indika.tv - Drama

A Menina Silenciosa

"A Menina Silenciosa" é uma verdadeira poesia cinematográfica - é um filme que fala sobre o amor da forma mais dolorosa possível, já que sua narrativa é construída pela perspectiva do encontro de quem nunca recebeu amor com quem não sabe como lidar com a impossibilidade de amar e que desesperadamente busca uma segunda chance! Sim, eu sei que pode parecer abstrato demais, mas é assim que o filme dirigido por Colm Bairéad vai nos entregando uma jornada desconcertante e ao mesmo tempo absolutamente encantadora que conecta assuntos difíceis e desagradáveis, como o luto e a negligência parental, com a inocência de uma personagem sensível e apaixonante! Embora cadenciada demais, é preciso que se diga, essa história vai te emocionar e te provocar inúmeras sensações - e nem todas confortáveis.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023, "An Cailín Ciúin" (no original) acompanha Cáit (Catherine Clinch), uma menina de nove anos que tem uma família enorme, pobre e completamente disfuncional. Com a aproximação de mais um parto de sua mãe, ela é enviada para a casa de parentes distantes apenas com a roupa do corpo. Ao receber os cuidados deste casal de meia idade, Cáit descobre uma nova forma de viver, mas nesta casa onde o carinho cresce e onde não há segredos, ela faz uma dolorosa descoberta que passa a moldar sua percepção de mundo. Confira o trailer:

"Uma Jornada de Descobertas e Autoconhecimento" - talvez seja essa a melhor maneira de definir essa produção irlandesa que acumulou inúmeros prêmios importantes na temporada 22/23 em festivais ao redor do planeta. Vencedor do 

dicotomia sem cair no melodrama barato ou em maniqueísmos simplórios - etrilha sonora original composta por Stephen Rennicks - uma obra-prima que vai ajudar a esmagar seu coração, especialmente na última sequência do filme.

Com atuações de tirar o fôlego, especialmente a performance hipnotizante de Catherine Clinch, posso te garantir que "A Menina Silenciosa" toca a alma, e mesmo explorando temas sensíveis como perda, identidade, família e a busca por um lugar no mundo, o filme é basicamente um convite a reflexão sobre nossas próprias experiências e sobre uma complexa teia de relações que nos define como seres humanos perante o mundo. Olha, prepare-se para se emocionar, se encantar e se conectar com a história de Cáit de uma maneira que você jamais esquecerá.

Vale seu play!

Assista Agora

"A Menina Silenciosa" é uma verdadeira poesia cinematográfica - é um filme que fala sobre o amor da forma mais dolorosa possível, já que sua narrativa é construída pela perspectiva do encontro de quem nunca recebeu amor com quem não sabe como lidar com a impossibilidade de amar e que desesperadamente busca uma segunda chance! Sim, eu sei que pode parecer abstrato demais, mas é assim que o filme dirigido por Colm Bairéad vai nos entregando uma jornada desconcertante e ao mesmo tempo absolutamente encantadora que conecta assuntos difíceis e desagradáveis, como o luto e a negligência parental, com a inocência de uma personagem sensível e apaixonante! Embora cadenciada demais, é preciso que se diga, essa história vai te emocionar e te provocar inúmeras sensações - e nem todas confortáveis.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023, "An Cailín Ciúin" (no original) acompanha Cáit (Catherine Clinch), uma menina de nove anos que tem uma família enorme, pobre e completamente disfuncional. Com a aproximação de mais um parto de sua mãe, ela é enviada para a casa de parentes distantes apenas com a roupa do corpo. Ao receber os cuidados deste casal de meia idade, Cáit descobre uma nova forma de viver, mas nesta casa onde o carinho cresce e onde não há segredos, ela faz uma dolorosa descoberta que passa a moldar sua percepção de mundo. Confira o trailer:

"Uma Jornada de Descobertas e Autoconhecimento" - talvez seja essa a melhor maneira de definir essa produção irlandesa que acumulou inúmeros prêmios importantes na temporada 22/23 em festivais ao redor do planeta. Vencedor do 

dicotomia sem cair no melodrama barato ou em maniqueísmos simplórios - etrilha sonora original composta por Stephen Rennicks - uma obra-prima que vai ajudar a esmagar seu coração, especialmente na última sequência do filme.

Com atuações de tirar o fôlego, especialmente a performance hipnotizante de Catherine Clinch, posso te garantir que "A Menina Silenciosa" toca a alma, e mesmo explorando temas sensíveis como perda, identidade, família e a busca por um lugar no mundo, o filme é basicamente um convite a reflexão sobre nossas próprias experiências e sobre uma complexa teia de relações que nos define como seres humanos perante o mundo. Olha, prepare-se para se emocionar, se encantar e se conectar com a história de Cáit de uma maneira que você jamais esquecerá.

Vale seu play!

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A Milhões de Quilômetros

Esse é mais um filme com uma história improvável, e por isso bastante inspiradora, que de fato merecia ser contada! Mas isso faz de "A Milhões de Quilômetros" inesquecível? Não, longe disso - no entanto, você pode ter a mais absoluta certeza que mesmo com um roteiro repleto de estereótipos, como entretenimento, ele é mais que ótimo! Veja, é como se misturássemos o ótimo e profundo drama francês "A Jornada" com o divertido e descomplicado "Flamin' Hot"! Baseado no livro "El Nino Que Alcanzo Las Estrellas", a diretora Alejandra Márquez Abella (do premiado "Os Céus do Norte sobre o Vazio") entrega uma biografia que derrapa pelo enorme recorte escolhido para contar uma história sobre a busca incansável pelo sonho americano, mas que por outro lado nos prende pela enorme conexão que desenvolvemos com o protagonista, o astronauta mexicano-americano, José Hernández.

Inspirado na história real de Hernández (Michael Peña), "A Million Miles Away" (no original) acompanha toda a jornada do jovem, e sua família, de uma vila rural em Michoacán, no México, para mais de 300 quilômetros acima da Terra na Estação Espacial Internacional. Com o apoio incondicional de sua esposa, muito foco e uma determinação fora do comum, o filme pontua passagens marcantes que levaram esse engenheiro brilhante ter a oportunidade de alcançar seu objetivo que, para muitos, parecia impossível. Confira o trailer:

Nascido em 13 de agosto de 1962, Hernández cresceu em uma família de trabalhadores rurais que se mudaram para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor - o valor e a dificuldade que representam essa jornada rumo ao espaço é rapidamente contextualizada em uma ou duas cenas do prólogo, o suficiente para entendermos que estamos diante de uma receita que normalmente agrada a audiência: um protagonista humilde e perseverante que passa por todas as dificuldades e alcança o seu objetivo. A grande questão é que Abella escolhe um tom mais leve para contar uma história até certo ponto batida, só que em nenhum momento ela se apega ao drama profundo e introspectivo, nem quando a própria a situação pede, e isso é um golaço. Ela sabe que naturalmente o personagem vai nos conquistar e que em algum momento vamos passar a torcer por ele, sofrer com suas derrotas e nos emocionar com suas conquistas. De fato isso acontece - talvez tirando o sofrimento, esse nunca é tão impactante pela pressa de colocar tudo na tela em apenas 120 minutos. É como se faltasse profundidade, mas embarcando na proposta da diretora, isso não faz a menor falta.

O ponto alto do filme, sem dúvida, está na química entre Michael Peña e Rosa Salazar, que interpreta a esposa do astronauta, Adela. Eles se comunicam pelo olhar, mesmo sem a necessidade daqueles gatilhos emocionais que um filme desse gênero gosta de usar (e abusar) - não que não tenha, mas aqui a performance dos atores vai além, nos conquista sem muito esforço. É quase como e assistíssemos o filme com aquele leve sorriso querendo escapar. E por isso faço um elogio: Peña é absoluto, um ator que já demonstrou seu talento inúmeras vezes, capaz de usar de uma delicadeza e sensibilidade, sem falar no seu carisma que é mesmo impressionante. Apesar da estrutura narrativa atrapalhar essa construção de grandes emoções, Peña sabe por quais caminhos seguir sem soar piegas - o próprio Jesse Garcia fez muito bem isso em  "Flamin' Hot".

Hernández enfrentou inúmeras dificuldades em sua juventude, incluindo barreiras linguísticas e financeiras. No entanto, sua paixão pela ciência e pela exploração espacial o impulsionou a superar esses obstáculos. Ele obteve um diploma em engenharia elétrica e posteriormente um mestrado em engenharia de computação, demonstrando seu compromisso com a educação e aprimoramento pessoal. Aprendeu a pilotar aviões, com mais de 800 horas de voo; mergulhar mesmo com certa fobia e até a falar russo para ser aprovado pela Nasa depois de 12 tentativas. Sim, José Hernández deve ser considerado um verdadeiro exemplo e sua história de sucesso, uma fonte de inspiração para todos - esse é o propósito de "A Milhões de Quilômetros" e ele cumpre muito bem esse papel.

Ficou curioso? Então pode dar o play que você não vai se arrepender, mas traz a pipoca, ok?

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Esse é mais um filme com uma história improvável, e por isso bastante inspiradora, que de fato merecia ser contada! Mas isso faz de "A Milhões de Quilômetros" inesquecível? Não, longe disso - no entanto, você pode ter a mais absoluta certeza que mesmo com um roteiro repleto de estereótipos, como entretenimento, ele é mais que ótimo! Veja, é como se misturássemos o ótimo e profundo drama francês "A Jornada" com o divertido e descomplicado "Flamin' Hot"! Baseado no livro "El Nino Que Alcanzo Las Estrellas", a diretora Alejandra Márquez Abella (do premiado "Os Céus do Norte sobre o Vazio") entrega uma biografia que derrapa pelo enorme recorte escolhido para contar uma história sobre a busca incansável pelo sonho americano, mas que por outro lado nos prende pela enorme conexão que desenvolvemos com o protagonista, o astronauta mexicano-americano, José Hernández.

Inspirado na história real de Hernández (Michael Peña), "A Million Miles Away" (no original) acompanha toda a jornada do jovem, e sua família, de uma vila rural em Michoacán, no México, para mais de 300 quilômetros acima da Terra na Estação Espacial Internacional. Com o apoio incondicional de sua esposa, muito foco e uma determinação fora do comum, o filme pontua passagens marcantes que levaram esse engenheiro brilhante ter a oportunidade de alcançar seu objetivo que, para muitos, parecia impossível. Confira o trailer:

Nascido em 13 de agosto de 1962, Hernández cresceu em uma família de trabalhadores rurais que se mudaram para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor - o valor e a dificuldade que representam essa jornada rumo ao espaço é rapidamente contextualizada em uma ou duas cenas do prólogo, o suficiente para entendermos que estamos diante de uma receita que normalmente agrada a audiência: um protagonista humilde e perseverante que passa por todas as dificuldades e alcança o seu objetivo. A grande questão é que Abella escolhe um tom mais leve para contar uma história até certo ponto batida, só que em nenhum momento ela se apega ao drama profundo e introspectivo, nem quando a própria a situação pede, e isso é um golaço. Ela sabe que naturalmente o personagem vai nos conquistar e que em algum momento vamos passar a torcer por ele, sofrer com suas derrotas e nos emocionar com suas conquistas. De fato isso acontece - talvez tirando o sofrimento, esse nunca é tão impactante pela pressa de colocar tudo na tela em apenas 120 minutos. É como se faltasse profundidade, mas embarcando na proposta da diretora, isso não faz a menor falta.

O ponto alto do filme, sem dúvida, está na química entre Michael Peña e Rosa Salazar, que interpreta a esposa do astronauta, Adela. Eles se comunicam pelo olhar, mesmo sem a necessidade daqueles gatilhos emocionais que um filme desse gênero gosta de usar (e abusar) - não que não tenha, mas aqui a performance dos atores vai além, nos conquista sem muito esforço. É quase como e assistíssemos o filme com aquele leve sorriso querendo escapar. E por isso faço um elogio: Peña é absoluto, um ator que já demonstrou seu talento inúmeras vezes, capaz de usar de uma delicadeza e sensibilidade, sem falar no seu carisma que é mesmo impressionante. Apesar da estrutura narrativa atrapalhar essa construção de grandes emoções, Peña sabe por quais caminhos seguir sem soar piegas - o próprio Jesse Garcia fez muito bem isso em  "Flamin' Hot".

Hernández enfrentou inúmeras dificuldades em sua juventude, incluindo barreiras linguísticas e financeiras. No entanto, sua paixão pela ciência e pela exploração espacial o impulsionou a superar esses obstáculos. Ele obteve um diploma em engenharia elétrica e posteriormente um mestrado em engenharia de computação, demonstrando seu compromisso com a educação e aprimoramento pessoal. Aprendeu a pilotar aviões, com mais de 800 horas de voo; mergulhar mesmo com certa fobia e até a falar russo para ser aprovado pela Nasa depois de 12 tentativas. Sim, José Hernández deve ser considerado um verdadeiro exemplo e sua história de sucesso, uma fonte de inspiração para todos - esse é o propósito de "A Milhões de Quilômetros" e ele cumpre muito bem esse papel.

Ficou curioso? Então pode dar o play que você não vai se arrepender, mas traz a pipoca, ok?

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A Million Little Things

Acho que um dos grandes méritos dessa "segunda fase" do Globoplay é fazer o caminho inverso ao da Netflix, mas com o objetivo de chegar, exatamente, no mesmo lugar. Quando o Globoplay foi lançado, encontrávamos apenas conteúdo da Globo, ou seja, um catálogo enorme de produções próprias de altíssima qualidade, mas que não eram inéditos e representavam um material com características bem regionais. Com o tempo a plataforma foi mudando sua estratégia, ampliando seu olhar para o mercado e alinhando seu conteúdo inédito com as estréias da TV, até que veio a excelente sacada de lançar antes na plataforma e, em alguns casos, tudo de uma vez para o usuário "maratonar". Agora o Globoplay evoluiu ainda mais, pois passou a produzir projetos exclusivos para o streaming, sem nem passar pela TV e também licenciar conteúdo criado (e exibido) fora da emissora!!! Vamos falar muito desses conteúdos, mas fiz essa introdução toda apenas para dizer que: "A Million Little Things" está lá, no Globoplay, e você não pode deixar de assistir!!!!!

Essa série é a versão da ABC do sucesso da NBC, "This is Us". Na verdade uma série não tem nada a ver com a outra no seu conteúdo, mas a forma de contar a história e os sentimentos que ela é capaz de gerar ao assistirmos cada episódio é exatamente o mesmo! "A Million Little Things" não foca na família, foca na amizade! Seu ponto de partida é o suicídio de um dos protagonistas e, sempre misturando passado e presente, como essa tragédia refletiu na vida de cada um dos seus melhores amigos. Veja o trailer:

A trama não é complicada e talvez não tenha a genialidade narrativa de "This is Us", mas entrega um entretenimento de muita qualidade, humano, sensível e muito, mas muito, fácil de se identificar. Cada um dos personagens tem seu fantasma, seu drama pessoal, mas o roteiro não faz questão nenhuma de enrolar a audiência, ele vai mostrando cada traço da personalidade dos personagens e suas respectivas ações de uma maneira muito orgânica e de repente, você está preso na trama e quer saber sempre mais. Todo episódio tem um detalhe novo que te coloca imediatamente na posição do outro - até julgamento fazemos...rs. Eu assisti três episódios de uma levada só e não queria parar. Durante a 1ª temporada minha única dúvida era se episódios manteriam a qualidade inicial e não se perderiam pelo número absurdo que a TV aberta americana ainda exige para manter sua audiência - para se ter uma idéia são 17 episódios, um absurdo se compararmos com os 10 (em média) do streaming!

O elenco é excelente, a direção muito competente - repare no movimento de camera, com uma levada mais solta, equilibrando o documental com a ficção. Muitos planos fechados para captar as sensações dos personagens - enfim, bebeu da fonte de "This is Us" com muita competência e quem ganhou foi o publico com uma série de ótima qualidade!!! Não deixe de assistir, você vai me agradecer por isso!!! Globoplay, como era de se esperar, não veio para brincar...

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Acho que um dos grandes méritos dessa "segunda fase" do Globoplay é fazer o caminho inverso ao da Netflix, mas com o objetivo de chegar, exatamente, no mesmo lugar. Quando o Globoplay foi lançado, encontrávamos apenas conteúdo da Globo, ou seja, um catálogo enorme de produções próprias de altíssima qualidade, mas que não eram inéditos e representavam um material com características bem regionais. Com o tempo a plataforma foi mudando sua estratégia, ampliando seu olhar para o mercado e alinhando seu conteúdo inédito com as estréias da TV, até que veio a excelente sacada de lançar antes na plataforma e, em alguns casos, tudo de uma vez para o usuário "maratonar". Agora o Globoplay evoluiu ainda mais, pois passou a produzir projetos exclusivos para o streaming, sem nem passar pela TV e também licenciar conteúdo criado (e exibido) fora da emissora!!! Vamos falar muito desses conteúdos, mas fiz essa introdução toda apenas para dizer que: "A Million Little Things" está lá, no Globoplay, e você não pode deixar de assistir!!!!!

Essa série é a versão da ABC do sucesso da NBC, "This is Us". Na verdade uma série não tem nada a ver com a outra no seu conteúdo, mas a forma de contar a história e os sentimentos que ela é capaz de gerar ao assistirmos cada episódio é exatamente o mesmo! "A Million Little Things" não foca na família, foca na amizade! Seu ponto de partida é o suicídio de um dos protagonistas e, sempre misturando passado e presente, como essa tragédia refletiu na vida de cada um dos seus melhores amigos. Veja o trailer:

A trama não é complicada e talvez não tenha a genialidade narrativa de "This is Us", mas entrega um entretenimento de muita qualidade, humano, sensível e muito, mas muito, fácil de se identificar. Cada um dos personagens tem seu fantasma, seu drama pessoal, mas o roteiro não faz questão nenhuma de enrolar a audiência, ele vai mostrando cada traço da personalidade dos personagens e suas respectivas ações de uma maneira muito orgânica e de repente, você está preso na trama e quer saber sempre mais. Todo episódio tem um detalhe novo que te coloca imediatamente na posição do outro - até julgamento fazemos...rs. Eu assisti três episódios de uma levada só e não queria parar. Durante a 1ª temporada minha única dúvida era se episódios manteriam a qualidade inicial e não se perderiam pelo número absurdo que a TV aberta americana ainda exige para manter sua audiência - para se ter uma idéia são 17 episódios, um absurdo se compararmos com os 10 (em média) do streaming!

O elenco é excelente, a direção muito competente - repare no movimento de camera, com uma levada mais solta, equilibrando o documental com a ficção. Muitos planos fechados para captar as sensações dos personagens - enfim, bebeu da fonte de "This is Us" com muita competência e quem ganhou foi o publico com uma série de ótima qualidade!!! Não deixe de assistir, você vai me agradecer por isso!!! Globoplay, como era de se esperar, não veio para brincar...

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A pé ele não vai longe

"A pé ele não vai longe" é, na verdade, um recorte biográfico do cartunista americano John Callahan - o que transforma a obra em um "filme de personagem" que usa e abusa da capacidade de Joaquin Phoenix para contar uma história cheia de camadas, conduzida por um diretor talentoso como Gus Van Sant (de "Gênio Indomável"), mas com uma narrativa truncada, fragmentada e difícil de se conectar (principalmente para nós brasileiros que não conhecemos o personagem). Por outro lado, o roteiro é muito feliz em mostrar a transformação de uma figura perdida na vida em uma referência artística para uma geração, que usou do humor e da ironia para discutir temas sensíveis como o racismo, a sexualidade e a deficiência física. Na linha do "ame ou odeie", esse é mais um daqueles filmes onde o personagem se confunde com a própria história!

Na trajetória difícil para a sobriedade, após um acidente que mudou sua vida, John Callahan (Joaquin Phoenix) descobre o poder curativo da arte, permitindo que suas mãos lesionadas criem desenhos arrojados, hilários e muitas vezes polêmicos, proporcionando para ele fama e uma nova perspectiva de futuro. Confira o trailer:

Inicialmente a montagem do próprio Gus Van Sant pode causar um certo estranhamento, já que a quebra de linearidade temporal é dinâmica e se repete de maneira extremamente orgânica a todo momento. Esse conceito narrativo, inclusive, ajuda a criar um universo bastante particular já que os personagens parecem estereotipados, sempre um tom acima - John Callahan, por exemplo, parece uma caricatura de si mesmo com seu cabelo laranja e um figurino setentista cheio de cores e estampas; ou até Donnie Green (Jonah Hill), uma espécie de padrinho e tutor emocional de Callahan, com sua caracterização quase divina, um tom de voz manso, mesmo quando faz discursos mais críticos, equilibrando uma certa passividade com uma agressividade cheia de contradições. O fato é que funciona como alegoria, mas nos dá uma sensação de distanciamento da realidade.

Um detalhe que me soou bastante interessante diz respeito ao posicionamento do roteiro em assumir uma postura neutra quanto a defender ou acusar Callahan de seus excessos - e aqui não falo apenas do álcool. A personalidade complexa do protagonista nos provoca toda hora, já que em muitos momentos o enxergamos como um gênio, em outros como um frustrado e pessimista; em várias passagens ele é grosseiro, mas pontualmente é também encantador - a verdade é que o julgamento (e não serão poucos) está nas nossas mãos como audiência. Reparem na cena em que Callahan conversa com uma especialista sobre sexo para pessoas paraplégicas e depois em como ele se relaciona com Annu (Rooney Mara).

Apesar das cenas tristes, naturalmente previstas devido ao drama da paralisia, o tom de "A pé ele não vai longe" é relativamente leve. Temos algumas cenas bem divertidas de superação, como a luta de Callahan para cumprir seu tratamento de "12 passos para a sobriedade", e outras extremamente emotivas como o discurso de Donnie Green ou a conversa, anos depois, entre o protagonista e o homem que causou seu acidente. Eu diria, com a maior tranquilidade, que mesmo tentando escapar do "piegas", Van Sant não deixa de entregar um belo filme sobre o verdadeiro valor da vida, mas com aquele toque bastante autoral.

Vale seu play!

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"A pé ele não vai longe" é, na verdade, um recorte biográfico do cartunista americano John Callahan - o que transforma a obra em um "filme de personagem" que usa e abusa da capacidade de Joaquin Phoenix para contar uma história cheia de camadas, conduzida por um diretor talentoso como Gus Van Sant (de "Gênio Indomável"), mas com uma narrativa truncada, fragmentada e difícil de se conectar (principalmente para nós brasileiros que não conhecemos o personagem). Por outro lado, o roteiro é muito feliz em mostrar a transformação de uma figura perdida na vida em uma referência artística para uma geração, que usou do humor e da ironia para discutir temas sensíveis como o racismo, a sexualidade e a deficiência física. Na linha do "ame ou odeie", esse é mais um daqueles filmes onde o personagem se confunde com a própria história!

Na trajetória difícil para a sobriedade, após um acidente que mudou sua vida, John Callahan (Joaquin Phoenix) descobre o poder curativo da arte, permitindo que suas mãos lesionadas criem desenhos arrojados, hilários e muitas vezes polêmicos, proporcionando para ele fama e uma nova perspectiva de futuro. Confira o trailer:

Inicialmente a montagem do próprio Gus Van Sant pode causar um certo estranhamento, já que a quebra de linearidade temporal é dinâmica e se repete de maneira extremamente orgânica a todo momento. Esse conceito narrativo, inclusive, ajuda a criar um universo bastante particular já que os personagens parecem estereotipados, sempre um tom acima - John Callahan, por exemplo, parece uma caricatura de si mesmo com seu cabelo laranja e um figurino setentista cheio de cores e estampas; ou até Donnie Green (Jonah Hill), uma espécie de padrinho e tutor emocional de Callahan, com sua caracterização quase divina, um tom de voz manso, mesmo quando faz discursos mais críticos, equilibrando uma certa passividade com uma agressividade cheia de contradições. O fato é que funciona como alegoria, mas nos dá uma sensação de distanciamento da realidade.

Um detalhe que me soou bastante interessante diz respeito ao posicionamento do roteiro em assumir uma postura neutra quanto a defender ou acusar Callahan de seus excessos - e aqui não falo apenas do álcool. A personalidade complexa do protagonista nos provoca toda hora, já que em muitos momentos o enxergamos como um gênio, em outros como um frustrado e pessimista; em várias passagens ele é grosseiro, mas pontualmente é também encantador - a verdade é que o julgamento (e não serão poucos) está nas nossas mãos como audiência. Reparem na cena em que Callahan conversa com uma especialista sobre sexo para pessoas paraplégicas e depois em como ele se relaciona com Annu (Rooney Mara).

Apesar das cenas tristes, naturalmente previstas devido ao drama da paralisia, o tom de "A pé ele não vai longe" é relativamente leve. Temos algumas cenas bem divertidas de superação, como a luta de Callahan para cumprir seu tratamento de "12 passos para a sobriedade", e outras extremamente emotivas como o discurso de Donnie Green ou a conversa, anos depois, entre o protagonista e o homem que causou seu acidente. Eu diria, com a maior tranquilidade, que mesmo tentando escapar do "piegas", Van Sant não deixa de entregar um belo filme sobre o verdadeiro valor da vida, mas com aquele toque bastante autoral.

Vale seu play!

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A Rede Social

A Rede Social

Se você ainda não assistiu, assista! Se você já assistiu, posso te garantir: nos dias de hoje, nossa percepção sobre a história da criação do Facebook é completamente diferente daquela que tínhamos em 2010 quando o filme foi lançado. Indicado em 8 categorias no Oscar de 2011, "A Rede Social" foi uma das produções mais premiadas daquela temporada em festivais importantes ao redor do planeta, com cerca de 175 vitórias e mais de 180 indicações - um verdadeiro fenômeno! A questão é que "o filme do Facebook" foi construído em cima do livro, "Bilionários por Acaso" do Bem Mezrich, em uma época que ainda não estávamos familiarizados com termos como Startup, Equity, Venture Capital e até, podemos dizer, com o enorme potencial que uma rede social viria a ter para gerar lucros. Te garanto que todos esses detalhes ganham uma outra dimensão no segundo "play", por isso mereceu uma análise mais atual!

Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um jovem desenvolvedor de Harvard, senta na frente de seu computador e irritado com o término de um relacionamento, começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história graças ao sucesso de sua nova rede social: o Facebook. Esse sucesso, no entanto, acaba gerando muita dor de cabeça para ele, já que muitas pessoas envolvidas na criação do Facebook passam a cobrar de Zuckerberg os créditos e, talvez o mais impressionante, valores astronômicos referente a uma porcentagem dos investimentos feitos até ali na plataforma. Confira o trailer:

Dirigido pelo genial David Fincher e com um roteiro primoroso (vencedor do Oscar) do Aaron Sorkin, "A Rede Social" é extremamente competente ao retratar os bastidores do surgimento da Rede Social que mudou a maneira como nós nos relacionamos com a internet, pelos olhos de seu criador. Obviamente que atribuir esse status ao Mark Zuckerberg (brilhantemente interpretado pelo Eisenberg) e esquecer do brasileiro Eduardo Saverin (com um show do Andrew Garfield) e talvez (um pouco menos) dos irmãos Winklevoss (Armie Hammer), pode soar um pouco injusto, mas é inegável que a construção narrativa do filme deixa claro que o embate psicológico dessa jornada, de fato, merecia ser contada - e aqui cabe uma observação: o plot principal não tem nada a ver com tecnologia, mas sim com as relações estabelecidas durante a criação e o desenvolvimento do projeto.

Muito bem editado pelo Kirk Baxter e pelo Angus Wall (ambos vencedores do Oscar também por "The Girl with the Dragon Tattoo"), o filme é tão dinâmico quanto a forma como Mark Zuckerberg vai conectando suas ideias - para aqueles que se apoiam na legenda para entender os diálogos, se preparem, pois a leitura exige rapidez. Com a quebra da linha temporal, Fincher retratar pontos-chaves de uma complexa e turbulenta história real sem nos dar a sensação de que faltou algo. Talvez, com o streaming e se "A Rede Social" fosse uma minissérie, seu sucesso seria ainda mais estrondoso -  basta reparar em tantas produções com a mesma temática que vieram depois:  de Google Earth até Spotify, passando pelo Uber, pela Theranos e pelo WeWork.

A beleza de assistir filmes como "A Rede Social", aqui por muito mérito de Fincher e Sorkin, está justamente na possibilidade de olhar para o novo pela perspectiva de quem esteve lá desde o princípio, sem necessariamente ter que mergulhar em um documentário denso ou mais cadenciado. Quando Fincher se propôs a contar essa história, ele tinha em mente nos permitir olhar para um fato e, dadas as informações, julgar algumas atitudes - ou pelo menos a de entender a razão delas. Quando ouvimos que o sucesso de uma startup está na forma como seu fundador constrói uma solução de um problema em um mercado enorme, nem nos damos conta que muita coisa acontece por acaso, dentro de um contexto nem tão brilhante assim, onde é necessário ligar alguns pontos e que para isso crescer, alguém precisa acreditar (e investir). Talvez hoje, isso fique mais claro para a audiência e, para mim, esse filme foi como abrir uma janela de possibilidades onde perceber que a disrupção tem um custo e quem nem todos estão dispostos a pagar, faz parte do jogo!

Vale muito seu play!  

Up-date: "A Rede Social" ganhou em três das oito indicações no Oscar 2011: Melhor Edição, e Melhor Música e Melhor Roteiro Adaptado!

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Se você ainda não assistiu, assista! Se você já assistiu, posso te garantir: nos dias de hoje, nossa percepção sobre a história da criação do Facebook é completamente diferente daquela que tínhamos em 2010 quando o filme foi lançado. Indicado em 8 categorias no Oscar de 2011, "A Rede Social" foi uma das produções mais premiadas daquela temporada em festivais importantes ao redor do planeta, com cerca de 175 vitórias e mais de 180 indicações - um verdadeiro fenômeno! A questão é que "o filme do Facebook" foi construído em cima do livro, "Bilionários por Acaso" do Bem Mezrich, em uma época que ainda não estávamos familiarizados com termos como Startup, Equity, Venture Capital e até, podemos dizer, com o enorme potencial que uma rede social viria a ter para gerar lucros. Te garanto que todos esses detalhes ganham uma outra dimensão no segundo "play", por isso mereceu uma análise mais atual!

Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um jovem desenvolvedor de Harvard, senta na frente de seu computador e irritado com o término de um relacionamento, começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história graças ao sucesso de sua nova rede social: o Facebook. Esse sucesso, no entanto, acaba gerando muita dor de cabeça para ele, já que muitas pessoas envolvidas na criação do Facebook passam a cobrar de Zuckerberg os créditos e, talvez o mais impressionante, valores astronômicos referente a uma porcentagem dos investimentos feitos até ali na plataforma. Confira o trailer:

Dirigido pelo genial David Fincher e com um roteiro primoroso (vencedor do Oscar) do Aaron Sorkin, "A Rede Social" é extremamente competente ao retratar os bastidores do surgimento da Rede Social que mudou a maneira como nós nos relacionamos com a internet, pelos olhos de seu criador. Obviamente que atribuir esse status ao Mark Zuckerberg (brilhantemente interpretado pelo Eisenberg) e esquecer do brasileiro Eduardo Saverin (com um show do Andrew Garfield) e talvez (um pouco menos) dos irmãos Winklevoss (Armie Hammer), pode soar um pouco injusto, mas é inegável que a construção narrativa do filme deixa claro que o embate psicológico dessa jornada, de fato, merecia ser contada - e aqui cabe uma observação: o plot principal não tem nada a ver com tecnologia, mas sim com as relações estabelecidas durante a criação e o desenvolvimento do projeto.

Muito bem editado pelo Kirk Baxter e pelo Angus Wall (ambos vencedores do Oscar também por "The Girl with the Dragon Tattoo"), o filme é tão dinâmico quanto a forma como Mark Zuckerberg vai conectando suas ideias - para aqueles que se apoiam na legenda para entender os diálogos, se preparem, pois a leitura exige rapidez. Com a quebra da linha temporal, Fincher retratar pontos-chaves de uma complexa e turbulenta história real sem nos dar a sensação de que faltou algo. Talvez, com o streaming e se "A Rede Social" fosse uma minissérie, seu sucesso seria ainda mais estrondoso -  basta reparar em tantas produções com a mesma temática que vieram depois:  de Google Earth até Spotify, passando pelo Uber, pela Theranos e pelo WeWork.

A beleza de assistir filmes como "A Rede Social", aqui por muito mérito de Fincher e Sorkin, está justamente na possibilidade de olhar para o novo pela perspectiva de quem esteve lá desde o princípio, sem necessariamente ter que mergulhar em um documentário denso ou mais cadenciado. Quando Fincher se propôs a contar essa história, ele tinha em mente nos permitir olhar para um fato e, dadas as informações, julgar algumas atitudes - ou pelo menos a de entender a razão delas. Quando ouvimos que o sucesso de uma startup está na forma como seu fundador constrói uma solução de um problema em um mercado enorme, nem nos damos conta que muita coisa acontece por acaso, dentro de um contexto nem tão brilhante assim, onde é necessário ligar alguns pontos e que para isso crescer, alguém precisa acreditar (e investir). Talvez hoje, isso fique mais claro para a audiência e, para mim, esse filme foi como abrir uma janela de possibilidades onde perceber que a disrupção tem um custo e quem nem todos estão dispostos a pagar, faz parte do jogo!

Vale muito seu play!  

Up-date: "A Rede Social" ganhou em três das oito indicações no Oscar 2011: Melhor Edição, e Melhor Música e Melhor Roteiro Adaptado!

Assista Agora

A Sala dos Professores

"A Sala dos Professores" foi o representante da Alemanha no Oscar 2024 e só por essa chancela certamente já entraria na prateleira de "imperdíveis" do streaming. No entanto, é preciso ir mais longe: o filme dirigido pelo alemão Ilker Çatak (de "I Was, I Am, I Will Be") brinca com nossa expectativa da forma mais angustiante possível, transformando uma pseudo-crítica social em um verdadeiro drama psicológico que vai te remeter ao genial "A Caça" graças a diversos gatilhos narrativos. Premiadíssimo, "Das Lehrerzimmer" (no original) mergulha profundamente nas complexidades morais e éticas do ambiente escolar. O filme explora temas como justiça e responsabilidade, a partir do impacto das ações individuais dentro de uma atmosfera de inveja e egoísmo. Com uma narrativa realmente cativante, "A Sala dos Professores" oferece uma reflexão poderosa sobre a natureza humana e as dificuldades de manter a integridade perante a pressão social e pessoal - é como se o problema fosse ganhando cada vez mais força, como uma bola de neve, até que uma atitude que parecia ser correta ganha uma proporção tão negativa que o problema mesmo passa a ser secundário! 

Cheia de simbolismos, a trama gira em torno de Carla Nowak (Leonie Benesch), uma jovem professora de matemática em uma escola secundária na Alemanha. Quando uma série de pequenos furtos começa a ocorrer na escola, Carla se envolve na investigação para descobrir o verdadeiro culpado. Sua busca pela verdade a coloca em conflito com colegas, alunos e pais, assim que resolve gravar um potencial suspeito. Revelando as tensões latentes e os dilemas éticos presentes na comunidade escolar, o filme mais do que se aprofundar no mistério, retrata os desafios de Carla que testam seus princípios e sua capacidade de navegar pelas complexas dinâmicas do poder e da moralidade. Confira o trailer:

Alguns pontos desse grande filme merecem ser discutidos. O roteiro, co-escrito por Çatak e Johannes Duncker, é um deles - eu diria que o texto é um verdadeiro estudo, cuidadoso e multifacetado, de personagens tão palpáveis que as situações que eles enfrentam parecem tão próximas que chegar a incomodar quem assiste. Ciente dessa conexão, a narrativa equilibra habilmente o suspense de um mistério central, de certa forma irrelevante, com uma exploração profunda das motivações e dos conflitos internos dos personagens. A escrita é afiada, com diálogos realistas que refletem a obscuridade das relações interpessoais e os dilemas éticos enfrentados por Carla durante a jornada - sério, é uma montanha-russa de emoções! Ilker Çatak, em sua direção, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de tensão crescente ao mesmo tempo que nunca deixa de lado a introspecção - ele captura a claustrofobia e a intensidade emocional do ambiente escolar, priorizando enquadramentos mais fechados enquanto a fotografia usa e abusa de uma paleta de cores frias para refletir o estado mental da protagonista. Çatak ainda se apropria de longos planos, alguns deles com a câmera na mão e muitas vezes "nervosa", o que nos permite uma imersão nas interações e nos conflitos como se estivéssemos lá - tudo funcionando de uma tão maneira orgânica que nem nos damos conta do quanto estamos envolvido com aquele caos psicológico.

Leonie Benesch entrega uma performance extraordinária, capturando a mistura de idealismo quase imaturo, com uma determinação e uma vulnerabilidade difícil de equilibrar. Benesch traz uma autenticidade crua para a sua personagem, tornando Carla uma figura profundamente humana - difícil não se empatizar ou sofrer por ela. O elenco de apoio, incluindo atores como Michael Klammer e Oskar Zickur, oferece performances sólidas que enriquecem a narrativa, cada um contribuindo para a tensão e a complexidade do enredo com o único intuito de refletir as emoções em ebulição dos personagens na tensão crescente da audiência. 

"A Sala dos Professores" tem um ritmo mais cadenciado e uma abordagem introspectiva que podem tornar o filme desafiador para aqueles que preferem narrativas impactantes visualmente - especialmente no terceiro ato quando achamos que a coisa vai ficar realmente feia. Justamente por essa quebra de expectativa que a "resolução do mistério" pode parecer um anti-clímax para alguns - mas veja, o foco está muito mais nas implicações morais do que em uma conclusão mais tradicional. Antes do play saiba que aqui temos uma exploração corajosa e intelectualmente estimulante de questões éticas dentro de um microcosmo tão particular - uma visão incisiva sobre os desafios de manter a integridade e a justiça em um mundo repleto de ambiguidades e pressões, onde ninguém pode ser subestimado (nem as crianças)!

Vale muito o seu play! 

Assista Agora

"A Sala dos Professores" foi o representante da Alemanha no Oscar 2024 e só por essa chancela certamente já entraria na prateleira de "imperdíveis" do streaming. No entanto, é preciso ir mais longe: o filme dirigido pelo alemão Ilker Çatak (de "I Was, I Am, I Will Be") brinca com nossa expectativa da forma mais angustiante possível, transformando uma pseudo-crítica social em um verdadeiro drama psicológico que vai te remeter ao genial "A Caça" graças a diversos gatilhos narrativos. Premiadíssimo, "Das Lehrerzimmer" (no original) mergulha profundamente nas complexidades morais e éticas do ambiente escolar. O filme explora temas como justiça e responsabilidade, a partir do impacto das ações individuais dentro de uma atmosfera de inveja e egoísmo. Com uma narrativa realmente cativante, "A Sala dos Professores" oferece uma reflexão poderosa sobre a natureza humana e as dificuldades de manter a integridade perante a pressão social e pessoal - é como se o problema fosse ganhando cada vez mais força, como uma bola de neve, até que uma atitude que parecia ser correta ganha uma proporção tão negativa que o problema mesmo passa a ser secundário! 

Cheia de simbolismos, a trama gira em torno de Carla Nowak (Leonie Benesch), uma jovem professora de matemática em uma escola secundária na Alemanha. Quando uma série de pequenos furtos começa a ocorrer na escola, Carla se envolve na investigação para descobrir o verdadeiro culpado. Sua busca pela verdade a coloca em conflito com colegas, alunos e pais, assim que resolve gravar um potencial suspeito. Revelando as tensões latentes e os dilemas éticos presentes na comunidade escolar, o filme mais do que se aprofundar no mistério, retrata os desafios de Carla que testam seus princípios e sua capacidade de navegar pelas complexas dinâmicas do poder e da moralidade. Confira o trailer:

Alguns pontos desse grande filme merecem ser discutidos. O roteiro, co-escrito por Çatak e Johannes Duncker, é um deles - eu diria que o texto é um verdadeiro estudo, cuidadoso e multifacetado, de personagens tão palpáveis que as situações que eles enfrentam parecem tão próximas que chegar a incomodar quem assiste. Ciente dessa conexão, a narrativa equilibra habilmente o suspense de um mistério central, de certa forma irrelevante, com uma exploração profunda das motivações e dos conflitos internos dos personagens. A escrita é afiada, com diálogos realistas que refletem a obscuridade das relações interpessoais e os dilemas éticos enfrentados por Carla durante a jornada - sério, é uma montanha-russa de emoções! Ilker Çatak, em sua direção, demonstra uma habilidade notável para criar essa atmosfera de tensão crescente ao mesmo tempo que nunca deixa de lado a introspecção - ele captura a claustrofobia e a intensidade emocional do ambiente escolar, priorizando enquadramentos mais fechados enquanto a fotografia usa e abusa de uma paleta de cores frias para refletir o estado mental da protagonista. Çatak ainda se apropria de longos planos, alguns deles com a câmera na mão e muitas vezes "nervosa", o que nos permite uma imersão nas interações e nos conflitos como se estivéssemos lá - tudo funcionando de uma tão maneira orgânica que nem nos damos conta do quanto estamos envolvido com aquele caos psicológico.

Leonie Benesch entrega uma performance extraordinária, capturando a mistura de idealismo quase imaturo, com uma determinação e uma vulnerabilidade difícil de equilibrar. Benesch traz uma autenticidade crua para a sua personagem, tornando Carla uma figura profundamente humana - difícil não se empatizar ou sofrer por ela. O elenco de apoio, incluindo atores como Michael Klammer e Oskar Zickur, oferece performances sólidas que enriquecem a narrativa, cada um contribuindo para a tensão e a complexidade do enredo com o único intuito de refletir as emoções em ebulição dos personagens na tensão crescente da audiência. 

"A Sala dos Professores" tem um ritmo mais cadenciado e uma abordagem introspectiva que podem tornar o filme desafiador para aqueles que preferem narrativas impactantes visualmente - especialmente no terceiro ato quando achamos que a coisa vai ficar realmente feia. Justamente por essa quebra de expectativa que a "resolução do mistério" pode parecer um anti-clímax para alguns - mas veja, o foco está muito mais nas implicações morais do que em uma conclusão mais tradicional. Antes do play saiba que aqui temos uma exploração corajosa e intelectualmente estimulante de questões éticas dentro de um microcosmo tão particular - uma visão incisiva sobre os desafios de manter a integridade e a justiça em um mundo repleto de ambiguidades e pressões, onde ninguém pode ser subestimado (nem as crianças)!

Vale muito o seu play! 

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A Separação

"A Separação" do iraniano Asghar Farhadi é simplesmente fantástico - uma obra que transcende fronteiras culturais e linguísticas capaz de nos oferecer um drama humano e com uma intensidade que raramente encontramos no cinema atual. Com um roteiro impecável, indicado ao Oscar de "Original" e vencedor na categoria de "Melhor Filme Estrangeiro", ambos em 2012, além do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2011, esse filme tem uma capacidade acima da média para discutir com muita sensibilidade temas como a moralidade, a responsabilidade e a complexidade das relações humanas por uma ótica bastante provocadora.

Na trama, Nader (Peyman Maadi) e Simin (Leila Hatami) enfrentam uma decisão difícil: melhorar a vida de sua filha, Termeh (Sarina Farhadi), mudando-se para outro país, ou permanecer no Irã para cuidar do pai de Nader, que sofre de Alzheimer. Nesse contexto que a separação do casal desencadeia uma série de eventos que expõem as tensões sociais e morais da sociedade iraniana até que uma empregada, Razieh (Sareh Bayat), e seu marido, Hodjat (Shahab Hosseini), entram na história, complicando ainda mais a situação. Confira o trailer:

Como não poderia deixar de ser ao se tratar de Farhadi (de "O Apartamento"), o diretor constrói sua narrativa com uma habilidade impressionante, utilizando o posicionamento da câmera para criar uma sensação de proximidade e tensão constantes - existe uma similaridade angustiante que nos lembra toda aquela atmosfera de "A Caça" (mais em sua forma do que em seu conteúdo, antecipo). A fotografia de Mahmoud Kalari (de "O Passado") usa alguns planos mais nervosos e muitos close-ups para nos colocar no centro dos conflitos, tornando essa experiência quase claustrofóbica. A atenção aos detalhes, desde a desordem do apartamento de Nader até os olhares trocados entre os personagens, contribui para uma sensação de realismo que é tão palpável quanto insuportável.

O elenco é um elemento fundamental em "A Separação". Peyman Maadi e Leila Hatami entregam performances complexas e cheia de nuances, capturando a dor, a raiva e a frustração de um casal à beira do colapso - a sensação de caos é crescente entre eles, nos dando a exata sensação de que nada será capaz de mudar o rumo de um destino que poderia ser outro. Sareh Bayat, como Razieh, também merece atenção: sua performance é emocionante, trazendo à tona a luta interna entre a fé e as dificuldades da vida com muita competência. Aqui entra a trilha sonora de Sattar Oraki - em vez de dominar a cena, a música sutilmente complementa o drama, intensificando as emoções sem jamais se sobrepor à narrativa.  

As escolhas de Farhadi em termos de produção, desde a ambientação até o figurino, ajudam a criar um retrato autêntico da vida cotidiana no Irã, ao mesmo tempo em que destacam as questões sociais e políticas subjacentes - isso pode até não ser uma grande novidade nos dias de hoje, mas com o toque visceral da narrativa , olha, o filme muda de patamar! Sim, "A Separação" é uma experiência cinematográfica realmente profunda e comovente e que deixa uma marca dolorida. É um filme que exige certa reflexão sobre os dilemas morais e as diversas camadas das relações que desafiam nossas percepções e proporcionam um olhar íntimo sobre a condição humana.

Para aqueles que buscam um entretenimento mais leve, talvez seja melhor procurar uma outro opção, caso contrário o cinema autoral de Asghar Farhadi em "A Separação" vai realmente te conquistar!

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"A Separação" do iraniano Asghar Farhadi é simplesmente fantástico - uma obra que transcende fronteiras culturais e linguísticas capaz de nos oferecer um drama humano e com uma intensidade que raramente encontramos no cinema atual. Com um roteiro impecável, indicado ao Oscar de "Original" e vencedor na categoria de "Melhor Filme Estrangeiro", ambos em 2012, além do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2011, esse filme tem uma capacidade acima da média para discutir com muita sensibilidade temas como a moralidade, a responsabilidade e a complexidade das relações humanas por uma ótica bastante provocadora.

Na trama, Nader (Peyman Maadi) e Simin (Leila Hatami) enfrentam uma decisão difícil: melhorar a vida de sua filha, Termeh (Sarina Farhadi), mudando-se para outro país, ou permanecer no Irã para cuidar do pai de Nader, que sofre de Alzheimer. Nesse contexto que a separação do casal desencadeia uma série de eventos que expõem as tensões sociais e morais da sociedade iraniana até que uma empregada, Razieh (Sareh Bayat), e seu marido, Hodjat (Shahab Hosseini), entram na história, complicando ainda mais a situação. Confira o trailer:

Como não poderia deixar de ser ao se tratar de Farhadi (de "O Apartamento"), o diretor constrói sua narrativa com uma habilidade impressionante, utilizando o posicionamento da câmera para criar uma sensação de proximidade e tensão constantes - existe uma similaridade angustiante que nos lembra toda aquela atmosfera de "A Caça" (mais em sua forma do que em seu conteúdo, antecipo). A fotografia de Mahmoud Kalari (de "O Passado") usa alguns planos mais nervosos e muitos close-ups para nos colocar no centro dos conflitos, tornando essa experiência quase claustrofóbica. A atenção aos detalhes, desde a desordem do apartamento de Nader até os olhares trocados entre os personagens, contribui para uma sensação de realismo que é tão palpável quanto insuportável.

O elenco é um elemento fundamental em "A Separação". Peyman Maadi e Leila Hatami entregam performances complexas e cheia de nuances, capturando a dor, a raiva e a frustração de um casal à beira do colapso - a sensação de caos é crescente entre eles, nos dando a exata sensação de que nada será capaz de mudar o rumo de um destino que poderia ser outro. Sareh Bayat, como Razieh, também merece atenção: sua performance é emocionante, trazendo à tona a luta interna entre a fé e as dificuldades da vida com muita competência. Aqui entra a trilha sonora de Sattar Oraki - em vez de dominar a cena, a música sutilmente complementa o drama, intensificando as emoções sem jamais se sobrepor à narrativa.  

As escolhas de Farhadi em termos de produção, desde a ambientação até o figurino, ajudam a criar um retrato autêntico da vida cotidiana no Irã, ao mesmo tempo em que destacam as questões sociais e políticas subjacentes - isso pode até não ser uma grande novidade nos dias de hoje, mas com o toque visceral da narrativa , olha, o filme muda de patamar! Sim, "A Separação" é uma experiência cinematográfica realmente profunda e comovente e que deixa uma marca dolorida. É um filme que exige certa reflexão sobre os dilemas morais e as diversas camadas das relações que desafiam nossas percepções e proporcionam um olhar íntimo sobre a condição humana.

Para aqueles que buscam um entretenimento mais leve, talvez seja melhor procurar uma outro opção, caso contrário o cinema autoral de Asghar Farhadi em "A Separação" vai realmente te conquistar!

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A Sociedade da Neve

Simplesmente sensacional!

O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível")  é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!

Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:

Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência  do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.

Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.

Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!

Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!

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Simplesmente sensacional!

O representante espanhol no Oscar 2024, "A Sociedade da Neve", é incrível em todos os sentidos: visceral, angustiante, emocionante e muito impactante, além de inegavelmente um dos melhores filmes de 2023! Embora a trama foque na busca incansável pela sobrevivência em condições devastadoras, obviamente potencializada por se tratar de uma história real, o filme dirigido pelo Juan Antonio Bayona (de "O Impossível")  é muito feliz em trazer para discussão a importância das relações e a força do espírito humano. Eu sei que pode até parecer piegas, mas é impressionante como, mesmo diante das adversidades mais extremas, o ser humano é capaz de encontrar a esperança e a vontade de viver. Para você ter uma ideia, não será preciso mais do que 45 minutos para você ter a exata noção do inferno que aquelas pessoas viveram e quando você achar que já chegou no seu limite, você ainda terá pelo menos mais 90 minutos de história pela frente. Uma verdadeira pancada!

Para quem não sabe, "A Sociedade da Neve" nos apresenta em detalhes a história do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, fretado para levar uma equipe de rugby ao Chile, que caiu em uma geleira no coração dos Andes em 1972. Apenas 29 de seus 45 passageiros sobrevivem ao acidente. Presos em um dos ambientes mais inacessíveis e hostis no planeta, esses sobreviventes são obrigados a recorrer a medidas das mais extremas para se manterem vivos enquanto esperam o resgate. Confira o trailer:

Baseada no livro homônimo de Pablo Vierci, o filme chama muito nossa atenção pela riqueza de detalhes na recriação daquele contexto tão desesperador. Bayona consegue construir uma dinâmica narrativa que é ao mesmo tempo emocionante e perturbadora, tensa e comovente. Visualmente deslumbrante, tanto a sequência  do acidente aéreo quando as cenas que se seguiram nos Andes, tudo é de tirar o fôlego. O trabalho do fotógrafo uruguaio Pedro Luque (de "O Homem nas Trevas 2") é fundamental para a desconfortável sensação de imersão que somos "obrigados" a lidar ao assistir o filme - realmente impecável, Luque captura a beleza e a brutalidade da natureza como poucos.

Outro ponto que merece muito destaque, sem dúvida, é o elenco. Agustín Pardella é particularmente impressionante como Nando Parrado, um dos líderes dos sobreviventes e responsável por um dos momentos mais emocionantes do filme. Reparem como Pardella transmite com perfeição toda a determinação e a força de vontade de Parrado - uma das figuras mais inspiradoras da história e talvez o maior elo de conexão entre a audiência e todo aquele drama. Enzo Vogrincic como Numa Turcatti também merece muitos elogios - sua performance como narrador é sensível, profunda, comovente e filosófica. A trilha sonora composta pelo Michael Giacchino (vencedor do Oscar por "Up: Altas Aventuras") e o desenho de som do Marc Bech (de "O Home Duplicado") são dois outros elementos dignos de muitos prêmios e que ajudam a compor esse clima de suspense e tensão que Bayona se propôs a reproduzir.

Sem cair na glamourização hollywoodiana, "A Sociedade da Neve" tem um requinte (para não dizer "perfeição") técnico e artístico que justifica as 13 indicações ao prêmio Goya de 2024, mas é na sua escolha conceitual que o filme muda mesmo de patamar. Bayona é inteligente ao evitar a exploração gratuita do aspecto mais gráfico ou visual quando temas como o canibalismo, por exemplo, vem à tona. Ao seguir por um caminho mais inteligente, focando no estado psicológico daqueles que são forçados a tomar uma drástica decisão em troca da sobrevivência, o diretor usa do dilema moral para nos provocar uma reflexão dura sobre os limites intransponíveis que perdem o sentido de acordo com a situação que estamos passando - e machuca!

Olha, um golaço da Netflix com cheirinho de Oscar!

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À Sombra de Duas Mulheres

"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme francês de 2015 com uma carreira bastante interessante em festivais independentes pelo mundo. Mas mais importante que isso, certamente é a forma magistral como o diretor Philippe Garrel foi capaz de construir um relação completamente destruída pelo dia a dia e como a confiança passa a ser o maior problema de um casal, visivelmente frágil. Reparem que Garrel vai nos direcionando por um caminho, de repente ele quebra nossa expectativa e aí ele sugere uma solução que parece menos provável até que ele encontra seu ponto final - ele, de fato, brinca com nossa percepção ao nos colocar no papel dos protagonistas!

Pierre (Stanislas Merhar) e Manon (Clotilde Courau) formam um casal de documentaristas que sobrevivem fazendo trabalhos temporários para poder dar suporte aos filmes que desejam realizar. Cansado do cotidiano e de suas dificuldades e mesmo, aparentemente, apaixonado por Manon, Pierre acaba se aproximando de Elizabeth (Lena Paugam) uma estágiaria de cinema formada em história e, a partir daí, passa a manter um relacionamento constante com as duas mulheres. Acontece que a atração sexual do primeiro contato vai se transformando e o que parecia um caso passageiro, passa a complicar a relação de todos os envolvidos e mesmo sem ao menos se conhecerem, muitas verdades começam vir à tona. Confira o trailer:

Para quem assistiu o recente "Malcolm e Marie""À Sombra de Duas Mulheres" vai cair como uma luva! O filme francês é notavelmente mais profundo ao discutir as camadas de uma relação fragilizada pela convivência. Se pela sinopse e pelo trailer temos a impressão que o assunto abordado é a traição, eu já te aviso: traição é só o "fim", porque o "meio" mesmo, são as pequenas situações que nos levam, justamente, praticar a traição - e o bacana é que o roteiro nos mostra ambos os lados e é assim que julgamos muitas atitudes, seja se baseando no gênero, seja quando percebemos que na verdade, cada um dos personagens sempre foi incapaz de enxergar o que o outro precisava ou estava sentindo.

Diferente da produção da Netflix, Philippe Garrel usa e abusa do silêncio propositalmente - e isso é cruel para quem assiste, pois nos dá o tempo suficiente para visitarmos nossas lembranças, recapitular algumas de nossas atitudes durante a vida e ainda espelhar nossas fraquezas nos personagens. Se no inicio temos uma visão machista de um relacionamento falido, logo entendemos o lado da mulher e suas necessidades, mesmo sem levantar nenhuma bandeira, todos podem errar -  quando se trata de discutir a igualdade com isenção, na alegria e na tristeza, as consequências são para todos!

"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme muito cadenciado, focado no que é dito e no que é sentido, sem nenhuma dinâmica cênica que nos impacte visualmente, porém é tão profundo na sua proposta, que rapidamente somos fisgados e nem vemos o tempo passar - que diga-se de passagem é o ideal para uma narrativa com esse  conceito: não cansa, é objetivo e nos faz refletir intensamente sobre "escolhas"! Não é um filme fácil, mas para quem for capaz de perceber a sensibilidade nos pequenos atos e entender onde esses mesmos atos podem nos levar, certamente a experiência vai valer a pena!

Vale seu play!

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"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme francês de 2015 com uma carreira bastante interessante em festivais independentes pelo mundo. Mas mais importante que isso, certamente é a forma magistral como o diretor Philippe Garrel foi capaz de construir um relação completamente destruída pelo dia a dia e como a confiança passa a ser o maior problema de um casal, visivelmente frágil. Reparem que Garrel vai nos direcionando por um caminho, de repente ele quebra nossa expectativa e aí ele sugere uma solução que parece menos provável até que ele encontra seu ponto final - ele, de fato, brinca com nossa percepção ao nos colocar no papel dos protagonistas!

Pierre (Stanislas Merhar) e Manon (Clotilde Courau) formam um casal de documentaristas que sobrevivem fazendo trabalhos temporários para poder dar suporte aos filmes que desejam realizar. Cansado do cotidiano e de suas dificuldades e mesmo, aparentemente, apaixonado por Manon, Pierre acaba se aproximando de Elizabeth (Lena Paugam) uma estágiaria de cinema formada em história e, a partir daí, passa a manter um relacionamento constante com as duas mulheres. Acontece que a atração sexual do primeiro contato vai se transformando e o que parecia um caso passageiro, passa a complicar a relação de todos os envolvidos e mesmo sem ao menos se conhecerem, muitas verdades começam vir à tona. Confira o trailer:

Para quem assistiu o recente "Malcolm e Marie""À Sombra de Duas Mulheres" vai cair como uma luva! O filme francês é notavelmente mais profundo ao discutir as camadas de uma relação fragilizada pela convivência. Se pela sinopse e pelo trailer temos a impressão que o assunto abordado é a traição, eu já te aviso: traição é só o "fim", porque o "meio" mesmo, são as pequenas situações que nos levam, justamente, praticar a traição - e o bacana é que o roteiro nos mostra ambos os lados e é assim que julgamos muitas atitudes, seja se baseando no gênero, seja quando percebemos que na verdade, cada um dos personagens sempre foi incapaz de enxergar o que o outro precisava ou estava sentindo.

Diferente da produção da Netflix, Philippe Garrel usa e abusa do silêncio propositalmente - e isso é cruel para quem assiste, pois nos dá o tempo suficiente para visitarmos nossas lembranças, recapitular algumas de nossas atitudes durante a vida e ainda espelhar nossas fraquezas nos personagens. Se no inicio temos uma visão machista de um relacionamento falido, logo entendemos o lado da mulher e suas necessidades, mesmo sem levantar nenhuma bandeira, todos podem errar -  quando se trata de discutir a igualdade com isenção, na alegria e na tristeza, as consequências são para todos!

"À Sombra de Duas Mulheres" é um filme muito cadenciado, focado no que é dito e no que é sentido, sem nenhuma dinâmica cênica que nos impacte visualmente, porém é tão profundo na sua proposta, que rapidamente somos fisgados e nem vemos o tempo passar - que diga-se de passagem é o ideal para uma narrativa com esse  conceito: não cansa, é objetivo e nos faz refletir intensamente sobre "escolhas"! Não é um filme fácil, mas para quem for capaz de perceber a sensibilidade nos pequenos atos e entender onde esses mesmos atos podem nos levar, certamente a experiência vai valer a pena!

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A Teacher

Um verdadeiro soco no estômago! Essa minissérie do Hulu (aqui no Brasil no Disney+) é importante pelos temas que aborda, mas genial ao abordar esses temas com muita inteligência - na "forma" e no "conteúdo"! É um fato: "A Teacher" nos prende pela sua intensidade e pela profundidade emocional com que discute uma relação proibida, complexa e sensível. Criada por Hannah Fidell, conhecida por seu trabalho no filme homônimo de 2013, "A Teacher" oferece uma exploração corajosa e inquietante pelas dinâmicas do abuso e do poder em um relacionamento entre uma professora e seu aluno. Para você que gostou de produções como "A Caça" e "Segredos de um Escândalo", saiba que aqui temos uma perspectiva diferente, mas com a mesma qualidade narrativa, provocativa e emocionalmente carregada.

A trama gira em torno de Claire Wilson (Kate Mara), uma jovem professora do ensino médio que começa um relacionamento ilícito com seu aluno, Eric Walker (Nick Robinson). A minissérie explora as consequências deste relacionamento, tanto para Claire quanto para Eric, abordando nuances de consentimento e manipulação, além do impacto duradouro do abuso na vida de cada um deles. Confira o trailer:

Hannah Fidell, ao adaptar seu próprio filme, mostra uma habilidade notável em aprofundar os dramas de seus personagens e assim expandir uma narrativa que já havia funcionado anteriormente - mas a minissérie é melhor! O roteiro é bem estruturado e aborda o relacionamento central com uma complexidade moral rara. A minissérie não cai na armadilha de romantizar ou simplificar o abuso, mas sim, apresenta as consequências devastadoras de maneira realista e direta. Fidell, como roteirista, sabe equilibrar momentos de tensão com cenas de pura reflexão, permitindo que o público entenda a gravidade das ações de Claire e as ramificações para Eric. O golaço aqui é a forma como tudo isso se encaixa, já que a história é contada em episódios de 20/30 minutos, permitindo que a tensão fundamental do drama carregue a trama adiante sem perder a força episódica.

Veja, à medida que os episódios de "A Teacher" se desenrolam, vemos como as ações de Claire afetam profundamente a vida de Eric e como ele lida com as repercussões emocionais e sociais - nesse sentido a direção de Fidell é cirúrgica ao pontuar com sensibilidade e certa introspecção, as nuances das interações dos protagonistas. Ela utiliza uma abordagem visual intimista, com uma interessante escolha por close-ups em contraponto a uma fotografia que destaca o ambiente escolar e doméstico, criando ao mesmo tempo uma sensação de proximidade e tensão constantes. Kate Mara, mais uma vez, entrega uma performance poderosa - ela captura a ambiguidade moral e a vulnerabilidade de sua personagem para brilhar; eu diria: digna de prêmios! Mara consegue transmitir essa dualidade de Claire, tornando-a uma figura trágica e muitas vezes desconfortável de lidar. Já Nick Robinson também brilha - ele oferece uma performance autêntica e comovente de um jovem que lida com a confusão e a dor de ser manipulado por alguém em posição de autoridade. A química entre Mara e Robinson é convincente demais, destacando ainda mais o caráter perturbador de um relacionamento doentio.

"A Teacher" segue uma linha delicada, perturbadora e desconfortável. É justamente por essa atmosfera que a minissérie gera o impacto e a relevância que o tema pede. Essa exploração cuidadosa e, por vezes, incômoda do conceito social de masculinidade e sua reação ao ser confrontado com o abuso, coloca essa produção em uma prateleira que faz por merecer uma atenção especial. As dinâmicas de poder podem provocar gatilhos que valem a sua atenção, ou seja, esteja preparado para uma jornada indigesta que desafia e fomenta a reflexão ao ponto de se tornar memorável. Uma pena que "A Teacher" não recebeu o destaque que merece - de um ótimo entretenimento com um toque relevante de provocação!

Vale seu play!

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Um verdadeiro soco no estômago! Essa minissérie do Hulu (aqui no Brasil no Disney+) é importante pelos temas que aborda, mas genial ao abordar esses temas com muita inteligência - na "forma" e no "conteúdo"! É um fato: "A Teacher" nos prende pela sua intensidade e pela profundidade emocional com que discute uma relação proibida, complexa e sensível. Criada por Hannah Fidell, conhecida por seu trabalho no filme homônimo de 2013, "A Teacher" oferece uma exploração corajosa e inquietante pelas dinâmicas do abuso e do poder em um relacionamento entre uma professora e seu aluno. Para você que gostou de produções como "A Caça" e "Segredos de um Escândalo", saiba que aqui temos uma perspectiva diferente, mas com a mesma qualidade narrativa, provocativa e emocionalmente carregada.

A trama gira em torno de Claire Wilson (Kate Mara), uma jovem professora do ensino médio que começa um relacionamento ilícito com seu aluno, Eric Walker (Nick Robinson). A minissérie explora as consequências deste relacionamento, tanto para Claire quanto para Eric, abordando nuances de consentimento e manipulação, além do impacto duradouro do abuso na vida de cada um deles. Confira o trailer:

Hannah Fidell, ao adaptar seu próprio filme, mostra uma habilidade notável em aprofundar os dramas de seus personagens e assim expandir uma narrativa que já havia funcionado anteriormente - mas a minissérie é melhor! O roteiro é bem estruturado e aborda o relacionamento central com uma complexidade moral rara. A minissérie não cai na armadilha de romantizar ou simplificar o abuso, mas sim, apresenta as consequências devastadoras de maneira realista e direta. Fidell, como roteirista, sabe equilibrar momentos de tensão com cenas de pura reflexão, permitindo que o público entenda a gravidade das ações de Claire e as ramificações para Eric. O golaço aqui é a forma como tudo isso se encaixa, já que a história é contada em episódios de 20/30 minutos, permitindo que a tensão fundamental do drama carregue a trama adiante sem perder a força episódica.

Veja, à medida que os episódios de "A Teacher" se desenrolam, vemos como as ações de Claire afetam profundamente a vida de Eric e como ele lida com as repercussões emocionais e sociais - nesse sentido a direção de Fidell é cirúrgica ao pontuar com sensibilidade e certa introspecção, as nuances das interações dos protagonistas. Ela utiliza uma abordagem visual intimista, com uma interessante escolha por close-ups em contraponto a uma fotografia que destaca o ambiente escolar e doméstico, criando ao mesmo tempo uma sensação de proximidade e tensão constantes. Kate Mara, mais uma vez, entrega uma performance poderosa - ela captura a ambiguidade moral e a vulnerabilidade de sua personagem para brilhar; eu diria: digna de prêmios! Mara consegue transmitir essa dualidade de Claire, tornando-a uma figura trágica e muitas vezes desconfortável de lidar. Já Nick Robinson também brilha - ele oferece uma performance autêntica e comovente de um jovem que lida com a confusão e a dor de ser manipulado por alguém em posição de autoridade. A química entre Mara e Robinson é convincente demais, destacando ainda mais o caráter perturbador de um relacionamento doentio.

"A Teacher" segue uma linha delicada, perturbadora e desconfortável. É justamente por essa atmosfera que a minissérie gera o impacto e a relevância que o tema pede. Essa exploração cuidadosa e, por vezes, incômoda do conceito social de masculinidade e sua reação ao ser confrontado com o abuso, coloca essa produção em uma prateleira que faz por merecer uma atenção especial. As dinâmicas de poder podem provocar gatilhos que valem a sua atenção, ou seja, esteja preparado para uma jornada indigesta que desafia e fomenta a reflexão ao ponto de se tornar memorável. Uma pena que "A Teacher" não recebeu o destaque que merece - de um ótimo entretenimento com um toque relevante de provocação!

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A Tragédia de Macbeth

"A Tragédia de Macbeth" é um filmaço, mas não assista com sono!

Brincadeiras à parte, é preciso que se diga que essa produção original para a AppleTV+, com Denzel Washington eFrances McDormand, usa de uma linguagem cinematográfica extremamente poética para adaptar a obra de William Shakespeare, respeitando prioritariamente o seu texto - e quando pontuo esse elemento narrativo tão importante, coloco o roteiro, do também diretor Joel Coen, em um outro patamar, mesmo com uma linguagem clássica de difícil entendimento, mas que está completamente alinhada com uma fotografia deslumbrante do diretor Bruno Delbonnel (cinco vezes indicado ao Oscar, sendo a última por "A Hora mais Escura"), performances no limiar entre a impostação teatral (de corpo e voz) e a profundidade emocional do cinema, e ainda uma construção cênica incrivelmente criativa e dinâmica.

O filme conta a história de Macbeth (Denzel Washington), homem poderoso que é convencido por um trio de bruxas que se tornará o rei da Escócia. Essa visão porém, o toma pela ganância do poder. Rapidamente, o protagonista fica obcecado em fazer com que a profecia se torne realidade, mesmo que para isso ele tenha que eliminar todos aqueles se coloquem entre ele e o trono do seu país. Confira o trailer:

Veja, é bem possível que poucos se encantem com "A Tragédia de Macbeth". De fato o filme é difícil e, embora fabuloso visualmente, as escolhas estéticas e narrativas de Coen e Delbonnel tendem a afastar o, digamos, grande público - dadas as devidas diferenças, inclusive de gênero, se você não gostou de "O Farol", você não vai gostar de "A Tragédia de Macbeth". Ambos os filmes têm diálogos rebuscados, profundos e que aqui ainda carregam o peso do "inglês clássico shakesperiano". Cada linha dita pelos atores estão repletas de metáforas e referências de época, característica do texto do dramaturgo inglês, e brilhantemente preservado por Cohen. Ao dar o play, a tela da TV praticamente se transforma em uma janela para um palco teatral, em preto e branco e com um aspecto 4:3 (aquele quadrado de antigamente). Os ambientes onde as cenas acontecem vão se transformando durante as transições, como um jogo de luz (do teatro) e de imagem (do cinema) e praticamente não temos objetos de cena, mesmo em ambientes tão amplos e imponentes - o que acaba criando uma sensação de vazio avassalador, reparem.

Toda essa ambientação é só parte do contexto para uma história potente e muito bem adaptada. A sensação da existência de um “palco” é tão clara quanto importante para que o filme Coen se torne único - todas as filmagens foram feitas em estúdio, com cenários especialmente construídos para a produção, o que imediatamente nos remete a sensação de artificialidade e, acreditem, de claustrofobia e ansiedade. As soluções criativas do roteiro, como o mergulho nas mentes perturbadas do casal Macbeth e a relação dos personagens com as bruxas, dão exatamente o tom obscuro da obra - é como se víssemos um "Game of Thrones" mais adulto, depressivo, visceral!

"A Tragédia de Macbeth" é um filme impositivo, potente, poético ao extremo, verdadeiramente lindo e bem realizado. Tecnicamente perfeito! Artisticamente irretocável e muito criativo - mas não vai ganhar o Oscar de melhor do ano por ser um clássico, quase inacessível, de William Shakespeare. Uma pena! Embora inicialmente você perceba essa certa estranheza pelo texto rebuscado, logo a trama de traição vai ganhando corpo e nossa percepção vai se acostumando com todo aquele movimento estético. Por isso eu digo sem medo de errar: se você estiver disposto a enfrentar um texto pesado, sua experiência visual será inesquecível!

Vale muito a pena!

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"A Tragédia de Macbeth" é um filmaço, mas não assista com sono!

Brincadeiras à parte, é preciso que se diga que essa produção original para a AppleTV+, com Denzel Washington eFrances McDormand, usa de uma linguagem cinematográfica extremamente poética para adaptar a obra de William Shakespeare, respeitando prioritariamente o seu texto - e quando pontuo esse elemento narrativo tão importante, coloco o roteiro, do também diretor Joel Coen, em um outro patamar, mesmo com uma linguagem clássica de difícil entendimento, mas que está completamente alinhada com uma fotografia deslumbrante do diretor Bruno Delbonnel (cinco vezes indicado ao Oscar, sendo a última por "A Hora mais Escura"), performances no limiar entre a impostação teatral (de corpo e voz) e a profundidade emocional do cinema, e ainda uma construção cênica incrivelmente criativa e dinâmica.

O filme conta a história de Macbeth (Denzel Washington), homem poderoso que é convencido por um trio de bruxas que se tornará o rei da Escócia. Essa visão porém, o toma pela ganância do poder. Rapidamente, o protagonista fica obcecado em fazer com que a profecia se torne realidade, mesmo que para isso ele tenha que eliminar todos aqueles se coloquem entre ele e o trono do seu país. Confira o trailer:

Veja, é bem possível que poucos se encantem com "A Tragédia de Macbeth". De fato o filme é difícil e, embora fabuloso visualmente, as escolhas estéticas e narrativas de Coen e Delbonnel tendem a afastar o, digamos, grande público - dadas as devidas diferenças, inclusive de gênero, se você não gostou de "O Farol", você não vai gostar de "A Tragédia de Macbeth". Ambos os filmes têm diálogos rebuscados, profundos e que aqui ainda carregam o peso do "inglês clássico shakesperiano". Cada linha dita pelos atores estão repletas de metáforas e referências de época, característica do texto do dramaturgo inglês, e brilhantemente preservado por Cohen. Ao dar o play, a tela da TV praticamente se transforma em uma janela para um palco teatral, em preto e branco e com um aspecto 4:3 (aquele quadrado de antigamente). Os ambientes onde as cenas acontecem vão se transformando durante as transições, como um jogo de luz (do teatro) e de imagem (do cinema) e praticamente não temos objetos de cena, mesmo em ambientes tão amplos e imponentes - o que acaba criando uma sensação de vazio avassalador, reparem.

Toda essa ambientação é só parte do contexto para uma história potente e muito bem adaptada. A sensação da existência de um “palco” é tão clara quanto importante para que o filme Coen se torne único - todas as filmagens foram feitas em estúdio, com cenários especialmente construídos para a produção, o que imediatamente nos remete a sensação de artificialidade e, acreditem, de claustrofobia e ansiedade. As soluções criativas do roteiro, como o mergulho nas mentes perturbadas do casal Macbeth e a relação dos personagens com as bruxas, dão exatamente o tom obscuro da obra - é como se víssemos um "Game of Thrones" mais adulto, depressivo, visceral!

"A Tragédia de Macbeth" é um filme impositivo, potente, poético ao extremo, verdadeiramente lindo e bem realizado. Tecnicamente perfeito! Artisticamente irretocável e muito criativo - mas não vai ganhar o Oscar de melhor do ano por ser um clássico, quase inacessível, de William Shakespeare. Uma pena! Embora inicialmente você perceba essa certa estranheza pelo texto rebuscado, logo a trama de traição vai ganhando corpo e nossa percepção vai se acostumando com todo aquele movimento estético. Por isso eu digo sem medo de errar: se você estiver disposto a enfrentar um texto pesado, sua experiência visual será inesquecível!

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A Vida Depois

"A Vida Depois" machuca pela imprevisibilidade e por dar a exata noção de como não temos controle, muito menos certeza do que pode acontecer com quem amamos. A profundidade da discussão deixa claro nos primeiros minutos que não se trata de um filme dinâmico, mas certamente é um mergulho dos mais interessantes no universo de alguns adolescentes que sofreram um enorme trauma e precisam continuar seu caminho como se esse impacto fosse "apenas" passageiro.

"The Fallout" (no original) acompanha a colegial Vada (Jenna Ortega) em sua jornada por uma difícil crise emocional após vivenciar uma tragédia escolar. Seu relacionamento com família e amigos, assim como sua visão do mundo, são alterados para sempre e ela precisa aprender a lidar com isso antes que seja tarde. Confira o trailer:

Vencedor dos dois principais prêmios no SXSW Film Festival de 2021 (Melhor Filme pelo Júri e pela Audiência), "A Vida Depois" é intenso, marcante e extremamente introspectivo - e se você já tiver filhos, a experiência será ainda mais reflexiva. Muito bem conduzido pela atriz canadense e agora diretora Megan Park, o filme tem um cuidado e uma sensibilidade para tocar em assuntos delicados, mas que ao mesmo tempo são necessários para que a trama ganhe força. Se no prólogo, Park sugestiona uma situação de maneira criativa e corajosa, em inúmeras outras cenas ela faz questão de focar apenas no impacto emocional da personagem e, claro, nos reflexos dessas atitudes na relação com sua família e com amigos. Veja, Park não floreia, mas também não perde a mão - tudo é muito mais interiorizado do que exposto, mesmo que o imediatismo esteja ali.

Essas escolhas conceituais da diretora deixam o filme bastante cadenciado. Ao lado da fotógrafa e estreante na função, Kristen Correll, Park faz a câmera praticamente flutuar nos pensamentos de Vada, usando e abusando de planos fechados de extremo bom gosto. Apoiada em uma trilha sonora belíssima, muitas vezes tive a impressão de estar assistido a um dos bons episódios de "Euphoria" - a própria  Jenna Ortega parece seguir os passos de Zendaya, e entrega uma performance segura, madura e muito inspirada. Aliás, todo o elenco funciona muito bem e aqui eu destaco uma linda cena entre Vada e seu pai Carlos Cavell (John Ortiz) onde ambos gritam seus sentimentos em um local reservado como se ali fosse uma espécie de rito, de recomeço, de reconexão, mas, principalmente, de amor - a cena é emocionante e muito sincera.

"A Vida Depois" sofre com a pressa de ter que estabelecer o caos emocional da protagonista, deixando de lado ótimas histórias e muitas possibilidade de identificação com a audiência (a relação com a irmã e com a mãe são só dois exemplos) - o que, certamente, em uma série ou minissérie só engrandeceria a trama. O filme tem o mérito de ser simples ao mesmo tempo em que é eficiente no que se propõe: discutir os efeitos impensáveis de um profundo trauma na cabeça (e na vida) de um adolescente. Embora a abordagem seja, de fato, cuidadosa, a forma como o silêncio é trabalhado dá o exato tom da seriedade e densidade do assunto - talvez tenha faltado um pouco mais de coragem para o arco de Mia Reed (Maddie Ziegler), cúmplice e amiga de Vada, mas com aquele final, tudo passou a fazer muito sentido - principalmente no que diz respeito as marcas e as consequências de uma realidade que não pede licença para acontecer.

Vale muito seu play!

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"A Vida Depois" machuca pela imprevisibilidade e por dar a exata noção de como não temos controle, muito menos certeza do que pode acontecer com quem amamos. A profundidade da discussão deixa claro nos primeiros minutos que não se trata de um filme dinâmico, mas certamente é um mergulho dos mais interessantes no universo de alguns adolescentes que sofreram um enorme trauma e precisam continuar seu caminho como se esse impacto fosse "apenas" passageiro.

"The Fallout" (no original) acompanha a colegial Vada (Jenna Ortega) em sua jornada por uma difícil crise emocional após vivenciar uma tragédia escolar. Seu relacionamento com família e amigos, assim como sua visão do mundo, são alterados para sempre e ela precisa aprender a lidar com isso antes que seja tarde. Confira o trailer:

Vencedor dos dois principais prêmios no SXSW Film Festival de 2021 (Melhor Filme pelo Júri e pela Audiência), "A Vida Depois" é intenso, marcante e extremamente introspectivo - e se você já tiver filhos, a experiência será ainda mais reflexiva. Muito bem conduzido pela atriz canadense e agora diretora Megan Park, o filme tem um cuidado e uma sensibilidade para tocar em assuntos delicados, mas que ao mesmo tempo são necessários para que a trama ganhe força. Se no prólogo, Park sugestiona uma situação de maneira criativa e corajosa, em inúmeras outras cenas ela faz questão de focar apenas no impacto emocional da personagem e, claro, nos reflexos dessas atitudes na relação com sua família e com amigos. Veja, Park não floreia, mas também não perde a mão - tudo é muito mais interiorizado do que exposto, mesmo que o imediatismo esteja ali.

Essas escolhas conceituais da diretora deixam o filme bastante cadenciado. Ao lado da fotógrafa e estreante na função, Kristen Correll, Park faz a câmera praticamente flutuar nos pensamentos de Vada, usando e abusando de planos fechados de extremo bom gosto. Apoiada em uma trilha sonora belíssima, muitas vezes tive a impressão de estar assistido a um dos bons episódios de "Euphoria" - a própria  Jenna Ortega parece seguir os passos de Zendaya, e entrega uma performance segura, madura e muito inspirada. Aliás, todo o elenco funciona muito bem e aqui eu destaco uma linda cena entre Vada e seu pai Carlos Cavell (John Ortiz) onde ambos gritam seus sentimentos em um local reservado como se ali fosse uma espécie de rito, de recomeço, de reconexão, mas, principalmente, de amor - a cena é emocionante e muito sincera.

"A Vida Depois" sofre com a pressa de ter que estabelecer o caos emocional da protagonista, deixando de lado ótimas histórias e muitas possibilidade de identificação com a audiência (a relação com a irmã e com a mãe são só dois exemplos) - o que, certamente, em uma série ou minissérie só engrandeceria a trama. O filme tem o mérito de ser simples ao mesmo tempo em que é eficiente no que se propõe: discutir os efeitos impensáveis de um profundo trauma na cabeça (e na vida) de um adolescente. Embora a abordagem seja, de fato, cuidadosa, a forma como o silêncio é trabalhado dá o exato tom da seriedade e densidade do assunto - talvez tenha faltado um pouco mais de coragem para o arco de Mia Reed (Maddie Ziegler), cúmplice e amiga de Vada, mas com aquele final, tudo passou a fazer muito sentido - principalmente no que diz respeito as marcas e as consequências de uma realidade que não pede licença para acontecer.

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A Vida em Si

Quando "A Vida em Si" estreou no Brasil, em dezembro de 2018, o filme chegou cheio de expectativas, afinal o seu diretor e roteirista era o Dan Fogelman - nada menos do que a mente criativa por trás do sucesso "This is Us" (e se você ainda não assistiu essa série, não perca tempo, clique no link e seja muito feliz!). Acontece que essa alta expectativa acabou interferindo diretamente na percepção da crítica que, após a première, caiu matando em cima do trabalho de Fogelman! É inegável que o filme tem muitos problemas, mas nem de longe é um filme ruim - eu diria, inclusive, que o filme é bom. Dê uma olhada no trailer antes de continuarmos:

No filme, acompanhamos a história de Abby (Olivia Wilde) e Will (Oscar Isaac), um casal de nova-iorquinos apaixonados e que está prestes a ter um bebê. Contudo, um evento inesperado muda completamente o rumo do casal e de muitos personagens que, de alguma forma, vivenciaram aquela situação. Dividido em 4 atos, o roteiro tenta criar um ponto de intersecção entre Irwin (Mandy Patinkin), Dylan (Olivia Cooke), Saccione (Antonio Banderas), Javier (Sergio Peris-Mencheta), Isabel (Laia Costa) e Rodrigo (Àlex Monner) expondo os reflexos do passado nas consequências do presente - um conceito narrativo, mais ou menos, como "Amores Perros", "Babel", "Crash" e outros inúmeros exemplos, porém, nesse caso, de uma forma mais romantizada, carregada de drama e de, infelizmente, uma falta de identidade - mas isso falaremos mais abaixo!

"A Vida em Si" deve ser assistido com a menor pretensão possível, pois assim a experiência de cada uma das descobertas será essencial para o seu julgamento no final do filme. Embora com um roteiro um pouco desequilibrado, a narrativa tem ótimos momentos e, de fato, sua conclusão é bastante satisfatória. Fica a impressão que Dan Fogelman quis colocar tantos elementos (narrativos e visuais) que ele acabou se perdendo no meio de suas próprias escolhas e referências em algo que poderia ser mais profundo, mesmo que ainda manipulador! Se você gosta do estilo de "This is Us" é bem possível que você vá se identificar e gostar de "A Vida em Si". Por essa similaridade, eu recomendo!

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Quando "A Vida em Si" estreou no Brasil, em dezembro de 2018, o filme chegou cheio de expectativas, afinal o seu diretor e roteirista era o Dan Fogelman - nada menos do que a mente criativa por trás do sucesso "This is Us" (e se você ainda não assistiu essa série, não perca tempo, clique no link e seja muito feliz!). Acontece que essa alta expectativa acabou interferindo diretamente na percepção da crítica que, após a première, caiu matando em cima do trabalho de Fogelman! É inegável que o filme tem muitos problemas, mas nem de longe é um filme ruim - eu diria, inclusive, que o filme é bom. Dê uma olhada no trailer antes de continuarmos:

No filme, acompanhamos a história de Abby (Olivia Wilde) e Will (Oscar Isaac), um casal de nova-iorquinos apaixonados e que está prestes a ter um bebê. Contudo, um evento inesperado muda completamente o rumo do casal e de muitos personagens que, de alguma forma, vivenciaram aquela situação. Dividido em 4 atos, o roteiro tenta criar um ponto de intersecção entre Irwin (Mandy Patinkin), Dylan (Olivia Cooke), Saccione (Antonio Banderas), Javier (Sergio Peris-Mencheta), Isabel (Laia Costa) e Rodrigo (Àlex Monner) expondo os reflexos do passado nas consequências do presente - um conceito narrativo, mais ou menos, como "Amores Perros", "Babel", "Crash" e outros inúmeros exemplos, porém, nesse caso, de uma forma mais romantizada, carregada de drama e de, infelizmente, uma falta de identidade - mas isso falaremos mais abaixo!

"A Vida em Si" deve ser assistido com a menor pretensão possível, pois assim a experiência de cada uma das descobertas será essencial para o seu julgamento no final do filme. Embora com um roteiro um pouco desequilibrado, a narrativa tem ótimos momentos e, de fato, sua conclusão é bastante satisfatória. Fica a impressão que Dan Fogelman quis colocar tantos elementos (narrativos e visuais) que ele acabou se perdendo no meio de suas próprias escolhas e referências em algo que poderia ser mais profundo, mesmo que ainda manipulador! Se você gosta do estilo de "This is Us" é bem possível que você vá se identificar e gostar de "A Vida em Si". Por essa similaridade, eu recomendo!

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A Voz Suprema do Blues

Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

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Se você gostou de "Uma noite em Miami..." certamente você vai gostar de "A Voz Suprema do Blues" já que ambos os filmes possuem elementos narrativos muito similares, embora com abordagens diferentes, um mais politico e o outro mais musical, as tramas giram em torno de diálogos muito bem construídos e de personagens cheios de camadas que interagem entre sim, em poucas locações, para que as discussões não se dissipem e ganhem o valor exato do seu propósito!

Também baseada na peça de teatro, dessa vez do premiado dramaturgo August Wilson, cujos textos são conhecidos por representarem os aspectos cômicos e trágicos da experiência dos africanos-americanos no século XX, "A Voz Suprema do Blues" se passa em Chicago de 1927 e volta sua atenção para dentro de um antigo estúdio de gravação da cidade. Lá, Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda estão prontos para gravar mais um disco. Só que no estúdio o clima começa a esquentar quando a tensão aumenta entre a cantora, seu ambicioso trompista Levee (Chadwick Boseman) e a gerência branca determinada a controlar uma incontrolável “Mãe do Blues”. Confira o trailer:

Todo filme que possui bons personagens, a matéria prima para o ator bilhar, cria uma perspectiva de muito reconhecimento e, pode apostar, ele virá! Esse foi o último filme de Chadwick Boseman e sua performance está simplesmente magnífica, perfeita, no tom exato, com um range de interpretação impressionante, digno de Oscar! Visivelmente debilitado, sua postura praticamente transforma um problema em diferencial - tudo se encaixa tão perfeitamente que é triste condicionar esse reconhecimento em respeito por sua carreira: não é e não deveria ser o caso! Viola Davis é outra força da natureza, que nos tira o equilíbrio e explode na tela! Coberta de uma pesada maquiagem, roupas extravagantes e uma postura imponente, carregada de suor e arrogância, a atriz entrega um Ma Rainey digna de sua importância na música!

Com uma direção muito competente do George C. Wolfe (de Noites de Tormenta) e uma belíssima fotografia do Tobias Schliessler (de A Grande Mentira), o filme cria uma atmosfera desconfortável, angustiante, como se estivéssemos assistindo uma bomba prestes a explodir! O texto chega a nos provocar certa aflição e é muito inteligente ao pontuar os problemas sociais da época como racismo estrutural e todo o descaso com o negro de forma mais orgânica que ideológica.

“A Voz Suprema do Blues” é um daqueles filmes surpreendentes que usa de longos monólogos para evidenciar a força do seu texto e que transforma o ator em uma espécie de mensageiro e de ações muito mais internas do que impactantes - e o final é a maior prova disso! Filme para quem gosta do profundo, ao som de uma bela trilha sonora e daquela atmosfera nostálgica e sexy do blues bem tocado e interpretado com alma!

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Abutres

É até natural imaginar que todo drama mais, digamos, denso e obscuro com o ator argentino Ricardo Darín nos remeta ao imperdível "O Segredo dos Seus Olhos" ou até ao menos inspirado (mas muito bom) "Tese Sobre um Homicídio". No entanto em "Abutres" a linha narrativa é um pouco diferente, embora em um primeiro olhar possa até nos causar certa identificação com um mistério policial, mas o fato é que o filme do diretor Pablo Trapero (de "Elefante Branco") é muito mais uma jornada íntima de um personagem que vive no caos, mas que busca encontrar um caminho para ser feliz a qualquer preço - algo como vimos em "Jóias Brutas" (aqui um pouco mais cadenciado, sem aquela adrenalina alucinante). Com um olhar crítico e provocador sobre a natureza humana, esse thriller mergulha nas profundezas da moralidade, nos deixando tão intrigado quanto perturbado, com aquela sensação de que "se está ruim, a tendência é piorar ainda mais"!

Sosa (Ricardo Darin) é um advogado que perdeu sua licença, mas que está envolvido em um esquema bastante sombrio e muito lucrativo - ele literalmente caça vítimas de acidentes de trânsito para obter uma parte do seguro, mesmo que para isso seja preciso fraudar todo o processo. Cheio de dividas, as coisas se complicam ainda mais quando ele se depara com a bela Luján (Martina Gusman), uma paramédica que está disposta a transforma-lo em um homem melhor. Confira o trailer:

Talvez o que torna "Abutres" verdadeiramente interessante é a forma como Trapero cria uma atmosfera que equilibra a tensão e o suspense, ao mesmo tempo em que mergulha nas complexidades morais de personagens realmente profundos - mesmo que inicialmente eles soem até estereotipados. Existe um tom de controversa muito bem desenvolvido no roteiro escrito pelo Alejandro Fadel, pelo Martín Mauregui e pelo Santiago Mitre (todos de "Leonera" e o último de "Argentina, 1985"), que aproxima, mas também repele, Sosa e Luján, já que seus trabalhos são completamente opostos: enquanto ela tenta a todo custo salvar a vida de seus pacientes, ele tenta lucrar com a possível morte deles. 

É aí que, mais uma vez, Ricardo Darín brilha. O ator nos oferece uma performance memorável, transmitindo com maestria a dualidade moral de seu personagem - que mais uma vez vai te conectar com o trabalho magnifico de Adam Sandler em "Jóias Brutas". Uma camada que fortalece a trama, sem dúvida, reside na tensão palpável entre os personagens de Darín e de Martina Gusmán - cada cena é um duelo construído na base da desconfiança, mas essencialmente suportado pelo afeto imediato entre eles. Outro ponto que nos marca é atmosfera urbana criada pelo diretor e ratificada com uma fotografia gélida assinada pelo Julián Apezteguia (de "O Anjo") - repare como ele captura a decadência e o desespero de uma Buenos Aires pouco acolhedora, refletindo exatamente a batalha íntima e moral do protagonista,

"Abutres" pode ter um começo mais cadenciado, um segundo ato com um desenvolvimento mais emaranhado, mas é no terceiro ato que a história vira de uma forma muito envolvente. O filme usa dos gatilhos que ele prepara durante uma hora e meia, para realmente desafiar as convenções nos minutos finais. Se você está em busca de um filme que o mantenha preso às expectativas que os personagens vão criando em cima de suas próprias falhas morais até que o perigo iminente se concretize, não perca tempo e dê o play - tenho certeza que será uma experiência que vai além do entretenimento superficial com um toque independente de qualidade e bastante autoral.

Assista Agora

É até natural imaginar que todo drama mais, digamos, denso e obscuro com o ator argentino Ricardo Darín nos remeta ao imperdível "O Segredo dos Seus Olhos" ou até ao menos inspirado (mas muito bom) "Tese Sobre um Homicídio". No entanto em "Abutres" a linha narrativa é um pouco diferente, embora em um primeiro olhar possa até nos causar certa identificação com um mistério policial, mas o fato é que o filme do diretor Pablo Trapero (de "Elefante Branco") é muito mais uma jornada íntima de um personagem que vive no caos, mas que busca encontrar um caminho para ser feliz a qualquer preço - algo como vimos em "Jóias Brutas" (aqui um pouco mais cadenciado, sem aquela adrenalina alucinante). Com um olhar crítico e provocador sobre a natureza humana, esse thriller mergulha nas profundezas da moralidade, nos deixando tão intrigado quanto perturbado, com aquela sensação de que "se está ruim, a tendência é piorar ainda mais"!

Sosa (Ricardo Darin) é um advogado que perdeu sua licença, mas que está envolvido em um esquema bastante sombrio e muito lucrativo - ele literalmente caça vítimas de acidentes de trânsito para obter uma parte do seguro, mesmo que para isso seja preciso fraudar todo o processo. Cheio de dividas, as coisas se complicam ainda mais quando ele se depara com a bela Luján (Martina Gusman), uma paramédica que está disposta a transforma-lo em um homem melhor. Confira o trailer:

Talvez o que torna "Abutres" verdadeiramente interessante é a forma como Trapero cria uma atmosfera que equilibra a tensão e o suspense, ao mesmo tempo em que mergulha nas complexidades morais de personagens realmente profundos - mesmo que inicialmente eles soem até estereotipados. Existe um tom de controversa muito bem desenvolvido no roteiro escrito pelo Alejandro Fadel, pelo Martín Mauregui e pelo Santiago Mitre (todos de "Leonera" e o último de "Argentina, 1985"), que aproxima, mas também repele, Sosa e Luján, já que seus trabalhos são completamente opostos: enquanto ela tenta a todo custo salvar a vida de seus pacientes, ele tenta lucrar com a possível morte deles. 

É aí que, mais uma vez, Ricardo Darín brilha. O ator nos oferece uma performance memorável, transmitindo com maestria a dualidade moral de seu personagem - que mais uma vez vai te conectar com o trabalho magnifico de Adam Sandler em "Jóias Brutas". Uma camada que fortalece a trama, sem dúvida, reside na tensão palpável entre os personagens de Darín e de Martina Gusmán - cada cena é um duelo construído na base da desconfiança, mas essencialmente suportado pelo afeto imediato entre eles. Outro ponto que nos marca é atmosfera urbana criada pelo diretor e ratificada com uma fotografia gélida assinada pelo Julián Apezteguia (de "O Anjo") - repare como ele captura a decadência e o desespero de uma Buenos Aires pouco acolhedora, refletindo exatamente a batalha íntima e moral do protagonista,

"Abutres" pode ter um começo mais cadenciado, um segundo ato com um desenvolvimento mais emaranhado, mas é no terceiro ato que a história vira de uma forma muito envolvente. O filme usa dos gatilhos que ele prepara durante uma hora e meia, para realmente desafiar as convenções nos minutos finais. Se você está em busca de um filme que o mantenha preso às expectativas que os personagens vão criando em cima de suas próprias falhas morais até que o perigo iminente se concretize, não perca tempo e dê o play - tenho certeza que será uma experiência que vai além do entretenimento superficial com um toque independente de qualidade e bastante autoral.

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Acima das Nuvens

"Acima das Nuvens" fala sobre o dolorido processo de envelhecer pelos olhos de uma atriz completamente dependente de um personagem que não representa há muitos anos e que, por uma rasteira do destino, terá que encarar de frente, interpretado por uma jovem e talentosa atriz marcada por atitudes, digamos, pouco convencionais - e aí é que está a genialidade do filme e de sua narrativa metalinguística: Juliette Binoche é essa atriz que precisa encarar o que ela mesmo foi, porém em uma peça de teatro.

Há 20 anos, Maria Enders (Binoche) ficou famosa por uma atuação memorável nos palcos pelas mãos do renomado dramaturgo e cineasta Wilhelm Melchior. Anos depois, ela tem que enfrentar o fato de que terá que dividir cena com uma jovem estrela de Hollywood que irá interpretar o mesmo papel em uma remontagem do espetáculo que a consagrou. Sua nova personagem, porém, é a antítese da jovialidade e irresponsabilidade que Maria representou um dia, agora ela fará o papel de uma empresária de meia-idade, insegura e apaixonada pela assistente 20 anos mais jovem. Para se preparar para o espetáculo, Enders parte com sua bela, jovem e dedicada assistente Vallentine (Kristen Stewart) para a região montanhosa suíça de Engadin, onde é obrigada a enfrentar o presente, o revisitar seu passado e , principalmente, encarar seus desejos mais ocultos e solitários. Confira o trailer:

Reparem no contexto: Maria Enders está tentando recomeçar sua vida depois de um divórcio pouco amigável, carrega o fato de ter sido ignorada por um amor platônico da juventude e com quem dividiu cena em vários trabalhos do seu mentor Wilhelm Melchior que, inclusive, acaba de abandona-la depois de se suicidar, justamente no momento em que ela iria fazer uma homenagem por sua história e obra. Sim, são três situações razoavelmente independentes, mas que carregam as marcas que Maria insiste em esconder e isso se torna um presente inimaginável na construção de uma personagem tão cheia de camadas que ela resolve interpretar  - e que para Binoche a regra é serve da mesma forma!

A passagem do tempo, simbolizada pelas nuvens sinuosas de Sils Maria, nos Alpes suíços, é o primeiro de muitos símbolos que o talentoso diretor Olivier Assayas propõe para "Acima das Nuvens". O filme é uma espécie de jornada de auto-conhecimento ou até um drama de redenção fantasiado de conflito geracional, cheio de comentários e críticas sobre arte, cinema, relacionamentos, irresponsabilidades e sobre cultura de celebridades. Ao acompanharmos a relação de Maria Enders e Vallentine percebemos a dualidade entre os textos da peça sendo ensaiada com divagações pessoais que impactam no relacionamento das duas, com muita sensibilidade e provocando muitas desconfianças em quem assiste - será que a vida está imitando a arte? 

"Acima das Nuvens" não é um filme fácil, seu simbolismo é frequente e mergulhar nele é quase condicional para se apaixonar pelo filme - embora o diretor equilibre muito bem o jogo do "duplo sentido", ele não faz questão nenhuma de entregar suas convicções. Assayas não se esquece do universo em que esta inserido e muito menos do passado de Binoche ou de Kristen Stewart para citar os "valores" do cinema moderno americano frente ao clássico e artísticos cinema europeu ou até sobre o abismo temporal que se abre e vai sugando as oportunidades de uma atriz experiente em detrimento ao novo estilo de vida marginal de outras atrizes que são notícia - é cruel, mas real! 

Veja, "Acima das Nuvens" concorreu em Cannes em 2014 e levou mais de 20 prêmios em sua carreira nos festivais - seu conceito narrativo é muito autoral e extremamente independente, ou seja, vai agradar quem gosta do estilo e quem está disposto a olhar para os detalhes muito além do que vemos nas telas!

É lindo, mas não será para todos!

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"Acima das Nuvens" fala sobre o dolorido processo de envelhecer pelos olhos de uma atriz completamente dependente de um personagem que não representa há muitos anos e que, por uma rasteira do destino, terá que encarar de frente, interpretado por uma jovem e talentosa atriz marcada por atitudes, digamos, pouco convencionais - e aí é que está a genialidade do filme e de sua narrativa metalinguística: Juliette Binoche é essa atriz que precisa encarar o que ela mesmo foi, porém em uma peça de teatro.

Há 20 anos, Maria Enders (Binoche) ficou famosa por uma atuação memorável nos palcos pelas mãos do renomado dramaturgo e cineasta Wilhelm Melchior. Anos depois, ela tem que enfrentar o fato de que terá que dividir cena com uma jovem estrela de Hollywood que irá interpretar o mesmo papel em uma remontagem do espetáculo que a consagrou. Sua nova personagem, porém, é a antítese da jovialidade e irresponsabilidade que Maria representou um dia, agora ela fará o papel de uma empresária de meia-idade, insegura e apaixonada pela assistente 20 anos mais jovem. Para se preparar para o espetáculo, Enders parte com sua bela, jovem e dedicada assistente Vallentine (Kristen Stewart) para a região montanhosa suíça de Engadin, onde é obrigada a enfrentar o presente, o revisitar seu passado e , principalmente, encarar seus desejos mais ocultos e solitários. Confira o trailer:

Reparem no contexto: Maria Enders está tentando recomeçar sua vida depois de um divórcio pouco amigável, carrega o fato de ter sido ignorada por um amor platônico da juventude e com quem dividiu cena em vários trabalhos do seu mentor Wilhelm Melchior que, inclusive, acaba de abandona-la depois de se suicidar, justamente no momento em que ela iria fazer uma homenagem por sua história e obra. Sim, são três situações razoavelmente independentes, mas que carregam as marcas que Maria insiste em esconder e isso se torna um presente inimaginável na construção de uma personagem tão cheia de camadas que ela resolve interpretar  - e que para Binoche a regra é serve da mesma forma!

A passagem do tempo, simbolizada pelas nuvens sinuosas de Sils Maria, nos Alpes suíços, é o primeiro de muitos símbolos que o talentoso diretor Olivier Assayas propõe para "Acima das Nuvens". O filme é uma espécie de jornada de auto-conhecimento ou até um drama de redenção fantasiado de conflito geracional, cheio de comentários e críticas sobre arte, cinema, relacionamentos, irresponsabilidades e sobre cultura de celebridades. Ao acompanharmos a relação de Maria Enders e Vallentine percebemos a dualidade entre os textos da peça sendo ensaiada com divagações pessoais que impactam no relacionamento das duas, com muita sensibilidade e provocando muitas desconfianças em quem assiste - será que a vida está imitando a arte? 

"Acima das Nuvens" não é um filme fácil, seu simbolismo é frequente e mergulhar nele é quase condicional para se apaixonar pelo filme - embora o diretor equilibre muito bem o jogo do "duplo sentido", ele não faz questão nenhuma de entregar suas convicções. Assayas não se esquece do universo em que esta inserido e muito menos do passado de Binoche ou de Kristen Stewart para citar os "valores" do cinema moderno americano frente ao clássico e artísticos cinema europeu ou até sobre o abismo temporal que se abre e vai sugando as oportunidades de uma atriz experiente em detrimento ao novo estilo de vida marginal de outras atrizes que são notícia - é cruel, mas real! 

Veja, "Acima das Nuvens" concorreu em Cannes em 2014 e levou mais de 20 prêmios em sua carreira nos festivais - seu conceito narrativo é muito autoral e extremamente independente, ou seja, vai agradar quem gosta do estilo e quem está disposto a olhar para os detalhes muito além do que vemos nas telas!

É lindo, mas não será para todos!

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Acima de Qualquer Suspeita

Ao melhor estilo "quem matou?", esteja preparado para um entretenimento da melhor qualidade - talvez um dos mais elogiados de 2024. "Acima de Qualquer Suspeita", minissérie criada por David E. Kelley e lançada pela AppleTV+, é um suspense jurídico raiz, daqueles tensos, cheios de reviravoltas e com um final surpreendente. "Presumed Innocent" (no original) se baseia no aclamado romance homônimo de Scott Turow e se destaca pela exploração profunda e envolvente "das verdades e mentiras" a partir da perspectiva de uma acusação de assassinato. Veja, para os fãs de dramas como "Big Little Lies" ou "A Escada" (não por acaso ambos da HBO) "Acima de Qualquer Suspeita" oferece uma mistura semelhante de apreensão, intriga e drama emocional que vai te tirar da zona de conforto!

A trama gira em torno de Rusty Sabich (Jake Gyllenhaal), um promotor público que se vê no centro de uma investigação de assassinato quando sua colega Carolyn Polhemus (Renate Reinsve) é encontrada morta. À medida que as evidências começam a apontar para Rusty como o principal suspeito, ele passa lutar para provar sua inocência enquanto confronta segredos e traições que ameaçam destruir sua carreira e vida pessoal. Confira o trailer:

David E. Kelley, conhecido por seu trabalho em projetos de sucesso como "Big Little Lies" e "The Undoing", traz para Apple aquele "selo HBO" que tanto nos apaixonamos. A partir de sua marca registrada, com diálogos inteligentes e personagens bem desenvolvidos, "Acima de Qualquer Suspeita" surpreende pela qualidade narrativa e visual, entregando um resultado ainda melhor que o filme de 1990 com Harrison Ford,Brian Dennehy e Raúl Julia. Seguindo a premissa da obra literária, essa adaptação explora com muita competência as ramificações de um crime brutal e a busca pela verdade, nos provocando a questionar a confiabilidade da justiça e a natureza da culpa e da inocência.

O roteiro de Kelley é meticulosamente bem estruturado, com reviravoltas bem pontuadas e um ritmo que nos mantém engajados do inicio ao fim - "Acima de Qualquer Suspeita" realmente sabe sustentar seu mistério sem roubar no jogo. Ao se apoiar em temas como a corrupção no sistema judicial, a ambiguidade moral e os limites da lealdade, a minissérie não decepciona - especialmente pelos diálogos afiados e carregados de subtexto, refletindo a complexidade das relações entre os personagens e as tensões subjacentes à investigação. Com uma direção precisa, utilizando a cinematografia de uma Chicago sombria/chuvosa (quase tirada de um filme do Batman) e que captura a tensão e a incerteza do caso, Greg Yaitanes e Anne Sewitsky equilibram habilmente o suspense de um thriller jurídico com os aspectos emocionais e pessoais de um drama de relações, criando uma jornada cativante e profundamente humana. Aliás, reparem na trilha sonora composta por Danny Bensi e Saunder Jurriaans (ambos de "Tulsa King" e de "O Homem Duplicado") - é impressionante como ela complementa a atmosfera de angústia daquele cenário com composições que variam entre a tensão e o melancólico, intensificando o mistério e a carga emocional dos personagens.

Jake Gyllenhaal entrega uma performance poderosa - um misto de vulnerabilidade e de determinação que só um homem que se vê envolto em um pesadelo jurídico é capaz de sentir. Nesse sentido, é impossível não citar o ótimo Peter Sarsgaard como o "intragável" Tommy Molto e o sempre competente Bill Camp como o "carismático" Raymond Horgan. Os três colocam "Acima de Qualquer Suspeita" em uma prateleira que potencializa a exploração corajosa e intelectualmente estimulante dos dilemas morais e éticos dentro do sistema de justiça americano. Mais uma vez David E. Kelley oferece uma visão incisiva e emocionalmente ressonante da busca pela verdade em um mundo repleto de ambiguidades e incertezas. Um golaço da AppleTV+!

Vale muito o seu play!

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Ao melhor estilo "quem matou?", esteja preparado para um entretenimento da melhor qualidade - talvez um dos mais elogiados de 2024. "Acima de Qualquer Suspeita", minissérie criada por David E. Kelley e lançada pela AppleTV+, é um suspense jurídico raiz, daqueles tensos, cheios de reviravoltas e com um final surpreendente. "Presumed Innocent" (no original) se baseia no aclamado romance homônimo de Scott Turow e se destaca pela exploração profunda e envolvente "das verdades e mentiras" a partir da perspectiva de uma acusação de assassinato. Veja, para os fãs de dramas como "Big Little Lies" ou "A Escada" (não por acaso ambos da HBO) "Acima de Qualquer Suspeita" oferece uma mistura semelhante de apreensão, intriga e drama emocional que vai te tirar da zona de conforto!

A trama gira em torno de Rusty Sabich (Jake Gyllenhaal), um promotor público que se vê no centro de uma investigação de assassinato quando sua colega Carolyn Polhemus (Renate Reinsve) é encontrada morta. À medida que as evidências começam a apontar para Rusty como o principal suspeito, ele passa lutar para provar sua inocência enquanto confronta segredos e traições que ameaçam destruir sua carreira e vida pessoal. Confira o trailer:

David E. Kelley, conhecido por seu trabalho em projetos de sucesso como "Big Little Lies" e "The Undoing", traz para Apple aquele "selo HBO" que tanto nos apaixonamos. A partir de sua marca registrada, com diálogos inteligentes e personagens bem desenvolvidos, "Acima de Qualquer Suspeita" surpreende pela qualidade narrativa e visual, entregando um resultado ainda melhor que o filme de 1990 com Harrison Ford,Brian Dennehy e Raúl Julia. Seguindo a premissa da obra literária, essa adaptação explora com muita competência as ramificações de um crime brutal e a busca pela verdade, nos provocando a questionar a confiabilidade da justiça e a natureza da culpa e da inocência.

O roteiro de Kelley é meticulosamente bem estruturado, com reviravoltas bem pontuadas e um ritmo que nos mantém engajados do inicio ao fim - "Acima de Qualquer Suspeita" realmente sabe sustentar seu mistério sem roubar no jogo. Ao se apoiar em temas como a corrupção no sistema judicial, a ambiguidade moral e os limites da lealdade, a minissérie não decepciona - especialmente pelos diálogos afiados e carregados de subtexto, refletindo a complexidade das relações entre os personagens e as tensões subjacentes à investigação. Com uma direção precisa, utilizando a cinematografia de uma Chicago sombria/chuvosa (quase tirada de um filme do Batman) e que captura a tensão e a incerteza do caso, Greg Yaitanes e Anne Sewitsky equilibram habilmente o suspense de um thriller jurídico com os aspectos emocionais e pessoais de um drama de relações, criando uma jornada cativante e profundamente humana. Aliás, reparem na trilha sonora composta por Danny Bensi e Saunder Jurriaans (ambos de "Tulsa King" e de "O Homem Duplicado") - é impressionante como ela complementa a atmosfera de angústia daquele cenário com composições que variam entre a tensão e o melancólico, intensificando o mistério e a carga emocional dos personagens.

Jake Gyllenhaal entrega uma performance poderosa - um misto de vulnerabilidade e de determinação que só um homem que se vê envolto em um pesadelo jurídico é capaz de sentir. Nesse sentido, é impossível não citar o ótimo Peter Sarsgaard como o "intragável" Tommy Molto e o sempre competente Bill Camp como o "carismático" Raymond Horgan. Os três colocam "Acima de Qualquer Suspeita" em uma prateleira que potencializa a exploração corajosa e intelectualmente estimulante dos dilemas morais e éticos dentro do sistema de justiça americano. Mais uma vez David E. Kelley oferece uma visão incisiva e emocionalmente ressonante da busca pela verdade em um mundo repleto de ambiguidades e incertezas. Um golaço da AppleTV+!

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Acredite em Mim: A História de Lisa McVey

Mulheres vítimas de estupro são violentadas duas vezes: uma pelo agressor, e a outra quando precisam provar que foram realmente estupradas. Isso, quando denunciam, pois na maioria dos casos elas não se sentem encorajadas para expor a violência. A ficção, seja no formato de filmes, séries ou minisséries, possui um papel social muito importante, pois denuncia o problema, dando voz a essas mulheres, promovendo o debate público e revelando como a questão é muito sensível e traumática para as vítimas.

O tema pode ser visto na excelente minissérie “Inacreditável”e agora nesse filme do Star+, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey”. As duas produções são certeiras ao provocar um sentimento de impotência e desconforto em quem assiste, pois escancara o despreparo da polícia em lidar com crimes de estupro e como isso afeta o psicológico da mulher para o resto da sua vida.

O filme apresenta um aterrorizante caso real de sequestro seguido de estupro ocorrido nos Estados Unidos, em 1984. A trama é dividida em duas partes: na primeira, mostra o rapto da adolescente Lisa McVey (Katie Douglas), e todo o tempo que ela ficou no cativeiro sendo ameaçada e violentada pelo serial killer Bobby Joe Long (Rossif Sutherland). Já na segunda parte, a história foca nos interrogatórios policiais e como a garota foi desacreditada por todos, inclusive pela própria avó (Kim Horsman). A única exceção é o detetive Larry Pinkerton (David James Elliott), que acredita no seu depoimento e decide seguir as pistas que ela deu para capturar o assassino. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Jim Donovan, profissional que construiu sua carreira na TV, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey” possui certas limitações, tanto orçamentárias, quanto artísticas, já que foi produzido a toque de caixa e sem o mesmo esmero de uma atração feita para o cinema. No entanto, a produção não decepciona e transmite a sua mensagem de maneira satisfatória - atenção para o trabalho de Katie Douglas.

Por apresentar um caso verídico com o máximo de detalhes e realismo, o roteiro de Christina Welsh provoca nosso envolvimento com a obra de uma maneira bastante intensa. Afinal, tudo que presenciamos, infelizmente, aconteceu… A experiência é de fato impactante e a conclusão que se chega é que a realidade é muito mais chocante que a ficção!

Vale a pena!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Mulheres vítimas de estupro são violentadas duas vezes: uma pelo agressor, e a outra quando precisam provar que foram realmente estupradas. Isso, quando denunciam, pois na maioria dos casos elas não se sentem encorajadas para expor a violência. A ficção, seja no formato de filmes, séries ou minisséries, possui um papel social muito importante, pois denuncia o problema, dando voz a essas mulheres, promovendo o debate público e revelando como a questão é muito sensível e traumática para as vítimas.

O tema pode ser visto na excelente minissérie “Inacreditável”e agora nesse filme do Star+, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey”. As duas produções são certeiras ao provocar um sentimento de impotência e desconforto em quem assiste, pois escancara o despreparo da polícia em lidar com crimes de estupro e como isso afeta o psicológico da mulher para o resto da sua vida.

O filme apresenta um aterrorizante caso real de sequestro seguido de estupro ocorrido nos Estados Unidos, em 1984. A trama é dividida em duas partes: na primeira, mostra o rapto da adolescente Lisa McVey (Katie Douglas), e todo o tempo que ela ficou no cativeiro sendo ameaçada e violentada pelo serial killer Bobby Joe Long (Rossif Sutherland). Já na segunda parte, a história foca nos interrogatórios policiais e como a garota foi desacreditada por todos, inclusive pela própria avó (Kim Horsman). A única exceção é o detetive Larry Pinkerton (David James Elliott), que acredita no seu depoimento e decide seguir as pistas que ela deu para capturar o assassino. Confira o trailer (em inglês):

Dirigido por Jim Donovan, profissional que construiu sua carreira na TV, “Acredite em Mim: A História de Lisa McVey” possui certas limitações, tanto orçamentárias, quanto artísticas, já que foi produzido a toque de caixa e sem o mesmo esmero de uma atração feita para o cinema. No entanto, a produção não decepciona e transmite a sua mensagem de maneira satisfatória - atenção para o trabalho de Katie Douglas.

Por apresentar um caso verídico com o máximo de detalhes e realismo, o roteiro de Christina Welsh provoca nosso envolvimento com a obra de uma maneira bastante intensa. Afinal, tudo que presenciamos, infelizmente, aconteceu… A experiência é de fato impactante e a conclusão que se chega é que a realidade é muito mais chocante que a ficção!

Vale a pena!

Escrito por Lucio Tannure - uma parceria @dicas_pra_maratonar

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Adoráveis Mulheres

"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união. 

O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim

Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).

"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!

A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!

"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!

Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!

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"Adoráveis Mulheres", novo projeto da diretora de "Lady Bird", Greta Gerwig, é uma graça! O filme é mais uma adaptação do livro homônimo de Louisa May Alcott e conta a história das irmãs March, quatro jovens americanas de personalidades completamente diferentes e que vivem em uma família cheia de valores e união. 

O processo de amadurecimento de cada uma delas, sem a presença do pai que luta na Guerra Civil, é o fio narrativo dessa história que fala sobre a essência da vida e como a felicidade pode estar nos pequenos gestos, na simplicidade do dia a dia, na ingenuidade dos sonhos adolescentes e na esperança de uma plenitude eterna - e é isso que nos toca e até nos machuca, pois sabemos que a vida não é bem assim

Transitando do passado para o presente com muita delicadeza e inteligência, Gerwig entrega um filme com alma, que mexe com a gente, mas com muito respeito (como deve ser). Uma aula de sensibilidade para falar sobre saudade, que merece ser aplaudida. Prestem atenção nesse filme - tenho certeza que ele estará no Oscar 2020, inclusive na disputa de melhor filme (ou no mínimo de melhor roteiro adaptado).

"Adoráveis Mulheres" é um destes textos clássicos várias vezes adaptados para o cinema - a mais famosa, contou com Winona Ryder, Susan Sarandon, Christian Bale e Kirsten Dusnt e foi produzida em 1994. Essa versão, dirigida pela australiana Gillian Armstrong, foi indicada para o Oscar em três categorias: melhor atriz (Winona Ryder), figurino e música. Pelo que vimos, o filme de Greta Gerwig tem tudo para se tornar a versão mais premiada da obra, começando pelas atuações marcantes de Saoirse Ronan como Jo March e mais um excelente trabalho de Laura Dern como Marmee March - lembrando que Dern deve ser indicada como coadjuvante por "Cenas de um Casamento". Emma Watson, Florence Pugh e Eliza Scanlen também merecem destaque - foram interpretações honestíssimas, principalmente de Pugh! Timothée Chalamet (Me chame pelo seu nome) é outro que entrega um grande personagem! Tenho a impressão que Saoirse Ronan receberá sua quinta indicação e que Greta Gerwig representará as mulheres em duas categorias: melhor direção e roteiro adaptado!

A fotografia do francés Yorick Le Saux é maravilhosa e pontuada com um tons mais quentes (amarelados) no passado, transbordando alegria e com tons mais frios (azulados) no presente, o que trás uma sensação mais real, da dificuldade da vida, do amadurecimento forçado - aliás, é basicamente na troca de cor e de temperatura que entendemos essa dinâmica de "vai e vem" na linha do tempo - é muito delicado, demora algumas cenas para percebermos, mas depois flui tão naturalmente que fica fácil de acompanhar! A montagem também ajuda nessa organicidade, claro, e, para mim, mereceria uma indicação ao Oscar junto com Desenho de Produção e Figurino. Até entendo se isso não acontecer em todas as categorias, mas é importante deixar registrado que potencial para várias indicações teria! Todos esses elementos técnicos só colaboram na entrega de um filme belíssimo, bem dirigido, bem interpretado e lindo visualmente. A capacidade de Gerwig em nos transportar para a vida dessas quatro mulheres, estabelece uma relação de cumplicidade e empatia que dificilmente vemos nos filmes de hoje com tanta sensibilidade. De fato não é um filme complexo ou com reviravoltas surpreendentes, mas as mais de duas horas de história servem como convite à revisitar nosso passado, nossos laços e lembranças - e a linda trilha sonora só colabora nessa imersão - reparem!

"Adoráveis Mulheres" é um filme leve ao mesmo tempo em que é denso, otimista ao mesmo tempo em que é saudoso, lindo ao mesmo tempo em que é difícil de digerir! "Adoráveis Mulheres" é um grande filme, técnico e artístico, e tranquilamente merece sua audiência!

Up-date: "Adoráveis Mulheres" ganhou em uma categoria no Oscar 2020: Melhor Figurino!

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Aftersun

Quanto menos você souber sobre "Aftersun", melhor será a sua experiência! No entanto, e isso é preciso que se diga, não será uma jornada das mais tranquilas e nem todos vão se conectar com a proposta intimista, reflexiva e cheia de sensibilidade que a diretora estreante Charlotte Wells propõe. Talvez o primeiro ponto a se levantar seja justamente a forma como Wells retrata sensações e sentimentos bastante particulares quando evocamos algo tão preciso em nossa vida: as memórias de um ente querido ou de um tempo que, infelizmente, não voltará. Aqui, a diretora, com habilidade, pesa na mão ao discutir as relações familiares pela perspectiva de uma garota de 11 anos em uma viagem de férias com seu pai - como em "Um Lugar Qualquer" existe um desconforto entre a nostalgia e a melancolia que, de fato, nos corrói por dentro. Mas atenção, embora "Aftersun" brinque com uma sensação de que algo impactante pode acontecer a qualquer momento, eu alinho sua expectativa: o filme não é sobre um fato e sim sobre o contexto que aqueles personagens viveram (já que o filme é basicamente uma página de um livro de memórias).

Sophie (Celia Rowlson-Hall na versão adulta) reflete sobre a alegria e a melancolia das férias que ela (Frankie Corio, na versão pré-adolescente) passou com seu pai Calum (Paul Mescal) na Turquia, 20 anos antes. Em um jogo de memórias reais ou simplesmente imaginárias, Sophie tenta preencher as lacunas entre o pai amoroso e cuidadoso que conheceu, com o homem cheio de marcas e dores que ela acreditava nem existir. Confira o trailer:

"Aftersun" é o tipo do filme que não deve ser definido assim que os créditos sobem - ele exige um certo tempo para digestão, para alguma reflexão e, quem sabe até, para um olhar mais íntimo sobre nossa própria relação com a "saudade". Com uma linguagem quase experimental, uma identidade marcante e um conceito independente bem latente, o filme é tocante na sua essência e emocionante na sua simplicidade - o que traz certo frescor narrativo e até alguma provocação já que o roteiro tem uma trama direta e clara ao apresentar apenas uma passagem da vida de dois personagens. O segredo, no entanto, está na maneira como a protagonista revisita essa viagem a partir das suas lembranças e de gravações em VHS feitas na época - é como se ela montasse um quebra-cabeça, agora mais madura, com peças que jamais teve contato.

A performance de Paul Mescal (indicado ao Oscar 2023 por esse personagem) é um dos pontos fortes do filme - o ator captura com maestria a complexidade de Calum, um homem que luta contra seus próprios demônios enquanto tenta ser um bom pai para Sophie. Reparem como Mescal mantém, ou pelo menos tenta manter, a filha propositalmente (e com certa dor de quem quer apenas proteger seu grande amor) afastada de certos aspectos de sua vida - as perguntas da filha sobre o relacionamento dele com a mãe, com outras namoradas, com o dinheiro; enfim, tudo toca na alma de quem assiste e te falo: nem é preciso diálogos rebuscados ou cenas de embate, é tudo no olhar, no silêncio, na sensibilidade de Wells em insinuar e não escancarar o óbvio. Frankie Corio, como não poderia deixar de ser, também brilha, transmitindo a inocência e a confusão da juventude com muita propriedade - olho nessa atriz!

"Aftersun" tem na fotografia de Gregory Oke (de "Raf") uma contribuição importante para a construção dessa atmosfera melancólica do filme, com cores desbotadas e imagens granuladas que evocam a nostalgia das férias em família. A montagem impressionista de Blair McClendon (a mesma de "A Assistente") também merece elogios: tudo acontece no seu tempo, independente de onde esteja na cronologia dos fatos - é muito bom! Mesmo que definido pela própria Charlotte Wells como uma história autobiográfica, "Aftersun" sabe exatamente como escapar do egocentrismo com poesia e simbolismo, e assim entregar uma jornada autêntica, generosa e profundamente verdadeira sobre o que há de mais particular, e por isso inquestionável, na experiência humana quando o amor está acima de tudo.

Dói, mas vale seu play!

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Quanto menos você souber sobre "Aftersun", melhor será a sua experiência! No entanto, e isso é preciso que se diga, não será uma jornada das mais tranquilas e nem todos vão se conectar com a proposta intimista, reflexiva e cheia de sensibilidade que a diretora estreante Charlotte Wells propõe. Talvez o primeiro ponto a se levantar seja justamente a forma como Wells retrata sensações e sentimentos bastante particulares quando evocamos algo tão preciso em nossa vida: as memórias de um ente querido ou de um tempo que, infelizmente, não voltará. Aqui, a diretora, com habilidade, pesa na mão ao discutir as relações familiares pela perspectiva de uma garota de 11 anos em uma viagem de férias com seu pai - como em "Um Lugar Qualquer" existe um desconforto entre a nostalgia e a melancolia que, de fato, nos corrói por dentro. Mas atenção, embora "Aftersun" brinque com uma sensação de que algo impactante pode acontecer a qualquer momento, eu alinho sua expectativa: o filme não é sobre um fato e sim sobre o contexto que aqueles personagens viveram (já que o filme é basicamente uma página de um livro de memórias).

Sophie (Celia Rowlson-Hall na versão adulta) reflete sobre a alegria e a melancolia das férias que ela (Frankie Corio, na versão pré-adolescente) passou com seu pai Calum (Paul Mescal) na Turquia, 20 anos antes. Em um jogo de memórias reais ou simplesmente imaginárias, Sophie tenta preencher as lacunas entre o pai amoroso e cuidadoso que conheceu, com o homem cheio de marcas e dores que ela acreditava nem existir. Confira o trailer:

"Aftersun" é o tipo do filme que não deve ser definido assim que os créditos sobem - ele exige um certo tempo para digestão, para alguma reflexão e, quem sabe até, para um olhar mais íntimo sobre nossa própria relação com a "saudade". Com uma linguagem quase experimental, uma identidade marcante e um conceito independente bem latente, o filme é tocante na sua essência e emocionante na sua simplicidade - o que traz certo frescor narrativo e até alguma provocação já que o roteiro tem uma trama direta e clara ao apresentar apenas uma passagem da vida de dois personagens. O segredo, no entanto, está na maneira como a protagonista revisita essa viagem a partir das suas lembranças e de gravações em VHS feitas na época - é como se ela montasse um quebra-cabeça, agora mais madura, com peças que jamais teve contato.

A performance de Paul Mescal (indicado ao Oscar 2023 por esse personagem) é um dos pontos fortes do filme - o ator captura com maestria a complexidade de Calum, um homem que luta contra seus próprios demônios enquanto tenta ser um bom pai para Sophie. Reparem como Mescal mantém, ou pelo menos tenta manter, a filha propositalmente (e com certa dor de quem quer apenas proteger seu grande amor) afastada de certos aspectos de sua vida - as perguntas da filha sobre o relacionamento dele com a mãe, com outras namoradas, com o dinheiro; enfim, tudo toca na alma de quem assiste e te falo: nem é preciso diálogos rebuscados ou cenas de embate, é tudo no olhar, no silêncio, na sensibilidade de Wells em insinuar e não escancarar o óbvio. Frankie Corio, como não poderia deixar de ser, também brilha, transmitindo a inocência e a confusão da juventude com muita propriedade - olho nessa atriz!

"Aftersun" tem na fotografia de Gregory Oke (de "Raf") uma contribuição importante para a construção dessa atmosfera melancólica do filme, com cores desbotadas e imagens granuladas que evocam a nostalgia das férias em família. A montagem impressionista de Blair McClendon (a mesma de "A Assistente") também merece elogios: tudo acontece no seu tempo, independente de onde esteja na cronologia dos fatos - é muito bom! Mesmo que definido pela própria Charlotte Wells como uma história autobiográfica, "Aftersun" sabe exatamente como escapar do egocentrismo com poesia e simbolismo, e assim entregar uma jornada autêntica, generosa e profundamente verdadeira sobre o que há de mais particular, e por isso inquestionável, na experiência humana quando o amor está acima de tudo.

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