Essa recomendação é para você que gosta de um bom "MasterChef"! "24 em 24: O Último Chef de Pé" é um reality de competição culinária que traz uma proposta realmente inovadora e intensa ao gênero, desafiando chefs talentosos a sobreviverem em um verdadeiro teste de resistência e habilidade. Lançado em 2024, essa super-produção se destaca pela originalidade e pela pressão constante que esse formato coloca sobre os competidores, exigindo não apenas criatividade e técnica culinária, mas também resiliência física e mental.
O conceito central de "24 in 24: Last Chef Standing" (no original) gira em torno de uma competição de 24 horas ininterruptas, onde 24 chefs são desafiados a criar pratos excepcionais sob uma pressão extrema de tempo e resistência. A cada novo desafio lançado, os competidores devem adaptar suas habilidades a diferentes temas e ingredientes surpresa, tudo enquanto lidam com o cansaço crescente e a necessidade de manter o mais alto nível de concentração. Ao final de cada rodada, um chef é eliminado, até que apenas um "Último Chef de Pé" seja coroado como vencedor. Confira o trailer (em inglês):
A estrutura de "24 em 24" é muito interessante e sua dinâmica narrativa, de fato, é muito envolvente. Com um estilo mais "The Final Table", a competição é desenhada para maximizar o drama e a tensão e não necessariamente o potencial gastronômico das criações dos chefs. Com câmeras capturando cada momento de estresse perante os desafios na cozinha, é com o formato de eliminação contínua que percebemos o quanto engajados ficamos como audiência. Embora as reviravoltas inesperadas e as decisões difíceis que testam não apenas as habilidades dos participantes, mas também sua capacidade de suportar a pressão psicológica, sejam diferenciais; eu diria que um dos pontos mais fortes do reality é a variedade e a criatividade dos desafios propostos - cada rodada força os chefs a pensar rapidamente e a adaptar suas técnicas em situações completamente imprevistas. O fator surpresa é realmente um golaço do formato.
A qualidade da produção impressiona - eu destaco a grandiosidade do cenário que certamente intensifica o sentido de urgência daquele ambiente de competição. Tanto a iluminação quanto os ângulos de câmera enfatizam o ritmo frenético da cozinha e a luta dos chefs para vencer uma competição inusitada e longe do óbvio. Os apresentadores, Michael Symon e Esther Choi já são verdadeiras celebridades da TV. Junto com jurados convidados, compostos por chefs renomados e críticos gastronômicos, trazem credibilidade e uma avaliação rigorosa a cada desafio. Suas críticas e elogios são precisos e muitas vezes brutais, o que adiciona uma camada extra de angústia para os competidores. Além disso, a interação entre os jurados e os participantes oferece momentos de aprendizado para o público, com dicas e insights sobre técnicas culinárias que merecem sua atenção.
Como não poderia deixar de ser, "24 em 24: O Último Chef de Pé" também faz um excelente trabalho em humanizar os competidores, explorando suas histórias pessoais, motivações e os sacrifícios que fazem em nome da competição - mas sem ser sentimentalista demais. Obviamente que isso cria uma conexão emocional com a audiência - é isso que nos faz torcer não apenas pelo talento, mas também pela determinação e pela história de vida dos chefs. Mesmo que a pressão extrema possa levar a momentos de tensão que beiram o desconfortável, com o estresse dos participantes transparecendo de maneira que pode não ser tão agradável, vejo no formato uma experiência realmente envolvente para quem gosta da culinária e da competição como entretenimento despretensioso.
Vale muito o seu play.
Essa recomendação é para você que gosta de um bom "MasterChef"! "24 em 24: O Último Chef de Pé" é um reality de competição culinária que traz uma proposta realmente inovadora e intensa ao gênero, desafiando chefs talentosos a sobreviverem em um verdadeiro teste de resistência e habilidade. Lançado em 2024, essa super-produção se destaca pela originalidade e pela pressão constante que esse formato coloca sobre os competidores, exigindo não apenas criatividade e técnica culinária, mas também resiliência física e mental.
O conceito central de "24 in 24: Last Chef Standing" (no original) gira em torno de uma competição de 24 horas ininterruptas, onde 24 chefs são desafiados a criar pratos excepcionais sob uma pressão extrema de tempo e resistência. A cada novo desafio lançado, os competidores devem adaptar suas habilidades a diferentes temas e ingredientes surpresa, tudo enquanto lidam com o cansaço crescente e a necessidade de manter o mais alto nível de concentração. Ao final de cada rodada, um chef é eliminado, até que apenas um "Último Chef de Pé" seja coroado como vencedor. Confira o trailer (em inglês):
A estrutura de "24 em 24" é muito interessante e sua dinâmica narrativa, de fato, é muito envolvente. Com um estilo mais "The Final Table", a competição é desenhada para maximizar o drama e a tensão e não necessariamente o potencial gastronômico das criações dos chefs. Com câmeras capturando cada momento de estresse perante os desafios na cozinha, é com o formato de eliminação contínua que percebemos o quanto engajados ficamos como audiência. Embora as reviravoltas inesperadas e as decisões difíceis que testam não apenas as habilidades dos participantes, mas também sua capacidade de suportar a pressão psicológica, sejam diferenciais; eu diria que um dos pontos mais fortes do reality é a variedade e a criatividade dos desafios propostos - cada rodada força os chefs a pensar rapidamente e a adaptar suas técnicas em situações completamente imprevistas. O fator surpresa é realmente um golaço do formato.
A qualidade da produção impressiona - eu destaco a grandiosidade do cenário que certamente intensifica o sentido de urgência daquele ambiente de competição. Tanto a iluminação quanto os ângulos de câmera enfatizam o ritmo frenético da cozinha e a luta dos chefs para vencer uma competição inusitada e longe do óbvio. Os apresentadores, Michael Symon e Esther Choi já são verdadeiras celebridades da TV. Junto com jurados convidados, compostos por chefs renomados e críticos gastronômicos, trazem credibilidade e uma avaliação rigorosa a cada desafio. Suas críticas e elogios são precisos e muitas vezes brutais, o que adiciona uma camada extra de angústia para os competidores. Além disso, a interação entre os jurados e os participantes oferece momentos de aprendizado para o público, com dicas e insights sobre técnicas culinárias que merecem sua atenção.
Como não poderia deixar de ser, "24 em 24: O Último Chef de Pé" também faz um excelente trabalho em humanizar os competidores, explorando suas histórias pessoais, motivações e os sacrifícios que fazem em nome da competição - mas sem ser sentimentalista demais. Obviamente que isso cria uma conexão emocional com a audiência - é isso que nos faz torcer não apenas pelo talento, mas também pela determinação e pela história de vida dos chefs. Mesmo que a pressão extrema possa levar a momentos de tensão que beiram o desconfortável, com o estresse dos participantes transparecendo de maneira que pode não ser tão agradável, vejo no formato uma experiência realmente envolvente para quem gosta da culinária e da competição como entretenimento despretensioso.
Vale muito o seu play.
Finalmente "7 Dias em Entebbe", novo filme do brasileiro José Padilha que estreou em Berlin, está disponível no streaming! Antes de mais nada é preciso dizer que o filme foi muito criticado pelo fato do Padilha ter "humanizado" os terroristas e ter focado em relações pouco usuais quando o assunto é o sequestro de um avião cheio de civis que serviriam de moeda de troca para presos políticos. Sinceramente isso não interferiu em absolutamente nada na minha experiência ao assistir o filme - talvez até pelo fato de eu não conhecer muito da história e muito menos estar inserido nesse tipo de discussão.
Em julho de 1976, um voo da Air France que partiu de Tel-Aviv à Paris é sequestrado e forçado a pousar em Entebbe, na Uganda. Os passageiros judeus são mantidos reféns para que seja negociada a liberação dos terroristas e anarquistas palestinos presos em Israel, na Alemanha e na Suécia. Sob pressão, o governo israelita decide organizar uma operação de resgate, atacar o campo de pouso e soltar os reféns. Confira o trailer:
Independente do tipo de abordagem, o que me interessou foi o filme em si e nisso ele é irretocável. Tecnicamente perfeito! A fotografia do Lula Carvalho está linda, com planos muito bem construídos e um movimento de câmera que me agrada muito, equilibrando muito bem o estilo de direção do Padilha com o que a história pedia em cada cena. Aliás, o Padilha vai muito bem (óbvio) e mesmo trazendo uma ou outra referência dos seus antigos trabalhos, não se apoia em muletas que já foram motivo de muitas criticas recentes como aquele voice over de "Narcos" e do "Mecanismo", por exemplo - embora eu nunca tenha achado que era "mais do mesmo" e sim o estilo que ele gosta de imprimir como conceito narrativo e ponto final - escolha puramente pessoal do Diretor!
Eu realmente gostei do filme, trouxe uma sensação muito parecida de quando assisti "Argo", e a construção do roteiro proposta pelo Gregory Burke(de "71: Esquecido em Belfast") fazendo sempre um contraponto com os ensaios de uma companhia de ballet trouxe uma certa poesia para o filme, encaixou muito bem como alivio dramático e fez do trabalho do desenho de som, da mixagem e da trilha sonora um dos pontos mais interessantes do filme! Reparem como tudo se encaixa perfeitamente e nos convidam a refletir sobre tudo o que está acontecendo em Uganda!
Olha, é um filme com a marca do Padilha e ainda bem! Na minha opinião, um dos melhores de 2018!
Finalmente "7 Dias em Entebbe", novo filme do brasileiro José Padilha que estreou em Berlin, está disponível no streaming! Antes de mais nada é preciso dizer que o filme foi muito criticado pelo fato do Padilha ter "humanizado" os terroristas e ter focado em relações pouco usuais quando o assunto é o sequestro de um avião cheio de civis que serviriam de moeda de troca para presos políticos. Sinceramente isso não interferiu em absolutamente nada na minha experiência ao assistir o filme - talvez até pelo fato de eu não conhecer muito da história e muito menos estar inserido nesse tipo de discussão.
Em julho de 1976, um voo da Air France que partiu de Tel-Aviv à Paris é sequestrado e forçado a pousar em Entebbe, na Uganda. Os passageiros judeus são mantidos reféns para que seja negociada a liberação dos terroristas e anarquistas palestinos presos em Israel, na Alemanha e na Suécia. Sob pressão, o governo israelita decide organizar uma operação de resgate, atacar o campo de pouso e soltar os reféns. Confira o trailer:
Independente do tipo de abordagem, o que me interessou foi o filme em si e nisso ele é irretocável. Tecnicamente perfeito! A fotografia do Lula Carvalho está linda, com planos muito bem construídos e um movimento de câmera que me agrada muito, equilibrando muito bem o estilo de direção do Padilha com o que a história pedia em cada cena. Aliás, o Padilha vai muito bem (óbvio) e mesmo trazendo uma ou outra referência dos seus antigos trabalhos, não se apoia em muletas que já foram motivo de muitas criticas recentes como aquele voice over de "Narcos" e do "Mecanismo", por exemplo - embora eu nunca tenha achado que era "mais do mesmo" e sim o estilo que ele gosta de imprimir como conceito narrativo e ponto final - escolha puramente pessoal do Diretor!
Eu realmente gostei do filme, trouxe uma sensação muito parecida de quando assisti "Argo", e a construção do roteiro proposta pelo Gregory Burke(de "71: Esquecido em Belfast") fazendo sempre um contraponto com os ensaios de uma companhia de ballet trouxe uma certa poesia para o filme, encaixou muito bem como alivio dramático e fez do trabalho do desenho de som, da mixagem e da trilha sonora um dos pontos mais interessantes do filme! Reparem como tudo se encaixa perfeitamente e nos convidam a refletir sobre tudo o que está acontecendo em Uganda!
Olha, é um filme com a marca do Padilha e ainda bem! Na minha opinião, um dos melhores de 2018!
"A Cobra do Alabama" é mais um ótimo documentário da HBO que mistura depoimentos reais de quem, de alguma forma, esteve envolvido com o caso em 1991, com dramatizações de muito bom gosto, bem na linha True Crime que o Estúdio se especializou, mas sem necessariamente aquela obrigação de nos surpreender (o que pode ser um pouco frustrante, admito) - mas o fato é que a história por si só é tão bizarra que a sensação de que "nada mais é possível nos pegar de surpresa" nos acompanha durante toda a jornada, praticamente nos obrigando a ficar com os olhos grudados na tela até seu final.
"Alabama Snake" (no original) explora o supreedente caso que aconteceu em 4 de outubro de 1991, quando um crime violento foi relatado na pacata cidade de Scottsboro, Alabama. Glenn Summerford, um conhecido ministro pentecostal da comunidade, foi acusado de tentar assassinar sua esposa com uma cascavel - isso mesmo, com uma cobra! Confira o trailer (em inglês):
"A Cobra do Alabama" faz parte de um projeto especial da HBO onde cinco diretores diferentes produziram cinco documentários, definidos como fascinantes, sobre crimes reais, onde as histórias iam além das manchetes sensacionalistas dos casos, ou seja, a ideia era que os roteiros explorassem o componente humano e com isso tentassem equilibrar todos os aspectos dos crimes, mergulhando no universo íntimo dos criminosos, das vítimas e, eventualmente, dos sobreviventes - foi dessa antologia, aliás, que saiu o projeto do ganhador do Oscar, Alex Gibney (por "Taxi to the Dark Side" em 2007), chamado "Louco Não, Doido".
Aqui, Theo Love (do instigante "GameStop Contra Wall Street") se apropria de uma narrativa que tem como conceito não respeitar a linha temporal, ou seja, ele está sempre misturando o passado e o presente com o claro intuito de ir revelando os detalhes da investigação, as particularidades do caso e os perfis dos envolvidos, aos poucos, sem a preocupação de ir conectando as pontas, mas sim de lançar pistas para que ao longo dos 90 minutos de filme, a audiência construa sua própria tese. A excelente produção inclui entrevistas com pessoas que conheciam bem Summerford e que falam do seu histórico violento e sua redenção espiritual. Entre elas estão a própria Darlene Summerford que sobreviveu aos ataques; Marty, o filho do casal, e Doris, ex-mulher de Glenn - todos ajudam a construir o complexo cenário que levaria à aterrorizante e suposta tentativa de homicídio.
Aliás, uma figura importante no documentário é o historiador Dr. Thomas G. Burton, especialista em cultura, crenças e folclore das igrejas pentecostais - é ele que revela as praticas do curioso rito de adestramento de serpentes, por onde Deus julgaria o pecador através da picada do animal (oi?). Sim, eu sei que é insano, mas posso te garantir que esse é só um dos absurdos dessa história maluca. Se não excepcional, as entrevistas de Burton com Summerford fazem parte de um extenso material em vídeo e áudio que ajudaram a dar um aspecto bastante palpável ao tom mais misterioso de "A Cobra do Alabama" que foi brilhantemente editado pelo talentoso Andy McAllister - cineasta indicado ao SXSW Grand Jury Award pelo seu curta documental "The Pioneertown Palace".
Vale seu play!
"A Cobra do Alabama" é mais um ótimo documentário da HBO que mistura depoimentos reais de quem, de alguma forma, esteve envolvido com o caso em 1991, com dramatizações de muito bom gosto, bem na linha True Crime que o Estúdio se especializou, mas sem necessariamente aquela obrigação de nos surpreender (o que pode ser um pouco frustrante, admito) - mas o fato é que a história por si só é tão bizarra que a sensação de que "nada mais é possível nos pegar de surpresa" nos acompanha durante toda a jornada, praticamente nos obrigando a ficar com os olhos grudados na tela até seu final.
"Alabama Snake" (no original) explora o supreedente caso que aconteceu em 4 de outubro de 1991, quando um crime violento foi relatado na pacata cidade de Scottsboro, Alabama. Glenn Summerford, um conhecido ministro pentecostal da comunidade, foi acusado de tentar assassinar sua esposa com uma cascavel - isso mesmo, com uma cobra! Confira o trailer (em inglês):
"A Cobra do Alabama" faz parte de um projeto especial da HBO onde cinco diretores diferentes produziram cinco documentários, definidos como fascinantes, sobre crimes reais, onde as histórias iam além das manchetes sensacionalistas dos casos, ou seja, a ideia era que os roteiros explorassem o componente humano e com isso tentassem equilibrar todos os aspectos dos crimes, mergulhando no universo íntimo dos criminosos, das vítimas e, eventualmente, dos sobreviventes - foi dessa antologia, aliás, que saiu o projeto do ganhador do Oscar, Alex Gibney (por "Taxi to the Dark Side" em 2007), chamado "Louco Não, Doido".
Aqui, Theo Love (do instigante "GameStop Contra Wall Street") se apropria de uma narrativa que tem como conceito não respeitar a linha temporal, ou seja, ele está sempre misturando o passado e o presente com o claro intuito de ir revelando os detalhes da investigação, as particularidades do caso e os perfis dos envolvidos, aos poucos, sem a preocupação de ir conectando as pontas, mas sim de lançar pistas para que ao longo dos 90 minutos de filme, a audiência construa sua própria tese. A excelente produção inclui entrevistas com pessoas que conheciam bem Summerford e que falam do seu histórico violento e sua redenção espiritual. Entre elas estão a própria Darlene Summerford que sobreviveu aos ataques; Marty, o filho do casal, e Doris, ex-mulher de Glenn - todos ajudam a construir o complexo cenário que levaria à aterrorizante e suposta tentativa de homicídio.
Aliás, uma figura importante no documentário é o historiador Dr. Thomas G. Burton, especialista em cultura, crenças e folclore das igrejas pentecostais - é ele que revela as praticas do curioso rito de adestramento de serpentes, por onde Deus julgaria o pecador através da picada do animal (oi?). Sim, eu sei que é insano, mas posso te garantir que esse é só um dos absurdos dessa história maluca. Se não excepcional, as entrevistas de Burton com Summerford fazem parte de um extenso material em vídeo e áudio que ajudaram a dar um aspecto bastante palpável ao tom mais misterioso de "A Cobra do Alabama" que foi brilhantemente editado pelo talentoso Andy McAllister - cineasta indicado ao SXSW Grand Jury Award pelo seu curta documental "The Pioneertown Palace".
Vale seu play!
Quando assisti a minissérie documental da Netflix "The Staircase" em 2018 o subgênero de "true crime" ainda estava se estabelecendo em um mercado de streaming que ainda engatinhava. A Netflix surfava no grande sucesso de "Making a Murderer" e a HBO no surpreendente final de "The Jinx", porém existia um grande diferencial nessa nova narrativa: 80% dos episódios focavam no julgamento e nas estratégias de defesa de Michael Peterson, escritor americano suspeito de assassinar sua mulher Kathleen. A história, naquele momento já era incrível, porém quatro anos depois a HBO lança uma visão, em formato de ficção, um pouco mais intima sobre o caso, ampliando nossa percepção sobre os personagens envolvidos e nos trazendo informações que o documentário não teve como explorar - e te garanto: funciona demais!
"A Escada" acompanha Michael Peterson (Colin Firth), um famoso escritor de suspense criminal acusado de assassinar brutalmente a própria esposa, Kathleen Peterson (Toni Collette). No ano de 2001, Peterson ligou para a polícia avisando que sua mulher havia sofrido um acidente, caindo da escada enquanto estava bêbada. Mas as investigações constataram que ela foi espancada até a morte e que ele mudou a cena do crime para criar a imagem de um acidente doméstico. Com a exposição na mídia, vários segredos de família foram desenterrados, incluindo a possibilidade de infidelidade, e a cada nova informação o público foi descobrindo que o casamento de Michael e Kathleen estava longe de ser perfeito. Rapidamente, Michael se tornou o único suspeito do crime e acabou sentenciado a vários anos de prisão. Ele lutou na justiça ferozmente por anos para provar sua inocência, mas todas as peças do crime apontava para sua culpa. Confira o trailer:
Criada e dirigida pelo americano Antonio Campos (de "The Sinner" e "O diabo de cada dia") a minissérie da HBO acerta ao contar essa história pela perspectiva de quem a tornou um sucesso - o diretor do documentário da Netflix, Jean-Xavier de Lestrade. Lançado originalmente em 2004 e ganhando novas imagens entre 2013 e 2018 quando o documentário saiu de 8 horas de material para mais de 13 horas, o registro feito por Lestrade foi além de um fator de admiração para Campos, como virou parte da história de Michael Peterson. O fascínio do diretor pelo caso fez com que ele usasse dessa fonte riquíssima para dramatizar toda a história, com uma abordagem mais imparcial e oferecendo um olhar inédito para a todas as dúvidas que o documentário não conseguiu responder.
A imparcialidade, aliás, é um dos trunfos de "A Escada", pois a cada dois episódios, sempre no seu final, assistimos o que aconteceu na noite do crime sob a perspectiva de uma versão específica. São basicamente 4 versões que ilustram todas as dúvidas e certezas dos envolvidos nos bastidores do julgamento de Michael Peterson. Essa dinâmica narrativa imposta por Campos é tão fascinante quanto viciante - nossa ânsia por respostas refletem exatamente a atmosfera de tensão e angústia de toda sociedade de Durham, na Carolina do Norte (onde o suposto crime aconteceu).
O elenco é primoroso: Colin Firth e Toni Collette, indicados ao Emmy de 2022 pelas performances, estão exemplares. Mas também não poderia deixar de destacar o trabalho de Vincent Vermignon (como o diretor Jean-Xavier), Juliette Binoche (como a montadora do documentário, Sophie Broussard) e Michael Stuhlbarg (como o advogado David Rudolf). Outro destaque, sem dúvida, diz respeito a reconstrução daqueles cenários - mérito de Michael Shaw (de "Billions"). A montagem e a trilha sonora também são primorosas. Graças a qualidade de todos esses elementos, em muitos momentos temos a exata impressão que as imagens saíram do documentário de Jean-Xavier com uma veracidade que a ficção seria incapaz de reproduzir!
Dito isso, fica fácil afirmar: essa é uma das melhores minisséries de 2022 e se você gosta de "American Crime Story", certamente vai se apaixonar por "A Escada", pois o conceito narrativo é basicamente o mesmo, porém com o selo adicional de qualidade HBO! Vale muito o seu play!
PS: a título de recomendação, assista a minissérie documental "The Staircase" da Neflix antes do play em "A Escada"!
Quando assisti a minissérie documental da Netflix "The Staircase" em 2018 o subgênero de "true crime" ainda estava se estabelecendo em um mercado de streaming que ainda engatinhava. A Netflix surfava no grande sucesso de "Making a Murderer" e a HBO no surpreendente final de "The Jinx", porém existia um grande diferencial nessa nova narrativa: 80% dos episódios focavam no julgamento e nas estratégias de defesa de Michael Peterson, escritor americano suspeito de assassinar sua mulher Kathleen. A história, naquele momento já era incrível, porém quatro anos depois a HBO lança uma visão, em formato de ficção, um pouco mais intima sobre o caso, ampliando nossa percepção sobre os personagens envolvidos e nos trazendo informações que o documentário não teve como explorar - e te garanto: funciona demais!
"A Escada" acompanha Michael Peterson (Colin Firth), um famoso escritor de suspense criminal acusado de assassinar brutalmente a própria esposa, Kathleen Peterson (Toni Collette). No ano de 2001, Peterson ligou para a polícia avisando que sua mulher havia sofrido um acidente, caindo da escada enquanto estava bêbada. Mas as investigações constataram que ela foi espancada até a morte e que ele mudou a cena do crime para criar a imagem de um acidente doméstico. Com a exposição na mídia, vários segredos de família foram desenterrados, incluindo a possibilidade de infidelidade, e a cada nova informação o público foi descobrindo que o casamento de Michael e Kathleen estava longe de ser perfeito. Rapidamente, Michael se tornou o único suspeito do crime e acabou sentenciado a vários anos de prisão. Ele lutou na justiça ferozmente por anos para provar sua inocência, mas todas as peças do crime apontava para sua culpa. Confira o trailer:
Criada e dirigida pelo americano Antonio Campos (de "The Sinner" e "O diabo de cada dia") a minissérie da HBO acerta ao contar essa história pela perspectiva de quem a tornou um sucesso - o diretor do documentário da Netflix, Jean-Xavier de Lestrade. Lançado originalmente em 2004 e ganhando novas imagens entre 2013 e 2018 quando o documentário saiu de 8 horas de material para mais de 13 horas, o registro feito por Lestrade foi além de um fator de admiração para Campos, como virou parte da história de Michael Peterson. O fascínio do diretor pelo caso fez com que ele usasse dessa fonte riquíssima para dramatizar toda a história, com uma abordagem mais imparcial e oferecendo um olhar inédito para a todas as dúvidas que o documentário não conseguiu responder.
A imparcialidade, aliás, é um dos trunfos de "A Escada", pois a cada dois episódios, sempre no seu final, assistimos o que aconteceu na noite do crime sob a perspectiva de uma versão específica. São basicamente 4 versões que ilustram todas as dúvidas e certezas dos envolvidos nos bastidores do julgamento de Michael Peterson. Essa dinâmica narrativa imposta por Campos é tão fascinante quanto viciante - nossa ânsia por respostas refletem exatamente a atmosfera de tensão e angústia de toda sociedade de Durham, na Carolina do Norte (onde o suposto crime aconteceu).
O elenco é primoroso: Colin Firth e Toni Collette, indicados ao Emmy de 2022 pelas performances, estão exemplares. Mas também não poderia deixar de destacar o trabalho de Vincent Vermignon (como o diretor Jean-Xavier), Juliette Binoche (como a montadora do documentário, Sophie Broussard) e Michael Stuhlbarg (como o advogado David Rudolf). Outro destaque, sem dúvida, diz respeito a reconstrução daqueles cenários - mérito de Michael Shaw (de "Billions"). A montagem e a trilha sonora também são primorosas. Graças a qualidade de todos esses elementos, em muitos momentos temos a exata impressão que as imagens saíram do documentário de Jean-Xavier com uma veracidade que a ficção seria incapaz de reproduzir!
Dito isso, fica fácil afirmar: essa é uma das melhores minisséries de 2022 e se você gosta de "American Crime Story", certamente vai se apaixonar por "A Escada", pois o conceito narrativo é basicamente o mesmo, porém com o selo adicional de qualidade HBO! Vale muito o seu play!
PS: a título de recomendação, assista a minissérie documental "The Staircase" da Neflix antes do play em "A Escada"!
Se você gosta do estilo argentino de construir uma trama razoavelmente complexa, cheia de mistérios e com um drama consistente bem na linha de "O Segredo dos seus Olhos", pode abrir um sorriso, pois é exatamente isso que você vai encontrar em "A Extorsão"- aliás, o premiado diretor de "O Segredo dos seus Olhos", Juan José Campanella é um dos produtores executivos aqui. Com uma trama muito bem costurada, esse filme dirigido pelo talentoso Martino Zaidelis (vencedor do Festival de Nova York em 2022 com "Los Enviados") é um verdadeiro e fascinante mergulho nos obscuros e perigosos subterrâneos da corrupção e da extorsão política pelos olhos de quem é chantageado - e diga-se de passagem: o "chantageado" Guillermo Francella dá uma verdadeira aula como Alejandro Petrossián.
Na trama, Alejandro, um experiente piloto de avião à beira da sua aposentadoria, é obrigado a colaborar com os serviços de inteligência de seu país para evitar ser punido por um erro grave que cometeu no trabalho e que impactaria diretamente na sua vida pessoal. Sua missão: transportar misteriosas malas na rota Buenos Aires / Madrid, sem saber o que está levando. Confira o trailer:
O roteiro, sem a menor dúvida, é um dos pontos altos de "A Extorsão"- embora em alguns momentos ele caia na tentação de querer explicar demais para mostrar que tudo foi muito bem pensado para fazer todo sentido. Escrito com maestria pelo jovem Emanuel Diez (também de "Los Enviados"), o texto mantém uma mistura muito equilibrada de mistério, ação e drama, criando uma atmosfera de tensão e intriga que nos envolve de uma maneira muito particular - a sensação de não saber "o que está por vir", típico de filmes argentinos e espanhóis de uma nova geração de diretores, nos companha durante os 120 minutos sem pausa para nos deixar respirar e isso é muito bacana. Os diálogos são dinâmicos e muito bem elaborados, no entanto é no subtexto que o filme ganha camadas mais profundas e que impactam diretamente nos personagens - e é aí que eles começam a brilhar.
Francella (do impagável "Minha Obra-Prima") é indiscutível. No entanto, o filme ainda traz ótimas surpresas como o Pablo Rago (o corrupto Saavedra) e o Guillermo Arengo (o simpático, mas pouco confiável, Fernando Marconi). Veja, todo elenco entrega performances muito interessantes, dando vida aos personagens pelo viés da imperfeição, porém com muita humanidade - se Alejandro defende suas motivações genuínas para aceitar a missão imposta por Saavedra, ele só está nessa situação porque em algum momento ele também cometeu erros que colocam em dúvida seu caráter. "A Extorsão" provoca justamente essa reflexão: o que faríamos se tivéssemos que aceitar esse tipo de missão?
Em conclusão, "La Extorsión" (no original) é uma agradável surpresa - uma experiência cinematográfica empolgante e provocativa bem no estilo Campanella. Com uma narrativa bem escrita, performances notáveis e uma direção impecável, o filme destaca-se como uma das melhores produções argentinas desses tempos mais recentes. Então, se você é fã desse tipo de filme, não deixe de assistir, pois seu entretenimento está mais que garantido.
Vale seu play!
Se você gosta do estilo argentino de construir uma trama razoavelmente complexa, cheia de mistérios e com um drama consistente bem na linha de "O Segredo dos seus Olhos", pode abrir um sorriso, pois é exatamente isso que você vai encontrar em "A Extorsão"- aliás, o premiado diretor de "O Segredo dos seus Olhos", Juan José Campanella é um dos produtores executivos aqui. Com uma trama muito bem costurada, esse filme dirigido pelo talentoso Martino Zaidelis (vencedor do Festival de Nova York em 2022 com "Los Enviados") é um verdadeiro e fascinante mergulho nos obscuros e perigosos subterrâneos da corrupção e da extorsão política pelos olhos de quem é chantageado - e diga-se de passagem: o "chantageado" Guillermo Francella dá uma verdadeira aula como Alejandro Petrossián.
Na trama, Alejandro, um experiente piloto de avião à beira da sua aposentadoria, é obrigado a colaborar com os serviços de inteligência de seu país para evitar ser punido por um erro grave que cometeu no trabalho e que impactaria diretamente na sua vida pessoal. Sua missão: transportar misteriosas malas na rota Buenos Aires / Madrid, sem saber o que está levando. Confira o trailer:
O roteiro, sem a menor dúvida, é um dos pontos altos de "A Extorsão"- embora em alguns momentos ele caia na tentação de querer explicar demais para mostrar que tudo foi muito bem pensado para fazer todo sentido. Escrito com maestria pelo jovem Emanuel Diez (também de "Los Enviados"), o texto mantém uma mistura muito equilibrada de mistério, ação e drama, criando uma atmosfera de tensão e intriga que nos envolve de uma maneira muito particular - a sensação de não saber "o que está por vir", típico de filmes argentinos e espanhóis de uma nova geração de diretores, nos companha durante os 120 minutos sem pausa para nos deixar respirar e isso é muito bacana. Os diálogos são dinâmicos e muito bem elaborados, no entanto é no subtexto que o filme ganha camadas mais profundas e que impactam diretamente nos personagens - e é aí que eles começam a brilhar.
Francella (do impagável "Minha Obra-Prima") é indiscutível. No entanto, o filme ainda traz ótimas surpresas como o Pablo Rago (o corrupto Saavedra) e o Guillermo Arengo (o simpático, mas pouco confiável, Fernando Marconi). Veja, todo elenco entrega performances muito interessantes, dando vida aos personagens pelo viés da imperfeição, porém com muita humanidade - se Alejandro defende suas motivações genuínas para aceitar a missão imposta por Saavedra, ele só está nessa situação porque em algum momento ele também cometeu erros que colocam em dúvida seu caráter. "A Extorsão" provoca justamente essa reflexão: o que faríamos se tivéssemos que aceitar esse tipo de missão?
Em conclusão, "La Extorsión" (no original) é uma agradável surpresa - uma experiência cinematográfica empolgante e provocativa bem no estilo Campanella. Com uma narrativa bem escrita, performances notáveis e uma direção impecável, o filme destaca-se como uma das melhores produções argentinas desses tempos mais recentes. Então, se você é fã desse tipo de filme, não deixe de assistir, pois seu entretenimento está mais que garantido.
Vale seu play!
Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.
Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:
Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.
Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe!
"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.
Vale seu play!
Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.
Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:
Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.
Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe!
"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.
Vale seu play!
Imagine uma jovem, ex-aluna de Stanford, bem relacionada e inserida no ecossistema mais inovador do mundo: o Vale do Silício! Agora imagine que essa jovem possui um propósito real: revolucionar a maneira como os exames de sangue são realizados e processados, eliminando a necessidade do médico e do laboratório para obter um resultado capaz de identificar 200 doenças - tudo isso com apenas uma gota de sangue e a um custo de 10 dólares, em média! Incrível, não?
Pois o documentário da HBO, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício", conta justamente a história dessa jovem chamada Elizabeth Holmes e como ela convenceu vários investidores a colocarem muito, mas muito, dinheiro na sua startup Theranos - considerada uma das mais disruptivas empresas da época e liderada pela mulher comparada a nada menos que Steve Jobs ou Bill Gates! O documentário é impecável e descreve cada passo que transformou o valuation da empresa de 10 bilhões à zero num piscar de olhos!
Holmes é daqueles personagens que transformam um cara como Billy McFarland (criador do Fyre Festival) em mais um "menino criado pela vó". É sério, a capacidade de convencimento de Holmes é algo a ser estudado e não por acaso ela foi comparada com Jobs. Sua visão de negócio ia muito além da sua capacidade técnica de transformar seu projeto em realidade, mas isso foi só um detalhe, pois até alguém entender que era impossível entregar o que foi prometido, muitos anos se passaram e bilhões de dólares foram gastos. Seu discurso rendeu participações em TEDs, palestras, seminários, programas de TV; esteve em capas de revistas como a Fortune por exemplo, participou de jantares com presidentes ao lado dos fundadores do Google, do Facebook e da Tesla, ou seja, ela era a personificação da líder feminina que revolucionaria o mercado da saúde nos EUA e no Mundo - ela, de fato, acreditava nisso!
O documentário foi muito feliz em começar seus testemunhos com a própria Elizabeth contando sobre suas experiências pessoais que a motivaram na busca do seu propósito de simplificar exames, usando a nanotecnologia para eliminar tanto a enorme quantidade de sangue na coleta, como os laboratórios no processamento desse material e até os médicos no diagnóstico de possíveis doenças! Ela explica em detalhes sua idéia, o sonho que seu device se tornasse tão popular como os computadores da Apple e passa tanta segurança, com uma fé tão inabalável pelo seu objetivo, que justifica o número de pessoas experientes que ela "enganou" para financiá-la e a quantidade de consumidores que usaram seu serviço, porque o produto mesmo (chamado de Edson), nunca foi lançado - é preciso dizer que em alguns momentos o Diretor, premiado cineasta Alex Gibney, acaba até sugerindo que Holmes vivia em um mundo paralelo, desconectada da realidade, capaz de tudo para se manter nos holofotes e, de alguma forma, continuar sua "história de faz de conta"! São muitos depoimentos: de uma antiga professora de Stanford - que inclusive foi a primeira a duvidar da possibilidade de execução do projeto, passando por ex-funcionários frustados que presenciaram o que acontecia nos laboratórios da empresa até chegar no repórter do Wall Street Journal que publicou a matéria que acabou sendo o golpe fatal para a Theranos!
"A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" é daqueles filmes que nos fazem refletir sobre a real capacidade humana X a ganância ou o ego de se tornar um ícone! Aliás, no Vale do Silício existe um conceito muito comum: "Fingir, até conseguir" - mas qual seria o limite de mindset? No caso de Elizabeth Holmes ela me pareceu ter um propósito real, mas seria impossível ela não perceber os limites da sua idéia e como a manutenção do seu plano de ação poderia prejudicar tanta gente. Ela chega a citar Tomas Edson quando diz: "Eu não fracassei, só encontrei 10.000 formas que não funcionam"! Ok, é uma maneira resiliente de pensar no negócio e hoje, acusada de fraude massiva, fica mais fácil julgar suas falhas como gestora, mas será que ela tinha a real noção disso? É muito possível! Será que a lição foi aprendida pelos investidores? Parece que não, basta ler o que vem acontecendo com a WeWork, por exemplo!
O documentário da HBO é excelente para quem gosta de empreendedorismo, mas também para quem gosta de um ótimo estudo de caso tanto da empresa como da sua fundadora, pois além de levantar a jornada da Theranos em detalhes, tenta desvendar o que representou Elizabeth Holmes para o ecossistema durante anos - uma única brecha (óbvio) é o fato de que o lado dela da história tenha sido tão superficial e rapidamente relatado no veredito jornalístico, mas mesmo assim, vale muito o play porque a história está muito bem contada!
Imagine uma jovem, ex-aluna de Stanford, bem relacionada e inserida no ecossistema mais inovador do mundo: o Vale do Silício! Agora imagine que essa jovem possui um propósito real: revolucionar a maneira como os exames de sangue são realizados e processados, eliminando a necessidade do médico e do laboratório para obter um resultado capaz de identificar 200 doenças - tudo isso com apenas uma gota de sangue e a um custo de 10 dólares, em média! Incrível, não?
Pois o documentário da HBO, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício", conta justamente a história dessa jovem chamada Elizabeth Holmes e como ela convenceu vários investidores a colocarem muito, mas muito, dinheiro na sua startup Theranos - considerada uma das mais disruptivas empresas da época e liderada pela mulher comparada a nada menos que Steve Jobs ou Bill Gates! O documentário é impecável e descreve cada passo que transformou o valuation da empresa de 10 bilhões à zero num piscar de olhos!
Holmes é daqueles personagens que transformam um cara como Billy McFarland (criador do Fyre Festival) em mais um "menino criado pela vó". É sério, a capacidade de convencimento de Holmes é algo a ser estudado e não por acaso ela foi comparada com Jobs. Sua visão de negócio ia muito além da sua capacidade técnica de transformar seu projeto em realidade, mas isso foi só um detalhe, pois até alguém entender que era impossível entregar o que foi prometido, muitos anos se passaram e bilhões de dólares foram gastos. Seu discurso rendeu participações em TEDs, palestras, seminários, programas de TV; esteve em capas de revistas como a Fortune por exemplo, participou de jantares com presidentes ao lado dos fundadores do Google, do Facebook e da Tesla, ou seja, ela era a personificação da líder feminina que revolucionaria o mercado da saúde nos EUA e no Mundo - ela, de fato, acreditava nisso!
O documentário foi muito feliz em começar seus testemunhos com a própria Elizabeth contando sobre suas experiências pessoais que a motivaram na busca do seu propósito de simplificar exames, usando a nanotecnologia para eliminar tanto a enorme quantidade de sangue na coleta, como os laboratórios no processamento desse material e até os médicos no diagnóstico de possíveis doenças! Ela explica em detalhes sua idéia, o sonho que seu device se tornasse tão popular como os computadores da Apple e passa tanta segurança, com uma fé tão inabalável pelo seu objetivo, que justifica o número de pessoas experientes que ela "enganou" para financiá-la e a quantidade de consumidores que usaram seu serviço, porque o produto mesmo (chamado de Edson), nunca foi lançado - é preciso dizer que em alguns momentos o Diretor, premiado cineasta Alex Gibney, acaba até sugerindo que Holmes vivia em um mundo paralelo, desconectada da realidade, capaz de tudo para se manter nos holofotes e, de alguma forma, continuar sua "história de faz de conta"! São muitos depoimentos: de uma antiga professora de Stanford - que inclusive foi a primeira a duvidar da possibilidade de execução do projeto, passando por ex-funcionários frustados que presenciaram o que acontecia nos laboratórios da empresa até chegar no repórter do Wall Street Journal que publicou a matéria que acabou sendo o golpe fatal para a Theranos!
"A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" é daqueles filmes que nos fazem refletir sobre a real capacidade humana X a ganância ou o ego de se tornar um ícone! Aliás, no Vale do Silício existe um conceito muito comum: "Fingir, até conseguir" - mas qual seria o limite de mindset? No caso de Elizabeth Holmes ela me pareceu ter um propósito real, mas seria impossível ela não perceber os limites da sua idéia e como a manutenção do seu plano de ação poderia prejudicar tanta gente. Ela chega a citar Tomas Edson quando diz: "Eu não fracassei, só encontrei 10.000 formas que não funcionam"! Ok, é uma maneira resiliente de pensar no negócio e hoje, acusada de fraude massiva, fica mais fácil julgar suas falhas como gestora, mas será que ela tinha a real noção disso? É muito possível! Será que a lição foi aprendida pelos investidores? Parece que não, basta ler o que vem acontecendo com a WeWork, por exemplo!
O documentário da HBO é excelente para quem gosta de empreendedorismo, mas também para quem gosta de um ótimo estudo de caso tanto da empresa como da sua fundadora, pois além de levantar a jornada da Theranos em detalhes, tenta desvendar o que representou Elizabeth Holmes para o ecossistema durante anos - uma única brecha (óbvio) é o fato de que o lado dela da história tenha sido tão superficial e rapidamente relatado no veredito jornalístico, mas mesmo assim, vale muito o play porque a história está muito bem contada!
"A Lenda do Cavaleiro Verde" é um belíssimo filme, cheio de simbolismo e que retrata a jornada de um homem em busca de auto-conhecimento e que acaba encontrando na reciprocidade as respostas do real significado de "honra". Dirigido pelo talentoso David Lowery, do profundo e cheio de identidade, "A Ghost Story", essa adaptação do conto "Sir Gawain and the Green Knight" é muito mais um profundo drama existencial do que um épico de ação e aventura - mesmo com muitos elementos de fantasia inseridos em um roteiro simplesmente fabuloso, mas difícil (que vai exigir uma busca incansável por interpretações e teorias ao melhor estilo "Mãe!" do Darren Aronofsky).
Sir Gawain (Dev Patel) é um jovem que almeja ser um cavaleiro e que vive à sombra de seu tio, o poderoso Rei Arthur (Sean Harris). Na noite de Natal, uma criatura conhecida como o Cavaleiro Verde (Ralph Ineson) faz um desafio e Gawain aceita, entrando em uma jornada de descoberta e crescimento. Confira o trailer (em inglês):
Apenas para alinharmos as expectativas, é preciso que se diga que o diretor David Lowery tem como característica bastante marcante, imergir pelas mais profundas camadas de um personagem e até criar uma certa relação de enfrentamento com esses fantasmas mais íntimos - essa personalidade cinematográfica, naturalmente, transforma suas narrativas em um processo de identificação mais lento, onde a dinâmica textual se apega muito mais aos detalhes do que ao movimento - digo isso, pois se você está esperando as batalhas medievais de "O Último Duelo"você vai se decepcionar, já que "A Lenda do Cavaleiro Verde" está muito mais para "A Tragédia de Macbeth".
Talvez o maior mérito do roteiro, seja justamente a característica que mais pode afastar a audiência (ou, no mínimo, dividir suas opinões): não estamos falando de um filme onde as perguntas ou as respostas são fáceis. Você não vai encontrar algo claro ou explícito e muito menos entenderá imediatamente o significado de alguns elementos lendários que aparecem pelo caminho de Sir Gawain. Por exemplo: no capítulo "cortesia", Gawain encontra uma cabana que parece abandonada há muito tempo, nela ele se depara com Winifred - e aí vem a riqueza da narrativa: "Winifred" ou Santa Vinifrida (em português) foi uma mártir galesa do século VII que teve a cabeça separada do seu corpo e jogada em um lago, onde depois foi recuperada e ela teria voltado à vida. Esse lago passou a se chamar Holyhead ou Holywell no País de Gales, e acredita-se ter poderes de cura. Você sabia disso? Pois é, eu também não, mas não é incrível enriquecer uma narrativa com tantos elementos desconhecidos e que depois de um aprofundamento maior coloca a história em outro patamar?
"A Lenda do Cavaleiro Verde" tem muito disso: um roteiro complexo, uma direção impecável e atuações "nível Oscar" - Dev Patel mais uma vez está fantástico, seu trabalho de introspecção é algo para se aplaudir de pé e, no mesmo nível, uma Alicia Vikander espetacular para contracenar. Veja, esse é o tipo de filme que nos faz refletir, que nos provoca e que abdica da ação para nos contar uma história de crescimento individual que vai além do que vemos na tela - nada estará em cena por acaso e, do fundo do coração, a experiência de buscar essas repostas é tão empolgante quanto a do protagonista.
Não acho que "A Lenda do Cavaleiro Verde" sirva como um simples entretenimento - o filme segue um caminho que vai além da nossa compreensão inicial, mas que, dispostos a enxergar, nos entrega um conhecimento muito além do óbvio. Vale muito a pena!
"A Lenda do Cavaleiro Verde" é um belíssimo filme, cheio de simbolismo e que retrata a jornada de um homem em busca de auto-conhecimento e que acaba encontrando na reciprocidade as respostas do real significado de "honra". Dirigido pelo talentoso David Lowery, do profundo e cheio de identidade, "A Ghost Story", essa adaptação do conto "Sir Gawain and the Green Knight" é muito mais um profundo drama existencial do que um épico de ação e aventura - mesmo com muitos elementos de fantasia inseridos em um roteiro simplesmente fabuloso, mas difícil (que vai exigir uma busca incansável por interpretações e teorias ao melhor estilo "Mãe!" do Darren Aronofsky).
Sir Gawain (Dev Patel) é um jovem que almeja ser um cavaleiro e que vive à sombra de seu tio, o poderoso Rei Arthur (Sean Harris). Na noite de Natal, uma criatura conhecida como o Cavaleiro Verde (Ralph Ineson) faz um desafio e Gawain aceita, entrando em uma jornada de descoberta e crescimento. Confira o trailer (em inglês):
Apenas para alinharmos as expectativas, é preciso que se diga que o diretor David Lowery tem como característica bastante marcante, imergir pelas mais profundas camadas de um personagem e até criar uma certa relação de enfrentamento com esses fantasmas mais íntimos - essa personalidade cinematográfica, naturalmente, transforma suas narrativas em um processo de identificação mais lento, onde a dinâmica textual se apega muito mais aos detalhes do que ao movimento - digo isso, pois se você está esperando as batalhas medievais de "O Último Duelo"você vai se decepcionar, já que "A Lenda do Cavaleiro Verde" está muito mais para "A Tragédia de Macbeth".
Talvez o maior mérito do roteiro, seja justamente a característica que mais pode afastar a audiência (ou, no mínimo, dividir suas opinões): não estamos falando de um filme onde as perguntas ou as respostas são fáceis. Você não vai encontrar algo claro ou explícito e muito menos entenderá imediatamente o significado de alguns elementos lendários que aparecem pelo caminho de Sir Gawain. Por exemplo: no capítulo "cortesia", Gawain encontra uma cabana que parece abandonada há muito tempo, nela ele se depara com Winifred - e aí vem a riqueza da narrativa: "Winifred" ou Santa Vinifrida (em português) foi uma mártir galesa do século VII que teve a cabeça separada do seu corpo e jogada em um lago, onde depois foi recuperada e ela teria voltado à vida. Esse lago passou a se chamar Holyhead ou Holywell no País de Gales, e acredita-se ter poderes de cura. Você sabia disso? Pois é, eu também não, mas não é incrível enriquecer uma narrativa com tantos elementos desconhecidos e que depois de um aprofundamento maior coloca a história em outro patamar?
"A Lenda do Cavaleiro Verde" tem muito disso: um roteiro complexo, uma direção impecável e atuações "nível Oscar" - Dev Patel mais uma vez está fantástico, seu trabalho de introspecção é algo para se aplaudir de pé e, no mesmo nível, uma Alicia Vikander espetacular para contracenar. Veja, esse é o tipo de filme que nos faz refletir, que nos provoca e que abdica da ação para nos contar uma história de crescimento individual que vai além do que vemos na tela - nada estará em cena por acaso e, do fundo do coração, a experiência de buscar essas repostas é tão empolgante quanto a do protagonista.
Não acho que "A Lenda do Cavaleiro Verde" sirva como um simples entretenimento - o filme segue um caminho que vai além da nossa compreensão inicial, mas que, dispostos a enxergar, nos entrega um conhecimento muito além do óbvio. Vale muito a pena!
Quando eu era criança meu desenho favorito era a "Liga da Justiça" (mesmo com o Irmãos Gêmeos...rs). Na época era muito difícil encontrar uma animação da Marvel - única excessão era o Homem-Aranha e olhe lá. Thor, Homem de Ferro eram ótimos tbm, mas muito difícil de acompanhar, pois as temporadas eram curtas, quase cults (pelo formato e raridade de encontrar na TV). Com o sucesso da Marvel e o desespero da DC em se estabelecer, vimos uma série de bobagens no cinema recente de heróis (impossível não lembrar do "Martha?" de Batman vs Superman ou até da "Liga da Justiça"). Bem, assisti um longa-metragem de animação da DC chamado "A Morte do Superman" dirigido pelo Jake Castorina e pelo Sam Liu, e olha, fiquei impressionado com a qualidade do roteiro!
Na história, um monstro gigantesco batizado de Doomsday surge do mundo subterrâneo para começar uma destruição em massa na cidade de Metrópoles. A Liga da Justiça precisa intervir imediatamente, mas parece que só os poderes do Super-Homem são compatíveis com o do terrível monstro. Em uma luta mortal, o destino do super-herói torna-se incerto. Veja o trailer:
Para começar, o conceito da animação é totalmente retrô, modernizada apenas no visual do universo; mas o ponto forte é mesmo o roteiro e não tem como não se perguntar: Por que não usaram esse roteiro no universo live action para estabelecer a Liga da Justiça no UDC? É uma questão de um ou outro ajuste, cortar ou adaptar algumas sequências e só! A animação em o equilíbrio certo entre alívio cômico e ação, sem apelar para o óbvio!! E aqui vai um comentário que sempre repito sobre a DC: não adianta forçar, o Universo DC é muito mais "sombrio" e/ou "Fantástico" que o da Marvel - não cabe tanta piadinha; que aliás no último Thor passou dos limites em muito, só faltou o Hulk usar um boné para trás e cantar rap (um lixo para composição de personagens, chega a ser patético), embora o filme tenha sido até divertido por ser tão despretensioso.
Pois bem, voltando a "The Death of Superman": o filme é simples, direto, bem construído, com um começo/meio/fim que faz sentido e um arco maior muito mais forte e inteligente do que qualquer filme da DC já feito até aqui. Vale muito a pena, tem muito (mas muito) dos quadrinhos e chega dar um fio de esperança que as coisas podem melhorar se os roteiristas e produtores entenderem que a DC já tem um identidade estabelecida e que, mesmo atrasada, sua mitologia é muito bacana!!!
Para quem gosta do gênero, com uma animação mais "raiz"; imperdível!!!!
Quando eu era criança meu desenho favorito era a "Liga da Justiça" (mesmo com o Irmãos Gêmeos...rs). Na época era muito difícil encontrar uma animação da Marvel - única excessão era o Homem-Aranha e olhe lá. Thor, Homem de Ferro eram ótimos tbm, mas muito difícil de acompanhar, pois as temporadas eram curtas, quase cults (pelo formato e raridade de encontrar na TV). Com o sucesso da Marvel e o desespero da DC em se estabelecer, vimos uma série de bobagens no cinema recente de heróis (impossível não lembrar do "Martha?" de Batman vs Superman ou até da "Liga da Justiça"). Bem, assisti um longa-metragem de animação da DC chamado "A Morte do Superman" dirigido pelo Jake Castorina e pelo Sam Liu, e olha, fiquei impressionado com a qualidade do roteiro!
Na história, um monstro gigantesco batizado de Doomsday surge do mundo subterrâneo para começar uma destruição em massa na cidade de Metrópoles. A Liga da Justiça precisa intervir imediatamente, mas parece que só os poderes do Super-Homem são compatíveis com o do terrível monstro. Em uma luta mortal, o destino do super-herói torna-se incerto. Veja o trailer:
Para começar, o conceito da animação é totalmente retrô, modernizada apenas no visual do universo; mas o ponto forte é mesmo o roteiro e não tem como não se perguntar: Por que não usaram esse roteiro no universo live action para estabelecer a Liga da Justiça no UDC? É uma questão de um ou outro ajuste, cortar ou adaptar algumas sequências e só! A animação em o equilíbrio certo entre alívio cômico e ação, sem apelar para o óbvio!! E aqui vai um comentário que sempre repito sobre a DC: não adianta forçar, o Universo DC é muito mais "sombrio" e/ou "Fantástico" que o da Marvel - não cabe tanta piadinha; que aliás no último Thor passou dos limites em muito, só faltou o Hulk usar um boné para trás e cantar rap (um lixo para composição de personagens, chega a ser patético), embora o filme tenha sido até divertido por ser tão despretensioso.
Pois bem, voltando a "The Death of Superman": o filme é simples, direto, bem construído, com um começo/meio/fim que faz sentido e um arco maior muito mais forte e inteligente do que qualquer filme da DC já feito até aqui. Vale muito a pena, tem muito (mas muito) dos quadrinhos e chega dar um fio de esperança que as coisas podem melhorar se os roteiristas e produtores entenderem que a DC já tem um identidade estabelecida e que, mesmo atrasada, sua mitologia é muito bacana!!!
Para quem gosta do gênero, com uma animação mais "raiz"; imperdível!!!!
"A Noite do Jogo" é uma espécie de "O Peso do Talento" sem o Nicolas Cage - mas com Jason Bateman e cheio de referências ao cinema de ação, especialmente ao "quase" incomparável Liam Neeson. Os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein (os mesmos do esperado "Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves") entregam, de fato, um filme divertido, surreal (claro) e dinâmico, onde toda atmosfera criada nos faz ficar com um sorriso no rosto durante toda jornada - eu diria, inclusive, que o roteiro é extremamente inteligente em pontuar nos detalhes muito do que mais gostamos de experienciarmos com os nossos amigos e essa sensação nostálgica nos acompanha e potencializa a brincadeira proposta por ele.
Na trama, o casal Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams) costuma receber outros casais em sua casa para participarem de jogos que vão de mímica ao “jogo da vida“. Um dia, porém, Brooks (Kyle Chandler), o irmão bem-sucedido de Max, convida todos para o que ele chama de "uma noite de jogos memorável" que, lógico, acaba levando os personagens para uma aventura que envolve perigos reais e com consequências reais. Confira o trailer:
Existem alguns elementos narrativos e conceituais em "A Noite do Jogo" que deixam claro como o filme vai muito além de uma comédia despretensiosa que usa e abusa de clichês para entreter sua audiência. Esse é o tipo de filme que não deve ser subestimado pelo seu gênero e sim apreciado justamente por isso - é claro que o expectador mais atento vai pescar mais referências de clássicos como "Duro de Matar 2", "RoboCop" e até "A Noite dos Mortos-Vivos", mas é perceptível para qualquer um as boas sacadas do texto, mérito do roteiro de Mark Perez (de "Herbie, Meu Fusca Turbinado") - existe uma inteligência textual, mesmo estereotipada, que encanta.
Dê o play sabendo que toda a ideia por trás de "A Noite do Jogo" é focar no absurdo das situações - ao introduzir temas ridículos para que pessoas normais tenham de lidar com elas, a história ganha uma dinâmica extremamente engraçada e a relação entre os personagens potencializam isso. Reparem na prólogo onde conhecemos os protagonistas - com pouco diálogo e muita ação, entendemos exatamente onde o filme vai nos levar graças as características marcantes das personalidades de cada um deles. Outro detalhe: os outros personagens (mais coadjuvantes) também tem seus fantasmas internos, são cheios de camadas, mesmo socializando de uma forma que parece superficial - e aqui os diálogos que envolvem o Ryan (Billy Magnussen) são impagáveis.
John Francis Daley e Jonathan Goldstein usam uma lente chama Tilt-Shift para estabelecer a posição geográfica onde a ação vai acontecer - essa lente controla a perspectiva para criar imagens miniaturizadas e assim termos a sensação que os personagens estão realmente em um board game e não na vida real - isso é genial. Esse cuidado no trabalho do diretor de fotografia, Barry Peterson, se extende ao equilíbrio narrativo da trama, veja, se nas passagens mais engraçadas a iluminação é mais clara, priorizando os gestos corporais e as reações faciais; nos momentos de suspense e ação as cenas são naturalmente mais escuras, com um foco de luz voltado somente para o rosto dos atores - isso sem falar no movimento de câmera, mais estático para a comédia, mais nervoso na ação (mais uma homenagem à gramática cinematográfica dos gêneros).
Resumindo: "A Noite do Jogo" se apoia no absurdo sem se propor a encarar a seriedade, o que permite que sua narrativa flerte com a sátira inteligente, quase irônica. Com isso, relembramos sucessos recentes do streaming como "Only Murders in the Building" ou "Depois da Festa" - se não na sua "forma", certamente em seu "conteúdo" nostálgico.
Vale muito a pena!
"A Noite do Jogo" é uma espécie de "O Peso do Talento" sem o Nicolas Cage - mas com Jason Bateman e cheio de referências ao cinema de ação, especialmente ao "quase" incomparável Liam Neeson. Os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein (os mesmos do esperado "Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves") entregam, de fato, um filme divertido, surreal (claro) e dinâmico, onde toda atmosfera criada nos faz ficar com um sorriso no rosto durante toda jornada - eu diria, inclusive, que o roteiro é extremamente inteligente em pontuar nos detalhes muito do que mais gostamos de experienciarmos com os nossos amigos e essa sensação nostálgica nos acompanha e potencializa a brincadeira proposta por ele.
Na trama, o casal Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams) costuma receber outros casais em sua casa para participarem de jogos que vão de mímica ao “jogo da vida“. Um dia, porém, Brooks (Kyle Chandler), o irmão bem-sucedido de Max, convida todos para o que ele chama de "uma noite de jogos memorável" que, lógico, acaba levando os personagens para uma aventura que envolve perigos reais e com consequências reais. Confira o trailer:
Existem alguns elementos narrativos e conceituais em "A Noite do Jogo" que deixam claro como o filme vai muito além de uma comédia despretensiosa que usa e abusa de clichês para entreter sua audiência. Esse é o tipo de filme que não deve ser subestimado pelo seu gênero e sim apreciado justamente por isso - é claro que o expectador mais atento vai pescar mais referências de clássicos como "Duro de Matar 2", "RoboCop" e até "A Noite dos Mortos-Vivos", mas é perceptível para qualquer um as boas sacadas do texto, mérito do roteiro de Mark Perez (de "Herbie, Meu Fusca Turbinado") - existe uma inteligência textual, mesmo estereotipada, que encanta.
Dê o play sabendo que toda a ideia por trás de "A Noite do Jogo" é focar no absurdo das situações - ao introduzir temas ridículos para que pessoas normais tenham de lidar com elas, a história ganha uma dinâmica extremamente engraçada e a relação entre os personagens potencializam isso. Reparem na prólogo onde conhecemos os protagonistas - com pouco diálogo e muita ação, entendemos exatamente onde o filme vai nos levar graças as características marcantes das personalidades de cada um deles. Outro detalhe: os outros personagens (mais coadjuvantes) também tem seus fantasmas internos, são cheios de camadas, mesmo socializando de uma forma que parece superficial - e aqui os diálogos que envolvem o Ryan (Billy Magnussen) são impagáveis.
John Francis Daley e Jonathan Goldstein usam uma lente chama Tilt-Shift para estabelecer a posição geográfica onde a ação vai acontecer - essa lente controla a perspectiva para criar imagens miniaturizadas e assim termos a sensação que os personagens estão realmente em um board game e não na vida real - isso é genial. Esse cuidado no trabalho do diretor de fotografia, Barry Peterson, se extende ao equilíbrio narrativo da trama, veja, se nas passagens mais engraçadas a iluminação é mais clara, priorizando os gestos corporais e as reações faciais; nos momentos de suspense e ação as cenas são naturalmente mais escuras, com um foco de luz voltado somente para o rosto dos atores - isso sem falar no movimento de câmera, mais estático para a comédia, mais nervoso na ação (mais uma homenagem à gramática cinematográfica dos gêneros).
Resumindo: "A Noite do Jogo" se apoia no absurdo sem se propor a encarar a seriedade, o que permite que sua narrativa flerte com a sátira inteligente, quase irônica. Com isso, relembramos sucessos recentes do streaming como "Only Murders in the Building" ou "Depois da Festa" - se não na sua "forma", certamente em seu "conteúdo" nostálgico.
Vale muito a pena!
“A Origem” é mais uma obra-prima de Christopher Nolan. Astuta e incessante, o diretor abusa de uma direção eficaz e nos encanta com um filme de ação com toques de ficção científica avassaladora. É um filme obrigatório.
Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um ladrão eficiente que está entre os melhores na arte da extração: roubar segredos valiosos de dentro dos confins do inconsciente durante o estado de sono, quando a mente se encontra mais vulnerável. Esta rara habilidade tornou Cobb um perito cobiçado no traiçoeiro novo ramo da espionagem corporativa, mas também o transformou em um fugitivo internacional e o levou a sacrificar tudo aquilo que amava. Agora Cobb tem uma chance de redenção. Uma última oferta de trabalho poderá lhe devolver sua vida normal, mas para isso ele deverá encontrar o que é impossível -- a origem. Ao invés de executar um assalto, Cobb e sua equipe de especialistas precisam realizar o inverso; sua missão não é roubar uma ideia e sim plantar uma. Se conseguirem, este poderá ser o crime perfeito. Confira o trailer:
Ah, Nolan, Nolan, será que existe neste século algum diretor que dívida mais opiniões do que você? Alguns lhe consideram um gênio, outros lhe consideram um copiador de fórmulas já usadas, e vocês? Eu ainda sou do time que o considera um dos grandes pilares de diretores incríveis deste século. Por mais críticas que rondam sua trajetória, Nolan por seu próprio mérito figura entre os grandes do cinema, por obras majestosas como "Batman", "O Grande Truque" e "Amnésia". Com o lançamento de "A Origem", essa lista de obras primas crescerá, pois é um filme que brinca com a percepção da audiência de tal forma, que chega a ser impiedoso o fato de alguém entender o filme por completo na primeira vez. É um filme que necessita atenção e uma mente aberta para entender a fantasia dentro da própria fantasia, fixada em um amedrontamento que jugamos ser genialidade, ou será que não? Nada com Nolan é fácil, nada!
No que tange a realidade, "Inception" (no original) mescla elementos ilusórios a todo momento, é um filme que precisa ser revisto, é muita informação jogada em tela. Um sonho dentro de um sonho? E a gravidade? Como funcionaria o acordar disso tudo? Diversas perguntas, poucas respostas, mas são suficientes para entendermos a ousadia de Nolan em nos mostrar um espetáculo visual impecável. O desfecho é repleto de incógnitas, e é isso que deixa tudo mais apaixonante. Com um roteiro encaixado e fluido, coube a Nolan nos apresentar a nata do CGI moderno (não tínhamos visto nada assim antes), alucinante e ao mesmo tempo irrisório. O elenco foi escolhido a dedo, Nolan possuía um DiCaprio resplandescente e seguro, em uma atuação exemplar. O restante do elenco mantém o sarrafo lá no alto, é nítido o entrosamento entre eles - o diretor já havia trabalhado com a maioria em filmes anteriores.
Aqui, Christopher Nolan brinca com o abstrato, e assim vai modificando o entendimento do filme a cada take, quando damos conta já estamos entrelaçados a esse mundo de faz de conta, onde tudo que queremos saber é se tudo não passou de um sonho. Obra prima! "A Origem" é o suprassumo da quintessência da ficção científica com diálogos fabulosos, ação na medida certa, não há exposição barata, apenas a nata fílmica de Hollywood.
"A Origem" ganhou em quatro categorias no Oscar 2011: Melhor Fotografia, Melhor Mixagem, Melhor Edição de Som e Melhor Efeitos Visuais!
Não percam mais tempo, assistam!
Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee
“A Origem” é mais uma obra-prima de Christopher Nolan. Astuta e incessante, o diretor abusa de uma direção eficaz e nos encanta com um filme de ação com toques de ficção científica avassaladora. É um filme obrigatório.
Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um ladrão eficiente que está entre os melhores na arte da extração: roubar segredos valiosos de dentro dos confins do inconsciente durante o estado de sono, quando a mente se encontra mais vulnerável. Esta rara habilidade tornou Cobb um perito cobiçado no traiçoeiro novo ramo da espionagem corporativa, mas também o transformou em um fugitivo internacional e o levou a sacrificar tudo aquilo que amava. Agora Cobb tem uma chance de redenção. Uma última oferta de trabalho poderá lhe devolver sua vida normal, mas para isso ele deverá encontrar o que é impossível -- a origem. Ao invés de executar um assalto, Cobb e sua equipe de especialistas precisam realizar o inverso; sua missão não é roubar uma ideia e sim plantar uma. Se conseguirem, este poderá ser o crime perfeito. Confira o trailer:
Ah, Nolan, Nolan, será que existe neste século algum diretor que dívida mais opiniões do que você? Alguns lhe consideram um gênio, outros lhe consideram um copiador de fórmulas já usadas, e vocês? Eu ainda sou do time que o considera um dos grandes pilares de diretores incríveis deste século. Por mais críticas que rondam sua trajetória, Nolan por seu próprio mérito figura entre os grandes do cinema, por obras majestosas como "Batman", "O Grande Truque" e "Amnésia". Com o lançamento de "A Origem", essa lista de obras primas crescerá, pois é um filme que brinca com a percepção da audiência de tal forma, que chega a ser impiedoso o fato de alguém entender o filme por completo na primeira vez. É um filme que necessita atenção e uma mente aberta para entender a fantasia dentro da própria fantasia, fixada em um amedrontamento que jugamos ser genialidade, ou será que não? Nada com Nolan é fácil, nada!
No que tange a realidade, "Inception" (no original) mescla elementos ilusórios a todo momento, é um filme que precisa ser revisto, é muita informação jogada em tela. Um sonho dentro de um sonho? E a gravidade? Como funcionaria o acordar disso tudo? Diversas perguntas, poucas respostas, mas são suficientes para entendermos a ousadia de Nolan em nos mostrar um espetáculo visual impecável. O desfecho é repleto de incógnitas, e é isso que deixa tudo mais apaixonante. Com um roteiro encaixado e fluido, coube a Nolan nos apresentar a nata do CGI moderno (não tínhamos visto nada assim antes), alucinante e ao mesmo tempo irrisório. O elenco foi escolhido a dedo, Nolan possuía um DiCaprio resplandescente e seguro, em uma atuação exemplar. O restante do elenco mantém o sarrafo lá no alto, é nítido o entrosamento entre eles - o diretor já havia trabalhado com a maioria em filmes anteriores.
Aqui, Christopher Nolan brinca com o abstrato, e assim vai modificando o entendimento do filme a cada take, quando damos conta já estamos entrelaçados a esse mundo de faz de conta, onde tudo que queremos saber é se tudo não passou de um sonho. Obra prima! "A Origem" é o suprassumo da quintessência da ficção científica com diálogos fabulosos, ação na medida certa, não há exposição barata, apenas a nata fílmica de Hollywood.
"A Origem" ganhou em quatro categorias no Oscar 2011: Melhor Fotografia, Melhor Mixagem, Melhor Edição de Som e Melhor Efeitos Visuais!
Não percam mais tempo, assistam!
Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee
Se você não for magro, Deus não te aceitará! Sim, eu sei que pode parecer um absurdo essa afirmação, mas é a partir dessa premissa surreal que a história da líder religiosaGwen Shamblin é contada nessa minissérie de 5 episódios da HBO - e já te adianto: o que pode parecer um absurdo para você (e para mim), certamente faz muito sentido para milhares de pessoas e é justamente por isso que "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" será uma das coisas mais surpreendentes que você vai assistir na vida.
Abrangendo anos de investigação e extensas entrevistas com ex-membros e outras pessoas afetadas pela Remnant Fellowship Churchou por um programa de emagrecimento religioso chamado Weigh Down, essa minissérie documental explora o legado da controversa guru e líder religiosa Gwen Shamblin, cuja vida teve um fim abrupto após a queda de seu avião em maio de 2021. Confira o trailer:
Muito bem conduzida pela mesma diretora do premiado "Polanski: Procurado e Desejado", Marina Zenovich, "A Queda" se apoia, basicamente, na figura tão particular de Gwen Shamblin, e do seu entorno (principalmente seu marido Joe Lara), para construir uma linha narrativa extremamente equilibrada e fluida que mistura assuntos que vão da religião ao sucesso profissional - e aqui é fácil analisar a estratégia de Shamblin e como a junção dos fatos que moldaram a sua vida faz, de fato, todo sentido no resultado final de sua jornada empreendedora, pois ela foi capaz que encontrar e trabalhar a vulnerabilidade de milhares de pessoas que buscavam uma certa paz no "corpo" e na "alma" sem dissociar as duas "dores"; tudo isso, claro, em uma região dos EUA marcada pelo fervor religioso.
"The Way Down: God, Greed and the Cult of Gwen Shamblin" (no original), inicialmente, teria apenas três episódios, porém em 29 de maio de 2021, depois que Zenovich já havia finalizado as filmagens, com todas as entrevistas captadas, e estava dando os toques finais para o lançamento da minissérie, Gwen Shamblin morreu tragicamente em uma queda de avião, no qual também faleceram seu marido e alguns outros líderes da congregação. Enquanto no primeiro momento os entrevistados ficaram preocupados com a repercussão de seus depoimentos, depois do acidente outras pessoas mudaram de ideia, decidiram participar do documentário e assim expor suas histórias, com isso a HBO reeditou o projeto, acrescentou mais uma hora e meia de conteúdo, dividido em dois episódios, e acabou entregando uma obra tão completa quando complexa - um verdadeiro estudo sobre os princípios "malucos" da Remnant Fellowship Church!
Revoltante em muitos aspectos (como as ações físicas que os líderes pregavam ser o melhor caminho para a educação das crianças) e emocionante em tantos outros (como a jornada solitária de Natasha Pavlovich contra Joe Lara pela guarda de sua filha), "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" é mais um retrato da insanidade como condição humana que se apoia na fé para justificar uma série de barbaridades ao mesmo tempo em que o bolso de seus líderes vão ficando cada vez mais cheio.
Se prepare, não será uma jornada fácil e cuidado, pois os impactos que as histórias provocam não são nada confortáveis. Dito isso, como obra audiovisual e importância narrativa, vale muito o seu play!
PS: Recentemente a HBO Max anunciou que Sarah Paulson (de "American Horror Story") foi escalada para estrelar a versão roteirizada de "A Queda" - ela será Gwen Shamblin.
Se você não for magro, Deus não te aceitará! Sim, eu sei que pode parecer um absurdo essa afirmação, mas é a partir dessa premissa surreal que a história da líder religiosaGwen Shamblin é contada nessa minissérie de 5 episódios da HBO - e já te adianto: o que pode parecer um absurdo para você (e para mim), certamente faz muito sentido para milhares de pessoas e é justamente por isso que "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" será uma das coisas mais surpreendentes que você vai assistir na vida.
Abrangendo anos de investigação e extensas entrevistas com ex-membros e outras pessoas afetadas pela Remnant Fellowship Churchou por um programa de emagrecimento religioso chamado Weigh Down, essa minissérie documental explora o legado da controversa guru e líder religiosa Gwen Shamblin, cuja vida teve um fim abrupto após a queda de seu avião em maio de 2021. Confira o trailer:
Muito bem conduzida pela mesma diretora do premiado "Polanski: Procurado e Desejado", Marina Zenovich, "A Queda" se apoia, basicamente, na figura tão particular de Gwen Shamblin, e do seu entorno (principalmente seu marido Joe Lara), para construir uma linha narrativa extremamente equilibrada e fluida que mistura assuntos que vão da religião ao sucesso profissional - e aqui é fácil analisar a estratégia de Shamblin e como a junção dos fatos que moldaram a sua vida faz, de fato, todo sentido no resultado final de sua jornada empreendedora, pois ela foi capaz que encontrar e trabalhar a vulnerabilidade de milhares de pessoas que buscavam uma certa paz no "corpo" e na "alma" sem dissociar as duas "dores"; tudo isso, claro, em uma região dos EUA marcada pelo fervor religioso.
"The Way Down: God, Greed and the Cult of Gwen Shamblin" (no original), inicialmente, teria apenas três episódios, porém em 29 de maio de 2021, depois que Zenovich já havia finalizado as filmagens, com todas as entrevistas captadas, e estava dando os toques finais para o lançamento da minissérie, Gwen Shamblin morreu tragicamente em uma queda de avião, no qual também faleceram seu marido e alguns outros líderes da congregação. Enquanto no primeiro momento os entrevistados ficaram preocupados com a repercussão de seus depoimentos, depois do acidente outras pessoas mudaram de ideia, decidiram participar do documentário e assim expor suas histórias, com isso a HBO reeditou o projeto, acrescentou mais uma hora e meia de conteúdo, dividido em dois episódios, e acabou entregando uma obra tão completa quando complexa - um verdadeiro estudo sobre os princípios "malucos" da Remnant Fellowship Church!
Revoltante em muitos aspectos (como as ações físicas que os líderes pregavam ser o melhor caminho para a educação das crianças) e emocionante em tantos outros (como a jornada solitária de Natasha Pavlovich contra Joe Lara pela guarda de sua filha), "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" é mais um retrato da insanidade como condição humana que se apoia na fé para justificar uma série de barbaridades ao mesmo tempo em que o bolso de seus líderes vão ficando cada vez mais cheio.
Se prepare, não será uma jornada fácil e cuidado, pois os impactos que as histórias provocam não são nada confortáveis. Dito isso, como obra audiovisual e importância narrativa, vale muito o seu play!
PS: Recentemente a HBO Max anunciou que Sarah Paulson (de "American Horror Story") foi escalada para estrelar a versão roteirizada de "A Queda" - ela será Gwen Shamblin.
"A Sala dos Professores" foi o representante da Alemanha no Oscar 2024 e só por essa chancela certamente já entraria na prateleira de "imperdíveis" do streaming. No entanto, é preciso ir mais longe: o filme dirigido pelo alemão Ilker Çatak (de "I Was, I Am, I Will Be") brinca com nossa expectativa da forma mais angustiante possível, transformando uma pseudo-crítica social em um verdadeiro drama psicológico que vai te remeter ao genial "A Caça" graças a diversos gatilhos narrativos. Premiadíssimo, "Das Lehrerzimmer" (no original) mergulha profundamente nas complexidades morais e éticas do ambiente escolar. O filme explora temas como justiça e responsabilidade, a partir do impacto das ações individuais dentro de uma atmosfera de inveja e egoísmo. Com uma narrativa realmente cativante, "A Sala dos Professores" oferece uma reflexão poderosa sobre a natureza humana e as dificuldades de manter a integridade perante a pressão social e pessoal - é como se o problema fosse ganhando cada vez mais força, como uma bola de neve, até que uma atitude que parecia ser correta ganha uma proporção tão negativa que o problema mesmo passa a ser secundário!
Cheia de simbolismos, a trama gira em torno de Carla Nowak (Leonie Benesch), uma jovem professora de matemática em uma escola secundária na Alemanha. Quando uma série de pequenos furtos começa a ocorrer na escola, Carla se envolve na investigação para descobrir o verdadeiro culpado. Sua busca pela verdade a coloca em conflito com colegas, alunos e pais, assim que resolve gravar um potencial suspeito. Revelando as tensões latentes e os dilemas éticos presentes na comunidade escolar, o filme mais do que se aprofundar no mistério, retrata os desafios de Carla que testam seus princípios e sua capacidade de navegar pelas complexas dinâmicas do poder e da moralidade. Confira o trailer:
Alguns pontos desse grande filme merecem ser discutidos. O roteiro, co-escrito por Çatak e Johannes Duncker, é um deles - eu diria que o texto é um verdadeiro estudo, cuidadoso e multifacetado, de personagens tão palpáveis que as situações que eles enfrentam parecem tão próximas que chegar a incomodar quem assiste. Ciente dessa conexão, a narrativa equilibra habilmente o suspense de um mistério central, de certa forma irrelevante, com uma exploração profunda das motivações e dos conflitos internos dos personagens. A escrita é afiada, com diálogos realistas que refletem a obscuridade das relações interpessoais e os dilemas éticos enfrentados por Carla durante a jornada - sério, é uma montanha-russa de emoções! Ilker Çatak, em sua direção, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de tensão crescente ao mesmo tempo que nunca deixa de lado a introspecção - ele captura a claustrofobia e a intensidade emocional do ambiente escolar, priorizando enquadramentos mais fechados enquanto a fotografia usa e abusa de uma paleta de cores frias para refletir o estado mental da protagonista. Çatak ainda se apropria de longos planos, alguns deles com a câmera na mão e muitas vezes "nervosa", o que nos permite uma imersão nas interações e nos conflitos como se estivéssemos lá - tudo funcionando de uma tão maneira orgânica que nem nos damos conta do quanto estamos envolvido com aquele caos psicológico.
Leonie Benesch entrega uma performance extraordinária, capturando a mistura de idealismo quase imaturo, com uma determinação e uma vulnerabilidade difícil de equilibrar. Benesch traz uma autenticidade crua para a sua personagem, tornando Carla uma figura profundamente humana - difícil não se empatizar ou sofrer por ela. O elenco de apoio, incluindo atores como Michael Klammer e Oskar Zickur, oferece performances sólidas que enriquecem a narrativa, cada um contribuindo para a tensão e a complexidade do enredo com o único intuito de refletir as emoções em ebulição dos personagens na tensão crescente da audiência.
"A Sala dos Professores" tem um ritmo mais cadenciado e uma abordagem introspectiva que podem tornar o filme desafiador para aqueles que preferem narrativas impactantes visualmente - especialmente no terceiro ato quando achamos que a coisa vai ficar realmente feia. Justamente por essa quebra de expectativa que a "resolução do mistério" pode parecer um anti-clímax para alguns - mas veja, o foco está muito mais nas implicações morais do que em uma conclusão mais tradicional. Antes do play saiba que aqui temos uma exploração corajosa e intelectualmente estimulante de questões éticas dentro de um microcosmo tão particular - uma visão incisiva sobre os desafios de manter a integridade e a justiça em um mundo repleto de ambiguidades e pressões, onde ninguém pode ser subestimado (nem as crianças)!
Vale muito o seu play!
"A Sala dos Professores" foi o representante da Alemanha no Oscar 2024 e só por essa chancela certamente já entraria na prateleira de "imperdíveis" do streaming. No entanto, é preciso ir mais longe: o filme dirigido pelo alemão Ilker Çatak (de "I Was, I Am, I Will Be") brinca com nossa expectativa da forma mais angustiante possível, transformando uma pseudo-crítica social em um verdadeiro drama psicológico que vai te remeter ao genial "A Caça" graças a diversos gatilhos narrativos. Premiadíssimo, "Das Lehrerzimmer" (no original) mergulha profundamente nas complexidades morais e éticas do ambiente escolar. O filme explora temas como justiça e responsabilidade, a partir do impacto das ações individuais dentro de uma atmosfera de inveja e egoísmo. Com uma narrativa realmente cativante, "A Sala dos Professores" oferece uma reflexão poderosa sobre a natureza humana e as dificuldades de manter a integridade perante a pressão social e pessoal - é como se o problema fosse ganhando cada vez mais força, como uma bola de neve, até que uma atitude que parecia ser correta ganha uma proporção tão negativa que o problema mesmo passa a ser secundário!
Cheia de simbolismos, a trama gira em torno de Carla Nowak (Leonie Benesch), uma jovem professora de matemática em uma escola secundária na Alemanha. Quando uma série de pequenos furtos começa a ocorrer na escola, Carla se envolve na investigação para descobrir o verdadeiro culpado. Sua busca pela verdade a coloca em conflito com colegas, alunos e pais, assim que resolve gravar um potencial suspeito. Revelando as tensões latentes e os dilemas éticos presentes na comunidade escolar, o filme mais do que se aprofundar no mistério, retrata os desafios de Carla que testam seus princípios e sua capacidade de navegar pelas complexas dinâmicas do poder e da moralidade. Confira o trailer:
Alguns pontos desse grande filme merecem ser discutidos. O roteiro, co-escrito por Çatak e Johannes Duncker, é um deles - eu diria que o texto é um verdadeiro estudo, cuidadoso e multifacetado, de personagens tão palpáveis que as situações que eles enfrentam parecem tão próximas que chegar a incomodar quem assiste. Ciente dessa conexão, a narrativa equilibra habilmente o suspense de um mistério central, de certa forma irrelevante, com uma exploração profunda das motivações e dos conflitos internos dos personagens. A escrita é afiada, com diálogos realistas que refletem a obscuridade das relações interpessoais e os dilemas éticos enfrentados por Carla durante a jornada - sério, é uma montanha-russa de emoções! Ilker Çatak, em sua direção, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de tensão crescente ao mesmo tempo que nunca deixa de lado a introspecção - ele captura a claustrofobia e a intensidade emocional do ambiente escolar, priorizando enquadramentos mais fechados enquanto a fotografia usa e abusa de uma paleta de cores frias para refletir o estado mental da protagonista. Çatak ainda se apropria de longos planos, alguns deles com a câmera na mão e muitas vezes "nervosa", o que nos permite uma imersão nas interações e nos conflitos como se estivéssemos lá - tudo funcionando de uma tão maneira orgânica que nem nos damos conta do quanto estamos envolvido com aquele caos psicológico.
Leonie Benesch entrega uma performance extraordinária, capturando a mistura de idealismo quase imaturo, com uma determinação e uma vulnerabilidade difícil de equilibrar. Benesch traz uma autenticidade crua para a sua personagem, tornando Carla uma figura profundamente humana - difícil não se empatizar ou sofrer por ela. O elenco de apoio, incluindo atores como Michael Klammer e Oskar Zickur, oferece performances sólidas que enriquecem a narrativa, cada um contribuindo para a tensão e a complexidade do enredo com o único intuito de refletir as emoções em ebulição dos personagens na tensão crescente da audiência.
"A Sala dos Professores" tem um ritmo mais cadenciado e uma abordagem introspectiva que podem tornar o filme desafiador para aqueles que preferem narrativas impactantes visualmente - especialmente no terceiro ato quando achamos que a coisa vai ficar realmente feia. Justamente por essa quebra de expectativa que a "resolução do mistério" pode parecer um anti-clímax para alguns - mas veja, o foco está muito mais nas implicações morais do que em uma conclusão mais tradicional. Antes do play saiba que aqui temos uma exploração corajosa e intelectualmente estimulante de questões éticas dentro de um microcosmo tão particular - uma visão incisiva sobre os desafios de manter a integridade e a justiça em um mundo repleto de ambiguidades e pressões, onde ninguém pode ser subestimado (nem as crianças)!
Vale muito o seu play!
"A Vida Depois" machuca pela imprevisibilidade e por dar a exata noção de como não temos controle, muito menos certeza do que pode acontecer com quem amamos. A profundidade da discussão deixa claro nos primeiros minutos que não se trata de um filme dinâmico, mas certamente é um mergulho dos mais interessantes no universo de alguns adolescentes que sofreram um enorme trauma e precisam continuar seu caminho como se esse impacto fosse "apenas" passageiro.
"The Fallout" (no original) acompanha a colegial Vada (Jenna Ortega) em sua jornada por uma difícil crise emocional após vivenciar uma tragédia escolar. Seu relacionamento com família e amigos, assim como sua visão do mundo, são alterados para sempre e ela precisa aprender a lidar com isso antes que seja tarde. Confira o trailer:
Vencedor dos dois principais prêmios no SXSW Film Festival de 2021 (Melhor Filme pelo Júri e pela Audiência), "A Vida Depois" é intenso, marcante e extremamente introspectivo - e se você já tiver filhos, a experiência será ainda mais reflexiva. Muito bem conduzido pela atriz canadense e agora diretora Megan Park, o filme tem um cuidado e uma sensibilidade para tocar em assuntos delicados, mas que ao mesmo tempo são necessários para que a trama ganhe força. Se no prólogo, Park sugestiona uma situação de maneira criativa e corajosa, em inúmeras outras cenas ela faz questão de focar apenas no impacto emocional da personagem e, claro, nos reflexos dessas atitudes na relação com sua família e com amigos. Veja, Park não floreia, mas também não perde a mão - tudo é muito mais interiorizado do que exposto, mesmo que o imediatismo esteja ali.
Essas escolhas conceituais da diretora deixam o filme bastante cadenciado. Ao lado da fotógrafa e estreante na função, Kristen Correll, Park faz a câmera praticamente flutuar nos pensamentos de Vada, usando e abusando de planos fechados de extremo bom gosto. Apoiada em uma trilha sonora belíssima, muitas vezes tive a impressão de estar assistido a um dos bons episódios de "Euphoria" - a própria Jenna Ortega parece seguir os passos de Zendaya, e entrega uma performance segura, madura e muito inspirada. Aliás, todo o elenco funciona muito bem e aqui eu destaco uma linda cena entre Vada e seu pai Carlos Cavell (John Ortiz) onde ambos gritam seus sentimentos em um local reservado como se ali fosse uma espécie de rito, de recomeço, de reconexão, mas, principalmente, de amor - a cena é emocionante e muito sincera.
"A Vida Depois" sofre com a pressa de ter que estabelecer o caos emocional da protagonista, deixando de lado ótimas histórias e muitas possibilidade de identificação com a audiência (a relação com a irmã e com a mãe são só dois exemplos) - o que, certamente, em uma série ou minissérie só engrandeceria a trama. O filme tem o mérito de ser simples ao mesmo tempo em que é eficiente no que se propõe: discutir os efeitos impensáveis de um profundo trauma na cabeça (e na vida) de um adolescente. Embora a abordagem seja, de fato, cuidadosa, a forma como o silêncio é trabalhado dá o exato tom da seriedade e densidade do assunto - talvez tenha faltado um pouco mais de coragem para o arco de Mia Reed (Maddie Ziegler), cúmplice e amiga de Vada, mas com aquele final, tudo passou a fazer muito sentido - principalmente no que diz respeito as marcas e as consequências de uma realidade que não pede licença para acontecer.
Vale muito seu play!
"A Vida Depois" machuca pela imprevisibilidade e por dar a exata noção de como não temos controle, muito menos certeza do que pode acontecer com quem amamos. A profundidade da discussão deixa claro nos primeiros minutos que não se trata de um filme dinâmico, mas certamente é um mergulho dos mais interessantes no universo de alguns adolescentes que sofreram um enorme trauma e precisam continuar seu caminho como se esse impacto fosse "apenas" passageiro.
"The Fallout" (no original) acompanha a colegial Vada (Jenna Ortega) em sua jornada por uma difícil crise emocional após vivenciar uma tragédia escolar. Seu relacionamento com família e amigos, assim como sua visão do mundo, são alterados para sempre e ela precisa aprender a lidar com isso antes que seja tarde. Confira o trailer:
Vencedor dos dois principais prêmios no SXSW Film Festival de 2021 (Melhor Filme pelo Júri e pela Audiência), "A Vida Depois" é intenso, marcante e extremamente introspectivo - e se você já tiver filhos, a experiência será ainda mais reflexiva. Muito bem conduzido pela atriz canadense e agora diretora Megan Park, o filme tem um cuidado e uma sensibilidade para tocar em assuntos delicados, mas que ao mesmo tempo são necessários para que a trama ganhe força. Se no prólogo, Park sugestiona uma situação de maneira criativa e corajosa, em inúmeras outras cenas ela faz questão de focar apenas no impacto emocional da personagem e, claro, nos reflexos dessas atitudes na relação com sua família e com amigos. Veja, Park não floreia, mas também não perde a mão - tudo é muito mais interiorizado do que exposto, mesmo que o imediatismo esteja ali.
Essas escolhas conceituais da diretora deixam o filme bastante cadenciado. Ao lado da fotógrafa e estreante na função, Kristen Correll, Park faz a câmera praticamente flutuar nos pensamentos de Vada, usando e abusando de planos fechados de extremo bom gosto. Apoiada em uma trilha sonora belíssima, muitas vezes tive a impressão de estar assistido a um dos bons episódios de "Euphoria" - a própria Jenna Ortega parece seguir os passos de Zendaya, e entrega uma performance segura, madura e muito inspirada. Aliás, todo o elenco funciona muito bem e aqui eu destaco uma linda cena entre Vada e seu pai Carlos Cavell (John Ortiz) onde ambos gritam seus sentimentos em um local reservado como se ali fosse uma espécie de rito, de recomeço, de reconexão, mas, principalmente, de amor - a cena é emocionante e muito sincera.
"A Vida Depois" sofre com a pressa de ter que estabelecer o caos emocional da protagonista, deixando de lado ótimas histórias e muitas possibilidade de identificação com a audiência (a relação com a irmã e com a mãe são só dois exemplos) - o que, certamente, em uma série ou minissérie só engrandeceria a trama. O filme tem o mérito de ser simples ao mesmo tempo em que é eficiente no que se propõe: discutir os efeitos impensáveis de um profundo trauma na cabeça (e na vida) de um adolescente. Embora a abordagem seja, de fato, cuidadosa, a forma como o silêncio é trabalhado dá o exato tom da seriedade e densidade do assunto - talvez tenha faltado um pouco mais de coragem para o arco de Mia Reed (Maddie Ziegler), cúmplice e amiga de Vada, mas com aquele final, tudo passou a fazer muito sentido - principalmente no que diz respeito as marcas e as consequências de uma realidade que não pede licença para acontecer.
Vale muito seu play!
Mesmo com algumas críticas, eu te garanto: "Adão Negro" é um ótimo filme de herói - daqueles bem realizados, com boas cenas de ação, uma história descomplicada e um personagem para lá de cativante (muito mérito do The Rock, diga-se de passagem)! Seu único "problema" é que ele não parece um filme da DC, ele é uma cópia descarada da cartilha da Marvel - então não espere aquele belíssimo visual mais sombrio (e requintado) dos tempos de Snyder e muito menos o refinamento e a densidade narrativa de "The Batman" ou de "Coringa".
Alter ego de Teth-Adam e filho do faraó Ramsés II, "Adão Negro" conta a história de origem do anti-herói que foi consumido por poderes mágicos e transformado em um feiticeiro com habilidades inimagináveis com um forte sentimento de vingança. Campeão de Kahndaq que combateu a escravidão para salvar seu povo na Antiguidade, Adam é libertado por caçadores de relíquias no Oriente Médio após mais de 5.000 anos e agora precisa encontrar o seu verdadeiro caminho, além de impor o seu senso de justiça perante um mundo onde a humanidade está à beira do caos. Confira o trailer:
Embora descartado da primeira fase do que tende a ser uma nova era no Universo DC no cinema e no streaming, "Adão Negro" cumpre o seu papel como entretenimento e ganha uma sobrevida para um futuro retorno em melhores condições, digamos, de planejamento. Dinâmico e mais equilibrado que muitos dos últimos filmes da Marvel, incluindo "Thor: Amor e Trovão", o filme dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra (de "Jungle Cruise" e "Águas Rasas") tem o mérito de mexer com a nossa curiosidade ao apresentar um personagem com potencial de encarar ícones da cultura pop como o próprio Super-Homem, afinal sua super força, sua velocidade, resistência, capacidade de voar e de disparar raios são a maior representatividade do que esses personagens míticos podem representar perante os humanos - algo muito bem trabalhado no passado, como vimos em "O Homem de Aço" e "Batman vs Superman: A Origem da Justiça", e que vinha sendo descartado aos poucos.
Ao citar essas duas obras de Zack Snyder e justamente por isso colocar na balança a qualidade cinematográfica do filme de Collet-Serra, percebemos um outro nível de experiência (inferior, claro); no entanto os elementos narrativos testados e aprovados pelo MCU estão lá e isso faz com que "Adão Negro" mais acerte do que erre como filme de gênero, mesmo que aquela incômoda sensação de "já vi isso em algum lugar" nos acompanhe durante toda a jornada - o dispensável arco de apresentação da Sociedade da Justiça e de seus membros são um bom exemplo disso: tem um Senhor Destino que parece o Doutor Estranho, um Esmaga-Átomo que é a "cara" do Homem-Formiga com um toque de "Homem-Aranha", sem falar no Pantera, digo Gavião Negro, e até aquele QG com nave espacial e tudo, ao melhor estilo "X-Men".
Se a cena pós-crédito de "Liga da Justiça"(o "Snyder Cut", óbvio) nos encheu de esperança, eu diria que a de "Adão Negro" foi capaz de definir exatamente o que um verdadeiro fã de HQ imaginou durante muitos anos. Pena que o atual "todo poderoso da DC" já disse que aquilo não vai acontecer exatamente como nos foi apresentado (e aqui vou te poupar de spolers - você vai entender rapidamente quando assistir), mas é inegável que "Adão Negro" prova que a pancadaria muitas vezes se justifica como escolha narrativa e que a profundidade dos personagens e suas cruzadas mais íntimas não necessariamente precisam conviver em harmonia em todo projeto, desde que, claro, a identidade tenha solidez, o conceito seja respeitado e que a construção do Universo se mantenha coerente com a proposta como um todo.
"Adão Negro" vale sim o seu play, mesmo com as derrapadas cômicas que não se encaixam na DC, mas que tanta gente adora que nem a cópia vai incomodar!
Mesmo com algumas críticas, eu te garanto: "Adão Negro" é um ótimo filme de herói - daqueles bem realizados, com boas cenas de ação, uma história descomplicada e um personagem para lá de cativante (muito mérito do The Rock, diga-se de passagem)! Seu único "problema" é que ele não parece um filme da DC, ele é uma cópia descarada da cartilha da Marvel - então não espere aquele belíssimo visual mais sombrio (e requintado) dos tempos de Snyder e muito menos o refinamento e a densidade narrativa de "The Batman" ou de "Coringa".
Alter ego de Teth-Adam e filho do faraó Ramsés II, "Adão Negro" conta a história de origem do anti-herói que foi consumido por poderes mágicos e transformado em um feiticeiro com habilidades inimagináveis com um forte sentimento de vingança. Campeão de Kahndaq que combateu a escravidão para salvar seu povo na Antiguidade, Adam é libertado por caçadores de relíquias no Oriente Médio após mais de 5.000 anos e agora precisa encontrar o seu verdadeiro caminho, além de impor o seu senso de justiça perante um mundo onde a humanidade está à beira do caos. Confira o trailer:
Embora descartado da primeira fase do que tende a ser uma nova era no Universo DC no cinema e no streaming, "Adão Negro" cumpre o seu papel como entretenimento e ganha uma sobrevida para um futuro retorno em melhores condições, digamos, de planejamento. Dinâmico e mais equilibrado que muitos dos últimos filmes da Marvel, incluindo "Thor: Amor e Trovão", o filme dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra (de "Jungle Cruise" e "Águas Rasas") tem o mérito de mexer com a nossa curiosidade ao apresentar um personagem com potencial de encarar ícones da cultura pop como o próprio Super-Homem, afinal sua super força, sua velocidade, resistência, capacidade de voar e de disparar raios são a maior representatividade do que esses personagens míticos podem representar perante os humanos - algo muito bem trabalhado no passado, como vimos em "O Homem de Aço" e "Batman vs Superman: A Origem da Justiça", e que vinha sendo descartado aos poucos.
Ao citar essas duas obras de Zack Snyder e justamente por isso colocar na balança a qualidade cinematográfica do filme de Collet-Serra, percebemos um outro nível de experiência (inferior, claro); no entanto os elementos narrativos testados e aprovados pelo MCU estão lá e isso faz com que "Adão Negro" mais acerte do que erre como filme de gênero, mesmo que aquela incômoda sensação de "já vi isso em algum lugar" nos acompanhe durante toda a jornada - o dispensável arco de apresentação da Sociedade da Justiça e de seus membros são um bom exemplo disso: tem um Senhor Destino que parece o Doutor Estranho, um Esmaga-Átomo que é a "cara" do Homem-Formiga com um toque de "Homem-Aranha", sem falar no Pantera, digo Gavião Negro, e até aquele QG com nave espacial e tudo, ao melhor estilo "X-Men".
Se a cena pós-crédito de "Liga da Justiça"(o "Snyder Cut", óbvio) nos encheu de esperança, eu diria que a de "Adão Negro" foi capaz de definir exatamente o que um verdadeiro fã de HQ imaginou durante muitos anos. Pena que o atual "todo poderoso da DC" já disse que aquilo não vai acontecer exatamente como nos foi apresentado (e aqui vou te poupar de spolers - você vai entender rapidamente quando assistir), mas é inegável que "Adão Negro" prova que a pancadaria muitas vezes se justifica como escolha narrativa e que a profundidade dos personagens e suas cruzadas mais íntimas não necessariamente precisam conviver em harmonia em todo projeto, desde que, claro, a identidade tenha solidez, o conceito seja respeitado e que a construção do Universo se mantenha coerente com a proposta como um todo.
"Adão Negro" vale sim o seu play, mesmo com as derrapadas cômicas que não se encaixam na DC, mas que tanta gente adora que nem a cópia vai incomodar!
"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:
"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.
Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.
Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.
Otimo entretenimento!
"Além da Vida" conta a história de três pessoas que são assombradas pela "morte", de diferentes formas. George (Matt Damon) é um trabalhador da construção civil que tem uma ligação especial com a vida além da morte. Marie (Cécile de France), uma jornalista francesa, é uma das vítimas do Tsunami de 2004 que quase a matou. E Marcus (George McLaren e Frankie McLaren), é uma criança londrina, que quando perde o seu irmão gêmeo, procura desesperadamente obter respostas que fogem do seu entendimento. Cada um deles está em busca da sua verdade até que seus caminhos se cruzam e alteram para sempre aquilo em que eles acreditavam existir além da vida. Confira o Trailer:
"Hereafter" (no original) é um filme de 2010 dirigido pelo excelente Clint Eastwood que fala sobre a relação do ser humano com a morte (ou o que não se sabe dela). Por si só o tema já chamaria a atenção, mas somando uma direção precisa e segura de um premiado Eastwood e uma cena simplesmente sensacional do Tsunami (que, inclusive, lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Efeitos Visuais em 2011), teríamos um drama dos bons, certo? Certo, mas quando as três histórias dos três personagens distintos se encontram no final (ao melhor estilo Alejandro Gonzalez Inarritu) percebemos que o filme não supera nossas expectativas - seu sentimentalismo, na minha opinião, passou um pouco do ponto. Não chega a atrapalhar a nossa experiência, mas coloca "Além da Vida" em outra prateleira.
Certamente a direção é melhor do filme: as histórias são muito bem construídas, os personagens são intensos com seus dramas particulares e os “eventos” que os fazem pensar sobre a razão de suas próprias existências funcionam muito bem - mas o roteiro oscila, ele acaba alternando momentos grandiosos (e não falo só da cena do Tsunami) com momentos um pouco arrastados, que chega a cansar um pouco.
Claro que o filme vale a pena, existem três momentos específicos que justificam muito as duas horas de duração, mas admito que esperava um pouco mais - talvez até pelo tamanho das minhas expectativas depois de assistir um trailer tão empolgante.
Otimo entretenimento!
"Allen contra Farrow" é mais um soco no estômago - provavelmente tão intenso quando "Deixando Neverland". Talvez porquê o Woody Allen seja uma espécie Michael Jackson do cinema, se não para o público, certamente para toda classe cinematográfica de Hollywood. Não sei até que ponto a grandiosidade artística de um profissional como Allen interferiu na quantidade avassaladora de criticas que esse documentário em 4 partes da HBO recebeu, mas o fato é que, para mim e independente das minhas convicções como ser humano, a série é muito boa - mas é preciso dizer: existe uma certa espetacularização ao melhor estilo "American Crime Story" de um assunto bastante sensível.
A série mergulha nos bastidores de um dos escândalos mais notórios de Hollywood: a denúncia de abuso sexual que recaiu sobre o diretor Woody Allen em 1992, levada a público por Dylan Farrow, sua filha adotiva com a atriz Mia Farrow. Dylan tinha apenas sete anos quando acusou o pai de molestá-la dentro da casa de sua mãe, no estado americano de Connecticut. Deu-se início, em seguida, a um turbulento processo de custódia que ganhou as manchetes do mundo todo. Na época, Allen e Mia viviam um relacionamento de 12 anos e tinham três filhos – dois adotivos, Dylan e Moses, e um biológico, Satchel (agora conhecido como Ronan Farrow). Na esteira das alegações feitas por Dylan, veio à tona o fato de que Allen também se relacionava com outra filha de Mia, Soon-Yi Previn, sem que ninguém soubesse. Confira o trailer:
Se você espera um documentário marcado por uma investigação jornalística profunda e uma narrativa menos cinematográfica, pode esquecer, "Allen contra Farrow" não é para você. A série traz para a discussão temas pesados e quase sempre pautados por imagens bastante perturbadoras, porém o conceito narrativo é extremamente voltado para o entretenimento, com uma edição dinâmica, uma direção claramente orientada para manipulação de sentimentos, apoiada em artifícios dramáticos e, claro, que explora apenas um lado da história - mesmo citando o outro lado em todos os episódios, mas sem a mesma força de contra-argumentação.
O que pode incomodar, é o fato dos diretores Kirby Dick (duas vezes indicado ao Oscar - "The Invisible War" e "Twist of Faith") e Amy Ziering (com uma indicação por "The Invisible War"), e que repetem a parceria no assunto depois do aclamado "The Hunting Ground", escancararem suas opiniões sobre o caso e com isso desacreditarem nas provas contrárias à acusação, como por exemplo um depoimento de Moses Farrow (filho adotivo de Mia), que diz ter sofrido abuso físico pelas mãos de sua mãe. A impressão de que foi "dois pesos duas medidas" não para por aí - Ronan Farrow (filho biológico do casal) alega ter sido orientado pelo pai para defende-lo publicamente em troca de dinheiro para faculdade, porém em nenhum momento do documentário é abordado o fato de que Mia Farrow tenha feito uma oferta para Woody Allen em troca de abafar o caso mediante ao pagamento. Esse tipo de atitude, aliás, acaba desqualificando algo muito sério, como o filme que Farrow fez com Dylan dias depois dela ter, supostamente, sofrido abuso.
Ao se pautar apenas pelo documentário, qualquer ser humano será incapaz de dar um play em qualquer outro filme do Woody Allen, mas, sinceramente, não sei se seria esse o caso - muita coisa fica no ar, é pouco conclusivo e até os fatos são confusos. Cabe a quem assiste interpretar os fatos e tentar se abster da manipulação emocional que a própria história propõe. Tecnicamente, o documentário merece elogios, aproveitando muito bem os filmes caseiros da família, depoimentos de muitas pessoas que estiveram envolvidos com aquela situação, cenas de arquivo dos noticiários da época, ilustrações dos julgamentos pela guarda dos filhos, gravações telefônicas inéditas, enfim, é um show de montagem e de conexão dos fatos - algumas forçando demais a barra (como a que tenta encontrar padrões nos filmes de Allen para justificar suas atitudes pessoais) e outras completamente coerentes com a visão de quem sofreu durante anos com o fato - o encontro de Dylan com o promotor do caso é rápido, mas muito humano!
Olha, mesmo sabendo que vai dividir opiniões eu indico "Allen contra Farrow" de olhos fechados, mas aviso: não será uma jornada fácil (principalmente nos episódios 2 e 3)!
"Allen contra Farrow" é mais um soco no estômago - provavelmente tão intenso quando "Deixando Neverland". Talvez porquê o Woody Allen seja uma espécie Michael Jackson do cinema, se não para o público, certamente para toda classe cinematográfica de Hollywood. Não sei até que ponto a grandiosidade artística de um profissional como Allen interferiu na quantidade avassaladora de criticas que esse documentário em 4 partes da HBO recebeu, mas o fato é que, para mim e independente das minhas convicções como ser humano, a série é muito boa - mas é preciso dizer: existe uma certa espetacularização ao melhor estilo "American Crime Story" de um assunto bastante sensível.
A série mergulha nos bastidores de um dos escândalos mais notórios de Hollywood: a denúncia de abuso sexual que recaiu sobre o diretor Woody Allen em 1992, levada a público por Dylan Farrow, sua filha adotiva com a atriz Mia Farrow. Dylan tinha apenas sete anos quando acusou o pai de molestá-la dentro da casa de sua mãe, no estado americano de Connecticut. Deu-se início, em seguida, a um turbulento processo de custódia que ganhou as manchetes do mundo todo. Na época, Allen e Mia viviam um relacionamento de 12 anos e tinham três filhos – dois adotivos, Dylan e Moses, e um biológico, Satchel (agora conhecido como Ronan Farrow). Na esteira das alegações feitas por Dylan, veio à tona o fato de que Allen também se relacionava com outra filha de Mia, Soon-Yi Previn, sem que ninguém soubesse. Confira o trailer:
Se você espera um documentário marcado por uma investigação jornalística profunda e uma narrativa menos cinematográfica, pode esquecer, "Allen contra Farrow" não é para você. A série traz para a discussão temas pesados e quase sempre pautados por imagens bastante perturbadoras, porém o conceito narrativo é extremamente voltado para o entretenimento, com uma edição dinâmica, uma direção claramente orientada para manipulação de sentimentos, apoiada em artifícios dramáticos e, claro, que explora apenas um lado da história - mesmo citando o outro lado em todos os episódios, mas sem a mesma força de contra-argumentação.
O que pode incomodar, é o fato dos diretores Kirby Dick (duas vezes indicado ao Oscar - "The Invisible War" e "Twist of Faith") e Amy Ziering (com uma indicação por "The Invisible War"), e que repetem a parceria no assunto depois do aclamado "The Hunting Ground", escancararem suas opiniões sobre o caso e com isso desacreditarem nas provas contrárias à acusação, como por exemplo um depoimento de Moses Farrow (filho adotivo de Mia), que diz ter sofrido abuso físico pelas mãos de sua mãe. A impressão de que foi "dois pesos duas medidas" não para por aí - Ronan Farrow (filho biológico do casal) alega ter sido orientado pelo pai para defende-lo publicamente em troca de dinheiro para faculdade, porém em nenhum momento do documentário é abordado o fato de que Mia Farrow tenha feito uma oferta para Woody Allen em troca de abafar o caso mediante ao pagamento. Esse tipo de atitude, aliás, acaba desqualificando algo muito sério, como o filme que Farrow fez com Dylan dias depois dela ter, supostamente, sofrido abuso.
Ao se pautar apenas pelo documentário, qualquer ser humano será incapaz de dar um play em qualquer outro filme do Woody Allen, mas, sinceramente, não sei se seria esse o caso - muita coisa fica no ar, é pouco conclusivo e até os fatos são confusos. Cabe a quem assiste interpretar os fatos e tentar se abster da manipulação emocional que a própria história propõe. Tecnicamente, o documentário merece elogios, aproveitando muito bem os filmes caseiros da família, depoimentos de muitas pessoas que estiveram envolvidos com aquela situação, cenas de arquivo dos noticiários da época, ilustrações dos julgamentos pela guarda dos filhos, gravações telefônicas inéditas, enfim, é um show de montagem e de conexão dos fatos - algumas forçando demais a barra (como a que tenta encontrar padrões nos filmes de Allen para justificar suas atitudes pessoais) e outras completamente coerentes com a visão de quem sofreu durante anos com o fato - o encontro de Dylan com o promotor do caso é rápido, mas muito humano!
Olha, mesmo sabendo que vai dividir opiniões eu indico "Allen contra Farrow" de olhos fechados, mas aviso: não será uma jornada fácil (principalmente nos episódios 2 e 3)!
"Amigos para a Vida" é muito melhor do que pode parecer em um primeiro olhar, especialmente se você gostou de séries como "This is Us" ou "A Million Little Things". O filme dirigido pelo Jesse Zwick (da série "Nashville: No Ritmo da Fama") mescla com muita sabedoria um certo humor carregado de ironias com um drama cheio de camadas que vai ganhando corpo conforme a trama se desenrola, deixando uma aparente superficialidade para trás até chegar ao ponto de explorar com seriedade temas como amizade, amor, perda e a busca pela felicidade. Talvez quem tenha assistido a excelente produção francesa "Les petits mouchoirs" (que aqui no Brasil surgiu como "Até a Eternidade") ache "Amigos para a Vida" mais do mesmo, mas eu posso te garantir que além de um ótimo e leve entretenimento, esse filme vai tocar o seu coração.
A história, basicamente, gira em torno de Alex (Jason Ritter), um jovem que tenta lidar com a depressão. Quando seus amigos de faculdade descobrem sua tentativa de suicídio, decidem se reunir para um fim de semana juntos, na esperança de animá-lo. A partir desse encontro, antigos segredos são revelados, velhas feridas são reabertas e novos laços são formados. Confira o trailer (em inglês):
O tweet de Alex antes de sua tentativa de suicídio dizia: "Pergunte por mim amanhã e você encontrará um homem morto" - essa é uma frase dita por Mercutio antes de sua morte em "Romeu e Julieta" de William Shakespeare e não por acaso o ponto de partida para uma jornada de reencontro que discute a cada momento a importância de estar "hoje" ao lado de quem você realmente estima. "For Alex" (no original) se apropria de uma situação dramática para fazer um retrato honesto e comovente da vida, com seus altos e baixos, alegrias e tristezas. Quando o roteiro do próprio Zwick encontra seu verdadeiro caminho (e isso demora pelo menos um ato), percebemos que o desenvolvimento da trama vai além de uma premissa batida sobre a importância da amizade, do amor e da esperança; e a leveza como tudo isso é personificado pelo elenco cria uma fácil (e nostálgica) conexão que te fará rir, chorar e refletir sobre a vida.
O elenco, de fato, é um dos pontos fortes de "Amigos para a Vida" - basta dizer que esse foi um dos primeiros trabalhos de Jane Levy (a Zoey de "Zoey e a Sua Fantástica Playlist") e de Aubrey Plaza (a Harper Spiller de "The White Lotus"). Basicamente formado por 7 atores, o elenco mostra uma química invejável para esse tipo de texto - a forma como o roteiro vai envolvendo os personagens e seus dramas do passado, embora previsíveis, nos coloca dentro daquela dinâmica tão particular. Jason Ritter entrega uma performance interessante como Alex, transmitindo uma dor e uma fragilidade que vai além do estereótipo. Nate Parker e Max Greenfield também estão ótimos - seus personagens são multidimensionais e cheios de nuances, trazendo uma veracidade para a história que vale a pena ressaltar.
A direção de Jesse Zwick é competente, mas pouco criativa. Embora sensível e perspicaz, ele prefere se apoiar no equilíbrio entre o humor e o drama, sem cair em pieguices ou clichês, do que provocar seus atores e assim leva-los para um lugar desconhecido que traria ainda mais profundidade para as discussões - e é aqui que a fotografia do Andre Lascaris (de "Playdates") potencializa o trabalho do elenco, já que ele é capaz de capturar as nuances de cada relação sem expor seu real significado. "Amigos para a Vida" é isso, um filme que mostra como os amigos podem ser a nossa maior fonte de apoio nos momentos mais difíceis da vida, mesmo que essa relação seja carregada de marcas que precisam ser discutidas!
Vale seu play!
"Amigos para a Vida" é muito melhor do que pode parecer em um primeiro olhar, especialmente se você gostou de séries como "This is Us" ou "A Million Little Things". O filme dirigido pelo Jesse Zwick (da série "Nashville: No Ritmo da Fama") mescla com muita sabedoria um certo humor carregado de ironias com um drama cheio de camadas que vai ganhando corpo conforme a trama se desenrola, deixando uma aparente superficialidade para trás até chegar ao ponto de explorar com seriedade temas como amizade, amor, perda e a busca pela felicidade. Talvez quem tenha assistido a excelente produção francesa "Les petits mouchoirs" (que aqui no Brasil surgiu como "Até a Eternidade") ache "Amigos para a Vida" mais do mesmo, mas eu posso te garantir que além de um ótimo e leve entretenimento, esse filme vai tocar o seu coração.
A história, basicamente, gira em torno de Alex (Jason Ritter), um jovem que tenta lidar com a depressão. Quando seus amigos de faculdade descobrem sua tentativa de suicídio, decidem se reunir para um fim de semana juntos, na esperança de animá-lo. A partir desse encontro, antigos segredos são revelados, velhas feridas são reabertas e novos laços são formados. Confira o trailer (em inglês):
O tweet de Alex antes de sua tentativa de suicídio dizia: "Pergunte por mim amanhã e você encontrará um homem morto" - essa é uma frase dita por Mercutio antes de sua morte em "Romeu e Julieta" de William Shakespeare e não por acaso o ponto de partida para uma jornada de reencontro que discute a cada momento a importância de estar "hoje" ao lado de quem você realmente estima. "For Alex" (no original) se apropria de uma situação dramática para fazer um retrato honesto e comovente da vida, com seus altos e baixos, alegrias e tristezas. Quando o roteiro do próprio Zwick encontra seu verdadeiro caminho (e isso demora pelo menos um ato), percebemos que o desenvolvimento da trama vai além de uma premissa batida sobre a importância da amizade, do amor e da esperança; e a leveza como tudo isso é personificado pelo elenco cria uma fácil (e nostálgica) conexão que te fará rir, chorar e refletir sobre a vida.
O elenco, de fato, é um dos pontos fortes de "Amigos para a Vida" - basta dizer que esse foi um dos primeiros trabalhos de Jane Levy (a Zoey de "Zoey e a Sua Fantástica Playlist") e de Aubrey Plaza (a Harper Spiller de "The White Lotus"). Basicamente formado por 7 atores, o elenco mostra uma química invejável para esse tipo de texto - a forma como o roteiro vai envolvendo os personagens e seus dramas do passado, embora previsíveis, nos coloca dentro daquela dinâmica tão particular. Jason Ritter entrega uma performance interessante como Alex, transmitindo uma dor e uma fragilidade que vai além do estereótipo. Nate Parker e Max Greenfield também estão ótimos - seus personagens são multidimensionais e cheios de nuances, trazendo uma veracidade para a história que vale a pena ressaltar.
A direção de Jesse Zwick é competente, mas pouco criativa. Embora sensível e perspicaz, ele prefere se apoiar no equilíbrio entre o humor e o drama, sem cair em pieguices ou clichês, do que provocar seus atores e assim leva-los para um lugar desconhecido que traria ainda mais profundidade para as discussões - e é aqui que a fotografia do Andre Lascaris (de "Playdates") potencializa o trabalho do elenco, já que ele é capaz de capturar as nuances de cada relação sem expor seu real significado. "Amigos para a Vida" é isso, um filme que mostra como os amigos podem ser a nossa maior fonte de apoio nos momentos mais difíceis da vida, mesmo que essa relação seja carregada de marcas que precisam ser discutidas!
Vale seu play!
"Amor e Morte" é a "versão HBO" da igualmente competente "Candy"- talvez um pouco menos estereotipada e sensivelmente mais profunda na construção das camadas dos personagens. Essa versão lançada em 2023, foi criada por David E. Kelley ("Acima de Qualquer Suspeita") e dirigida por Lesli Linka Glatter ("Homeland") e Clark Johnson (de "Seven Seconds"), ou seja, um time que definitivamente sabe o que está fazendo quando o assunto é construir tensão. Baseada em uma história real e adaptado do livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", a minissérie mergulha nas profundezas da psique de Candy, explorando sua obsessão a partir de uma traição - eu diria que a trama faz um recorte muito interessante sobre escuridão que pode se esconder sob a superfície de vidas aparentemente comuns. Com uma narrativa que combina romance, investigação, suspense (psicológico) e até um toque de drama de tribunal, "Amor e Morte" oferece uma experiência, de fato, envolvente e emocionalmente complexa. Para os fãs de dramas criminais baseados em fatos reais, impossível não dar um play!
"Amor e Morte" é a "versão HBO" da igualmente competente "Candy"- talvez um pouco menos estereotipada e sensivelmente mais profunda na construção das camadas dos personagens. Essa versão lançada em 2023, foi criada por David E. Kelley ("Acima de Qualquer Suspeita") e dirigida por Lesli Linka Glatter ("Homeland") e Clark Johnson (de "Seven Seconds"), ou seja, um time que definitivamente sabe o que está fazendo quando o assunto é construir tensão. Baseada em uma história real e adaptado do livro "Evidence of Love: A True Story of Passion and Death in the Suburbs", a minissérie mergulha nas profundezas da psique de Candy, explorando sua obsessão a partir de uma traição - eu diria que a trama faz um recorte muito interessante sobre escuridão que pode se esconder sob a superfície de vidas aparentemente comuns. Com uma narrativa que combina romance, investigação, suspense (psicológico) e até um toque de drama de tribunal, "Amor e Morte" oferece uma experiência, de fato, envolvente e emocionalmente complexa. Para os fãs de dramas criminais baseados em fatos reais, impossível não dar um play!
Uma série criminal nórdica raiz e simplesmente viciante, assim é "Aqueles que Matam"! "Den som Dræber" (um original Viaplay) mergulha fundo nas complexidades da mente humana, trazendo uma abordagem sombria e visceral ao universo das investigações criminais. Criada por Ina Bruhn, essa série dinamarquesa se diferencia pelo formato antológico, onde cada temporada apresenta um novo caso, novos personagens e uma narrativa que vai muito além da tradicional caçada policial. Aqui, o crime é apenas o ponto de partida para uma jornada que confronta tanto o passado dos criminosos quanto os limites éticos e emocionais dos investigadores que os perseguem - nesse sentido, aliás, a série traz muitos dos conceitos narrativos de "The Killing" e de "True Detective", ou seja, se você gostou das referências, nem perca seu tempo lendo toda essa análise, vá direto para o play! Com uma atmosfera pesada e realista, a série está em sintonia com o que há de mais denso no suspense criminal nórdico,onde a tensão recorrente e a construção de personagens são tão protagonistas quanto o próprio mistério.
A trama de cada temporada é centrada em investigações complexas, onde os crimes e suas motivações são explorados de maneira quase cirúrgica, revelando nuances que deixam claro o quanto a mente humana pode ser um campo de batalha brutal e enigmático. No primeiro ano, por exemplo, acompanhamos o dedicado, mas complicado, detetive Jan Michelsen (Kenneth M. Christensen) investigando o desaparecimento de uma jovem que ele acredita estar relacionado a um caso semelhante de dez anos atrás. Quando o corpo de uma das jovens é encontrado, ele recorre à especialista em assassinos em série, Louise Bergstein (Natalie Madueño), para ajuda-lo na busca pela solução do mistério. Confira o trailer original:
O mais interessante de "Aqueles que Matam" é que em vez de se contentar com o “quem matou”, a série está mais interessada no “por que” e no “como”, usando o crime como um espelho para temas mais profundos como culpa e trauma, sempre pela perspectiva da linha tênue entre a sanidade e a obsessão. O foco na psicologia dos personagens, principalmente dos assassinos e dos próprios investigadores, adiciona uma camada de desconforto e introspecção que desafia a audiência a acompanhar de perto os conflitos que surgem ao longo dos episódios. O roteiro é extremamente preciso ao construir essas camadas emocionais, entregando diálogos que revelam e questionam ao mesmo tempo, mantendo um ritmo que oscila entre o suspenso e o reflexivo sem perder força.
A direção de fotografia modulada na primeira temporada pelo Eric Kress (de "Halo") merece destaque por sua capacidade de intensificar a tensão da trama com um visual pautado nos tons frios e nos ambientes cheios de desolação. Os enquadramentos das paisagens urbanas e rurais, quase sempre opressivas, se apropriam desse conceito para criar um clima de isolamento e de melancolia que é essencial na experiência da série. A escolha dos contrastes, das luzes e sombras, é cuidadosa, reforçando a sensação de que não há escapismo ali – apenas o confronto constante com as zonas mais sombrias da alma humana. Cada protagonista, seja detetive, psicólogo criminal ou consultor, traz consigo ao longo das temporadas um peso emocional que não é facilmente desvendado. As atuações são contidas, mas impactantes, explorando as reações silenciosas e o desgaste que os casos impõem a esses profissionais. Natalie Madueño e Simon Sears, por exemplo, entregam performances marcantes, construindo personagens humanos que carregam suas próprias feridas, tornando-os críveis e cativantes.
A estrutura introspectiva de "Aqueles que Matam", com foco no desenvolvimento psicológico e na tensão moral, pode parecer lenta em certos momentos, exigindo certa paciência e atenção, mas te garanto: vale a pena embarcar na proposta da série. E sim, existe uma certa densidade que impacta de verdade, especialmente nas temporadas que abordam temas mais sombrios como abuso, traumas de infância e violência doméstica, no entanto, é essa mesma intensidade que dá à série um caráter único. O fato é que "Aqueles que Matam" entrega uma narrativa que desafia e desconstrói o gênero criminal, mostrando que o verdadeiro horror nem sempre está no ato violento, mas nas motivações e nas consequências que ele carrega para todos os envolvidos. Para quem busca uma série que vai além do mistério e se aventura no território da psique humana, você está a um play de muitas horas de um excelente entretenimento!
Vale demais!
Uma série criminal nórdica raiz e simplesmente viciante, assim é "Aqueles que Matam"! "Den som Dræber" (um original Viaplay) mergulha fundo nas complexidades da mente humana, trazendo uma abordagem sombria e visceral ao universo das investigações criminais. Criada por Ina Bruhn, essa série dinamarquesa se diferencia pelo formato antológico, onde cada temporada apresenta um novo caso, novos personagens e uma narrativa que vai muito além da tradicional caçada policial. Aqui, o crime é apenas o ponto de partida para uma jornada que confronta tanto o passado dos criminosos quanto os limites éticos e emocionais dos investigadores que os perseguem - nesse sentido, aliás, a série traz muitos dos conceitos narrativos de "The Killing" e de "True Detective", ou seja, se você gostou das referências, nem perca seu tempo lendo toda essa análise, vá direto para o play! Com uma atmosfera pesada e realista, a série está em sintonia com o que há de mais denso no suspense criminal nórdico,onde a tensão recorrente e a construção de personagens são tão protagonistas quanto o próprio mistério.
A trama de cada temporada é centrada em investigações complexas, onde os crimes e suas motivações são explorados de maneira quase cirúrgica, revelando nuances que deixam claro o quanto a mente humana pode ser um campo de batalha brutal e enigmático. No primeiro ano, por exemplo, acompanhamos o dedicado, mas complicado, detetive Jan Michelsen (Kenneth M. Christensen) investigando o desaparecimento de uma jovem que ele acredita estar relacionado a um caso semelhante de dez anos atrás. Quando o corpo de uma das jovens é encontrado, ele recorre à especialista em assassinos em série, Louise Bergstein (Natalie Madueño), para ajuda-lo na busca pela solução do mistério. Confira o trailer original:
O mais interessante de "Aqueles que Matam" é que em vez de se contentar com o “quem matou”, a série está mais interessada no “por que” e no “como”, usando o crime como um espelho para temas mais profundos como culpa e trauma, sempre pela perspectiva da linha tênue entre a sanidade e a obsessão. O foco na psicologia dos personagens, principalmente dos assassinos e dos próprios investigadores, adiciona uma camada de desconforto e introspecção que desafia a audiência a acompanhar de perto os conflitos que surgem ao longo dos episódios. O roteiro é extremamente preciso ao construir essas camadas emocionais, entregando diálogos que revelam e questionam ao mesmo tempo, mantendo um ritmo que oscila entre o suspenso e o reflexivo sem perder força.
A direção de fotografia modulada na primeira temporada pelo Eric Kress (de "Halo") merece destaque por sua capacidade de intensificar a tensão da trama com um visual pautado nos tons frios e nos ambientes cheios de desolação. Os enquadramentos das paisagens urbanas e rurais, quase sempre opressivas, se apropriam desse conceito para criar um clima de isolamento e de melancolia que é essencial na experiência da série. A escolha dos contrastes, das luzes e sombras, é cuidadosa, reforçando a sensação de que não há escapismo ali – apenas o confronto constante com as zonas mais sombrias da alma humana. Cada protagonista, seja detetive, psicólogo criminal ou consultor, traz consigo ao longo das temporadas um peso emocional que não é facilmente desvendado. As atuações são contidas, mas impactantes, explorando as reações silenciosas e o desgaste que os casos impõem a esses profissionais. Natalie Madueño e Simon Sears, por exemplo, entregam performances marcantes, construindo personagens humanos que carregam suas próprias feridas, tornando-os críveis e cativantes.
A estrutura introspectiva de "Aqueles que Matam", com foco no desenvolvimento psicológico e na tensão moral, pode parecer lenta em certos momentos, exigindo certa paciência e atenção, mas te garanto: vale a pena embarcar na proposta da série. E sim, existe uma certa densidade que impacta de verdade, especialmente nas temporadas que abordam temas mais sombrios como abuso, traumas de infância e violência doméstica, no entanto, é essa mesma intensidade que dá à série um caráter único. O fato é que "Aqueles que Matam" entrega uma narrativa que desafia e desconstrói o gênero criminal, mostrando que o verdadeiro horror nem sempre está no ato violento, mas nas motivações e nas consequências que ele carrega para todos os envolvidos. Para quem busca uma série que vai além do mistério e se aventura no território da psique humana, você está a um play de muitas horas de um excelente entretenimento!
Vale demais!