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Jack Ryan

Se você está com saudade dos bons tempos de "Homeland" nem precisa ler esse review inteiro, já pule direto para o play que você não vai se arrepender. Em quatro temporadas, "Jack Ryan" traz o melhor que uma série politica, com investigações internacionais (muito com o foco no terrorismo), com uma dinâmica narrativa envolvente e com uma produção de altíssimo nível, têm para oferecer. Desde seu lançamento em 2018 pela Prime Video, a série conquistou não apenas uma legião de fãs ávidos por tramas de espionagem, mas também a crítica especializada, acumulando elogios e reconhecimentos em diversos prêmios do setor - sendo indicado, inclusive, para três Emmys.

Baseada nos populares romances de Tom Clancy, "Jack Ryan" segue as intrigantes missões do analista da CIA que dá nome a série, interpretado brilhantemente por John Krasinski. A trama se desenrola quando Ryan se vê no centro de operações secretas para desvendar ameaças terroristas que podem abalar o equilíbrio do poder global. Com Wendell Pierce no papel de James Greer, a série oferece uma dinâmica convincente que nos cativa desde o primeiro episódio. Confira o trailer (em inglês):

Tal qual "24 Horas" e alguns anos depois "Homeland", a série retoma aquela receita infalível onde, com muita habilidade, é capaz de unir drama, ação e suspense, se apropriando do pseudo-realismo politico e da profundidade de seus personagens (imperfeitos) para nos entreter durante muitas horas - olha, é quase impossível assistir apenas um episódio por vez. Embora exista uma atmosfera de ficção, toda a construção narrativa respeita com muita verdade aquilo que o roteiro propõe, ou seja, as tramas e subtramas têm o mérito de nos impactar emocionante como se realmente tivessem acontecido. Carlton Cuse (sim, aquele mesmo de "Lost") e Graham Roland, criadores da série, sabem que a essência do material utilizado como base não é algo, digamos, tão inovador, contudo, a dupla consegue dar fôlego e contemporaneidade aos temas discutidos nas temporadas, entregando jornadas bem construídas tanto do ponto de vista técnico quanto no criativo.

Para você ter uma idéia, a primeira temporada de "Jack Ryan" custou cerca US$ 8 milhões por episódio, o que dá um aspecto de superprodução. Com planos de realmente tirar o fôlego e locações como Marrocos, França e Canadá, a série é visualmente impecável - nesse ponto ela nos remete muito a outro sucesso do streaming, "The Night Manager".  A fotografia toda conceitualizada pelo Richard Rutkowski (o mesmo de "The Americans: Rede de Espionagem") é deslumbrante - ela captura tanto essa grandiosidade dos cenários internacionais quanto a intensidade dos momentos de mais ação e angústia dos personagens, ajudando demais a garantir uma verossimilhança acima da média. E aqui cabe um outro elogio: reparem como a direção de arte e o desenho de produção garantem essa atmosfera extremamente realista e totalmente alinhada a proposta inicial dos seus criadores.

Embora seus personagens satélites, especialmente os vilões, soem complexos em relação às ambiguidades humanas, o Jack Ryan de Krasinski em si, está mais para um resgate daquele mocinho tradicional - suas batalhas intimas existem, mas, de fato, nem de longe invocam aquele turbilhão de fantasmas do passado dos saudosos Jack Bauer (24 Horas) e Carrie Mathison (Homeland). Talvez esse seja o ponto de equilíbrio que a série tenta encontrar (e consegue) a cada temporada - além das típicas histórias de heróis, os roteiros mergulham em dilemas éticos e com consequências inesperadas com muito mais leveza que as produções clássicas que citamos, diminuindo assim nossa ansiedade como audiência, mas por outro lado nos entregando um entretenimento com a mesma qualidade, as mesmas premissas narrativas, mas ainda mais divertido.

Olha, imperdível!

Assista Agora

Se você está com saudade dos bons tempos de "Homeland" nem precisa ler esse review inteiro, já pule direto para o play que você não vai se arrepender. Em quatro temporadas, "Jack Ryan" traz o melhor que uma série politica, com investigações internacionais (muito com o foco no terrorismo), com uma dinâmica narrativa envolvente e com uma produção de altíssimo nível, têm para oferecer. Desde seu lançamento em 2018 pela Prime Video, a série conquistou não apenas uma legião de fãs ávidos por tramas de espionagem, mas também a crítica especializada, acumulando elogios e reconhecimentos em diversos prêmios do setor - sendo indicado, inclusive, para três Emmys.

Baseada nos populares romances de Tom Clancy, "Jack Ryan" segue as intrigantes missões do analista da CIA que dá nome a série, interpretado brilhantemente por John Krasinski. A trama se desenrola quando Ryan se vê no centro de operações secretas para desvendar ameaças terroristas que podem abalar o equilíbrio do poder global. Com Wendell Pierce no papel de James Greer, a série oferece uma dinâmica convincente que nos cativa desde o primeiro episódio. Confira o trailer (em inglês):

Tal qual "24 Horas" e alguns anos depois "Homeland", a série retoma aquela receita infalível onde, com muita habilidade, é capaz de unir drama, ação e suspense, se apropriando do pseudo-realismo politico e da profundidade de seus personagens (imperfeitos) para nos entreter durante muitas horas - olha, é quase impossível assistir apenas um episódio por vez. Embora exista uma atmosfera de ficção, toda a construção narrativa respeita com muita verdade aquilo que o roteiro propõe, ou seja, as tramas e subtramas têm o mérito de nos impactar emocionante como se realmente tivessem acontecido. Carlton Cuse (sim, aquele mesmo de "Lost") e Graham Roland, criadores da série, sabem que a essência do material utilizado como base não é algo, digamos, tão inovador, contudo, a dupla consegue dar fôlego e contemporaneidade aos temas discutidos nas temporadas, entregando jornadas bem construídas tanto do ponto de vista técnico quanto no criativo.

Para você ter uma idéia, a primeira temporada de "Jack Ryan" custou cerca US$ 8 milhões por episódio, o que dá um aspecto de superprodução. Com planos de realmente tirar o fôlego e locações como Marrocos, França e Canadá, a série é visualmente impecável - nesse ponto ela nos remete muito a outro sucesso do streaming, "The Night Manager".  A fotografia toda conceitualizada pelo Richard Rutkowski (o mesmo de "The Americans: Rede de Espionagem") é deslumbrante - ela captura tanto essa grandiosidade dos cenários internacionais quanto a intensidade dos momentos de mais ação e angústia dos personagens, ajudando demais a garantir uma verossimilhança acima da média. E aqui cabe um outro elogio: reparem como a direção de arte e o desenho de produção garantem essa atmosfera extremamente realista e totalmente alinhada a proposta inicial dos seus criadores.

Embora seus personagens satélites, especialmente os vilões, soem complexos em relação às ambiguidades humanas, o Jack Ryan de Krasinski em si, está mais para um resgate daquele mocinho tradicional - suas batalhas intimas existem, mas, de fato, nem de longe invocam aquele turbilhão de fantasmas do passado dos saudosos Jack Bauer (24 Horas) e Carrie Mathison (Homeland). Talvez esse seja o ponto de equilíbrio que a série tenta encontrar (e consegue) a cada temporada - além das típicas histórias de heróis, os roteiros mergulham em dilemas éticos e com consequências inesperadas com muito mais leveza que as produções clássicas que citamos, diminuindo assim nossa ansiedade como audiência, mas por outro lado nos entregando um entretenimento com a mesma qualidade, as mesmas premissas narrativas, mas ainda mais divertido.

Olha, imperdível!

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Jogo do Dinheiro

"Jogo do Dinheiro" é entretenimento puro, daqueles que será necessário uma boa dose de suspensão da realidade, mas que também te faz ficar grudado na tela durante seus 90 minutos de filme - e aqui cabe um comentário importante: mesmo com o filme sendo arquitetado para criar uma certa tensão, é a forma como os personagens vão se relacionando e construindo seus vínculos, que prende nossa atenção; não necessariamente as cenas de ação (mesmo com algumas sendo bem importantes).

Lee Gates (George Clooney) é o apresentador de um popular programa de TV chamado "Money Monster", onde presta uma espécie de consultoria financeira para sua audiência da forma mais debochada possível: ele canta, dança, pula, se veste de rapper, entra ao lado de dançarinas de palco - um autêntico showman! Diante da ingenuidade de quem segue seus conselhos, um deles, Kyle Budwell (Jack O’Connell) perde muito dinheiro devido a uma dessas dicas "infalíveis" de Lee, é quando, buscando vingança e explicações, faz do apresentador um refém em seu próprio programa e ao vivo. Lee conta com poucas pessoas para ajudá-lo a sair dessa situação, sendo a principal delas sua diretora Patty (Julia Roberts). Confira o trailer:

Diferente do recente "Interrompemos a Programação"- que tem um conceito narrativo mais autoral, independente e que tenta se aprofundar exclusivamente nos fantasmas por trás das motivações do protagonista; "Jogo do Dinheiro" foca muito mais na agilidade de um programa de TV ao vivo, com diferentes ângulos, cortes rápidos e uma urgência na transmissão da informação, custe o que custar. O interessante do roteiro, sem a menor dúvida, é a forma como é construída aquela atmosfera de tensão: de um lado o clichê, o tosco, o irônico e uma boa dose de humor (negro) personificado pelo apresentador Lee Gates; de outro, a critica social, a ingenuidade e o desespero de alguém que foi enganado (como vemos em tantos documentários sobre a relação com investidores de Wall Street) na figura de Kyle. 

O filme é dirigido pela Jodie Foster (sim, ela mesmo, a atriz de "Silêncio dos Inocentes"). Ela aproveita da dinâmica de urgência que a diretora na ficção (Patty) costuma imprimir no seu show para, em segundo plano, discutir questões importantes como a ganância de CEOs, a superficialidade da mídia americana e a irresponsabilidade de alguns programas "jornalísticos" que só pensam na audiência - mérito da conexão perfeita entre Foster e o roteiro de Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf.

De fato, "Jogo do Dinheiro" é entretenimento, mas não esquece do conteúdo denunciativo para atender os mais atentos.

Vale a pena!

Assista Agora

"Jogo do Dinheiro" é entretenimento puro, daqueles que será necessário uma boa dose de suspensão da realidade, mas que também te faz ficar grudado na tela durante seus 90 minutos de filme - e aqui cabe um comentário importante: mesmo com o filme sendo arquitetado para criar uma certa tensão, é a forma como os personagens vão se relacionando e construindo seus vínculos, que prende nossa atenção; não necessariamente as cenas de ação (mesmo com algumas sendo bem importantes).

Lee Gates (George Clooney) é o apresentador de um popular programa de TV chamado "Money Monster", onde presta uma espécie de consultoria financeira para sua audiência da forma mais debochada possível: ele canta, dança, pula, se veste de rapper, entra ao lado de dançarinas de palco - um autêntico showman! Diante da ingenuidade de quem segue seus conselhos, um deles, Kyle Budwell (Jack O’Connell) perde muito dinheiro devido a uma dessas dicas "infalíveis" de Lee, é quando, buscando vingança e explicações, faz do apresentador um refém em seu próprio programa e ao vivo. Lee conta com poucas pessoas para ajudá-lo a sair dessa situação, sendo a principal delas sua diretora Patty (Julia Roberts). Confira o trailer:

Diferente do recente "Interrompemos a Programação"- que tem um conceito narrativo mais autoral, independente e que tenta se aprofundar exclusivamente nos fantasmas por trás das motivações do protagonista; "Jogo do Dinheiro" foca muito mais na agilidade de um programa de TV ao vivo, com diferentes ângulos, cortes rápidos e uma urgência na transmissão da informação, custe o que custar. O interessante do roteiro, sem a menor dúvida, é a forma como é construída aquela atmosfera de tensão: de um lado o clichê, o tosco, o irônico e uma boa dose de humor (negro) personificado pelo apresentador Lee Gates; de outro, a critica social, a ingenuidade e o desespero de alguém que foi enganado (como vemos em tantos documentários sobre a relação com investidores de Wall Street) na figura de Kyle. 

O filme é dirigido pela Jodie Foster (sim, ela mesmo, a atriz de "Silêncio dos Inocentes"). Ela aproveita da dinâmica de urgência que a diretora na ficção (Patty) costuma imprimir no seu show para, em segundo plano, discutir questões importantes como a ganância de CEOs, a superficialidade da mídia americana e a irresponsabilidade de alguns programas "jornalísticos" que só pensam na audiência - mérito da conexão perfeita entre Foster e o roteiro de Jamie Linden, Alan DiFiore e Jim Kouf.

De fato, "Jogo do Dinheiro" é entretenimento, mas não esquece do conteúdo denunciativo para atender os mais atentos.

Vale a pena!

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Jogo do Poder

Se você gosta da densidade de um bom drama politico, eu diria que "Jogo do Poder" é imperdível - mas saiba que aqui existe uma certa cadência graças a uma complexidade narrativa bem evidente com inúmeros diálogos expositivos, mas pouco explicativos para quem caiu de para-quedas no play. Dirigido pelo renomado Costa-Gavras (vencedor do Oscar pelo roteiro de "Desaparecido: Um Grande Mistério" e diretor de "O Quarto Poder") o filme é um convite para o intrigante bastidor da crise que assolou a Grécia em 2015 pela perspectiva de quem estava lutando para encontrar uma saída. Embora, como diz o título nacional, o jogo de poder paute a trama, é na conveniência das relações humanas que o estômago realmente embrulha - algo como vimos em "Oslo", por exemplo. Baseado no livro de memórias de Yanis Varoufakis, o filme oferece uma visão íntima de toda a negociação feita na época deixando claro a importância histórica dos eventos que moldaram a Europa contemporânea pós-União. 

"Adults in the Room" (no original) traz a história verídica e impactante do ex-Ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis (Christos Loulis) em sua tentativa de negociar um acordo financeiro com os credores internacionais durante a crise econômica grega de 2015. Ao lado do então primeiro-ministro Alexis Tsipras (Alexandros Bourdoumis)Varoufakis teve a árdua tarefa de convencer a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) sobre a necessidade de revisitar um Memorando de Entendimento que provavelmente destruiria ainda mais a economia de seu país. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso conhecer o conceito de "austeridade", ou seja, esse conjunto de políticas econômicas que visam reduzir os déficits do governo por meio de cortes de gastos, aumento de impostos ou uma combinação de ambos. Dito isso fica mais fácil entender o que Varoufakis, depois de sete longos anos de crise, queria evitar ao iniciar um verdadeiro embate contra a Comissão Europeia, especialmente com os representantes da Alemanha, que pregava uma imposição de medidas de austeridade rigorosas para o país como condição para novos empréstimos e uma nova ajuda financeira. Ao lidar com a intransigência da Troika e com a pressão da população que sofria com as consequências econômicas e sociais das políticas impostas pelo governo anterior, o Ministro se viu em uma verdadeira encruzilhada politica e moral - e é isso que Costa-Gavras consegue desenvolver com maestria durante todo o filme.

Ao utilizar um estilo narrativo envolvente, mesclando cenas tensas de negociações com imagens de arquivo reais da época, o diretor nos dá a exata noção do turbilhão emocional que os personagens estão vivendo. A atuação magistral de Loulis transmite nuances que vão da confiança ao receio de estar sendo "cabeça dura" demais, enquanto precisa lidar com a constante, vejam só, decepção perante a falta de palavra (e empatia) de outros líderes da UE. Costa-Gavras sabe manter essa tensão, brincando, inclusive, com nossa percepção sobre quem seriam os “heróis” ou os “vilões” nessa negociação. Reparem na cena onde Varoufakis conversa em particular com o Ministro da Alemanha, Wolfgang Schäuble (Ulrich Tukur) - ele respondendo se aceitaria as condições impostas por ele e pela Troika é impagável.

A habilidade de "Jogo do Poder" em destacar a complexidade das negociações políticas é notável. A fotografia de Yorgos Arvanitis intensifica essa atmosfera de suspense, enquanto a montagem habilidosa do próprio Costa-Gavrasmantém um ritmo que prende nossa atenção de uma forma impressionante. Além disso, é preciso elogiar a direção de arte pela autenticidade como retratou os eventos históricos com precisão. O fato é que o filme, mesmo com uma sequência final recheada de simbologia (que nem todos vão gostar), sabe o valor da sua trama e do seu propósito em mostrar que não se pode fazer um omelete sem quebrar alguns ovos - e se tratando de politica, poder e hipocrisia, haja ovos!

Vale seu play!

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Se você gosta da densidade de um bom drama politico, eu diria que "Jogo do Poder" é imperdível - mas saiba que aqui existe uma certa cadência graças a uma complexidade narrativa bem evidente com inúmeros diálogos expositivos, mas pouco explicativos para quem caiu de para-quedas no play. Dirigido pelo renomado Costa-Gavras (vencedor do Oscar pelo roteiro de "Desaparecido: Um Grande Mistério" e diretor de "O Quarto Poder") o filme é um convite para o intrigante bastidor da crise que assolou a Grécia em 2015 pela perspectiva de quem estava lutando para encontrar uma saída. Embora, como diz o título nacional, o jogo de poder paute a trama, é na conveniência das relações humanas que o estômago realmente embrulha - algo como vimos em "Oslo", por exemplo. Baseado no livro de memórias de Yanis Varoufakis, o filme oferece uma visão íntima de toda a negociação feita na época deixando claro a importância histórica dos eventos que moldaram a Europa contemporânea pós-União. 

"Adults in the Room" (no original) traz a história verídica e impactante do ex-Ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis (Christos Loulis) em sua tentativa de negociar um acordo financeiro com os credores internacionais durante a crise econômica grega de 2015. Ao lado do então primeiro-ministro Alexis Tsipras (Alexandros Bourdoumis)Varoufakis teve a árdua tarefa de convencer a Troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) sobre a necessidade de revisitar um Memorando de Entendimento que provavelmente destruiria ainda mais a economia de seu país. Confira o trailer:

Antes de mais nada é preciso conhecer o conceito de "austeridade", ou seja, esse conjunto de políticas econômicas que visam reduzir os déficits do governo por meio de cortes de gastos, aumento de impostos ou uma combinação de ambos. Dito isso fica mais fácil entender o que Varoufakis, depois de sete longos anos de crise, queria evitar ao iniciar um verdadeiro embate contra a Comissão Europeia, especialmente com os representantes da Alemanha, que pregava uma imposição de medidas de austeridade rigorosas para o país como condição para novos empréstimos e uma nova ajuda financeira. Ao lidar com a intransigência da Troika e com a pressão da população que sofria com as consequências econômicas e sociais das políticas impostas pelo governo anterior, o Ministro se viu em uma verdadeira encruzilhada politica e moral - e é isso que Costa-Gavras consegue desenvolver com maestria durante todo o filme.

Ao utilizar um estilo narrativo envolvente, mesclando cenas tensas de negociações com imagens de arquivo reais da época, o diretor nos dá a exata noção do turbilhão emocional que os personagens estão vivendo. A atuação magistral de Loulis transmite nuances que vão da confiança ao receio de estar sendo "cabeça dura" demais, enquanto precisa lidar com a constante, vejam só, decepção perante a falta de palavra (e empatia) de outros líderes da UE. Costa-Gavras sabe manter essa tensão, brincando, inclusive, com nossa percepção sobre quem seriam os “heróis” ou os “vilões” nessa negociação. Reparem na cena onde Varoufakis conversa em particular com o Ministro da Alemanha, Wolfgang Schäuble (Ulrich Tukur) - ele respondendo se aceitaria as condições impostas por ele e pela Troika é impagável.

A habilidade de "Jogo do Poder" em destacar a complexidade das negociações políticas é notável. A fotografia de Yorgos Arvanitis intensifica essa atmosfera de suspense, enquanto a montagem habilidosa do próprio Costa-Gavrasmantém um ritmo que prende nossa atenção de uma forma impressionante. Além disso, é preciso elogiar a direção de arte pela autenticidade como retratou os eventos históricos com precisão. O fato é que o filme, mesmo com uma sequência final recheada de simbologia (que nem todos vão gostar), sabe o valor da sua trama e do seu propósito em mostrar que não se pode fazer um omelete sem quebrar alguns ovos - e se tratando de politica, poder e hipocrisia, haja ovos!

Vale seu play!

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Judas e o Messias Negro

Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.

Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:

Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.

A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.

Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.

Vale muito a pena!

Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção! 

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Se você gostou da série "Small Axe"e se identificou com a trama de "Os 7 de Chicago" ou de "Seberg", pode dar o play em "Judas e o Messias Negro" sem o menor medo de errar. Primeiro por se tratar do mesmo tema - a luta dos Panteras Negras e sua relação com o movimento dos direitos civis; e segundo por ser um filme simplesmente sensacional, um dos melhores do ano - inclusive indicado ao Oscar em 6 categorias.

Fred Hampton (Daniel Kaluuya) foi um ativista norte-americano taxado como uma grande ameaça pelo governo e pelo FBI. Presidente do Partido dos Panteras Negras em Chicago, dono de uma excelente oratória e de forte presença, o jovem foi considerado um dos responsáveis (ao lado de Bobby Seale e Huey P. Newton) pela luta dos direitos dos negros nos EUA pós-Martin Luther King. É quando William O’Neal (LaKeith Stanfield) acaba sendo obrigado pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) a se tornar um informante do FBI e se infiltrar no Partido com a tarefa de vigiar seu carismático líder em troca de liberdade por um crime que havia cometido. Acontece que a ligação entre eles vai se tornando cada vez mais especial, e o que parecia um missão relativamente tranquila, se torna um fantasma cada vez mais presente. Confira o trailer:

Muito bem dirigido por Shaka King, narrar a história real de uma figura tão particular como Fred Hampton, em um momento onde o tema "direitos civis" era facilmente encontrado em tantas produções de qualidade, por si só já trazia um enorme desafio para o Diretor. Não transformar "Judas e o Messias Negro" em uma outra versão de uma história que já havia sido contada, fez com que King mergulhasse nos questionamentos sobre os conflitos mais internos de um homem que não tinha para onde fugir - e é aqui que o elenco começa a se destacar, pois além de um Daniel Kaluuya impecável, LaKeith Stanfield direciona a narrativa para camadas muito mais interessantes que simplesmente o sentimento da raiva que temos ao ver a intensa brutalidade policial que se instaurou em solo norte-americano na década de 60.

A tensão de "Judas e o Messias Negro" é constante e incrivelmente amplificada por uma eletrizante trilha sonora de Mark Isham e Craig Harris. O plano-sequência inicial é um bom exemplo do que o filme vai nos provocar: nele acompanhamos o roubo de um carro logo depois de uma falsa apreensão feita por O’Neal em um bar frequentado exclusivamente por negros. O diretor usa de enquadramentos que ocultam o rosto do personagem para demonstrar como o simbolismo está presente em muitas passagens do roteiro: ali os desejos materiais simplesmente distorcem a essência do personagem e nos prepara para o que virá a seguir, mas sem precisar explicar demais.

Tecnicamente perfeito, o filme equilibra perfeitamente a luta diária dos Panteras Negras com as imperfeições de seus integrantes sem estereotipar nenhum personagem. O que vemos na tela é uma versão humana, quase documental, de todos os envolvidos naquela atmosfera de terror de Chicago. Veja, quando somos incapazes de julgar algumas atitudes depois de entender suas motivações, fica claro que a história tem muito mais a nos contar do que um pré-conceito estabelecido por posicionamento social ou politico. "Judas e o Messias Negro" é isso: uma aula de cinema, mas também de sensibilidade narrativa onde todo o elenco soube aproveitar muito bem esse presente de King.

Vale muito a pena!

Up-date: "Judas e o Messias Negro" ganhou em duas das seis categorias que disputou no Oscar 2021: Melhor Ator e Melhor Canção! 

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Kursk

Kursk

"Kursk" é um filme dos mais interessantes, pois ele equilibra muito bem a superficialidade de um filme catástrofe e a profundidade de um drama real. Baseado no livro "A Time to Die", de Robert Moore, essa co-produção Bélgica / Luxemburgo / França se arrisca ao trazer um roteirista americano como Robert Rodat (notavelmente um profissional de grandes estúdios, indicado ao Oscar por "O Resgate do Soldado Ryan") e um diretor como o dinamarquês Thomas Vinterberg de "A Caça" (extremamente autoral e que privilegia muito mais as profundas relações humanas aos dramas superficiais do gênero) - o que eu quero dizer com isso é que "Kursk" tinha tudo para ser uma espécie de "Armageddon" no fundo do mar, mas a qualidade do diretor nos entrega um trabalho mais bem cuidado, intimista em muitos momentos, muito mais próximo de "Chernobyl" da HBO, por exemplo!

Em agosto de 2000, o submarino nuclear da marinha russa "Kursk" é naufragado durante um exercício nas águas do mar de Barents. Uma falha no controle de temperatura dos torpedos e dos mísseis que o submarino transportava, desencadeou uma série de explosões e praticamente dizimou a tripulação. Os 23 marinheiros que sobreviveram começam então uma luta contra o tempo na esperança pelo resgate. Acontece que a Marinha Russa está falida e a única alternativa de chegar ao submarino preso no fundo do mar é incapaz de concluir a missão por problemas técnicos. Um desastre seguido por uma negligência acentuada do governo russo que teme em aceitar a ajuda internacional e ter seus segredos bélicos descobertos. Eu diria que o filme é duro, de difícil digestão e muito angustiante (embora muitos ainda se recordam do final da história). Vale a pena, e mesmo com algumas "bengalas" do roteiro (que explicarei adiante), o filme é um ótimo entretenimento!

Ao entender a dinâmica do filme, fica impossível não pensar em quão rico seria se "Kursk" fosse uma série e houvesse um tempo maior para o desenvolvimento dos personagens, mesmo que em flashbacks. Digo isso porque, mesmo com o esforço do Diretor, dirigindo uma cena belíssima de casamento e mostrando a espirito de irmandade que aqueles soldados tinham um com o outro, não dá tempo para se estabelecer uma profunda relação que nos permita se importar tanto com os personagens. Elementos como um marinheiro recém-casado, uma esposa gravida, um filho pequeno; tudo isso está filme para cortar esse caminho, mas a verdade é que funciona pouco. Nossa agonia é muito mais com o sofrimento do ser humano do que por identificação com os personagens - a cena em que o capitão Mikhail Averin (Matthias Schoenaerts de "Ferrugem e Osso") mergulha em busca das capsulas de oxigênio é um ótimo exemplo: poderia ser qualquer outro personagem que a angústia seria a mesma e, posso garantir, é enorme! Outros elementos de gênero que estragam o roteiro, estereotipando cenas, personagens e servem de bengalas emocionais são as passagens onde os soldados cantam seu hino ou quando resolvem trazer a história do relógio no final - o primeiro não se trata do conteúdo em si, mas da forma. A cena poderia ter ficado muito mais dramática sem esse artificio - para mim já batido desde a época de Top Gun. O mesmo serve para o segundo elemento - esse relógio não representa nada, por mais que o roteiro se esforce para tonar o objeto algo importante ou sentimental para os personagens.

As cenas das esposas e a relação politica das decisões sobre resgate são excelentes. Vinterberg cria uma atmosfera de vazio ao filmar lindos planos no conjunto habitacional da marinha onde todas as famílias dos soldados moram - lembram muito aquela decadência (ou precariedade) de Chernobyl dos anos 80 e fortalece muito a forma como a excelente Léa Seydoux se posiciona - ela é a esposa grávida (Tanya Averina) de Mikhail. É um trabalho de respeito! A fotografia do Anthony Dod Mantle (Quem quer ser um Milionário? e 127 Horas) é sensacional - não me surpreenderia se fosse indicado ao Oscar 2020! Aliás, dois pontos merecem nossa atenção: o desenho de som e a mixagem - muito bem construídos. Reparem como o som se propaga dentro do submarino e como ele quase desaparece nas explosões externas, mas mesmo assim nos causam um certo desespero. Os sustos que tomamos, a forma como os efeitos criam aquele clima de suspense; enfim, é sempre um desafio criar uma atmosfera debaixo da água - também colocaria como potenciais indicados. 

Além da cena do mergulho em busca das capsulas de oxigênio que achei genial como foi realizada, existe um outra cena que talvez reflita tudo que comentei do filme no que diz respeito a qualidade técnica e artística - a cena do mini-submarino tentando se acoplar para fazer o resgate: é um câmera fixa, com efeito sonoros delicados, praticamente sem cortes (ou reações de personagens) e mesmo assim a tensão é altíssima - isso é sair do comum! Um outro momento muito delicado e sensível é o olhar do filho de Mikhail para o General burocrata Vladimir Petrenko (Max Von Sydon): simples, profunda e muito bem realizada - um exemplo de como o silêncio pode ser ensurdecedor!

É claro que por se tratar de um história real, nossa relação com o filme fica muito mais sensível, mas cinematograficamente falando, "Kursk" é mais um grande acerto do diretor Thomas Vinterberg - prestem muita atenção nos filmes desse cara porque valem muito a pena. Ele prova que tem a mesma capacidade para filmar cenas de explosão quanto de relações e sua escolha, muito pautada na força executiva do Luc Besson (do recente Anna), mostrou ter sido das mais acertadas.

Assista Agora

"Kursk" é um filme dos mais interessantes, pois ele equilibra muito bem a superficialidade de um filme catástrofe e a profundidade de um drama real. Baseado no livro "A Time to Die", de Robert Moore, essa co-produção Bélgica / Luxemburgo / França se arrisca ao trazer um roteirista americano como Robert Rodat (notavelmente um profissional de grandes estúdios, indicado ao Oscar por "O Resgate do Soldado Ryan") e um diretor como o dinamarquês Thomas Vinterberg de "A Caça" (extremamente autoral e que privilegia muito mais as profundas relações humanas aos dramas superficiais do gênero) - o que eu quero dizer com isso é que "Kursk" tinha tudo para ser uma espécie de "Armageddon" no fundo do mar, mas a qualidade do diretor nos entrega um trabalho mais bem cuidado, intimista em muitos momentos, muito mais próximo de "Chernobyl" da HBO, por exemplo!

Em agosto de 2000, o submarino nuclear da marinha russa "Kursk" é naufragado durante um exercício nas águas do mar de Barents. Uma falha no controle de temperatura dos torpedos e dos mísseis que o submarino transportava, desencadeou uma série de explosões e praticamente dizimou a tripulação. Os 23 marinheiros que sobreviveram começam então uma luta contra o tempo na esperança pelo resgate. Acontece que a Marinha Russa está falida e a única alternativa de chegar ao submarino preso no fundo do mar é incapaz de concluir a missão por problemas técnicos. Um desastre seguido por uma negligência acentuada do governo russo que teme em aceitar a ajuda internacional e ter seus segredos bélicos descobertos. Eu diria que o filme é duro, de difícil digestão e muito angustiante (embora muitos ainda se recordam do final da história). Vale a pena, e mesmo com algumas "bengalas" do roteiro (que explicarei adiante), o filme é um ótimo entretenimento!

Ao entender a dinâmica do filme, fica impossível não pensar em quão rico seria se "Kursk" fosse uma série e houvesse um tempo maior para o desenvolvimento dos personagens, mesmo que em flashbacks. Digo isso porque, mesmo com o esforço do Diretor, dirigindo uma cena belíssima de casamento e mostrando a espirito de irmandade que aqueles soldados tinham um com o outro, não dá tempo para se estabelecer uma profunda relação que nos permita se importar tanto com os personagens. Elementos como um marinheiro recém-casado, uma esposa gravida, um filho pequeno; tudo isso está filme para cortar esse caminho, mas a verdade é que funciona pouco. Nossa agonia é muito mais com o sofrimento do ser humano do que por identificação com os personagens - a cena em que o capitão Mikhail Averin (Matthias Schoenaerts de "Ferrugem e Osso") mergulha em busca das capsulas de oxigênio é um ótimo exemplo: poderia ser qualquer outro personagem que a angústia seria a mesma e, posso garantir, é enorme! Outros elementos de gênero que estragam o roteiro, estereotipando cenas, personagens e servem de bengalas emocionais são as passagens onde os soldados cantam seu hino ou quando resolvem trazer a história do relógio no final - o primeiro não se trata do conteúdo em si, mas da forma. A cena poderia ter ficado muito mais dramática sem esse artificio - para mim já batido desde a época de Top Gun. O mesmo serve para o segundo elemento - esse relógio não representa nada, por mais que o roteiro se esforce para tonar o objeto algo importante ou sentimental para os personagens.

As cenas das esposas e a relação politica das decisões sobre resgate são excelentes. Vinterberg cria uma atmosfera de vazio ao filmar lindos planos no conjunto habitacional da marinha onde todas as famílias dos soldados moram - lembram muito aquela decadência (ou precariedade) de Chernobyl dos anos 80 e fortalece muito a forma como a excelente Léa Seydoux se posiciona - ela é a esposa grávida (Tanya Averina) de Mikhail. É um trabalho de respeito! A fotografia do Anthony Dod Mantle (Quem quer ser um Milionário? e 127 Horas) é sensacional - não me surpreenderia se fosse indicado ao Oscar 2020! Aliás, dois pontos merecem nossa atenção: o desenho de som e a mixagem - muito bem construídos. Reparem como o som se propaga dentro do submarino e como ele quase desaparece nas explosões externas, mas mesmo assim nos causam um certo desespero. Os sustos que tomamos, a forma como os efeitos criam aquele clima de suspense; enfim, é sempre um desafio criar uma atmosfera debaixo da água - também colocaria como potenciais indicados. 

Além da cena do mergulho em busca das capsulas de oxigênio que achei genial como foi realizada, existe um outra cena que talvez reflita tudo que comentei do filme no que diz respeito a qualidade técnica e artística - a cena do mini-submarino tentando se acoplar para fazer o resgate: é um câmera fixa, com efeito sonoros delicados, praticamente sem cortes (ou reações de personagens) e mesmo assim a tensão é altíssima - isso é sair do comum! Um outro momento muito delicado e sensível é o olhar do filho de Mikhail para o General burocrata Vladimir Petrenko (Max Von Sydon): simples, profunda e muito bem realizada - um exemplo de como o silêncio pode ser ensurdecedor!

É claro que por se tratar de um história real, nossa relação com o filme fica muito mais sensível, mas cinematograficamente falando, "Kursk" é mais um grande acerto do diretor Thomas Vinterberg - prestem muita atenção nos filmes desse cara porque valem muito a pena. Ele prova que tem a mesma capacidade para filmar cenas de explosão quanto de relações e sua escolha, muito pautada na força executiva do Luc Besson (do recente Anna), mostrou ter sido das mais acertadas.

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Leviathan

Talvez "Leviathan" tenha sofrido pela falta de um marketing mais potente em uma época onde as plataformas de streaming apenas engatinhavam. O fato é que esse filme foi o representante russo na disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2015 e que, embora não tenha levado a Palme d'Or em 2014, ganhou como "Melhor Roteiro" em Cannes, o Golden Globe nos EUA e teve mais de 35 vitórias e 52 indicações em festivais importantes ao redor do planeta! Dirigido pelo Andrey Zvyagintsev (de "Sem Amor"), esse é o tipo do filme que não deve ser ignorado por nenhum cinéfilo que tem no cinema independente sua jornada de descobertas. Eu diria, inclusive, que esse drama russo é uma obra-prima que soube combinar como poucos, uma narrativa poderosa com uma crítica social atemporal extremamente contundente e necessária, criando um retrato visceral e devastador da corrupção e da injustiça que assolam a sociedade desde sempre. Aclamado internacionalmente, "Leviathan" foi comparado a obras inesquecíveis como "A Separação" de Asghar Farhadi e "A Caça" de Thomas Vinterberg, pela sua habilidade única em abordar temas universais através de uma lente profundamente pessoal e culturalmente marcante.

Sua trama gira em torno de Kolya (Aleksey Serebryakov) um homem que vive em uma pequena cidade da Península de Kola, no norte da Rússia. Sua vida é virada de cabeça para baixo quando o prefeito corrupto decide tomar posse de sua casa e do terreno onde vive com sua jovem esposa Lilya (Elena Lyadova) e seu filho Romka (Sergey Pokhodaev). Desesperado, Kolya pede ajuda a Dmitriy (Vladimir Vdovichenkov), um velho amigo e advogado de Moscou, para lutar contra essa injustiça. No entanto, a chegada de advogado não traz a salvação esperada, mas sim uma série de tragédias que afundam Kolya e sua família em um abismo de desespero. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Todos sabemos como as coisas são resolvidas na Rússia e isso, por si só, já seria o suficiente para nos dilacerar o coração ao nos conectarmos com a luta de Kolya e de sua família pelo que lhe é de direito, no entanto, inserido nesse elemento realmente dramático, existe uma sensação de abandono que é lindamente dissecada no roteiro do próprio Zvyagintsev com seu parceiro Oleg Negin - primeiro na briga com o prefeito, depois com os magistrados, com a polícia, e então, com os amigos. Veja, ao mesmo tempo que temos um filme de caráter extremamente simbólico, estamos diante da história "real" de uma vida "como tantas outras na Rússia" que é destruída em todos os aspectos pela ganância (e poder).

A direção de Zvyagintsev é magistral ao trabalhar esses aspectos de uma forma muito sensorial, utilizando a vastidão gelada da paisagem russa para refletir o vazio e a implacabilidade do sistema corrupto contra o qual Kolya luta, luta e luta - é dolorido demais, machuca de verdade. A fotografia de Mikhail Krichman (também parceiro de longa data do diretor) tem um papel fundamental na construção dessa atmosfera - eu diria até que ela é uma das jóias do filme! Repare como os planos longos e contemplativos capturam a beleza e a desolação da natureza, criando um contraste com o embate moral dos personagens que ocupam essa paisagem. Aqui, a fotografia não só estabelece o tom melancólico do filme, como também reforça a sensação angustiante de isolamento e impotência que permeia a vida de Kolya - a impressão de que algo ruim está para acontecer a cada nova cena, um medo igualmente alimentado pela sombria trilha de Philip Glass, vai te acompanhar por toda essa jornada e vai te tirar do conforto.

Tudo em "Leviathan" é provocador - de seus personagens odiosos ao ritmo deliberadamente lento que nos permite absorver a gravidade das situações enfrentadas pelo protagonista. Sim, estamos diante de um filme difícil, mas ao mesmo tempo poderoso, que combina uma crítica social contundente com uma jornada pessoal profundamente comovente. É uma obra que nos desafia a confrontar as realidades brutais da injustiça e da corrupção, enquanto oferece uma experiência absurdamente envolvente - e aqui cabe um disclaimer: "Leviathan" era minha aposta para o Oscar de 2015, um ano que tivemos "Relatos Selvagens" e a vencedora, "Ida".

Para aqueles que apreciam filmes que exploram a condição humana com uma abordagem artística e introspectiva, "Leviathan" é uma escolha indispensável, contudo já adianto: sua intensidade e crueza podem não ser tão fácil de digerir. Vale muito o seu play!

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Talvez "Leviathan" tenha sofrido pela falta de um marketing mais potente em uma época onde as plataformas de streaming apenas engatinhavam. O fato é que esse filme foi o representante russo na disputa o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2015 e que, embora não tenha levado a Palme d'Or em 2014, ganhou como "Melhor Roteiro" em Cannes, o Golden Globe nos EUA e teve mais de 35 vitórias e 52 indicações em festivais importantes ao redor do planeta! Dirigido pelo Andrey Zvyagintsev (de "Sem Amor"), esse é o tipo do filme que não deve ser ignorado por nenhum cinéfilo que tem no cinema independente sua jornada de descobertas. Eu diria, inclusive, que esse drama russo é uma obra-prima que soube combinar como poucos, uma narrativa poderosa com uma crítica social atemporal extremamente contundente e necessária, criando um retrato visceral e devastador da corrupção e da injustiça que assolam a sociedade desde sempre. Aclamado internacionalmente, "Leviathan" foi comparado a obras inesquecíveis como "A Separação" de Asghar Farhadi e "A Caça" de Thomas Vinterberg, pela sua habilidade única em abordar temas universais através de uma lente profundamente pessoal e culturalmente marcante.

Sua trama gira em torno de Kolya (Aleksey Serebryakov) um homem que vive em uma pequena cidade da Península de Kola, no norte da Rússia. Sua vida é virada de cabeça para baixo quando o prefeito corrupto decide tomar posse de sua casa e do terreno onde vive com sua jovem esposa Lilya (Elena Lyadova) e seu filho Romka (Sergey Pokhodaev). Desesperado, Kolya pede ajuda a Dmitriy (Vladimir Vdovichenkov), um velho amigo e advogado de Moscou, para lutar contra essa injustiça. No entanto, a chegada de advogado não traz a salvação esperada, mas sim uma série de tragédias que afundam Kolya e sua família em um abismo de desespero. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Todos sabemos como as coisas são resolvidas na Rússia e isso, por si só, já seria o suficiente para nos dilacerar o coração ao nos conectarmos com a luta de Kolya e de sua família pelo que lhe é de direito, no entanto, inserido nesse elemento realmente dramático, existe uma sensação de abandono que é lindamente dissecada no roteiro do próprio Zvyagintsev com seu parceiro Oleg Negin - primeiro na briga com o prefeito, depois com os magistrados, com a polícia, e então, com os amigos. Veja, ao mesmo tempo que temos um filme de caráter extremamente simbólico, estamos diante da história "real" de uma vida "como tantas outras na Rússia" que é destruída em todos os aspectos pela ganância (e poder).

A direção de Zvyagintsev é magistral ao trabalhar esses aspectos de uma forma muito sensorial, utilizando a vastidão gelada da paisagem russa para refletir o vazio e a implacabilidade do sistema corrupto contra o qual Kolya luta, luta e luta - é dolorido demais, machuca de verdade. A fotografia de Mikhail Krichman (também parceiro de longa data do diretor) tem um papel fundamental na construção dessa atmosfera - eu diria até que ela é uma das jóias do filme! Repare como os planos longos e contemplativos capturam a beleza e a desolação da natureza, criando um contraste com o embate moral dos personagens que ocupam essa paisagem. Aqui, a fotografia não só estabelece o tom melancólico do filme, como também reforça a sensação angustiante de isolamento e impotência que permeia a vida de Kolya - a impressão de que algo ruim está para acontecer a cada nova cena, um medo igualmente alimentado pela sombria trilha de Philip Glass, vai te acompanhar por toda essa jornada e vai te tirar do conforto.

Tudo em "Leviathan" é provocador - de seus personagens odiosos ao ritmo deliberadamente lento que nos permite absorver a gravidade das situações enfrentadas pelo protagonista. Sim, estamos diante de um filme difícil, mas ao mesmo tempo poderoso, que combina uma crítica social contundente com uma jornada pessoal profundamente comovente. É uma obra que nos desafia a confrontar as realidades brutais da injustiça e da corrupção, enquanto oferece uma experiência absurdamente envolvente - e aqui cabe um disclaimer: "Leviathan" era minha aposta para o Oscar de 2015, um ano que tivemos "Relatos Selvagens" e a vencedora, "Ida".

Para aqueles que apreciam filmes que exploram a condição humana com uma abordagem artística e introspectiva, "Leviathan" é uma escolha indispensável, contudo já adianto: sua intensidade e crueza podem não ser tão fácil de digerir. Vale muito o seu play!

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Mank

"Mank" parece ser "O Irlandês"dessa temporada! Embora não exista nenhum ponto em comum entre as narrativas, assuntos ou escolhas conceituais, "Mank" chegou ao serviço de streaming com o mesmo status do filme de Scorsese: favorito ao Oscar, mas que também não será uma unanimidade - eu diria até, que ficará longe disso!

O filme mostra a chamada Era de Ouro de Hollywood sob a visão sagaz, ácida e extremamente crítica do roteirista alcoólatraHerman J. Mankiewicz (Gary Oldman) durante seu processo de criação do roteiro e seu maior sucesso, "Cidadão Kane" - reconhecido como um dos melhores filmes da História do Cinema. "Mank" é menos sobre a famosa discussão dos créditos sobre o roteiro que rendeu o único Oscar ao filme de Orson Welles e mais sobre uma abordagem desglamourizada dos bastidores de Hollywood, onde o poder da mídia, no caso o Cinema, era usada para informação e desinformação com objetivos claramente políticos. Confira o trailer:

"Mank" é um filme muito difícil de assistir, pois é preciso ter algum conhecimento sobre o assunto que ele aborda, além de exigir muita atenção, pois o roteiro explora o time sarcástico nas falas do protagonista em detrimento a cadência narrativa e visual da história. O que eu quero dizer é que se você não souber nada sobre a "Era de Ouro de Hollywood", o momento politico dos EUA e do mundo nos anos 30 e o que "Cidadão Kane" de fato é (ou representa); você vai dormir nos primeiros 30 minutos do filme - e o detalhe dele ser "preto e branco" é o que menos vai te incomodar!

Agora, se você estiver familiarizado com a história do cinema e como ela impacta na cultura americana ou fizer parte daquela audiência exigente, que repara em cada elemento técnico e artístico, aí você vai se divertir e presenciar uma aula de direção do David Fincher - sua capacidade de encontrar a melhor forma de contar a história usando conceitos visuais e narrativos aplicados por Welles em "Cidadão Kane" coloca "Mank" em outro patamar! Outro ponto que vale o play, é, sem dúvida, o trabalho de Gary Oldman - olha, ele já pode comemorar mais uma indicação ao Oscar! A cena em que ele, embriagado, faz um paralelo entre "sua" história e Don Quixote é simplesmente fabulosa, reparem!

Pois bem, sabendo das condições e peculiaridades que citei acima, dê o play por conta e risco, com a certeza que você vai gostar muito ou odiar o filme!

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"Mank" parece ser "O Irlandês"dessa temporada! Embora não exista nenhum ponto em comum entre as narrativas, assuntos ou escolhas conceituais, "Mank" chegou ao serviço de streaming com o mesmo status do filme de Scorsese: favorito ao Oscar, mas que também não será uma unanimidade - eu diria até, que ficará longe disso!

O filme mostra a chamada Era de Ouro de Hollywood sob a visão sagaz, ácida e extremamente crítica do roteirista alcoólatraHerman J. Mankiewicz (Gary Oldman) durante seu processo de criação do roteiro e seu maior sucesso, "Cidadão Kane" - reconhecido como um dos melhores filmes da História do Cinema. "Mank" é menos sobre a famosa discussão dos créditos sobre o roteiro que rendeu o único Oscar ao filme de Orson Welles e mais sobre uma abordagem desglamourizada dos bastidores de Hollywood, onde o poder da mídia, no caso o Cinema, era usada para informação e desinformação com objetivos claramente políticos. Confira o trailer:

"Mank" é um filme muito difícil de assistir, pois é preciso ter algum conhecimento sobre o assunto que ele aborda, além de exigir muita atenção, pois o roteiro explora o time sarcástico nas falas do protagonista em detrimento a cadência narrativa e visual da história. O que eu quero dizer é que se você não souber nada sobre a "Era de Ouro de Hollywood", o momento politico dos EUA e do mundo nos anos 30 e o que "Cidadão Kane" de fato é (ou representa); você vai dormir nos primeiros 30 minutos do filme - e o detalhe dele ser "preto e branco" é o que menos vai te incomodar!

Agora, se você estiver familiarizado com a história do cinema e como ela impacta na cultura americana ou fizer parte daquela audiência exigente, que repara em cada elemento técnico e artístico, aí você vai se divertir e presenciar uma aula de direção do David Fincher - sua capacidade de encontrar a melhor forma de contar a história usando conceitos visuais e narrativos aplicados por Welles em "Cidadão Kane" coloca "Mank" em outro patamar! Outro ponto que vale o play, é, sem dúvida, o trabalho de Gary Oldman - olha, ele já pode comemorar mais uma indicação ao Oscar! A cena em que ele, embriagado, faz um paralelo entre "sua" história e Don Quixote é simplesmente fabulosa, reparem!

Pois bem, sabendo das condições e peculiaridades que citei acima, dê o play por conta e risco, com a certeza que você vai gostar muito ou odiar o filme!

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Margin Call

"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.

Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer: 

A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.

Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!

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"Margin Call" (ou "O dia antes do fim") do diretor e roteirista J.C. Chandor é excelente! O Roteiro foi indicado ao Oscar de 2012 e conta a história, livremente inspirada no Lehman Brothers, da noite que antecedeu a crise de 2008. E para quem gostou de "A Grande Virada" do John Wells, esse filme é simplesmente imperdível.

Peter Sullivan (Zachary Quinto), Seth Bregman (Penn Badgley) e Will Emerson (Paul Bettany) trabalham no setor de recursos humanos de uma empresa, sendo responsáveis pelos trâmites burocráticos da demissão dos funcionários. Um dos demitidos é Eric Dale (Stanley Tucci), que entrega a Peter um pendrive contendo um projeto que estava trabalhando. É quando Peter descobre que ele excede os níveis históricos de volatilidade com os quais uma instituição financeira é capaz de trabalhar com certa segurança. A situação é tão grave que faz com que os executivos que comandam o banco de investimentos se reúnam durante a madrugada para tentar encontrar uma solução o mais rápido possível. Confira o trailer: 

A história é difícil e o roteiro não ajuda muito, já que trata a rotina do mercado financeiro como se fosse algo simples, sem muitas explicações. Porém, de uma forma muito inteligente, "Margin Call" vai além das palavras e do "bla-bla-bla" corporativo, ele fala de caráter X dinheiro X sucesso profissional como poucas vezes vemos em um filme - ainda mais ao se tratar de um escândalo de créditos imobiliários tão recente e que ajudou a nos levar para uma das maiores recessões da história.

Grande filme! Vale o play com muita tranquilidade!!!!

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Messiah

Desde o lançamento do trailer, "Messiah" chamou atenção em dois aspectos: trazia uma discussão extremamente criativa (e se o Messias retornasse nos dias de hoje com toda essa tecnologia de disseminação de informação - inclusive as "fake news"?) e pelo nível de produção que colocou o projeto como o primeiro grande lançamento da Netflix para ano de 2020. 

A série conta a história de um homem (Mehdi Dehbi) que surge em meio a um conflito no Oriente Médio e chama a atenção do mundo pelos seus supostos milagres e sua mensagem de paz. Com um número de seguidores cada vez maior, todos os seus passos se tornam um evento e um perigo iminente - afinal não se sabe a verdadeira origem desse (falso?) profeta e o que ele será capaz de fazer com a multidão que o acompanha! Uma agente da CIA (Michelle Monaghan) começa uma investigação e com a "ajuda" do FBI acaba se infiltrando em uma enorme rede de conspiração politica, religiosa e ideológica com o único objetivo de desmascarar Al-Massih. A série tem elementos muito parecidos com "Homeland", então se você acompanhou a história de Brody e Carrie é bem provável que você não vá conseguir parar de assistir "Messiah".

Talvez o ponto alto de "Messiah" seja o seu roteiro. Em muitos momentos a idéia inicial parece que não vai se sustentar ou que alguns personagens surgem e não dão o fôlego que a trama precisa - olha, é um grande engano. Tudo vai se encaixando e movendo a história para frente com muita inteligência. É claro que é o tipo da série que exige uma certa suspensão da realidade, mas a jornada do tal Al-Massih é tão bem desenhada que fica impossível cravar se o personagem é ou não um vilão - e foi aí que me veio a primeira lembrança de "Homeland": com o retorno de Brody e todo mistério sobre seu personagem, o roteiro nos levava de um lado ao outro a cada episódio: essa dúvida constante nos prendia e nos obrigava a assistir ao próximo episódio - "Messiah" faz exatamente a mesma coisa! Quando vamos perdendo o interesse ou algo vai ficando claro demais, surge uma cena cena-chave ou uma nova informação que nos faz repensar a história! Talvez a personagem Eva (a agente da CIA que investiga o caso) não seja tão complexa quanto a Carrie, da excelente Claire Danes, mas mesmo assim é perceptível o conflito interno entre trabalho e vida pessoal da mesma forma, sem falar nos fantasmas do passado - um ponto muito interessante das duas personagens e que, ao fragiliza-las, reforça um drama paralelo, humanizando suas posturas e que sempre rendem ótimas cenas.

A dinâmica da história, mostrando dois núcleos: um no Oriente Médio e outro nos EUA, também trazem aquele tom de suspense e drama de "Homeland" - inclusive com os flashbacks bem pontuais que ajudam a contar um ou outro lado da história ou de um personagem e que compõem muito bem esse enorme quebra-cabeça. Reparem como nunca um episódio começa exatamente onde o anterior terminou. Sempre é dada mais uma informação no prólogo que, inclusive, parece completamente desconexa da história, mas que no final justifica uma ação ou decisão de algum personagem e capaz de modificar o rumo da história - essa técnica é um ótimo exemplo de roteiro bem planejado! Se atentem ao exame de tumor no inicio da temporada!

A produção da série é enorme, além de réplicas perfeitas de determinadas locações, a equipe filmou em Israel, na Palestina e na Jordânia (além dos EUA, claro) - isso só valida que"Messiah" não chegou para ser mais uma série de catálogo (só não entendo porque o marketing não foi mais agressivo, mas ok)! Os efeitos especiais não são perfeitos, mas estão longe de serem mal executados - a cena do Tornado é um ótimo exemplo de um bom resultado. A tempestade de areia também não foi tão ruim nos planos fechados, mas no aberto ficou um pouco estranho. As explosões funcionam bem e não devem incomodar. A direção em si é excelente - James McTeigue (Sense8) e Kate Woods (Castle) entregam ação, drama, suspense com planos muito bem elaborados e de extremo bom gosto. Até as sequências mais complicadas são muito bem realizadas - reparem na cena da Mesquita do episódio 9, vejam como ela cria uma certa tensão e como seu resultado final é avassalador e quebra uma expectativa que nos faz querer assistir o próximo imediatamente! Mais uma vez, se você assistiu "Homeland" as referências são claras e diretas - impossível não lembrar do final da primeira temporada!

Bom, dito tudo isso, eu posso garantir que "Messiah" vale a maratona e que o entretenimento está garantido! São dez episódios de 45 minutos em média, com "viradas surpreendentes" que nos mantém ligados em cada detalhe - é ótimo assistir uma série onde nada é jogado fora, mesmo que seja "apenas" para construir um sentimento em quem assiste e que pode até não interferir tanto no arco maior (o caso da menina com câncer é um bom exemplo)!

Boa diversão!

Up-date: Infelizmente no dia 17/04/2020 a Netflix informou o cancelamento da série com apenas uma temporada!

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Desde o lançamento do trailer, "Messiah" chamou atenção em dois aspectos: trazia uma discussão extremamente criativa (e se o Messias retornasse nos dias de hoje com toda essa tecnologia de disseminação de informação - inclusive as "fake news"?) e pelo nível de produção que colocou o projeto como o primeiro grande lançamento da Netflix para ano de 2020. 

A série conta a história de um homem (Mehdi Dehbi) que surge em meio a um conflito no Oriente Médio e chama a atenção do mundo pelos seus supostos milagres e sua mensagem de paz. Com um número de seguidores cada vez maior, todos os seus passos se tornam um evento e um perigo iminente - afinal não se sabe a verdadeira origem desse (falso?) profeta e o que ele será capaz de fazer com a multidão que o acompanha! Uma agente da CIA (Michelle Monaghan) começa uma investigação e com a "ajuda" do FBI acaba se infiltrando em uma enorme rede de conspiração politica, religiosa e ideológica com o único objetivo de desmascarar Al-Massih. A série tem elementos muito parecidos com "Homeland", então se você acompanhou a história de Brody e Carrie é bem provável que você não vá conseguir parar de assistir "Messiah".

Talvez o ponto alto de "Messiah" seja o seu roteiro. Em muitos momentos a idéia inicial parece que não vai se sustentar ou que alguns personagens surgem e não dão o fôlego que a trama precisa - olha, é um grande engano. Tudo vai se encaixando e movendo a história para frente com muita inteligência. É claro que é o tipo da série que exige uma certa suspensão da realidade, mas a jornada do tal Al-Massih é tão bem desenhada que fica impossível cravar se o personagem é ou não um vilão - e foi aí que me veio a primeira lembrança de "Homeland": com o retorno de Brody e todo mistério sobre seu personagem, o roteiro nos levava de um lado ao outro a cada episódio: essa dúvida constante nos prendia e nos obrigava a assistir ao próximo episódio - "Messiah" faz exatamente a mesma coisa! Quando vamos perdendo o interesse ou algo vai ficando claro demais, surge uma cena cena-chave ou uma nova informação que nos faz repensar a história! Talvez a personagem Eva (a agente da CIA que investiga o caso) não seja tão complexa quanto a Carrie, da excelente Claire Danes, mas mesmo assim é perceptível o conflito interno entre trabalho e vida pessoal da mesma forma, sem falar nos fantasmas do passado - um ponto muito interessante das duas personagens e que, ao fragiliza-las, reforça um drama paralelo, humanizando suas posturas e que sempre rendem ótimas cenas.

A dinâmica da história, mostrando dois núcleos: um no Oriente Médio e outro nos EUA, também trazem aquele tom de suspense e drama de "Homeland" - inclusive com os flashbacks bem pontuais que ajudam a contar um ou outro lado da história ou de um personagem e que compõem muito bem esse enorme quebra-cabeça. Reparem como nunca um episódio começa exatamente onde o anterior terminou. Sempre é dada mais uma informação no prólogo que, inclusive, parece completamente desconexa da história, mas que no final justifica uma ação ou decisão de algum personagem e capaz de modificar o rumo da história - essa técnica é um ótimo exemplo de roteiro bem planejado! Se atentem ao exame de tumor no inicio da temporada!

A produção da série é enorme, além de réplicas perfeitas de determinadas locações, a equipe filmou em Israel, na Palestina e na Jordânia (além dos EUA, claro) - isso só valida que"Messiah" não chegou para ser mais uma série de catálogo (só não entendo porque o marketing não foi mais agressivo, mas ok)! Os efeitos especiais não são perfeitos, mas estão longe de serem mal executados - a cena do Tornado é um ótimo exemplo de um bom resultado. A tempestade de areia também não foi tão ruim nos planos fechados, mas no aberto ficou um pouco estranho. As explosões funcionam bem e não devem incomodar. A direção em si é excelente - James McTeigue (Sense8) e Kate Woods (Castle) entregam ação, drama, suspense com planos muito bem elaborados e de extremo bom gosto. Até as sequências mais complicadas são muito bem realizadas - reparem na cena da Mesquita do episódio 9, vejam como ela cria uma certa tensão e como seu resultado final é avassalador e quebra uma expectativa que nos faz querer assistir o próximo imediatamente! Mais uma vez, se você assistiu "Homeland" as referências são claras e diretas - impossível não lembrar do final da primeira temporada!

Bom, dito tudo isso, eu posso garantir que "Messiah" vale a maratona e que o entretenimento está garantido! São dez episódios de 45 minutos em média, com "viradas surpreendentes" que nos mantém ligados em cada detalhe - é ótimo assistir uma série onde nada é jogado fora, mesmo que seja "apenas" para construir um sentimento em quem assiste e que pode até não interferir tanto no arco maior (o caso da menina com câncer é um bom exemplo)!

Boa diversão!

Up-date: Infelizmente no dia 17/04/2020 a Netflix informou o cancelamento da série com apenas uma temporada!

Assista Agora 

Mil Vezes Boa Noite

Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!

Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:

Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa,  "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).

Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.

"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.

Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais! 

Assista Agora

Toda escolha gera uma consequência, isso é um fato e faz parte do ciclo da vida, porém são os reflexos dessas consequências que muitas vezes não podemos prever ou controlar - e é justamente seguindo esse conceito narrativo que o talentoso diretor norueguês Erik Poppe (que depois veio a dirigir o imperdível "Utoya 22 de Julho") entrega mais um filme visceral sobre as dores do terrorismo e o impacto dessas experiências nos relacionamentos de quem viveu o drama de perto . O fato é que "Mil Vezes Boa Noite" é aquele tipo de filme autoral, belíssimo visualmente, quase poético, e extremamente profundo que merece ser aplaudido de pé!

Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar um turbilhão de emoções quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato: ou o trabalho ou a família. Ele e a filha mais velha do casal, Stephanie (Lauryn Canny), não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão e pelos impactos que seu trabalho podem provocar na sociedade. Confira o trailer:

Pope é um ex-fotografo de guerra, talvez por isso ele tenha escolhido falar sobre o tema para iniciar sua carreira internacional - mesmo sendo uma produção norueguesa,  "Mil Vezes Boa Noite" é falado totalmente em inglês. É possível perceber no filme o esmero estético - cada plano é uma verdadeira poesia visual, trazendo para o movimento a profundidade do still. Ao lado do seu diretor de fotografia, John Christian Rosenlund (de "A onda"), Pope equilibra perfeitamente o drama das situações em que a protagonista está inserida com a dor introspectiva dessas experiências. Veja, não serão poucas as vezes que você vai encontrar um plano aberto visualmente deslumbrante (como a de Rebecca sozinha em uma praia deserta a noite) e imediatamente depois um plano fechado onde os atores contracenam apenas com os olhares (como na cena do café da manhã após o retorno de Rebecca).

Pope, notadamente um especialista na construção de imagens, é também um exímio diretor de atores - o trabalho que ele faz ao lado de Binoche é lindo. As dores das decisões da personagem, bem como o conflito interno sobre o amor que sente pela família, mas que não a completa por inteiro, é desenvolvido com camadas tão sensíveis que chega a mexer com nossa percepção de "certo" e "errado" - sim, você vai julga-la muitas vezes. Tanto Coster-Waldau quanto Canny também merecem destaque - a química entre eles três é algo de se elogiar incansavelmente, tanto que todos foram indicados ou ganharam prêmios em festivais pelo mundo graças a esses personagens.

"Mil Vezes Boa Noite" só escorrega em institucionalizar alguns discursos levemente didáticos para explicar os males do mundo - mesmo que muito faça sentido, o texto soa falso. Porém se existe um trunfo que Pope sabe mesmo desenvolver e aproveitar como poucos, eu diria que é o silêncio - as cenas falam por si só, mesmo que com o auxilio do desenho de som ou uma trilha sonora fantástica que pontuam esse silêncio, visualmente o filme é maravilhoso e muito sensorial. Poppe é um craque, ele acredita no que filma e justamente por isso não tem como não mergulharmos na sua proposta.

Grande filme, cadenciado, profundo, sensível, mas imperdível para quem gosta de dramas existenciais! 

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Minamata

"Minamata" é um filme difícil de assistir, não por ser uma narrativa complexa, mas pelo impacto de uma história que precisava ser contada. Menos hollywoodiana que "O Preço da Verdade", mas igualmente impactante, o filme do diretor Andrew Levitas (de "A Última Canção") segue a mesma linha "denúncia" e expõe de uma maneira nada suave um drama real, de consequências gravíssimas e que até hoje é mascarado pelo governo japonês.

W. Eugene Smith (Johnny Depp) ganhou fama fotografando nas linhas de frente durante a Segunda Guerra Mundial, mas sua personalidade e a bebida praticamente destruiram sua carreira. Quando ele apresenta para o editor da Life Magazine a oportunidade de expor um grande escândalo ambiental, ele é enviado ao Japão para revelar ao mundo a realidade dos moradores de Minamata, uma cidade costeira onde toda a comunidade está sendo envenenada por mercúrio. Confira o trailer (em inglês):

Exibido no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020, "Minamata" dividiu opiniões, principalmente entre crítica e público. Enquanto a crítica implicava com a forma como a história de W. Eugene Smith foi contada, o público vibrava justamente com o conteúdo dessa mesma história. Eu diria que a critica tem um pouco de razão, principalmente ao pontuar algumas escolhas criativas como um excessivo didatismo nos diálogos, recheados de frases de efeito e sempre acompanhado de uma música extremamente sentimentalista. Por outro lado, existe um uma relação poética entre a fotografia do protagonista e o sofrimento da comunidade de Minamata que conecta o público imediatamente - embora o diretor use e abuse de planos onde vemos desde crianças deformadas até o drama dos pais que cuidam com o maior carinho dos seus filhos completamente incapacitados pelo envenenamento.

A performance de Depp também não foi unanimidade, mas, pessoalmente, achei que ele mais acertou do que errou. Existe uma linha muito tênue entre o genial e o canastrão quando o ator precisa explorar o descaso com o próprio corpo decorrente das marcas de uma vida "injusta" que, normalmente, não são desenvolvidas pelo roteiro para estar no filme - o que eu quero dizer é que em alguns momentos Smith parece pouco palpável, enquanto em outros sua complexidade instiga. Se em uma cena ele enxerga, mesmo destroçado socialmente, a beleza artística de uma criança doente tocando acordeom sob a chuva, iluminada por uma luz perfeita, em outra vemos seu personagem bêbado tentando falar no telefone com o chefe que vai desistir da missão enquanto soa ser a única esperança para salvar os japoneses. A questão é que não sobra tempo para mostrar o meio do caminho. 

"Minamata" sofre com o maniqueísmo do roteiro, mas se aproveita da força de sua história e da total empatia que ela proporciona. O fato de ser um dos maiores casos de poluição industrial que o mundo já viu e que pouca gente conhece (mesmo se passando nos anos 70), espanta. Tecnicamente o filme entrega o drama e sentimento de urgência que a história provoca e é perceptível o quanto isso nos tira da sensação de conforto e nos faz refletir.

Vale muito a pena, mesmo com alguns deslizes.

Assista Agora

"Minamata" é um filme difícil de assistir, não por ser uma narrativa complexa, mas pelo impacto de uma história que precisava ser contada. Menos hollywoodiana que "O Preço da Verdade", mas igualmente impactante, o filme do diretor Andrew Levitas (de "A Última Canção") segue a mesma linha "denúncia" e expõe de uma maneira nada suave um drama real, de consequências gravíssimas e que até hoje é mascarado pelo governo japonês.

W. Eugene Smith (Johnny Depp) ganhou fama fotografando nas linhas de frente durante a Segunda Guerra Mundial, mas sua personalidade e a bebida praticamente destruiram sua carreira. Quando ele apresenta para o editor da Life Magazine a oportunidade de expor um grande escândalo ambiental, ele é enviado ao Japão para revelar ao mundo a realidade dos moradores de Minamata, uma cidade costeira onde toda a comunidade está sendo envenenada por mercúrio. Confira o trailer (em inglês):

Exibido no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020, "Minamata" dividiu opiniões, principalmente entre crítica e público. Enquanto a crítica implicava com a forma como a história de W. Eugene Smith foi contada, o público vibrava justamente com o conteúdo dessa mesma história. Eu diria que a critica tem um pouco de razão, principalmente ao pontuar algumas escolhas criativas como um excessivo didatismo nos diálogos, recheados de frases de efeito e sempre acompanhado de uma música extremamente sentimentalista. Por outro lado, existe um uma relação poética entre a fotografia do protagonista e o sofrimento da comunidade de Minamata que conecta o público imediatamente - embora o diretor use e abuse de planos onde vemos desde crianças deformadas até o drama dos pais que cuidam com o maior carinho dos seus filhos completamente incapacitados pelo envenenamento.

A performance de Depp também não foi unanimidade, mas, pessoalmente, achei que ele mais acertou do que errou. Existe uma linha muito tênue entre o genial e o canastrão quando o ator precisa explorar o descaso com o próprio corpo decorrente das marcas de uma vida "injusta" que, normalmente, não são desenvolvidas pelo roteiro para estar no filme - o que eu quero dizer é que em alguns momentos Smith parece pouco palpável, enquanto em outros sua complexidade instiga. Se em uma cena ele enxerga, mesmo destroçado socialmente, a beleza artística de uma criança doente tocando acordeom sob a chuva, iluminada por uma luz perfeita, em outra vemos seu personagem bêbado tentando falar no telefone com o chefe que vai desistir da missão enquanto soa ser a única esperança para salvar os japoneses. A questão é que não sobra tempo para mostrar o meio do caminho. 

"Minamata" sofre com o maniqueísmo do roteiro, mas se aproveita da força de sua história e da total empatia que ela proporciona. O fato de ser um dos maiores casos de poluição industrial que o mundo já viu e que pouca gente conhece (mesmo se passando nos anos 70), espanta. Tecnicamente o filme entrega o drama e sentimento de urgência que a história provoca e é perceptível o quanto isso nos tira da sensação de conforto e nos faz refletir.

Vale muito a pena, mesmo com alguns deslizes.

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Minha História

Antes de mais nada é preciso dizer que "Minha História" ("Becoming", título original) é mais uma peça importante na campanha de marketing do livro de Michelle Obama do que uma obra que possa ser considerada uma profunda biografia ou até mesmo um retrato isento de uma fase da vida da ex-primeira dama. Dito isso, fico muito a vontade em dizer que esse documentário, dirigido pela Nadia Hallgren, é ótimo! O fato da diretora e roteirista usar a turnê de lançamento da auto-biografia de Michelle como pano de fundo, não diminui a importância dos comentários e sentimentos da protagonista sobre sua jornada ao lado do marido na Casa Branca durante 8 anos. O uso de filmagens exclusivas dos bastidores dessa turnê, assim como o formato do evento (com perguntas e respostas ao melhor estilo talk show) funcionam como fio condutor da narrativa que vai pontuando alguns assuntos importantes como o empoderamento feminino, discussões raciais e até comentários sobre dinâmica familiar e educação do filhos, que Michelle expõe com a maior naturalidade e simpatia em escolas, igrejas e em reuniões com sua família e equipe. Confira o trailer:

É claro que o maior mérito do documentário é a presença forte e carismática de Michelle Obama - e como seu próprio marido comentou na rápida aparição que fez em um dos eventos: "Michelle sabe contar boas histórias" - ela tem o dom da oratória e sua inteligência fica absurdamente clara perante a forma como ela conduz os assuntos e se posiciona sem ofender quem assiste, mesmo que a opinião seja contrária. Olha, é impressionante como sua posição de liderança simplesmente flui durante os 90 minutos que a acompanhamos. É claro que vale o play, mas vai soar muito mais agradável fazer um convite: assista "Minha História" e veja como respeito não se impõe, se conquista!

Assista Agora ou

Antes de mais nada é preciso dizer que "Minha História" ("Becoming", título original) é mais uma peça importante na campanha de marketing do livro de Michelle Obama do que uma obra que possa ser considerada uma profunda biografia ou até mesmo um retrato isento de uma fase da vida da ex-primeira dama. Dito isso, fico muito a vontade em dizer que esse documentário, dirigido pela Nadia Hallgren, é ótimo! O fato da diretora e roteirista usar a turnê de lançamento da auto-biografia de Michelle como pano de fundo, não diminui a importância dos comentários e sentimentos da protagonista sobre sua jornada ao lado do marido na Casa Branca durante 8 anos. O uso de filmagens exclusivas dos bastidores dessa turnê, assim como o formato do evento (com perguntas e respostas ao melhor estilo talk show) funcionam como fio condutor da narrativa que vai pontuando alguns assuntos importantes como o empoderamento feminino, discussões raciais e até comentários sobre dinâmica familiar e educação do filhos, que Michelle expõe com a maior naturalidade e simpatia em escolas, igrejas e em reuniões com sua família e equipe. Confira o trailer:

É claro que o maior mérito do documentário é a presença forte e carismática de Michelle Obama - e como seu próprio marido comentou na rápida aparição que fez em um dos eventos: "Michelle sabe contar boas histórias" - ela tem o dom da oratória e sua inteligência fica absurdamente clara perante a forma como ela conduz os assuntos e se posiciona sem ofender quem assiste, mesmo que a opinião seja contrária. Olha, é impressionante como sua posição de liderança simplesmente flui durante os 90 minutos que a acompanhamos. É claro que vale o play, mas vai soar muito mais agradável fazer um convite: assista "Minha História" e veja como respeito não se impõe, se conquista!

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Não olhe para cima

"Não olhe para cima" não é, e talvez nunca será, um filme unânime, longe disso; já que o conceito narrativo foi construído de uma forma muito inteligente (e peculiar) a partir de uma sátira que obviamente extrapola no tom, mas esconde em um roteiro irônico (e acreditem, sutil) as nuances de viver em uma época onde "ser" e "estar" se confundem a cada clique (ou arraste para o lado) perante a mediocridade e o egoísmo do ser-humano.

A premissa é simples, mas nada simplista: dois astrônomos renomados, porém pouco conhecidos das organizações governamentais dos EUA, Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), tentam alertar a humanidade sobre a aproximação de um cometa que acabaram de descobrir e que está prestes a destruir a Terra. Obviamente que eles são desacreditados pela presidente americana, mesmo com todas as evidências comprovadas cientificamente, então ambos resolvem fazer uma espécie de  tour midiática para tentar mobilizar o maior número de pessoas e assim provocar o governo a encontrar uma solução antes que seja tarde. Confira o trailer:

Costumo dizer que você é as referências que você têm, e "Não olhe para cima" constrói uma trama que eleva essa afirmação para outro patamar - algumas sacadas são muito engraçadas, mas podem passar despercebidas por várias pessoas se não estiverem atentas. Muito bem dirigido e roteirizado pelo Adam Mckay (o cara por trás de "Succession", "A Grande Aposta", "Vice", entre outros inúmeros sucessos), o filme usa da semiótica para posicionar a audiência em um universo tão absurdo quanto real. Se dentro da trama os personagens mantém um tom naturalista de interpretação, a cada palavra pronunciada, suas mensagens chegam carregadas de ironias - e a conexão com esse tipo de texto só fará sentido se o mesmo for bem interpretado, entendido e digerido; caso contrário será o "absurdo!" que se sobressairá.

Tecnicamente o filme vai muito bem - as inserções gráficas, a câmera nervosa e a edição moderna, marca registrada de Mckay, criam uma dinâmica impressionante - conectados (vale sempre lembrar), nem vemos os mais de 120 minutos passar. Tanto DiCaprio quanto Lawrence brilham, mas impossível não destacar o trabalho de Meryl Streep como a negacionista e completamente fora da realidade, Presidente Orlean, e do seu filho, ou melhor, "assessor", Jason Orlean (Jonah Hill) - os textos de ambos são tão constrangedores que não por acaso lembraremos de Roman Roy.

Em "Não olhe para cima" não existe o menor espaço para um diálogo inteligente, um pensamento crítico ou discussões aprofundadas sobre algo que está cientificamente comprovado - fica tudo para quem assiste (e juro que estou falando apenas do filme e não do Brasil em época de pandemia). Acaba sendo uma aula de marketing de percepção que se ajusta completamente a uma agenda onde a prioridade é lucrar com suas decisões, nunca quem vai sofrer com elas - eu diria até, que é a ficção mais real dos últimos tempos, com um tempero agridoce do saudoso Monty Python. São tantas (e tantas) críticas fantasiadas de "exagero" que fica difícil tirar o sorriso amarelo do rosto ou a lembrança de uma realidade recente que gostaríamos que fosse apenas um filme da Netflix.

Vale muito seu play!

Assista Agora

"Não olhe para cima" não é, e talvez nunca será, um filme unânime, longe disso; já que o conceito narrativo foi construído de uma forma muito inteligente (e peculiar) a partir de uma sátira que obviamente extrapola no tom, mas esconde em um roteiro irônico (e acreditem, sutil) as nuances de viver em uma época onde "ser" e "estar" se confundem a cada clique (ou arraste para o lado) perante a mediocridade e o egoísmo do ser-humano.

A premissa é simples, mas nada simplista: dois astrônomos renomados, porém pouco conhecidos das organizações governamentais dos EUA, Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence), tentam alertar a humanidade sobre a aproximação de um cometa que acabaram de descobrir e que está prestes a destruir a Terra. Obviamente que eles são desacreditados pela presidente americana, mesmo com todas as evidências comprovadas cientificamente, então ambos resolvem fazer uma espécie de  tour midiática para tentar mobilizar o maior número de pessoas e assim provocar o governo a encontrar uma solução antes que seja tarde. Confira o trailer:

Costumo dizer que você é as referências que você têm, e "Não olhe para cima" constrói uma trama que eleva essa afirmação para outro patamar - algumas sacadas são muito engraçadas, mas podem passar despercebidas por várias pessoas se não estiverem atentas. Muito bem dirigido e roteirizado pelo Adam Mckay (o cara por trás de "Succession", "A Grande Aposta", "Vice", entre outros inúmeros sucessos), o filme usa da semiótica para posicionar a audiência em um universo tão absurdo quanto real. Se dentro da trama os personagens mantém um tom naturalista de interpretação, a cada palavra pronunciada, suas mensagens chegam carregadas de ironias - e a conexão com esse tipo de texto só fará sentido se o mesmo for bem interpretado, entendido e digerido; caso contrário será o "absurdo!" que se sobressairá.

Tecnicamente o filme vai muito bem - as inserções gráficas, a câmera nervosa e a edição moderna, marca registrada de Mckay, criam uma dinâmica impressionante - conectados (vale sempre lembrar), nem vemos os mais de 120 minutos passar. Tanto DiCaprio quanto Lawrence brilham, mas impossível não destacar o trabalho de Meryl Streep como a negacionista e completamente fora da realidade, Presidente Orlean, e do seu filho, ou melhor, "assessor", Jason Orlean (Jonah Hill) - os textos de ambos são tão constrangedores que não por acaso lembraremos de Roman Roy.

Em "Não olhe para cima" não existe o menor espaço para um diálogo inteligente, um pensamento crítico ou discussões aprofundadas sobre algo que está cientificamente comprovado - fica tudo para quem assiste (e juro que estou falando apenas do filme e não do Brasil em época de pandemia). Acaba sendo uma aula de marketing de percepção que se ajusta completamente a uma agenda onde a prioridade é lucrar com suas decisões, nunca quem vai sofrer com elas - eu diria até, que é a ficção mais real dos últimos tempos, com um tempero agridoce do saudoso Monty Python. São tantas (e tantas) críticas fantasiadas de "exagero" que fica difícil tirar o sorriso amarelo do rosto ou a lembrança de uma realidade recente que gostaríamos que fosse apenas um filme da Netflix.

Vale muito seu play!

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Navalny

Simplesmente sensacional - embora a sensação ao subirem os créditos não seja das mais agradáveis! "Navalny", documentário da HBO em parceira com a CNN e indicado ao Oscar 2023, é um verdadeiro soco no estômago, daqueles difíceis de digerir e capaz de nos provocar as mais diversas emoções em uma jornada que soa até ficção, mas que infelizmente é um retrato dolorido da realidade que representa a política de Valdimir Putin na Rússia. 

Aqui conhecemos a história de Alexei Navalny, um dos opositores mais fortes que Putin jamais enfrentou e que, justamente por isso, em 2020, em um voo doméstico da Sibéria para Moscou, foi envenenado com Novichok, uma combinação de substâncias neurotóxicas altamente letal e marca registrada de como o presidente da Rússia trata seus desafetos. Confira o trailer (original):

"Navalny" representa para a política, mais ou menos o que representou "Icarus" para o esporte em 2018 - onde, aliás, o "bandido" era o mesmo! Revelador e muito potente como narrativa, o documentário do diretor Daniel Roher (de "Once Were Brothers: Robbie Robertson & The Band") se propõe a mostrar de uma forma muito honesta, as ideias políticas de Navalny, passando por toda sua estratégia para enfrentar Putin após o evento do envenenamento que quase tirou a sua vida. Roher equilibra muito bem o tom investigativo da história com um recorte mais pessoal do protagonista que expõe sua relação com a mulher e com seus filhos ao mesmo tempo em que precisa lidar com as constantes ameaças que sua posição provoca em seus oponentes.

E acho que aqui cabe um pequeno disclaimer: mesmo sendo muito cuidadoso para não apagar (ou manchar) a aura de "salvador da pátria" de Navalny, Roher não se esconde ao trazer para discussão algumas passagens polêmicas do politico como quando ele participou de um evento nacionalista com inspirações neonazistas ou quando ele discute com sua RP sobre a forma com que está transmitindo suas mensagens no documentário (aqui sem saber que câmera estava ligada e gravando a conversa). Veja, ninguém é santo, muito menos políticos (e estamos cansados de saber disso), porém o foco aqui vai além dos fatos em si, já que o plot se apoia em como hoje em dia é possível criar e capilarizar um discurso capaz de incomodar até aqueles que se acham intocáveis - reparem como Navalny e sua equipe lidam com as informações usando todos os canais de comunicação eletrônica, e seus respectivos públicos, com muita inteligência e, principalmente, coerência.

Como em "Icarus", alguns momentos são incrivelmente marcantes (para não dizer históricos) - é o caso da ligação entre o protagonista e um cientista, aliado de Putin, que trabalhou na missão de envenená-lo. O fato é que "Navalny" consegue trazer para os holofotes um assunto relevante para o futuro da geopolítica mundial e que mais uma vez expõe o modus operandi de um ser-humano que foi agente da KGB, chefe dos serviços secretos soviético e que hoje comanda um país tão forte como a Rússia. Se o documentário será um instrumento de mudança, é difícil saber, mas que ele, de alguma forma, vai provocar muita reflexão, isso é inegável!

Daqueles imperdíveis! Vale muito o seu play!

Up-date: "Navalny" foi o grande vencedor do Oscar 2023 na categoria "Melhor Documentário"!

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Simplesmente sensacional - embora a sensação ao subirem os créditos não seja das mais agradáveis! "Navalny", documentário da HBO em parceira com a CNN e indicado ao Oscar 2023, é um verdadeiro soco no estômago, daqueles difíceis de digerir e capaz de nos provocar as mais diversas emoções em uma jornada que soa até ficção, mas que infelizmente é um retrato dolorido da realidade que representa a política de Valdimir Putin na Rússia. 

Aqui conhecemos a história de Alexei Navalny, um dos opositores mais fortes que Putin jamais enfrentou e que, justamente por isso, em 2020, em um voo doméstico da Sibéria para Moscou, foi envenenado com Novichok, uma combinação de substâncias neurotóxicas altamente letal e marca registrada de como o presidente da Rússia trata seus desafetos. Confira o trailer (original):

"Navalny" representa para a política, mais ou menos o que representou "Icarus" para o esporte em 2018 - onde, aliás, o "bandido" era o mesmo! Revelador e muito potente como narrativa, o documentário do diretor Daniel Roher (de "Once Were Brothers: Robbie Robertson & The Band") se propõe a mostrar de uma forma muito honesta, as ideias políticas de Navalny, passando por toda sua estratégia para enfrentar Putin após o evento do envenenamento que quase tirou a sua vida. Roher equilibra muito bem o tom investigativo da história com um recorte mais pessoal do protagonista que expõe sua relação com a mulher e com seus filhos ao mesmo tempo em que precisa lidar com as constantes ameaças que sua posição provoca em seus oponentes.

E acho que aqui cabe um pequeno disclaimer: mesmo sendo muito cuidadoso para não apagar (ou manchar) a aura de "salvador da pátria" de Navalny, Roher não se esconde ao trazer para discussão algumas passagens polêmicas do politico como quando ele participou de um evento nacionalista com inspirações neonazistas ou quando ele discute com sua RP sobre a forma com que está transmitindo suas mensagens no documentário (aqui sem saber que câmera estava ligada e gravando a conversa). Veja, ninguém é santo, muito menos políticos (e estamos cansados de saber disso), porém o foco aqui vai além dos fatos em si, já que o plot se apoia em como hoje em dia é possível criar e capilarizar um discurso capaz de incomodar até aqueles que se acham intocáveis - reparem como Navalny e sua equipe lidam com as informações usando todos os canais de comunicação eletrônica, e seus respectivos públicos, com muita inteligência e, principalmente, coerência.

Como em "Icarus", alguns momentos são incrivelmente marcantes (para não dizer históricos) - é o caso da ligação entre o protagonista e um cientista, aliado de Putin, que trabalhou na missão de envenená-lo. O fato é que "Navalny" consegue trazer para os holofotes um assunto relevante para o futuro da geopolítica mundial e que mais uma vez expõe o modus operandi de um ser-humano que foi agente da KGB, chefe dos serviços secretos soviético e que hoje comanda um país tão forte como a Rússia. Se o documentário será um instrumento de mudança, é difícil saber, mas que ele, de alguma forma, vai provocar muita reflexão, isso é inegável!

Daqueles imperdíveis! Vale muito o seu play!

Up-date: "Navalny" foi o grande vencedor do Oscar 2023 na categoria "Melhor Documentário"!

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O Acusado

Noventa minutos de muita tensão e angústia, é isso que você vai encontrar no ótimo "O Acusado". Na linha tênue entre "Zona de Confronto" "O Homem nas Trevas" e "Bata Antes de Entrar", o novo filme do talentoso diretor inglês Philip Barantini (o mesmo do sucesso, "O Chef") surpreende tanto pela dinâmica claustrofóbica de sua narrativa quanto pela critica extremamente atual contra uma geração "rede social" que se coloca em uma posição de superioridade ao achar que sua opinião é de fato uma verdade universal sem pensar nas consequências que ela pode representar para o ser humano, ainda mais se esse se encaixar no estereótipo de quem sofre algum tipo de discriminação. Disseminar "incertezas" pode ser muito mais perigoso em tempos de "justiça digital".

Aqui acompanhamos a história de terror vivida por Harri Bhavsar (Chaneil Kular), um jovem paquistanês que precisa lidar com uma injustiça brutal: ele é apontado como o responsável por uma atentado a bomba no metrô de Londres, simplesmente por parecer com um possível suspeito - sim, eu disse "possível" suspeito. De uma hora para a outra o jovem passa a ser perseguido e ameaçado pela internet até que justiceiros começam a caça-lo-lo em busca de vingança. Confira o trailer (em inglês):

É de se elogiar a capacidade que o roteiro, escrito pela dupla de novatos Barnaby Boulton e James Cummings, tem de retratar o lado ruim das relações digitais, principalmente quando pautadas por "fake news". Reparem como antes mesmo da chegada de um clímax simplesmente aterrorizante no segundo ato, o diretor já parece antecipar o real poder de sua trama sem deixar de provocar uma reflexão audiência: o que acontece com Harri Bhavsar poderia acontecer com qualquer um (dada, obviamente, toda a suspensão de uma realidade muito particular da história) e isso, basicamente, eleva nossa ansiedade para o que vem pela frente. Se apropriando dessa angustia crescente, o filme vai apresentando camadas emocionais de seu protagonista ao mesmo tempo em que assistimos de camarote (leia-se pelos olhos dele) todo aquele circo que vai se construindo com o único e claro objetivo de "caça às bruxas" - algo, aliás, bem comum na internet.

Barantini sabe que essa situação especifica pode se transformar na pior experiência da vida de um jovem e ao alinhar o tema com uma gramática cinematográfica mais próxima do suspense do que do drama em si, vivenciamos em "O Acusado" exatamente aquilo que mais tememos. O tribunal virtual, que efetivamente analisa, julga e condena sem chance de um mero desconhecido se defender, é o mesmo que dá o direito para pessoas completamente sem noção resolver os problemas com as próprias mãos. Quando o fotógrafo Matthew Lewis (também de "O Chef") limita seus enquadramentos respeitando a geografia daquele cenário, seja com um jogo de luz e sombra ou com as trocas de perspectiva pelo movimento óptico do foco, temos a exata noção do que é estar preso onde, teoricamente, deveríamos estar seguros e como o ser humano poder sim ser doentio - e aqui cabem mais dois elogios: o filme é muito bem montado, com cortes precisos que ajudam a criar todo esse mood de tensão constante e o desenho de som, delicado, orgânico e muito pontual, coloca um elemento de realismo que é impressionante.

"O Acusado" mesmo curto, parece interminável - graças a capacidade de Barantini (e de seu time) em adequar o tempo de cada cena, da forma mais meticulosa possível, com a ação essencial que o talentoso Chaneil Kular precisa experienciar para mexer com nossas sensações - aliás, me lembrou muito o trabalho de Riz Ahmed em "The Night Of". Enfim, mesmo que tímido em sua campanha de marketing dentro da Netflix, esse é o tipo do filme que merece muita atenção pelo que assistimos na tela e pelo que deve ser discutido assim que os créditos sobem!

Um filme que vai te surpreender de verdade e que faz valer muito a pena o seu play!

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Noventa minutos de muita tensão e angústia, é isso que você vai encontrar no ótimo "O Acusado". Na linha tênue entre "Zona de Confronto" "O Homem nas Trevas" e "Bata Antes de Entrar", o novo filme do talentoso diretor inglês Philip Barantini (o mesmo do sucesso, "O Chef") surpreende tanto pela dinâmica claustrofóbica de sua narrativa quanto pela critica extremamente atual contra uma geração "rede social" que se coloca em uma posição de superioridade ao achar que sua opinião é de fato uma verdade universal sem pensar nas consequências que ela pode representar para o ser humano, ainda mais se esse se encaixar no estereótipo de quem sofre algum tipo de discriminação. Disseminar "incertezas" pode ser muito mais perigoso em tempos de "justiça digital".

Aqui acompanhamos a história de terror vivida por Harri Bhavsar (Chaneil Kular), um jovem paquistanês que precisa lidar com uma injustiça brutal: ele é apontado como o responsável por uma atentado a bomba no metrô de Londres, simplesmente por parecer com um possível suspeito - sim, eu disse "possível" suspeito. De uma hora para a outra o jovem passa a ser perseguido e ameaçado pela internet até que justiceiros começam a caça-lo-lo em busca de vingança. Confira o trailer (em inglês):

É de se elogiar a capacidade que o roteiro, escrito pela dupla de novatos Barnaby Boulton e James Cummings, tem de retratar o lado ruim das relações digitais, principalmente quando pautadas por "fake news". Reparem como antes mesmo da chegada de um clímax simplesmente aterrorizante no segundo ato, o diretor já parece antecipar o real poder de sua trama sem deixar de provocar uma reflexão audiência: o que acontece com Harri Bhavsar poderia acontecer com qualquer um (dada, obviamente, toda a suspensão de uma realidade muito particular da história) e isso, basicamente, eleva nossa ansiedade para o que vem pela frente. Se apropriando dessa angustia crescente, o filme vai apresentando camadas emocionais de seu protagonista ao mesmo tempo em que assistimos de camarote (leia-se pelos olhos dele) todo aquele circo que vai se construindo com o único e claro objetivo de "caça às bruxas" - algo, aliás, bem comum na internet.

Barantini sabe que essa situação especifica pode se transformar na pior experiência da vida de um jovem e ao alinhar o tema com uma gramática cinematográfica mais próxima do suspense do que do drama em si, vivenciamos em "O Acusado" exatamente aquilo que mais tememos. O tribunal virtual, que efetivamente analisa, julga e condena sem chance de um mero desconhecido se defender, é o mesmo que dá o direito para pessoas completamente sem noção resolver os problemas com as próprias mãos. Quando o fotógrafo Matthew Lewis (também de "O Chef") limita seus enquadramentos respeitando a geografia daquele cenário, seja com um jogo de luz e sombra ou com as trocas de perspectiva pelo movimento óptico do foco, temos a exata noção do que é estar preso onde, teoricamente, deveríamos estar seguros e como o ser humano poder sim ser doentio - e aqui cabem mais dois elogios: o filme é muito bem montado, com cortes precisos que ajudam a criar todo esse mood de tensão constante e o desenho de som, delicado, orgânico e muito pontual, coloca um elemento de realismo que é impressionante.

"O Acusado" mesmo curto, parece interminável - graças a capacidade de Barantini (e de seu time) em adequar o tempo de cada cena, da forma mais meticulosa possível, com a ação essencial que o talentoso Chaneil Kular precisa experienciar para mexer com nossas sensações - aliás, me lembrou muito o trabalho de Riz Ahmed em "The Night Of". Enfim, mesmo que tímido em sua campanha de marketing dentro da Netflix, esse é o tipo do filme que merece muita atenção pelo que assistimos na tela e pelo que deve ser discutido assim que os créditos sobem!

Um filme que vai te surpreender de verdade e que faz valer muito a pena o seu play!

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O Caso Celso Daniel

Desde o grande sucesso de "Making a Murderer", documentários investigativos ganharam alguns elementos que ajudaram a transformar uma narrativa que historicamente soava maçante para a audiência em algo mais dinâmico, muito mais agradável de assistir. O conceito de "True Crime" ganhou força com as plataformas de streaming e são incontáveis as produções imperdíveis espalhadas por aí - e que certamente você já assistiu algumas, inclusive recomendadas por nós. Aqui no Brasil, histórias interessantes começaram a surgir e, muito bem produzidas, passaram a chamar atenção dos assinantes, porém, como nas produções estrangeiras, o equilibro entre informação e entretenimento parece ser o maior desafio desse tipo de minissérie e, certamente, o ponto sensível que aproxima ou afasta a audiência - dependendo da sua preferência pessoal.

Em "O Caso Celso Daniel" temos mais uma vez essa equação para resolver. A minissérie exclusiva da Globoplay foi baseada em uma ampla pesquisa e em um farto material documental para discutir em detalhes um dos casos policiais mais polêmicos do século no Brasil, principalmente pelo seu viés politico e pelas inúmeras teorias da conspiração que foram criadas através dos anos. Confira o trailer:

É verdade que "O Caso Celso Daniel" não tem a força do "Caso Evandro", já que é muito mais fácil criar empatia com um familiar que acabou de perder um filho em meio a requintes de crueldade do que com um politico, por mais relevante que tenha sido, que foi assassinado em circunstâncias misteriosas (para muitos como queima de arquivo). Certamente moradores do Grande ABC em São Paulo, mais especificamente de Santa André, não concordem com minha afirmação até pela relação emocional que o protagonista tinha com a cidade e com seus cidadãos, mas o fato é que essa minissérie produzida pela Joana Henning e dirigida pelo excelente Marcos Jorge (de "Estômago") precisa de um esforço muito maior para nos prender - e ela sabe disso!

Toda pesquisa e o material jornalístico são realmente impressionantes: das imagens de arquivo aos depoimentos, tantos anos depois, de personagens importantes e que de alguma forma estiveram envolvidos com o crime ou com sua investigação - de fato tudo está ali. Do outro lado, vem a necessidade do entretenimento, de deixar a minissérie mais envolvente para não parecer uma matéria do Fantástico e é aí que "O Caso Celso Daniel" ganha força: usando de dramatizações com atores até reconstituições em animação, esses artifícios ajudam a trama a ganhar uma coerência como storytelling - fica fácil entender como a história chegou até aquele ponto e porquê uma versão vai se sobrepondo à outra. Veja, talvez falte uma unidade conceitual entre essas técnicas, mas é inegável que essa escolha deixa a narrativa mais dinâmica e não tão presa ao, digamos, jornalismo raiz.

As três perguntas centrais que permeiam os 8 episódios da minissérie são: quem matou Celso Daniel? Havia, de fato, corrupção na prefeitura de Santo André? E, finalmente, existiu alguma relação entre a corrupção (ou a descoberta dela) com o assassinato do prefeito de Santo André? Independente das duas primeiras perguntas já terem encontradas suas respostas, talvez seja a terceira que nos mova nessa jornada. Dependendo da sua orientação politica, alguns detalhes vão te agradar, enquanto outros podem parecer tendenciosos demais, mas entenda: isso não pode ser visto como um problema, essa discussão faz parte daquele universo, já que o que não faltou nesse misterioso caso de assassinato foram contradições e discussões meramente políticas.

Então, se você gosta de crime e de politica, pode dar o play que sua diversão está garantida!

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Desde o grande sucesso de "Making a Murderer", documentários investigativos ganharam alguns elementos que ajudaram a transformar uma narrativa que historicamente soava maçante para a audiência em algo mais dinâmico, muito mais agradável de assistir. O conceito de "True Crime" ganhou força com as plataformas de streaming e são incontáveis as produções imperdíveis espalhadas por aí - e que certamente você já assistiu algumas, inclusive recomendadas por nós. Aqui no Brasil, histórias interessantes começaram a surgir e, muito bem produzidas, passaram a chamar atenção dos assinantes, porém, como nas produções estrangeiras, o equilibro entre informação e entretenimento parece ser o maior desafio desse tipo de minissérie e, certamente, o ponto sensível que aproxima ou afasta a audiência - dependendo da sua preferência pessoal.

Em "O Caso Celso Daniel" temos mais uma vez essa equação para resolver. A minissérie exclusiva da Globoplay foi baseada em uma ampla pesquisa e em um farto material documental para discutir em detalhes um dos casos policiais mais polêmicos do século no Brasil, principalmente pelo seu viés politico e pelas inúmeras teorias da conspiração que foram criadas através dos anos. Confira o trailer:

É verdade que "O Caso Celso Daniel" não tem a força do "Caso Evandro", já que é muito mais fácil criar empatia com um familiar que acabou de perder um filho em meio a requintes de crueldade do que com um politico, por mais relevante que tenha sido, que foi assassinado em circunstâncias misteriosas (para muitos como queima de arquivo). Certamente moradores do Grande ABC em São Paulo, mais especificamente de Santa André, não concordem com minha afirmação até pela relação emocional que o protagonista tinha com a cidade e com seus cidadãos, mas o fato é que essa minissérie produzida pela Joana Henning e dirigida pelo excelente Marcos Jorge (de "Estômago") precisa de um esforço muito maior para nos prender - e ela sabe disso!

Toda pesquisa e o material jornalístico são realmente impressionantes: das imagens de arquivo aos depoimentos, tantos anos depois, de personagens importantes e que de alguma forma estiveram envolvidos com o crime ou com sua investigação - de fato tudo está ali. Do outro lado, vem a necessidade do entretenimento, de deixar a minissérie mais envolvente para não parecer uma matéria do Fantástico e é aí que "O Caso Celso Daniel" ganha força: usando de dramatizações com atores até reconstituições em animação, esses artifícios ajudam a trama a ganhar uma coerência como storytelling - fica fácil entender como a história chegou até aquele ponto e porquê uma versão vai se sobrepondo à outra. Veja, talvez falte uma unidade conceitual entre essas técnicas, mas é inegável que essa escolha deixa a narrativa mais dinâmica e não tão presa ao, digamos, jornalismo raiz.

As três perguntas centrais que permeiam os 8 episódios da minissérie são: quem matou Celso Daniel? Havia, de fato, corrupção na prefeitura de Santo André? E, finalmente, existiu alguma relação entre a corrupção (ou a descoberta dela) com o assassinato do prefeito de Santo André? Independente das duas primeiras perguntas já terem encontradas suas respostas, talvez seja a terceira que nos mova nessa jornada. Dependendo da sua orientação politica, alguns detalhes vão te agradar, enquanto outros podem parecer tendenciosos demais, mas entenda: isso não pode ser visto como um problema, essa discussão faz parte daquele universo, já que o que não faltou nesse misterioso caso de assassinato foram contradições e discussões meramente políticas.

Então, se você gosta de crime e de politica, pode dar o play que sua diversão está garantida!

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O Cerco de Waco

Se você assistiu a excelente minissérie de seis episódios da Paramount, "Waco", você tem quase que a obrigação de assistir esse documentário em três capítulos da Netflix chamado "O Cerco de Waco". Basicamente o documentário cobre os mesmos eventos da ficção, porém sob um aspecto diferente (para não dizer polêmico) - aqui o foco é o lado de fora do complexo onde David Koresh e mais de 100 fiéis do Ramo Davidiano, viviam. O interessante é que o diretor Tiller Russell (de "Night Stalker") repete com sucesso a experiência de contar a mesma história, com vários personagens que lá estiveram, e mesmo assim ainda somos incapazes de definir quem eram os mocinhos e quem eram os bandidos - e aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, apenas pontuando como uma sequência de erros e posturas (dos dois lados) definiram o destino de mais de 80 pessoas, sendo que 26 eram crianças.

Para quem não sabe o confronto entre as agências do governo dos Estados Unidos (ATF e FBI) e o culto liderado por David Koresh, que aconteceu em Waco, no Texas, em 1993 e que durou 51 dias, pode ser considerando uma das maiores tragédias da história recente da humanidade. Koresh líder do grupo religioso Ramo Davidiano, se denominou profeta apocalíptico, quando, após suspeitas sobre a posse de armamentos ilegais, uso de drogas e outras questões como pedofilia e abusos psicológicos; agentes da ATF invadiram o local, dando início a uma batalha que durou dias e resultou em diversas mortes e ameaças de suicídio coletivo. "O Cerco de Waco" conta justamente os bastidores da operação catastrófica das autoridades, com entrevistas de pessoas que testemunharam ou participaram do confronto, além de gravações inéditas feitas pelo FBI e inúmeras imagens de arquivo da época. Confira o trailer (em inglês):

Com uma produção de altíssima qualidade, um trabalho de pesquisa impecável e, claro, depoimentos impactantes de sobreviventes, familiares, agentes do FBI, da ATC,  jornalistas e até de um sniper; posso te garantir: "O Cerco de Waco" é um dos melhores documentários sobre o tema que está disponível atualmente. Chega ser elogiosa a forma como Russell foi capaz de construir uma linha temporal sólida e de fácil entendimento sobre os fatos mais marcantes de toda operação que durou 51 dias. Visualmente, o documentário tem uma elegância gráfica poucas vezes vista e graças a edição do time chefiado por Ed Greene (de "Pepsi, Cadê Meu Avião?") temos a exata noção da angustia e do desespero que envolveram os dois lados dessa história. Olha, toda essa atmosfera mexe muito com nossas emoções - o depoimento de Heather Jones, por exemplo, que era uma criança em 93, ao ouvir sua ultima ligação com seu pai, é de cortar o coração.

Durante os três capítulos, o roteiro vai te provocar o julgamento a cada nova informação. Se David Thibodeau (que escreveu "A place called Waco") conta o que acontecia dentro do complexo Davidiano, também temos depoimentos marcantes de outro ator importante dessa história, o negociador Gary W. Noesner (que escreveu "Stalling for time"). Porém, talvez ainda mais impressionante, sejam os relatos doentios de Kathy Schroeder (umas das sobreviventes e defensora de Koresh) e os revoltantes comentários do sniper Chris Whitcomb. Repare como Russell tenta equilibrar os pontos de vista de uma forma a não nos influenciar - essa estratégia narrativa nos envolve de tal maneira que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela mesmo sabendo onde tudo aquilo vai terminar.

Mesmo que trinta anos depois, algumas perguntas ainda incomodem e independente de certas respostas serem inevitavelmente claras, "Waco: American Apocalypse" (no original) chega como um material importante e pouco discutido justamente por expor o que a sociedade americana tem de pior: sua hipocrisia.

Vale muito o seu play!

PS: Pessoalmente, eu sugiro que você assista a versão ficcional primeiro, pois o documentário vai enriquecer demais sua experiência como audiência e colocar sua relação com a história (e seus personagens) em outro patamar.

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Se você assistiu a excelente minissérie de seis episódios da Paramount, "Waco", você tem quase que a obrigação de assistir esse documentário em três capítulos da Netflix chamado "O Cerco de Waco". Basicamente o documentário cobre os mesmos eventos da ficção, porém sob um aspecto diferente (para não dizer polêmico) - aqui o foco é o lado de fora do complexo onde David Koresh e mais de 100 fiéis do Ramo Davidiano, viviam. O interessante é que o diretor Tiller Russell (de "Night Stalker") repete com sucesso a experiência de contar a mesma história, com vários personagens que lá estiveram, e mesmo assim ainda somos incapazes de definir quem eram os mocinhos e quem eram os bandidos - e aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, apenas pontuando como uma sequência de erros e posturas (dos dois lados) definiram o destino de mais de 80 pessoas, sendo que 26 eram crianças.

Para quem não sabe o confronto entre as agências do governo dos Estados Unidos (ATF e FBI) e o culto liderado por David Koresh, que aconteceu em Waco, no Texas, em 1993 e que durou 51 dias, pode ser considerando uma das maiores tragédias da história recente da humanidade. Koresh líder do grupo religioso Ramo Davidiano, se denominou profeta apocalíptico, quando, após suspeitas sobre a posse de armamentos ilegais, uso de drogas e outras questões como pedofilia e abusos psicológicos; agentes da ATF invadiram o local, dando início a uma batalha que durou dias e resultou em diversas mortes e ameaças de suicídio coletivo. "O Cerco de Waco" conta justamente os bastidores da operação catastrófica das autoridades, com entrevistas de pessoas que testemunharam ou participaram do confronto, além de gravações inéditas feitas pelo FBI e inúmeras imagens de arquivo da época. Confira o trailer (em inglês):

Com uma produção de altíssima qualidade, um trabalho de pesquisa impecável e, claro, depoimentos impactantes de sobreviventes, familiares, agentes do FBI, da ATC,  jornalistas e até de um sniper; posso te garantir: "O Cerco de Waco" é um dos melhores documentários sobre o tema que está disponível atualmente. Chega ser elogiosa a forma como Russell foi capaz de construir uma linha temporal sólida e de fácil entendimento sobre os fatos mais marcantes de toda operação que durou 51 dias. Visualmente, o documentário tem uma elegância gráfica poucas vezes vista e graças a edição do time chefiado por Ed Greene (de "Pepsi, Cadê Meu Avião?") temos a exata noção da angustia e do desespero que envolveram os dois lados dessa história. Olha, toda essa atmosfera mexe muito com nossas emoções - o depoimento de Heather Jones, por exemplo, que era uma criança em 93, ao ouvir sua ultima ligação com seu pai, é de cortar o coração.

Durante os três capítulos, o roteiro vai te provocar o julgamento a cada nova informação. Se David Thibodeau (que escreveu "A place called Waco") conta o que acontecia dentro do complexo Davidiano, também temos depoimentos marcantes de outro ator importante dessa história, o negociador Gary W. Noesner (que escreveu "Stalling for time"). Porém, talvez ainda mais impressionante, sejam os relatos doentios de Kathy Schroeder (umas das sobreviventes e defensora de Koresh) e os revoltantes comentários do sniper Chris Whitcomb. Repare como Russell tenta equilibrar os pontos de vista de uma forma a não nos influenciar - essa estratégia narrativa nos envolve de tal maneira que praticamente nos impede de tirar os olhos da tela mesmo sabendo onde tudo aquilo vai terminar.

Mesmo que trinta anos depois, algumas perguntas ainda incomodem e independente de certas respostas serem inevitavelmente claras, "Waco: American Apocalypse" (no original) chega como um material importante e pouco discutido justamente por expor o que a sociedade americana tem de pior: sua hipocrisia.

Vale muito o seu play!

PS: Pessoalmente, eu sugiro que você assista a versão ficcional primeiro, pois o documentário vai enriquecer demais sua experiência como audiência e colocar sua relação com a história (e seus personagens) em outro patamar.

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O Conde

"O Conde" é simplesmente genial, no entanto não será uma jornada muito fácil já que sua narrativa cheia de simbolismo, ironia, sarcasmo e critica exige da audiência um certo conhecimento da história politica sangrenta do ditador Augusto Pinochet, no Chile, para que a experiência seja, de fato, marcante. Com uma habilidade impressionante, o diretor Pablo Larraín (de "Spencer"), resgata a figura de Pinochet emprestando um certo tom de fábula, com vários elementos fantásticos, capaz de transformar o conhecido genocida em um vampiro caricato, resignificando com muita inteligência a sua reconhecida sede por sangue. A capacidade de Larraín em revisitar o recente passado de seu país e recontar algumas passagens politicas tão marcantes quanto tristes, de uma forma quase nonsense, faz dessa produção da Netflix uma das melhores de 2023. Mas atenção: esse filme não deve agradar a todos, portanto sugiro uma leitura atenta antes do play!

O filme se passa em uma realidade alternativa que mostra Augusto Pinochet (Jaime Vadell) como um vampiro envelhecido e isolado em uma mansão abandonada. Após 250 anos se alimentando de sangue para sobreviver, ele está decidido a morrer de uma vez por todas. Frustrado pela forma como o povo chileno o reconhece, e cercado por uma família notavelmente oportunista, o vampiro já não vê nenhuma razão para continuar sua trajetória de conquistas pela vida eterna. Porém, quando tudo parece perdido, ele acaba descobrindo uma inspiração que lhe faz querer abandonar esses planos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Com um roteiro repleto de cinismo (daqueles que você ri de nervoso, mas aplaude mentalmente), Guillermo Calder (de "Neruda") ao lado do próprio Larraín, transitam entre o absurdo e a ignorância (obviamente sempre pontuada pela crítica irônica e respaldada pelos fatos) para contar a história do ditador Augusto Pinochet pelos seus próprios olhos - embora o filme seja narrado por uma personagem misteriosa que assim que é apresentada no terceiro ato, nos deixa de queixo caído. Para quem não sabe, Pinochet liderou um golpe de Estado em 1973, derrubando o governo democraticamente eleito de Salvador Allende. e assumiu o poder como líder da junta militar e posteriormente se autoproclamou presidente do Chile. Seu governo, que durou de 1973 a 1990, foi marcado por repressão política, violações dos direitos humanos e políticas econômicas que bebiam na fonte da corrupção - o curioso, no entanto, é como o filme insere informações relevantes sobre os bastidores dessas histórias e como o personagem interpreta seu legado em meio a uma crise existencial (ele sofrendo por ser reconhecido como "ladrão", é impagável).

Toda essa qualidade do texto é lindamente emoldurada por uma fotografia digna de Oscar. O fotografo americano Edward Lachman (indicado ao Oscar por "Carol" e "Longe do Paraíso") se apropria do preto e branco para criar um tom sombrio e misterioso - é como se assistíssemos "Nosferatu". Todo o desenho de produção, habilmente, explora esse aspecto de velho e carcomido para falar do passado, mas sem deixar de criar paralelos  com o presente - as metáforas visuais são tão imponentes quanto as textuais e juntas, olha, é uma aula de cinema. Como diretor, Larraín é muito, mas muito, sagaz ao convidar a audiência a interpretar os eventos do filme e assim encontrar sentido com o que vimos ou vivemos na história recente do nosso país - fico imaginando como é rica essa experiência para um chileno, se para nós já é sensacional!

Outro ponto que merece destaque é a relação familiar de Augusto Pinochet, especialmente com sua mulher, Lucía Hiriart (Gloria Münchmeyer). Veja, embora essa relação tenha sido usada para criar uma imagem de estabilidade e moralidade, ela também foi marcada por acusações de corrupção e enriquecimento pessoal, que contribuíram para a controvérsia em torno de seu regime autoritário no Chile - a cena da freira Carmencita (Paula Luchsinger) entrevistando os cinco filhos do ditador e perguntando sobre algumas situações, digamos duvidosas, como aquela do caso Riggs, por exemplo, é muito engraçada. Quando embarcarmos nessa genialidade mais debochada de Larraín, nossa percepção muda de patamar!

"O Conde" talvez seja o "Roma" de Larraín - autoral, corajoso, bem executado tecnicamente, artisticamente impecável, e longe de ser um filme fácil e muito menos superficial. Toda essa linguagem mais satírica, misturada com uma bem equilibrada farsa política, não vai agradar aquela audiência que acha se tratar de um filme de terror sobre vampiros. Esquece! "O Conde" é muito mais do que isso e vale muito o seu play, principalmente se você tiver o cuidado de ler ou souber o que representou o governo Pinochet e como suas atitudes e discurso, além de hipócritas, foram fatais para aquele país.

Imperdível!

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"O Conde" é simplesmente genial, no entanto não será uma jornada muito fácil já que sua narrativa cheia de simbolismo, ironia, sarcasmo e critica exige da audiência um certo conhecimento da história politica sangrenta do ditador Augusto Pinochet, no Chile, para que a experiência seja, de fato, marcante. Com uma habilidade impressionante, o diretor Pablo Larraín (de "Spencer"), resgata a figura de Pinochet emprestando um certo tom de fábula, com vários elementos fantásticos, capaz de transformar o conhecido genocida em um vampiro caricato, resignificando com muita inteligência a sua reconhecida sede por sangue. A capacidade de Larraín em revisitar o recente passado de seu país e recontar algumas passagens politicas tão marcantes quanto tristes, de uma forma quase nonsense, faz dessa produção da Netflix uma das melhores de 2023. Mas atenção: esse filme não deve agradar a todos, portanto sugiro uma leitura atenta antes do play!

O filme se passa em uma realidade alternativa que mostra Augusto Pinochet (Jaime Vadell) como um vampiro envelhecido e isolado em uma mansão abandonada. Após 250 anos se alimentando de sangue para sobreviver, ele está decidido a morrer de uma vez por todas. Frustrado pela forma como o povo chileno o reconhece, e cercado por uma família notavelmente oportunista, o vampiro já não vê nenhuma razão para continuar sua trajetória de conquistas pela vida eterna. Porém, quando tudo parece perdido, ele acaba descobrindo uma inspiração que lhe faz querer abandonar esses planos. Confira o trailer (com legendas em inglês):

Com um roteiro repleto de cinismo (daqueles que você ri de nervoso, mas aplaude mentalmente), Guillermo Calder (de "Neruda") ao lado do próprio Larraín, transitam entre o absurdo e a ignorância (obviamente sempre pontuada pela crítica irônica e respaldada pelos fatos) para contar a história do ditador Augusto Pinochet pelos seus próprios olhos - embora o filme seja narrado por uma personagem misteriosa que assim que é apresentada no terceiro ato, nos deixa de queixo caído. Para quem não sabe, Pinochet liderou um golpe de Estado em 1973, derrubando o governo democraticamente eleito de Salvador Allende. e assumiu o poder como líder da junta militar e posteriormente se autoproclamou presidente do Chile. Seu governo, que durou de 1973 a 1990, foi marcado por repressão política, violações dos direitos humanos e políticas econômicas que bebiam na fonte da corrupção - o curioso, no entanto, é como o filme insere informações relevantes sobre os bastidores dessas histórias e como o personagem interpreta seu legado em meio a uma crise existencial (ele sofrendo por ser reconhecido como "ladrão", é impagável).

Toda essa qualidade do texto é lindamente emoldurada por uma fotografia digna de Oscar. O fotografo americano Edward Lachman (indicado ao Oscar por "Carol" e "Longe do Paraíso") se apropria do preto e branco para criar um tom sombrio e misterioso - é como se assistíssemos "Nosferatu". Todo o desenho de produção, habilmente, explora esse aspecto de velho e carcomido para falar do passado, mas sem deixar de criar paralelos  com o presente - as metáforas visuais são tão imponentes quanto as textuais e juntas, olha, é uma aula de cinema. Como diretor, Larraín é muito, mas muito, sagaz ao convidar a audiência a interpretar os eventos do filme e assim encontrar sentido com o que vimos ou vivemos na história recente do nosso país - fico imaginando como é rica essa experiência para um chileno, se para nós já é sensacional!

Outro ponto que merece destaque é a relação familiar de Augusto Pinochet, especialmente com sua mulher, Lucía Hiriart (Gloria Münchmeyer). Veja, embora essa relação tenha sido usada para criar uma imagem de estabilidade e moralidade, ela também foi marcada por acusações de corrupção e enriquecimento pessoal, que contribuíram para a controvérsia em torno de seu regime autoritário no Chile - a cena da freira Carmencita (Paula Luchsinger) entrevistando os cinco filhos do ditador e perguntando sobre algumas situações, digamos duvidosas, como aquela do caso Riggs, por exemplo, é muito engraçada. Quando embarcarmos nessa genialidade mais debochada de Larraín, nossa percepção muda de patamar!

"O Conde" talvez seja o "Roma" de Larraín - autoral, corajoso, bem executado tecnicamente, artisticamente impecável, e longe de ser um filme fácil e muito menos superficial. Toda essa linguagem mais satírica, misturada com uma bem equilibrada farsa política, não vai agradar aquela audiência que acha se tratar de um filme de terror sobre vampiros. Esquece! "O Conde" é muito mais do que isso e vale muito o seu play, principalmente se você tiver o cuidado de ler ou souber o que representou o governo Pinochet e como suas atitudes e discurso, além de hipócritas, foram fatais para aquele país.

Imperdível!

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O Destino de uma Nação

Denzel Washington pode preparar mais um cara feia porque o Oscar de 2018 para "Melhor Ator" será do Gary Oldman. Barbada!!! Mas antes de analisarmos as chances do filme, vamos entender sua história. em "Darkest Hour" (título original), depois da renúncia de Neville Chamberlain (Ronald Pickup), movido por uma enorme pressão política depois do fracasso ao tentar impedir o avanço da Alemanha pela Europa, Winston Churchill (Gary Oldman) está prestes a se tornar o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha. Com um poder assombroso nas mãos, ele precisa enfrentar exaustivos dilemas - um povo despreparado, um rei cético e o próprio partido conspirando contra ele. A fim de garantir a integridade do seu povo e de seus aliados, com uma invasão iminente de Hitler, diversas respostas são colocadas desesperadamente na mesa, muitos jogadores tramam os próximos movimentos do governo e soldados perecem sacrificando-se pelo bem da Coroa e de seu reino. Confira o trailer:

Vamos lá: assistindo o filme, é impossível não imaginar a alegria do diretor quando, já na primeira diária, ele corta o primeiro take de uma cena com o Gary Oldman como Winston Churchill. Olha, o cara está simplesmente irretocável!!! Uma grande atuação, uma aula de imersão no personagem, com profundidade, verdade e carisma!!! O filme vale por ele, sim, mas tem alguns outros elementos que gostaria de ressaltar e vale nossa tenção:

A fotografia é belíssima - Também indicado ao Oscar (pela quinta vez, inclusive) Bruno Delbonnel foi o responsável pela fotografia de Amélie Poulain para se ter uma idéia. O trabalho dele está magnifico - dos travellings pelos corredores do parlamento ao planos fechado e introspectivos de  Churchill. E aí chegamos em outra barbada da noite: "Melhor Cabelo e Maquiagem" - o trabalho de caracterização é impressionante!! Na verdade, todo Departamento de Arte dá um show a parte!

Outro ponto a se destacar é a direção do Joe Wright - ele mata a pau (o que até é normal)! É um plano melhor que o outro, com movimentos precisos, escolhas perfeitas, enfim, é um absurdo ele não ter sido indicado como Melhor Diretor! Independente disso, acho que vala a pena acompanhar mais de perto o seu trabalho -  acho ele um diretor sensacional porque ele alia criatividade, técnica e inventividade com o equilíbrio certo, sem querer aparecer mais que a história, além de ser excelente diretor de atores. Indico "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação".

Vale muito a pena, principalmente se você já tiver assistido "Dunkirk" - eles se completam perfeitamente!!!! Se "Dunkirk" mostra o terror da guerra , "O Destino de uma Nação" mostra os bastidores políticos! Vale muito seu play!!!

Up-date: "O Destino de uma Nação" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Cabelo e Maquiagem e Melhor Ator! 

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Denzel Washington pode preparar mais um cara feia porque o Oscar de 2018 para "Melhor Ator" será do Gary Oldman. Barbada!!! Mas antes de analisarmos as chances do filme, vamos entender sua história. em "Darkest Hour" (título original), depois da renúncia de Neville Chamberlain (Ronald Pickup), movido por uma enorme pressão política depois do fracasso ao tentar impedir o avanço da Alemanha pela Europa, Winston Churchill (Gary Oldman) está prestes a se tornar o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha. Com um poder assombroso nas mãos, ele precisa enfrentar exaustivos dilemas - um povo despreparado, um rei cético e o próprio partido conspirando contra ele. A fim de garantir a integridade do seu povo e de seus aliados, com uma invasão iminente de Hitler, diversas respostas são colocadas desesperadamente na mesa, muitos jogadores tramam os próximos movimentos do governo e soldados perecem sacrificando-se pelo bem da Coroa e de seu reino. Confira o trailer:

Vamos lá: assistindo o filme, é impossível não imaginar a alegria do diretor quando, já na primeira diária, ele corta o primeiro take de uma cena com o Gary Oldman como Winston Churchill. Olha, o cara está simplesmente irretocável!!! Uma grande atuação, uma aula de imersão no personagem, com profundidade, verdade e carisma!!! O filme vale por ele, sim, mas tem alguns outros elementos que gostaria de ressaltar e vale nossa tenção:

A fotografia é belíssima - Também indicado ao Oscar (pela quinta vez, inclusive) Bruno Delbonnel foi o responsável pela fotografia de Amélie Poulain para se ter uma idéia. O trabalho dele está magnifico - dos travellings pelos corredores do parlamento ao planos fechado e introspectivos de  Churchill. E aí chegamos em outra barbada da noite: "Melhor Cabelo e Maquiagem" - o trabalho de caracterização é impressionante!! Na verdade, todo Departamento de Arte dá um show a parte!

Outro ponto a se destacar é a direção do Joe Wright - ele mata a pau (o que até é normal)! É um plano melhor que o outro, com movimentos precisos, escolhas perfeitas, enfim, é um absurdo ele não ter sido indicado como Melhor Diretor! Independente disso, acho que vala a pena acompanhar mais de perto o seu trabalho -  acho ele um diretor sensacional porque ele alia criatividade, técnica e inventividade com o equilíbrio certo, sem querer aparecer mais que a história, além de ser excelente diretor de atores. Indico "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação".

Vale muito a pena, principalmente se você já tiver assistido "Dunkirk" - eles se completam perfeitamente!!!! Se "Dunkirk" mostra o terror da guerra , "O Destino de uma Nação" mostra os bastidores políticos! Vale muito seu play!!!

Up-date: "O Destino de uma Nação" ganhou em duas categorias no Oscar 2018: Melhor Cabelo e Maquiagem e Melhor Ator! 

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O Dia do Atentado

Existe uma linha muito tênue entre retratar fatos (mesmo que na ficção) e espetacularizar os horrores de um atentado terrorista - e é aqui que talvez esteja o maior mérito de "O Dia do Atentado". Seu roteiro consegue respeitar todos os limites narrativos do bom senso enquanto a direção não precisa abrir mão de um único plano que pudesse, de alguma forma, nos deixar fora do inferno que se tornou a maratona de Boston em 2013. Bem na linha de "Voo United 93", o diretor Peter Berg (de "Hancock") conecta cenas reais e encenações com uma habilidade incrível, dando uma conotação documental e imersiva para o filme, sem perder aquela atmosfera de thriller policial que nos envolve ao mesmo tempo em que nos provoca inúmeras sensações! 

Em 15 de abril de 2013, o sargento da polícia Tommy Saunders (Mark Wahlberg) está trabalhando na segurança da maratona anual de Boston quando duas bombas caseiras explodem em um ato de terrorismo. Após os atentados, o grupo formado por Tommy, o Agente Especial Richard Deslauries (Kevin Bacon), o Comissário da Polícia Ed Davis (John Goodman) e o Sargento Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons) se unem aos bravos sobreviventes para tentar identificar e capturar os responsáveis pelos ataques antes que eles possam fazer novas vítimas. Confira o trailer:

Logo de cara percebemos uma escolha criativa que acaba se mostrando das mais acertadas: ao apresentar (mesmo que superficialmente) algumas subtramas e seus respectivos personagens, antes dos acontecimentos que marcariam aquele dia, fica estabelecido que a vida nada mais é que um sopro e que será essa relação de imprevisibilidade que nos acompanhará por toda essa dura jornada. Veja, se à primeira vista os personagens parecem desconectados, é por causa da individualização de suas histórias que entendemos seus anseios, seus desejos, suas motivações, e, aos poucos, conforme as cartas vão sendo colocadas na mesa, é que percebemos o valor de cada um dentro desse enorme quebra-cabeça - e o mais interessante, aliás, é que todas essas histórias são, de fato, reais (por isso não deixem de assistir os créditos)!

Como Paul Greengrass, que recriou um dos momentos mais tensos dos atentados em 11 de setembro se apoiando no fator humano, Berg também combina uma série de técnicas cinematográficas para exaltar a humanidade do evento e assim manipular nossas sensações - e ele faz isso com uma maestria impressionante. A partir de uma montagem cirúrgica da dupla Gabriel Fleming e Colby Parker Jr (ambos de "Horizonte Profundo"), o diretor alterna planos nervosos com a câmera mais soltas, onde a lente está mais suja; com inúmeros materiais de arquivo, esses com imagens de noticiários da época, de câmeras de vigilância das lojas e restaurantes próximas da explosão; e até das gravações dos próprios agentes do FBI que participaram das investigações. É lindo de ver e repare como isso simula um senso de urgência que dá o tom do filme.

"O Dia do Atentado" tem tiroteios e explosões, com planos filmados ao melhor "estilo blockbuster", mas em nenhum momento esquece do fator humano, dos dramas mais íntimos pela qual os policiais estão passando enquanto tentam encontrar os criminosos. E é aí que somos surpreendidos de novo já que o filme tinha tudo para cair na armadilha do patriotismo barato, mas não é o que acontece - o que vemos no final das contas é uma história eficiente, dinâmica, coerente, tecnicamente perfeita, com momentos de tirar o fôlego enquanto outros são extremamente emocionantes. Olha, de fato, estamos diante de um filmaço!

Vale muito seu play!

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Existe uma linha muito tênue entre retratar fatos (mesmo que na ficção) e espetacularizar os horrores de um atentado terrorista - e é aqui que talvez esteja o maior mérito de "O Dia do Atentado". Seu roteiro consegue respeitar todos os limites narrativos do bom senso enquanto a direção não precisa abrir mão de um único plano que pudesse, de alguma forma, nos deixar fora do inferno que se tornou a maratona de Boston em 2013. Bem na linha de "Voo United 93", o diretor Peter Berg (de "Hancock") conecta cenas reais e encenações com uma habilidade incrível, dando uma conotação documental e imersiva para o filme, sem perder aquela atmosfera de thriller policial que nos envolve ao mesmo tempo em que nos provoca inúmeras sensações! 

Em 15 de abril de 2013, o sargento da polícia Tommy Saunders (Mark Wahlberg) está trabalhando na segurança da maratona anual de Boston quando duas bombas caseiras explodem em um ato de terrorismo. Após os atentados, o grupo formado por Tommy, o Agente Especial Richard Deslauries (Kevin Bacon), o Comissário da Polícia Ed Davis (John Goodman) e o Sargento Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons) se unem aos bravos sobreviventes para tentar identificar e capturar os responsáveis pelos ataques antes que eles possam fazer novas vítimas. Confira o trailer:

Logo de cara percebemos uma escolha criativa que acaba se mostrando das mais acertadas: ao apresentar (mesmo que superficialmente) algumas subtramas e seus respectivos personagens, antes dos acontecimentos que marcariam aquele dia, fica estabelecido que a vida nada mais é que um sopro e que será essa relação de imprevisibilidade que nos acompanhará por toda essa dura jornada. Veja, se à primeira vista os personagens parecem desconectados, é por causa da individualização de suas histórias que entendemos seus anseios, seus desejos, suas motivações, e, aos poucos, conforme as cartas vão sendo colocadas na mesa, é que percebemos o valor de cada um dentro desse enorme quebra-cabeça - e o mais interessante, aliás, é que todas essas histórias são, de fato, reais (por isso não deixem de assistir os créditos)!

Como Paul Greengrass, que recriou um dos momentos mais tensos dos atentados em 11 de setembro se apoiando no fator humano, Berg também combina uma série de técnicas cinematográficas para exaltar a humanidade do evento e assim manipular nossas sensações - e ele faz isso com uma maestria impressionante. A partir de uma montagem cirúrgica da dupla Gabriel Fleming e Colby Parker Jr (ambos de "Horizonte Profundo"), o diretor alterna planos nervosos com a câmera mais soltas, onde a lente está mais suja; com inúmeros materiais de arquivo, esses com imagens de noticiários da época, de câmeras de vigilância das lojas e restaurantes próximas da explosão; e até das gravações dos próprios agentes do FBI que participaram das investigações. É lindo de ver e repare como isso simula um senso de urgência que dá o tom do filme.

"O Dia do Atentado" tem tiroteios e explosões, com planos filmados ao melhor "estilo blockbuster", mas em nenhum momento esquece do fator humano, dos dramas mais íntimos pela qual os policiais estão passando enquanto tentam encontrar os criminosos. E é aí que somos surpreendidos de novo já que o filme tinha tudo para cair na armadilha do patriotismo barato, mas não é o que acontece - o que vemos no final das contas é uma história eficiente, dinâmica, coerente, tecnicamente perfeita, com momentos de tirar o fôlego enquanto outros são extremamente emocionantes. Olha, de fato, estamos diante de um filmaço!

Vale muito seu play!

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