"O Pálido Olho Azul" é excelente! Mesmo com um estilo narrativo um pouco mais cadenciado, com diálogos cheio de nuances e uma fotografia um pouco mais densa, eu diria que a história é muito bem amarrada, construída em cima de camadas bem desenvolvidas e com um final que pode surpreender muita gente - sem falar, óbvio, na performance digna de prêmios de Christian Bale e Harry Melling.
Baseado no romance de Louis Bayard, o filme acompanha o detetive Augustus Landor (Bale) que viaja para West Point, em Nova York, para investigar uma série de assassinatos assombrosos que colocam em xeque a reputação e a segurança da Academia Militar dos Estados Unidos. Ao chegar lá, Landor se alia a um dos cadetes locais, Edgar Allan Poe (Melling), para encontrar pistas acerca de quem pode estar por trás dos crimes. Entretanto, o detetive descobre que as coisas são muito mais complicadas do que parecem quando ele compreende que os homicídios são apenas o primeiro passo de um plano ainda mais macabro. Confira o trailer:
Em uma temporada onde Benoit Blanc trouxe seu charme para o segundo capítulo de "Knives Out" com muito mistério, leveza e um toque homeopático de humor, transportar exatamente o mesmo subgênero investigativo para 1830, em um cenário mais sinistro, que se confunde entre a literatura e o teatro, ao melhor estilo Sherlock Holmes, só que dessa vez pautado no drama mais obscuro, com um forte elemento de suspense sobrenatural, é no mínimo um risco calculado! O filme muito bem dirigido pelo Scott Cooper (de "Espíritos Obscuros") nos convida para uma imersão clara naquela atmosfera gélida e esfumaçada, onde os personagens carregam no olhar o sofrimento de suas histórias mais íntimas ao mesmo tempo em que precisam lidar com o medo do desconhecido.
Mesmo com um roteiro que mostra certa dificuldade para unir essas duas pontas, muitas vezes se apoiando em diálogos expositivos demais, é de se elogiar a forma como a atmosfera de "The Pale Blue Eye"(no original) nos envolve - existe uma tensão constante em meio a um afinado elemento gótico, poético e excêntrico personificado em Edgar Allan Poe que se encaixa perfeitamente ao estilo investigativo de Landor que parece beber na mesma fonte de Robert Langdon e da simbologia "ocultista" de Dan Brown.
Tecnicamente muito bem realizado, "O Pálido Olho Azul" tem o impacto necessário para nos deixar muito satisfeito com sua resolução, mesmo que soe um pouco exagerado em alguns momentos. As peças se encaixam perfeitamente e olhando em retrospectiva, tudo faz sentido - do seu conceito narrativo que se mostra completamente alinhado com a forma como Cooper e o diretor de fotografia, Masanobu Takayanagi (de "O canto do cisne"), decodificam as falhas de caráter do ser humano à dicotomia de um universo misterioso dividido entre o fúnebre e a paixão pela vida.
Vale muito seu play!
"O Pálido Olho Azul" é excelente! Mesmo com um estilo narrativo um pouco mais cadenciado, com diálogos cheio de nuances e uma fotografia um pouco mais densa, eu diria que a história é muito bem amarrada, construída em cima de camadas bem desenvolvidas e com um final que pode surpreender muita gente - sem falar, óbvio, na performance digna de prêmios de Christian Bale e Harry Melling.
Baseado no romance de Louis Bayard, o filme acompanha o detetive Augustus Landor (Bale) que viaja para West Point, em Nova York, para investigar uma série de assassinatos assombrosos que colocam em xeque a reputação e a segurança da Academia Militar dos Estados Unidos. Ao chegar lá, Landor se alia a um dos cadetes locais, Edgar Allan Poe (Melling), para encontrar pistas acerca de quem pode estar por trás dos crimes. Entretanto, o detetive descobre que as coisas são muito mais complicadas do que parecem quando ele compreende que os homicídios são apenas o primeiro passo de um plano ainda mais macabro. Confira o trailer:
Em uma temporada onde Benoit Blanc trouxe seu charme para o segundo capítulo de "Knives Out" com muito mistério, leveza e um toque homeopático de humor, transportar exatamente o mesmo subgênero investigativo para 1830, em um cenário mais sinistro, que se confunde entre a literatura e o teatro, ao melhor estilo Sherlock Holmes, só que dessa vez pautado no drama mais obscuro, com um forte elemento de suspense sobrenatural, é no mínimo um risco calculado! O filme muito bem dirigido pelo Scott Cooper (de "Espíritos Obscuros") nos convida para uma imersão clara naquela atmosfera gélida e esfumaçada, onde os personagens carregam no olhar o sofrimento de suas histórias mais íntimas ao mesmo tempo em que precisam lidar com o medo do desconhecido.
Mesmo com um roteiro que mostra certa dificuldade para unir essas duas pontas, muitas vezes se apoiando em diálogos expositivos demais, é de se elogiar a forma como a atmosfera de "The Pale Blue Eye"(no original) nos envolve - existe uma tensão constante em meio a um afinado elemento gótico, poético e excêntrico personificado em Edgar Allan Poe que se encaixa perfeitamente ao estilo investigativo de Landor que parece beber na mesma fonte de Robert Langdon e da simbologia "ocultista" de Dan Brown.
Tecnicamente muito bem realizado, "O Pálido Olho Azul" tem o impacto necessário para nos deixar muito satisfeito com sua resolução, mesmo que soe um pouco exagerado em alguns momentos. As peças se encaixam perfeitamente e olhando em retrospectiva, tudo faz sentido - do seu conceito narrativo que se mostra completamente alinhado com a forma como Cooper e o diretor de fotografia, Masanobu Takayanagi (de "O canto do cisne"), decodificam as falhas de caráter do ser humano à dicotomia de um universo misterioso dividido entre o fúnebre e a paixão pela vida.
Vale muito seu play!
"O Paraíso e a Serpente" é uma coprodução da BBC One com a Netflix e poderia ser tranqüilamente uma temporada de "American Crime Story" - e isso é uma grande elogio, pois considero a produção, que tem Ryan Murphy no comando uma das melhores séries antológicas já produzidas. Em "O Paraíso e a Serpente" temos exatamente a mesma fórmula, limitada em 8 episódios como uma minissérie, baseada em fatos reais e tendo como pano de fundo um (ou vários crimes) que chamaram a atenção da mídia na época.
Na história conhecemos Charles Sobhraj (Tahar Rahim), um assassino em série e golpista que fingia ser um comprador e vendedor de pedras preciosas que atuava em vários países da Ásia, como Tailândia e Índia, e tinha como principais alvos jovens e sonhadores viajantes, no auge dos anos 70. Charles tinha o dom de manipular facilmente as pessoas, conquistar sua confiança, inclusive de sua namorada, a canadense Marie-Andrée Leclerc (Jenna Coleman), e com todo o seu talento, drogava suas vitimas, roubava todo dinheiro e seus documentos para depois falsificar sua identidade, e por fim assassinava cruelmente cada um deles para não deixar rastros, enquanto enriquecia as custas desses crimes. Confira o trailer:
"O Paraíso e a Serpente" é surpreendentemente boa, mas tem alguns pontos que precisam ser levantados. O primeiro, sem dúvida, é a edição: o conceito narrativo da minissérie é 100% não linear, ou seja, a todo momento, os acontecimentos do passado, presente e até do futuro são exibidos a partir de uma animação que simula o painel de uma aeroporto com a data, local e a informação de "X anos antes" e "Y meses depois". De fato, essa escolha cria um certo desgaste, mas depois que entendemos que o artifício não serve apenas para estabelecer o tempo e o espaço de uma ação e sim para servir como referência para as peças de um quebra-cabeça que vão se unindo e mostrando os diversos pontos de vista para uma mesma passagem da história, tudo passa a fazer muito mais sentido.
Outro ponto que pode incomodar um pouco, mas com o tempo nos acostumamos e entendemos perfeitamente, diz respeito ao conceito visual e estético escolhido pelos diretores Hans Herbots e Tom Shankland. Nos colocar imersos no mood da época para entendermos toda a atmosfera da região e da cultura oriental não é tarefa fácil, sendo assim os diretores misturam cenas reais para indicar o local de uma determinada passagem do roteiro, com um desenho de produção que, as vezes, pode parecer fora do tom - a maquiagem e o cabelo de Tahar Rahim é um bom exemplo dessa escorregada, mas contrasta com um ótimo figurino e cenários bem produzidos. Um artificio que também é proposital é o uso de zoom in e zoom out para estabelecer a tensão emocional de uma cena - muito comum nos filmes da época, essa gramática cinematográfica é muito bem utilizada aqui e, mesmo causando um pouco de incomodo inicialmente, está 100% alinhada com o estilo imposto na narrativa.
"The Serpent" (no original) tem o mérito de nos apresentar a impressionante história de um criminoso que aterrorizou turistas ocidentais na Ásia por muito tempo e que dava um baile nas autoridades do mundo inteiro. É, sem dúvida alguma, uma minissérie que vai te impactar pela crueldade e tensão pela qual muitos personagens passam com o protagonista, te assustar em alguns momentos, te prender em outros, mas não vai deixar de ser um ótimo e divertido entretenimento.
A verdade é que se você gosta do estilo "true crime", mesmo não sendo um documentário, pode dar o play seguramente!
"O Paraíso e a Serpente" é uma coprodução da BBC One com a Netflix e poderia ser tranqüilamente uma temporada de "American Crime Story" - e isso é uma grande elogio, pois considero a produção, que tem Ryan Murphy no comando uma das melhores séries antológicas já produzidas. Em "O Paraíso e a Serpente" temos exatamente a mesma fórmula, limitada em 8 episódios como uma minissérie, baseada em fatos reais e tendo como pano de fundo um (ou vários crimes) que chamaram a atenção da mídia na época.
Na história conhecemos Charles Sobhraj (Tahar Rahim), um assassino em série e golpista que fingia ser um comprador e vendedor de pedras preciosas que atuava em vários países da Ásia, como Tailândia e Índia, e tinha como principais alvos jovens e sonhadores viajantes, no auge dos anos 70. Charles tinha o dom de manipular facilmente as pessoas, conquistar sua confiança, inclusive de sua namorada, a canadense Marie-Andrée Leclerc (Jenna Coleman), e com todo o seu talento, drogava suas vitimas, roubava todo dinheiro e seus documentos para depois falsificar sua identidade, e por fim assassinava cruelmente cada um deles para não deixar rastros, enquanto enriquecia as custas desses crimes. Confira o trailer:
"O Paraíso e a Serpente" é surpreendentemente boa, mas tem alguns pontos que precisam ser levantados. O primeiro, sem dúvida, é a edição: o conceito narrativo da minissérie é 100% não linear, ou seja, a todo momento, os acontecimentos do passado, presente e até do futuro são exibidos a partir de uma animação que simula o painel de uma aeroporto com a data, local e a informação de "X anos antes" e "Y meses depois". De fato, essa escolha cria um certo desgaste, mas depois que entendemos que o artifício não serve apenas para estabelecer o tempo e o espaço de uma ação e sim para servir como referência para as peças de um quebra-cabeça que vão se unindo e mostrando os diversos pontos de vista para uma mesma passagem da história, tudo passa a fazer muito mais sentido.
Outro ponto que pode incomodar um pouco, mas com o tempo nos acostumamos e entendemos perfeitamente, diz respeito ao conceito visual e estético escolhido pelos diretores Hans Herbots e Tom Shankland. Nos colocar imersos no mood da época para entendermos toda a atmosfera da região e da cultura oriental não é tarefa fácil, sendo assim os diretores misturam cenas reais para indicar o local de uma determinada passagem do roteiro, com um desenho de produção que, as vezes, pode parecer fora do tom - a maquiagem e o cabelo de Tahar Rahim é um bom exemplo dessa escorregada, mas contrasta com um ótimo figurino e cenários bem produzidos. Um artificio que também é proposital é o uso de zoom in e zoom out para estabelecer a tensão emocional de uma cena - muito comum nos filmes da época, essa gramática cinematográfica é muito bem utilizada aqui e, mesmo causando um pouco de incomodo inicialmente, está 100% alinhada com o estilo imposto na narrativa.
"The Serpent" (no original) tem o mérito de nos apresentar a impressionante história de um criminoso que aterrorizou turistas ocidentais na Ásia por muito tempo e que dava um baile nas autoridades do mundo inteiro. É, sem dúvida alguma, uma minissérie que vai te impactar pela crueldade e tensão pela qual muitos personagens passam com o protagonista, te assustar em alguns momentos, te prender em outros, mas não vai deixar de ser um ótimo e divertido entretenimento.
A verdade é que se você gosta do estilo "true crime", mesmo não sendo um documentário, pode dar o play seguramente!
"O Peso do Talento" é muito divertido - muito mesmo! O filme do diretor Tom Gormican (de "Namoro ou Liberdade") é uma clara homenagem aos filmes clássicos de ação, aqueles cheios de clichês, mas que nos mantém ligados durante toda exibição - obviamente que dentro desse contexto, ninguém melhor do que Nicolas Cage para personificar essa era de ouro do gênero.
Sofrendo por não conseguir bons trabalhos e não ter mais a fama como antes, estando insatisfeito com a vida e cheio de dívidas, Nicolas Cage chegou ao fundo do poço. Após correr atrás de Quentin Tarantino implorando por um papel em seu novo filme e não obtendo sucesso, Cage acaba aceitando US$ 1 milhão para fazer uma espécie de "presença VIP" no aniversário de Javi (Pedro Pascal), um bilionário, superfã e fanático pelo ator. As coisas tomam um rumo inesperado quando Cage é recrutado por uma agente da CIA (Tiffany Haddish) e é forçado a investigar um sequestro onde o principal suspeito é, justamente, seu anfitrião. Confira o trailer:
"O Peso doTalento" chega com a chancela do sucesso que foi sua exibição no festival de cinema SXSW, nos EUA, fazendo com que seu índice de aprovação crítica fosse de surpreendentes 100% no site Rotten Tomatoes. Segundo o The Hollywood Reporter, o filme foi a produção com a melhor avaliação entre os mais de 100 filmes da carreira de Cage. Se 100% de aprovação pode parecer um exagero, eu diria que para os cinéfilos amantes de filmes de ação essa porcentagem é mais do que justa - e de fato ela se justifica, já que o roteiro cria toda uma atmosfera de nostalgia em cima de uma história simples, mas envolvente, principalmente pela excelente performance de Cage vivendo uma versão estereotipada de si mesmo.
Tudo em "O Peso doTalento" é construído para provocar um certo saudosismo despretensioso, já que é impossível levar a sério aquilo que vemos na tela, ao mesmo tempo em que rimos exatamente desses absurdos - veja, não estamos falando de um filme "pastelão", mas sim de uma narrativa que usa muito bem todos os gatilhos dramáticos do gênero para criar as mais diversas sensações na audiência. Muitos diálogos são basicamente livres interpretações de cenas de outros filmes, bem como os movimentos de câmera, os enquadramentos, o estilo da edição de som e da trilha sonora e até, claro, do tom das performances dos atores.
"O Peso do Talento" é uma comédia agradável, engraçada e inteligente - daquelas que nos deixam com um sorriso no rosto durante todo o filme. O mérito de Cage interpretando si mesmo é o maior exemplo de como a metalinguagem pode ser divertida se usada corretamente, com ótimas sacadas e piadas completamente sem noção, mas que fazem todo sentido na proposta de Gormican. Olha, já no prólogo é possível entender qual será o tom da história e quando isso acontece, fica impossível não se conectar com a trama e com um personagem tão marcante.
Vale cada segundo!
"O Peso do Talento" é muito divertido - muito mesmo! O filme do diretor Tom Gormican (de "Namoro ou Liberdade") é uma clara homenagem aos filmes clássicos de ação, aqueles cheios de clichês, mas que nos mantém ligados durante toda exibição - obviamente que dentro desse contexto, ninguém melhor do que Nicolas Cage para personificar essa era de ouro do gênero.
Sofrendo por não conseguir bons trabalhos e não ter mais a fama como antes, estando insatisfeito com a vida e cheio de dívidas, Nicolas Cage chegou ao fundo do poço. Após correr atrás de Quentin Tarantino implorando por um papel em seu novo filme e não obtendo sucesso, Cage acaba aceitando US$ 1 milhão para fazer uma espécie de "presença VIP" no aniversário de Javi (Pedro Pascal), um bilionário, superfã e fanático pelo ator. As coisas tomam um rumo inesperado quando Cage é recrutado por uma agente da CIA (Tiffany Haddish) e é forçado a investigar um sequestro onde o principal suspeito é, justamente, seu anfitrião. Confira o trailer:
"O Peso doTalento" chega com a chancela do sucesso que foi sua exibição no festival de cinema SXSW, nos EUA, fazendo com que seu índice de aprovação crítica fosse de surpreendentes 100% no site Rotten Tomatoes. Segundo o The Hollywood Reporter, o filme foi a produção com a melhor avaliação entre os mais de 100 filmes da carreira de Cage. Se 100% de aprovação pode parecer um exagero, eu diria que para os cinéfilos amantes de filmes de ação essa porcentagem é mais do que justa - e de fato ela se justifica, já que o roteiro cria toda uma atmosfera de nostalgia em cima de uma história simples, mas envolvente, principalmente pela excelente performance de Cage vivendo uma versão estereotipada de si mesmo.
Tudo em "O Peso doTalento" é construído para provocar um certo saudosismo despretensioso, já que é impossível levar a sério aquilo que vemos na tela, ao mesmo tempo em que rimos exatamente desses absurdos - veja, não estamos falando de um filme "pastelão", mas sim de uma narrativa que usa muito bem todos os gatilhos dramáticos do gênero para criar as mais diversas sensações na audiência. Muitos diálogos são basicamente livres interpretações de cenas de outros filmes, bem como os movimentos de câmera, os enquadramentos, o estilo da edição de som e da trilha sonora e até, claro, do tom das performances dos atores.
"O Peso do Talento" é uma comédia agradável, engraçada e inteligente - daquelas que nos deixam com um sorriso no rosto durante todo o filme. O mérito de Cage interpretando si mesmo é o maior exemplo de como a metalinguagem pode ser divertida se usada corretamente, com ótimas sacadas e piadas completamente sem noção, mas que fazem todo sentido na proposta de Gormican. Olha, já no prólogo é possível entender qual será o tom da história e quando isso acontece, fica impossível não se conectar com a trama e com um personagem tão marcante.
Vale cada segundo!
Essa recomendação faz parte do nosso projeto "Semana dos Clássicos", onde convidamos você a revisitar filmes que mudaram os rumos da narrativa cinematográfica e que merecem um olhar mais critico sem esquecer, claro, do que pode ter representado emocionalmente na nossa vida!
Há poucas verdades absolutas no cinema, no entanto aqui temos uma delas: "O Poderoso Chefão" é (e será para sempre) o melhor filme de máfia já produzido! "The Godfather" (no original), dirigido por Francis Ford Coppola e lançado em 1972, é uma unanimidade ao ser considerado uma verdadeira obra-prima do cinema e um dos filmes mais influentes de todos os tempos. Baseado no livro homônimo de Mario Puzo, "O Poderoso Chefão"combina, de forma brilhante, o drama familiar em um mundo do crime organizado, oferecendo uma narrativa profunda sobre poder, lealdade, moralidade e sobre a plena destruição da alma humana. Com uma direção magistral, performances lendárias e um roteiro impecável, "O Poderoso Chefão" não apenas redefiniu o gênero, como também consolidou o status de Coppola como um dos maiores cineastas da história.
A trama segue a família Corleone, uma das mais poderosas famílias mafiosas de Nova York. O patriarca, Don Vito Corleone (Marlon Brando), é um chefe de respeito e influência, que governa com uma combinação de carisma, honra e violência. Quando um atentado contra sua vida o coloca em uma posição vulnerável, seu filho Michael (Al Pacino) é forçado a entrar no mundo do crime para proteger a família, embora tenha inicialmente rejeitado esse destino. A jornada de Michael, de um herói de guerra distante da vida criminosa a um chefe implacável, é o coração da narrativa, simbolizando a transformação trágica e moralmente complexa de um homem diante das circunstâncias. Confira o trailer:
Mas o que faz de "O Poderoso Chefão" um filme tão aclamado?
Sem a menor dúvida, é a profundidade de seus personagens e a complexidade de suas relações! Vito Corleone, por exemplo, é um personagem ambíguo - ao mesmo tempo um homem de valores fortes, que preza pela família, e um implacável chefe da máfia, que não hesita em usar a violência para manter o poder. E aqui cabe a primeira observação técnica sobre essa obra-prima: a performance de Marlon Brando, com sua voz rouca e gestual controlado, torna Don Vito uma figura icônica, projetando uma presença quase mitológica de uma entidade em seu meio, que praticamente define o filme. Um ainda desconhecido Al Pacino, entrega uma jornada transformadora para seu personagem - ele começa como um homem que quer se distanciar do legado mafioso de sua família, mas, lentamente, vai sendo consumido pelo poder, pela vingança e pela necessidade de proteger seus entes queridos. Essa transição de Michael, de filho inocente a um homem frio e calculista, é uma das narrativas mais cativantes e trágicas da história do cinema. Pacino atua de forma contida, permitindo que o público veja a escuridão crescendo dentro de Michael, mesmo antes dele abraçar plenamente seu destino. É fantástico!
A direção de Coppola é outro elemento essencial: ela é simplesmente impecável. Coppola usa uma estética visual clássica, mas sem deixar de ser inovadora em vários momentos - o filme traz a densidade visual do submundo do crime com a mesma potência com que explora a deterioração moral dos personagens. A narrativa é meticulosamente desenvolvida nesse sentido, alternando momentos de tensão física com longas cenas de diálogos que revelam os conflitos íntimos dos personagens. Coppola também faz um uso impressionante de simbolismos visuais como o icônico "batismo de sangue", em que Michael se torna oficialmente o novo "Don" enquanto manda executar seus inimigos, contrastando a pureza do ritual religioso com a brutalidade do crime. É muito bom!
Além da direção e da performance do elenco, o roteiro coescrito por Coppola e Puzo, é outro ponto alto desse tripé. Cada diálogo é carregado de significados, e a forma como o filme explora as dinâmicas de poder e lealdade dentro da família Corleone é fascinante. "O Poderoso Chefão", saiba, não é apenas um filme sobre o mundo do crime, é uma reflexão visceral sobre o poder, os sacrifícios feitos em nome da família e as escolhas morais que definem a vida dos personagens. E é aqui que entra a trilha sonora de Nino Rota como a cereja do bolo: seu tema principal, com sua melodia melancólica e dramática, tornou-se instantaneamente reconhecível e é o que complementa o tom épico do filme. O fato é que "O Poderoso Chefão" é daquelas raridades onde as cenas são compostas com tanta precisão, usando todos esses elementos técnicos e artísticos, para criar uma atmosfera de ameaça iminente, que mesmo na tranquilidade das ambientações mais luxuosas sabemos que a brutalidade do mundo do crime respira
Essa é uma história imperdível de uma família mafiosa e sua relação com o poder e a corrupção!
PS: Sugiro fortemente que assim que subirem os créditos, você vá para o Paramount+ e assista "The Offer", minissérie sobre os bastidores e o processo de criação de "O Poderoso Chefão".
Essa recomendação faz parte do nosso projeto "Semana dos Clássicos", onde convidamos você a revisitar filmes que mudaram os rumos da narrativa cinematográfica e que merecem um olhar mais critico sem esquecer, claro, do que pode ter representado emocionalmente na nossa vida!
Há poucas verdades absolutas no cinema, no entanto aqui temos uma delas: "O Poderoso Chefão" é (e será para sempre) o melhor filme de máfia já produzido! "The Godfather" (no original), dirigido por Francis Ford Coppola e lançado em 1972, é uma unanimidade ao ser considerado uma verdadeira obra-prima do cinema e um dos filmes mais influentes de todos os tempos. Baseado no livro homônimo de Mario Puzo, "O Poderoso Chefão"combina, de forma brilhante, o drama familiar em um mundo do crime organizado, oferecendo uma narrativa profunda sobre poder, lealdade, moralidade e sobre a plena destruição da alma humana. Com uma direção magistral, performances lendárias e um roteiro impecável, "O Poderoso Chefão" não apenas redefiniu o gênero, como também consolidou o status de Coppola como um dos maiores cineastas da história.
A trama segue a família Corleone, uma das mais poderosas famílias mafiosas de Nova York. O patriarca, Don Vito Corleone (Marlon Brando), é um chefe de respeito e influência, que governa com uma combinação de carisma, honra e violência. Quando um atentado contra sua vida o coloca em uma posição vulnerável, seu filho Michael (Al Pacino) é forçado a entrar no mundo do crime para proteger a família, embora tenha inicialmente rejeitado esse destino. A jornada de Michael, de um herói de guerra distante da vida criminosa a um chefe implacável, é o coração da narrativa, simbolizando a transformação trágica e moralmente complexa de um homem diante das circunstâncias. Confira o trailer:
Mas o que faz de "O Poderoso Chefão" um filme tão aclamado?
Sem a menor dúvida, é a profundidade de seus personagens e a complexidade de suas relações! Vito Corleone, por exemplo, é um personagem ambíguo - ao mesmo tempo um homem de valores fortes, que preza pela família, e um implacável chefe da máfia, que não hesita em usar a violência para manter o poder. E aqui cabe a primeira observação técnica sobre essa obra-prima: a performance de Marlon Brando, com sua voz rouca e gestual controlado, torna Don Vito uma figura icônica, projetando uma presença quase mitológica de uma entidade em seu meio, que praticamente define o filme. Um ainda desconhecido Al Pacino, entrega uma jornada transformadora para seu personagem - ele começa como um homem que quer se distanciar do legado mafioso de sua família, mas, lentamente, vai sendo consumido pelo poder, pela vingança e pela necessidade de proteger seus entes queridos. Essa transição de Michael, de filho inocente a um homem frio e calculista, é uma das narrativas mais cativantes e trágicas da história do cinema. Pacino atua de forma contida, permitindo que o público veja a escuridão crescendo dentro de Michael, mesmo antes dele abraçar plenamente seu destino. É fantástico!
A direção de Coppola é outro elemento essencial: ela é simplesmente impecável. Coppola usa uma estética visual clássica, mas sem deixar de ser inovadora em vários momentos - o filme traz a densidade visual do submundo do crime com a mesma potência com que explora a deterioração moral dos personagens. A narrativa é meticulosamente desenvolvida nesse sentido, alternando momentos de tensão física com longas cenas de diálogos que revelam os conflitos íntimos dos personagens. Coppola também faz um uso impressionante de simbolismos visuais como o icônico "batismo de sangue", em que Michael se torna oficialmente o novo "Don" enquanto manda executar seus inimigos, contrastando a pureza do ritual religioso com a brutalidade do crime. É muito bom!
Além da direção e da performance do elenco, o roteiro coescrito por Coppola e Puzo, é outro ponto alto desse tripé. Cada diálogo é carregado de significados, e a forma como o filme explora as dinâmicas de poder e lealdade dentro da família Corleone é fascinante. "O Poderoso Chefão", saiba, não é apenas um filme sobre o mundo do crime, é uma reflexão visceral sobre o poder, os sacrifícios feitos em nome da família e as escolhas morais que definem a vida dos personagens. E é aqui que entra a trilha sonora de Nino Rota como a cereja do bolo: seu tema principal, com sua melodia melancólica e dramática, tornou-se instantaneamente reconhecível e é o que complementa o tom épico do filme. O fato é que "O Poderoso Chefão" é daquelas raridades onde as cenas são compostas com tanta precisão, usando todos esses elementos técnicos e artísticos, para criar uma atmosfera de ameaça iminente, que mesmo na tranquilidade das ambientações mais luxuosas sabemos que a brutalidade do mundo do crime respira
Essa é uma história imperdível de uma família mafiosa e sua relação com o poder e a corrupção!
PS: Sugiro fortemente que assim que subirem os créditos, você vá para o Paramount+ e assista "The Offer", minissérie sobre os bastidores e o processo de criação de "O Poderoso Chefão".
"O Preço da Verdade" (Dark Waters) é o típico projeto que se fosse uma minissérie seria sensacional - nível "Chernobyl", mas devido a limitação de tempo, se tornou apenas um ótimo filme!
Ele conta a história real de um recém-nomeado sócio de um escritório de advocacia, Rob Bilott (Mark Ruffalo), que tem como especialidade defender empresas químicas em processos corporativos. Após ser procurado por um fazendeiro de sua cidade natal em West Virgínia, devido a uma misteriosa sequência de 190 mortes de cabeças de gado, Bilott se vê no meio de uma suspeita muito indesejável: a responsável seria uma fábrica da "gigante" DuPont que emprega 90% da cidade de Parkersburg e que estaria contaminando a principal fonte de abastecimento de água da região! A partir daí, Rob Bilott começa a reunir provas contundentes e ao iniciar um processo contra a Dupont, ele descobre que os efeitos desse crime ambiental é infinitamente maior do que ele imaginava e que podem ter provocado reflexos na saúde de 99% da população mundial até os dias de hoje. Olha, é de revirar o estômago - pode até soar como uma grande conspiração, mas o filme é muito inteligente em se apoiar em uma série de fatos amplamente divulgados na época e que, de alguma forma, nos convidam a refletir sobre nossa atuação perante o planeta que gostaríamos de deixar para os nosso filhos e netos! Não é um filme que se propõe a levantar bandeiras ideológicas, mas, certamente, é um filme que vai te fazer pensar! Vale muito a pena!
"O Preço da Verdade" é inspirado numa história verdadeira e seu roteiro foi desenvolvido a partir de um artigo publicado em 2016 pelo jornal The New York Times, intitulado: “O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont” (você pode ler esse artigo na íntegra, em inglês, aqui). A história é, de fato, complexa, já que a cadeia de eventos é extensa e as informações vão se amontoando na mesma velocidade em que os documentos da Dupont chegam no escritório de Rob Bilott para serem analisados. São mais de 20 anos de processo que precisaram ser condensados em pouco mais de duas horas de filme - é pouco para a riqueza do material, pela força da trama e pelas motivações de ótimos personagens. Por mais estereotipados que possam parecer, não podemos esquecer que estamos falando de personagens típicos de uma cidade do interior de West Virgínia que hoje tem cerca de 30 mil habitantes ou de advogados corporativos de Cincinnati, Ohio e não de Nova Yorke. Por outro lado vemos a jornada de ascensão social e profissional de um jovem e talentoso advogado, maravilhosamente interpretado por Mark Ruffalo - aliás Ruffalo poderia ter disputado a temporada premiações como "Melhor Ator", tranquilamente! A quem diga que é sua melhor atuação desde "Foxcatcher".
Outro ponto que merece destaque é a direção do Todd Haynes - é dele o excelente "Longe do Paraíso", indicado à 4 Oscars em 2003. Haynes não inventa moda, foca na direção dos atores e prova que não é preciso de uma câmera documental (nada contra) estilo Adam McKay, para se "documentar" uma história real na ficção! Os planos são bem construídos, mas fica claro que o foco está na relação entre os personagens, no diálogo, no peso das investigações e no reflexo da impunidade - é esse o grande trunfo do filme que nos move até o final com a faca nos dentes! O roteiro soube alinhar todos esses elementos, com as ferramentas que tinha e com isso transformou um filme complexo em uma história dinâmica e muito passional! O departamento de arte foi competente em fazer todas as transições de épocas e a fotografia do Edward Lachman foi inteligente em se aproveitar disso para deixar o filme ainda mais bonito visualmente - aliás, Lachman é aquele tipo de diretor de fotografia que praticamente não erra. Parceiro de Haynes em vários projetos, foi indicado ao Oscar duas vezes por filmes do diretor: 2016 por "Carol" e 2003 por "Longe do Paraíso".
"O Preço da Verdade" é um filme que foi pouco percebido nas premiações, talvez por seu lançamento ter acontecido muito no final do ano, mas merecia uma melhor chance. O elenco, além de Ruffalo, conta com Anne Hathaway como a esposa de Bilott - uma personagem discreta, mas com momentos pontuais que merecem destaque: a cena do hospital onde ela contra-cena com outro peso-pesado, Tim Robbins (Tom Terp), é sensacional! Bill Pullman e Victor Garber também estão no filme. Resumindo: gostei do que assisti, me penalizei com o roteirista por ter tido que adaptar uma grande história em pouco tempo de tela e fico muito a vontade para indicar "O Preço da Verdade". É um filme que nos provoca e mexe com a gente, principalmente por nos mostrar um outro lado da busca incansável do capitalismo americano pelo lucro a qualquer preço! Vale a pena!
"O Preço da Verdade" (Dark Waters) é o típico projeto que se fosse uma minissérie seria sensacional - nível "Chernobyl", mas devido a limitação de tempo, se tornou apenas um ótimo filme!
Ele conta a história real de um recém-nomeado sócio de um escritório de advocacia, Rob Bilott (Mark Ruffalo), que tem como especialidade defender empresas químicas em processos corporativos. Após ser procurado por um fazendeiro de sua cidade natal em West Virgínia, devido a uma misteriosa sequência de 190 mortes de cabeças de gado, Bilott se vê no meio de uma suspeita muito indesejável: a responsável seria uma fábrica da "gigante" DuPont que emprega 90% da cidade de Parkersburg e que estaria contaminando a principal fonte de abastecimento de água da região! A partir daí, Rob Bilott começa a reunir provas contundentes e ao iniciar um processo contra a Dupont, ele descobre que os efeitos desse crime ambiental é infinitamente maior do que ele imaginava e que podem ter provocado reflexos na saúde de 99% da população mundial até os dias de hoje. Olha, é de revirar o estômago - pode até soar como uma grande conspiração, mas o filme é muito inteligente em se apoiar em uma série de fatos amplamente divulgados na época e que, de alguma forma, nos convidam a refletir sobre nossa atuação perante o planeta que gostaríamos de deixar para os nosso filhos e netos! Não é um filme que se propõe a levantar bandeiras ideológicas, mas, certamente, é um filme que vai te fazer pensar! Vale muito a pena!
"O Preço da Verdade" é inspirado numa história verdadeira e seu roteiro foi desenvolvido a partir de um artigo publicado em 2016 pelo jornal The New York Times, intitulado: “O advogado que se tornou o maior pesadelo da Dupont” (você pode ler esse artigo na íntegra, em inglês, aqui). A história é, de fato, complexa, já que a cadeia de eventos é extensa e as informações vão se amontoando na mesma velocidade em que os documentos da Dupont chegam no escritório de Rob Bilott para serem analisados. São mais de 20 anos de processo que precisaram ser condensados em pouco mais de duas horas de filme - é pouco para a riqueza do material, pela força da trama e pelas motivações de ótimos personagens. Por mais estereotipados que possam parecer, não podemos esquecer que estamos falando de personagens típicos de uma cidade do interior de West Virgínia que hoje tem cerca de 30 mil habitantes ou de advogados corporativos de Cincinnati, Ohio e não de Nova Yorke. Por outro lado vemos a jornada de ascensão social e profissional de um jovem e talentoso advogado, maravilhosamente interpretado por Mark Ruffalo - aliás Ruffalo poderia ter disputado a temporada premiações como "Melhor Ator", tranquilamente! A quem diga que é sua melhor atuação desde "Foxcatcher".
Outro ponto que merece destaque é a direção do Todd Haynes - é dele o excelente "Longe do Paraíso", indicado à 4 Oscars em 2003. Haynes não inventa moda, foca na direção dos atores e prova que não é preciso de uma câmera documental (nada contra) estilo Adam McKay, para se "documentar" uma história real na ficção! Os planos são bem construídos, mas fica claro que o foco está na relação entre os personagens, no diálogo, no peso das investigações e no reflexo da impunidade - é esse o grande trunfo do filme que nos move até o final com a faca nos dentes! O roteiro soube alinhar todos esses elementos, com as ferramentas que tinha e com isso transformou um filme complexo em uma história dinâmica e muito passional! O departamento de arte foi competente em fazer todas as transições de épocas e a fotografia do Edward Lachman foi inteligente em se aproveitar disso para deixar o filme ainda mais bonito visualmente - aliás, Lachman é aquele tipo de diretor de fotografia que praticamente não erra. Parceiro de Haynes em vários projetos, foi indicado ao Oscar duas vezes por filmes do diretor: 2016 por "Carol" e 2003 por "Longe do Paraíso".
"O Preço da Verdade" é um filme que foi pouco percebido nas premiações, talvez por seu lançamento ter acontecido muito no final do ano, mas merecia uma melhor chance. O elenco, além de Ruffalo, conta com Anne Hathaway como a esposa de Bilott - uma personagem discreta, mas com momentos pontuais que merecem destaque: a cena do hospital onde ela contra-cena com outro peso-pesado, Tim Robbins (Tom Terp), é sensacional! Bill Pullman e Victor Garber também estão no filme. Resumindo: gostei do que assisti, me penalizei com o roteirista por ter tido que adaptar uma grande história em pouco tempo de tela e fico muito a vontade para indicar "O Preço da Verdade". É um filme que nos provoca e mexe com a gente, principalmente por nos mostrar um outro lado da busca incansável do capitalismo americano pelo lucro a qualquer preço! Vale a pena!
O cinema muitas vezes nos surpreende ao contar histórias emocionantes e inspiradoras que são baseadas em eventos da vida real, mas em "O Próprio Enterro" ainda temos um elemento que, de fato, chama a atenção: trata-se de uma história, no mínimo, inusitada. O filme dirigido pela Maggie Betts (de "Noviciado") é uma dessas pérolas que não apenas merece sua atenção, mas também vai te envolver do começo ao fim, graças a uma narrativa muito bem construída, atuações notáveis e uma direção precisa capaz criar uma experiência cativante! Eu diria que "The Burial" (no original) tem aquele toque de batalha jurídica ao melhor estilo “David x Golias corporativo" que fez de "Erin Brockovich" uma referências para filmes como "O Preço da Verdade".
Quando o acordo com o poderoso Loewen Group dá errado, o dono de uma pequena cadeia de funerárias do Mississipi, Jeremiah O’Keefe (Tommy Lee Jones), contrata o advogado rockstar Willie E. Gary (Jamie Foxx) para salvar o negócio de sua família. Os ânimos explodem quando os dois passam a expor as práticas questionáveis da gigante canadense do ramo funerário, que vão de corrupção à injustiças raciais, em um contexto social que vai muito além dos tribunais. Confira o trailer (em inglês):
A narrativa de "O Próprio Enterro"se desenrola de maneira envolvente, se apoiando na "dramédia" para revelar detalhes complexos de um caso que mudou a vida de seu protagonista e serviu de gatilho para discussões muito mais profundas - essencialmente no que diz respeito aos conflitos raciais da história americana através das décadas. Betts sabe que não é preciso pesar na mão em nenhum momento - sua proposta conceitual traz sim o embate, mas nunca de uma forma dramática demais. Mesmo que exista uma certa densidade no assunto, sua atmosfera nunca é impactante, mesmo com aquela profundidade emocional que nos remete ao básico do "já sei onde tudo isso vai dar"!
A fotografia da incrível Maryse Alberti (de "O Lutador") é meticulosamente planejada para pontuar as sombras e contrastes do tribunal perante a luz e a cor do "maravilhoso mundo de Willie E. Gary" - a conotação de "sonho americano" realmente acompanha a jornada dos personagens, mas cada um com sua particularidade, inclusive visual. Se o roteiro da própria Maggie Betts acerta na apresentação desses personagens, ela certamente derrapa no desenvolvimento de outros - algumas peças (raras) se perdem e ótimas premissas simplesmente são deixadas de lado para focar apenas em O’Keefe e Gary. É o caso da personagem Mame Downes da atriz Jurnee Smollet e de Mike Allred e Hal Dockins dos atores Alan Ruck e Mamoudou Athie, respectivamente. Ah, Bill Camp como o todo poderoso Ray Loewen brilha quando é demandado e por isso merece elogios.
"O Próprio Enterro" é realmente um ótimo entretenimento, mas longe de ser inesquecível. No entanto é daqueles que chega quietinho e vai conquistando a audiência ao ponto de marcar 91% de aprovação no Rotten Tomatoes.As performances acima da média são um bom atrativo - especialmente de Foxx; mas não é só isso já que Betts conduz uma narrativa que, mesmo com seus vacilos, é cativante. O filme sabe mesmo mergulhar nas complexidades da justiça americana pelos olhos de quem está disposto a lutar pela verdade até quando tudo leva a crer que a batalha já está perdida. Original? Longe disso, mas muito divertido mesmo sem ser uma comédia como muitos disseram por aí.
Vale seu play!
O cinema muitas vezes nos surpreende ao contar histórias emocionantes e inspiradoras que são baseadas em eventos da vida real, mas em "O Próprio Enterro" ainda temos um elemento que, de fato, chama a atenção: trata-se de uma história, no mínimo, inusitada. O filme dirigido pela Maggie Betts (de "Noviciado") é uma dessas pérolas que não apenas merece sua atenção, mas também vai te envolver do começo ao fim, graças a uma narrativa muito bem construída, atuações notáveis e uma direção precisa capaz criar uma experiência cativante! Eu diria que "The Burial" (no original) tem aquele toque de batalha jurídica ao melhor estilo “David x Golias corporativo" que fez de "Erin Brockovich" uma referências para filmes como "O Preço da Verdade".
Quando o acordo com o poderoso Loewen Group dá errado, o dono de uma pequena cadeia de funerárias do Mississipi, Jeremiah O’Keefe (Tommy Lee Jones), contrata o advogado rockstar Willie E. Gary (Jamie Foxx) para salvar o negócio de sua família. Os ânimos explodem quando os dois passam a expor as práticas questionáveis da gigante canadense do ramo funerário, que vão de corrupção à injustiças raciais, em um contexto social que vai muito além dos tribunais. Confira o trailer (em inglês):
A narrativa de "O Próprio Enterro"se desenrola de maneira envolvente, se apoiando na "dramédia" para revelar detalhes complexos de um caso que mudou a vida de seu protagonista e serviu de gatilho para discussões muito mais profundas - essencialmente no que diz respeito aos conflitos raciais da história americana através das décadas. Betts sabe que não é preciso pesar na mão em nenhum momento - sua proposta conceitual traz sim o embate, mas nunca de uma forma dramática demais. Mesmo que exista uma certa densidade no assunto, sua atmosfera nunca é impactante, mesmo com aquela profundidade emocional que nos remete ao básico do "já sei onde tudo isso vai dar"!
A fotografia da incrível Maryse Alberti (de "O Lutador") é meticulosamente planejada para pontuar as sombras e contrastes do tribunal perante a luz e a cor do "maravilhoso mundo de Willie E. Gary" - a conotação de "sonho americano" realmente acompanha a jornada dos personagens, mas cada um com sua particularidade, inclusive visual. Se o roteiro da própria Maggie Betts acerta na apresentação desses personagens, ela certamente derrapa no desenvolvimento de outros - algumas peças (raras) se perdem e ótimas premissas simplesmente são deixadas de lado para focar apenas em O’Keefe e Gary. É o caso da personagem Mame Downes da atriz Jurnee Smollet e de Mike Allred e Hal Dockins dos atores Alan Ruck e Mamoudou Athie, respectivamente. Ah, Bill Camp como o todo poderoso Ray Loewen brilha quando é demandado e por isso merece elogios.
"O Próprio Enterro" é realmente um ótimo entretenimento, mas longe de ser inesquecível. No entanto é daqueles que chega quietinho e vai conquistando a audiência ao ponto de marcar 91% de aprovação no Rotten Tomatoes.As performances acima da média são um bom atrativo - especialmente de Foxx; mas não é só isso já que Betts conduz uma narrativa que, mesmo com seus vacilos, é cativante. O filme sabe mesmo mergulhar nas complexidades da justiça americana pelos olhos de quem está disposto a lutar pela verdade até quando tudo leva a crer que a batalha já está perdida. Original? Longe disso, mas muito divertido mesmo sem ser uma comédia como muitos disseram por aí.
Vale seu play!
"O segredo dos seus olhos" do diretor Juan José Campanella é o filme argentino que venceu o Oscar em 2010 o que nos faz partir do princípio que é um filme bom - e te garanto: o filme é simplesmente sensacional! É muito original e tecnicamente perfeito!
Após trabalhar a vida inteira em num Tribunal, Benjamín (Ricardo Darín) resolve se aposentar e aproveitar o seu tempo livre para escrever um romance baseado num acontecimento que ele mesmo vivenciou alguns anos atrás: em 1974, ele foi encarregado de investigar um violento assassinato. Ao encarar velhos traumas, Benjamín confronta o intenso romance que teve com sua antiga chefe Irene (Soledad Villamil), assim como decisões e equívocos que tomou no passado. Com o tempo, as memórias terminam por transformar novamente sua vida e os reflexos de suas descobertas podem ser devastadores. Confira o trailer:
"O segredo dos seus olhos" equilibra perfeitamente os elementos de suspense com o drama, mas sem esquecer de vários momentos onde o alivio cômico dá o tom irônico que ajuda a construir a personalidade de Benjamín. O roteiro nos entrega uma trama nada previsível, muito envolvente e que consegue nos deixar tenso sempre que necessário. A capacidade que Darín tem como ator é muito bem aproveitado no filme, sua composição externa é tão bem construída quando seu trabalho íntimo. Tudo acaba se tornando bastante orgânico - do roteiro ao produto final que vemos na tela. Aliás é impossível não citar o "plano sequência" que busca Benjamín no meio de um Estádio de Futebol lotado. Reparem. A edição também merece destaque, pois o conceito narrativo imposta pelo roteiro sugere várias quebras na linha do tempo e a montagem do próprio Campanella resolve esse desafio de uma maneira muito criativa e uniforme - está realmente linda!
De fato é um grande trabalho do cinema argentino, sem dúvida um dos melhores da sua história e a vitória no Oscar 2010 só serviu para coroar um grande sucesso nas bilheterias - o filme custou 2 milhões de dólares e rendeu mais de 42 milhões no mundo inteiro!
Vale muito a pena e se prepare: o final é surpreendente!
"O segredo dos seus olhos" do diretor Juan José Campanella é o filme argentino que venceu o Oscar em 2010 o que nos faz partir do princípio que é um filme bom - e te garanto: o filme é simplesmente sensacional! É muito original e tecnicamente perfeito!
Após trabalhar a vida inteira em num Tribunal, Benjamín (Ricardo Darín) resolve se aposentar e aproveitar o seu tempo livre para escrever um romance baseado num acontecimento que ele mesmo vivenciou alguns anos atrás: em 1974, ele foi encarregado de investigar um violento assassinato. Ao encarar velhos traumas, Benjamín confronta o intenso romance que teve com sua antiga chefe Irene (Soledad Villamil), assim como decisões e equívocos que tomou no passado. Com o tempo, as memórias terminam por transformar novamente sua vida e os reflexos de suas descobertas podem ser devastadores. Confira o trailer:
"O segredo dos seus olhos" equilibra perfeitamente os elementos de suspense com o drama, mas sem esquecer de vários momentos onde o alivio cômico dá o tom irônico que ajuda a construir a personalidade de Benjamín. O roteiro nos entrega uma trama nada previsível, muito envolvente e que consegue nos deixar tenso sempre que necessário. A capacidade que Darín tem como ator é muito bem aproveitado no filme, sua composição externa é tão bem construída quando seu trabalho íntimo. Tudo acaba se tornando bastante orgânico - do roteiro ao produto final que vemos na tela. Aliás é impossível não citar o "plano sequência" que busca Benjamín no meio de um Estádio de Futebol lotado. Reparem. A edição também merece destaque, pois o conceito narrativo imposta pelo roteiro sugere várias quebras na linha do tempo e a montagem do próprio Campanella resolve esse desafio de uma maneira muito criativa e uniforme - está realmente linda!
De fato é um grande trabalho do cinema argentino, sem dúvida um dos melhores da sua história e a vitória no Oscar 2010 só serviu para coroar um grande sucesso nas bilheterias - o filme custou 2 milhões de dólares e rendeu mais de 42 milhões no mundo inteiro!
Vale muito a pena e se prepare: o final é surpreendente!
Se você gostou das adaptações para o cinema de "O Código Da Vinci" (2006), "Anjos & Demônios" (2011) e "Inferno" (2016), você nem precisa terminar de ler esse review, basta dar o play que sua diversão estará garantida por quase dez horas de história que estão divididas em 10 episódios! Para aqueles que ainda não se aventuraram pelas obras de Dan Brown, talvez a série "O Símbolo Perdido" seja um bom ponto de partida, já que os próprios produtores (e diretor) da trilogia cinematográfica, Ron Howard e Brian Grazer, quebraram a linha temporal do personagem eternizado por Tom Hanks, Robert Langdon, transformando o terceiro livro do autor em uma espécie de prequel, contando a mesma história, porém com Langdon em inicio de carreira.
Chamado por seu amigo e mentor, Peter Solomon (Eddie Izzard), para dar uma palestra em Washington, Robert Langdon (Ashley Zukerman) viaja até a capital americana, mas antes de entrar no palco para iniciar sua apresentação, descobre que tudo aquilo foi uma armação para obriga-lo a desvendar uma série de enigmas e assim iniciar uma busca por um antigo portal místico em meio a uma enorme conspiração que envolve políticos, pensadores históricos, perigosos assassinos, extremistas religiosos, a maçonaria e a própria CIA. Confira o trailer (em inglês):
Criada por Dan Dworkin ao lado de Jay Beattie e produzida originalmente para o Peacock, "O Símbolo Perdido" chegou ao Brasil pelo Globoplay com status de superprodução, porém o que seria uma série antológica acabou se transformando em uma minissérie (sim, a história tem um final) já que a NBCUniversal resolveu não dar continuidade ao projeto pelo seu alto custo e baixo retorno após a exibição do que seria a primeira temporada. O fato é que mesmo sendo apresentada como uma nova abordagem do trabalho de Dan Brown, Howard e Grazer replicaram muito da dinâmica visual e narrativa que fizeram com que os filmes funcionassem - talvez com menos intervenções gráficas e sem, obviamente, a maestria de Hanks.
É inegável que mesmo com uma atualização inteligente em sua forma, a minissérie sofra com o conteúdo datado em seu conceito narrativo - o sucesso arrebatador do estilo bem particular de escrita de Dan Brown, já com mais de vinte anos de "Anjos & Demônios", dificilmente se conecta com uma audiência acostumada com tramas menos expositivas. Por outro lado, o fã do autor sabe exatamente o que vai encontrar e gosta: entretenimento, aquela sensação de urgência a todo momento e o equilíbrio inteligente entre o místico, o cientifico e o religioso - tudo isso com uma boa dose de suspensão da realidade e uma certa boa vontade com todas aquelas reviravoltas sem muita lógica que ele propõe.
A minissérie tem o beneficio do tempo, fator que até justifica algumas criticas sobre os filmes, mas parece ter chegado às telas alguns anos atrasada. Por outro lado, ela se aproveita muito bem de uma fórmula que agrada uma audiência muito grande (basta lembrar do sucesso que foi "Lupin"na Netflix): a mistura dos gêneros policial e de ação, com um personagem marcante e muito atraente, como Robert Langdon (e seus parceiros de investigação), e ainda uma trama de muito mistério e misticismo - elementos que nos remetem ao Sherlock Holmes de Benedict Cumberbatch ou o Assane Diop de Omar Sy, com um toque romântico de Indiana Jones de Harrison Ford.
Se você gostou das adaptações para o cinema de "O Código Da Vinci" (2006), "Anjos & Demônios" (2011) e "Inferno" (2016), você nem precisa terminar de ler esse review, basta dar o play que sua diversão estará garantida por quase dez horas de história que estão divididas em 10 episódios! Para aqueles que ainda não se aventuraram pelas obras de Dan Brown, talvez a série "O Símbolo Perdido" seja um bom ponto de partida, já que os próprios produtores (e diretor) da trilogia cinematográfica, Ron Howard e Brian Grazer, quebraram a linha temporal do personagem eternizado por Tom Hanks, Robert Langdon, transformando o terceiro livro do autor em uma espécie de prequel, contando a mesma história, porém com Langdon em inicio de carreira.
Chamado por seu amigo e mentor, Peter Solomon (Eddie Izzard), para dar uma palestra em Washington, Robert Langdon (Ashley Zukerman) viaja até a capital americana, mas antes de entrar no palco para iniciar sua apresentação, descobre que tudo aquilo foi uma armação para obriga-lo a desvendar uma série de enigmas e assim iniciar uma busca por um antigo portal místico em meio a uma enorme conspiração que envolve políticos, pensadores históricos, perigosos assassinos, extremistas religiosos, a maçonaria e a própria CIA. Confira o trailer (em inglês):
Criada por Dan Dworkin ao lado de Jay Beattie e produzida originalmente para o Peacock, "O Símbolo Perdido" chegou ao Brasil pelo Globoplay com status de superprodução, porém o que seria uma série antológica acabou se transformando em uma minissérie (sim, a história tem um final) já que a NBCUniversal resolveu não dar continuidade ao projeto pelo seu alto custo e baixo retorno após a exibição do que seria a primeira temporada. O fato é que mesmo sendo apresentada como uma nova abordagem do trabalho de Dan Brown, Howard e Grazer replicaram muito da dinâmica visual e narrativa que fizeram com que os filmes funcionassem - talvez com menos intervenções gráficas e sem, obviamente, a maestria de Hanks.
É inegável que mesmo com uma atualização inteligente em sua forma, a minissérie sofra com o conteúdo datado em seu conceito narrativo - o sucesso arrebatador do estilo bem particular de escrita de Dan Brown, já com mais de vinte anos de "Anjos & Demônios", dificilmente se conecta com uma audiência acostumada com tramas menos expositivas. Por outro lado, o fã do autor sabe exatamente o que vai encontrar e gosta: entretenimento, aquela sensação de urgência a todo momento e o equilíbrio inteligente entre o místico, o cientifico e o religioso - tudo isso com uma boa dose de suspensão da realidade e uma certa boa vontade com todas aquelas reviravoltas sem muita lógica que ele propõe.
A minissérie tem o beneficio do tempo, fator que até justifica algumas criticas sobre os filmes, mas parece ter chegado às telas alguns anos atrasada. Por outro lado, ela se aproveita muito bem de uma fórmula que agrada uma audiência muito grande (basta lembrar do sucesso que foi "Lupin"na Netflix): a mistura dos gêneros policial e de ação, com um personagem marcante e muito atraente, como Robert Langdon (e seus parceiros de investigação), e ainda uma trama de muito mistério e misticismo - elementos que nos remetem ao Sherlock Holmes de Benedict Cumberbatch ou o Assane Diop de Omar Sy, com um toque romântico de Indiana Jones de Harrison Ford.
"O Telefone Preto" chega com aquele ar de "clássico do suspense" em pleno 2022! Sim, pode parecer brincadeira, mas o filme do diretor Scott Derrickson (de "O Exorcismo de Emily Rose" e "A Entidade") recupera elementos narrativos que equilibram perfeitamente o "psicológico" com o "sobrenatural" ao melhor estilo "Stephen King" (mas sem decepcionar no final) - aliás, diga-se de passagem, o conto que deu origem ao filme é de autoria do filho de King, Joe Hill e foi retirado do best-seller do New York Times, "Fantasmas do Século XX".
Finney Shaw (Mason Thames), um menino tímido e inteligente, de 13 anos, é sequestrado pelo sádico "Grabbler" (Ethan Hawke) e preso em um porão à prova de som. Quando um telefone preto desconectado na parede começa a tocar, Finney descobre que pode ouvir as vozes das cinco vítimas anteriores do assassino. São eles que tentam garantir que Finney possa ter um destino diferente do deles. Confira o trailer:
É bem possível que você, amante do gênero, tenha a impressão de já ter assistido algo semelhante ao "O Telefone Preto". O roteiro do próprio Derrickson com seu parceiro de "A Entidade" e "Doutor Estranho I", C. Robert Cargill, traz fortes referências de filmes como "It" e o "O Sexto Sentido" - eu diria até que não seria nada absurdo dizer que aqui temos uma mistura das duas obras, com seus méritos, com seus clichês e com suas falhas (mesmo que nenhuma delas impactem na nossa experiência como audiência se estivermos dispostos a mergulhar naquele universo proposto pela história).
Um dos grandes méritos de Derrickson é o de criar personagens interessantes e profundos que geram empatia logo de cara - ninguém gosta de ver um garoto bonzinho sendo ameaçado na escola ou a irmã mais nova apanhando do pai alcoólatra e depressivo. Aliás, mesmo como coadjuvante, Jeremy Davies (o inesquecível Dr. Daniel Faraday de "Lost") está excelente como o pai de Finney e de sua irmã Gwen (Madeleine McGraw). Pois bem, estabelecida essa conexão com o protagonista, é impossível pensar que a trama de suspense que vem pela frente não possa ser bem sucedida, afinal já nos importamos com os personagens e com suas dores. Mas o diretor ainda fortalece essa possibilidade ao mostrar sua enorme competência em criar uma atmosfera aterrorizante: se você lembrar do drama psicológico e perturbador de "3096 Dias" ou dos sustos de "A Entidade", vai entender exatamente o que "O Telefone Preto" quer te provocar.
Alinhar as expectativas será essencial para que você se envolva com o filme, ou seja, "O Telefone Preto" não é (e muito menos se propõe a ser) um terror raiz. Derrickson está bem mais preocupado na criação de uma tensão constante do que em te impactar com imagens grotescas ou banhos de sangue - não que não tenha, mas não é o que vai mais te interessar. Se o protagonista parece ter saído de "Stranger Things" enquanto o antagonista deixa claro ser grande fã de John Kramer (de "Jogos Mortais") e de Hannibal Lecter (de "Silêncio dos Inocentes") é de se esperar uma trama com uma boa história, alguns sustos e ótimos personagens - e é isso!
Antes de finalizar, reparou como eu citei vários filmes para descrever essa produção da Blumhouse? Pois bem, será essa a receita que vai te fazer ficar satisfeito quando os créditos subirem!
Vale o play!
"O Telefone Preto" chega com aquele ar de "clássico do suspense" em pleno 2022! Sim, pode parecer brincadeira, mas o filme do diretor Scott Derrickson (de "O Exorcismo de Emily Rose" e "A Entidade") recupera elementos narrativos que equilibram perfeitamente o "psicológico" com o "sobrenatural" ao melhor estilo "Stephen King" (mas sem decepcionar no final) - aliás, diga-se de passagem, o conto que deu origem ao filme é de autoria do filho de King, Joe Hill e foi retirado do best-seller do New York Times, "Fantasmas do Século XX".
Finney Shaw (Mason Thames), um menino tímido e inteligente, de 13 anos, é sequestrado pelo sádico "Grabbler" (Ethan Hawke) e preso em um porão à prova de som. Quando um telefone preto desconectado na parede começa a tocar, Finney descobre que pode ouvir as vozes das cinco vítimas anteriores do assassino. São eles que tentam garantir que Finney possa ter um destino diferente do deles. Confira o trailer:
É bem possível que você, amante do gênero, tenha a impressão de já ter assistido algo semelhante ao "O Telefone Preto". O roteiro do próprio Derrickson com seu parceiro de "A Entidade" e "Doutor Estranho I", C. Robert Cargill, traz fortes referências de filmes como "It" e o "O Sexto Sentido" - eu diria até que não seria nada absurdo dizer que aqui temos uma mistura das duas obras, com seus méritos, com seus clichês e com suas falhas (mesmo que nenhuma delas impactem na nossa experiência como audiência se estivermos dispostos a mergulhar naquele universo proposto pela história).
Um dos grandes méritos de Derrickson é o de criar personagens interessantes e profundos que geram empatia logo de cara - ninguém gosta de ver um garoto bonzinho sendo ameaçado na escola ou a irmã mais nova apanhando do pai alcoólatra e depressivo. Aliás, mesmo como coadjuvante, Jeremy Davies (o inesquecível Dr. Daniel Faraday de "Lost") está excelente como o pai de Finney e de sua irmã Gwen (Madeleine McGraw). Pois bem, estabelecida essa conexão com o protagonista, é impossível pensar que a trama de suspense que vem pela frente não possa ser bem sucedida, afinal já nos importamos com os personagens e com suas dores. Mas o diretor ainda fortalece essa possibilidade ao mostrar sua enorme competência em criar uma atmosfera aterrorizante: se você lembrar do drama psicológico e perturbador de "3096 Dias" ou dos sustos de "A Entidade", vai entender exatamente o que "O Telefone Preto" quer te provocar.
Alinhar as expectativas será essencial para que você se envolva com o filme, ou seja, "O Telefone Preto" não é (e muito menos se propõe a ser) um terror raiz. Derrickson está bem mais preocupado na criação de uma tensão constante do que em te impactar com imagens grotescas ou banhos de sangue - não que não tenha, mas não é o que vai mais te interessar. Se o protagonista parece ter saído de "Stranger Things" enquanto o antagonista deixa claro ser grande fã de John Kramer (de "Jogos Mortais") e de Hannibal Lecter (de "Silêncio dos Inocentes") é de se esperar uma trama com uma boa história, alguns sustos e ótimos personagens - e é isso!
Antes de finalizar, reparou como eu citei vários filmes para descrever essa produção da Blumhouse? Pois bem, será essa a receita que vai te fazer ficar satisfeito quando os créditos subirem!
Vale o play!
Lançado em uma época em que o "True Crime" ainda colhia os frutos do sucesso repentino de "Making a Murderer"e do surpreendente "The Jinx", "O.J.: Made in America" foi uma verdadeira bomba no mercado cinematográfico quando a ESPN, e seu diretor Ezra Edelman, montaram uma versão de 8 horas, transformando a minissérie de 5 episódios em um longa-metragem que rodou os principais festivais de cinema do mundo, sendo amplamente premiado e mais: fechando sua carreira como o grande vencedor do Oscar de 2017.
Essa minissérie documental é uma profunda exploração sobre o caso O.J. Simpson (quando o ex-astro da NFL "supostamente" assassinou sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman) em uma das tramas mais famosas da história dos Estados Unidos e provavelmente a narrativa criminal mais importante da cultura recente do hemisfério ocidental. A partir desse evento brutal, o que vemos é uma análise definitiva sobre o culto à personalidade, sobre as celebridades, a mídia sensacionalista, o racismo estrutural, o poder e, principalmente, sobre o falho sistema de justiça americano. Confira o trailer (em inglês):
Muito do que se tornou "O.J.: Made in America" é mérito de Edelman, pois com muita criatividade (e sagacidade), o diretor conta a história dos Estados Unidos dos últimos 50 anos a partir de um olhar crítico sobre um crime que simplesmente parou o país em 1994. Pelo prisma da tensão racial que sempre existiu por lá, a minissérie discute a adoração cega por celebridades durante o processo de transformação midiática da sociedade que passou a se relacionar com assuntos sérios (muitos deles extremamente pesados) com se fossem espetáculos em uma era pré-rede social.
Com uma edição lindamente equilibrada e muito competente do trio Bret Granato, Maya Mumma e Ben Sozanski, "O.J.: Made in America" basicamente se divide em três linhas narrativas diferentes, mas que se conversam a todo momento: a primeira explora a carreira esportiva de sucesso de O.J.. A segunda já faz um recorte mais intimista da vida pessoal do ex-atleta, enquanto a terceira, expõe, sem se preocupar com o impacto do tema, o aumento da violência racial em Los Angeles. Veja, tudo isso é costurado de forma muito orgânica e, de certa forma, respeitando toda a cronologia do caso - com isso, temos a impressão de estar assistindo a vários documentários misturados em um; contudo, cada um desenvolvido com extrema competência pelo roteiro do próprio Edelman.
"O.J.: Made in America" é, acima de tudo, um sério e minucioso trabalho jornalístico que habilmente se transformou em entretenimento - esse de muita qualidade e sempre muito preocupado em não levantar bandeiras desnecessárias ou que fugissem ao contexto tão bem estabelecido pela produção. Todos os lados da história e seus atores, são apresentados como iguais: O.J., a família das vítimas, a comunidade negra dos EUA, o departamento de polícia de Los Angeles, etc. Por tudo isso, a minissérie merece todo o reconhecimento recebido e não por acaso é considerado um dos melhores trabalhos do gênero "true crime" da história!
Vale muito o seu play!
Lançado em uma época em que o "True Crime" ainda colhia os frutos do sucesso repentino de "Making a Murderer"e do surpreendente "The Jinx", "O.J.: Made in America" foi uma verdadeira bomba no mercado cinematográfico quando a ESPN, e seu diretor Ezra Edelman, montaram uma versão de 8 horas, transformando a minissérie de 5 episódios em um longa-metragem que rodou os principais festivais de cinema do mundo, sendo amplamente premiado e mais: fechando sua carreira como o grande vencedor do Oscar de 2017.
Essa minissérie documental é uma profunda exploração sobre o caso O.J. Simpson (quando o ex-astro da NFL "supostamente" assassinou sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman) em uma das tramas mais famosas da história dos Estados Unidos e provavelmente a narrativa criminal mais importante da cultura recente do hemisfério ocidental. A partir desse evento brutal, o que vemos é uma análise definitiva sobre o culto à personalidade, sobre as celebridades, a mídia sensacionalista, o racismo estrutural, o poder e, principalmente, sobre o falho sistema de justiça americano. Confira o trailer (em inglês):
Muito do que se tornou "O.J.: Made in America" é mérito de Edelman, pois com muita criatividade (e sagacidade), o diretor conta a história dos Estados Unidos dos últimos 50 anos a partir de um olhar crítico sobre um crime que simplesmente parou o país em 1994. Pelo prisma da tensão racial que sempre existiu por lá, a minissérie discute a adoração cega por celebridades durante o processo de transformação midiática da sociedade que passou a se relacionar com assuntos sérios (muitos deles extremamente pesados) com se fossem espetáculos em uma era pré-rede social.
Com uma edição lindamente equilibrada e muito competente do trio Bret Granato, Maya Mumma e Ben Sozanski, "O.J.: Made in America" basicamente se divide em três linhas narrativas diferentes, mas que se conversam a todo momento: a primeira explora a carreira esportiva de sucesso de O.J.. A segunda já faz um recorte mais intimista da vida pessoal do ex-atleta, enquanto a terceira, expõe, sem se preocupar com o impacto do tema, o aumento da violência racial em Los Angeles. Veja, tudo isso é costurado de forma muito orgânica e, de certa forma, respeitando toda a cronologia do caso - com isso, temos a impressão de estar assistindo a vários documentários misturados em um; contudo, cada um desenvolvido com extrema competência pelo roteiro do próprio Edelman.
"O.J.: Made in America" é, acima de tudo, um sério e minucioso trabalho jornalístico que habilmente se transformou em entretenimento - esse de muita qualidade e sempre muito preocupado em não levantar bandeiras desnecessárias ou que fugissem ao contexto tão bem estabelecido pela produção. Todos os lados da história e seus atores, são apresentados como iguais: O.J., a família das vítimas, a comunidade negra dos EUA, o departamento de polícia de Los Angeles, etc. Por tudo isso, a minissérie merece todo o reconhecimento recebido e não por acaso é considerado um dos melhores trabalhos do gênero "true crime" da história!
Vale muito o seu play!
Tudo pode ser vendido, desde que você tenha os argumentos certos! É com certo tom de ironia que o diretor Jason Reitman (de "Tully") fez sua estreia em longas-metragem em 2005 com o excelente (e polêmico) "Obrigado por Fumar". Se na época do seu lançamento a discussão sobre "liberdade de escolha" parecia se apoiar na forma como uma mensagem poderia ser manipulada apenas através da publicidade e do marketing, hoje, alguns bons anos depois, sabemos que o problema é muito (mas, muito) mais profundo - e talvez por isso faça total sentido revisitar o filme. O conceito narrativo escolhido por Reitman ganhou outras camadas, principalmente com diretores como Adam McKay ou até com o Spike Lee, e isso não nos impacta mais: aquela montagem mais recortada e o tom mais satirizado funcionam como gatilho para discussões profundas sobre assuntos bem sérios, mas não é tão novidade assim. Porém, é de se elogiar a maneira como o diretor, ainda começando, "brinca" com nossa percepção sobre o que é certo e errado através de pontos de vista diferentes e de como a uma determinada mensagem pode ser replicada dependendo de como ela é interpretada - em tempos de rede social, isso acaba ganhando uma importância ainda maior, não?
Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o porta-voz de grandes empresas de cigarros que ganha a vida defendendo a liberdade de escolha dos fumantes nos Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde e também pelo senador Ortolan K. Finistirre (William H. Macy), que deseja colocar um rótulo de veneno nos maços de cigarros, Nick passa a manipular informações de forma a diminuir os riscos da nicotina em entrevistas em programas de TV. Sua fama faz com que Nick atraia a atenção de Heather Holloway (Katie Holmes), uma jovem repórter de Washington que deseja investigá-lo. Embora ele diga repetidamente que trabalha apenas para pagar as contas, sua relação com o trabalho passa a mudar quando seu filho Joey (Cameron Bright) busca entender em que realmente seu pai trabalha.
Obviamente que "Obrigado por Fumar" é uma crítica mordaz aos métodos de manipulação de informações utilizados por inúmeros lobistas e relações públicas quando o objetivo é defender algo que é indefensável. Embora o roteiro, baseado no livro de Christopher Buckley, seja inteligente o suficiente ao mostrar como Nick habilmente distorce a verdade, utilizando argumentos convincentes e artifícios retóricos para moldar a opinião pública a seu favor, é na exposição da natureza subjetiva do seu discurso que o filme questiona a ética por trás de promoção de produtos prejudiciais à saúde. Existe uma sensibilidade impressionante na forma como os diálogos são construídos e como o protagonista lida com a moralidade, ou seja, excluindo o cinismo proposital da provocação, o que temos é uma aula de persuasão e vendas.
Naylor é uma figura fascinante e contraditória - e isso humaniza seu personagem em tempos onde ser herói ou bandido era definido exclusivamente pelos atos durante uma visão única da história. Aqui, o tom é mais acizentado, pois as perspectivas sobre o assunto são diferentes e complementares. Veja, apesar de promover um produto prejudicial, Naylor é apresentado como um personagem carismático e cativante - existe uma quebra de expectativa que dificulta nossa análise crítica. A complexidade da relação moral do protagonista reside no conflito interno entre sua profissão e sua vida pessoal, brilhantemente representados pelo filho pré-adolescente e pela jornalista sedutora que entram na trama para desempenhar papéis importantes nesse jogo de manipulação - Heather Holloway, inclusive, traz até a "hipocrisia" para a discussão.
Com um humor sutil e razoavelmente sarcástico, o filme não apenas faz piadas sobre a indústria do tabaco, mas também sobre as contradições do universo politico (já viram isso em algum lugar?), corporativo (ops!) e midiático (bingo!). Fato é que, ao explorar o mundo controverso do tabaco através dos olhos de um porta-voz carismático, "Obrigado por Fumar" nos convida a questionar a verdade, a ética e o papel da comunicação persuasiva nas decisões que tomamos até hoje. Com sua mistura de humor inteligente e crítica social, este filme continua a ser relevante ao destacar as táticas utilizadas para moldar percepções e influenciar debates.
Vale muito o seu play!
Tudo pode ser vendido, desde que você tenha os argumentos certos! É com certo tom de ironia que o diretor Jason Reitman (de "Tully") fez sua estreia em longas-metragem em 2005 com o excelente (e polêmico) "Obrigado por Fumar". Se na época do seu lançamento a discussão sobre "liberdade de escolha" parecia se apoiar na forma como uma mensagem poderia ser manipulada apenas através da publicidade e do marketing, hoje, alguns bons anos depois, sabemos que o problema é muito (mas, muito) mais profundo - e talvez por isso faça total sentido revisitar o filme. O conceito narrativo escolhido por Reitman ganhou outras camadas, principalmente com diretores como Adam McKay ou até com o Spike Lee, e isso não nos impacta mais: aquela montagem mais recortada e o tom mais satirizado funcionam como gatilho para discussões profundas sobre assuntos bem sérios, mas não é tão novidade assim. Porém, é de se elogiar a maneira como o diretor, ainda começando, "brinca" com nossa percepção sobre o que é certo e errado através de pontos de vista diferentes e de como a uma determinada mensagem pode ser replicada dependendo de como ela é interpretada - em tempos de rede social, isso acaba ganhando uma importância ainda maior, não?
Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o porta-voz de grandes empresas de cigarros que ganha a vida defendendo a liberdade de escolha dos fumantes nos Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saúde e também pelo senador Ortolan K. Finistirre (William H. Macy), que deseja colocar um rótulo de veneno nos maços de cigarros, Nick passa a manipular informações de forma a diminuir os riscos da nicotina em entrevistas em programas de TV. Sua fama faz com que Nick atraia a atenção de Heather Holloway (Katie Holmes), uma jovem repórter de Washington que deseja investigá-lo. Embora ele diga repetidamente que trabalha apenas para pagar as contas, sua relação com o trabalho passa a mudar quando seu filho Joey (Cameron Bright) busca entender em que realmente seu pai trabalha.
Obviamente que "Obrigado por Fumar" é uma crítica mordaz aos métodos de manipulação de informações utilizados por inúmeros lobistas e relações públicas quando o objetivo é defender algo que é indefensável. Embora o roteiro, baseado no livro de Christopher Buckley, seja inteligente o suficiente ao mostrar como Nick habilmente distorce a verdade, utilizando argumentos convincentes e artifícios retóricos para moldar a opinião pública a seu favor, é na exposição da natureza subjetiva do seu discurso que o filme questiona a ética por trás de promoção de produtos prejudiciais à saúde. Existe uma sensibilidade impressionante na forma como os diálogos são construídos e como o protagonista lida com a moralidade, ou seja, excluindo o cinismo proposital da provocação, o que temos é uma aula de persuasão e vendas.
Naylor é uma figura fascinante e contraditória - e isso humaniza seu personagem em tempos onde ser herói ou bandido era definido exclusivamente pelos atos durante uma visão única da história. Aqui, o tom é mais acizentado, pois as perspectivas sobre o assunto são diferentes e complementares. Veja, apesar de promover um produto prejudicial, Naylor é apresentado como um personagem carismático e cativante - existe uma quebra de expectativa que dificulta nossa análise crítica. A complexidade da relação moral do protagonista reside no conflito interno entre sua profissão e sua vida pessoal, brilhantemente representados pelo filho pré-adolescente e pela jornalista sedutora que entram na trama para desempenhar papéis importantes nesse jogo de manipulação - Heather Holloway, inclusive, traz até a "hipocrisia" para a discussão.
Com um humor sutil e razoavelmente sarcástico, o filme não apenas faz piadas sobre a indústria do tabaco, mas também sobre as contradições do universo politico (já viram isso em algum lugar?), corporativo (ops!) e midiático (bingo!). Fato é que, ao explorar o mundo controverso do tabaco através dos olhos de um porta-voz carismático, "Obrigado por Fumar" nos convida a questionar a verdade, a ética e o papel da comunicação persuasiva nas decisões que tomamos até hoje. Com sua mistura de humor inteligente e crítica social, este filme continua a ser relevante ao destacar as táticas utilizadas para moldar percepções e influenciar debates.
Vale muito o seu play!
Um ótimo entretenimento para um sábado chuvoso - especialmente se você gostar daquelas narrativas bem angustiantes que não dá para saber muito bem o que é verdade e o que é imaginação. "Observador" filme lançado em 2022 e que ganhou certo destaque em festivais importantes do cenário independente como Sundance e SXSW Film Festival, é, na verdade, um suspense psicológico que explora a paranoia e o isolamento de uma mulher estrangeira em uma cidade desconhecida. Eu sei que a premissa não é das mais criativas ou inovadoras, mas o filme dirigido por Chloe Okuno (do curta "Storm Drain" de "V/H/S/94") tem uma identidade visual e narrativa bem interessante, que constrói uma linha tênue entre a percepção e a realidade que constantemente questionamos, criando assim uma atmosfera de crescente tensão e desconforto - dada as devidas proporções, uma mistura de "Janela Indiscreta" de Alfred Hitchcock com "O Homem Duplicado" de Denis Villeneuve. E sim, na minha opinião, ainda melhor que "A Mulher da Janela" e "The Voyeurs".
A trama segue Julia (Maika Monroe), uma jovem americana que se muda para Bucareste com seu marido, Francis (Karl Glusman). Vivendo em um apartamento amplo, mas sombrio, Julia começa a notar que um vizinho do prédio em frente a observa constantemente. Ao mesmo tempo, a cidade está assombrada por um assassino em série que ataca mulheres. Sentindo-se cada vez mais isolada, Julia luta para convencer Francis e as autoridades de que está sendo perseguida, mas encontra apenas desconfiança e ceticismo, o que intensifica seu sentimento de vulnerabilidade e paranoia. Confira o trailer (em inglês):
Logo de cara, percebemos que "Watcher", no original, se destaca pelo minimalismo narrativo e pela construção cuidadosa de um suspense que desafia as certezas da audiência. Chloe Okuno, em sua estreia como diretora de um longa-metragem propriamente dito, demonstra um controle preciso sobre esse tipo de gramática cinematográfica, excepcionalmente na construção dessa atmosfera, digamos, mais densa do filme. O que temos aqui é um exercício de contenção e sugestão, onde cada cena é planejada para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza. A diretora utiliza enquadramentos cirúrgicos para explorar tanto o ponto de vista de Julia quanto o do suposto observador, manipulando nossa percepção e gerando uma tensão latente. Repare como o silêncio é um elemento essencial nessa construção de suspense e como a escolha por limitar os diálogos em momentos-chave intensifica ainda mais esse desconforto.
Maika Monroe, conhecida por seu papel em "Corrente do Mal" e mais recentemente em "Longlegs - Vínculo Mortal", entrega uma performance convincente e sutil como Julia. Ela transmite de forma eficaz a sensação de alienação e impotência, equilibrando a fragilidade de sua personagem com a determinação crescente de descobrir a verdade. O fato é que Monroe carrega o filme em seus ombros, e sua atuação é essencial para criar a conexão necessária para que trama funcione - acompanhar cada passo de sua jornada, emocionalmente intensa, não é nada simples, diga-se de passagem. Já Karl Glusman oferece uma performance pouco mais contida, interpretando um marido que oscila entre o apoio incondicional e o ceticismo - sua postura, aliás, ajuda muito no aprofundamento dessa sensação de isolamento de Julia.
Outro fator que merece atenção é a fotografia do dinamarquês Benjamin Kirk Nielsen - sua Bucareste é retratada de forma fria e opressiva, com ruas desertas e prédios austeros que reforçam o clima de insegurança e ansiedade da protagonista. As cores desbotadas e a iluminação difusa contribuem para a sensação de inquietação, transformando a cidade em um espaço fascinante, mas ameaçador - cada cenário parece projetar as emoções de Julia, criando uma fusão entre o ambiente externo e sua psique fragilizada. Sensacional. O desenho de som também brilha - como já pontuei, momentos de silêncio absoluto são intercalados com sons ambientes que intensificam a paranoia da protagonista. A ausência de música em passagens críticas da trama só reforça a imersão e amplifica a sensação de que algo está à espreita, mas sempre fora de alcance.
"Observador", embora simples em sua estrutura, é eficiente em manter o suspense e o mistério. A narrativa se desenvolve lentamente, mas sem perder o ritmo, mantendo a audiência presa à perspectiva de Julia. Mas saiba que o filme é menos sobre a resolução de um mistério e mais sobre a experiência subjetiva de uma mulher que luta para validar seus instintos em um ambiente que a desconsidera. É essa abordagem que, simbolicamente, é especialmente relevante em tempos onde a discussão sobre a descrença perante as vozes femininas se torna cada vez mais pertinente.
Vale muito o seu play!
Um ótimo entretenimento para um sábado chuvoso - especialmente se você gostar daquelas narrativas bem angustiantes que não dá para saber muito bem o que é verdade e o que é imaginação. "Observador" filme lançado em 2022 e que ganhou certo destaque em festivais importantes do cenário independente como Sundance e SXSW Film Festival, é, na verdade, um suspense psicológico que explora a paranoia e o isolamento de uma mulher estrangeira em uma cidade desconhecida. Eu sei que a premissa não é das mais criativas ou inovadoras, mas o filme dirigido por Chloe Okuno (do curta "Storm Drain" de "V/H/S/94") tem uma identidade visual e narrativa bem interessante, que constrói uma linha tênue entre a percepção e a realidade que constantemente questionamos, criando assim uma atmosfera de crescente tensão e desconforto - dada as devidas proporções, uma mistura de "Janela Indiscreta" de Alfred Hitchcock com "O Homem Duplicado" de Denis Villeneuve. E sim, na minha opinião, ainda melhor que "A Mulher da Janela" e "The Voyeurs".
A trama segue Julia (Maika Monroe), uma jovem americana que se muda para Bucareste com seu marido, Francis (Karl Glusman). Vivendo em um apartamento amplo, mas sombrio, Julia começa a notar que um vizinho do prédio em frente a observa constantemente. Ao mesmo tempo, a cidade está assombrada por um assassino em série que ataca mulheres. Sentindo-se cada vez mais isolada, Julia luta para convencer Francis e as autoridades de que está sendo perseguida, mas encontra apenas desconfiança e ceticismo, o que intensifica seu sentimento de vulnerabilidade e paranoia. Confira o trailer (em inglês):
Logo de cara, percebemos que "Watcher", no original, se destaca pelo minimalismo narrativo e pela construção cuidadosa de um suspense que desafia as certezas da audiência. Chloe Okuno, em sua estreia como diretora de um longa-metragem propriamente dito, demonstra um controle preciso sobre esse tipo de gramática cinematográfica, excepcionalmente na construção dessa atmosfera, digamos, mais densa do filme. O que temos aqui é um exercício de contenção e sugestão, onde cada cena é planejada para aumentar a sensação de claustrofobia e incerteza. A diretora utiliza enquadramentos cirúrgicos para explorar tanto o ponto de vista de Julia quanto o do suposto observador, manipulando nossa percepção e gerando uma tensão latente. Repare como o silêncio é um elemento essencial nessa construção de suspense e como a escolha por limitar os diálogos em momentos-chave intensifica ainda mais esse desconforto.
Maika Monroe, conhecida por seu papel em "Corrente do Mal" e mais recentemente em "Longlegs - Vínculo Mortal", entrega uma performance convincente e sutil como Julia. Ela transmite de forma eficaz a sensação de alienação e impotência, equilibrando a fragilidade de sua personagem com a determinação crescente de descobrir a verdade. O fato é que Monroe carrega o filme em seus ombros, e sua atuação é essencial para criar a conexão necessária para que trama funcione - acompanhar cada passo de sua jornada, emocionalmente intensa, não é nada simples, diga-se de passagem. Já Karl Glusman oferece uma performance pouco mais contida, interpretando um marido que oscila entre o apoio incondicional e o ceticismo - sua postura, aliás, ajuda muito no aprofundamento dessa sensação de isolamento de Julia.
Outro fator que merece atenção é a fotografia do dinamarquês Benjamin Kirk Nielsen - sua Bucareste é retratada de forma fria e opressiva, com ruas desertas e prédios austeros que reforçam o clima de insegurança e ansiedade da protagonista. As cores desbotadas e a iluminação difusa contribuem para a sensação de inquietação, transformando a cidade em um espaço fascinante, mas ameaçador - cada cenário parece projetar as emoções de Julia, criando uma fusão entre o ambiente externo e sua psique fragilizada. Sensacional. O desenho de som também brilha - como já pontuei, momentos de silêncio absoluto são intercalados com sons ambientes que intensificam a paranoia da protagonista. A ausência de música em passagens críticas da trama só reforça a imersão e amplifica a sensação de que algo está à espreita, mas sempre fora de alcance.
"Observador", embora simples em sua estrutura, é eficiente em manter o suspense e o mistério. A narrativa se desenvolve lentamente, mas sem perder o ritmo, mantendo a audiência presa à perspectiva de Julia. Mas saiba que o filme é menos sobre a resolução de um mistério e mais sobre a experiência subjetiva de uma mulher que luta para validar seus instintos em um ambiente que a desconsidera. É essa abordagem que, simbolicamente, é especialmente relevante em tempos onde a discussão sobre a descrença perante as vozes femininas se torna cada vez mais pertinente.
Vale muito o seu play!
"Olhos que condenam" é uma minissérie Original da Netflix com apenas 4 episódios de uma hora de duração, em média (o último tem quase um hora e meia), produzida pela Oprah Winfrey e que recentemente se tornou a "série" mais assistida nos EUA desde o seu lançamento no final de maio! E olha, posso garantir que não foi por acaso!!! "Olhos que condenam" embrulha o estômago de uma forma que chega a incomodar, pois, embora seja uma ficção, foi baseada em fatos reais e esses fatos são cruéis, injustos, doloridos, e tudo de ruim que você possa imaginar! Saber que tudo aquilo realmente aconteceu transforma nossa experiência de uma forma avassaladora! Sem exageros!
A minissérie conta a história de cinco adolescentes do Harlem - quatro negros e um hispânico - que foram condenados por um estupro que, aparentemente, não cometeram. A trajetória de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise é retratada desde os primeiros interrogatórios em 1989 até a absolvição em 2002 de uma forma muito inteligente e dinâmica. "Olhos que condenam" traz para ficção muito do que vimos no documental "Making a Murderer" - com o agravante dos suspeitos serem adolescentes! A narrativa tem a preocupação de mostrar todos os lados da história, independente dos seus valores e isso nos choca, nos faz refletir sobre nossos próprios julgamentos ou preconceitos.
A direção da excelente Ava DuVernay, de "Selma" e do indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2017, "A 13ª Emenda", é segura e vital para entendimento de cada detalhe da história. Ela mistura cenas reais da época do crime, com planos muito criativos e inteligentes - ela passeia pela linha do tempo sem a necessidade de legendar cada salto com muita delicadeza. A fotografia também é ótima, mas falha em alguns planos por excesso de inventividade - alguns "blurs" chegam atrapalhar o trabalho dos atores, principalmente nos planos fechados. Aliás, os atores estão ótimos: das crianças aos adultos, passando pela família e pelos advogados - todos muito bem escalados e no tom certo. Destaque para: Jharrel Jerome como Korey Wise, Felicity Huffman como Linda Fairstein e os sempre geniais John Leguizamo e Michael Kenneth William como Raymond Santana Sr. e Bobby McCray, respectivamente.
A verdade é que "Olhos que condenam" é o tipo de minissérie que mexe com a gente pelo simples fato de ter uma história surpreendente, que nos coloca na situação daqueles personagens imediatamente. É difícil não se emocionar, não se revoltar, não sofrer com aquilo que estamos assistindo e esse, na minha opinião, é o grande acerto da Netflix em querer contar essa história absurda. Se você gostou de filmes como "Tempo de Matar" ou do já comentado "Making a Murderer", dê o play sem o menor receio porque vale muito a pena, mesmo!!!
"Olhos que condenam" é uma minissérie Original da Netflix com apenas 4 episódios de uma hora de duração, em média (o último tem quase um hora e meia), produzida pela Oprah Winfrey e que recentemente se tornou a "série" mais assistida nos EUA desde o seu lançamento no final de maio! E olha, posso garantir que não foi por acaso!!! "Olhos que condenam" embrulha o estômago de uma forma que chega a incomodar, pois, embora seja uma ficção, foi baseada em fatos reais e esses fatos são cruéis, injustos, doloridos, e tudo de ruim que você possa imaginar! Saber que tudo aquilo realmente aconteceu transforma nossa experiência de uma forma avassaladora! Sem exageros!
A minissérie conta a história de cinco adolescentes do Harlem - quatro negros e um hispânico - que foram condenados por um estupro que, aparentemente, não cometeram. A trajetória de Antron McCray, Kevin Richardson, Yusef Salaam, Raymond Santana e Korey Wise é retratada desde os primeiros interrogatórios em 1989 até a absolvição em 2002 de uma forma muito inteligente e dinâmica. "Olhos que condenam" traz para ficção muito do que vimos no documental "Making a Murderer" - com o agravante dos suspeitos serem adolescentes! A narrativa tem a preocupação de mostrar todos os lados da história, independente dos seus valores e isso nos choca, nos faz refletir sobre nossos próprios julgamentos ou preconceitos.
A direção da excelente Ava DuVernay, de "Selma" e do indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2017, "A 13ª Emenda", é segura e vital para entendimento de cada detalhe da história. Ela mistura cenas reais da época do crime, com planos muito criativos e inteligentes - ela passeia pela linha do tempo sem a necessidade de legendar cada salto com muita delicadeza. A fotografia também é ótima, mas falha em alguns planos por excesso de inventividade - alguns "blurs" chegam atrapalhar o trabalho dos atores, principalmente nos planos fechados. Aliás, os atores estão ótimos: das crianças aos adultos, passando pela família e pelos advogados - todos muito bem escalados e no tom certo. Destaque para: Jharrel Jerome como Korey Wise, Felicity Huffman como Linda Fairstein e os sempre geniais John Leguizamo e Michael Kenneth William como Raymond Santana Sr. e Bobby McCray, respectivamente.
A verdade é que "Olhos que condenam" é o tipo de minissérie que mexe com a gente pelo simples fato de ter uma história surpreendente, que nos coloca na situação daqueles personagens imediatamente. É difícil não se emocionar, não se revoltar, não sofrer com aquilo que estamos assistindo e esse, na minha opinião, é o grande acerto da Netflix em querer contar essa história absurda. Se você gostou de filmes como "Tempo de Matar" ou do já comentado "Making a Murderer", dê o play sem o menor receio porque vale muito a pena, mesmo!!!
"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".
Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer:
É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.
No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.
É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!
Vale muito o seu play!
"Only Murders in the Building" é muito divertida - ao lado de "Ted Lasso" e "O Método Kominsky", talvez tenha sido a série que mais trouxe um frescor narrativo nos últimos anos para um gênero que tem dificuldade de chamar atenção de uma parte considerável dos assinantes de streaming. Com uma primeira temporada afinadíssima, a produção original da HULU, aqui distribuída pelo Star+, segue a linha conceitual do clássico "Os 7 Suspeitos" e das histórias de Agatha Christie, porém repaginada e pontualmente inserida no contexto dos recentes sucessos dos podcasts de "True Crime".
Na história conhecemos um inusitado trio de vizinhos que moram em um tradicional prédio de NY - o deslumbrante Arconia. Com personalidades completamente distintas, Charles-Haden Savage (Steve Martin), Oliver Putnam (Martin Short) e Mabel Mora (Selena Gomez) têm em comum a paixão por histórias de investigação policial. Embora a aproximação entres eles tenha acontecido por acaso, tudo muda quando os três se veem envolvidos em um possível caso de assassinato, que para a polícia não passa de um suicídio, e resolvem, por conta própria, tentar desvendar o mistério e ainda produzir um podcast sobre o caso. Confira o trailer:
É inegável que "Only Murders in the Building" caminha na linha tênue entre o "pastelão" e o "genial" - uma marca de Steve Martin nos anos 90 que ele replica ao lado de John Robert Hoffman (de "Grace and Frankie") com os devidos ajustes para equilibrar o mistério com a comédia transformando a série em algo genuinamente original e carismática. Chama atenção como o texto, mesmo satírico, consegue manter a história empolgante durante os dez episódios sem enjoar - existe um clima de leveza, quase ingênua, como se estivéssemos jogando uma partida de "Detetive" com os amigos.
No que diz respeito ao conceito narrativo, cada episódio procura brincar com a forma como os personagens são apresentados. Sempre com um narrador diferente, somos provocados a entender como cada um desses personagens podem interferir na história mesmo quando são meros e passageiros coadjuvantes. Essa dinâmica é divertida, pois as soluções são realmente muito criativas - veja, se em um episódio entendemos o life style novaiorquino a partir de um ator aposentado que vive do seu passado glorioso, mas que carrega o peso da solidão representada por atores fantasiados de personagens infantis; em outro conhecemos alguns fatos importantes da história pelo ponto de vista de um jovem surdo, ou seja, passamos o episódio inteiro sem ouvir um único diálogo - apenas observando a linguagem de sinais e fazendo leitura labial dos atores.
É fato que "Only Murders in the Building" pode parecer bobinha, mas não se engane: ela é tão inteligente quanto divertida. A história se encaixa, os protagonistas são um show a parte, o roteiro é sagaz e a produção é impecável - você vai perceber um certo toque vintageno figurino, no cenário e na trilha sonora, mesmo com um texto dinâmico e moderno. Aliás esse choque de gerações é muito bem explorado na relação de Martin e Short com Selena Gomez - a química entre eles surpreende. E pode se preparar que vem algumas indicações de Emmys e Globos de Ouro pela frente!
Vale muito o seu play!
Operação Lioness" ou simplesmente "Lioness", é uma série com muita ação e boas pitadas de drama político, que mergulha nos perigos e nas complexidades da vida de agentes secretos envolvidos em operações especiais anti-terrorismo. Criada pelo Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em séries como "Yellowstone" e "Mayor of Kingstown", "Lioness" repete sua fórmula de sucesso de "Homeland", com uma narrativa intensa e focada em personagens realmente bem desenvolvidos, oferecendo uma visão cheia de adrenalina de um mundo onde a espionagem se mistura com o cotidiano para entregar episódios de tirar o fôlego!
A trama, basicamente, segue a história de Joe (Zoe Saldaña), uma agente da CIA encarregada de liderar uma unidade ultra-secreta de operações especiais conhecida como "Lioness". Essa unidade é composta por mulheres altamente treinadas, cuja missão é se infiltrar em redes terroristas de alto risco, ganhando a confiança de pessoas próximas aos alvos e com isso realizar operações suicidas que são cruciais para a segurança nacional dos Estados Unidos. Confira o trailer:
O mais interessante de "Lioness" é a forma como a série sabe explorar tanto os perigos físicos das missões quanto os dilemas morais e emocionais enfrentados pelas protagonistas - especialmente quando tentam equilibrar essa vida dupla, muitas vezes com lealdade conflitantes, e onde os traumas psicológicos dessas atividades clandestinas parecem impossíveis de lidar com naturalidade. Sheridan, mais uma vez, traz uma intensidade característica à narrativa, que é envolvente e implacável. Ele constrói o roteiro da temporada com uma estrutura que alterna entre cenas de ação explosivas e momentos de desenvolvimento de personagem mais introspectivos, criando um equilíbrio que mantém a audiência imersa na trama ao mesmo tempo em que tenta se conectar com as motivações dos personagens - nesse ponto, a série, de fato, traz muito de "Homeland".
Rica em tensão e suspense, fica fácil para a direção de John Hillcoat (e equipe) encontrar um ritmo que basicamente nos impede de parar de assistir um episódio após o outro. Tudo é muito bem executado, com um estilo muito particular e uma cinematografia que captura a vastidão e o isolamento dos ambientes desérticos onde muitas das missões se desenrolam com a mesma competência com que enquadra o visual mais cosmopolita das grandes cidades onde as estratégias são desenhadas. O uso de câmeras na mão e os ângulos mais dinâmicos durante as cenas de ação aumentam a sensação de urgência e perigo, enquanto as sequências mais calmas utilizam enquadramentos fechados para explorar a vulnerabilidade emocional dos personagens - eu diria que aqui temos um thriller de ação e espionagem com alma. Nesse sentido, Zoe Saldaña entrega uma performance poderosa, liderando o elenco com uma intensidade que reflete a dureza de uma personagem cheia de marcas - repare como ela traz aquela camada de humanidade para um papel que poderia facilmente ter sido unidimensional, mostrando tanto a força quanto as dores de uma agente que é, antes de tudo, uma mulher de carne e osso.
"Lioness" sabe perfeitamente como explorar temas espinhosos como a moralidade das operações, os efeitos psicológicos da violência e o impacto das decisões de "colarinho branco" nas vidas dos indivíduos. A série questiona as linhas tênues entre bem e mal, certo e errado, muitas vezes colocando suas personagens em posições onde a escolha certa é ambígua ou até inexistente. Essa exploração adiciona profundidade à narrativa e oferece para a audiência uma experiência desconfortavelmente mais reflexiva - o prólogo do primeiro episódio é um bom exemplo desse conceito na prática. Eficaz em capturar o perigo e a incerteza do mundo da espionagem moderna, ao mesmo tempo em que oferece uma visão humana das pessoas que realizam essas missões, "Lioness" merece muitos elogios por conseguir traçar uma jornada de ação e drama de uma maneira que nos mantém engajados e reflexivos sobre os reais custos do dever e da lealdade.
Olha, entretenimento da melhor qualidade! Só dar o play!
Operação Lioness" ou simplesmente "Lioness", é uma série com muita ação e boas pitadas de drama político, que mergulha nos perigos e nas complexidades da vida de agentes secretos envolvidos em operações especiais anti-terrorismo. Criada pelo Taylor Sheridan, conhecido por seu trabalho em séries como "Yellowstone" e "Mayor of Kingstown", "Lioness" repete sua fórmula de sucesso de "Homeland", com uma narrativa intensa e focada em personagens realmente bem desenvolvidos, oferecendo uma visão cheia de adrenalina de um mundo onde a espionagem se mistura com o cotidiano para entregar episódios de tirar o fôlego!
A trama, basicamente, segue a história de Joe (Zoe Saldaña), uma agente da CIA encarregada de liderar uma unidade ultra-secreta de operações especiais conhecida como "Lioness". Essa unidade é composta por mulheres altamente treinadas, cuja missão é se infiltrar em redes terroristas de alto risco, ganhando a confiança de pessoas próximas aos alvos e com isso realizar operações suicidas que são cruciais para a segurança nacional dos Estados Unidos. Confira o trailer:
O mais interessante de "Lioness" é a forma como a série sabe explorar tanto os perigos físicos das missões quanto os dilemas morais e emocionais enfrentados pelas protagonistas - especialmente quando tentam equilibrar essa vida dupla, muitas vezes com lealdade conflitantes, e onde os traumas psicológicos dessas atividades clandestinas parecem impossíveis de lidar com naturalidade. Sheridan, mais uma vez, traz uma intensidade característica à narrativa, que é envolvente e implacável. Ele constrói o roteiro da temporada com uma estrutura que alterna entre cenas de ação explosivas e momentos de desenvolvimento de personagem mais introspectivos, criando um equilíbrio que mantém a audiência imersa na trama ao mesmo tempo em que tenta se conectar com as motivações dos personagens - nesse ponto, a série, de fato, traz muito de "Homeland".
Rica em tensão e suspense, fica fácil para a direção de John Hillcoat (e equipe) encontrar um ritmo que basicamente nos impede de parar de assistir um episódio após o outro. Tudo é muito bem executado, com um estilo muito particular e uma cinematografia que captura a vastidão e o isolamento dos ambientes desérticos onde muitas das missões se desenrolam com a mesma competência com que enquadra o visual mais cosmopolita das grandes cidades onde as estratégias são desenhadas. O uso de câmeras na mão e os ângulos mais dinâmicos durante as cenas de ação aumentam a sensação de urgência e perigo, enquanto as sequências mais calmas utilizam enquadramentos fechados para explorar a vulnerabilidade emocional dos personagens - eu diria que aqui temos um thriller de ação e espionagem com alma. Nesse sentido, Zoe Saldaña entrega uma performance poderosa, liderando o elenco com uma intensidade que reflete a dureza de uma personagem cheia de marcas - repare como ela traz aquela camada de humanidade para um papel que poderia facilmente ter sido unidimensional, mostrando tanto a força quanto as dores de uma agente que é, antes de tudo, uma mulher de carne e osso.
"Lioness" sabe perfeitamente como explorar temas espinhosos como a moralidade das operações, os efeitos psicológicos da violência e o impacto das decisões de "colarinho branco" nas vidas dos indivíduos. A série questiona as linhas tênues entre bem e mal, certo e errado, muitas vezes colocando suas personagens em posições onde a escolha certa é ambígua ou até inexistente. Essa exploração adiciona profundidade à narrativa e oferece para a audiência uma experiência desconfortavelmente mais reflexiva - o prólogo do primeiro episódio é um bom exemplo desse conceito na prática. Eficaz em capturar o perigo e a incerteza do mundo da espionagem moderna, ao mesmo tempo em que oferece uma visão humana das pessoas que realizam essas missões, "Lioness" merece muitos elogios por conseguir traçar uma jornada de ação e drama de uma maneira que nos mantém engajados e reflexivos sobre os reais custos do dever e da lealdade.
Olha, entretenimento da melhor qualidade! Só dar o play!
"Os Crimes da Nossa Mãe" é mais uma minissérie de true crime que vai revirar o seu estômago! Sim, a história é tão bizarra quanto surpreendente, mas não é um caso isolado e justamente por isso, eu sugiro que antes do play aqui, assista "Em Nome do Céu" - uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+. Digo isso pois muito do que é explicado, detalhado e discutido na minissérie de ficção (mesmo que baseado em fatos reais) servirá de base para que você realmente entenda o tamanho das atrocidades em que Lori Vallow, seu atual parceiro, Chad Daybell, e seu irmão, Alex Cox, estavam envolvidos.
A minissérie de apenas três episódios conta a história, justamente, de Lori Vallow - uma mulher vista pelos amigos e familiares como uma mãe dedicada de três filhos, uma esposa amorosa e uma pessoa bastante religiosa que fazia parte da comunidade mórmon do Texas. Tudo muda em três anos quando ela conhece Chad Daybell e ambos passam a ser considerados os principais suspeitos do desaparecimento e assassinato dos dois filhos mais novos Lori, de seu quarto marido e da mulher de Chad. Confira o trailer:
Dirigido pela Skye Borgman (a mesma de "A Garota da Foto") a minissérie se apoia em depoimentos bem impactantes e extremamente honestos, carregado de emoção, de Colby Ryan, o filho mais velho (e único sobrevivente) de Lori. Ao contar em detalhes toda história da sua família, Colby acaba funcionando como uma espécie e fio condutor da trama, humanizando a narrativa e adicionando um elemento essencial para que um true crime nos impacta tanto: incredulidade! Veja, tudo em "Os Crimes da Nossa Mãe" é apresentado para que possamos colocar uma única questão em pauta: como uma mulher aparentemente comum se tornou a mãe mais infame e odiada dos Estados Unidos?
De fato Borgman consegue nos manter grudados à trama com muita competência, mesmo que em alguns momentos use de um artifício (para mim pouco honesto) que manipula nossa percepção sobre o andamento da história: a edição. Ao montar os episódios suprimindo algumas informações ou colocando-as fora de ordem, a diretora acaba fortalecendo certas passagens que, na verdade, nem precisariam de tamanho sensacionalismo para nos impactar. A técnica funciona se olharmos pelo prisma do entretenimento, mas incomoda pela sensação de manipulação. Atrapalha nossa experiência? Só para aqueles que gostam de ir construindo o quebra-cabeça junto com a narrativa.
Ao explorar o impacto que o fundamentalismo religioso tem na vida das pessoas e como isso pode ser facilmente inserido dentro de qualquer comunidade ou cotidiano, temos a real dimensão de como o ser humano pode ser doente, cruel e perigoso em nome da palavra de Deus - esse é um viés que vem sendo muito bem explorado nesse tipo de produção, inclusive com muitas imagens de arquivo e recortes de como a mídia sempre tratou o assunto. A verdade é que o que antes parecia "coisa de ficção", hoje em dia é a "mais pura realidade"!
Nesse aspecto, "Os Crimes da Nossa Mãe" vai te deixar sem chão, ao mesmo tempo em que procura a todo momento fugir daquela estrutura mais, digamos, investigativa. Entender (ou não) o "porquê" é muito mais o foco do que essencialmente descobrir "quem" matou - mas já adianto: são tantas passagens tão insanas, vários fatos tão desconexos com a realidade, que olha, até a "confusão natural" da narrativa passa a fazer parte fundamental da nossa experiência como audiência.
Vale muito o seu play!
"Os Crimes da Nossa Mãe" é mais uma minissérie de true crime que vai revirar o seu estômago! Sim, a história é tão bizarra quanto surpreendente, mas não é um caso isolado e justamente por isso, eu sugiro que antes do play aqui, assista "Em Nome do Céu" - uma produção do FX que aqui no Brasil está disponível no Star+. Digo isso pois muito do que é explicado, detalhado e discutido na minissérie de ficção (mesmo que baseado em fatos reais) servirá de base para que você realmente entenda o tamanho das atrocidades em que Lori Vallow, seu atual parceiro, Chad Daybell, e seu irmão, Alex Cox, estavam envolvidos.
A minissérie de apenas três episódios conta a história, justamente, de Lori Vallow - uma mulher vista pelos amigos e familiares como uma mãe dedicada de três filhos, uma esposa amorosa e uma pessoa bastante religiosa que fazia parte da comunidade mórmon do Texas. Tudo muda em três anos quando ela conhece Chad Daybell e ambos passam a ser considerados os principais suspeitos do desaparecimento e assassinato dos dois filhos mais novos Lori, de seu quarto marido e da mulher de Chad. Confira o trailer:
Dirigido pela Skye Borgman (a mesma de "A Garota da Foto") a minissérie se apoia em depoimentos bem impactantes e extremamente honestos, carregado de emoção, de Colby Ryan, o filho mais velho (e único sobrevivente) de Lori. Ao contar em detalhes toda história da sua família, Colby acaba funcionando como uma espécie e fio condutor da trama, humanizando a narrativa e adicionando um elemento essencial para que um true crime nos impacta tanto: incredulidade! Veja, tudo em "Os Crimes da Nossa Mãe" é apresentado para que possamos colocar uma única questão em pauta: como uma mulher aparentemente comum se tornou a mãe mais infame e odiada dos Estados Unidos?
De fato Borgman consegue nos manter grudados à trama com muita competência, mesmo que em alguns momentos use de um artifício (para mim pouco honesto) que manipula nossa percepção sobre o andamento da história: a edição. Ao montar os episódios suprimindo algumas informações ou colocando-as fora de ordem, a diretora acaba fortalecendo certas passagens que, na verdade, nem precisariam de tamanho sensacionalismo para nos impactar. A técnica funciona se olharmos pelo prisma do entretenimento, mas incomoda pela sensação de manipulação. Atrapalha nossa experiência? Só para aqueles que gostam de ir construindo o quebra-cabeça junto com a narrativa.
Ao explorar o impacto que o fundamentalismo religioso tem na vida das pessoas e como isso pode ser facilmente inserido dentro de qualquer comunidade ou cotidiano, temos a real dimensão de como o ser humano pode ser doente, cruel e perigoso em nome da palavra de Deus - esse é um viés que vem sendo muito bem explorado nesse tipo de produção, inclusive com muitas imagens de arquivo e recortes de como a mídia sempre tratou o assunto. A verdade é que o que antes parecia "coisa de ficção", hoje em dia é a "mais pura realidade"!
Nesse aspecto, "Os Crimes da Nossa Mãe" vai te deixar sem chão, ao mesmo tempo em que procura a todo momento fugir daquela estrutura mais, digamos, investigativa. Entender (ou não) o "porquê" é muito mais o foco do que essencialmente descobrir "quem" matou - mas já adianto: são tantas passagens tão insanas, vários fatos tão desconexos com a realidade, que olha, até a "confusão natural" da narrativa passa a fazer parte fundamental da nossa experiência como audiência.
Vale muito o seu play!
"Imagina se aquela série do diretor José Padilha, "O Mecanismo" da Netflix, que retrata os bastidores da Lava-Jato e todas as ramificações até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, fosse contada de uma forma mais leve, irônica, quase satírica, sem, obviamente, esquecer que todos os fatos retratados na narrativa são, de fato, reais! Pois bem, "Os Encanadores da Casa Branca", produção da HBO, é mais ou menos isso, já que ela acompanha os detalhes da operação política mais catastrófica da história dos Estados Unidos, conhecida como o "Caso Watergate", só que dessa vez pela ótica dos próprios criminosos. Mas atenção: para uma experiência mais interessante, é preciso ter o mínimo de conhecimento sobre o caso e seus principais personagens. Se esse não é o seu caso, sugiro assistir ao filme "Todos Os Homens do Presidente" (de 1976), que oferecerá um prólogo bastante satisfatório.
A minissérie basicamente acompanha E. Howard Hunt (interpretado por Woody Harrelson) e Gordon Liddy (interpretado por Justin Theroux), dois espiões veteranos, um da CIA e outro do FBI, que passaram a trabalhar no comitê de reeleição do então presidente Richard Nixon e que foram as mentes por trás do escândalo Watergate que derrubou acidentalmente o político que estavam tentando proteger. Confira o trailer:
Em 2007, Egil Krogh, advogado da administração de Richard Nixon que foi condenado à prisão por seu envolvimento no caso Watergate, escreveu um livro sobre o assunto com a ajuda de seu filho Matthew, que foi inicialmente batizado de "Integridade", mas que depois ganhou uma edição com o nome de "Os Encanadores da Casa Branca"- foi esse livro que serviu de base para a minissérie da HBO. Para quem não sabe, o caso Watergate foi um escândalo político que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1970, quando cinco homens foram presos por tentarem invadir o escritório do Partido Democrata, no complexo Watergate. As investigações revelaram que a invasão estava ligada a uma série de atividades ilegais realizadas pelo comitê de reeleição do Presidente Nixon, que buscava obter vantagens políticas e assim vencer nas urnas. O caso envolveu suborno, obstrução da justiça e abuso de poder, levando à renúncia do presidente em 1974.
Aqui, os criadores Alex Gregory e Peter Huyck, ambos produtores de "Veep", se unem mais uma vez ao diretor David Mandel para construir uma atmosfera envolvente que mistura o melhor do drama político com o tragicômico da idolatria política - repare como, em tempos de total polarização, o assunto é até mais atemporal do que podemos imaginar e estupidamente repetitivo ao longo das décadas, no mundo inteiro. A obsessão que seus protagonistas nutrem por Nixon soa bizarra, mas é inegável como o roteiro expande essas camadas de forma fluida e inteligente para criar um paralelo consistente entre corrupção, desvio de caráter e, claro, as consequências catastróficas que uma servidão cega pode trazer como efeito colateral.
Com um verdadeiro show de Harrelson (sempre ele) e Theroux, "White House Plumbers" (no original) brilha - mesmo carregando o peso de abordar a maior quantidade de fatos possíveis, muitos deles inacreditáveis, ao longo de uma linha temporal curta que a narrativa escolheu para contextualizar o Watergate. Veja, o apego à realidade é tão grande que, cinematograficamente, soa excessivo. Dito isso, fica fácil afirmar que a minissérie não é uma jornada das mais fáceis; no entanto, com o mínimo de conhecimento do caso, ela é um mergulho na história democrática americana com muito entretenimento e de uma forma muito original.
Vale muito a pena assistir!"
"Imagina se aquela série do diretor José Padilha, "O Mecanismo" da Netflix, que retrata os bastidores da Lava-Jato e todas as ramificações até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, fosse contada de uma forma mais leve, irônica, quase satírica, sem, obviamente, esquecer que todos os fatos retratados na narrativa são, de fato, reais! Pois bem, "Os Encanadores da Casa Branca", produção da HBO, é mais ou menos isso, já que ela acompanha os detalhes da operação política mais catastrófica da história dos Estados Unidos, conhecida como o "Caso Watergate", só que dessa vez pela ótica dos próprios criminosos. Mas atenção: para uma experiência mais interessante, é preciso ter o mínimo de conhecimento sobre o caso e seus principais personagens. Se esse não é o seu caso, sugiro assistir ao filme "Todos Os Homens do Presidente" (de 1976), que oferecerá um prólogo bastante satisfatório.
A minissérie basicamente acompanha E. Howard Hunt (interpretado por Woody Harrelson) e Gordon Liddy (interpretado por Justin Theroux), dois espiões veteranos, um da CIA e outro do FBI, que passaram a trabalhar no comitê de reeleição do então presidente Richard Nixon e que foram as mentes por trás do escândalo Watergate que derrubou acidentalmente o político que estavam tentando proteger. Confira o trailer:
Em 2007, Egil Krogh, advogado da administração de Richard Nixon que foi condenado à prisão por seu envolvimento no caso Watergate, escreveu um livro sobre o assunto com a ajuda de seu filho Matthew, que foi inicialmente batizado de "Integridade", mas que depois ganhou uma edição com o nome de "Os Encanadores da Casa Branca"- foi esse livro que serviu de base para a minissérie da HBO. Para quem não sabe, o caso Watergate foi um escândalo político que ocorreu nos Estados Unidos na década de 1970, quando cinco homens foram presos por tentarem invadir o escritório do Partido Democrata, no complexo Watergate. As investigações revelaram que a invasão estava ligada a uma série de atividades ilegais realizadas pelo comitê de reeleição do Presidente Nixon, que buscava obter vantagens políticas e assim vencer nas urnas. O caso envolveu suborno, obstrução da justiça e abuso de poder, levando à renúncia do presidente em 1974.
Aqui, os criadores Alex Gregory e Peter Huyck, ambos produtores de "Veep", se unem mais uma vez ao diretor David Mandel para construir uma atmosfera envolvente que mistura o melhor do drama político com o tragicômico da idolatria política - repare como, em tempos de total polarização, o assunto é até mais atemporal do que podemos imaginar e estupidamente repetitivo ao longo das décadas, no mundo inteiro. A obsessão que seus protagonistas nutrem por Nixon soa bizarra, mas é inegável como o roteiro expande essas camadas de forma fluida e inteligente para criar um paralelo consistente entre corrupção, desvio de caráter e, claro, as consequências catastróficas que uma servidão cega pode trazer como efeito colateral.
Com um verdadeiro show de Harrelson (sempre ele) e Theroux, "White House Plumbers" (no original) brilha - mesmo carregando o peso de abordar a maior quantidade de fatos possíveis, muitos deles inacreditáveis, ao longo de uma linha temporal curta que a narrativa escolheu para contextualizar o Watergate. Veja, o apego à realidade é tão grande que, cinematograficamente, soa excessivo. Dito isso, fica fácil afirmar que a minissérie não é uma jornada das mais fáceis; no entanto, com o mínimo de conhecimento do caso, ela é um mergulho na história democrática americana com muito entretenimento e de uma forma muito original.
Vale muito a pena assistir!"
A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!
"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):
Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropsey) vai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.
"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).
Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.
Vale o play!
A obsessão do jornalismo investigativo em busca da resolução de um crime (ou de vários que estejam conectados) que a policia não foi capaz de fazer, vem se transformando em uma linha narrativa cada vez mais presente em minisséries de "true crime". De fato essa escolha conceitual não se trata de uma novidade, mas com os recursos usados para contar essas histórias, temos e exata sensação de uma proximidade cada vez mais evidente com a ficção - proporcionando assim, uma imersão imediata na jornada de um protagonista onipresente que, normalmente, funciona como narrador e que se relaciona com os fatos de uma forma muito visceral. Em "Os Filhos de Sam" essa função ficou com Paul Giamatti (Billions), onde sua capacidade como grande ator que é, foi essencial para apresentar uma das investigações mais impressionantes e surpreendentes que já assistimos até aqui - e olha, se fosse um podcast o impacto seria bem próximo!
"Os Filhos de Sam" conta a história de um dos assassinos em série mais conhecidos dos Estados Unidos, David Berkowitz. O foco, porém, acaba se transformando durante os 4 episódios da minissérie - se no início eram os brutais assassinatos que ocorriam na região de Nova York, aparentemente sem motivo algum e tendo apenas uma arma de calibre 44 como ponto de ligação entre os crimes, logo depois passamos acompanhar a repercussão da prisão e do julgamento de Berkowitz até que o personagem de Maury Terry, um jornalista investigativo, vai ganhando cada vez mais protagonismo por sempre defender a tese de que David Berkowitz não teria sido capaz de agir sozinho por razões bastante obscuras. Confira o trailer (em inglês):
Como no excelente "Eu Terei Sumido na Escuridão" da HBO, "Os Filhos de Sam" humaniza a busca pela "verdade", levando a investigação de Maury Terry às últimas consequências e é com esse propósito que o diretor Joshua Zeman (Cropsey) vai construindo sua narrativa: ele usa de um enorme arsenal de imagens de arquivo, vídeos de noticiários da época e entrevistas com vários personagens que, de alguma forma, estiveram envolvidos com o caso e, principalmente, com Terry. Usar todo esse material parailustrar e analisar o caso sob a ótica mais complexa do jornalista, ajuda quem assiste a entender com muita facilidade como muitas de suas teorias faziam, de fato, mesmo sentido, mesmo sendo completamente ignoradas pela policia de NY por questões políticas e de egocentrismo, porém é inegável a maneira como ele vai se perdendo no meio de sua própria obsessão - como se Terry preferisse provar sua tese em vez de encontrar a verdade.
"Os Filhos de Sam" tem material para ser uma minissérie (ou série) de ficção incrível, principalmente se também usarmos os crimes de David Berkowitz apenas como ponto de partida. Ao dar espaço aos contrapontos entre a tese de Terry e a da policia, é aberto um leque enorme de ramificações que vai da cientologia até Charles Manson ou o assassinato de Sharon Tate (brilhantemente recontada em "Era uma vez em… Hollywood" do Tarantino).
Pois bem, essa produção da Netflix acerta ao equilibrar perfeitamente a estrutura narrativa com o conceito visual do diretor com uma montagem muito bem realizada, com um roteiro bem amarrado e de fácil compreensão - mesmo com a clara intenção de defender a investigação paralela feita pelo jornalista Maury Terry e que durou anos, mas que até hoje não mudou a ordem dos acontecimentos e nem comprovada pelas autoridades americanas.
Vale o play!
Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.
A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.
Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.
"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!
Você não vai precisar de muitos minutos para ter a exata sensação que conhece a história de "Os Segredos que Guardamos" - de fato sua premissa não é nada original, porém o filme é muito bem realizado e soube captar muito bem as referências de outras obras para construir uma narrativa envolvente, misteriosa e bastante coerente com sua proposta. Saiba que não se trata de um filme inesquecível, mas um ótimo entretenimento para aqueles que gostam de um drama pesado com toques de suspense psicológico.
A história se passa nos Estados Unidos pós-Segunda Guerra Mundial. Nela, somos apresentados para uma mulher, Maja (Noomi Rapace) que está reconstruindo sua vida nos subúrbios com seu marido Lewis (Chris Messina) e com o filho Patrick (Jackson Dean Vincent), até que depois de um surto, ela sequestra seu vizinho Tomas (Joel Kinnaman) em busca vingança pelos crimes de guerra hediondos que ela acredita que ele cometeu. Confira o trailer (em inglês):
Dirigido pelo Yuval Adler (da série "O Atirador"), o filme é uma mistura de "The Sinner" com "O Caso Colini" - apenas para citar duas referências fáceis de lembrar. Embora "Os Segredos que Guardamos" não se aprofunde nos efeitos catastróficos causados pelo Nazismo e pelos traumas mais pessoais de quem sobreviveu à Segunda Guerra, é inegável que a trama entrega um bom thriller, bem arquitetado para nos deixar em dúvida sobre a real participação de Tomas nas crueldades que marcaram tanto a vida de Maja. É de se imaginar, por exemplo, essa mesma premissa na mão de um roteirista mais experiente que o estreante Ryan Covington e de um diretor mais provocador que Adler - obviamente que é nítida essa limitação dos realizadores, mas mesmo assim o resultado é bem interessante.
Alguns pontos merecem ser destacados: Adler soube planejar os momentos de tensão que a história pedia e até acentuá-los com uma música que foi capaz de ditar o ritmo da respiração dos personagens e com isso impactar na nossa experiência - isso funciona. Outro acerto está em incluir a esposa de Tomas no drama, com isso o roteiro ampliou nossa percepção sobre as atitudes dos personagens, nos convidando a muitos julgamentos - isso também funciona. O final também é muito corajoso e fecha bem o arco - mesmo o elenco não sendo o ideal para o potencial dramático do momento, mas isso não prejudica o epílogo.
"Os Segredos que Guardamos" entrega o que promete e nos envolve de verdade. Em nenhum momento rouba no jogo e trabalha muito bem a dualidade de Tomas perante as dúvidas de Lewis e Maja. A dinâmica é eficaz - nem sentimos o filme passar e isso é um ótimo sinal; mas é preciso dizer que o filme deixa uma sensação de que poderia ter sido muito melhor. Vale a pena? Vale muito, mas não será daquele tipo que vai explodir a sua cabeça quando subirem os créditos!
Um filme realmente angustiante! "Os Suspeitos" é daqueles imperdíveis que nem acreditamos que tenha passado por nós sem darmos o play! O filme é um verdadeiro thriller psicológico, muito bem escrito pelo Aaron Guzikowski (de "Raised by Wolves") e brilhantemente dirigido pelo grande Denis Villeneuve (de "A Chegada" e "Duna") - saiba que na época de seu lançamento, chegou a ser comparado com clássicos de peso como "Seven: Os Sete Crimes Capitais" e "O Silêncio dos Inocentes". E de fato a comparação não é exagerada pela perspectiva do conceito narrativo, já que a trama é extremamente tensa e igualmente envolvente, daquelas que te deixa na dúvida até um surpreendente (e visceral) final.
A história gira em torno de Keller Dover (Hugh Jackman) um carpinteiro de Boston que leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e dos filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Certo dia, a família visita a casa de Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), seus grandes amigos, e sem que eles percebam, a pequena Anna e Joy (Kyla Drew Simmons), filha dos Birch, desaparecem. Desesperadas, as famílias apelam para a polícia e logo o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal). Não demora muito para que ele prenda Alex (Paul Dano), um suposto pedófilo que fica apenas 48 horas preso devido à ausência de provas. Entretanto, Keller está convicto de que ele é o culpado e resolve sequestra-lo para arrancar a verdade, custe o que custar. Confira o trailer:
"Os Suspeitos" foi o primeiro trabalho nos Estados Unidos do canadense Denis Villeneuve que vinha do sucesso (merecido) de seu "Incêndios". O que impressionou toda comunidade artística de Hollywood foi o fato do diretor entregar um thriller (produto tão evocativo dos grandes suspenses da época) com a mesma qualidade autoral como se tivesse comandando mais um drama independente - como seu filme anterior. De fato, "Prisoners" (no original) sabe como explorar toda uma atmosfera opressora, característica marcante de como o gênero era representado em seus anos de glória, porém Villeneuve foi muito feliz ao entender que existiam camadas profundas em seus personagens e com isso ganhou lastro para ir além e assim explorar os limites da razão de uma maneira humanizada (e talvez por isso, cruel).
A performance dos atores é um dos pontos fortes do filme - característica que Villeneuve carrega até hoje. Hugh Jackman está impecável como o pai desesperado que fará de tudo para encontrar sua filha, enquanto Jake Gyllenhaal entrega uma atuação complexa e intrigante como o detetive que busca a verdade. Agora, quem brilha e mostra o potencial como um dos melhores de sua geração é Paul Dano - ele está irretocável ao ponto da Academia ter sido critica por uma não indicação ao Oscar de Coadjuvante em 2014. Indicação que veio para Roger Deakins, diretor de fotografia, que cria uma sensação de claustrofobia impressionante ao mesmo tempo que desnuda os sentimentos dos personagens com planos fechados belíssimos.
"Quem está dizendo a verdade?"- essa é dúvida que nos acompanha por duas horas e meia de filme - que além de uma trama investigativa e misteriosa, nos envolve com temas como culpa, vingança e falta de empatia . Eu diria até que "Os Suspeitos" funciona até mais pela sensibilidade como expõe a fragilidade da mente humana em relações de alta pressão e cobrança do que como um drama investigativo. Sim, estamos falando de um filme perturbador e inesquecível que te deixa pensando por muito tempo depois dos créditos. Não é uma jornada fácil, confortável, mas te granato: vale muito a pena!
Um filme realmente angustiante! "Os Suspeitos" é daqueles imperdíveis que nem acreditamos que tenha passado por nós sem darmos o play! O filme é um verdadeiro thriller psicológico, muito bem escrito pelo Aaron Guzikowski (de "Raised by Wolves") e brilhantemente dirigido pelo grande Denis Villeneuve (de "A Chegada" e "Duna") - saiba que na época de seu lançamento, chegou a ser comparado com clássicos de peso como "Seven: Os Sete Crimes Capitais" e "O Silêncio dos Inocentes". E de fato a comparação não é exagerada pela perspectiva do conceito narrativo, já que a trama é extremamente tensa e igualmente envolvente, daquelas que te deixa na dúvida até um surpreendente (e visceral) final.
A história gira em torno de Keller Dover (Hugh Jackman) um carpinteiro de Boston que leva uma vida feliz ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e dos filhos Ralph (Dylan Minnette) e Anna (Erin Gerasimovich). Certo dia, a família visita a casa de Franklin (Terrence Howard) e Nancy Birch (Viola Davis), seus grandes amigos, e sem que eles percebam, a pequena Anna e Joy (Kyla Drew Simmons), filha dos Birch, desaparecem. Desesperadas, as famílias apelam para a polícia e logo o caso cai nas mãos do detetive Loki (Jake Gyllenhaal). Não demora muito para que ele prenda Alex (Paul Dano), um suposto pedófilo que fica apenas 48 horas preso devido à ausência de provas. Entretanto, Keller está convicto de que ele é o culpado e resolve sequestra-lo para arrancar a verdade, custe o que custar. Confira o trailer:
"Os Suspeitos" foi o primeiro trabalho nos Estados Unidos do canadense Denis Villeneuve que vinha do sucesso (merecido) de seu "Incêndios". O que impressionou toda comunidade artística de Hollywood foi o fato do diretor entregar um thriller (produto tão evocativo dos grandes suspenses da época) com a mesma qualidade autoral como se tivesse comandando mais um drama independente - como seu filme anterior. De fato, "Prisoners" (no original) sabe como explorar toda uma atmosfera opressora, característica marcante de como o gênero era representado em seus anos de glória, porém Villeneuve foi muito feliz ao entender que existiam camadas profundas em seus personagens e com isso ganhou lastro para ir além e assim explorar os limites da razão de uma maneira humanizada (e talvez por isso, cruel).
A performance dos atores é um dos pontos fortes do filme - característica que Villeneuve carrega até hoje. Hugh Jackman está impecável como o pai desesperado que fará de tudo para encontrar sua filha, enquanto Jake Gyllenhaal entrega uma atuação complexa e intrigante como o detetive que busca a verdade. Agora, quem brilha e mostra o potencial como um dos melhores de sua geração é Paul Dano - ele está irretocável ao ponto da Academia ter sido critica por uma não indicação ao Oscar de Coadjuvante em 2014. Indicação que veio para Roger Deakins, diretor de fotografia, que cria uma sensação de claustrofobia impressionante ao mesmo tempo que desnuda os sentimentos dos personagens com planos fechados belíssimos.
"Quem está dizendo a verdade?"- essa é dúvida que nos acompanha por duas horas e meia de filme - que além de uma trama investigativa e misteriosa, nos envolve com temas como culpa, vingança e falta de empatia . Eu diria até que "Os Suspeitos" funciona até mais pela sensibilidade como expõe a fragilidade da mente humana em relações de alta pressão e cobrança do que como um drama investigativo. Sim, estamos falando de um filme perturbador e inesquecível que te deixa pensando por muito tempo depois dos créditos. Não é uma jornada fácil, confortável, mas te granato: vale muito a pena!