Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!
A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):
O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil. Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.
A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.
Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.
Imperdível!
Simplesmente genial - ao lado de "Pobres Criaturas" talvez o mais criativo entre os indicados ao Oscar de "Melhor Filme" em 2024. "Ficção Americana" é uma verdadeira viagem metalinguística pelas contradições da indústria cultural pela perspectiva do afro-americano. Imperdível pela sua proposta narrativa, o filme discute temas extremamente sensíveis a partir de sátiras muito inteligentes e pontuações dramáticas bastante reflexivas. Dirigido pelo Cord Jefferson (de "Watchmen") e baseado no livro "Erasure" de Percival Everett, o filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator para Jeffrey Wright. Olha, prepare-se para mergulhar em uma crítica mordaz e perspicaz sobre os mecanismos do mercado editorial (e cinematográfica) e os estereótipos que permeiam a sociedade americana até hoje. Muito bom!
A trama basicamente acompanha a jornada de Thelonious 'Monk' Ellison (Jeffrey Wright), um escritor afro-americano respeitado por seus romances que exploram temas universais, embora não necessariamente raciais. Cansado de fugir de alguns rótulos e pressionado a escrever apenas sobre o que se espera dele, Monk decide subverter as expectativas e embarcar em um novo projeto: um romance superficial baseado em esteriótipos da cultura "black". A partir dessa escolha ousada, acompanhamos as repercussões na vida do autor, tanto em sua carreira profissional quanto em seus relacionamentos pessoais. Confira o trailer (em inglês):
O que torna "Ficção Americana" tão especial é a maneira como o roteiro tece uma complexa teia de metalinguagem, humor e drama ao criticar de forma inteligente a obsessão, especialmente de grande parte do público branco americano, em consumir vorazmente histórias negras que sejam caricatas, ou seja, cheias de violência, traumas e racismo, limitando a realidade de milhões de pessoas a uma simples prateleira de sofrimento e injustiça. O interessante, no entanto, é que Jefferson sabe muito bem onde está pisando e com sabedoria usa seus personagens para equilibrar a discussão, evitando uma polarização até certo ponto infantil. Repare como o diretor brinca com as expectativas da audiência, subvertendo clichês e criando situações inusitadas para dizer o óbvio, mas sem ofender - as colocações preconceituosas da mãe de Monk sobre raça, sexo e ideologia, são ótimos exemplos.
A performance de Jeffrey Wright é um verdadeiro espetáculo - o ator entrega um personagem cheio de camadas, carregado de nuances e contradições - marcas que a vida foi deixando e que naturalmente foi afastando as pessoas. As cenas com seu irmão recém-divorciado e gay, Cliff (Sterling K. Brown), são impagáveis - sempre no tom certo. Sua química com a atriz Erika Alexander, que interpreta seu par amoroso, Coraline, é outro destaque que merece ser observado com atenção - existe uma admiração dela por ele, mas isso não a impede de contrapor suas opiniões ou se posicionar perante o humor de Monk. A direção de Jefferson é segura ao perceber essas nuances entre os personagens, e de forma muito elegante utiliza de recursos puramente técnicos para não aparecer mais que sua história - embora tenha sido sempre muito criativo quando demandado.
Monk e sua família são de classe média alta, com carreiras estabelecidas e diplomas de medicina no currículo, estão sempre tomando vinho (o que surpreende até o produtor de cinema Wiley Valdespino, em uma ótima participação especial de Adam Brody), ou seja, são completamente estranhos ao clichê da violência ou da dificuldade social vividas pelos afro-americanos. Isso quer dizer que os Ellison não tem problemas? Claro que não e é por isso que "American Fiction" (no original) é um filme tão inteligente quanto provocativo e memorável. Uma obra que sabe o poder da sátira afiada e ácida, mas nunca gratuita, sempre servindo para provocar reflexões sobre os estereótipos que permeiam a indústria cultural e as relações raciais nos Estados Unidos.
Imperdível!
É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!
O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.
A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight").
"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.
Vale muito o seu play!
É praticamente impossível assistir "Filhos de Ninguém" sem sentir vergonha pelo ser humano que se apoia na ignorância e na intolerância para definir quem é digno de ter uma vida digna - e essa redundância é proposital, já que "Farming" (no original) foi dirigido e escrito pelo Adewale Akinnuoye-Agbaje, o Mr. Eko de "Lost", e é baseado em eventos brutais de sua vida nas décadas de 1960 e 1980, quando seus pais, imigrantes nigerianos, o deixaram em um lar adotivo onde o "amor" não existia, dentro e fora de casa, em uma Londres racista e segregadora. E atenção, embora o filme não seja um primor estético, afinal Agbaje nem diretor é, o seu roteiro é potente e sua narrativa é realmente impactante. Eu diria que o filme é quase um acerto de contas do diretor com sua história!
O filme gira em torno de Enitan (Damson Idris), um jovem negro criado por uma família branca britânica, após ser deixado aos cuidados deles por seus pais biológicos que desejavam uma vida melhor para ele no Reino Unido. No entanto, ao crescer em uma comunidade predominantemente branca, Enitan sofre bullying e racismo em todos os ambientes que frequenta até que, desesperado por aprovação social, acaba se tornando membro de uma gangue de skinheads conhecida na região pela extrema violência contra imigrantes e negros. Confira o trailer (em inglês):
Obviamente que temos uma conexão imediata com o protagonista, ainda criança, por tudo que ele passa no seu lar adotivo. O roteiro é extremamente feliz em trabalhar os diálogos ofensivos dos personagens secundários com a mesma violência com que mostra um ataque dos skinheads a Eni. Essa dinâmica narrativa nos provoca reflexões profundas ao mesmo tempo que nos joga para uma realidade muitas vezes difícil de mensurar sem estar ali, vendo e sofrendo com a vitima. O filme explora questões complexas de identidade, pertencimento, racismo e xenofobia para lançar uma luz sobre a história pouco conhecida de "farming" - um fenômeno real em que jovens negros imigrantes eram entregues para famílias brancas britânicas na esperança de uma vida melhor e acabavam sendo submetidos a abusos e exploração impressionantes.
A relação de Akinnuoye-Agbaje com a história, obviamente, é visceral e se como diretor de cena talvez ele falhe ao reproduzir visualmente o drama do seu protagonista, pode ter certeza que sua participação na construção de personagens tão palpáveis foi essencial. Tanto o jovem Zephan Hanson Amissah quanto Damson Idris, como Enitan em diferentes fases da vida, entregam performances dignas de prêmios - essencialmente no silêncio e no olhar! Kate Beckinsale como Ingrid Carpenter, a mãe adotiva, também faz um trabalho "odioso", porém irretocável! Veja, pela relação (das)humana entre os personagens é facilmente perceptível como o roteiro tem alma - o que nos faz imaginar o que seria desse texto em um filme dirigido por alguém, digamos, mais cascudo como Peter Farrelly (de "Green Book") ou Barry Jenkins (de "Moonlight").
"Filhos de Ninguém"recebeu críticas mistas da mídia e do público - algumas pessoas elogiaram a coragem do diretor em abordar um tema sensível e tão pessoal, enquanto outras sentiram que a narrativa ficou confusa e sem foco. Na nossa visão, as críticas perdem o fundamento quando imergimos na jornada de Enitan e nos relacionamos emocionalmente com ela, olhando para o problema sob uma perspectiva mais humana, nos obrigando a fazer uma auto-análise de como podemos mudar as coisas - mesmo sabendo que hoje, 40 anos depois, elas estão longe de serem diferentes.
Vale muito o seu play!
Dos indicados ao Oscar de 2019 na categoria "Melhor Filme", "Green Book" é sem dúvida o mais sensível!!! É uma espécie de "Sideways" com "Intouchables" no que há de melhor dos dois filmes.
Em um período onde a segregação racial imperava, o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) resolve recrutar um motorista, Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), para acompanhar-lo em uma turnê pelo sul dos EUA. O titulo do filme é uma referência ao guia usado na época para orientar os negros que viajavam pela região. Nele, eram indicados os hotéis, restaurantes e outros locais onde os negros tinham permissão para circular (e de fato esse guia existiu).
Agora fica fácil imaginar o quanto a amizade improvável dos dois personagens fortalece a relação da audiência com o filme - e o diretor Peter Farrelly (de "Debi & Lóide 2"- isso mesmo meu amigo, o cara está no Oscar agora...rs) não faz questão nenhuma de esconder essa sua estratégia - e ele entrega um grande filme!!!!!
"Green Book" recebeu 5 indicações: (1) "Edição", esquece, não vai levar - embora seja uma montagem muito competente, não trás elementos que justificariam uma vitória sobre "Vice", por exemplo! (2) "Roteiro Original", tem chance, mas a briga é de cachorro grande com "Vice" e "Roma"! (3) "Ator Coadjuvante", Mahershala Ali está incrível no personagem e é a minha aposta! (4) "Ator", Viggo Mortensen mereceu a indicação, é sua terceira e talvez a mais forte delas, mas em uma categoria com Christian Bale e Rami Malek acho muito improvável - uma pena, porque seria merecidíssimo! (5) "Filme", olha, vou dizer uma coisa que disse quando assisti "Moonlight" e "O Artista", não vou me surpreender se ganhar - é difícil, mas tem tantos elementos que a Academia adora, que é factível uma vitória correndo por fora!!!
O fato é que "Green Book" é um grande filme e se não tem a elegância cinematográfica de "Roma", tem, talvez, o único elemento que falta para "Roma" se tornar uma unanimidade: o carisma!!! Assista e me agradeça eternamente, vale muito o play!!!
Up-date: "Green Book" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Roteiro Original, Ator Coadjuvante e Melhor Filme"!
Dos indicados ao Oscar de 2019 na categoria "Melhor Filme", "Green Book" é sem dúvida o mais sensível!!! É uma espécie de "Sideways" com "Intouchables" no que há de melhor dos dois filmes.
Em um período onde a segregação racial imperava, o pianista Don Shirley (Mahershala Ali) resolve recrutar um motorista, Tony Vallelonga (Viggo Mortensen), para acompanhar-lo em uma turnê pelo sul dos EUA. O titulo do filme é uma referência ao guia usado na época para orientar os negros que viajavam pela região. Nele, eram indicados os hotéis, restaurantes e outros locais onde os negros tinham permissão para circular (e de fato esse guia existiu).
Agora fica fácil imaginar o quanto a amizade improvável dos dois personagens fortalece a relação da audiência com o filme - e o diretor Peter Farrelly (de "Debi & Lóide 2"- isso mesmo meu amigo, o cara está no Oscar agora...rs) não faz questão nenhuma de esconder essa sua estratégia - e ele entrega um grande filme!!!!!
"Green Book" recebeu 5 indicações: (1) "Edição", esquece, não vai levar - embora seja uma montagem muito competente, não trás elementos que justificariam uma vitória sobre "Vice", por exemplo! (2) "Roteiro Original", tem chance, mas a briga é de cachorro grande com "Vice" e "Roma"! (3) "Ator Coadjuvante", Mahershala Ali está incrível no personagem e é a minha aposta! (4) "Ator", Viggo Mortensen mereceu a indicação, é sua terceira e talvez a mais forte delas, mas em uma categoria com Christian Bale e Rami Malek acho muito improvável - uma pena, porque seria merecidíssimo! (5) "Filme", olha, vou dizer uma coisa que disse quando assisti "Moonlight" e "O Artista", não vou me surpreender se ganhar - é difícil, mas tem tantos elementos que a Academia adora, que é factível uma vitória correndo por fora!!!
O fato é que "Green Book" é um grande filme e se não tem a elegância cinematográfica de "Roma", tem, talvez, o único elemento que falta para "Roma" se tornar uma unanimidade: o carisma!!! Assista e me agradeça eternamente, vale muito o play!!!
Up-date: "Green Book" ganhou em três categorias no Oscar 2019: Roteiro Original, Ator Coadjuvante e Melhor Filme"!
A minissérie "Hollywood", nova produção da Netflix com o carimbo do badalado showrunner Ryan Murphy ("Feud", "Glee" e "Nip Tuck"), tem muitos acertos e algumas transgressões, mas depois de assistir os sete episódios fiquei com a sensação de que o projeto poderia ter ido muito além do que foi em um ponto muito particular: o roteiro! Para tudo fazer um pouco mais de sentido, te convido a assistir o trailer:
Ao assistir o trailer temos a impressão que estamos diante da melhor minissérie que um amante da sétima arte poderia sonhar: uma excelente produção, ótimos atores, uma história real muito cativante e, claro, tudo isso embrulhado perfeitamente com o glamour e o charme do universo do cinema americano! Pois bem, acontece que "Hollywood" não sustenta essa expectativa ao escolher soluções narrativas mais fáceis e, por incrível que pareça, acaba se perdendo na falta de identidade.
No final da década de 1940, diversos jovens desembarcavam em Los Angeles com a esperança de se tornarem famosos e reconhecidos no cinema. Entretanto, para chamar atenção na multidão, os aspirantes ao estrelato precisavam sobreviver em uma cidade muitas vezes cruel e ainda dar a sorte de conhecer as pessoas certas. É nesse contexto que o ex-soldado Jack Castello (David Corenswet) passa a se prostituir enquanto espera por uma oportunidade de se tornar ator. No meio dessa jornada, ele conhece Archie Coleman (Jeremy Pope), um roteirista negro e gay, o jovem diretor Raymond Ainsley (Darren Chris) e a milionária Avis Amberg (Patti LuPone), casada com o dono de um dos maiores Estúdios de Cinema dos EUA, o ACE Studios!
Questões como assédio, abuso de poder e preconceito são elementos exaustivamente discutidos da minissérie, porém com um enfoque diferente do que estamos acostumados: os homens são as vítimas, retratando assim, em uma mesma tacada, tanto o movimento gay, como as perseguições raciais nos bastidores da Era de Ouro do Cinema Americano! Quase como um manifesto, o que vemos nos episódios não é exatamente o que se dá a entender que veremos pelo trailer! A minissérie não economiza em nenhum tipo de cena: nas relações pessoais, amorosas ou na prostituição, até no diálogo mais ácido sobre alguns assuntos bem pesados! De fato não é uma minissérie que vai agradar a todos justamente por isso, mas há de se destacar a coragem em mostrar a realidade, por mais que possa nos incomodar (e não estou falando de um assunto em particular e sim do todo)! Vale o play, mas com essas ressalvas e algumas outras que discuto à seguir!
Quando o roteiro assume sua clara preocupação em priorizar a forma e não o conteúdo, "Hollywood" perde sua alma! Escrevo isso com dor no coração, pois era uma oportunidade de ouro. Reparem na trama: precisando de dinheiro para cuidar da esposa grávida e sem conseguir uma oportunidade como figurante em um filme, Jack Castello é aliciado pelo dono de um posto de gasolina que, além de encher o tanque dos carros, serve de fachada para serviços sexuais. Embora Jack recuse se prostituir com outros homens (como era de costume aliás), ele cede à necessidade de sobrevivência e se dispõe a sair com mulheres ricas - é aí que conhece Avis Amberg e sua vida começa a mudar.Em paralelo somos apresentados a história de mais alguns personagens intrigantes, mas que vão parecer pouco explorados: Archie Coleman, também trabalha no posto - ele gerou interesse do Estúdio ao ter seu roteiro (que enviou pelo correio) lido por um dos produtores. Sabendo desse interesse, ele precisa esconder do dono do Estúdio que é negro e gay enquanto não assina o contrato de produção. Já Camille Washington (Laura Harrier), é uma excelente atriz que sempre acaba em papéis secundários justamente por também ser negra e por fim, Henry Wilson (Jim Parsons), um importante agente de talentos bastante conhecido por transformar bons atores em estrelas de cinema, em troca de favores sexuais.
Com um tom muito parecido com os dois primeiros atos de "Era uma vez em… Hollywood", mas sem o brilhantismo de Quentin Tarantino para conduzir a história, "Hollywood" mistura fatos e personagens reais com muita fantasia - se em alguns momentos temos a impressão de acompanhar uma aula de história do cinema, em outros presenciamos uma trama completamente superficial que parecia ser uma coisa e na realidade é algo completamente diferente - bem menos interessante! Com personagens tão complexos, a história sofre com a falta de rumo (e talvez até de tempo - se fosse uma série, poderia ser diferente!). Mas é preciso dizer também, que não se trata de uma minissérie ruim - existem algumas forçadas de barra com o claro objetivo de chocar quem assiste e que depois não se sustentam com o passar dos episódios, culminando em um último ato que mais parece um final de novela, que incomoda! É um pouco frustrante, mas não dá par dizer que é um jornada chata!
Ryan Murphy entregou uma minissérie muito bem produzida: a "arte" está impecável em todos os seus departamentos, mas uma das suas maiores qualidades, simplesmente, vai se desfazendo lentamente com um problema sério de progressão narrativa: os cinco primeiros episódios tem um ritmo e os dois últimos, outro - é tão perceptível que a falta unidade chega a confundir! "Hollywood" é um bom entretenimento se você estiver disposto a entrar no jogo que o roteiro propõe - tem uma história interessante, bons temas para se discutir e refletir, mas uma dramaturgia pouco inspirada! Vai do gosto!
A minissérie "Hollywood", nova produção da Netflix com o carimbo do badalado showrunner Ryan Murphy ("Feud", "Glee" e "Nip Tuck"), tem muitos acertos e algumas transgressões, mas depois de assistir os sete episódios fiquei com a sensação de que o projeto poderia ter ido muito além do que foi em um ponto muito particular: o roteiro! Para tudo fazer um pouco mais de sentido, te convido a assistir o trailer:
Ao assistir o trailer temos a impressão que estamos diante da melhor minissérie que um amante da sétima arte poderia sonhar: uma excelente produção, ótimos atores, uma história real muito cativante e, claro, tudo isso embrulhado perfeitamente com o glamour e o charme do universo do cinema americano! Pois bem, acontece que "Hollywood" não sustenta essa expectativa ao escolher soluções narrativas mais fáceis e, por incrível que pareça, acaba se perdendo na falta de identidade.
No final da década de 1940, diversos jovens desembarcavam em Los Angeles com a esperança de se tornarem famosos e reconhecidos no cinema. Entretanto, para chamar atenção na multidão, os aspirantes ao estrelato precisavam sobreviver em uma cidade muitas vezes cruel e ainda dar a sorte de conhecer as pessoas certas. É nesse contexto que o ex-soldado Jack Castello (David Corenswet) passa a se prostituir enquanto espera por uma oportunidade de se tornar ator. No meio dessa jornada, ele conhece Archie Coleman (Jeremy Pope), um roteirista negro e gay, o jovem diretor Raymond Ainsley (Darren Chris) e a milionária Avis Amberg (Patti LuPone), casada com o dono de um dos maiores Estúdios de Cinema dos EUA, o ACE Studios!
Questões como assédio, abuso de poder e preconceito são elementos exaustivamente discutidos da minissérie, porém com um enfoque diferente do que estamos acostumados: os homens são as vítimas, retratando assim, em uma mesma tacada, tanto o movimento gay, como as perseguições raciais nos bastidores da Era de Ouro do Cinema Americano! Quase como um manifesto, o que vemos nos episódios não é exatamente o que se dá a entender que veremos pelo trailer! A minissérie não economiza em nenhum tipo de cena: nas relações pessoais, amorosas ou na prostituição, até no diálogo mais ácido sobre alguns assuntos bem pesados! De fato não é uma minissérie que vai agradar a todos justamente por isso, mas há de se destacar a coragem em mostrar a realidade, por mais que possa nos incomodar (e não estou falando de um assunto em particular e sim do todo)! Vale o play, mas com essas ressalvas e algumas outras que discuto à seguir!
Quando o roteiro assume sua clara preocupação em priorizar a forma e não o conteúdo, "Hollywood" perde sua alma! Escrevo isso com dor no coração, pois era uma oportunidade de ouro. Reparem na trama: precisando de dinheiro para cuidar da esposa grávida e sem conseguir uma oportunidade como figurante em um filme, Jack Castello é aliciado pelo dono de um posto de gasolina que, além de encher o tanque dos carros, serve de fachada para serviços sexuais. Embora Jack recuse se prostituir com outros homens (como era de costume aliás), ele cede à necessidade de sobrevivência e se dispõe a sair com mulheres ricas - é aí que conhece Avis Amberg e sua vida começa a mudar.Em paralelo somos apresentados a história de mais alguns personagens intrigantes, mas que vão parecer pouco explorados: Archie Coleman, também trabalha no posto - ele gerou interesse do Estúdio ao ter seu roteiro (que enviou pelo correio) lido por um dos produtores. Sabendo desse interesse, ele precisa esconder do dono do Estúdio que é negro e gay enquanto não assina o contrato de produção. Já Camille Washington (Laura Harrier), é uma excelente atriz que sempre acaba em papéis secundários justamente por também ser negra e por fim, Henry Wilson (Jim Parsons), um importante agente de talentos bastante conhecido por transformar bons atores em estrelas de cinema, em troca de favores sexuais.
Com um tom muito parecido com os dois primeiros atos de "Era uma vez em… Hollywood", mas sem o brilhantismo de Quentin Tarantino para conduzir a história, "Hollywood" mistura fatos e personagens reais com muita fantasia - se em alguns momentos temos a impressão de acompanhar uma aula de história do cinema, em outros presenciamos uma trama completamente superficial que parecia ser uma coisa e na realidade é algo completamente diferente - bem menos interessante! Com personagens tão complexos, a história sofre com a falta de rumo (e talvez até de tempo - se fosse uma série, poderia ser diferente!). Mas é preciso dizer também, que não se trata de uma minissérie ruim - existem algumas forçadas de barra com o claro objetivo de chocar quem assiste e que depois não se sustentam com o passar dos episódios, culminando em um último ato que mais parece um final de novela, que incomoda! É um pouco frustrante, mas não dá par dizer que é um jornada chata!
Ryan Murphy entregou uma minissérie muito bem produzida: a "arte" está impecável em todos os seus departamentos, mas uma das suas maiores qualidades, simplesmente, vai se desfazendo lentamente com um problema sério de progressão narrativa: os cinco primeiros episódios tem um ritmo e os dois últimos, outro - é tão perceptível que a falta unidade chega a confundir! "Hollywood" é um bom entretenimento se você estiver disposto a entrar no jogo que o roteiro propõe - tem uma história interessante, bons temas para se discutir e refletir, mas uma dramaturgia pouco inspirada! Vai do gosto!
Existe uma beleza em "Império da Luz" que dificilmente percebemos se não nos permitimos mergulhar na proposta dramática do diretor - e digo isso, pois esse tipo de filme parece se apropriar dos sentimentos mais íntimos de seu realizador, de sua identidade como artista, de seu modo de interpretar algumas questões e até do seu olhar mais poético, para, aí sim, encontrar uma audiência capaz de enxergar aquela história como algo único, sensível e tocante. A magia do cinema, desde seu enquadramento ao trabalho dedicado dos atores, é capaz de alcançar essa complexidade sem tanto esforço, basta um quadro; no entanto, ao sentirmos a verdade, quase sempre, saímos transformados e com o coração, digamos, mais aquecido - então saiba: se aqui não encontraremos uma unanimidade, pode ter certeza, existirá uma conexão capaz de explicar muitas coisas escondidas dentro de nós.
Essa é uma história de amor e amizade ambientada em um antigo cinema de rua, na costa sul da Inglaterra, durante a década de 1980. Em um período de recessão, onde o desemprego e o racismo assombravam a sociedade, conhecemos Hilary (Olivia Colman), uma adorada gerente que sofre com sua sua instabilidade de humor e depressão. Embora ela tenha uma ótima relação com seus companheiros de trabalho, seu estado de solidão e tristeza, mesmo em tratamento, parece cada vez mais profundo. Quando o novo vendedor de ingressos, Stephen (Micheal Ward), um simpático jovem negro, percebe sua conexão com Hilary, um ar de esperança toma conta do ambiente até que as coisas saem do controle. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, você pode imaginar que "Império da Luz" se trata de um filme nostálgico, talvez até autoral, sobre o cinema. Não se engane, o filme está longe de representar o que foi "Cinema Paradiso" e mais recentemente "Os Fabelmans". Aqui o foco está na importância de uma conexão humana verdadeira, tendo a magia do cinema apenas como subtexto para envolver, ou até "empacotar", os inúmeros temas espinhosos que o roteiro faz questão de levantar. Sem dúvida que a "forma" como o diretor Sam Mendes (de "1917") constrói essa narrativa, ao lado de seu parceiro na fotografia, Roger Deakins (de "Blade Runner 2049" e também "1917"), impressiona tanto pela beleza quanto pelo simbolismo gráfico. Deakins empresta para aquela ambientação litorânea, um olhar que estimula a audiência a enxergar esse conto moral de uma maneira menos grosseira - em algumas passagens, até mais gentil do que o próprio texto mereceria.
Com (a sempre impressionante) Olivia Colman e seu parceiro de cena, Micheal Ward, temos um embate sentimental, ideológico e marcante, onde as dores desses dois personagens muitas vezes se sobrepõem até ao verdadeiro objetivo do próprio texto. O que eu quero dizer é que a história pode até patinar em sua pretensão de cobrir tantos assuntos importantes em tão pouco tempo, mas quando o elenco coloca toda sua verdade em cena, percebemos o quanto o racismo e as consequências de distúrbios mentais podem impactar nas relações humanas, cada qual em sua forma de enxergar o mundo. E é justamente nesse momento que o ponto de convergência entre realidade e fantasia encontra seu valor: o cinema é tratado como ferramenta de escapismo, com planos que são verdadeiras pinturas e que, de fato, fazem todo sentido ao drama que Mendes vai pontuando "visualmente" com muita sensibilidade.
"Empire Of Light" (no original) tem mais acertos do que erros, mas deve agradar quem está a procura de um drama menos convencional. Se em alguns momentos da história você tem a exata sensação de estar de frente com uma trama simplista e pouco inspirada, em outros a impressão é que tudo é tão profundo e cuidadoso que até uma pausa para a reflexão se faz necessária - e aqui cito uma passagem que vai fazer muita diferença na sua experiência (e que apenas o mais atentos podem ter percebido): reparem quando Hilary, já no final do filme, assiste "Muito Além do Jardim", clássico de Hal Ashby. Ele serve como uma espécie de síntese para sua história, por ser uma mulher que também precisa olhar além de sua enfermidade para poder libertar a si mesma de uma casca inerte. Veja, é nesse tipo de detalhe que entendemos a complexidade desse grande filme!
Vale muito o seu play!
Existe uma beleza em "Império da Luz" que dificilmente percebemos se não nos permitimos mergulhar na proposta dramática do diretor - e digo isso, pois esse tipo de filme parece se apropriar dos sentimentos mais íntimos de seu realizador, de sua identidade como artista, de seu modo de interpretar algumas questões e até do seu olhar mais poético, para, aí sim, encontrar uma audiência capaz de enxergar aquela história como algo único, sensível e tocante. A magia do cinema, desde seu enquadramento ao trabalho dedicado dos atores, é capaz de alcançar essa complexidade sem tanto esforço, basta um quadro; no entanto, ao sentirmos a verdade, quase sempre, saímos transformados e com o coração, digamos, mais aquecido - então saiba: se aqui não encontraremos uma unanimidade, pode ter certeza, existirá uma conexão capaz de explicar muitas coisas escondidas dentro de nós.
Essa é uma história de amor e amizade ambientada em um antigo cinema de rua, na costa sul da Inglaterra, durante a década de 1980. Em um período de recessão, onde o desemprego e o racismo assombravam a sociedade, conhecemos Hilary (Olivia Colman), uma adorada gerente que sofre com sua sua instabilidade de humor e depressão. Embora ela tenha uma ótima relação com seus companheiros de trabalho, seu estado de solidão e tristeza, mesmo em tratamento, parece cada vez mais profundo. Quando o novo vendedor de ingressos, Stephen (Micheal Ward), um simpático jovem negro, percebe sua conexão com Hilary, um ar de esperança toma conta do ambiente até que as coisas saem do controle. Confira o trailer:
Em um primeiro olhar, você pode imaginar que "Império da Luz" se trata de um filme nostálgico, talvez até autoral, sobre o cinema. Não se engane, o filme está longe de representar o que foi "Cinema Paradiso" e mais recentemente "Os Fabelmans". Aqui o foco está na importância de uma conexão humana verdadeira, tendo a magia do cinema apenas como subtexto para envolver, ou até "empacotar", os inúmeros temas espinhosos que o roteiro faz questão de levantar. Sem dúvida que a "forma" como o diretor Sam Mendes (de "1917") constrói essa narrativa, ao lado de seu parceiro na fotografia, Roger Deakins (de "Blade Runner 2049" e também "1917"), impressiona tanto pela beleza quanto pelo simbolismo gráfico. Deakins empresta para aquela ambientação litorânea, um olhar que estimula a audiência a enxergar esse conto moral de uma maneira menos grosseira - em algumas passagens, até mais gentil do que o próprio texto mereceria.
Com (a sempre impressionante) Olivia Colman e seu parceiro de cena, Micheal Ward, temos um embate sentimental, ideológico e marcante, onde as dores desses dois personagens muitas vezes se sobrepõem até ao verdadeiro objetivo do próprio texto. O que eu quero dizer é que a história pode até patinar em sua pretensão de cobrir tantos assuntos importantes em tão pouco tempo, mas quando o elenco coloca toda sua verdade em cena, percebemos o quanto o racismo e as consequências de distúrbios mentais podem impactar nas relações humanas, cada qual em sua forma de enxergar o mundo. E é justamente nesse momento que o ponto de convergência entre realidade e fantasia encontra seu valor: o cinema é tratado como ferramenta de escapismo, com planos que são verdadeiras pinturas e que, de fato, fazem todo sentido ao drama que Mendes vai pontuando "visualmente" com muita sensibilidade.
"Empire Of Light" (no original) tem mais acertos do que erros, mas deve agradar quem está a procura de um drama menos convencional. Se em alguns momentos da história você tem a exata sensação de estar de frente com uma trama simplista e pouco inspirada, em outros a impressão é que tudo é tão profundo e cuidadoso que até uma pausa para a reflexão se faz necessária - e aqui cito uma passagem que vai fazer muita diferença na sua experiência (e que apenas o mais atentos podem ter percebido): reparem quando Hilary, já no final do filme, assiste "Muito Além do Jardim", clássico de Hal Ashby. Ele serve como uma espécie de síntese para sua história, por ser uma mulher que também precisa olhar além de sua enfermidade para poder libertar a si mesma de uma casca inerte. Veja, é nesse tipo de detalhe que entendemos a complexidade desse grande filme!
Vale muito o seu play!
"Essa parada é baseada numa M****, muito, muito real!!!" - Com essa legenda (tradução livre), Spike Lee já te fala de cara que você vai tomar alguns socos no estômago vendo o filme, o que de fato acontece em vários momentos e sem pedir muita permissão!!! O filme é sensacional!!! A história de um policial negro que precisa se infiltrar na KKK para evitar possíveis atentados a comunidade negra e judia na cidade de Colorado Springs no final dos anos 70 é incrível!
O período era de grande agitação social onde a luta pelos direitos civis estavam borbulhando! Ron Stallworth (John David Washington) acabava de se tornar o primeiro detetive afro-americano do Departamento da Polícia de El Paso, mas a sua chegada era vista com muito ceticismo, iniciando uma certa hostilidade entre os vários departamentos da instituição. Porém, com sua audácia, Ron Stallworth decide fazer a diferença na sua comunidade, se infiltrando na Ku Klux Klan para depois expor seus integrantes e acabar com a onde de impunidade que permeava os EUA da época! Veja o trailer:
Olha, tecnicamente o filme está impecável. Spike Lee é aquele tipo diretor que transita em vários universos, que hoje chamamos de "Muilti-plataforma", mas acho que ele vai além disso, porque ele usa conceitos narrativos e estéticos de tudo que ele já fez e, melhor, de tudo que ele busca como referência. "BlacKkKlansman" (titulo original) é um show de referências e conceitos, de publicidade, de games, de outros diretores, de tv, de cinema, etc. Em determinados momentos ele dá uma leve desnivelada na camera, principalmente nas conversas pelo telefone, e cria uma sensação de instabilidade que é linda de ver. As aplicações gráficas, total anos 70, estão lindas, totalmente integradas à história - e isso é muito difícil de fazer. Em outros momentos ele parece quebrar a linearidade da edição com um corte de câmera, então você acaba assistindo uma mesma ação duas vezes, mas muito rápido, quase imperceptível, mas que te trás sensações de desconforto e estranhamento na hora certa!!
Os atores estão perfeitos: John David Washington está incrível como protagonista: intenso e sensível ao que está acontecendo com ele, mas com uma naturalidade para chegar aos alívios cômicos digno de Oscar (embora ele tenha, pelo menos, o Rami Malek pela frente). Reparem em uma personagem sem muito destaque, mas representa o que é um bom trabalho no olhar mais introspectivo, e na ação, completamente over-acting, mas com o range certo: a Connie, mulher do Felix, interpretada pela Ashlie Atkinson - ela dá um show. A fotografia também está linda, Chayse Irvin vem da publicidade e da música; merece uma indicação em 2019 sem a menor dúvida!!!!
Vale muito a pena
Up-date: "Infiltrado na Klan" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Roteiro Adaptado!
"Essa parada é baseada numa M****, muito, muito real!!!" - Com essa legenda (tradução livre), Spike Lee já te fala de cara que você vai tomar alguns socos no estômago vendo o filme, o que de fato acontece em vários momentos e sem pedir muita permissão!!! O filme é sensacional!!! A história de um policial negro que precisa se infiltrar na KKK para evitar possíveis atentados a comunidade negra e judia na cidade de Colorado Springs no final dos anos 70 é incrível!
O período era de grande agitação social onde a luta pelos direitos civis estavam borbulhando! Ron Stallworth (John David Washington) acabava de se tornar o primeiro detetive afro-americano do Departamento da Polícia de El Paso, mas a sua chegada era vista com muito ceticismo, iniciando uma certa hostilidade entre os vários departamentos da instituição. Porém, com sua audácia, Ron Stallworth decide fazer a diferença na sua comunidade, se infiltrando na Ku Klux Klan para depois expor seus integrantes e acabar com a onde de impunidade que permeava os EUA da época! Veja o trailer:
Olha, tecnicamente o filme está impecável. Spike Lee é aquele tipo diretor que transita em vários universos, que hoje chamamos de "Muilti-plataforma", mas acho que ele vai além disso, porque ele usa conceitos narrativos e estéticos de tudo que ele já fez e, melhor, de tudo que ele busca como referência. "BlacKkKlansman" (titulo original) é um show de referências e conceitos, de publicidade, de games, de outros diretores, de tv, de cinema, etc. Em determinados momentos ele dá uma leve desnivelada na camera, principalmente nas conversas pelo telefone, e cria uma sensação de instabilidade que é linda de ver. As aplicações gráficas, total anos 70, estão lindas, totalmente integradas à história - e isso é muito difícil de fazer. Em outros momentos ele parece quebrar a linearidade da edição com um corte de câmera, então você acaba assistindo uma mesma ação duas vezes, mas muito rápido, quase imperceptível, mas que te trás sensações de desconforto e estranhamento na hora certa!!
Os atores estão perfeitos: John David Washington está incrível como protagonista: intenso e sensível ao que está acontecendo com ele, mas com uma naturalidade para chegar aos alívios cômicos digno de Oscar (embora ele tenha, pelo menos, o Rami Malek pela frente). Reparem em uma personagem sem muito destaque, mas representa o que é um bom trabalho no olhar mais introspectivo, e na ação, completamente over-acting, mas com o range certo: a Connie, mulher do Felix, interpretada pela Ashlie Atkinson - ela dá um show. A fotografia também está linda, Chayse Irvin vem da publicidade e da música; merece uma indicação em 2019 sem a menor dúvida!!!!
Vale muito a pena
Up-date: "Infiltrado na Klan" ganhou em uma categoria no Oscar 2019: Melhor Roteiro Adaptado!
Algumas histórias mereciam ser contadas - essa, certamente, é uma delas e já te adianto: você vai se emocionar, mas não sem antes transitar por um turbilhão de sensações muito particulares. "Joy", dirigido por Ben Taylor (de "Sex Education"), é um filme realmente envolvente e inspirador que resgata um dos capítulos mais revolucionários (e controversos) da medicina moderna: o nascimento do primeiro "bebê de proveta" do mundo, Louise Joy Brown, em 1978. O filme mergulha na jornada de um grupo de pioneiros que enfrentaram imensa oposição social, religiosa e científica para realizar um avanço que transformaria a medicina reprodutiva. Assim como "Radioactive" ou "A Batalha da Correntes", "Joy" não é uma superprodução, mas uma experiência singular, que mistura a narrativa biográfica, com um toque de ciência e drama, destacando a luta pela inovação em um cenário marcado por ceticismo e resistência.
A trama acompanha a jovem enfermeira Jean Purdy (Thomasin McKenzie), o cientista Robert "Bob" Edwards (James Norton) e o cirurgião obstetra Patrick Steptoe (Bill Nighy), figuras centrais na busca pela fertilização in vitro (chamada de FIV). Em meio a críticas ferozes da mídia, resistência do establishment médico e condenações morais vindas da igreja e do estado, os três unem esforços para transformar o impossível em realidade. O nascimento de Louise Joy Brown, a primeira criança concebida fora do útero, torna-se o ápice dessa jornada, mas não sem antes revelar os desafios, sacrifícios e dilemas enfrentados pelos envolvidos. Confira o trailer e veja o que te espera:
Esse filme é um presente para Ben Taylor! Ele conduz a narrativa com uma abordagem equilibrada, combinando o rigor técnico dos procedimentos científicos com a humanidade dos personagens que ousaram desafiar o status quo. O diretor, sabendo das suas limitações de orçamento, opta por um tom mais intimista, mas que nunca perde de vista a importância histórica dos eventos retratados. Taylor vai pelo caminho de uma direção delicada e focada no fator humano, valorizando o impacto emocional do processo, tanto para os cientistas quanto para as pacientes que, no filme, representam a esperança de milhares (e milhares) de famílias. O roteiro de Jack Thorne (de "Extraordinário") é muito competente - seu recorte é inteligente, alternando entre os avanços científicos e as adversidades pessoais, sem atropelos. Seu texto traz diálogos que enfatizam o conflito entre progresso e a tradição - a ética médica e as implicações morais da FIV são discutidas em cenas que elevam a tensão, mas sem nunca perder a mão. O interessante é a forma como Thorne explora as dúvidas do público e da comunidade médica em uma distante década de 60 e 70; enquanto os protagonistas, obviamente, lutam para provar a validade de sua pesquisa. Veja, há uma crítica sutil ao conservadorismo institucional da época, que muitas vezes sacrificava o avanço da ciência em nome de crenças dogmáticas, mas saiba que esse não é o foco - a jornada que vale é a da inovação pelos olhos de quem quis mudar o mundo.
As performances do elenco são o coração do filme. McKenzie entrega uma atuação sensível e comovente, destacando a força e a dedicação de uma mulher que desempenhou um papel crucial, mas frequentemente ignorado na história da FIV - sua relação com a mãe e com a religião dão o tom daquela sociedade. Já o cientista Robert Edwards de Norton traz a paixão e o idealismo, equilibrando o brilho do visionário com os fardos que precisa carregar ao longo da pesquisa. E o cirurgião Patrick Steptoe do brilhante Bill Nighy traz um pragmatismo que contrasta com os ideais de Edwards, criando uma dinâmica envolvente entre os três protagonistas - ele é o estereótipo (no bom sentido) do médico mal humorado, mas simpático, que gostaríamos de ter ao nosso lado durante a vida.
Mesmo "feito para TV", "Joy" impressiona pela reconstrução de época, com figurinos, cenários e uma paleta de cores suaves que evocam o final dos anos 1960 e a década de 1970, o que nos permite uma imersão imediata naquela atmosfera. Mesmo que o filme busque um tom mais emocional e acessível, às vezes simplificando o debate científico e evitando confrontar as implicações mais complexas que a pesquisa trouxe à época, eu diria que "Joy" é um filme indispensável - uma celebração inspiradora do avanço científico e do espírito humano em busca de esperança e da inovação!
Simplesmente imperdível!
Algumas histórias mereciam ser contadas - essa, certamente, é uma delas e já te adianto: você vai se emocionar, mas não sem antes transitar por um turbilhão de sensações muito particulares. "Joy", dirigido por Ben Taylor (de "Sex Education"), é um filme realmente envolvente e inspirador que resgata um dos capítulos mais revolucionários (e controversos) da medicina moderna: o nascimento do primeiro "bebê de proveta" do mundo, Louise Joy Brown, em 1978. O filme mergulha na jornada de um grupo de pioneiros que enfrentaram imensa oposição social, religiosa e científica para realizar um avanço que transformaria a medicina reprodutiva. Assim como "Radioactive" ou "A Batalha da Correntes", "Joy" não é uma superprodução, mas uma experiência singular, que mistura a narrativa biográfica, com um toque de ciência e drama, destacando a luta pela inovação em um cenário marcado por ceticismo e resistência.
A trama acompanha a jovem enfermeira Jean Purdy (Thomasin McKenzie), o cientista Robert "Bob" Edwards (James Norton) e o cirurgião obstetra Patrick Steptoe (Bill Nighy), figuras centrais na busca pela fertilização in vitro (chamada de FIV). Em meio a críticas ferozes da mídia, resistência do establishment médico e condenações morais vindas da igreja e do estado, os três unem esforços para transformar o impossível em realidade. O nascimento de Louise Joy Brown, a primeira criança concebida fora do útero, torna-se o ápice dessa jornada, mas não sem antes revelar os desafios, sacrifícios e dilemas enfrentados pelos envolvidos. Confira o trailer e veja o que te espera:
Esse filme é um presente para Ben Taylor! Ele conduz a narrativa com uma abordagem equilibrada, combinando o rigor técnico dos procedimentos científicos com a humanidade dos personagens que ousaram desafiar o status quo. O diretor, sabendo das suas limitações de orçamento, opta por um tom mais intimista, mas que nunca perde de vista a importância histórica dos eventos retratados. Taylor vai pelo caminho de uma direção delicada e focada no fator humano, valorizando o impacto emocional do processo, tanto para os cientistas quanto para as pacientes que, no filme, representam a esperança de milhares (e milhares) de famílias. O roteiro de Jack Thorne (de "Extraordinário") é muito competente - seu recorte é inteligente, alternando entre os avanços científicos e as adversidades pessoais, sem atropelos. Seu texto traz diálogos que enfatizam o conflito entre progresso e a tradição - a ética médica e as implicações morais da FIV são discutidas em cenas que elevam a tensão, mas sem nunca perder a mão. O interessante é a forma como Thorne explora as dúvidas do público e da comunidade médica em uma distante década de 60 e 70; enquanto os protagonistas, obviamente, lutam para provar a validade de sua pesquisa. Veja, há uma crítica sutil ao conservadorismo institucional da época, que muitas vezes sacrificava o avanço da ciência em nome de crenças dogmáticas, mas saiba que esse não é o foco - a jornada que vale é a da inovação pelos olhos de quem quis mudar o mundo.
As performances do elenco são o coração do filme. McKenzie entrega uma atuação sensível e comovente, destacando a força e a dedicação de uma mulher que desempenhou um papel crucial, mas frequentemente ignorado na história da FIV - sua relação com a mãe e com a religião dão o tom daquela sociedade. Já o cientista Robert Edwards de Norton traz a paixão e o idealismo, equilibrando o brilho do visionário com os fardos que precisa carregar ao longo da pesquisa. E o cirurgião Patrick Steptoe do brilhante Bill Nighy traz um pragmatismo que contrasta com os ideais de Edwards, criando uma dinâmica envolvente entre os três protagonistas - ele é o estereótipo (no bom sentido) do médico mal humorado, mas simpático, que gostaríamos de ter ao nosso lado durante a vida.
Mesmo "feito para TV", "Joy" impressiona pela reconstrução de época, com figurinos, cenários e uma paleta de cores suaves que evocam o final dos anos 1960 e a década de 1970, o que nos permite uma imersão imediata naquela atmosfera. Mesmo que o filme busque um tom mais emocional e acessível, às vezes simplificando o debate científico e evitando confrontar as implicações mais complexas que a pesquisa trouxe à época, eu diria que "Joy" é um filme indispensável - uma celebração inspiradora do avanço científico e do espírito humano em busca de esperança e da inovação!
Simplesmente imperdível!
Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.
Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:
Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.
A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.
Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.
Vale muito a pena!
Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção!
Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.
Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:
Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.
A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.
Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.
Vale muito a pena!
Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção!
Não é um filme de respostas fáceis, já que a magia de "Jurado #2" está justamente nas implicações morais do que não é dito! Chancelado como o possível último filme dirigido por Clint Eastwood, essa é uma obra que une o estilo clássico do diretor com uma narrativa contemporânea carregada de tensão que claramente parte de uma gramática de suspense psicológico para contar sua história. Com um roteiro do estreante Jonathan Abrams, "Juror #2", no original, não é criativo na sua essência, mas sim na sua forma de explorar a complexidade das escolhas humanas, de uma luta interna entre culpa e dever e do peso de ter que tomar uma decisão que pode impactar muitas vidas, inclusive a de uma nova família. Dada as devidas proporções, "Jurado #2" traz muito do episódio piloto de "Your Honor" ou de "Capital Humano", ao usar de uma situação pontual para criar um campo de batalha ético, desafiando a audiência a questionar seus próprios valores e julgamentos a todo momento.
A trama acompanha Justin Kemp (Nicholas Hoult), um jovem pai que é convocado como jurado para um julgamento de um possível assassinato. Inicialmente um participante passivo no processo, Justin percebe que ele mesmo pode estar conectado ao crime, sendo potencialmente o maior culpado. Enquanto o julgamento avança, ele enfrenta um dilema devastador: revelar sua culpa e comprometer sua família ou usar sua posição como jurado para influenciar o resultado do julgamento ao seu favor. A narrativa, marcada por tensão crescente e dilemas morais impressionantes, tece uma rede de segredos e revelações que culminam em uma conclusão, de fato, impactante. Confira o trailer:
Clint Eastwood, aos 93 anos, demonstra mais uma vez sua maestria como diretor, criando uma atmosfera de angustia constante sem recorrer a exageros ou atalhos. Seu estilo econômico de um diretor focado na performance dos atores dá ao filme uma autenticidade que realmente o diferencia de outros thrillers jurídicos. Eastwood utiliza o tribunal não apenas como cenário, mas como um microcosmo para explorar temas mais sensíveis como justiça e responsabilidade pela perspectiva do impacto das escolhas individuais em uma comunidade que parece já ter suas respostas sem antes discutir o problema. Nesse sentido, o roteiro de Abrams é habilmente estruturado, alternando entre o drama do julgamento e os conflitos internos de Justin. Os diálogos são ótimos, e o desenvolvimento dos personagens é suficientemente detalhado para garantir que cada figura no tribunal tenha uma presença marcante dentro de um mesmo contexto, enriquecendo o conflito emocional e narrativo do filme. Veja, "Jurado #2" tem uma dinâmica que equilibra o suspense de um thriller com a profundidade de um drama bastante sensorial, trocando os clichês por uma abordagem mais reflexiva - e funciona!
Nicholas Hoult, mais uma vez, oferece uma performance poderosa como Justin, capturando com intensidade o conflito interno de um homem de caráter (mas cheio de marcas da vida) que se encontra em uma posição insustentável. Sua atuação mostra as fraquezas pontuais de seu personagem, permitindo que a audiência se conecte com sua luta moral sem julgamentos pré-estabelecidos. Toni Collette, como a promotora egocêntrica do caso, Faith Killebrew, entrega uma jornada forte e incisiva, adicionando camadas importantes ao lado político da história, contribuindo para a autenticidade e para a tensão do filme - com um certo toque de arrogância, claro, mas sem deixar de ser empática.
Tecnicamente, "Jurado #2" é impecável. A fotografia do craque Yves Bélange (de "A Chegada") enfatiza o ambiente claustrofóbico do tribunal, utilizando luz e sombra para refletir a tensão emocional e moral dos personagens - uma extensão dos flashbacks do dia do crime, inclusive. Já nas cenas externas, que exploram a vida pessoal de Justin, Bélange procura criar um contraste visual que reforça a dualidade entre uma postura pública e uma outra mais íntima do protagonista - isso intensifica o suspense e apoia a proposta narrativa de Eastwood, mas sem sobrecarregá-la. Agora também é preciso que se diga: embora notável, alguns podem sentir que o ritmo "Jurado #2" soe mais lento e introspectivo do que o normal - não foi o meu caso, mas realmente esse ponto divide opiniões.
Dito isso, posso te garantir que aqui a história é moralmente complexa, com performances marcantes e uma direção precisa. Esse é um filme que nos desafia a refletir sobre os limites da justiça e dos dilemas éticos que moldam nossas vidas - mais ou menos como "Tempo de Matar" fez em 1996. Então esteja preparado para uma experiência cinematográfica que é ao mesmo tempo emocionante e profundamente provocadora. Vale demais!
Não é um filme de respostas fáceis, já que a magia de "Jurado #2" está justamente nas implicações morais do que não é dito! Chancelado como o possível último filme dirigido por Clint Eastwood, essa é uma obra que une o estilo clássico do diretor com uma narrativa contemporânea carregada de tensão que claramente parte de uma gramática de suspense psicológico para contar sua história. Com um roteiro do estreante Jonathan Abrams, "Juror #2", no original, não é criativo na sua essência, mas sim na sua forma de explorar a complexidade das escolhas humanas, de uma luta interna entre culpa e dever e do peso de ter que tomar uma decisão que pode impactar muitas vidas, inclusive a de uma nova família. Dada as devidas proporções, "Jurado #2" traz muito do episódio piloto de "Your Honor" ou de "Capital Humano", ao usar de uma situação pontual para criar um campo de batalha ético, desafiando a audiência a questionar seus próprios valores e julgamentos a todo momento.
A trama acompanha Justin Kemp (Nicholas Hoult), um jovem pai que é convocado como jurado para um julgamento de um possível assassinato. Inicialmente um participante passivo no processo, Justin percebe que ele mesmo pode estar conectado ao crime, sendo potencialmente o maior culpado. Enquanto o julgamento avança, ele enfrenta um dilema devastador: revelar sua culpa e comprometer sua família ou usar sua posição como jurado para influenciar o resultado do julgamento ao seu favor. A narrativa, marcada por tensão crescente e dilemas morais impressionantes, tece uma rede de segredos e revelações que culminam em uma conclusão, de fato, impactante. Confira o trailer:
Clint Eastwood, aos 93 anos, demonstra mais uma vez sua maestria como diretor, criando uma atmosfera de angustia constante sem recorrer a exageros ou atalhos. Seu estilo econômico de um diretor focado na performance dos atores dá ao filme uma autenticidade que realmente o diferencia de outros thrillers jurídicos. Eastwood utiliza o tribunal não apenas como cenário, mas como um microcosmo para explorar temas mais sensíveis como justiça e responsabilidade pela perspectiva do impacto das escolhas individuais em uma comunidade que parece já ter suas respostas sem antes discutir o problema. Nesse sentido, o roteiro de Abrams é habilmente estruturado, alternando entre o drama do julgamento e os conflitos internos de Justin. Os diálogos são ótimos, e o desenvolvimento dos personagens é suficientemente detalhado para garantir que cada figura no tribunal tenha uma presença marcante dentro de um mesmo contexto, enriquecendo o conflito emocional e narrativo do filme. Veja, "Jurado #2" tem uma dinâmica que equilibra o suspense de um thriller com a profundidade de um drama bastante sensorial, trocando os clichês por uma abordagem mais reflexiva - e funciona!
Nicholas Hoult, mais uma vez, oferece uma performance poderosa como Justin, capturando com intensidade o conflito interno de um homem de caráter (mas cheio de marcas da vida) que se encontra em uma posição insustentável. Sua atuação mostra as fraquezas pontuais de seu personagem, permitindo que a audiência se conecte com sua luta moral sem julgamentos pré-estabelecidos. Toni Collette, como a promotora egocêntrica do caso, Faith Killebrew, entrega uma jornada forte e incisiva, adicionando camadas importantes ao lado político da história, contribuindo para a autenticidade e para a tensão do filme - com um certo toque de arrogância, claro, mas sem deixar de ser empática.
Tecnicamente, "Jurado #2" é impecável. A fotografia do craque Yves Bélange (de "A Chegada") enfatiza o ambiente claustrofóbico do tribunal, utilizando luz e sombra para refletir a tensão emocional e moral dos personagens - uma extensão dos flashbacks do dia do crime, inclusive. Já nas cenas externas, que exploram a vida pessoal de Justin, Bélange procura criar um contraste visual que reforça a dualidade entre uma postura pública e uma outra mais íntima do protagonista - isso intensifica o suspense e apoia a proposta narrativa de Eastwood, mas sem sobrecarregá-la. Agora também é preciso que se diga: embora notável, alguns podem sentir que o ritmo "Jurado #2" soe mais lento e introspectivo do que o normal - não foi o meu caso, mas realmente esse ponto divide opiniões.
Dito isso, posso te garantir que aqui a história é moralmente complexa, com performances marcantes e uma direção precisa. Esse é um filme que nos desafia a refletir sobre os limites da justiça e dos dilemas éticos que moldam nossas vidas - mais ou menos como "Tempo de Matar" fez em 1996. Então esteja preparado para uma experiência cinematográfica que é ao mesmo tempo emocionante e profundamente provocadora. Vale demais!
Filmes de ação raramente entregam histórias que nos fazem refletir sobre o sistema e a corrupção como deveriam. Na maioria das vezes as cenas frenéticas tomam conta da tela e engolem qualquer história diante de tantas coreografias de lutas, tiros e perseguições. Mas “Justiça Brutal” entrega tudo o que gênero pede e muito mais - você só deve ter em mente que o desenvolvimento da narrativa é um pouco mais lenta que o usual. O filme ainda explora o contexto social e aborda temas relevantes como o racismo, sem deixar sequências espetaculares de perseguição e tiroteio de lado.
Na trama, o veterano policial Brett Ridgeman (Mel Gibson) e seu parceiro mais jovem e volátil, Anthony Lurasetti (Vince Vaughn), são suspensos quando um vídeo de suas táticas de trabalho brutais vira notícia. Sem dinheiro e sem opções, eles decidem entrar para o mundo do crime. Porém, o que eles encontram na criminalidade é algo muito mais obscuro do que esperavam. Confira o trailer (em inglês):
Com uma premissa interessante, a primeira hora pode decepcionar aquelas pessoas que esperam muito mais por explosões, lutas e tiroteios, mas “Dragged Across Concrete” (no original) se preocupa muito mais em apresentar seus personagens e todo o contexto social antes de chegar no ápice da ação. Ainda assim, devo ressaltar que a ação é contida, existe muito mais uma tensão crescente nos momentos de perseguições do que outros artifícios usados para gerar o êxtase visual - você ficará apreensivo com o decorrer da história, definitivamente. Eu diria que é uma experiência diferente de filmes de ação de atores como Liam Neeson ou Jason Statham.
A direção traz alguns elementos interessantes de séries como ”Breaking Bad”, por exemplo - que praticamente acompanham o dia a dia de seus personagens como se a câmera estivesse escondida, mostrando cada passo, cada detalhe! Ao mesmo tempo, se você gosta de um estilo mais clássico como ”Fogo Contra Fogo”, provavelmente a sua experiência com esse thriller de ação escrito e dirigido por S. Craig Zahler (dos aclamados ”Rastros de Maldade” e ”Confusão no Pavilhão 99”), será completa e te garanto: esse é mais um daqueles achados que só nos resta agradecer ao serviço de streaming.
No elenco todos entregam perfomances marcantes, especialmente os protagonistas Mel Gibson e Vince Vaughn, que poderiam facilmente estrelar uma temporada de ”True Detective”! Que química incrível esses dois tem em cena. Assim como Matthew McConaughey e Woody Harrelson haviam trabalhado juntos anteriormente e anos depois estrelaram a série antológica da HBO.
“Justiça Brutal” se diferencia dos demais filmes de ação por ser bem construído, realista e, de fato, brutal. O filme pode ser facilmente comparado aos clássicos de ação e suspense criminal, e não aos recentes filmes esquecíveis que o gênero vem produzindo.
PS: o que impede o filme ser uma obra-prima "nível Michael Mann", talvez seja o excesso e até mesmo um pouco de pieguice no seu desfecho. Imagino que um certo polimento teria feito muito bem a narrativa, especialmente porque todos os inúmeros acertos da direção e do roteiro são notáveis.
Vale o seu play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Filmes de ação raramente entregam histórias que nos fazem refletir sobre o sistema e a corrupção como deveriam. Na maioria das vezes as cenas frenéticas tomam conta da tela e engolem qualquer história diante de tantas coreografias de lutas, tiros e perseguições. Mas “Justiça Brutal” entrega tudo o que gênero pede e muito mais - você só deve ter em mente que o desenvolvimento da narrativa é um pouco mais lenta que o usual. O filme ainda explora o contexto social e aborda temas relevantes como o racismo, sem deixar sequências espetaculares de perseguição e tiroteio de lado.
Na trama, o veterano policial Brett Ridgeman (Mel Gibson) e seu parceiro mais jovem e volátil, Anthony Lurasetti (Vince Vaughn), são suspensos quando um vídeo de suas táticas de trabalho brutais vira notícia. Sem dinheiro e sem opções, eles decidem entrar para o mundo do crime. Porém, o que eles encontram na criminalidade é algo muito mais obscuro do que esperavam. Confira o trailer (em inglês):
Com uma premissa interessante, a primeira hora pode decepcionar aquelas pessoas que esperam muito mais por explosões, lutas e tiroteios, mas “Dragged Across Concrete” (no original) se preocupa muito mais em apresentar seus personagens e todo o contexto social antes de chegar no ápice da ação. Ainda assim, devo ressaltar que a ação é contida, existe muito mais uma tensão crescente nos momentos de perseguições do que outros artifícios usados para gerar o êxtase visual - você ficará apreensivo com o decorrer da história, definitivamente. Eu diria que é uma experiência diferente de filmes de ação de atores como Liam Neeson ou Jason Statham.
A direção traz alguns elementos interessantes de séries como ”Breaking Bad”, por exemplo - que praticamente acompanham o dia a dia de seus personagens como se a câmera estivesse escondida, mostrando cada passo, cada detalhe! Ao mesmo tempo, se você gosta de um estilo mais clássico como ”Fogo Contra Fogo”, provavelmente a sua experiência com esse thriller de ação escrito e dirigido por S. Craig Zahler (dos aclamados ”Rastros de Maldade” e ”Confusão no Pavilhão 99”), será completa e te garanto: esse é mais um daqueles achados que só nos resta agradecer ao serviço de streaming.
No elenco todos entregam perfomances marcantes, especialmente os protagonistas Mel Gibson e Vince Vaughn, que poderiam facilmente estrelar uma temporada de ”True Detective”! Que química incrível esses dois tem em cena. Assim como Matthew McConaughey e Woody Harrelson haviam trabalhado juntos anteriormente e anos depois estrelaram a série antológica da HBO.
“Justiça Brutal” se diferencia dos demais filmes de ação por ser bem construído, realista e, de fato, brutal. O filme pode ser facilmente comparado aos clássicos de ação e suspense criminal, e não aos recentes filmes esquecíveis que o gênero vem produzindo.
PS: o que impede o filme ser uma obra-prima "nível Michael Mann", talvez seja o excesso e até mesmo um pouco de pieguice no seu desfecho. Imagino que um certo polimento teria feito muito bem a narrativa, especialmente porque todos os inúmeros acertos da direção e do roteiro são notáveis.
Vale o seu play!
Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
Sabe aquela sensação de "vai dar ruim", mas que você não sabe muito bem quando ou de onde virá? Pois bem, é isso que você vai encontrar na excelente, mas angustiante, "Little Fires Everywhere". Lançada em 2020, a minissérie criada por Liz Tigelaar, é uma adaptação fiel e intensa do romance homônimo de Celeste Ng que explora temas sensíveis como o racismo, a maternidade e o privilégio social que normalmente vem acompanhado de muita hipocrisia - tudo isso entrelaçado pelas histórias de duas famílias muito diferentes que se chocam em meio a uma série de eventos que vão transformando suas vidas de uma forma visceral. Com performances fortes e uma narrativa que equilibra o suspense e o drama com a mesma competência, "Little Fires Everywhere" é um verdadeiro mergulho nas obscuridades das relações humanas e nas tensões que moldam os destinos (e o caráter) de seus personagens.
Aqui, a história se passa na década de 1990, em Shaker Heights, Ohio, uma comunidade planejada que valoriza a ordem e a perfeição. No centro da narrativa, temos duas mulheres com vidas e perspectivas completamente distintas: Elena Richardson (Reese Witherspoon), uma mãe e jornalista que segue rigidamente as regras da comunidade e mantém uma fachada de perfeição; e Mia Warren (Kerry Washington), uma artista e mãe solteira que vive de forma independente, sem se prender em convenções sociais. Quando Mia e sua filha Pearl (Lexi Underwood) se mudam para Shaker Heights e começam a se aproximar dos Richardson, suas vidas se colidem de forma incontrolável, revelando segredos e gerando conflitos que abalam a estrutura aparentemente perfeita da comunidade. Confira o trailer:
Dada as suas devidas proporções e estilos, "Little Fires Everywhere" é meio que um "Treta" ou "Parasita", só que da vida real! A adaptação de Liz Tigelaar é fiel ao espírito provocador do livro e ainda faz escolhas que expandem as discussões propostas por Celeste Ng, principalmente em relação as questões raciais e ao contexto social da época. A minissérie não se limita em explorar as diferenças de classe ou as tensões de gênero, mas também aprofunda as implicações raciais presentes na interação entre Mia e Elena, criando camadas adicionais de discriminação que afetam suas vidas e as vidas de seus filhos. Essa proposta dá para a minissérie uma relevância ainda maior e a torna uma reflexão poderosa sobre os sistemas de opressão que persistem, mesmo em comunidades aparentemente progressistas e "perfeitas".
Veja, a narrativa é construída de forma não-linear, com flashbacks que revelam gradualmente o passado de Mia e de Elena, explicando as motivações por trás de suas ações e decisões. Essa escolha conceitual mantém a audiência intrigada, ao mesmo tempo que oferece uma reflexão mais cuidadosa sobre os traumas e as escolhas que moldaram as protagonistas - e aqui cabe um comentário: elas estão longe de serem (im)perfeitas e muito menos unidimensionais. É isso que faz com que cada episódio seja uma peça de um enorme quebra-cabeça emocional que vai se construindo e nos surpreendendo até culminar em um final que, embora trágico, não deixa de ser fiel à lógica, a dinâmica da trama e, claro, ao destino dos personagens.
"Little Fires Everywhere" se aproveita das performances de Reese Witherspoon e Kerry Washington, para trazer autenticidade à história. Witherspoon interpreta Elena com precisão, capturando a frustração e a rigidez de uma mulher que, em sua busca pela perfeição, é incapaz de lidar com as imperfeições e contradições de sua própria vida. Ela é uma figura que simboliza o privilégio e a cegueira que muitas vezes acompanham aqueles que se beneficiam de sistemas que favorecem certos grupos em detrimento de outros. Já Kerry Washington, traz intensidade e ao papel de Mia - ela consegue transmitir tanto a força quanto a fragilidade de uma mulher que luta para proteger sua filha e seu próprio senso de liberdade, ao mesmo tempo que carrega o peso de algumas marcas do passado. A dinâmica entre Mia e Elena é o coração da minissérie, e as tensões entre as duas são construídas com cuidado, refletindo não apenas um conflito pessoal, mas também um embate de visões de mundo opostos.
Dito isso e embora em alguns momentos o roteiro possa até exagerar no melodrama, fica fácil atestar que "Little Fires Everywhere" sem dúvida não perde em impacto emocional e muito menos deixa de ser um entretenimento da melhor qualidade. Imperdível!
"Somos todos iguais aos olhos da lei", mas como bem completou o personagem Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) em "Tempo de Matar": "o problema é que os olhos da lei são humanos!" - partindo dessa premissa, "Luta por Justiça" trás para os dias de hoje muito do que vimos na obra de John Grisham e dirigida por Joel Schumacher em 1996.
Baseada em fatos reais, o filme acompanha o jovem advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) que, após se formar em Harvard, vai para o Alabama com o propósito de defender pessoas que não contaram com uma representação adequada e foram condenadas, na sua grande maioria injustamente, pelo simples fato de serem negros. Com o apoio da advogada local Eva Ansley (Brie Larson), Stevenson assume o caso de Walter McMillian (Jammie Foxx) que, em 1987, foi condenado à morte pelo assassinato brutal de uma jovem de 18 anos. Apesar de inúmeras evidências que apontavam sua inocência (e o fato de que o único depoimento contra ele ser de um criminoso com muitos motivos para mentir), Bryan Stevenson precisa se envolver em um enorme emaranhado de manobras legais e políticas, além de enfrentar uma comunidade extremamente racista, para tentar reverter a pena de McMillian e tirá-lo definitivamente do corredor da morte!
Olha, é um grande filme, tão difícil de digerir quanto "Olhos que Condenam"(Netflix), mas vale muito a pena - agora, é preciso assistir preparado, pois o que vemos é um recorte do que existe de mais repugnante dentro de uma sociedade que se diz desenvolvida e inclusiva!
Monroeville é a cidade onde foi escrito um dos maiores clássicos da literatura americana: "O Sol é para todos"! O livro, que virou museu por lá, discute dois elementos muito bem aproveitados pelo diretor Destin Daniel Cretton (do premiadíssimo "Temporário 12"): racismo e injustiça! Por mais paradoxal que possa parecer, o maior orgulho da cidade está enraizado na história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 30 e que enfrenta enormes represálias da comunidade racista. Pois bem, a citações de "O Sol é para todos" vão além da coincidência geográfica com o caso de Walter McMillian, pois o roteiro aproveita de pequenas passagens para escancarar a hiprocrisia local - reparem na cena em que o advogado Bryan Stevenson vai visitar o promotor Tommy Chapman (Rafe Spall ) em seu gabinete. É de embrulhar o estômago!
O filme é tecnicamente muito bem realizado, tem uma dinâmica narrativa interessante - embora muitas vezes professoral demais, mas completamente justificável graças a necessidade de estabelecer os pontos jurídicos mais delicados do caso McMillian. É fato que a escolha pelo filme vai depender da sua identificação com o tema, ou seja, você só vai reclamar dessa característica mais didática, se não gostar do assunto! Fora isso, o diretor Destin Daniel Cretton foi muito inteligente em nos colocar dentro da trama ao nos apresentar um personagem simples mas carismático, brilhantemente interpretado pelo Jammie Foxx - e aqui cabe uma observação: não fosse uma das categorias mais disputadas do Oscar 2020, fatalmente Foxx seria indicado como ator coadjuvante (tanto que esteve entre os melhores no "Screen Actors Guild Awards"). Ele está impecável! Michael B. Jordan também entrega um personagem interessante e um respeitável trabalho - eu diria que é uma versão mais introspectiva de Jake Tyler Brigance, mas sem uma cena forte e impactante como nas considerações finais em "Tempo de Matar" onde Matthew McConaughey se consagrou - isso fez muita falta para Jordan brilhar como deveria! Já a presença de Brie Larson é muito mais em decorrência do seu ativismo pela causa do que por sua importância na trama - aqui Sandra Bullock deixa Brie no chinelo com sua personagem no mesmo "Tempo de Matar".
"Luta por Justiça" é o tipo do filme que, mesmo não sendo grandioso, nos faz refletir por algumas horas após sua exibição! Não é um filme inesquecível, nem original, mas extremamente importante e relevante como causa e entretenimento. É uma história que precisava ser contada e que pega carona nas séries documentais de investigação e tribunal que ganharam muitos fãs depois de "Making a Murderer", "The Jinx" e "The Staircase" - apenas para citar alguns dos recentes sucessos do streaming!
Indico de olhos fechados!
"Somos todos iguais aos olhos da lei", mas como bem completou o personagem Jake Tyler Brigance (Matthew McConaughey) em "Tempo de Matar": "o problema é que os olhos da lei são humanos!" - partindo dessa premissa, "Luta por Justiça" trás para os dias de hoje muito do que vimos na obra de John Grisham e dirigida por Joel Schumacher em 1996.
Baseada em fatos reais, o filme acompanha o jovem advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) que, após se formar em Harvard, vai para o Alabama com o propósito de defender pessoas que não contaram com uma representação adequada e foram condenadas, na sua grande maioria injustamente, pelo simples fato de serem negros. Com o apoio da advogada local Eva Ansley (Brie Larson), Stevenson assume o caso de Walter McMillian (Jammie Foxx) que, em 1987, foi condenado à morte pelo assassinato brutal de uma jovem de 18 anos. Apesar de inúmeras evidências que apontavam sua inocência (e o fato de que o único depoimento contra ele ser de um criminoso com muitos motivos para mentir), Bryan Stevenson precisa se envolver em um enorme emaranhado de manobras legais e políticas, além de enfrentar uma comunidade extremamente racista, para tentar reverter a pena de McMillian e tirá-lo definitivamente do corredor da morte!
Olha, é um grande filme, tão difícil de digerir quanto "Olhos que Condenam"(Netflix), mas vale muito a pena - agora, é preciso assistir preparado, pois o que vemos é um recorte do que existe de mais repugnante dentro de uma sociedade que se diz desenvolvida e inclusiva!
Monroeville é a cidade onde foi escrito um dos maiores clássicos da literatura americana: "O Sol é para todos"! O livro, que virou museu por lá, discute dois elementos muito bem aproveitados pelo diretor Destin Daniel Cretton (do premiadíssimo "Temporário 12"): racismo e injustiça! Por mais paradoxal que possa parecer, o maior orgulho da cidade está enraizado na história de um advogado que defende um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca nos Estados Unidos dos anos 30 e que enfrenta enormes represálias da comunidade racista. Pois bem, a citações de "O Sol é para todos" vão além da coincidência geográfica com o caso de Walter McMillian, pois o roteiro aproveita de pequenas passagens para escancarar a hiprocrisia local - reparem na cena em que o advogado Bryan Stevenson vai visitar o promotor Tommy Chapman (Rafe Spall ) em seu gabinete. É de embrulhar o estômago!
O filme é tecnicamente muito bem realizado, tem uma dinâmica narrativa interessante - embora muitas vezes professoral demais, mas completamente justificável graças a necessidade de estabelecer os pontos jurídicos mais delicados do caso McMillian. É fato que a escolha pelo filme vai depender da sua identificação com o tema, ou seja, você só vai reclamar dessa característica mais didática, se não gostar do assunto! Fora isso, o diretor Destin Daniel Cretton foi muito inteligente em nos colocar dentro da trama ao nos apresentar um personagem simples mas carismático, brilhantemente interpretado pelo Jammie Foxx - e aqui cabe uma observação: não fosse uma das categorias mais disputadas do Oscar 2020, fatalmente Foxx seria indicado como ator coadjuvante (tanto que esteve entre os melhores no "Screen Actors Guild Awards"). Ele está impecável! Michael B. Jordan também entrega um personagem interessante e um respeitável trabalho - eu diria que é uma versão mais introspectiva de Jake Tyler Brigance, mas sem uma cena forte e impactante como nas considerações finais em "Tempo de Matar" onde Matthew McConaughey se consagrou - isso fez muita falta para Jordan brilhar como deveria! Já a presença de Brie Larson é muito mais em decorrência do seu ativismo pela causa do que por sua importância na trama - aqui Sandra Bullock deixa Brie no chinelo com sua personagem no mesmo "Tempo de Matar".
"Luta por Justiça" é o tipo do filme que, mesmo não sendo grandioso, nos faz refletir por algumas horas após sua exibição! Não é um filme inesquecível, nem original, mas extremamente importante e relevante como causa e entretenimento. É uma história que precisava ser contada e que pega carona nas séries documentais de investigação e tribunal que ganharam muitos fãs depois de "Making a Murderer", "The Jinx" e "The Staircase" - apenas para citar alguns dos recentes sucessos do streaming!
Indico de olhos fechados!
"Maudie: sua vida e sua arte" é mais um daqueles filmes que poderiam ter ido muito mais longe do que realmente foram - embora tenha levado o prêmio da audiência no Festival de Montclair em 2017, depois de seleções importantes em Berlin e Toronto. O filme é emocionante, tecnicamente impecável e com um elenco de altíssimo nível. A história, baseada em fatos reais, acompanha Maud Lewis (Sally Hawkins) desde sua juventude até se tornar uma das artistas mais populares do Canadá.
Maud, era uma mulher inteligente, cativante, mas suas mãos curvadas denunciavam um sério problema de saúde: ela tinha artrite reumatoide - um doença que causa inflamações e deformações nas articulações do corpo. Já Everett (Ethan Hawke) era um solteiro convicto de 40 anos. Abandonado pelos pais ainda jovem, ele tinha tudo que precisava, exceto alguém para limpar sua casa e cozinhar. Nesse contexto, Everett acaba publicando um anúncio para encontrar, digamos, uma empregada, mesmo assim Maud acaba encontrando ali uma ótima oportunidade para sair da casa de sua tia, a opressora Ida (Gabrielle Rose). Ao ver a aparência frágil de Maud, única candidata à vaga, ele acaba desconfiando da sua capacidade, mas sem opção, decide contratá-la. Em pouco tempo, ela se torna indispensável na vida de Everett, não pelo trabalho que foi contratada, mas pela relação que começa a se estabelecer entre os dois, dando inicio a uma história de aprendizado, crescimento e empoderamento, tendo como base o incrível talento artístico de Maud! Confira o trailer:
"Maudie: sua vida e sua arte" surpreende em muitos elementos que, para mim, transformam uma boa história, mas nada que já não tenhamos visto, em um filme que merece ser assistido. O roteiro soube estruturar grande parte da vida da artista, se apoiando nos seus momentos mais marcantes, e entregar uma ótima biografia em pouco mais de duas horas. A fotografia é um espetáculo e a direção muito competente (mas vamos nos aprofundar sobre os dois assuntos um pouco mais abaixo). O fato é que o filme provavelmente passou despercebido para muitas pessoas, o que é um pecado, pois ele é muito bom - bem ao estilo da minissérie "A Vida e a História de Madam C.J. Walker"! Vale a pena seu play!
A fotografia do Guy Godfree, um premiado DP canadense, é uma pintura - a impressão é que seu enquadramento funciona exatamente como o ponto de vista de Maud, quando ela está pintando seus quadros. É claro que as locações escolhidas ajudam, e muito, essa concepção visual, mas é preciso ressaltar que a forma como Godfree e a equipe de arte reconstroem a belíssima Nova Escócia de meados 1940/50, é impressionante! A diretora Aisling Walsh, vencedora do BAFTA em 2013 por "Room at the Top", trabalha a direção de atores com muita competência! Ela é muito cirúrgica ao aproveitar o silêncio, os cortes mais emocionais, os planos mais introspectivos, e tudo isso sem cair no piegas ou sem usar "muletas" para contar uma história de superação que todos já sabemos o final! Reparem!
Sally Hawkins merecia uma terceira indicação ao Oscar por esse papel - lembrando que ela bateu na trave duas vezes: uma com "Blue Jasmine" (2014) e outra com "A Forma da Água" (em 2018). Aliás, muito de Maud pode ser encontrado na Elisa Esposito, no filme de Guillermo Del Toro. Ethan Hawke é outro que merecia uma lembrança, talvez tenha sido o seu melhor trabalho depois do Jesse de "Antes do Pôr do Sol" - seria sua quinta indicação ao Oscar, sem nunca ter levado o prêmio para casa!
Refletindo um pouco sobre o desempenho do filme em festivais, talvez o fato da história ser, basicamente, para o canadense assistir e valorizar seus artistas, tenha prejudicado uma caminhada até o Oscar de 2017 - é uma impressão, que é dura de aceitar já que o potencial era enorme. O cuidado técnico e artístico chamam a atenção e logo nos primeiros minutos, fica claro que se trata de um filme acima da média! Como disse anteriormente, "Maudie: sua vida e sua arte" pode até soar como "mais do mesmo" (embora não concorde), o que não se pode, é descartar histórias tão fascinantes como dessa personagem canadense tão peculiar e uma produção que realmente fez jus ao tamanho de sua importância como mulher e como artista visual!
Aproveite e dê o play!
"Maudie: sua vida e sua arte" é mais um daqueles filmes que poderiam ter ido muito mais longe do que realmente foram - embora tenha levado o prêmio da audiência no Festival de Montclair em 2017, depois de seleções importantes em Berlin e Toronto. O filme é emocionante, tecnicamente impecável e com um elenco de altíssimo nível. A história, baseada em fatos reais, acompanha Maud Lewis (Sally Hawkins) desde sua juventude até se tornar uma das artistas mais populares do Canadá.
Maud, era uma mulher inteligente, cativante, mas suas mãos curvadas denunciavam um sério problema de saúde: ela tinha artrite reumatoide - um doença que causa inflamações e deformações nas articulações do corpo. Já Everett (Ethan Hawke) era um solteiro convicto de 40 anos. Abandonado pelos pais ainda jovem, ele tinha tudo que precisava, exceto alguém para limpar sua casa e cozinhar. Nesse contexto, Everett acaba publicando um anúncio para encontrar, digamos, uma empregada, mesmo assim Maud acaba encontrando ali uma ótima oportunidade para sair da casa de sua tia, a opressora Ida (Gabrielle Rose). Ao ver a aparência frágil de Maud, única candidata à vaga, ele acaba desconfiando da sua capacidade, mas sem opção, decide contratá-la. Em pouco tempo, ela se torna indispensável na vida de Everett, não pelo trabalho que foi contratada, mas pela relação que começa a se estabelecer entre os dois, dando inicio a uma história de aprendizado, crescimento e empoderamento, tendo como base o incrível talento artístico de Maud! Confira o trailer:
"Maudie: sua vida e sua arte" surpreende em muitos elementos que, para mim, transformam uma boa história, mas nada que já não tenhamos visto, em um filme que merece ser assistido. O roteiro soube estruturar grande parte da vida da artista, se apoiando nos seus momentos mais marcantes, e entregar uma ótima biografia em pouco mais de duas horas. A fotografia é um espetáculo e a direção muito competente (mas vamos nos aprofundar sobre os dois assuntos um pouco mais abaixo). O fato é que o filme provavelmente passou despercebido para muitas pessoas, o que é um pecado, pois ele é muito bom - bem ao estilo da minissérie "A Vida e a História de Madam C.J. Walker"! Vale a pena seu play!
A fotografia do Guy Godfree, um premiado DP canadense, é uma pintura - a impressão é que seu enquadramento funciona exatamente como o ponto de vista de Maud, quando ela está pintando seus quadros. É claro que as locações escolhidas ajudam, e muito, essa concepção visual, mas é preciso ressaltar que a forma como Godfree e a equipe de arte reconstroem a belíssima Nova Escócia de meados 1940/50, é impressionante! A diretora Aisling Walsh, vencedora do BAFTA em 2013 por "Room at the Top", trabalha a direção de atores com muita competência! Ela é muito cirúrgica ao aproveitar o silêncio, os cortes mais emocionais, os planos mais introspectivos, e tudo isso sem cair no piegas ou sem usar "muletas" para contar uma história de superação que todos já sabemos o final! Reparem!
Sally Hawkins merecia uma terceira indicação ao Oscar por esse papel - lembrando que ela bateu na trave duas vezes: uma com "Blue Jasmine" (2014) e outra com "A Forma da Água" (em 2018). Aliás, muito de Maud pode ser encontrado na Elisa Esposito, no filme de Guillermo Del Toro. Ethan Hawke é outro que merecia uma lembrança, talvez tenha sido o seu melhor trabalho depois do Jesse de "Antes do Pôr do Sol" - seria sua quinta indicação ao Oscar, sem nunca ter levado o prêmio para casa!
Refletindo um pouco sobre o desempenho do filme em festivais, talvez o fato da história ser, basicamente, para o canadense assistir e valorizar seus artistas, tenha prejudicado uma caminhada até o Oscar de 2017 - é uma impressão, que é dura de aceitar já que o potencial era enorme. O cuidado técnico e artístico chamam a atenção e logo nos primeiros minutos, fica claro que se trata de um filme acima da média! Como disse anteriormente, "Maudie: sua vida e sua arte" pode até soar como "mais do mesmo" (embora não concorde), o que não se pode, é descartar histórias tão fascinantes como dessa personagem canadense tão peculiar e uma produção que realmente fez jus ao tamanho de sua importância como mulher e como artista visual!
Aproveite e dê o play!
"Meu nome é Magic Johnson" tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que se trata de um excelente documentário sobre um dos jogadores mais marcantes e importantes da sua geração, em todos os esportes, que é Magic Johnson; já o lado ruim é que, certamente, se você estiver acompanhando a série da HBO, "Lakers: Hora de Vencer", você vai ter spoilers de pelo menos umas três temporadas!
Revelando entrevistas íntimas com o próprio Magic e outras estrelas do esporte e de diversos segmentos que vão da política à música, sem falar nos familiares e amigos, “They Call Me Magic” (no original) ilustra a vida e a carreira de um dos maiores ídolos culturais da nossa era com acesso inédito em uma série documental de quatro partes simplesmente imperdível. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo talentoso Rick Famuyiwa, "Meu nome é Magic Johnson" é mais uma excelente opção para aqueles que gostam de documentários sobre ícones do esporte e que, além da jornada profissional, ainda traz para dentro da sua narrativa, muitas curiosidades e passagens marcantes - tanto da carreira como atleta, como nas inúmeras dificuldades pessoais que, inclusive, ajudaram a moldar a idolatria pelo personagem. E olha que Magic Johnson foi longe nos dois sentidos!
Mesmo não gostando muito do apelido, para o próprio Earvin Johnson, “Magic” sempre teve muitos significados. O brilho do sorriso enorme, para ele, era apenas o reflexo do estilo de jogo impressionante que mudou para sempre o basquete - o roteiro foi muito inteligente ao simbolizar essas duas características com passagens marcantes da vida e da carreira de "Magic" e assim se aprofundar nos temas que rodeavam aquele universo temporal. O primeiro episódio e o inicio do segundo, basicamente, acompanham o período retratado na série da HBO: a chegada de Magic na NBA e o titulo conquistado no seu primeiro ano como profissional. Já a conexão magnética que o levou ao amor da sua vida, Cookie, e os embates marcantes contra o Boston Celtics estão no segundo episódio. O choque e o luto depois do diagnóstico do HIV que ele transformou em triunfo, redirecionando o diálogo mundial sobre a doença, superando as probabilidades alarmantes da época até o convite para jogar o All Star Game e depois as Olimpíadas de Barcelona em 1992, estão no terceiro. E finalmente, a ascendência de estrela do esporte ao megaempresário de sucesso, traçando novos caminhos para ex-atletas e revolucionando a forma como a sociedade corporativa norte-americana enxergava o público nas comunidades negras, estão no quarto e último episódio.
Com nomes do calibre de Barack Obama, Michael Jordan, Bill Clinton, Snoop Dogg e Spike Lee (apenas para citar alguns), o documentário é muito competente em humanizar Magic Johnson sem parecer "chapa branca" demais. Embora alguns momentos-chave da carreira do atleta tenham ficado de fora, como a confusão com Kareem Abdul-Jabbar após receber o MVP da Finais de 1979/80, "Meu nome é Magic Johnson" equilibra perfeitamente o trabalho jornalístico e de pesquisa, com depoimentos e imagens de arquivo que acabam oferecendo um olhar esclarecedor e definitivo sobre um cara que esteve a frente do seu tempo dentro de quadra e que pagou o preço por suas escolhas fora dela.
Vale muito a pena!
"Meu nome é Magic Johnson" tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que se trata de um excelente documentário sobre um dos jogadores mais marcantes e importantes da sua geração, em todos os esportes, que é Magic Johnson; já o lado ruim é que, certamente, se você estiver acompanhando a série da HBO, "Lakers: Hora de Vencer", você vai ter spoilers de pelo menos umas três temporadas!
Revelando entrevistas íntimas com o próprio Magic e outras estrelas do esporte e de diversos segmentos que vão da política à música, sem falar nos familiares e amigos, “They Call Me Magic” (no original) ilustra a vida e a carreira de um dos maiores ídolos culturais da nossa era com acesso inédito em uma série documental de quatro partes simplesmente imperdível. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo talentoso Rick Famuyiwa, "Meu nome é Magic Johnson" é mais uma excelente opção para aqueles que gostam de documentários sobre ícones do esporte e que, além da jornada profissional, ainda traz para dentro da sua narrativa, muitas curiosidades e passagens marcantes - tanto da carreira como atleta, como nas inúmeras dificuldades pessoais que, inclusive, ajudaram a moldar a idolatria pelo personagem. E olha que Magic Johnson foi longe nos dois sentidos!
Mesmo não gostando muito do apelido, para o próprio Earvin Johnson, “Magic” sempre teve muitos significados. O brilho do sorriso enorme, para ele, era apenas o reflexo do estilo de jogo impressionante que mudou para sempre o basquete - o roteiro foi muito inteligente ao simbolizar essas duas características com passagens marcantes da vida e da carreira de "Magic" e assim se aprofundar nos temas que rodeavam aquele universo temporal. O primeiro episódio e o inicio do segundo, basicamente, acompanham o período retratado na série da HBO: a chegada de Magic na NBA e o titulo conquistado no seu primeiro ano como profissional. Já a conexão magnética que o levou ao amor da sua vida, Cookie, e os embates marcantes contra o Boston Celtics estão no segundo episódio. O choque e o luto depois do diagnóstico do HIV que ele transformou em triunfo, redirecionando o diálogo mundial sobre a doença, superando as probabilidades alarmantes da época até o convite para jogar o All Star Game e depois as Olimpíadas de Barcelona em 1992, estão no terceiro. E finalmente, a ascendência de estrela do esporte ao megaempresário de sucesso, traçando novos caminhos para ex-atletas e revolucionando a forma como a sociedade corporativa norte-americana enxergava o público nas comunidades negras, estão no quarto e último episódio.
Com nomes do calibre de Barack Obama, Michael Jordan, Bill Clinton, Snoop Dogg e Spike Lee (apenas para citar alguns), o documentário é muito competente em humanizar Magic Johnson sem parecer "chapa branca" demais. Embora alguns momentos-chave da carreira do atleta tenham ficado de fora, como a confusão com Kareem Abdul-Jabbar após receber o MVP da Finais de 1979/80, "Meu nome é Magic Johnson" equilibra perfeitamente o trabalho jornalístico e de pesquisa, com depoimentos e imagens de arquivo que acabam oferecendo um olhar esclarecedor e definitivo sobre um cara que esteve a frente do seu tempo dentro de quadra e que pagou o preço por suas escolhas fora dela.
Vale muito a pena!
Antes de mais nada é preciso dizer que "Minha História" ("Becoming", título original) é mais uma peça importante na campanha de marketing do livro de Michelle Obama do que uma obra que possa ser considerada uma profunda biografia ou até mesmo um retrato isento de uma fase da vida da ex-primeira dama. Dito isso, fico muito a vontade em dizer que esse documentário, dirigido pela Nadia Hallgren, é ótimo! O fato da diretora e roteirista usar a turnê de lançamento da auto-biografia de Michelle como pano de fundo, não diminui a importância dos comentários e sentimentos da protagonista sobre sua jornada ao lado do marido na Casa Branca durante 8 anos. O uso de filmagens exclusivas dos bastidores dessa turnê, assim como o formato do evento (com perguntas e respostas ao melhor estilo talk show) funcionam como fio condutor da narrativa que vai pontuando alguns assuntos importantes como o empoderamento feminino, discussões raciais e até comentários sobre dinâmica familiar e educação do filhos, que Michelle expõe com a maior naturalidade e simpatia em escolas, igrejas e em reuniões com sua família e equipe. Confira o trailer:
É claro que o maior mérito do documentário é a presença forte e carismática de Michelle Obama - e como seu próprio marido comentou na rápida aparição que fez em um dos eventos: "Michelle sabe contar boas histórias" - ela tem o dom da oratória e sua inteligência fica absurdamente clara perante a forma como ela conduz os assuntos e se posiciona sem ofender quem assiste, mesmo que a opinião seja contrária. Olha, é impressionante como sua posição de liderança simplesmente flui durante os 90 minutos que a acompanhamos. É claro que vale o play, mas vai soar muito mais agradável fazer um convite: assista "Minha História" e veja como respeito não se impõe, se conquista!
"Minha História" sofre um pouco com a falta de foco e com isso o tempo de tela passa a ser um problema, já que impede que determinados assuntos sejam abordados com mais profundidade como as dificuldades que o casal sofreu durante a campanha presidencial e até sobre a curiosa relação de Michelle com seu pai - imagino que isso deve estar melhor contado no livro, o que confirma minha critica inicial: estamos assistindo uma espécie de teaser muito bem feito do que encontraremos mais detalhado no livro! Outro ponto que me incomodou um pouco e que me pareceu completamente dispensável é a forma como a diretora investe na história de duas estudantes (em momentos diferentes do documentário) sem a menor explicação ou conceito narrativo que justificasse essa escolha - só para validar um comentário anterior de Michelle.
Tecnicamente, "Minha História" é um documentário muito bem realizado. As imagens que vemos, a grandiosidade dos planos e o conceito visual escolhido impressionam pela qualidade e fluidez com os assuntos abordados. Muito bem editado e fotografado, temos um produto bem pensado, que nos instiga a querer saber mais e que quase nos obriga a entrar na Amazon e comprar o livro. Fica escancarado esse objetivo e, se tratando de Michelle, ler sua auto-biografia não parece ser um problema. Ficamos com água na boca para saber mais: mais curiosidades, mais da sua jornada, mais da sua experiência como primeira dama, mais das suas relações, etc.
"Minha História" é aquele tipo de documentário que te conquista fácil, que te emociona e você não sabe nem muito bem a razão, mas infelizmente sofre com sua escolha estratégica de nos presentear apenas com a figura carismática e não com a profundidade das suas convicções.
Antes de mais nada é preciso dizer que "Minha História" ("Becoming", título original) é mais uma peça importante na campanha de marketing do livro de Michelle Obama do que uma obra que possa ser considerada uma profunda biografia ou até mesmo um retrato isento de uma fase da vida da ex-primeira dama. Dito isso, fico muito a vontade em dizer que esse documentário, dirigido pela Nadia Hallgren, é ótimo! O fato da diretora e roteirista usar a turnê de lançamento da auto-biografia de Michelle como pano de fundo, não diminui a importância dos comentários e sentimentos da protagonista sobre sua jornada ao lado do marido na Casa Branca durante 8 anos. O uso de filmagens exclusivas dos bastidores dessa turnê, assim como o formato do evento (com perguntas e respostas ao melhor estilo talk show) funcionam como fio condutor da narrativa que vai pontuando alguns assuntos importantes como o empoderamento feminino, discussões raciais e até comentários sobre dinâmica familiar e educação do filhos, que Michelle expõe com a maior naturalidade e simpatia em escolas, igrejas e em reuniões com sua família e equipe. Confira o trailer:
É claro que o maior mérito do documentário é a presença forte e carismática de Michelle Obama - e como seu próprio marido comentou na rápida aparição que fez em um dos eventos: "Michelle sabe contar boas histórias" - ela tem o dom da oratória e sua inteligência fica absurdamente clara perante a forma como ela conduz os assuntos e se posiciona sem ofender quem assiste, mesmo que a opinião seja contrária. Olha, é impressionante como sua posição de liderança simplesmente flui durante os 90 minutos que a acompanhamos. É claro que vale o play, mas vai soar muito mais agradável fazer um convite: assista "Minha História" e veja como respeito não se impõe, se conquista!
"Minha História" sofre um pouco com a falta de foco e com isso o tempo de tela passa a ser um problema, já que impede que determinados assuntos sejam abordados com mais profundidade como as dificuldades que o casal sofreu durante a campanha presidencial e até sobre a curiosa relação de Michelle com seu pai - imagino que isso deve estar melhor contado no livro, o que confirma minha critica inicial: estamos assistindo uma espécie de teaser muito bem feito do que encontraremos mais detalhado no livro! Outro ponto que me incomodou um pouco e que me pareceu completamente dispensável é a forma como a diretora investe na história de duas estudantes (em momentos diferentes do documentário) sem a menor explicação ou conceito narrativo que justificasse essa escolha - só para validar um comentário anterior de Michelle.
Tecnicamente, "Minha História" é um documentário muito bem realizado. As imagens que vemos, a grandiosidade dos planos e o conceito visual escolhido impressionam pela qualidade e fluidez com os assuntos abordados. Muito bem editado e fotografado, temos um produto bem pensado, que nos instiga a querer saber mais e que quase nos obriga a entrar na Amazon e comprar o livro. Fica escancarado esse objetivo e, se tratando de Michelle, ler sua auto-biografia não parece ser um problema. Ficamos com água na boca para saber mais: mais curiosidades, mais da sua jornada, mais da sua experiência como primeira dama, mais das suas relações, etc.
"Minha História" é aquele tipo de documentário que te conquista fácil, que te emociona e você não sabe nem muito bem a razão, mas infelizmente sofre com sua escolha estratégica de nos presentear apenas com a figura carismática e não com a profundidade das suas convicções.
"Monster" (no original) vem dividindo opiniões desde sua estreia no Festival de Sundance em 2018! E aqui cabe uma aviso para as expectativas ficarem alinhadas: embora o filme narre o julgamento de um garoto negro acusado de participar de um crime, "Monstro" não é um filme de tribunal, de investigação ou policial - estamos falando de um drama, cheio de camadas e discussões sociais do mais alto nível, mas com uma narrativa e estética bem autoral, independente!
A história acompanha Steve Harmon (Kelvin Harrison Jr.), jovem de 17 anos do Harlen, inteligente e carismático que estuda para se tornar um cineasta no futuro. Porém, seu mundo vira de cabeça para baixo quando ele é acusado de um assassinato. A partir daí, acompanhamos sua jornada dramática, enquanto tenta provar sua inocência ao lado de sua advogada Maureen O'Brien (Jennifer Ehle). Confira o trailer:
"Monstro" é o primeiro filme do Anthony Mandler, diretor que construiu sua carreira em vídeo clipes trabalhando com artistas renomados como Black Eyed Peas, Snoop Dogg, 50 Cent, Eminem, Nelly Furtado, Rihanna, Beyoncé, entre outros. É preciso ressaltar, aliás, que sua estreia é extremamente sólida, cheia de personalidade e baseada em uma narrativa completamente fragmentada e muito bem fotografada - Mandler, de fato, impôs sua identidade e merece nossa atenção. Ele criou uma atmosfera bastante reflexiva a partir do roteiro escrito pela Janece Shaffer e pelo Colen C. Wiley, usando e abusando de planos fechados, com uma câmera bem nervosa, permitindo uma forte incidência da iluminação, tudo com o intuito de fortalecer a ideia daquela realidade brutal que o personagem estava vivendo.
O filme se apoia na narração em off de Steve Harmon - o texto é visceral, poético e muito profundo. Kelvin Harrison Jr. tem uma performance impressionante, de dilacerar o coração com sua capacidade de internalizar sua dor e expressar o sentimento com o mais correto minimalismo para não soar pegas - é um grande trabalho que merecia um maior reconhecimento. Outro que também merece elogios é, mais uma vez, Jeffrey Wright, o Mr. Harmon, pai de Steve - reparem na cena em que ele visita o filho na prisão. Lindo de ver!
"Monstro" é um filme corajoso ao quebrar completamente a linha temporal e nos prender em uma narrativa que tenta nos explicar como um garoto tão especial como Steve está sendo acusado de uma crime tão sério. Ao mesmo tempo somos convidados à uma reflexão importante, que nos acompanha durante todo o filme: independente de sua índole ou educação, um deslize pontual com consequências gravíssimas mereceria aquele julgamento? E se Steve for de fato inocente, o fato dele ser negro influenciou na acusação ou no tratamento que ele teve? Sim, todas essas perguntas vão nos martelando e embora a experiência de assistir "Monstro" seja até angustiante e pouco convencional, no final a jornada é das mais sensacionais!
Vale muito a pena!
"Monster" (no original) vem dividindo opiniões desde sua estreia no Festival de Sundance em 2018! E aqui cabe uma aviso para as expectativas ficarem alinhadas: embora o filme narre o julgamento de um garoto negro acusado de participar de um crime, "Monstro" não é um filme de tribunal, de investigação ou policial - estamos falando de um drama, cheio de camadas e discussões sociais do mais alto nível, mas com uma narrativa e estética bem autoral, independente!
A história acompanha Steve Harmon (Kelvin Harrison Jr.), jovem de 17 anos do Harlen, inteligente e carismático que estuda para se tornar um cineasta no futuro. Porém, seu mundo vira de cabeça para baixo quando ele é acusado de um assassinato. A partir daí, acompanhamos sua jornada dramática, enquanto tenta provar sua inocência ao lado de sua advogada Maureen O'Brien (Jennifer Ehle). Confira o trailer:
"Monstro" é o primeiro filme do Anthony Mandler, diretor que construiu sua carreira em vídeo clipes trabalhando com artistas renomados como Black Eyed Peas, Snoop Dogg, 50 Cent, Eminem, Nelly Furtado, Rihanna, Beyoncé, entre outros. É preciso ressaltar, aliás, que sua estreia é extremamente sólida, cheia de personalidade e baseada em uma narrativa completamente fragmentada e muito bem fotografada - Mandler, de fato, impôs sua identidade e merece nossa atenção. Ele criou uma atmosfera bastante reflexiva a partir do roteiro escrito pela Janece Shaffer e pelo Colen C. Wiley, usando e abusando de planos fechados, com uma câmera bem nervosa, permitindo uma forte incidência da iluminação, tudo com o intuito de fortalecer a ideia daquela realidade brutal que o personagem estava vivendo.
O filme se apoia na narração em off de Steve Harmon - o texto é visceral, poético e muito profundo. Kelvin Harrison Jr. tem uma performance impressionante, de dilacerar o coração com sua capacidade de internalizar sua dor e expressar o sentimento com o mais correto minimalismo para não soar pegas - é um grande trabalho que merecia um maior reconhecimento. Outro que também merece elogios é, mais uma vez, Jeffrey Wright, o Mr. Harmon, pai de Steve - reparem na cena em que ele visita o filho na prisão. Lindo de ver!
"Monstro" é um filme corajoso ao quebrar completamente a linha temporal e nos prender em uma narrativa que tenta nos explicar como um garoto tão especial como Steve está sendo acusado de uma crime tão sério. Ao mesmo tempo somos convidados à uma reflexão importante, que nos acompanha durante todo o filme: independente de sua índole ou educação, um deslize pontual com consequências gravíssimas mereceria aquele julgamento? E se Steve for de fato inocente, o fato dele ser negro influenciou na acusação ou no tratamento que ele teve? Sim, todas essas perguntas vão nos martelando e embora a experiência de assistir "Monstro" seja até angustiante e pouco convencional, no final a jornada é das mais sensacionais!
Vale muito a pena!
"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:
Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!
Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!
A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!
Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!
Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!
Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!
"Moonlight" é um grande filme - uma história que mostra uma realidade dura, mas sem ser piegas. Chega ser surpreendente como as coisas acontecem na vida do protagonista! "Moonlight" tem o mérito de focar nas ligações humanas e na auto-descoberta, através da vida de um jovem afro-americano desde a sua infância até à idade adulta, acompanhando a sua luta até encontrar um lugar no mundo à medida que vai crescendo em um bairro pobre de Miami. O filme é um retrato real da vida contemporânea da comunidade afro-americana ao mesmo tempo que é um convite à uma reflexão profundamente pessoal sobre identidade! Confira o trailer:
Sem dúvida, o melhor trabalho entre os indicados ao Oscar 2017 para melhor diretor ao lado do Denis Villeneuve (com "A Chegada") - e isso fez muita diferença no filme, pois a sensibilidade do diretor transformou uma jornada impactante (e até já vista) em algo original e surpreendente em muitos momentos. Baseado no projeto “In Moonlight Black Boys Look Blue” de Tarell Alvin McCraney, acompanhar a transformação na vida de Chiron (Ashton Sanders) durante três fases: infância, adolescência e maturidade, nos tira completamente da zona de conforto e nos move em uma incrível jornada - se não tão emotiva como em "Lion", certamente mais impactante!
Barry Jenkins mandou muito bem nas escolhas dos planos, dos movimentos e principalmente na direção dos atores - Mahershala Ali como Juan é quase uma barbada na categoria de ator coadjuvante! A maneira como Jenkins usou o silencio para trazer as sensações que a história pedia é impressionante! Confesso que não conhecia o trabalho dele e gostei muito! Um diretor com muita personalidade pra quem está apenas no segundo longa-metragem e que merece ser observado de perto - vale ressaltar que Barry Jenkins já tinha uma carreira bastante sólida em festivais de curtas-metragem e seu primeiro filme já havia chamado muita atenção dos críticos!
A fotografia de "Moonlight" do diretor James Laxton (companheiro de longa data de Jenkins desde seu primeiro curta em 2003) também é incrível, mas não acho que levaria o prêmio pelos concorrentes fortes que tem nessa categoria! Outra do elenco que mereceria o prêmio é a Naomie Harris que interpreta a mãe do protagonista e concorre como atriz coadjuvante! Está certo que o papel é um presente: uma viciada em crack! Ma ela simplesmente destrói!
Nas outras categorias em que o filme foi indicado, e são 8 no total, Roteiro Adaptado corre por fora, mas não me surpreenderia se ganhasse. Embora "Moonlight" tenha sido muito premiado em festivas pelo mundo, não acho que teria força pra desbancar os favoritos como Melhor Filme, embora tem tenha todos os elementos para isso! O que eu posso dizer é que, independente de qualquer coisa, temos mais um grande filme em uma temporada muito pulverizada nos gêneros!
Vale muito o seu play - daquele para ver e rever!
Up-date: "Moonlight" ganhou em três categorias no Oscar 2017: Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado e, surpreendeu como, Melhor Filme!
Essa minissérie é incrível, mas já te adianto: você vai se sentir provocado a muitas reflexões e provavelmente também se sentirá desconfortável por muitas delas. "Mrs. America", criada por Dahvi Waller (de "Mad Man" e de "Halt and Catch Fire"), explora com muita inteligência a batalha pelos direitos das mulheres nos Estados Unidos durante a década de 1970, tendo como foco central a oposição ao movimento feminista liderada por Phyllis Schlafly (Cate Blanchett). Com uma narrativa que equilibra fatos históricos e uma exploração profunda de seus personagens, levantando questões sempre pertinentes, "Mrs. America", eu diria, é uma análise fascinante e muito complexa sobre igualdade de gênero pelo viés do poder e da política - além de ser um retrato fiel de um período crucial na história americana.
A trama acompanha os eventos que cercaram a tentativa de ratificação da Emenda dos Direitos Iguais (ERA, na sigla em inglês), que visava garantir a igualdade de direitos independentemente do sexo. Enquanto líderes feministas como Gloria Steinem (Rose Byrne), Shirley Chisholm (Uzo Aduba) e Betty Friedan (Tracey Ullman) lutavam pela aprovação da emenda, Phyllis Schlafly emergia como a principal voz contra a ERA, argumentando que ela destruiria as bases tradicionais da família americana. "Mrs. America" explora o impacto dessa oposição e a divisão política que se formou em torno dos direitos das mulheres em vários aspectos. Confira o trailer (em inglês):
"Mrs. America" é repleta de pontos positivos - não por acaso foi um dos destaques na temporada 2020 de premiações, sendo indicada, por exemplo, em 10 categorias no Emmy daquele ano. Pois bem, vamos começar pelo roteiro: sem dúvida um dos destaques da produção, já que ele consegue contextualizar de maneira acessível os debates políticos e sociais complexos da época, sem cair na simplificação ou na caricatura da polarização. As cenas de debates entre feministas e conservadoras são bem construídas e equilibradas, mostrando como ambos os lados utilizaram argumentos emocionais e racionais para conquistar apoio popular. A narrativa destaca, mesmo dentro do movimento feminista, como existiam divergências significativas sobre temas sensíveis, como raça, classe social e até orientação sexual, mostrando que a luta pela igualdade de gênero não era tão homogênea, mas sim repleta de tensões internas. Outro mérito da minissérie é não tratar Schlafly apenas como uma antagonista unidimensional, muito pelo contrário, o roteiro é competente o suficiente para explorar as camadas de suas crenças e suas estratégias, revelando uma mulher que, apesar de defender uma visão conservadora da sociedade, usava as próprias armas do feminismo para promover sua agenda. Essa abordagem, inclusive, humaniza a personagem e proporciona uma reflexão mais profunda sobre o conservadorismo e o papel das mulheres dentro desse recorte.
Cate Blanchett, em uma performance magistral como Phyllis Schlafly, é o grande destaque do elenco ao lado de Uzo Aduba. Blanchett traz uma consciência dramática impressionante para o papel, retratando Schlafly não como uma vilã estereotipada, mas como uma mulher ambiciosa e estrategista que, apesar de defender valores tradicionais, tenta alcançar seus objetivos políticos a qualquer custo - é impressionante como Blanchett captura as nuances de sua personagem, desde o carisma e a perspicácia até a rigidez e a contradição interna de uma mulher que luta contra a emancipação feminina enquanto busca se afirmar em um mundo dominado por homens. Já Aduba, como Shirley Chisholm, oferece uma performance intensa, explorando as lutas de uma mulher negra no movimento, cujas questões específicas muitas vezes foram marginalizadas pelas próprias feministas. Nesse sentido a minissérie entrega um excelente trabalho ao dar espaço para as vozes diversas dentro de um mesmo movimento, mostrando como a luta pela igualdade nunca foi algo simples.
O fato é que "Mrs. America" se destaca pelo equilíbrio cuidadoso entre drama e história. A série não apenas explora os eventos em torno da ERA, mas também humaniza os personagens, revelando suas motivações, dilemas e contradições. Ao mostrar os bastidores de ambos os lados do debate, tanto das feministas quanto das conservadoras liderados por Schlafly, a minissérie acaba entregando um retrato multifacetado da política americana, revelando estratégias e alianças, mas também as as traições que moldaram a década de 1970 e continuam a reverberando até hoje - mesmo que essa narrativa possa soar um enfraquecimento do movimento feminista e da importância da ERA.
Se você está preparado para encarar uma jornada repleta de contrastes ideológicos e emocionais que vai te tirar da zona de conforto, não deixe de dar o play. Vale muito a pena!
Essa minissérie é incrível, mas já te adianto: você vai se sentir provocado a muitas reflexões e provavelmente também se sentirá desconfortável por muitas delas. "Mrs. America", criada por Dahvi Waller (de "Mad Man" e de "Halt and Catch Fire"), explora com muita inteligência a batalha pelos direitos das mulheres nos Estados Unidos durante a década de 1970, tendo como foco central a oposição ao movimento feminista liderada por Phyllis Schlafly (Cate Blanchett). Com uma narrativa que equilibra fatos históricos e uma exploração profunda de seus personagens, levantando questões sempre pertinentes, "Mrs. America", eu diria, é uma análise fascinante e muito complexa sobre igualdade de gênero pelo viés do poder e da política - além de ser um retrato fiel de um período crucial na história americana.
A trama acompanha os eventos que cercaram a tentativa de ratificação da Emenda dos Direitos Iguais (ERA, na sigla em inglês), que visava garantir a igualdade de direitos independentemente do sexo. Enquanto líderes feministas como Gloria Steinem (Rose Byrne), Shirley Chisholm (Uzo Aduba) e Betty Friedan (Tracey Ullman) lutavam pela aprovação da emenda, Phyllis Schlafly emergia como a principal voz contra a ERA, argumentando que ela destruiria as bases tradicionais da família americana. "Mrs. America" explora o impacto dessa oposição e a divisão política que se formou em torno dos direitos das mulheres em vários aspectos. Confira o trailer (em inglês):
"Mrs. America" é repleta de pontos positivos - não por acaso foi um dos destaques na temporada 2020 de premiações, sendo indicada, por exemplo, em 10 categorias no Emmy daquele ano. Pois bem, vamos começar pelo roteiro: sem dúvida um dos destaques da produção, já que ele consegue contextualizar de maneira acessível os debates políticos e sociais complexos da época, sem cair na simplificação ou na caricatura da polarização. As cenas de debates entre feministas e conservadoras são bem construídas e equilibradas, mostrando como ambos os lados utilizaram argumentos emocionais e racionais para conquistar apoio popular. A narrativa destaca, mesmo dentro do movimento feminista, como existiam divergências significativas sobre temas sensíveis, como raça, classe social e até orientação sexual, mostrando que a luta pela igualdade de gênero não era tão homogênea, mas sim repleta de tensões internas. Outro mérito da minissérie é não tratar Schlafly apenas como uma antagonista unidimensional, muito pelo contrário, o roteiro é competente o suficiente para explorar as camadas de suas crenças e suas estratégias, revelando uma mulher que, apesar de defender uma visão conservadora da sociedade, usava as próprias armas do feminismo para promover sua agenda. Essa abordagem, inclusive, humaniza a personagem e proporciona uma reflexão mais profunda sobre o conservadorismo e o papel das mulheres dentro desse recorte.
Cate Blanchett, em uma performance magistral como Phyllis Schlafly, é o grande destaque do elenco ao lado de Uzo Aduba. Blanchett traz uma consciência dramática impressionante para o papel, retratando Schlafly não como uma vilã estereotipada, mas como uma mulher ambiciosa e estrategista que, apesar de defender valores tradicionais, tenta alcançar seus objetivos políticos a qualquer custo - é impressionante como Blanchett captura as nuances de sua personagem, desde o carisma e a perspicácia até a rigidez e a contradição interna de uma mulher que luta contra a emancipação feminina enquanto busca se afirmar em um mundo dominado por homens. Já Aduba, como Shirley Chisholm, oferece uma performance intensa, explorando as lutas de uma mulher negra no movimento, cujas questões específicas muitas vezes foram marginalizadas pelas próprias feministas. Nesse sentido a minissérie entrega um excelente trabalho ao dar espaço para as vozes diversas dentro de um mesmo movimento, mostrando como a luta pela igualdade nunca foi algo simples.
O fato é que "Mrs. America" se destaca pelo equilíbrio cuidadoso entre drama e história. A série não apenas explora os eventos em torno da ERA, mas também humaniza os personagens, revelando suas motivações, dilemas e contradições. Ao mostrar os bastidores de ambos os lados do debate, tanto das feministas quanto das conservadoras liderados por Schlafly, a minissérie acaba entregando um retrato multifacetado da política americana, revelando estratégias e alianças, mas também as as traições que moldaram a década de 1970 e continuam a reverberando até hoje - mesmo que essa narrativa possa soar um enfraquecimento do movimento feminista e da importância da ERA.
Se você está preparado para encarar uma jornada repleta de contrastes ideológicos e emocionais que vai te tirar da zona de conforto, não deixe de dar o play. Vale muito a pena!
Antes de mais nada é preciso dizer: "No Limite - A História de Ernie Davis" é excelente! Para quem gosta de um filme que vai além do "pano de fundo" que nesse caso, mais uma vez, é o futebol americano, é imperdível. Ele é uma mistura de "Rudy" com "Como um domingo qualquer" - e se você sabe do que eu estou falando, não demore para dar o play; mas se você não sabe, você vai encontrar uma linda e emocionante jornada de perseverança, ética, disciplina, foco e, principalmente, honra!
"The Express" (no original) conta a história real de superação e talento de Ernie Davis (vivido quando criança por Justin Martin e quando adulto por Rob Brown), um jogador de futebol americano que quebrou barreiras raciais nos anos 60. Ele foi o primeiro atleta negro a receber o Troféu Heisman, concedido aos melhores jogadores universitários. Sua luta pela igualdade e respeito mudou a essência do esporte norte-americano; e até hoje a vida deste jovem continua inspirando novas gerações. Criado em meio à pobreza, Ernie teve de superar obstáculos econômicos e sociais para se tornar um dos melhores “running backs” (posição de corredor) da história do futebol americano universitário. Guiado pelo lendário técnico Ben Schwartzwalder (Dennis Quaid), homem de personalidade forte e dono de um instinto de campeão, Davis aprimora suas habilidades e dá início a uma escalada dentro do esporte. Só que, no meio do percurso, o vencedor se depara com um golpe do destino que poderá impedi-lo de continuar a carreira de jogador e, até mesmo, de viver. Confira o trailer (em inglês):
Com a duplamente complicada missão de adaptar um livro (de Robert Gallagher, publicado originalmente em 1983) e escrever uma cinebiografia, o roteiro deCharles Leavitt é muito inteligente em equilibrar perfeitamente a discriminação racial nos EUA durante a vigência das leis segregacionistas de Jim Crow com a ascensão esportiva de Ernie como símbolo de sua época para as crianças e jovens negros - e aqui cabe uma observação importante: o roteiro, mesmo apegado a uma fórmula já conhecida de histórias de superação e embate social por direitos iguais, corta um enorme caminho ao estabelecer a enorme capacidade esportiva de Ernie desde o início, não perdendo tempo com treinamentos ou momentos de superação física. Essa escolha permite mais tempo de tela para que o filme trabalhe o tema do preconceito a todo momento.
As sequências de futebol americano, são muito bem realizadas pelo diretor Gary Fleder - o mais próximo que encontrei até aqui do excelente "Como um domingo qualquer" do Oliver Stone. Quanto ao elenco, algumas observações: Dennis Quais está ótimo mais uma vez - ele funciona muito bem para pontuar um tipo de racismo que sequer percebemos como racismo. Rob Brown, entrega um Ernie Davis humano, equilibrado na performance, sem estereotipar o personagem e profundo na construção de um mito com muita sensibilidade. E ainda temos Chadwick Boseman em seu primeiro papel deno cinema com uma relevante participação, embora com falas de poucos minutos somente no final do filme.
"No Limite - A História de Ernie Davis" é emocionante ao mesmo tempo em que não se envergonha de usar o texto para passar de forma bem clara sua mensagem, deixando, inclusive, o futebol americano de lado para alcançar esse objetivo - certamente com mais propriedade que produções como "Talento e Fé" e até "Coach Carter". Eu diria, inclusive, que o filme poderia tranquilamente ser um episódio de "Small Axe" pela qualidade técnica e artística, e pela mensagem direta e coerente!
Vale muito a pena!
Antes de mais nada é preciso dizer: "No Limite - A História de Ernie Davis" é excelente! Para quem gosta de um filme que vai além do "pano de fundo" que nesse caso, mais uma vez, é o futebol americano, é imperdível. Ele é uma mistura de "Rudy" com "Como um domingo qualquer" - e se você sabe do que eu estou falando, não demore para dar o play; mas se você não sabe, você vai encontrar uma linda e emocionante jornada de perseverança, ética, disciplina, foco e, principalmente, honra!
"The Express" (no original) conta a história real de superação e talento de Ernie Davis (vivido quando criança por Justin Martin e quando adulto por Rob Brown), um jogador de futebol americano que quebrou barreiras raciais nos anos 60. Ele foi o primeiro atleta negro a receber o Troféu Heisman, concedido aos melhores jogadores universitários. Sua luta pela igualdade e respeito mudou a essência do esporte norte-americano; e até hoje a vida deste jovem continua inspirando novas gerações. Criado em meio à pobreza, Ernie teve de superar obstáculos econômicos e sociais para se tornar um dos melhores “running backs” (posição de corredor) da história do futebol americano universitário. Guiado pelo lendário técnico Ben Schwartzwalder (Dennis Quaid), homem de personalidade forte e dono de um instinto de campeão, Davis aprimora suas habilidades e dá início a uma escalada dentro do esporte. Só que, no meio do percurso, o vencedor se depara com um golpe do destino que poderá impedi-lo de continuar a carreira de jogador e, até mesmo, de viver. Confira o trailer (em inglês):
Com a duplamente complicada missão de adaptar um livro (de Robert Gallagher, publicado originalmente em 1983) e escrever uma cinebiografia, o roteiro deCharles Leavitt é muito inteligente em equilibrar perfeitamente a discriminação racial nos EUA durante a vigência das leis segregacionistas de Jim Crow com a ascensão esportiva de Ernie como símbolo de sua época para as crianças e jovens negros - e aqui cabe uma observação importante: o roteiro, mesmo apegado a uma fórmula já conhecida de histórias de superação e embate social por direitos iguais, corta um enorme caminho ao estabelecer a enorme capacidade esportiva de Ernie desde o início, não perdendo tempo com treinamentos ou momentos de superação física. Essa escolha permite mais tempo de tela para que o filme trabalhe o tema do preconceito a todo momento.
As sequências de futebol americano, são muito bem realizadas pelo diretor Gary Fleder - o mais próximo que encontrei até aqui do excelente "Como um domingo qualquer" do Oliver Stone. Quanto ao elenco, algumas observações: Dennis Quais está ótimo mais uma vez - ele funciona muito bem para pontuar um tipo de racismo que sequer percebemos como racismo. Rob Brown, entrega um Ernie Davis humano, equilibrado na performance, sem estereotipar o personagem e profundo na construção de um mito com muita sensibilidade. E ainda temos Chadwick Boseman em seu primeiro papel deno cinema com uma relevante participação, embora com falas de poucos minutos somente no final do filme.
"No Limite - A História de Ernie Davis" é emocionante ao mesmo tempo em que não se envergonha de usar o texto para passar de forma bem clara sua mensagem, deixando, inclusive, o futebol americano de lado para alcançar esse objetivo - certamente com mais propriedade que produções como "Talento e Fé" e até "Coach Carter". Eu diria, inclusive, que o filme poderia tranquilamente ser um episódio de "Small Axe" pela qualidade técnica e artística, e pela mensagem direta e coerente!
Vale muito a pena!
Antes mesmo de "Parasita", "Nós" já tinha instalado um triplex na cabeça de muita gente e te garanto: o impacto (e a crítica) é bem semelhante - especialmente pelo "toque Jordan Peele" que o filme traz em seu DNA. O fato é que "Us", no original, é um daqueles filmes que transcendem o gênero do horror clássico para se tornar uma inquietante e poderosa reflexão sobre desigualdade social e sobre a dualidade da natureza humana. Seguindo a fórmula que o diretor apresentou em seu aclamado “Corra!” (ou "Get Out"), o filme entrega uma trama assustadora na sua essência, repleta de simbolismos e com um humor ácido que amplifica o desconforto sem nunca abandonar o valor do entretenimento. Eu diria, inclusive, que "Nós" é uma daquelas experiências fascinantes tanto para os amantes do suspense psicológico quanto para quem busca uma obra com camadas mais profundas de discussão - que normalmente divide opiniões, é verdade, mas que também coloca a obra em outra prateleira!
A história acompanha Adelaide Wilson (Lupita Nyong'o), que retorna com seu marido Gabe (Winston Duke) e seus filhos Zora (Shahadi Wright Joseph) e Jason (Evan Alex) para uma casa de veraneio onde cresceu, perto de Santa Cruz, na Califórnia. Após um traumático evento de sua infância na praia local, Adelaide vive com a constante sensação de que algo sinistro a persegue. A paranoia se concretiza quando a família é subitamente atacada por estranhas figuras que, aterrorizantemente, revelam-se como seus próprios doppelgängers, ou seja, versões sombrias de si mesmos, iniciando uma luta por sobrevivência e respostas diante do inimaginável. Confira o trailer:
Jordan Peele, mais uma vez, confirma sua genialidade ao brincar com o suspense e a tensão de forma magistral. Como de costume, sua direção é precisa e cheia de identidade, alternando habilmente momentos de alta tensão com ótimas sequências de ação e uma violência realmente visceral. Peele trabalha cuidadosamente a atmosfera que ele cria com muita competência, explorando cenários claustrofóbicos, silêncios perturbadores e o uso marcante das cores para criar um sentimento constante de insegurança e apreensão. A fotografia de Mike Gioulakis (não por acaso também fotógrafo de "Tempo" do Shyamalan) contribui diretamente para essa ambientação, usando contrastes fortes entre luz e sombra, especialmente no jogo quase mítico entre o mundo "real" e o "subterrâneo". O roteiro, nesse sentido, usa e abusa dessa riqueza de simbolismos - a metáfora central, com os doppelgängers como versões reprimidas e esquecidas da sociedade, serve como uma poderosa crítica às disparidades sociais e ao lado obscuro do sonho americano. Essa provocante dualidade presente no filme é explorada de forma genial, mostrando não apenas o confronto externo, mas também um conflito interno, existencial, sobre o quanto estamos dispostos a reconhecer nossas próprias "sombras". Reparem como Peele brinca com referências cinematográficas, desde clássicos como “O Iluminado” até “Os Pássaros” de Hitchcock, fortalecendo ainda mais essa narrativa que dialoga com ícones do gênero como poucos.
Outro ponto a se observar é como a performance de Lupita Nyong'o rouba completamente a cena. Sua atuação como Adelaide e sua perturbadora versão "Red" é simplesmente impressionante. A atriz entrega duas personalidades distintas, cada uma cheia de detalhes próprios - enquanto uma é protetora, vulnerável e assustada, a outra é uma presença ameaçadora, com movimentos rígidos e aterrorizante. Seu trabalho demonstra uma versatilidade extraordinária, em uma das melhores interpretações dos últimos anos dentro do gênero. Winston Duke oferece o contraponto perfeito, com um humor pontual, quase constrangedor, que alivia brevemente a tensão sem prejudicar o mood do filme. Outro grande destaque de "Nós" é a sua trilha sonora - Michael Abels (parceiro fundamental de Peele ao longo dos anos) utiliza desde temas clássicos até versões mais perturbadoras de músicas populares, como "I Got 5 On It" - música que se torna praticamente um personagem no filme. Enquanto Abels cria uma atmosfera sonora inesquecível, é a montagem de Nicholas Monsour (de "O Reformatório Nickel") que mantém o ritmo tão acelerado, principalmente nos momentos de revelação, onde cortes rápidos e sincronizados amplificam o impacto das imagens.
Veja, “Nós”, em certos momentos, escolhe abrir mão do mistério para oferecer explicações literais sobre a origem dos doppelgängers. Isso pode diminuir a força simbólica da história para alguns mais exigentes, porém, a habilidade narrativa de Peele e sua preocupação com as questões sociais garantem que o filme permaneça envolvente e impactante até o fim, se tornando uma prova definitiva do seu talento, colocando ele como um dos cineastas mais importantes e criativos de sua geração!
Vale muito o seu play (e se prepare para alguns sustos)!
Antes mesmo de "Parasita", "Nós" já tinha instalado um triplex na cabeça de muita gente e te garanto: o impacto (e a crítica) é bem semelhante - especialmente pelo "toque Jordan Peele" que o filme traz em seu DNA. O fato é que "Us", no original, é um daqueles filmes que transcendem o gênero do horror clássico para se tornar uma inquietante e poderosa reflexão sobre desigualdade social e sobre a dualidade da natureza humana. Seguindo a fórmula que o diretor apresentou em seu aclamado “Corra!” (ou "Get Out"), o filme entrega uma trama assustadora na sua essência, repleta de simbolismos e com um humor ácido que amplifica o desconforto sem nunca abandonar o valor do entretenimento. Eu diria, inclusive, que "Nós" é uma daquelas experiências fascinantes tanto para os amantes do suspense psicológico quanto para quem busca uma obra com camadas mais profundas de discussão - que normalmente divide opiniões, é verdade, mas que também coloca a obra em outra prateleira!
A história acompanha Adelaide Wilson (Lupita Nyong'o), que retorna com seu marido Gabe (Winston Duke) e seus filhos Zora (Shahadi Wright Joseph) e Jason (Evan Alex) para uma casa de veraneio onde cresceu, perto de Santa Cruz, na Califórnia. Após um traumático evento de sua infância na praia local, Adelaide vive com a constante sensação de que algo sinistro a persegue. A paranoia se concretiza quando a família é subitamente atacada por estranhas figuras que, aterrorizantemente, revelam-se como seus próprios doppelgängers, ou seja, versões sombrias de si mesmos, iniciando uma luta por sobrevivência e respostas diante do inimaginável. Confira o trailer:
Jordan Peele, mais uma vez, confirma sua genialidade ao brincar com o suspense e a tensão de forma magistral. Como de costume, sua direção é precisa e cheia de identidade, alternando habilmente momentos de alta tensão com ótimas sequências de ação e uma violência realmente visceral. Peele trabalha cuidadosamente a atmosfera que ele cria com muita competência, explorando cenários claustrofóbicos, silêncios perturbadores e o uso marcante das cores para criar um sentimento constante de insegurança e apreensão. A fotografia de Mike Gioulakis (não por acaso também fotógrafo de "Tempo" do Shyamalan) contribui diretamente para essa ambientação, usando contrastes fortes entre luz e sombra, especialmente no jogo quase mítico entre o mundo "real" e o "subterrâneo". O roteiro, nesse sentido, usa e abusa dessa riqueza de simbolismos - a metáfora central, com os doppelgängers como versões reprimidas e esquecidas da sociedade, serve como uma poderosa crítica às disparidades sociais e ao lado obscuro do sonho americano. Essa provocante dualidade presente no filme é explorada de forma genial, mostrando não apenas o confronto externo, mas também um conflito interno, existencial, sobre o quanto estamos dispostos a reconhecer nossas próprias "sombras". Reparem como Peele brinca com referências cinematográficas, desde clássicos como “O Iluminado” até “Os Pássaros” de Hitchcock, fortalecendo ainda mais essa narrativa que dialoga com ícones do gênero como poucos.
Outro ponto a se observar é como a performance de Lupita Nyong'o rouba completamente a cena. Sua atuação como Adelaide e sua perturbadora versão "Red" é simplesmente impressionante. A atriz entrega duas personalidades distintas, cada uma cheia de detalhes próprios - enquanto uma é protetora, vulnerável e assustada, a outra é uma presença ameaçadora, com movimentos rígidos e aterrorizante. Seu trabalho demonstra uma versatilidade extraordinária, em uma das melhores interpretações dos últimos anos dentro do gênero. Winston Duke oferece o contraponto perfeito, com um humor pontual, quase constrangedor, que alivia brevemente a tensão sem prejudicar o mood do filme. Outro grande destaque de "Nós" é a sua trilha sonora - Michael Abels (parceiro fundamental de Peele ao longo dos anos) utiliza desde temas clássicos até versões mais perturbadoras de músicas populares, como "I Got 5 On It" - música que se torna praticamente um personagem no filme. Enquanto Abels cria uma atmosfera sonora inesquecível, é a montagem de Nicholas Monsour (de "O Reformatório Nickel") que mantém o ritmo tão acelerado, principalmente nos momentos de revelação, onde cortes rápidos e sincronizados amplificam o impacto das imagens.
Veja, “Nós”, em certos momentos, escolhe abrir mão do mistério para oferecer explicações literais sobre a origem dos doppelgängers. Isso pode diminuir a força simbólica da história para alguns mais exigentes, porém, a habilidade narrativa de Peele e sua preocupação com as questões sociais garantem que o filme permaneça envolvente e impactante até o fim, se tornando uma prova definitiva do seu talento, colocando ele como um dos cineastas mais importantes e criativos de sua geração!
Vale muito o seu play (e se prepare para alguns sustos)!