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Quem com ferro fere

Se você gostou de "A Casa" certamente você vai gostar de "Quem com ferro fere"! Esse filme espanhol que está na Netflix segue o mesmo conceito narrativo do seu compatriota, porém com um mérito que faz toda a diferença ao assistirmos: ele é muito corajoso! O filme acompanha o dia a dia do enfermeiro de um asilo chamado Mario (Luis Tosar). Após a morte do seu irmão Sergio, ele se prepara para um novo capítulo da sua vida com a chegada de seu primeiro filho, porém algo inusitado acontece: o um chefe do tráfico de drogas local, Antonio Padín (Xan Cejudo), é enviado para asilo e fica sob seus cuidados. A partir daí, Mario começa a se questionar se seu dever como profissional é mais importante do que as vidas que este homem destruiu, inclusive a do seu irmão. Confira o trailer dublado:

O diretor do filme, o espanhol Paco Plaza, passou a ser reconhecido com seu filme de terror "REC" e com o ótimo "Verônica". Premiadíssimo na Europa e indicado como Melhor Diretor no Prêmio Goya em 2017, Plaza domina a gramática cinematográfica do suspense, o horror e também do drama, como poucos da sua geração. Com muita maestria ela é capaz de misturar todos esses gêneros de uma forma bastante natural e com um único objetivo: criar o máximo de tensão possível - mesmo que em situações onde a realidade parece se distanciar, mas o realismo não! 

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Se você gostou de "A Casa" certamente você vai gostar de "Quem com ferro fere"! Esse filme espanhol que está na Netflix segue o mesmo conceito narrativo do seu compatriota, porém com um mérito que faz toda a diferença ao assistirmos: ele é muito corajoso! O filme acompanha o dia a dia do enfermeiro de um asilo chamado Mario (Luis Tosar). Após a morte do seu irmão Sergio, ele se prepara para um novo capítulo da sua vida com a chegada de seu primeiro filho, porém algo inusitado acontece: o um chefe do tráfico de drogas local, Antonio Padín (Xan Cejudo), é enviado para asilo e fica sob seus cuidados. A partir daí, Mario começa a se questionar se seu dever como profissional é mais importante do que as vidas que este homem destruiu, inclusive a do seu irmão. Confira o trailer dublado:

O diretor do filme, o espanhol Paco Plaza, passou a ser reconhecido com seu filme de terror "REC" e com o ótimo "Verônica". Premiadíssimo na Europa e indicado como Melhor Diretor no Prêmio Goya em 2017, Plaza domina a gramática cinematográfica do suspense, o horror e também do drama, como poucos da sua geração. Com muita maestria ela é capaz de misturar todos esses gêneros de uma forma bastante natural e com um único objetivo: criar o máximo de tensão possível - mesmo que em situações onde a realidade parece se distanciar, mas o realismo não! 

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Remédio Amargo

"Remédio Amargo" é mais um filme espanhol da Netflix que entra no hype para quem gosta de suspense psicológico. O grande problema, porém, é que o filme também é mais uma "sessão da tarde" e que logo será esquecido! O filme não é ruim, mas está longe de ter o impacto de "Quem com ferro fere" ou, melhor ainda, de "A Casa" - embora essas sejam ótimas referências para quem quer experimentar "Remédio Amargo", já que segue a mesma linha de narrativa!

Angel (Mário Casas) é um paramédico com caráter duvidoso, com fortes traços paranóicos e possessivos, que leva uma vida monótona com sua namorada Vane (Déborah François). Certo dia, voltando de uma ocorrência, a ambulância de Angel sofre um acidente e ele acaba ficando paraplégico. A partir daí, com a autoestima lá embaixo, ele passa a ser cada vez mais abusivo com Vane até que ela resolve deixa-lo. Inconformado, Angel se transforma em um obsessivo patológico, transformando a vida da ex-namorada em um verdadeiro inferno! Confira o trailer original:

É inegável que "El Practicante" (título original) se apoia em um amontoado de clichês de gênero e mesmo trazendo muitas referência de "Louca Obsessão" (1990), não consegue ser aproxima do nível de tensão e da potência visual que foi o filme Rob Reiner - que inclusive rendeu o Oscar de "Melhor Atriz" para Kathy Bates em 1991. Com tudo, não se pode dizer que essa produção espanhola não seja um bom entretenimento, especialmente para um público menos exigente e disposto em embarcar em uma história previsível, mas que vai render alguns bons momentos. 

O roteiro de "Remédio Amargo" até se esforça, mas não surpreende. David Desola, que também esteve a frente de "O Poço", parece ter escolhido um caminho mais seguro dessa veze com isso acabou se afastando de uma identidade que parecia bastante promissora ao discutir temas difíceis com o auxílio da semiótica. Ao trazer um personagem interessante como Angel, Desola flertou com a construção de uma psiquê bem elaborada, profunda e complexa, como a de Goreng (Ivan Massagué), por exemplo, mas com o decorrer do filme, o próprio texto vai colocando o trabalho de Mário Casas no "lugar comum". As soluções narrativas são fracas e os diálogos muitos inconstantes para quem tinha a pretensão de entregar um filme denso.

A direção Carles Torras é competente, mas também sofre com  o amontoado de clichês. O fato do filme se passar 80% dentro da casa de Angel não foi verdadeiramente bem aproveitado - o que eu quero dizer, é que não existe aquela sensação claustrofóbica do cárcere privado! Se faltou algo para Torras, talvez tenha sido a liberdade (ou a personalidade) de colocar um conceito mais autoral dentro daquela narrativa. Existe uma certa tensão, mas como tudo é tão óbvio, não mergulhamos naquele universo, apenas assistimos, nos divertimos e pronto! A fotografia do Juan Sebastián Vasquez e a trilha sonora até ajudam na construção do clima, mas não resolvem, ou melhor, não são suficientes para nos incomodar como pareceu ser o caso após 30 minutos de filme.

"Remédio Amargo" tem o mérito de ter uma trama envolvente e uma certa dinâmica que, de fato, conseguem nos prender - principalmente por nos colocar a dúvida de quão longe pode ir a loucura de Angel e onde esse comportamento vai acabar - e aqui cabe um comentário muito pessoal: faltou a coragem de Paco Plaza ("Quem com ferro fere") para surpreender ou nos tirar da zona de conforto com um final mais elaborado. Mais uma vez, vale o play pelo entretenimento "pipoca" do sábado chuvoso!

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"Remédio Amargo" é mais um filme espanhol da Netflix que entra no hype para quem gosta de suspense psicológico. O grande problema, porém, é que o filme também é mais uma "sessão da tarde" e que logo será esquecido! O filme não é ruim, mas está longe de ter o impacto de "Quem com ferro fere" ou, melhor ainda, de "A Casa" - embora essas sejam ótimas referências para quem quer experimentar "Remédio Amargo", já que segue a mesma linha de narrativa!

Angel (Mário Casas) é um paramédico com caráter duvidoso, com fortes traços paranóicos e possessivos, que leva uma vida monótona com sua namorada Vane (Déborah François). Certo dia, voltando de uma ocorrência, a ambulância de Angel sofre um acidente e ele acaba ficando paraplégico. A partir daí, com a autoestima lá embaixo, ele passa a ser cada vez mais abusivo com Vane até que ela resolve deixa-lo. Inconformado, Angel se transforma em um obsessivo patológico, transformando a vida da ex-namorada em um verdadeiro inferno! Confira o trailer original:

É inegável que "El Practicante" (título original) se apoia em um amontoado de clichês de gênero e mesmo trazendo muitas referência de "Louca Obsessão" (1990), não consegue ser aproxima do nível de tensão e da potência visual que foi o filme Rob Reiner - que inclusive rendeu o Oscar de "Melhor Atriz" para Kathy Bates em 1991. Com tudo, não se pode dizer que essa produção espanhola não seja um bom entretenimento, especialmente para um público menos exigente e disposto em embarcar em uma história previsível, mas que vai render alguns bons momentos. 

O roteiro de "Remédio Amargo" até se esforça, mas não surpreende. David Desola, que também esteve a frente de "O Poço", parece ter escolhido um caminho mais seguro dessa veze com isso acabou se afastando de uma identidade que parecia bastante promissora ao discutir temas difíceis com o auxílio da semiótica. Ao trazer um personagem interessante como Angel, Desola flertou com a construção de uma psiquê bem elaborada, profunda e complexa, como a de Goreng (Ivan Massagué), por exemplo, mas com o decorrer do filme, o próprio texto vai colocando o trabalho de Mário Casas no "lugar comum". As soluções narrativas são fracas e os diálogos muitos inconstantes para quem tinha a pretensão de entregar um filme denso.

A direção Carles Torras é competente, mas também sofre com  o amontoado de clichês. O fato do filme se passar 80% dentro da casa de Angel não foi verdadeiramente bem aproveitado - o que eu quero dizer, é que não existe aquela sensação claustrofóbica do cárcere privado! Se faltou algo para Torras, talvez tenha sido a liberdade (ou a personalidade) de colocar um conceito mais autoral dentro daquela narrativa. Existe uma certa tensão, mas como tudo é tão óbvio, não mergulhamos naquele universo, apenas assistimos, nos divertimos e pronto! A fotografia do Juan Sebastián Vasquez e a trilha sonora até ajudam na construção do clima, mas não resolvem, ou melhor, não são suficientes para nos incomodar como pareceu ser o caso após 30 minutos de filme.

"Remédio Amargo" tem o mérito de ter uma trama envolvente e uma certa dinâmica que, de fato, conseguem nos prender - principalmente por nos colocar a dúvida de quão longe pode ir a loucura de Angel e onde esse comportamento vai acabar - e aqui cabe um comentário muito pessoal: faltou a coragem de Paco Plaza ("Quem com ferro fere") para surpreender ou nos tirar da zona de conforto com um final mais elaborado. Mais uma vez, vale o play pelo entretenimento "pipoca" do sábado chuvoso!

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Room 104

"Room 104" é uma série na HBO, que chegou sem tanta publicidade, mas que é muito interessante! Na verdade, eu estava muito curioso pra conhecer esse projeto, pois é dos mesmos caras de uma outra série que eu gosto muito: "Togetherness" - os irmão Duplass!

A série traz a tendência das antologias para HBO, se não por temporada, episódica - ou seja, cada episódio tem começo, meio e fim! A pegada é muito focada no roteiro e não na produção - como os ingleses adoram fazer e fazem muito bem há anos, inclusive. São histórias independentes e com sub-gêneros diferentes, onde o ponto de conexão entre todas essas histórias é "apenas" o "Quarto número 104" de um hotel beira de estrada dos EUA e mais nada! Confira o trailer:

Como acontece em "Twilight Zone", por exemplo, posso adiantar: existem histórias melhores, outras piores... Umas mais dinâmicas, outras conceituais demais, mas o fato é que a maioria dos roteiros são muito inteligentes e os diretores transitam muito bem nessa pluralidade de histórias, gêneros e até conceitos estéticos / narrativos  - quase um experimento visual de luxo bancado pela HBO!

É uma série rápida com 12 episódios de 25 minutos, mas que não deve agradar todo mundo - então, só assista se você estiver disposto a se surpreender positivamente ou até negativamente com algum episódio e digo isso sem o receio de ser injusto, mas algumas pessoas tendem a gostar mais de um gênero do que de outro e assim por diante. "Room 104" é aquele tipo de série que depende muito de gosto!

A crítica adora, o publico é fiel e por isso já temos quatro temporadas produzidas! Vale o play e a surpresa em cada episódio.

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"Room 104" é uma série na HBO, que chegou sem tanta publicidade, mas que é muito interessante! Na verdade, eu estava muito curioso pra conhecer esse projeto, pois é dos mesmos caras de uma outra série que eu gosto muito: "Togetherness" - os irmão Duplass!

A série traz a tendência das antologias para HBO, se não por temporada, episódica - ou seja, cada episódio tem começo, meio e fim! A pegada é muito focada no roteiro e não na produção - como os ingleses adoram fazer e fazem muito bem há anos, inclusive. São histórias independentes e com sub-gêneros diferentes, onde o ponto de conexão entre todas essas histórias é "apenas" o "Quarto número 104" de um hotel beira de estrada dos EUA e mais nada! Confira o trailer:

Como acontece em "Twilight Zone", por exemplo, posso adiantar: existem histórias melhores, outras piores... Umas mais dinâmicas, outras conceituais demais, mas o fato é que a maioria dos roteiros são muito inteligentes e os diretores transitam muito bem nessa pluralidade de histórias, gêneros e até conceitos estéticos / narrativos  - quase um experimento visual de luxo bancado pela HBO!

É uma série rápida com 12 episódios de 25 minutos, mas que não deve agradar todo mundo - então, só assista se você estiver disposto a se surpreender positivamente ou até negativamente com algum episódio e digo isso sem o receio de ser injusto, mas algumas pessoas tendem a gostar mais de um gênero do que de outro e assim por diante. "Room 104" é aquele tipo de série que depende muito de gosto!

A crítica adora, o publico é fiel e por isso já temos quatro temporadas produzidas! Vale o play e a surpresa em cada episódio.

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Rua Cloverfield, 10

"Rua Cloverfield, 10" é realmente um drama dos mais envolventes justamente por não respeitar os limites de gênero - se em um primeiro momento achamos que estamos imersos em um profundo e tenso drama psicológico, em algum momento você terá a certeza de que se trata mesmo é de um angustiante thriller de suspense até que finalmente somos arremessados em uma bem estruturada e empolgante ficção cientifica! O fato é que se você é fã de cinema-raiz e valoriza histórias, de fato, cativantes, "Rua Cloverfield, 10" não deve (e não pode) passar despercebido. Dirigido por Dan Trachtenberg (de "O Predador: A Caçada"), o filme se destaca pela sua narrativa intrigante com que discute as nuances mais cruéis da "Arte da Sobrevivência".

Michelle (Mary Elizabeth Winstead) é uma mulher que, após um acidente de carro, acorda em um bunker subterrâneo com um estranho chamado Howard (John Goodman). Howard alega que o mundo exterior foi devastado por um ataque químico e que eles são os únicos sobreviventes. Com a incerteza pairando no ar, Michelle e um terceiro habitante, Emmett (John Gallagher Jr.), devem aprender a confiar um no outro enquanto tentam descobrir a verdade sobre o que realmente aconteceu lá fora. Confira o trailer:

É inegável;l que "Rua Cloverfield, 10" se destaca mesmo é por sua habilidade em criar uma atmosfera realmente tensa, intensa e claustrofóbica. A direção de Trachtenberg se aproveita da premissa do desconhecido e do gatilho da dúvida para construir uma narrativa excepcional, conseguindo nos manter em um nível de tensão que só cresce ao longo do filme - e isso é raríssimo (lembram de "Sinais"?)! A fotografia do Jeff Cutter (de "Daisy Jones & The Six") se concentra basicamente dentro de um bunker escuro e misterioso, fazendo com que suas lentes amplifiquem a sensação de isolamento e de paranoia dos personagens de uma maneira impressionante. A performance de John Goodman é verdadeiramente arrepiante, ele incorpora perfeitamente a complexidade de seu personagem, alternando entre momentos de compaixão e ameaça - essa dualidade de Howard é justamente o que nos faz entender o tamanho do drama de Michelle.

A trilha sonora, composta pelo genial Bear McCreary (de "Da Vinci's Demons", "Outlander" e muitos outros) adiciona camadas puramente emocionais à narrativa, aumentando ainda mais a sensação de perigo iminente. Os detalhes meticulosos na direção Trachtenberg se confundem com as performances do elenco, com a enorme capacidade da produção em nos colocar dentro de um cenário catastrófico que vai desde aquele bunker até os efeitos especiais que experienciamos no terceiro ato - a contribuição dessa harmonia de elementos técnicos e artísticos para a autenticidade da história, mesmo sendo uma ficção cientifica, é genial.

Dito isso, é muito fácil atestar que o que torna "Rua Cloverfield, 10" ainda mais fascinante, certamente, é a forma como o roteiro desafia as nossas expectativas e brinca com a nossa percepção de realidade. A trama é repleta de reviravoltas surpreendentes que nos mantêm constantemente intrigados e ansiosos por respostas - que muitas vezes podem não vir (então não espere uma jornada fácil ou didática demais). Reparem como a desconstrução gradual da personagem de Michelle é particularmente interessante - a medida que ela passa de uma vítima assustada para uma protagonista resiliente, ganhamos ainda mais em ação e emoção! Esse é o tom!

"Rua Cloverfield, 10" é um verdadeiro retrato sobre a luta pela sobrevivência em meio ao caos e pelo real sentido da vida! Vale muito o seu play!

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"Rua Cloverfield, 10" é realmente um drama dos mais envolventes justamente por não respeitar os limites de gênero - se em um primeiro momento achamos que estamos imersos em um profundo e tenso drama psicológico, em algum momento você terá a certeza de que se trata mesmo é de um angustiante thriller de suspense até que finalmente somos arremessados em uma bem estruturada e empolgante ficção cientifica! O fato é que se você é fã de cinema-raiz e valoriza histórias, de fato, cativantes, "Rua Cloverfield, 10" não deve (e não pode) passar despercebido. Dirigido por Dan Trachtenberg (de "O Predador: A Caçada"), o filme se destaca pela sua narrativa intrigante com que discute as nuances mais cruéis da "Arte da Sobrevivência".

Michelle (Mary Elizabeth Winstead) é uma mulher que, após um acidente de carro, acorda em um bunker subterrâneo com um estranho chamado Howard (John Goodman). Howard alega que o mundo exterior foi devastado por um ataque químico e que eles são os únicos sobreviventes. Com a incerteza pairando no ar, Michelle e um terceiro habitante, Emmett (John Gallagher Jr.), devem aprender a confiar um no outro enquanto tentam descobrir a verdade sobre o que realmente aconteceu lá fora. Confira o trailer:

É inegável;l que "Rua Cloverfield, 10" se destaca mesmo é por sua habilidade em criar uma atmosfera realmente tensa, intensa e claustrofóbica. A direção de Trachtenberg se aproveita da premissa do desconhecido e do gatilho da dúvida para construir uma narrativa excepcional, conseguindo nos manter em um nível de tensão que só cresce ao longo do filme - e isso é raríssimo (lembram de "Sinais"?)! A fotografia do Jeff Cutter (de "Daisy Jones & The Six") se concentra basicamente dentro de um bunker escuro e misterioso, fazendo com que suas lentes amplifiquem a sensação de isolamento e de paranoia dos personagens de uma maneira impressionante. A performance de John Goodman é verdadeiramente arrepiante, ele incorpora perfeitamente a complexidade de seu personagem, alternando entre momentos de compaixão e ameaça - essa dualidade de Howard é justamente o que nos faz entender o tamanho do drama de Michelle.

A trilha sonora, composta pelo genial Bear McCreary (de "Da Vinci's Demons", "Outlander" e muitos outros) adiciona camadas puramente emocionais à narrativa, aumentando ainda mais a sensação de perigo iminente. Os detalhes meticulosos na direção Trachtenberg se confundem com as performances do elenco, com a enorme capacidade da produção em nos colocar dentro de um cenário catastrófico que vai desde aquele bunker até os efeitos especiais que experienciamos no terceiro ato - a contribuição dessa harmonia de elementos técnicos e artísticos para a autenticidade da história, mesmo sendo uma ficção cientifica, é genial.

Dito isso, é muito fácil atestar que o que torna "Rua Cloverfield, 10" ainda mais fascinante, certamente, é a forma como o roteiro desafia as nossas expectativas e brinca com a nossa percepção de realidade. A trama é repleta de reviravoltas surpreendentes que nos mantêm constantemente intrigados e ansiosos por respostas - que muitas vezes podem não vir (então não espere uma jornada fácil ou didática demais). Reparem como a desconstrução gradual da personagem de Michelle é particularmente interessante - a medida que ela passa de uma vítima assustada para uma protagonista resiliente, ganhamos ainda mais em ação e emoção! Esse é o tom!

"Rua Cloverfield, 10" é um verdadeiro retrato sobre a luta pela sobrevivência em meio ao caos e pelo real sentido da vida! Vale muito o seu play!

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Servant

Servant

"Servant", série da Apple TV+, já havia me chamado a atenção desde os primeiros teasers até seu trailer final. Primeiro por ser um suspense psicológico - gênero que eu gosto muito - e depois por ter M. Night Shyamalan como produtor executivo. Claro que a sinopse misteriosa ajudou a criar uma certa expectativa pelo seu lançamento e conforme as informações sobre a história foram surgindo, mais dúvidas do que certezas rodearam o projeto.

Pois bem, "Servant" conta o drama de Dorothy e Sean Turner que vivem o drama da perda repentina do filho de treze semanas, Jericho. Com um intuito terapêutico, Dorothy passa a se relacionar com um boneco, um bebê ultra realista, como se fosse seu filho real - e o bizarro não para por aí: para valorizar ainda mais o tratamento, o casal é orientado a contratar um babá para tornar o dia a dia bem próximo da realidade, acontece que a nova contratada começa a agir de uma forma tão estranha quanto Dorothy, o que acaba incomodando Sean e interferindo perigosamente na relação do casal. O que eu disser a partir daqui pode soar como spolier, então vou sugerir que você assista a série se gostar de um suspense bem montado e muito instigante. Vale ressaltar que os episódios são de 30 minutos, o que nos convida a sempre assistir o próximo episódio, pois a trama vai envolvendo e a curiosidade só aumenta conforme algumas respostas vão sendo colocadas pelo roteiro. Ah, sobre a dúvida que o projeto está gerando? Simples, é muito difícil que a série seja capaz de manter esse clima dos primeiros episódios durante as 6 temporadas prometidas por Shyamalan. Parece não ter fôlego para isso, mas é preciso esperar; enquanto isso a diversão está garantida!

Embora eu não tenha conseguido parar de assistir, algumas coisas me incomodaram em "Servant". A primeira é o fato do M. Night Shyamalan só ter dirigido o primeiro episódio - eu sei que é inviável um diretor como ele se comprometer com a direção do projeto inteiro, mas a diferença na gramática cinematográfica do primeiro episódio para os demais é enorme! Shyamalan é um dos diretores mais criativos que acompanho. Já comentei aquio quanto admiro sua capacidade de contar uma história sem a necessidade de ficar trocando a câmera de lugar em todo momento - ele tem um estilo muito claro e isso me fascina! Nos demais episódios, toda essa inventividade some e o "arroz com feijão" (muito bem feito, ok) impera! Não sei, faltou uma unidade conceitual - vou dar um exemplo: existe uma cena no episódio 1 onde o casal está conversando na cozinha. A câmera fica fixa na ponta da mesa e o atores entram e saem de quadro a todo momento, nem vemos o rosto deles direito, mas o diálogo não para e isso nos gera uma sensação ruim (bem alinhado com o mood da série). Outro detalhe, Shyamalan brinca muito com os planos fechados (close) durante alguns diálogos e isso dá uma certa sensação de claustrofobia - mais uma vez extremamente alinhado ao conceito narrativo na série que se passa 90% dentro do mesmo lugar: uma casa escura, elegante, porém decadente. A fotografia de Mike Gioulakis está espetacular - ele brinca com a sombra como ninguém (basta lembrar de "Nós"), mas isso é a única coisa que fica, o resto simplesmente desaparece nos demais episódios - uma pena!

A outra coisa que me incomoda é que a história que a série se propõe contar, termina logo depois do primeiro episódio e a partir daí o problema continua, mas o elemento mais aterrorizante some - ok, acho até que o roteiro soube trabalhar com isso, mas se você viu o teaser e depois o trailer, a entrega perde o sentido. O suspense psicológico está ali, elementos sobrenaturais são parcialmente descartados (pelo menos até agora) e o bizarro se transforma em paranóia. Em contraponto, o clima envolvente merece ser elogiado, percebemos nos episódios uma certa sensação de ameaça constante, sem saber exatamente quem é o inimigo (ou onde ele está), aproveitando uma atmosfera que provoca a nossa imaginação - é impossível ter certeza sobre o que, exatamente, está acontecendo ali! 

Os atores estão ótimos: Dorothy (Lauren Ambrose de Arquivo X) está sensacional como uma "mãe" que não entende o que a maternidade representa, pelo simples fato do seu filho não existir - ela sabe, mas não aceita ou ignora! É interessante como ela se apoia no trabalho como repórter para se colocar acima do marido Sean (Toby Kebbell de Black Mirror) um inseguro crítico e consultor gastronômico - reparem nas reportagens de Dorothy: é possível perceber um desequilíbrio que só justifica suas ações dentro de casa. E em Sean, como ele se relaciona com suas criações - o sorvete de lagosta é um ótimo exemplo. A Trilha Sonora é quase um personagem, mérito de Trevor Gureckis (de Bloodline) - muito presente, ela pontua cada momento da história!

"Servant" é o tipo da série que adoramos assistir, discutir, tentar adivinhar o que tudo aquilo representa, mas é também uma incógnita - daquelas que normalmente nos frustramos com o final. Vamos aguardar e acompanhar tudo com muita atenção! O que eu posso garantir, hoje, é que "Servant" é um excelente entretenimento e nos envolve com sua trama logo de cara. Vale a pena!

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"Servant", série da Apple TV+, já havia me chamado a atenção desde os primeiros teasers até seu trailer final. Primeiro por ser um suspense psicológico - gênero que eu gosto muito - e depois por ter M. Night Shyamalan como produtor executivo. Claro que a sinopse misteriosa ajudou a criar uma certa expectativa pelo seu lançamento e conforme as informações sobre a história foram surgindo, mais dúvidas do que certezas rodearam o projeto.

Pois bem, "Servant" conta o drama de Dorothy e Sean Turner que vivem o drama da perda repentina do filho de treze semanas, Jericho. Com um intuito terapêutico, Dorothy passa a se relacionar com um boneco, um bebê ultra realista, como se fosse seu filho real - e o bizarro não para por aí: para valorizar ainda mais o tratamento, o casal é orientado a contratar um babá para tornar o dia a dia bem próximo da realidade, acontece que a nova contratada começa a agir de uma forma tão estranha quanto Dorothy, o que acaba incomodando Sean e interferindo perigosamente na relação do casal. O que eu disser a partir daqui pode soar como spolier, então vou sugerir que você assista a série se gostar de um suspense bem montado e muito instigante. Vale ressaltar que os episódios são de 30 minutos, o que nos convida a sempre assistir o próximo episódio, pois a trama vai envolvendo e a curiosidade só aumenta conforme algumas respostas vão sendo colocadas pelo roteiro. Ah, sobre a dúvida que o projeto está gerando? Simples, é muito difícil que a série seja capaz de manter esse clima dos primeiros episódios durante as 6 temporadas prometidas por Shyamalan. Parece não ter fôlego para isso, mas é preciso esperar; enquanto isso a diversão está garantida!

Embora eu não tenha conseguido parar de assistir, algumas coisas me incomodaram em "Servant". A primeira é o fato do M. Night Shyamalan só ter dirigido o primeiro episódio - eu sei que é inviável um diretor como ele se comprometer com a direção do projeto inteiro, mas a diferença na gramática cinematográfica do primeiro episódio para os demais é enorme! Shyamalan é um dos diretores mais criativos que acompanho. Já comentei aquio quanto admiro sua capacidade de contar uma história sem a necessidade de ficar trocando a câmera de lugar em todo momento - ele tem um estilo muito claro e isso me fascina! Nos demais episódios, toda essa inventividade some e o "arroz com feijão" (muito bem feito, ok) impera! Não sei, faltou uma unidade conceitual - vou dar um exemplo: existe uma cena no episódio 1 onde o casal está conversando na cozinha. A câmera fica fixa na ponta da mesa e o atores entram e saem de quadro a todo momento, nem vemos o rosto deles direito, mas o diálogo não para e isso nos gera uma sensação ruim (bem alinhado com o mood da série). Outro detalhe, Shyamalan brinca muito com os planos fechados (close) durante alguns diálogos e isso dá uma certa sensação de claustrofobia - mais uma vez extremamente alinhado ao conceito narrativo na série que se passa 90% dentro do mesmo lugar: uma casa escura, elegante, porém decadente. A fotografia de Mike Gioulakis está espetacular - ele brinca com a sombra como ninguém (basta lembrar de "Nós"), mas isso é a única coisa que fica, o resto simplesmente desaparece nos demais episódios - uma pena!

A outra coisa que me incomoda é que a história que a série se propõe contar, termina logo depois do primeiro episódio e a partir daí o problema continua, mas o elemento mais aterrorizante some - ok, acho até que o roteiro soube trabalhar com isso, mas se você viu o teaser e depois o trailer, a entrega perde o sentido. O suspense psicológico está ali, elementos sobrenaturais são parcialmente descartados (pelo menos até agora) e o bizarro se transforma em paranóia. Em contraponto, o clima envolvente merece ser elogiado, percebemos nos episódios uma certa sensação de ameaça constante, sem saber exatamente quem é o inimigo (ou onde ele está), aproveitando uma atmosfera que provoca a nossa imaginação - é impossível ter certeza sobre o que, exatamente, está acontecendo ali! 

Os atores estão ótimos: Dorothy (Lauren Ambrose de Arquivo X) está sensacional como uma "mãe" que não entende o que a maternidade representa, pelo simples fato do seu filho não existir - ela sabe, mas não aceita ou ignora! É interessante como ela se apoia no trabalho como repórter para se colocar acima do marido Sean (Toby Kebbell de Black Mirror) um inseguro crítico e consultor gastronômico - reparem nas reportagens de Dorothy: é possível perceber um desequilíbrio que só justifica suas ações dentro de casa. E em Sean, como ele se relaciona com suas criações - o sorvete de lagosta é um ótimo exemplo. A Trilha Sonora é quase um personagem, mérito de Trevor Gureckis (de Bloodline) - muito presente, ela pontua cada momento da história!

"Servant" é o tipo da série que adoramos assistir, discutir, tentar adivinhar o que tudo aquilo representa, mas é também uma incógnita - daquelas que normalmente nos frustramos com o final. Vamos aguardar e acompanhar tudo com muita atenção! O que eu posso garantir, hoje, é que "Servant" é um excelente entretenimento e nos envolve com sua trama logo de cara. Vale a pena!

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Somos o que Somos

"Somos o que Somos" é um suspense surpreendente em muitos aspectos, mas talvez o que mais me chamou atenção tenha sido a maneira como o diretor Jim Mickle construiu a tensão em cima do drama familiar pelo ponto de vista de uma das filhas e sem precisar entregar tudo tão mastigado - mesmo que para alguns possa parecer que o roteiro tenha sido preguiçoso ao não criar as conexões ideais para aquele final que, de fato, eu não esperava! Ah, e me parece que o filme segue aquela tendência muito particular das produções recentes do gênero: ou você vai amar, ou você vai odiar - eu amei e vou explicar em detalhes a razão!

Em uma cidade do interior dos EUA, mora a família Parker. Frank (Bill Sage), o pai, é um homem bastante reservado, mas que insiste em manter as tradições familiares e religiosas, mesmo depois da morte prematura de sua esposa. Com isso, a filha mais velha do casal, Iris (Ambyr Childers) passa a ser responsável por alguns rituais bastante peculiares, mesmo contra a vontade da irmã mais nova, Rose (Julia Garner). Acontece, que após o desaparecimento de mais uma jovem estudante local, se inicia uma investigação e uma série de circunstâncias passam a revelar importantes segredos dos Parker, mudando completamente a maneira como a familia se relaciona entre si e com aquela comunidade. Confira o trailer (em inglês):

"Somos o que Somos" é a versão americana do filme mexicano "Somos Lo que Hay" de 2010, em que Mickle repete sua parceria de sucesso com o roteirista Nick Damici para entregar uma adaptação simples, mas bastante fluida. Dividindo toda história em apenas quatro dias, o roteiro levanta questões importantes como o fundamentalismo religioso e seu reflexo nas gerações mais novas ao mesmo tempo que consegue transmitir um certo suspense que funciona muito bem como ponto de equilíbrio entre a melancolia dos personagens e a tensão cinematográfica do gênero.

É um ótimo entretenimento e vai agradar quem gostou de "Midsommar" do Ari Aster ou "O Chalé" da dupla Severin Fiala e Veronika Franz.

Com um orçamento bem abaixo dos padrões americanos, Mickle optou por investir menos em perfurarias e mais no trabalho íntimo dos atores, criando assim um ritmo diferenciado, que pode até parecer arrastado no começo, mas que vai crescendo, até culminar em um final, digamos, empolgante! Dois elementos ajudam muito nessa dinâmica narrativa. O primeiro, sem dúvida, é a bela fotografia do diretor Ryan Samul. Os belos enquadramentos, tendo um pano de fundo bastante gélido, se encaixam perfeitamente com os movimentos de câmera precisos para criar, de forma bastante orgânica, a tensão que o filme pede. Alinhado a esse trabalho, está o segundo elemento de destaque: a mixagem! Com um desenho de som excelente e uma trilha sonora melancólica, a mixagem constrói o retrato definitivo de uma vida pacata ao mesmo tempo em que mascara a loucura e a angustia das situações que aqueles personagens estão passando. Reparem!

No elenco é preciso destacar o trabalho das talentosas Ambyr Childers e, principalmente, Julia Garner - elas estão perfeitas, no tom exato, mesmo com uma maquiagem que, na minha opinião, tirou a naturalidade de algumas ações das personagens. Michael Parks como o Doutor Barrow também está ótimo. Apenas Bill Sage que me pareceu um pouco perdido entre a loucura e a crença cega - em muitos momentos esses traços de personalidade se confundem e mais atrapalha do que nos provoca (soa fake). Ainda no assunto interpretação, vale comentar sobre ótimo trabalho do Jim Mickle com os atores - todos bem alinhados ao tom que ele escolheu para o filme, muito pautado no silêncio, no receio do próximo passo, na respiração e no medo particular de cada uma dos personagens. Tenho a certeza que esse alinhamento conceitual foi fundamental para a experiência que o filme oferece!

De fato o roteiro tem algumas inconsistências, mas em nada atrapalha na jornada. Algumas passagens ficam sem maiores explicações, alguns personagens simplesmente aparecem ou somem sem muita coerência e até algumas motivações soam muito superficiais, mas como comentei: se focarmos no drama das irmãs Parker, tudo que não foi devidamente esclarecido ou que pareça fora dos trilhos, passam a servir de gatilho para criamos nossa própria versão dos fatos, já que não interferem ativamente em nada no resultado final do filme - ajudaria se tudo se encaixasse? Sim, mas digamos que as peças soltas servem apenas para compor o cenário e não a trama!

"Somos o que Somos" começa morno, mas vai esquentando até entrar em completa ebulição no terceiro ato, com os 5 minutos finais justificando a indicação de 18 anos que o filme recebeu quando estreou nos cinemas em 2013. Se você gosta de um suspense, mais próximo do drama do que do terror, eu não perderia esse filme por nada! Vale seu play!

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"Somos o que Somos" é um suspense surpreendente em muitos aspectos, mas talvez o que mais me chamou atenção tenha sido a maneira como o diretor Jim Mickle construiu a tensão em cima do drama familiar pelo ponto de vista de uma das filhas e sem precisar entregar tudo tão mastigado - mesmo que para alguns possa parecer que o roteiro tenha sido preguiçoso ao não criar as conexões ideais para aquele final que, de fato, eu não esperava! Ah, e me parece que o filme segue aquela tendência muito particular das produções recentes do gênero: ou você vai amar, ou você vai odiar - eu amei e vou explicar em detalhes a razão!

Em uma cidade do interior dos EUA, mora a família Parker. Frank (Bill Sage), o pai, é um homem bastante reservado, mas que insiste em manter as tradições familiares e religiosas, mesmo depois da morte prematura de sua esposa. Com isso, a filha mais velha do casal, Iris (Ambyr Childers) passa a ser responsável por alguns rituais bastante peculiares, mesmo contra a vontade da irmã mais nova, Rose (Julia Garner). Acontece, que após o desaparecimento de mais uma jovem estudante local, se inicia uma investigação e uma série de circunstâncias passam a revelar importantes segredos dos Parker, mudando completamente a maneira como a familia se relaciona entre si e com aquela comunidade. Confira o trailer (em inglês):

"Somos o que Somos" é a versão americana do filme mexicano "Somos Lo que Hay" de 2010, em que Mickle repete sua parceria de sucesso com o roteirista Nick Damici para entregar uma adaptação simples, mas bastante fluida. Dividindo toda história em apenas quatro dias, o roteiro levanta questões importantes como o fundamentalismo religioso e seu reflexo nas gerações mais novas ao mesmo tempo que consegue transmitir um certo suspense que funciona muito bem como ponto de equilíbrio entre a melancolia dos personagens e a tensão cinematográfica do gênero.

É um ótimo entretenimento e vai agradar quem gostou de "Midsommar" do Ari Aster ou "O Chalé" da dupla Severin Fiala e Veronika Franz.

Com um orçamento bem abaixo dos padrões americanos, Mickle optou por investir menos em perfurarias e mais no trabalho íntimo dos atores, criando assim um ritmo diferenciado, que pode até parecer arrastado no começo, mas que vai crescendo, até culminar em um final, digamos, empolgante! Dois elementos ajudam muito nessa dinâmica narrativa. O primeiro, sem dúvida, é a bela fotografia do diretor Ryan Samul. Os belos enquadramentos, tendo um pano de fundo bastante gélido, se encaixam perfeitamente com os movimentos de câmera precisos para criar, de forma bastante orgânica, a tensão que o filme pede. Alinhado a esse trabalho, está o segundo elemento de destaque: a mixagem! Com um desenho de som excelente e uma trilha sonora melancólica, a mixagem constrói o retrato definitivo de uma vida pacata ao mesmo tempo em que mascara a loucura e a angustia das situações que aqueles personagens estão passando. Reparem!

No elenco é preciso destacar o trabalho das talentosas Ambyr Childers e, principalmente, Julia Garner - elas estão perfeitas, no tom exato, mesmo com uma maquiagem que, na minha opinião, tirou a naturalidade de algumas ações das personagens. Michael Parks como o Doutor Barrow também está ótimo. Apenas Bill Sage que me pareceu um pouco perdido entre a loucura e a crença cega - em muitos momentos esses traços de personalidade se confundem e mais atrapalha do que nos provoca (soa fake). Ainda no assunto interpretação, vale comentar sobre ótimo trabalho do Jim Mickle com os atores - todos bem alinhados ao tom que ele escolheu para o filme, muito pautado no silêncio, no receio do próximo passo, na respiração e no medo particular de cada uma dos personagens. Tenho a certeza que esse alinhamento conceitual foi fundamental para a experiência que o filme oferece!

De fato o roteiro tem algumas inconsistências, mas em nada atrapalha na jornada. Algumas passagens ficam sem maiores explicações, alguns personagens simplesmente aparecem ou somem sem muita coerência e até algumas motivações soam muito superficiais, mas como comentei: se focarmos no drama das irmãs Parker, tudo que não foi devidamente esclarecido ou que pareça fora dos trilhos, passam a servir de gatilho para criamos nossa própria versão dos fatos, já que não interferem ativamente em nada no resultado final do filme - ajudaria se tudo se encaixasse? Sim, mas digamos que as peças soltas servem apenas para compor o cenário e não a trama!

"Somos o que Somos" começa morno, mas vai esquentando até entrar em completa ebulição no terceiro ato, com os 5 minutos finais justificando a indicação de 18 anos que o filme recebeu quando estreou nos cinemas em 2013. Se você gosta de um suspense, mais próximo do drama do que do terror, eu não perderia esse filme por nada! Vale seu play!

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The Third Day

"The third day" surgiu como uma aposta da HBO, um novo modelo narrativo, uma experiência audiovisual: a minissérie foi criada com duas fases de três de episódios, cada uma delas focada em um protagonista, Sam (Jude Law) e Helen (Naomie Harris), respectivamente, e que seriam conectadas por uma espécie de livestream nas redes sociais com duração de 12 horas ininterruptas, em apenas um plano sequência e com os mesmos atores. Esse projeto do Dennis Kelly (Utopia) em parceria com Felix Barrett, da companhia teatral "Punchdrunk", pode ser analisado de duas formas: como uma ótima estratégia de marketing em tempos de pandemia e pela qualidade do produto que está disponível no streaming da HBO - vou focar na segunda opção e com o máximo de cuidado para não soltar nenhum spoiler!

Na história, após sofrer uma tragédia familiar, Sam está fazendo uma viagem pela costa da Inglaterra, sozinho, quando encontra uma jovem em perigo. Ao salvar a vida de Epona (Jessie Ross), ele resolve acompanha-la até sua casa - mesmo contra a vontade da garota. O grande problema é que Epona mora em um lugar bastante peculiar: uma ilha chamada Osea, um pedaço de terra que está ligado ao continente apenas por uma sinuosa e estreita estradinha, que só aparece poucos minutos por dia, quando a maré está baixa. Ao chegar em Osea, Sam percebe que se trata de uma comunidade extremamente religiosa, aparentemente amigável, que está se preparando para um tradicional festival. Pouco a pouco, porém, ele entende que alguns costumes dos habitantes da ilha são assustadores, mas Sam precisa manter a calma, lidar com suas incertezas (e fantasmas) até que a estrada esteja disponível novamente para que ele possa voltar ao continente sem causar problemas. Confira o trailer:

Se você gostou de "Midsommar" do Ari Aster pode dar um play sem medo - a história é bem semelhante e o conceito narrativo também. Se eu pudesse definir, eu diria que a primeira parte é mais autoral, uma aula de construção visual alinhada com uma narrativa interessante (e moderna) comandada pelo premiado diretor Marc Munden (O Jardim Secreto). Já na segunda parte, encontramos um conceito mais tradicional, mas não por isso mal executado pela diretora Philippa Lowthorpe (The Crown). Interessante que mesmo com um visual que não se conecta, cada uma das partes tem um identidade e uma razão para tal, o que nos dá a impressão que estamos assistindo produtos completamente independentes - mas não é o caso: tudo vai se conectar (vamos falar sobre isso mais a frente)!

Caso queira parar por aqui, "The third day" é um suspense psicológico com toques sobrenaturais que vai te entreter e entregar muitas respostas, mas tudo no seu tempo e, acredite, tudo que não for respondido só servirá para colocar a história em um patamar ainda mais interessante!

Quando terminamos de assistir a primeira parte da minissérie, temos a impressão de que tudo está resolvido e que podemos seguir para a segunda sem nos preocupar em fazer conexões que vão além do cenário que se passa a história: Osea. A própria dinâmica narrativa e visual nos motivam a pensar assim, mas quando Helen (Naomie Harris) e suas duas filhas, Ellie (Nico Parker) e Talulah (Charlotte Gairdner-Mihell) chegam na ilha percebemos uma total decadência, estabelecendo imediatamente uma atmosfera muito mais pesada, opressora, antipática - um mood totalmente oposto de quando Sam chegou. Ao nos depararmos com os mesmos personagens, automaticamente entendemos que não só o cenário é igual, mas que, mesmo sem uma indicação temporal exata, a história continuou. Mais uma vez, Paddy Considine e Emily Watson, como Sr. e Sra. Martin, são os anfitriões, mas será só no final do episódio 4 que tudo fará sentido e te prenderá até o final!

Um ponto interessante e que merece elogios é a maneira como Dennis Kelly foi amarrando todos detalhes mesmo respeitando as diferenças entre as partes: o que era mais introspectivo com Sam, onde a tensão estava dentro do protagonista, agora ganha um tom mais próximo do horror visual, com os habitantes da ilha praticamente transformados em entidades do mal. Helen, que chega na ilha com a desculpa de comemorar o aniversário de Ellie, sua filha mais velha, não entende muito bem o que está acontecendo ao seu redor e é por isso que somos convidados à se relacionar com as consequências do que aconteceu na primeira parte, quase como se soubéssemos todas as respostas - e, claro, não sabemos de nada! Ao nos induzir a acreditar que os protagonistas são Sam e Helen e que suas histórias são completamente independentes, o roteiro ganha em qualidade sem roubar no jogo!

Como o já citado "Midsommar""The third day"não agradará a todos e não será um entretenimento dos mais fáceis de assistir, mas é um fato que Dennis Kelly aproveita a tendência de narrativas menos convencionais, apoiadas em um movimento que enaltecesse o terror psicológico onde o visual que choca é cirurgicamente pontuado apenas para servir como apoio, para entregar uma minissérie de altíssima qualidade técnica e artística, e que nos provoca a cada episódio.

Série com o carimbo HBO, experimentando sempre!

Curiosidade: A premissa é baseada em fatos reais, já que a Ilha de Osea, localizada no estuário do rio Blackwater, em Essex, no leste da Inglaterra, realmente existe e ela realmente é conectada à margem por uma estrada sinuosa que só aparece em maré baixa. Além disso, ela foi de propriedade de Frederick Nicholas Charrington, herdeiro de uma família cervejeira milionária que abriu mão da fortuna para criar uma clínica de tratamento de vícios na ilha, resultando em uma espécie de culto. E, como se isso não bastasse, Charrington foi mesmo um dos investigados pela Scotland Yard por suspeita de ser Jack, o Estripador. (Fonte: Plano Crítico)

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"The third day" surgiu como uma aposta da HBO, um novo modelo narrativo, uma experiência audiovisual: a minissérie foi criada com duas fases de três de episódios, cada uma delas focada em um protagonista, Sam (Jude Law) e Helen (Naomie Harris), respectivamente, e que seriam conectadas por uma espécie de livestream nas redes sociais com duração de 12 horas ininterruptas, em apenas um plano sequência e com os mesmos atores. Esse projeto do Dennis Kelly (Utopia) em parceria com Felix Barrett, da companhia teatral "Punchdrunk", pode ser analisado de duas formas: como uma ótima estratégia de marketing em tempos de pandemia e pela qualidade do produto que está disponível no streaming da HBO - vou focar na segunda opção e com o máximo de cuidado para não soltar nenhum spoiler!

Na história, após sofrer uma tragédia familiar, Sam está fazendo uma viagem pela costa da Inglaterra, sozinho, quando encontra uma jovem em perigo. Ao salvar a vida de Epona (Jessie Ross), ele resolve acompanha-la até sua casa - mesmo contra a vontade da garota. O grande problema é que Epona mora em um lugar bastante peculiar: uma ilha chamada Osea, um pedaço de terra que está ligado ao continente apenas por uma sinuosa e estreita estradinha, que só aparece poucos minutos por dia, quando a maré está baixa. Ao chegar em Osea, Sam percebe que se trata de uma comunidade extremamente religiosa, aparentemente amigável, que está se preparando para um tradicional festival. Pouco a pouco, porém, ele entende que alguns costumes dos habitantes da ilha são assustadores, mas Sam precisa manter a calma, lidar com suas incertezas (e fantasmas) até que a estrada esteja disponível novamente para que ele possa voltar ao continente sem causar problemas. Confira o trailer:

Se você gostou de "Midsommar" do Ari Aster pode dar um play sem medo - a história é bem semelhante e o conceito narrativo também. Se eu pudesse definir, eu diria que a primeira parte é mais autoral, uma aula de construção visual alinhada com uma narrativa interessante (e moderna) comandada pelo premiado diretor Marc Munden (O Jardim Secreto). Já na segunda parte, encontramos um conceito mais tradicional, mas não por isso mal executado pela diretora Philippa Lowthorpe (The Crown). Interessante que mesmo com um visual que não se conecta, cada uma das partes tem um identidade e uma razão para tal, o que nos dá a impressão que estamos assistindo produtos completamente independentes - mas não é o caso: tudo vai se conectar (vamos falar sobre isso mais a frente)!

Caso queira parar por aqui, "The third day" é um suspense psicológico com toques sobrenaturais que vai te entreter e entregar muitas respostas, mas tudo no seu tempo e, acredite, tudo que não for respondido só servirá para colocar a história em um patamar ainda mais interessante!

Quando terminamos de assistir a primeira parte da minissérie, temos a impressão de que tudo está resolvido e que podemos seguir para a segunda sem nos preocupar em fazer conexões que vão além do cenário que se passa a história: Osea. A própria dinâmica narrativa e visual nos motivam a pensar assim, mas quando Helen (Naomie Harris) e suas duas filhas, Ellie (Nico Parker) e Talulah (Charlotte Gairdner-Mihell) chegam na ilha percebemos uma total decadência, estabelecendo imediatamente uma atmosfera muito mais pesada, opressora, antipática - um mood totalmente oposto de quando Sam chegou. Ao nos depararmos com os mesmos personagens, automaticamente entendemos que não só o cenário é igual, mas que, mesmo sem uma indicação temporal exata, a história continuou. Mais uma vez, Paddy Considine e Emily Watson, como Sr. e Sra. Martin, são os anfitriões, mas será só no final do episódio 4 que tudo fará sentido e te prenderá até o final!

Um ponto interessante e que merece elogios é a maneira como Dennis Kelly foi amarrando todos detalhes mesmo respeitando as diferenças entre as partes: o que era mais introspectivo com Sam, onde a tensão estava dentro do protagonista, agora ganha um tom mais próximo do horror visual, com os habitantes da ilha praticamente transformados em entidades do mal. Helen, que chega na ilha com a desculpa de comemorar o aniversário de Ellie, sua filha mais velha, não entende muito bem o que está acontecendo ao seu redor e é por isso que somos convidados à se relacionar com as consequências do que aconteceu na primeira parte, quase como se soubéssemos todas as respostas - e, claro, não sabemos de nada! Ao nos induzir a acreditar que os protagonistas são Sam e Helen e que suas histórias são completamente independentes, o roteiro ganha em qualidade sem roubar no jogo!

Como o já citado "Midsommar""The third day"não agradará a todos e não será um entretenimento dos mais fáceis de assistir, mas é um fato que Dennis Kelly aproveita a tendência de narrativas menos convencionais, apoiadas em um movimento que enaltecesse o terror psicológico onde o visual que choca é cirurgicamente pontuado apenas para servir como apoio, para entregar uma minissérie de altíssima qualidade técnica e artística, e que nos provoca a cada episódio.

Série com o carimbo HBO, experimentando sempre!

Curiosidade: A premissa é baseada em fatos reais, já que a Ilha de Osea, localizada no estuário do rio Blackwater, em Essex, no leste da Inglaterra, realmente existe e ela realmente é conectada à margem por uma estrada sinuosa que só aparece em maré baixa. Além disso, ela foi de propriedade de Frederick Nicholas Charrington, herdeiro de uma família cervejeira milionária que abriu mão da fortuna para criar uma clínica de tratamento de vícios na ilha, resultando em uma espécie de culto. E, como se isso não bastasse, Charrington foi mesmo um dos investigados pela Scotland Yard por suspeita de ser Jack, o Estripador. (Fonte: Plano Crítico)

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The Voyeurs

Como "A Mulher na Janela", com Amy Adams e Julianne Moor, "The Voyeurs" (ou "Observadores") é um filme datado, típico dos anos 90, em uma época onde nossas referências eram infinitamente mais limitadas do que são hoje - digo isso, pois será necessário uma enorme dose de suspensão da realidade para embarcar no plot twist  que o roteirista e diretor Michael Mohan no oferece no final do segundo ato - e aqui cabe um comentário: a solução não é ruim, chega a ser até surpreendente, mas não é nada palpável tendo como base os inúmeros outros filmes ou séries do gênero que já assistimos com tantas ofertas por aí!

Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith) são um casal muito apaixonado que acabam de se mudar para um lindo apartamento, onde vão morar juntos pela primeira vez. Tudo é um mar de rosas para o casal até eles perceberem que, pela janela, conseguem acompanhar absolutamente tudo que se passa no apartamento de um vizinho do prédio em frente. Curiosos, os dois começam um excitante passatempo de observar a rotina do casal vizinho: o fotógrafo Seb (Ben Hardy) e a esposa Julia (Natasha Liu Bordizzo). Aos poucos, o que parecia uma mera diversão vai se tornando uma verdadeira obsessão para Pippa, e o enorme interesse que ela constrói sobre a vida de seus vizinhos começa a ameaçar o seu próprio relacionamento com Thomas. Confira o trailer:

É inegável que "The Voyeurs" toca em um assunto que soa fascinante para quase todo ser humano: a curiosidade de saber o que acontece atrás da parede ao lado (no caso, no prédio da frente). Com isso, nos conectamos rapidamente com o casal de protagonistas e entendemos aquela incontrolável sensação, muitas vezes excitante, de observar a vida alheia. Muito bem dirigido pelo Michael Mohan, a angustia de estarmos sendo observados acompanha a própria Pippa em muitos momentos do filme e a forma como Sweeney lida com essa "tensão" é quase tão provocadora quanto nos momentos em que ela mesmo passa a ser a observadora - e tudo isso não é por acaso, reparem. O trabalho da atriz (e não é o primeiro, basta lembrar de "The White Lotus") é sensacional, pois ela transita naquela linha tênue entre a curiosidade e a invasão de privacidade, deixando claro que sempre existe espaço para arriscar um pouco mais.

O grande problema do filme, na nossa opinião, não está na forma, mas sim no conteúdo. Os dois primeiros atos nos direcionam para um drama muito mais profundo, sensual e até provocador do que necessariamente para um suspense psicológico - o envolvimento entre os personagens cria um clima onde o medo de ser descoberto é até maior do que saber o que aconteceria se, de fato, fossemos descobertos! Acontece que a força dessa tensão vai se enfraquecendo durante o filme, pois a história parece não encontrar caminhos para manter esse mood, com isso assistimos somos apresentados para soluções pouco interessantes e quase sempre absurdas, que impactam na veracidade daquele bom drama e, claro, na relação entre os personagens com um conflito menos potente. 

Ao som de uma ótima versão de “Eyes without a face” na voz de Angel Olsen, "The Voyeurs" brinca com a melancolia do ser humano ao mesmo tempo em que provoca o fetiche da invasão de privacidade, mas sem se aprofundar em nenhum dos temas - e é isso que pode incomodar alguns. Ao estabelecer que o universo dos personagens-chave está em observar, no caso de Pippa em lidar com a visão das pessoas (ela trabalha em um consultório oftalmológico) e no caso de Seb em fotografar modelos maravilhosas, o roteiro força a barra em ter que provar que tudo faz sentido sempre. O que eu quero dizer é que se você não se apegar aos detalhes, "The Voyeurs" será um ótimo entretenimento. Se você também não se apegar ao realismo no pé da letra, o filme pode ser um entretenimento melhor ainda. Mas se você quiser algo inteligente, bem construído e cheio de camadas, esquece, esse filme pode não ser para você e nem foi feito para ser.

Vale a pena? Sim, nessa condições! Então só dê o play se estiver disposto embarcar em uma ótima diversão!

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Como "A Mulher na Janela", com Amy Adams e Julianne Moor, "The Voyeurs" (ou "Observadores") é um filme datado, típico dos anos 90, em uma época onde nossas referências eram infinitamente mais limitadas do que são hoje - digo isso, pois será necessário uma enorme dose de suspensão da realidade para embarcar no plot twist  que o roteirista e diretor Michael Mohan no oferece no final do segundo ato - e aqui cabe um comentário: a solução não é ruim, chega a ser até surpreendente, mas não é nada palpável tendo como base os inúmeros outros filmes ou séries do gênero que já assistimos com tantas ofertas por aí!

Pippa (Sydney Sweeney) e Thomas (Justice Smith) são um casal muito apaixonado que acabam de se mudar para um lindo apartamento, onde vão morar juntos pela primeira vez. Tudo é um mar de rosas para o casal até eles perceberem que, pela janela, conseguem acompanhar absolutamente tudo que se passa no apartamento de um vizinho do prédio em frente. Curiosos, os dois começam um excitante passatempo de observar a rotina do casal vizinho: o fotógrafo Seb (Ben Hardy) e a esposa Julia (Natasha Liu Bordizzo). Aos poucos, o que parecia uma mera diversão vai se tornando uma verdadeira obsessão para Pippa, e o enorme interesse que ela constrói sobre a vida de seus vizinhos começa a ameaçar o seu próprio relacionamento com Thomas. Confira o trailer:

É inegável que "The Voyeurs" toca em um assunto que soa fascinante para quase todo ser humano: a curiosidade de saber o que acontece atrás da parede ao lado (no caso, no prédio da frente). Com isso, nos conectamos rapidamente com o casal de protagonistas e entendemos aquela incontrolável sensação, muitas vezes excitante, de observar a vida alheia. Muito bem dirigido pelo Michael Mohan, a angustia de estarmos sendo observados acompanha a própria Pippa em muitos momentos do filme e a forma como Sweeney lida com essa "tensão" é quase tão provocadora quanto nos momentos em que ela mesmo passa a ser a observadora - e tudo isso não é por acaso, reparem. O trabalho da atriz (e não é o primeiro, basta lembrar de "The White Lotus") é sensacional, pois ela transita naquela linha tênue entre a curiosidade e a invasão de privacidade, deixando claro que sempre existe espaço para arriscar um pouco mais.

O grande problema do filme, na nossa opinião, não está na forma, mas sim no conteúdo. Os dois primeiros atos nos direcionam para um drama muito mais profundo, sensual e até provocador do que necessariamente para um suspense psicológico - o envolvimento entre os personagens cria um clima onde o medo de ser descoberto é até maior do que saber o que aconteceria se, de fato, fossemos descobertos! Acontece que a força dessa tensão vai se enfraquecendo durante o filme, pois a história parece não encontrar caminhos para manter esse mood, com isso assistimos somos apresentados para soluções pouco interessantes e quase sempre absurdas, que impactam na veracidade daquele bom drama e, claro, na relação entre os personagens com um conflito menos potente. 

Ao som de uma ótima versão de “Eyes without a face” na voz de Angel Olsen, "The Voyeurs" brinca com a melancolia do ser humano ao mesmo tempo em que provoca o fetiche da invasão de privacidade, mas sem se aprofundar em nenhum dos temas - e é isso que pode incomodar alguns. Ao estabelecer que o universo dos personagens-chave está em observar, no caso de Pippa em lidar com a visão das pessoas (ela trabalha em um consultório oftalmológico) e no caso de Seb em fotografar modelos maravilhosas, o roteiro força a barra em ter que provar que tudo faz sentido sempre. O que eu quero dizer é que se você não se apegar aos detalhes, "The Voyeurs" será um ótimo entretenimento. Se você também não se apegar ao realismo no pé da letra, o filme pode ser um entretenimento melhor ainda. Mas se você quiser algo inteligente, bem construído e cheio de camadas, esquece, esse filme pode não ser para você e nem foi feito para ser.

Vale a pena? Sim, nessa condições! Então só dê o play se estiver disposto embarcar em uma ótima diversão!

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Them

"Them" consegue ser ambígua e polêmica desde o título: a série tem sido traduzida por "Eles" e "Outros" nas diferentes plataformas e sites. Nessa série antológica de época, uma família afro-americana se muda para um bairro caucasiano e racista. Acompanhamos seus 10 primeiros dias no novo lar. Confira o trailer:

A qualidade técnica é indiscutível e a ambientação do subúrbio americano dos anos 50 é simplesmente impecável, dos carros à trilha sonora. O contexto histórico também é retratado: na primeira metade do século 20, cerca de 6 milhões de afro-americanos deixaram o sul – rural e ainda segregacionista – em direção a centros urbanos, noutras regiões do país, no movimento conhecido como Grande Migração.

Os elementos de tensão e horror são diversos e muito bem trabalhados: traumas do passado, vizinhança hostil, sociedade racista, pesadelos, entidades ameaçadoras... A realidade é dúbia e a dúvida é sustentada, pelo menos, até o ousado penúltimo episódio – um flashback em preto e branco, focado em um personagem que até então mal havia dado as caras.

Em vários momentos, porém, a ousadia se transforma num flerte com o sadismo: além do horror psicológico, há uma dezena de cenas de violência explícita e até tortura. Isso não seria um problema se a direção não cruzasse a linha da “violência que serve à história”.

A partir do polêmico 5º episódio – onde avisos de gatilho, não à toa, aparecem antes do início – a crítica social sucumbe em detrimento ao horror onde o propósito parece ser chocar a audiência. Basta ver como as recentes produções "Lovecraft Country", "Nós" e "Corra!" trabalham o mesmo tema (racismo), dentro do mesmo gênero (terror), de forma mais equilibrada.

O casal protagonista convence tanto nos momentos dramáticos quanto nos explosivos, o que não é fácil. Interpretações num tom acima ou abaixo, somadas à violência desviada da mensagem central, comprometeriam o resultado final. A principal "vilã" também se destaca: ela ganha camadas e se vê forçada a flexibilizar convicções durante a jornada, sempre com um sorriso amarelo acompanhado de iminentes lágrimas.

Usando alegorias sádicas e excessos narrativos para falar sobre luto, culpa e racismo, "Them" te desafia a assisti-la sem revirar os olhos (ou o estômago) pelo menos uma vez. Uma experiência intensa e perturbadora, que vale mais pela jornada!

Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria@dicastreaming

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"Them" consegue ser ambígua e polêmica desde o título: a série tem sido traduzida por "Eles" e "Outros" nas diferentes plataformas e sites. Nessa série antológica de época, uma família afro-americana se muda para um bairro caucasiano e racista. Acompanhamos seus 10 primeiros dias no novo lar. Confira o trailer:

A qualidade técnica é indiscutível e a ambientação do subúrbio americano dos anos 50 é simplesmente impecável, dos carros à trilha sonora. O contexto histórico também é retratado: na primeira metade do século 20, cerca de 6 milhões de afro-americanos deixaram o sul – rural e ainda segregacionista – em direção a centros urbanos, noutras regiões do país, no movimento conhecido como Grande Migração.

Os elementos de tensão e horror são diversos e muito bem trabalhados: traumas do passado, vizinhança hostil, sociedade racista, pesadelos, entidades ameaçadoras... A realidade é dúbia e a dúvida é sustentada, pelo menos, até o ousado penúltimo episódio – um flashback em preto e branco, focado em um personagem que até então mal havia dado as caras.

Em vários momentos, porém, a ousadia se transforma num flerte com o sadismo: além do horror psicológico, há uma dezena de cenas de violência explícita e até tortura. Isso não seria um problema se a direção não cruzasse a linha da “violência que serve à história”.

A partir do polêmico 5º episódio – onde avisos de gatilho, não à toa, aparecem antes do início – a crítica social sucumbe em detrimento ao horror onde o propósito parece ser chocar a audiência. Basta ver como as recentes produções "Lovecraft Country", "Nós" e "Corra!" trabalham o mesmo tema (racismo), dentro do mesmo gênero (terror), de forma mais equilibrada.

O casal protagonista convence tanto nos momentos dramáticos quanto nos explosivos, o que não é fácil. Interpretações num tom acima ou abaixo, somadas à violência desviada da mensagem central, comprometeriam o resultado final. A principal "vilã" também se destaca: ela ganha camadas e se vê forçada a flexibilizar convicções durante a jornada, sempre com um sorriso amarelo acompanhado de iminentes lágrimas.

Usando alegorias sádicas e excessos narrativos para falar sobre luto, culpa e racismo, "Them" te desafia a assisti-la sem revirar os olhos (ou o estômago) pelo menos uma vez. Uma experiência intensa e perturbadora, que vale mais pela jornada!

Escrito por Ricelli Ribeiro com Edição de André Siqueira - uma parceria@dicastreaming

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Twilight Zone

"Twilight Zone" da CBS (all access), distribuído pela Amazon Prime Vídeo aqui no Brasil, é uma grande homenagem ao clássico programa de 1959. Criada por Rod Serling, "Além da Imaginação", como ficou conhecido por aqui, possui episódios independentes que mostram histórias com personagens que por alguma razão existencial precisam enfrentar algum problema (normalmente apresentado de forma exagerada) tendo como pano de fundo elementos de suspense, mistério e fantasia. Eu diria que  "Twilight Zone" é a versão raiz de "Black Mirror" e essa nova versão soube equilibrar muito bem a tradição e o conceito narrativo da série com a modernidade e as ferramentas de um cinema quase autoral. O resultado, embora satisfatório, varia de acordo com os episódios - existe sim uma inconsistência, mas que vai depender do gosto e das preferências de quem assiste e aí é que a série navega com tranquilidade, pois talvez não seja uma unanimidade total, mas vai divertir e entreter na maior parte do tempo. É uma boa pedida para maratonar da mesma forma que funciona em episódios isolados! Vale seu play!

Um dos elementos que encontramos no DNA de "Twilight Zone" e que depois foi muito bem trabalhado em "Amazing Stories" de Steven Spielberg - que aliás já está repaginando o seu formato com a equipe da Amblim deve fazer seu lançamento ainda esse ano na Apple TV+ - é subtexto por trás de cada história central dos episódios. É fundamental para quem assiste, entender que a série usa desse artificio como justificativa para o exagero ou para o aproveitar seu direito de ser inexplicável! Nessa nova versão é muito fácil encontrar esse subtexto, mas em alguns episódios ele parece tão superficial que chegamos a duvidar da sua eficiência, mesmo com um elenco de peso. Vejamos:

- Episódio 1: O comediante Samir Wassan (Kumail Nanjiani - indicado ao Emmy 2019 como "melhor ator convidado") quer ser famoso a qualquer custo, mas para isso é preciso pagar um preço e o roteiro trabalha muito bem esse conceito que nos acompanha durante toda a vida: será que estamos dispostos a pagar o preço para nos diferenciarmos na multidão? A grande maioria não quer, mas os poucos que querem, em algum momento, se perguntam se valeu a pena, mas aí já pode ser tarde! - Para mim, esse é um dos melhores episódios dessa primeira temporada.

-  Episódio 2: O jornalista Justin Sanderson (Adam Scott) encontra uma gravação que fala sobre o futuro e como suas decisões podem afetar o destino do Voo 1015, onde ele á passageiro. O episódio mostra a luta contra o tempo e a angustia de um homem que sabe como ajudar, mas é incompreendido pelas suas ações - tão atual, não? 

- Episódio 3: Uma velha filmadora tem o poder de rebobinar o tempo e esse excelente episódio mostra como o racismo é tão incontrolável quanto a vida cotidiana. Sem dúvida um dos melhores episódios e que nos convida à uma reflexão profunda. Agora prepare-se, tenho a impressão que é a história mais visceral e sufocante da temporada. Muito dolorida!

-  Episódio 4: É Natal e em uma cidade militar do Alaska, um viajante misterioso chega para movimentar a noite e provocar os mais diversos sentimentos nas pessoas. Esse episódio é meio arrastado. Mesmo com momentos interessantes, a história não me convenceu, embora o subtexto seja um dos mais provocativos ao trazer para discussão a hipocrisia humana!

- Episódio 5: Um profissional responsável por campanhas eleitorais está quase em ruínas quando resolve criar um novo ícone para concorrer a presidência dos EUA: no caso uma criança de 11 anos. Outro tema muito atual: a discussão do populismo e da força das mídias sociais - mas a história não me pareceu muito inspirada. Basta lembrar que o próprio "Black Mirror" fez algo muito parecido, porém com muito mais habilidade e criatividade em “The Waldo Moment”!

- Episódio 6: O mais "ficção científica" da temporada mostra uma tripulação tendo que fazer escolhas a todo momento para chegar a marte depois que os EUA sofrem um ataque nuclear da China! Mais um episódio arrastado na minha opinião. O conceito é excelente, mas na prática criou poucos conflitos interessantes e o final, embora cause uma certa surpresa, me pareceu bobo.

- Episódio 7: Depois de um chuva de meteoros, surge uma infecção que transforma a maneira como os homens reagem a determinadas situações. O assunto "a masculinidade tóxica" é discutido aqui com muita criatividade. Talvez esse seja o episódio com mais elementos de terror da temporada.

- Episódio 8: Uma rica dona de casa é levada para um centro de detenção sem entender muito bem os motivos, o que mexe com sua realidade e com seu passado. A discussão sobre os violentos centros de detenção de imigrantes nos EUA é o pano de fundo dessa história. Mais uma vez: embora o assunto seja excelente, o resultado do episódio fica muito aquém do seu potencial. Esse episódio eu achei chato!

- Episódio 9: Um professor de antropologia encontra um revolver que parece ter vida própria, no pente uma bala com seu nome. Esse é um episódio bem intrigante, fala sobre as mudanças da vida e como isso pode interferir na personalidade das pessoas. É interessante, mas não surpreende.

- Episódio 10: A roteirista (ficticia) do "Twilight Zone" é assombrada por uma entidade que representa muito do seu passado. Esse episódio é muito mais interessante pela homenagem as origens da série do que propriamente por uma história magnifica construída para encerrar a temporada em alto estilo. Na verdade eu diria até que o episódio fraco, mas o resgate do gênero com uma pegada mais de suspense e sobrenatural carregam a trama até um final de certa forma nostálgico. 

De fato os episódios são muito bem produzidos, embora a maioria deles usem de um mesmo cenário para contar toda a história o que não seria um problema se o texto fosse muito bom - o que não é o caso! A dinâmica narrativa sofre com essa limitação e, certamente, acusa o golpe quando os roteiros são menos inspirados. Jordan Peele é o narrador perfeito para a série - tem o tom, as pausas dramáticas e uma postura enigmática, além de ser uma referência, ou melhor, a personificação do renascimento de um gênero que estava esquecido: o suspense fantástico!

Como disse anteriormente,  "Twilight Zone" é agradável como entretenimento, mas não é e nem será o fenômeno que foi no final dos anos 50. Talvez uma segunda temporada traga mais oxigênio para série, quem sabe diminuindo o tempo dos episódios ou cuidando melhor das histórias, mas independente de qualquer coisa, vale como divertimento.

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"Twilight Zone" da CBS (all access), distribuído pela Amazon Prime Vídeo aqui no Brasil, é uma grande homenagem ao clássico programa de 1959. Criada por Rod Serling, "Além da Imaginação", como ficou conhecido por aqui, possui episódios independentes que mostram histórias com personagens que por alguma razão existencial precisam enfrentar algum problema (normalmente apresentado de forma exagerada) tendo como pano de fundo elementos de suspense, mistério e fantasia. Eu diria que  "Twilight Zone" é a versão raiz de "Black Mirror" e essa nova versão soube equilibrar muito bem a tradição e o conceito narrativo da série com a modernidade e as ferramentas de um cinema quase autoral. O resultado, embora satisfatório, varia de acordo com os episódios - existe sim uma inconsistência, mas que vai depender do gosto e das preferências de quem assiste e aí é que a série navega com tranquilidade, pois talvez não seja uma unanimidade total, mas vai divertir e entreter na maior parte do tempo. É uma boa pedida para maratonar da mesma forma que funciona em episódios isolados! Vale seu play!

Um dos elementos que encontramos no DNA de "Twilight Zone" e que depois foi muito bem trabalhado em "Amazing Stories" de Steven Spielberg - que aliás já está repaginando o seu formato com a equipe da Amblim deve fazer seu lançamento ainda esse ano na Apple TV+ - é subtexto por trás de cada história central dos episódios. É fundamental para quem assiste, entender que a série usa desse artificio como justificativa para o exagero ou para o aproveitar seu direito de ser inexplicável! Nessa nova versão é muito fácil encontrar esse subtexto, mas em alguns episódios ele parece tão superficial que chegamos a duvidar da sua eficiência, mesmo com um elenco de peso. Vejamos:

- Episódio 1: O comediante Samir Wassan (Kumail Nanjiani - indicado ao Emmy 2019 como "melhor ator convidado") quer ser famoso a qualquer custo, mas para isso é preciso pagar um preço e o roteiro trabalha muito bem esse conceito que nos acompanha durante toda a vida: será que estamos dispostos a pagar o preço para nos diferenciarmos na multidão? A grande maioria não quer, mas os poucos que querem, em algum momento, se perguntam se valeu a pena, mas aí já pode ser tarde! - Para mim, esse é um dos melhores episódios dessa primeira temporada.

-  Episódio 2: O jornalista Justin Sanderson (Adam Scott) encontra uma gravação que fala sobre o futuro e como suas decisões podem afetar o destino do Voo 1015, onde ele á passageiro. O episódio mostra a luta contra o tempo e a angustia de um homem que sabe como ajudar, mas é incompreendido pelas suas ações - tão atual, não? 

- Episódio 3: Uma velha filmadora tem o poder de rebobinar o tempo e esse excelente episódio mostra como o racismo é tão incontrolável quanto a vida cotidiana. Sem dúvida um dos melhores episódios e que nos convida à uma reflexão profunda. Agora prepare-se, tenho a impressão que é a história mais visceral e sufocante da temporada. Muito dolorida!

-  Episódio 4: É Natal e em uma cidade militar do Alaska, um viajante misterioso chega para movimentar a noite e provocar os mais diversos sentimentos nas pessoas. Esse episódio é meio arrastado. Mesmo com momentos interessantes, a história não me convenceu, embora o subtexto seja um dos mais provocativos ao trazer para discussão a hipocrisia humana!

- Episódio 5: Um profissional responsável por campanhas eleitorais está quase em ruínas quando resolve criar um novo ícone para concorrer a presidência dos EUA: no caso uma criança de 11 anos. Outro tema muito atual: a discussão do populismo e da força das mídias sociais - mas a história não me pareceu muito inspirada. Basta lembrar que o próprio "Black Mirror" fez algo muito parecido, porém com muito mais habilidade e criatividade em “The Waldo Moment”!

- Episódio 6: O mais "ficção científica" da temporada mostra uma tripulação tendo que fazer escolhas a todo momento para chegar a marte depois que os EUA sofrem um ataque nuclear da China! Mais um episódio arrastado na minha opinião. O conceito é excelente, mas na prática criou poucos conflitos interessantes e o final, embora cause uma certa surpresa, me pareceu bobo.

- Episódio 7: Depois de um chuva de meteoros, surge uma infecção que transforma a maneira como os homens reagem a determinadas situações. O assunto "a masculinidade tóxica" é discutido aqui com muita criatividade. Talvez esse seja o episódio com mais elementos de terror da temporada.

- Episódio 8: Uma rica dona de casa é levada para um centro de detenção sem entender muito bem os motivos, o que mexe com sua realidade e com seu passado. A discussão sobre os violentos centros de detenção de imigrantes nos EUA é o pano de fundo dessa história. Mais uma vez: embora o assunto seja excelente, o resultado do episódio fica muito aquém do seu potencial. Esse episódio eu achei chato!

- Episódio 9: Um professor de antropologia encontra um revolver que parece ter vida própria, no pente uma bala com seu nome. Esse é um episódio bem intrigante, fala sobre as mudanças da vida e como isso pode interferir na personalidade das pessoas. É interessante, mas não surpreende.

- Episódio 10: A roteirista (ficticia) do "Twilight Zone" é assombrada por uma entidade que representa muito do seu passado. Esse episódio é muito mais interessante pela homenagem as origens da série do que propriamente por uma história magnifica construída para encerrar a temporada em alto estilo. Na verdade eu diria até que o episódio fraco, mas o resgate do gênero com uma pegada mais de suspense e sobrenatural carregam a trama até um final de certa forma nostálgico. 

De fato os episódios são muito bem produzidos, embora a maioria deles usem de um mesmo cenário para contar toda a história o que não seria um problema se o texto fosse muito bom - o que não é o caso! A dinâmica narrativa sofre com essa limitação e, certamente, acusa o golpe quando os roteiros são menos inspirados. Jordan Peele é o narrador perfeito para a série - tem o tom, as pausas dramáticas e uma postura enigmática, além de ser uma referência, ou melhor, a personificação do renascimento de um gênero que estava esquecido: o suspense fantástico!

Como disse anteriormente,  "Twilight Zone" é agradável como entretenimento, mas não é e nem será o fenômeno que foi no final dos anos 50. Talvez uma segunda temporada traga mais oxigênio para série, quem sabe diminuindo o tempo dos episódios ou cuidando melhor das histórias, mas independente de qualquer coisa, vale como divertimento.

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Você

"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!

O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali. 

Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você"  essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!

A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.

No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!

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"Você", série do "Lifetime" que a Netflix distribui globalmente é boa, divertida, mas desde que você não a leve muito a sério. Digo isso depois de assistir a primeira temporada inteira e, por mais de uma vez, adiar o momento de escrever esse review. E por uma razão simples: eu estava tentando entender onde aquela história queria me levar!

O trailer indica uma linha narrativa muito interessante, com um conceito bastante particular, mas que não se encontra inicialmente na série: a história de um vendedor de livros que se apaixona por uma jovem escritora e imediatamente começa a destrinchar a vida dela pelas redes sociais sugere um suspense psicológico, mas eu não via isso em nada da série!!! Assim que assisti o primeiro episódio, e embora tenha gostado bastante, me senti "enganado" por causa dessa falta de coerência entre o trailer e a obra! Os episódios foram passando e, lentamente, fui me envolvendo com a história - traços da personalidade do protagonista vão aparecendo, se tornando mais interessante. O problema é que isso não se sustenta por muito tempo e ficamos com a sensação que aquilo tudo não faz muito sentido - algumas soluções do roteiro são, inclusive, infantis demais!!! Teve um momento que "You" me pareceu muito mais uma comédia romântica adolescente, com lapsos de suspense, do que algo que pudesse justificar os ótimos comentários que havia lido até ali. 

Continuando: com o passar dos episódios eu fui entendendo (mesmo com um pé atrás) que aquela era a história, aquele era o arco do protagonista e aquele cenário "Gossip Girl" faziam parte de um quebra-cabeça que poderia me surpreender. Admito que demorou para eu entender, mas no final justificou a construção da trama principal!! A premissa é realmente boa, mas o tom escolhido para a série foi muito inconstante durante a temporada (na minha opinião) - alguém com um pouco menos de paciência e fora do público-alvo teria desistido. Até me lembrou "Gipsy" - outra série que usou da mesma estratégia e depois não se sustentou!!! No caso de "Você"  essa característica da série acaba jogando a favor quando se chega nos episódios finais! As situações criadas para o protagonista stalkear a personagem Guinevere Beck são absurdas, completamente fora da realidade e muito forçadas - mas são divertidas, por isso funciona muito bem. Os offs narrativos se sobrepõem as ações com sentimentos e indagações muito inteligentes, quase como se estivéssemos lendo um livro - isso acaba cativando!!! A série vai nos surpreendendo e aquela cadeia de eventos que parecia bobo se torna interessante (mas, por favor, não esperem algo como "The Night of" da HBO)!!! Embora a série seja bem produzida e tenha sua identidade, os episódio 2 e 3 tem problemas sérios de falta de continuidade na fotografia, sem a menor unidade de cor entre alguns planos e contra-planos - imperdoável para esse nível de projeto (reparem na cena em que os personagens principais conversam na cama no ep.2). Fica a observação!

A Netflix já avisou que vai assumir a produção da segunda temporada dado o sucesso da primeira, o que colabora com a minha primeira afirmação: "You" é boa, ótima para uma maratona no final de semana, basta não levar muito a sério as situações absurdas dos personagens e a diversão está garantida!!! Penn Badgley (Joe) está no elenco e isso nos leva a ter sensação de que a série é um spin-off obscuro de "Gossip Girl" - até o cenário parece o mesmo!!!! Elizabeth Lail está ótima, sua personagem é complexa, mas palpável, verdadeira - isso ajuda a equilibrar aquele universo estereotipado que ela faz parte. Alguns personagens, algumas das amigas da Bec, por exemplo, são completamente dispensáveis.

No geral, se você assistir até o final, a série passa a ser um ótimo entretenimento e até surpreendente. "You" vale a pena, parece não ter pressa, isso é muito bacana quando existe um rumo certo. Vale a diversão!!!

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Voo Noturno

Existem três tipos de filmes que me cativam, as obras-primas, os ótimos e os despretensiosos - que garantem um bom entretenimento para desligar o cérebro.“Voo Noturno” se enquadra nesse terceiro tipo de filme, que me pega pela mão e me convence aceitar uma jornada cheia de absurdos e clichês. Para que isso aconteça não só comigo, um roteiro precisa estar nas mãos de um diretor competente, que faz um trabalho com tanto entusiasmo que você acaba relevando alguns exageros - ou rindo deles -, sem comprometer a sua experiência.

Na trama, Lisa Reisert (Rachel McAdams) é uma gerente de hotel que detesta voar, mas precisa realizar uma viagem quando sua avó morre. No retorno para casa, ela conhece o charmoso Jackson Rippner (Cillian Murphy) no embarque, e fica feliz quando descobre que ele vai sentar ao seu lado no avião. Tudo se transforma em um pesadelo quando, após a decolagem, Jackson diz a Lisa que precisa de sua ajuda para matar um político que se hospedará no hotel em que ela trabalha, ou então ele manda assassinarem o pai dela com uma simples ligação. Confira o trailer (em inglês):

A direção de Wes Craven é frenética e faz com que uma hora e meia de filme termine num piscar de olhos. Você fica tão conectado nesse suspense que reserva diversos desdobramentos, que você mal tem tempo para se incomodar com as situações inverossímeis. O elenco também é um prato cheio, Rachel McAdams (a eterna Regina George de "Meninas Malvads") convence como a mocinha durona. Assim como o ator Cillian Murphy (o gângster de “Peaky Blinders”). Observem a sequência final, esse teria sido um ator perfeito como o Ghostface em um dos filmes da franquia “Pânico” - as semelhanças com “Scream” (título original) também está presente na trilha sonora que foi composta por Marco Beltrami (de "Loga" e "Amor e Monstros").

O fato é que “Voo Noturno” (ou "Red Eye" no original) é um thriller semelhante ao filme “Por Um Fio” (aquele onde Colin Farrell não pode desligar a ligação ou deixar a cabine telefônica, senão um homem será morto) e te prende da mesma forma numa trama envolvente do inicio ao fim.

Se você gosta de um pouco de tensão e está disposto a encarar alguma suspensão da realidade, vale muito o seu play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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Existem três tipos de filmes que me cativam, as obras-primas, os ótimos e os despretensiosos - que garantem um bom entretenimento para desligar o cérebro.“Voo Noturno” se enquadra nesse terceiro tipo de filme, que me pega pela mão e me convence aceitar uma jornada cheia de absurdos e clichês. Para que isso aconteça não só comigo, um roteiro precisa estar nas mãos de um diretor competente, que faz um trabalho com tanto entusiasmo que você acaba relevando alguns exageros - ou rindo deles -, sem comprometer a sua experiência.

Na trama, Lisa Reisert (Rachel McAdams) é uma gerente de hotel que detesta voar, mas precisa realizar uma viagem quando sua avó morre. No retorno para casa, ela conhece o charmoso Jackson Rippner (Cillian Murphy) no embarque, e fica feliz quando descobre que ele vai sentar ao seu lado no avião. Tudo se transforma em um pesadelo quando, após a decolagem, Jackson diz a Lisa que precisa de sua ajuda para matar um político que se hospedará no hotel em que ela trabalha, ou então ele manda assassinarem o pai dela com uma simples ligação. Confira o trailer (em inglês):

A direção de Wes Craven é frenética e faz com que uma hora e meia de filme termine num piscar de olhos. Você fica tão conectado nesse suspense que reserva diversos desdobramentos, que você mal tem tempo para se incomodar com as situações inverossímeis. O elenco também é um prato cheio, Rachel McAdams (a eterna Regina George de "Meninas Malvads") convence como a mocinha durona. Assim como o ator Cillian Murphy (o gângster de “Peaky Blinders”). Observem a sequência final, esse teria sido um ator perfeito como o Ghostface em um dos filmes da franquia “Pânico” - as semelhanças com “Scream” (título original) também está presente na trilha sonora que foi composta por Marco Beltrami (de "Loga" e "Amor e Monstros").

O fato é que “Voo Noturno” (ou "Red Eye" no original) é um thriller semelhante ao filme “Por Um Fio” (aquele onde Colin Farrell não pode desligar a ligação ou deixar a cabine telefônica, senão um homem será morto) e te prende da mesma forma numa trama envolvente do inicio ao fim.

Se você gosta de um pouco de tensão e está disposto a encarar alguma suspensão da realidade, vale muito o seu play!

Escrito por Mark Hewes - uma parceria @indiqueipraver

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X - A Marca da Morte

Antes de ler essa análise, acho que vale a pena uma rápida sugestão: quanto menos você souber sobre "X - A Marca da Morte", melhor!

Pensando nisso, vou tomar o máximo de cuidado para evitar qualquer tipo de spoiler que possa impactar diretamente na sua experiência, mas já te adiando que estamos falando de um filme muito bom (muito mesmo) - um slasherde respeito, com aquela atmosfera setentista na forma (que carrega um conceito visual muito particular, com movimentos de câmera extremamente alinhados à uma época onde o "susto" era até mais importante que uma boa história) e no conteúdo (que respeita uma gramática cinematográfica envolvente e nostálgica, além de contar com uma trama muito bem construída, inteligente e com a clara proposta de se perpetuar)!

Em 1979, Maxine (Mia Goth), uma jovem cheia de sonhos, Wayne (Martin Henderson), seu namorado, e mais um grupo de amigos vão passar um final de semana em uma fazenda em algum lugar do Texas - a ideia é aproveitar o cenário para gravar um filme pornográfico chamado "The Farmer's Daughters". Ao chegar na propriedade, o grupo é recebido pelo casal Howard e Pearl que nem imagina o real motivo da estadia, porém situações estranhas começam acontecer e passam a impactar diretamente na vida de cada uma dessas pessoas. Confira o trailer:

Embora possa ser classificado com um terror "clássico", existe um certo suspense psicológico que envolve a história e que só fortalece a narrativa desde o primeiro plano do filme - é muito interessante como as relações entre os personagens vão sendo construídas e como elas são muito bem estabelecidas no presente, mesmo carregando algumas marcas do passado. Conforme o filme vai se desenrolando, a atmosfera vai ganhando aquele ar denso de mistério e ao adentramos no cenário onde 100% da trama se desenrola (a fazenda de Howard e Pearl) temos a certeza de que não estamos diante um filme onde a violência será gratuita ou que ela será inserida com o simples objetivo de chocar. Eu diria que existe uma certa honestidade narrativa em "X - A Marca da Morte", pois até o momento do clímax, onde o conflito inevitável acontece, tudo é pacientemente desenvolvido.

Obviamente que essa escolha conceitual vai agradar muitas pessoas, mas também irritar muitas outras pela "demora" dos acontecimentos, então esteja preparado para ir se conectando com o mistério sem a pressão de ver a ação explodir logo cedo - faz parte do jogo. Os personagens são cheios de camadas - Maxine, obviamente justifica essa percepção de complexidade íntima, mas Wayne, Bobby-Lynne (Brittany Snow), Lorraine (Jenna Ortega) e Jackson (Kid Cudi) não ficam muito distantes. A montagem também é um show - a forma com que David Kashevaroff e o diretor Ti West (de "Them") conectam situações que estão em foco com elementos narrativos que estariam no segundo plano gratuitamente, é simplesmente genial. E aqui cabe outro comentário: nada é gratuito no filme, então preste bem atenção!

O fato é que "X - A Marca da Morte" pode ser considerada uma das melhores surpresas de 2022, com sua releitura clássica de um gênero por muito tempo esquecido (ou menosprezado) e que agora com um toque de modernidade e sem esquecer a força do cinema independente, voltou a brilhar! Ti West, aliás, mais uma vez surpreende e deixa claro sua capacidade de mexer com nossas sensações e emoções sem perder a mão - como muitas vezes vimos diretores mais experientes no gênero, como James Wan, perder. Olho nele!

Vale muito o seu play!

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Antes de ler essa análise, acho que vale a pena uma rápida sugestão: quanto menos você souber sobre "X - A Marca da Morte", melhor!

Pensando nisso, vou tomar o máximo de cuidado para evitar qualquer tipo de spoiler que possa impactar diretamente na sua experiência, mas já te adiando que estamos falando de um filme muito bom (muito mesmo) - um slasherde respeito, com aquela atmosfera setentista na forma (que carrega um conceito visual muito particular, com movimentos de câmera extremamente alinhados à uma época onde o "susto" era até mais importante que uma boa história) e no conteúdo (que respeita uma gramática cinematográfica envolvente e nostálgica, além de contar com uma trama muito bem construída, inteligente e com a clara proposta de se perpetuar)!

Em 1979, Maxine (Mia Goth), uma jovem cheia de sonhos, Wayne (Martin Henderson), seu namorado, e mais um grupo de amigos vão passar um final de semana em uma fazenda em algum lugar do Texas - a ideia é aproveitar o cenário para gravar um filme pornográfico chamado "The Farmer's Daughters". Ao chegar na propriedade, o grupo é recebido pelo casal Howard e Pearl que nem imagina o real motivo da estadia, porém situações estranhas começam acontecer e passam a impactar diretamente na vida de cada uma dessas pessoas. Confira o trailer:

Embora possa ser classificado com um terror "clássico", existe um certo suspense psicológico que envolve a história e que só fortalece a narrativa desde o primeiro plano do filme - é muito interessante como as relações entre os personagens vão sendo construídas e como elas são muito bem estabelecidas no presente, mesmo carregando algumas marcas do passado. Conforme o filme vai se desenrolando, a atmosfera vai ganhando aquele ar denso de mistério e ao adentramos no cenário onde 100% da trama se desenrola (a fazenda de Howard e Pearl) temos a certeza de que não estamos diante um filme onde a violência será gratuita ou que ela será inserida com o simples objetivo de chocar. Eu diria que existe uma certa honestidade narrativa em "X - A Marca da Morte", pois até o momento do clímax, onde o conflito inevitável acontece, tudo é pacientemente desenvolvido.

Obviamente que essa escolha conceitual vai agradar muitas pessoas, mas também irritar muitas outras pela "demora" dos acontecimentos, então esteja preparado para ir se conectando com o mistério sem a pressão de ver a ação explodir logo cedo - faz parte do jogo. Os personagens são cheios de camadas - Maxine, obviamente justifica essa percepção de complexidade íntima, mas Wayne, Bobby-Lynne (Brittany Snow), Lorraine (Jenna Ortega) e Jackson (Kid Cudi) não ficam muito distantes. A montagem também é um show - a forma com que David Kashevaroff e o diretor Ti West (de "Them") conectam situações que estão em foco com elementos narrativos que estariam no segundo plano gratuitamente, é simplesmente genial. E aqui cabe outro comentário: nada é gratuito no filme, então preste bem atenção!

O fato é que "X - A Marca da Morte" pode ser considerada uma das melhores surpresas de 2022, com sua releitura clássica de um gênero por muito tempo esquecido (ou menosprezado) e que agora com um toque de modernidade e sem esquecer a força do cinema independente, voltou a brilhar! Ti West, aliás, mais uma vez surpreende e deixa claro sua capacidade de mexer com nossas sensações e emoções sem perder a mão - como muitas vezes vimos diretores mais experientes no gênero, como James Wan, perder. Olho nele!

Vale muito o seu play!

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