Se "O Céu da Meia-Noite" da Netflix trouxe alguns elementos do cinema catástrofe que esteve tão em evidência em 1998, e estamos falando mais especificamente de "Armageddon", "Destruição Final" da Amazon Prime Vídeo segue exatamente a mesma receita, mas buscando referências de outro filme lançado no mesmo ano e igualmente reconhecido: "Impacto Profundo"! Ou seja, se dois desses três filmes significaram um bom entretenimento para você, pode dar o play sem o menor receio porque a diversão está garantida!
"Destruição Final" (que tem "O Último Refúgio"como sub-título) acompanha aquela trama padrão de filmes catástrofe: um cometa está passando pela órbita da Terra e o que inicialmente parecia apenas curiosidade logo se transforma em terror quando o corpo celeste começa a se partir e seus fragmentos passam a causar uma devastação global sem precedentes. Ao longo da história, porém, acompanhamos a jornada da família de John Garrity (Gerard Butler) que, sorteados pelo governo, buscam chegar a um local seguro, uma espécie de bunker construído na Groenlândia. Confira o trailer:
O filme de Ric Roman Waugh (deInvasão ao Serviço Secreto) bebe da fonte de clássicos como o já citado "Impacto Profundo" (de Mimi Leder), mas também trás muitos elementos de "2012" (de Roland Emmerich) e, especialmente, de "Guerra dos Mundos", filme dirigido porSteven Spielberg, que se apega a luta de um homem pela vida de sua família em um momento de reconstrução da relação. Dito isso fica muito fácil afirmar que o roteiro de Chris Sparling segue a receita do gênero, mas peca em um único detalhe: você não vai encontrar uma cena marcante da destruição causada pelo cometa e isso, para mim, é um ponto bem sensível do filme - culpa do orçamento! Não que faça falta, mas estamos falando de entretenimento de gênero, a expectativa sempre vai existir quando escolhemos um filme como esse e aqui o impacto catastrófico é solucionado por reportagens da imprensa ao redor do mundo que misturam planos bem fechado e montagens que usam de pontos turísticos ou construções simbólicas para localizar a destruição, mas com um detalhe muito interessante: essas estruturas construídas pelo homem sobrevivem, já o próprio homem... Reparem!
Com total controle de suas limitações orçamentárias, o diretor Ric Roman Waugh usa e abusa da criatividade para nos entregar ótimos momentos de ação e planos bem impactantes onde o horror nos olhos de quem vê é mais importante do que, de fato, a destruição que ele está testemunhando. A angústia dos personagens em busca de sobrevivência é a principal linha narrativa, o resto é perfumaria - superficial, mas divertida!
"Destruição Final" (ou "Greenland", título original) é uma ótima sessão da tarde, sem pretensões de ser inesquecível, mas que traz para o sofá um entretenimento raiz, sem teorizações e alívios poéticos - é pura, e simplesmente, diversão! Vale o play!
Se "O Céu da Meia-Noite" da Netflix trouxe alguns elementos do cinema catástrofe que esteve tão em evidência em 1998, e estamos falando mais especificamente de "Armageddon", "Destruição Final" da Amazon Prime Vídeo segue exatamente a mesma receita, mas buscando referências de outro filme lançado no mesmo ano e igualmente reconhecido: "Impacto Profundo"! Ou seja, se dois desses três filmes significaram um bom entretenimento para você, pode dar o play sem o menor receio porque a diversão está garantida!
"Destruição Final" (que tem "O Último Refúgio"como sub-título) acompanha aquela trama padrão de filmes catástrofe: um cometa está passando pela órbita da Terra e o que inicialmente parecia apenas curiosidade logo se transforma em terror quando o corpo celeste começa a se partir e seus fragmentos passam a causar uma devastação global sem precedentes. Ao longo da história, porém, acompanhamos a jornada da família de John Garrity (Gerard Butler) que, sorteados pelo governo, buscam chegar a um local seguro, uma espécie de bunker construído na Groenlândia. Confira o trailer:
O filme de Ric Roman Waugh (deInvasão ao Serviço Secreto) bebe da fonte de clássicos como o já citado "Impacto Profundo" (de Mimi Leder), mas também trás muitos elementos de "2012" (de Roland Emmerich) e, especialmente, de "Guerra dos Mundos", filme dirigido porSteven Spielberg, que se apega a luta de um homem pela vida de sua família em um momento de reconstrução da relação. Dito isso fica muito fácil afirmar que o roteiro de Chris Sparling segue a receita do gênero, mas peca em um único detalhe: você não vai encontrar uma cena marcante da destruição causada pelo cometa e isso, para mim, é um ponto bem sensível do filme - culpa do orçamento! Não que faça falta, mas estamos falando de entretenimento de gênero, a expectativa sempre vai existir quando escolhemos um filme como esse e aqui o impacto catastrófico é solucionado por reportagens da imprensa ao redor do mundo que misturam planos bem fechado e montagens que usam de pontos turísticos ou construções simbólicas para localizar a destruição, mas com um detalhe muito interessante: essas estruturas construídas pelo homem sobrevivem, já o próprio homem... Reparem!
Com total controle de suas limitações orçamentárias, o diretor Ric Roman Waugh usa e abusa da criatividade para nos entregar ótimos momentos de ação e planos bem impactantes onde o horror nos olhos de quem vê é mais importante do que, de fato, a destruição que ele está testemunhando. A angústia dos personagens em busca de sobrevivência é a principal linha narrativa, o resto é perfumaria - superficial, mas divertida!
"Destruição Final" (ou "Greenland", título original) é uma ótima sessão da tarde, sem pretensões de ser inesquecível, mas que traz para o sofá um entretenimento raiz, sem teorizações e alívios poéticos - é pura, e simplesmente, diversão! Vale o play!
Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!
Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:
A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez) uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.
A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.
O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.
Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.
Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!
Se você considera "Ex-Machina"e "Ruptura" uma espécie de binômio cultural capaz de colocar o que existe de melhor na ficção cientifica, na sua forma e no seu conteúdo, em outro patamar; você vai me agradecer depois de maratonar os 8 episódios de "Devs" - ou, como eu, se perguntar porquê raios não assistiu essa obra-prima antes! É sério! Essa minissérie de 2020 é uma verdadeira jornada cinematográfica imperdível, criada e dirigida pelo visionário Alex Garland (de "Ex-Machina"), que mistura com muita inteligência elementos narrativos que vão da ciência, passando pela filosofia e religião, até chegar naquele estilo de ficção raiz que deixaria Stanley Kubrick orgulhoso!
Lily (Sonoya Mizuno) é uma brilhante engenheira de computação de uma gigante do Vale do Silício, chamada Amaya, que por uma circunstância muito particular começa a investigar uma divisão ultra-secreta de desenvolvimento da empresa. Determinada a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de seu namorado, Sergei (Karl Glusman), Lily passa a confrontar seu passado e sua própria condição mental para descobrir o que de fato há por trás dos Devs e de seu CEO, Forest (Nick Offerman), que lidera descobertas cada vez mais impactantes. Confira o trailer:
A genialidade de "Devs" vai além de uma trama intrigante, mesmo que isso custe a fluidez de sua narrativa que em muitos momentos se cadencia ao ponto de exigir muita atenção. A partir de uma exploração profunda sobre a natureza da realidade como entendemos, da liberdade (ou do livre-arbítrio, como preferir) e da predestinação pelo olhar do determinismo, Garland é capaz de criar (mais uma vez) uma atmosfera única que nos envolve e nos provoca a cada nova "explicação" - algo que "Matrix" soube fazer com muita competência em 1999.
A fotografia do Rob Hardy, com sua paleta de cores e contrastes, evoca sensações impressionantes - criando um mundo que parece familiar, mas ao mesmo tempo, inquietante. Ao conectar visualmente essa fotografia com o Desenho de Produção do Mark Digby e a trilha sonora do Geoff Barrow e do Ben Salisbury, a narrativa eleva a tensão a níveis quase insuportáveis, em um ambiente onde cada detalhe é carregado de significado e de simbologias. Veja, o fato de todos esses profissionais acompanharem Garland desde "Ex-Machina", dá para se ter uma ideia da potência conceitual da obra - nossa, uma aula para quem se apega aos detalhes mais sensíveis que um sci-fi pode ter.
O elenco mesmo que possa parecer estereotipado demais em alguns momentos, se aproveita das inúmeras camadas de seus personagens (imperfeitos) para brilhar. Sonoya Mizuno e Nick Offerman entregam performances memoráveis, explorando a complexidade de suas jornadas íntimas de maneira sublime, proporcionando uma rara introspecção nas motivações e dilemas morais que os conduzem que me lembrou muito "Interestelar" na sua essência.
Talvez, o verdadeiro trunfo de "Devs" seja justamente a sua habilidade de desafiar a audiência ao longo de cada episódio, quando somos confrontados com questões filosóficas e científicas profundas, que vão além do "quem matou quem" ou "o que aconteceu com esse ou aquele personagem" - isso não tem lá muita importância quando olhamos pela perspectiva de repensar nossa compreensão do mundo ou de nossas prioridades como seres humanos. Mesmo que essa minissérie questione o verdadeiro poder das empresas do Vale do Silício e de seus brilhantes CEOs, até mesmo ao nível político, eu diria que aqui o foco não é apenas o entretenimento; mas sim um convite que nos força a confrontar nossas próprias crenças.
Sim, "Devs" pede um pouco de paciência, mas acreditem, ela nos recompensa com uma história fascinante e visualmente arrebatadora que vale muito o seu play!
Se você ainda não assistiu "Distrito 9", assista! Visualmente impactante e repleto de críticas sociais afiadíssimas, essa produção de 2009, dirigida por Neill Blomkamp, se destaca não só pela sua abordagem inovadora da ficção científica (para época), mas também pela sua profunda reflexão sobre a humanidade e sobre a segregação. Para quem não sabe, "Distrito 9" é baseado no curta-metragem de Blomkamp, "Alive in Joburg", e expande suas ideias para criar uma narrativa que é ao mesmo tempo perturbadora e provocativa. Vale citar que, assumindo essa identidade critica, Blomkamp também veio a dirigir outros filmes que abordam temas similares como exclusão e discriminação, sempre com o mesmo toque de ficção científica, são eles: "Elysium" e "Chappie".
A trama se passa em um mundo onde uma enorme nave alienígena paira sobre Joanesburgo, África do Sul, desde 1982. Dentro dela, milhões de alienígenas – chamados de "camarões" devido à sua aparência – são encontrados malnutridos e em estado deplorável. As autoridades decidem confiná-los em uma área militarizada chamada Distrito 9, transformando-os em refugiados segregados. A história se concentra em Wikus van de Merwe (Sharlto Copley), um funcionário de uma corporação privada encarregada de realocar os alienígenas para um campo ainda mais distante. No entanto, durante a operação, Wikus é exposto a um fluido alienígena que começa a transformá-lo em um dos "camarões". Confira o trailer:
Neill Blomkamp, em sua estreia como diretor de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável ao criar um universo visualmente coeso e com uma temática para lá de densa. O diretor utiliza uma estética de documentário, com câmeras de mão e entrevistas simuladas, que adicionam uma camada de realismo e urgência para uma narrativa que não se perde no tempo - parece, de fato, que tudo aquilo é muito real (e não é?). A direção de fotografia de Trent Opaloch (o cara por trás de "Vingadores: Ultimato") é extremamente eficaz, utilizando uma conceito visual, digamos "desbotado" e um estilo de enquadramento que enfatiza toda aquela degradação e a brutalidade do ambiente - somos realmente jogados naquela atmosfera de uma maneira bastante imersiva. Já o roteiro, escrito por Blomkamp e pela Terri Tatchell (sua esposa), equilibra perfeitamente a ação visceral com uma crítica social incisiva, focando em temas sensíveis como racismo, xenofobia e segregação, usando a situação dos alienígenas como uma metáfora para a condição dos refugiados e das minorias marginalizadas. A real: a narrativa não apenas entretém, mas também nos convida a refletir sobre questões éticas e sociais bem contemporâneas.
Sharlto Copley (o Wikus) captura muito bem a transformação gradual de um burocrata arrogante e insensível para uma figura mais empática. Copley, com seu carisma, nos leva a sentir a dor, a luta e a desesperança de Wikus à medida que ele enfrenta a alienação e a perseguição. Sua atuação é um dos pilares que sustentam a narrativa, tornando-o um personagem complexo e cheio de nuances. Os efeitos visuais, especialmente para um filme de orçamento relativamente modesto como o de "Distrito 9" são impressionantes- foram gastos meros 30 milhões de dólares. Os alienígenas são renderizados com um nível de detalhe e realismo que facilita a suspensão da descrença, deixando as interações com os personagens humanos incrivelmente convincentes. A combinação de CGI e a performance do elenco é muito harmoniosa, criando um mundo que é estranho, mas familiar - mérito total de Blomkamp.
Indicado a 4 Oscars, inclusive de Melhor Filme de 2009, "Distrito 9" muda na sua segunda metade quando a ênfase passa a ser a ação e os efeitos especiais, perdendo um pouco do foco nas questões sociais que tornaram a primeira metade tão poderosa. No entanto, esse fato não diminui em nada a importância e o impacto de "Distrito 9" como critica e como entretenimento. O filme pode (e deve) ser considerado um marco dentro do gênero de ficção científica pela relação "orçamento x resultado", e que oferece uma exploração rica e provocativa de temas sociais tão atuais através de uma narrativa envolvente e visualmente deslumbrante.
Para fãs de ficção científica, "Distrito 9" é essencial!
Se você ainda não assistiu "Distrito 9", assista! Visualmente impactante e repleto de críticas sociais afiadíssimas, essa produção de 2009, dirigida por Neill Blomkamp, se destaca não só pela sua abordagem inovadora da ficção científica (para época), mas também pela sua profunda reflexão sobre a humanidade e sobre a segregação. Para quem não sabe, "Distrito 9" é baseado no curta-metragem de Blomkamp, "Alive in Joburg", e expande suas ideias para criar uma narrativa que é ao mesmo tempo perturbadora e provocativa. Vale citar que, assumindo essa identidade critica, Blomkamp também veio a dirigir outros filmes que abordam temas similares como exclusão e discriminação, sempre com o mesmo toque de ficção científica, são eles: "Elysium" e "Chappie".
A trama se passa em um mundo onde uma enorme nave alienígena paira sobre Joanesburgo, África do Sul, desde 1982. Dentro dela, milhões de alienígenas – chamados de "camarões" devido à sua aparência – são encontrados malnutridos e em estado deplorável. As autoridades decidem confiná-los em uma área militarizada chamada Distrito 9, transformando-os em refugiados segregados. A história se concentra em Wikus van de Merwe (Sharlto Copley), um funcionário de uma corporação privada encarregada de realocar os alienígenas para um campo ainda mais distante. No entanto, durante a operação, Wikus é exposto a um fluido alienígena que começa a transformá-lo em um dos "camarões". Confira o trailer:
Neill Blomkamp, em sua estreia como diretor de longa-metragem, demonstra uma habilidade notável ao criar um universo visualmente coeso e com uma temática para lá de densa. O diretor utiliza uma estética de documentário, com câmeras de mão e entrevistas simuladas, que adicionam uma camada de realismo e urgência para uma narrativa que não se perde no tempo - parece, de fato, que tudo aquilo é muito real (e não é?). A direção de fotografia de Trent Opaloch (o cara por trás de "Vingadores: Ultimato") é extremamente eficaz, utilizando uma conceito visual, digamos "desbotado" e um estilo de enquadramento que enfatiza toda aquela degradação e a brutalidade do ambiente - somos realmente jogados naquela atmosfera de uma maneira bastante imersiva. Já o roteiro, escrito por Blomkamp e pela Terri Tatchell (sua esposa), equilibra perfeitamente a ação visceral com uma crítica social incisiva, focando em temas sensíveis como racismo, xenofobia e segregação, usando a situação dos alienígenas como uma metáfora para a condição dos refugiados e das minorias marginalizadas. A real: a narrativa não apenas entretém, mas também nos convida a refletir sobre questões éticas e sociais bem contemporâneas.
Sharlto Copley (o Wikus) captura muito bem a transformação gradual de um burocrata arrogante e insensível para uma figura mais empática. Copley, com seu carisma, nos leva a sentir a dor, a luta e a desesperança de Wikus à medida que ele enfrenta a alienação e a perseguição. Sua atuação é um dos pilares que sustentam a narrativa, tornando-o um personagem complexo e cheio de nuances. Os efeitos visuais, especialmente para um filme de orçamento relativamente modesto como o de "Distrito 9" são impressionantes- foram gastos meros 30 milhões de dólares. Os alienígenas são renderizados com um nível de detalhe e realismo que facilita a suspensão da descrença, deixando as interações com os personagens humanos incrivelmente convincentes. A combinação de CGI e a performance do elenco é muito harmoniosa, criando um mundo que é estranho, mas familiar - mérito total de Blomkamp.
Indicado a 4 Oscars, inclusive de Melhor Filme de 2009, "Distrito 9" muda na sua segunda metade quando a ênfase passa a ser a ação e os efeitos especiais, perdendo um pouco do foco nas questões sociais que tornaram a primeira metade tão poderosa. No entanto, esse fato não diminui em nada a importância e o impacto de "Distrito 9" como critica e como entretenimento. O filme pode (e deve) ser considerado um marco dentro do gênero de ficção científica pela relação "orçamento x resultado", e que oferece uma exploração rica e provocativa de temas sociais tão atuais através de uma narrativa envolvente e visualmente deslumbrante.
Para fãs de ficção científica, "Distrito 9" é essencial!
Se vc gosta de "Black Mirror" e ainda não assistiu "Ex-Machina", você não tem noção do que está perdendo! O filme bebe da mesma fonte (e com muita competência) dos melhores anos da série, na época em que ainda era produzida na Inglaterra.
O filme acompanha o programador Caleb (Domhnall Gleeson) desde o momento em que é selecionado para trabalhar num projeto especial de sua empresa. Movido para a reclusa e luxuosa moradia do CEO Nathan (Oscar Isaac), uma espécie de Steve Jobs da ficção, Caleb descobre que seu chefe criou uma avançada forma de inteligência artificial: a andróide Eva (Alicia Vikander). Ali, o jovem precisa testar a capacidade da máquina em se passar por um humano até que se vê em um perigoso jogo de duplas intenções. Confira o trailer:
"Ex-Machina", com muita justiça, mesmo sendo um filme quase independente, concorreu em duas categorias para o Oscar de 2016: Roteiro Original e Efeitos Visuais; mas vale dizer que antes disso ele já havia levado mais de 50 prêmios em uma carreira impressionante em vários festivais pelo mundo. O fato é que o filme acabou ganhando o Oscar de Efeitos Visuais, que são incríveis mesmo e chamam muito atenção, mas aqui cabe um comentário importante que merece sua atenção: a atriz Alicia Vikander, concorreu ao Oscar no mesmo ano por outro filme: "Garota Dinamarquesa"; mas seu trabalho em "Ex-Machina", certamente chancelou a vitória em "Efeitos Visuais" - foi o raro caso onde os efeitos fizeram a diferença ao se misturar com o talento de uma atuação primorosa e que acabou criando uma espécie de simbiose entre o espiritual e o tecnológico. Lindo de ver - reparem nas sessões entre Caleb e Eva como são fascinantes. A habilidade de Eva ao demonstrar ideias e pensamentos tão complexos para uma máquina, e vê-la subvertendo os papéis com o programador humano é uma aula de roteiro, de interpretação e de pós-produção!
O roteiro é até um pouco previsível, mas é inegável o seu valor, e a capacidade do roteirista e diretor Alex Garland de unir tantos elementos técnicos e artísticos para construir uma história tão sólida e instigante - é de se aplaudir de pé! Dito isso, "Ex-Machina" é um thriller psicológico com toques de ficção científica da melhor qualidade. Imperdível! Vale muito seu play!
Se vc gosta de "Black Mirror" e ainda não assistiu "Ex-Machina", você não tem noção do que está perdendo! O filme bebe da mesma fonte (e com muita competência) dos melhores anos da série, na época em que ainda era produzida na Inglaterra.
O filme acompanha o programador Caleb (Domhnall Gleeson) desde o momento em que é selecionado para trabalhar num projeto especial de sua empresa. Movido para a reclusa e luxuosa moradia do CEO Nathan (Oscar Isaac), uma espécie de Steve Jobs da ficção, Caleb descobre que seu chefe criou uma avançada forma de inteligência artificial: a andróide Eva (Alicia Vikander). Ali, o jovem precisa testar a capacidade da máquina em se passar por um humano até que se vê em um perigoso jogo de duplas intenções. Confira o trailer:
"Ex-Machina", com muita justiça, mesmo sendo um filme quase independente, concorreu em duas categorias para o Oscar de 2016: Roteiro Original e Efeitos Visuais; mas vale dizer que antes disso ele já havia levado mais de 50 prêmios em uma carreira impressionante em vários festivais pelo mundo. O fato é que o filme acabou ganhando o Oscar de Efeitos Visuais, que são incríveis mesmo e chamam muito atenção, mas aqui cabe um comentário importante que merece sua atenção: a atriz Alicia Vikander, concorreu ao Oscar no mesmo ano por outro filme: "Garota Dinamarquesa"; mas seu trabalho em "Ex-Machina", certamente chancelou a vitória em "Efeitos Visuais" - foi o raro caso onde os efeitos fizeram a diferença ao se misturar com o talento de uma atuação primorosa e que acabou criando uma espécie de simbiose entre o espiritual e o tecnológico. Lindo de ver - reparem nas sessões entre Caleb e Eva como são fascinantes. A habilidade de Eva ao demonstrar ideias e pensamentos tão complexos para uma máquina, e vê-la subvertendo os papéis com o programador humano é uma aula de roteiro, de interpretação e de pós-produção!
O roteiro é até um pouco previsível, mas é inegável o seu valor, e a capacidade do roteirista e diretor Alex Garland de unir tantos elementos técnicos e artísticos para construir uma história tão sólida e instigante - é de se aplaudir de pé! Dito isso, "Ex-Machina" é um thriller psicológico com toques de ficção científica da melhor qualidade. Imperdível! Vale muito seu play!
Olha, "Fallout" é uma série que não decepciona - especialmente para os fãs da aclamada franquia de jogos de videogame da Bethesda. Criada por Geneva Robertson-Dworet (de "Captain Marvel") e Graham Wagner (de "Silicon Valley"), sob a supervisão atenta de Lisa Joy e Jonathan Nolan (de "Westworld"), essa adaptação da Amazon Prime Video traz para as telas a exata atmosfera pós-apocalíptica e a rica narrativa dos jogos de forma magistral. A série consegue capturar a essência do universo "Fallout" com uma combinação impressionante de efeitos visuais excelentes, um enredo dos mais envolventes e personagens muito (mas, muito) bem desenvolvidos. Puxa, que experiência cativante e imersiva! Sensacional!
A trama se desenrola em um futuro devastado pela guerra nuclear, onde os sobreviventes emergem de abrigos subterrâneos chamados Vaults para reconstruir a sociedade em uma terra desolada e cheia de perigos. É nesse contexto que acompanhamos Lucy (Ella Purnell), uma jovem que acaba deixando sua casa para encontrar seu pai (Kyle MacLachlan) que foi sequestrado. Em sua missão, a protagonista acaba descobrindo um mundo pós-apocalíptico perigoso e cheio de monstros, onde conhece o soldado Maximus (Aaron Moten) e um caçador de recompensas morto-vivo conhecido como The Ghoul (Walton Goggins). Confira o trailer:
Com muita inteligência e um pouco de ousadia, Geneva Robertson-Dworet e Graham Wagner evitam adaptar diretamente um dos capítulo da franquia, preferindo assim uma certa liberdade para criar uma história que se passa no universo conhecido dos jogos, mas que não está diretamente conectada a nenhum deles - e funciona. O roteiro sabe do seu potencial como mitologia, com isso equilibra habilmente a ação intensa com o desenvolvimento de personagens dos mais interessantes (e até complexos na sua essência, eu diria). A narrativa escolhida pelo time criativo é estruturada de maneira a manter a audiência constantemente engajado, com reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão - talvez aqui esteja o grande segredo dessa primeira temporada: sua dinâmica bem resolvida.
A direção de arte de "Fallout"é excepcional - ela recria com precisão o visual retrofuturista característico da série de jogos. A atenção aos detalhes, desde os trajes desgastados até os icônicos Pip-Boys, contribui para uma imersão total no mundo devastado da série. Reparem como sua estética que mistura velho-oeste,art déco e um complexo militar-industrial saído diretamente das paranóias da Guerra Fria e do medo da aniquilação nuclear, se conectam com a cultura americana dos anos 50 em seu modernismo atompunk. A atenção aos detalhes vai dos figurinos, das armas, das maquiagens, até a trilha sonora com composições que variam do melancólico ao épico, realçando a atmosfera de desolação e (des)esperança da série. A música, juntamente com uma mixagem de som meticulosa, ajuda a nos transportar para aquele ambiente hostil e vibrante de uma forma bem parecida com o play de um video-game.
"Fallout" é uma adaptação impressionante que faz justiça ao legado dos jogos, oferecendo uma experiência visual e emocionalmente rica. A série é tecnicamente perfeita, ao mesmo tempo que mostra ter "alma". Ao trazer para a jornada de Lucy temas como sobrevivência, moralidade e a luta pelo poder em um mundo sem lei, a série meio que oferece uma reflexão sobre a natureza humana em situações extremas - sem perder de vista seu propósito: entreter com a maior qualidade possível! Sinceramente, "Fallout" é uma das melhores adaptações de games que já foi produzida até aqui - autêntica à essência do seu material de origem, engenhosa e satírica; e criativa ao abraçar uma linguagem narrativa que encontra o seu caminho perante uma temática singular em seu pós-apocalipse bastante bizarro. Bom demais!
Vale muito o seu play!
Olha, "Fallout" é uma série que não decepciona - especialmente para os fãs da aclamada franquia de jogos de videogame da Bethesda. Criada por Geneva Robertson-Dworet (de "Captain Marvel") e Graham Wagner (de "Silicon Valley"), sob a supervisão atenta de Lisa Joy e Jonathan Nolan (de "Westworld"), essa adaptação da Amazon Prime Video traz para as telas a exata atmosfera pós-apocalíptica e a rica narrativa dos jogos de forma magistral. A série consegue capturar a essência do universo "Fallout" com uma combinação impressionante de efeitos visuais excelentes, um enredo dos mais envolventes e personagens muito (mas, muito) bem desenvolvidos. Puxa, que experiência cativante e imersiva! Sensacional!
A trama se desenrola em um futuro devastado pela guerra nuclear, onde os sobreviventes emergem de abrigos subterrâneos chamados Vaults para reconstruir a sociedade em uma terra desolada e cheia de perigos. É nesse contexto que acompanhamos Lucy (Ella Purnell), uma jovem que acaba deixando sua casa para encontrar seu pai (Kyle MacLachlan) que foi sequestrado. Em sua missão, a protagonista acaba descobrindo um mundo pós-apocalíptico perigoso e cheio de monstros, onde conhece o soldado Maximus (Aaron Moten) e um caçador de recompensas morto-vivo conhecido como The Ghoul (Walton Goggins). Confira o trailer:
Com muita inteligência e um pouco de ousadia, Geneva Robertson-Dworet e Graham Wagner evitam adaptar diretamente um dos capítulo da franquia, preferindo assim uma certa liberdade para criar uma história que se passa no universo conhecido dos jogos, mas que não está diretamente conectada a nenhum deles - e funciona. O roteiro sabe do seu potencial como mitologia, com isso equilibra habilmente a ação intensa com o desenvolvimento de personagens dos mais interessantes (e até complexos na sua essência, eu diria). A narrativa escolhida pelo time criativo é estruturada de maneira a manter a audiência constantemente engajado, com reviravoltas inesperadas e momentos de alta tensão - talvez aqui esteja o grande segredo dessa primeira temporada: sua dinâmica bem resolvida.
A direção de arte de "Fallout"é excepcional - ela recria com precisão o visual retrofuturista característico da série de jogos. A atenção aos detalhes, desde os trajes desgastados até os icônicos Pip-Boys, contribui para uma imersão total no mundo devastado da série. Reparem como sua estética que mistura velho-oeste,art déco e um complexo militar-industrial saído diretamente das paranóias da Guerra Fria e do medo da aniquilação nuclear, se conectam com a cultura americana dos anos 50 em seu modernismo atompunk. A atenção aos detalhes vai dos figurinos, das armas, das maquiagens, até a trilha sonora com composições que variam do melancólico ao épico, realçando a atmosfera de desolação e (des)esperança da série. A música, juntamente com uma mixagem de som meticulosa, ajuda a nos transportar para aquele ambiente hostil e vibrante de uma forma bem parecida com o play de um video-game.
"Fallout" é uma adaptação impressionante que faz justiça ao legado dos jogos, oferecendo uma experiência visual e emocionalmente rica. A série é tecnicamente perfeita, ao mesmo tempo que mostra ter "alma". Ao trazer para a jornada de Lucy temas como sobrevivência, moralidade e a luta pelo poder em um mundo sem lei, a série meio que oferece uma reflexão sobre a natureza humana em situações extremas - sem perder de vista seu propósito: entreter com a maior qualidade possível! Sinceramente, "Fallout" é uma das melhores adaptações de games que já foi produzida até aqui - autêntica à essência do seu material de origem, engenhosa e satírica; e criativa ao abraçar uma linguagem narrativa que encontra o seu caminho perante uma temática singular em seu pós-apocalipse bastante bizarro. Bom demais!
Vale muito o seu play!
“Filhos da Esperança” é um grande filme - tenso, angustiante, muito bem construído e desenvolvido pelo incrível Alfonso Cuarón (de "Gravidade"). Lançado em 2006, essa produção é realmente imperdível já que sua narrativa transcende a ficção científica distópica para entregar um drama dos mais profundos e reflexivos sobre o valor da vida! Aclamado por sua direção visionária (talvez aqui esteja um dos planos-sequência mais bem realizados da história do cinema moderno), Cuarón captura com muita sensibilidade um futuro sombrio, mas de uma maneira muito humana e, claro, visualmente provocadora. Não à toa que o filme foi indicada a três Oscars em 2007, incluindo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição. Comparável em impacto a outros filmes clássicos do gênero como “Blade Runner” e “Mad Max”, “Filhos da Esperança”, acredite, vai te tirar da zona de conforto com seu realismo imersivo que tece comentários sociais afiados a partir de uma estética realmente singular.
No ano de 2027, o mundo está em colapso. As mulheres se tornaram inexplicavelmente estéreis, e a sociedade enfrenta um declínio sem esperança. Em meio ao caos, Theo Faron (Clive Owen), um ex-ativista desiludido, é abordado por sua ex-esposa Julian (Julianne Moore) para ajudar uma jovem mulher, Kee (Clare-Hope Ashitey), que milagrosamente está grávida. Ao lado do amigo Jasper (Michael Caine), Theo embarca em uma perigosa missão para transportar Kee para a organização chamada "O Projeto Humano" - que pode salvar a mulher bem como toda humanidade. Confira o trailer:
Você não vai precisar mais do que dez minutos para entender como “Filhos da Esperança” é impulsionado por uma direção fenomenal - repare como os longos planos-sequência, uma marca registrada de Cuarón, conferem ao filme um realismo extremamente visceral capaz de gerar uma tensão constante de tirar o fôlego. A cena do ataque no carro e o clímax na zona de conflito são exemplos notáveis de como a câmera de Cuarón se torna um personagem ativo, colocando a audiência no centro da ação com uma intensidade quase palpável. O uso de câmera na mão com tanta sabedoria, contribui para um sentido de imediatismo e autenticidade, nos transportando diretamente para o caos e para o desespero de um mundo à beira da extinção - é impressionante como esse filme é imersivo!
Obviamente que a fotografia do inigualável Emmanuel Lubezki merece um destaque especial. Se você ainda não sabe, Lubezki foi o responsável pelo visual de "O Regresso", "Birdman" e "Gravidade" - só para citar os três Oscars que ele tem na prateleira de oito indicações até aqui. Pois bem, suas escolhas conceituais, da iluminação ao enquadramento cirúrgico, criam um ambiente tão opressor quanto desesperador, refletindo toda a desolação de uma sociedade em pleno colapso. Lubezki utiliza tons frios e uma paleta de cores desbotada para enfatizar a falta de esperança, contrastando com breves momentos de "luz" que simbolizam a possibilidade de redenção. Veja, a atenção aos detalhes visuais, como os ambientes decadentes e as paisagens urbanas distópicas, enriquecem aquela atmosfera de uma forma que a própria narrativa parece se aproveitar de tudo isso para brincar com nossas sensações - especialmente a do vazio.
No cerne de “Filhos da Esperança” estão as performances excepcionais do elenco. Clive Owen traz uma profundidade emocional a Theo, um personagem cínico mas que, ao longo do filme, redescobre sua humanidade e um sentido de esperança. Julianne Moore, embora em um papel menor, deixa uma marca indelével com sua presença forte e carismática. Michael Caine, em um dos papéis mais memoráveis de sua carreira, oferece um alívio cômico tocante e um lembrete da bondade persistente em tempos sombrios. Clare-Hope Ashitey como Kee transmite uma vulnerabilidade e uma força que faz de "Children of Men" (no original) não apenas um filme sobre um futuro distópico, mas uma reflexão profunda sobre a humanidade e a esperança em meio ao desespero.
Para quem busca um filme que sabe nos desafiar com a mesma força com que nos provoca, “Filhos da Esperança” é uma escolha indispensável! Vale muito o seu play!
“Filhos da Esperança” é um grande filme - tenso, angustiante, muito bem construído e desenvolvido pelo incrível Alfonso Cuarón (de "Gravidade"). Lançado em 2006, essa produção é realmente imperdível já que sua narrativa transcende a ficção científica distópica para entregar um drama dos mais profundos e reflexivos sobre o valor da vida! Aclamado por sua direção visionária (talvez aqui esteja um dos planos-sequência mais bem realizados da história do cinema moderno), Cuarón captura com muita sensibilidade um futuro sombrio, mas de uma maneira muito humana e, claro, visualmente provocadora. Não à toa que o filme foi indicada a três Oscars em 2007, incluindo Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição. Comparável em impacto a outros filmes clássicos do gênero como “Blade Runner” e “Mad Max”, “Filhos da Esperança”, acredite, vai te tirar da zona de conforto com seu realismo imersivo que tece comentários sociais afiados a partir de uma estética realmente singular.
No ano de 2027, o mundo está em colapso. As mulheres se tornaram inexplicavelmente estéreis, e a sociedade enfrenta um declínio sem esperança. Em meio ao caos, Theo Faron (Clive Owen), um ex-ativista desiludido, é abordado por sua ex-esposa Julian (Julianne Moore) para ajudar uma jovem mulher, Kee (Clare-Hope Ashitey), que milagrosamente está grávida. Ao lado do amigo Jasper (Michael Caine), Theo embarca em uma perigosa missão para transportar Kee para a organização chamada "O Projeto Humano" - que pode salvar a mulher bem como toda humanidade. Confira o trailer:
Você não vai precisar mais do que dez minutos para entender como “Filhos da Esperança” é impulsionado por uma direção fenomenal - repare como os longos planos-sequência, uma marca registrada de Cuarón, conferem ao filme um realismo extremamente visceral capaz de gerar uma tensão constante de tirar o fôlego. A cena do ataque no carro e o clímax na zona de conflito são exemplos notáveis de como a câmera de Cuarón se torna um personagem ativo, colocando a audiência no centro da ação com uma intensidade quase palpável. O uso de câmera na mão com tanta sabedoria, contribui para um sentido de imediatismo e autenticidade, nos transportando diretamente para o caos e para o desespero de um mundo à beira da extinção - é impressionante como esse filme é imersivo!
Obviamente que a fotografia do inigualável Emmanuel Lubezki merece um destaque especial. Se você ainda não sabe, Lubezki foi o responsável pelo visual de "O Regresso", "Birdman" e "Gravidade" - só para citar os três Oscars que ele tem na prateleira de oito indicações até aqui. Pois bem, suas escolhas conceituais, da iluminação ao enquadramento cirúrgico, criam um ambiente tão opressor quanto desesperador, refletindo toda a desolação de uma sociedade em pleno colapso. Lubezki utiliza tons frios e uma paleta de cores desbotada para enfatizar a falta de esperança, contrastando com breves momentos de "luz" que simbolizam a possibilidade de redenção. Veja, a atenção aos detalhes visuais, como os ambientes decadentes e as paisagens urbanas distópicas, enriquecem aquela atmosfera de uma forma que a própria narrativa parece se aproveitar de tudo isso para brincar com nossas sensações - especialmente a do vazio.
No cerne de “Filhos da Esperança” estão as performances excepcionais do elenco. Clive Owen traz uma profundidade emocional a Theo, um personagem cínico mas que, ao longo do filme, redescobre sua humanidade e um sentido de esperança. Julianne Moore, embora em um papel menor, deixa uma marca indelével com sua presença forte e carismática. Michael Caine, em um dos papéis mais memoráveis de sua carreira, oferece um alívio cômico tocante e um lembrete da bondade persistente em tempos sombrios. Clare-Hope Ashitey como Kee transmite uma vulnerabilidade e uma força que faz de "Children of Men" (no original) não apenas um filme sobre um futuro distópico, mas uma reflexão profunda sobre a humanidade e a esperança em meio ao desespero.
Para quem busca um filme que sabe nos desafiar com a mesma força com que nos provoca, “Filhos da Esperança” é uma escolha indispensável! Vale muito o seu play!
Seguindo a linha "e se...", que colocou "The Man in the High Castle" como uma das séries mais cultuadas da Amazon Prime Vídeo, "For All Mankind" bebe da mesma fonte, porém explorando uma das épocas mais controvérsas da politica mundial: quando EUA e URSS disputavam a tão falada "corrida espacial". Tudo o que eu escrever aqui pode soar como spoiler, então vou me limitar em dizer que a série mostra o que teria acontecido se os soviéticos tivessem liderado (ou pelo menos saído na frente) na conquista do espaço, em meio a Guerra Fria do final dos anos 60. Do ponto de vista dos americanos, é curioso reparar como a simples possibilidade de terminar esse cabo de guerra em segundo lugar, poderia ter impactado na história - e isso fica claro quando, com muita inteligência, o roteiro insere gravações reais de autoridades discutindo sobre o programa espacial sem a certeza de seu sucesso ou com a insegurança de quem não sabe muito bem como reagir perante a possibilidade de fracasso. O próprio presidente Nixon acaba se tornando um personagem onipresente sem ao menos aparecer na série.
É preciso destacar dois fatores: a qualidade da produção e as inúmeras possibilidades de tramas que o tema permite, mas por sua vez, um outro detalhe muito importante incomoda: faltam personagens mais carismáticos, ou pelo menos conflitos que possam inserir esses personagens em histórias sem a necessidade de criar novos núcleos de interação. De fato "For All Mankind" começa irregular, com alguns personagens sumindo, outros aparecendo, mas talvez, entendendo a proposta, seja a série de maior potencial da AppleTV+ até aqui.
"For All Mankind" tem uma estrutura narrativa bastante interessante: ela divide a temporada por episódios quase que independentes, que servem de escudo para um arco maior ainda sem muita relevância. O que eu quero dizer é que, em cada episódio, o conflito central praticamente se resolve (quase como um procedural) deixando pouco tempo para o desenvolvimento dos personagens e de suas tramas pessoais. Com isso a série precisa fazer alguns saltos temporais que, mesmo sendo limitados a um determinado período, dá a sensação que a história está sendo atropelada - é como se tudo tivesse que caber nos 60 minutos de duração do episódio a qualquer custo. O personagem de Joel Kinnaman, o astronauta Edward Baldwin, sente essa falta de linearidade e com isso não conquista a audiência. Outro núcleo que parece mal desenvolvido devido essa dinâmica do roteiro é o da família mexicana que entra ilegalmente nos EUA - essa trama está tão deslocada que se tirássemos todas as cenas, não sentiríamos a menor falta. É claro que existe uma razão deles estarem lá, mas, sinceramente, até agora, não interferiram em nada no andamento da série desde o primeiro episódio.
É fácil notar que algumas discussões politicas são muito bem inseridas dentro do contexto da série, outras já soam um pouco mais forçadas: o caso de nazismo do segundo episódio é um exemplo. Agora, quando entendemos que o objetivo da série é pegar um fato histórico, fazer uma releitura ou uma diferente interpretação para finalizar em, no máximo, dois episódios, fica mais fácil aceitar algumas inconsistências do roteiro, mas confesso que no início me causou muita estranheza! A direção do ótimo Seth Gordon tenta minimizar essa "correria" dos episódios com cenas um pouco mais introspectivas, dando a entender que o desenvolvimento dos personagens devem ganhar mais força e atenção que as próprias apresentações dos mesmos - em "See" vemos algo bem parecido e por consequência a dúvida é a mesma: quem assiste terá paciência para esperar os personagens (ou o arco maior) se estabelecerem?
"For All Mankind" é bom, e vai melhorando conforme os episódios vão passando. A série cresce com as intervenções na história baseada em fatos isolados que poderiam ter acontecido - e a sensação de conclusão que a série trás ajuda na experiência, isso é um fato! É perceptível o investimento da Apple na produção, trazendo elementos históricos (mesmo que destorcidos) no estilo Chernobyl ao mesmo tempo em que brinca com elementos mais hypados de filmes como "Top Gun" ou "Armagedom". Minha conclusão é a seguinte: a série já é boa, divertida e tende a melhorar, mas não deve se tornar inesquecível! Vale o play pelo entretenimento e pela qualidade da produção!
Seguindo a linha "e se...", que colocou "The Man in the High Castle" como uma das séries mais cultuadas da Amazon Prime Vídeo, "For All Mankind" bebe da mesma fonte, porém explorando uma das épocas mais controvérsas da politica mundial: quando EUA e URSS disputavam a tão falada "corrida espacial". Tudo o que eu escrever aqui pode soar como spoiler, então vou me limitar em dizer que a série mostra o que teria acontecido se os soviéticos tivessem liderado (ou pelo menos saído na frente) na conquista do espaço, em meio a Guerra Fria do final dos anos 60. Do ponto de vista dos americanos, é curioso reparar como a simples possibilidade de terminar esse cabo de guerra em segundo lugar, poderia ter impactado na história - e isso fica claro quando, com muita inteligência, o roteiro insere gravações reais de autoridades discutindo sobre o programa espacial sem a certeza de seu sucesso ou com a insegurança de quem não sabe muito bem como reagir perante a possibilidade de fracasso. O próprio presidente Nixon acaba se tornando um personagem onipresente sem ao menos aparecer na série.
É preciso destacar dois fatores: a qualidade da produção e as inúmeras possibilidades de tramas que o tema permite, mas por sua vez, um outro detalhe muito importante incomoda: faltam personagens mais carismáticos, ou pelo menos conflitos que possam inserir esses personagens em histórias sem a necessidade de criar novos núcleos de interação. De fato "For All Mankind" começa irregular, com alguns personagens sumindo, outros aparecendo, mas talvez, entendendo a proposta, seja a série de maior potencial da AppleTV+ até aqui.
"For All Mankind" tem uma estrutura narrativa bastante interessante: ela divide a temporada por episódios quase que independentes, que servem de escudo para um arco maior ainda sem muita relevância. O que eu quero dizer é que, em cada episódio, o conflito central praticamente se resolve (quase como um procedural) deixando pouco tempo para o desenvolvimento dos personagens e de suas tramas pessoais. Com isso a série precisa fazer alguns saltos temporais que, mesmo sendo limitados a um determinado período, dá a sensação que a história está sendo atropelada - é como se tudo tivesse que caber nos 60 minutos de duração do episódio a qualquer custo. O personagem de Joel Kinnaman, o astronauta Edward Baldwin, sente essa falta de linearidade e com isso não conquista a audiência. Outro núcleo que parece mal desenvolvido devido essa dinâmica do roteiro é o da família mexicana que entra ilegalmente nos EUA - essa trama está tão deslocada que se tirássemos todas as cenas, não sentiríamos a menor falta. É claro que existe uma razão deles estarem lá, mas, sinceramente, até agora, não interferiram em nada no andamento da série desde o primeiro episódio.
É fácil notar que algumas discussões politicas são muito bem inseridas dentro do contexto da série, outras já soam um pouco mais forçadas: o caso de nazismo do segundo episódio é um exemplo. Agora, quando entendemos que o objetivo da série é pegar um fato histórico, fazer uma releitura ou uma diferente interpretação para finalizar em, no máximo, dois episódios, fica mais fácil aceitar algumas inconsistências do roteiro, mas confesso que no início me causou muita estranheza! A direção do ótimo Seth Gordon tenta minimizar essa "correria" dos episódios com cenas um pouco mais introspectivas, dando a entender que o desenvolvimento dos personagens devem ganhar mais força e atenção que as próprias apresentações dos mesmos - em "See" vemos algo bem parecido e por consequência a dúvida é a mesma: quem assiste terá paciência para esperar os personagens (ou o arco maior) se estabelecerem?
"For All Mankind" é bom, e vai melhorando conforme os episódios vão passando. A série cresce com as intervenções na história baseada em fatos isolados que poderiam ter acontecido - e a sensação de conclusão que a série trás ajuda na experiência, isso é um fato! É perceptível o investimento da Apple na produção, trazendo elementos históricos (mesmo que destorcidos) no estilo Chernobyl ao mesmo tempo em que brinca com elementos mais hypados de filmes como "Top Gun" ou "Armagedom". Minha conclusão é a seguinte: a série já é boa, divertida e tende a melhorar, mas não deve se tornar inesquecível! Vale o play pelo entretenimento e pela qualidade da produção!
“Free Guy" que no Brasil ganhou o subtítulo de "Assumindo o Controle” é uma mistura de vários filmes que deram certo como, por exemplo, “Jogador Nº 1” e “O Show de Truman”, mas as semelhanças vão além!
Na trama, Guy (Ryan Reynalds) é um personagem "não-jogável" (NPC) em Free City, um jogo de RPG online. Sem saber que o mundo em que vive é um videogame, ele trabalha como caixa de banco em uma entediante rotina, que se repete diversas vezes (como no clássico “O Feitiço do Tempo”). No jogo, Millie (Jodie Comer), conhecida como Molotov Girl, chama a atenção de Guy cantando sua música favorita da Mariah Carey, é aí que ele começa a se desviar de sua programação. Mas é quando Guy pega um óculos de um jogador, que ele passa a ver Free City através de uma versão única da interface e, surpreendentemente, acaba virando um jogador. Agora ele precisa aceitar sua realidade e lidar com o fato de que é o único personagem-jogável que pode salvar o mundo. Confira o trailer:
Os clichês frequentes acabam tirando o brilho de um filme que poderia ser tão mais criativo e original quanto “Jogador Nº 1” - ainda mais tendo como um dos roteiristas Zak Penn que também colaborou para o filme de Steven Spielberg. Mas em um longa visualmente atrativo e com os carismáticos Ryan Reynalds e Jodie Comer no elenco, chegar até o final e sentir aquele gostinho de que a aventura tinha muito potencial e foi desperdiçada por excessivos clichês acaba sendo um pouco frustrante.
Ainda assim, os efeitos especiais e visuais são mágicos e criam uma dimensão bastante imersiva. É evidente que a aventura descompromissada funciona e entrega momentos divertidíssimos que incluem ótimas sequências de ação e referências da cultura pop. Uma trilha sonora bem gostosinha (daquelas que procuramos a playlist para ouvir) também é um dos bons ingredientes do filme. A canção “Fantasy” da Mariah Carey gruda como chiclete.
“Free Guy” diverte e garante boas risadas, mas não é nenhuma aventura que você já não tenha visto antes, mas se você gosta do estilo "Ryan Reynalds" de filmes, vale o seu play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
“Free Guy" que no Brasil ganhou o subtítulo de "Assumindo o Controle” é uma mistura de vários filmes que deram certo como, por exemplo, “Jogador Nº 1” e “O Show de Truman”, mas as semelhanças vão além!
Na trama, Guy (Ryan Reynalds) é um personagem "não-jogável" (NPC) em Free City, um jogo de RPG online. Sem saber que o mundo em que vive é um videogame, ele trabalha como caixa de banco em uma entediante rotina, que se repete diversas vezes (como no clássico “O Feitiço do Tempo”). No jogo, Millie (Jodie Comer), conhecida como Molotov Girl, chama a atenção de Guy cantando sua música favorita da Mariah Carey, é aí que ele começa a se desviar de sua programação. Mas é quando Guy pega um óculos de um jogador, que ele passa a ver Free City através de uma versão única da interface e, surpreendentemente, acaba virando um jogador. Agora ele precisa aceitar sua realidade e lidar com o fato de que é o único personagem-jogável que pode salvar o mundo. Confira o trailer:
Os clichês frequentes acabam tirando o brilho de um filme que poderia ser tão mais criativo e original quanto “Jogador Nº 1” - ainda mais tendo como um dos roteiristas Zak Penn que também colaborou para o filme de Steven Spielberg. Mas em um longa visualmente atrativo e com os carismáticos Ryan Reynalds e Jodie Comer no elenco, chegar até o final e sentir aquele gostinho de que a aventura tinha muito potencial e foi desperdiçada por excessivos clichês acaba sendo um pouco frustrante.
Ainda assim, os efeitos especiais e visuais são mágicos e criam uma dimensão bastante imersiva. É evidente que a aventura descompromissada funciona e entrega momentos divertidíssimos que incluem ótimas sequências de ação e referências da cultura pop. Uma trilha sonora bem gostosinha (daquelas que procuramos a playlist para ouvir) também é um dos bons ingredientes do filme. A canção “Fantasy” da Mariah Carey gruda como chiclete.
“Free Guy” diverte e garante boas risadas, mas não é nenhuma aventura que você já não tenha visto antes, mas se você gosta do estilo "Ryan Reynalds" de filmes, vale o seu play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Se em "Console Wars", citamos na análise que o filme funcionava "quase" como um estudo de caso (Nintendo X Sega) de uma boa pós-graduação, então posso dizer tranquilamente que "GDLK" é um overview bastante interessante de como o mercado de games foi se transformando, pelo ponto de vista de vários personagens que atuaram ativamente nesse processo. Diferente do documentário da HBO, essa série de seis episódios da Netflix não se preocupa tanto com decisões corporativas, de marketing ou de gestão, mas sim com o fator humano e como o setor foi inovando, respeitando uma cronologia temporal bem pontuada, com ótimas histórias e muitas curiosidades, como essa, por exemplo:
"GDLK" é uma série documental que não se obriga a fazer um mergulho profundo nos temas mais marcantes de uma revolução mercadológica, mas sim em discutir a era dourada dos videogames, em uma época onde surgiram clássicos como Pac-Man ou Doom. Focando no talento (e muita força de vontade), esses pioneiros da computação e artistas visionários de todo o mundo deram vida aos icônicos jogos: Space Invaders, Final Fantasy, Street Fighter II, Mortal Kombat, Sonic the Hedgehog, John Madden Football e muitos outros. Sem regras ou orientações, jogadores e desenvolvedores descobriram novas formas de se entreter e, claro, ganhar muito dinheiro, destruir rivais e conquistar milhões de fãs e é assim, ponto a ponto, que "High Score" (título original) conta a história das mentes por trás dos pixels e de como essas invenções construíram uma indústria multibilionária — quase por acidente.
Não por acaso, "GDLK" é narrada por Charles Martinet – a famosa voz do Mário. A série dedica cada episódio a um gênero, tema ou período da história dos games, focando na experiência dos desenvolvedores e game designers na busca por executarem suas ideias. A partir dessa escolha narrativa, descobrimos como o jogos de esportes foram se transformando ou até como os Adventures surgiram. Também entendemos a força do marketing na criação de uma legião de fãs e como os e-sports se tornaram uma ferramenta de vendas de jogos e consoles.
Com entrevistas bem humoradas, a série nos cativa logo de cara - já que cada personagem dá seu depoimento muito mais com o coração do que com a razão! Com um roteiro muito inteligente e que amarrara várias histórias em um mesmo episódio, o trabalho da edição da série só imprime o ritmo que foi planejado, intercalando verdadeiros testemunhais, com imagens de arquivo e ótimas sequências de animação 8 bits.
Como "Console Wars", o fator nostálgico trás um poder emocional muito bacana para a experiência de assistir a série. Se você tem mais de 40 anos, certamente viveu essa evolução de um ponto de vista diferente, mais inocente, cheio de fantasia e desejo de experimentar essas novidades, e isso é muito interessante, pois não será difícil se colocar (ou lembrar de situações) em cada uma das fases que o documentário retrata - é quase como se nos víssemos ali, fazendo parte daquela história! É claro que "GDLK" vai impactar mais quem gosta de video-game ou quem viveu os anos 80 e 90, mas de qualquer forma a recomendação é válida, pois a série merece ser vista pelo seu recorte histórico e por provocar uma reflexão importante: muito do que assistimos (e encontramos) hoje em dia, nada mais são, do que a confirmação de várias teses levantadas lá atrás, que se confirmaram e provaram ser o caminho natural do entretenimento em vários níveis - mais ou menos como a "guerra do streaming" apresenta na atualidade!
O bacana é que ainda existe muito mais histórias para se contar e a expectativa é que tenhamos uma segunda temporada em breve. Vamos aguardar! Por enquanto te garanto: "GDLK" vale muito o seu play!
Se em "Console Wars", citamos na análise que o filme funcionava "quase" como um estudo de caso (Nintendo X Sega) de uma boa pós-graduação, então posso dizer tranquilamente que "GDLK" é um overview bastante interessante de como o mercado de games foi se transformando, pelo ponto de vista de vários personagens que atuaram ativamente nesse processo. Diferente do documentário da HBO, essa série de seis episódios da Netflix não se preocupa tanto com decisões corporativas, de marketing ou de gestão, mas sim com o fator humano e como o setor foi inovando, respeitando uma cronologia temporal bem pontuada, com ótimas histórias e muitas curiosidades, como essa, por exemplo:
"GDLK" é uma série documental que não se obriga a fazer um mergulho profundo nos temas mais marcantes de uma revolução mercadológica, mas sim em discutir a era dourada dos videogames, em uma época onde surgiram clássicos como Pac-Man ou Doom. Focando no talento (e muita força de vontade), esses pioneiros da computação e artistas visionários de todo o mundo deram vida aos icônicos jogos: Space Invaders, Final Fantasy, Street Fighter II, Mortal Kombat, Sonic the Hedgehog, John Madden Football e muitos outros. Sem regras ou orientações, jogadores e desenvolvedores descobriram novas formas de se entreter e, claro, ganhar muito dinheiro, destruir rivais e conquistar milhões de fãs e é assim, ponto a ponto, que "High Score" (título original) conta a história das mentes por trás dos pixels e de como essas invenções construíram uma indústria multibilionária — quase por acidente.
Não por acaso, "GDLK" é narrada por Charles Martinet – a famosa voz do Mário. A série dedica cada episódio a um gênero, tema ou período da história dos games, focando na experiência dos desenvolvedores e game designers na busca por executarem suas ideias. A partir dessa escolha narrativa, descobrimos como o jogos de esportes foram se transformando ou até como os Adventures surgiram. Também entendemos a força do marketing na criação de uma legião de fãs e como os e-sports se tornaram uma ferramenta de vendas de jogos e consoles.
Com entrevistas bem humoradas, a série nos cativa logo de cara - já que cada personagem dá seu depoimento muito mais com o coração do que com a razão! Com um roteiro muito inteligente e que amarrara várias histórias em um mesmo episódio, o trabalho da edição da série só imprime o ritmo que foi planejado, intercalando verdadeiros testemunhais, com imagens de arquivo e ótimas sequências de animação 8 bits.
Como "Console Wars", o fator nostálgico trás um poder emocional muito bacana para a experiência de assistir a série. Se você tem mais de 40 anos, certamente viveu essa evolução de um ponto de vista diferente, mais inocente, cheio de fantasia e desejo de experimentar essas novidades, e isso é muito interessante, pois não será difícil se colocar (ou lembrar de situações) em cada uma das fases que o documentário retrata - é quase como se nos víssemos ali, fazendo parte daquela história! É claro que "GDLK" vai impactar mais quem gosta de video-game ou quem viveu os anos 80 e 90, mas de qualquer forma a recomendação é válida, pois a série merece ser vista pelo seu recorte histórico e por provocar uma reflexão importante: muito do que assistimos (e encontramos) hoje em dia, nada mais são, do que a confirmação de várias teses levantadas lá atrás, que se confirmaram e provaram ser o caminho natural do entretenimento em vários níveis - mais ou menos como a "guerra do streaming" apresenta na atualidade!
O bacana é que ainda existe muito mais histórias para se contar e a expectativa é que tenhamos uma segunda temporada em breve. Vamos aguardar! Por enquanto te garanto: "GDLK" vale muito o seu play!
O cineasta Alfonso Cuarón já havia mostrado seu virtuosismo estético em "Filhos da Esperança" de 2006. Em "Gravidade", ele cria um universo de computação gráfica (!) crível, original e simplesmente deslumbrante.
A premissa é relativamente simples: dois astronautas estão realizando manutenção em uma estação espacial, quando uma chuva de detritos começa a atingi-los. A partir daí, começa uma corrida pela sobrevivência no inóspito ambiente além da atmosfera. Confira o trailer:
A fotografia do ícone Emmanuel Lubezki, é maravilhosa: os enquadramentos são inventivos e o filme retrata fielmente o vácuo de som existente no espaço. A imponente trilha sonora “dubla” as explosões silenciosas e eleva o nível de tensão. Importante dizer que esse primor técnico rendeu ao filme 7 estatuetas do Oscar em 2014: Melhor Direção, Fotografia, Edição, Efeitos Visuais, Trilha Sonora, Edição de Som e Mixagem de Som.
Sandra Bullock entrega uma grande atuação como a Dra. Ryan, lutando pela sobrevivência no espaço após perder o motivo de viver em terra firme. Através dela, o filme imprime alegorias sobre renascimento e até evolucionismo. George Clooney acumula as funções de alívio cômico e mentor, construindo ótimas interações com a astronauta inexperiente.
O fato é que "Gravidade" é um espetáculo espacial. É claustrofóbico, mesmo na imensidão galáctica. É tenso, mas incrivelmente belo. É um realismo digital, mas altamente imersivo. É uma experiência que deve ser sentida! Vale muito, mas muito, a pena!
Obs: Em sua carreira pelos festivais de cinema, "Gravidade" faturou mais de 230 prêmios além de outras 187 indicações. Impressionante!
Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria@dicastreaming
O cineasta Alfonso Cuarón já havia mostrado seu virtuosismo estético em "Filhos da Esperança" de 2006. Em "Gravidade", ele cria um universo de computação gráfica (!) crível, original e simplesmente deslumbrante.
A premissa é relativamente simples: dois astronautas estão realizando manutenção em uma estação espacial, quando uma chuva de detritos começa a atingi-los. A partir daí, começa uma corrida pela sobrevivência no inóspito ambiente além da atmosfera. Confira o trailer:
A fotografia do ícone Emmanuel Lubezki, é maravilhosa: os enquadramentos são inventivos e o filme retrata fielmente o vácuo de som existente no espaço. A imponente trilha sonora “dubla” as explosões silenciosas e eleva o nível de tensão. Importante dizer que esse primor técnico rendeu ao filme 7 estatuetas do Oscar em 2014: Melhor Direção, Fotografia, Edição, Efeitos Visuais, Trilha Sonora, Edição de Som e Mixagem de Som.
Sandra Bullock entrega uma grande atuação como a Dra. Ryan, lutando pela sobrevivência no espaço após perder o motivo de viver em terra firme. Através dela, o filme imprime alegorias sobre renascimento e até evolucionismo. George Clooney acumula as funções de alívio cômico e mentor, construindo ótimas interações com a astronauta inexperiente.
O fato é que "Gravidade" é um espetáculo espacial. É claustrofóbico, mesmo na imensidão galáctica. É tenso, mas incrivelmente belo. É um realismo digital, mas altamente imersivo. É uma experiência que deve ser sentida! Vale muito, mas muito, a pena!
Obs: Em sua carreira pelos festivais de cinema, "Gravidade" faturou mais de 230 prêmios além de outras 187 indicações. Impressionante!
Escrito por Ricelli Ribeiro - uma parceria@dicastreaming
"Her" é um grande filme! O roteiro é tão bom, é tão bem filmado que você nem se dá conta que 90% do filme está apoiado em um ator falando sozinho!
Escrito e dirigido por Spike Jonze (de "Onde Vivem os Monstros"), "Her" se passa em um futuro próximo na cidade de Los Angeles e acompanha Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem complexo e emotivo que trabalha escrevendo cartas pessoais e tocantes para outras pessoas. Com o coração partido após o final de um relacionamento, ele começa a ficar intrigado com um novo e avançado sistema operacional que promete ser uma espécie de entidade intuitiva e única - é aí que ele conhece "Samantha", uma voz feminina sensível e surpreendentemente engraçada. A medida em que as necessidades dela aumentam junto com as dele, a amizade dos dois se aprofunda em um eventual amor de um pelo outro.
"Her" é uma história de amor extremamente original que explora a natureza evolutiva - e os riscos - da intimidade no mundo moderno. Spike Jonze, sempre um gênio, mereceu o Oscar de Roteiro Original (2014) por esse filme, mas merecia o de direção também - foi uma injustiça ele nem ter sido indicado. O filme, tecnicamente, beira a perfeição: cada movimento, cada corte, cada close... Jonze nos coloca dentro daquele universo de uma forma brutal, provocando aquela sensação de solidão do Twombly a todo momento - impressionante!
Não tem como não recomendar esse filme de olhos fechados! Spike Jonze é um mestre, tudo que ele faz é muito bom - se você ainda não conhece o trabalho dele, pode ir atrás que você não vai se arrepender! Olha, eu seria capaz de afirmar que "Her" é um dos melhores filmes que eu já assisti na vida! Se você, como eu, foi deixando essa maravilha de lado, corre porque é uma obra prima que merece muito o seu play!!!
PS: "Her" ganhou em apenas uma das quatro categorias na qual foi indicado para Oscar de 2014, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!
"Her" é um grande filme! O roteiro é tão bom, é tão bem filmado que você nem se dá conta que 90% do filme está apoiado em um ator falando sozinho!
Escrito e dirigido por Spike Jonze (de "Onde Vivem os Monstros"), "Her" se passa em um futuro próximo na cidade de Los Angeles e acompanha Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), um homem complexo e emotivo que trabalha escrevendo cartas pessoais e tocantes para outras pessoas. Com o coração partido após o final de um relacionamento, ele começa a ficar intrigado com um novo e avançado sistema operacional que promete ser uma espécie de entidade intuitiva e única - é aí que ele conhece "Samantha", uma voz feminina sensível e surpreendentemente engraçada. A medida em que as necessidades dela aumentam junto com as dele, a amizade dos dois se aprofunda em um eventual amor de um pelo outro.
"Her" é uma história de amor extremamente original que explora a natureza evolutiva - e os riscos - da intimidade no mundo moderno. Spike Jonze, sempre um gênio, mereceu o Oscar de Roteiro Original (2014) por esse filme, mas merecia o de direção também - foi uma injustiça ele nem ter sido indicado. O filme, tecnicamente, beira a perfeição: cada movimento, cada corte, cada close... Jonze nos coloca dentro daquele universo de uma forma brutal, provocando aquela sensação de solidão do Twombly a todo momento - impressionante!
Não tem como não recomendar esse filme de olhos fechados! Spike Jonze é um mestre, tudo que ele faz é muito bom - se você ainda não conhece o trabalho dele, pode ir atrás que você não vai se arrepender! Olha, eu seria capaz de afirmar que "Her" é um dos melhores filmes que eu já assisti na vida! Se você, como eu, foi deixando essa maravilha de lado, corre porque é uma obra prima que merece muito o seu play!!!
PS: "Her" ganhou em apenas uma das quatro categorias na qual foi indicado para Oscar de 2014, inclusive de "Melhor Filme do Ano"!
Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano.
Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):
Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.
Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.
Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.
Imperdível!
Intrigante! Uma atmosfera que nos remete ao excelente "Devs", mas que não nos deixa esquecer de "Ruptura" - só que com o mérito de ter sido lançada bem antes dessas duas pérolas do streaming. O fato é que "Homecoming" é muito mais que uma minissérie de suspense psicológico, ela é um verdadeiro quebra-cabeça narrativo que nos provoca e nos surpreende a cada nova peça apresentada. Criada por Sam Esmail (a mente criativa por trás de "Mr. Robot") essa recomendação é um prato cheio para quem aprecia um bom thriller com fortes elementos de mistério e algumas camadas de drama. Vale lembrar, inclusive, que "Homecoming" venceu o Satellite Awards como Melhor Série Dramática em 2019, além de ter recebido indicações importantes no Globo de Ouro e no Emmy do mesmo ano.
Boas intenções. Chefes inconstantes. Paranoia crescente. Consequências imprevistas saindo de controle. Heidi (Julia Roberts) trabalha em Homecoming, uma unidade que ajuda soldados no processo de transição para a vida civil. Anos após ela começar uma nova vida, o Departamento de Defesa do EUA passa a questionar Heidi para entender os reais motivos de sua saída do misterioso programa e é justamente a partir daí que ela entende que há uma outra história por trás daquela que ela acreditava ser a verdadeira. Confira o trailer (em inglês):
Nem o amável sorriso de Heidi consegue disfarçar que há algo de errado em "Homecoming" - desde o primeiro episódio somos fisgados pelo clima de tensão e mistério que vai tomando conta dos corredores deste que se anuncia como um projeto revolucionário, mas que claramente esconde nos seus benefícios, interesses maliciosos. Explorando a fragilidade da mente humana e os efeitos psicológicos do trauma, Esmail sabe exatamente como criar uma complexa e bem elaborada trama, com personagens realmente intrigantes e uma atmosfera que nos faz questionar, a cada episódio, tudo o que sabemos, ou pelo menos, tudo o que nos vai sendo contado.
Com duas linhas temporais distintas, que inicialmente não se completam, "Homecoming" dá um show como proposta narrativa e conceito estético - mais do que uma mudança sutil no visual da protagonista, os períodos são filmados de modos muito diferentes. Enquanto o passado ocupa toda a tela da TV e valoriza as cores do arborizado e moderno centro de recuperação, o presente é apresentado no formato 4:3, aquele mais quadrado, com tons opacos e acinzentados - tudo isso para criar um sentimento de angustia e melancolia que se misturam e que acaba se justificando pela perspectiva de uma inteligente metáfora que vai surgindo com o final da temporada. O fato é que, em "Homecoming", nada é por acaso.
Com atuações impecáveis de Julia Roberts e Stephan James (que interpreta o soldado Walter Cruz que Heidi monitora) o que vemos na tela é a potencialização da complexidade emocional do ser humano se sobrepondo perante sua própria fragilidade. Sim, a sentença pode até soar redundante, mas ao mergulharmos na proposta de Esmail entendemos perfeitamente sua estratégia de criar esse senso de desorientação permanente, nos provocando e instigando nossa curiosidade como poucas vezes experienciamos. No entanto, antes do play, saiba que "Homecoming" não é uma jornada simples, sua narrativa é mais cadenciada e seu propósito como obra é naturalmente pouco expositivo. Dito isso, se prepare para uma jornada viciante (ainda mais sabendo que cada episódio tem apenas 30 minutos) onde os perigos do poder e da manipulação serão ótimos assuntos para uma discussão - pós-créditos, claro.
Imperdível!
"I am Mother" é um filme australiano, distribuído pela Netflix, que foi lançado na plataforma no começo de junho de 2019 e, olha, vou te dizer, ficção científica com alma! Grande filme, inteligente, profundo e um excelente entretenimento além de tudo! Tipo do filme que te faz refletir, na linha de "Mother!" do Aronofsky ou "Ex-Machina" do Alex Garland ou até de "Rua Cloverfild, 10" do Dan Trachtenberg.
O filme conta a história de uma adolescente, interpretada pela ótima Clara Rugaard (mas poderia ter sido a Jennifer Lawrence tranquilamente), que é criada em uma espécie de bunker após a extinção total da raça humana. Um robô auto-denominado "Mãe", projetado para ajudar na reconstrução da Terra, é a responsável por preparar sua "Filha" para expandir essa missão, elevando a capacidade humana de existir baseado em valores éticos e morais. Porém, toda essa realidade começa a ser colocada em dúvida com a chegada inesperada de uma suposta sobrevivente, papel da Hilary Swank. Confira o trailer:
Eu diria que "I am Mother" poderia ter sido dirigido pelo Nolan ou até pelo mestre Stanley Kubrick, dada a sua complexidade visual e elegância narrativa - no entanto, é visível a limitação de orçamento em vários elementos artísticos do filme: desde seu desenho de produção até na própria composição de pós em algumas cenas! Mas isso não atrapalha em absolutamente nada a experiência do filme, pois o roteiro é muito bem amarrado e fosse uma super produção, certamente estaria fazendo um enorme barulho!
Esse é o primeiro filme do diretor Grant Sputore - marquem esse nome, porque o cara é muito talentoso - e sua condução encontrou o equilíbrio perfeito entre o drama e a ficção, sempre pontuada por uma série de alegorias muito referenciadas em filmes como "Mother!", por exemplo. Aliás, vale uma pesquisa "pós-filme" para entender ou confirmar algumas interpretações e teorias que vamos encontrando durante toda jornada. Outro ponto que me chamou a atenção é a beleza da fotografia, grande trabalho do também novato Steve Annis - ele está nos créditos de impressionantes 58 curtas-metargem antes de assinar seu primeiro longa, ou seja, preparado ele está!
"I am Mother" é uma agradável surpresa que vale muito a pena e posso garantir: quanto menos souber do filme, melhor. Por isso tomei esse cuidado para não prejudicar a sua experiência, mas se posso dar uma única dica: preste muita atenção nos letterings no início do filme, eles farão toda a diferença lá no final!
Vale muito o play!!!!
"I am Mother" é um filme australiano, distribuído pela Netflix, que foi lançado na plataforma no começo de junho de 2019 e, olha, vou te dizer, ficção científica com alma! Grande filme, inteligente, profundo e um excelente entretenimento além de tudo! Tipo do filme que te faz refletir, na linha de "Mother!" do Aronofsky ou "Ex-Machina" do Alex Garland ou até de "Rua Cloverfild, 10" do Dan Trachtenberg.
O filme conta a história de uma adolescente, interpretada pela ótima Clara Rugaard (mas poderia ter sido a Jennifer Lawrence tranquilamente), que é criada em uma espécie de bunker após a extinção total da raça humana. Um robô auto-denominado "Mãe", projetado para ajudar na reconstrução da Terra, é a responsável por preparar sua "Filha" para expandir essa missão, elevando a capacidade humana de existir baseado em valores éticos e morais. Porém, toda essa realidade começa a ser colocada em dúvida com a chegada inesperada de uma suposta sobrevivente, papel da Hilary Swank. Confira o trailer:
Eu diria que "I am Mother" poderia ter sido dirigido pelo Nolan ou até pelo mestre Stanley Kubrick, dada a sua complexidade visual e elegância narrativa - no entanto, é visível a limitação de orçamento em vários elementos artísticos do filme: desde seu desenho de produção até na própria composição de pós em algumas cenas! Mas isso não atrapalha em absolutamente nada a experiência do filme, pois o roteiro é muito bem amarrado e fosse uma super produção, certamente estaria fazendo um enorme barulho!
Esse é o primeiro filme do diretor Grant Sputore - marquem esse nome, porque o cara é muito talentoso - e sua condução encontrou o equilíbrio perfeito entre o drama e a ficção, sempre pontuada por uma série de alegorias muito referenciadas em filmes como "Mother!", por exemplo. Aliás, vale uma pesquisa "pós-filme" para entender ou confirmar algumas interpretações e teorias que vamos encontrando durante toda jornada. Outro ponto que me chamou a atenção é a beleza da fotografia, grande trabalho do também novato Steve Annis - ele está nos créditos de impressionantes 58 curtas-metargem antes de assinar seu primeiro longa, ou seja, preparado ele está!
"I am Mother" é uma agradável surpresa que vale muito a pena e posso garantir: quanto menos souber do filme, melhor. Por isso tomei esse cuidado para não prejudicar a sua experiência, mas se posso dar uma única dica: preste muita atenção nos letterings no início do filme, eles farão toda a diferença lá no final!
Vale muito o play!!!!
Se tem uma coisa que o Disney+ vem nos proporcionando, é o acesso a documentários raros e que, embora muitos deles naturalmente datados, tem um conteúdo simplesmente espetacular. O "Império dos Sonhos: A História da Trilogia Star Wars" entra nessa prateleira e te adianto: é mais um daqueles "estudos de caso" que mais parecem um curso de MBA em empreendedorismo - mais ou menos como "A História do Imagineering". Emboraproduzido em 2004 para compor os “extras” do lançamento de uma edição especial da Trilogia Star Wars ainda em DVD, o documentário é mais uma imersão na visão e no comportamento de George Lucas do que uma história construída para os fãs da franquia.
Em pouco menos de 150 minutos, os diretores Edith Becker e Kevin Burns, ambos de "Playboy: Inside the Playboy Mansion", nos conduzem pelos bastidores da criação da Trilogia Original de Star Wars, focando no processo de desenvolvimento, produção e lançamento de "Guerra nas Estrelas", o filme original de 1977, e depois, com um pouco menos de profundidade, mas não menos interessante, nas histórias de O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi. Confira o trailer:
A partir do acesso aos arquivos da Lucasfilm e do próprio Lucas, Becker e Burns desenvolvem uma narrativa dinâmica e inteligente, mas sem inventar muita moda, ou seja, a partir de uma montagem cronológica simples, os diretores contam a história pelos olhos do seu criador e de vários personagens que transitaram pelas produções dos três filmes. O interessante - e aqui cabe um elogio: é que o documentário parte da visão inovadora, mas também estratégica de Lucas para pontuar a mudança dos paradigmas de Hollywood no início da década de 70, passando pelo seu trabalho na Universidade com o curta-metragem THX-1138 (que depois se transformou em um longa), depois pela pré-produção, produção e pós-produção de Guerra nas Estrelas, seguido pelo receio do seu lançamento até a transformação em uma espécie de fenômeno mundial instantâneo - o roteiro, aliás, é muito feliz ao fazer paralelos com a realidade social e cultural da época e assim tentar explicar toda essa jornada.
O roteirista Ed Singer também foi muito inteligente ao estabelecer sua linha narrativa em cima de uma novidade que foi o "Guerra nas Estrelas" e tudo que envolveu sua produção, para depois simplesmente pontuar o documentário com curiosidades dos outros dois filmes, como a criação do Mestre Yoda, as estratégias para evitar que vazasse a informação sobre a revelação de quem era o pai de Luke, os Ewoks, etc. Singer aproveita e traz para a história nomes como Ralph McQuarrie - artista que trabalhou na Boeing e foi capaz de criar o conceito visual para Gorge Lucas tentar convencer os Estúdios que valia a pena apoiar seu projeto eAlan Ladd Jr., então presidente da Fox, que convenceu a diretoria do Estúdio em financiar o primeiro filme (pouco mais de 8 milhões de dólares) e quem segurou as pontas quando o orçamento e os prazos estouraram nas mãos daquele jovem diretor.
O fato é que o "Império dos Sonhos: A História da Trilogia Star Wars" é um rico e delicioso documentário sobre uma franquia que ultrapassou os limites do cinema e se transformou em um dos mais festejados produtos da cultura pop através dos tempos. Da genialidade de George Lucas, conseguimos entender seu propósito como cineasta, mas também sua visão de negócios e de mercado como poucos tiveram até hoje.
Vale muito a pena!
Se tem uma coisa que o Disney+ vem nos proporcionando, é o acesso a documentários raros e que, embora muitos deles naturalmente datados, tem um conteúdo simplesmente espetacular. O "Império dos Sonhos: A História da Trilogia Star Wars" entra nessa prateleira e te adianto: é mais um daqueles "estudos de caso" que mais parecem um curso de MBA em empreendedorismo - mais ou menos como "A História do Imagineering". Emboraproduzido em 2004 para compor os “extras” do lançamento de uma edição especial da Trilogia Star Wars ainda em DVD, o documentário é mais uma imersão na visão e no comportamento de George Lucas do que uma história construída para os fãs da franquia.
Em pouco menos de 150 minutos, os diretores Edith Becker e Kevin Burns, ambos de "Playboy: Inside the Playboy Mansion", nos conduzem pelos bastidores da criação da Trilogia Original de Star Wars, focando no processo de desenvolvimento, produção e lançamento de "Guerra nas Estrelas", o filme original de 1977, e depois, com um pouco menos de profundidade, mas não menos interessante, nas histórias de O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi. Confira o trailer:
A partir do acesso aos arquivos da Lucasfilm e do próprio Lucas, Becker e Burns desenvolvem uma narrativa dinâmica e inteligente, mas sem inventar muita moda, ou seja, a partir de uma montagem cronológica simples, os diretores contam a história pelos olhos do seu criador e de vários personagens que transitaram pelas produções dos três filmes. O interessante - e aqui cabe um elogio: é que o documentário parte da visão inovadora, mas também estratégica de Lucas para pontuar a mudança dos paradigmas de Hollywood no início da década de 70, passando pelo seu trabalho na Universidade com o curta-metragem THX-1138 (que depois se transformou em um longa), depois pela pré-produção, produção e pós-produção de Guerra nas Estrelas, seguido pelo receio do seu lançamento até a transformação em uma espécie de fenômeno mundial instantâneo - o roteiro, aliás, é muito feliz ao fazer paralelos com a realidade social e cultural da época e assim tentar explicar toda essa jornada.
O roteirista Ed Singer também foi muito inteligente ao estabelecer sua linha narrativa em cima de uma novidade que foi o "Guerra nas Estrelas" e tudo que envolveu sua produção, para depois simplesmente pontuar o documentário com curiosidades dos outros dois filmes, como a criação do Mestre Yoda, as estratégias para evitar que vazasse a informação sobre a revelação de quem era o pai de Luke, os Ewoks, etc. Singer aproveita e traz para a história nomes como Ralph McQuarrie - artista que trabalhou na Boeing e foi capaz de criar o conceito visual para Gorge Lucas tentar convencer os Estúdios que valia a pena apoiar seu projeto eAlan Ladd Jr., então presidente da Fox, que convenceu a diretoria do Estúdio em financiar o primeiro filme (pouco mais de 8 milhões de dólares) e quem segurou as pontas quando o orçamento e os prazos estouraram nas mãos daquele jovem diretor.
O fato é que o "Império dos Sonhos: A História da Trilogia Star Wars" é um rico e delicioso documentário sobre uma franquia que ultrapassou os limites do cinema e se transformou em um dos mais festejados produtos da cultura pop através dos tempos. Da genialidade de George Lucas, conseguimos entender seu propósito como cineasta, mas também sua visão de negócios e de mercado como poucos tiveram até hoje.
Vale muito a pena!
"Indústria Americana" é um recorte dos mais interessantes sobre o que não se deve fazer em um processo de internacionalização de uma empresa (ou no caso de uma indústria). O documentário vencedor do Oscar de 2020 é tão bem construído que fica tão evidente o choque cultural que, sinceramente, é impossível definir quem é o mocinho e quem é o bandido - e isso nos provoca uma excelente reflexão, já que em grande parte da história ouvimos sempre os dois lados.
No Estado de Ohio, durante um grande momento pós-industrial, um chinês bilionário se aproveita de um terreno abandonado da General Motors para criar uma filial da sua empresa de vidros automotivos, Fuyao, com a intenção de realizar uma grande mudança no cenário de Dayton (e obviamente lucrar muito com isso), após milhares de pessoas perderem emprego. Com a contratação de mais de dois mil trabalhadores locais, as perspectivas para cidade se amplificam, porém a cultura corporativa dos dois países são muito diferentes e é nesse momento que os embates ficam ainda mais sérios. Confira o trailer:
É inegável que existe uma certa miopia americana sobre a importância cultural no resto do mundo - claro que isso vem mudando ao longo dos anos, mas aqui estamos falando de uma cidadezinha do interior de Ohio onde a memória afetiva do local está diretamente ligada a um símbolo do capitalismo americano: a GM. Imagine, no entanto, que graças a globalização, esse cenário passe a impactar diretamente no inconsciente coletivo já que agora, os nativos estão à mercê dos imigrantes. Opa, mas isso seria possível depois do eterno discurso sobre o "american way of life" que ajudou a construir uma sociedade onde os subempregos eram relegados aos imigrantes e não aos americanos?
É nessa dicotomia que "Indústria Americana", dos diretores Steven Bognar e Julia Reichert, tenta equilibrar a formalidade do assunto com um interesse "sincero" pelas vidas - e aqui não me soou um "filme denúncia" e sim uma provocação das mais pertinentes nos dias de hoje. Se os executivos americanos da filial chinesa não conseguem alinhar a nova cultura com seus próprios compatriotas, por que não trazer um executivo chinês para jogar na cara desses mesmos americanos que seu povo é, de fato, melhor e mais produtivo? Esses embates são muito bem conduzidos pelo roteiro e vai fazendo com que nossa opinião vá mudando a cada nova situação - e talvez a melhor conclusão seja que ambos os lados estavam certos dentro o seu contexto cultural, mas muito errados ao não olhar o "diferente".
Existe uma tendência do filme pintar os chineses como tipos desumanizados, capitalistas, opressores e robotizados pelo pensamento industrial, em contraponto ao calor amigável e familiar do americano do Centro-Oeste - o que traz uma ironia genial para a história. Quando Bognar e Reichert enxergam esse potencial, naturalmente eles se afastam do estilo espalhafatoso Michael Moore retratava os trabalhadores de colarinho azul nos seus primeiros documentários, e fortalecem sua identidade.
Se alguém ainda tiver dúvida sobre a importância da cultura dentro de uma organização e a necessidade de adaptações nos processos e na comunicação durante a internacionalização, não perca tempo e dê o play - esse documentário mostra "da pior forma possível" como as diferenças podem destruir uma enorme oportunidade (para os dois lados)!
Vale muito a pena!
"Indústria Americana" é um recorte dos mais interessantes sobre o que não se deve fazer em um processo de internacionalização de uma empresa (ou no caso de uma indústria). O documentário vencedor do Oscar de 2020 é tão bem construído que fica tão evidente o choque cultural que, sinceramente, é impossível definir quem é o mocinho e quem é o bandido - e isso nos provoca uma excelente reflexão, já que em grande parte da história ouvimos sempre os dois lados.
No Estado de Ohio, durante um grande momento pós-industrial, um chinês bilionário se aproveita de um terreno abandonado da General Motors para criar uma filial da sua empresa de vidros automotivos, Fuyao, com a intenção de realizar uma grande mudança no cenário de Dayton (e obviamente lucrar muito com isso), após milhares de pessoas perderem emprego. Com a contratação de mais de dois mil trabalhadores locais, as perspectivas para cidade se amplificam, porém a cultura corporativa dos dois países são muito diferentes e é nesse momento que os embates ficam ainda mais sérios. Confira o trailer:
É inegável que existe uma certa miopia americana sobre a importância cultural no resto do mundo - claro que isso vem mudando ao longo dos anos, mas aqui estamos falando de uma cidadezinha do interior de Ohio onde a memória afetiva do local está diretamente ligada a um símbolo do capitalismo americano: a GM. Imagine, no entanto, que graças a globalização, esse cenário passe a impactar diretamente no inconsciente coletivo já que agora, os nativos estão à mercê dos imigrantes. Opa, mas isso seria possível depois do eterno discurso sobre o "american way of life" que ajudou a construir uma sociedade onde os subempregos eram relegados aos imigrantes e não aos americanos?
É nessa dicotomia que "Indústria Americana", dos diretores Steven Bognar e Julia Reichert, tenta equilibrar a formalidade do assunto com um interesse "sincero" pelas vidas - e aqui não me soou um "filme denúncia" e sim uma provocação das mais pertinentes nos dias de hoje. Se os executivos americanos da filial chinesa não conseguem alinhar a nova cultura com seus próprios compatriotas, por que não trazer um executivo chinês para jogar na cara desses mesmos americanos que seu povo é, de fato, melhor e mais produtivo? Esses embates são muito bem conduzidos pelo roteiro e vai fazendo com que nossa opinião vá mudando a cada nova situação - e talvez a melhor conclusão seja que ambos os lados estavam certos dentro o seu contexto cultural, mas muito errados ao não olhar o "diferente".
Existe uma tendência do filme pintar os chineses como tipos desumanizados, capitalistas, opressores e robotizados pelo pensamento industrial, em contraponto ao calor amigável e familiar do americano do Centro-Oeste - o que traz uma ironia genial para a história. Quando Bognar e Reichert enxergam esse potencial, naturalmente eles se afastam do estilo espalhafatoso Michael Moore retratava os trabalhadores de colarinho azul nos seus primeiros documentários, e fortalecem sua identidade.
Se alguém ainda tiver dúvida sobre a importância da cultura dentro de uma organização e a necessidade de adaptações nos processos e na comunicação durante a internacionalização, não perca tempo e dê o play - esse documentário mostra "da pior forma possível" como as diferenças podem destruir uma enorme oportunidade (para os dois lados)!
Vale muito a pena!
Seria muita ingenuidade acreditar que a minissérie documental da Netflix, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não se trata de um entretenimento de marca da Space X de Elon Musk . O fato é que essa característica em momento algum deve ser observada como demérito, pois os cinco episódios são simplesmente sensacionais! Imagine, estamos testemunhando algo grandioso, que há pouco tempo soaria loucura - são quatro civis indo para o espaço, acima da estação espacial e ainda por três dias.
Em setembro de 2021, uma jovem tripulação se lançou ao espaço visando, aproximadamente, uma órbita de 575 km, voando mais longe da Terra do que qualquer ser humano desde o Hubble. Liderada e comandada por Jared Isaacman, fundador e CEO da Shift4 Payments, a missão SpaceX Dragon, chamada Inspiration4, fez história. Dirigida pelo vencedor do Emmy Award, Jason Hehir (The Last Dance), a produção teve acesso exclusivo à missão, mostrando os bastidores onde os quatro membros da tripulação arrecadaram fundos e conscientizaram as pessoas para o trabalho feito pelo St. Jude Children’s Research Hospital. De sua seleção não convencional ao treinamento intensivo para astronautas que durou meses, passando por momentos íntimos que antecederam a decolagem, acompanhamos os sonhos que se tornaram realidade - com todos os desafios mentais, físicos e emocionais que vieram junto com eles. Confira o trailer (em inglês):
Como em "The Last Dance", Hehir dá um verdadeiro show ao nos colocar ao lado de cada um dos escolhidos para a missão! Não se trata apenas de acompanhar o dia a dia dos tripulantes até o lançamento, mas sim de dividir seus sentimentos a cada nova etapa dessa preparação. A forma como o diretor construiu a narrativa, equilibrando depoimentos dos protagonistas com as histórias da conquista espacial e de quem participou (e participa) desse movimento, é simplesmente sensacional - eu diria que é uma aula de storytelling com toques de MBA de liderança.
"Inspiration4 - Viagem Estelar" é muito (mas, muito) bem produzida - reparem na qualidade da fotografia do diretor Thomas McCallum, na montagem de Kimberly Brown, Devin Concannon, Paul Frost e Gabriel Garton, e até, claro, na trilha sonora que é simplesmente perfeita. É impressionante como a união desses três elementos, mais a direção de Hehir, cria uma atmosfera de expectativa, insegurança, nostalgia e drama, tão emocional, que vivenciamos junto com os protagonistas toda essa jornada única. Olha, não será uma ou duas vezes que você se emocionará - a história de Hayley Arceneaux, por exemplo, é de uma humanidade que acerta em cheio nosso coração!
Aliás, não só a formação da tripulação como a construção do elenco para a minissérie, é algo de se aplaudir de pé - temos tantos pontos para comentar, elogiar e discutir que só colabora com a afirmação de que essa minissérie é realmente imperdível.
Uma curiosidade que pode parecer irrelevante em tempos de streaming, mas que merece ser mencionada: essa produção foi desenvolvida pelaTIME Studios em parceria com a Known, e distribuída exclusivamente pela Netflix em um formato pouco usual para a plataforma: os dois primeiros episódios foram disponibilizados no seu lançamento (dia 6), os outros dois foram lançados uma semana depois e o capítulo final apenas no dia 30 de setembro - e você sabe o que aconteceu entre os dias 13 e 30 de setembro? A viagem espacial que justamente estava sendo documentada ou seja, quem acompanhou a história com base no dia dos lançamentos dos episódios teve a experiência de curtir a jornada da Inspiration4 quase em tempo real. Sensacional!
Vale muito seu play!
Seria muita ingenuidade acreditar que a minissérie documental da Netflix, "Inspiration4 - Viagem Estelar", não se trata de um entretenimento de marca da Space X de Elon Musk . O fato é que essa característica em momento algum deve ser observada como demérito, pois os cinco episódios são simplesmente sensacionais! Imagine, estamos testemunhando algo grandioso, que há pouco tempo soaria loucura - são quatro civis indo para o espaço, acima da estação espacial e ainda por três dias.
Em setembro de 2021, uma jovem tripulação se lançou ao espaço visando, aproximadamente, uma órbita de 575 km, voando mais longe da Terra do que qualquer ser humano desde o Hubble. Liderada e comandada por Jared Isaacman, fundador e CEO da Shift4 Payments, a missão SpaceX Dragon, chamada Inspiration4, fez história. Dirigida pelo vencedor do Emmy Award, Jason Hehir (The Last Dance), a produção teve acesso exclusivo à missão, mostrando os bastidores onde os quatro membros da tripulação arrecadaram fundos e conscientizaram as pessoas para o trabalho feito pelo St. Jude Children’s Research Hospital. De sua seleção não convencional ao treinamento intensivo para astronautas que durou meses, passando por momentos íntimos que antecederam a decolagem, acompanhamos os sonhos que se tornaram realidade - com todos os desafios mentais, físicos e emocionais que vieram junto com eles. Confira o trailer (em inglês):
Como em "The Last Dance", Hehir dá um verdadeiro show ao nos colocar ao lado de cada um dos escolhidos para a missão! Não se trata apenas de acompanhar o dia a dia dos tripulantes até o lançamento, mas sim de dividir seus sentimentos a cada nova etapa dessa preparação. A forma como o diretor construiu a narrativa, equilibrando depoimentos dos protagonistas com as histórias da conquista espacial e de quem participou (e participa) desse movimento, é simplesmente sensacional - eu diria que é uma aula de storytelling com toques de MBA de liderança.
"Inspiration4 - Viagem Estelar" é muito (mas, muito) bem produzida - reparem na qualidade da fotografia do diretor Thomas McCallum, na montagem de Kimberly Brown, Devin Concannon, Paul Frost e Gabriel Garton, e até, claro, na trilha sonora que é simplesmente perfeita. É impressionante como a união desses três elementos, mais a direção de Hehir, cria uma atmosfera de expectativa, insegurança, nostalgia e drama, tão emocional, que vivenciamos junto com os protagonistas toda essa jornada única. Olha, não será uma ou duas vezes que você se emocionará - a história de Hayley Arceneaux, por exemplo, é de uma humanidade que acerta em cheio nosso coração!
Aliás, não só a formação da tripulação como a construção do elenco para a minissérie, é algo de se aplaudir de pé - temos tantos pontos para comentar, elogiar e discutir que só colabora com a afirmação de que essa minissérie é realmente imperdível.
Uma curiosidade que pode parecer irrelevante em tempos de streaming, mas que merece ser mencionada: essa produção foi desenvolvida pelaTIME Studios em parceria com a Known, e distribuída exclusivamente pela Netflix em um formato pouco usual para a plataforma: os dois primeiros episódios foram disponibilizados no seu lançamento (dia 6), os outros dois foram lançados uma semana depois e o capítulo final apenas no dia 30 de setembro - e você sabe o que aconteceu entre os dias 13 e 30 de setembro? A viagem espacial que justamente estava sendo documentada ou seja, quem acompanhou a história com base no dia dos lançamentos dos episódios teve a experiência de curtir a jornada da Inspiration4 quase em tempo real. Sensacional!
Vale muito seu play!
"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.
Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):
Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima?
Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?
Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".
Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.
"Kimi" (que no Brasil ganhou o expositivo subtítulo "Alguém está escutando") é um curioso caso de "ame ou odeie" que vai se basear nas referências de quem assiste e, mais do que isso, na forma como a audiência vai encarar a proposta do diretor Steven Soderbergh (de "Mosaic"e "High Flying Bird"). Se você olhar a história pelo prisma de "Black Mirror" com "A Mulher na Janela", provavelmente, sua resposta será "ok, mas esperava mais"; porém se você enxergar em Angela traços de uma possível personagem de "Ruptura" é bem possível que sua experiência seja completamente diferente e seu veredito bem mais positivo - como foi no nosso caso, inclusive.
Na trama, Angela Childs (Zoë Kravitz) é uma funcionária que analisa áudios coletados de uma assistente de voz chamada Kimi. Certo dia ela descobre uma mensagem que sugere um crime violento e ao tentar relatá-lo aos seus superiores, ela se depara com uma conspiração muito mais complexa do que havia imaginado. Confira o trailer (em inglês):
Steven Soderbergh sempre foi um diretor diferenciado, disposto a experimentar novas gramáticas e conceitos visuais para contar sua história com um certo tom de modernidade - inclusive tecnológico. Cinéfilo assumido, Soderbergh aproveita de um roteiro simples do veterano David Koepp (de "Jurassic Park", "Missão: Impossível" e "Homem-Aranha", para citar apenas três blockbusters sob sua chancela) para construir uma narrativa que inicialmente se propõe a ser mais realista trazendo um ar de Alfred Hitchcock, mas que em seguida subverte a proposta com o intuito de impor um certo humor, mais ácido (eu diria), apoiado propositalmente em clichês que vão da paranóia tecnológica contemporânea ao corporativismo metido a disruptivo que beira o non-sense - entende a comparação feita acima?
Sem a menor dúvida que o diretor brilha ao deixar claro que sabe exatamente o que está fazendo ao dividir sua obra em duas abordagens completamente diferentes - para alguns isso pode soar confuso, para outros genial. Tenho a impressão (e aí posso estar influenciado pelo que representou "Ruptura") que a segunda metade tem mais brilho que a primeira, principalmente quando o roteiro se permite não se levar tanto a sério - ou você acha que ter um hacker russo que vive no apartamento da mãe, uma assistente de voz que te grava 24h por dia ou o comentário sobre os termos e condições de aplicativos que ninguém lê, não são, de fato, críticas veladas fantasiadas de esteriótipos?
Um elemento que funciona muito mais para a "forma" do que para o "conteúdo" é o fato da protagonista ser "agorafóbica" (quem sofre com agorafobia tem medo de situações que possam levá-lo a sensações de aprisionamento). Reparem como Soderbergh usa de sua câmera e do desenho de som para nos colocar dentro do sufocamento da personagem. Dito isso, "Kimi" tem o mérito de brincar com a seriedade do assunto sem se tornar superficial ou ter a pretensão de entregar um plot twist matador no terceiro ato. Não, o filme não é sobre isso, mesmo que decepcione alguns - essencialmente aqueles que não gostaram ou ainda não assistiram "Ruptura".
Aqui cabe uma observação: nossa análise não sugere nenhum tipo de comparação entre "Ruptura" e "Kimi" como obra, mas sim pelo tom irônico e critico que uma premissa realista, com base no universo tecnológico e corporativo, pode se tornar se houver a disposição para isso, ou seja, seu play vai muito além do entretenimento raso que o contexto poderia sugerir.
Imagine se o Mark Zuckerberg resolvesse criar um projeto que aparentemente parece impossível de realizar por questões tecnológicas e de logística, você investiria nessa ideia? "Linha Reta" (ou "The Hummingbird Project", no original) conta justamente essa história - inclusive com o Zuckerberg da ficção, Jesse Eisenberg, como protagonista.
O filme apresenta Vincent (Eisenberg) e Anton Zaleski (Alexander Skarsgård), funcionários de uma grande corretora que opera na bolsa de valores de Nova York e investe milhões em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para melhorar sua performance e gerar ainda mais lucro para a empresa graças a essas inovações. Ambiciosos, os dois resolvem se demitir para começar um novo empreendimento que promete revolucionar a maneira como o processo de compra e venda de ações acontece - eles queriam construir um cabo de fibra ótica, em linha reta, entre a Bolsa de Valores do Kansas e a de Nova York que geraria uma velocidade superior ao da concorrência, dando assim uma vantagem importante na escala das negociações. O grande problema: eles não sabiam exatamente se a tecnologia funcionaria com a velocidade que prometiam e se, na prática, seria possível traçar essa linha reta imaginária que cruzaria o país, devido aos desafios geográficos do percurso. Confira o trailer:
Embora o filme seja muito interessante e curioso, ele certamente vai dialogar melhor com aqueles que estão, de alguma forma, envolvidos com o universo do empreendedorismo - são tantas lições que fica até difícil enumerar. Talvez o grande elemento dramático que move a narrativa seja justamente a vontade de transformar uma ideia em algo real, custe o que custar (e no caso foram bilhões de dólares). A linha tênue entre ser resiliente e ser teimoso também está presente, em diferentes formas, na construção da personalidade dos dois personagens - se Vincent é o Steve Jobs, Zaleski é seu Wosniak.
Apesar de o roteiro do canadense Kim Nguyen, que também dirige o filme, conseguir equilibrar uma proposta que mistura a jornada empreendedora com entretenimento (tão bem realizado pela dupla Fincher/Sorkin em "A Rede Social"), a dinâmica da narrativa pode prejudicar a percepção sobre o filme - muitas pessoas vão achar ele lento. Sinceramente não acho que seja o caso. Nguyen também é muito competente tecnicamente, discreto eu diria. Minha única critica diz respeito a direção de atores: ele transformou os personagens de Skarsgård (o nerd, desenvolvedor, introspectivo) e de Salma Hayek (a empresária, ambiciosa, sem escrúpulos) em esteriótipos desnecessários - embora tragam algum alívio cômico para a trama, essa composição gera uma sensação de distanciamento da realidade.
A técnica do PDCA (Promete Depois Corre Atrás) tão comum no meio startupeiro envolve alguns riscos e "Linha Reta" explora muito bem esse elemento, principalmente na relação dos empreendedores com os investidores e depois no impacto que a pressão pelo sucesso (e daquele retorno financeiro prometido) tem na saúde e nas interações com equipe e sócios. O roteiro trabalha muito bem aquele tão falado conceito de "montanha russa" da jornada, onde o tempo e a concorrência podem se tornar definir o sucesso ou o fracasso, e por essa razão não acho que o filme seja sobre "ganância", mas sim sobre "limites" (ou a falta deles) para ser a primeira ou a melhor solução para um problema.
Vale muito o seu play!
Imagine se o Mark Zuckerberg resolvesse criar um projeto que aparentemente parece impossível de realizar por questões tecnológicas e de logística, você investiria nessa ideia? "Linha Reta" (ou "The Hummingbird Project", no original) conta justamente essa história - inclusive com o Zuckerberg da ficção, Jesse Eisenberg, como protagonista.
O filme apresenta Vincent (Eisenberg) e Anton Zaleski (Alexander Skarsgård), funcionários de uma grande corretora que opera na bolsa de valores de Nova York e investe milhões em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para melhorar sua performance e gerar ainda mais lucro para a empresa graças a essas inovações. Ambiciosos, os dois resolvem se demitir para começar um novo empreendimento que promete revolucionar a maneira como o processo de compra e venda de ações acontece - eles queriam construir um cabo de fibra ótica, em linha reta, entre a Bolsa de Valores do Kansas e a de Nova York que geraria uma velocidade superior ao da concorrência, dando assim uma vantagem importante na escala das negociações. O grande problema: eles não sabiam exatamente se a tecnologia funcionaria com a velocidade que prometiam e se, na prática, seria possível traçar essa linha reta imaginária que cruzaria o país, devido aos desafios geográficos do percurso. Confira o trailer:
Embora o filme seja muito interessante e curioso, ele certamente vai dialogar melhor com aqueles que estão, de alguma forma, envolvidos com o universo do empreendedorismo - são tantas lições que fica até difícil enumerar. Talvez o grande elemento dramático que move a narrativa seja justamente a vontade de transformar uma ideia em algo real, custe o que custar (e no caso foram bilhões de dólares). A linha tênue entre ser resiliente e ser teimoso também está presente, em diferentes formas, na construção da personalidade dos dois personagens - se Vincent é o Steve Jobs, Zaleski é seu Wosniak.
Apesar de o roteiro do canadense Kim Nguyen, que também dirige o filme, conseguir equilibrar uma proposta que mistura a jornada empreendedora com entretenimento (tão bem realizado pela dupla Fincher/Sorkin em "A Rede Social"), a dinâmica da narrativa pode prejudicar a percepção sobre o filme - muitas pessoas vão achar ele lento. Sinceramente não acho que seja o caso. Nguyen também é muito competente tecnicamente, discreto eu diria. Minha única critica diz respeito a direção de atores: ele transformou os personagens de Skarsgård (o nerd, desenvolvedor, introspectivo) e de Salma Hayek (a empresária, ambiciosa, sem escrúpulos) em esteriótipos desnecessários - embora tragam algum alívio cômico para a trama, essa composição gera uma sensação de distanciamento da realidade.
A técnica do PDCA (Promete Depois Corre Atrás) tão comum no meio startupeiro envolve alguns riscos e "Linha Reta" explora muito bem esse elemento, principalmente na relação dos empreendedores com os investidores e depois no impacto que a pressão pelo sucesso (e daquele retorno financeiro prometido) tem na saúde e nas interações com equipe e sócios. O roteiro trabalha muito bem aquele tão falado conceito de "montanha russa" da jornada, onde o tempo e a concorrência podem se tornar definir o sucesso ou o fracasso, e por essa razão não acho que o filme seja sobre "ganância", mas sim sobre "limites" (ou a falta deles) para ser a primeira ou a melhor solução para um problema.
Vale muito o seu play!
Simplesmente impressionante e surpreendente - eu diria que é uma mistura equilibrada e muito bem construída de "Devs"e "Ruptura" com um leve toque do saudoso "Fringe"! "Matéria Escura", criada por Blake Crouch para a Apple TV+, é uma adaptação de seu próprio romance de ficção científica lançado em 2016. A série mergulha profundamente em temas como identidade, livre-arbítrio e realidades alternativas, proporcionando uma narrativa de fato envolvente e cheia de mistério e suspense, com elementos de uma complexa cadeia de ficção e ciência. Com uma premissa que explora as infinitas possibilidades da física quântica e as escolhas espirituais que definem nossas vidas, "Matéria Escura" cumpre a promessa de não apenas entreter, mas também de desafiar a audiência a refletir sobre as questões filosóficas que a história levanta com muita sabedoria.
A trama em si gira em torno de Jason Dessen (Joel Edgerton), um professor de física quântica cuja vida aparentemente comum é subitamente virada de cabeça para baixo quando ele é sequestrado e transportado para uma realidade paralela. Nessa nova realidade, Jason não é o homem de família simples que conhecemos, mas sim um renomado cientista que fez uma descoberta revolucionária sobre viagem entre universos paralelos. A série parte da busca de Jason para voltar à sua realidade original e à sua família, especialmente para sua mulher Daniela Vargas Dessen (Jennifer Connelly), enquanto navega pelas consequências de suas escolhas em múltiplos universos onde enfrenta versões alternativas de si mesmo. Confira o trailer:
É inegável;avel que a premissa central da série é ao mesmo tempo fascinante e complexa. A ideia de universos paralelos e as infinitas ramificações de cada escolha feita na vida de uma pessoa são habilmente exploradas por Blake Crouch, tanto no romance quanto na série. A física quântica e a teoria dos muitos mundos servem de base para a narrativa, mas "Matéria Escura" não se limita a ser apenas uma história de ficção científica; é também um drama emocional poderoso sobre a natureza das nossas decisões e o desejo universal de encontrar o nosso propósito e felicidade em meio às incertezas inerentes da nossa jornada. O roteiro é tão bem estruturado, com diálogos que equilibram a exposição científica necessária com momentos emocionais mais profundos, que nos sentimos bem confortáveis qualquer que seja o assunto. As questões filosóficas que surgem ao longo da série, como "O que define quem somos?" ou "As nossas escolhas realmente importam?", são abordadas de maneira direta, sem se tornarem excessivamente complicadas ou abstratas - isso, ao meu olhar, é o golaço da série!
Visualmente impressionante, "Matéria Escura" tem uma fotografia muito interessante que reflete o caos e a estranheza dos universos paralelos que Jason atravessa - mérito de John Lindley (de Your Honor") e de Jeffrey Greeley (especialista em efeitos especiais de "Jurrassic Park"). Os enquadramentos entregam cenários que variam de um mundo para o outro, desde paisagens distópicas até versões ligeiramente diferentes da nossa realidade, sempre mantendo a audiência imersa nas possibilidades infinitas desse multiverso. A Apple TV+, aliás, investiu pesado em efeitos visuais de alta qualidade aqui, o que foi essencial para tornar realista as transições entre as várias realidades que encontramos durante a jornada. Reparem como essas mudanças visuais ajudam a criar uma atmosfera de constante desorientação, refletindo o estado psicológico de Jason conforme ele perde a noção do que é real.
Antes de finalizar, é preciso comentar que, embora a ciência seja parte integrante da história, pode ser difícil para os menos familiarizados com esse conceito de mundos paralelos acompanhar todos os detalhes técnicos sem se sentir perdido em algum momento. Mesmo com o ritmo narrativo variando entre episódios, o impacto emocional da trama está sempre apoiado nas teses mais divertidas da física quântica, ou seja, a proposta de Crouch é mesmo o de provocar (para não dizer fritar) nosso intelecto, mas sem ser bitolado demais. Olha, para os fãs de ficção científica que apreciam uma boa dose de filosofia e drama, essa série oferece uma experiência realmente imersiva que sabe misturar entretenimento com uma exploração menos superficial de questões universais sobre a vida como entendemos!
Intrigante e que vai fazer valer muito o seu play!
Simplesmente impressionante e surpreendente - eu diria que é uma mistura equilibrada e muito bem construída de "Devs"e "Ruptura" com um leve toque do saudoso "Fringe"! "Matéria Escura", criada por Blake Crouch para a Apple TV+, é uma adaptação de seu próprio romance de ficção científica lançado em 2016. A série mergulha profundamente em temas como identidade, livre-arbítrio e realidades alternativas, proporcionando uma narrativa de fato envolvente e cheia de mistério e suspense, com elementos de uma complexa cadeia de ficção e ciência. Com uma premissa que explora as infinitas possibilidades da física quântica e as escolhas espirituais que definem nossas vidas, "Matéria Escura" cumpre a promessa de não apenas entreter, mas também de desafiar a audiência a refletir sobre as questões filosóficas que a história levanta com muita sabedoria.
A trama em si gira em torno de Jason Dessen (Joel Edgerton), um professor de física quântica cuja vida aparentemente comum é subitamente virada de cabeça para baixo quando ele é sequestrado e transportado para uma realidade paralela. Nessa nova realidade, Jason não é o homem de família simples que conhecemos, mas sim um renomado cientista que fez uma descoberta revolucionária sobre viagem entre universos paralelos. A série parte da busca de Jason para voltar à sua realidade original e à sua família, especialmente para sua mulher Daniela Vargas Dessen (Jennifer Connelly), enquanto navega pelas consequências de suas escolhas em múltiplos universos onde enfrenta versões alternativas de si mesmo. Confira o trailer:
É inegável;avel que a premissa central da série é ao mesmo tempo fascinante e complexa. A ideia de universos paralelos e as infinitas ramificações de cada escolha feita na vida de uma pessoa são habilmente exploradas por Blake Crouch, tanto no romance quanto na série. A física quântica e a teoria dos muitos mundos servem de base para a narrativa, mas "Matéria Escura" não se limita a ser apenas uma história de ficção científica; é também um drama emocional poderoso sobre a natureza das nossas decisões e o desejo universal de encontrar o nosso propósito e felicidade em meio às incertezas inerentes da nossa jornada. O roteiro é tão bem estruturado, com diálogos que equilibram a exposição científica necessária com momentos emocionais mais profundos, que nos sentimos bem confortáveis qualquer que seja o assunto. As questões filosóficas que surgem ao longo da série, como "O que define quem somos?" ou "As nossas escolhas realmente importam?", são abordadas de maneira direta, sem se tornarem excessivamente complicadas ou abstratas - isso, ao meu olhar, é o golaço da série!
Visualmente impressionante, "Matéria Escura" tem uma fotografia muito interessante que reflete o caos e a estranheza dos universos paralelos que Jason atravessa - mérito de John Lindley (de Your Honor") e de Jeffrey Greeley (especialista em efeitos especiais de "Jurrassic Park"). Os enquadramentos entregam cenários que variam de um mundo para o outro, desde paisagens distópicas até versões ligeiramente diferentes da nossa realidade, sempre mantendo a audiência imersa nas possibilidades infinitas desse multiverso. A Apple TV+, aliás, investiu pesado em efeitos visuais de alta qualidade aqui, o que foi essencial para tornar realista as transições entre as várias realidades que encontramos durante a jornada. Reparem como essas mudanças visuais ajudam a criar uma atmosfera de constante desorientação, refletindo o estado psicológico de Jason conforme ele perde a noção do que é real.
Antes de finalizar, é preciso comentar que, embora a ciência seja parte integrante da história, pode ser difícil para os menos familiarizados com esse conceito de mundos paralelos acompanhar todos os detalhes técnicos sem se sentir perdido em algum momento. Mesmo com o ritmo narrativo variando entre episódios, o impacto emocional da trama está sempre apoiado nas teses mais divertidas da física quântica, ou seja, a proposta de Crouch é mesmo o de provocar (para não dizer fritar) nosso intelecto, mas sem ser bitolado demais. Olha, para os fãs de ficção científica que apreciam uma boa dose de filosofia e drama, essa série oferece uma experiência realmente imersiva que sabe misturar entretenimento com uma exploração menos superficial de questões universais sobre a vida como entendemos!
Intrigante e que vai fazer valer muito o seu play!
"Mercado de Capitais" já sai perdendo logo de cara por não traduzir o título original (Equity) de uma forma mais atraente e criativa. É claro que o fato de não atrair o assinante, não desmerece o filme - ele é bom como entretenimento. É possível encontrar vários momentos interessantes com uma forte protagonista feminina (Anna Gunn de "Breaking Bad"), mas que precisa se esforçar para aliviar um roteiro cheio de clichês e esteriótipos - esse me pareceu o único problema do filme.
"Mercado de Capitais" tem um argumento interessante e um cenário relevante hoje em dia, pois conta a história de Naomi Bishop (Gunn), dona de um alto cargo em um banco de investimentos americano, especializada em IPOs. A caminho de uma esperada promoção, ela precisa lidar com um erro de avaliação em seu último processo de abertura de capital que custou milhões de dólares para sua empresa e um pesado rótulo na sua vida profissional. Confira o trailer:
Vale dizer que o filme mostra um lado menos romântico do mercado de investimentos e isso tem o seu valor, mas a falta de consistência do roteiro, se aprofundar um pouco mais, melhorar alguns diálogos completamente fora de propósito e equilibrar uma necessidade enorme de levantar algumas bandeiras ideológicas, tudo isso prejudica muito a estrutura narrativa, mas ainda assim não destrói o filme. Talvez o ponto alto seja o final do segundo ato e o terceiro ato inteiro - isso nos traz uma sensação agradável ao terminar o filme, o que preocupa é se a audiência terá paciência de chegar até lá!
"Mercado de Capitais" deixa claro que pretende focar no empoderamento feminino em um ambiente dominado por homens. Até aí nenhum problema, porém a forma como essa dinâmica é apresentada soa um pouco forçada - mais nos afastamos, do que entendemos o valor da proposta. Mas é preciso dizer também que o roteiro foi muito feliz em não poupar a protagonista de todas suas falhas pessoais e profissionais e de não subverter o óbvio, porém a ideia de se apoiar em tantos clichês, acaba nos interessando muito mais pela fantasia que é construída do que pela realidade dos fatos em si, ou seja, nos divertimos com o filme, mas não nos importamos tanto com a protagonista como deveríamos.
Grande parte do orçamento do filme foi financiado por mulheres que trabalham ou já trabalharam no mercado financeiro dos EUA. Elas também ajudaram as realizadoras contando suas histórias e as dificuldades de se trabalhar em uma indústria dominada por homens egocêntricos, ambiciosos e poderosos. O filme realmente mostra o potencial que essas histórias tem, porém quando se quer tudo, acaba sem nada - o roteiro da novata Amy Fox é cheio de furos e a direção da Meera Menon vai para o mesmo caminho: se aprofundar em situações que não levam a protagonista a lugar algum. De fato "Mercado de Capitais" poderia ser uma série excelente, cheio da reviravoltas, mas se transformou em um filme bom, porém previsível.
Vale pelo entretenimento e pelo seu final bem interessante!
"Mercado de Capitais" já sai perdendo logo de cara por não traduzir o título original (Equity) de uma forma mais atraente e criativa. É claro que o fato de não atrair o assinante, não desmerece o filme - ele é bom como entretenimento. É possível encontrar vários momentos interessantes com uma forte protagonista feminina (Anna Gunn de "Breaking Bad"), mas que precisa se esforçar para aliviar um roteiro cheio de clichês e esteriótipos - esse me pareceu o único problema do filme.
"Mercado de Capitais" tem um argumento interessante e um cenário relevante hoje em dia, pois conta a história de Naomi Bishop (Gunn), dona de um alto cargo em um banco de investimentos americano, especializada em IPOs. A caminho de uma esperada promoção, ela precisa lidar com um erro de avaliação em seu último processo de abertura de capital que custou milhões de dólares para sua empresa e um pesado rótulo na sua vida profissional. Confira o trailer:
Vale dizer que o filme mostra um lado menos romântico do mercado de investimentos e isso tem o seu valor, mas a falta de consistência do roteiro, se aprofundar um pouco mais, melhorar alguns diálogos completamente fora de propósito e equilibrar uma necessidade enorme de levantar algumas bandeiras ideológicas, tudo isso prejudica muito a estrutura narrativa, mas ainda assim não destrói o filme. Talvez o ponto alto seja o final do segundo ato e o terceiro ato inteiro - isso nos traz uma sensação agradável ao terminar o filme, o que preocupa é se a audiência terá paciência de chegar até lá!
"Mercado de Capitais" deixa claro que pretende focar no empoderamento feminino em um ambiente dominado por homens. Até aí nenhum problema, porém a forma como essa dinâmica é apresentada soa um pouco forçada - mais nos afastamos, do que entendemos o valor da proposta. Mas é preciso dizer também que o roteiro foi muito feliz em não poupar a protagonista de todas suas falhas pessoais e profissionais e de não subverter o óbvio, porém a ideia de se apoiar em tantos clichês, acaba nos interessando muito mais pela fantasia que é construída do que pela realidade dos fatos em si, ou seja, nos divertimos com o filme, mas não nos importamos tanto com a protagonista como deveríamos.
Grande parte do orçamento do filme foi financiado por mulheres que trabalham ou já trabalharam no mercado financeiro dos EUA. Elas também ajudaram as realizadoras contando suas histórias e as dificuldades de se trabalhar em uma indústria dominada por homens egocêntricos, ambiciosos e poderosos. O filme realmente mostra o potencial que essas histórias tem, porém quando se quer tudo, acaba sem nada - o roteiro da novata Amy Fox é cheio de furos e a direção da Meera Menon vai para o mesmo caminho: se aprofundar em situações que não levam a protagonista a lugar algum. De fato "Mercado de Capitais" poderia ser uma série excelente, cheio da reviravoltas, mas se transformou em um filme bom, porém previsível.
Vale pelo entretenimento e pelo seu final bem interessante!