adam Scott) resolveu fazer a ruptura para esquecer por 8 horas que sua mulher morreu em um acidente de carro, porém o mistério acompanha todos os outros personagens: seja a chefona durona totalmente non-sense, Harmony (Patricia Arquette), até o funcionário modelo Irving (John Turturro), ou o excêntrico Dylan (Zach Cherry) e a rebelde nova funcionária Holly (Britt Lower) - o elenco é tão incrível que eu já separaria muitos prêmios no próximo Emmy. Isso porque eu nem citei o impagável segurança Milchick (Tramell Tillman).
Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao desenho de produção: o ambiente criado pelo Jeremy Hindle ("A hora mais escura") é genial - uma verdadeira folha em branco, cheia de corredores e totalmente desprovido de vida - o movimento de câmera acompanhando os atores pelos longos corredores dá a exata impressão de que todos são ratos de laboratório num labirinto interminável. Chega a ser claustrofóbico! Aliás a sensação de vazio que o cenário nos passa é impressionante - eu diria que essa configuração visual é tão impactante e importante que pode ser considerado um personagem.
Antes de finalizar, é preciso dizer que "Ruptura" tem uma narrativa bastante cadenciada, o que pode dar a impressão que a história não está indo para lugar algum - esquece, pois tudo (eu disse "tudo") tem uma razão de estar em cena. Todo diálogo é importante. E toda pergunta parece ter uma resposta - os dois últimos episódios dão uma boa ideia de como essa série pode entrar para a história. Sem exageros, "Ruptura" é uma das melhores coisas que assisti em muitos anos - desde o cuidado técnico para nos mergulhar em inúmeras alegorias e mistérios até os subtextos críticos e filosóficos em torno de temas profundamente realistas e atuais.
Vale muito seu play!
Sabe aquele episódio de "Black Mirror" que daria uma excelente série se fosse desenvolvido com mais calma, com ótimos personagens e ainda um arco cheio de mistério para "Iniciativa Dharma" alguma colocar defeito? Pois é, temos! "Ruptura", nova série da AppleTV+, é uma jóia para quem gosta de um drama bem construído, com elementos de ficção cientifica (com alma!) ao melhor estilo "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças", cheio de camadas e muito bem dirigido pela talentosa Aoife McArdle e pelo, acreditem, Ben Stiller - tudo isso baseado na criação de um estreante, o surpreendente Dan Erickson (guardem esse nome)!
Na trama conhecemos a história de alguns funcionários de uma empresa de tecnologia chamada Lumon. Sem muitas explicações, eles aceitam fazer um procedimento chamado de Severance, ou seja, eles separam suas personalidades em duas: uma que representa um funcionário exclusivo da Lumon e outra que é a pessoa que eles realmente são na vida real. O intrigante é que uma versão não sabe da outra, fazendo com que a mesma pessoa, viva em duas realidades distintas. Confira o trailer:
Em tempos pós-pandemia "Ruptura" tem um texto muito inteligente, cheio de críticas à tecnologia e, principalmente, perante nossas dinâmicas através dela. Claramente cheia de alegorias, muito bem colocadas e sempre cercada de muita ironia, o roteiro transforma o cotidiano dos personagens em uma espécie de prisão corporativista, explorando uma rotina exaustiva e completamente alienada que serve como fuga para o "eu" real - curioso como conhecemos muitas pessoas assim, não?
Mark (Adam Scott) resolveu fazer a ruptura para esquecer por 8 horas que sua mulher morreu em um acidente de carro, porém o mistério acompanha todos os outros personagens: seja a chefona durona totalmente non-sense, Harmony (Patricia Arquette), até o funcionário modelo Irving (John Turturro), ou o excêntrico Dylan (Zach Cherry) e a rebelde nova funcionária Holly (Britt Lower) - o elenco é tão incrível que eu já separaria muitos prêmios no próximo Emmy. Isso porque eu nem citei o impagável segurança Milchick (Tramell Tillman).
Outro ponto que merece sua atenção diz respeito ao desenho de produção: o ambiente criado pelo Jeremy Hindle ("A hora mais escura") é genial - uma verdadeira folha em branco, cheia de corredores e totalmente desprovido de vida - o movimento de câmera acompanhando os atores pelos longos corredores dá a exata impressão de que todos são ratos de laboratório num labirinto interminável. Chega a ser claustrofóbico! Aliás a sensação de vazio que o cenário nos passa é impressionante - eu diria que essa configuração visual é tão impactante e importante que pode ser considerado um personagem.
Antes de finalizar, é preciso dizer que "Ruptura" tem uma narrativa bastante cadenciada, o que pode dar a impressão que a história não está indo para lugar algum - esquece, pois tudo (eu disse "tudo") tem uma razão de estar em cena. Todo diálogo é importante. E toda pergunta parece ter uma resposta - os dois últimos episódios dão uma boa ideia de como essa série pode entrar para a história. Sem exageros, "Ruptura" é uma das melhores coisas que assisti em muitos anos - desde o cuidado técnico para nos mergulhar em inúmeras alegorias e mistérios até os subtextos críticos e filosóficos em torno de temas profundamente realistas e atuais.
Vale muito seu play!
Independente dos julgamentos morais e éticos, "Shiny Flakes - Drogas online" é um excelente documentário, com uma história impressionante e que, fatalmente, será um tapa na cara de muita gente (e já vou explicar a razão). Ah, e antes de mais nada eu quero esclarecer que tudo que será escrito daqui pra frente não tem a menor intenção de glorificar o trabalho ou a postura de Maximilian Schmidt - o verdadeiro Moritz que serviu de inspiração para a ótima série da Netflix, "Como Vender Drogas Online (Rápido)".
"Shiny Flakes" narra a incrível jornada de ascensão e queda do alemão Maximilian Schmidt, e como ele criou um verdadeiro império de vendas de drogas com apenas 20 anos. A partir de uma loja virtual, montada e gerida dentro do seu próprio quarto, sem a ajuda de ninguém, em pouco mais de três anos, a ousada startup se transformou no maior (e disruptivo) sucesso de um mercado ilícito bilionário. Além de gerar um lucro absurdo e transformar Maximilian em uma verdadeira celebridade com requintes de Walter White, o documentário mostra em detalhes como tudo de fato aconteceu pelo olhar do próprio protagonista que, aliás, no momento da sua prisão tinha mais de uma tonelada de drogas no seu armário. Confira o trailer:
Inegavelmente "Shiny Flakes" é um estudo de caso dos mais curiosos para os empreendedores e para quem gosta do assunto, principalmente se trocarmos o produto em questão por algo, digamos, lícito. O próprio Maximilian Schmidt descreve todo o processo de ideação, execução, crescimento e logística de uma forma que certamente fará inveja a muito vendedor de curso de Instagram com a "fórmula mágica do sucesso". Talvez a lição mais interessante da primeira metade do documentário esteja resumida na seguinte frase: "Muita gente diz que com pouco esforço poderia ter feito isso. Essa é a diferença: alguns fazem, outros não!"
Um dos grandes acertos de "Shiny Flakes", sem dúvida, foi a forma como a dupla de diretores, Eva Müller e Michael Schmitt, contam a história. Com uma dinâmica narrativa bastante fluída e simples. O documentário é praticamente um exercício de reconstituição com o próprio protagonista - isso mesmo, Maximilian atua nas cenas como um ator (e vai muito bem, inclusive). Misturando depoimentos dos investigadores envolvidos no caso com os de Maximilian Schmidt em vários momentos da sua vida de criminoso, tudo se encaixa perfeitamente com um mood quase irônico e cínico da situação - o sorriso arrogante e sem noção no rosto de Maximilian é irritante!
Quando a produção reproduz em detalhes o quarto de onde Maximilian realizava a operação e deixa bem claro que se trata de um cenário sem a menor intenção de esconder o que é "ficção" do que é "realidade", os diretores nos apresentam a uma técnica cinematográfica que gera muita empatia, identificação e acaba funcionando como um convite para aquela imersão: a quebra da quarta parede faz parte da narrativa e em diversas formas - quando escutamos a voz da diretora em uma pergunta, quando o protagonista fala diretamente para câmera após uma ação e até quando na reconstituição ouvimos o "corta" e o ator pergunta para "nós" se ficou bom.
Outro elemento que mostra o cuidado da produção diz respeito as inserções gráficas: a arte que constrói a planta original do apartamento de Maximilian a partir do seu quarto é um bom exemplo. Tudo funciona tão organicamente que nos dá a dimensão de como essa história é surreal de simples e encaixa tão bem na narrativa que temos a exata impressão que o modelo de operação do negócio seria facilmente replicável - além, claro, de ter deixado os investigadores boquiabertos pela simplicidade, audácia e ao mesmo tempo, pelo cuidado que Maximilian teve para não deixar rastros. O fato é que ninguém imaginava que o "Barão das Drogas Online" fosse um jovem que agia sozinho no quarto da casa em que morava com seus pais.
Olha, vale muito a pena!
Independente dos julgamentos morais e éticos, "Shiny Flakes - Drogas online" é um excelente documentário, com uma história impressionante e que, fatalmente, será um tapa na cara de muita gente (e já vou explicar a razão). Ah, e antes de mais nada eu quero esclarecer que tudo que será escrito daqui pra frente não tem a menor intenção de glorificar o trabalho ou a postura de Maximilian Schmidt - o verdadeiro Moritz que serviu de inspiração para a ótima série da Netflix, "Como Vender Drogas Online (Rápido)".
"Shiny Flakes" narra a incrível jornada de ascensão e queda do alemão Maximilian Schmidt, e como ele criou um verdadeiro império de vendas de drogas com apenas 20 anos. A partir de uma loja virtual, montada e gerida dentro do seu próprio quarto, sem a ajuda de ninguém, em pouco mais de três anos, a ousada startup se transformou no maior (e disruptivo) sucesso de um mercado ilícito bilionário. Além de gerar um lucro absurdo e transformar Maximilian em uma verdadeira celebridade com requintes de Walter White, o documentário mostra em detalhes como tudo de fato aconteceu pelo olhar do próprio protagonista que, aliás, no momento da sua prisão tinha mais de uma tonelada de drogas no seu armário. Confira o trailer:
Inegavelmente "Shiny Flakes" é um estudo de caso dos mais curiosos para os empreendedores e para quem gosta do assunto, principalmente se trocarmos o produto em questão por algo, digamos, lícito. O próprio Maximilian Schmidt descreve todo o processo de ideação, execução, crescimento e logística de uma forma que certamente fará inveja a muito vendedor de curso de Instagram com a "fórmula mágica do sucesso". Talvez a lição mais interessante da primeira metade do documentário esteja resumida na seguinte frase: "Muita gente diz que com pouco esforço poderia ter feito isso. Essa é a diferença: alguns fazem, outros não!"
Um dos grandes acertos de "Shiny Flakes", sem dúvida, foi a forma como a dupla de diretores, Eva Müller e Michael Schmitt, contam a história. Com uma dinâmica narrativa bastante fluída e simples. O documentário é praticamente um exercício de reconstituição com o próprio protagonista - isso mesmo, Maximilian atua nas cenas como um ator (e vai muito bem, inclusive). Misturando depoimentos dos investigadores envolvidos no caso com os de Maximilian Schmidt em vários momentos da sua vida de criminoso, tudo se encaixa perfeitamente com um mood quase irônico e cínico da situação - o sorriso arrogante e sem noção no rosto de Maximilian é irritante!
Quando a produção reproduz em detalhes o quarto de onde Maximilian realizava a operação e deixa bem claro que se trata de um cenário sem a menor intenção de esconder o que é "ficção" do que é "realidade", os diretores nos apresentam a uma técnica cinematográfica que gera muita empatia, identificação e acaba funcionando como um convite para aquela imersão: a quebra da quarta parede faz parte da narrativa e em diversas formas - quando escutamos a voz da diretora em uma pergunta, quando o protagonista fala diretamente para câmera após uma ação e até quando na reconstituição ouvimos o "corta" e o ator pergunta para "nós" se ficou bom.
Outro elemento que mostra o cuidado da produção diz respeito as inserções gráficas: a arte que constrói a planta original do apartamento de Maximilian a partir do seu quarto é um bom exemplo. Tudo funciona tão organicamente que nos dá a dimensão de como essa história é surreal de simples e encaixa tão bem na narrativa que temos a exata impressão que o modelo de operação do negócio seria facilmente replicável - além, claro, de ter deixado os investigadores boquiabertos pela simplicidade, audácia e ao mesmo tempo, pelo cuidado que Maximilian teve para não deixar rastros. O fato é que ninguém imaginava que o "Barão das Drogas Online" fosse um jovem que agia sozinho no quarto da casa em que morava com seus pais.
Olha, vale muito a pena!
Se você que nos acompanha e sempre está em busca de algum conteúdo que remeta a uma jornada empreendedora ou ao universo das startups de tecnologia e ainda não se aventurou por uma das melhores séries já criadas sobre o assunto, esteja preparado para conhecer desde os programadores mais brilhantes às ambições mais desenfreadas de fundadores excêntricos do Vale do Silício, como em "WeCrashed" ou em "The Dropout", só que aqui em um tom infinitamente mais leve, mas nem por isso menos crítico ou relevante ao tema. "Silicon Valley", criada por John Altschuler, Mike Judge e Alec Berg, tem 6 temporadas e é um verdadeiro tesouro cômico que brilha graças a combinação de uma sagacidade afiada única, uma sátira social bastante inteligente e, claro, pelo seu elenco simplesmente excepcional - não é à toa que a série recebeu uma pancada de prêmios, além de cerca de 40 indicações ao Emmy, e foi saudada como uma das melhores comédias da última década.
"Silicon Valley", basicamente, segue a jornada tumultuada de Richard Hendricks (Thomas Middleditch), um programador introvertido que cria um algoritmo revolucionário que pode mudar a história da internet. Com o apoio do "sem noção" Erlich Bachman (T.J. Miller ), do ambicioso Dinesh Chugtai (Kumail Nanjiani) e do mal-humorado Gilfoyle (Martin Starr), Hendricks precisa lidar com todo aquele universo de inovação, cheio de intrigas e competição, enquanto tenta transformar sua startup, a Pied Piper, em um verdadeiro império tecnológico. Confira o trailer:
O que torna "Silicon Valley" verdadeiramente especial, sem dúvida, é sua capacidade de lançar um olhar incisivo sobre o universo do empreendedorismo tecnológico que virou moda nos últimos anos. Muito à frente de seu tempo, a série da HBO se aproveita do humor afiado e cheio de simbolismos do seu roteiro, para destilar os absurdos da indústria e dos egos inflados de seus atores em momentos realmente inesquecíveis. A direção habilidosa de se seus criadores entrega um ambiente autêntico e convincente, cheio de referências que só enriquecem nossa experiência como audiência.
Enquanto a fotografia e o desenho de produção capturam a grandeza e a artificialidade do Vale do Silício, o elenco acaba se destacando por suas performances impecáveis. Thomas Middleditch personifica brilhantemente a inocência de Richard Hendricks, enquanto T.J. Miller rouba todas as cenas com sua interpretação impagável de Erlich Bachman. A química entre os atores é tão palpável que praticamente conduzem a série sozinhos - principalmente nas duas primeiras temporadas. Depois vemos alguns outros personagens crescerem, como é o caso de Dinesh, Gilfoyle, do Jared (Zach Woods) e por fim do Jian Yang (Jimmy O. Yang).
"Silicon Valley" é um entretenimento fácil, para aqueles envolvidos com o universo da tecnologia e de startups, pois mesmo que elevado ao absurdo, quase tudo que vemos na tela, de fato, acontece na vida real. O ritmo é frenético, o que adiciona uma camada extra de humor e certa autenticidade, mas por ser uma sátira, pode dividir opiniões. E aqui vale lembrar de uma postagem do GatesNotes em 2018 onde Bill Gates revelou que a série era uma das poucas obras da cultura pop até ali, que "retratava de forma realista a comunidade do Vale do Silício, na Califórnia, com seus programadores sarcásticos, porém, sem nenhum trato social" - como ele!
Vale muito o seu play!
Se você que nos acompanha e sempre está em busca de algum conteúdo que remeta a uma jornada empreendedora ou ao universo das startups de tecnologia e ainda não se aventurou por uma das melhores séries já criadas sobre o assunto, esteja preparado para conhecer desde os programadores mais brilhantes às ambições mais desenfreadas de fundadores excêntricos do Vale do Silício, como em "WeCrashed" ou em "The Dropout", só que aqui em um tom infinitamente mais leve, mas nem por isso menos crítico ou relevante ao tema. "Silicon Valley", criada por John Altschuler, Mike Judge e Alec Berg, tem 6 temporadas e é um verdadeiro tesouro cômico que brilha graças a combinação de uma sagacidade afiada única, uma sátira social bastante inteligente e, claro, pelo seu elenco simplesmente excepcional - não é à toa que a série recebeu uma pancada de prêmios, além de cerca de 40 indicações ao Emmy, e foi saudada como uma das melhores comédias da última década.
"Silicon Valley", basicamente, segue a jornada tumultuada de Richard Hendricks (Thomas Middleditch), um programador introvertido que cria um algoritmo revolucionário que pode mudar a história da internet. Com o apoio do "sem noção" Erlich Bachman (T.J. Miller ), do ambicioso Dinesh Chugtai (Kumail Nanjiani) e do mal-humorado Gilfoyle (Martin Starr), Hendricks precisa lidar com todo aquele universo de inovação, cheio de intrigas e competição, enquanto tenta transformar sua startup, a Pied Piper, em um verdadeiro império tecnológico. Confira o trailer:
O que torna "Silicon Valley" verdadeiramente especial, sem dúvida, é sua capacidade de lançar um olhar incisivo sobre o universo do empreendedorismo tecnológico que virou moda nos últimos anos. Muito à frente de seu tempo, a série da HBO se aproveita do humor afiado e cheio de simbolismos do seu roteiro, para destilar os absurdos da indústria e dos egos inflados de seus atores em momentos realmente inesquecíveis. A direção habilidosa de se seus criadores entrega um ambiente autêntico e convincente, cheio de referências que só enriquecem nossa experiência como audiência.
Enquanto a fotografia e o desenho de produção capturam a grandeza e a artificialidade do Vale do Silício, o elenco acaba se destacando por suas performances impecáveis. Thomas Middleditch personifica brilhantemente a inocência de Richard Hendricks, enquanto T.J. Miller rouba todas as cenas com sua interpretação impagável de Erlich Bachman. A química entre os atores é tão palpável que praticamente conduzem a série sozinhos - principalmente nas duas primeiras temporadas. Depois vemos alguns outros personagens crescerem, como é o caso de Dinesh, Gilfoyle, do Jared (Zach Woods) e por fim do Jian Yang (Jimmy O. Yang).
"Silicon Valley" é um entretenimento fácil, para aqueles envolvidos com o universo da tecnologia e de startups, pois mesmo que elevado ao absurdo, quase tudo que vemos na tela, de fato, acontece na vida real. O ritmo é frenético, o que adiciona uma camada extra de humor e certa autenticidade, mas por ser uma sátira, pode dividir opiniões. E aqui vale lembrar de uma postagem do GatesNotes em 2018 onde Bill Gates revelou que a série era uma das poucas obras da cultura pop até ali, que "retratava de forma realista a comunidade do Vale do Silício, na Califórnia, com seus programadores sarcásticos, porém, sem nenhum trato social" - como ele!
Vale muito o seu play!
Você não vai precisar mais do que um episódio para se perguntar "por que diabos eu não assisti essa série antes?". "Silo", da AppleTV+, é uma ficção científica de respeito, que se baseia no aclamado romance "Wool" de Hugh Howey. Desenvolvida por Graham Yost (de "From the Earth to the Moon"), a série nos transporta para um futuro distópico onde a humanidade vive em um gigantesco silo subterrâneo de 144 andares, protegido de um mundo exterior tóxico e desconhecido. Com uma narrativa das mais misteriosas e envolventes, um conceito visual impressionante e um elenco de peso, "Silo" realmente chama atenção pela forma como oferece uma exploração profunda, cheia de simbologia, sobre o controle da informação, os mistérios da sobrevivência e a incessante busca pela verdade.
Você não vai precisar mais do que um episódio para se perguntar "por que diabos eu não assisti essa série antes?". "Silo", da AppleTV+, é uma ficção científica de respeito, que se baseia no aclamado romance "Wool" de Hugh Howey. Desenvolvida por Graham Yost (de "From the Earth to the Moon"), a série nos transporta para um futuro distópico onde a humanidade vive em um gigantesco silo subterrâneo de 144 andares, protegido de um mundo exterior tóxico e desconhecido. Com uma narrativa das mais misteriosas e envolventes, um conceito visual impressionante e um elenco de peso, "Silo" realmente chama atenção pela forma como oferece uma exploração profunda, cheia de simbologia, sobre o controle da informação, os mistérios da sobrevivência e a incessante busca pela verdade.
"A memória é uma homenagem a que se ama!" - com essa frase dita por nada menos que Morgan Freeman no último episódio dessa belíssima série antológica da Amazon para o seu Prime Vídeo, fica muito fácil ter uma noção do que podemos encontrar pela frente. "Solos" é um ensaio sobre a solidão sob diversos aspectos e pontos de vista. Como em "Black Mirror", a tecnologia e o futuro das coisas são os gatilhos para profundas discussões (e reflexões) filosóficas e de auto-conhecimento. O que eu quero dizer é que se você procura uma ficção científica com alguma ação ou suspense, "Solos" não é para você!
Com uma premissa das mais interessantes, "Solos" explora o significado mais profundo da conexão humana através das lentes do indivíduo. As histórias são guiadas por personagens únicos, cada uma com uma perspectiva e em momentos diferentes, demonstrando que mesmo durante nossos momentos mais isolados, nas mais díspares das circunstâncias, estamos todos conectados através da experiência humana. Confira o trailer:
De cara, o que mais chama atenção é o elenco incrível - dada a proposta narrativa e conceitual de se apoiar basicamente em monólogos para contar a história, Anne Hathaway, Helen Mirren, Morgan Freeman, Uzo Aduba, Anthony Mackie, Constance Wu, Dan Stevens e Nicole Beharie, simplesmente brilham - uns com mais força emocional, outros com mais potência cênica, mas todos em um nível de performance impressionante. Veja, são histórias curtas, em média trinta minutos por episódio, ou seja, é como se estivéssemos assistindo esquetes teatrais com roteiros inteligentes e bastante provocadores - não necessariamente fáceis de digerir ou de compreender imediatamente, mas cheio de símbolos e mensagens relevantes para esse momento que a humanidade está passando.
O projeto é uma criação de David Weil (“Hunters”). Ele é o showrunner junto a Sam Taylor-Johnson. Ambos dirigem alguns episódios da série ao lado de Zach Braff e Tiffany Johnson o que reflete na qualidade narrativa focada no ator - o cenário, é simplesmente um cenário. A beleza de "Solos" está no cuidado do texto e nas sensações que as histórias nos provocam - e importante: o ponto em comum entre todas elas é a exploração (no bom sentido) de sentimentos e os conflitos familiares e isso é pega forte!
Como comentei assim que o trailer foi liberado pela Amazon: "Solos" vai muito além de ser um novo "Black Mirror", mas não vai agradar a todos - será preciso muita sensibilidade para mergulhar nas profundezas da psiquê de cada um dos personagens! Como em "Tales from the Loop", essa série é de fato surpreendente, vale a pena!
"A memória é uma homenagem a que se ama!" - com essa frase dita por nada menos que Morgan Freeman no último episódio dessa belíssima série antológica da Amazon para o seu Prime Vídeo, fica muito fácil ter uma noção do que podemos encontrar pela frente. "Solos" é um ensaio sobre a solidão sob diversos aspectos e pontos de vista. Como em "Black Mirror", a tecnologia e o futuro das coisas são os gatilhos para profundas discussões (e reflexões) filosóficas e de auto-conhecimento. O que eu quero dizer é que se você procura uma ficção científica com alguma ação ou suspense, "Solos" não é para você!
Com uma premissa das mais interessantes, "Solos" explora o significado mais profundo da conexão humana através das lentes do indivíduo. As histórias são guiadas por personagens únicos, cada uma com uma perspectiva e em momentos diferentes, demonstrando que mesmo durante nossos momentos mais isolados, nas mais díspares das circunstâncias, estamos todos conectados através da experiência humana. Confira o trailer:
De cara, o que mais chama atenção é o elenco incrível - dada a proposta narrativa e conceitual de se apoiar basicamente em monólogos para contar a história, Anne Hathaway, Helen Mirren, Morgan Freeman, Uzo Aduba, Anthony Mackie, Constance Wu, Dan Stevens e Nicole Beharie, simplesmente brilham - uns com mais força emocional, outros com mais potência cênica, mas todos em um nível de performance impressionante. Veja, são histórias curtas, em média trinta minutos por episódio, ou seja, é como se estivéssemos assistindo esquetes teatrais com roteiros inteligentes e bastante provocadores - não necessariamente fáceis de digerir ou de compreender imediatamente, mas cheio de símbolos e mensagens relevantes para esse momento que a humanidade está passando.
O projeto é uma criação de David Weil (“Hunters”). Ele é o showrunner junto a Sam Taylor-Johnson. Ambos dirigem alguns episódios da série ao lado de Zach Braff e Tiffany Johnson o que reflete na qualidade narrativa focada no ator - o cenário, é simplesmente um cenário. A beleza de "Solos" está no cuidado do texto e nas sensações que as histórias nos provocam - e importante: o ponto em comum entre todas elas é a exploração (no bom sentido) de sentimentos e os conflitos familiares e isso é pega forte!
Como comentei assim que o trailer foi liberado pela Amazon: "Solos" vai muito além de ser um novo "Black Mirror", mas não vai agradar a todos - será preciso muita sensibilidade para mergulhar nas profundezas da psiquê de cada um dos personagens! Como em "Tales from the Loop", essa série é de fato surpreendente, vale a pena!
Se a Alemanha contou a sua história empreendedora através da Wirecard em "Rei dos Stonks", por que a Suécia não deveria contar sua versão do "sucesso" através do Spotify em "Som na Faixa"? Com um tom dramático bem mais próximo de "WeCrashed", "The Dropout" e "Super Pumped: A Batalha Pela Uber", "The Playlist" (no original) surpreende por encontrar uma linha narrativa original dentro de um subgênero pouco criativo que vem ganhando cada vez mais audiência dentro das plataformas de streaming - dessa vez a história não é focada em um fundador excêntrico ou em controversas estratégias de crescimento a qualquer custo (embora também tenha isso), mas na visão holística de uma enorme transformação de mercado pelo ponto de vista de todos os seus principais atores.
A minissérie em 6 episódios conta a jornada de um grupo de jovens empreendedores, liderados por Daniel Ek (Edvin Endre), que aceita uma missão aparentemente impossível: mudar a indústria da música (e de consumo) com a criação de uma plataforma de streaming gratuita onde, sem a necessidade de downloads, seria possível montar (e socializar) uma playlist 100% pessoal. Confira o trailer:
Baseada no romance "Spotify Untold", igualmente conhecido como "Spotify Inifrån", escrito pelo Sven Carlsson e pelo Jonas Leijonhufvud, a minissérie dirigida pelo talentoso Per-Olav Sørensen (o mesmo do excelente "Areia Movediça") se aproveita de uma dinâmica muito inteligente para contar uma mesma história sob os olhares (e interesses) de 6 personagens diferentes (um por episódio). Dentro de um complexo ecossistema empreendedor, perceber a importância de cada uma das peças para que uma ideia se transforme, de fato, em algo relevante como negócio, não é tão simples quanto parece e "Som na Faixa" sabe exatamente como replicar essa situação.
Mesmo sendo uma produção sueca, o roteiro ficou nas mãos do inglês Christian Spurrier (de "Silent Witness") que com muita criatividade imprimiu uma fluidez narrativa das mais competentes: se no primeiro episódio conhecemos o fundador do Spotify, Daniel Ek; no segundo somos surpreendidos ao entendermos o outro lado da disrupção que Ek comandou, ou seja, aqui os holofotes vão para Per Sundin (Ulf Stenberg), o então presidente da Sony Music da Suécia. O interessante é que algumas cenas até se repetem, mas os próprios diálogos ou o tom de determinadas passagens são mostradas de maneiras diferentes criando a exata sensação de que para uma história sempre existem três versões: a de cada lado envolvido e, claro, a verdadeira que podemos nunca conhecer. Esse mesmo conceito se repete com outros quatro personagens: a advogada (Petra Hansson - Gizem Erdogan), o desenvolvedor (Andreas Ehn - Joel Lützow), o sócio (Martin Lorentzon - Christian Hillborg) e, finalmente, e não por acaso a última da cadeia: a artista (Bobbie - Janice Kavander).
"Som na Faixa" é muito cuidadosa ao explorar perspectivas diferentes sobre um mesmo evento, porém são nas inúmeras camadas que a minissérie vai desenvolvendo a partir desses personagens-chaves que, para mim, justificaria coloca-la entre as melhores ficções (mesmo baseada em fatos reais) sobre uma jornada empreendedora. Em níveis diferentes, conseguimos entender como esse caminho é desafiador desde a busca por uma solução para um problema real (as referências sobre o momento do mercado musical, a pirataria e até sobre o "Pirate Bay") até nas discussões sobre tecnologia e modelos de negócios (freemium x premium). Olha, até as aquisições duvidosas como a do uTorrent e o famoso embate com a Taylor Swift estão na história.
O fato é que "The Playlist" é um prato cheio para quem gosta do assunto, além de ser mais um exemplo de como a Netflix parece não conhece a fundo o potencial de seus próprios produtos - esse é uma pérola quase nada explorado pelo marketing da plataforma! Vale muito o seu play!
Se a Alemanha contou a sua história empreendedora através da Wirecard em "Rei dos Stonks", por que a Suécia não deveria contar sua versão do "sucesso" através do Spotify em "Som na Faixa"? Com um tom dramático bem mais próximo de "WeCrashed", "The Dropout" e "Super Pumped: A Batalha Pela Uber", "The Playlist" (no original) surpreende por encontrar uma linha narrativa original dentro de um subgênero pouco criativo que vem ganhando cada vez mais audiência dentro das plataformas de streaming - dessa vez a história não é focada em um fundador excêntrico ou em controversas estratégias de crescimento a qualquer custo (embora também tenha isso), mas na visão holística de uma enorme transformação de mercado pelo ponto de vista de todos os seus principais atores.
A minissérie em 6 episódios conta a jornada de um grupo de jovens empreendedores, liderados por Daniel Ek (Edvin Endre), que aceita uma missão aparentemente impossível: mudar a indústria da música (e de consumo) com a criação de uma plataforma de streaming gratuita onde, sem a necessidade de downloads, seria possível montar (e socializar) uma playlist 100% pessoal. Confira o trailer:
Baseada no romance "Spotify Untold", igualmente conhecido como "Spotify Inifrån", escrito pelo Sven Carlsson e pelo Jonas Leijonhufvud, a minissérie dirigida pelo talentoso Per-Olav Sørensen (o mesmo do excelente "Areia Movediça") se aproveita de uma dinâmica muito inteligente para contar uma mesma história sob os olhares (e interesses) de 6 personagens diferentes (um por episódio). Dentro de um complexo ecossistema empreendedor, perceber a importância de cada uma das peças para que uma ideia se transforme, de fato, em algo relevante como negócio, não é tão simples quanto parece e "Som na Faixa" sabe exatamente como replicar essa situação.
Mesmo sendo uma produção sueca, o roteiro ficou nas mãos do inglês Christian Spurrier (de "Silent Witness") que com muita criatividade imprimiu uma fluidez narrativa das mais competentes: se no primeiro episódio conhecemos o fundador do Spotify, Daniel Ek; no segundo somos surpreendidos ao entendermos o outro lado da disrupção que Ek comandou, ou seja, aqui os holofotes vão para Per Sundin (Ulf Stenberg), o então presidente da Sony Music da Suécia. O interessante é que algumas cenas até se repetem, mas os próprios diálogos ou o tom de determinadas passagens são mostradas de maneiras diferentes criando a exata sensação de que para uma história sempre existem três versões: a de cada lado envolvido e, claro, a verdadeira que podemos nunca conhecer. Esse mesmo conceito se repete com outros quatro personagens: a advogada (Petra Hansson - Gizem Erdogan), o desenvolvedor (Andreas Ehn - Joel Lützow), o sócio (Martin Lorentzon - Christian Hillborg) e, finalmente, e não por acaso a última da cadeia: a artista (Bobbie - Janice Kavander).
"Som na Faixa" é muito cuidadosa ao explorar perspectivas diferentes sobre um mesmo evento, porém são nas inúmeras camadas que a minissérie vai desenvolvendo a partir desses personagens-chaves que, para mim, justificaria coloca-la entre as melhores ficções (mesmo baseada em fatos reais) sobre uma jornada empreendedora. Em níveis diferentes, conseguimos entender como esse caminho é desafiador desde a busca por uma solução para um problema real (as referências sobre o momento do mercado musical, a pirataria e até sobre o "Pirate Bay") até nas discussões sobre tecnologia e modelos de negócios (freemium x premium). Olha, até as aquisições duvidosas como a do uTorrent e o famoso embate com a Taylor Swift estão na história.
O fato é que "The Playlist" é um prato cheio para quem gosta do assunto, além de ser mais um exemplo de como a Netflix parece não conhece a fundo o potencial de seus próprios produtos - esse é uma pérola quase nada explorado pelo marketing da plataforma! Vale muito o seu play!
Se a HBO (em co-produção com a BBC) trouxe com muita competência a sua visão "Black Mirror" para o streaming com "Years and Years", agora é a vez da Prime Vídeo (via AMC) de seguir pelo mesmo caminho e com igual qualidade - "Soulmates" (Almas Gêmeas) tem uma primeira temporada de 6 episódios praticamente perfeita! São roteiros inteligentes, ousados, profundos (uns mais que outros, claro) e muito bem dirigidos.
A série se passa quinze anos no futuro, quando uma empresa acaba de fazer uma descoberta que muda para sempre a maneira como as pessoas se relacionam entre si: através de um rápido teste realizado cientificamente, agora é possível encontrar sua “alma gémea” e assim que ambos entram no sistema, um app imediatamente avisa sobre o "match". Confira o trailer:
Vale ressaltar que a série foi desenvolvida pelo talentoso Will Bridges, responsável por “Stranger Things” e pelo próprio “Black Mirror”, e pelo Brett Goldstein, do surpreendente “Ted Lasso”, o que mostra que a escolha conceitual pela narrativa antológica, onde cada episódio corresponde por uma história com começo, meio e fim, foi a decisão mais inteligente já que as tramas podem transitar por vários gêneros captando o que cada um dos criadores tem de melhor, mas mantendo qualidade, o equilíbrio e nunca se afastando do ponto em comum: como lidar com a informação que pode fazer a maior diferença na vida de um ser humano, aquela que muitas pessoas buscam incansavelmente e que pode definir um lugar entre a felicidade de conhecer sua alma gêmea ou a dúvida de ter feito uma escolha errada.
É muito inteligente como as histórias abordam o tema em diferentes situações e talvez esse seja o grande diferencial da série em relação a uma produção francesa da Netflix que gostei muito e que também fala sobre "almas gêmeas", mas de um ponto de vista mais tecnológico e, digamos, sem muita "alma": "Osmosis".
Se nos três primeiros episódios de "Soulmates" a provocação é mais filosófica, focada nas relações em si, onde se discute se as pessoas deveriam ou não fazer o teste, já que tem suas vidas estabelecidas com outros parceiros. Nos três episódios seguintes a direção muda um pouco, a série passa a ser um entretenimento menos despretensioso, com histórias de gênero e sem a necessidade de reflexões mais profundas - em ambos os casos a qualidade é alta, mas será natural uma identificação com um ou outro episódio como, inclusive, acontece muito em "Black Mirror".
"Soulmates"foi já descrita por vários críticos como“a união entre Black Mirror e Modern Love"- talvez nos episódios inicias essa definição faça sentido, mas o que vemos depois serve muito mais para mostrar que a série tem potencial para se transformar em uma franquia de sucesso (se não perder a sua essência) e que veio, de fato, para ficar - tanto que a segunda temporada já foi garantida pelo AMC! Vale muito a pena!
Se a HBO (em co-produção com a BBC) trouxe com muita competência a sua visão "Black Mirror" para o streaming com "Years and Years", agora é a vez da Prime Vídeo (via AMC) de seguir pelo mesmo caminho e com igual qualidade - "Soulmates" (Almas Gêmeas) tem uma primeira temporada de 6 episódios praticamente perfeita! São roteiros inteligentes, ousados, profundos (uns mais que outros, claro) e muito bem dirigidos.
A série se passa quinze anos no futuro, quando uma empresa acaba de fazer uma descoberta que muda para sempre a maneira como as pessoas se relacionam entre si: através de um rápido teste realizado cientificamente, agora é possível encontrar sua “alma gémea” e assim que ambos entram no sistema, um app imediatamente avisa sobre o "match". Confira o trailer:
Vale ressaltar que a série foi desenvolvida pelo talentoso Will Bridges, responsável por “Stranger Things” e pelo próprio “Black Mirror”, e pelo Brett Goldstein, do surpreendente “Ted Lasso”, o que mostra que a escolha conceitual pela narrativa antológica, onde cada episódio corresponde por uma história com começo, meio e fim, foi a decisão mais inteligente já que as tramas podem transitar por vários gêneros captando o que cada um dos criadores tem de melhor, mas mantendo qualidade, o equilíbrio e nunca se afastando do ponto em comum: como lidar com a informação que pode fazer a maior diferença na vida de um ser humano, aquela que muitas pessoas buscam incansavelmente e que pode definir um lugar entre a felicidade de conhecer sua alma gêmea ou a dúvida de ter feito uma escolha errada.
É muito inteligente como as histórias abordam o tema em diferentes situações e talvez esse seja o grande diferencial da série em relação a uma produção francesa da Netflix que gostei muito e que também fala sobre "almas gêmeas", mas de um ponto de vista mais tecnológico e, digamos, sem muita "alma": "Osmosis".
Se nos três primeiros episódios de "Soulmates" a provocação é mais filosófica, focada nas relações em si, onde se discute se as pessoas deveriam ou não fazer o teste, já que tem suas vidas estabelecidas com outros parceiros. Nos três episódios seguintes a direção muda um pouco, a série passa a ser um entretenimento menos despretensioso, com histórias de gênero e sem a necessidade de reflexões mais profundas - em ambos os casos a qualidade é alta, mas será natural uma identificação com um ou outro episódio como, inclusive, acontece muito em "Black Mirror".
"Soulmates"foi já descrita por vários críticos como“a união entre Black Mirror e Modern Love"- talvez nos episódios inicias essa definição faça sentido, mas o que vemos depois serve muito mais para mostrar que a série tem potencial para se transformar em uma franquia de sucesso (se não perder a sua essência) e que veio, de fato, para ficar - tanto que a segunda temporada já foi garantida pelo AMC! Vale muito a pena!
Antes de mais nada é preciso dizer que esse filme do "Steve Jobs" é infinitamente melhor do que o anterior "Jobs" do Joshua Michael Stern e com Ashton Kutcher como protagonista. Dessa vez temos um filme de verdade, a altura do personagem, com roteiro de Aaron Sorkin (Rede Social), direção Danny Boyle (Quem quer ser um milionário) e com Michael Fassbender (Shame) interpretando Jobs - pronto, com apenas três nomes colocamos esse filmaço em outro patamar!
O filme se utiliza dos bastidores de três lançamentos icônicos de Jobs como pano de fundo, para discutir uma era de revolução digital ao mesmo tempo em que apresenta um retrato íntimo de Steve Jobs em sua relação com colaboradores, com a família e, principalmente, com sua forma de enxergar o mundo que ele se propôs a transformar com suas ideias. Confira o trailer:
Discutir a importância ou a influência que Steve Jobs teve no mundo moderno talvez representasse a grande armadilha ao se propor escrever um roteiro sobre a vida de um personagem tão importante e complexo - Sorkin não caiu nesse erro! Baseado na biografia escrita por Walter Isaacson, jornalista que cobriu grande parte das apresentações de Jobs, Sorkin transformou uma longa trajetória de sucessos e fracassos em três grandes momentos e com dois ótimos links: os lançamentos do Macintosh, da NeXT e do iMac e a relação com Lisa, sua filha. Dessa forma, detalhes técnicos e inovadores servem apenas como pano de fundo para o que o filme quer, de fato, discutir: a psicologia complexa por trás das decisões de Jobs e como sua personalidade influenciou nos relacionamentos com as pessoas que o cercavam.
Dirigir uma cinebiografia pautada pelo drama pessoal de Jobs, expondo suas manias, criações e erros exige uma habilidade que Boyle tem de sobra: a de criar uma agilidade cênica capaz de dar todas as ferramentas para Michael Fassbendere todo elenco de apoio brilharem - não por acaso as duas únicas indicações de "Steve Jobs" ao Oscar de 2016 foram de "Melhor Ator" e "Melhor Atriz Coadjuvante" com Kate Winslet. Merecia indicações por direção e roteiro, sem dúvida, mas é óbvio que a escolha conceitual de Boyle priorizou o talento do elenco que deu um show - embora ninguém se pareça fisicamente com seus personagens reais. Reparem como cada um dos coadjuvantes entram e saem de cena, com uma velocidade quase teatral, em um ritmo incrível para um filme de mais de duas horas.
"Steve Jobs" não vai ensinar os caminhos para o empreendedor ou fazer um estudo de caso para explicar como Apple se tornou a maior empresa de tecnologia do mundo. Muito menos radiografar os motivos que fizeram Jobs ser considerado um gênio, o maior de sua geração. O filme quer é explorar as camadas mais pessoais de um personagem tão inteligente e visionário quanto difícil e egocêntrico. Mesmo apoiado em famosas frases de efeito e em longos diálogos, esse filme se torna inesquecível pela forma como discute os pontos mais obscuros da vida de Jobs ao mesmo tempo em que comprova sua dedicação e propósito pelo trabalho!
Imperdível! Daqueles que assistiremos algumas vezes durante a vida!
Antes de mais nada é preciso dizer que esse filme do "Steve Jobs" é infinitamente melhor do que o anterior "Jobs" do Joshua Michael Stern e com Ashton Kutcher como protagonista. Dessa vez temos um filme de verdade, a altura do personagem, com roteiro de Aaron Sorkin (Rede Social), direção Danny Boyle (Quem quer ser um milionário) e com Michael Fassbender (Shame) interpretando Jobs - pronto, com apenas três nomes colocamos esse filmaço em outro patamar!
O filme se utiliza dos bastidores de três lançamentos icônicos de Jobs como pano de fundo, para discutir uma era de revolução digital ao mesmo tempo em que apresenta um retrato íntimo de Steve Jobs em sua relação com colaboradores, com a família e, principalmente, com sua forma de enxergar o mundo que ele se propôs a transformar com suas ideias. Confira o trailer:
Discutir a importância ou a influência que Steve Jobs teve no mundo moderno talvez representasse a grande armadilha ao se propor escrever um roteiro sobre a vida de um personagem tão importante e complexo - Sorkin não caiu nesse erro! Baseado na biografia escrita por Walter Isaacson, jornalista que cobriu grande parte das apresentações de Jobs, Sorkin transformou uma longa trajetória de sucessos e fracassos em três grandes momentos e com dois ótimos links: os lançamentos do Macintosh, da NeXT e do iMac e a relação com Lisa, sua filha. Dessa forma, detalhes técnicos e inovadores servem apenas como pano de fundo para o que o filme quer, de fato, discutir: a psicologia complexa por trás das decisões de Jobs e como sua personalidade influenciou nos relacionamentos com as pessoas que o cercavam.
Dirigir uma cinebiografia pautada pelo drama pessoal de Jobs, expondo suas manias, criações e erros exige uma habilidade que Boyle tem de sobra: a de criar uma agilidade cênica capaz de dar todas as ferramentas para Michael Fassbendere todo elenco de apoio brilharem - não por acaso as duas únicas indicações de "Steve Jobs" ao Oscar de 2016 foram de "Melhor Ator" e "Melhor Atriz Coadjuvante" com Kate Winslet. Merecia indicações por direção e roteiro, sem dúvida, mas é óbvio que a escolha conceitual de Boyle priorizou o talento do elenco que deu um show - embora ninguém se pareça fisicamente com seus personagens reais. Reparem como cada um dos coadjuvantes entram e saem de cena, com uma velocidade quase teatral, em um ritmo incrível para um filme de mais de duas horas.
"Steve Jobs" não vai ensinar os caminhos para o empreendedor ou fazer um estudo de caso para explicar como Apple se tornou a maior empresa de tecnologia do mundo. Muito menos radiografar os motivos que fizeram Jobs ser considerado um gênio, o maior de sua geração. O filme quer é explorar as camadas mais pessoais de um personagem tão inteligente e visionário quanto difícil e egocêntrico. Mesmo apoiado em famosas frases de efeito e em longos diálogos, esse filme se torna inesquecível pela forma como discute os pontos mais obscuros da vida de Jobs ao mesmo tempo em que comprova sua dedicação e propósito pelo trabalho!
Imperdível! Daqueles que assistiremos algumas vezes durante a vida!
Por que tantas pessoas choraram por Steve Jobs? - É com esse questionamento que o diretor e roteirista Alex Gibney, vencedor do Oscar de "Melhor Documentário" em 2008 com o excelente "Um Taxi para a Escuridão", inicia essa profunda jornada para desvendar a relação que as pessoas tinham com uma figura tão contraditória como Steve Jobs. Esse documentário imperdível, não passa pano nas inúmeras falhas de caráter de Jobs, mas também não deixa de exaltar sua importância na história recente da humanidade - e talvez esteja aí o grande diferencial do filme: a possibilidade que a narrativa nos dá de tirarmos nossas próprias conclusões, seja pela obra, seja do seu criador!
Vestindo gola alta preta e jeans, sua marca registrada, a imagem de Steve Jobs era onipresente. Mas quem era o homem no palco, por trás dos grandiosos iPhones? O que significou a tristeza de tantos em todo o mundo quando ele morreu? Em "Steve Jobs: O Homem e a Máquina", o diretor Alex Gibney apresenta uma análise crítica de Jobs, reverenciado como um gênio iconoclasta e denunciado como um tirano de língua afiada. O filme é um relato espontâneo da lenda da Apple, através de entrevistas com as pessoas mais próximas de Jobs, nas diferentes fases de sua vida. "Steve Jobs: O Homem e a Máquina" é um retrato significativo de seu legado e do nosso relacionamento com a tecnologia, revelando o gigantesco mito que ele criou deliberadamente e analisando a permanência de seus valores que continuam a moldar a cultura do Vale do Silício até hoje. Confira o trailer (em inglês):
Desde sua morte em 5 de outubro de 2011, muito foi falado, produzido e escrito sobre Steve Jobs. A impecável Biografia de Walter Isaacson talvez tenha sido o material mais completo e honesto que tive contato de lá para cá, até me deparar com essa pérola escondida no catálogo do Star+ e brilhantemente produzida com o selo da CNN. "Steve Jobs: O Homem e a Máquina" desconstrói, até com certa poesia (o epílogo é uma das coisas mais bonitas e reflexivas que assisti recentemente em uma biografia), a figura mítica de Jobs, humanizando suas atitudes e provocando ótimos questionamentos sobre sua maneira de ver o mundo e de se relacionar com as pessoas.
Tecnicamente perfeito e equilibrando todas as ferramentas essenciais para contar uma boa história, o documentário vai nos detalhes ao mostrar o processo de ascensão de Jobs, expondo suas falhas perante no amigo e co-fundador da Apple, Steve Wozniak; até a sua capacidade empreendedora de mudar um mercado, e percepção das pessoas sobre a tecnologia, mesmo que para isso tenha se afastado da premissa básica da evolução em se tornar um ser humano melhor, mais empático ou digno na relação com seus liderados. Se sua rigidez em todos os projetos se tornou famosa e o deixou com fama de carrasco, o roteiro não romantiza, mas também não esconde como essa postura pode ter influenciado sua equipe, colocando-os na posição de superar limites para conquistar objetivos maiores.
Essa dicotomia está presente em toda narrativa - o que, admito como fã do protagonista, embaralha a nossa cabeça e a percepção perante o mito: os escândalos das unidades de fabricação dos Iphones na China, os inúmeros casos de suicídios de funcionários da Foxconn e até a relação com os jornalistas da Gizmodo após o vazamento de imagens e informações sobre o Iphone 4, no mínimo, nos fazem refletir sobre o papel de um líder. O fato é que "Steve Jobs: O Homem e a Máquina" é uma aula para empreendedores e um documento histórico para várias gerações, já que a jornada de Jobs se confunde com a disrupção de um mercado que reflete no nosso desenvolvimento como humanidade até hoje.
Vale muito o seu play!
Por que tantas pessoas choraram por Steve Jobs? - É com esse questionamento que o diretor e roteirista Alex Gibney, vencedor do Oscar de "Melhor Documentário" em 2008 com o excelente "Um Taxi para a Escuridão", inicia essa profunda jornada para desvendar a relação que as pessoas tinham com uma figura tão contraditória como Steve Jobs. Esse documentário imperdível, não passa pano nas inúmeras falhas de caráter de Jobs, mas também não deixa de exaltar sua importância na história recente da humanidade - e talvez esteja aí o grande diferencial do filme: a possibilidade que a narrativa nos dá de tirarmos nossas próprias conclusões, seja pela obra, seja do seu criador!
Vestindo gola alta preta e jeans, sua marca registrada, a imagem de Steve Jobs era onipresente. Mas quem era o homem no palco, por trás dos grandiosos iPhones? O que significou a tristeza de tantos em todo o mundo quando ele morreu? Em "Steve Jobs: O Homem e a Máquina", o diretor Alex Gibney apresenta uma análise crítica de Jobs, reverenciado como um gênio iconoclasta e denunciado como um tirano de língua afiada. O filme é um relato espontâneo da lenda da Apple, através de entrevistas com as pessoas mais próximas de Jobs, nas diferentes fases de sua vida. "Steve Jobs: O Homem e a Máquina" é um retrato significativo de seu legado e do nosso relacionamento com a tecnologia, revelando o gigantesco mito que ele criou deliberadamente e analisando a permanência de seus valores que continuam a moldar a cultura do Vale do Silício até hoje. Confira o trailer (em inglês):
Desde sua morte em 5 de outubro de 2011, muito foi falado, produzido e escrito sobre Steve Jobs. A impecável Biografia de Walter Isaacson talvez tenha sido o material mais completo e honesto que tive contato de lá para cá, até me deparar com essa pérola escondida no catálogo do Star+ e brilhantemente produzida com o selo da CNN. "Steve Jobs: O Homem e a Máquina" desconstrói, até com certa poesia (o epílogo é uma das coisas mais bonitas e reflexivas que assisti recentemente em uma biografia), a figura mítica de Jobs, humanizando suas atitudes e provocando ótimos questionamentos sobre sua maneira de ver o mundo e de se relacionar com as pessoas.
Tecnicamente perfeito e equilibrando todas as ferramentas essenciais para contar uma boa história, o documentário vai nos detalhes ao mostrar o processo de ascensão de Jobs, expondo suas falhas perante no amigo e co-fundador da Apple, Steve Wozniak; até a sua capacidade empreendedora de mudar um mercado, e percepção das pessoas sobre a tecnologia, mesmo que para isso tenha se afastado da premissa básica da evolução em se tornar um ser humano melhor, mais empático ou digno na relação com seus liderados. Se sua rigidez em todos os projetos se tornou famosa e o deixou com fama de carrasco, o roteiro não romantiza, mas também não esconde como essa postura pode ter influenciado sua equipe, colocando-os na posição de superar limites para conquistar objetivos maiores.
Essa dicotomia está presente em toda narrativa - o que, admito como fã do protagonista, embaralha a nossa cabeça e a percepção perante o mito: os escândalos das unidades de fabricação dos Iphones na China, os inúmeros casos de suicídios de funcionários da Foxconn e até a relação com os jornalistas da Gizmodo após o vazamento de imagens e informações sobre o Iphone 4, no mínimo, nos fazem refletir sobre o papel de um líder. O fato é que "Steve Jobs: O Homem e a Máquina" é uma aula para empreendedores e um documento histórico para várias gerações, já que a jornada de Jobs se confunde com a disrupção de um mercado que reflete no nosso desenvolvimento como humanidade até hoje.
Vale muito o seu play!
"Tales from the Loop" é uma série da Prime Vídeo da Amazon, inspirada no belíssimo livro de contos do suíçoSimon Stalenhag, que se passa em Mercer (Ohio), uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, um cenário completamente retrô, onde uma instituição subterrânea conhecida como "The Loop" realiza misteriosos experimentos científicos que, de alguma forma, impactam os moradores daquela comunidade. Confira o trailer:
"Contos do Loop" (título em português) tem uma estrutura interessante, pois lembra muito as séries procedurais (aquelas com o caso da semana, mas com um arco maior que liga as histórias dos personagens durante a temporada). Aqui, a cada episódio, somos apresentados a um personagem e sua respectiva história que, de certa forma, funciona isolada, se conectando com o universo de Loop sem uma continuidade tão rígida que possa ser considerada uma linha temporal linear durante a narrativa. Aliás, o "tempo" talvez seja o elemento mais importante dessa ficção, afinal ele é interpretado de várias formas, mas sem a necessidade de maiores explicações cientificas - e é aí que a série fica na linha tênue do "ame ou odeie"! Embora "Contos do Loop" seja, de fato, um ficção científica, o gênero funciona muito mais como cenário do que como conteúdo, já que as histórias falam muito mais sobre as relações humanas e como elas deixam marcas na nossa existência. Eu definiria a série como uma "poesia visual com muita alma". Vale muito a pena, as histórias se aproximam muito do estilo "Twilight Zone", mas em um mesmo universo, com personagens fixos e com uma discussão mais existencial do que científica!
"Tales from the Loop" foi indicada para "apenas" dois Emmys em 2020: Efeitos Especiais e Fotografia! A Fotografia dessa série é uma coisa sensacional, parece uma pintura mesmo - um dos conceitos visuais do projeto foi justamente transportar para tela a qualidade artística das ilustrações da obra de Simon Stalenhag. Essa ambientação já surge como uma provocação, afinal estamos em um universo completamente anos 50, em uma cidade do interior dos EUA, discutindo experimentos que exigem a mais alta tecnologia, o que justifica, inclusive, a indicação em efeitos especiais: são sucatas e materiais de ferro-velho se transformando em projetos inimagináveis para época, graças a combinação entre Engenharia Mecânica, Mecatrônica e muita Fantasia!
A trilha sonora original de Paul Leonard-Morgan é outro elemento que merece sua atenção: junto com um desenho de som impressionante, essa junção cirúrgica dá o tom dramático e de suspense da série sem perder a elegância! Para muitos, a série pode parecer lenta demais, para mim essa característica é um dos postos altos do projeto: ela possui um ritmo tão particular, que nos permite contemplar o visual ao mesmo tempo que refletimos sobre as dores de cada um dos personagens - é como se observássemos de camarote as idiossincrasias humanas a partir dos fenômenos causados pelo Loop. Embora o roteiro tenha alguns buracos se observarmos essa primeira temporada como um todo, fica impossível não elogiar a escolha do conceito narrativo imposta pelo criador da série, Nathaniel Halpern de "Legião". Dividida em oito contos de quase uma hora de duração, mergulhamos em temas como solidão, abandono, amor e morte, que, de alguma forma, se tornam cíclicos e muito bem estruturados.
No elenco eu destaco o trabalho de Jonathan Pryce (Dois Papas), Rebecca Hall (Vicky Cristina Barcelona) e Paul Schneider (Parks and Recreation), além de Duncan Joiner como Cole - aliás, é inacreditável que Pryce e Joiner não tenham sido indicados ao Emmy! Na direção temos outro ponto interessante e que certamente ajudou na concepção mais autoral e independente do projeto - embora mantenha uma unidade visual, cada um dos episódios é dirigido por um diretor diferente. Destaco Ti West (de VHS) que dirigiu o fantástico (e tenso) episódio "Enemies", Andrew Stanton (de Wall-E) que comandou o emocionante "Echo Sphere" e Jodie Foster que vinha de um "Arkangel" em Black Mirror e nos brindou com o último episódio da temporada: "Home".
"Tales from the Loop" não é uma série fácil, muito menos um entretenimento despretensioso. Será preciso uma certa sensibilidade e uma predisposição em aceitar os fatos da maneira que eles são mostrados, sem muitos questionamentos científicos ou narrativos. O que faz da série imperdível é justamente a experiência de se entregar àquele universo sem a necessidade de encontrar respostas e onde o inexplicável funciona apenas como convite para encontrar o ponto de inflexão entre o filosófico e o poético!
Se você gosta do estilo do diretor Terrence Malick, é bem provável que você vá gostar da série e pode ter certeza, "Contos do Loop" vai valer muito seu play!
"Tales from the Loop" é uma série da Prime Vídeo da Amazon, inspirada no belíssimo livro de contos do suíçoSimon Stalenhag, que se passa em Mercer (Ohio), uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, um cenário completamente retrô, onde uma instituição subterrânea conhecida como "The Loop" realiza misteriosos experimentos científicos que, de alguma forma, impactam os moradores daquela comunidade. Confira o trailer:
"Contos do Loop" (título em português) tem uma estrutura interessante, pois lembra muito as séries procedurais (aquelas com o caso da semana, mas com um arco maior que liga as histórias dos personagens durante a temporada). Aqui, a cada episódio, somos apresentados a um personagem e sua respectiva história que, de certa forma, funciona isolada, se conectando com o universo de Loop sem uma continuidade tão rígida que possa ser considerada uma linha temporal linear durante a narrativa. Aliás, o "tempo" talvez seja o elemento mais importante dessa ficção, afinal ele é interpretado de várias formas, mas sem a necessidade de maiores explicações cientificas - e é aí que a série fica na linha tênue do "ame ou odeie"! Embora "Contos do Loop" seja, de fato, um ficção científica, o gênero funciona muito mais como cenário do que como conteúdo, já que as histórias falam muito mais sobre as relações humanas e como elas deixam marcas na nossa existência. Eu definiria a série como uma "poesia visual com muita alma". Vale muito a pena, as histórias se aproximam muito do estilo "Twilight Zone", mas em um mesmo universo, com personagens fixos e com uma discussão mais existencial do que científica!
"Tales from the Loop" foi indicada para "apenas" dois Emmys em 2020: Efeitos Especiais e Fotografia! A Fotografia dessa série é uma coisa sensacional, parece uma pintura mesmo - um dos conceitos visuais do projeto foi justamente transportar para tela a qualidade artística das ilustrações da obra de Simon Stalenhag. Essa ambientação já surge como uma provocação, afinal estamos em um universo completamente anos 50, em uma cidade do interior dos EUA, discutindo experimentos que exigem a mais alta tecnologia, o que justifica, inclusive, a indicação em efeitos especiais: são sucatas e materiais de ferro-velho se transformando em projetos inimagináveis para época, graças a combinação entre Engenharia Mecânica, Mecatrônica e muita Fantasia!
A trilha sonora original de Paul Leonard-Morgan é outro elemento que merece sua atenção: junto com um desenho de som impressionante, essa junção cirúrgica dá o tom dramático e de suspense da série sem perder a elegância! Para muitos, a série pode parecer lenta demais, para mim essa característica é um dos postos altos do projeto: ela possui um ritmo tão particular, que nos permite contemplar o visual ao mesmo tempo que refletimos sobre as dores de cada um dos personagens - é como se observássemos de camarote as idiossincrasias humanas a partir dos fenômenos causados pelo Loop. Embora o roteiro tenha alguns buracos se observarmos essa primeira temporada como um todo, fica impossível não elogiar a escolha do conceito narrativo imposta pelo criador da série, Nathaniel Halpern de "Legião". Dividida em oito contos de quase uma hora de duração, mergulhamos em temas como solidão, abandono, amor e morte, que, de alguma forma, se tornam cíclicos e muito bem estruturados.
No elenco eu destaco o trabalho de Jonathan Pryce (Dois Papas), Rebecca Hall (Vicky Cristina Barcelona) e Paul Schneider (Parks and Recreation), além de Duncan Joiner como Cole - aliás, é inacreditável que Pryce e Joiner não tenham sido indicados ao Emmy! Na direção temos outro ponto interessante e que certamente ajudou na concepção mais autoral e independente do projeto - embora mantenha uma unidade visual, cada um dos episódios é dirigido por um diretor diferente. Destaco Ti West (de VHS) que dirigiu o fantástico (e tenso) episódio "Enemies", Andrew Stanton (de Wall-E) que comandou o emocionante "Echo Sphere" e Jodie Foster que vinha de um "Arkangel" em Black Mirror e nos brindou com o último episódio da temporada: "Home".
"Tales from the Loop" não é uma série fácil, muito menos um entretenimento despretensioso. Será preciso uma certa sensibilidade e uma predisposição em aceitar os fatos da maneira que eles são mostrados, sem muitos questionamentos científicos ou narrativos. O que faz da série imperdível é justamente a experiência de se entregar àquele universo sem a necessidade de encontrar respostas e onde o inexplicável funciona apenas como convite para encontrar o ponto de inflexão entre o filosófico e o poético!
Se você gosta do estilo do diretor Terrence Malick, é bem provável que você vá gostar da série e pode ter certeza, "Contos do Loop" vai valer muito seu play!
"Tenet" é mais um filmaço do diretor Christopher Nolan, nível de "A Origem" ("Inception" de 2010) e tão complicado quanto (ou mais, eu diria). Sem a menor dúvida, a experiência visual é tão esmagadora quanto o conceito narrativo, e a forma como Nolan conecta os pontos dentro de uma história muito interessante, dinâmica e inteligente é impressionante - isso só nos dá a exata noção do quão genial ele é!
Na história, um agente da CIA conhecido como "O Protagonista" (John David Washington) é recrutado por uma organização misteriosa, chamada Tenet, para participar de uma missão de escala global. Eles precisam impedir que Andrei Sator (Kenneth Branagh), um renegado oligarca russo que teve acesso a uma tecnologia que lhe permite se comunicar com o futuro, inicie a Terceira Guerra Mundial. A organização está em posse de uma arma de fogo que consegue fazer o tempo correr ao contrário, acreditando que o objeto veio do futuro. Com essa habilidade em mãos, O Protagonista precisará usá-la como forma de se opor à ameaça que está por vir, impedindo que os planos de Sator se concretizem. Confira o trailer:
Olha, é impossível não ficar imediatamente fascinado e fisgado pela dinâmica de "Tenet", mesmo com a dolorosa impressão de que não estamos entendendo muito bem o que está acontecendo de cara - a belíssima sequência de ação que mostra a invasão da ópera de Kiev, na Ucrânia, já nos dá um nó na cabeça. A grande questão porém, é que essa sensação de desconforto não melhora em nada durante as duas horas e meia do filme, mesmo sabendo onde estamos nos enfiando e estando bastante dispostos a tentar entender o fluxo do tempo pelos olhos de quem assiste e não pela imersão na jornada dos personagens. Sim, eu sei que pode parecer confuso e de fato é - ainda mais com repetidas quebras temporais que além de alterar completamente nossa percepção de continuidade, também nos provoca visualmente já que temos a curiosa sensação de poder prever o futuro segundos antes dele acontecer - e aqui cabe uma observação de quem já esteve em um set de filmagem: o que Nolan faz com a gramática cinematográfica para sentirmos isso, é de se aplaudir de pé!
Veja, se nos filmes anteriores Nolan investiu algum tempo (e muitos efeitos especiais) para estabelecer as regras daqueles universos que ele criou, em "Tenet" ele simplesmente nos joga dentro de um "buraco de minhoca" - sem a menor intenção de fazer algum trocadilho! Nolan quis chegar em outro nível de construção narrativa, como se ele mesmo se desafiasse a entregar algo complexo, mas auto-explicativo ao mesmo tempo. Se ele não se preocupou com a audiência ao não dar explicações expositivas, com certeza ele agiu minuciosamente para não nos deixar a impressão de que alguma ponta ficou solta - e isso é impressionante!
Por mais difícil que seja compreender 100% de "Tenet", a sensação de entretenimento é tão boa que nem nos preocupamos com os detalhes - Nolan faz isso por nós! Quando ele se propõe em juntar as peças e repetir os planos, usando enquadramentos que por alguma razão possam ter passados despercebidos - de um retrovisor quebrado sem motivo ou de uma mulher saltando de um iate em segundo plano; tudo se conecta tão organicamente que passar esse tempo todo em uma espécie de zona nebulosa do entendimento, não atrapalha em nada nossa experiência, pelo contrario, só vai somando ao que receberemos no final!
Vencedor do Oscar de Efeitos Visuais e indicado em apenas mais uma categoria (Desenho de Produção) em 2021, Nolan mostrou que está muito a frente do seu tempo e que nem mesmo a Academia foi capaz de entender seu trabalho mais autoral. Ele não ter sido indicado como Melhor Diretor e Melhor Roteiro é de uma injustiça poucas vezes vista.
Agora um aviso: para aqueles que buscam uma jornada fácil, "Tenet" definitivamente não é para você. Mas se você está disposto a sair de uma zona de conforto intelectual e mergulhar em uma realidade complicada de assimilar e processar, dê o play e esteja preparado para lidar com um cérebro em frangalhos depois que o filme terminar, mas feliz pelo excelente entretenimento.
Vale muito a pena! Pela aula de cinema e pela experiência única!
"Tenet" é mais um filmaço do diretor Christopher Nolan, nível de "A Origem" ("Inception" de 2010) e tão complicado quanto (ou mais, eu diria). Sem a menor dúvida, a experiência visual é tão esmagadora quanto o conceito narrativo, e a forma como Nolan conecta os pontos dentro de uma história muito interessante, dinâmica e inteligente é impressionante - isso só nos dá a exata noção do quão genial ele é!
Na história, um agente da CIA conhecido como "O Protagonista" (John David Washington) é recrutado por uma organização misteriosa, chamada Tenet, para participar de uma missão de escala global. Eles precisam impedir que Andrei Sator (Kenneth Branagh), um renegado oligarca russo que teve acesso a uma tecnologia que lhe permite se comunicar com o futuro, inicie a Terceira Guerra Mundial. A organização está em posse de uma arma de fogo que consegue fazer o tempo correr ao contrário, acreditando que o objeto veio do futuro. Com essa habilidade em mãos, O Protagonista precisará usá-la como forma de se opor à ameaça que está por vir, impedindo que os planos de Sator se concretizem. Confira o trailer:
Olha, é impossível não ficar imediatamente fascinado e fisgado pela dinâmica de "Tenet", mesmo com a dolorosa impressão de que não estamos entendendo muito bem o que está acontecendo de cara - a belíssima sequência de ação que mostra a invasão da ópera de Kiev, na Ucrânia, já nos dá um nó na cabeça. A grande questão porém, é que essa sensação de desconforto não melhora em nada durante as duas horas e meia do filme, mesmo sabendo onde estamos nos enfiando e estando bastante dispostos a tentar entender o fluxo do tempo pelos olhos de quem assiste e não pela imersão na jornada dos personagens. Sim, eu sei que pode parecer confuso e de fato é - ainda mais com repetidas quebras temporais que além de alterar completamente nossa percepção de continuidade, também nos provoca visualmente já que temos a curiosa sensação de poder prever o futuro segundos antes dele acontecer - e aqui cabe uma observação de quem já esteve em um set de filmagem: o que Nolan faz com a gramática cinematográfica para sentirmos isso, é de se aplaudir de pé!
Veja, se nos filmes anteriores Nolan investiu algum tempo (e muitos efeitos especiais) para estabelecer as regras daqueles universos que ele criou, em "Tenet" ele simplesmente nos joga dentro de um "buraco de minhoca" - sem a menor intenção de fazer algum trocadilho! Nolan quis chegar em outro nível de construção narrativa, como se ele mesmo se desafiasse a entregar algo complexo, mas auto-explicativo ao mesmo tempo. Se ele não se preocupou com a audiência ao não dar explicações expositivas, com certeza ele agiu minuciosamente para não nos deixar a impressão de que alguma ponta ficou solta - e isso é impressionante!
Por mais difícil que seja compreender 100% de "Tenet", a sensação de entretenimento é tão boa que nem nos preocupamos com os detalhes - Nolan faz isso por nós! Quando ele se propõe em juntar as peças e repetir os planos, usando enquadramentos que por alguma razão possam ter passados despercebidos - de um retrovisor quebrado sem motivo ou de uma mulher saltando de um iate em segundo plano; tudo se conecta tão organicamente que passar esse tempo todo em uma espécie de zona nebulosa do entendimento, não atrapalha em nada nossa experiência, pelo contrario, só vai somando ao que receberemos no final!
Vencedor do Oscar de Efeitos Visuais e indicado em apenas mais uma categoria (Desenho de Produção) em 2021, Nolan mostrou que está muito a frente do seu tempo e que nem mesmo a Academia foi capaz de entender seu trabalho mais autoral. Ele não ter sido indicado como Melhor Diretor e Melhor Roteiro é de uma injustiça poucas vezes vista.
Agora um aviso: para aqueles que buscam uma jornada fácil, "Tenet" definitivamente não é para você. Mas se você está disposto a sair de uma zona de conforto intelectual e mergulhar em uma realidade complicada de assimilar e processar, dê o play e esteja preparado para lidar com um cérebro em frangalhos depois que o filme terminar, mas feliz pelo excelente entretenimento.
Vale muito a pena! Pela aula de cinema e pela experiência única!
"Tetris", isso mesmo, o filme que conta a história daquele famoso jogo da Nintendo, é surpreendente de tão divertido - mesmo que em alguns momentos soe fantasioso demais! Com muitos elementos dramáticos que acostumamos encontrar em séries que desvendam os bastidores de uma startup como em "WeCrashed" ou de um produto revolucionário como "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", essa produção da AppleTV+ ainda traz para trama toda uma atmosfera de nostalgia, de dramas políticos e até de filmes de ação, que nos envolve de tal maneira que não conseguimos tirar os olhos da tela durante duas horas. Olha, é entretenimento puro, mas com muita qualidade.
Antes de Tetris se tornar um fenômeno, ele passou por uma jornada extraordinária: quando o representante de jogos, Henk Rogers (Taron Egerton), descobriu o jogo do programador russo Alexey Pajitno (Nikita Efrenov) no final da década de 1980, quando a "Cortina de Ferro" da URSS estava prestes a cair. Com o objetivo de licenciar o titulo mundialmente para consoles de videogame, fliperamas, PCs e também para o futuro "gameboy", Rogers se envolve em um turbilhão de mentiras e corrupção, de modo que precisa negociar até com o serviço secreto russo, a KGB. Enquanto várias partes fazem reivindicações legais sobre o jogo, Rogers logo se vê no meio de uma enorme batalha legal que pode custar até seu casamento. Confira o trailer (em inglês):
É claro que, mesmo se baseando em fatos, o promissor diretor Jon S. Baird (de "Stan & Ollie") se permitiu algumas licenças poéticas para criar uma dinâmica que vai além de um estudo de caso e acaba se tornando um filme muito divertido - como o próprio Baird antecipou em uma matéria para o Collider, Tetris "não é um documentário"! Dito isso, fica muito fácil aceitar toda a jornada de Rogers já que Egerton mostra mais uma vez seu range na interpretação, capaz de dominar os alívios cômicos com a mesma qualidade em que convence como um empreendedor em busca de um sonho (muito arriscado) que parece impossível de realizar.
O roteiro de Noah Pink (criador de "Genius"), de fato, está longe de ser um profundo mergulho na psique do personagem - daqueles construídos em cima de inúmeras camadas e dramas marcantes que refletem algumas ações intempestivas no presente. Muito menos é uma detalhada investigação sobre a importância sociocultural ou politica do jogo em questão, no entanto, a simplicidade do texto, que em nenhum momento se perde em referências nostálgicas ou na densidade jurídica dos conflitos, aliada a uma narrativa inteligente, faz da nossa experiência como audiência, algo muito prazeroso.
As referências visuais, normalmente pautadas nos gráficos 8 bits dos videogames mais antigos, e uma trilha sonora simplesmente fantástica são as cerejas do bolo de "Tetris". Mesmo que em alguns momentos o filme vacile ao abusar dos estereótipos soviéticos (ao melhor estilo Stranger Things), é interessante perceber que tudo isso faz parte de escolha conceitual que torna a história, em termos narrativos, algo leve e fácil de consumir; deixando claro que até por trás dos bloquinhos caindo do alto de uma tela, existe uma boa história!
Vale muito o seu play!
PS: Sugiro, para contextualizar esse universo dos primórdios dos video-games, assistir a série "GDLK".
"Tetris", isso mesmo, o filme que conta a história daquele famoso jogo da Nintendo, é surpreendente de tão divertido - mesmo que em alguns momentos soe fantasioso demais! Com muitos elementos dramáticos que acostumamos encontrar em séries que desvendam os bastidores de uma startup como em "WeCrashed" ou de um produto revolucionário como "Batalha Bilionária: O Caso Google Earth", essa produção da AppleTV+ ainda traz para trama toda uma atmosfera de nostalgia, de dramas políticos e até de filmes de ação, que nos envolve de tal maneira que não conseguimos tirar os olhos da tela durante duas horas. Olha, é entretenimento puro, mas com muita qualidade.
Antes de Tetris se tornar um fenômeno, ele passou por uma jornada extraordinária: quando o representante de jogos, Henk Rogers (Taron Egerton), descobriu o jogo do programador russo Alexey Pajitno (Nikita Efrenov) no final da década de 1980, quando a "Cortina de Ferro" da URSS estava prestes a cair. Com o objetivo de licenciar o titulo mundialmente para consoles de videogame, fliperamas, PCs e também para o futuro "gameboy", Rogers se envolve em um turbilhão de mentiras e corrupção, de modo que precisa negociar até com o serviço secreto russo, a KGB. Enquanto várias partes fazem reivindicações legais sobre o jogo, Rogers logo se vê no meio de uma enorme batalha legal que pode custar até seu casamento. Confira o trailer (em inglês):
É claro que, mesmo se baseando em fatos, o promissor diretor Jon S. Baird (de "Stan & Ollie") se permitiu algumas licenças poéticas para criar uma dinâmica que vai além de um estudo de caso e acaba se tornando um filme muito divertido - como o próprio Baird antecipou em uma matéria para o Collider, Tetris "não é um documentário"! Dito isso, fica muito fácil aceitar toda a jornada de Rogers já que Egerton mostra mais uma vez seu range na interpretação, capaz de dominar os alívios cômicos com a mesma qualidade em que convence como um empreendedor em busca de um sonho (muito arriscado) que parece impossível de realizar.
O roteiro de Noah Pink (criador de "Genius"), de fato, está longe de ser um profundo mergulho na psique do personagem - daqueles construídos em cima de inúmeras camadas e dramas marcantes que refletem algumas ações intempestivas no presente. Muito menos é uma detalhada investigação sobre a importância sociocultural ou politica do jogo em questão, no entanto, a simplicidade do texto, que em nenhum momento se perde em referências nostálgicas ou na densidade jurídica dos conflitos, aliada a uma narrativa inteligente, faz da nossa experiência como audiência, algo muito prazeroso.
As referências visuais, normalmente pautadas nos gráficos 8 bits dos videogames mais antigos, e uma trilha sonora simplesmente fantástica são as cerejas do bolo de "Tetris". Mesmo que em alguns momentos o filme vacile ao abusar dos estereótipos soviéticos (ao melhor estilo Stranger Things), é interessante perceber que tudo isso faz parte de escolha conceitual que torna a história, em termos narrativos, algo leve e fácil de consumir; deixando claro que até por trás dos bloquinhos caindo do alto de uma tela, existe uma boa história!
Vale muito o seu play!
PS: Sugiro, para contextualizar esse universo dos primórdios dos video-games, assistir a série "GDLK".
Antes de assistir "The Dropout" eu sugiro que você conheça a história da Theranos, especificamente de sua fundadora Elizabeth Holmes. Não que a minissérie do Hulu (aqui no Brasil distribuída pelo Disney+) baseada no podcast homônimo apresentado por Rebecca Jarvis e produzido pela ABC News, não seja suficiente o bastante para nos mostrar um recorte bem relevante do que foi a jornada dessa staturp que transformou seu valuation de 10 bilhões em zero "da noite para o dia", mas te garanto: se você assistir o documentário da HBO, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício", sua experiência será outra - muito mais completa (e curiosa)!
Elizabeth Holmes (Amanda Seyfried) é uma jovem empresária que afirmou ter criado uma forma revolucionária de analisar exames de sangue, utilizando apenas uma pequena gota tirada do dedo ela seria capaz de identificar 200 doenças com um custo de apenas dez dólares. Rapidamente, Holmes conquistou o desejo de investidores e se tornou uma das pessoas mais ricas e influentes do Vale do Silício, se apoiando na promessa de "disruptar" o mercado valioso de biotecnologia. A grande questão é que tudo ficou na promessa e mesmo com um propósito real, Elizabeth Holmes se tornou uma pária quando o mundo descobriu que tudo não passou de uma grande fraude. Confira o trailer (em inglês):
Antes de sucessos como "Inventando Anna" ou "Fyre Festival", era difícil acreditar que uma jovem de 19 anos sem o que chamamos de track record (uma espécie de histórico de sucesso) no universo empreendedor, seria capaz de fazer com que investidores, cientistas e até políticos comprassem uma ideia que sequer havia sido testada e, pior, comprovada. Mas é exatamente o que Elizabeth Holmes, uma ex-aluna de Stanford, fez após largar a faculdade (por isso o nome "dropout" do título) em 2003.
Embora o roteiro da minissérie sofra para retratar todos os anos entre o desejo, a ideia, a construção e a derrocada da Theranos, deixando alguns personagens importantes completamente fora de contexto (e de continuidade) dentro da narrativa, é de se elogiar a forma como a linha temporal é construída. Divida em capítulos, respeitando a minutagem de cada episódio, "The Dropout" não se preocupa com os saltos temporais, nem com a consistência da história para criar um drama envolvente e cercado de muitas curiosidades. Ao estabelecer a relação entre Holmes e o co-CEO Sunny Balwani (Naveen Andrews), embarcamos na intimidade da personagem e como suas conquistas ajudaram a transformar sua personalidade perante todos que a rodeavam. A frase clássica já no último episódio define exatamente essa profundidade e complexidade que Amanda Seyfried conseguiu entregar - ela pergunta para a mãe: “Se você escolhe esquecer de algumas coisas, isso é o mesmo que mentir?”
O tom da minissérie deixa a veracidade das situações um pouco em segundo plano para priorizar conflitos encenados e carregar no drama - o trio de diretores, Michael Showalter (de "Os Olhos de Tammy Faye"), Francesa Gregorini (de "Killing Eve") e Erica Watson (de "Snowpiercer") são muito competentes em encontrar o cerne de tensão de cada cena, de cada interação da protagonista com seus investidores, colaboradores e familiares, sem carregar no didatismo. Com isso "The Dropout" acaba equilibrando o elemento documental da história com o entretenimento dinâmico da proposta narrativa, impondo uma experiência das mais agradáveis, até para aqueles pouco envolvidos no universo de startups que anda tão em alta.
Vale muito o seu play!
Antes de assistir "The Dropout" eu sugiro que você conheça a história da Theranos, especificamente de sua fundadora Elizabeth Holmes. Não que a minissérie do Hulu (aqui no Brasil distribuída pelo Disney+) baseada no podcast homônimo apresentado por Rebecca Jarvis e produzido pela ABC News, não seja suficiente o bastante para nos mostrar um recorte bem relevante do que foi a jornada dessa staturp que transformou seu valuation de 10 bilhões em zero "da noite para o dia", mas te garanto: se você assistir o documentário da HBO, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício", sua experiência será outra - muito mais completa (e curiosa)!
Elizabeth Holmes (Amanda Seyfried) é uma jovem empresária que afirmou ter criado uma forma revolucionária de analisar exames de sangue, utilizando apenas uma pequena gota tirada do dedo ela seria capaz de identificar 200 doenças com um custo de apenas dez dólares. Rapidamente, Holmes conquistou o desejo de investidores e se tornou uma das pessoas mais ricas e influentes do Vale do Silício, se apoiando na promessa de "disruptar" o mercado valioso de biotecnologia. A grande questão é que tudo ficou na promessa e mesmo com um propósito real, Elizabeth Holmes se tornou uma pária quando o mundo descobriu que tudo não passou de uma grande fraude. Confira o trailer (em inglês):
Antes de sucessos como "Inventando Anna" ou "Fyre Festival", era difícil acreditar que uma jovem de 19 anos sem o que chamamos de track record (uma espécie de histórico de sucesso) no universo empreendedor, seria capaz de fazer com que investidores, cientistas e até políticos comprassem uma ideia que sequer havia sido testada e, pior, comprovada. Mas é exatamente o que Elizabeth Holmes, uma ex-aluna de Stanford, fez após largar a faculdade (por isso o nome "dropout" do título) em 2003.
Embora o roteiro da minissérie sofra para retratar todos os anos entre o desejo, a ideia, a construção e a derrocada da Theranos, deixando alguns personagens importantes completamente fora de contexto (e de continuidade) dentro da narrativa, é de se elogiar a forma como a linha temporal é construída. Divida em capítulos, respeitando a minutagem de cada episódio, "The Dropout" não se preocupa com os saltos temporais, nem com a consistência da história para criar um drama envolvente e cercado de muitas curiosidades. Ao estabelecer a relação entre Holmes e o co-CEO Sunny Balwani (Naveen Andrews), embarcamos na intimidade da personagem e como suas conquistas ajudaram a transformar sua personalidade perante todos que a rodeavam. A frase clássica já no último episódio define exatamente essa profundidade e complexidade que Amanda Seyfried conseguiu entregar - ela pergunta para a mãe: “Se você escolhe esquecer de algumas coisas, isso é o mesmo que mentir?”
O tom da minissérie deixa a veracidade das situações um pouco em segundo plano para priorizar conflitos encenados e carregar no drama - o trio de diretores, Michael Showalter (de "Os Olhos de Tammy Faye"), Francesa Gregorini (de "Killing Eve") e Erica Watson (de "Snowpiercer") são muito competentes em encontrar o cerne de tensão de cada cena, de cada interação da protagonista com seus investidores, colaboradores e familiares, sem carregar no didatismo. Com isso "The Dropout" acaba equilibrando o elemento documental da história com o entretenimento dinâmico da proposta narrativa, impondo uma experiência das mais agradáveis, até para aqueles pouco envolvidos no universo de startups que anda tão em alta.
Vale muito o seu play!