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24 em 24

Essa recomendação é para você que gosta de um bom "MasterChef"! "24 em 24: O Último Chef de Pé" é um reality de competição culinária que traz uma proposta realmente inovadora e intensa ao gênero, desafiando chefs talentosos a sobreviverem em um verdadeiro teste de resistência e habilidade. Lançado em 2024, essa super-produção se destaca pela originalidade e pela pressão constante que esse formato coloca sobre os competidores, exigindo não apenas criatividade e técnica culinária, mas também resiliência física e mental. 

O conceito central de "24 in 24: Last Chef Standing" (no original) gira em torno de uma competição de 24 horas ininterruptas, onde 24 chefs são desafiados a criar pratos excepcionais sob uma pressão extrema de tempo e resistência. A cada novo desafio lançado, os competidores devem adaptar suas habilidades a diferentes temas e ingredientes surpresa, tudo enquanto lidam com o cansaço crescente e a necessidade de manter o mais alto nível de concentração. Ao final de cada rodada, um chef é eliminado, até que apenas um "Último Chef de Pé" seja coroado como vencedor. Confira o trailer (em inglês):

A estrutura de "24 em 24" é muito interessante e sua dinâmica narrativa, de fato, é muito envolvente. Com um estilo mais "The Final Table", a competição é desenhada para maximizar o drama e a tensão e não necessariamente o potencial gastronômico das criações dos chefs. Com câmeras capturando cada momento de estresse perante os desafios na cozinha, é com o formato de eliminação contínua que percebemos o quanto engajados ficamos como audiência. Embora as reviravoltas inesperadas e as decisões difíceis que testam não apenas as habilidades dos participantes, mas também sua capacidade de suportar a pressão psicológica, sejam diferenciais; eu diria que um dos pontos mais fortes do reality é a variedade e a criatividade dos desafios propostos - cada rodada força os chefs a pensar rapidamente e a adaptar suas técnicas em situações completamente imprevistas. O fator surpresa é realmente um golaço do formato.

A qualidade da produção impressiona - eu destaco a grandiosidade do cenário que certamente intensifica o sentido de urgência daquele ambiente de competição. Tanto a iluminação quanto os ângulos de câmera enfatizam o ritmo frenético da cozinha e a luta dos chefs para vencer uma competição inusitada e longe do óbvio. Os apresentadores, Michael Symon e Esther Choi já são verdadeiras celebridades da TV. Junto com jurados convidados, compostos por chefs renomados e críticos gastronômicos, trazem credibilidade e uma avaliação rigorosa a cada desafio. Suas críticas e elogios são precisos e muitas vezes brutais, o que adiciona uma camada extra de angústia para os competidores. Além disso, a interação entre os jurados e os participantes oferece momentos de aprendizado para o público, com dicas e insights sobre técnicas culinárias que merecem sua atenção.

Como não poderia deixar de ser, "24 em 24: O Último Chef de Pé" também faz um excelente trabalho em humanizar os competidores, explorando suas histórias pessoais, motivações e os sacrifícios que fazem em nome da competição - mas sem ser sentimentalista demais. Obviamente que isso cria uma conexão emocional com a audiência - é isso que nos faz torcer não apenas pelo talento, mas também pela determinação e pela história de vida dos chefs. Mesmo que a pressão extrema possa levar a momentos de tensão que beiram o desconfortável, com o estresse dos participantes transparecendo de maneira que pode não ser tão agradável, vejo no formato uma experiência realmente envolvente para quem gosta da culinária e da competição como entretenimento despretensioso.

Vale muito o seu play.

Assista Agora

Essa recomendação é para você que gosta de um bom "MasterChef"! "24 em 24: O Último Chef de Pé" é um reality de competição culinária que traz uma proposta realmente inovadora e intensa ao gênero, desafiando chefs talentosos a sobreviverem em um verdadeiro teste de resistência e habilidade. Lançado em 2024, essa super-produção se destaca pela originalidade e pela pressão constante que esse formato coloca sobre os competidores, exigindo não apenas criatividade e técnica culinária, mas também resiliência física e mental. 

O conceito central de "24 in 24: Last Chef Standing" (no original) gira em torno de uma competição de 24 horas ininterruptas, onde 24 chefs são desafiados a criar pratos excepcionais sob uma pressão extrema de tempo e resistência. A cada novo desafio lançado, os competidores devem adaptar suas habilidades a diferentes temas e ingredientes surpresa, tudo enquanto lidam com o cansaço crescente e a necessidade de manter o mais alto nível de concentração. Ao final de cada rodada, um chef é eliminado, até que apenas um "Último Chef de Pé" seja coroado como vencedor. Confira o trailer (em inglês):

A estrutura de "24 em 24" é muito interessante e sua dinâmica narrativa, de fato, é muito envolvente. Com um estilo mais "The Final Table", a competição é desenhada para maximizar o drama e a tensão e não necessariamente o potencial gastronômico das criações dos chefs. Com câmeras capturando cada momento de estresse perante os desafios na cozinha, é com o formato de eliminação contínua que percebemos o quanto engajados ficamos como audiência. Embora as reviravoltas inesperadas e as decisões difíceis que testam não apenas as habilidades dos participantes, mas também sua capacidade de suportar a pressão psicológica, sejam diferenciais; eu diria que um dos pontos mais fortes do reality é a variedade e a criatividade dos desafios propostos - cada rodada força os chefs a pensar rapidamente e a adaptar suas técnicas em situações completamente imprevistas. O fator surpresa é realmente um golaço do formato.

A qualidade da produção impressiona - eu destaco a grandiosidade do cenário que certamente intensifica o sentido de urgência daquele ambiente de competição. Tanto a iluminação quanto os ângulos de câmera enfatizam o ritmo frenético da cozinha e a luta dos chefs para vencer uma competição inusitada e longe do óbvio. Os apresentadores, Michael Symon e Esther Choi já são verdadeiras celebridades da TV. Junto com jurados convidados, compostos por chefs renomados e críticos gastronômicos, trazem credibilidade e uma avaliação rigorosa a cada desafio. Suas críticas e elogios são precisos e muitas vezes brutais, o que adiciona uma camada extra de angústia para os competidores. Além disso, a interação entre os jurados e os participantes oferece momentos de aprendizado para o público, com dicas e insights sobre técnicas culinárias que merecem sua atenção.

Como não poderia deixar de ser, "24 em 24: O Último Chef de Pé" também faz um excelente trabalho em humanizar os competidores, explorando suas histórias pessoais, motivações e os sacrifícios que fazem em nome da competição - mas sem ser sentimentalista demais. Obviamente que isso cria uma conexão emocional com a audiência - é isso que nos faz torcer não apenas pelo talento, mas também pela determinação e pela história de vida dos chefs. Mesmo que a pressão extrema possa levar a momentos de tensão que beiram o desconfortável, com o estresse dos participantes transparecendo de maneira que pode não ser tão agradável, vejo no formato uma experiência realmente envolvente para quem gosta da culinária e da competição como entretenimento despretensioso.

Vale muito o seu play.

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7 Dias em Entebbe

Finalmente "7 Dias em Entebbe", novo filme do brasileiro José Padilha que estreou em Berlin, está disponível no streaming! Antes de mais nada é preciso dizer que o filme foi muito criticado pelo fato do Padilha ter "humanizado" os terroristas e ter focado em relações pouco usuais quando o assunto é o sequestro de um avião cheio de civis que serviriam de moeda de troca para presos políticos. Sinceramente isso não interferiu em absolutamente nada na minha experiência ao assistir o filme - talvez até pelo fato de eu não conhecer muito da história e muito menos estar inserido nesse tipo de discussão.

Em julho de 1976, um voo da Air France que partiu de Tel-Aviv à Paris é sequestrado e forçado a pousar em Entebbe, na Uganda. Os passageiros judeus são mantidos reféns para que seja negociada a liberação dos terroristas e anarquistas palestinos presos em Israel, na Alemanha e na Suécia. Sob pressão, o governo israelita decide organizar uma operação de resgate, atacar o campo de pouso e soltar os reféns. Confira o trailer:

Independente do tipo de abordagem, o que me interessou foi o filme em si e nisso ele é irretocável. Tecnicamente perfeito! A fotografia do Lula Carvalho está linda, com planos muito bem construídos e um movimento de câmera que me agrada muito, equilibrando muito bem o estilo de direção do Padilha com o que a história pedia em cada cena. Aliás, o Padilha vai muito bem (óbvio) e mesmo trazendo uma ou outra referência dos seus antigos trabalhos, não se apoia em muletas que já foram motivo de muitas criticas recentes como aquele voice over de "Narcos" e do "Mecanismo", por exemplo - embora eu nunca tenha achado que era "mais do mesmo" e sim o estilo que ele gosta de imprimir como conceito narrativo e ponto final - escolha puramente pessoal do Diretor!

Eu realmente gostei do filme, trouxe uma sensação muito parecida de quando assisti "Argo", e a construção do roteiro proposta pelo Gregory Burke(de "71: Esquecido em Belfast") fazendo sempre um contraponto com os ensaios de uma companhia de ballet trouxe uma certa poesia para o filme, encaixou muito bem como alivio dramático e fez do trabalho do desenho de som, da mixagem e da trilha sonora um dos pontos mais interessantes do filme! Reparem como tudo se encaixa perfeitamente e nos convidam a refletir sobre tudo o que está acontecendo em Uganda!

Olha, é um filme com a marca do Padilha e ainda bem! Na minha opinião, um dos melhores de 2018!

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Finalmente "7 Dias em Entebbe", novo filme do brasileiro José Padilha que estreou em Berlin, está disponível no streaming! Antes de mais nada é preciso dizer que o filme foi muito criticado pelo fato do Padilha ter "humanizado" os terroristas e ter focado em relações pouco usuais quando o assunto é o sequestro de um avião cheio de civis que serviriam de moeda de troca para presos políticos. Sinceramente isso não interferiu em absolutamente nada na minha experiência ao assistir o filme - talvez até pelo fato de eu não conhecer muito da história e muito menos estar inserido nesse tipo de discussão.

Em julho de 1976, um voo da Air France que partiu de Tel-Aviv à Paris é sequestrado e forçado a pousar em Entebbe, na Uganda. Os passageiros judeus são mantidos reféns para que seja negociada a liberação dos terroristas e anarquistas palestinos presos em Israel, na Alemanha e na Suécia. Sob pressão, o governo israelita decide organizar uma operação de resgate, atacar o campo de pouso e soltar os reféns. Confira o trailer:

Independente do tipo de abordagem, o que me interessou foi o filme em si e nisso ele é irretocável. Tecnicamente perfeito! A fotografia do Lula Carvalho está linda, com planos muito bem construídos e um movimento de câmera que me agrada muito, equilibrando muito bem o estilo de direção do Padilha com o que a história pedia em cada cena. Aliás, o Padilha vai muito bem (óbvio) e mesmo trazendo uma ou outra referência dos seus antigos trabalhos, não se apoia em muletas que já foram motivo de muitas criticas recentes como aquele voice over de "Narcos" e do "Mecanismo", por exemplo - embora eu nunca tenha achado que era "mais do mesmo" e sim o estilo que ele gosta de imprimir como conceito narrativo e ponto final - escolha puramente pessoal do Diretor!

Eu realmente gostei do filme, trouxe uma sensação muito parecida de quando assisti "Argo", e a construção do roteiro proposta pelo Gregory Burke(de "71: Esquecido em Belfast") fazendo sempre um contraponto com os ensaios de uma companhia de ballet trouxe uma certa poesia para o filme, encaixou muito bem como alivio dramático e fez do trabalho do desenho de som, da mixagem e da trilha sonora um dos pontos mais interessantes do filme! Reparem como tudo se encaixa perfeitamente e nos convidam a refletir sobre tudo o que está acontecendo em Uganda!

Olha, é um filme com a marca do Padilha e ainda bem! Na minha opinião, um dos melhores de 2018!

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A Cidade é Nossa

Uma pancada! “A Cidade é Nossa” é uma minissérie que não pede licença para incomodar — ela exige esse incômodo! Criada por George Pelecanos e David Simon, mentes criativas por trás da aclamada "The Wire", essa produção da HBO mergulha no colapso moral e institucional da polícia de Baltimore, explorando com uma brutalidade impressionante as entranhas de um sistema corroído pela corrupção, pelo racismo estrutural, pela violência e pela impunidade. Em seis episódios viscerais, “A Cidade é Nossa” propõe mais do que uma versão dramatizada de um escândalo real, ela oferece uma análise feroz sobre o que acontece quando a estrutura que deveria proteger o cidadão se torna o maior perigo para sua existência. Muito (mas muito) impactante!

Baseada no livro homônimo do jornalista Justin Fenton,“We Own This City” (no original) acompanha a ascensão e queda da Gun Trace Task Force, uma unidade da polícia de Baltimore envolvida em um dos maiores escândalos de corrupção policial dos Estados Unidos. A história se passa após os protestos gerados pela morte de Freddie Gray e expõe como as políticas de guerra às drogas com uma abordagem mais agressiva contribuíram para a desintegração da confiança pública e para a perpetuação da violência. Confira o trailer e sinta o clima:

Em abril de 2015, Freddie Gray, um jovem negro de 25 anos, morreu sob custódia policial após sofrer uma lesão fatal na coluna vertebral durante o transporte em uma viatura. Sua morte e os protestos subsequentes colocaram Baltimore sob os holofotes mundiais, tornando-se mais um símbolo da violência policial nos Estados Unidos. É nesse contexto de descrédito e revolta social que “A Cidade é Nossa” se desenrola, apresentando uma Baltimore pós-Gray que tenta, em vão, reformar um departamento de polícia viciado em brutalidade e corrupção. A direção de Reinaldo Marcus Green (de "King Richard") adota uma abordagem quase documental, apostando em um mise-en-scène cru, com câmeras mais nervosas e uma edição minimalista no seu conceito, mas fragmentada em sua forma - e aqui cabe um comentário: o inicio da jornada pode causar um estranhamento pelos saltos temporais, no entanto, naturalmente, tudo vai se encaixando.

Mesmo com essa narrativa desconstruindo a história central através de múltiplas linhas temporais acompanhando diferentes investigações - incluindo as ações do Departamento de Justiça, de promotores locais e da força-tarefa federal, é essa escolha que deixa a jornada mais densa e que, mesmo exigindo atenção total da audiência, nos recompensa com uma visão holística da podridão institucional que se acumula há décadas. Jon Bernthal, com uma das performances mais intensas e complexas de sua carreira como o sargento Wayne Jenkins, surge como figura central dessa história real - ele é um  símbolo da falência ética de toda a corporação. Sua composição não é de um vilão unidimensional, mas de um homem que acredita estar acima da lei, alimentado por um sistema que recompensa o abuso e despreza qualquer forma de prestação de contas. A atuação de Bernthal oscila entre o carisma tóxico e a ameaça constante, tornando-o ao mesmo tempo repulsivo e fascinante de se assistir. E repare como não existe uma trilha sonora para suavizar ou amplificar as emoções que seu personagem nos impõe: o silêncio aqui, é incômodo e funciona como parte do discurso da obra.

O texto de Pelecanos e Simon é duro, direto e absolutamente cético. Não há arcos redentores, não há soluções fáceis, e a crítica contundente que já pulsava em "The Wire", atinge, mais uma vez, seu grau máximo de desencanto. Mas diferente da série anterior, "A Cidade é Nossa" não se dedica a múltiplas frentes como o tráfico, o sistema escolar ou a política. O foco aqui é o policial - e não o indivíduo, mas a instituição. É um estudo da lógica de poder que transforma protetores em predadores e recompensa quem mais rouba, agride e mente em nome de uma suposta “segurança pública”. Essa é uma jornada, de fato, difícil - uma obra para ser digerida aos poucos, que exige um olhar firme e necessário! Em tempos de discursos polarizados sobre segurança pública, “A Cidade é Nossa” se posiciona com clareza: não basta punir indivíduos se o sistema que os formou permanece intocado. E nesse ponto, a minissérie transforma a história de Baltimore em uma metáfora do fracasso de toda uma nação em lidar com as feridas abertas de seu passado - e presente.

Um espelho provocador e, acima de tudo, um aviso! Vale demais o seu play!

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Uma pancada! “A Cidade é Nossa” é uma minissérie que não pede licença para incomodar — ela exige esse incômodo! Criada por George Pelecanos e David Simon, mentes criativas por trás da aclamada "The Wire", essa produção da HBO mergulha no colapso moral e institucional da polícia de Baltimore, explorando com uma brutalidade impressionante as entranhas de um sistema corroído pela corrupção, pelo racismo estrutural, pela violência e pela impunidade. Em seis episódios viscerais, “A Cidade é Nossa” propõe mais do que uma versão dramatizada de um escândalo real, ela oferece uma análise feroz sobre o que acontece quando a estrutura que deveria proteger o cidadão se torna o maior perigo para sua existência. Muito (mas muito) impactante!

Baseada no livro homônimo do jornalista Justin Fenton,“We Own This City” (no original) acompanha a ascensão e queda da Gun Trace Task Force, uma unidade da polícia de Baltimore envolvida em um dos maiores escândalos de corrupção policial dos Estados Unidos. A história se passa após os protestos gerados pela morte de Freddie Gray e expõe como as políticas de guerra às drogas com uma abordagem mais agressiva contribuíram para a desintegração da confiança pública e para a perpetuação da violência. Confira o trailer e sinta o clima:

Em abril de 2015, Freddie Gray, um jovem negro de 25 anos, morreu sob custódia policial após sofrer uma lesão fatal na coluna vertebral durante o transporte em uma viatura. Sua morte e os protestos subsequentes colocaram Baltimore sob os holofotes mundiais, tornando-se mais um símbolo da violência policial nos Estados Unidos. É nesse contexto de descrédito e revolta social que “A Cidade é Nossa” se desenrola, apresentando uma Baltimore pós-Gray que tenta, em vão, reformar um departamento de polícia viciado em brutalidade e corrupção. A direção de Reinaldo Marcus Green (de "King Richard") adota uma abordagem quase documental, apostando em um mise-en-scène cru, com câmeras mais nervosas e uma edição minimalista no seu conceito, mas fragmentada em sua forma - e aqui cabe um comentário: o inicio da jornada pode causar um estranhamento pelos saltos temporais, no entanto, naturalmente, tudo vai se encaixando.

Mesmo com essa narrativa desconstruindo a história central através de múltiplas linhas temporais acompanhando diferentes investigações - incluindo as ações do Departamento de Justiça, de promotores locais e da força-tarefa federal, é essa escolha que deixa a jornada mais densa e que, mesmo exigindo atenção total da audiência, nos recompensa com uma visão holística da podridão institucional que se acumula há décadas. Jon Bernthal, com uma das performances mais intensas e complexas de sua carreira como o sargento Wayne Jenkins, surge como figura central dessa história real - ele é um  símbolo da falência ética de toda a corporação. Sua composição não é de um vilão unidimensional, mas de um homem que acredita estar acima da lei, alimentado por um sistema que recompensa o abuso e despreza qualquer forma de prestação de contas. A atuação de Bernthal oscila entre o carisma tóxico e a ameaça constante, tornando-o ao mesmo tempo repulsivo e fascinante de se assistir. E repare como não existe uma trilha sonora para suavizar ou amplificar as emoções que seu personagem nos impõe: o silêncio aqui, é incômodo e funciona como parte do discurso da obra.

O texto de Pelecanos e Simon é duro, direto e absolutamente cético. Não há arcos redentores, não há soluções fáceis, e a crítica contundente que já pulsava em "The Wire", atinge, mais uma vez, seu grau máximo de desencanto. Mas diferente da série anterior, "A Cidade é Nossa" não se dedica a múltiplas frentes como o tráfico, o sistema escolar ou a política. O foco aqui é o policial - e não o indivíduo, mas a instituição. É um estudo da lógica de poder que transforma protetores em predadores e recompensa quem mais rouba, agride e mente em nome de uma suposta “segurança pública”. Essa é uma jornada, de fato, difícil - uma obra para ser digerida aos poucos, que exige um olhar firme e necessário! Em tempos de discursos polarizados sobre segurança pública, “A Cidade é Nossa” se posiciona com clareza: não basta punir indivíduos se o sistema que os formou permanece intocado. E nesse ponto, a minissérie transforma a história de Baltimore em uma metáfora do fracasso de toda uma nação em lidar com as feridas abertas de seu passado - e presente.

Um espelho provocador e, acima de tudo, um aviso! Vale demais o seu play!

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A Cobra do Alabama

"A Cobra do Alabama" é mais um ótimo documentário da HBO que mistura depoimentos reais de quem, de alguma forma, esteve envolvido com o caso em 1991, com dramatizações de muito bom gosto, bem na linha True Crime que o Estúdio se especializou, mas sem necessariamente aquela obrigação de nos surpreender (o que pode ser um pouco frustrante, admito) - mas o fato é que a história por si só é tão bizarra que a sensação de que "nada mais é possível nos pegar de surpresa" nos acompanha durante toda a jornada, praticamente nos obrigando a ficar com os olhos grudados na tela até seu final.

"Alabama Snake" (no original) explora o supreedente caso que aconteceu em 4 de outubro de 1991, quando um crime violento foi relatado na pacata cidade de Scottsboro, Alabama. Glenn Summerford, um conhecido ministro pentecostal da comunidade, foi acusado de tentar assassinar sua esposa com uma cascavel - isso mesmo, com uma cobra! Confira o trailer (em inglês):

"A Cobra do Alabama" faz parte de um projeto especial da HBO onde cinco diretores diferentes produziram cinco documentários, definidos como fascinantes, sobre crimes reais, onde as histórias iam além das manchetes sensacionalistas dos casos, ou seja, a ideia era que os roteiros explorassem o componente humano e com isso tentassem equilibrar todos os aspectos dos crimes, mergulhando no universo íntimo dos criminosos, das vítimas e, eventualmente, dos sobreviventes - foi dessa antologia, aliás, que saiu o projeto do ganhador do Oscar, Alex Gibney (por "Taxi to the Dark Side" em 2007), chamado "Louco Não, Doido".

Aqui, Theo Love (do instigante "GameStop Contra Wall Street") se apropria de uma narrativa que tem como conceito não respeitar a linha temporal, ou seja, ele está sempre misturando o passado e o presente com o claro intuito de ir revelando os detalhes da investigação, as particularidades do caso e os perfis dos envolvidos, aos poucos, sem a preocupação de ir conectando as pontas, mas sim de lançar pistas para que ao longo dos 90 minutos de filme, a audiência construa sua própria tese. A excelente produção inclui entrevistas com pessoas que conheciam bem Summerford e que falam do seu histórico violento e sua redenção espiritual. Entre elas estão a própria Darlene Summerford que sobreviveu aos ataques; Marty, o filho do casal, e Doris, ex-mulher de Glenn - todos ajudam a construir o complexo cenário que levaria à aterrorizante e suposta tentativa de homicídio.

Aliás, uma figura importante no documentário é o historiador Dr. Thomas G. Burton, especialista em cultura, crenças e folclore das igrejas pentecostais - é ele que revela as praticas do curioso rito de adestramento de serpentes, por onde Deus julgaria o pecador através da picada do animal (oi?). Sim, eu sei que é insano, mas posso te garantir que esse é só um dos absurdos dessa história maluca. Se não excepcional, as entrevistas de Burton com Summerford fazem parte de um extenso material em vídeo e áudio que ajudaram a dar um aspecto bastante palpável ao tom mais misterioso de "A Cobra do Alabama" que foi brilhantemente editado pelo talentoso Andy McAllister - cineasta indicado ao SXSW Grand Jury Award pelo seu curta documental "The Pioneertown Palace".

Vale seu play!

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"A Cobra do Alabama" é mais um ótimo documentário da HBO que mistura depoimentos reais de quem, de alguma forma, esteve envolvido com o caso em 1991, com dramatizações de muito bom gosto, bem na linha True Crime que o Estúdio se especializou, mas sem necessariamente aquela obrigação de nos surpreender (o que pode ser um pouco frustrante, admito) - mas o fato é que a história por si só é tão bizarra que a sensação de que "nada mais é possível nos pegar de surpresa" nos acompanha durante toda a jornada, praticamente nos obrigando a ficar com os olhos grudados na tela até seu final.

"Alabama Snake" (no original) explora o supreedente caso que aconteceu em 4 de outubro de 1991, quando um crime violento foi relatado na pacata cidade de Scottsboro, Alabama. Glenn Summerford, um conhecido ministro pentecostal da comunidade, foi acusado de tentar assassinar sua esposa com uma cascavel - isso mesmo, com uma cobra! Confira o trailer (em inglês):

"A Cobra do Alabama" faz parte de um projeto especial da HBO onde cinco diretores diferentes produziram cinco documentários, definidos como fascinantes, sobre crimes reais, onde as histórias iam além das manchetes sensacionalistas dos casos, ou seja, a ideia era que os roteiros explorassem o componente humano e com isso tentassem equilibrar todos os aspectos dos crimes, mergulhando no universo íntimo dos criminosos, das vítimas e, eventualmente, dos sobreviventes - foi dessa antologia, aliás, que saiu o projeto do ganhador do Oscar, Alex Gibney (por "Taxi to the Dark Side" em 2007), chamado "Louco Não, Doido".

Aqui, Theo Love (do instigante "GameStop Contra Wall Street") se apropria de uma narrativa que tem como conceito não respeitar a linha temporal, ou seja, ele está sempre misturando o passado e o presente com o claro intuito de ir revelando os detalhes da investigação, as particularidades do caso e os perfis dos envolvidos, aos poucos, sem a preocupação de ir conectando as pontas, mas sim de lançar pistas para que ao longo dos 90 minutos de filme, a audiência construa sua própria tese. A excelente produção inclui entrevistas com pessoas que conheciam bem Summerford e que falam do seu histórico violento e sua redenção espiritual. Entre elas estão a própria Darlene Summerford que sobreviveu aos ataques; Marty, o filho do casal, e Doris, ex-mulher de Glenn - todos ajudam a construir o complexo cenário que levaria à aterrorizante e suposta tentativa de homicídio.

Aliás, uma figura importante no documentário é o historiador Dr. Thomas G. Burton, especialista em cultura, crenças e folclore das igrejas pentecostais - é ele que revela as praticas do curioso rito de adestramento de serpentes, por onde Deus julgaria o pecador através da picada do animal (oi?). Sim, eu sei que é insano, mas posso te garantir que esse é só um dos absurdos dessa história maluca. Se não excepcional, as entrevistas de Burton com Summerford fazem parte de um extenso material em vídeo e áudio que ajudaram a dar um aspecto bastante palpável ao tom mais misterioso de "A Cobra do Alabama" que foi brilhantemente editado pelo talentoso Andy McAllister - cineasta indicado ao SXSW Grand Jury Award pelo seu curta documental "The Pioneertown Palace".

Vale seu play!

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A Escada

A Escada

Quando assisti a minissérie documental da Netflix "The Staircase" em 2018 o subgênero de "true crime" ainda estava se estabelecendo em um mercado de streaming que ainda engatinhava. A Netflix surfava no grande sucesso de "Making a Murderer" e a HBO no surpreendente final de "The Jinx", porém existia um grande diferencial nessa nova narrativa: 80% dos episódios focavam no julgamento e nas estratégias de defesa de Michael Peterson, escritor americano suspeito de assassinar sua mulher Kathleen. A história, naquele momento já era incrível, porém quatro anos depois a HBO lança uma visão, em formato de ficção, um pouco mais intima sobre o caso, ampliando nossa percepção sobre os personagens envolvidos e nos trazendo informações que o documentário não teve como explorar - e te garanto: funciona demais!

"A Escada" acompanha Michael Peterson (Colin Firth), um famoso escritor de suspense criminal acusado de assassinar brutalmente a própria esposa, Kathleen Peterson (Toni Collette). No ano de 2001, Peterson ligou para a polícia avisando que sua mulher havia sofrido um acidente, caindo da escada enquanto estava bêbada. Mas as investigações constataram que ela foi espancada até a morte e que ele mudou a cena do crime para criar a imagem de um acidente doméstico. Com a exposição na mídia, vários segredos de família foram desenterrados, incluindo a possibilidade de infidelidade, e a cada nova informação o público foi descobrindo que o casamento de Michael e Kathleen estava longe de ser perfeito. Rapidamente, Michael se tornou o único suspeito do crime e acabou sentenciado a vários anos de prisão. Ele lutou na justiça ferozmente por anos para provar sua inocência, mas todas as peças do crime apontava para sua culpa. Confira o trailer:

Criada e dirigida pelo americano Antonio Campos (de "The Sinner" e "O diabo de cada dia") a minissérie da HBO acerta ao contar essa história pela perspectiva de quem a tornou um sucesso - o diretor do documentário da Netflix, Jean-Xavier de Lestrade. Lançado originalmente em 2004 e ganhando novas imagens entre 2013 e 2018 quando o documentário saiu de 8 horas de material para mais de 13 horas, o registro feito por Lestrade foi além de um fator de admiração para Campos, como virou parte da história de Michael Peterson. O fascínio do diretor pelo caso fez com que ele usasse dessa fonte riquíssima para dramatizar toda a história, com uma abordagem mais imparcial e oferecendo um olhar inédito para a todas as dúvidas que o documentário não conseguiu responder.

A imparcialidade, aliás, é um dos trunfos de "A Escada", pois a cada dois episódios, sempre no seu final, assistimos o que aconteceu na noite do crime sob a perspectiva de uma versão específica. São basicamente 4 versões que ilustram todas as dúvidas e certezas dos envolvidos nos bastidores do julgamento de Michael Peterson. Essa dinâmica narrativa imposta por Campos é tão fascinante quanto viciante - nossa ânsia por respostas refletem exatamente a atmosfera de tensão e angústia de toda sociedade de Durham, na Carolina do Norte (onde o suposto crime aconteceu).

O elenco é primoroso: Colin Firth e Toni Collette, indicados ao Emmy de 2022 pelas performances, estão exemplares. Mas também não poderia deixar de destacar o trabalho de Vincent Vermignon (como o diretor Jean-Xavier), Juliette Binoche (como a montadora do documentário, Sophie Broussard) e Michael Stuhlbarg (como o advogado David Rudolf). Outro destaque, sem dúvida, diz respeito a reconstrução daqueles cenários - mérito de Michael Shaw (de "Billions"). A montagem e a trilha sonora também são primorosas. Graças a qualidade de todos esses elementos, em muitos momentos temos a exata impressão que as imagens saíram do documentário de Jean-Xavier com uma veracidade que a ficção seria incapaz de reproduzir!

Dito isso, fica fácil afirmar: essa é uma das melhores minisséries de 2022 e se você gosta de "American Crime Story", certamente vai se apaixonar por "A Escada", pois o conceito narrativo é basicamente o mesmo, porém com o selo adicional de qualidade HBO! Vale muito o seu play!

PS: a título de recomendação, assista a minissérie documental "The Staircase" da Neflix antes do play em "A Escada"!

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Quando assisti a minissérie documental da Netflix "The Staircase" em 2018 o subgênero de "true crime" ainda estava se estabelecendo em um mercado de streaming que ainda engatinhava. A Netflix surfava no grande sucesso de "Making a Murderer" e a HBO no surpreendente final de "The Jinx", porém existia um grande diferencial nessa nova narrativa: 80% dos episódios focavam no julgamento e nas estratégias de defesa de Michael Peterson, escritor americano suspeito de assassinar sua mulher Kathleen. A história, naquele momento já era incrível, porém quatro anos depois a HBO lança uma visão, em formato de ficção, um pouco mais intima sobre o caso, ampliando nossa percepção sobre os personagens envolvidos e nos trazendo informações que o documentário não teve como explorar - e te garanto: funciona demais!

"A Escada" acompanha Michael Peterson (Colin Firth), um famoso escritor de suspense criminal acusado de assassinar brutalmente a própria esposa, Kathleen Peterson (Toni Collette). No ano de 2001, Peterson ligou para a polícia avisando que sua mulher havia sofrido um acidente, caindo da escada enquanto estava bêbada. Mas as investigações constataram que ela foi espancada até a morte e que ele mudou a cena do crime para criar a imagem de um acidente doméstico. Com a exposição na mídia, vários segredos de família foram desenterrados, incluindo a possibilidade de infidelidade, e a cada nova informação o público foi descobrindo que o casamento de Michael e Kathleen estava longe de ser perfeito. Rapidamente, Michael se tornou o único suspeito do crime e acabou sentenciado a vários anos de prisão. Ele lutou na justiça ferozmente por anos para provar sua inocência, mas todas as peças do crime apontava para sua culpa. Confira o trailer:

Criada e dirigida pelo americano Antonio Campos (de "The Sinner" e "O diabo de cada dia") a minissérie da HBO acerta ao contar essa história pela perspectiva de quem a tornou um sucesso - o diretor do documentário da Netflix, Jean-Xavier de Lestrade. Lançado originalmente em 2004 e ganhando novas imagens entre 2013 e 2018 quando o documentário saiu de 8 horas de material para mais de 13 horas, o registro feito por Lestrade foi além de um fator de admiração para Campos, como virou parte da história de Michael Peterson. O fascínio do diretor pelo caso fez com que ele usasse dessa fonte riquíssima para dramatizar toda a história, com uma abordagem mais imparcial e oferecendo um olhar inédito para a todas as dúvidas que o documentário não conseguiu responder.

A imparcialidade, aliás, é um dos trunfos de "A Escada", pois a cada dois episódios, sempre no seu final, assistimos o que aconteceu na noite do crime sob a perspectiva de uma versão específica. São basicamente 4 versões que ilustram todas as dúvidas e certezas dos envolvidos nos bastidores do julgamento de Michael Peterson. Essa dinâmica narrativa imposta por Campos é tão fascinante quanto viciante - nossa ânsia por respostas refletem exatamente a atmosfera de tensão e angústia de toda sociedade de Durham, na Carolina do Norte (onde o suposto crime aconteceu).

O elenco é primoroso: Colin Firth e Toni Collette, indicados ao Emmy de 2022 pelas performances, estão exemplares. Mas também não poderia deixar de destacar o trabalho de Vincent Vermignon (como o diretor Jean-Xavier), Juliette Binoche (como a montadora do documentário, Sophie Broussard) e Michael Stuhlbarg (como o advogado David Rudolf). Outro destaque, sem dúvida, diz respeito a reconstrução daqueles cenários - mérito de Michael Shaw (de "Billions"). A montagem e a trilha sonora também são primorosas. Graças a qualidade de todos esses elementos, em muitos momentos temos a exata impressão que as imagens saíram do documentário de Jean-Xavier com uma veracidade que a ficção seria incapaz de reproduzir!

Dito isso, fica fácil afirmar: essa é uma das melhores minisséries de 2022 e se você gosta de "American Crime Story", certamente vai se apaixonar por "A Escada", pois o conceito narrativo é basicamente o mesmo, porém com o selo adicional de qualidade HBO! Vale muito o seu play!

PS: a título de recomendação, assista a minissérie documental "The Staircase" da Neflix antes do play em "A Escada"!

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A Extorsão

Se você gosta do estilo argentino de construir uma trama razoavelmente complexa, cheia de mistérios e com um drama consistente bem na linha de "O Segredo dos seus Olhos", pode abrir um sorriso, pois é exatamente isso que você vai encontrar em "A Extorsão"- aliás, o premiado diretor de "O Segredo dos seus Olhos", Juan José Campanella é um dos produtores executivos aqui. Com uma trama muito bem costurada, esse filme dirigido pelo talentoso Martino Zaidelis (vencedor do Festival de Nova York em 2022 com "Los Enviados") é um verdadeiro e fascinante mergulho nos obscuros e perigosos subterrâneos da corrupção e da extorsão política pelos olhos de quem é chantageado - e diga-se de passagem: o "chantageado" Guillermo Francella dá uma verdadeira aula como Alejandro Petrossián.

Na trama, Alejandro, um experiente piloto de avião à beira da sua aposentadoria, é obrigado a colaborar com os serviços de inteligência de seu país para evitar ser punido por um erro grave que cometeu no trabalho e que impactaria diretamente na sua vida pessoal. Sua missão: transportar misteriosas malas na rota Buenos Aires / Madrid, sem saber o que está levando. Confira o trailer:

O roteiro, sem a menor dúvida, é um dos pontos altos de "A Extorsão"- embora em alguns momentos ele caia na tentação de querer explicar demais para mostrar que tudo foi muito bem pensado para fazer todo sentido. Escrito com maestria pelo jovem Emanuel Diez (também de "Los Enviados"), o texto mantém uma mistura muito equilibrada de mistério, ação e drama, criando uma atmosfera de tensão e intriga que nos envolve de uma maneira muito particular - a sensação de não saber "o que está por vir", típico de filmes argentinos e espanhóis de uma nova geração de diretores, nos companha durante os 120 minutos sem pausa para nos deixar respirar e isso é muito bacana. Os diálogos são dinâmicos e muito bem elaborados, no entanto é no subtexto que o filme ganha camadas mais profundas e que impactam diretamente nos personagens - e é aí que eles começam a brilhar.

Francella (do impagável "Minha Obra-Prima") é indiscutível. No entanto, o filme ainda traz ótimas surpresas como o Pablo Rago (o corrupto Saavedra) e o Guillermo Arengo (o simpático, mas pouco confiável, Fernando Marconi). Veja, todo elenco entrega performances muito interessantes, dando vida aos personagens pelo viés da imperfeição, porém com muita humanidade - se Alejandro defende suas motivações genuínas para aceitar a missão imposta por Saavedra, ele só está nessa situação porque em algum momento ele também cometeu erros que colocam em dúvida seu caráter. "A Extorsão" provoca justamente essa reflexão: o que faríamos se tivéssemos que aceitar esse tipo de missão? 

Em conclusão, "La Extorsión" (no original) é uma agradável surpresa - uma experiência cinematográfica empolgante e provocativa bem no estilo Campanella. Com uma narrativa bem escrita, performances notáveis e uma direção impecável, o filme destaca-se como uma das melhores produções argentinas desses tempos mais recentes. Então, se você é fã desse tipo de filme, não deixe de assistir, pois seu entretenimento está mais que garantido.

Vale seu play!

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Se você gosta do estilo argentino de construir uma trama razoavelmente complexa, cheia de mistérios e com um drama consistente bem na linha de "O Segredo dos seus Olhos", pode abrir um sorriso, pois é exatamente isso que você vai encontrar em "A Extorsão"- aliás, o premiado diretor de "O Segredo dos seus Olhos", Juan José Campanella é um dos produtores executivos aqui. Com uma trama muito bem costurada, esse filme dirigido pelo talentoso Martino Zaidelis (vencedor do Festival de Nova York em 2022 com "Los Enviados") é um verdadeiro e fascinante mergulho nos obscuros e perigosos subterrâneos da corrupção e da extorsão política pelos olhos de quem é chantageado - e diga-se de passagem: o "chantageado" Guillermo Francella dá uma verdadeira aula como Alejandro Petrossián.

Na trama, Alejandro, um experiente piloto de avião à beira da sua aposentadoria, é obrigado a colaborar com os serviços de inteligência de seu país para evitar ser punido por um erro grave que cometeu no trabalho e que impactaria diretamente na sua vida pessoal. Sua missão: transportar misteriosas malas na rota Buenos Aires / Madrid, sem saber o que está levando. Confira o trailer:

O roteiro, sem a menor dúvida, é um dos pontos altos de "A Extorsão"- embora em alguns momentos ele caia na tentação de querer explicar demais para mostrar que tudo foi muito bem pensado para fazer todo sentido. Escrito com maestria pelo jovem Emanuel Diez (também de "Los Enviados"), o texto mantém uma mistura muito equilibrada de mistério, ação e drama, criando uma atmosfera de tensão e intriga que nos envolve de uma maneira muito particular - a sensação de não saber "o que está por vir", típico de filmes argentinos e espanhóis de uma nova geração de diretores, nos companha durante os 120 minutos sem pausa para nos deixar respirar e isso é muito bacana. Os diálogos são dinâmicos e muito bem elaborados, no entanto é no subtexto que o filme ganha camadas mais profundas e que impactam diretamente nos personagens - e é aí que eles começam a brilhar.

Francella (do impagável "Minha Obra-Prima") é indiscutível. No entanto, o filme ainda traz ótimas surpresas como o Pablo Rago (o corrupto Saavedra) e o Guillermo Arengo (o simpático, mas pouco confiável, Fernando Marconi). Veja, todo elenco entrega performances muito interessantes, dando vida aos personagens pelo viés da imperfeição, porém com muita humanidade - se Alejandro defende suas motivações genuínas para aceitar a missão imposta por Saavedra, ele só está nessa situação porque em algum momento ele também cometeu erros que colocam em dúvida seu caráter. "A Extorsão" provoca justamente essa reflexão: o que faríamos se tivéssemos que aceitar esse tipo de missão? 

Em conclusão, "La Extorsión" (no original) é uma agradável surpresa - uma experiência cinematográfica empolgante e provocativa bem no estilo Campanella. Com uma narrativa bem escrita, performances notáveis e uma direção impecável, o filme destaca-se como uma das melhores produções argentinas desses tempos mais recentes. Então, se você é fã desse tipo de filme, não deixe de assistir, pois seu entretenimento está mais que garantido.

Vale seu play!

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A Grande Mentira

Existe um linha muito tênue entre o bom e o ruim e alguns filmes acabam transitando por ela - "A Grande Mentira" é um ótimo exemplo disso! O filme acompanha o golpista Roy Courtnay (Ian McKellen) desde o momento em que ele conhece a viúva Betty McLeish (Hellen Mirren) em um site de namoro. Depois de alguns poucos encontros, Betty abre sua casa e sua vida para Courtnay que enxerga nesse novo relacionamento mais uma chance para dar um grande golpe. O problema é que Roy acaba se apaixonando por ela ao mesmo tempo em que o desconfiado sobrinho de Betty começa investigar o seu passado. Assista o trailer para continuarmos nossa análise:

Baseado no livro de Nicholas Searle, "A Grande Mentira" transita muito bem entre alguns gêneros como suspense e drama, com personagens mais complexos, daqueles que só o passado pode explicar as atitudes do presente, muito comum em filmes dos anos 90 como "Mulher Solteira Procura" ou "Louca Obsessão". Então vamos lá: por muito tempo o "flashback" carregou a fama de servir de muleta para os roteiristas, afinal era a chance de tirar o coelho da cartola e surpreender o publico com um final impensável, acontece que os tempos são outros e muito da gramática cinematográfica que funcionava perfeitamente há 20 anos atrás, hoje já não gera o mesmo efeito e muito menos o mesmo resultado. Nesse contexto, é até possível imaginar a qualidade do livro de Searle, mas sua adaptação vai soar bastante superficial para os mais exigentes, pois o roteiro não tem tempo de se aprofundar no desenvolvimento dos ótimos personagens de Mirren e McKellen e muito menos em tudo que os rodeiam - as peças que precisávamos para fechar o quebra-cabeça certamente estariam lá se o roteiro fosse melhor (ou se a história proporcionasse isso de uma maneira mais inteligente), não é o caso! Não que o filme seja ruim, não é isso, mas essas tramas secundárias são tão mal desenvolvidas que pouco se aproveita no plot principal, que é o que realmente interessa - é a conexão que é fraca, não o fato delas existirem. Um bom exemplo é o relacionamento de Betty com o seu sobrinho Stephen (Russell Tovey, do excelente "Years and Years" da HBO) - ele some e aparece ao melhor estilo "Mestre dos Magos" e nada dessa relação justificaria a entrega que o filme faz no ato final - a grande verdade é que, depois da conclusão do filme, temos a sensação de que o roteirista roubou no jogo pela simples intenção de nos surpreender com um plot twist que não é ruim, mas que poderia ser muito melhor se as pistas já tivessem sido apresentadas.

Sobre o filme em si, posso dizer que é bem dirigido pelo ótimo Bill Condon (Bela e a Fera) - ele consegue criar uma certa tensão, mesmo abusando de conceitos menos criativos e já ultrapassados como a sombra na porta da cozinha no meio da madrugada azul americana que assusta a velinha indefesa ou o didatismo de um close que vai explicar (ou entregar) sua consequência um pouco mais a frente! Ao sair da sessão, me faz pensar que esse filme na mão de um Davd Fincher poderia ser bem mais intrigante, não sei! Mirren e McKellen dão força aos personagens com muita competência, mas infelizmente caem nos buracos que o roteiro tem. A fotografia do alemão Tobias A. Schliessler ("O Quinto Poder") é muito interessante, principalmente nas cenas externas de Londres e Berlin - para quem assistiu o trailer, a cena do metrô de Londres é boa mesmo!

O fato é que "A Grande Mentira" poderia ser um bom filme para alugarmos nas locadoras (se elas ainda existissem) - digo isso pela sua característica como entretenimento, pela forma como foi filmada e, principalmente, pelas escolhas de um roteiro extremamente datado. Uma hora e meia de entretenimento está garantido, uma ou outra surpresa também, mas não espere mais que isso. Bom para um sábado chuvoso e se dormir, dormiu!

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Existe um linha muito tênue entre o bom e o ruim e alguns filmes acabam transitando por ela - "A Grande Mentira" é um ótimo exemplo disso! O filme acompanha o golpista Roy Courtnay (Ian McKellen) desde o momento em que ele conhece a viúva Betty McLeish (Hellen Mirren) em um site de namoro. Depois de alguns poucos encontros, Betty abre sua casa e sua vida para Courtnay que enxerga nesse novo relacionamento mais uma chance para dar um grande golpe. O problema é que Roy acaba se apaixonando por ela ao mesmo tempo em que o desconfiado sobrinho de Betty começa investigar o seu passado. Assista o trailer para continuarmos nossa análise:

Baseado no livro de Nicholas Searle, "A Grande Mentira" transita muito bem entre alguns gêneros como suspense e drama, com personagens mais complexos, daqueles que só o passado pode explicar as atitudes do presente, muito comum em filmes dos anos 90 como "Mulher Solteira Procura" ou "Louca Obsessão". Então vamos lá: por muito tempo o "flashback" carregou a fama de servir de muleta para os roteiristas, afinal era a chance de tirar o coelho da cartola e surpreender o publico com um final impensável, acontece que os tempos são outros e muito da gramática cinematográfica que funcionava perfeitamente há 20 anos atrás, hoje já não gera o mesmo efeito e muito menos o mesmo resultado. Nesse contexto, é até possível imaginar a qualidade do livro de Searle, mas sua adaptação vai soar bastante superficial para os mais exigentes, pois o roteiro não tem tempo de se aprofundar no desenvolvimento dos ótimos personagens de Mirren e McKellen e muito menos em tudo que os rodeiam - as peças que precisávamos para fechar o quebra-cabeça certamente estariam lá se o roteiro fosse melhor (ou se a história proporcionasse isso de uma maneira mais inteligente), não é o caso! Não que o filme seja ruim, não é isso, mas essas tramas secundárias são tão mal desenvolvidas que pouco se aproveita no plot principal, que é o que realmente interessa - é a conexão que é fraca, não o fato delas existirem. Um bom exemplo é o relacionamento de Betty com o seu sobrinho Stephen (Russell Tovey, do excelente "Years and Years" da HBO) - ele some e aparece ao melhor estilo "Mestre dos Magos" e nada dessa relação justificaria a entrega que o filme faz no ato final - a grande verdade é que, depois da conclusão do filme, temos a sensação de que o roteirista roubou no jogo pela simples intenção de nos surpreender com um plot twist que não é ruim, mas que poderia ser muito melhor se as pistas já tivessem sido apresentadas.

Sobre o filme em si, posso dizer que é bem dirigido pelo ótimo Bill Condon (Bela e a Fera) - ele consegue criar uma certa tensão, mesmo abusando de conceitos menos criativos e já ultrapassados como a sombra na porta da cozinha no meio da madrugada azul americana que assusta a velinha indefesa ou o didatismo de um close que vai explicar (ou entregar) sua consequência um pouco mais a frente! Ao sair da sessão, me faz pensar que esse filme na mão de um Davd Fincher poderia ser bem mais intrigante, não sei! Mirren e McKellen dão força aos personagens com muita competência, mas infelizmente caem nos buracos que o roteiro tem. A fotografia do alemão Tobias A. Schliessler ("O Quinto Poder") é muito interessante, principalmente nas cenas externas de Londres e Berlin - para quem assistiu o trailer, a cena do metrô de Londres é boa mesmo!

O fato é que "A Grande Mentira" poderia ser um bom filme para alugarmos nas locadoras (se elas ainda existissem) - digo isso pela sua característica como entretenimento, pela forma como foi filmada e, principalmente, pelas escolhas de um roteiro extremamente datado. Uma hora e meia de entretenimento está garantido, uma ou outra surpresa também, mas não espere mais que isso. Bom para um sábado chuvoso e se dormir, dormiu!

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A História Não Contada

Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey  que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.

Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:

Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.

Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe! 

"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.

Vale seu play!

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Não é uma tarefa fácil analisar um documentário como esse - ele é forte, impactante, denso, provocador até! Dividido em duas partes, “Kevin Spacey – A História Não Contada”, posso adiantar, é ótimo, mas é impossível dizer que haja imparcialidade na sua narrativa. Embora o trabalho de pesquisa da Katherine Haywood (uma das produtoras de "Quem É Ghislaine Maxwell?") seja dos mais competentes, sua proposta narrativa como diretora, basicamente, se apoia em apenas um lado da história, colocando ainda mais lenha na fogueira. Ao trazer para os holofotes os depoimentos de 10 supostas vitimas do ator, sendo 9 novos casos, Haywood praticamente elimina qualquer chance de termos algum tipo de simpatia por Kevin Spacey  que, diga-se de passagem, acabou de ser inocentado de todas as acusações de assédio e abuso sexual que tinham contra ele. Ao criar uma linha do tempo das mais interessantes, a diretora constrói um retrato do ator desde sua humilde infância em New Jersey até o auge de sua carreira em Hollywood, relativizando algumas passagens traumáticas para escancarar sua postura como abusador, onde o poder e a influência, reflexo do seu enorme sucesso, de fato, moldaram algumas de suas piores atitudes ao longo dos anos.

Sem nenhum corte, "A História Não Contada” impressiona demais pela honestidade de seus 10 depoentes. Ao acompanhar a trajetória de Spacey desde seus primeiros passos no teatro amador até se tornar um dos atores mais requisitados de Hollywood, temos um perfil dos mais curiosos sobre uma pessoa que parece ter perdido a noção do que é certo e errado em muitas oportunidades. Veja, são entrevistas com amigos, familiares, colegas de profissão e até mesmo com algumas das vítimas desses abusos, o que nos dá a exata noção do quão complexo e multifacetado é o ator, revelando tanto seu talento inegável quanto seus fantasmas mais íntimos. Confira o trailer:

Mais do que um mero relato de fatos, com inúmeras cenas de arquivo e gravações do próprio Kevin Spacey, essa produção da Discovery é um verdadeiro estudo psicológico sobre as motivações e os conflitos internos de um indivíduo talentoso, mas profundamente atormentado. Em dois episódios, a minissérie nos convida a questionar as nuances do comportamento humano, explorando temas como a insegurança, os traumas, a ambição, o poder, o vício e, principalmente, a sensação de invencibilidade. Ao revelar os bastidores da indústria do entretenimento e as consequências devastadoras do poder acima de tudo, "Kevin Spacey - A História Não Contada" se torna uma obra necessária e urgente - um lembrete de que nem tudo que reluz é ouro, e que por trás da máscara do sucesso podem se esconder histórias sombrias e dolorosas.

Mas nem tudo são elogios, se o documentário é eficaz ao mostrar como a fama pode ser uma ferramenta de manipulação, especialmente em um ambiente onde as estrelas têm um controle desproporcional sobre seus colegas de trabalho, ela falha ao não se aprofundar no contexto onde os supostos abusos foram realizados. Da forma como a história é contada, Kevin Spacey é claramente uma pessoa doente, então por qual razão ele não foi condenado em algum de seus supostos crimes? A resposta é simples: na vida real existiu uma dúvida, no documentário não existe! 

"Kevin Spacey: A História Não Contada" é um documentário imperdível para quem busca ir além da superfície e tenta entender as complexas engrenagens da psique humana. Embora as resposta não estejam ali, a narrativa te convida ao julgamento - não existe uma saída que não seja condenar seu protagonista. Haywood entrega uma obra perigosa por sua parcialidade, mas ao olharmos por uma perspectiva um pouco mais ampla, seu propósito acaba sendo cumprido, provocando reflexões, despertando a consciência perante o poder e nos convidando a repensar nossos valores e crenças sobre fama e a justiça. Entender a complexidade das acusações contra o ator e o impacto de seu comportamento na vida de muitos homens, acredite, é só o começo dessa jornada bastante indigesta.

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A Inventora

Imagine uma jovem, ex-aluna de Stanford, bem relacionada e inserida no ecossistema mais inovador do mundo: o Vale do Silício! Agora imagine que essa jovem possui um propósito real: revolucionar a maneira como os exames de sangue são realizados e processados, eliminando a necessidade do médico e do laboratório para obter um resultado capaz de identificar 200 doenças - tudo isso com apenas uma gota de sangue e a um custo de 10 dólares, em média! Incrível, não?

Pois o documentário da HBO, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício", conta justamente a história dessa jovem chamada Elizabeth Holmes e como ela convenceu vários investidores a colocarem muito, mas muito, dinheiro na sua startup Theranos - considerada uma das mais disruptivas empresas da época e liderada pela mulher comparada a nada menos que Steve Jobs ou Bill Gates! O documentário é impecável e descreve cada passo que transformou o valuation da empresa de 10 bilhões à zero num piscar de olhos!

Holmes é daqueles personagens que transformam um cara como Billy McFarland (criador do Fyre Festival) em mais um "menino criado pela vó". É sério, a capacidade de convencimento de Holmes é algo a ser estudado e não por acaso ela foi comparada com Jobs. Sua visão de negócio ia muito além da sua capacidade técnica de transformar seu projeto em realidade, mas isso foi só um detalhe, pois até alguém entender que era impossível entregar o que foi prometido, muitos anos se passaram e bilhões de dólares foram gastos. Seu discurso rendeu participações em TEDs, palestras, seminários, programas de TV; esteve em capas de revistas como a Fortune por exemplo, participou de jantares com presidentes ao lado dos fundadores do Google, do Facebook e da Tesla, ou seja, ela era a personificação da líder feminina que revolucionaria o mercado da saúde nos EUA e no Mundo - ela, de fato, acreditava nisso!

O documentário foi muito feliz em começar seus testemunhos com a própria Elizabeth contando sobre suas experiências pessoais que a motivaram na busca do seu propósito de simplificar exames, usando a nanotecnologia para eliminar tanto a enorme quantidade de sangue na coleta, como os laboratórios no processamento desse material e até os médicos no diagnóstico de possíveis doenças! Ela explica em detalhes sua idéia, o sonho que seu device se tornasse tão popular como os computadores da Apple e passa tanta segurança, com uma fé tão inabalável pelo seu objetivo, que justifica o número de pessoas experientes que ela "enganou" para financiá-la e a quantidade de consumidores que usaram seu serviço, porque o produto mesmo (chamado de Edson), nunca foi lançado - é preciso dizer que em alguns momentos o Diretor, premiado cineasta Alex Gibney, acaba até sugerindo que Holmes vivia em um mundo paralelo, desconectada da realidade, capaz de tudo para se manter nos holofotes e, de alguma forma, continuar sua "história de faz de conta"! São muitos depoimentos: de uma antiga professora de Stanford - que inclusive foi a primeira a duvidar da possibilidade de execução do projeto, passando por ex-funcionários frustados que presenciaram o que acontecia nos laboratórios da empresa até chegar no repórter do Wall Street Journal que publicou a matéria que acabou sendo o golpe fatal para a Theranos! 

"A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" é daqueles filmes que nos fazem refletir sobre a real capacidade humana X a ganância ou o ego de se tornar um ícone! Aliás, no Vale do Silício existe um conceito muito comum: "Fingir, até conseguir" - mas qual seria o limite de mindset? No caso de Elizabeth Holmes ela me pareceu ter um propósito real, mas seria impossível ela não perceber os limites da sua idéia e como a manutenção do seu plano de ação poderia prejudicar tanta gente. Ela chega a citar Tomas Edson quando diz: "Eu não fracassei, só encontrei 10.000 formas que não funcionam"! Ok, é uma maneira resiliente de pensar no negócio e hoje, acusada de fraude massiva, fica mais fácil julgar suas falhas como gestora, mas será que ela tinha a real noção disso? É muito possível! Será que a lição foi aprendida pelos investidores? Parece que não, basta ler o que vem acontecendo com a WeWork, por exemplo!

O documentário da HBO é excelente para quem gosta de empreendedorismo, mas também para quem gosta de um ótimo estudo de caso tanto da empresa como da sua fundadora, pois além de levantar a jornada da Theranos em detalhes, tenta desvendar o que representou Elizabeth Holmes para o ecossistema durante anos - uma única brecha (óbvio) é o fato de que o lado dela da história tenha sido tão superficial e rapidamente relatado no veredito jornalístico, mas mesmo assim, vale muito o play porque a história está muito bem contada!

Assista Agora

Imagine uma jovem, ex-aluna de Stanford, bem relacionada e inserida no ecossistema mais inovador do mundo: o Vale do Silício! Agora imagine que essa jovem possui um propósito real: revolucionar a maneira como os exames de sangue são realizados e processados, eliminando a necessidade do médico e do laboratório para obter um resultado capaz de identificar 200 doenças - tudo isso com apenas uma gota de sangue e a um custo de 10 dólares, em média! Incrível, não?

Pois o documentário da HBO, "A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício", conta justamente a história dessa jovem chamada Elizabeth Holmes e como ela convenceu vários investidores a colocarem muito, mas muito, dinheiro na sua startup Theranos - considerada uma das mais disruptivas empresas da época e liderada pela mulher comparada a nada menos que Steve Jobs ou Bill Gates! O documentário é impecável e descreve cada passo que transformou o valuation da empresa de 10 bilhões à zero num piscar de olhos!

Holmes é daqueles personagens que transformam um cara como Billy McFarland (criador do Fyre Festival) em mais um "menino criado pela vó". É sério, a capacidade de convencimento de Holmes é algo a ser estudado e não por acaso ela foi comparada com Jobs. Sua visão de negócio ia muito além da sua capacidade técnica de transformar seu projeto em realidade, mas isso foi só um detalhe, pois até alguém entender que era impossível entregar o que foi prometido, muitos anos se passaram e bilhões de dólares foram gastos. Seu discurso rendeu participações em TEDs, palestras, seminários, programas de TV; esteve em capas de revistas como a Fortune por exemplo, participou de jantares com presidentes ao lado dos fundadores do Google, do Facebook e da Tesla, ou seja, ela era a personificação da líder feminina que revolucionaria o mercado da saúde nos EUA e no Mundo - ela, de fato, acreditava nisso!

O documentário foi muito feliz em começar seus testemunhos com a própria Elizabeth contando sobre suas experiências pessoais que a motivaram na busca do seu propósito de simplificar exames, usando a nanotecnologia para eliminar tanto a enorme quantidade de sangue na coleta, como os laboratórios no processamento desse material e até os médicos no diagnóstico de possíveis doenças! Ela explica em detalhes sua idéia, o sonho que seu device se tornasse tão popular como os computadores da Apple e passa tanta segurança, com uma fé tão inabalável pelo seu objetivo, que justifica o número de pessoas experientes que ela "enganou" para financiá-la e a quantidade de consumidores que usaram seu serviço, porque o produto mesmo (chamado de Edson), nunca foi lançado - é preciso dizer que em alguns momentos o Diretor, premiado cineasta Alex Gibney, acaba até sugerindo que Holmes vivia em um mundo paralelo, desconectada da realidade, capaz de tudo para se manter nos holofotes e, de alguma forma, continuar sua "história de faz de conta"! São muitos depoimentos: de uma antiga professora de Stanford - que inclusive foi a primeira a duvidar da possibilidade de execução do projeto, passando por ex-funcionários frustados que presenciaram o que acontecia nos laboratórios da empresa até chegar no repórter do Wall Street Journal que publicou a matéria que acabou sendo o golpe fatal para a Theranos! 

"A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício" é daqueles filmes que nos fazem refletir sobre a real capacidade humana X a ganância ou o ego de se tornar um ícone! Aliás, no Vale do Silício existe um conceito muito comum: "Fingir, até conseguir" - mas qual seria o limite de mindset? No caso de Elizabeth Holmes ela me pareceu ter um propósito real, mas seria impossível ela não perceber os limites da sua idéia e como a manutenção do seu plano de ação poderia prejudicar tanta gente. Ela chega a citar Tomas Edson quando diz: "Eu não fracassei, só encontrei 10.000 formas que não funcionam"! Ok, é uma maneira resiliente de pensar no negócio e hoje, acusada de fraude massiva, fica mais fácil julgar suas falhas como gestora, mas será que ela tinha a real noção disso? É muito possível! Será que a lição foi aprendida pelos investidores? Parece que não, basta ler o que vem acontecendo com a WeWork, por exemplo!

O documentário da HBO é excelente para quem gosta de empreendedorismo, mas também para quem gosta de um ótimo estudo de caso tanto da empresa como da sua fundadora, pois além de levantar a jornada da Theranos em detalhes, tenta desvendar o que representou Elizabeth Holmes para o ecossistema durante anos - uma única brecha (óbvio) é o fato de que o lado dela da história tenha sido tão superficial e rapidamente relatado no veredito jornalístico, mas mesmo assim, vale muito o play porque a história está muito bem contada!

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A Lenda do Cavaleiro Verde

"A Lenda do Cavaleiro Verde" é um belíssimo filme, cheio de simbolismo e que retrata a jornada de um homem em busca de auto-conhecimento e que acaba encontrando na reciprocidade as respostas do real significado de "honra". Dirigido pelo talentoso David Lowery, do profundo e cheio de identidade, "A Ghost Story", essa adaptação do conto "Sir Gawain and the Green Knight" é muito mais um profundo drama existencial do que um épico de ação e aventura - mesmo com muitos elementos de fantasia inseridos em um roteiro simplesmente fabuloso, mas difícil (que vai exigir uma busca incansável por interpretações e teorias ao melhor estilo "Mãe!" do Darren Aronofsky).

Sir Gawain (Dev Patel) é um jovem que almeja ser um cavaleiro e que vive à sombra de seu tio, o poderoso Rei Arthur (Sean Harris). Na noite de Natal, uma criatura conhecida como o Cavaleiro Verde (Ralph Ineson) faz um desafio e Gawain aceita, entrando em uma jornada de descoberta e crescimento. Confira o trailer (em inglês):

Apenas para alinharmos as expectativas, é preciso que se diga que o diretor David Lowery tem como característica bastante marcante, imergir pelas mais profundas camadas de um personagem e até criar uma certa relação de enfrentamento com esses fantasmas mais íntimos - essa personalidade cinematográfica, naturalmente, transforma suas narrativas em um processo de identificação mais lento, onde a dinâmica textual se apega muito mais aos detalhes do que ao movimento - digo isso, pois se você está esperando as batalhas medievais de "O Último Duelo"você vai se decepcionar, já que "A Lenda do Cavaleiro Verde" está muito mais para "A Tragédia de Macbeth".

Talvez o maior mérito do roteiro, seja justamente a característica que mais pode afastar a audiência (ou, no mínimo, dividir suas opinões): não estamos falando de um filme onde as perguntas ou as respostas são fáceis. Você não vai encontrar algo claro ou explícito e muito menos entenderá imediatamente o significado de alguns elementos lendários que aparecem pelo caminho de Sir Gawain. Por exemplo: no capítulo "cortesia", Gawain encontra uma cabana que parece abandonada há muito tempo, nela ele se depara com Winifred - e aí vem a riqueza da narrativa: "Winifred" ou Santa Vinifrida (em português) foi uma mártir galesa do século VII que teve a cabeça separada do seu corpo e jogada em um lago, onde depois foi recuperada e ela teria voltado à vida. Esse lago passou a se chamar Holyhead ou Holywell no País de Gales, e acredita-se ter poderes de cura. Você sabia disso? Pois é, eu também não, mas não é incrível enriquecer uma narrativa com tantos elementos desconhecidos e que depois de um aprofundamento maior coloca a história em outro patamar?

"A Lenda do Cavaleiro Verde" tem muito disso: um roteiro complexo, uma direção impecável e atuações "nível Oscar" - Dev Patel mais uma vez está fantástico, seu trabalho de introspecção é algo para se aplaudir de pé e, no mesmo nível, uma Alicia Vikander espetacular para contracenar. Veja, esse é o tipo de filme que nos faz refletir, que nos provoca e que abdica da ação para nos contar uma história de crescimento individual que vai além do que vemos na tela - nada estará em cena por acaso e, do fundo do coração, a experiência de buscar essas repostas é tão empolgante quanto a do protagonista.

Não acho que "A Lenda do Cavaleiro Verde" sirva como um simples entretenimento - o filme segue um caminho que vai além da nossa compreensão inicial, mas que, dispostos a enxergar, nos entrega um conhecimento muito além do óbvio. Vale muito a pena! 

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"A Lenda do Cavaleiro Verde" é um belíssimo filme, cheio de simbolismo e que retrata a jornada de um homem em busca de auto-conhecimento e que acaba encontrando na reciprocidade as respostas do real significado de "honra". Dirigido pelo talentoso David Lowery, do profundo e cheio de identidade, "A Ghost Story", essa adaptação do conto "Sir Gawain and the Green Knight" é muito mais um profundo drama existencial do que um épico de ação e aventura - mesmo com muitos elementos de fantasia inseridos em um roteiro simplesmente fabuloso, mas difícil (que vai exigir uma busca incansável por interpretações e teorias ao melhor estilo "Mãe!" do Darren Aronofsky).

Sir Gawain (Dev Patel) é um jovem que almeja ser um cavaleiro e que vive à sombra de seu tio, o poderoso Rei Arthur (Sean Harris). Na noite de Natal, uma criatura conhecida como o Cavaleiro Verde (Ralph Ineson) faz um desafio e Gawain aceita, entrando em uma jornada de descoberta e crescimento. Confira o trailer (em inglês):

Apenas para alinharmos as expectativas, é preciso que se diga que o diretor David Lowery tem como característica bastante marcante, imergir pelas mais profundas camadas de um personagem e até criar uma certa relação de enfrentamento com esses fantasmas mais íntimos - essa personalidade cinematográfica, naturalmente, transforma suas narrativas em um processo de identificação mais lento, onde a dinâmica textual se apega muito mais aos detalhes do que ao movimento - digo isso, pois se você está esperando as batalhas medievais de "O Último Duelo"você vai se decepcionar, já que "A Lenda do Cavaleiro Verde" está muito mais para "A Tragédia de Macbeth".

Talvez o maior mérito do roteiro, seja justamente a característica que mais pode afastar a audiência (ou, no mínimo, dividir suas opinões): não estamos falando de um filme onde as perguntas ou as respostas são fáceis. Você não vai encontrar algo claro ou explícito e muito menos entenderá imediatamente o significado de alguns elementos lendários que aparecem pelo caminho de Sir Gawain. Por exemplo: no capítulo "cortesia", Gawain encontra uma cabana que parece abandonada há muito tempo, nela ele se depara com Winifred - e aí vem a riqueza da narrativa: "Winifred" ou Santa Vinifrida (em português) foi uma mártir galesa do século VII que teve a cabeça separada do seu corpo e jogada em um lago, onde depois foi recuperada e ela teria voltado à vida. Esse lago passou a se chamar Holyhead ou Holywell no País de Gales, e acredita-se ter poderes de cura. Você sabia disso? Pois é, eu também não, mas não é incrível enriquecer uma narrativa com tantos elementos desconhecidos e que depois de um aprofundamento maior coloca a história em outro patamar?

"A Lenda do Cavaleiro Verde" tem muito disso: um roteiro complexo, uma direção impecável e atuações "nível Oscar" - Dev Patel mais uma vez está fantástico, seu trabalho de introspecção é algo para se aplaudir de pé e, no mesmo nível, uma Alicia Vikander espetacular para contracenar. Veja, esse é o tipo de filme que nos faz refletir, que nos provoca e que abdica da ação para nos contar uma história de crescimento individual que vai além do que vemos na tela - nada estará em cena por acaso e, do fundo do coração, a experiência de buscar essas repostas é tão empolgante quanto a do protagonista.

Não acho que "A Lenda do Cavaleiro Verde" sirva como um simples entretenimento - o filme segue um caminho que vai além da nossa compreensão inicial, mas que, dispostos a enxergar, nos entrega um conhecimento muito além do óbvio. Vale muito a pena! 

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A Lula e a Baleia

Muito antes de "História de um Casamento", Noah Baumbach já nos presenteava com uma incisiva e honesta exploração das complexidades das relações familiares e os efeitos duradouros do divórcio, mas de uma forma diferente. "A Lula e a Baleia" tem um roteiro afiado e atuações excepcionalmente sinceras, tudo para retratar, com uma visão nua e crua, as dinâmicas disfuncionais de uma família intelectual do Brooklyn nos anos 80. Baseado em parte nas próprias experiências de Baumbach, "The Squid and the Whale" (no original) é de fato um estudo de caráter que ressoa com autenticidade e empatia de uma forma impressionante - razão pela qual recebeu uma indicação ao Oscar de "Melhor Roteiro Original" em 2006, além inúmeras outras no Critics Choice, no Golden Globe, no Spirit Awards e até em Sundance (inclusive levando os prêmios de "Melhor Diretor" e "Melhor Roteiro").

A trama segue os Berkman, uma família que se desintegra quando os pais, Bernard (Jeff Daniels) e Joan (Laura Linney), decidem se divorciar. Bernard é um escritor arrogante e pretensioso que enfrenta dificuldades em sua carreira, enquanto Joan está emergindo como uma escritora de sucesso. Seus filhos, Walt (Jesse Eisenberg) e Frank (Owen Kline), são pegos no meio do conflito, cada um lidando com a separação de maneiras distintas e muitas vezes dolorosas. Confira o trailer (em inglês):

Realmente a direção de Baumbach é precisa e cirurgicamente intimista - ele utiliza uma abordagem visual despojada que acaba colocando o foco nas performances e nos diálogos. Obviamente que ele sabe que seu roteiro é uma das maiores forças do filme, com um texto afiado e uma estrutura que permite a exploração profunda dos personagens. Baumbach não tem medo de expor as falhas e hipocrisias de seus protagonistas, criando uma narrativa que é ao mesmo tempo dolorosa e catártica. É muito interessante como "A Lula e a Baleia" é capaz de abordar temas como ego, insegurança, e a busca por identidade de uma maneira que ao mesmo tempo soa pessoal e universal.

A Fotografia de Robert Yeoman (indicado ao Oscar pelo seu belíssimo trabalho em "O Grande Hotel Budapeste") trabalha a suavidade das cores e traz uma iluminação mais naturalista para potencializar a sensação de realismo e de proximidade com a audiência - é como se não existisse a barreira entre a ficção e a realidade pela perspectiva mais íntima das situações. A escolha de filmar em locações reais no Brooklyn adiciona uma camada de autenticidade que enriquece a narrativa e impacta diretamente no trabalho do elenco. Jeff Daniels entrega uma performance memorável como Bernard, capturando perfeitamente a arrogância intelectual e a vulnerabilidade subjacente de um homem incapaz de lidar com o fracasso. Laura Linney, como Joan, oferece uma atuação poderosa e cheia de camadas, equilibrando a determinação profissional com a complexidade emocional de uma mulher em transição. Agora, o que dizer da química entre Daniels e Linney? Palpável ao extremo, o que torna suas interações simultaneamente cômicas e trágicas como poucas vezes encontramos na tela.

"A Lula e a Baleia" é um filme que se destaca por sua honestidade brutal e por sua habilidade em capturar em detalhes as especificidades das relações em um momento tão sensível - a confusão e a dor de um jovem tentando encontrar seu próprio caminho em meio ao caos familiar, por exemplo, é genal. Aliás, ponto para Jesse Eisenberg em um de seus primeiros papéis de destaque. Claro que a abordagem de Baumbach ao tema do divórcio é notável por sua sinceridade e falta de sentimentalismo, mas o seu valor mesmo está em como ele oferece uma visão clara e não idealizada das consequências emocionais para todos os envolvidos. Então sim, "A Lula e a Baleia" é um filme que desafia a audiência a confrontar as imperfeições da vida familiar e a reconhecer a resiliência necessária para seguir em frente, então se você gosta de narrativas introspectivas e emocionalmente ressonantes, eu diria que esse filme é para você e vai valer muito o seu play!

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Muito antes de "História de um Casamento", Noah Baumbach já nos presenteava com uma incisiva e honesta exploração das complexidades das relações familiares e os efeitos duradouros do divórcio, mas de uma forma diferente. "A Lula e a Baleia" tem um roteiro afiado e atuações excepcionalmente sinceras, tudo para retratar, com uma visão nua e crua, as dinâmicas disfuncionais de uma família intelectual do Brooklyn nos anos 80. Baseado em parte nas próprias experiências de Baumbach, "The Squid and the Whale" (no original) é de fato um estudo de caráter que ressoa com autenticidade e empatia de uma forma impressionante - razão pela qual recebeu uma indicação ao Oscar de "Melhor Roteiro Original" em 2006, além inúmeras outras no Critics Choice, no Golden Globe, no Spirit Awards e até em Sundance (inclusive levando os prêmios de "Melhor Diretor" e "Melhor Roteiro").

A trama segue os Berkman, uma família que se desintegra quando os pais, Bernard (Jeff Daniels) e Joan (Laura Linney), decidem se divorciar. Bernard é um escritor arrogante e pretensioso que enfrenta dificuldades em sua carreira, enquanto Joan está emergindo como uma escritora de sucesso. Seus filhos, Walt (Jesse Eisenberg) e Frank (Owen Kline), são pegos no meio do conflito, cada um lidando com a separação de maneiras distintas e muitas vezes dolorosas. Confira o trailer (em inglês):

Realmente a direção de Baumbach é precisa e cirurgicamente intimista - ele utiliza uma abordagem visual despojada que acaba colocando o foco nas performances e nos diálogos. Obviamente que ele sabe que seu roteiro é uma das maiores forças do filme, com um texto afiado e uma estrutura que permite a exploração profunda dos personagens. Baumbach não tem medo de expor as falhas e hipocrisias de seus protagonistas, criando uma narrativa que é ao mesmo tempo dolorosa e catártica. É muito interessante como "A Lula e a Baleia" é capaz de abordar temas como ego, insegurança, e a busca por identidade de uma maneira que ao mesmo tempo soa pessoal e universal.

A Fotografia de Robert Yeoman (indicado ao Oscar pelo seu belíssimo trabalho em "O Grande Hotel Budapeste") trabalha a suavidade das cores e traz uma iluminação mais naturalista para potencializar a sensação de realismo e de proximidade com a audiência - é como se não existisse a barreira entre a ficção e a realidade pela perspectiva mais íntima das situações. A escolha de filmar em locações reais no Brooklyn adiciona uma camada de autenticidade que enriquece a narrativa e impacta diretamente no trabalho do elenco. Jeff Daniels entrega uma performance memorável como Bernard, capturando perfeitamente a arrogância intelectual e a vulnerabilidade subjacente de um homem incapaz de lidar com o fracasso. Laura Linney, como Joan, oferece uma atuação poderosa e cheia de camadas, equilibrando a determinação profissional com a complexidade emocional de uma mulher em transição. Agora, o que dizer da química entre Daniels e Linney? Palpável ao extremo, o que torna suas interações simultaneamente cômicas e trágicas como poucas vezes encontramos na tela.

"A Lula e a Baleia" é um filme que se destaca por sua honestidade brutal e por sua habilidade em capturar em detalhes as especificidades das relações em um momento tão sensível - a confusão e a dor de um jovem tentando encontrar seu próprio caminho em meio ao caos familiar, por exemplo, é genal. Aliás, ponto para Jesse Eisenberg em um de seus primeiros papéis de destaque. Claro que a abordagem de Baumbach ao tema do divórcio é notável por sua sinceridade e falta de sentimentalismo, mas o seu valor mesmo está em como ele oferece uma visão clara e não idealizada das consequências emocionais para todos os envolvidos. Então sim, "A Lula e a Baleia" é um filme que desafia a audiência a confrontar as imperfeições da vida familiar e a reconhecer a resiliência necessária para seguir em frente, então se você gosta de narrativas introspectivas e emocionalmente ressonantes, eu diria que esse filme é para você e vai valer muito o seu play!

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A Morte do Superman

Quando eu era criança meu desenho favorito era a "Liga da Justiça" (mesmo com o Irmãos Gêmeos...rs). Na época era muito difícil encontrar uma animação da Marvel - única excessão era o Homem-Aranha e olhe lá. Thor, Homem de Ferro eram ótimos tbm, mas muito difícil de acompanhar, pois as temporadas eram curtas, quase cults (pelo formato e raridade de encontrar na TV). Com o sucesso da Marvel e o desespero da DC em se estabelecer, vimos uma série de bobagens no cinema recente de heróis (impossível não lembrar do "Martha?" de Batman vs Superman ou até da "Liga da Justiça"). Bem, assisti um longa-metragem de animação da DC chamado "A Morte do Superman" dirigido pelo Jake Castorina e pelo Sam Liu, e olha, fiquei impressionado com a qualidade do roteiro!

Na história, um monstro gigantesco batizado de Doomsday surge do mundo subterrâneo para começar uma destruição em massa na cidade de Metrópoles. A Liga da Justiça precisa intervir imediatamente, mas parece que só os poderes do Super-Homem são compatíveis com o do terrível monstro. Em uma luta mortal, o destino do super-herói torna-se incerto. Veja o trailer:

Para começar, o conceito da animação é totalmente retrô, modernizada apenas no visual do universo; mas o ponto forte é mesmo o roteiro e não tem como não se perguntar: Por que não usaram esse roteiro no universo live action para estabelecer a Liga da Justiça no UDC? É uma questão de um ou outro ajuste, cortar ou adaptar algumas sequências e só! A animação em o equilíbrio certo entre alívio cômico e ação, sem apelar para o óbvio!! E aqui vai um comentário que sempre repito sobre a DC: não adianta forçar, o Universo DC é muito mais "sombrio" e/ou "Fantástico" que o da Marvel - não cabe tanta piadinha; que aliás no último Thor passou dos limites em muito, só faltou o Hulk usar um boné para trás e cantar rap (um lixo para composição de personagens, chega a ser patético), embora o filme tenha sido até divertido por ser tão despretensioso.

Pois bem, voltando a "The Death of Superman": o filme é simples, direto, bem construído, com um começo/meio/fim que faz sentido e um arco maior muito mais forte e inteligente do que qualquer filme da DC já feito até aqui. Vale muito a pena, tem muito (mas muito) dos quadrinhos e chega dar um fio de esperança que as coisas podem melhorar se os roteiristas e produtores entenderem que a DC já tem um identidade estabelecida e que, mesmo atrasada, sua mitologia é muito bacana!!!

Para quem gosta do gênero, com uma animação mais "raiz"; imperdível!!!!

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Quando eu era criança meu desenho favorito era a "Liga da Justiça" (mesmo com o Irmãos Gêmeos...rs). Na época era muito difícil encontrar uma animação da Marvel - única excessão era o Homem-Aranha e olhe lá. Thor, Homem de Ferro eram ótimos tbm, mas muito difícil de acompanhar, pois as temporadas eram curtas, quase cults (pelo formato e raridade de encontrar na TV). Com o sucesso da Marvel e o desespero da DC em se estabelecer, vimos uma série de bobagens no cinema recente de heróis (impossível não lembrar do "Martha?" de Batman vs Superman ou até da "Liga da Justiça"). Bem, assisti um longa-metragem de animação da DC chamado "A Morte do Superman" dirigido pelo Jake Castorina e pelo Sam Liu, e olha, fiquei impressionado com a qualidade do roteiro!

Na história, um monstro gigantesco batizado de Doomsday surge do mundo subterrâneo para começar uma destruição em massa na cidade de Metrópoles. A Liga da Justiça precisa intervir imediatamente, mas parece que só os poderes do Super-Homem são compatíveis com o do terrível monstro. Em uma luta mortal, o destino do super-herói torna-se incerto. Veja o trailer:

Para começar, o conceito da animação é totalmente retrô, modernizada apenas no visual do universo; mas o ponto forte é mesmo o roteiro e não tem como não se perguntar: Por que não usaram esse roteiro no universo live action para estabelecer a Liga da Justiça no UDC? É uma questão de um ou outro ajuste, cortar ou adaptar algumas sequências e só! A animação em o equilíbrio certo entre alívio cômico e ação, sem apelar para o óbvio!! E aqui vai um comentário que sempre repito sobre a DC: não adianta forçar, o Universo DC é muito mais "sombrio" e/ou "Fantástico" que o da Marvel - não cabe tanta piadinha; que aliás no último Thor passou dos limites em muito, só faltou o Hulk usar um boné para trás e cantar rap (um lixo para composição de personagens, chega a ser patético), embora o filme tenha sido até divertido por ser tão despretensioso.

Pois bem, voltando a "The Death of Superman": o filme é simples, direto, bem construído, com um começo/meio/fim que faz sentido e um arco maior muito mais forte e inteligente do que qualquer filme da DC já feito até aqui. Vale muito a pena, tem muito (mas muito) dos quadrinhos e chega dar um fio de esperança que as coisas podem melhorar se os roteiristas e produtores entenderem que a DC já tem um identidade estabelecida e que, mesmo atrasada, sua mitologia é muito bacana!!!

Para quem gosta do gênero, com uma animação mais "raiz"; imperdível!!!!

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A Noite do Jogo

"A Noite do Jogo" é uma espécie de "O Peso do Talento" sem o Nicolas Cage - mas com Jason Bateman e cheio de referências ao cinema de ação, especialmente ao "quase" incomparável Liam Neeson. Os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein (os mesmos do esperado "Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves") entregam, de fato, um filme divertido, surreal (claro) e dinâmico, onde toda atmosfera criada nos faz ficar com um sorriso no rosto durante toda jornada - eu diria, inclusive, que o roteiro é extremamente inteligente em pontuar nos detalhes muito do que mais gostamos de experienciarmos com os nossos amigos e essa sensação nostálgica nos acompanha e potencializa a brincadeira proposta por ele.

Na trama, o casal Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams) costuma receber outros casais em sua casa para participarem de jogos que vão de mímica ao “jogo da vida“. Um dia, porém, Brooks (Kyle Chandler), o irmão bem-sucedido de Max, convida todos para o que ele chama de "uma noite de jogos memorável" que, lógico, acaba levando os personagens para uma aventura que envolve perigos reais e com consequências reais. Confira o trailer:

Existem alguns elementos narrativos e conceituais em "A Noite do Jogo" que deixam claro como o filme vai muito além de uma comédia despretensiosa que usa e abusa de clichês para entreter sua audiência. Esse é o tipo de filme que não deve ser subestimado pelo seu gênero e sim apreciado justamente por isso - é claro que o expectador mais atento vai pescar mais referências de clássicos como "Duro de Matar 2", "RoboCop" e até "A Noite dos Mortos-Vivos", mas é perceptível para qualquer um as boas sacadas do texto, mérito do roteiro de Mark Perez (de "Herbie, Meu Fusca Turbinado") - existe uma inteligência textual, mesmo estereotipada, que encanta.

Dê o play sabendo que toda a ideia por trás de "A Noite do Jogo" é focar no absurdo das situações - ao introduzir temas ridículos para que pessoas normais tenham de lidar com elas, a história ganha uma dinâmica extremamente engraçada e a relação entre os personagens potencializam isso. Reparem na prólogo onde conhecemos os protagonistas - com pouco diálogo e muita ação, entendemos exatamente onde o filme vai nos levar graças as características marcantes das personalidades de cada um deles. Outro detalhe: os outros personagens (mais coadjuvantes) também tem seus fantasmas internos, são cheios de camadas, mesmo socializando de uma forma que parece superficial - e aqui os diálogos que envolvem o Ryan (Billy Magnussen) são impagáveis. 

John Francis Daley e Jonathan Goldstein usam uma lente chama Tilt-Shift para estabelecer a posição geográfica onde a ação vai acontecer - essa lente controla a perspectiva para criar imagens miniaturizadas e assim termos a sensação que os personagens estão realmente em um board game e não na vida real - isso é genial. Esse cuidado no trabalho do diretor de fotografia, Barry Peterson, se extende ao equilíbrio narrativo da trama, veja, se nas passagens mais engraçadas a iluminação é mais clara, priorizando os gestos corporais e as reações faciais; nos momentos de suspense e ação as cenas são naturalmente mais escuras, com um foco de luz voltado somente para o rosto dos atores - isso sem falar no movimento de câmera, mais estático para a comédia, mais nervoso na ação (mais uma homenagem à gramática cinematográfica dos gêneros).

Resumindo: "A Noite do Jogo" se apoia no absurdo sem se propor a encarar a seriedade, o que permite que sua narrativa flerte com a sátira inteligente, quase irônica. Com isso, relembramos sucessos recentes do streaming como "Only Murders in the Building" ou "Depois da Festa" - se não na sua "forma", certamente em seu "conteúdo" nostálgico.

Vale muito a pena!

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"A Noite do Jogo" é uma espécie de "O Peso do Talento" sem o Nicolas Cage - mas com Jason Bateman e cheio de referências ao cinema de ação, especialmente ao "quase" incomparável Liam Neeson. Os diretores John Francis Daley e Jonathan Goldstein (os mesmos do esperado "Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves") entregam, de fato, um filme divertido, surreal (claro) e dinâmico, onde toda atmosfera criada nos faz ficar com um sorriso no rosto durante toda jornada - eu diria, inclusive, que o roteiro é extremamente inteligente em pontuar nos detalhes muito do que mais gostamos de experienciarmos com os nossos amigos e essa sensação nostálgica nos acompanha e potencializa a brincadeira proposta por ele.

Na trama, o casal Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams) costuma receber outros casais em sua casa para participarem de jogos que vão de mímica ao “jogo da vida“. Um dia, porém, Brooks (Kyle Chandler), o irmão bem-sucedido de Max, convida todos para o que ele chama de "uma noite de jogos memorável" que, lógico, acaba levando os personagens para uma aventura que envolve perigos reais e com consequências reais. Confira o trailer:

Existem alguns elementos narrativos e conceituais em "A Noite do Jogo" que deixam claro como o filme vai muito além de uma comédia despretensiosa que usa e abusa de clichês para entreter sua audiência. Esse é o tipo de filme que não deve ser subestimado pelo seu gênero e sim apreciado justamente por isso - é claro que o expectador mais atento vai pescar mais referências de clássicos como "Duro de Matar 2", "RoboCop" e até "A Noite dos Mortos-Vivos", mas é perceptível para qualquer um as boas sacadas do texto, mérito do roteiro de Mark Perez (de "Herbie, Meu Fusca Turbinado") - existe uma inteligência textual, mesmo estereotipada, que encanta.

Dê o play sabendo que toda a ideia por trás de "A Noite do Jogo" é focar no absurdo das situações - ao introduzir temas ridículos para que pessoas normais tenham de lidar com elas, a história ganha uma dinâmica extremamente engraçada e a relação entre os personagens potencializam isso. Reparem na prólogo onde conhecemos os protagonistas - com pouco diálogo e muita ação, entendemos exatamente onde o filme vai nos levar graças as características marcantes das personalidades de cada um deles. Outro detalhe: os outros personagens (mais coadjuvantes) também tem seus fantasmas internos, são cheios de camadas, mesmo socializando de uma forma que parece superficial - e aqui os diálogos que envolvem o Ryan (Billy Magnussen) são impagáveis. 

John Francis Daley e Jonathan Goldstein usam uma lente chama Tilt-Shift para estabelecer a posição geográfica onde a ação vai acontecer - essa lente controla a perspectiva para criar imagens miniaturizadas e assim termos a sensação que os personagens estão realmente em um board game e não na vida real - isso é genial. Esse cuidado no trabalho do diretor de fotografia, Barry Peterson, se extende ao equilíbrio narrativo da trama, veja, se nas passagens mais engraçadas a iluminação é mais clara, priorizando os gestos corporais e as reações faciais; nos momentos de suspense e ação as cenas são naturalmente mais escuras, com um foco de luz voltado somente para o rosto dos atores - isso sem falar no movimento de câmera, mais estático para a comédia, mais nervoso na ação (mais uma homenagem à gramática cinematográfica dos gêneros).

Resumindo: "A Noite do Jogo" se apoia no absurdo sem se propor a encarar a seriedade, o que permite que sua narrativa flerte com a sátira inteligente, quase irônica. Com isso, relembramos sucessos recentes do streaming como "Only Murders in the Building" ou "Depois da Festa" - se não na sua "forma", certamente em seu "conteúdo" nostálgico.

Vale muito a pena!

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A Origem

“A Origem” é mais uma obra-prima de Christopher Nolan. Astuta e incessante, o diretor abusa de uma direção eficaz e nos encanta com um filme de ação com toques de ficção científica avassaladora. É um filme obrigatório.

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um ladrão eficiente que está entre os melhores na arte da extração: roubar segredos valiosos de dentro dos confins do inconsciente durante o estado de sono, quando a mente se encontra mais vulnerável. Esta rara habilidade tornou Cobb um perito cobiçado no traiçoeiro novo ramo da espionagem corporativa, mas também o transformou em um fugitivo internacional e o levou a sacrificar tudo aquilo que amava. Agora Cobb tem uma chance de redenção. Uma última oferta de trabalho poderá lhe devolver sua vida normal, mas para isso ele deverá encontrar o que é impossível -- a origem. Ao invés de executar um assalto, Cobb e sua equipe de especialistas precisam realizar o inverso; sua missão não é roubar uma ideia e sim plantar uma. Se conseguirem, este poderá ser o crime perfeito. Confira o trailer:

Ah, Nolan, Nolan, será que existe neste século algum diretor que dívida mais opiniões do que você? Alguns lhe consideram um gênio, outros lhe consideram um copiador de fórmulas já usadas, e vocês? Eu ainda sou do time que o considera um dos grandes pilares de diretores incríveis deste século. Por mais críticas que rondam sua trajetória, Nolan por seu próprio mérito figura entre os grandes do cinema, por obras majestosas como "Batman", "O Grande Truque" e "Amnésia". Com o lançamento de "A Origem", essa lista de obras primas crescerá, pois é um filme que brinca com a percepção da audiência de tal forma, que chega a ser impiedoso o fato de alguém entender o filme por completo na primeira vez. É um filme que necessita atenção e uma mente aberta para entender a fantasia dentro da própria fantasia, fixada em um amedrontamento que jugamos ser genialidade, ou será que não? Nada com Nolan é fácil, nada!

No que tange a realidade, "Inception" (no original) mescla elementos ilusórios a todo momento, é um filme que precisa ser revisto, é muita informação jogada em tela. Um sonho dentro de um sonho? E a gravidade? Como funcionaria o acordar disso tudo? Diversas perguntas, poucas respostas, mas são suficientes para entendermos a ousadia de Nolan em nos mostrar um espetáculo visual impecável. O desfecho é repleto de incógnitas, e é isso que deixa tudo mais apaixonante. Com um roteiro encaixado e fluido, coube a Nolan nos apresentar a nata do CGI moderno (não tínhamos visto nada assim antes), alucinante e ao mesmo tempo irrisório. O elenco foi escolhido a dedo, Nolan possuía um DiCaprio resplandescente e seguro, em uma atuação exemplar. O restante do elenco mantém o sarrafo lá no alto, é nítido o entrosamento entre eles - o diretor já havia trabalhado com a maioria em filmes anteriores.

Aqui, Christopher Nolan brinca com o abstrato, e assim vai modificando o entendimento do filme a cada take, quando damos conta já estamos entrelaçados a esse mundo de faz de conta, onde tudo que queremos saber é se tudo não passou de um sonho. Obra prima! "A Origem" é o suprassumo da quintessência da ficção científica com diálogos fabulosos, ação na medida certa, não há exposição barata, apenas a nata fílmica de Hollywood.

"A Origem" ganhou em quatro categorias no Oscar 2011: Melhor Fotografia, Melhor Mixagem, Melhor Edição de Som e Melhor Efeitos Visuais!

Não percam mais tempo, assistam!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

Assista Agora

“A Origem” é mais uma obra-prima de Christopher Nolan. Astuta e incessante, o diretor abusa de uma direção eficaz e nos encanta com um filme de ação com toques de ficção científica avassaladora. É um filme obrigatório.

Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um ladrão eficiente que está entre os melhores na arte da extração: roubar segredos valiosos de dentro dos confins do inconsciente durante o estado de sono, quando a mente se encontra mais vulnerável. Esta rara habilidade tornou Cobb um perito cobiçado no traiçoeiro novo ramo da espionagem corporativa, mas também o transformou em um fugitivo internacional e o levou a sacrificar tudo aquilo que amava. Agora Cobb tem uma chance de redenção. Uma última oferta de trabalho poderá lhe devolver sua vida normal, mas para isso ele deverá encontrar o que é impossível -- a origem. Ao invés de executar um assalto, Cobb e sua equipe de especialistas precisam realizar o inverso; sua missão não é roubar uma ideia e sim plantar uma. Se conseguirem, este poderá ser o crime perfeito. Confira o trailer:

Ah, Nolan, Nolan, será que existe neste século algum diretor que dívida mais opiniões do que você? Alguns lhe consideram um gênio, outros lhe consideram um copiador de fórmulas já usadas, e vocês? Eu ainda sou do time que o considera um dos grandes pilares de diretores incríveis deste século. Por mais críticas que rondam sua trajetória, Nolan por seu próprio mérito figura entre os grandes do cinema, por obras majestosas como "Batman", "O Grande Truque" e "Amnésia". Com o lançamento de "A Origem", essa lista de obras primas crescerá, pois é um filme que brinca com a percepção da audiência de tal forma, que chega a ser impiedoso o fato de alguém entender o filme por completo na primeira vez. É um filme que necessita atenção e uma mente aberta para entender a fantasia dentro da própria fantasia, fixada em um amedrontamento que jugamos ser genialidade, ou será que não? Nada com Nolan é fácil, nada!

No que tange a realidade, "Inception" (no original) mescla elementos ilusórios a todo momento, é um filme que precisa ser revisto, é muita informação jogada em tela. Um sonho dentro de um sonho? E a gravidade? Como funcionaria o acordar disso tudo? Diversas perguntas, poucas respostas, mas são suficientes para entendermos a ousadia de Nolan em nos mostrar um espetáculo visual impecável. O desfecho é repleto de incógnitas, e é isso que deixa tudo mais apaixonante. Com um roteiro encaixado e fluido, coube a Nolan nos apresentar a nata do CGI moderno (não tínhamos visto nada assim antes), alucinante e ao mesmo tempo irrisório. O elenco foi escolhido a dedo, Nolan possuía um DiCaprio resplandescente e seguro, em uma atuação exemplar. O restante do elenco mantém o sarrafo lá no alto, é nítido o entrosamento entre eles - o diretor já havia trabalhado com a maioria em filmes anteriores.

Aqui, Christopher Nolan brinca com o abstrato, e assim vai modificando o entendimento do filme a cada take, quando damos conta já estamos entrelaçados a esse mundo de faz de conta, onde tudo que queremos saber é se tudo não passou de um sonho. Obra prima! "A Origem" é o suprassumo da quintessência da ficção científica com diálogos fabulosos, ação na medida certa, não há exposição barata, apenas a nata fílmica de Hollywood.

"A Origem" ganhou em quatro categorias no Oscar 2011: Melhor Fotografia, Melhor Mixagem, Melhor Edição de Som e Melhor Efeitos Visuais!

Não percam mais tempo, assistam!

Escrito por Bruno Overbeck - uma parceria @overcinee

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A Queda

Se você não for magro, Deus não te aceitará! Sim, eu sei que pode parecer um absurdo essa afirmação, mas é a partir dessa premissa surreal que a história da líder religiosaGwen Shamblin é contada nessa minissérie de 5 episódios da HBO - e já te adianto: o que pode parecer um absurdo para você (e para mim), certamente faz muito sentido para milhares de pessoas e é justamente por isso que "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" será uma das coisas mais surpreendentes que você vai assistir na vida.

Abrangendo anos de investigação e extensas entrevistas com ex-membros e outras pessoas afetadas pela Remnant Fellowship Churchou por um programa de emagrecimento religioso chamado Weigh Down, essa minissérie documental explora o legado da controversa guru e líder religiosa Gwen Shamblin, cuja vida teve um fim abrupto após a queda de seu avião em maio de 2021. Confira o trailer:

Muito bem conduzida pela mesma diretora do premiado "Polanski: Procurado e Desejado", Marina Zenovich, "A Queda" se apoia, basicamente, na figura tão particular de Gwen Shamblin, e do seu entorno (principalmente seu marido Joe Lara), para construir uma linha narrativa extremamente equilibrada e fluida que mistura assuntos que vão da religião ao sucesso profissional - e aqui é fácil analisar a estratégia de Shamblin e como a junção dos fatos que moldaram a sua vida faz, de fato, todo sentido no resultado final de sua jornada empreendedora, pois ela foi capaz que encontrar e trabalhar a vulnerabilidade de milhares de pessoas que buscavam uma certa paz no "corpo" e na "alma" sem dissociar as duas "dores"; tudo isso, claro, em uma região dos EUA marcada pelo fervor religioso.

"The Way Down: God, Greed and the Cult of Gwen Shamblin" (no original), inicialmente, teria apenas três episódios, porém em 29 de maio de 2021, depois que Zenovich já havia finalizado as filmagens, com todas as entrevistas captadas, e estava dando os toques finais para o lançamento da minissérie, Gwen Shamblin morreu tragicamente em uma queda de avião, no qual também faleceram seu marido e alguns outros líderes da congregação. Enquanto no primeiro momento os entrevistados ficaram preocupados com a repercussão de seus depoimentos, depois do acidente outras pessoas mudaram de ideia, decidiram participar do documentário e assim expor suas histórias, com isso a HBO reeditou o projeto, acrescentou mais uma hora e meia de conteúdo, dividido em dois episódios, e acabou entregando uma obra tão completa quando complexa - um verdadeiro estudo sobre os princípios "malucos" da Remnant Fellowship Church! 

Revoltante em muitos aspectos (como as ações físicas que os líderes pregavam ser o melhor caminho para a educação das crianças) e emocionante em tantos outros (como a jornada solitária de Natasha Pavlovich contra Joe Lara pela guarda de sua filha), "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" é mais um retrato da insanidade como condição humana que se apoia na fé para justificar uma série de barbaridades ao mesmo tempo em que o bolso de seus líderes vão ficando cada vez mais cheio.

Se prepare, não será uma jornada fácil e cuidado, pois os impactos que as histórias provocam não são nada confortáveis. Dito isso, como obra audiovisual e importância narrativa, vale muito o seu play!

PS: Recentemente a HBO Max anunciou que Sarah Paulson (de "American Horror Story") foi escalada para estrelar a versão roteirizada de "A Queda" - ela será Gwen Shamblin.

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Se você não for magro, Deus não te aceitará! Sim, eu sei que pode parecer um absurdo essa afirmação, mas é a partir dessa premissa surreal que a história da líder religiosaGwen Shamblin é contada nessa minissérie de 5 episódios da HBO - e já te adianto: o que pode parecer um absurdo para você (e para mim), certamente faz muito sentido para milhares de pessoas e é justamente por isso que "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" será uma das coisas mais surpreendentes que você vai assistir na vida.

Abrangendo anos de investigação e extensas entrevistas com ex-membros e outras pessoas afetadas pela Remnant Fellowship Churchou por um programa de emagrecimento religioso chamado Weigh Down, essa minissérie documental explora o legado da controversa guru e líder religiosa Gwen Shamblin, cuja vida teve um fim abrupto após a queda de seu avião em maio de 2021. Confira o trailer:

Muito bem conduzida pela mesma diretora do premiado "Polanski: Procurado e Desejado", Marina Zenovich, "A Queda" se apoia, basicamente, na figura tão particular de Gwen Shamblin, e do seu entorno (principalmente seu marido Joe Lara), para construir uma linha narrativa extremamente equilibrada e fluida que mistura assuntos que vão da religião ao sucesso profissional - e aqui é fácil analisar a estratégia de Shamblin e como a junção dos fatos que moldaram a sua vida faz, de fato, todo sentido no resultado final de sua jornada empreendedora, pois ela foi capaz que encontrar e trabalhar a vulnerabilidade de milhares de pessoas que buscavam uma certa paz no "corpo" e na "alma" sem dissociar as duas "dores"; tudo isso, claro, em uma região dos EUA marcada pelo fervor religioso.

"The Way Down: God, Greed and the Cult of Gwen Shamblin" (no original), inicialmente, teria apenas três episódios, porém em 29 de maio de 2021, depois que Zenovich já havia finalizado as filmagens, com todas as entrevistas captadas, e estava dando os toques finais para o lançamento da minissérie, Gwen Shamblin morreu tragicamente em uma queda de avião, no qual também faleceram seu marido e alguns outros líderes da congregação. Enquanto no primeiro momento os entrevistados ficaram preocupados com a repercussão de seus depoimentos, depois do acidente outras pessoas mudaram de ideia, decidiram participar do documentário e assim expor suas histórias, com isso a HBO reeditou o projeto, acrescentou mais uma hora e meia de conteúdo, dividido em dois episódios, e acabou entregando uma obra tão completa quando complexa - um verdadeiro estudo sobre os princípios "malucos" da Remnant Fellowship Church! 

Revoltante em muitos aspectos (como as ações físicas que os líderes pregavam ser o melhor caminho para a educação das crianças) e emocionante em tantos outros (como a jornada solitária de Natasha Pavlovich contra Joe Lara pela guarda de sua filha), "A Queda: Deus, Avareza e o Culto de Gwen Shamblin" é mais um retrato da insanidade como condição humana que se apoia na fé para justificar uma série de barbaridades ao mesmo tempo em que o bolso de seus líderes vão ficando cada vez mais cheio.

Se prepare, não será uma jornada fácil e cuidado, pois os impactos que as histórias provocam não são nada confortáveis. Dito isso, como obra audiovisual e importância narrativa, vale muito o seu play!

PS: Recentemente a HBO Max anunciou que Sarah Paulson (de "American Horror Story") foi escalada para estrelar a versão roteirizada de "A Queda" - ela será Gwen Shamblin.

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A Queda de P. Diddy

Para entender o real significado da palavra "idiota" basta dar o play e tudo vai ficar muito (mas, muito) claro! Nos bastidores do mundo da música, onde a ascensão meteórica e a queda estrondosa muitas vezes caminham lado a lado, poucos casos recentes geraram tanta repercussão quanto o de Sean "Diddy" Combs. Produzida em parceria entre Max, Investigation Discovery, Rolling Stone Films e Maxine Productions (do excelente "O Lado Sombrio da TV Infantil"), "A Queda de P. Diddy" investiga as inúmeras acusações de abuso e má conduta contra um dos maiores nomes da indústria musical de todos os tempos, revelando uma teia de poder e manipulação que redefiniram sua trajetória. Em cinco episódios, a obra mergulha nos segredos do império de Diddy, expondo não apenas as denúncias que levaram à sua ruína, mas também o impacto que suas ações tiveram sobre as vítimas e a cultura pop como um todo.

A narrativa detalha como Sean Combs construiu seu império que ia muito além da música. Fundador da Bad Boy Records e vencedor de seis prêmios Grammy, ele se tornou uma figura dominante no hip-hop americano e em dezenas de outros negócios ligados a sua imagem, com investimentos em moda, bebidas e até reality shows. No entanto, durante os episódios da minissérie entendemos como esse prestígio foi abalado por uma onda de denúncias que tomaram proporções inéditas a partir de 2023. Com depoimentos de vítimas, ex-funcionários e especialistas da indústria, "A Queda de P. Diddy" disseca como o silêncio e a cultura do medo permitiram que os abusos persistissem por tanto tempo. Confira o trailer:

"A Queda de P. Diddy", de fato, é muito inteligente em pontuar como o caso ganhou força e repercussão a partir da implementação do Adult Survivors Act, uma legislação que permite que vítimas de crimes sexuais antigos levem suas acusações à justiça a qualquer momento. Nesse sentido, e após "provocar" sua ex-namorada enquanto discursava depois de receber um prêmio pelo conjunto de sua obra, temos acesso aos relatos mais impactantes dessa jornada de horror capaz de embrulha o estômago como poucas vezes você vai experienciar. Assim que a cantora Cassie revela anos de abuso e controle em seu relacionamento com o rapper, outras vítimas começam a surgir, trazendo um volume crescente de provas que consolidaram o colapso público de Combs - e aqui cabe um aviso: o que você vai assistir no episódio 4, realmente machuca a alma.

Obviamente que a minissérie vai além dos escândalos ao fazer um recorte bastante interessante sobre a vida, a carreira e a personalidade de Sean Combs . De certa forma, a produção usa e abusa dos paralelos e soa provocativa ao também questionar a responsabilidade da indústria do entretenimento quando nomes como Ashton Kutcher, Naomi Campbell e Usher, anteriormente próximos ao rapper, evitam comentar o caso. Veja, nenhuma celebridade dá seu depoimento diante das câmeras do documentário - o que nos dá a exata dimensão do clima de tensão em Hollywood e no mercado musical com toda essa sujeira que veio à tona. Por outro lado, "A Queda de P. Diddy" não se abstém ao analisar o impacto de todas essas revelações e do efeito dominó causado pela derrocada de uma figura que antes era intocável, dando voz para algumas das vítimas de Combs sem qualquer receio - e olha, é pesado demais!

Dirigido por Emma Schwartz e Yoruba Richen, "A Queda de P. Diddy" adota uma estética documental visualmente moderna, combinando entrevistas em estúdio com um rico material de arquivo, usando trechos de videoclipes e momentos icônicos da trajetória do artista para entregar uma edição que alterna o brilho da sua era de ouro com a obscuridade da sua intimidade - é impressionante como essa dinâmica cria um contraste marcante entre uma celebridade carismática e a figura que, segundo as acusações, construiu um império baseado em medo e manipulação. Dito isso, fica fácil atestar que a minissérie não é apenas um relato sobre a queda de uma celebridade; mas sim uma análise pertinente sobre o poder, sobre a impunidade e sobre o impacto do silêncio coletivo dentro da indústria do entretenimento cercada de hipocrisia.

PS: Em setembro de 2024, Sean Combs foi preso em Nova York e caso seja condenado, pode enfrentar prisão perpétua.

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Para entender o real significado da palavra "idiota" basta dar o play e tudo vai ficar muito (mas, muito) claro! Nos bastidores do mundo da música, onde a ascensão meteórica e a queda estrondosa muitas vezes caminham lado a lado, poucos casos recentes geraram tanta repercussão quanto o de Sean "Diddy" Combs. Produzida em parceria entre Max, Investigation Discovery, Rolling Stone Films e Maxine Productions (do excelente "O Lado Sombrio da TV Infantil"), "A Queda de P. Diddy" investiga as inúmeras acusações de abuso e má conduta contra um dos maiores nomes da indústria musical de todos os tempos, revelando uma teia de poder e manipulação que redefiniram sua trajetória. Em cinco episódios, a obra mergulha nos segredos do império de Diddy, expondo não apenas as denúncias que levaram à sua ruína, mas também o impacto que suas ações tiveram sobre as vítimas e a cultura pop como um todo.

A narrativa detalha como Sean Combs construiu seu império que ia muito além da música. Fundador da Bad Boy Records e vencedor de seis prêmios Grammy, ele se tornou uma figura dominante no hip-hop americano e em dezenas de outros negócios ligados a sua imagem, com investimentos em moda, bebidas e até reality shows. No entanto, durante os episódios da minissérie entendemos como esse prestígio foi abalado por uma onda de denúncias que tomaram proporções inéditas a partir de 2023. Com depoimentos de vítimas, ex-funcionários e especialistas da indústria, "A Queda de P. Diddy" disseca como o silêncio e a cultura do medo permitiram que os abusos persistissem por tanto tempo. Confira o trailer:

"A Queda de P. Diddy", de fato, é muito inteligente em pontuar como o caso ganhou força e repercussão a partir da implementação do Adult Survivors Act, uma legislação que permite que vítimas de crimes sexuais antigos levem suas acusações à justiça a qualquer momento. Nesse sentido, e após "provocar" sua ex-namorada enquanto discursava depois de receber um prêmio pelo conjunto de sua obra, temos acesso aos relatos mais impactantes dessa jornada de horror capaz de embrulha o estômago como poucas vezes você vai experienciar. Assim que a cantora Cassie revela anos de abuso e controle em seu relacionamento com o rapper, outras vítimas começam a surgir, trazendo um volume crescente de provas que consolidaram o colapso público de Combs - e aqui cabe um aviso: o que você vai assistir no episódio 4, realmente machuca a alma.

Obviamente que a minissérie vai além dos escândalos ao fazer um recorte bastante interessante sobre a vida, a carreira e a personalidade de Sean Combs . De certa forma, a produção usa e abusa dos paralelos e soa provocativa ao também questionar a responsabilidade da indústria do entretenimento quando nomes como Ashton Kutcher, Naomi Campbell e Usher, anteriormente próximos ao rapper, evitam comentar o caso. Veja, nenhuma celebridade dá seu depoimento diante das câmeras do documentário - o que nos dá a exata dimensão do clima de tensão em Hollywood e no mercado musical com toda essa sujeira que veio à tona. Por outro lado, "A Queda de P. Diddy" não se abstém ao analisar o impacto de todas essas revelações e do efeito dominó causado pela derrocada de uma figura que antes era intocável, dando voz para algumas das vítimas de Combs sem qualquer receio - e olha, é pesado demais!

Dirigido por Emma Schwartz e Yoruba Richen, "A Queda de P. Diddy" adota uma estética documental visualmente moderna, combinando entrevistas em estúdio com um rico material de arquivo, usando trechos de videoclipes e momentos icônicos da trajetória do artista para entregar uma edição que alterna o brilho da sua era de ouro com a obscuridade da sua intimidade - é impressionante como essa dinâmica cria um contraste marcante entre uma celebridade carismática e a figura que, segundo as acusações, construiu um império baseado em medo e manipulação. Dito isso, fica fácil atestar que a minissérie não é apenas um relato sobre a queda de uma celebridade; mas sim uma análise pertinente sobre o poder, sobre a impunidade e sobre o impacto do silêncio coletivo dentro da indústria do entretenimento cercada de hipocrisia.

PS: Em setembro de 2024, Sean Combs foi preso em Nova York e caso seja condenado, pode enfrentar prisão perpétua.

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A Rede Social

Se você ainda não assistiu, assista! Se você já assistiu, posso te garantir: nos dias de hoje, nossa percepção sobre a história da criação do Facebook é completamente diferente daquela que tínhamos em 2010 quando o filme foi lançado. Indicado em 8 categorias no Oscar de 2011, "A Rede Social" foi uma das produções mais premiadas daquela temporada em festivais importantes ao redor do planeta, com cerca de 175 vitórias e mais de 180 indicações - um verdadeiro fenômeno! A questão é que "o filme do Facebook" foi construído em cima do livro, "Bilionários por Acaso" do Bem Mezrich, em uma época que ainda não estávamos familiarizados com termos como Startup, Equity, Venture Capital e até, podemos dizer, com o enorme potencial que uma rede social viria a ter para gerar lucros. Te garanto que todos esses detalhes ganham uma outra dimensão no segundo "play", por isso mereceu uma análise mais atual!

Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um jovem desenvolvedor de Harvard, senta na frente de seu computador e irritado com o término de um relacionamento, começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história graças ao sucesso de sua nova rede social: o Facebook. Esse sucesso, no entanto, acaba gerando muita dor de cabeça para ele, já que muitas pessoas envolvidas na criação do Facebook passam a cobrar de Zuckerberg os créditos e, talvez o mais impressionante, valores astronômicos referente a uma porcentagem dos investimentos feitos até ali na plataforma. Confira o trailer:

Dirigido pelo genial David Fincher e com um roteiro primoroso (vencedor do Oscar) do Aaron Sorkin, "A Rede Social" é extremamente competente ao retratar os bastidores do surgimento da Rede Social que mudou a maneira como nós nos relacionamos com a internet, pelos olhos de seu criador. Obviamente que atribuir esse status ao Mark Zuckerberg (brilhantemente interpretado pelo Eisenberg) e esquecer do brasileiro Eduardo Saverin (com um show do Andrew Garfield) e talvez (um pouco menos) dos irmãos Winklevoss (Armie Hammer), pode soar um pouco injusto, mas é inegável que a construção narrativa do filme deixa claro que o embate psicológico dessa jornada, de fato, merecia ser contada - e aqui cabe uma observação: o plot principal não tem nada a ver com tecnologia, mas sim com as relações estabelecidas durante a criação e o desenvolvimento do projeto.

Muito bem editado pelo Kirk Baxter e pelo Angus Wall (ambos vencedores do Oscar também por "The Girl with the Dragon Tattoo"), o filme é tão dinâmico quanto a forma como Mark Zuckerberg vai conectando suas ideias - para aqueles que se apoiam na legenda para entender os diálogos, se preparem, pois a leitura exige rapidez. Com a quebra da linha temporal, Fincher retratar pontos-chaves de uma complexa e turbulenta história real sem nos dar a sensação de que faltou algo. Talvez, com o streaming e se "A Rede Social" fosse uma minissérie, seu sucesso seria ainda mais estrondoso -  basta reparar em tantas produções com a mesma temática que vieram depois:  de Google Earth até Spotify, passando pelo Uber, pela Theranos e pelo WeWork.

A beleza de assistir filmes como "A Rede Social", aqui por muito mérito de Fincher e Sorkin, está justamente na possibilidade de olhar para o novo pela perspectiva de quem esteve lá desde o princípio, sem necessariamente ter que mergulhar em um documentário denso ou mais cadenciado. Quando Fincher se propôs a contar essa história, ele tinha em mente nos permitir olhar para um fato e, dadas as informações, julgar algumas atitudes - ou pelo menos a de entender a razão delas. Quando ouvimos que o sucesso de uma startup está na forma como seu fundador constrói uma solução de um problema em um mercado enorme, nem nos damos conta que muita coisa acontece por acaso, dentro de um contexto nem tão brilhante assim, onde é necessário ligar alguns pontos e que para isso crescer, alguém precisa acreditar (e investir). Talvez hoje, isso fique mais claro para a audiência e, para mim, esse filme foi como abrir uma janela de possibilidades onde perceber que a disrupção tem um custo e quem nem todos estão dispostos a pagar, faz parte do jogo!

Vale muito seu play!  

Up-date: "A Rede Social" ganhou em três das oito indicações no Oscar 2011: Melhor Edição, e Melhor Música e Melhor Roteiro Adaptado!

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Se você ainda não assistiu, assista! Se você já assistiu, posso te garantir: nos dias de hoje, nossa percepção sobre a história da criação do Facebook é completamente diferente daquela que tínhamos em 2010 quando o filme foi lançado. Indicado em 8 categorias no Oscar de 2011, "A Rede Social" foi uma das produções mais premiadas daquela temporada em festivais importantes ao redor do planeta, com cerca de 175 vitórias e mais de 180 indicações - um verdadeiro fenômeno! A questão é que "o filme do Facebook" foi construído em cima do livro, "Bilionários por Acaso" do Bem Mezrich, em uma época que ainda não estávamos familiarizados com termos como Startup, Equity, Venture Capital e até, podemos dizer, com o enorme potencial que uma rede social viria a ter para gerar lucros. Te garanto que todos esses detalhes ganham uma outra dimensão no segundo "play", por isso mereceu uma análise mais atual!

Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um jovem desenvolvedor de Harvard, senta na frente de seu computador e irritado com o término de um relacionamento, começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história graças ao sucesso de sua nova rede social: o Facebook. Esse sucesso, no entanto, acaba gerando muita dor de cabeça para ele, já que muitas pessoas envolvidas na criação do Facebook passam a cobrar de Zuckerberg os créditos e, talvez o mais impressionante, valores astronômicos referente a uma porcentagem dos investimentos feitos até ali na plataforma. Confira o trailer:

Dirigido pelo genial David Fincher e com um roteiro primoroso (vencedor do Oscar) do Aaron Sorkin, "A Rede Social" é extremamente competente ao retratar os bastidores do surgimento da Rede Social que mudou a maneira como nós nos relacionamos com a internet, pelos olhos de seu criador. Obviamente que atribuir esse status ao Mark Zuckerberg (brilhantemente interpretado pelo Eisenberg) e esquecer do brasileiro Eduardo Saverin (com um show do Andrew Garfield) e talvez (um pouco menos) dos irmãos Winklevoss (Armie Hammer), pode soar um pouco injusto, mas é inegável que a construção narrativa do filme deixa claro que o embate psicológico dessa jornada, de fato, merecia ser contada - e aqui cabe uma observação: o plot principal não tem nada a ver com tecnologia, mas sim com as relações estabelecidas durante a criação e o desenvolvimento do projeto.

Muito bem editado pelo Kirk Baxter e pelo Angus Wall (ambos vencedores do Oscar também por "The Girl with the Dragon Tattoo"), o filme é tão dinâmico quanto a forma como Mark Zuckerberg vai conectando suas ideias - para aqueles que se apoiam na legenda para entender os diálogos, se preparem, pois a leitura exige rapidez. Com a quebra da linha temporal, Fincher retratar pontos-chaves de uma complexa e turbulenta história real sem nos dar a sensação de que faltou algo. Talvez, com o streaming e se "A Rede Social" fosse uma minissérie, seu sucesso seria ainda mais estrondoso -  basta reparar em tantas produções com a mesma temática que vieram depois:  de Google Earth até Spotify, passando pelo Uber, pela Theranos e pelo WeWork.

A beleza de assistir filmes como "A Rede Social", aqui por muito mérito de Fincher e Sorkin, está justamente na possibilidade de olhar para o novo pela perspectiva de quem esteve lá desde o princípio, sem necessariamente ter que mergulhar em um documentário denso ou mais cadenciado. Quando Fincher se propôs a contar essa história, ele tinha em mente nos permitir olhar para um fato e, dadas as informações, julgar algumas atitudes - ou pelo menos a de entender a razão delas. Quando ouvimos que o sucesso de uma startup está na forma como seu fundador constrói uma solução de um problema em um mercado enorme, nem nos damos conta que muita coisa acontece por acaso, dentro de um contexto nem tão brilhante assim, onde é necessário ligar alguns pontos e que para isso crescer, alguém precisa acreditar (e investir). Talvez hoje, isso fique mais claro para a audiência e, para mim, esse filme foi como abrir uma janela de possibilidades onde perceber que a disrupção tem um custo e quem nem todos estão dispostos a pagar, faz parte do jogo!

Vale muito seu play!  

Up-date: "A Rede Social" ganhou em três das oito indicações no Oscar 2011: Melhor Edição, e Melhor Música e Melhor Roteiro Adaptado!

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A Sala dos Professores

"A Sala dos Professores" foi o representante da Alemanha no Oscar 2024 e só por essa chancela certamente já entraria na prateleira de "imperdíveis" do streaming. No entanto, é preciso ir mais longe: o filme dirigido pelo alemão Ilker Çatak (de "I Was, I Am, I Will Be") brinca com nossa expectativa da forma mais angustiante possível, transformando uma pseudo-crítica social em um verdadeiro drama psicológico que vai te remeter ao genial "A Caça" graças a diversos gatilhos narrativos. Premiadíssimo, "Das Lehrerzimmer" (no original) mergulha profundamente nas complexidades morais e éticas do ambiente escolar. O filme explora temas como justiça e responsabilidade, a partir do impacto das ações individuais dentro de uma atmosfera de inveja e egoísmo. Com uma narrativa realmente cativante, "A Sala dos Professores" oferece uma reflexão poderosa sobre a natureza humana e as dificuldades de manter a integridade perante a pressão social e pessoal - é como se o problema fosse ganhando cada vez mais força, como uma bola de neve, até que uma atitude que parecia ser correta ganha uma proporção tão negativa que o problema mesmo passa a ser secundário! 

Cheia de simbolismos, a trama gira em torno de Carla Nowak (Leonie Benesch), uma jovem professora de matemática em uma escola secundária na Alemanha. Quando uma série de pequenos furtos começa a ocorrer na escola, Carla se envolve na investigação para descobrir o verdadeiro culpado. Sua busca pela verdade a coloca em conflito com colegas, alunos e pais, assim que resolve gravar um potencial suspeito. Revelando as tensões latentes e os dilemas éticos presentes na comunidade escolar, o filme mais do que se aprofundar no mistério, retrata os desafios de Carla que testam seus princípios e sua capacidade de navegar pelas complexas dinâmicas do poder e da moralidade. Confira o trailer:

Alguns pontos desse grande filme merecem ser discutidos. O roteiro, co-escrito por Çatak e Johannes Duncker, é um deles - eu diria que o texto é um verdadeiro estudo, cuidadoso e multifacetado, de personagens tão palpáveis que as situações que eles enfrentam parecem tão próximas que chegar a incomodar quem assiste. Ciente dessa conexão, a narrativa equilibra habilmente o suspense de um mistério central, de certa forma irrelevante, com uma exploração profunda das motivações e dos conflitos internos dos personagens. A escrita é afiada, com diálogos realistas que refletem a obscuridade das relações interpessoais e os dilemas éticos enfrentados por Carla durante a jornada - sério, é uma montanha-russa de emoções! Ilker Çatak, em sua direção, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de tensão crescente ao mesmo tempo que nunca deixa de lado a introspecção - ele captura a claustrofobia e a intensidade emocional do ambiente escolar, priorizando enquadramentos mais fechados enquanto a fotografia usa e abusa de uma paleta de cores frias para refletir o estado mental da protagonista. Çatak ainda se apropria de longos planos, alguns deles com a câmera na mão e muitas vezes "nervosa", o que nos permite uma imersão nas interações e nos conflitos como se estivéssemos lá - tudo funcionando de uma tão maneira orgânica que nem nos damos conta do quanto estamos envolvido com aquele caos psicológico.

Leonie Benesch entrega uma performance extraordinária, capturando a mistura de idealismo quase imaturo, com uma determinação e uma vulnerabilidade difícil de equilibrar. Benesch traz uma autenticidade crua para a sua personagem, tornando Carla uma figura profundamente humana - difícil não se empatizar ou sofrer por ela. O elenco de apoio, incluindo atores como Michael Klammer e Oskar Zickur, oferece performances sólidas que enriquecem a narrativa, cada um contribuindo para a tensão e a complexidade do enredo com o único intuito de refletir as emoções em ebulição dos personagens na tensão crescente da audiência. 

"A Sala dos Professores" tem um ritmo mais cadenciado e uma abordagem introspectiva que podem tornar o filme desafiador para aqueles que preferem narrativas impactantes visualmente - especialmente no terceiro ato quando achamos que a coisa vai ficar realmente feia. Justamente por essa quebra de expectativa que a "resolução do mistério" pode parecer um anti-clímax para alguns - mas veja, o foco está muito mais nas implicações morais do que em uma conclusão mais tradicional. Antes do play saiba que aqui temos uma exploração corajosa e intelectualmente estimulante de questões éticas dentro de um microcosmo tão particular - uma visão incisiva sobre os desafios de manter a integridade e a justiça em um mundo repleto de ambiguidades e pressões, onde ninguém pode ser subestimado (nem as crianças)!

Vale muito o seu play! 

Assista Agora

"A Sala dos Professores" foi o representante da Alemanha no Oscar 2024 e só por essa chancela certamente já entraria na prateleira de "imperdíveis" do streaming. No entanto, é preciso ir mais longe: o filme dirigido pelo alemão Ilker Çatak (de "I Was, I Am, I Will Be") brinca com nossa expectativa da forma mais angustiante possível, transformando uma pseudo-crítica social em um verdadeiro drama psicológico que vai te remeter ao genial "A Caça" graças a diversos gatilhos narrativos. Premiadíssimo, "Das Lehrerzimmer" (no original) mergulha profundamente nas complexidades morais e éticas do ambiente escolar. O filme explora temas como justiça e responsabilidade, a partir do impacto das ações individuais dentro de uma atmosfera de inveja e egoísmo. Com uma narrativa realmente cativante, "A Sala dos Professores" oferece uma reflexão poderosa sobre a natureza humana e as dificuldades de manter a integridade perante a pressão social e pessoal - é como se o problema fosse ganhando cada vez mais força, como uma bola de neve, até que uma atitude que parecia ser correta ganha uma proporção tão negativa que o problema mesmo passa a ser secundário! 

Cheia de simbolismos, a trama gira em torno de Carla Nowak (Leonie Benesch), uma jovem professora de matemática em uma escola secundária na Alemanha. Quando uma série de pequenos furtos começa a ocorrer na escola, Carla se envolve na investigação para descobrir o verdadeiro culpado. Sua busca pela verdade a coloca em conflito com colegas, alunos e pais, assim que resolve gravar um potencial suspeito. Revelando as tensões latentes e os dilemas éticos presentes na comunidade escolar, o filme mais do que se aprofundar no mistério, retrata os desafios de Carla que testam seus princípios e sua capacidade de navegar pelas complexas dinâmicas do poder e da moralidade. Confira o trailer:

Alguns pontos desse grande filme merecem ser discutidos. O roteiro, co-escrito por Çatak e Johannes Duncker, é um deles - eu diria que o texto é um verdadeiro estudo, cuidadoso e multifacetado, de personagens tão palpáveis que as situações que eles enfrentam parecem tão próximas que chegar a incomodar quem assiste. Ciente dessa conexão, a narrativa equilibra habilmente o suspense de um mistério central, de certa forma irrelevante, com uma exploração profunda das motivações e dos conflitos internos dos personagens. A escrita é afiada, com diálogos realistas que refletem a obscuridade das relações interpessoais e os dilemas éticos enfrentados por Carla durante a jornada - sério, é uma montanha-russa de emoções! Ilker Çatak, em sua direção, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de tensão crescente ao mesmo tempo que nunca deixa de lado a introspecção - ele captura a claustrofobia e a intensidade emocional do ambiente escolar, priorizando enquadramentos mais fechados enquanto a fotografia usa e abusa de uma paleta de cores frias para refletir o estado mental da protagonista. Çatak ainda se apropria de longos planos, alguns deles com a câmera na mão e muitas vezes "nervosa", o que nos permite uma imersão nas interações e nos conflitos como se estivéssemos lá - tudo funcionando de uma tão maneira orgânica que nem nos damos conta do quanto estamos envolvido com aquele caos psicológico.

Leonie Benesch entrega uma performance extraordinária, capturando a mistura de idealismo quase imaturo, com uma determinação e uma vulnerabilidade difícil de equilibrar. Benesch traz uma autenticidade crua para a sua personagem, tornando Carla uma figura profundamente humana - difícil não se empatizar ou sofrer por ela. O elenco de apoio, incluindo atores como Michael Klammer e Oskar Zickur, oferece performances sólidas que enriquecem a narrativa, cada um contribuindo para a tensão e a complexidade do enredo com o único intuito de refletir as emoções em ebulição dos personagens na tensão crescente da audiência. 

"A Sala dos Professores" tem um ritmo mais cadenciado e uma abordagem introspectiva que podem tornar o filme desafiador para aqueles que preferem narrativas impactantes visualmente - especialmente no terceiro ato quando achamos que a coisa vai ficar realmente feia. Justamente por essa quebra de expectativa que a "resolução do mistério" pode parecer um anti-clímax para alguns - mas veja, o foco está muito mais nas implicações morais do que em uma conclusão mais tradicional. Antes do play saiba que aqui temos uma exploração corajosa e intelectualmente estimulante de questões éticas dentro de um microcosmo tão particular - uma visão incisiva sobre os desafios de manter a integridade e a justiça em um mundo repleto de ambiguidades e pressões, onde ninguém pode ser subestimado (nem as crianças)!

Vale muito o seu play! 

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A Unidade

Mais um ótimo achado para quem gosta de uma série de ação e drama onde o tema predominante é o terrorismo. O surpreendente nesse caso, é o mergulho sobre o tema pela perspectiva europeia, mais precisamente a partir das operações de uma equipe de elite da Polícia Nacional da Espanha - e olha, se prepare porque você vai se surpreender com o tamanho dessa produção da Movistar Plus. Na linha de "Homeland", mas com fortes elementos de "Jack Ryan","A Unidade" é uma excelente série espanhola, distribuída internacionalmente pela HBO, que transcende as expectativas do gênero ao discutir com mais profundidade o combate antiterrorismo, enquanto expõe o impacto psicológico e pessoal que essa jornada impõe aos seus protagonistas. Criada por Dani de la Torre e Alberto Marini, e dirigida pelo próprio De la Torre, a série se apoia em uma abordagem mais realista e tecnicamente muito sofisticada para narrar, ao longo de três temporadas, as operações de contenção a atentados jihadistas em território europeu.

Repare como sinopse oficial já estabelece a tensão central de "La Unidad", no original: Uma unidade especial da polícia antiterrorismo da Espanha corre contra o tempo para impedir uma série de ataques coordenados enquanto lida com dilemas éticos, riscos políticos e dramas pessoais que ameaçam comprometer sua missão. Confira o trailer:

Desde a primeira temporada, lançada em 2020, "A Unidade" se destaca por equilibrar uma atmosfera de tensão permanente com um recorte sensível sobre os bastidores da inteligência antiterrorismo. O primeiro arco acompanha a operação para desmantelar uma célula jihadista antes que ela consiga executar um atentado em Madri. Com uma narrativa que se esforça (embora nem sempre consiga) evitar os clichês hollywoodianos, a série busca apresentar personagens mais complexos, liderados pela inspetora Carla Torres (Nathalie Poza), e se estrutura como um estudo sobre a responsabilidade de ter que tomar uma sucessão de decisões operacionais e morais que testam a humanidade de todos os envolvidos. Nesse sentido, vale destacar, a direção de De la Torre é precisa - ele opta por uma estética quase documental, uma fotografia marcante, cortes secos e cenas de ação bem cruas, para reforçar essa sensação de urgência e realismo que a série promete desde sua premissa.

Na segunda temporada, lançada em 2022, o escopo da narrativa se expande um pouco mais. Agora, a Unidade precisa lidar com a ameaça de um ataque de vingança após a morte de um líder jihadista, o que coloca os agentes em uma corrida contra o tempo em múltiplas frentes. O roteiro adota uma estrutura mais coral, destacando novos personagens e explorando as consequências emocionais dos eventos anteriores. É nessa temporada que a série aprofunda as relações interpessoais e o desgaste psicológico da equipe - especialmente de Carla, que enfrenta conflitos relacionados à sua filha e à sua própria vocação. Essa temporada foi igualmente elogiada, especialmente por introduzir críticas sutis ao sistema de segurança europeu, aos conflitos entre agências e à tensão constante entre vigilância e liberdade individual.

Já na terceira temporada, lançada em 2023, “A Unidade” decide ousar ao deslocar sua narrativa para fora da Espanha, concentrando boa parte da ação no norte da África e na fronteira síria. Com um arco que remete ao recrutamento infantil, aos campos de refugiados e a radicalização transnacional, a série atinge seu ponto mais maduro, tanto em termos de conteúdo quanto de execução - mas se afasta do seu DNA, o que acabou gerando muitas criticas na época. A construção dos episódios é mais contemplativa e por isso emocionalmente intensa, mesmo sem abrir mão de uma ação pontual. Aqui, De la Torre adota uma abordagem ainda mais cinematográfica, com longos planos-sequência e uso expressivo da luz natural. A performance do elenco se mantém sólida ao oferecer atuações até mais contidas, mas profundamente tocantes, à medida que os personagens confrontam os limites do que é possível suportar - física, emocional e eticamente.

Para finalizar, vale ressaltar como tecnicamente, “A Unidade” é irrepreensível: desde o desenho de som, hiper meticuloso; passando pela trilha que traz um misto de sobriedade e tensão; até o trabalho de câmera que evita o espetáculo gratuito, priorizando a imersão da audiência e as sensações que determinadas passagens provocam. A série também se beneficia de uma consultoria precisa sobre protocolos antiterrorismo e de uma montagem que jamais subestima o fã mais acostumado ao tema  - o uso equilibrado do espanhol, do árabe e do francês, por exemplo, acrescenta uma camada de verossimilhança que torna a jornada ainda mais universal, além, obviamente, de reforçar a complexidade da geopolítica abordada no roteiro. Enfim, ao longo de suas três temporadas, “A Unidade” se consolida como uma das produções espanholas mais consistentes dos últimos anos - é uma série que não apenas entretém, mas que provoca, que levanta questionamentos sobre até onde ir em nome da segurança; que traz discussões sobre as fronteiras entre o bem e o mal, e sobre as cicatrizes invisíveis que o dever impõe àqueles que vivem à sombra do terrorismo.

Dura, contida e envolvente, “A Unidade” merece ser descoberta - e debatida. Vale o seu play!

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Mais um ótimo achado para quem gosta de uma série de ação e drama onde o tema predominante é o terrorismo. O surpreendente nesse caso, é o mergulho sobre o tema pela perspectiva europeia, mais precisamente a partir das operações de uma equipe de elite da Polícia Nacional da Espanha - e olha, se prepare porque você vai se surpreender com o tamanho dessa produção da Movistar Plus. Na linha de "Homeland", mas com fortes elementos de "Jack Ryan","A Unidade" é uma excelente série espanhola, distribuída internacionalmente pela HBO, que transcende as expectativas do gênero ao discutir com mais profundidade o combate antiterrorismo, enquanto expõe o impacto psicológico e pessoal que essa jornada impõe aos seus protagonistas. Criada por Dani de la Torre e Alberto Marini, e dirigida pelo próprio De la Torre, a série se apoia em uma abordagem mais realista e tecnicamente muito sofisticada para narrar, ao longo de três temporadas, as operações de contenção a atentados jihadistas em território europeu.

Repare como sinopse oficial já estabelece a tensão central de "La Unidad", no original: Uma unidade especial da polícia antiterrorismo da Espanha corre contra o tempo para impedir uma série de ataques coordenados enquanto lida com dilemas éticos, riscos políticos e dramas pessoais que ameaçam comprometer sua missão. Confira o trailer:

Desde a primeira temporada, lançada em 2020, "A Unidade" se destaca por equilibrar uma atmosfera de tensão permanente com um recorte sensível sobre os bastidores da inteligência antiterrorismo. O primeiro arco acompanha a operação para desmantelar uma célula jihadista antes que ela consiga executar um atentado em Madri. Com uma narrativa que se esforça (embora nem sempre consiga) evitar os clichês hollywoodianos, a série busca apresentar personagens mais complexos, liderados pela inspetora Carla Torres (Nathalie Poza), e se estrutura como um estudo sobre a responsabilidade de ter que tomar uma sucessão de decisões operacionais e morais que testam a humanidade de todos os envolvidos. Nesse sentido, vale destacar, a direção de De la Torre é precisa - ele opta por uma estética quase documental, uma fotografia marcante, cortes secos e cenas de ação bem cruas, para reforçar essa sensação de urgência e realismo que a série promete desde sua premissa.

Na segunda temporada, lançada em 2022, o escopo da narrativa se expande um pouco mais. Agora, a Unidade precisa lidar com a ameaça de um ataque de vingança após a morte de um líder jihadista, o que coloca os agentes em uma corrida contra o tempo em múltiplas frentes. O roteiro adota uma estrutura mais coral, destacando novos personagens e explorando as consequências emocionais dos eventos anteriores. É nessa temporada que a série aprofunda as relações interpessoais e o desgaste psicológico da equipe - especialmente de Carla, que enfrenta conflitos relacionados à sua filha e à sua própria vocação. Essa temporada foi igualmente elogiada, especialmente por introduzir críticas sutis ao sistema de segurança europeu, aos conflitos entre agências e à tensão constante entre vigilância e liberdade individual.

Já na terceira temporada, lançada em 2023, “A Unidade” decide ousar ao deslocar sua narrativa para fora da Espanha, concentrando boa parte da ação no norte da África e na fronteira síria. Com um arco que remete ao recrutamento infantil, aos campos de refugiados e a radicalização transnacional, a série atinge seu ponto mais maduro, tanto em termos de conteúdo quanto de execução - mas se afasta do seu DNA, o que acabou gerando muitas criticas na época. A construção dos episódios é mais contemplativa e por isso emocionalmente intensa, mesmo sem abrir mão de uma ação pontual. Aqui, De la Torre adota uma abordagem ainda mais cinematográfica, com longos planos-sequência e uso expressivo da luz natural. A performance do elenco se mantém sólida ao oferecer atuações até mais contidas, mas profundamente tocantes, à medida que os personagens confrontam os limites do que é possível suportar - física, emocional e eticamente.

Para finalizar, vale ressaltar como tecnicamente, “A Unidade” é irrepreensível: desde o desenho de som, hiper meticuloso; passando pela trilha que traz um misto de sobriedade e tensão; até o trabalho de câmera que evita o espetáculo gratuito, priorizando a imersão da audiência e as sensações que determinadas passagens provocam. A série também se beneficia de uma consultoria precisa sobre protocolos antiterrorismo e de uma montagem que jamais subestima o fã mais acostumado ao tema  - o uso equilibrado do espanhol, do árabe e do francês, por exemplo, acrescenta uma camada de verossimilhança que torna a jornada ainda mais universal, além, obviamente, de reforçar a complexidade da geopolítica abordada no roteiro. Enfim, ao longo de suas três temporadas, “A Unidade” se consolida como uma das produções espanholas mais consistentes dos últimos anos - é uma série que não apenas entretém, mas que provoca, que levanta questionamentos sobre até onde ir em nome da segurança; que traz discussões sobre as fronteiras entre o bem e o mal, e sobre as cicatrizes invisíveis que o dever impõe àqueles que vivem à sombra do terrorismo.

Dura, contida e envolvente, “A Unidade” merece ser descoberta - e debatida. Vale o seu play!

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A Vida Depois

"A Vida Depois" machuca pela imprevisibilidade e por dar a exata noção de como não temos controle, muito menos certeza do que pode acontecer com quem amamos. A profundidade da discussão deixa claro nos primeiros minutos que não se trata de um filme dinâmico, mas certamente é um mergulho dos mais interessantes no universo de alguns adolescentes que sofreram um enorme trauma e precisam continuar seu caminho como se esse impacto fosse "apenas" passageiro.

"The Fallout" (no original) acompanha a colegial Vada (Jenna Ortega) em sua jornada por uma difícil crise emocional após vivenciar uma tragédia escolar. Seu relacionamento com família e amigos, assim como sua visão do mundo, são alterados para sempre e ela precisa aprender a lidar com isso antes que seja tarde. Confira o trailer:

Vencedor dos dois principais prêmios no SXSW Film Festival de 2021 (Melhor Filme pelo Júri e pela Audiência), "A Vida Depois" é intenso, marcante e extremamente introspectivo - e se você já tiver filhos, a experiência será ainda mais reflexiva. Muito bem conduzido pela atriz canadense e agora diretora Megan Park, o filme tem um cuidado e uma sensibilidade para tocar em assuntos delicados, mas que ao mesmo tempo são necessários para que a trama ganhe força. Se no prólogo, Park sugestiona uma situação de maneira criativa e corajosa, em inúmeras outras cenas ela faz questão de focar apenas no impacto emocional da personagem e, claro, nos reflexos dessas atitudes na relação com sua família e com amigos. Veja, Park não floreia, mas também não perde a mão - tudo é muito mais interiorizado do que exposto, mesmo que o imediatismo esteja ali.

Essas escolhas conceituais da diretora deixam o filme bastante cadenciado. Ao lado da fotógrafa e estreante na função, Kristen Correll, Park faz a câmera praticamente flutuar nos pensamentos de Vada, usando e abusando de planos fechados de extremo bom gosto. Apoiada em uma trilha sonora belíssima, muitas vezes tive a impressão de estar assistido a um dos bons episódios de "Euphoria" - a própria  Jenna Ortega parece seguir os passos de Zendaya, e entrega uma performance segura, madura e muito inspirada. Aliás, todo o elenco funciona muito bem e aqui eu destaco uma linda cena entre Vada e seu pai Carlos Cavell (John Ortiz) onde ambos gritam seus sentimentos em um local reservado como se ali fosse uma espécie de rito, de recomeço, de reconexão, mas, principalmente, de amor - a cena é emocionante e muito sincera.

"A Vida Depois" sofre com a pressa de ter que estabelecer o caos emocional da protagonista, deixando de lado ótimas histórias e muitas possibilidade de identificação com a audiência (a relação com a irmã e com a mãe são só dois exemplos) - o que, certamente, em uma série ou minissérie só engrandeceria a trama. O filme tem o mérito de ser simples ao mesmo tempo em que é eficiente no que se propõe: discutir os efeitos impensáveis de um profundo trauma na cabeça (e na vida) de um adolescente. Embora a abordagem seja, de fato, cuidadosa, a forma como o silêncio é trabalhado dá o exato tom da seriedade e densidade do assunto - talvez tenha faltado um pouco mais de coragem para o arco de Mia Reed (Maddie Ziegler), cúmplice e amiga de Vada, mas com aquele final, tudo passou a fazer muito sentido - principalmente no que diz respeito as marcas e as consequências de uma realidade que não pede licença para acontecer.

Vale muito seu play!

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"A Vida Depois" machuca pela imprevisibilidade e por dar a exata noção de como não temos controle, muito menos certeza do que pode acontecer com quem amamos. A profundidade da discussão deixa claro nos primeiros minutos que não se trata de um filme dinâmico, mas certamente é um mergulho dos mais interessantes no universo de alguns adolescentes que sofreram um enorme trauma e precisam continuar seu caminho como se esse impacto fosse "apenas" passageiro.

"The Fallout" (no original) acompanha a colegial Vada (Jenna Ortega) em sua jornada por uma difícil crise emocional após vivenciar uma tragédia escolar. Seu relacionamento com família e amigos, assim como sua visão do mundo, são alterados para sempre e ela precisa aprender a lidar com isso antes que seja tarde. Confira o trailer:

Vencedor dos dois principais prêmios no SXSW Film Festival de 2021 (Melhor Filme pelo Júri e pela Audiência), "A Vida Depois" é intenso, marcante e extremamente introspectivo - e se você já tiver filhos, a experiência será ainda mais reflexiva. Muito bem conduzido pela atriz canadense e agora diretora Megan Park, o filme tem um cuidado e uma sensibilidade para tocar em assuntos delicados, mas que ao mesmo tempo são necessários para que a trama ganhe força. Se no prólogo, Park sugestiona uma situação de maneira criativa e corajosa, em inúmeras outras cenas ela faz questão de focar apenas no impacto emocional da personagem e, claro, nos reflexos dessas atitudes na relação com sua família e com amigos. Veja, Park não floreia, mas também não perde a mão - tudo é muito mais interiorizado do que exposto, mesmo que o imediatismo esteja ali.

Essas escolhas conceituais da diretora deixam o filme bastante cadenciado. Ao lado da fotógrafa e estreante na função, Kristen Correll, Park faz a câmera praticamente flutuar nos pensamentos de Vada, usando e abusando de planos fechados de extremo bom gosto. Apoiada em uma trilha sonora belíssima, muitas vezes tive a impressão de estar assistido a um dos bons episódios de "Euphoria" - a própria  Jenna Ortega parece seguir os passos de Zendaya, e entrega uma performance segura, madura e muito inspirada. Aliás, todo o elenco funciona muito bem e aqui eu destaco uma linda cena entre Vada e seu pai Carlos Cavell (John Ortiz) onde ambos gritam seus sentimentos em um local reservado como se ali fosse uma espécie de rito, de recomeço, de reconexão, mas, principalmente, de amor - a cena é emocionante e muito sincera.

"A Vida Depois" sofre com a pressa de ter que estabelecer o caos emocional da protagonista, deixando de lado ótimas histórias e muitas possibilidade de identificação com a audiência (a relação com a irmã e com a mãe são só dois exemplos) - o que, certamente, em uma série ou minissérie só engrandeceria a trama. O filme tem o mérito de ser simples ao mesmo tempo em que é eficiente no que se propõe: discutir os efeitos impensáveis de um profundo trauma na cabeça (e na vida) de um adolescente. Embora a abordagem seja, de fato, cuidadosa, a forma como o silêncio é trabalhado dá o exato tom da seriedade e densidade do assunto - talvez tenha faltado um pouco mais de coragem para o arco de Mia Reed (Maddie Ziegler), cúmplice e amiga de Vada, mas com aquele final, tudo passou a fazer muito sentido - principalmente no que diz respeito as marcas e as consequências de uma realidade que não pede licença para acontecer.

Vale muito seu play!

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